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RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia ISSN: 1806-7727 [email protected] Universidade da Região de Joinville Brasil Muassab CASTANHO, Gisela; Barbosa MARQUES, Juliana; CAMARGO, Maitê André; DE CARA, Antonio Alberto Avaliação in vitro da microdureza de dentina bovina normal e esclerosada RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia, vol. 6, núm. 2, 2009, pp. 123-128 Universidade da Região de Joinville Joinville, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=153013734002 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia

ISSN: 1806-7727

[email protected]

Universidade da Região de Joinville

Brasil

Muassab CASTANHO, Gisela; Barbosa MARQUES, Juliana; CAMARGO, Maitê André; DE CARA,

Antonio Alberto

Avaliação in vitro da microdureza de dentina bovina normal e esclerosada

RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia, vol. 6, núm. 2, 2009, pp. 123-128

Universidade da Região de Joinville

Joinville, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=153013734002

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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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ISSN:Versão impressa: 1806-7727Versão eletrônica: 1984-5685

ResumoIntrodução: A literatura mostra características diferentes entre adentina normal e a esclerosada. A dureza é uma das propriedadesbastante utilizadas para comparar tanto os materiais restauradorescomo os tecidos biológicos. Objetivo: Comparar as característicasclínicas de dureza entre a dentina bovina normal e a esclerosada, pormeio do teste de microdureza. Material e métodos: Foram utilizados20 dentes bovinos divididos em dois grupos: GI (íntegros) e GII (comcaracterísticas de esclerose). Os dentes foram incluídos em resinaacrílica com os bordos incisais expostos e paralelos ao plano oclusal.Os espécimes receberam acabamento e polimento e ficaramarmazenados em água destilada em temperatura ambiente por 7 dias.Para o teste de microdureza foi utilizado o endentador Vickers comcarga de 50 gf durante 45 s. Selecionaram-se três áreas para cada

Palavras-chave:dentina bovina; dentinaesclerosada;microdureza.

Artigo Original de PesquisaOriginal Research Article

Avaliação in vitro da microdureza de dentinabovina normal e esclerosadaIn vitro evaluation of the microhardness ofnormal and sclerotic bovine dentinGisela Muassab CASTANHO*Juliana Barbosa MARQUES**Maitê André CAMARGO***Antonio Alberto DE CARA****

Endereço para correspondência:Address for correspondence:Gisela Muassab CastanhoRua Capanema, 254 – Brooklin NovoSão Paulo – SP – CEP 04558-050E-mails: [email protected] / [email protected]

* Aluna de Doutorado em Dentística – Faculdade de Odontologia da USP – São Paulo.** Estagiária do Departamento de Dentística – Faculdade de Odontologia da USP – São Paulo.*** Doutora em Dentística – Faculdade de Odontologia da USP – São Paulo.**** Doutor. Professor assistente da disciplina de Dentística Restauradora II – Faculdade de Odontologia da USP – São Paulo.

Recebido em 31/10/08. Aceito em 26/11/08.Received on October 31, 2008. Accepted on November 26, 2008.

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Castanho et al.Avaliação in vitro da microdureza de dentina bovina normal e esclerosada124 –

espécime, e em cada área foram realizadas cinco endentações,totalizando 15 leituras por espécime. Resultados: Os dados foramregistrados e submetidos à análise estatística pelo teste t (Student),com nível de significância de 5%. Os resultados mostraram não haverdiferenças estatisticamente significantes entre as médias demicrodureza dos dois grupos estudados (GI: 36,82±9,45; GII:32,4±12,2) (p = 0,383). Conclusão: A dentina bovina normal mostrouvalores de microdureza Vickers semelhantes aos da dentina bovinaesclerosada.

AbstractIntroduction: The literature shows different characteristics betweennormal and sclerotic dentin. Hardness is a property that has been veryused to compare restorative materials and biological tissues. Objective:The aim of this study was to compare the hardness clinical characteristicsbetween the normal and the sclerotic bovine dentin, through themicrohardness test. Material and methods: 20 bovine teeth were dividedin two groups: GI (normal) and GII (with characteristics of sclerosis).The teeth were mounted in acrylic resin cylinders with exposure of dentinalong the incisal edges. The specimens received finishing and polishingfollowing by storage in distilled water at ambient temperature for 7 days.Microhardness measurements were made using a Vickers indentermicrohardness tester under a load of 50 gf for 45 s. In this study 3areas per specimen were selected and each area received 5 indentations,resulting in 15 indentations per specimen. Results: The data werestatistically processed using the Student’s t-test. The level of significancewas 5%. The results showed no significant differences between the meanvalues of the two groups (GI: 36.82±9.45; GII:32.4±12.2) (p = 0.383).Conclusion: The normal bovine dentin presented similar microhardnessVickers values to the sclerotic bovine dentin.

Keywords:bovine dentin; scleroticdentin; microhardness.

IntroduçãoA dentina esclerosada é um substrato

comumente encontrado na prática clínica,principalmente em pacientes idosos que têmdesgaste dental. Trata-se de um tecidohipermineralizado, de aspecto vítreo e cor caramelo-acastanhado. Apresenta uma superfície fisiológicae/ou patologicamente alterada, resultante de ummecanismo de defesa natural como resposta aestímulos mecânicos ou da colonização damicrobiota bucal. Do ponto de vista histológicopossui peculiaridades como obliteração parcial outotal dos túbulos dentinários à custa de deposiçãode dentina peritubular e cristais minerais, o que atorna resistente ao condicionamento ácido [9, 10,12, 19, 20].

A utilização da dentina esclerosada paraavaliação da resistência adesiva tem sido frequente.Vários estudos, tanto in vitro como in vivo, têmdemonstrado que a resistência adesiva à dentinaesclerosada mostra valores inferiores quando

comparada à dentina normal [2, 9, 12, 20]. Isso sedeve aos fatores citados anteriormente, os quaisreduzem a formação dos tags de resina [18]. Emoutros termos, a presença da dentina esclerosadaparece dificultar o processo de hibridização, por serum substrato mais mineralizado e por ter suapermeabilidade reduzida [19].

A etiologia multifatorial de lesões cervicais comesclerose tem sido revisada extensamente. A lesãoem dentina cervical esclerótica não cariada foidescrita por Zsigmondy (1984) [22] como um defeitoangular e por Miller (1997) [14] como um desgasteda estrutura dental, caracterizado por perdavagarosa e gradual de substâncias do dente,resultando em defeitos com formato de cunha aolongo da junção cemento/esmalte. No entanto aformação de dentina esclerosada em bordos incisais,que é o objeto deste estudo, tem sido poucopesquisada.

A substituição da dentina humana pela dentinabovina é comumente aceita em estudos in vitro,entretanto há pouquíssimos relatos que utilizam

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dentina bovina esclerosada [2, 3]. Além disso, poucostrabalhos têm sido realizados para avaliar diferençasentre dentina normal e dentina esclerosada incisalpor intermédio de testes de microdureza. Ostrabalhos que efetuaram esse tipo de teste quasesempre empregaram dentina radicular comosubstrato [1] ou compararam a dureza entredentinas com lesão de cárie ativa e inativa [16].

A dureza é uma propriedade bastante utilizadapara comparar tanto materiais restauradores comotecidos biológicos. É definida pela resistência dosubstrato à deformação plástica local e mensuradapela relação entre a força aplicada e a área deendentação [1, 17].

A dureza da dentina depende da concentraçãomineral presente. Por essa razão os valores de durezamedidos poderiam ser alterados de acordo com asdiferentes regiões da estrutura dentinária [7]. Algunsestudos mostraram uma correlação inversa entre amicrodureza e a densidade tubular; isso quer dizerque, à medida que avançamos em direção à polpadental, a densidade tubular aumenta, enquanto amicrodureza dentinária diminui [15].

Soprano (2007) [17] estudou os parâmetrospara ensaios de microdureza em amálgama, resinacomposta, dentina e esmalte bovino e afirmou quepara a dentina a carga ideal seria de pelo menos50 gf em qualquer dos tempos estudados (5, 15,30, 45 e 60 segundos), tanto no teste Vickers comono Knoop.

Pelo exposto, estudar a dureza comparandodentina bovina normal à esclerosada é importantepara verificar propriedades relacionadas à maior oumenor concentração de minerais nesse substrato.Assim, podemos abrir novos horizontes parapesquisas futuras que queiram trabalhar com ele.O objetivo deste trabalho, portanto, foi comparar adureza da dentina bovina normal e da esclerosada,por meio do teste de microdureza Vickers. O intuitofoi validar a hipótese já existente de que a dentinaesclerosada mais mineralizada tem uma durezasuperficial superior à normal.

Material e métodosForam utilizados 20 incisivos bovinos extraídos

de mandíbulas de animais abatidos em frigorífico comfinalidade de comercialização de carne. Os incisivosforam armazenados em congelador a umatemperatura de 10°C. O interesse deste estudoencontra-se nos dentes que apresentamcaracterísticas de esclerose, próprios de animais comidade igual ou superior a 3 anos, com a intenção decompará-los aos dentes íntegros sem desgaste incisaltípicos de animais com idade entre 1 e 2 anos [2, 3].

O tempo decorrido entre a obtenção dasmandíbulas e a utilização dos dentes foi padronizadoem 1 mês. Quando do início da pesquisa, asmandíbulas foram descongeladas em temperaturaambiente por 3 horas. A seguir, os dentes foramextraídos com auxílio de elevadores apicaisapropriados para exodontia de dentes humanos efórceps [2].

Os dentes foram limpos com curetasperiodontais para remoção do ligamento periodontale de debris aderidos e foram mantidos em águadestilada até o dia seguinte, quando se iniciou apesquisa.

Os incisivos bovinos foram divididos em doisgrupos distintos:• GI – dentes bovinos sem sinais de desgaste;• GII – dentes bovinos com características de

esclerose.Os incisivos íntegros, sem sinais de desgaste

(GI), receberam um corte com disco diamantadoem baixa rotação sob refrigeração, a 5 mm dobordo incisal, numa inclinação de 45° em relaçãoao longo eixo do dente, mantendo a inclinaçãomédia do desgaste dos dentes esclerosados. Aexposição do tecido dentinário com coloraçãoamarelo-clara foi realizada de forma a obtertúbulos na mesma direção daquelesencontrados na dentina esclerosada. Já osincisivos esclerosados (GII) ficaram intactosnessa fase, com o intuito de preservar suascaracterísticas [2].

Dessa maneira obtiveram-se dez fragmentospara cada grupo. Os fragmentos foram fixados eembutidos em stubs plásticos com resina acrílicaativada quimicamente (RAAQ). Após a presa totalda RAAQ, os cilindros de resina foram deslocadosdos stubs e lavados em água corrente [1].

Cada espécime passou por um processo depolimento, para a realização dos testes demicrodureza. Para o polimento empregaram-se aPolitriz Ecomet 3 a uma rotação de 200 rpm eirrigação com água. Uma sequência decrescentede discos de lixa d’água Buehler (Lake Bluf,Illionois, EUA) foi usada nas granulações 320,400, 600, 1.200 e 4.000, por 60 segundos. Emseguida, os espécimes receberam o polimentofinal com discos de feltro Buehler (Lake Bluf,Illionois, EUA) e pasta diamantada Metadi II –Buehler (Lake Bluf, Illionois, EUA) pelo mesmotempo [1]. Esse processo teve como objetivoremover riscos superficiais provocados pela açãodos discos utilizados no momento do corte dosfragmentos. Assim, obteve-se uma superfícieplana com menor número de irregularidades.

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Castanho et al.Avaliação in vitro da microdureza de dentina bovina normal e esclerosada126 –

Todos os espécimes foram lavados em águacorrente e colocados em aparelho de ultrassom por20 min para a eliminação de eventuais resíduossuperficiais. Após esse procedimento, ficaramarmazenados em água destilada em temperaturaambiente por 7 dias.

Após uma semana, submeteram-se osespécimes aos testes de microdureza, que foramrealizados com o microdurômetro HMV-2 Series(Shimadzu Corporation, Kyoto, Japão), comemprego de uma ponta de diamante do tipo Vickerse aplicação de carga de 50 gf por 45 segundos [17].As marcas (endentações) foram visualizadas emedidas sob ampliação (50 vezes) e observadas emum monitor acoplado ao microdurômetro.

No momento da leitura, os espécimes foramfixados em uma morsa universal e em seguida, como auxílio de um paralelômetro, posicionados em umplano paralelo à mesa do microdurômetro [17].Realizaram-se cinco endentações, distantes entre siaproximadamente 100 µm, em três locais distintos(bordas e centro do espécime), totalizando 15endentações em cada espécime. As marcas obtidasapós cada endentação foram focadas e visualizadasno monitor do microcomputador. Dessa forma, amedição das diagonais da marca impressa nasuperfície do espécime e, consequentemente, o valorde microdureza (VickersHardness Number – VHN)foram automaticamente calculados por meio dosoftware Cams Win. Descartaram-se as endentaçõesem que as diagonais apresentaram valores muitodiferentes.

Finalizadas as medições, chegou-se a um totalde 15 valores de microdureza para cada espécime(resultante das 15 endentações). Como não foramencontradas diferenças entre as médias do centro edas bordas, optou-se por efetuar a média aritméticasimples dos 15 valores, estabelecendo assim umvalor médio de microdureza para cada espécime.Os valores foram registrados e submetidos à análiseestatística, com auxílio do programa estatísticoMinitab (versão 14.12, Minitab, Inc., 2004).

Os dados numéricos obtidos foraminicialmente avaliados quanto a sua distribuição ehomogeneidade. Como eles apresentaramdistribuição normal e homogênea, foi aplicado oteste t de Student. O nível de significância adotadofoi de 5%.

ResultadosAs médias, os desvios-padrão e os valores

máximos e mínimos de microdureza Vickers (VHN)para os dois grupos estudados encontram-se natabela I.

Tabela I — Média, desvio-padrão, valores mínimo emáximo obtidos para os grupos GI e GII quanto àmicrodureza Vickers (VHN)

A análise estatística pelo teste t não demonstroudiferenças estatisticamente significantes entre osgrupos para as médias de microdureza ao nível de5% (p < 0,05) (tabela II).

Tabela II — Intervalo de confiança (95%) e teste dehipótese na comparação dos valores médios demicrodureza Vickers (VHN). Resultado do teste t(Student) de amostras independentes, comparação dasmédias de microdureza entre os dois gruposexperimentais (α = 5%)

DiscussãoApesar de existirem poucos trabalhos que

avaliem as diferenças entre dentina bovina normale esclerosada, sabe-se que elas diferem entre sipor uma série de características que foramdescritas anteriormente [2, 3]. No entanto nopresente estudo não foram encontrados valoresdiferentes estatisticamente expressivos entre osdois tipos de dentina. Tanto a dentina bovinaesclerosada quanto a normal se mostraramsemelhantes estatisticamente. Sendo assim,mesmo a dentina esclerosada humana e bovina,consideradas tecidos hipermineralizados,distinguem-se dos outros tipos de dentina porapresentarem o lúmen tubular ocluído [3, 10, 12, 20].Essa oclusão dos túbulos dentinários não foi capazde oferecer uma maior resistência à penetraçãodo endentador e gerar valores mais altos demicrodureza superficial em dentina esclerosadabovina. Isso ocorreu provavelmente por umaquantidade relativamente grande de matériaorgânica e/ou restos celulares presos aos túbulos,

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o que teria ocasionado uma diminuição naresistência à endentação.

Alguns autores relacionam valores demicrodureza com outras propriedades biológicas dadentina. Segundo Pashley et al. (1985) [15], a relaçãoinversa existente entre a microdureza dentinária e adensidade tubular é devida à relação direta entre adureza e a quantidade de matriz calcificada por mm2

de dentina. Portanto, quanto mais próximo à polpa,maior será a densidade tubular, mais largos serãoos túbulos dentinários e menor será a quantidadede dentina calcificada. Todos esses fatorescontribuiriam para uma baixa resistência durante aendentação e, assim, para menores valores demicrodureza em dentina profunda. Isso foi testadopor outros autores, como Meredith et al. (1996) [13]e Fuentes et al. (2003) [8], que também constataramdiminuição da microdureza da dentina quando estaera testada de regiões superficiais para regiõesprofundas.

Entretanto, em estudos com a utilização damicroscopia de força atômica, Kinney et al. (1996)[11] demonstraram que a diminuição da dureza coma profundidade dentinária, relatada por Pashleyet al. (1985) [15], era causada por uma reduçãona rigidez da matriz dentinária intertubular. Contudoa diferença intrínseca na dureza de matrizes dedentina superficial ou profunda ainda permaneceinexplicada. O que se sabe é que tais diferençaspodem ser resultado da distribuição não-uniformeda orientação das fibras colágenas ou da distribuiçãomineral irregular no tecido dentinário [6].

Ainda com relação à densidade tubular, empesquisas de microscopia de varredura e de luz adentina bovina apresentou-se mais irregular ao longodo dente quando comparada à humana [4, 5], o quevem comprovar a maior diversidade biológica dadentina bovina em relação à humana [6] observadapelo desvio-padrão da amostra (tabela I). Taisdiferenças podem advir da distribuição mineral não-uniforme da dentina [11], que resultou em umcomportamento mecânico similar entre os dois tiposde dentina bovina avaliados.

Todavia não existem diferenças somente entreo tecido dentinário em si, mas também entre tecidosdentinários de espécies diversas, como é o caso dadentina humana e bovina. Apesar de haver relatosque aceitem comumente a substituição de dentinahumana pela dentina bovina em alguns testes in vitro,ela deve ser feita com ressalvas, em função dealgumas diferenças que deveriam ser levadas emconta quando estudadas [4, 5, 6]. Dutra-Corrêa(2005) [6] considerou que a permeabilidade e opoder de dissolução dos dentes bovinos são maiores

se comparados aos dos humanos. Isso pode estarassociado ao fato de que o boi apresenta desgastedental combinado com a ação ácida do suco gástricopor ser ruminante, de modo a ter maiorpermeabilidade e ser ainda mais suscetível àdissolução da dentina. Assim, justificar-se-ia abaixa resistência à penetração do endentador emdentina bovina esclerosada, fazendo com que osvalores de microdureza superficial dela seigualassem aos da dentina normal.

Outra condição a ser analisada é justamente arelação entre a acidez do meio bucal e a diminuiçãoda dureza superficial dos tecidos dentinários. Deacordo com Wongkhantee et al. (2006) [21], o efeitode bebidas e alimentos ácidos na dureza desuperfície da dentina revelou que, quando essasuperfície é exposta a alimentos e bebidas muitoácidos por determinado tempo, pode ocasionarperda em sua dureza, comprovada pelo teste demicrodureza Vickers. Dessa forma, é possível fazeruma analogia entre essa capacidade de redução dedureza nos componentes dentários por alimentose bebidas ácidas e a acidez proveniente dos ácidosliberados pelo estômago como parte do processode digestão. Ora, sabe-se que os bovinos sãoanimais ruminantes; logo, após ingeriremrapidamente o alimento, entre os períodos dealimentação eles tornam a regurgitar o alimentopara a boca, onde é novamente mastigado edeglutido. Assim, pode-se dizer que os valores dedureza da dentina nesse trabalho, tanto a normalcomo a esclerosada, podem não ter tido diferençaspor causa da exposição diária à determinadaquantidade de ácido, a qual acabaria retornando àcavidade bucal juntamente com o alimento.Portanto, a dentina esclerosada, que a princípioteria uma quantidade mineral mais elevada edeveria apresentar uma dureza superior à normal,acaba se igualando a esta.

Haja vista que a perspectiva de vida dapopulação tem aumentado e a dentina esclerosadaé uma característica comum em idosos, faz-semister realizar outros estudos que compreendamesse substrato, bem como que utilizem substitutoscomo a dentina esclerosada bovina.

ConclusãoDe acordo com a metodologia empregada, não

foi possível validar a hipótese de que a dentinaesclerosada teria uma dureza superficial superior ànormal. Concluiu-se que a microdureza superficialda dentina bovina esclerosada e a da dentina normalforam semelhantes.

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