variedades de cana estão devendo

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16 tecnologia agrícola José Luiz Ioriatte Demattê* Nos últimos 30 anos, tem-se obser- vado sensível evolução em todos os pontos de vista nas mais diversas áreas de abrangência da lavoura canavieira, tanto na parte agrícola como na indus- trial e nas demais. Isso vem ocorrendo não só nas regiões canavieiras tradi- cionais, mas também nos novos polos canavieiros espalhados pelo Brasil. Muitas são as áreas onde a evolução da tecnologia está ocorrendo, tais co- mo: a busca para uma maior eficiência no sistema de transporte; o aperfeiço- amento no corte mecanizado e, mais recentemente, no plantio mecanizado com uso de GPS; a busca por novas mo- léculas de inseticidas, de nematicidas e principalmente de herbicidas para as mais diversas condições climáticas; a consolidação do Plene; a busca por no- vas variedades mais promissoras em termos de rendimento agroindustrial e também na ênfase por materiais adap- tados às mais diversas condições de cli- ma severo. Na região nordestina, um dos pontos fundamentais na manutenção e segurança da cultura se refere à grande evol ução que tem si do observada nos mais diversos sistemas de irrigação, não somente a irrigação de salvação, mas a semiplena ou plena com pivots lineares ou circulares, assim como o sistema de gotejo, conhecimento este que tem sido repassado para os produtores do Centro- -Sul. Por outro lado, e como em qualquer cultura, principalmente na monocultu- ra, como é o caso da cana, uma série de fatores negativos tem contribuído contra o aumento da produtividade. Tais fato- res podem ser direcionados para as mais diversas áreas do conhecimento, como a

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Page 1: Variedades de cana estão devendo

16

tecnologia agrícola

José Luiz Ioriatte Demattê*

Nos últimos 30 anos, tem-se obser-

vado sensível evolução em todos os

pontos de vista nas mais diversas áreas

de abrangência da lavoura canavieira,

tanto na parte agrícola como na indus-

trial e nas demais. Isso vem ocorrendo

não só nas regiões canavieiras tradi-

cionais, mas também nos novos polos

canavieiros espalhados pelo Brasil.

Muitas são as áreas onde a evolução

da tecnologia está ocorrendo, tais co-

mo: a busca para uma maior eficiência

no sistema de transporte; o aperfeiço-

amento no corte mecanizado e, mais

recentemente, no plantio mecanizado

com uso de GPS; a busca por novas mo-

léculas de inseticidas, de nematicidas

e principalmente de herbicidas para as

mais diversas condições climáticas; a

consolidação do Plene; a busca por no-

vas variedades mais promissoras em

termos de rendimento agroindustrial e

também na ênfase por materiais adap-

tados às mais diversas condições de cli-

ma severo. Na região nordestina, um dos

pontos fundamentais na manutenção e

segurança da cultura se refere à grande

evolução que tem sido observada nos

mais diversos sistemas de irrigação, não

somente a irrigação de salvação, mas a

semiplena ou plena com pivots lineares

ou circulares, assim como o sistema de

gotejo, conhecimento este que tem sido

repassado para os produtores do Centro-

-Sul.

Por outro lado, e como em qualquer

cultura, principalmente na monocultu-

ra, como é o caso da cana, uma série de

fatores negativos tem contribuído contra

o aumento da produtividade. Tais fato-

res podem ser direcionados para as mais

diversas áreas do conhecimento, como a

Page 2: Variedades de cana estão devendo

tecnologia agrícola

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biológica, onde o aumento das pragas de

solos como o Sphenophorus, o Migdolus

e a Cigarrinha de Raiz tem sido observa-

do nas diversas regiões canavieiras. O

aumento do tráfego sobre os talhões de

cana, não somente devido ao aumento do

tamanho dos equipamentos, mas também

pelo aumento do peso dos equipamentos

por unidade de área, como o caso dos

transbordos, tem contribuído e muito pa-

ra alterações negativas nas propriedades

do solo, sejam elas físicas, químicas ou

biológicas. O sensível aumento da den-

sidade do solo devido a estas atividades

tem contribuído para a redução da taxa

de infiltração das águas, o aumento da

taxa de gás carbônico no subsolo e a re-

dução na velocidade das trocas gasosas

entre solo e atmosfera, causando sérios

problemas de nutrição, entre outros. As

operações mecanizadas, principalmente

de corte e carregamento, com os equi-

pamentos trafegando também sobre a li-

nha de cana, vêm danificando gemas e

causando abalo e arranquio de soquei-

ras, fazendo com que os esforços para o

aumento da produtividade dos canaviais

sejam infrutíferos.

Redução de produtividade devido ao

corte mecanizado comparado com o ma-

nual já é de conhecimento de longa da-

ta por muitos usuários do sistema e tem

sido da ordem de 6 a 8 t/ha por corte em

testes feitos na Usina da Barra ainda no

final da década de 90. Em regiões mais

frias, como o Sudoeste de São Paulo e

o Mato Grosso do Sul, a associação do

corte mecanizado e a presença da palha

tem contribuído e muito para a redução

da produtividade. A temperatura mínima

do solo sob palha no período de junho e

julho nestas regiões tem ficado abaixo

dos 18ºC, o que restringe ou impede a

absorção de nutrientes e da água assim

como retarda a brotação das soqueiras,

favorecendo em muito a ação nefasta da

geada. Em testes feitos na Usina Santa

Cruz, em Araraquara, região central do

Estado de São Paulo, na safra 2010/2011,

demonstrou-se que, em solo arenoso com

palha em área total, a perda de produti-

vidade entre primeiro e segundo cortes

foi de 11 t/ha na RB 86 7515.

A diminuição destes fatores negati-

vos tem sido buscada nas mais diversas

áreas do conhecimento, como no caso da

palha, através de práticas de manejo, co-

mo a remoção parcial da palha do talhão

de cana ou simplesmente o aleiramento

da mesma. No caso do corte mecaniza-

do, a busca pelo ajuste de espaçamento

para permitir a canteirização tem sido

prioritária.

Page 3: Variedades de cana estão devendo

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tecnologia agrícola

A necessidade de um maior conheci-

mento da ação climática na produtivida-

de da cana - Tendo em vista tudo o que

foi citado, há que se levar em considera-

ção primeiramente a influência do clima

na produtividade agrícola nos diversos

estágios de desenvolvimento da cultura,

tanto em cana planta como em soqueira,

principalmente nas atuais alterações cli-

máticas que se acham em curso. O setor

sucroenergético estaria preparado em ter-

mos de conhecimento nesta área como,

por exemplo, na estimativa da quantida-

de de cana? Apenas citando um exemplo

relacionado aos desencontros desta área,

lembro os grandes percentuais de erro na

estimativa da quantidade de cana para o

inicio da safra 2009/2010. Valores de 5%

8%, 10%, 15% e até 17% de erro na esti-

mativa no período de abril e maio foram

comuns. Nas regiões de Jaú, Piracicaba e

Ipaussu, de acordo com o Controle Mútuo

do CTC, ocorreram as maiores reduções

na avaliação da produtividade da cana

própria das usinas e também da de for-

necedores. Na região de Ribeirão Preto e

no Noroeste de São Paulo também acon-

teceram erros na estimativa, porém em

menor percentual.

Não me lembro nestes últimos 30 anos

de erros desta grandeza. Normalmente

erros de estimativa de 1% a 2% para o

início de safra são admissíveis, porém

não na grandeza da dimensão observada.

Usinas que se utilizam de outros meca-

nismos de estimativa como refletância

foliar, biometria e levantamento da bio-

massa, dentre outros, também erraram. A

questão que ficou pendente na ocasião foi

a seguinte: qual foi o fator climático que

permitiu, naquela ocasião, que o cana-

vial estivesse com aparência de elevada

produtividade?

A cana estava fina, com internódios

alongados e de pouco peso, vindo daí os

erros. Os órgãos de pesquisa e desenvol-

vimento da cultura deram explicação pa-

ra o fenômeno? A radiação fotossintetica-

mente ativa teria alguma influência nesta

quebra? A radiação foliar, como deve ser

entendida, mede a energia refletida pe-

la massa de cana, mas não mede o peso,

processo este que pode induzir a erros,

que foi o que justamente ocorreu.

Como se observa, são questionamen-

tos que deveriam ser esclarecidos para

que os usuários não incorressem nas es-

timativas futuras em novos erros de ava-

liação. Sem tais conhecimentos o siste-

ma dos “técnicos de plantão“, tão comum

atualmente, tem levado o setor ao des-

crédito nesta área. Apenas para citar um

exemplo: na tentativa de explicar o ocor-

rido, foi formulada por um conceitua-

do órgão de pesquisa a possibilidade do

empobrecimento da fertilidade dos solos

devido ao excesso de chuvas, explicação

esta sem nenhum fundamento,

Trabalhos como os de Ide e Banchi

(1984), de Ometto (1978), de Ide (1988) e

Brunini et al. (2006) já tentavam encon-

trar parâmetros climáticos para avaliar

adequadamente as estimativas de quanti-

dade de cana. Posteriormente simulações

têm sido feitas nesta área, entretanto os

esquemas e resultados não têm apresen-

tado a adequada segurança. Faltam estu-

dos e pesquisas.

Page 4: Variedades de cana estão devendo

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Page 5: Variedades de cana estão devendo

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tecnologia agrícola

Por outro lado, as quebras generali-

zadas na quantidade de cana na Região

Centro-Sul da safra 2011/2012, com valo-

res de redução na faixa de 8% a até 21%,

têm sido atribuídas a diversos fatores

além do clima, como a não reforma dos

canaviais, o envelhecimento do canavial

e a redução de investimentos na lavou-

ra, dentre outros. De qualquer maneira

é necessário entender que muitas usinas

não deixaram de reformar o canavial e de

investir em tecnologia e, mesmo assim,

tiveram sensível queda de produtivida-

de, acompanhando a redução geral. As

novas usinas e destilarias com um cana-

vial jovem ainda, de dois a três cortes,

tiveram também acentuadas quebras na

produtividade como na região do Brasil

Central, Goiás e Mato Grosso principal-

mente. A produtividade de São Paulo da

cana de ano e meio foi de 102 t/ha nesta

safra atual contra 120 t/ha em 2010/2011

e 118 t/ha em 2009 (Consulcana, 2011).

Fica ilustrado nestes exemplos, portan-

to, que o fator principal na redução da

produtividade foi o clima e, sendo assim,

viria o seguinte questionamento: qual foi

o fator climático que governou esta redu-

ção? Somente a falta de chuva no período

de crescimento? A distribuição irregular

das chuvas? O aumento da temperatura

e, em consequência, o aumento da evapo-

transpiração? Os veranicos?

O nosso conhecimento atualmente na

maioria das regiões canavieiras se limi-

ta a examinar a precipitação mensal, a

quantidade de chuvas no ano, os balanços

hídricos e os déficits hídricos nas diver-

sas categorias de soca e cana planta. Mas

qual tem sido, por exemplo, o impacto

na produtividade de um déficit hídrico

no período de máximo crescimento do

canavial, ou seja, de outubro a abril na

região Centro-Sul?

Sem o adequado conhecimento das

ações climáticas na cultura da cana-de-

-açúcar, os demais programas como o de

nutrição, o de pragas e mesmo o programa

de desenvolvimento varietal não podem

estar indo numa direção inadequada?

A QUESTÃO VARIETALDesde a década de 70 que os progra-

mas de desenvolvimento de variedades nos

mais diversos órgãos de pesquisa como Co-

persucar, Planalsucar e IAC na ocasião, e

atualmente CTC, Ridesa, IAC e CV têm si-

do alicerces na obtenção de novos clones

e variedades com o objetivo de aumentar a

produtividade tanto agrícola como indus-

trial. Ano após ano os órgãos citados tem

liberado uma série de novas variedades,

material este apresentado em muitas reu-

niões técnicas nas mais diversas regiões

do Brasil.

Apesar de todo o esforço feito por estes

órgãos de pesquisa de um lado e o manejo

agronômico de outro, através das usinas e

destilarias, qual tem sido o resultado final

em termos de aumento da qualidade tec-

nológica da cana?

Para esta resposta foram utilizados os

dados obtidos por Magela (2011) em tra-

balho de longo alcance desde 1984 até

2010/2011. O objetivo, de acordo com as

palavras do autor, “foi o de verificar o ga-

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21

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22

tecnologia agrícola

nho tecnológico obtido com a introdução

de novas variedades ao longo deste perío-

do, a partir dos dados obtidos via análise

da cana de fornecedores para fins de paga-

mento da matéria-prima. Para tanto, foram

utilizados os dados de qualidade tecnoló-

gicas da cana-de-açúcar desde a implanta-

ção do Sistema de Pagamento de Cana pelo

Teor de Sacarose e Pureza”. Os cálculos fo-

ram feitos com base nas equações inseridas

no Manual do Consecana, edição de 2005.

Os resultados obtidos da Pol da cana

por Magela (2011) estão resumidos na Ta-

bela 1 e foram separados por períodos, a

saber: primeiro período de 1984 a 2000,

com 548 milhões de t de cana; segundo

período de 2001 a 2008, com 524 milhões

de t de cana; terceiro período em 2009 com

118 milhões de t; e, finalmente, em 2010

com 105 milhões de t de cana. O período

de safra de 2012 foi complementado pelos

valores obtidos pela Consulcana (outubro

de 2012).

Através dos resultados da Tabela 1, no-

ta-se que, no período de 1984 a 2000, a mé-

dia da Pol foi de 14,8% contra 15% nas sa-

fras de 2001 a 2008, representando apenas

acréscimo de 0,8% na média dos períodos

analisados, valores estes de pouca expres-

são se se levar em consideração a quanti-

dade de material novo introduzido na oca-

sião. Paralelamente, o comportamento do

ATR de acordo com o autor é praticamente

igual ao da Pol da cana neste período, com

146,6 kg/t entre 1984 e 2000 contra 147,9

kg/t no período de 2001 a 2008, com média

de acréscimo nos mesmos 0,8%. Na safra

2009/2010 a Pol da cana foi inferior aos

períodos anteriores em todos os meses de

safra, com média de 13,3%, motivado pelas

condições climáticas muito úmidas no pe-

ríodo de safra. Na safra 2010/11, uma safra

seca, o valor médio da Pol da cana foi de

14,5%, inferior ainda ao período de 2001 a

2008, com média de Pol da cana de 15%, e

também continuando mais baixo do que no

período de 1984 a 2000, cujo valor médio

da Pol da cana foi de 14,8%.

Na safra 2011/12, safra em período tam-

bém seco, o valor médio da Pol da cana

foi de 13,4%, inferior ainda ao da safra

2010/11.

Examinando-se os valores da Pol da

cana em relação aos períodos estudados

(conforme Tabela 1), nota-se que o com-

portamento dos dados é semelhante em

relação à distribuição dos valores ao longo

da safra, ou seja, crescente até o segundo

período de setembro para decrescer em se-

guida. Aumentos ou reduções do formato

da curva (Figura 1) se devem às oscilações

climáticas, curvas mais baixas para safras

úmidas e curvas mais acentuadas para sa-

fras mais secas.

Apesar da introdução de novas varie-

dades precoces e o uso de maturadores,

observa-se que os valores da Pol da cana

até 2000, no período de abril a maio, têm

sido superiores aos valores obtidos a par-

tir da safra de 2001. De acordo com Mage-

la (2011), no período de 1984 a 2010 não

se observou qualquer ganho em termos de

qualidade da matéria-prima expressa em

Pol da cana ou em kg de ATR por tonelada

de cana. Ainda de acordo com aquele autor,

as pequenas ou grandes diferenças cons-

tatadas neste trabalho foram mais devidas

ao clima do que a outros fatores, princi-

palmente novas variedades, considerações

estas nas quais estamos de acordo.

Vem daí o questionamento: as duas úl-

timas safras de 2010/2011 e 2011/2012 fo-

ram secas e, mesmo assim, a Pol da cana

foi baixa em relação aos últimos 25 anos.

Qual seria a razão climática que estaria aí

agindo para permitir o desempenho desta

característica bem aquém do esperado? Ou,

em outras palavras, onde a variação climá-

tica tem agido na fisiologia da planta para

ocasionar tais resultados?

PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA A Tabela 2, extraída do trabalho do CTC

(2011), resume a produtividade agrícola no

período de 1988 a 2011. De acordo com es-

tes dados, e separando por períodos, obser-

va-se que no período de 10 anos que vai de

1988 a 1999, a produtividade agrícola foi

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tecnologia agrícola

de 81,5 t/ha, oscilando entre 78 e 95 t/ha.

Já no período de 2000 a 2011 a produtivi-

dade agrícola na média foi a mesma, com

81 t/ha, porém com os valores extremos

inferiores ao período anterior, no caso de

70 a 88 t/ha.

Apesar de todos os esforços feitos neste

período, como a introdução de novas va-

riedades, melhores ajustes na área de fer-

tilidade do solo, na obtenção e introdução

de sistemas de manejo para os Ambientes

de Produção, a produtividade média tem

ficado na faixa de 81 t/ha. Casos de sen-

sível redução, como na safra 1999/2000,

com 70 t/ha, se deveram à grande crise da

época. Atualmente, na safra 2011/2012, a

produtividade ficou extremamente baixa.

A alegação citada pelos órgãos de divul-

gação assim como nas reuniões técnicas

de que a queda da produtividade estaria

também ligada, além das condições climá-

ticas, à falta de reforma e de investimento

no setor deve ser analisada com cuidado,

como foi feito anteriormente.

Portanto, o clima mais uma vez, asso-

ciado com os demais fatores de redução

como, por exemplo, o corte mecanizado

e a palha, tem sido o principal causador

dos tropeços da produtividade na cultura

da cana.

Usando os dados da Pol da cana obtido

por Magela (2011) e os de produtividade

da Tabela 2, obteve-se a quantidade de to-

nelada de Pol/ha (Tabela 3). Observe que

a tonelada de Pol/ha permaneceu na faixa

de 12,1 t/ha até a safra 2000 e subiu para

o valor de 12,2 t/ha no período de 2001 a

2008. Assim, em todo este espaço de tempo

o valor médio permaneceu praticamente

o mesmo, ou seja, em 12 t/ha. De 2009 a

2010, a queda neste valor foi acentuada,

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24

tecnologia agrícola

para 10,8 t/ha, ou seja, 11,4% a menos.

Já na safra passada o valor foi de 9,6 t/ha

(11,1% a menos de t Pol/ha), apesar da in-

trodução de novas variedades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi observado ao longo dos últi-

mos 28 anos através dos resultados obtidos

da Pol da cana por Magela (2011), notou-

-se que, em relação à media desta carac-

terística nos diversos períodos analisados,

não houve ganho. Por outro lado, quando

se leva em consideração a quantidade de

cana por unidade de área (CTC, 2011, e

Consulcana, 2011) não houve evolução no

rendimento agrícola, permanecendo um

valor médio nos dois períodos de dez anos

de estudo de 81 t/ha. Finalmente, quando

se mediu a t/Pol/ha nos dois períodos ana-

lisados, verificou-se que houve redução

do índice.

Apesar de todos os esforços relaciona-

dos à introdução de novas variedades e

novas tecnologias, bem como a ênfase na

segurança varietal, não está havendo ga-

nho nos parâmetros analisados.

Uma das razões pelas quais usinas e

destilarias insistem ainda em manter em

seu plantel, inclusive considerando suas

intenções de plantio, variedades da década

de 80, não deixa de ser sintomático, prin-

cipalmente em regiões de déficits hídricos

mais acentuados ou de solos de baixa fer-

tilidade. Não seria este um motivo pelo

qual tais variedades tem apresentado uma

adequada segurança varietal em relação

às novas à disposição dos usuários, como

o insucesso ocorrido com a RB 92 5211, a

SP 91 1115 e a CTC 8, somente para citar

algumas?

Através dos dados da Tabela 4 (Cha-

pola et al., 2010), nota-se que 75% das in-

tenções de plantio concentram-se nas va-

riedades desenvolvidas na década de 80,

com destaque para a RB 86 7515 e a SP 81

3250. Assim, a partir de 1990 praticamente

poucas variedades têm dado a segurança

desejada, sendo citadas a RB 92 579, vin-

do do Nordeste, e a RB 96 6928, varieda-

de precoce vinda do Paraná e ocupando

já a sexta posição na intenção de plantio

no Centro-Sul. Por outro lado, o que tem

levado algumas usinas a fazer tratamento

térmico em variedades semi-abandonadas

e que estão sendo recuperadas, como a RB

82 5336?

Um dos pontos fundamentais neste as-

pecto está no fato de que, com o aumento

do corte mecanizado, com todos os seus

benefícios de um lado e as injúrias ao sis-

tema produtivo de outro, já por si houve

sensível redução na escolha das varieda-

des. Outro fator de peso neste assunto se

deve à proliferação de doenças nas novas

variedades, o que tem reduzido a vida

útil assim como a segurança em levar a

frente o seu plantio. Finalmente, a gran-

de expansão da lavoura canavieira está

sendo feita em solos de baixa fertilidade

e em condições climáticas praticamente

marginais. Para tal caso, o número de va-

riedades novas está restrito, fazendo com

que o usuário opte pelas variedades da

década de 80, como foi enfatizado.

Os dados aqui apresentados as-

sim como as considerações feitas têm

como principal objetivo o de aler-

tar os órgãos competentes não somen-

te na área de melhoramento, mas tam-

bém nas áreas de climatologia e de

fisiologia, para levarem em considera-

ção os fatores aqui enumerados.

1. Centro de Tecnologia Canavieira CTC. O pla-nejamento varietal e a sustentabilidade do se-tor sucroenergético. STAB, vol. 30, no 1; 2011.

2. Chapola, R.G.; Hoffmann, H.P.; Bassinello A,I,. et al. Censo varietal de cana de açúcar de 2009 dos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, STAB, Vol 28 no 4; 2010.

3. Termômetro da safra. Outubro 2011. Consulca-na. Revista IDEANews

4. Majela, Geraldo. Evolução da qualidade tecno-lógica da cana-de- açúcar no período de 1984 a 2010. STAB, vol 29, no 3; 2011.

-dutividade da cana-de-açúcar. In: II Seminário de Tecnologia Agronômica. Centro de Tecnolo-gia Copersucar. 1984. Piracicaba.

6. Ometto, J.C. A equation for estimation of agro--industrial sugarcane yield in the Piracicaba re-gion. In: ISSCT Congress, 16. São Paulo, 1977.

7. Ide, B. Agrometeorologia. In: IV Seminário de Tecnologia Agronômica. Centro de Tecnologia Copersucar. 1988. Piracicaba.

8. Brunini, O.; Anunciação, M.Y.T.; Fortes, L.; Abra-mides, P.G.; Carvalho, J.P. Copping strategies with agrometeorological risks and incertainties for drought – Example in Brasil. In: Internatio-nal workshop on agrometeorological risk ma-nagement, challenges and opportunities. New Delhi, 2006.

*José Luiz Ioriatte Demattê é professor aposen-tado do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP e consultor de diversas usinas