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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE Luiz Eduardo de Castro Moraes EFEITOS DO ENVELHECIMENTO EM CÃES E GATOS CURITIBA 2013 14

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE

SAÚDE

Luiz Eduardo de Castro Moraes

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO EM CÃES E GATOS

CURITIBA

2013

14

Luiz Eduardo de Castro Moraes

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO EM CÃES E GATOS

CURITIBA

2013

15

Luiz Eduardo de Castro Moraes

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO EM CÃES E GATOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário Orientador: Prof.Dra Maria Aparecida de Alcantara.

CURITIBA

16

2013

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo Prof. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitoria Acadêmica Profª. Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento Prof. Afonso Celso Rangel Santos

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Profª.Dra Ana Laura Angeli

Campus Prof. Sydnei Lima Santos (Barigui) Rua Sydnei Antonio Rangel Santos

CEP 82010-330 – Santo Inácio

Curitiba – PR Fone (41) 3331-7700

17

TERMO DE APROVAÇÃO

Luiz Eduardo de Castro Moraes

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO EM CÃES E GATOS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado e julgado ao

Curso de Medicina Veterinária da Faculdade Ciências Biológicas e de Saúde

da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do

título de Médico Veterinário.

Curitiba,

______/______________/2013

Orientador: Profa.. Dra Maria Aparecida de Alcantara

__________________________________

18

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que sonharam e acreditaram comigo. Cada um teve seu papel que, por menor que tenha sido, foi essencial no cumprimento desta meta.

Agradeço a meus mestres, foram eles, cada um há seu tempo e seu modo, que me inspiraram e inspirarão a sempre querer aprender mais.

Aos amigos conquistados durante o caminho do aprendizado... Amigos ontem, amigos hoje e certamente amigos amanhã.

Aos profissionais amigos especiais, Médicos Veterinários, estagiários, enfermeiros e demais funcionários do Hospital Veterinário Santa Mônica, em especial ao Dr. Ricardo Canever, orientador profissional, pela paciência e cooperação, só tenho que agradecer neste momento.

A professora “ Cida “, amiga, por estar sempre ao meu lado, transmitindo-me todo seu apoio, pelo incentivo e pela amizade que de forma solidária, só posso repetir muito obrigado.

Aos meus pais, irmãos, pois sei que sempre que precisar de conforto entre eles eu vou encontrar.

A minha maior gratidão a todos que participam dessa caminhada, pois tenho certeza que levo com carinho dentro de mim a semente plantada, aguardando germinar, para minha nova vida profissional, um futuro auspicioso.

Aos animais que atendidos, sem os quais não poderíamos realizar esta pesquisa. A estes seres inocentes e dóceis, todo o meu respeito e eterno agradecimento.

O término desta etapa é apenas o início de tantas outras que percorrerei na minha vida tendo em vocês meus alicerces.

Obrigado por estarem ao meu lado.

19

“Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós,

Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.”

Cora Coralina

20

RESUMO

Os efeitos do envelhecimento sobre da população de pequenos animais é um

fato recente, universal e inexorável. Suas causas são multifatoriais e suas

consequências são igualmente importantes do ponto de vista da atuação do

medico veterinário, pois nos últimos anos, a medicina de pequenos animais

vem sofrendo uma grande revolução no que diz respeito a diagnóstico

tratamento. A prevalência geral de doenças aumenta com o avançar da idade

e cabe ao medico veterinário investir na saúde preventiva objetivando o

tratamento das afecções senis bem como uma oferta de qualidade de vida e

bem estar ao animal. Estes fatos possuem implicações consideráveis quanto

ao treinamento de profissionais envolvidos direta e indiretamente com a

geriatria animal. O presente trabalho de conclusão curso descreve os

procedimentos realizados para atendimento a pacientes geriátricos e descreve

também as atividades desempenhadas durante o período de estágio

obrigatório.

Palavras chave: geriatria, afecções senis, envelhecimento animal

21

ABSTRACT

The effects of aging on the population of small animals is a recent global,

universal and inexorable. Its causes are multifactorial and its consequences are

also important from the point of view of the performance of vet. In the last few

years, small animal medicine is undergoing a major revolution with regard to

diagnostic and treatment A overall prevalence of disease increases with

advancing age and it is up to the veterinary surgeon invest in preventive health

aimed at the treatment of disorders and senile Offer quality of life and well-being

to animal. This facts have important implications regarding the training of

professionals involved directly and indirectly with the geriatric animal. This

paper describes the course completion procedures performed to care for

geriatric patients and also describes the activities performed during the period

of compulsory internship.

Keywords: geriatrics, senile disorders, aging animals

22

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ……………………………………………….. 14 1.2 Apresentação do Hospital Veterinário Santa

Mônica...... 15

1.3 Casuística geral e descrição das atividades de estágio. 182 REVISÃO DE LITERATURA................................................ 202.1 Pacientes Geriátricos......................................................... 202.2 Termos, conceitos e definições ....................................... 212.3 Alterações fisiológicas observadas no paciente idoso.. 222.4 Alterações do metabolismo............................................... 232.5 Afecções cardíacas e respiratórias.................................. 242.6 Afecções geniturinárias.................................................... 252.7 Afecções do aparelho digestório..................................... 282.8 Afecções músculo esquelético ........................................ 302.8.1 Caso clinico 1– ................................................................... 32

2.9 Afecções dermatológicas.................................................. 342.9.1 Caso Clinico 2 –................................................................... 35

2.10 Afecções endócrinas......................................................... 372.10.1 Diabete Melitus.................................................................... 372.10.2 Hiperadrenocorticismo.......................................................... 382.10.3 Hipotireoidismo.................................................................... 392.10.4 Obesidade............................................................................ 402.10.5 Caso clinico 3 ...................................................................... 422.11 Afecções neurológicas...................................................... 432.12 Afecções neoplásicas........................................................ 443 Conclusão........................................................................... 424 Referências Bibliográficas ............................................... 43

24

LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

DAD - Doença articular degenerativa

DMDI – Diabete Mellitus Dependente de Insulina

DRC – Doença renal crônica

HPB – Hiperplasia Prostática Benigna

HVSM – Hospital Veterinário Santa Mônica

ICC – Insuficiência Cardíaca Congestiva

mm – Milímetros

Kg - Quilogramas

PR – Paraná

TPC – Tempo de preenchimento Capilar

TID – Três vezes ao dia

UTP – Universidade Tuiuti do Paraná

25

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Hospital veterinário Santa Mônica.................... 15

Figura 2A Estrutura Física, HVSM a) Consultório............. 16

2B B) Centro cirúrgico......................................... 16

2C C) Sala de Emergência................................... 16

Figura 3A A)Laboratório de Patologia Veterinária........... 17

3B B)Sala de Ultrassonografia............................. 17

3C C) Sala de Radiologia...................................... 17

Figura 4 Paciente com ICC, Kika poodle 16anos....... 25

Figura 5 Canino Dougue14 anos, apresentando Hiperplasia Prostática Benigna........................

28

Figura 6 Canino macho 10anos com severa periodontite 29

Figura 7 Fêmea Lhasa Apso, 13anos; Estudo radiográfico apresentando doença articular degenerativa

31

Figura 8 Paciente felino Himalaio 11 anos com espondilose deformante.........................................................

33

Figura 9 Estudo radiográfico em felino, evidenciando a diminuição de espaços intervertebrais e a formação de pontes de osteófitos..........................................

33

Figura 10 Paciente Pit Bull portador de Carcinoma de células

escamosas........................................................

36

Figura 11 Beagle macho 8ª5meses. Hipotireoideo e obeso .

41

Figura 12 Fêmea SRD 14 anos. Tumor mamário. 45

26

LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

Gráfico 1 Demonstrativo de pacientes idosos atendidos durante o o período de estágio obrigatório no HVSM , entre felinos e caninos........................

17

Tabela 01 Correlação entre espécie , peso e idade cronológica...........................;;;;;;;;;;;;......................

23

Gráfico 2 Numero de pacientes geriátricos e não geriátricos atendidos HVSM no período de 15/02/2013 a 15/05/2013.............................

18

Gráfico3 Distribuição do numero de pacientes idosos relacionados com as principais identificadas no HVSM.....................................................

19

27

1 INTRODUÇÃO

Devido ao crescente aumento da expectativa de vida dos animais

domésticos bem como exponencial desenvolvimento da medicina veterinária,

algumas enfermidades que anteriormente não eram observadas em pacientes

geriátricos passaram a ser diagnosticadas. Dentre elas enquadram-se as

doenças músculos esqueléticas, as alterações endócrinas e metabólicas, as

cardiopatias, as alterações cognitivas e as neoplasias que são afecções

comumente observadas em cães idosos.

Conforme a população de animais idosos aumenta, evidenciamos uma

maior consciência e conhecimento por parte dos responsáveis no que se refere

aos cuidados adequados para com esses animais. A relação responsável

animal se estreita a cada dia, e esta relação conduz o médico veterinário a uma

busca constante por conhecimento, tornando-o assim cada vez mais ativo e

sofisticado no monitoramento e manejo destes pacientes.

Os efeitos do envelhecimento sobre os sistemas orgânicos senis

correspondem a alterações progressiva e irreversível, assim os animais idosos

raramente possuem uma única doença, e sim uma combinação particular e

múltipla de doenças orgânicas com níveis variados de disfunção, que cabem

ao médico veterinário, identificá-las e tratá-las.

O presente relatório tem como finalidade abordar os atendimentos

prestados a pacientes geriátricos, bem como as atividades realizadas durante o

estágio curricular obrigatório, sob orientação da professora Dra Maria

Aparecida de Alcântara, docente responsável pelas disciplinas de Anatomia

Veterinária e Etologia e Ambiente.

O estágio foi realizado durante o período de 14 de Fevereiro até 15 de

Maio deste ano, totalizando 360 (trezentas e sessenta) horas divididas em seis

horas diárias, de segunda à sexta-feira, pelo período da manhã, das 08 às 14

horas.

O local escolhido foi o Hospital Veterinário Santa Mônica (HVSM),

localizado na Avenida Brigadeiro Franco, 4029, em Curitiba-PR, um dos

centros médico veterinários de referência nesta cidade, que é composto por

uma infraestrutura adequada e uma equipe capacitada.

28

O objetivo do estágio foi acompanhar o atendimento clínico e cirúrgico

dos pacientes da rotina buscando assim um aprendizado concreto, para a

prevenção de doenças senis, detecção e tratamento, além de aprender sobre

os cuidados e apoio durante as doenças terminais que acometem os pacientes

idosos.

Neste relatório está exposta a descrição sintetizada da estrutura física

do HVSM, sua casuística no período referido e uma revisão de literatura

abordando temas pertinentes a geriatria animal com sua respectiva bibliografia.

Os temas abordados neste trabalho de conclusão de curso foram

escolhidos por serem temas atuais seja por seu alto índice de incidência ou por

seu interesse didático, pois sabemos que algumas doenças senis são

incuráveis, mas se detectadas precocemente, e devidamente tratadas, teremos

relativo sucesso para com nossos pacientes na prática da medicina veterinária

de pequenos animais.

1.2. Apresentação do Hospital Veterinário Santa Mônica

O Hospital Veterinário Santa Mônica (HVSM), foi fundado em 2008,

entretanto vem atuando no mercado Curitibano desde 1991 como a Clínica

Veterinária Santa Mônica (Figura 1).

F

O HVSM possui atend

médicos veterinários em p

igura 1- Hospital VeterinárioSanta Mônica. Curitiba/PR

imento de plantão 24 (vinte e quatro) horas, com

ermanência nas suas instalações, possuindo

29

equipamento médico atualizado destacando-se por possuir uma equipe de

profissionais, motivada e pronta a prestar um serviço de qualidade a seus

clientes.

O espaço físico HVSM oferece a seus clientes uma sala de

espera/recepção, quatro consultórios, um internamento geral, um internamento

para gatos e também uma ala de isolamento onde são colocados os animais

com suspeita ou confirmação de doença infectocontagiosa, uma sala de

radiografia e ultrassonografia, além de um centro cirúrgico, preparado e sempre

pronto para receber qualquer procedimento cirúrgico (Figura 2 ).

Figura 2 - Estrutura Física, HVSM; A) consultório B) centro cirúrgico C) Sala de emergência.

O HVSM conta com serviço de patologia clínica e departamento de

diagnóstico por imagem, composto por sala adequada de radiologia e

ultrassonografia, visando aprimoramento diagnóstico (Figura 3).

BCA

CBA

30

Figura 3 – Estrutura física HVSM; A) Laboratório de Patologia Veterinária, B) Sala de ultrassonografia C) Sala de Radiologia.

Durante o período de estágio foi observado o atendimento de um total de

298 pacientes, desses 68 (22,8%) eram idosos, com idade superior a sete

anos. Dos pacientes idosos atendidos tivemos 05 felinos e 63 caninos(gráfico

01). Entre os felinos tivemos uma prevalência de machos 3 (60%) em relação

às fêmeas 2 (40%). Já entre os caninos a maioria era composta por fêmeas

que totalizaram 33 (52,3%) pacientes em relação aos 30 (47,6%) pacientes

machos. Durante este mesmo período tivemos o atendimento a 230 pacientes

não geriátricos, ou seja, 77,2% (Gráfico 02); do total dos atendimentos, estes

animais foram submetidos a procedimentos e atendimentos diversos, como:

tratamento dentária, vacinação, cirurgias ortopédicas e de tecidos moles,

internação clinica para tratamento de viroses e outras moléstias, atendimentos

emergenciais, encaminhados por outros colegas para realização de exames

complementares.

Gráfico 01: Demonstrativo de pacientes idosos atendidos durante o período do estágio obrigatório de 15/02/13 a 15/05/13 no HVSM separados entre felinos e caninos.

31

Gráfico 02: Número de pacientes geriátricos e não geriátricos atendidos no HVSM no período de 15/02/13 a 15/05/13.

1.3. Casuística geral e descrição das atividades de estágio

A casuística, incluindo aqui caninos e felinos foi dividida em duas

categorias: acompanhamento cirúrgico e clínico, onde vale ressaltar que dentro

do acompanhamento dos casos clínicos ficava estipulado o acompanhamento

a pacientes internados, auxilio a métodos de diagnóstico, bem como a consulta

e discussão de casos clínicos pertinentes ao período em que se cumpria o

estágio obrigatório.

Durante o período de estágio, todas as metas propostas pelo meu

orientador profissional, foram compridas.

Com a finalidade de descrever os atendimentos clínicos a pacientes

idosos, serão relatados os principais efeitos do envelhecimento encontrados

nos pacientes atendidos durante o estágio obrigatório, alem da descrição

detalhada de três casos clínicos.

O gráfico abaixo demonstra o total de atendimentos realizados

separados pelas principais afecções senis observadas.

Gráfico 3 – Distribuição do número de pacientes idosos relacionados às principais

afecções diagnosticadas no HVSM no período de 15/02/13 a 15/05/13

32

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Pacientes geriátricos Todo cuidado ao animal, em qualquer estágio de sua vida, é focado em

sua proteção e na busca constante de maximizar sua qualidade de vida. Esses

parâmetros devem ser observados tanto pelos responsáveis, como pelos

médicos veterinários, e que por meio da cooperação entre ambos estes

objetivos sejam alcançados sempre buscando o bem estar do animal. Os

problemas e desafios especiais, também tornam as preocupações com a

qualidade de vida dos animais idosos a questão mais importante a ser

alcançada nesta fase de vida destes pacientes (HOSKINS, 2008).

A geriatria é o ramo da medicina que trata os problemas peculiares da

velhice ou senilidade, onde a velhice representa o acúmulo de alterações

corporais progressivas associadas à doença ou responsável por ela, a

diminuição das funções fisiológicas e a morte. A velhice por si só não é uma

doença. A variedade na expectativa de vida e vida média entre as espécies e

entre indivíduos de uma mesma espécie sugere que exista um componente

genético responsável pelo processo de envelhecimento. Excluindo os fatores

genéticos, as variações podem ser atribuídas às doenças adquiridas e às

agressões ambientais (FORTNEY, 2008).

A velhice, do ponto de vista biológico é percebida como um desgaste

natural das estruturas orgânicas que, com isso, passam por transformações

com o progredir da idade, prevalecendo os processos degenerativos (CALDAS,

2002). Tentar definir idoso usando apenas a visão biológica é cair num erro de

demarcação meramente cronológica.

O processo de envelhecimento é composto por uma série de fatores

endógenos e exógenos. Os fatores endógenos correspondem ao relógio

biológico, ou seja, a programação genética, que são fatores cruciais ligados ao

envelhecimento. Os fatores exógenos influenciam o ritmo e a velocidade com

que ocorre o processo do envelhecimento, acelerando os processos

degenerativos e encurtando a sobrevivência, quando estes fatores são

desfavoráveis (FORTNEY, 2008).

33

A alimentação, o clima, características ambientais, a saúde etc., são

fatores que apesar de não causarem a doença clínica, podem afetar

negativamente acelerando as mudanças nas estruturas e função de diversos

tecidos e órgãos, tendo como consequência seu envelhecimento (HOSKINS,

2008).

As alterações que ocorrem em pacientes geriátricos são consideradas

multissistêmicas, ou seja, alterações morfológicas e funcionais de todo o órgão

levando o animal idoso a uma condição corporal diferente da anterior

(MORAIS, 2006; HOSKINS, 2008).

2.2 Termos, conceitos e definições O conhecimento e esclarecimento destes termos e definições são

imprescindíveis para entender os processos sofridos pelos animais com o

passar da idade.

A gerontologia é o estudo do idoso e do processo de envelhecimento. É

um ramo da ciência que estuda os problemas clínicos envolvidos com a idade e

tem como objetivo auxiliar o indivíduo a obter um envelhecimento longevo e

saudável. Tendo como foco principal prevenir, retardar ou tratar as doenças do

idoso (LAFLAMME, 2010).

O envelhecimento é um processo que ocorre naturalmente desde a

concepção passando pelo desenvolvimento durante a fase adulta até chegar

ao estágio da vida denominado de geriátrico (CASE CAREY e HIRAKAWA,

2011). Gomes e Carciofi, (2010) atestam que as mudanças e alterações

envolvendo o idoso, tanto funcionais como metabólicas são inúmeras

transformações de caráter progressivo e irreversíveis no organismo do animal

(FORTNEY 2008).

Essas mudanças podem estar diretamente ligadas a algumas doenças

ou mesmo serem responsáveis por desencadear a doença, culminando com a

perda gradativa do organismo de se adaptar as novas condições impostas pelo

avançar da idade cronológica (FORTNEY 2008).

Além disso, esses efeitos criados pelo avançar da idade, podem ser

subclínicos, o que preocupa ainda mais, caso os animais não venham sendo

acompanhados com programas específicos para animais idosos, pois pelo

declínio nas funções de diversos órgãos, o animal idoso se torna mais

34

suscetível e vulnerável as mais diversas doenças (MOONEY, 1995; FORTNEY,

2008).

A nomenclatura para definir senilidade é muito extensa existindo termos

frequentemente utilizados como sênior, senil, idoso, velho e geriátrico. Estes

termos apresentam significados distintos que embora sejam utilizados como

sinônimos. Quando utilizamos o termo “sênior” ou “idoso” refere-se a alterações

comportamentais ou físicas relacionadas à idade do animal. Já o termo

“geriátrico” ou “velho” remete-se a idade cronológica do mesmo (GOMES e

CARCIOFI, 2010). Então podemos afirmar que geriatria é uma especialidade

da medicina que estuda o diagnóstico das anomalias e doenças relacionadas

aos idosos.

Quando as mudanças que ocorrem na vida dos animais e estão

associadas a doenças e possam afetar de forma prejudicial à saúde e

qualidade de vida dos animais, estas mudanças são denominadas como

senescência. Já o termo senilidade, refere-se a alterações de envelhecimento

patológicas (GOMES e CARCIOFI, 2010).

2.3 Alterações fisiológicas observadas no paciente idoso O processo natural do envelhecimento atua sobre a capacidade e

funcionalidade dos órgãos. Alguns dados obtidos através da análise química do

sangue e células sugerem que vários sistemas fisiológicos são afetados pelo

processo normal do envelhecimento. Atualmente vários estudos são realizados

na tentativa de mensurar esses danos provocados ao paciente geriátrico.

Normalmente, mais de uma doença crônica pode estar instalada em um

paciente geriátrico (CASE CAREY e HIRAKAWA 2011).

Segundo Morais, (2006) são considerados pacientes geriátricos os cães

de raças de pequeno porte, ou seja, com peso inferior a 10 quilogramas (Kg) a

partir dos 9 – 13 anos de idade. Os cães de raças de médio porte, aqueles com

peso médio entre 11- 25 Kg possuem sua classificação de idoso a partir 9 - 11

anos de idade, já os cães de peso entre 26- 45 Kg, cães de grande porte, são

considerados idosos a partir dos 7 anos de idade. Os cães considerados

gigantes, ou seja, com peso superior a 45 Kg possuem a classificação de idoso

a partir dos 6 anos de idade (Tabela 01). Segundo Mooney (1995), os felinos

com idade superior a 6 anos podem ser considerados pacientes geriátricos

35

pois, a partir desta idade que começam a ser observado modificações súbitas

nas funções dos órgãos.

É importante que a partir desta idade os animais de companhia sejam

submetidos a exames de rotina para doenças mais comuns que acometem o

animal idoso (HOSKINS, 2008).

Tabela 01: Correlação entre espécie animal, peso e idade cronológica.

ANIMAL GERIÀTRICO

Cães Pequenos (até 10 Kg) 9-13 anos Cães Médios (11 kg – 25 Kg) 9 -11 anos Cães Grandes (26 Kg – 45 Kg) 7 – 10,5 anos Cães Gigantes (mais de 45 Kg) 6 – 9 anos Maioria dos Felinos 6-10 anos

2.4 Alterações do metabolismo

Algumas mudanças na composição corporal dos animais idosos são

comuns com o avanço da idade, pois nesta fase da vida observamos a perda

da massa magra e um aumento do tecido adiposo. Uma vez que o tecido

muscular é composto por cerca de 75% de água, enquanto que o tecido

adiposo é composto por 15% de água. Portanto ocorre um declínio da massa

magra e com consequente diminuição da água corporal total. Essas mudanças

da composição corporal associadas à diminuição voluntária da atividade física

na maioria dos animais idosos influenciam a taxa metabólica basal, que cai

naturalmente com o avanço da idade provocando uma drástica redução

calórica resultando, por exemplo, com intolerância ao frio observada em

animais idosos (MONNEY, 1995).

Com o envelhecimento, as mudanças normais da composição corporal

e a redução da atividade física são fatores decisivos para que ocorra o

desenvolvimento da obesidade (CASE, CAREY e HIRAKAWA, 2011).

2.5 Afecções cardíacas e respiratórias O sistema cardiovascular não reflete apenas as alterações relacionadas

à idade, ou seja, as doenças degenerativas, mas também aquelas que são

secundárias ao estilo de vida adotado pelo paciente. Com a idade, as válvulas

do coração perdem flexibilidade e o cão pode vir a sofrer de insuficiência

36

cardíaca. Costuma-se manifestar por uma fadiga exagerada após o esforço e

tosse seca. Nos animais geriátricos observa-se um grau variável de atrofia

miocárdica que resultam em contração e debito cardíaco reduzido, tornando os

pacientes propensos a hipotensão, anóxia e as arritmias devido a uma

progressiva diminuição na troca de gases. Estes pacientes frequentemente são

incapazes de compensar estas alterações súbitas, fato este que torna os

processos anestésicos extremamente delicados para serem executados em

pacientes geriátricos, tornando muito importante considerar a utilização de

doses menores bem como a manutenção reduzida da velocidade da infusão

dos fármacos anestésicos para estes pacientes (FANTONI, 2002; HOSKINS,

2008). Na figura 4 observamos o exame ecocardiográfico de uma paciente de

15 anos apresentando ICC (Insuficiência cardíaca congestiva) atendida no

HVSM.

Figura 4 Paciente com ICC Kika poodle 15 anos.

A doença valvular e crônica é comum no cão e representa cerca de 75%

a 80% das afecções cardíacas que afetam esta espécie. Tendo uma

incidência de ate 75% em cães com mais de 16 anos. Esta doença é

diagnosticada em todas as raças, sendo caracterizada por uma progressão

lenta, que tem como fatores de risco: a idade, o sexo, a raça e a predisposição

familiar. Devido ao seu desenvolvimento lento, é normal que os cães não

desenvolvam sinais clínicos da doença durante a sua vida. Os cães mais

severamente afetados acabam por necessitar de terapia para a insuficiência

cardíaca e ao final acabam por morrer, ou são eutanasiados (ETTINGER,

2004).

Alterações respiratórias associadas ao envelhecimento incluem uma

diminuição do volume corrente de ar e uma menor eficiência na troca gasosa,

ocasionando assim uma diminuição mecânica na capacidade pulmonar, os

37

alvéolos, gradualmente com o avançar da idade, perdem sua elasticidade, com

tendência ao desaparecimento do parênquima pulmonar, surgindo assim os

quadros de enfisema pulmonar. Podemos acrescentar às transformações

pulmonares, uma diminuição da força muscular respiratória, o que prejudica

imensamente a qualidade de vida do paciente geriátrico (FANTONI, 2002).

A paralisia da laringe é uma doença com desenvolvimento lento e

progressivo que afeta cães de meia-idade e cães idosos. Já o colapso traqueal

tem sua etiologia desconhecida, é uma doença adquirida que em geral ocorre

em cães com idade média a avançada. A síndrome clinica é observada em

cães geriátricos, pela perda da capacidade de se manterem firmes os anéis

traqueais que subsequentemente, colapsam ( ETTINGER, 2004).

2.6 Afecções geniturinárias Com o processo de envelhecimento, segundo Fantoni (2002) ,também

ocorre uma perda da massa renal, principalmente de tecido da cortical,

resultando assim em uma diminuição das taxas de filtração glomerular,

tornando o paciente mais suscetível a doença renal. A deficiência da taxa de

filtração glomerular diminui, chegando essa redução a 45% a 50% de seu

volume habitual. Com o avançar da idade a capacidade de concentrar a urina

bem como, a de excretar os íons de hidrogênio, ficam comprometidas assim o

animal precisa de um maior volume de urina para poder excretar os solutos

(PADDLEFORD, 2005).

Como resultado destas alterações sofridas pelo rim que perde sua

eficácia de funcionamento o paciente geriátrico se torna menos tolerante a

desidratação bem como ao excesso de administração de fluidos de reposição

(PADDLEFORD, 2005).

A doença renal crônica (DRC) é a doença mais comum em caninos e

felinos geriátricos, independente das causas que ocasionaram a perda dos

néfrons, a injúria provocada por lesões estruturais são irreversíveis e

frequentemente são descritas como doenças de caráter progressivo.

O comprometimento renal é definido, tanto pela macroscopia como pela

microscopia através da biopsia renal. As alterações parenquimatosas podem

ser observadas por meio de exames ultrassonográficos ou por meio de exames

laboratoriais de sangue e urina (GRAUER, 2010).

38

Nos cães os primeiros sinais da doença renal surgem geralmente em

torno dos oito a dez anos de idade. Os principais sinais clínicos observados

pelos proprietários incluem halitose, distúrbios digestivos, êmese e

principalmente poliúria e polidipsia. Nesta fase da doença é imprescindível um

exame clínico completo, que permita administrar um tratamento clínico e

dietético para estabilizar os distúrbios provocados pela Insuficiência renal

(ELDREDGE et al.,2007).

Segundo Couto (2010) as doenças reprodutivas também afetam os

animais idosos, nas fêmeas observamos a hiperplasia endometrial cística, a

mucometra e a piometra, sendo a piometra uma das afecções mais comuns na

rotina clínica de pequenos animais, principalmente em fêmeas caninas, e

embora possa se manifestar em qualquer idade, animais mais velhos têm

maior incidência sendo esta próxima de 66% em fêmeas com idade acima de 9

anos, considerando ainda que as nulíparas apresentam maior risco de

desenvolvimento desta afecção em relação às primíparas e pluríparas.

A piometra é um distúrbio grave, potencialmente letal devido a sepsis e

endotoxemia que podem se desenvolver rapidamente , levando o paciente a

ser tratado como uma emergência. Os sinais clínicos são evidenciados quando

a fêmea se encontra no diestro ou mesmo em fase de anestro de seu ciclo

estral. Geralmente as fêmeas apresentam letargia, anorexia, vômito, e perda

de peso. Raramente ocorre febre, estando presente em 20% dos casos. O

corrimento vaginal purulento está presente em 85% das cadelas e gatas com

piometra. Polidipsia e poliúria são comumente observadas em cadelas não

sendo frequente essa observação em gatas (COUTO, 2010).

Nos machos as doenças prostáticas representam um problema comum

em cães adultos e idosos não castrados (BARSANTI; FINCO 1992; KRAWIEC;

HEFLIN, 1992; KRAWIEC, 1994; MUZZI et al. 1997; VANNUCCHI et al. 1997).

As principais afecções prostáticas dos cães incluem a hiperplasia

prostática benigna (HPB), prostatite aguda ou crônica, cistos, abscessos e

neoplasias prostáticas (KRAWIEC e HEFLIN, 1992: KRAWIEC, 1994; PETER

et al., 1995; KAY, 1998; JOHNSTON et al. 2000; SOUZA; 1998).

Os sinais clínicos das doenças de próstata são semelhantes e podem

evoluir sem nenhum sinal clinico evidente ao proprietário do animal dificultando

a detecção precoce, o que nos casos de neoplasia prostática, podem ser fatal

39

(CORNELL et al 2000). Na figura 5 observamos a imagem ultrasonográfica de

um paciente canino de 14 anos de idade apresentando hiperplasia prostática

benigna atendido no HVSM.

Figura 5 Canino Dougue 14 anos apresentando Hiperplasia Prostática Benigna.

2. 7 Afecções do aparelho digestório Sem dúvida a doença periodontal é bastante comum em cães idosos. A

periodontia é o ramo da ciência que estuda as doenças que afetam as

estruturas de apoio a dentição, incluindo:

- O cimento da raiz do dente

- O ligamento periodontal

- O osso alveolar

- A gengiva

Cerca de 85% dos cães a partir dos três anos de idade apresentam

algum grau de doença periodontal e é sem duvida, a causa mais comum de

perda dentária (HARVEY, 1998). Na figura 6 encontramos a imagem de um

paciente canino com severa periodontite, que foi atendido no HVSM

.

40

Figura 6- Canino Macho 10 anos com severa periodontite. Com o avançar da idade ocorre à organização e mineralização de

matéria orgânica sobre os dentes, formando os cálculos dentários,

denominados popularmente de tártaro, localizado supra ou sub gengival. Esse

desenvolvimento proporciona a proliferação de microrganismos patogênicos

que produzem enzimas e toxinas capazes de causar lesão tecidual, resultando

em inflamação infecciosa da gengiva e afetando todos os componentes do

aparelho de aderência dentária (HARVEY, 1998).

Segundo Gioso (2003), além de comprometer os tecidos adjacentes do

dente e formar a bolsa periodontal, podem proporcionar o desenvolvimento de

moléstias sistêmicas como a glomerulonefrite, hepatite, poliartrite e endocardite

bacteriana, pelo fenômeno conhecido como anacorese com deposição de

imunocomplexos em endotélios. Esse processo ocorre em função da

bacteremia durante a mastigação, pela movimentação do dente no alvéolo,

devido à rica vascularização do periodonto.

A cavidade bucal deve ser sempre inspecionada para avaliação de

gengivites, alveolite, perda dentária, pois as afecções periodontais podem levar

a distúrbios gastrointestinais (NEIGER, 2005).

É comum no cão geriátrico a hipomotilidade intestinal com retardo de

esvaziamento gástrico que favorece a constipação intestinal, alterações da

microbiota, favorecendo assim um aumento de Clostridium e uma acentuada

diminuição de Lactobacillus (ELDREDGE et. al., 2007).

A perda de massa hepática, bem como, a diminuição do fluxo sanguíneo

encontra-se diminuídos de 40 para 50% em pacientes geriátricos, tornando o

metabolismo menos eficiente (FANTONI, 2002).

Algumas das doenças vasculares mais comuns em cães velhos são: os

shunts portosistémicos adquiridos, secundários à hipertensão portal, estado

avançado de doença hepática e fibrose ou cirrose (HOSKINS, 2008).

Com o envelhecimento ocorrem mudanças na composição corporal que

incluem a diminuição da massa muscular, aumento da gordura corporal e perda

de água intracelular em pacientes geriátricos levando a um retardo na

eliminação de drogas lipossolúveis, ou seja, sua meia vida de eliminação é

prolongada (FANTONI, 2002).

41

Segundo Hoskins (2008), as gastropatias crônicas geriátricas

correspondem a uma forma evolutiva de gastrite crônica superficial, ou seja, é

a cronificação de gastrite tratada inadequadamente, evoluindo com o tempo a

uma atrofia da mucosa gástrica sendo responsável pela gastropatia crônica. O

cão geriátrico pode desenvolver uma insuficiência pancreática exócrina (perda

de 90% da produção de enzimas), secundária a situações de demasiado stress

das atividades pancreáticas e das exigências do trato gastrointestinal

(HOSKINS, 2004).

2.8 Afecções músculo esqueléticas As doenças músculo esqueléticas são afecções comuns ao paciente

geriátrico e podem ser classificadas como primárias: associada a distúrbios de

envelhecimento orgânico natural, sem causas definidas; ou como secundária,

em resposta a anormalidades que causam instabilidade articular, como fraturas

ósseas, luxações de patela e ruptura de ligamento cruzado cranial sendo uni ou

bilateral e de intensidade variável (CALDEIRA et al., 2002;).

A doença articular degenerativa (DAD), também denominada de artrose,

osteoartrose ou osteoartrite, é uma enfermidade progressiva, complexa, não

infecciosa, que acomete a cartilagem de articulações sinoviais, sendo que uma

multiplicidade de alterações bioquímicas, físicas e patológicas podem ser

reconhecidas (VASSEUR, 1998;FOSSUM, et al.,2002). É uma doença crônica,

de evolução lenta, que pode vir acompanhada por formações ósseas nas

margens sinoviais, artrólitos e fibrose de tecidos periarticulares (FOSSUM et

al., 2002; CALDEIRA, et al., 2002). Na figura 7 observamos um estudo

radiográfico de uma paciente canina da

raça Lhasa Apso de 13 anos de idade

apresentando DAD (Doença articular

degenerativa).

42

Figura 7 Fêmea Lhasa Apso 13 anos. Estudo radiográfico apresentando, Doença articular degenerativa.

São resultados de eventos mecânicos e biológicos que desestabilizam a

ligação normal da articulação, degradam a síntese de condrócitos da

cartilagem articular, da matriz extracelular e do osso subcondral e essa

instabilidade leva a uma sobrecarga mecânica sobre uma articulação sadia ou

uma carga normal sobre uma articulação alterada (CALDEIRA, et al., 2002) .

Os sinais clínicos na fase inicial da doença apresentam-se por marcha

rígida e claudicação após exercícios, sendo que em seu período inicial os cães

manifestam pouca dor, assim quando encaminhados ao atendimento clínico, a

doença já se encontra em fase adiantada de degeneração, com os cães

apresentando alterações na postura, dificuldade de locomoção, dores

articulares, inchaço local, diminuição da amplitude do movimento articular e

em casos mais graves, atrofia muscular (NELSON e COUTO, 2010).

2.8.1 Caso clínico 1

Paciente: FIONA / Felina/ 11 anos/ Himalaia/ fêmea /castrada/4,5Kg.

Motivo da consulta: O responsável pela paciente relatou que está apresentava

déficit postural, ataxia, hipometria dos membros pélvicos, hiperestesia a

palpação ao longo da coluna vertebral a mais de uma semana. Há dois dias

iniciou quadro de hiporexia, com dificuldade de se manter em estação

impedindo a defecação e capacidade de urinar adequadamente. No exame

clínico a paciente apresentava-se alerta, pupilas dilatadas, mas responsivas a

luz, esboçando resposta a ameaça, temperatura retal de 38,8°C, mucosas

normocoradas, TPC de 2 segundos, com visível déficit proprioceptivo,

apresentava paraparesia, porém com capacidade de suportar seu peso.

Durante a palpação da musculatura ao longo da coluna vertebral bem como

43

das articulações, observa-se perda do tônus muscular e discreta atrofia,

Reflexos miotáticos nos membros pélvicos: reflexo patelar, gastrocnêmio, tibial

cranial diminuídos e reflexos perianal presente. Devido à cronicidade da

doença, notaram-se lesões descamativas na região dorsal bem como áreas de

alopecia na inserção da cauda.

Foi solicitado estudo radiográfico da coluna vertebral, tóraco lombar e lombo

sacral, ficando evidenciado a presença de neoformação óssea em aspecto

caudo ventral dos corpos vertebrais, formando pontes de osteófitos, com visível

diminuição dos espaços intervertebrais e opacificação dos forames.

Caracterizando um quadro de espondilose deformante. Foi prescrito o tratamento conservativo com; Cloridrato de Tramadol 4mg/kg,

via oral (TID), Meloxican 0,1mg,(SID) Sulfato de condroetina e suplementação

com ômega 3. Foi solicitada realização de Acupuntura semanal e fisioterapia. O

responsável foi orientado sobre a necessidade de restrição de espaço do

paciente.

Figura 8 Paciente Felino Himalaio 11anos com Espondilose deformante.

44

Figura 9 Estudo radiográfico em felino, evidenciado a diminuição de espaços intervertebrais e a

formação de pontes de osteofitos. 2.9 Afecções dermatológicas Com o avançar da idade a pele passa por uma série de alterações.

Essas modificações são observadas em animais humanos e não humanos

onde a pseudoelastina, uma proteína , que passa a ser abundante no tecido

conectivo do idoso , com características intermediária entre à elastina e o

colágeno, é considerada uma síntese incorreta levando a degradação do

colágeno. Desta forma o tecido elástico fica mais desgastado e esta perda de

elasticidade, muitas vezes é acompanhada por hiperqueratose (CASTRO,

2007; CASE, CAREY e HIRAKAWA, 2011).

O Cálcio tambem passa a ser depositado nas fibras elásticas em

decorrencia do envelhecimento. Com a atrofia dos foliculos pilosos, notam-se

areas alopecicas. A atividade reduzida da enzima tirosinase e a perda

progressiva de melanócitos, tambem resultam no aparecimento de pêlos

brancos no focinho e na face dos animais idosos (CASTRO, 2007; CASE,

CAREY e HIRAKAWA, 2011).

A lubrificação natural da pele também sofre alterações resultando em

uma pele escamosa e seca com a pelagem opaca e sem brilho. As unhas

tornam-se mais longas, quebradiças e espessas devido à redução do desgaste

45

pelo exercício e pela diminuição da circulação periférica (HOSKINS, 2008;

FORTNEY, 2010).

A incidência de tumores de pele aumenta devido a uma diminuição

gradativa da vigilância imunológica (CASE CAREY E HIRAKAWA, 2011).

2.9.1 Caso clínico 2

Paciente: Yanco/canina/9anos/ American Pit Bull/macho/ castrado/ 22 kg.

Motivo da consulta: Paciente foi trazido à consulta por apresentar áreas de

lesão abdominal apresentando sangramento ativo. Segundo o responsável as

lesões surgiram aproximadamente há um ano e o animal as lambia

copiosamente. As feridas possuíam formas e tamanho variados, semelhantes a

úlceras rasas com aspecto erosivo, com bordos levantados, que já haviam sido

tratadas por outros profissionais, mas sem sucesso. As feridas cutâneas

encontravam-se infectadas associadas a um processo inflamatório crônico. No

exame clínico: O animal apresentava se prostrado, temperatura retal de

39,2°C, TPC de 2 segundos, mucosas hipocoradas, linfoadenomegalia

regional.

Tratamento e exames propostos: Foi sugerido ao responsável a realização de

exames laboratoriais para verificação de seu estado clinico geral e a solicitação

da biopsia cutânea, que foi prontamente autorizada pelo responsável. O

paciente foi submetido à exérese cirúrgica da massa inguinal que apresentava

sangramento ativo, sendo os fragmentos cutâneos retirados fixados em

formalina a 10% e sendo posteriormente enviados para avaliação

histopatológica que confirmou o diagnóstico de carcinoma de células

escamosas. O responsável foi informado sobre a gravidade da doença, bem

como sobre seu prognóstico, reservado. No pós-operatório o paciente recebeu

antibioticoterapia a base de cefalosporina 30mg/kg por 14 dias além de

medicação anti-inflamatória e analgésica, respectivamente meloxicam

0,1mg/kg e cloridrato de tramadol 4mg/Kg TID por cinco dias, além de instruir

ao responsável sobre a necessidade de ofertar alimentação de boa qualidade

suplementada com Omega 3, uso do colar elisabetano, restrição de espaço,

evitar exposição prolongada do animal ao sol e retorno para a retirada de

46

pontos em 10 dias. Buscando identificar a presença de metástase foi solicitado

ao responsável o retorno periódico a cada 4 meses.

Figura 10 Paciente Pit Bull portador de Carcinoma de células escamosas.

2.10 Afecções endócrinas

As afecções do sistema endócrino em cães e gatos idosos são

identificadas e tratadas cada vez com maior frequência na medicina veterinária.

Com o avanço da idade ocorre um declínio das secreções hormonais da

tireoide, dos testículos e dos ovários além da hipofunção da glândula adrenal.

A falência gonadal tem sido relacionada como uma característica geriátrica

(MOSIER 1989, HOSKINS, 2008).

A glândula tireóide tem uma redução do seu peso total, com a evidencia

de hiperplasia nodular, atrofia infiltração linfocítica e proliferação do tecido

conjuntivo. A glicose diminui resultando da incapacidade de resposta dos

receptores para insulina ou mesmo por decréscimo destes receptores. Assim a

Diabetes Mellitus é uma das doenças endócrinas comuns em cães idosos

(FIGUEIREDO, 2005; HOSKINS, 2008; MOONEY 1995).

Doença primária de desequilíbrio hídrico são frequentemente

observadas em paciente geriátrico. Existem muitas causas potenciais para

poliúria e polidipsia como por exemplo o diabetes insípido central, diabetes

insípido nefrogênico, hiperadrenocorticismo, insuficiência renal crônica,

47

pielonefrite e piometra. Então é necessário que se faça diferenciação

diagnostica para poliúria e polidipsia em cães e gatos idosos (MOONEY, 2009).

2.10.1 Diabete Mellitus

O diabete mellitus é uma das endocrinopatias mais comuns nos cães

podendo ser fatal se não tratada e diagnosticada precoce e corretamente. A

deficiência de insulina é resultado da incapacidade das ilhotas pancreáticas em

secretar insulina e/ou de ação deficiente da insulina nos tecidos. Tanto em

cães, como em humanos, pode ser classificado em três tipos, com base na

capacidade secretória dessas células: Grupo I ou dependente de insulina;

Grupo II ou não dependente de insulina; Grupo III subclínica (NICHOLS, 1992).

Grupo I: também conhecido como Diabetes Mellitus Dependente de Insulina

(DMDI), é a forma mais comum em cães, que se apresentam com uma alta

concentração basal de glicose sanguínea, incapazes de responder ao aumento

da glicemia com a liberação de insulina. É um distúrbio relativamente

específico envolvendo as células beta e que resulta na redução dos níveis de

insulina, e, portanto numa hiperglicemia sensível à insulina (NICHOLS, 1992).

Grupo II: Em cães é observada uma alta concentração basal de glicose

sanguínea e uma concentração basal de insulina normal ou elevada, liberação

retardada de insulina endógena após estímulo com a glicose, (Diabetes

Mellitus não Dependente de Insulina) (NICHOLS, 1992).

Diabetes tipo III, subclínico. O diabetes tipo III inclui o diabetes endocrinamente

induzido pela concentração aumentada de qualquer um dos hormônios

diabetogênicos, isto é, glicocorticóides, adrenalina, glucagon ou hormônio do

crescimento, que pode ocorrer devido a secreção excessiva e deficiente

degradação ou administração exógena dos mesmos(NICHOLS, 1992).

Em pacientes diabéticos a história clinica sempre inclui: polidipsia,

poliúria, polifagia e perda de peso. Ocasionalmente, pode aparecer uma

cegueira súbita causada por formação de cataratas. A idade de aparecimento

da diabetes situa-se, normalmente por volta dos 8-9 anos. As fêmeas intactas e

ovariohisterectomisadas apresentam 2 a 4 vezes mais esta enfermidade em

relação aos machos. Existe uma tendência para os animais de pequeno porte

apresentar uma maior predisposição para desenvolver esta enfermidade

(CHASTAIN, 2008).

48

2.10.2 Hiperadrenocorticismo

O hiperadrenocorticismo pode ser diagnosticado em associação com

diabetes mellitus canina. Estima-se que até 20% dos cães diabéticos têm

hiperadrenocorticismo concorrente (GRAHAM, 1995; HESS et al, 2000).

Como fatores de risco para o aparecimento do hiperadrenocorticismo,

além da predisposição racial e do gênero, a idade desempenha um papel

relevante. O hiperadrenocorticismo pituitário-dependente é geralmente uma

doença que afeta cães dos 2 aos 16 anos de idade, mas a média de idades

são os 7, 9 anos (FELDMAN,2004).

2.10.3 Hipotireoidismo

O hipotireoidismo produz uma baixa do metabolismo basal, pode

predispor à obesidade, a determinação dos níveis dos hormônios tireóideos

seria importante, mesmo sabendo que essa afecção é responsável por uma

pequena porcentagem de casos de obesidade nos animais (CASE et al.,1998 e

MENEGHELLO, 2000).

O hipotireoidismo é uma doença multissistêmica comum em cães,

principalmente os de meia idade e de raças puras. Não apresenta

predisposição sexual, sendo incomum em gatos (CHASTAIN, 2008, 1999). O

hipotireoidismo ocorre quando a glândula tireóide deixa de produzir a

quantidade necessária de hormônios tireoideanos que são necessários para a

manutenção da normalidade das funções metabólicas do organismo

(PETERSON, 1998; NELSON, 2010).

Segundo Graves (1998) a etiologia, pode ser classificado como

hipotireoidismo primário quando a glândula da tireóide é destruída devido à

tireoidite linfocítica, atrofia glândula idiopática; ou hipotireoidismo secundário

pela deficiência de TSH devido a um tumor pituitário ou bolsa cística; ou ainda

hipotireoidismo terciário quando há uma produção ou secreção insuficiente do

TRH ou devido à neoplasia, sendo a minoria dos casos, apenas 5%.

O hipotireoidismo primário, resultante da destruição gradual da

tireóide,ocorre em 95% dos casos. Ocorre normalmente devido a tereoidite

linfocítica, que é uma destruição imunomediada, caracterizada por infiltração

difusa de linfócitos, plasmócitos e macrófagos no tecido tireóideo, levando a

49

uma destruição progressiva dos folículos e a substituição do parênquima

glandular por tecido conjuntivo fibroso (PETERSON, 1998; NELSON e COUTO

2010).

O hipotireoidismo gera uma série de sinais que podem ser confundidos

com outras doenças. Ocorrem sinais dermatológicos, comportamentais,

nervoso e muscular, cardiovascular, reprodutivo e oftalmológico. Para fechar o

diagnóstico verifica-se a concentração total de hormônio da tireóide (T3 e T4),

quase sempre T4 estará diminuído; a concentração sérica de TSH estará

aumentada na maioria dos casos de hipotireoidismo primário; e concentração

de tiroxina livre que é o método mais confiável (WHITE, 1997).

Sinais de diminuição do metabolismo em conjunto com anormalidades

dermatológicas devem aumentar a suspeita de hipotireoidismo. Os hormônios

da tireóide são necessários para o início da fase anágena do crescimento de

pêlos; portanto, cães com hipotiroidismo podem apresentar alopecia e falha na

repilação após arrancamento (DIXON, REID, e MOONEY, 1999).

2.10.4 Obesidade

A obesidade trata-se de uma condição patológica caracterizada por um

acúmulo de gordura maior que o necessário para otimização das funções do

corpo, suficiente para deterioraras e prejudicar a boa saúde e o bem-estar

animal (LEWIS et al,1987 e CAMPS, 1992).

Pode-se chamar de sobrepeso, quando se tem até 15% acima do peso

ótimo, e de obesidade, quando esse excesso ultrapassa esse valor, sendo fácil

observar cães com 50%, ou mais, acima do peso ideal. O principal problema

desses animais com sobrepeso é que os proprietários não o reconhecem como

um peso anormal (LEWIS et al,1987 e CAMPS, 1992). Os animais obesos não

necessariamente incidência da obesidade nos cães varia de 15 a 50%

(JERICÓ2002; MOONEY, 2009) e, nos gatos varia de 6 a 48% sendo de 16,5%

(JERICÓ, 2002). Estudos indicam que existe uma relação direta entre o

sobrepeso dos cães e o dos proprietários (LEWIS et al., 1987; CAMPS, 1992).

O conceito de obesidade leva implícito um transtorno prejudicial para a

saúde do indivíduo, sendo esta, capaz de aumentar a incidência de algumas

enfermidades. Este fato unido a elevada frequência com que se observa a

50

afecção faz da obesidade uma das formas mais importantes de má nutrição na

prática clínica de pequenos animais (VIGOUREUX, 1992).

A obesidade é mais comum em fêmeas do que em machos (LEWIS et

al., 1987). Em decorrência da menor concentração de hormônios androgênicos,

as fêmeas têm menores taxa metabólica basal, o que as predispõe ao aumento

de peso (LEWIS et al.,1987; MOONNEY,1995; JERICÓ, 2002) .

A obesidade pode estar associada a distúrbios endócrinos, tais como

hipopituitarismo, hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing)

e hiperinsulinemia, porém esses distúrbios endócrinos respondem apenas por

5% da população obesa em cães e gatos (BORGES e NUNES, 1998 e

MOONEY, 1995).

Figura 11: Beagle macho 8ª5meses. Hipotireoideo e obeso .

2.10.5 Caso Clínico 3

Paciente: Bob Marley/canina/8a5m/Beagle/macho/não castrado/26 Kg.

Motivo da consulta: O paciente foi levado à consulta por se apresentar

muito acima do peso e apresentar comportamento letárgico. O proprietário

relata que apesar de oferecer somente ração de baixa caloria ao animal e nas

medidas recomendadas pelo fabricante o mesmo não teve redução de peso,

além de se apresentar letárgico e intolerante ao exercício, inativo, intolerânte

ao frio, alteração do comportamento como um retardo do aprendizado de suas

51

atividades cotidianas. No exame clinico o animal apresentava se alerta,

temperatura retal de 38,7°C, mucosas normocoradas, TPC < 2 segundo,

ausculta cardíaca e pulmonar normal. No pelame foi observado seborréia

multifocal, áreas de alopecia simétrica bilateral com hiperpigmentação,

mixedema facial e atrofia testicular. Foi proposto ao proprietário a realização de

exames laboratoriais para avaliar seu estado clinico geral, alem dos exames de

rotina como hemograma, ureia , creatinina , ALT e FA, também foi proposto a

realização de dosagem de colesterol , glicemia e dosagem de T4 total , TSH

e T4 Livre por radioimunoensaio.

Após o resultado foi confirmado que o paciente era obeso e

hipotireoideo. Como tratamento foi instituído o uso de levotiroxina sintética na

dose inicial é de 0,022mg/kg a cada 12h por via oral, e solicitado a reavaliação

do paciente após duas semanas para ajuste da dose , se necessário. Para a

obesidade foi instituído um protocolo alimentar com alimento rico em energia,

fibras e proteína de boa qualidade. Foi solicitado que o animal fizesse

caminhadas diárias de aproximadamente uma hora. Que fossem abolidos da

dieta os petiscos e guloseimas.

2. 11 Afecções neurológicas

O envelhecimento é a redução progressiva da habilidade do organismo

em suprir as necessidades geradas pelo meio ambientes. O envelhecimento

afeta gradualmente vários órgãos e sistemas, a idade avançada aumenta a

susceptibilidade a diversas doenças porem não as causa. O que ocorre com o

passar do tempo é um acumulo de danos aos órgãos causando assim perda da

função, e de reserva funcional, capacidade de regeneração e adaptabilidade

(MORAIS, 2006).

A Disfunção Cognitiva Canina (DCC) é uma doença neurodegenerativa

que afeta cães idosos, causando alterações na percepção, na memória, na

capacidade de aprendizagem e alerta (LANDSBERG, et al., 2003). As

alterações neurodegenerativas nos cães são muito semelhantes àquelas

observadas nos humanos que sofrem de Alzheimer (SEIBERT e LANDSBERG

2008). Embora não haja cura para a DCC existem suplementos nutricionais e

farmacêuticos que se podem administrar aos cães para diminuir e atenuar a

velocidade e os sintomas da doença, respectivamente (ARAÚJO, et al., 2008).

52

Os efeitos da idade sobre o cérebro podem ser sutis e lentamente

progressivos. Cães e gatos idosos sofrem com frequência de um declínio da

capacidade cerebral cognitiva envolvendo a percepção sensorial, a memória, a

consciência e o aprendizado. A disfunção cognitiva pode se manifestar como

desorientação esquecimento do aprendizado previamente adquirido. A maioria

dessas mudanças de comportamento resulta de doenças físicas (como audição

diminuída, diminuição do olfato, artrite e fraqueza muscular doenças

oftalmológicas), que restringem a atividade do cão e a capacidade de participar

na vida familiar (HOSKINS,2008).

Segundo Eldredge et al. (2007) os cães mais velhos podem ter uma

diminuição da capacidade de lidar com as mudanças de rotina. Em geral, a

perda de visão ou de audição pode torná-los mais ansiosos, especialmente

quando eles estão separados do proprietário. As alterações neurológicas

podem também limitar a capacidade de um cão idoso em se adaptar à

mudança, pois a ansiedade da separação é um dos problemas de

comportamento comumente observado em pacientes idosos.

Um cão que tem a ansiedade de separação ficará muito nervoso,

inquieto quando sente que o seu dono está prestes a sair. Quando o

proprietário sai de casa, o cão, muitas vezes torna-se destrutivo, ladra ou uiva,

pode urinar ou defecar e salivar abundantemente. Um cão com ansiedade da

separação, muitas vezes tem comportamentos demasiado exuberantes quando

o dono volta a casa. Uma vez que os problemas médicos tenham sido

excluídos ou corrigidos, a atenção deve ser dada ao tratamento dos problemas

de comportamento (ELDREDGE et al., 2007; ETTINGER, 2005).

2.12 Afecções neoplásicas

Uma neoplasia é um crescimento descontrolado de células que

proliferam autonomamente, sem controle, se assemelham tanto

morfologicamente como funcionalmente às células normais das quais se

originou; não possui padrão ordenado de crescimento; não tem qualquer

função útil para o seu hospedeiro; e decorre de diversas causas, que alteram

os eventos moleculares envolvidos no controle da proliferação e diferenciação

celulares normais (JONES et al., 2000).

53

Em cães e em gatos a idade é um fator importante no desenvolvimento

do câncer. Apesar de algumas neoplasias malignas serem diagnosticadas em

cães jovens é no paciente geriátrico, que se observa uma grande incidência de

neoplasias (KITCHELL, 1995;DALECH, 2008).

O aumento destas doenças malignas em animais geriátricos está

relacionado provavelmente com uma combinação de fatores como: Exposição

mais prolongada aos agentes carcinogênicos, debilidade do sistema

imunológico ambas associadas com a maior longevidade dos animais

As causas de neoplasia são numerosas e diversas, mas o denominador

comum que une todos esses tumores é a indução de mutações de um genoma

celular que controla a divisão mitótica e a diferenciação (JONES et al., 2000).

Com o envelhecimento também ocorre o declínio da secreção dos

hormônios produzidos pelas gônadas. Os testículos desenvolvem atrofia flácida

e estão propensos à formação de tumores. Os ovários apresentam aumento

gradual de peso e posteriormente atrofiam. As glândulas mamárias mostram

evidência de doença fibrocística ou neoplásica (MOSIER, 1989).

As neoplasias nas glândulas mamárias respondem por cerca de 50%

dos tumores na cadela (KNAPP et al., 2004; JOHNSON et al., 2006) e a

mortalidade associada ao tumor varia de 18% a 63% (KNAPP et al., 2004). A

neoplasia mamária afeta primariamente animais idosos com média de 10 anos

de idade, sendo mais acometidas as fêmeas inteiras ou submetidas à

ovariectomia mais tardiamente; cerca de metade desses tumores são malignos

(JOHNSON, 2010). O risco de desenvolver neoplasia mamária após

ovariosalpingohisterectomia precoce é de 0,05% antes do primeiro estro e 8%

antes do segundo estro (KNAPP et al., 2004).

54

Figura 12. Fêmea SRD 14 anos. Tumor mamário.

Em pequenos animais a predisposição racial também esta associada ao

desenvolvimento dos tumores (DE NARDI, 2008). Relativamente à raça,

também é reconhecida uma certa predisposição, sendo o Boxer a raça mais

susceptível de desenvolver uma grande variedade de neoplasias (Cullen et

al.,2002;). Segundo Cullen et al., (2002) o Boxer, o Bulldog e o Labrador

Retriever estão mais predispostos às neoplasias de pele e tecido subcutâneo.

O Pastor Alemão está mais predisposto ao hemangiosarcoma.

O diagnóstico definitivo baseia-se no exame histopatológico de amostra

de biópsia excisional O objetivo primário do tratamento é extinguir a neoplasia,

para que o animal tenha uma qualidade de vida melhor (JOHNSTON, 1998).

Apesar da carcinogênese em cães e gatos ser multifatorial, envolvendo

fatores intrínsecos e extrínsecos, o conhecimento da etiologia neoplásica é de

fundamental importância na profilaxia dos tumores (RODASKI, 2008).

55

3. CONCLUSÃO

A medicina veterinária assim como o medico veterinário, deve procurar

cada vez mais a especialização para atender as expectativas dos nossos

clientes, bem como a capacitação para diagnosticar e oferecer o tratamento

mais adequado ao paciente geriátrico, proporcionando a estes uma maior

longevidade e uma boa qualidade de vida.

Ao envelhecer o organismo passa por diversas transformações estas

podem ser naturais ou não, podem predispor o indivíduo a apresentar uma

doença ou ser a causa da doença, ter origem genética ou por fatores

ambientais, são tratáveis ou incuráveis. Ao médico veterinário cabe

compreender e respeitar a fisiologia do envelhecimento e suas ações sob o

organismo, pois este é um processo biológico inevitável.

56

57

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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