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108 TERCEIRO QUADRIMESTRE 2010 VERSÃO BRASILEIRA ANO XXVII Belén Kortabarria Reforma da tabela sistematizada de indenizações Modelos de credibilidade e tarifação de prêmios Os três erres, uma história sem princípio nem fim Observatório de sinistros “Devemos administrar os novos riscos de um mundo em constante transformação” Reflexões e perspectivas Aplicação prática em um seguro de Saúde Risco, respeito e responsabilidade: os grandes desafios de hoje Terremoto do Chile e continuidade do negócio Diretora financeira da Corporação Mondragón LLUÍS BERMÚDEZ MORATA, MERCEDES AYUSO E MIGUEL SANTOLINO INMACULADA PEÑA SÁNCHEZ FRANÇOIS SETTEMBRINO CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ R R R

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VERSÃO BRASILEIRA

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Belén Kortabarria

Reforma da tabela sistematizada de indenizações

Modelos de credibilidade e tarifação de prêmios

Os três erres, uma história sem princípio nem fim

Observatório de sinistros

“Devemos administrar os novos riscos de um mundo em constante transformação”

Reflexões e perspectivas

Aplicação prática em um seguro de Saúde

Risco, respeito e responsabilidade: os grandes desafios de hoje

Terremoto do Chile e continuidade do negócio

Diretora financeira da Corporação Mondragón

LLUÍS BERMÚDEZ MORATA, MERCEDES AYUSO E MIGUEL SANTOLINO

INMACULADA PEÑA SÁNCHEZ

FRANÇOIS SETTEMBRINO

CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ

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Instituto de Ciencias del SeguroCentro de DocumentaciónC/ Bárbara de Bragança, 14, 3ª planta28004 Madrid – Espanha

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DE SEGUROS, GERENCIAMENTO

DE RISCOS, SEGURANÇA E

MEIO AMBIENTE

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alEntre duas décadas

Cada dia e cada ano nos parecem mais rápidos e é agora, com o fim da primeira década do terceiro milênio, que nos cabe fazer um primeiro balanço do tempo transcorrido.

A década foi antecipada sob a sombra do medo, a ameaça do bug Y2K, embora hoje o colapso que anunciava a mudança do milênio pareça uma insignificante anedota ante catástrofes como o 11 de setembro e o 11 de março; a psicose gerada pela gripe pandêmica A (H1N1); a devastação produzida pelo furacão Katrina e os mais recentes terremotos do Haiti e do Chile, ou a catástrofe ambiental causada pela plataforma petrolífera Deepwater Horizon.

O colapso financeiro e as conseguintes falências empresariais passaram a fazer parte de uma paisagem que se converteu em cotidiano. Assim é como a história recente destes 3.652 dias nos oferece o paradoxo de um mundo que, quanto mais globalizado, se mostra menos estável financeira e socialmente.

A confiança depositada no sistema de que nada podia falhar nos impôs um dos mais duros reveses da nossa história recente. Terminou o longo sonho do século XX, do consumismo desmedido e da vaidade. Com certo pesar, os primeiros anos do século XXI nos fizeram colocar os pés no chão. Porém, em toda crise surgem novas oportunidades e todos temos que reformular a estratégia seguida, tratando de nos concentrar em demonstrar o valor que os gerentes de riscos podem trazer para as organizações.

Embora há algum tempo se observe uma mudança progressiva no "apetite do risco" das organizações empresariais, o resultado da 5ª edição do estudo da Federação Europeia das Associações de Gestão de Risco (FERMA) – apresentado no último quadrimestre do ano de 2010 – mostra que, de maneira geral, os clientes estão razoavelmente satisfeitos com os preços dos seguros e que confiam em que suas seguradoras os possam apoiar no desenvolvimento de seu negócio e em sua expansão internacional. Também destaca o fato de que os pesquisados gostariam que as seguradoras os ajudassem mais na hora de administrar os novos e emergentes riscos, principalmente os que hoje em dia são riscos "não seguráveis".

Assim, nossa entrevistada, Belén Kortabarria, diretora de Gestão Financeira da Mondragón, primeiro grupo empresarial basco e sétimo da Espanha, ao mesmo tempo em que manifesta não perceber nenhuma restrição de capacidade para os riscos objeto de transferência seguradora (inclusive para assumir os riscos das mais de 100 cooperativas e mais do dobro de filiais produtivas no exterior), nos previne que "talvez os riscos mais preocupantes sejam os que ainda não conhecemos".

O primeiro dos estudos publicados analisa, a partir de uma perspectiva acadêmica, a futura reforma da tabela sistematizada de indenizações, que, na busca de uma melhor proteção para a vítima de um acidente de

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A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, nem o fato de publicá-los implica conformidade ou identifi cação com os trabalhos apresentados nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor.

PRESIDENTE: FILOMENO MIRA CANDEL

DIRETOR: JOSÉ LUIS IBÁÑEZ GÖTZENS CHEFE DE REDAÇÃO: ANA SOJO GIL COORDENAÇÃO: MARÍA RODRIGO LÓPEZ CONSELHO DE REDAÇÃO: IRENE ALBARRÁN LOZANO, ALFREDO ARÁN IGLESIA, FRANCISCO ARENAS ROS, MONTSERRAT GUILLÉN ESTANY, ALEJANDRO IZUZQUIZA IBÁÑEZ DE ALDECOA, CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ, JORGE LUZZI, MIGUEL ÁNGEL MACÍAS, FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA, IGNACIO MARTÍNEZ DE BAROJA Y RUÍZ DE OJEDA, FERNANDO MATA VERDEJO, EDUARDO PAVELEK ZAMORA, Mª TERESA PISERRA DE CASTRO, CÉSAR QUEVEDO SEISES, FRANÇOIS SETTEMBRINO.PRODUÇÃO EDITORIAL: COMARK XXI CONSULTORES DE COMUNICACIÓN Y MARKETING

DESENHO GRÁFICO: ADRÍAN Y UREÑA

VERSÃO BRASILEIRA: FUNDACIÓN MAPFRE - DELEGAÇÃO BRASIL

DIREÇÃO: FÁTIMA LIMA

TRADUÇÃO: MAGNITUD

REVISÃO: INNEWS INTELLIGENCE PROJETO GRÁFICO E DESIGNER ADAPTADO: bmEW PROPAGANDA

FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

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circulação, propõe uma redução nas indenizações aos lesionados de menor gravidade com a finalidade de poder "financiar" aumentos substanciais nas correspondentes aos lesionados de maior gravidade.

O segundo estudo analisa, através de dois modelos diferentes, a aplicação da teoria da credibilidade no cálculo do prêmio de um seguro de saúde, tratando, assim, de ajustar o valor do mesmo à sinistralidade certa do produto segurador.

O terceiro e último dos artigos publicados reúne as reflexões de François Settembrino, presidente honorário da FERMA e membro do conselho de redação desta revista, que sintetiza em três palavras com idêntica inicial – Risco, Respeito e Responsabilidade – a sua proposta de reformulação do Risk Management.

O relatório elaborado pela FUNDACIÓN MAPFRE apresenta o ranking por volume de prêmios dos 25 maiores grupos seguradores da América Latina em 2009. Nesta sua oitava edição, foram elaboradas três classificações diferenciadas: Vida, Não-Vida e Total.

O Observatório de Sinistros apresenta, com base no terremoto de magnitude 8,8 da escala Richter sofrido pelo Chile em fevereiro de 2010, uma solução para garantir a continuidade da atividade empresarial depois da ocorrência de catástrofes de tamanha dimensão, mediante os chamados Planos de Continuidade de Negócio (Business Continuity Planning).

Bem, o ano já se vai e, como costuma acontecer, teremos deixado assuntos pendentes e inacabados, talvez assim encontremos maior ímpeto para iniciar a nova década.

Feliz Natal e feliz Ano Novo.

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Notícias AGERS 85

Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 2º Quadrimestre de 2010.

TERCEIRO QUADRIMESTRE 2010

108

Livros 80

Relatório Ranking dos grupos seguradores na América LatinaCENTRO DE ESTUDOS FUNDACIÓN MAPFRE ........................................................ 60

Caderno Brasil

Mergulho Profissional: Convivendo com o Perigo ....................................................87

Atualidade 6Atividades da IGREA. Resultado do V Prêmio Julio Castelo Matrán. Relatório 2010 do Observatório do Risco. Primeiro Mapa de Falhas Ativas da península Ibérica. Curso acadêmico 2010-2011 da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa

Belén Kortabarria, diretora financeira da Corporação Mondragón“Um mundo em constante transformação implica no aparecimento de novos riscos que devem ser administrados”

Entrevista 12

Estudos

Reflexões sobre a futura reforma da tabela sistematizada de indenizaçõesLLUÍS BERMÚDEZ MORATA, MERCEDES AYUSO E MIGUEL SANTOLINO ......... 20 Modelos de credibilidade e tarifação de seguros de SaúdeINMACULADA PEÑA SÁNCHEZ ................................................................................ 37Os três erres: uma história sem princípio nem fimFRANÇOIS SETTEMBRINO ...................................................................................... 52

Agenda 2011 11

Observatório de sinistros A continuidade do negócio no contexto do terremoto do ChileCÉSAR LÓPEZ LÓPEZ ................................................................................................. 72

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Resolução EHA/1803/2010, de 5 de julho: estabelece obrigações quanto à remissão por meios eletrônicos da documentação estatística contábil das entidades seguradoras e das entidades administradoras de fundos de pensões e pela que se modifica a Resolução EHA/1928/2009, de 10 de julho, pela qual se aprovam os modelos da documentação estatística contábil anual, trimestral e consolidada a ser remetida pelas entidades seguradoras, e pela qual se modifica a Resolução EHA/339/2007, de 16 de fevereiro, pela qual se desenvolvem determinados preceitos da normativa reguladora dos seguros privados.B.O.E. no 163, de 6 de julho de 2010.

Correção de erros do Real Decreto 764/2010, de 11 de junho: que desenvolve a Lei 26/2006, de 17 de julho, de medição de seguros e resseguros privados em matéria de informação estatística contábil e do negócio, e de competência profissional.B.O.E. no 159, de 1 de julho de 2010.

LEGISLAÇÃONovidades

IGREA e UNESPA debatem em conjunto a diretiva Solvência II

No último dia 2 de novembro foi realizada uma reunião de trabalho entre a UNESPA e a IGREA com o objetivo de analisar o atual estado do desenvolvimento da diretiva europeia sobre a Solvência, cuja entrada em vigor está prevista para 31 de dezembro de 2012, e a influência que a mesma terá sobre o mercado segurador e, portanto, sobre as corporações espanholas na sua qualidade de tomadores de seguros.

Estiveram presentes, pela UNESPA, sua presidente Pilar González de Frutos, e a secretária-geral, Mirenchu del Valle. A IGREA (Iniciativa Gerentes de Riesgos Españoles Asociados) esteve representada por vários associados e membros de sua diretoria.

A reunião teve início com uma explicação detalhada, por parte da UNESPA, da atual situação do desenvolvimento da normativa adicional sobre a Solvência, destacando a coordenação do teste QIS5, atualmente em processo de execução por grande parte das entidades seguradoras espanholas.

Posteriormente foram comentadas as atividades recentemente desenvolvidas e

por desenvolver nesse âmbito, incluindo a coordenação em nível internacional.

No debate posterior, os representantes da IGREA se interessaram pelos diversos aspectos da normativa Solvência II em desenvolvimento e pela posição das diversas categorias institucionais e associações que intervêm no tema.

Os diretores e associados da IGREA mostraram sua satisfação pela renovação dos critérios reguladores que a Solvência II significa ao introduzir um maior nível de certeza dos segurados utilizando como elemento fundamental a gestão de riscos para definir as necessidades de capital das seguradoras. Contudo, enfatizaram, para efeitos quantitativos, qualitativos e de relatório, a necessidade de uma calibragem ajustada da normativa.

Na opinião da IGREA, a legislação definitiva da Solvência deve determinar níveis adequados de capitalização e administração que permitam uma maior eficiência do mercado segurador espanhol e europeu, bem como um incremento de sua competitividade em outros mercados exteriores.

No site da IGREA encontra-se o documento que detalha a posição que representa esta importante mudança normativa na associação que defende os interesses dos compradores.

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O júri da V convocação do Prêmio Internacional de Seguros Julio Castelo Matrán concedeu o prêmio a Joaquín Pedruelo Jáuregui por seu trabalho "Desarrollo comercial del seguro colectivo de dependencia en España" (Desenvolvimento comercial de seguro coletivo para idosos na Espanha). O autor é doutor em Ciências Econômicas e Empresariais pela Universidade de Deusto e diretor de Mercado Segurador da AON Espanha.

O júri propôs publicar a obra finalista "Modelo de proyección de carteras de seguros para el

Jornada de análise sobre a renovação de contratos de seguros 2010-2011

No dia 23 de novembro, foi realizada, na sede social da Telefônica uma reunião da IGREA sobre as expectativas de renovação para 2011. Compareceram representantes da Telefônica, Endesa, Grupo San José, Ence, Ferrovial, OHL, Uralita, Sacyr, Cemex, Abengoa e BBVA, entre outros. A Jornada se desenvolveu com uma mesa-redonda, onde os presentes mantiveram um debate aberto.

A principal conclusão sobre o mercado de Danos é que este continua fraco devido à existência de muita capacidade disponível, não dando sinais de que vá diminuir em curto prazo. Somente aqueles riscos que requerem muita capacidade, ou mercados concretos onde ele foi restringido (como no Chile após o terremoto), podem sofrer alta nos preços.

Diferentes gerentes de riscos concordaram ao apontar que o mercado parece disposto a diferenciar os riscos bons daqueles que têm má sinistralidade (má frequência histórica, mas que não são penalizados nos sinistros extremos).

No que se refere ao seguro Todo Risco da Construção, a conclusão dos gerentes do setor é que o mercado está disposto a manter o cliente, inclusive assumindo perdas.

No ramo da Responsabilidade Civil, concluiu-se que o mercado continua fraco, até mesmo um pouco mais que o de Danos. Parece que há um grande apetite por prêmios e o fato de reter mais não implica necessariamente em descontos no prêmio que o justifiquem.

Há novos jogadores e não se observam problemas de capacidade, mas sim o contrário.

Os gerentes de empresas com atividade nos EUA destacaram, unanimemente, a grande diferença entre esse mercado e o europeu, tanto em nível de custo como técnico e operativo.

No que se refere ao seguro D&O, também foi constatada a percepção geral da existência de

um mercado fraco, acentuado pela entrada de subscritores que desejam rapidamente criar uma carteira à custa de baixar os preços. Somente no setor financeiro nota-se o desgaste produzido pela crise desse setor, embora seja esperado o equilíbrio do mercado em pouco tempo.

Como reflexão geral foi manifestada a preocupação pelo possível impacto que a crise financeira e a dívida soberana podem ter na Solvência, tanto de Estados como de seguradoras (grandes compradoras desse tipo de ativos), e em que medida esta situação poderia contribuir para um endurecimento do mercado, que vem sendo anunciado há vários anos, mas ainda não chegou.

ramo de Decesos" (Modelo de projeção de carteiras de seguro para o ramo de decessos), de Sergio Real Campos, doutor em Ciências do Seguro pela Universidade Pontifícia de Salamanca e chefe de Informação Analítica da MAPFRE Familiar.

Presidido por Filomeno Mira Candel, presidente do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE, o júri foi composto por María José Albert Pérez, decana da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa da Universidade Pontifícia

Resultado do V Prêmio Internacional Julio Castelo Matrán

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de Salamanca; Rosa Alegría Íñiguez, diretora-geral da RGA Re International Ibérica; Pedro González-Trevijano Sánchez, reitor da Universidade Rei Juan Carlos, de Madri; Ricardo Lozano Aragüés, diretor-geral de Seguros e Fundos de Pensões; Vicente Magro Servet, presidente da Audiência Provincial de Alicante; Julián Oliver Raboso, presidente do Instituto de Actuarios Españoles; Emilio Ontiveros Baeza, catedrático de Economia da Empresa da Universidade Autônoma de Madri; e José María Sarabia Alegría, catedrático de Métodos Quantitativos para

a Economia e a Empresa da Universidade de Cantabria. Atuou como secretária Mercedes Sanz Septién, diretora-geral do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE.

O Prêmio Internacional de Seguros Julio Castelo Matrán foi instituído em 2001 na ocasião da aposentadoria do então presidente do Sistema MAPFRE e da MAPFRE Mutualidad. Seu objetivo é premiar, com periodicidade bienal, trabalhos científicos inéditos relacionados com o Seguro e o Risco. Sua dotação chega a 35.000 euros e um diploma.

O Relatório 2010 do Observatório do Risco do IDES (Instituto de Estudios de la Seguridad) está centrado nos vínculos estratégicos que o setor da energia mantém com a economia e destaca a segurança de fornecimento de petróleo e gás como o mais importante risco energético a ser enfrentado em curto prazo e que neste momento supera o risco ambiental.

O Observatório do Risco alerta sobre os vínculos estratégicos entre o setor da energia, a economia e a segurança do fornecimento energético

A realização do Relatório 2010 levou em consideração o cenário energético descrito para o período 2007-2030 pela Comissão Europeia no WETO (World Energy, Technology and Climate Policy Outlook), referência das tendências de demanda de energia em escala mundial, e teve a colaboração de equipes multidisciplinares de pesquisa europeias como ENERDATA e CNRSIEPE

na França, Bureau Federal du Plan na Bélgica e Instituto de Prospectiva Tecnológica na Espanha.

Na análise efetuada, destaca-se que a falta de segurança no fornecimento de petróleo e (em menor medida) de gás se consolida como um importante risco potencial pela possibilidade de que a oferta não seja suficiente para satisfazer a demanda em algum momento da década atual, particularmente se os investimentos necessários não forem realizados a tempo. Também analisa os riscos potenciais derivados da transferência de divisas dos países desenvolvidos para os países produtores de petróleo, que desenham uma nova ordem internacional com um comportamento fora das leis do mercado e da tensão oferta-demanda. Este cenário não propicia os investimentos necessários para assegurar a crescente demanda global de energia no médio prazo.

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No relatório 2010 do Observatório do Risco inclui-se uma análise permanente de alguns riscos socioeconômicos, como energia, economia e segurança; o desafio pendente (a economia e a eficiência energética); os riscos associados às cadeias produtivas energéticas; as fontes de energia e segurança viária; e a segurança da informação como garantia

de fornecimento e saúde e energia. Outros riscos estratégicos analisados no Relatório do Observatório são o risco econômico e financeiro, os efeitos da crise econômica sobre a previdência social e a segurança cidadã comparada na Europa e na Espanha.

O Observatório do Risco publica os indicadores do risco na sua versão integral no site www.seguretat.org, do IDES.

O master em Seguros e Gerência de Riscos renovou seu programa, atualizando seus conteúdos para adaptar-se aos novos parâmetros regulatórios e à realidade empresarial em matéria de gestão do risco. Em paralelo, sua metodologia de estudo foi adaptada às novas tecnologias da informação, transformando-se em um formato misto que combina um período de formação à distância pela Internet (e-learning) com outro de sessões

IBERFAULT é o nome da Primeira Reunião Ibérica sobre Falhas Ativas e Paleossismologia, realizado em Sigüenza (Guadalajara) entre os dias 27 e 29 de outubro, com a participação de mais de 100 especialistas nacionais e internacionais em terremoto, com o objetivo de reunir toda a informação disponível sobre as estruturas geológicas da península Ibérica que possam vir a ser responsáveis por terremotos destrutivos.

O encontro foi codirigido por Miguel Ángel Rodríguez-Pascua (IGME), José María Martínez Díaz (UCM) e Eulalia Masa (UB).

A informação resultante do congresso será publicada em um mapa de falhas ativas e em um banco de dados on-line, já operativo no IGME (Instituto Geológico y Minero de España), e que é compatível com o banco de dados de falhas ativas mundiais dentro da iniciativa GEM. Toda essa informação deve ser reunida em um protocolo comum que seja útil para o desenvolvimento de planos de emergências, bem como para sua inclusão em modelos de periculosidade aplicados à obra civil de grandes estruturas e “edifícios singulares”: centrais térmicas, armazéns de resíduos, represas, etc. Além disso, discutiu-se o interesse de ampliar o significado de “edifício

XVII edição do master universitário em Seguros e Gerência de Riscos e VI edição do master universitário em Gestão e Técnica de Seguros

O primeiro Mapa de Falhas Ativas da península Ibérica já está em andamento

presenciais. Esta décima sétima edição conta com 28 participantes, procedentes de 11 países da Ibero-América.

O master em Gestão e Técnica de Seguros introduziu em seu programa dois novos módulos: "Fundamentos técnicos do seguro" e "Seguros de danos e de prestação de serviços".

Todos os programas formativos em Seguros e Gerência de Riscos são desenvolvidos dentro do novo Campus Virtual da FUNDACIÓN MAPFRE, o que permite oferecer maiores funcionalidades técnicas e melhores ferramentas acadêmicas para o desenvolvimento de programas e-learning. Atualmente, estão matriculados cerca de 400 estudantes, atendidos por 33 professores, mediadores e responsáveis pelo curso.

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singular” em periculosidade sísmica, estendendo-se o conceito principalmente para escolas públicas, hospitais e edifícios do patrimônio cultural ibérico.

Para garantir o rigor, a qualidade e a eficácia desse primeiro encontro contou-se com a presença de, pelo menos, um representante de cada um dos grupos de pesquisa de falhas ativas que trabalham na península Ibérica, tanto na Espanha como em Portugal. As comunicações expostas fazem referência a falhas que geraram terremotos de magnitude superior a 6 na escala Richter dentro do período Quaternário, e que apresentam dados diretamente aplicáveis aos estudos de periculosidade e riscos sísmicos. Também compareceram supervisores internacionais de organismos (como USGS dos EUA e GNS da Nova Zelândia), avaliadores da qualidade e idoneidade dos trabalhos apresentados e dos protocolos propostos.

No congresso foi debatida a unificação de critérios por parte da comunidade científica, que inclui geólogos, geofísicos, engenheiros, funcionários de administrações públicas e, inclusive, empresas privadas, com relação ao cálculo da periculosidade na península Ibérica, bem como a qualidade e/ou idoneidade das comunicações apresentadas.

Esse tipo de dados é utilizado (nos Estados Unidos, França e Itália) desde os anos 70 para a periculosidade sísmica. Na Espanha ainda não foram incorporados aos mapas oficiais, mas existe uma boa disposição e

comunicação entre organismos públicos e universidades, como IGN, IGME, Proteção Civil, etc. Os dados são aplicáveis aos estudos de periculosidade e risco sísmico, entre eles, magnitude do terremoto máximo e períodos de recorrência para uma magnitude dada. Cada uma dessas falhas poderia gerar milhares de vítimas em função de sua localização geográfica e a zona afetada.

Mais informação no site www. iberfault.org.

No último dia 16 de outubro, a aula magna da Universidade Pontifícia de Salamanca foi palco da cerimônia de graduação e do ato de abertura do curso acadêmico 2010/2011 da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa da Universidade

Inauguração do curso acadêmico 2010/2011 da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa

Pontifícia de Salamanca, administrada pela FUNDACIÓN MAPFRE.

O ato foi presidido por Filomeno Mira Candel, presidente do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE, Marceliano Arranz Rodrigo, reitor da Universidade Pontifícia de Salamanca, e Maria José Albert Pérez, decana da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa, entre outras personalidades.

A aula inaugural do curso, "Estratégias de desenvolvimento em um mundo em transformação", ficou a cargo do Dr. Andrés Rodríguez–Pose, catedrático de Geografia Econômica da London School of Economics.

Durante o evento houve a entrega dos diplomas aos alunos que finalizaram seus estudos no último curso acadêmico. Filomeno Mira Candel também fez a entrega do prêmio ao melhor trabalho de conclusão de curso, que nessa ocasião foi para a aluna Paula Ocón González.

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AGENDA 2011

CONGRESSOS E JORNADAS

JORNADA DATAS LOCAL CONVOCANTE

8-9 MARÇO

26-28 JANEIRO

21-23 MARÇO

2-4 FEVEREIRO

24 MARÇO

27-29 ABRIL

1-5 MAIO

25-28 MAIO

5-8 JUNHO

6-8 JUNHO

16 JUNHO

2-5 OUTUBRO

8 NOVEMBRO

21-24 NOVEMBRO

6-8 SETEMBRO

XII CONGRESSO

X JORNADA INTERNACIONAL DIREITO DE CONTRATOS

FÓRUM GLOBAL RISK

XIX RENCONTRES

FÓRUM 2011

XIV CONGRESSO

CONGRESSO ANUAL

XXXVIII ASSEMBLEIA GERAL

XXXII CONFERÊNCIA ANUAL

CONGRESSO ANUAL

ASSEMBLEIA GERAL

CONGRESSO ANUAL

CONGRESSO ANUAL

VII CONFERÊNCIA ANUAL

IX CONGRESSO ANUAL

NOVA YORK, (EUA)

HAVANA (CUBA)

LIVERPOOL (REINO UNIDO)

DEAUVILLE (FRANÇA)

ESTOCOLMO (SUÉCIA)

ASSUNÇÃO (PARAGUAI)

VANCOUVER (CANADÁ)

RIO DE JANEIRO (BRASIL)

PORTLAND, OREGON (EUA)

BOURNEMOUTH (REINO UNIDO)

SEM DETERMINAR

ESTOCOLMO (SUÉCIA)

PFÂFFIKON (SUÍÇA)

SIDNEY (AUSTRÁLIA)

MUNIQUE (ALEMANHA)

GARP- GLOBAL ASSOCIATION RISK PROFESSIONALS

UNIÓN NACIONAL DE JURISTAS

IRM

AMRAE

SWERMAS

AIDA

RIMS

ASSOCIAÇÃO DE GENEBRA

PRIMA

BELRIM

AIRMIC

FERMA

SRIM

IFRIMA

DVS

Age

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entrevista

DIRETORA FINANCEIRA DA CORPORAÇÃO MONDRAGÓN

"O desenvolvimento das

estratégias das empresas implica

em riscos que são importantes

identificar", diz Belén

Kortabarria. Na Mondragón,

eles sabem disso. Por esse

motivo, apostaram em um

serviço corporativo que atende a

todas as cooperativas e empresas

incluídas no grupo, porque "os

riscos bem medidos não serão

um obstáculo para continuar

crescendo no exterior"

"Um mundo em constante transformação implica no aparecimento de novos riscos que devem ser administrados""Um mundo em constante transformação implica no aparecimento de novos riscos que devem ser administrados"

TEXTO: ALICIA OLIVASFOTOS: JUAN MANUEL BERRUETA

KortabarriaKortabarriaBELÉN

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14

entrevista

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“HOJE EM DIA,

A GESTÃO

DOS RISCOS

POTENCIAIS NOS

QUAIS PODEMOS

INCORRER

ADQUIRE CADA

VEZ MAIS

IMPORTÂNCIA”

Você poderia descrever quais são as linhas gerais do modelo de Gerência de Riscos que está estabelecido na Corporação Mondragón?A Mondragón é uma corporação que

engloba empresas de diferentes setores e mercados. A gestão de riscos é um servi-ço corporativo, subordinado à Diretoria de Gestão Financeira da Mondragón, que atende a todas as cooperativas e empresas, principalmente das divisões Industrial e Distribuição.

Quem são os encarregados de estabelecer as estratégias e objetivos nessa matéria e como são transmitidas às cooperativas?Na Corporação, e não somente em

matéria de gestão de riscos, mas no geral, as linhas estratégicas e políticas são defi-nidas pelos órgãos máximos corporativos: Conselho de Administração e conselhos corporativos. Pelos canais estabelecidos, essas estratégias gerais depois se desdo-bram para todas as cooperativas.

Os objetivos e estratégias para a ges-tão de riscos estão alinhados com as es-tratégias gerais. Essas são concretizadas e desdobradas a todas as cooperativas atra-vés do Comitê de Gestão Financeira da Mondragón.

CULTURA DO RISCO

Quantas pessoas se dedicam atualmente à gestão do risco dentro do Grupo?Nosso modelo passa por combinar

um número reduzido de pessoas no serviço corporativo com os serviços do broker que nos oferece a estrutura ne-cessária para realizar todas as funções próprias do serviço, incluindo a gestão de sinistros e a assessoria na escolha dos parceiros seguradores adequados em cada momento.

Como você qualificaria a cultura do risco dentro do Grupo Mondragón?De maneira geral, a Mondragón, desde

seu nascimento, teve uma boa predisposição para a mudança e a inovação, mas nos últi-mos tempos essa característica se intensifi-cou ainda mais.

Nos últimos anos, a internacionalização foi potencializada, buscando novos produ-tos, mercados, locais, etc. E também, como dizia, apostou-se pela inovação através da criação de novas atividades e novos negó-cios, o que implica em assumir certo risco

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“OS RISCOS MAIS

PREOCUPANTES

SÃO, TALVEZ, OS

QUE AINDA NÃO

CONHECEMOS”

que, bem analisado e medido, não é um im-pedimento para atuar.

Durante 2009 foram realizadas importantes medidas de ajuste, estruturais e conjunturais, orientadas para melhorar a competitividade das cooperativas. Foram apreciadas novidades em matéria de riscos?Em termos gerais, deu-se continuidade

aos programas estabelecidos, sem reduções. É uma área que não pode ser descuidada, se-quer em momentos de redução ou de ajuste.

OS RISCOS

Finanças, Indústria, Distribuição e Conhecimento são as quatro áreas de trabalho que reúnem a atividade da Corporação. Qual ou quais delas estão sujeitas ao maior número de riscos?Tradicionalmente, e agora mesmo, a

área industrial está sujeita a um alto nível de riscos por suas próprias características: heterogeneidade de produtos, processos, mercados, localização, internacionali-zação, etc. Portanto, isso significa uma

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entrevista

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

grande diversidade na hora de abordar o risco. Embora, obviamente, ninguém possa dizer neste momento que não exis-tem riscos no âmbito financeiro, embora estejam identificados e controlados.

Para nós, a maior problemática está centralizada na área industrial, já que te-mos que levar em consideração que está formada por 100 cooperativas e mais do dobro de filiais ou representações no ex-terior. Por isso, ao estar em tantos seto-res, ao ter tantos produtos e tantas lo-calizações diferentes, a problemática do risco, ainda que conceitualmente seja a mesma, é muito ampla e implica em uma gestão mais extensa.

Como vocês desenharam o seu mapa de riscos?Apoiamos cada cooperativa na elabo-

ração de seu mapa de riscos, em função de suas circunstâncias particulares: do próprio setor onde estiver, dos merca-dos, do modelo de negócio que tiver, etc.

Mas, de maneira geral, elaboramos os mapas para todos os riscos: financeiros, estratégicos, operacionais e aleatórios.

Você acredita que sua filosofia empresarial, baseada em valores corporativos como a cooperação, a participação, a responsabilidade social ou a inovação, contribui para reduzir o nível do risco?Mais do que reduzi-lo, porque o ris-

co objetivamente é o que é, contribui para enfrentá-lo de maneira diferente, eu diria que com mais probabilidade de sucesso do que em outros cenários. A implicação em valores e princípios, as-sumidos pelo grupo, facilita a tomada de decisões complexas, ajudando a sua me-lhor obtenção.

Quais são os riscos mais preocupantes neste momento? Vivemos uma época com muita in-

certeza de diferentes sinais, que são consequência da crise geral global, que, por sua vez, produz diferentes riscos, de todo tipo. Talvez os riscos mais pre-ocupantes sejam os que ainda não co-nhecemos.

De qualquer maneira, e para centra-lizar-nos em nosso entorno mais ime-diato, apontaria os riscos estratégicos em geral, ou seja, competência, ima-gem, internacionalização, etc. Também os financeiros.

Na área internacional, cabe destacar a abertura de duas novas fábricas no exterior, na Índia, o que eleva para 75 o número de filiais produtivas exteriores distribuídas por 16 países e que empregam um total de 13.400 pessoas. Do ponto de vista da Gerência de Riscos, como suas fábricas estão organizadas no exterior?Em princípio temos um Plano In-

ternacional que inclui as coberturas de Danos Materiais, Lucros Cessantes e Responsabilidade Civil que, como é ha-bitual, está composto por uma apólice Master, em Mondragón, e por diferen-tes apólices locais conforme cada país.

Do ponto de vista da D&O, como também é habitual, as coberturas das matrizes incluem todas e cada uma de suas filiais e participantes. Também existe a responsabilidade ambiental, já analisada dentro da empresa e que que-remos estudá-la em nossas implanta-ções no exterior.

Fomos dando passos progressiva-mente. Ou seja, embora a verdade é que o processo internacional foi abordado há muitos anos (há 20/30 anos estáva-mos muito focados no mercado inte-rior e tínhamos as apólices aqui muito bem cobertas), quando percebemos a expansão foi muito rápida, tínhamos 75 implantações no exterior, uma grande

"OS OBJETIVOS

E ESTRATÉGIAS

PARA A

GERENCIA DE

RISCOS ESTÃO

ALINHADOS

COM AS

ESTRATÉGIAS

GERAIS"

"APOIAMOS

CADA

COOPERATIVA

NA

ELABORAÇÃO

DE SEU MAPA

DE RISCOS"

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UM TRABALHO VARIADO EM UM AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO

Como responsável pela Diretoria de Gestão Financeira da Corporação Mondragón, Belén Kortabarria participa de diferentes áreas. Assim, além de se ocupar da administração financeira propriamente dita (que inclui relacionamento com bancos, apoio às cooperativas na busca de financiamento, busca de novas fontes de financiamento para a Corporação, etc.) ou dar impulso ao processo de desenvolvimento estratégico das cooperativas e da Corporação, também está encarregada da Gerência de Riscos.

Você poderia descrever quais são suas funções nesta área?

A função da Gerência de Riscos é a gestão do risco da empresa em um sentido amplo e global, isto é, iden-tificação dos riscos, análise, preven-ção, proteção, etc. Sempre, isso sim, em consonância com o ambiente tão em transformação em que nos mo-vemos. Ou seja, hoje em dia é cada vez mais importante a administração dos riscos potenciais em que pode-mos incorrer.

O que é mais atrativo para você dentro dessas funções?

É um trabalho variado, no sentido que acabo de comentar. As mu-danças mais recentes do ambiente vêm confirmar que temos que nos adaptar permanente e rapidamente ao mesmo tempo. E em matéria de riscos, também.O desenvolvimento das estratégias das empresas implica em riscos im-portantes de se identificar, medir bem e prevenir para proteger a em-presa dos mesmos. Um mundo em transformação implica no apareci-mento de novos riscos, que devem ser administrados. É uma função que está sempre ligada à estratégia da empresa.

De maneira geral, quais são seus planos imediatos em Gerência de Riscos?

A Mondragón é uma corporação

com uma importante orientação para o exterior. Neste momento, cerca de 60% da atividade da área industrial está no exterior. Portan-to, continuaremos implantando o Plano Internacional para os Riscos de Danos Materiais, Lucros Ces-santes e Responsabilidade Civil em nossas filiais e representações. Ou-tra área importante de atendimen-to está em tudo o que se refere à Lei de Responsabilidade Ambien-tal, incidindo tanto na prevenção como na sua garantia.

Quais são, em sua opinião, as principais vantagens de incorporar a gestão do risco dentro da Diretoria Financeira?

É uma função já tradicionalmente in-corporada nessa área e não identifica-mos disfunções, nem outra área onde pudesse estar mais bem localizada. Pa-rece, em princípio, que é a localização mais idônea, já que é onde muitos dos riscos, tanto os mais tradicionais como os de recente criação, têm seu encaixe de administração mais natural.Em minha opinião, o papel da Dire-toria Financeira também está mudan-do: está passando de desenvolver uma função muito orientada ao controle para dar suporte e facilitar o desenvol-vimento da estratégia da empresa, e uma parte importante nesse processo é a valoração dos riscos globais associa-dos à mesma.

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entrevista

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quantidade de representações comer-ciais... Portanto, vamos passo a passo, cobrindo tudo, e neste momento po-demos dizer que já temos o panorama internacional suficientemente coberto.

Quais os riscos que a Corporação está disposta a assumir na hora de fazer a implantação em novos países?Todos os que, convenientemen-

te analisados, sejam razoáveis assumir para continuar impulsionando uma es-tratégia que – está comprovado – vem sendo muito acertada para nós.

Sessenta porcento da atividade in-dustrial já está no exterior e isso impli-cou em muitas operações de implanta-ções industriais ou abertura de sucursais comerciais... E vamos continuar com essa estratégia. Portanto, os riscos bem medidos não serão um obstáculo para continuar crescendo no exterior.

RETENÇÃO E TRANSFERÊNCIA DO RISCO

Você poderia descrever a política atual da Mondragón no que se refere à retenção e transferência do risco?Em princípio, e depois de todas as

análises pertinentes, temos um crité-rio de atuação muito claro: todo risco que possa ser transferido ao mercado em condições razoáveis, isto é, compe-titivas (coberturas, condições, preços, etc.), fazendo valer a força do Grupo e materializando as sinergias de gestão e as economias de escala, é transferido. Esse é o critério.

Como as cooperativas da Mondragón têm acesso ao mercado de seguros?Através da Gerência de Riscos do

Grupo – especialmente no âmbito in-dustrial e de Distribuição –, e sempre com a colaboração e a participação de

nosso broker, buscam-se alternativas mais adequadas em cada momento, va-lorizando, sobretudo, a solvência e bus-cando a continuidade.

Vocês estão percebendo restrições de capacidade ou certo endurecimento do mercado para alguns riscos?Em nosso caso concreto, sobre ca-

pacidades, não notamos restrições nos riscos que normalmente transferimos. Sobre o mercado em geral, e no que se refere aos riscos de tipo mais tradicional (Danos, Responsabilidade Civil, Lucros Cessantes, etc.), todos concordam em que o mercado está tímido, e um pou-co difícil (porém menos que há pouco tempo) no Crédito Comercial.

Estão nos seus planos utilizar outras fórmulas alternativas, como as cativas?Os sistemas alternativos de transfe-

rência de riscos (ART) em geral, e as ca-tivas em particular, são frequentemente analisados, já que poderiam existir cir-cunstâncias concretas e específicas que fizessem seu uso necessário. De qual-quer maneira, até o momento, nossa própria especificidade societária, bem como alguns dos princípios anterior-mente mencionados, não aconselharam o seu uso.

GERÊNCIA E GERENTES DE RISCOS

Como a Gerência de Riscos enfrenta o atual contexto de crise?Como já foi anteriormente comenta-

do, esta é uma situação que nos afeta a todos e entre todos temos que solucio-ná-la. A partir da Gerência de Riscos, fazendo propostas específicas e dan-do diretrizes concretas, apoiando-nos principalmente nos mecanismos pró-prios de nosso sistema cooperativo.

"O GRUPO

INDUSTRIAL,

POR SUAS

PRÓPRIAS

CARACTERÍSTICAS,

ESTÁ SUJEITO A

UM ALTO NÍVEL

DE RISCOS"

“TODO RISCO

QUE POSSA SER

TRANSFERIDO

AO MERCADO

EM CONDIÇÕES

RAZOÁVEIS,

ISTO É,

COMPETITIVAS,

É TRANSFERIDO”

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19G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

"NO NOSSO CASO

CONCRETO,

SOBRE

CAPACIDADES,

NÃO NOTAMOS

RESTRIÇÕES

NOS RISCOS QUE

TRANSFERIMOS"

Em sua opinião, você considera que a Gerência de Riscos pode servir para as empresas enfrentarem o futuro com melhores garantias?Categoricamente, sim.

Nos próximos anos, dentro das empresas, crescerá a responsabilidade dos gerentes de riscos?Sim, sem dúvida. As empresas ten-

dem cada vez mais a serem menos es-táveis no que se refere a um modelo de negócio. Teremos que nos adaptar mais rapidamente aos cenários em transfor-mação e isso significa mudar mais e

mais rápido. E a mudança implica em um risco que, como dizia, será necessá-rio avaliar e administrar.

Qual deve ser, em sua opinião, a função das associações para divulgar a figura do gerente de riscos?Por um lado, colocar em contato os

profissionais do setor, criando fóruns de encontro e transferência de experiências. Por outro lado, comunicar ao mundo empresarial, em todas as suas vertentes e pelos meios adequados, a utilidade e funções dessa figura nos novos âmbitos de gestão, ante os novos e incertos desa-fios que nos apresentam.

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

estudos

LLUÍS BERMÚDEZ MORATAMERCEDES AYUSO GUTIÉRREZMIGUEL SANTOLINO PRIETO

Universidade de Barcelona

REFLEXÕESe perspectivas sobre a futura

REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA

DE INDENIZAÇÕES

A Diretiva 2005/14/CE do Parlamento Euro-peu e do Conselho de 11 de maio de 2005, relativa ao seguro de responsabilidade ci-

vil derivada da circulação de veículos (Quinta Diretiva), modifica determinados aspectos das quatro diretivas anteriores, com uma finalidade claramente reforçadora da proteção aos prejudi-cados em acidentes de circulação, bem como a de conseguir uma maior rapidez no recebimento das indenizações. Com a finalidade de incorporar a referida diretiva na nossa regulamentação, foi aprovada a Lei 21/2007, de 11 de julho, pela qual se modifica o texto sintetizado da Lei sobre Res-ponsabilidade Civil e Seguro na Circulação de Ve-ículos a Motor (LRCSCVM), aprovado pelo Real Decreto Legislativo 8/2004, de 29 de outubro. Se-guindo as recomendações da Quinta Diretiva, e

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

com o objetivo de garantir a efetiva proteção da vítima de acidentes de circulação, a nova Lei elevou os limites de cobertura do seguro obrigatório até o valor de 70 milhões de euros por sinistro de danos corporais, qualquer que seja o número de vítimas. Com a finalidade de agilizar os processos de fixação das inde-nizações, a nova Lei incorporou dois novos conceitos ao nosso ordenamento jurídico: a oferta e a resposta motivadas (Xiol, 2009).

A LRCSCVM estabelece a obrigatoriedade do seguro do automóvel e o define como um seguro de responsabilidade civil pelos danos derivados de acidentes de circulação. Portan-to, o segurador se obriga a indenizar um ter-ceiro pelos danos e prejuízos causados pelo segurado na condução de um veículo a motor. Desse modo, a companhia de seguros desen-volve um importante papel social, já que é a responsável por reparar economicamente a ví-tima pelo dano patrimonial sofrido e também pela perda humana, entendendo-se esta como a perda de qualidade de vida e o sofrimen-to que o acidente gera. Pois bem, determinar qual é a "justa" compensação econômica com qual a companhia deve indenizar a vítima de um acidente de trânsito pelo dano corporal sofrido não é uma tarefa simples nem isenta de discussão entre os peritos.

Na Espanha, desde 1995, a valoração da indenização econômica do dano sofrido pe-las vítimas de acidentes de trânsito deve ser quantificada de acordo com o "Sistema para la Valoración de los Daños y Perjuicios causados a las Personas en Accidentes de Circulación" (Sistema para Valoração dos Danos e Prejuí-zos causados às Pessoas em Acidentes de Cir-culação), publicado como anexo da LRCS-CVM e comumente conhecido como tabela sistematizada de indenizações. Esse sistema de valoração é estabelecido mediante tabelas que incluem os conceitos a serem indeniza-dos, bem como as quantias indenizatórias a serem oferecidas.

Diante das mudanças normativas deriva-das da Quinta Diretiva, parece lógica uma reflexão sobre a determinação das quantias

indenizatórias, a partir da aplicação da tabela sistematizada espanhola. Com efeito, embora a nova Lei tenha aumentado o limite da co-bertura por danos corporais até 70 milhões de euros por sinistro, na maioria dos casos não se garantirá uma maior proteção aos prejudica-dos por acidentes de trânsito se não for modi-ficado o sistema de valoração vinculante, que determina os limites indenizatórios para esses sinistros. Em outras palavras, impõe-se uma reforma do sistema de valoração dos danos pessoais causados por acidentes de circulação. Nesse sentido, no começo de 2008, o diretor da Dirección General de Seguros y Fondos de Pensiones considerou que a atualização da ta-bela sistematizada requer uma "dose máxima" de consenso, de calma, de debate e reflexão, e de estudos sobre o impacto que essa reforma pode ter no setor segurador.

Atendendo ao pedido do diretor-geral da Seguros y Fondos de Pensiones, e a partir da neutralidade que nos confere a condição de professores universitários, decidimos, no momento oportuno, analisar as dificuldades da valoração dos danos pessoais causados por acidentes de circulação para, desse modo, constituir uma ferramenta de apoio ao deba-te e à reflexão necessárias neste tema. Nessa tarefa, contamos com a colaboração da FUN-DACIÓN MAPFRE, através dos Auxílios à Pesquisa em Seguros (convocação 2007), dan-

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A REFORMA DO SISTEMA DE VALORAÇÃO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR ACIDENTES DE CIRCULAÇÃO REQUER UMA "DOSE MÁXIMA" DE DEBATE, DE REFLEXÃO E DE CONSENSO

do como resultado a publicação do trabalho Perspectivas y análisis económico de la futura reforma del sistema español de valoración del daño corporal (Perspectivas e análise econô-mica da futura reforma do sistema espanhol de valoração de dano corporal) (Bermúdez, Ayuso e Santolino, 2009). O conteúdo dessa publicação foi estruturado em duas partes. Na primeira, apresentamos os conceitos teóricos que ajudam a compreender a dinâmica do fun-cionamento da tabela sistematiza na Espanha, comparando-a com os sistemas existentes em outros países de nosso entorno, bem como a obter uma ideia, o mais concreta possível, so-bre a questão da reforma do sistema. Na se-gunda parte do trabalho, nos propusemos a responder à necessidade de realizar exercícios práticos de valoração do impacto econômico ante os possíveis cenários que a futura refor-ma da tabela sistematizada possa definir.

O presente artigo, baseado no trabalho mencionado no parágrafo anterior, tem como objetivo resumir as conclusões e as reflexões que alcançamos sobre o funcionamento da ta-bela sistematizada e o de sua possível reforma. Desse modo, na seção seguinte lembramos os princípios e fins que inspiraram a tabela sistematizada vigente e explicamos seu fun-cionamento. Na terceira seção, analisamos a influência que a delimitação harmonizadora europeia pode ter na reforma da tabela siste-matizada. A seguir, na quarta seção, refleti-mos sobre as perspectivas da reforma da ta-bela sistematizada, levando em consideração seu caráter multidisciplinar (legal, médico e socioeconômico). Após chegar à conclusão de que, para enfrentar com garantias uma refor-ma da tabela sistematizada, é necessário levar em consideração o impacto econômico que as diferentes propostas de reforma têm sobre

o custo total de liquidação dos sinistros, na quinta seção realizamos (depois de definir duas aproximações simples de reforma) uma valoração econômica de seu impacto. Final-mente, nas conclusões, apontamos, de manei-ra resumida, nossa opinião sobre a reforma do sistema de valoração de danos pessoais deri-vados de acidentes de circulação.

TABELA SISTEMATIZADA VIGENTE: MOTIVAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Dentro do tema que nos ocupa, acredita-mos que antes de iniciar o debate sobre a re-forma da tabela sistematizada de indenizações é necessário levar em consideração a situação e os motivos que levaram o legislador a in-cluir um "Sistema para la Valoración de los Daños y Perjuicios causados a las Personas en Accidentes de Circulación" no anexo da Lei 30/1995, de Responsabilidade Civil e Segu-ro na Circulação de Veículos a Motor. Desse modo, poderemos avaliar a vigência dos pres-supostos que inspiraram a atual tabela siste-matizada. Ela foi implantada para dar resposta a uma série de fatores convergentes e que po-demos resumir no parágrafo seguinte.

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estudos

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COM A APROVAÇÃO DA TABELA SISTEMATIZADA, O LEGISLADOR PROPORCIONOU AOS AGENTES ECONÔMICOS ENVOLVIDOS NESSE PROCESSO, MECANISMOS DE PREVISIBILIDADE, MODERAÇÃO E IGUALDADE NA VALORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO ECONÔMICA

Segundo dados da UNESPA para o exer-cício 1991, o resultado técnico conjunto do setor para o ramo de automóveis era de apro-ximadamente 108% sobre os prêmios adqui-ridos. Entre as causas apontadas para explicar tal resultado destaca-se a tendência persisten-te, desde meados dos anos 80, por parte de juízes, de aumentar as indenizações por da-nos pessoais (inflação judicial). Esse fenôme-no, unido à desigualdade de critério entre os julgadores, esmorecia a solução dos conflitos mediante acordo amistoso entre as partes. A excessiva litigiosidade aumentou o atraso ju-dicial na determinação das indenizações por sinistros com danos corporais, causando um viés importante entre o nível de indenização finalmente pago e o utilizado para calcular os prêmios alguns anos antes. Em outras pala-vras, as provisões das entidades de seguros, calculadas a partir dos prêmios no ano de ocorrência do acidente, eram insuficientes para fazer frente às indenizações finalmente pagas no ano da liquidação, depois de sucessi-vos anos de inflação judicial. As entidades de seguros não eram o único agente econômico prejudicado por esta situação: os tribunais de justiça estavam paralisados; as vítimas de aci-dentes de circulação viam os danos compen-sados de maneira tardia e desigual, conforme o tribunal designado, e o regulador tinha sé-rias dificuldades para controlar a solvência das entidades dedicadas a esse ramo.

Com a aprovação da tabela sistematizada, o legislador propôs acabar com a situação descri-ta no parágrafo anterior, proporcionando aos agentes econômicos envolvidos nesse processo, mecanismos de previsibilidade, moderação e igualdade na valoração da indenização econô-mica do dano sofrido pelas vítimas de acidentes

de trânsito. A tabela sistematizada de indeniza-ções serve para a valoração dos danos corporais (morte, lesões permanentes e temporárias) so-fridos pela vítima de um acidente de circulação. O sistema de valoração é organizado mediante um sistema tabular onde se incluem os concei-tos suscetíveis de indenização, bem como as regras ou critérios para a valoração econômica dos referidos conceitos. Tudo isso dentro de um esquema fechado, ou seja, sem a possibi-lidade de sair desse sistema. Com a finalidade de conseguir os objetivos determinados, o le-gislador impôs a obrigatoriedade de sua aplica-ção por parte do juiz. O caráter vinculante da tabela sistematizada de indenizações foi, desde a sua aprovação, seu aspecto mais discutido e polêmico. Contudo, a partir da sentença do Tri-

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bunal Constitucional 181/2000 (STC 181/2000) deixou-se de debater, ao menos abertamente, sobre esse ponto.

O Sistema para a Valoração dos Danos e Prejuízos causados às Pessoas em Acidentes de Circulação é estruturado em dois itens e um "anexo" (apenso do Anexo da Lei). No primeiro item são considerados os critérios para a determinação da responsabilidade civil e a indenização e, no segundo, as regras sobre a aplicação do sistema. Depois de definir esses critérios, princípios e regras, apresenta-se no anexo o sistema tabular da tabela sistematiza-da dividido conforme o tipo de contingência ocorrido: 1) indenizações por morte (tabelas I e II); 2) indenizações por lesões permanentes (tabelas III, IV e VI); e 3) indenizações por incapacidades temporárias (tabela V).

Resumidamente, o método de valoração parte de fixar indenizações básicas por morte, por lesões permanentes ou por lesões tem-porárias, e sobre elas são aplicados fatores corretivos em função da ocorrência de de-terminadas circunstâncias relacionadas fun-damentalmente com a situação econômica e familiar do prejudicado. No desenho das ta-belas, e para todas as contingências, são trata-

dos basicamente dois tipos de danos pessoais derivados de acidentes de circulação a serem ressarcidos: os danos não patrimoniais e os danos patrimoniais.

A indenização básica no caso de falecimen-to (tabela I da tabela sistematizada) é calcu-lada em função do número de prejudicados e seu parentesco com a vítima, por um lado, e, por outro, a idade da vítima. Os fatores de correção para as indenizações básicas por morte aparecem na tabela II e compreendem porcentagens de incremento da indenização básica em função dos prejuízos econômicos que se originam (segundo as entradas anuais líquidas derivadas do trabalho pessoal que a vítima exercia), bem como da existência de circunstâncias familiares especiais.

As indenizações básicas pela existência de lesões permanentes estão recolhidas na tabe-la III. Nesse caso, a indenização básica é cal-culada em função de um sistema de pontos que indica a gravidade da lesão. A pontuação é estabelecida a partir da tabela VI (tabela sis-tematiza médica), diferenciando entre o pre-juízo psicofísico (sequelas) e o prejuízo es-tético. Finalmente, o cálculo da quantia a ser indenizada dependerá do valor monetário do ponto recolhido na tabela e da idade da víti-ma. Os fatores de correção para as indeniza-ções básicas por lesões permanentes aparecem na tabela IV. Os prejuízos econômicos sofri-dos pela vítima são tratados do mesmo modo que no caso de morte. Além disso, nesse caso inclui-se a possibilidade de compensação por danos morais complementares e pelo grau de incapacidade para a ocupação habitual provo-cado pelo acidente, bem como outras corre-ções relacionadas com as despesas derivadas da situação de invalidez da vítima.

As indenizações por incapacidade tempo-rária aparecem na tabela V. A indenização bá-sica é uma quantia fixa e diária em função dos dias sem trabalhar (diferenciando entre os dias hospitalares, impeditivos e não impedi-tivos). Os fatores de correção também apare-cem na mesma tabela V, associados aos preju-ízos econômicos sofridos pela vítima.

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estudos

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SISTEMAS DE VALORAÇÃO NA EUROPA

Deixando de lado os problemas no funciona-mento da tabela sistematizada, que mais tarde abor-daremos, o que levou a apresentar uma reforma da mesma é a exigência, por parte da União Europeia, mediante a Quinta Diretiva, de reforçar a proteção aos prejudicados em acidentes de circulação, bem como de conseguir uma maior rapidez no recebimento das indenizações. Por isso, segundo a nossa opinião, consideramos de vital importância conhecer bem os diferentes sistemas de valoração dos danos corporais existentes no resto dos países da União Europeia para, desse modo, levá-los em consideração ante uma eventual reforma da tabela sistematizada espanhola.

Existem importantes diferenças entre os mode-los aplicados pelos diferentes países europeus para a valoração econômica do dano corporal derivado de acidentes de trânsito. De um lado, países como Bél-gica, França, Itália e Espanha, aplicam em seus or-denamentos jurídicos para a avaliação da lesão, mo-delos com base em tabelas sistematizadas médicas. Por outro lado, países como Irlanda, Alemanha ou Inglaterra, seguindo sua tradição jurídica, utilizam ta-belas sistematizadas judiciais. Em Bermúdez, Ayuso e Santolino (2009) detalhamos as características dos sis-temas de valoração desses países e o de outros como Suécia e Noruega.

Assim, pois, a avaliação e reparação dos danos cor-porais na Europa estão baseadas em disposições legais e em tradições jurisprudenciais e doutrinais de caráter muito diferente. Como consequência, as indeniza-ções econômicas concedidas pelos países membros são de valores muito diferentes, não podendo ser ex-plicadas unicamente pelo diferente poder aquisitivo de seus cidadãos. Na tabela 1 são mostrados alguns exemplos de indenização média por lesão para dife-rentes países.

110.000 47.000 100.000 10.000

TETRAPLEGIA DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA

PERDA DE VISÃO EM AMBOS OS OLHOS

PERDA DO PALADAR

125.000-237.000 12.000-50.000 60.000-100.000 15.000

260.000-333.000 127.000 215.000 32.000

270.000 76.000 227.000

175.000-200.000 15.000-75.000 75-250.000 30.000

390.000 115.000 372.000 9.000

55.000-95.000 35.000 46.000 5.000-15.000

ÁUSTRIA

BÉLGICA

INGLATERRA

FRANÇA

ALEMANHA

ITÁLIA

PAÍSES BAIXOS

DIFERENÇAS NA INDENIZAÇÃO ECONÔMICA POR DANOS NÃO PECUNIÁRIOS (€)TABELA 1

Fonte: Rogers, W.H. (ed.) (2001) Damages for Non-pecuniary Loss in a Comparative Perspective, Springer: Wien / New York.

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A União Europeia deve facilitar a livre cir-culação de pessoas no mercado interno e, con-siderando-se que, no âmbito dos acidentes de circulação, são cada vez mais os litígios com re-percussões através das fronteiras, também deve-ria ser perseguida a harmonização nas práticas de valoração dos danos pessoais aplicadas pelos diferentes Estados. Um primeiro passo para conseguir a referida harmonização é o projeto "Guía de baremo europeo para la evaluación de las lesiones físicas y psíquicas" (Guia de tabela sistematizada europeia para a avaliação das le-sões físicas e psíquicas), já transitado pela Co-missão no fim de 2003 (Rothley, 2003). Como adverte Borobia (2006), um dos responsáveis pelo grupo de trabalho criado para sua elabo-ração, o objetivo da publicação de uma tabela sistematizada europeia é proporcionar aos peri-tos dos países membros da União Europeia um guia sobre o grau de invalidez derivada de uma determinada sequela, e, com isso, garantir certa coerência entre a base de indenização de um país a outro. Atualmente está em tramitação no Par-lamento Europeu, onde presumivelmente será publicada como Recomendação ou como uma Diretiva para os acidentes de trânsito ocorridos fora do Estado de origem do acidentado. Desde maio de 2005, esta tabela sistematizada já é obri-gatória para a valoração da gravidade nas apólices de seguro-doença ou acidente dos trabalhadores das instituições europeias.

Apesar do avanço que esse projeto repre-senta para a homogeneização das indenizações por danos corporais entre os Estados membros, devemos levar em consideração que essa tabela sistematizada europeia é unicamente uma tabela

sistematizada médica, motivo pelo qual faltaria estabelecer uma metodologia comum que tra-duzisse o dano psicofísico sofrido pela vítima em termos monetários. Sem dúvida, esse se-gundo passo na harmonização pode ser muito complexo, já que a metodologia escolhida deve-ria respeitar as diferenças econômicas existentes entre os diferentes níveis de vida dos Estados da União Europeia.

Contudo, ante uma futura reforma da tabela sistematizada espanhola, o projeto de tabela sis-tematizada médica europeia deveria ser levado em consideração ao analisar as possíveis mudan-ças na atual tabela V. Nesse ponto, a tabela siste-matizada europeia estabelece uma terminologia mais precisa sobre o que deve ser valorado e nor-mas ou regras de utilização mais exaustivas para facilitar o trabalho do perito médico, o que vem sendo uma das queixas da tabela sistematizada espanhola.

PERSPECTIVAS DE REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA

Após mais de uma década de experiência na aplicação do atual sistema de valoração das inde-nizações foi possível ir apreciando as carências do mesmo, bem como a necessidade de sua atuali-zação para um ajuste à realidade socioeconômica espanhola. Do nosso ponto de vista, uma refor-ma legal da tabela sistematizada de indenizações deve atender tanto a questões jurídicas como a critérios médicos e a aspectos socioeconômicos.

Em primeiro lugar, os aspectos legais da re-forma da tabela sistematizada estão sendo ampla-mente debatidos, tanto na literatura especializa-da1 nessa matéria como nas comissões jurídicas criadas pelas diferentes instituições vinculadas a essa reforma. Foram discutidos desde os aspectos mais formais e de estrutura da tabela sistemati-zada até os aspectos mais fundamentais, como

A UNIÃO EUROPEIA EXIGIU A REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA DE INDENIZAÇÕES PARA ALCANÇAR DOIS OBJETIVOS: REFORÇAR A PROTEÇÃO AOS PREJUDICADOS EM ACIDENTES DE CIRCULAÇÃO E CONSEGUIR UMA MAIOR RAPIDEZ NO RECEBIMENTO DAS INDENIZAÇÕES

1Por exemplo: Medina (2007), Vicente (2007), Fernández (2008) e Xiol (2008).

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estudos

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o caráter vinculante da mesma, a ocorrência e a compatibilidade dos serviços oferecidos ou sua universalidade, entre outros aspectos.

Contudo, os pontos mais destacáveis fazem referência aos princípios básicos da responsabi-lidade civil: os princípios de reparação fracio-nada e de reparação integral. Como pauta geral, estimamos que a futura reforma da tabela siste-matizada deveria representar uma melhoria no cumprimento desses dois princípios, sem esque-cer os objetivos de previsibilidade, moderação e igualdade que inspiram o atual sistema, bem como constatar seu caráter vinculante, garantia do alcance dos referidos objetivos.

Com o objetivo de cumprir em alto grau com o princípio de reparação fracionada, a fu-tura tabela sistematizada teria que evitar deter-minar uma mesma quantia para reparar simul-taneamente danos de diferente natureza, como atualmente ocorre. Com efeito, a reforma da tabela sistematizada deve perseguir o desmem-bramento das indenizações, diferenciando-se os valores que se referem a danos morais da-queles que se referem a danos patrimoniais. Por sua vez, os danos patrimoniais deveriam ser divididos entre os valores pagos por preju-ízos econômicos já produzidos e os satisfeitos por prejuízos econômicos futuros.

Esse último conceito, os prejuízos econô-micos futuros, de difícil quantificação, coloca em dúvida o sistema atual na hora de valorar o cumprimento do princípio de reparação inte-

gral. Na maioria das ocasiões é impossível co-nhecer com exatidão a totalidade do prejuízo econômico futuro e, portanto, faz-se impossí-vel observar se o referido princípio é satisfeito. Uma futura reforma da tabela sistematizada terá que abordar da melhor maneira possível a aparente contradição que pode existir entre o princípio de reparação integral e os princípios de previsibilidade, moderação e igualdade que o inspiram.

Em segundo lugar, como sistema de valo-ração dos danos pessoais, os aspectos relacio-nados com a valoração médica representam um dos fundamentos da tabela sistematizada. Contudo, exceto os comentários realizados no item anterior sobre os problemas detectados e a possível utilização do projeto de tabela siste-matizada europeia, não insistiremos mais nes-se importante aspecto por não dispormos dos conhecimentos necessários para fazê-lo.

Finalmente, a partir de um ponto de vista socioeconômico, a reforma da tabela sistema-tizada deve levar à melhora da proteção das ví-timas de acidente de trânsito, seguindo as di-retrizes marcadas pela Quinta Diretiva. Nessa linha, a reforma da tabela sistematizada deveria conseguir a equiparação com os níveis médios de indenização dos países da União Europeia. Em comparação com esses países, o nível mé-dio de indenização derivado da aplicação da tabela sistematizada espanhola atual é inferior, e claramente inferior nos sinistros com lesio-

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29G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0 29

A REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA DE INDENIZAÇÕES DEVERIA CONSEGUIR A EQUIPARAÇÃO COM OS NÍVEIS MÉDIOS DE INDENIZAÇÃO DOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA, ATUALMENTE MUITO SUPERIORES EM RELAÇÃO À ESPANHA

nados graves. Após quase 15 anos de funcio-namento, a tabela sistematizada atual necessita de uma reforma que consiga compensar de um modo mais justo os grandes lesionados, apro-ximando-a dos níveis europeus.

Embora exista certo consenso para melho-rar os serviços para os grandes lesionados e para equipará-los aos dos países de nosso entorno, consideramos que ainda se debateu pouco so-bre o impacto socioeconômico que uma me-lhora como essa representaria sobre o custo total das indenizações a serem satisfeitas pelas companhias de seguros. Além disso, devemos considerar que, embora em uma primeira fase as companhias de seguros se deparem com os problemas relacionados com a administração desse melhoramento, seria a sociedade em seu conjunto (ou, ao menos, os condutores de ve-ículos) quem deveria suportar esse incremento no custo total, possivelmente via aumento dos prêmios dos correspondentes seguros.

Esse componente socioeconômico deveria ser levado em consideração ao longo de todo o processo de reforma e, segundo nossa opi-nião, de maneira muito central e não somente colateral. Para isso, cada proposta de reforma do sistema de valoração deveria dispor de seu respectivo estudo sobre o impacto econômico que pode representar. Desse modo, o difícil processo de escolha entre as diferentes pro-postas que se apresentam disporia de mais e melhores elementos a serem considerados.

Em Bermúdez, Ayuso e Santolino (2009) propomos diferentes cenários de reforma e valoramos seu impacto sobre o custo total de indenizações, mediante a utilização de um banco de dados de sinistros de danos pesso-ais ocasionados por acidentes de automóvel.

No item seguinte, a título de proposta, expu-semos diferentes possibilidades para valorar o impacto econômico das diferentes alternativas que possam ir aparecendo ao longo do proces-so de reforma da tabela sistematizada.

VALORAÇÃO DO IMPACTO SOCIOECONÔMICO DE UMA POSSÍVEL REFORMA DA VALORAÇÃO DAS LESÕES PERMANENTES

Para efetuar valorações do impacto econô-mico de possíveis cenários de reforma, é ne-cessário dispor de uma base de dados comple-ta sobre sinistros de acidentes de circulação com vítimas que sofreram danos corporais. Em nosso caso, por exemplo, tivemos infor-mação sobre um total de 22.709 sinistros de automóveis ocorridos na Espanha entre 2000 e 2007, nos quais houve ao menos uma vítima com danos corporais (não estão incluídos os casos com morte da vítima). Os dados fazem referência fundamentalmente às lesões (tem-porárias e permanentes) sofridas pelos indiví-duos, como o tipo de sequela sofrida, os dias sem trabalhar e as indenizações concedidas por cada um dos danos sofridos. Além disso, também inclui informação relevante sobre as características do sinistro, como o tempo utili-zado para a sua liquidação, ou o lugar onde se ocorreu o acidente.

Se nosso objetivo é valorar o impacto eco-nômico sobre o custo total de liquidação de uma proposta de reforma devemos, em pri-meiro lugar, conhecer bem a estrutura do re-ferido custo. A decomposição do mesmo por conceitos, para o conjunto de sinistros, e le-vando em consideração a informação contida na amostra de estudo, aparece na figura 1.

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estudos

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UMA FUTURA REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA DEVERÁ ABORDAR DA MELHOR MANEIRA POSSÍVEL A APARENTE CONTRADIÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DE REPARAÇÃO INTEGRAL E OS PRINCÍPIOS DE PREVISIBILIDADE, MODERAÇÃO E IGUALDADE QUE O INSPIRAM

Nessa primeira aproximação ao problema de valorar o impacto econômico de diferentes propostas de reforma da tabela sistematizada, o interesse está focado na parte do sistema re-lativa às lesões permanentes. Nesse sentido, os cenários de reforma aqui tratados se referem à modificação de aspectos contidos nas tabelas III e IV da tabela sistematizada atual. Os cenários propostos de reforma da tabela sistematizada, sobre os quais se pretende valorar o impacto no custo total de liquidação, foram formulados le-vando em consideração as opiniões que sobre esta reforma se puderam recopilar entre os dife-rentes artigos, documentos e fóruns analisados, bem como nossa própria valoração.

1. INDENIZAÇÕES BÁSICAS PERMANENTES

2. INDENIZAÇÕES PREJUÍZOS ESTÉTICOS

3. INDENIZAÇÕES BÁSICAS TEMPORÁRIAS

4. FATOR CORREÇÃO PERMANENTES

5. FATOR CORREÇÃO TEMPORÁRIAS

6. DESPESAS SAÚDE / JUDICIAIS

7. JUROS PROCESSUAIS / MORA

Figura 1. Decomposição do custo total por lesões permanentes e temporárias

Em primeiro lugar, propomos uma série de cenários referentes a uma futura modificação do valor monetário do ponto da atual tabela III. Para definir tais cenários, partimos da consideração que

o valor do ponto monetário deverá ser aumenta-do seguindo as diretrizes apontadas pela Quinta Diretiva, de maior proteção à vítima. Além disso, dada a manifesta deficiência no nível indenizató-rio dos grandes lesionados, pressupomos que os incrementos no valor monetário do ponto devem

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ser superiores na medida em que a pontuação total é maior. A partir dessas considerações, como pode ser observado na tabela 2, estabelecemos cinco in-tervalos de pontuação e, para cada cenário, consi-deramos diferentes porcentagens de incremento do valor do ponto para cada um dos intervalos de-finidos. Em todos os casos, o incremento é maior conforme a gravidade das sequelas aumenta.

Uma vez definidos os cenários, com a ajuda do banco de dados, onde, para cada vítima se dis-põe da pontuação por prejuízos fisiológicos e es-téticos resultantes da aplicação da tabela sistema-tizada médica, podem ser realizados os cálculos necessários para conhecer como o conjunto das indenizações por sequelas (ou indenização básica) seria aumentado. Por exemplo, para o cenário 2, os incrementos propostos na tabela III, de até 25% para lesionados de caráter grave, produziriam um aumento das indenizações por sequelas de 6,19%, o que, por sua vez, implicaria em um incremento de 1,96% sobre o custo total de liquidação.

0 0 5

PREJUÍZOS POR SEQUELAS E ESTÉTICOS CENÁRIO 3

0 5 10

5 10 20

10 15 30

20 25 40

4,4 6,19 13,60

1,4 1,96 4,30

INCREMENTO (%) DO INTERVALO 1-10

INCREMENTO (%) DO INTERVALO 31-50

INCREMENTO (%) DO INTERVALO 51-75

INCREMENTO (%) DO INTERVALO 76-100

% INCREMENTO SOBRE INDENIZAÇÃO BÁSICA

% INCREMENTO SOBRE CUSTO TOTAL

VALORAÇÃO DO IMPACTO ECONÔMICO ANTE UMA MODIFICAÇÃO DO VALOR MONETÁRIO DO PONTO, POR PREJUÍZOS FISIOLÓGICOS E ESTÉTICOS

TABELA 2

CENÁRIO 1 CENÁRIO 2

INCREMENTO (%) DO INTERVALO 11-30

Em segundo lugar, quisemos abordar dife-rentes cenários de reforma sobre os conceitos da atual tabela IV (fatores de correção que incluem compensações por prejuízos econômicos, inca-pacidades permanentes, necessidade de ajuda de

outra pessoa, adequação do domicilio e do veículo próprio). Segundo a mostra disponível, mais de um terço das vítimas não receberam compensa-ção por fatores corretivos e 60% das mesmas rece-beram compensações por prejuízos econômicos.

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estudos

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Por isso, somente 4% das vítimas receberam uma compensação diferente à de prejuízos econômi-cos. Contudo, essa pequena porcentagem repre-senta mais de 80% do valor total liquidado como fatores corretivos. Os valores por incapacidades permanentes e ajuda de outra pessoa são muito mais elevados do que os que se referem a com-pensações por prejuízos econômicos. Por tudo isso, na hora de apresentar cenários de reforma e valorar seu impacto no custo total de liquida-ção, deveríamos nos concentrar nos três conceitos mais representativos: prejuízos econômicos, inca-pacidades permanentes e necessidade de ajuda de outra pessoa.

Como expusemos no item anterior, a valora-ção do prejuízo econômico futuro se apresenta como um dos pontos mais delicados ante uma fu-tura reforma da tabela sistematizada. Na atualida-de, a compensação do prejuízo econômico futuro está limitada pelos máximos que a mesma tabela IV estabelece para cada uma das categorias de in-capacidade permanente (parcial, total e absoluta). Essa limitação é questionada pela maior parte dos juristas especialistas, cuja opinião é de que, para uma reparação integral do prejuízo econômico futuro, dentro de um sistema fechado e vinculan-te como o nosso, seria necessária a aplicação de uma série de regras que podem ser conjeturadas. Tais regras ainda não puderam ser tratadas pelos especialistas que trabalham na futura reforma da tabela sistematizada, embora possam ser utiliza-das como referência as estabelecidas na legislação inglesa (GAD, 2007; Ayuso et al., 2010a; 2010b).

Com o objetivo de realizar uma primeira va-loração sobre o impacto econômico das possíveis reformas que podem ser apresentadas para esse ponto, e sem entrar na discussão sobre as hipó-teses necessárias para conseguir regras prováveis que garantam ao máximo o princípio da reparação integral, consideramos que esses conceitos, jun-to com outros já tratados, devem conseguir com que as indenizações resultantes da aplicação do sistema espanhol de valoração de danos pessoais por acidentes de circulação se equiparem com as indenizações concedidas nos países da União Eu-ropeia. Consideremos, por exemplo, uma vítima de gravidade extrema. Trata-se de um indivíduo

com 20 anos de idade, tetraplégico por causa do acidente, cuja renda é de 30.000 euros ao ano.

Na tabela 3, na primeira coluna, mostra-se a indenização máxima possível de acordo com a ta-bela sistematizada de 20072 para o caso descrito3 e, nas colunas seguintes, os três cenários apresenta-dos para conseguir indenizações máximas de 2, 2,5 e 3 milhões de euros, respectivamente. Para esses cenários foram considerados os mesmos pressu-postos para aqueles conceitos diferentes dos de incapacidade permanente absoluta. Em primei-ro lugar, um aumento de 25% do valor do ponto como havíamos proposto no cenário 2 da tabela 2. Em segundo lugar, por prejuízos econômicos, um incremento sobre a indenização básica de 15%.

2 Para efeitos de comparação, utilizou-se a tabela sistematizada de 2007 com os dados da mostra disponível.

3 Como se pode ver, a indenização máxima possível, de acordo com a tabela sistematizada de 2007, se aproxima dos 1.200.000 euros. Em outros países da União Europeia, a indenização de uma vítima similar vai desde 4 milhões de euros na Alemanha até quase 7 milhões no Reino Unido.

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300.496,00

CENÁRIO 2 CENÁRIO 3

67.611,60

150.248,00

82.685,58

165.371,17

330.742,34

82.685,58

24.805,67

1.204.645,94

375.620,00

84.514,50

187.810,00

82.685,58

567.276,67

594.602,00

82.685,58

24.805,67

2.000.000,00

66,32

9,09

375.620,00

84.514,50

187.810,00

82.685,58

1.067.276,67

594.602,00

82.685,58

24.805,67

2.500.000,00

186,90

25,61

375.620,00

84.514,50

187.810,00

82.685,58

1.567.276,67

594.602,00

82.685,58

24.805,67

3.000.000,00

269,59

36,95

INDENIZAÇÃO BÁSICA (100 PONTOS)

DANOS MORAIS COMPLEMENTARES

INCAPACIDADE PERMANENTE ABSOLUTA

NECESSIDADE AJUDA 3ª PESSOA

ADEQUAÇÃO DOMICÍLIO

ADEQUAÇÃO VEÍCULO PRÓPRIO

INDENIZAÇÃO TOTAL MÁXIMA

% SOBRE TOTAL FATORES CORRETIVOS

% SOBRE CUSTO TOTAL

CENÁRIOS DE INDENIZAÇÃO TOTAL MÁXIMATABELA 3

TABELA SIST. 2007 CENÁRIO 1

PREJUÍZOS ECONÔMICOS

PREJUÍZO ESTÉTICO (50 PONTOS)

Em terceiro lugar, para a indenização por neces-sidade de ajuda de outra pessoa, foi considerada como indenização máxima a valoração atuarial da renda máxima a ser recebida por uma vítima de 20 anos de idade com grande dependência (nível II) segundo a Lei de Dependência4. Finalmente, optou-se por manter o resto dos conceitos com a indenização máxima proposta pela tabela sistema-tizada de 2007.

4 Segundo nosso ponto de vista, a futura reforma da tabela sistematizada deveria compensar esse conceito a par tir do estabelecido na Lei 39/2006 (Promoción de la Autonomía Personal y Atención a las personas en situación de dependencia), comumente conhecida como Lei de Dependência, de 14 de dezembro.

A VALORAÇÃO DO PREJUÍZO ECONÔMICO FUTURO SE APRESENTA COMO UM DOS PONTOS MAIS DELICADOS ANTE UMA FUTURA REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA DE INDENIZAÇÕES

Caso se deseje a convergência para níveis eu-ropeus de indenização, a valoração do prejuízo econômico futuro deverá aumentar considera-velmente, como pode ser apreciado na tabela 3, observando os valores no conceito de incapaci-dade absoluta permanente necessários, para con-seguir as indenizações totais máximas que nos aproximem da Europa.

De maneira concreta, a quantia máxima des-se conceito deveria aumentar em 243,03% para alcançar a cifra total de 2 milhões de euros do primeiro cenário, e 545,38, ou 847,73%, para conseguir os valores dos cenários 2 e 3, respec-tivamente. Diante dessas quantidades, se apre-senta a questão do impacto que tal incremento teria no custo total de liquidação, mantendo o resto dos conceitos sem variação. Obviamente, o incremento no máximo é superior ao que de-

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estudos

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veria ser aplicado como média sobre os três tipos de incapacidade. Para calcular o incremento a ser aplicado sobre o total dos custos por incapacida-de, consideramos que a distribuição dos incre-mentos é normal, que os aumentos calculados para o caso extremo são os máximos da distri-buição e que, portanto, como média, os aumen-tos devem ser 50% inferiores aos máximos. Da observação da tabela 3 pode-se concluir que, se-gundo os pressupostos realizados para o cenário 2, equiparar o prejuízo econômico futuro aos ní-veis europeus desejados ensejaria um aumento de aproximadamente 25% no custo total de li-quidação dos danos pessoais.

Finalmente, deve-se ressaltar que os pressu-postos de valoração aqui apresentados são sim-ples exemplos de como poderíamos proceder para dispor de um relatório econômico sobre o impacto de cada proposta no custo total de li-quidação. Caso se disponha de uma informação mais detalhada sobre as diferentes propostas de reforma da tabela sistematizada, e com a ajuda de um banco de dados como o que tivemos disponí-vel, acreditamos que os resultados a serem obti-dos com procedimentos similares aos propostos seriam de grande ajuda para a tomada de decisões e, definitivamente, para valorar o alcance da re-forma da tabela sistematizada.

CONCLUSÕES

Finalmente, a título de resumo, queremos deixar claro que existe um amplo acordo entre todos os agentes econômicos envolvidos sobre a necessidade de se reformar a atual tabela sis-tematizada, e que a futura reforma deve estar dirigida, em última instância, para melhorar a proteção da vítima de um acidente de circula-ção. Além disso, pensamos que a referida refor-ma deve ser fiel aos objetivos de previsibilidade,

moderação e igualdade que inspiraram a atual tabela sistematizada, bem como manter seu ca-ráter vinculante para garantir o alcance dos re-feridos objetivos.

De acordo com nosso ponto de vista, os mo-tivos que inspiraram a atual tabela sistematizada continuam vigentes. É necessário um grau ele-vado de previsibilidade para facilitar os acordos e evitar, na medida do possível, a via judicial. Assim seria reduzida a elevada litigiosidade que nosso sistema judicial enfrenta e seria acelera-do o recebimento das indenizações por parte das vítimas de acidentes de trânsito. Ao mesmo tempo, a referida previsibilidade facilitaria, para as entidades de seguros, a estimativa das provi-sões técnicas por serviços prestados, garantindo, dessa forma, a melhor solvência das mesmas.

A reforma da tabela sistematizada deve conti-nuar cumprindo com o princípio constitucional de igualdade, ainda que em ocasiões seja difícil compatibilizá-lo com o objetivo de previsibili-dade. Os fatores e circunstâncias relacionados com um acidente de circulação e suas vítimas são tantos e tão diversos que é impossível colocá-los

A REFORMA DA TABELA SISTEMATIZADA DE INDENIZAÇÕES DEVE CONTINUAR CUMPRINDO O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DE IGUALDADE, AINDA QUE EM CERTAS OCASIÕES SEJA DIFÍCIL COMPATIBILIZÁ-LO COM O DA PREVISIBILIDADE

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todos em um sistema tabular fechado como é a tabela sistematizada. Uma indenização básica, que considere alguns dos fatores mais objetivos, garante o princípio de igualdade. Contudo, se in-cluirmos fatores de correção sobre a indenização básica, necessários para levar em consideração o resto dos fatores, devemos chegar a um consenso ou equilíbrio entre os objetivos de previsibilida-de e igualdade.

Quanto ao objetivo de moderação (criticado em algumas ocasiões por setores por conside-rá-lo uma exigência das entidades de seguros), devemos recordar que a situação de inflação judicial nas indenizações, prévia à aprovação da atual tabela sistematizada, prejudicou gra-vemente a situação financeira e a solvência das companhias e, por isso, sua principal preocupa-ção é moderar a referida inflação judicial. Atu-almente, segundo nosso ponto de vista, deve-mos entender esse objetivo como garantidor do princípio segurador do não lucro, isto é, a víti-ma de um acidente de circulação não deve ter lucro pela ocorrência do mencionado acidente, tão somente deve ser justamente compensada pelos danos ocasionados.

Para alcançar os objetivos propostos, acre-ditamos que na reforma da tabela sistematizada

uma série de circunstâncias contextuais devem convergir. Em primeiro lugar, uma reforma do sistema de valoração dos danos pessoais deve atender a critérios multidisciplinares, isto é, a critérios legais, socioeconômicos e médi-cos. No processo de elaboração da nova tabela sistematizada, a igual participação de profis-sionais das diferentes disciplinas deve ser a pauta a ser seguida a fim de se evitar algumas das contradições da atual tabela sistematizada. Nesse sentido, tal e como se fez em itens an-teriores, cabe destacar a necessidade de contar com relatórios socioeconômicos para cada pro-posta de reforma da tabela sistematizada, onde seja valorado o impacto que a referida proposta pode ter no custo total das indenizações por acidentes de circulação.

Em segundo lugar, os agentes econômicos envolvidos devem responder adequadamente aos desafios que a reforma da tabela sistema-tizada oferece. De um lado, o regulador-le-gislador deve incentivar, mediante discussão e reflexão pausadas, acordos que garantam um sistema de valoração mais justo e eficiente que o atual. Por outro lado, as entidades segurado-ras, como já vêm fazendo, devem participar do debate da reforma e, mais adiante, assumir as mudanças derivadas desta. Por último, a socie-dade em geral deve entender que uma maior proteção da vítima provavelmente significará maiores custos de liquidação para as segurado-ras e, em consequência, um maior custo para os segurados. Nesse ponto, nos perguntamos se o setor segurador, formado em seu sentido mais amplo por segurados, entidades e regula-dor, está disposto a assumir um aumento dos prêmios do ramo de automóveis de até 25%, como consequência do incremento dos custos das indenizações por danos pessoais. Talvez possa ser proposta uma modificação da tabela sistematizada por fases, de modo que o incre-mento nos prêmios fosse gradual.

Não obstante, acreditamos que existem al-gumas atuações que podem diminuir o efeito que uma melhora na proteção da vítima pode ter nos prêmios. A introdução dos conceitos de oferta e resposta motivada pode represen-

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estudosestudos

tar uma redução dos custos de liquidação por juros de mora ou processuais. Além disso, as despesas relacionadas com a cura dos danos e/ou a compensação dos mesmos (despesas hos-pitalares, honorários de advogados, direitos de procuradores, etc.) poderiam ser reduzidos, na medida em que se alcançassem acordos com as instituições competentes nesses âmbitos.

A futura reforma da tabela sistematizada po-deria apostar por uma redistribuição das atuais compensações. Uma menor generosidade nas indenizações aos lesionados de menor gravidade (muito frequentes) poderia "financiar" elevados incrementos nas indenizações dos lesionados de maior gravidade (pouco frequentes e atualmen-te pior compensados pela tabela sistematizada), sem que isso representasse um incremento subs-tancial dos prêmios.

Esse último ponto poderia ser determinante, mas certamente não estará isento de polêmica. Nossa opinião é que deveríamos aproveitar a re-forma da tabela sistematizada para moderar, no sentido antes explicado de garantir o princípio do não lucro, as indenizações por lesões meno-res. Uma elevada porcentagem está relacionada com casos de chicotada cervical, que, no nosso entender, são indenizadas acima do que conside-ramos justo, quando não se trata diretamente de casos de fraude, dada a dificuldade de comprovar os danos mencionados.

Por último, não queremos fechar este tra-balho sem lançar uma mensagem de otimismo, levando em consideração o esforço que toda a sociedade espanhola está fazendo para diminuir a sinistralidade em nossas estradas, medidas que, definitivamente, são a melhor solução para o problema endêmico dos danos corporais por aci-dentes de circulação.

REFERÊNCIASAyuso, M.; Bermúdez, L.; Santolino, M. Valoración actuarial del perjuicio económico futuro derivado de los accidentes de tráfico. Anales del Instituto de Actuarios Españoles, 2010a, nº 16, 141-160.

Ayuso, M.; Bermúdez, L.; Santolino, M. Una metodología alternativa para el cálculo de los perjuicios económicos futuros ante la reforma del sistema de valoración del daño corporal. Revista Española de Seguros, 2010b, nº 141, 91-108. Bermúdez, L.; Ayuso, M.; Santolino, M. Perspectivas y análisis económico de la futura reforma del sistema de valoración del daño corporal. Madri: FUNDACIÓN MAPFRE, Cuadernos de la Fundación nº 145, 2009.Borobia Fernández, C. Valoración del daño corporal: Legislación, metodología y prueba pericial médica. Barcelona: Masson, 2006.Fernández Martín, M.J. La modificación de la normativa sobre seguro de responsabilidad civil de automóviles. Revista Española de Seguros, 2008, nº 136, 427-478.GAD. Actuarial tables with explanatory notes for use in Personal Injury and Fatal Accident Cases. London: 6th edition, Government Actuary’s Department, The Stationery Office, 2007. Medina Crespo, M. Bases concretas para una reforma conservadora del sistema legal valorativo. Revista Española de Seguros, 2007, nº 131, 271-296.Rothley, W. Draft report with recommendations to the Commission on a European disability rating scale. Committee on Legal Affairs and the Internal Market, 2003/2130 (INI), 2003.Vicente Domingo, E. Más de una década de baremo: Análisis de la jurisprudencia del Tribunal Supremo a la luz de la STC 181/2000, 29 de junio: una propuesta de reforma. Revista Española de Seguros, 2007, nº 129-130, 171-204.Xiol Quingles, J.A. La oferta motivada de indemnización de las aseguradoras en la Ley 21/2007 de 11 de julio, de reforma sobre responsabilidad civil y seguro en la circulación de vehículos a motor. Revista Española de Seguros, 2009, nº 137, 59-82.Xiol Ríos, J.A. Necesidad de un cambio en el sistema de valoración del daño corporal. Em: XVI Congreso de Responsabilidad Civil, 6-7 março. Barcelona, 2008.

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estudos

O presente estudo analisa a apli-cação da teoria da credibilidade no cálculo do prêmio de um seguro. Através de um caso prático de Se-guro de Saúde, pretende-se demon-strar como o cálculo do prêmio, aplicando-se os modelos de credibi-lidade mais importantes, os modelos de distribuição livre de Bühlmann e de Bühlmann-Straub, é a melhor forma de ajustar o prêmio à verda-deira sinistralidade do produto.

INMACULADA PEÑA SÁNCHEZMAPFRE FAMILIAR

Aplicação prática de modelos decredibilidade

na tarifação de Seguros de Saúde

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38

estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

"A essência da sabedoria é a preocupação com o futuro" Russel L. Ackoff

Em um mercado cada vez mais com-petitivo, a fixação dos prêmios de seguro se converte em uma tarefa

primordial para as empresas seguradoras. Quanto mais conhecimento houver sobre o risco a ser coberto, mais exato será o cál-culo do prêmio de seguro.

Através de seus modelos, a teoria da credibilidade nos permite utilizar a pró-pria experiência de sinistralidade da em-presa como informação básica para o cálculo do prêmio de um determinado seguro.

Este estudo visa demonstrar, median-te um exemplo prático de um Seguro de Saúde, como o cálculo do prêmio, apli-cando-se os modelos de credibilidade, representa a melhor forma de ajustar o prêmio à verdadeira sinistralidade do pro-duto.

TEORIA DA CREDIBILIDADE

A teoria da credibilidade consiste em uma série de técnicas estatísticas destina-das a calcular o prêmio de seguro confor-me a experiência individual de sinistrali-dade do produto.

A aplicação dessa teoria fundamen-ta-se na tarifação a posteriori, que trata de diminuir a heterogeneidade dentro de cada fator de risco. Por exemplo, no caso de um produto com vários grupos de segurados, cada grupo terá uma sinis-tralidade determinada no tempo. Se um grupo obtiver uma alta sinistralidade, é lógico penalizar esse grupo, e não todos em seu conjunto.

A evolução dessa teoria no tempo deu lugar aos diferentes modelos de credi-bilidade, com a particularidade de que, partindo de diferentes pontos, todos eles convergem para o mesmo resultado.

A TEORIA DA CREDIBILIDADE CONSISTE EM UMA SÉRIE DE TÉCNICAS ESTATÍSTICAS PARA CALCULAR O PRÊMIO DE SEGURO CONFORME A EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL DE SINISTRALIDADE DO PRODUTO

Em todos eles propõe-se que o prêmio a ser pago pelo segurado combine tanto a experiência individual (do grupo de se-gurados) como a do produto em geral, de modo que se possa obter um prêmio de risco suficiente para garantir os princí-pios de suficiência e equidade.

Modelos de credibilidadeEste estudo concentra-se em dois dos

modelos clássicos mais importantes: os modelos de distribuição livre de Bühl-mann e de Bühlmann-Straub. Deno-minam-se modelos de distribuição livre porque não requerem o estabelecimento de hipóteses nem sobre a distribuição dos riscos individuais, nem sobre a distribui-ção a priori dos parâmetros de risco.

Qualquer que seja o modelo de credibilidade que se queira utilizar é necessário definir previamente os dados de partida, concretamente:

k, grupos de segurados com características homogêneas entre eles, mas sem ser idênticas. Isto é, deve existir certa independência entre uns e outros. Neste estudo, os grupos de segurados foram configurados em função da faixa etária.

n, número de períodos de observação, que neste caso é o ano.

Xij, é a variável aleatória principal que recolhe toda a experiência de sinistralidade individual do grupo j-ésimo no ano i.

wij1, é o fator de ponderação das

observações. Atribui-se um peso a cada uma das observações Xij.Ao aplicar os modelos de credibilida-

1 Aplicável somente ao modelo de Bühlmann-Straub.

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39G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

de, obtém-se uma série de parâmetros que são as medidas que ajudarão a ana-lisar os resultados obtidos em cada mo-delo.

Os principais parâmetros estrutu-rais são os seguintes:

m, estimador coletivo. É o prêmio de risco coletivo ou o valor esperado de todos os prêmios de risco individuais.

a, indicador da heterogeneidade da carteira analisada.

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

O ESTUDO CONCENTRA-SE EM DOIS DOS MODELOS DE CREDIBILIDADE DE MAIOR RELEVÂNCIA: OS MODELOS DE DISTRIBUIÇÃO LIVRE DE BÜHLMANN E DE BÜHLMANN-STRAUB

S2, medida global de dispersão da sinistralidade individual no tempo.

z, fator de credibilidade. É o grau de confiança concedido à experiência de sinistralidade individual da carteira.

Modelo de BühlmannO modelo de Bühlmann foi, na verdade,

o primeiro modelo de credibilidade na teoria moderna e é a base da teoria da credibilidade.

Bühlmann calcula a fórmula de credibili-dade de distribuição livre baseada no critério de mínimos quadrados. O prêmio do risco ocorre em função do fator de credibilidade z, que combina linearmente a informação particular com a informação geral. Neste modelo, o fator de credibilidade é único para toda a carteira.

O estimador do prêmio de credibilida-de de Bühlmann é obtido com a seguinte fórmula:

Modelo de Bühlmann-StraubTrata-se de uma ampliação do mode-

lo de Bühlmann, com o acréscimo de uma variável condicional, o fator de ponderação conhecido wij. Desse modo, cada observação Xij do modelo terá um peso wij associado. Com esta variável, elimina-se a homogenei-dade das observações no tempo, característi-ca que prevalece no modelo de Bühlmann.

O enfoque de Bühlmann-Straub ava-lia também o prêmio do risco em função do fator de credibilidade, com a dife-rença de que neste modelo cada um dos grupos terá seu próprio fator de credibi-lidade zj.

O estimador do prêmio de credibi-lidade em Bühlmann-Straub é obtido com a seguinte fórmula:

APLICAÇÃO PRÁTICA

O objetivo dessa aplicação não é outro senão ver como determinar de forma prática o melhor prêmio linear através da aplicação dos modelos de credibilidade em uma car-teira de um produto de Saúde.

Os resultados obtidos serão contrastados com o método atual de cálculo de prêmios da empresa para analisar se estão ajustados ou não à realidade do negócio.

Vamos analisar detalhadamente cada fase na aplicação dos modelos de credibilidade.

1. Seleção da carteira objeto de estudoA aplicação se concentra em um Segu-

ro de Saúde de Assistência Saúde Indivi-dual. Define-se como aquele contrato de seguro no qual, mediante o pagamento do prêmio por parte do segurado, a empresa assume o compromisso de lhe proporcio-nar, através de seus serviços contratados, a assistência médica, cirúrgica e hospita-lar necessária nos casos de enfermidade ou lesão.

Para selecionar este produto foi reali-zada previamente uma análise do mesmo sobre a evolução temporal da exposição2 por idade e sexo.

2 Consideram-se por expostos as unidades que geram risco durante o período considerado.

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Gráfi co 1. Evolução da exposição em Assistência Médica individual por gênero.

Exposição assistência médica individual. Homens

Exposição assistência médica individual. Mulheres

EXPO

STO

SEX

POST

OS

IDADE

IDADE

Fonte: elaboração própria

Fonte: elaboração própria

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

A TEORIA DA CREDIBILIDADE PERMITE UTILIZAR A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA DE SINISTRALIDADE COMO INFORMAÇÃO BÁSICA PARA O CÁLCULO DO PRÊMIO DE UM SEGURO

Comparando ambos os gráficos, po-dem ser extraídas as seguintes conclusões:

– A exposição apresenta um comportamento similar tanto em homens como em mulheres, obtendo os valores mais altos entre os 30 e os 40 anos.– O número de expostos aumenta progressivamente com a idade, e é a partir dos 18 anos que o número de mulheres supera o de homens.

2. Informação sobre a experiência de sinistralidade

O seguro de Assistência Médica en-globa várias garantias. Entre as principais estão a assistência primária, a assistência especializada e a assistência obstétrica.

Com o objetivo de contar com uma experiência sólida em sinistralidade e com um volume suficiente para aplicar os mo-

delos, escolheu-se a garantia de Assistên-cia Especializada3 por dois motivos:

por ser a que maior peso representa sobre o prêmio, e

porque apresenta maior frequência frente ao resto das garantias.Os períodos de observação conside-

rados reúnem os anos de experiência em sinistralidade que a empresa possui. Este estudo leva em consideração os períodos

3 A Assistência Especializada inclui todas as consultas a especialidades médicas, assim como os exames médicos realizados, mas não está incluída a especialidade obstétrica.

GRÁFICO 2. Evolução do custo unitário em Assistência Especializada por gênero.

Custo unitário sinistro assistência especializada. Homens

CU

STO

UN

ITÁ

RIO

IDADE

Fonte: elaboração própria

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43G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

NESTE ESTUDO, AS

VARIÁVEIS DOS MODELOS DE

CREDIBILIDADE SERÃO

REPRESENTADAS PELO CUSTO

UNITÁRIO DO SINISTRO E A FREQUÊNCIA

RELATIVA

Custo unitário sinistro assistência especializada. Mulheres

CU

STO

UN

ITÁ

RIO

IDADE

Fonte: elaboração própria

que vão de 2005 a 2008, concentrando a análise no ano de 2009.

As variáveis dos modelos de credibili-dade serão representadas tanto pelo custo unitário do sinistro como pela frequência relativa.

Custo unitário por expostoO custo unitário refere-se ao gasto re-

alizado pelo segurado com qualquer con-sulta médica e pelos exames médicos que forem necessários durante o tempo em que permanecer na apólice. Essa informa-ção reunirá as observações de sinistralida-de como variável principal nos modelos de credibilidade.

Com o objetivo de comparar a evolu-ção do custo unitário durante todos os pe-ríodos de observação considerados, cada custo unitário anterior ao ponto de análi-se, ano de 2009, será atualizado de acordo com a rubrica de serviços médicos e simi-lares do Instituto Nacional de Estatística espanhol, conforme os gráficos a seguir.

Analisando em detalhe o comporta-mento do custo unitário, comprova-se graficamente que:

– A evolução do custo unitário aumenta de maneira progressiva com a idade, tanto para homens como para mulheres, embora o crescimento seja ainda mais pronunciado entre as mulheres. Nas idades mais adultas existe uma maior dispersão nos dados.– O valor do custo unitário é maior em mulheres do que em homens. A partir dos 20 anos, as mulheres duplicam o custo unitário dos homens. Entretanto, os homens

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estudos

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Gráfi co 3. Evolução da frequência relativa em Assistência Especializada por gênero.Frequência relativa assistência especializada. Homens.

Frequência relativa assistência especializada. Mulheres.

FREQ

UÊN

CIA

FREQ

UÊN

CIA

IDADE

IDADE

Fonte: elaboração própria

Fonte: elaboração própria

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45G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

mantêm um custo unitário bastante estável até alcançarem a idade de 45 anos, quando o custo começa a aumentar significativamente.

Frequência relativaDenomina-se frequência relativa o nú-

mero de sinistros por exposto, entenden-do como sinistro a realização do ato médi-co. Com o dado de frequência, atribui-se um peso a cada uma das observações do custo unitário.

Como é possível observar nos gráficos, a evolução da frequência durante os anos considerados manifesta-se da seguinte forma:

– O comportamento da frequência segue uma tendência similar ao do custo unitário.

– A evolução da frequência aumenta de maneira progressiva com a idade, sendo mais pronunciada no caso das mulheres. Da mesma forma que no custo unitário, em idades mais avançadas a dispersão dos dados aumenta.– Existe uma clara diferença na frequência por gênero. Nos homens, a frequência permanece quase constante até os 40 anos, quando começa a aumentar. Entretanto, no caso das

mulheres, o aumento já aparecia desde os 15 anos.

3. Definição da hipótese de partida

Uma vez definidas e analisadas todas as variáveis do modelo, podem ser estabe-lecidas as hipóteses iniciais da aplicação:

Dois modelos diferentes em função do gênero, um para homens e outro para mulheres, devido ao fato de que cada um deles corresponde a um comportamento diferente do custo unitário e frequência.

Variável principal de risco do modelo, Xij, o custo unitário.

Variável adicional, o fator de ponderação wij

4, a frequência relativa. Grupos de segurados, k. Partindo

da necessidade de criar grupos homogêneos, mas não idênticos entre si, analisou-se tanto a exposição como o custo unitário por idade e sexo, observando seu desvio em relação à média. Deste modo, foram criados grupos por idade em função do custo e do número de expostos, de forma que guardem certa independência e sejam homogêneos entre si.

Períodos de observação, n. 4 anos, de 2005 a 2008.

4. Aplicação dos modelos de credibilidade

Uma vez que as hipóteses de par-tida foram estabelecidas e toda a informação da experiência de sinis-tralidade particular em função das variáveis definidas nos modelos está preparada, custo unitário e frequên-cia, os modelos de credibilidade de Bühlmann e Bühlmann-Straub po-dem ser aplicados.

O resultado da aplicação dos mo-

A TEORIA DA CREDIBILIDADE OFERECE, ATRAVÉS DE SEUS MODELOS, A VANTAGEM DE PROPORCIONAR O PRÊMIO AJUSTADO À REALIDADE DA CARTEIRA

4 Aplicável somente ao modelo de Bühlmann-Straub.

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estudos

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O FATOR DE CREDIBILIDADE Z É O GRAU DE CONFIANÇA ATRIBUÍDO À EXPERIÊNCIA DE SINISTRALIDADE INDIVIDUAL

delos dará lugar ao prêmio linear de credibilidade, que utiliza tanto a ex-periência particular segundo o fator de credibilidade (z), como a experiência global (1-z), conforme mostra a se-guinte fórmula:

Prêmio riscocredibilidade = z• Xj + (1– z)• m

5. Análise de resultadosCritérios de análiseAs medidas utilizadas para selecio-

nar o modelo de credibilidade que me-lhor refletem a realidade do negócio são as seguintes:

a) Parâmetros estruturais: m, estimador coletivo. É o

resultado do prêmio utilizando-se somente a experiência global.

Em ambos os modelos, obtêm-se valores similares.

a, indicador de heterogeneidade da carteira. Quanto maior heterogeneidade dos grupos dentro da carteira, mais peso terá a experiência individual proporcionada. Comprova-se que, em ambos os modelos, a heterogeneidade é bastante alta.

S2, medida global de dispersão da sinistralidade individual. Quanto menor a dispersão, menor a aleatoriedade dos dados e maior peso terá a experiência individual. Obtém-se uma mínima dispersão em ambos os modelos, o que implica maior credibilidade da informação individual proporcionada.

m

a

s2

GêneroParâmetros Bühlmann Bühlmann-Straub

HM

147,98209,54

148,09209,81

HM

4.433,129.830,27

5.930,329.004,37

HM

41,6459,87

365,31796,47

Fonte: elaboração própria

b) Fator de credibilidade, z:Receberá valores compreendidos entre

0 e 1. Quanto mais próximo a 1 for o fator de credibilidade, maior peso terá a infor-mação individual sobre o prêmio de cre-dibilidade.

Neste caso, z é muito próximo a 1 em ambos os modelos, embora ligeiramente superior no modelo de Bühlmann. Isto sig-nificará que o peso que a informação parti-cular possui sobre o prêmio de credibilida-de será maior do que a informação global.

Tabela 1. Resultados dos parâmetros estruturais dos modelos de credibilidade

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Fonte: elaboração própria

c) Prêmio de credibilidade:Como consequência direta de se ob-

ter uma credibilidade próxima a 1 em ambos os modelos, o prêmio de credi-bilidade obtido será mais similar ao esti-

mador individual Xj do que ao estimador coletivo m.

Comparando ambos os modelos de credibilidade, observa-se como o prê-mio do modelo de Bühlmann é menor.

HomensTabela 2. Resultados do modelo de Bühlmann.

Grupo

1

2

3

4

5

6

7

137,19

91,63

93,54

107,30

136,91

192,13

277,13

Estimador individualXj

147,98

Estimador coletivom

0,9977

Fator credibilidadez

137,22

91,77

93,66

107,40

136,94

192,03

276,83

Prêmio riscocredibilidade

MulheresTabela 4. Resultados do modelo de Bühlmann.

Grupo

1

2

3

4

5

6

7

119,67

85,83

144,18

213,39

243,79

305,20

354,74

Estimador individualXj

209,54

Estimador coletivom

0,9985

Fator credibilidadez

119,81

86,02

144,28

213,38

243,74

305,06

355,37

Prêmio riscocredibilidade

Tabela 3. Resultados do modelo de Bühlmann-Straub.

Grupo

1

2

3

4

5

6

7

137,09

91,63

93,55

107,32

136,93

192,28

277,52

Estimador individualXj

148,09

Estimador coletivom

0,9968

0,9965

0,9965

0,9968

0,9974

0,9981

0,9986

Fator credibilidadez

137,13

91,82

93,75

107,45

136,96

192,19

277,34

Prêmio riscocredibilidade

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

Tabela 5. Resultados do modelo de Bühlmann-Straub.

Grupo

1

2

3

4

5

6

7

119,67

85,86

144,19

213,40

243,85

305,24

355,58

Estimador individualXj

209,81

Estimador coletivom

0,9948

0,9947

0,9968

0,9977

0,9980

0,9984

0,9986

Fator credibilidadez

120,14

86,53

144,39

213,39

243,78

305,09

355,37

Prêmio riscocredibilidade

ATRAVÉS DOS MODELOS DE CREDIBILIDADE, A INFORMAÇÃO INDIVIDUAL UTILIZADA TEM GRAU DE CONFIANÇA SUFICIENTE PARA PODER EMBASAR O CÁLCULO DO PRÊMIO DE RISCO

Fonte: elaboração própria

6. Escolha do modelo ótimoAmbos os modelos cumprem os requi-

sitos de um bom modelo de credibilidade. Os parâmetros estruturais e o fator de cre-dibilidade demonstram que, através dos modelos de credibilidade, a informação individual utilizada tem grau de confiança suficiente para poder embasar o cálculo do prêmio de risco.

A fim de selecionar o modelo ótimo de credibilidade, e apesar de obter resultados muito bons em ambos os modelos, entre eles podem ser estabelecidas algumas li-geiras diferenças:

– A dispersão (S2), embora seja mínima, é ainda mais baixa no modelo de Bühlmann.

– A credibilidade (z) é muito próxima a 1, mas é no modelo de Bühlmann onde atinge os valores mais altos.Embora no modelo de Bühlmann-

Straub se inclua a variável adicional frequência relativa, wij, estes valores da frequência são homogêneos no tempo e, portanto, não enriquecem o modelo nem melhoram os resultados do mode-lo de Bühlmann.

Portanto, o modelo ótimo que mais favorece o uso da própria experiência é o modelo de credibilidade de Bühl-mann.

7. Ajuste dos modelos de credibilidade com o método atual

Uma forma simples de comprovar se o prêmio que a empresa está aplicando atualmente corresponde à sinistralidade real do negócio é compará-la com o prê-mio de credibilidade obtido através do modelo de credibilidade.

Convém esclarecer que, para ajustar o prêmio de credibilidade à realidade do negócio, será necessário calibrar o mo-delo de credibilidade em função das par-ticularidades de cada negócio.

Comparação de prêmios antes do ajusteUma primeira comparação feita entre

o prêmio de risco da empresa e o esti-

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Gráfi co 4. Comparação de prêmios antes do ajuste.

Modelo credibilidade x Método atual. Homens

Modelo credibilidade x Método atual. Mulheres

PRÊM

IO P

URO

PRÊM

IO P

URO

IDADE

IDADE

Fonte: elaboração própria

Fonte: elaboração própria

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estudos

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Gráfi co 5. Comparação de prêmios depois do ajuste

Ajuste modelo credibilidade x método atual. Homens

PRÊM

IO P

URO

IDADE

Fonte: elaboração própria

mador de credibilidade do modelo de Bühlmann, que corresponde ao custo unitário.

Desses gráficos, pode-se concluir que:– O prêmio de risco da empresa tem uma evolução por idade e gênero similar ao obtido no modelo de credibilidade.– Vê-se claramente que o método

atual utilizado pela empresa tem um prêmio superior ao obtido no modelo de credibilidade.Comparação de prêmios depois do ajusteAtualmente, com o prêmio que aplica,

a empresa está obtendo um percentual de sinistralidade de 58%. Entretanto, o mode-lo de credibilidade calcula um prêmio que corresponde ao próprio custo unitário do sinistro, ou seja, prêmio e sinistro coinci-dem, o que implica um percentual de sinis-tralidade de 100%. Por este motivo, o prê-mio do modelo de Bühlmann é inferior ao prêmio do método atual da empresa.

Dado que a porcentagem de sinistrali-dade é o quociente da sinistralidade entre os prêmios, isto implica que o prêmio é inversamente proporcional ao percentual de sinistralidade.

Pois bem, para fazer uma comparação homogênea entre ambos os métodos, o prêmio de credibilidade deve correspon-der ao mesmo percentual de sinistralida-

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Modelo credibilidade x Método atual. Homens

PRÊM

IO P

URO

IDADE

Fonte: elaboração própria

de apresentado pela empresa. Se o per-centual de sinistralidade do modelo de credibilidade de Bühlmann diminuir até alcançar os 58% correspondentes ao per-centual obtido pela empresa, o prêmio aumentará na mesma proporção.

Deste modo, comprova-se grafica-mente como o prêmio do modelo de Bühlmann ficou situado muito próximo do prêmio da empresa, tanto para o caso de homens como para o de mulheres.

CONCLUSÃO

A teoria da credibilidade, através de seus modelos de credibilidade, oferece a clara vantagem de proporcionar o prêmio ajustado à realidade da carteira, cobrando conforme a medida de seu risco, premian-do o bom comportamento aos riscos com baixa sinistralidade e penalizando os que apresentem pior sinistralidade.

Como resultado obtido nesta aplicação, os modelos de credibilidade nos confir-

mam que o método atual utilizado por esta empresa, em particular, baseia o cálculo de seus prêmios na própria experiência de si-nistralidade. Isto pressupõe um maior co-nhecimento dos riscos a serem cobertos, ao mesmo tempo em que lhe permite ser competitivo no negócio segurador.

BIBLIOGRAFIA

Gómez Déniz, E.; Sarabia Alegría, J.M. Teoría de la credibilidad: desarrollo y aplicaciones en primas de seguros y riesgos operacionales. Madri: FUNDACIÓN MAPFRE, 2008.

Peña Sánchez, I. Métodos de tarificación con credibilidad en seguros colectivos. Publicação ICEA, Fevereiro 2006, documento nº 185, 71-94.

Ibarra Alfaraz, J.A.; Monrobel Alcántara, J.R. Tarificación y teoría de la credibilidad.

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estudos

FRANÇOIS SETTEMBRINORisk Manager FERMA

Normalmente, uma história sempre tem um

início e um final. Mas não é preciso mais

do que abrir um jornal para se comprovar o

contrário. Vejamos o caso Fortis: será ele tão

sagaz que possa nos dizer quando começaram

os problemas e, mais ainda, que ele possa

nos dizer quando realmente tudo terminará?

Podemos transferi-lo a todos os demais maus

intérpretes dos quais tanto se fala, mas o

argumento é o mesmo: quando começou isto e

como e quando isto terminará?

Os três uma história sem

nemprincípio

fim

erres :

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R RR

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estudos

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O HOMEM DE NEGÓCIOS ESPERA ALCANÇAR SEMPRE O MELHOR, MAS DEVE ADMITIR QUE O FRACASSO É POSSÍVEL E QUE O RISCO TEM SEMPRE DUAS FACES. O RISK MANAGEMENT APERFEIÇOA ESSA PERSPECTIVA E TENTA FAZER COM QUE SE ATUE DA MELHOR FORMA POSSÍVEL PARA SE OBTER UM RESULTADO POSITIVO

R isco

Os três "R" são simplesmente as iniciais dos três maiores desafios de hoje, a saber: Risco, Respeito e Responsabilidade. Simplesmente os esqueceram... Temos que cuidar deles.

Écurioso o número de erros a respei-to desta pequena palavra. Para muitos, trata-se de um sinônimo de perigo ou

de dano. Quase todos os manuais de Risk Ma-nagement não dizem nada de novo. É claro, é preciso tentar sempre evitar o risco assim de-finido. E os conselhos que nos dão são todos no mesmo sentido. "Na medida do possível evitemos os riscos, se há uma maneira de não correr tais riscos, é o que se aconselha fazer". Se não é possível evitar, se encontrará a solu-ção reduzindo, rebaixando o risco ou a exposi-ção ao risco por todos os meios de prevenção

e de proteção. Existe outra maneira de se li-vrar dele, que é fazer recair o risco em algum outro; muitos contratos comerciais não fazem outra coisa. É uma oportunidade de ouro para os juristas e advogados, e tudo isso custa muito caro. Se, de fato, isso for insuficiente, que ou-tra coisa se pode fazer? Empurrar o risco para o outro, isso é, para o segurador. Este último só aceitará cobrir os danos ou o risco median-te certas condições: é necessário que os danos sejam quantificáveis e correspondam a riscos aceitáveis e, sobretudo, aleatórios. O prêmio também deve ser pago. As limitações ou ne-gativas de cobertura são as que suscitaram o recurso a fundos privados, através de seguros cativos, por exemplo. Servem, sobretudo, de franquia, chamada também retenção, e permi-tem um acesso mais fácil ao resseguro.

E já está tudo dito! Até parece! Nada disso. O homem de negócios dirá sempre que é preci-so assumir riscos. Será pedido aos jovens, para sua futura carreira profissional, que se prepa-rem bem, que estudem muito, para que este-jam nas melhores condições para poder ultra-passar os obstáculos que apareçam no futuro. O risco terá, de repente, mudado de natureza? Não, volta a ser o que sempre foi: o único meio de progredir. Desde que o ser humano está na Terra tem enfrentado uma infinidade de riscos relacionados aos seus congêneres, ao meio am-biente, às catástrofes naturais ou artificiais... Mas somente pode contemplá-los a partir do ângulo do perigo ou dos danos, e não a partir do oposto. A conclusão que se deve tirar é que o risco não é nada mais do que a variação de probabilidades, positivas ou negativas. O ruim pode ser substituído pelo melhor. O homem de negócios e todos nós, como humanos que somos, esperamos sempre alcançar o melhor. Mas certa lucidez deve nos fazer admitir que

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Respeito

um fracasso é possível e que devemos sempre contemplar as duas faces do risco. O otimista verá com bons olhos os aspectos positivos e o pessimista, os negativos. Esta diferença de per-cepção não muda em nada o assunto: o bom e o mau se tocarão sempre. O Risk Management só pode tratar de aperfeiçoar esta perspecti-va e tentar fazer com que se atue da melhor forma possível a fim de se obter um resultado positivo. O Risk Management é um fator de progresso e, de forma alguma, anunciador de catástrofes, perdas e danos. Sendo assim, como deveria reagir? Qual seria a melhor maneira de reanimar uma cultura do risco com o objetivo de dinamizar os negócios? Seria suficiente fa-zer os diretores compreenderem que isso não é nada complicado. De fato, trata-se de uma percepção relativamente simples e ao alcance de todos: para chegar ao melhor, é preciso cor-rer riscos. Isso não suprime nada de todos os procedimentos que tenham sido desenvolvi-dos até agora, matemáticos, atuariais, técnicos ou jurídicos. Estão aí para ajudar na tomada de decisões, mas jamais substituirão a escolha sempre subjetiva do decisor último. Existem, contudo, dois motores comuns ou, se preferir, duas filosofias complementares, que deveriam ser sempre considerados.

Fala-se muito de direitos que devem ser respeitados, de direitos adquiridos, de direito comum, mas cada um deles cria

uma nova fronteira: ou se está dentro ou se está fora. O exemplo mais evidente é o con-junto de regras de direito que visa eliminar a discriminação em todos os âmbitos. Isto se refere à igualdade de possibilidades de rejei-ção de todas as formas de assédio. Quanto mais regras são estabelecidas, mais excluídos há. De fato, é suficiente descumprir alguns dos numerosos códigos ou condições que protegem contra qualquer discriminação para estar oficialmente excluído. Quanto mais se multiplicam os critérios, mais risco há de não se corresponder totalmente a eles; aque-les que os aplicam geralmente não têm nem o direito nem o poder de anulá-los. Quan-do aparecerão as estatísticas dos que foram excluídos? Todo mundo, sempre que estiver atento a isso, tem em seu entorno ou na sua vizinhança uma vítima do procedimento, e nunca é nem simples, nem fácil de interpor o mínimo recurso. Quando a moderação estiver organizada, o último moderador deverá se re-

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tirar se o caso não estiver previsto. Isso ocorre com frequência em nossos textos legais quilo-métricos, onde, no entanto, o redator acredita que está tudo previsto. A dificuldade é que, quanto mais se especifica, mais interpretações são necessárias e mais se multiplicam as bi-furcações.

Por outro lado, o respeito, mais do que uma luta contra as discriminações, implica em muitas outras coisas. Não faltam campos de ação: aqui estão alguns. Se eu tenho pesso-as a meu serviço, o respeito a elas deveria ser suficiente para protegê-las bem. Evitar aci-dentes; banir o assédio, seja moral ou de ou-tro tipo; proteger os doentes; ajudar a família no caso de falecimento, ou o empregado no caso de invalidez; garantir uma pensão decen-te, sem jogar abusivamente as reservas no cas-sino da bolsa de valores..., a tudo isso se pode chegar em nome do respeito ao trabalho e ao trabalhador. Se o empregador pensa no longo prazo, deve garantir também o maior prazo possível em matéria de contratos de trabalho, pois nenhuma empresa é viável no longo pra-zo sem a contribuição de seus trabalhadores.

Ser uma empresa cidadã não é mais do que demonstrar respeito e interesse pela comuni-dade na qual se trabalha. Mostrar-se atento à vida pública, oferecer ajuda em tudo o que for possível e respeitar as leis, não são mais do que algumas facetas do que se deve ou de-veria fazer. Não esqueçamos as desgraças do tempo presente relacionadas com o clima e a contaminação. Não só demonstrar respeito à natureza, mas, ao mesmo tempo para com as pessoas que sofrem. É, além disso, um bom caminho para o respeito a toda a humanida-de. No mundo existem áreas inteiras onde a população padece fome, frio, demasiado calor ou demasiada estiagem, e todos têm necessi-dade de ajuda. É normal que os seres huma-nos, apesar de trabalharem duramente, não ganhem o suficiente para se alimentar, para ter uma casa e para se curar, inclusive em nos-sas regiões mais bem servidas?

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ENTENDE-SE MUITO BEM O QUE QUER DIZER RESPONSABILIDADE QUANDO SE TRATA DOS DEMAIS, MAS MUITO RARAMENTE QUANDO SE TRATA DE SI MESMO. É PRECISO VOLTAR À SIMPLICIDADE E GRANDEZA DA FRASE "NÃO FAÇA AO OUTRO O QUE NÃO QUER QUE FAÇAM A VOCÊ"

Responsabilidade

Eis aqui uma palavra que já não signifi-ca nada, ou quase nada, principalmente para os jovens. Com muita frequência,

quase ninguém hoje em dia quer admitir seus erros, porque quase ninguém quer repará-los. Os seguradores são, provavelmente, a causa de uma má interpretação geral do princípio: quan-do você causou danos, acima de tudo não se de-clare nunca responsável, pois correria o risco de perder a cobertura. Entretanto, a comunicação amistosa em acidentes de trânsito caminha em boa direção: reconheça os fatos e nada além dos fatos; você sempre poderá ignorar as regras que o exoneram provavelmente de toda responsabi-lidade e o segurador profissional fará com que você se beneficie disso.

Há algo pior: as diferentes responsabilida-des sem culpa que afluem por todos os lados

desorientam a sensatez dos mais jovens (e dos menos jovens também). Inclusive, se você não for responsável, terá que fazer como se o fosse e indenizar as "vítimas". Teria sido mais simples inventar uma espécie de previdência social ampliada que cobrisse todos os males de que podemos padecer, mas seu financiamen-to teria sido impossível. Os Estados Unidos adicionaram um abuso organizado ao permi-tir que os advogados se remunerem genero-samente nas causas mais extravagantes ou nas mais delicadas. Se não acertam o alvo, não nos custa nada ou quase nada, mas se acertam, esse filão deverá ser repartido com eles, mui-to frequentemente em partes iguais. Como resistir, então, ao afã do lucro? Esquecida, a responsabilidade de nossos avôs já não signi-fica quase nada. Todas as profissões, todos os

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estudos

ofícios estão contaminados e o erro já não é permitido. Vejamos os médicos: jamais pode-rão garantir um resultado, pois não têm mais do que uma obrigação como meio. Alguns deles, que já não conseguem encontrar co-bertura a preço acessível, recusam-se a aplicar certos tratamentos... porque o resultado nem sempre é o esperado e isso os pacientes já não suportam. Este tipo de ladainha poderia se prolongar até o infinito. Voltemos, então, ao princípio básico. Ser responsável é assegurar e assumir um papel: os pais são responsáveis pela educação de seus filhos. As políticas são (ou deveriam ser) responsáveis pelo bem co-mum. Os comerciantes são responsáveis ante seus clientes e, contudo, foi necessário ado-tar medidas severas em matéria de segurança dos produtos. Os numerosos fornecedores de serviços são responsáveis pela sua qualidade e também pelo preço. Onde está o proble-ma? No simples fato de que se entende muito bem o que quer dizer responsabilidade quan-do se trata dos demais, mas muito raramente quando se trata de si mesmo. Seria, portanto, urgente voltar à simplicidade e grandeza da frase "não faça ao outro o que não quer que façam a você".

Assim chegamos a uma nova formulação do Risk Management. De fato, não é mais do que um coquetel no qual se misturam os três Rs. Desde o momento em que há vida há risco, e não há progresso sem risco. O risco é alheio a

nós, posto que não é mais do que uma incer-teza com um resultado positivo ou negativo, que nunca está garantido. É preciso acostu-mar-se com ele ao invés de enfrentar perma-nentemente o espectro das perdas e danos. O comportamento com relação ao risco, por sua vez, resume-se em duas palavras: respeito e responsabilidade. O respeito nada mais é do que prestar atenção condescendente e pruden-te aos seres e à natureza. A responsabilidade só está aí para servir de conexão com o risco, as-sumindo e fazendo assumir os deveres que isso comporta. Podem ser feitas todas as exposições que se queira, inventar receitas, fazer mode-los complexos, mas, se não respondem a estas duas qualidades, cairá, sem dúvida, em mui-tos excessos. Esses excessos terão como coro-lário o fato de que não haverá mais risco do que as consequências prejudiciais, o que dará razão a todos aqueles que não enxergam mais risco do que os resultados negativos. A catás-trofe financeira do momento atual é uma pro-va evidente disso: inclusive, o senso comum havia sido esquecido e em nenhum momento ninguém se sentiu responsável pela manobra. Precisaremos de outras catástrofes para final-mente voltarmos a uma visão mais lúcida do Risk Management?

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www.fundacionmapfre.com.br

Instituto de Ação SocialContribuímos para a melhora das condições

econômicas, sociais e culturais das pessoas

e setores menos favorecidos da Sociedade.

Instituto de Ciências do SeguroPromovemos a formação e a pesquisa em

matérias relacionadas ao Seguro e ao Risco

Instituto de CulturaFomentamos a difusão da Cultura, as

Artes e as Letras e a divulgação de

conhecimentos com relação à História

comum da Espanha, de Portugal e

dos países vinculados a eles por laços

históricos.

Instituto de Prevenção, Saúde e Meio AmbientePromovemos a melhora da qualidade de

vida e do meio ambiente.

Instituto de Segurança ViáriaPromovemos atividades de educação viária

através de cursos, estudos de pesquisa,

campanhas de divulgação e distribuição de

materiais didáticos.

ATIVIDADES

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informeIL

LUST

RATI

ON S

TOCK

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A FUNDACIÓN MAPFRE apresenta, pelo

oitavo ano consecutivo, o ranking por volume

de prêmios dos 25 maiores grupos seguradores

da América Latina, relativos, nesta ocasião, ao

ano de 2009. Foram elaborados três rankings:

Total, Vida e Não Vida e a informação referente

aos seguradores locais e às multinacionais está

incluída separadamente.

América Latina2009

CENTRO DE ESTUDIOS FUNDACIÓN MAPFRE

RANKINGRANKINGde grupos seguradores na

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informe

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O MERCADO DE PRÊMIOS DA AMÉRICA LATINA AUMENTOU PARA 75,769 BILHÕES DE EUROS EM 2009, COM UM AUMENTO NOMINAL DE 10,7% EM COMPARAÇÃO A 2008

Depois de seis anos de crescimento eco-nômico, os países da América Latina e Caribe registraram em 2009 uma que-

da de 1,9% do PIB. O impacto da crise finan-ceira internacional foi sentido com intensida-de no final de 2008 e começo de 2009, embora fatores de caráter interno e externo tenham ajudado a acelerar o processo de recuperação a partir do terceiro trimestre do ano, a saber: a capacidade de ação contracíclica empregada por vários países da região, mediante a aplica-ção de políticas fiscais e monetárias; a conti-nuidade no dinamismo de certas economias asiáticas, cuja demanda de produtos da região favoreceu a melhora das exportações; e a recu-peração da economia dos Estados Unidos, que contribuiu para criar um cenário melhor para as economias do México e da América Central.

Os mercados seguradores da América La-tina continuaram mostrando sinais de força, com aumentos nominais no volume de prê-mios na moeda local em todos os países, exceto o Chile. Um ano depois, a revalorização expe-rimentada pelo euro frente a algumas das divi-sas locais não favoreceu a conversão em euros das entradas por prêmios da região. Nesse sen-tido, a desvalorização do peso mexicano frente ao euro foi um dos fatores que mais influen-ciaram em alguns dos movimentos produzi-dos no ranking. Por outro lado, a valorização do dólar americano frente ao euro produziu o efeito contrário em outros mercados, como o de Porto Rico, por exemplo.

O volume de prêmios da América Latina

cresceu para 75,769 bilhões de euros1 em 2009, com uma elevação nominal de 10,7% em com-paração a 2008. O que aconteceu nos princi-pais mercados seguradores da região pode ser resumido nos seguintes aspectos:

Na Argentina, os seguros Não Vida voltaram a ser o principal propulsor do desenvolvimento do mercado, destacando os aumentos dos ramos de Automóveis e Riscos de Trabalho.

O seguro de Vida VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), distribuído principalmente através do canal bancário, se confirma como o principal propulsor do crescimento do mercado brasileiro.

O setor segurador chileno experimentou uma retração por efeito da crise econômica, que foi especialmente sentida no seguro de Vida, que é o ramo principal, devido à queda na demanda de rendas vitalícias.

Na Colômbia, o principal propulsor do desenvolvimento do seguro foi o ramo de Vida.

O mercado segurador mexicano registrou uma aceleração em sua taxa de crescimento frente ao exercício anterior. A maior contribuição para o aumento procedeu do seguro de Não Vida.

O desenvolvimento do mercado segurador de Porto Rico foi impulsionado unicamente pelo Seguro de Saúde e, mais concretamente, pelo Programa Medicare, que recuperou o caminho do crescimento depois da parada do exercício anterior.

1Não inclui o Seguro de Saúde no Brasil, as Rendas Vitalícias e os seguros de aposentadoria complementar na Argentina e as Pensões no México.

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A taxa de crescimento do setor segurador venezuelano se manteve em níveis parecidos aos do exercício anterior. O aumento de 34,7% na moeda local em comparação com uma inflação de 25,1% deixa uma taxa positiva em termos reais. O crescimento do negócio aconteceu principalmente nos ramos de Automóveis e Saúde.

RANKING TOTAL

Os 10 maiores grupos seguradores na Améri-ca Latina em 2009 acumularam 29,2 bilhões de euros em prêmios, o que representa um cresci-mento de 17,1% em relação a seus ingressos do exercício anterior e superior aos 10,7% experi-mentado pelo setor. Tal aumento foi influencia-do pelo significativo aumento dos ingressos da MAPFRE, Liberty Mutual, Porto Seguro e Sul América no segmento Não Vida, e do Bradesco, Banco do Brasil, Santander e CNP no ramo de Vida. A concentração desses 10 grupos em re-lação ao ranking de 2008 aumentou 1,2 pontos percentuais, com uma clara dominação dos gru-pos brasileiros.

Os brasileiros Bradesco e Itaú/Unibanco con-2Não foi considerado o acordo com o Banco do Brasil, na época pendente de aprovação por parte da SUSEP.

tinuam liderando o ranking, ocupando a primeira e segunda posição, respectivamente. A quota de mercado do Bradesco sobe um décimo, até 7,7%, enquanto a do Itaú/Unibanco diminui um pou-co mais de um ponto, de 7,4% para 6,3%, como consequência de uma diminuição em prêmios de 5,8%. A MAPFRE2 se mantém em terceiro lugar, com um aumento de seis décimos em sua quota, e MetLife mantém a quarta posição, embora per-ca um pouco de quota.

A diminuição de prêmios do Itaú/Unibanco está relacionada com o aumento da Porto Segu-ro. Em agosto de 2009, ambas as empresas fir-maram um acordo para unificar seus negócios de seguros de Automóveis e de Residência. A associação foi implementada por meio de uma reorganização societária onde a Itaú/Unibanco transferiu para a Porto Seguro a totalidade de seus ativos e passivos relacionados com os tais seguros para uma nova empresa, a Itaú Seguros de Autos e Residência, controlada pela Porto Se-guro. Em contrapartida, a Porto Seguro emitiu ações que representam 30% de seu capital e que foram entregues à Itaú/Unibanco. Neste relató-rio os prêmios da nova empresa foram somados com os da Porto Seguro.

No caso da MAPFRE, todas as suas filiais, exceto as do Chile, México e Porto Rico, obti-veram importantes aumentos de seus ingressos, embora caiba destacar as da Venezuela e do Bra-sil por serem as empresas com maior volume de prêmios. Também influenciou positivamente a aliança estratégica que o grupo espanhol assinou com o Grupo Mundial, integrado pela entidade panamenha Aseguradora Mundial e suas filiais seguradoras da Costa Rica, Nicarágua, Hondu-ras, El Salvador e Guatemala.

As mudanças no ranking foram produzidas a partir do quinto lugar, com aumentos relevantes, como o do Banco do Brasil, graças ao aumen-to em prêmios de sua filial Brasilprev (participa

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informe

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RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMERICA LATINA 2009 TOTAL

Ranking2009 GRUPO PAÍS

Prêmios (em bilhões de euros)% ▲

Participação do mercado Ranking

20082008 2009 2009 %

1 BRADESCO SEGUROS BRASIL 5.203 5.834 12,1 7,7 1

2 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING BRASIL 5.035 4.741 -5,8 6,3 2

3 MAPFRE ESPANHA 3.490 4.284 22,7 5,7 3

4 METLIFE ESTADOS UNIDOS 2.509 2.527 0,7 3,3 4

5 BANCO DO BRASIL BRASIL 1.523 2.370 55,6 3,1 8

6 LIBERTY MUTUAL ESTADOS UNIDOS 1.839 2.317 26,0 3,1 5

7 SANTANDER ESPANHA 1.166 2.311 98,3 3,1 18

8 PORTO SEGURO BRASIL 1.565 1.858 18,7 2,5 6

9 CNP FRANÇA 1.311 1.527 16,5 2,0 13

10 SUL AMÉRICA BRASIL 1.348 1.489 10,4 2,0 11

11 G. NACIONAL PROVINCIAL MÉXICO 1.555 1.417 -8,9 1,9 7

12 TRIPLE-S PORTO RICO 1.229 1.411 14,8 1,9 14

13 AXA FRANÇA 1.480 1.393 -5,9 1,8 9

14 ZURICH SUIÇA 1.222 1.328 8,7 1,8 15

15 BBVA ESPANHA 1.377 1.278 -7,2 1,7 10

16 ALLIANZ ALEMANHA 1.343 1.267 -5,6 1,7 12

17 HSBC REINO UNIDO 1.084 1.216 12,1 1,6 20

18 AIG ESTADOS UNIDOS 1.205 1.213 0,6 1,6 16

19 GENERALI ITÁLIA 1.111 1.146 3,1 1,5 19

20 INBURSA MÉXICO 682 1.143 67,7 1,5 24

21 MCS ESTADOS UNIDOS 895 1.112 24,2 1,5 21

22 MMM HEALTHCARE ESTADOS UNIDOS 745 947 27,1 1,3 23

23 MERCANTIL VENEZUELA 645 936 45,1 1,2 –

24 SURAMÉRICA COLÔMBIA 811 805 -0,7 1,1 22

25 LA PREVISORA VENEZUELA 662 790 19,3 1,0 –

Total 10 primeiros 24.989 29.259 17,1 38,6

Total 25 primeiros 41.036 46.660 13,7 61,6

Total Setor 68.430 75.769 10,7 100

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também o grupo Principal); o da Santander Segu-ros, depois da aquisição de 50% da brasileira Real Tokio Marine Vida e Previdência; e o da CNP, graças ao crescimento de sua filial brasileira.

Em relação às novas incorporações, me-rece destaque a entrada dos grupos venezue-lanos Mercantil e La Previsora em substitui-ção ao japonês Tokio Marine e ao americano ACE. No caso do grupo japonês, sua saída se deve à venda da participação de 50% no capi-tal da Real Tokio Marine Vida e Previdência ao grupo Santander, que com essa operação controla 100% da empresa. O banco espa-nhol adquiriu indiretamente a participação de 50% nesta entidade quando, em 2007, fi-cou com o negócio brasileiro da ABN Amro, o que implicava na aquisição do Banco Real. No que diz respeito à companhia america-na ACE, seus ingressos diminuíram ligeira-mente no Brasil e no México como efeito da desvalorização do peso mexicano e do real frente ao euro.

No total, o volume de prêmios dos 25 grupos que compõem o ranking 2009 au-mentou para 46,66 bilhões de euros, frente aos 41,036 bilhões de euros acumulados pe-los grupos que faziam parte do ranking 2008.

De maneira geral, podemos destacar os seguintes aspectos:

Forte influência do mercado brasileiro no posicionamento dos grupos e clara dominação dos grupos banco-seguradores desse país.

Efeito negativo da desvalorização do peso mexicano frente ao euro. Como exceção, convém mencionar o extraordinário crescimento do grupo Inbursa, o que se explica pela renovação da apólice no ramo de Danos de Petróleos Mexicanos, realizada em fevereiro de 2009 e com uma vigência de dois anos.

O notável aumento do volume de prêmios na Venezuela propiciou a entrada no ranking de dois grupos desse país. É preciso destacar o peso crescente no setor

O VOLUME DE PRÊMIOS DOS 25 GRUPOS QUE COMPÕEM O RANKING 2009 AUMENTOU PARA 46,6 BILHÕES DE EUROS EM RELAÇÃO AOS 41,5 BILHÕES DE EUROS QUE OS GRUPOS ACUMULARAM NO RANKING DO ANO ANTERIOR

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informe

do Estado venezuelano como segurador, através das empresas Horizonte e La Previsora (da qual assumiu o controle em 2009), e como segurado, pelo elevado volume de seguros contratados por empresas do setor público, especialmente no negócio coletivo de Saúde.

RANKING NÃO VIDA

Os 25 maiores grupos seguradores do se-tor Não Vida na América Latina acumularam cerca de 25 bilhões de euros em prêmios em 2009, o que representa um aumento de 10,8% sobre os ingressos obtidos no ano anterior. Não obstante, a quota de mercado desses 25 grupos diminuiu seis décimos se comparada ao ranking de 2008. A desvalorização do peso mexicano frente ao euro e o importante cres-cimento do mercado segurador venezuelano, sobretudo nos ramos de Automóveis e Saúde, são alguns dos fatores que influenciaram na evolução dos diferentes grupos e seu posicio-namento no ranking.

Depois de ter obtido um crescimento de 26,3%, a MAPFRE continua como líder no ranking Não Vida e acumula 7,9% dos prê-mios deste segmento, um décimo a mais do que no exercício anterior. Como já comenta-do, contribuiu para esse resultado o significa-tivo aumento dos prêmios de suas filiais e o fato de haver incluído os ingressos do Grupo Mundial, em virtude do acordo firmado no final de 2009 por ambos os grupos.

O grupo Liberty obteve um importante cres-cimento de prêmios na Venezuela, seu princi-pal mercado na Iberoamérica, e sobe da terceira para a segunda posição. O acordo firmado entre a Itaú/Unibanco e a Porto Seguro, já mencio-ado anteriormente, propiciou o crescimento da Porto Seguro para o terceiro lugar e a que-da da Itaú/Unibanco para o quarto lugar. Os brasileiros Bradesco e Sul América se mantêm na quinta e sexta posições, respectivamente. O maior crescimento foi o do mexicano Inbursa, oito posições, devido à renovação, em 2009, da apólice da Petróleos Mexicanos.

OS 25 MAIORES GRUPOS SEGURADORES DO SETOR NÃO VIDA NA AMÉRICA LATINA ACUMULARAM CERCA DE 25 BILHÕES DE EUROS EM PRÊMIOS EM 2009, COM UM AUMENTO DE 10% SOBRE OS INGRESSOS OBTIDOS NO ANO ANTERIOR

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RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMÉRICA LATINA 2009NÃO VIDA

Ranking2009 GRUPO PAÍS

Prêmios (em bilhões de euros)% ▲

Participação do mercado Ranking

20082008 2009 2009 %

1 MAPFRE ESPANHA 2.669 3.371 26,3 7,9 1

2 LIBERTY MUTUAL ESTADOS UNIDOS 1.759 2.238 27,2 5,2 3

3 PORTO SEGURO BRASIL 1.462 1.752 19,8 4,1 4

4 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING BRASIL 2.224 1.728 -22,3 4,0 2

5 BRADESCO SEGUROS BRASIL 1.356 1.435 5,8 3,3 5

6 SUL AMÉRICA BRASIL 1.191 1.338 12,4 3,1 6

7 ALLIANZ ALEMANHA 1.018 1.101 8,1 2,6 9

8 AXA FRANÇA 1.148 1.062 -7,5 2,5 7

9 ZURICH SUIÇA 881 956 8,5 2,2 10

10 MERCANTIL VENEZUELA 628 912 45,4 2,1 14

11 G. NACIONAL PROVINCIAL MÉXICO 1.037 912 -12,1 2,1 8

12 INBURSA MÉXICO 451 864 91,6 2,0 20

13 GENERALI ITÁLIA 721 846 17,3 2,0 12

14 AIG ESTADOS UNIDOS 860 809 -6,0 1,9 11

15 LA PREVISORA VENEZUELA 655 781 19,2 1,8 13

16 G. MULTINACIONAL VENEZUELA 503 631 25,4 1,5 19

17 RSA REINO UNIDO 611 609 -0,3 1,4 15

18 ACE ESTADOS UNIDOS 580 553 -4,8 1,3 16

19 HDI ALEMANHA 420 526 25,1 1,2 21

20 QUÁLITAS MÉXICO 559 467 -16,4 1,1 18

21 SANCOR ARGENTINA 308 415 34,7 1,0 –

22 CNP ASSURANCES FRANÇA 363 405 11,7 0,9 24

23 BBVA ESPANHA 381 389 2,0 0,9 22

24 BANCO DO BRASIL BRASIL 296 388 31,0 0,9 –

25 HSBC REINO UNIDO 376 387 2,9 0,9 23

Total 10 primeiros 14.337 15.894 10,9 37,1

Total 25 primeiros 22.460 24.875 10,8 58,0

Total Setor 38.837 42.889 10,4 100

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informe

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RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMÉRICA LATINA 2009VIDA

Ranking2009 GRUPO PAÍS

Prêmios (em bilhões de euros)% ▲

Participação do mercado Ranking

20082008 2009 2009 %

1 BRADESCO SEGUROS BRASIL 3.846 4.399 14,4 13,4 1

2 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING BRASIL 2.811 3.013 7,2 9,2 2

3 METLIFE ESTADOS UNIDOS 2.205 2.235 1,3 6,8 3

4 BANCO DO BRASIL BRASIL 1.227 1.982 61,5 6,0 4

5 SANTANDER ESPANHA 903 1.974 118,6 6,0 8

6 TRIPLE-S PORTO RICO 1.114 1.294 16,1 3,9 5

7 CNP ASSURANCES FRANÇA 948 1.122 18,4 3,4 7

8 MCS ESTADOS UNIDOS 895 1.112 24,2 3,4 9

9 MMM HEALTHCARE ESTADOS UNIDOS 745 947 27,1 2,9 11

10 MAPFRE ESPANHA 821 913 11,2 2,8 10

11 BBVA ESPANHA 996 889 -10,7 2,7 6

12 HSBC REINO UNIDO 708 829 17,1 2,5 12

13 G. NACIONAL PROVINCIAL MÉXICO 518 505 -2,6 1,5 14

14 SURAMERICANA COLÔMBIA 516 488 -5,4 1,5 15

15 HUMANA ESTADOS UNIDOS 456 483 6,0 1,5 17

16 NEW YORK LIFE ESTADOS UNIDOS 433 473 9,1 1,4 18

17 AIG ESTADOS UNIDOS 345 404 17,1 1,2 21

18 PMC MEDICARE CHOICE PORTO RICO 289 386 33,9 1,2 –

19 BANAMEX MÉXICO 355 375 5,7 1,1 20

20 FIRST MEDICAL H. PLAN ESTADOS UNIDOS 355 373 11,2 1,1 23

21 ZURICH SUIÇA 341 372 9,1 1,1 22

22 AXA FRANÇA 332 331 -0,4 1,0 24

23 GENERALI ITÁLIA 390 300 -23,2 0,9 19

24 BOLÍVAR COLÔMBIA 245 292 18,9 0,9 –

25 ING HOLANDA 476 286 -39,9 0,9 16

Total 10 primeiros 15.516 18.990 22,4 57,8

Total 25 primeiros 22.252 25.776 15,8 78,4

Total Setor 29.593 32.880 11,1 100

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Finalmente, como novidade, é preciso desta-car que se realizaram duas novas incorporações, as da Sancor e do Banco do Brasil, e as saídas da Tokio Marine e Chubb.

RANKING VIDA

Os 25 grupos seguradores que compõem o ranking de Vida 2009 aumentaram seus ingressos em 15,8% e acumulam 78,4% dos prêmios de Vida da região, o que representa um aumento de cerca de dois pontos quando comparado ao ranking de 2008. A concentração dos 10 primeiros grupos au-mentou mais de quatro pontos.

As quatro primeiras posições do ranking não mudaram quando comparadas com o exercício anterior, com Bradesco na primeira posição, se-guido por Itaú/Unibanco, MetLife e Banco do Brasil. A quota aumenta no caso do Bradesco e do Banco do Brasil e diminui nos outros dois grupos. Depois de completar sua participação na compa-nhia Real Tokio Marine Vida e Previdência, o gru-po Santander sobe três posições na classificação e fica em quinto lugar. No que diz respeito aos ou-tros dois grupos espanhóis, a MAPFRE continua ocupando a décima posição com a mesma quota de mercado e o BBVA, que teve uma diminuição de 10,7% nos prêmios de Vida e desce do sexto para o décimo primeiro lugar.

As seguradoras que operam em Porto Rico, em sua maioria filiais de grupos americanos, me-lhoraram suas posições graças ao crescimento do ramo de Saúde3. A seguradora Triple S adquiriu o negócio de Saúde da La Cruz Azul de Porto Rico e

OS 25 GRUPOS SEGURADORES QUE COMPÕEM O RANKING DE VIDA 2009 AUMENTARAM SEUS INGRESSOS EM 15,8% EM COMPARAÇÃO COM O ANO ANTERIOR E ACUMULAM 78,4% DOS PRÊMIOS DE VIDA DA REGIÃO

3 Os principais seguradores do ramo de Vida e Saúde em Porto Rico são em sua maioria seguradores de Saúde.

a Cooperativa de Seguros de Vida passou sua car-teira de seguros de Saúde para a empresa MCS.

Por outro lado, Generali e ING registraram uma importante queda em seus ingressos devi-do, no caso do grupo italiano, à diminuição em prêmios de Vida de sua filial mexicana, princi-palmente nos produtos de prêmio único distri-buídos pelo canal bancário, os mais afetados pela instabilidade dos mercados financeiros. No caso da ING, o motivo está relacionado com a venda da carteira de rendas vitalícias no Chile.

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informe

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RANKING DE GRUPOS SEGURADORES LOCAIS NA AMÉRICA LATINA 2009TOTAL

Ranking2009 GRUPO PAÍS

Prêmios (em bilhões de euros)% ▲

Participação do mercado Ranking

20082008 2009 2009 %

1 BRADESCO SEGUROS BRASIL 5.203 5.834 12,1 7,7 1

2 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING BRASIL 5.035 4.741 -5,8 6,3 2

3 BANCO DO BRASIL BRASIL 1.523 2.370 55,6 3,1 5

4 PORTO SEGURO BRASIL 1.565 1.858 18,7 2,5 3

5 SUL AMÉRICA BRASIL 1.348 1.489 10,4 2,0 6

6 G. NACIONAL PROVINCIAL MÉXICO 1.555 1.417 -8,9 1,9 4

7 TRIPLE-S PORTO RICO 1.229 1.411 14,8 1,9 7

8 SURAMERICANA COLÔMBIA 811 1.143 41,0 1,5 8

9 INBURSA MÉXICO 682 1.143 67,7 1,5 9

10 MERCANTIL VENEZUELA 645 936 45,1 1,2 –

Total 10 primeiros 19.596 22.343 14,0 29,5

Total 25 primeiros 68.430 75.769 10,7 100

RANKING DE GRUPOS LOCAIS E RANKING DE MULTINACIONAIS

Os cinco primeiros lugares da classificação de grupos locais são ocupados por seguradores brasi-leiros, principalmente banco-seguradores. O Bra-desco continua sendo o líder, recuperando quota de mercado em relação ao seu seguidor imedia-to, o Itaú/Unibanco. Como novidade, é preciso mencionar a incorporação do grupo venezuelano Mercantil substituindo a La Previsora.

A MAPFRE continua liderando a classifi-cação de multinacionais na América Latina, seguida da MetLife e Liberty. Em quarto lu-gar está o grupo Santander e outro espanhol, BBVA, situa-se no oitavo lugar. Depois da in-corporação do Santander e do HSBC, oito das 10 maiores multinacionais estabelecidas na re-gião são grupos europeus.

METODOLOGIA

Para a elaboração desta informação seguiu-se a mesma metodologia de anos anteriores. Os dados foram obtidos da informação publicada pelos Organismos de Controle de Seguros dos diferentes países e o volume de prêmios de cada grupo é a soma dos prêmios emitidos em

MAIS UM ANO A MAPFRE CONTINUA LIDERANDO A CLASSIFICAÇÃO DE MULTINACIONAIS SEGURADORAS NA AMÉRICA LATINA, SEGUIDA POR DUAS EMPRESAS AMERICANAS

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RANKING DE MULTINACIONAIS SEGURADORAS NA AMÉRICA LATINA 2009TOTAL

Ranking2009 GRUPO PAÍS

Prêmios (em bilhões de euros)% ▲

Participação do mercado Ranking

20082008 2009 2009 %

1 MAPFRE ESPANHA 3.490 4.284 22,7 5,7 1

2 METLIFE ESTADOS UNIDOS 2.509 2.527 0,7 3,3 2

3 LIBERTY MUTUAL ESTADOS UNIDOS 1.839 2.317 26,0 3,1 3

4 SANTANDER ESPANHA 1.166 2.311 98,3 3,1 –

5 CNP FRANÇA 1.311 1.527 16,5 2,0 7

6 AXA FRANÇA 1.480 1.393 -5,9 1,8 4

7 ZURICH SUÍÇA 1.222 1.328 8,7 1,8 8

8 BBVA ESPANHA 1.377 1.278 -7,2 1,7 5

9 ALLIANZ ALEMANHA 1.343 1.267 -5,6 1,7 6

10 HSBC REINO UNIDO 1.084 1.216 12,1 1,6 –

Total 10 primeiros 16.821 19.448 15,6 25,7

Total 25 primeiros 68.430 75.769 10,7 100

cada país. Para calcular os dados foram con-sideradas as fusões e aquisições ocorridas no exercício 2009.

É importante assinalar que, além de incluir a informação referente a 2009, foram atualiza-dos alguns dados correspondentes a 2008.

Também é importante destacar que no mo-mento de elaborar este tipo de estudo existe um complicador em função da diferente com-posição dos ramos Vida e Não Vida em cada um dos países. De modo geral, e sempre que possível, os ramos de Saúde e Acidentes fo-ram incluídos nos ramos Não Vida, mas este critério não pode ser aplicado, por exemplo, em Porto Rico, onde o ramo de Incapacidade (Saúde) é considerado um ramo de Vida. De fato, os maiores seguradores de Vida e Saúde de Porto Rico são principalmente de Saúde, estando alguns deles entre os 25 maiores gru-pos de Vida da América Latina.

Por outro lado, no Brasil não foram consi-deradas as contribuições de Previdência Priva-

da nem os prêmios do Seguro de Saúde – sob controle da Agência Nacional de Saúde Suple-mentar (ANS). Na Argentina não foram in-cluídas as Rendas Vitalícias e seguros de Apo-sentadoria complementar e, no México, foram excluídas as Pensões4.

Para a conversão em euros dos dados expressos em outras moedas foi utilizada a taxa de câmbio média de cada ano. As taxas de crescimento estão calculadas sobre os ingressos em euros.

Os rankings podem ser obtidos na seção de publicações eletrônicas do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE, no site www.fundacionmapfre.com/cienciasdelseguro.

4 Por esse motivo, e pelas diferenças na composição dos ramos Vida e Não Vida, o dado sobre o volume total de prêmios Vida e Não Vida deste estudo e o publicado pela FUNDACIÓN MAPFRE no relatório "El mercado asegurador iberoamericano" é diferente.

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 8 - 2 0 1 0

O terremoto do Chile, que teve seu epicentro em Maule, zona costeira da mais segunda maior cidade do país, alcançou uma intensidade de 8.8 na escala Richter.

A continuidade do

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catástrofecatástrofe

CÉSAR LÓPEZ LÓPEZITSEMAP

O presente artigo descreve a natureza dos Planos de Con-

tinuidade de Negócio ou “Business Continuity Planning”

(BCP), uma ferramenta a serviço da empresa, cujo objetivo

é garantir a continuidade do negócio diante de um evento de

caráter catastrófico que a afete totalmente.

negócio no contexto da

Na edição passada desta publicação, Javier Navas nos falou sobre a impor-

tância do papel que a Gerência de Risco desempenha nas organiza-ções modernas como ferramenta para a minimização e estabilização no tempo de seu custo. Aproveitava o "cenário de fundo" oferecido pelo recente terremoto no Chile para ilustrar, de maneira geral, as boas práticas que esta disciplina oferece aos líderes empresariais.

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observatório de sinistros

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NOS EVENTOS CATASTRÓFICOS O CUSTO DOS DANOS SOBRE OS ATIVOS MATERIAIS DAS ORGANIZAÇÕES É MUITO INFERIOR AO OCASIONADO PELOS PREJUÍZOS POR PARALISAÇÃO DA ATIVIDADE

Sem mudar de cenário, e com um enfoque puramente prático, podemos aproveitar o desolador panorama que um sinistro catastrófico como o do Chile produz para analisar, através do conhecimento deta-lhado das consequências sobre a economia real das empresas, a chave para o controle de suas perdas.

Fazendo um exercício de simplificação na análise das consequências de um evento catastrófico para o setor em-presarial, podemos estabelecer que estas se concentram, prin-cipalmente, sobre:

Capital humano Ativos materiais Mercado/clientes:

ingressos por operação Custos adicionais de

exploração e comercialização Imagem da empresa.

Tradicionalmente, a principal preocupação de muitos empresá-rios em matéria de gerência de ris-cos tem se concentrado na proteção dos ativos materiais da empresa, deixando em um segundo plano a continuação de sua atividade.

A realidade "crua" nos mostra, quase sistematicamente, como em eventos de caráter catastrófico o custo dos danos sobre os ativos ma-teriais das organizações é, em geral, muito inferior ao ocasionado pelos prejuízos por paralisação de sua ati-vidade. Prejuízos esses que se mate-rializam não apenas na diminuição de ingressos durante longos perí-odos de tempo (meses, e inclusive anos, necessários para realizar os re-paros), mas também no grave risco de perda de mercado não recuperá-vel no atual ambiente competitivo e, consequentemente, na destruição do valor das organizações.

Apesar de transcorridos vários meses desde o terremoto do último dia 27 de fevereiro, são muitos (a maioria) os sinistros graves e com-plexos nos quais ainda nos encon-tramos em um estágio prematuro de resolução (liquidação e encerra-mento em termos puramente segu-

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OS DANOS DE UMA CATÁSTROFE EM UMA EMPRESA SE CONCENTRAM NO CAPITAL HUMANO, NOS ATIVOS MATERIAIS, NOS CLIENTES E NA IMAGEM DA EMPRESA

radores). Essa circunstância faz com que tenhamos que nos referir "se-miquantitativamente" a dois sinis-tros, modelos representativos dessa

generalidade. Um afetando instala-ções de titularidade pública, e outro, instalações de um grupo industrial multinacional de primeiro nível.

Para mero efeito de descrição, os dados a seguir poderiam ser re-presentativos de ambos os sinistros “modelo”.

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observatório de sinistros

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SERVIÇO DE TITULARIDADE PÚBLICA E GESTÃO PRIVADA COM CONCESSÃODANOS EM INFRAESTRUTURA DE COMUNICAÇÃO(ESTRADAS, PONTES, VIADUTOS, ETC.)

Breve descrição dos danosDanos em dezenas de quilômetros, com:

Afundamento-movimento em terraplenagem. Danos em camadas de rodagem, binder, bases

e sub-bases. Pontes; colapso total ou parcial de estruturas,

movimentação de placas, etc. Perda de pedágios. Interrupção de conectividade/serviço.

Estimativa do custo de danos (ordem magnitude) Danos materiais > 120 milhões de dólares Prejuízo por paralisação > 20 milhões de dólares

GRUPO INDUSTRIAL MULTINACIONALDANOS EM PLANTA FABRIL

Breve descrição de danos Danos em estrutura de suporte de caldeira. Perda de produção consequencial.

Estimativa do custo de danos (ordem de magnitude) Danos materiais > 50 milhões de dólares Prejuízo paralisação > 200 milhões de dólares

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OS PLANOS DE CONTINUIDADE DE NEGÓCIO IDENTIFICAM A EXPOSIÇÃO A AMEAÇAS INTERNAS, SELECIONAM OS ATIVOS AFETADOS E DESESENVOLVEM UMA PREVENÇÃO EFICAZ PARA RECUPERAR A ATIVIDADE EMPRESARIAL

Ante as principais magnitudes econômicas expostas em cada caso, poderíamos pensar que os danos consequenciais em instalações de natureza pública têm menor rele-vância do que no caso de empresas privadas. A realidade é bem diferen-te, pois, no primeiro caso, boa par-te do prejuízo por paralisação não é contabilizado nos balanços e em contas de resultado da Administra-ção correspondente, mas é assumi-do diretamente pela sociedade em seu conjunto, seja na forma de fal-ta ou carência no serviço recebido, bem como custos adicionais que os cidadãos e empresas individualmen-te suportam. Assim, poderíamos nos perguntar: quanto valem as mi-lhares de horas de trabalho perdidas durante meses nos longos engarra-famentos que uma via de comunica-ção principal destruída acarreta?

Se estes dois exemplos ilustram uma generalidade de sinistros catas-tróficos, a pergunta que podemos nos fazer é: o que fazer para garantir a continuidade de nossa atividade após impactos dessa grande magnitude?

A solução existe: os Planos de Continuidade de Negócio, conheci-dos como BCP (Business Continuity Planning). Com esses planos, as or-ganizações identificam sua exposi-ção às ameaças internas e externas, selecionam os ativos afetados (ma-teriais e imateriais) e desenvolvem uma prevenção eficaz, estabelecen-do ações contingentes para a rápida recuperação da atividade da organi-zação. E sempre o fazem com o ob-jetivo último de preservar sua vanta-gem competitiva e a integridade de seu sistema de valor.

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observatório de sinistros

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A fase inicial de um BCP é a constatação dos possíveis impactos no negócio. A organização deverá analisar todos os pontos críticos de seu processo de produção ou serviço nos quais centrar o BCP. Serão estabelecidos indicadores que serão o ponto de partida do plano e informarão sobre o grau de resposta que este oferece.

É necessária uma exaustiva avaliação de riscos que inclua tanto aqueles acidentes e eventos cuja materialização possa implicar no desaparecimento do negócio, como outros que perturbem gravemente seu desenvolvimento normal.

Quando ocorre uma emergência, a resposta inicial é a ativação dos diferentes planos de emergência (PE) da atividade. É necessário, portanto, estabelecer a linha da fronteira entre o BCP e os PE, definindo em que

momento a continuidade do negócio pode correr perigo e o BCP deve ser ativado.

Os PE e o BCP podem ser realizados simultaneamente, e, embora estejam inter-relacionados, correspondem a fases diferentes da emergência e implicam na atuação do pessoal e departamentos da organização próprios de cada plano.

Ante a imprevisível evolução de cada emergência/contingência, os BCPs não incluem, na maioria dos casos, pautas concretas de atuação, mas, sim, pautas de caráter geral. Isto implica em um conhecimento exaustivo do negócio por parte do pessoal envolvido no BCP, bem como

UMA GESTÃO ADEQUADA DE UMA SITUAÇÃO DE CRISE PODE REFORÇAR DE FORMA SIGNIFICATIVA O NEGÓCIO E DIFERENCIAR A EMPRESA FRENTE À CONCORRÊNCIA

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uma rápida capacidade de resposta. O plano de comunicações

deve ser concretizado como complemento do BCP ou como parte integrante do mesmo. Um plano de continuidade

de negócio é desativado quando a atividade já foi recuperada, o que pode durar desde horas até meses, em função do tipo de emergência/contingência; Os BCPs são indicados para

médias e grandes empresas que já dispõem de planos de emergência, mas necessitam de um Plano Diretor que estabeleça pautas de atuação que vão além de uma solução imediata para a emergência (PE).

O alcance de um BCP não está definido. Deve ser realizado com a participação de cada organização para delimitar qual o tipo de ameaças que será definido ou se contemplamos todas as possíveis ameaças ao negócio. Normalmente, são objetos do BCP os processos definidos como críticos na fase inicial de avaliação de impactos no negócio.Uma gestão adequada de uma

situação de crise pode reforçar o negócio e diferenciar a empresa ante a concorrência.

Infelizmente, apenas uma pe-quena parte das empresas (as gran-des corporações, e nem todas) se prepara para o que fazer no dia seguinte à catástrofe. Ainda é lon-go o caminho a ser percorrido para o projeto e a implantação massi-va dessa ferramenta estratégica de controle de perdas (BCP) nas orga-nizações. Ajudemos, desde as nos-sas posições, a reduzi-lo.

CONTINGÊNCIAS

PLANO DE COMUNICAÇÕES

PLANO DE CRISE PLANOS DE RECUPERAÇÃO DA ATIVIDADE

EmergênciaAutoproteção: Afeta

pessoas e instalações

Planos de Autoproteção

Locais

Planos de Emergências Ambientais

Locais

A contingência ultrapassa o âmbito

local?A contingência afeta

a contingência do negócio?

Planos deContingência

Falta de fornecimento elétrico

Danos à imagem

Produto defeituoso

Emergência IT

Avaria do maquinário

EmergênciaMeio ambiente: Afeta

o meio ambienteResto de

contingências

PLANOS DE RESPOSTA

PLAN DO CHECK ACT

ANTES

GERÊNCIA DE RISCOSINTERVENÇÃO

GESTÃO DE CONSEQUÊNCIAS

DEPOIS

IDENTIFICAÇÃO PLANOS DE RECUPERAÇÃO DA ATIVIDADE

- Ações a serem realizadas- Pessoal que deverá realizar as referidas atuações

MEIOS A SEREM UTILIZADOS:AVALIAÇÃO

ELIMINAÇÃOREDUÇÃO

RETENÇÃO TRANSFERÊNCIA

ELABORAÇÃO DE NOSSO SISTEMA DE GESTÃO DE PLANOS

IMPLANTAÇÃO E ATIVAÇÃO DOS PLANOS

REVISÃO DOS PLANOS

MANUTENÇÃO E MELHORAMENTO DOS PLANOS

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World Crop ReinsuranceC. PACKHAM Y N. RALPH(2010) Witherby Publishing Group336 páginasISBN 978-1-905331-96-3

Em um mundo de população crescente,

a demanda de alimento e energia é uma necessidade diária e inquietante que levou os governos a recuperarem a agricultura como pilar de desenvolvimento. A gestão de riscos dessa atividade, que é realizada ao ar livre e que, portanto, está permanentemente exposta às instabilidades climáticas e meteorológicas se apoia, de maneira importante, na disponibilidade de créditos bancários, desencadeando a necessidade e conveniência de proteção seguradora. A maior parte dos atores do resseguro agrícola participa deste livro, que esmiúça as particularidades de um ramo em ascensão, cuja gestão correta requer cuidadosa técnica seguradora e resseguradora. O livro detalha os perigo s que afetam os cultivos mais importantes, suas coberturas, além de analisar as possíveis modalidades de resseguro. Também relata a história e evolução dos mercados de seguro e resseguro agrícola mais bem-sucedidos na atualidade, de modo que os projetos que estão se iniciando nos países emergentes podem aproveitar essas experiências. Esta publicação é a primeira

How risky is it, really?: Why our fears don't always match the factsDAVID ROPEIKMcGraw-Hill, 2010280 páginasISBN 978-0-07-162969-0

Oespecialista internacional em risco David Ropeik

oferece nesta obra um olhar exaustivo à nossa percepção do risco e tenta explicar os fatores ocultos que fazem com que tenhamos medo desnecessário de algumas ameaças relativamente menores, e que não se perceba o perigo suficiente diante de riscos de maior envergadura.

livro

s

que reúne tal quantidade de informação atualizada sobre o setor, constituindo-se num manual básico para iniciar-se no seguro e resseguro agrícola.

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Rethinking risk management in fi nancial services: Practices from other domainsNew York : World Economic ForumEUA, cop. 201080 páginasDocumento eletrônico

Arecente crise financeira tornou evidente muitas

debilidades na forma de como gerenciar o risco dos serviços financeiros.

O Fórum Econômico Mundial, com o apoio do The Boston Consulting Group, lançou este relatório, que propõe um enfoque original para abordar as questões apresentadas pela crise financeira mediante a análise de sete domínios ou setores alheios ao âmbito dos serviços financeiros (a aviação, a pesca, a imunologia, o controle de doenças infecciosas, as farmacêuticas, as telecomunicações e a luta contra os incêndios florestais) na crença de que suas técnicas de gestão de riscos pudessem ser úteis para o mundo das finanças.

O relatório pretende destacar as potenciais vulnerabilidades e aumentar a preparação para controlar os possíveis eventos sistêmicos, cuidando de interiorizar as lições aprendidas pela experiência e procurando fazer as

O livro fornece informação suficiente para satisfazer a curiosidade "acadêmica", além de interessantes análise sobre como e porquê as pessoas entendem o risco da maneira que o fazem. Divide em 13 os fatores da percepção do risco, analisando porque acreditamos que algumas ameaças implicam maior perigo do que outras.

Esta publicação destaca o perigo que pode ser causado por uma avaliação equivocada do risco. Se nossa sensação de risco não corresponde à realidade, a tomada de decisão derivada possivelmente será errônea e produzirá, sem dúvida, riscos adicionais.

Uma compreensão correta do risco é o primeiro passo para uma tomada de decisão mais sábia e mais correta para nós mesmos como indivíduos e para a sociedade em seu conjunto.

melhorias necessárias para que o sistema financeiro mundial seja mais forte e mais capaz de conduzir as futuras crises.

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livros

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Los sistemas de salud en Latinoamérica y el papel del seguro privado ÚRSULA GIEDION / MANUELAVILLAR / ADRIANA ÁVILAMadri, FUNDACIÓN MAPFRE, 2010Cuaderno 155353 páginasISBN: 978-84-9844-220-5

A existência de diversos sistemas de proteção

da saúde dos cidadãos, de legislações aplicáveis, de iniciativas de saúde públicas e privadas, de mecanismos de financiamento dos serviços, aliados à crescente capacidade de acesso e ao crescente interesse da população, instituições e empresas seguradoras pelos serviços de saúde, incentivaram a realização deste trabalho.

A obra dedica um capítulo individual para cada país da América Latina. Apesar das relevantes diferenças entre uns e outros, o estudo descreve de maneira organizada e homogênea as principais características desses sistemas de saúde.

Consideramos que um dos aspectos de maior utilidade e interesse em cada capítulo

FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

está constituído pelo "Mapa del Sistema de Salud", que permite compreender em cada país os atores, fontes de financiamento e beneficiários dos diferentes serviços de saúde aos quais a população tem acesso, tanto na esfera estatal como na privada.

Com relação a esse "Mapa", estão quantificadas as principais magnitudes de recursos de saúde, descrevem-se os principais marcos na história do sistema de saúde, são expostas e comentadas as leis e o marco normativo que regulam esses sistemas, detalham-se os papéis de cada ator (instituições públicas, seguradoras e empresas fornecedoras e administradoras

de serviços) e se enumeram as fontes de financiamento que dão suporte ao sistema de saúde de cada país.

Cada capítulo é completado com uma interessante seção dedicada ao papel do seguro privado dentro do sistema de saúde e termina com um resumo sobre o papel dos microsseguros e as reformas legislativas em andamento.

Mais uma vez, esse novo estudo constitui um trabalho extremamente rigoroso e documentado. Os alunos e professores em gestão do setor de saúde agradecerão, bem como os profissionais do setor segurador e, de maneira concreta, aqueles cuja área de atuação se desenvolva na região latino-americana.

A leitura deste trabalho conduz à admiração pela variedade de soluções encontradas nessa região, em particular para a questão da saúde. Do outro lado, são mostradas as carências ainda existentes e o papel que as companhias de seguros podem desenvolver na busca de soluções voltadas para a melhora da qualidade de vida das pessoas.

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El Seguro de Crédito en ChileCARLOS MOLINA ZALDÍVARMadri, FUNDACIÓN MAPFRE, 2010Cuaderno 154145 páginasISBN: 978-84-9844-216-8

Este trabalho apresenta especial interesse, uma

vez que constitui uma análise interessante do Seguro de Crédito, considerando-se que estamos frente a um seguro muito especializado, com uma complexidade tanto técnica como jurídica, e onde a literatura e a legislação são muito escassas.

Assim, este livro contribuirá para o desenvolvimento do Seguro de Crédito não só no Chile, mas também nos diferentes países onde, de maneira incipiente, é intermediado este tipo de seguro, já que nele se faz uma análise tanto conceitual como dos elementos essenciais do Seguro de Crédito.

Também são tratadas as principais características desse tipo de seguro, abordando-se o princípio da máxima boa fé que deve imperar no contrato, bem como os efeitos do caráter de adesão do Seguro de Crédito e do acesso a ele.

Uma contribuição interessante é a análise que se faz tanto do risco coberto em um seguro de crédito como dos direitos e obrigações de que são titulares tanto o segurador como o segurado.

A seguir, faz uma correta análise da determinação do pagamento da indenização, bem como da impugnação da mesma, para concluir com as principais causas do término desse contrato de seguro.

Finalmente, são analisadas as diferentes fórmulas e métodos de solução de conflitos e controvérsias que podem surgir entre as partes com motivo da realização de um Seguro de Crédito.

El análisis fi nanciero dinámico como herramienta para el desarrollo de modelos internos en el marco de Solvencia IIPABLO DURÁN SANTOMILLUIS A. OTERO GONZÁLEZMadri, FUNDACIÓN MAPFRE, 2010Cuaderno 153555 páginasISBN: 978-84-9844-217-5

Anecessidade de medir o risco está despertando

um grande interesse por parte das companhias de seguros. O ambiente competitivo no qual se desenvolve a atividade e a entrada em vigor da Solvência impulsionaram a aplicação de modernas técnicas de avaliação do risco. Dentre estas, destaca-se particularmente a Análise Financeira Dinâmica (Dynamic Financial Analysis ou DFA). Sob esta denominação, estão reunidos os modelos de simulação estocástica do negócio segurador, que projetam os

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livros

fluxos de liquidez e os ativos e passivos das companhias seguradoras. A técnica DFA permite a análise integral do risco suportado por uma seguradora mediante a configuração de modelos internos, avaliando o impacto das diferentes decisões de negócio na solvência e na rentabilidade de uma companhia.

A recente aprovação da diretriz sobre a Solvência provocou o início, nos diferentes países da União Europeia, do processo de transposição para as normativas. A nova regulação das necessidades de capital das seguradoras europeias marcou o objetivo geral do presente trabalho, que consiste em analisar o processo de construção de modelos internos de medição do risco mediante análise financeira dinâmica. Neste sentido, na primeira parte, o trabalho explica a atual fórmula padrão para a determinação do capital, a técnica DFA e sua aplicação ao negócio segurador não vida. Posteriormente, são avaliados submodelos parciais alternativos para os diferentes riscos e comparados com o modelo padrão proposto. O trabalho termina com a apresentação de um modelo interno alternativo ao padrão.

Características sociodemográfi cas de las personas con una doble cobertura sanitaria. Un estudio empíricoJOSÉ MARÍA SARABIA ALEGRÍAMARTA PASCUAL SÁEZMadri, FUNDACIÓN MAPFRE, 2010Cuaderno 152161 páginasISBN: 978-84-9844-215-1

Na Espanha, estão sendo apresentados importantes

problemas relacionados tanto com o financiamento como com a eficiência e a equidade do sistema de saúde. O financiamento da saúde está integrado dentro do financiamento geral das comunidades autônomas. Assim, os seguros médicos privados se apresentam como alternativa e complemento do Sistema Nacional de Saúde. Por isso, uma porcentagem cada vez maior da população opta pela dupla cobertura de saúde.

O presente estudo aborda o conhecimento das características sócio-demográficas dos indivíduos que possuem dupla cobertura de saúde. A pesquisa se estrutura em um total de seis capítulos, uma introdução, uma seção de referências bibliográficas e um anexo de tabelas. No capítulo 1, são abordados alguns aspectos gerais relacionados à saúde da população. O capítulo 2 se centra nas características da dupla cobertura de saúde. A seguir, nos capítulos 3 e 4, são descritas, respectivamente, as principais fontes de informação utilizadas e a metodologia empregada. Tal metodologia inclui os modelos de regressão com discreta variável dependente, a análise discriminante, os modelos de dados de painel com efeitos fixos e aleatórios, além de uma fundamentação teórica baseada no modelo de Grossman. No capítulo 5, são detalhados os principais resultados obtidos. Finalmente, no capítulo 6, são apresentadas as conclusões mais relevantes do estudo.

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NOTÍCIAS

Em 18 de novembro de 2010, no hotel Eurobuil-

ding de Madri, foi realizada a XVI Jornada de Expectativas de Renovação dos Programas de Seguros para 2011, à qual compareceram mais de 200 diretores de Gerência de Ris-cos, empresas seguradoras e brokers.

Na cerimônia de abertu-ra, a mesa presidencial esteve composta pelo presidente da associação, Ignacio Martínez, e o secretário-geral, Gonzalo Iturmedi, que acompanhavam Eva Piera, vice-presidente de Economia e Fazenda da Co-

munidade Autônoma de Ma-dri. Em sua opinião, é vital controlar os riscos de maneira eficiente para que as empresas enfrentem com sucesso a situ-ação atual.

Esta já tradicional jorna-da do setor aconteceu em um ambiente de grande expectati-va ante a situação econômica geral e as possíveis tendências dos diferentes mercados.

Durante o evento, a Dire-toria Geral de Seguros passou uma mensagem de tranquili-dade aos presentes, destacan-do que o setor de seguros está fazendo bem o seu trabalho neste momento difícil para a economia.

XVI JORNADA DE EXPECTATIVAS DE RENOVAÇÃO DOS PROGRAMAS DE SEGUROS

A AGERS realizou em novembro a XVI Jornada de Expecta-tivas de Renovação dos Programas de Seguros para 2011, com a presença de boa parte do setor segurador. A jornada terminou com o primeiro Encon-tro de Gerentes de Riscos, que pro-duziu interessantes conclusões sobre a evolução do mer-cado.

Como reflexão da jornada, constatou-se que as expecta-tivas de renovação variam de-pendendo dos ramos, embora exista uma tônica geral de es-tabilidade e de algumas mu-danças de preços em função dos resultados das empresas. Nos últimos anos, o setor se-gurador espanhol reforçou sua solvência.

Na sessão da tarde ocor-reu o primeiro Encontro para Gerentes de Riscos e Seguros, com a participação de 17 ge-rentes de riscos representando os setores de logística e trans-porte, telecomunicações, ser-viços técnicos e de consulto-ria, alimentação, distribuição,

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infraestruturas, hotelaria, ad-ministração pública, indústria pesada e farmacêutica, que de-bateram sobre as renovações de seus programas de seguros.

Nesse fórum confirmou-se o que havia sido dito durante a manhã: em geral, o merca-do para todos os ramos conti-nua fraco e a competitividade, juntamente com os resultados técnicos, é a chave. Também foi analisada a relação direta entre as melhores práticas da Gerência de Riscos nas orga-nizações e a ótima transferên-cia ao mercado dos programas

de seguros, concordando os presentes que este aspecto é essencial e muito valorizado.

Durante o encontro tam-bém se falou sobre a impor-tância dos enfoques tailor made dos programas e os ser-viços de engenharia e controle de risco, que trazem valor aos gerentes de riscos no desen-volvimento de suas responsa-bilidades.

Por último, os gerentes de riscos debateram sobre suas preocupações e, entre outras questões, sobre as seguintes necessidades para melhorar a gestão dos riscos: aplicação das próprias experiências dos si-nistros na melhora das cober-turas; implementação de pla-nos de contingência para evitar prejuízos sem dano material,

bem como perdas pela inter-rupção da cadeia de forneci-mento e operações; aplicação da Gerência de Riscos aos pro-cessos de terceirização e quar-terização de empresas; consi-deração do novo cenário que se abre na responsabilidade ante a entrada em vigor da responsa-bilidade penal das pessoas jurí-dicas e, por último, o impacto da Solvência na concentração de companhias seguradoras e seu reflexo nos preços.

Por outro lado, no dia 30 de novembro se encerrou o prazo de apresentação para a II edição do Prêmio Interna-cional de Pesquisa em Geren-ciamento de Riscos Julio Sáez, no valor de 18.000 euros, cujo resultado será publicado antes do dia 31 de março de 2011.

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“Ao nos adequarmos, levamos a faixa de risco quase ao nível zero. O investimento se paga pela credibilidade”MICHAIL EANNIS PLATONJDIRETOR-EXECUTIVO DA STARNORT OFFSHORE

convivendoMergulho

caderno nacional

profissional:

com o perigo

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TEXTO: SUCENA SHKRADA RESK

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Uma atividade profissional inu-sitada e de alto risco, o mergu-lho comercial, é desenvolvida

no país desde a década de 60, e pode atin-gir a faixa de até 350m de profundidade, limite que poucos mergulhadores estão habilitados hoje no mundo. Esse perfil peculiar exige cada vez mais o aprimo-ramento dos itens de segurança, que envolve externalidades, como lidar com a área petrolífera e de gás. Um descuido no processo pode ser fatal para esse seg-mento que é considerado um dos mais perigosos, segundo a Organização Inter-nacional do Trabalho (OIT).

Michail Jeannis Platon, diretor-executi-vo da Starnort Offshore, empresa de mer-gulho há 10 anos em operação no mercado nacional, localizada em São Sebastião, no litoral Norte de São Paulo, considera que o rigor das normas técnicas de segurança é positivo ao setor porque exige que os em-presários realizem investimentos contínu-os para se manterem no mercado. “Ao nos adequarmos, levamos a faixa de risco quase ao nível zero. O investimento se paga pela credibilidade”, fala.

Para isso, há um hall de equipamentos simples a sofisticados, como embarcações de diferentes modalidades, contêineres à prova de explosão ou de controle de ope-rações de mergulho e câmaras hiperbáricas. “Além desse investimento, é importante qualificar o processo, com a adequação às normas certificadoras, como ISO 9001, 14001 e OHSAS 18001”, considera o em-presário. Mas o que não pode ser despreza-do, segundo ele, é a manutenção atualizada dos seguros e equipamento, além do trei-namento frequente dos profissionais, pois a falha humana é geralmente o principal motivo dos acidentes.

O setor subaquático apresenta hoje poucos centros de formação no país cre-denciados pela Diretoria de Portos e Cos-tas, da Marinha. Até julho de 2010 havia o cadastro de quatro unidades: o Serviço

NÚMERO DE EMPRESAS DE MERGULHO COMERCIAL COM CERTIFICADOS DE SEGURANÇA DE SISTEMA DE MERGULHO EM DIA NO BRASIL - 65

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Nacional de Aprendizagem Industrial em Macaé, o CETEC/Solda no Rio de Janei-ro; a Divers University em Santos/SP e o Vila-Sub no Espírito Santo, além do Cen-tro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché, da própria Marinha do Brasil. A maioria delas habilita ao mer-gulho raso com ar comprimido até 50m de profundidade.

Após a habilitação como mergulhador profissional, ainda é necessária a capacita-ção em funções específicas para poder inte-grar-se ao mercado. Entre elas estão o corte e a solda subaquática, a inspeção visual e a medição de espessura, entre outras.

UNIVERSO SELETOEstão em operação hoje, no país, apro-

ximadamente 65 empresas de mergulho comercial com certificados de segurança de sistema de mergulho em dia, valida-dos anualmente pela Diretoria de Portos e Costas (DPC) da Marinha do Brasil (constantes na página da DPC até 25 de julho). A maioria dos estabelecimentos fica localizada nos Estados do Espírito Santo (13), São Paulo (12) e Rio de Ja-neiro (11).

Quanto ao número de profissionais habilitados, estima-se que haja pelo me-nos 1.818 mergulhadores, de acordo com os dados registrados no Sistema de Gerenciamento de Aquaviários (SISA-QUA). A expectativa é que esse número cresça com a demanda de construções de plataformas marítimas no país, hidre-létricas e pontes, manutenção de dutos, pesquisas e investigação de naufrágios, entre outros.

Em um estudo realizado para tese de doutorado, entre 1997 e 2000, o engenhei-ro civil Marcelo Figueiredo, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), apurou que o número de mortes no seg-mento diminuiu nas últimas décadas. Na segunda metade dos anos 70 foram regis-

A MAIORIA LOCALIZADA NOS ESTADOS DO:

ESPÍRITO SANTO - 13SÃO PAULO - 12RIO DE JANEIRO - 11

PROFISSIONAIS HABILITADOS - 1.818

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trados cinco óbitos, oito nos anos 80 e um na década de 90. Mas, em contrapartida, o universo de profissionais que exercem a função no país é pequeno, sem considerar os dados sobre sequelas de acidentes regis-tradas no período.

LEGISLAÇÃO RÍGIDA A legislação do setor é rigorosa. As ati-

vidades subaquáticas no Brasil são regidas pelas Normas da Autoridade Marítima (NORMAM) nOS 13 e 15, estabelecidas pela DPC/Marinha e pela Norma Regula-mentadora 15 (NR 15) do Ministério do Trabalho sobre atividades insalubres.

A primeira legislação da Norma trata principalmente da definição da categoria e a segunda incorpora os principais quesitos de segurança, desde o cadastramento de empre-sas de mergulho no país e credenciamento de entidades para ministrar cursos de mergulho a sistemas de segurança, que envolvem a pre-paração e manutenção dos equipamentos, a treinamentos de emergência.

A NR 15 apresenta um quadro de exi-gências extenso, no qual estão fixados todos os procedimentos de segurança a partir dos requisitos médicos para habilitar a atuação em condições submersas. São inabilitados para exercer o mergulho, por exemplo, pes-soas em que sejam constatadas patologias relacionadas à epilepsia, meningite, tuber-culose, asma e qualquer doença pulmonar crônica incapacitante do aparelho locomo-tor. Ainda estão na lista de restrições distúr-bios gastrointestinais e alcoolismo crônicos e sífilis não-tratada.

O mergulhador profissional, por sua vez, deve manter o ‘seu’ Livro de Regis-tro do Mergulhador-LRM aprovado pela DPC. Para isso, tem de atualizá-lo, com seu histórico de atividades subaquáticas, com detalhes minuciosos, como a hora em que deixou e chegou à superfície e ao fun-do, entre outras.

“As empresas passam por auditorias

anuais realizadas pela instituição certifica-dora. Só assim é possível renovar a ficha de cadastro no DPV/Marinha”, explica Mi-chail Platon. O empresário e mergulhador explica que há, pelo menos, 10 itens essen-ciais que fazem parte da rotina de segurança para mergulhar.

“São os capacetes de mergulho, más-caras faciais, intercomunicadores entre o mergulhador e a equipe de superfície, cintos de resgate para içamento do mergu-lhador, facas, compressores principais e de emergência, além das câmeras hiperbáricas. Elas auxiliam no caso da necessidade de se fazer descompressão no seco, acima de 30m, ou em condições perigosas”, explica.

Em situações com maior risco de explo-

“UTILIZAMOS O CONTAINER DE OPERAÇÃO E CONTROLE DE MERGULHO, GERALMENTE EM TRABALHOS DE MANUTENÇÃO DE PLATAFORMAS PETROLÍFERAS, EM TERMINAIS E NAVIOS”, DIZ PLATON.

sões, o nível de investimento é ainda mais complexo. “Utilizamos o container de ope-ração e controle de mergulho geralmente em trabalhos de manutenção de platafor-mas petrolíferas, em terminais e navios”, diz Platon.

Segundo a Norma nº 15, a análise de risco precedente a cada operação é funda-mental. A legislação determina que sejam avaliadas desde a limitação da vazão e volu-me do suprimento de mistura respiratória pelos equipamentos autônomos até a fami-liaridade da equipe com todo processo.

RISCOS À SAÚDE

Mais um aspecto importante exigido para a manutenção da atividade é que sejam

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providenciadas facilidades para tratamento de acidentes de mergulho. Além de reque-rer a presença da câmara hiperbárica no local, a empresa tem de se ater à disponibi-lidade efetiva de recursos para o transporte da pessoa acidentada e de pessoal médico. Os atestados de saúde ocupacional dos mergulhadores são semestrais.

As doenças relacionadas à atividade subaquática são geralmente causadas por problemas na pressurização. Podem ocor-rer quadros de hipotermia e de barotrauma de ouvido a corporal, este último causado por obstrução à livre movimentação do ar nos espaços aéreos do organismo, que pode ser incapacitante. A atividade também está associada a doenças descompressivas, que causam reações dermatológicas ou cardio-vasculares e até embolia traumática, que chega a resultar em danos neurológicos, motores e intelectuais permanentes.

Para manter a segurança de vida, o mer-gulhador não pode exceder o tempo supe-rior a quatro horas diárias submerso, in-cluindo o tempo relativo à descompressão. Ainda há fatores de riscos adicionais de ex-posição a condições perigosas ou especiais, como manuseio de explosivos e solda à ex-posição a correntezas, águas poluídas ou sem visibilidade, que têm de ser considerados.

No aspecto trabalhista, há uma série de cláusulas de exigências acordadas entre o Sintasa e o Sindicato das Empresas de Ope-rações de Veículos e Controle Remoto, Ati-vidades Subaquáticas e Afins (Siemasa), em acordo coletivo, que reforçam a gestão do risco, como destaca Michail Jeannis Platon.

Uma das principais é quanto à obriga-toriedade de seguro aos empregados, que deve cobrir casos de morte natural, aciden-

tal e invalidez permanente, total ou parcial, decorrente de acidente de, no mínimo, R$ 176.355,50 para morte natural e o dobro no caso de acidente ou invalidez permanente. O prêmio do seguro será de responsabili-dade do empregador.

“NA EMPRESA, TAMBÉM CAPACITAMOS NOSSOS FUNCIONÁRIOS. GERALMENTE OS INCIDENTES DE QUE TEMOS NOTÍCIA OCORREM POR DISTRAÇÃO OU FALTA DE TREINAMENTO CONSTANTE EM CERTOS EQUIPAMENTOS. MAS JÁ FOI A ÉPOCA DO MERGULHADOR QUERER SER SUPER-HERÓI, SEM TRABALHAR EM EQUIPE. MUITOS MORRERAM, POR CAUSA DISSO”.

No caso de acidente de trabalho, con-forme acordo coletivo, o valor da indeniza-ção será pago pelo empregador para fins de dedução de eventuais ações de responsabi-lidade civil.

RASTREAMENTO DE FALHASDe acordo com o presidente do Sin-

tasa, Edney Santos, no quesito segurança, a entidade identifica dois principais fato-res associados aos acidentes. “Um é a má formação profissional seguida do geren-ciamento e rigor excessivo por parte de contratantes na figura de seus fiscais no canteiro de obra”, afirma.

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Michail Jeannis Platon, diretor-executivo da Starnort Offshore, alerta que os treina-mentos devem ser contínuos. “Na empresa, também capacitamos nossos funcionários. Geralmente os incidentes de que temos no-tícia ocorrem por distração ou falta de treina-mento constante em certos equipamentos. Mas já foi a época do mergulhador querer ser super-herói, sem trabalhar em equipe. Mui-tos morreram por causa disso”, avalia.

“Entendemos que a formação está ainda muito aquém pelo que representa esse tipo de atividade e o próprio setor já pede me-lhorias no conteúdo”, afirma o presidente do Sintasa, Edney Santos.

Segundo o sindicalista, com o crescimen-to da atividade subaquática brasileira, existe a necessidade urgente de melhorias. “O Sintasa criou um grupo de trabalho com profissionais do setor e elaborou a proposta de adequação e a encaminhou para o Departamento de Saú-

O empresário da área náutica, Jeannis Michail Platon, 62 anos, (pai de Michail) registra 43 anos de história como mergulhador profissional especializado em naufrágios. Ele está há 50 anos no Brasil e, dessa trajetória, conta que aprendeu algumas lições nas profundezas do mar. “Uma das principais preocupações na atividade subaquática deve ser em relação à descompressão. Caso não seja feita adequadamente, pode gerar riscos de desmaios, labirintites embolias e formação de aneurismas”, explica.

MAIS DE 40 ANOS DE HISTÓRIAO mergulhador chegou

a atingir até 60m de profundidade em sua carreira. “Em naufrágios, dá uma sensação de esquecimento da rotina. Vemos tantas coisas que quase nos perdermos”, conta Platon.

O veterano ficou conhecido internacionalmente por dedicar 18 anos e mais de 350 mergulhos além de 40m de profundidade na exploração dos destroços do transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias. A embarcação naufragou na região de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, em 1916, quando seguia para Buenos

de e Segurança do Trabalho, em Brasília, com o objetivo de haver excelência e consequente redução de acidentes na atividade”, diz.

Aires, resultando na morte de cerca de 600 pessoas. O acidente é considerado o segundo maior do mundo, depois do Titanic. “No local havia duas correntes fortes que cruzavam sobre o naufrágio, o que dificultava as nossas incursões”, explica.

Dessa experiência, hoje podem ser encontradas mais de 1,5 mil peças do transatlântico, hoje expostas no Museu da Fundação Mar, dirigido por Platon, em São Sebastião. Relatos sobre essa e outras aventuras do veterano são descritas no livro Ilhabela – Seus Enigmas, de sua autoria, em sua 5ª edição, em 2009.

SUCENA RESK

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Câmara hiperbárica: compartimento vedado, que resiste à pressão e pode ser pressurizado com ar comprimido ou oxigênio puro, para auxiliar na recuperação do mergulhador.

Mergulho raso: realizado até a faixa de 50m de profundidade, em que o mergulhador utiliza ar comprimido com fonte de mistura respiratória pelo equipamento autônomo chamado aqualung ou dependente. Neste caso, ligado à superfície;

Mergulho profundo: acima de 50m, ocorre em operações que, além de misturas especiais como hélio e oxigênio, exige aparato de monitoramento dado por supervisão de equipe em superfície.

Fonte: Sintasa

GLOSSÁRIO DO MERGULHO:“EM NAUFRÁGIOS, DÁ UMA SENSAÇÃO DE ESQUECIMENTO DA ROTINA. VEMOS TANTAS COISAS, QUE QUASE NOS PERDERMOS”, CONTA PLATON.

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SEGUROS MÚLTIPLOSO corretor Antonio Carlos Salgado,

da SRO Seguros, especializada em se-guros offshore e marítimo, explica que, neste mercado, a primeira preocupação está relacionada à capacitação e às nor-mas de procedimentos.

“O mergulhador tem um seguro de vida anual diferenciado, qualificado como de alto risco pela própria catego-ria. Nesse patamar também estariam pa-raquedistas, lutadores de boxes e atletas de esportes não-amadores”, diz.

O que difere das demais modalida-des é o alto custo. “É preciso preencher um questionário de atividades, as quais devem estar enquadradas em regras ba-seadas principalmente nas informações do sindicato. São precificadas de acordo com o grau de risco exposto à profundi-dade”, diz.

Mais um seguro para a atividade de mergulho é o de responsabilidade civil. “Pode cobrir desde erro humano, que cause um vazamento de um duto, explo-são, a perda de uma máquina submersa de bombeamento, até a geração de danos ambientais ou materiais de terceiros”, afirma o corretor.

A gestão do risco se torna mais com-plexa na área subaquática pois ainda en-volve a cobertura dos equipamentos de alto custo, como câmaras hiperbáricas e máscaras. “No mercado, não é um risco comum de aceitar e é exigida garantia de execução dos serviços da empresa, que apresenta um contrato dispondo o que vai fazer e responde a questionários so-bre as atividades. A seguradora verifica se está capacitado para tal, a fim de que avalie”, explica Salgado.

E, para completar o hall de cobertu-ras no setor, também existem os seguros de patrimônio e de transporte de equi-pamentos e de pessoal, tanto aquático como terrestre.

“O MERGULHADOR TEM UM SEGURO DE VIDA ANUAL DIFERENCIADO, QUALIFICADO COMO DE ALTO RISCO PELA PRÓPRIA CATEGORIA. NESSE PATAMAR TAMBÉM ESTARIAM PARAQUEDISTAS, LUTADORES DE BOXES E ATLETAS DE ESPORTES NÃO-AMADORES”Antonio Carlos Salgado, corretor da SRO Seguros

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