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Rev. Bras. Pesq. Tur. São Paulo, 12(1), pp. 102-132, jan./abr. 2018.
DOI: http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.1344
Uso das redes sociais empreendedoras por mulheres no processo de criação de agências de viagens
Use of entrepreuneurial social networks by females in the travel
agencies creation process
Uso de las Redes Sociales Emprendedoras por Mujeres en el Proceso de creación de agencias de viajes
Rivanda Meira Teixeira1
Tales Andreassi2 Lea Cristina Silva Bomfim3
Resumo: Propósito justificado do tema: O estudo das redes sociais empreendedoras tem sido reconhecido como determinante no processo empreendedor, como no sucesso dos empreendimentos. Desde a década de 90, houve um especial interesse em pesquisar redes sociais com o recorte do gênero e, considerando a sua relevância, essa temática continua sendo muito atual. Objetivo: O objetivo geral deste estudo é analisar como as redes sociais são utilizadas pelas empreendedoras no processo de criação de novos negócios. Especificamente pretende identificar os tipos de laços que são utilizados pelas empreendedoras nas suas redes sociais nas fases de concepção, start-up e consolidação de negócios e verificar como essas redes sociais influenciam na obtenção de recursos. Metodologia/Design: A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de casos múltiplos e as evidên- cias foram coletadas por meio de entrevistas pessoais semiestruturadas com sete empreendedoras de agências de viagens de micro e pequeno porte. Os casos foram descritos individualmente e após essa descrição foi reali- zada a análise comparativa dos casos para examinar suas semelhanças e diferenças. Resultados e Originalidade do Documento: Entre os resultados encontrados vale destacar que os laços fortes foram os mais utilizados pelas empreendedoras principalmente na fase de concepção do negócio. Além disso, constatou-se que a experiência prévia foi determinante na identificação da oportunidade e na capacidade de se construir redes diversificadas. Palavras-chave: Empreendedorismo. Redes sociais empreendedoras. Empreendedorismo feminino. Processo empreendedor. Abstract: Justification of the topic: The study of entrepreneurial social networks has been recognized as crucial in the entrepreneurial process, as well as in the success of the businesses. Since the 90s, there has been a special interest in researching social networks focused on gender, and taking into account its relevance, this topic is still
1 Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Definição de objetivos; elaboração do referencial
teórico; definição dos procedimentos metodológicos, interpretação de dados e redação do artigo. 2 Fundação Getúlio Vargas (FGV_EAESP), São Paulo, SP, Brasil. Redação e revisão crítica do artigo. 3 Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil. Coleta e análise de dados.
Artigo recebido em: 17/06/2017. Artigo aprovado em: 04/12/2017.
Artigo
http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.13 https://br.creativecommons.org/licencas/
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very current. Objectives: The aim of this study is to analyse how social networks are used by female entrepre- neurs in the of new business creation process. Specifically aims to identify the types of bonds that are used by female entrepreneurs in their social networks in the stages of conception, start-up and business consolidation and verify how these social networks influence in obtaining resources. Methodology/Design: The research strat- egy adopted is the multiple case study and evidences were collected through semi-structured personal inter- views with seven entrepreneurs of micro and small travel agencies. The cases were described individually and followed by a comparative analysis to examine their similarities and differences. Results and Originality of the Document: The study shows that the strong bonds were the most used by entrepreneurs mainly in the concep- tion stage. Furthermore, it also shows that that previous experience was very important in the identification of the opportunity and ability to build diverse networks. Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneurial social networks. Female entrepreneurship. Entrepreneurial pro- cess. Resumen: Propósito justificado del tema: El estudio de las redes sociales emprendedoras ha sido reconocido como determinante en el proceso emprendedor, como en el éxito de los emprendimientos. Desde la década de 1990, hubo un especial interés en investigar redes sociales con el recorte del género y, considerando su relevan- cia, esta temática sigue siendo muy actual. Objetivo: El objetivo general de este estudio es analizar cómo las redes sociales son utilizadas por las emprendedoras en el proceso de creación de nuevos negocios. Específica- mente pretende identificar los tipos de lazos que son utilizados por las emprendedoras en sus redes sociales en las fases de concepción, start-up y consolidación de negocios y verificar cómo esas redes sociales influencian en la obtención de recursos. Metodología/Design: La estrategia de investigación utilizada fue el estudio de casos múltiples y las evidencias fueron recogidas por medio de entrevistas personales semiestructuradas con siete emprendedoras de agencias de viajes de micro y pequeño porte. Los casos fueron descritos individualmente y después de esa descripción se realizó el análisis comparativo de los casos para examinar sus similitudes y dife- rencias. Resultados y originalidad del documento: Entre los resultados encontrados cabe destacar que los “lazos fuertes” fueron los más utilizados por las emprendedoras principalmente en la fase de concepción del negocio. Además, se constató que la experiencia previa fue determinante en la identificación de la oportunidad y en la capacidad de construir redes diversificadas. Palabras clave: Emprendedorismo. Redes sociales emprendedoras. Emprendedor femenino. Proceso empren- dedor.
1 INTRODUÇÃO
Segundo dados do relatório de 2016
do Global Entrepreneurial Monitor (GEM), no
Brasil a taxa de empreendedores iniciais
(TEA), é de 19,9% para mulheres e 19,2%
para homens o que pode ser considerado
uma distribuição bastante equilibrada. Este
dado demonstra a importância das mulheres
para a formação da TEA e é coerente com da-
dos anteriores, pois nos anos de 2013 e 2015
as diferenças entre as taxas masculina e fe-
minina foram de 0,2 e 1,4 pp (pontos percen-
tuais) respectivamente. No entanto, destaca
o referido relatório, a igualdade de gênero di-
minui quando são analisadas as taxas especí-
ficas de empreendimentos estabelecidos
(TEE). Este dado mostra que as mulheres bra-
sileiras conseguem criar novos negócios na
mesma proporção que os homens, porém
enfrentam mais dificuldades para fazer seus
empreendimentos prosperarem. Tal fenô-
meno pode estar associado às condições re-
latadas pelas empreendedoras brasileiras
como: preconceito de gênero; menor credi-
bilidade pelo fato de o mundo dos negócios
ser mais tradicionalmente associado a ho-
mens; maior dificuldade de financiamento; e
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dificuldade para conciliar demandas da famí-
lia e do empreendimento (GEM, 2016).
A participação crescente das mulhe-
res na economia brasileira é também demos-
trada em pesquisa realizada pelo SEBRAE-
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-
nas Empresas, publicada em 2014. Esse es-
tudo demostra que, embora tenha represen-
tado menos da metade da ocupação na eco-
nomia, durante a década 2002-2012, as mu-
lheres aumentaram sua participação, au-
mento este provocado pelo maior dina-
mismo de crescimento da sua ocupação, cuja
taxa observada foi de 2,1% a.a., chegando a
40,7 milhões de mulheres ocupadas em
2012. Também é expressiva a inserção femi-
nina no mercado de trabalho formal, onde
elas representavam cerca de 40,0% dos tra-
balhadores com carteira assinada, em micro
e pequenas empresas (SEBRAE, 2014).
Estudos têm demonstrado que as mu-
lheres abrem empresas por diferentes moti-
vos: desejo de realização e independência,
percepção de oportunidade de mercado, di-
ficuldades em ascender na carreira profissio-
nal em outras empresas (fenômenos este co-
nhecido como “teto de vidro”), necessidade
de sobrevivência e como uma maneira de
conciliar trabalho e família (Machado et al.,
2003), além do fato de muitas pertencerem a
famílias de empreendedores (Buttner e Mo-
ore, 1997), o que as direciona automatica-
mente ao empreendedorismo como se fosse
uma predisposição genética.
As redes sociais são conhecidas por
ajudarem os empreendedores no começo de