vamos para as lutas!!!

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O é elaborado coletivamente pelos Setores de Educação, Comunicação e Cultura. Os desenhos são feitos por crianças Sem Terrinha de todo o Brasil. Agradecemos também a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para este trabalho, em especial aos Sem Terrinha do Estado do Paraná. Esta edição faz parte do Jornal Sem Terra nº 318 Correio eletrônico: [email protected] Página na internet: www.mst.org.br O espaço também é seu! Escreva você também para o Jornal das Crianças Sem Terrinha. Mande suas críticas, elogios, sugestões, poesias e desenhos. Anote aí o nosso endereço: Alameda Barão de Limeira, 1232, Campos Elíseos, São Paulo, SP CEP 01202 - 002 Correio eletrônico: [email protected] 2 Jornal S EM TERRI NHA • Março/Abril 2012 Jornal S EM TERRI NHA • Março/Abril 2012 3 Texto preparado por Jade Percassi, do Setor de Comunicação, a partir das entrevistas realizadas por Alipio Freire, Hamilton Pereira, Mayrá Lima e Marina Costa Os fazendeiros poderosos de lá não sossegaram: mandaram prender, assustar, tentaram até fazê-los desistir da luta. Um dia, a fazenda em que moravam foi vendida. Elizabeth, João Pedro e os filhos despejados. Por isso, foram fazer um protesto e quando João Pedro voltava, três policiais disfarçados de vaqueiros atiraram nele, que não conseguiu sobreviver. Elizabeth ficou muito triste. Ela disse: “João Pedro!!! Isso não se faz com um pai de família, tão amoroso com os filhos. Um homem que nunca E m 1925, nasceu uma linda menina chamada Elizabeth, lá na Paraíba. Seu pai era fazendeiro e comerciante, sua mãe cuidava da casa e de seus irmãos. Elizabeth era curiosa e gostava de estudar... Quando ficou mocinha, conheceu um rapaz chamado João Pedro. Eles começaram a namorar, mas os pais dela não queriam que eles se casassem... Elizabeth e João Pedro acabaram se casando longe da família e foram para Recife, em Pernambuco. João Pedro logo percebeu que o trabalho na cidade era duro e o salário pequeno. Por isso, começaram a fazer reuniões em casa para fundar um sindicato. Só que os patrões descobriram e não quiseram mais arranjar trabalho pra ele. E assim, decidiram voltar para o campo. Mas, chegando lá logo se deram conta de que a situação no campo não estava boa. Muita gente não tinha terra, morava de favor, trabalhava nas terras dos fazendeiros, as crianças não tinham direito de ir a uma escola e terminava o dia comendo farinha seca com rapadura... Em 1950, de novo, Elizabeth e João Pedro organizaram uma reunião em casa, mas, logo no dia seguinte, a polícia estava lá e disse que essa história do povo se organizar ali não podia. Desta forma, João Pedro foi pro Rio de Janeiro, e Elizabeth ficou com as crianças na roça. Quando João Pedro voltou, fundaram a Ligas Camponesas de Sapé, em 1958. São Rafael, que não tinha escola. Aos poucos, ela ensinou às crianças a ler, contar e escrever. Mas, a saudade dos filhos apertava seu coração... estavam espalhados, vivendo com parentes, em outros estados e até em Cuba. Foi quando, em 1981, reapareceu por lá um cineasta de nome Eduardo Coutinho, que tinha começado a fazer um filme sobre as Ligas Camponesas. Assim, Elizabeth saiu da clandestinidade e foi em busca de seus filhos. Já em 2007, Elizabeth Teixeira foi para Brasília participar do Quinto Congresso do MST, e ficou emocionada de encontrar tanta gente junta pensando como fazer para construir um país mais justo. Então, gostaram da história? Assim como a Elizabeth, as mulheres Sem Terra de ontem e de hoje nunca deixaram a linha de frente das lutas. E todos os anos, principalmente em março, realizam ações que chamam a atenção para os assuntos importantes para a gente mudar a sociedade. me deu desgosto. Eu vou dar continuidade à luta.” Então, ela assumiu a liderança nas Ligas Camponesas de Sapé, e foi presa mais de uma vez. As Ligas foram crescendo mais e mais, até que em 1964 aconteceu o Golpe Militar, quando o Brasil deixou de ter governo por eleições e os militares ficaram mandando no país. Eles mandaram perseguir e prender estudantes, artistas, professores e trabalhadores e trabalhadoras de Leste a Oeste, de Norte a Sul. Por isso, Elizabeth teve de se separar de seus filhos e filhas e fugir para o Rio Grande do Norte, onde ninguém a conhecia. Ela mudou o nome para Marta Maria da Costa. No Rio Grande do Norte, Marta trabalhou como lavadeira de roupa e dava aulas no povoado de “A mensagem que eu deixo é que todos continuem os companheiros e companheiras continuem a luta por uma reforma agrária justa, que dê condições para sobreviver dignamente no campo, porque era isso que o João Pedro dizia pra mim — que poderiam até tirar a vida dele, mas que a Reforma Agrária iria ser implantada para todos os que trabalham no campo...” As Ligas Camponesas surgiram no Nordeste brasileiro, na década de 60, como o movimento mais expressivo contra as relações de trabalho no campo e de luta pela Reforma Agrária. Na Paraíba o movimento tomou força com a fundação das Ligas Camponesas de Sapé.

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Jornal Sem Terrinha . Mar/Abr 2012

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Page 1: Vamos para as lutas!!!

O é elaborado coletivamente pelos Setores de Educação, Comunicação e Cultura.

Os desenhos são feitos por crianças Sem Terrinha de todo o Brasil. Agradecemos também a todas

as pessoas que de alguma forma contribuíram para este trabalho, em especial aos Sem Terrinha do Estado do Paraná.

Esta edição faz parte do Jornal Sem Terra nº 318

Correio eletrônico: [email protected] Página na internet: www.mst.org.br

O espaço também é seu!Escreva você também para o Jornal das

Crianças Sem Terrinha. Mande suas críticas, elogios, sugestões, poesias e desenhos. Anote aí o nosso endereço:

Alameda Barão de Limeira, 1232, Campos Elíseos, São Paulo, SP CEP 01202 - 002 Correio eletrônico: [email protected]

2 Jornal SEM TERRINHA • Março/Abril 2012 Jornal SEM TERRINHA • Março/Abril 2012 3

Texto preparado por Jade Percassi, do Setor de Comunicação, a partir das entrevistas realizadas por Alipio Freire, Hamilton Pereira, Mayrá Lima e Marina Costa

Os fazendeiros poderosos de lá não sossegaram: mandaram prender, assustar, tentaram até fazê-los desistir da luta.

Um dia, a fazenda em que moravam foi vendida. Elizabeth, João Pedro e os filhos despejados. Por isso, foram fazer um protesto e quando João Pedro voltava, três policiais disfarçados de vaqueiros atiraram nele, que não conseguiu sobreviver. Elizabeth ficou muito triste. Ela disse: “João Pedro!!! Isso não se faz com um pai de família,

tão amoroso com os filhos. Um homem que

nunca

Em 1925, nasceu uma linda menina chamada Elizabeth, lá na Paraíba.

Seu pai era fazendeiro e comerciante, sua mãe cuidava da casa e de seus irmãos. Elizabeth era curiosa e gostava de estudar...

Quando ficou mocinha, conheceu um rapaz chamado João Pedro. Eles começaram a namorar, mas os pais dela não queriam que eles se casassem... Elizabeth e João Pedro acabaram se casando longe da família e foram para Recife, em Pernambuco.

João Pedro logo percebeu que o trabalho na cidade era duro e o salário pequeno. Por isso, começaram a fazer reuniões em casa para fundar um sindicato. Só que os patrões descobriram e não quiseram mais arranjar trabalho pra ele. E assim, decidiram voltar para o campo.

Mas, chegando lá logo se deram conta de que a situação no campo não estava boa. Muita gente não tinha terra, morava de favor, trabalhava nas terras dos fazendeiros, as crianças não tinham direito de ir a uma escola e terminava o dia comendo farinha seca com rapadura...

Em 1950, de novo, Elizabeth e João Pedro organizaram uma reunião em casa, mas, logo no dia seguinte, a polícia estava lá e disse que essa história do povo se organizar ali não podia. Desta forma, João Pedro foi pro Rio de Janeiro, e Elizabeth ficou com as crianças na roça. Quando João Pedro voltou, fundaram a Ligas Camponesas de Sapé, em 1958.

São Rafael, que não tinha escola. Aos poucos, ela ensinou às crianças a ler, contar e escrever. Mas, a saudade dos filhos apertava seu coração... estavam espalhados, vivendo com parentes, em outros estados e até em Cuba.

Foi quando, em 1981, reapareceu por lá um cineasta de nome Eduardo Coutinho, que tinha começado a fazer um filme sobre as Ligas Camponesas. Assim, Elizabeth saiu da clandestinidade e foi em busca de seus filhos.

Já em 2007, Elizabeth Teixeira foi para Brasília participar do Quinto Congresso do MST, e ficou emocionada de encontrar tanta gente junta pensando como fazer para construir um país mais justo.

Então, gostaram da história? Assim como a Elizabeth, as mulheres Sem Terra de ontem e de hoje nunca deixaram a linha de frente das lutas. E todos os anos, principalmente em março, realizam ações que chamam a atenção para os assuntos importantes para a gente mudar a sociedade.

me deu desgosto. Eu vou dar continuidade à luta.” Então, ela assumiu a liderança nas Ligas

Camponesas de Sapé, e foi presa mais de uma vez. As Ligas foram crescendo mais e mais, até que em 1964 aconteceu o Golpe Militar, quando o Brasil deixou de ter governo por eleições e os militares

ficaram mandando no país. Eles mandaram perseguir e prender estudantes, artistas, professores e trabalhadores e trabalhadoras de Leste a Oeste, de

Norte a Sul.

Por isso, Elizabeth teve de se separar de seus filhos e filhas e fugir para o Rio Grande do Norte, onde ninguém a conhecia. Ela mudou o nome para Marta Maria da Costa.

No Rio Grande do Norte, Marta trabalhou como lavadeira de roupa e dava aulas no povoado de

“A mensagem que eu deixo é que todos continuem os companheiros e companheiras continuem a luta por uma reforma agrária justa, que dê condições para sobreviver

dignamente no campo, porque era isso que o João Pedro dizia pra mim — que poderiam até tirar a vida dele, mas que a Reforma Agrária iria ser implantada para todos os

que trabalham no campo...”

As Ligas Camponesas surgiram no Nordeste brasileiro, na década de 60, como o movimento mais expressivo

contra as relações de trabalho no campo e de luta pela Reforma Agrária. Na Paraíba o movimento tomou força

com a fundação das Ligas Camponesas de Sapé.

Page 2: Vamos para as lutas!!!

Jornal SEM TERRINHA • Março/Abril 20124

Conversa de PescadorHummm, que enrolação!!! Vamos ajudar esse pessoal a sair deste embaraço?

Descubra qual peixe pertence a cada pescador e pinte bem colorido

Ano 5 • № 38 • Março/Abril de 2012

Olá Sem Terrinha de todo o Brasil! Agora já estamos em um novo ano e, aqui no

assentamento, já começamos a perceber que este ano não será diferente, pois já começamos a organizar as lutas desde o mês de janeiro, acredita? Tivemos que fazer uma reivindicação para termos a escola funcionando este ano e, pelo que conversamos lá em casa, com a seca em algumas regiões do país e muita chuva em outras, as lutas não serão poucas para todo o Movimento!

Eita! Mas isso que é movimento, não é?Vai ser um ano muito agitado e é claro que

nós, Sem Terrinha, não vamos ficar de fora dessas lutas.

Em março, por exemplo, nós participamos das lutas do dia 8. Perguntei para a nossa coordenadora se o dia 8 era uma comemoração e ela me repondeu que

não, que neste dia não registramos uma luta que aconteceu, mas uma luta que acontece!

Por isso que todo ano fazemos lutas, e como estamos falando destas lutas neste mês, vamos, em nosso jornal, conhecer um pouquinho mais sobre uma grande amiga: Elizabeth Teixeira. Ela é uma daquelas lutadoras que marca nossa história de luta pela Reforma Agrária.

Ela mora lá na Paraíba, numa casa pequenina, uma senhora de quase noventa anos. Ela fala baixinho, com voz muito doce. Quem a vê, nem

imagina quanta coisa ela passou desde menina! É uma história compriiiida... de amor e de luta,

muito bonita. Vamos contar pra vocês como tudo aconteceu.

Tchau e nos vemos mês que vem!

Vamos para as Lutas!!!