utilizaÇÃo de biomassa para

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UTILIZAÇÃO DE BIOMASSA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA: ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA MADEIREIRA DE ARIPUANÃ-MT Anderson Gheller Froehlich (UNEMAT) Gelciomar Simão Justen (UNEMAT) Lierge Luppi (UNEMAT) Suzana de Moraes (UNEMAT) Resumo Atualmente a preocupação com a gestão ambiental faz cada vez mais parte do cotidiano das empresas. As indústrias madeireiras, por exemplo, no seu processo de produção, geram uma grande quantidade de resíduos necessitando de um gerenciamentto adequado desses resíduos para diminuir seus impactos ambientais. Neste contexto, este trabalho apresenta uma abordagem sobre a utilização dos resíduos sólidos gerados no setor madeireiro. A pesquisa foi realizada através de estudo de caso em uma indústria madeireira no município de Aripuanã-MT. O estudo teve como objetivo identificar as principais vantagens que a empresa pode obter com a reutilização dos resíduos de produção para a geração de energia. Pretendeu-se demonstrar como a empresa pode diminuir significativamente os seus custos ao reutilizar os resíduos para geração de energia própria, além de obter receita adicional ao fornecer excedente de energia para terceiros. Também foi possível mostrar como o reaproveitamento dos resíduos (biomassa) pode contribuir para a diminuição de resíduos no meio ambiente. A metodologia utilizada para coleta de dados foi observação simples no local, aplicação de entrevista estruturada com o proprietário, bem como pesquisa bibliográfica. A pesquisa demonstrou que após a implantação da usina termoelétrica na empresa para geração de energia para consumo próprio e comercialização do excedente, os custos diminuíram significativamente, além de evidenciar a importância da receita obtida com a comercialização da energia elétrica. Palavras-chaves: Gestão Ambiental, Resíduos Sólidos, Biomassa 8 e 9 de junho de 2012 ISSN 1984-9354

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UTILIZAÇÃO DE BIOMASSA PARA

GERAÇÃO DE ENERGIA: ESTUDO DE

CASO EM UMA INDÚSTRIA

MADEIREIRA DE ARIPUANÃ-MT

Anderson Gheller Froehlich

(UNEMAT)

Gelciomar Simão Justen

(UNEMAT)

Lierge Luppi

(UNEMAT)

Suzana de Moraes

(UNEMAT)

Resumo Atualmente a preocupação com a gestão ambiental faz cada vez mais

parte do cotidiano das empresas. As indústrias madeireiras, por

exemplo, no seu processo de produção, geram uma grande quantidade

de resíduos necessitando de um gerenciamentto adequado desses

resíduos para diminuir seus impactos ambientais. Neste contexto, este

trabalho apresenta uma abordagem sobre a utilização dos resíduos

sólidos gerados no setor madeireiro. A pesquisa foi realizada através

de estudo de caso em uma indústria madeireira no município de

Aripuanã-MT. O estudo teve como objetivo identificar as principais

vantagens que a empresa pode obter com a reutilização dos resíduos

de produção para a geração de energia. Pretendeu-se demonstrar

como a empresa pode diminuir significativamente os seus custos ao

reutilizar os resíduos para geração de energia própria, além de obter

receita adicional ao fornecer excedente de energia para terceiros.

Também foi possível mostrar como o reaproveitamento dos resíduos

(biomassa) pode contribuir para a diminuição de resíduos no meio

ambiente. A metodologia utilizada para coleta de dados foi observação

simples no local, aplicação de entrevista estruturada com o

proprietário, bem como pesquisa bibliográfica. A pesquisa demonstrou

que após a implantação da usina termoelétrica na empresa para

geração de energia para consumo próprio e comercialização do

excedente, os custos diminuíram significativamente, além de evidenciar

a importância da receita obtida com a comercialização da energia

elétrica.

Palavras-chaves: Gestão Ambiental, Resíduos Sólidos, Biomassa

8 e 9 de junho de 2012

ISSN 1984-9354

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente no Brasil as questões ambientais estão sendo tratadas de forma mais

rigorosa comparadas ao passado. A cobrança vinda do cenário internacional está se

intensificando em relação à preservação das riquezas naturais existentes nos países,

principalmente em se tratando dos recursos florestais que, no caso do Brasil, têm em

abundância. Além dos recursos naturais que são comercializados nacional e

internacionalmente, o país é um grande gerador de resíduos florestais que na maioria das

vezes recebem tratamento inadequado, ficando expostos ao meio ambiente.

Estudos afirmam que cerca de 40 a 60% do volume total de uma tora seja aproveitado,

ou seja, de cada dez árvores cortadas apenas cinco são aproveitadas em sua totalidade. O

desperdício de matéria-prima é muito grande. As sobras não aproveitadas são os chamados

resíduos que no setor madeireiro podem ser: serragem, maravalhas, costaneiras, aparas,

refilos, cascas e outros.

O estado de Mato Grosso tem um grande potencial de produtos comercializados

originários do setor madeireiro, é um dos estados que possui um dos maiores níveis de

desmatamento no Brasil, fica atrás apenas do estado do Pará. Dados dos relatórios do Sistema

de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE) revelam que no ano de 2010, o Estado do Pará desmatou uma área

equivalente a 981,6 Km². Mato Grosso ficou com 645,8 Km² de área desmatada seguido pelo

Estado de Rondônia que por sua vez desmatou o equivalente a 287,6 Km².

Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), entre o período de fevereiro

de 2006 a novembro de 2010, o setor madeireiro do estado Mato Grosso obteve um total de

R$ 7.720.621.024,73 em vendas. O comércio de resíduos de madeira obteve receitas no valor

de R$ 48.623.164,15. Esses valores correspondem a vendas tanto internas quanto externas.

O município de Aripuanã está localizado na região noroeste do estado de Mato

Grosso, e a maior parte de sua economia é originária da extração, industrialização e

comercialização da madeira. Os resíduos gerados no processo de industrialização da madeira

na maioria das vezes não são reaproveitados. A dificuldade em comercializar essas sobras

devido a questões como logística faz com que estes resíduos fiquem armazenados em locais

abertos ou são queimados trazendo ainda mais prejuízos ao meio ambiente.

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A cidade está localizada em uma região em que os recursos naturais, nesse caso, a

madeira, são abundantes. Esse é um dos motivos pelo qual muitas vezes, os resíduos, não são

reaproveitados sendo desperdiçados ou descartados no meio ambiente.

Atualmente, muitos estudos tem se destinado a buscar opções viáveis em reduzir os

desperdícios ou reaproveitar os recursos naturais que cada vez mais estão ficando distantes e

escassos, tornando indispensável a necessidade de uma gestão eficaz no tratamento desses

resíduos.

Neste contexto, a presente pesquisa teve como objetivo apontar os principais

benefícios que a uma indústria madeireira pode obter com a reutilização dos resíduos da sua

produção para a geração de energia. Para tanto, foi necessário averiguar se há redução de

gastos com energia a partir da implantação da termoelétrica; verificar se a empresa poderia

obter uma receita adicional caso comercializasse excedente de energia; e analisar os principais

benefícios ambientais da reutilização de resíduos de madeira para a geração de energia.

A presente pesquisa foi realizada em uma empresa do segmento madeireiro no

município de Aripuanã/MT, a qual faz a gestão de seus resíduos sólidos utilizando-os como

biomassa para geração de energia.

Os dados principais forma fornecidos pelo gestor da empresa através de uma

entrevista. O estudo foi realizado somente em uma empresa por ser esta a única que possui

geração própria de energia a partir da utilização de biomassa na localidade em que se

encontra.

De acordo com os objetivos propostos pela pesquisa, a mesma se classifica como

exploratória, pois foi realizada em um contexto no qual se tem pouco conhecimento

sistematizado, proporcionando neste caso um desafio explorar determinada realidade para

buscar dados relevantes a estudos. Por favorecer a descrição de um fato, como a utilização da

biomassa para a geração de energia, possibilitando o conhecimento de algo ainda

desconhecido, a pesquisa também é de caráter descritivo. (GIL, 2006)

A pesquisa de campo foi realizada a partir de observações in loco na empresa

estudada, compreendendo também a aplicação da entrevista com o gestor da madeireira, tudo

com o intuito de se coletar o máximo possível de dados relevantes para validar os objetivos

propostos. A entrevista foi estruturada com questões abertas, na qual o pesquisador perguntou

ao entrevistado e este respondeu com suas próprias palavras. Todas as etapas da pesquisa são

também embasadas por seu cunho bibliográfico a partir da análise de material já publicado em

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livros, revistas e artigos científicos, os quais abordam a temática do trabalho. (MARCONI;

LAKATOS, 2009)

Os dados coletados foram abordados de forma qualitativa, ou seja, analisados a fundo,

sem necessidade de tratamento estatístico, pois os mesmos são advindos de uma única

entrevista com o gestor da empresa e também de observações realizadas. Neste sentido, os

dados foram tratados a partir de sua análise, interpretação e descrição.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Gestão Ambiental

Atualmente, a gestão ambiental vem sendo muito discutida em diversos setores

empresarias acerca da importância e da necessidade de uma gestão eficiente no que concerne

a diminuição dos impactos ambientais causados pelo desenvolvimento.

Tinoco e Kraemer (2008) definem Gestão Ambiental como:

Gestão ambiental é o sistema que inclui a estrutura organizacional, atividades de

planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para

desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política

ambiental. É o que a empresa faz para minimizar ou eliminar os efeitos negativos

provocados no ambiente por suas atividades (TINOCO E KRAEMER, 2008, p.

114).

Descrevem gestão ambiental como: “a forma pela qual a organização se mobiliza,

interna e externamente, para a conquista da qualidade ambiental desejada”. Enfatizam ainda

que “ela consiste em um conjunto de medidas que visam ter controle sobre o impacto

ambiental de uma atividade”.

Esses conceitos de gestão ambiental demonstram que este é um processo que envolve

todas as atividades da organização, desde o planejamento até a execução final dos processos.

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Para tanto, é preciso que a política das empresas esteja voltada para questões relacionadas ao

meio ambiente.

Em Epelbaum (2004) apud Vilela Júnior e Demajorovic (2006, p. 116) “a gestão

ambiental pode ser entendida como a aplicação dos princípios de planejamento e controle na

identificação, avaliação, controle, monitoramento e redução dos impactos ambientais a níveis

predefinidos”.

Já Antonius (1999) apud Tinoco e Kraemer (2008, p. 114) expõem que o

gerenciamento ambiental pode ser conceituado como a integração de sistemas e programas

organizacionais que permitem: controlar e reduzir impactos ambientais; cumprir leis e normas

ambientais; desenvolver e utilizar de tecnologias para minimizar ou eliminar resíduos

industriais; monitorar e avaliar os processos e parâmetros ambientais; eliminar ou reduzir os

riscos ao meio ambiente e ao homem; utilizar tecnologias limpas, visando minimizar os gastos

de energia e materiais; melhorar o relacionamento entre a comunidade e o governo; e

antecipar sobre as questões ambientais que possam causar problemas ao meio ambiente e,

principalmente à saúde humana.

São notáveis os benefícios que uma gestão ambiental eficaz pode trazer, tanto para o

meio ambiente quanto para a sociedade, para tal é preciso que as empresas mudem suas

práticas e adotem a gestão ambiental como uma filosofia de vida da organização.

Além disso, Tinoco e Kraemer (2008, p. 125) destacam alguns benefícios da Gestão

Ambiental, entre eles: redução do consumo de água, energia e outros insumos; reciclagem,

venda e aproveitamento de resíduos e diminuição de efluentes; redução de multas e

penalidades por poluição; aumento da demanda para produtos que contribuam para a

diminuição da poluição; aumento da produtividade; melhoria das relações com os órgãos

governamentais, comunidades e grupos ambientalistas, entre outros.

O aproveitamento de resíduos é um dos fatores importantes que pode e deve ser

trabalhado na gestão ambiental.

2.2 Resíduos sólidos

Vilela Júnior e Demajorovic (2006, p. 57) descrevem que “resíduos devem ser

entendidos como efluentes líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos”.

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A Secretaria do Meio Ambiente - SEMA conceitua resíduos sólidos como os restos

das atividades humanas, consideradas pelos gestores como inúteis, indesejáveis ou

descartáveis. Apresentam-se geralmente sob estado sólido, semi-sólido ou semi-líquido.

Podem ser classificados por sua natureza física: seco e molhado; por sua composição química:

matéria orgânica e matéria inorgânica; e pelos riscos potenciais ao meio ambiente: perigosos,

não inertes e inertes.

Segundo dados da SEMA o lixo industrial é originário das diferentes atividades

industriais, podendo ser composto de: cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos,

plástico, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas, etc.

De acordo com Hueblin, 2001 apud Coronel et al. 2007, os principais resíduos das

indústrias madeireiras são: a serragem, originária do processo de serragem da madeira, que

representa cerca de 12% do volume total de matéria-prima; os cepilhos ou maravalhas

derivados das plainas que podem chegar a 20% do total de matéria-prima; e a lenha ou

cavacos compostas por costaneiras, aparas, refilos, cascas entre outros, podendo chegar a 50%

do volume total de matéria-prima nas serrarias e laminadoras. Estima-se que do volume total

de uma tora cerca de 40% a 60% seja aproveitado, ou seja, de cada dez árvores cortadas

apenas cinco são aproveitadas em sua totalidade.

Nesse contexto pode-se afirmar que apesar das tecnologias existentes ainda há muitos

desperdícios de matéria-prima neste setor. Assim surgem muitos estudos que abordam essa

problemática com o intuito de reduzir os desperdícios e agregar valor à indústria geradora dos

resíduos.

Segundo Dias (2006) apud Dolens et al. (2010, p. 03) o aproveitamento dos resíduos

pode trazer alguns benefícios financeiros às empresas madeireiras, como: menores gastos com

matéria-prima, energia e disposição dos resíduos; redução ou eliminação de custos futuros

decorrentes de processos de despoluição causados por esses resíduos; menores complicações

legais, com o não pagamento de multas ambientais; menores custos operacionais de

manutenção; menores riscos atuais e futuros à funcionários, público e meio ambiente e,

consequentemente, menores despesas.

Assim, a gestão dos resíduos sólidos torna-se primordial quando se trata do

aproveitamento de resíduos de produção.

2.3 Biomassa como alternativa de aproveitamento dos resíduos florestais

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O uso energético da lenha e do carvão faz parte da história social da humanidade.

Cavalcanti (2009, p. 354) afirma que “o aproveitamento da força hidráulica primeiro pelos

aquedutos e canais, depois pelas rodas d’água e moinhos, vem das civilizações mais

importantes de todos os continentes, por exemplo, o império Asteca, a Mesopotâmia, os

romanos, os chineses”. Aborda ainda que nos dias de hoje utilizamos esses mesmos recursos

de uma forma muito específica, em grandes quantidades e dimensões, mas baseando-se nos

seguintes processos elementares: a queima da madeira como fonte de calor para fundir metais;

a queima do álcool como combustível; a roda hidráulica e sua energia mecânica disponível

para outros fins.

A partir do século XIX iniciou-se as “eras da eletricidade e do petróleo”, criando-se

condições jamais vividas anteriormente, para os transportes, para as comunicações e para a

fabricação de produtos. Cavalcanti (2009, p. 355) descreve que na percepção do

relacionamento entre as atividades humanas e a natureza, foi predominando um tipo de visão

exploratória do conjunto de recursos naturais, aumentando-se cada vez mais a escala, as

dimensões e as potências das realizações materiais, tanto as construtivas quanto as destrutivas.

Segundo o autor, a história social e ambiental do capitalismo, da qual fazemos parte,

tem sido uma história da intensificação da produção e do uso da energia. A eletricidade e o

combustível deixam de ser apenas novas formas de energia, e estão se tornando cada vez mais

mercadorias energéticas valiosas, estratégicas, elementos relevantes dos ciclos econômicos,

da realização de lucros e da acumulação de capital.

De acordo com Cortez et al. (2008, p. 15) a maioria dos países, desenvolvidos ou não,

está promovendo ações para que as energias alternativas renováveis tenham participação

significativa em suas matrizes energéticas. Segundo o autor, a motivação para essa mudança

de postura é a necessidade de redução do uso de derivados de petróleo, pois estes emitem

gases que promovem o efeito estufa, e também pela redução da dependência energética desses

países em relação aos países exportadores de petróleo.

Neste trabalho o estudo foi realizado num enfoque voltado para a biomassa como

forma de geração de energia tanto para o consumo próprio da madeireira, assim como para

comercialização do excedente gerado pela indústria.

Segundo Cortez et al. (2008, p. 15) a biomassa tem origem em resíduos sólidos

urbanos, sejam eles, animais, vegetais, industriais e florestais, e que são voltados para fins

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energéticos, abrange a utilização desses diversos resíduos para a geração de fontes alternativas

de energia.

De acordo com Decicino (s.d.), biomassa é um material constituído por substâncias de

origem orgânica (vegetal, animal e microorganismos). Plantas, animais e seus derivados são

biomassa. A utilização desses materiais como combustível pode ser feita a partir de sua forma

bruta, como madeira, produtos e resíduos agrícolas, resíduos florestais, resíduos pecuários,

excrementos de animais e lixo.

Segundo o autor, uma das primeiras utilizações da biomassa pelo homem para a

obtenção de energia se deu através do uso do fogo. A madeira foi por muito tempo a principal

fonte de energia utilizada pelo homem seguido dos óleos vegetais e animais.

Por volta de 1850, a biomassa representava cerca de 85% do consumo mundial de

energia, antes disso, era a única forma de energia utilizada pelo homem, além da força dos

ventos e pequenas quantidades de carvão para uso residencial. (Goldemberg, 2009). A partir

desse período o petróleo e o gás tornaram-se dominantes.

Goldemberg (2009) afirma que existe um grande número de tecnologias de conversão

energética da biomassa para aplicação em pequena e grande escala. Neste incluem

gaseificação, método de produção de calor e eletricidade, recuperação de energia de resíduos

sólidos urbanos, gás de aterros sanitários, além de biocombustíveis para o setor de transportes,

ou seja, etanol e biodiesel.

Devido ao crescente aumento dos preços de óleo e gás natural, o gás de aterros

sanitários, bagaço de cana-de-açúcar, biodiesel, madeira de reflorestamento estão se tornando

opções atrativas de biomassa. Segundo Goldemberg (2009), com base nas atuais tendências

no desenvolvimento tecnológico, estima-se que os custos de recuperação de energia de

biomassa se reduzam em até dois terços em 20 anos.

Peixer (2007) faz uma breve abordagem sobre biomassa:

A biomassa florestal (resíduos de serraria), é o potencial mais promissor no

momento, por ser fonte alternativa e renovável de energia estando disponível

localmente. O resíduo constitui um problema ambiental a ser adequadamente

solucionado, a sua utilização para co-geração de energia (elétrica e térmica) é

conveniente e necessária para o segmento das serrarias e para a sociedade em geral,

contribui para a diminuição da concentração do CO2 na atmosfera, se baseada em um

sistema de produção florestal sustentada, gerará muitos empregos locais e regionais,

entre outros (LIMA, 2000) apud (PEIXER, 2007).

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As sobras geradas no desdobramento da madeira quando utilizadas para geração de

energia podem trazer grandes benefícios para a empresa, pois esta se tornará auto-suficiente,

tornando-se mais competitiva no mercado e ainda irá diminuir seus custos no que concerne à

energia.

2.3.1 Tipos de Biomassa no Brasil

Segundo Cortez et al. (2008, p. 19), as primeiras biomassas no Brasil são: resíduos

vegetais, resíduos sólidos urbanos, resíduos industriais, resíduos animais e resíduos florestais:

Os resíduos vegetais são produzidos no campo, derivados das atividades da colheita

dos produtos agrícolas. Os resíduos agrícolas são constituídos de palha, folhas e caules.

Os resíduos sólidos urbanos são resultantes das atividades domiciliares e comerciais.

Já os resíduos industriais, são aqueles provenientes do beneficiamento de produtos

agrícolas e florestais, do uso de carvão vegetal no setor siderúrgico e do gás de alto-forno a

carvão vegetal.

Cortez et al. (2008, p. 19) descreve que a indústria madeireira produz resíduos a partir

do beneficiamento de toras. Os tipos de resíduos produzidos são casca, cavaco, costaneira, pó

de serra, maravalha e aparas. Já as indústrias de alimentos e bebidas produzem resíduos na

fabricação de sucos e aguardente, no beneficiamento de arroz, café, trigo, milho, coco da

Bahia, amendoim, castanha-de-caju etc.

Os resíduos animais são determinados pela capacidade de produção de excrementos

das criações. De acordo com Cortez et al. (2008, p. 23), “Os mais importantes resíduos

gerados pela atividade biológica são os do gado bovino, suíno, caprino e ovino, que são

criações relevantes e justificariam seu aproveitamento energético”. Além dos usos

energéticos, os dejetos de suínos são utilizados como fertilizantes, diminuindo a poluição e

melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo.

E por último, os resíduos florestais, que segundo Cortez et al. (2008, p. 24), “são

constituídos por todo aquele material deixado para trás na coleta de madeira, tanto em

florestas e bosques naturais como em reflorestamento, e pela serragem e aparas produzidas no

processamento da madeira”.

Muitos são os resíduos gerados desde o início do processo até a etapa final, ou seja,

desde o corte da árvore até a transformação da matéria-prima no produto acabado, pronto para

a comercialização. Grande parte desses resíduos pode ser utilizado para geração de energia,

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principalmente aqueles gerados no processo de transformação da madeira, ou seja, na

madeireira, pois normalmente estes resíduos estão mais próximos das usinas de geração de

energia do que os aqueles gerados no local de extração da madeira.

2.3.2 Geração de energia elétrica através da biomassa

Dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) apontam que a biomassa

tem sido usada de forma crescente no mundo como insumo energético; muito utilizada para

usos finais como energia térmica, mas também de forma bem significativa como geradora de

energia elétrica.

No Brasil a produção de energia elétrica da biomassa é estimada em cerca de 3% da

energia elétrica total, pesquisa realizada em 1999. Segundo o CGEE a produção de energia

elétrica a partir de biomassa apresenta duas características importantes: o conteúdo energético

da biomassa exige coleta e transporte para concentrar o insumo, portanto, os custos do insumo

crescem com a capacidade da unidade de conversão e as tecnologias de conversão para

energia elétrica convencionais, essencialmente termoelétricas, apresentam forte economia de

escala, assim, o investimento por unidade de insumo cai e as eficiências de conversão

aumentam, com a capacidade.

Investimentos em tecnologia têm buscado aumentar a eficiência na utilização da

biomassa para reduzir custos de coleta e transporte. Para reduzir o custo de transporte, podem

ser utilizados: resíduos de outros usos de biomassa que já estejam concentrados no local de

uso, tendo o custo do transporte absorvido pelo custo do produto principal (bagaço de cana,

palha de arroz, restos em serrarias, casca de árvores na indústria de celulose, etc); resíduos de

outros usos de biomassa que possam ser coletados e transportados a baixo custo, exemplo,

parte da palha da cana; e plantações específicas para a produção de energia, exemplo,

florestas comerciais.

Segundo o CGEE os principais tipos de biomassa existentes em maior quantidade no

Brasil são: bagaço de cana-de-açúcar, casca de madeira, palha.

Os resíduos de madeira podem ser utilizados através da queima em usinas

termoelétricas com a finalidade de gerar energia elétrica na própria indústria madeireira.

2.3.3 Usinas termoelétricas

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De acordo com Reis (2003) apud Costa (2009, p. 10) são consideradas usinas

termoelétricas as que utilizam como combustível para geração de energia: carvão, óleo, gás,

energia nuclear e biomassa, onde o processo de funcionamento está baseado na transformação

de energia térmica em energia mecânica que por sua vez é transformada em energia elétrica.

No entanto, segundo a ANEEL (2008) apud Costa (2009, p. 11) a biomassa é uma das

fontes com maior potencial de crescimento nos próximos anos e apesar da boa flexibilidade,

ainda é uma opção em maturação com representação pouco expressiva na matriz nacional.

Segundo informações da Companhia Paranaense de Energia (COPEL), as

termoelétricas podem operar em ciclo simples, em ciclo combinado ou em co-geração:

- Ciclo simples: a queima de um determinado combustível em caldeiras simples,

turbinas ou em motores, fornece a energia mecânica para o gerador de energia elétrica;

- Ciclo combinado: a queima do combustível fornece energia mecânica para o gerador

de energia elétrica, e os gases da queima do combustível são direcionados a uma caldeira de

recuperação de calor para produzirem vapor, e este vapor irá movimentar uma turbina a vapor

que estará ligada a outro gerador de energia; e

- Co-geração: é semelhante ao sistema combinado, no qual o vapor produzido na

caldeira de recuperação de calor será também utilizado no processo industrial de alimentos,

papel, bebida, aquecimento ambiente, etc.

O combustível utilizado para a obtenção do calor necessário para o processo, pode ser:

gás natural, derivados de petróleo, carvão mineral e vegetal, resíduo de madeira e da produção

agrícola, bagaço de cana-de-açúcar, lixo doméstico e urânio.

Desta forma, os resíduos de madeira gerados na empresa são utilizados na usina

termoelétrica para geração de energia própria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A empresa estudada está no mercado desde 2004, é composta por dois sócios, possui

55 funcionários no total, sendo operários e administrativos. O setor de produção funciona em

dois turnos. Sua capacidade produtiva é de 600 m³ mensais de madeira beneficiada.

A produção da empresa é totalmente comercializada para uma empresa do município,

no entanto, 70% da produção é direcionada para exportação. A madeireira compradora se

encarrega de vender os produtos para o comércio exterior. Os principais produtos exportados

são: s4s e decking. O s4s são as madeiras mais curtas e o decking são as madeiras mais longas

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que normalmente são utilizadas para fazer pisos. Assim, 30% dos produtos são vendidos para

utilização do mercado interno.

Os resíduos gerados na produção são reaproveitados na própria empresa para a

geração de energia. Os resíduos reaproveitados são os casqueiros, ou seja, as sobras de

madeiras no processo de produção e a maravalha que é um resíduo muito parecido com o pó

de serra, é derivado do processo de aplainagem da madeira muito utilizada para exportação. A

maravalha é um resíduo que gera grande aquecimento na usina sendo de grande valia para

geração de energia. Somente o pó de serra gerado na produção ainda não é reaproveitado pela

empresa. Este resíduo é armazenado em um local na própria madeireira.

Os resíduos gerados variam de um total de 9 m³ a 18 m³ por dia dependendo da

espécie de madeira que está sendo serrada. Os resíduos são colocados diretamente na usina,

não necessita de nenhum tipo de processamento antes de ser utilizados para geração de

energia.

A empresa possui um mecanismo de geração de energia utilizando os próprios

resíduos da produção, entretanto, ela utiliza resíduos de madeira de outras duas indústrias

madeireiras da região. A capacidade de energia gerada na empresa é de 1.500 KVa1, o

suficiente para atender a demanda da madeireira e um excedente que pode atender mais onze

empresas madeireiras do mesmo porte. Com esse excedente, a empresa já comercializa a

energia gerada para outras oito madeireiras. Para tanto, para uma empresa comercializar

energia é necessário obter a autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

A ANEEL foi instituída pela Lei N. 9.247/96 e constituída pelo Decreto n. 2.335/97,

com as atribuições de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e

comercialização de energia elétrica, zelando pela qualidade dos serviços prestados,

pela universalização do atendimento e pelo estabelecimento das tarifas para os

consumidores finais, preservando a viabilidade econômica e financeira dos e da

indústria. (COSTA, 2009, p. 14-15).

No caso da empresa estudada, esta já possui a licença para geração e comercialização

de energia elétrica desde 14 de junho de 2009.

1 KVa é uma medida de potência elétrica, chamada potência aparente e é igual a potência ativa dada em Watt.

Ex: 1 KVa = 1000 Volts. Fonte: Clube do Hardware, disponível em: http://forum.clubedohardware.com.br/kva-

duvida/555261?s=6a3cce5f2f24b69f540869d7bc10a7a0&p=3149056. Acesso em: 04 mai. 2011.

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Para demonstrar como ocorrem os processos de transformação da madeira em tora até

o acabamento do produto final, foi elaborado um fluxograma2 da madeireira, como pode ser

observado na figura 01.

O Fluxograma mostra a sequência desde o princípio do processo até o produto final,

iniciando com a chegada da tora no pátio da madeireira. A seguir a tora é desembarcada do

caminhão e seguida é encaminhada para o local de estocagem no pátio da madeireira. Para

iniciar a transformação da tora no produto final, esta é encaminhada para a serraria, onde

ocorre o processo de serragem da madeira. Depois da serragem, a madeira passa pela

alinhadeira, processo pelo qual retira-se os defeitos nas laterais e realiza-se o alinhamento da

mesma. Em seguida é encaminhada para estopadeira onde a madeira é cortada retirando-se

também as partes defeituosas nas pontas da peça e para que fique no tamanho desejado. Nos

processos de serragem, alinhamento e estopo, são gerados os resíduos que serão

encaminhados direto para a caldeira da usina termoelétrica, parte destes resíduos, o pó de

serra, é retirado do local de serragem e depositado próximo da madeireira e posteriormente é

encaminhado para o local de armazenamento na própria madeireira.

2 “Fluxograma é uma técnica de representação gráfica que se utiliza de símbolos previamente convencionados,

permitindo a descrição clara e precisa do fluxo, ou seqüência, de um processo, bem como sua análise e

redesenho” (D’ASCENSÃO, 2007, p. 110).

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Figura 01. Fluxograma da produção da empresa, adaptações de Cury (2007).

Depois de beneficiada, a madeira passa pelo processo de empacotamento, e em

seguida é estocada. A partir daí o produto está pronto para a comercialização e embarque.

Para um melhor entendimento da rotina do processo de geração de energia, também

foi elaborado um fluxograma da Usina Termoelétrica conforme mostra a figura 02.

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Figura 02. Fluxograma da Usina Termoelétrica, elaborado pela pesquisadora, adaptações de Cury (2007).

A partir da chegada dos resíduos oriundos do processo de serragem, alinhamento e

estopo, estes são depositados na frente da caldeira, que é alimentada manualmente por dois

funcionários, conforme mostra a figura 03.

A maravalha, resíduo gerado no processo de beneficiamento da madeira, é colocada

por uma máquina sobre uma rosca que possui um motor acoplado. Esse motor gira a rosca e

empurra o resíduo para dentro da fornalha, de acordo com a necessidade de aquecimento.

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Depois da queima dos resíduos, a água que circula por tubulações dentro da caldeira é

aquecida ocorrendo a geração de vapor. Esse vapor faz girar uma turbina, que por sua vez,

aciona um gerador transformando o vapor em energia elétrica. Depois desse processo, a

energia passa pelo transformador, seguindo para o quadro de comando, onde é distribuída

tanto para a própria empresa, quanto para as outras três madeireiras.

Para um melhor entendimento desse método, a figura 03 mostra de forma mais

resumida como ocorre o processo de funcionamento de uma usina termoelétrica para geração

de energia.

Figura 03: Processo de funcionamento de uma usina termoelétrica. Disponível em:

<http://www.ebanataw.com.br/roberto/energia/ener8.htm>. Em 13/04/2001. Atualizado em 12/12/2009. Acesso

em 07 Fev. 2011.

Para o funcionamento de uma termoelétrica é necessário dispor de um reservatório de

água para geração de vapor na caldeira. O vapor é um condicionante que movimenta a turbina

e aciona o gerador gerando a energia. Após esse processo, o último passo é a distribuição da

energia elétrica.

Diante do exposto, para o funcionamento da usina termoelétrica é necessária grande

disponibilidade de água. Na usina termoelétrica da empresa, diariamente são utilizados cerca

de 30.000 litros de água. Por isso, a empresa possui um grande reservatório com capacidade

de 65.000 litros, conforme mostram as figura 05 e 06.

Esse reservatório é abastecido tanto com água de um poço artesiano construído

próximo à usina termoelétrica quanto com água do fornecimento municipal. São utilizados do

poço artesiano aproximadamente 18.000 litros de água e do fornecimento municipal, 12.000

litros de água.

Antes de implantar o sistema de geração de energia, a madeireira possuía um gasto

com energia equivalente a R$ 45.000,00 mensais. Depois da implantação, esse custo deixou

de existir, pois a partir daí a empresa consome somente a energia produzida na própria

termoelétrica. Contudo, para o funcionamento permanente da usina é necessário constante

manutenção, além de funcionários trabalhando o tempo todo para que o processo flua

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harmoniosamente. Visto isto, a madeireira teve que contratar 13 funcionários, sendo um

encarregado, seis operadores e seis auxiliares de operadores. Os funcionários trabalham em

dupla, cada turno trabalham seis horas por dia. Além da contratação, a empresa precisou

capacitá-los para o exercício de suas funções. Assim, a empresa não possui gastos com

energia, mas por outro lado, tem despesas com a manutenção da usina e com pessoal, o que

equivale aproximadamente a 50% dos gastos com energia antes da implantação da

termoelétrica. De acordo com o proprietário, os investimentos realizados pela empresa para

implantar o sistema de geração de energia com o reaproveitamento dos resíduos de madeira

representam 50% do patrimônio atual da mesma.

Além disso, a empresa tem planos de fazer modificações na máquina para reaproveitar

também o pó de serra, que até o momento fica armazenado na empresa. Esse resíduo não tem

outra utilidade na empresa e é visível a grande quantidade armazenada tornando necessário

um local adequado e extremamente grande para o armazenamento.

Quando da instalação da usina termoelétrica o objetivo principal da empresa era a

minimização dos custos com energia elétrica, mas não deixando de considerar os benefícios

financeiros que poderia obter através da receita de venda de seu excedente. Outro fator não

menos importante é a destinação dos resíduos que deixariam de ser um problema tanto para a

empresa quanto para o meio ambiente.

A madeireira gera aproximadamente cerca de 310m³ de resíduos mensais. Com

exceção do pó de serra, que corresponde a 15% deste total, os demais resíduos são todos

utilizados na usina termoelétrica. Além de consumir esses resíduos, a usina ainda aproveita

25% de resíduos de outras madeireiras. Diante disto, pode-se considerar que a empresa está

contribuindo com a diminuição do desperdício desses insumos. Além de diminuir os

problemas que poderia ter com a armazenagem desses resíduos, ainda contribui para que estes

não fiquem expostos ao meio ambiente.

Conforme Tinoco e Kraemer (2008, p. 114) a gestão ambiental é o sistema que inclui

toda a estrutura de uma organização, englobando planejamento, responsabilidades, práticas,

procedimentos, processos a fim de desenvolver, implementar, atingir e manter a política

ambiental. Enfatiza ainda, é aquilo que a empresa faz para minimizar ou eliminar os efeitos

negativos provocados no ambiente decorrentes de suas atividades.

Destacam também, alguns benefícios da Gestão Ambiental, entre eles: redução do

consumo de água, energia e outros insumos; reciclagem, venda e aproveitamento de resíduos

e diminuição de efluentes; redução de multas e penalidades por poluição; aumento da

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demanda para produtos que contribuam para a diminuição da poluição; aumento da

produtividade; melhoria das relações com os órgãos governamentais, comunidades e grupos

ambientalistas, entre outros.

O autor descreve que um dos benefícios da gestão ambiental é a redução de consumo

de água, esse é um fator que pode ser considerado como desvantagem do ponto de vista

ambiental, pois para o funcionamento de uma usina termoelétrica é necessário um grande

volume de água que é consumido diariamente.

Desta forma, o impacto ambiental causado pelo funcionamento de termoelétricas é

bem menor comparado às hidrelétricas, e em contrapartida, as usinas termoelétricas ajudam a

diminuir os desperdícios dos resíduos de produção de diversos setores, como o setor agrícola

que pode ser utilizada a palha, bagaço da cana-de-açúcar, no setor industrial, os resíduos de

madeira, etc.

Callenbach (1993) apud Tinoco e Kraemer (2008, p. 136), destaca que “o objetivo do

gerenciamento ecológico é minimizar o impacto ambiental e social das empresas, e tornar

todas as suas operações tão ecologicamente corretas quanto possível”.

De acordo com informações do proprietário da madeireira, a empresa vem buscando

diminuir constantemente esses impactos causados ao meio ambiente, reutilizando os resíduos

na usina, e com isto, ainda obtém receita adicional com a venda de seu excedente, sendo essa

receita aproximadamente 27% do lucro líquido da empresa.

De acordo com Savitz (2007, p. 28), a empresa sustentável conduz seus negócios, de

forma a obter naturalmente benefícios para todos, incluindo empregados, clientes, parceiros

de negócios, acionistas e a comunidade.

O termo sustentabilidade está ligado ao alcance de várias dimensões, envolve todas as

atividades humanas. Segundo Dias (2009, p.38), o consumo sustentável significa o

fornecimento de serviços e produtos, que preencham as necessidades básicas e dêem uma

melhor qualidade de vida, e ao mesmo tempo diminui o uso de recursos naturais e de

substâncias tóxicas, minimizando as emissões de resíduos e de poluentes durante o ciclo de

vida do serviço e do produto, com a finalidade de não se ameaçar as necessidades das

gerações futuras.

Desta forma, pode-se afirmar que os principais benefícios que uma empresa do ramo

madeireiro pode obter com a implantação de um sistema de aproveitamento dos resíduos

gerados na sua produção para geração de energia são as seguintes: a) redução dos custos com

energia para manter a sua produção; b) aumento da receita através da comercialização do

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excedente para terceiros; c) elimina problemas com a armazenagem desses resíduos; d)

diminui os impactos ambientais causados pelo desperdício, e e) contribui com a

racionalização da matéria-prima, a madeira.

Além disso, Dias (2006) apud Dolens et al. (2010, p. 03) afirmam que o

aproveitamento dos resíduos pode trazer alguns benefícios financeiros às empresas

madeireiras, como: menores gastos com matéria-prima, energia e disposição dos resíduos;

redução ou eliminação de custos futuros decorrentes de processos de despoluição causados

por esses resíduos; menores complicações legais, com o não pagamento de multas ambientais;

menores custos operacionais de manutenção; menores riscos atuais e futuros à funcionários,

público e meio ambiente e, conseqüentemente, menores despesas.

Diante do exposto, são notórias as inúmeras vantagens que uma empresa pode obter ao

reutilizar os resíduos gerados na sua produção, seja ela, uma madeireira, ou qualquer outra

empresa que produza resíduos ao desenvolver suas atividades.

E no caso da empresa estudada, os benefícios do aproveitamento de resíduos de

produção para geração de energia são: redução dos custos com energia para manter a sua

produção; aumento da receita através da comercialização do excedente para terceiros;

eliminação de problemas com a armazenagem desses resíduos; diminuição dos impactos

ambientais causados pelo desperdício, e contribuição com a racionalização da matéria-prima,

a madeira.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se entender que a gestão ambiental está ligada a todos os setores de qualquer

empresa, é um processo que envolve todas as atividades da organização, desde o

planejamento até a execução final dos processos. Um dos fatores importantes ligados a gestão

ambiental, é o aproveitamento dos resíduos gerados em sua produção.

Diante da questão pode-se destacar os principais benefícios que a indústria madeireira

estudada pode obter com a reutilização dos resíduos da sua produção para a geração de

energia, sendo: redução dos custos com energia para manter a sua produção; aumento da

receita através da comercialização do excedente para terceiros; eliminação de problemas com

a armazenagem desses resíduos; diminuição do desperdício dos resíduos, e contribuição com

a racionalização da matéria-prima, a madeira.

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A empresa pode obter receita adicional ao fornecer o excedente para terceiros, pois a

madeireira além de produzir energia suficiente para manter as suas atividades ainda possui

uma capacidade de abastecer mais onze empresas madeireiras do mesmo porte, inclusive já

comercializa parte de seu excedente para outras oito madeireiras. Após a implantação da usina

e com a comercialização da energia, a empresa passou a obter aproximadamente 27% a mais

de receita sobre o lucro líquido.

Destaca-se também que o reaproveitamento dos resíduos para geração de energia

contribui para diminuir o impacto ambiental no município, pois a empresa, além de utilizar

todos os seus resíduos com exceção do pó de serra, utiliza resíduos de outras duas madeireiras

do município. Apesar dessa afirmação, não foi realizado um estudo sobre impacto ambiental

para detectar o percentual que essa ação contribui para a diminuição do mesmo. A falta deste

estudo, não desmerece, portanto, a contribuição que essa ação praticada pela empresa trás de

benefício ao meio ambiente.

Verificou-se que ao reutilizar os resíduos para geração de energia própria, a empresa

teve uma diminuição de 100% com gastos de energia. Contudo, há despesas com manutenção

e funcionamento da usina, cujos números não foram informados pelo entrevistado, os quais

merecem outros estudos mais aprofundados.

Todavia, a e pesquisa teve algumas limitações, sendo principalmente a não obtenção

de dados referentes a valores do investimento realizado pela empresa para implantação da

usina de energia, visto que essa informação é importante para fazer uma análise mais

completa das vantagens e desvantagens da implantação desse sistema nas indústrias

madeireiras.

Este estudo traz como sugestão de estudos futuros a investigação detalhada quanto à

valores de investimento para implantação de uma usina de energia com base no

aproveitamento dos resíduos gerados pela setor madeireiro, bem como, uma pesquisa na área

financeira para averiguar os custos desse processo, a fim de se determinar se tais práticas são

ou não sustentáveis.

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