versão dos jornalistas 149

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 2015 1 Versão Publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS Rua dos Andradas, 1270/133 - CEP 90.020-008 Ano 23 - Nº 149 - Outubro de 2015 - Porto Alegre dos Jornalistas www.jornalistas-rs.org.br Novos pisos salariais já estão valendo SINDICATO Página 7 Projetos especiais são focos do trabalho de Dulce Helfer fora das redações PERFIL Página 8 Páginas 4 e 5 ENTREVISTA Jornalista assume coordenação de imprensa da CUT-RS Página 3 PARA DEMOCRATIZAR A COMUNICAÇÃO Entidades e sociedade se unem em projetos que pretendem divulgar a proposta de democratização da mídia. Ideia central é proporcionar o debate ignorado pelos meios tradicionais. FOTO: ROBINSON ESTRÁSULAS/SINDJORS FOTO: ROBINSON ESTRÁSULAS/SINDJORS

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Chegou da gráfica a edição 149 do Versão dos Jornalistas, publicação mensal do Sindicato Jornalistas do Rio Grande do Sul. O jornal traz matérias muito especiais: a terceira parte da série sobre a democratização da comunicação, os projetos da fotojornalista Dulce Helfer, o fechamento do acordo coletivo da categoria no Estado e a importância de a CUT-RS ter um jornalista comandando o seu setor de imprensa. Em breve, o Versão estará circulando nas redações, nas assessorias e nas ruas. Quem quiser, pode buscá-lo na entidade. Boa leitura!

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 2015 1

Versão Publicação do Sindicato dos Jornalistas Profi ssionais do RSRua dos Andradas, 1270/133 - CEP 90.020-008Ano 23 - Nº 149 - Outubro de 2015 - Porto Alegre

dos Jornalistaswww.jornalistas-rs.org.br

Novos pisos salariais já estão valendo

sindicato

Página 7

Projetos especiais são focos do trabalho de Dulce Helfer fora das redações

perfil

Página 8

Páginas 4 e 5

entreVista

Jornalista assume coordenação de imprensa da CUT-RS

Página 3

PARA DEMOCRATIZAR A COMUNICAÇÃO

Entidades e sociedade se unem em projetos que pretendem divulgar a proposta de democratização da mídia. ideia central é proporcionar o debate ignorado pelos meios tradicionais.

FOtO: RObiNSON EStRáSuLAS/SiNDJORS

FOtO: RObiNSON EStRáSuLAS/SiNDJORS

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 20152

Versão dos Jornalistas é uma publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS). Rua dos Andradas, 1270/133 – Centro Histórico – Porto Alegre, RS – CEP 90020-008Fones: (51) 3226-0664 - www.jornalistas-rs.org - [email protected]

Edição: Jorge CorreaEdição executiva e reportagem: Bruna Fernanda SuptitzEdição de Fotografia: Robinson EstrásulasDiagramação: Luís Gustavo Schuwartsman Van OndheusdenImpressão: Gráfica PioneiroTiragem: 3 mil exemplares

Diretoria ExecutivaPresidente - Milton Simas1º Vice Presidente - Luiz Armando Vaz2ª Vice Presidenta - Vera Daisy Barcellos1º Secretário – Ludwig Larré2ª Secretária – Márcia de Lima Carvalho1º Tesoureiro – Robinson Luiz Estrásulas2º Tesoureiro - Renato BohuschSuplentes - José Maria Rodrigues Nunes e Luiz Salvador Machado Tadeo

Diretoria GeralCelso Antonio Sgorla, Fernando Marinho Tolio, Carlos Alberto Machado Goulart, Cláudio Fachel Dias, Elson Sempé Pedroso, Mauro Roberto Lopes Saraiva Junior, Léo Flores Vieira Nuñez, Alan da Silva Bastos, Jeanice Dias Ramos, Jorge Luiz Correa da Silva, Márcia Fernanda Peçanha Martins, Ana Rita Marini, Clarissa Leite Colares, Neusa Nunes, Pedro Luiz da Silveira Osório

Conselho FiscalCelso Augusto Schröder, José Carlos de Oliveira Torves, Antonio Eurico Ziglioli Barcellos, Adroaldo Bauer Spindola Correa, Cláudio Garcia Machado

Comissão de ÉticaAntônio Silveira Goulart, Antônio Carlos Hohlfeldt, Carlos Henrique Esquivei Bastos, Cristiane Finger Costa, Flávio Antônio Camargo Porcello, José Antônio Dios Vieira da Cunha, Celestino Meneghini, Edelberto Behs, Sandra de Fátima Batista de Deus, Marcos Emilio Santuário, Moisés dos Santos Mendes

Versãodos Jornalistas

Filiado:

editorial

Chega ao fim mais uma campanha de negociação coletiva dos jornalistas gaúchos. Com a homologa-ção do acordo, os pisos e todos os demais salários recebem o reajuste da inflação. Este foi um ano que, sob a justificativa da crise econômica pela qual o país está passando, grande parte das empresas fe-charam seus acordos com a categoria sem conceder aumento real, tendo alguns casos que sequer atingi-ram o INPC. O Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais do Rio Grande do Sul considera importante a manutenção do reajuste de acordo com o INPC na data base da categoria.

Na edição deste mês, apresentamos uma ma-téria sobre a democratização dos meios de comu-nicação, a última reportagem da série que falou

sobre a distribuição e renovação de concessões públicas, o conceito de oligopólio no setor da mí-dia e como sua aplicação no Brasil foge aos prin-cípios constitucionais.

Levantar o debate sobre uma mídia democrática e levar a informação aos diferentes grupos sociais é também papel das entidades de classe, que repre-sentam os trabalhadores da comunicação e enten-dem que a pluralidade na produção de conteúdo é fundamental na busca por igualdade.

Nesta perspectiva, comemoramos que a diretoria de comunicação da CUT-RS esteja agora sob res-ponsabilidade de um jornalista, parceiro da nossa entidade na garantia da manutenção dos direitos dos trabalhadores.

Além disso, a entidade tem participado ativa-mente de um dos eventos culturais mais importan-tes do Estado, a Feira do Livro de Porto Alegre. É o caso do grupo que participou da Oficina de Criação Literária, responsável pela edição de um livro de contos. Também na campo cultural, promovemos o debate com o escritor cubano Raul Antonio Capote Fernández e apoiamos o lançamento do documen-tário sobre a luta armada contra a ditadura civil--militar no Brasil.

Milton SimasPresidente do SINDJORS

Negociação garante reposição do INPC

pesquisaViolência contra jornalistas

Uma pesquisa sobre o controle edi-torial nas redações brasileiras preten-de identificar o que pensam os jorna-listas sobre pressões provenientes de interesses alheios ao bem-público.

O questionário está sendo aplicado em todo Brasil por meio de formulário online até o dia 7 de dezembro de 2015. O roteiro é anônimo, composto de 50 per-guntas e pode ser respondido em aproxi-madamente 10 minutos. Todos os jorna-listas interessados podem participar.

A pesquisa nacional vem sendo orga-nizada pelo grupo de pesquisa Comuni-cação e Democracia, do Departamento de Comunicação da Universidade Fede-ral do Paraná (UFPR) e é promovida pela Federação Nacional dos Jornalistas (FE-NAJ) e Sindicatos de Jornalistas.

Questionário avalia profissão FENAJ pede fim da impunidadeApenas uma em cada dez mor-

tes de profissionais da comunica-ção em todo mundo é investigada, denuncia a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). Na ava-liação da entidade, isso faz com que a impunidade seja o verdadei-ro combustível da violência.

Por isso, em 2 de novembro, Dia Mundial contra a Impunidade para os Crimes Contra Jornalis-tas, as entidades representativas da categoria, no Brasil e no mun-do, reivindicam apuração dos ca-sos de violência contra os profis-sionais da comunicação e punição para os culpados.

As agressões contra jornalis-tas são, na verdade, atentados às liberdades de expressão e de im-prensa. A segurança dos jornalis-tas é fundamental para a garantia dessas liberdades, porque jorna-listas ameaçados e amedrontados,

assim como sem condições dignas de trabalho, ficam limitados na sua missão profissional de informar os cidadãos e cidadãs para que pos-sam exercer sua cidadania.

Às empresas de comunicação, reivindicamos que assumam sua parte de responsabilidade pela segurança dos jornalistas, adotan-do o protocolo de trabalho seguro que inclui, entre outras medidas, a criação de comissões de segu-rança por local de trabalho.

Para a FENAJ, a segurança dos jornalistas e demais pro-fissionais da comunicação é condição imprescindível para a produção e veiculação das infor-mações de interesse público, em qualquer país do mundo. Igual-mente, a investigação dos casos de violência, com a identificação e punição dos culpados, é uma necessidade imperiosa.

Utilize o leitor de QR Code para acessar a

pesquisa:

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 2015 3

sindicato

Realizado entre os dias 1º e 3 de outu-bro, o XX Encontro Nacional de Jorna-listas em Assessoria de Imprensa (Enjai) reuniu mais de 300 pessoas, entre pro-fissionais e estudantes de todo o Brasil. Fortaleza, capital do Ceará, foi o lugar escolhido para receber os debates e ofi-cinas sobre a profissão, norteados pelo tema “A credibilidade da informação jor-nalística na era da comunicação digital”.

O Rio Grande do Sul esteve repre-sentado por uma comitiva formada pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (SINDJORS), Mil-

ton Simas, quatro delegados e um ob-servador, além de dois diretores gaúchos que compõem a executiva da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).

As teses apresentadas pelo SIND-JORS, sendo uma aditiva à tese-guia da Fenaj e outra avulsa, foram aprova-das por unanimidade na plenária final do Enjai. No último dia do encontro, foi apresentada a Carta de Fortaleza, que alerta para a necessidade de regulamen-tação da comunicação, da constituição do Conselho Federal de Jornalistas e da volta da obrigatoriedade do diploma.

No dia 28 de outubro, foi homo-logado pelo Ministério do Trabalho e Emprego o acordo coletivo de tra-balho 2015 do Sindicato dos Jorna-listas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS).

A convenção foi aprovada em as-sembleia geral da categoria no dia 29 de setembro e define a reposição do INPC no período (8,76%) para to-dos os salários. Com isso, o piso passa a ser de R$ 2.127,24 na capital e R$ 1.811,40 no interior.

Os profissionais que não recebe-rem o retroativo referente à data--base (1º de junho) e o piso atualiza-do em novembro devem comunicar o SINDJORS. Quem foi demitido entre junho e outubro tem direito à rescisão complementar.

Além do reajuste salarial, o acor-

do também traz a alteração da cláu-sula que diz respeito ao adicional por viagem. Agora, o complemento vale para quem estiver em viagem e não retornar à empresa dentro do seu horário de trabalho.

O acordo apresenta uma tabela de reajuste proporcional aos trabalha-dores admitidos após 1º de junho de 2014, sem prejuízo aos que recebem

o piso. Ou seja, caso a soma do percentual no período à remune-ração atual resulte em um valor abaixo do

mínimo para a categoria, o emprega-do passará a receber o piso.

Se a empresa pagar salários abai-xo do piso usando esta ou outra justificativa, a mesma deverá ser denunciada junto ao Sindicato dos Jornalistas RS ou Ministério do Tra-balho e Emprego.

Mais uma vitória em ação que beneficia a categoria

Homologado acordo coletivo dos jornalistas gaúchos

O Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais do Rio Grande do Sul, através do escritório jurídico Suárez & Golgo Advo-gados, ganhou em primeiro grau a ação coletiva que tramita contra a União Fe-deral pedindo a não incidência da con-tribuição previdenciária (INSS) sobre o terço constitucional de férias gozadas.

Por ser representante legal da catego-ria no estado, a ação ganha pelo Sindicato atinge todos os jornalistas gaúchos, sin-dicalizados ou não. Ainda existem outras instâncias e, quem quiser se antecipar pode encaminhar a ação individual atra-vés do escritório. Embora a ação coletiva esteja em estágio avançado, a individual tende a tramitar com mais celeridade.

Para isto, é preciso preencher a procu-

ração que está disponível para download no site da entidade (www.jornalistas-rs.org.br), e encaminhar ao e-mail [email protected] junto com os contracheques dos últimos cinco anos referentes aos meses em que o jornalis-ta gozou suas férias, cópia da carteira de identidade e comprovante de residência.

Na ação coletiva, o Sindicato já arcou com as despesas. Na ação individual, os interessados terão somente o custo de 15% para sindicalizados e 20% para não sindicalizados sobre o montante perce-bido no êxito da causa, não ocorrendo qualquer tipo de despesa prévia. É im-portante que os interessados enviem seus documentos, pois as execuções serão rea-lizadas por ordem de recebimento.

Novos pisos:Capital - 2.127,24Interior - 1.811,40

Assessores de imprensa debatemrumo da atividade no país

Aniversário da entidade é comemorado com festa

Os 73 anos de fundação do Sin-dicato dos Jornalistas Profissio-nais do Rio Grande do Sul (SIND-JORS) foram comemorados no dia 26 de setembro, em um even-to que reuniu colegas no Salão de Festas do SindBancários de Porto Alegre. A festa foi animada pelo grupo Rosa Franco e Banda.

O início das atividades se deu em 21 de novembro de 1941, através da união de um grupo de jornalistas, de escritores e tra-balhadores de jornais, revistas e editoras. Mas foi no dia 23 de setembro do ano seguinte que a associação conquistou o status de entidade de classe, passando a se chamar Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre.

Em 1984, a entidade recebeu o nome de Sindicato dos Jorna-listas Profissionais no Estado do

Rio Grande do Sul e em 2004 es-tendeu sua base para todo o ter-ritório estadual.

Galeria de ex-presidentesDentro das comemorações do

aniversário da entidade, foi rea-lizado o descerramento do qua-dro de Renato Nunes Dorneles na galeria de ex-presidentes do Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Rio Grade do Sul. A cerimônia foi realizada no dia 25 de setembro e com a presença do atual presidente, Milton Simas, além de colegas e convidados.

Dorneles foi vice-presidente do SINDJORS entre 1992 e 1994, quando assumiu a presidência da entidade no lugar de Celso Au-gusto Schröder durante seis me-ses, até o início de 1995, quando Schröder retornou ao cargo.

Encontro reuniu colegas e familiares em Porto Alegre

Presidente Milton Simas e Renato Dorneles realizaram o descerramento da foto

Luiz AviLA/SiNDJORS

Luiz AviLA/SiNDJORS

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 20154

concessÕes de rÁdio e de teleVisÃo

Identificado no dicionário como tornar democrático, o vocábulo “de-mocratizar” é aplicado a diversas ex-pressões que tem como objetivo trans-formar algo em acessível a todos que dependam daquele serviço ou bem. O exemplo mais presente em nosso coti-diano é do processo de redemocratiza-ção do Brasil, ocorrido em meados da década de 1980, após o país enfrentar 21 anos de ditadura civil-militar, perí-odo em que as liberdades individuais, políticas e de imprensa foram repri-midas.

Com o fim do regime, ocorreu um processo de reestruturação do sistema vigente, que culminou com a elabora-ção da Constituição Federal de 1988, a qual institui o Brasil como um Estado Democrático. Dentre as atribuições contidas na carta magna, está o Capí-tulo V, que diz respeito à Comunica-ção Social. Em cinco artigos, a CF-88

define que os meios de comunicação não podem ser objeto de monopólio ou oligopólio e delega aos poderes exe-cutivo e legislativo a responsabilidade por conceder outorga ou renovação dos serviços de radiodifusão no Brasil.

Nas últimas edições, o Versão dos Jornalistas trouxe informações e apresentou os debates envolvendo este tema, que é de grande importân-cia para os profissionais da área da co-municação e interfere no cotidiano de toda a sociedade. Nesta matéria, enfo-caremos a democratização dos meios de comunicação, assunto que tem conquistado espaço nos grupos de dis-cussão sobre a construção de uma mí-dia democrática e plural. O objetivo é que seu poder passe a ser usado como ferramenta popular para a conquista de direitos, tal qual tem sido feito nos últimos 30 anos em outros setores da sociedade.

Diversidade é reivindicação de grupos que defendem

mídia democrática

Funcionamento das concessões e conceito de oligopólio no setor

A definição, apresentada pelo Fórum Nacional Pela Democratização da Comu-nicação (FNDC), transmite a mensagem de que a democracia só pode ser vivida em sua plenitude quando atingir todos os se-tores da sociedade. Contudo, esta não é a realidade da comunicação no Brasil. Pas-sados 27 anos da promulgação da Cons-tituição Federal, o tema ainda carece de regulamentação para que possa ser efeti-vamente praticado.

Somado a isso, o setor também tem acompanhado o debate em torno da neces-sidade de revisão do Código Brasileiro de Telecomunicação, que data de 1962 e teve sua concepção pensada para atender aos interesses empresariais e, com uma rees-truturação do seu conteúdo, realizada em 1997, o Brasil seguiu o caminho inverso ao da convergência, separando a radiodifusão

das telecomunicações.Essas movimentações instigaram a

união de organizações e movimentos so-ciais, por iniciativa do FNDC, em torno da campanha “Para Expressar a Liberdade”, que denuncia a concentração, a ausên-cia de pluralidade e de diversidade nos meios de comunicação brasileiros. Tem como principal instrumento de luta a “Lei da Mídia Democrática”, um projeto de lei de iniciativa popular que propõe a regula-mentação para o setor de rádio e televisão no Brasil.

O objetivo do PL é regulamentar os ar-tigos 5, 21, 220, 221, 222 e 223 da Cons-tituição Federal. Além disso, conforme explica o jornalista Pedro Rafael Vilela, se-cretário-executivo do FNDC, a campanha quer chamar a atenção da sociedade para a necessidade de o estado cumprir seu pa-

pel de regulador desse setor da economia. “O Brasil, lamentavelmente, não tem um marco regulatório que atenda aos princí-pios da constituição e que levemo sistema de comunicação para um patamar demo-crático”, identifica Vilela.

Sem perder o foco da luta por melho-rias, o jornalista reconhece que, nos últi-mos anos, foram conquistados importan-tes avanços, como, por exemplo, a Lei da Radiodifusão Comunitária, de 1998, e a recente aprovação na Câmara dos Depu-tados do projeto de lei que regulamenta o direito de resposta nos meios de co-municação. Sobre este, Vilela avalia que, mesmo ainda não sendo a versão ideal, "avança bastante na garantia de um direi-to fundamental, o de resposta na mídia, essencial para um sistema que se preten-de democrático".

As emissoras de rádio e televisão operam no Brasil por meio de con-cessão pública do canal que ocupam, concedida, por tempo determinado, através de contrato firmado entre o poder concedente (governo federal e congresso) e as concessionárias (em-presas).

Contudo, na prática, se obser-va a falta de compromisso com o cumprimento da legislação no que diz respeito à renovação das licenças, quando o direito de operar em uma frequência passa a não depender mais do cumpri-mento de determinadas regras

e as renovações são autorizadas sem estender o debate para a so-ciedade.

Outra preocupação de quem de-fende a regulamentação dos artigos que tratam da Comunicação Social na Constituição Federal diz respei-to à formação de oligopólios no se-

tor. Os limites para a propriedade de emissoras de rádio e televisão estão estabelecidos no Código Brasileiro de Telecomunicações. Porém, devi-do à falta de definição sobre os ter-mos usados no documento, entre ou-tros desvios legais, acaba ocorrendo a concentração.

Sem regulamentação não há diversidade

O Brasil não tem um marco

regulatório que atenda aos

princípios da Constituição e que

leve o sistema de comunicação

para um patamar democrático

Pedro Rafael Vilela, secretário-

-executivo do FNDC

www.paraexpressaralib

er

dade.org

.br

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 2015 5

Assim como na Argentina, cujo exemplo foi apresentado da edi-ção passada, outros países demo-cráticos aplicam a regulação eco-nômica do setor da comunicação. Para os defensores do tema, os fatos derrubam os argumentos do setor empresarial, de que ampliar os espaços midiáticos atenderia a interesses do governo e, portanto, seria prejudicial à liberdade jor-nalística.

"Então tem que acusar a rainha da Inglaterra de bolivariana", sa-tiriza Pedro Rafael Vilela, secretá-rio-executivo do FNDC, citando o caso do país europeu, que tem um órgão independente, ou seja, não submetido diretamente ao gover-no, que regulariza a radiodifusão e a telecomunicação. "Quando há um grande número de reclama-ção sobre um programa", explica Vilela, "o canal é investigado para saber se está violando algum di-reito".

Alberto Perdigão, professor do curso de Jornalismo da Univer-sidade de Fortaleza, avalia que o tema "é abortado permanen-temente, de maneira deliberada e estratégica, pelas empresas de comunicação". Ele defende que é

preciso conscientizar a população, para que ela possa manifestar se considera que os veículos "são os únicos e fiéis depositários da li-berdade de expressão" ou se, por outro lado, é preciso " criar meca-nismos de enfrentamento a esse poder hiperconcentrado".

Outra questão é o uso do es-pectro eletromagnético que abri-ga os canais de rádio e televisão. "São bens públicos e isso, por si só, obriga qualquer Estado ou oPaís a regular seu uso, o que sig-nifica atribuir uma concessão pú-blica para um terceiro explorar. Mas tem que ter regra para isso", defende Vilela.

O jornalista acredita que, pas-sado o prazo da concessão, o cor-reto seria promover audiências públicas para saber se essas emis-soras cumpriram os compromis-sos que assumiram. "Precisamos de mecanismos que garantam a pluralidade de ideia", argumenta. “Interessa a própria categoria dos jornalistas e tem que interessar a todos os setores", comenta, ao falar das medidas aplicadas pelo FNDC para aproximar desse de-bate não só quem já trata do tema, mas toda a sociedade.

Com a discussão acerca das dis-ciplinas que passarão a integrar os cursos de Jornalismo para atender às novas Diretrizes Curriculares Na-cionais, instituídas em outubro de 2013 pelo Ministério da Educação (MEC), um grupo de professores decidiu se mobilizar para pedir que comunicação pública passe a ser en-sinada na faculdade.

A campanha “Inclui Comunica-ção Pública”, lançada em setembro deste ano no Congresso Nacional da Intercom – Sociedade Brasilei-ra de Pesquisa Interdisciplinar em Comunicação, traz a informação de que, atualmente, menos de 10% das universidades brasileiras possuem uma disciplina que prepare os pro-fissionais para trabalhar com mídias púbicas.

Todos os cursos devem iniciar o próximo semestre letivo já com o novo currículo. A movimentação do grupo pretendia que, neste momen-to de reflexão sobre as disciplinas que serão ensinadas aos futuros jor-nalistas, os professores consideras-sem a relevância do tema.

Membro da coordenação da cam-panha e professor do curso de Jor-nalismo da Universidade de Forta-leza, Alberto Perdigão comemora as respostas positivas alcançadas nestes dois meses. Embora ainda não tenham contabilizado o número de adesão, ele entende que um dos principais objetivos, o de pautar o

debate, foi atingido.A relação desta proposta com a

democratização da mídia é a pre-tensão de preparar profissionais para trabalhar não só para as gran-des empresas de comunicação e iniciativa privada, mas capazes de enxergar todas as possibilidades de atuação na área. Um exemplo é o caso da Empresa Brasil de Comu-nicação (EBC), gestora de veículos públicos vinculados ao governo fe-deral, que também aderiu à cam-panha.

Além desse assunto, Perdigão en-tende que é necessário falar sobre a construção de uma mídia democrá-tica no ambiente acadêmico. “Esse deveria ser o tema central dos cur-sos da área, porque a democracia se fundamenta no direito à comunica-ção e, se olharmos numa perspec-tiva inversa, a comunicação é uma prática democrática, pois é nela que se permite o saudável compromisso das opiniões”, avalia.

Mesmo percebendo que muitas universidades “estão afastadas da comunicação que empodera”, o pro-fessor sente esperança ao perceber reações de alunos e colegas enfren-tando o senso comum para levantar o debate. “A faculdade tem que for-mar jornalistas politicamente posi-cionados, que saiam do curso saben-do o que é direito à comunicação e a diferença entre liberdades de em-presa e de imprensa”, defende.

Campanha pretende estimular estudo sobre comunicação pública na universidade

Controle econômico da mídia é praticado em outros países

incluicompublica.wix.com/campanha

Professor Perdigão defende alteração no currículo dos cursos de Jornalismo

Errata: na página 5 da edição 148, onde se lê "cadeiras produtivas" o correto é "cadeias produtivas".

FOtO: DivuLgAçãO/SiNDJORS

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 20156

cultura

Imprensa gaúcha e brasileira são tema de livro da Oficina Literária

O Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Rio Grande do Sul recebeu no dia 28 de outubro o professor e escritor cubano Raul Antonio Capo-te Fernández. Licenciado em Artes e Master em Relações Internacionais, Capote atuou como agente de segu-rança cubano infiltrado na Agência Central de Inteligência (CIA), nos Es-tados Unidos.

A conversa contou com a participa-ção do professor da Faculdade de Filo-sofia e Ciências Humanas da PUCRS, Adão Clóvis Martins de Souza, e do jornalista e mestre em História pela PUCRS Nilson Mariano.

No debate, Capote falou sobre o projeto “Genesis”, desenvolvido pelos EUA e também aplicado em outros pa-íses, tinha como objetivo estabelecer um golpe suave, resultando no con-trole político e econômico da ilha. “O principal obstáculo encontrado pelo governo norte-americano foi a carac-

História da luta contraa ditadura

A oitava turma da Oficina de Cria-ção Literária lança, na Feira do Livro de Porto Alegre, a obra “Nos caminhos da Imprensa Rio-Grandense e Brasilei-ra/Por los caminos de la Prensa Rio-grandense y Brasileña”. A coletânea de contos bilíngue português/espanhol é resultado da pesquisa e produção de um ano realizada pelos 30 alunos que participaram da oficina neste ano.

O evento contará com um debate com a presença do orientador do gru-po, Alcy Cheuiche, Everton Gimenis (presidente do SindBancários), Flavio Tavares (jornalista e escritor), Cel-so Augusto Schröder (presidente da FENAJ) e João Batista de Melo Filho (presidente da ARI). A atividade acon-tece no dia 9 de novembro, às 16h, na Sala Oeste do Santander Cultural. Na sequência, a partir das 18h, os autores participarão de sessão de autógrafos, no térreo do Memorial.

Novidade em relação ao ano ante-rior, o aumento no número de parti-cipantes se deve à grande procura por vagas na oficina deste ano, que contou com a parceria entre o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e Associação Riogran-dense de Imprensa (ARI). Com isso, o grupo se dividiu em duas turmas para que o trabalho não fosse prejudicado.

Ao todo, 90 contos (três de cada aluno) compõem o livro, que aborda desde a carta de Pero Vaz de Caminha até eventos atuais, como a repercus-são no Brasil do atentado ao periódico francês Charlie Hebdo, sem deixar de falar das vítimas da ditadura militar, que muito lutaram pela garantia da liberdade da atuação jornalística no nosso país. “Não é um livro raivoso”, avisa Cheuiche, “mas uma obra que procura mostrar a verdade, com preo-cupação em preservar a memória. Não se pode esquecer os fatos para que eles não aconteçam de novo”, completa.

A colocação lado a lado de cada conto na sua versão em português e espanhol é uma maneira de promover a valorização do material na América Latina, destaca o professor. “Geral-mente, as coisas aconteceram de ma-neira muito parecida em nossos países vizinhos”, observa. Assim como nos outros anos, o livro também será lan-çado na Argentina em abril de 2016.

Participando das aulas pela primei-ra vez neste ano, o jornalista Carlos Scomazzon conta que buscou desen-volver o texto literário que fugisse do material técnico que está acostuma-do a escrever no dia a dia. Conforme Cheuiche, o objetivo da oficina é justa-mente desenvolver o potencial criativo do aluno. “Muitas vezes o talento está guardado e as técnicas incentivam o escritor a procurar dentro dele mesmo as soluções”, explica.

O professor destaca, ainda, que o li-vro é apenas uma das etapas do projeto, que contou com produção semanal de conteúdo. Os contos publicados foram selecionados dentre mais de 500 textos escritos ao longo do ano. Scomazzon relata que esta preparação proporciona conhecer muitas coisas novas, mesmo para quem é da área. “Como se tratava de texto histórico, toda semana se fazia uma pesquisa. Com isso, se vê o quanto se sabe pouco”, conta.

Cubano apresenta sua visão sobre a comunicação na América Latina

No dia 9 de novembro, às 18h30, o Programa Correria lan-ça no CineBancários de Porto Alegre o documentário “Ousar Lutar, Ousar Vencer!” (2015, 81min), que traz memórias, re-latos e histórias da luta armada contra a ditadura civil-militar no Brasil. As narrativas são con-tadas por ex-guerrilheiros/as como Ubiratan de Souza, Dió-genes de Oliveira, Ismael Souza, José Nóbrega, Zenaide Oliveira e Pedro Lobo, entre outros, e por filhas de militantes que aca-baram sendo executados pela ditadura, como Célia Coqueiros e Ñasaindy Barret.

O documentário faz uma abordagem histórica dos guer-rilheiros, desde a sua origem camponesa e do seu treinamen-to militar em Cuba, passando por ações ousadas como assal-tos a bancos e ao hospital mili-tar de Cambuci, a bomba no Es-tadão, o roubo da casa de armas Diana, o sequestro de embaixa-dores, o justiçamento do tortu-rador norte-americano Charles Chandler e a guerrilha no Vale da Ribeira, até a prisão, o exílio e a anistia destes que lutaram e sobreviveram.

As filmagens foram realiza-das em quatro cidades brasilei-ras: Porto Alegre, São José dos Campos, Campinas e Indaiatu-ba. A produção é de Guilherme Fernandes de Oliveira, com edi-ção de Lucas Pitta Klein. Após a sessão, será realizado um debate com Diógenes de Oliveira, Ubi-ratan de Souza, Ismael Souza, Ñasaindy Barret, José Nóbrega e Zenaide Oliveira - os quatro últi-mos vindos direto de São Paulo.

terística do povo cubano, que não tra-balha apenas por dinheiro, mas por convicção”, observa.

“A estratégia é acabar com o pro-jeto de América Latina unida, capaz de pensar de maneira diferente a distribuição da riqueza e de recur-sos”, explica. Um dos jovens coop-tados pela CIA para participar do projeto que financiava a formação

de lideranças contrárias ao socialis-mo, Capote explica que o golpe não deu certo em Cuba, pois a rejeição ao capitalismo é muito grande entre a população.

Raul Capote está no Brasil a convite da Associação Cultural José Martí/RS e também participa de atividades em Universidades gaúchas e na Feira do Livro de Porto Alegre.

Capode (C) debateu com Adão Clóvis e Nilson Marano, em atividade do Sindicato

Ubiratan de Souza, ex-guerrilheiro

FOtO: RObiNSON EStRáSuLAS/SiNDJORS

FOtO: DivuLgAçãO/COmiSSãO EStADuAL DA vERDADE

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 2015 7

entreVista

Versão dos Jornalistas: Como você encara esta responsabili-dade de dar visibilidade às pau-tas dos trabalhadores gaúchos num momento em que o gover-no busca enfraquecer as bases?

Ademir Wiederkehr: Ser se-cretário de comunicação da CUT-RS é um grande desafio e tem muitas responsabilidades. O fato de ter sido eleito para ocupar essa pasta mostra a importância que a Central dá para a comunicação. É importante a esco-lha de alguém com uma trajetória no movimento sindical e que também é jornalista formado. Então, isso mos-tra que a CUT olha hoje a comunica-ção como prioridade na sua linha de atuação. Quero fazer com que a Cen-tral se comunique melhor com a so-ciedade, com as entidades sindicais e possa também fazer com que se dispute a hegemonia, por meio das novas ferramentas de comunicação. Outro grande desafio é avançarmos na mídia alternativa. Temos que fa-zer esse enfrentamento, da democra-tização dos meios de comunicação. Hoje temos vários sites que são es-paços importantes para levar a co-municação que não encontra espaço na mídia tradicional. É uma grande perspectiva que se abre para o mo-vimento sindical e para os próprios jornalistas. Se hoje a imprensa tradi-cional desemprega e fecha postos de trabalho, existe todo um espaço que se abre com a mídia alternativa, com os novos meios de comunicação.

VJ: Nesse período em que você assumiu foi retomado o coletivo de comunicação. Quais outras medidas a CUT pretende adotar?

AW: Estou aqui há pouco mais de dois meses e, desde então, fize-mos uma série de ajustes no site da CUT, que está com atualização diá-ria, produção de matérias, divulga-ção de reportagens de sindicatos e com acesso aos principais veículos de mídia alternativa do país. Nesse período, já tivemos uma primeira reunião do coletivo de comunica-ção. Faremos reuniões a cada dois meses e queremos que venham par-ticipar desse coletivo os jornalistas dos sindicatos e também os direto-res responsáveis pela área da comu-nicação das entidades. No planeja-mento da CUT, vamos falar também sobre a importância de maiores investimentos na comunicação e de termos mais profissionais traba-lhando no movimento sindical. Eu percebi que muitos sindicatos ainda não possuem uma estrutura mínima de comunicação. Poucos sindicatos têm jornalistas contratados. Então, temos que fazer com que montem estruturas para que realmente se tenha um site e uma página no face-book atualizada, que possam fazer a disputa da hegemonia.

VJ: Qual o entendimento e orientação da CUT-RS aos sin-dicatos filiados para a contrata-ção de jornalistas diplomados e

com carteira assinada?AW: Eu serei um grande incen-

tivador da contratação de jornalis-tas diplomados pelos sindicatos. Eu sou jornalista diplomado e vejo a importância da qualificação profis-sional. Então, para que os sindicatos possam ter realmente uma comuni-cação melhor, têm que investir em ferramentas que possam pautar a imprensa para as demandas das ca-tegorias. Esse é o grande papel do movimento sindical. Nós já estamos fazendo movimento junto às entida-des para fortalecer o Sul 21, que tem cumprido papel muito importante na comunicação do estado. Hoje, ele tem mais de um milhão de acessos por mês e só fica atrás de Zero Hora e Correio do Povo.

VJ: A terceirização, pauta permanente dos movimentos sociais, é enfrentada há muito tempo pelos jornalistas, sob a máscara da pejotização. Como a CUT-RS enfrentará isso?

AW: A CUT é contra o projeto da tercerização e vamos fazer todo o movimento junto aos sindicatos para que contratem jornalistas com car-teira assinada. Nós não vamos incen-tivar nenhum sindicato a ter PJ nem terceiros. As entidades sindicais têm que fazer a lição de casa e assinar a carteira dos seus trabalhadores. E a boa comunicação começa com a con-tratação de jornalistas, de profissio-nais diplomados. Então, vamos com-bater a pejotização.

VJ: Outra movimentação em defesa dos trabalhadores da co-municação é a PEC do Diploma. Como a CUT pode auxiliar na le-gitimação desta campanha?

AW: A CUT apoia a PEC do Di-ploma e estará junto com as entida-des representativas dos jornalistas para que seja aprovada no Con-gresso Nacional. Nós tivemos ago-ra aprovado o direito de resposta, que também é importante. Espero que o próximo passo seja da PEC do Diploma, junto com a aprovação do marco regulatório da comunicação. Não é possível que no Brasil não tenhamos nenhum instrumento para regrar a comunicação. É uma pena que durante o governo Lula e Dilma não se avançou nessa pauta. Os meios de comunicação têm que expressar todas as visões da socie-dade, não apenas a visão do dono do jornal. Não pode ter essa seleção de informações que são divulgadas. Nosso papel como jornalistas deve ser o de registrar os fatos, para que a sociedade tenha todos os ele-mentos para emitir e formar a sua opinião. Temos hoje seis grandes famílias que detém o controle dos meios de comunicação no Brasil e acabam direcionando o seu noticiá-rio para aquilo que interessa a eles e aos seus grandes anunciantes. O interesse do povo é deixado de lado. Temos que mudar essa lógica, pre-cisamos garantir a democratização dos meios de comunicação.

Diretor de comunicação da CUT-RS defende profissionalização das assessorias sindicais

Para Wiederkehr, as entidades de classe precisam disputar hegemonia com grande mídia

À frente da Secretaria de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS) desde agosto desse ano, Ademir José Wiederkehr é jornalista diplomado pela UFRGS em 1982 e funcionário do banco Santander. Ele concedeu entrevista ao Versão dos Jornalistas para falar das propostas para sua gestão e sobre sua visão de temas relacionados à profissão.Wiederkehr atua no movimento sindical dos bancários desde 1984 e atualmente é diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Possui longa experiência na área da comunicação, onde atuou na maioria dos mandatos sindicais que exerceu. No seu currículo também está a passagem pela secretaria-geral da CUT-RS (1987-89), tendo sido um dos coordenadores do Movimento Gaúcho da Constituinte no mesmo período.

FOtO: RObiNSON EStRáSuLAS/SiNDJORS

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Outubro de 20158

CONvêNiOS

dulce helfer

Novos “cliques” no caminho da fotógrafa

Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e RegiãoRua Gen Câmara, 424, Porto Alegre - (51) 3433.1200

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Há quatro anos fora das redações, a agenda pro-fissional de Dulce Helfer não poderia estar mais agitada. Nada de que a fotojornalista, que desen-volveu sua carreira dentro do jornal Zero Hora, te-nha para reclamar. "Agora estou trabalhando com o meu sonho de consumo de quando iniciei na foto-grafia jornalística", conta, entusiasmada.

Esta sensação pode ser percebida em cada explica-ção de um novo trabalho ou quando compartilha expe-riências desenvolvidas no passado. A recente conclusão do jornal Quintanares, sob coordenação de Dulce ao lado de Beth Bertinatto, Cássia Duarte e Leonardo Cal-das Vargas, é o resgate de um projeto lançado na época da fundação da Casa de Cultura Mario Quintana.

"Sinto-me muito responsável por seguir o tra-balho de defender Mario Quintana", confessa, ao lembrar ter se tornado uma espécie de porta-voz do poeta, pessoa com quem estabeleceu um importan-te vínculo para além das pautas do jornal. "Foto-grafei ele por dez anos, mas também mantínhamos contato independente disso", conta.

Contudo, Dulce diz não querer que sua imagem fique relacionada somente ao escritor gaúcho. Isso porque, nos mais de 30 anos como fotógrafa pro-fissional, a lista de celebridades, personalidades e anônimos que ela registrou através de suas lentes é grande. Ela até se perder nas contas.

Entre os nomes que merecem destaque está o do cronista Rubem Braga, de quem Dulce foi a única pessoa a captar fotos da sua intimidade. Juntos, eles viajaram pelo Brasil com o projeto "Encontro Marcado", que reunia outros escritores brasileiros. Foi assim que conheceu e fotografou também Paulo Mendes Campos, Adélia Prado e Oswaldo França Jr. E, da mesma forma como aconteceu com Quintana, Dulce criou um vínculo afetivo com Braga.

A carreira nas redaçõesDulce Helfer ganhou seu primeiro prêmio de fo-

tografia em um concurso do colégio em que estuda-va em Santa Cruz do Sul. Ela tinha apenas 16 anos quando fotografou uma paisagem com uma câmera era emprestada.

A ideia a empolgou e logo a estudante conquis-tou mais um reconhecimento, dessa vez competindo com mais pessoas em atividade envolvendo a região do Vale do Rio Pardo. Com uma imagem elaborada da Catedral de sua cidade, alcançou o primeiro lugar e levou para casa um flash.

Com esse incentivo e o gosto que já tinha desen-volvido pela fotografia, entrou de vez nessa carreira. O começo foi nos impressos Riovale Jornal e A Ga-zeta. Na cobertura de um jogo de futebol no estádio

Beira-Rio, em Porto Alegre, conheceu Gerson Schir-mer, então editor de imagem em Zero Hora.

Surpreso por ver uma mulher no estádio, novida-de para a época, Schirmer convidou Dulce para co-nhecer a redação, visita que ela fez somente um ano depois, quando decidiu se mudar para a capital. "No dia que eu estava olhando apartamento, passei no jornal e disse que estava em Porto Alegre. Disseram que eu já poderia começar no dia seguinte. Comecei a trabalhar antes mesmo de me mudar", recorda.

De 1985 para cá foram pelo menos 28 prêmios con-quistados, entre eles três internacionais, dois Prêmios Press como melhor fotógrafa do Rio Grande do Sul, Prêmio Nacional de Direitos Humanos e o Prêmio de Fotografia do Banco Itaú, que resultou em um cartão de Natal da instituição, com circulação em todo o mundo.

Assédio moral é ponto negativo na carreira"Sei que Zero Hora me abriu muitos caminhos, mas

também sei que de nada adiantaria se eu não fizesse bem o meu trabalho", reconhece Dulce, que atribui ao perío-do que passou no jornal importantes reconhecimentos profissionais e a oportunidade de conhecer pessoas com as quais veio a trabalhar em atividades paralelas.

Porém, os 26 anos em que esteve na empresa também reservam memórias nada positivas. Traba-lhar com máquinas que desfocavam continuamente ou ver o seu trabalho sendo inutilizado são alguns exemplos que evidenciam a prática de assédio moral que Dulce enfrentou no setor de fotografia.

Entre as primeiras recordações que vem à sua men-te quando fala do período que atuou no diário está o boicote que sofria em relação ao seu trabalho, que ela não atribui ao fato de ser mulher e jovem ao entrar no jornal. Na sua avaliação, o destaque que conquistou na profissão, assim como aconteceu com outros colegas, desagradava a um dos editores com quem trabalhou, que ela prefere não mencionar.

"Saber que todo dia teria que passar por aquilo é des-gastante", comenta, lembrando da cena que a levou a pedir demissão, dez anos antes de realmente sair do jor-nal. Para ela, a situação havia se tornado insustentável. "Nunca mais quero passar por isso", lamenta.

Projetos atuaisHoje, Dulce Helfer tem se dedicado a participação

em exposições, produção de livros - foram pelo me-nos oito editados em três anos - e projetos artísticos, com capas de CDs e DVDs. Quem quiser acompanhar os próximos passos - e cliques - da profissional pode seguir sua página no Facebook, onde também estão reunidos alguns materiais produzidos ao longo de sua carreira: facebook.com/dulcehelferfotografia.

Em mais de 30 anos de carreira, Dulce conquistou reconhecimentos no Brasil e prêmios internacionais

FOtO: RObiNSON EStRáSuLAS/SiNDJORS