versátil magazine - agosto de 2011

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Revista Versátil - Edição de Agosto de 2011

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Versátil Magazine é uma publicação mensal, distribuída gratuitamente e não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação fornecida, bem como pelas opiniões emitidas nesta edição. Todos os preços e informações apresentados em anúncios publicitários são de total responsabilidade de seus respectivos anunciantes, e estão sujeitos a alterações sem prévio aviso. É proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens publicados sem prévia autorização.

Caros leitores,

Não tem como disfarçar a beleza em nossa capa. A beldade Bruna Lombardi e seu marido, Carlos Alberto Riccelli, conversaram com a gente sobre o filme Onde Está a Felicidade? Eles parecem ter encontrado muita felicidade na realização deste trabalho. A gente também compartilha o sentimento prazeroso de le-

var até vocês mais uma edição do projeto que, para nós aqui da redação, é motivo de FELICIDADE. Penso não ser exagero discutir frequentemente os problemas am-bientais e buscar alternativas ecologicamente viáveis no nosso cotidiano. Que o planeta sofre, isto já sabemos. Mas mudar hábi-tos para efetivamente diminuir nosso impacto no planeta é difícil, porque não basta ter conhecimento do problema: é necessário ex-perimentar mudanças. Reduzir a quantidade de lixo, economizar água e energia, alimentar-se de forma equilibrada e não utilizar o automóvel para ir à padaria são hábitos ainda complicados. Em cada pessoa existe um nível diferente de consciência e, provavel-mente, isto seja decorrente de formação, de educação e de vivências. Separamos lixo, usamos lâmpadas ecológicas, temos cuidado ao usar água e energia e levamos sacolas retornáveis para as compras. Mas ainda é pouco! Temos que despertar nas pessoas a vontade de observar a vida de outra perspectiva, de viver melhor. Quem notou, ultima-mente, a maravilha dos ipês cheios de flores pela cidade? Ao rodar (ou parar...) na rodovia Raposo Tavares é possível vis-lumbrar muitas árvores lindas tornando o dia mais cor-de-rosa.Consciente destas questões, a Versátil Magazine inaugura as Páginas Verdes, que estarão sempre presentes em nossas edição. E inagura-mos em grande estilo: nossa repórter especial de Meio Ambiente, a gestora ambiental Juliana Ferrari, entrevistou Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo/FMUSP e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica. Através de suas experiências, veremos como é simples melhorar a qualidade de vida do planeta e, consequentemente, a de seus habitantes humanos. Ainda nas Páginas Verdes, tem arte. Arte do projeto RESPECT, que utiliza material reciclado. Acho que vocês vão tirar o chapéu!Que a revista leve a todos o nosso sentimento de FELICIDADE!

Claudia [email protected] www.revistaversatil.com.brtwitter @versatilmagazin

editorial

PARA ANUNCIARTELEFONE PARA NÓS (11) 8851 7082 / 3798 8135

ou envie uma mensagem para [email protected]

PARA ANUNCIARTELEFONE PARA NÓS (11) 8851 7082 / 3798 8135

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Publisher Claudia Liba [email protected]

Diretora ExecutivaLuana Capobianco

Conselho EditorialAlexandre LourençoClaudia Ramos Lessa

Gabriel LeicandGabriel L. Schleiniger

Luana Capobianco

RedaçãoValéria Diniz [email protected]

Repórter Especial de Meio AmbienteJuliana Ferrari

Edição de Texto e RevisãoValéria Diniz [email protected]

Projeto Gráfico e DiagramaçãoFelipe Ajzenberg [email protected]

Assistente de ArteAndre Hiro [email protected]

Analistas de Redes SociaisCaio Gasparetto Diniz da Silva

Gabriel L. Schleiniger Juliana Ferrari

ColaboradoresCarolina Carvalho De Rose – Bem-Estar

F. Marcos – PoesiaGabriel L. Schleiniger – GamesGabriel Leicand – Gastronomia

mané-mané – ArteMiriam Mota Rodrigues – Educação

Octávio Pella Legramandi – Cotidiano

Versátil Online www.revistaversatil.com.br

Twitter @versatilmagazin

Pré-impressão, impressão e acabamentoW Gráfica

Distribuição Butantã, Parque dos Príncipes, Vila São Francisco,

Jd. Guedala, Jd. Previdência, Vila Sonia, Jd. Bonfiglioli, Jardim Esther.

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sumário

6 EducaçãoO Ensino da Tabuada na Escola Primária

10 Bem-estarStand Up e Yoga

12 Cotidiano Em Tarde Ser

14 Páginas verdesSão Paulo Travou!

18 Páginas verdesFestival Respect

20 ArteO Universo Tonal

24 CapaEntravista com Bruna Lombardi &Carlos Alberto Riccelli

30 GastronomiaDe Santiago de Compostela

32 LiteraturaMenino com Pássaro ao Ombro

34 Cultura Versátil

38 GamesCrysis 2

40 Diversatilidade30

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O ensino da tabuada na escola primária

educação

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Tabuadas, como qualquer tabela,

deveriam ser construídas e

ensinadas para serem consultadas e,

no âmbito escolar, se as atividades de

construção e consulta forem significativas,

é grande a probabilidade de a

maioria dos alunos as memorizarem naturalmente,

sem esforço ou cara feia.

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primeiro aspecto a ser destacado é o significa-do da tabuada. O que é uma tabuada? Uma lista de números? Operações? Contas de

vezes? Multiplicação? Uma tabela de números? A tabuada é um tipo especial de tabela, que, no ensino primário, está associada à memorização de fatos aritméticos e, em especial, dos fatos da mul-tiplicação. É comum a associação do termo tabua-da somente à tabela da multiplicação. Esquecemos, porém, uma diversidade de outras “tabuadas”: adição, subtração, divisão, quadrados perfeitos, potências de 2.As tábuas de logaritmos e as tábuas trigonométri-cas também são tabelas, ainda que, usualmente, as chamemos de “tábuas”. Estamos cercados por tabelas e, sem perceber, também por tabuadas. Numa padaria perto de minha casa, por exemplo, tinha na parede uma tabela que, no fundo, não passava de uma tabuada do “0,35”: trinta e cinco centavos era o preço de cada pãozinho.

Pães - Preço Total1 R$ 0,352 R$ 0,703 R$ 1,054 R$ 1,405 R$ 1,75

Cada vez que alguém pedia certa quantidade de pães, o padeiro, quase sempre, anotava o valor total em um pedaço de papel sem o auxílio de qualquer recurso material como o cálculo escrito ou uma calculadora. Tudo indicava que ele sabia alguns valores “de ca-beça” ou, como dizia meu avô, “de cor”.Em geral, nosso padeiro não consultava a tabuada da parede quando os fregueses pediam quanti-dades como 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10 ou 12 pãezinhos, pois se tratava dos pedidos mais comuns. Mas, se alguém pedia 17 pãezinhos, nosso padeiro – que não tinha a obrigação de saber de cabeça quanto era 17 x 0,35 – virava-se para a parede às suas cos-tas e consultava a linha 17 para ver qual era o valor de 17 pãezinhos. Se o freguês voltasse no dia seguinte e pedisse a mes-ma quantidade de pães, é provável que nosso padeiro repetisse a consulta. Talvez ele a consultasse nova-mente na terceira vez, mas, no quarto dia, logo que avistasse o freguês, poderia pensar “lá vem o cara dos

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17 pãezinhos”. Mas desta vez seu procedimento seria diferente: ele contaria, ensacaria os pães e anotaria o valor de R$ 5,95 diretamente no papel, sem precisar consultar a tabela. O que teria ocorrido? Tudo indica que nosso padeiro memorizou o fato numérico da 17ª linha da tabuada do “0,35”.E por que memorizou? Porque necessitou, porque aquela operação esquisita (17 x 0,35) passou a ter significado na sua rotina diária. Ou alguém acha que ele levou a tabela para decorar em casa?Muito provavelmente ele nunca mais precise consul-tar aquela tabuada de padaria, nem mesmo se alguém encomendar 170 pães, o que pode ser facilmente cal-culado quando se sabe o preço de 17, a não ser que um dia apareça alguém pedindo 43 pãezinhos. E lá vai nosso padeiro de volta à tabuada do 0,35.Para que servem as tabuadas? Tabelas existem para serem consultadas, não para serem decoradas ou re-construídas a cada momento. Tabuadas, como qual-quer tabela, deveriam ser construídas e ensinadas para serem consultadas e, no âmbito escolar, se as atividades de construção e consulta forem significati-vas, é grande a probabilidade de a maioria dos alunos as memorizarem naturalmente, sem esforço ou cara feia. Desta perspectiva, os fatos aritméticos da multipli-cação tendem a ser apreendidos e internalizados pelos alunos tal como já o fizeram com seus nomes, endereços e telefones de parentes e amigos.Existe diferença entre decorar e memorizar ou signifi-cam a mesma coisa? Antes de responder a esta questão, pense na seguinte história como metáfora: Dona Lílian foi contratada para ser secretária em uma escola. Dentre suas principais tarefas diárias estava a função de telefo-nista. Durante um dia de trabalho, ela fez cerca de 80

telefonemas para diversos órgãos e pessoas: secretaria de educação, editoras, outras escolas, professores, con-tador, papelaria. Como funcionária nova, ela provavel-mente não sabia de cabeça nenhum dos números tele-fônicos que tinha que discar para fazer as ligações. O que você acha mais sensato: ela leva a lista de tele-fones da empresa para casa e só depois de decorá-los começa a trabalhar para valer ou ela trabalha normal-mente, consultando a lista de telefones sempre que necessitar fazer uma ligação?É claro que a primeira opção é absurda, improvável e in-verossímil no mundo real do trabalho. Também é claro que o hábito e a rotina de ter que fazer telefonemas para um mesmo número contribui para que a funcionária memo-rize os números mais importantes. Em outras palavras, há memorização quando se recorre com certa frequência e ritmo a fatos e/ou informações em situações significativas que enfrentamos por desejo ou necessidade.É isto que desejamos para nossos alunos? Que decorem sem assimilar, sem entender? Que decorem hoje o que provavelmente vão esquecer amanhã? Não. Esse não é o objetivo de qualquer educador que se preze, seja ele construtivista ou não. E também não deve ser o desejo de pais, governantes e até mesmo dos alunos.

educação

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É comum a associação do termo tabuada

somente à tabela da multiplicação.

Esquecemos, porém, uma diversidade de outras “tabuadas”: adição, subtração, divisão,

quadrados perfeitos, potências de 2.

Miriam Mota Rodrigues é Coordenadora do Programa Matemática Descomplicada

da Planeta Educação, em Guaratinguetá, São Paulo. www.planetaeducacao.com.br

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Stand up e Yoga

esde que vi o Stand Up pela primeira vez, tive muita vontade de praticar, mas não encontrava lugares que locas-

sem os equipamentos. Para dificultar, morando em São Paulo, vou bem menos à praia.No mês passado resolvi dar uma pausa em tudo e fui para o Balneário Camboriú aproveitar as férias com minha filha. Qual não foi minha surpresa ao chegar ao nosso apartamento e, bem ao lado, encontrar uma loja que, além de locar os equipamentos, dava aulas de Stand Up!Apesar do frio, peguei minha roupa de neo-prene, que já estava criando bolor, e encarei o esporte.Foi uma experiência incrível! O mais legal foi que não tive nenhuma dificuldade e, nas várias vezes em que subi na prancha, não caí nenhuma vez. A sensação de “andar” so-bre o mar é uma delícia. A água, na maior parte dos dias, estava muito limpa e dava para ver muitas águas-vivas passando bem perto. Mais um motivo pelo qual não perdi o equilíbrio...Tenho certeza que meu equilíbrio se deve muito à prática regular de Yoga. Também achei fundamental para o Stand Up a con-centração. Além disso, você fica muito tempo na mesma posição, usando apenas os braços na remada.O Yoga treina tudo isto: permanência, con-centração e equilíbrio. Também fortalece toda a musculatura corporal. Manter uma base de equilíbrio é mais fácil para quem tem pernas fortalecidas. Nossa base também está relacionada aos nos-sos medos. Quanto mais você fortalecer as pernas, maior será a segurança. Um exemplo de como isto funciona pode ser visto em

bem-estar

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situações em que as pessoas sentem medo: a primeira coisa que sentem são as “pernas bambas”. Agora imagine isto em um esporte onde você usa as pernas pra fazer quase todo o trabalho? Se houver insegurança, os tombos – ou as “vacas”, como se diz no mundo do surf – serão a consequência!

FORTALEÇA AS PERNAS

- Execute os exercícios na sequência apresentada;- Permaneça 1 minuto, no mínimo, em cada posição;- As posições 1, 2, 3 e 5 são executadas para os dois lados não é necessário repetição; só o mesmo tempo de permanência para cada lado); - Na posição 5, não apóie o ombro na perna; deixe que fique paralelo a mesma;- A respiração é nasal (inspiração e expiração); inspire dilatando o abdome e expire contraindo.

BOA PRÁTICA!

Carolina Carvalho De Rose é Professora de Yoga.

http://carolina-carvalho.blogspot.com

Nos anos 90, grandes nomes do surf mundial deram

uma modernizada no Stand Up, usando o esporte como

treinamento, tanto para pegar ondas como para

fazer travessias. Hoje o esporte é uma febre mundial,

que chegou ao Brasil para ficar.Fonte: http://esportescomprancha.blogspot.com

NoNN

ar.

ONDE PRATICAR STAND UPWinds Clube Náutico. Avenida Atlântica, 5.280, Barra Sul, Balneário Camboriú, (47) 9631 [email protected]

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oje acordei mais cedo que de costume, disposto a ser melhor.Tenho vontade de sair de casa

vestido em pijama xadrez mesmo, e dis-tribuir gratuitamente abraços afetuosos aos pedestres. Dizer a eles, “vejam, a vida está aí, e não fazemos por merecê-la, vamos vivê-la, meus caros, vamos ser.” Não posso: serei considerado um estrangeiro de minhas faculdades men-tais. Ou um drogado. Tudo bem.Há outras formas de ser melhor.Lavar a louça, por exemplo. Os copos, os talheres, os pratos, as pequenas vasilhas de inox. Tudo tinindo, brilhante como novo. Ponho-me a observar a espuma do detergente de maçã, tão branca, e as minhas faces, milhões de vezes refletidas na lisa superfície das bolhinhas. Como eu amo fazer bolhas de sabão! É tudo tão nostálgico, e simples, e bonito! Inocente.Continuo o processo. Enquanto percorro o pano seco sobre os utensílios, imagino que será de minha tarde de hoje. Gos-taria de sair um pouco, conversar. Mas vivemos num tempo em que as pessoas já não têm tempo para jogar conversa fora; matar tempo. Hoje, temos que resolver nossos tantos problemas do cotidiano,

cotidiano

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Octávio Pella Legramandi é estudante de Medicina da FMB/Unesp,

sonhador, escritor de meia tigela e, quando sobra um tempinho, gente.

temos que correr atrás de tudo... Correr atrás do tempo. Hoje, ele é que nos destrói. Ou nós mesmos?Não importa. De qualquer forma, também eu tenho tanto que fazer!Não haverá tempo para ser melhor.Ainda preciso arrumar a casa. Varrer os tantos milímetros de poeira que denunciam minha inadimplência de ontem. Ando pelos cômodos e me esqueço de observar alguns detalhes: o design da cama de solteiro, o trabalho da torneira da pia, o brilho do vidro na mesa de jantar. Os rostos das fotografias penduradas pelas paredes. Não os reconheço mais. Será a ação do tempo? Mais uma vez, ele me passa para trás. Corrói a tinta das imagens, cor-rói as imagens de minha mente. Por que pensar nisso agora, se ainda há tanto pó para se espanar?Recolho livros do chão, que há muito já não leio. CDs que há muito não ouço. Roupas que há muito não me servem mais. Guardo tudo em seu respectivo lugar. De-ixo a claridade do dia entrar pelas janelas, mas já não há

claridade. Caiu a noite. Tranco a porta da frente, contemplo e avalio a arrumação recém-completa. Com a casa organiza-da, consigo pensar melhor.Mas aí meu dia já se acabou, a louça se lavou, minha casa se arrumou, mas meu pensamento, que fim levou?Continuo aqui, fora dos meus padrões, como um alheio de si. Continuo tentando achar respostas, mesmo sem sa-ber quais as perguntas. Continuo soluçando, mesmo com o copo d’água a meros quatro metros de meus dedos.Continuo sem saber o que fazer hoje à tarde.E a tarde, coitada, já se tornou crepúsculo.

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SÃO PAULO TRAVOU!

Na Holanda deu certo. É comum escutar uma buzina de bicicleta se o cidadão, desavisado, olha para o semáfo-ro e esquece a ciclovia. Na Alemanha idem, bem como em várias partes do mundo. Aqui em São Paulo parece um perigo. Um suicídio. Imagine pegar sua bike e andar na Marginal Pinheiros de manhã. Só louco mesmo. Ou não. Paulo Hilário Nascimento Saldiva é médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo/FMUSP, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica, e, atualmente, participa de um in-tercâmbio com o Departamento de Saúde Ambiental da Harvard School of Public Health. No ano pas-sado coordenou o trabalho que resultou no livro Meio Ambiente e Saúde: O Desafio das Metrópoles, escrito também por Evangelina Vormitta, diretora-presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade. De forma simples, ele contou para a Versátil suas experiências. Paulo Saldiva é um exemplo de que existe solução: há quase 40 anos pedala até o trabalho.Nossa repórter especial de meio ambiente, Juliana Ferrari, gestora ambiental e estudante de ciências biológicas, entrevistou o pesquisador.

Como resolver o problema do trânsito, da poluição e do estresse diário da cidade que não pode parar?

Versátil Magazine: O senhor acha que o metrô é a melhor solução para controlar o problema da poluição, uma vez que os ônibus emitem poluentes? Paulo Saldiva: Concordo com o metrô, mas acho que não vai ter, sozinho, a capilaridade que uma malha de transporte precisa ter. Pre-cisará acoplar metrô e ônibus que corram em vias exclusivas. Na Avenida 23 de Maio ou na Radial Leste, que congestionam, o ônibus não tem vantagem, fica preso. O indivíduo vai preferir maior conforto e isto é o maior es-tímulo para a compra de carros. A melhor pro-paganda para o transporte coletivo foi feita no México, no Chile, na Colômbia e em algu-mas cidades da Europa: uma rede de metrôs acoplada à BRTs (Bus Rapid Transit). Como em Curitiba, onde você tem um cruzamento diferenciado para o ônibus, com preferência sobre o automóvel. Aí você consegue colocar ônibus articulados ou ônibus com mais lugares, que podem levar 300 ou 400 passageiros numa viagem só.

Se você fizer transporte ativo, como no caso da

bicicleta, você reduz emissões, mas

também ganha saúde imediatamente.

Você não precisa esperar muito tempo

pra isto ocorrer.

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VM: O senhor acha que é possível transformar a cidade para atender os ciclistas no dia a dia?PS: Eu comecei a usar a bicicleta como transporte desde o tempo da escola, quando morava perto do Ibirapuera, no final dos anos 60. Quando en-trei na faculdade, em 1971, comecei a ir da USP até a Dr. Arnaldo. Eu era muito novo e, mesmo que quisesse ir de carro, não tinha idade para tirar carta. Além de gostar de andar de bicicleta, me acostumei. Já ouvi várias promessas de ci-clovias. A cidade de Sorocaba conseguiu fazer uma rede que proveu uma série de eficiências. E estou falando de uma cidade próxima, não de Madri... Buenos Aires também está montando uma rede bem grande, e a estratégia foi fazer com que a bicicleta não transitasse por ave-nidas. Se eu fizesse uma ciclofaixa, não a faria nas avenidas e, sim, em ruas secundárias. Nas grandes avenidas eu colocaria uma faixa para ônibus. As cidades que fizeram isto se deram bem. Ouvi a prefeitura dizer que vai pegar ciclistas que fazem caminhos alternativos e pro-curar saber quais são eles. A Avenida Paulista não é lugar para andar, mas na São Carlos do Pinhal ou na Alameda Santos, é possível. Acho que por aí a gente vai ter a chance de mudar. E por que acho que pode ser que mude agora? Porque já vi muito mais gente se transformar e ter atitudes mais saudáveis nas UTI’s do que em igrejas. Aliás, suspeito até que muita gente vá pra igreja quando a coisa aperta. O Espírito Santo não passa espontaneamente. Só vai quan-do você está com algum problema. Os pro-blemas dão energia para você mudar. E como a cidade está doente! Comparo a cidade de São Paulo com um paciente que tem febre, porque está esquentando; edema, porque inunda; disfunção arterial e obstrução de vias aéreas, porque tem um ar ruim; diabetes, porque a gente usa mal a energia; insuficiência renal, porque não descarta lixo de forma adequada; diarreia, porque joga o esgoto in natura. A for-ça destas doenças urbanas faz com que a gente tenha um padrão de mobilidade pior do que,

por exemplo, o Borba Gato tinha no século XVIII. Mesmo com a alta velocidade média dos car-ros do século XXI, temos uma mobilidade média

pior do que a do século XVIII. Detonamos a cidade e nem mobilidade ganhamos. Por isto, acho que vai existir um espaço para a bicicleta. E os dois grandes grupos que vão usar serão os jovens, imagino que na USP está um grande grupo que usaria, e gente de baixa renda, pra quem três reais de ida e volta fazem diferença. Terão um ganho, um cobenefício imediato de saúde. Um indivíduo que tem que “matar um leão por dia”, trabalhando nas fábricas, por exemplo, não tem tempo de ir à academia. Fica parado. Se tem diabetes, piora. É aí que a questão da sustentabilidade deve agir. Já usei essa frase várias vezes e, em algumas, fui mal interpretado. Mas é que a mudança de com-portamento que se propõe frente às mudanças climáticas não “bate” com o que o homem de fato é. A gente imagina que o homem tem que ser melhor do que ele é. Por exemplo, se você deixar seu carro em casa pra pegar um trans-porte coletivo ruim, se você ficar no escuro à noite, se você tomar banho de canequinha, se você não comer mais carne vermelha, daqui a cinquenta anos começará a cair o nível dos gases de efeito estufa, e o primeiro beneficiado será o urso polar. Ninguém faz isto. Quando au-mentou o preço do etanol, foi todo mundo pra gasolina. Tem um nível de egoísmo intrínseco nosso que tem que ser compreendido. A regra é que, se você fizer transporte ativo, como no caso da bicicleta, você reduz emissões, mas também ganha saúde imediatamente. Você não precisa esperar muito tempo pra isto ocorrer.

VM: Claro, e é muito interessante sua posição em relação à população de baixa renda.PS: No dia em que uma empresa entender que, se tiver uma ciclovia adequada, ela vai gastar menos com seguro-saúde, vale-transporte, que estará promovendo saúde

É mais fácil denunciar um crime ambiental na mata do que um crime

ambiental na cidade.

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pro seu funcionário!... Eu acho que existe espaço pra bicicleta pro pes-soal mais novo e pro pessoal de baixa renda, que usava bicicleta na sua cidade de pequeno porte e que deixa de usar, por medo, quando vem pra cá.

VM: Em relação a crimes ambientais, como podemos denunciá-los?PS: Eu acho que a gente tem poucos mecanismos de responsabilização sobre crimes ambientais na cidade. É mais fácil denunciar um crime ambiental na mata do que um crime ambiental na cidade.

VM: Eu mesma fui tentar denunciar e ouvi “então você vai falar com a CETESB!”.PS: Pois é. Como o Brasil ainda tem muitas áreas para proteger, toda a nos-sa legislação vale para áreas remotas e, com a cidade, pode-se fazer o que quiser. Precisa fazer um estudo enorme pra fazer o rodoanel, mas pra fazer ruído, calor, poluição, não. Existe, digamos, uma necessidade de montar o que eu chamo de “sociedade protetora do homem”, que não existe. Por isso não existe uma ouvidoria pra crimes ambientais urbanos, como existe, por exemplo, na polícia florestal.

VM: E parece que sempre volta a ideia de meio ambiente como uma coisa distante das pessoas, não acha? PS: Exatamente. Se você trouxer a causa ambiental pra cidade, pro quintal das pessoas, pra sua família, e pra ele próprio, talvez você tenha uma adesão melhor, porque aqueles que já fazem ações respon-sáveis visando uma melhora daqui a décadas já estão convencidos. Você tem que convencer os outros. Continuamos agindo como se a cidade dos Jetsons fosse existir. Não existe essa solução tecnológica que a gente está esperando. A mudança está em repensar modelos, como outras cidades do mundo desenvolvido fizeram e como algumas cidades da América Latina estão fazendo. Aqui a gente ainda não tomou essa atitude de uma forma consistente. Alguns políticos dizem que vão investir em transporte cole-tivo e fazem uma pista adicional na Marginal, com um custo enorme, onde não tem uma faixa exclusiva pra ônibus. Gasta-se uma fortuna e está tudo entupido, do mesmo jeito, um ano depois que inaugurou “aquele negócio”. Não tem sentido. Você tem que, de fato, ocupar o espaço, pôr metrô, BRTs, que são mais rápidos, fazer o mais barato! E colocar combustível limpo, por exemplo, eletricidade.

VM: Isto diminuiria consideravelmente a emissão de poluentes?PS: Sim, você poderia colocar um ônibus híbrido, ônibus a etanol. Tem ônibus movido a hidrogênio já produzido no Brasil. Poderia fazer várias matrizes mais limpas e fazer com que esses ônibus andem. E fazer ciclovias fora dos ônibus.

VM: Fazer com que as pessoas realmente queiram andar de trans-porte público.PS: Como acontece com o metrô. Tem um adensamento imobiliário ao longo das linhas do metrô. As pessoas até gostariam de ir, mas só vão se for limpo, adequado. Se for uma porcaria, não vão.

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FESTIVAL RESPECT MOSTRA ECO-ATITUDE E VAI ALÉM DA MÚSICA PARA AMPLIAR A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

“Toda a comunicação do evento

é elaborada em papel reciclado e,

na montagem, são considerados os

processos de bioconstrução e

permacultura, utilizando materiais

que não agridem o meio ambiente.”

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De festa para festival, o RESPECT faz jus ao nome e dissemina, de forma criativa e consciente, mensagens que ampliam a consciência ecológica, ultrapassando a preocupação de entreter fãs da Cultura Trance nas pistas.

Hoje, o evento multicultural é sustentado pela força da música e arte al-ternativa. Além de levar DJs e produtores em destaque da cena brasilei-ra das vertentes do trance, o RESPECT incentiva e divulga projetos que buscam soluções inovadoras de preservação, fontes alternativas de energia e de autossustentabilidade. E faz isto aliando-se a projetos artísticos que visam a conscientização para o problema do lixo não re-ciclável, que reciclam resíduos e aumentam seu tempo de vida útil para criar outra alternativa de uso: a atmosfera do festival.

Foi aí que o núcleo intitulado ECO-RESPECT ganhou força: segue fiel para a posição de movimento cultural que propõe mudança de com-portamento através da arte-educação. Toda a comunicação do evento é elaborada em papel reciclado e, na montagem, são considerados os processos de bioconstrução e permacultura, utilizando materiais que não agridem o meio ambiente. Durante o Festival, a preocu-pação com o lixo é constante, atitude frisada através da entrega de porta micro-lixos e da troca de latas de alumínio em ficha con-sumível no posto reciclável do evento.

O festival RESPECT foge às classificações convencionais por unir elementos de Teatro, Circo, Body Art, Dança, Happening, Vídeo Art, Artes Plásticas, Cinema e Música. Espelhado nos melhores festivais de arte e cultura alternativa do planeta, desde 2006 age fomentando a cultura alternativa no sudeste brasileiro.

Além da pista principal e da pista alternativa & chill out, oficinas, intervenções, práticas da Yoga, happenings e outras formas de ex-pressão ficam espalhadas.

O coletivo de artistas plásticos de “A ILHA” reúne em suas obras materiais pouco convencionais, geralmente descartados por de-suso, defeito ou substituídos por nova tecnologia. Lixo eletrônico em geral, como celular, TV, computador, vídeo-cassete e até fax faz parte dessa nova percepção, além de porcas, parafusos, tam-pas de caneta e garrafa, pontas de lápis, moedas, mangueiras e apetrechos enferrujados.

O movimento “MUTAÇÃO ARTE”, criado na Bahia em 2003 por artis-tas apaixonados pela natureza e arte-educação, transforma embalagens plásticas (PET) em matéria-prima para compor inusitadas esculturas, cenários, decoração temática, performances e oficinas. O trabalho é conhecido por todo o Brasil e já tem olheiros na Espanha e em Portugal.

Toda essa iniciativa e criatividade do grupo artístico RESPECT já ganhou participação em importantes eventos de educação ambien-tal em 2009, como o Viva Mata, que reuniu mais de 75 mil pessoas no Parque Ibirapuera, em São Paulo, além da participação na Se-mana Mundial do Meio Ambiente de Embu das Artes e nos CEUs administrados pela prefeitura de São Paulo.

19 www.respect.art.br

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O UNIVERSO TONAL

magino que um peixe não saiba que vive dentro da água até que seja retirado de lá. De maneira análoga, estamos mergulhados no Universo Tonal. Os tons que

conseguimos distinguir, tanto nas cores como nos sons, revelam a nossa amplitude de percepção, a nossa sensibi-lidade de afinação pessoal ou coletiva. Isto muda o tempo todo. Às vezes, estamos encolhidos, variando numa gama pequena de tonalidades, monocórdicos, monó-tonos, feito um samba de uma nota só. Em outras vezes, nossos hori-zontes se ampliam, muda o astral, muda o tom, muda total-mente o espírito da coisa.

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Quando se afina a corda de um violão para encontrar o tom certo, o ouvido atento para em determi-nada tensão da corda. O Universo é feito de super-cordas-tonais, uma rede transparente de frequências invisíveis e inaudíveis que vibram além do nosso diapasão. De vez em quando, um de nós entra em sinto-nia com essas frequências e pode tentar a “tradução” da sua viagem em linguagem acessível a todos. Normalmente, o que conseguimos ouvir é a gama de sons que se situa entre os ultrassons e os infrassons (como, por exemplo, o som da Terra se deslocando no espaço). Em termos de cor, o que conseguimos ver é o que está na faixa mediana entre os ultravioletas e os infraver-melhos, graças à forma como a luz penetra a atmosfera

em graduações sutis ao longo do dia. Da mesma maneira, em relação ao tempo, não conseguimos perceber nem o que é muito rápido (uma bala saindo de um revólver, por exemplo) e nem o que é muito lento, como acompanhar com o olhar o ponteiro das horas do relógio. Muita gente tentou alargar os horizontes do conheci-mento humano. Picasso, com o Cubismo, tentava ver coi-sas de ângulos impossíveis, enquanto Einstein imaginava

um Universo com até onze dimensões diferentes, embora para o mais comum dos mortais a percep-ção não passe das três conhecidas: profundidade, altura e largura.

Às vezes estamos encolhidos,

variando numa gama pequena de tonalidades, monocórdicos,

monó-tonos, feito um samba de uma

nota só.

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arte

O tempo está ligado ao som. O espaço está ligado à luz. Se Einstein estiver certo ao afirmar que a quarta dimensão é o tem-po, e que o tempo pode entortar a luz, então é possível imaginar que a resultante harmônica deva ser gerada por um ter-ceiro elemento que complete o jogo de forças perceptíveis no Universo. O ter-ceiro termo da equação espaço-tempo é o Tom – aquele que modula as frequências de som e luz. Nas pessoas, a velocidade do espírito é controlada pela respiração em compasso binário com o coração, que é um instrumento de corda: um tambor feito de fibras trançadas em músculos arquitetados para suportar esta percussão ao longo da vida, com tramas flexíveis para aguentar as mais variadas frequências, desde o repouso até o esforço máximo. Nosso senso de timing, de tempo, de-pende da nossa condição cardiopulmonar em sincronia com o resto dos tons do nosso corpo - o TONUS corporal, o tom do corpo, o tom emocional, o tom espiri-tual. O Tonus corporal equilibra a pressão interna com a pressão externa da atmos-fera. A atmosfera, por sua vez, é o tom da Terra, que estabelece o tonus da luz, a intensidade dela em sintonia fina com cada momento, chegando mansamente ao planeta quando o dia nasce, entrando

aos poucos com os ultravioletas filtrados pela camada de ozônio até o meio do dia, com insolação plena e, à medida que o planeta roda vai mudando a graduação de luz e calor, temperando o clima com os ventos e chuvas, com o peso do ar, com a variação das estações, com a polinização e a fotossíntese, para assegurar a continui-dade da vida entre nós. Graças a Deus, a Terra gira e o dia vira noite, se não es-taríamos fritos, literalmente. Esse timing é matemático, assim como também os intervalos musicais existentes na música e as frequências das cores em seus diversos com-primentos de onda. O espírito Tonal rege esta orquestra. Desde o nível atmosférico (até mesmo fora dele), sin-cronizando as influências que atuam sobre nós, desde os mais simples desejos, engendrados pelos instintos, até a mais sublime inspiração que possa iluminar o ser humano, tudo isso são apenas variações biológicas sobre o nosso TONUS. Quem está bem afinado - no corpo, na voz, na postura, nas ideias, na atitude em relação a tudo e a todos em geral se dá melhor na vida. Aprender a pilotar a sua própria luz, o seu tom de voz, saber chegar maneiro com o seu tom, pedir muita licença à tonalidade geral existente em cada ambiente, aprender o momento certo para intervir na frequência dominante, achar o tom da conversa é sinal de sabedoria musical, colorida, sabedoria tonal. Para a alegria geral da orquestra, é bom que cada um ache o seu tom. Amem. Om.

(mané-mané)

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Tonal ( mané-mané)

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Os tons que conseguimos distinguir, tanto nas cores como nos sons, revelam a nossa amplitude de percepção, a nossa sensibilidade de afinação

pessoal ou coletiva.

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Juan

Mor

gad

e

entrevista

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entrevista

Conversar com Bruna Lombardi e Carlos

Alberto Riccelli foi uma delícia. Poderia fi-

car muito mais tempo absorvendo a tranqui-

lidade, a felicidade que notava nas palavras.

A entrevista aconteceu numa tarde em

que estavam em São Paulo, atribulados,

voltando da cidade de Paulínia. Tive a

felicidade de conversar com eles dias

após a apresentação do filme Onde

Está a Felicidade? – dirigido por Riccelli,

escrito e protagonizado por Bruna – e saber

da novidade: o longa acabara de vencer

dois prêmios no Festival de Cinema de

Paulínia naquele final de semana: Melhor

Longa de Ficção pelo Júri Popular e

Melhor Atriz Coadjuvante para María

Pujalte, uma das mais populares atrizes

da dramaturgia espanhola.

Dava para perceber que eles realmente en-

contraram, naquele período da vida, mais

um pouco do que procuravam. A felicidade!

Em mais uma Entrevista Exclusiva, a

Versátil Magazine divide a felicidade

deste encontro com nossos queridos

leitores. Assistam ao filme! Vale, e

muito!, a pena.

Versátil Magazine: Bruna, conte-nos sobre a repercussão que o longa Onde Está a Felicidade? teve, recentemente, no Festival de Cinema de Paulínia.Bruna Lombardi: É uma comédia maravilhosa. Eu vou te dizer a reação da plateia. Eram 1.500 pessoas no teatro de Paulínia, mas teve que fazer sessão extra para mais 1.500! Lotou. As pessoas riam e aplaudiam do começo até o final. Foi muito bom.

VM: Qual é a sua relação com o tema tratado no filme, que fala da transcendência, do Caminho de Santiago de Compostela...BL: Então, a personagem, que é uma chef de cozinha, desco-bre que o marido tem um affaire pela internet. Ela tem um programa na TV que ensina receitas afrodisíacas e perde o emprego ao mesmo tempo em que acontece a crise em seu casamento. Então, ela decide mudar e vai fazer o Caminho de Santiago de Compostela. É uma relação de busca da felici-dade, de encontro com si mesma e, ao mesmo tempo, o caos da vida. Mas acontece com comédia. O marido é fanático pelo Corinthians, comentarista de futebol e vive em São Paulo. No Caminho, vão o diretor do programa e uma nova amiga, uma espanhola cheia de problemas. Trata-se de uma comédia urbana contemporânea, romântica, bem divertida. Como discute muito o relacionamento de homens e mul-heres, os homens também se divertem muito.

VM: O Caminho de Santiago é algo já antigo na sua vida?BL: Eu sempre quis fazer esse Caminho, sempre tive von-tade. Aí, com a ideia de fazer, foi legal. A gente pensa que precisa ser atleta, mas não. Qualquer pessoa está próxima. E falha e consegue na medida do possível. O filme fala do lado humano das falhas e conquistas que, mesmo falando, a gente aprende. Tudo é uma grande lição, né?

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entrevista

que tem. Mas eu acho que todo mundo quer qualidade. As pes-soas estão em constante evolução. Nós estamos sempre mudando. As pessoas vão melhorando junto com o produto. Vão melhorando com as minisséries que passam... Às vezes, as circunstâncias fazem com que as pes-soas não façam o seu melhor. Mas a gente tem sempre que lutar pra con-seguir o melhor.

Aqui deixamos um pouco de conversar sobre o filme e lembrei-me da Bruna em Grande Sertão: Veredas, minissérie que passou na Rede Globo em 1985, interpre-tando Diadorim. Eu era ainda bem jovem, mas confesso que o trabalho foi marcante.

Tive outra visão sobre o livro de Guimarães Rosa, antes nada pala-tável para mim. Talvez, antigamente, a escola indicasse livros muito complexos sem que estivéssemos maduros para absorvê-los. Mas a série que trouxe a Bruna Lombardi interpretando um homem me levou à obra por um atalho mais interessante. Realmente, é preciso trazer trabalhos de boa qualidade para a TV, o cinema. Popularizar bons textos, não? A conversa seguiu permeando vários assuntos e chegamos à valorização de nosso patrimônio cultural, riquíssimo, das nossas belezas naturais, como as que aparecem no filme: as inscrições rupestres do Piauí. Bruna recomendou a viagem ao Piauí: “As paisagens são lindíssimas e temos um patrimônio da humanidade, um tesouro nacional. Tem um museu de primeiríssimo mundo, o do Homem da América, é maravilhoso!” A atriz também contou um pouquinho do que pode ser visto no filme: “A gente mostra na tela coisas que nunca foram vistas no cinema. Há uma cave de vinhos que aparece pela primeira vez e existe há mais de duzentos anos, das mais antigas da Europa. As pessoas vão ver o nosso esforço de mostrar o melhor.”

VM: Sem dúvida. E o título é interes-sante: Onde Está a Felicidade? BL: Sim, claro! É um tema muito atual, porque todo mundo quer ser feliz. Todos se identificam muito com o título, tanto homens como mulheres. E o filme ganhou justamente o prêmio do Júri Popular, do público, que es-colheu como o melhor filme.

VM: Então, você aguarda uma grande projeção, sucesso nas bilhe-terias?BL: Sem dúvida. Esse filme tem sido muito abençoado desde o iní-cio. Desde a feitura, toda a equipe, com todos que participaram, porque o filme é resultado do trabalho de muita gente.

VM: Quanto tempo houve de trabalho até o lançamento? BL: Ah, uns dois anos, desde o roteiro até a finalização, com trabalho de uma equipe gigante, resultado de um tra-balho grande. Rodamos em dois países, passa por muitas cidades, muita gente envolvida trabalhando com paixão. Um filme feito com paixão.

VM: Trabalhar com paixão faz as coisas acontecerem de forma diferente?BL: Sem dúvida, faz uma diferença incrível. Que imprime a tela! A gente luta muito pela excelência. Tudo o que a gente faz, a gente procura dar o melhor que a gente pode para o público. A gente quer qualidade, não quantidade. A gente quer dar qualidade para o público. Acho que muitas vezes é possível se contentar com um pouco menos, porque é o

Sempre tive dentro de mim a

felicidade, em todos os momentos.

Houve momentos duros, como

acontece com todo mundo, mas sei

que das crises e dos problemas é que

nasce a felicidade.

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Ninguém pode ser feliz vivendo de um jeito pesado, buscando desesperadamente a felicidade. Isso é contradição! Tem que aproveitar cada momento.

Riccelli

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VM: Bruna, qual é a sua intenção com o filme? BL: Eu queria mesmo fazer as pessoas felizes. Como já fiz trabalhos que fizeram as pessoas chorarem, se comoverem muito, no mundo inteiro, dessa vez eu queria fazer rir. Sair do cinema leve, feliz. E a gente conseguiu isso.

VM: Missão cumprida?BL: Exatamente! Foi isso mesmo que eu disse quando acabou: missão cumprida!

Ainda nesse movimento de felicidade, Riccelli continua: “O filme está se comunicando tanto com as pessoas! Elas saem tão felizes do cinema!”

Versátil Magazine: Como foi a transição de ator para di-retor, Riccelli?Carlos Alberto Riccelli: Acho que dirigir esse trabalho veio naturalmente para mim. Durante as filmagens no set, sempre tive a curiosidade, sempre fiquei observando muito atentamente o trabalho de todo mundo. Adoro ver profissionais trabalhando, pessoas do métier. Isso sempre me encantou e eu procurei conversar com profissionais sempre. Claro que o fato de adorar cinema ajudou mui-to, porque vou ao cinema com a família a toda hora. Aí, presto atenção. Sou um espectador normal, claro, embar-co completamente na história, no filme, choro, rio. Mas ao mesmo tempo sempre tem um outro lado meu que fica atento, observando outros aspectos do filmar, como cenário, figurino e tudo mais. Então, foi uma coisa bem natural mesmo.

VM: Podemos dizer, então, que o diretor “vem nascen-do” já há algum tempo? É algo que aconteceria de qual-quer jeito?CR: Isso é verdade, sem dúvida. Isso desde o programa “Gente de Expressão” (TV Manchete). Nós viajamos muito entrevistando pessoas bem interessantes pelo mundo afora, fazendo reportagens. Isso ajudou muito na profissão.

VM: O filme trata de coisas especiais, que são a trans-cendência, a espiritualidade. Você acha que é preciso fazer algo, como viajar para Santiago de Compostela, para en-contrar Deus?CR: Todos os caminhos são caminhos. Evidentemente, lá tem a mística que ajuda as pessoas. É quase uma jus-tificativa, um pretexto pra se dar esse tempo e olhar pra dentro. É um caminho de muito sacrifício, duro.

BBBBBBBBrBrBB unaa

AAAAAAAAAAAAAAA ggggggggggggggggeeeeeeeeeennnntttttttteeeeeeeeee qqqqqqqquuuuuuuueeeeeerrrrrr AAAAAAAAAAAAAAAAAAAquuuualliiiidddddddddaaaaaaaaadddddddddddeeeeee,,,,

não quantiiiiddddddddaaaaaaaaddddddddddeeeeeee... A genttttttttttttteeeeeeeeeee qquuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeerrrrrrrr

ddddaarrrrrrrrrrrrrr qqqqqqqqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuaaaaaaaaaaaaaaaaallllllliiiiiiiddddddddddddddddddaaaaaadddddddddeeeeee pppaarrrraaaa o púúbbbbbbbblllllllllllllliiiiiiiiiiiiiicccccccccccooooooo...

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VM: É uma caminhada difícil tecnicamente? Precisa ter preparo físico para fazer? CR: É difícil, as pessoas ficam com bolhas nos pés, às vezes torcem o pé ou acontecem coisas mais graves, como que-das. Ao mesmo tempo, é uma coisa bem prazerosa. O que é especial é que você diz “vou fazer esse caminho”. Esse caminho vai demorar de trinta a quarenta dias pra ser fei-to, em média. Tem gente que demora mais, menos, muito difícil. Tem que ser atleta e ter porte de ferro pra fazer em menor tempo, e há atletas no percurso também. Passar esses dias andando é diferente de férias, quando você sai para se divertir. Vai com essa proposta de olhar dentro de você. O que te faz olhar para os outros também. E os outros também estão imbuídos dessa coisa ancestral de fazer esse caminho, que é feito desde o século IX d.C. O que o torna especial é essa busca à que você se propõe.

VM: Você dirige um filme que trata do tema caminhar em busca da felicidade. E você caminhou muito profissional-mente. Foi coincidência ou realmente só agora você se sente maduro profissionalmente e, então, partiu para a direção? CR: A gente está sempre aprendendo, né? Eu sempre digo que tive muita sorte de nascer numa família legal. Sempre tive dentro de mim a felicidade, em todos os mo-mentos. Houve momentos duros, como acontece com todo mundo, mas sei que das crises e dos problemas é que nasce a felicidade. Os seus desafios fazem você mais forte e desafios fazem as pessoas felizes. Se você deu o seu melhor, não existe fracasso. Se você se entregou, se esforçou de fato, o resultado provavelmente vai ser bom.

VM: É preciso ter coragem pra alcançar a felicidade?CR: Sem dúvida, tem que ter coragem e se lançar! O bom do filme é isso, mas sempre na forma de comédia. A gente queria uma coisa leve, porque ninguém pode ser feliz vi-vendo de um jeito pesado, buscando desesperadamente a felicidade. Isso é contradição! Tem que aproveitar cada momento. No filme a gente conseguiu fazer as pessoas chegarem nisso.

entrevista

ONDE ESTÁ A FELICIDADE? Após crises no casamento e no trabalho, a chef Teodora vive uma jornada de descobertas que farão dela uma nova mulher. Com o amigo Zeca e a espanhola Milena, percorre o Caminho de Santiago de Compostela. Direção: Carlos Alberto Riccelli. Com Bruna Lombardi, Bruno Garcia, Marcello Airoldi, Marta Larralde, María Pujalte, Wandy Doratiotto, Sérgio Guizé, Paulo Federal, Luis Zahera, Pedro Alonso.

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Rodamos em dois países, passa por muitas cidades,

muita gente envolvida trabalhando com paixão.

Um filme feito com paixão.

Bruna

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gastronomia

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Gabriel [email protected]

Twitter: @leicand

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em sempre aqueles que não são fãs do es-porte, das longas caminhadas e aventuras e preferem comer. Estando na Galícia, uma

opção é deixar os colegas fazerem a célebre peregri-nação de Santiago de Compostela e ficar comendo as comidas típicas da região. Quando todos os peregrinos brasileiros chega-rem, mortos de fome, com bolhas no pé, praguejando até não poder mais, mas com um cajado bacana na mão (esta é a única parte que pode dar inveja), você pode estar se deliciando com os frutos do mar, os tapas e a torta ba-tizada em homenagem à cidade. Santiago de Compostela é a capital da Galícia (conjunto de províncias), banhada pelo Oceano Atlântico ao norte da Espanha. O Mar do Norte é frio e, apesar de não ter belas praias, traz pesca-dos maiores do que os do Mediterrâneo. O polvo à galega e as amêijoas são especialidades locais.A torta, batizada de Tarta de Santiago, esta sim é uma especialidade com certas curiosidades. Feita basicamente de amêndoas, ovos e açúcar, seus primeiros registros são de 1577, quando quase não havia amêndoas na região. Era um ingrediente caro e difícil de obter. Dizem que foi feita apenas para a visita de D. Pedro de Porto Carrero à Uni-versidade de Santiago e, por isto, foi utilizado um ingrediente nobre em sua confecção.Na época foi chamada de “torta real”. Fez muito sucesso e continuou a ser reproduzida, com o in-grediente principal se tornando mais popular na

Espanha. Pouco a pouco seu nome foi mudando para Tarta de

Santiago, pois todos faziam referência ao local onde foi criada.O sabor lembra uma galette de rois, torta fran-cesa também de amêndoas, com massa por fora e recheio cremoso, feita para celebrar o dia em que o menino Jesus recebeu ouro, mirra e incenso de Balthazar, Gaspar e Belchior. Belchior deu ouro e, obviamente, virou o tio favorito. Balthazar deu mirra e não foi chamado para o próximo batismo.Diferente de todas as outras tortas de amêndoas, o que dá particularidade à torta de Santiago é a cobertura, que leva uma camada de açúcar polvilha-do, deixando-a branca, com exceção de uma cruz no centro, característica do Santo e da cidade.Esta característica especial é feita com um artefato local, uma cruz de ferro, que é colocada sobre a torta antes de polvilhar o açúcar. Quando toda a sobreme-sa é coberta, a peça é retirada e fica a marca. Mas isso não era feito desde que o doce foi criado. É uma invenção de uma doceria chamada Casa Mora, de 1924, que mudou a história desta torta.Desde 2006 ela tem registro de Indicación Geográ-fica Protegida, o que nós conhecemos como D.O.C., Denominação de Origem Controlada. Como o queijo Camembert ou o vinho Champagne. Só pode ser chamado de Tarta de Santiago se for feita lá e com os ingredientes locais, respeitando as tradições. Isto garante a qualidade e a reputação do produto, além de mantê-lo vivo na história.

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literatura

érgio Napp lançou recentemente

o livro Menino Com Pássaro ao

Ombro, que tem ilustrações de

Walther Moreira Santos, pela editora Artes e

Ofícios, de Porto Alegre (RS).

O autor é gaúcho da cidade de Giruá e tem

várias publicações em jornais de Porto

Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Como

compositor, tem um trabalho especial, pre-

miado em diversos festivais.

A obra conta a história de um garoto que car-

rega no ombro um pássaro capaz de observar

os fenômenos do cotidiano com muita sensi-

bilidade. A poesia que acompanha o menino

faz com que suas aventuras sejam únicas e

cheias de beleza. Belas, e também poéticas,

são as ilustrações do livro.

Duas dezenas de títulos e, agora, Menino com Pás-saro ao Ombro: o que ele representa na sua trajetória de ficcionista?Sérgio Napp: Um livro a mais com gostinho de sonhos realizados. Menino nasceu há muitos anos dentro de um projeto amplo (pelo qual nenhuma edi-tora se interessou). Seriam três livros infantis (um para cada irmão), três livros infanto-juvenis com os perso-nagens adolescentes e, por último, um sétimo livro, adulto, com os personagens de volta à fazenda de onde saíram. Os infantis foram escritos: Menino Com Pássaro ao Ombro (Artes e Ofícios) e A Pedra do Conhecimento (Paulinas). O terceiro aguarda por uma boa alma (editora). Selecionei muito as editoras, pois queria os livros com a melhor qualidade possível. E não é que consegui? Outro sonho é a publicação pela Artes e Ofícios, há muito acalentada. Os meninos, hoje, têm o pássaro azul do twitter pousado em seu ombro? Há lugar para o pássaro da poesia e do sentimento nesta realidade de agora?SN: Há. Sempre haverá. Toda a parafernália eletrônica existente não será capaz de vencer o encantamento. E é ele que faz brotar a poesia e o sentimento. Por incrível que possa parecer, as pessoas ainda sonham

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hoje em dia. Ainda têm expectativas, esperan-ças. A eletrônica é uma das formas de canalizar sentimentos. Não é sem razão que as pessoas se ligam, através do twitter e do facebook, a dezenas de outras pessoas na ânsia de se co-municar, de tratar de seus problemas. Cada um deseja alguém que o ouça e, ao mesmo tempo, se propõe a ouvir.

A imaginação da garotada viaja para onde hoje?SN: É difícil responder. Mas, se levar em conta meus contatos com a garotada em salas de aula, a imaginação delas continua ativa. Com grandes diferenças, é claro. Quando crianças, ouvíamos rádio e íamos, vez ou outra, ao cinema. Nestas viagens, nos-sa imaginação brotava levando tudo por diante. Penso que foi aí o meu caminho como escritor. Hoje, a imaginação se faz de forma diferente, mas ainda se faz. Isto é perceptível por onde ando. Não fora assim, de onde os escritores tirariam tantas histórias?

“Ninguém pode com um menino que leva um pássaro ao ombro”, afirma o livro. A leitura, o prazer de escrever, a descoberta das tramas da escrita: como incutir nos jo-vens a busca por uma “vida apetitosa” de que também fala a história?SN: Não há fórmula. É um processo. Vim de uma família que não lia, e eu acabei me tornan-do um leitor ávido. Ao mesmo tempo, conheço famílias em que os pais são leitores/escritores e os filhos não leem. Ninguém é obrigado a ler, como ninguém é obrigado a gostar de alguém. É um tanto quanto aleatório. Importante é despertar a curiosidade e regá-la com carinho, para que a planta não morra. Os legionários do Harry Potter não me deixam mentir. O que mudou, desde que se mobilizou para contar histórias em verso e prosa, no mundo da literatura?SN: Muita coisa. A qualidade, o carinho, o trabalho com o livro. Um livro como este, há alguns anos, seria impensável. Antigamente,

qualquer ilustração seria bem-vinda. Hoje, um livro infantil sem uma ilustração cuidadosa, parece faltar um pedaço. Hoje o livro viaja, e sei que posso encontrar o Menino Brasil afora. A internet, neste sentido, é uma ferramenta de alta qualidade. Na sua infância, conforme enfatiza em seu depoimento no livro, não havia quem lhe contasse histórias, mas a força da fantasia suplantou esta realidade. O que falta, afinal, para que o Brasil tenha mais gente lendo e também escrevendo para ser lido?SN: Escritores há de sobra. Para cada um que publique, três ou quatro tentam uma chance. Ninguém deixará de ler por falta de livros. A distribuição é um dos problemas. Há mais editoras que livrarias neste país. Na leitura há algo de mágico: é preciso que alguém se disponha a contar uma história para que esta história seja repetida e recontada, e, muitas vezes, se torne outra história. Não há uma palavra mágica que faça com que mais gente leia (se houvesse, o mundo seria muito chato). É preciso um trabalho cotidiano, dedicado, cheio de boa von-tade para transformar alguém em leitor. Fundamental: não se deve tornar a leitura obrigatória. Cada pessoa é uma pessoa, e ela tem o direito de escolher o que deve ler. Se não houver disposição, prazer, alegria, encantamento, não haverá leitores. As fantasias que povoam os quartos de meninos e meni-nas nestes tempos de virtualidade são tão fortes quanto as da época da sua meninice?SN: Talvez mais, vai saber. Talvez os sonhos sejam mais inten-sos, os desejos mais fortes do que os que acudiam meninos do interior em épocas pré-eletrônicas. Nosso mundo, pro-porcionalmente, era maior. Não havia muros, grades. Não éramos levados à escola, íamos sozinhos ou em grupos. Nos-sas brincadeiras eram ao ar livre e coletivas. Talvez, tivéssemos mais liberdade, não sei. Não sou passadista (“no meu tempo era melhor”), mas as diferenças são enormes. Gosto de lem-brar esta liberdade e estas brincadeiras em meus textos, não para traçar paralelos, mas para que a garotada de hoje saiba que brincávamos, e muito, com o pouco que tínhamos. Talvez as brincadeiras de hoje sejam mais emocionantes. As nossas eram mais simples, com certeza, mas nem por isto menos agradáveis.

Entrevista concedida à Editora Artes e Ofícios.

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Fundamental: não se deve tornar a leitura obrigatória. Cada pessoa é uma pessoa, e ela tem o direito de escolher

o que deve ler.

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A HISTÓRIA DO HOMEM. (1) Cyril Aydon. Um novo olhar sobre a evolução social, econômica e cultural da hu-manidade. O autor aponta acertos e falhas na trajetória ini-ciada na África e marcada por grandes transformações: o sur-gimento da agricultura, as ascensões e quedas de impérios e a evolução tecnológica atual. Editora Record.

A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE E OUTRAS PEÇAS. Oscar Wilde. Muito da fama do autor se deve ao romance O Retrato de Dorian Gray, mas foi como dra-maturgo que alcançou o maior sucesso em vida. As comédias “Uma Mulher Sem Importância”, “Um Marido Ideal” e “A Importância de Ser Prudente” estão neste volume. Penguin-Companhia.

A ÚLTIMA TRAGÉDIA. Abdulai Silá. Uma das mais destacadas vozes da literatura africana contemporânea

conta a história de uma adolescente que, cansada da dis-criminação em sua aldeia, segue para a cidade a fim de trabalhar como criada na casa de brancos, onde tem seu nome trocado. Editora Pallas.

ATRÁS DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA FICA O MAR. (2) Jutta Richter. Cosmo e Novênio vivem nas ruas e sonham em ver o mar. Uma mulher propõe financiar a via-gem em troca do anjo da guarda de um deles. A autora é considerada atualmente uma das mais importantes escritoras de literatura infanto-juvenil da Europa. Editora Iluminuras.

CONTRA UM MUNDO MELHOR – ENSAIOS DO AFETO. (3) Luís Felipe Pondé. O autor tira a fi-losofia da sala de aula para debatê-la em praça pública. Como em suas colunas na Folha de S.Paulo, escreve sobre o mundo contemporâneo com perspicácia e

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cultura versátil

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sem moralismos, chacoalhando os leitores e libertando-os da neutralidade. Editora LeYa.

COZINHAR PARA UM OU PARA DOIS. Pía Fendrik. Receitas simples, práticas e saudáveis para os amantes da arte de cozinhar. Com dicas sobre congelamento de alimentos, cálculo de medidas de ingredientes e armazenamento. O livro facilita o dia a dia de quem deseja se aventurar como chef em casa. Fotos: Ângela Copello. V&R Editoras.

ESCUTA SÓ. (4) Alex Ross. De Bach a Björk, da música chinesa aos Beatles, de Brahms a Bob Dylan, o crítico musi-cal da New Yorker propõe um novo percurso. Seu texto, livre de jargões, mostra que a boa música não reconhece fronteiras entre gêneros, autores, estilos e épocas ao seduzir ouvidos e corações. Companhia das Letras. MEMÓRIAS. (5) Gregório Bezerra. Reedição da autobio-grafia do revolucionário comunista com momentos vividos durante os principais acontecimentos da vida política e so-cial do Brasil no século XX. No início, narra a seca e a es-cassez de alimentos que maltrata os nordestinos, e que ele próprio viveu. Editora Boitempo.

O JOVEM SHERLOCK HOLMES: NUVEM DA MORTE. (6) Andrew Lane. Sherlock Holmes tem só qua-torze anos quando, ao caminhar por um bosque, descobre o cadáver de um homem coberto de pústulas. É o começo de uma nova vida em que enfrentará espionagens, sequestros e até uma trama que poderá mudar o futuro da Grã-Bretanha. Editora Intrínseca.

O FANTASMA DE CANTERVILLE. (7) Oscar Wilde. Um clássico infantil da época em que se questionava a literatura de terror e escritores e críticos desconstruíam romances góticos. A obra conta a história de um fantasma que vê o feitiço virar contra o feiticeiro quando passa a ser assombrado pelos homens. Casa da Palavra.

O HORIZONTE DA MINHA PELE. Emilio Bejel. O au-tor cubano, homossexual, mostra a Cuba pré-revolucionária dos pobres pescadores, dos deselegantes automóveis, a Cuba dos fortes laços afetivos, que nem o tempo e os políti-cos conseguem eliminar. Um fascinante relato autobiográ-fico e poético. Atelier Editorial.

O RIO. (8) Leonencio Nossa e Celso Júnior. Partindo de

Arequipa (Peru), jornalista e fotógrafo vão ao encontro da nascente do rio Amazonas, na cordilheira dos Andes. Um relato da diversidade das regiões banhadas pelo rio, com informações sobre temas sociais, ecológicos, históricos, literários e geográficos. Editora Record.

OLHO DE VIDRO – A TELEVISÃO E O ESTADO DE EXCEÇÃO DA IMAGEM. (9) Marcia Tiburi. A filósofa dis-cute as relações entre pensamento reflexivo e imagem a par-tir da oposição entre filosofia e televisão, trazendo uma re-flexão lúdica sobre o que está intrinsecamente envolvido nos atos que caracterizam uma sociedade visual. Editora Record.

OS FILMES QUE SONHAMOS. Org.: Frederico Mach-ado. Resenhas sobre filmes lançados no Brasil pela Lume Filmes. Clássicos do cinema japonês, trabalhos no leste eu-ropeu durante o período da Cortina de Ferro, obras do Cin-ema Marginal Brasileiro e contemporâneas com a assinatura de cineastas europeus. Lume Filmes.

PALESTINA. (10) Joe Sacco. Lançado originalmente em 1996, inaugurando a reportagem em quadrinhos, o livro recebeu os prêmios mais importantes do mundo dos quadrinhos, e até o American Book Award, pela importân-cia como retrato único do drama do povo palestino. Esta edição traz novos textos, fotos e desenhos. Conrad Editora.

ROMPENDO O SILÊNCIO. (11) Alice Walker. Trad.: Ana Resende. Trinta anos após denunciar a opressão racial e sexual das negras americanas, Alice relata histórias de pes-soas que tiveram o cotidiano atingido por banhos de sangue no Congo e em Ruanda, regiões assoladas por conflitos políticos e guerras insanas. Editora Bertrand Brasil.

SIRVA O CORAÇÃO EM BANDEJA DE CRISTAL LÍQUIDO. (12) Laïs de Castro. Em sucessão inesperada e pinceladas curtas, os contos de Laïs levam-nos ao solar, ao bordel, ao carnaval, a lençóis imaculados (e maculados), ao campo rude. Os personagens desejam, amam, deliram e ofendem-se mortalmente. Editora Iluminuras.

SOLAR DA FOSSA. (13) Toninho Vaz. A pensão localizada em Botafogo, Rio de Janeiro, foi endereço de poetas, com-positores, jornalistas, artistas plásticos. Toninho, também morador, mostra imagens inéditas e relatos de artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Tim Maia, Betty Faria. Prefácio de Ruy Castro. Editora Casa da Palavra.

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UM SONHO DE AMOR. Uma história de amor e tragédia em Milão, Itália, na passagem do milênio. É Natal e a família Recchi está reunida com amigos. A mãe se apaixona por um amigo do filho. O preço que pagarão por esse amor será muito alto. Direção: Luca Guadagnino. Com Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini, Diane Fleri.

ANDERSEN SEM PALAVRAS. Cinco contos de Hans Christian Andersen – “O Patinho Feio”, “Soldadinho de Chumbo”, “Os Namorados”, “A Menina dos Fósforos” e “O Sapo” – apresentados por técnicas do Teatro de Sombras. Direção: João Bresser. Música: André Abujamra. Com o Grupo Caleidoscópio. Teatro Ruth Escobar. Rua dos Ingleses, 209, Bela Vista, (11) 3289 2358. Até 25 de setembro.

cultura versátil

TEATRO por Claudia Liba e Valéria Diniz

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HANNA. Hanna tem 16 anos e foi treinada pelo pai, ex-agente da CIA, para ser uma assassina. Tem a habilidade e a inteligência de um soldado, mas quer ser apenas uma ga-rota. Em missão, encontra uma agente com informações reveladoras sobre sua história. Direção: Joe Wright. Com: Eric Bana, Cate Blanchett. Estreia: 26 de agosto.

CINEMA por Claudia Liba

AS BRUXAS DE EASTWICK. Adaptação da obra de John Updick. Duas amigas entediadas sonham com o homem ideal. As esperanças se renovam com a chegada de um sedutor misterioso que desperta a necessidade de liberar “poderes”. Di-reção: Claudio Botelho e Charles Möeller. Com Eduardo Galvão, Maria Clara Gueiros, Sabrina Korgut. Teatro Bradesco. Bourbon Shopping. Rua Turiassu, 2.100, Pompeia, (11) 3670 4100. Até 11 de dezembro

DENTRO DA NOITE. Adaptação dos contos “Dentro da Noite” e “O Bebê de Tarlatana Rosa”, de João do Rio. Num trem de subúrbio um sádico fala sobre suas taras e, numa biblioteca, um narrador relembra uma aventura erótica de carnaval com desenlace grotesco. Direção: Ney Matogrosso. Com Marcus Alvisi. SESC Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, (11) 3095 9402. Até 27 de agosto.

LARRY CROWNE - O AMOR ESTÁ DE VOLTA. Um homem é demitido da empresa em que trabalhava há anos. Sem emprego, volta para a universidade. Famoso pelos discursos em sala de aula chama a atenção de uma professora que perdera a paixão por lecionar. Direção: Tom Hanks. Com Tom Hanks, Sarah Mahoney. Estreia: 26 de agosto.

PROFESSORA SEM CLASSE. Uma professora irreverente quer se casar com um bom partido e tenta conquistar um jovem e rico professor assediado por outra mulher. A confusão romântica coloca Elizabeth em situação escandalosa que afeta seus alunos e colegas de trabalho. Direção: Jake Kasdan. Com Cameron Diaz, Justin Timberlake.

LAMARTINE BABO. Texto: Antunes Filho. Musical sobre um dos mais importantes compositores da Época de Ouro da MPB. Um estranho observador pontua a biografia do músico em meio ao mistério de seu domínio sobre o assunto. Direção: Emerson Danesi. Com o Grupo CPT - Centro de Pesquisa Teatral. SESC Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia, (11) 3871 7700. Dias 08, 06, 13, 20 e 27 de setembro.

UM PORTO PARA ELIZABETH BISHOP. Texto: Marta Góes. Em 1951 a poetisa norte-americana, deprimida, desembarcou no porto de Santos em escala turística – mas ficou no Brasil por quinze anos. A peça fala sobre o encontro da escritora com o país nos anos 1950 e 60. Direção: José Possi Neto. Com Regina Braga. Teatro Eva Hertz. Avenida Paulista, 2.073, Bela Vista, (11) 3170 4059. Até 25 de agosto.

XINGU. Os irmãos Villas-Bôas se alistam na expedição Roncador-Xingu, desbravando o Brasil Central. Defendem os índios e sua cultura, registrando tudo no diário “Marcha para o Oeste”. Eles fundam o Parque Nacional do Xingu – na época, o maior do mundo. Direção: Cao Hamburger. Com Caio Blat, Maria Flor, Felipe Camargo.

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EXPOSIÇÃOWHAROL TV. A mostra exibe programas de TV criados pelo artista. Fashion, Andy Warhol’s TV e Andy Warhol’s Fifteen Minutes focam moda, artes e entrevistas com celebridades. Há também participações em outros programas televisivos. As obras per-tencem ao The Andy Warhol Museum de Pittsburgh (EUA). Grátis. SESC Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, (11) 3095 9402. Até 25 de setembro.

por Valéria Diniz

LASAR SEGALL – PROCESSOS. A mostra destaca o processo de criação do artista. Fotos e desenhos foram desenvolvidos, posteriormente, em suas obras. É pos-sível acompanhar a reafirmação do repertório poético e das questões formais, traduzidas nas várias linguagens de que se serviu. Grátis. Museu Lasar Segall. Rua Berta, 111, Vila Mariana. (11) 5574 7322. Até 2012.

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CONCERTO por Claudia Liba

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O MISTÉRIO DAS VOZES BÚLGARAS. Regidas por Dora Hristova, 23 cantoras sobrepõem vozes em cadências e escalas pouco habituais, preservando as tradições de voz da Antiguidade com uma proposta de arranjo única. No repertório obras de com-positores búlgaros, como Philip Koutev e Ivan Spassov. Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro. www.teatroalfa.com.br Dias 03 e 04 de setembro.

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games

pós o sucesso de Crysis e seus spins-off Crysis Warhead, Wars Crytec e Eletronic Arts lançaram a sua sequência para Xbox 360 PS3 e PC. Escrito por Richard Morgan e Peter Watts, é o primeiro a utilizar a CryEngine 3, fazendo o exemplar não esquecer

suas origens e novamente inovar com gráficos surpreendentes.Agora a história se passa durante 2023, numa New York infestada por aliens. Ao contrário do primeiro jogo, você controla “Alcatraz”, o sucessor de Jake “Nomad” Dunn, utilizando a Nanosuit 2.0, que antes pertencia a Laurence “Prophet” Barnes. Mas, como dizia Benjamin Parker, “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Justamente por ter a armadura de Prophet, você será perseguido pela CryNet Systems e, desta vez, os aliens não são somente enormes monstros com tentáculos, mas sim figuras Hu-manoides fortemente armadas com equipamento da mais alta tecnologia.O jogo exige menos da sua máquina em relação ao primeiro, mas, ainda assim, possui melhor qualidade gráfica – pelo menos é o que dizem lá pela EA. E conta com um surpreendente sistema de multiplayer, onde a classificação não é pela quantidade de mortes, mas pela quali-dade destas. Logo, se EA quiser: Adeus, campers! Com visual inacreditável, interface e combates realistas, o jogo tem grandes chances de bater seus antecessores e ganhar o prêmio de game do ano, mesmo sendo uma disputa acirrada, afinal, L.A. Noire, Batman: Arkham City, Gears of War 3 e Dragon Age II, entre outros, estão na disputa! CRYSIS 2 é recomendado para jogadores de ação que procuram aquele algo a mais nos FPSs clássicos.

Gabriel L. Schleiniger

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empre adotei um estilo alternativo de vida. Ser alternativa para mim era sinônimo de jovialidade. Viajar? Só se fosse

de mochila nas costas e com disposição para trilhas. Bares? Só frequentava os consagrados “bares ruins”, segundo Mario Prata, ponto de encontro de intelectuais. Aqueles bares “su-jinhos”, que oferecem a cerveja mais barata do pedaço, desde que o freguês aguente um par de petiscos gordurosos. Enfim, uma verdadeira intelectual, descolada e antenada. Como toda jovem alternativa, sentia-me aberta ao mundo e senhora do meu tempo. Parecia mesmo que meu relógio biológi-co compreendia esta vocação e meu adolescer se estendia como uma fruta madurinha que insistia em não cair do pé: para se ter uma ideia, dava-me ao luxo de comprar peças de roupa de nu-meração infantil para meu corpinho de sílfide mesmo após alguns anos da formação universitária! Em plena forma, já estava atuando no mercado, lógico, no terceiro setor – não existia melhor alternativa para uma moça tão sacada quanto eu. Batendo de ONG em ONG fui ganhando meu suado sustento, mesmo assim, alternando entre camelôs e lojas de promoção, consegui economizar o suficiente para uma boa alternativa de curso no exterior: um ano inteirinho na Austrália, entre cangurus, surfistas e jovens alternativos do mundo todo! Além do que, isto me traria um benefí-cio extra – sair do país era me ver livre de alguns relacionamentos que já não me deixavam alternativa alguma, aliás, cada tipinho nada alternativo que eu arrumava! Um tal de querer casório! Ufa! Enfim, certo dia, de mala e cuia na mão, disse pra trupe: Helloo... I’ll go to improve my English. Bye-bye, babies! Pequeno parêntese australiano: mulher não gosta de falar de idade; aliás, moça também não! Mas tendo terminado a “facul” a xis anos, trabalhado mais xis aqui e ali, xis mais xis mais xis... Xi! Acho que beirava o limiar das minhas possibilidades juvenis quando o tempo virou naquele país estranho. Estudando por lá já há alguns meses, havia enfrentado calor de mais de 40º C e, de repente, tive de encarar um dia gelado. A Austrália podia ser surpreendente, mesmo pra uma gata disposta a múltiplas alternâncias!Meu desapego jovial, anti-consumista, anti-patricices, a bem da verdade, muito mais preocupada com a estética do dinheiro que dos badulaques, fez com que me contentasse com um único moletom até então: o mesmo eu usava para andar de bicicleta, es-tudar, trabalhar, às vezes até para dormir. Mas aquele friozinho de

ficar o dia todo em casa me fez decidir pela compra de algo mais confortável, aliás, bem alternativo, uma opção razoável antes que o atual se visse em frangalhos. Saí à caça do que lá eles chamam de lojas de “second hand” (segunda mão, mesmo), mas acabei me descolando no Vitória Market, uma espécie de Mercadão da Lapa que vende de tudo, de verdura a sapato. Ao chegar à barraca, perguntei: – How much, please? – AU$ 12,00Respondi ao dono, em português mesmo, mostrando os dedos das mãos, porque no sexo e no comércio o mundo acaba se entendendo...: Ah, moço... Faz por AU$10,00! O comerciante, sacando que estava diante de uma turista

“pé de havaianas”, bem brasileira e capaz de encher muito o saco, decidiu oferecer o desconto. Feliz, comecei a escolher tamanho, cor e modelo: – Achei! Esta calça cinza é o mes-mo preço? – Yes! – respondeu rispidamente o homem, pronto para fechar a bar-raca e tirar as roupas das prateleiras. Eu demoro muito para escolher qualquer coisa, analisando realmente os detalhes! Era uma peça de tama-nho M, peguei na mão, medi compri-mento, largura e... Nossa! Acho que... Será? Bom, paciência. Até quando eu continuaria usando M?Perguntei ainda tranquila e confiante: É numeração infantil, não é? Com seu mau humor e até certa ironia, ele respondeu: Não senhorita, é nume-ração de adulto! E pelo visto seu ta-manho na verdade é G! Poxa, eu nem tinha notado! Com tantos altos e baixos nas minhas tril-

has, experiências descoladas, inteligente, moderna, totalmente underground e politizada. Alinhada com o suprassumo da cultura lado B, passei-me despercebida! Mas bastaram uns quilos a mais, apenas uns quilinhos e pronto! Pulei do M pro G, pior ainda, da numeração infantil para... Céus! Pen-sei inconformada: Hoje eu virei Adulta!Perplexa, corri para a república, pedalando e tentando ver o lado bom, o conforto da nova calça macia e mais folgada, mas, acima de tudo, planejando quando começaria a usá-la para fazer exercício – muito exercício!Percebi, naquele dia, que os ponteiros resolveram andar e não me restava outra alternativa.

Antonio Gomes é músico, compositor e escritor.

Contato: (11) 2537 3120 / 6356 [email protected]

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