ventos liberais...integração oeste-leste (fiol), no trecho entre as cidades de ilhéus e caetité,...

3

Upload: others

Post on 09-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: VENTOS LIBERAIS...Integração Oeste-Leste (Fiol), no trecho entre as cidades de Ilhéus e Caetité, na Bahia, e da Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará. A Ferro grão, importante
Page 2: VENTOS LIBERAIS...Integração Oeste-Leste (Fiol), no trecho entre as cidades de Ilhéus e Caetité, na Bahia, e da Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará. A Ferro grão, importante

O leilão de 12 aeroportos, entre ·eles o do Recife (à esq.), realizado em 15 de março, rendeu ao governo federal R$ 2,37 bilhões, um ágio de 986% sobre o valor inicial

THIAGO CALIUAG~NCIA O GLOBO

VENTOS LIBERAIS 31

A área de infraestrutura é um oásis em meio aos sobressaltos e polêmicas que marcam o início do governo Bolsonaro por Manoel Ventura

Em meio à desarticulação política e ao ex­cesso de tuítes que tragaram o Palácio do

Planalto nos primeiros 100 dias, há uma área que caminha sem sobressaltos no governo: a de infraestrutura. Em menos de um mês, fo­ram concedidos à iniciativa privada 12 aero­portos regionais, dez terminais portuários e o trecho central da Ferrovia Norte-Sul - todos projetos oriundos do governo de Michel Te­mer. Agora, o desafio da equipe do Ministério da Infraestrutura, comandado por Tarcísio de Freitas, é manter o ritmo de privatizações e oferecer ao mercado uma carteira própria de projetos. Em campanha, o ministro da Eco­nomia, Paulo Guedes, chegou a aventar a pos­sibilidade de o governo angariar quase R$ 1

trilhão com leilões e concessões. Com as contas públicas em frangalhos,

repassar o maior número de ativos possível para a iniciativa privada foi a maneira en­contrada pelo governo para garantir investi­mentos em áreas estratégicas. Os empreen­dimentos licitados nas últimas semanas de­vem receber um total de R$ 6,87 bilhões em investimentos nos próximos 30 anos, fora os gastos obrigatórios com manutenção e ope­ração. Os leilões também representarão um suspiro para as contas do governo. Os paga­mentos que as empresas terão de fazer à União somam R$ 5,8 bilhões somente neste ano. Os editais preveem também remunera­ções mensais ao longo das concessões. Isso fará a arrecadação final subir para cerca de R$ 8 bilhões ao fim dos contratos.

O governo conseguiu repassar para em­presas privadas a administração dos aero­portos do Recife, em Pernambuco; Maceió, em Alagoas; João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba; Aracaju, em Sergipe; Juazeiro do Norte, no Ceará; Vitória, no Espírito Santo; Macaé, no Rio de Janeiro; e Cuiabá, Sinop, Rondonópolis e Alta Floresta, em Mato Grosso. Os terminais licitados representam 9,5% do mercado doméstico e atendem qua­se 20 milhões de passageiros ao ano.

A equipe do Ministério da Infraestrutura conseguiu também leiloar, com êxito, o princi­pal trecho da Ferrovia Norte-Sul. Licitações de ferrovias são consideradas complexas e dificeis no Brasil. O país tem pouca experiência na área e, quando comparada à de outros modaís, como aeroportos e rodovias, a legislação nesse tipo de operação é considerada frágil. A ferrovia foi comprada pela Rumo S.A. pelo valor de R$ 2,7 bilhões, o que representa um ágio de 100,29% sobre o lance mínimo de R$ 1,3 bilhão. O trecho tem 1.537 quilômetros e liga Estrela d'Oeste, em São Paulo, a Porto Nacional, em Tocantins, pas­sando por Minas Gerais e Goiás, e atualmente é controlado pela estatal Valec. A Rumo já opera o trecho da Norte-Sul que vai de Estrela d'Oes­te até o Porto de Santos, ambos em São Paulo. Foram leiloadas ainda dez áreas em portos do Pará, do Espírito Santo e da Parruba.

O governo Bolsonaro terá o desafio de fazer um cronograma próprio de concessões e apre­sentar seus projetos do zero, para continuar com a agenda de investimentos privados no

Page 3: VENTOS LIBERAIS...Integração Oeste-Leste (Fiol), no trecho entre as cidades de Ilhéus e Caetité, na Bahia, e da Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará. A Ferro grão, importante

32

O leilão do trecho central da Ferrovia Norte-Sul, com 1.537 quilômetros, foi vencido pela empresa Rumo, que pagará R$ 2, 7 bilhões por um contrato de 30 anos

VENTOS LIBERAIS

país. Todas as concorrências feitas nos últimos meses foram estruturadas em 2018, mas não houve tempo suficiente para levá-las a leilão antes do fim do governo Michel Temer. O pro­fessor Paulo Resende, da Fundação Dom Ca­bral, destaca três pontos positivos nos últimos leilões. Um deles é justamente a continuidade dos projetos do governo Temer. Sem inventar o novo ou desprezar o que já estava engatilha­do, o ministro conseguiu resultados expressi­vos. Outro ponto destacado pelo especialista é a alta capacidade de demanda dos empreen­dimentos leiloados, como os aeroportos. E, por último, a necessidade de investimentos na área de portos. "A área de infraestrutura soube escolher quais seriam os projetos a se­rem concedidos. Quando tem sucesso no ágio, que foi alto, nos três grandes leilões, isso alimenta, serve de combustível para a criação de confiança no investidor", afirmou.

Passados os projetos herdados, analistas avaliam que só agora o novo governo

mostrará. sua real capacidade de execução. O setor ainda aguarda o anúncio do calendário de projetos do Programa de Parcerias de In­vestimentos (PPI) para este governo. Para ser leiloado, um projeto precisa estar qualificado no PPL É ele o departamento responsável por estruturar e estudar as concessões, em con­junto com as equipes das áreas dos ministérios. Entre os projetos mais avançados estão arren­damentos de terminais portuários em Santos,

São Paulo; Paranaguá, Paraná; e Suape, Per­nambuco. Na área de rodovias, há também as concessões da BR-364 e da BR-365 (de Uber­lândia, Minas Gerais, a Jataí, Goiás), que aguardam o aval do Tribunal de Contas da União (TCU). Para o próximo ano, também já há concessões anunciadas nos setores de ae­roportos, rodovias e ferrovias, em diferentes fases de modelagem e aprovação.

Cláudio Frischtak, da Inter.B consultoria, afirmou que, mais importante que fazer os leilões e projetos rapidamente, é fazê-los bem. Nas ferrovias, ele citou os casos da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), no trecho entre as cidades de Ilhéus e Caetité, na Bahia, e da Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará. A Ferro­grão, importante para escoar a produção agrí­cola, será construída totalmente do zero, com investimentos de mais de R$ 12 bilhões. "A Fiol é mais complexa que a Norte-Sul, não te­nho certeza se ela é viável. A Ferrogrão não dá para colocar em leilão neste momento", disse. O especialista destacou também que, além dos leilões, o governo precisa concentrar seus es­forços em uma ação legislativa. É preciso, se­gundo ele, aprovar leis que melhorem o ambiente de negócios e atraiam investimentos para o país. São os casos de novos marcos re­gulatórios para saneamento, gás natural, setor elétrico, e a nova lei das agências reguladoras.

O advogado Massami Uyeda Junior, sócio do escritório Arap, Nishi e Uyeda, especializa­do em concessões, enxerga o momento com mais ceticismo. Ele avalia que os leilões podem passar por um hiato nos próximos meses. Isso porque a equipe ainda não começou a mode­lar novos projetos. É preciso, antes de um lei­lão, realizar uma série de estudos, passar por audiência pública e obter aval do TCU - que costuma ser criterioso e, em alguns casos, atra­sar os planos do governo. "A gente não tem visto novos projetos serem encaminhados para o próximo semestre ou o próximo ano. Existi­rá um hiato no segundo semestre", avaliou.

Para Carlos Roberto Siqueira Castro, do Siqueira Castro Advogados, se houver boa vontade do governo em prover segurança ju­rídica para implantar uma agenda forte de concessões, o impacto será enorme. "Se tiver segurança jurídica, estando claras as regras do jogo, os investidores serão naturalmente atraí­dos. Há um excesso de liquidez no planeta e o ambiente de negócios começa a melhorar no Brasil", afirmou. ----------

bmartins
Realce