valongo, cais dos escravos: memória da diáspora e modernização
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUEOLOGIA
VALONGO, CAIS DOS ESCRAVOS: MEMRIA DA DISPORA E
MODERNIZAO PORTURIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO,
1668 - 1911
RELATRIO DE ESTGIO DE PS-DOUTORAMENTO
CARLOS EUGNIO LBANO SOARES
Relatrio de Estgio de Ps Doutoramento
apresentado ao Programa de Ps-graduao
em Arqueologia do Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro como
parte do requisito final para obteno de ttulo
de Ps Doutor em Arqueologia
Supervisor: Flvio dos Santos Gomes
Rio de janeiro, maro de 2013
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Currculo resumido
O professor Doutor Carlos Eugnio Lbano Soares formou-se em Histria na UFRJ
em 1988. Entre 1983 e 1984 estudou antropologia na UFRJIFCS. Em 1993
defendeu dissertao de mestrado no Programa de Ps-Graduao em Histria do
Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da UNICAMP. Em 1998 defendeu tese
de doutorado em Histria no mesmo programa. Em janeiro de 1995 participou
junto com uma equipe do Centro de Estudos Afro-Asiticos (CEAA) da UCAM de
uma visita de pesquisa de um ms para Angola. Lecionou como Professor
Visitante na UFPA, Campus Belm entre 1995 e 1996. Lecionou na Universidade
Severino Sombra em Vassouras, Estado do Rio de Janeiro, entre 1998 e 2002,
onde chefiou e reestruturou o Centro de Documentao Histrica (CDH) da
Universidade. Desde 2000 Bolsista de Produtividade do CNPQ. Atualmente
professor do Departamento de Histria da UFBA onde fundou o Centro de
Digitalizao da Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas (CEDIG-UFBA) que
chefiou por seis anos (2004-2010). Atualmente desenvolve vrios trabalhos junto
a Secretaria Municipal de Patrimnio da Cidade do Rio de Janeiro junto ao Circuito
Histrico, Turstico e Arqueolgico da Herana Africana da Zona Porturia do Rio
de Janeiro. Autor de vrios trabalhos: premiado pelo Arquivo Geral da Cidade do
Rio de Janeiro em 1994 no Concurso Biblioteca Carioca com sua dissertao de
Mestrado publicada com ttulo: A Negregada Instituio: os capoeiras na Corte
Imperial do Rio de Janeiro, 1850-1890. Premiado pelo Arquivo Pblico do Estado
do Rio de Janeiro em 1998 no concurso Memria Fluminense com a monografia:
Zungu: rumor de muitas vozes. Premiado pelo Arquivo Nacional no Premio Arquivo
Nacional de Pesquisa em 2003 com o texto intitulado: No labirinto das naes:
africanos e identidades no Rio de Janeiro, sculo XIX, escrito conjuntamente com
Flvio Gomes e Juliana Barreto. Publicou sua tese de doutorado pela Seleo do
CECULT da UNICAMP em 2001 com o ttulo: A capoeira escrava e outras tradies
rebeldes no Rio de Janeiro, 1808-1850.
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AGRADECIMENTOS
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As pessoas que colaboraram para este trabalho foram muitas, mesmo que s
vezes elas no soubessem. Em primeiro lugar minha filha, Yasmin Silva Lbano
Soares, luz da minha vida, e minha esposa, Arminda Aparecida, as duas razes da
minha existncia. Os amigos foram no somente apoio moral, mas informao
firme sobre as temticas da histria da construo da cidade e da sua orla
porturia. Falo de Flvio dos Santos Gomes e Andr Chevitareze, ambos
professores da UFRJ, o primeiro Supervisor na fase final do trabalho, o segundo
profundo conhecedor da arqueologia e do projeto Porto Maravilha. No Arquivo
Nacional contei com vrias colaboraes, mas destaco o responsvel pelo setor
de Cartografia do AN, Jos Luiz Macedo de Faria Santos, fundamental na lida
diria de mapas da regio, chave para o entendimento das mudanas na
geografia construtiva da regio. Pela Secretaria de Patrimnio do Municpio vrias
portas foram abertas para a pesquisa pelo titular da pasta Dr. Washington
Fajardo, entusiasta da histria porturia. No CEDURP pudemos sempre contar
com a boa vontade do diretor, Sr. Alberto Silva. Na Fundao Palmares no posso
deixar de lembrar o ento representante no Rio, Benedito Srgio, pessoa
primordial no processo de discusso do Memorial da Dispora Africana do Rio de
Janeiro, um dos resultantes do trabalho e que visitou o sitio arqueolgico em
maro de 2011. Na CEPIR municipal, rgo que coordena as polticas pblicas
para a populao negra da cidade, destaco o nome da sua coordenadora, Lelete
Couto, responsvel pela implementao do Circuito Histrico, Turstico e
Arqueolgico da Herana Africana da Zona Porturia do Rio, servidora pblica de
grande competncia. Na SUPIR, contraparte da CEPIR na esfera estadual, no se
pode deixar de lembrar o nome de Marcelo Dias, seu presidente, outro entusiasta
do Memorial. Nos debates do circuito tive a grata satisfao de reencontrar o
Embaixador Alberto da Costa e Silva, grande conhecedor das terras africanas, e de
Rubem Confete, figura histrica da Pedra do Sal. Alis, Rubem estava entre os
presentes do Seminrio da Fundao Palmares no prdio da Rdio Nacional, em
finais de 2010, sobre o negro e o projeto Porto Maravilha, quando apresentei para
as lideranas do movimento negro no Rio a existncia do cais. No Instituto Preto
Novos, (IPN) hoje Memorial Pretos Novo, sempre lembro com alegria de Mercedes
e Petruscio, na verdade os iniciadores de tudo nos idos de 1996, quando
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revelaram ao mundo o cemitrio dos escravos. Na UFBA destaco o diretor da
FFCH, professor Joo Carlos Salles, e o Chefe de Gabinete da Reitoria, Dr.
Fernando Rego, sempre prontos a me apoiar nos momentos mais difceis. Para
abrir os caminhos em uma jornada to importante para o entendimento da
trajetria africana do Rio sempre contei com as luzes do professor Fernandes
Portugal Filho, Babalola Sangotola, e de Ya Ftima, o casal luminoso que me
aponta o caminho nos ltimos 25 anos. Ax! A fora do Valongo foi tambm a
alegria de reencontrar Vantoen Pereira Junior, companheiro de infncia do Jardim
Botnico, hoje fotgrafo reconhecido internacionalmente, amizade para sempre.
Ruth Almeida, da ONG Ao da Cidadania Contra a Fome e a Misria, do Galpo
da Sade, antiga Doca Dom Pedro II, foi parceira fundamental no inicio da
concretizao do sonho do Memorial da Dispora Africana do Rio de Janeiro, j
nas fases finais da pesquisa. Todos estes que nomeei e outros que posso ter
esquecido - foram participantes ativos da aventura de tirar o Valongo do
esquecimento, se bem que muito ainda pode e deve ser feito para recontar esta
histria, to trgica, e ao mesmo tempo to importante para entender nossa
cidade e nosso tempo. Apesar de sabermos que nosso trabalho foi uma gota no
oceano, frente ao que deve ser feito para desvendarmos a Pequena frica,
sabemos que tudo ocorreu porque vivemos um tempo pleno de esperana, onde o
encontro com o passado promessa de um futuro de sonhos realizados.
Para Zzimo Bubul
In Memorian
FICHA CATALOGRFICA
SOARES, Carlos Eugnio Lbano. Valongo, Cais Dos Escravos: Memria Da Dispora E Modernizao Porturia Na Cidade Do Rio De Janeiro, 1668 1911.
Rio de Janeiro, 2013, 113 p. Departamento de Antropologia, Programa de Ps-
Graduao em Arqueologia, Museu Nacional, UFRJ.
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RESUMO
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Este trabalho fruto de uma pesquisa sobre a histria da zona porturia da cidade
do Rio de janeiro no sculo XIX, com nfase no cais do Valongo, construdo no
local por onde, por cinqenta anos, entre 1779 e 1831, chegaram quase um
milho de escravos africanos na cidade. A partir de mapas antigos, plantas, e
documentos, percebemos a mudana que este sistema negreiro impactou na
cidade, forjando um permetro urbano onde a presena africana era hegemnica,
o que daria origem a expresso Pequena frica. Alm disso, estudamos a
formao da economia dos trapiches, que eram responsveis por grande parte do
comrcio martimo da corte. O cais do Valongo iniciou uma escalada construtiva
na regio, que somente terminou em 1910, quando a muralha do cais do porto foi
completada. Nossa perspectiva esta orientada para a histria do cenrio
construtivo, acompanhando as diversas intervenes humanas na rea,
culminando com a imensa transformao que representou o cais do porto de
1904.
PALAVRAS CHAVES
Cais do Valongo, escravido, cidade do Rio de Janeiro, trapiches, sculo XIX
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ABSTRACT
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This work is the result of a research on the history of the port area of the city of Rio
de Janeiro in the nineteenth century, with emphasis on the pier Valongo, built on
the site where, for fifty years, came nearly a million African slaves in the city. From
old maps, plans, and documents, we realized that this change impacted slave
system in the city, forging an urban area where the African presence was
hegemonic, which would give rise to expression Little Africa. Further study of the
formation of the economy piers, which were responsible for much of the maritime
trade of the court. The pier Valongo initiated a constructive escalation in the
region, which only ended in 1910 when the wall of the port was completed. Our
perspective is oriented to the history of constructive scenario, watching the various
huma