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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA CURSO: PEDAGOGIA DISCIPLINA: EDUCAÇÃO E TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS LUTAS E MOVIMENTOS PELA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A NÃO-FORMAL

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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA

CURSO: PEDAGOGIA

DISCIPLINA:

EDUCAÇÃO E TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS

LUTAS E MOVIMENTOS PELA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A NÃO-FORMAL

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Educação e Trabalho e Movimentos Sociais – Professor: Tibério

LUTAS E MOVIMENTOS PELA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A NÃO-FORMAL

Os movimentos sociais possuem uma importância única para a sociedade, devido

às relações que ocorrem entre os indivíduos participantes e a luta por objetivos comuns, visando assim a conquista de seus direitos e a manutenção de seus deveres. Todos os movimentos possuem características educativas, devido às normas que necessitam ser seguidas e a estrutura de funcionamento, assim o processo educativo é construído por meio de experiências e do conhecimento sobre a atual situação (passado/presente) de cada organização. Dessa forma, ocorre a formação da mentalidade coletiva e a consciência de cidadania dos indivíduos que participam dos movimentos sociais.

A história do Brasil foi marcada por um forte processo de concentração de suas riquezas, isso ocasionou ao longo do tempo uma permanente exclusão econômica, social e política de suas populações mais pobres. Essa trajetória excludente deixou como uma de suas maiores consequências o analfabetismo. Enquanto em alguns países da Europa os índices de alfabetização atingiam a casa dos 90% no final do século XIX, esse índice só foi alcançado no Brasil no final do século XX, quase 100 anos depois. Até agora não conseguimos extirpá-lo.

Em 1932 houve um manifesto dos pioneiros da educação a fim de conscientizar a população brasileira frente a educação no Brasil, foi abordado vários assuntos, pronunciado várias críticas a respeito da condução da educação brasileira até aquela época.

Segundo os pioneiros da educação, a escola deveria ter mais cuidado na formação dos futuros profissionais que serão lançados no mercado de trabalho pois a educação é tão importante quanto a economia, mas na verdade a educação é um setor que é pouco valorizado pelos políticos, sendo que a escola tem a função de formar cidadãos.

No período republicano, a proibição do voto ao analfabeto transformou uma exclusão educacional em política. Estava vedada às “deseducas” classes populares brasileiras a possibilidade do exercício do voto. Entre os anos 1950 e 1960 o Brasil passou por um período de importantes transformações. Os processos de urbanização e industrialização alteravam profundamente a vida e o cotidiano das pessoas.

Conjugando a alfabetização de adultos com um processo de conscientização, trabalhando o teatro, a música, o cinema e valorizando as manifestações artísticas populares. Os movimentos de educação e cultura popular representaram o aparecimento destes elementos sociais e políticos novos, resultado direto daquele processo, exemplos de expansão e democratização do sistema de ensino. Instrumentos de mobilização política e social, os movimentos incluíam no processo político, por meio da alfabetização de adultos, importantes camadas das classes populares. A possibilidade de uma mudança no jogo eleitoral, via alfabetização era concreta, constituía-se uma tarefa dos grupos e organizações políticas nacionalistas e de esquerda, interessadas na mobilização política e na postura crítica dos alunos, bem como na ampliação do universo de eleitores, na esperança de quebrar a maioria eleitoral das forças tradicionais e conservadoras.

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Nos anos 1960 o IBGE calculava um índice de 40% de analfabetos entre a população com mais de 15 anos, isso representava cerca de 16 milhões de pessoas. A Constituição de 1946 proibia o analfabeto de votar. Isso significava que boa parte dos brasileiros estavam impedidos de participar do processo político. A formação de um universo mais amplo de eleitores aumentava a possibilidade de mudanças nos quadros políticos brasileiros. A alfabetização popular passou a ser entendida como um instrumento da luta política, aliada a uma nova ideia de cultura popular, que passava de uma popularização da cultura erudita para uma valorização da cultura do próprio povo e a construção de elementos culturais novos. Esses elementos somados ao contexto de crise econômica e política do período propiciaram o início de uma postura ativa das camadas populares, na exigência de seus direitos e na transformação de sua realidade social.

Uma forte e crescente mobilização popular marcou o cenário político brasileiro. A

luta contra o analfabetismo se insere neste processo, na defesa das Reformas de Base, do sindicalismo urbano, da formação das Ligas Camponesas, da sindicalização rural etc. Todas essas iniciativas tiveram ampla participação de setores das classes populares, era uma mudança na postura política daquelas classes, e também na percepção dos problemas enfrentados no seu dia a dia. Diante dos desafios para o desenvolvimento brasileiro, apontavam-se soluções mais profundas: reformar e/ou revolucionar as estruturas sociais, econômicas e políticas da sociedade brasileira.

O governo João Goulart foi palco de uma intensa luta política entre setores antagônicos da sociedade. De um lado, os movimentos sociais estavam cada vez mais organizados, demonstravam claros sinais de insatisfação com a profunda desigualdade econômica e social do país e defendiam a execução das “Reformas de Base”. O movimento operário seja de tradição trabalhista ou comunista, as Ligas Camponesas, o sindicalismo rural, os estudantes, artistas e intelectuais na UNE, demonstravam claramente sua intenção de reformar/revolucionar as estruturas da sociedade brasileira. Por outro lado, um amplo setor conservador formado pela burguesia industrial,

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proprietários rurais, o capital externo, e setores das classes médias, da Igreja Católica e das Forças Armadas reagiam a tais manifestações como forma de manter sua posição social e/ou extirpar a “ameaça vermelha”.

Ressaltamos, que a forte relação entre os movimentos e os políticos com uma postura progressista e de esquerda, não deve ser simplificada e condenada, ou querer mascará-las por considerar esses políticos, ou seus partidos, como “populistas”, portanto, manipuladores, demagogos, e etc. No governo Goulart os movimentos e ações na área de alfabetização de adultos ganharam importante destaque. O Ministério da Educação, nas gestões de Darci Ribeiro, Paulo de Tarso Santos e Júlio Sambaqui, financiou e apoiou os movimentos de educação e cultura popular.

Não se quer, aqui, defender a ideia de que as esquerdas eram unidas e que não disputavam espaço. Havia concorrência e discordâncias entre os grupos políticos progressistas que, muitas vezes, se colocavam em conflito direto. Entretanto, em nosso entendimento, as divisões no interior das esquerdas não invalidam nossa tese de que os movimentos de educação e cultura popular foram resultado da ação conjunta de cristãos, comunistas e trabalhistas. Um esforço que reuniu políticos como João Goulart, Miguel Arraes, Djalma Maranhão e Paulo de Tarso Santos; intelectuais e educadores como Darci Ribeiro, Paulo Freire, Moacyr de Góes e Germano Coelho; militantes dos movimentos como Osmar Fávero, Aída Bezerra, Herbert de Souza, Luiz Eduardo Wanderley e tantos outros, que lutaram lado a lado na tentativa de se combater o analfabetismo de cerca de 50% da população brasileira. Com isso, esperava-se também, contribuir com o processo de desenvolvimento do país, bem como, com a realização das reformas estruturais que transformariam a realidade brasileira, marcada por forte exclusão.

A polarização política e ideológica da sociedade era cada vez maior, tanto a extrema esquerda como a extrema direita apostavam na radicalização das posições como forma de alcançar seus objetivos.

A sociedade começou a polarizar-se em dois grandes blocos. De um lado um projeto, que podemos chamar de nacional estatista, pregava o desenvolvimento nacional, a criação de empresas estatais, a defesa dos direitos trabalhistas, o aumento das redes de proteção social, investimentos estatais em setores considerados estratégicos, além da forte presença do Estado em praticamente todos os setores sociais. De outro lado um projeto liberal conservador, que propunha a abertura da economia brasileira ao capital externo, a ausência do Estado nas relações entre patrões e empregados, a adesão do país à política externa estadunidense sem contestações, e uma grande desconfiança da crescente participação política das classes populares.

Quase toda a discussão política teve como foco as chamadas Reforma de Base, cujo objetivo era realizar um profundo programa de justiça social e desenvolvimento nacional. Setores da burguesia nacional, capital externo e proprietários rurais defendiam nenhuma reforma ou, no máximo, reformas moderadas.

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A alfabetização popular

Nos de 1960, o Brasil contava com uma imensidão de jovens e de adultos analfabetos. A constituição de 1946, ainda em vigor na época, proibia o analfabeto de votar, negando a eles participação importante na vida política do país e privando-lhes do exercício de uma plena cidadania. Nesse contexto, a alfabetização popular passou a ser entendida como um instrumento de luta política e de valorização da cultura popular. Movimentos e iniciativas voltadas para a alfabetização de adultos começaram a surgir dentro de uma concepção de transformação da realidade social.

O período compreendido entre 1958 e 1964 foi no Nordeste de forma geral e em Pernambuco de forma particular um cenário propício à elaboração de diferentes propostas e ações cujo objetivo geral era “superar o atraso e o subdesenvolvimento da região. Dentre essas iniciativas, encontramos dede o Movimento de Cultura Popular (MCP) de Recife em Pernambuco, a Campanha de Pé no Chão também se aprende a Ler em Natal no Rio Grande do Norte, o Movimento de Educação de Base (MEB ligado à Igreja Católica, os Centros Populares de Cultura (CPC’s) até a política de educação popular do governo João Goulart, liderada e organizada pelo educador Paulo Freire por meio do Plano Nacional de Alfabetização (PNA).

A história do Movimento de Cultura Popular (MCP) começou com a vitória de Miguel Arraes para a prefeitura do Recife em 1959. Durante a campanha eleitoral a educação já aparecia como uma das preocupações do candidato das esquerdas. Ciente da realidade educacional caótica e da falta de escolas para as classes populares do Recife, Arraes tomou a iniciativa de estabelecer um plano de educação para a cidade. Nesse sentido, convidou um grupo de intelectuais para a elaboração do Plano Municipal de Ensino.

O MCP surgiu oficialmente em 21 de Maio de 1960 e se propunha a pensar a educação de forma mais ampla, não apenas a alfabetização ou a escolarização das crianças, mas um movimento em marcha. Não só para crianças e adolescentes, mas igualmente para adultos. Não apenas para a educação, mas também para a cultura. O objetivo maior, como rezava o estatuto, era proporcionar a elevação do nível cultural do povo preparando-o para a vida e o trabalho.

O MCP organizava suas escolas em Associações de Cultura Popular, o processo pedagógico estava intrinsecamente ligado à questão da cultura popular, da participação do povo nas diversas atividades das associações. A cultura popular passou a ganhar um papel mobilizador, de incentivar o povo para a participação. A educação popular, por sua vez, ganhava contornos específicos, não era mais simplesmente um instrumento de alfabetização de adultos, mas de promoção da cultura, de conscientização e de leitura da realidade. O MCP teve rápido desenvolvimento atingindo praticamente todo o Recife. Muito mais do que um sistema de ensino tradicional, o MCP constituiu um movimento que atraiu para si, todo um esforço de transformação da realidade social.

Em fevereiro de 1961 a Prefeitura de Natal no Rio Grande do Norte deu início a um outro movimento denominado De Pé no Chão Também Se Aprende a Ler, uma campanha

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educacional que se propunha a combater, de um lado, o analfabetismo adulto que atingia cerca de 59% da população e, de outro, a falta de escolas para as crianças em idade escolar.

Tendo nascido no âmbito dos Comitês Nacionalistas, veio a se desenvolver na

Secretaria Municipal de Educação durante a administração de Djalma Maranhão. A sua principal especificidade é justamente esta: um movimento popular que opera dentro de um aparelho de Estado. Daí a fase de 1960-64 ter significado um fortalecimento da Escola Pública Municipal em Natal. Inicialmente programado para ser uma campanha de erradicação do analfabetismo, DE PÉ NO CHÃO extrapolou de sua proposta inicial e se converteu numa política de cultura e educação popular na qual a sociedade organizada é o seu principal sujeito e os administradores da Secretaria Municipal de Educação são os seus "intelectuais orgânicos", nas tarefas de planejamento, acompanhamento e avaliação dessa mesma política.

Diante de um déficit orçamentário calculado em mais de 43 milhões de cruzeiros em 1961, a nova administração enfrentou um enorme desafio, como corresponder às expectativas da população e cumprir os compromissos de campanha sem recursos financeiros. Em fevereiro de 1961 numa reunião com representantes do Comitê Nacionalista do bairro proletário das Rocas, um dos mais mobilizados da cidade, a discussão girava em torno do problema da falta de verbas da prefeitura, como acabar com o analfabetismo sem dinheiro para construir escolas?

No final da reunião o Comitê aprovou uma moção de apoio ao Prefeito no seu esforço de combater o analfabetismo, e diante da falta de recursos financeiros para construir escolas de alvenaria, propunha que a Prefeitura ampliasse o programa já existente das escolinhas e, nas Rocas de Cima, construísse escolas cobertas com palha de coqueiro, a proposta foi aceita rapidamente pelo prefeito.

O nome da Campanha surgiu de uma reportagem do jornalista Expedito Silva. Depois de visitar um dos acampamentos Expedito noticiou que naquelas escolas “de pé no chão também se aprende a ler”, e apontava no sentido de que, a partir daquele

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momento a educação “não seria mais privilégio, pois todos teriam acesso à Escola, sem fardas, com qualquer roupa e até mesmo sem calçados”.

Em julho de 1962 teve início a organização de uma nova fase da Campanha, diante de uma situação social profundamente miserável a alfabetização melhorava mas não resolvia os principais problemas das famílias. Era necessário criar condições econômicas para que elas pudessem amenizar sua situação social. A Campanha “de pé no chão também se aprende uma profissão” surgiu em meados de 1962, em julho Djalma enviou uma mensagem ao legislativo municipal, na qual afirmava que a Campanha já contava, naquele momento, com 15 mil alunos, nesse sentido solicitava, “então, a abertura de um crédito de 1 milhão de cruzeiros, destinado à aquisição do material para a instalação de nova Campanha”. A proposta era ensinar vários tipos de profissões manuais oferecendo cursos para formar novos mecânicos, sapateiros e alfaiates, por exemplo. Destinado aos setores mais pobres da cidade, o projeto buscava atingir principalmente a juventude. A campanha de pé no chão também se aprende uma profissão foi preparada durante o ano de 1962, entrando em funcionamento somente em fevereiro do ano seguinte.

Os movimentos de Recife e Natal foram destruídos pelo Golpe de Estado de 1964, sob a acusação de que estavam comunizando o Nordeste. Naquele contexto era vista, pelos órgãos de repressão, como uma perigosa “arma de propaganda comunista” e, por isso, foi alvo de uma implacável repressão que culminou rapidamente em sua destruição.

O Método Paulo Freire de Alfabetização

Movimentos sociais, cada vez mais organizados, reivindicavam soluções para as

profundas desigualdades sociais no país. Todo esse cenário foi percebido pelos setores conservadores, assim como foi percebido no método Paulo Freire, incorporado como política pública do Governo Federal, uma ameaça ao status quo vigente. Nesse momento, tais iniciativas de alfabetização passaram a ser vistas como ameaças reais às sólidas estruturas de uma sociedade desigual.

A primeira experiência de grande porte de seu método foi realizada em Angicos, interior do estado do Rio Grande do Norte entre janeiro e abril de 1963. Foram alfabetizadas cerca de 300 cortadores de cana adultos que aprenderam a ler e a escrever num período de 45 dias.

O processo se deu em apenas quarenta horas de aula e sem cartilha. Freire criticava o sistema tradicional de alfabetização, o qual utilizava a cartilha como ferramenta central da didática para o ensino da leitura e da escrita. As cartilhas ensinavam pelo método da repetição de palavras soltas ou de frases criadas de forma forçosa, o que, comumente, se denomina como "linguagem de cartilha": por exemplo, Eva viu a uva, o boi baba, a ave voa, dentre outros.

Na verdade, o que se coloca é o grau da relação entre Paulo Freire (e os movimentos de alfabetização) com a política da época, muitos autores caracterizam a política nos anos 1950 e 1960 ainda sob a égide clássica do “populismo”, no qual políticos demagogos enganariam o povo com seus discursos, utilizando paralelamente a força

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coerciva do Estado para manipularem ao seu bem querer uma população desavisada e passiva. Seguindo esse raciocínio os movimentos e campanhas de alfabetização funcionariam como “fábrica de eleitores”, abrindo a possibilidade de crescimento eleitoral dos setores trabalhistas, progressistas e de esquerda no campo político e institucional do país.

A experiência, inédita no Brasil, tinha uma meta ousada: alfabetizar adultos em 40 dias. Mas não era só isso. Paulo Freire pretendia despertar o ser político que deve ser sujeito de direito.

O Patrono da Educação Brasileira desenvolveu naquela época, um método de alfabetização baseado nas experiências de vida das pessoas. Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo novas palavras e ampliando o repertório.

O método Paulo Freire estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão

de suas experiências de vida entre si, através de palavras presentes na realidade dos alunos, que são decodificadas para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo.

Foi a partir desta trajetória que Paulo Freire, seu método e sua equipe chegaram ao Ministério da Educação (MEC) na gestão de Paulo de Tarso Santos. Paulo de Tarso ocupou por cinco meses o Ministério da Educação, entre junho e outubro de 1963. Os militares no poder

Durante o regime militar, que teve início em 1964, ocorreu em substituição ao método de alfabetização de adultos preconizado pelo educador Paulo Freire, que recebia recursos estatais até então, e se tornara persona non grata ao regime.

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Tão logo tomaram o poder, os militares iniciaram um processo de perseguição e destruição das campanhas e movimentos de educação e cultura popular. A alfabetização como vinha sendo feita, era vista como uma ameaça à nova “ordem democrática.

Os movimentos de educação e cultura popular foram destruídos e os seus educadores e aliados cassados, presos e exilados

O sistema repressivo brasileiro foi responsável pela “paralisação quase completa do movimento popular de denúncia, resistência e reivindicação, restando praticamente uma única forma de oposição: a clandestina”. Vale ressaltar que as ações militares foram amparadas por setores significativos da sociedade brasileira. Muitos políticos apoiaram as prisões, expurgos e até mesmo torturas e assassinatos cometidos pelos órgãos de repressão, como forma de se livrarem de oponentes políticos fortes. Setores conservadores da Igreja temendo o a implantação do comunismo ateu também validaram, ainda que com menor intensidade, as perseguições. As demonstrações de apoio à “revolução” não foram poucas.

O resultado de toda essa repressão foi catastrófico para a alfabetização de adultos no país. Nos dois primeiros anos do novo governo, o problema da educação dos adultos é deixado de lado pelo Ministério da Educação. Entretanto, a paralisação dos esforços brasileiros no sentido de diminuir sua porcentagem de analfabetos e de educar sua população adulta causou uma repercussão muito negativa no exterior. Somente a partir de 1966 o governo militar iniciou suas atividades na área de educação de adultos, primeiro apoiando a Cruzada ABC, e, depois no final de 1967 criando o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).

O Mobral propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando conduzir

a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida. O governo prometia, com alarde, promover o chamado milagre brasileiro, varrendo o analfabetismo do País em apenas dez anos. O Brasil tinha, em 1970, mais de 18 milhões de adultos analfabetos, o que representava 33,6% da população com mais de 15 anos.

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A criação do Mobral mobilizou o País por meio da campanha "Você também é responsável", que estimulava a participação da sociedade no novo projeto de educação. Conseguiu estender suas ações por todos os municípios do Brasil.

De todo modo, o método de alfabetização usado pelo MOBRAL era fortemente influenciado pelo Método Paulo Freire, utilizando-se por exemplo do conceito de "palavra geradora". A diferença é que o Método Paulo Freire utilizava palavras tiradas do cotidiano dos alunos, enquanto, no MOBRAL, as palavras eram definidas a partir de estudo das necessidades humanas básicas por uma equipe técnica definida pelo governo.

A recessão econômica iniciada nos anos de 1980 inviabilizou a continuidade do programa. A partir de 1985, com o fim do regime militar, a Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) passou a se chamar Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos - EDUCAR. Em 1990, a Fundação EDUCAR também foi extinta. A educação dentro dos movimentos sociais

A educação parece dentro dos movimentos sociais como uma grande luta de todos

e se torna uma questão fundamental para todos, por isso, ela leva em conta toda realidade do contexto histórico que aquele movimento está vivendo, é possível enxergar isso a partir do conteúdo que se é trabalhado dentro dos movimentos, toda estrutura educacional que se tem dentro de cada movimento tem como prioridade os acontecimentos da própria vida que vão ao longo do tempo dando uma dimensão de como a consciência da coletividade e da defesa dos direitos estão sendo construídas. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, (MST), como é conhecido é um dos mais importantes movimentos sociais brasileiro que tem mostrado com convicção como a educação recebe influência de todos os meios que a rodeiam, a bandeira principal que este movimento defende é a reforma agrária, o fim do latifúndio, e a distribuição da terra para as famílias que dela tira sua fonte de subsistência, para isso, é fundamental a formação da consciência daqueles que fazem parte desse movimento e uma das ferramentas importantes nesta construção é a educação formalizada por eles nos acampamentos, onde o importante não é somente ler e escrever, é necessário a educação para a consciência de classe organizada.

O projeto educacional do MST tem como eixo orientador a luta de classes no campo e a defesa da necessidade da construção de uma sociedade sobre outras relações sociais de produção, o que exige uma educação, ainda nos marcos do capitalismo, pautada em valores socialistas e humanistas, tais como o coletivismo, o trabalho socialmente útil, a organização e auto-organização dos estudantes e professores. A Educação Inclusiva

O esforço pela inclusão social e escolar de pessoas com necessidades especiais no Brasil é a resposta para uma situação que perpetuava a segregação dessas pessoas e

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cerceava o seu pleno desenvolvimento. Até o início do século XXI, o sistema educacional brasileiro abrigava dois tipos de serviços: a escola regular e a escola especial - ou o aluno frequentava uma, ou a outra. Na última década, nosso sistema escolar modificou-se com a proposta inclusiva e um único tipo de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a aprendizagem.

A Educação inclusiva compreende a Educação especial dentro da escola regular e transforma a escola em um espaço para todos. Ela favorece a diversidade na medida em que considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum momento de sua vida escolar.

Há, entretanto, necessidades que interferem de maneira significativa no processo

de aprendizagem e que exigem uma atitude educativa específica da escola como, por exemplo, a utilização de recursos e apoio especializados para garantir a aprendizagem de todos os alunos.

A Educação é um direito de todos e deve ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento e do fortalecimento da personalidade. O respeito aos direitos e liberdades humanas, primeiro passo para a construção da cidadania, deve ser incentivado.

Educação inclusiva, portanto, significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar. A opção por este tipo de Educação não significa negar as dificuldades dos estudantes. Pelo contrário. Com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade. É essa variedade, a partir da realidade social, que pode ampliar a visão de mundo e desenvolver oportunidades de convivência a todas as crianças.

Preservar a diversidade apresentada na escola, encontrada na realidade social, representa oportunidade para o atendimento das necessidades educacionais com ênfase nas competências, capacidades e potencialidades do educando.

As diferenças sempre existiram. Na educação inclusiva elas precisam ser reconhecidas e valorizadas, sem preconceito. A inclusão prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular.

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Educação Especial e Educação Inclusiva

Educação especial é uma modalidade de ensino que visa promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas portadoras de necessidades especiais, condutas típicas ou altas habilidades, e que abrange os diferentes níveis e graus do sistema de ensino. Ou seja, uma modalidade de ensino para pessoas com deficiência ou altas habilidades.

Na escola inclusiva o processo educativo deve ser entendido como um processo social, onde todas as crianças portadoras de necessidades especiais e de distúrbios de aprendizagem têm o direito à escolarização o mais próximo possível do normal. Ou seja, uma modalidade de ensino para todos.

Não existem alunos sem deficiência na educação especial. Já na educação inclusiva todos os alunos com e sem deficiência tem a oportunidade de conviverem e aprenderem juntos. A ideia da inclusão é mais do que somente garantir o acesso à entrada de alunos e alunas nas instituições de ensino. O objetivo é eliminar obstáculos que limitam a aprendizagem e participação discente no processo educativo.

É importante combatermos expressões que tentem atenuar as diferenças, tais como: “pessoas como capacidades especiais”, “pessoas especiais “e as mais famosas de todas: pessoas com necessidades especiais”. As diferenças têm de ser valorizadas, respeitando-se as necessidades de cada pessoa. Desde 2006 o termo correto é PESSOA COM DEFICIÊNCIA.

A maioria das escolas regulares no Brasil não estão preparadas para receberem e ensinarem aos alunos com deficiência, devido à problema de infraestrutura e formação profissional da equipe.

Mas então, quem está preparado para receber esses alunos? As escolas especiais. Hoje o modelo é que essas escolas especiais, que teoricamente têm o

conhecimento da educação especial, se transformem em centros de recursos para apoiar o ensino inclusivo em todas as escolas que estão na sua região, com professores itinerantes e materiais pedagógicos.

No Brasil o aluno com deficiência está matriculado na escola regular, mas dependendo da sua necessidade pode precisar frequentar também uma escola especial para ter atendimento educacional especializado.

Isso mesmo, o famoso AEE – Atendimento Educacional Especializado pode acontecer fora da escola regular. Por isso, as escolas especiais ainda existem e são mantidas. O atendimento educacional especializado da escola especial não substitui a escola comum. A escola especial passa a complementar e apoiar o ensino regular na formação de alunos com necessidades especiais. Espaços de Educação não-formal da sociedade civil

A socialização envolve fundamentalmente práticas educativas. Na socialização alguém ensina a outrem como se comportar. Nenhuma sociedade poderia sobreviver por

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muito tempo se os membros mais novos não fossem socializados, pois para ocupar certas posições as pessoas devem adquirir certos conhecimentos. Assim, por exemplo, numa tribo da Amazônia, um adulto precisa saber pescar, caçar e guerrear, mas também precisa saber que tem obrigações como respeitar os mais velhos, ao sacerdote e aos deuses, sustentar a família e ser solidário com os demais membros da tribo. Na tribo, lentamente, por meio de conversas na família ou com amigos, através da observação das atitudes dos mais velhos e das festas e cerimônias, os mais jovens aprendem tudo o que necessitam para desempenhar os papéis que lhes reserva a vida adulta. Embora de maneira diversa, esse mesmo processo acontece com um jovem das sociedades urbanas e industriais do nosso tempo.

Viver em sociedade significa aprender a se comportar da maneira como as várias situações exigem. Esse aprendizado começa desde que a criança nasce e se prolonga vida afora. Para tanto, existem dois tipos de socialização: a primária e a secundária.

A socialização primária é a que o indivíduo experimenta na infância. Nessa fase, a criança conhece o mundo e a realidade social através das definições que a ela são dadas pelos familiares. O mundo tal qual lhe é apresentado pelos pais é o único que ela conhece. Por isso, nessa fase, não há conflitos de identificação. A criança sente-se emocionalmente ligada à família, e os familiares são extremamente importantes e significativos para ela. No processo de socialização primária as normas e os valores sociais são interiorizados. A criança aprende os papéis correspondentes à sua posição e à dos demais membros familiares. Ao aprender o que deve ou não fazer uma criança, um filho e um irmão, ela está sendo moldada pela sociedade e vai formando sua personalidade. Para muitos autores, a socialização primária é a que mais influencia o ser humano.

A socialização primária termina quando a criança consegue perceber que as normas sociais não são feitas apenas para uma ou outra pessoa particular, mas para todas as pessoas. Por exemplo, quando percebe que a reprimida da mãe quando ela se apodera de alguma coisa que pertence ao irmão significa que ninguém deve se apoderar daquilo que pertence aos outros.

O processo de socialização secundária não termina; a bem dizer, ele segue por toda a vida. À medida que cresce, a criança participa de várias instituições, e essa participação envolve aprendizado. Ela aprende a linguagem típica de várias instituições, mais os valores e os comportamentos esperados dos membros que compõem as diferentes instituições. Assim, por exemplo, na escola a criança vai aprender a ser aluno e a ser cidadão. O mesmo acontecerá no mundo do trabalho. De acordo com a posição que vier a ocupar quando adulto – chefe ou empregado –, deverá saber o que se espera dele. Evidentemente, o aprendizado de muitas dessas posições pode ser antecipado, isto é, ocorre antes de a pessoa vir a ocupá-las. Isso facilita a acomodação do indivíduo ao papel. Por exemplo, desde a infância, a menina vai interiorizando o que um marido espera da esposa numa dada sociedade.

Se a socialização é vital para a sociedade e ela envolve práticas educativas, então podemos concluir que a educação é uma dimensão importantíssima para a vida social.

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Existem várias agências socializadoras numa sociedade. As principais são: a família, a escola, a religião, os grupos de amigos, os meios de comunicação de massa, entre outros.

Assim, as expressões socialização e educação têm o mesmo significado. A socialização sempre envolve um processo educativo, e todo processo educativo é um ato de socialização. Isso fica claro quando lemos a definição de educação dada por Durkheim.

“A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não

se encontra ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destina”.

A falta de distinção fica clara quando percebemos que, se trocarmos a palavra

educação no início do parágrafo pela palavra socialização, teremos também uma boa definição de socialização. Para evitar confusão, alguns pedagogos estabeleceram uma distinção entre a educação formal, informal e não-formal.

Poucos são os estudos sobre a prática de educação não-formal, embora diferentes seguimentos da sociedade venham direcionando o olhar para esta pedagogia social como campos de conhecimento e de ação profissional.

A escola é uma instituição que desenvolve papel central na formação dos educandos que por ela passam, exercendo principalmente acesso aos conhecimentos historicamente sistematizados. Porém, a educação vai além do espaço delimitado pelos muros escolares e salas de aula.

O indivíduo ao longo de toda a trajetória de vida adquire conhecimentos concebidos por suas próprias experiências, por relações sociais com outros indivíduos, no âmbito familiar e em instituições educadoras formais e não formais. Esta última nada mais é que um processo de aprendizagem social centrada no indivíduo, por meio do desenvolvimento de atividades extraescolares. É um processo voluntário de aprendizagem e de educação fora da escola, que acontecem em ONGs, instituições religiosas, iniciativas particulares e programas sociais públicos.

Essa prática é necessária e importante quando se pensa em um processo educacional que priorize a prática de atividades que favoreçam atividades culturais, de criação, esportes, rodas de conversas, relações de trocas de vivências, entre diversas outras atividades educacionais. Tanto as conceitualizações quanto os trabalhos empíricos, apresentam interdisciplinaridade e flexibilidade como características desta modalidade de educação. A educação não-formal pode desenvolver-se nos mais variados espaços, sendo uma modalidade crescente no cenário nacional e pouco explorada nos meios acadêmicos.

No campo educacional existem três práticas diferentes, que acontecem separadas, porém, não independentes uma da outra, são elas: educação formal, educação informal e educação não-formal.

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Educação formal trata-se do que ocorre dentro de escolas públicas e privadas, cursos de aperfeiçoamento e treinamento, etc., onde o desenvolvimento das aulas acontece na maioria das vezes dentro de uma sala, por meio de livros didáticos, lousa e caderno. Envolve todo o processo de transmissão de um conteúdo específico de modo intencional e dotado de método, regulamentos e periodicidade próprios.

A educação formal também recebe o nome de instrução. Porém, ela não se

resume a instrução escolar. Não seria errado, então, designar como fazendo parte da educação formal cursos como astrologia, cozinha chinesa, jardinagem, etc.

Até bem pouco tempo, a educação formal se caracterizava por ser feita em um espaço próprio (a escola). Atualmente, com a difusão dos meios de comunicação de massa, temos o ensino sistemático a distância. A Universidade de Londres, uma das sérias e respeitáveis instituições de ensino superior do mundo, oferece vários cursos por correspondência. No Brasil, temos o exemplo do telecurso e os vários cursos à distância, oferecidos por meio da internet.

A educação informal está diretamente voltada ao comportamento, hábitos, valores não intencionados e não institucionalizados. Essa envolve todos os processos educativos que ocorrem no interior da sociedade e que não são dotados de métodos, regulamentos, periodicidade e conteúdo próprios. Assim, por exemplo, aos assistir um filme de espionagem, a pessoa pode se informar sobre o funcionamento do regime parlamentarista inglês. Porém, a informação não faz parte de uma programação predeterminada e não segue um método pedagógico específico. A mesma coisa pode ser dita dos desenhos animados atuais, que trazem consigo uma lição de moral. Apesar do caráter intencional, falta-lhes a sistematicidade programática e curricular típica da educação formal.

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A prática da educação não-formal ocorre no período inverso ao que o aluno

frequenta a escola regular. De acordo com Libâneo (2002), podemos entender que a educação não-formal

refere-se às organizações políticas, profissionais, científicas, culturais, agências formativas para grupos sociais, educação cívica, etc., com atividades de caráter intencional. A educação não-formal vem apresentando crescimento em nosso país, principalmente no estado de São Paulo onde obras sociais, organizações não governamentais e instituições privadas e religiosas, se preocupam com a realidade social de crianças e adolescentes que vivem principalmente em bairros periféricos e de baixa renda.

A prática da educação não-formal desenvolvidas por diversas instituições, ocupam

o aluno com atividades produtivas e longe do tempo ocioso inverso ao escolar, onde um número grande de crianças ficariam pelas ruas, sujeitas à conhecerem uma realidade bastante real no país, como drogas, cigarro e bebida. Ao contrário, a criança ou adolescente frequentadora de projetos sociais, tem a oportunidade de aprenderem uma profissão, pelo fato de que a maioria das instituições e projetos de educação não-formal desenvolvem seus trabalhos por meio de oficinas culturais, esportivas e profissionalizantes.

A expressão “educação não-formal” começa a aparecer relacionada ao campo pedagógico simultaneamente a uma série de críticas ao sistema formalizado de ensino, em um momento em que diferentes setores da sociedade como serviço social, saúde, cultura, pedagógico e outros, veem o universo escolar e a família, impossibilitados de representar todas as demandas sociais que lhes são cabíveis, impostas ou ainda desejadas.

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O termo educação não-formal apareceu no final da década de sessenta. Neste período surgem discussões pedagógicas, vários estudos sobre a crise na educação, as críticas radicais a instituição escolar, a formulação de novos conceitos e seus paradigmas. Assim esta crise é sentida na escola e acaba por favorecer o surgimento do campo teórico da educação não-formal

Dentre os fatores considerados importantes para o surgimento da educação não-formal, pode-se citar as mudanças ocorridas nas estruturas familiares de classe alta, e até mesmo aquelas mudanças que resultaram devido às modificações nas próprias relações de trabalho, assim como o fato das crianças e jovens na atualidade não terem espaço seguro para desenvolverem a socialização no mundo moderno e suas transformações, no sentido de redirecionarem e reorganizarem a estrutura familiar conforme as necessidades de espaço, trabalho e localidade, e até mesmo a preocupação de deixar os filhos, sendo que os pais, por opção ou por necessidade, são direcionados para o campo profissional.

Todas estas modificações, em seus contextos trouxeram a necessidade da sociedade se reorganizar, respondendo às mudanças inclusive no campo educacional.

Estes fatores levaram a percepção de que somente os modelos de educação difundidos pela escola e pela família já não mais davam conta da realidade social atual, entretanto não havia conhecimento, credibilidade e amadurecimento das propostas para preencher as lacunas existentes.

Cada característica promoveu por um lado o fortalecimento de uma nova maneira de compreender o papel da educação formal e por outro, para dar visibilidade a outros fazeres educacionais fora do contexto da escola tradicional, passando a legitimar e valorizar outras maneiras de educar e educar-se e, por fim, a compreensão e aceitação de que o meio também educa.

A educação não-formal está sendo difundida, mas não se restringindo somente aos processos de ensino-aprendizagem nas escolas formais, tem o seu foco em oficinas artesanais, culturais, esportivas e recreativas.

Os pais informalmente em casa, garantem a seus filhos as mesmas oportunidades dos “saberes”, porém a escola vem trazendo um saber elitizado e em muitas vezes, excluindo os já excluídos pela sociedade.

A educação transmitida pelos pais na família, na interação com os amigos, no convívio diário em clubes, teatros, leituras de jornais, revistas, livros, etc; são considerados temas da educação informal, aquela que ocorre nos espaços de possibilidades educativas no decurso na vida, tendo caráter permanente. O que difere a educação não-formal da informal, é que na primeira existe a intencionalidade de dados, dispostos a criar, proporcionar ou buscar determinadas qualidades com objetividade.

As mudanças econômicas, sociais, principalmente com relação ao mundo do trabalho, ocorrentes nos anos noventa trouxeram grandes destaques a educação não-formal. Os processos de aprendizagens em grupos passaram a serem valorizados, dando importância aos valores culturais que articulam as ações dos indivíduos. Passou-se, ainda, a falar de uma nova cultura organizacional que, em geral exige aprendizagem de

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habilidades extraescolares. Mas, o novo campo para a educação não-formal não se formou apenas pelas mudanças econômicas e pelos apelos da mídia que utilizava atividades e projetos desenvolvidos em entidades sociais como pano de fundo para incentivos fiscais ou abatimentos em deduções fiscais. Educação não-formal: práticas e realidades

A educação não-formal vai além do assistencialismo. Visa ao desenvolvimento de valores, acreditando que a aprendizagem se dá por meio das práticas sociais, respeitando as diferenças existentes para a absorção e elaboração dos conteúdos implícitos ou explícitos no processo ensino e aprendizagem.

A flexibilidade é bastante presente no estabelecimento dos conteúdos que permeiam a educação não-formal, assim como a criação e organização de seus espaços, sendo criados e recriados conforme os modos de ação previstos nos objetivos maiores que dão sentido ao fato de determinadas necessidades de grupos sociais pertencentes à comunidade estarem se reunindo.

Os espaços de educação não-formal, segundo Simson e Park (2001), deverão ser desenvolvidos segundo alguns princípios como: • Apresentar caráter voluntário; • Proporcionar elementos para a socialização e solidariedade; • Visar o desenvolvimento social; • Favorecer a participação coletiva; • Proporcionar a investigação e, sobretudo proporcionar a participação dos membros do grupo de forma descentralizada.

Assim, devem ser considerados os desejos e anseios da comunidade com a qual se pretende trabalhar e partindo de estudos, do conhecimento da realidade em questão, fazer uma integração com as ações a serem desenvolvidas.

A partir destas caracterizações, fica claro que não há como pensar a educação não-formal sem levar em consideração a comunidade, pois é muito difícil o envolvimento voluntário e de doação das pessoas com algo a que não se sintam pertencentes. Por estas razões, atualmente muitos projetos foram fundados e contam não somente com voluntários, mas também com funcionários contratados de acordo com as leis trabalhistas, dentre eles, professores, secretários, assistentes sociais, psicólogos, etc. Em determinados municípios esses projetos ou instituições recebem auxílio financeiro para o pagamento de seus funcionários.

Quando a escola é vista como um espaço social, levando em conta os constantes processos de construção de identidade, sendo eles de caráter pessoal e social, automaticamente temos que pensar em práticas que o tempo todo nos faça manter parceiros da sociedade, favorecendo processos, onde a mesma possa integrar e transformar.

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Muitas entidades e projetos sociais, organizam as suas atividades enriquecendo seus espaços com atividades comumente denominadas de oficinas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Até Quando? Gabriel O Pensador Não adianta olhar pro céu Com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer E muita greve, você pode, você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão Virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer! Até quando você vai ficar usando rédea? Rindo da própria tragédia Até quando você vai ficar usando rédea? Pobre, rico ou classe média Até quando você vai levar cascudo mudo? Muda, muda essa postura Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente O seu filho sem escola, seu velho tá sem dente Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante Você tá sem emprego e a sua filha tá gestante Você se faz de surdo, não vê que é absurdo Você que é inocente foi preso em flagrante! É tudo flagrante! É tudo flagrante!

Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? A polícia Matou o estudante Falou que era bandido Chamou de traficante! A justiça Prendeu o pé-rapado Soltou o deputado E absolveu os PMs de Vigário!

Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? A polícia só existe pra manter você na lei Lei do silêncio, lei do mais fraco Ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco A programação existe pra manter você na frente Na frente da TV, que é pra te entreter Que é pra você não ver que o programado é você! Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralar Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar? Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar! Escola! Esmola! Favela, cadeia! Sem terra, enterra! Sem renda, se renda! Não! Não! Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente A gente muda o mundo na mudança da mente E quando a mente muda a gente anda pra frente E quando a gente manda ninguém manda na gente! Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura Na mudança de postura a gente fica mais seguro Na mudança do presente a gente molda o futuro! Até quando você vai ficar levando porrada Até quando vai ficar sem fazer nada Até quando você vai ficar de saco de pancada? Até quando você vai levando