universidade tuiuti do paranÁ eduardo lourenÇo...

51
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO ODA SUSPEITA DE TOXINFECÇÃO POR CLOSTRIDIUM SP EM AVES AQUÁTICAS NO ZOOLÓGICO DE CURITIBA CURITIBA 2015

Upload: dangkhue

Post on 11-Sep-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

EDUARDO LOURENÇO ODA

SUSPEITA DE TOXINFECÇÃO POR CLOSTRIDIUM SP EM AVES

AQUÁTICAS NO ZOOLÓGICO DE CURITIBA

CURITIBA

2015

Page 2: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

EDUARDO LOURENÇO ODA

SUSPEITA DE TOXINFECÇÃO POR CLOSTRIDIUM SP EM AVES

AQUÁTICAS NO ZOOLÓGICO DE CURITIBA

Trabalho De Conclusão De Curso Apresentado Ao Curso De Medicina Veterinária, da Universidade Tuiuti Do Paraná, Como Requisito Parcial Para Obtenção Do Grau Médico Veterinário ,Orientadora MSc. Profª Lucyenne G. P. B. Queiroz

CURITIBA

2015

Page 3: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pro-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró Reitora Acadêmica

Profª. Carmem Luiza da Silva

Pró Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos.

Pró Reitor de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão.

Prof. Roberval Eloy Pereira.

Secretário Geral

Prof. João Henrique Ribas de Lima

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

Coordenador de Estagio Curricular do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

CAMPUS BARIGUI

Rua Sidney A. Rangel dos Santos 238 – Santo Inácio

Cep 82010-330 - Curitiba – Paraná 3331-7700

Page 4: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

TERMO DE APROVAÇÃO

EDUARDO LOURENÇO ODA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Médico Veterinário da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 19 de junho de 2015.

Bacharelado em Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: MSc. Lucyenne G. P. B. Queiroz UTP

MSc. José Carlos Roble Jr Convidado

MSc. Elza Maria G. Cif foni Arns UTP

Page 5: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho para a minha

família especialmente, e amigos

onde ambos me apoiaram e nunca

deixaram de acreditar em mim.

Page 6: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à minha família que sempre me apoio em qualquer

circunstância e sempre procurou saber como meu estágio estava e como meu

trabalho de conclusão de curso se encaminhava. Ao meu pai Yoshimitsu Oda (in

memoriam), apesar de não estar ao meu lado neste meu momento precioso da

minha vida, eu sinto sua presença comigo sempre e isso me fez sempre ir pra frente

e não desistir dos meus objetivos de vida. Às minhas irmãs: Gabi que apesar de eu

não falar nada pra ela sobre o trabalho, sempre demonstrou apoio e se voluntariou

em ler o trabalho para saber se estava de acordo, a Cris, que me ajudou com

sugestões para melhorar o trabalho. A minha mãe e padrasto que mesmo de muito

longe, sempre perguntando se estava tudo certo comigo.

Obrigado a todos os meus amigos por ouvirem tudo o que tinha pra desabafar

e me acompanhar nos momentos de festa e sossego.

Agradeço a todas as pessoas do meu estágio obrigatório que me ensinaram e

me guiaram para ser uma pessoa melhor na vida e na área da medicina veterinária.

Não tem como me explicar a tamanha experiência que tive todos os dias

aprendendo mais. Ao Manoel Javorousky e Marcelo Bonat, muito obrigado pelas

experiências de anos de profissão passadas para mim e pela paciência que tiveram

que ter comigo durante o estágio. A Silmara Maldonado, que inicialmente me ajudou

em outro trabalho que acabou não sendo este, mas me orientou até o fim. As

estagiárias Ana Flávia Figueiredo, Samya Nossabein, Thaiza de Lima, Eloisa

Muehlbauer e Nagaissa Daniele que sempre deixavam os meus dias mais divertidos.

Ao professor Eros Sousa que me possibilitou fazer o estágio obrigatório no

Zoológico e Passeio Público. Aos diversos funcionários da prefeitura que

conversavam comigo e me ensinava muitas coisas sobre os animais, me mostravam

como tratar e sempre trabalhar com vontade e sem stress.

Aos meus queridos professores: Silvana Cirilo, José Carlos Roble Jr e

Lucyenne Popp que me guiaram e corrigiram o meu trabalho com o maior prazer

sendo altruísta em todos os momentos.

Page 7: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

EPÍGRAFE

“Não é mais r ico quem tem mais, mas

quem precisa menos”.

(Desconhecido)

Page 8: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

RESUMO

O trabalho de conclusão de curso aliado ao estágio curricular visa introduzir o aluno

à pratica da medicina veterinária aprendida no decorrer do curso. Este relatório tem

o objetivo descrever as atividades realizadas durante o estágio curricular

supervisionado em medicina veterinária, realizado no Zoológico de Curitiba, onde foi

acompanhada a rotina clínica, manejo e vistoria, sempre acompanhado dos

profissionais, tornando possível que todo o conteúdo aprendido fosse desenvolvido

na rotina da medicina veterinária. Concomitante ao estágio foi elaborado o trabalho

de conclusão de curso em que foi relatado o caso de uma suspeita de toxinfecção

em um grupo de anatídeos. Esses animais de diversas espécies localizados em um

recinto aberto e com um grande lago apresentaram sinais clínicos de paresia da

musculatura cervical, diarreia e alguns foram encontrados mortos, completando

quatro animais afetados. Foi realizado necropsia, colhido fezes no recinto para

exames coproparasitológico com o objetivo de concluir um diagnóstico definitivo.

Palavras-chave: Anatídeos; Toxinfecção; Zoológico de Curitiba.

Page 9: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

ABSTRACT

The completion of course work together with the traineeship aims to introduce

students to the practice of veterinary medicine learned during the course. This report

aims to describe the activities performed during the curricular supervised training in

Veterinary Medicine, held in Curitiba Zoo, where the clinical routine was

accompanied, management and inspection, always accompanied by professionals,

making it possible for all the contents learned were developed in routine Veterinary

Medicine. Concurrent to the stage was prepared the course conclusion work it was

reported the case of a suspected toxinfection in a group of waterfowl. These animals

of various species located in an open and a large lake precincts showed clinical signs

of paresis of cervical muscles, diarrhea and some were found dead, completing four

affected animals. Necropsy was performed, collected stool in the enclosure for fecal

exams in order to complete a definitive diagnosis.

Keywords: Waterfowls; Toxinfection; Curitiba Zoo.

Page 10: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

LISTA DE ABREVIATURAS

C. botulinum – Clostridium botulinum

SC – Subcutâneo

S. enteritidis – Salmonella enteritidis

S. typhimurium – Salmonella typhimurium

VO – Via oral

Page 11: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ambulatório veterinário do Zoológico de Curitiba – Parte externa______2

Figura 2 - Ambulatório veterinário do Zoológico de Curitiba – Parte interna_______3

Figura 3 - Armazenamento refrigerado ______________________________ __3

Figura 4 - Depósito de ração __________________________________ ________4

Figura 5 – Depósito de feno ___________________________________ ________4

Figura 6 – Mesa para preparo dos alimentos ______________________ ________4

Figura 7 - Local para higienização das bandejas e utensílios _________ ________5

Figura 8: Oficina – Zoológico de Curitiba__________________________________5

Figura 9 - Administração do Passeio Público ______________________ ________6

Figura 10 – Biotério do Passeio Público, Curitiba, 2015 _____________ ________6

Figura 11 - Biotério - sala de reprodução _________________________ ________7

Figura 12 - Biotério – sala de manutenção de roedores para consumo __ ________7

Figura 13 - Cozinha do Passeio Público, 2015 _____________________ ________8

Figura 14 - Ambulatório do Passeio Público, 2015 __________________ ________8

Figura 15 - Aquário localizado no Passeio Público, 2015 ____________ ________9

Figura 16 - Recinto Tigre D’Água – Parte da frente do recinto _____________ __22

Figura 17 - Recinto Tigre D’Água – Apresentando alguns animais do recinto _ __22

Figura 18 - Recinto Tigre D’Água - Onde os animais do recinto costumam se

alimentar______________________________________________________ __23

Figura 19 - Recinto Tigre D’Água - Parte de trás do recinto _______________ ___ 23

Figura 20 - Marreca-Caneleira (dendrocygna bicolor) ___________________ ___ 26

Figura 21 - Hematoma no músculo peitoral direito ______________________ ___ 26

Figura 22 - Hematoma no músculo peitoral direito com maior foco _________ ___ 26

Figura 23 - Exposição dos órgãos celomáticos ________________________ ___ 26

Figura 24 - Fígado com coloração normal ____________________________ __26

Figura 25 - Pata de cauda pontuda (Anas acuta) _______________________ __27

Figura 26 - Região da cloaca apresenta penas impregnadas de fezes (diarreia) __27

Figura 27 - Músculo peitoral esquerdo com edema subcutâneo ___________ __27

Figura 28 - Músculo peitoral esquerdo com edema subcutâneo com maior foco __27

Figura 29 - Hemorragia interna no coração com ruptura do átrio ___________ __27

Figura 30 - Fígado aparentemente congesto __________________________ __27

Figura 31 - Marreca do bico vermelho (Anas erythrorhyncha) _____________ __28

Page 12: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

Figura 32 - Brinco na asa esquerda (PA 126) _________________________ __28

Figura 33 - Exposição dos órgãos celomáticos ________________________ ___ 28

Figura 34 - Gordura acumulado no tecido subcutâneo __________________ ___ 28

Figura 35 - Gordura acumulado no tecido subcutâneo __________________ ___ 28

Figura 36 - Líquido avermelhado na cavidade celomática ________________ ___ 28

Figura 37 - Necrose puntiforme no fígado ____________________________ ___ 28

Figura 38 - Edema pulmonar _________________________________ _________28

Figura 39 - Ventrículo com pouca pedra, úlceras múltiplas na mucosa __________29

Figura 40 - Marreca do bico vermelho (Anas erythrorhyncha) ________ _________29

Figura 41 - Exposição dos órgãos celomáticos ___________________ _________29

Figura 42 – Fígado normal ___________________________________ _________29

Figura 43 - Comparativo de todos os fígados dos anatídeos submetidos à

necropsia__________________________________________________________30

Page 13: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Comparativo total entre óbitos e nascimento durante o estágio obrigatório

realizado no Zoológico e no Passeio Público _____________________ _________11

Gráfico 2 - Atendimentos clínicos separados por sistemas, observados durante o

estágio obrigatório no Zoológico e no Passeio Público __________________ ___ 12

Gráfico 3 - Apresentação detalhada da desverminação classificadas em ordens

realizadas durante o estágio obrigatório no Zoológico e no Passeio Público______13

Page 14: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO _______________________________________________ ____ 1

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ____________________________ ____ 2

2.1 Zoológico de Curitiba ____________________________________ __________2

2.2 Passeio Público ________________________________________ __________5

3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS __________________ ___ 10

4 REVISÃO DE LITERATURA _____________________________________ ___ 14

4.1 Botulismo __________________________________________________ ___ 14

4.1.1 Definição e Etiologia ___________________________________ _________14

4.1.2 Epidemiologia ________________________________________ _________14

4.1.3 Patogenia ___________________________________________ _________14

4.1.4 Sinais Clínicos ________________________________________ _________15

4.1.4 Epidemiologia ________________________________________ _________16

4.1.5 Diagnóstico __________________________________________ _________16

4.1.6 Diagnóstico Diferencial _________________________________ _________17

4.1.7 Prevenção ___________________________________________ _________17

4.2 Salmonelose ________________________________________________ ___ 17

4.3 Anatídeos _____________________________________________ _________18

4.3.1 Marreca caneleira (Dendrocygna bicolor) ___________________ _________19

4.3.2 Marreca do bico vermelho (Anas erythrorhyncha) _____________ _________19

4.3.3 Marreca arrabio (Anas acuta) ____________________________ _________19

5 RELATO DE CASO _______________________________________ _________21

6 METODOLOGIA _________________________________________ _________24

6.1 Técnica de necropsia em aves _____________________________ _________24

6.2 Exame coproparasitológico _______________________________ _________25

7 RESULTADO E DISCUSSÃO _______________________________ _________26

8 CONCLUSÃO ________________________________________________ ___ 32

9 REFERÊNCIAS _______________________________________________ ___ 33

Page 15: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

1

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório tem como objetivo descrever as atividades realizadas

durante o estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária, realizado no

Zoológico de Curitiba e no Passeio Público. Durante o estágio foi possível observar

os comportamentos dos animais, vivenciar a aprendizagem do manejo, acompanhar

e auxiliar a rotina clínica, fazer a vistoria, realizar a alimentação e seus

procedimentos, dentre outros cuidados com os animais.

O relatório refere-se ao estágio curricular obrigatório aliado ao

desenvolvimento do tema de trabalho de conclusão de curso, com a principal

finalidade de responder e identificar se sinais clínicos e dos óbitos ocorridos durante

o estágio se confirmava ou refutavam a suspeita de toxinfecção por Clostridium

botulinum. O trabalho realizado foi de pesquisa de campo através do procedimento

de necropsia e exame coproparasitológico.

Page 16: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

2

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

O Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna (Secretaria Municipal

do Meio Ambiente) é responsável pelo acervo dos animais contido no Zoológico de

Curitiba e no Passeio Público nos quais foi desenvolvido o estágio.

2.1 Zoológico de Curitiba

O Zoológico de Curitiba está localizado na Rua João Miqueletto, s/n - Alto

Boqueirão, Curitiba – PR e foi inaugurado em 1982. Funciona de terça à domingo,

no período das 9h às 17h e aos finais de semana com horários diferenciados das

10h às 16h. O setor operacional do zoológico é constituído por ambulatório

veterinário, cozinha, oficina e administração.

O ambulatório (Figura 1) se compõe de sala onde tem mesa para

procedimentos emergenciais; armário de medicamentos; materiais e instrumentos

(Figura 2). Tem a sala destinada as necropsias, com congelador, para os animais

mortos. Existe uma área de descanso para os técnicos (Médicos Veterinários,

Biólogos e Zootecnistas).

Figura 1: Ambulatório veterinário do Zoológico de Curitiba – Parte externa

Page 17: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

3

Figura 2: Ambulatório veterinário do Zoológico de Curitiba – Parte interna

A cozinha é o local onde são armazenadas e preparadas as dietas dos

animais do Zoológico. A cozinha contém armazenamento refrigerado e também

possui local para armazenar ração e feno (Figura 3, 4 e 5). Os funcionários

preparam a refeição dos animais na mesa para preparar frutas e outros tipos de

alimentos (Figura 6) para então serem colocado em bandejas identificadas. O

transporte dos alimentos é feito por veículos. As bandejas e demais instrumentos

são todos higienizados no fim de sua utilização (Figura 7).

Figura 3: Armazenamento refrigerado

Page 18: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

4

Figura 4: Depósito de ração

Figura 5: Depósito de feno

Figura 6: Mesa para preparo dos alimentos

Page 19: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

5

Figura 7: Local para higienização das bandejas e utensílios

A oficina (Figura 8) é o local reservado onde os funcionários responsáveis

fazem a manutenção de equipamentos, objetos e reparos dos recintos de todo

Zoológico.

Figura 8: Oficina – Zoológico de Curitiba

2.2 Passeio Público

O Passeio Público foi inaugurado em 1886 sendo o parque central mais

antigo de Curitiba, mas só no século XX que passou a ser um Zoológico. Localiza-se

na Rua Carlos Cavalcanti X Av. João Gualberto X Rua Presidente Faria – Centro,

Curitiba – PR.

Page 20: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

6

Diferente do Zoológico de Curitiba, o Passeio Público possui mais animais

nativos da região e mais aves. O parque é aberto ao público de terça a domingo das

06h às 20h.

A administração (Figura 9) conta com uma equipe responsável pelo Zoológico

e o Passeio Público onde os profissionais tem um escritório para desenvolver seus

trabalhos burocráticos.

Figura 9: Administração do Passeio Público

Possui um Biotério (Figura 10) próprio pelo motivo de não conseguir alimento

suficiente para tais animais que necessitam diariamente este tipo de alimentação.

Figura 10: Biotério do Passeio Público, Curitiba, 2015

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

7

Figura 11: Biotério - sala de reprodução

A sala do lado direito onde (Figura 11) é feita a reprodução de ratazanas e

camundongos e o lado esquerdo (Figura 12) onde já estão em estoque destinado

para consumo.

Figura 12: Biotério – sala de manutenção de roedores para consumo

Como no Zoológico, o Passeio Público também possui ambulatório e cozinha

(Figura 13) que segue os mesmos padrões.

Page 22: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

8

Figura 13: Cozinha do Passeio Público, 2015

O ambulatório possui mesa cirúrgica e materiais necessários para qualquer

procedimento (Figura 14). Além do ambulatório, existe também uma sala destinada

aos plantonistas que possui cozinha, computador e diversos livros da área

veterinária.

Figura 14: Ambulatório do Passeio Público, 2015

Page 23: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

9

O aquário do Passeio Público contém uma variedade de espécies de

peixes que estão em diversos aquários, abertas ao público. Toda semana é

realizada a medição de componentes importantes num aquário para garantir a saúde

dos peixes (Figura 15).

Figura 15: Aquário localizado no Passeio Público, 2015

Page 24: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

10

3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades foram desenvolvidas no período de 27/07 à 08/10/2015,

totalizando 424 horas, sob supervisão do Prof.º e Médico Veterinário Manoel

Javorousky. Durante o período de estágio, foram elas: acompanhamento aos

atendimentos clínicos, vistoria, manejo e alimentação dos animais. No recinto foi

possível ajudar na contenção física dos animais e na aplicação de medicamentos.

No atendimento clínico foram realizados desverminação, microchipagem,

necropsia, nutrição, internação, cirurgias, atendimento emergencial de traumas e

fraturas, atendimentos oftálmicos, odontológicos e de doenças não infecciosas.

Dentre os atendimentos clínicos, enfatizo as cirurgias realizadas durante o estágio,

pois estas ocorreram também fora do Zoológico, sendo nas universidades PUC-PR

e UFPR. O acompanhamento do animal até a universidade ocorre com a presença

de pelo menos um médico veterinário da equipe. Importante ressaltar que nas

cirurgias realizadas no Zoológico o estagiário tem a oportunidade de participar

auxiliando, enquanto nas universidades somente observa.

A vistoria trata-se de observar diariamente todos os animais do Zoológico com

o intuito de identificar se o animal está se alimentando ou com algum problema de

saúde, dando importância de vistoria para aqueles que estão em tratamento. Cada

tratador tem um recinto para cuidar, faz a vistoria do recinto e alerta aos médicos

veterinários se o animal está com comportamento alterado. Os médicos veterinários

também fazem este trabalho, observando todos os recintos à procura de qualquer

comportamento anormal.

No biotério é feita a troca do cepilho das caixas dos ratos toda semana, a

verificação de indivíduos mortos e/ou doentes deve ser a prática corriqueira evitando

a perda do plantel. Além disso, é preciso identificar cada caixa para rotação dos

machos para que ocorra a reprodução dos filhotes que servirão de alimento para

aqueles animais que tem o hábito de consumi-los.

Page 25: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

11

No aquário é realizado o teste toda semana de pH, nitrito, nitrato e amônia em

cada recinto. Esses testes são feitos para manter o equilíbrio destes fatores, caso

contrário os peixes podem desenvolver doenças, o que pode resultar em morte de

alguns animais. Caso esteja fora do padrão, imediatamente é feita a correção.

A alimentação é acompanhada por profissionais que desenvolvem uma dieta

balanceada para cada animal. Esta é preparada e pesada individualmente na

cozinha do Zoológico ou Passeio Público e o tratador faz a distribuição em um

veículo específico.

No Gráfico 1 observa-se que durante o estágio ocorreu mais óbitos com 61%

que nascimento 39%, sendo que nos óbitos teve caso de aborto, ataque canino,

morte natural, ataque materno, atropelamento de animal de vida livre e outras

causas indefinidas.

Gráfico 1: Comparativo total entre óbitos e nascimento durante o estágio obrigatório realizado no Zoológico e no Passeio Público

Comparativo entre óbitos e nascimentos

Números Porcentagem

Óbito 19 61%

Nascimento 12 39%

O gráfico 2 representa os atendimentos clínicos que aconteceram durante o

estágio obrigatório.

A desverminação, a microchipagem, o trauma e a necropsia são os dados

mais relevantes do gráfico por serem as ocorrências mais comuns do dia a dia nos

dois locais do estágio.

A maior casuística do Zoológico e Passeio Público de acordo com o gráfico

acima é a desverminação, pelo fato de ser um procedimento padrão para todos os

animais e que ocorre em determinados períodos do ano. Dos demais ocorridos o

trauma e fratura são bastante comuns. Enfatizamos a microchipagem, como

procedimento obrigatório por lei para identificação de acordo com a legislação

ambiental vigente no país para todos os animais. As necropsias são feitas sempre

que encontrado o animal morto, pois é necessário identificar a causa da morte,

Page 26: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

12

principalmente para prevenção em caso de doenças infecto-contagiosas que podem

prejudicar todos os animais do recinto onde ocorreu o óbito.

Gráfico 2: Atendimentos clínicos separados por sistemas, observados durante o estágio obrigatório no Zoológico e no Passeio Público

O Gráfico 3 mostra detalhadamente sobre a desverminação que foi o

atendimento mais efetuado, separado por ordem.

Pode-se notar que os artiodáctilos possuem maior número de casos com 39%

de desverminações e outras aves com 25%. Os números mais relevantes vão ser

daqueles que convivem em grupos da mesma espécie, ou seja, a desverminação é

feita no grupo inteiro para evitar problemas futuros.

126

20 14 5 3 3 3 3 2

Atendimentos Clínicos

Page 27: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

13

Gráfico 3: Apresentação detalhada da desverminação classificadas em

ordens realizadas durante o estágio obrigatório no Zoológico e no Passeio Público

Desverminação

Números Porcentagem

Artiodáctilos 50 39%

Outras Aves 32 25%

Anatídeos 14 11%

Galiformes 12 10%

Struthioniformes 11 9%

Carnívoros 6 5%

Roedores 1 1%

A seguir, será apresentado o relato de caso de suspeita de toxinfecção por

Clostridium botulinum em Anatídeos.

Page 28: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

14

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Clostridium botulinum e o Botulismo

4.1.1 Definição e etiologia

O botulismo é uma doença causada pelo Clostridium botulinum, uma bactéria

gram-positiva, anaeróbia obrigatória. A doença se instala no hospedeiro quando este

adquire a neurotoxina produzida pela bactéria, toxina caracterizada por ser a mais

potente de origem microbiológica existente (LOBATO et al., 2008).

É uma doença não infecciosa surgindo por causa da atividade de uma

neurotoxina intensa. É introduzido em três formas: botulismo alimentar, botulismo

por feridas e botulismo intestinal. A causa da produção da toxina botulínica varia em

cada uma dessas formas, mas todos são identificados clinicamente por sinais

neurológicos e/ou gastrointestinais, possibilitando ter uma evolução grave,

necessitando de hospitalização prolongada (MENDES, 2008).

4.1.2 Distribuição da doença

A doença é resistente, possui abrangência mundial e acomete tanto humanos

como animais. Segundo Eduardo et al. (2007), atualmente existem sete tipos de

variedades de toxinas botulínicas com características imunológicas diferentes: A, B,

C, D, E, F e G sendo que as toxinas A, B e E, são as mais raras de ocorrerem e as

do tipo C e D as mais comuns em aves e mamíferos respectivamente.

Segundo Coelho et al. (2007), o botulismo é visto na maioria das espécies de

aves domésticas, com exceção de urubus, que são resistentes, e as criaturas

herbívoras são mais suscetíveis do que os carnívoros.

4.1.3 Patogenia

O habitat natural dessa bactéria é em locais como a água, solo, alimentos e

até em cadáveres, desde que tenha uma condição anaeróbia ideal no ambiente. As

Page 29: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

15

larvas de muscídeos, que normalmente se desenvolvem em matéria orgânica em

decomposição, são resistentes à toxina botulínica e concentram-se em seu

organismo, sendo uma fonte de intoxicação comum para aves (LOBATO, 2008).

Os lagos ou outras fontes de água permanentes podem representar um

perigo para as aves aquáticas, especialmente quando poluída com cadáveres ou no

meio da estação seca que consequentemente expõe a matéria orgânica em estado

de putrefação em sua margem (LOBATO, 2009).

No momento em que a toxina botulínica é ingerida, uma parte é dissolvida por

meio de processos digestivos e a parte retida vai para o sistema circulatório onde se

propaga por todo o corpo e atinge terminações nervosas periféricas que têm

acetilcolina como um neurotransmissor. A paralisia flácida é resultado do

impedimento da descarga elétrica de acetilcolina nas intersecções neuromusculares

e por esse motivo, nenhuma descarga atinge as placas terminais motoras, causando

visão dupla e salivação resultando em uma dificuldade em deglutição e levando a

asfixia devido à perda do movimento do diafragma em mamíferos. O sistema

nervoso central é protegido pela barreira hemato-encefálica (BALDASSI, 2005). Esta

toxina é altamente resistente à ação proteolítica, ou seja, ela é absorvida pela

mucosa intestinal e assim, atuando nas placas neuromusculares impedindo a

liberação de acetilcolina, resultando em um quadro de paralisia flácida (SILVA et al.,

2008).

4.1.4 Sinais Clínicos

O ritmo do início e a gravidade dos sinais clínicos são relativos à quantidade

de toxina ingerida. As aves afetadas pela toxina apresentam paresia, paralisia

flácida dos músculos esqueléticos e sinais de fraqueza crescente. Nas fases iniciais

da doença, mesmo com perda significativa do movimento, os animais permanecem

em estado de alerta. A toxina começa afetando os músculos do pescoço,

provocando a impotência para manter a cabeça e as aves debilitadas normalmente

apresentam as pálpebras fechadas. Estes dois sinais são mais comuns de perceber

no botulismo aviário. Quando chega neste estado, normalmente sufocam antes de

morrer por uma falha respiratória (CATTÁNEO, 2008).

Page 30: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

16

Segundo Lobato et al. (2008), clinicamente o botulismo em aves é descrito

pelo aumento da perda de movimento simétrico flácido, primeiro acomete as patas e

progredindo para as asas, pescoço e pálpebras.

4.1.4 Epidemiologia

O botulismo alimentar ocorre pela ingestão do alimento onde contem a toxina

pré-formada, diferente dos outros onde a doença ocorre pela infecção, multiplicação

e produção de toxinas em ferida ou no trato gastrointestinal (BARBOZA et al., 2011).

A toxina pode ser efetivamente desnaturada em condições abrangentes:

inativados doze horas no ar; em uma a três horas à luz do dia; 30 minutos aquecem-

se em 80 graus, poucos minutos a 100 graus e 20 minutos em água (3 mg / L de

cloro) (MANGILLI & ANDRADE, 2007).

MABONI et al. (2010), as aves podem se contaminar pela ingestão de

invertebrados mortos presentes na matéria em decomposição natural.

Nenhuma relação epidemiológica entre o botulismo humana e animal foi

estabelecido. Esporos de C. botulinum do tipo A têm sido isolados a partir de fezes

de animais. Os microorganismos tipos A e B do botulismo foram encontrados no

intestino e no fígado de bovinos que morreram por outras causas. O microrganismo

foi também isolado a partir do intestino e da medula óssea de cães saudáveis .

Assim, existe a possibilidade de que estes animais são portadores do

microorganismo e servem para transportar e disseminar C. botulinum, de um lugar

para outro. Ocorre em todas as terras firmes, com uma dispersão provincial

verificado que provavelmente reflete a presença no solo do microrganismo e seus

tipos distintos de toxinas (ACHA & BORIS, 2003).

4.1.5 Diagnóstico

Sendo C. botulinum uma bactéria telúrica, não se pode ter um diagnóstico

conclusivo pelo fato de facilmente ser encontrado na natureza. Por seus atributos de

agente anaeróbico, não obstante esta condição, precisa de pH, temperatura e

Page 31: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

17

suplementos adequados para seu progresso e geração da toxina, estas condições

não são encontradas no organismo adulto vivo (ANDRADE, 2013).

4.1.6 Diagnóstico Diferencial

O botulismo tem como diagnóstico diferencial a miastenia grave, o que

acontece pela intoxicação por aminoglicosídeos e perda de movimento por

carrapatos do gênero Ixodes. Nos dois casos a transmissão da acetilcolina nas

intersecções neuromusculares dos músculos esqueléticos é afetada, ocorrendo

igualmente à perda de movimento/paresia flácida (SILVA et al., 2014).

A doença de Lyme é uma doença transmitida pela picada do carrapato

causada pela espiroqueta Borrelia burgdorferi sensu lato e transmitida pelo

carrapato da espécie Ixodes ricinus. Causa diferentes manifestações articulares,

cardíacas, neurológicas e cutâneas. A lesão de pele mais comum se denomina

como eritema migrans (SHINJO et al., 2008)

4.1.7 Prevenção

As medidas de controle de botulismo são principalmente associadas com o

manejo sanitário dos animais. Estas medidas são: manejo do ambiente, recolher

cadáveres do ambiente, a imunização antibotulínica e evitar fontes de água

estancada com suspeita de contaminação (NOBREGA, 2007).

4.2 SALMONELOSE

A salmonelose é um microrganismo que faz parte da família

Enterobacteriaceae. São bacilos curtos, Gram-negativos, não esporulados, móveis,

e na maior parte contendo flagelos peritríquio, com exceção da Salmonella

gallinarum e Salmonella pullorum que são estacionários (CAMPELLO, 2012).

Sua temperatura ideal para multiplicação é de 37°C, mas já foram vistos

crescimento nas temperaturas algo em torno de 5 e 45°C, eles desenvolvem mesmo

com pH oscilando entre 4 e 9, com o desenvolvimento ideal no pH 7 (TROVÓ,

2006).

Page 32: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

18

Existem várias fontes de contaminação de Salmonella spp. Os mamíferos,

aves e répteis são portadores em estado latente ou assintomático, e todos podem

descarregar os microorganismos em excrementos se tornando fonte de infecção

para todos os indivíduos e ao meio ambiente (GALDINO, 2010). De acordo com

Sousa (2007) são conhecidos mais de 2500 sorotipos de Salmonella, no entanto 80

a 90 são os mais amplamente reconhecido e 11 casos são de infecção nos animais

e seres humanos.

Causam três doenças diferentes: a doença pulorose onde o agente é a

Salmonella pullorum; o tifo aviário, causada por Salmonella gallinarum; e o paratifo

aviária causado pela Salmonella typhimurium e Salmonella enteritidis. Nos humanos,

a ingestão de alimento contaminado de aves domesticadas com Salmonella sp.

pode levar a toxinfecção alimentar.

Ao redor do mundo. S. enteritidis é a espécie mais comum, seguido por S.

typhimurium. Apenas um número limitado de sorotipos é isolado do homem ou

animais em uma área solitária ou nação. A predominância de uns ou outros

sorotipos pode variar com o passar do tempo. Alguns sorotipos, por exemplo, S.

enteritidis e S. typhimurium, estão presentes no mundo inteiro, por outro lado, S.

weltevreden é somente encontrado na Ásia (ACHA, 2003).

4.3 ANATÍDEOS

A família Anatidae é representada por patos, gansos, cisnes e marrecas. Tem

uma dispersão cosmopolita e são capazes de migrarem duas vezes ao ano podendo

até atravessar oceanos em busca de alimentos e abrigo. Contém cerca de 38

espécies em 16 gêneros. Eles são em grande parte herbívoros, e são reprodutores

monogâmicas. São reconhecidos pela peculiar migração anual. Estas aves foram

domesticadas para a agricultura, e muitos outros são perseguidos para alimentação

e entretenimento (CUBAS et al., 2007).

As asas são curtas, aguçadas e amparadas por músculos sólidos que

produzem batidas rápidas em voo. Têm normalmente pescoços longos, apesar do

fato de que difere em graus entre espécies. As pernas são curtas, sólidas, definidas

para longe da parte posterior do corpo e tem uma vibração robusta com uma

composição escamosa. Os bicos são feitos de queratina com uma camada frágil e

Page 33: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

19

delicada da pele no topo. Para a maioria das espécies, o formato do bico tem uma

tendência para ser mais achatado. Estes contêm lamelas serrilhadas que são

especialmente muito caracterizados por se alimentarem por filtração (GILL et al.,

1994).

Suas penas são impermeáveis pelo derramamento de água por causa de

óleos excepcionais que estão presentes na pena. Uma grande parte dos patos

mostram dimorfismo sexual, com os machos sendo mais coloridos do que as

fêmeas. A dieta dos anatídeos é bem diversificada, porém em grande parte

herbívoros, alimentando de diferentes plantas aquáticas, embora nas épocas de

reprodução o animal se alimenta mais de invertebrados aquáticos promovendo

maior aporte proteína (FORSHAW, 1991).

4.3.1 Marreca caneleira (Dendrocygna bicolor)

A Dendrocygna bicolor pertence à subfamília Anserinae e ao gênero

Dendrocygna. É popularmente conhecida como Marreca xenxém e Marreca peba.

Estas aves demonstram plumagem parda-acanelada e flanco listrado de amarelo. O

restante da sua coloração é da cor de chumbo. Convivem em bando e são

localizados desde a Califórnia até a Argentina e em todo o Brasil (CORRÊA, 2007).

4.3.2 Marreca do bico vermelho (Anas erythrorhyncha)

O animal na fase adulta apresenta uma coloração acinzentada com um

tampão escuro na nuca e normalmente com coloração branca na face. As penas de

seu corpo tem um aspecto pálido. Seu bico tem uma cor vermelho rosado brilhante

com preto na base da mandíbula superior. As pernas são cinza escuro e olhos

castanhos. São encontrados desde sul da África e também em Madagascar (KEAR,

2005).

4.3.3 Marreca arrabio (Anas acuta)

A Anas acuta pertence à família Anatidae e são popularmente conhecidos por

Pato de cauda pontuda ou pontiaguda. Apresentam caracteristicamente uma

coloração de cor castanho-chocolate na cabeça, com uma longa listra branca que se

Page 34: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

20

estende do pescoço até o ventre. Seu pescoço é comprido e o seu bico é pequeno e

estreito. Já a fêmea apresenta cauda mais comprida e pontiaguda, bico cinzento-

escuro e uma plumagem castanha. Essa espécie é encontrada na região de

Fernando de Noronha, possivelmente oriundo da costa africana e aparecem

raramente no Rio de Janeiro (WikiAves, acesso em 26 de julho de 2015).

Page 35: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

21

5 RELATO DE CASO

Foi atendido no Zoológico de Curitiba um grupo de anatídeos da espécie

Marreca arrabio (Anas acuta), Marreca de bico vermelho (Anas erythrorhyncha) e

Marreca caneleira (Dendrocygma bicolor), todas residentes no recinto Tigre d’água.

O recinto Tigre D’água se localiza em frente ao recinto dos cervos-nobres

onde tem uma variedade de espécies e um ecossistema terrestre e aquático (Figura

16, 17, 18 e 19). O ambiente possui diversas árvores e um riacho. Neste riacho todo

o animal tem costumes aquáticos, ou seja, a água possui grande quantidade de

fezes que fica sujeito ao eutrofismo causando a ausência do oxigênio e aumentando

as chances de bactérias anaeróbias se proliferarem.

Em 14 de setembro foi encontrada uma Marreca arrabio (Anas acuta) no

recinto do tigre d’água apática, desidratada, olhos fechados e incapaz de ficar em

pé. Foi realizado dexametasona (125-0,25 mL/5kg), mercepton (2-10 mL/dia),

solução de ringer lactato (SC, 20 mL) e (PO, 10 mL).

No dia seguinte (15 de setembro) o paciente foi a óbito. Neste dia, no mesmo

recinto, foi achado duas Marrecas de bico vermelho (Anas erythrorhyncha), o macho

já estava em óbito e a fêmea estava no mesmo estado que a Marreca arrabio:

desidratada, olhos fechados, incapaz de ficar em pé e apática. Os procedimentos

emergências foram os mesmos e o tratamento ambulatorial também.

Em 16 de setembro, a Marreca de bico vermelho foi a óbito e no mesmo dia

foi encontrada uma Marreca caneleira (Dendrocygma bicolor) morta.

A principal suspeita destes casos clínicos foi de um surto de Clostridium

botulinum, que causa o botulismo. Sendo esta uma toxinfecção que acomete

especialmente este grupo de aves.

Os anatídeos foram congelados após o óbito e depois de duas semanas

foram levados para o Passeio Público onde foram deixados para descongelar e

posteriormente foram realizadas necropsias na Universidade Tuiuti do Paraná pela

Prof. Dra. Silvana Cirio e auxiliada pelo estagiário.

Todos os animais apresentaram sinais clínicos similares um ao outro baseado

na suspeita de botulismo pois apresentaram um quadro de paralisia flácida simétrica

ascendente. Somente a Marreca de bico vermelho e uma Marreca arrabio foram

encontradas vivas e logo em seguida foram tratadas.

Page 36: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

22

Figura 16: Recinto Tigre D’Água – Parte da frente do recinto

Figura 17: Recinto Tigre D’Água – Apresentando alguns animais do recinto

.

Page 37: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

23

Figura 18: Recinto Tigre D’Água - Onde os animais do recinto costumam

se alimentar

Figura 19: Recinto Tigre D’Água - Parte de trás do recinto

Page 38: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

24

6 METODOLOGIA

Para o presente trabalho, foi escolhida a pesquisa de campo que é composta

pela observação de fatos e fenômenos, a coleta de dados, análise e interpretação.

O procedimento realizado foram as necropsias em duas Marrecas de bico

vermelho, uma Marreca arrabio e uma Marreca caneleira com suspeitas de

botulismo.

Foram coletadas fezes no recinto Tigre d’água no dia 8 de outubro em

diferentes pontos e encaminhado para Prof.ª Silvana no dia 9 de outubro. No dia 9

de novembro foi coletado novamente fezes no recinto e mandado novamente; no dia

11 de novembro para analisar as amostras. Os resultados foram negativos.

Não foi aplicada a técnica de soroneutralização em ratos para confirmação da

doença.

6.1 Técnica de necropsia em aves

Segundo Gonçalves et al. (2011), a pele deve ser analisada e rebatida para

permitir a apresentação da musculatura abdominal, peitoral e estruturas cervicais,

assim dando acesso à cavidade celomática. Para isso, é necessário remover o

músculo peitoral-gracil costal quando dissecar a cintura torácica (coracóide e

clavícula) e incisar as interseções costocondrais. Antes de retirar o esterno

completamente, é preciso deslocar cuidadosamente para estender os sacos aéreos

torácicos e avaliar a sua coloração, se há presença de líquidos ou não, corpos

estranhos, parasitas ou granulomas.

Uma vez sem o esterno, a cavidade celomática deve ser avaliado se há

alguma alteração no conjunto de órgãos visíveis. Nesse ponto, o fígado e o baço

removem-se conjuntamente e coração. Depois no duodeno deve ser feito uma

ligadura dupla cranialmente ao pâncreas e outra caudalmente a cloaca, deste modo

permitindo a extração de secções intestinais para o segmento de extremidade do

reto.

E então, serão removidos a traquéia, siringe, brônquios e pulmões. Além

disso, para fazer a ressecção dos pulmões de traqueia em seus primeiros anéis,

tomada depois por desmembramento sentido craniocaudal das estruturas acima.

Depois a evacuação do trato respiratório, libera-se a parte torácica do esôfago.

Page 39: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

25

Então, faz a desarticulação hióidea na região da garganta para a retirada do

aparelho laríngeo (língua, faringe, laringe, glote), para capacitar evacuação de todo

o trato digestivo superior (cavidade oral, esôfago, seguido por inglúvio, proventrículo

e ventrículo) para algum outro tempo exame. Desta maneira, trato digestivo deve ser

removido.

Os rins devem ser retirados em conjunto com órgãos adrenais. O

cumprimento exato é adequado para separar, no meio do rim direito e esquerdo.

Também deve-se desarticular o fêmur de ambos os membros para avaliar a

cartilagem. Os nervos ciáticos são dissecados para identificar possíveis alterações.

6.2 Exame coproparasitológico

O exame é feito por duas etapas: a sedimentação e a flutuação e foram

realizadas da seguinte maneira:

Sedimentação: as fezes são dissolvidas em água, e filtrada em gaze. O filtrão

ficou em sedimentação por 20 minutos. Após este tempo, o sedimento foi colocado

em lâmina e recoberto com lamínula para avaliação microscópica.

Flutuação: as fezes são dissolvidas em solução salina saturada, filtrada em

gaze e colocada em frasco recoberto com lamina de vidro, permanecendo esta por

20 minutos. Após foi feita a avaliação microscópica. A água foi centrifugada e o

sedimento colocado em lamina de vidro para avaliação microscópica.

Page 40: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

26

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro Anatídeo que foi realizada a necropsia foi a Marreca caneleira

(Dendrocygna bicolor):

Figura 20: Marreca caneleira (Dendrocygna bicolor)

Figura 21: Hematoma no músculo peitoral direito

Figura 22: Hematoma no músculo peitoral direito com maior foco

Figura 23: Exposição dos órgãos celomáticos

Figura 24: Fígado com coloração normal

Page 41: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

27

O segundo Anatídeo que foi realizada a necropsia foi a Marreca arrabio (Anas

acuta):

Figura 25: Marreca arrabio (Anas acuta) Figura 26: Região da cloaca apresenta penas impregnadas de fezes (diarreia)

Figura 27: Músculo peitoral esquerdo com edema subcutâneo

Figura 28: Músculo peitoral esquerdo com edema subcutâneo com maior foco

.

Figura 29: Hemorragia interna no coração com ruptura do átrio

Figura 30: Fígado aparentemente congesto

O terceiro Anatídeo que a necropsia foi realizada foi a Marreca do bico

vermelho (Anas erythrorhyncha):

Page 42: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

28

Figura 31: Marreca do bico vermelho (Anas erythrorhyncha)

Figura 32: Brinco na asa esquerda (PA 126)

Figura 33: Exposição dos órgãos

celomáticos

Figura 34: Gordura acumulado no

tecido subcutâneo

Figura 35: Gordura acumulado no tecido subcutâneo

Figura 36: Líquido avermelhado na cavidade celomática

Figura 37: Necrose puntiforme no fígado

Figura 38: Edema pulmonar

Page 43: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

29

Figura 39: Ventrículo com pouca pedra, úlceras múlt iplas na mucosa

O quarto Anatídeo que a necropsia foi realizada foi à segunda Marreca do

bico vermelho (Anas erythrorhyncha):

Figura 40: Marreca do bico vermelho (Anas erythrorhyncha)

Figura 41: Exposição dos órgãos celomáticos

Figura 42: Fígado com aspecto normal

Page 44: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

30

Figura 43: Comparativo de todos os fígados dos anatídeos submetidos à necropsia.

Por conta da sintomatologia dos óbitos ocorridos, foram efetuadas as

necropsias nos anatídeos na suspeita de caso de botulismo, conforme abaixo:

O achado necroscópico do animal 1 apresentava hemorragia de

aproximadamente 5 cm de diâmetro no músculo peitoral do lado direito, porém, pode

ter sido aplicação de medicamento que é um local normal para isso. O fígado

apresentava coloração normal. No animal 2 estava com hemorragia interna com

ruptura do átrio e edema subcutâneo no músculo peitoral do lado esquerdo de

aproximadamente 5 cm e o seu fígado estava aparentemente congesto. Na

necropsia, o animal 3 foi o único a apresentar um achado necroscópico relevante,

porém, era suspeita de Salmonelose onde possui lesões puntiformes necróticos no

fígado. Além disso, possuía líquido avermelhado na cavidade celomática, edema

pulmonar, úlceras múltiplas na mucosa do ventrículo e gordura acumulado no tecido

subcutâneo. O animal 4 não apresentou nenhum achado necroscópico relevante.

Nenhuma das coletas de fezes e água do recinto teve um resultado confirmatório de

botulismo.

Após o óbito dos animais com suspeita de botulismo, não houve nenhum

outro caso de suspeita no recinto após ter sido removido o ninho do urubu que

potencialmente poderia estar carreando a doença e ter eliminado pelas fezes. As

aves tem o costume não somente de comer verduras, mas como também de

macroinvertebrados que é uma característica dos anatídeos e que pode ter se

infectado ao ingerir as larvas infectadas pelo botulismo.

Page 45: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

31

No trabalho feito pelo Coelho et al. (2007) no exame físico, verificou-se que as

aves tiveram paralisia flácida do pescoço e as asas e desprendimento espontâneo

das penas. Porém, não teve desprendimento espontâneo das penas de nenhum dos

animais que foram analisadas no trabalho, somente a paralisia flácida foi constatada.

O teste mais utilizado e confirmatório trata-se de inoculação em camundongos

a partir do soro do animal pela técnica de soroneutralização. Os camundongos são

observados num período de 96h para verificação da sintomatologia e morte. Caso os

camundongos apresentem a sintomatologia e levem a óbito é confirmada a doença.

De acordo com Andrade (2013) a confirmação deve ser feita por um método

de reconhecimento da toxina botulínica no soro, no conteúdo intestinal e fígado,

utilizando-se a técnica de soroneutralização e inoculação em camundongos. Porém

não foi feito a técnica pela opção de não utilizar animais para teste.

No entanto não foi possível incluir este procedimento na rotina do Zoológico

de Curitiba, e desta forma a confirmação de toxinfecção não aconteceu.

Page 46: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

32

8 CONCLUSÃO

Na pesquisa que buscou confirmar ou refutar a suspeita de toxinfecção no

grupo de anatídeos que tiveram sintomatologia e vieram a óbito no Zoológico de

Curitiba, foi escolhido a necropsia e o exame coproparasitológico com o objetivo de

concluir um diagnóstico.

As sintomatologias identificadas foram de paresia da musculatura cervical e

das asas, fraqueza crescente, pálpebras fechadas, diarreia e óbitos, já

mencionados. A necropsia foi realizada em quatro anatídeos (Marreca caneleira,

Marreca arrabio e duas Marrecas de bico vermelho), nas quais foram encontradas

alterações como: hemorragias internas, ruptura de átrio, edema subcutâneo, líquido

avermelhado na cavidade celomática, edema pulmonar, úlceras múltiplas na mucosa

do ventrículo, sinais de diarreia, fígado congesto, lesões puntiformes necróticos com

suspeita de Salmonelose.

Neste relato de caso, ainda que diante da sintomatologia, dos quatro óbitos e

dos achados na necropsia no Zoológico, e com o exame coproparasitológico não foi

possível confirmar a toxinfecção. A sugestão é que para uma pesquisa mais

aprofundada, seja feito outros exames complementares. Também é de extrema

importância assim que notar a existência de um animal morto no recinto, fazer a

retirada da carcaça o mais breve possível. Nestes casos reforçar a vistoria, para

refrear ou evitar que outras aves possam ser contaminadas (devido uma carcaça

infectada, através de mosca, larvas) e favorecer a disseminação de Clostridium.

Mesmo diante da não confirmação do caso de toxinfecção, vale ressaltar a

importância dos cuidados já efetuados do Zoológico nos procedimentos de

higienização adequada do ambiente, vistoria constante em conjunto com a

alimentação balanceada dos animais para evitar a existência da doença, e que esta

não se dissemine de forma endêmica.

A relevância do trabalho é indispensável diante da necessidade e

desenvolvimento da investigação de uma situação em um zoológico grande e

importante da capital do Paraná, tanto para o público interno quanto externo, que

são eles: a administração, a equipe técnica, os animais e os visitantes. Destaca-se a

oportunidade de unir o conhecimento teórico da academia à oportunidade da prática

neste trabalho, que trouxe a experiência e crescimento pessoal e profissional.

.

Page 47: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

33

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACHA, Pedro N., and Boris Szyfres. Zoonoses and Communicable Diseases

Commom to Man and Animals, Scientific and Technical Publication No. 580. 3rd ed.

Vol. 1, Bacterioses and Mycoses, Washington, DC: Pan American Health

Organization, 2003.

ALVES, Kahena Pereira. Botulismo em cães: uma doença da junção

neuromuscular. Porto Alegre, 2013. Disponível em: Acesso em: 24 de nov. 2015.

ANDRADE, Gabriel Ninin Xavier. Botulismo em bovinos, descrição da doença e

seu impacto na economia. Maio. 2013. Disponível em:

http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/GYP7nDovaaowo

P9_2013-5-20-12-7-34.pdf Acesso em: 24 nov. 2015.

CATTÁNEO, M. Botulismo por Clostridium botulinum tipo C en patos en

Uruguay. Uruguay, 2008. Disponível em:

http://sedici.unlp.edu.ar/bitstream/handle/10915/11224/Documento_completo.pdf?se

quence=1 Acesso em: 26 de nov. 2015.

BALDASSI, L. Clostridial toxins: potent poisons, potent medicines. J. Venom.

Anim. Toxins incl. Trop. Dis, Botucatu, v. 11, n. 4, p. 391-411, Dec. 2005.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-

91992005000400002&lng=en&nrm=iso Acesso em: 19 nov. 2015.

BARBOZA, Morgana Maria de Oliveira; SANTOS, Norival Ferreira dos; SOUSA,

Oscarina Viana de. Surto familiar de botulismo no estado do Ceará: relato de

caso. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 44, n. 3, p. 400-402, Junho 2011.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-

86822011000300030&lng=en&nrm=iso Acesso em: 26 de nov. 2015.

Page 48: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

34

CAMPELLO, Paula Leticia. Salmonella spp. em ovos brancos para consumo

humano. 2012. vi, 77 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2012. Disponível em:

http://hdl.handle.net/11449/94622 Acesso em: 24 de nov. 2015.

COELHO, Humberto Eustáquio et al. Botulismo em aves domésticas: Gallus

gallus domesticus. Relato de caso. Arq. Ciênc. Vet. Zool. Unipar, Umuarama, v.

10, n. 2, p. 125-128, jul./dez. 2007. Disponível em:

http://revistas.unipar.br/veterinaria/article/view/2060/1798 Acesso em: 24 de nov.

2015.

CORREA, Sandra Helena Ramiro. Estudo e pidemiológico de doenças

infecciosas em anatídeos na Fundação Parque Zoológico em São Paulo. 2007.

Tese (Doutorado em Medicina Veterinária. Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: Acesso em: 24 de

nov. 2015.

CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; DIAS, J.L.C. Tratado de Animais Selvagens -

Medicina Veterinária. 1. ed. São Paulo: Roca, 2007.

EDUARDO, Maria Bernadete de Paula et al . Botulismo tipo A e B causado por

torta comercial de frango com palmito e ervilhas no município de São Paulo,

SP: janeiro de 2007. BEPA, Bol. epidemiol. paul. (Online), São Paulo, v. 4, n. 38,

fev. 2007 . Disponível em

http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-

42722007000200001&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 19 nov. 2015.

FORSHAW, Joseph. Lindsey, Terence, ed. Encyclopaedia of Animals: Birds.

1991. London: Merehurst Press. pp. 81–87.

GALDINO, Vânia Maria Cristina Alves. Pesquisa de Salmonella spp. em lotes de

galinhas de postura comercial vacinadas e não vacinadas contra Salmonella

enteritidis. 2010. v, 61 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,

Page 49: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

35

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2010. Disponível em:

http://hdl.handle.net/11449/95966 Acesso em: 19 nov. 2015.

GONÇALVES, Guilherme Augusto Marietto; SALGADO, Breno Souza. Necropsia

cosmética em aves. Archives of Veterinary Science, v. 16, n. 2, p. 9-17, 2011.

Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/72949 Acesso em: 19 nov. 2015.

GILL, F. B. Handbook of the Birds of the World, Volume 1 (Ostrich to Ducks),

editado por J. del Hoyo, A. Elliott e J. Sargatal. CONDOR-KANSAS-, v. 96, p. 566-

566, 1994.

KEAR, Janet. Ducks, Geese and Swans. 1st ed. Vol. 2, Species accounts (Cairina to

Mergus), New York, NY: Oxford University Press Inc, 2005.

LOBATO, Francisco Carlos Faria et al . Botulismo tipo C em perus em Minas

Gerais, Brasil. Cienc. Rural, Santa Maria, v. 39, n. 1, p. 272-274, Feb. 2009.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

84782009000100047&lng=en&nrm=iso Acesso em: 19 Nov. 2015.

LOBATO, Francisco Carlos Faria et al. Botulismo tipo C em ganso ocorrido em

Minas Gerais, Brasil. Cienc. Rural, Santa Maria, v. 38, n. 4, p. 1179-1180, Aug.

2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

84782008000400047&lng=en&nrm=iso Acesso em: 19 nov. 2015.

LOBATO, Francisco Carlos Faria. Botulismo em ruminantes causado pela

ingestão de cama-de-frango. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.4, p.1176-1178,

jul, 2008. Acesso em: 24 de nov. 2015.

MANGILLI, Laura Davison; ANDRADE, Claudia Regina Furquim de. Botulismo e

disfagia. Pró-Fono R. Atual. Cient., Barueri, v. 19, n. 2, p. 215-222, June 2007 .

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

56872007000200010&lng=en&nrm=iso Accesso em 19 nov. 2015.

Page 50: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

36

MENDES, Rebeca. Botulismo no mel: revisão de literatura. Brasília, 2008.

Disponível em:

http://qualittas.com.br/uploads/documentos/Botulismo%20no%20Mel%20Revisao%2

0de%20Leitura%20-%20Rebeca%20Mendes.PDF Acesso em: 24 de nov. 2015.

NOBREGA, Fabiana Lara Castor da. Resposta humoral de ovinos vacinados com

toxóides botulínicos C e D. 2007. 41 f. Dissertação (mestrado) – Universidade

Estadual Paulista, Faculdade de Odontologia de Araçatuba, 2007. Disponível em:

http://hdl.handle.net/11449/94688 Acesso em: 24 de nov. 2015

SILVA, Fernanda Magrini da et al. Botulismo em cão na região da fronteira oeste

– relato de caso. Rio Grande do Sul, 2014. Disponível em:

http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/7907 Acesso em: 24 de nov.

2015.

SILVA, Rodrigo Otávio Silveira et al. Caso de botulismo tipo c em cão. Ciênc. vet.

tróp., Recife-PE, v. 11, no 2/3, p. 86 - 89 - maio/dezembro, 2008. Disponível em:

http://www.rcvt.org.br/volume11_2_3/pag_86_a_89.pdf Acesso em: 24 de nov. 2015.

SHINJO, Samuel Katsuyuki et al. Manifestação neurológica na síndrome de

Baggio-Yoshinari (síndrome brasileira semelhante à doença de Lyme). Rev.

Bras. Reumatol., São Paulo , v. 49, n. 5, p. 492-505, Out. 2009. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S048250042009000500003&l

ng=en&nrm=iso Acesso em: 9 de dez. 2015.

SOUSA, Eliane de. Pesquisa de agentes etiológicos patogênicos para galinhas

de produção, em aves selvagens próximas as instalações avícolas. 2007. viii 72

f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências

Agrárias e Veterinárias, 2007. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/95980

Acesso em: 24 de nov. 2015.

TROVÓ, Kátia Viviane Prochnon. Clostridium perfringens e Salmonella spp em

camas de frango, novas e reutilizadas, e seus efeitos sobre o desempenho

zootécnico. 2006. viii 51 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,

Page 51: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDO LOURENÇO …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/SUSPEITA-DE-TOXINFECCAO.pdf · eduardo lourenÇo oda suspeita de toxinfecÇÃo por clostridium

37

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006. Disponível em:

http://hdl.handle.net/11449/94915 Acesso em: 19 nov. 2015.

Wiki Aves. Disponível em: http://www.wikiaves.com.br/arrabio Acesso em 26 de julho

de 2015.