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EXTRAÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL DE EUCALYPTUS GLOBULUS UTILIZANDO MATERIAL ALTERNATIVO NO ENSINO DE QUÍMICA Agemiro Pinto de Oliveira Carvalho, Kelly Cristina Rigol de Souza RESUMO O óleo essencial de Eucalyptus globulus tem em sua composição principal o cineol e o eucaliptol que são usados na fabricação de produtos de limpeza. O tema em estudo foi abordado no ensino médio nas aulas de química realizadas na Uni-ANHANGÜERA. O óleo de Eucalyptus globulus foi extraído utilizando materiais alternativos de baixo custo, utilizando o método de destilação arraste a vapor. Os resultados obtidos mostram que existe a possibilidade de interdisciplinar, relacionando conteúdos de química, biologia e física. Os alunos mostraram interesse pelo tema apresentado, o qual torna a aula mais mais participativa e interessante. A interdisciplinaridade pode ser desenvolvida com três áreas: química, física e biologia abordando aspectos químicos, biológicos e físicos da utilização do óleo essencial de Eucalyptus globulus tornando as aulas mais interessantes motivadoras e contextualizadas. Palavras-chave: eucalipto; destilação; interdisciplinaridade INTRODUÇÃO A International Standard Organization (ISO) define óleos voláteis como produtos obtidos de partes de plantas através de destilação por arraste a vapor, bem como os produtos obtidos pela expressão dos pericarpos de frutos cítricos (Rutaceae). Estes óleos são, de uma maneira geral, misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas, sendo também denominados de óleos essenciais, óleos etéreos ou essências. Estas denominações derivam de suas propriedades físico-químicas, como, por exemplo, a de serem líquidos de aparência oleosa à temperatura ambiente, dando origem a designação óleo. Contudo, sua principal característica é a volatilidade, diferindo-se assim dos óleos fixos uma mistura de lipídeos, obtidos geralmente de sementes (FLAVOUR, 1973). Os óleos essenciais são substâncias voláteis extraídas de plantas aromáticas, constituindo matérias-primas de grande importância para as indústrias cosmética, farmacêutica e alimentícia. Essas substâncias orgânicas são consideradas a alma da planta e são os principais componentes bioquímicos de ação terapêutica das plantas medicinais e aromáticas (SIMÕES, 1999). A extração do óleo essencial de eucalipto pode ser feita pelo processo de destilação arraste a vapor. No laboratório, as folhas de eucalipto são colocadas numa cuba com água e 1

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EXTRAÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL DE EUCALYPTUS GLOBULUS

UTILIZANDO MATERIAL ALTERNATIVO NO ENSINO DE QUÍMICA

Agemiro Pinto de Oliveira Carvalho, Kelly Cristina Rigol de Souza

RESUMO

O óleo essencial de Eucalyptus globulus tem em sua composição principal o cineol e o eucaliptol que são usados na fabricação de produtos de limpeza. O tema em estudo foi abordado no ensino médio nas aulas de química realizadas na Uni-ANHANGÜERA. O óleo de Eucalyptus globulus foi extraído utilizando materiais alternativos de baixo custo, utilizando o método de destilação arraste a vapor. Os resultados obtidos mostram que existe a possibilidade de interdisciplinar, relacionando conteúdos de química, biologia e física. Os alunos mostraram interesse pelo tema apresentado, o qual torna a aula mais mais participativa e interessante. A interdisciplinaridade pode ser desenvolvida com três áreas: química, física e biologia abordando aspectos químicos, biológicos e físicos da utilização do óleo essencial de Eucalyptus globulus tornando as aulas mais interessantes motivadoras e contextualizadas.

Palavras-chave: eucalipto; destilação; interdisciplinaridade

INTRODUÇÃO

A International Standard Organization (ISO) define óleos voláteis como produtos

obtidos de partes de plantas através de destilação por arraste a vapor, bem como os produtos

obtidos pela expressão dos pericarpos de frutos cítricos (Rutaceae). Estes óleos são, de uma

maneira geral, misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e

líquidas, sendo também denominados de óleos essenciais, óleos etéreos ou essências. Estas

denominações derivam de suas propriedades físico-químicas, como, por exemplo, a de serem

líquidos de aparência oleosa à temperatura ambiente, dando origem a designação óleo.

Contudo, sua principal característica é a volatilidade, diferindo-se assim dos óleos fixos uma

mistura de lipídeos, obtidos geralmente de sementes (FLAVOUR, 1973).

Os óleos essenciais são substâncias voláteis extraídas de plantas aromáticas,

constituindo matérias-primas de grande importância para as indústrias cosmética,

farmacêutica e alimentícia. Essas substâncias orgânicas são consideradas a alma da planta e

são os principais componentes bioquímicos de ação terapêutica das plantas medicinais e

aromáticas (SIMÕES, 1999).

A extração do óleo essencial de eucalipto pode ser feita pelo processo de destilação

arraste a vapor. No laboratório, as folhas de eucalipto são colocadas numa cuba com água e

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levadas para o destilador. Quando a água é aquecida inicia-se a produção de vapor que arrasta

o óleo contido nas glândulas das folhas. Condensam-se os vapores que são recuperados num

recipiente. O óleo constitui a fase orgânica que fica na parte superior e na parte inferior, a fase

aquosa.

No óleo de eucalipto existem vários componentes como o citronelal, do grupo dos

aldeídos, que juntamente com os álcoois, forma a fração mais perfumada das essências. O

cineol ou eucaliptol é o principal componente do Eucalyptus globulus e muito utilizado na

medicina e produtos de limpeza (CINIGLIO, 1993).

História da destilação

A destilação foi um dos desenvolvimentos promovidos por alquimistas alexandrinos:

alambiques, retortas e fornos estão sempre presentes em imagens para caracterizar alquimistas

e químicos em seus laboratórios (BELTRAN, 1996).

De fato, nas principais fontes dos textos alquímicos alexandrinos que sobreviveram até

nossos dias em cópias manuscritas feitas entre os séculos XI e XV, estão algumas figuras de

instrumentos que os químicos de hoje podem facilmente associar com aparatos destilatórios.

Entretanto apesar das semelhanças observadas entre o processo de destilação atual num

contexto geral é muito diferente. A destilação dos alquimistas era uma alquimia, relacionada

várias idéias, misturando magia, religião, filosofia, artesanato e ciências. A destilação era uma

operação alquímica, relacionada, portanto a um corpo conceitual originário de hibridizações

entre idéias mágicas, religiosas e filosóficas, associadas aos conhecimentos envolvidos nas

práticas artesanais egípcias. Desde a sua origem e durante um longo período, a destilação

estaria ligada à preparação de poderosas águas medicinais (aqua vitae ou água da vida) e a

obtenção da pedra filosofal, do maravilhoso elixir que promoveria a cura de todas as doenças

mentais dos homens. A destilação também utilizada em manufaturas como, por exemplo, na

preparação de perfumes, arte em que os árabes muito contribuíram. Mesmo no inicio da idade

moderna o termo destilar abrangia todos os processos em que se observa gotejamento,

incluindo, portanto, fusões e mesmo filtrações (BELTRAN, 1996).

O fracionamento do petróleo, a obtenção de álcoois e a extração de óleos essenciais

são apenas alguns exemplos de processos em que a destilação é empregada na indústria. Além

disso, a destilação é um dos principais métodos de purificação de substâncias utilizadas em

laboratório (BELTRAN, 1996).

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A destilação enquanto processo de laboratório talvez tão antigo quanto à própria

alquimia, sobreviveu ao abandono daquela forma ancestral de investigação da matéria estando

ainda hoje presente em laboratório e indústrias químicas (BELTRAN, 1996).

Processos de separação de misturas

A destilação é um método de separação de líquidos misturados com sólidos ou com

outros líquidos, baseados na diferença dos pontos de ebulição dos diferentes componentes da

mistura. O processo consiste no aquecimento de um líquido até o ponto de ebulição, fazendo-

o passar para o estado gasoso e, em seguida, retornar à forma líquida (condensação) por meio

da refrigeração do vapor (RUSSELL, 1994).

O ponto de ebulição é definido pela temperatura na qual a substância passa do estado

líquido para o gasoso, ou seja, a temperatura na qual a pressão de vapor do líquido se iguala à

pressão externa exercida sobre a superfície do líquido. A pressão de vapor de um líquido é a

pressão exercida pelo líquido sobre a vizinhança, resultante da saída de moléculas da

superfície do líquido de forma gasosa. O aumento da temperatura provoca o aumento da

pressão de vapor do líquido, pois o aquecimento aumenta a energia cinética das moléculas,

deslocando o equilíbrio para o sentido de formação de vapor. A uma determinada

temperatura, a pressão de vapor é constante, sendo normalmente expressa pela altura de uma

coluna de mercúrio que produza a mesma pressão. As impurezas podem aumentar ou diminuir

o ponto de ebulição, dependendo do tipo de interação existente entre elas e o líquido

(FELTRE, 1993).

A destilação é o método de separação baseado no fenômeno de equilíbrio líquido-

vapor de misturas. Em termos práticos, quando temos duas ou mais substâncias formando

uma mistura líquida, a destilação pode ser o método adequado para purificá-las.

Um exemplo de destilação que tem sido feito desde a antigüidade é a destilação de

bebidas alcoólicas. A bebida é feita pela condensação dos vapores de álcool que escapam

mediante o aquecimento de um mosto fermentado. Como o teor alcoólico na bebida destilada

é maior do que aquele no mosto, caracteriza-se aí um processo de purificação (CAMARGO,

1985).

O petróleo é um outro exemplo de mistura que deve passar por várias etapas de

destilação antes de resultar em produtos realmente úteis ao homem: gases (um exemplo é o

gás liquefeito de petróleo ou GLP), gasolina, óleo diesel, querosene, asfalto e outros.

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O uso da destilação como método de separação disseminou-se pela indústria química

moderna. Pode-se encontrá-la em quase todos os processos químicos industriais em fase

líquida onde for necessária uma purificação (RUSSEL, 1994).

Os métodos de extração empregados no passado eram bem simplificados e os produtos

obtidos a partir destes nem sempre eram óleos com alto grau de pureza. Atualmente com a

tecnologia é possível extrair óleos essenciais concentrados e com alto teor de pureza, que os

retirados pelos antigos métodos parecem perfumes de segunda (BARROS, 1980).

Destilação simples

A destilação simples envolve apenas um ciclo de vaporização-condensação, é aplicada

para separar líquidos com pontos de ebulição muito diferentes, ou seja, que diferem em pelo

menos 60ºC a 80ºC. Geralmente, o método é a última etapa da purificação de uma substância

líquida que contenha impurezas não-voláteis ou pequenas quantidades de impurezas voláteis

cujos pontos de ebulição sejam muito diferentes do líquido a ser purificado (CAMARGO,

1985).

Este tipo de destilação consiste em apenas uma etapa de vaporização e condensação.

Utiliza-se materiais conforme Figura 1 (balão de destilação, quando em laboratório;

refervedor, ou quando em indústria, um condensador, um receptor ou balão de recolhimento e

um termômetro. A vaporização se dá pelo aumento rápido da temperatura ou pela redução de

pressão no balão, onde a mistura a ser purificada está inicialmente.

O vapor gerado no aquecimento é imediatamente resfriado no condensador. O líquido

condensado, também chamado de destilado, é armazenado por fim no recipiente colector

(VOGEL,1985).

Observa-se atentamente o termômetro durante todo o processo. A temperatura tem a

tendência de estacionar inicialmente no ponto de ebulição da substância mais volátil. Quando

a temperatura voltar a aumentar, deve-se pausar o aquecimento e recolher o conteúdo do

recipiente colector, o líquido obtido é a substância mais volátil, separada da mistura original.

Repete-se o processo para a obtenção da segunda substância mais volátil, a terceira, etc., até

conseguir separar cada um dos componentes da mistura (RUSSEL, 1994).

Cada um dos destilados pode ser chamado de corte, porque o processo é como se

"cortasse" partes da mistura a cada temperatura.Os destilados obtidos desta forma não estão

100% puros, apenas mais concentrados do que a mistura original. Para obter graus de pureza

cada vez maiores, pode-se fazer sucessivas destilações do destilado (BELTRAN,1996).

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Destilação fracionada

A destilação fracionada é um processo de aquecimento, separação e esfriamento dos

produtos. É empregada quando a diferença entre os pontos de ebulição dos líquidos da mistura

é menor que 80ºC. O uso da coluna de fracionamento tem como objetivo criar várias regiões

de equilíbrio líquido-vapor, enriquecendo a fração do componente mais volátil da mistura na

fase de vapor. É muito comum em refinarias de petróleo, para extrair diversos tipos de

compostos, como o asfalto, gasolina, gás de cozinha entre outros. Nessa destilação ocorre

separação de líquidos miscíveis entre si, mesmo aqueles de pontos de ebulição próximos.

Evidentemente, por repetidas destilações, combinando e recombinando destilações

fracionadas e condensadas, podendo separar por exemplo uma mistura de benzeno e tolueno

em seus componentes puros. Contudo, o destilado poderá ser um componente de um ponto de

ebulição baixo, benzeno (puro), ou um componente de ponto de ebulição elevado, o tolueno

(VOGEL, 1985).

A destilação fracionada é simplesmente uma técnica para realizar uma série completa

destas pequenas separações em uma operação. Em princípio, uma coluna de destilação

fracionada proporciona uma grande superfície para o intercâmbio de calor, nas condições de

equilíbrio, entre o vapor ascendente e o condensado descendente. Isto possibilita uma série

completa de evaporações e condensações parciais ao longo da coluna. A coluna fica entre o

condensador e o balão (FELTRE, 1993).

A coluna de fracionamento consta de um tubo longo, adaptado pela extremidade

inferior ao balão, contendo, na extremidade superior, um tubo de desprendimento lateral que

deverá ser ajustado ao condensador. Pela abertura superior é introduzido um termômetro, cujo

bulbo deverá ficar à altura da saída do tubo de desprendimento. Internamente ao tubo longo,

colocam-se pequenos cilindros de vidro ou porcelana, dispostos irregularmente, que agem

como pequenos condensadores de refluxo para a mistura de vapores (CAMARGO,1985).

A coluna é feita de tal forma que, pela extremidade conectada ao condensador,

somente saem vapores do líquido mais volátil, regressando ao balão, por refluxo, para

redestilação, a mistura de vapores dos componentes do líquido inicial (FELTRE, 1993).

Destilação à pressão reduzida

Muitas substâncias orgânicas não podem ser destiladas satisfatoriamente sob pressão

ambiente porque tem ponto de ebulição muito alto (50oC) ou porque sofrem alteração

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(decomposição, oxidação, etc.) antes que seu ponto de ebulição seja atingido. Quando a

pressão de vapor do líquido é igual à pressão total externa exercida sobre ele, o líquido entra

em ebulição (esta pressão externa pode ser exercida pelo ar atmosférico, por outros gases,

pelo vapor e ar). Quando a pressão externa é 760 mmHg (pressão normal), a temperatura de

ebulição é chamada ponto de ebulição normal. Além disso, substâncias de alto ponto de

ebulição podem ser mais facilmente destiladas desta maneira. Exemplo: O acetato de etila

entra em ebulição com decomposição à l80oC sob pressão de 760 mmHg, e entra em ebulição

sem decompor a 78oC sob pressão de 18 mmHg. A redução da pressão externa sobre o líquido

é conseguida adaptando-se ao sistema de destilação uma bomba de vácuo ou trompa de água

(BARROS, 1980).

Destilação por arraste a vapor

No processo de destilação por arraste a vapor, conforme Figura 4, um ou mais líquidos

imíciveis em água são destilados conjutamente. Muitas substâncias orgânicas se decompõem

quando em temperaturas próximas de seu ponto de ebulição, portanto, a co-destilação com

água previne a decomposição, uma vez que a mistura a ser destilada entra em ebulição a uma

temperatura inferior ao ponto de ebulição da água. Esse tipo de destilação depende da

imiscibilidade entre as substâncias orgânicas e a água. De acordo com a lei de Dalton sobre as

pressões parciais dos gases, num sistema contendo vapores imiscíveis, cada componente

exerce sua própria pressão de vapor, independentemente dos outros componentes presentes.

Portanto, a pressão de vapor total sobre a mistura é igual à soma de vapores de cada

componente (PERUZZO, 1993).

É o tipo de destilação utilizada para isolar substâncias que se decompõem nas

proximidades de seus pontos de ebulição e que são insolúveis em água ou nos seus vapores de

arraste. Esta técnica é também aplicada para resinas e óleos naturais que podem ser separados

em frações voláteis e não voláteis e na recuperação de sólidos não arrastáveis pelos vapores

de sua dissolução, na presença de um solvente com alto ponto de ebulição (VOGEL, 1985).

A destilação oferece, ainda, a grande vantagem da seletividade porque algumas

substâncias são arrastadas com o vapor e outras não, além daquelas que são arrastadas tão

lentamente que permitem a realização de boas separações empregando esta técnica.

Utilizando o vapor de água para fazer o arraste, à pressão atmosférica, o resultado será a

separação do componente de ponto de ebulição mais alto, a uma temperatura inferior a 100ºC.

Se dois líquidos imiscíveis forem colocados em um mesmo recipiente cada um deles exercerá

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pressão de vapor independentemente do outro, de tal modo que a pressão total sobre o

sistema, será a soma de suas pressões parciais (CÓRNELIO, 1998).

Quando uma mistura de líquidos imiscíveis for destilada, o ponto de ebulição da

mistura permanecerá constante até que um dos componentes tenha sido quase que

completamente destilado (desde que a pressão total independa das quantidades relativas dos

dois líquidos), o ponto de ebulição então se elevará até a temperatura de ebulição do líquido

contido no balão de destilação (PERUZZO, 1993).

O ponto de ebulição de uma mistura imiscível corresponde à temperatura na qual a

soma das pressões individuais de cada componente se iguala à pressão atmosférica. Desta

maneira, a temperatura de destilação por arraste a vapor de uma substância razoavelmente

volátil será sempre inferior a 100ºC. A destilação da maioria das substâncias nesse processo

ocorre entre 80-100ºC (RUSSELL, 1994).

O ponto de ebulição da mistura é menor do que o ponto de ebulição de qualquer

componente puro. Isto ocorre porque compostos que são insolúveis em água tem uma

variação positiva muito grande da lei de Raoult. O ponto de ebulição da mistura é constante

enquanto ambos os componentes estiverem presentes (FELTRE, 1993).

O vapor de água passa pelo balão que tem a amostra a ser destilada; neste balão,

encontram-se a amostra e água, na fase de vapor, pela lei de Dalton, encontram-se a água e os

componentes da amostra exercendo suas respectivas pressões de vapor em função da

temperatura. No condensador, o vapor irá se condensar para um líquido de duas fases: a fase

aquosa e a fase orgânica, imiscíveis (VOGEL, 1985).

Eucalyptus globulus

Eucalipto é a designação dada a várias espécies vegetais do género Eucalyptus. Uma

das mais comuns, na Península Ibérica, é o Eucalyptus globulus. Na América do Sul existem

também extensas plantações das espécies E. urophylla e E. grandis. São árvores (em alguns

raros casos, arbustos) espontâneas na Austrália (ROMANI, 1972).

O gênero inclui mais de 700 espécies, sendo que a maioria destas fazem parte da flora

característica do continente australiano, existindo apenas um pequeno número de espécies

próprias dos territórios vizinhos da Nova Guiné e Indonésia. De fato, nenhum continente é tão

marcadamente caracterizado por um só género de árvore como acontece na Oceania, com os

eucaliptos. Algumas das suas espécies foram exportadas para outros continentes onde têm

ganho uma importância econômica relevante, devido ao fato de crescerem rapidamente e

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serem muito utilizadas para produzir pasta de celulose, usada no fabrico de papel, carvão

vegetal e madeira. Alguns defendem que a plantação de eucaliptos para evitar o corte e abate

de árvores naturais para esses fins e tornarem-se numa opção para o uso de terras degradadas,

promovendo a economia onde são cultivadas (VITTI, 1999).

O primeiro a plantar o eucalipto no Brasil foi D. Pedro II no Jardim Botânico do Rio

de Janeiro. Por não se tratar de uma planta nativa do Brasil, o uso desta espécie para a prática

de reflorestamento não é recomendado, sendo preferível a utilização de espécimes locais,

como a Araucária. Os plantios comerciais de eucalipto no Brasil existem mais de 700 espécies

já conhecidas, botanicamente, os plantios, em larga escala, no mundo, estão concentrados em

poucas espécies. Em termos de incremento anual e das propriedades desejáveis da madeira,

apenas doze tem sido utilizadas, com mais intensidade, para atender o setor industrial:

Eucalyptus grandis, E. saligna, E. urophylla, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. globulus, E.

viminalis, E. deglupta, E. citriodora, E. exserta, E. paniculata e E. robusta. No Brasil, tem

sido considerada muito promissora as espécies E. cloeziana, na região central, e o E. dunnii,

na região sul. A condição de sombreamento proporcionado pela vegetação após o

estabelecimento da cultura impede o desenvolvimento de qualquer outra espécie vegetal.

Portanto, o seu plantio não deve ser considerado “reflorestamento”, mas sim uma lavoura

agrícola perene como qualquer outra. A grande contribuição dessa cultura ao país é amenizar

a pressão sobre os ecossistemas naturais, substituindo a fonte de fornecimento de madeira

para lenha e carvão (MAFFEIS,.2000).

A cobertura do solo pela cultura do eucalipto durante o ano inteiro contribui para o

melhor aproveitamento da água das chuvas que são absorvidas por suas raízes em vez de

escorrer pela superfície e cair no rio e finalmente no oceano. A água absorvida pelas plantas,

ao contrário, é devolvida à atmosfera através da transpiração de suas folhas, que

eventualmente voltarão a cair através de novas chuvas. Devido a grande capacidade de

absorção e de transpiração do eucalipto, a sua cultura contribui para manter a água residente

no interior do país. A cobertura do solo por vegetação rala ou a sua inexistência total

representam um perigo para o balanço hidrológico de regiões muito distantes do mar. A água

das chuvas escorrerá quase totalmente pela superfície do solo em direção aos rios e finalmente

para o oceano, de onde dificilmente voltarão na forma de nuvens para a formação de novas

chuvas. Com isso o regime pluviométrico dessas regiões vai se alterando e a quantidade de

chuvas reduzida. Isso é mais ou menos o que ocorreu com o sertão nordestino e certamente

poderá ocorrer nas áreas de cerrado do Brasil central que estão sendo substituídas pela

agricultura de lavouras anuais (SIMÕES, 1999).

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Extração do óleo essencial de Eucalipto pela destilação por arraste a vapor

A primeira destilação de óleo essencial de eucalipto foi realizada na Austrália pelo

cirurgião inglês John White, no fim do século XXIII para substituição do óleo de menta

indicado como sedativo. White designou como “pappermint-tree” a planta produtora de óleo,

naquela data, ainda, botanicamente desconhecida. Os métodos de destilação desenvolvendo a

sua aplicação na indústria e divulgando diversos usos químicos e farmacêuticos dos óleos

essenciais do gênero Eucalyptus ( PERRUZZO, 1993).

A produção de óleo essencial no Brasil teve início ao final da segunda década de 1920,

tendo como base o puro extrativismo de essências nativas, principalmente do pau-rosa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter a atividade mais organizada, com a

introdução de outras culturas para obtenção de óleos, como: menta, laranja, canela sassafrás,

eucalipto, capim-limão, patchouli e outros (OLIVEIRA, 2001).

Isto ocorreu em função da grande demanda imposta pelas indústrias do ocidente, que

se viram privadas de suas tradicionais fontes de suprimento, em virtude da desorganização do

transporte e do comércio, ocasionada pela guerra. Dessa forma, a produção de óleos

essenciais no Brasil se consolidou através do atendimento do mercado externo. No mercado

interno a indústria nacional tinha dificuldades para importar tais produtos, o que ocasionou

um estímulo adicional à expansão da produção. Na década de 1950, instalaram-se no país

algumas empresas internacionais especializadas no aproveitamento de óleos essenciais para

produção de fragrâncias e aromas, destinadas as indústrias de perfumes, cosméticos, produtos

alimentares, farmacêuticos e de higiene.

Este fato provocou um aumento do consumo interno dos óleos essenciais, dando maior

estabilidade à nossa produção sob o ponto de vista da sua composição química, qualitativa e

quantitativamente, os óleos essenciais de eucalipto são misturas, mais ou menos complexas, e

variam com as espécies, a genética, o tipo e idade da folha, além das condições ambientais

(clima, solo, luz, calor, umidade) e do processo de extração (ROMANI, 1972). Já foram

identificadas mais de 700 espécies do gênero Eucalyptus, mas um número inferior a vinte

espécies é explorado comercialmente em todo o mundo para a produção de óleos essenciais

(VOGEL, 1985).

Os óleos essenciais de eucalipto apresentam colorações diversas segundo a espécie,

grau de umidade das folhas e idade da planta. Os melhores óleos são obtidos nas épocas do

ano com pouca umidade e de folhas já adultas. A aplicação dos óleos essências de eucalipto

depende da sua composição. Os mais importantes são os álcoois, os aldeídos, os ésteres e os

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éteres. Dentre eles, destacam-se os álcoois porque constituem uma das frações mais

aromáticas, destacando-se o citronelol (CINIGLIO, 1993). No óleo de eucalipto existem

vários componentes como o citronelal, do grupo dos aldeídos, que juntamente com os álcoois,

forma a fração mais perfumada das essências conforme Figura 6. O acetato de citronelila é um

éster muito utilizado em perfumes e é conhecido pelo agradável odor. O cineol ou eucaliptol é

o principal componente do Eucalyptus globulus e muito utilizado na medicina e produtos de

limpeza (VITTI, 1999).

A extração é feita pelo processo de destilação por arraste a vapor. Por isso, uma

fábrica de óleo de eucalipto é chamada de destilaria. No laboratório, as folhas são colocadas

numa cuba com água e levadas para o destilador (OLIVEIRA, 2001).

Quando a água é aquecida inicia-se a produção de vapor que irá arrastar o óleo contido

nas glândulas. Ele vai subir pelo equipamento, vai se condensar e vai ser recuperado num

separador. Como o óleo é mais leve, ele vai se posicionar na parte superior. Na indústria as

folhas não entram em contato com a água. Elas recebem o vapor produzido numa caldeira que

fica na parte de baixo da planta, levando cerca de 50 minutos para extrair o óleo (OLIVEIRA,

2001).

Classificação dos óleos essenciais

Os óleos essenciais, também conhecidos como óleos voláteis etéreos ou simplesmente

essências, são definidos pela Internation Standart Organization (ISO) como produtos obtidos

de partes das plantas, através da destilação por arraste a vapor. Os óleos essenciais

provenientes do eucalipto ocorrem nas folhas conforme Figura 7.

Nos óleos essenciais podem-se encontrar:

• ésteres: principalmente de ácidos benzóico, acético, salicílico, cinâmico;

• álcoois: linalol, geraniol, citronelol, terpinol, mentol, borneol;

• aldeídos: citral, citronelal, benzaldeído, aldeído cinâmico, aldeído cumínico e

vanilina;

• ácidos: benzóico, cinâmico e mirístico;

• fenóis: eugenol, timol, carvacrol;

• cetonas: carvona, mentona, pulegona, irona, cânfora;

• ésteres cineol, éter interno ( eucaliptol ), anetol, safrol;

• lactonas: cumarina;

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Terpenos: pinemo, limoneno, felandreno, cedreno; hidrocarbonetos: cimeno, estireno

(fenileteno), dentre outros compostos com mais de uma função, que justifica serem

conhecidos tanto por uma, como por outra função (MAHAN, 1999).

Na extração de óleos essenciais, o método a ser utilizado deve ser bem escolhido

antes de ser aplicado. Ainda que uma empresa já tenha um método sendo usado, nada impede

de que seja sugerido um meio melhor e mais barato de produzir o que se deseja. Um ponto

significativo o engenheiro químico deve ter em mente: matéria-prima. Conforme o caso, pode

até mesmo inviabilizar um método. O preço da matéria-prima inicial pode fazer uma grande

diferença também. Ainda que várias partes de uma planta contenham o produto de interesse, a

relação de custo/benefício pode levar a explorar só a que dá melhor rendimento. Qualidade do

produto final, alguns métodos têm mais chances de destruir uma composição mais complexa

de compostos orgânicos sensíveis ao calor (OLIVEIRA, 2001).

Não obstante, algumas essências são mais estáveis a situações mais adversas, o que dá

uma boa margem de escolha ao engenheiro. Quantidade/hora, dependendo da situação,

algumas formas de extração podem ter uma produção por hora diferenciada.

Métodos mais mecânicos podem ser mais ágeis do que os mais manuais, ainda que

custem proporcionalmente mais caro (ROMANI, 1972).

Outro detalhe importante é que, a produção pode ser em larga escala, com uma grande

produção por hora para produtos com baixo lucro final por quantidade, bem como se pode

investir em processo menor e mais delicado, mais próximo da química fina, e com um valor

agregado muito maior. Isso só depende da escolha a ser feita (HELLER, 1972).

A destilação por arraste a vapor geralmente usado em: folhas e ervas, mas nem sempre

é indicado para extrair-se o óleo essencial de sementes, raízes, madeiras e algumas flores,

porque devido as altas pressões e temperaturas empregadas no processo as frágeis moléculas

aromáticas podem perder seus princípios ativos (RUSSELL, 1994).

A qualidade do produto é satisfatória, para óleos essenciais de folhas e ervas que não

sofrem modificações com altas temperaturas e pressões, além de apresentar bom rendimento.

A destilação por arraste a vapor é o mais comum método de extração de óleos essenciais

(ROMANI, 1972).

Esta é feita em um alambique, onde partes da planta frescas ou secas são colocadas. O

vapor, saindo de uma caldeira, circula por onde a planta se encontra forçando a quebra das

bolsas intercelulares, fazendo liberar os óleos essenciais presentes na planta

(CINIGLIO,1993).

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Os óleos voláteis apresentam tensão de vapor mais elevadas que a da água, sendo por

isso, arrastadas pelo vapor d’água, saindo no alto do destilador, e a seguir passa por um

resfriamento, através do uso de uma serpentina que está em contato com um líquido (água)

temperatura mais baixa. Então a água e óleo são condensados (FELTRE, 1993).

Nesse produto de saída pode se ver a diferença de duas fases, óleo na parte superior e

na inferior a água, elas são separadas por um processo de decantação.

A água que sobra deste processo recebe o nome de água floral, destilado, hidrosol ou

de hidrolato. Ela contém muitas propriedades terapêuticas extraídas da planta, sendo útil para

preparados para a pele e também para uso oral. Em pequena escala de laboratório,emprega-se

o aparelho de Clevenger. O óleo volátil obtido, após separar-se da água, deve ser seco com

Na2SO4 anidro (CINIGLIO,1993).

A origem biossintética dos óleos essenciais de eucalipto relaciona-se com o seu

metabolismo secundário, que não é considerado como fundamental para a manutenção da vida

do organismo, porém conferem as plantas à capacidade de adaptação as condições do meio

em que vive. Os óleos essenciais de eucalipto estão divididos em três grupos principais, em

função do seu uso final: óleos medicinais, óleos industriais e óleos para perfumaria

(MAFFEIS, 2000).

No caso dos eucaliptos, especificamente, as referências são as de que a ocorrência do

óleo essencial estaria relacionada com a defesa da planta contra insetos, resistências ao frio

quando no estágio de plântulas, ao efeito aleopático e a redução da perda da água, resultados

estes que dependem ainda da realização de estudos mais comparativos (CÓRNELIO,

1998).

As especificações recomendadas pela International Standard Organization ( ISO) para

óleos ricos em citronelal e os óleos ricos em cineol são:

• densidade relativa (20ºC): 0,858 – 0,877

• índice de refração (20ºC): 1,4500 – 1,4590

• rotação óptica (20ºC): -2 a +4

• solubilidade. etanol 80% v/v (20ºC) 1: 2 volume.

• total de aldeído: Mínimo de 70%

Os óleos medicinais são aqueles que apresentam como componente principal o cineol,

em quantidade mínima de 70% e são destinados a fabricação de produtos farmacêuticos

(inalantes, estimulantes de secreção nasal, produtos de higiene bucal ou simplesmente, com

função de dar sabor e aroma aos medicamentos (SIMÕES, 1999).

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Segundo Oliveira (2001) a principal espécie produtora deste tipo de óleo no Brasil é o

Eucalyptus globolus, havendo também algumas referências de extração a partir do

Eucalyptus smithii. O óleo industrial tem como componente principal o felandreno, que é

usado como o solvente e matéria prima na produção de desinfetantes e desodorantes, e a

piperitona, a partir da qual é fabricado o timo (preservativo para gomas, pastas, colas etc.) e o

mentol (usado como aromatizante de produtos medicinais)

Os óleos de eucalipto estão presentes nas indústrias de perfumaria, fazendo parte da

composição de perfumes para diversos fins, sendo mais usados nos produtos de limpezas,

como sabões e desinfetantes. O Eucalyptus citriodora é principal espécie explorada no Brasil

para a produção deste tipo de óleo, apresentado como componente principal o citronelal

(BRITO, 2003).

Quadro 1: Teor de óleos medicinais e industriais (BRITO, 2003).

Espécie Componente principal

Nome Teor (%)

Rendimento

ÓLEOS MEDICINAIS

E. camaldulensis Cineol 80-90 0,3 a 2,8

E. dives var. cineol Cineol 60-75 3,0 a 6,0

E. globulus Cineol 60 a 85 0,7 a 2,4

E. oleosa Cineol 45 a 52 1,0 a 2,1

E. polybractea Cineol 60 a 93 0,7 a 5,0

E. tereticornis Cineol 45 0,9 a 1,0

ÓLEOS INDUSTRIAIS

E. Elata (var. piperitona) Piperitona 40-55 2,5 a 5,0

E. radiata subesp. Radiata Felandreno 35-40 3,0 a 4,5

Óleos para perfumaria

E. citriodora (var. citronelal) Citronelal 65 a 80 0,5 a 2,0

E. staigerana Citral (a + b) 16 a 40 1,2 a 1,5

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O Eucalyptus citriodora é uma árvore de porte médio e de bonita aparência, com as

procedências de origem norte apresentando cascas rosadas e as de origem sul apresentando

manchas em sua casca e a copa um tanto espalhada. No Brasil o Eucalyptus citriodora foi

introduzido juntamente com outras espécies de eucalipto com o objetivo inicial de produção

de madeira. Hoje, ela é muito utilizada para produção de carvão vegetal, postes, madeira para

serraria, mourões de cercas e também como lenha. Além dessa aplicação, atualmente é o

eucalipto mais cultivado nos países para produção de óleo essencial (CINGLIO, 1993).

A qualidade do óleo essencial é considerada um fator básico a ser vinculado a sua

obtenção, fazendo com que a realização de análises constantes seja de grande importância

para a avaliação de suas características prevenindo problemas na sua comercialização e uso

(ROMANI, 1972).

Utilização de materiais alternativos no Ensino de Química e a

interdisciplinariedade

Os materiais alternativos no ensino de química vem sendo um tanto motivador para os

professores que trabalham com o ensino da química, com isso o presente estudo tem como

finalidade apresentar a extração de óleo essencial como um método alternativo e

interdisciplinar no ensino de química. A intenção é levar aos alunos a compreensão e ao

estudo da química de maneira satisfatória, prazerosa e atraente, eliminando ou reduzindo os

problemas da falta de atenção, indisciplina, desmotivação e baixo rendimento escolar

(AZEVEDO, 1990).

A inquietação como professores de Química, nos leva a refletir no dia-a-dia a prática

pedagógica e nos fornece segurança para afirmar que se pode modificar a atitude didádico-

pedagógica e promover a efetivação de um fazer pedagógico mais significativo e prazeroso.

Essa grande tarefa pode devolver aos professores a conciência de sua importância em uma

sociedade que deve ser orientada para uma cultura livre, criativa, apaixonada e apaixonante ao

mesmo tempo (FAZENDA, 1992).

Na relação aluno-professor, o encantamento pelo ensino-aprendizagem deve ser

reciproco, possibilitando que as tarefas didáticas em sala de aula fiquem mais fáceis de serem

compreendidas, de forma criativa, intuitiva, otimista. Se o professor encantar seus alunos pelo

que ensina, poderá conseguir cativá-los, com um olhar, um gesto amigo, com um toque, com

uma ação, pois quando explica o conteúdo com encantamento, isto é, com carinho, capricho,

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concentração e alegria, consegue atrair atenção, despertando curiosidade e simpátia

(AZEVEDO, 1990).

Uma boa parte dos alunos que entra no ensino Médio traz consigo uma Química

rotulada como “difícil e complicada”, e o professor como mediador da aprendizagem tem a

função de cativar esses alunos para que essa rotulação seja banida. Para tanto, ele deve

relacioná-la as necessidades básicas do ser humano como: alimentação, vestuário, saúde,

moradia, transporte e outros, nos quais os conceitos químico estão implícitos. E com noções

básicas de química, o cidadão já pode se posicionar em relação aos inúmeros problemas da

vida moderna (JAPIASSU, 1995).

O aprendizado da química exige comprometimento, ética e com a mudança na postura

do professor em relação à sua prática didática-pedagógica, que deve ser voltada para o ensino

ligado ao cotidiano do estudante, abordando a essência de aprendizado da Química, alguns

professores ainda insistem em métodos ultrapassados, não contribuindo em nada para o

ensino desejado no ensino médio.Para tornar o ensino-aprendizagem de Química simples e

agradável, devemos abandonar metodologias ultrapassadas usadas no ensino tradicional, e

investir nos procedimentos didáticos alternativos, em que os alunos poderão adquirir

conhecimentos mais significativos. O procedimento alternativo procura colocar o aluno em

posição de pensar por si mesmo, colher dados, discutir idéias, emitir e testar hipóteses, sempre

motivado pela identificação do problema, levando-os à aprendizagem alicerçada pelo

“encantamento”e pela curiosidade ( BERNADELLI, 2004).

Encantar para ensinar, procedimento didático alternativo para o Ensino de Química,

tem como matriz teórica, centrado em um estudo descritico de uma experiência. Entende-se

que a melhoria da qualidade do ensino da química deve conteplar também a adoção de uma

metodologia de ensino que privilegie a experimentaçào como uma forma de aquisição de

dados da realidade, oportunizando ao aprendiz uma reflexão critica do mundo e um

desenvolvimento cognitivo, por meio de seu envolvimento de forma ativa, criatoda, teórica e

prática (FLORES, 1994).

O modelo de recurso proposto de interdisciplinaridade para ensinar e aprender

química, possibilita que os conteúdos de química, com outras disciplinas, tais como Biologia,

Física, História, Lingua Portuguesa, Matemática e outras. Desta forma é possível mudar, em

grande parte, a impressão tão arraigada nos alunos, que os conceitos de química não tem

utilidade prática. A confiança a partir do desenvolvimento dessa prática didática, o

encantamento, a curiosidade e a alegria agem como uma lavanca para derrubarmos o mito de

que a Química é uma disciplina de difícil assimilação (FAZENDA,1992).

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A interdisciplinaridade apresenta uma nova postura diante do conhecimento, uma

mudança de atitude em busca da totalidade do conhecimento, em busca do homem como ser

integral. Muitos estudiosos apontam à interdisciplinaridade como um caminho rumo à busca

de soluções, pois ela convida os educadores, enfim todos os profissionais da educação a

navegarem no oceano de elementos teóricos e práticos uns dos outros. O conhecimento

interdisciplinar tem se caracterizado como sendo uma ação desafiadora e criadora de

conhecimentos, partindo do disciplinar para o interdisciplinar (FLORES, 1994).

Portanto, esse conflito que o professor passa necessita cada vez mais de atitudes

onde o ensino seja atrativo, vinculado com o real e necessário para a sua sobrevivência. Sendo

assim, a interdisciplinaridade torna-se para o professor uma ferramenta muito importante, pois

esse passa conciliar aspectos sociais e culturais em suas abordagens (FLORES, 1994).

Desta maneira, devemos realizar uma reflexão em nossa prática pedagógica para

que possamos adequar o ensino a estas mudanças de concepções que a sociedade está nos

impondo. Essas reflexões devem perpassar no desenvolvimento de conteúdos curriculares

vinculados com a validade, com o cotidiano, através da organização de programas

interdisciplinares com diversas áreas do saber, tornando o processo ensino-aprendizagem mais

atrativo, mais coerente, mais prazeroso e mais real para nossos alunos. O ensino de química,

muitas vezes, tem-se resumindo os cálculos matemáticos e memorização de fórmulas e

nomenclaturas de compostos, sem valorizar os aspectos conceituais. Observa-se a ausência

quase total de experimentos que, quando realizados limitam-se a demonstrações que não

envolvem participação ativa do aluno, ou apenas os convida a seguir um roteiro, sem levar em

consideração o caráter investigativo e a possibilidade de relação entre o experimento e os

conceitos. Não se pode, entretanto colocar, única e exclusivamente, a culpa dos problemas de

química nos professores. Há um conjunto complexo de causas. A não-contextualização da

química pode ser responsável pelo alto nível de rejeição do estudo desta ciência pelos alunos,

dificultando o processo de ensino-aprendizagem. A contextualização no ensino, por outro

lado, não impede que o aluno resolva “questões clássicas de química, principalmente se elas

forem elaboradas buscando avaliar não a evocação de fatos, fórmulas ou dados, mas a

capacidade de trabalhar o conhecimento” (JAPIASSU, 1995).

O objetivo deste trabalho foi desenvolver um método simples e didático para extrair o

óleo essencial de Eucalyptus globulus através da destilação por arraste a vapor utilizando

material alternativo no ensino de química.

O trabalho teve como objetivos específicos:

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- Estimular o interesse dos alunos e promover o seu envolvimento nas aulas de

química.

- Mostrar a importância da atividade experimental no ensino de química.

- Motivar os professores à prática docente contextualizada utilizando materiais

alternativos de baixo custo e de fácil aquisição que podem ser trabalhados na própria sala de

aula.

- Trabalhar os diferentes conteúdos de forma contextualizada e interdisciplinar tais

como: separação de misturas, isomeria, compostos fenólicos, o uso de óleos essenciais na

medicina alternativa, à preservação ambiental, a plantação de monoculturas (eucalipto) e a

degradação do solo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O material utilizado para a montagem do sistema para extração do óleo essencial foi:

uma cuscuzeira média, uma cola de silicone, chapa aquecedora, mangueira para combustível

de PVC (2,5 m), uma garrafa PET de capacidade volumétrica de 2,5 L ou 3 L, pedaço de cano

PVC de uma polegada de diâmetro e 30 cm de comprimento, tampa de caneta esferográfica,

água, folhas secas de Eucalyptus globulus trituradas no liquidificador, gelo, frasco plástico

transparente de capacidade volumétrica de 500 mL, dois tubos de ensaio, e um conta-gotas.

Coleta das folhas de Eucalyptus globulus

A coleta das folhas de Eucalyptus globulus foi feita nas proximidades de nossa cidade

Goiânia, realizando a identificação da planta, comparando com os dados da literatura e

planejando a interdisciplinaridade com a área de Biologia.

O professor também pode coletar as folhas de Eucalyptus globulus nas proximidades

de sua região, juntamente com os alunos e fazer a identificação com os mesmos em sala de

aula, promovendo assim a interdisciplinaridade com área de Biologia.

Montagem do sistema de destilação arraste a vapor utilizando material

alternativo para a extração do óleo essencial de Eucalyptus globulus.

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A extração do óleo essencial de Eucalyptus globulus foi realizada no Uni-

ANHANGÜERA, nas ´´Aulas Preparatórias de Química e Biologia`` que compreende um

curso de extensão destinado a alunos da rede estadual de ensino com dificuldade em aprender

as disciplinas. Os materiais utilizados foram de baixo custo como uma panela cuscuzeira

média, garrafa PET e mangueira de PVC. Com 2 cm da base da garrafa, fez-se dois furos: um

para passagem da mangueira de condensação e outro para o escoamento da água do degelo

(ladrão), que pode ser vedado com uma tampa de caneta esferográfica ou com uma pequena

rolha (cortiça ou borracha).

Enrolou-se a mangueira no cano de PVC em forma de espiral, prendendo-a com

arames, através de furos feitos no cano, fixando-a. Retirou-se o pino da tampa da cuscuzeira e

adaptou-se a mangueira do sistema de condensação. As passagens da mangueira na cuscuzeira

e na garrafa foram seladas com cola de silicone.

Extração do óleo essencial de Eucalyptus globulus

O adicionou água à cuscuzeira, até metade do volume do compartilhamento inferior.

Em seguida, transferiram-se folhas de Eucalyptus globulus, até metade do volume do

compartimento superior. Vedou-se com cola de silicone a tampa da cuscuzeira e ligou-se a

chapa aquecedora. Colocaram-se pedras de gelo na garrafa plástica. A mistura (óleo + água)

destilada é condensada e decantada no frasco de plástico. Ocasionalmente, devido à pressão

interna, a tampa da cuscuzeira poderá forçar a cola de silicone e se desconectar, no entanto,

isto pode ser evitado colocando-se um peso sobre a tampa.

Purificação do óleo essencial de Eucalyptus globulus extraído

A purificação do Óleo Essencial de Eucalyptus globulus extraído foi realizada na Uni-

ANHANGÜERA (Centro Universitário de Goiás) nas aulas preparatórias de Química e

Biologia sob orientação da professora Vanessa C. Leite e foi realizado por nós professores

Agemiro P. O. Carvalho e Kelly Cristina R. De Souza, utilizando funil de separação e o

solvente diclorometano e rotavaporizador. O solvente diclorometano foi utilizado no processo

de separação e posteriormente removido no rotavaporizador.

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Preparação de desinfetante a partir do óleo essencial de Eucalyptus Globulus

extraído

Em recipiente de capacidade volumétrica de 1000 mL adicionou-se 12,5 mL de cloreto

benzalcônico 80%, 5 mL de nonilfenol etoxilado, juntamente com 10 mL de Óleo Essencial

de Eucalyptus globulus e homogenizou-se essa mistura que corresponde a Fase A.

Em outro recipiente de mesma capacidade dissolver 0,5 g de EDTA Tetrassódico com

972 mL de água deionizada , essa mistura corresponde a fase B.

As fases A e B são misturadas com agitação constante até total homogeneização.

RESULTADOS E DICUSSÃO

O ensino de Química na escola se torna cada vez mais fragmentado e distante da

realidade do aluno. A dificuldade enfrentada pelo professor em ensinar não é muito diferente

daquela vivida pelo aluno no momento de aprender. Ambos percebem a existência de duas

linguagens: a científica e a do senso comum. Enquanto a primeira se apóia em fatos lógicos e

comprovados, a segunda mostra o verdadeiro mundo particular do aluno, mundo em que o

professor deve procurar conhecer e buscar relações facilitadoras do aprendizado.

A técnica de destilação por arraste a vapor utilizando material alternativo no ensino de

química pode ser explorada didaticamente, desde a etapa de obtenção de óleo essencial até o

seu uso na produção de desinfetante. O professor tem a liberdade de planejar o momento

apropriado para desenvolver este trabalho, interdisciplinando e contextualizando o assunto

através de Semanas Científicas, ou durante suas aulas de química. Para trabalhar de forma

integradora, é necessário muito mais que uma aula de química, uma vez que os alunos são

envolvidos ativamente no processo de aprendizagem.

O trabalho não se limita apenas na demonstração do experimento ou na execução de

um roteiro experimental, mas na possibilidade de trabalhar vários conceitos através da

interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade foi realizada inicialmente com duas disciplinas:

Química e Biologia.

O Quadro 2 apresenta os conteúdos de química trabalhados do 1º ano do ensino médio

que podem ser interdisciplinados, tendo como tema gerador “extração de óleo essencial de

eucalipto”. De acordo com os dados descritos no Quadro 2, podemos observar que alguns

conteúdos de química podem ser interdisciplinados com as Ciências: Física e Biologia,

favorecendo um ensino menos compacto e isolado das demais áreas do conhecimento. Esta

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abordagem pode ser realizada por professores das três áreas, com o objetivo de buscar

relações facilitadoras do aprendizado e promover um ensino contextualizado e útil para o

aluno.

Quadro 2 Conteúdos Interdisciplinados com Química, Biologia e Física Conteúdo de Química Conteúdo de Biologia Conteúdo de Física

• Matéria e Energia

-Energia -Sistema -Fenômenos físicos e químicos -Substâncias e misturas homogêneas e heterogêneas

-Origem do Universo: experimento de Pasteur -Unidades de medida

-Separação de misturas: centrífuga (movimento circular) - Energia -Calor e temperatura

• Ligações químicas

-Ligações covalentes -Geometria molecular -Polaridade das ligações e solubilidade -Momento dipolar -Forças intermoleculares

-Base molecular da vida (água, sais, carboidratos, lipídios, proteínas, ácidos nucléicos) - Conceitos fundamentais em genética

-Vetores -Energia potencial na formação das moléculas -Noções básicas de eletricidade

• Estequiometria -Rendimento e grau de pureza

Metabolismo energético das células

-Conservação de energia

Neste trabalho interdisciplinamos alguns conteúdos de química do 1º ano, além desses,

o professor pode buscar conteúdos de outras séries como, por exemplo, as do 3º ano,

trabalhando a isomeria, compostos orgânicos e funções orgânicas. Outras áreas do

conhecimento também podem ser interdisciplinados como história e matemática.

Através de uma avaliação qualitativa, os alunos mostraram-se mais participativos e

interessados em estudar Química. Relatos e depoimentos dos alunos também demonstraram

que houve o entendimento dos conteúdos trabalhados e que os alunos são capazes de

transferi-los para a compreensão de situações reais.

CONCLUSÃO

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De acordo com os resultados obtidos, podemos concluir que a técnica de extração

arraste a vapor pode ser facilmente realizada na escola. A metodologia aplicada facilita a

abordagem didática de conceitos e a simplicidade da parte experimental torna viável em

escolas sem infra-estrutura laboratorial. O professor pode aproveitar o tema e interdisciplinar

o assunto com outras disciplinas como Física, Biologia, História, Literatura, Geografia entre

outras, tornado as aulas de química mais interessantes e contextualizadas.

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