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Pelotas - RS, 06 a 08 de julho de 2016 SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção 1 Desvelando a relação de agricultores familiares dos Campos de Cima da Serra e a cidade: o caso de Caxias do Sul/RS. Claudia RIBEIRO. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS). Email: [email protected] Lovois de Andrade MIGUEL. PGDR/UFRGS. Email: [email protected] Grupo 1: Fundamentos teórico metodológicos da abordagem sistêmica na agricultura Resumo Mostra-se como o estudo dos sistemas agrários ancora a pesquisa multidisciplinar, a qual busca conhecer o potencial do reconhecimento da noção de paisagem em situação de contornos socioambientais no sul do Brasil. Criúva e Vila Seca, dois distritos rurais de Caxias do Sul, constituem o campo empírico de estudos, em proximidade a essa cidade que é a segunda maior do Rio Grande do Sul. No domínio dos Campos de Cima da Serra e do Bioma da Mata Atlântica, consegue-se evidenciar as práticas dos esparsos e pequenos agricultores locais como fortemente coincidentes à conservação da paisagem do lugar. Há um século e meio, a pecuária semiextensiva é praticada nessa região de campos ainda autóctones, em coincidência espacial à existência dos principais mananciais que, majoritária e contemporaneamente, originam a água potável que abastece a população urbana do município. A partir disso, evidenciam-se contraditórias ações regulatórias urbanas à vida dessas famílias rurais, em alguma relação aos debates sobre os rumos da nova ruralidade brasileira. Palavras-chave: Paisagem. Ruralidade. Conservação. Sistemas agrários. Socioambientalismo. Unveiling the relation between familiar farmers of Campos de Cima da Serra and the city: the case of Caxias do Sul/ RS. Abstract The demonstration is offered on how the study of farming systems embodies multidisciplinary research which seeks to recognize the potential grasping in southern Brazil of the notion of landscape in socio- environmental frames. The empirical field of the studies is Criúva and Vila Seca, two rural districts of Caxias do Sul, neighbors to this city, which is the second largest in the State of Rio Grande do Sul. The practices of the little and sparse local farmers were seen to strongly meet the landscape conservation at the place, the domain of the Campos de Cima da Serra in the Atlantic Forest Biome. Semi-extensive livestock farming is carried on in this region of yet autochthones fields placed together with the main water sources which nowadays are the main suppliers of potable water to the urban population of this municipality. From this stand point contradictory regulatory urban actions towards the life of these rural families are brought into evidence, to a certain extent related to the debates on Brazilian New Rurality. Keywords: Landscape. Rurality. Conservation. Farming systems. Socio-environmentalism.

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Pelotas - RS, 06 a 08 de julho de 2016

SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção

1

Desvelando a relação de agricultores familiares dos Campos de Cima da

Serra e a cidade: o caso de Caxias do Sul/RS.

Claudia RIBEIRO. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS). Email: [email protected]

Lovois de Andrade MIGUEL. PGDR/UFRGS. Email: [email protected]

Grupo 1: Fundamentos teórico metodológicos da abordagem sistêmica na agricultura

Resumo

Mostra-se como o estudo dos sistemas agrários ancora a pesquisa multidisciplinar, a qual busca conhecer o

potencial do reconhecimento da noção de paisagem em situação de contornos socioambientais no sul do Brasil.

Criúva e Vila Seca, dois distritos rurais de Caxias do Sul, constituem o campo empírico de estudos, em

proximidade a essa cidade que é a segunda maior do Rio Grande do Sul. No domínio dos Campos de Cima da

Serra e do Bioma da Mata Atlântica, consegue-se evidenciar as práticas dos esparsos e pequenos agricultores

locais como fortemente coincidentes à conservação da paisagem do lugar. Há um século e meio, a pecuária

semiextensiva é praticada nessa região de campos ainda autóctones, em coincidência espacial à existência dos

principais mananciais que, majoritária e contemporaneamente, originam a água potável que abastece a

população urbana do município. A partir disso, evidenciam-se contraditórias ações regulatórias urbanas à vida

dessas famílias rurais, em alguma relação aos debates sobre os rumos da nova ruralidade brasileira.

Palavras-chave: Paisagem. Ruralidade. Conservação. Sistemas agrários. Socioambientalismo.

Unveiling the relation between familiar farmers of Campos de Cima da

Serra and the city: the case of Caxias do Sul/ RS.

Abstract

The demonstration is offered on how the study of farming systems embodies multidisciplinary research

which seeks to recognize the potential grasping in southern Brazil of the notion of landscape in socio-

environmental frames. The empirical field of the studies is Criúva and Vila Seca, two rural districts of

Caxias do Sul, neighbors to this city, which is the second largest in the State of Rio Grande do Sul. The

practices of the little and sparse local farmers were seen to strongly meet the landscape conservation at

the place, the domain of the Campos de Cima da Serra in the Atlantic Forest Biome. Semi-extensive

livestock farming is carried on in this region of yet autochthones fields placed together with the main

water sources which nowadays are the main suppliers of potable water to the urban population of this

municipality. From this stand point contradictory regulatory urban actions towards the life of these rural

families are brought into evidence, to a certain extent related to the debates on Brazilian New Rurality.

Keywords: Landscape. Rurality. Conservation. Farming systems. Socio-environmentalism.

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1. Introdução

O pano de fundo desta contribuição é o atual mundo rural brasileiro, em viés de compreensão

de estável realidade própria: definida por suas particularidades históricas, sociais, culturais e

ecológicas, e igualmente contendo suas maneiras de inserção na sociedade brasileira. Pois esse mundo

poderia ser visto como um estágio retrógrado a ser superado, e, por conseguinte, fadado ao

desaparecimento, ou em uma visão de futura dissolução em um continuum – algo residual contido em

espaços urbanos predominantes (FAVARETO; WANDERLEY, 2013; WANDERLEY, 2001).

Dessa forma, o rural é visto emergindo como um valor social contemporâneo, cujas

características gerais definidoras são, além da agricultura como sua atividade econômica setorial

predominante, a relação com a natureza, a baixa aglomeração populacional e sua proximidade às

dinâmicas urbanas (ABRAMOVAY, 2003, p. 53, itálico do autor). Apresentando visão similar,

Wanderley (2001, p. 37) detalha que o recorte campo-cidade mantém sua importância. Porém, destaca

a autora que sua relativa diferenciação está situada nos processos de construção social da ocupação

do território, através de seu entendimento como um lugar de vida. Logo, a particularização desse

espaço é feita por intermédio de referências identitárias e de cidadania do ser humano que nele habita.

Os espaços dessa ruralidade são vistos como um bem coletivo, em estreita associação às atividades

de suas famílias de agricultores. Nessas famílias, segundo também a autora, é que reside cultura

particular, cuja específica reprodução é uma necessidade nesse meio, viabilizando sua dinâmica

“técnico-econômica, ambiental e sociocultural”. Favareto (2006, p. 98), de outra parte e em seu

escrutínio de múltiplos pesquisadores contemporâneos, confirma a recente existência dessa

conformação do rural na sociedade brasileira, de apresentação complexa e com muitas outras

dimensões além das atividades agrícolas. Segundo ele, tal novo mundo social passa a englobar

amplitudes ambientais, tais como: “o acesso à terra, a gestão de bacias hidrográficas, a conservação

de florestas e rios e a valorização da paisagem e da biodiversidade”.

Relativamente à compreensão do relacionamento da dita nova ruralidade brasileira ao

panorama social mais abrangente, julga-se providencial se ter presente a idealização de progresso

identificada por Favareto e Wanderley (2013) para o caso nacional. O processo de desenvolvimento

brasileiro passa a ser hegemonicamente aproximado à industrialização e à urbanização verificadas no

país a partir de 1930. Todavia, nesse ponto, faz-se importante atentar aos contrapontos dessa

constatação, alinhados pelos mesmos autores, mormente a partir de Celso Furtado (1967) e de

Florestan Fernandes (2008). Alternativamente, então, é possível visualizar um desenrolar histórico

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de bem mais intrincada apresentação, onde contextos rurais e urbanos inter-relacionam-se no processo

de desenvolvimento da sociedade brasileira e são distintamente afetados pelo seu atual padrão de

desigualdade. Nesse mesmo sentido, Favareto e Wanderley (2013) colocam em evidência, dessa vez

a partir de José de Souza Martins (1994), a manutenção do “atraso como um instrumento de poder”,

em ação que se reflete na atual constituição – desigual – da sociedade civil como um todo. O latifúndio

sustenta uma classe dominante rural que, por sua vez, também é uma fração da classe dominante

nacional. Além disso, sublinham eles que a estrutura fundiária dessas extensas propriedades configura

um instrumento de dominação das classes subalternas locais.

Por fim, sobre esse particular recorte de análise do país, esses dois autores identificam que os

diversos modos de vida associados a essa ruralidade coexistem em heterogêneas realidades culturais,

de implicações locais e regionais. Essas diversas realidades rurais são pautadas por três referências

centrais com relação à sua inserção no processo de desenvolvimento brasileiro: a construção e a

reprodução do patrimônio fundiário; as relações de pertencimento a um grupo de reduzidas dimensões

e a necessidade de integração a espaços mais amplos do que o lugar onde vivem e trabalham –

notadamente na escala municipal. A partir disso, em resumo, Favareto e Wanderley (2013) defendem

que esses aspectos conformam as expectativas de quem vive contemporaneamente nas áreas rurais

do Brasil: ao mesmo tempo essas pessoas querem manter os aspectos substanciais dessa ruralidade,

mas buscando bens, empregos e serviços disponíveis nas cidades. Porém, os autores igualmente

ressaltam em sua específica análise que a modalidade geral de projeto futuro para a sociedade

brasileira carece de definição. Nesse abrangente enquadramento, a concepção do rural oscila entre

duas visões muito diferentes: a de “um espaço de investimento” ou a de “um lugar de vida”. Assim,

os atuais processos de urbanização e industrialização podem reforçar “a grande propriedade como o

modelo ideal de empresa rural” em uma continuidade de privilégios do que chamam de “antigo

regime”, mantendo a reprodução de relações de subordinação ao poder tradicional. A bem diversa

alternativa delineada pelos autores é aquela em que a modernização signifique o acesso a bens e

serviços socialmente necessários ao protagonismo dos habitantes do campo, em cidadania enraizada

e “exercida a partir do seu local” (FAVARETO; WANDERLEY, 2013, p. 42-45).

Aloja-se, nessa panorâmica avaliação, o particular aspecto que diz respeito à identificação das

condições de vida dos agricultores de produção familiar, associado às discussões do modo de ser

campesino no Brasil. Nesse recorte mais preciso, enquadra-se o caso em apresentação, o qual surge

por intermédio da apreensão heurística de dinâmica cultural singular, associada a uma paisagem onde

habitam pequenos agricultores. Essa primeira percepção permite atenção posterior para a

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problemática da continuidade das atividades agrícolas, em ruralidade contendo especificidades de

conservação ambiental ditadas pelo espaço urbano.

A partir disso, delineia-se pesquisa multidisciplinar1 em campo empírico de estudos sito em

dois distritos rurais de uma cidade do sul do Brasil. O desafio maior que se encontra nessa presente

situação é a busca da fidedigna escuta da voz de quem ali vive, em contexto de consideração espaço

temporal. Assim, são apresentados os aspectos de trabalho de cunho etnográfico, guiado pela

metodologia dos sistemas agrários, permitindo o descortinar do conflito socioambiental em interface

rural-urbana, com implicações não somente na abrangência do município de Caxias do Sul, mas na

sua contígua região dos Campos de Cima da Serra.

2. Terreno de Estudo

Vila Seca e Criúva, distritos eminentemente rurais do município de Caxias do Sul, constituem

o campo empírico da pesquisa, como dispõe o Mapa 12. Uma cidade média, segundo Pereira e Lemos

(2003), que a dizem ser um mesopolo do tipo industrial. Destaca-se, no entanto, sua situação

praticamente no limite superior de um dos critérios envolvidos nessa definição: a pretendida segunda

metrópole gaúcha tem população que integra atualmente quase meio milhão de habitantes, dos quais

somente 4% são oficialmente considerados rurais. Desse universo, fazem parte as 3.916 pessoas

residentes em 2010 nos dois distritos, que perfazem em seus delimitados 624 km2, 38% da área total

do município (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010a; 2010b;

PEREIRA; LEMOS, 2003; RIBEIRO, V., 2013). Em relevo montanhoso, com altitudes próximas a

1.000 metros, emerge o conflito socioambiental. No Bioma Mata Atlântica e em relevo dobrado, a

vegetação existente no local se caracteriza por um mosaico constituído pelas formações campestres

dos Campos de Cima da Serra entremeadas com manchas arbóreas de grande porte, com a

emblemática presença de araucárias – é a Floresta Ombrófila Mista (BOLDRINI, 2009; SCHLICK,

2004). Com paisagens bem conservadas, todavia suas práticas agrosilvipastoris em campos nativos

constituem sensível ponto dos debates de caráter socioambiental no Rio Grande do Sul (BEHLING

et al., 2009).

1 Pesquisa conduzida atualmente com o suporte de bolsa de pesquisa do CNPq – Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Na sua primeira fase o estudo contou com o apoio da CAPES –

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 2 As imagens do satélite Geo-Eye (2011) foram cedidas pela Prefeitura Municipal de Caxias do Sul e a

cartografia foi realizada pela engenheira florestal Silvia O. Aurelio, como detalhado em Ribeiro (2014).

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Mapa 1: Localização da área de estudo.

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Fonte: Ribeiro (2014, p.113), cartografia de Silvia O. Aurélio.

A abundante rede hidrográfica existente nas localidades e em suas circunvizinhanças traz

similar problemática, a partir da construção de duas grandes barragens para o abastecimento do

tratamento de água potável para a cidade. Caxias do Sul, distante de cursos d’água de maior porte,

busca nessa rede de pequenos arroios 70% de sua água para seus usos domésticos, comerciais e

industriais. Essa ação e a projeção de outros barramentos semelhantes trazem recente e

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progressivamente uma série de restrições à agricultura de caráter familiar em Vila Seca e Criúva. Em

propriedades que, em sua maioria, enquadram-se na faixa de 50 a 100 hectares, as atividades

produtivas predominantes estão há cerca de 150 anos pautadas pela criação semiextensiva de gado de

corte e de leite e os múltiplos pequenos cultivos coloniais.

3. Metodologia e Resultados

A pesquisa metodologicamente é estruturada pelo estudo da paisagem, em estreita relação ao

conhecimento da ruralidade local. Tal condução é realizada por uma etnografia empreendida a partir

do ponto de vista do lugar – mas em caminho inaugurado pelas possibilidades de compreensão

aportadas pelo prévio estudo dos seus sistemas agrários.

A escolha da perspectiva etnográfica passa a ter forte impacto teórico no embasamento da

pesquisa, multidisciplinar em sua origem, e trazendo, a partir disso, evidentes reflexos nas suas

escolhas de método. Nesse sentido, reside a importância preliminar do processo de conhecimento dos

sistemas agrários. Como explicado por Mazoyer (2010), tal importância reside em sua condição de

intelectual e metódica análise da realidade da agricultura, por intermédio do conhecimento de sua

organização e de seu funcionamento. Abarcando os aspectos históricos e traços geográficos das

diversas formas de agricultura no local verificadas, pode-se com esse auxílio teórico caracterizar as

mudanças que afetam os seus processos produtivos, bem como o modo de convivência com um dado

ambiente. Igualmente, podem ser apreendidos os modos socioculturais de existência desses

agricultores, considerando sem dúvida as suas relações com a natureza, bem como a sua coexistência

com outros sistemas produtivos que não os agrários. Como Cochet (2012) ressalta, foram geógrafos

franceses que cunharam o termo “sistemas agrários”, na primeira metade do século XX, construção a

qual, após várias outras elaborações, encontra em Marcel Mazoyer a sua expressão conceitual de

disseminação acadêmica. O primeiro autor aponta outra questão pertinente a esse presente estudo, no

que diz respeito à definição das suas fronteiras de aplicação. Segundo ele, a escala do povoado ou da

comunidade rural é aquela onde a análise do sistema permite uma visão mais nítida, em próxima

relação com a paisagem.

De acordo a Miguel (2009), as ações pragmáticas de estudos de evolução e diferenciação de

sistemas agrários partem da visualização do ecossistema cultivado em suas variadas apresentações ao

longo do tempo histórico. Essa primeira etapa é feita pelo reconhecimento do espaço geográfico –

justamente por intermédio da compreensão de sua paisagem – tendo como produto o zoneamento

regional. Para isso, são consideradas, em um primeiro momento, as características

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geomorfopedológicas do campo empírico estudado e a sua percepção pelas populações presentes

nesse ambiente. Em fase subsequente, buscam-se informações relevantes sobre a agricultura praticada

e suas interligações ao mundo rural, procurando-se entender o respectivo sistema social produtivo,

em suas particularidades de organização e funcionamento. De tal forma isso feito que se tornam

possíveis a identificação e a descrição dos vários tipos de atividades (agrícolas e não agrícolas)

historicamente registrados ao longo da constituição dessa paisagem agrária. Esse procedimento de

estudo visa mais bem compreender os motivos das oscilações cíclicas dessas práticas agrícolas – dos

porquês das mudanças de rumo que acabam instaurando distintas produções sistêmicas agrárias nesse

lugar .

No caso em exposição, a busca de subsídios para a reconstituição da evolução e diferenciação

dos sistemas agrários foi iniciada por pesquisa bibliográfica – que atentou de maneira especial para a

rica produção de autores locais, com posterior complementação realizada por estudo cartográfico e

trabalho prospectivo de campo. Sequencialmente, buscou-se conhecer a paisagem por meio de

paulatino aprofundamento dos percursos etnográficos, empreendidos junto aos agricultores de largo

conhecimento da história agrária da região.

A aproximação etnográfica, por intermédio da observação participante no ciclo de louvação

das Festas do Divino Espírito Santo, consegue identificar em Vila Seca e Criúva a presença da noção

de paisagem, reconstituindo sua trajeção3 ao longo dos sistemas agrários que ali vão se estabelecendo.

Delimitam-se, desse modo, quatro grandes ciclos sistêmicos da produção agrícola nessa paisagem: o

indígena (10.000 A.C. até 1760), o sesmeiro (1760 a 1912), o colonial (1912 a 1980) e o

contemporâneo (de 1980 ao presente).

Dessa forma, as questões subjetivas do que se estuda são exploradas por intermédio dos

critérios berquianos dispostos para o estudo da paisagem4. Identifica-se claramente a existência do

sentimento da paisagem no lugar, e, adicionalmente, que tal existência é um bem de uso comum em

Vila Seca e Criúva: um recurso (cultural e mutável), compartilhado por pessoas e sujeito a dilemas

sociais, em conceituação construída a partir de Hess e Ostrom (2007) e Leite (2012).

Relativamente ao viés objetivo de constituição dessa paisagem, vê-se a permanência –

dinâmica – das atividades agrícolas desses agricultores familiares, em estreita associação ao mosaico

3 A trajeção é o termo cunhado por Berque (2011, p. 188; 193 e 194) para nomear o movimento de contínua

interação entre os mundos objetivos e subjetivos, que compõe a realidade dos nossos meios, cujo conjunto constitui

a ecúmena. 4 São pelo autor propostos sete critérios empíricos para a verificação da existência da noção de paisagem em um

dado lugar (BERQUE, 2011b, p. 201), como preliminarmente explicitados em Ribeiro, Dal Forno e Miguel

(2015).

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de campos e florestas autóctones que constitui a macro apresentação do Bioma Mata Atlântica na

região. O estudo cartográfico comparativo em 1871, 1980 e 2011 compreendendo os sistemas

agrários sesmeiro, colonial e contemporâneo, consegue demonstrar este fato, como evidenciado na

Figura 1.

Figura 1: Estudo cartográfico comparativo – usos do solo na área empírica de estudo.

Fonte: Ribeiro (2014, p.263), cartografia de Silvia O. Aurelio.

Se as medições topográficas de Müzel (1871) diziam que o solo era ocupado por 55,4 % de

Floresta Ombrófila Mista (FOM) 5 para 44,5 % de pastagens nativas, os mapas do exército em 1980

mostram que essa floresta quase desaparece. Nessa época, ao final do ciclo de exploração da madeira

de araucária, restam somente 7,4 % do solo coberto com florestas. No dizer dos habitantes

agricultores, “os matos somem e os campos passam a dominar a paisagem”. Essas pastagens

autóctones ocupam nessa época 76,9 % do solo, aparecendo outros usos nos seus 15,7 % de área

remanescente. Contudo, uma vez sustado o urbano processo de exploração predatória de sua floresta,

5 Pode-se afirmar da ocorrência da FOM pelos relatos empíricos, que resgatam a sua característica maior: eles citam,

além de outras espécies de árvores dessa mata, a presença de Araucaria angustifolia.

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essa paisagem se refaz. Em 2011, a FOM já ocupa 33,3% da seção amostral estudada, o campo

majoritariamente autóctone 55,5 %, e outros usos 8,2%.

A exploração madeireira nas matas da região no sistema agrário colonial é escrutinada por De

Boni e Costa (2011). Iniciando em Bom Jesus antes de 1910, a atividade tem um acréscimo

significativo em 1930, ainda no município, para depois crescer em abrangência regional, até o seu

apogeu em 1956. Os autores descrevem que chegaram a existir cerca de 10.000 pessoas engajadas em

105 serrarias ou laminadoras, mas logo decaindo a atividade, pelo escasseamento dos pinheiros. Em

1970, encontram-se 45 registros desses empreendimentos, os quais diminuem já em 1976 para 32.

Segundo eles, o Censo Econômico estadual de 1970 coloca Caxias do Sul com o maior número de

serrarias. Do total de 45 na região, 16 estabelecimentos se situavam no município. E, de acordo com

a análise que os autores fazem pelo nome da firma ou dos cotistas, a quase totalidade dos proprietários

é de famílias advindas do processo de colonização europeia, primordialmente italiana – o processo

que constitui a zona urbana da cidade.

Os relatos empíricos confirmam essa assertiva: não há quase menção aos donos de serrarias

com “nacionais nomes”, aqueles característicos da zona de campo, refletindo as “misturadas” origens:

os indígenas, portugueses e descendentes dos muitos escravos que trabalharam as terras das sesmarias

que continham essas florestas, origem da riqueza urbana. Por outro lado, é necessário sublinhar que

efetivamente as serrarias alteraram profundamente o sistema agrário da região. Esse trabalho atraiu

os peões das fazendas, que preferiram substituir o “sistema pré-capitalista de vida da estância,

plantando como meeiros, criando alguma cabeça de gado na fazenda e recebendo, em dinheiro, uma

quantia insignificante”. No entanto, o seu declínio ocasionou o que os mesmos autores chamam de

processo irreversível de proletarização, caracterizando uma “fuga do campo”, cujo maior polo de

atração foi Caxias do Sul, “com suas fábricas, seu progresso industrial e sua vida urbana a atrair a

mão-de-obra” (DE BONI; COSTA, 2011 [1979], p. 248 e 249).

Igualmente em outro aspecto os achados empíricos são coincidentes às considerações de De

Boni e Costa (2011) e Corteletti (2012): os habitantes desses distritos (como já mencionado),

majoritariamente agricultores, têm plena consciência de que a atividade econômica dos “engenhos”

de beneficiamento de madeira de araucária foi fundamental na constituição da prosperidade de Caxias

do Sul.

Entretanto, delimitado esse processo, vê-se que, nos últimos 150 anos, o mosaico autóctone

de campo e mato convive estavelmente com a pecuária semiextensiva e com os pequenos policultivos

coloniais, característica que singulariza esses dois distritos em relação à sua vizinhança dos Campos

de Cima da Serra. A explicação se encontra nos vários relatos que a pesquisa obtém junto às pessoas

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mais idosas. Elas contam que os moradores de Criúva e Vila Seca sempre diferenciaram “o mato

nosso e dos outros”. Um exemplo (de vários outros) do apreço pela paisagem do lugar, que em sua

origem era muito semelhante à dos municípios de Jaquirana, de Bom Jesus e mesmo de outros

distritos de São Francisco de Paula, na época também com muita atividade madeireira – Cazuza

Ferreira e Juá.

Assim é que se nota que o relacionamento histórico que esses agricultores, pequenos e

familiares têm como o seu meio é diverso não só em seu viver cotidiano, mas igualmente na sua

consciente relação com o urbano, percebido como cada vez mais próximo. Tal situação permite o

estabelecimento de uma discussão nessa pesquisa no campo dos estudos do campesinato brasileiro,

porém, aninhando-a em mínimo contexto de compreensão da ruralidade que os contém.

4. O agricultor familiar do lugar e a sua campesinidade

Wanderley (2014) reforça o entendimento da grande diversidade das formas do campesinato

no cenário da vida e do trabalho brasileiro. Ela descreve o intenso debate teórico e político iniciado

nos anos 1970 que possibilita a instituição da categoria de agricultura familiar no Brasil, ato que

permitiu que sua importância e extensão fossem reconhecidas oficialmente pela primeira vez no

Censo Agropecuário de 2006. Contudo, a autora pontua que não se esgota nesse ponto a ideia e a

compreensão do que seja o campesinato no Brasil. Lastreada em uma série de consagrados estudos a

esse respeito (os trabalhos de Maria Isaura de Queiroz e de José de Souza Martins, entre outros), a

socióloga direciona a atenção para a necessidade de identificação e compreensão das ações e

estratégias de sobrevivência dessas comunidades camponesas, em sua trajetória de constituição nos

interstícios internos e externos dos latifúndios movidos à mão de obra escrava no período colonial.

Wanderley afirma que, em estratégias de resistência, os pequenos agricultores – os

camponeses – conseguem desenvolver “uma outra agricultura”, estruturada em relações familiares e

comunitárias. Segundo ela, isso é feito em um viés espacial, pois se consegue a “criação de espaços

que escapavam, de direito ou de fato, da ocupação pelos senhores da terra”. Tais atos estão

historicamente situados no período proximamente circundante à instituição da Lei de Terras de 1850:

entre a proclamação da independência em 1822 até a efetiva instituição jurídica dessa lei em todo o

território nacional, o vazio jurídico permitiu ações de ocupação dos pequenos agricultores. Outra

modalidade de acesso fundiário nessa época foram acertos – precários e em diversas modalidades –

de moradia e trabalho em sítios no interior das grandes terras. Em resumo, pontua essa autora que os

agricultores que podem ser ditos camponeses não são nem latifundiários nem patronais, e que o

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sustento de suas vidas provém principalmente de seus próprios recursos de trabalho, em modalidades

produtivas ligada à terra, em atividades da e para a família. A chave da identificação do campesinato

como tal é dita, por esse seu entendimento, como residindo no enraizamento familiar da forma social

dessa atividade produtiva, tanto em seus objetivos – visando satisfazer as necessidades desse grupo,

como em sua organização cooperativa. Indo um pouco mais além, em transcendência dessa análise

da produção, Wanderley propõe que os conceitos de campesinato e de agricultura familiar sejam lidos

de maneira equivalente, defendendo que ambas as designações buscam, mais do que tudo, distinguir

um modo de vida e uma cultura particulares. A autora expõe com clareza a relevância da discussão,

colocando a questão do reconhecimento da extensão do domínio dessa agora denominada agricultura

familiar: é possível agora dizer que 84,4 % dos estabelecimentos agropecuários do Brasil são de

caráter familiar, correspondendo, porém, a tão somente 24,3% de sua área total. Reiterando, segundo

ela, os estudos pregressos, estas novas informações reforçam a atividade produtiva dessas pessoas

como responsável por significativa parte da produção de alimentos do país, bem como constituindo o

trabalho de grande contingente populacional. No entanto e adicionalmente, as novas estatísticas

reforçam a perenidade da concentração fundiária de origem da ruralidade brasileira. A partir das ações

de estudo agora possíveis, Wanderley aponta, enfim, que diversas abordagens identificam situações

de fragilidade de sobrevivência e, portanto, de reprodução da categoria como tal. Não somente as

aliadas à segurança alimentar, mas também a outros tipos de privação, envolvendo além da ordem

material (com os comparativos obtidos pela adoção de linhas de pobreza), aspectos socioculturais

(WANDERLEY, 2014, p. 26;27;33).

Nesse esforço contemporâneo de leitura do agricultor familiar em proximidade ao conceito

de campesinato, a compreensão desse categorizado ser humano predominantemente agricultor

(itálico nosso) parte nesse momento de uma visão muito próxima de seu mundo, focando seu trabalho

visceralmente dependente das atividades que conseguem desenvolver em um pedaço de terra

específico. Woortmann (1990, p. 19; 23) constrói um sentido subjetivo para esse entendimento, a

partir de sua proposição da existência de uma campesinidade – uma qualidade identificada em

distintos tempos e lugares, articulando culturalmente o que ele chama de “categorias nucleantes

principais” das sociedades ditas camponesas: a terra, a família e o trabalho. Nessa sua perspectiva, a

centralidade adotada não é a da família como origem da força de trabalho – para a geração de bens

materiais – mas sim a sua permanência no tempo como responsável pela sua produção cultural como

um valor. Essa propriedade (que o autor propõe como caracterizadora do camponês) é imaginada em

um contínuo, pensado no tempo e no espaço, cujos polos de máxima e mínima incidência são

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definidos como uma ambígua apropriação individual, pela qual “os tempos modernos são usados para

restabelecer o tempo tradicional”. Verifica-se, por essa situação, agricultores em situações distintas

em um mesmo momento histórico, tanto a nível coletivo como para o sujeito em sua individualidade.

Nessa ruralidade impregnada de práticas culturais, a reconstituição da dinâmica trajetiva do

sentimento da paisagem aporta um viés de compreensão. Os dados empíricos que surgem a partir de

Ribeiro (2014) mostram como efetivamente acontecem as lutas pela posse da terra, em estreita

conexão ao transformar das atividades produtivas, que, por sua vez, relacionam-se com o movimento

maior de constituição das cidades e de industrialização da região.

4.1 A questão fundiária e a vida nos dias de hoje

O sistema agrário indígena, constituído de caça, coleta e de práticas agrícolas incipientes nas

várzeas dos rios da região, finda com o praticamente completo extermínio da população original dessa

paisagem – os Kaingang, o que ocorre com o estabelecimento ainda no Brasil Imperial, de sesmarias

e posteriores estabelecimentos coloniais.

Nesse quadro é de muita importância o escrutínio da luta pelo estabelecimento fundiário que

ocorre entre o sistema agrário sesmeiro e o colonial, em três instâncias. A primeira é a das famílias

dos primeiros agraciados com as três sesmarias nesse local – portugueses, açorianos e já nascidos na

terra brasileira, mas todos ligados ao poder real. A segunda ação é a dos chamados na região de “os

nacionais”. Eles são precários trabalhadores das sesmarias originais ou pequenos agricultores sem

terras vindos de outros estados, muitos de origem indígena e afrodescendente. Além dessas duas

modalidades de ocupação de terras, os governos procuram na região terras devolutas para ainda

estabelecer colonos de origem europeia, após as áreas definidas em uma primeira ação desse tipo

terem sido esgotadas.

Os primeiros proprietários são, em sua grande maioria, pessoas já com algum recurso

econômico, que vêm “fazer terras” – cercam bem mais do que lhes é concedido e depois requerem a

posse do adicionalmente abarcado. Os colonos, de origem europeia (italianos em sua grande maioria,

mas também alemães e poloneses), têm seu processo inicial bem delimitado pelo governo, pagando

pelo seu primeiro lote de terra – o que não impede que, em um segundo momento, eles se incluam na

dinâmica local de apropriação de terras. Os ditos “nacionais” são os mais frágeis, pois são os de

nenhuma propriedade ao início de tudo. Por isso sua ocupação vai sendo paulatinamente deslocada

para os peraus, como são chamadas as terras na borda de declivosos vales de rios que cortam o

Planalto das Araucárias (os Campos de Cima da Serra). Isso acontece pelas ações mais estruturadas

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dos posseiros em melhores condições econômicas: primeiro de ocupação física, e em posterior

validação jurídica. Em função dessa dinâmica, até hoje muitos dos pequenos agricultores ainda não

detêm documentos oficiais de suas terras, mas apenas algum tipo de “documento de posse”. E, por

isso, os agricultores hoje de vida penosa nesses distritos (verificada pela ocorrência de situações de

extrema pobreza) situam-se preponderantemente “nos fundões”: as piores terras para cultivo, de mais

longínquo e duro acesso.

Entre o sistema agrário colonial e o contemporâneo, nota-se um rearranjo fundiário de outra

ordem. Recolhem-se várias estórias de agricultores que, com o fim do ciclo madeireiro tiveram que ir

para a cidade trabalhar nas atividades industriais, mas também há os que permaneceram no campo,

trabalhando para outro proprietário maior. Instigante na situação em análise é que se sabe de vários

exemplos de famílias que, posteriormente a esse esvaziamento do rural e após alguns anos de trabalho,

conseguem comprar a sua própria terra e estabelecer o seu núcleo familiar produtivo. O curioso é que

eles declaram que voltam para onde nasceram – não imaginam ir para nenhum outro lugar. Como

exemplo emblemático dessa atitude, é o dito corrente que conta que o muladeiro (quem nasceu nos

“Fundos da Mulada”, uma das áreas de peraus de Criúva) sempre volta à sua terra.

Nos dias de hoje, outra dinâmica ocorre: proprietários envelhecidos não mais conseguem

trabalhar a terra, ou por si a atividade produtiva nela empreendida não mais garante o sustento das

gerações subsequentes. As necessidades de estudo e de trabalho (atividades produtivas não agrícolas),

somadas às dificuldades estruturais variadas (deficiências de mobilidade, acesso à escola,

atendimentos de saúde, ausência de telefonia e internet) acaba fazendo com que alguns constituam

moradia nas vilas centrais desses distritos (mas não na área urbana de Caxias do Sul). Em função

disso, as terras “dos campos” são muitas vezes temporariamente arrendadas – não querem se desfazer

do que sabem ser um patrimônio familiar de valor muito maior do que a pequena renda que hoje delas

é obtida. Esse arrendamento tem regras e modalidades que devem ser ainda melhor entendidas. Por

exemplo, alguns acertos têm restrições da lotação máxima de gado, ou regramentos sobre os cultivos

permitidos – extensos plantios de “saladas” ou de “eliotis ou eucaliptos”, entre outros vistos como

destruidores “dos campos” não são bem vistos. Desse modo, igualmente é sentida como uma

“ameaça” recente o plantio de soja transgênica. Antes inexistente nesta região, começa a aparecer nas

vizinhanças de Vila Seca e Criúva, preocupando os agricultores familiares de tradição de manejo do

campo nativo. Importante nesse âmbito, contudo, notar a existência de outros acordos mais

“despreocupados”, possibilitando mesmo até a remoção da vegetação autóctone para monoculturas

variadas, algumas de extensa e continuada utilização de agrotóxicos.

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4.2 Novas relações comunitárias defendem a paisagem

A reinvenção dos rituais da Festa do Divino Espírito Santo nos dois distritos, a criação da

Festa do Pinhão em Vila Seca e da Festa Sabores de Criúva desenham linhas de sobrevivência e

adaptação na nova ordem das coisas no sistema agrário contemporâneo, como proposto por

Woortmann (1990, p. 19). As festas em Vila Seca (a incidência vista até o presente momento em mais

detalhes) são muito ligadas em sua origem à esfera predominantemente religiosa católica. No entanto,

sua atualização é ato criativo e espontâneo comunitário leigo, a partir do contato com os movimentos

do distrito vizinho de Criúva e contendo, inclusive, incursões conjuntas ao arquipélago dos Açores,

berço dessas manifestações culturais. Daí surge a sua releitura do ritual tradicional, com novas

músicas e regras próprias – incorporação de outros personagens na corte do Divino, com vestuário e

funções ligados à sua particular condução dos seus aspectos festivos e profanos desse ritual. Esse

exercício comunitário anual, em ciclo de fevereiro a junho, é aqui lido como uma indiscutível

estratégia de fortalecimento, com seu dinâmico transitar extrapolando os limites geográficos

institucionais. Uma vez que, como proferido pelo leigo que conduz a louvação em Vila Seca, “o

Divino não tem território”. Observando-se esse desenhar espaço-temporal – essa trajeção – percebe-

se que esses agricultores do sistema agrário contemporâneo resistem em variados pequenos

empreendimentos familiares, em evidência de escolhas conscientes, afetivas e persistentes pela vida

no lugar.

Todavia, digno de nota é a face socioambiental que se encontra nessa reconstituição, nos

termos tipificados por Brandemburg (2010), fundado no ajuste ecológico descrito por Candido

(2003). Ocorre que tal aspecto aparece de maneira muitas vezes bastante incoerente nos

acontecimentos de origem rural e urbana que se cruzam em Vila Seca e Criúva: verificam-se

assimetrias pronunciadas nessa especificidade relacional que acaba sendo estabelecida entre esses

dois contingentes populacionais do município.

Por um lado, o conjunto de ações técnico-institucionais – um agir proveniente do urbano –

não demonstra uma preocupação maior com a permanência da atividade agrícola dos habitantes dos

distritos e de sua culturalmente enraizada ruralidade. Em alguns momentos, a tradução dessa atitude

parece dizer que talvez fosse mais cômodo que esse espaço estivesse desembaraçado dos agricultores

e de suas atividades, disponível para os outros usos pretendidos pela cidade. De outra parte, essa

apresentada prioridade – de atendimento supostamente indiscutível das várias demandas normativas

apresentadas pelo urbano – é contestada em vários momentos de maneira bastante enfática pelos

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moradores do lugar. Essa atitude, em época recente, permite a construção do reservatório do Arroio

Marrecas, com potencial de suprimento de grande parte da água potável demandada pela cidade. Uma

vez que um de seus vigorosos protestos, organizado junto ao governo estadual, impediu a realização

da intenção urbana naquele tempo para esse mesmo local: construir um novo aterro sanitário para o

município. Paradoxalmente, muitos desses moradores tiveram suas terras desapropriadas em função

desse novo barramento.

Nessa mesma linha de atuação, atualmente os moradores buscam qual seria a lógica

socioambiental que explicaria que as melhores pastagens, com águas excelentes – no Rincão das

Flores, os campos reservados aos melhores animais, onde se podia apear do cavalo e beber água com

a mão – hoje enfrentem o impacto de um aterro sanitário que lá a cidade finalmente impôs. Apesar de

suas mobilizações, dessa vez infrutíferas, a cidade conseguiu lá construir essa área de disposição de

seus resíduos sólidos – sobre as nascentes de seus mananciais futuros, supostamente protegidos por

sua própria legislação. Após isso, restam sérios problemas para os agricultores: mesmo com a alegada

sofisticação do tratamento do chorume gerado, foi verificado um sério episódio de contaminação

hídrica, e, além disso, o gado seguidamente morre nesse local devido à ingestão das sacolas plásticas

levadas pelo vento. Tampouco se entende como esse mesmo discurso – supostamente de conservação

ambiental – que é acionado para proibir ou muito dificultar o licenciamento de pequenos açudes para

dessedentação animal e irrigação nas propriedades (entre muitos exemplos de entraves às atividades

agrícolas de pequeno porte) permite instalar hidrelétricas, um presídio e uma área para disposição de

resíduos sólidos industriais na mesma região hidrográfica de captação de água para usos potáveis,

como mostra o Mapa 2.

Conhece-se nessa primeira fase da pesquisa o questionamento enfático à atitude urbana que

enfim viabiliza a nova barragem para abastecimento exclusivo de água potável, e a partir disso

sumariamente interdita (por exemplo, entre outras proibições de uso e acesso) o uso de balneários e

locais de pesca longeva e costumeiramente usufruídos pelos habitantes desses distritos.

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Mapa 2: Hidrografia da área empírica de estudo.

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Fonte: Ribeiro (2014, p.121), cartografia de Silvia O. Aurelio.

Nessa situação tampouco se compreendem os regramentos que tornam extremamente difícil

um agricultor utilizar a madeira de uma araucária seca pela intempérie, mas que permitem que o poder

público possa cortar milhares dessas árvores em sua plena vitalidade – para depois deixá-las apodrecer

em pilhas ao relento, às vistas de todos, nas margens do novo reservatório. Em atitude bastante

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emblemática, os agricultores questionam que espécie de “acordo ou trato” é esse, que não aceita as

longevas práticas de manejo do campo autóctone com fogo, mas, todavia, institucionalmente

concorda com a sua destruição – por exemplo, para concretagem de depósito de indústrias

automotivas e para o plantio de monoculturas com aplicações de agrotóxicos e fertilizantes químicos.

A questão socioambiental fica claramente evidenciada na paisagem do sistema agrário

contemporâneo: identificam-se, por esse viés, fortes influências advindas da cidade adjacente. Porém,

evidencia-se que tal comportamento se apresenta como primariamente regido nos termos do

atendimento de funcionalidades espaciais: o contexto urbano tem atuado como um polo gerador de

necessidades variadas, que são apresentadas para serem supridas por esse espaço rural. Enfim, não

parece esse quadro conter um refletir mais profundo, que considere a possibilidade de que a

continuidade dessa ruralidade contemporânea possa ser uma fundamental condição de atendimento

de muitas dessas demandas urbanas. E de que, justamente por isso, devesse existir uma escuta muito

mais atenta aos agricultores e seus saberes, conformadores da paisagem desse lugar.

5. Algumas questões propostas para reflexão

É de se pensar as razões pelas quais a parte rural desse município do sul do Brasil apresenta

significativa ocorrência de extrema pobreza: fato que é verificado em uma região nacionalmente

reconhecida como campo de sucesso dos empreendimentos de agricultura familiar, em uma cidade

que exibe um dos melhores índices de desenvolvimento do país. Parece ser importante escrutinar a

coincidência de aspectos encontrados: os indícios de criticidade de sobrevivência, associados a

assimetrias étnicas de apropriação da terra e sua subjacente e posterior situação desfavorável para o

desenvolvimento de atividades agrícolas – em solo pouco fértil, de terrenos pedregosos e muito

inclinados. Tal conjunção sobreposta aos desejos urbanos e rurais na direção da conservação da

paisagem do lugar – desejos esses que não apresentam o mesmo enraizamento identitário.

Outro ponto que emerge dessa exploração é a necessidade de compreensão profunda das

diversas particularidades de existência da agricultura familiar enquanto modo de vida e cultura,

colaborando para seu definitivo e abrangente reconhecimento. Parece ainda haver um hiato entre o

cotejo de suas atuais delimitações institucionais e de sua origem conceitual. Uma vez que essa origem

emerge da discussão acadêmica e política do campesinato, campo de compreensão ainda instável hoje

no Brasil.

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A parte do nome mais apropriado que será enfim acomodado para esse tipo diferenciado de

agricultura, esse exercício reflexivo aponta, por exemplo, e exploratoriamente, ser necessário rever o

que significa exatamente ser “não latifundiário”, principalmente tendo em vista as incoerências vistas

na abrangência dos Campos de Cima da Serra (o caso das diversas definições de módulos fiscais).

Por outro lado, não se podem relevar as existentes críticas ao meio pelo qual o apoio financeiro

específico tem influenciado o modo de produzir (e, portanto, em boa medida, de viver) desses

agricultores, privilegiando aqueles cujas opções produtivas se aproximam dos agronegócios

exportadores.

Não menos importante parece ser discutir como considerar nessa delimitação de agricultor

familiar as existentes práticas comunitárias desde longo tempo verificadas nessa trajeção da paisagem

desses sistemas agrários de Vila Seca e Criúva. São elas, mais do que as atividades produtivas por si

só, que fazem com que a paisagem seja o bem comum nesse lugar. Em outras palavras, diz-se que a

questão de ser ou não campesino, reconhecida no espelho institucional atual brasileiro que é a

categoria agricultor familiar, e o que essa coincidência compreende e articula pode ser central para a

sobrevivência desses agricultores e para a conservação dessa paisagem. Que é a paisagem da

ruralidade geográfica – e convenientemente – mais próxima a conter a água que a cidade de Caxias

do Sul necessita.

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