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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. Novos objectos do núcleo egípcio da colecção Rui Assis Ferreira Autor(es): Araújo, Luís Manuel Publicado por: Centro de História da Universidade de Lisboa URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23834 DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0871-9527_18_6 Accessed : 3-Sep-2021 13:13:32 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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este aviso.

Novos objectos do núcleo egípcio da colecção Rui Assis Ferreira

Autor(es): Araújo, Luís Manuel

Publicado por: Centro de História da Universidade de Lisboa

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23834

DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0871-9527_18_6

Accessed : 3-Sep-2021 13:13:32

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CADMORevista de Historia Antiga

Centro de História da Universidade de Lisboa

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NOVOS OBJECTOS DO NÚCLEO EGIPCIO DA COLECÇÃO RUI ASSIS FERREIRA

LUÍS MANUEL DE ARAÚJO

Universidade de Lisboa [email protected]

Resumo

O núcleo egípcio da colecção Rui Assis Ferreira é um dos maiores acer- vos privados do género em Portugal, com 26 objectos. O objecto mais notável desta pequena mas interessante colecção é uma estatueta funerária de faiança verde do sacerdote Psametek (XXVI dinastia).

Palavras-chave: Antiguidades egípcias; colecções privadas; objectos funerários.

Abstract

The Egyptian section of the collection Rui Assis Ferreira is one of the biggest private collections of Egyptian antiquities in Portugal, with 26 objects. The most remarkable object of this small but interesting collection is a fune- rary statuette in green faience of priest Psametek (26th Dynasty).

Key words: Egyptian antiquities; private collections; funerary objects.

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No número duplo da revista Cadmo 4/5 (pp. 75-94), de 1994-1995, divulgámos os doze objectos egípcios da colecção Rui Assis Ferreira (completados depois por mais seis). Depois de efectuado e publicado esse estudo há mais de dez anos, o coleccionador adquiriu novos ob- jectos evocativos do antigo Egipto que agora aqui se acrescentam à lista anterior. Alguns deles foram incluídos numa lista actualizada dos objectos egípcios existentes em Portugal*1·, que se divulgaram no novo catálogo da colecção egípcia do Museu Calouste Gulbenkian(2). No entanto, aos dezoito objectos registados nessa lista foram acrescenta- dos mais alguns entretanto adquiridos pelo coleccionador. Assim, com as novas aquisições a colecção Rui Assis Ferreira é actualmente com- posta por 26 peças, fazendo dela a terceira colecção particular do nosso país(3). Os novos objectos são:

13 - Estatueta funerária de Psametek de faiança verde

14 - Estatueta de capataz anepígrafo de faiança

15 - Fragmento de amuleto de Bés de faiança

16 - Vasinho tubular de faiança

17 - Cabeça humana de pedra

18 - Fragmento de cabeça humana de pedra

19 - Fragmento de cabeça humana de madeira estucada

20 - Fragmento de envolvimento de múmia de faiança

21 - Tampa de vaso de vísceras com cabeça de Imseti

22 - Placa de gesso com rosto feminino

23 - Fragmento com elemento decorativo de marfim

24 - Fragmento de tecido copta (com guerreiro)

25 - Fragmento de tecido copta (com flor)

26 - Fragmento de tecido copta (com felino)

Descrição dos objectos:

13 - Estatueta funerária de Psametek

Estatueta funerária (uchebti) de faiança verde do funcionário Psametek, sem títulos indicados, seguido pelo nome da mãe, a dama

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Sebarekhit<4). De acordo com um estilo que se impôs na Época Baixa, a partir da XXVI dinastia, a estatueta assenta sobre uma pequena base quadrangular (com 2 x 2,1 cm) e tem pilar dorsal, para além de exibir 0 típico «sorriso saíta», que é um dos indícios desta época, esboçado num rosto de boa modelação. As orelhas sobressaem da cabeleira tripartida e estriada, e os olhos, nariz e boca estão bem proporcionados e feitos com detalhe. Do queixo pende a tradicional pêra osiríaca entrançada, mais um dos elementos iconográficos desta estável dinastia e que depois continuaria. As mãos cruzadas irrom- pem fechadas do envoltório fúnebre, segurando a direita um alvião e a esquerda um sacho. A mão direita segura também uma corda ligada a um saco para sementes que pende atrás do ombro esquerdo da figura(5). Atrás exibe a cabeleira com estrias concêntricas verticais ar- redondadas em cima e que vão caindo paralelas terminando no início do pilar dorsal, o qual na parte superior se apresenta ligeiramente distorcido. Rodeando a estatueta, e começando abaixo das mãos cru- zadas, foi gravada uma versão do capítulo 6 do «Livro dos Mortos»(6) em escrita hieroglífica incisa, com leitura da direita para a esquerda, em nove linhas horizontais separadas por finos traços incisos. A tra- dução da inscrição é a seguinte:

«Ó uchebti, se for chamado 0 Osíris Psametek, filho de Sebarekhit, para fazer todo 0 trabalho que se faz lá, na terra sagrada (a necrópole ou o Além), se te for lá imposto um frete daqueles que um homem executa, repara, dirás “Aqui estou”, para fazer lá o trabalho diário (que consiste em), cultivar os campos, encher os canais de água, transportar a terra (estrume) de ocidente para oriente e vice-versa, repara, “Aqui estou”, dirás tu, Psametek.»<7)

Inscrição hieroglífica da estatueta:

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Estatueta funerária de Psametek com inscrição hieroglífica, vista de frente, de lado e de costas (faiança verde).

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NÚCLEO EGIPCIO DA COLECÇÃO RUI ASSIS FERREIRA

Dimensões: Alt.: 13,4 cm; larg.: 3 cm Cronologia: Época Baixa (XXVI dinastia)

14 - Estatueta de capataz anepígrafo

Estatueta funerária de faiança em pose de capataz, bastante ero- dida, que não permite já reconhecer com nitidez os traços identifica- dores<8).

Dimensões: Alt.: 5 cm; larg.: 2,7 cmCronologia: Terceiro Período Intermediário (séculos XI-VIII a. C.)

15 - Fragmento de amuleto de Bés

Fragmento de um amuleto de faiança representando 0 deus Bés, do qual apenas susiste 0 rosto com vestígios da tradicional barba-juba e língua saindo da boca(9).

Dimensões: Alt.: 3,1 cm;Cronologia: Época Baixa (séculos VII-IV a. C.)

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16 - Vasinho tubular

Vasinho de forma tubular feito de faiança azul com decoração a negro disposta de forma helicoidal a envolver o objecto. A boca tem lábio boleado sobressaído partindo de um colo estreito, e a base é arredondada.

Dimensões: Alt.: 7 cmCronologia: Império Novo (séculos XV-XI a. C.) ?

17 - Cabeça masculina

Cabeça humana de pedra escura, com pilar dorsal, atribuível tipológicamente à XXVI dinastia ou às quatro dinastias seguintes. Exibe a tradicional cabeleira em saco típica desta época, que rodeia as orelhas bem delineadas e apresenta um rosto de ar severo, com os lábios finamente esculpidos, bem como o nariz, olhos e sobrancelhas. Atrás nota-se 0 começo do típico pilar dorsal que sustinha a figura, não se sabendo se originalmente a personagem estaria sentada ou de pé(10).

Dimensões: Alt.: 12,5 cm; larg.: 12 cmCronologia: Época Baixa (XXVI dinastia, séculos VII-VI a. C.)

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18 - Fragmento de cabeça masculina

Cabeça de pedra branca muito erodida, representando um rosto masculino com uma pêra no queixo e revestido parcialmente pelo tur- bante nemsit, o que remete para uma iconografia típica da realeza ou das divindades. A boca está bastante destruída, e só com dificuldade se percebem os lábios, tal como o nariz que se apresenta fragmentado. Os olhos foram incisos sem grande habilidade e mal se distinguem as íris. Atendendo ao aspecto e ao tamanho da peça, poderá tratar-se de uma tampa para um vaso de vísceras. Se assim for então seria a cabeça evocativa de Imseti, um dos quatro filhos de Hórus encarrega- dos de proteger as vísceras do defunto(11).

Dimensões: Alt.: 15 cm; larg.: 10 cmCronologia: Época Baixa (séculos VII-IV a. C.)

19 - Cabeça feminina

Parte frontal de uma cabeça aparentemente feminina de madeira revestida com estuque e pintada num tom amarelado claro. O uso desta cor estava iconográficamente reservado para as mulheres, daí a

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hipótese de se tratar de um rosto feminino. Os traços suaves do rosto sugerem também que se trata de uma mulher. Como só resta a parte frontal já não existem as orelhas, e a testa está reduzida a metade do seu tamanho, pelo que também não há vestígios da cabeleira, a qual certamente seria tripartida. Os lábios estão bem sublinhados com a linha dos lábios em curva suave, 0 nariz apresenta talhe pronun- ciado e um tanto comprido, alargando ligeiramente na zona das nari- nas, Os olhos têm o fundo branco, onde sobressaem as íris pintadas de preto, tal como as sobrancelhas arqueadas, estando a do lado di- reito par-cialmente apagada. Sob o queixo e em posição recuada res- ta ainda um apêndice de madeira que parece ser um elemento de encaixe(12).

Dimensões: Alt.: 13 cm; larg.: 10 cmCronologia: Época Baixa (séculos VII-IV a. C.) ou período ptole-maico (séculos IV-II a. C.)

20 - Fragmento de envolvimento de múmia

Fragmento de envolvimento de múmia feito em contas de faiança, de timbre amulético, que mostra uma cabeça humana, aparentemente feminina, num desenho esquemático. O nariz e a boca estão salienta- dos de forma geométrica a vermelho, e tem dois olhos em fundo branco sob espessas sobrancelhas negras. O pescoço está sumariamente su- gerido, com um colar de quatro voltas, alternando traços azuis e ver- melhos(13).

Dimensões: Alt.: 13 cm; larg.: 15 cmCronologia: Época Baixa (séculos VII-IV a. C.) ou período ptole-maico (séculos IV-I a. C.)

21 - Tampa de vaso de vísceras com cabeça de Imseti

Tampa de calcário representando o deus Imseti, um dos quatro filhos de Hórus, com a função de proteger o fígado do defunto. A tampa com cabeça humana cobria um vaso de vísceras onde certamente constava o nome do proprietário e, eventualmente, os seus títulos. A grande cabeleira constitui 0 essencial da tampa do vaso, dando-lhe uma forma arredondada, dela sobressaindo as orelhas bem delinea­

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das. O rosto exibe uma aparência suave, com os lábios salientes esbo- çando um leve sorriso, 0 nariz bem proporcionado e os olhos delinea- dos e encimados por espessas sobrancelhas arqueadas assinaladas com incisões(14).

Dimensões: Alt.: 12 cm; larg.: 9 cm Cronologia: Época Baixa (séculos VII-IV a. C.) ?

22 - Fragmento de placa com cabeça feminina

Fragmento de placa de gesso com recorte informe, mostrando um suave rosto feminino olhando para o direita, de lábios proeminen- tes, nariz ligeiramente arrebitado, olho com prolongamento lateral sob uma desenvolvida sobrancelha. A cabeleira, marcada por incisões em ziguezague, cai lateralmente cobrindo a orelha, vendo-se o cabelo no lado contrário. Entre as madeixas de cabelo que caem sobre os om- bros vê-se um colar de duas voltas em ligeiro relevo (15).

Dimensões: Alt.: 6,2 cmCronologia: Império Novo (séculos XV-XI a. C.) ou Época Baixa (séculos VII-IV a. C.)

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23 - Fragmento de elemento decorativo

Fragmento de marfim esculpido, com o pescoço e o bico de urna ave, aparentemente um pato, com o olho bem assinalado. Partindo do bico entreaberto sai um conjunto de cinco estrias em relevo suave que terminam num elemento com duas saliências de desenho diferen- ciado. Poderá tratar-se de um elemento de decoração de mobiliário.

Dimensões: Alt.: 10,5 cmCronologia: Época Greco-Romana (séculos IV-I a. C.) ?

24 - Fragmento de tecido copta

Fragmento de um tecido copta de linho bordado a lã, tendo ao centro uma cabeça coberta por algo que se assemelha a um capacete (e neste caso poderia ser um guerreiro) ou uma tiara (a ser assim poderia ser um clérigo). A cobertura da cabeça é vermelha, com ele- mentos decorativos a branco, e tem um rebordo inferior que alterna quadrados verdes e brancos. A cabeça é rodeada por motivos estili- zados de difícil interpretação. A decoração envolvente tem aspecto cru- ciforme com elementos vegetais que combinam 0 verde e o vermelho em fundo branco. Nos cantos tem motivos de linhas brancas entrecru- zadas sobre fundo negro. Todo 0 conjunto é delimitado por uma orla ameada e vagamente floral(16).

Dimensões: Alt.: 5 cm; larg.: 6 cmCronologia: Época Copta

25 - Fragmento de tecido copta

Fragmento de um tecido copta de linho bordado a lã, com a ima- gern de uma flor branca estilizada sobre fundo preto, dentro de um quadrado que é envolvido por um outro maior com elementos florais nos quatro ângulos internos. A flor é composta por um núcleo central quadrangular de onde partem quatro pétalas duplas(17>.

Dimensões: Alt.: 6 cm; larg.: 5,5 cmCronologia: Época Copta

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26 - Fragmento de tecido copta

Fragmento de um tecido copta, grande, de linho bordado a lã, com representação de um animal que parece ser um felino envolvido por orla quadrangular08*.

Dimensões: Alt.: 34 cm: larg.: 27 cm (na parte decorada: 20,5 x 19 cm)Cronologia: Época Copta

Notas

(1) Existem em Portugal mais de mil objectos evocativos do antigo Egipto, a maior parte dos quais já se encontram estudados e publicados, num projecto que o Instituto Oriental da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, então dirigido pelo Professor Doutor José Nunes Carreira, iniciou em inícios dos anos 90 do século passado. Agradecemos ao Dr. Rui Assis Ferreira todas as facilidades concedidas para 0 estudo da sua colecção egiptológica, devendo-se a ele as fotos dos objectos aqui publicadas.

(2) Ver a lista em ARAÚJO, Arte Egípcia, p. 12, onde a colecção Rui Assis Ferreira surge registada com 18 objectos.

(3) As maiores são a colecção Miguel Barbosa, com 49 objectos, e a colecção Sam Levy, com 34 objectos (ver ARAÚJO, Arte Egípcia, p. 12).

(4) Para os nomes egípcios presentes no texto da estatueta ver RANKE, PN 1,136.8 (Psametek) e 1,303.10 (Sebarekhit). As estatuetas de Psametek, filho de Sebarekhit, foram encontradas na necrópole de Sakara, deduzindo-se assim que 0 funcionário terá prestado serviço na região de Mênfis, talvez durante o reinado de Amásis, até porque em algumas das suas estatuetas, e em outros materiais encontrados no seu túmulo, exibe os títulos de pai divino amado do deus, inspector dos sacerdotes sem, administrador da montanha oci- dental (a necrópole) e íntimo do rei. Ora o título de inspector dos sacerdotes sem evoca um grupo de sacerdotes ligados ao culto do deus Sokar, muito venerado na região sakariano-menfita, sendo as suas funções especialmente de carácter funerário. Estes títu- los encontram-se não nas suas estatuetas funerárias (cujo espaço para gravação de tex- tos era assaz diminuto) mas sim em objectos fúnebres, como um magnífico sarcófago mumiforme policromo do Musée des Beaux-Arts de Grenoble, os típicos vasos de vísceras e um exemplar do «Livro dos Mortos» no Museu do Vaticano, e ainda duas pequenas caixas no Museu do Louvre (ver KUENY e YOYOTTE, Grenoble, Musée des Beaux-Arts, pp. 106-109; e ainda AUBERT, Statuettes Égyptiennes, pp. 230-231).

(5) A iconografia das estatuetas da Época Baixa tem, em relação às suas congéneres dos tempos anteriores, a novidade de apresentar um pilar dorsal, por vezes inscrito, uma pe-quena base quadrangular, exibindo as estatuetas uma pêra divina e um sorriso, conhecido pela designação de «sorriso saíta». Outra novidade é a designação de uchebti, forma quederiva do verbo ucheb, isto é, «responder», pois julgava-se então que as figurinhas deveri-am responder no Além em lugar do defunto quando este fosse chamado para executar os trabalhos agrícolas que deveriam ser feitos nos férteis campos de Osíris (ver ARAÚJO, Estatuetas Funerárias Egípcias da XXI Dinastia, pp. 145-193). O que será de notar nas

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estatuetas funerárias confeccionadas para o sacerdote pai divino Psametek é que algumas delas são de faiança azul, quando o mais habitual nos uchebtis produzidos no Norte do Egipto é a cor verde, como é o caso deste exemplar da colecção Rui Assis Ferreira (ver AUBERT, Statuettes Égyptiennes, p. 230).

(6) Dá-se 0 nome de «Livro dos Mortos» a um conjunto de textos religiosos de carácter mágico, redigidos em geral sobre um papiro que era colocado no túmulo junto do corpo do defunto. Está em preparação uma edição do «Livro dos Mortos» em português que procurará suprir a falta de uma tradução credível para 0 nosso país. A verdade é que a versão que existe em português, da editora Assírio e Alvim, é praticamente inaproveitável devido aos numerosos erros que apresenta.

(7) Um exemplar semelhante existe na colecção egípcia do Musée des Beaux-Arts, em Grenoble, em cujo catálogo se pode ver a estatueta funerária em quatro fotografias de ângulos diferentes. É também por este catálogo que se pode deduzir que os uchebtis de Psametek são originários de Sakara e que datarão de «finais da XXVI-XXVII dinastia». Infelizmente não é apresentada a tradução do texto inscrito na peça, apenas se diz que se trata do «Osíris pai divino Psametek, posto no mundo por Sebarekhit» (ver KUENY e YOYOTTE, Grenoble, Musée des Beaux-Arts, pp. 72-72). A inscrição hieroglífica presente no uchebti da colecção Rui Assis Ferreira tem passos de difícil leitura, pois 0 gravador preferiu sintetizar diversos signos marcando inexpressivos traços e pontos, além de reduzir passagens características deste tipo de texto fúnebre. Para uma completa reconstituição desta versão do capítulo 6 do «Livro dos Mortos» tornou-se pois necessário recorrer a paradigmas da mesma época (ver SCHNEIDER, Shabtis, II, pp. 118-123; e ainda ARAÚJO, Estatuetas Funerárias Egípcias da XXI dinastia, pp. 306-311).

(8) Para uma boa compreensão da indumentária e da típica pose das figuras dos capata- zes no âmbito das estatuetas funerárias ver AUBERT, Statuettes Égyptiennes, pl. 18, 25, 29, 33, 36, 39, 44; também em ARAÚJO, Estatuetas Funerárias Egípcias da XXI dinastia, pp. 235-237, com imagens nas pp. 139, 358, 683-686, 757-776. Recentemente Cristina Chautard Correia apresentou com sucesso, na Faculdade de Letras de Lisboa, uma tese de mestrado acerca dos capatazes do Império Novo subordinada ao título Estatuetas Fune- rárias do Império Novo em Trajo dos Vivos.

(9) A completa iconografia do deus Bés poderá ser apreciada em ARAÚJO, Antiguidades Egípcias, I, p. 256 e 269-271.

(10) Exemplos do tratamento escultórico de personagens da Época Baixa em ARAÚJO, Arte Egípcia, pp. 120-123; também em BOTHMER, «Egyptian Antiquities», pp. 60-64.

(11) Um sugestivo paralelo em RATIÉ, Annecy, p. 107 (fig. 225). Para tampas de vasos de vísceras com a cabeça de Imseti ver exemplos em ARAÚJO, Antiguidades Egípcias, I, pp. 312-315), fig. 221 e 225; ver também SEIPEL, Ägypten, pp. 195-197.

(12) Ver paralelos de rostos pertencentes a máscaras funerárias em RATIÉ, Annecy, pp. 39-40.

(13) Ver paralelos em SEIPEL, Ägypten, p. 307 (envolvimento perlífero completo, com rosto estilizado).

(14) A colecção egípcia do Museu da Farmácia possui quatro vasos de vísceras, dois dos quais com tampa em forma de cabeça humana representando Imseti, como se pode ver na fig. 58 (com barba) e na fig. 59 (sem barba, tal como o exemplar da colecção Assis Ferreira). O texto explicativo está nas pp. 110 e 113 (ver BASSO e ARAÚJO, A Farmácia no Mundo Pré-Clássico). O Museu Nacional de Arqueologia tem um vaso com tampa, de arenito, e uma tampa isolada, de terracota, que representam Imseti (ver ARAÚJO, Antigui- dades Egípcias, pp. 311-315, figs. 221 e 225). Veja-se ainda AFFHOLDER-GÉRARD e CORNIC, Angers, Musée Pincé. Collections Égyptiennes, p. 143, fig. 212.

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NÚCLEO EGÍPCIO DA COLECÇÃO RUI ASSIS FERREIRA

(15) Ver paralelos de rostos femininos em BASSO e ARAÚJO, A Farmácia no Mundo Pré- Clássico, p. 84, fig. 33 (embora sem 0 cabelo estriado), e MANNICHE, Egyptian Art in Denmark, p. 129.

(16) Ver modelos decorativos de tecidos coptas em AFFHOLDER-GÉRARD e CORNIC, Angers, Musée Pincé, pp. 173-196; também em Fragmentos de Tecidos Coptas, com exemplos de localização de motivos decorativos em túnicas na contracapa. Cf. Fragmentos de Tecidos Coptas, fig. 21.

(17) Cf. Fragmentos de Tecidos Coptas, fig. 5 (para exemplo de estilização floral).

(18) Cf. Fragmentos de Tecidos Coptas, fig. 15 (neste caso a imagem parece representar um canídeo).

Bibliografia consultada

Brigitte AFFHOLDER-GÉRARD e Marie-Jeanne CORNIC, Angers, Musée Pincé. Collections Égyptiennes, Paris, Angers: Éditions de la Réunion des Musées Natio- naux, Musées d’Angers, 1990.

Luis Manuel de ARAÚJO, Antiguidades Egípcias, I, Museu Nacional de Arqueologia, Lis- boa: Instituto Português de Museus, 1993.

Luís Manuel de ARAÚJO, «O núcleo egípcio da colecção Assis Ferreira», em Cadmo, 4-5, Instituto Oriental da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa: Edi- ções Colibri, 1994-1995, pp. 75-94.

Luís Manuel de ARAÚJO, Estatuetas Funerárias Egípcias da XXI dinastia, Lisboa: Funda- ção Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2003.

Luís Manuel de ARAÚJO, Arte Egípcia. Colecção Calouste Gukbenkian, Lisboa: Museu Calouste Gulbenkian, 2006.

J.-F. AUBERT e Liliane AUBERT, Statuettes Égyptiennes. Chaouabtis, Ouchebtis, Paris: Librairie d’Amérique et d’Orient Adrien Maisonneuve, 1974.

Paula BASSO e Luís Manuel de ARAÚJO, A Farmácia no Mundo Pré-Clássico e nas Culturas Tradicionais, Lisboa: Associação Nacional das Farmácias - Museu da Far- mácia, 2008.

Bernard v. BOTHMER, «Egyptian Antiquities», em Antiquities from the Collection of Christos G. Bastis, Mainz am Rhein, Nova lorque: Verlag Philipp von Zabern, 1988, pp. 1-106.

Pierre du BOURGUET, Catalogue des Étoffes Coptes, Musée du Louvre, I, Paris: Ministère d’État, Affaires Culturelles, 1964.

Fragmentos de Tecidos Coptas, Catálogo da exposição realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa: Instituto Português de Museus, 2002.

Gabrielle KUENY e Jean YOYOTTE, Grenoble, Musée des Beaux-Arts. Collection Égyptienne, Paris: Éditions de la Réunion des Musées Nationaux, Musées d’Angers, 1979.

Lise MANNICHE, Egyptian Art in Denmark, Copenhaga: Gyldendal, 2004.

Hermann RANKE, Die Ägyptischen Personennamen, I, Glückstadt: Verlag J. J. Augustin, 1935.

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LUÍS MANUEL DE ARAÚJO

Suzanne RATIÉ, Annecy, Musée Château. Chambéry, Musée d’Art et d’Histoire. Aix-les- Bains, Musée Archéologique. Collections Égyptiennes, Paris: Éditions de la Réunion des Musées Nationaux, 1984.

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