versalhes

85

Upload: natania-nogueira

Post on 24-May-2015

1.880 views

Category:

Education


2 download

DESCRIPTION

Apresentação sobre mangá e história. Valéria

TRANSCRIPT

Page 1: Versalhes
Page 2: Versalhes

Texto original: Texto original: http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/04-manga-valeria.pdf

Page 3: Versalhes

Desde seus primórdios, os quadrinhos se Desde seus primórdios, os quadrinhos se interessaram pela História.interessaram pela História.

Tomando emprestado o que José Rivair de Tomando emprestado o que José Rivair de Macedo escreve sobre o cinema, Macedo escreve sobre o cinema, defendemos que a HQ se defendemos que a HQ se “(...) constitui um “(...) constitui um veículo de promoção da memória social, é veículo de promoção da memória social, é um transmissor de consciência histórica.” um transmissor de consciência histórica.” (MACEDO, 2009: 13-14) São um discurso (MACEDO, 2009: 13-14) São um discurso histórico (produzido em determinado histórico (produzido em determinado contexto) e sobre a História. contexto) e sobre a História.

Page 4: Versalhes

Há vários exemplos de HQs que se Há vários exemplos de HQs que se consolidaram como ficção histórica, e até como consolidaram como ficção histórica, e até como concorrentes do discurso historiográfico.concorrentes do discurso historiográfico.

O artigo foi escrito para a revista História O artigo foi escrito para a revista História Imagem e Narrativa no ano de 2007, marcando Imagem e Narrativa no ano de 2007, marcando os 35 anos do mangá de Riyoko Ikeda.os 35 anos do mangá de Riyoko Ikeda.

Considero que, nesta obra, a autora não Considero que, nesta obra, a autora não somente dialoga com a História, mas com as somente dialoga com a História, mas com as demandas feministas. Por isso, A Rosa de demandas feministas. Por isso, A Rosa de Versalhes é um marco na cultura pop japonesa.Versalhes é um marco na cultura pop japonesa.

Page 5: Versalhes

O Japão tem o maior mercado de O Japão tem o maior mercado de quadrinhos do mundo. Cerca de 30% quadrinhos do mundo. Cerca de 30% do que se publica é mangá. (GRAVETT, do que se publica é mangá. (GRAVETT, 2006: 17) Mangá (2006: 17) Mangá ( 漫画 / まんがまんが ) é o ) é o nome dado aos quadrinhos japoneses.nome dado aos quadrinhos japoneses.

Page 6: Versalhes

No Japão, todos lêem quadrinhos desde No Japão, todos lêem quadrinhos desde crianças em alfabetização até adultos – crianças em alfabetização até adultos – homens e mulheres – com mais de 40 homens e mulheres – com mais de 40 anos.anos.

Os mangás saem em antologias com Os mangás saem em antologias com periodicidade e tamanho variados.periodicidade e tamanho variados.

Normalmente, os japoneses colecionam Normalmente, os japoneses colecionam suas histórias favoritas, que saem em suas histórias favoritas, que saem em encadernados com média de 150 páginas.encadernados com média de 150 páginas.

Page 7: Versalhes

No Japão, as idéias de Frederick Wertham No Japão, as idéias de Frederick Wertham não tiveram impacto. E os mangás não tiveram impacto. E os mangás abordavam toda a sorte de temáticas.abordavam toda a sorte de temáticas.

Outra singularidade é que no país há Outra singularidade é que no país há toda uma fatia do mercado de toda uma fatia do mercado de quadrinhos destinada às mulheres, o quadrinhos destinada às mulheres, o shoujo mangá (shoujo mangá ( 少女漫画少女漫画 , , shōjo manga)shōjo manga). . A autoria, em grande parte, também é A autoria, em grande parte, também é feminina. (FUJINO, 1997: 15-18)feminina. (FUJINO, 1997: 15-18)

Page 8: Versalhes

Exemplos de antologias de shoujo manga.Exemplos de antologias de shoujo manga.

Page 9: Versalhes

Segundo o antropólogo americano Matt Segundo o antropólogo americano Matt Thorn, mais da metade das mulheres Thorn, mais da metade das mulheres japonesas com menos de 40 anos lêem japonesas com menos de 40 anos lêem mangá e mais de três quartos das mangá e mais de três quartos das adolescentes lêem quadrinhos com adolescentes lêem quadrinhos com regularidade. Ainda segundo este autor, regularidade. Ainda segundo este autor, há cerca de 100 publicações de há cerca de 100 publicações de quadrinhos para o publico feminino em quadrinhos para o publico feminino em publicação no Japão atualmente. publicação no Japão atualmente. (THORN, (THORN, 2001)2001)

Page 10: Versalhes

““Nos anos 1940 e 1950 nos Estados Unidos havia Nos anos 1940 e 1950 nos Estados Unidos havia quadrinhos para meninas com títulos como Flaming quadrinhos para meninas com títulos como Flaming Love, Romantic Thrill, e Teenage Diary Secrets. Eles Love, Romantic Thrill, e Teenage Diary Secrets. Eles eram criados por homens, e tiveram vida curta. eram criados por homens, e tiveram vida curta. Quadrinhos como a Mulher Maravilha, populares Quadrinhos como a Mulher Maravilha, populares hoje, são extensão do fenômeno do super-herói hoje, são extensão do fenômeno do super-herói masculino, e muitos dos leitores são garotos.” masculino, e muitos dos leitores são garotos.” (SCHODT, 1983: 88)(SCHODT, 1983: 88)

Não há nada similar ao shoujo mangá no Não há nada similar ao shoujo mangá no Ocidente, onde HQs ficaram associadas Ocidente, onde HQs ficaram associadas às crianças ou ao sexo masculino.às crianças ou ao sexo masculino.

Page 11: Versalhes

Trina Robbins, em seu livro Trina Robbins, em seu livro The Great The Great Women Catoonists Women Catoonists (ROBBINS, 2001), aponta (ROBBINS, 2001), aponta que nos EUA houve um processo de exclusão que nos EUA houve um processo de exclusão das mulheres do mercado de comics que se das mulheres do mercado de comics que se acentuou com o fim da II Guerra Mundial. acentuou com o fim da II Guerra Mundial. (ROBBINS, 2001: 79-105.) (ROBBINS, 2001: 79-105.)

  No mesmo período, ocorreu o inverso no No mesmo período, ocorreu o inverso no Japão, as mulheres começaram a se tornar Japão, as mulheres começaram a se tornar quadrinistas e esta talvez seja a única quadrinistas e esta talvez seja a única profissão no Japão na qual as mulheres podem profissão no Japão na qual as mulheres podem ganhar salários maiores que os dos homens.ganhar salários maiores que os dos homens.

Page 12: Versalhes

Desde o final do século XIX, havia Desde o final do século XIX, havia revistas femininas no Japão que revistas femininas no Japão que traziam alguns quadrinhos, (FUJINO, traziam alguns quadrinhos, (FUJINO, 2002: 31-53) geralmente episódicos. As 2002: 31-53) geralmente episódicos. As gravuras dessas revistas se utilizavam gravuras dessas revistas se utilizavam de alguns signos visuais que marcam a de alguns signos visuais que marcam a estética do shoujo mangá como as estética do shoujo mangá como as figuras delgadas, os grandes olhos. figuras delgadas, os grandes olhos. (FUJINO, 2002: 70-71) (FUJINO, 2002: 70-71)

Page 13: Versalhes

O primeiro passo para o formato atual O primeiro passo para o formato atual se deu com a revista Shoujo Club (Clube se deu com a revista Shoujo Club (Clube das Meninas), fundada em 1923. das Meninas), fundada em 1923. (FUJINO, 2002: 51)(FUJINO, 2002: 51)

Se a estética já estava mais ou menos Se a estética já estava mais ou menos estruturada, coube Osamu Tezuka, criar estruturada, coube Osamu Tezuka, criar o shoujo mangá com a série o shoujo mangá com a série A Princesa A Princesa e o Cavaleiro (e o Cavaleiro (Ribon no Kishi – Ribon no Kishi – 1953-1956). 1953-1956). (SATO, 2007: (SATO, 2007: 128-129)128-129)

Page 14: Versalhes

Osamu Tezuka. A Princesa e o Cavaleiro, JBC, 2002. Capa da edição Osamu Tezuka. A Princesa e o Cavaleiro, JBC, 2002. Capa da edição brasileira.brasileira.

Page 15: Versalhes

A Princesa e o Cavaleiro é uma série de A Princesa e o Cavaleiro é uma série de fantasia que mostra a história de uma fantasia que mostra a história de uma princesa, que por erro de um anjo princesa, que por erro de um anjo recebeu dois corações, um de menina e recebeu dois corações, um de menina e outro de menino. A garota, chamada outro de menino. A garota, chamada Safiri, foi obrigada a viver como príncipe, Safiri, foi obrigada a viver como príncipe, pois só assim poderia reinar. Publicada pois só assim poderia reinar. Publicada pela primeira vez em 1953 na revista pela primeira vez em 1953 na revista Shoujo Club, a série foi um sucesso Shoujo Club, a série foi um sucesso imediato. imediato.

Page 16: Versalhes

A série inaugurou a discussão sobre papéis A série inaugurou a discussão sobre papéis de gênero e a força das convenções sociais. de gênero e a força das convenções sociais. Essas questões estão presentes no shoujo Essas questões estão presentes no shoujo mangá até os nossos dias. E são discussões mangá até os nossos dias. E são discussões feitas por Riyoko Ikeda na Rosa de Versalhes.feitas por Riyoko Ikeda na Rosa de Versalhes.

Mas os primeiros shoujo mangá eram Mas os primeiros shoujo mangá eram escritos e desenhados por homens. Havia escritos e desenhados por homens. Havia poucas mulheres na profissão, como poucas mulheres na profissão, como Mizuno Mizuno HidekoHideko, , Watanabe MasakoWatanabe Masako, , Maki MiyakoMaki Miyako e e Machiko HasegawaMachiko Hasegawa..

Page 17: Versalhes

Mas as meninas crescem, e os homens não Mas as meninas crescem, e os homens não estavam conseguindo dar conta das suas estavam conseguindo dar conta das suas demandas. As editoras temiam perder o seu demandas. As editoras temiam perder o seu público. Era necessário mulheres público. Era necessário mulheres quadrinistas.quadrinistas.

A mudança começou em 1966 com uma A mudança começou em 1966 com uma jovem de 16 anos chamada Machiko jovem de 16 anos chamada Machiko Satonaka que ganhou um concurso de Satonaka que ganhou um concurso de mangá e abriu caminho para uma nova mangá e abriu caminho para uma nova geração de mulheres quadrinistas.geração de mulheres quadrinistas.

Page 18: Versalhes

Satonaka definiu assim as suas motivações Satonaka definiu assim as suas motivações para se tornar autora de mangá: para se tornar autora de mangá: “Eu achava que “Eu achava que poderia fazer um trabalho melhor eu mesma, e que poderia fazer um trabalho melhor eu mesma, e que as mulheres eram mais capacitadas para entender o as mulheres eram mais capacitadas para entender o que as meninas queriam ler do que os homens. que as meninas queriam ler do que os homens. Desenhar quadrinhos era também uma forma de Desenhar quadrinhos era também uma forma de ganhar liberdade e independência sem ter que ficar ganhar liberdade e independência sem ter que ficar na escola por longos anos. Era alguma coisa que eu na escola por longos anos. Era alguma coisa que eu poderia fazer por mim mesma, era um tipo de poderia fazer por mim mesma, era um tipo de trabalho trabalho que permitia que as mulheres fossem que permitia que as mulheres fossem iguais aos homensiguais aos homens.” .” (SCHODT, 1983, p. 97) (SCHODT, 1983, p. 97) (Grifo meu) (Grifo meu)

Page 19: Versalhes

Arte de Machiko Satonaka.Arte de Machiko Satonaka.

Page 20: Versalhes

A entrada em massa das mulheres no A entrada em massa das mulheres no mercado de quadrinhos japoneses é fruto mercado de quadrinhos japoneses é fruto de vários fatores, mas aponta para uma de vários fatores, mas aponta para uma espécie de espécie de empowerment, empowerment, isto é, uma isto é, uma tomada de consciência de suas próprias tomada de consciência de suas próprias capacidades e da busca por um espaço capacidades e da busca por um espaço profissional que permitisse a igualdade com profissional que permitisse a igualdade com os homens. Tais questões não eram os homens. Tais questões não eram estranhas nos anos 60, eram bandeiras do estranhas nos anos 60, eram bandeiras do movimento feminista. (LOURO, 1997: 14-15)movimento feminista. (LOURO, 1997: 14-15)

Page 21: Versalhes

Riyoko Ikeda, autora da Rosa de Versalhes, Riyoko Ikeda, autora da Rosa de Versalhes, entrou no mercado no ano seguinte, 1967, entrou no mercado no ano seguinte, 1967, e tornou-se parte do grupo de quadrinistas, e tornou-se parte do grupo de quadrinistas, conhecido como conhecido como Nijûyonen GumiNijûyonen Gumi, grupo do , grupo do ano 24, ano 24, pois a maioria delas era nascida no pois a maioria delas era nascida no ano 24 da ano 24 da Era Showa, o nosso ano de 1949. Era Showa, o nosso ano de 1949. Essas autoras Essas autoras introduziram uma série de introduziram uma série de inovações nos shoujo mangá tanto no inovações nos shoujo mangá tanto no campo da estética, quanto no quadro de campo da estética, quanto no quadro de temáticas. (THORN, 2001)temáticas. (THORN, 2001)

Page 22: Versalhes

Arte de Hagio Moto (O Coração de Thomas) uma das autoras mais importantes do Arte de Hagio Moto (O Coração de Thomas) uma das autoras mais importantes do Nijûyonen Nijûyonen Gumi.Gumi.

Page 23: Versalhes

Temas como homossexualidade, gravidez Temas como homossexualidade, gravidez na adolescência, estupro, conflitos raciais, na adolescência, estupro, conflitos raciais, a lutas das mulheres por um lugar no a lutas das mulheres por um lugar no mundo público e no mercado de trabalho mundo público e no mercado de trabalho passaram a aparecer nos mangás para passaram a aparecer nos mangás para meninas.meninas.

Não havia fronteira e as ambientações iam Não havia fronteira e as ambientações iam desde o romance escolar até a ficção desde o romance escolar até a ficção científica, dramas históricos e quadrinhos científica, dramas históricos e quadrinhos de esporte.de esporte.

Page 24: Versalhes

Exemplo dos recursos Exemplo dos recursos dramático-narrativos dramático-narrativos presentes no mangá, presentes no mangá, A Rosa de Versalhes. A Rosa de Versalhes. A ênfase nas A ênfase nas emoções é visível na emoções é visível na arte. Outras autoras arte. Outras autoras se utilizaram de se utilizaram de inovações inovações semelhantes.semelhantes.

Page 25: Versalhes

Riyoko Ikeda inaugurou essa nova fase dos Riyoko Ikeda inaugurou essa nova fase dos shoujo mangá em 1972 com a publicação, shoujo mangá em 1972 com a publicação, na revista na revista MargaretMargaret, da A Rosa de Versalhes , da A Rosa de Versalhes ((Berusayiu no BaraBerusayiu no Bara), o primeiro shoujo ), o primeiro shoujo mangá com temática histórica. mangá com temática histórica.

Os editores temiam um fracasso, mas a Os editores temiam um fracasso, mas a série foi um hit instantâneo e persiste como série foi um hit instantâneo e persiste como referência, sendo utilizada em cursos referência, sendo utilizada em cursos universitários sobre mangá e cultura pop universitários sobre mangá e cultura pop japonesa no mundo inteiro.japonesa no mundo inteiro.

Page 26: Versalhes

Segundo a autora, ela seria uma das “rosas de Versalhes”. O título do mangá não Segundo a autora, ela seria uma das “rosas de Versalhes”. O título do mangá não foi compreendido.foi compreendido.

Page 27: Versalhes

A A Rosa de VersalhesRosa de Versalhes tinha como base a tinha como base a trágica história de Maria Antonieta, rainha da trágica história de Maria Antonieta, rainha da França. Esse foi o ponto de partida, no França. Esse foi o ponto de partida, no entanto, havia outra mulher na série, Oscar entanto, havia outra mulher na série, Oscar François, que terminou se tornando a François, que terminou se tornando a verdadeira “Rosa de Versalhes”. A verdadeira “Rosa de Versalhes”. A personagem, filha caçula do General de personagem, filha caçula do General de Jarjayes, que foi educada como homem para Jarjayes, que foi educada como homem para satisfazer as ansiedades do pai, satisfazer as ansiedades do pai, transformando-se em capitã da guarda da transformando-se em capitã da guarda da Rainha.Rainha.

Page 28: Versalhes

Oscar François, uma mulher comandante dos guardas reais.Oscar François, uma mulher comandante dos guardas reais.

Page 29: Versalhes

O tema da moça travestida de homem O tema da moça travestida de homem – por vontade própria, ou não – na – por vontade própria, ou não – na ficção ou mesmo na vida real, ficção ou mesmo na vida real, lembremos de nossa Maria Quitéria, lembremos de nossa Maria Quitéria, não é incomum e no início da série, que não é incomum e no início da série, que contou contou com 10 volumes.com 10 volumes.

A base da série foi a biografia de Maria A base da série foi a biografia de Maria Antonieta escrita por Antonieta escrita por Stefan Zweig. Stefan Zweig. Oscar mal aparece no primeiro volume.Oscar mal aparece no primeiro volume.

Page 30: Versalhes

Rapidamente Oscar ganhou Rapidamente Oscar ganhou popularidade entre as leitoras, é popularidade entre as leitoras, é fundado um fã-clube, as cartas se fundado um fã-clube, as cartas se multiplicam. Ela se torna a heroína da multiplicam. Ela se torna a heroína da série.série.

Oscar é uma mulher que serve Oscar é uma mulher que serve fielmente e protege sua senhora, fielmente e protege sua senhora, apesar de sofrer por amar o mesmo apesar de sofrer por amar o mesmo homem que a rainha, o Conde Fersen. homem que a rainha, o Conde Fersen.

Page 31: Versalhes

Com o tempo, Oscar acorda para a Com o tempo, Oscar acorda para a situação miserável de boa parte da situação miserável de boa parte da população francesa, trava contato com população francesa, trava contato com gente como Robespierre e Saint-Just. gente como Robespierre e Saint-Just.

Lê os iluministas mesmo contra a Lê os iluministas mesmo contra a vontade de seu pai. E, por fim, escolhe vontade de seu pai. E, por fim, escolhe se juntar aos revolucionários no 14 de se juntar aos revolucionários no 14 de julho.julho.

Page 32: Versalhes

Oscar luta para conseguir que os Oscar luta para conseguir que os homens que comanda reconheçam a sua homens que comanda reconheçam a sua competência, que não é somente um competência, que não é somente um bibelô, um capricho de um pai frustrado. bibelô, um capricho de um pai frustrado.

O interessante é que ao contrário de O interessante é que ao contrário de personagens que escondem sua personagens que escondem sua condição feminina, todos sabem que condição feminina, todos sabem que Oscar é uma mulher, e ela se comporta Oscar é uma mulher, e ela se comporta como um oficial como outro qualquer.como um oficial como outro qualquer.

Page 33: Versalhes

O fã clube de Oscar O fã clube de Oscar está presente no está presente no mangá em diversas mangá em diversas referências feitas pela referências feitas pela autora.autora.

Page 34: Versalhes

Uma matéria recente do New York Times Uma matéria recente do New York Times intitulada intitulada Tradição é obstáculo para Tradição é obstáculo para carreira das trabalhadoras japonesascarreira das trabalhadoras japonesas, , mostra um caso semelhante ao do quadrinho mostra um caso semelhante ao do quadrinho de Riyoko Ikeda. Eis o trecho da matéria:de Riyoko Ikeda. Eis o trecho da matéria:

““Takado Ariishi, 36, conheceu uma versão radical Takado Ariishi, 36, conheceu uma versão radical desse fenômeno ao crescer como a única filha do desse fenômeno ao crescer como a única filha do presidente da Daiya Seiki, a pequena fábrica da sua presidente da Daiya Seiki, a pequena fábrica da sua família que fornece peças para a Nissan. No início, o família que fornece peças para a Nissan. No início, o seu pai, desapontado, cortou o cabelo dela como o seu pai, desapontado, cortou o cabelo dela como o de um garoto (...) de um garoto (...)

Page 35: Versalhes

(...) e proibiu que ela brincasse com (...) e proibiu que ela brincasse com bonecas. Quando ela teve o primeiro filho, bonecas. Quando ela teve o primeiro filho, dez anos atrás, o pai a despediu da dez anos atrás, o pai a despediu da companhia e nomeou como seu sucessor o companhia e nomeou como seu sucessor o neto recém-nascido. Mesmo assim, Ariishi neto recém-nascido. Mesmo assim, Ariishi assumiu o cargo de presidente três anos assumiu o cargo de presidente três anos atrás, após a morte do pai (o filho dela era atrás, após a morte do pai (o filho dela era ainda muito novo). Ela afirma ser a única ainda muito novo). Ela afirma ser a única mulher em um grupo de cerca de 160 mulher em um grupo de cerca de 160 diretores de empresas fornecedoras da diretores de empresas fornecedoras da Nissan. (...)Nissan. (...)

Page 36: Versalhes

(...) A primeira vez em que Ariishi (...) A primeira vez em que Ariishi participou das reuniões bianuais do participou das reuniões bianuais do grupo, pediram que ela aguardasse em grupo, pediram que ela aguardasse em uma sala junto com as secretárias. uma sala junto com as secretárias. "Ainda tenho que provar o tempo todo "Ainda tenho que provar o tempo todo que uma mulher pode ser presidente", que uma mulher pode ser presidente", lamenta Ariishi, uma engenheira que no lamenta Ariishi, uma engenheira que no seu escritório usa o mesmo uniforme seu escritório usa o mesmo uniforme azul unissex dos operários.” (FACLER, azul unissex dos operários.” (FACLER, 2007)2007)

Page 37: Versalhes

Até que ponto Oscar é obra de ficção ou Até que ponto Oscar é obra de ficção ou retrata casos que a autora conheceu? retrata casos que a autora conheceu?

A Senhora Ariishi nasceu um ano antes A Senhora Ariishi nasceu um ano antes do início da quadrinização da Rosa de do início da quadrinização da Rosa de Versalhes e sua vida é muito próxima Versalhes e sua vida é muito próxima daquela da personagem de Riyoko Ikeda. daquela da personagem de Riyoko Ikeda.

Ela aproxima-se de Oscar na educação, Ela aproxima-se de Oscar na educação, nas imposições de papéis de gênero nas imposições de papéis de gênero masculinos. masculinos.

Page 38: Versalhes

Também a personagem de Ikeda terá que Também a personagem de Ikeda terá que resistir ao pai quando este se arrepende da resistir ao pai quando este se arrepende da criação que lhe deu e decide que ela deve criação que lhe deu e decide que ela deve passar por um reenquadramento, abrindo passar por um reenquadramento, abrindo mão da vida militar a abraçando o mão da vida militar a abraçando o casamento e a maternidade. casamento e a maternidade.

Oscar não se dobra e ela representa para Oscar não se dobra e ela representa para suas leitoras um modelo, alguém que se suas leitoras um modelo, alguém que se torna sujeito de sua própria História e lute torna sujeito de sua própria História e lute por um lugar no “mundo dos homens”. por um lugar no “mundo dos homens”.

Page 39: Versalhes
Page 40: Versalhes
Page 41: Versalhes

Oscar luta para conseguir que os Oscar luta para conseguir que os homens que comanda reconheçam a sua homens que comanda reconheçam a sua competência, que não é somente um competência, que não é somente um bibelô, um capricho de um pai frustrado. bibelô, um capricho de um pai frustrado.

O interessante é que ao contrário de O interessante é que ao contrário de personagens que escondem sua personagens que escondem sua condição feminina, todos sabem que condição feminina, todos sabem que Oscar é uma mulher, e ela se comporta Oscar é uma mulher, e ela se comporta como um oficial como outro qualquer.como um oficial como outro qualquer.

Page 42: Versalhes

Já Maria Antonieta é apresentada na série Já Maria Antonieta é apresentada na série como alguém que está prisioneira de um como alguém que está prisioneira de um papel que lhe conduz a um fim trágico.papel que lhe conduz a um fim trágico.

Page 43: Versalhes

Quando falamos de “gênero” estamos nos remetendo a categoria criada Quando falamos de “gênero” estamos nos remetendo a categoria criada pelas teóricas feministas e, em especial, Joan Scott que afirma que pelas teóricas feministas e, em especial, Joan Scott que afirma que gênero é um saber que produzido gênero é um saber que produzido “(...) pelas culturas e sociedades “(...) pelas culturas e sociedades sobre as relações humanas, no caso, relações entre homens e mulheres. sobre as relações humanas, no caso, relações entre homens e mulheres. (...) O saber é um modo de ordenar o mundo e, como tal, não antecede (...) O saber é um modo de ordenar o mundo e, como tal, não antecede a organização social, mas é inseparável dela.” a organização social, mas é inseparável dela.” (SCOTT, 1994: 12)(SCOTT, 1994: 12)

Page 44: Versalhes

Como tal ele não é natural, verdadeiro, ou absoluto. É histórico e Como tal ele não é natural, verdadeiro, ou absoluto. É histórico e relacional, abarcando instituições, práticas cotidianas, tudo que constitui relacional, abarcando instituições, práticas cotidianas, tudo que constitui as relações sociais.as relações sociais.

Jane Flax acrescenta que o gênero é uma relação social prática e Jane Flax acrescenta que o gênero é uma relação social prática e devemos nos propor a fazer um exame daquilo que significa o “feminino” devemos nos propor a fazer um exame daquilo que significa o “feminino” e o “masculino” em uma determinada sociedade. (FLAX, 1991: 230)e o “masculino” em uma determinada sociedade. (FLAX, 1991: 230)

Page 45: Versalhes

Através do gênero Através do gênero “(...) dois tipos de pessoas são criadas” “(...) dois tipos de pessoas são criadas” e dessa construção e dessa construção histórico-social decorrem histórico-social decorrem “(...) divisões e atribuições diferenciadas e (por “(...) divisões e atribuições diferenciadas e (por enquanto) assimétricas de traços e capacidades humanas.” enquanto) assimétricas de traços e capacidades humanas.” (FLAX, 1991: 228). (FLAX, 1991: 228). Ikeda deixa bem claro através de Oscar que é o gênero que cria a diferença. Ikeda deixa bem claro através de Oscar que é o gênero que cria a diferença. Oscar tem um corpo feminino que, moldado por uma criação “masculina”, não Oscar tem um corpo feminino que, moldado por uma criação “masculina”, não a aprisiona como ocorre com outras mulheres.a aprisiona como ocorre com outras mulheres.

Page 46: Versalhes

Oscar não se vê como inferior a homem algum, nem aceita um papel passivo, Oscar não se vê como inferior a homem algum, nem aceita um papel passivo, nem se dobra à autoridade do pai porque é a tradição. Talvez por esses e nem se dobra à autoridade do pai porque é a tradição. Talvez por esses e outros motivos, as meninas passaram a admirar tanto a personagem, mas do outros motivos, as meninas passaram a admirar tanto a personagem, mas do que a figura de Antonieta, a heroína romântica e trágica.que a figura de Antonieta, a heroína romântica e trágica.

Ainda assim, a personagem “ama como uma mulher”, mas é um romance Ainda assim, a personagem “ama como uma mulher”, mas é um romance entre iguais.entre iguais.

Page 47: Versalhes

O corpo feminino de Oscar, moldado por comportamentos de gênero O corpo feminino de Oscar, moldado por comportamentos de gênero masculinos, não deixou de manifestar uma sexualidade feminina. masculinos, não deixou de manifestar uma sexualidade feminina.

Ikeda rompe assim com o sistema sexo-gênero que estava sendo Ikeda rompe assim com o sistema sexo-gênero que estava sendo discutido nos anos 70, abandona o binarismo e nos oferece a estrutura discutido nos anos 70, abandona o binarismo e nos oferece a estrutura que admite a relação entre sexo-gênero-sexualidade que se constroem e que admite a relação entre sexo-gênero-sexualidade que se constroem e se relacionam. (BENTO, 2003)se relacionam. (BENTO, 2003)

Page 48: Versalhes

Os papéis de gênero incorporados por Oscar, o fato de ter assumido uma Os papéis de gênero incorporados por Oscar, o fato de ter assumido uma identidade que em todos os sentidos é masculina, não a obriga a ter uma identidade que em todos os sentidos é masculina, não a obriga a ter uma sexualidade (desejo) homossexual.sexualidade (desejo) homossexual.

Na verdade, a autora flerta com a homossexualidade em vários momentos. Na verdade, a autora flerta com a homossexualidade em vários momentos. Mas o que oferece às leitoras é uma heroína andrógina que, assim como Mas o que oferece às leitoras é uma heroína andrógina que, assim como as atrizes do Takarazuka, formam um perfeito binômio masculino-feminino.as atrizes do Takarazuka, formam um perfeito binômio masculino-feminino.

Page 49: Versalhes

Oscar rejeita o amor de Rosalie, e aceita o amor de Oscar rejeita o amor de Rosalie, e aceita o amor de André.André.

Page 50: Versalhes

Ao oferecer o “amor” para a personagem, Ikeda possibilita que suas Ao oferecer o “amor” para a personagem, Ikeda possibilita que suas leitoras sonhem com um mundo diferente. Como diz Cristiane Sato:leitoras sonhem com um mundo diferente. Como diz Cristiane Sato:

““(...) embora o enredo de Berusaiyu no Bara ocorresse séculos no passado, (...) embora o enredo de Berusaiyu no Bara ocorresse séculos no passado, Oscar e André representavam um relacionamento moderno idealizado para Oscar e André representavam um relacionamento moderno idealizado para suas leitoras, no qual papéis socialmente pré-determinados entre homens e suas leitoras, no qual papéis socialmente pré-determinados entre homens e mulheres estavam sendo discutidos.” mulheres estavam sendo discutidos.” (SATO, 2007: 52)(SATO, 2007: 52)

Page 51: Versalhes

Ao oferecer o “amor” para a personagem, Ikeda possibilita que suas Ao oferecer o “amor” para a personagem, Ikeda possibilita que suas leitoras sonhem com um mundo diferente. Como diz Cristiane Sato:leitoras sonhem com um mundo diferente. Como diz Cristiane Sato:

““(...) embora o enredo de Berusaiyu no Bara ocorresse séculos no passado, (...) embora o enredo de Berusaiyu no Bara ocorresse séculos no passado, Oscar e André representavam um relacionamento moderno idealizado para Oscar e André representavam um relacionamento moderno idealizado para suas leitoras, no qual papéis socialmente pré-determinados entre homens e suas leitoras, no qual papéis socialmente pré-determinados entre homens e mulheres estavam sendo discutidos.” mulheres estavam sendo discutidos.” (SATO, 2007: 52)(SATO, 2007: 52)

Page 52: Versalhes

Ao oferecer o “amor” para a personagem, Ikeda possibilita que suas Ao oferecer o “amor” para a personagem, Ikeda possibilita que suas leitoras sonhem com um mundo diferente. Como diz Cristiane Sato:leitoras sonhem com um mundo diferente. Como diz Cristiane Sato:

““(...) embora o enredo de Berusaiyu no Bara ocorresse séculos no passado, (...) embora o enredo de Berusaiyu no Bara ocorresse séculos no passado, Oscar e André representavam um relacionamento moderno idealizado para Oscar e André representavam um relacionamento moderno idealizado para suas leitoras, no qual papéis socialmente pré-determinados entre homens e suas leitoras, no qual papéis socialmente pré-determinados entre homens e mulheres estavam sendo discutidos.” mulheres estavam sendo discutidos.” (SATO, 2007: 52)(SATO, 2007: 52)

Page 53: Versalhes

Riyoko Ikeda rompe com o binômio sexo-gênero, além de desnaturalizar a idéia de que Riyoko Ikeda rompe com o binômio sexo-gênero, além de desnaturalizar a idéia de que o corpo seria uma realidade pré-discursiva. o corpo seria uma realidade pré-discursiva.

Nesse sentido, ela precede Judith Butler para quem Nesse sentido, ela precede Judith Butler para quem “não se pode dizer que os corpos “não se pode dizer que os corpos tenham uma existência significável anterior à marca de seu gênerotenham uma existência significável anterior à marca de seu gênero”. (BUTLER, 2003: ”. (BUTLER, 2003: 27) 27)

Na obra de Ikeda é o gênero que constrói os corpos, atribuindo-lhes sentidos, um Na obra de Ikeda é o gênero que constrói os corpos, atribuindo-lhes sentidos, um destino, uma função social.destino, uma função social.

Page 54: Versalhes

Uma passagem da série que ilustra bem isso que é quando Oscar decide Uma passagem da série que ilustra bem isso que é quando Oscar decide vestir-se como “uma dama” pela primeira vez, movida pela atração que vestir-se como “uma dama” pela primeira vez, movida pela atração que sente pelo Conde Fersen. Ikeda mostra com humor o drama da sente pelo Conde Fersen. Ikeda mostra com humor o drama da personagem que não está acostumada às disciplinas do corpo feminino.personagem que não está acostumada às disciplinas do corpo feminino.

  O espartilho a sufoca, a barra do vestido a faz cair e ela jura que nunca O espartilho a sufoca, a barra do vestido a faz cair e ela jura que nunca mais usará um vestido.mais usará um vestido.

Page 55: Versalhes

Detalhe do mangá: Oscar se prepara para o Detalhe do mangá: Oscar se prepara para o baile, dessa vez como uma dama.baile, dessa vez como uma dama.

Page 56: Versalhes

Ikeda antecede também Teresa de Lauretis, pois acaba construindo Ikeda antecede também Teresa de Lauretis, pois acaba construindo uma situação onde fica claro que o gênero é “uma situação onde fica claro que o gênero é “o conjunto de efeitos o conjunto de efeitos produzidos em corpos”produzidos em corpos”, de forma que Oscar não poderia tornar-se , de forma que Oscar não poderia tornar-se automaticamente uma dama perfeita como em um passe de mágica automaticamente uma dama perfeita como em um passe de mágica e, mais, ela também não o desejava. (LAURETIS, 1994: 208).e, mais, ela também não o desejava. (LAURETIS, 1994: 208).

Page 57: Versalhes

Interessante é que na animação, que funciona como uma releitura Interessante é que na animação, que funciona como uma releitura masculina do quadrinho, Oscar consegue dominar todo o aparato masculina do quadrinho, Oscar consegue dominar todo o aparato de feminilidade sem problema algum, é como se seu eu interior de feminilidade sem problema algum, é como se seu eu interior feminino se manifestasse, afinal, ela estaria dando vazão à sua feminino se manifestasse, afinal, ela estaria dando vazão à sua natureza. Assim, ela desliza linda e loura sem nenhum incômodo.natureza. Assim, ela desliza linda e loura sem nenhum incômodo.

Page 58: Versalhes

Esta idéia não está presente no original, nem a frase dita por André em outra parte Esta idéia não está presente no original, nem a frase dita por André em outra parte da série animada para lembrar a Oscar que não adianta lutar contra a sua da série animada para lembrar a Oscar que não adianta lutar contra a sua “natureza” feminina: “natureza” feminina: “Uma Rosa será sempre uma rosa, uma rosa nunca poderá ser “Uma Rosa será sempre uma rosa, uma rosa nunca poderá ser um lilás”um lilás”. .

A frase expressa de novo a ênfase na naturalização dos comportamentos, na idéia A frase expressa de novo a ênfase na naturalização dos comportamentos, na idéia de destino biológico, não de expectativas culturais moldando os corpos, como no de destino biológico, não de expectativas culturais moldando os corpos, como no mangá.mangá.

Page 59: Versalhes

No mangá A Rosa de Versalhes, ainda que estejam presentes uma grande No mangá A Rosa de Versalhes, ainda que estejam presentes uma grande dose de imaginação, a autora buscou o máximo de “fidelidade” ao factual. dose de imaginação, a autora buscou o máximo de “fidelidade” ao factual. Além do estranhamento em relação à própria Revolução Francesa.Além do estranhamento em relação à própria Revolução Francesa.

Isso ia na contramão da maioria das histórias shoujo, que tinham recorte Isso ia na contramão da maioria das histórias shoujo, que tinham recorte intimista ou, ao se deslocarem do Japão, criavam mundos e países quase intimista ou, ao se deslocarem do Japão, criavam mundos e países quase sempre idealizados.sempre idealizados.

Page 60: Versalhes

Robespierre e Mirabeau nos Estados GeraisRobespierre e Mirabeau nos Estados Gerais

Page 61: Versalhes

A matéria histórica na Rosa de Versalhes é muito forte, as personagens reais, da A matéria histórica na Rosa de Versalhes é muito forte, as personagens reais, da nobreza, do povo, estavam presentes com um realismo até então inédito no shoujo nobreza, do povo, estavam presentes com um realismo até então inédito no shoujo mangá. mangá.

O romance, os bailes, as belas roupas, os atrativos tradicionais, estão lá, mas os O romance, os bailes, as belas roupas, os atrativos tradicionais, estão lá, mas os sansculottessansculottes, a miséria dos camponeses, a prostituição, a violência, a etiqueta , a miséria dos camponeses, a prostituição, a violência, a etiqueta sufocante, a imprensa que difamava a Rainha, e a guilhotina, também sufocante, a imprensa que difamava a Rainha, e a guilhotina, também estão no estão no mangá.mangá.

Page 62: Versalhes

Oscar participa da Revolução Francesa e é desenhada por Ikeda Oscar participa da Revolução Francesa e é desenhada por Ikeda incorporando os símbolos desse movimento, como a bandeira tricolor.incorporando os símbolos desse movimento, como a bandeira tricolor.

Page 63: Versalhes

A fonte principal utilizada pela autora foi uma biografia famosa, traduzida A fonte principal utilizada pela autora foi uma biografia famosa, traduzida para várias línguas, e foi referência para o filme hollywoodiano para várias línguas, e foi referência para o filme hollywoodiano Marie Marie Antoinette Antoinette de 1938 com Norma Shearer que foi muito elogiado.de 1938 com Norma Shearer que foi muito elogiado.

Ikeda foi detalhista ao extremo e buscou o máximo de referências visuais Ikeda foi detalhista ao extremo e buscou o máximo de referências visuais e bibliografia para recriar Versalhes e a França das vésperas da e bibliografia para recriar Versalhes e a França das vésperas da Revolução.Revolução.

Page 64: Versalhes

Breve aparição de Napoleão Breve aparição de Napoleão Bonaparte na Rosa de Bonaparte na Rosa de Versalhes. Anos depois a Versalhes. Anos depois a autora faria uma série autora faria uma série biográfica sobre a biográfica sobre a personagem.personagem.

Page 65: Versalhes

O sucesso da série fez com que muitas japonesas se interessassem por O sucesso da série fez com que muitas japonesas se interessassem por História Ocidental, pela História da França, visitassem o país de Oscar, História Ocidental, pela História da França, visitassem o país de Oscar, seguissem carreira como professoras ou pesquisadoras. seguissem carreira como professoras ou pesquisadoras.

No Ocidente, o anime (desenho animado) fez grande sucesso e possibilitou No Ocidente, o anime (desenho animado) fez grande sucesso e possibilitou que o mangá tivesse boa acolhida, um dos fatores foi sua grande relevância que o mangá tivesse boa acolhida, um dos fatores foi sua grande relevância enquanto leitura ficcional da Revolução Francesa. (SATO, 2007: 53)enquanto leitura ficcional da Revolução Francesa. (SATO, 2007: 53)

Page 66: Versalhes
Page 67: Versalhes
Page 68: Versalhes
Page 69: Versalhes

Sato ressalta que Ikeda agregou à sua série padrões de comportamentos japoneses. Sato ressalta que Ikeda agregou à sua série padrões de comportamentos japoneses. Assim, Oscar é na verdade um Assim, Oscar é na verdade um samuraisamurai, fiel protetora de sua senhora, a Rainha , fiel protetora de sua senhora, a Rainha Maria Antonieta. Maria Antonieta.

Só que ao se abrir para as misérias do povo francês, ela rompe com sua classe, Só que ao se abrir para as misérias do povo francês, ela rompe com sua classe, tornando-se um tornando-se um roninronin, um samurai sem mestre, um proscrito, e é assim que morre , um samurai sem mestre, um proscrito, e é assim que morre lutando ao lado do povo na Queda da Bastilha. lutando ao lado do povo na Queda da Bastilha. (SATO, 2007: 52) Há um diálogo (SATO, 2007: 52) Há um diálogo entre identidades.entre identidades.

Page 70: Versalhes

Oscar, um samurai na corte Oscar, um samurai na corte de Versailles, interrompe o de Versailles, interrompe o primeiro encontro do Conde primeiro encontro do Conde Fersen com Maria Fersen com Maria Antonieta Antonieta (detalhe).(detalhe).

Page 71: Versalhes

No Japão, o sucesso da série atravessa três décadas. Além das muitas No Japão, o sucesso da série atravessa três décadas. Além das muitas republicações, há o desenho animado com 40 capítulos de 1979 e um filme republicações, há o desenho animado com 40 capítulos de 1979 e um filme feito na França, em 1978, com atores europeus, algo inédito até então. feito na França, em 1978, com atores europeus, algo inédito até então.

Mas talvez o produto mais duradouro e significativo ligado à Rosa de Mas talvez o produto mais duradouro e significativo ligado à Rosa de Versalhes sejam os espetáculos musicais encenados pelo Teatro Versalhes sejam os espetáculos musicais encenados pelo Teatro Takarazuka, que é formado somente por mulheres. Takarazuka, que é formado somente por mulheres.

Page 72: Versalhes

Dois momentos do anime: as personagens jovens e, depois, já Dois momentos do anime: as personagens jovens e, depois, já com mais de 30 anos.com mais de 30 anos.

Page 73: Versalhes

A primeira peça da Rosa de Versalhes foi encenada pelo Takarazuka em A primeira peça da Rosa de Versalhes foi encenada pelo Takarazuka em 1974, e o teatro, cuja audiência é basicamente feminina, que na época 1974, e o teatro, cuja audiência é basicamente feminina, que na época vinha perdendo importância frente novas formas de divertimento, voltou vinha perdendo importância frente novas formas de divertimento, voltou a ser popular. (SATO, 2007: 142) a ser popular. (SATO, 2007: 142)

A Rosa de Versalhes é o maior sucesso do Takarazuka depois da II A Rosa de Versalhes é o maior sucesso do Takarazuka depois da II Guerra. Guerra. (ROBERTSON, 1998: 74-75)(ROBERTSON, 1998: 74-75)

Page 74: Versalhes

No Teatro Takarazuka todos No Teatro Takarazuka todos os papéis são os papéis são desempehados por desempehados por mulheres.mulheres.

Page 75: Versalhes

Como estudante de Filosofia na segunda metade dos anos 60, Riyoko Como estudante de Filosofia na segunda metade dos anos 60, Riyoko Ikeda não podia estar alheia às discussões feministas. Segundo Cristiane Ikeda não podia estar alheia às discussões feministas. Segundo Cristiane Sato, o início dos anos 70 foi uma época grande agitação social no Sato, o início dos anos 70 foi uma época grande agitação social no Japão, com várias manifestações estudantis e dos movimentos Japão, com várias manifestações estudantis e dos movimentos feministas. feministas. (SATO, 2007: 50-51)(SATO, 2007: 50-51)

Segundo a própria Ikeda: Segundo a própria Ikeda:

Page 76: Versalhes

“(...) as pessoas da minha geração que queriam expressar um sentimento ou contar uma história e até esse momento só haviam podido fazer isso através dos romances ou da poesia, descobriram um novo modo de expressão igualmente válido: o mangá. As mulheres também descobriram o mangá e se interessaram por esse novo meio. (...) Finalmente, ao terminar a guerra as mulheres japonesas já não podiam continuar sendo donas de casa e cuidando dos filhos: (...)

Page 77: Versalhes

(...) sentiam que precisavam trabalhar para levantar o país e contribuir para manter (...) sentiam que precisavam trabalhar para levantar o país e contribuir para manter a família. As que puderam buscaram um trabalho que as compensasse não só a família. As que puderam buscaram um trabalho que as compensasse não só economicamente, mas também psicologicamente, um trabalho ao qual se dedicar economicamente, mas também psicologicamente, um trabalho ao qual se dedicar por toda a vida.”por toda a vida.”

A experiência social da autora como mulher no Japão no início dos anos A experiência social da autora como mulher no Japão no início dos anos 70, se faz sentir diretamente dentro da série A Rosa de Versalhes.70, se faz sentir diretamente dentro da série A Rosa de Versalhes.

Page 78: Versalhes

Enquanto feministas de vários países teorizavam nas academias e em Enquanto feministas de vários países teorizavam nas academias e em grupos políticos, quadrinistas japonesas colocavam em suas obras de grupos políticos, quadrinistas japonesas colocavam em suas obras de ficção suas inquietações sobre os papéis de gênero e a rigidez com que os ficção suas inquietações sobre os papéis de gênero e a rigidez com que os espaços masculino e feminino em sua sociedade.espaços masculino e feminino em sua sociedade.

  Assim, as discussões de ponta do feminismo eram adaptadas para os Assim, as discussões de ponta do feminismo eram adaptadas para os mangás e oferecidas para a grande massa de leitoras.mangás e oferecidas para a grande massa de leitoras.

Page 79: Versalhes

BENTO, Berenice. Transexuais, Corpos e Próteses. Labrys – Estudos Feministas, n.º 4, agosto/dezembro 2003 (http://www.unb.br/ih/his/gefem/labrys4/textos/berenice1.htm, 01/09/2007)

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero – Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

Page 80: Versalhes

CALAFFEL, Verónica. Riyoko Ikeda y la Rosa de Versalles (Entrevista). http://www.3xl.net/reportatges/rep85688193.htm, 20 de abril de 2006.

Martin Fackler. Tradição é obstáculo para carreira das trabalhadoras japonesas in Notícias UOL. http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/08/07/ult574u7643.jhtm, 01 de setembro de 2007.

Page 81: Versalhes

FLAX, Jane. Pós-moderno e relações de gênero na teoria feminista. In: BUARQUE DE HOLANDA, Heloísa (org.). Pós-modernidade e política. Rio de Janeiro: Rocco, 1991, p. 217-250.

FRASER, Antonia. Maria Antonieta: Biografia. Rio de Janeiro: Record, 2006. FUJINO, Yoko. Identidade e Alteridade: A Figura Feminina nas Revistas

Ilustradas Japonesas nas Eras Meiji, Taishô e Showa. São Paulo: ECA/USP, 2002.

Page 82: Versalhes

GRAVETT, Paul. Mangá: Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. São Paulo: Conrad, 2006.

LAURETIS, Teresa. A Tecnologia do Gênero. in: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Tendências e Impasses – O Feminismo como Crítica da Cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 206-242.

Page 83: Versalhes

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação – Uma Perspectiva Prós-Estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

LUYTEN, Sonia Bibe. Mangá – O Poder dos Quadrinhos Japoneses. São Paulo: Hedra, 2000.

ROBBINS, Trina. The Great Women Cartoonnists. Nova York: Watson-Guptill, 2001. ROBERTSON, Jenifer. Takarazuka – Sexual Politics and Popular Culture in Modern

Japan. Los Angeles: University of California, 1998.

Page 84: Versalhes

ROBINSON, Lillian S. Wonder Women – Feminisms and Superheroes. Nova York: Routledge, 2004.

SATO, Cristiane. JAPOP – O Poder da Cultura Pop Japonesa. São Paulo: Nakkosha, 2007.

SCOTT, Joan. Experiência – Tornando-se Visível. In LAGO, M.C.S.; RAMOS, T.R.O.; SILVA, A. L. (orgs.). Falas de Gênero – teorias, análises, leituras. Florianópolis: Mulheres,

1999, p. 21-55.

Page 85: Versalhes

___. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu (3) 1994, p. 11-27. SCHODT, Frederick L. Manga! Manga! The World of Japanese Comics. Nova

York: Kodansha, 1983. THORN, MATT. Shôjo Manga — Something for the Girls, 2001, in Shôjo Manga.

http://www.matt-thorn.com/shoujo_manga/japan_quarterly/index.html, 01 de setembro de 2007.