versos do nascer ao pôr-do-sol

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Versos do Nascer ao Pôr-do-sol Emerson Ehing, Apologia do Caos. Vislumbro matizes opacos no momento que precede o nascer, louco nascer do sol Pinheirais quase guisam e ainda está frio e geado Uma sombra de mim dança alienada e hipnótica Ela veio do Oriente quando lá era noite e fazia-se oculta RANNOOBE-RUNABORONOE Era o nome do xamã que trazia o Sol, precedendo o nascer do dia. JARANURON -ele dizia NABOORE NABOORE -ele silenciava Vindo do Oeste, o fulgor delirificante do astro projetava a nitidez ulterior das folhas e das pedras. Raio-Sol flordeslizava macio em duna em areia multiplicada a minutos daqui Com o dedo indicador pego uma partícula ela flutua, em direção ao Sol. Abro os olhos e revejo os pinheirais Já é vindo o dia lindo que exige a nossa história Que o governo não estrague tudo! Que o sistema não foda com tudo! Um cosmos âmbar disseca-se na pétala ramificada, plasmatizando dimensões indeferíveis RANNOOBE-RUNABORONOE cavalgou serpentes sobre

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Poema extraído de uma das obras primas de Emerson Ehing, Apologia do Caos, criado no ano de 2004. Poema mágico-xamânico apresentando diversos recursos literários novos desenvolvidos pelo transe extático do poeta. Músico, poeta e xamã, Emerson Ehing apresenta sua obra como um Nietzsche transvestido de Rimbaud ao dançar ao redor da fogueira punk da sacralidade. Místico, supra-racional, está entre os melhores poetas do mundo, embora cult e avesso a qualquer forma de divulgação de sua obra, vamos conseguindo aos poucos desvendar os mistérios que contornam o âmago de suas linhas geniais. Seu primeiro livro surgiu em 1999, chamado Orações Suicidas, causou revolta nos meios acadêmicos e ao mesmo tempo um estrondoso espanto: como um garoto de 15 anos de idade poderia compor obra de tamanha força?

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Page 1: Versos Do Nascer Ao Pôr-do-Sol

Versos do Nascer ao Pôr-do-sol

Emerson Ehing, Apologia do Caos.

Vislumbro matizes opacosno momento que precedeo nascer, louco nascer do solPinheirais quase guisame ainda está frio e geadoUma sombra de mim

dança alienada e hipnóticaEla veio do Oriente quandolá era noite e fazia-se oculta

RANNOOBE-RUNABORONOEEra o nome do xamã que trazia

o Sol, precedendo o nascerdo dia. JARANURON -ele dizia

NABOORE NABOORE -ele silenciava Vindo do Oeste, o fulgor

delirificante do astro projetavaa nitidez ulterior das folhase das pedras. Raio-Solflordeslizava macio em dunaem areia multiplicada

a minutos daqui Com o dedo indicador pego uma partícula ela flutua, em direção ao Sol. Abro os olhos e revejo os pinheirais Já é vindo

o dia lindo que exige a nossa história Que o governo não estrague tudo! Que o sistema não foda com tudo! Um cosmos âmbar disseca-se na pétala ramificada, plasmatizando dimensões indeferíveis RANNOOBE-RUNABORONOE

cavalgou serpentes sobre os espelhos do céu traçando nosso Destino O Destino do meu & do seu Coração De alma para alma: Viajaremos juntos

De encontro Ao último horizonte

Page 2: Versos Do Nascer Ao Pôr-do-Sol

Atravessando campos de centeio Avistaremos nosso lar E estaremos prontos

Não desataremos nossas mãos Com a passagem da tempestade

Vamos! Meu amor selvagem.

Não satisfeitocrystalizei num prisma

violáceooutra mensagemde alma para alma:

É maravilhoso poder te ver sorrir Olhando para meus olhos Congele esta imagem Como profunda semente da nossa luta

É a Liberdade estarmos juntos sentindo-nos e nada mais É a Liberdade e a felicidadeDe cultivarmos o sonho realizado Coroando a Rainha & se Rei.

Extasiado, não vi o tempo passarAbordei uma nuvem passageira:

- por que bloqueias a luz que está a me iluminar? Não sabes que este astro magnífico é calor a meu favor?

Ela retrocedeu e inclinou-se à minha fronte, ainda lhe disse: - sabes que tu és sombra

para minha sombra.Ela olhou para mim no

instante em que a fitei - "Deixe chover-me pela extensão de seu corpo, poeta maldito, deixa-me tira-lo de sua febre

suas frondosas lembranças do Amanhecer tornar-se-ão tempestade com a chegada da tarde". JARANURON - Eu disse

NABOORE NABOORE - Eu silenciei

Page 3: Versos Do Nascer Ao Pôr-do-Sol

Então a nuvem foi embora chocada com a luz que transpassou suas moléculas vaporosas. Um lagarto desceu rapidamente

do alto das pedras translúcidas e subiu sorrateiramente no meu colo, que o abraçou JARANURON - Eu disse

NABOORE NABOORE - Eu silencieiRANOOBE-RUNABORONOE solfejou

o retinir estridente da Espada e com ela tocou o tambor O lagarto foi até ele,

olhando para mim, que tocava o tambor

Da tangente crepuscular surgiu longe, distante, o som de uma

guitarra distorcida. Vertiampalavras que traduziam a alma

Lágrimas literatizadas não confundeme não sorriem, simplesmente gotalizam

reminiscências e algo mais, angústiaminha e dos demais, do súbito, do viver

Inexplicáveis e contendíveis foram as vidas e visões vividas naquele segundo a seguir, totalizava ele uma Eternidade Mas eles não percebiam o segundo

JARANURON - Disse a EternidadeNABOORE NABOORE - Silenciou a Escuridão

E silenciosa ela devorou os segundos

para que os homens vissem negra a Eternidade

Negas agora tua culpa! Revidou o infinito em seu grito ressonante

de dortalhando em trêmulos

compassos angustiadoso rastro de que

a felicidade ainda está por aqui Viro-me

para o outro lado observando a distância

do Sol absorvendo a tarde

Page 4: Versos Do Nascer Ao Pôr-do-Sol

seguindo a leste onde irá se pôr

O Crepúsculo Retrógradoestá todo além

desta bobagemJARANURON - Disse a EternidadeOBERON - Reverberou teu espírito

quando cuspi na face dos limites estreitos que te fazem assim

RUNABOORE NOBORONOE cessou o cavalgar do tambor, ergueu braços,

mãos e folhas e ervas em direção ao céu e elevou seu espírito ao Sol, que compartilhava, quase impondo, a luz Do alto, ele transformou-se em águia

e segui em direção a Liberdade livre de tudo que o prenda, sendo feliz

e acreditei que para ser feliz eu deveria ser livre, livre! Sim, Livre dos pesos que me faziam-me arrastar-me e vomitar-me

livre das paredes brancas e vazias que me cercavam. Fui o ponto negro que surgiu e escorreu pela parede que agora, inexistia como a Escuridão

Tudo é tão claro e cristalino Vejo você

através de mim e o odeio Quebro aquele babaquara que está lá no espelho e me liberto de mim mesmo Vi que a liberdade era como um vazio que tudo preenchia, gritava mas ninguém ouvia, tocava mas ninguém sentia E quando ela não estava mais lá todos a queriam Então quando o Sol se pôs o Crepúsculo arrojou-se à um novo horizonte ouvi a Voz de Deus

JARANURON - Ele disseNABOORE NABOORE - Ele silenciou.