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102 Rev. Bras. Pesq. Tur. São Paulo, 12(1), pp. 102-132, jan./abr. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.1344 Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens Use of entrepreuneurial social networks by females in the travel agencies creation process Uso de las Redes Sociales Emprendedoras por Mujeres en el Proceso de creación de agencias de viajes Rivanda Meira Teixeira 1 Tales Andreassi 2 Lea Cristina Silva Bomfim 3 Resumo: Propósito justificado do tema: O estudo das redes sociais empreendedoras tem sido reconhecido como determinante no processo empreendedor, como no sucesso dos empreendimentos. Desde a década de 90, houve um especial interesse em pesquisar redes sociais com o recorte do gênero e, considerando a sua relevância, essa temática continua sendo muito atual. Objetivo: O objetivo geral deste estudo é analisar como as redes sociais são utilizadas pelas empreendedoras no processo de criação de novos negócios. Especificamente pretende identificar os tipos de laços que são utilizados pelas empreendedoras nas suas redes sociais nas fases de concepção, start-up e consolidação de negócios e verificar como essas redes sociais influenciam na obtenção de recursos. Metodologia/Design: A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de casos múltiplos e as evidên- cias foram coletadas por meio de entrevistas pessoais semiestruturadas com sete empreendedoras de agências de viagens de micro e pequeno porte. Os casos foram descritos individualmente e após essa descrição foi reali- zada a análise comparativa dos casos para examinar suas semelhanças e diferenças. Resultados e Originalidade do Documento: Entre os resultados encontrados vale destacar que os laços fortes foram os mais utilizados pelas empreendedoras principalmente na fase de concepção do negócio. Além disso, constatou-se que a experiência prévia foi determinante na identificação da oportunidade e na capacidade de se construir redes diversificadas. Palavras-chave: Empreendedorismo. Redes sociais empreendedoras. Empreendedorismo feminino. Processo empreendedor. Abstract: Justification of the topic: The study of entrepreneurial social networks has been recognized as crucial in the entrepreneurial process, as well as in the success of the businesses. Since the 90s, there has been a special interest in researching social networks focused on gender, and taking into account its relevance, this topic is still 1 Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Definição de objetivos; elaboração do referencial teórico; definição dos procedimentos metodológicos, interpretação de dados e redação do artigo. 2 Fundação Getúlio Vargas (FGV_EAESP), São Paulo, SP, Brasil. Redação e revisão crítica do artigo. 3 Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil. Coleta e análise de dados. Artigo recebido em: 17/06/2017. Artigo aprovado em: 04/12/2017. Artigo

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Rev. Bras. Pesq. Tur. São Paulo, 12(1), pp. 102-132, jan./abr. 2018.

DOI: http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.1344

Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens

Use of entrepreuneurial social networks by females in the travel

agencies creation process

Uso de las Redes Sociales Emprendedoras por Mujeres en el Proceso de creación de agencias de viajes

Rivanda Meira Teixeira1

Tales Andreassi2 Lea Cristina Silva Bomfim3

Resumo: Propósito justificado do tema: O estudo das redes sociais empreendedoras tem sido reconhecido como determinante no processo empreendedor, como no sucesso dos empreendimentos. Desde a década de 90, houve um especial interesse em pesquisar redes sociais com o recorte do gênero e, considerando a sua relevância, essa temática continua sendo muito atual. Objetivo: O objetivo geral deste estudo é analisar como as redes sociais são utilizadas pelas empreendedoras no processo de criação de novos negócios. Especificamente pretende identificar os tipos de laços que são utilizados pelas empreendedoras nas suas redes sociais nas fases de concepção, start-up e consolidação de negócios e verificar como essas redes sociais influenciam na obtenção de recursos. Metodologia/Design: A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de casos múltiplos e as evidên-cias foram coletadas por meio de entrevistas pessoais semiestruturadas com sete empreendedoras de agências de viagens de micro e pequeno porte. Os casos foram descritos individualmente e após essa descrição foi reali-zada a análise comparativa dos casos para examinar suas semelhanças e diferenças. Resultados e Originalidade do Documento: Entre os resultados encontrados vale destacar que os laços fortes foram os mais utilizados pelas empreendedoras principalmente na fase de concepção do negócio. Além disso, constatou-se que a experiência prévia foi determinante na identificação da oportunidade e na capacidade de se construir redes diversificadas. Palavras-chave: Empreendedorismo. Redes sociais empreendedoras. Empreendedorismo feminino. Processo empreendedor. Abstract: Justification of the topic: The study of entrepreneurial social networks has been recognized as crucial in the entrepreneurial process, as well as in the success of the businesses. Since the 90s, there has been a special interest in researching social networks focused on gender, and taking into account its relevance, this topic is still

1 Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Definição de objetivos; elaboração do referencial

teórico; definição dos procedimentos metodológicos, interpretação de dados e redação do artigo. 2 Fundação Getúlio Vargas (FGV_EAESP), São Paulo, SP, Brasil. Redação e revisão crítica do artigo. 3 Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil. Coleta e análise de dados.

Artigo recebido em: 17/06/2017. Artigo aprovado em: 04/12/2017.

Artigo

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very current. Objectives: The aim of this study is to analyse how social networks are used by female entrepre-neurs in the of new business creation process. Specifically aims to identify the types of bonds that are used by female entrepreneurs in their social networks in the stages of conception, start-up and business consolidation and verify how these social networks influence in obtaining resources. Methodology/Design: The research strat-egy adopted is the multiple case study and evidences were collected through semi-structured personal inter-views with seven entrepreneurs of micro and small travel agencies. The cases were described individually and followed by a comparative analysis to examine their similarities and differences. Results and Originality of the Document: The study shows that the strong bonds were the most used by entrepreneurs mainly in the concep-tion stage. Furthermore, it also shows that that previous experience was very important in the identification of the opportunity and ability to build diverse networks. Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneurial social networks. Female entrepreneurship. Entrepreneurial pro-cess. Resumen: Propósito justificado del tema: El estudio de las redes sociales emprendedoras ha sido reconocido como determinante en el proceso emprendedor, como en el éxito de los emprendimientos. Desde la década de 1990, hubo un especial interés en investigar redes sociales con el recorte del género y, considerando su relevan-cia, esta temática sigue siendo muy actual. Objetivo: El objetivo general de este estudio es analizar cómo las redes sociales son utilizadas por las emprendedoras en el proceso de creación de nuevos negocios. Específica-mente pretende identificar los tipos de lazos que son utilizados por las emprendedoras en sus redes sociales en las fases de concepción, start-up y consolidación de negocios y verificar cómo esas redes sociales influencian en la obtención de recursos. Metodología/Design: La estrategia de investigación utilizada fue el estudio de casos múltiples y las evidencias fueron recogidas por medio de entrevistas personales semiestructuradas con siete emprendedoras de agencias de viajes de micro y pequeño porte. Los casos fueron descritos individualmente y después de esa descripción se realizó el análisis comparativo de los casos para examinar sus similitudes y dife-rencias. Resultados y originalidad del documento: Entre los resultados encontrados cabe destacar que los “lazos fuertes” fueron los más utilizados por las emprendedoras principalmente en la fase de concepción del negocio. Además, se constató que la experiencia previa fue determinante en la identificación de la oportunidad y en la capacidad de construir redes diversificadas. Palabras clave: Emprendedorismo. Redes sociales emprendedoras. Emprendedor femenino. Proceso empren-dedor.

1 INTRODUÇÃO

Segundo dados do relatório de 2016

do Global Entrepreneurial Monitor (GEM), no

Brasil a taxa de empreendedores iniciais

(TEA), é de 19,9% para mulheres e 19,2%

para homens o que pode ser considerado

uma distribuição bastante equilibrada. Este

dado demonstra a importância das mulheres

para a formação da TEA e é coerente com da-

dos anteriores, pois nos anos de 2013 e 2015

as diferenças entre as taxas masculina e fe-

minina foram de 0,2 e 1,4 pp (pontos percen-

tuais) respectivamente. No entanto, destaca

o referido relatório, a igualdade de gênero di-

minui quando são analisadas as taxas especí-

ficas de empreendimentos estabelecidos

(TEE). Este dado mostra que as mulheres bra-

sileiras conseguem criar novos negócios na

mesma proporção que os homens, porém

enfrentam mais dificuldades para fazer seus

empreendimentos prosperarem. Tal fenô-

meno pode estar associado às condições re-

latadas pelas empreendedoras brasileiras

como: preconceito de gênero; menor credi-

bilidade pelo fato de o mundo dos negócios

ser mais tradicionalmente associado a ho-

mens; maior dificuldade de financiamento; e

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dificuldade para conciliar demandas da famí-

lia e do empreendimento (GEM, 2016).

A participação crescente das mulhe-

res na economia brasileira é também demos-

trada em pesquisa realizada pelo SEBRAE-

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-

nas Empresas, publicada em 2014. Esse es-

tudo demostra que, embora tenha represen-

tado menos da metade da ocupação na eco-

nomia, durante a década 2002-2012, as mu-

lheres aumentaram sua participação, au-

mento este provocado pelo maior dina-

mismo de crescimento da sua ocupação, cuja

taxa observada foi de 2,1% a.a., chegando a

40,7 milhões de mulheres ocupadas em

2012. Também é expressiva a inserção femi-

nina no mercado de trabalho formal, onde

elas representavam cerca de 40,0% dos tra-

balhadores com carteira assinada, em micro

e pequenas empresas (SEBRAE, 2014).

Estudos têm demonstrado que as mu-

lheres abrem empresas por diferentes moti-

vos: desejo de realização e independência,

percepção de oportunidade de mercado, di-

ficuldades em ascender na carreira profissio-

nal em outras empresas (fenômenos este co-

nhecido como “teto de vidro”), necessidade

de sobrevivência e como uma maneira de

conciliar trabalho e família (Machado et al.,

2003), além do fato de muitas pertencerem a

famílias de empreendedores (Buttner e Mo-

ore, 1997), o que as direciona automatica-

mente ao empreendedorismo como se fosse

uma predisposição genética.

As redes sociais são conhecidas por

ajudarem os empreendedores no começo de

um novo negócio, provendo acesso à infor-

mação, conselhos e apoio financeiro (Aldrich

e Zimmer, 1986). No começo de um novo em-

preendimento, a rede social é um ativo cru-

cial para os empreendedores que mobilizam

sua rede de relações pessoais para obter re-

cursos físicos, informação, suporte emocio-

nal, capital, contatos de negócios e transfor-

mar visões e planos de negócio em realidade

(Birley, 1985; Johannisson, 1998, 2000). A

preocupação com o tema das redes sociais e

sua relação com os empreendedores têm

sido reconhecidas como determinante do

processo empreendedor, como também do

sucesso dos empreendimentos (Aldrich et al.,

1987; Greve e Salaff, 2003). No que se refere

a redes sociais com o recorte de gênero, ape-

sar do interesse por essa abordagem ter re-

cebido especial atenção na década de 90, a

temática ainda é atual e carece de estudos

que possam contribuir para o aprofunda-

mento das questões existentes ou com o sur-

gimento de novas (Neergaard et al., 2005).

Este estudo é voltado ao setor de tu-

rismo, que é o de maior crescimento no

mundo. Em 2012, o setor representou para

o PIB mundial um crescimento de 3%, o qual

ultrapassou o crescimento da economia glo-

bal (2,3%). Prevê-se que, no longo prazo, vi-

agens e turismo serão responsáveis por 10%

do PIB mundial, gerando milhões de postos

de trabalho em uma proporção de um em

cada dez. No Brasil, o PIB do setor de turismo

teve uma participação de 9,1%, em 2012,

com previsão de crescimento para a próxima

década em uma média de 5,2% ao ano. No

que se refere ao emprego, a contribuição re-

presentou 8,3% do total e neste ano é espe-

rado um aumento de 3,8%, nos postos de tra-

balho (WTTC, 2013).

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Em função desse contexto, foi defi-

nido que o objetivo geral deste estudo que é

analisar como as redes sociais são utilizadas

pelas empreendedoras de agências de via-

gens na criação dos seus negócios. Especifi-

camente pretende-se identificar os tipos de

laços que são utilizadas pelas empreendedo-

ras nas suas redes sociais nas fases de con-

cepção, start-up e consolidação de negócios

e verificar como essas redes sociais influen-

ciam na obtenção de recursos. A seguir, é

apresentada revisão teórica sobre empreen-

dedorismo em turismo, empreendedorismo

e processo empreendedor e redes sociais

empreendedoras e gênero.

2 EMPREENDEDORISMO EM TURISMO

Estudos sobre empreendedorismo

em turismo são recentes e foram iniciados

nos anos 90. Os pioneiros turismo tinham

como foco principal identificar as motivações

dos empreendedores para criar negócios

(Getz e Carlsen, 2000) e as características dos

empreendedores do setor (Glancey e Petti-

grew, 1997; Lynch, 1998; Shivas 2001; Lerner

e Haber, 2000). Muitos pesquisadores identi-

ficaram a existência de motivações relaciona-

das ao estilo de vida (life styles motives) entre

empreendedores do setor. Entre eles merece

destaque o estudo de Morrison, Rimmington

e Williams (1999) que verificou que os negó-

cios no setor turístico são frequentemente

iniciados por aqueles que buscam um estilo

de vida no qual as necessidades da família, a

renda e o modo de vida estejam equilibrados.

Além das motiva-ções, as tipologias de em-

preendedores no setor turístico foram apre-

sentadas em alguns estudos (Michaud, 1991;

Williams e Tse ,1995). A partir do ano 2000

observa-se que as pesquisas de empreende-

dorismo em turismo se diversificam e abor-

dam temas diversos, a exemplo do empreen-

dedorismo étnico (Butler; Carter e Brunn,

2002); intraempreendedorismo (Altinay,

2005; Jogaratnam e Tse, 2006) ou empreen-

dedorismo sustentável em turismo (Kokkra-

nikal e Morrison, 2002). O processo empre-

endedor em turismo foi analisado no estudo

de Haber e Reichel (2007), que foi realizado

em Israel e baseado na teoria da RBV (Visão

Baseada em Recursos), e utilizou um modelo

integrado combinando o processo empreen-

dedor com a acumulação de recursos.

Li (2008) fez revisão das pesquisas em

hospitalidade e turismo e identificou os arti-

gos sobre empreendedorismo em turismo

publicados nos sete periódicos mais relevan-

tes da área no período de 1986 a 2006. Con-

cluiu que, apesar da importância dos peque-

nos negócios e do espírito empresarial na in-

dústria de hospitalidade e turismo, os resul-

tados revelam que apenas 2% do número de

artigos publicados no período analisado são

relacionados a empreendedorismo. Para Jaa-

far et al. (2011) a falta de importância relativa

da educação e conhecimento relacionado a

indústria do turismo influencia no apoio à ca-

pacidade de sobrevivência de empreendedo-

res de pequenos e médios negócios no setor

de turismo.

Mais recentemente Andriga, Poulson

e Pernecky (2016) analisam fatores motivaci-

onais que explicam a transição de empreen-

dedores de sucesso de volta ao mercado de

trabalho. Concluiu que, embora os estilos de

vida fossem auto-impostos, eles foram

exacerbados pelas necessidades da família,

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dos clientes e dos próprios proprietários,

vários dos quais trabalharam até a

exaustão. Implicações para futuros empre-

endedores incluem considerações de equilí-

brio da vida profissional e os custos reais de

possuir negócios de setor de hospedagem.

A dimensão gênero foi considerada

por alguns estudos internacionais como o pi-

oneiro realizado por Shivas (2001) que procu-

rou identificar as motivações de empreende-

doras no setor de hotelaria e de alimentação.

Foram identificadas três motivações princi-

pais: o desejo de ter seu próprio negócio,

percebiam o turismo como agradável para

trabalhar e, finalmente, percebiam que os

negócios no setor permitiriam uma melhoria

no seu padrão de vida.

Gênero também foi o foco do estudo

de McGhee, Kim e Jennings (2007) que com-

pararam as diferenças entre os gêneros mas-

culino e feminino no turismo rural. Os resul-

tados mostraram que as mulheres são mais

motivadas para o turismo rural e que para

elas era muito importante a educação dos

consumidores e a geração de empregos para

os membros da família. Mais recentemente

Kimbu, Ngoasong (2016) exploram um mo-

delo de empreendedorismo social com foco

na participação e engaja-mento de mulheres

empreendedoras em turismo. Os achados

desse estudo complementam pesquisas an-

teriores que revelaram que as empreendedo-

ras com propósitos sociais superam barreiras

institucionais e tradicionais / étnicas para

não só criar pequenos negócios, mas para

usá-los como plataformas para alcançar a in-

dependência econômica e social.

No Brasil, o foco no gênero no setor

de turismo foi observado em alguns estudos

recentes, a exemplo do estudo de Dreher e

Ullrich (2011). Esse estudo teve objetivo foi

analisar as representações de mulheres de

negócios de turismo em Blumenau (SC) a fim

de verificar os aspectos que levaram à a con-

quista e os limites do poder e decisão dessas

mulheres. Os resultados mostraram que para

as características demandadas, qualidades e

problemas de gênero, em vez de a prerroga-

tiva de desigualdade ou discri-minação sina-

lizar um caminho de pequeno conflito mostra

que os gestores têm poder de decisão e que

se concentram os seus esforços para conciliar

a vida profissional e da família.

Estudo com empreendedoras no setor de

turismo foi realizado por Bomfim e Teixeira

(2015) com o objetivo de identificar os maiores

desafios enfrentados pelas empreendedoras no

planejamento e gestão de seus negócios. Na ges-

tão financeira o maior desafio é a dificuldade

para acessar recursos financeiros, tais como fi-

nanciamento e crédito de fornecedor. Com rela-

ção a gestão de pessoas, a maior dificuldade con-

siste na contratação de mão-de-obra qualificada

e nos conflitos decorrentes das relações interpes-

soais.

Outro estudo realizado por Teixeira e

Bomfim (2016) com empreendedoras no setor de

turismo analisou os desafios enfrentados por es-

sas mulheres para conciliar os conflitos entre o

trabalho e a família. Observou que a busca pelas

empreendedoras pelo ponto de equilíbrio, entre

as demandas conflitantes geram um desgaste

emocional e/ou físico, chegando a afetar a auto-

estima e o moral. Na tentativa de conciliar bem

os múltiplos papéis destaca-se a importância do

aporte emocional do marido e filhos.

Outro estudo nesse mesmo ano com foco

no gênero foi realizado por Souza et al. (2016)

com o objetivo de analisar o potencial empreen-

dedor das proprietárias de empresas do setor tu-

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rístico de Florianópolis (SC). Os resultados revela-

ram a existência de diferenças significativas entre

as médias obtidas por esse segmento e as demais

entrevistadas, nos fatores traços de personali-

dade, postura estratégica e propensão ao risco.

2.1 Empreendedorismo e o processo de cri-

ação de negócios

Shane e Venkataraman (2000) en-

tendem o empreendedorismo como um pro-

cesso que envolve as fases de descoberta,

avaliação e exploração de oportunidades pe-

los indivíduos envolvidos. Autores clássicos

como Reynolds e Miller (1992) argumentam

que, apesar do crescimento de estudos sobre

o campo do empreendedorismo, ainda exis-

tem poucos que exploram o processo de cri-

ação de negócios; isso quer dizer, do período

da concepção ao nascimento de uma nova

empresa. De acordo com Gartner (1985) a

criação de novos empreendimentos possui

quatro dimensões que são: a) indivíduo (s) -

as características da (s) pessoa (s) que inicia

(m) o negócio; b) organização – o tipo de em-

presa que é criada; c) ambiente – a situação

que envolve o novo empreendimento; d)

processo – as ações tomadas pelo empreen-

dedor para iniciar o novo negócio.

Moroz e Hindle (2012) destacam que

existe consenso sobre a carência de estudos

rigorosos sobre o processo no campo do em-

preendedorismo, não apenas com relação a

como o processo interage com outras dimen-

sões, mas até mesmo como objeto singular

de estudo. Ao examinarem trinta e dois mo-

delos de processo empreendedor, a exemplo

dos modelos clássicos de Gartner (1985),

Bruyat e Julien (2000), Archivilli, Cardoso e

Ray (2003); Shane (2003) e Sarasvathy

(2006), argumentam que muitos desses mo-

delos clamam por universalidade, mas que

isso de fato não ocorre, pois muitos deles

tem reduzidas possibilidades de generaliza-

ção.

Borges et al. (2005), assim como Gar-

tner (1985), acreditam que também o empre-

endedor, o processo de criação, o novo negó-

cio e o ambiente, devem ser levados em

conta em qualquer estudo sobre criação de

negócios. Em pesquisa realizada por estes

autores no Canadá sobre o processo de cria-

ção de negócios foram observados detalha-

damente os estágios e as atividades do pro-

cesso de criação. Esses autores apresentam

um modelo do processo de empreender em

quatro fases: iniciação, preparação, lança-

mento e consolidação. A primeira delas co-

meça com a identificação da oportunidade,

desenvolvimento da ideia e a decisão de criar

o empreendimento. Na fase seguinte, a pre-

paração, ocorre a formatação do plano de

negócio, os estudos de mercado, a mobiliza-

ção dos recursos financeiros e a criação de

uma equipe empreendedora, para então,

com a fase de lançamento, o empreendi-

mento iniciar efetivamente as suas ativida-

des. Por último, inicia-se a fase de consolida-

ção e as atividades associadas são a promo-

ção e comercialização dos produtos ou servi-

ços e a administração do empreendimento.

Alguns estudos foram realizados no Brasil so-

bre o processo de criação de empreendimen-

tos no setor de turismo e são destacados a

seguir.

Teixeira (2012) adotou o modelo de

Borges et al. (2005) na análise do processo de

criação em empresas do setor de turismo,

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identificando os estágios de iniciação, prepa-

ração, start up e consolidação em quatro

agências de viagens localizadas em Curitiba,

Paraná. Observou que os negócios iniciaram

informalmente e que os empreendedores

não possuíam informações sobre o setor. No

estágio da preparação do negócio, consta-

tou-se que, apesar do apoio gratuito ofere-

cido pelo SEBRAE, os empresários iniciam

seus empreendimentos sem desenvolver um

plano de negócios. A consolidação do negó-

cio foi o estágio mais difícil para todos os em-

preendedores, pois tiveram de lidar com pro-

blemas de sazonalidade e dificuldade de ge-

renciar o fluxo de caixa entre os períodos de

alta e baixa estação.

Com foco no processo empreendedor

no setor hoteleiro Teixeira (2012) realizou o

estudo no setor hoteleiro em Aracaju, Ser-

gipe. Verificou a autora que o principal mo-

tivo para a criação do negócio foi aproveitar

uma oportunidade percebida e, constatou

que, apesar do apoio gratuito oferecido pelo

SEBRAE, os empresários iniciam seus empre-

endimentos sem realizar o plano de negócios

ou pesquisa de mercado. Consideram que o

negócio é compensador, no entanto, alguns

destacam a baixa rentabilidade, o excesso de

trabalho e a falta de incentivo do governo no

apoio ao desenvolvimento das atividades tu-

rísticas do Estado.

Ainda sobre essa temática foi realiza-

do estudo por Teixeira e Carvalho (2012), em

agências de viagens em Aracaju, Sergipe, que

teve como objetivo analisar os fatores que in-

fluenciam a criação de novos empreendi-

mentos. Entre os resultados mais importan-

tes verificou-se que o alto nível de escolari-

dade dos empreendedores, o apoio da famí-

lia e a experiência anterior na atividade são

os fatores que mais influenciam a criação de

negócios. O que chama a atenção nos casos

estudados é que, apesar de serem instruídos,

os empreendedores não são preparados para

a realização de planejamento ou para geren-

ciar os negócios o que demonstra fragilidade

quando se atua em mercado cada vez mais

competitivo.

O presente estudo adaptou o modelo

de Borges et al. (2005) e adotou três estágios

do processo empreendedor para a análise

das redes sociais das empreendedoras: con-

cepção, start-up e consolidação. Os estágios

de iniciação e preparação foram agrupados

em um único estágio, o de concepção. Essa

simplificação foi adotada considerando que

em empreendimentos de micro e pequeno

porte são raras as atividades de realização de

plano de negócios como também e pesquisa

de mercado, típicas da fase de preparação.

As principais atividades desenvolvidas pelos

empreendedores durante o estágio de con-

cepção do negócio são: identificação da

oportunidade, o desenvolvimento da ideia, a

decisão de criação, plano de negócios, pes-

quisa de mercado, captação de recursos fi-

nanceiros e definição da equipe. No estágio

do start up, são considerados os procedimen-

tos legais da abertura, dedicação do empre-

endedor ao negócio, organização das instala-

ções e equipamentos, desenvolvimento do

primeiro produto/ serviços, contratação de

empregados, primeiros clientes. Na opera-

cionalização do negócio são consideradas as

atividades de marketing/vendas, o ponto de

equilíbrio, o planejamento e a administração.

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2.2 Redes sociais empreendedoras

As redes sociais empreendedoras são

definidas como relações e contatos dos em-

preendedores com outras pessoas. Tais con-

tatos fornecem meios para reconhecer opor-

tunidades e também facilidade de utilização

de recursos, que são potenciais fontes de

vantagem competitiva (Barnir e Smith, 2002;

Birley, 1985). Para Aldrich e Zimmer (1986) o

processo empreendedor é fundamentado

em uma rede mutável de relações sociais

contínuas que facilitam e compelem ligações

entre empreendedores aspirantes, recursos

e oportunidades. Para esses autores, as re-

des são conhecidas por ajudarem o começo

de um novo negócio e seu crescimento, pro-

vendo acesso à informação, conselho e finan-

ças tanto quanto os tão necessários contatos.

As redes são sistemas compostos por

nós ou laços e conexões entre eles que, nas

ciências sociais, são representados por sujei-

tos sociais (indivíduos, grupos, organizações

etc.) conectados por algum tipo de relação

(Granovetter, 1973). Para o referido autor os

laços podem ser fortes ou fracos. Os laços

fortes existem quando há um pequeno grupo

com relacionamentos longos, tais como

membros da família e um grupo pequeno de

conselheiros internos do dono do negócio.

Elas são caracterizadas pelos investimentos

pesados no relacionamento, contato fre-

quente com a outra pessoa e senso implícito

de reciprocidade. Já os laços fracos são de

curta duração, de menor frequência de con-

tato, de menor confiança e mais ambigui-

dade de relacionamento.

Segundo Dubini e Aldrich (1991), a

rede pessoal consiste em todas as pessoas

com as quais um empreendedor tem ligações

diretas ou, para alguns propósitos, indiretas,

via relações diretas. Por exemplo, parceiros,

fornecedores, clientes, distribuidores, asso-

ciações comerciais, outros credores ou mem-

bros da família. O tipo mais simples de rede

social inclui ligações diretas entre os empre-

endedores e as pessoas com as quais eles

têm contatos diretos e de quem obtêm servi-

ços, conselhos e suporte moral. Esses autores

destacam o conceito de redes pessoais es-

tendidas, que surgem dentro das organiza-

ções e que consistem em todos os relaciona-

mentos entre donos, gerentes e emprega-

dos, como eles são estruturados pelos pa-

drões de coordenação e controle.

Birley (1985) destaca os tipos formal

e informal de redes, que são parecidos aos ti-

pos pessoais e de negócios, identificados por

Dubini e Aldrich (1991). Para a autora, as re-

des informais envolvem família, amigos, anti-

gos colegas e empregados que podem ser

menos informados sobre as opções e esque-

mas abertos para os empreendedores, mas

são mais dispostos a ouvir e dar conselhos. Já

as redes formais ou profissionais incluem to-

dos os indivíduos com os quais o empreende-

dor mantém como relacionamento principal

assuntos referentes a negócios. São esses:

bancos, contadores, advogados, consultores

e organizações, que podem satisfazer os em-

preendedores por responder às suas necessi-

dades específicas, embora elas possam con-

sumir tempo e ser caras.

Independentemente da tipologia, o

importante é que os empreendedores reco-

nheçam a importância das redes sociais, pois

o empreendedorismo tanto pode ser limi-

tado quanto facilitado pelas ligações entre os

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Teixeira, R. M.; Andreassi, T. ; Bomfim, L. C.S. Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens

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recursos e as oportunidades que são criados

via rede social do empreendedor. Empreen-

dedores constroem negócios bem sucedidos

pela maximização de oportunidade e as suas

redes sociais são cruciais (Birley et al., 1990).

Além disso, afirmam Ducci e Teixeira

(2011), essas redes podem contribuir para a

formação do capital social dos empreende-

dores. Para Park et al (2012) o capital social

seria tudo o que facilita ação individual ou

coletiva, gerada por redes de relações,

reciprocidade, confiança e normas sociais.

Dois estudos internacionais com foco

na utilização do capital social no setor de tu-

rismo podem ser destacados. O primeiro foi

realizado por Zhao, Ritchie e Echtner (2011)

aplicou o conceito de capital social para o de-

senvolvimento do turismo. Foi realizado na

China no ambiente rural e teve como obje-

tivo verificar a criação de novos empreendi-

mentos e sua relação com o capital social. O

estudo indicou que o capital social estrutural

estava positivamente relacionado com a

capacidade de empre-endimento e a

probabilidade do indivíduo de estabelecer

um negócio de turismo, enquanto que o

capital social cognitivo era

marginal.

O estudo de Park et al (2012) foi rea-

lizado na Coréia do Norte com residentes de

vilarejos envolvidos em projetos governa-

mentais de turismo rural. Teve como objetivo

investigar o tipo de capital social que os resi-

dentes locais possuíam e de que forma esse

capital era afetado por elementos como sta-

tus socioeconômico, variáveis demográ-ficas

e interação da comunidade. Como resultado

da análise de cluster, os residentes foram

separados em dois grupos: um grupo de

capital social elevado e outro de baixo capital

social. Foi identificado que as variáveis que

afetaram a probabilidade de determinar os

tipos de capital são os tipos de participação

em negócios de turismo rural e as principais

cultivos. A venda de produtos agrícolas, a

preparação de refeições, aloja-mento e os

programas experienciais de turismo rural

foram positivos. Esta desco-berta indica que

as pessoas que participam dessas atividades

têm maior probabilidade de pertencer a um

grupo de capital social elevado. Esse

resultado também implica que,

independentemente da categoria de negó-

cios de turismo, os benefícios financeiros do

desenvolvimento do turismo são cruciais

para a construção mais confiança social e

cooperação nas comunidades.

No Brasil, alguns estudos abordaram

as redes sociais empreendedoras com foco

no turismo. O pioneiro foi realizado por de

Ducci e Teixeira (2010), em agência de via-

gem no interior do Paraná, teve como obje-

tivo compreender como as redes sociais são

utilizadas pelos empreendedores na forma-

ção do seu capital social, nas fases de criação

e de desenvolvimento de um negócio. Como

resultados mais relevantes observou o es-

tudo que os relacionamentos estabelecidos

se aprofundaram à medida que se aumen-

tava a confiança, o acesso às redes formais

viabilizou o acesso a recursos e informações

além de ter sido canal para o aprendizado, se

constatando assim, que de fato os recursos

acessados contribuíram para a formação do

seu capital social.

Entre os estudos mais recentes que

abordam essa temática no turismo vale des-

tacar os de Gimenez e Gimenez (2015) e de

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Teixeira, R. M.; Andreassi, T.; Bomfim, L. C.S. Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens

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Costa e Galina (2016) e Souza e Teixeira

(2017). Gimenez e Gimenez (2015) analisa-

ram o papel das redes sociais e do capital so-

cial na criação e crescimento de uma em-

presa que atua no negócio do ciclo turismo

em Curitiba - PR. Por meio de um estudo de

caso foi observado que as redes sociais são

uma importante fonte de capital social para

o empreendedor, tanto na fase de criação

quanto na fase de crescimento da empresa.

Verificou ainda que em muitos momentos

houve acesso a recursos financeiros, infor-

macionais e sociais que surgiram por meio de

redes formais e informais.

Costa e Galina (2016) realizaram seu

estudo em empreendimentos turísticos ru-

rais no Brasil e em Portugal e teve como ob-

jetivo analisar como as redes sociais usadas

pelos empreendedores, os recursos acedidos

e os aspetos importantes relacionados com

as dimensões do capital social, na fase de cri-

ação e desenvolvimento dos empreendimen-

tos. Os resultados sugerem que, nos casos es-

tudados, as redes formais e informais são

cruciais na mobilização de recursos económi-

cos e não económicos. Em geral, a rede infor-

mal é importante na mobilização de recursos

não-económicos, sendo nos casos brasileiros,

igualmente importante na mobilização de re-

cursos económicos.

Souza e Teixeira (2017) em estudo

realizado em hotéis de pequeno porte procu-

raram analisar o capital social de empreende

dores tomando como base as dimensões es

trutural, relacional e cognitiva a partir de

uma análise comparativa entre os casos estu-

dados. Os resultados destacam a importância

do capital social para o estabelecimento de

um novo negócio, o papel da confiança e o

uso das redes formais e informais.

Foi na década de 90 que houve um es-

pecial interesse em pesquisar redes sociais

com o recorte de gênero (Neergaard et al.,

2005) e essa temática continua sendo atual.

No entanto, afirmam esses autores, é impor-

tante observar que quando o estudo de redes

sociais é incorporado ao estudo do empreen-

dedorismo feminino, os conceitos são ampli-

ados em razão das definições não conclusivas

de empreendedorismo, da complexidade e

dinamicidade das relações em redes e pelas

particularidades inerentes ou atribuídas a

mulheres imersas no mundo dos negócios.

No que se refere à amplitude das re-

des sociais, Vale e Serafim (2010) constata-

ram que redes femininas eram pouco diversi-

ficadas, dificultando o acesso a outras plata-

formas. Uma possível razão para isso estaria

relacionada à disponibilidade do tempo des-

sas mulheres que não se socializam tão facil-

mente fora dos seus ambientes de trabalho e

família, onde canalizam bastante tempo. Ou-

tra explicação dada por Vale et al. (2011) para

a imersão das empreendedoras em redes,

pouco diversificada, está no contexto histó-

rico social retratado na imagem do homem

provedor que em suas atividades fora da fa-

mília formaram suas redes com predominân-

cia de laços fracos, enquanto que as mulhe-

res, mais ligadas à família, estavam imersas

em redes com laços fortes. O problema que

surge dessa característica das redes femini-

nas é que quanto menos difusa for uma rede,

menor será a sua capacidade de obter infor-

mações úteis e desenvolver alguma vanta-

gem competitiva (Vale e Serafim, 2010).

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Este estudo tem caráter exploratório

pois ainda são incipientes os estudos no Bra-

sil que abordam as redes sociais empreende-

doras no contexto do setor de turismo. Foi

adotado o estudo de casos múltiplos como

estratégia de pesquisa, seguindo os preceitos

metodológicos propostos por Yin (2010) e

Einsenhardt (1989). Para Yin (2010), a impor-

tância de se realizar um estudo de casos múl-

tiplos parte das premissas: a) pouca informa-

ção existente sobre o tema, de tal forma que

mais de uma empresa analisada pode trazer

informações complementares sobre um as-

sunto pouco explorado; e b) um estudo de

caso único poderia gerar distorções na aná-

lise devida às peculiaridades da empresa

analisada.

Os dados foram coletados por meio

de entrevistas pessoais semiestruturadas

com as empreendedoras que criaram as

agências de viagens, utilizando-se um roteiro

de entrevistas semiestruturado. Foram en-

trevistadas sete empreendedoras que inicia-

ram os seus negócios e que no momento os

estão gerenciando, para que se possa identi-

ficar os tipos de laços sociais utilizados e os

recursos que foram obtidos nas fases de con-

cepção, start-up e consolidação dos negócios

turísticos. Embora as entrevistas constituam

fonte essencial de informações para um es-

tudo de caso, Yin (2010) recomenda corrobo-

rar os dados obtidos com outras fontes de

evidências, como a análise de documentos.

Foram utilizadas informações dos sites das

empresas entrevistas como fonte documen-

tal para coletar dados como localização e ser-

viços oferecidos. Foram escolhidas agências

de viagens por serem responsáveis pela dina-

micidade da atividade turística nas regiões do

Estado onde atuam como receptoras dos vi-

sitantes e turistas (Teixeira, 2012).

Para Laville e Dionne (1999), uma

tarefa primordial é definir as categorias

analíticas, para que os elementos de

conteúdo possam ser reunidos e organizados

por parentesco de sentido. Neste estudo foi

utilizado o modelo misto. Neste caso, o

pesquisador não quer se limitar, em suas

análises e interpretações, a identificar a

presença de elementos que foram predeter-

minados. As categorias analíticas e os

elementos de análise adotadas neste estudo

são baseados nos objetivos específicos e

estão apresentadas no Quadro 1.

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Quadro 1-Categorias analíticas e elementos de análise

CATEGORIA ELEMENTOS DE ANÁLISE

Perfil da empreendedora Idade; idade do primeiro negócio; naturalidade; formação; estado civil; quantidade de filhos; experiência anterior; presença de empreendedor na família; participação em cursos/treinamentos na área gerencial.

Características dos negócios

Ano de fundação; estrutura organizacional; estrutura física; serviços pres-tados; quantidade de funcionários; clientes; familiares na empresa.

Tipos de laços na concepção, start-up e consolidação

Laços (elos) fortes: formados pelas redes pessoais como família amigos, antigos colegas. Laços (elos) fracos: formados pelas redes empresariais oriundas do rela-cionamento como bancos, consultores, clientes, fornecedores e outros

Recursos Acessados na concepção, start-up e consolidação

Recursos Sociais: suporte emocional, moral e técnico; identificação de novas oportunidades de negócio; suporte motivacional; fonte de ideias e informações; conselhos; indicações de fornecedores, clientes e funcioná-rios. Recursos Financeiros: Empréstimos e financiamentos; orçamento; pro-cura por investimentos; aplicação dos recursos; custos fixos (matérias-pri-mas e fornecedores, equipamentos, locações e funcionários). Recursos Físicos: matérias-primas e insumos, máquinas e equipamentos, veículos, imóveis e localização física

Fonte: Elaborado pelos autores com base na revisão da literatura

4 DESCRIÇÃO DOS CASOS

Os casos desse estudo são descritos

seguindo a ordem das categorias analíticas previamente definidas: perfil da empreende-dora, características da empresa; tipos de la-ços e recursos acessados nas fases de con-cepção, start-up e consolidação.

4.1 Caso Agência 1

A empreendedora da Agência 1 tem 35

anos de idade, é natural de Aracaju, casada e com duas filhas. Como trabalhava com os país em uma agência da família, decidiu se capacitar no exterior para futuramente ter o seu próprio negócio e optou por um curso que pudesse aplicar diretamente no negócio. Após sua estadia nos Estados Unidos, iniciou uma graduação em Administração em Co- mércio Exterior, mas não concluiu por ques-tões familiares. Antes de abrir sua própria agência, sua experiência profissional sempre esteve relacionada ao setor de turismo, pois

desde a adolescência trabalhou na empresa de seus pais. Até mesmo suas lembranças de infância sempre estiveram ligadas à empresa da família, então a imersão neste ambiente foi determinante para que aos 22 anos a em-preendedora fundasse sua própria agência, o que ela considerou um caminho natural. A empreendedora não fez cursos na área ge-rencial, mas a experiência anterior ao traba-lhar na agência da família lhe proporcionou um grande aprendizado, pois foi neste traba-lho que adquiriu experiências nas diversas funções administrativas, desenvolvendo com isso, diversas habilidades gerenciais. A em-presa começou suas atividades apenas com a empreendedora e uma estrutura mínima composta por um celular e um computador.

Atualmente, possui duas lojas com nove colaboradores, dentre estes gerentes, mas nenhum membro da família.

Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

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A seguir são apresentados os Quadros 3,4 e 5 com resumo dos principais tipos de laços e recursos que são encontrados nas fa

ses de concepção, start-up e consolidação do negócio da empreendedora, extraídos a par-tir da descrição do caso da Agência 1.

Quadro 3 -Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Concepção da Agência 1

Laços Fortes Família: pai, mãe, filhas

Fracos -

Recursos

Sociais

Laços Fortes: Identificação da oportunidade de negócio, por meio de suas experiências anteriores na empresa da família; Apoio moral por parte dos pais; Ajuda dos pais e marido com ideias, conselhos e indicação de clientes e fornece-dores; Ajuda dos familiares e amigos com ideias de propaganda; Fortaleci-mento de valores éticos e profissionais que recebeu por meio da educação dos pais. Laços Fracos:

Financeiros Recursos próprios.

Físicos Recursos próprios.

Quadro 4- Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up da Agência 1

Laços Fortes Família (pais e amigos) com apoio moral.

Fracos Escritório de Contabilidade.

Recursos

Sociais

Laços Fortes: Apoio moral por parte dos pais e amigos; Habilidades necessárias no início do funcionamento do negócio obtidas por meio de sua experiência ante-rior na empresa da família. Laços Fracos: Execução dos procedimentos legais da abertura da empresa por meio de escritório especializado.

Financeiros Recursos próprios.

Físicos Recursos próprios.

Quadro 5 -Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação da Agência 1

Laços

Fortes Família (pai, mãe, marido e filhas) com apoio moral e ideias.

Fracos ABAV, Agências de Turismo e Operadoras de viagem para troca de informa-ções e funcionários com plano de marketing e planejamento estratégico e bancos.

Recursos

Sociais

Laços Fortes: Apoio moral por parte dos pais e marido nas viagens; Ajuda dos pais no aten-dimento ao cliente quando aumenta a demanda; Ajuda das filhas e marido com ideias para novas campanhas; Status associado à relação de amizade com amiga do banco. Laços Fracos: Elaboração do plano de marketing com ajuda do funcionário Troca de informações sobre o setor turístico; Elaboração do plano de crescimento da empresa com apoio de funcionário.

Financeiros Recursos próprios, mas tem acesso fácil ao crédito devido ao bom relacio-namento criado com os bancos.

Físicos Recursos próprios. Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

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4.2 Caso agência 2 A entrevistada é natural de Penedo-

AL, tem 42 anos, é casada e possui três filhos. Iniciou a graduação em Administração, mas não concluiu. Nunca fez curso ou treina-mento na área gerencial. A empreendedora comentou que a opção pelo empreendedo-rismo pode ter sido uma influência de seu ir-mão, que lhe proporcionou contato com o comércio. As experiências positivas de suas próprias viagens despertaram na empreen-dedora o interesse pelo setor de turismo e fo-ram determinantes em sua decisão de abrir sua própria agência. Aos 21 anos, teve seu primeiro negócio, um restaurante adminis-trado com o esposo, mantendo-se no seg-mento por 18 anos. Após esse período, aban-donou a atividade para se dedicar a uma agência de viagens. A empresa foi fundada em 2011, a partir da iniciativa da empreende-

dora com ajuda do esposo, o qual possui parte na sociedade. Atualmente não tem em-pregados e trabalha com pessoas da família. A empresa atende a vários públicos, mas seu foco principal está em funcionários públicos e aposentados, que é o público que tem tempo e dinheiro para viajar. Os serviços prestados é basicamente a venda de pacotes turísticos, venda de seguro e locação de transportes. Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

A seguir são apresentados os Qua-

dros 6, 7 e 8 com resumo dos principais tipos de laços e recursos que são encontrados nas fases de concepção, start-up e consolidação do negócio da empreendedora, extraídos a partir da descrição do caso da Agência 2.

Quadro 6 - Tipos de laços e recursos obtidos na Concepção da Agência 2

Laços Fortes Amiga idealizadora do negócio; Irmãs; Amigos e parentes próximos.

Fracos SEBRAE

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ideia do negócio veio da amiga; Ajuda com apoio moral da amiga e irmãs; Sugestões para o desenvolvimento do negócio de amigos e parentes mais próximos; Laços fracos: Recebeu informações do SEBRAE sobre abertura de empresa.

Financeiros Recursos próprios adquiridos com a venda dos ativos do negócio anterior.

Físicos Comprados com recursos próprios adquiridos com a venda dos ativos do negócio anterior.

Quadro 7 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up da Agência 2

Laços Fortes Amiga idealizadora do negócio; marido; amigos em geral

Fracos Operadoras de Turismo;

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda com os primeiros clientes por parte dos amigos; Ajuda do marido para administrar a empresa; Ajuda dos familiares com o atendimento; Laços fracos: Ajuda de operadoras com suporte técnico.

Financeiros -

Físicos -

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Quadro 8 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação da Agência 2

Laços Fortes Amigos; marido e filho, familiares em geral

Fracos ABAV; SEBRAE.

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda com a execução do plano de viagens; dos familiares com divulgação da empresa; do marido com a gestão financeira; Estabelecimento de uma relação de confiança com os familiares; Ajuda do filho com material de di-vulgação e propaganda; Laços fracos: Ajuda da ABAV com informações sobre o negócio e divulgação da em-presa; SEBRAE com cursos na área de turismo.

Financeiros -

Físicos -

Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

4.3 Caso agência 3

A empreendedora é solteira, possui 33

anos e uma filha. Natural de São Paulo, gra-duada em Turismo e Hotelaria, pós-graduada em Habilitação Didática do Ensino Superior, já participou de curso na área gerencial ofer-tado pelo SEBRAE. A decisão de criar um ne-gócio foi influenciada pelo pai empresário, pela possibilidade de horários flexíveis e de-sejo de trabalhar para si própria. Aos 21 anos já era dona do primeiro negócio. Era uma dis-tribuidora de bebidas junto com uma avícola, mas não deu certo e a empresária iniciou ou-tro negócio do setor de alimentação. Antes de abrir sua atual agência, a empreendedora possuía uma vasta experiência profissional tanto como empregadora quanto como em-pregada de outras empresas. Sua formação em turismo e suas experiências em agências contribuíram para a abertura de sua primeira agência, a qual foi aberta com uma sócia, mas a experiência não deu certo.

Atualmente a empresa não possui filial, é gerida pela proprietária e conta com dois funcionários diretos e dois free lancers. Com esses colaboradores, a agência oferece servi-ços diversos como: excursões, cruzeiros, pas-sagens de avião, viagens de grupos, viagens para casais em lua de mel, transfers e aluguel de veículos em geral e outros. O foco da cli-entela é nos jovens e os serviços são ofereci-dos em função do planejamento da empre-endedora.

Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

A seguir são apresentados os Qua-

dros 9, 10 e 11 com resumo dos principais ti-pos de laços e recursos que são encontrados nas fases de concepção, start-up e consolida-ção do negócio da empreendedora, extraídos a partir da descrição do caso da Agência 3.

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Quadro 9 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Concepção da Agência 3

Laços Fortes Amigas; Mãe.

Fracos Empresárias; SEBRAE; Consultores; Fornecedores; Clientes.

Recursos

Sociais

Laços fortes: Fortalecimento da ideia de abrir o negócio com o apoio da amiga que trabalha em outra empresa; Ajuda da amiga/colega de trabalho para em sociedade constituir a empresa; Ajuda profissional da amiga com ideia do nome da em-presa; Ajuda profissional da amiga com a ideia da decoração da loja; Recebeu suporte emocional e moral da mãe; Laços fracos: Compartilhamento de conhecimentos e experiências com outras empresárias; Clientes, fornecedores e consultores ajudam com conselhos; Clientes, fornecedores e consultores ajudaram na identificação de oportunida-des; Ajuda do SEBRAE com Plano de Negócio.

Financeiros Família (pai) ajudou com empréstimo.

Físicos Comprado com o empréstimo que recebeu do pai.

Quadro 10 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up da Agência 3

Laços Fortes Mãe; pai; amigas

Fracos Fornecedores e clientes.

Recursos

Sociais

Laços fortes: A mãe ajudou no atendimento aos clientes; Recebeu suporte emocional da mãe e da filha; Recebeu apoio moral de suas amigas; Amiga ajudou com seus serviços de design interior escolhendo; equipa-mentos adequados e layout funcional para a loja; Ajuda da amiga com a primeira contratação; Laços fracos: Clientes foram fontes de ideias e informações; Fornecedores ajudaram com treinamentos;

Financeiros Ajuda do pai com recursos financeiros.

Físicos - Quadro 11 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação da Agência 3

Laços Fortes Amigos; Mãe; Filha; Namorado.

Fracos ABAV; EMBRATUR; SEBRAE; Clientes; Consultores; Fornecedores.

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda com conselhos por parte dos amigos e família; Ajuda para identifi-car ameaças da concorrência por meio dos amigos, mãe e filha; Suporte motivacional dos amigos; Ajuda do amigo para criar material de campa-nhas publicitárias. Laços fracos: Ajuda de clientes, consultores e fornecedores com indicação de vendas; Ajuda de órgão público e associação para possibilitar o acesso da empre-endedora a outras redes de contato e divulgar a empresa; Ajuda com o acesso a informações e aprendizado por meio do SEBRAE e ABAV.

Financeiros -

Físicos Ajuda do namorado com compra de equipamento. Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

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4.4 Caso agência 4 A empreendedora tem 43 anos, é pós-

graduada em marketing, casada, com um fi-lho. Aos 15 anos de idade já tinha negócios informais no município sergipano de Itabi e sempre alimentou o sonho de um dia ter sua independência. O interesse pelo setor de tu-rismo surgiu quando a empreendedora ainda morava no interior e alimentava o sonho de viajar e ser empresária. Em 1989, aos 19 anos, começou a trabalhar no setor de tu-rismo, mas foi em 1997, com ajuda de uma sócia, que abriu sua primeira agência de tu- rismo em Aracaju. Passados oito anos a soci-edade fora interrompida e a empreendedora abriu sua segunda agência, desta vez sozinha.

Quando a agência foi fundada, a em-preendedora contava com cinco colabora-dores, mas atualmente esse número foi qua-

druplicado. Dentre seus funcionários, alguns são graduados. A empreendedora não é a única pessoa na família que iniciou o próprio negócio, pois vários familiares são empreen-dedores. Os familiares estão presentes no dia a dia da empresa, pois alguns são funcio-nários. Para a empreendedora, trabalhar com pessoas da família é uma experiência mais positiva que negativa.

Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

A seguir são apresentados os qua-

dros 12, 13 e 14 com resumo dos principais tipos de laços e recursos que são encontra-dos nas fases de concepção, start-up e con-solidação do negócio da empreendedora, ex-traídos a partir da descrição do caso.

Quadro 12 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de concepção da Agência 4

Laços Fortes Família: mãe; marido; amigos

Fracos -

Recursos

Sociais

Laços fortes: Recebeu conselhos e apoio moral da mãe; Recebeu ajuda com suporte emo-cional do marido; Familiares ajudaram no desenvolvimento de habilidades por meio do compartilhamento de conhecimentos e experiências.

Financeiros Recursos próprios originados da parte que lhe coube quando desfez a socie-dade.

Físicos Marido ajudou com indicação do ponto. Quadro 13 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up Agência 4

Laços Fortes Irmão

Fracos Fornecedores

Recursos

Sociais -

Financeiros Laços fracos: Fornecedores ajudaram com liberação de crédito; Laços fortes: Irmão ajudou com empréstimo.

Físicos -

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Teixeira, R. M.; Andreassi, T.; Bomfim, L. C.S. Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens

Rev. Bras. Pesq. Tur. São Paulo, 12(1), pp. 102-132, jan./abr. 2018.

Quadro 14 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação Agência 4

Laços Fortes Enteados

Fracos Funcionários; SEBRAE

Recursos

Sociais

Laços fortes: Suporte técnico dos enteados com a repaginação da logo-marca da empresa; Laços fracos: Suporte técnico do SEBRAE com: Consultoria em marketing; consultoria em Gestão Estratégica; Cursos e treinamento; Suporte técnico da própria equipe de trabalho

Financeiros 80% do valor da Consultoria em andamento é paga pelo SEBRAE.

Físicos - Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

4.5 Caso agência 5

A empreendedora tem 49 anos, natural de Salvador, graduada em Ciências Contá-beis, é viúva e não possui filhos. Relatou que nunca participou de treinamento na área ge-rencial, mas busca esse conhecimento por meio da leitura. Quando abriu seu primeiro negócio estava com 21 anos, mas revelou que na adolescência já tinha contato com o comércio informal no Brasil, depreendendo-se do relato que a decisão em abrir seu pró-prio negócio foi uma questão de afinidade. Desde pequena ela já vendia, trocava, fazia algumas coisas. Sua experiência profissional no setor de turismo, ocorreu quando se mu-dou para os Estados Unidos em busca de oportunidades. Vale ressaltar que há indícios da influência familiar na decisão da empreen-dedora em abrir o próprio negócio, pois seus irmãos, seus primos e outros parentes tam-bém são empreendedores.

A empresa foi constituída sem ajuda de sócio em 2011 e iniciou efetivamente as ati-vidades em 2012. Começou e continua o ne-gócio com duas funcionárias, sendo uma de-las graduada. A empreendedora não possui relação de parentesco com suas funcionárias. Entre os serviços oferecidos estão consulto-ria em viagens e pacotes de viagens nacional e internacional preferencialmente para adul-tos.

Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

A seguir são apresentados os Qua-dros 15, 16 e 17 com resumo dos principais tipos de laços e recursos que são encontra-dos nas fases de concepção, start-up e con-solidação do negócio da empreendedora, ex-traídos a partir da descrição do caso da Agên-cia 5.

Quadro 15 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de concepção Agência 5

Laços Fortes Família: mãe.

Fracos Operadoras; Clientes; Fornecedores; CADASTRUR; EMBRATUR

Recur-sos

Sociais

Laços fortes: Apoio moral e suporte motivacional por parte da mãe; Laços fracos: Operadoras ajudando com informações e tirando dúvidas; Fornecedores aju-dando com informações e tirando dúvidas; Clientes são fontes de aprendi-zado; Órgãos públicos liberando credenciais e licenças.

Financeiros Ajuda da mãe.

Físicos Ajuda da mãe.

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Quadro 16 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up Agência 5

Laços Fortes Família: Mãe e irmão

Fracos Contador; Pessoas conhecidas.

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda com o primeiro cliente. Laços fracos: Contador ajudou com procedimentos legais de abertura; Pessoas conhe-cidas ajudaram com indicação dos primeiros funcionários.

Financeiros Ajuda financeira da mãe com parte o capital de giro;

Físicos - Quadro 17 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação Agência 5

Laços Fortes -

Fracos Contador; ABAV

Recursos

Sociais

Laços fracos: ABAV ajuda com: Informações sobre roteiro de viagens; Indicação de fornecedores; Indicação de operadoras; Contador ajuda com a gestão financeira.

Financeiros -

Físicos - Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

4.6 Caso agência 6

A empreendedora possui 31 anos e aos 21 abriu seu primeiro negócio. É natural de Aracaju, casada, com um filho, graduada em Turismo e pós-graduada em Administração de Empresas. Além destes cursos, também participou de outros na área gerencial, ofere- cidos pelo SEBRAE e ABAV. Sempre teve con-tato com o comércio, pois trabalhava na em-presa da família. A empreendedora sugere que o exemplo do pai empreendedor teve muita influência em sua vida profissional. Além do contato com o negócio da família, a empreendedora relatou que quando decidiu empreender, considerou também a possibili- dade de ter um horário mais flexível. Além da influência familiar e horário flexível, obser-vou-se que a formação acadêmica em tu-rismo e o estágio com agências de viagens fo- ram determinantes na escolha do segmento

de mercado de seu futuro negócio. A empresa foi fundada em 2005 com

uma sócia, e atualmente não existe familia-res trabalhando na empresa. Além das só-cias, há uma funcionária graduada. Os servi-ços oferecidos são: hospedagem, passagem aérea, locação de automóveis e seguro via-gem em âmbito nacional. Seus clientes são de classe média alta, frequentadores de re-sorts.

Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

A seguir são apresentados os Qua-

dros 18, 19 e 20 com resumo dos principais tipos de laços e recursos que são encontra-dos nas fases de concepção, start-up e con-solidação do negócio da empreendedora, ex-traídos a partir da descrição do caso da Agên-cia 6.

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Quadro 18 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Concepção da Agência 6

Laços Fortes Pai; antiga colega de trabalho;

Fracos Fornecedores/operadoras

Recursos

Sociais

Laços Fortes: Ajuda do pai com apoio moral e indicação de clientes e fornece-dores; Laços fracos: Ajuda dos fornecedores com liberação de crédito e orientações; Ajuda da fa-culdade com a elaboração do plano de negócio.

Financeiros Laços Fortes: Crédito de fornecedores

Físicos Laços Fortes: Recursos próprios e da antiga colega de trabalho. Quadro 19 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up da Agência 6

Laços Fortes Amigos; Família (pai)

Fracos EMBRATUR, Agências de viagens.

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda dos amigos e família, sendo eles os primeiros clientes; Ajuda dos pais e amigos com a divulgação; Ajuda do pai com conselhos e orientações sobre atendimento. Laços fracos: EMBRATUR com cadastro da agência e liberando as credenciais necessárias ao funcionamento; Ajuda de outras agências com indicação de profissional.

Financeiros Recursos próprios.

Físicos Recursos próprios. Quadro 20- Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação da Agência 6

Laços Fortes Pai

Fracos Clientes

Recursos

Sociais Laços fortes: Ajuda do pai com conselhos e suporte emocional. Laços fracos: Clientes são fontes de motivação.

Financeiros Recursos próprios.

Físicos Recursos próprios. Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

4.7 Caso agência 7 A empreendedora tem 52 anos, é natu-

ral de Alagoas, viúva com 3 filhos. Além da graduação em Psicologia possui ainda duas pós-graduações, uma em Administração de Marketing e outra em Recursos Humanos. A empreendedora procurou o SEBRAE para de-senvolver suas habilidades gerenciais. A pri-meira experiência profissional da empreen-dedora foi na empresa do pai. Depois que concluiu a faculdade, tentou carreira como psicóloga, mas se mudou de cidade para ad-ministrar o hotel do pai. A influência da famí- lia foi determinante na decisão da empreen-

dedora em optar pelo turismo receptivo. A empresa foi fundada há sete anos. É

uma agência especializada em turismo recep-tivo e em atividades turísticas na região de Xingó. A empresa foi constituída inicialmente com membros da família, mas depois ficou sob a direção da empreendedora. Para a em-preendedora trabalhar com a família é algo que sempre fez parte de sua vida e se sente confortável com isso. Atualmente conta com quatro empregados. Possuía este mesmo nú-mero quando abriu a agência. Entre seus co-laboradores existe apenas um com formação superior. Seus clientes são variados, como os grandes operadores e as pessoas físicas. A

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empresa tem uma estrutura pequena, sem departamentos e todos os colaboradores aju-dam em todas as atividades. Tipos de laços e recursos nas fases do negócio

A seguir são apresentados os Quadros 21, 22 e 23 com resumo dos principais tipos de laços e recursos que são encontrados nas fases de concepção, start-up e consolidação do negócio da empreendedora, extraídos a partir da descrição do caso da Agência 7.

Quadro 21 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de concepção da Agência 7

Laços Fortes Família (pai, mãe, filhos, irmãos)

Fracos ABAV; SEBRAE; Banco

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda com a ideia de abrir a empresa; para o nome da empresa; Criação do slogan; Ajuda com o plano de negócios.

Laços fracos: Ajuda do SEBRAE e ABAV com cursos e treinamentos.

Financeiros Laços fracos: Recursos financeiros

Físicos Laços fortes: Móveis e outros recursos

Quadro 22 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Start-up da Agência 7

Laços Fortes Amigos; Família

Fracos Funcionários; Contador

Recursos

Sociais

Laços fortes: Ajuda com escolha de imóveis; com procedimentos legais. Laços fracos: Ajuda com procedimentos operacionais de venda de passagens; Ajuda do contador com procedimentos legais de abertura

Financeiros Laços fortes: Recursos financeiros

Físicos - Quadro 23 - Tipos de laços e recursos obtidos na fase de Consolidação da Agência 7

Laços Fortes Família; Amigos

Fracos SEBRAE.

Recursos

Sociais

Laços fortes: Amigos oferecem contratos em fases difíceis; Amigos são os próprios cli-entes; Família como fonte de apoio. Laços fracos: SEBRAE com Consultoria.

Financeiros -

Físicos - Fonte: Desenvolvido pelos autores com base nos dados coletados

5 ANÁLISE COMPARATIVA DOS CASOS

Após a descrição dos sete casos de

agências de viagens procedeu-se a análise

comparativa baseada nas categorias analíti-cas do estudo: perfil das empreendedoras, características das empresas, tipos de laços e recursos acessados na fase de concepção,

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start-up e consolidação do negócio. Procu-rou-se destacar as diferenças e similaridades entre os casos analisados relacionando-os, sempre que possível, com a base teórica.

Observou-se que as empreendedoras das agências de viagens participantes deste estudo estão na faixa média de idade de 41 anos, a mais jovem com 31 anos e a mais ve-lha com 52 anos. Quando se observou a idade com que as empreendedoras iniciaram o pri-meiro negócio, a média encontrada foi de 25 anos, a mais nova com 18 anos e a mais velha com 43 anos. O estado civil é bem diversifi-cado entre as empreendedoras de agências. Existem mulheres casadas, solteiras e viúvas, sendo que apenas uma delas não possui fi-lhos. Resultado similar também foi encon-trado no estudo de Gouveia et al. (2013), onde se verificou que o estado civil predomi-nante é o de casada e o número de filhos era semelhante. A escolaridade das empreende-doras é elevada conforme apresentado em outros estudos (Vale e Serafim, 2010), ape-nas duas delas não concluíram o curso uni-versitário. Observou ainda que entre as pós-graduadas, houve uma preocupação com o desenvolvimento de habilidades gerenciais através de cursos específicos. Sendo assim, a busca pelo aprendizado também é uma ca-racterística das empreendedoras desta pes-quisa e de outras (Ducci e Teixeira, 2010).

Outra questão abordada que se mos-trou relevante em alguns estudos, como os de Vale e Serafim (2010) e o de Corrêa e Vale (2014), são as experiências anteriores de em-preendedores e o sucesso do empreendi-mento. Neste estudo, apenas uma empreen-dedora não possuía experiência profissional anterior relacionada ao setor de turismo. Vale destacar a predominância de empreen-dedoras que iniciaram suas atividades muito cedo, ainda na faixa dos 20 anos. As que não vivenciaram o empreendedorismo desta forma, estiveram imersas no negócio da fa-mília.

Entre as empreendedoras entrevista-das, observou-se a existência de empreende-dores na família como avós, pais, irmãos, tios, primos e marido. Esse resultado nos re-mete aos estudos de Vale e Serafim (2010, p.13) que encontra entre empreendedoras “certa tradição familiar na área de negócios”. No entanto, foi possível identificar a principal referência familiar para essas mulheres, que enalteceram a figura paterna como exemplo e inspiração em suas vidas. Dentre as entre-vistas merecem destaque os fatores influên-cia da família e experiência anterior como empresária; seguidos da formação educacio-nal ou capacitação no setor de turismo, de-sejo de independência financeira e possibili-dade de horários flexíveis.

Observa-se que as empresas que par-ticiparam desta pesquisa são recentes, ape-nas uma delas foi iniciada no ano 2000. Com relação ao número de empregados, verifi-cou-se que apenas uma agência se enquadra na categoria de pequena empresa enquanto que as demais são microempresas. Quanto a estrutura organizacional, observou-se que as Agências 1 e 4 apresentaram estrutura orga-nizacional simples no máximo com até três níveis hierárquicos.

No que se refere à participação de fa-miliares nas atividades das agências, apenas três empreendedoras destacaram que pa-rentes também são colaboradores. Obser- vou-se também que as Agências 2, 6, 7, dife-rentemente das demais empreendedoras, constituíram o negócio com sócios. Na Agên-cia 2 a sociedade foi formada com o marido da empreendedora, na Agência 6 a empreen-dedora se uniu a uma ex-colega, enquanto que na agência 7 a sociedade foi rateada en-tre a empreendedora, filhas e sobrinha; no entanto, neste último caso, apenas a empre-endedora efetivamente desenvolve ativida-des na empresa.

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5.1 Laços e recursos acessados nas fases de concepção

A fase de concepção se refere ao mo-mento da identificação da oportunidade do negócio e no desenvolvimento da ideia. Com relação à ideia inicial do negócio, entre as Agências de Viagem foi registrado apenas na Agência 2, o acesso aos laços fortes por meio de uma amiga para se obter a ideia do negó-cio. Verificou-se que a influência do ambi-ente foi determinante para o surgimento da ideia do negócio e para a percepção da opor-tunidade. No caso da Agência 1, toda experi-ência no setor de turismo foi adquirida no ne-gócio da família; a ideia do negócio para as Agências 3, 4, 5 e 7 surgiu no ambiente de trabalho em que se encontravam; já no caso da Agência 6 a participação em curso supe-rior foi determinante para que surgissem as ideias. Vale destacar a importância das expe-riências prévias das empreendedoras que também foram enaltecidas no estudo de Cor-rêa e Vale (2014) onde se observou que as ex-periências anteriores possibilitaram criação de laços e relacionamentos focais e dotaram os empreendedores de habilidades técnicas e referências, ainda que mínimas, facilitando com isso a atividade empreendedora.

Nessa fase, todas as empreendedoras acessaram os laços fortes. As empreendedo-ras das Agências 2, 3 e 4 contaram, além dos familiares, com os amigos que foram primor-dialmente fonte de ideias. Eles forneceram a ideia do negócio em si, ajudaram com ideias para propaganda, com o nome da empresa e com a decoração. As empreendedoras das Agências 1, 5, 6 e 7 não acessaram os amigos nesta fase e se apoiaram apenas em seus fa-miliares. Verificou-se nestes casos que a fa-mília também ajudou com ideias para o ne-gócio, mas parentes foram primordialmente o suporte emocional e moral das empreen-dedoras, pois atuam como conselheiros na fi-gura do pai e da mãe e provedores de recur-

sos físicos para a Agência 4 e de recursos fi-nanceiros para as Agências 3 e 5. Esses resul-tados são compatíveis com os encontrados por outros estudos no setor de turismo. Ducci e Teixeira (2010) demostraram que os amigos e a família são os laços mais impor-tantes na fase inicial do negócio. Já Bomfim e Teixeira (2015) destacam que as dificuldades enfrentadas pelas empreendedoras deste es-tudo são diversas e que, para superar essas di-ficuldades, contam sempre com o apoio das suas redes de relacionamentos, especialmente dos familiares e amigos.

No que se refere ao acesso às redes constituídas por laços fracos, vale destacar que empreendedoras das Agências 1 e 4 não acessaram tais redes na fase de concepção para obter recursos. No caso da empreende-dora da Agência 1, verificou-se que os conta-tos com vários familiares empresários du-rante toda a vida, aliado à experiência profis-sional na agência da família foram utilizados da fase de concepção do negócio. No caso da Empreendedora 4, verificou-se que apesar de uma experiência de mais de 20 anos no setor de turismo, a desconfiança com relação à postura ética de outros empresários, susci-tou na empreendedora, receio em estreitar relacionamentos. Acessaram os laços fracos para obtenção de recursos sociais as empre-endedoras das Agências 2, 3, 5, 6 e 7. No caso das Agências 2 e 5, foi recorrente a busca por como informações capazes de dirimir dúvi- das relacionadas a aspectos legais e operaci-onais do negócio. A Agência 2 recorreu ao SE-BRAE para se informar sobre procedimentos de abertura do negócio e a Agência 5 procu-rou outras operadoras para se informar so-bre o mercado. A Agência 3 ampliou suas ex-periências através do compartilhamento de conhecimentos e experiências de outras em-presárias e de conselhos de fornecedores. O destaque em comum para as Agências 5 e 6 está nas orientações diversas oriundas de operadoras e principalmente fornecedores.

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Apenas a empreendedora da Agência 6 ob-teve ajuda com o plano de negócio por meio da faculdade e nos demais casos o plano de negócio formal não existiu. Com relação a cursos e treinamento nesta etapa do negó-cio, apenas a empreendedora da Agência 7 teve acesso a esse recurso por meio do SE-BRAE e ABAV. Os laços fracos não foram aces-sados por nenhuma das empreendedoras de agências para obtenção de recursos físicos nesta fase, enquanto que os recursos finan-ceiros foram obtidos por meio de fornecedo-res e bancos. A Agência 6 obteve o recurso na forma de crédito por meio de um fornecedor e a Agência 7 acessou o banco para obter em-préstimo em dinheiro.

Vale ressaltar que em alguns casos foi observada a não utilização de laços fracos na fase de concepção, mas em nenhum caso se constatou a ausência de laços fortes. Com re-lação aos laços fortes as empreendedoras obtiveram, em termos quantitativos, mais re-cursos do que quando acessaram os laços fra-cos, mesmo restringindo a rede apenas os fa-miliares como ocorreu com as redes das em-preendedoras das Agências 1, 5, 6 e 7. O evi-denciado neste resultado é remetido a es-tudo de Vale e Serafim (2010) que indica que mulheres têm dificuldade de se socializarem fora do ambiente de trabalho e familiar.

No estudo de Ducci e Teixeira (2010) em agência de viagens foram destacados os contatos estabelecidos pelos empreendedo- res com os laços fracos (ex-colegas de banco e com as funcionárias de operadoras de via-gens) que lhes proporcionaram informações essenciais facilitadoras da compreensão do setor e do negócio. Alguns destes contatos se tornaram bastante frequentes gerando for-tes ligações.

5.2 Laços e recursos acessados da fase de

start-up

A fase de start-up se refere ao mo-

mento do início efetivo do negócio. Nesta fase foi analisado como essas redes foram utilizadas para facilitar os procedimentos le-gais da abertura do negócio, na organização das instalações e equipamentos, no desen-volvimento do primeiro serviço, na contrata-ção de empregados e para conseguir os pri-meiros clientes.

Nesta fase as empreendedoras aces-saram recursos diversos por meio de suas re-des sociais constituídas tanto por laços fortes quanto por laços fracos. Com relação aos la-ços fortes e aos recursos sociais, apenas a empreendedora da Agência 4 não acessou esse tipo de rede, que nesta fase se destacou em função da forte presença dos amigos. Com relação aos primeiros clientes, verificou-se que os amigos, mais do que os parentes, foram importantes na captação desses. Eles ajudaram as empreendedoras se tornando os próprios clientes ou indicando outros, como ocorreu nas Agências 2 e 6. Com relação à in-dicação de fornecedores, na fase de start-up, não se constatou este tipo de ajuda entre as Agências. Vasconcelos et al. (2007) conside-ram fundamental que, nessa fase, as empre-sas nascentes tenham acesso à indicação de clientes e fornecedores, uma vez que a em-presa ainda não é conhecida no mercado. Destaque-se ainda que Vale et al. (2011) constataram através da análise de um indica-dor de imersão mercadológico que as empre- endedoras, mais que os empreendedores, no início do negócio contaram com a participa-ção significativa de amigos e conhecidos, di-retos e indiretos, entre seus clientes, em uma proporção acima de 21%.

A ajuda de familiares como pai e mãe se sobressaiu pelo suporte operacional que os pais proveram nas Agências 2, 3 e 6. Esses familiares ajudaram as empreendedoras rea-lizando o atendimento diretamente na em-presa ou indiretamente por meio de orienta-ções. O estudo de Vale et al. (2011) apontou que mulheres tendem a recorrer mais aos la-

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ços que lhe são mais próximos para obter in-formações e suporte. No caso deste estudo, o suporte oferecido pela família foi funda-mental para o funcionamento do negócio.

Da rede de laços fortes, vale destacar ainda que os amigos foram também impor-tantes para a contratação do primeiro em-pregado. No caso da Agência 3, a amiga da empreendedora se tornou também sua fun-cionária. As empreendedoras das Agências 3, 4, 5 e 7 buscaram recursos financeiros nesta etapa do negócio e os encontraram na pró-pria família. A empreendedora da Agência 3 recebeu do pai a ajuda para arcar com os cus-tos fixos nos seis primeiros meses; a da Agên-cia 4 recorreu ao seu irmão para obter di-nheiro; a da Agência 5 obteve da mãe parte do dinheiro para formar o capital de giro ne-cessário e a da Agência 7 precisou de di-nheiro e recorreu também à própria família.

Observou-se que os recursos sociais acessados por meio das redes constituídas por laços fracos foram muito importantes para a legalização e desenvolvimento do ne-gócio. No caso das Agências 1, 5 e 7, as em-preendedoras acessaram contadores para obterem ajuda com os procedimentos legais de abertura do negócio. Destaca-se ainda que esse recurso fora o mais utilizado na fase de Start-up. No tocante à contratação dos primeiros empregados, duas agências obtive-ram indicações de profissionais. A Agência 5 acessou esse recurso por meio do “amigo do amigo” e a Agência 6 contratou por intermé-dio de outra agência de turismo. Para o de-senvolvimento do primeiro serviço, obser-vou-se o papel dos fornecedores. Eles ajuda-ram as empreendedoras ensinando e orien-tando acerca das melhores práticas de ven-das e medidas preventivas de segurança no uso de cartões de crédito. Quanto aos recur-sos financeiros destacou-se, mais uma vez, a ajuda de fornecedores que liberaram crédito para a empreendedora da Agência 4 viabili-zar os primeiros serviços e treinamento.

5.3 Laços e recursos acessados da fase de start-up

No estágio de consolidação foi verificado como as redes sociais foram utilizadas pelas empreendedoras para as atividades de marketing/vendas, para atingir o ponto de equilíbrio, para facilitar o planejamento e a administração do negócio. No geral, as empreendedoras acessaram seus laços fortes para mobilizar recursos sociais. A exceção entre as agências foi a empreendedora da Agência 5, que perdeu a principal conexão com esta rede em razão do falecimento da pessoa que constituía seu maior apoio – a mãe. Observou-se também que entre as Agências, das seis empreendedoras que acessaram os laços fortes apenas as Agências 3 e 7 recorreram aos amigos obtendo alguns recursos sociais distintos. Por parte dos amigos a empreendedora da Agência 3 recebeu conselhos e ajuda para identificar ameaças da concorrência. Com relação à área de marketing e vendas, as empreendedoras, além dos amigos, contaram também com familiares que por sua vez se destacaram como fornecedores desse tipo de recurso.

A família se destacou como conse-lheira e fonte de apoio moral no caso das Agências 3, 6 e 7. Observou-se ainda que a manutenção de alguns relacionamentos fa-voreceu às empreendedoras com elevação do prestígio dentro da própria família no caso da Agência 2; e no ambiente externo, com status social como ocorreu com a empreen-dedora da Agência 1. No tocante à gestão fi-nanceira, apenas a empreendedora da Agên-cia 2 buscou ajuda do marido, atribuindo a este a responsabilidade de tal função.

Os recursos sociais advindos dos laços fracos também foram diversos. No entanto, a troca de informações sobre o setor turís-tico, no caso das Agências, foi o recurso mais

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utilizado, a exemplo citam-se como benefici-árias as Agências 1, 2, 3 e 4. Nestes casos, as instituições mais acessadas foram ABAV, agências e operadoras de turismo. O acesso a consultorias, cursos e treinamento corres-ponde a segunda maior incidência de aces-sos, tendo o SEBRAE como o principal forne-cedor. Esse tipo de apoio foi observado nas Agências 2, 3, 4 e 7. Ajuda com a divulgação da empresa se destaca como o terceiro re-curso social mais acessado e foi importante para empreendedoras das Agências 2 e 3 que se utilizaram de instituições como a Associa-ção Brasileira de Agências de Viagens- ABAV, o Instituto Brasileiro do Turismo- EMBRATUR e o SEBRAE.

Vale destacar que nesta etapa de con-solidação do negócio, a única empreende-dora que se destacou com uma administra-ção baseada em planos formais de marketing e crescimento foi a da Agência 1, contando inclusive com profissional qualificado para auxiliá-la com a função planejamento. Nesta fase ocorreu entre as Agências apenas um caso de acesso a recursos físicos pela empre-endedora da Agência 3 por intermédio do na-morado. Quanto aos recursos financeiros, apenas a Agência 4 procurou por este tipo de recurso e o obteve por intermédio do SE-BRAE, adquirindo oitenta por cento do valor da consultoria prestada.

Souza e Teixeira (2017) ratificam a importância da confiança nos relacio-namentos, tanto nas redes formais quanto nas redes informais/familiares. A rede de amigos do empreendedor é uma fonte importante de captação de clientes, enqua-nto profissionais como contadores e advogados possuem um papel importante de consultoria ao negócio. No estudo de Gimenez e Gimenez (2015) na fase de criação da empresa de turismo foram usadas redes informais e formais que deram acesso a recursos informacionais e financeiros. Segundo esses autores essa não foi uma fase

crítica, mas o crescimento e desenvol-vimento da empresa é que apresentaram desafios.

6 CONCLUSÕES

Observando as características das

empreendedoras, vale destacar que, de forma similar aos outros estudos, a experiên-cia profissional anterior foi fator influencia-dor na decisão de abrir um novo negócio. Ressalta-se também que a participação de fa-miliares nos negócios revelou-se um fator po-sitivo, em função da confiança e a segurança que se engendra desses relacionamentos.

Com relação aos tipos de laços, verifi-cou-se que os laços fortes foram os mais acessados pelas empreendedoras, desta-cando-se que, em alguns casos, não se con-tou com os amigos, ficando restrita apenas a familiares. No geral, os laços fracos proporci-onaram menos recursos para as empreende-doras do que os laços fortes. Constatou-se também que a quantidade de atores envol-vidos na rede foi diretamente proporcional à quantidade de recursos obtidos. Assim, quanto mais pessoas as empreendedoras ti-nham em sua rede, mais conexões e mais re-cursos foram adquiridos. Outro fator, apon-tado por Aldrich, (1989), é associado à predo-minância da existência dos laços fortes e está relacionado à vida social das empreendedo-ras; uma vez que mulheres não usufruem de contatos sociais como os homens, que com maior frequência participam de reuniões in-formais depois do expediente de trabalho.

Na fase de concepção vale destacar a importância da família como maior suporte moral e emocional das empreendedoras e a ajuda dos amigos sendo fonte de ideias. Para Birley (1985), quando o empreendedor de-cide abrir seu negócio, é guiado por suas ex-periências anteriores e pelos aconselhamen-tos que recebe de sua rede de relacionamen-tos.

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Ducci e Teixeira (2010) sugerem que ao manter uma rede de relacionamentos, do tipo formal ou informal, os empreendedores podem acessar diferentes recursos e infor-mações e, ainda, aprender com os outros, uma vez que passaram a ter acesso a outras maneiras de se fazer as coisas. Gimenez e Gi-menez (2015) destacam que o processo de criação de empresas exige do empreendedor grande capacidade de articulação de recur-sos de diferentes naturezas. Essa articulação se torna menos complexa quando o empre-endedor utiliza um maior nível de capital so-cial oriundo de sua convivência em diferen-tes redes sociais, sejam elas constituídas for-mal ou informalmente.

O que foi constatado nos casos estu-dados é que diante da inexperiência no ramo turístico, a família e amigos foram as únicas alternativas para essas empreendedoras. Na fase de start-up, os familiares foram funda-mentais na operacionalização do negócio atuando principalmente como fonte de re-cursos financeiros, enquanto que os amigos foram importantes na captação dos primei-ros clientes e dos primeiros empregados. Também foi possível perceber que as experi-ências negativas das empreendedoras com bancos, na fase de concepção, fizeram com que elas procurassem apenas a família para obter este tipo de recurso. Ainda sobre este aspecto, o presente estudo revelou que uma maior necessidade por recursos financeiros ocorreu nesta fase. Na fase de consolidação do negócio, os familiares contribuíram pri-mordialmente com as atividades relaciona-das ao marketing e os amigos recebem des-taque por fornecerem recursos relacionados ao crescimento e a sobrevivência da em-presa.

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Dr. Tales Andreassi Professor na Fundação Getúlio Vargas (EAESP) em São Paulo. Mestrado em Administração pela Universidade de São Paulo (1994), e Mestrado em Science and Technology Policy Studies na SPRU, Sussex University (1998). Doutorado na Universidade de São Paulo. (1999). É professor vi-sitante da Simon Fraser University, Canadá (2000). No momento é vice diretor da FGV-EA-ESP. E-mail: [email protected]

Lea Cristina Silva Bomfim Mestranda no Programa de Pós-graduação em Administração PROPADM – Universidade Federal de Sergipe- UFS, São Cristóvão, Brasil. Bacharela em Administração pela UFS (2014). Tecnóloga em Gestão Pública pela Faculdade de Tecnologia In-ternacional – FATEC, Paraná, Brasil (2009). Pro-fessora Substituta do Departamento de Adminis-tração da UFS, Campus Itabaiana, desde 2017. E-mail: [email protected]