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FERNANDO ROBERTO GUILHERME SILVEIRA VARIAÇÃO DIÁRIA E ANUAL DE FREQÜÊNCIA E ATIVIDADE DO BOTO CINZA Sotalia guianensis, EM PIPA, NORDESTE DO BRASIL Natal/RN 2006

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i

FERNANDO ROBERTO GUILHERME SILVEIRA

VARIAÇÃO DIÁRIA E ANUAL DE FREQÜÊNCIA E ATIVIDADE DO

BOTO CINZA Sotalia guianensis, EM PIPA, NORDESTE DO BRASIL

Natal/RN

2006

ii

FERNANDO ROBERTO GUILHERME SILVEIRA

VARIAÇÃO DIÁRIA E ANUAL DE FREQÜÊNCIA E ATIVIDADE DO

BOTO CINZA Sotalia guianensis, EM PIPA, NORDESTE DO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Psicobiologia do

Departamento de Fisiologia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Como parte dos

requisitos para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Flávio José de Lima Silva

Natal/RN

2006

iii

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Silveira, Fernando Roberto Guilherme. Variação diária e anual de freqüência e atividade do Boto Cinza Sotalia guianensis em Pipa, Nordeste do Brasil

/ Fernando Roberto Guilherme Silveira. – Natal, RN, 2006.

69 f

Orientador : Flávio José de Lima Silva.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Departamento de Fisiologia.

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Comportamento animal – Dissertação. 2. Boto Cinza (Sotalia guianensis) -

Dissertação. 3. Variação diária - Dissertação. 4. Sazonalidade – Dissertação. I. Silva, Flávio

José de Lima. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 591.5 (043.3)

v

A minha filha Rafaela, razão pela

qual eu tenho perseverado.

vi

AGRADECIMENTOS

Todo mundo tem um modo diferente e particular de ver a vida. Entre os

vários modos como poderia defini-la, diria que é uma espiral, cujo círculo

superior é sempre maior que o inferior. Cada um deles representa uma

experiência, um relacionamento, uma etapa, um momento em nossas vidas que

marca de forma positiva ou não para o resto da eternidade. Assim vejo estes

últimos dois anos. Como etapas de uma espiral, que compõe o que sou. Ao

longo do período que passei no Centro de Biociências, adquiri um pouco mais.

Conheci colegas, professores e funcionários, uns mais afins que outros. Passei

bons momentos e outros nem tanto. O conhecimento e a experiência foram

conquistados com sacrifício, determinação, amor, responsabilidade,

simplicidade, humildade, admiração, respeito e confiança. Alguns destes valores

nasceram comigo. Outros, adquiri convivendo. Essa espiral não se expandiria,

não fosse a colaboração de todos com quem convivi, sejam de forma agradável

ou não. Desta forma o que sou devo a muitos.

A DEUS, “inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”, onde fui

sorver amor, caridade, simplicidade e humildade e que me abençoou com outras

tantas.

A minha filha Rafaela, razão pela qual eu tenho perseverado.

A minha Família, que mesmo sem saber é meu sustentáculo emocional.

As Famílias Vianna e Soares, cujo apoio emocional, financeiro e fraterno,

permitiu-me chegar até aqui, mas que antes de tudo, são pessoas com quem

contei e poderei contar sempre. Amigos de todas as horas, cujo valor é

inestimável.

As Famílias Guilherme, Custódio, Menezes.

Ao meu Orientador Profº. Dr. Flávio José de Lima Silva, que na prática,

discutiu estes dados e orientando-me ajudou-me a delinear este trabalho, mas

acima de tudo mostrou-se um amigo também inestimável

A todos os Professores que contribuíram para com a minha formação como

biólogo e mestre e aqueles que de forma indireta também o fizeram.

vii

A todo aquele funcionário que se dispôs a realizar suas dignas funções e com

isto facilitaram a minha vida e de todos aqueles que ainda se encontram dentro

do processo.

A todos os colegas da Base de Pesquisa com Cetáceos, que me ensinaram a

vê-los e compreendê-los em seu ambiente natural; e cederam os dados que

culminaram neste trabalho.

A todos os camaradas que conheci nas salas de aula e nos corredores do

Biociências, ao longo destes anos de mestrado.

A todos os camaradas de outras Bases de Pesquisa e Laboratórios que

contribuíram com este trabalho.

Ao amigo e Professor Gilson Volpato. O tenho na mais alta estima, pois me

mostrou o caminho de uma boa redação.

Certamente é difícil nomear à todos com quem convivemos até porque

alguns convívios são passageiros e sutis, mas não menos importantes, uma vez

que as experiências ficam ao passo que as lembranças, por vezes se perdem na

memória. De qualquer forma, sou graças a eles.

Não poderia deixar de mencionar ainda, o apoio financeiro dado pela CAPES,

cujos resultados são as duas publicações contidas neste trabalho; ao Programa

de Pós-Graduação do Departamento de Fisiologia do Centro de Biociências e a

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN na forma da Instituição.

viii

RESUMO

Neste estudo avaliamos a variação diária e anual na freqüência de adultos e

imaturos e nos comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio

numa população de boto cinza, Sotalia guianensis, na Enseada do Curral

(6º13’00”S; 35º3’36”W), no nordeste brasileiro. Após detectarmos algumas

variações procuramos associá-las a parâmetros ambientais. Associamos as

variações diárias ao período do dia, às variações da maré e ao período do ano;

e as sazonais, a variação do fotoperíodo e da precipitação. De Outubro de 1999

a Setembro de 2003, através de coletas quatro vezes ao mês, efetuaram-se

registros instantâneos a cada 5min, em seis horas de observação. As horas de

observação estiveram inseridas dentro da fase clara das 24 horas, ou seja, no

intervalo das 06:00 h as 17:00 h. Essas observações eram realizadas

simultaneamente por dois observadores, num ponto fixo no alto da falésia a

partir do qual visualizava-se toda a enseada. Observamos que os animais são

mais ativos e freqüentes pela manhã. Não apresentaram associação com a

maré, apesar de apresentarem maior atividade na maré baixa e menor atividade

na maré alta. Quanto à sazonalidade, observamos ainda, que no período de

junho a novembro (inverno e primavera) houve maior freqüência dos

comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio embora o número

de indivíduos (adultos e imaturos) não tenha variado significativamente ao longo

do ano. A maior concentração desses comportamentos não foi associada ao

fotoperíodo e nem à precipitação na região. Desses resultados, mostramos a

existência de variação diária e sazonalidade comportamental nesta espécie,

mesmo nas regiões equatoriais.

ix

ABSTRACT

The aim of this study was to investigate the daily and annual variation in

frequency and in activity of an estuarine dolphin population, Sotalia guianensis,

in Brazilian northeastern. Thus we estimated the daily variation and seasonality

in frequency of adult and immature and in behavior of socialization, aerial activity,

foraging of a boto equatorial population in the Curral inlet (6º13’00”S; 35º3’36”W).

We detect some variation. Thus we associate the daily variation with daily period,

tide fluctuation and annual season. And the seasonality variation we associate

with the fotoperíodo and precipitation variation. From October 1999 to September

2003, through collect four times at month, we made instantaneous record at each

five minute in six hours of survey. The surveys hours were ranged into light time

of 24 hours, that is, between 06:00 and 17:00 o clock. These observations were

developed simultaneous for two observers in a land-based survey at coastline

cliff top of which observer have a fully visualization of whole inlet. We found that

animals were more active and frequent during the morning. They were more

active during low tide than high tide. However they did not show association with

tide. We found yet that in a period from June to November (winter-spring) there

was the highest socialization, aerial activity and foraging frequency. However

adult and immature individual number did not have significance variation along

the year. The larger concentration of this behaviors were not associate with

photoperiod neither precipitation in the region. These results showed the

existence of behavioral daily variation and seasonality in a species that live in

equatorial region.

iv

Título: Variação diária e anual de freqüência e atividade do boto cinza

Sotalia guianensis, em pipa, nordeste do brasil.

Autor: Fernando Roberto Guilherme Silveira

Data da Defesa: 22 de maio de 2006.

Banca Examinadora:

1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................... 2

ARTIGO 1.......................................................................................................... 5

ARTIGO 2........................................................................................................ 29

DISCUSSÃO GERAL...................................................................................... 57

CONCLUSÃO GERAL.................................................................................... 60

LITERATURA CITADA (INTRODUÇÃO E DISCUSSÃO GERAIS) .............. 60

ANEXOS.......................................................................................................... 63

ANEXO 1: Normas de Publicação – Canadian Journal Zoology .............................. 64

2

INTRODUÇÃO GERAL

Os organismos vivos, em geral, apresentam variações no seu repertório

comportamental ao longo do dia e em épocas distintas do ano como forma de

ajuste às oscilações das condições ambientais e climáticas dos locais onde

habitam. Desta maneira, essas oscilações climáticas interferem na expressão de

comportamentos como forrageio, socialização, reprodução, repouso entre

outros.

É possível observar, que mamíferos aquáticos geralmente, mantêm uma

estreita associação com algum fator ambiental (disponibilidade de recursos,

estabilidade ambiental, temperatura da água, estação do ano, etc.), quando se

trata de adquirir seu alimento (Similä et al. 1996; Urian et al. 1996; Baird 2000;

Claphan 2000; Iñíguez 2001).

Mamíferos aquáticos como os misticetos da ordem cetácea possuem uma

área de uso extensa e antecipam-se ao inverno. Estes animais migram das

áreas de alimentação (altas latitudes), para as áreas de acasalamento e

procriação (baixas latitudes) (Claphan et al. 1993; Claphan 2000).

Os odontocetos, animais menores do que os misticetos possuem uma

notável plasticidade, ajustando seus comportamentos aos ciclos geofísicos. As

orcas, Orcinus orca, por exemplo, podem pertencer tanto a grupos que migram

(transeuntes), quanto a grupos que não migram (as residentes) (Baird 2000).

Populações diferentes desse mesmo animal deslocam-se sazonalmente entre

norte e sul, seguindo suas presas, seja na Noruega na migração do arenque

(Similä et al. 1996), seja na Patagônia no período reprodutivo dos leões e

elefantes marinhos (Iñíguez 2001).

O golfinho nariz de garrafa, Turciops truncatus, um dos mamíferos

aquáticos mais versáteis a quaisquer tipos de ambientes e adversidades, possui

uma grande capacidade de sincronização às condições ambientais locais. Essa

adaptação exerce uma forte influência sazonal no ciclo reprodutivo em

populações no Golfo do México (Urian et al. 1996).

Este ajuste de comportamentos devido às variações diárias e anuais do

ambiente está presente como importante ferramenta de adaptação seletiva, em

todas as espécies, inclusive mamíferos aquáticos entre eles os cetáceos.

3

Esta flutuação comportamental é mais observada geralmente em populações

que habitam as altas latitudes (Read 1990; Similä et al. 1996; Wilson et al. 1997;

Larkman e Veit 1998; Wood 1998; Hindell et al. 2003; Thayer et al. 2003).

Embora seja freqüente considerar que as condições climáticas ou fatores

ambientais sejam sutis ou irrelevantes para influenciar a flutuação dos

comportamentos de populações nas regiões tropicais e equatoriais, estudos

anteriores têm indicado possíveis alterações do comportamento reprodutivo em

cetáceos decorrentes de variações de fotoperíodo e precipitação entre outros

fatores (Urian et al. 1996; Santos et al. 2001; Rosas e Monteiro-Filho 2002;

Pastor e Aguilar 2003).

Para o Sotalia guianensis, segundo Geise et al. (1999), os animais em

Cananéia, São Paulo, apresentam uma flutuação diária, sendo o número de

indivíduos associado ao momento do dia cuja disponibilidade de alimento é

maior; e o tamanho dos grupos varia conforme a atividade realizada. Segundo

as autoras, não foi verificado sazonalidade no período reprodutivo e no

deslocamento da população, levando a crer que apresentam um padrão difuso

de ocorrência e reproduzem-se durante o ano todo. No estudo de Lodi (2003)

em Paraty, Rio de Janeiro, ela verificou a permanência destes animais em

determinado habitat o ano todo devido à disponibilidade de recursos; proteção

contra predadores; diversidade de nichos; águas rasas, protegidas e quentes.

O presente trabalho teve como objetivo verificar a flutuação diária e a

sazonalidade no comportamento de uma população equatorial de cetáceo.

Deste modo investigamos a freqüência dos indivíduos (adultos e imaturos) e os

comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio em uma população

de boto cinza, S. guianensis, no nordeste do Brasil. Também verificamos o efeito

de parâmetros ambientais, particularmente o fotoperíodo a precipitação e a

variação da maré, sobre a expressão dos comportamentos desses animais.

4

Objetivos Específicos:

1º) Identificar uma possível sazonalidade na freqüência de indivíduos e nos

comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio em uma população

de boto cinza, Sotalia guianensis, no nordeste do Brasil (Artigo 1);

2º) Verificar o efeito dos parâmetros ambientais fotoperíodo e precipitação,

na expressão dos comportamentos desses animais (Artigo 1);

3º) Investigar a existência de variação diária nos comportamentos de

socialização, atividade aérea, forrageio e na freqüência de indivíduos de uma

população de boto cinza, Sotalia guianensis, no nordeste Brasileiro (Artigo 2);

4º) Investigar a influência dos parâmetros ambientais, período do dia e

variação da maré na expressão desses comportamentos (Artigo 2).

5

ARTIGO 1

BEHAVIORAL SEASONALITY OF THE ESTUARINE DOLPHIN, Sotalia

guianensis, IN NORTHEASTERN BRAZIL

Silveira, F.R.G.1 and Silva, F.J.L.2

1 Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Central – Natal, RN,

Brazil. E-mail: [email protected] 2 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Rio Grande

do Norte, Avenida Antônio de Campos, s/n. CEP: 59600-970. Mossoró, RN,

Brazil.

e-mail:[email protected]. Fax: ++ 55 84 3315-2235.

www.golfinhorotador.org.br

A SER SUBMETIDO AO

CANADIAN JOURNAL OF ZOOLOGY

(INSTRUÇÕES PARA AUTORES – ANEXO)

1

Behavioral seasonality of the estuarine dolphin, Sotalia guianensis, in

Northeastern Brazil

Silveira, F.R.G.

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Central – Natal, RN, Brazil. E-

mail: [email protected]

Silva, F.J.L.

Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Rio Grande do

Norte, Avenida Antônio de Campos, s/n. CEP: 59600-970. Mossoró, RN, Brazil. e-

mail:[email protected]. Fax: ++ 55 84 3315-2235.

www.golfinhorotador.org.br

Editor: please send correspondence to Silveira F.R.G.

Key words: Delphinidae, boto, estuarine dolphin, Sotalia guianensis, seasonal,

behavior fluctuation, circannual.

"This paper has not been submitted elsewhere in identical or similar form, nor

will it be during the first three months after its submission."

2

RESUMO

Neste estudo avaliamos a sazonalidade na freqüência de indivíduos e nos

comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio numa população de boto

cinza, Sotalia guianensis, na Enseada do Curral (6º13’00”S; 35º3’36”W), no nordeste

brasileiro. Após detectarmos algumas variações sazonais, procuramos associá-las com

variações de fotoperíodo e precipitação. De Outubro de 1999 a Setembro de 2003, por

meio de coletas mensais (4 por mês) com registros instantâneos realizada a cada 5 min

ao longo de seis horas, no período claro do dia, das 06:00 h às 17:00 h. As

observações eram realizadas simultaneamente por dois observadores, num ponto fixo

no alto da falésia a partir do qual visualizava-se toda a enseada. Observamos que no

período de junho a novembro (inverno e primavera) houve maior freqüência dos

comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio embora o número de

indivíduos não tenha variado significativamente ao longo do ano. A maior concentração

desses comportamentos não foi associada ao fotoperíodo e nem à precipitação na

região. Desses resultados, mostramos a existência de sazonalidade comportamental

nesta espécie, mesmo nas regiões equatoriais.

3

INTRODUÇÃO

Os organismos vivos, em geral, apresentam variações de comportamento ao longo

do ano como forma de ajuste às oscilações sazonais das condições ambientais e

climáticas dos locais onde habitavam. Desta maneira, as condições ambientais e

climáticas em épocas distintas do ano interferem na expressão de diferentes categorias

de comportamentos. Este ajuste de comportamentos a determinada época do ano

devido às condições climáticas que se estabelecem em cada estação, está presente

como importante ferramenta de adaptação seletiva, em todas as espécies, inclusive

mamíferos aquáticos e em especial entre os cetáceos.

Entre os cetáceos a sazonalidade nos comportamentos é observada em populações

que habitam as altas latitudes (Read 1990; Boyd et al. 1994; Similä et al. 1996; Wilson

et al. 1997; Larkman and Veit 1998; Wood 1998; Hindell et al. 2003; Thayer et al.

2003). Embora seja freqüente considerar que as condições climáticas ou fatores

ambientais são sutis ou irrelevantes para influenciar a flutuação dos comportamentos

de populações nas regiões tropicais e equatoriais, estudos anteriores indicam possíveis

alterações do comportamento reprodutivo em cetáceos decorrentes de variações de

fotoperíodo e pluviosidade (Urian et al. 1996; Santos et al. 2001; Rosas and Monteiro-

Filho 2002; Pastor and Aguilar 2003).

O presente trabalho teve como objetivo verificar a sazonalidade no

comportamento de indivíduos de uma população equatorial de cetáceo. Deste

modo investigamos a freqüência dos indivíduos e dos comportamentos de

socialização, atividade aérea e forrageio em uma população de boto cinza, S.

guianensis, na enseada do Curral, distrito de Pipa, nordeste do Brasil. Também

verificamos o efeito de parâmetros ambientais, particularmente o fotoperíodo e a

precipitação, sobre a expressão dos comportamentos desses animais. Usamos o

4

Fotoperíodo e a Precipitação, por considerarmos estes dois fatores ambientais de

extrema importância na expressão dos comportamentos nesta latitude.

MATERIAL E MÉTODOS

Espécie e área de estudo

Investigamos o boto cinza, que na nomenclatura de Monteiro–Filho et al. (2002) e

Cunha et al. (2005) chama-se Sotalia guianensis van Bénéden 1864 (Cetacea,

Delphinidae). Essa espécie possui distribuição restrita entre a Lagoa de Waunte,

Nicarágua ao norte e a Baía Norte, no Estado de Santa Catarina, Brasil ao sul (da Silva

and Best 1996).

Este estudo restringiu-se aos indivíduos que ocorreram na enseada do Curral

(6º13’00”S; 35º3’36”W), no distrito de Pipa, RN, Brasil. A enseada possui

aproximadamente um quilômetro de extensão. A área de estudo ficou compreendida

entre a praia e uma linha reta imaginária traçada ligando as extremidades da enseada

(Fig. 1). Essa linha tem cerca de 1000 m e a maior distância da praia é na região

central (cerca de 500 m). As extremidades dessa enseada apresentam formações

rochosas (arenito sedimentar) que se estendem do andar infralitoral para o supralitoral

até unir-se à falésia, cuja altura atinge cerca de 30 m em sua porção mais elevada

(local usado para as observações). O fundo na enseada é constituído exclusivamente

de arenito, com profundidade máxima de cinco metros. É uma região abrigada de

ventos (< 1,0 na escala de Beaufort) e das correntes costeiras. O clima na região varia

ente semi-árido mediano e tropical úmido com temperaturas variando de 24° a 30°C,

sendo uma região sem variações sazonais evidentes.

5

Delineamento Observacional

As observações foram realizadas entre outubro de 1999 a setembro de 2003, por

meio de coletas mensais (4 por mês) com registros instantâneos realizada a cada 5 min

ao longo de seis horas, no período claro do dia, das 06:00 h às 17:00 h. As

observações foram realizadas simultaneamente por dois observadores, com auxílio de

binóculos (10x50mm), posicionados em um ponto fixo no alto da falésia, com condições

de visualização de toda a enseada. Registrava-se o número de indivíduos visíveis por

emergirem ao respirar, discriminando os comportamentos realizados.

Para quantificação do número de indivíduos, a observação era feita continuamente,

sendo o registro do número de animais realizado ao som de um sinal sonoro disparado

a cada 5 min. Com isso, a contagem era continuamente avaliada pelos observadores e

o registro era pontual, evitando assim a contagem repetida de um mesmo indivíduo.

As freqüências dos seguintes comportamentos foram registradas (Connor et al.

2000):

Forrageio: o boto deslocava-se em nado rápido, geralmente solitário, com o ventre

voltado para cima (identificado pela coloração clara) e perseguindo a presa (peixe) que

saltava sucessivamente, podendo ser capturada por meio de um salto ou bote, já na

região próxima à praia.

Atividade aérea: saltos em que os animais saem total ou parcialmente da água,

independente da posição do animal.

Socialização: toda e qualquer atividade envolvendo contato físico entre os animais,

incluindo contextos agonísticos ou afiliativos.

Análise dos dados

Consideramos a taxa máxima de indivíduos ocorrida ao longo do dia para cada dia

de observação. Em relação aos comportamentos, calculamos o valor diário através da

6

razão entre a soma de cada comportamento observado ao longo do dia pelas seis

horas observadas. Em seguida, para essas taxas diárias foram então calculadas as

medianas mensais.

Para verificar a variação sazonal do número de indivíduos e comportamentos

observamos se havia um período do ano de maior atividade. Esse se mostrou entre os

meses de junho e novembro (inverno – primavera) e o de menor atividade entre

dezembro e maio (verão – outono) (Fig. 2).

Em relação ao fotoperíodo analisamos os dados de acordo com dias longos e dias

curtos. Baseado no equinócio, tanto outonal (20/03) como primaveril (23/09), que é de

12:06 h., o período de dias longos correspondeu aos meses de outubro a março com

mais de 12:06 h de luz e o período de dias curtos entre abril e setembro com menos de

12:06 h de luz. Obtivemos os dados de fotoperíodo do Observatório Nacional

(coordenadas locais: 4º48’00”S; 35º3’36”W; fuso: -3).

Consideramos 0.50 mm3 como a quantidade de precipitação que determina um dia

de chuva conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET datado de

1999. Assim a estação chuvosa foi entre março e agosto, cuja mediana pluviometria foi

acima de 0,50 mm3 e a estação seca, entre setembro e fevereiro, cuja mediana

pluviometria foi abaixo de 0.50 mm3. Obtivemos os dados pluviométricos na Empresa

de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio Grande do Norte S/A – EMPARN.

Compararam-se estatisticamente as medianas de cada conjunto de dados por meio

do teste de Wilcoxon (medidas dependentes), adotando o nível de significância de 5%.

RESULTADOS

Número de Indivíduos

A presença de indivíduos na área foi registrada durante todos os dias de estudo (n

= 192) e a mediana variou entre 3 e 11 animais (Fig. 3).

7

Quando comparamos a freqüência de indivíduos entre os dois períodos (junho -

novembro e dezembro - maio), não verificamos diferenças significativas (MdJN = 5.000;

MdDM = 5.000; Z = -1.161; p = 0.246). Também não verificamos diferença significativa

na freqüência de indivíduos entre os períodos de dias curtos e dias longos (MdDC =

5.000; MdDL = 5.000; Z = -0.467; p = 0.640) e na freqüência de indivíduos entre as

estações chuvosa e seca (MdEC = 5.000; MdES = 5.250; Z = -1.353; p = 0.1769) (Fig. 4).

Freqüência de Comportamentos

A análise da freqüência dos comportamentos expressos pelos botos, mostrou que o

comportamento de socialização representou 12.6% de toda a atividade realizada

durante o período de estudo. A atividade aérea representou 30.7% e forrageio 56.7%.

A freqüência de socialização foi significativamente menor que a atividade aérea (Z = -

3.037; p = 0.002) e o forrageio (Z = - 6.462; p = 0.0001). A atividade de forrageio ainda

se mostro significativamente maior do que a atividade aérea (Z = -4.089; p = 0.0001)

(Fig. 5).

Comparamos a freqüência dos comportamentos entre os períodos junho-novembro

(inverno-primavera) e dezembro-maio (verão-outono) e verificarmos que houve

diferença significativa para todas as três atividades estudadas: socialização (MdJN =

0.542; MdDM = 0.099; z = -2.329; p = 0.020); atividade aérea (MdJN = 1.268; MdDM =

0.521; z = -2.224; p = 0.026) e forrageio (MdJN = 3.268; MdDM = 1.762; z = -2.906; p =

0.004) (Fig. 4).

Por outro lado, entre os períodos de dias curtos e dias longos, não houve diferença

significativa na freqüência das atividades estudadas: socialização (MdDC = 0.339; MdDL

= 0.183; z = -1.738; p = 0.082); atividade aérea (MdDC = 1.295; MdDL = 0.625; z = -1.607;

p = 0.108) e forrageio (MdDC = 2.417; MdDL = 2.583; z = -0.438; p = 0.661) (Fig. 4).

8

De forma semelhante, entre a estação seca e estação chuvosa, também não houve

diferença significativa da freqüência das atividades: socialização (MdES = 0.229; MdEC =

0.225; z = -0.828; p = 0.408); atividade aérea (MdES = 0.625; MdEC = 1.000; z = -1.656;

p = 0.098) e forrageio (MdES = 3.017; MdEC = 2.292; z = -0.730; p = 0.465) (Fig. 4).

DISCUSSÃO

Freqüência de adultos e imaturos

A freqüência dos botos em todos os dias de observação, assim como a ausência de

variação ao longo do ano, nos permite indicar a existência de um padrão difuso da

ocorrência dos indivíduos dessa população na área. Assim como no presente trabalho,

outros estudos evidenciaram um padrão difuso de ocorrência tanto de outras espécies

de golfinhos, como do boto cinza, S. guianensis em diferentes áreas.

Barros e Wells (1998) verificaram que a população de golfinho Tursiops truncatus

em Sarasota (Florida) não realiza migração e possui um padrão difuso de freqüência na

área. Defran e Weller (1999) observaram o mesmo padrão, também para T. truncatus,

em San Diego (Califórnia). Wilson et al. (1997) estudando a população de T. truncatus

em Moray Firth (Escócia), também verificaram a presença dos golfinhos na área ao

longo de todo o ano, com pouca variação do número de indivíduos entre as estações.

Esses autores consideraram que este padrão de freqüência difusa deve-se às

condições ambientais favoráveis ao longo do ano na região, principalmente no que se

refere à elevação da temperatura da água no verão e aumento da disponibilidade de

recursos alimentares no inverno.

Em se tratando do boto cinza, S. guianensis, assim como em nosso estudo, Geise

et al. (1999) verificaram que não há variação da freqüência do número de indivíduos ao

longo do ano no complexo estuarino de Cananéia, estado de São Paulo (litoral sudeste

do Brasil). Nessa mesma área, Santos et al. (2001) demonstraram que esses animais

9

possuem um padrão de freqüência difuso e apontaram a existência de áreas abrigadas,

pouca variação de parâmetros climáticos e grande disponibilidade de recursos

alimentares como fatores que influenciam na freqüência constante dos animais na

região.

Um considerável número de estudos não publicados (PhD e MSc thesis) ou

publicados em português indicam situação semelhante para outras populações de S.

guianensis ao longo de sua distribuição no litoral do nordeste do Brasil. Até onde

sabemos, este é o primeiro estudo caracterizando esse padrão difuso de freqüência de

ocorrência da espécie nessa região.

Lodi (2003) verificou a presença de indivíduos durante todo o ano em Paraty,

estado do Rio de Janeiro, litoral sudeste do Brasil. Em consonância com nosso

trabalho, esses estudos confirmam um padrão difuso de reprodução do boto cinza,

S.guianensis.

Essa condição também é relatada para outras espécies de cetáceos que habitam

regiões de latitudes intermediárias. Urian et al. (1996) indicam padrões reprodutivos

distintos do T. truncatus para latitudes diferentes (de 20º a 60º), sendo sazonal em

altas latitudes e difuso em zonas de latitudes mais baixas. Segundo este estudo o

comportamento reprodutivo reflete adaptações que variam conforme a espécie, local e

população. Além disso, considera que fatores ambientais por si só, como fotoperíodo

ou temperatura da água, não interferem na sazonalidade do comportamento

reprodutivo.

Read (1990) afirma ser esperado um padrão difuso na freqüência de populações de

odontocetos em zonas tropicais devido a pouca variação das condições ambientais

nessas áreas facilitarem a reprodução ao longo de todo o ano. Por outro lado,

populações de cetáceos que ocorrem em zonas de altas latitudes, onde as alterações

ambientais são severas, apresentam comportamento migratório, deslocando-se

10

sazonalmente entre diferentes regiões em busca de recursos alimentares, a exemplo

de orcas Orcinus orca (Similä et al. 1996; Iñíguez 2001) e do golfinho Phocoena

phocoena (Neave and Wright 1968).

Sazonalidade dos Comportamentos

É interessante notar que enquanto o número de botos não se altera ao longo do

ano, ocorre uma oscilação da freqüência dos comportamentos, constituindo um padrão

sazonal de variação.

Verificamos que socialização, atividade aérea e forrageio se mostraram

significativamente mais expressivos no período entre junho e novembro (inverno –

primavera). Apesar da sazonalidade desses comportamentos, não foi possível verificar

associação com fotoperíodo e precipitação.

É esperado que nas regiões tropicais e equatoriais, a sincronização de qualquer

comportamento com o fotoperíodo seja bastante discreta. Diferente das altas latitudes,

os fatores ambientais nas baixas latitudes são mais sutis e flexíveis para influenciar a

expressão dos comportamentos. Por outro lado, as chuvas nas regiões tropicais e

equatoriais marcam as estações seca e chuvosa, influenciando o comportamento dos

organismos vivos. A despeito desse padrão de influência sazonal da pluviometria sobre

a expressão dos comportamentos, não verificamos diferenças significativas nos

comportamentos analisados na população de botos em Pipa em relação a esse

parâmetro.

Consideramos que outros parâmetros ambientais e fatores biológicos podem estar

influenciando a expressão desses comportamentos. Além disso, é provável que a

expressão de um determinado comportamento possa influenciar a freqüência de outros

estados comportamentais. Nesse caso, em nosso estudo, o aumento da atividade de

forrageio pode estar influenciando a elevação da atividade de socialização, bem como

11

da atividade aérea. Como essa elevação da freqüência de forrageio pode representar

aumento da eficácia de captura, os animais podem redirecionar o tempo e esforço

dedicado à procura de presas para outras atividades, particularmente a socialização.

De forma semelhante ao presente trabalho, Neumann (2001) estudando o

orçamento de atividades de Delphinus delphis na Nova Zelândia, analisou entre outros

padrões comportamentais, a socialização. Nesse estudo verificou-se que o tempo em

que os golfinhos permaneciam envolvidos em socialização estava relacionado com a

disponibilidade alimentar ou com a satisfação dos animais após o forrageio. Nesse

caso os animais permaneciam engajados por mais tempo em atividades sociais quanto

maior a disponibilidade de alimento em determinadas épocas do ano.

Também é interessante destacar que semelhante ao nosso estudo, o boto tucuxi S.

fluviatilis na bacia do Amazonas apresenta variação anual dos comportamentos,

principalmente o forrageio que é mais intenso no período seco devido ao aumento da

densidade das presas com o baixo nível das águas represadas em lagos naturais (da

Silva and Best 1996). Esse mesmo padrão foi verificado para o boto vermelho, Inia

geoffrensis, na bacia do Orinoco, Venezuela (McGuire and Winerniller 1998). Da

mesma maneira, os registros do comportamento de forrageio de boto cinza, S.

guianensis, em Paraty (sudeste do Brasil) foi mais elevado durante o verão, período em

que as Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS) e a precipitação das chuvas provocam

o fenômeno da ressurgência na área (Lodi 2003). Em Cananéia (sudeste do Brasil) o

comportamento de forrageio do boto cinza foi mais intenso durante o verão e outono

(Geise et al. 1999).

A freqüência do S. guianensis foi verificada durante todos os dias de estudo,

indicando um importante papel desse sistema marinho para os botos na região. Além

disso, os resultados aqui encontrados mostraram que não existe variação sazonal tanto

no número de adultos, como de imaturos, constituindo um padrão difuso de freqüência

12

dos animais na região. Por outro lado, verificamos que a freqüência dos

comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio variam ao longo do ano,

apresentando um padrão sazonal. Este padrão sazonal está relacionado com fatores

ambientais, como por exemplo a disponibilidade alimentar.

AGRADECIMENTOS

Somos extremamente gratos ao prof. Gilson Volpato pela participação nas

sugestões e correções do manuscrito, aos amigos Érico dos Santos Junior; Kelly

Cristina de Araújo Pansard; Lídio França do Nascimento; Mariana Alves Gondim; Luiza;

Priscila Izabel Alves Pereira de Medeiros; Sandra Mara de Araújo Ananias; Rose Emília

Macedo de Queiroz pela ajuda nas atividades de campo, sem as quais este trabalho

não teria sido realizado.

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16

LEGENDAS DE FIGURAS

Figura 1: Localização da área de estudo (Enseada do Curral, Praia de Pipa, estado

do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil). Fonte: IDEMA.

Figura 2: Freqüência das atividades de Forrageio (Foraging); Atividade Aérea (Aerial

Activity) e Socialização (Socialization) dos estuarine dolphins ao longo do ano na

enseada do Curral, nordeste do Brasil.

Figura 3: A freqüência de ocorrência dos estuarine dolphins ao longo do ano na

Enseada do Curral, nordeste do Brasil.

Figura 4: Distribuição das medianas das variáveis dependentes freqüência de

indivíduos, forrageio, atividade aérea e socialização, conforme o período do ano de

maior atividade verificada, fotoperíodo e precipitação. As letras maiúsculas diferentes

indicam a existência de diferença significativa a 5% dentro da variável independente.

Figura 5: Freqüência relativa das atividades de Forrageio (Foraging); Atividade Aérea

(Aerial Activity) e Socialização (Socialization) dos estuarine dolphins na Enseada do

Curra, nordeste do Brasil. As letras minúsculas diferentes indicam a existência de

diferença significativa a 5% entre as variáveis independentes.

17

Figura 1

Pipa Beach

MadeiroBeach

Imaginary Line

Concentration Area

N

18

Figura 2

0

2

4

6

8

Jan Feb Mar Apr May Jun Jul Aug Sep Oct Nov Dec

Months

Me

dia

n

Foraging Aerial Activity Socialization

19

Figura 3:

0

2

4

6

8

Jan Feb Mar Apr May Jun Jul Aug Sep Oct Nov Dec

Months

Me

dia

n

INDIVIDUAL FREQUENCY

20

Figura 4:

SOCIALIZATIONAERIAL ACTIVITYFORAGINGINDIVIDUAL

PR

EC

IPIT

AT

ION

PH

OT

OP

ER

IOD

AC

TIV

ITY

10

5

0

ME

DIA

N

10

5

0

ME

DIA

N

10

5

0

ME

DIA

N

HIGH LOW HIGH LOW HIGH LOW HIGH LOW

LONG DAY SHORT DAY LONG DAY SHORT DAY LONG DAY SHORT DAY LONG DAY SHORT DAY

RAINY DRY RAINY DRY RAINY DRY RAINY DRY

A

BA

B

A

B

21

Figura 5:

FORAGINGAERIAL ACTIVITYSOCIALIZATION

69,330,7%

28,612,6%

128,056,7%

FREQUENCY ACTIVITY

A

B

C

29

ARTIGO 2

BEHAVIORAL DAILY VARIATION OF THE ESTUARINE DOLPHIN, Sotalia

guianensis, IN NORTHEASTERN BRAZIL

Silveira, F.R.G.1 and Silva, F.J.L.2

1 Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Central – Natal, RN,

Brazil. E-mail: [email protected] 2 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Rio Grande

do Norte, Avenida Antônio de Campos, s/n. CEP: 59600-970. Mossoró, RN,

Brazil.

e-mail:[email protected]. Fax: ++ 55 84 3315-2235.

www.golfinhorotador.org.br

A SER SUBMETIDO AO

CANADIAN JOURNAL OF ZOOLOGY

(INSTRUÇÕES PARA AUTORES – ANEXO)

1

Behavioral daily variation of the estuarine dolphin, Sotalia guianensis, in

Northeastern Brazil

Silveira, F.R.G.

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Central – Natal, RN, Brazil. E-

mail: [email protected]

Silva, F.J.L.

Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Rio Grande do

Norte, Avenida Antônio de Campos, s/n. CEP: 59600-970. Mossoró, RN, Brazil. e-

mail:[email protected]. Fax: ++ 55 84 3315-2235.

www.golfinhorotador.org.br

Editor: please send correspondence to Silva F.J.L.

Key words: Delphinidae, boto, estuarine dolphin, Sotalia guianensis, daily behavior,

diurnal, circatidal.

"This paper has not been submitted elsewhere in identical or similar form, nor

will it be during the first three months after its submission."

2

RESUMO

Neste estudo investigamos a variação diária na freqüência de adultos e imaturos e

nos comportamentos de socialização, atividade aérea e forrageio numa população de

Boto Cinza (Sotalia guianensis) na Enseada do Curral (6º13’00”S 35º3’36”W;), no

nordeste brasileiro. Após detectarmos algumas variações diárias, procuramos associá-

las ao período do dia, às variações da maré e período do ano. De Outubro de 1999 a

Setembro de 2003, através de coletas quatro vezes ao mês, efetuaram-se registros

instantâneos a cada 5 min, em seis horas de observação. As horas de observação

estiveram inseridas dentro da fase clara das 24 horas, ou seja, no intervalo das 06:00 h

as 17:00 h. Essas observações eram realizadas simultaneamente por dois

observadores, num ponto fixo no alto da falésia a partir do qual visualizava-se toda a

enseada. Observamos que os animais são mais ativos e freqüentes pela manhã. Não

apresentaram associação com a maré, apesar de apresentarem maior atividade na

maré baixa e menor atividade na maré alta. E quando comparado com as estações do

ano verificamos que existe uma variação significativa da variação diária dos

comportamentos nas estações inverno e primavera (de junho a novembro). Já a

freqüência de indivíduos não apresentou esta associação. Desses resultados,

mostramos a existência de uma variação comportamental diária nesta espécie, mesmo

nas regiões equatoriais.

3

INTRODUÇÃO

Há um crescente aumento no número de estudos sobre o comportamento dos

odontocetos na natureza. Desses estudos, observa-se que os comportamentos são

afetados por variáveis ambientais, como latitude, temperatura da água, maré,

disponibilidade alimentar, profundidade, tipo de fundo e relevo. Deste modo,

características topográficas de determinada região afetam o comportamento desses

animais (Saayman et al. 1973; Geise et al. 1999; Karczmarski et al. 2000; Neumann,

2001). Contudo existe uma carência de estudos realizados na baixa latitude e em

ambiente como a enseada, cuja topografia é diferente daquelas onde se concentram a

maioria dos trabalhos.

A espécie Sotalia guianensis, tem ampla distribuição geográfica, tanto no que se

refere à latitude (de 15º N a 27º S) quando a regiões topográficas (enseadas, baias,

estuários e rios). Sua importância em termos de estudos é estar presente em habitats

onde seus comportamentos têm sido pouco estudados. Nesse sentido, é uma espécie

que ocorre em baixas latitudes (nordeste do Brazil), ao contrário da maioria das

espécies até aqui estudadas, que mostraram alterações comportamentais,

influenciadas por parâmetros ambientais marcados pelas altas latitudes (Norris et al.

1994; Wilson et al. 1997; Rogan et al. 2000; Nichols et al. 2001).

Além disso, os estudos geralmente investigam espécies em ambientes como ilhas

oceânicas (Norris et al. 1994; Rogan et al. 2000; Neumann, 2001), baías (Karczmarski

et al. 2000) e estuários (Wilson et al. 1997; Geise et al. 1999). Os estudos de golfinhos

em enseadas são mais restritos. A enseada oferece condições ambientais peculiares,

dada às condições topográficas apresentadas. Ela estaria entre as condições de baía

(proteção oferecida) e as condições oceânicas (mar aberto), o que pode interferir no

comportamento desses animais.

4

Assim, os comportamentos dessa espécie foram enfocados no presente estudo,

que se restringiu a investigar a variação comportamental em função do horário no

período claro do dia. Bem como, a verificar a influência das marés nesses

comportamentos, uma vez que esses efeitos são geralmente observados em

odontocetos que se alimentam de presas que vivem na região intertidal.

Desta forma, este estudo teve como objetivo mostrar a flutuação diária no

comportamento de uma população equatorial de golfinhos. Investigou-se a freqüência

dos indivíduos (adultos e imaturos) e os comportamentos de socialização, atividade

aérea e forrageio em indivíduos de uma população de boto cinza, S. guianensis, na

enseada do Curral, distrito de Pipa, no nordeste do Brasil. Em seguida, verificou-se a

influência dos parâmetros ambientais, período do dia e variação da maré sobre essa

atividade comportamental e freqüência de indivíduos.

MATERIAL E MÉTODOS

Espécie e área de estudo

Investigamos o boto cinza que na nomenclatura de Monteiro–Filho et al. (2002) e

Cunha et al. (2005) é Sotalia guianensis van Bénéden 1864 (Cetacea, Delphinidae).

Essa espécie possui distribuição restrita entre o Norte da Lagoa de Waunte, Nicarágua

e o sul da Baía Norte, no Estado de Santa Catarina, Brasil (da Silva and Best 1996).

Este estudo restringiu-se aos indivíduos que ocorreram na enseada do Curral

(6º13’00”S; 35º3’36”W), no distrito de Pipa, RN, Brazil. A enseada possui

aproximadamente um quilômetro de extensão. A área de estudo ficou compreendida

entre a praia e uma linha reta imaginária traçada ligando as extremidades da enseada

(Fig. 1). Essa linha tem cerca de 800 m e a maior distância da praia é na região central

(cerca de 500 m). As extremidades dessa enseada apresentam formações rochosas

(arenito sedimentar) que se estendem do andar infralitoral para o supralitoral até unir-

5

se à falésia, cuja altura atinge cerca de 30 m em sua porção mais elevada (local usado

para as observações). O fundo na enseada é constituído exclusivamente de arenito,

com profundidade máxima de cinco metros. É uma região abrigada de ventos (< 1,0 na

escala de Beaufort) e das correntes costeiras. O clima na região varia ente semi-árido

mediano e tropical úmido com temperaturas variando de 24° a 30°C, sendo uma região

sem variações sazonais evidentes.

Delineamento Observacional

As observações foram realizadas entre outubro de 1999 a setembro de 2003, por

meio de coletas mensais (4 por mês) com registros instantâneos realizada a cada 5 min

ao longo de seis horas, no período claro do dia, das 06:00 h às 17:00 h.

As observações foram realizadas com auxílio de binóculos (10x50 mm)

simultaneamente por dois observadores, posicionados em um ponto fixo no alto da

falésia, com condições de visualização de toda a enseada. Registrava-se o número de

indivíduos visíveis por emergirem total ou parcialmente, discriminando-se a faixa etária

(adulto e imaturo) e os comportamentos emitidos.

Para quantificação do número de indivíduos, a observação era feita continuamente,

sendo o registro do número de animais realizado ao som de uma campainha disparado

a cada 5 min. Com isso, a contagem era continuamente avaliada pelo observador e o

registro era pontual, evitando assim a contagem repetida de um mesmo indivíduo.

As freqüências dos seguintes comportamentos foram registradas (baseado em

Connor et al. 2000):

Forrageio: o boto deslocava-se em nado rápido, geralmente solitário, com o ventre

voltado para cima (identificado pela coloração clara) e perseguindo a presa (peixe) que

saltava sucessivamente, podendo ser capturada por meio de um salto ou bote, já na

região próxima à praia.

6

Atividade aérea: saltos em que os animais saem total ou parcialmente da água,

independente da posição do animal.

Socialização: toda e qualquer atividade envolvendo contato físico entre os animais,

incluindo contextos agonísticos ou afiliativos.

Análise dos dados

Como o número total de animais variava a cada dia de observação, corrigiu-se tal

efeito calculando-se a taxa percentual da freqüência de indivíduos para cada dia de

observação. Essas taxas, bem como as freqüências dos itens comportamentais, foram

então calculadas por hora de observação e esses valores comparados entre os

períodos do dia ou fases de maré.

Os períodos do dia foram considerados das 06:00 h e 09:00 h, das 09:00 h às 12:00

h, das 12:00 h às 15:00 h e das 15:00 h às 18:00 h. Com relação às marés,

estabeleceu-se 4 períodos de 2 h cada, variando em torno da maré baixa e alta. Com

isso, discriminou-se os seguintes períodos: maré subindo, maré alta, maré descendo e

maré baixa.

Comparou-se estatisticamente as medianas de cada conjunto de dados por meio do

teste de Wilcoxon (medidas dependentes), adotando o nível de significância a 5%.

RESULTADOS

Freqüência de Indivíduos

Durante todos os dias de observação, verificamos a presença de indivíduos. O

número variou de um a dezesseis indivíduos na enseada. A freqüência de indivíduos

variou significativamente durante os períodos do dia, com maior freqüência entre as

09:00 h e 12:00 h (Md9h–12h = 1.00). Esse período do dia apresentou diferença

significativa em relação ao primeiro período (Md6h–9h = 0.50) (Z = -5.341; p = 0.0001);

7

terceiro (Md12h–15h = 0.67) (Z = -3.957; p = 0.0001) e quarto período (Md15h–18h = 0.60)

(Z = -2.338; p = 0.019) (figura 2a). Foi verificada ainda, variação da freqüência de

indivíduos entre os estados de maré. A maré alta (MdHigh = 0.57), apresentou diferença

significativa entre a maré baixa (MdLow = 0.75) (Z = -1.964; p = 0.049); maré subindo

(MdFood = 0.80) (Z = -2.310; p = 0.021) e maré baixando (MdEbb = 0.83) (Z = -2.192; p =

0.028) (figura 2b).

Freqüência de Comportamentos

O comportamento de socialização representou 12.6% de toda a atividade realizada

durante o período de estudo. A atividade aérea representou 30.7% e forrageio 56.7%.

A freqüência de socialização foi significativamente menor que a atividade aérea (Z = -

3.037; p = 0.002) e o forrageio (Z = - 6.462; p = 0.0001). A atividade de forrageio ainda

se mostro significativamente maior do que a atividade aérea (Z = -4.089; p = 0.0001)

(figura 3).

A variação da freqüência da atividade de socialização não apresentou diferença

significativa entre os períodos do dia (figura 4a) e entre os intervalos de maré. A

mediana tanto para os períodos do dia como as maré foram zero (figura 4b).

A variação da freqüência da atividade aérea também não apresentou diferença

significativa entre os períodos do dia (figura 4a), porém apresentou diferença

significativa entre maré baixa (MdLow = 0.850) e subindo (MdFlood = 0.001) (Z = -2.544; p

= 0.011) e entre maré subindo (MdFlood = 0.001) e baixando (MdEbb = 0.500) (Z = -2.572;

p = 0.010) (figura 4b).

A variação da freqüência de forrageio no primeiro período do dia (Md6h–9h = 1.580)

foi significantemente diferente do segundo (Md9h–12h = 3.000) (Z = -2.084; p = 0.037) e

terceiro (Md12h–15h = 3.000) (Z = -2.299; p = 0.022), sendo esses dois últimos onde se

concentrou a maior freqüência de atividade (figura 4a). Houve diferença significativa na

8

freqüência de forrageio entre a maré alta (MdHigh = 1.500) e baixando (MdEbb = 2.670)

(Z = -2.554; p = 0.011), com maior atividade durante a maré baixando (figura 4b).

DISCUSSÃO

Os resultados aqui encontrados nos permitem indicar que o Boto Cinza (Sotalia

guianensis) é mais ativo e freqüente na Praia do Curral no período da manhã. A

diferença foi significativa para freqüência de indivíduos e forrageio, não sendo para

atividade aérea e socialização.

Semelhante ao que verificamos no presente estudo, a população de Boto Cinza no

estuário de Cananéia também apresentou uma maior freqüência de indivíduos (adulto,

juvenil e filhote) no período da manhã, mais precisamente entre as 09:00 h e 10:00 h.

Nesse estudo os autores descrevem técnicas diferentes de forrageio, cada qual em

horários distintos do dia. A estratégia de pesca casual, na superfície, a mais comum e

semelhante ao que ocorre em Pipa, se deu pela manhã entre as 06:00 h as 07:00 h.

Por outro lado, a população de Cananéia possui um pico de atividade aérea no final da

tarde e após o meio dia (Geise et al. 1999). Consideramos que em Pipa, diferente do

que ocorre em Cananéia, a atividade aérea e socialização estejam associadas com o

forrageio.

Neumann (2001) verificou em uma população de Delphinus delphis, na baia de

Plenty, Nova Zelândia, que após a atividade de forrageio, deu-se início a socialização e

que o tempo de socialização esteve relacionado com a disponibilidade alimentar ou

com o quanto os indivíduos estariam satisfeitos após o forrageio. O golfinho Tursiops

truncatus, nos estuários da costa do Texas apresenta um padrão, cujo pico de

atividade é durante a fase clara do dia com uma queda de atividade durante a fase

escura (Lynn 1995). Segundo esse autor, o golfinho nariz de garrafa apresentou um

pico de atividade principalmente no início da manhã diminuindo ao longo do dia, sendo

9

o forrageio a atividade mais freqüente. Ainda segundo ele, após a atividade de

forrageio, os animais envolveram-se em atividades de socialização. Comportamento

semelhante apresentou o golfinho nariz de garrafa do oceano Indico (Tursiops aduncus

ehrenburg) na Baía de Algoa, África do Sul (Saayman et al. 1973) e o golfinho

corcunda (Souza chinensis) também em Algoa, África do Sul (Karczmarski et al. 2000).

Em todos esses estúdios os animais apresentaram um padrão, cujo pico de atividade

foi durante a fase clara do dia decrescendo durante a fase escura, com atividades

como a socialização ocorrendo após o forrageio. De forma semelhante, verificamos no

presente estudo que a população de boto cinza além de ter apresentado uma maior

freqüência das três atividades comportamentais estudadas pela manhã, tem mostrado

que após a atividade de forrageio, segue-se a atividade de socialização.

Corroborando com o que verificamos para o boto cinza em Pipa, Norris et al. (1994),

no Havaí, afirmaram que a atividade diária do golfinho rotador (Stenella longirostris) na

baía de kealake`akua tem pelo menos duas finalidades. A primeira e primordial foi o

descanso; a segunda foi entre outras, a socialização. Após a entrada dos animais na

baía nas primeiras horas do dia, houve um período de repouso de quatro a cinco horas.

Em seguida, o tempo restante entre o repouso e o início do forrageio (que ocorre no

início da noite) foi gasto de varias maneiras como a atividade aérea e socialização.

Semelhante ao Havaí, o golfinho de Hector (Cephalorhynchus hectori) no porto de

Akaroa, Nova Zelândia, também usa aquela área durante o dia para repouso,

socialização e forrageio (Nichols et al. 2001). A maioria dos mamíferos aquáticos

apresenta um padrão de atividade, que oscila dentro das 24 h. É o que ocorre em

relação ao forrageio e repouso, com as focas (Siniff et al. 1971; Thompon et al. 1989;

Orthmann 1998); leões marinhos (Sepúlveda et al. 2001); lontras (Estes et al. 1982) e

morças (Salter 1979). No caso da Foca de pêlo e Leões marinhos do Arquipélago das

Galápagos, ocorreu uma distribuição temporal onde as focas são diurnas e os leões

10

noturnos. Tal situação foi indicada como adaptação à pressão imposta pela competição

interespecífica por alimento, separando-os em nichos diferentes (Dellinger and Trillmich

1999). O equilíbrio entre presa e predador, em dada região, pode refletir-se na variação

da atividade de forrageio ao longo do dia com picos no início e final dele e um grande

custo de energia. Já o desequilíbrio entre ambos, onde haja abundância alimentar (de

presa), pode refletir um padrão homogêneo da atividade de forrageio ao longo do dia

com um baixo custo energético nessa atividade, dado a grande disponibilidade de

presas (Estes et al. 1982). Os resultados aqui apresentados para o boto de Pipa,

apontam um padrão de equilíbrio semelhante.

Alguns mamíferos aquáticos sincronizam suas atividades, como repouso ou

forrageio, não só com o ciclo claro-escuro, mas também com o ciclo de maré

(Thompson et al. 1989; Thompson and Miller 1990; Bjørge et al. 2002). A maré pode

ainda, influenciar o forrageio devido à sincronia que determinadas presas tem com sua

flutuação. É o caso da Phoca vitulina no estuário de Moray (Thompson and Miller 1990)

e Orkney (Thompson et al. 1989), ambas na Escócia. O golfinho T. truncatus no

estuário de Shannon, Irlanda, repousa no estofo da maré e socializa e forrageia

durante a subida e descida (Rogan et al. 2000).

O forrageio durante a subida e descida da maré pode estar relacionada à estratégia

de captura, considerando o aumento da densidade de presas devido à diminuição da

lâmina de água (Karczmarski et al. 2000). Pode estar ainda, relacionado à facilidade de

emboscar, arrebanhar, perseguir as prezas ou ainda minimizar os gastos energéticos

(Wilson et al. 1997).

Em nosso estudo, verificamos que durante a maré baixando, baixa e subindo,

freqüência de indivíduos; atividade aérea e forrageio foram maiores do que na maré

alta. Isso indica que esta população de Pipa ajusta-se às condições ambientais como

11

disponibilidade de alimento, densidade de presa, profundidade, respondendo a pressão

das condições locais.

Os resultados apresentados indicam que o boto cinza é mais ativo e mais freqüente

durante o período da manhã. Verificamos ainda, que os comportamentos do boto

sofrem influências do estado da maré, com maior atividade na fase de maré baixa.

Além disso, a variação diária da freqüência e atividade variam ao longo do ano

respondendo a variação ambiental.

AGRADECIMENTOS

Somos extremamente gratos ao prof. Gilson Volpato pela participação nas

sugestões e correções do manuscrito, aos amigos Érico dos Santos Junior; Kelly

Cristina de Araújo Pansard; Lídio França do Nascimento; Mariana Alves Gondim; Luiza;

Priscila Izabel Alves Pereira de Medeiros; Sandra Mara de Araújo Ananias; Rose Emília

Macedo de Queiroz pela ajuda nas atividades de campo, sem as quais este trabalho

não teria sido realizado.

REFERÊNCIAS

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15

LEGENDAS DAS FIGURAS

Figura 1: Localização geográfica da Enseada do Curral, distrito de Pipa. Fonte:

IDEMA

Figura 2: Freqüência de indivíduos (em medianas) na enseada do Curral nos

períodos do dia e sob a influência da maré (b). As letras maiúscula diferentes indicam

uma diferença significativa (5%).

Figura 3: Freqüência dos comportamentos de Forrageio (Foraging), Atividade Aérea

(Aerial Activity) e Socialização (Socialization) durante o período de estudo. As letras

maiúsculas diferentes indicam uma diferença significativa (5%).

Figura 4: Freqüência (em mediana) do Forrageio (Foraging); Atividade Aérea (Aerial

Activity) e Socialização (Socialization) nos períodos do dia e sob a influência da maré;

As letras maiúsculas diferentes indicam uma diferença significativa (5%).

16

Figura 1

Pipa Beach

MadeiroBeach

Imaginary Line

Concentration Area

N

17

Figura 2

TIDEDAY PERIOD

1,0

0,5

0,0

ME

DIA

N

6h-9h 9h-12h 12h-15h 15h-18h LOW FLOOD HIGH EBB

AB A A A A B A

18

Figura 3:

FORAGINGAERIAL ACTIVITYSOCIALIZATION

69,330,7%

28,612,6%

128,056,7%

FREQUENCY ACTIVITY

A

B

C

19

Figura 4

SOCIALIZATIONAERIAL ACTIVITYFORAGING

TID

ED

AY

PE

RIO

D

15h-18h12h-15h9h-12h6h-9h 15h-18h12h-15h9h-12h6h-9h 15h-18h12h-15h9h-12h6h-9h

15

10

5

0

15

10

5

0LOW FLOOD HIGH EBB LOW FLOOD HIGH EBB LOW FLOOD HIGH EBB

B

A

B

A

A

A

B A

57

DISCUSSÃO GERAL

Freqüência de Indivíduos

Foi possível verificar a presença de adulto e imaturo na enseada do Curral

durante todos os dias de observação, indicando a importância deste sistema

marinho para a população em estudo. Também foi possível verificar que não

houve variação do número de indivíduos ao longo do ano, caracterizando um

padrão difuso de ocorrência da população de boto cinza em Pipa.

Tais fatos associados podem indicar fidelidade ao habitat, semelhante ao que

ocorre na região sudeste do Brasil, onde populações apresentam um elevado

grau de fidelidade (Geise et al. 1999; Santos et al. 2001; Rosas e Monteiro-Filho

2002; Lodi 2003). A região de Pipa apesar de pouco influenciada pelo ambiente

estuarino, se compararmos com Cananéia ou Sepetiba, apresenta em suas

enseadas um ambiente estável às correntes costeiras, ventos e estabilidade

oceanográfica. Desta forma, apresentando condições satisfatórias para

reprodução, alimentação repouso e socialização.

Estudos realizados com a mesma espécie, Sotalia guianensis, tem

apresentado os mesmos resultados, apontando a estabilidade do habitat como

fator que influenciaria a disponibilidade alimentar, menor risco de predação e

possibilidade de investimento parental (Geise et al. 1999; Santos et al. 2001;

Rosas e Monteiro-Filho 2002; Lodi 2003), maximizando os benefícios e

minimizando os custos da permanência difusa na área.

Outros estudos com o golfinho nariz de garrafa, Tursiops truncatus, em

Sarasota, Florida (Barros e Wells 1998), San Diego, Califórnia (Defran e Weller

1999) e Moray Firth na Escócia (Wilson et al. 1997) evidenciaram o mesmo

padrão difuso de residência aqui verificado, apesar de serem regiões de altas

latitudes. Esses autores associaram o padrão difuso a fatores bióticos e

abióticos como o fotoperíodo e a temperatura da água. Urian et al. (1996),

estudando o padrão de reprodução, na mesma espécie, em localidades

diferentes (de 20º a 60º de latitude) também encontrou um padrão difuso de

reprodução. Entretanto, esses autores afirmam que uma variável apenas não

seria suficiente para prever períodos reprodutivos, muito embora um somatório

58

delas o fizesse. Essa proposição corrobora com os resultados que encontramos

para a população de Pipa, mostrando o mesmo padrão difuso de freqüência na

área.

Além disso, os resultados obtidos podem estar associados ao ajuste da

população a um conjunto de fatores ambientais locais que possibilitariam a esta

população permanecer na área o ano todo, dadas as melhores condições. Read

(1990) afirma ser previsível este padrão difuso de residência, tendo em vista a

pouca variação das condições ambientais nas baixas latitudes.

Análises da variação diária nos permitiu verificar que esta população é mais

freqüente durante o período da manhã, mais precisamente entre as 09:00h e

12:00h. Quanto à variação da maré, verificamos que não houve associação

entre a freqüência de indivíduos e a mesma.

Poucos são os trabalhos que abordam a variação diária de indivíduos. Geise

et al. (1999) verificaram essa variação, sendo sua maior freqüência durante a

manhã entre as 09:00h e 10:00h. Esta elevação da freqüência de indivíduos em

um período do dia pode manter relações com fatores ambientais, tais como

hábito diário das presas; facilidade de arrebanhar, encurralar e capturar a

presas; condições de luminosidade; temperatura da água, ventos, correntes e

outras condições oceanográficas, que neste trabalho não foram analisados ou

identificados por nós.

Freqüência de Comportamentos

É interessante notar que apesar de não ter havido variação da freqüência de

indivíduos ao longo do ano, houve variação comportamental, sendo o período de

junho a novembro (primavera-inverno) o período de maior freqüência de

atividade. Contudo, esta sazonalidade não apresentou associação com os

fatores ambientais aqui analisados, fotoperíodo e precipitação.

Embora não tenhamos verificado tal associação, a variação comportamental

ao longo do ano está associada a outros fatores ambientais dada a sazonalidade

apresentada. Estudos com S. fluviatilis na bacia do Amazonas (Da Silva e Best

1996) e Inia geoffrensis na bacia do Orenoco (McGuire e Winerniller 1998),

59

mostraram um padrão anual da atividade de forrageio associado ao período de

seca, quando a densidade dos peixes é maior dado ao baixo volume das águas.

Em Sarasota, Florida o T. truncatus é residente, porém com variações

sazonais de comportamento. Forrageia só ou em pequenos grupos e em águas

rasas (entre 2 e 3m). Alimenta-se de espécies demersal sedentária vivendo

entre campos de algas marinhas ou de espécies que formam pequenos

cardumes fora desses campos. Semelhante à Sarasota, a população de Pipa

apresenta a mesma técnica de forrageio, sendo possível que a disponibilidade

de presas na área seja um dos fatores da variação da expressão dos

comportamentos dos botos.

É interessante destacar que observamos uma relação entre os

comportamentos de forrageio, atividade aérea e socialização expressos pelos

botos em Pipa e que a freqüência da atividade de forrageio nitidamente

influencia a expressão das demais atividades. Neumann (2001) estudando o

orçamento de atividades para o Delphinus delphis na Nova Zelândia, verificou

que após o forrageio os indivíduos se envolviam em atividades de socialização,

atribuindo essa dinâmica comportamental ao fato dos animais estarem saciados.

Afirmou ainda que quanto maior a disponibilidade alimentar, maior era o tempo

de socialização dos animais. De maneira semelhante, observamos que em Pipa

as maiores freqüências comportamentais se deram na mesma época, (de junho

a novembro). O que nos leva a considerar que após a atividade de forrageio os

animais se envolveriam em outras atividades como a socialização.

Quanto à variação diária dos comportamentos, verificamos que os botos são

mais ativos durante a manhã, entre as 09:00h e 12:00h. Geise et al. (1999)

também verificaram que o boto cinza forrageia mais pela manhã entre as 06:00h

e 07:00h. Segundo as autoras o forrageio ocorreria nesse horário devido à

disponibilidade alimentar.

Os comportamentos aqui estudados apesar de não apresentarem diferença

significativa entre os estados da maré, foram mais freqüentes durante a maré

baixa. Consideramos que tal fato se dê devido ao aumento da densidade dos

peixes com a diminuição da lâmina de água e a facilidade de arrebanhar,

encurralar e capturar as presas nessas condições. Da Silva e Best (1996) e

60

McGuire e Winerniller (1998), observaram o mesmo para o tucuxi e o boto rosa

respectivamente.

CONCLUSÃO GERAL

Durante todo o período de estudo foi observado a presença do Sotalia

guianensis na enseada do Curral distrito de Pipa, indicando um importante papel

desse sistema marinho para essa população.

Também verificamos que a freqüência de animais adultos e imaturos não

variou ao longo do ano mostrando que esta população apresenta um padrão

difuso de ocorrência. Contudo, a freqüência dos comportamentos de

socialização, atividade aérea e forrageio apresentaram um padrão sazonal.

Os resultados indicam ainda, que o boto cinza foi mais ativo e mais freqüente

pela manhã; sofreu influência da maré baixa e que, a variação diária da

freqüência dos indivíduos e atividades comportamentais variaram ao longo do

ano como resposta às variações ambientais.

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63

ANEXOS

64

Normas de Publicação – Canadian Journal Zoology

Language

Papers must be clearly and concisely written in good English or French.

Format and organization

The manuscript should be typewritten, double-spaced, on paper 21.5 × 28 cm

(8.5 × 11 in. or ISO A4). Typing should be on one side of the page only. Each

page should be numbered, beginning with the title page. For material that is to be

set in italics, use an italic font; do not underline. Use capital letters only when the

letters or words should appear in capitals. All articles should contain a title page

(p. 1), an abstract (p. 2), followed by Introduction (p. 3), Materials and

methods, Results, Discussion, and Acknowledgements sections, plus

references, tables, figure captions, and appendices, in that order. (See

descriptions of each part of the manuscript, below.) Tables and captions for

illustrations should be on separate pages

Title page

The title page should contain the following. ( i) The full title of the paper. ( ii)

Authors’ names (with initials only) listed in the order in which they are to appear

at the head of the printed article. ( iii) Affiliation and address (including e-mail

address) for each author. This should reflect the affiliation and address at the

time of the study. Indicate current affiliations and addresses (including e-mail

addresses) that differ from those in the by-line in a footnote. ( iv) Name, address,

telephone number, fax number, and e-mail address of the author responsible for

correspondence.

Abstract

An abstract is required for every contribution and should contain accurate

descriptive words that will draw the reader to the content. This is particularly

important because contemporary alerting services and search engines will

search this text. It should not be more than 200 words and should appear on a

separate page. All authors’ names and initials, as well as the complete title of

the paper, must be typewritten at the top of the page (a copy of this page is sent

separately to the translator). The concise abstract should present the paper

content accurately and should supplement, not duplicate, the title in this respect.

65

Authors able to submit abstracts in both fluent English and French are

encouraged to do so. Abstracts submitted in one language will be translated into

the other official language by the Journal translator. References should not be

cited in the abstract unless they are absolutely essential, in which case full

bibliographic information must be provided.

References

General form

The author is responsible for verifying each reference against the original article.

Each reference must be cited in the text using the surnames of the authors and

the year, for example, (Walpole 1985) or Green and Brown (1990). Depending on

the sentence construction, the names may or may not be in parentheses, but the

year always is. If there are three or more authors, the citation should give the

name of the first author followed by et al. (e.g., Green et al. 1991). References

must be listed in alphabetical order according to the name of the first author and

not numbered.

Journal article with DOI:

Sterling, J.T., and Ream, R.R. 2004. At-sea behavior of juvenile male northern

fur seals ( Callorhinus ursinus). Can. J. Zool. 82(10): 1621–1637.

doi:10.1139/Z04-136.

Book:

Williams, R.A. 1987. Communication systems analysis and design. Prentice-Hall,

Inc., Englewood Cliffs, N.J.

Part of book:

Healey, M.C. 1980. The ecology of juvenile salmon in Georgia Strait, Britsh

Columbia. In Salmonid ecosystems of the North Pacific. Edited by W.J. McNeil

and D.C. Himsworth. Oregon State University Press, Corvallis, Oreg. pp. 203–

229.

Figure captions

Figure captions should be listed on a separate page and placed after the tables.

The caption should informatively describe the content of the figure, without need

for detailed reference to the text. Experimental conditions should not be included,

but should be adequately covered in the Methods. For graphs, captions should

66

not repeat axis labels, but should describe what the data show. A single caption

can be provided for multipart (composite) figures, with necessary details on the

separate parts, identified by their individual labels. If the separate parts require

enough information to warrant separate captions, then the composite should be

separated into individual figures.

Maps

Maps must have very clear, bold patterns and must show longitudes and

latitudes (or UTM coordinates) and a scale, to ensure proper identification of

study locations.

Nomenclature

Authors are required to follow the International Code of Zoological Nomenclature

(4th ed., 1999), published by The International Trust for Zoological

Nomenclature, c/o The Natural History Museum, Cromwell Road, London SW7

5BD, UK. In subsequent mentions of the same species, the genus is abbreviated

to the first letter (e.g., S. plicata). Genera are always written in full at the

beginning of a sentence.

Writing numbers

In writing long numbers the digits should be separated into groups of three,

counted from the decimal marker to the left and right. The separator should be a

space and not a comma, period, or any other mark, for example, 25 562 987 and

not 25,562,987. In English text, the decimal marker should be a point, for

example, 0.1 mL and not 0,1 mL. The decimal point in all numbers between 1

and –1, except 0, must be preceded by a 0. The sign × should be used to

indicate multiplication, e.g., 3 × 106 and not 3·106.