venenos em animais

28
VENENOS DE ANIMAIS Maiara Taniguchi Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso de Tecnologia em Processos Químicos

Upload: maaymt

Post on 19-Jan-2016

34 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Venenos Em Animais

VENENOS DE ANIMAIS

Maiara Taniguchi

Universidade Tecnológica Federal do ParanáCurso de Tecnologia em Processos Químicos

Page 2: Venenos Em Animais

INTRODUÇÃO

ANIMAIS PEÇONHENTOS são aqueles que possuem glândulas de veneno, se comunicam com dentes ocos, ferrões, aguilhões, por onde o veneno passa ativamente. Ex.: serpentes, aranhas, escorpiões, abelhas.

 

Page 3: Venenos Em Animais

INTRODUÇÃO

ANIMAIS VENENOSOS são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho inoculador (dentes, ferrões) provocando envenenamento passivo por contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).

Page 4: Venenos Em Animais

ARANEÍSMO

É o envenenamento causado pela inoculação de toxinas, através das quelíceras das aranhas, podendo determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.

No Brasil, existem três gêneros de aranhas de importância médica:

Latrodectus curacaviensis(viúva-negra)

Loxosceles gaucho(aranha marrom)

Phoneutria nigriventer(aranha armadeira)

Page 5: Venenos Em Animais

LOXOSCELISMO

É o termo utilizado para designar acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles.

Corresponde à forma mais grave de araneísmo no Brasil em virtude do grande número de acidentes notificados nas regiões Sul e Sudeste. O Estado do Paraná concentra a maior casuística de loxoscelismo do país. Os registros dos acidentes predominaram na região metropolitana de Curitiba.

Na região Sul as três espécies mais comuns são: L. gaucho, L. laeta e L. Intermedia.

Page 6: Venenos Em Animais

Popularmente conhecida como aranha-marrom, a Loxosceles varia entre 1 e 5 cm de tamanho, vive em regiões rurais e urbanas e pode ser encontrada em lugares fechados e escuros como armários, depósitos e porões.

O veneno desse gênero de aranha é importante por sua ação dermonecrótica no local da picada e em alguns casos pelos efeitos sistêmicos, que podem ser letais.

Loxosceles sp

Page 7: Venenos Em Animais

COMPOSIÇÃO DO VENENO

O veneno da “aranha-marrom” é um líquido cristalino, que consiste essencialmente de proteínas, produzido pelas glândulas apócrinas situadas no cefalotórax do animal, as quais se comunicam com o exterior através do aparelho inoculador, constituído por um par de quelíceras.

Page 8: Venenos Em Animais

COMPOSIÇÃO DO VENENO

Além de proteínas, na composição do veneno são encontrados íons, sais minerais, aminoácidos livres, aminas, poliaminas neurotóxicas e neurotransmissores.

Estudos de identificação e caracterização das toxinas presentes nos venenos das aranhas do gênero Loxosceles revelaram a presença de metaloproteases, fosfolipases-D, hialuronidase, serino-proteases, além de lipase, esterase, fosfatase alcalina e 5’-ribonucleotidio–fosfohidrolase.

Page 9: Venenos Em Animais

COMPOSIÇÃO DO VENENO

A família das fosfolipases-D é também conhecida como família das dermonecróticas, por serem as principais responsáveis pela dermonecrose. Elas apresentam atividade esfingomielinásica, podem promover agregação plaquetária, hemólise, letalidade, nefrotoxicidade e hiperpermeabilidade vascular.

Representação em fita da Fosfolipase-D de Loxosceles laeta.

Page 10: Venenos Em Animais

ASPECTOS CLÍNICOS

O loxoscelismo apresenta duas variedades clínicas: a forma cutânea e a cutâneo-visceral.

Forma Cutânea: Quando um indivíduo é picado pela via intradérmica são injetados aproximadamente 65 a 100 μg de proteína e normalmente essa picada é pouco dolorosa e geralmente passa desapercebida pelo paciente.

Os primeiros sinais que aparecem são as lesões necróticas cutâneas. Logo após a picada (2-8 horas), aparecem como sinais e sintomas comuns a dor, de moderada à severa, que é descrita como uma queimação no local da picada acompanhada de eritema, inchaço e coceira, e um acúmulo de leucócitos polimorfonucleares. Após 12 a 24 horas há o aparecimento de uma bolha hemorrágica delimitada por um halo de tecido isquêmico, que após um a sete dias evolui para uma lesão necrótica de cor violeta azulada, de difícil cicatrização. Após seis a oito semanas, a lesão evolui para uma espécie de escara, progredindo para úlcera.

Page 11: Venenos Em Animais

ASPECTOS CLÍNICOS

Evolução de uma lesão dermonecrótica causada por mordida da aranha Loxosceles:

Page 12: Venenos Em Animais

ASPECTOS CLÍNICOS

Forma Cutâneo-Visceral (Hemolítica)

A forma cutâneo-visceral, além da lesão cutânea, apresenta efeitos sistêmicos que são comuns, como febre, mal-estar, calafrios, fraqueza, náusea e vômitos, e que ocorrem dentro de 24 horas. Anemia, trombocitopenia, icterícia cutâneo-mucosa e hemoglobinúria podem ocorrer. As complicações hematológicas variam de hemólise moderada a uma fulminante hemólise intravascular com ou sem evidência de coagulação intravascular disseminada. Insuficiência renal aguda também pode ser um dos fatores agravantes do estado do paciente.

Page 13: Venenos Em Animais

TRATAMENTO

Uma terapia definitiva para o tratamento do loxoscelismo ainda não foi definida. No Brasil as terapias mais empregadas são a utilização de soro antiaracnídico e antiloxoscélico e a administração de corticóides.

O soro antiaracnídico polivalente é produzido pelo Instituto Butantan, em São Paulo, para a imunização de cavalos com uma mistura de venenos dos escorpiões Tityus serrulatus e T. bahiensis e das aranhas Phoneutria nigriventer e L. Gaucho.

Page 14: Venenos Em Animais

TRATAMENTO

Critério utilizado na aplicação de soroterapia proposto pelo Ministério da Saúde:Classificação Manifestações Clínicas Tratamento

Leve - Loxosceles identificada como agente causador do acidente

- Lesão característica- Sem comprometimento do estado geral- Sem alterações laboratoriais

- SintomáticoAcompanhamento até 72 horas após a picada.

Moderado - Com ou sem identificação da Loxosceles no momento da picada

- Lesão sugestiva ou característica- Alterações sistêmicas (rash cutâneo, petéquias)- Sem alterações laboratoriais sugestivas de

hemólise

- Soroterapia:Cinco ampolas de SAAr e/ou- Prednisona:adultos 40 mg/diacrianças 1 mg/diadurante cinco dias

Grave - Lesão característica- Alteração no estado geral: anemia aguda,

icterícia- Evolução rápida- Alterações laboratoriais indicativas de hemólise

- Soroterapia:Dez ampolas de SAAr e- Prednisona:adultos 40 mg/diacrianças 1 mg/diadurante cinco dias

Page 15: Venenos Em Animais

DADOS ESTATÍSTICOS

Page 16: Venenos Em Animais

CURIOSIDADE

UFMG cria "Viagra brasileiro" com veneno de aranha armadeira04/12/2012

Uma picada de aranha armadeira provoca ereção. A observação deste efeito colateral curioso fez com que pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) desenvolvessem uma toxina conhecida como “Viagra brasileiro”.

Page 17: Venenos Em Animais

ACIDENTES POR LEPIDÓPTEROS

Acidentes causados por insetos da ordem Lepdóptera, tanto na forma larvária como na adulta.

As larvas de lepidópteros têm o corpo coberto de pêlos ou espinhos, os acidentes provocados por formas larvárias (lagartas urticantes), denominado erucismo, desenvolvem dermatite urticante e, se a lagarta for do gênero Lonomia sp, desenvolve síndrome hemorrágica.

Page 18: Venenos Em Animais

Das 25 espécies do gênero Lonomia apenas duas são relacionadas com quadro

hemorrágico: Lonomia achelous encontrada na região Norte e Lonomia oblíqua

na região Sul. É conhecida popularmente como taturana, lagarta de fogo,

mandaruvá ou ruga. Apresenta um ciclo de vida médio de seis meses, desde a

postura, eclosão de ovos, fase larval, fase de pupa e animal adulto.

Lonomia oblíqua

Page 19: Venenos Em Animais

A. Extremidade da cerda.B. Canal que percorre a cerda internamente

rompido.C. Região dorsal contendo várias cerdas.D. Estrutura quitinosa que compõe o

tegumento.

A secreção venenosa secretada pelo epitélio tegumentar fica armazenada na

região subcuticular e no canal que percorre as cerdas internamente. Em

contato com a pele do indivíduo, a extremidade mais frágil da cerda, por

apresentar menor quantidade de quitina, se quebra e a secreção venenosa é

inoculada na vitima.

Lonomia oblíqua

Page 20: Venenos Em Animais

PRINCÍPIO ATIVO

A toxina provoca diminuição dos níveis plasmáticos de fibrinogênio, FV, FVIII, e discreta redução de FXIII. Quanto a fatores do sistema fibrinolítico, ocorre diminuição

moderada dos níveis de plasminogênio e α2 - antiplasmina.

Ocorre a ativação do sistema de coagulação com uma forma de coagulação intravascular disseminada, resultando em uma coagulopatia de consumo e ativação secundária da fibrinólise. A atividade de toxinas no extrato das cerdas de L. oblíqua atuam na ativação do FX e de protrombina.

Duas proteínas foram isoladas e caracterizadas, sendo denominadas Losac e Lopap. A ação destas proteínas na cascata de coagulação apresenta o sistema hemostático, com as vias e fatores de coagulação e fibrinólise.

Page 21: Venenos Em Animais

MECANISMO DE AÇÃO

Representação esquemática do sistema hemostático. As vias clássicas de ativação dos sistemas de coagulação e fibrinólise.

Page 22: Venenos Em Animais

Veneno de taturana pode ser remédio contra a trombose

Estudando o veneno da taturana para produzir um soro contra ele, o Butantan descobriu que, além da urticária, as vítimas sofriam fortes hemorragias. Daí surgiu a idéia de que a substância poderia ter utilidade farmacológica para destruir os coágulos que bloqueiam o fluxo do sangue.O grupo já conseguiu isolar o princípio ativo do veneno, uma proteína batizada como lopap. A proteína da taturana ativa a protrombina, molécula que produz a enzima trombina e desencadeia a coagulação. A trombina transforma fibrinogênio em fibrina, a estrutura básica dos coágulos.Tudo isso seria exatamente o efeito contrário ao desejado, mas o estímulo da lopap é tão violento que o organismo reage destruindo a fibrina, acabando com seu estoque no sangue da vítima.Num envenenamento, podem ocorrer hemorragias internas que levam à morte.

O uso controlado da lopap, porém, pode ter outro fim. "Em pequenas doses, ela pode servir para destruir coágulos", afirma o pesquisador Cleyson Valença Reis, que está terminando doutorado sobre a biologia molecular da lopap.

17/10/2001 - Folha de São Paulo

Page 23: Venenos Em Animais

Além do quadro local imediato de dermatite urticante, podem tardiamente surgir cefaléia holocraniana, mal-estar geral, náuseas e vômitos, ansiedade, mialgias, dores abdominais, hipotermia, hipotensão.

Em 1 a 48 horas: discrasia sangüínea com ou sem manifestações hemorrágicas, que aparecem de 8 a 72 horas após o contato: equimoses, hematomas de aparecimento espontâneo ou provocados por traumas ou em lesões cicatrizadas, hemorragias de cavidade mucosa, hematúria, sangramentos em feridas recentes, hemorragias intra-articulares, abdominais, pulmonares, glandulares e hemorragia intraparenquimatosa cerebral.

Deve-se verificar a presença de hemorragias e alteração na coagulação. Se o TC (Tempo de Coagulação) estiver normal e não houver sangramento, o paciente deve ser acompanhado por 48h com avaliação do TC a cada 12 horas. Se o TC estiver alterado ou houver evidências de sangramento, confirma-se o diagnóstico de Síndrome Hemorrágica.

QUADRO CLÍNICO

Page 24: Venenos Em Animais

Urina com sangue e Hemorragias subcutâneas.

(1) e (2) Hemorragias, hematomas e bolha de sangue decorrente do contato físico com a lagarta. (3) Urina do paciente:

QUADRO CLÍNICO

Gengivorragia e Esquimoses espalhadas pelo corpo.

Page 25: Venenos Em Animais

TRATAMENTO

O Soro Antilonômico (SALon) é uma solução de imunoglobulinas obtidas a partir de equinos com extrato bruto de espículas. Foi desenvolvido pelo Instituto Butantan e é capaz de neutralizar o veneno da Lonomia oblíqua.

A administração do soro é intravenosa e realizada em ambiente hospitalar visto que, por se tratar de proteínas heterólogas, há risco de desencadear reação anafilática à soroterapia.

Page 26: Venenos Em Animais

O maior número de casos ocorre nos meses de verão, época em que o animal está na fase larval, coincidindo com a atividade agrícola mais intensa e época de férias, período em que as pessoas estão mais expostas e mantém maior contato com o ambiente natural.

DADOS ESTATÍSTICOS

Page 27: Venenos Em Animais

ACIDENTES COM LAGARTA LONOMIA POR REGIONAL DE OCORRÊNCIA E ANO - PARANÁ - 1989 A 2008

Regional de Saúde 1989

1991

1992

1993 1994

1995

1996

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 TOTAL

2ª - CURITIBA - - - - - - 5 1 3 - - - 1 - 3 1   4 6 24

3ª - PONTA GROSSA - - - - - - - - - - - 1 1 - - -       2

4ª - IRATI - - - - - - - - 1 1 - - 1 - - 1       4

5ª - GUARAPUAVA - - - - - 1 - 5 7 16 5 12 - - 2 3 3 1 3 58

6ª - UNIÃO DA VITORIA

- - - - - 1 - 28 22 8 3 2 5 2 5 - 4 2 7 89

7ª - PATO BRANCO - 2 - 1 2 1 - 1 9 27 4 15 4 3 11 19 5 7 8 119

8ª - FCO. BELTRÃO - 1 2 1 1 1 2 2 7 14 - 7 3 2 2 5 4 6 5 65

9ª - FOZ DO IGUAÇU - - - - - - - - - - - - - - - - - 1   1

10ª - CASCAVEL 1 1 - - 2 1 - 2 4 2 - 9 4 4 5 1 1 1 3 41

11ª - CAMPO MOURÃO

1 - - - - - - - - - - - 1 1 - -       3

17ª - LONDRINA - - - - - - - 1 1 1 - 1 13 2 1 - 2     22

19ª - JACAREZINHO - - - - - - - - - - - 1 - - - -     1 2

20ª - TOLEDO - - - - - - - - - - - - 1 - - -       1

21ª - T. BORBA - - - - - - - - - - - 1 - - - -       1

22ª - IVAIPORÃ - - - - - - - - - - 1 - - - - - 2     3

T O T A L 2 4 2 2 5 5 7 40 54 69 13 49 34 14 29 30 21 22 33 435

FONTE: SESA/SVS/DEVA/Divisão de Zoonozes e Intoxicações. Dados parciais até 04/04/2008

Page 28: Venenos Em Animais

REFERÊNCIASBERTOLDI, I.; ERZINGER, G. S. Estudos de casos clínicos da ação do veneno das aranhas do gênero Loxosceles e suas correlações clínicas hematológicas no Estado do Paraná, 2004.

CASTRO, Cibele Soares de. Análise bioinformática de transcritos da glândula de veneno da aranha-marrom Loxosceles intermedia e construção de baculovírus recombinantes como vetores de toxinas inseticidas. Tese - UFOP, Ouro Preto, 2005.

CHRISTOFF, Adriana Oliveira. Efeitos do veneno e da toxina dermonecrótica recombinante LiRecDT1 de Loxosceles intermedia em fígado de rato. Dissertação – UFPR, Curitiba,2008.

CARVALHO, Linda Christian Carrijo. LOPAP (Lonomia obliquaprothrombin activator prothrombin activator protease) protease):clonagem e expressão em levedura clonagem e expressão em levedura Pichia pastoris,obtenção de um peptídeo sintético, análise obtenção de um peptídeo sintético, análise estrutural e avaliação de suas potenciais aplicações . – Tese, USP, São Paulo, 2009.

FUNASA. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, 2001.

GARCIA, Cláudia Moreira. Estudo dos acidentes com a lagarta Lonomia Oblíqua Walker, 1855 no Paraná – Período 1989-2001. Dissertação – UFPR, Curitiba, 2006.

MOURA, Juliana Ferreira de. Caracterização imonuquímica e molecular da fração dermonecrótica do veneno da aranha marrom LoxosceleS intermedia. Tese – UFMG, Belo Horizonte, 2005.

MOREIRA, Daniele Chaves. Estudo da atividade hemolítica do venen de Loxosceles intermedia (aranha marrom) e seus mecanismos moleculares. Dissertação – UFPR, Curitiba, 2008.

SILVA, Kátia Rosana Lima de Moura. Envenenamento pela taturana Lonomia oblíqua: estudo das propriedades hemorrágicas e inflamatória do veneno em modelos animais. Dissertação – UFRGS, Porto Alegre, 2007.

VEIGA, Ana Beatriz Gorini. Caracterização molecular dos componentes do veneno de Lonomia obliqua: genes expressos e princípios ativos envolvios nos distúrbios da coagulação e da fibrinólise. – Tese, UFRGS, Porto Alegre, 2005.

Secretaria de Saúde do Estado do Paraná: http://www.saude.pr.gov.br/