verbete representação política - dicionario de politica. norberto bobbio et al

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REPRESENTAÇÃO OPERÁRIA 1101 limitadas, as mais das vezes de fiscalização da aplicação dos acordos. De fato, porém, como revelam diversas pesquisas, as funções efetivamente desempenhadas têm sido sempre mais amplas. Pense-se, por exemplo, na atividade de proselitismo, de negociação, e de organização dos conflitos (embora circunscritos), que de fato vinha sendo desenvolvida por muitas comissões internas italianas nos anos de 50 e 60, embora se tratasse de tarefas não previstas ou nem mesmo permitidas pelos acordos (Accornero, 1973). A tendência a assumir maiores responsabilidades, especialmente na gestão das greves e na contratação, se acentuou muito em diversos países europeus na segunda metade da década de 60 e na primeira metade da de 70, durante uma fase de intensa mobilização coletiva. Em geral pode-se dizer que se deu um  processo de descentralização da representação e da capacidade de negociação, que provocou em alguns casos uma reforma ou refundição das estruturas de fábrica (como a constituição dos conselhos de fábrica na Itália). E mesmo que, nos anos sucessivos, fatores externos (crise econômica) e internos (exigências de reajustamento e de reequilíbrio) tenham levado a centralizar mais uma vez as relações industriais, é difícil admitir que o fortalecimento das estruturas descentralizadas não represente um salto de qualidade em relação ao passado, com conseqüências de longo alcance. IV. DELEGADOS E CONSELHOS DE FÁBRICA. — O organismo de Representação operária que se impôs na Itália durante o ciclo de lutas do fim da década de 60 constitui, pelo menos formalmente, um caso um tanto atípico. Apresenta, de fato, algumas das características dos organismos de representação geral de todos os trabalhadores (os delegados são eleitos por todos os trabalhadores e podem não estar inscritos num sindicato no momento da eleição), ao lado de traços típicos dos organismos sindicatos (o conselho foi formalmente definido em 1972 como "estrutura de  base" do sindicato unitário). Se se considera a gama das funções desempenhadas, ele é antes comparável à amplitude típica dos organismos de representação dos inscritos nos sindicatos associativos, embora no caso do conselho se trate de uma gama muito extensa por ser em grande parte indefinida, não regulada por acordos. Devido a todas estas características, o conselho dos delegados é, na Itália, um organismo ambivalente. E é nisto que está tanto a sua força como a sua fraqueza. De um lado ele pode funcionar como sensível canal de transmissão das reivindicações de base, como instrumento arti- culado de controle do trabalho, como agente contratual na fábrica. De outro lado, a sua mesma natureza dupla e a sua estrutura articulada não Facilitam a composição das reivindicações, a formação de decisões unitárias e a adesão à disciplina sindical. É por estas razões que a recomposição das relações industriais na empresa tem sido acompanhada do fortalecimento de órgãos mais restritos (executivos), mais aceitos pela direção das empresas. Este processo de centralização funcional abriu, contudo, caminho a novas dificuldades nas relações entre organizações sindicais e trabalhadores. BIBLIOGRAFIA. -A. ACCORNERO. Glianni '50 in fabbrica De Donato, Bari 1973; Conflittí in Europa. Lotte di classe, sindacati e stato dopo il '68, ao cuidado de C. CROUCH e A. PIZZORNO, Etas Libri, Milano 1977; A. P IZZORNO . Osservazioni comparate sulle rappresentanze del lavoro nei paesi capitalistici avanzati. in  Problemi del movimento sindacale in Italia. Feltrinelli. Milano 1976; I. R EGALIA.  Rappresentanza operaia e sindacato: il mutamento di un sistema di relazioni industriou, in AUT. VÁR.,  Lotte operaie '. sindacato: il ciclo 1968- 1972 in Italia, Il Mulino, Bologna 1978; D. R OY,  Efficiency and "The Fix": informal intergroup relations in a piecework machine shop. "American  journal of sociology", vol. 60, 1955. [IDA EGALIA] Representação Política. 1. SIGNIFICADOS  DO CONCEITO. — O conceito de Representação política, tanto em suas implicações teóricas como em suas traduções práticas, é sem dúvida um dos elementos-chaves da história política moderna. Todavia se — ao menos nas democracias ocidentais — a opinião corrente é geralmente concorde em identificar, nas assembléias  parlamentares periodicamente eleitas, a expressão concreta da Representação política, o conteúdo exato desse conceito permanece bastante mais controverso. Deste fato se pode dar uma dupla explicação. Antes de tudo, convém ter presente o fato histórico da representação. Frente às significativas mudanças ocorridas por toda a parte nas outras instituições  políticas, particularmente nas executivas e em todo o sistema político, ela apresenta, por seu lado,  juntamente com inovações relevantes (o fim da representação por camadas sociais, o sufrágio universal, a presença dos partidos de massa), importantes elementos de continuidade que, em casos como o inglês, remontam à Idade Média. Isto comporta,

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REPRESENTAÇÃO OPERÁRIA 1101

limitadas, as mais das vezes de fiscalização daaplicação dos acordos.

De fato, porém, como revelam diversas pesquisas,as funções efetivamente desempenhadas têm sidosempre mais amplas. Pense-se, por exemplo, naatividade de proselitismo, de negociação, e de

organização dos conflitos (embora circunscritos), quede fato vinha sendo desenvolvida por muitascomissões internas italianas nos anos de 50 e 60,embora se tratasse de tarefas não previstas ou nemmesmo permitidas pelos acordos (Accornero, 1973).

A tendência a assumir maiores responsabilidades,especialmente na gestão das greves e na contratação,se acentuou muito em diversos países europeus nasegunda metade da década de 60 e na primeira metadeda de 70, durante uma fase de intensa mobilizaçãocoletiva. Em geral pode-se dizer que se deu um

 processo de descentralização da representação e da

capacidade de negociação, que provocou em algunscasos uma reforma ou refundição das estruturas defábrica (como a constituição dos conselhos de fábricana Itália). E mesmo que, nos anos sucessivos, fatoresexternos (crise econômica) e internos (exigências dereajustamento e de reequilíbrio) tenham levado acentralizar mais uma vez as relações industriais, édifícil admitir que o fortalecimento das estruturasdescentralizadas não represente um salto de qualidadeem relação ao passado, com conseqüências de longoalcance.

IV. DELEGADOS  E  CONSELHOS  DE  FÁBRICA. — Oorganismo de Representação operária que se impôs naItália durante o ciclo de lutas do fim da década de 60constitui, pelo menos formalmente, um caso um tantoatípico. Apresenta, de fato, algumas das característicasdos organismos de representação geral de todos ostrabalhadores (os delegados são eleitos por todos ostrabalhadores e podem não estar inscritos numsindicato no momento da eleição), ao lado de traçostípicos dos organismos sindicatos (o conselho foiformalmente definido em 1972 como "estrutura de

 base" do sindicato unitário). Se se considera a gamadas funções desempenhadas, ele é antes comparável à

amplitude típica dos organismos de representação dosinscritos nos sindicatos associativos, embora no casodo conselho se trate de uma gama muito extensa por ser em grande parte indefinida, não regulada por acordos.

Devido a todas estas características, o conselho dosdelegados é, na Itália, um organismo ambivalente. E énisto que está tanto a sua força como a sua fraqueza.De um lado ele pode funcionar como sensível canalde transmissão das reivindicações de base, comoinstrumento arti-

culado de controle do trabalho, como agentecontratual na fábrica. De outro lado, a sua mesmanatureza dupla e a sua estrutura articulada nãoFacilitam a composição das reivindicações, aformação de decisões unitárias e a adesão à disciplina

sindical. É por estas razões que a recomposição dasrelações industriais na empresa tem sidoacompanhada do fortalecimento de órgãos maisrestritos (executivos), mais aceitos pela direção dasempresas. Este processo de centralização funcionalabriu, contudo, caminho a novas dificuldades nasrelações entre organizações sindicais e trabalhadores.

BIBLIOGRAFIA. -A. ACCORNERO. Glianni '50 in fabbricaDe Donato, Bari 1973; Conflittí in Europa. Lotte di

classe, sindacati e stato dopo il '68, ao cuidado de C.CROUCH e A. PIZZORNO, Etas Libri, Milano 1977; A.

PIZZORNO. Osservazioni comparate sulle rappresentanzedel lavoro nei paesi capitalistici avanzati. in  Problemi

del movimento sindacale in Italia. Feltrinelli. Milano1976; I. R EGALIA. Rappresentanza operaia e sindacato:

il mutamento di un sistema di relazioni industriou, inAUT. VÁR.,  Lotte operaie '. sindacato: il ciclo 1968-1972 in Italia, Il Mulino, Bologna 1978; D. R OY,

 Efficiency and "The Fix": informal intergroup

relations in a piecework machine shop. "American journal of sociology", vol. 60, 1955.

[IDA R EGALIA]

Representação Política.

1. SIGNIFICADOS  DO  CONCEITO. — O conceito deRepresentação política, tanto em suas implicaçõesteóricas como em suas traduções práticas, é semdúvida um dos elementos-chaves da história políticamoderna. Todavia se — ao menos nas democraciasocidentais — a opinião corrente é geralmenteconcorde em identificar, nas assembléias

 parlamentares periodicamente eleitas, a expressãoconcreta da Representação política, o conteúdo exatodesse conceito permanece bastante mais controverso.Deste fato se pode dar uma dupla explicação. Antes detudo, convém ter presente o fato histórico darepresentação. Frente às significativas mudançasocorridas por toda a parte nas outras instituições

 políticas, particularmente nas executivas e em todo osistema político, ela apresenta, por seu lado,

 juntamente com inovações relevantes (o fim darepresentação por camadas sociais, o sufrágiouniversal, a presença dos partidos de massa),importantes elementos de continuidade que, em casos

como o inglês, remontam à Idade Média. Istocomporta,

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1102 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

necessariamente, uma mutação no tempo da "posiçãorelativa" da representação. Portanto, se nos fixarmosem tais funções e no aspecto exterior, os representantes

de hoje recordam muito os de ontem e de anteontem.Se porém aprofundarmos o papel que eles têm nosistema político, emergem profundas mudanças.

A segunda explicação é de ordem semântica. Emtodas as línguas européias, o verbo "representar" e osubstantivo "representação" se aplicam a um universomuito vasto e variado de experiências empíricas. Écompreensível, portanto, dada a polivalência da

 palavra, que, tratando-se daquela representaçãoespecífica que é a Representação política, se evoqueautomaticamente uma multiplicidade de significados.

É portanto oportuno examinar sucintamente quais sãoas indicações de significado que podem deduzir-se dasvárias acepções da palavra que se encontram tanto naesfera do direito como na da política (os diplomatassão "representantes", o chefe de Estado "representa" aunidade nacional, etc), e também em experiências bemmais distantes, como a experiência artística figurativaou a dramática. Substituir, agir no lugar de ou emnome de alguém ou de alguma coisa; evocar simbolicamente alguém ou alguma coisa; personificar:estes são os principais significados. Na prática, podemdividir-se em: a) significados que se referem a umadimensão da ação, — o representar é uma açãosegundo determinados cânones de comportamento; b)significados que levam a uma dimensão dereprodução de prioridades ou peculiaridadesexistenciais; representar é possuir certas característicasque espelham ou evocam as dos sujeitos ou objetosrepresentados. Esta distinção é importante enquanto

 põe à luz as duas polaridades entre as quais se podemover a própria Representação política segundo assituações e sua colocação no sistema político.

Estas indicações contudo não são de grandeutilidade se antes não se individuar o que diferencia a

Representação política das outras experiências, isto é,se não se identificar o que ela tem de  proprium. Osignificado deste fenômeno se manifesta melhor seobservarmos como o regime político representativo secoloca em oposição, por um lado, com os regimesabsolutistas e autocráticos, desvinculados do controle

 político dos súditos e, por outro, com a democraciadireta, ou seja, com o regime no qual, em teoria,deveria desaparecer a distinção entre governantes egovernados. O sentido da Representação política está,

 portanto, na possibilidade de controlar o poder  político, atribuída a quem não pode exercer 

 pessoalmente o poder. Assim, pode ser satisfeita a

exigência fundamental que desde as primeiras eincertas origens fez surgir a instituição darepresentação, exigência expressa na Idade Média no

axioma quod omnes tangit ab omnibus probari debet.Com base em suas finalidades, poderíamos portantodefinir a representação com um "mecanismo político

 particular para a realização de uma relação de controle(regular) entre governados e governantes. Devemos

 partir deste núcleo para esclarecer os vários aspectosdo fenômeno. Em que relação estão as seguintesexpressões: representação, regime representativo? Equando é que a estas expressões correspondem nãoapenas inconsistentes aparências mas fenômenos reaisda vida política?

II. TRÊS  MODELOS  DA  REPRESENTAÇÃO  POLÍTICA. — Noque tange ao conteúdo da função representativa e ao papel dos representantes na bibliografia política foramlongamente discutidos três modelos interpretativosalternativos. Vejamo-los: 1) a representação comorelação de delegação; 2) a representação como relaçãode confiança; 3) a representação como "espelho" ourepresentatividade sociológica.

 No primeiro modelo, o representante é concebidocomo um executor privado de iniciativa e deautonomia, das instituições que os representandos lhedistribuem; seu papel aproxima-se muito ao de um

embaixador. Este modelo é de origem medieval e asmodernas constituições estatais rejeitam-no fazendo proibição explícita do "mandato imperativo".Encontramo-lo comumente, entretanto, nasorganizações e comunidades internacionais ou ementidades políticas pouco integradas.

O segundo modelo atribui ao representante uma posição de autonomia e supõe que a única orientação para sua ação seja o interesse dos representados comofoi por ele percebido. A esta concepção derepresentação se referia Edmund Burke quando em suaobra Speech to the electors of Bristol descrevia o papel

do representante como um "trabalho de razão e de juízo" a serviço do "bem comum" e não do simples"querer" e dos "preconceitos locais".

O terceiro modelo — o da representação comoespelho — diferentemente dos dois primeiros écentrado mais sobre o efeito de conjunto do que sobreo papel de cada representante. Ele concebe oorganismo representativo como um microcosmos quefielmente reproduz as características do corpo político.Segundo uma outra imagem corrente poderia ser comparado a uma carta geográfica.

Estes modelos, todavia, considerados em sua forma

 pura, levantam alguns graves problemas.

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REPRESENTAÇÃO POLÍTICA 1103

Podemos começar pelo terceiro que apresenta uma problemática toda particular. Quais as características

do corpo social, que merecem ser espelhados noorganismo representativo, é naturalmente o primeiroquesito que se coloca. Além das que são estritamente

 políticas e ideológicas, podemos indicar ascaracterísticas sócio-econômicas, profissionais,religiosas, culturais, étnicas e raciais, e até asdiferenças de sexo e o elenco poderia continuar. Ossistemas eleitorais proporcionais foram um eficazinstrumento institucional para realizar umareprodução bastante fiel das primeiras características.Quanto às outras, o grau de representatividade que

 podemos encontrar nas instituições representativas é,

de uma maneira geral, bastante baixo. Osrepresentantes tendem a ser diversos dosrepresentados em relação a estas outrascaracterísticas, salvo quando uma delas se torna

 ponto fulcral de conflito político e é tomada como bandeira por uma organização partidária. Neste caso, portanto, nascem os partidos operários, agrários,

confessionais, étnicos, feministas; mas estascaracterizações bem marcadas no início, com otempo sofrem geralmente forte desbotamento. O fatoé que a representatividade sociológica relativamente acertos perfis não políticos vai de encontro ao

 processo de profissionalização da vida política, que,naturalmente, toca os próprios representantes,limitando fortemente as características que eles

 podem assumir. Esta concepção da representação peca, além disso, pela estaticidade. Concentrando-setoda sobre a questão da fidelidade da "reprodução",descuida cuidar do problema dinâmico a capacidadedo órgão representativo em operar aquela síntese dos

 problemas particulares e das diversas tendências presentes no corpo político que é pressuposto da suacapacidade de governar. Parece, portanto, maisadaptada a um regime político no qual a representaçãonão ocupa uma posição de centralidade e sim uma

função mais secundária de legitimação e de correçãodo poder. Os outros dois modelos, do representantecomo delegado ou como fiduciário, não são senão asfaces opostas da mesma medalha. O primeiro se pode,

 porém, ligar em parte, com o modelo da representaçãocomo espelho; responde na verdade a uma lógicaanáloga de minimização da distinção representantes-representados, mas levada para um plano diverso,

 para o da ação substitutiva de comportamentos, de preferência ao da reprodução imitativa decaracterísticas existenciais. Este modelo está ligadoa um regime de limitada e irregular participação dos

representantes no processo de decisões, de talmaneira que uma sua aplicação literal se choca, nascondições políticas atuais, contra obstáculos quaseinsuperáveis. Em primeiro lugar, os representantes,

sendo também atores das decisões políticas, têmnecessidade de uma margem de manobra incompatível

com a rigidez de um sistema de instruções vinculantes.Além disso, a atenção dos representados, no que dizrespeito à massa dos negócios públicos, é geralmente

 baixa e estes, por sua vez. pela própria complexidade,apresentam para o público dificuldades decompreensão que não devem ser desprezadas.Portanto, numa grande parte dos casos faltariam ouseriam gravemente inadequadas as instruções para odelegado. Se este é o quadro em princípio, emdeterminadas situações, todavia, que pela sua naturezao permitem, o modelo da representação comodelegação pode ter uma atuação parcial e pode gerar,

no público, a expectativa de que ele venha a ser aplicado. Isto acontecerá, em geral, para os grandestemas políticos a respeito dos quais se podem configurar 

 posições alternativas nítidas e bem definidas. Temos umexemplo na tradição política inglesa, na qual oscompromissos tomados na sede eleitoral doscandidatos e dos partidos sobre certas questões políticasassumem caráter quase formal e vinculante. Nestescasos, a sanção eleitoral positiva corresponde a umainstrução ou "mandato". De qualquer maneira, em suaforma pura. também isto constitui um modelomarginal e excepcional.

A alternativa tradicional para esta concepção darepresentação é encarnada pelo modelo do "fiduciário".Este modelo presta-se, de modo particular, paravariações em relação ao tipo de "centro focai"

 preestabelecido para ação do representante. Orepresentante, na sua busca autônoma de interesses,deve ter como ponto de referência o seu colégioeleitoral, uma esfera territorial intermediária, a naçãointeira, interesses particulares ou o interesse geral?Em geral, a escolha deste modelo tem precisamente,em sua base, a exigência de superar a fragmentação

 particular que inevitavelmente brotaria darepresentação "delegada", sendo ela, por isso, quasesempre acompanhada da indicação da nação comocentro focai da representação (vejam-se os textosconstitucionais após a Revolução Francesa). O

 problema maior que este modelo levanta é o da possível não correspondência das percepções querespectivamente têm representantes e representados dointeresse destes últimos. O modelo não oferece, em si,uma solução satisfatória para uma situação onde há

 pontos de vista diferentes, o que é, exatamente, umdos problemas cruciais da vida política. Com efeito, senos basearmos unicamente no princípio fiduciário,sem contarmos com um elemento de controle sobre o

comportamento do representante, terminamos por 

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1104 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

atribuir a este um poder arbitrário que contrastanitidamente com aqueles que vimos ser o sentido da

representação. Neste ponto, podemos falar talvez deGoverno iluminado mas não de Governo

representativo.

Um atento exame da realidade dos sistemas políticos representativos permite darmo-nos conta deque nenhum destes três modelos consegue umaatuação completa, em sua forma pura. Pelo contrário,

 poderia ser bastante exato no plano descritivo definir o representante um "fiduciário controlado que emalgumas de suas características espelha as dos seuseleitores". Do modelo do fiduciário se conclui aindicação da necessidade para os representantes, de

uma certa margem de autonomia que lhes permita umfôlego de ação bem mais amplo do que permitiria a presença do mandato imperativo. O modelo dodelegado nos dá, de sua parte, o elemento do vínculoao qual fica sujeito, em qualquer hipótese, orepresentante. Sem tal elemento, a função darepresentação seria desnaturada, já que ele garante umcerto grau de controle dos cidadãos sobre o poder 

 político. Mas um modelo realista e atuável não podedesprezar inteiramente nem parcialmente arepresentação sociológica pois que, além de um certolimite, poderia ser colocado em crise todo o edifício darepresentação, se fosse atingido em sua legitimidade ecredibilidade. Efetivamente, a representação-espelho

 parece responder às exigências de ordem simbólica e psicológica, que, em certos níveis e em certassituações, podem assumir notável importância. Por exemplo, os grupos pouco integrados, marginais deum sistema político terão necessidade não só derepresentantes que "zelem por seus interesses" masainda de representantes que, pelas suas características

 pessoais, neles se possam identificar e sentir-se"presentes" na organização política.

 Naturalmente, nem em todos os sistemas políticosque podemos definir como representativos, as

 proporções destes elementos serão iguais. Entretanto, para cada um destes elementos existe, mesmo se nãoé facilmente determinável, um valor mínimocaracterístico, abaixo do qual a atuação darepresentação ficaria ameaçada em sua eficácia

 prática quer no seu significado político quer na sualegitimidade psicológica.

III. AS ESTRUTURAS DA REPRESENTAÇÃO. — Por si sós, os dados do problema, até aquianalisados, não são suficientes. A prescrição de umdado modelo para a figura do representante e para afunção representativa — prescrição contida emnormas constitucionais, sociais e de ethos político — éuma parte importante mas não é tudo no fenômeno darepresentação. Na experiência política ocidental

moderna — aquela que constituiu o eixo do conceitode Representação política — a representação,

 juntamente com o aspecto comportamentístico esociológico, tem também, e não sem motivo, umaspecto estrutural que não pode ser esquecido. O que setira desta experiência é que, sem uma determinaçãoclara das bases institucionais da representação não se

 pode nem sequer esperar numa determinação suficientedo modelo funcional. Não se pode elaborar um modelode representação, abstratamente, sem ter em conta as

 possibilidades e os limites dos mecanismosinstitucionais que devem assegurar a atuação das

 prescrições solenes.

É precisamente esta dimensão comportamental mais

do que substancial que distingue a verdadeirarepresentação de outros fenômenos do passado ou deoutros contextos políticos modernos em torno dosquais se fala muitas vezes de representação mas numsentido impróprio. É preciso não esquecer que umalonga tradição de pensamento político, que inclui o

 próprio Hobbes, viu no soberano absoluto "orepresentante do país", entendendo por tal aquele que,tendo recebido um país em confiança, é o responsávele curador de seus interesses. Substancialmente seincluem na mesma concepção os modernos chefescarismáticos, os ditadores, os partidos únicos que se

autoproclamam representantes dos "verdadeiros"interesses do povo. Apesar de tudo, não podemos deixar de ver a distância que separa a nossa concepção deuma representação que não está sujeita a controlesinstitucionais nem garantida. Para entender estadiferença pode ser útil lembrar a diferença existenteno direito privado entre a representação legal que é atutela de um menor, de um incapaz e a representaçãovoluntária, na qual o representado é um sujeito

 perfeitamente capaz de agir e portanto titular de um poder de controle e de um direito de revogação. Oelemento fundamental do mecanismo de garantia darepresentação é dado pelas eleições dos organismos

 parlamentares (e em certos casos de outros organismos políticos). A Representação política pode definir-seentão como uma representação eletiva. Não é suficiente

 porém um tipo qualquer de eleições. Trata-se deeleições competitivas e que ofereçam um mínimo degarantias de liberdade para expressão do sufrágio.Abaixo de um determinado nível de garantias, o

 processo eleitoral não se pode considerar uminstrumento de realização da representação. Emdeterminadas circunstâncias, a substância do voto nãoconfigura mais um prejuízo e uma escolha mas torna-se simplesmente uma aclamação e uma investidura

 plebiscitária. As eleições desenvolverão então funções bem diversas, de mobilização do con-

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REPRESENTAÇÃO POLÍTICA 1105

senso e de legitimação. Ainda no campo das eleiçõescompetitivas, devemos dizer que no processo eleitoral

coexistem elementos diversos, interpretando as eleiçõescomo um "juízo" e uma "escolha", devemos observar que juízo e" escolha se podem exercer tanto sobre

 pessoas como sobre programas e atos políticos.Evidentemente, segundo o modelo de representaçãoescolhido, pretender-se-á fazer ressaltar um aspectode preferência a outros. Num caso, o destaque cairásobre a escolha pessoal dos representantes; em outro,sobre a determinação prévia das decisões políticas,quase uma estipulação de compromissos vinculantesentre candidatos e eleitores; em outro caso ainda,sobre a ação geral e a posteriori de controle e sobre oefeito que daí deriva de responsabilização. Dentro dedeterminadas margens, o mecanismo eleitoral podeser construído de modo a reforçar um ou outro destesaspectos. A esta exigência corresponde a grandevariedade de fórmulas elaboradas pela engenhariaeleitoral. Estas margens todavia não são muito amplas,hoje. Torna-se necessário ter presente os "vínculos"impostos ao mecanismo eleitoral por uma realidade

 política caracterizada pelo sufrágio universal numasociedade de massa e portanto por uma maior distância entre eleitores e eleitos, pela expansão daesfera da ação governamental e pela crescentecomplexidade dos problemas políticos. Ora, estes

dados, de fato, tornam hoje, sempre mais marginais e precários, no sistema eleitoral, os dois aspectos daescolha pessoal dos representantes e da determinação

 prévia das opções políticas.

Mas o que sobretudo se deve ter em conta é aimportância que no processo eleitoral assumiram os

 partidos tanto no aspecto de elaboradores e deapresentadores de programas políticos como no deorganizações de gestão política. Partindo deste dadoessencial, conclui-se que um modelo realista darepresentação, no caso de conter alguns elementosdos modelos já examinados, deverá colocar-se num

 plano completamente diverso. Hoje, o fenômeno daRepresentação política deve ser olhado como um fatoglobal mais do que como uma série de relações derepresentação, reciprocamente independentes,estabelecidas entre os representantes e ascircunscrições eleitorais. O mecanismo do qual brota arepresentação é um enorme processo de competiçãoentre as organizações partidárias pela conquista ou

 pela conservação das posições parlamentares egovernamentais, uma competição regulamentada eque se desenvolve frente a um público com funçõesde juiz. Neste quadro, o papel do representante

individual não é definido de maneira absolutamenteunívoca, mas é suscetível de assumir formasdiferentes, de acordo com a disciplina partidária, dascaracterísticas da competição eleitoral, e da cultura

 política. No processo representativo podemos ver na prática duas seqüências-tipo: 1) eleitores-partidos-

representantes individuais; 2) eleitores-representantesindividuais-partidos. Na primeira seqüência, hoje amais importante, a relação primária corre entre os

 partidos e o eleitorado; é diretamente a "imagem- partidária" que é apresentada ao juízo eleitoral e ésobre ela que se exerce o controle. Os representantesindividuais têm um papel quase só executivo. Nasegunda seqüência, menos importante mas nãoinsignificante, são estes que constituem o canalrepresentativo entre o eleitorado (sobretudo a nívellocal) e os partidos (ou seja, seus órgãos centrais deelaboração de imagem partidária). Em ambos oscasos, o papel do representante está diretamente ligadoaos dos partidos. O núcleo fundamental darepresentação está na "responsabilidade" periódica aque estão sujeitos os atores políticos cm competição(os partidos). Responsabilidade quer dizer "chamado

 para responder", para "prestar contas", das própriasações junto daqueles que têm o poder da designação.Que esta responsabilidade valha por todo umconjunto bastante genérico de comportamentos e não

 por cada ato individual dos atores políticos, por umainteira seção de classe política e não por cada pessoaem particular, deveria ser descontado depois de tudo oque se disse. O fosso de desinteresse e ignorância

 política que divide os governantes dos governados, ascortinas fumarentas mais ou menos densas de que secerca todo o poder, não permitem muito mais do queisto. Em síntese, a Representação política poderia ser definida como "um sistema institucionalizado deresponsabilidade política, realizada através dadesignação eleitoral livre de certos organismos

 políticos fundamentais (o mais das vezes, os parlamentos).

IV. R EPRESENTAÇÃO E SISTEMA POLÍTICO. — Até aqui, arepresentação foi examinada como um fenômeno em

si, mas evidentemente o quadro não podecorresponder plenamente à liberdade até que seanalise a inserção da representação na complexa redeinstitucional de um sistema político. Este sistema temduas faces: trata-se, de uma parte, das condições darepresentação; por outra, do grau de incidência que arepresentação tem sobre as outras instituições

 políticas. Dada a natureza dos processos institucionaisda representação, devem ter-se como favoráveis todasaquelas condições que jogam no sentido de um

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1106 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

alto grau de  publicidade nos negócios públicos e decompreensibilidade dos mesmos para os cidadãos, e,

invertendo a perspectiva, todas aquelas condições quetornam cognoscíveis à classe política as atitudes do

 público. A representação está na verdadeestreitamente ligada a um processo de duplo sentidode comunicação das mensagens políticas. É, portanto,dependente de todos os canais de informaçãorecíproca e sensível a todas as perturbações queaconteçam neste campo. A representação pressupõe,

 por conseguinte, um complexo de direitos políticos(liberdade de imprensa, de associação, de propaganda,etc.) que permitem a formação e a manifestação davontade política dos representantes. Mais alto ainda

estão certos fatores culturais. A presença junto do público de uma cultura democrática "participante" enão passiva e nas classes políticas de uma culturademocrática e flexível em vez de autoritária edogmática, facilita indubitavelmente o funcionamentoda representação. Uma condição favorável ulterior éconstituída pela presença das elites políticasalternativas, capazes de oferecer uma troca às quedetêm o poder e assegurar a dinâmica competitiva aque está estreitamente ligado o mecanismo darepresentação.

Quanto à relação entre representação e sistema

 político, existe aí uma importância determinante porque permite realizar a distinção entre "regimes políticosrepresentativos" e "regimes políticos não-representativos" e verificar, conseqüentemente, avalidade do critério de discriminação entre o que é e oque não é representação. Finalmente, é sobre este

 plano que se deve conduzir o confronto entre aconcepção enunciada da Representação política,

 prevalente na cultura política ocidental, a qual adotauma concepção comportamental enquanto faz daseleições o eixo central e aquelas que outras culturas eoutros sistemas políticos lhes opõem e que são, namaior parte das vezes, concepções substanciais. É

 possível falar de regime representativo mesmo de foradaqueles procedimentos eleitorais, dos bem preciososrequisitos que são a substância da representação deque falamos? Efetivamente, mesmo fora destaslimitações, se verificam fenômenos que apresentamanalogias com o da representação. Pode haver o casode regimes nos quais o poder político opera (ou retémou pretende operar) em tutela dos interesses do

 público; e em todos os sistemas políticos existemalguns grupos que, pelo menos, com uma ação de

 pressão, conseguem tomar em consideração e satisfazer seus interesses, ou determinar a substituição de seus

governantes. E existem regimes que gozam de um altonível de legitimidade e de aceitação por parte do

 público. E tudo isto sem eleições competitivas. Parase ter em conta a analogia com certos efeitos das

instituições representativas, pode-se chegar a definir estes como "fenômenos representativos". Todavia, uma

linha de divisão se pode e deve fixar entre regimes nãorepresentativos e "regimes representativos". Com essalinha se justifica também a distinção entre fenômenosrepresentativos e representação, entendida comosistema institucionalizado de responsabilidadeeleitoral. Estas duas distinções correm sobre planosdiversos mas são estreitamente interdependentes, de talmaneira que as alternativas possíveis que daí nascemsão duas. Por um lado, temos a possibilidade de efeitosrepresentativos mas com caráter de irregularidade e de

 precariedade pelo fato de não serem garantidos por mecanismos institucionalizados. Não se poderá

 portanto falar de regime representativo e, por razões declareza, nem tampouco de Representação política semulteriores especificações, por faltar a correspondência àlógica causai da representação que quer a instituição deum poder de controle dos cidadãos no funcionamentodo regime político. Por outro lado, existe arepresentação baseada em processos estabilizados e, namedida em que isto permite a eles ter um papel centrale significativo, no âmbito do sistema políticoconstruído em torno dela, se poderá falar de regime

 político representativo. As demais estruturas políticasdeverão sofrer o controle dos organismosrepresentativos e basear neles sua legitimação.

V. CONCLUSÃO. — Em conclusão, os regimes

representativos são aqueles regimes que recebem darepresentação urna caracterização decisiva. Arepresentação, por sua vez, é um fenômeno complexocujo núcleo Consiste num processo de escolha dosgovernantes e de controle sobre sua ação através deeleições competitivas. A complexidade darepresentação tem feito com que alguns critiquem ouso deste conceito e proponham desmembrá-lo. Emvez de representação, se deveria falar de seleção daslideranças de delegação de soberania popular, de

legitimação, de controle político, de participaçãoindireta e de transmissão de questionamento político.Usar-se-iam, assim, conceitos mais simples esuscetíveis de uma interpretação mais unívoca. A estatese se deve replicar que o conceito de Representação

 política continua sendo útil sobretudo como conceitomulti-dimensional, ou seja, como conceito sintéticode um fenômeno político que é certamente complexonos seus elementos constitutivos, mas que é aomesmo tempo unitário em suas finalidades e na sualógica causai.

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REPRESSÃO 1107

BIBLIOGRAFIA. - H. EULAU e J. C. WAHLKE, The

 Politics of Representation. Sage, Bervely Hills,1978; G. LEIBHOLZ.  Das Wesen der Repräsentation

und der Gestaltwandel der Demokratie im 20,JAHRHUNDERT. de Gruyter, Berlim, 1966;

 Representation, ao cuidado de J. R. PENNOCK  e J. W.CHAPMAN, Atherton Press. Nova Iorque. 1968; H.

PITKIN. The Concept of Representation. University of California Press. Berkeley, 1967; G. SARTORI,Sistemi Representativi. in Democrazia e definizioni,Il Mulino, Bolonha, 1969.

[MAURIZIO COTTA]

Repressão.

A integração dos cidadãos na  polis  pressupõe o

consenso comum acerca das "regras do jogo" quevisam reprimir a violência individual e oscomportamentos desviados. Não obstante, osconflitos sociais não são abolidos pelo formalismodas instituições políticas e jurídicas, mas tão-sócontidos ou dissimulados. As doutrinas antiestatistas(por exemplo, o anarquismo de Bakunin)contrapõem o não-governo ou o autogoverno

 popular ao Estado como uma instituiçãointrinsecamente repressiva.

O conceito político de Repressão acha-sefortemente influenciado pelos avanços da psicologia

social e da psicanálise. Segundo Freud, a históriado homem começa com a Repressão, entendidacomo renúncia ou dilação do prazer e comoinibição metódica dos instintos sexuais edestrutivos. A libido é desviada para permitir comportamentos socialmente úteis; o princípio do

 prazer é substituído pelo princípio da realidade. ARepressão é, pois, um fenômeno histórico

 permanente que tem uma origem econômica: aRepressão fundamental é imposta pela penúria dos

 bens e pela conseqüente necessidade de desviar asenergias da atividade sexual para o trabalho.

A teoria freudiana da Repressão foi retomada edesenvolvida por Herbert Marcuse, que explicouteoricamente a passagem do princípio da realidadeao princípio da contribuição. Já que na sociedadecontemporânea o princípio da realidade consiste naestratificação da sociedade segundo a contribuiçãoeconômica dos seus membros, é preciso distinguir,segundo Marcuse, entre

Repressão fundamental (isto é, a Repressão dosinstintos estritamente necessária à perpetuação da raçahumana na civilização) e a Repressão "adicional",

 provocada pela estrutura patriarcal-monogâmica dafamília, pela divisão hierárquica do trabalho e pelocontrole coletivo da existência privada.

A história da civilização conteria, como aspecto

subterrâneo e ostracizado, a "Regressão do reprimido".Marcuse sustenta que a sociedade contemporânea,graças aos recursos de que dispõe, apresenta

 potencialidades não repressivas, mas obstadas pelaestrutura global do sistema; a tolerância passiva paracom o sistema seria por isso, na realidade, uma formade Repressão, contra a qual se devia instaurar umaTOLERÂNCIA (v.) "ativa", ou seja, intolerante, para como sistema social, fundado na Repressão do  Eros e narenúncia à felicidade.

[VALERIOZANONE]

República.

I. DEFINIÇÃO. — Na moderna tipologia das formasde Estado, o termo República se contrapõe àmonarquia. Nesta, o chefe do Estado tem acesso aosupremo poder por direito hereditário; naquela, ochefe do Estado, que pode ser uma só pessoa ou umcolégio de várias pessoas (Suíça), é eleito pelo povo,quer direta, quer indiretamente (através de assembléias

 primárias ou assembléias representativas). Contudo, o

significado do termo República evolve e muda profundamente com o tempo (a censura ocorre naépoca da revolução democrática), adquirindoconotações diversas, conforme o contexto conceptualem que se insere.

II. A REPÚBLICA DOS ANTIGOS. — Com res publica osromanos definiram a nova forma de organização do

 poder após a exclusão dos reis. É uma palavra nova para exprimir um conceito que corresponde, nacultura grega, a uma das muitas acepções do termo

 politeia, acepção que se afasta totalmente da antiga e

tradicional tipologia das formas de Governo. Comefeito, res publica quer pôr em relevo a coisa pública,a coisa do povo, o bem comum, a comunidade,enquanto que, quem fala de monarquia, aristocracia,democracia, realça o princípio do Governo (archia).Foi Cícero sobretudo quem definiu conceptualmente osignificado de res publica, ao demonstrar que por 

 povo se há de entender  "non omnis hominum coetus

quoquo modo