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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Vertebrados encontrados em lobeiras (Solanum lycocarpum St. Hil - Solanaceae): interação animal-planta - Campus Urbanova – Univap – São José dos Campos MARCOLINO, Luciana M. C 1, LENCIONI-Neto, F. 2 1 2 Universidade do Vale do Paraíba/CEN - Centro de Estudos da Natureza. Rua Shishima Hifumi, 2911, Urbanova. São José dos Campos – SP. 1 [email protected], 2 [email protected] Resumo- Em um processo de recuperação de área degradada deve ser levada em conta a contribuição da fauna, pois através dela ocorre a polinização até a dispersão de sementes e também utilizada como abrigo e poleiros. Da família Solanaceae se destaca a espécie Solanum lycocarpum St. Hil (lobeira) presente no cerrado brasileiro que atua no processo de revegetação, por apresentar características de planta pioneira e fonte alimentar para diversos animais a exemplo do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Neste trabalho observou-se a diversidade da fauna interagindo com a lobeira, determinando três indivíduos como fonte de observação. Foi verificado através visual de pegadas, visualização e fotografia a presença de mamíferos e aves, principalmente na planta localizada próximo a região de fragmento de mata. Palavras-chave: mamíferos, área de recuperação, Solanaceae, pegadas. Área do Conhecimento: Ciências Biológicas. Introdução A expansão humana tem causado uma gradual e terrível diminuição dos habitats naturais. Esse processo de destruição resulta na fragmentação de florestas (Gerdenits, 2003). Em um projeto de recuperação de áreas degradadas deve ser considerada a parte biótica, como indicador ambiental e a fauna é parte integrante desse trabalho. Conhecer a dinâmica da fauna, que apresenta diferentes hábitos, seja alimentares, de nidificação ou abrigo auxilia nesse processo de recuperação (Almeida, 2000 apud Gerdenits, 2003). Os animais exercem influência direta na regeneração de áreas, por promover o recrutamento de espécies arbóreas e arbustivas diretamente relacionadas com a sua alimentação, tanto dos frutos e sementes, como polinização. E aves e mamíferos contribuem com a dispersão de cerca de 50 a 90% das espécies vegetais (Howe; Smallwood, 1982; Janzen, 1983a, b; Janson, 1983; Herrera, 1985 apud Rocha et al, 2004). Diversas são as espécies arbóreas e arbustivas utilizadas pelos animais. A família Solanaceae apresenta distribuição cosmopolita, com cerca de 90 gêneros (MARTINS; COSTA, 1999 apud ALBUQUERQUE et al., 2006) de grande valor ecológico e econômico (Mello, 2006). E muitas de suas espécies são conhecidas por distribuírem-se em áreas perturbadas, sendo, portanto classificada como espécie pioneira (Bohs, 1994; Silva et al., 1996; Nepstad et al., 1998; Tabarelli et al., 1999 apud Albuquerque et al 2006 ), com dispersão zoocórica. A espécie de Solanum lycocarpum St. Hil (lobeira), presente no Cerrado brasileiro e como parte integrante de áreas em recuperação, possui um porte arbustivo, onde o fruto constitui fonte alimentar durante todo o ano, principalmente na estação seca (Dalponte; Lima, 1999 apud Elias et al, 2003). Seus frutos carnosos são consumidos por animais como lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), cachorro do mato (Cerdocyon thous), raposa do campo e anta (Martins, 2005), há ainda a citação do lagarto-teiú (Tupinambis merianae), citado por Castro et al, ( 2004 ); Pinto (2007). O intuito desse trabalho foi de conhecer a diversidade da fauna e sua interação direta ou indireta com a lobeira (S. lycocarpum St. Hil). Metodologia O presente estudo foi realizado em uma área do Campus da Universidade do Vale do Paraíba Urbanova, no período de abril a junho de 2009. Foram selecionados três indivíduos de lobeiras (S. lycocarpum St. Hil), em locais diferentes. O individuo denominado A fica na área afetada pela extração de areia que se encontra em processo de recuperação, o indivíduo B localiza-se em campo aberto, próximo a estrada com constante interferência antrópica, já o individuo C localiza-se entre uma área de pastagem e um fragmento de mata. Para os indivíduos A e B foram realizados observações quinzenais em períodos alternados, entre manhã e tarde sem interferência. Para o individuo C foi colocado um substrato de terra

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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

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Vertebrados encontrados em lobeiras ( Solanum lycocarpum St. Hil - Solanaceae): interação animal-planta - Campus Urban ova – Univap – São José dos

Campos

MARCOLINO, Luciana M. C 1, LENCIONI-Neto, F. 2

1 2 Universidade do Vale do Paraíba/CEN - Centro de Estudos da Natureza. Rua Shishima Hifumi, 2911, Urbanova. São José dos Campos – SP. [email protected], [email protected]

Resumo- Em um processo de recuperação de área degradada deve ser levada em conta a contribuição da fauna, pois através dela ocorre a polinização até a dispersão de sementes e também utilizada como abrigo e poleiros. Da família Solanaceae se destaca a espécie Solanum lycocarpum St. Hil (lobeira) presente no cerrado brasileiro que atua no processo de revegetação, por apresentar características de planta pioneira e fonte alimentar para diversos animais a exemplo do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Neste trabalho observou-se a diversidade da fauna interagindo com a lobeira, determinando três indivíduos como fonte de observação. Foi verificado através visual de pegadas, visualização e fotografia a presença de mamíferos e aves, principalmente na planta localizada próximo a região de fragmento de mata. Palavras-chave: mamíferos, área de recuperação, Solanaceae, pegadas. Área do Conhecimento: Ciências Biológicas. Introdução A expansão humana tem causado uma gradual e terrível diminuição dos habitats naturais. Esse processo de destruição resulta na fragmentação de florestas (Gerdenits, 2003). Em um projeto de recuperação de áreas degradadas deve ser considerada a parte biótica, como indicador ambiental e a fauna é parte integrante desse trabalho. Conhecer a dinâmica da fauna, que apresenta diferentes hábitos, seja alimentares, de nidificação ou abrigo auxilia nesse processo de recuperação (Almeida, 2000 apud Gerdenits, 2003). Os animais exercem influência direta na regeneração de áreas, por promover o recrutamento de espécies arbóreas e arbustivas diretamente relacionadas com a sua alimentação, tanto dos frutos e sementes, como polinização. E aves e mamíferos contribuem com a dispersão de cerca de 50 a 90% das espécies vegetais (Howe; Smallwood, 1982; Janzen, 1983a, b; Janson, 1983; Herrera, 1985 apud Rocha et al, 2004). Diversas são as espécies arbóreas e arbustivas utilizadas pelos animais. A família Solanaceae apresenta distribuição cosmopolita, com cerca de 90 gêneros (MARTINS; COSTA, 1999 apud ALBUQUERQUE et al., 2006) de grande valor ecológico e econômico (Mello, 2006). E muitas de suas espécies são conhecidas por distribuírem-se em áreas perturbadas, sendo, portanto classificada como espécie pioneira (Bohs, 1994; Silva et al., 1996; Nepstad et al., 1998; Tabarelli et al., 1999 apud Albuquerque et al 2006 ), com dispersão zoocórica.

A espécie de Solanum lycocarpum St. Hil (lobeira), presente no Cerrado brasileiro e como parte integrante de áreas em recuperação, possui um porte arbustivo, onde o fruto constitui fonte alimentar durante todo o ano, principalmente na estação seca (Dalponte; Lima, 1999 apud Elias et al, 2003). Seus frutos carnosos são consumidos por animais como lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), cachorro do mato (Cerdocyon thous), raposa do campo e anta (Martins, 2005), há ainda a citação do lagarto-teiú (Tupinambis merianae), citado por Castro et al, ( 2004 ); Pinto (2007). O intuito desse trabalho foi de conhecer a diversidade da fauna e sua interação direta ou indireta com a lobeira (S. lycocarpum St. Hil).

Metodologia O presente estudo foi realizado em uma área do Campus da Universidade do Vale do Paraíba Urbanova, no período de abril a junho de 2009. Foram selecionados três indivíduos de lobeiras (S. lycocarpum St. Hil), em locais diferentes. O individuo denominado A fica na área afetada pela extração de areia que se encontra em processo de recuperação, o indivíduo B localiza-se em campo aberto, próximo a estrada com constante interferência antrópica, já o individuo C localiza-se entre uma área de pastagem e um fragmento de mata. Para os indivíduos A e B foram realizados observações quinzenais em períodos alternados, entre manhã e tarde sem interferência. Para o individuo C foi colocado um substrato de terra

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peneirada, com cerca de 8 cm de espessura em volta da planta, tendo como isca a própria fruta madura cortada ao meio. (Figura 1 a, b), para verificar pegadas deixadas por animais que por ali passarem. As evidências deixadas pelos animais, foram devidamente analisadas e registradas, com fotografias dos próprios animais ou marca deixada por eles, no caso das pegadas onde algumas tiveram como referência de tamanho uma caneta esferográfica.. a) b)

Fig. 1 – a) planta com o substrato; b) fruto cortado

ao meio.

Resultados No local do indivíduo identificado como A apenas foi encontrado um fruto parcialmente consumido, com marcas pequenas de dentes de espécie de canídeos.

Para o indivíduo B, localizado na área de campo aberto, foi registrado a presença apenas de aves de duas espécies, que estavam apenas utilizando-a como pouso. Foi visualizado o anu-preto (Crotophaga ani) e canário-da-terra (Sicalis flaveola). Este último foi registrado por fotografia (Fig. 2).

Fig. 2 Canário-da-terra (Sicalis flaveola).

Os resultados encontrados na área onde se

encontra o indivíduo C seguem a seguir com as fotos (figuras 3 a 8) das pegadas deixadas pelos animais. Houve a presença de espécies de mamíferos, sendo três delas identificadas como as

do Lobo-guará (C. brachyurus), do Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) e da Irara (Eira barbara) e uma espécie de ave, que não foi possível a sua identificação. Os frutos deixados como iscas foram consumidos, presumindo-se que seja o lobo-guará (C. brachyurus), principal consumidor desse fruto.

Fig. 3 - Lobo-guará (C. brachyurus).

Fig. 4 - Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus).

Fig. 5- Ave não identificada.

Fig.6 – Mamífero não identificado.

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Fig. 7- Irara (Eira barbara)

Fig. 8- Mamífero não identificado

Discussão Como foi verificada no estudo, a utilização do fruto na dieta mostrou-se evidente, o que comprova o que diz Dalponte et al, 1999, que S. lycocarpum St. Hil proporciona uma fonte alimentar importante, que se encontra disponível em período onde há menor disponibilidade de outros frutos. Foi constatada em várias observações a pegada do Lobo-guará (C. brachyurus), isso confirma a sua preferência pelo fruto como cita os autores Pinto, (2007) e Martins, (2005). Scherer et al, 2007 afirma que as interações da dinâmica de ecossistemas são complexas e importantes, pois afetam diretamente na regeneração de espécies vegetais, e isso colabora com as informações obtidas no presente trabalho sobre a movimentação das espécies, principalmente próximo a mata e localizado na região de reflorestamento, pois é uma planta que suporta condições desfavoráveis durante seu desenvolvimento (Pinto, 2007). Na evidência das aves, a utilização da lobeira pode estar relacionada apenas ao poleiro, corroborando com Tomazi et al, (2007), que menciona a utilização de galhos de árvores como locais de descanso, onde as aves defecam ou regurgitam. Conclusões Com esse trabalho foi possível verificar uma grande presença da fauna próxima a S.

lycocarpum St. Hil, e verificou-se também sua importância na área, visto que muito dos animais que tem seu fruto como fonte alimentar está presente na região de estudo. Mostrou-se importante também no processo de recuperação existente no local onde o solo foi perturbado pela extração de areia, pois confirma sua propriedade de planta resistente. Porém esse estudo ainda necessita de dados mais concretos sobre a real utilização da lobeira pelos animais. Propõe-se então que deva ser continuado por um período maior e para obtenção de mais informações sobre a sua movimentação. Agradecimentos Aos funcionários da Univap e ao colega de curso, pelo apoio e incentivo Referências ALBUQUERQUE, L. B.; VELÁZQUEZ, A.; VASCONCELLOS-NETO, J. Composição florística de Solanaceae e suas síndromes de polinização e dispersão de sementes em florestas mesófila neotropicais. INCI. v. 31. n. 11. Caracas. nov.2006. CASTRO, E. R.; GALETTI, M. Frugivoria e dispersão de sementes pelo lagarto teiú Tupinambis merianae (Reptilia: Teiidae). Pap. Avulsos Zool. (São Paulo) vol.44 no.6 São Paulo 2004 DALPONTE, J. C.; LIMA, E. S. Disponibilidade de frutos e a dieta de Lycalopex vetulus (Carnivora - Canidae) em um cerrado de Mato Grosso, Brasil. Rev. bras. Bot. vol.22 s.2 S P. out. 1999. ELIAS, S. R. M.; ASSIS, R. A.; SERAPHIN, E. S.; REZENDE, M. H. Anatomia foliar em plantas jovens de Solanum lycocarpum A.St.Hil. (Solanaceae). Ver. Bras. Bot. v. 26. n. 2. p. 169-174.jun. 2003. GERDENITS, D. Levantamento faunístico em fragmentos florestais como requisito para a elaboração de um projeto de recuperação de áreas degradadas (PRAD) – estudo de caso em São Luiz do Paraitinga-SP Curso de Mestrado. Disponível em: <http://www1.sp.senac.br/hotsites/cas/workshopgestaointegrada/files/13.pdf>. Acesso em: 30. mai. 2009. MARTINS, K. Diversidade genética e fluxo gênico via pólen e semente em populações de Solanum lycocarpum ST.HIL. (Solanaceae) no Sudeste de

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Goiás. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.2007. PINTO, L. V. A. Germinação de sementes de lobeira (Solanum lycocarpum St. Hil): mecanismo e regulação. Tese de doutorado. Universidade Federal de Lavras. MG. 2007. Plano de manejo APA Guariroba. Disponível em: <http://www.pmcg.ms.gov.br/SEMADUR/downloads/1581RegistroFotograficoFauna.pdf.> Acessado em 15. jun.2009. ROCHA, V. J.; REIS, N. R.; SEKIAMA, M. L. Dieta e dispersão de sementes por Cerdocyon thous (Linnaeus) (Carnívora, Canidae), em um fragmento florestal no Paraná, Brasil. Rev. Bras. de Zoo. 21 (4): 871–876. dez. 2004 SCHERER, A.; MARASCHIN-SILVA, M.; BAPTISTA, L. R. M. Padrões de interações mutualísticas entre espécies arbóreas e aves frugívoras em uma comunidade de Restinga no Parque Estadual de Itapuã, RS, Brasil. Acta bot. bras. 21(1): 203-212. 2007 TOMAZI, L.; GROTT, S. C.; CADORIN, T. J.; ZIMMERMANN, C. E. Poleiros secos como estratégia d nucleação na restauração de áreas ciliares. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de set. 200. Caxambu – MG.