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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Luiz Gustavo Coltro PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Luiz Gustavo Coltro

PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR

CURITIBA

2011

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PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR

CURITIBA

2011

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Luiz Gustavo Coltro

PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR

Trabalho de Conclusão de Curso de Direito da

Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade

Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Afonso Henrique Prezoto

Castelano

CURITIBA

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Luiz Gustavo Coltro

PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR

Esta dissertação (monografia) foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel

em Direito no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de ___________ de 2011.

_________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Afonso Henrique Prezoto Castelano

Prof. _____________________

Prof. _____________________

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Agradecimentos

A Deus por ter me dado forças e iluminado meu caminho para que pudesse

concluir mais uma etapa de minha vida.

A meus pais por todo amor e dedicação ao longo desses anos, os quais

sempre estiveram comigo, não medindo esforços e sempre me apoiando e me

fazendo acreditar que nada é impossível quando se tem perseverança.

Ao meu pai Luiz Henrique, pessoa que sigo como exemplo, conforme meu

avô Luiz Carlos (in memoriam) lhe ensinou a ser uma pessoa honesta e

trabalhadora, eu busco os mesmos ideais.

A minha mãe Sonia, por seus ensinamentos e conselhos que me ajudam

nessa caminhada, obrigado por acreditar em minha capacidade.

A minha avó Lourdes, pela confiança que tenho certeza que deposita em

mim, obrigado.

A minha namorada Jéssika, pelo amor, pela paciência e compreensão, lhe

agradeço pelo carinho e atenção.

Ao amigo e futuro colega de profissão Dr. Marlon Cordeiro, o qual me

incentivou e me auxiliou neste trabalho, meu eterno agradecimento.

Às pessoas que confiam em mim, tenham certeza que não irão se

decepcionar. OBRIGADO.

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Epígrafe

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”

Voltaire

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RESUMO

Estuda aspectos históricos e o direito comparado da legislação juvenil, aborda o conceito, aspectos legislativos e doutrinários acerca do procedimento especial de adolescente infrator. Verifica as etapas do procedimento, analisando o conceito de ato infracional e os Princípios do Devido Processo Legal, do Contraditório e da Ampla Defesa. Apresenta argumentos doutrinários acerca da punibilidade do adolescente que praticou ato infracional, descrevendo sucintamente cada passo do procedimento desde a apreensão do adolescente, até a aplicação da medida sócioeducativa pertinente ao caso. Abordando sempre os direitos Constitucionais dos direitos e deveres da criança e do adolescente, analisando em especial a Lei 8069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual traz elencado em seus arts. 171 a 190, sobre a apuração de ato infracional atribuído a adolescente. Estuda as medidas sócio-educativas que podem ser aplicadas, conforme a gravidade do ato infracional cometido pelo adolescente. Analisa as funções do Ministério Público, o qual poderá conceder a remissão ao adolescente ou representar a autoridade judiciária a qual poderá homologar ou não o pedido. Verifica as atribuições do Juiz da Vara da Infância e da Juventude. Analisando também sobre a participação do advogado no procedimento especial de adolescente infrator, e ainda, a participação de assistente social no desenvolver do procedimento. Conclui sobre a finalidade do procedimento e sua importância para que ocorra uma efetiva aplicação da justiça, fazendo assim uma distinção do procedimento para menores de 18 anos, tendo eles uma chance de ressocialização com a aplicação das medidas sócio-educativas. PALAVRAS CHAVES: adolescente infrator – procedimento – medida sócioeducativa – ato infracional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................... Erro! Indicador não definido. 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .................................. Erro! Indicador não definido. 2.1 NO BRASIL ................................................. Erro! Indicador não definido. 3 DIREITO COMPARADO: ............................................................................ 14 3.1 COMPARAÇÃO COM OUTRAS LEGISLAÇÕES: ................................... 14 3.1.1 Portugal: ................................................................................................ 16 3.1.2 Espanha: ............................................................................................... 17 3.1.3 Itália: ...................................................................................................... 18 3.1.4 França: ................................................... Erro! Indicador não definido.9 3.1.5 Inglaterra: ............................................... Erro! Indicador não definido.9 3.1.6 Alemanha: ............................................................................................. 20 3.1.7 Estados Unidos da América: ................................................................. 20 4 PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR NO BR: . 22 4.1 CONCEITO: ............................................................................................. 22 4.2 PRINCÍPIOS DO PROC. ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR ... 23 4.2.1 Princípio do Devido Processo Legal: ..................................................... 23 4.2.2 Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa: ...................................... 24 4.3 ETAPAS DO PROCEDIMENTO: .............................................................. 26 4.3.1 Apreensão do adolescente: ................................................................... 26 4.3.2 Recebimento dos documentos por parte do Ministério Público: ............ 34 4.3.3 Oitiva informal do adolescente: .............. Erro! Indicador não definido.7 4.3.4 Providências do Ministério Público: ........ Erro! Indicador não definido.9 4.3.4.1 Arquivamento dos Autos.......................................................................41 4.3.4.2 Remissão..............................................................................................42 4.3.4.3 Representação à autoridade judiciária. ................................................46 4.3.5 Homologação do arquivamento ou da remissão: ..... Erro! Indicador não definido.9 4.3.6 Oferecimento da Representação ........................................................... 50 4.3.7 Prazo para conclusão do procedimento: ............................................... 50 4.3.8 Designação da audiência de apresentação: .......................................... 51 4.3.9 Audiência de apresentação do adolescente: ......................................... 52 4.3.10 Aplicação de medida sócio-educativa: ................................................ 53 4.3.10.1 Advertência.........................................................................................54 4.3.10.2 Obrigação de Reparar o Dano............................................................55 4.3.10.3 Prestação de Serviços à Comunidade................................................56 4.3.10.4 Liberdade Assistida.............................................................................57 4.3.10.5 Regime de Semiliberdade...................................................................58 4.3.10.6 Internação...........................................................................................58 5 FUNÇÃO DOS ENVOLVIDOS NO PROCEDIMENTO ............................... 60 5.1 MAGISTRADO: ........................................................................................ 60 5.2 MINISTÉRIO PÚBLICO: ........................................................................... 61 5.3 ADVOGADO: ............................................................................................ 61 5.4 ASSISTENTE SOCIAL: ............................................................................ 64 6 FINALIDADE DO PROCEDIMENTO: ......................................................... 66 CONCLUSÃO ................................................................................................ 67 REFERÊNCIAS ................................................... Erro! Indicador não definido.9

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INTRODUÇÃO

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 iniciou-se no Brasil

uma nova etapa na evolução histórica no âmbito da criança e do adolescente, pois

trouxe consigo, após dois anos, a regulamentação da Lei Federal n 8.069, de 13 de

julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual trazia pela primeira vez

um procedimento específico aos adolescentes infratores. A Constituição também

criou um capítulo específico em que trata dos direitos da criança e do adolescente

em seus arts. 227/229, mudando assim a imagem de situação irregular que

demonstrava o antigo Código de Menores de 1979 e trazendo a nova Lei Estatutária

uma visão de proteção integral.

O presente estudo tem o escopo de demonstrar que a aplicação das

medidas sócio-educativas aos adolescentes infratores, estão sujeitas a um

procedimento próprio, ou seja, um procedimento especial aplicado ao adolescente

infrator, o qual está regulamentado nos “arts. 171 a 190 do Estatuto da Criança e do

Adolescente no Capítulo III – Dos Procedimentos e na Seção V referente à

Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente”.

No decorrer do trabalho serão explicadas as etapas do procedimento voltado

aos adolescentes infratores, demonstrando as providências que podem ser

aplicadas pelo representante do Ministério Público, abordando também as funções

do Advogado e as atribuições do Juiz da Vara da Infância e da Juventude.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.1 NO BRASIL

No Brasil a diferenciação de punição entre adultos e menores de idade,

como eram conhecidos na época, iniciou-se em 1603, com as Ordenações Filipinas,

que foram criadas por Dom Filipe II. Nesta ordenação foi estabelecido que fossem

punidos nas totalidades de seus atos os maiores de vinte e menores de vinte e cinco

anos, os quais eram considerados na idade da maioridade plena. Contudo, se o

autor do delito tivesse entre dezessete e vinte anos, o julgador teria a possibilidade

de atenuar a pena.

Sérgio Salomão Shecaira (2008, p. 28) ainda nos ensina quanto à pena: “E

parecendo-lhe que a não merece, poder-lha-ha diminuir, segundo a qualidade, ou

simpleza, com que achar, que o delicto foi commettido”.

Importante citar também que para os autores de delitos menores de

dezessete anos, estava proibida a pena de morte, podendo a critério de o juiz

estabelecer qualquer outra pena prevista nas Ordenações Filipinas.

Passaram-se os anos e foi proclamada a independência do Brasil em 1822,

sendo criada a primeira Constituição de 1824. Após seis anos foi promulgado o

Código Criminal do Império, e com ele as punições foram ficando menos infamantes.

Como dispõe Sérgio Salomão Shecaira (2008, p. 29): “O Código Criminal do

Império também inovou ao estabelecer a idade para a responsabilidade penal,

determinando no primeiro parágrafo de seu art. 10 que não se julgarão criminosos

os menores de quatorze anos”.

Com o decorrer dos anos e o desenvolver da sociedade as penas sofreram

alterações, e a idade dos inimputáveis também. Quando da Proclamação da

República em 1889, foi editado o Código Penal de 1890, tal Código Penal

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estabeleceu não serem criminosos os menores de nove anos completos, sendo

considerados inimputáveis.

Shecaira nos expõe que:

Em 1921, em que pese não ser uma legislação específica, mas sim uma orçamentária, a Lei. 4.242, de 4 de janeiro, revoga parcialmente o Código Penal Republicano. Seu art. 3º., além de autorizar a criação do “serviço de assistência e proteção a infância abandonada e delinqüente”, determina a construção de abrigos, fundando casas de preservação. Ademais, no seu § 20 estatui que “o menor de 14 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção penal, não será submetido a processo de espécie alguma e que o menor de 14 a 18 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção, será submetido a processo especial”. Começava a findar-se o período da tutela indiferenciada para nascer o período tutelar”. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 33).

Inicia-se o segundo período tutelar no Brasil com a Lei n. 6.697 de 10 de

outubro de 1979, o Código de Menores. Tal Código tratava o menor igualmente aos

outros sujeitos que cometiam infrações, não havendo para o adolescente infrator

uma previsão específica e nem uma medida sócio-educativa.

Conforme elucida Sérgio Salomão Shecaira (2008, p. 41): “O Código, criado

no final do regime militar, ratificava uma visão consolidada e ultrapassada, que

ignorava garantias às crianças e adolescentes, como se eles fossem objeto do

direito, e não sujeitos dele”.

Disserta ainda Shecaira, sobre o antigo Código de Menores:

O superado Código de Menores de 1979, calcado na doutrina da situação irregular, permitia, partindo quer de sua conduta pessoal (prática de ato infracional), quer da postura da família (maus-tratos), quer, por fim, da própria sociedade (abandono), sem distinguir com clareza sua motivação ou origem, declarar um jovem em situação irregular, sujeitando-o a medidas judiciais tutelares e punitivas. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 45).

A Promulgação da Constituição Federal de 1988 iniciou a última etapa de

evolução histórica, trazendo com si após dois anos, a regulamentação do Estatuto

da Criança e do Adolescente. A Constituição Federal criou um capítulo específico

que trata da família, da criança, do adolescente e do idoso, sendo específico à

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criança e ao adolescente em seus art. 227/229, alterando por sua vez a imagem de

situação irregular que trazia o antigo Código de Menores. Assim, o novo Estatuto

acabou introduzindo uma visão de proteção integral que até então não era

respeitada.

O procedimento instaurado para infrações cometidas por adolescentes

surgiu com o novo Estatuto da Criança e do Adolescente, em 13 de julho de 1990.

Com o passar dos anos o procedimento foi aprimorando-se conforme a evolução

humana e o desenvolvimento tecnológico. Desta forma, os crimes cometidos por

adolescentes foram crescendo e tornando-se mais graves, ocorrendo assim uma

maior aplicação das medidas sócio-educativas.

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 introduziu mudanças

significativas com relação à legislação anterior, o antigo Código de Menores de

1979. Com a nova lei Estatutária as crianças e os adolescentes passaram a ser

considerados cidadãos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente foi sancionado por meio de Lei

Federal n. 8.069, de 13 de julho de 1990, pelo governo do Presidente Fernando

Collor.

Conforme explica Hercílio de Lourenzi, presidente do Projeto e Realização,

que elaborou uma cartilha para informações referentes à Redução da Maioridade

Penal, Integra do ECA e sobre a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e

do Adolescente:

Estatuto da Criança e do Adolescente foi sancionado no governo do Presidente Fernando Collor, por meio da lei federal n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Em linhas gerais, foi anunciado como um conjunto de normas vigentes em todo país que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Medidas, aliás, que foram adotadas principalmente por causa de uma secular falta de respeito a direitos fundamentais dos menores, principalmente por causa da prática de violência de todo tipo – exploração o trabalho, abuso sexual etc. (LOURENZI, HERCILIO DE, p. 24).

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O Procedimento Especial de Adolescente Infrator é regulado pelos artigos

171 e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente, na Seção que diz respeito

à Apuração do Ato Infracional Atribuído a Adolescente.

Como elucida Shecaira:

Diferentemente do que ocorria na etapa tutelar, várias garantias são asseguradas ao adolescente infrator, destacando-se: pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente, igualdade na relação processual – podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir as provas necessárias à sua defesa; defesa técnica do advogado -, assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei, direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente, direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 47).

Com o surgimento da lei Estatutária foi possível perceber uma maior

preocupação com os adolescentes, mesmo estes sendo infratores passaram a ter

direitos expressos e um procedimento específico para a apuração de seus atos

infracionais.

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3 DIREITO COMPARADO:

O grande objetivo da comparação com outros países é de compreender

melhor o nosso próprio direito, traçando paralelos de estudo, cabendo ressaltar

ainda que muitos países são utilizados como parâmetros por outros de cultura

semelhante, os quais muitas vezes buscam o resultado do mesmo problema. Por

isso existem as Convenções, os Tratados e os Pactos Internacionais.

3.1 COMPARAÇÃO COM OUTRAS LEGISLAÇÕES:

O texto do Estatuto da Criança e do Adolescente está em consonância com

a evolução do âmbito internacional, principalmente com os pensamentos jurídicos

mais recentes.

Elucida Shecaira:

As últimas décadas do século XX viram um processo acelerado de interbacionalização do direito, quase sem precedentes. A evolução do direito interno foi marcada, em grande medida, por um acelerado processo de constitucionalização de Tratados e Convênios ratificados por Estados soberanos que aderem à proteção de valores universalmente relevantes. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 48).

A partir da Segunda Guerra houve uma acentuada evolução histórica com

relação ao direito dos adolescentes no âmbito internacional. O advento da

Convenção de 1989, a qual foi imprescindível para a elaboração do Estatuto da

Criança e do Adolescente em 1990, foi o divisor de águas no que se refere às

crianças e adolescentes.

Deve-se citar também o primeiro instrumento internacional de grande

importância, a declaração dos Direitos da Criança, aprovada em 1924, a qual foi

ratificada por quase todos os países do mundo, com exceção dos Estados Unidos e

da Somália.

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Acerca da Declaração de Direitos da Criança Shecaira traz dados

importantes:

Em 20 de novembro de 1989, quando de Declaração dos Direitos da Criança completava 30 anos de existência, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou, por unanimidade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, pela Resolução 44/25 (XLIV). O Brasil ratificou o texto em sua totalidade pelo Decreto 99.710, de 21.09.1990, após ter sido aprovado pelo Congresso Nacional, por meio de Decreto Legislativo 28, de 14.09.1990. Com isso, o texto da Convenção passou a ser norma de direito interno, adquirindo forca cogente. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 52).

Para a Convenção sobre os Direitos da Criança, criança é considerada todo

ser humano menor de 18 anos, por isso não se utiliza o termo adolescente.

Regulamenta a Convenção em seus art. 37/40, sobre as crianças em conflito com a

lei. Conforme a Convenção, nenhuma criança que pratique um “crime” será punida

com tortura, nem com penas cruéis, não sendo admitida a pena de morte, nem

prisão perpétua. Ocorre assim uma diferenciação na aplicação das medidas

privativas de liberdade entre adultos e crianças, para que os interesses das crianças

sejam cumpridos.

Cabe ressaltar que, o primeiro instrumento internacional específico e

detalhado sobre a justiça da infância e do adolescente foram as Regras de Beijing,

de 1985. No Brasil as Regras de Beijing não traduzem força cogente, mas tiveram

grande influência na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Conforme nos ensina Shecaira (2008, p. 55) “Elas são o resultado do

trabalho de vários anos e foram preparadas pelo comitê permanente da Assembléia

das Nações Unidas, que estuda o problema da prevenção do crime e do tratamento

dos jovens infratores”.

As Regras de Beijing definem toda criança ou adolescente como jovem,

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que respondem pela infração cometida de forma diferente dos adultos. As garantias

processuais para os jovens são bem nítidas, como por exemplo o devido processo

legal, o direitos à assistência judiciária, a presunção de inocência, entre outras.

Novamente elucida Shecaira (2008, p. 55) “as Regras de Beijing

representam as condições mínimas normativas, assentes no Direito Internacional,

acerca da intervenção punitiva, impondo a cada Estado signatário o dever de

respeitá-las e integrá-las ao seu direito”.

Ao ler as Regras de Beijing é possível observar a semelhança com o

Estatuto da Criança e do Adolescente, observando que em ambos existe a

diferenciação de criança e de adolescente.

Após as Regras de Beijing, foram aprovados os Princípios das Nações

Unidas para a prevenção da Delinqüência Juvenil, chamado também de Diretrizes

de Riad, o qual declara a prioridade para a prevenção da criminalidade juvenil,

adotando políticas progressivas de prevenção.

Expressa Shecaira sobre as Diretrizes de Riad (2008, p. 58): “Embora não

tenham tido força normativa interna, as Diretrizes de Riad representam visível

destaque norteador na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo

um de seus paradigmas”.

As Regras de Beijing, as Diretrizes de Riad e as Regras de Tóquio, formam

a chamada Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral à Infância.

Todas as Regras já existentes no ordenamento jurídico nacional e

internacional com relação a crianças e adolescentes visam um fim comum, a

proteção dos menores, tratando-os de forma diferente aos adultos.

3.1.1 Portugal:

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Em Portugal a primeira legislação específica foi a Lei de Proteção à Infância,

de 27 de maio de 1911.

Shecaira nos expõe sobre a legislação de Portugal:

Ela obedecia ao sistema tutelar então dominante, eliminando o critério do discernimento e criando um sistema assistencial e educativo. Por essa Lei, de influência tutelar, os desamparados (ociosos, vagabundos, libertinos ou mendigos) eram equiparados aos delinqüentes para efeitos das medidas cabíveis no âmbito da assistência. Após sucessivas reformas, em 1954 e 1962, surge nos anos 90 uma legislação mais moderna. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 66).

A Lei portuguesa n 166/99, trata dos delinqüentes juvenis, para tal legislação

são considerados inimputáveis os menores de 16 anos, que são submetidos aos

Tribunais de Menores. No caso em que o infrator tenha menos de 12 anos, será

submetido apenas às medidas de proteção. A Legislação Portuguesa muito parece

com o Estatuto da Criança e do Adolescente, tendo seu procedimento para

adolescente infrator e suas medidas sócio-educativas uma grande semelhança.

No procedimento para adolescentes infratores portugueses também são

observadas as garantias do devido processo legal.

3.1.2 Espanha:

A Espanha tem um ordenamento jurídico juvenil muito parecido com o

brasileiro. Na Espanha nasceu o primeiro sistema tutelar em 1918, onde tal lei teve

vigência por 30 anos, até ser aprovada a Lei Espanhola de Tribunais Tutelares de

Menores em 1948.

Segundo Shecaira:

Esse sistema tutelar, concebido durante a ditadura franquista, identificava expressamente a doutrina da situação irregular e foi definido pela literatura especializada como uma ponte de convergência da herança do positivismo correcionalista e do paternalismo autoritário próprio do momento. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 68).

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Em 1992, foi aprovada a Lei Orgânica 4/1992, a qual inaugurou a etapa

garantista, reconhecendo o princípio da legalidade penal, respeitando as garantias

processuais básicas.

Na Espanha, menores são aqueles que tenham idade entre quatorze e

dezoito anos, sendo considerados jovens os maiores de dezoito e menores de vinte

e um anos. No caso de prática de ato infracional por menores será julgado pelo

Juizado de Menores.

Demonstra Shecaira (2008, p. 68): “O modelo processual previsto no

ordenamento é similar ao processo criminal dos maiores, porém se adaptando a

peculiaridades das necessidades específicas dos menores”.

As medidas aplicadas na Espanha chegam a quatorze alternativas, visando

sempre à reeducação do adolescente infrator.

3.1.3 Itália:

Na Itália não existe uma legislação específica voltada a adolescentes

infratores, mas sim utilizam o Código de Penal de 1930, em seus arts. 97 e 98.

Conforme a legislação vigente na Itália são inimputáveis os menores de quatorze

anos, os quais não estão sujeitos a nenhuma pena e sim a medida de segurança.

São considerados responsáveis os maiores de quatorze anos e menores de dezoito,

que tenham capacidade de entender. Para tais casos são aplicadas as mesmas

penas dos adultos, mas de forma atenuada.

Nos ensina Shecaira sobre os Tribunais de Menores na Itália:

O Tribunal de Menores, instituído em 1934, tem uma composição mista. Deve integrá-lo, em primeira instância, um magistrado, e dois juízes honorários de menores (homem ou mulher, com mais de 30 anos, e especialistas em pedagogia, psicologia etc.). O procedimento, modificado pelo Decreto 448, de 22 de setembro de 1988, prevê a participação do Ministério Público e a sujeição do caso ao duplo grau de jurisdição. Antes da sentença definitiva são cabíveis medidas como prisão domiciliar,

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acompanhamento judicial ou ainda detenção provisória. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 68).

Busca-se conforme outros países uma reeducação dos adolescentes

infratores, como é possível analisar na utilização de prisões-escola na Itália.

3.1.4 França:

O sistema vigente na França foi implantado em 2 de fevereiro de 1945 pela

Ordenança, o qual fala da irresponsabilidade absoluta para os menores de treze

anos, e irresponsabilidade relativa para os maiores de treze e menores de dezoito

anos. Os jovens maiores de treze anos têm o reconhecimento de sua culpabilidade,

por serem considerados capazes, mas não absolutamente.

O procedimento utilizado para os infratores na França é semelhante ao dos

adultos, com a acusação pelo Ministério Público e duplo grau de jurisdição.

3.1.5 Inglaterra:

Na Inglaterra a responsabilidade penal vem do Direito Romano. Foram

criadas as Cortes Juvenis em 1908 e em 1933 a Children and Young Persons Act,

que aumenta a idade mínima para oito anos. Já em 1969 a nova lei sobre a

responsabilidade penal elevou a idade mínima de 8 para 10 anos.

Conforme nos ensina Shecaira:

O regime vigente prevê três categorias básicas. Abaixo dos dez anos, não qualquer responsabilidade penal por ato delituoso, não podendo um menor ser submetido a qualquer procedimento penal. Entre dez e quatorze anos existe a categoria de Child. Até 1998, havia uma presunção de incapacidade para o cometimento do delito (doli incapax). No entanto, após o advento do Crime and Disorder Act não mais existe a presunção de incapacidade de distinguir entre o bem e o mal. Entre quatorze e dezoito anos presume-se que o jovem (Young Person) seja plenamente responsável por seus atos. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 77).

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O regime utilizado pela Inglaterra é bastante complexo, podendo ser

aplicado pelas Cortes Juvenis, quando forem os crimes considerados mais leves, os

pelos Tribunais Comuns quando for considerado o ato delituoso mais grave ou

houver co-autoria de adulto.

3.1.6 Alemanha:

O direito Alemão teve muita influência do direito Português e Espanhol, mas

a Alemanha, diferente do Brasil, de Portugal e de outros países, deixou-se

influenciar pela visão germânica de aplicação de verdadeiras penas privativas de

liberdade, diferente do Brasil que visa à aplicação de medidas sócio-educativas.

Em 1871 foi aprovado o Código Imperial, o qual prevê a incapacidade

absoluta para os menores de doze anos, os maiores de doze e menores de dezoito

a responsabilidade esta relacionada ao discernimento. Só houve a criação de

legislação específica para os adolescentes infratores em 1923 com a Lei de

Tribunais de Menores, onde impôs a aplicação de medidas educativas tanto para as

crianças como para os jovens.

Sobre os Tribunais da Juventude na Alemanha nos ensina Shecaira (2008,

p. 82): “Os processos criminais são de competência dos Tribunais da Juventude,

sendo o Juiz de Menores competente para os fatos delituosos mais leves e o

Tribunal de Menores, integrado por juízes leigos, competente para os fatos

delituosos mais graves”.

A atual lei dos Tribunais para a Juventude da Alemanha foi promulgada em

11 de dezembro de 1974, sendo modificada em 1990.

3.1.7 Estados Unidos da América:

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O sistema juvenil dos Estados Unidos é muito mais complexo do que dos

países de Direito escrito com influência Romano-Germânica. Nos últimos 20 anos as

mudanças tornaram o sistema punitivo aplicado aos adolescentes infratores mais

rigoroso.

A referência deste período foi a The Illinois Juvenile Court Act of de 1899, a

qual instituiu a primeira grande Corte Juvenil. Nesta época eram mínimas as

garantias do processo, pois o Juiz da Corte de Menores tinha ampla

discricionariedade para tomar as decisões.

O procedimento informal antes utilizado foi aproximando-se ao sistema

utilizado para os adultos infratores. E hoje, muitos jovens são submetidos ao mesmo

procedimento dos adultos, com penas muito rígidas, chegando até em alguns

estados americanos a ser utilizada a pena de morte para menores.

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4 PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR NO BRASIL:

4.1 CONCEITO:

O Procedimento Especial de Adolescente Infrator é um procedimento

destinado a reunir elementos necessários à apuração do ato infracional. A aplicação

das medidas sócio-educativas aos adolescentes infratores estão sujeitas a um

procedimento, o qual está regulamentado pelos arts. 171 a 190 do Estatuto da

Criança e do Adolescente.

Antes de trabalhar sobre o procedimento especial de adolescente infrator é

necessário explicar o que é o ato infracional cometido pelo adolescente, para que

possa ser instaurado o procedimento.

O ato infracional é toda conduta descrita como crime ou contravenção penal

praticada por inimputáveis, prevista no art. 103 do Estatuto da Criança e do

Adolescente:

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

Cabe ressaltar também que são considerados inimputáveis os menores de

18 anos, conforme nos ensina Cláudio Brandão (2007, p. 165/166) “O Direito

reconhece que é relevante o fenômeno da maturidade, quando estabelece um limite

mínimo de idade para a capacidade de culpabilidade, isto é, para a imputabilidade”.

Elucida novamente Cláudio Brandão (2007, p. 164) que: “Será inimputável

aquele que não pode, por ocasião de sua ação, compreender a ilicitude de sua ação

ou determinar-se consoante esse entendimento”.

Retornando ao conceito de crime Costa e Silva apud José de Farias Tavares

(1999, p. 103) considera que: “Em sentido formal, crime é a ação culposa que a lei

ameaça de pena”.

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Conforme nos ensina Tavares:

O mesmo deve ser dito sobre a figura da contravenção penal, que é uma das espécies delituosas. Melhor seria englobar crimes e contravenções, que são espécies, no gênero delito, terminologia amplamente conhecida e sinteticamente aplicável ao texto examinado; ou simplesmente infração penal. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 103).

Tanto o crime quanto a contravenção penal são condutas contrárias à lei, ou

seja, são atos ilícitos. O crime é uma ação ou omissão considerada mais grave,

trazendo desta forma uma periculosidade social, a ela caberá uma pena, no caso de

adolescentes infratores serão aplicadas às medidas sócio-educativas. Já a

contravenção penal é um ato ilícito mais brando do que o crime e acarreta ao autor

apenas uma pena mais leve, como por exemplo, a advertência.

Ainda sobre a prática de ato infracional nos ensina Ishida:

Pela definição finalista, crime é fato típico e antijurídico. A criança e o adolescente podem vir a cometer crime, mas não preenchem o requisito da culpabilidade, pressuposto de aplicação da pena. Isso porque a imputabilidade penal inicia-se somente aos 18 anos, ficando o adolescente que cometa infração penal sujeito à aplicação de medida socioeducativa por meio de sindicância. Dessa forma, a conduta delituosa da criança e do adolescente é denominada tecnicamente de ato infracional, abrangendo tanto o crime como a contravenção. (ISHIDA, VÁLTER KENJI, 2008, p. 158).

De qualquer modo o Estatuto da Criança e do Adolescente utiliza apenas

uma forma de expressão que é ato infracional.

Para a instauração do procedimento especial de adolescente infrator é

necessário a observância de alguns princípios do Direito Processual, ao quais estão

previstos nos arts. 110 e 111 do Estatuto da Criança e do Adolescente. São eles, o

Princípio do Devido Processo Legal, do Contraditório e da Ampla Defesa. Também

devem ser observados os direitos individuais do adolescente que estão previstos

nos arts. 106/109 do mesmo Estatuto.

4.2 PRINCÍPIOS DO PROCEDIMENTO ESPECIAL DE ADOLESCENTE INFRATOR

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4.2.1 Princípio do Devido Processo Legal:

O Princípio do Devido Processo Legal está previsto no art. 110 do Estatuto

da Criança e do Adolescente e está em consonância com o art. 5º, LIV da

Constituição Federal:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... LIV - Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

Conforme nos ensina Tavares:

Repetição da garantia constitucional dada a todos (CF, art. 5º, LIV) aqui aplicada ao jovem no procedimento especial a que responder na forma deste Estatuto. Exige que todo caso seja tratado regularmente perante a Justiça da Infância e da Juventude, diretamente, sem a inquisição em inquérito policial, inadmissível no regime estatutário. Ao invés do “devido processo legal”, aqui incabível, a expressão mais correta seria “devido procedimento especial regulado nesta Lei”. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 109).

O Devido Processo Legal visa proteger o adolescente, servindo de

instrumento para superar algumas injustiças processuais, por isso sua violação

acarreta a nulidade dos atos praticados no procedimento.

Celso Bastos apud Wilson Donizeti Liberati (1995, p. 77) nos ensina que “o

direito do devido processo legal é mais uma garantia do que propriamente um

direito. Por ele visa-se a proteger a pessoa contra a ação arbitrária do Estado.

Colima-se, portanto, a aplicação da lei”.

Sérgio Salomão Shecaira expressa que “O principio do devido processo

legal conforma uma dúplice proteção ao indivíduo. No âmbito material, assegura a

proteção ao direito de liberdade e propriedade. No âmbito formal propicia a paridade

absoluta de condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa”.

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Pinto Ferreira apud Shecaira ainda nos ensina sobre o devido processo

legal:

A rigor, o devido processo legal abrange outras idéias que lhe são ínsitas, como destaca Pinto Ferreira em suas precisas lições: direito à citação, pois ninguém pode ser acusado sem ter conhecimento da acusação; direito de arrolar testemunhas, que devem ser intimadas para comparecer perante a Justiça; direito ao procedimento contraditório; o direito de não ser processado por leis ex post facto; o direito de igualdade com a acusação; o direito de ser julgado mediante provas e evidências legais legitimamente obtidas; o direito ao juiz natural; o privilegio contra a auto-incriminação; a indeclinabilidade da prestação jurisdicional, quando solicitada; o direito recursal (duplo grau de jurisdição); o direito à decisão com eficácia de coisa julgada. (SHECAIRA, SÉRGIO SALOMÃO, 2008, p. 178).

Assim cabe ressaltar que o devido processo legal é o respeito aos direitos

previsto na Constituição Federal.

4.2.2 Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa:

O contraditório é o direito de defesa do adolescente e o direito de ser

informado sobre os atos processuais para que possa se manifestar, sendo neste

caso uma oportunidade de resposta. É um princípio constitucional insculpido no art.

5°, LV da Constituição Federal:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com meios e recursos a ela inerentes.

O contraditório e a ampla defesa são pedras fundamentais para todos os

processos, principalmente os procedimentos voltados aos adolescentes infratores.

O Princípio da ampla defesa abrange a defesa técnica, é uma garantia à

efetiva participação da defesa no procedimento, além disso o art. 111 do Estatuto da

Criança e do Adolescente prevê o exercício da ampla defesa e do contraditório,

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tanto pelo Poder Judiciário, quanto pelo Ministério Público, quer pela Defensória

Pública.

4.3 ETAPAS DO PROCEDIMENTO:

4.3.1 Apreensão do adolescente:

Inicia-se o procedimento especial de adolescente infrator quando o mesmo é

apreendido, em tal hipótese só poderá ocorrer tal apreensão no caso de ordem

escrita e fundamentada da autoridade judiciária ou em flagrante de ato infracional.

Conforme prevê o art. 171 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.

Ensina-nos Jurandir Norberto Marçura apud Munir Cury (2006, p. 532) sobre

a apreensão do adolescente: “A ordem deve emanar de autoridade judiciária

competente, que, nos exatos termos do art. 146, é o juiz da infância e da juventude,

ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização judiciária local”.

Havendo a apreensão do adolescente em razão de ordem judicial, o mesmo

deverá ser encaminhado imediatamente à autoridade judiciária. Por haver uma

ordem judicial pressupõe-se que já existe um procedimento instaurado em

andamento contra o adolescente.

Sobre o mesmo assunto nos ensina Wilson Donizeti Liberati (1995, p. 150):

“Portanto, conclui-se que o adolescente só poderá ser apreendido, pela prática de

ato infracional, em duas hipóteses: em flagrante de ato infracional ou por ordem

escrita e fundamentada do juiz da infância e da juventude”.

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Caso a apreensão do adolescente seja em flagrante de ato infracional,

deverá ser encaminhado de imediato à autoridade policial competente, conforme

estabelece o art. 172 do mesmo Estatuto.

Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial competente. Parágrafo Único: Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.

Elucida Jurandir Norberto Marçura apud Cury sobre flagrante de ato

infracional:

Assim, deve-se considerar em flagrante de ato infracional o adolescente que: a) está cometendo ato descrito como crime ou contravenção penal; b) acaba de cometê-lo; c) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que presumir ser autor do ato infracional; d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor do ato infracional. (CURY, MUNIR, 2006, p. 533).

Quando o adolescente é apresentado à autoridade policial, esta deverá

comunicar os pais ou responsáveis do mesmo sobre o fato, conforme prevê o art.

107 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.

Como elucida Wilson Donizeti Liberati (1995, p. 150): “Embora seja

determinada pelo juiz, a apreensão de adolescente deverá também ser comunicada

à sua família ou à pessoa por ele indicada”.

Comenta ainda sobre o mesmo fato Liberati:

Convém lembrar que, na hipótese de ser apreendido um adolescente sem estar em flagrante de ato infracional, ou por determinação escrita do juiz, a autoridade policial deverá, incontinenti, entregá-lo aos seus responsáveis, podendo incorrer nas penas do art. 230 do ECA. Da mesma forma, se a autoridade policial deixar de comunicar à autoridade judiciária a apreensão de criança ou adolescente, estará sujeita às penalidades do art. 231 da lei estatutária. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, p. 152).

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No caso de co-autoria com adulto, deverá o adolescente na existência de

Delegacias Especializadas a Adolescentes Infratores, ser encaminhado à mesma, e

o adulto será submetido ao Código de Processo Penal.

Conforme ensina Jurandir Norberto Marçura apud Munir Cury (2006, p. 533):

“Nas localidades onde houver repartição policial especializada, a está será

encaminhado o adolescente, inclusive quando se tratar de ato infracional praticado

em co-autoria com maior”.

Sobre o mesmo fato nos ensina Tavares:

No caso de co-participação, sob qualquer forma do adulto na prática infracional, a Polícia especializada do Juizado da Infância e da Juventude será encarregada do adolescente, encaminhando o inimputável para o Inquérito Policial na Delegacia de Policia de atribuição pertinente à ação penal que quanto a este couber. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 161).

Valter Kenji Ishida (2008, p. 291) elucida: “Quando da apreensão do

adolescente, normalmente por policiais militares, o mesmo deve ser encaminhado

ao Distrito Policial. A lei poderá criar repartição especializada que terá também

atribuição no caso de co-autoria com maior de 18 anos”.

Elucida ainda Liberati:

Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente, e tratando-se de ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, p. 151).

Quando o ato infracional for praticado mediante violência ou grave ameaça,

deverá ser lavrado o auto de apreensão, com a oitiva das possíveis testemunhas e

do adolescente que cometeu o ato infracional. Deverá ser apreendido os produtos e

instrumentos da infração, bem como requisitados exames ou perícias para a

comprovação da materialidade do ato.

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Expressa o art. 173 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos art. 106, parágrafo único, e 107, deverá: I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente; II - apreender o produto e os instrumentos da infração; III - requisitar os exames ou perícias necessárias à comprovação da materialidade e autoria da infração. Parágrafo Único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciado.

Ishida comenta sobre os procedimentos que deverão ser tomados pela

autoridade policial após a apreensão do adolescente:

Cometido o ato infracional revestido de violência (latrocínio, homicídio) ou grave ameaça (roubo, estupro), segue-se procedimento assemelhado ao da prisão em flagrante: (1) lavratura do auto de apreensão; (2) apreensão do produto (ex.: dinheiro) e do instrumentos (ex.: arma do crime); (3) requisição dos exames (laudo de conjunção carnal) ou perícias (exame da arma de fogo) relativos a materialidade e autoria. (ISHIDA, VÁLTER KENJI, 2008, p. 291/292).

Deverá de início, ser identificada por parte da autoridade policial se o ato

infracional foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. Se sim será

obrigatório à lavratura dos atos anteriormente citados. Neste sentido expressa-se

Jurandir Norberto Marçura apud Munir Cury (2006, p. 534): “Os exemplos mais

comuns de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça são os

crimes de roubo e estupro, descritos respectivamente, nos arts. 157 e 213 do CP”.

No caso de não ocorrer o emprego de violência ou grave ameaça será

facultativa a lavratura do auto de apreensão, devendo ser instaurado um boletim de

ocorrência circunstanciado. Conforme nos ensina Liberati:

Se o ato infracional praticado pelo adolescente não estiver revestido com as características da violência e da grave ameaça à pessoa, mesmo tendo sido apreendido em flagrante, o parágrafo único do art. 173 autoriza o delegado de polícia especializado a substituir o auto pelo boletim de ocorrência circunstanciado. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, p. 153).

Para Valter Kenji Ishida (2008, p. 292): “Nesse caso, a autoridade policial

somente encaminha ao Poder Judiciário o menor mediante termo circunstanciado”.

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Com relação ao boletim de ocorrência circunstanciado José de Farias

Tavares (1999, p. 161) demonstra que: “Permite o parágrafo único a substituição do

auto de apreensão em flagrante por simples boletim de ocorrência se o caso é de

violência praticada contra a pessoa humana ou seriamente ameaçadora à

incolumidade desta”.

Jurandir Norberto Marçura do Ministério Público de São Paulo apud Cury

observa que:

Importa observa que, em qualquer hipótese, haja ou não lavratura de auto de apreensão, a autoridade policial deverá sempre proceder à apreensão do produto e dos instrumentos da infração, bem como requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração, tendo em vista que a imposição das medidas sócio-educativas previstas no art. 112, II a VI, requer provas suficientes da autoria e materialidade do ato infracional. (CURY, MUNIR, 2006, p. 534).

Se a autoridade policial verificar que a conduta do adolescente não constitui

ato infracional, deverá o adolescente ser prontamente liberado.

Com o comparecimento dos pais ou responsáveis à delegacia especializada

onde esteja o adolescente, se o caso não for de internação provisória, deverá o

adolescente ser liberado com um termo de responsabilidade e compromisso de

comparecimento ao Ministério Público que será assinado pelos responsáveis.

Conforme explica Wilson Donizeti Liberati (1995, p. 153): “No ato, será firmado um

termo de compromisso e responsabilidade para que o adolescente seja apresentado

ao promotor de justiça, no mesmo dia ou o mais rápido possível”.

O adolescente deverá comparecer de imediato, no mesmo dia, ou se for o

caso no próximo dia útil acompanhado dos responsáveis. A autoridade policial

encaminhará ao Ministério Público a cópia do auto de apreensão ou boletim de

ocorrência.

Esta previsão está no art. 174 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

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Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.

Segundo Jurandir Norberto Marçura apud Cury com relação à liberação do

adolescente para os seus responsáveis:

O legislador adotou como regra a possibilidade de a autoridade policial liberar prontamente o adolescente aos pais ou responsável, sob compromisso de sua apresentação ao representante do Ministério Público no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato. (CURY, MUNIR, 2006, p. 535).

Estatuto da Criança e do Adolescente prevê dois procedimentos e Ishida

elucida:

(1) delitos de menor gravidade: a autoridade policial elabora o termo circunstanciado e, mediante o comparecimento do responsável legal, libera o menor com o compromisso de apresentação ao membro do MP para a oitiva informal; (2) delitos graves ou de grande repercussão: mantém o adolescente internado, desde que constatada a necessidade de segurança pessoal do menor ou manutenção da ordem pública. (ISHIDA, VÁLTER KENJI, 2008, p. 292).

Também faz esta distinção entre a gravidade dos delitos cometidos pelo

adolescente infrator, Tavares:

a) se o ato infracional não constituir violência ou grave ameaça à pessoa humana, o adolescente apanhado em flagrante deverá ser liberado, desde logo, assim que o pai, tutor ou guardião comparecer assinar o termo exigido de apresentação ao Promotor de Justiça especializada; b) se o caso for de natureza grave e a comoção da comunidade recomenda, a autoridade policial apresentará o adolescente ao Juiz, que ordenará, em despacho fundamentado, a internação. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 162).

Toda regra tem uma exceção, e neste caso se o ato infracional for de

natureza grave e de repercussão social, deverá ser decretada a internação

provisória do adolescente e o mesmo não será liberado para seus responsáveis. A

internação poderá ser por motivo de segurança pública ou no caso de cometimento

de crimes graves e de repercussão social, para a própria segurança do adolescente.

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Explica Pedro Caetano de Carvalho Juiz de Direito de Santa Catarina apud

Cury sobre o clamor público:

Há situação em que o crime cometido causa clamor público ou revolta os familiares e amigos da vítima, levados, muitas vezes, a querer vingança ou fazer justiça com as próprias mãos. Para esses casos, o bom senso indica que a não liberação pode representar a sobrevivência do adolescente. (CURY, MUNIR, 2006, p. 538).

Importante destacar que o Estatuto da Criança e do Adolescente não definiu

o que significa ato infracional de natureza grave, então definiu o legislador que serão

os crimes apenados com medida de internação, como ocorre na legislação penal, na

qual pune crimes graves com a reclusão. Já o ato infracional de repercussão social

será aquele que chega a provocar sentimento de indignação nas pessoas. Conforme

nos indica Jurandir Norberto Marçura apud Munir Cury (2006, p. 535/536) “nos

crimes cometidos mediante violência ou grave ameaça contra a pessoa, sendo

exemplos notórios os crimes de extorsão mediante seqüestro, atentado violento ao

pudor, roubo, latrocínio e homicídio qualificado”.

Sobre o mesmo assunto explica Liberati:

Se o ato infracional tiver sido praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa, provocado repercussão na comunidade, necessite o adolescente de proteção e segurança pessoal ou deva-se manter a ordem pública, o adolescente não será liberado para os pais, mas encaminhado para entidade de atendimento que mantenha programa de internação, sendo entregue ao seu dirigente. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, pg. 153/154).

Também caberá medida de internação provisória quando tratar-se de

conduta do adolescente relacionada ao tráfico de entorpecentes, o qual está previsto

no art. 33 da Lei 11.343/06, tendo em vista que é um ato infracional de natureza

grave. Deve-se destacar que o Estatuto tem o intuito de garantir a segurança

pessoal do adolescente e manter a ordem pública.

Outra hipótese de não liberação imediata do adolescente é quando seus

pais ou responsáveis não forem localizados, ou não residam na cidade em que

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houve o cometimento do ato infracional. Nestes casos o adolescente infrator deverá

ser encaminhado para uma entidade de atendimento, a qual ficará responsável por

apresentar o adolescente ao representante do Ministério Público no prazo de 24

horas. Quem ficará responsável pelo adolescente durante a apresentação ao

promotor será o dirigente da entidade de atendimento.

Na hipótese de não liberação do adolescente como citado anteriormente, o

adolescente será encaminhado ao Ministério Público com a cópia do auto de

apreensão ou o boletim de ocorrência. Quando não existirem entidades de

atendimento voltadas aos adolescentes infratores na cidade ou nas cidades

próximas, a apresentação ao Ministério Público será feita pela autoridade policial,

devendo o adolescente permanecer em compartimento separado ao destinado aos

adultos e o prazo não poderá exceder as mesmas 24 horas, conforme expressa o

art. 175 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 175. Em caso de não-liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. §1º. Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente a entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. §2º. Nas localidades onde não houver entidade de atendimento a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.

Sobre tal assunto demonstra Pedro Caetano de Carvalho apud Munir Cury

(2006, p. 540) “Sendo impossível que se faça a apresentação imediata, a autoridade

policial deverá encaminhar à entidade de atendimento, que fará a apresentação no

prazo de 24 horas”.

Nos explica Liberati sobre o encaminhamento do adolescente:

Se a Polícia não liberar o adolescente logo em seguida à sua apreensão na forma prevista no artigo anterior, deverá encaminhá-lo imediatamente ao

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Promotor da Justiça especializada. Sendo, por motivo justificado, impraticável o encaminhamento nesse mesmo dia do flagrante (§1º), o policial entregará a pessoa apreendida a uma entidade protetora (arts. 90, 93, 112). A entidade, no mesmo dia, fará a apresentação do acolhido ao Representante do Ministério Público para as providencias legais cabíveis. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 163).

É visível em tal procedimento sempre a proteção do adolescente. Conforme

dispõe o art. 175 da lei estatutária é possível perceber que o adolescente não

deverá ter o mesmo tratamento que um adulto, por isso deverá permanecer em

compartimento separado.

4.3.2 Recebimento dos documentos por parte do Ministério Público:

Ocorrendo a liberação do adolescente a autoridade policial deverá

encaminhar imediatamente ao Ministério Público os documentos necessários para a

instauração do procedimento especial de adolescente infrator que são: o auto de

apreensão contendo todos os itens dispostos no referido art. 173 da lei Estatutária

ou apenas o boletim de ocorrência.

Conforme expressa o art. 176 da lei estatutária:

Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial encaminhará imediatamente ao representante do Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

Tal artigo é um desdobramento do art. 174 do mesmo Estatuto comentado

anteriormente.

Jurandir Norberto Marçura apud Cury nos ensina sobre o auto de apreensão:

Havendo apreensão do produto ou instrumento de infração, a autoridade policial lavrará o respectivo auto de apreensão, que será também encaminhado para apreciação do representante do Ministério Público. Os laudos de exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade podem ser encaminhados posteriormente, no menor prazo possível. (CURY, MUNIR, 2006, p. 542/543).

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O auto de apreensão ou o boletim de ocorrência devem ser encaminhados

de imediato ao órgão do Ministério Público, sendo tal procedimento realizado através

de cartório judicial.

Não tendo ocorrido o flagrante do ato infracional, mas a autoria sendo

conhecida é lavrado o boletim de ocorrência circunstanciado, o qual é encaminhado

ao Representante do Ministério Público. No caso em que não se conhece a autor do

ato infracional a autoridade policial fará um relatório contendo as investigações

sobre o fato e encaminhará da mesma forma ao representante do Ministério Público.

Trata sobre tal assunto o art. 177 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério Público relatório das investigações e demais documentos.

Sobre o mesmo assunto comenta Tavares:

Fora do flagrante, porém ante indicadores inequívocos de ocorrência infracional, a Polícia fará investigações, sem apreensão, claro, e sem interrogatório do indigitado adolescente, remetendo as informações ao Promotor de Justiça especializada. Observa-se que não se trata de Inquérito Policial, por inadmissível no regime estatutário. Ao Promotor caberá proceder o ajuizamento do caso de achar conveniente. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 163/164).

O Estatuto não prevê prazo para a autoridade policial remeter o relatório das

investigações ao Ministério Público, mas os procedimentos voltados a menores têm

prioridade. Então devem ser concluídos o mais breve possível, de maneira que não

sejam prejudicadas as investigações.

Comenta Liberati:

A situação apresentada no citado artigo deverá ser aquela que tomará mais tempo da autoridade policial, vez que, recebida a notitia criminis, deverá providenciar a investigação para detectar a autoria e comprovar a materialidade do ato infracional. Não existe inquérito policial para apurar ato infracional atribuído a adolescente. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, p. 155).

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Esta investigação não pode ser intitulada como inquérito policial, pois é

apenas um procedimento de apuração de ato infracional, ou ainda conhecido como

procedimento especial de adolescente infrator.

Resumindo, a autoridade policial limita-se as investigações do ato

infracional, cabendo ao Ministério Público a oitiva do adolescente, seus pais ou

responsável, a vítima e sendo o caso das testemunhas. Ao receber o relatório das

investigações o representante do Ministério Público fará uma audiência informal com

os envolvidos no ato infracional.

Ao Estatuto cabe a defesa dos direitos dos menores, mesmo eles sendo

infratores, conforme nos ensina Chaves:

O menor infrator não pode ser transportado em veículos policiais, no compartimento fechado, nem ser fotografado pela imprensa, constituindo infração administrativa a divulgação de elementos do procedimento policial de forma a permitir a sua identificação, direta ou indiretamente. (CHAVES, ANTONIO, 1997, p. 667).

O adolescente infrator não poderá ser transportado ou conduzido em

compartimento fechado de veículo policial, os chamados camburões, em condições

atentatórias a dignidade ou que causem riscos à sua integridade física ou mental, o

que implica em prática do crime previsto no art. 232 do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento. Pena – detenção de seis meses a dois anos.

Sobre o mesmo fato dispõe José de Farias Tavares (1999, p. 164) “Impõe ao

condutor de adolescente apreendido dever de tratamento curial à pessoa em

desenvolvimento psicossomático, que deve ser poupada de maiores vexames ou

desconforto”.

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Esta previsão de que o adolescente não poderá ser transportado ou

conduzido em compartimento fechado de veiculo policial, esta expressa no Estatuto

da Criança e do Adolescente em seu art. 178:

Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.

Segundo Marçura, Cury e Garrido de Paula apud Ishida:

A proibição atinge o transporte de adolescentes nos chamados ‘tintureiros’ ou ‘camburões’ utilizados na remoção de presos; não deva, contudo, a condução do adolescente no bando traseiro da viatura policial, ainda que o acesso ao banco dianteiro esteja impedido por dispositivo de segurança. (ISHIDA, VÁLTER KENJI, 2008, p. 295).

Importante observar que tal artigo que veda o transporte de adolescente em

compartimento fechado de viatura esta em consonância com o art. 227, §1º, V da

Constituição Federal que impõe respeito à condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento.

Com relação à proibição ao uso de algemas não há uma previsão expressa,

mas estas somente devem ser utilizadas quando houver uma real justificativa para

tanto, conforme prevê a Súmula Vinculante n 11 do STF:

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Quanto ao uso das algemas as mesmas devem ser evitadas, para que não

ocorra o emprego de constrangimento ao adolescente.

4.3.3 Oitiva informal do adolescente:

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Conforme citado anteriormente o adolescente apreendido deve ser

apresentado ao representante do Ministério Público no caso de flagrante e, caso o

adolescente seja liberado a apresentação será responsabilidade dos pais ou

responsáveis. Mas, caso contrário, se o adolescente permanecer internado será

apresentado pela entidade de atendimento ou até pela autoridade policial. Não

ocorrendo flagrante e sim investigação por parte da autoridade policial, o

adolescente será notificado para comparecer acompanhado de seus responsáveis.

O art.179 da lei estatutária prevê:

Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e a vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente a sua oitiva, e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas. Parágrafo Único. Em caso de não-apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das Policias Civil e Militar.

A oitiva do adolescente infrator, dos seus pais ou responsável, da vítima e

das testemunhas será de uma maneira informal pelo promotor da Vara da Infância e

da Juventude.

Expressa Liberati sobre a oitiva do adolescente:

O promotor de justiça colherá as informações verbalmente, não havendo necessidade de reduzir a termo as declarações, pois se trata de oitiva informal. Se entender necessário, o representante do Ministério Público poderá reduzir a um único termo o resumo de todas as declarações. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, p. 157).

Ao receber os documentos autuados, o representante do Ministério Público

deverá verificar a legalidade da apreensão, verificar a existência de requisitos para o

flagrante, a comunicação da família ou do responsável pelo adolescente, ouvindo o

adolescente e os envolvidos na prática do ato infracional.

Conforme elucida Tavares:

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O Promotor da Infância e da Juventude tem a atribuição legal de, diretamente e sem formalismo, ouvir o adolescente indigitado agente de ato infracional, no mesmo dia em que estes lhe for apresentado, e ainda outras pessoas que se fizerem necessárias ao esclarecimento do fato, com o que terá como avaliar a situação e verificar a conveniência de provocar o procedimento judicial segundo o disposto o art. 180. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 164/165).

Caso o adolescente não compareça na data prevista para sua apresentação,

o promotor notificará o adolescente juntamente com seus pais ou responsável para

nova audiência de apresentação. Se mesmo assim não comparecerem, o Ministério

Público poderá requisitar a ajuda da Policia Civil e Militar para conduzir o

adolescente.

4.3.4 Providências do Ministério Público:

Adotadas todas as providências referidas nos tópicos anteriores caberá ao

representante do Ministério Publico: promover o arquivamento dos autos; conceder a

remissão ou representar à autoridade judiciária. Mas, antes de descrever sobre tais

etapas é importante ressaltar as atribuições do Ministério Púbico com relação ao

Estatuto da Criança e do Adolescente.

A instituição do Ministério Público não surgiu de repente, formou-se

progressivamente, e foi cada fez mais foi alargando sua atuação.

Conforme afirma Hugo Nigro Mazzilli Advogado e Professor de Direito de

São Paulo apud Cury, com relação ao surgimento do Ministério Público:

Sua origem se liga à questão da soberania. Quando o desenvolvimento do Estado paulatinamente começou a impedir que os soberanos pudessem pessoalmente exercitar todas as funções de soberania (fazer e aplicar a lei), passaram estes a instituir tribunais; depois, passaram eles a colocar, junto a esses tribunais, agentes seus, representantes deles, monarcas, para defender os interesses dos governantes da Coroa. (CURY, MUNIR, 2006, p. 640).

São parâmetros para a atuação do Representante do Ministério Público a

Constituição Federal, nos termos do artigo 127, assim como a Lei Federal nº

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8.625/93, nos artigos 25/27 e 32, cabendo ao Estatuto da Criança e do Adolescente

em seus artigos 200/205 trazer a atuação relativa à parte específica.

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbido-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Na lição do magistrado catarinense Antonio Fernando do Amaral e Silva

apud Chaves:

O Ministério Público não é simples órgão de acusação ou de defesa. Suas funções são mais importantes, transcendem ao mero interesse de aplicação de uma medida a determinado jovem, para se elevar como órgão responsável pela defesa da ordem jurídica, dos direitos sociais e individuais indisponíveis. (CHAVES, ANTÔNIO, 1997, p. 714).

Compete ainda ao Ministério Público, conforme elucida Antônio Chaves:

Promover representações para apuração de ato infracional atribuído a adolescente (art. 148, I); provocar procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder (art. 155), manifestando-se no processo, no caso previsto no art. 157 e nos casos de vista do processo; arts. 161, 162 e 167; intervirá sempre na apuração de ato infracional atribuído a adolescente (arts. 174, 175, 176 usque 182, 186, §1º), exercer funções indicadas nos arts. 200 a 205; tem legitimidade para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos (art. 210, I); promoverá supletivamente a execução de sentença condenatória, nos termos do art. 217 etc. (CHAVES, ANTÔNIO, 1997, p. 718).

Cabe ao Representante do Ministério Público atuar como parte em alguns

processos e em outros apenas como fiscal da lei, deve-se ter uma distinta atuação.

A atuação como parte fica explícita na apuração do ato infracional cometido

pelo adolescente infrator, previsto pelo artigo 201 do Estatuto da Criança e do

Adolescente, no qual cabe ao representante do Ministério Público, após a oitiva

informal do adolescente infrator, promover o arquivamento, conceder a remissão ou

oferecer a representação à autoridade judiciária, conforme o artigo 180 do Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público poderá: I – promover o arquivamento dos autos; II – conceder a remissão;

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III – representar a autoridade judiciária para aplicação de medida sócioeducativa.

Todas as funções do Ministério Público são essenciais para a apuração do

ato infracional cometido pelo adolescente, mas é indispensável ocorrer a

homologação da autoridade judiciária.

4.3.4.1 Arquivamento dos Autos:

O representante do Ministério Público poderá, conforme disposto o artigo

180, I do Estatuto da Criança e do Adolescente, promover o arquivamento dos autos

quando verificada a inexistência do fato, ou estiver provado que o adolescente não

participou do ato infracional, ou ainda não constituiu ato infracional a conduta do

adolescente.

O arquivamento caberá nas hipóteses previstas no art. 189 do Estatuto da

Criança e do Adolescente.

Art. 189. A autoridade judiciária não aplicara qualquer medida, desde que reconheça na sentença: I – estar provada a inexistência do fato; II – não haver prova da existência do fato; III – não constituir o fato ato infracional; IV – não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.

No caso em que couber a aplicação do artigo supracitado o procedimento

especial de adolescente infrator será arquivado.

Caso, após o pedido de arquivamento por parte do representante do

Ministério Publico, o Procurador-Geral discordar, deverá o mesmo designar outro

membro do Ministério Público para atuar na ação penal, nunca determinando que o

mesmo promotor a julgue novamente.

Conforme dispõe Tavares:

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Se o promotor entende que não é o caso de mover a ação penal, o Procurador-Geral não tem como forçá-lo a agir, mas apenas, se dele discordar, pode ele próprio oferecer denúncia ou designar outro promotor. Designar apenas, porque se também o outro pensar como o primeiro, ninguém pode obrigá-lo a agir contra a própria consciência, restando sempre ao Procurador-Geral a possibilidade de mover a ação, ele próprio, se não encontrar promotor que concorde com ele. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, pg. 166).

O pedido de arquivamento pelo promotor será apreciado pelo Juiz, o qual

poderá deferi-lo oi indeferi-lo. Se deferi-lo o procedimento especial de adolescente

infrator estará arquivado colocando fim no procedimento.

Caso o pedido seja indeferido, e o juiz entender que cabe representação, os

autos serão remetidos ao Procurador Geral, o qual é o Chefe do Ministério Público,

para que este examine e decida se confirma o pedido de arquivamento do promotor,

hipótese em que o juiz será obrigado a aceitar, ou o Chefe do Ministério Público

poderá oferecer denúncia, ele mesmo ou nomear outro promotor que o faça.

Sobre o mesmo assunto Wilson Donozeti Liberati (1995, 158) expõe “O ato

ministerial de promover o arquivamento ou de conceder a remissão é pleno e

resolve-se em si mesmo, não podendo o juiz nem o Procurador-Geral alterar o seu

conteúdo”. Sobre o arquivamento importante destacar que caberá ao Magistrado a

homologação, mas não a alteração do conteúdo.

4.3.4.2 Remissão:

A remissão vem especificamente prevista nos artigos 126/128 e 201, I do

Estatuto da Criança e do Adolescente, é uma forma de extinção do processo, no

qual polpa o adolescente de uma medida judicial.

Como nos ensina Hugo Nigro Mazzilli apud Cury:

Sem aqui adentrar em exame mais profundo do instituto, cabe anotar que a remissão foi concebida como forma de exclusão do processo, seja como perdão, seja para aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação. (CURY, MUNIR, 2006, pg. 662).

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Remissão vem do latim “remissio”, que significa perdoar, renunciar ou

desistir. Pode ser entendida como uma forma de suspensão, exclusão ou extinção

do procedimento especial de adolescente infrator.

O perdão judicial, para Mirabete apud Liberati:

É um instituto através do qual o juiz, embora reconhecendo a coexistência dos elementos objetivos e subjetivos que constituem o delito, deixa de aplicar a pena, desde que presentes determinadas circunstancias previstas na lei e que tornam desnecessária a imposição de sanção. Trata-se de uma faculdade do magistrado, que pode concede-lo ou não, segundo seu critério, e não de direito do “reú”. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, pg. 99).

Nas palavras de Tavares:

O teor do art. 126 em exame leva ao entendimento de que a locução conceder a remissão como forma de exclusão do procedimento quer dizer, abdicar da representação cabível, como forma de evitar o proceder. Abdicar ao poder persecutório que tem o Ministério Público como atributo funcional, em atenção ao interesse social difuso que lhe cabe igualmente defender. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, pg. 124).

Ao ser introduzida no Estatuto da Criança e do Adolescente, a remissão veio

para tentar sanar os efeitos negativos que poderia o procedimento causar ao

adolescente.

Para Mirabete apud Cury, através da remissão:

Procura-se, em casos especiais, evitar ou atenuar os efeitos negativos da instauração ou continuação do procedimento na administração da Justiça de Menores, como, p. ex., o estigma da sentença. No confronto dos interesses sociais e individuais tutelados pelas normas do Estatuto (interessa à sociedade defender-se de atos infracionais, ainda que praticados por adolescentes, mas também lhe interessa proteger integralmente o adolescente, ainda que infrator), o instituto da remissão, tal como o princípio da oportunidade do processo penal, é forma de evitar a instauração do procedimento, suspende-lo ou extingui-lo. (CURY, MUNIR, 2003, p. 425).

É previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente duas espécies

distintas de remissão, a primeira é prevista pelo artigo 126, caput:

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstancias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como a

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personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional.

Conforme o artigo supra mencionado, esta espécie de remissão é aquela

oferecida pelo Ministério Público antes de iniciar o Procedimento Especial de

Adolescente Infrator, tendo como efeito a exclusão do procedimento. Esta espécie

de remissão é conhecida por remissão “pré-processual”.

Segundo lição do Professor Mirabete apud Cury, a remissão préprocessual:

Justifica-se quando o interesse de defesa social assume valor inferior àquele representado pelo custo, viabilidade e eficácia do processo (Paulo Afonso Garrido de Paula, Direitos de infrator exigem respeito, O Estado de São Paulo de 24.4.91, p. 14). Reserva-se, assim, às hipóteses em que a infração não tem caráter grave, quando o menor não apresenta antecedentes e quando a família, a escola ou outras instituições de controle social não institucional já tiverem reagido de forma adequada e construtiva ou seja provável que venham reagir desse modo. (CURY, MUNIR, 2003, p. 425).

Já a segunda espécie de remissão esta explícita no parágrafo único do

artigo 126:

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importara na suspensão ou extinção do processo.

É aquela oferecida após a instauração do Procedimento Especial de

Adolescente Infrator, tendo como efeito a suspensão ou extinção, diferente da

remissão pré-processual, a qual sofre a exclusão do procedimento. Esta espécie é

conhecida por remissão “processual”.

Importante destacar de que existe à possibilidade de cumular a remissão

processual com a aplicação de medida sócio-educativa, com exceção apenas, da

colocação em regime de semiliberdade e a internação do adolescente.

Contudo, existem divergências com relação à possibilidade de cumular a

medida sócio-educativa com a remissão pré-processual.

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A primeira corrente que sustenta a impossibilidade de cumulação da medida

sócio-educativa com a aplicação da remissão pré-processual esta fundamentada na

Súmula nº. 108 do STJ, e nos princípios constitucionais do devido processo legal, do

contraditório e ampla defesa.

Nos termos da Súmula nº. 108 do Superior Tribunal de Justiça, “A aplicação

de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é de

competência exclusiva do juiz”.

Já a segunda corrente diz que, conforme o Estatuto da Criança e do

Adolescente, o qual não fez nenhuma distinção entre remissão pré-processual e

remissão processual, pode cumular qualquer das medidas previstas em lei, com

exceção apenas das já citas anteriormente, as quais semiliberdade e internação.

Assim, a Súmula nº. 108 do STJ veio apenas consagrar o entendimento da

segunda corrente doutrinária, deixando claro que cabe ao Ministério Público o

oferecimento da remissão, tanto a remissão pré-processual quanto a processual,

mas tal ato somente terá eficácia com o parecer judicial, o que não proíbe a

cumulação da remissão pré-processual com a aplicação de medida sócio-educativa

cabível no ato.

Seguindo idêntico posicionamento o Juiz da Infância e da Juventude do

Estado do Rio Grande do Sul, João Batista Costa Saraiva, que assim leciona:

Como expresso no caput do art. 112, apenas a autoridade competente poderá aplicar a medida sócio-educativa e esta autoridade será sempre judiciária a teor da Súmula 108 do STJ, cuja ementa dispõe: a aplicação de medidas socioeducativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é da competência exclusiva do juiz. Tal entendimento não desfigura o instituto da remissão composta pelo MP, como forma de exclusão do processo, pois quando o agente do Ministério Público concertar remissão a que seja cumulada medida socioeducativa e quando esta deliberação for posta sob apreciação do Juiz e este a homologar, será a Autoridade Judiciária quem estará aplicando a medida ajustada pelo Ministério Público, neste caso somente no pertinente às chamadas medidas socioeducativas em meio aberto, únicas possíveis de serem impostas ao adolescente em sede de remissão, como tratado anteriormente. (SARAIVA, JOÃO BATISTA COSTA, 2006, p. 149).

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A remissão não é irrevogável, ou seja, ela pode ser revista a qualquer fase

do procedimento, a pedido do adolescente ou de seu representante legal, ou ainda

pelo próprio Ministério Público. A remissão traz uma utilidade prática, pois quando os

casos são de menor gravidade, não trazendo risco a sociedade e não havendo

necessidade de representação aplica-se a remissão. Cabe ainda ressaltar que a

remissão não prevalece para efeito de antecedentes.

4.3.4.3 Representação à autoridade judiciária.

Se o representante do Ministério Público não promover o arquivamento, e

nem a remissão, oferecerá a representação à autoridade judiciária visando à

aplicação de medida sócio-educativa pública, conforme expresso nos artigos 180, III

e 182 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A representação é a peça formal, a qual dá início a ação sócioeducativa. Na

representação, deverá conter um breve resumo dos fatos e a classificação do ato

infracional expondo a conduta do adolescente, e sendo o caso, deverá conter o rol

de testemunhas, pois a representação tem uma pretensão sócio-educativa.

Para Paulo Afonso Garrido de Paula apud Cury:

A representação, portanto, constitui-se em peça vestibular da ação sócioeducativa pública, instrumento inicial de invocação da tutela jurisdicional, tendo por escopo a aplicação coercitiva da sanção decorrente da prática, pelo adolescente, de conduta descrita como crime ou contravenção penal. (CURY, MUNIR, 2006, p. 557).

Não há prazo fixado para o oferecimento da representação, mas o deve ser

feito o mais célere possível, havendo até uma previsão legal de sua dedução oral,

em sessão diária instalada pela autoridade judiciária. Conforme expõe o artigo 182

do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão, oferecerá representação

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à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada. §1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária. §2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.

A representação assemelha-se muito com a denúncia-crime, contendo: o

endereçamento ao Juiz da Infância e Juventude; a qualificação das partes; a

narrativa dos fatos; o pedido de procedência e aplicação da medida sócio-educativa

que for mais adequada, e o rol de testemunhas, se houver.

E ainda conforme ensinamentos de Paulo Afonso Garrido de Paula apud

Cury:

Tais requisitos formais devem ser atendidos quer se trate de representação escrita ou oral. Se escrita, constarão de petição, requerimento endereçado ao juiz competente. Cópia da representação deverá instruir a citação, servindo de contrafé. Já, a representação oral deve ser formada pelo Ministério Público em sessão diária instalada pela autoridade judiciária. Tal inovação tem por fito agilizar a tramitação do procedimento de apuração, seguindo-se a realização da audiência de apresentação referida no art. 184 do ECA. CURY, MUNIR, 2006, p. 558).

Na representação não se exige prova pré-constituída de autoria e

materialidade, mas isto não quer dizer que possa o Ministério Público representar

sem que existam fortes indícios.

Após a representação por parte do Ministério Público, o juiz ao receber

designará a data, hora e local para a audiência de apresentação do adolescente.

Retornando ao enfoque sobre a atuação do Ministério Público no

Procedimento Especial de Adolescente Infrator cabe ressaltar novamente que o

Promotor da Vara da Infância funciona como um fiscal da lei, tendo a função de

fiscalizar a atuação das partes e do juiz, para viabilizar a aplicação correta da lei e

prevalecer os interesses da sociedade, visando primordialmente à reeducação do

adolescente infrator.

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E ainda, quanto à atuação do Ministério Público, cabe ressaltar o que Hugo

Nigro Mazzilli apud Cury diz:

Assim, o Ministério Público, sobre ser parte no sentido material, é também parte formal ou instrumental. Sua imparcialidade é meramente moram, não é referida em sentido técnico. Ser parte é ser titular de ônus e faculdades processuais. Seu dever de buscar a verdade, sua liberdade de acusar ou de pedir a absolvição, por certo não desnaturam sua posição de órgão do Estado, que concentra nas mãos a titularidade exclusiva de promover o direito de punir do Estado. (CURY, MUNIR, 2006, p. 648).

Conforme Antônio Araldo Ferraz Dal Pozo apud Munir Cury (2006, p. 694)

“Ao ingressar no processo, quer na função de parte, quer na de fiscal da lei, o

Ministério Público está atuando na defesa do interesse público”.

A atuação do Ministério Público nos procedimentos regulados pelo Estatuto

da Criança e do Adolescente é obrigatória e o seu descumprimento acarretará em

nulidade do feito.

Afirma Hugo Nigro Mazzilli apud Cury:

Em sua atuação, busca sempre o Ministério Público o zelo de um interesse público primário, ou seja, de um interesse ligado à defesa da comunidade como um todo, a defesa do bem geral. Com efeito, e é de sabença de todos, há diversas categorias de interesses, que, sumariamente podem ser sintetizadas em dois grandes grupos: o interesse privado (como o direito de propriedade) e o interesse público em sentido estrito (como o direito de punir do Estado soberano). (CURY, MUNIR, 2006, p. 644).

A intimação do Ministério Público, em qualquer caso será feita

pessoalmente. A falta de intervenção do Ministério Público gera nulidade, a qual

será decretada de ofício pelo Juiz ou a requerimento de qualquer interessado. A

intimação pessoal é feita por mandado, pelo oficial de justiça ou em Cartório pelo

escrivão.

Conforme Antônio Araldo Ferraz Dal Pozo apud Cury:

A intimação pessoal é decorrência da necessidade de atuação obrigatória do Ministério Público. A partir da intimação pessoal do promotor de justiça fica evitada a possibilidade de vir ele a desconhecer a existência de processo ou procedimento no qual, obrigatoriamente, deve intervir. Se é

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obrigatória sua intervenção no processo, obrigatória também deve ser, como o é, sua intimação pessoal. (CURY, MUNIR, 2006, p. 695).

É de grande importância a intimação pessoal do representante do Ministério

Público, principalmente porque se trata de interesses de adolescentes, os quais são

menores, e com tal participação o órgão do Ministério Público poderá influir no caso,

orientando a solução de algum problema.

O Ministério Público é essencial para a apuração do ato infracional cometido

pelo o adolescente infrator. Importante citar, que as manifestações por parte do

Ministério Público presentes no Procedimento Especial de Adolescente Infrator

deverão conter fundamentação legal e doutrinária, com uma justificativa social.

4.3.5 Homologação do arquivamento ou da remissão:

Nos casos em que o representante do Ministério Público promoveu o

arquivamento dos autos ou concedeu a remissão ao adolescente, os autos irão

conclusos à autoridade judiciária para a homologação.

Deverá, no entanto, conforme citado anteriormente, o representante do

Ministério Público fundamentar a promoção do arquivamento ou da concessão da

remissão, indicando os fundamentos jurídicos para tal decisão.

Conforme está previsto no art. 181 do Estatuto da Criança e do Adolescente

adiante exposto:

Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para homologação. §1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária determinará, conforme caso, o cumprimento da medida. §2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.

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O magistrado poderá homologar os autos quando houver concordância com

o Ministério Público ou poderá discordar e, ocorrendo tal fato, o magistrado deverá

em despacho fundamentado, conforme já citado no §2º do referido artigo, remeter os

autos ao Procurador-Geral da Justiça que tomará a decisão sobre o fato.

Conforme elucida Tavares:

O magistrado poderá atender de logo o pedido do Representante do Ministério Público concedendo liminarmente a remissão, com o conseqüente arquivamento dos autos. Caso contrário, procederá na forma do §2º submetendo o requerimento do Promotor de Justiça da Infância e da Juventude local a apreciação do Procurador Chefe da Procuradoria Geral da Justiça do Estado. Se este reiterar o pedido, aí sim, o Juiz será obrigado a remitir e arquivar. Como no processo penal, cuja doutrina se toma aqui por empréstimo. (TAVARES, JOSE DE FARIAS, 1999, p. 166).

Sobre o mesmo assunto explica Valter Kenji Ishida (2008, p. 302) “Se a

autoridade judiciária discordar da convicção do membro do MP, despachará

fundamentadamente sua opinião e remeterá os autos ao Procurador-Geral de

Justiça”.

Este sistema é conhecido como controle jurisdicional-administrativo que

encontra a decisão final no Procurador-Geral de justiça.

4.3.6 Oferecimento da Representação:

Não ocorrendo o arquivamento dos autos nem a concessão da remissão,

oferecerá o magistrado a representação, a qual esta explicada de forma específica

nos tópicos 4.4.4.3., em que faz referência as providências tomadas pelo Ministério

Público.

4.3.7 Prazo para conclusão do procedimento:

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O procedimento especial de adolescente infrator terá o prazo máximo para

sua conclusão de 45 dias, no caso de estar o adolescente internado

provisoriamente.

Como dispõe o art. 183 da lei Estatutária:

Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para conclusão do procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.

O prazo de 45 dias não pode ser dilatado por nenhuma justificativa, ou seja,

é improrrogável. No caso de ultrapassar este limite de tempo e o adolescente ainda

estiver internado e o procedimento não estiver concluso, cessará automaticamente a

internação do mesmo.

4.3.8 Designação da audiência de apresentação:

O art. 185 do Estatuto da Criança e do Adolescente nos expressa de forma

bem clara sobre a designação da audiência de apresentação do adolescente.

Após o oferecimento da representação, a autoridade judiciária designará

audiência para a apresentação do adolescente infrator. O adolescente, seus pais ou

responsável deverão ser cientificados sobre a representação e o seu teor e serão

notificados a comparecer em audiência acompanhados de advogado.

Conforme expõe Liberati:

Após oferecida a representação, pelo representante do Ministério Público, a autoridade judiciária designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, observando que a internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de 45 dias. (LIBERATI, WILSON DONIZETI, 1995, p. 162/163).

No caso dos pais ou responsável não serem localizados será nomeado um

curador ao adolescente e, estando o adolescente internado, será requisitada sua

apresentação da mesma forma.

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Conforme nos ensina Paulo Afonso Garrido de Paula apud Munir Cury

(2006, p. 565) ”Recebida a representação, exarando a autoridade judiciária decisão

quanto à decretação ou manutenção da internação provisória, deve o magistrado

designar audiência de apresentação do adolescente.”

4.3.9 Audiência de apresentação do adolescente:

A audiência em continuação é uma verdadeira audiência de instrução e

julgamento. A oitiva do adolescente infrator será semelhante ao interrogatório do réu

no processo penal, mas com algumas distinções, pois o adolescente deve, conforme

o Estatuto da Criança e do Adolescente, ser tratado como uma pessoa em

desenvolvimento. Poderá a autoridade judiciária valer-se da opinião de profissionais

habilitados como psicólogo ou assistente social para ajudar na oitiva do adolescente.

José de Farias Tavares (1999, p. 171) comenta: “Trata-se da audiência

assemelhada à de instrução e julgamento na sistemática processual do devido

processo legal”.

Além do adolescente serão ouvidos seus pais ou responsável. A autoridade

judiciária decidirá conforme sua convicção se concede a remissão, a qual foi citada

anteriormente e é uma forma de extinção do procedimento. Não sendo concedida a

remissão a audiência será suspensa designando-se nova data para a continuação.

Neste caso o advogado será notificado para que no prazo de três dias, contados da

audiência de apresentação, ofereça defesa prévia e o rol de testemunhas.

Conforme expressa o art. 186 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o

qual é bem claro com relação à audiência de apresentação:

Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. §1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão.

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§2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de semiliberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligencias e estudo do caso. §3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas. §4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as diligencias e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá a decisão.

Já na audiência em continuação serão ouvidas as testemunhas arroladas na

representação e na defesa prévia, podendo ainda serem ouvidas pessoas que

conhecem o adolescente, ainda que não tenham presenciado o ato, pois na

apuração de ato infracional é fundamental o conhecimento das condições pessoais

em que convive o adolescente.

Após tais atos, deve ser juntado o relatório da equipe interprofissional. Sobre

isto comenta Pedro Caetano de Carvalho apud Munir Cury (2006, p. 578): “Para os

casos de não existência da equipe interprofissional da infância e da adolescência,

nem da entidade de atendimento, o juiz poderá valer-se do laudo de profissional

nomeado”.

Terminadas as oitivas a autoridade judiciária dará a palavra ao

representante do Ministério Público e ao defensor do adolescente, sucessivamente,

pelo tempo de 20 minutos para cada um, prorrogáveis por mais 10 que será a

critério da autoridade judiciária. Em seguida será proferida a decisão pelo

magistrado, aplicando ou não a medida sócio-educativa que couber ao caso,

conforme acima mencionado no §4º do referido artigo.

4.3.10 Aplicação de medida sócio-educativa:

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Não sendo absolvido o adolescente, a autoridade judiciária ao prolatar sua

decisão aplicará a medida sócio-educativa mais adequada ao ato infracional e as

necessidades pedagógicas específicas do adolescente, sempre observado os

princípios do Direito da Criança e do Adolescente.

Sobre a aplicação cumulada de medida sócio-educativa José de Farias

Tavares (1999, p. 111) ensina que: “Poderá ser uma delas, apenas, ou umas e

outras cumuladas. Isto é possível em face do disposto no art. 113, que remete ao

art. 99, onde a cumulação está prevista”.

A sentença sócio-educativa atende os mesmos requisitos do Código de

Processo Penal, que são o relatório, fundamentação e conclusão. A sentença

poderá ser sancionatória ou absolutória, a primeira é quando é julgado procedente a

aplicação de medida sócio-educatica e a absolutória é aquela que isenta o

adolescente de qualquer sanção.

Segundo Alberto Augusto Cavalcanti de Gusmão apud Chaves:

O Juiz fará aplicação das medidas segundo a sua adaptação ao caso concreto, atendendo aos motivos e circunstâncias do fato, condições do menor e antecedentes. A liberdade, assim, do magistrado é a mais ampla possível, de sorte que se faça uma perfeita individualização do tratamento. (CHAVES, ANTONIO, 1997, p. 505).

Não há do que se falar em condenação e nem absolvição ao adolescente

infrator, a sentença deve ter sua pretensão sócio-educativa, as quais estão previstas

no art. 112, incisos I a VII do Estatuto da Criança e do Adolescente. São elas:

advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços a comunidade,

liberdade assistida, semiliberdade e internação.

A seguir será feita uma breve explanação sobre cada uma das medidas

sócio-educativas.

4.3.10.1 Advertência:

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A medida de advertência existe desde 1927 e já fazia parte do Código de

Mello Mattos, também tendo previsão no Código de Menores de 1979.

Sobre a advertência prevê o art. 115 do Estatuto da Criança e do

Adolescente:

Art. 115. A advertência consistirá na admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada.

Seu propósito é alertar o adolescente que cometeu o ato infracional, os seus

pais ou responsável para as conseqüências que o cometimento de infrações futuras

possam acarretar.

Segundo Munir Cury (2006, p. 386) “De modo geral, o “ato de advertir”, no

sentido de “admoestar”, contém em sua estrutura semântica um componente

sancionatório”.

Para a aplicação de advertência, basta existir a prova de materialidade e

alguns indícios de autoria. Normalmente a advertência vem cumulada com a

remissão extintiva do procedimento.

A advertência é feita oralmente pelo próprio juiz e será reduzida a termo, o

qual será assinado pelos presentes.

4.3.10.2 Obrigação de Reparar o Dano:

Sendo o ato infracional praticado contra patrimônios, a autoridade poderá

determinar que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou

por outra forma compense o prejuízo da vítima.

Expressa o art. 116 da lei Estatutária:

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a

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coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Parágrafo Único: Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.

Esta medida sócio-educativa faz uma conciliação com o interesse também

da vítima, ao assegurar a possibilidade de obtenção de reparação do dano cometido

pelo adolescente.

Para Munir Cury apud (2006, p. 395) “Ao nosso ver, o que importa para o

Estatuto da Criança e do Adolescente é que, em razão do ato infracional, a vítima

tenha sofrido reflexos prejudiciais na esfera econômica”.

Na aplicação da obrigação de reparar o dano deve-se ter muita cautela para

que não se afete a imagem do adolescente e não o submeta a humilhação pública, a

qual é tão prejudicial nos procedimentos voltados aos adolescentes infratores,

descaracterizando a finalidade de caráter reeducativo.

4.3.10.3 Prestação de Serviços à Comunidade:

A prestação de serviços à comunidade consiste na realização de tarefas

gratuitas, não podendo exceder seis meses e devem ser aplicadas aos adolescentes

que prestem este serviço a entidades assistenciais, hospitais, escolas, entre outros

estabelecimentos congêneres.

É uma das medidas sócio-educativas mais utilizadas e, conforme o

parágrafo único do art. 117 da mesma lei Estatutária, menciona que as tarefas a

serem atribuídas aos adolescentes deverão estar em conformidade com suas

aptidões e não podendo a jornada ultrapassar oito horas semanais de modo a não

prejudicar a freqüência à escola.

Para Munir Cury (2006, p. 401) “A prestação de serviços a comunidade

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(art. 112, III, do ECA) é uma das medidas sócio-educativas que se reveste, hoje, de

um grande e profundo significado pessoal e social para o adolescente autor de ato

infracional”.

Trata-se de uma medida de nenhum custo e de fácil fiscalização, pois a

própria entidade beneficiada deverá encaminhar mensalmente um relatório das

atividades do adolescente ou comunicar a ausência ou a falta de disciplina do

mesmo.

4.3.10.4 Liberdade Assistida:

A medida sócio-educativa de liberdade assistida possibilita ao adolescente o

seu cumprimento em liberdade e junto à sua família, mas sob o controle sistemático

da autoridade judiciária e da comunidade.

Esta medida destina-se aos infratores que são passíveis de recuperação, os

que estão iniciando no mundo do crime. De acordo com o art. 118 do Estatuto da

Criança e do Adolescente “será adotada sempre que se figurar a medida mais

adequada, para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente”.

A liberdade assistida conforme o §2º do art. 118 da lei Estatutária será fixada

pelo prazo mínimo de seis meses, com a possibilidade de prorrogação, renovação

ou substituição por outra medida.

Será designada uma pessoa capacitada para acompanhar o caso, podendo

ela ser recomendada por alguma entidade de atendimento. O acompanhamento do

adolescente e de sua família é muito importante e necessário, pois a família é de

grande importância na aplicação da medida sócio-educativa de liberdade assistida.

A atuação junto à família permite uma ajuda mútua em conformidade com as

necessidades do adolescente.

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4.3.10.5 Regime de Semiliberdade:

O regime de semiliberdade é um meio termo entre a privação da liberdade e

a liberdade assistida.

Esta medida já era prevista no antigo Código de Menores, sob a

denominação de “Colocação em Casa de semiliberdade”.

Elucida José de Farias Tavares (1999, p. 116) “Observa-se que o tempo de

duração é indeterminado, devendo durar enquanto conveniente às finalidades de

medida, cuidando-se sempre da educação regular e profissional do paciente”.

Este regime pode ser determinado desde o início ou como forma de

transição para o meio aberto, sendo obrigatória a escolarização e a

profissionalização do adolescente, não comportando tal medida prazo determinado,

pois é um meio de evitar a internação.

4.3.10.6 Internação:

A medida sócioeducativa de internação é a mais severa de todas as outras

já mencionadas, pois ela priva o adolescente de sua liberdade. Esta medida deve

ser aplicada somente nos casos mais graves, em caráter excepcional.

Como assinala Azevedo Marques (1976, p. 36), "o sistema não defende a

sociedade, não protege o menor, não o recupera, encaminhando-o para a

reincidência, é custoso para o Estado e prepara o delinqüente adulto."

Por isto que o Estatuto da Criança e do Adolescente considera a internação

como a última alternativa, assegurando aos adolescentes privados de liberdade os

cuidados especiais, como a formação profissional, a educação, esporte, lazer entre

outras.

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A medida de internação esta prevista no art. 121 a 125 da lei Estatutária, a

qual prevê que tal medida não tem um prazo estipulado em lei, mas sua manutenção

deve ser reavaliada no máximo a cada seis meses. E em nenhuma hipótese poderá

exceder o período de internação a três anos.

A liberação do adolescente infrator será compulsória quando o mesmo tiver

completado 21 anos de idade, não sendo compulsória só poderá ser liberado o

adolescente com a autorização judicial e deverá ser ouvido o Ministério Público.

Conforme prevê o art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I – tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III – por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Cabe ressaltar que a internação devera ser cumprida em entidades que

sejam exclusivas para adolescentes. O art. 124 do Estatuto enumera os direitos do

adolescente privado de liberdade.

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5 FUNÇÃO DOS ENVOLVIDOS NO PROCEDIMENTO:

5.1 MAGISTRADO:

Todos os conflitos de natureza jurídica exigem para sua solução o devido

processo legal, iniciando aí a função do magistrado no procedimento especial de

adolescente infrator.

O magistrado ou como é chamado Juiz da Infância e da Juventude, exerce

uma função como qualquer outro juiz, onde toma suas decisões com liberdade, mas

sempre as motivando, conforme expressa o art. 93 da Constituição Federal, o qual

dispõe sobre os princípios da magistratura. Importante destacar que as atribuições

do magistrado estão dispostas na Seção II do Capítulo Da Justiça da Infância e da

Juventude no Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Magistrado tem uma função essencial no procedimento para adolescentes

infratores, pois em várias etapas do procedimento ocorre sua intervenção, ou seja, a

decisão do magistrado, o qual poderá homologar ou discordar das concessões que

cabem ao Ministério Público, conforme dispõe o art. 148 do Estatuto da Criança e do

Adolescente:

Art. 148. A justiça da Infância e da Juventude é competente para: I - conhecer de representações providas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis; II – conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo; ...

Conforme já explicado nos tópicos anteriores cabe ao magistrado a

homologação da concessão de remissão ou a promoção do arquivamento, ficando

estas ações sujeitas a um controle judicial.

Conforme nos ensina Paulo Afonso Garrido de Paula apud Munir Cury

(2006, p. 551): “Assim a autoridade judiciária exerce fiscalização externa dos atos do

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Ministério Público relacionados ao arquivamento e a remissão, de modo a buscar a

reparação dos equívocos, da mesma forma como as partes podem recorrer das

decisões judiciais”.

O magistrado tem muitas atribuições no procedimento, sendo uma das mais

importantes a de atribuir ao adolescente as medidas sócio-educativas que deverão

ser cumpridas pelo mesmo.

Sobre este assunto Paulo Afonso Garrido de Paula apud Munir Cury (2006,

p. 551) explica: “Criando um mecanismo de freios e contrapesos, buscou a lei evitar

decisões baseadas no arbítrio e na prepotência, de modo a dosar a disponibilidade

da ação sócio-educativa pública”.

Importante ressaltar também que o magistrado ao trabalhar com

adolescentes, os quais são considerados pessoas em desenvolvimento, ele deverá

ter, além do conhecimento jurídico, um conhecimento que envolva a área

pedagógica e psicológica para que esteja apto a entender as atitudes dos

adolescentes e tomar a melhor decisão.

O Juiz da Infância e da Juventude não analisa apenas a gravidade do ato

infracional cometido pelo adolescente, mas também analisa as condições em que

está submetido o adolescente.

5.2 MINISTÉRIO PÚBLICO:

As funções do Ministério Público estão expressas com clareza no tópico

4.3.4 das Providências do Ministério Público, as quais são regulamentadas pelos

arts. 200/205 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

5.3 ADVOGADO:

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O objetivo do legislador é de proporcionar ao adolescente o integral acesso

à justiça, garantindo desta forma a ampla defesa ao adolescente, por isso, desde

que haja um conflito de interesse entre as partes, ou seja, desde que exista uma

lide, é indispensável à presença de um procurador nos autos.

Conforme prevê o artigo 206 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. Parágrafo Único: Será prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitem.

O artigo supra mencionado garante ao adolescente à presença do

advogado, sempre que exista o conflito de interesse em que o mesmo esteja

envolvido. O advogado deverá ser constituído através dos pais do adolescente, de

seu responsável ou até por terceiro com interesse na solução da lide.

O direito do adolescente de ter um advogado constituído nos autos também

está assegurado constitucionalmente, expresso na Constituição Federal, em seu

artigo 227, §3º:

Art. 227. E dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito a vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao laser, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária, alem de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. §3º. O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: IV - garantia de pleno e formal conhecimento de atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar especifica.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não se omitiu sobre a presença do

defensor no procedimento especial de adolescente infrator, conforme disciplinou no

art. 111:

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias: III- defesa técnica por advogado;

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IV- assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei.

A intervenção do advogado no procedimento especial de adolescente

infrator visa à garantia dos direitos do adolescente.

Como dispõe José de Farias Tavares:

O que este art. 206 pretende dizer é que, nos casos em que a criança ou o adolescente esteja sendo assistida por Defensor Público ou advogado dativo, qualquer pessoa com legitimidade no interesse moral e jurídico sobre o assunto pode constituir advogado por sua própria conta. (TAVARES, JOSÉ DE FARIAS, 1999, p. 191).

Caso o adolescente, seus pais ou responsável não tenham condições para

contratar um advogado, sua ausência não poderá ser utilizada para adiamento de

atos processuais, neste caso o juiz nomeará um defensor, ainda que

provisoriamente. A falta de advogado constituído no procedimento de adolescente

infrator gera nulidade do processo.

Como nos ensina Péricles Prade apud Cury:

Se, por ser pobre, ficasse o adolescente sem assistência técnica, o julgamento não seria justo nem imparcial, havendo um estridente desequilíbrio entre as partes. Melhor dizendo: emergeria ofensa ao princípio da igualdade de todos perante a lei. Cabe ao Estado suplementar a carência, retomando o fio do equilíbrio, que, sem sua intenção, seria rompido. (CURY, MUNIR, 2006, p. 373).

A presença de um advogado especializado no procedimento de adolescente

infrator é indispensável, pois o adolescente não poderá ser tratado da mesma forma

que um adulto, haja vista que o adolescente necessita de compreensão para que a

lide venha a ser resolvida.

Conforme expressa Raul Zaffaroni apud Cury:

Com bom critério, o texto estabelece o principio de que a defesa não pode, pela sua ausência arbitraria, impedir ou dificultar o avanço de causa, mas ao mesmo tempo prescreve que esta ausência seja suprida pelo juiz de tal forma que, por um lado, garanta a continuidade processual e, por outro, impeça que a permanente ausência do advogado seja pretexto para deixar indefesos os menores com mais limitado acesso à Justiça, que são a maioria. (CURY, MUNIR, 2006, p. 700).

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O juiz poderá nomear um defensor ad hoc, ou seja, somente para o ato,

caso o defensor nomeado anteriormente não compareça na audiência de instrução e

julgamento.

Tanto o defensor constituído como o nomeado serão intimados para todos

os atos pessoalmente ou por publicação, sempre respeitando o segredo de justiça

que é previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

5.4 ASSISTENTE SOCIAL:

Os adolescentes são considerados pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente como pessoas em desenvolvimento, por isso devem ser tratados de

forma distinta dos maiores.

No procedimento de apuração de ato infracional é indispensável a

intervenção e ajuda de profissionais como a assistente social. O adolescente que

está em conflito com a lei, entra nessa vida por causa de vários fatores e está aí a

função da assistente social, que é de conversar não só com o adolescente, mas

também com sua família para verificar como é a convivência do adolescente.

Conforme prevê a lei Estatutária, o Poder Judiciário deverá prever recursos

para a manutenção de uma equipe interprofissional que será destinada a assessorar

a Justiça da Vara da Infância e da Juventude.

Estabelece as funções da equipe interprofissional, o art. 151 do Estatuto da

Criança e do Adolescente:

Art. 151. Compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.

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Em algumas situações os adolescentes infratores sentem-se melhor

compreendidos pelas assistentes sociais, por isso a orientação é muito importante

para a conclusão da apuração do ato infracional e eventual aplicação das medidas

sócio-educativas.

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6 FINALIDADE DO PROCEDIMENTO:

Ao contrário do que ocorre no processo crime, o qual é instaurado para os

imputáveis, a finalidade do procedimento especial de adolescente infrator não é a

aplicação de penas e sim a aplicação de medidas sócio-educativas, para que o

adolescente tenha sua integral proteção assegurada.

Para que se alcance a finalidade do procedimento devem ser observados os

dispositivos dos art. 1º e 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente, os quais

elucidam sobre os direitos básicos dos adolescentes que são considerados

conforme a lei Estatutária como pessoas em desenvolvimento.

A sanção para o ato infracional é a aplicação das medidas sócioeducativas,

mas as mesmas só devem ser aplicadas quando forem imprescindíveis. Estas têm a

finalidade de reeducação do adolescente que cometeu o ato infracional, visando que

o mesmo não seja um infrator reincidente, como ocorre muito com os imputáveis.

A finalidade do procedimento especial de adolescente infrator é a correta e

justa aplicação das medidas sócio-educativas, as quais visam a ressocialização do

adolescente em conflito com a lei.

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CONCLUSÃO

Esta explanação referente ao Procedimento Especial de Adolescente

Infrator, regulamentado pela Lei n 8.069 de 1990, o Estatuto da Criança e do

Adolescente, vem melhor demonstrar a existência de um procedimento voltado ao

tratamento de adolescentes que cometeram infrações, os quais são considerados

pela Lei Estatutária como pessoas em desenvolvimento. Conforme explanação de

José de Farias Tavares (1999, p. 4) pessoa em desenvolvimento é: “pessoa humana

em fase de imaturidade biopsíquico-social por ser menor de 18 (dezoito) anos

idade)”.

Foi possível com a elaboração do trabalho, verificar a evolução histórica do

nosso ordenamento jurídico, verificar que ao fazer um estudo comparado da

legislação juvenil, podemos entender melhor a nossa própria legislação, percebendo

desta forma que a nossa legislação específica está em consonância com as

legislações internacionais mais recentes.

O estudo dos princípios voltados ao procedimento são essenciais para uma

melhor compreensão do tratamento ao adolescente infrator. As etapas do

procedimento de apuração de ato infracional muito se parecem com a elaboração de

um inquérito policial, mas é claro não deixando de lembrar que o adolescente tem

um tratamento diferenciado.

O procedimento para apuração de ato infracional como citado anteriormente

possui regras próprias. Mas existem outros parâmetros que são aplicados em

caráter subsidiário, ou seja, na ausência de disposições do Estatuto da Criança e do

Adolescente, as normas previstas no Código de Processo Penal serão utilizadas,

com exceção do sistema recursal que prevê a utilização com algumas adaptações

do Código de Processo Civil.

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Ao ser instaurado um procedimento contra o adolescente que cometeu um

ato infracional, para que se chegue até a aplicação das medidas sócio-educativas, o

procedimento passa por vários interventores que são responsáveis pelo

cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, são eles, o Magistrado ou

como é chamado Juiz da Vara da Infância e da Juventude, o qual tem um papel

imprescindível no procedimento, pois é ele o responsável pela homologação dos

atos do Ministério Público e é de sua integral responsabilidade a aplicação da

medida sócioeducativa. O Ministério Público tem várias funções no procedimento,

entre elas à de conceder a remissão ou oferecer a representação com posterior

homologação do magistrado. No mesmo sentido, não se pode deixar de citar a

importância do advogado no procedimento, pois a sua não participação gera

nulidade do feito, haja vista que sua presença no procedimento é um direito

constitucional do adolescente, devendo ser garantida desta forma sua ampla defesa.

O valor perseguido pelo aplicador do Direito da Infância e da Juventude a

partir da elaboração de um procedimento específico é um tratamento diferenciado, o

qual proporciona ao adolescente a chance de reeducação e ressocialização com a

aplicação das medidas sócio-educativas.

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