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V ENCONTRO ANUAL DA ANDHEP DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E DIVERSIDADE

17 A 19 DE SETEMBRO DE 2009, UFPA, BELÉM (PA)

QUANDO O PASSADO CONFERE SENTIDO AO PRESENTE: OLHARES FEMININOS SOBRE A DITADURA MILITAR BRASILEIRA

Nome do Autor/a: Sheila Stolz

Professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande/RS. Coordenadora Geral do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos – NUPEDH/FURG. Doutoranda e Mestre em Direito pela Universitat Pompeu Fabra – UPF, Barcelona, Espanha. E-mail: [email protected]

Nome(s) dos Co-autores/as: Rita de Cássia Grecco dos Santos

Professora do Instituto de Educação da FURG. Pesquisadora vinculada ao Centro de Estudos e Investigações em História da Educação – CEIHE/UFPEL, ao Núcleo de Documentação da Cultura Afro-Brasileira – ATABAQUE/FURG e ao NUPEDH/FURG. Doutoranda e Mestre em Educação – História da Educação pelo PPGE-FaE da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, Pelotas/RS. E-mail: [email protected] Grupo de Trabalho 1 – Teoria e História dos Direitos Humanos

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Resumo: Com base nas narrativas individuais de mulheres que, na condição de mães, filhas, esposas, ou companheiras daquelas pessoas identificadas pela Ditadura Militar como “subversivas” e que sofreram com as atrocidades e os inúmeros tipos de perdas provocadas pelo então Regime de exceção, pretendemos, para além da análise científica, desencadear através do rememoramento da história, uma ação que contribua para o perdão, a reafirmação compartilhada de outras verdades, bem como para o desencadeamento de um processo de afirmação de identidades e de direitos de cidadania dos segmentos sociais historicamente excluídos e/ou ocultados na/da história oficial; circunstâncias que favorecem uma cultura de afirmação dos Direitos Humanos e o conseqüente repúdio da violação dos mesmos, além da própria construção do presente e do futuro que se quer enquanto sociedade livre e democrática. Palavras-chave: Direitos Humanos. Gênero e Rememoramento da História. Ditadura Militar Brasileira. 1. Introdução

Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão (BENJAMIN, 1994, p. 2251).

Os governos ditatoriais instaurados em distintos países latino-americanos a

partir da segunda metade do século XX são rastros de continuidade dos

totalitarismos e barbáries que lhes antecederam, pois as chacinas levadas a termo

pelos então Regimes de exceção não podem ser classificadas de simples

improvisações, já que se constituíram em ações sistemáticas e deliberadamente

planejadas e executadas, em atos de banalização do mal, em negação do crime

dentro do crime e de uma seleção objetiva dos inimigos com vistas a sua completa

eliminação2. Todo um aparato técnico de informações e ações organizadas foi

1 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas I. 7 ed. Trad. Sérgio Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. 2 A prática de extermínio e de campos de concentração cvaracterísticos do ssitema Nazista, também se repetiram em algumas ditaduras latino americanas como, por exemplo, o Estádio Nacional e a Villa Grimaldi no Chile; os campos El Vesubio e La Perla na Argentina; o presídio Libertad no Uruguai e as bases militares brasileiras na Região do Araguaia.

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montado e colocado a serviço de crimes em massa, traduzidos em prisões

arbitrárias, sevícias e torturas que deixaram seqüelas permanentes ou resultaram

em mortes, seqüestros, assassinatos, desaparecimentos, banimentos, exílios e

desconstituição de famílias com a separação permanente de pais, mães e filhos;

em fim, do que se pode chamar de uma “descartabilidade” de pessoas feita à

revelia das fronteiras e das garantias previstas nos sistemas jurídicos de âmbito

nacional e internacional.

A diferença de outros países que julgaram e ainda seguem julgando os

crimes havidos durante as ditaduras militares, a promulgação da chamada Lei

brasileira da Anistia (Lei n° 6.683/1979) – que em agosto próximo completará 30

anos – estabeleceu a política nacional de "esquecimento" das atrocidades

cometidas pela Ditadura Militar (instaurada no país entre 1964 e 1985). Quase 40

anos se passaram e explicações sobre os casos de desaparecimentos, mortes e

torturas entre outros atos, ainda não foram apresentadas e, com o decorrer do

tempo, essas elucidações podem vir a ser consideradas desnecessárias. O tempo

já apagou, como pressupõe alguns, a necessidade de que tais esclarecimentos

ocorram. É exatamente este viés que este ensaio quer repudiar. Acostumar-se com

ações de descaso pode fazer-nos pensar que o que aconteceu no nosso passado

recente foi algo banal e que portanto, já está superado. Muito se pode ponderar

sobre o caminho jurídico-político adotado pelo Brasil. Não obstante, centrarei minha

análise em dois aspectos, a saber: 1) no aspecto jurídico; 2) no rememoramento

histórico.

Quanto à generalização da impunidade decorrente da aplicabilidade da Lei

n° 6.683/1979, pode-se começar argüindo que a história recente está repleta de

exemplos de Estados que instituíram Regimes de exceção onde se perpetraram

inúmeras atrocidades contra a humanidade, sucessos que lançaram tanto sobre o

Direito como sobre a retroatividade normativa, um novo olhar. Como afirma Hart

(1963, p. 261), ditos eventos introduziram fissuras no princípio nulla poena sine lege

como forma de curar e reparar, dentro do possível, as irregularidades e injustiças

cometidas no passado. Nesta mesma esteira argumentativa, assevera Lon Fuller

(1964) que tanto a humanidade como aquelas comunidades políticas que

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vivenciaram momentos de crueldade, precisam se deter no passado e recolher

seus fragmentos para, a partir de então, reconstruir o presente e planejar o futuro

que aspira alcançar. Portanto, naqueles casos aonde não foi possível reter a

barbárie, a retroatividade normativa não diminuí a segurança jurídica, já que ela

atuará em função de dito valor não somente suprimindo a legislação iníqua, mas

também punindo os excessos havidos com o intuito de restabelecer direitos e

garantias; supostos que, em definitivo, restabelecem os pressupostos da segurança

jurídica. Ademais, se a ratio legis da irretroatividade normativa é um fundamento do

Estado de Direito Constitucional Democrático – que pretende ser o bastião da

salvaguarda dos Direitos Humanos e fundamentais da arbitrariedade político-

jurídica –, seria um contra-senso utilizá-la como justificativa para que se

mantivessem impunes os atos espúrios cometidos no passado perpetrando-se,

consequentemente, a injustiça3. Neste sentido, qualquer argumento que afirme que

a justiça e a segurança jurídica são valores antagônicos está superado, pois esta

última não pode mais ser pensada desde a perspectiva jurídica do Estado

decimonônico.

Quanto à política do esquecimento, creio que reconstruir às condições

históricas daquele período procurando, através desta reconstrução, entender como

a questão da memória, do passado e do futuro se coloca em nossa sociedade,

onde as disputas sociais parecem sempre terminar em pactos que trazem como

pressuposto o silêncio sobre o passado, é um importante passo a ser dado para a

superação deste processo coletivo de estagnação/negação da memória recente.

Neste sentido entendo, tal qual propõe Adorno, que “[...] prestar voz ao sofrimento é

condição de toda verdade” (2005, p. 19). Justamente por isto, este estudo se centra

na voz das mulheres, pois, como bem lembra Ruth Klüger (2005), as mulheres

também têm histórias para contar caso alguém se lhes pergunte e queira escutá-

las, mesmo que ditas histórias se refiram a guerras e outros tantos momentos de

3 Desde o meu ponto de vista este é o entendimento que permitiu julgar tanto aos colaboradores do sistema nazista como a tantos outros que estiveram envolvidos com crimes e violações de Direitos Humanos. Creio que também é esta a base jurídica para julgar e condenar – inclusive extra-territorialmente – aos articuladores e colaboradores das ditaduras militares latino-americanas. Este argumento se encontra corroborado em STOLZ, 2009.

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crueldade pertencentes ao passado que não é masculino, mas sim de todos e

todas, já que o direito à memória é necessariamente um direito humano.

2. Paisagens da memória

2. 1) O ressurgimento do Feminismo

Influenciada pelos movimentos feministas espalhados pelo mundo, a

Organização das Nações Unidas – ONU, reunida no Congresso Internacional da

Mulher realizado em 1975 no México, aclama nesta ocasião o “Ano Internacional da

Mulher” dando início, a partir de então, à Década da Mulher, uma das

circunstâncias que favoreceram e colaboraram para o ressurgimento no plano

internacional e também no Brasil dos anos 1970 do chamado feminismo de

Segunda Onda4. Caracterizado por ser um movimento não padronizado e uníssono,

dado os diferentes enlaces que o configuraram, o feminismo de “Segunda Onda”

tem visões distintas tanto no que concerne ao caráter quanto às estratégias de luta

que devem ser postas em ação em cada contexto político.

Não obstante, podemos afirmar, de forma bastante sucinta, que a defesa do

direito à igualdade entendida como aquela que contempla o direito à diferença e

4 Ainda que este seja o nome comumente associado ao movimento feminista surgido dos anos 70 em diante, alguns autores argumentam que os movimentos feministas aparecem inicialmente no período do Iluminismo e da Revolução Francesa como um movimento social de libertação, cabendo a este período denominá-lo de “Primeira Onda” do feminismo. Já no final do século XIX, época em que o movimento feminista possuía uma identidade teórica e organizativa suficientemente autônoma que lhe permitiu a luta pelo sufrágio e pela consecução do direito de voto às mulheres, deve ser chamado como a “Segunda Onda” do feminismo. Cabendo, portanto, ao feminismo surgido depois dos anos 70, chamá-lo de feminismo de “Terceira Onda”. Ainda que a distinção sugerida seja coerente optamos por utilizar a denominação mais recorrentemente empregada. Sobre as “Ondas do Feminismo” veja-se: REVERTER, Sonia. La perspectiva de género en la filosofía. Alicante: Feminismo/s, 1, jun, 2003, p. 33-50.; e, AMORÓS, Celia. Feminismo y Filosofia. Madrid: Síntesis, 2000.

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vice-versa5, passa a ser o grande estandarte do feminismo dando-lhe um substrato

comum.

Para o pensamento feminista a diferença sugere a heterogeneidade, a

multiplicidade e a pluralidade do entendimento concernente à categoria gênero6 e

não mais a mera oposição e exclusão binária entre os sexos, tema que esteve

marcadamente presente na origem do feminismo. Nega-se, conseqüentemente,

que nas diferenças residam os problemas entre homens e mulheres, mas sim no

modo como estas são hierarquizadas – já que costumam impingir a idéia básica de

inferiorizarão da mulher7. Nesse sentido, o feminismo da diferença, supera os

dualismos sexuais em direção a uma visão mais ampla, reconhecendo como bem

ressalta Friedman8 (1995, p.7), que o privilégio e a opressão não são categorias

5 Como nos ensina Boaventura Santos (2006), o direito a igualdade deve ser reivindicado sempre que a diferença inferioriza e, por conseguinte, o direito a diferença deve ser reivindicado sempre que a igualdade descaracteriza. SANTOS, Boaventura. Pela mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2006. 6 Nos Estados Unidos, as mulheres homossexuais e negras levaram a cabo movimentos de contestação do pressuposto de que as mulheres possuem uma essência feminina comum capaz de criar um vínculo social apto a uni-las, embora as diferenças existam entre elas. O movimento destas mulheres negras evidenciou que a retórica das feministas brancas costumava ser etnocêntrica em suas análises de gênero e opressão. Igualmente, as mulheres homossexuais, trataram de demonstrar que esta mesma retórica se fundamentava na experiência das mulheres heterossexuais. Recomendam-se as seguintes leituras que tratam estes temas: CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. In: ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS; TAKANO CIDADANIA (orgs.). Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, 2003. p. 49-58.; AZERÊDO, Sandra. A questão racial na pesquisa. In: AZERÊDO, Sandra, STOLCKE, Verena (org.). Direitos reprodutivos. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1991, p. 125-150.; e, HOOKS, Bell. Representing Whiteness: Seeing Wings of Desire. Yearning, race, gender and cultural politics. Boston: South End Press, 1990, p. 165-72. e HOOKS, Bell. Representing Whiteness in Black Looks: Race and Representations. Boston: South End Press, 1992. 7 Na década de 70 muitos autores trataram de demonstrar que a assimetria sexual entre homens e mulheres era um fenômeno de caráter universal, como podemos verificar em Rosaldo e Lampere (1979, p.19) ao afirmarem que: “Em todos os lugares vemos a mulher ser excluída de certas atividades econômicas e políticas decisivas; seus papéis como esposas e mães são associados a poderes e prerrogativas inferiores aos dos homens. Pode-se dizer, então, que em todas as sociedades contemporâneas, de alguma forma, há o domínio masculino, e embora em grau e expressão a subordinação feminina varie muito, a desigualdade dos sexos, hoje em dia, é fato universal na vida social”. ROSALDO, Z. R. e LAMPERE, L. A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 8 FRIEDMAN, Susan. Beyond White and other: relationality and narratives of race in feminist discourse. Signs, v. 21, n. 1, 1995, p.1-49.

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absolutas, posto que se modificam de acordo com os diferentes eixos de poder e de

ausência de poder existentes.

Argumento que se encontra corroborado no que se refere à realidade

brasileira da década de 70, pois são inegáveis as influências externas à narrativa

da genealogia deste novo feminismo e que acabam não somente refletindo os

diversos matizes e interpretações feministas que se faziam presentes à época, mas

também revelando um feminismo sui generis marcado por uma confluência de

fatores que vão desde a articulação e enraizamento com os movimentos sociais

urbanos e suas demandas por bem-estar9, à defesa de uma posição mais

moderada no que diz respeito ao confronto entre os sexos10, o não enfrentamento

de temas polêmicos como, por exemplo, o aborto e, até mesmo, o envolvimento

das mulheres na resistência e na luta armada contra a Ditadura Militar instaurada

no país entre 1964 e 198511.

Sem o afã de pretender esgotar o sentido desta experiência plural e

polissêmica que constituiu o movimento feminista dos anos 70 e, desde já,

sinalizando a importância do seu legado, capaz de transformar formas de viver e

pensar que ocasionaram impactos tanto no âmbito privado dos costumes e hábitos

cotidianos, como nas instituições sociais e políticas ao expandir o espaço de

atuação pública da mulher, nossa pesquisa, intitulada “Revisão da Lei de Anistia

Brasileira: rememorando a história recente em busca da plena reconciliação e

construção de um Estado Democrático de Direito”, se direciona para os olhares e 9 Como por exemplo, a luta por melhores condições de vida (acesso à luz, saneamento básico e transporte público). Sobre esse contexto: CARDOSO, Ruth. Movimentos sociais urbanos: um balanço crítico. In: ALMEIDA, Maria Herminia T. de e SORJ, Bernardo. (orgs.) Sociedade e política no Brasil pós-64. São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 215-239.; e, COSTA; BARROSO; SARTI. Pesquisa sobre mulher no Brasil: do lombo ao gueto? Cadernos de Pesquisa, n. 54, ago/1985, p. 5-15. 10 Opinião de HEILBORN e SORJ, 1999. HEILBORN, M. L. e SORJ, B. Estudos de Gênero no Brasil. In: MICELI, S. (org.). O que ler nas Ciências Sociais Brasileiras (1970-1995). São Paulo: ANPOCS/Ed. Sumaré, 1999. 11 A presença das mulheres significou, no que concerne aos Órgãos de Repressão, não somente a insurgência contra a Ditadura Militar, mas também uma forma de refutar o papel social designado à época como próprio das mulheres. A narrativa de muitas mulheres militantes demonstra, ademais, que a igualdade entre homens e mulheres era, também nos aparatos da militância política, apenas uma retórica. GOLDENBERG, Mirian. Mulheres e militantes. Revista Estudos Feministas, v. 5, n. 2, 1997, p. 349-364.

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as narrativas individuais de mulheres12 que, na condição de mães, filhas, esposas,

ou companheiras de militantes e/ou sujeitos identificados pelo Estado como

subversivos13, sofreram com as atrocidades e os inúmeros tipos de perdas

provocadas pelo então Regime de exceção.

2. 2) Dando visibilidade a outras vozes e narrativas

Parto da premissa básica de que as conseqüências do que ocorreu durante

a Ditadura Militar brasileira permearam e ainda permeiam a dinâmica da vida

particular, familiar, coletiva e política daquelas mulheres que tiveram algum tipo de

proximidade com as ações impetradas pelo então Regime. Portanto, neste texto,

trago a colação uma pequena parcela dos achados da referida pesquisa, valendo-

me, para tanto, não somente da revisão bibliográfica sobre o tema, mas também da

análise documental e de entrevistas semi-estruturadas – focalizadas nas

experiências individuais de algumas famílias como forma de rememorar algumas

lembranças que até o presente momento não tiveram a oportunidade de ganhar

voz.

Começarei pela narrativa de C. A.14 que diz:

Quando o Paulo esteve preso eu sofri um aborto. Eu estava com três meses de gravidez. No entanto, nunca mais se falou, né [...] Este aborto eu sofri quando ainda estava

12 O termo mulher, pensado neste contexto, não está fazendo referência a uma categoria empírica/descritiva utilizada como contraposição ao termo gênero enquanto categoria analítica. 13 Para a análise do modo como o termo e a categoria social “subversivo” inseriu-se no cotidiano brasileiro recomenda-se a leitura: VELHO, G. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 4 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 14 Cenira San Martin Aquino é uma professora aposentada, viúva do Brigadiano (Policial Militar) Paulo Darcy Aquino, que foi preso pelo Regime Militar no ano de 1965. Esta narrativa emerge da entrevista concedida por Cenira no dia 24 de março de 2009.

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trabalhando, pois foi mandado a mim e a outra professora que aplicássemos provas lá no Porto. Nós fomos, nos levaram (os funcionários da Secretaria de Educação) lá, pois era uma distância de 10 km., mas eles não foram nos buscar e nós tivemos que retornar a pé em pleno dezembro, um calor horrível. E aí, eu sofri o aborto, de tanto caminhar! Eu cheguei exausta em casa.

Tal abuso foi cometido deliberadamente contra uma mulher grávida, já

fragilizada pela arbitrária prisão do marido15. Como se não bastasse, segundo

consta na Portaria N° 145/65, de 18 de maio de 1965 da Prefeitura Municipal de

Santa Vitória do Palmar/Rio Grande do Sul – RS, foi-lhe concedida “[...] licença para

tratamento de saúde, pelo espaço de (30) dias [...]”, sem que em nenhum momento

tenha sido indicado ou especificado a motivação para tal concessão que acaba

transcorrido o período de 30 dias sendo transformada em exoneração do emprego.

O marido de C. A. passa mais de dois anos preso e também acaba sendo

exonerado do trabalho. Durante anos o casal manteve sua família realizando

trabalhos temporários, pois, durante aquele período, ninguém ousava empregá-los

com medo de sofrer represálias governamentais.

Na comovente narrativa de A. M., filha de um militante político, ela conta que

era criança na época da Ditadura Militar e que ainda guarda lembranças dos

sussurros e corre-corres à noite, das coisas que não podiam ser ditas nem

explicadas e que eram escondidas de todos. Até que um dia levaram seu pai que

foi preso e assassinato. Durante muito tempo A. M. sentiu um vazio imenso e sem

explicação, pois não compreendia os fatos e menos ainda porque o seu pai que

“[...] era igual a tantos outros pais, de repente foi roubado de mim [...]”. Na

entrevista com L. G. ela conta, chorando muito, que quando viu a sua filha “[...] não

a reconheceu, nem mesmo sua voz, pois estava com os dentes quebrados, inchada

e disforme pela tortura”. L. G teve oportunidade de ver a filha somente esta vez,

pois até os dias de hoje sua filha está desaparecida.

15 Nas palavras de C. A.: “É, eu fiquei falida, sozinha [...] Mas tudo passa né! E a justiça dos homens!?. E eu só entendi que ele tinha sofrido tortura porque quando ficou doente revelou-me tudo o que sofreu”.

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Cabe esclarecer que, dar visibilidade a estas e a tantas outras narrativas,

constitui-se uma das formas possíveis de transitar em outras redes discursivas

sobre o período histórico em questão, diferentes daquelas legitimadas pela História

Oficial que, ademais de selecionar e ordenar os fatos segundo alguns critérios e

interesses construídos – em atendimento às orientações daqueles que compunham

o Regime de exceção – é contada e transmitida como a única e verdadeira história,

criando desta forma zonas de penumbras, silêncios, esquecimentos e negações.

Esta outra forma de conceber a história tem suas raízes no pensamento de

Benjamin é muito bem definida por Gagnebin16 quando afirma que:

Escrever a história dos vencidos exige a aquisição de uma memória que não consta nos livros da história oficial [...], fazer emergir as esperanças não realizadas (no) passado e inscrever em nosso presente seu apelo por um futuro diferente [...]. O esforço [...] é não deixar essa memória escapar, mas zelar pela sua conservação, contribuir na reapropriação desse fragmento de história esquecido pela historiografia dominante (1982, p.26).

Ao admitir a existência de variadas formas possíveis e plausíveis de

narrativas da História e a recuperação das visões sufocadas e esquecidas de

mulheres que tiveram suas vidas pessoais, familiares e profissionais traçadas pelas

mãos da Ditadura Militar, estas mulheres estarão tendo a possibilidade de exercer,

ainda que muito tempo depois dos dilemas sofridos, seus clamores e

reivindicações, deixando a condição de meras espectadoras para se converter em

porta-vozes de acontecimentos históricos, assumindo assim, uma condição de

sujeitos de sua própria história, em âmbito pessoal e coletivo. Como indica Freire17:

Não junto a minha voz a dos que, falando em paz, pedem aos oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a sua resignação. Minha voz tem outra semântica, tem outra música. Falo da resistência, da indignação, da “justa ira” dos traídos e dos enganados. Do seu direito e do seu dever de

16 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Cacos da história. São Paulo: Brasiliense, 1982. 17 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

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rebelar-se contra as transgressões éticas de que são vítimas cada vez mais sofridas (1997, p. 113-14).

Nesse sentido, rememorar a história constitui-se em um ato eminentemente

político, em uma objeção contumaz ao esquecimento público, à amnésia social e ao

incontestável escamoteamento das trajetórias individuais, pois, servindo-nos das

múltiplas formas de dominação produzidas, bem como dos fragmentos da memória

transfigurada em ausências, vazios e silêncios conseguiremos, de forma coletiva,

re-significar a memória como uma prática de resistência que, fundada no

inconformismo e na indignação, expressa as lutas dos diferentes agentes sociais

pela superação e transformação de suas condições de existência.

3. Conclusão

Acredito que a ação de rememoramento da história – através do ponto de

vista feminino – pode constituir-se numa ação que contribua ao perdão, à

reafirmação compartilhada de outras verdades, bem como ao desencadeamento de

um processo de afirmação de identidades e de direitos de cidadania dos segmentos

sociais historicamente excluídos e/ou ocultados na/da história oficial brasileira.

Porém, este perdão implica mexer em lembranças e escutar relatos de

histórias e experiências de sofrimentos, humilhações e injustiças, relatos que

significam o compartilhamento das dores, das perdas e do reconhecimento mútuo

dos erros cometidos18. Rememoramento que, creio, será capaz de reafirmar outras

18 Depois da barbárie ocorrida na Segunda Guerra Mundial instauram-se Tribunais com o intuito de julgar os crimes e delitos havidos durante este período. Alguns acusados foram condenados à morte, outros a prisão perpétua e outros a longos anos de prisão. No Brasil, a Lei de Anistia adotou a via do esquecimento e da não impetração de culpabilidade e respectiva pena para os crimes de torturas, assassinatos, desaparecimentos, mortes, entre outros atos delitivos ocorridos durante a Ditadura Militar. Na África do Sul, Mandela e seu grupo político articularam uma terceira via, extraordinariamente sábia e criativa, que se tem revelado também bastante eficaz. Implantaram o Tribunal da Verdade e da Reconciliação, presidido pelo Bispo Desmond Tutu (Prêmio Nobel da Paz de 1984), porta-voz

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verdades através da oitiva das alteridades, ação de ouvir e ser ouvido e que não

tem a pretensão de reescrever os livros de história, apresentando tal qual a

historiografia oficial, uma concatenação casual entre os fatos havidos no passado

como se vivêssemos em um sucessivo rumar em direção ao progresso, mas sim a

tentativa de interromper conscientemente este continuum histórico para que o

passado brote no presente, revelando sua fragilidade tanto no sentido de que é

impossível um rememoramento que abarque todas as injustiças e babáries havidas,

como no sentido de que somente desta forma se romperá com a força da história

linear e progressiva.

Esta nova narrativa ainda que sabedora da impossibilidade de transmitir a

totalidade da experiência do sofrimento, não se furta a transmiti-la. Rememorar os

acontecimentos não oficiais havidos durante a Ditadura Militar equivale a recuperar

parte da realidade que ficou relegada às ruínas da história. Rememorar as

violações de direitos ocorridos neste período, não significa apenas reforçar a

garantia de que os regimes totalitários e de exceção nunca mais ocorrerão, mas

sim, fazer justiça.

No caso brasileiro, a dominação do esquecimento e o não enfrentamento

dos fatos que aconteceram durante a Ditadura, são atitudes coletivas e porque não

dizer estatais – já que se mantêm com base em sua chancela – que afrontam

duplamente a justiça: primeiro, porque negam as injustiças cometidas; segundo,

porque aniquilam da memória coletiva o sofrimento das vítimas renegando, no

presente, a sua existência. Nestas condições, a Justiça fica esvaziada de seu

potencial ético, operando como mera legitimadora do status quo.

mundialmente respeitado da luta anti-racista pelos direitos civis e as liberdades democráticas, não apenas na África do Sul. Esse Tribunal tinha o poder de anistiar todos aqueles que se apresentassem como partícipes das atrocidades ocorridas na África do Sul, durante a vigência do Apartheid, e confessassem seus crimes e delitos, desde que tais atos tivessem tido inspiração política e/ou que possuíssem alguma relação de proporção entre os fins desejados e os meios adotados. De outro lado, o Tribunal abriu espaço para que todas as vítimas compartilhassem sua dor, relatassem suas histórias e obtivessem alguma forma de reparação (ainda que o aporte econômico concedido às vítimas e/ou seus familiares fosse quase simbólico) por parte do Estado. Sugerimos a leitura da obra: TUTU, Desmond. No Future without forgiveness. New York: Doubleday, 1999.

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Como bem enfatiza Young19 (1990; 1997), se a Justiça é concebida como

uma virtude política que fundamenta a teoria moral e feminista, ela também é apta a

enfrentar distintos tipos de dominação e opressão. Destarte, dar voz às vítimas, aos

emudecidos e a todos aqueles que caíram ao longo do caminho, é uma forma

concreta de romper a amnésia histórico-social que nos foi imposta. É também uma

forma de resistir à destruição realizada contra a pluralidade e a diversidade em

nome de uma pretensa unidade nacional – diretamente associada a uma

uniformidade de pensamento. Portanto, dar lugar ao olhar dos relegados da história

recente brasileira e ouvir os seus testemunhos, com certeza, nos auxiliará a

encontrar outras verdades capazes de não somente irromper com a realidade

esquecida e renegada, mas de restaurar nossa humanidade.

A reconciliação do passado com o presente é uma tarefa sempre em

movimento de construção e, por isso mesmo, indispensável ao desencadeamento

de um processo de afirmação de identidades pessoais, sociais e coletivas, e de

direitos de cidadania dos segmentos sociais historicamente excluídos e/ou

ocultados na/da história oficial brasileira; circunstâncias que favorecem a

construção do presente e do futuro que se quer enquanto sociedade livre e

democrática e a constituição de uma experiência vivencial da afirmação da cultura

dos Direitos Humanos, além do conseqüente repúdio à violação dos mesmos.

Afinal, como sinaliza Candau20:

Este é o nosso momento. Nele temos de buscar, no meio de tensões, contradições e conflitos, caminhos de afirmação de uma cultura dos Direitos Humanos, que penetre todas as práticas sociais e seja capaz de favorecer processos de democratização, de articular a afirmação dos direitos fundamentais de cada pessoa e grupo sócio-cultural, de modo especial os direitos sociais e econômicos, com o reconhecimento dos direitos à diferença (2007, p.399).

19 YOUNG, Iris. Justice and the Politics of Difference. New Haven: Princeton University Press, 1990.; e , YOUNG, Iris. Intersecting Voices: Dilemmas of Gender, Political Philosophy and Policy. New Haven: Princeton University Press, 1997. 20 CANDAU, Vera. Educação em direitos humanos: desafios atuais. In: SILVEIRA, Rosa Maria et al. (orgs.). Educação em Direitos Humanos: Fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Ed. da UFPB, 2007, p.399-412.

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Portanto, creio que podemos pensar que as condições de produção dos

nossos discursos e práticas são tributárias das concepções de ser humano, mundo

e sociedade que partilhamos e do sentimento de pertencimento, de identificação

que temos com as crenças e os valores da sociedade que convivemos e

construímos coletiva e solidariamente.

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