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VENEZUELA: Por que o chavismo incomoda tanto o Imperialismo?

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Índice APRESENTAÇÃO

BERNADETE MENEZESRadicalizar a organização popular para avançar nas conquistas

IVAN VALENTE Vitória na Venezuela: socialismo e democracia caminham lado a lado na América Latina

GILBERTO MARINGONI Nicolás Maduro: algumas notas sobre a Venezuela

BELUCHE OLMEDO Maduro tem que aprofundar as relações com os movimentos

ALFONS BECH Venezuela na contra-mão da Europa

JANIRA ROCHA “É preciso estar no poder...“

BRUNA MENEZES Liberdade de expressão para quem?

MARIO AZEREDO As eleições, os grupos da esquerda sectária e o Chavismo

EU ESTIVE NA VENEZUELA SantiagoArlei Medeiros Alexandre HaubrichValnez Bitencuort Márcia Regina Pereira Tavares

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Caros leitoresA frase acima mostra bem o estado dicotômico que vive Venezuela. Galeano retira a máscara que a mídia e os governos neoliberais usam para encobrir a verdadeira essência do que está em jogo. É incomum nesse sistema dirigido por e para as elites, surgir personalidades que tenham um olhar para a maioria do povo pobre e trabalhador. Salva-dor Allende, no Chile dos anos 70, tentou e foi vítima de um golpe militar orquestrado pelo Governo americano. Mas, com Chávez, a situação se complicou para a burguesia, principalmente porque a Ve-nezuela detêm as maiores reservas de petróleo do mundo. O controle desse país é uma questão estratégica, para quem domina o mundo.

Os anos 2000 foram marcados pela ofensiva dos povos latino-ameri-canos contra os planos neoliberais. Na Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina, etc., ocorreram explosões sociais que gestaram novas lide-ranças. Chávez com seu bolivarianismo e seu “socialismo do século XXI”, foi vanguarda desse processo e influenciou os demais países. A correlação de forças deu uma pequena guinada para a esquerda, sufi-ciente para a retomada do otimismo revolucionário. Chávez morreu, mas seu projeto garantiu a vitória de Maduro. Entramos em uma nova conjuntura no continente e o que ocorrer na Venezuela vai determinar se o pêndulo da luta de classe vai à esquerda ou mais à direita.

Ventos conservadores sopram incessantemente. O sequestro de Chá-vez e agora o não reconhecimento da vitória de Maduro, é parte do mesmo jogo de dominação americana, que criou a falsa história de armas de destruição em massa, para justificar a ocupação do Iraque. Obama, ao se negar em reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela, fortalece os setores da direita fascista da Venezuela e no resto mun-do. No Brasil, o clima não é diferente. Dilma cede diariamente para as forças conservadoras e privatizantes. Por isso, o Brasil foi uma barreira de contenção as políticas de maior integração defendidas por Chávez, para a América Latina.

Nesse sentido, nós os revolucionários temos que estudar a realidade venezuelana, e os próximos passos, tanto do Governo Maduro, como da oposição fascista representada por Capriles. Foi esse o objetivo que traçamos ao construir essa revista: entregar a você, leitor, uma gama de artigos analíticos que possam ajudar na caracterização de para onde vai à Venezuela, sem Chávez, mas com Maduro.

Boa Leitura!

“Há uma demonização de Hugo Chávez. Quando for ler uma notícia, você deve traduzir tudo. O demonismo tem

essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte” Hugo Chávez é um demônio. Por quê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever,

mesmo vivendo em um país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo.”

Eduardo Galeano

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Com a morte de Chávez fica a sen-sação de que se perdeu algo muito maior do que a existência de um ser humano, por mais valoroso que este seja. Os fatos, as propostas e os feitos de Chávez ganharam dimen-são social e influenciaram milhões de pessoas mundo a fora. Mas o que todo mundo se pergunta é: O quê vai acontecer na Venezuela depois da morte de Chávez? Os feitos vão ser desfeitos? As conquistas sociais vão retroceder? A democracia e a partici-pação popular vão dar espaço a uma vertente autoritária elitista e/ou oli-gárquica submissa ao imperialismo?

Essas e outras perguntas inquietam ativistas das causas sociais, inte-lectuais de esquerda e a diplomacia internacional progressista e também as reacionárias.

Para nós vale a proposição de Hegel: “A verdade é concreta”. Portanto, temos que buscar as respostas desses questionamentos na própria realida-de venezuelana. E quando fazemos isso, entendemos o porquê de tanta campanha contra os feitos de Chá-vez, por parte da mídia, dos políticos da direita venezuelana e dos gover-nantes reacionários dos quatro cantos do Planeta.

Um balanço preliminar do período de existência da República Bolivariana da Venezuela, constata que o anal-fabetismo foi erradicado. A própria Unesco em 2005, declarou Venezuela

como Território Livre de analfabetis-mo. Em 1998, 50,5% da população (mais de 11 milhões de venezuela-nos) vivia na pobreza, hoje em dia esse índice baixou para 33,4%. A pobreza extrema castigava 20,3% da população e dez anos depois foi reduzida para 9,5%. A qualidade de vida deu um salto. Investimento em Saúde pública dobraram, acesso a internet e à água potável tiveram um crescimento exponencial. A mor-talidade infantil foi reduzida pela metade. O salário mínimo, a partir de maio de 2007 se converteu no mais alto da América Latina. A LOT - Lei Orgânica do Trabalho é um poderoso instrumento institucional em defesa das conquistas dos trabalhadores. Para dar um exemplo, ela determina o fim das terceirizações e garante es-tabilidade ao trabalhador com filhos, homem e mulher, até que a criança atinja a idade de dois anos.

Esses avanços sociais, estão direta-mente associados à política de nacio-nalização e expropriação de setores estratégicos como petróleo, cimento, aço, telecomunicações, alimentos, setor elétrico e sistema bancário. São exemplos disso a Siderurgica Sidor--Argentina, a mexicana de cimento Cemex, o Banco Santander e a cadeia de Supermercados Exito todas expropriadas pelo Governo Chávez. São avanços econômicos e sociais que foram executados, como parte da política anti-imperialista, de defesa da soberania nacional, contra as po-

líticas neoliberais de privatização do patrimônio público e de especulação financeira. Com a retomada da PDV-SA, para as mãos de fato do Estado Bolivariano, a renda do petróleo ga-rantiu uma verdadeira distribuição de renda e o fortalecimento do Estado, destinando verbas para todas as áreas sociais, de infra-estrutura e sanea-mento básico.

Antes de Chávez os governos apostavam mais na importação de alimentos do que no fomento da produção agropecuária. O chavismo implementou medidas de choque como: criação de cooperativas agrí-colas, financiamento de máquinas e implementos, capacitação e assistên-cia técnica. Em 2001, a Assembleia Nacional promulgou a Lei da Terra e Desenvolvimento Agrário, elabo-rada pelo Executivo. De lá para cá, milhões de hectares foram redistribu-ídos para famílias camponesas.

A declaração de Eric Toussaint, Presidente do Comitê para anula-ção da Dívida do Terceiro Mundo, sintetiza o processo bolivariano; “É o único governo no mundo, falando do mundo capitalista, que se apóia nas mobilizações do povo e que real-mente utiliza uma grande parte dos ingressos fiscais para melhorar as condições de vida da população. Isto é extraordinário.”

Obviamente que estamos diante de um fenômeno novo, diferente de tudo

Radicalizar a organização popular para avançar nas conquistas

Bernadete Menezes Direção Estadual do PSOL/RS

Coordenação Nacional da Intersindical

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |o que aconteceu no passado. Num contexto político muito difícil para a esquerda e os povos oprimidos. Por isso mesmo, Chávez e seu boli-varianismo são tão controversos e causam debates acalorados dentro da esquerda e na vanguarda social. Não estamos falando aqui de socialismo.

Estamos dizendo que o surgimen-to de Chávez é um processo muito progressivo. E isso é fácil de ver nas suas propostas de democratização das decisões, na sua defesa dos in-teresses nacionais e de uma segunda independência.

Também podemos notar na sua ma-neira radical na denúncia do papel do imperialismo sobre os países e povos da América Latina e em suas pro-postas de unidade latino-americana, como o Banco do Sul, o gasoduto cortando o continente, sua política de integração econômica ALBA – Aliança Bolivariana para as Amé-rica-, assim como a moeda Sucre, como uma maneira de se desvenci-lhar das amarras comerciais do dólar, como moeda de troca internacional.

A Telesur como política de comuni-cação e informação da verdade dos fatos e mesmo como propaganda, o resgate do debate sobre o socialismo, criando o conceito do Socialismo do Século XXI. Essas e tantas outras

iniciativas políticas para organizar os países contra a histórica explo-ração dos impérios sobre os povos latino-americanos. Tudo isso, num ambiente internacional, pós queda do Muro de Berlim, onde a maré conser-vadora, reacionária e pró-mercado, dominou o mundo com seu “neolibe-ralismo”.

Chávez e o chavismo são fruto da resistência e luta dos povos contra os planos neoliberais, um verdadeiro saque orquestrado por multinacionais e governos imperialistas.

A rebelião de 1989 que ocorreu na Venezuela, conhecida como Cara-cazo, foi o fato que selou a unidade do povo com setores progressistas das Forças Armadas. Um processo diferente, que antecipou o que viria ocorrer em todo o continente. En-frentamento e busca de alternativas ao capitalismo selvagem. Por isso, ao responder aos questionamentos iniciais temos a obrigação de nos posicionar em relação ao processo de conjunto.

A Venezuela de Chávez é o ponto mais progressivo do continente. Foi gestado nesses últimos 15 anos um projeto de nação independente. Portanto, uma versão de revolução democrática, de independência, anti-imperialista e com anseio de

ultrapassar fronteiras nacionais, com medidas integracionistas, sintetizadas no bolivarianismo.

O legado de Chávez não morre com ele. Assim como a revolta contra a exploração, não nasceu com Chávez, mas ganha força com ele. As con-quistas também serão defendidas a ferro e fogo pelo povo.

A sinergia de um governo com um povo que está mobilizado a mais de dez anos, através de passeatas mul-titudinárias, assembleias e auto-or-ganização nos bairros, participação massiva, mas não obrigatória, nos plebiscitos e processos eleitorais, de-ram direitos e conquistas que trans-formaram a consciência do venezue-lano. Para retroceder esse processo em curto espaço de tempo, só com repressão e massacre da população.

A vitória de Maduro, o herdeiro desse processo histórico, para além da formalidade eleitoral é a expres-são de um programa aceito e defen-dido pela maioria da população da Venezuela. Mas o resultado eleitoral impõe mais um desafio para o Cha-vismo: Para não retroceder e avançar nas conquistas políticas e sociais é preciso aprofundar a democracia e a organização do movimento popular, das Comunas, dos coletivos de bair-ros e dos grupos de auto defesa.

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O povo venezuelano na última década deu passos importantes na construção da sua própria história, ganhou protagonismo e conquistou o poder político em seu país. Interpre-tando a sua condição latino-america-na, construiu o bolivarianismo, uma ideologia símbolo da resistência. Deu-lhe significado anti-imperialista e antineoliberal. Espraiou-se por Equador, Bolívia, e pelos movimen-tos sociais e partidos na resistência em de toda América Latina. Reco-nheceu e defendeu Cuba socialista. E abriu as janelas para a afirmação de um programa democrático e popular, que aponta para o socialismo, na periferia do mundo.

Esse contexto cria um cenário de extrema polarização entre o povo e o seu governo bolivariano com o imperialismo e a burguesia local. As eleições presidenciais extraordinárias da Venezuelana da última semana fo-ram mais um episódio dessa disputa, marcada por novidades importantes para entendermos os próximos pas-sos da revolução bolivariana.

Evidentemente, um cenário político onde a principal liderança da última década no país desaparece deixa um vazio difícil de ser preenchido. É inegável que neste ambiente de muita imprevisibilidade, a vitória do candi-dato da revolução, Nicolas Maduro, fortalece os passos do projeto de sociedade da revolução bolivariana.

Ocorre também que, ao contrário do que mostraram as pesquisas anterio-res, o resultado da vitória por uma diferença de 1,8%, foi muito mais apertado do que esperado, tendo em vista outras eleições. O resultado foi um pretexto pra direita liberal promover uma série de ataques para pressionar por uma recontagem de votos, acusando o governo de fraude e ameaçando o não reconhecimento.

Além de se mostrar mau perdedor, o candidato Capriles, outrora também opositor de Chávez em Outubro, com apoio à tentativa de golpe de 2002 no currículo, oscilou desta vez entre uma postura de agressividade despolitizada e uma postura “quase chavista” no conteúdo, reconhecendo avanços e assumindo compromissos. Isso demonstra que as conquistas da revolução bolivariana estão enraiza-das na sociedade. Mas o destino po-lítico destas conquistas passará pelo sucesso ou insucesso desse governo eleito de inovar a realidade do povo e ganhar a confiança desse eleitorado que confuso se absteve ou votou no candidato opositor.

Das poucas afirmativas que podemos ter certeza, é que a democracia no país segue como firme pilar da revo-lução em curso. O processo eleitoral é reconhecidamente um dos mais democráticos do mundo, e centenas de observadores internacionais, das mais variadas vertentes ideológicas,

acompanham e reconhecem sua idoneidade.

Nesse aspecto, o gesto do presidente eleito Maduro e do Poder Eleito-ral Nacional que determinou pela auditoria dos 100% dos votos, já que 56% já foram auditados logo em seguida da eleição, somente restando 46%, que é determinante pra encer-rar as críticas infundadas que de o processo foi eivado por algum vício ou manipulação. E para que Maduro governe com toda legitimidade de um presidente democraticamente eleito.

A mídia monopolista venezuelana e internacional, incluindo a brasileira, tem prestado apoio às iniciativas de desestabilizar o cenário político interno da Venezuela. Fazem-no se calando frente aos ataques aos comitês do PSUV e prédios públicos, e prestando reverência aos “comen-taristas” de sempre que anunciam as “fraudes” e a “derrota do chavismo”, quase que se esquecendo que houve uma vitória de mais de 300 mil votos à frente.

Seria coerente se tivessem tido a mesma iniciativa quando da eleição de George W Bush, em 2004, onde não foram feitas insinuações nem dado coro a qualquer demanda por recontagem. A própria reeleição de Barack Obama, em 2012, foi também dada por uma margem de 2% percen-

Vitória na Venezuela: socialismo e democracia caminham lado a lado na América Latina

Ivan Valente Deputado Federal - São Paulo Presidente Nacional do PSOL

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |tuais, não ensejou maiores declara-ções dos donos da comunicação e seus funcionários.

Nesse sentido, é decisivo o apoio da UNASUL que reconhece o resultado e o presidente eleito.

O Estado Espanhol, após declara-ções impertinentes de seu chanceler, foi também obrigado a reconhecê--lo. Tudo isso ocasionou o recuo de Capriles, que já deixa de falar em fraude e ruma a reconhecer o proces-so e o resultado.

Ao contrário do que se apregoa na mídia conservadora brasileira, a democracia venezuelana não é um

ponto fraco, mas sim uma arma do bolivarianismo. Foi com o aumento da participação nas eleições e na vida política cotidiana que criou a base social dos avanços democráticos e populares no país. Assim, socialismo e democracia caminham juntos na América Latina.

De algum modo, as forças sociais motoras deste processo precisam reencontrar o terreno que perderam e ganhar novamente estes eleitores. Precisa vencer a fadiga que os su-cessivos processos eleitorais causam (são 18 em 14 anos, 3 eleições nos últimos 6 meses), e retomar o vigor da democracia. Iniciar novos e mais ousados projetos sociais e econômi-

cos de perspectiva popular. Estreitar laços com sua forte base social, e indicar para o povo que o processo de mudança não passa por um retro-cesso da revolução.

Esta foi a melhor oportunidade pra direita local e internacional retomar o poder no país e dar um duro golpe no continente. Com o avanço da revolução, com a construção de uma direção coletiva, renovação política dos quadros no seio do povo e no Estado, e com o aprofundamento das relações políticas, econômicas e culturais rumo ao socialismo, os setores conservadores perderão cada vez mais espaço de ter oportunidades como esta.

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UMO resultado: 50,66% para Nicolás Maduro e 49,07% para Henrique Capriles. Em números absolutos, 7.505.338 contra 7.270.403 de votos, diferença de 234.935 sufrágios. Mí-nima, mas real.

Democracia é assim, quem tem mais votos leva, mesmo que seja 50% mais um.

Numa ditadura, isso não é possível. Ditaduras prescindem do outro lado e da oposição. Maduro venceu aperta-do, mas venceu. Na ponta do lápis, a questão está resolvida: o chavismo continua sem Chávez.

Mas, o resultado tem de ser examina-do além das planilhas.

DOISO governo não estava preparado para essa diferença. Possivelmente Capriles – que cogitou não concorrer, logo após a morte de Chávez – tam-bém não.

Os chavistas avaliaram que dariam uma lavada na oposição, repetindo ou aumentando a diferença de 12% (56 a 44%) das eleições de outubro, quando Capriles enfrentou Chávez em sua última disputa.

Agora, o governo contava com o clima emocional disseminado no país, após a morte do Comandante, e os inegáveis avanços sociais de seu governo.

Pesavam contra a situação a persis-tência da inflação, da violência e

a burocracia estatal a prejudicar o desenvolvimento dos serviços públi-cos. Não são problemas criados pelo chavismo, mas que continuaram nos últimos anos.

TRÊSHavia certa tensão no ar nos jardins do Palácio de Miraflores na noite em que foram proclamados os resulta-dos, em Caracas. As ruas estavam desertas e praticamente não havia bares ou restaurantes abertos. Cerca de duas mil pessoas aglomeraram-se à espera do resultado oficial do Con-selho Nacional Eleitoral, que seria projetado em um telão.

Eram quase 23 horas quando o órgão anunciou a totalização.

O clima foi de espanto geral. A expectativa de um passeio não se concretizara.

Cinco minutos depois, um locutor anuncia a presença de Maduro.

QUATROMaduro estava visivelmente na defensiva. Em 43 minutos, reafir-mou várias marcas da campanha, denunciou planos desestabilizadores, exaltou Chávez, a Constituição e justificou o resultado eleitoral, citan-do a vitória de George W. Bush, em 2000. Lembrou que naquele processo – turvado por somas contraditórias em várias regiões da Flórida - a diferença, fora também mínima. Chamou os presentes a cantar o hino nacional, voltou a denunciar a deses-tabilização, falou do socialismo, da

democracia “protagônica”, alertou a oposição de que não deveria contes-tar a voz das urnas e tornou a falar de Chávez. Não parecia haver roteiro prévio.

CINCONão basta acusar a oposição de golpista. Sim, parte dela é golpista, é fascista, é racista e outras coisas mais. Isso se sabe à sobeja. Golpe não se dá quando se quer, mas quan-do há condições para isso. Golpe no se avisa. Vamos ser claros: a oposi-ção não tem a menor condição de dar um golpe agora, mesmo que esteja babando para fazê-lo. Colheria um imenso desgaste interno e externo.

SEISCotejando o resultado final com as pesquisas de dez dias atrás – as últimas que puderam ser divulgadas

Nicolás Maduro: algumas notas sobre a Venezuela

Gilberto Maringoni Cartunista e Historiador

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |-, pode-se constatar que o candidato situacionista viu uma margem de até 12% de diferença apertar-se para 1%. Ou seja, Maduro estaria em queda e Capriles em ascensão. A derrota era um risco real para o governo, não considerada como hipótese séria em alguns de seus círculos.

SETEHenrique Capriles faz o que qualquer candidato em sua situação faria: es-perneia. Pede recontagem dos votos e

diz não reconhecer o resultado. Ficou por vários minutos na televisão, em coletiva com a equipe de campanha, a dizer que “o grande derrotado foi Maduro”, numa evidente forçação de barra. Se Maduro não sair da defensi-va, a argumentação de Capriles pode prosperar. A imprensa – venezuelana e internacional – aumentará o cerco, buscando deslegitimar o mandato do novo presidente. Não lhe dará fôlego.

OITOCapriles não apresentou nenhuma prova de que tenham ocorrido irre-gularidades, a não ser o fato de que Nicolás Maduro venceu com uma diferença de 1,73%. Na lógica opo-sicionista – e da direita mundial -, margens estreitas seriam evidências de fraudes.

Vamos combinar. Se alguém quer mesmo manipular os resultados de uma eleição, não o faz fraudando

uma porcentagem dessas. Margens estreitas em situações polarizadas como a atual, geram imbróglios sem fim. Quem quer roubar, rouba logo 10% ou 12%, algo totalmente de acordo com as pesquisas anteriores.

NOVECapriles sabe que suas acusações têm pouca chance de prosperar, mas pre-cisa mostrar as garras para consolidar sua liderança na frente opositora. Seu coordenador de campanha, Henri Falcón, governador do estado Lara, é seu principal concorrente no coman-do da direita. Essa disputa entre dois obriga Maduro a radicalizar para não perder apoios. Precisa balizar as iniciativas para sua tropa não sair de controle.

DEZO que pode impulsionar os protes-tos? Várias coisas, em especial, a situação econômica.

As contas da Venezuela não vão mal, ao contrário do que a mídia propa-ga. O total das exportações do país alcançou US$ 97 bilhões, em 2012. As importações somaram US$ 59 bi-lhões. O saldo foi de US$ 38 bilhões, segundo dados do Banco Central. O Brasil, no mesmo período, teve um saldo de apenas US$ 19 bilhões. Ou seja, trata-se de uma economia supe-ravitária. Não faltam dólares.

ONZEMas, há um surto inflacionário que alcança 30% ao ano, decorrente de uma série de fatores. Um deles é uma forte especulação cambial (a taxa oficial está em 6,5 bolívares por dólar, quadruplicando no mercado paralelo).

Outro resulta por uma pressão de demanda, propiciada pela elevação geral de salários e queda do desem-prego. Uma extemporânea desvalo-rização cambial em fevereiro, para compensar os efeitos da inflação, gerou descontentamentos generali-zados.

DOZESome-se a isso uma série de inefici-ências no funcionamento dos servi-ços públicos e a realização de três processos eleitorais em seis mese.Tudo isso junto ajuda a explicar o desgaste enfrentado pelo chavismo, mesmo com o clima de comoção nacional advindo da morte de seu líder maior.

Maduro sabe desses problemas e afirma priorizar sua resolução. Ca-priles bateu nessa tecla ao longo da campanha.

TREZEOlhando as planilhas de outubro passado, uma conclusão inicial pode ser feita, lembrando que Chávez teve 8.191.132 votos e Capriles 6.591.304.

Em seis meses, a oposição ganhou cerca de 680 mil votos, enquanto o governo perdeu ao redor de 700 mil. Pode ter havido uma migração de um lado para o outro.

Saber onde e porque isso aconteceu é vital para a continuidade e estabiliza-ção do governo Maduro.

QUATORZEA mídia brasileira propaga a idéia de que Maduro usurpa o cargo em que está. Poderíamos argumentar que nossa imprensa não tem muita moral para falar em democracia, pelo apoio firme e decidido dado ao golpe de 1964. Mas, é melhor ir aos proble-mas atuais.

A eleição venezuelana, apesar de curtíssima – dez dias – foi extrema-mente polarizada. Polarizações só ocorrem em democracias.

O resultado equilibrado só pode ocorrer em democracia. Democracia também ajuda a detectar e a resolver problemas. Essas eleições assinala-ram uma profunda divisão na socie-dade venezuelana. Recompor essas partes é vital para a consolidação, estabilidade e sucesso do governo de Nicolás Maduro. Não é tarefa fácil.

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Hugo Chávez encarna com perfeição essa época do final do século passa-do e início do atual, em que os povos latino-americanos começaram a se revoltar contra os planos econômicos neoliberais e as democracias oligár-quicas controladas pelos EUA.

A Venezuela foi em certa medida a vanguarda desse processo, a partir do Caracazo, seguindo-se semelhantes explosões sociais na Bolívia, Equa-dor e toda a América do Sul, incluin-do a América Central. Hugo Chávez foi a primeira pessoa a encarnar esse processo na Venezuela. Assimilou

a vontade de lutar do povo vene-zuelano contra o neoliberalismo e a democracia oligárquica do Punto Fijo e se tornou o porta-voz do processo bolivariano. Numa aplastante dispu-ta eleitoral tornou-se presidente e, gradualmente, tornou-se o porta voz para toda a América Latina, porque o mesmo que sentia o povo vene-zuelano, sentiam os vários povos da América Latina.

Além disso, Chávez tinha capacidade pessoal para ser um líder com grande habilidade de comunicação, capaz de incutir na imaginação do povo a

vontade de lutar contra os problemas que os afetavam.

Ele teve o mérito de ser o autor da derrota da Alca, plano neoliberal de integração que os EUA planejavam para a América Latina. Promoveu um modelo de integração latino--americana, independente dos EUA, mas solidário, como o ALBA e, mais recentemente, a CELAC –Comuni-dade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Ele é o primeiro pre-sidente em muitos anos, na América Latina, que olha de frente para EUA e atua de forma independente na po-

Maduro tem que aprofundar as relações com os movimentos

Beluche Olmedo Secretário-geral do Movimento

Popular Unificado (MPU) - Panamá

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lítica internacional, seja no caso do Oriente Médio, Irã ou nas invasões do Iraque e do Afeganistão.

Sua política anti-imperialista atraiu o ódio de setores reacionários do imperialismo americano e da extre-ma direita.

Chávez também teve a virtude de recuperar o tema do socialismo num tempo após a queda do Muro de Ber-lim, quando parecia ser uma proposta esquecido, derrotado. Soube colocar o problema do socialismo do século XXI no debate público para milhões de pessoas, fazendo reanascer a con-fiança de que havia um mundo para além do capitalismo neoliberal.

Todos esses problemas, com as suas limitações, embora você possa criti-car e dizer que a Venezuela não foi além de um capitalismo de Estado, seja como for, a mobilização de milhões de pessoas em seu funeral, mostra a simpatia com o processo, com a figura de Hugo Chávez e as conquistas sociais e democráticas que foram alcançados sob seu Go-verno.

Ele tem o mérito de ser o presidente mais legítimo na história da Amé-rica Latina. Enfrentou 13 proces-

sos eleitorais e ganhou 12. O mais recente em 7 de outubro passado e as eleições estaduais em 16 de dezem-bro, onde o chavismo ganhou em 20 estados, de um total de 23.

Qual é a situação a partir de sua morte?

Creio que a voz do povo nas ruas acompanhando o ataúde mostra que, por enquanto, o processo bolivariano se mantem sólido. Seu representante designado para liderar este processo, o vice-presidente Nicolás Maduro, agora eleito Presidente. E, nesse sen-tido, o timón deve permanecer firme.

A questão mais importante para que se mantenha e aprofunde o processo, é que as autoridades, os dirigentes, especialmente Maduro, mantenham consultas e contactos estreitos com as bases, com o povo, executando este esquema de democracia popular que está na Constituição Bolivariana, para errar menos e seguir mobiliza-dos juntos com os setores populares, que é o que dá força à revolução bolivariana, como vimos no funeral do Presidente Chávez.

Há problemas específicos, tais como a especulação nos preços dos alimen-tos, etc. Marea Socialista propôs a

necessidade de controlar os preços, a importação de alimentos por parte do Estado e do crédito, que deve ser nacionalizado pelas autoridades, para garantir que os especuladores não levem sofrimento a milhões de venezuelanos. Nesse sentido, os revolucionários da América Latina, devem ter confiança de que o pro-cesso bolivariano se sustentará, pelo menos por agora. O povo na rua dá a certeza disso.

Também deve ser acompanhada pelo impulso de novas lutas contra o neoliberalismo na busca do que Chávez definiu vagamente como o socialismo do século XXI, que em certo sentido é diferente do que foi o socialismo stalinista que vimos no século passado.

É uma realidade que teremos de construir, mas que sem dúvidas, certamente nos próximos anos a Venezuela e América Latina vão continuar andando para frente, muito marcada pelo legado político deixado pela figura de Hugo Chávez, a qual entra para a história como um dos grandes personagens do Continente Latino Americano, cuja proposição fundamental foi a luta pela segunda independência frente ao imperialis-mo norte-americano.

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Passados poucos dias desde a morte do comandante Hugo Chávez e escrevendo da Espanha lembramos das insolentes palavras do colonialis-ta Rei Juan Carlos dizendo “Por que não te calas?”. Chávez se calou, mas o seu povo continua falando bem alto. Continua o legado de Chávez. Já o rei, indicado a dedo pelo ditador fascista Franco, está com os dias contados. Quanto vai durar a monar-quia? Não sabemos, mas a ampulheta já começou a deixar cair os seus grãozinhos. Na Espanha, a crise do sistema capitalista europeu se junta à crise do regime monárquico acorda-do após a morte de Franco.

Já há alguns anos, o setor da socie-dade mais avançado, democrático e próximo ao povo trabalhador da Europa está olhando para a América Latina com uma inveja saudável. Para nós se abria uma brecha que mostrava que o sistema capitalista neoliberal não podia abarcar tudo. Já não era apenas uma revolução isolada, debilitada e burocratizada como a cubana. Tratava-se de países do continente, países importantes que, um atrás do outro, escapavam do curral imperialista. Países como Venezuela, Bolívia, Equador, que por sua vez influenciavam outros e tingiram com o processo bolivaria-no de independência nacional, até governos social-liberais ou populis-tas. É claro que não víamos nisso o socialismo. Não existiam condições objetivas nem subjetivas para isso. Mas, o passo dado era de gigante e era um exemplo a ser seguido. Um exemplo de que as leis da história

são mais fortes que as estruturas e que o controle baseado na força das armas e do dinheiro. O povo mobi-lizado pelas próprias necessidades, pela própria sobrevivência, surgia com força e obrigava a mudar muitos esquemas. Obrigava a rever, como entendemos, o marxismo e a luta de classes nos dias de hoje. E a nos adaptar às necessidades históricas do nosso tempo.

Mas, a Europa continuava sendo o lugar mais ou menos tranquilo do capitalismo mundial. Onde ain-da existia o “estado do bem estar social”. Onde ainda havia gordura para cortar da classe trabalhadora e do povo. A crise pela qual estamos passando agora rompeu esses esque-mas. A ideia apresentada durante os primeiros meses e anos de que está-vamos em uma crise passageira abriu caminho para uma terrível verdade: o sistema capitalista não pode manter seus escravos. E nos arrasta para o abismo. O futuro da juventude vai ser pior, muito pior, do que aconte-ceu com as gerações anteriores ou, melhor dizendo: sob esse capitalismo em crise não há perspectivas de futu-ro para quase ninguém, nem sequer para as classes médias.

Por isso, as mobilizações dos traba-lhadores, da juventude, dos desem-pregados, professores junto aos mili-tantes de esquerda, velhos e jovens, foram construindo novos espaços de ação e luta que se espalharam de um país a outro. Sob a influência das revoluções democráticas árabes, em especial da Tunísia e do Egito, no sul

da Europa apareceram os indignados, as ocupações de praças públicas e estes se mobilizaram e ativaram os sindicatos.

No Estado Espanhol as manifesta-ções de diferentes setores atingidos pela crise e pelas políticas de auste-ridade e cortes, o “austericídio”, se expressaram como diferentes marés: as amarelas, as verdes, as brancas... mostrando o papel de cada setor em luta: os educadores, as vítimas de despejos, os profissionais e usuários da saúde pública...

“Venezuela na contra-mão da Europa”

Alfons BechLa Aurora - POR - Espanha

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |Mas, além da luta em defesa das condições mínimas de vida digna, somou-se a luta pelas liberdades nacionais. Cento e cinquenta mil manifestantes, em Bilbao, exigiram uma solução democrática e justa para o problema dos presos políticos, em vez de vingança. Um milhão e meio de pessoas protestaram, no dia 11 de setembro de 2012, em Barcelona, exigindo o direito da Catalunha de decidir e a favor da independência e da criação de um novo Estado.

O regime monárquico espanhol e seu governo de direita semi-franquista do PP estão apodrecendo. Assim como outros do sul da Europa. A burguesia ainda controla e decide, reforçando o seu núcleo mais agres-sivo e depredador que são os bancos. A burguesia européia não nasceu ontem. Seu poder e experiência no primeiro continente capitalista fazem com que a batalha seja mais longa e dura. Mas, as políticas, da Troika e da sua cara mais pública, a chanceler Angela Merkel, está cavando rapida-mente um fosso entre a elite, o 1%, e a população. Sem dúvida, um dos salva-vidas que ainda serve para o capitalismo europeu é a divisão que

existe entre o Norte e o Sul. É o que justifica porque os sindicatos ainda não conseguiram a unidade de ação e que os partidos de esquerda, e nem a esquerda revolucionária conse-guissem traçar um plano de ação que junte os esforços e lutas contra o crime das políticas de austeridade e bárbaros ajustes.

A esquerda europeia se vê confronta-da a realizar políticas que facilitem a confluência das forças vivas que po-dem dar uma virada em uma situação que se torna cada dia mais intolerá-vel. De um lado, o motor tem que ser a própria mobilização do povo traba-lhador e atingido pelos cortes sala-riais, pelas demissões e desemprego, pela degradação das condições de vida e trabalho, pelos despejos. Mas, essa mobilização também tem que chegar ao terreno da expressão polí-tica alternativa. É necessária, então, a confluência política. É necessário abrir caminho para a unidade e para um espaço político comum. Não se pode discutir as coisas como se hou-vesse uma barreira entre “reformis-tas” ou “revolucionários” enquanto o capitalismo selvagem destrói todo o vestígio de política social. Vai chegar

o tempo, assim que começar a rever-ter a correlação de relação de forças, de aperfeiçoar e delimitar melhor as políticas para que ataquem o miolo do sistema, até a expropriação dos expropriadores.

A última greve geral do Estado Espa-nhol, no dia 14 de novembro, aconte-ceu juntamente com outras em Portu-gal, na Grécia, no Chipre, na França e na Itália, assim como manifesta-ções em diversos outros países. Esse é um dos caminhos que é necessário que se construa. E com ele, os pon-tos políticos comuns com os quais vamos declarar guerra à direita e à ala social liberal do socialismo pró--burguês . Syriza, Front de Gauche, Bloco de Esquerda, o recente acordo dos independentistas e a esquerda galega... são alguns exemplos de que é possível uma política unitária e ao mesmo tempo efetiva. Uma boa parte da esquerda revolucionária está nesse processo e é útil de maneira prática. É a esperança para transformar a cri-se do sistema capitalista europeu em uma ruptura com o neoliberalismo, uma ruptura tão grande como a que se abriu há alguns anos na América Latina.

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Ainda hoje, me lembro do impacto que as palavras de Hugo Chávez me causaram quando participei do Encontro das Lideranças Sociais na VI edição do Fórum Social Mundial que aconteceu na Venezuela.

Depois de passar por outras edições do Fórum, onde as ONGs davam o tom senti na Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais que as pessoas realmente queriam discutir política, queriam relevância no debate das pautas que atravessavam nossas lutas no mundo e, particularmente, no Continente Latino-Americano: biodiversidade, direitos humanos, direitos indígenas - destacado por Chávez como pauta essencial para a Independência de nosso Continente -

Reforma Agrária.

Após o amplo debate na Assembléia Mundial, no tão esperado encontro com Chávez, que ocorreu no Thea-tro Municipal de Caracas, após ter ouvido atentamente as Lideranças da Via campesina, do MST, da CUT e centenas de outras, o Comandante se pronunciou: “Todas estas propostas são extremamente importantes, no entanto é preciso aplicá-las na prática. É preciso estar no Poder. É a chegada ao Poder que nos dará elementos e ferramentas para começar a mudar o mundo.”

Seguiu em frente agregando, em ora-tória forte e segura, o debate da dívi-da externa, gênero, guerra e militari-

zação, Tratados de Livre Comércio, soberania alimentar e um profundo conhecimento da História do Povo Latino-Americano, de nossas lutas, batalhas, derrotas e vitórias...

Ao andar pelas ruas e favelas de Ca-racas percebi quão próximo Chávez estava de seu Povo. Conversei com a manicure, com os porteiros, com soldados da Guarda Nacional, com garçons, com a organizadora das “panelas populares” no Cementério. Ouvindo as ruas eu ouvia Chávez: “Debateram o Poder?”

Dois episódios me chamaram a aten-ção, na porta de um grande Hotel. Não me lembro do nome, mas eram Camelôs que vendiam bugigangas

“É preciso estar no poder...”Janira Rocha

Deputada Estadual - Rio de Janeiro Presidente Estadual do PSOL/RJ

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |aproveitando o grande movimento do Fórum Social. Eu e um amigo comí-amos algo próximo a um cachorro--quente, próximos a eles quando seguranças particulares chegaram e, violentamente, tentaram tirá-los da porta do hotel. Um deles correu e logo depois voltou com a Guarda Nacional que decretou: “Os traba-lhadores tem ordem do Comandante Chávez para trabalhar, vocês não podem tirá-los”... O outro fato, o vi nos jornais: fortes chuvas tinham ala-gado um município ao Sul do país. Pessoas estavam desabrigadas e a “orientação” do Comandante foi: “de forma organizada e ordeira, ocupem as casas e imóveis que estiverem vazios, até que o Governo tenha uma solução”...

A tentativa constante da Revolução Bolivariana de reorganizar e abrir a estrutura do Estado para a participa-ção popular era vista nas ruas. Sei que pode ser considerado otimismo

demais, até porque o Governo Bo-livariano também se enfrentou com o movimento popular e sindical. As contradições do reformismo revo-lucionário de Chávez são apontadas em muitos exemplos à esquerda e à direita dele, mas não há como negar a Venezuela e sua Revolução Bolivariana como um símbolo de resistência ao projeto neoliberal, em toda luta popular concreta que organizaram contra o Imperialismo Norte-americano.

O resgate das bandeiras que tremu-laram em Cuba, em 1969, com a derrubada da ditadura de Fulgêncio Batista, se fortaleceu e a elas se somaram outras, trazendo de volta um orgulho perdido no mar midiá-tico-consumista da contra-ofensiva ideológica descomunal que vivemos atualmente.

Parte da esquerda que tinha medo de ser chamada de “Dinossáurica” por

afirmar categorias e questões como Luta de Classes, Luta Anti-imperia-lista, Unidade Latino-Americana, luta contra mídia dominante, via na intervenção de Chávez na Cúpula dos Povos, por exemplo, em Mar Del Plata, onde a ALCA foi derrotada, um futuro e uma perspectiva para as lutas populares, mesmo que Chávez e a Venezuela não fossem socialistas. Infelizmente a realidade NUNCA entra em nossas caixinhas teóricas sagradas.

Chávez morreu. A Venezuela está dividida por uma contra-ofensiva da burguesia pró-imperialista.

A rede Globo no Brasil trata de “noticiar” a face ditadora da Revolu-ção Bolivariana, mas “um fantasma ronda nosso Continente e sussurra no ouvido de índios, operários, trabalhadores Sem Terra, sem Teto, Ribeirinhos e outros de nossa Classe: É preciso estar no Poder...”

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A Venezuela, durante o governo de Hugo Chávez, tornou-se tema polê-mico mundialmente. Fato que não é muito difícil de entender o porquê. Basta analisar algumas políticas da Revolução Bolivariana, que já fica evidente a causa de tantos debates. A estatização do Petróleo, em um país que hoje possui a maior reserva mun-dial desse recurso natural, e a refor-ma agrária já eram suficientes para chamar a atenção de muita gente.

Mas, Chávez decidiu ir além. E, contando com um grande apoio de um povo que está sempre disposto a encher as ruas de Caracas para respaldar o governo, o presidente ve-nezuelano aprovou uma nova Consti-tuição com voto popular, reverteu um golpe de Estado, distribuiu a renda do petróleo para a população pobre venezuelana, etc. Esse era o Chávez político, estrategista. Aquele que de todas as eleições que participou direta ou indiretamente (entre elas eleições presidenciais, plebiscitos, parlamentares e regionais) de 1998 até os dias de hoje, e perdeu apenas uma.

Além do grande político, Chávez também era um grande comunicador, um homem que falava a língua do seu povo. E não demorou muito para ele entender a importância dos meios de comunicação. Durante o golpe de Estado de 2002, ficou evidente que as empresas privadas de comu-nicação cumpriram com a tarefa de desinformar a população. Foi uma TV comunitária da Venezuela que

desmentiu a versão de que o presi-dente havia renunciado. A Catia TV informou que Hugo Chávez havia sido sequestrado.

A partir daí, começa um dos pro-cessos mais ricos que já se viu no campo da comunicação. Junto a outras políticas implementadas pelo governo bolivariano, como a erradi-cação do analfabetismo e programas para a formação e profissionalização da população, se incentiva a criação de meios de comunicação públicos e comunitários. O governo passa a des-tinar parte das verbas para publicida-de em veículos alternativos. Assim, surgem rádios, jornais e televisões de organizações de bairros, de juventu-de, sindicais...

Em 2004, é criada a Lei de Res-ponsabilidade Social de Rádio e Televisão (RESORTE), que prevê que esses meios devem fomentar o equilíbrio democrático, a fim de al-cançar a justiça social e de contribuir para a formação da cidadania. Esse projeto determina os percentuais de produção nacional que devem estar presentes na programação, estipula dentro dos percentuais de produção internacional uma cota só para o que é produzido na América Latina e no Caribe e cria uma classificação indi-cativa dos horários e públicos.

Outro importante avanço que traz a Lei RESORTE é a criação do Fundo de Responsabilidade Social destina-do para o financiamento da produção nacional, da capacitação de produto-

res nacionais e de pesquisas na área da comunicação. Mas, se já existem projetos assim de financiamento, como é o caso da BBC de Londres, o que faz desse fundo algo tão espe-cial? A grande diferença está de onde vêm os recursos. O fundo criado por Chávez prevê que as empresas paguem uma taxa de 2% do seu lucro para usar o espectro eletromagnético.

Comparando as políticas na área da comunicação do governo bolivariano com as do Brasil ficam mais eviden-tes os avanços conquistados. Se na Venezuela é possível ver o incentivo à criação de emissoras populares, aqui o que vemos é um recorde de rádios comunitárias fechadas nos 10 anos de PT na presidência. De acordo com dados da Anatel, só no primeiro ano do governo Lula houve um aumento de 38% no fechamen-to desses meios. Enquanto Chávez tachava os lucros dos grandes em-presários do setor e criava um fundo

Liberdade de expressão para quem?

Bruna MenezesJornalista que trabalhou três anos

como apresentadora na Telesur- Venezuela

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |para financiar os meios alternativos, a presidenta Dilma acaba de aprovar a redução das contribuições sociais das empresas de comunicação. Uma reportagem no Observatório da Imprensa revela que com a nova me-dida, que beneficia jornais, revistas, livros, rádio, televisão e internet, calcula-se que o setor de mídia vá economizar 1,2 bilhão de reais por ano a partir de janeiro de 2014.

Com o slogan “Nosso norte é o Sul” nasce a TeleSUR, um canal de televi-são disposto a mostrar a realidade do nosso continente e do mundo através do olhar dos explorados e dar voz aos que nunca são ouvidos. Hoje é a Rede de televisão com mais corres-pondentes em toda América Latina. O canal que mostrou as lutas dos estudantes e mapuches no Chile, dos indignados na Espanha, a tentativa de golpe de Estado no Equador, o golpe em Honduras, o terremoto no Haiti... Um projeto que em menos de 10 anos já levou para o resto do mundo a nossa visão sobre importan-tes acontecimentos do “Sul”.

Todas essas mudanças só são possí-veis graças ao momento que vive a Venezuela, em que o povo tem muita clareza da luta de classes que se trava na sociedade. Caíram as máscaras! Explorados e exploradores dão a ba-talha pelas consciências, luta que já ultrapassa as fronteiras. Essa disputa está presente em todos os setores, e a comunicação não fica de fora. Diariamente, jornais e programas de

rádio e TV destilam todo seu vene-no contra as medidas do governo chavista. Um verdadeiro bombardeio de más notícias para criar o terreno do conflito. Manchetes batendo nos membros do governo, nas políticas sociais.

Chávez mexeu nos interesses dos grandes meios, taxou o seu lucro, regulamentou o setor, democratizou a comunicação não só no acesso mas, também na produção. Suas idéias se espalharam pelo continente e hoje a Argentina tem uma das mais avança-das leis na área da comunicação e o Equador já discute uma lei de meios. E se a moda pega... Assim fica fácil de entender porque os meios de comunicação mundiais fazem tantos esforços para derrotar antes a Chávez e, agora, o Chavismo.

Cria-se a imagem do ditador que fecha canais de televisão. Não se informa que ele apenas retirou a con-cessão de transmissão na TV aberta, que é pública, e que esse canal conti-nua funcionando na TV a cabo. Não se fala das TVs e rádios comunitárias que foram criadas. Isso acontece por-que nossos meios de comunicação também tem lado mas ainda usam a máscara da imparcialidade e com ela criticam Chávez para defender seus interesses. Imagina se 2% dos lucros da Rede Globo fosse destinado para um fundo que incentive a produção nacional...

Sob a bandeira da liberdade de

expressão, vão combatendo aqueles que se atravessem em seu caminho. O comunicador espanhol, Vicente Romano, diz que “na democracia do imperialismo a liberdade não se define como o fato de participar na construção do bem comum, e sim no de viver em uma sociedade de livre mercado, ou seja, sem nenhuma regulamentação”. Essa é a liberda-de que os meios de comunicação defendem quando falam de liberdade de expressão. A liberdade de alguns, donos dos meios, falarem livremen-te, sem deveres ou responsabilida-des. Para eles não interessa a maior participação na construção dessa comunicação como vem ocorrendo na Venezuela.

Não podemos nos deixar levar pelo belo discurso da liberdade de expres-são, feito pela burguesia. Tampouco podemos cair no discurso de que a comunicação é uma área que perten-ce à classe dominante. É necessário construir a nossa comunicação, que fale a nossa língua e tenha a nossa cara. A Venezuela está vivendo um processo riquíssimo e a comunica-ção está colhendo os seus frutos. E servindo de exemplo para todos os países da América Latina.

“canta canta compañero que tu voz sea disparo

que con las manos del pueblo no habrá canto desarmado”

Alí Primera

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Maduro ganhou as eleições. Vitória do povo chavista contra a burgue-sia pró-imperialista. Uma margem pequena de votos determinou a continuidade do chavismo no go-verno da Venezuela. Agora Maduro precisa aprofundar a nacionalização e socialização da economia, apoiado na mais ampla democracia direta, sob pena do chavismo perder o controle do país porque a burguesia e o imperialismo vão fazer de tudo para desestabilizar o governo. Essa é a atual situação da Venezuela, mas que vem se gestando desde quando Chávez foi sequestrado em 2002.

Muito se escreveu e se disse sobre Chávez. Lamentavelmente setores minoritários da esquerda fizeram eco à manipulação midiática burguesa e imperialista que apoiou e ajudou a organizar o golpe contra Chávez. Geralmente usando conceitos ina-dequados para caracterizar o novo, se peca pelo dogmatismo e se vai ao sectarismo.

Essa é a expressão de grupos que não entenderam o processo venezuelano, por ser novo e contraditório, utili-zaram conceitos de fatos anteriores para definir o processo bolivariano e Chávez, como se a história fosse uma sequência de repetições.

Esses companheiros não enxergam que Chávez e agora Maduro são inimigos do imperialismo. E como tal precisam ser derrotados, para que o “livre mercado” e o saque da renda do petróleo possa ser dragado para o sistema financeiro internacional. A

democratização dos meios de co-municação e das decisões políticas, através de consultas, plebiscitos e eleições são insuportáveis para a burguesia. Porque esses mecanismos, com uma política acertada, impos-sibilitam a orgia de capitalistas e banqueiros. A participação massiva do povo, depois de 12 anos no gover-no, evidencia que o Chavismo não é inimigo da esquerda e muito menos igual a Capriles, como alguns setores da esquerda tentam dizer.

A esquerda sectária chamou o voto contrário à posição de Chávez no plebiscito sobre a Constituição em 2008. Ela não levou em conta os avanços na vida real dos venezuela-nos que a constituição estava somen-te ratificando.

Repetiram o erro ao lançar um candi-dato a Presidente, uma falsa terceira via que não passou de 5 mil votos, em meio a uma disputa encarniçada entre Chávez e Capriles em 2012. Com a morte de Chávez foi con-vocada nova eleição e esses com-panheiros continuaram errando ao defender o voto nulo. “Nem Maduro, nem Capriles” foi a palavra de ordem desses companheiros. Esses setores da esquerda se reivindicam trotskis-tas. Porém, Trotsky foi um marxista, e como tal utilizou a dialética e a Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado, para fazer política. Por isso, Trostsky se posicionou em defesa das medidas adotadas pelo Presidente Cárdenas na década de 30 do século XX no México, contra o imperialismo. Porque entendia que o

México era um país semi-colonial e que estava lutando pela independên-cia nacional política e econômica. “Nessas condições, a expropriação é o único meio sério de salvaguardar a independência e as condições ele-mentares de democracia.” E comple-ta “ A expropriação do petróleo não é nem comunista, nem socialista:é uma medida profundamente progressiva de autodefesa nacional”.

As eleições, os grupos da esquerda sectária e o Chavismo

Mário Azeredo Membro da Direção Nacional do PSOL Coordenação Nacional da Intersindical

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| Venezuela: Por que o Chavismo incom

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o? |Em seguida aponta o lado que deve estar o proletariado internacional e os revolucionários nessa disputa: “...toda a organização operária no mundo inteiro, tem a obrigação de atacar implacavelmente os bandidos imperialistas, sua diplomacia, sua imprensa e seus lacaios fascistas. A causa do México,... é a causa de toda a classe operária do mundo”.

Diferente dos companheiros que fazem política agarrados em dogmas, Trotsky sabia diferenciar os pro-cessos progressivos, dos processos reacionários. Para ser consequente um trotskysta deveria estar com Chá-vez no referendo, contra a política do imperialismo americano, contra o Rei da Espanha e contra a burguesia golpista da Venezuela. Assim como, deveria chamar o voto em Maduro, contra o lacaio Capriles.

O pior cego é aquele que não quer ver!

Ao chamar o voto nulo numa eleição tão disputada, fica evidente que os sectários não querem ver o quanto à burguesia venezuelana precisa derrotar o Chavismo. A burguesia e o imperialismo não podem viver com democracia de verdade.

Na Venezuela a situação é dramática, porque o governo executa um plano contrário aos interesses imperialistas e mais importante que isso, destituiu a burguesia nativa do controle do Estado.

Não é à toa que as disputas eleitorais são verdadeiras batalhas políticas, onde o povo mais consciente vai para a rua e vota no governo chavis-ta, contra o candidato da burguesia parasitária e reacionária.

Domingo, dia 14 de abril, mais de 14.8 milhões de venezuelanos foram votar. Maduro ganhou as eleições, por uma margem pequena de votos,

mas está legitimado. Capriles vai trabalhar para inviabilizar a demo-cracia venezuelana, com possibi-lidade de organizar golpes e atos de sabotagem. A burguesia não vai reconhecer o resultado e pode partir para atos de terror. A Venezuela é um país cindido, polarizado por uma luta de classes expressa de um lado pelo governo Chavista, que defende a soberania nacional e distribuição de renda. Do outro lado da trinchei-ra, estão os meios de comunicação privados, os burgueses vende pátria, apoiados pelo imperialismo.

É um absurdo que setores da esquer-da mais sectária, com sua política dogmática estejam na prática forta-lecendo a trincheira dos inimigos da classe trabalhadora venezuelana.

Justamente nesse país, que há mais de uma década vem sendo vanguarda na luta contra o neoliberalismo e o imperialismo americano.

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SantiagoChargista/Cartunista do Rio Grande do Sul

A prova das limitações à liberdade de imprensa na grande mídia brasileira é que a gente lê e ouve milhares de críticas ao governo venezuelano e não existe espaço nessa mesma mídia para alguém fazer a defesa.

Em 2010 tive uma semana em Ca-racas e vi lá uma coisa muito mais parecida com liberdade de imprensa

do que aqui: vi os meios de comuni-cação pertencente ao empresariado e pude fazer o contraponto com o que diziam os veículos governamentais.

Pois é isto que o povo venezuelano pode fazer - tirar as suas próprias conclusões a partir do que ouve dos dois lados.

Essa postura monolítica é a prova de que a grande imprensa faz campanha e não jornalismo, em relação a este tema. É zombar da inteligência do leitor imaginar que não venha a per-gunta “mas será que não tem nadica de positivo pra ser mostrado??”

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Alexandre Haubrich Jornalismo B

Estive na Venezuela em 2011 e vi uma nova sociedade em construção. O fundamental, entre índices socioeconô-micos que tiveram melhoras maiúsculas, é uma situação impalpável e difícil de medir para quem não viveu, ao menos por alguns dias, a política venezuelana: depois

de séculos de exploração, o povo despertou e iniciou um processo em que, aos poucos, toma em suas mãos o próprio destino. Todos estão interessados em política, dispostos e preparados para debater. Muitos estão organi-zados em coletivos, em emissoras comunitárias de rádio e televisão, em veículos de mídia alternativa das mais diversas espécies e formas organizativas.

O povo está consciente do passado que o trouxe até aqui, e consciente da necessidade de construir um futuro dife-rente – de forma coletiva e solidária.

Arlei Medeiros Presidente do PSOL de Campinas-SP Coordenação Nacional da Intersindical

Eu estive na Venezuela e vi um país melhor sendo construído! Por que digo isto? Vi o povo com livros embaixo do braço, aos inúmeros. Constituições, leis, pro-jetos de comunicação, etc todos vendidos por camelos, bancas de revistas, acessíveis a qualquer morador.

Vi pessoas simples do povo discutindo política nas praças, pontos de ônibus e bares. Vi gente contrária a Hugo Chávez e vi gente a favor, mas vi um país pulsando democracia e sonho.

Com a apatia típica do brasileiro pela política passei a procurar entender como este processo se dava, como um povo pode assumir o seu destino? Fui às ruas, praças e periferia de cabeça aberta tentar entender a força do envolvimento das pessoas naquele processo de constru-

ção de um país irmão. Entender porque no bairro 23 de Janeiro, o maior da Venezuela, a cadeia virou um Centro Cultural e não tinha mais nenhum preso.

Fui conhecer as missões: Vivendas Populares, Comedou-ros Públicos, Missão Robson, etc. E na conversa com as médicas e médicos Cubanos chorei, com tamanho amor a humanidade e ao povo, independente da pátria.

E foi conversando com o povo, caminhando, vendo e comparando, que entendi. Um país precisa sonhar, acredi-tar que o amanhã pode ser melhor e depende dele mesmo. Depende de nós, e cada pessoa tem que assumir o seu destino, se apossar do poder e torná-lo de todos.

Este foi grande mérito de Chávez, ele deu confiança ao povo simples, estimulou e possibilitou ao povo entender que é a luta e a organização dos explorados que mudam a vida. Hugo Chávez venceu, viva o povo da Venezue-la! Viva a revolução democrática que continua para se apossar definitivamente poder. Hugo Chávez venceu e América Latina vencerá!

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Márcia R. Pereira Tavares Servidora da UFRGS

Em férias na Venezuela, em fevereiro de 2013, com meu marido e alguns bons amigos, conhecendo Caracas, planejávamos viajar a região andina e caribenha do País, além de ir a Havana, mas fomos especialmente para olhar a vida na experiência da Revolução Bolivariana.

Não pudemos sair de Caracas, porque tive problemas respiratórios e febre, então fui orientada a procu-rar atendimento em um Centro de Diagnóstico Integrado – CDI. O mais próximo de onde estava hospedada era o CDI Chuau – Dr. Salvador Allende.

O prédio assemelhava-se a um hos-pital, muito diferente e bem maior dos postos de saúde que temos aqui. Era feriado de carnaval e, no setor de atendimento, as cadeiras estavam

vazias, mas contornando o prédio pelo pátio, onde havia 3 ambulâncias estacionadas.

Quase chegando a uma porta, fomos surpreendidos por uma moça muito simpática que vinha lá de dentro. Ela nos encaminhou a um consultório, identificou-se como médica cubana, me auscultou e solicitou um exame de RX, que eu faria no Setor de Ra-diologia, seguindo o corredor.

Fiz o exame, recebi a radiografia e retornei ao consultório, onde a mesma médica e uma outra médica venezuelana, analisaram o RX e diagnosticaram bronquite. Recebi a receita e os remédios (fabricados em Cuba) e a orientação para um repou-so e...assim, não pude seguir viajem.

O que eu tive, o que eu vivi é o corri-queiro na área da saúde na Venezue-la. Inevitável foi a comparação com o que temos no Brasil, ou não temos. Espero por uma cirurgia ambulato-rial desde dezembro de 2012, tendo Plano de Saúde.

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Valnez Bittencuort Assessora jurídica da Intersindical e da Auditoria Cidadã (voluntária)

Visitei a Venezuela em fevereiro de 2013. Vou falar do que vi: um País em que foram promovidas amplas trans-formações sociais por Hugo Chávez, seus partidários e o próprio povo que o levou ao poder, pelas urnas, por 14 anos.

Vi a erradicação do analfabetismo, a Universidade Bo-livariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças Armadas. Vi em andamento um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano, por meio do qual foi editada, por exemplo, a obra “Dom Quixote” (tiragem de 1 milhão de exemplares) e a obra “Contos”, da Machado de Assis (tiragem de 300 mil exemplares), tudo distribuí-do gratuitamente nas praças públicas.

Vi idosos aguardando para ingressar em teatros, sem nada pagar pelo ingresso.

Vi pouquíssimas pessoas pedindo algum tipo de ajuda (isto em Caracas, cidade de mais de 8 milhões de habitan-tes!). Tão poucas que não preenchem todos os dedos das minhas mãos.

Não vi ninguém assaltando. Ninguém sendo assaltado.

Não ouvi ninguém manifestar a preocupação que nós, pais, temos aqui no Brasil, o consumo de drogas por nossos jovens.

Vi uma quantidade enorme de automóveis caros pelas ruas de Caracas.

Vi o povo com a Constituição na mão, no bolso, na bolsa, conhecendo os seus direitos.

Vi, na Praça Bolívar, uma imensa tela de TV, sob uma grande barraca, onde inúmeras pessoas assistem diaria-mente, às sessões do parlamento.

Fui ao supermercado e vi o desabastecimento de produtos de consumo básico. Fui à feira livre e não vi o mesmo. Ao contrário.

Subi o morro para conhecer a favela. Transporte limpo, seguro, eficiente e barato. Vi moradias pobres, mas dig-nas. Vi postos de saúde (os chamados CDI) em cada um dos níveis do teleférico.

Vi uma das minhas companheiras de viagem ser pronta-mente atendida, diagnosticada e medicada – tudo gratui-tamente – em razão de uma bronquite. Não vi nenhuma fila de pessoas esperando por atendimento.

Vi milhares de conjuntos habitacionais prontos e já ocupados pelo povo e outras tantas milhares de obras em andamento para este fim.

Vi a felicidade do povo com as mudanças trazidas pela revolução bolivariana. E uma parte da classe média e a classe alta manifestando ódio e ferocidade pelo mesmo motivo.

Vi a imprensa livre. Tão livre que os anti-chavistas não tem nenhum pudor em mentir descaradamente.

Caracas é uma cidade deslumbrante, não somente pela beleza natural de tirar o fôlego, como pela arquitetura. Prédios históricos belíssimos, restaurados ao longo de 14 anos.

Em suma, citando C . ACOSTA ( Bio.cap III predicando en el desierto), “Libertad para el pensamiento, fomento para la industria, capitales para el trabajo, garantías para la propiedad, responsabilidad para la justicia, acogida para la inteligencia, respeto para la religión, pan, pan de instrucción elemental para el pueblo, y el pueblo llega a su destino.”

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EXPEDIENTE

Conselho Editorial: Mário Azeredo, Berna Menezes, André Trindade, Neiva Lazzarotto, Bárbara Fagundes, Rejane Aretz, Bruna Menezes, Adriano Trindade, Daiana Seibert, Marlise Paz, Rui Muniz, Renato Guimarães, Romer Guex, Vereador Augusto Giraudo, Procurador Mauro, Arlei Medeiros, Ricardo Saraiva - BIG, Eneida Koury, Vera Serpa, Maria do Socorro.

Fortalecer o PSOL

APOIO:Intersindical - Movimento Contestação

Tradução:Bruna MenezesMário Azeredo

Revisão:Neiva Lazzarotto

Projeto Gráfi co:Adriano Trindade

Tiragem:1.000

Impressão:Gráfi ca RML

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