vermicompostagem e qualidade ambiental (e-book)

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VERMICOMPOSTAGEM E QUALIDADE AMBIENTAL 1.ª edição Este livro é feito em papel 100% reciclado Nelson Miguel Guerreiro Lourenço Sónia Isabel Dias Coelho Um olhar científico e apelativo sobre um método de tratamento de resíduos a ganhar cada vez mais adeptos

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O primeiro livro no âmbito da vermicompostagem inteiramente português.

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Page 1: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

VERMICOMPOSTAGEM E QUALIDADE

AMBIENTAL 1.ª edição

Este livro é feito em papel 100% reciclado

Nelson Miguel Guerreiro Lourenço Sónia Isabel Dias Coelho

Um olhar científico e apelativo sobre um método de tratamento de resíduos a ganhar cada vez mais adeptos

Page 2: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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O conteúdo do seguinte livro é da

exclusiva propriedade da Futuramb –

Gestão Sustentável de Recursos.

Qualquer cópia integral ou parcial será

punível por lei.

Page 3: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

3

PREFÁCIO

É uma honra, um prazer e um privilégio, tecer aqui algumas breves

considerações sobre este livro tão interessante, tão necessário para esta

caótica fase da humanidade em que nos encontramos, necessitamos de

reflectir e partilhar o que de bom este livro nos remete!

Primeiramente, e falando sobre o autor, poderemos afirmar que é um

Homem de H grande, um verdadeiro humanista, um cidadão culto,

preocupado com as pequenas-grandes “coisas” desta vida e deste nosso

mundo tão carente de princípios e de valores.

A elaboração deste livro teve como objectivo fornecer a técnicos superiores,

estudantes e público em geral todo um conjunto de informação

relativamente à vermicompostagem.

Numa sociedade em constante mudança e busca pelo conhecimento e

tecnologia, o Homem tem procurado melhorar a relação que tem para com o

Ambiente.

Falando então deste livro, poderemos dizer que é uma obra assumidamente

ecléctica e que evoca um pouco do que se passa nos nossos dias de hoje,

exigindo uma reflexão extrema para os problemas existenciais em todas as

sociedades do mundo.

Resumidamente poderemos descreve-lo com a seguinte expressão: “a obra

em questão demonstra o quanto é essencial pensarmos nos problemas do

amanhã melhorando os de hoje.” Assim, é essencial mostar às nossas

crianças que podemos efectuar uma reciclagem controlada e ajudando a

prevenir o meio ambiente, melhorando o nosso futuro e prevenindo o nosso

mundo do caos total.

Page 4: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

4

Concluo assim com um pequeno comentário:

“Separar é o primeiro passo para um mundo melhor.”

Hugo Leitão

(Engenheiro do Ambiente - Ambiproject-Engenharia)

Page 5: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

5

“Hoje em dia, o ser humano apenas tem ante si três grandes

problemas que foram ironicamente provocados por ele próprio: a

super povoação, o desaparecimento dos recursos naturais e a

destruição do meio ambiente. Triunfar sobre estes problemas,

vistos sermos nós a sua causa, deveria ser a nossa mais

profunda motivação.”

Jacques Yves Cousteau (1910-1997)

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS 9

ÍNDICE DE QUADROS 11

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1. Nota Introdutória 13

2. Objectivos 14

3. Nomenclatura 15

CAPÍTULO II

NOÇÕES DE VERMICOMPOSTAGEM

1. Evolução 24

2. A Importância da Vermicompostagem 25

3. Objectivos da Vermicompostagem 28

4. Compostagem e Vermicompostagem 29

5. Inputs e Outputs ao processo 32

5.1. Inputs 32

5.1.1. Resíduos 32

5.1.2. Água 38

5.1.3. Trabalho humano e trabalho mecanizado 38

5.2. Outputs 39

5.2.1. Vermicomposto 39

5.2.2. Chá de vermicomposto 40

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

7

5.2.3. Eisenia Foetida 40

CAPÍTULO III

VERMICOMPOSTAGEM DOMÉSTICA

1. Modelos de vermicompostagem 53

2. Escolha do local mais adequado 56

3. O Vermicompostor 57

3.1. Sistema Horizontal 57

3.2. Sistema Vertical 58

4. Construção e iniciação do vermicompostor 59

5. Manutenção do vermicompostor 64

6. Separação das minhocas do vermicomposto 66

7. Resolução de problemas identificados 70

Capítulo IV - Vermicompostagem em Espaço Rural

1. Sistemas de Vermicompostagem – Descrição geral 73

1.1. Sistema de Canteiros 74

1.2. Sistema de Leiras 75

2. Factores a ter em conta 76

3. Que resíduos utilizar 77

4. Equipamento 82

5. Métodos de Construção e Iniciação 85

5.1. Sistemas de Canteiros 85

Page 8: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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5.2. Sistemas de Leiras 88

6. Manutenção do Sistema – Principais Conselhos 91

7. Separação das minhocas do vermicomposto 93

8. Duplicação de camas 97

9. Resolução de problemas identificados 98

CAPÍTULO V – VERMICOMPOSTAGEM E QUALIDADE AMBIENTAL

1. Vermicomposto – Saber mais 99

2. Chá de Vermicomposto – Saber mais 103

3. Causas e efeitos do empobrecimento dos solos em matéria

orgânica 105

CAPÍTULO VI – SUGESTÕES E CURIOSIDADES 112

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1 - Minhoca dos resíduos orgânicos utilizada em

vermicompostagem 25

Fig. 2 – Eisenia Foetida 26

Fig. 3 - Subdivisões da vermicompostagem (Fonte: Futuramb) 29

Fig. 4 - A Vermicompostagem como complemento do processo de

compostagem 31

Fig. 5 - Zona de recepção de resíduos (Fonte Futuramb) 32

Fig. 6 – Resíduos silvíciolas (Fonte: Futuramb) 35

Fig. 7 – Aparas de relva (Fonte:Futuramb) 39

Fig. 8 - Diferenças entre as minhocas geófagas e detritívoras 41

Fig. 9 – Classificação científica da minhoca 41

Fig. 10 - Diferenças entre a minhoca Eisenia foetida foetida e Eisenia

foetida andrei 46

Fig. 11 - Eisenia Foetida 46

Fig. 12 - Endrilus engeniae 46

Fig. 13 - Perionyx escavatus 46

Fig. 14 - Parâmetros a considerar na minhoca 47

Fig. 15 – Síntese de inputs e outputs ao Sistema de Vermicompostagem

(Fonte: Futuramb) 52

Fig. 16 – As diferentes formas de fazer vermicompostagem em casa 53

Fig. 17 - Exemplo de um vermicompostor em sistema horizontal (Fonte:

Futuramb) 54

Fig. 18 – Vermicompostor Futuramb (Fonte: Futuramb) 55

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Fig. 19 – Aspectos a ter em conta para a escolha do local mais

adequado 56

Fig. 20 - Tipos de vermicompostagem existentes em espaço Rural 73

Fig. 21 – Canteiros de vermicompostagem no CIA 75

Fig. 22 - Aspectos a ter em conta em Espaço Rural 77

Fig. 23 – Tipologias de resíduos passíveis de valorização 78

Fig. 24 – Biotriturador no CIA 83

Fig. 25 - Métodos de separação das minhocas do vermicomposto 94

Fig. 26 - Relação entre o efeito germinativo e a redução do tempo de

emergência das sementes(Fonte: Futuramb) 103

Fig. 27 - Floresta – Um recurso a preservar 107

Fig. 28 – Solo 110

Fig. 29 – Causas da perda dos solsos em matéria orgânica (Fonte:

Futuramb) 111

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Diferenças entre os processos de

compostagem e vermicompostagem (Fonte: Futuramb) 30

Quadro 2 – Estrumes mais vulgarmente utilizados em

vermicompostagem – vantagens e desvantagens 33

Quadro 3 – Produção diária, mensal e anual de alguns estrumes 34

Quadro 4 – Tipologias de substratos para vermicompostagem

(Fonte: Futuramb) 37

Quadro 5 – Parâmetros para as três tipologias de minhocas (Fonte:

Futuramb) 42

Quadro 6 – Influência da temperatura no metaolismo da minhoca 50

Quadro 7 – Síntese de alguns parâmetros importantes na minhoca 51

Quadro 8 - Medidas a adoptar em função dos problemas identificados 71

Quadro 9 – Cálculo da disponibilidade de material orgânico possível

de reciclar (Fonte: Futuramb) 79

Quadro 10 – Características de algumas matérias- primas utilizadas

em compostagem (Fonte: Futuramb) 80

Quadro 11 – Quantidade de RSU e fracção da matéria orgânica de

alguns sectores (Adaptado de VALORSUL, 1997,

Fonte:Valorsul) 81

Quadro 12 – Resumo das quantidades de minhocas a inocular

ao sistema 91

Quadro 13 – Resolução de problemas identificados com

predadores em vermicompostagem 98

Quadro 14 – Parâmetros físico-químicos para um vermicomposto 102

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Quadro 15 – Classes de riqueza dos solos em matéria orgânica

(Fonte: Dias et al, 1980) 107

Page 13: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

1. Nota Introdutória

A Futuramb procurou, com a realização deste Manual, ajudá-lo com

conhecimento científico e de engenharia ambiental com informação actual

e rigorosa relacionada com a temática da vermicompostagem tendo

resultado de um profundo trabalho de investigação, pesquisa e trabalho

experimental em matéria de vermicompostagem tendo sido o resultado de

um desejo de toda a nossa equipa, o de proporcionar aos utilizadores do

nosso espaço na internet, Bioparceiros e público em geral um processo de

gestão de resíduos com imenso futuro.

Pretendemos, deste modo, ajudá-lo a compreender e até implementar de

acordo com as suas possibilidades, um sistema de vermicompostagem,

desde um vulgar sistema em sua casa até a um sistema numa exploração

agrícola ou noutro espaço rural.

A esta 1.ª edição irá seguir-se como prevemos, uma 2.ª edição com

actualizações, metodologias e procedimentos úteis e importantes como

tratamento de resíduos.

Neste contexto, conscientes de que a produção de vermicomposto a partir

do tratamento da fracção orgânica dos resíduos tende a resultar na

melhoria das condições de fertilidade dos solos degradados para os anos

vindouros, aconselhamos vivamente a leitura deste Manual disponível em

suporte papel ou via download.

Prefira a segunda versão, poupando recursos e preservando o Ambiente!

Page 14: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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2. Objectivos

Deste modo, damos-lhe a conhecer os objectivos com a publicação deste

Manual:

1. Princípios básicos e avançados com vista a produzir

vermicomposto

Metodologias e processos de construção de camas, canteiros, leiras de

vermicompostagem e misturas de substratos, com optimização de diversos

parâmetros; gestão de problemas ocorridos, métodos de cálculo de

crescimento populacional e quantidades de vermicomposto teoricamente

obtidas.

2. Abordagem aos mais importantes sistemas de vermicompostagem

Desde pequenos sistemas em forma de vermicompostor até sistemas

industriais de produção de vermicomposto em ecossistemas agrícolas.

3. Caracterização do vermicomposto, chá de vermicomposto e da

minhoca Eisenia foetida.

Caracterização físico-química e microbiológica destes dois outputs do

processo de vermicompostagem e da espécie de minhoca mais utilizada

em processos de vermicompostagem.

Page 15: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

15

4. Oportunidades

Oportunidades para o papel da vermicompostagem para a vertente eco-

económica e ambiental na cidadania e na gestão sustentável do espaço

rural.

5. Sustentabilidade

Promover práticas ambientalmente sustentáveis de gestão de resíduos,

utilizando a vermicompostagem como ferramenta.

3. Nomenclatura

Apresentamos, primeiramente, alguma da nomenclatura utilizada neste

manual e não só, que seguramente acabará gradualmente, por fazer parte

do seu vocabulário corrente, ainda que a sua grande maioria lhe seja

conhecido ou familiar. É nosso objectivo contribuir para que possa

enriquecer o seu vocabulário em termos ambientais e em particular em

termos de vermicompostagem.

Aeróbio

Estado biológico de vida e crescimento na presença de oxigénio livre

(Fonte: Futuramb).

Agricultura Biológica

Modo de produção agrícola ecologicamente sustentável, baseado no

funcionamento do ecossistema agrícola e utilizando práticas que fomentam

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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o equilíbrio desse ecossistema e a manutenção e melhoria de fertilidade do

solo a longo prazo. Promove a produção alimentos e fibras de forma

social, económica e ambientalmente sustentável através da valorização e

recuperação de biomassa animal e vegetal recorrendo às melhores

técnicas, por forma a fomentar o equilíibrio orgânico. Reduz a utilização de

factores de produção externos, como os agroquímicos e fitossanitários

(Fonte: Futuramb).

Água lixiviante ou lixiviado

Efluente líquido que percola através da massa de RSU´s, resíduos agro-

pecuários ou silvícolas confinados, por exemplo em aterro, zona de

recepção ou outro sistema de gestão de resíduos e que é resultante da

água contida nos resíduos adicionados da que é proveniente da

precipitação meteorológica e, eventualmente, da infiltração de águas

subterrâneas pré-existentes (Fonte: Futuramb).

Anaeróbio

Estado biológico de vida e crescimento na ausência de oxigénio livre

(Fonte: Futuramb).

Arejamento

Processo de adição de oxigénio tendo em vista a oxidação ou mistura

(Fonte: Futuramb).

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Cama de minhocas

Material compostado, que serve de alimento para minhocas. O material

utilizado é essencialmente matéria orgânica, provenientes de RSU´s,

resíduos agropecuários e silvícolas. As camas são colocadas directamente

sobre o terreno, são separadas e organizadas facilitando a sua

manutenção. Cerca de metade do espaço destina-se à reprodução da

minhoca e outra metade do espaço à produção de vermicomposto (Fonte:

Futuramb).

Canteiros de vermicompostagem

São as camas das minhocas limitadas com os mais variados materiais,

como tijolos, blocos, placas de betão, madeira (Fonte: Futuramb).

Chá de Vermicomposto

Lixiviado, liquido extraído das “camas de minhocas”. É utilizado como

complemento de fertilização por possuir características nutritivas essenciais

para agricultura biológica (Fonte: Futuramb).

Ciclo de produção de vermicomposto

Corresponde a aproximadamente 3 meses de produção de vermicomposto.

Ao fim desse tempo é possível a recolha do vermicomposto do

vermicompostor, canteiro ou leira. Possui período variável (Fonte:

Futuramb).

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Crivagem

Processo utilizado com equipamento próprio, para que o vermicomposto

atinja um grau de gravimetria desejável (Fonte: Futuramb).

Crivo

Equipamento mecânico ou manual, utilizado para a crivagem de

vermicomposto. (Fonte: Futuramb).

Compostagem

Degradação biológica aeróbia dos resíduos orgânicos até à sua

estabilização, produzindo uma substância húmica (compostado) utilizável

como corrector de solos. Pode ser efectuada em pilhas estáticas, pilhas

com revolvimento ou em reactor (Fonte: Futuramb).

Compostado

Produto estabilizado resultante da decomposição controlada dos substratos

orgânicos. Promove a melhoria das condições do solo em termos de

estrutura, porosidade, capacidade de retenção de água e nutrientes,

arejamento e actividade microbiológica. Diferente de composto (Fonte:

Futuramb).

Digestão Anaeróbia

Processo de mineralização da matéria orgânica na ausência de oxigénio

(Fonte: Futuramb).

Page 19: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Fileira de Resíduos

Designação técnica relativa aos materiais passíveis de serem reciclados

contidos nos resíduos (ex. fileira do vidro, do plástico, do metal, do papel e

cartão) (Fonte: Futuramb).

Fluxo de Resíduos

Designação técnica que significa qualquer dos produtos componentes dos

RSU´s (electrodomésticos, pilhas e acumuladores) ou de outras categorias

de resíduos (pneus, solventes, “monstros”, lamas de ETAR, entulhos)

(Fonte: Futuramb).

Gestão

Direcção, supervisão e controlo das operações dos tecnosistemas de

RSU´s (Fonte: Futuramb).

Isco

Material colocado nas camas de vermicompostagem, como sejam borras

de café, cacau, farinha de milho ou açúcar amarelo, para atrair as

minhocas, com o finalidade de extrair o vermicomposto (Fonte: Futuramb).

Lamas

Resíduos do tratamento de águas residuais urbanas em ETAR,

constituindo um fluxo específico designado por lamas de ETAR. (Fonte:

Futuramb).

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

20

Resíduo

Material necessário para produção de vermicomposto e alimento para as

minhocas (matéria orgânica, resíduos biodegradáveis e/ou agrícolas)

(Fonte: Futuramb).

Produtor

Qualquer pessoa, singular ou colectiva, cuja actividade produza resíduos

ou que efectue operações de tratamento de mistura ou outras que alteram

a natureza ou a composição de resíduos (Fonte: Decreto-Lei n.º 178/2006).

Reciclagem

Forma de valorização dos resíduos na qual se recuperam e, ou regeneram

diferentes matérias constituintes, por forma a dar origem a novos produtos

(Fonte: Decreto-Lei 178/2006).

Resíduo

Quaisquer substância ou objecto de que o detentor se desfaz ou tem

intenção ou obrigação de se desfazer (Decreto – Lei n.º 178/2006).

Resíduo Agrícola

Resíduo proveniente de exploração agrícola e, ou pecuária ou similar

(Decreto – Lei n.º 178/2006).

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Resíduo Biodegradável

Resíduo que pode ser sujeito a decomposição anaeróbia ou aeróbia, como

por exemplo os resíduos alimentares e de jardim, o papel e o cartão

(Decreto – Lei n.º 178/2006).

Recolha

A operação de apanha de resíduos com vista ao transporte (Decreto – Lei

n.º 178/2006).

Resíduo Sólido Urbano (RSU)

Resíduo proveniente das habitações, bem como outros resíduos que, pela

a sua natureza ou composição, sejam semelhantes aos resíduos

provenientes das habitações (Decreto – Lei n.º 178/2006).

Reutilização

A reintrodução, em utilização análogo e sem alterações, de substâncias,

objectivos ou produtos nos circuitos de produção ou de consumo, por forma

a evitar a produção de resíduos (Decreto – Lei n.º 178/2006).

Tratamento

Quaisquer processos manuais, mecânicos, físicos, químicos ou biológicos

que alterem as características de resíduos por forma a reduzir o seu

volume ou perigosidade, bem como a facilitar a sua movimentação

valorização ou eliminação (Decreto – Lei n.º 178/2006).

Page 22: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Valorização

As operações que visam o reaproveitamento dos resíduos (Decreto – Lei

n.º 178/2006).

Valorização Orgânica

Utilização da fracção orgânica contida nos resíduos para produção de

composto e vermicomposto (por via aeróbia – compostagem e

vermicompostagem) ou para a produção de biogás e composto (via

anaeróbia – digestão anaeróbia) (Decreto – Lei n.º 178/2006).

Vermicomposto

O produto do substrato ingerido e transformado pelo intestino da minhoca,

enriquecido de seres vivos, matéria orgânica e macronutrientes, azoto,

fósforo e potássio, bem como micronutrientes em quantidades necessárias

e facilmente assimiláveis e absorvidos pelas raízes das plantas. O mesmo

que húmus de minhoca ou lombricomposto (Fonte: Futuramb).

Vermicompostor

O mesmo que caixa, material utilizado para aplicação da

vermicompostagem doméstica ou em pequena escala. Pode ser de plástico

ou madeira (Fonte: Futuramb).

Vermicompostagem

Degradação, na presença de oxigénio da fracção orgânica de certas

tipologias de resíduos, recorrendo-se às melhores tecnologias possíveis e

Page 23: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

23

a populações de espécies de minhocas, que em conjugação com os

microorganismos existentes no seu intestino, digerem toda matéria

orgânica, dejectando excrementos constituídos de agregados de terra e da

matéria orgânica digerida, sendo mais ricos em nutrientes como, também,

mais assimiláveis pelas plantas (Fonte: Futuramb).

Page 24: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

24

CAPÍTULO II

NOÇÕES DE VERMICOMPOSTAGEM

1. Evolução

No início dos anos 80, a denominação, embora não rigorosa de “Minhoca

Vermelha da Califórnia”, começou a ser utilizada frequentemente.

Incialmente, pouca atenção e informação era dada aos aspectos bióticos e

zootécnicos da espécie, mas sim no resultado marcadamente de cariz

económico do indivíduo ou entidade que se dedicasse à sua exploração.

O processo de vermicompostagem era visto, maioritariamente, como um

processo de produção de vermicomposto, lombricomposto ou húmus de

minhoca, numa época em que, em Portugal, a definição de qualidade

ambiental ainda dava os primeiros passos. A situação caracterizava-se

pela produção de biomassa animal sendo esse o objectivo final de

inúmeras explorações a venda de minhocas destinadas a serem utilizadas

como isco pelos pescadores, sendo a produção de vermicomposto um

output sem objectivo.

A vermicompostagem apresenta-se, actualmente e em função das políticas

de gestão de resíduos, como uma ferramenta de gestão e um processo

biológico de tratamento de resíduos sólidos orgânicos que utiliza a a

minhoca dos resíduos orgânicos para acelerar a degradação da matéria

orgânica e produzir vermicomposto rico em substâncias húmicas.

Page 25: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

25

Este processo é, tradicionalmente, aplicado a resíduos de pecuárias mas,

nos últimos anos, também tem vindo a ser utilizado no tratamento de lamas

de ETAR e da fracção orgânica de RSU. Apresenta vantagens em relação

a outros processos mecânico-biológicos, ao nível da qualidade do produto

final, dos custos de investimento e dos custos de operação.

2. A Importância da Vermicompostagem

A vermicompostagem pode ser desenvolvida quer em contínuo ou em

descontinuo. O processo de vermicompostagem envolve sempre o

processo de compostagem prévio, com duração mais ou menos variável.

Entende-se por processo em contínuo como o processo onde existe adição

constante e regular de resíduos ao

sistema ao contrário de um

processo em descontínuo, no qual

desde o período de inoculação

inicial de minhocas ao

compostado, não existe, até ao

final, quaisquer adições de

resíduos.

A vermicompostagem é um processo constituído por duas fases, processos

ou níveis: na primeiro a matéria orgânica é compostada segundo os

métodos tradicionais de compostagem, proporcionando a redução de

Fig. 1 - Minhoca dos resíduos orgânicos

utilizada em vermicompostagem

Page 26: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

26

microrganismos patogénicos através da elevação da temperatura –

processo de higienização.

Após aproximadamente 30 dias, sendo este período variável em função

dos factores anteriormente referidos, o compostado é transferido para

sistemas de altura reduzida de modo a previnir o aparecimento de

temperaturas termofílicas, não se aquecendo em demasia o meio, evitando

a compactação do mesmo, pois os materiais de granulometria fina e

reduzida possuem essa tendência natural. Deste modo, procede-se então,

à inoculação das minhocas e, cerca de 60 a 90 dias após, dependendo da

correcta monitorização e de factores externos, obtém- se o vermicomposto

pronto, com aumento da disponibilidade de macro e micronutrientes.

Muitos resíduos orgânicos que a princípio não teriam valor, para as

minhocas podem representar uma fonte de alimento. Esses resíduos

podem ser reutilizados através da vermicompostagem com minhocas e

gerar inputs para a propriedade com agregação de valor.

A espécie Eisenia foetida é uma das mais

utilizadas na vermicompostagem, para além

de existirem outras menos profícuas e

adpatáveis. Esta espécie, em comparação

com outras da mesma classe, como mais à

frente será abordado, alimentam-se de

resíduos orgânicos em decomposição, tendo Fig. 2 - Eisenia foetida

Page 27: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

27

também alta capacidade em se reproduzirem quando em cativeiro, alta

taxa de conversão para vermicomposto e além disso, um crescimento mais

rápido.

Ao ser utilizado, este processo permite reduzir uma grande fracção de

resíduos biodegradáveis, que em condições normais teria como destino um

aterro, perdendo o seu potencial valor energético, ainda presente. Do

mesmo modo, ao serem desviados estes resíduos, reduz-se o tempo de

vida útil dos aterros, melhorando a utilização desse espaço destinado à

deposição de resíduos não degradáveis, reduzindo também em casos

finais em que é necessário recorrer aos processos de queima e

incineração.

Ao recorrer à vermicompostagem de uma forma informativa entre o público,

este contribuirá para uma redução no grau de resíduos em espaço rural e

em espaço urbano, que se irá fazer sentir pela melhoria da qualidade dos

respectivos espaços em matéria recursos solo, água e ar. Também

aumenta a eficiência das Estações de Tratamento de Águas Residuais

(ETAR), ao tratar e valorizar as lamas, assim como os Resíduos Sólidos

Urbanos (RSU), e ainda na redução de custos de tratamento de Águas

Resíduais (AR), ao desviar os resíduos orgânicos desses destinos. Assim,

não ocorre uma libertação de nutrientes nas águas, prevenindo os

processos de eutrofização que aniquilam uma grande porção da vida

aquática.

Page 28: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

28

3. Objectivos da Vermicompostagem

A vermicompostagem tem como objectivos promover uma gestão de

qualidade superior à biomassa vegetal e animal acrecentando valor aos

produtos daí originados. Actualmente, é vista como um processo de

tratamento de resíduos com produção de vermicomposto como elemento

principal. Contudo, outros outputs possuem a sua importância: o chá de

vermicomposto, e claro está, as minhocas. Na produção de minhocas a

vertente possui o nome de minhocultura ou vermicultura embora não

mereça destaque neste Manual.

Desde a pequena exploração agrícola, que se dedique à gestão dos seus

resíduos orgânicos, produzidos quer pela fauna animal quer pelas culturas

produzidas, passando por grandes explorações de carácter industrial e de

gestão de resíduos como meta principal, até às habitações de carácter

doméstico e familiar que realizam a gestão dos seus resíduos produzidos

diariamente. Deste modo, fecha-se o ciclo de nutrientes de modo

sustentável. O sistema multifuncional congrega um pouco de todos os

anteriores, ou parte destes, sendo o mais complexo de gerir em função das

diferentes metodologias congregadas em simultâneo.

Page 29: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

29

Vermicompostagem

Doméstica

Industrial

Agronómica

Multifuncional

Fig. 3 - Subdivisões da vermicompostagem (Fonte: Futuramb)

4. Compostagem e Vermicompostagem

A Compostagem e a Vermicompostagem são duas técnicas com o mesmo

objectivo, embora com metodologias diferentes, quer em termos humanos

quer mecanizados, o tratamento da fracção orgânica de certas tipologias

de resíduos. A vermicompostagem é vista como um complemento ao

processo tradicional de compostagem. Ambas produzem um output final,

embora com características, físicas, químicas e microbiológicas distintas.

A compostagem é uma técnica de valorização e tratamento de resíduos

que precede, na sua grande maioria das vezes, a vermicompostagem. A

vermicompostagem doméstica utilizando vermicompostores é a sua

Page 30: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

30

excepção. Basicamente, entende-se a vermicompostagem pela

decomposição da fracção orgânica dos resíduos. A única desvantagem

deste processo, em comparação com a compostagem, reside no facto de

na compostagem não ser necessária a separação da fauna microbiana do

compostado produzido. Contudo, existem métodos que permitem a sua

separação a baixo custo.

Quadro 1- Diferenças entre os processos de compostagem e vermicompostagem

(Fonte: Futuramb)

Como vantagem do processo de compostagem a fauna microbiana,

incluindo as bactérias, actinomicetes e fungos podem ser facilmente

ignorados aquando da produção do compostado e posterior

armazenamento e ensacamento. No caso das minhocas, o caso não se

apresenta semelhante uma vez que estas necessitam de ser separadas do

vermicomposto para que o processo seja terminado.

Compostagem

Vermicompostagem

Não utiliza minhocas Processo dependente de minhocas

Funciona a temperaturas termofílicas Funciona a temperaturas mesofílicas

O produto final é o composto

O produto final é overmicomposto

Quantidades superiores de metais pesados no produto final

Quantidades inferiores de metais pesados no produto final

Um output Três outputs

Menor teor final em substâncias húmicas Maior teor em substâncias húmicas

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

31

Compostagem

Vermicompostagem

Uma das causas prende-se com a duração do período de reprodução. Os

microrganismos reproduzem-se muito mais rapidamente que as minhocas.

Fig. 4 - A Vermicompostagem como complemento do processo de compostagem

(Fonte: Futuramb)

Certos tipos de resíduos poderão estar sujeitos a uma compostagem prévia

por forma a estabilizar a sua temperatura e promover a inoculação de

minhocas ao sistema. Resíduos que contenham elevadas quantidades de

N, com C/N baixas necessitam de uma compostagem prévia. A

Vermicompostagem apresenta-se como um processo em que as minhocas

utilizam os substratos orgânicos como fonte de energia, convertendo-os em

vermicomposto ou húmus de minhoca. O objectivo passa por produzir

vermicomposto da forma mais sustentável, eficiente e rápida possível.

Page 32: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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5. Inputs e Ouputs ao processo

5.1. Inputs

Define-se input como toda e qualquer saída de um sistema. Os principais

inputs num dado sistema de vermicompostagem envolvem sempre a

presença de energia e factores de produção (água, resíduos, trabalho

humano, trabalho mecanizado e minhocas). A biomassa fornecida ao

sistema constitui fonte de

energia e constituição celular

para a massa microbiana e,

posteriormente, para as

populações de minhocas

envolvidas no processo, após a

operação de compostagem.

5.1.1. Resíduos

Em seguida é apresentada uma listagem de alguns resíduos que podem

sofrer vermicompostagem, e, indirectamente, compostagem prévia.

Apresentamos as vantagens e desvantagens da sua utlização como

substrato em vermicompostagem, por forma a auxiliar na escolha das

tipologias de resíduos a utilizar. Os resíduos apresentados figuram nas

utilizações possíveis em todos os sistemas de vermicompostagem –

caseira, rural e industrial e claro está, num sistema multifuncional de

vermicompostagem.

Fig. 5 - Zona de recepção de resíduos

(Fonte: Futuramb)

Page 33: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

33

Estrumes

Resíduo / Substrato

Vantagens Desvantagens Observações

Estrume bovino

Substrato

natural para as minhocas.

Necessária compostagem prévia devido à presença de sementes de infestantes.

Quando húmido em excesso compacta o que não permite que a minhoca

viva no seu interior. Necessária mistura com resíduos fibrosos.

Todos os estrumes são decompostos

facilmente e quase única e

exclusivamente pelas minhocas

Estrume de aviário

O elevado teor em N confere

boa aptidão para substrato.

O elevado teor proteico poderá ser perigoso para as minhocas,

devendo ser utilizado em quantidades reduzidas.

Necessária compostagem prévia.

Não o mais indicado para

vermicompostagem sendo bastante

reactivo

Estrume ovino

e caprino

Boa nutrição

Necessário processo de compostagem prévio devido à presença de sementes de

infestantes. A reduzidadimensão das partículas poderá levar à formação de bulking

(agregados).

Necessária adição de

materiais com vista ao

aumento da C/N

Estrume suíno

Maior teor em N depois

do estrume de aviário.

Substrato ideal para minhocas.

Necessária a introdução de substratos secos, com elevada capacidade de

absorção, devido ao seu elevado teor em N amoniacal.

Requer a mistura com fibra vegetal de modo a reduzir a sua concentração proteíca e

troná-lo mais esponjoso.

O vermicomposto proveniente

de resíduos de estrume

suíno apresenta qualidade superior em comparação

com outros vermicompostos.

Estrume

de coelho

Conteúdo em N eleavado.

O elevado teor em urina é impeditivo. Possibilidade de fases termofílicas em

grandes quantidades. Reduzida viabilidade.

Estrume e chorume valorizados para

vermicompostagm através de camas de

minhocas.

Quadro 2 – Estrumes mais vulgarmente utilizados em vermicompostagem – vantagens e

desvantagens

Page 34: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

34

Podemos inferir a capacidade em valorizar determinadas tipologias de

resíduos através da sua produção. No que respeita a alguns tipos de

estrumes estes encontram-se descritos no seguinte quadro onde se

englobam as produções diárias, mensais e anuais médias.

Quadro 3 – Produção diária, mensal e anual de alguns estrumes.

Tipo de Animal Equinos Bovinos Ovinos Suínos

Produção diária média de estrume

sólido (Kg) 16 23 1 2.5

Produção mensal média (x30)

480 690 30 75

Produção anual média (x 365)

5840 8395 365 9125

Resíduos resultantes do processamento de alimentos

Podem provocar maus odores não devendo ser adicionados sem uma

compostagem prévia. Promovem excelente nutrição e boa capacidade de

retenção de água. Extremamente variável dependendo da mistura inicial.

Os elevados teores em N poderão resultar em aquecimento excessivo.

Carne e gorduras poderão possibilitar condições de anaerobiose e maus

odores. Alguns resíduos serão sempre mais viáveis do que outros. Borras

de café possuem bom teor em N, não apresentam maus odores e são um

excelente atractivo para as minhocas. Cascas de batata levam algum

tempo a ser decompostas.

Page 35: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

35

Resíduos alimentares compostados

Bom substrato, o processo de compostagem fornece maior facilidade e

rapidez à decomposição pelas minhocas. Pode incluir carne. Menor

tendência para elevação da temperatura.

Peixe, resíduos de sangue, cadáveres de animais

O elevado teor em N proporciona boa nutrição. Possibilidade de converter

fluxos específicos de resíduos em excelente vermicomposto. Necessária

compostagem prévia de modo a promover a fase termofílica. Esta

decomposição é difícil em termos aeróbios, sendo propícia em formas

anaeróbias, podendo libertar odores desagradáveis. Apenas deve ser

realizado em reactores.

Resíduos sílvicolas

Ao se decompor tornam-se numa espécie de chorume na qual a minhoca

pode aceder facilmente. É necessário a incorporação de fibra vegetal com

vista o melhoramento do substrato. As podas de formações aero-abustivas

são exemplo disso mesmo. A sua

valorização restitui carbono ao solo

evitando a propagação de incêndios que

aumentam a concentração de GEE na

atmosfera, promovendo o aquecimento

global.

Fig. 6 – Resíduos silvíciolas.

(Fonte: Futuramb)

Page 36: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

36

Serraduras e aparas de madeira

Deve-se preferir as que têm como origem madeira branca. Os que originam

de madeiras vermelhas contêm uma alta percentagem de taninos e

lenhina. O tanino é um veneno que pode matar as minhocas. Norma geral,

recomenda-se a incorporação de fibra vegetal a todo o tipo de serraduras e

aparas de madeiras, já que a alta concentração de microorganismos que

se encontram nos estrumes permitem acelerar a quebra da molécula de

lignina, acelerando a decomposição do material.

Lamas de Estação de Tratamento de Águas (ETA) e Estação de

Tratamento de Águas Resíduais (ETAR)

As lamas de Estações de Tratamento de Águas (ETA) e Estações de

Tratamento de Águas Resíduais (ETAR), ou biossólidos, podem ser

valorizados através de vermicompostagem, embora não seja objecto de

valorização pessoal para o cidadão.

A tabela seguinte apresenta a absorvência de algumas tipologias de

resíduos, bem como a capacidade em formar agregados e respectiva C/N.

A absorvência encontra-se relacionada com a porosidade e relações ar -

água, propriedades importantes na avaliação e formulação de substratos.

Os melhores substratos para vermicompostagem serão aqueles em que o

processo prévio de compostagem não terá de ser programado, não sendo

necessária a sua estabilização prévia.

Page 37: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Quadro 4 - Tipologias de substratos para vermicompostagem (Fonte Futuramb)

Substrato Absorvência Capacidade para

formar agregados C/N

Estrume equino Média - Boa Boa 22-56

Silagem de milho Média - Boa Média 38-43

Feno Reduzida Média 15-32

Palha Reduzida Média – Boa 48-150

Papel proveniente de

RSU Média - Boa Média 127-178

Casca de folhosas Reduzida Boa 116-436

Casca de resinosas Reduzida Boa 131-1285

Papel canelado Boa Média 563

Madeira triturada Reduzida Boa 170

Lamas de pasta de papel Média-Boa Média 250

Lamas de papel

industriais Boa Média 54

Palha Reduzida-

Média Reduzida – Média 142-750

Formações arbustivas Reduzida Boa 53

Aparas de madeira Reduzida Boa 212-1313

Folhas secas a granel Reduzida-

Média Reduzida – Média 40-80

Caule de milho Reduzida Boa 60-73

Milho Reduzida-

Média Boa 56-123

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

38

5.1.2. Água

A água é um factor de produção fundamental no processo de

vermicompostagem. Sem esta as actividades metabólicas da fauna

interveniente quer em compostagem prévia quer em vermicompostagem

efectiva deixarão de existir. É a partir da rega que são criadas condições

para que, primeiramente, as populações microbianas, fungos e

actinomicetes desecadêm reacções de hidrólise dos substratos orgânicos

e, posteriormente, as populações de minhocas desencadearem o processo

de humificação.

O uso e consumos devem ser sustentados em boas práticas de gestão

deste recurso. Deverá ter um processo de controle rigoroso em virtude da

sua incorrecta gestão (excesso de humidade) possibilitar o

desencadeamento de condições anaeróbias com a consequente

proliferação de maus odores.

5.1.3. Trabalho humano e trabalho mecanizado

Qualquer sistema de vermicompostagem depende de trabalho humano e

de trabalho mecanizado conjugados. Desde tractores, biotrituradores e

peneiras mecânicas entre outros. O trabalho humano irá encontrar-se

sempre presente independentemente do tipo de sistema implementado.

Tomando como exemplo um biotriturador mecanizado, este deverá ser

alimentado continuamente se hipoteticamente quiserem ser respeitados

valores de caudal de resíduos triturados.

Page 39: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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A mecanização num sistema de vermicompostagem irá depender em muito

da tipologia de gestão de resíduos, se duma tipologia marcadamente

domiciliar, se duma perspectiva industrial em espaço urbano ou rural.

Desde a fase de transporte de resíduos, passando pela trituração e

terminando na crivagem a

componente mecânica

encontra-se presente numa

escala de evolução na

vermicompostagem caseira

para a vermicompostagem

industrial.

5.2. Outputs

5.2.1. Vermicomposto

O vermicomposto é formado por partículas de dimensão bastante reduzida,

os seus excrementos. Cada uma destas pequenas partículas possui

microrganismos que contêm milhares de bactérias produtoras de enzimas,

fungos, além de, como é natural, restos de matéria orgânica não

decomposta pela minhoca. O ácido húmico, é uma molécula especializada

em fixar na sua estrutura a matéria mineral, nomeadamente os macro-

nutrientes sendo eles o azoto, fósforo, potássio, cálcio, e magnésio bem

como os micro-nutrientes, necessários em quantidades mais reduzidas,

fornecendo-os lenta e correctamente às plantas quando estas necessitam.

Fig. 7 – Aparas de relva

(Fonte: Futuramb)

Page 40: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

40

O vermicomposto encontrando-se presente no solo ou funcionando em

mistura isolado ou com outros substrato, actua dando-lhe certas

características que o melhoram não só na parte física, como também na

parte química. No capítulo VI debruçaremos a nossa atenção no

vermicomposto.

5.2.2. Chá de Vermicomposto

O chá de vermicomposto resulta do processo de lixivação em processos de

vermicompostagem em canteiros ou leiras. Em processos de

vermicompostagem caseira é fundamental que o vermicompostor

apresente drenagem eficiente através de pequenos furos efectuados na

base. De qualquer das formas, em virtude da elevada carga orgânica que o

caracteriza são necessárias diluições e metodologias posteriores para que

efectivamente possamos denominar este lixiviado de chá de

vermicomposto.

5.2.3. Eisenia foetida

A minhoca utilizada em vermicompostagem pertence ao filo Annelida.

Erradamente denominada de Vermelha da Califórnia é, também, conhecida

por minhoca dos resíduos orgânicos ou minhoca do estrume. O filo

Annelida é constituído aproximadamente de 8700 espécies, sendo

agrupados em 3 classes: Polychaeta, Oligochaeta e Hirundinea. As

minhocas podem ser geófagas ou detritívoras. A figura infra apresentada

ilustra as suas direrenças mais significativas relativamente a estas duas

características.

Page 41: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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• Escavam túneis que podem ir até 8 m de

• profundidade;

• Alimentam-se de restos de matéria orgânica e

• mineral;

• São menos prolíferas.

Geofagas

• Alimentam-se de qualquer tipologia de resíduos;

• São mais prolíferas que as geófagas.Detritívoras

Género: Lumbricus

Família: Lumbricidae

Ordem: Haplotaxida

Classe: Oligochaeta

Filo: Annelida

Reino: Animalia

Fig. 8 - Diferenças entre as minhocas geófagas e detritívoras

Cientificamente, a minhoca encontra-se classificada do seguinte modo:

Fig. 9 – Classificação científica da minhoca

Page 42: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

42

A vermicompostagem utiliza espécies Epígeas, únicas capazes de ser

exploradas pelo Homem em condições artificiais, controladas e

rigorosamente monitorizadas.

Quadro 5 – Parâmetros para as três tipologias de minhocas (Fonte Futuramb)

As minhocas são uma das espécies animais mais antigas na Terra, facto

que por si só releva a sua importância, estimando-se que existam cerca de

1800 espécies. São animais caracterizados por apresentarem uma nítida

segmentação ou metamerização externa e interna, incluindo músculos,

nervos e órgãos circulatórios quer excretores quer reprodutores, possuíndo

5 pares de corações e 1 par de rins sendo que o sangue percorre todo o

corpo através de 5 vasos sanguíneos e capilares.

Parâmetro Epígeas Anecisas Endógenas

Alimentação Meso Macro Micro

Predadores Elevado Intermédio Baixo

Mobilidade Elevado Intermédio Baixo

Dimensão Reduzida Média/Elevada Elevada/Média

Pigmentação Pronunciada Média Pouco

pronunciada

Longevidade Reduzida Média / Grande Grande / Média

Período de

gestação Baixo Médio Elevado / Médio

Page 43: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

43

Consomem diariamente, aproximadamente metade do seu peso em

resíduos (aproximadamente 0,5 g no estado adulto), expelindo através do

ânus 60% do dos resíduos consumidos. Possuem cérebro, cavidade bocal,

com uma estrutura denominada prostómio, possuindo função perfuradora,

faringe, esófago, 3 pares de glândulas calcíferas, papo, moela, intestino e

ânus. Possuem ainda próstata, 1 par de testículos, 1 par de ovários e

receptores seminais. A zona digestiva da minhoca possui forma tubular,

percorrendo toda a extensão do seu corpo, da boca ao ânus. A boca da

minhoca encontra-se situada na extremidade que se encontra mais

próxima do clitelo. Como não possui dentes apenas se poderá alimentar de

resíduos de reduzida granulometria, amolecido pela humidade e por

microrganismos.

A sua respiração é feita através da pele por ramificações capilares

(respiração cutânea), daí a necessidade imperiosa de humidade suficiente

na massa de resíduos de qualquer sistema de vermicompostagem. A

minhoca é fotofóbica, tendo, portanto, necessidade de se afastar da luz

solar, seja natural ou artificial. Exposta ao sol por alguns minutos, ela

morrerá com naturalidade. Quanto aos sentidos, não possuem visão nem

audição, mas são sensíveis ao tacto. Quando seccionada na parte dianteira

até o nono anel, a minhoca tem a capacidade de auto-regenerar-se

(regenerando totalmente a sua parte posterior).

Quando o ambiente e a temperatura são favoráveis, a reprodução das

minhocas dura durante quase todo o ano, principalmente nos períodos

Page 44: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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quentes e húmidos e, preferencialmente, à noite. Cada minhoca, em

condições ideais, pode originar 100 a 140 descendentes durante um ano.

As minhocas são hermafroditas incompletos sendo, portanto, necessário

que duas se acasalem para que os ovos de ambas sejam fecundados, pois

não existe auto-fecundação. A cada sete ou dez dias cada minhoca produz

um casulo com o formato de um pequeno grão (da qual saem

posteriormente as suas crias) denominado casulo. Dentro de cada casulo,

existem entre 2 a 15 ovos, podendo ter sido fertilizados ou não.

O período de incubação pode variar entre os 10 a 21 dias, se as condições

do meio forem favoráveis. Caso contrário, os ovos não eclodirão, o que só

ocorrerá quando, naturalmente, as condições forem propícias para o seu

desenvolvimento. Aquando do seu nascimento, as minhocas são brancas,

passando a ter a cor pela qual são conhecidas à medida que o seu

crescimento se vai intensificando. O que caracteriza a sua puberdade é a

existência do clitelo, uma espécie de cinta saliente, esbranquiçada, em

torno do seu corpo, localizando-se a 1/3 do seu comprimento. A

maturidade sexual é atingida entre os 60 e os 90 dias de idade

aproximadamente. Nesta fase reproduzem-se durante grande parte do ano,

sendo o período de acasalamento normalmente durante a noite e durante 2

a 3 horas, na superfície do solo ou do substrato.

O movimento constante da minhoca proporciona ao solo um aumento da

sua porosidade e permeabilidade, ao mesmo tempo que o torna mais

macio, arejado, solto e leve, melhorando fisicamente a sua estrutura e

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

45

composição, tornando mais fácil e rentável o seu trabalho enquanto recurso

necessário às práticas agronómicas.

A minhoca não possui olhos, mas os seus fotoreceptores são sensíveis à

luminosidade, particularmente à luz solar. A epiderme que protege as

células receptoras possibilita á minhoca a distinção entre a luz diurna e

nocturna, perceber pequenas vibrações e seleccionar alimento e parceiros

para a cúpula. Quando uma minhoca morre, o seu corpo rapidamente é

degradado, visto o seu corpo ser constituído maioritariamente por água.

As minhocas são saprófagas, ou seja, alimentam-se somente de matérias

mortas, especialmente de origem vegetal, que são transportadas pelas

galerias por elas criadas, porém também ingerem matérias orgânicas

obtidas nas suas escavações, sendo algumas destas matérias em

decomposição de origem animal.

Espécies utilizadas

Como se afirmou, a espécie mais vulgarmente utilizada nos processos de

vermicompostagem é a Eisenia foetida onde se incluem as subespécies

Eisenia foetida foetida e Eisenia foetida andrei. Estas duas espécies são

as que melhor se adaptam às condições ambientais dos climas

temperados. Outras espécies são utilizadas em menor escala, em virtude

da sua menor tolerância a variações de substratos e edafo-climáticas.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Eisenia foetida foetida

• Também denominada de minhoca brandling ou minhoca zebrada do

estrume;

• Apresenta em cada anel uma banda vermelha com uma zona pigmentada

• Possui comprimento superior;

• Apresenta em cada anel uma banda vermelha alternada com a uma zona

pigmentada.

Eisenia foetida andrei

• Minhoca do terriço e comprimento no estado adulto entre os 50 e os 90 mm.

Fig. 10 - Diferenças entre a minhoca Eisenia foetida foetida e Eisenia foetida andrei.

Fig. 11 - Eisenia Foetida Fig. 12 - Endrilus engeniae

Fig. 13 - Perionyx escavatus.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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a) Humidade

b) Porosidade

c) Natureza dos resíduos

d) Arejamento - oxigénio

e) C/N

f) pH

g) Temperatura

h) Salinidade

Fig. 14 - Parâmetros a considerar na minhoca

a) Humidade

As minhocas respiram através da sua pele e, deste modo, devem existir

teores adequados de humidade com vista à sua sobrevivência. A morte de

uma minhoca ocorre quando a pele desta seca. O seu habitat deve

proporcionar que a água seja absorvida e retida adequadamente. Valores

de humidade inferiores a 50 % não serão adequados. Com excepção do

factor temperatura, com valores elevados e reduzidos de temperatura,

nenhum outro factor determinará a morte das minhocas tão rapidamente

como a escassez de humidade.O ideal teor de humidade para sistemas de

compostagem ronda os 45 – 60 % (Rink et al, 1992). Em contraste, nos

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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sistemas de vermicompostagem, a taxa de humidade ideal deverá ser de

70 a 90 %.

b) Porosidade

Se o material apresenta elevada densidade e elevada compactação

(demasiado pesado), acabará por existir escassez em oxigénio ou este

pode até nem existir. Tal como o Homem, as minhocas necessitam de

oxigénio para as suas actividades metabólicas. Materiais de diferentes

texturas irão afectar a porosidade dos substratos devido ao facto de

existirem diferentes granulometrias e formas, textura e força, e rigidez da

sua estrutura.

c) Natureza dos resíduos / substratos

À medida que as minhocas vão consumindo os substratos, o seu meio vai-

se reduzindo. Contudo, é importante que este processo seja lento e

gradual. Teores elevados em azoto aceleram demasiado o sistema,

degradando rapidamente os substratos e elevando a temperatura, criando

condições fatais à sobrevivência das minhocas. Só após assegurada

decomposição parcial destes resíduos – através de compostagem prévia, é

que se verifica uma colonização natural, uma vez que a temperatura passa

a ser propícia. Resíduos domésticos, como hortícolas e frutícolas,

misturados com materiais ricos em celulose (folhas secas por exemplo)

fornecem um substrato ideal para as minhocas. Carne e lacticínios não

deverão ser utilizados antes de compostados, devido ao seu elevado teor

em lípidos originar odores desagradáveis em resultado da sua

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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decomposição, bem como serem alvo de atracção para insectos e,

também, de roedores. Dejectos de cães e gatos poderão conter

microrganismos patogénicos, sendo potencialmente nocivos para a saúde

humana. Uma forma de realizar a vermicompostagem será colocá-los

separadamente noutro recipiente ou caixa tendo o cuidado de utilizar o

vermicomposto produzido apenas em plantas decorativas e de jardim e

nunca em culturas hortofrutícolas ou arvenses.

d) Arejamento - Oxigénio

As minhocas necessitam de oxigénio para as suas reacções metabólicas,

de modo que não conseguem sobreviver sob condições de anaerobiose.

Quando ocorrem factores a nível de substrato, como sejam excesso de

resíduos contendo azoto (relva verde) ou condições de escassez de

oxigénio devido a existir excesso de humidade, estas podem ser fatais para

as minhocas, podendo matá-las rapidamente. Os teores de oxigénio

encontram-se directamente relacionados com os de humidade. O sangue

ao circular pelos vasos capilares, recebe o oxigénio e elimina o dióxido de

carbono. O oxigénio então combina-se com a hemoglobina do plasma e é

levado para os tecidos.

e) C/N

O fornecimento de um substrato com potencial nutritivo deixa as minhocas

com melhor aptidão reprodutiva. Matérias primas provenientes de resíduos

orgânicos ricos, principalmente, em proteína são a garantia de fortalecer as

minhocas e deixá-las plenamente capazes de se reproduzirem.

Page 50: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

50

f) pH

Valores de pH compreendidos entre 6,5 e 7,5 são considerados óptimos.

Contudo, a minhoca tolera valores de pH compreendidos entre 5 e 9,

embora com o prejuízo da sua actividade quando fora deste intervalo

óptimo. Podemos considerá-la como uma espécie ácido-tolerante pois a

existência de glândulas calcíferas, permite o controlo da acidez dos

resíduos.

g) Temperatura

Para valores de temperatura acima 40ºC as minhocas morrem rapidamente

sendo que abaixo dos 15ºC o seu metabolismo baixa significativamente,

perdendo bastante peso e a sua actividade reprodutora é inibida ou

reduzida. Abaixo dos 0ºC a minhoca congela e morre visto o seu corpo ser

constituído, maioritariamente, por água. O intervalo de temperatura ideal

para a minhoca situa-se entre os 18 ºC e os 24 ºC, favorecendo o seu

crescimento e desenvolvimento e potenciando a reprodução.

Quadro 6 - Influência da temperatura no metabolismo da minhoca

Temperatura

(ºC)

Duração do

crescimento

(dias)

Fecundação Período de

incubação (dias)

10 > 100 0,13 60-86

15 40 0,8 36-46

20 32 1,8 25-35

25 28 3,0 19-25

Page 51: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

51

h) Salinidade

Os teores de salinidade são medidos a través da condutividade. A

presença de elevadas concentrações de matéria mineral em solução

podem ser prejudiciais à actividade da minhocas. A existência de

condições desfavoráveis de cada um destes parâmetros pode conduzir à

fuga, perda de actividade das minhocas ou morte. A fuga é realizada

geralmente durante a noite.

Quadro 7 - Síntese de alguns parâmetros importantes na minhoca

Parâmetro

Nível Óptimo

Nível Adequado

Nível Crítico

Temperatura 20º C 15º - 24º C < 5º C / > 37º C

Humidade 75% 70 - 80 % < 70º % / > 80º %

pH 6,5 – 7,5 6,0 – 8,0 < 4,5 / > 8,5

Conductividade eléctrica

2,5 mmhos/cm 3,0 mmhos/cm > 8,0 mmhos/cm

Proteínas 13% 7,5% - 13% < 7,5 % / > 18 %

Page 52: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

52

Factores de Produção

Input

• Água - humidade;

• Resíduos - biomassa vegetal e animal;

• Temperatura;

• Mínhocas;

• Trabalho humano;

• Trabalho mecanizado.

Output

• Vermicomposto

• Minhocas

• Microrganismos

Fig. 15 – Síntese de inputs e outputs ao Sistema de Vermicompostagem

(Fonte: Futuramb)

Page 53: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

53

Pequenos

Canteiros

• Os canteiros podem ser construídos num pequeno quintal ou

quinta.

• Canteiros em alvenaria ou madeira.

Vermicompostores horizontais

• O ideal para ter numa varanda.

• Ocupa reduzido espaço.

• Pode-se construído a partir de madeira ou

plástico.

Vermicompostores verticais

• Economia de espaço;

• Separação natural das minhocas do

vermicomposto por gravimetria.

CAPÍTULO III VERMICOMPOSTAGEM DOMÉSTICA

1. Modelos de vermicompostagem

No conforto no nosso lar, habitando em moradia ou apartamento, numa

cidade ou vila, a vermicompostagem doméstica assume-se como a solução

mais adequada para a gestão dos seus resíduos biodegradáveis. Caso

possua um quintal, a situação será ainda mais vantajosa. Assim sendo, a

vermicompostagem caseira pode ser levada a cabo das seguintes formas:

Fig.16 – As diferentes formas de fazer vermicompostagem em casa

Page 54: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

54

Pequenos Canteiros em alvenaria, madeira ou material similar

Poderá construir pequenos canteiros em alvenaria em locais com algum

espaço, nomeadamente um pequeno bairro com moradias e que disponha

em cada casa de um pequeno quintal. As dimensões são variáveis,

contudo existem padrões a cumprir, nomeadamente comprimento e

largura. A sua construção baseia-se em, grande parte, na construção de

canteiros de vermicompostagem em espaço rural. Um sistema

multifuncional também se apresenta como viável, como por exemplo um

vermicompostor em madeira e outro em alvenaria.

Vermicompostores em sistema horizontal

Os vermicompostores em sistema horizontal apresentam a maior

percentagem das utilizações para vermicompostagem em espaço urbano.

Os vermicompostores necessitam de possuir área superficial ou da base

superior à sua altura de modo a que não exista compactação dos resíduos

e posterior escassez em

oxigénio. Se reside num

apartamento esta solução é

a ideal para si. Numa

varanda ou cozinha poderá

instalar o seu

vermicompostor.

Fig.17 - Exemplo de um vermicompostor em sistema

horizontal (Fonte: Futuramb)

Page 55: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

55

Vermicompostores em sistema vertical

Para situações de reduzido espaço, a solução da disposição de caixas na

posição vertical apresenta-se como uma maneira vantajosa de economizar

espaço, se este já for problemático. Este sistema apresenta diversas

vantagens, entre as quais a separação natural das minhocas do

vermicomposto por gravimetria.

A existência de uma ou mais malhas é vista como fundamental de modo a

fazer a separação por diferentes dimensões, neste caso entre as minhocas

e o vermicomposto.

Geralmente, com duas malhas são encontradas três zonas distintas: a

primeira no qual os resíduos

são adicionados e onde não

existe actividade de minhocas

existindo apenas actividadde

microbiana; uma segunda,

onde existe actividade mútua e

uma terceira onde a actividade

das minhocas é praticamente

inexistente com predominância

de bactérias e fungos

mesofílicos e vermicomposto

produzido.

Fig. 18 - Vermicompostor Futuramb (Fonte: Futuramb)

Page 56: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

56

Humidade

• A cama das minhocas deve promover um ambiente arejado, húmido e propício ao seucorrecto metabolismo;

• O substrato deve ser constituído por tiras de papel de jornal ou de revista humedecidas emágua.

Luz

• Aconselhados locais com sombra durante grande parte do dia.

Inclinação

• Área levemente inclinada de modo a evitar o encharcamento na época das chuva se optar por colocar o vermicompostor no terraço, pátio ou jardim;

• Contudo, na possibilidade de colocar o vermicompostor no interior da habitação esta opção deverá ser vista como prioritária.

Acessos

• Deve existir facilidade para acesso a água potável, energia eléctrica e resíduo. No caso último o problema é de fácil resolução.

Arejamento• Fazer furos no seu vermicompostor de modo a promover o arejamento.

pH

• Substrato com pH compreendido entre os 5,0 e 9,0 – para os casos em que o vermicompostor é colocado no jardim e em contacto com o solo;

• Contudo valores óptimos situam-se entre os 6,5 e os 8,0.

Ruído

• A presença de ruído excessivo, nomeadamente maquinaria e outros equipamentosmecânicos, pode ser prejudicial à actividade das minhocas na medida em que estas sãobastante sensíveis ao ruído e trepidações. Deve pois colocar o seu sistema em ambiente dereduzida incomodidade acústica.

2. Escolha do local mais adequado

Fig. 19 – Aspectos a ter em conta para a escolha do local mais adequado

Page 57: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

57

O local mais adequado para a colocação do vermicompostor depende de

vários factores como sejam a luminosidade, a temperatura e até mesmo

acessibilidades a factores de produção como a água. O local mais

adequado para dar início à vermicompostagem passa pela escolha de um

local com poucas ou nenhumas fontes de ruído e trepidação. Todos os

factores apresentados anteriormente apresentam estreita relação entre si

em particular humidade e arejamento.

Assim, e a título de exemplo para um correcto grau de humidade,

necessitará de controlar a luminosidade sob forma de a primeira se perder

por evaporação. Outro exemplo é o arejamento. Sistemas com excesso de

humidade apresentarão carência de oxigénio entrando imediatamente em

anaerobiose, que, para além de potenciarem a formação de odores

desagradáveis, criarão condições menos propícias ao desenvolvimento das

minhocas.

3. O Vermicompostor

3.1. Sistema horizontal

O vermicompostor é uma estrutura feita em madeira ou plástico. Deve

apresentar furos no seu topo e nas paredes laterais. Pode também fazer

furos no fundo de modo a aproveitar o lixiviado produzido para convertê-lo

em chá de vermicomposto, outros dos outputs da vermicompostagem já

referidos.

Page 58: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

58

A escolha do vermicompostor deve ser feita tendo em atenção a sua

capacidade, a produção de resíduos por habitante do agregado familiar. O

vermicompostor deve ainda ter em conta o espaço disponível (em

apartamentos o espaço deverá ser optimizado).

Durabilidade, garantia e custo também deverão ser factores a ponderar na

construção / compra do vermicompostor. A título de exemplo, uma caixa

construída em madeira não tratada acabará por apodrecer ao fim de 4 a 5

anos. Contudo, apresentam menor condutividade térmica, não

proporcionando temperaturas elevadas no vermicompostor. Ao contrário,

as caixas de plástico apresentarão uma durabilidade bastante superior, ao

passo que a sua condutividade térmica será bastante superior.

Os vermicompostores em madeira possuem a vantagem de serem mais

absorventes e suportarem maiores taxas de insolação. Não deve utilizar

madeiras tratadas com substâncias químicas perigosas. O plástico tenderá

a manter a mistura de resíduos demasiado húmida, visto não absorver

humidade. Contudo, o plástico apresenta a vantagem de permitir uma

limpeza mais fácil do vermicompostor, provocando menos trabalho na sua

manutenção. Já sabe, pondere a sua escolha em função da natureza dos

materiais à sua disposição.

3.2. Sistema vertical

O sistema vertical consiste em caixas suspensas em prateleiras, não

existindo o inconveniente da separação das minhocas do vermicomposto

Page 59: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

59

final produzido. Tal sucede devido ao facto de as minhocas migrarem de

uma caixa para outra por forma gravimétrica.

A área para a sua localização é pequena, existindo um melhor controle da

produção de vermicomposto e ao mesmo tempo o combate aos inimigos

naturais das minhocas é mais eficiente, sendo estas duas as grandes

vantagens deste sistema.

Cada caixa deverá possuir 50 cm de comprimento, 25 a 30 cm de largura e

25 cm de altura e a parte inferior de cada caixa deverá possuir uma tela

que apenas permita a passagem de minhocas para a caixa imediatamente

inferior. Podem ser construídos sistemas na vertical em formato cilíndrico.

4. Construção e iniciação do vermicompostor

Abordemos agora a construção de um vermicompostor. A escolha recaiu

num sistema horizontal visto ser este o mais comumente utilizado em

sistemas de vermicompostagem doméstica.

Seguidamente encontram-se descriminados, em sequência, as etapas de

construção de um vermicompostor caseiro.

a) Construção do vermicompostor

Page 60: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

60

Reutilização / Valorização de Fluxos e Fileiras de resíduos

Utilizando madeira, na forma de palletes usadas poderá construir o seu

vermicompostor de forma fácil, barata e ambientalmente sustentável. Esta

opção, também, é a que ocupa menos espaço. O vermicompostor poderá

ser ainda uma velha gaveta ou aquário que já não tenha qualquer

utilização. Uma caixa de sapatos, bem isolada, também lhe oferece uma

excelente solução.

Dimensões

As dimensões de um vermicompostor dependerão da natureza do material

que lhe deu origem e da produção de resíduos do agregado familiar. É

evidente que um vermicompostor construido a partir de placas de madeira

reutilizadas será sempre superior a um utilizando uma gaveta velha, por

exemplo. Tenha em atenção que vermicompostores muito profundos

possibilitarão a compactação dos resíduos, uma vez que as minhocas se

alimentam na horizontal. As dimensões vulgares e aconselhadas para um

vermicompostor são: comprimento de 60 cm, largura de 25 cm e altura de

30 cm.

Construção da Cama das Minhocas

A cama das minhocas apresenta-se como uma estrutura colocada à

posteriori da construção do vermicompostor. Este será o primeiro substrato

das minhocas. A cama das minhocas é constituída por tiras de jornal,

algum substrato com microrganismos para acelerar inicialmente o sistema

e resíduos. Tenha em atenção que o jornal não deverá conter restos de

Page 61: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

61

resíduos perigosos, como sejam tintas e vernizes. A cama das minhocas

deve ser mudada de 2 em 2 meses ou, sempre que tal seja necessário.

Arejamento

Perfure o vermicompostor usando um berbequim. Os furos deverão ter 3 a

5 mm de diâmetro e servirão para manter arejado o vermicompostor,

fornecendo oxigénio às minhocas, tornando aeróbio o sistema.

Lixiviados

O vermicompostor deve ser perfurado na sua base utilizando um

berbequim. Não se esqueça que este procedimento também é muito

importante! Desta forma, os lixiviados são drenados num recipiente

evitando o excesso de humidade e a anaerobiose e maus odores no

vermicompostor. Além de que produz outro produto como seguidamente irá

ser abordado – o chá de vermicomposto também como solução fertilizante.

Protecção

Qualquer vermicompostor deve possuir uma tampa ou cobertura que o

proteja das perdas de humidade. Se não possuir tampa a cama do

vermicompostor pode ser coberta por folhas secas ou palha. Este material

evita ainda a penetração da luz. Caso o vermicompostor se encontre no

exterior é conveniente a cobertura com uma rede para evitar os ataques de

outros animais. Os vermicompostores que se encontrem no exterior da sua

habitação devem ser isolados do frio para proteger as minhocas. Uma das

opções é construir um buraco rectangular com aproximadamente 25 cm de

Page 62: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

62

profundidade e introduzir o vermicompostor nesse espaço. Caso contrário

utilize rede sombra.

b) Iniciação do vermicompostor

Material:

Folhas de jornal;

Tesoura;

Tina ou outro recipiente;

Luvas de látex;

Balança;

Copo graduado de 1 a 3 L;

Mesa;

Regador;

Minhocas;

Solo;

Resíduos;

Água.

Procedimento Experimental :

a) Rasgar folhas de jornal em pequenas tiras de 2 a 3 cm de largura

utilizando uma tesoura;

b) Mergulhar rapidamente as tiras numa tina em água de modo a que

estas fiquem humedecidas;

c) Ter o cuidado que não fiquem demasiado molhadas;

Page 63: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

63

d) Amarrotar as tiras de jornal sem as compactar em demasia;

e) Abrir a tampa do vermicompostor;

f) Colocar as tiras de jornal compactadas no fundo do vermicompostor;

g) Introduzir solo para inocular microrganismos no vermicompostor,

acelerando o arranque do processo;

h) Regar;

i) Pesar 300 g de minhocas numa balança. Esta massa de minhocas

corresponde a aproximadamente 200 a 300 minhocas; no mínimo

deverão ser colocadas 0,5 a 3,0 L de minhocas por cada m2 do

vermicompostor;

j) Colocar as minhocas sobre a cama (solo + tiras de jornal);

k) Aguardar que as minhocas penetrem na cama, acto que deve ocorrer

normalmente, em resultado de serem fotofóbicas;

l) Colocar os resíduos por cima da cama e cobrir com mais substrato;

m) Regar;

n) Cobrir com folha de jornal pré-humedecida;

o) Deixar o vermiompostor em repouso, sem adicionar resíduos durante 2

a 3 semanas, de modo a que as minhocas se ambientem ao novo meio,

dando início ao processo;

p) Se necessário, realizar teste da toxicidade.1

1Teste da toxicidade

a) Colocar num recipiente, um pouco de vermicomposto;

b) Regar e arejar de modo a evitar a presença de possíveis substâncias tóxicas devido

aos processos de fermentação;

Page 64: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

64

c) Colocar 20 minhocas sobre o vermicomposto – é conveniente realizar esta operação

com presença de luz natural de modo a que as minhocas penetrem naturalmente;

d) Aguardar 24 horas;

e) Se as minhocas se encontrarem em bom estado de saúde (notar a coloração da

mesma), os resíduos encontram-se em condições de serem decompostos;

f) Se alguma minhoca sair de recipiente ou se se verificarem mortes, o compostado não

apresenta a qualidade desejada;

g) Aguardar outras 24 horas em caso de resultados inconclusivo.

5. Manutenção do Vermicompostor

A manutenção do vermicompostor deve ser realizada periodicamente,

sempre que necessário. Uma vez por mês a cama deve ser renovada, ou

de 15 em 15 dias se a situação o justificar. Além disso, após as primeiras

semanas, devem ser adicionados resíduos ao vermicompostor 3 a 4 vezes

por mês; O jornal, por ser biodegradável tende a ser consumido pela fauna

macro, meso e microbiana existente no vermicompostor. Se tiver sorte,

reparará na presença de aranhas, bichos-de-conta e outros invertebrados.

Material:

Tina;

Luvas de látex;

Água;

Folhas de jornal;

Regador;

Resíduos;

Page 65: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

65

Minhocas;

Ancinho.

Procedimento experimental1:

a) Afastar um pouco a cama das minhocas e espalhar uniformemente os

resíduos;

b) Cobrir novamente com a cama;

c) Revolver, cuidadosamente, o material com um ancinho;

d) Adicionar tiras de jornal humedecidas previamente sempre que

entender necessário manter os resíduos cobertos ou os teores em

humidade adequados ou, ainda, evitar o aparecimento de moscas e

outros insectos;

e) Fechar o vermicompostor com a tampa após cada operação de

inoculação de minhocas, resíduos ou tratamento da cama.

1Notas

Adicionar à cama da minhoca pequenas quantidades de resíduos de cada vez,

especialmente na fase de arranque do processo;

Para uma quantidade exagerada de resíduos, a cama pode aquecer

demasiado e libertar odores desagradáveis, provenientes de condições de

anaerobiose;

A cama nunca deverá estar encharcada; se houver excesso de água, colocar

papel seco em quantidade suficiente para absorver a humidade;

Page 66: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

66

A cama nunca deverá estar seca demais, pois poderá servir de abrigo a várias

pragas;

O vermicompostor deverá ser colocado num local abrigado e à sombra, para

que a temperatura do seu interior se mantenha entre os 10ºC a 27ºC;

Após o contacto com resíduos frescos e/ou com a cama das minhocas, dever-

se-á ter o cuidado de lavar bem as mãos.

6. Separação das minhocas do vermicomposto

Em seguida são indicados os métodos de separação das minhocas do

vermicomposto. Tenha em atenção de que existem métodos mais fiáveis

do que outros e que apenas experência o poderá levar a melhorar os seus

procedimentos. Note que todas as metodologias exigem tempo e

dedicação, seja em que situação for.

Método da Migração ou Separação Natural

Material:

Luvas de látex;

Folhas de jornal;

Tina;

Água;

Resíduos.

Page 67: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

67

Procedimento experimental:

a) Arrastar o conteúdo do vermicompostor para um dos lados do

vermicompostor;

b) Na zona que ficou vazia, colocar uma nova cama e adicionar resíduos

ou borras de café apenas a esse lado;

c) Ao fim de 1 a 2 semanas as minhocas acabarão por migrar

naturalmente em resultado da presença de nova matéria orgânica para

decomposição;

d) Este método é algo lento mas exige pouco trabalho, sendo o mais

indicado para principiantes em vermicompostagem.

Método do Balde

Material:

Luvas de látex;

Folhas de jornal;

Tina;

Balde ou outro recipiente;

Garrafas de água de 1L;

Coador;

Papel de filtro;

Água (18 ºC – 25 ªC);

Resíduos.

Page 68: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

68

Procedimento experimental:

a) Despejar todo o conteúdo do vermicompostor num balde ou outro

recipiente;

b) Adicionar um pouco de água ao balde;

c) Durante algum tempo, não existirá qualquer problema para as

minhocas – durante cerca de 2 minutos;

d) Coar o conteúdo do recipiente para outro recipiente; em alternativa

filtrar com papel de filtro;

e) Guardar o chá de vermicomposto em garrafas de plástico;

f) As minhocas, a cama e os resíduos devem ser de novo colocados no

vermicompostor.

Método da Luminosidade

Material:

Luvas de látex;

Folhas de jornal;

Candeeiro (se separação realizada à noite);

Tesousa;

Tina;

Água;

Resíduos.

Page 69: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

69

Procedimento experimental:

a) Fazer pilhas de vermicomposto;

b) Incidir luz natural ou artificial forte por cima durante alguns minutos;

c) Após sentirem a forte luminosidade, as minhocas irão mover-se para o

interior da pilha;

d) A parte mais superficial irá ficar sem qualquer minhoca;

e) Retirar a parte superficial e armazená-la;

f) Repetir o processo até que apenas exista um pequeno aglomerado

central de minhocas;

g) Voltar a colocar este pequeno aglomerado no vermicompostor;

h) Adicionar nova cama.

Método da Separação Manual

Material:

Luvas de látex;

Folhas de jornal;

Tesoura;

Tina;

Água;

Resíduos.

Page 70: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

70

Procedimento experimental:

a) Espalhar o conteúdo do vermicompostor (vermicomposto e restos de

matéria orgânica não humificada) por cima de uma folha de jornal ou

plástico;

b) Colher as minhocas até que a maior parte destas tenha sido separadas

do vermicomposto;

c) Adicionar as minhocas ao vermicompostor;

d) Adicionar nova cama.

7. Resolução de problemas identificados

Os problemas identificados num sistema de vermicompostagem doméstica

são variados. De acordo com a sua natureza disponibilizamos a sua

possível causa e a medida ou medidas a adoptar. A experiência poderá

ser-lhe vantajosa com o decorrer da actividade, uma vez que lhe permitirá

eliminar possíveis causas.

Page 71: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

71

Quadro 8 – Medidas a adoptar em função dos problemas identificados

Problemas

Possíveis causas

Medidas a adoptar

Minhocas acumulam-se nas camadas superiores do

vermicompostor. Cama demasiado húmida.

Excesso de humidade – água.

Renovar a cama de minhocas.

Juntar novas tiras de jornal secas, aumentando a

absorvência do material. Não adicionar resíduos com

elevada humidade, como por exemplo melancia ou

tomate.

As minhocas acumulam-se no fundo do

vermicompostor. Cama demasiado seca – não escorrendo gotas de água ao

espremer um pouco de matéria orgânica proveniente do

vermicompostor.

Falta de humidade – água. Borrifar a cama com água.

Aumentar os teores de humidade.

Odores desagradáveis

Cama com falta de oxigénio.

Adição de resíduos em excesso.

Reduzir ou até mesmo interromper

a adição de resíduos. Revolver bem a cama de

minhocas. Se existirem cebolas e/ou bróculos deve retirá-los

pois estes provocam odores desagradáveis

quando decompostos. *

As minhocas começam a utilizar como alimento os seus

próprios excrementos – atenção que estes são tóxicos

para as mesmas. Excesso de resíduos no

vermicompostor.

Falta de resíduos. Necessária mudança da

cama das minhocas.

Adicionar novos resíduos. Mudar a cama das

minhocas.

Page 72: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

72

Presença de moscas e outros

insectos.

Maus odores

Resíduos com alguma dificuldade em se

decompor – carne, peixe, leite

ou gorduras. Esta decomposição é

essencialmente anaeróbia – pouco eficiente.

Não colocar estes resíduos no vermicompostor.

Aparecimento de moscas e outros insectos.

Decomposição lenta Ambiente ácido (provavelmente

devido à presença de citrinos)

Não utilizar alimentos já em decomposição anaeróbia

(podres). Introduzir resíduos variados, de forma

suficiente e em pequenos pedaços.

Enterrar os alimentos na cama das minhocas.

Retirar os resíduos em decomposição.

Colocar uma taça de vinagre e uma gota de

detergente de louça perto do vermicompostor.

Expor o vermicompostor ao ar e sem luminosidade

directa durante algumas horas.

Page 73: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

73

1.1. Canteiros

1.2. Leiras

1.3. Leiras em Contínuo

1.4. Leiras em Descontínuo

1.5. Vermicompostores / Reactores

CAPÍTULO IV VERMICOMPOSTAGEM EM ESPAÇO RURAL

1. Sistemas de Vermicompostagem – Descrição geral

Em espaço rural, existem três sistemas básicos de vermicompostagem –

os sistemas de canteiros e de leiras e os bioreactores. Os sistemas de

canteiros e leiras podem, ainda, dividir-se cada qual em contínuo e

descontínuo, consoante exista adição regular ou não de resíduos ao longo

de um ciclo de produção de vermicomposto. Um vermicompostor pode ser

entendido como um bioreactor e pode ser utilizado da mesma forma que é

utilizado em Vermicompostagem Doméstica ainda que com as necessárias

adaptações.

Fig.20 - Tipos de vermicompostagem existentes em Espaço Rural

Page 74: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

74

1.1. Sistemas de Canteiros

Um sistema de canteiros representa uma variação do sistema de leiras. Em

redor dos resíduos é construído um sistema que permite isolar estas do

exterior. Este sistema de isolamento pode ser realizado em alvenaria ou

madeira. Como nos vermicompostores, são colocadas populações de

minhocas no canteiro para se processar o seu início. Os canteiros são

inoculados com resíduos manual ou mecanicamente, sempre do mesmo.

Canteiros implementados directamente em solo possuem baixo custo de

construção e devem ser construídos em solos de textura franco-argilosa,

contudo, aconselhamos a sua impermeabilização. Podem sofrer

adequações ou incorporações em função das condições edafo-climáticas

de cada região, ou seja, podem ser abrigados em estufas em regiões de

Inverno rigoroso, podem ser rebaixados em locais de ventos frios, como

também podem ser abrigados em regiões de clima quente. A separação

das minhocas do vermicomposto pode ser realizada naturalmente,

utilizando iscos ou por crivagem.

Pode ser utilizado em contínuo – com adição regular e períodica de

resíduos ou em descontínuo - em que são adicionados resíduos com

inoculação de minhocas posteriormente sem adição de resíduos até final

do processo. A área de implantação das camas deve possuir um declive

aproximadamente 2% e estar protegidos por sistemas de drenagem

superficial ou subterrânea. Apresenta-se em forma rectangular, com 1,0 a

1,5 m de largura, 10 a 20 m de comprimento e 0,3 a 0,4 m de altura

Page 75: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

75

podendo apresentar a forma

e dimensões que mais se

possam adequar às

especificidades do local.

Contudo, a altura e a largura

são factores a fixar.

1.2. Sistema de Leiras

Da mesma forma que os canteiros, os sistemas de leiras podem estar

localizados no interior de agroecossistemas em regiões de clima quente,

bem como em locais de ventos frios, sendo protegido por divisões, ou até

inseridos em pavilhões.

Tal como nos vermicompostores e nos canteiros em alvenaria, são

colocadas populações de minhocas no canteiro para se processar o seu

início. Os sistemas de leiras, também, podem ser utilizados em contínuo ou

descontínuo, não necessitando da construção de divisões em alvenaria ou

madeira, razão pela qual o seu custo de implementação é inferior ao dos

canteiros. Num sistema em contínuo os resíduos compostados são

introduzidos nas leiras e, posteriormente, são inoculadas com minhocas.

Depois, novos resíduos previamente compostados são introduzidos no

sistema à medida que vermicomposto vai sendo produzido. Recomenda-se

Fig. 21 – Canteiros de vermicompostagem no CIA

(Fonte: Futuramb)

Page 76: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

76

este sistema, sobretudo, onde a produção diária de resíduos atinge

volumes consideráveis e consiste na formação de resíduos em camas

paralelas.

Tal como nos canteiros, a área de implantação das camas deve possuir um

declive aproximadamente 2% e estar protegidos por sistemas de drenagem

superficial ou subterrânea. Este sistema apresenta-se, também, em forma

rectangular, com 1,0 a 1,5 m de largura, 10 a 20 m de comprimento e 0,3 a

0,4 m de altura. Contudo, podem apresentar a forma e dimensões que mais

se possam adequar às especificidades do local: sistemas quadrangulares

ou circulares. O Inverno reduz a sua eficiência, resultando em menores

tempos de processamento (humificação) comparando com sistemas

fechados.

2. Factores a ter em conta

O ideal para se poder inicar um modelo de vermicompostagem numa

exploração, quinta ou ecossistema agrícola é dispor de um terreno com

cerca de 25 m de comprimento por 20 m de largura. Inicialmente, este

sistema servirá os objectivos de um processo em pequena escala. Requer

ainda a disponibilidade de água proveniente de saneamento básico ou de

captação de um aquífero, entre outros.

Page 77: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

77

Operações

Unitárias

• Necessário um maior número de operações unitárias;

• Necessidade de amplitude de espaço, em comparação com o processo meramente de compostagem;

• Tratamento dos resíduos, preparação do composto, colocação dos resíduos compostados, arejamento e humidade.

Factores

Externos

• Na sua grande maioria das vezes, o processo de vermicompostagem precede o processo de compostagem, fruto das características dos materiais de origem;

• Existe maior vulnerabilidade a factores externos – condições climatéricas;

Investimento

• Necessidade de maior investimento inicial, como por exemplo em minhocas,;

• Maior vulnerabilidade a factores climáticos (precipitação, temperatura) em comparação com a compostagem;

Energia

• Maior input de energia humana;

• É necessário maior área disponível, uma vez que as minhocas se alimentam àsuperfície e não em níveis de profundidade superiores a um metro;

Fig. 22 - Aspectos a ter em conta em Espaço Rural

3. Que resíduos utilizar

Os resíduos orgânicos com maior interesse agronómico são, fruto das

elevadas quantidades produzidas e da sua composição, os provenientes da

agricultura e pecuária (estrumes e chorumes), das residências (resíduos

sólidos urbanos e águas residuais urbanas) e da indústria agro-alimentar.

Os efluentes devidamente tratados deixarão de ser considerados resíduos

Page 78: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

78

• Estrumes e chorumes

• Resíduos silvícolas (ex. podas de formações aero-arbustivas)

Biomassa agro-pecuária

• Resíduos Domiciliares

• Resíduos de estabelecimentos comerciais e industriais;

• Resíduos de restauração.

Fracção Orgânica dos RSU

• Lamas de ETAR domésticas

• Lamas Industriais (ex. pasta de papel)Lamas de ETAR

domésticas e industriais

mas sim produtos ou bens, merecendo a designação de adubos ou

correctivos orgânicos, consoante as suas características, nomeadamente

os teores de azoto, fósforo e potássio entre outros.

Fig. 23 – Tipologias de resíduos passíveis de valorização

Biomassa Agro-pecuária (estrumes e chorumes)

A principal propriedade que confere interesse agronómico a esta tipologia

de resíduos é a sua riqueza em matéria orgânica, sendo, também,

relevante o seu conteúdo em nutrientes. Têm, contudo, potencial

contaminante, pelo que devem submeter-se a uma gestão que previna

riscos para o ambiente e para a saúde animal e pública. As estratégias de

Page 79: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

79

gestão destes resíduos terão, forçosamente, que partir do conhecimento

das produções e das suas características intrínsecas.

Alguns materiais apresentam elevada C/N. Contudo, outros, apresentam

relações C/N baixas, sendo necessária uma decomposição prévia em

ambos os casos. Noutras situações, os materiais apresentam as condições

térmicas e granulométricas para que possam ser introduzidos

imediatamente no processo de vermicompostagem. A necessidade de

misturas de diferentes tipologias de resíduos é vista como uma

necessidade em quase todos os sistemas de vermicompostagem. O

quadro seguinte indica as variações em Kg da massa de resíduos em

função de diferentes misturas. A adição de matéria vegetal diminui a

densidade da mistura em comparação com estrume fresco de vaca isolado.

Quadro 9 - Cálculo da disponibilidade de material orgânico possível de reciclar

(Fonte Futuramb)

Resíduo Massa

aproximada (Kg)

1 m3 de matéria vegetal com humidade acima de 90%

400

1 m3 de estrume fresco de vaca 600

1 m3 de mistura de material vegetal e estrume fresco de vaca (50% v/v)

500

Page 80: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

80

As características agronómicas de alguns estrumes e outras tipologias de

resíduos encontram-se indicadas no quadro abaixo. Outros tipos de

resíduos incluem os silvícolas frutícolas e hortícolas.

Quadro 10 - Características de algumas matérias- primas utilizadas em compostagem

(Fonte Futuramb)

Resíduo % Humidade % C % N C/N

Estrumes

Cavalo 72,0 48,0 1,6 30,0

Vaca 81,0 45,6 2,4 19,0

Porco 80,0 43,4 3,1 14,0

Ovelha 69,0 43,2 2,7 16,0

Galinha 69,0 48,0 8,0 6,0

Aviário 37,0 37,8 2,7 14,0

Outros resíduos

Fenos 10,0 11,4 2,1 24,0

Folhas 12,0 56,0 0,7 80,0

Aparas de madeira 50,0 47,0 0,09 522,0

Palha 12,0 56,0 0,7 80,0

Podas de arbustos 15,0 53,0 1,0 53,0

Podas de árvores 70,0 49,6 3,1 16,0

Relva 82,0 57,8 3,4 17,0

Restos de fruta 80,0 56,0 1,4 40,0

Resíduos de legumes - 52,0 4,0 13,0

Resíduos de peixe 76,0 38,2 10,6 3,6

Restos de sangue

(matadouros) 78,0 49,0 14,0 3,5

Serradura 70,0 46,0 0,14 329,0

Silagem de milho 68,0 60,2 1,4 43,0

Page 81: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

81

Fracção Orgânica dos RSU

Quadro 11 – Quantidade de RSU e fracção da matéria orgânica de alguns sectores

(Adaptado de VALORSUL, 1997, Fonte: Valorsul)

Sector / Actividade

Produção de RSU

(t/ano)

Produção de M.O.

(t/ano)

Amostra Universo Amostra Universo

Empresas de

“catering”

1869 1869 1215 1215

Cantinas /

Refeitórios

3619 14400 2533 10080

Cantinas

Universitárias

914 914 640 640

Hospitais 365 2421 256 1695

Estabelecimentos

militares

4542 5047 3180 3533

Estabelecimentos

Prisionais

196 196 147 147

Hotéis 1235 2310 803 1500

Restaurantes e afins 20970 112220 16776 89776

Centros comerciais 6755 8106 4728 5674

Hipermercados 1800 3600 1440 2880

Supermercados - - 63 1355

Mercados

Retalhistas

2964 5900 1778 3540

Feira Popular - 1200 - 780

Page 82: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

82

A produção de RSU determina percentagens de matéria orgânica que

devem ser valorizadas, por forma a inviabilizar a sua transferência para

aterro sanitário. Devem, pois, ser tomadas metodologias com vista à

redução de fracções biodegradáveis que podem ser sujeitas a valorização

biomecânica, como seja a vermicompostagem.

4. Equipamento

O equipamento de monitorização e tratamento de resíduos é fundamental

durante o processo de vermicompostagem. Assim, é listado o equipamento

de uso corrente em vermicompostagem doméstica e em espaço rural.

Ancinho

Deve possuir dentes arredondados de modo a não ferir as minhocas. São

utilizados para extrair as minhocas dos canteiros ou leiras e revolver os

resíduos durante o processo de compostagem.

Balança

Necessária para efectuar pesagens de resíduos triturados. De importância,

ainda, para a determinação das melhores misturas para compostagem

através de pesagens de resíduos contendo carbono e azoto em diferentes

percentagens.

Balde

Colocação de vermicomposto e outros substratos.

Page 83: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

83

Biotriturador

Utilizado antes de iniciar o processo de compostagem, para triturar

resíduos de diferentes

granolometrias. O diâmetro

máximo de trituração deverá

rondar os 10 a 12 cm. Outro

biotriturador pode ser utilizado

para diâmetros mais reduzidos

até 3 cm.

Carro de mão

Transporte de resíduos para os canteiros, bem como o vermicomposto.

Crivo Manual

As dimensões mais comuns são 2m×1m, possui diferentes tamanhos de

malha. Comporta, aproximadamente, entre 2 a 3 m3/dia de vermicomposto.

São utilizados para efectuar a crivagem de vermicomposto com vista à

obtenção granulometria mais fina, favorecendo a sua aplicação nas

culturas.

Forquilha

Remoção e manuseamento de resíduos.

Fig. 24 – Biotriturador no CIA

(Fonte: Futuramb)

Page 84: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

84

Higrómetro

Medição dos teores de humidade nos compostores, canteiros e leiras de

vermicompostagem.

Luvas

Protecção contra agentes patogénicos.

Medidor de pH, C.E. e temperatura

Medição dos valores de pH nos compostores, canteiros e leiras de

vermicompostagem.

Rede sombra

Cobertura e isolamento das leiras e canteiros.

Potenciómetro (opcional)

Medição dos valores de pH nos compostores, canteiros e leiras de

vermicompostagem.

Peneira Mecânica

As dimensões recomendadas são 1,0 m de comprimento por 0,5 m de

largura, possuir diferentes tamanhos de malha e variador de velocidade.

Reservatório

Recolha de águas lixiviantes provenientes dos canteiros, compostores e

para armazenamento de água de rega.

Page 85: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

85

Termómetro

Medição dos valores de temperatura durante os processos de

compostagem e vermicompostagem. Aconcelhada sonda de temperatura

acoplada.

Tractor / Transporte mecanizado

Utilizado para revolver os resíduos em fase de compostagem como,

também, o vermicomposto em fase de secagem. Importante para o

transporte entre diferentes operações unitárias.

5. Métodos de Construção e Iniciação

5.1. Sistemas de Canteiros

Aconselha-se que a confecção das camas seja realizada com materiais

disponíveis no seu local e de menor custo possível. Salvo razões de

estética, na prática qualquer material pode ser utilizado para a construção

das camas. Por exemplo: madeira, tijolos, cimento, etc. Indispensável é

que o muro da leira resista à água. Os canteiros poderão ser construídos

individualmente ou geminados. Os canteiros duplos apresentam melhores

resultados, pois permitem maiores facilidades de acompanhamento e

manuseamento, bem como menor custo de construção. Devem possuir

caminhos de circulação à sua volta, de forma a proporcionar o trânsito de

equipamentos de transporte previsto. O fundo pode apresentar três

Page 86: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

86

tipologias: piso em solo, impermeabilização em betão e impermeabilização

em tela geotêxtil.

Material:

Resíduos compostados;

Tractor;

Forquilha;

Ancinho;

Rede sombra;

Palha;

Serradura

Madeira;

Tijolos;

Equipamento de uso corrente.

Procedimento Experimental2:

a) Escolher um local de fácil acesso de modo a que todos os resíduos

possam chegar aos canteiros;

b) Construir os canteiros em local com alguma inclinação (cerca de 2 a

5%), de modo a que possa receber alguma luz solar e situados a favor

do vento;

c) Deverá ter em conta, que cada canteiro necessita de cerca de 35 m2 de

área útil de modo a que a entrada de máquinas, equipamentos e meios

humanos seja facilitada;

Page 87: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

87

d) Primeiramente, deverão ser construídas as estruturas laterais e só

depois deverão ser introduzidos os resíduos e, posteriormente,

inoculados com minhocas;

e) Os canteiros devem ser alinhados, no sentido do declive do terreno (2%

a 5%). Este sistema pode ser protegido, por uma cobertura, de forma a

evitar a incidência das águas provenientes da precipitação;

f) Cada canteiro deverá possuir 10 a 20 m de comprimento e 1,5 m de

largura. A altura deverá situar-se entre os 0,3 e os 0,5 m. De qualquer

das formas, as dimensões comprimento e largura irão depender do

espaço que existe disponível;

g) Introduzir resíduos no canteiro através de tractor ou manualmente;

h) Inocular o canteiro com 2 a 3 L de minhocas por m2 minhocas à luz do

dia, nos espaços abertos da cobertura vegetal, favorecendo deste

modo, a sua rápida inserção na unidade;

i) Esta operação deve ocorrer nas primeiras horas da manhã, para que as

minhocas tenham o máximo período diurno de adaptação, reduzindo-se

assim a possibilidade de fuga com a chegada da noite. Proteger os

canteiros com material isolante;

j) Os lixiviados deverão ser geridos. Assim, devem ser feitas canalizações

com caixas colectoras de modo que estes sejam canalizados para

depósitos;

k) Cobrir o canteiro com palha, rede sombra ou outro material isolante;

l) Introduzir resíduos, novamente, após 30 dias se sistema em contínuo.

Page 88: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

88

2Notas

As dimensões de um canteiro em alvenaria deverão ser tais que a superfície

deverá ser, em grande parte, superior à altura, de modo a melhorar os índices

de arejamento e de distribuição de resíduos. Além disso, as minhocas

alimentam-se maioritariamente na horizontal, sendo um factor fundamental na

construção do futuro canteiro;

Em caso de chuva persistente, a colocação de rede sombra ou palha servirá

para que o processo decorra normalmente ao mesmo tempo que possibilita

que alguma precipitação possa penetrar para a mistura;

Construir os canteiros num local com relativa proximidade de água;

Devem ser evitadas áreas sujeitas e encharcamento prolongado;

Um canteiro de 2 m de largura pode ser dividido em duas camas de 1 m cada

permitindo sua separação com iscos ou natural (pág. 74).

5.2. Sistemas de leiras

Tal como os canteiros, aconselha-se que a confecção das camas seja

realizada com materiais disponíveis no seu local e de menor custo

possível.

As leiras poderão ser construídas individualmente ou geminadas. As leiras

duplas apresentam melhores resultados pois permitem maiores facilidades

de acompanhamento e manuseamento, bem como menor custo de

construção. Devem possuir caminhos de circulação à sua volta, de forma a

proporcionar o trânsito de equipamentos de transporte previsto. O fundo

pode apresentar três tipologias: piso em solo, impermeabilização em betão

e impermeabilização em tela geotêxtil.

Page 89: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

89

Material:

Resíduos compostados;

Tractor;

Forquilha;

Ancinho;

Rede sombra;

Palha;

Serradura;

Equipamento de uso corrente.

Procedimento Experimental3:

a) Escolher um local de fácil acesso de modo a que todos os resíduos

possam chegar às leiras;

b) Construir as leiras em local com alguma inclinação (cerca de 2 a 5%),

de modo a que possa receber alguma luz solar e situados a favor do

vento através de tractor ou manualmente;

c) Deverá ter em conta, que cada leira necessita de cerca de 35 m2 de

área útil de modo a que a entrada de máquinas, equipamentos e meios

humanos seja facilitada;

d) Primeiramente deverão ser construídas as estruturas laterais e só

depois deverão ser introduzidos os resíduos e, posteriormente,

inoculados com minhocas;

e) As leiras devem ser alinhadas, no sentido do declive do terreno (2% a

5%). Este sistema pode ser protegido, por uma cobertura, de forma a

evitar a incidência das águas provenientes da precipitação;

Page 90: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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f) Cada leira deverá possuir 10 a 20 m de comprimento e 1,5 m de

largura. A altura deverá situar-se entre os 0,3 e os 0,5 m. De qualquer

das formas, as dimensões comprimento e largura irão depender do

espaço que existe disponível;

g) Inocular a leira com 2 a 3 L de minhocas por m2 minhocas à luz do dia,

nos espaços abertos da cobertura vegetal favorecendo, deste modo, a

sua rápida inserção na unidade;

h) Esta operação deve ocorrer nas primeiras horas da manhã, para que as

minhocas tenham o máximo período diurno de adaptação, reduzindo-se

assim a possibilidade de fuga com a chegada da noite. Proteger os

canteiros com material isolante;

i) Os lixiviados deverão ser geridos. Assim, devem ser feitas canalizações

com caixas colectoras, de modo, que estes sejam canalizados para

depósitos;

j) Cobrir o canteiro com palha, rede sombra ou outro material isolante.

3Notas

As leiras não deverão exceder os 1,0 m em altura;

As leiras poderão e deverão ser contíguas, de modo a que exista uma

chamada zona de transição para que exista (entre outras hipóteses) uma

separação natural das minhocas do vermicomposto – uma leira terá

vermicomposto produzido enquanto que a imediatamente ao lado terá

biomassa introduzida recentemente;

Cada leira necessita de, aproximadamente, uma área de cerca de 35 m2 de

modo a ser facilitada a passagem de pessoas e aparelhos;

Page 91: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Um leirade 2 m de largura pode ser dividido em duas camas de 1 m cada

permitindo sua separação com iscos ou natural (pág. 74).

Quadro 12 - Resumo das quantidades de minhocas a inocular ao sistema

6. Manutenção dos Sistemas – Principais Conselhos

Isolamento de Sistemas de Vermicompostagem

Em Invernos rigorosos com temperaturas marcadamente baixas, poderá

adicionar materiais mais ricos em N por forma a equilibrar a relação C/N e

permitir o aquecimento do sistema. Desta forma, as populações de

minhocas irão obter taxas de crescimento adequadas visto as perdas de

calor serem minimizadas. As elevadas quantidades de N farão o sistema

atingir temperaturas que poderão levar a que se atinja uma fase termofílica

no sistema. Tenha em atenção que esta solução apenas será viável no

Inverno, em que os mecanismos de perdas de calor poderão ser ajustados

Sistema Volume

minhocas (L)

Quantidade

minhocas (uni)

Área canteiro

ou leira (m2)

Inicial – fase

experimental 1 1500 1

Médio 2-3 3000 - 4500 1

Avançado 5-6 6000-7500 1

Profissional 7 9000 1

Page 92: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

92

através do equilíbrio entre as perdas naturais de calor para o exterior e as

adições de calor provocadas pela actividade microbiana em resultado das

elevadas quantidades de N introduzidas. Deste modo, as minhocas irão

mover-se para as zonas que apresentem elevadas quantidades de N à

medida que as temperaturas no exterior baixam. Nos canteiros coloque

apenas uma pequena abertura, de modo a que possa ser realizada a sua

manutenção.

Durante os meses de Primavera pode ser removido qualquer tipo de

isolamento, passando-se a inocular o sistema com resíduos na sua

superfície. Este procedimento irá deslocar as minhocas para a superfície

com o objectivo de que estas possam ser retiradas e possam ser utilizadas

em novas camas.

Como cobertura, folhas e palha podem ser introduzidas e também serão,

gradualmente, mas mais lentamente, consumidas pelas minhocas à

medida que os microrganismos responsáveis pela decomposição de

polímeros mais complexos como a celulose e a lenhina vão proliferando

nestas coberturas. No Inverno é recomendável que se melhore a

temperatura ao aumentar a altura quer de canteiros quer de leiras. Deste

modo, a altura deve ser aumentada até 0,5 m, com o qual se devem

manter temperaturas adequadas para a minhoca na parte inferior da cama.

Pode manter a temperatura adicionando estrume não compostado no final

do Outono, cobrindo o mesmo com camadas acentuadas de palha

realizando as operações normais de monitorização no início da Primavera.

Page 93: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

93

Determine as percentagens de humidade. Caso não possua instrumentos

de medição, um bom método será utilizar o método da esponja que

consiste em espremer um pouco de vermicomposto. Se cairem algumas

gotas é porque a humidade apresenta valores adequados, caso contrário,

deverá ser incrementada.

Rega

A rega deve ser cuidadosa com caudal de saída reduzido. Nunca use

jactos de água. Aplique várias vezes uma rega suave. A rega deve ser

realizada diariamente, se a temperatura se situar nos 20ºC, já que os

factores climáticos regulam naturalmente os ciclos de rega. A temperaturas

superiores a 30º C a rega deverá ser duplicada sendo bidiária.

Os períodos de rega deverão realizar-se de preferência ao entardecer. Se

existe a necessidade de realizar duas regas diárias, devem ser realizadas

uma de manhã e outra no final do dia. Pode utilizar qualquer captação de

água. Contudo, evite água contaminada com fitofármacos, cloro e outros

agentes fitotóxicos. No caso de utilizar proveniente de abastecimento

público tenha especial atenção à cloragem a que é sujeita.

7. Separação das minhocas do vermicomposto

Não se apresenta como viável a manutenção das minhocas no

vermicomposto produzido aquando do ensacamento. Muitas irão morrer, ao

passo que dos seus casulos irão nascer mais minhocas. Por outras

Page 94: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

94

Iscos

• Um isco perfeito são as borras de café.

• São um excelente atractivo para as minhocas visto possuiremelevadas quantidades em N.

Crivagem

mecânica

• Os vários tipos de crivo (giratório, rotativo e vibratório) utilizados paraa crivagem do vermicomposto podem também ser utilizados paraseparar as minhocas visto serem dotados de pequenas malhas.

• Muitas vezes utilizado quando existem minhocas em excesso.

Crivagem

manual

• Pode ser um método simples mas requer elevadas horas de trabalhoe consequentemente energia de tranalho humano.

palavras, o seu valor é extremamente elevado para que se possa

negligenciar a separação.

O substrato não decomposto irá conter a grande maioria das minhocas,

podendo ser utilizado para preparar a próxima leira ou canteiro. O restante

material será o vermicomposto ainda que com alguma matéria orgânica

não humificada pelas minhocas.

Fig. 25 - Métodos de separação das minhocas do vermicomposto

Page 95: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

95

De salientar que nenhum dos sistemas possuirá um rendimento de 100%,

em virtude de existir sempre perdas de minhocas, bem como casulos de

minhoca que, difíceis de serem crivados, ficarão presentes no

vermicomposto.

Ao fim de aproximadamente 60 dias o vermicomposto já pode ser retirado

dos canteiros ou leiras. É separado da mistura (vermicomposto, minhocas,

matéria orgânica não decomposta e outros resíduos) através de métodos

de separação. Utilizando este sistema, as minhocas não necessitam de ser

separadas do vermicomposto e o processo pode decorrer continuamente.

Contudo, se o sistema de separação for correctamente realizado, qualquer

um destes possibilitará a manutenção de minhocas suficientes em

população para que o processo de vermicompostagem continue com o

mesmo rendimento.

Iscos

Servem para atrair as minhocas para um determinado local, deixando a

cama ou parte desta livre para retirar o vermicomposto. Devido ao facto de

as minhocas após aproximadamente 60 dias na unidade já não possuirem

substrato para decompor são atraídas a entrar nos sacos ou caixas.

Material:

Borras de café;

Resíduos compostados;

Luvas;

Page 96: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

96

Sacos de plástico perfurados;

Caixas perfuradas.

Procedimento experimental:

a) Coloque estrategicamente borras de café, cacau, farinha de milho ou

açúcar amarelo, por cima da cama do canteiro ou leira; em alternativa

colocar sacos de 2 Kg de resíduos compostados de 0,5 em 0,5 m ou 4

sacos de m2 em m2 ou caixas de plástico perfuradas com resíduos

compostados com os mesmos compassos;

b) Após 3 a 5 dias, retira-se os sacos que deverão conter grande parte

das minhocas existentes.

Material:

Resíduos compostados;

Luvas.

Procedimento experimental:

a) Num canteiro de vermicompostagem de 2,0 m de largura colocar

resíduos na metade esquerda ou direira (1,0 m);

b) Após cerca de 45 dias colocar na outra metade resíduos compostados;

c) Gradualmente as minhocas irão migrar para a metade em questão, uma

vez que terão consumido a metade original.

Page 97: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

97

8. Duplicação de camas

A cada 90 dias, no mínimo, a população de minhocas duplica-se caso o

processo decorra com normalidade. Para aumentar a reprodução, deverá

manter baixa a densidade e duplicar as camas. Quando a densidade das

camas aumenta a níveis altos (40000 a 50000 minhocas por m2) para a

produção de vermicomposto, também é indispensável duplicar as camas

para evitar fugas, já que sobre essa densidade a minhoca não consegue

sobreviver. Recomenda-se a realização do processo no ínicio da manhã

deixando o meio com humidade adequada

Material:

Resíduos compostados;

Luvas.

Procedimento experimental:

a) Deverá assegurar-se se as minhocas se encontram em perfeito estado

metabólico;

b) Duplica-se tomando a metade da cama e transplantando-a

inteiramente, incluíndo os resíduos que correspondem a esse 50%

m/m, bem como as minhocas e casulos;

c) Os 50% m/m que ficam na cama original, deverão ser transformados

numa nova cama;

d) Extender por toda a superfície a metade da cama original, continuando

a colocação de novos resíduos.

Page 98: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

98

9. Resolução de problemas identificados

Uma má gestão do sistema apresenta, sob vários aspectos, um problema

sério para as minhocas. O ácaro é um dos problemas em canteiros e leiras,

só existindo, contudo, o alimento têm excesso de proteínas, em que o

ácaro se encarrega de se alimentar delas, o que reduz a qualidade do

alimento destinado para as minhocas. Para evitá-los, basta prevenir um

excesso de proteínas. As leiras serão visitadas frequentemente por

formigas em busca de alimento, consumindo-o e reduzindo a sua

disponibilidade para as minhocas. Os lagartos serão uma presença

constante nas leiras para se alimentarem das minhocas, no entanto não

representam nenhum perigo, já que é raro as minhocas emergirem à

superfície.

Quadro 13 – Resolução de problemas identificados com predadores em vermicompostagem

Predador

Principais Características Soluções preconizadas

Formigas -

Abrir a cobertura vegetal

permitindo que o sol penetre até onde estas se alojam.

Centopeias

A falta de limpeza próxima às camas

parece ser responsável pelo seu aparecimento.

-

Avifauna Um dos principais predadores. Se as camas se encontram ao

ar livre, cobrir com rede sombra

e/ou afastar do local.

Suínos Se tiverem oportunidade de alcançar as camas poderão causar prejuízos.

Afastar do local.

Larvas de insectos

As larvas das moscas não são predadoras, mas competidoras, pois

disputam com as minhocas os resíduos.

Retirá-las por captação aumentando a cobertura

vegetal, para impedir que novos ovos sejam colocados na cama.

Lagartos e outros reptéis Se tiverem oportunidade de alcançar as camas poderão causar prejuízos.

-

Page 99: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

99

CAPÍTULO V VERMICOMPOSTAGEM E QUALIDADE AMBIENTAL

“Nada nem ninguém pode ser comparado com as minhocas e com a sua influência positiva

em toda a Natureza. Elas criam e produzem o solo bem como tudo aquilo que nele vive e

interage. Elas são o animal mais numeroso no Planeta e as únicas criaturas que convertem

todos os tipos de material orgânico em material humificado, contribuindo para a fertilidade

dos solos e para as funções da biosfera: desinfecção, neutralização, protecção e produção”

Anatoly M. Igonin, Ph. D. Professor

1. Vermicomposto – saber mais

O húmus é uma substância lignoprotéica sendo um composto

predominante da matéria orgânica dos solos. Também pode ser definido

como componente dificilmente mineralizável que se acumula no solo. É

composto por restos pós-mortais vegetais e animais que se encontram no

solo e que estão constantemente submetidos a processos degradativos,

ainda que a sua resistência à decomposição seja elevada.

O vermicomposto não é mais que matéria orgânica em estado avançado de

decomposição, constituído por substâncias mais ou menos complexas –

Page 100: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

100

ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e humina sendo considerado um substrato

orgânico de mineralização lenta e gradual. É formado por partículas de

dimensão bastante reduzida, os excrementos de minhoca. Cada uma

destas pequenas partículas contém milhares de microrganismos -

bactérias, fungos, além de, como é natural, restos de matéria orgânica não

decomposta pela minhoca em diferentes estágios de decomposição.

Os ácidos húmicos são moléculas especializadas em fixar na sua estrutura

a matéria mineral, nomeadamente macro-nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S)

bem como micro-nutrientes, necessários em quantidades mais reduzidas ,

fornecendo-os lenta e correctamente às plantas quando estas necessitam.

Contém, ainda, minhocas em diversos estágios de desenvolvimento, desde

minhocas recém nascidas, juvenis e adultas.

Alguns dos benefícios do vermicomposto passam por:

Melhorar a estrutura, porosidade, oxigenação e capacidade de retenção

da água dos solos;

Proteger as raízes das plantas de temperaturas extremas;

Reduzir os fenómenos de erosão nos solos, tanto eólica como hídrica;

Controlar o aparecimento de infestantes e ervas daninhas;

Melhorar as características físico-químicas do solo (textura, arejamento,

capacidade de troca catiónica e retenção de água, estabilidade do pH e

temperatura;

Disponibilizar lenta e prolongadamente os nutrientes vegetais para a

planta;

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

101

Proteger os nutrientes contra a lixiviação, viabilizando vastas

comunidades biológicas;

Aumentar a sua capacidade de retenção de água em solos arenosos e

possibilitar a sua correcta drenagem e circulação em solos argilosos.

Promover a formação de solo a partir do material original;

Melhorar a permeabilidade e o arejamento de solos pesados,

minorando a sua tendência para a compactação, facilitando as

operações culturais;

Melhorar a estrutura dos solos ligeiros devido à formação de agregados

estáveis;

Promover um maior aquecimento do solo na Primavera, permitindo a

antecipação das colheitas;

Aumentar a capacidade de troca catiónica do solo retendo nutrientes e

disponibilizando-os, gradualmente, ao longo do ciclo vegetativo das

culturas, reduzindo, deste modo, as perdas por lixiviação;

Aumentar o poder tamponizante do solo, defendendo-o das aplicações

excessivas de adubos e produtos fitossanitários reduzindo-se a

poluição e contaminação;

Devido à forte capacidade de adsorção de catiões, proteger as plantas

da toxicidade provocada pelos metais pesados e pelo excesso de sais;

Potenciar o efeito benéfico da utilização racional de adubos e das

operações culturais adequadas, com as inerentes vantagens no plano

ambiental, económico e social.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Quadro 14 – Parâmetros físico-químicos para um vermicomposto

Parâmetro Resultados *

Humidade 24,3 +- 11,5

pH (H2O) 7,6 +- 0,4

CE (mS cm-1, 25ºC) 2,5 +- 0,3

Matéria orgânica (%) 53,2 +- 5,9

Compostos húmicos (%) 8,6 +- 1,8

C/N 16,1 +- 3,5

Taxa de humificação (%) 21,8 +- 7,2

AH/AF 2,3 +- 1,6

N total (%) 1,8 +- 0,3

P2O5 total (%) 1,4 +- 0,3

K2O total (%) 1,6 +- 0,2

CaO total (%) 10,6 +- 3,4

MgO total (%) 1,3 +- 0,3

Na (%) 0,6 +- 0,0

Cd total (ppm) 2,5 +- 1,2

Cr total (ppm) 68 +- 30

Cu total (ppm) 305 +- 87

Ni total (ppm) 61 +- 41

Pb total (ppm) 306 +- 85

Zn total (ppm) 612 +- 147

Coliformes fecais (ufc

mL-1)

9x10 – 8,9 x 103

Salmonella sp. Ausente em 25 g

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

103

Aumento do efeito germinativo em

sementes

Redução do tempo de emergência das

sementes

O factor mais importante do vermicomposto é a acção integrada e todos os

seus elementos físicos, químicos e microbiológicos. Em termos de

substratos orgânicos a diferença é considerável.

Fig. 26 - Relação entre o efeito germinativo e a redução do tempo de emergência das

sementes (Fonte Futuramb)

2. Chá de vermicomposto – saber mais

O chá de vermicomposto pode ser recolhido quer em vermicompostagem

doméstica quer em vermicompostagem rural. Os furos realizados no fundo

de um vermicompostor servem precisamente para a drenagem dos

lixiviados com carga orgânica. A quantidade de lixiviado retirado ao fim de

um mês de produção, vai depender da quantidade de minhocas existentes

no vermicompostor / canteiro / leira, e da taxa de diluição do mesmo.

Indicamos três métodos para produção de chá de vermicomposto. Tenha

em atenção que devem ser realizadas diluições ou soluções prévias para

que lhe possa dar definivamente o nome de chá de vermicomposto.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Indicam-se, de seguida, dois métodos de produção de chá de

vermicomposto, ambos para vermicompostagem caseira.

2.1. Método 1

Material:

Garrafa de plástico de volume 1,5 L;

Vermicomposto;

Água;

Agitador (se possível);

Funil;

Vareta de vidro (opcional);

Borrifador.

Procedimento experimental:

a) Encher uma garrafa de plástico de 1,5 L de capacidade até 1/3 da

capacidade da mesma com vermicomposto utilizando uma vareta de

vidro e um funil;

b) Os restantes 2/3 da garrada (1,0 L) devem ser preenchidos com água;

c) Agitar a mistura com um agitador ou em alternativa, manualmente;

d) Após agitar, o vermicompostor acaba por se dissolver ;

e) Utilizar como fertirrega.

Page 105: Vermicompostagem e Qualidade Ambiental (E-Book)

Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

105

2.2. Método 2

Material:

Água;

Vermicompostor;

Garrafão de volume de 10 L;

Bomba ou borrifador.

Procedimento experimental:

a) Dissolver um Kg de vermicomposto em 10 L de água;

b) Mexer, deixando repousar durante 48 horas;

c) Após 48 horas, realizar aplicação directa com bomba ou borrifador;

d) O precipitado formado no funo do recipiente pode ser aplicado no solo

após a saída de grande parte da matéria mineral solúvel.

3. Causas e efeitos do empobrecimento dos solos em matéria

orgânica

A lentidão da formação de matéria orgânica humificada com o objectivo em

restabelecer a fertilidade natural dos solos, os elevados custos em

fertilizantes de síntese e a contaminação de recursos como sejam os

recursos hídricos superiores e subterrâneos, ar e solo, têm conduzido à

procura de outros tipos de fertilizantes orgânicos que, do ponto de vista da

sustentabilidade, a sua produção, aplicação e fertilização sejam eficientes

em termos energéticos. Uma das opções da melhoria da qualidade dos

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

106

solos passa pela aplicação, directa ou indirectamente no solo, ou

directamente em culturas do vermicomposto.

Contrariando os as previsões pessimistas de uma situação generalizada de

fome (uma vez que a população do planeta crescia em progressão

geométrica e a produção de grãos em progressão aritmética), a

humanidade, de um modo geral, tem sabido encontrar resposta para a

crescente necessidade de alimentos provocada pela explosão demográfica

registada a partir da Revolução Industrial. Tal facto deve-se,

principalmente, aos espectaculares aumentos das produções unitárias,

conseguidas através da utilização de adubos químicos e produtos de

síntese (Saña e Soliva, 1985; Santos, 1995; Wallace e Terry, 1998).

A taxa de crescimento populacional à escala planetária continua, contudo,

a aumentar, observando-se, desde há cerca de duas décadas, uma

redução no ritmo de progressão dos rendimentos agrícolas, não obstante a

marcada evolução no controlo dos vários factores de produção. Para além

disso, a utilização intensiva (e muitas vezes descontrolada) deste tipo de

fertilizantes tem vindo a criar graves situações de poluição, nomeadamente

nas águas subterrâneas.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Quadro15 - Classes de riqueza dos solos em matéria orgânica

(Fonte: Dias et al., 1980)

Mantém-se assim premente a necessidade de se aumentarem as

produções unitárias, o que só será possível se todos os factores que para

tal contribuem forem maximizados. Por outro lado, as agressões

ambientais entretanto ocorridas despertaram uma compreensível pressão

no sentido de que, à vertente

produtiva, se associe uma vertente

ecológica, preservando, deste

modo, a qualidade do ambiente e a

conservação dos recursos naturais,

ou seja, a agricultura deverá ser

sustentável.

Classe Textura Grosseira Textura média e fina

MB M.O. < 0,5 % MO < 1%

B 0,6% < M.O. < 1,5

% 1,1% < MO < 2%

M 1,6%< MO < 5% 2,1%< MO < 7%

A 5,1% < MO < 7% 7,1%< MO < 10%

MA MO > 7,1% MO > 10,1%

Fig. 27 - Floresta – Um recurso a preservar

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

108

Neste contexto, o solo, a principal e não renovável dentro de uma escala

de vida humana fonte de alimentação da humanidade, deverá ser gerido de

forma a não só promover o retorno dos investimentos, mas também

permitir que as futuras gerações possam continuar a tirar dele os mesmos

benefícios – o desenvolvimento sustentável (Wallace e Terry, 1998).

Climas mais frios propiciam reduzida e maior controlada mineralização dos

compostos orgânicos, ao passo que climas áridos e secos a situação

inversa – maiores taxas de mineralização, sem contar com o factor erosão,

que, desempenha factor de relevo nas zonas do sul do país. Devido à sua

riqueza em substâncias energéticas e elementos nutritivos, os resíduos

orgânicos são rapidamente colonizados por microrganismos que, em

condições ambientais favoráveis, procedem à sua decomposição. Nos

solos suficientemente arejados, a decomposição dos resíduos orgânicos

evolui naturalmente através da acção de microrganismos organo-

heterotróficos aeróbios de diversos grupos taxonómicos. Estes utilizam o

oxigénio para, através de reacções de oxidação-redução, decompor a

matéria orgânica, obtendo, deste modo, a energia necessária às suas

funções vitais. Os diversos grupos taxonómicos, em permanente

competição, sucedem-se no decurso do processo bioxidativo, dominando,

em cada sequência do mesmo, os que melhor se adaptam às

características nutricionais do substrato e aos factores ambientais.

Nos resíduos orgânicos, o azoto apresenta-se, essencialmente, sob a

forma orgânica, como constituinte das proteínas, aminoácidos, ácidos

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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nucleicos e, em alguns deles, nomeadamente nos provenientes da

explorações pecuárias, sob as formas amoniacais – constituindo o ião

amónio (NH4+) e o amoníaco (NH3) – e ureica [CO(NH3)2].

Em condições aeróbias, como as que, geralmente, ocorrem no solo, o

azoto orgânico é submetido a um processo de mineralização, através da

acção de bactérias aeróbias específicas, que contempla as seguintes

fases:

a) Amonificação

O azoto orgânico é convertido em azoto amoniacal, uma vez que são

produzidos iões amónio, conversão esta que pode, também, ocorrer em

condições anaeróbias, ou seja, na ausência de oxigénio;

b) Nitrificação

O azoto amoniacal é transformado em nitroso (NO2-) e, seguidamente, em

nítrico (NO3-) sendo estas duas formas de azoto muito móveis no solo e

tendo a última uma importância especial na produção vegetal, uma vez que

é nesta forma que o azoto é absorvido pelas plantas verdes, pese embora

um grupo restrito o possa, também, absorver na forma amoniacal.

Paralelamente à mineralização do azoto, ocorre um processo inverso, em

que este elemento é imobilizado, passando da forma nítrica a orgânica,

fruto da sua assimilação pelas plantas e microrganismos do solo, que o

utilizam para a síntese das proteínas e dos ácidos nucleicos. Se as

quantidades de azoto nítrico existentes no solo ultrapassarem

substancialmente a capacidade de assimilação das plantas e

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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microrganismos, os nitratos em excesso podem, devido à sua elevada

mobilidade, ser lixiviados através do solo para as águas subterrâneas,

particularmente em zonas vulneráveis. Por outro lado, podem ser

transportados para os meios hídricos superficiais, devido a descargas

directas de resíduos orgânicos ou através de fenómenos de escoamento

da camada superior do solo, a partir de terras de cultivo e pastagens. Uma

das formas de promover a conservação do solo, aumentar a sua fertilidade

e, simultaneamente, criar condições para a sua formação passa por manter

os índices de matéria orgânica acima dos níveis críticos.

Fig. 28 - Solo

Assiste-se, contudo, a uma preocupante diminuição dos teores deste

importante componente do solo na quase totalidade dos solos agrícolas

porque, à mineralização natural do húmus, que atinge os seus máximos

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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Aplicação intensiva de fertilizantes químicos e de síntese em detrimento da aplicação de fertilização orgânica.

Realização de lavouras profundas, que transferem grande parte da matéria orgânica do solo para o subsolo

Crescente recurso à irrigação, que aumenta substancialmente a taxa de mineralização da matéria orgânica

Intensificação da monocultura, cujos resíduos, de composição nutritiva uniforme, são colonizados por uma flora microbiana selectiva, com implicações nas taxas de degradação e humificação, as quais são tanto mais elevadas quanto maior a

diversificação das populações de microrganismos.

Abandono de práticas que restituem matéria orgânica ao solo, tais como a utilização de certo tipo de rotações, as siderações e a incorporação de correctivos orgânicos.

nas regiões mediterrânicas, no caso do continente europeu, se associaram

modificações nas práticas culturais ditadas pela agricultura moderna.

Fig. 28 – Causas da perda dos solsos em matéria orgânica (Fonte: Futuramb)

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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CAPÍTULO VI

SUGESTÕES E CURIOSIDADES

Minhocas

Existem entre 100 a 200 minhocas por cada metro quadrado de solo, em

condições normais. Possuem glândulas calcíferas segregam carbonato de

cálcio (CaCO3) que decompõem pequenas particulas. Esta segregação de

carbonatos serve ainda de correctivo a nível de pH em solos ácidos. Solos

que possuam pH na linha do ácido apresentam-se como desfavoráveis à

sua sobrevivência devido à carência do ião Ca em detrimento do aumento

da concentração dos iões Fe e Al.

Durante 365 dias, grandes quantidades de solo passam pelo seu sistema

digestivo, e, através de um simples exercício matemático, poderiamos

imaginar que seria suficiente para encher 6 camiões de 10 toneladas cada

um!

Oito minhocas no estado adulto podem originar cerca de 1500 minhocas

em 6 meses, o que equivale a dizer que uma minhoca, por ano,

aproximadamente, pode dar origem a 375 minhocas, desde que, claro está,

as condições de humidade, oxigénio, luminosidade e nutrição sejam

favoráveis.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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O solo que passa pelo seu sistema digestivo contendo matéria orgânica é

transformado considerando-se à sua saída possuir em termos de matéria

mineral 5 vezes mais azoto, 7 vezes mais fósforo, 11 vezes mais potássio

(macronutrientes principais), 2 vezes mais cálcio e 2 vezes mais magnésio

que um típico solo (macronutrientes secundários ou oligoelementos).

As minhocas alimentam-se basicamente à superfície do substrato não

trabalhando em profundidades superiores a 1 metro, razão pela qual a área

superficial deve ser superior á profundidade em qualquer das opções que

venha a tomar. As minhocas desenvolveram uma medida de sobrevivência

caso se encontrem num meio com humidade abaixo os seus níveis

normais, no qual expelem um muco pelo corpo que lhes garante uma

protecção temporária ao meio.

A minhoca possui a capacidade de regenerar a sua cauda mas não a sua

cabeça. Desta forma, se a minhoca se tiver dividido em duas sessões,

apenas a parte que contém a cabeça, a partir do oitavo anel, poderá

regenerar a nova cauda.

A minhoca ingere alimento, digere e expele cerca de 70% do que comeu

sob a forma de pequenos grãos de húmus em muito menos tempo que a

natureza. Cinco litros de minhocas são necessários para em 60 dias

humificar um canteiro de resíduos de 10 m de comprimento por 1 m de

largura e 40 cm de profundidade.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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As minhocas interferem nas propriedades físico-químicas do solo através

de enzimas produzidas nos seu sistema intestinal atacando a celulose

existente nas paredes das células vegetais. Os seus sucos gástricos

atacam particulas de reduzida granolometria alterando quimicamente a sua

estrutura.

Ao realizar o processo de decomposição a minhoca mistura e remove mais

quantidade de solo em comparação com viaturas mecanizadas, poupando-

se energia, combústivel, e, mais importante, reduzindo-se emissões de

gases efeito estufa, acidificantes e deplectoras da camada de ozono.

Resíduos

Os maus odores existentes deve-se à decomposição da fracção dos

resíduos ser essencialmente anaeróbia, em resultado da libertação de

ácidos e álcoois de baixo peso molecular. Outros compostos incluem

metano, CO2, fenóis, mecarpanos, amoníaco e sulfureto de hidrogénio.

Sabia que uma pessoa em média produz cerca de 1,5 Kg de resíduos por

dia? E que 70% desses resíduos são biodegradáveis e passíveis de ser

valorizados por vermicompostagem?

No decorrer do processo de compostagem os resíduos sofrem uma perda

de volume de 40% em resultado de perdas de nutrientes por lixiviação,

volatilização e incorporação na estrutura celular da fauna microbiana.

Durante o processo de vermicompostagem a perda de volume é de 35%

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

115

em resultado dos processos de lixiviação, volatilização e da incorporação

na estrutura da minhoca.

Uma certa quantidade de palha na massa de resíduos, além ser um

complemento à alimentação das minhocas, serve para melhorar a sua

porosidade e diminuir o grau de compactação, sendo também uma

protecção para os sistemas.

O processo prévio de compostagem é necessário na sua grande maioria

das vezes, facilitando a estailização devendo ser realizada para tipologias

de resíduos com elevadas ou reduzidas C/N.

Construa o seu sistema de forma multifuncional. Seja criativo e utilize mais

de um modelo de vermicompostagem, reutilizando materiais. Já pensou no

que fazer com os pneus usados?

Sistemas

A humidade nos canteiros é vital para a sobrevivência das minhocas. Uma

vez que a minhoca não possui dentes ou mandíbulas, e de modo a ingerir

os resíduos, estes devem estar suficientemente húmidos. Além disso, a

respiração da minhoca é efectuada através da sua pele, pelo que esta deve

encontrar-se constantemente húmida. Tenha em atenção que o isolamento

também irá proporcionar que nos meses de verão as perdas de humidade

por evaporação sejam minimizadas e que nos meses de Inverno sejam

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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evitadas áreas com encharcamento, sujeitas a condições de anaerobiose.

Assim sendo, a solução passará sempre pelo compromisso!

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

117

Nelson Miguel Guerreiro Lourenço nasceu a 7 de Julho de

1979 em Lisboa. Licenciou-se no ano de 2005 em Engenharia

do Ambiente pela Universidade Lusófona de Humanidades e

Tecnologias tendo realizado tese final de curso no âmbito da

Gestão de Pilhas e Acumuladores Usados por parte da

Entidade Gestora Ecopilhas vocacionado para o Estudo de

Caso. Realizou ao longo do ano de 2006 trabalho de pesquisa

e investigação em vermicompostagem numa perspectiva de

sustentabilidade. Durante o ano de 2007 fundou a Futuramb. Concluiu o Mestrado em

Gestão Sustentável dos Espaços Rurais pela Faculdade de Engenharia de Recursos

Naturais da Universidade do Algarve realizando tese final de mestrado no âmbito das

Ferramentas de Gestão para o Espaço Rural numa perspectiva de gestão energética (água

e nutrientes). Desde 2007 é sócio gerente da Futuramb coordenando o Departamento

Científico e de Engenharia Ambiental.

Sónia Isabel Dias Coelho nasceu a 26 de Fevereiro de 1981

em Portimão. Licenciou-se em 2003 em Educação Social pela

Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve.

De Outubro de 2003 a Junho 2004 colaborou com a Casa do

Povo de São Bartolomeu de Messines no âmbito de Estágio

Profissional pelo IEFP. Entre Novembro do mesmo ano e Junho

de 2006 colaborou na Escola E. B 1 de S. B. Messines, Rua

Maria Eugénia Dias Ferreiras, 8375 S. B. Messines nas funções

de Animadora Sócio-Cultural. Desde 2007 possui CAP de Formadora e é Técnica Superior

de Higiene e Segurança no Trabalho. De Setembro do mesmo ano a Outubro de 2008

desempenhou as Funções de Técnica Superior de Higiene e Segurança no Trabalho da

empresa SeguriHigiene – Saúde no Trabalho, S.A. Actualmente é sócia gerente da

Futuramb e coordena o Departamento de Formação.

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Vermicompostagem e Qualidade Ambiental

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CONTACTOS ÚTEIS

Centro de Interpretação Ambiental

Departamento Científico e de Engenharia Ambiental

Centro de Pesquisa e Investigação em Vermicompostagem

[email protected]

Messines de Cima, Apartado 5-S

8375-047 São Bartolomeu de Messines

Centro de Educação e Formação

Departamento de Formação

[email protected]

Rua João de Deus, loja n.º 8

8375 São Bartolomeu de Messines