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A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra
Produção/construção e tecnologia, v. 4, n. 7, 2015
ISSN: 23170336
VELOCIDADE DA DECOMPOSIÇÃO E TEORES DE
NUTRIENTES DE DIFERENTES ADUBOS VERDES.1
DIOGO RUFINO DE SOUZA VIANA E SILVA1 (IN MEMORIAN), FINAMORE, W. L. M. 2
RESUMO: O estudo foi conduzido na área experimental da Universidade da Grande Dourados, em Dourados, MS, o solo do local é um Latossolo Vermelho distróferrico típico argiloso .Objetivou-se avaliar a relação existente entre a composição química final e a velocidade de decomposição, visando auxiliar tomada de decisão no uso da adubação verde. O delineamento experimental foi em blocos casualisados, no esquema em parcelas subdivididas, com cinco tratamentos e quatro repetições, sendo As parcelas constituídas por tais adubos verdes: crotalária juncea (Crotalária juncea ), mucuna-preta (Mucuna aterrima), lab-lab (Dolichos lablab), feijão de porco (Canavalia ensiformis) e mucuna-cinza (Mucuna cinereum). O corte foi realizado quando os adubos verdes encontrava-se no estádio de formação de vagens e início da formação de grãos. A decomposição foi avaliada aos 5, 10, 15, 30, 60, 90, 120 e 150 dias após o corte, e pesadas amostras com 100 g de matéria fresca de todos os tipos de adubos as quais foram colocadas dentro de litter bags sobre o solo.A cada coleta, as amostras foram manualmente triadas para evitar contaminação por solo. Para avaliar a perda de massa, foi feita a secagem do material em estufa a 65ºC por 72 horas e pesadas para determinação do peso seco. A comparação entre o peso seco inicial e o peso obtido a cada data de coleta foi usado para descrever a perda de massa via decomposição, ao longo do período de avaliação.Verificou-se, nesse estudo, o bom desempenho das espécies de adubos verdes, acumulando grandes quantidades de massa e nutrientes na parte aérea das plantas, destacando-se a Crotalaria juncea e o feijão de porco. PALAVRAS-CHAVE: Velocidade, Decomposição, mineralização, sincronia. SPEED OF DECOMPOSITION AND NUTRIENT CONTENT OF DIFFERENT GREEN
MANURES
ABSTRACT: The study was conducted at the University's experimental area of Large golden, in golden, MS, the soil of the place is a typical distróferrico clayey red Latosol. Objective to evaluate the relationship between the chemical composition and decomposition speed, aiming to assist decision making in the use of green manure. The experimental design was in casualisados blocks, in the schema on plots subdivided, with five treatments and four replications, and parcels consisting of such green manures: Sunn hemp (Crotalaria juncea), mucuna-black (Mucuna aterrima), lab-lab (Dolichos lablab), pork bean (Canavalia ensiformis) and mucuna-grey (Mucuna cinereum).The cut was accomplished when the green manures was at the stage of formation of pods and early formation of grains. The decomposition was evaluated at 5, 10, 15, 30, 60, 90, 120 and 150 days after cutting, and heavy samples with 100 g of fresh material of all kinds of fertilizers which were placed in litter bags on the ground. Every collection, the samples were manually sorted to avoid soil contamination. To assess the loss in mass was made the material drying in an oven at 65° C for 72 hours and heavy for determining the dry weight. The comparison between the initial dry weight and the weight each pickup date was used to describe
1 Acadêmico da Unigran (Centro Universitário da Grande Dourados); Faculdade de Ciências Agrárias e
da Terra, Curso de Agronomia. 2 Docente do Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN
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the loss of mass via decomposition, throughout the evaluation period.Furthermore, in this study, the good performance of the species of green manures, accumulating large amounts of mass and nutrients in aerial part of plants, especially the Sunn hemp and the pork beans. KEY WORDS: Speed, decomposition, mineralization, sync.
INTRODUÇÃO
A adubação verde é uma prática milenar e consiste na utilização de plantas em
rotação, sucessão ou consorciação de culturas, incorporando-as ao solo ou,
preferencialmente, deixando-as na superfície, visando a proteção, manutenção e
melhoria de atributos físicos, químicos e biológicos do solo (COSTA et al., 1993;
PADOVAN et al., 2006).
A utilização de adubos verdes possui grande importância na oferta de materiais
orgânicos ao sistema do solo nas condições edafoclimáticas tropicais, realimentando
o reservatório de matéria orgânica e, dessa forma, favorecendo a estruturação do solo e
o aumento das capacidades de retenção e infiltração de água e de troca catiônica
(PEREIRA et al., 1992).
As últimas décadas do século 20 foram marcadas por uma crescente
preocupação quanto à preservação do meio ambiente. No setor agropecuário, tornaram-
se constantes os questionamentos acerca do modelo de desenvolvimento vigente.
Apesar dos aumentos de produção obtidos, problemas associados à degradação da
capacidade produtiva dos solos e a contaminação dos alimentos evidenciaram a
fragilidade dos sistemas de produção agrícola modernos. Em diferentes países, grupos
de produtores rurais e técnicos têm proposto a adoção de práticas que favoreçam os
diversos processos biológicos dos agroecossistemas, tais como fixação biológica de
nitrogênio e reciclagem de nutrientes. Dentro dessa perspectiva, a adubação verde é
apontada como uma prática capaz de contribuir para a sustentabilidade da agricultura.
Conhecida desde a antigüidade, essa prática pode ser conceituada como o uso de plantas
em rotação ou consórcio com culturas de interesse econômico, tendo seus resíduos
incorporados ao solo ou mantidos na superfície (COSTA, 1993). Geralmente, a
utilização dos adubos verdes permite a melhoria das características físicas, químicas e
biológicas do solo, além de permitir o controle das plantas invasoras.
A crescente expansão agrícola e o uso de práticas inadequadas de manejo,
juntamente com a ocupação humana desordenada, têm contribuído para o surgimento
cada vez maior de áreas degradadas, com conseqüências drásticas para o meio ambiente.
O sistema tradicional de cultivo acarretou ao longo do tempo, a redução da qualidade
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das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Este processo inicia-se com a
remoção da vegetação natural e acentua-se com os cultivos subseqüentes, promovendo a
exposição direta do solo aos fatores climáticos, resultando em erosão, perda de
nutrientes por transporte químico, redução dos teores de matéria orgânica e
destruição da estrutura original (SOUZA e MELO, 2000; PERIN et al., 2000), o
que propicia a degradação.
Áreas degradadas perdem sua capacidade produtiva, acarretando também
em sérios problemas sociais, como o êxodo do homem no campo e a elevação da
densidade demográfica das cidades. Este êxodo ocorre principalmente devido à
inviabilidade de pequenos produtores recuperarem as condições de fertilidade de
suas propriedades, à concorrência com grandes produtores e aos baixos preços dos
produtos agrícolas aliado aos altos preços dos insumos e fertilizantes minerais.
A adubação verde surge como uma alternativa de produção que minimiza os
efeitos de ações que promovem a degradação do solo. Ela favorece a cobertura do
solo e aumenta a disponibilidade de nutrientes e o incremento da capacidade de
reciclagem e mobilização de nutrientes lixiviados ou pouco solúveis que estejam
nas camadas mais profundas do perfil (CALEGARI et al., 1993).
No entanto, quando se pensa em adubação verde, o fornecimento de
nutrientes no sistema produtivo ocorre via decomposição de fitomassa. Nesse
processo, os elementos essenciais ao desenvolvimento vegetal estão associados aos
tecidos orgânicos e a sua liberação não ocorre de forma imediata.
Portanto, a obtenção de informações que permitam estimar tempo no qual os
nutrientes contidos nos adubos verdes estarão disponíveis par as culturas de interesse
comercial, aliado às informações já existentes de demanda nutricional de culturas
comerciais, poderá otimizar a aplicação de adubos verdes e a escolha de espécies mais
indicadas para cada caso.
Entretanto, para as recomendações de plantas condicionadoras do solo, há
ausência de estudos referentes aos teores de nutrientes das espécies para uso como
adubo verde, a qual tem sido apontada como a principal causa para a baixa adoção da
prática nestas áreas.
Dessa forma, o presente trabalho objetivou Avaliar a relação existente entre a
composição química final, velocidade de decomposição e os teores de nutrientes
visando auxiliar tomada de decisão no uso da adubação verde.
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MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado na área experimental da Universidade da
GrandeDourados, em Dourados, MS, com as coordenadas geográficas de 22° 12' 14'' S e
54º 52' 24'' O, solo do local é um Latossolo Vermelho distróferrico típico, de textura
argilosa, (723 g kg-1 de argila, 182 g kg-1 de silte e 95 g kg-1 de areia), com as seguintes
características químicas de 0 a 20 cm de profundidade: pH em água = 5,7; Al3+= 0,1
cmolc dm-3; Ca2+= 4,0 cmolc dm-3; Mg2+= 2,3 cmolc dm-3; P (Mehlich-1) = 5,1 mg dm-3,
K+= 0,15 cmolc dm-3e C-orgânico = 32,55 g kg-1.
A região apresenta inverno frio e seco e verão quente e chuvoso. A
temperatura média anual é de 22,6ºC e precipitação anual de 1.401,5 mm, sendo os
meses de julho e agosto os mais secos. O delineamento experimental foi em blocos
casualisados, no esquema em parcelas subdivididas, com cinco tratamentos e quatro
repetições, sendo As parcelas constituídas por tais adubos verdes: crotalária juncea
(Crotalaria juncea), mucuna-preta (Mucuna aterrima), lab-lab (Dolichos lablab), feijão
de porco (Canavalia ensiformis) e mucuna cinza (Mucuna cinereum).
A área de cada sub parcela é de 25,2 m² (3,15 x 8,0 m). A semeadura dos
adubos verdes foi realizada manualmente em 08/10/2013 com o auxilio de subsolador
que riscou e demarcou as linhas de plantio na profundidade de 0,4 a 0,8 cm de
profundidade. O espaçamento e densidade de semeadura utilizada foram: 0,45 m
entrelinhas e de 8 a 10 sementes por metro linear para o feijão de porco; 0,45 m entre
linhas e 10 a 15 sementes por metro linear para o lab-lab; 0,45 m entrelinhas e 8 a 10
sementes por metro linear para a mucuna-cinza; 0,45 m entrelinhas e 8 a 10 sementes
por metro linear para a mucuna-preta e 0,45 m entrelinhas com 20 a 30 sementes por
metro linear para a crotalária. Para realização do corte dos adubos verdes fez-se quando
a maioria das espécies encontrava-se no estádio de formação de vagens e início da
formação de grãos, foi realizado o corte das plantas de cobertura rente ao solo e, na
seqüência, quantificou-se a massa verde.
A identificação das espécies e o estágio fenológico em que se encontravam no
momento da coleta e estão descritos na Tabela 1.
TABELA 1. Identificação das espécies avaliadas e estágio fenológico no momento da
coleta das amostras.
Nome Científico Nome Vulgar Estágio Fenológico
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Crotalaria juncea
Mucuna aterrima
Mucuna cinereum
Dolichos lablab
Canavalia ensiformes
Crotalária juncea
Mucuna-preta
Mucuna- cinza
Lab-lab
Feijão de Porco
Vegetativo e Reprodutivo
Vegetativo e Reprodutivo
Vegetativo e Reprodutivo
Vegetativo e Reprodutivo
Vegetativo e Reprodutivo
Para avaliar a dinâmica de decomposição dos resíduos, foram colocadas
amostras com 100 g de matéria fresca de todos os tipos de adubos as quais foram
colocadas dentro de litter bags, bolsas confeccionadas com tela plástica, com abertura
de malha de 5 mm (Figura 1), que permitem a colonização por microrganismos e
alguns invertebrados. Para determinação do peso seco inicial (tempo zero), foram
pesadas cinco amostras de 100 g de material fresco, que foi seco em estufa a 65°C por
72 horas.
Os litter bags foram distribuídos aleatoriamente ao lado das parcelas a campo e
em contato direto com a superfície do solo. Em cada data de amostragem a massa em
decomposição foi coletada. Após a coleta as amostras foram secas em estufa de
circulação forçada de ar a 65ºC por 72 horas para a determinação da matéria seca e
pesadas. Em seguida as amostras foram moídas em Micro moinho de facas tipo Willye
para a determinação dos teores de nutrientes. Ao termino de todas as amostras
processadas, foram enviadas para o laboratório para analise dos teores de nutrientes.
FIGURA 1 Litter bags alocado ao lado das parcelas a campo em Dourados,
MS. Foto. Diogo Rufino
Para monitoramento da decomposição, os litter bags foram coletados aos 5, 10,
15, 30, 60, 90, 120 e 150 dias após a implantação do experimento. A determinação
das datas de coletas se deu em função do andamento de coletas anteriores. Cada
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espécie foi representada por 32 litter bags, sendo quatro repetições e oito tempos
de coleta, compreendendo 160 litter bags ao todo.
A cada coleta, as amostras foram manualmente triadas para evitar
contaminação por solo. Para avaliar a perda de massa, foi feita a secagem do material
em estufa a 65ºC por 72 horas e pesadas para determinação do peso seco. A comparação
entre o peso seco inicial e o peso obtido a cada data de coleta foi usado para
descrever a perda de massa via decomposição, ao longo do período de avaliação.
Para a determinação dos nutrientes, as amostras foram secas, moídas e
encaminhadas para analise química e determinados os teores de N,P, K, Ca e Mg na
biomassa da parte aérea das plantas de cobertura foram determinados conforme (
MALAVOLTA et al., 1997). A taxa de decomposição dos resíduos e de liberação
de nutrientes foi descrita pelo modelo exponencial simples ( REZENDE et al.,1999):
k =ln(X/Xo)/t
X = quantidade de matéria seca ou nitrogênio remanescente após um período de tempo t
Xo = quantidade de matéria seca ou nitrogênio inicial
k = constante de decomposição
t = tempo em dias
O tempo de meia vida é um parâmetro importante na avaliação da
dinâmica de decomposição de resíduos vegetais, expressando o período de tempo,
necessário para que o material decaia, através da decomposição, a 50% de sua massa
seca inicial. O tempo de meia vida foi calculado através da equação:
t1/2 = ln(2)/k
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as
comparações de médias foram feitas pelo teste de tukey a 5% de probabilidade.
Os coeficientes de correlação e os testes de médias foram obtidos através do
programa de computação para análises estatísticas SISVAR V.5.3. Somente foram
avaliados estatisticamente pelo teste de tukey. As comparações de médias foram
feitas entre os parâmetros da caracterização massa seca inicial e entre as relações dos
tempos de coletas com os teores de nutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e
magnésio).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização final dos teores de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e
magnésio e percentual de massa seca remanescente na parte vegetativa e reprodutiva das
espécies avaliadas.
Na tabela 2 são apresentados os resultados das análises químicas finais
realizadas da parte aérea das espécies avaliadas.
TABELA 2. Acúmulo de massa seca e nutrientes na parte aérea dos adubos verdes.
Adubos verdes MS* Nitrogêni
o
Potássio Fósfor
o
Cálcio Magnési
o
t ha-1 Kg ha-1
Feijão de porco 6,50 a (1) 123,67 a 62,66 b 7,55 a 79,70 a 14,09 ab
Crotalária juncea 6,26 a 105,41 ab 56,00 bc 6,15 b 38,12 b 16,36 a
Mucuna- cinza 4,84 b 90,68 bc 60,05 bc 7,26 ab 28,00 b 9,08 bc
Mucuna-preta 3,97 b 93,01 b 73,44 a 7,01 ab 26,85 b 7,32 c
Lab-lab 3,94 b 66,32 c 53,67 c 7,54 ab 29,72 b 8,00 c
C.V.(%) 18,07 20,10 9,14 14,46 47,22 34,21
*Massa seca; 1 médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste
de Tukey (p≤ 0,05). Médias de 4 repetições.
Constatou-se elevada acumulação de massa seca pelas espécies de adubos
verdes avaliadas (3,94 a 6,50 t ha-1), representando várias opções de espécies com
diferentes características para a escolha dos agricultores.
No entanto, o feijão de porco e a crotalária se destacaram quanto à acumulação
de massa na parte aérea das plantas, com 6,50 e 6,26 t ha-1, respectivamente (Tabela 2),
não corroborando com os resultados obtidos por (PADOVAN et al., 2008). Ressalta-se,
também, que o feijão de porco e a crotalária juncea apresentaram bom desempenho,
principalmente relacionado ao acúmulo de biomassa, com diferença significativa em
relação aos demais tratamentos (Tabela 2).
Resultados expressivos também foram obtidos com a Crotalária juncea por
PADOVAN et al. (2007), em estudo realizado num Latossolo Vermelho Distrófico,
em Dourados, MS. No mesmo estudo, a mucuna cinza e mucuna preta também
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apresentaram bom desempenho, corroborando com os resultados verificados nesse
trabalho.
Costa et al. (1993) e Carvalho & Amabile (2006) apresentam resultados de
pesquisas em diferentes eco-regiões, onde a Crotalária juncea se destaca, principalmente
quanto à acumulação de massa na parte aérea, confirmando o potencial dessas espécies
para a adubação verde. Os teores de nutrientes obtiveram diferença significativa,
destacando-se o feijão de porco com valor para o nitrogênio de (123,67 kg ha-1),
potássio (62,66 kg ha-1), fósforo (7,55 kg ha-1), cálcio (79,70 kg ha-1) e magnésio (14,09
kg ha-1), extraídos do solo na massa seca total. Confirmando os resultados obtidos por
(PADOVAN et al., 2008).
A caracterização pluviométrica e a temperatura de cada mês dentro do
período de avaliação está descrita na Tabela 3. O estudo abrangeu as épocas de estiagem
e chuvosa, sendo os meses de fevereiro e maio de maior pluviosidade, estes
correspondentes ao primeiro e últimos tempos de coleta.
A precipitação média durante o período de ensaio foi de 68,75 mm. Diversos
fatores estão relacionados com a decomposição dos tecidos vegetais, tais como as
características climáticas, em particular a precipitação. De maneira geral, a
decomposição dos adubos verdes tende a ser mais lenta durante os períodos de
estiagem. Isso pode ser atribuído às menores precipitações pluviométricas e
temperaturas, criando condições capazes de restringir a atividade dos organismos
decompositores.
TABELA 3. Pluviosidade no período de avaliação. DAI = Dias após implantação do
estudo.
DAI Temperatura (°C) Precipitação (mm)
Médias
5 25,2 83,4
10 22,6 75
15 23,6 34,8
30 24 46,2
60 22,3 61,4
90 18,8 91,4
120 19,4 86,2
150 18,1 71,6 FONTE: (EMBRAPA, 2014).
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A decomposição do material adicionado ao solo é um processo
essencialmente biológico, sujeito portanto, à interferência de inúmeros fatores. Cada
fator como temperatura, potencial osmótico, tensão superficial, viscosidade, radiação,
pH do solo, a quantidade e a qualidade dos nutrientes orgânicos disponíveis, bem
como a atividade da água (químicos), apresenta, dependendo da espécie, um nível
ótimo, que exercerá uma influencia marcante no montante populacional dos organismos
ou microorganismos decompositores (LYNCH, 1986).
TABELA 4. Médias do percentual de massa seca remanescente para cada tempo de
coleta. DAI = dias após a implantação.
Os adubos verdes feijão de porco e lab-lab se destacaram por apresentarem os
menores percentuais remanescentes para massa seca (Tabela 4). Já os adubos verdes
crotalária juncea e mucuna-preta foram os que se destacaram por apresentarem os
maiores percentuais de massa seca. Neste aspecto, Crotalária juncea apresentou os
maiores valores (54,42% de massa seca remanescente ) e mucuna-preta apresentou
52,08% para massa seca (Tabela 4).
Percebe-se um decaimento maior de massa seca, com o inicio da época
chuvosa. Para feijão de porco, esta influencia foi a mais substancial, a espécie perdeu
34,22 % de sua massa seca inicial, nos últimos três tempos de coleta, período
caracterizado pela maior precipitação (Tabela 3).
Adubos verdes
Crotalária juncea Mucuna-preta Mucuna-cinza Lab-lab Feijão de porco
DIAS
0 100 100 100 100 100
5 43,90 65,28 68,04 63,25 53,42
10 58,64 62,23 70,04 56,34 51,38
15 52,46 71,52 67,02 54,23 42,24
30 77,85 66,88 66,76 50,12 40,19
60 73,71 62,92 64,42 41,24 37,76
90 66,26 56,58 61,99 40,35 34,22
120 57,49 64,27 50,23 40,47 27,65
150 54,42 52,08 50,66 39,65 26,31
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É possível que para os adubos verdes crotalária juncea, mucuna-cinza e
mucuna-preta, o tempo de experimentação não tenha sido suficiente para que as mesmas
apresentassem seus picos de máximo declínio de massa seca, tendo em vista suas
características químicas e o tempo necessário para que a biota do solo acelerasse a
decomposição dos resíduos em resposta ao fornecimento de água no sistema pelo inicio
da época chuvosa. As observações supracitadas que relacionam a perda de matéria e
as características químicas dos adubos verdes, apontam a possibilidade de se criar
grupos de espécies com semelhante dinâmica de decomposição de massa e/ou
nutrientes.
Em se tratando de adubação verde, a consolidação desses grupos é interessante
desde que esta esteja de acordo com a velocidade de fornecimento de nutrientes das
espécies envolvidas. Na tentativa de gerar informações que complementem tal
pressuposto, foi gerada a Tabela 5 contendo os parâmetros de decomposição avaliados
das cinco espécies selecionadas.
TABELA 5. Equações de decomposição, Taxa de decomposição (k), Tempo de meia
vida (t 1/2) em dias e coeficiente de determinação (r²) para decomposição
de massa seca dos adubos verdes avaliados aos 150 dias. Dourados, 2014.
Adubos verdes k r2 Equação de decomposição Tempo de 1/2 vida
Feijão de porco 0,0039 0,95 y = 4,104e 0,403x 77
Lab-lab 0,0027 0,98 y = 5,503e 0,400x 112
Mucuna-cinza 0,0020 0,92 y = 8,232e 0,409x 152
Mucuna-preta 0,0019 0,84 y = 4,392e 0,540x 159
Crotalária juncea 0,0018 0,94 y = 6,851e 0,451x 170
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FIGURA 7 Dinâmica de decomposição da biomassa dos adubos verdes.
As espécies apresentaram tempos de meia vida variando e 77 a 170 dias
para decomposição de 50% da biomassa (Tabela 5). Pode se observar na Tabela 5,
dois grupos distintos, um caracterizado por uma rápida decomposição (quando
comparado com as demais), feijão de porco e lab-lab, e outro grupo caracterizado por
uma decomposição mais lenta, crotalária juncea, mucuna-preta e mucuna-cinza.
As espécies, feijão de porco e lab-lab apresentaram uma velocidade de
decomposição próximas entre si e mais rápida do que as espécies acima referidas, com
tempos de meia vida para decomposição de 50% da biomassa de 77 e 112 dias,
respectivamente e comporiam o grupo das espécies de decomposição rápida.
As espécies crotalária juncea, mucuna-preta e mucuna-cinza comporiam o
grupo das espécies de decomposição mais lenta. Estas espécies apresentaram tempos
de meia vida altos, com 170, 159 e 152 dias para decompor 50% da biomassa,
respectivamente.
Segundo PALM e SANCHEZ (1991), essa variação na velocidade de
decomposição está associada aos compostos que são degradados em cada etapa. Na fase
inicial, ou fase lábil, são liberados compostos mais solúveis. Em contrapartida, na fase
mais lenta, ou recalcitrante, são as ligações mais complexas que estão em questão.
Entretanto, para que a perda dos materiais solúveis na fase inicial possa ocorrer, se faz
necessário a presença de água como agente carreador, o que foi observado no presente
estudo, que iniciou-se durante o período chuvoso e ao meio dos avaliações diminui-se e
nas coletas finais retoma novamente as chuva.
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É importante ressaltar que vários fatores influenciam na dinâmica de
decomposição vegetal. Segundo (AITA E GIACOMINI., 2003; SANTOS et. al., 2009),
fatores como temperatura, umidade, aeração e teor de matéria orgânica no solo, atuarão
principalmente na atividade microbiana, cadenciando o processo de decomposição da
biomassa das plantas.
TABELA 6. Relação Carbono/Nitrogênio dos adubos verdes utilizados em
decomposição.
Adubos verdes Relação C/N
Crotalária juncea 26/1
Mucuna-cinza 25/1
Mucuna-preta 22/1
Feijão de porco 19/1
Lab-lab 11/1
FONTE: (Souza, 2000).
Os maiores valores obtidos em crotalária juncea, mucuna-preta e mucuna-cinza
estiveram relacionados ao estágio de desenvolvimento das culturas. Em determinações
mais tardias, os valores de C/N tendem a serem maiores devido à lignificação dos caules
(caso da Crotalária juncea), e torna necessária a atenção dos técnicos tomadores de
decisão quanto ao sincronismo entre o fornecimento de nutrientes e a demanda da
cultura de interesse no uso dessas espécies para fins de fertilização.
CONCLUSÕES
A crotalária juncea (Crotalaria juncea) e o feijão de porco (Canavalia
ensiformes) apresentaram maior acúmulo de massa seca e alguns nutrientes (nitrogênio
105,41 e 123,67 kg ha-1), fósforo (6,15 e 7,55 kg ha-1), (cálcio 38,12 e 79,70 kg ha-1),
(magnésio 16,36 e 14,09 kg ha-1), na parte aérea, destacando-se como as principais
alternativas para a adubação verde na região da grande Dourados estado do Mato
Grosso do Sul.
A mucuna-preta destacou significativamente com os valores de potássio (73,44
kg ha-1), em relação aos demais tratamentos.
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Produção/construção e tecnologia, v. 4, n. 7, 2015
Os adubos verdes mais frágeis e menos persistentes, em ordem decrescente
foram: feijão de porco > lab-lab > mucuna-cinza > mucuna-preta > crotalária juncea.
As perdas relativas de massa seca remanescente dos adubos verdes aos150 dias
mostraram a seguinte ordem decrescente de decomposição: feijão de porco (73,69%) >
lab-lab (60,35%) > mucuna-cinza (49,34%) > mucuna-preta (47,92%) > crotalária
juncea (45,58%).
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