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VALTER MARTINS GIOVEDI
O CURRÍCULO CRÍTICO-LIBERTADOR COMO FORMA DE
RESISTÊNCIA E DE SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
CURRICULAR
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
SÃO PAULO
2012
VALTER MARTINS GIOVEDI
O CURRÍCULO CRÍTICO-LIBERTADOR COMO FORMA DE
RESISTÊNCIA E DE SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
CURRICULAR
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
Tese apresentada à banca examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo como exigência parcial para a
obtenção do título de doutor em
Educação: Currículo, sob a orientação da
professora doutora Ana Maria Saul.
SÃO PAULO
2012
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Ana Maria Saul (orientadora)
__________________________________________
Profº. Drº. Alípio Casali
__________________________________________
Profº. Drº. José Cerchi Fusari
__________________________________________
Profª Drª. Branca Jurema Ponce
__________________________________________
Profº Drº. Antonio Fernando Gouvêa da Silva
Dedico esse trabalho
Aos meus familiares (pai
Walter, mãe Dora, irmã
Mara, irmão Ricardo). Se
hoje me sinto forte é porque
vocês me fizeram forte.
À vó Amélia que, neste ano
nos deixou: com a mesma
serenidade com que viveu.
À Alessandra. Todos os dias
partilhamos o que
aprendemos. Assim nos
renovamos. Assim nos
acompanhamos. Assim nos
amamos.
À minha orientadora Ana
Saul e ao colaborador da
Cátedra Paulo Freire
Antônio Fernando Gouvêa
da Silva. Abriram-me as
portas da pedagogia
freireana. Com vocês
aprendi a freirear na sala de
aula. Pelos olhares dos meus
alunos, tenho a impressão de
que eles também lhes
agradecem.
Ao meu amigo, meu irmão,
Diogo Rios. Sua práxis é a
utopia realizando a sua obra.
Obrigado por ensinar a sua
capacidade infinita de amar.
Aos meus alunos e alunas (da
escola pública e da FIT). Em
vocês deposito muitas
esperanças na construção de
“um mundo em que seja
menos difícil amar”.
À Paulo Freire. Não o
conheci pessoalmente. Mas
às vezes esqueço disso e acho
que o conheci.
AGRADECIMENTOS
São muitas as pessoas que fizeram e fazem parte da minha história pessoal, profissional e
acadêmica e que, portanto, estão presentes (de diferentes maneiras) neste trabalho.
Mencionarei algumas delas, ainda que fique aqui a minha gratidão por todos aqueles que
contribuíram com a minha trajetória.
Diante disso, deixo o meu agradecimento:
Aos professores Alípio Casali e José Cerchi Fusari pela dedicação e respeito que
demonstraram no exame de qualificação em relação a mim e ao meu trabalho. Suas
contribuições foram preciosas. Não só o conteúdo do que disseram, mas, sobretudo, a forma
com que disseram, foram marcantes, e passaram a pertencer ao meu currículo vivido.
À professora Branca Jurema Ponce por ter aceitado o convite para a defesa e pela amizade,
conhecimentos e experiências partilhadas em suas aulas.
A todos os professores do Programa de Educação: Currículo da PUC-SP, sobretudo
àqueles com os quais convivi por ocasião do cumprimento dos créditos desde os tempos de
mestrado: Maria Malta Campos, Mere Abramowicz, Mario Sérgio Cortella, Marcos
Masetto, Ivani Fazenda, Antonio Chizotti, Branca J. Ponce, Ana Maria Saul e Alípio Casali.
A todos os colegas de turma que ingressaram comigo no doutorado e que fizeram parte
de um momento extremamente divertido da minha vida. Quantas risadas, quantas
aprendizagens. Sempre lembrarei com alegria dos “momentos de Ensino Médio” da nossa
turma de doutorado. Em especial quero agradecer: ao Marcelo Leal e à Carol Arantes por
terem se tornado amigos para toda a vida (apesar da distância das nossas cidades, espero
encontrá-los periodicamente); ao Francisco Josivan pela amizade e pelos diálogos
temperados por Enrique Dussel; à Cecília Cocco pelas caronas e pelas nossas conversas
durante os nossos retornos para casa; e à Maria Dolores Fortes, pelas conversas nos
intervalos das aulas.
A todos que passaram várias vezes pela Cátedra Paulo Freire nesses últimos quatro
anos (Denise, Silvana, Alexandre, Adriana, Mariluza, Angélica, Edilene...). Pessoas que
compartilharam um espaço que aprecio e no qual semanalmente “encontro a minha turma”.
A todos os educadores e amigos que conheci na REDE FREIREANA DE
PESQUISADORES. Por meio dela, diferentes educadores do Brasil estão interligados por
um mesmo objetivo: estudar e divulgar a presença de Paulo Freire nos sistemas públicos de
ensino do nosso país.
Às minhas amigas queridas: Nilda da Silva Pereira, Ketty Viana, Julciane Rocha e Márcia
Kay. Vocês (cada uma à sua maneira) são daquelas pessoas com quem tenho certeza de que
posso contar na vida pessoal e na luta por um mundo mais bonito. Obrigado pela amizade
de vocês.
Aos amigos e amigas da COMUNA: Milene, Guiomar, Carol, Rafa, Lia, Av., Diga... Pode
ser que eu esteja enganado, mas tenho a impressão de que, mesmo à distância, estamos
cultivando “a mais linda roseira que há”.
Ao meu amigo Fábio Leonel de Paiva. Amigo desde a 6ª série. Um amigo que eu posso
ficar anos sem ver. Porém, quando nos encontramos, é como se a convivência fosse diária.
Ao melhor professor que tive na minha educação básica: Valther Maestro. A pessoa que,
na minha adolescência, abriu os meus olhos para o mundo “fora da bolha”. O maior
“culpado” por eu ter virado professor.
Ao meu cunhado Nelsinho. No tempo em que eu e a Alessandra estivemos procurando o
nosso lugar, sempre nos ajudou a levantar e ajeitar o novo acampamento. Um grande artista,
um grande amigo.
Aos amigos e alunos da FIT (Faculdade de Itapecerica da Serra), em especial: à profª Ivete
Picarelli, pela confiança que depositou em mim ao me convidar para lecionar lá; à profª
Ivete Vidigoi, pela amizade e alegria; e ao profº Mauro, pelas conversas nas tardes que
antecedem o horário das aulas.
Ao meu amigo João Ostrowski e amiga Solange Soares do Colégio Dominus. Atenuaram
as minhas crises enquanto eu ainda lecionava na escola particular.
Por fim,
À CAPES pela bolsa de estudos que tornou possível o meu ingresso e permanência no
Programa de Pós-graduação em Educação: Currículo da PUC-SP. Espero ter
contribuído com a construção de conhecimento no campo da educação.
PROVOCAÇÕES
A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas
todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por
especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda
provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria.
Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus
dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou
firme. Era de boa paz. Foram lhe provocando por toda a vida. Não pôde ir à escola
porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a
roça. Na cidade, para onde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era
lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde
não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme. Queria um emprego, só
conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos.
Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam lhe provocando. Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar
pra roça. Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece
que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa. Terra
era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à
terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo.
Concluiu que era provocação. Mais uma. Finalmente ouviu dizer que desta vez a
reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou
a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer
coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação. Aí ouviu que a reforma
agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.
Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem,
horrorizadas com ele:
VIOLÊNCIA NÃO!
Luis Fernando Veríssimo