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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – UTP
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
GABRIELLE MOLÉS DA CRUZ
FIBROSSARCOMA EM CAVIDADE ORAL DE UM CÃO: RELATO DE CASO
CURITIBA
2016
1
GABRIELLE MOLÉS DA CRUZ
FIBROSSARCOMA EM CAVIDADE ORAL DE UM CÃO: RELATO DE CASO
CURITIBA
2016
Trabalho de conclusão de curso apresentado
ao curso de Medicina Veterinária da Faculdade
de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná como requisito
avaliativo parcial do 9° semestre para
obtenção do grau de Médico Veterinário.
Orientador(a): Fabiana dos Santos Monti
2
Reitoria
Sr. Luiz Guilherme Rangel dos Santos
Pró-Reitor Administrativo
Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitoria Acadêmica
Profª. Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento
Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos
Pró- Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Profª. Carmen Luiza da Silva
Secretário Geral
Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Prof. João Henrique Faryniuk
Coordenador do Curso de Medicina Veterinária
Prof. Welington Hartmann
CAMPUS BARIGUI
Rua Sydnei A Rangel Santos 238 - Santo Inácio
CEP 82.010-330 – Curitiba - PR
FONE: (41) 3331-7700
3
TERMO DE APROVAÇÃO
GABRIELLE MOLÉS DA CRUZ
FIBROSSARCOMA EM CAVIDADE ORAL DE UM CÃO: RELATO DE CASO
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do
título de Médico (a) Veterinário (a) pela Comissão Examinadora do Curso de
Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
.
Curitiba, 22 de junho de 2016
COMISSÃO EXAMINADORA:
______________________________________________
Orientadora Prof. Fabiana dos Santos Monti
UTP-Universidade Tuiuti do Paraná
______________________________________________
Prof. Milton Mikio Morishin Filho
UTP- Universidade Tuiuti do Paraná
______________________________________________
Profª. Silvana Cirio
UTP- Universidade Tuiuti do Paraná
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Dedico este trabalho a minha
família que sempre me apoiou e
me deu força para alcançar meu
objetivos. Para eles eu dedico
está conquista
5
“É preciso que eu suporte duas ou três
larvas se quiser conhecer as borboletas.
Dizem que são tão belas.”
(O Pequeno Príncipe)
6
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer à Deus, pois sem Ele eu nada seria,
desde o princípio me deu forças para hoje eu chegar onde cheguei e pra me manter
firme por todo o caminho.
A minha família que sempre me apoiou acima de todas as coisas e me ajudou
a permanecer firme quando as batalhas eram difíceis. Mãe, Dani e Vó, vocês são
tudo pra mim, eu amo muito vocês.
A Prof.a Fabiana que me orientou para que eu conclui-se este trabalho, mas
mais do que isso, teve paciência e dedicação, muito obrigada do fundo do meu
coração.
Gostaria de agradecer todo o pessoal que me acompanhou durante o estágio,
as mestrandas da USP, Naiá e Ju Durigan, as estagiárias do LOC Carlinha, Julie e
Cintia e aos mestres Leon, Juliana Kowalesky e Mariana Fugitá que se dedicaram e
se dedicam a cada dia para transmitir seu conhecimento e experiências. Muito
obrigada Vanessa G., por ser meu anjinho protetor em São Paulo, por me acalmar
nas horas difíceis. Sou grata principalmente ao Prof Gioso, por me permitir
acompanhar essa equipe dedicada e brilhante de odontologia, graças ao seu
conhecimento hoje além de mais apaixonada por essa área tenho muito orgulho de
tudo que vivi e aprendi em São Paulo.
Gostaria de agradecer as minhas amigas de jornada, presentes que ganhei
com a veterinária, muitas foram as manhãs de estudo, noites de festas, abraços pós-
notas e reuniões de formatura Ju, Ket e Lau, vocês são demais. Não esquecendo da
Le, que esteve do meu lado desde o quando nos conhecendo até quando eu estava
no estágio em outra cidade. Independente do lugar, fase da vida quero vocês
sempre comigo, e sempre terão um lugar no meu coração. Obrigada Elis, pois
mesmo não estando mais na mesma faculdade foi meu apoio e minha grande
amiga.
As minhas amigas Duda, Carol, Dinha, Vi e Ju David, agradeço por me
ouvirem nos momentos mais difíceis, mais chatos, mais legais, obrigada por estarem
comigo em novas aventuras e aceitarem minhas loucuras, por me apoiarem e
cuidarem de mim e mesmo de longe sentir vocês tão perto.
Queria agradecer aos meus tios Sueli, Sizenando, Júnior e Silvia e minha
prima Leandra e Giovana, que me abrigaram nesses meses de estágio e cuidaram
de mim.
Aos professores que contribuíram muito para o meu crescimento durante a
minha graduação, Prof Mosko, Uriel, Evandro, Taise, Jessea e Mariana, graças ao
carinho e dedicação de ensino hoje tenho orgulho do que estou me tornando.
Gostaria de agradecer muito a Prof Rebeca Bacchi, pois graças a ela conhecia a
área em que eu mais me apaixonei na veterinária, a Odontologia.
7
Meu agradecimento especial as residentes odontologia da UFPR que pude
conhecer recentemente, mas que já contribuíram muito para o meu crescimento
como profissional, Helena e Amanda obrigada pela dedicação e pelo carinho. E ao
Prof Rogério Lange, obrigada por me deixar fazer parte desta equipe de odontologia.
E a minha maior inspiração para vencer essa etapa, os animais. Teddy, meu
pequeno cão, maior motivo de esforço e dedicação. Aos animais que passaram pela
minha vida, tenho certeza que puderam contribuir para o meu crescimento e
dedicação a essa linda profissão.
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RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo apresentar as atividades
realizadas durante o estágio curricular supervisionado, concluído na Faculdade de
Medicina Veterinária (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), no setor de
Laboratório de Odontologia Comparada (LOC), no período de 1º de fevereiro a 29 de
abril de 2016, apresentando também a casuística do local de estágio. A segunda
parte do trabalho apresenta uma breve revisão de literatura sobre neoplasias orais,
possíveis fatores de origem (intrínsecos e extrínsecos), suas classificações como
benignas (odontoma, ameloblastoma, papilomatose e fibroma odontogênico
periférico) e malignas (melanoma, carcinoma espinocelular e fibrossarcoma), sua
forma de diagnóstico (citologia, histopatologia, radiografia) e tratamento. O presente
relato trata-se de uma neoplasia oral observada em cão macho, com idade superior
a 13 anos, atendido no LOC-FMVZ-USP.
Palavras-chaves: Fibrossarcoma; Neoplasia; Odontologia
9
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................... 10
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS ............................................................................................... 11
RELATÓRIO DE ESTÁGIO.............................................................................................................. 13
1.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13
1. 2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO .................................................................. 13
2. DESCRIÇÃO DA AREA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO............... 14
3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ......................................................... 16
3.1. CASUÍSTICA ....................................................................................................................... 17
4. REVISÃO DE LITERATURA: NEOPLASIAS ORAIS EM CÃES ...................................... 20
4.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 20
4.2. ETIOLOGIA ......................................................................................................................... 20
4.3. NEOPLASIAS BENIGNAS ................................................................................................ 21
4.3.1. NEOPLASIAS NÃO ODONTOGÊNICAS ............................................................... 21
4.3.2. NEOPLASIAS ODONTOGÊNICAS ......................................................................... 22
4.4. NEOPLASIAS MALIGNAS ................................................................................................ 26
4.4.1. MELANOMA ................................................................................................................ 26
4.4.2. CARCINOMA ESPINOCELULAR ............................................................................ 27
4.4.3. FIBROSSARCOMA .................................................................................................... 29
4.5. CLASSIFICAÇÃO E SINAIS CLÍNICOS DAS NEOPLASIAS ORAIS ........................ 30
4.6. DIAGNÓSTICO ................................................................................................................... 31
4.7. TRATAMENTO ........................................................................ Erro! Indicador não definido.
4.8. ESTADIAMENTO CLÍNICO E PROGNÓSTICO ................ Erro! Indicador não definido.
5. RELATO DE CASO ................................................................................................................... 34
5.1. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 35
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 38
ANEXOS .............................................................................................................................................. 41
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Sala de triagem - HOVET ......................................................................... 14
Figura 2 - Sala de atendimento do LOC .................................................................... 15
Figura 3- Sala de atendimento do LOC ..................................................................... 15
Figura 4 - Sala de procedimento do LOC .................................................................. 16
Figura 5 - Papilomatose oral em cão – Lesões difusas, proliferativas, sem
pigmentação, aspecto de couve-flor. ......................................................................... 22
Figura 6 - Tumor em mandíbula rostral, com aproximadamente 5 cm de diâmetro,
não ulcerado, de superfície lisa, não pigmentada, em cão com fibroma odontogênico
periférico.................................................................................................................... 23
Figura 7 - Odontoma composto - Lesão ulcerada, com presença de dentículos em
região gengival de mandíbula direita, acometendo 1º molar (109) ........................... 24
Figura 8 - Ameloblastoma acantomatoso – Lesão ulcerada de aproximada mente
5 cm de diâmetro, em mandíbula esquerda, na região de dente canino ................... 25
Figura 9 - Aparência radiográfica evidenciando destruição óssea com áreas císticas
sugestivo de ameloblastoma central em cão............................................................. 26
Figura 10 - Lesão ulcerativa com pontos de pigmentação em região de mandíbula de
cão, sugestivo de melanoma ..................................................................................... 27
Figura 11 - Carcinoma espinocelular gengival afetando parte rostral de mandíbula
em um cão. Lesão não apresenta pigmentação. ....................................................... 28
Figura 12 - Lesão hiperêmica, não ulcerada, sem pigmentação, e difusa em maxila e
palato duro de cão, com diagnóstico de fibrossarcoma. ........................................... 30
11
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
Gráfico 1 – Distribuição percentual de cães e gatos, machos e fêmeas, entre os casos novos
atendidos no período de estágio (n=65) ......................................................................................... 17
Gráfico 2 - Distribuição percentual das espécies e gênero sexual, entre procedimentos
cirúrgicos realizados no período de estágio (n= 34) ..................................................................... 18
Gráfico 3 - Percentual de doenças diagnosticadas no período de estágio (n=65) .................. 19
Quadro 1 - Subclassificação das neoplasias orais diagnosticadas em cães............................ 31
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAC – Ameloblastoma Acantomatoso Canino
CE – Carcinoma Espinocelular
cm – Centímetro
FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
FOP – Fibroma Odontogênico Periférico
FSA – Fibrossarcoma
HOVET – Hospital Veterinário
LOC – Laboratório de Odontologia Veterinária
UFPR – Universidade Federal do Paraná
USP – Universidade de São Paulo
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RELATÓRIO DE ESTÁGIO
1.1. INTRODUÇÃO
Este relatório tem como objetivo descrever as atividades desenvolvidas no
estágio curricular obrigatório, que foi realizado no Laboratório de Odontologia
Comparada - LOC, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia na
Universidade de São Paulo, no período de 1º de Fevereiro a 30 de Abril de 2016,
totalizando 488 horas de atividade, sendo supervisionado pelo Professor Doutor
Marco Antônio Gioso e suas mestrandas.
A decisão de realizar estágio no LOC se deu pelo fato de ser um
laboratório de pesquisa de grande conceito na área de Odontologia Veterinária e por
estar dentro de uma Universidade de referência em todo o Brasil. Além de contar
com uma ótima equipe, o laboratório tem grande rotina por ser um hospital escola,
proporcionando conhecimento, pesquisa e atendimento à comunidade.
O estágio curricular obrigatório permite ao aluno que está ingressando
no mercado de trabalho, obter novos conhecimentos práticos.
1. 2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO
Acompanhar a rotina da área da Odontologia Veterinária, métodos de
abordagem dos pacientes, assim como compreender as técnicas e melhores opções
de tratamento mediante a realização de consultas, intervenções cirúrgicas,
treinamentos, aulas e o acompanhamento dos pós-graduandos do LOC em seus
projetos.
14
2. DESCRIÇÃO DA AREA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO
O estágio foi realizado no Laboratório de Odontologia Comparada
(LOC), situado dentro da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da
Universidade de São Paulo (USP), localizada na cidade de São Paulo, Rua
Professor Orlando Marques de Paiva, 87 – Cidade Universitária, CEP 05508 270.
O LOC tem como objetivo proporcionar aos alunos da USP um maior
conhecimento clínico e cirúrgico na área de odontologia veterinária, tendo como
responsáveis pelo serviço o Professor Doutor Marco Antônio Gioso e suas alunas de
mestrado. O atendimento ocorre normalmente de segunda à sexta-feira das 08hs às
17hs, de casos encaminhados da triagem do Hospital Veterinário (HOVET) da FMVZ
ou agendados por telefone, através de encaminhamentos. Todas as quartas-feiras
são realizadas reuniões para discussão de casos atendidos e intervenções
cirúrgicas que ocorreram durante a semana anterior.
Por ser um laboratório de pesquisa e não um serviço do Hospital
Veterinário da FMVZ-USP, o LOC seleciona as consultas, a partir da triagem do
hospital veterinário (Figura 1). A estrutura do LOC é composta de duas salas de
consultas (Figura 2 e 3), onde também é realizada a recuperação pós-cirúrgica; sala
de assistência para os mestrandos e estagiários; e uma sala de procedimentos,
equipada com aparelho de anestesia inalatória, aparelho de radiografia, mesa de
procedimentos gradeada e o equipo odontológico.
Figura 1 - Sala de triagem – Hospital Veterinário – FMVZ – USP/2016
15
Figura 2 - Sala de atendimento do LOC – FMVZ – USP/2016
Figura 3- Sala de atendimento do LOC – FMVZ – USP/2016
16
Figura 4 - Sala de procedimento do LOC – FMVZ – USP/2016
3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o estágio, foram realizadas atividades que consistiam em:
acompanhamento de atendimentos; auxílio nas intervenções cirúrgicas; limpeza e
autoclavagem dos materiais e laboratório; bem-estar dos pacientes. Após os
atendimentos, agendava-se o procedimento cirúrgico, quando este era indicado e o
paciente era submetido à avaliação pré-operatória por meio de exames como
hemograma, bioquímica sérica (que envolviam exames de perfil renal como
creatinina e ureia e perfil hepático fosfatase alcalina [FA], alanina aminotransferase
[ALT], proteína total, albumina, bilirrubina total, bilirrubina direta e indireta),
eletrocardiograma, ecocardiograma (normalmente em animais com idade superior a
seis anos), ultrassonografia abdominal e radiografia de tórax. Os estagiários eram
responsáveis por tentar encaixes dentro de outros setores do HOVET, como de
diagnóstico por imagem, cardiologia e clínica médica, por exemplo.
No dia anterior ao procedimento odontológico era organizada toda a
documentação necessária, como impressão de exames solicitados; discussão do
caso, caso houvesse alguma alteração impeditiva ao procedimento; e contato
telefônico com o tutor para lembrá-lo sobre a cirurgia e o jejum alimentar e hídrico do
animal. Os procedimentos eram realizados normalmente na parte da manhã, pelas
pós-graduandas e com o animal sob anestesia geral. Durante o procedimento era
17
possível prestar suporte com o preenchimento do odontograma de felídeos (Anexo
A) ou de canídeos (Anexo B) e realizar profilaxia dentária do animal. Após o
procedimento era confeccionada a receita e acompanhamento do pós-cirúrgico. Na
alta do paciente era marcado o retorno.
Como estagiária tive a oportunidade de realizar procedimentos de profilaxia
dentária.
Após o procedimento, providenciava-se a limpeza da sala, assim como a
limpeza e autoclavagem dos materiais cirúrgicos
3.1. CASUÍSTICA
Durante o estágio curricular foram atendidos 65 casos novos, 33
procedimentos cirúrgicos e 45 retornos, que envolviam pós-cirúrgico e coleta de
exames pré-operatórios. No gráfico 1, pode-se observar a relação de fêmeas e
machos entre os casos novos atendidos. Dos 65 casos novo atendidos, dos cães 28
(43,1%) eram machos e 25 (38,5%) eram fêmeas. Os felinos machos foram 4 (6,1%)
e as fêmeas 8 (12,3%).
Gráfico 1 – Distribuição percentual de cães e gatos, machos e fêmeas, entre os casos novos atendidos no período de 1º de fevereiro à 29 de abril de 2016 no
LOC/FMVZ/USP (n=65).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Cães Felinos
MACHOS FÊMEAS
18
O gráfico 2 demonstra que dos 34 procedimentos cirúrgicos realizados, 24 foram em cães, sendo 11 (32,3%) foram machos, 13 (38,2%) fêmeas, dos 8 felinos 2 (5,9%) foram machos e 6 (17,6%) foram fêmeas, além desses procedimentos foram realizados procedimentos em 1 (3%) coelho e 1 (3%) chinchila.
Gráfico 2 - Distribuição percentual das espécies e gênero sexual, entre procedimentos cirúrgicos realizados no período 1º de fevereiro à 29 de abril de 2016
no LOC/FMVZ/USP (n= 34).
Dos casos novos atendidos, a afecção de maior prevalência foi a doença
periodontal, contando com 31 casos (47,7%), distribuídos em grau leve, moderado e
grave. A segunda afecção mais prevalente foi a neoplasia que totalizou 14 (20%)
casos entre neoplasias mandibulares, maxilares, de língua ou mucosa. Foram
acompanhados 5 (7,7%) casos de fraturas, dentre as quais, fratura dentária,
mandibular unilateral e bilateral; e 5 (7,7%) casos de complexo estomatite-gengivite
faringite felina. Afecções como abscessos extra-orais (3), fendas palatinas (3),
estomatite inespecífica (1), estenose de narina (2) e prolongamento de palato (2),
somaram 11 (16,9%) casos e foram incluídos em “outros” no gráfico 3, a seguir.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
CÃES GATOS COELHOS CHINCHILA
MACHOS FÊMEAS
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Gráfico 3 - Prevalência de doenças diagnosticadas no período de 1º de fevereiro à 29 de abril de 2016 no LOC/FMVZ/USPlobpris (n=65).
Outros = Abcessos intra-orais, fendas palatinas, estomatite inespecífica, estenose de narina e prolongamento de palato
0
10
20
30
40
50
60
20
4. REVISÃO DE LITERATURA: NEOPLASIAS ORAIS EM CÃES
4.1. INTRODUÇÃO
A cavidade oral de cães e gatos é formada de uma estrutura complexa,
composta de vários tecidos capazes de originar neoplasias. Estas ocupam o quarto
lugar entre as neoplasias de cães e gatos, ficando atrás das neoformações
mamárias, genitais e cutâneas. Nos cães, as raças que apresentam maior
predisposição são o Poodle e Cocker Spaniel, mas podem também acometer, com
grande frequência, cães sem raça definida. Os machos são mais predispostos,
normalmente com idade aproximada de oito anos, porém, pode-se observar em cães
mais jovens. Dentre as neoplasias orais conhecidas, as que mais acometem raças
de menor porte é o melanoma; já em raças de grande porte são os fibrossarcomas.
As regiões anatômicas de maior prevalência são gengiva, lábio, tonsila e palato. Os
gatos são mais predispostos ao carcinoma espinocelular. (GIOSO, 2007; LIPTAK &
WITHROW, 2012; KERSTING, 2015; MENDONÇA, 2015).
4.2. ETIOLOGIA
Existem fatores intrínsecos e extrínsecos responsáveis pelo desenvolvimento
das neoplasias orais. Dentre os fatores extrínsecos, ressaltam-se falta de cuidados
de higiene oral, exposição a compostos químicos carcinogênicos e radiação ultra-
violeta. Os alimentos são a principal fonte de exposição à agentes químicos, devido
ao número de substâncias adicionadas a alimentação. Já os fatores intrínsecos
incluem idade, predisposição genética, porte do animal, raça e sexo (GIOSO, 2007;
MCENTEE, 2012; PÉREZ et al, 2014).
21
4.3. NEOPLASIAS BENIGNAS
4.3.1. NEOPLASIAS NÃO ODONTOGÊNICAS
Tumores de características não odontogênicas surgem a partir do estroma do
tecido conjuntivo periodontal e não costumam apresentar metástase (HAHN, 2010).
4.3.1.1. Papilomatose oral
A papilomatose oral é considerada uma neoplasia benigna de origem não
odontogênica, que acomete animais imunossuprimidos e com desenvolvimento
progressivo. Normalmente causado pelo papovavirus, afeta cães jovens de qualquer
raça e sem predileção de gênero sexual, podendo ser transmitido de um cão para
outro. Sua aparência é semelhante à couve-flor, de coloração branca, ligeiramente
elevado, em torno de lábios e língua (Figura 5). O período de incubação é de cinco
semanas, com manifestação clínica entre quatro e oito semanas, podendo regredir
de forma espontânea. O tratamento com excisão cirúrgica, cirurgia a laser ou
criocirurgia é indicado somente em cães que apresentem alterações como
dificuldade ao se alimentar (AMNORRIS & WITHROW, 1985; CHAMBERLAIN &
LOMMER, 2012).
22
Figura 5 - Papilomatose oral em cão – Lesões difusas, proliferativas, sem pigmentação, aspecto de couve-flor em cão.
Fonte: McEntee, 2012
4.3.2. NEOPLASIAS ODONTOGÊNICAS
As neoplasias odontogênicas se desenvolvem a partir de restos de tecidos
embrionários destinados a formação de estruturas dentárias.
4.3.2.1. Fibroma odontogênico periférico
O termo fibroma odontogênico periférico (FOP) (Figura 6) é a
reclassificação das anteriormente conhecidas epúlide fibromatosa e epúlide
ossificante. O FOP apresenta crescimento lento e, em geral, são massas firmes,
cobertas por um epitélio intacto. Suas características radiográficas variam de acordo
com a quantidade de produtos mineralizados. Histologicamente, é caracterizado pela
proliferação neoplásica de baixo grau, de tecido conjuntivo fibroblástico, de
celularidade variável (osso, dentina e cemento). Este tipo de neoplasia tem
predileção pela porção rostral da mandíbula e terceiro dente pré-molar. O
diagnóstico pode ser realizado por meio do exame histopatológico pré-cirúrgico e o
tratamento de eleição é a ressecção em bloco com bisturi elétrico. (GIOSO, 2007;
LIPTAW & WITHROW, 2012; SANTOS et al, 2013).
23
Figura 6 - Tumor em mandíbula rostral, com aproximadamente 5 cm de diâmetro, não ulcerado, de superfície lisa, não pigmentada, em cão com fibroma odontogênico
periférico em cão
F
Fonte: Chamberlain & Lommer, 2012.
4.3.2.2. Odontoma
Odontoma é um tumor benigno composto de esmalte, cemento, dentina
e polpa dentinária. Ocorre geralmente em cães de seis a 18 meses de idade,
podendo ser associado com um dente incluso ou cisto dentígero. O odontoma é
classificado em composto ou complexo. Um odontoma em que o conglomerado de
tecidos dentários é desordenado, não tendo nenhuma semelhança com um dente, é
conhecido como odontoma composto (Figura 7). Radiograficamente aparecem como
numerosas pequenas estruturas dentárias, entre as raízes ou sobre a coroa
dentária. O odontoma complexo pode ser definido como conglomerado amorfo de
tecido rígido, que se distribui irregularmente pela lesão. Radiograficamente pode ser
observado como uma massa calcificada rodeada por um halo radioluscente. Os
sinais clínicos da presença de um odontoma é um dente decíduo persistente e
tumefação alveolar. O tratamento é a excisão cirúrgica e apresenta bom prognóstico
(AMNORRIS & WITHROW, 1985; GIOSO, 2007; CHAMBERLAIN & LOMMER,
2012).
24
Figura 7 - Odontoma composto - Lesão ulcerada, com presença de dentículos em região gengival de mandíbula direita, acometendo 1º molar (109) em cão
Fonte: HAHN & FREEMAN, 2010
4.3.2.3. Ameloblastoma
Ameloblastoma é considerado uma neoplasia de origem epitelial, de
classificação benigna, que apresenta variedade nos padrões histológicos. Pode
dividir-se em subtipos, de acordo com a infiltração óssea, como o ameloblastoma
central ou acantomatoso. São invasivos e atingem normalmente a região de dentes
incisivos inferiores, podendo tornar-se maligno. O local mais acometido é a gengiva,
sendo oito anos a idade média de acometimento. Segundo Fiani et al (2011) e
Schmidt, Kessler e Tassani-Prell (2012), são mais encontrados na porção rostral da
mandíbula. O ameloblastoma acantomatoso canino (AAC), anteriormente conhecido
como ameloblastoma periférico, surge a partir de restos de epitélio odontogênico,
localizado na gengiva, nas áreas de suporte dos dentes. Pode ter origem intraóssea,
aparecendo como uma massa gengival exofítica e de superficie irregular (Figura 8).
Na radiografia é possível notar osteólise em região periodontal, com áreas
multilobuladas e reabsorção de raiz. No tratamento deve-se fazer excisão com
margem en bloc (retirada da porção afetada). Segundo Liptak e Withrom (2012) e
Robinson (2012), AAC apresentam boa resposta à radioterapia.
Os ameloblastomas centrais são neoplasias odontogênicas, de aparecimento
raro e apresentam-se com aumento de volume de aspecto grosseiro e alteração
óssea. Normalmente, a queixa do proprietário é a alteração na posição do dente ou
25
má oclusão. Radiograficamente é possível observar área com osteólise, lesões
císticas em volta das raízes acometidas e margens escleróticas bem definidas
(Figura 9). O tratamento de escolha é a excisão cirúrgica, normalmente sendo
curativo (AMNORRIS & WITHROW, 1985; GIOSO, 2007; CHAMBERLAIN &
LOMMER, 2012; AMORY et al, 2014).
Figura 8 - Ameloblastoma acantomatoso – Lesão ulcerada de aproximada mente 5 cm de diâmetro, em mandíbula esquerda, na região de dente canino em cão.
Fonte: Chamberlain & Lommer, 2012
26
Figura 9 - Aparência radiográfica evidenciando destruição óssea com áreas císticas sugestivo de ameloblastoma central em cão.
Fonte: Chamberlain & Lommer, 2012
4.4. NEOPLASIAS MALIGNAS
4.4.1. MELANOMA
O melanoma (Figura 10) é o tumor maligno mais frequente em cães da
raça cocker spaniel e naqueles que apresentam mucosa com maior pigmentação.
Acomete principalmente as gengivas e tem alta prevalência em machos acima de 10
anos. Possui coloração escura, acastanhada ou não pigmentada. As lesões podem
ser ulceradas, sésseis e invasivas, com evolução rápida, devido ao seu grau de
agressividade. O exame radiográfico pode demonstrar lise óssea e metástase
pulmonar e em linfonodos cervicais. Existem três tipos de classificação baseados em
categorias microscópicas do tipo de célula predominante: poligonal, fuso ou células
mistas. Seu prognóstico é de reservado a ruim e o tratamento de eleição é a cirurgia,
com excisão do osso circundante, associado com terapia sistêmica, devido ao seu
grau de metástase. Cães acometidos por melanomas tendem a ter uma sobrevida
de aproximadamente 197 dias (AMNORRIS & WITHROW, 1985; LIPTAK &
WITHROW, 2012, MENDONÇA, 2015).
27
Figura 10 - Lesão ulcerativa com pontos de pigmentação em região de mandíbula de cão, sugestivo de melanoma
Fonte: Dias et al, 2013
4.4.2. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS
O carcinoma de células escamosas desenvolve-se a partir de células de
origem epidérmica e caracteriza-se por infiltração e destruição da mucosa, tecido
muscular, osso e seios nasais. É comum em cães e é a neoplasia mais prevalente
em gatos (MCENTEE, 2012).
Costumam se manifestar como massas hiperêmicas, proliferativas, friáveis,
com ou sem ulceração, sendo pouco metastático (Figura 11). Existem duas formas
de manifestação, tonsilar e não-tonsilar. Na forma tonsilar acomete tonsilas
palatinas, possui prognóstico ruim e os sinais clínicos envolvem disfagia, dor
cervical, salivação excessiva, sangramento oral, tosse e dispneia (GIOSO, 2007).
Após o diagnóstico histopatológico, deve-se realizar tonsilectomia. Cerca de
10% dos carcinomas espinocelulares, na sua forma tonsilar, manifestam-se
bilateralmente; porém, quando apenas um lado está acometido, as chances de
ocorrer metástase no antímero oposto são grandes (MCENTEE, 2012).
O carcinoma espinocelular não-tonsilar tem como origem o epitélio oral,
atingindo principalmente a gengiva, lábios e língua. Acomete animais com idade
superior a oito anos, sem predileção por gênero sexual. O aspecto macroscópico
28
inclui formações ulceradas, sésseis, de crescimento lento e, quando na língua, tende
a invadir profundamente a musculatura. Raramente a metástase atinge o pulmão,
porém costuma envolver os nódulos linfáticos regionais. A sobrevida do paciente
acometido é de 330 dias, aproximadamente (AMNORRIS & WITHROW, 1985;
MCENTEE, 2012; NEMEC et al, 2012; MENDONÇA, 2015).
Figura 11 - Carcinoma espinocelular gengival afetando parte rostral de mandíbula em um cão. Lesão não apresenta pigmentação.
Fonte: McEntee, 2012
29
4.4.3. FIBROSSARCOMA
Fibrossarcoma (FSA) (Figura 12) é uma neoformação maligna
mesenquimatosa, de progressão lenta e alto grau de invasibilidade, sendo a terceira
neoplasia que mais atinge cães em idade média de oito anos e de grande porte,
como o Golden Retriever e o Doberman, normalmente machos são mais
predispostos (MCENTEE, 2012; GARDNER et al, 2013).
O FSA é uma massa bucal, que costuma apresentar deformidade facial,
dentes soltos e linfoadenomegalia cervical. Devido ao seu grau de malignidade e
infiltração, pode provocar destruição óssea e de tecidos adjacentes. Gengiva, palato
duro e mucosa labial são as regiões anatômicas mais acometidas. Histologicamente,
observa-se uma proliferação de células fusiformes em padrão de fibras (HAHN &
FREEMAN, 2010; HNILICA, 2011; LIPTAK & WITHROW, 2012; MCENTEE, 2012).
Segundo McEntee (2012), de 40 cães com fibrossarcoma submetidos à
radiografia torácica, somente 10% apresentaram metástase pulmonar. A neoplasia
possui característica de neovascularização e edema, diferenciando-se de fibroma.
O tratamento indicado é a ressecção cirúrgica radical com margem de 2 cm.
O tempo de sobrevida do fibrossarcoma é de 10 a 12 meses (AMNORRIS &
WITHROW, 1985; HAHN & FREEMAN, 2010)
30
Figura 12 - Lesão hiperêmica, não ulcerada, sem pigmentação, e difusa em maxila e palato duro de cão, com diagnóstico de fibrossarcoma.
Fonte: McEntee, 2012
4.5. CLASSIFICAÇÃO E SINAIS CLÍNICOS DAS NEOPLASIAS ORAIS
Os sinais clínicos mais comuns são aumento de volume seguido de
hemorragia, dependendo da neoplasia e localização; dor; odor fétido; sialorréia
intensa; dificuldade de mastigação; alteração na simetria da face; anorexia; fratura
patológica de mandíbula ou maxila, perda de peso e tosse (AMNORRIS &
WITHROW, 1985; GIOSO, 2007; FOALE & DEMETRIOU, 2011).
Segundo Gioso (2007), as neoplasias podem ser classificadas quanto ao grau
de evolução como fulminante, progressivo, estável e quiescente; enquanto ao
tamanho, como pápulas (lesão circunscrita sólida e elevada, cujo tamanho varia de
milímetros a 1 cm de diâmetro), nódulo (lesão circunscrita sólida, situada na
superfície ou na profundidade, variando de 1 a 3 cm de diâmetro) e tumor (lesão
circunscrita sólida, elevada ou não, com dimensões superiores a 3 centímetros de
diâmetro). As neoformações podem ser de aderência séssil (base igual ou maior que
31
a formação) e pedunculado (haste delgada unindo tumor a tecidos adjacentes).
Também podem ser classificadas de acordo com o tecido embrionário (GIOSO,
2007).
As neoplasias possuem diversas subclassificações quando divididas em
benignas e malignas (Quadro 1). Quando benignas, sua taxa de crescimento é
baixa, são bem diferenciadas, com baixo grau de recidiva e mínima chance de
metástases. As neoplasias orais benignas mais comuns são o ameloblastoma
acantomatoso canino e o fibroma odontogênico periférico. Já as neoplasias malignas
possuem alta taxa de crescimento, são infiltrativas, seu grau de diferenciação é
variável e seus efeitos locais e sistêmicos são importantes e, muitas vezes, letais.
Em neoplasias malignas é alto o grau de recidiva e as chances de metástases,
sendo os tumores melanocíticos e o carcinoma espinocelular os mais frequentes
(GIOSO, 2007; KERSTING, 2015).
Quadro 1 - Subclassificação das neoplasias orais diagnosticadas em cães
BENIGNA MALIGNA
Papilomatose Oral Melanoma
Fibroma Odontogênico Periférico Carcinoma Espinocelular
Ameloblastoma Central Fibrossarcoma
Ameloblastoma Acantomatomatoso
Canino
Odontoma
Fonte: Gioso, 2007
4.6. DIAGNÓSTICO
Informações básicas são necessárias para a definição do diagnóstico, como o
tempo de surgimento, evolução e tratamentos realizados anteriormente. No exame
físico pode-se avaliar o tamanho, local de acometimento, aderência, consistência, se
há invasividade, úlceras e alterações em linfonodos regionais. Após a conclusão do
exame clínico, se faz necessário a avaliação por imagem, por meio da radiografia de
32
crânio e tomografia computadorizada, para pesquisa de metástases e; realização de
hemograma e bioquímica sérica, para avaliação da função renal e hepática. O
exame citológico pode ser utilizado para identificação da neoplasia, mas o
histopatológico é fundamental para o diagnóstico. Na citologia de neoformações
malignas é possível notar anisocariose, anisocitose, atividade fagocítica e
heterotopia (presença de um determinado tipo celular atípico para aquela
determinada região). No carcinoma espinocelular, as células aparecem de forma
individualizada, podendo ser irregulares ou poligonais. As características citológicas
dos sarcomas variam de acordo com o tipo histológico; suas células são fusiformes
e, com núcleos de formatos irregulares. (AMNORRIS & WITHROW, 1985; GIOSO,
2007, COUTO, 2015).
4.7. ESTADIAMENTO CLÍNICO E PROGNÓSTICO
O estadiamento clínico é um sistema de classificação no qual pode-se descrever a
extensão da neoplasia, podendo assim determinar a escolha do tratamento, as
chances de sobrevivência e a possível invasão em outros órgãos. A determinação é
feita a partir de três peças-chaves: tamanho do tumor (T) em centímetros;
acometimento de linfonodos e sua extensão (N); e presença de metástases ou não
(M). Normalmente, os casos atendidos já possuem disseminação via hematógena,
devido à falha do tutor em identificar a neoformação. Depois do diagnóstico prévio,
exames de imagem são essenciais para o estadiamento da doença, podendo avaliar
a invasão de tecidos adjacentes e identificar metástases (DOBSON, 2011; AIKEN,
2013; UICC, 2016; AMERICAN SOCIETY CANCER, 2016).
Neoplasias de caráter benigno tendem a apresentar um prognóstico
favorável, desde que tratado corretamente. Neoplasias como fibrossarcoma tendem
a ter um prognóstico ruim, devido ao seu grau de invasão e a localização impedir a
remoção cirúrgica. O melanoma tem um prognostico ruim, sendo baixa a sobrevida
(AMNORRIS & WITHROW, 1985).
33
4.8. TRATAMENTO
O tratamento deve ser baseado no estadiamento da doença. A cirurgia é de
eleição na maioria das neoplasias, principalmente as que apresentam grau de
recidiva. A massa deve ser retirada com auxílio de bisturi, goivas, cinzel e martelo,
em bloco (retirada de todo o conteúdo que circunda a massa), com margem de
segurança de 2 cm de tecido sadio, para minimizar chances de recidivas e melhorar
o prognóstico. Em neoplasias de características malignas, se faz necessária a
mandibulectomia ou maxilectomia. Durante a cirurgia, deve-se estabelecer planos
básicos para o procedimento. O primeiro passo é definir as margens cirúrgicas
adequadas; plano de sutura da mucosa; realização de cirurgia atraumática,
preservando a irrigação sanguínea local e utilizar grandes retalhos de mucosa para
evitar tensão (AMNORRIS & WITHROW, 1985; GIOSO, 2007; DIAS et al, 2013).
Segundo Amnorris & Withrow, (1985), a criocirurgia poderia ser utilizada como
mecanismo de tratamento primário. A técnica consiste em aplicar um algodão, com
nitrogênio líquido sobre a neoformação, durante aproximadamente 20 a 30
segundos, mantendo uma margem de segurança de 1 a 3 mm. Após a aplicação,
em torno da neoplasia ocorre a formação de um halo eritematoso, que desaparece
de forma lenta e espontânea. Normalmente são feitas de duas a três aplicações
(AMNORRIS & WITHROW, 1985).
A eletroquimioterapia é um tratamento local, que consiste na emissão de
impulsos elétricos intensos e de curta duração, associada a fármacos
quimioterápicos (cisplatina ou bleomicina). Apresenta baixa toxicidade e, quando
utilizada como primeira linha terapêutica em casos de carcinoma espinocelular,
promoveu remissão completa. Nos casos de fibrossarcoma, pode ser utilizada como
terapia adjuvante à cirurgia, prevenindo casos de recidiva (ANJOS et al, 2016).
A quimioterapia não apresenta eficácia em neoplasias de origem
mesenquimatosa. A carboplatina pode ser administrada para controle local ou
sistêmico em caso de melanoma bucal em cães. Para controle local (paliativo) de
melanoma pode ser administrada de forma intralesional a medicação cisplatina. Para
pacientes com fibrossarcoma, a quimioterapia tem efeito de alívio marcante do sinais
clínicos. A administração de doxorrubicina produz um índice de sobrevida médio de
18 semanas. A utilização de cisplatina é de controle local (paliativo) de forma
34
intralesional. Em casos de carcinomas, nenhum medicamento quimioterápico
apresentou eficácia para controle local ou sistêmico (HAHN, 2010)
A radioterapia é capaz de destruir células tumorais a partir da emissão de
feixes de raios ionizantes. É calculada uma dose de radiação a ser aplicada sobre a
massa, por um determinado tempo, buscando destruir as células tumorais sem
causar grandes danos às células normais. Este tratamento tem seu melhor efeito
quando utilizado locorregionalmente em tumores orais, e pode ser uma forma de
terapia adjuvante á ressecção cirúrgica ou como monoterapia em casos de
fibrossarcoma. A radiossensibilidade à ação da radioterapia depende da origem
celular, seu grau de diferenciação e da forma clínica de apresentação. Neoplasias
com maior envolvimento ósseo podem ser resistentes a ondas de raio-x de baixa
energia, diferente de tecidos moles que, com baixa energia, apresentam boa
resposta (AMNORRIS & WITHROW, 1985; GIOSO, 2007; FOALE & DEMETRIOU,
2011; SAUDE et al., 2015).
5. RELATO DE CASO
Um cão, sem raça definida, de 13 anos, com 20 kg, foi atendido no
Laboratório de Odontologia Comparada (LOC) da Faculdade de Medicina Veterinária
da Universidade de São Paulo. O tutor queixava-se de aumento de volume em
região rostral de mandíbula, com evolução de aproximadamente três meses, porém,
com maior crescimento nos últimos 20 dias. Além disso, o paciente apresentava
halitose e dificuldade ao mastigar. Anteriormente, foi levado a um veterinário clínico
geral, o qual solicitou exame histopatológico. Ao chegar no LOC, o paciente possuía
o resultado do exame, sugestivo de fibrossarcoma.
Procedeu-se o exame clínico com avaliação da cavidade oral. O animal
apresentava neoformação de superfície irregular, coloração rósea, regiões
lobuladas, consistência firme, séssil e presença de pus em região rostral de
mandíbula. Foi marcado procedimento cirúrgico e solicitado exames de
eletrocardiograma, ecocardiograma, hemograma completo, perfil renal, perfil
hepático e radiografia de crânio e tórax.
35
Na radiografia de crânio, o animal apresentava halo de radioluscência em
porção rostral de ramo de mandíbula esquerda, podendo significar osteólise, além
de alterações em tecidos moles adjacentes ao foco da lesão.
No procedimento cirúrgico, o animal foi submetido à mandibulectomia rostral e
linfoadenectomia, sob anestesia geral. Os fármacos utilizados no procedimento
foram metadona, via intramuscular, como medicação pré-anestésica; propofol, via
intravenosa, para indução e isoflurano para manutenção. No exame clínico durante a
cirurgia, o animal apresentava desgaste de todos os incisivos superiores e doença
periodontal moderada.
Foi realizada a incisão da mandíbula entre o 4º pré-molar direito (408) e o 1º
molar esquerdo (309), com bloqueio anestésico local (lidocaína), 0,5ml em cada
ramo da mandíbula. Durante o procedimento foi seccionado primeiramente o lado
direito, com auxílio de bisel, martelo e caneta de alta rotação com broca carbaide.
Para evitar hemorragia procedeu-se a ligadura de canal mandibular em ambos os
ramos mandibulares. Foi realizada retirada do fragmento para biópsia excisional. Na
sutura foram utilizados fio absorvível (Carproflyn 4-0) e não-absorvivel, (Nylon 3-0)
para pele.
No pós-cirúrgico foi receitado alimentação pastosa e colar elisabetano durante
dez dias; Gluconato de Clorexidina 0,12% sem álcool na cavidade oral, a cada oito
horas, durante 15 dias; cloridrato de tramadol 0,4ml/kg, a cada oito horas, durante
sete dias e dipirona, a cada oito horas, durante sete dias, via oral.
Após exérese da neoformação e envio para análise histopatológica, o
resultado foi inconclusivo, apontando para possíveis neoplasias: sarcoma de células
indiferenciadas e/ou Melanoma Amelanótico. Foi solicitado, então, a realização de
exame imunohistoquímico, o qual foi confirmativo para fibrossarcoma.
No primeiro retorno o animal apresentava-se bem, alimentando-se
normalmente; urina e fezes sem alterações. Como havia passado pela
mandibulectomia rostral ainda estava se adaptando, porém sem maiores alterações.
5.1. DISCUSSÃO
O animal foi submetido à mandibulectomia rostral pois, segundo a literatura,
esta técnica é de eleição para tratamento de neoplasias que apresentem
36
característica maligna, sendo preconizada a ressecção em bloco, com margem de
segurança de aproximadamente 2 cm. Esta técnica é essencial para prevenir
recidiva, pois evita que tecidos que possam conter infiltrados de células malignas
proliferem-se (AMNORRIS & WITHROW, 1985). A amostra enviada para novo
exame histopatológico foi para confirmação do diagnóstico anterior e para analisar
se haviam infiltrados malignos nos bordos sadios.
O resultado do segundo exame histopatológico foi inconclusivo para sarcoma
pouco diferenciado ou melanoma amêlanico. Histologicamente, células tumorais
tendem a apresentar pleomorfismo, sendo uma variedade de formas e padrões que
se assemelham a outros tumores (MARTINELLI-KLAY et al, 2016). Assim ocorreu no
segundo exame histopatológico, devido ao pleomorfismo celular não conseguiu
identificar a neoplasia existente. Os melanomas podem não ter pigmentação,
causando dificuldade de diagnóstico clínico.
Quando o resultado do histopatológico é inconclusivo, como neste caso,
sugere-se a realização do método de imuno-histoquímica, exame que reconhece
células específicas, a partir da formação do complexo antígeno-anticorpo. Neste
caso, foram testados anticorpos contra os seguintes marcadores celulares: S-100,
Vimentina, HMB-45, Cocktel Melanoma, MyoD1, 1A4 e HHF35. As células
neoplásicas imunoexpressaram a Vimentina e o 1A4. Em estudo, a expressão de
Vimentina é confirmatório para FSA. Não houve expressão dos demais marcadores
testados (NANDA; MEHTA; NANDA, 2013).
O animal apresentava sinais clínicos condizentes com a literatura, como
linfadenomegalia cervical, massa em região de mucosa labial e dentes
aparentemente soltos (HAHN & FREEMAN, 2010).
A quimioterapia não foi indicada para esse caso, pois o animal não
apresentava quadro de possíveis metástases. Esse método de tratamento não
apresenta eficácia em neoplasias de origem mesenquimatosa, porém pode ser
utilizado a eletroquimioterapia, como terapia adjuvante.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As neoplasias orais têm grande relevância na saúde dos animais, pois
pode ocasionar metástases em órgãos altamente vascularizados. Como os tutores
não costumam avaliar com frequência a cavidade oral de seus animais, quando
37
notadas estas alterações, estão em estágio avançado. Embora seja difícil a
prevenção de neoplasias, é importante o tutor realizar diariamente uma higienização
da cavidade do animal, sendo assim possível observar caso haja casos de
neoformações. Sendo fundamental a pesquisa completa de metástase. Na rotina do
estágio foi possível observar que é importante realizar o estadiamento clínico para
oferecer o melhor tratamento ao paciente. A melhor opção de diagnóstico é a
realização do exame de histopatológico, porem quando não se é possível a
conclusão a partir deste recomenda-se a realização do exame de imuno-
histoquimica. A partir do diagnóstico é possível a realização do estadiamento clínico
do paciente podendo assim definir qual melhor opção de tratamento que trará
benefício. O tratamento de eleição para casos de neoplasias orais é a excisão
cirúrgica, utilizando-se margem de segurança com aproximadamente 2 cm de
bordos sadios. Mesmo que em neoplasias malignas haja pouca sobrevida,
preconiza-se a excisão cirúrgica como tratamento, pois está trará melhor qualidade
de vida para o animal.
38
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