vestibulando digital - redação

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 1

I.1.

Tipos de texto

Apresentao dos diferentes tipos de texto e suas caractersticas, atravs da anlise dos textos:1. descrio trecho do ensaio O fator Deus de Jos Saramago, publicado na Folha de S.Paulo, aps o atentado de 11 de setembro nos EUA. 2. narrao msica do grupo Legio Urbana.

3. dissertao - trecho do texto de Rubem Alves, publicadona Folha de S. Paulo, em 17/2/02.

II. Redao no VestibularI. Apresentao dos diferentes tipos de texto.

Desde bem pequeno, voc escreve vrios textos: um bilhete, uma carta, as redaes na escola, alguns at escrevem poemas. Bem, o fato que, em qualquer texto, voc utiliza uma modalidade redacional. E o que modalidade redacional? o tipo d e composio, que escolhida, segundo o que se quer comunicar. Vamos reconhecer algumas delas: Descrio: tipo de texto em que se procura caracterizar, com palavras, a imagem de alguma pessoa, objeto, cenrio, situao, sentimento, enfim, aquilo que desejamos que outra pessoa conhea. Algures na ndia. Uma fila de peas de artilharia em posio. Atado boca de cada uma delas h um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britnico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. No dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas at a mais obtusa das imaginaes poder "ver" cabeas e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vsceras, 1

membros amputados. Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braos um negro que talvez no esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabea do corpo. Esta a primeira fotografia. Na segunda, desta vez h uma segunda fotografia, a cabea j foi cortada, est espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Nesse ensaio de Jos Saramago, escritor portugus ganhador do prmio Nobel de Literatura, a descrio usada na abertura do texto para depois ser feita uma anlise, segundo o autor, acerca das justificativas que o ser humano utiliza para seus atos mais horrendos, como os atentados terroristas e outras situaes demonstradas no desenvolvimento. Assim, em geral, voc no encontrar a descrio isolada, mas compondo um texto mais amplo: uma crnica, uma narrativa, uma carta, uma dissertao, um poema, enfim. O texto descritivo tem como caracterstica essencial o fato de no haver uma progresso lgico-temporal: supondo que voc decidisse descrever como foi determinado evento poderia comear por qualquer aspecto, pelas pessoas envolvidas, por acontecimentos inusitados durante o evento descrito, expor vrios elementos simultaneamente. E deve ser assim mesmo: no existe a relao do antes e do depois na descrio. A descrio poder ser subjetiva (feita a partir das impresses de quem a fez, inclusive com uso de linguagem figurada) ou objetiva (qualquer um que veja a mesma imagem pode perceber os mesmos elementos). No poema abaixo, de Cora Coralina, voc poder perceber imagens que representam antes o que sentido e no o que realmente est ali para todos verem; tambm perceber a objetividade, atravs de elementos referenciais. Velho Sobrado Um monto disforme. Taipas e pedras, abraadas a grossas aroeiras, toscamente esquadriadas. Folhas de janelas. Pedaos de batentes. Almofadados de portas. Vidraas estilhaadas. Ferragens retorcidas.(1) 2

Abandono. Silncio. Desordem. (2) Ausncia, sobretudo. O avano vegetal acoberta o quadro. Carrapateiras cacheadas. So-caetano com seu verde planejamento, pendurado de frutinhas ouro-rosa. Uma bucha de cordoalha enfolhada, berrante de flores amarelas cingindo tudo. D guarda, perfilado, um p de mamo-macho. No alto, instala-se, dominadora, uma jovem gameleira, dona do futuro. Cortina vulgar de decncia urbana defende a nudez dolorosa das runas do sobrado um muro. Fechado. Largado. O velho sobrado colonial de cinco sacadas, de ferro forjado, cede. (...) Bailes e saraus antigos. (3) Cortesia. Sociedade goiana. Senhoras e cavalheiros... -to desusados... O Passado... A escadaria de patamares vai subindo... subindo... Portas no alto. direita. esquerda. Se abrindo, familiares Salas. Antigos canaps. Cadeiras em ordem. (1) Veja: a primeira estrofe apresenta a descrio objetiva o sobrado tal qual se apresenta. No se faz necessrio dar detalhes, e, sim, acentuar aqueles mais marcantes. 3

(2) Observe como a descrio assume carter subjetivo: as impresses, as sensaes do observador so reproduzidas pela palavra. (3) A descrio pode ser esttica ou dinmica. Perceba nessa estrofe o movimento, o entrar e sair de pessoas. A lembrana de um sarau, uma festa, h meno a pessoas, mas de forma desordenada.

difcil descrever. Escolher os substantivos e os adjetivos adequados (principais classes gramaticais nesse tipo de texto), captar, atravs dos sentidos uma imagem real ou imaginria. No ser difcil para voc, porm, o reconhecimento de uma descrio algo exigido em questes de vestibular, em textos escritos, em verso ou em prosa. Outro tipo de composio a Narrao. Voc est sempre contando fatos a algum; expe quem esteve envolvido, o horrio, o lugar. Combina as informaes de forma clara para que seja compreendido. Leia um exemplo de texto narrativo na letra de uma msica do grupo Legio Urbana: Narrao: tipo de texto em que se contam fatos, envolvendo personagens, ao, tempo, espao. Eduardo abriu os olhos, mas no quis se levantar: ficou deitado e viu que horas eram... Enquanto Mnica tomava um conhaque, noutro canto da cidade, como eles disseram. Eduardo e Mnica, um dia se encontraram sem querer, e conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer. Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse: - Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.

Os elementos que compem um texto narrativo: personagens, tempo, espao, narrador, discurso, sero estudos detalhadamente numa prxima aula, porque so muitos importantes para o Vestibular. Atravs do estudo de uma personagem, por exemplo, possvel distinguir a poca em determinada histria foi situada: um jovem de 18 anos, hoje, tem comportamento diferente de um do 4

sc. XIX; entendo-se qual o lugar em um fato ocorre, por exemplo, na ndia ou na Inglaterra, pases em que as culturas so diferentes, pode-se compreender melhor o enredo. Voc pode comparar a narrao a um filme, enquanto que a descrio equivaleria a uma fotografia. Observe que na narrao h uma seqncia dos fatos de tal modo que um fato seja a causa ou a conseqncia do outro. Agora, passemos ao estudo do terceiro tipo de texto. Trata-se de um fragmento de um texto de Rubem Alves - educador, psicanalista e escritor - publicado na Folha de S. Paulo, em 17/2/02 . No texto, o escritor parte de uma comparao entre homens e moluscos para desenvolver uma anlise do aprendizado do aluno e do contedo que dele cobrado. Dissertao: tipo de texto em que predomina a defesa de uma idia. Muito nos parecemos com eles: ns, homens, somos animais de corpo mole, indefesos, soltos numa natureza cheia de predadores. Comparados com os outros animais, nossos corpos so totalmente inadequados luta pela vida. Vejam os animais: eles dispem apenas do seu corpo para viver. E o seu corpo lhes basta. Seus corpos so ferramentas maravilhosas: cavam voam, correm, reproduzem-se. Ns, se abandonados apenas com nosso corpo, teramos uma vida muita curta.

Enfim, cada tipo de texto tem um enfoque, um objetivo. Mas, possvel utiliz-los numa mesma composio. Dentro desse exemplo de texto dissertativo h uma pequena descrio. Lembrese de que essa mistura de formas de escrever positiva desde que fiquem claros os propsitos dessa utilizao. Aprenda a identificar qual o tipo de composio predominante e, quando voc for construir seu texto, utilize essas modalidades visando um texto original e criativo, conforme a proposta que lhe for dada. Poderamos ainda falar da Crnica e da Carta. Vimos hoje o bsico. Se tiver dvidas, escreva. Um grande abrao! 5

EXERCCIOS 1. Para cumprir um de seus objetivos no estudo desses tipos de composio, que o da identificao, resolva esses exerccios, que j estiveram presentes em Vestibulares: 1. Quanto ao modo de composio, analise os textos que seguem: a. Sa, afastando-me do grupo, e fingindo ler os epitfios. E, alis, gosto de epitfios; eles so, entre a gente civilizada, uma expresso daquele pio e secreto egosmo que induz o homem a arrancar morte um farrapo ao menos da sombra que passou. Da vem, talvez, a tristeza inconsolvel dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhes que a podrido annima os alcana a eles mesmos. (Machado de Assis)

b. Est a verdade naquilo que sucede todos os dias, nos quotidianos acontecimentos, na mesquinhez e chatice da vida, na imensa maioria dos homens ou reside a verdade no sonho que nos dado sonhar para fugir de nossa triste condio? Como se elevou o homem em sua caminhada pelo mundo: atravs do dia-a-dia de misria e futricas ou pelo livre sonho, sem fronteiras nem limitaes (...) Onde est a verdade, respondam-me por favor, na pequena realidade de cada um ou no imenso sonho humano? Quem a conduz pelo mundo afora, iluminando o caminho do homem? (Jorge Amado)

c. E, pensando bem, ele no era homem: era apenas um cabra em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos: mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presena dos brancos e julgava-se cabra. (Graciliano Ramos)

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RESPOSTAS 1. a) Texto predominantemente dissertativo. b) Texto predominantemente dissertativo. c) Texto predominantemente descritivo. Links para acesso aos textos usados nessa aula, leia-os na ntegra: 1. 2. 3. O fator Deus, Jos Saramago. Velho Sobrado, Cora Coralina. Sobre Moluscos e homens, Rubem Alves.

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 2

I.

Formas variveis da lngua.1. Classificaes: a) Culta. b) Coloquial. c) Regional. d) Gria. 2. Exemplos.

II.

Diferentes linguagens.1. Poesia e prosa.

1. Apresentao das formas variveis da lngua.Importante voc perceber que a variao da linguagem ocorre em razo do receptor, do contexto e do tipo de informao que se quer transmitir. No vamos chamar nenhuma forma de expresso de certa ou errada: vamos observar se est ou no adequada quele receptor, ou ao contexto, ou ao assunto, combinado? Sobre esse tema, leia um trecho de palestra proferida, na Academia Brasileira de Letras, por um eminente gramtico chamado Evanildo Bechara.E agora, para terminar, retomemos o nosso tema inicial que o saber, a normal culta na democratizao do ensino. O que vem a ser isso? Vem a ser o seguinte. O professor deve convencer-se de que uma lngua histrica (portugus, francs, espanhol), no uma realidade homognea e unitria; ela est dividida em vrias lnguas, de acordo com as variedades regionais, as variedades sociais e as variedades estilsticas. Cada variedade dessas tem uma tradio lingstica e essa tradio um modo correto, uma maneira de correo da linguagem. Agora, todas

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essas variedades lingsticas confluem na lngua exemplar, que a lngua de cultura. Ento, a lngua exemplar no nem correta, nem incorreta, porque correto na lngua o que est de acordo com uma tradio. Se existe, por exemplo, uma tradio coloquial que diz "chegar em casa", esse o padro de correo na lngua exemplar. Agora, o "chegar casa" j uma eleio cultural, que exclusiva da lngua exemplar. De modo que quando os consultrios gramaticais dos nossos jornais falam: isto est certo, isto est errado - na realidade, no isso. Cada modo de dizer tem o seu padro de correo; entretanto, todos esses padres convergem, por eleio, a uma forma exemplar. Essa forma exemplar a forma que est na lngua literria, quando o escritor sabe trabalh-la artstica, cultural e idiomaticamente. Ento, o que acontece? A democratizao do ensino consiste em que o professor no acastele o seu aluno na lngua culta, pensando que s a lngua culta a maneira que ele tem para se expressar; nem tampouco aquele professor populista que acha que a lngua deve ser livre, e portanto, o aluno deve falar a lngua gostosa e saborosa do povo, como dizia Manuel Bandeira. No, o professor deve fazer com que o aluno aprenda o maior nmero de usos possveis, e que o aluno saiba escolher e saiba eleger as formas exemplares para os momentos de maior necessidade, em que ele tenha que se expressar com responsabilidade cultural, poltica, social, artstica etc. E isso fazendo, o professor transforma o aluno num poliglota dentro da sua prpria lngua. Como, de manh, a pessoa abre o seu guarda-roupa para escolher a roupa adequada aos momentos sociais que ela vai enfrentar durante o dia, assim tambm, deve existir, na educao lingstica, um guarda-roupa lingstico, em que o aluno saiba escolher as modalidades adequadas a falar com gria, a falar popularmente, a saber entender um colega que veio do Norte ou que veio do Sul, com os seus falares locais, e que saiba tambm, nos momentos solenes, usar essa lngua exemplar, que o patrimnio da nossa cultura e que o grande baluarte que esta Academia defende.

Voc entendeu o texto, claro. Hoje, consideram-se as variaes lingsticas como absolutamente aceitveis, sempre com a ressalva de que a norma culta deve ser conhecida e observada em situaes formais. a) CULTA A norma culta aquela que deve ser empregada, quando em situaes formais, ou em textos cientficos, acadmicos. No se 2

permite ambigidade na linguagem formal: a objetividade deve ser o principal trao desse uso da lngua.

A supremacia da civilizao ocidental, representada pelo imprio norte-americano, carece de medidas e atitudes de nvel planetrio que evitem ao mximo o rastro de destruio deixado em seu curso expansionista. H a urgncia de uma racionalidade outra que a do americanizado mundo contemporneo. Revista Cult, dezembro de 2001.

b) COLOQUIAL Os objetivos na linguagem coloquial so outros: simplesmente se quer conversar, ou, escrever como se estivesse conversando. H uma descontrao presente no uso da lngua; no se trata de cometer barbarismos contra a lngua culta e, sim, adapt-la, deixla mais pessoal. Na linguagem do dia-a-dia, por exemplo, podemos, usar frases como Voc pegou o que eu te pedi?. Formalmente, essa construo em que se misturam as pessoas gramaticais est inadequada:voc indica 3a.pessoa e te um pronome oblquo que se refere a 2a. pessoa ; o correto seria dizer "Voc pegou o que eu lhe pedi?"

A J e a irm dela acreditam que um vizinho antroplogo mora em frente ao prdio delas. Quando fazemos coisas absurdas, tipo ficar brincando de tocar percusso ou pulamos sem parar gritando s 2h da manh, alguma delas sempre disse. O vizinho no deve estar entendendo nada. Ou... essa cena deve estar sendo super importante para a tese de mestrado dele. Na verdade, elas nunca pensaram que poderia ser tipo um tarado se divertindo com duas loucas pulando pela sala de camisolaFolhateen, fevereiro de 2002.

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c) REGIONAL H, tambm, variaes que so regionais. Expresses que so usadas apenas em alguns lugares do pas, formas diferentes de nomear um mesmo objeto ou uma mesma situao. Voc, certamente, j observou algumas diferenas lingsticas ao falar com um a pessoa de outro Estado ou, s vezes, no interior, na zona rural de um Estado em relao linguagem daquele que mora na zona urbana, enfim. Sobre esse aspecto das variantes lingsticas, leia mais um pouco da conferncia de Evanildo Bechara:Afora essa dimenso no tempo, esse saber idiomtico identifica variedades que ocorrem numa lngua histrica, isto : variedades regionais, que so os dialetos; variedades sociais, que so os estratos sociais falados pelos diversos integrantes de uma sociedade; e o falar regional, vale dizer, se um ato lingstico (palavra, expresso ou frase) tpico de uma regio (por exemplo, o que no Brasil trem, em Portugal comboio; o que em Portugal se opta por "estar a almoar", no Brasil preferimos "estar almoando"; o que no Rio de Janeiro se chama "sinal luminoso de trnsito", em So Paulo "farol", mais para o Sul, "semforo", e em Porto Alegre, "sinaleira").

Vejamos outras variaes: a mdia em So Paulo caf com leite; em Santos, um pozinho. Pozinho, em Itu- SP, filo; em So Paulo, capital um po grande. Bem, vamos ler um exemplo literrio, um fragmento do conto Bicho Mau de Guimares Rosa.

Seo Quinquim olhou, tambm. Teria por gosto aproveitar uma curta folga. Colher um anans? No, dava muito trabalho. E esto azedos, decerto, apertam na lngua, piores do que o gravats. Seo Quinquim se mostra alegre,. s vezes banzativo, ora a dar um ar de riso, ele est nos dias de ser pai. No tardava mais uma semana...

Na linguagem literria, especialmente nos textos de Guimares Rosa, bastante comum que se misturem a linguagem culta, a coloquial e o falar regional. Alis, em Guimares, h tambm arcasmos, o que denota um conhecimento profundo da 4

linguagem. Se voc quiser saber mais sobre a linguagem de Guimares Rosa - autor sempre presente na lista das obras obrigatrias dos melhores vestibulares - recomendo um artigo muito interessante de Wilson de Moraes, no endereo http://www.navedapalavra.com.br/resenhas/joaoguimaraesrosa.ht m., espcie de guia com orientaes para quem tem dificuldades com a linguagem roseana. Voc deve saber identificar essas variaes e entender quais foram os objetivos do autor ao fazer uso dessas diferentes expresses da lngua. d) GRIA A gria , na verdade, uma maneira de um grupo, que guarda afinidades quanto ideologia, ou faixa etria, ou condio scioeconmica, enfim, algum tipo de trao caracterstico, que passa para a forma de expresso lingstica. Algumas palavras da gria passaro a compor nosso vocabulrio, perdendo a identidade antes conferida apenas a um grupo. Veja um exemplo, retirado de uma excelente questo de Vestibular, na qual se explorava os diferentes nveis de linguagem:

Massa P, Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num pedao aqui na Sampa, quem sabe tu te anima e acha a um point pra bot o nome de Magdalena Tagliaferro, Cludio Santoro (...) e Radams Gnattali. Esses caras no foi cruner de banda a la Trogloditas do Sucesso, mas se a tua moada no manjar quem eles foi, d um look a na Enciclopdia Britnica ou no Groves International e tu vai sac que o astral do sculo 20 musical deve muito a eles.

Esse texto do maestro Jlio Medaglia, em uma carta publicada no Painel do leitor do jornal Folha de S.Paulo. Ele faz uso de uma linguagem que certamente no a dele, para fazer uma crtica a uma deciso da ento prefeita Luiza Erundina (melhor dizendo, aos administradores pblicos em geral) que, em nome do populismo, preocupam-se em dar nomes de dolos populares aos logradouros pblicos. Navegando na rede (veja a um exemplo de neologismo: criao de novas palavras), encontrei um site para caminhoneiros, 5

com um link s para grias que eles usam entre si. Leia algumas, por curiosidade, observando a apropriao que esse grupo fez da linguagem. Algum erro nesse uso? Claro que no. Exemplos: gua de eloqncia cachaa; anzol polcia rodoviria; batom a batom - pessoalmente (ela/ela); bigode a bigode - pessoalmente (ele/ele); capacete sogro; casa de beijo motel; chuva artificial - banho; c r i s t a l i n a filha; cristalssima/primeirssima me; cristalografia famlia; cristalrde - filho; feijo queimado amante; itimbado doente Reconhecer essas variantes lingsticas e entender o contexto em que so usadas tambm ser cobrado de voc nos vestibulares.

2. Diferentes linguagens: poesia e prosa. H diferentes linguagens tambm: a escrita, por exemplo, pode ser em poesia ou em prosa. A prosa esse uso comum da linguagem, com frases organizadas em pargrafos. Utilizao completa das linhas, enfim, o que chamaramos convencional. J na poesia, a linguagem subjetiva, pode-se quebrar a estrutura lgica das frases, contrariar a gramtica, usar palavras em sentido figurado, enfim, escrever sem muitas regras. No h impedimento de que num texto em prosa, a linguagem tenha a mesma elaborao que na poesia; voltaremos a esse tema na aula 12. Muito bem, pense que a lngua transforma-se ao longo do tempo. Procure lembrar um texto da poca do Trovadorismo (que voc j estudou em Literatura); tente pensar em um texto do sculo XVIII ou do XIX, voc ir perceber diferenas no plano da estrutura das frases, da seleo do vocabulrio, enfim. Faz-se importante treinar seus olhos para reconhecer tais diferenas. Voc ouve msicas, v propagandas, l tirinhas de jornal ou os chamados cartuns, v quadros...so diferentes formas de expresso, e voc tem de interpret-los. s vezes, a partir dessas formas de expresso so retiradas questes de vestibular, tericas ou at mesmo um tema para sua redao. Se quiser tirar suas dvidas, escreva! Grande abrao!

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EXERCCIOS

Os vestibulares modernos exploram as variantes de maneira diferente, solicitando, por exemplo, comentrios sobre o uso de certas variantes e propondo comparaes entre elas, como nas questes que seguem: 1. (U. F. VIOSA) Suponha um aluno se dirigindo a um colega de classe nestes termos: Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro. A atitude desse aluno se assemelha atitude do indivduo que: a. b. c. d. e. comparece ao baile de gala trajando smoking. vai audincia com uma autoridade de short e camiseta. vai praia de terno e gravata. pe terno e gravata para ir falar na Cmara dos Deputados. vai ao Maracan de chinelo e bermuda.

2. (FUVEST) Voc pode dar um rol de bike, lapidar o estilo a bordo de um skate, curtir o sol tropical, levar sua gata para surfar. Considerando-se a variedade lingstica que se pretendeu reproduzir nesta frase, correto afirmar que a expresso proveniente de variedade diversa a. b. c. d. e. dar um rol de bike. lapidar o estilo. a bordo de um skate. curtir o sol tropical. levar sua gata para surfar.

3. As aspas marcam o uso de uma palavra ou expresso de variedade lingstica diversa da que foi usada no restante da frase em: a. Essa viso desemboca na busca ilimitada do lucro, na apologia do empresrio privado como o grande heri contemporneo. b. Pude ver a obra de machado de Assis de vrios ngulos, sem participar de nenhuma viso oficialesca. c. Nas recentes discusses sobre os fundamentos da economia brasileira, o governo deu nfase ao equilbrio fiscal. 7

d . O prmio Darwin, que homenageia mortes estpidas, foi institudo em 1993. e. Em fazendas de Minas e Santa Catarina, quem aprecia o campo pode curtir o frio, ouvindo causos beira da fogueira.

4. (Unicamp) O trecho seguinte foi extrado do debate que se seguiu palestra do poeta Paulo Leminski, Poesia : a paixo da linguagem, proferida durante o curso Os Sentidos da Paixo (Funarte, 1986). Observe que nesse trecho possvel identificar palavras e construes caractersticas da linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequ-lo modalidade escrita culta. Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que o Mrio de Andrade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas modernistas (...) Hoje em dia, felizmente, j existem vrios trabalhos, h muita gente reavaliando a potica de Mrio, que ela muito mais importante e profunda do aparentemente pareceu nestes ltimos anos. Estudando o Mrio, eu descobri um exemplo do cara que morreu de amor, mas de amor pelo seu povo, pelo seu pas, pela sua cultura (...) Um outro cara que eu tambm fiz um filme o Cmara Cascudo. Um cara como o Cmara Cascudo morre, os jornais do uma notinha desse tamaninho, escondidinho, um cara que deveria ter esttua em praa pblica, devia ser lido, recitado.Os sentidos da paixo, p.301.

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RESPOSTAS 1.c 2.b 3.e 4. No h apenas uma forma de fazer a transcrio solicitada. Voc poderia conseguir o resultado desejado, usando outras construes e selecionando um vocabulrio deste que segue. Ocorre, tambm, que no to simples fazer a distino do que marca de coloquialismo e contrap-la norma culta. Por vezes, construes da linguagem oral coadunam-se com a linguagem padro. Estudei muito, durante seis anos, a vida de um paulista sobre o qual fiz, inclusive, um filme: trata-se de Mrio de Andrade, um poeta pouco mencionado pelas vanguardas modernistas (...) Hoje em dia, felizmente, j existem vrios trabalhos, nos quais se reavalia a potica desse autor, vez que ela muito mais importante e profunda do pareceu nestes ltimos anos. Estudando Mrio de Andrade, descobri um exemplo de algum que morreu de amor, mas de amor por seu povo, por seu pas, por sua cultura (...) Um outro homem sobre quem eu tambm fiz um filme Cmara Cascudo. Uma personalidade como ele morre, os jornais publicam uma pequena nota, quase insignificante, pouco visvel, quando, na verdade, ele mereceria esttua em praa pblica, devia ser lido, recitado.

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 3

I.

Narrao

A narrao tem como matria bsica o fato, um acontecimento, real ou fictcio, que ser contado em 1 ou 3 pessoa.

1. Elementos da narrativa.A partir da leitura do poema de Manuel Bandeira, vamos explorar alguns dos elementos da narrativa. Poema Tirado de uma Notcia de Jornal Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro [da Babilnia num barraco sem nmero Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Danou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu [afogado. Vamos fazer a anlise do texto: 1) Qual a trama dessa narrativa? Conta-se o suicdio de um homem na Lagoa Rodrigo de Freitas. 2) Sobre quem a histria? O homem chamado de Joo Gostoso. 3) Onde se desenvolvem esses fatos? H mais de um espao: Morro da Babilnia, num barraco sem nmero,no Bar de Vinte de Novembro. 1

4) Quando os fatos ocorreram? H uma referncia genrica um dia e os verbos esto no passado. 5) Quem est contado essa histria? Um narrador no identificado que observou os fatos. Muito bem, respondendo a essas perguntas, estaremos entendo quais so os principais elementos que compem a narrativa. 1.Enredo: a trama da narrativa, a forma como se constri o texto. 2.Personagens: aqueles que se envolvem na histria: h os principais e os secundrios. 3 . T e m p o :momento em que ocorrem as aes. Pode ser cronolgico ou psicolgico. 4.Espao:onde ocorrem as aes. 5.Narrador: aquele que conta a histria, no o confunda com o autor. Vamos estudar alguns desses elementos; comecemos pelo narrador. Imagine um nico fato, por exemplo, um acidente de trnsito contado por diferentes pessoas: algum que estava na janela de um prdio; o motorista de um dos carros; o motorista do outro carro; um passageiro que estava no banco de trs de um dos veculos; uma criana que tenha presenciado a coliso. Cada uma dessas pessoas contaria o mesmo fato com uma combinao diferente de palavras, uma seqncia diferente, talvez at com verses distintas. Isso no novidade para voc...Ocorre que h nomes especficos para essas diferentes formas de contar os fatos. Veja: 1) narrador em 1a.pessoa: aquele que participa da ao, que se inclui na narrativa. o narrador-personagem. 2) narrador em 3a.pessoa: aquele que no participa da ao. o narrador-observador ou o narrador-onisciente.

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Outro elemento que no se considera como bsico em uma narrativa, mas que, sem dvida, influencia no desenvolvimento do enredo o discurso. O narrador ir escolher se as personagens falaro por si, ou se ele nos contar o que elas falaram e at o narrador poder traduzir o pensamento da personagem. Leia alguns trechos comigo e tente perceber esses diferentes discursos: direto, indireto e indireto livre; e os tipos de narrador presentes. Texto A ...De repente, Honrio olhou para o cho e viu uma carteira. Abaixar-se, apanh-la e guard-la foi obra de alguns instantes. Ningum o viu, salvo um homem que estava porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo: - Olhe, se no d por ela; perdia-a de uma vez. - verdade, concordou Honrio envergonhado Nesse exemplo, h a presena do foco narrativo em 3a pessoa, com um narrador observador e discurso direto. O narrador observador, porque no participa da histria, conta-nos os fatos apenas, de seu ponto de vista. O discurso direto o registro da prpria fala da personagem, o narrador apresenta o discurso usado de forma direta. Veja a presena do travesso, do verbo usado no tempo presente. Observe, tambm a presena do verbo dicendi, ou chamado de elocuo, que o disse, neste texto. Nota: Os verbos dicendi ou de elocuo so usados para anunciar o discurso direto, antes de sua exposio ou aps a sua exposio pelo narrador. Tambm no discurso indireto este tipo de verbo poder estar presente para o narrador introduzir a reproduo que l (narrador) far da fala da personagem.

Texto B

Tinha medo de abrir a carteira; podia no achar nada, apenas papis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexes, a conscincia perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. No lhe perguntava com o ar de quem no sabe, mas antes com uma expresso irnica e de 3

censura. Podia lanar mo do dinheiro, e ir pagar com ele a dvida? Eis o ponto. A conscincia acabou por lhe dizer que no podia (...) No fragmento acima, observa-se o foco narrativo em 3a. pessoa, com narrador onisciente: ele revela ao leitor o que pensa a personagem. H o discurso indireto livre. Os fragmentos apresentados em A e B pertencem ao conto A Carteira, de Machado de Assis. Como eu isolei os fragmentos, consideramos o narrador em cada uma das partes; porm, se nos fosse pedido o narrador do texto inteiro, teramos de observar como ele se coloca predominantemente: o onisciente prevalece sobre o observador. Texto C

Comeou por no dizer nada; ps em mim dous olhos de gato que observa; depois, uma espcie de riso maligno aluminou-lhe as feies. que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondes e andavam ao faro das escravas; dous eram at gatunos! Esse um exemplo de narrador personagem: o foco narrativo em 1a pessoa e h presena de discurso indireto. O fragmento foi retirado tambm de um conto machadiano chamado O Enfermeiro.

PrticaNormalmente, pede-se a escrita de um texto baseado em outro, portanto necessrio ser fiel aos elementos do texto motivador: os acontecimentos e suas conseqncias; as personagens e suas caractersticas; o espao; o tempo; as causas; o modo como as aes se desenvolveram, quando se tratar de um texto narrativo.

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Na dissertao, a leitura de todos os textos de uma coletnea essencial para que se possa perceber todos os enfoques possveis e quais so aqueles que lhe interessam na defesa de sua tese. Hoje, escolhi trs propostas, que j estiveram presentes em trs importantes vestibulares para que iniciemos a prtica. Lembre-se de que voc, durante todo o curso, ter direito correo de quatro textos; portanto, escolha aquelas propostas que mais se identificarem com o vestibular que voc pretende fazer. importante, em todas as disciplinas, para que voc obtenha um bom resultado, verificar como foram as provas passadas (ao menos as trs ltimas). Voc deve indicar qual a proposta escolhida para que eu possa fazer a correo. Ainda no desenvolvemos, em aula, aspectos formais e tericos de um texto; mas, considere esse primeiro texto como uma espcie de redao diagnstica: ser possvel identificar como voc escreve e se seu texto apresenta os elementos adequados redao de vestibular. Procure limitar o texto a 35 linhas, em letra manuscrita; j que o envio ser de um texto digitado, faa antes o rascunho para verificar quantas linhas utilizou, combinado? A primeira proposta da prova da Unicamp de 1999. A Unicamp uma das poucas Universidades que oferece mais de uma possibilidade no apenas temtica, mas sobretudo formal para os alunos redigirem seu texto; fato que torna esse vestibular mais democrtico; creio. Voc dever indicar o nmero da proposta (no caso da primeira, tambm, dever dizer se escolheu o tema A,B ou C).A segunda proposta do vestibular da Fundao Getlio Vargas, trata-se de um texto dissertativo; bem como a terceira proposta que foi da UNESP. Bom texto! Aps a correo (devidamente anotada), voc poder tirar suas dvidas, atravs do tira-dvidas ou dos chats. Grande abrao! _______________________________________________________________

PROPOSTA 1 TEMAS DA UNICAMP (escolha um dos trs temas) ORIENTAO GERAL H trs temas sugeridos para redao. Voc deve escolher um deles e desenvolv-lo conforme o tipo de texto indicado, segundo as instrues que se encontram na orientao dada para cada tema. Coletnea de textos: Os textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, dados, opinies e argumentos relacionados com o tema. Eles no representam a opinio da banca examinadora: so textos como aqueles a que voc est exposto na sua vida diria de leitor de 5

jornais, revistas ou livros, e que voc deve saber ler e comentar. Consulte a coletnea e utilize-a segundo as instrues especficas dadas para o tema. No a copie. Ao elaborar sua redao, voc poder utilizar-se tambm de outras informaes que julgar relevantes para o desenvolvimento do tema escolhido. ATENO: se voc no seguir as instrues relativas ao tema que escolheu, sua redao ser ANULADA. TEMA A O Brasil est em vias de completar cinco sculos de existncia aos olhos do mundo europeu. So os j conhecidos 500 anos de seu descobrimento, que sero comemorados oficialmente em abril de 2000. Como em qualquer data importante, o momento oportuno para um balano e uma reflexo. O balano poderia resultar muito parcial, se se prendesse exclusivamente a fatos econmicos e a dados sociais circunstanciais. Por isso, faz-se necessrio, neste caso, considerar a questo de quem somos hoje. Tendo isso em mente, e contando com o apoio obrigatrio dos fragmentos abaixo, escreva uma dissertao sobre o tema 500 anos de Brasil 1. Esquea tudo o que voc aprendeu na escola sobre o descobrimento do Brasil. (...) A dois anos das comemoraes oficiais pelos 500 anos de descobrimento do Brasil, os ltimos trabalhos de pesquisadores portugueses, espanhis e franceses revelam uma histria muito mais fascinante e pica sobre a chegada dos colonizadores portugueses ao Novo Mundo. O primeiro portugus a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um gnio da astronomia, navegao e geografia e homem da mais absoluta confiana do rei de Portugal, d. Manuel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. (...) As novas pesquisas sobre a verdadeira histria do descobrimento sepultam definitivamente a inocente verso ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direo s ndias. (ISTO, 26 de novembro de 1997.) 2. ... a despeito de nossa riqueza aparente, somos uma nao pobre em sua generalidade, onde a distribuio do dinheiro viciosa, onde a posse das terras anacrnica. Aquele anda nas mos dos negociantes estrangeiros; estas sob o taco de alguns senhores feudais. A grande massa da populao, espoliada por dois lados, arredada do comrcio e da lavoura, neste pas 6

essencialmente agrcola, como se costuma dizer, moureja por ali abatida e faminta, no tendo outra indstria em que trabalhe; pois que at os palitos e os paus de vassoura mandam-lhe vir do estrangeiro. (...) povo educado, como um rebanho mole e automtico, sob a vergasta do poder absoluto, vibrada pelos governadores, vice-reis, capites-mores e pelos padres da companhia; povo flagelado por todas as extorses - nunca fomos, nem somos ainda uma nao culta, livre e original. (Romero, Slvio. Histria da Literatura Brasileira. 1881.) 3. O Brasil surge e se edifica a si mesmo, mas no em razo do desgnio de seus colonizadores. Eles s nos queriam como feitoria lucrativa. Contrariando as suas expectativas, nos erguemos, imprudentes, inesperadamente, como um novo povo, distinto de quantos haja, deles inclusive, na busca de nosso ser e de nosso destino. (...) Somos um povo novo, vale dizer um gnero singular de gente marcada por nossas matrizes, mas diferente de todas, sem caminho de retorno a qualquer delas. Esta singularidade nos condena a nos inventarmos a ns mesmos, uma vez que j no somos indgenas, nem transplantes ultramarinos de Portugal ou da frica. (Ribeiro, Darcy. O Brasil como problema.1995.) 4. No conhecemos proletariado, nem fortunas colossais que jamais se ho de acumular entre ns, graas aos nossos hbitos e sistema de sucesso. Nem argentarismo, pior que a tirania, nem pauperismo, pior que a escravido. (...) O Brasil jamais provocou, jamais agrediu, jamais lesou, jamais humilhou outras naes. (...) A estatstica dos crimes depe muito em favor dos nossos costumes. Viaja-se pelo serto sem armas, com plena segurana, topando sempre gente simples, honesta, servial. Os homens de Estado costumam deixar o poder mais pobres do que nele entraram. Magistrados subalternos, insuficientemente remunerados, sustentam terrveis lutas obscuras, em prol da justia, contra potentados locais. (...) Quase todos os homens polticos brasileiros legam a misria a suas famlias. (Affonso Celso. Porque me ufano de meu pas. 1900.) 5. () Se tu vencesses Calabar! / Se em vez de portugueses, / holandeses!? / Ai de ns! / Ai de ns sem as coisas deliciosas que em ns moram: / redes, / rezas, / novenas, / procisses, / e essa tristeza, Calabar, / e essa alegria danada, que se sente / subindo, balanando, a alma da gente. / Calabar, tu no sentiste / essa alegria gostosa de ser triste! (Lima, Jorge de. Poesia Completa, vol. 1.)

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6. O pau-brasil foi o primeiro monoplio estatal do Brasil: s a metrpole podia explor-lo (ou terceirizar o empreendimento). Seria, tambm, o mais duradouro dos cartis: a explorao s foi aberta iniciativa privada em 1872, quando as reservas j haviam escasseado brutalmente. Explorao no o termo: o que houve foi uma devastao, com a derrubada de 70 milhes de rvores. Como que confirmando a vocao simblica, o pau-brasil seria usado, em setembro de 1826, para o pagamento dos juros do primeiro emprstimo externo tomado pelo Brasil. Ao deparar com o Tesouro Nacional desprovido de ouro, d. Pedro I enviou Inglaterra 50 quintais (3t) de toras de pau-brasil para leilo-las em Londres. A esperana do Imperador de saldar a dvida com o "pau-de-tinta" esbarrou numa inovao tecnolgica: o advento da indstria de anilinas reduzira em muito o valor da rvore-smbolo do Brasil. Os juros foram pagos com atraso. Em dinheiro, no em paus. (Bueno, E. (org). Histria do Brasil. Empresa Folha da Manh. 2 ed. 1997) 7. Jamais se saber com certeza, mas quando os portugueses chegaram Bahia, os ndios brasileiros somavam mais de 2 milhes - quase trs, segundo alguns autores. Agora, dizimados por gripe, sarampo e varola, escravizados aos milhares e exterminados pelas guerras tribais e pelo avano da civilizao, no passam de 325.652 - menos do que dois Maracans lotados. (...) A idade mdia dos ndios brasileiros de 17,5 anos, porque mais da metade da populao tem menos de 15 anos. A expectativa de vida de 45,6 anos, e a mortalidade infantil de 150 para cada mil nascidos. Existem pelo menos 50 grupos que jamais mantiveram contato com o homem branco, 41 dos quais nem sequer se sabe onde vivem, embora seu destino j parea traado: a extino os persegue e ameaa. (Bueno, E. (org). Histria do Brasil. Empresa Folha da Manh. 2 ed. 1997). 8. H um Cdigo de Defesa do Consumidor, h leis que cuidam do racismo, do direito de greve, dos crimes hediondos, do juizado de pequenas causas, do sigilo da conversao telefnica, da tortura, etc. O pas cresceu. (Carvalho Filho, L. F. Folha de S. Paulo. 3 de outubro de 1998). TEMA B Imagine-se nesta situao: um dia, ao invs de encontrar-se no ano de 1998, voc (mantendo os conhecimentos de que dispomos em nossa poca) est em abril de 1500, participando de alguma forma do seguinte episdio relatado por Pero Vaz de Caminha: 8

"Viu um deles [ndios] umas contas de rosrio, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lanou-as ao pescoo. Depois tirou-as e enrolou-as no brao e acenava para a terra e ento para as contas e para o colar do capito, como que dariam ouro por aquilo. Isto tomvamos ns assim por o desejarmos; mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto no queramos ns entender, porque no lho havamos de dar." (Caminha, Pero Vaz de. Carta a El Rey Dom Manuel.) Redija uma narrativa em 1a pessoa. Nessa narrativa, voc dever: a) participar necessariamente da ao; b) fazer aparecer as diferenas culturais entre as trs partes: voc, que veio do final do sculo XX, os ndios e os portugueses da poca do descobrimento.

TEMA C Faa de conta que voc tem um amigo em Portugal que confia muito em voc e que estava pensando em passar uma temporada no Brasil e talvez at em migrar. Suponha tambm que, recentemente, ele lhe tenha escrito uma carta dizendo que est pensando em abandonar tal projeto, em conseqncia das notcias sobre o Brasil que tem lido ultimamente. Para justificar-se, ele incluiu na carta a seguinte amostra de manchetes, que o impressionaram, publicadas com destaque em menos de um ms, em um nico jornal: FALTAM GUA, LUZ E TELEFONE NAS ESCOLAS, DIZ PESQUISA DO MINISTRIO DA EDUCAO (Folha de S. Paulo, 16 de setembro de 1998) METADE DOS ELEITORES NO TM 1o. GRAU (Folha de S. Paulo, 20 de outubro de 1998) BRASIL CAMPEO DE CASOS DE DENGUE, LEPRA E LEPTOSPIROSE NAS AMRICAS (Folha de S. Paulo, 21 de setembro de 1998) MISERVEIS SO 25 MILHES (Folha de S. Paulo, 26 de setembro de 1998) 83% SO ANALFABETOS FUNCIONAIS (Folha de S. Paulo, 26 de setembro de 1998) PARTOS DE MENINAS AUMENTARAM 81% NO RIO (Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 1998) 9

SP DESPEJA NA RUA UM TERO DE SEU LIXO (Folha de S. Paulo, 4 de outubro de 1998) Escreva-lhe uma carta na qual, colocando em discusso as manchetes acima, voc tenta convenc-lo de que, apesar de haver de fato problemas, a imagem que se faz de nosso pas, a partir do noticirio, parcial, e que, portanto, continua valendo a pena vir para o Brasil. Ateno: ao assinar a carta, use iniciais apenas, de forma a no se identificar.

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PROPOSTA 2 - FGV/ 2000 INSTRUES Esta prova constituda de apenas um texto. Com base nele: D um ttulo sugestivo sua redao. Redija um texto a partir das idias apresentadas. Defenda os seus pontos de vista utilizando- se de argumentao lgica. Na avaliao da sua redao, sero ponderados: A correta expresso em lngua portuguesa. A clareza, a conciso e a coerncia na exposio do pensamento. Sua capacidade de argumentar logicamente em defesa de seus pontos de vista. Seu nvel de atualizao e informao. A originalidade na abordagem do tema. A Banca aceitar examinando. qualquer posicionamento ideolgico do

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Evite fazer rascunho e passar a limpo para no perder tempo. A redao pode ser escrita a lpis. Ateno para escrever com caligrafia bem legvel. TEMA Eu no queria estar na sua pele. Com essa frase, dirigida ao vice-presidente das Organizaes Globo, Joo Roberto Marinho, o presidente da TV Cultura, Jorge da Cunha Lima assinalou a imensa responsabilidade social que as emissoras de televiso tm, dada sua influncia sobre o modo de pensar do brasileiro. Lima considerou a TV o grande formador da alma brasileira, afirmando que a TV Cultura e a Rede Globo representam os dois paradigmas da comunicao audiovisual do pas: Eu no tenho medo de dizer que o futuro da TV brasileira vai ser o que ns dois vamos ser. A seu ver a TV Cultura, por ser uma emissora pblica (e portanto no ter compromisso com lucros), deve ser palco de experincias para melhorar a programao, as quais podem ser aproveitadas mais tarde na TV comercial. Cunha Lima, que foi aplaudido de p pelos participantes, completou sua apresentao reafirmando o papel formador da TV no Brasil: Somos a nica forma de entretenimento para milhes de pessoas, porque somos gratuitos. Mas ressaltou que a TV no pode substituir a escola: A TV deve ser um instrumento de formao complementar do homem, informando-o e despertando seu gosto. (Natasha Madov, uol/aprendiz) ______________________________________________________

PROPOSTA 3 - VUNESP/2000 INSTRUO: Leia a seguinte pardia de Millr Fernandes.

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in: Bundas, ano 1, n 4, 6 a 12 de julho de 1999, p. 5.

PROPOSIO (adaptada) Na atualidade, tomamos conhecimento de vrias formas de corrupo por meio da imprensa, bem como a vemos abordada em peas teatrais, telenovelas e ilustrada em quadrinhos, charges e programas cmicos. A maioria dos brasileiros condena a corrupo, considerando-a culpada dos principais males que atingem o pas, mas h tambm quem afirme que uma "doena sem remdio" ou que faz parte da natureza de nossa sociedade. Nesse contexto, o cartum de Millr Fernandes, parodiando um gnero de publicidade oficial, convoca sarcasticamente os jovens a participar da corrupo em todos os setores da vida nacional. Posicionando-se como algum que pensa em seu futuro e sabe que pode encontrar no caminho a corrupo, manifeste sua opinio sobre o assunto, escrevendo uma redao, de gnero dissertativo, sobre o tema: O JOVEM ANTE A CORRUPO: UM INIMIGO A COMBATER OU UM DADO A ACEITAR?

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 4

'"E, nunca se esqueam, tomem na lembrana, narrem aos seus filhos, havidos ou vindouros, o que vocs viram com esses olhos terrivorosos, e no souberam impedir, nem compreender, nem agraciar." ( A Benfazeja) Joo Guimares Rosa

NarraoA narrao tem como matria bsica o fato, um acontecimento, real ou fictcio, que ser contado em 1 ou 3 pessoa. 1. Elementos da narrativa. 2. Transformao dos discursos. 3. Proposta de narrao. 4. Orientaes para seu texto narrativo. 5. Leitura Complementar ______________________________________________________ 1. J falamos sobre a narrativa em outra aula. Vimos os principais elementos que compem um texto narrativo, lembra-se? Enredo, personagens, tempo, espao, tempo, espao e narrador. J analisamos os tipos de narrador e apresentei a vocs os tipos de discurso...Disse que continuaramos o assunto...e, hoje, vamos prtica: vamos testar seus conhecimentos e, ao final, farei uma proposta a voc. Uma reviso dos tipos de discurso (fala das personagens): 1) discurso direto (o prprio personagem fala); 2) discurso indireto (o autor conta com suas prprias palavras o que o personagem diria.). 1

3) discurso indireto livre (o narrador e o personagem falam em unssono. No h presena de verbos de elocuo, de travesses, dois pontos). ______________________________________________________ 2. Transformao dos discursos. Discurso DiretoPresente Futuro do Presente Pretrito Perfeito Imperativo 1a.ou 2a pessoa Vocativo Forma Interrogativa Advrbios aqui, agora, hoje, amanh naquele Pronomes demonstrativos e possessivos essa(s), esses(s) isso, isto meu, minha teu,tua nosso, nossa

Discurso IndiretoPretrito Imperfeito Futuro do pretrito Pretrito mais-queperfeito Pretrito Imperf. do Subjuntivo 3a pessoa Objeto Indireto Forma Declarativa l, naquele momento, dia, no dia seguinte aquela (s) aquilo seu, sua (dele, dela) seu, sua (dele, dela) seu, sua (deles, delas)Fonte: Coleo Objetivo, Livro de Redao.

Veja um exemplo do vestibular em que pede essa modificao no discurso: (FATEC) Ela insistiu: -Me d esse papel a. Na transposio da fala da personagem para o discurso indireto, a alternativa correta : a) Ela insistiu que desse aquele papel a. b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali. c) Ela insistiu em que me desse aquele papel a. d) Ela insistiu por que lhe desse este papel a. e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali. A resposta correta a da letra e; perceba os elementos que foram alterados. 2

(FUVEST) Maurcio saudou, com silenciosa admirao, esta minha avisada malcia. E imediatamente, para o meu Prncipe: -H trs anos que no te vejo, Jacinto...Como tem sido possvel, neste Paris que uma aldeola, e que tu te atravancas?(Ea de Queirs, A cidade e as serras)

a) Transponha para o discurso indireto o excerto acima, fazendo as adaptaes necessrias. b) Justifique, agrupando-as em dois blocos, as alteraes realizadas. Resposta (fonte: Curso Objetivo): a) Maurcio saudou, com silenciosa admirao, esta minha avisada malcia. E imediatamente disse para o Jacinto que havia trs anos que no o via e perguntou como tinha sido possvel naquele Paris que era uma aldeola e que ele atravancava. b) No discurso indireto, que registra o fato da perspectiva do narrador, a enunciao vai para um tempo anterior; assim tem-se havia e via (pretrito imperfeito), em vez de h e vejo (presente); tinha sido (pretrito mais-que-perfeito composto do indicativo), em vez de tem sido (pretrito perfeito composto do indicativo); era e atravancava (pretrito imperfeito do indicativo), em vez de e atravancas (presente do indicativo). No discurso indireto tem-se a 3a pessoa do singular substituindo a 1a. e 2a.do discurso direto; assim o pronome o entra no lugar de te; aquele substitui este (neste) e muda-se para a 3a. pessoa (ele) o pronome da 2a. pessoa (tu). Foi introduzido o verbo dicendi (dizer), tirando-se os dois pontos e travesso, pontuao do discurso direto, sendo estabelecida uma relao de subordinao (que). O vocativo, Jacinto, tpico da fala do discurso direto, acaba tornando-se objeto no discurso indireto. ________________________________________________ 3. Proposta de narrao. Vamos fazer uma narrao? No existem frmulas para fazer uma boa redao, mas orientaes bsicas, a partir das quais cada qual ir construir um texto com o prprio estilo. O exerccio constante, aliado prtica da leitura, e a reflexo so indispensveis para a criao de textos. 3

Procure, a em sua casa, treinar a escrita. verdade que a narrao no normalmente colocada como proposta no Vestibular. O fato que voc desenvolve seu potencial criativo ao contar uma histria, com elementos da narrativa j determinados: como ser original? esse o seu desafio: escreva uma narrao e pense que milhares de pessoas tero os mesmos elementos que voc para escrever o texto...a diferena estar no tratamento do tema e na elaborao da linguagem.

No dia 5 de outubro de 1999, tera-feira, o jornal Correio Popular, de Campinas, SP, publicou a seguinte manchete de primeira pgina, acompanhada de breve texto:

100 mil ficam sem gua em SumarUm crime ambiental provocou a suspenso do abastecimento de gua de cerca de 100 mil moradores de Sumar. A medida foi tomada na sexta-feira, quando uma mancha de leo de aproximadamente 3 quilmetros de extenso surgiu nas guas do rio Atibaia. Anteontem, uma nova mancha apareceu nas proximidades da Estao de Tratamento de gua I, na divisa entre o bairro Nova Veneza e o municpio de Paulnia. A situao somente ser normalizada na quinta-feira. A Cetesb investiga o caso e os tcnicos acreditam que o produto (leo diesel ou gasolina) foi despejado em esgoto domstico em Paulnia. Leve em conta esta notcia e privilegie a hiptese dos tcnicos, apresentada no final do texto. A partir desses elementos, escreva uma narrao em terceira pessoa, caracterizando adequadamente personagens e ambiente. Crie um detetive ou um reprter investigativo que, quando tenta resolver o crime ambiental, descobre que o ocorrido parte de uma conspirao maior.

Ateno s exigncias da proposta: caracterize as personagens, faa a associao dos fatos com o espao e muita ateno ao narrador: deve ser em 3a.pessoa (ou observador ou onisciente...) no fuja da proposta. Nota: Voc poder, depois que fizer sua narrativa, acessar o site da Unicamp e ler alguns dos textos que a Banca Examinadora considerou como as melhores sobre esse tema. ______________________________________________________ 4. Orientaes para seu texto narrativo.

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Fique atento estrutura da narrao e apresentao de seu texto: inclusive quanto esttica. Nunca fuja do tema: escreve sobre o que pede a proposta. Na narrativa, procure responder s questes bsicas: o qu?, quem?; quando?; onde?; como? por qu?. Lembre-se de ser coerente ao formar sua seqncia lgico-temporal dos fatos; os elementos devem estar relacionados entre si. Ateno ao foco narrativo:voc deve seguir a proposta e buscar uma coerncia entre aquele que narra e o tipo de linguagem e na forma de desenvolver os fatos. como um filme com um problemas de roteiro, que, quando percebidos, tornam inverossmil a histria. Observe, tambm, quando e como usar os diferentes tipos de discurso; por exemplo, no indireto-livre, o narrador dever ser necessariamente onisciente Ao construir sua personagem, muito cuidado para situ-la dentro do tempo e do espao em que se desenvolvero os fatos. A caracterizao fsica e psicolgica deve permitir ao leitor conhec-la, formar uma idia que a vincule aos fatos. Deve-se observar classe econmica a que pertence, seus hbitos culturais, sua linguagem, suas roupas,sua idade, enfim, faz-la verdadeira dentro do texto. A linguagem coloquial pode (e deve) ser usada para dar-se voa s personagens; s vezes ao prprio discurso do narrador. A linguagem figurada tambm bem-vinda num texto narrativo; use a criativa, crie metforas, metonmias, sinestesias, recursos sonoras; crie! Mesmo sendo permitido o uso da linguagem coloquial, talvez grias, regionalismos, no v descuidar da Gramtica, quando se fizer necessrio.

Quanto esttica,no descuide de sua letra, que deve ser legvel (manuscrita ou de forma); ateno s margens, procure deixar alinhado seu texto e evite as rasuras. Um bom expediente o rascunho: voc ter a chance de, relendo o texto, aprimor-lo, alm de cuidar da gramtica e de evitar as rasuras. Caso erre uma palavra ao passar seu texto a limpo, simplesmente passe um trao e escreva o correto frente, combinado? ______________________________________________________ 5. Leitura Complementar Leia a crnica narrativa que segue e observe como o tratamento de um tema comum, as rusgas com um professor (e de Portugus) tornou-se um belo texto. Essa leitura complementar, apresenta como objetivo sugestes para que voc se espelhe e busque a sua forma de escrever... 5

Edio n26 - 14/04/00 Nave da palavra

Meu Professor de PortugusNo posso descrever com fidelidade o seu rosto. H certas mincias e detalhes que o tempo se encarrega de apagar. No posso, por exemplo, descrever seu nariz, sua boca, mas, em algum canto do meu crebro ficou gravado seu olhar mope, suas sobrancelhas cerradas entrecortando-se acima dos olhos. Era um olhar to grave que eu no ousava desafiar. Ele foi meu professor por um perodo de trs anos. Durante a 5, 6 e 7 sries, consecutivamente. Excluindo os domingos, eu o encontrava todos os dias. Era mal-humorado , carrancudo e no fazia a mnima questo de cumprimentar os transeuntes. Esboar um sorriso? S para as meninas do magistrio. Quando elas passavam ele estendia um olhar benevolente, como se tivesse alguma carncia afetiva, e sempre exclamava a mesma frase: ah, se eu tivesse 20 anos... Nessas horas eu chegava a ter pena dele. O silncio que procedia aps a fala, parecia avolumar-se dentro do peito, sufocando o espao interior. Com olhos faiscantes ele destilava sobre ns o veneno da frustrao: Voc a que parece a Belm-Braslia, leia sua redao. Essa era eu. s vezes, tambm me chamava de magricela, quando no, dizia apenas voc a. Nunca me lembro de t-lo ouvido pronunciar o meu nome, nem os de minhas amigas. Ser que ele temia criar algum lao mais profundo? Se essa era a meta, ele conseguiu. Eu mesma cheguei a ter dio dele. dio esse, que eu guardava em sigilo e disfarava com um sorriso amarelo pra que ele no percebesse. Mas, quando o rancor silencioso vai se avolumando e transforma-se numa bola enorme, arremessada freneticamente do estmago para a garganta, num ricto nervoso, a gente desrespeita a lei e vomita. Vomita tudo de uma s vez. Eu estava cansada de tanto escrever redao, narrao, descrio, dissertao... e todos os os que ele usava para discriminar os textos. Pior que nos mandava ler em voz alta. Lamos, e ele criticava: Precisa melhorar, est faltando a essncia. Quanto tempo vaguei procura da tal essncia! Pensava ser ela, um fludo areo que eu jamais conseguiria captar. Naqueles trs anos, tudo o que aprendi estava relacionado com a produo de textos. Na poca eu j sabia o que era cacfato, pleonasmo, ambigidade, metfora... entretanto, no sabia diferenciar o objeto direto do indireto. Mas, como eu ia dizendo, chegou o dia do vmito. Eu disse vmito? Cus! Se meu professor lesse isso... Era a prova do ltimo bimestre da 7 srie. Como de costume, ele nos mandou escrever uma redao. Tema livre. Dissertei sobre o seguinte: O professor que eu quero ter. Fui fundo. Imerso total. Devolvi a ele a palavra cortante que havia me escalavrado. Devolvi na forma mais aguda das estruturas lingstica. Penso que doeu. Na entrega dos boletins, ele chamou-me parte. Tremi. As pernas bambearam. Os joelhos chegaram a bater um no outro. Fui capaz de imaginar a expresso da minha me observando um zero no meu boletim... como me enganei! Ele havia me dado dez! Apertou minha mo e disse: V em frente, voc encontrou a essncia. Descobri, numa frao de segundo que a essncia o conjunto de sentimentos que d vida ao texto, a natureza das coisas reveladas na sua intimidade. Essa a melhor imagem, dele, que guardei na retina da minha memria. Mesmo por linhas tortas, levou-me a tomar gosto pela escrita. E isso suficiente para eu perdoar meu velho professor de portugus.

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dez! Apertou minha mo e disse: V em frente, voc encontrou a essncia. Descobri, numa frao de segundo que a essncia o conjunto de sentimentos que d vida ao texto, a natureza das coisas reveladas na sua intimidade. Essa a melhor imagem, dele, que guardei na retina da minha memria. Mesmo por linhas tortas, levou-me a tomar gosto pela escrita. E isso suficiente para eu perdoar meu velho professor de portugus. Lucilene Machado

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 5

DISSERTAO1. 2. 3. 4. 5. 6. Definio de Dissertao. Roteiro para dissertao. Partes da dissertao. Prtica. Recomendaes Gerais. Leitura Complementar.

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1. Definio de Dissertao. Quantas vezes voc j no enroscou na palavra dissertao? A dissertao pode ser de vrios tipos, mas, essencialmente, refere-se apenas apresentar uma idia a algum.

O tipo de texto em que predomina a defesa de uma idia chamado Dissertao. Este tipo de texto requer um exame crtico do assunto, raciocnio, clareza, coerncia, objetividade na exposio, planejamento de trabalho e habilidade de expresso.

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Roteiro para dissertao

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Se voc pensa em ir a algum lugar, aonde nunca foi antes, natural que imagine um roteiro, para que ganhe tempo e corra menos riscos de se perder, certo? Faa o mesmo quando pensar em fazer uma dissertao. Se quer comear a faz-la, sabendo aonde ir chegar, trace um plano: determine seu caminho. Como? Vamos ver: 1o Reflita sobre o tema: qual o assunto? Qual seu posicionamento sobre ele? 2o Quais as informaes que voc possui sobre o tema? Escreva todas as que considerar importantes. 3o A que concluso voc conseguiu chegar?

importante nunca esquecer que, ao dissertar, voc tem algum para quem apresentar suas idias (nem sempre se sabe quem). preciso, ento, ser claro. Vejamos um exemplo: No mundo moderno, onde cada vez mais dura a competio pessoal, e cada vez mais profundo o abismo da ignorncia, no por incapacidade do esprito humano, mas pelo aumento enorme da quantidade de coisas a aprender, a leitura ainda dos mais decisivos meios para a aquisio de conhecimento. Leitura e personalidade continuam juntas: dize-me o que ls e te direi quem s! Se o primeiro passo refletir sobre o tema, quando somos ns quem ir escrever, vale a mesma regra para entender o texto j escrito por algum. Trata-se de um texto dissertativo? Sim, porque algum nos apresentou uma idia. Sobre o que trata esse texto? Sim, voc acertou: sobre a leitura esse o tema. Qual o posicionamento do autor? Ler decisivo para a aquisio de conhecimento. Quais os argumentos utilizados? Caracterizao do mundo moderno como competitivo,e h grande quantidade de coisas a aprender.

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A que concluso o autor nos leva? A de que a leitura a principal fonte de conhecimento do homem e uma forma de caracteriz-lo (talvez diferenci-lo) nesse mundo competitivo. 3. Partes da dissertao.

Claro, esse um pequeno texto: um pargrafo. No Vestibular, voc ter de elaborar uma redao em mdia com 30 linhas... mas, no se assuste, voc j aprendeu o caminho: j sabe qual o plano a seguir. A estrutura da dissertao formal, o que significa que ela no se modifica: seja em um pargrafo ou em um texto com vrios pargrafos. Vamos rever os nomes dessas trs partes: 1o TESE ou INTRODUO: idia central. A introduo apresenta a idia que vai ser discutida (tpico frasal), portanto, dever ser objetiva, direta. Em um texto de 30 linhas, pense em usar at 5 linhas para apresentar a tese. Voc poder iniciar seu texto com perguntas, afirmaes, citaes, contanto um fato; desde que o leitor identifique de imediato qual o seu ponto de vista sobre o tema. 2o DESENVOLVIMENTO: argumentos organizados. Trata-se da 2 .parte do texto dissertativo; no desenvolvimento da tese, estaro presentes os argumentos, fatos histricos associados quele tema; citaes literrias ou noliterrias; comparaes geogrficas; fatos do cotidiano, desde que pblicos. Vale a originalidade Numa redao com 30 linhas, procure fazer 3 ou 4 pargrafos no desenvolvimento, com a mdia de 6 linhas para cada enfoque (a cada pargrafo corresponde um enfoque diferente ao tema, sempre de acordo com a sua tese).a

3o C O N C L U S O : finalizao do texto. A concluso pode sintetizar as idias expostas, apresentadas e discutidas no desenvolvimento; ou, apresentar uma soluo para o tema tratado; mas, cuidado: no apresente solues bvias, porm impraticveis de fato; fuja do lugar-comum! Use, no mximo, um pargrafo com at 5 linhas. 4. Prtica.

Em outra aula falaremos em especial sobre temas: o tema objetivo e o tema subjetivo. Por vezes, o vestibular fornece um texto como tema, caso em que o vestibulando ter de interpretar o assunto a ser tratado. Em outros vestibulares, d-se uma pergunta-tema, juntamente com uma coletnea sobre o tema dado. Essa coletnea, normalmente, apresenta enfoques distintos, modalidades textuais ou at linguagens diferentes (textos em prosa ou at em verso - literrios ou no-literrios; letras de msica; pinturas; charges) para que voc reflita a partir de pontos de vista diversos e possa us-los a favor do desenvolvimento de sua tese. No se deve copiar, porm, trechos ou apenas transcrever as idias; mas, sim, a partir dessas idias alheias, apresentar o que voc pensa, certo? Sua vez: use nosso plano, e procure fazer seu texto, a partir de uma proposta que j foi tema no Vestibular da PUC do RJ. 3

Vestibulando, na sua opinio, quais seriam os caminhos para uma melhoria do nvel de ensino no Brasil? ............................................................................................... Se voc daqueles que no sabe como iniciar seu texto, comece de forma direta, por exemplo: O nvel de ensino dos estudantes no Brasil poder ser melhorado se... Recolha as informaes que possui sobre o tema: preciso mais verba? preciso aprimorar a qualidade dos professores? preciso ampliar a quantidade de horas na escola? No se esquea de que no basta dizer sim ou no s questes levantadas. importante dizer os motivos; explicitar ao leitor porque pensa daquela forma expressa no texto. C o n c l u a o texto: talvez apresentando uma soluo, ou, simplesmente retomando, com outras palavras, o que voc escreveu no incio. Treine e procure expressar suas idias por escrito.Em outras aulas, continuaremos a pensar, escrevendo. Um grande abrao! 5. Recomendaes Gerais.

a) O tratamento ao tema dever ser impessoal, o que significa que voc dever evitar o uso da primeira pessoa, especialmente o eu. b) A redao pedida em prosa; significa que voc no dever fazer versos. A modalidade redacional normalmente a Dissertao, por esta ser mais adequada reflexo, discusso e ao desenvolvimento de um assunto (claro que voc poderia fazer um poema reflexivo, ou uma narrativa reflexiva ou uma crnica reflexiva, mas no so estes os textos desejados no vestibular; em raras excees, tem-se a opo da narrao ou da carta). c) Procure, sempre que possvel, fazer rascunho; ao passar a limpo seu texto, voc ter a chance de rever suas idias, fazer a correo gramatical, perceber se h incoerncias, enfim, ser possvel ter mais segurana quanto ao resultado. 4

d) Na Dissertao, deve-se discutir o assunto, expor pontos de vista, analisar diferentes aspectos relacionados ao tema, buscando causas, conseqncias, exemplos, at, se possvel, solues ao "problema". e) A esttica importante: preocupe-se em alinhar pargrafos e margens. Torne seu texto mais fcil para e leitura e entendimento do examinador; se ele no entender sua letra, como entender suas idias? f) A idias devem estar ligadas entre si, dentro dos pargrafos e entre os pargrafos a chamada coeso textual. Cuidado para no fazer pargrafos com um nico perodo, pontue as oraes: perodos curtos facilitam o entendimento da mensagem. f) No descuide da gramtica: o conhecimento da norma culta avaliado em seu texto. A linguagem dever ser objetiva; muito cuidado ao tentar usar a ambigidade, ou a ironia voc poder tornar confuso o texto. g) D um ttulo, sempre que a proposta assim o solicitar; ele no ser obrigatrio, se no houver determinao expressa. Coloque esse ttulo na folha dada para a verso definitiva, na 1 linha; deixe uma linha em branco, e inicie o seu 1 pargrafo. h) Procure ler artigos em revistas, notcias em jornais, participe de debates com seus colegas e seus familiares sobre assuntos dirios scio-poltico-econmicos do Brasil ou do mundo...verbalize e escreva, sempre.

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 6

TEMA OBJETIVO E TEMA SUBJETIVO.

1. 2. 3.

Tema objetivo e tema subjetivo. Possibilidades de construo de um texto dissertativo a partir de temas subjetivos e de temas objetivos. Ttulo e Tema.

4. Exerccios. ________________________________________________ 1. Tema objetivo e Tema Subjetivo. Para entender a diferena entre um tema objetivo e um tema subjetivo, faz-se necessrio, antes, relembrar que h mais de uma forma de usar as palavras: no sentido real ou no sentido figurado. Essa diferenciao no se faz apenas no uso da linguagem escrita ou falada, mas tambm ao se fazer uso de outras linguagens. Explico: quando se assiste a um filme, possvel associar seu enredo a outros significados que no apenas aquele aparente; voc assistiu a Matrix, por exemplo? Ser que aquela histria de se viver um mundo falso, que algum programa para ns, no uma grande metfora? Vemos tudo o que existe? O que existe real ou nossos sentidos nos enganam? O verde que voc v o verde que eu vejo? Como saber? Voc poder pensar desta forma tambm ao admirar uma pintura, uma escultura, um grafite na rua, e se perguntar: o que ser que se quis dizer com essa representao? Enfim, consegue perceber a possibilidade de mais de uma leitura nas diferentes linguagens? Os examinadores esperam que voc seja analtico, que faa associaes, que entenda no ser mundo algo esttico scioeconmico-poltica e culturalmente. Ento, guarde esses conceitos.

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Denotao-palavra usada em sentido literal: objetividade. Uma meta existe para ser um alvo, mas quando o poeta diz meta pode estar querendo dizer o inatingvel (Gilberto Gil) Conotao-palavra usada em sentido figurado: subjetividade. No primeiro verso do poema, Gilberto Gil d uma definio objetiva de meta; introduz, com uma conjuno coordenativa adversativa, uma ressalva: se poeta, aquele que faz uso da palavra, a meta pode passar a significar qualquer outra coisa, inclusive o seu oposto.

Um resuminho: DENOTAO palavra com significao restrita palavra com sentido comum do dicionrio palavra usada de modo automatizado linguagem comum CONOTAO palavra com significao ampla palavra cujos sentidos extrapolam o sentido comum palavra usada de modo criativo linguagem rica e expressiva

2. Possibilidades de construo da tese a partir de um tema subjetivo e de um tema objetivo. O tema , ento, a proposta para a redao. Voc ir delimitar o assunto; a partir dessa delimitao ir formular sua tese (a afirmao central sobre o assunto, que ser desenvolvida e comprovada no texto). Observe que h uma tendncia de os vestibulares apresentarem o tema e uma coletnea de textos, de todos os tipos: fragmentos filosficos, excertos literrios; poemas; reportagens ou notcias de jornais e revistas; cartuns ou pinturas. Nessa coletnea, h diferentes abordagens sobre o tema, para que voc tenha subsdios, informaes. E at perceba que o examinador no deseja um texto com viso limitada sobre o assunto. Caso tenha pela frente um tema subjetivo, haver a necessidade de se interpretar a proposta.

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1o Tema subjetivo: Tudo o que slido desmancha no ar. (Karl Marx ) Delimitao do Assunto: *a observao de como a histria elimina estruturas aparentemente eternas. *trata-se de uma referncia s instituies, comportamentos, modelos econmicos, que se modificam no tempo. Tese: Nosso cotidiano parece cercado por estruturas fixas, imutveis, sejam instituies, relaes de poder, formas de vida. Mas, se dermos um passo atrs e olhamos a histria, o que encontramos uma sucesso de transformaes, em que estas estruturas, que pareciam eternas, so criadas e destrudas. 3o 2o

Esse foi um exemplo com tema subjetivo. Vejamos um exemplo de tema objetivo. L-se o tema e imediatamente se reconhece sobre o que se pode falar no texto. 1o 2o

Tema: Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Delimitao do Assunto: *como conciliar desenvolvimento econmico e preservao do meio ambiente? *estar o meio ambiente em estado de degradao sinal de evoluo da sociedade capitalista ou involuo? Tese: Depois de as grandes potncias econmicas passarem pelo perodo de explorao da maior parte dos recursos naturais existentes, e pelo completo descuido com o meio ambiente, surge a preocupao em se controlar esse processo, antes desordenado, para que se possa falar em geraes futuras. 3o

3.

Diferena entre tema e ttulo.

Enquanto o tema a proposta; o ttulo o nome que se d ao texto. Cada um que escreve, escolhe um nome que pode ser a sntese 3

do contedo ou, apenas, um chamariz original, que atraia o leitor para o texto.

Tema: Desenvolvimento e Meio Ambiente. Ttulo: No vers pas nenhum. (Ttulo de uma obra usado como ttulo para a redao, por isso est entre aspas.) Quais as necessidades do homem moderno? (Ttulo original; dispensa o uso de aspas ou grifos.)

4.

Exerccios

Treine um pouco: a partir dos diferentes temas, pense quais assuntos que poderiam ser abordados. No h uma resposta nica, portanto, no oferecerei gabarito. O importante o exerccio de reflexo: se tiver dvidas, escreva! H temas objetivos e temas subjetivos, faa como os exemplos desenvolvidos em aula: delimite o assunto e faa o primeiro pargrafo. 1."As estruturas estatais no mundo moderno se construram em torno de um territrio nacional. Esse foi o parmetro bsico da atuao dos Estados, embora no o nico. O Estado desenvolvimentista brasileiro no fugiu a essa regra e delineou o perfil do Brasil atual. Mal ou bem, criou-se por conta da arquitetura estatal um conjunto de interesses nacionais que por vezes se opem, mesmo que de modo frgil, aos interesses estrangeiros. Na verdade, isso comum a todas as naes modernas."OLIVA, Jaime. GIANSANTI, Roberto,Temas da Geografia do Brasil. So Paulo: Atual, 1999

2."O continente condenado" "frica em chamas"

Nota: As propostas das questes 1, 2 e 3 foram extradas da prova da PUC/RJ e adaptadas a esse exerccio.

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3.Na leiteria a tarde se reparte em iogurtes, coalhadas, copos de leite e no espelho meu rosto. So quatro horas da tarde, em maio. Tenho 33 anos e uma gastrite. Amo a vida que cheia de crianas, de flores e mulheres, a vida, esse direito de estar no mundo, ter dois ps e mos, uma cara e a fome de tudo, a esperana. Esse direito de todos que nenhum ato institucional ou constitucional pode cassar ou legar. Maio 1964 (fragmento) Mas quantos amigos presos! quantos em crceres escuros onde a tarde fede a urina e terror. H muitas famlias sem rumo esta tarde nos subrbios de ferro e gs onde brinca irremida a infncia da classe operria. ................................................................ Ferreira Gullar. Dentro da noite veloz. So Paulo: Crculo do Livro, s/d, p. 53

5.

Arnaldo Antunes Inferno "Lasciate ogni speranza voi ch'entrate" Aqui a asa no sai do casulo, o azul no sai da treva, a terra no semeia, o smen no sai do escroto, o esgoto no corre, no jorra a fonte, a ponte devolve ao mesmo lado, o galo cala, no canta a sereia, a ave no gorjeia, o joio devora o trigo, o verbo envenena o mito, o vento no acena o leno, o tempo no passa mais, adia, a paz entedia, pra o mar, sem maremoto, como uma foto, a vida, sem sada, aqui, se apaga a lua, acaba e continua.

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6.

Adlia Prado

DOLORESHoje me deu tristeza, sofri trs tipos de medo acrescido do fato irreversvel: no sou mais jovem. Discuti poltica, feminismo, a pertinncia da reforma penal, mas ao fim dos assuntos tirava do bolso meu caquinho de espelho e enchia os olhos de lgrimas: no sou mais jovem.

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Charge extrada do site oficial de Millor www.uol.com.br/millor/

7.

Charge extrada do site www.bundasnet.com.br/

da

Revista

Bundas

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REDAOProfessora Sandra Franco

AULA 7

Argumentao1. Tipos de argumentao.

2. A linguagem dissertativa: adequao, clareza, conciso, coeso. 3. Propostas. ________________________________________________ 1. Tipos de argumentao.

Depois de definido o assunto, a partir do tema proposto, segue-se a argumentao. preciso recolher todas as informaes pertinentes ao seu posicionamento sobre o assunto. Mas, quais os tipos de informaes que voc deve usar para ser persuasivo, convincente em sua argumentao? Vamos estudar algumas possibilidades agora. Voc pode iniciar o desenvolvimento de sua tese, fazendo uso de sua cultura geral: use exemplos da histria. uma maneira de voc explicar a origem de determinado problema, ou comparar um fato atual com outro j ocorrido. Veja um exemplo, a partir da tese de que a i n t r o d u o d e t e c n o l o g i a n a produo gera desemprego. Fatos histricos A relao entre desemprego e tecnologia no uma inovao da economia contempornea. J durante a Revoluo Industrial, no final do sculo XVIII, os operrios protestavam e quebravam mquinas para tentar deter o desemprego e a reduo de salrios que elas provocavam.

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Vamos continuar com essa tese e ver outras possibilidades: Dados estatsticos Uma anlise dos dados sobre desemprego nas ltimas duas dcadas mostram uma rpida substituio do trabalho humano por mquinas e equipamentos, cada vez mais presentes nas fbricas. Os trabalhadores na indstria, nos anos 80, representavam mais de 40% do total de trabalhadores; nos anos 90, este nmero caiu para 30%, dados que evidenciam a diminuio da oferta de empregos na indstria

A comparao deve ser usada no texto das mais diferentes formas: compare geograficamente, socialmente, identifique caractersticas especficas, diferenas e semelhanas; observe as diferenas culturais, sempre de acordo com sua tese. Comparao A situao do desemprego nas reas industriais brasileiras no diferente daquela encontrada em outros centros industriais do mundo, onde tambm so procuradas alternativas frente elevao do contingente de desempregados. Uma forma muito interessante de argumentar atravs da refutao: questionar valores, buscar outros ngulos de uma questo aparentemente fechada. Sair do lugar comum, claro, sem discordar pelo absurdo, mas atravs de uma idia que voc consiga sustentar. Refutao Podemos, entretanto, duvidar dessa afirmao: a economia norte-americana, centro da revoluo tecnolgica dos anos 90, registrou nesse perodo ndices historicamente baixos de desemprego, o que contradiz o binmio: tecnologia e desemprego.

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2. A linguagem dissertativa: adequao, clareza, conciso, coeso. H outras possibilidades de argumentar: fazendo constataes, realizando uma pequena narrativa que servir como exemplo. Por isso importante que voc leia e v arquivando informaes que sero usadas no desenvolvimento de seu texto. Voc pode misturar essas formas e argumentao com o cuidado de manter a chamada COESO textual as idias de um pargrafo devem ser decorrncia do pargrafo anterior ou preparao para os argumentos que sero expostos.Entendeu? No se esquea de treinar: use um mesmo tema e explore as diferentes formas que aprendemos hoje. Voc deve observar sua linguagem: selecione seu vocabulrio. No se trata de buscar palavras difceis, mas ser claro ao expressar suas idias. Organizar as frases, buscar a clareza e a coeso textuais (se der tempo, introduzir esses conceitos). O rascunho uma etapa essencial para um bom texto (falar sobre rascunho). 3. Exercite suas habilidades. Leia e escreva! Quanto mais voc escrever, melhor ser seu desempenho! Abaixo apresento algumas das propostas da PucCampinas. Observe que voc pode escolher entre a dissertao e a narrao. Procure se testar: escolha um tema com o qual voc menos se identifica; outro, que lhe parea mais interessante (aquele que voc adoraria que estivesse em seu vestibular). Caso no os envie para a correo ( e mesmo que assim o faa), mostre a seus pais. amigos, e pergunte se seu texto est claro: compare se o que voc escreveu o que voc pretendia escrever...ser interessante!

1998 Proposta I - Dissertao Todo texto dissertativo aborda um tema, ou seja, a delimitao de um assunto. Aps leitura atenta do editorial da Folha de S. Paulo e percepo das suas idias principais, verifique 3

qual o seu tema e sobre ele escreva uma dissertao clara e coerente.

TEXTO O fenmeno meteorolgico batizado de El Nio comea a assumir, no mundo todo, o papel antes reservado s pragas bblicas, responsveis por todas as desgraas. Sem negar os efeitos do fenmeno, parece um raciocnio simplista e cmodo atribuir a ele todos os males, do inverno que foi vero forte no Centro-Sul brasileiro s enchentes na Espanha, passando pelas queimadas no Sudeste Asitico. Culpar um fenmeno natural exime as autoridades e a sociedade de refletir sobre os danos natureza provocados pelo homem, cada vez mais graves. Tpica do comodismo a reao do governo brasileiro contra relatrio do Fundo Mundial para a Natureza que aponta o Brasil como campeo mundial de desmatamento de florestas tropicais nos ltimos anos. Para o porta-voz da Presidncia, os dados do governo indicam diminuio do desmatamento. O importante no tanto se o desmatamento aumentou ou diminuiu, mas o fato de que ocorra sem que fique clara uma poltica de ocupao da Amaznia. preciso levar em conta que, segundo a ONU, o Brasil o terceiro pas do mundo em rea preservada de florestas de fronteira, atrs apenas de Rssia e Canad. Se considerar que quase a metade das florestas mundiais j virou pasto ou campo agrcola, fica evidenciada a importncia internacional de se preservar o que resta. Mas o comodismo se estende tambm aos governos dos pases ricos (que, alis, j promoveram uma devastao quase total de suas florestas). O presidente dos EUA, Bill Clinton, por exemplo, nega-se a aceitar um aumento nos preos dos combustveis fsseis, uma forma de tentar conter a emisso dos gases que geram o efeito estufa, responsvel pelo crescente aquecimento da Terra. Tudo somado, entende-se o motivo da cmoda satanizao do El Nio: ela evita que cada um enfrente suas prprias responsabilidades. Folha de S. Paulo 1/2- 10/10/97

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Proposta II - Dissertao argumentativa Leia cuidadosamente os dois textos abaixo. Observe que eles tratam do mesmo tema, mas apresentam argumentos contrrios, pois defendem teses opostas. Com qual delas voc concorda? Redija uma dissertao argumentativa clara e coerente, defendendo um dos pontos de vista e refutando aquele contrrio ao seu. TEXTO I H um clssico argumento que procura justificar a ditadura cubana: o feroz isolamento que o governo dos EUA impem ilha, dificultando a vida econmica do pas e de sua populao, tese ainda defendida por intelectuais e polticos brasileiros de esquerda. O raciocnio em parte correto, mas acaba por legitimar o regime ditatorial.

TEXTO II Os que se horrorizam com o ditatorialismo dos regimes em que no h revezamento no poder esquecem-se de que as democracias de fachada podem ocultar os piores totalitarismos: a fome, a concentrao de renda, o desamparo social. Os ndices da educao e da sade pblicas de Cuba ainda so os melhores do que os nossos, apesar dos EUA. ( A partir de um editorial da Folha de S. Paulo - 15/10/97) Proposta III - Narrativa Atente para a descrio das seguintes personagens: Walmor: 40 anos, estatura mdia, cabelos claros, pele clara, ligeiramente avermelhada; os olhos so pequenos, esverdeados, e nunca se fixam nos olhos de um interlocutor. Veste-se com apuro; usa sempre meias da mesma cor da camisa. formado em administrao de empresas. Seu passatempo predileto so filmes de ao; seu livro inesquecvel chama-se A vida dos grandes estadistas.

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Paulo: 25 anos, cabelos e olhos castanhos, pele clara, alto e magro. S veste algodo; no se preocupa em combinar cor de roupa. Queria muito estudar arqueologia, mas acabou de formando em economia. Gosta de viajar e andar de bicicleta. Tem sempre consigo uma antologia da obra de Manuel Bandeira. Imagine uma situao em que essas personagens se encontram. Baseando-se em suas caractersticas, desenvolva uma pequena narrativa.

1997 PROPOSTA I (DISSERTAO EXPOSITIVA) Leia atentamente o texto. Procure analisar as idias nele contidas. Verifique de que fala e o que fala. Ao apreender sua essncia, redija uma dissertao sobre o tema (= delimitao do assunto) a abordado. Seja claro e coerente. TEXTO A conquista de espao pelas mulheres na sociedade moderna leva a uma inevitvel aproximao entre os sexos, em direo a uma - ainda no atingida - igualdade plena de direitos. Mas esse processo provoca, em contrapartida, uma disputa mais acirrada entre homens e mulheres. A equao envolvendo direitos e deveres torna-se complexa quando o tema reproduo, o que levou homens norte americanos a se organizarem em torno do que chamam seus direitos. Querem ser isentos de responsabilidade - inclusive pecunirias - sobre filhos cujas mes decidiram t-los mesmo sem o consentimento do pai biolgico. A natureza permite s mulheres tomar decises unilaterais sobre ter ou no um filho, desde decidir sozinha por um aborto legal em muitos pases - at esconder a gravidez do pai e optar pela chamada produo independente. Mas, nesses casos, o pai nunca deixou de existir, e deveria, preferencialmente, ter participao nas decises envolvendo a gestao. As reivindicaes masculinas tm tambm um fundo econmico. Muitos homens acreditam que o fato de a mulher ter ampliado seu espao no mercado de trabalho a tornaria apta a arcar sozinha com as responsabilidades da maternidade, se a opo pelo filho tiver sido apenas dela. 6

O raciocnio parece ter certa lgica para uma sociedade de direitos iguais. Mas no se aplica ao Brasil ou mesmo maioria dos pases. No mundo todo a mulher continua sendo vitimada - com barreiras culturais, salrios mais baixos, limitaes sua participao poltica etc. Os direitos masculinos podero, no futuro, ser aprimorados, se constatado que a mulher obteve as mesmas condies para conviver na sociedade. Mas o homem ainda o todo-poderoso em muitas reas de atuao. Em meio s diferentes reivindicaes, o ideal que a deciso sobre ter filhos - assim como a educao e o encaminhamento dado a eles - seja uma atribuio do casal. No caso de guerra, o que felizmente ainda no de generalizou, nenhum dos sexos poder sair vencedor. Folha de S. Paulo, 29/10/96

PROPOSTA II (DISSERTAO ARGUMENTATIVA) Leia cuidadosamente os dois textos abaixo. Observe que eles tratam do mesmo tema, mas apresentam argumento contrrios, pois defendem teses opostas. Com qual delas voc concorda? Redija uma dissertao argumentativa clara e coerente, defendendo um dos pontos de vista e refutando aquele contrrio ao seu.

TEXTO 1 Em nosso pas, em que a maioria da populao vive em condies de pobreza ou de misria, o Governo deve intervir diretamente no planejamento econmico, no funcionamento do mercado e nas formas de distribuio de renda. Os fracos no tm voz, e continuaro assim enquanto os governantes permanecerem na condio de simples gerentes de um lucrativo hipermercado.

TEXTO 2 As leis da economia no so traadas por decretos: o mercado tem sua prpria lgica, e tanto melhor funcionar quanto menor a interveno do Governo. A produo mxima e a lucratividade interessam a empregadores e a empregados: a justa distribuio de riquezas depende, obviamente, de que haja o que se distribuir. 7

PROPOSTA III (NARRATIVA) Leia, com ateno, o texto que segue. Nele, uma personagem se destaca. Quem ? Como ? Faa-a personagem principal da narrativa que voc criar. Coloque-a em um determinado tempo e lugar (no necessariamente os mesmos do texto apresentado). Faa-a agir, dentro de uma histria interessante. Escolha o foco narrativo (primeira ou terceira pessoa) e os tipos de discurso que desejar (direto, indireto ou indireto livre). Na noite de estria do circo vai completa toda a famlia. Vai completa, e s quando volta se v que incompleta da filha. (Joo Cabral de Melo Neto, versos de O circo, Crime na Calle Relator, 1987) ______________________________________________________

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