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VEGETARIANISMO E OCULTISMO C.W.Leadbeater Novembro de 1913 Theosophicalk Publishing House Adyar, Chennai (Madras), Índia Ao falarmos da relação entre vegetarianismo e ocultismo, pode ser melhor começarmos pela definição de nossos termos. Todos sabemos o que significa vegetarianismo; e mesmo que haja diversas variedades dele, não será necessário discutí-las. O vegetariano é alguém que se abstém de comer carne. Há alguns que admitem produtos animais como os obtidos sem a destruição da vida do animal, como por exemplo, leite, manteiga e queijo. Há outros que se restringem a certas variedades de vegetais – frutas e nozes, talvez; há outros que preferem comer só a comida que pode ser ingerida crua; outros não comerão nada que cresça debaixo do solo, como batatas, nabos, cenouras, etc. Não precisamos nos preocupar com estes tipos, mas simplesmente definir o vegetariano como alguém que se abstém de qualquer comida obtida pela morte dos animais – é claro incluindo aves e peixes. Como definiríamos ocultismo? A palavra deriva do latim occultus, oculto; de modo que é o estudo das leis ocultas da natureza. Já que todas as grandes leis da natureza estão de fato operando no mundo invisível muito mais do que no visível, o ocultismo envolve a aceitação de uma visão da natureza muito mais ampla do que a que se tem usualmente. O ocultista, então, é um homem que estuda todas as leis da natureza a que pode ter acesso ou das quais pode ouvir falar, e como resultado de seus estudos ele se identifica com estas leis e devota sua vida ao serviço da evolução. Como o ocultismo encara o vegetarianismo? Muito favoravelmente, e por muitas razões. Estas razões podem ser divididas em duas categorias – as que são comuns e físicas, e as que são ocultas ou invisíveis. Há muitas razões a favor do vegetarianismo que pertencem ao plano físico, e são patentes aos olhos de qualquer um que se dê ao trabalho de analisar o assunto; e estas, para o estudante do oculto, contarão ainda mais fortemente do que para o homem comum. Em acréscimo a estas e além delas, o estudante do oculto conhece outras razões que advêm do estudo daquelas leis ocultas que são ainda tão pouco compreendidas pela maioria da humanidade. Devemos portanto dividir nossa consideração destas razões em duas partes, primeiro analisando as físicas e comuns. Mesmo estas razões comuns podem ser subdivididas em duas classes – a primeira contendo as que são físicas e de fundo egoísta, e em segundo as que podem ser descritas como tendo bases morais e altruístas.

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VEGETARIANISMO E OCULTISMO

C.W.Leadbeater

Novembro de 1913 Theosophicalk Publishing House Adyar, Chennai (Madras), Índia

Ao falarmos da relação entre vegetarianismo e ocultismo, pode ser melhor começarmos pela definição de nossos termos. Todos sabemos o que significa vegetarianismo; e mesmo que haja diversas variedades dele, não será necessário discutí-las. O vegetariano é alguém que se abstém de comer carne. Há alguns que admitem produtos animais como os obtidos sem a destruição da vida do animal, como por exemplo, leite, manteiga e queijo. Há outros que se restringem a certas variedades de vegetais – frutas e nozes, talvez; há outros que preferem comer só a comida que pode ser ingerida crua; outros não comerão nada que cresça debaixo do solo, como batatas, nabos, cenouras, etc. Não precisamos nos preocupar com estes tipos, mas simplesmente definir o vegetariano como alguém que se abstém de qualquer comida obtida pela morte dos animais – é claro incluindo aves e peixes. Como definiríamos ocultismo? A palavra deriva do latim occultus, oculto; de modo que é o estudo das leis ocultas da natureza. Já que todas as grandes leis da natureza estão de fato operando no mundo invisível muito mais do que no visível, o ocultismo envolve a aceitação de uma visão da natureza muito mais ampla do que a que se tem usualmente. O ocultista, então, é um homem que estuda todas as leis da natureza a que pode ter acesso ou das quais pode ouvir falar, e como resultado de seus estudos ele se identifica com estas leis e devota sua vida ao serviço da evolução. Como o ocultismo encara o vegetarianismo? Muito favoravelmente, e por muitas razões. Estas razões podem ser divididas em duas categorias – as que são comuns e físicas, e as que são ocultas ou invisíveis. Há muitas razões a favor do vegetarianismo que pertencem ao plano físico, e são patentes aos olhos de qualquer um que se dê ao trabalho de analisar o assunto; e estas, para o estudante do oculto, contarão ainda mais fortemente do que para o homem comum. Em acréscimo a estas e além delas, o estudante do oculto conhece outras razões que advêm do estudo daquelas leis ocultas que são ainda tão pouco compreendidas pela maioria da humanidade. Devemos portanto dividir nossa consideração destas razões em duas partes, primeiro analisando as físicas e comuns. Mesmo estas razões comuns podem ser subdivididas em duas classes – a primeira contendo as que são físicas e de fundo egoísta, e em segundo as que podem ser descritas como tendo bases morais e altruístas.

Primeiro, então, tomemos as razões em favor do vegetarianismo que interessam somente o próprio homem, e pertencem puramente ao plano físico. Por enquanto colocaremos de lado a consideração dos efeitos sobre os outros – o que é infinitamente mais importante – e pensaremos somente nos resultados para o próprio homem. É necessário fazê-lo, porque uma das objeções freqüentemente levantadas contra o vegetarianismo é a de que ele é uma bela teoria, mas cuja aplicação é impossível, já que se supõe que um homem não pode viver sem devorar carne morta. Esta objeção é irracional, e é fundamentada na ignorância ou na perversão dos fatos. Eu mesmo sou um exemplo de sua falsidade, pois tenho vivido sem a poluição da alimentação carnívora – nem gado, peixe ou ave – pelos últimos trinta e oito anos e não só sobrevivi, mas tenho tido durante todo este tempo uma saúde extraordinariamente boa. Nem sou de modo algum especial nisso, pois conheço milhares de outros que têm feito a mesma coisa. Conheço alguns jovens que têm sido felicíssimos de não serem poluídos pelo comer carne durante todas as suas vidas; e são nítidamente mais livres de doenças do que aqueles que o fazem. Seguramente há muitas razões em favor do vegetarianismo do ponto de vista puramente egoísta; e as apresentarei antes, porque sei que as considerações egoístas atrairão mais fortemente a maioria das pessoas, ainda que eu espere que no caso dos que estudam a Teosofia possamos imaginar que as considerações morais que mais tarde apresentarei terão muito maior peso. QUEREMOS O MELHOR Presumo que sobre a alimentação, assim como em todo o resto, todos nós queremos o melhor que estiver ao nosso alcance. Gostaríamos de trazer nossas vidas, e portanto nossa alimentação diária como uma parte importante de nossas vidas, em harmonia com nossas aspirações, em harmonia com o mais elevado que conhecemos. Ficaríamos felizes de ter o que realmente é o melhor, e se ainda não sabemos o bastante para sermos capazes de apreciar o que é melhor, então ficaríamos felizes de aprendê-lo. Se pensarmos nisto, veríamos que este é o caso ao longo de outras linhas, como por exemplo na música, arte ou literatura. Desde a infãncia fomos ensinados que se queremos desenvolver nosso gosto musical ao longo das melhores linhas devemos selecionar somente a melhor música, e se de início não a apreciamos ou entendemos completamente, devemos ser muito pacientes em esperar e ouvir, até que enfim algo se sua suave beleza desponte em nossas almas, e passemos a compreender que o que antes não despertava resposta alguma em nossos corações. Se queremos apreciar o melhor na arte não devemos encher nossos olhos com as páginas policiais sensacionalistas, ou com as horríveis abominações chamadas enganosamente de caricaturas; mas devemos permanecer olhando e aprendendo até que o mistério da obra de Turner comece a se abrir à nossa paciente contemplação, ou o grandioso vôo de Velásquez entre em nosso poder de entendimento. O mesmo quanto à literatura. Tem sido a triste experiência de muitos que a maior parte do que é melhor e mais belo esteja perdida para aqueles cujo alimento mental consiste exclusivamente do jornal sensacionalista ou do romance barato, ou daquela frívola massa de material despejado como escória sobre o metal fundido da vida – novelas, seriados e fragmentos de um tipo que nem ensina o ignorante, nem fortalece o fraco, nem desenvolve o imaturo. Se queremos desenvolver a mente de nossas crianças não os devemos abandonar ao seus

gostos não cultivados em nenhuma destas coisas, mas tentemos ajudá-los a treinar o gosto, seja na arte, na música ou na literatura. Seguramente então podemos procurar encontrar o melhor alimento tanto físico quanto mental, e seguramente devemos encontrá-los não só por mero instinto cego, mas por aprender a pensar e analisar o assunto do mais alto ponto de vista. Pode haver aqueles no mundo que não têm desejo pelo melhor, que querem permanecer nos níveis mais baixos e consciente e intencionalmente constróem em si o que é bruto e degradante; mas seguramente há os que desejam ascender acima disto, que feliz e avidamente tomariam o melhor se apenas soubessem o que é, ou se sua atenção fosse dirigida a ele. Há homens e mulheres que moralmente são da mais alta categoria, porém foram obrigados a comer junto das hienas e lobos da vida, e foram ensinados que sua dieta necessária era o cadáver de um animal assassinado. É preciso só um pouco de pensamento para mostrar-nos que este horror não pode ser o mais elevado e o mais puro, e que se desejamos sempre nos elevar na escala da natureza, se desejamos sempre que nossos corpos sejam puros e limpos como os templos do Mestre deveriam ser, devemos abandonar este repugnante costume, e assumir nosso lugar entre as hostes principescas que se esforçam pela evolução da humanidade – se esforçam pelo mais elevado e mais puro em tudo, para eles mesmos e para seus companheiros. Vejamos em detalhe por que uma dieta vegetariana é enfaticamente a mais pura e melhor. 1. Mais Nutritição Primeiro: Porque os vegetais contém mais nutrientes do que uma igual quantidade de carne morta. Isto soará como uma declaração surpreendente e incrível para muitas pessoas, porque elas foram levadas a acreditar que não podem viver a não ser que se aviltem com carne, e esta ilusão é tão largamente disseminada que é difícil despertar o homem comum dela. Deve ser entendido claramente que isto não é uma questão de hábito, ou de sentimento, ou de preconceito; é simplesmente uma questão de mero fato, e contra os fatos não há e nunca houve a menor objeção. Há quatro elementos necessários na alimentação, todos essenciais à reparação e construção do corpo: (a) Proteínas ou alimentos nitrogenados; (b) Carboidratos; (c) Lipídios ou gorduras; (d) Sais minerais. Esta é a classificação usualmente aceita pelos fisiologistas, ainda que investigações recentes tendam a modificá-la em certa extensão. Mas não há nenhuma dúvida de que todos estes elementos existem em quantidade maior nos vegetais do que na carne morta. Por exemplo, leite, nata, queijo, nozes, ervilhas e feijões contêm uma grande porcentagem de proteínas ou matéria nitrogenada. Trigo, aveia, arroz e outros grãos, frutas e a maioria dos vegetais (exceto talvez ervilhas, feijões e lentilhas) consistem principalmente de carboidratos – isto é, amido e açúcares. Os lipídios, ou gorduras, são encontrados em quase todos os alimentos proteínicos, e podem ainda ser ingeridos sob forma de manteiga ou óleos. Os sais minerais são encontrados praticamente em todos os alimentos em maior ou menor grau. São da maior importância na manutenção dos tecidos corporais, e o que chamamos de depleção salina é a causa de muitas doenças.

Algumas vezes se argumenta que a carne contém alguns destes nutrientes em maior abundância do que os vegetais, e algumas tabelas são elaboradas de modo a sugerir isto; mas uma vez mais, isto é uma questão de fatos, e deve ser encarada deste ponto de vista. As únicas fontes de energia na carne morta são a matéria protêica que contém, e a gordura; e quanto à gordura dela, certamente não tem mais valor do que outras gorduras, sendo a proteína o único ponto a ser considerado. Mas deve ser lembrado que as proteínas têm todas uma só origem; são elaboradas nas plantas e em nenhum outro lugar. Nozes, ervilhas, feijões e lentilhas são muito mais ricos deste elemento do que qualquer tipo de carne, e têm a enorme vantagem de serem puras, e portanto contêm toda a energia originalmente armazenada nelas durante sua elaboração. No corpo animal estas proteínas, que o animal absorveu do reino vegetal durante sua vida, estão constantemente sendo decompostos, durante a qual a energia originalmente armazenada nelas é liberada. Conseqüentemente o que já foi usado por um animal não pode ser utilizado por outro. As proteínas são avaliadas em algumas destas tabelas pela quantidade de nitrogênio que contêm, mas na carne há muitos produtos de metabolismo tecidual como uréia, ácido úrico e creatinina, todos contendo nitrogênio, e portanto sendo incluídos junto das proteínas, embora não possuam nenhum valor nutritivo. Tampouco o mal termina aqui; pois este metabolismo necessariamente é acompanhado pela formação de muitos venenos, que sempre são encontrados em qualquer tipo de carne; e em muitos casos a virulência destes venenos é muito grande. Assim se você obtém alguma nutrição pelo consumo de carne morta, o faz somente porque durante sua vida o animal consumiu matéria vegetal. Você obtém menos nutrição do que deveria, porque o animal já a consumiu metade, e você recebe junto várias substâncias indesejáveis, e mesmo alguns venenos ativos, que, é óbvio, são nitidamente deletérios. Eu sei que há muitos doutores que prescreverão a desagradável dieta de carne, a fim de fortalecer as pessoas, e eles freqüentemente terão alguma medida de sucesso; embora mesmo neste ponto eles de modo algum concordem, pois o Dr. Milner Fothergill escreve: “Toda efusão de sangue causada pela disposição belicosa de Napolão não é nada comparada à perda de vida de miríades de pessoas que foram ao túmulo através de uma enganosa confiança no suposto valor do bife”. De qualquer modo, os resultados fortalecedores podem ser obtidos do reino vegetal quando a ciência da dieta for corretamente compreendida, e eles podem ser obtidos sem a horrível poluição e sem todos os outros fatores indesejáveis concomitantes do outro sistema. Deixe-me mostrar-lhe que nisto tudo não faço nenhuma afirmação infundada; deixe-me citar para você as opiniões dos médicos, dos homens cujos nomes são bem conhecidos no mundo da medicina, para que você possa ver que eu tenho ampla autoridade no que disse. Encontramos Sir Henry Thompson, F.K.C.S., dizendo: “É um erro vulgar considerar a carne sob qualquer forma como necessária à vida. Tudo o que é necessário para o corpo humano pode ser suprido pelo reino vegetal... O vegetariano pode extrair de sua alimentação todos os princípios necessários para o crescimento e manutenção do corpo, assim como para a produção de calor e força. Deve ser admitido como um fato além de qualquer dúvida que algumas pessoas são mais fortes e mais saudáveis

quando tomam este alimento. Eu sei o quanto esta dieta de carne predominante é não só um luxo dispendioso, mas uma fonte de sério mal ao consumidor”. Eis uma afirmação definitiva de um médico bem conhecido. Então podemos acompanhar as palavras de um membro da Royal Society, Sir Benjamin Ward Richardson, M.D.; ele diz: “Deve ser admitido honestamente que peso por peso, a substância vegetal, quando cuidadosamente selecionada, possui as mais extraordinárias vantagens sobre a alimentação animal, em termos de valor nutritivo. Eu gostaria de ver um plano vegetariano e frugívoro posto em uso geral, e acredito que será feito”. O bem conhecido médico Dr. William S. Playfair, C.B., disse mui claramente: “A dieta animal não é essencial ao homem”; e encontramos o Dr. F.J. Sykes, B.Sc., oficial médico para S. Pancrácio, escrevendo: “A qiuímica não é contrária ao vegetarianismo, não mais que a biologia o é. A alimentação de carne certamente não é necessária para suprir os produtos nitrogenados requeridos para a reparação dos tecidos; portanto uma dieta bem escolhida derivada do reino vegetal está perfeitamente correta, do ponto de vista químico, para a nutrição dos homens”. O Dr. Francis Vacher, F.R.C.S., F.C.S., assinala: “Não acredito que um homem fique melhor física ou mentalmente pelo consumo de carne”. O Dr. Alexander Haig, F.E.C.P., o médico-chefe de um dos grandes hospitais de Londres, escreveu: “Que é possível sustentar a vida com produtos do reino vegetal não precisa demonstração para os médicos, mesmo se a maioria da raça humana não estivesse constantemente envolvida nesta demonstração; e minhas pesquisas mostram não só que é possível, mas que é infinitamente preferível de todos os modos, e produz poderes superiores, tanto de mente como de corpo”. O Dr. M.F.Coomes, em The American Practitioner and News, de julho de 1902, conclui um artigo científico assim: “Deixe-me dizer antes que a carne de animais de sangue quente não é essencial como dieta para o propósito de manter o corpo humano em perfeita saúde”. Ele prossegue fazendo outras observações que citaremos em nossa próxima seção. O Deão da Faculdade do Jefferson Medical College, de Filadélfia, disse: “É um fato bem conhecido que cereais como artigos de consumo diário têm uma alta posição na economia humana; contêm constituintes amplamente suficientes para sustentar a vida em sua forma mais elevada. Se o valor alimentício dos cereais fosse melhor conhecido seria uma boa coisa para a raça. Países inteiros vivem e prosperam só com eles, e tem sido plenamente demosntrado que a carne não é uma necessidade”. Eis um número de claras afirmações, e todas foram tomadas dos escritos de homens bem conhecidos que fizeram estudos consideráveis sobre a química dos alimentos. É impossível negar que o homem pode existir sem esta horrível dieta carnívora, e mais ainda, que há mais nutrientes em vegetais do que em uma quantidade igual de carne

morta. Eu poderia citar muitas outras declarações, mas estas acima mencionadas são suficientes, e são bons exemplos das outras. 2. Menos Doença Segundo: Porque muitas doenças sérias advêm deste repugnante costume de devorar corpos mortos. Novamente aqui eu poderia facilmente dar uma longa lista de citações, mas como antes ficarei satisfeito com poucas. O Dr. Josiah Oldfield, M.E.C.S., L.R.C.P., escreve: “A carne não é um alimento natural, e portanto tende a criar perturbações funcionais. Do modo como é consumida nas modernas civilizações, está infectada com terríveis doenças (prontamente transmissíveis ao homem) como o câncer, consumpção, febre, verminoses, etc, em uma extensão enorme. Não admira que a ingestão de carne seja uma das mais sérias causas das doenças desenvolvidas por 99% das pessoas que nascem”. Sir Edward Saunders nos diz: “Seria boa toda tentativa ensinar a humanidade que bife e cerveja não são necessários para a saúde e eficiência, e devem levar à economia e felicidade; e à medida que isso se desenvolver acredito que ouviremos falar menos em gota, mal de Bright, problemas de fígado e rins quanto ao primeiro item, e menos brutalidade e espancamentos domésticos e assassinatos quanto ao segundo. Acredito que a tendência é em direção à dieta vegetariana, que será reconhecida como boa e adequada, e que não está longe o tempo em que a idéia de alimentação animal será considerada revoltante para o homem civilizado”. Sir Robert Christison, M.D., afirma positivamente que “a carne e a secreção dos animais afetados com doenças carbunculares como o antraz são tão venenosas que os que comem seus derivados estão sujeitos a sofrer severamente – a doença assumindo a forma de inflamação do tubo digestivo ou de erupção de um ou mais carbúnculos”. A Drª. A. Kingsford, da Universidade de Paris, diz: “A carne animal pode engendrar diretamente muitas doenças dolorosas e repulsivas. A própria escrófula, esta fecunda fonte de sofrimento e morte, não improvavelmente deve sua origem a hábitos carnívoros. É um fato curioso de que a palavra escrófula seja derivada de scrofa, porca. Dizer que alguém tem escrófulas é dizer que sofre do mal suíno”. Em seu quinto relatório ao Conselho Privado da Inglaterra encontramos o Prof. Gamgee assinalando que “um quinto do total de carne consumida é derivada de animais mortos em um estado de doença maligna”. Enquanto que o Prof. A. Winter Blyth, F.R.C.S., escreve: “Economicamente falando, a alimentação de carne não é necessária – e carne seriamente doente pode ser preparada de modo a parecer muito boa. Muitos animais com doeças avançadas no pulmão ainda não apresentam qualquer sinal na carne que a olho nu difiram do normal”. O Dr. M.P. Coomes, no artigo citado antes, assinala: “Temos muitos substitutos para a carne que são livres dos efeitos deletérios da comida dependente da economia animal

– a saber: na produção de reumatismo, gota e todos os outros tipos de doenças, sem falar na congestão cerebral, que freqüentemente termina em apoplexia e doenças circulatórias de um ou outro tipo, enxaqueca e muitas outras formas de dor de cabeça, resultantes do uso excessivo de carne e freqüentemente produzidas mesmo quando a carne não é consumida em excesso”. O Dr. J.H. Kellogg declara: “É interessante notar que os homens de ciência em todo o mundo estão despertando para o fato de que a carne de animais como comida não é uma nutrição pura, mas é misturada com substâncias venenosas, excrementícias em caráter, que são o resultado natural da vida animal. Os vegetais armazenam energia. É do mundo vegetal – carvão e madeira – que deriva a energia que impulsiona nossos motores, empurra nossos trens, conduz nossos barcos e faz o trrabalho da civilização. É do mundo vegetal que todos os animais, direta ou indiretamente, derivam a energia que é manifesta pela vida animal através do trabalho muscular e mental. O vegetal constrói; o animal destrói. O vegetal acumula energia; o animal a gasta. Vários produtos de excreção e venenosos resultam da manifestação da energia, seja da locomotiva seja do animal. Os tecidos vivos do animal podem manter sua atividade só pelo fato de que são continuamente limpos pelo sangue, uma incessante corrente fluindo através e em torno deles, levando embora os produtos venenosos que resultam de seu trabalho tão rapidamente quanto são formados. O sangue venoso deve suas características a estes venenos, que são removidos pelos rins, pulmões, pele e intestinos. A carne de um animal morto contém uma grande quantidade destes venenos, cuja eliminação cessa no instante da morte, embora sua formação continue algum tempo depois da morte. Um eminete cirurgião francês recentemente assinalou que ‘o bife é uma verdadeira poção venenosa’. Médicos inteligentes em toda parte estão passando a reconhecer estes fatos, e fazer aplicação prática deles”. Aqui novamente vemos que não há falta de evidência; e muitas das citações a respeito da introdução de venenos no sistema através da alimentação de carne não provêm de doutores vegetarianos, mas daqueles que ainda consideram certo comer pedaços de cadáveres, mas estudaram a ciência do assunto em alguma extensão. Deve ser lembrado que a carne morta jamais pode estar em uma condição de perfeita saúde, porque a decomposição inicia no momento em que a criatura é morta. Todos os tipos de produtos são formados neste processo de deterioração [retrograde change, no original – NT]; todos são inúteis, e muitos são positivamente perigosos e venenosos. Nas antigas escrituras dos hindus encontramos uma passagem muito notável, que se refere ao fato de que mesmo na Índia algumas das castas inferiores daquele período primitivo começaram a se alimentar de carne. A declaração é de que em tempos antigos existiam somente três doenças, uma das quais era a velhice; mas que agora, desde que as pessoas tinham começado a comer carne, setenta e oito novas doenças haviam surgido. Isto nos mostra que a idéia de que a doença poderia vir do consumo de cadáveres já tem sido reconhecida há milhares de anos. 3. Mais Natural para o Homem Terceiro: Porque o homem não foi naturalmente feito para ser carnívoro, e portanto esta comida horripilante não lhe é adequada. Aqui novamente deixe-me fazer algumas citações para lhe mostrar quais autoridades se enfileiram ao nosso lado neste assunto.

O próprio Barão Cuvier escreve: “O alimento natural do homem, a julgar pela sua estrutura, consiste de frutas, raízes e vegetais”; e o Prof. Eay nos diz: “Certamente o homem jamais foi feito para ser um animal carnívoro”. Sir Richard Owen, F.R.C.S., escreve: “Os antropóides e todos os quadrúmanos derivam sua alimentação de frutas, grãos e outras substâncias vegetais suculentas, e a estrita analogia que existe entre a estrutura destes animais e a do homem demonstra claramente sua natureza frugívora”. Um outro membro da Royal Society, Prof. William Lawrence, escreve: “Os dentes do homem não têm a menor semelhança com os dos animais carnívoros; e se considerarmos os dentes, as mandíbulas ou órgãos digestivos, a estrutura humana se assemelha notavelmente à dos animais frugívoros”. Mais uma vez o Dr. Spencer Thompson assinala: “Nenhum fisiologista contestaria que o homem deveria viver de uma dieta vegetariana”; e o Dr. Sylvester Graham escreve: “A anatomia comparada prova que o homem é naturalmente uma animal frugívoro, formado para subsistir de frutas, sementes, e vegetais farináceos”. É claro que a desejabilidade da dieta vegetariana não precisará de nenhum argumento para alguém que acredite na inspiração das escrituras, pois será lembrado que Deus, ao falar com Adão no Jardim do Èden, disse: “Vê, Eu te dei todas as ervas com semente que existem sobre a face de toda a Terra, e toda árvore em cujo fruto houver semente; destas comerás”. Foi somente depois da queda do homem, quando a morte surgiu no mundo, que uma idéia mais degradada de alimentação também surgiu com ela; e se agora esperamos voltar de novo às condições edênicas devemos certamente começar por abolir assassínios desnecessários executados a fim de suprir-nos de comida horrível e degradante. 4. Mais Força Quarto: Porque os homens ficam mais fortes e melhores com uma dieta vegetariana. Sei que as pessoas dizem: “Você ficará fraco se não comer carne”. Como fato isto não é verdade. Não sei se pode haver quaisquer pessoas que se achem mais fracas com uma dieta de vegetais; mas eu sei sim que em muitas competições atléticas recentes os vegetarianos se provaram os mais fortes e resistentes – como por exemplo nas recentes corridas de bicicleta na Alemanha, onde todos os que conseguiram as melhores colocações na corrida eram vegetarianos. Têm havido muitas destas competições, e elas mostram que, outros fatores sendo igualados, o homem que ingere comida pura se sai melhor. Temos que encarar os fatos, e neste caso os fatos se colocam todos do nosso lado, contra os tolos preconceitos e o desejo repelente, no outro. A razão foi claramente dada pelo Dr. J.D. Craig, que escreve: “O vigor corporal é freqüentemente ostentado por aqueles que comem carne, particularmente se vivem na maior parte do tempo ao ar livre; mas há uma peculiaridade sobre eles, é a de não terem a resistência dos vegetarianos. A razão disto é que a carne já está se degradando, e como conseqüência sua presença nos tecidos é de curta duração. O impulso metabólico imprimido nela

no corpo do animal de onde é retirada é reforçado por um outro impulso no corpo do homem, e por esta razão a energia que ela contém logo se dissipa, e surge a demanda urgente por mais. O comedor de carne, então, pode fazer muito trabalho em um curto espaço de tempo, se for bem alimentado. Mas logo fica faminto, e enfraquece. Por outro lado, os produtos vegetais são de digestão lenta; eles contêm todo o estoque original de energia, e nenhum veneno; sua degradação é mais lenta do que a da carne, tendo recém começado, e portanto sua força é liberada mais lentamente e com menos perda, e a pessoa que é nutrida por eles pode trabalhar por um longo período sem comer, se necessário, e sem desconforto. As pessoas na Europa que se abstêm de comer carne são da classe mais elevada e inteligente, e o assunto da resistência tem sido abordado e integralmente investigado por elas. Na Alemanha e Inglaterra têm sido realizadas entre comedores de carne e vegetarianos um número de notáveis competições atléticas que requerem resistência, com o resultado de que os vegetarianos invariavelmente acabam vitoriosos”. Descobriremos, se investigarmos, que este fato é conhecido há muito tempo, pois mesmo na história antiga encontramos traços dele. Será lembrado que dentre todas as tribos gregas as mais fortes e resistentes, por reconhecimento e reputação universais, eram os espartanos; e a simplicidade de sua dieta vegetal é assunto de conhecimento comum. Pense ainda nos atletas gregos – aqueles que se preparavam com tanto esmero para participarem nos jogos Olímpicos e Ístmicos. Se você ler os clássicos verá que estes homens, que em sua especialidade ultrapassavam todo o resto do mundo, viviam de figos, nozes, queijo e milho. Então veja-se os gladiadores romanos – homens de cuja força dependia sua vida e fama; e descobrimos que sua dieta consistia exclusivamente de bolos de cevada e óleo; eles sabiam muito bem que esta era a comida mais fortalecedora. Todos estes exemplos nos mostram que a falácia comum e persistente de que se deve comer carne a fim de ficarmos fortes não tem fundamento nos fatos; na realidade o exato oposto é o verdadeiro. Charles Darwin escreveu em uma de suas cartas: “Os trabalhadores mais extraordinários que jamais vi, os operários nas minas do Chile, vivem exclusivamente de alimento vegetal, incluindo muitas sementes de plantas leguminosas”. Sobre os mesmos mineiros Sir Francis Head escreve: “É comum para os mineiros de cobre do Chile central carregarem cargas de minério de até 90 kg em uma subida vertical de mais de 70 metros doze vezes por dia; e sua dieta é inteiramente vegetariana – um desjejum de figos e pequenos pães, um almoço de feijões cozidos, e uma ceia de trigo tostado”. O Sr. F.T. Wood, em seu Discoveries at Ephesus, escreve: “Os carregadores turcos em Esmirna carregam muitas vezes pesos de 180 a 270 kg em suas costas, e o capitão certo dia apontou-me um de seus homens que havia carregado um enorme fardo de mercadorias pesando 360 kg lomba acima até um armazém; de modo que com esta dieta frugal sua força é desusadamente grande”.

Sobre estes mesmos turcos disse Sir William Fairbairn: “Os turcos podem viver e lutar onde soldados de qualquer outra nacionalidade pereceriam. Seus hábitos simples, sua abstinência de licores intoxicantes, e sua dieta vegetariana normal os habilita a sofrer as maiores privações e subsistir com a mais escassa e simples das dietas”. Eu próprio posso testemunhar a enorme força demosntrada pelos trabalhadores tamiles do sul da Índia, pois eu tenho visto freqüentemente eles carregarem pesos que me deixaram estupefato. Eu lembro de estar no convés de um navio, olhando para um daqueles trabalhadores pegar uma enorme caixa, colocá-la sobre suas costas, e andar lenta mas firmemente descendo por uma prancha até a praia e colocando-a em um galpão. O capitão, perto de mim, notou com surpresa: “Mas como!, precisei de quatro trabalhadores ingleses para embarcar aquela caixa no porto de Londres!”. Também vi outro destes trabalhadores, depois de colocar um piano de cauda em suas costas, carregá-lo sem ajuda por uma distância considerável; porém estes homens são inteiramente vegetarianos, pois vivem principalmente de arroz e água, ocasionalmente com alguns tamarindos para dar sabor. Sobre o mesmo tema, o Dr. Alexander Haig, a quem já citamos, escreve: “O efeito de ficar livre do ácido úrico tem sido o de fazer meus poderes corpóreos tão grandes como eram há quinze anos atrás; custo a acreditar que mesmo há quinze anos eu pudesse me arriscar aos exercícios que agora faço com absoluta impunidade – livre de fadiga e cansaço na hora e de rigidez no dia seguinte. De fato, freqüentemente digo que agora é impossível cansar-me, e relativamente acredito que seja verdade”. Este distinguido médico se tornou vegetariano porque, de seu estudo das doenças causadas pela presença de ácido úrico no sistema, ele descobriu que o consumo de carne era a principal fonte deste veneno mortal. Um outro ponto interessante que ele menciona é que a mudança de dieta trouxe-lhe uma nítida mudança no ânimo – que onde antes ele se achava constantemente nervoso e irritável, agora se tornou muito mais constante e calmo e menos irritado; ele compreendeu plenamemente que isso era devido à mudança em sua dieta. Se quisermos ainda alguma evidência adicional, a temos perto, no reino animal. Observemos que os carnívoros não são os mais fortes, mas que todo o trrabalho do mundo é feito pelos herbívoros - cavalos, mulas, bois, elefantes e camelos. Não pensamos que o homem possa utilizar o leão e o tigre, ou que a força destes selvagens comedores de carne seja igual à daqueles que se nutrem diretamente do reino vegetal. 5. Menos Paixão Animal Quinto: Porque comer corpos mortos conduz à indulgência na bebida, e aumenta no homem as paixões animais. O Sr. H.B. Fowler, que estudou e palestrou sobre a dipsomania durante quarenta anos, declara que o uso da carne, pela excitação que produz no sistema nervoso, abre caminho para os hábitos intemperantes em tudo; e quanto mais carne é consumida, mais sério é o perigo de confirmar-se o alcoolismo. Muitos médicos experientes têm feito experiências similares e sabiamente agem de acordo em seu tratamento dos dipsomaníacos. A parte inferior da natureza humana sem dúvida é intensificada pelo hábito de nos alimentarmos de cadáveres. Mesmo

após comer uma refeição completa de material tão horrível um homem ainda se sente insatisfeito, pois ele permanece consciente de uma vaga sensação desconfortável de fome, e conseqüentemente sofre grandemente de tensão nervosa. Esta sensação é a fome dos tecidos corporais, que não podem renovar-se com a substância pobre oferecida a eles como comida. Para satisfazer esta vaga fome, ou antes para acalmar estes nervos sem descanso de modo que não sejam mais sentidos, recorre-se freqüentemente a estimulantes. Às vezes são ingeridas bebidas alcoólicas, às vezes se tenta afastar estas sensações com café preto, e às vezes usa-se tabaco forte para tentarmos tranqüilizar os nervos irritados e exaustos. Aqui temos o início da intemperança, pois na maioria dos casos a intemperança começa na tentativa de amainar com estimulantes alcoólicos a vaga e desconfortável sensação de carência que se segue a uma refeição de alimento empobrecido – alimento que não alimenta. Não há dúvida de que a embriaguez e toda a pobreza, degradação, doença e crime associados a ela podem ser atribuídos freqüentemente a erros nutricionais. Poderíamos seguir esta linha de pensamento indefinidamente. Poderíamos falar da irritabilidade, ocasionalmente culminando em insanidade, que agora todas as autoridades reconhecem como sendo o resultado freqüente da alimentação errônea. Poderíamos mencionar uma centena de sintomas comuns de indigestão, e explicar que a indigestão é sempre o resultado de alimentação incorreta. Seguramente, contudo, já disse o suficiente para indicar a importância e a influência de longo alcance de uma dieta pura sobre o bem-estar do indivíduo e da raça. O Sr. Brarnwell Booth, o líder do Expercito da Salvação, fez um pronunciamento sobre o tema do vegetarianismo, no qual fala forte e decididamente a seu favor, dando uma lista de não menos de dezenove razões pelas quais os homens deveriam se abster de comer carne. Ele insiste que a dieta vegetariana é necessária á pureza, à castidade e ao perfeito controle dos apetites e paixões que tão amiúde são a fonte de grande tentação. Ele assinala que o crescimento do consumo de carne entre o povo é uma das causas do aumento no alcoolismo, e que também favorece a indolência, a sonolência, a constipação e outras misérias e degradações semelhantes. Ele também diz que o eczema, hemorróidas, verminose, disenteria e severas dores de cabeça freqüentemente são originadas pela dieta carnívora, e que ele acredita que o grande aumento na consumpção e câncer durante os últimos cem anos foi causado pelo correspondente aumento no uso de comida animal. 6. Economia Sexto: Porque a dieta vegetal é de todas as maneiras mais barata e melhor do que a carne. Na encíclica recém-mencionada, o Sr. Booth dá uma de suas razões para advogar isso, que “uma dieta vegetariana de trigo, aveia, milho e outros grãos, lentilhas, ervilhas, nozes e alimentos similares é dez vezes mais econômica do que a dieta de carne. A carne contém metade de seu peso em água, que tem de ser paga como se fosse carne. Uma dieta vegetal, mesmo se admitirmos queijo, manteiga e leite, custará cerca de um quarto do que custa uma dieta mista de carne e vegetais.

Milhares de nossos pobres que agora têm a maior dificuldade de sustentar-se por gastar muito comprando carne, pela sua substituição por frutas e vegetais e outras comidas econômicas, seriam capazes de manter-se confortavelmente”. Também há um lado econômico nesta questão que não pode ser ignorado. Note-se quão mais homens poderiam ser sustentados por certo número de acres de terra que fossem devotados ao cultivo de trigo, do que a mesma porção de terra quando é deixada para pasto. Pense, também, para quantos mais homens seria encontrado trabalho saudável na terra no primeiro caso do que no segundo; e penso que você começará a ver que há muita coisa a ser dita também deste ponto de vista. O PECADO DA CARNIFICINA Até aqui estivemos falando do que chamamos de considerações físicas e egoístas que fariam um homem desistir de comer esta carne morta, e voltar-se, mesmo se só para seu próprio bem, para uma dieta mais pura. Pensemos agora por uns momentos nas considerações morais e altruístas ligadas ao seu dever para com os outros. A primeira delas – e esta realmente parece-me a mais terrível – é o pavoroso pecado de matar desnecessariamente os animais. Os que vivem em Chicago sabem muito bem como esta terrível mortandade constante permanece entre eles, pois eles têm alimentado grande parte do mundo com carne por atacado, e como o dinheiro feito neste negócio abominável é, cada centavo, manchado de sangue. Eu demonstrei claramente com testemunhos irrefutáveis que tudo isso é desnecessário; e se é desnecessário, então é um crime. A destruição de uma vida sempre é um crime. Pode haver certos casos em que seja o menor de dois males; mas aqui é desnecessário e sem a menor sombra de justificação, pois acontece somente por causa da ambição egoísta e inescrupulosa daqueles que fazem dinheiro com a agonia do reino animal a fim de saciar os apetites perversos daqueles que são suficientemente depravados para desejar alimento tão repulsivo. Lembre que não são somente aqueles que fazem este trabalho obsceno, mas aqueles que ao comer a carne morta encorajam-nos e tornam seu crime lucrativo, são igualmente culpados perante Deus desta coisa horrível. Toda pessoa que compartilha desta comida impura tem sua parte da indescritível culpa e sofrimento através do qual ela foi obtida. É reconhecido universalmente na lei que qui facit per alium facit per se – qualquer coisa que um homem faça através de outrem o faz como se ele mesmo o fizesse. Alguém diria: “Mas não faria diferença para todo este horror se só eu parasse de comer carne”. Isto é falso e malicioso. Primeiro, faria diferença, pois mesmo que você só comesse um pouco por dia, com o tempo integraria o peso de um animal. Segundo, não é uma questão de quantidade, mas de cumplicidade num crime; e se você partilha dos resultados de um crime, você contribui para torná-lo lucrativo, e assim você compartilha da culpa. Nenhum homem honesto pode deixar de ver que é assim. Mas quando estão envolvidas as paixões baixas dos homens, usualmente eles são desonestos em suas concepções, e declinam de encarar os fatos óbvios.

Seguramente não pode haver divergência de opinião sobre a questão de que toda essa mortandade desnecessária na verdade é um crime terrível. Um outro ponto a ser lembrado é que existe uma horrível crueldade associada ao transporte destes animais miseráveis, tanto por mar quanto por terra, e há muita crueldade pavorosa na própria carnificina. Aqueles que procuram justificar estes crimes perversos dirão que se tenta matar os animais o mais rápida e indolormente possível; mas só temos de ler os relatos para ver que em muitos casos estas intenções não são levadas a cabo, e segue-se um pavoroso sofrimento. A DEGRADAÇÃO DO CARNICEIRO Já um outro ponto de vista a ser considerado é a maldade de induzir outros homens à degradação e ao pecado. Se você mesmo tivesse de usar o facão ou o machado de abate, e matasse o animal antes de poder comer sua carne, você perceberia a natureza doentia da tarefa e logo se recusaria a fazê-la. As delicadas senhoras que devoram bifes sangrentos gostariam de ver seus filhos trabalhando como carniceiros? Se não, então elas não têm o direito de incumbir desta tarefa algum filho de outra mulher. Não temos o direito de impor sobre um cidadão um trabalho que nós mesmos declinaríamos de fazer. Pode ser dito que não forçamos ninguém a fazer desta abominação o seu meio de vida; mas isto é meramente tergiversar, pois ao comermos esta comida horrível estamos exigindo que alguém se brutalize, que alguém se degrade abaixo do nível da humanidade. Você sabe que se criou uma classe de homens pela demanda deste alimento – uma classe de homens que tem uma reputação excessivamente má. Naturalmente aqueles que se brutalizam por este trabalho impuro provam-se brutais em outras ocasiões também. São selvagens em sua disposição e sanguinários em suas contendas; e já ouvi referências de que em muitos casos de assassinato o criminoso empregou o golpe de faca peculiar ao carniceiro. Você certamente deve reconhecer que este é um trabalho indizivelmente horrível, e que se você toma alguma parte neste negócio terrível – mesmo se só ajudando a perpetuá-lo – você está colocando outro homem em posição de fazer (não por sua necessidade, mas meramente para a gratificação de seus desejos e paixões) um trabalho que sob nenhuma circunstância você consentiria em fazer você mesmo. Então deveríamos lembrar que todos nós esperamos pela era de paz e bondade universais – uma idade dourada onde a guerra já não exista, um tempo em que o homem estará tão distanciado das lutas e ódios que todas as condições do mundo serão diferentes das que hoje prevalecem. Você não pensa que o reino animal também terá sua parte neste futuro tempo bom – que este horrível pesadelo de morticínio por atacado será eliminado? As nações realmente civilizadas do mundo sabem muito mais do que isso; ocorre somente que nós do ocidente somos de uma raça ainda jovem; que ainda temos muitas das cruezas da juventude; de outro modo não poderíamos suportar estas coisas entre nós nem mesmo por um só dia. Além de qualquer dúvida o futuro está com o vegetarianismo. Parece certo que no futuro – e espero que seja no futuro próximo – olharemos para trás para esta época com desgosto e com horror. A despeito de todas as suas extraordinárias descobertas, a despeito de toda sua maravilhosa maquinaria, a despeito das enormes fortunas que se fizeram com isso,

estou certo de que nossos descendentes olharão para esta era como a de uma só parcial civilização, e de fato só um pouco distante da selvageria. Um dos argumentos com que provarão isto será seguramente o de que permitimos entre nós esta mortandade por atacado e desnecessária de animais inocentes – que nós de fato engordamos com ela e fizemos dinheiro com ela, e que até mesmo criamos uma classe de seres que faziam este trabalho sujo para nós, e que não nos envergonhamos de tirar proveito do resultado de sua degradação. Todas estas são considerações que dizem respeito somente ao plano físico. Agora deixe-me dizer-lhe algo sobre o lado oculto disto tudo. Até agora eu fiz diversas declarações – incisivas e definitivas, espero – mas cada uma delas pode ser provada por você mesmo. Você pode ler os testemunhos de doutores bem conhecidos e homens da ciência; você pode testar por você mesmo o lado econômico da questão; você pode ir e ver, se quiser, como todos estes diferentes tipos de homens conseguem viver muito bem com a dieta vegetariana. Tudo o que disse até agora está ao seu alcance. Mas agora abandono o campo do arrazoado físico comum, e levo você ao nível onde, naturalmente, tem de aceitar a palavra daqueles que exploraram estes reinos superiores. Voltemo-nos, pois, ao lado oculto de tudo isto. RAZÕES OCULTAS Também nesta seção teremos dois grupos de razões – as que se referem a nós mesmos e nosso próprio desenvolvimento, e as que se referem ao grande esquema de evolução e ao nosso dever para com ele; de modo que uma vez mais podemos classificá-los em egoístas e altruístas, embora em um nível já muito superior do que antes. Espero ter mostrado claramente na primeira parte deste trabalho que simplesmente não há espaço para discussão a respeito da questão do vegetarianismo; todo o corpo de evidências e considerações está inteiramente de um lado, e não há absolutamente nada a dizer em oposição a elas. Este é o caso de modo ainda mais notável quando passamos a considerar a parte oculta de nosso argumento. Há certos estudantes pairando nas beiradas do ocultismo que ainda não estão preparados para seguir seus preceitos até seus extremos, e portanto não aceitam seu ensinamento quando ele interfere com seus hábitos e desejos pessoais. Alguns tentaram sustentar que a questão da comida faz pouca diferença do ponto de vista oculto; mas o veredito unânime das grandes escolas de ocultismo, tanto antigas quanto modernas, tem sido definitivo neste ponto, e tem assinalado que para todo o verdadeiro progresso oculto é necessário pureza, mesmo já no plano físico, e na questão da dieta assim como também em assuntos muito mais elevados. Através de muitos livros e palestras tenho explicado a existência de diferentes planos da natureza e do vasto mundo invisível em torno de nós; e também tenho tido freqüente chance de citar o fato de que o homem tem em si matéria pertencente a todos estes planos superiores, de modo que ele é suprido de um veículo correspondente para cada um deles, através dos quais ele pode receber impressões e por meio dos quais pode agir. Podem estes corpos superiores do homem de algum modo ser afetados pela comida que entra no corpo físico com o qual são tão intimamente ligados? Certamente que podem, e pela seguinte razão: a matéria física

no homem está em contato íntimo com as matérias astral e mental – tanto que cada uma é em grande extensão uma contraparte da outra. Há muitos tipos e graus de densidade entre a matéria astral, por exemplo, de modo que é possível para um homem ter um corpo astral construído de matéria grosseira e partículas densas, enquanto que outro pode ter um que seja muito mais delicado e refinado. Como o corpo astral é o veículo das emoções, paixões e sensações, segue-se que o homem cujo corpo astral é do tipo mais grosseiro será principalmente dado às variedades mais rudes de paixão e emoção; enquanto que o homem que tem um corpo astral mais fino descobrirá que suas partículas vibram mais prontamente em resposta a emoções e aspirações mais altas e refinadas. O homem que portanto assimila matéria grosseira e indesejável em seu corpo físico está por conseguinte introduzindo em seu corpo astral - como sua contraparte - matéria de um tipo mais baixo e desagradável Todos nós sabemos que no plano físico o efeito da condescendência excessiva para com carne morta é produzir uma aparência excessivamente grosseira no homem. Isto não significa que é só o corpo físico que está em uma situação desagradável. Significa também que aquelas partes do homem que são invisíveis à nossa visão comum, os corpos astral e mental, também não estão em boas condições. Assim um homem que está construindo para si um corpo físico grosseiro e impuro está construindo para si ao mesmo tempo também corpos astral e mental igualmente impuros. Isto é visível de imediato à visão do clarividente desenvolvido. O homem que aprende a ver estes veículos superiores prontamente vê os efeitos produzidos nos corpos superiores pelas impurezas dos inferiores; ele vê logo a diferença entre o homem que alimenta seu veículo físico com comida pura e o homem que introduz nele esta repugnante carne em decomposição. Vejamos como esta diferença afetará a evolução humana. VEÍCULOS IMPUROS É claro que o dever de um homem para consigo mesmo é desenvolver seus veículos até onde possível, a fim de fazê-los instrumentos aperfeiçoados para o uso da alma. Há um estágio ainda mais alto em que a própria alma é treinada para ser um instrumento adequado nas mãos da Deidade, um canal perfeito para a graça divina; mas o primeiro passo em direção a esta alta aspiração é que a própria alma aprenda a controlar os corpos inferiores, de modo a não haver neles nem pensamento nem sentimento exceto os que a alma permita. Todos estes veículos portanto devem estar na condição de maior eficiência possível; e devem ser puros e limpos e livres de mancha; e é óbvio que isto não pode acontecer enquanto o homem absorver no invólucro físico tais elementos indesejáveis. Mesmo o corpo físico e suas percepções sensoriais jamais podem estar em seu melhor estado a não ser que a comida seja pura. Qualquer um que adote a dieta vegetariana rapidamente começará a notar que seu sentido do paladar ou do olfato ficam muito mais aguçados do que quando se alimentava de carne, e que agora é capaz de distinguir uma delicada diferença de sabor na comida que antes ele considerava insípida, como o arroz e o trigo. O mesmo é verdade em ainda maior extensão a respeito dos corpos superiores. Seus sentidos não podem ser claros se é introduzida neles matéria impura ou grosseira; qualquer coisa desta natureza os embaraça e embota, de modo que se torna mais

difícil para alma usá-los. É um fato que tem sido sempre reconhecido pelo estudante de ocultismo; você descobrirá que todos os que em dias antigos foram admitidos nos Mistérios eram homens da mais alta pureza, e é claro invariavelmente vegetarianos. A dieta carnívora é fatal a qualquer coisa semelhante a um desenvolvimento real, e os que a adotam estão colocando sérias e desnecessárias dificuldades em seu próprio caminho. Estou bem ciente de que há outras e ainda mais altas considerações que têm maior peso do que tudo referente ao plano físico, e que a pureza de coração e de alma é mais importante para o homem do que a do corpo. Mas seguramente não há razão para que não tenhamos ambas; de fato, uma sugere a outra, e a mais alta deveria incluir a mais baixa. Há dificuldades o bastante no caminho do auto-controle e auto-desenvolvimento; é seguramente pior do que tolice nos desviarmos de nosso caminho e acrescentarmos outra à nossa lista, e uma muito considerável. Mesmo que seja verdade que um coração puro fará mais por nós do que um corpo puro, de qualquer modo este último pode fazer muita coisa; e nenhum de nós é tão avançado no caminho da espiritualidade para poder permitir negligenciar a grande vantagem que nos traz. Tudo o que torna nosso caminho mais difícil do que o necessário é algo enfaticamente a ser evitado. Em todos os casos esta alimentação de carne indubitavelmente faz do corpo um instrumento pior, e põe dificuldades no caminho da alma intensificando todos os elementos e paixões indesejáveis que pertencem a estes planos inferiores. Nem é este sério efeito o único em que temos de pensar. Se, ao introduzir impurezas repugnantes no corpo físico, o homem constrói para si um corpo astral grosseiro e poluído, temos de lembrar que é neste veículo degradado que teremos de passar a primeira parte de nossa vida após a morte. Por causa da matéria grosseira que ele introduziu, todo o tipo de entidades desagradáveis serão atraídas para associarem-se com ele e farão deste veículo sua casa, e encntrarão uma pronta resposta nele às suas paixões mais baixas. Não é só que suas paixões animais sejam mais facilmente suscitadas aqui na Terra, mas além disso ele sofrerá agudamente pela ação destes desejos depois da morte. Novamente, olhando mesmo do ponto de vista egoísta, vemos que considerações ocultas confirmam a correção e bom senso dos argumentos no plano físico. A visão superior, quando chamada a analisar este problema, mostra-nos ainda mais vividamente quão indesejável é comer carne, uma vez que ela intensifica em nós aquilo de que precisamos nos livrar, e portanto, do ponto de vista do progresso, este hábito é algo a ser descartado de uma vez por todas. O DEVER DO HOMEM PARA COM A NATUREZA Então há o lado altruísta, muito mais importante, desta questão – o dever do homem para com a natureza. Todas as religiões têm ensinado que o homem deveria colocar-se sempre do lado da vontade de Deus no mundo, no lado do bem contra o mal, da evolução contra a regressão. O homem que se coloca no lado da evolução percebe a maldade de destruir vidas; pois ele sabe que, do mesmo modo que ele está aqui em seu corpo físico a fim de que possa aprender as lições do plano físico, do mesmo modo o animal ocupa seu corpo pela mesma razão, para que por ele possa ganhar

experiências neste estágio inferior. Ele sabe que a vida atrás do animal é a Vida Divina, que toda a vida no mundo é Divina; os animais portanto são realmente nossos irmãos, mesmo que possam ser irmãos mais jovens, e não podemos ter nenhum tipo de direito de tirar suas vidas para a gratificação de nossos gostos perversos – nenhum direito de causar-lhes agonia e sofrimento meramente para satisfazer nossos apetites degradados e detestáveis. Trouxemos as coisas a tal ponto com nosso chamado “esporte” [a caça – NT] e a mortandade por atacado, que toda criatura selvagem foge à nossa vista. Isto se parece à fraternidade universal das criaturas de Deus? É esta sua idéia da idade dourada de bondade universal que vai chegar – um estado em que todo ser vivo foge diante do homem por causa de seus instintos assassinos? Há uma influência pairando sobre nós disto tudo – um efeito que dificilmente você notará a não ser que seja capaz de ver como se parece quando analisado com a visão do plano superior. Cada uma destas criaturas que você mata tão brutalmente deste modo têm seus próprios pensamentos e sentimentos a respeito disto tudo; sente horror, pânico e indignação, e uma intensa mas inexprimível sensação da revoltante injustiça de tudo. Toda atmosfera em torno de nós está cheia disso. Ultimamente ouvi duas vezes de pessoas psíquicas que elas sentiam a horrorosa aura ou atmosfera psíquica de Chicago mesmo a muitos quilômetros de distância. A própria Srª Besant disse-me a mesma coisa alguns anos atrás na Inglatera – que muito antes de ela ter Chicago à vista ela sentiu o seu horror e a nuvem de depressão mortal descendo sobre ela, e perguntou: “Onde estamos, e qual é a razão para que haja este terrível sentimento no ar?” Sentir o efeito assim claramente está fora do alcance da pessoa não desenvolvida; mas mesmo que os habitantes não possam estar diretamente conscientes dele e reconhecê-lo como o fez a Srª Besant, podem estar certos de que estarão sofrendo com ele inconscientemente, e que a terrível vibração do horror e medo e injustiça está agindo sobre cada um deles, mesmo que não saibam. PAVOROSOS RESULTADOS INVISÍVEIS A sensação de nervosismo e profunda depressão que são tão comuns lá são largamente devidos à terrível influência que se espalha sobre a cidade como uma nuvem de praga. Não sei quantos milhares de criaturas são mortas todos os dias, mas o número é muito grande. Lembre que cada uma destas criaturas é uma entidade definida – não uma individualidade permanente e reencarnante como você ou eu, mas ainda uma entidade que tem sua vida no plano astral, e fica lá por um tempo considerável. Lembre que cada uma delas continua a despejar seu sentimento de indignação e horror diante de toda esta injustiça e tormento que foi infligido sobre ela. Perceba por você mesmo a terrível atmosfera que existe perto daqueles matadouros; lembre que um clarividente pode ver as vastas hostes das almas dos animais, que ele sabe quão fortes são seus sentimentos de horror e ressentimento, e como isso recai em todos os pontos sobre a raça humana. Agem principalmente sobre aqueles que são menos capazes de resistir-lhes – as crianças, que são mais delicadas e sensíveis que o adulto enrijecido. Aquela cidade é um lugar terrível para se criar os filhos – um lugar onde toda a atmosfera, tanto física como psíquica, está caregada com o cheiro de sangue e com tudo o que isso significa.

Há poucos dias li um artigo em que é explicado que o fedor nauseante que sobe dos matadouros de Chicago e se instala como um miasma fatal sobre a cidade, de modo nenhum é a pior das influências que provêm daquele inferno Cristão para animais, pois é o sopro da morte certa para o amor de muitas mães. Os matadouros criam não apenas focos de infecção para os corpos das crianças, mas também para suas almas. Não só as crianças são empregadas no trabalho mais cruel e revoltante, mas toda a linha de seus pensamentos é direcionada para o matar. Ocasionalmente se encontra alguma sensível demais para suportar as visões e sons daquela pavorosa batalha entre o desejo cruel do homem e o inalienável direito de toda criatura à sua prórpria vida. Eu li que um garoto, para quem um sacerdote havia conseguido uma colocação no matadouro, voltava dia após dia para casa pálido e doente e incapaz de comer ou dormir, e finalmente foi até o sacerdote do evangelho do compassivo Cristo e disse-lhe que preferia morrer de fome se necessário, mas que não poderia andar no meio de sangue por mais um dia. Os horrores da matança tinham-no afetado tanto que já não podia dormir. Mas isto é o que muitos meninos estão fazendo e vendo dia após dia até que se tornem insensíveis quanto a tirar uma vida; e então algum dia, em vez de cortar a garganta de uma ovelha ou de um porco ele mata um homem, e imediatamente voltamos contra ele nossa paixão pela matança, e imaginamos ter feito justiça. Eu li que uma jovem senhora que fazia muito trabalho filantrópico nas vizinhanças destes estabelecimentos infectos declara que o que mais a impressiona sobre as crianças é que elas parecem não ter outros jogos senão jogos de matar, que não têm concepção de alguma outra relação com os animais a não ser a relação do assassino com sua vítima. Esta é a educação que os chamados Cristãos estão dando às crianças do matadouro – uma educação diária no assassinato; e depois expressam surpresa diante do número e brutalidade dos assassínios naquele distrito. Mas seu público Cristão continua serenamente fazendo suas preces e cantando seus salmos e ouvindo aos seus sermões, como se nenhum ultraje estivesse sendo perpetrado contra os filhos de Deus naquele foco de pestilência e crime. Seguramente o hábito de comer carne morta produziu uma apatia moral entre nós. Imaginam que estão fazendo bem criando seus futuros cidadãos entre vizinhanças de tamanha brutalidade como estas? Mesmo no plano físico é um assunto terrivelmente sério, e do ponto de vista oculto é infelizmente muito mais sério; pois o ocultista vê o resultado psíquico de tudo isto, vê como estas forças estão agindo sobre o povo e como estão intensificando a brutalidade e a inescrupulosidade. Ele vê que centro de vício e crime foi criado, e como dali a infecção gradualmente se espalha até afetar todo o país, e mesmo o todo do que é chamado humanidade civilizada. O mundo está sendo afetado por isso de muitos modos que a maioria das pessoas sequer percebe. Há constantes sensações de terror inexplicável no ar. Muitas de suas crianças são desnecessária e inexplicavelmente medrosas; sentem terror não sabem do quê – medo do escuro ou de ficar sozinhas por uns poucos momentos. Estão atuando em nós forças poderosas que não podemos avaliar, e você não percebe que tudo isto vem do fato de que toda a atmosfera está carregada com a hostilidade destas criaturas assassinadas. Os estágios de evolução estão intimamente inter-relacionados, e você não pode promover a morte por atacado deste modo contra seus irmãos mais

novos sem sentir o efeito terrível entre suas próprias crianças. Certamente chegará um tempo melhor, quando estaremos livres desta horrível mancha sobre nossa civilização, esta gritante censura sobre sobre nossa compaixão e simpatia; e quando ele chegar descobriremos logo que haverá um vasto melhoramento nestes assuntos, e gradualmente todos subiremos para um nível superior e ficaremos livres de todos estes terrores e ódios instintivos. O TEMPO MELHOR QUE HÁ DE VIR Todos poderíamos ficar livres disso muito logo se os homens e mulheres apenas pensassem; pois o homem comum de qualquer maneira não é um bruto, mas seria bondoso se apenas soubesse como. Ele não pensa; ele segue adiante dia após dia, e não percebe que está tendo parte todo o tempo em um crime hediondo. Mas fatos são fatos, e não há escapatória para eles; cada um que tem parte nesta abominação está ajudando a tornar esta coisa ominosa possível, e sem dúvida divide a responsabilidade por ela. Você sabe que é assim, e você pode ver que coisa terrível é; mas você dirá: “O que podemos fazer para melhorar as coisas – nós que somos apenas pequenas unidades nesta poderosa massa em ebulição da humanidade?” É somente quando as unidades se elevarem acima da massa e se tornarem mais civilizadas que nós finalmente chegaremos a um grau mais elevado de civilização da raça como um todo. Está para chegar uma Idade Dourada, não só para o homem mas também para os reinos inferiores, uma idade em que a humanidade perceberá seus deveres para com seus irmãos mais jovens – não destruí-los, mas ajudá-los e treiná-los, não terror e ódio, mas amor e devoção e amizade e cooperação racional. Chegará uma época quando todas as forças da Natureza estrão atuando juntas inteligentemente em direção à meta final, não com constante desconfiança e hostilidade, mas com o reconhecimento universal daquela Fraternidade que é nossa porque somos todos filhos do mesmo Pai Todo-Poderoso. Façamos pelo menos a experiência; livremo-nos da cumplicidade nestes crimes hediondos, tentemos, cada um em seu pequeno círculo, trazer para mais perto o tempo luminoso de paz e amor que é o sonho e o mais ardente desejo de todo homem que pensa e que tem um verdadeiro coração. Pelo menos deveríamos seguramente desejar fazer uma coisa pequena como esta para ajudar o mundo andar adiante em direção àquele futuro glorioso; deveríamos nos fazer puros, nossos pensamentos e nossas ações assim como nossa comida, para que pelo exemplo e pelo ensinamento possamos estar fazendo tudo que está ao nosso alcance para difundir o evangelho do amor e da compaixão, e colocando um fim no reinado da brutalidade e do terror, trazendo para mais perto o alvorecer do grande reino da justiça e amor, quando a vontade de nosso Pai será feita na Terra assim como no Céu.

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Tradução de R. Frantz

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