verbos deadjetivais em romeno e português. estruturas ... · pdf filegramatica limbii...

1
1. Estrutura dos verbos deadjetivais (representação simplificada, onde X = a base adjetival) Os principais processos morfológicos que acionam na formação dos verbos a partir de bases adjetivais em romeno e português seriam a conversão, a prefixação e a sufixação. A. X, morfema verbal (conversão): Pt. X + morfema verbal (-ar, 1ª conjugação portuguesa): azedar, sujar, amarelar, vermelhar [azed] RAdj [azed] RV , [[[azed] RV a] TV r] V , [amarel] RAdj [amarel] RV , [[[amarel] RV a] TV r] V , Ro. X + morfema verbal (-a, 1ª conjugação romena, -i, 4ª conjugação romena, com sufixo de alargamento): a curăṭa, a răci, a roşi, a albăstri, [curat] RAdj [curat] RV , [[[curăț] RV a] TV Ø] V , [roș] RAdj [roș] RV , [[[roș] RV i] TV Ø] V , B. Prefixo, X, morfema verbal (prefixação): Pt. {a-, en-, es-}+ X + morfema verbal (-ar, 1ª conjugação): engordar, encurtar, adoçar, aclarar, esfriar, esquentar, desfear, avermelhar, envermelhar [[[en PREF [gord] RV ] RV a] TV r] V [[[a PREF [vermelh] RV ] RV a] TV r] V Ro. {în-, de-}+ X + morfema verbal (-a, 1ª conjugação, -i, 4ª conjugação) încălzi, a dedulci, a îndrepta, a asigura, a înroşi, a îngălbeni [[în PREF [călz] RV ] RV i] TV Ø] V [[în PREF [roș] RV ] RV i] TV Ø] V [[în PREF [drept] RV ] RV a] TV Ø] V C. X, sufixo, morfema verbal (sufixação): Pt. X + {-ec-, -ej-, -e-, -iz-, -ific-}+ morfema verbal (-er, 2ª conjugação, -ar 1ª conjugação) escurecer, robustecer, vermelhecer, doidejar, altear, clarear, suavizar, clarificar [[[[escur] RV -ec-suf] RV e] TV r] V [[[[doid] RV -ej-suf] RV a] TV r] V [[[[alt] RV -e-suf] RV a] TV r] V [[[[suav] RV -iz-suf] RV a] TV r] V [[[[clar] RV -ific-suf] RV a] TV r] V Ro. X +{-iz-, -ific-}+ morfema verbal (-a, 1ª conjugação) abstractiza, actualiza, clarifica, complexifica [[[[abstract] RV -iz-suf] RV a] TV Ø] V [[[[clar] RV -ific-suf] RV a] TV Ø] V D. Prefixo, X, sufixo, morfema verbal: Pt. a[X]ejar, a[X]ear, a[X]ecer, en[X]ecer, en[X]ejar, es[X]ear, es[X]inhar, es[X]içar, anegrejar, aformosear, apodrecer, envelhecer, empalidecer, enverdejar, esverdear, esbambear, esbranquiçar, esverdinhar [[[[a PREF [podre] RV ] RV -ec- SUF ] RV e] TV r] V [[[[a PREF [negr] RV ] RV -ej- SUF ] RV a] TV r] V [[[[a PREF [formos] RV ] RV -e- SUF ] RV a] TV r] V [[[[en PREF [vermelh] RV ] RV -ec- SUF ] RV e] TV r] V [[[[en PREF [verd] RV ] RV -ej- SUF ] RV a] TV r] V [[[[es PREF [verd] RV ] RV -e- SUF ] RV a] TV r] V [[[[es PREF [verd] RV ] RV -inh- SUF ] RV a] TV r] V [[[[es PREF [branc] RV ] RV -- SUF ] RV a] TV r] V 2. O sufixo pt. -e(s)c- / ro. –esc Origem comum: lat. -ēsc- / -ĭsc- (pattern of inchoatives in -ēscere/-ĭscere, active in form Allen 1993:2) Sufixo derivacional em Português. Seleciona bases adjetivais e nominais. Constrói verbos de mudança de estado, parafraseáveis como: Tornar X / Ficar X Sufixo de alargamento em Romeno. Aparece somente na flexão de alguns verbos em -i, -î, na 1ª, 2ª, 3ª pessoa singular, na 3ª pessoa plural do indicativo presente e conjuntivo presente e na 2ª pessoa singular do imperativo, com as formas: -eșt (antes de -i, -e) e –easc (antes de -ă). Este modelo de flexão é muito usado em Romeno e foi assinalado por linguístas: The type of frequency of weak verbs is very high in Romanian since they represent approximately 2/3 of all Romanian verbs. (Sánchez Miret 2006 : 33) 3. Flexão em Romeno Tradicionalmente os verbos são classificados como em latim, a partir da desinência do infinitivo. Vamos apresentar a seguir alguns modelos de flexão de verbos simples e derivados: Em português, formada pela vogal temática -a-, -e-, -i- e pelo morfema –r (a VT cria o tema verbal adicionando-se ao radical enquanto -r ocupa a posição da flexão: [[X] RV a VT ]-r MF ] V (cantar) vs. [[X] RV a VT ]-mos MF ] V (cantamos) [[X -ec-] RV e VT ] -r MF ] V (escurecer) vs. [[X -ec-] RV e VT ] -eu MF ] V (escureceu) Em romeno, formada somente pela vogal temática, -a, -e, -ea, -î, -i (a VT cria o tema verbal, a posição do morfema flexional no infinitivo sendo ocupada por um constituinte nulo: [[X] RV a VT ]Ø MF ] V (cânta) vs. [[X] RV a VT ]-ți MF ] V (cântați) [[X] RV i VT ]Ø MF ] V (fugi `fugir`) vs. [[X] RV i VT ]-m MF ] V (fugim ´fugimos´) Em romeno, segundo os sufixos de alargamento, os verbos foram classificados em paradigmas diferentes. Os verbos em -i, -î, realizam-se quer com [-esc- /-eșt-, -ăsc- / -ășt-] quer com Ø, delimitando-se assim 4 paradigmas flexionais diferentes, como ilustram as tabelas seguintes: Irina-Camelia Lupu Institutul de Lingvistică al Academiei Române „Iorgu Iordan – Al. Rosetti” Bibliografia: Aito, E. (2004): “Morphologie dérivationnelle et construction de sens”, consultado pela Internet em 25/01/2010, http://www.linguistik-online.de/19_04/aito.html . Allen, Andrew S. 1995: “Regrammaticalization and degrammaticalization of the inchoative suffix”. In: Henning Andersen (ed.), Historical linguistics 1993. Selected papers from the 11th International Conference on Historical Linguistics, Los Angeles, 16-20 August 1993. Amsterdam: John Benjamins, 1-8. Almeida Coelho, C. (2003): Formação de verbos em -ar em português, Dissertação de Mestrado em Linguística Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra. Aronoff, M. (1994): “Stems in Latin Verbal Morphology”, in Morphology by itself. Stems and Inflectional Classes, Cambridge-MA: MIT Press, pp. 31-59 Aronoff, M. & K.A. Fudeman (2005): What is Morphology, Oxford: Blackwell Publishing. Arim, E. & Freitas, T. (2002): “Parassíntese e conversão: uma nova explicação para um velho problema”, in Actas do 18o Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, pp. 145-160. Corbin, D. (1987): Morphologie dérivationnelle et structuration du l exique, Tübingen: Max Niemeyer Verlag. Corbin, D. (1989): “Form, Structure and Meaning of Constructed Words i n an Associative and Stratified Lexical Component”, in Geert Booij, Jaap van Marle (eds.) Yearbook of Morphology 2, Dordrecht: Foris Publications, pp. 31-54. Croitor, B (2008): “Construcii cauzativ-factitive”, in Gramatica Limbii Române, Bucureti: Editura Academiei Române, vol. II, pp. 172-188 Cuniţă, A.(2004): “Din nou despre sufixul verbal -iza”, in Pană Dindelegan, G. (eds.) (2004)Aspecte ale dinamicii limbii române actuale, Bucureşti, Editura Universităţii, pp. 520-526. Lausberg, H. (1981): Linguística Românica, tradução de Marion Ehrbardt e Maria Luísa Schemann. 2a ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Manea, D., Pană Dindelegan, G., Zafiu, R. (2008): “Verbul”, in Gramatica Limbii Române, Bucureti: Editura Academiei Romane, Vol. I, pp 323-585. Pană Dindelegan, G. (2008a): “Grupul verbal”, in Gramatica Limbii Române, Bucureti: Editura Academiei Române, vol. II, pp. 47-72. Pereira, R. A. (2004): “Condições estruturais de formação de verbos em Português”, in Rio-Torto, G. (coord.), Verbos e nomes em português, Coimbra: Livraria Almedina, pp.91-129. Pereira, R. A.: (2007): Formação de verbos em Português. Afixação heterocategorial, Lincom Europa: Lincom Studies in Romance Linguistics. Rio-Torto, G.M. (1998a): Morfologia Derivacional. Teoria e aplicação, Porto: Porto Editora. Rio-Torto, G. M.(1998b): “Operações e paradigmas genolexicais do português”, in: Filologia e Lingüística (Universidade de São Paulo) 2, p. 39-60. Reinheimer-Ripeanu, S. (1974): Les dérivés parasynthétiques dans les l angues romanes: roumain, italien, français, espagnol, Haga – Paris: Mouton. Sanchez-Miret, F. (2006): “Productivity of the Weak Verbs in Romanian”, in Folia lingüística: Acta Societatis Linguisticae Europaeae, Vol. 40, No 1-2 (Ejemplar dedicado a: Natural Morphology), pp. 29-50. Scalise, S. & E. Guevara (2005): “The lexicalist approach to wordformation and the notion of lexicon”, in Stekauer, P., Lieber, R. (eds.), Handbook of Word- Formation, Amsterdam: Springer, pp. 147–186. Serrano-Dolader, D. (1995): Las formaciones parasintéticas en español, Madrid, Arco/Libros. Villalva, A. (2008): Morfologia do Português, Lisboa: Universidade Aberta. Verbos deadjetivais em Romeno e Português. Estruturas morfológicas com o sufixo -e(s)cer / -esc Como Allen explica: During its historical development, the suffix spreads to verbs that indicate stages of humans and plants, illnesses, and sensory or intelectual perceptions: iuvenis young man> iuvenēscere to grow up, flōs, flōris > flōrēscere to begin to flower, tābēs a wasting disease> tābēscere to waste away, calēre to be warm> calēscere to grow warm, scĭre to know> scīscere to seek to know, inquire. The stems of these verbs have meanings that readily lend themselves to a change of state compatible with the inchoative meaning(Allen 1993:3) Fenômeno assinalado por vários linguistas, Meyer – Lübke 1894, Lausberg 1956, Sánchez Miret 2006: The suffix –SCERE generated into inchoative verbs. Some Romance languages have kept those sufixes in the derivational level and some others have changed the derivational process into an inflectional mechanism... Lausberg calls the second group innovative. Romanian represents the most extreme example of the innovative languages, since the new microclasses have come to be the center of its productive verbal morphology (Sánchez Miret 2006:33) Indicativo Presente coborî, omorî, doborî fugi, dormi, pieri, sări, veni citi, mări, pietrui hotărî, urî, zăvorî sufixo Ø Ø -esc- /-eșt- -ăsc- / -ășt- 1ª eu cobor fug citesc hotărăsc 2ª tu cobori fugi citești hotărăști 3ª el / ea coboară fuge citește hotărăște 1ª noi coborâm fugim citim hotărâm 2ª voi coborâți fugiți citiți hotăți 3ª ei / ele coboară fug citesc hotărăsc Conjuntivo Presente coborî, omorî, doborî fugi, dormi, pieri, sări, veni citi, mări, pietrui hotărî, urî, zăvorî Sufixo Ø Ø -esc- /-eșt- /-easc- -ăsc- /-ășt- / - asc- Eu să cobor să fug să citesc să hotărăsc Tu să cobori să fugi să citești să hotărăști El / Ea să coboare să fugă să citească să hotărască Noi să coborâm să fugim să citim să hotărâm Voi să coborâți să fugiți să citiți să hotăți Ei / Ele să coborâm să fugă să citească să hotărască Seguindo o modelo de Villalva (2008:78), como oferece informações sobre o paradigma da flexão do verbo, consideramos a vogal temática um integrador paradigmático pertencendo a flexão e não um sufixo derivacional. Nesta aceitação, a desinência do infinitivo (em Português formada pela vogal temática e pelo morfema -r: como em secar, escurecer e em Romeno somente pela vogal temática, como em curăța, acri) não apresenta valor derivacional. Neste modelo, em Português o -r é um afixo de natureza morfossintática, ocupando a posição da flexão, tal como outros sufixos flexionais do paradigma verbal (considerados afixos especificadores Tanto o romeno quanto o português herdaram o infinitivo latino, mas de maneira diferente. Segundo Lausberg (1936): Em Romeno (assim como em dialectos da Itália do Sul e do norte) há uma forma infinitiva abreviada que não apresenta a sílaba -re. Em Romeno a forma completa é usada como substantivo feminino (cântare `cantiga, canção) enquanto a forma abreviada se apresenta como infinitivo verbal (a maior parte das vezes com a < ad: a cânta ´cantar´) (Lausberg 1963 / 1981 : 377) Aceitamos o termo conversão como a reclassificação dos nomes ou dos adjetivos como verbos, um processo mental de reintegração paradigmática, a vogal temática sendo uma consequência deste processo, conforme com o modelo de Lieber (2005)

Upload: haliem

Post on 23-Feb-2018

219 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Verbos deadjetivais em Romeno e Português. Estruturas ... · PDF fileGramatica Limbii Române, Bucureṣti: Editura Academiei Romane, Vol. I, pp 323-585. Pană Dindelegan, G. (2008a):

1. Estrutura dos verbos deadjetivais (representação simplificada, onde X = a base adjetival) Os principais processos morfológicos que acionam na formação dos verbos a partir de bases adjetivais em romeno e português seriam a conversão, a prefixação e a sufixação. A. X, morfema verbal (conversão):

Pt. X + morfema verbal (-ar, 1ª conjugação portuguesa): azedar, sujar, amarelar, vermelhar

[azed]RAdj à[azed]RV, [[[azed]RV a]TV r]V, [amarel]RAdj à[amarel]RV, [[[amarel]RV a]TV r]V,

Ro. X + morfema verbal (-a, 1ª conjugação romena, -i, 4ª conjugação romena, com sufixo de alargamento): a curăṭa, a răci, a roşi, a albăstri,

[curat]RAdj à[curat]RV, [[[curăț]RV a]TV Ø]V, [roș]RAdj à[roș]RV, [[[roș]RV i]TV Ø]V,

B. Prefixo, X, morfema verbal (prefixação):

Pt. {a-, en-, es-}+ X + morfema verbal (-ar, 1ª conjugação): engordar, encurtar, adoçar, aclarar, esfriar, esquentar, desfear, avermelhar, envermelhar

[[[enPREF [gord]RV]RV a]TV r]V [[[aPREF [vermelh]RV]RV a]TV r]V

Ro. {în-, de-}+ X + morfema verbal (-a, 1ª conjugação, -i, 4ª conjugação) încălzi, a dedulci, a îndrepta, a asigura, a înroşi, a îngălbeni

[[înPREF [călz]RV]RV i]TV Ø]V [[înPREF [roș]RV]RV i]TV Ø]V [[înPREF [drept]RV]RV a]TV Ø]V

C. X, sufixo, morfema verbal (sufixação):

Pt. X + {-ec-, -ej-, -e-, -iz-, -ific-}+ morfema verbal (-er, 2ª conjugação, -ar 1ª conjugação) escurecer, robustecer, vermelhecer, doidejar, altear, clarear, suavizar, clarificar

[[[[escur]RV -ec-suf]RV e]TV r]V [[[[doid]RV -ej-suf]RV a]TV r]V [[[[alt]RV -e-suf]RV a]TV r]V [[[[suav]RV -iz-suf]RV a]TV r]V [[[[clar]RV -ific-suf]RV a]TV r]V

Ro. X +{-iz-, -ific-}+ morfema verbal (-a, 1ª conjugação) abstractiza, actualiza, clarifica, complexifica [[[[abstract]RV -iz-suf]RV a]TV Ø]V [[[[clar]RV -ific-suf]RV a]TV Ø]V

D. Prefixo, X, sufixo, morfema verbal:

Pt. a[X]ejar, a[X]ear, a[X]ecer, en[X]ecer, en[X]ejar, es[X]ear, es[X]inhar, es[X]içar, anegrejar, aformosear, apodrecer, envelhecer, empalidecer, enverdejar, esverdear, esbambear, esbranquiçar, esverdinhar

[[[[aPREF[podre]RV]RV -ec-SUF]RV e]TV r]V [[[[aPREF[negr]RV]RV -ej-SUF]RV a]TV r]V [[[[aPREF[formos]RV]RV -e-SUF]RV a]TV r]V [[[[enPREF[vermelh]RV]RV -ec-SUF]RV e]TV r]V [[[[enPREF[verd]RV]RV -ej-SUF]RV a]TV r]V [[[[esPREF[verd]RV]RV -e-SUF]RV a]TV r]V [[[[esPREF[verd]RV]RV -inh-SUF]RV a]TV r]V [[[[esPREF[branc]RV]RV -iç-SUF]RV a]TV r]V

2. O sufixo pt. -e(s)c- / ro. –esc •  Origem comum: lat. -ēsc- / -ĭsc- (pattern of inchoatives in -ēscere/-ĭscere, active in form Allen

1993:2) •  Sufixo derivacional em Português. Seleciona bases adjetivais e nominais. Constrói verbos de

mudança de estado, parafraseáveis como: Tornar X / Ficar X •  Sufixo de alargamento em Romeno. Aparece somente na flexão de alguns verbos em -i, -î, na

1ª, 2ª, 3ª pessoa singular, na 3ª pessoa plural do indicativo presente e conjuntivo presente e na 2ª pessoa singular do imperativo, com as formas: -eșt (antes de -i, -e) e –easc (antes de -ă). Este modelo de flexão é muito usado em Romeno e foi assinalado por linguístas: The type of frequency of weak verbs is very high in Romanian since they represent approximately 2/3 of all Romanian verbs. (Sánchez Miret 2006 : 33)

3. Flexão em Romeno Tradicionalmente os verbos são classificados como em latim, a partir da desinência do infinitivo. Vamos apresentar a seguir alguns modelos de flexão de verbos simples e derivados: •  Em português, formada pela vogal temática -a-, -e-, -i- e pelo morfema –r (a VT cria o tema verbal

adicionando-se ao radical enquanto -r ocupa a posição da flexão: [[X]RV aVT]-rMF]V (cantar) vs. [[X]RV aVT]-mosMF]V (cantamos) [[X -ec-]RV eVT] -rMF]V (escurecer) vs. [[X -ec-]RV eVT] -euMF]V (escureceu)

•  Em romeno, formada somente pela vogal temática, -a, -e, -ea, -î, -i (a VT cria o tema verbal, a posição do morfema flexional no infinitivo sendo ocupada por um constituinte nulo: [[X]RV aVT]ØMF]V (cânta) vs. [[X]RV aVT]-țiMF]V (cântați) [[X]RV iVT]ØMF]V (fugi `fugir`) vs. [[X]RV iVT]-mMF]V (fugim ´fugimos´)

Em romeno, segundo os sufixos de alargamento, os verbos foram classificados em paradigmas diferentes. Os verbos em -i, -î, realizam-se quer com [-esc- /-eșt-, -ăsc- / -ășt-] quer com Ø, delimitando-se assim 4 paradigmas flexionais diferentes, como ilustram as tabelas seguintes:

Irina-Camelia Lupu Institutul de Lingvistică al Academiei Române „Iorgu Iordan – Al. Rosetti”

Bibliografia: Aito, E. (2004): “Morphologie dérivationnelle et construction de sens”,

consultado pela Internet em 25/01/2010, http://www.linguistik-online.de/19_04/aito.html. Allen, Andrew S. 1995: “Regrammaticalization and

degrammaticalization of the inchoative suffix”. In: Henning Andersen (ed.), Historical linguistics 1993. Selected papers

from the 11th International Conference on Historical Linguistics, Los Angeles, 16-20 August 1993. Amsterdam: John Benjamins,

1-8. Almeida Coelho, C. (2003): Formação de verbos em -ar em português,

Dissertação de Mestrado em Linguística Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra.

Aronoff, M. (1994): “Stems in Latin Verbal Morphology”, in Morphology by itself. Stems and Inflectional Classes, Cambridge-MA: MIT Press, pp. 31-59

Aronoff, M. & K.A. Fudeman (2005): What is Morphology, Oxford: Blackwell Publishing.

Arim, E. & Freitas, T. (2002): “Parassíntese e conversão: uma nova explicação para um velho problema”, in Actas do 18o Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, pp. 145-160.

Corbin, D. (1987): Morphologie dérivationnelle et structuration du l exique, Tübingen: Max Niemeyer Verlag.

Corbin, D. (1989): “Form, Structure and Meaning of Constructed Words i n an Associative and Stratified Lexical Component”, in Geert Booij, Jaap van Marle (eds.) Yearbook of Morphology 2, Dordrecht: Foris Publications, pp. 31-54.

Croitor, B (2008): “Construcṭii cauzativ-factitive”, in Gramatica Limbii Române, Bucureṣti: Editura Academiei Române, vol. II, pp. 172-188

Cuniţa, A.(2004): “Din nou despre sufixul verbal -iza”, in Pana Dindelegan, G. (eds.) (2004)Aspecte ale dinamicii limbii române actuale,

Bucureşti, Editura Universităţii, pp. 520-526. Lausberg, H. (1981): Linguística Românica, tradução de Marion

Ehrbardt e Maria Luísa Schemann. 2a ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Manea, D., Pană Dindelegan, G., Zafiu, R. (2008): “Verbul”, in Gramatica Limbii Române, Bucureṣti: Editura Academiei Romane, Vol. I, pp 323-585. Pană Dindelegan, G. (2008a): “Grupul verbal”, in Gramatica Limbii

Române, Bucureṣti: Editura Academiei Române, vol. II, pp. 47-72. Pereira, R. A. (2004): “Condições estruturais de formação de verbos em

Português”, in Rio-Torto, G. (coord.), Verbos e nomes em português, Coimbra: Livraria Almedina, pp.91-129.

Pereira, R. A.: (2007): Formação de verbos em Português. Afixação heterocategorial, Lincom Europa: Lincom Studies in Romance Linguistics.

Rio-Torto, G.M. (1998a): Morfologia Derivacional. Teoria e aplicação, Porto: Porto Editora.

Rio-Torto, G. M.(1998b): “Operações e paradigmas genolexicais do português”, in: Filologia e Lingüística (Universidade de São Paulo) 2, p. 39-60.

Reinheimer-Ripeanu, S. (1974): Les dérivés parasynthétiques dans les l angues romanes: roumain, italien, français, espagnol, Haga – Paris: Mouton.

Sanchez-Miret, F. (2006): “Productivity of the Weak Verbs in Romanian”, in Folia lingüística: Acta Societatis Linguisticae Europaeae, Vol. 40, No 1-2 (Ejemplar dedicado a: Natural Morphology), pp. 29-50.

Scalise, S. & E. Guevara (2005): “The lexicalist approach to wordformation and the notion of lexicon”, in Stekauer, P., Lieber, R. (eds.), Handbook of Word- Formation, Amsterdam: Springer, pp. 147–186.

Serrano-Dolader, D. (1995): Las formaciones parasintéticas en español, Madrid, Arco/Libros.

Villalva, A. (2008): Morfologia do Português, Lisboa: Universidade Aberta.

Verbos deadjetivais em Romeno e Português. Estruturas morfológicas com o sufixo -e(s)cer / -esc

Como Allen explica: During its historical development, the suffix spreads to verbs that indicate stages of humans and plants, illnesses, and sensory or intelectual perceptions: iuvenis “young man> iuvenēscere “to grow up”, flōs, flōris > flōrēscere “to begin to flower, tābēs “a wasting disease” > tābēscere “to waste away”, calēre “to be warm” > calēscere “to grow warm”, scĭre “to know” > scīscere “to seek to know, inquire. The stems of these verbs have meanings that readily lend themselves to a change of state compatible with the inchoative meaning” (Allen 1993:3)

Fenômeno assinalado por vários linguistas, Meyer – Lübke 1894, Lausberg 1956, Sánchez Miret 2006: The suffix –SCERE generated into inchoative verbs. Some Romance languages have kept those sufixes in the derivational level and some others have changed the derivational process into an inflectional mechanism... Lausberg calls the second group innovative. Romanian represents the most extreme example of the innovative languages, since the new microclasses have come to be the center of its productive verbal morphology (Sánchez Miret 2006:33)

Indicativo Presente

coborî, omorî, doborî

fugi, dormi, pieri, sări, veni

citi, mări, pietrui

hotărî, urî, zăvorî

sufixo Ø Ø -esc- /-eșt- -ăsc- / -ășt-

1ª eu cobor fug citesc hotărăsc

2ª tu cobori fugi citești hotărăști

3ª el / ea coboară fuge citește hotărăște

1ª noi coborâm fugim citim hotărâm

2ª voi coborâți fugiți citiți hotărâți

3ª ei / ele coboară fug citesc hotărăsc

Conjuntivo

Presente

coborî, omorî, doborî

fugi, dormi, pieri, sări, veni

citi, mări, pietrui hotărî, urî, zăvorî

Sufixo Ø Ø -esc- /-eșt- /-easc- -ăsc- /-ășt- / -asc-

Eu să cobor să fug să citesc să hotărăsc

Tu să cobori să fugi să citești să hotărăști

El / Ea să coboare

să fugă să citească să hotărască

Noi să coborâm

să fugim să citim să hotărâm

Voi să coborâți

să fugiți să citiți să hotărâți

Ei / Ele să coborâm

să fugă să citească să hotărască

Seguindo o modelo de Villalva (2008:78), como oferece informações sobre o paradigma da flexão do verbo, consideramos a vogal temática um integrador paradigmático pertencendo a flexão e não um sufixo derivacional. Nesta aceitação, a desinência do infinitivo (em Português formada pela vogal temática e pelo morfema -r: como em secar, escurecer e em Romeno somente pela vogal temática, como em curăța, acri) não apresenta valor derivacional. Neste modelo, em Português o -r é um afixo de natureza morfossintática, ocupando a posição da flexão, tal como outros sufixos flexionais do paradigma verbal (considerados afixos especificadores Tanto o romeno quanto o português herdaram o infinitivo latino, mas de maneira diferente. Segundo Lausberg (1936): Em Romeno (assim como em dialectos da Itália do Sul e do norte) há uma forma infinitiva abreviada que não apresenta a sílaba -re. Em Romeno a forma completa é usada como substantivo feminino (cântare `cantiga, canção) enquanto a forma abreviada se apresenta como infinitivo verbal (a maior parte das vezes com a < ad: a cânta ´cantar´) (Lausberg 1963 / 1981 : 377) Aceitamos o termo conversão como a reclassificação dos nomes ou dos adjetivos como verbos, um processo mental de reintegração paradigmática, a vogal temática sendo uma consequência deste processo, conforme com o modelo de Lieber (2005)