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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Utilização da biomassa: avaliação dos resíduos e utilização de pellets em caldeiras domésticas João Jorge Mestre Dias (Licenciado) Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientador: Doutor João Luís Toste de Azevedo Júri: Presidente: Doutor Mário Nery Rodrigues Nina Professor Associado do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa Vogais: Doutor Manuel Arlindo Amador de Matos Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro Doutor João Luis Toste de Azevedo Professor Auxiliar do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa DEZEMBRO DE 2002

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

Utilização da biomassa: avaliação dos resíduos e utilização

de pellets em caldeiras domésticas

João Jorge Mestre Dias

(Licenciado)

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica

Orientador: Doutor João Luís Toste de Azevedo

Júri: Presidente: Doutor Mário Nery Rodrigues Nina

Professor Associado do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

Vogais: Doutor Manuel Arlindo Amador de Matos

Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Doutor João Luis Toste de Azevedo

Professor Auxiliar do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

DEZEMBRO DE 2002

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i

Resumo

Na primeira parte da tese apresenta-se o resultado de um estudo sobre a disponibilidade anual

de resíduos de biomassa em Portugal nos seus sectores principais. Estimou-se que a produção

total de resíduos é 5630 mil toneladas secas/ano e a biomassa produzida sem utilização é 2628

mil toneladas secas/ano, provenientes principalmente da floresta e agricultura.

Na segunda parte da tese apresentam-se os resultados de um estudo realizado numa caldeira

doméstica, utilizando pellets como combustível sob diferentes condições de regime

estacionário e durante a fase de arranque. Foi avaliado o rendimento térmico da caldeira, a

emissão de gases e perdas devido à combustão incompleta. Verificou-se que a concentração

de O2 nos gases de escape varia com a capacidade da caldeira e com a velocidade do

ventilador. A concentração de CO apresentou um valor mínimo para valores de O2, nos gases,

próximo de 13%. As emissões de NOX mostraram-se independentes do excesso de ar para

pellets com baixo teor em azoto, nos restantes casos a variação foi proporcional à

concentração de O2 nos gases. Durante os ensaios de arranque foram observados picos de CO

cerca de 0.9 - 1.7%, relacionados com valores mínimos para a concentração de O2,

independentemente do tipo de pellets.

Palavras chave: resíduos de biomassa, pellets, emissões, eficiência de caldeiras, combustão

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ii

Abstract

In the first part of this thesis the results of a survey study on biomass residues produced in

Portugal per year are presented in its main sectors. The biomass production was estimated in

5630 thousand dry tons/year and the biomass with no utilization in 2628 thousand dry

tons/year, mainly from forestry and agriculture.

In the second part of this thesis the results from an experimental study performed on a

domestic boiler using pellets as fuel, under different steady state conditions and during start-

up, are presented. It was evaluated the boiler-efficiency, the flue gases emissions and losses

due to incomplete combustion. The O2 concentration in the flue gases changed with boiler

load and ventilation due to its regulation scheme. Flue-gas CO showed a minimum for values

of O2 in the flue-gases about 13%. NOX emissions were independent of excess air for low

values of nitrogen in the fuel whereas, for larger values, NOX emissions increased with the O2

present in the combustion products. During boiler start-up, a peak in CO emissions was

observed about 0.9 - 1.7% associated with the maximum combustion intensity, as typified by

the flue-gas O2 concentration and temperature, regardless the pellets type.

Keywords: biomass residues, pellets, emissions, boiler-efficiency, combustion

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iii

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço ao meu orientador Professor Dr. João Luís Toste de Azevedo

pelo incansável apoio prestado ao longo do trabalho

Ao Professor Dr. Mário Costa pelo apoio prestado na orientação de parte do trabalho

desenvolvido e na preparação de um artigo sobre os ensaios na caldeira

Ao Sr. Luís Mascarenhas da firma TEPAL pelo fornecimento da caldeira e combustível,

essencial para este estudo

Ao Eng. Pedro Figueiral (ADENE) e Eng.ª Susana Sobral (ARECBA) pelo apoio e

aconselhamento

Ao Professor Doutor Raul Bruno de Sousa pela grande ajuda e apoio

Aos colegas da Área Departamental de Ciência e Tecnologia dos Alimentos da Escola

Superior Agrária de Beja, em especial ao Professor Dr. João Canada, Dr.ª Silvina Ferro

Palma, Dr. Bartolomeu Alvarenga e Eng.ª Maria João Alves

Ao Eng. Nunes Ribeiro, à Dr.ª Helena Monteiro e à Lena pelo apoio na realização de análises

e disponibilização das instalações

À Caetana, Maria, Manuela, Fernanda e Célia pela sua colaboração

Aos colegas do mestrado Ronne Toledo, Pedro Grosmann, João Cunha e Luis Silva

Aos colegas do LASIQ, em especial ao Eng. Ulisses Fernandes e ao técnico Manuel Pratas

À minha família por todo o apoio e compreensão

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ÍNDICE DE CONTEÚDOS

Página

Resumo........................................................................................................................................ i Abstract ...................................................................................................................................... ii Agradecimentos.........................................................................................................................iii

1 – Introdução ............................................................................................................................ 1 1.1 – Motivação do trabalho................................................................................................... 1 1.2 – Avaliação dos resíduos de biomassa em Portugal continental ...................................... 4 1.3 – Características da biomassa densificada ....................................................................... 9 1.4 – Testes em caldeiras...................................................................................................... 12 1.5 – Combustão da madeira ................................................................................................ 15

1.5.1 – Características da biomassa.................................................................................. 15 1.5.2 – Ignição e propagação............................................................................................ 18 1.5.3 - Pirólise .................................................................................................................. 20 1.5.4 – Combustão do resíduo carbonoso ........................................................................ 22 1.5.5 - Poluentes ............................................................................................................... 23 1.5.6 - Depósitos............................................................................................................... 24

1.6 - Estrutura da tese........................................................................................................... 26 2 – Avaliação dos resíduos de biomassa em Portugal continental.......................................... 28

2.1 - Avaliação dos resíduos florestais................................................................................. 28 2.2 – Avaliação dos resíduos da indústria de transformação da madeira e cortiça .............. 33

2.2.1 - Estimativa dos resíduos florestais a partir do consumo de madeira ..................... 37 2.3 – Avaliação dos resíduos da agricultura......................................................................... 40 2.4 – Avaliação dos resíduos da agro-indústria.................................................................... 45 2.5 – Avaliação dos resíduos com possibilidade de queima ................................................ 49

3 – Metodologia dos ensaios na caldeira................................................................................. 53 3.1 - Descrição da caldeira utilizada .................................................................................... 53 3.2 – Descrição da instrumentação utilizada........................................................................ 55 3.3 – Metodologia dos ensaios ............................................................................................. 59 3.4 – Pellets utilizadas.......................................................................................................... 64 3.5 – Transferência de energia na caldeira........................................................................... 67

4 – Resultados obtidos na caldeira .......................................................................................... 72 4.1 – Ensaios em regime estacionário .................................................................................. 72

4.1.1 – Rendimento térmico da caldeira........................................................................... 72 4.1.2 – Perdas na caldeira................................................................................................. 74 4.1.3 – Emissões da caldeira ............................................................................................ 77 4.1.4 – Análise da transferência de calor na caldeira ....................................................... 80

4.2 – Ensaios de arranque da caldeira .................................................................................. 82 4.2.1 - Propagação da combustão no leito........................................................................ 82 4.2.2 – Evolução da temperatura dos gases de exaustão.................................................. 85 4.2.3 – Evolução das espécies químicas........................................................................... 88

5 – Conclusões ......................................................................................................................... 91 6 – Trabalhos futuros ............................................................................................................... 94 7 - Bibliografia ......................................................................................................................... 96

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ÍNDICE DE FIGURAS

Página

Figura 1: Distribuição das principais espécies florestais em Portugal continental. ................... 5 Figura 2: Destino dos resíduos da indústria da madeira............................................................. 7 Figura 3: Evolução da massa duma partícula de biomassa durante a combustão .................... 19 Figura 4: Processo de pirólise da biomassa.............................................................................. 21 Figura 5: Secção de uma partícula em combustão ................................................................... 21 Figura 6: Disponibilidade dos resíduos de biomassa ao longo do ano..................................... 51 Figura 7: Caldeira ECOAGUA ................................................................................................ 53 Figura 8: Pellets utilizadas ....................................................................................................... 54 Figura 9: Tegão de abastecimento............................................................................................ 54 Figura 10: Esquema da caldeira ECOAGUA........................................................................... 54 Figura 11: Representação esquemática da instalação .............................................................. 56 Figura 12: Analisador dos gases de exaustão........................................................................... 58 Figura 13: Computador e data logger ...................................................................................... 58 Figura 14: Esquema simplificado da caldeira .......................................................................... 67 Figura 15: Representação das trocas radiativas entre as superfícies da caldeira ..................... 68 Figura 16: Correlação entre o circuito da caldeira e o da água de refrigeração....................... 72 Figura 17: Potência térmica da caldeira ................................................................................... 73 Figura 18: Temperatura dos gases em função da potência fornecida ...................................... 74 Figura 19: Perda de energia nos gases de exaustão.................................................................. 75 Figura 20: Concentração de O2 nos gases de exaustão ............................................................ 77 Figura 21: Emissões normalizadas de CO em função do oxigénio.......................................... 78 Figura 22: Emissões normalizadas de NOX em função do oxigénio........................................ 78 Figura 23: Temperatura da extremidade direita do leito de combustão, durante o arranque ... 83 Figura 24: Temperatura da extremidade esquerda do leito de combustão, durante o arranque83 Figura 25: Temperatura dos gases no lado esquerdo da câmara, durante o arranque .............. 86 Figura 26: Temperatura dos gases no centro da câmara, durante o arranque .......................... 86 Figura 27: Temperatura dos gases no lado direito da câmara, durante o arranque .................. 86 Figura 28: Concentração de CO, durante o arranque ............................................................... 88 Figura 29: Concentração de O2, durante o arranque ................................................................ 89 Figura 30: Concentração de NOX, durante o arranque............................................................. 89

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ÍNDICE DE TABELAS

Página

Tabela 1: Superfície dos povoamentos puros e mistos dominantes ........................................... 5 Tabela 2: Estimativa de Barreto (1980) para os resíduos florestais ........................................... 6 Tabela 3: Resíduos florestais estimados para Portugal .............................................................. 8 Tabela 4: Expressões utilizadas em estudos de avaliação de resíduos de biomassa .................. 8 Tabela 5: Comparação entre as pellets e as briquetes .............................................................. 11 Tabela 6: Valores limite de alguns parâmetros do fabrico de pellets e briquetes .................... 12 Tabela 7: Emissões de diferentes sistemas domésticos de aquecimento ................................. 13 Tabela 8: Normas da avaliação do desempenho de pequenas caldeiras de biomassa.............. 14 Tabela 9: Estimativas do poder calorífico da biomassa ........................................................... 17 Tabela 10: Principais fontes de emissões poluentes da combustão da biomassa..................... 24 Tabela 11: Densidade e estimativa de resíduos por área e ano ................................................ 31 Tabela 12: Resíduos anuais estimados, por espécie................................................................. 32 Tabela 13: Consumo de matéria-prima na indústria transformadora da madeira .................... 34 Tabela 14: Consumo de matéria-prima na indústria da pasta do papel.................................... 35 Tabela 15: Origem da matéria-prima adquirida pela indústria da pasta do papel.................... 35 Tabela 16: Consumo de cortiça pela indústria transformadora................................................ 36 Tabela 17: Resíduos da indústria de transformação da madeira e cortiça ............................... 36 Tabela 18: Estimativa dos resíduos florestais segundo diferentes métodos............................. 39 Tabela 19: Características dos principais resíduos agrícolas herbáceos .................................. 41 Tabela 20: Resíduos das culturas temporárias ......................................................................... 42 Tabela 21: Características das podas das culturas permanentes .............................................. 43 Tabela 22: Resíduos das culturas permanentes ........................................................................ 44 Tabela 23: Resíduos da agro-indústria ..................................................................................... 48 Tabela 24: Disponibilidade de resíduos de biomassa para combustão .................................... 50 Tabela 25: Identificação dos termopares.................................................................................. 57 Tabela 26: Análise numérica das grandezas medidas .............................................................. 61 Tabela 27: Valores médios e incertezas das potências calculadas ........................................... 64 Tabela 28: Características das pellets....................................................................................... 66 Tabela 29: Propriedades das diferentes superfícies da caldeira ............................................... 68 Tabela 30: Factores de forma ................................................................................................... 69 Tabela 31: Desvio padrão e estimativa da incerteza ................................................................ 73 Tabela 32: Dados referentes à combustão incompleta ............................................................. 75 Tabela 33: Conversão do azoto em NOX.................................................................................. 79 Tabela 34: Temperatura dos produtos de combustão no interior da caldeira........................... 80 Tabela 35: Transferência de energia na caldeira...................................................................... 81 Tabela 36: Temperatura no leito de combustão, durante o arranque ....................................... 84 Tabela 37: Temperatura no interior da câmara de combustão, durante o arranque ................. 87

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NOMENCLATURA

A Área, m2

At Altura total, m C Carbono cp Calor específico a pressão constante, kJ/(kg.K) DAP Diâmetro à altura do peito medido 1.30m acima do solo, cm E Erro da variável Cd Cádmio CF Carbono fixo Cl Cloro Cr Crómio Cu Cobre G Radiação incidente, W/m2 J Radiosidade, W/m2

h Entalpia específica, kJ/kg H Hidrogénio HC Hidrocarbonetos Hg Mercúrio k Condutividade térmica, W/(m.K) m& Caudal mássico, kg/s ou kg/h N Azoto Nu Número de Nusselt Nm3 Metro cúbico normal O Oxigénio Pb Chumbo PCI Poder Calorífico Inferior, kJ/kg ou MJ/kg PCS Poder Calorífico Superior, kJ/kg ou MJ/kg Pr Número de Prandtl R Constante universal dos gases ideais, kJ/(kmol.K) Re Número de Reynolds S Enxofre T Temperatura, ºC ou K t Tempo, s tep Tonelada equivalente de petróleo ton. Tonelada X Fracção mássica Zn Zinco Letras gregas α Difusividade térmica, m2/s ε Emissividade εVH Coeficiente de variação volumétrica da madeira, com humidade H, % ρ Massa específica, kg/m3 ρΗ Massa específica da madeira em base húmida com humidade H, kg/m3 σ Constante de Stefan-Boltzmann, W/(m2.K4)

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Índices ar Base húmida (do inglês as received) daf Matéria seca, isenta de cinzas (do inglês dry ash free) db Base seca (do inglês dry basis) e Eléctrico th Térmico

SIGLAS UTILIZADAS

ASTM American Society of Testing and Materials CBE Centro da Biomassa para a Energia DGE Direcção-Geral de Energia DGF Direcção-Geral das Florestas DIN Deutsches Institut für Normung EN European Standard IFN Inventário Florestal Nacional ÖNORM Österreichisches Normungsinstitut SS Swedish Standard TAPPI Technical Association of the Pulp and Paper Industry

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1 – Introdução

Neste capítulo será feita uma apresentação do tema a ser estudado na presente tese incluindo,

na secção 1.1, a motivação e a sua importância no contexto actual. Este capítulo contém na

secção 1.2 uma revisão bibliográfica relativa à produção e aproveitamento da biomassa em

Portugal, com destaque para o maior recurso disponível, a floresta. Na secção 1.3 apresentam-

se as propriedades típicas e normas associadas à preparação de biomassa densificada. A

secção 1.4 inclui uma revisão bibliográfica sobre alguns estudos realizados relativos ao

desempenho de caldeiras domésticas alimentadas a biomassa, incluindo um resumo sobre

algumas normas europeias. A secção 1.5 inclui um trabalho de revisão bibliográfica relativo

ao processo de combustão da biomassa, de modo a providenciar bases para o

desenvolvimento do trabalho e também analisar problemas associados à combustão de

biomassa. Finalmente na secção 1.6 apresenta-se a estrutura de apresentação dos capítulos

seguintes.

1.1 – Motivação do trabalho

A utilização de fontes renováveis para a produção de energia foi incentivada e fortemente

divulgada na Europa e nos Estados Unidos da América a partir dos finais dos anos setenta.

Neste contexto, a produção de energia a partir de biomassa vegetal constitui uma componente

importante, inicialmente valorizando os resíduos agrícolas, florestais e agro-industriais já

existentes, e posteriormente dando cada vez mais importância à produção de biomassa com

fins energéticos (Pereira, 2001). No que diz respeito à sua classificação, segundo a definição

de Biomassa constante na Directiva 2001/77/EC de 27 de Setembro de 2001, é “a fracção

biodegradável de produtos e resíduos da agricultura (incluindo substâncias vegetais e

animais), da floresta e das indústrias conexas, bem como a fracção biodegradável dos resíduos

industriais e urbanos” (ADENE/INETI, 2001). No entanto, na presente tese foi apenas

realizada a estimativa da produção de resíduos de biomassa na floresta, agricultura, agro-

indústria produtora de resíduos lenhosos e indústrias transformadoras da madeira e cortiça.

O aproveitamento deste recurso deverá constituir uma das prioridades de uma política

energética, sobretudo em sociedades que não dispõem de combustíveis fósseis. Esta opção

fará ainda maior sentido em situações onde o combustível aparece como subproduto dos

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processos de fabrico (Companhia de Celulose do Caima, 2001), como é o caso de algumas

matérias lenhosas.

Actualmente, em todo o Mundo, milhões de pessoas utilizam a biomassa como fonte de

energia, principalmente nos países em vias de desenvolvimento (Bhattacharya, 2002), no

entanto uma grande parte é utilizada em processos simples, poluidores e ineficazes em termos

energéticos. Dentro da União Europeia, a utilização da biomassa no ano 2000 correspondia a

3% das necessidades energéticas, ou seja, cerca de 45 Mtep. No entanto, tal como firmado no

documento ‘White paper: Energy for the Future: Renewable Sources of Energy’, COM (97)

599, um dos objectivos prioritários é o aumento da utilização desta fonte de energia em mais

90Mtep até 2010 e se tal objectivo for cumprido, a biomassa irá contribuir com cerca de 50%

das fontes de energia renováveis (EC, 2000). Para cumprir esta meta será necessária a

utilização dos resíduos da agricultura, floresta, indústria transformadora da madeira e outros

resíduos, assim como a utilização de culturas energéticas (EC, 1997). Na Europa, a ideia da

utilização da biomassa para fins energéticos teve um grande desenvolvimento, dado que se

conjugava com aspectos então também em discussão acerca da utilização da terra para

produções agrícolas não alimentares e da utilização dos produtos agrícolas excedentários para

fins industriais não alimentares, no quadro de uma política europeia de subsídios à

agricultura. Rapidamente os aspectos relacionados com o ambiente ganharam importância e

muitos estudos iniciaram-se, relacionando o impacto da utilização da biomassa como fonte

combustível no ambiente, quer a nível da produção quer da utilização (Pereira, 2001).

Em Portugal, verificam-se alguns avanços na utilização desta fonte de energia, principalmente

no aquecimento doméstico, apesar de ser utilizada com uma baixa eficiência energética. Em

paralelo continua a ser uma fonte de energia marginal na utilização em larga escala, como em

centrais térmicas e termoeléctricas. Em outros países europeus como a Suécia, Áustria e

Alemanha, a biomassa tem vindo a consolidar-se como alternativa fiável às fontes energéticas

convencionais, sendo já bastante largo o número de aplicações em grandes centrais. Entre as

causas que contribuem para a fraca penetração no nosso mercado encontram-se a sua

imaturidade no mercado da energia, o facto de utilizar tecnologias relativamente novas ou

introduzir problemas de operação nas instalações onde é utilizado em co-combustão (Barroso,

2001).

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A realização da presente tese, nos dias de hoje, justifica-se pelo facto de actualmente se estar

a despertar para algumas situações que há poucos anos se julgava improvável, como é o

aquecimento global. Este facto levou à realização de conferências a nível global para

discussão do problema, como foi Rio de Janeiro 1992, Quioto 1997 e Joanesburgo 2002.

Simultaneamente, a sociedade tem vindo a ganhar uma maior consciência dos impactos dos

seus actos quotidianos no equilíbrio do ecossistema, verificando-se cada vez mais a opção por

soluções ecológicas. O mercado dos combustíveis não é excepção e em Portugal o ramo dos

sistemas de aquecimento doméstico, individual e colectivo, alimentados a biomassa tem vindo

a ganhar terreno relativamente a outros sistemas. Com a necessidade de modernizar os

sistemas de queima tradicionais alimentados a biomassa, surgiram os combustíveis de

biomassa densificada, como as briquetes/pellets, com a vantagem de permitir o

funcionamento automático do sistema de aquecimento, tal como ocorre com muitos sistemas

alimentados a gasóleo e butano.

Este cenário pode mostrar-se bastante favorável para a economia Portuguesa, uma vez que a

disponibilidade de uma grande quantidade de biomassa, com viabilidade técnica e económica

pode criar oportunidades para a criação de novas indústrias, capazes de explorar e rentabilizar

convenientemente este recurso, como poderia ser o caso do fabrico de combustíveis de

biomassa densificada.

A presente tese tem por objectivo dar um contributo para o desenvolvimento do conhecimento

científico relativo à utilização dos resíduos de biomassa como fonte de energia,

nomeadamente no que diz respeito à avaliação do potencial disponível em Portugal e ao

desempenho energético e ambiental da biomassa densificada durante a combustão em

sistemas domésticos. Relativamente ao primeiro objectivo, é do conhecimento geral que

Portugal é deficitário em combustíveis fósseis, pelo que se torna inevitável a sua importação,

levando a uma dependência externa. No entanto, a situação é inversa nas fontes de energia

renovável, como é o caso da energia solar, eólica e também da produção de biomassa. Na

primeira parte da tese serão apresentados os resultados de um estudo realizado sobre a

produção anual de resíduos de biomassa nos principais sectores da economia, com viabilidade

técnica e económica em combustão, como é o caso de alguns resíduos da floresta, indústria

transformadora da madeira e cortiça, agricultura e agro-indústria.

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Relativamente ao segundo objectivo, tem-se verificado que a aplicação mais simples e

comum da biomassa como fonte energética é a sua combustão ou co-combustão com

combustíveis fósseis, implementada actualmente com o objectivo de reduzir a emissão de

gases de estufa, já que no caso da biomassa o CO2 emitido não é contabilizado. Na segunda

parte da tese serão apresentados os resultados obtidos no desempenho energético e na emissão

de gases poluentes em ensaios realizados numa caldeira doméstica alimentada a biomassa

densificada (pellets), operando em regime estacionário e durante a fase de arranque. Nestes

ensaios serão testados lotes de pellets de diferentes características, com o objectivo de avaliar

a influência da composição da biomassa no desempenho da combustão.

1.2 – Avaliação dos resíduos de biomassa em Portugal continental

A fileira da biomassa deve ser encarada como uma área estratégica de interesse nacional que

merece um planeamento global integrado, de forma a garantir o seu devido escoamento,

incluindo os usos para fins energéticos, numa posição de são equilíbrio entre a oferta e a

procura deste tipo de resíduos (ADENE/INETI, 2001).

Em Portugal, a principal fonte de biomassa é, sem dúvida, a floresta a qual representa um

terço da área total do País, constituindo desta forma um importante recurso que deverá ser

avaliado no sentido de se obter um conveniente aproveitamento dos resíduos aí produzidos.

De acordo com a terceira revisão do Inventário Florestal Nacional (DGF, 2001), a área

ocupada por povoamentos florestais em Portugal continental corresponde a cerca de 3202 mil

hectares (tabela 1), onde o pinheiro bravo e pinheiro manso apresentam-se como as espécies

mais abundantes (1054 mil ha), seguidos do sobreiro (713 mil ha), do eucalipto (672 mil ha) e

da azinheira (462 mil ha). Geograficamente, a região com maior área florestada é o Alentejo

(1136 mil ha), seguido da região Centro (948 mil ha), Norte (604 mil ha), Lisboa e Vale do

Tejo (416 mil ha) e Algarve (98 mil ha).

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Tabela 1: Superfície dos povoamentos puros e mistos dominantes (em mil ha)

Pinheiro1 Eucalipto Sobreiro Azinheira Outras folhosas

Outras resinosas

TOTAL

Norte 246 143 21 20 152 21 604

Centro 571 227 28 32 86 4 948

Lisboa e Vale do Tejo

110 143 140 3 19 1 416

Alentejo 112 131 484 398 11 0.3 1136

Algarve 15 29 40 9 6 0 98

TOTAL 1054 672 713 462 274 27 3202

Fonte: DGF (2001) 1 Inclui pinheiro bravo e pinheiro manso

Figura 1: Distribuição das principais espécies florestais em Portugal continental

Fonte: DGF (2001)

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A figura 1 apresenta a distribuição das principais espécies em Portugal continental, onde é

possível observar mais claramente a distribuição dos povoamentos florestais, verificando-se

que a grande mancha de pinheiro encontra-se na região central do País, enquanto que a região

a sul do Tejo é essencialmente povoada por azinheiras e sobreiros. Os dados disponíveis sobre

a floresta nas regiões autónomas são bastante incompletos e apenas estão disponíveis valores

das áreas totais, correspondendo a 9200 ha nos Açores e 1700 ha na Madeira (INE, 2001b),

que correspondem a pequenas fracções de ocupação do solo.

Um estudo realizado em 1980 (Barreto, 1980) estima em 2094 mil toneladas a disponibilidade

anual de resíduos florestais, prevendo-se na altura um crescimento gradual para os anos

subsequentes, tal como se pode verificar na tabela 2.

Tabela 2: Estimativa de Barreto (1980) para os resíduos florestais

Ano 1980 1985* 1990* Pinheiro

Resíduos (mil ton./ano) 1560 1617 1732

Ano 1978 1979 – 83* 1984 – 89* Eucalipto

Resíduos (mil ton./ano) 534 854 1190

Fonte: Barreto (1980), * valor previsto

O uso de resíduos florestais como fonte energética apresenta-se não só como um importante

meio para cumprir as metas delineadas em Quioto (EC, 1997), como também para o

ordenamento e gestão da floresta portuguesa, essencial para a diminuição dos incêndios

florestais. De facto, na última década (DGF, 2002) os incêndios consumiram cerca de 107 mil

ha/ano, representando 3% da área florestal total, ou seja, o correspondente a uma perda de 400

mil toneladas de biomassa por ano. Os incêndios têm afectado principalmente os pinhais, os

quais viram a sua área reduzida de 1250 para 1053 mil ha entre 1982 e 1995, enquanto que a

área de eucalipto aumentou de 386 para 673 mil ha no mesmo período (Morais, 2002). Em

1995 apenas 80 mil ha de pinhal tinham menos de 8 anos, enquanto que a área de eucaliptal

com menos de 7 anos era de 367 mil ha. No nosso País, estas duas espécies florestais

adquirem uma grande importância, uma vez que o eucalipto é a principal matéria-prima da

indústria da pasta do papel, apresentando um crescimento mais rápido, enquanto que o

pinheiro bravo é a principal espécie florestal consumida pela indústria da serração e do

mobiliário (INE, 1998 a 2001b).

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De acordo com Arthur D. Little (1985), em 1985 foram produzidas 2462 mil toneladas verdes

de resíduos na indústria da madeira, as quais tiveram a utilização sintetizada na figura 2.

Figura 2: Destino dos resíduos da indústria da madeira

Fonte: Arthur D. Little (1985)

Relativamente à aplicação dos resíduos como fonte de energia, tradicionalmente são

utilizados por pequenas industrias locais, tais como a da cerâmica e a panificação, no entanto

recentemente têm sido desenvolvidas tecnologias no sentido de os utilizar em processos em

média escala. Como exemplo, em Portugal encontra-se uma instalação equipada com um

gaseificador de leito fluidizado, com capacidade útil de 10.4 MWth, utilizando a casca de

pinheiro resultante do processo de fabrico de pasta de papel (Antunes, 1998). Por outro lado,

algumas indústrias da cortiça estão a utilizar o pó de cortiça resultante do processo de fabrico

na produção de energia.

Em outras indústrias da madeira, de menor dimensão, tais como as serrações e as carpintarias,

a recolha de informação relativa ao consumo de biomassa é mais difícil, devido ao grande

número de empresas envolvidas (mais de mil empresas). Em 1999, com base nos 557

estabelecimentos industriais da CAE 20 - Indústrias da madeira e da cortiça e suas obras

(excepto mobiliário), que remeteram os mapas de resíduos ao Instituto dos Resíduos, foram

declaradas cerca 1086 mil toneladas de resíduos, das quais 15% não eram valorizadas

(ADENE/INETI, 2001).

O estudo realizado pela Arthur D. Little (1985) para a Direcção Geral de Energia teve como

objectivo projectar a instalação de uma central de resíduos de biomassa em Portugal, sendo

esta informação actualizada posteriormente pelo Centro da Biomassa para a Energia (CBE,

Produção de resíduos: 2462 mil ton./ano

Utilizadas como fonte de calor: 1340 mil ton./ano Ex: indústria da cerâmica, panificação

Utilizados como matéria-prima: 900 mil ton./ano Ex: fabrico de prensados

Sem aproveitamento: 222 mil ton./ano

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1993), com os resultados sintetizados na tabela 3, onde é claramente visível que o maior

contributo provém dos resíduos de pinheiro, de eucalipto e de sobreiro. Os resíduos de outras

espécies foram estimados em cerca de 200 mil ton. secas/ano.

Tabela 3: Resíduos florestais estimados para Portugal (mil ton./ano)

Espécies Fonte Ano Base húmida Base seca

AD Little1 1985 1217 513 Pinheiro

CBE2 1993 1400 594

AD Little1 1985 908 403 Eucalipto

CBE2 1993 1543 645

Sobreiro AD Little1 1985 896 650

Outros AD Little1 1985 297 197 1 Fonte: Arthur D. Little (1985) 2 Fonte: CBE (1993)

A tabela 4 resume as expressões que estiveram na base das estimativas dos resíduos florestais

realizadas pela Arthur D. Little (1985) e pelo CBE (1993), tendo neste último sido utilizadas

as correlações obtidas por Silva et al. (1991):

Tabela 4: Expressões utilizadas em estudos de avaliação de resíduos de biomassa

Espécies Peso verde total dos topos e ramos (kg/árvore)

Humidade (%)

Referências

Pinheiro bravo

Todo o País: 0.656DAP2.364AT-0.977 57.9 Arthur D. Little (1985)

Eucalipto Norte - Centro: 8.54 – 1.537DAP + 0.163DAP2 Sul: 7.615 + 0.102DAP2

55.6 Arthur D. Little (1985)

Pinheiro bravo

Todo o País: 0.463DAP1.604 57.6 Silva et al. (1991)

Eucalipto Todo o País: 0.1785DAP1.756 52.6 Silva et al. (1991)

Nota: onde DAP é o diâmetro à altura do peito e AT é a altura total média

Os trabalhos de campo realizados por Arthur D. Little (1985) mostraram que a idade média

dos povoamentos de pinheiro bravo era 39 anos, com uma altura total média de 14.30m e

DAP médio de 21.4cm. Com base neste modelo, os resíduos por árvore estimados para o caso

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do pinheiro é de 67.7 kg verdes/árvore, produzindo assim 67.7kg verdes/39 anos = 1.7 kg

verdes/árvore/ano. Para o eucalipto, os resultados do trabalho de campo mostraram que o

DAP médio era 13.4cm ao fim de 10 anos. Os valores estimados para a zona Norte - Centro e

para a zona Sul são diferentes, correspondendo a 1.7 e 2.6 kg verdes/árvore/ano,

respectivamente. Com base nas correlações de Silva et al. (1991) os valores dos resíduos

correspondem para o pinheiro e eucalipto a 1.6 e 2.4 kg verdes/árvore/ano, respectivamente.

Tendo em conta as áreas florestais disponíveis na altura da realização de cada um dos

trabalhos verificou-se a produção média de resíduos de pinheiro bravo apresentou valores

entre 0.4 e 0.6 ton. secas/ha/ano. Por outro lado, a estimativa dos resíduos de eucalipto

apresentou valores entre 1.5 e 2.0 ton. secas/ano/ha. Em ambos os casos, são superiores os

valores obtidos na estimativa realizada pelo CBE (1993).

Uma das consequências destes estudos foi a selecção do local para a instalação da central

termoeléctrica de Mortágua em 1999, alimentada apenas a biomassa e com uma capacidade

instalada de 9MWe. A sua eficiência é cerca de 26.5%, usando uma caldeira de circulação

natural com barrilete de vapor. A fornalha foi desenhada tendo em consideração a combustão

de resíduos florestais, estando dotada de grelha vibratória arrefecida a água (Patrão, 1998).

Recentemente, foi necessário proceder a algumas modificações, nomeadamente na

alimentação de biomassa e no sistema de remoção de cinzas. Esta central, pioneira em

Portugal no aproveitamento energético de resíduos florestais, apresenta um consumo de

biomassa em plena carga de 12.2 ton./h e está dimensionada para laborar 7800 horas/ano

(Barroso, 2001).

1.3 – Características da biomassa densificada

Os resíduos de biomassa são produzidos localmente e têm geralmente baixa densidade, a

título de exemplo, a palha apresenta uma densidade aparente de 50-120 kg/m3 e a casca de

arroz cerca de 122 kg/m3, valores muito inferiores aos do carvão, onde variam desde 560

kg/m3 a 900 kg/m3 (Werther et al., 2000). Devido aos elevados custos de transporte é, na

generalidade dos casos, pouco económico a sua utilização como principal fonte de energia em

grandes centrais termoeléctricas. Por outro lado, a sua utilização em pequenas centrais locais

tem a desvantagem dos elevados custos de investimento, uma quantidade elevada de mão-de-

obra especializada e baixa eficiência, quando comparado com as grandes centrais.

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Uma das formas de melhorar a qualidade da biomassa na combustão é a densificação

(Werther et al., 2000), o que irá melhorar a sua homogeneidade, tornando-se mais fácil e

económico o seu transporte (Kanury, 1994). Com o objectivo de minimizar os custos de

transporte, opta-se por utilizar biomassa densificada ou, em alguns casos, misturando a

biomassa com um combustível fóssil como por exemplo turfa, sob a forma de pellets ou

briquetes.

Embora a combustão do material lenhoso seja vastamente estudada, o processo de combustão

de material densificado é um processo novo e a sua caracterização como combustível ainda

não está completamente desenvolvida (Tabarés et al., 2000). Algumas das principais

vantagens da biomassa densificada são (Werther et al., 2000):

� Taxa de combustão comparável à do carvão

� Combustão mais uniforme

� Redução da emissão de partículas

� Melhoria das condições de armazenamento, transporte e alimentação

As técnicas de densificação geralmente utilizadas são a produção de briquetes e pellets, uma

vez que a produção de fardos é uma técnica simples destinada, essencialmente, à preparação

da biomassa para alimentação de animais. As briquetes ou pellets requerem um processo mais

avançado e caro, sendo apenas aplicável em situações economicamente rentáveis. O objectivo

destas técnicas é elevar a massa específica aparente da biomassa em muitos casos, 5 a 10

vezes superior ao material de origem (Werther et al., 2000). Quando comparado com as

briquetes, as pellets apresentam algumas vantagens (tabela 5), incluindo maior compactação e

aceitação de material com maior gama de humidade.

Verifica-se que a utilização de biomassa densificada sob a forma de briquetes está mais

difundida nos países em desenvolvimento, substituindo em alguns casos a lenha no fabrico do

carvão vegetal. Por outro lado, a utilização de pellets está mais difundida nos países

desenvolvidos, mais indicado para equipamentos com alimentação automática (Bhattacharya,

2002).

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Tabela 5: Comparação entre as pellets e as briquetes

Combustível Pellets Briquetes

Humidade da biomassa de origem

10 a 20% 10 a 15%

Capacidade máxima de produção

4 a 6 ton./h 1 – 1.5 ton./h

Consumo energético (corte e prensagem)

80 a 90 kWh/ton. 40 a 50 kWh/ton.

Preparação da biomassa Trituração em pequenas partículas

Trituração em partículas maiores

Dimensões do produto final

Diâmetro 6-12mm Comprimento10-30mm

Largura 20-100mm Comprimento 30-300mm2

Sistemas de combustão Automatizados Podem ser usadas em instalações para toros

Matéria-prima Serradura, desperdícios de madeira e resíduos

agrícolas1

Serradura, desperdícios de madeira e resíduos

agrícolas1

Fonte: Werther et al. (2000) 1 Especialmente nos países em desenvolvimento (Bhattacharya, 2002) 2 Fonte: Baldini (1987)

Na utilização de biomassa densificada em sistemas domésticos automáticos é necessário obter

altos padrões de qualidade, pelo que em alguns países europeus já se encontra em vigor a

aplicação de algumas normas que regulamentam a produção deste tipo de combustível,

enquanto que noutros ainda se encontram em preparação. No entanto, considerou-se que estes

altos padrões de qualidade a exigir na utilização em pequenos equipamentos não são

aplicáveis para os equipamentos industriais, uma vez que estes se encontram equipados com

sistemas mais sofisticados para o controlo da combustão, tratamento dos gases e controlo do

processo (Obernberger and Thek, 2002).

Actualmente em alguns países europeus, onde a utilização de biomassa densificada em

aplicações domésticas está mais divulgada, já estão em vigor normas que regulamentam os

critérios de qualidade a exigir ao combustível. A tabela 6 apresenta o resumo das

especificações físico-químicas a cumprir pelas pellets e briquetes de biomassa,

regulamentadas pelas normais vigentes mais relevantes, nomeadamente a ÖNORM M 7135

(Áustria), DIN 51731 (Alemanha), SN 166000 (Suiça), SS 18 71 20 (Suécia) e normas da

Austrian Pellets Association.

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Tabela 6: Valores limite de alguns parâmetros do fabrico de pellets e briquetes

Parâmetro Unidade Pellets de madeira

Briquetes de madeira

Pellets de palha e briquetes de casca4

Diâmetro (D) mm 4 – 101 40 – 1201 -

Comprimento mm < 5 x D1,4 < 4001 < 4001

Densidade aparente kg/dm3 > 6003 - -

Densidade da partícula

kg/dm3 > 1.121 > 1.01 > 1.101

Humidade % (ar) < 101, 3, 4 < 101 < 181

Cinzas % (db) < 0.51, 4 < 0.51 < 6.01

PCI MJ/kg (db) > 18.01, 4 > 18.01 > 18.01

N % (db) < 0.31, 2 < 0.31, 2 < 0.61

S mg/kg (db) < 4001, 4 < 4001 < 8001

Cl mg/kg (db) < 2001, 4 < 2001 < 4001

Abrasividade % (ar) < 2.31, 4 - -

Cd mg/kg (db) < 0.52, 4 < 0.52 < 0.52

Pb mg/kg (db) < 102, 4 < 102 < 102

Zn mg/kg (db) < 1002, 4 < 1002 < 1002

Cr mg/kg (db) < 82, 4 < 82 < 82

Cu mg/kg (db) < 52, 4 < 52 < 52

Fonte: Obernberger and Thek (2002) Nota: ar - as received (base húmida), db – dry base (base seca)

1 de acordo com a norma ÖNORM M 7135; 2 de acordo com a norma DIN 51731 e SN 166000 (não é válida para casca, apenas para comparação); 3 de acordo com a norma SS 18 71 20; 4 de acordo com as normas da Austrian Pellets Association

1.4 – Testes em caldeiras

A eficiência da combustão, a par das emissões gasosas, é um dos principais parâmetros para

descrever o desempenho das caldeiras alimentadas a biomassa. Num estudo realizado sobre a

utilização de sistemas domésticos de queima alimentados a biomassa, numa região da

Alemanha (Strehler, 1998), verificou-se que os mais comuns eram os recuperadores de calor

(88%), caldeiras alimentadas a troncos de madeira (11%) e fornalhas alimentadas a estilha de

madeira (1%), tendo sido comercializadas mais de 197000 unidades em 1994. Verificou-se

que os valores mais elevados nas emissões de CO foram observados nos sistemas tradicionais

(recuperadores de calor e lareiras), com valores entre 2 e 5 g CO/Nm3 @ 13% O2, enquanto

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que os valores mais baixos foram observados nos recuperadores de calor alimentados a pellets

com valores próximos de 0.07 g CO/Nm3 @ 13% O2.

Olsson and Kjallstrand (2002) realizaram alguns ensaios nas emissões de várias caldeiras e

recuperadores de calor, durante a combustão de alguns tipos de pellets, concluindo que os

principais hidrocarbonetos não queimados libertados consistiam no 2-metoxifenol e no

benzeno. Enquanto que o primeiro composto é libertado durante a fase de combustão com

chama, apresentando efeitos antioxidantes e com benefício para a saúde, o segundo é libertado

durante a combustão incandescente do resíduo carbonoso, apresentando efeitos cancerígenos.

Num estudo comparativo, realizado na Suécia, verificou-se que os sistemas individuais de

combustão de biomassa apresentam alguns inconvenientes relativamente às centrais

colectivas, apresentando maiores emissões poluentes. Entre estas emissões, encontram-se os

compostos voláteis orgânicos (VOC), os compostos aromáticos policíclicos (PAH) e as

partículas (tabela 7). Verificou-se que as caldeiras tradicionais alimentadas a madeira emitem

uma maior quantidade de hidrocarbonetos e outros poluentes do que outros sistemas de

queima. No entanto, em caldeiras modernas estas emissões decresceram em mais de 90%, o

que é uma melhoria considerável. Verificou-se ainda que a introdução de sistemas

alimentados a pellets apresenta a vantagem de reduzir ainda mais estas emissões (Gustavsson

et al., 2000).

Tabela 7: Emissões de diferentes sistemas domésticos de aquecimento

Sistemas Alcatrões (mg/kWh)

VOC (mg/kWh)

NOX (mg/kWh)1

Partículas (mg/kWh) 2

Alimentados a gás - - 200 -

Alimentados a óleo - 80 200 120

Caldeiras tradicionais alimentadas a madeira

2500 10000 350 1800

Caldeiras modernas alimentadas a madeira

30 300 520 80

Recuperadores de calor modernos alimentados a madeira

50 700 Não realizado

80

Caldeiras alimentadas a pellets 20 160 > 270 1,2 160

Recuperadores de calor alimentados a pellets

20 120 > 270 1,2 160

Fonte: Gustavsson et al. (2000) 1 As emissões de NOX dependem do teor de azoto no combustível 2 Poucos dados disponíveis

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As emissões de NOX dependem da concentração de azoto na madeira, sendo esse valor

normalmente baixo. Num estudo realizado em combustão de pellets (Eskilsson et al., 2002)

verificou-se que para o teor mais baixo de azoto no combustível obteve-se uma emissão de

NOX correspondente a uma conversão quase completa do azoto do combustível, verificando-

se nesse caso que a contribuição da componente térmica foi cerca de 10%. Ao aumentar a

fracção de azoto nas pellets, verificou-se que a fracção de conversão do azoto da biomassa em

NOX diminuiu.

A nível europeu, verifica-se que os países mais evoluídos em termos de investigação e

controlo ambiental da combustão de biomassa são a Suécia, Alemanha e Áustria, onde

existem actualmente algumas normas em vigor e outras em estudo, relativas ao desempenho

energético e ambiental de instalações alimentadas a biomassa (Kroplin, 1998). Na tabela 8 são

apresentadas algumas das normas propostas e das normas já em vigor:

Tabela 8: Normas da avaliação do desempenho de pequenas caldeiras de biomassa

Nº. Norma Equipamento ηηηη (%)

CO (g/m3)

1 European Standard EN 303/5 (rascunho)

Caldeiras com capacidade 10-300 kW

73 - 82 1 - 4

Caldeiras alimentadas a madeira de 5-50kW

65 - 77 7.5 - 10 2 European Standard TC 295 (em estudo)

Aquecedores com/sem água < 50kW

50 - 70 3.8 – 12.5

3 German Standard DIN 18892 (rascunho)

Aquecedores locais 75 2.5

4 Regensburger model Aplicações individuais < 15kW

- 1.5

5 ZVSHK / AdK1 Equipamentos < 15kW 75 - 85 1.6

Nota: normas 1 a 4 avaliadas à temperatura normal de funcionamento, norma 5 referente a arranque a frio 1 Central Association for Sanitary, Heating and Air-conditioning Technology

Verifica-se que em nenhum caso são aprovados equipamentos com eficiência inferior a 50%,

sendo o valor mais comum 70-80%. Existe igualmente uma grande atenção sobre a emissão

de CO, estando em estudo uma norma europeia, a EN 303/5, que tolera a emissão deste

poluente até um máximo de 4 gCO/Nm3. Todas as normas referidas apresentam valores

limites de emissões para funcionamento em regime estável de carga máxima. Recentemente, a

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SP Swedish National Testing and Research Institute, definiu um teste mais realista

abrangendo diversos regimes de funcionamento das caldeiras domésticas no período de um

dia completo.

1.5 – Combustão da madeira

1.5.1 – Características da biomassa

Os componentes da biomassa incluem a celulose, hemi-celuloses, lenhina, lípidos, proteínas,

açucares simples, amido, água, hidrocarbonetos, cinzas e outros compostos. A concentração

de cada classe depende da espécie, tipo de tecido, estado de crescimento e condições de

crescimento. A celulose é um hidrato de carbono de cadeia longa não ramificada constituída

por unidades β-D-glucose, celobiose e com ligações glicosídicas 1-4 (Jenkins et al., 1996),

com composição elementar C6H10O5. Tem-se verificado que diferentes tipos de celuloses,

provenientes de diferentes materiais e processos têm praticamente a mesma composição,

sendo em todos os casos muito semelhantes à celulose pura, o que implica que a sua variação

estrutural é desprezável (Sheng and Azevedo, 2001).

As hemi-celuloses são polissacáridos de composição variável, incluindo monossacáridos de 5

e 6 átomos de carbono. A sua estrutura é muito semelhante à da celulose, no entanto, é mais

curta e apresenta mais ramificações (Sheng and Azevedo, 2001). A lenhina é um polímero

irregular, ramificado, de unidades de fenilpropano unidas por ligações carbono-carbono e

ligações éter (Jenkins et al., 1996).

Devido ao facto de ser essencialmente constituída por hidratos de carbono, a biomassa tem

muito mais oxigénio que os combustíveis fósseis convencionais, incluindo o carvão,

correspondendo a cerca de 30 a 45% da matéria seca. Por este motivo, teoricamente, a

combustão da biomassa necessita de menor quantidade de ar (Tabarés et al., 2000). No

entanto, tal como nos combustíveis fósseis, o principal constituinte é o carbono, cerca de 30 a

60% da matéria seca, seguido do oxigénio. O hidrogénio é o terceiro maior componente, com

cerca de 5 a 6% da matéria seca. O azoto, enxofre e cloro encontram-se em quantidades

normalmente inferiores a 1% da matéria seca, sendo no entanto responsáveis pela formação

de emissões poluentes. Um exemplo é o caso do azoto, constituinte da fracção proteica das

plantas e elemento indispensável para o seu crescimento, no entanto é responsável pela

emissão NO e NO2 (Jenkins et al., 1996). Verifica-se que o teor proteico da matéria lenhosa

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apresenta grandes variações entre espécies diferentes, observando-se a ocorrência de valores

desde 3% (base seca), como é o caso dos cereais, até cerca de 21% (base seca), como é o caso

do bagaço de girassol (McDonald et al., 1981). Em alguns resíduos de biomassa provenientes

da agricultura, como é o caso da palha dos cereais e a casca de arroz, a sílica é o terceiro

maior componente, atingindo teores até 10-15% da matéria seca (Jenkins et al., 1996).

As características que afectam a combustão da biomassa podem dividir-se em dois tipos

principais (Kanury, 1994):

� Termoquímicas: entre as características mais importantes encontram-se a entalpia da

reacção de combustão, a temperatura de combustão, a energia de activação (Tabarés et

al., 2000) e o teor em cinzas. Estas características são influenciadas pelas propriedades

dos combustíveis (análise próxima, teor de humidade, minerais, etc.) e da instalação

de queima;

� Taxa de combustão: este factor afecta tanto o processo de combustão no interior da

partícula como à sua superfície. Certas propriedades, tais como o tamanho da

partícula, condutividade térmica, densidade, calor específico e porosidade são

propriedades físicas que afectam os processos internos. Por outro lado, as

propriedades que afectam os processos à superfície estão essencialmente relacionadas

com a transferência de calor desde o ambiente exterior para a partícula, com a

circulação do ar e com a transferência de massa entre os voláteis e o ar.

De facto, algumas das características que fazem da biomassa um bom combustível são a

facilidade de secagem, elevado poder calorífico, baixa temperatura de ignição, elevado teor

em voláteis (Werther et al., 2000), elevada taxa de combustão (Kanury, 1994) e baixa energia

de activação (Tabarés et al., 2000). Estas propriedades são influenciadas tanto pelas

características do combustível como pelas características da fornalha (Kanury, 1994). Por

outro lado, certas características como a humidade, granulometria, densidade e

heterogeneidade dos materiais lenhosos irão limitar a eficiência da sua combustão (Kanury,

1994). Outro aspecto importante é o facto de ser praticamente impossível obter uma mistura

completamente homogénea entre o combustível e o comburente, sobretudo quanto se entra em

conta com o curto espaço de tempo em que ocorre a mistura (Tabarés et al., 2000). De uma

forma simples, a reacção global de combustão da biomassa com o ar pode ser representada

pela seguinte expressão:

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17

298726252423

2222154321 21

791

SOnNOnCOnNnOnOHnCOn

)NO)(e(nOHnSNOHC xxxxx

++++++=

=++++

onde a composição da biomassa é simplificada, sendo representada como um composto

formado por apenas C, H, O, N, S e H2O. Nesta expressão o ar atmosférico é igualmente

simplificado, sendo representado por uma mistura binária de N2 e O2 (na proporção N2/O2 =

3.76), desprezando a participação do CO2, vapor de água e gases raros da atmosfera. Nos

produtos formados na combustão, foi considerada apenas a formação de CO2, H2O (resultante

da evaporação da água e reacção do hidrogénio do combustível), N2, CO, NO e SO2.

A medida padrão do teor energético de um combustível é o seu poder calorífico, o qual

depende da sua composição química, incluindo o teor de humidade, factor limitante da

combustão devido à sua entalpia de evaporação (Jenkins et al., 1996). Alguns dos trabalhos

mais relevantes são apresentados na tabela 9.

Tabela 9: Estimativas do poder calorífico da biomassa

Energia (MJ/kg) Observações

PCIar = 19.2 – 21.64XHum Fonte: Johansson (2001) XHum – Fracção mássica de humidade, em base ar

PCSar = 20.5 - 31.3XHum Fonte: Jiménez and González (1991) XHum – Fracção mássica de humidade, em base ar

PCSdb = 14.119 + 0.196XCF Fonte: Demirbas (1997) XCF - Fracção mássica de carbono fixo, em base db

PCIar = XCF.[168.2 – 376.2XCF - 92.2XHum – - 128.3XCinza + 38.8(XCinza - 2.04)2]

Fonte: Tabarés et al. (2000) XCF e XCinza - Fracções mássicas de carbono fixo e cinzas, em base db XHum - Fracção mássica de humidade, em base ar

PCSdaf = 33.5XC + 142.3XH - 15.4XO - 14.5XN Fonte: Demirbas et al. (1997)

XC, XH, XN, XO - Fracções mássicas de carbono, hidrogénio, azoto e oxigénio, em base daf

PCSdb = 34.91XC + 117.83XH – 10.34XO + + 10.05XS – 1.51XN – 2.11XCinza

Fonte: Loo and Koppejan (2002) XC, XH, XO, XN, XS e XCinza - Fracções mássicas de carbono, hidrogénio, oxigénio, azoto, enxofre e cinza, em base db

PCSdb = 17.389XCelulose + 26.629XLenhina + + 32.187XExtr

Fonte: Tabarés et al. (2000) XCelulose, XLenhina, XExtr - Fracções mássicas de celulose, lenhina e extractáveis em álcool-benzeno, em base db

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18

Verifica-se que os resíduos de biomassa apresentam valores muito diferentes de humidade,

enquanto que por exemplo as palhas dos cereais apresentam baixos valores de humidade

(~14%), existem outros como o bagaço de azeitona e outros resíduos da agro-indústria com

valores cerca de 40-80% de humidade (Dias and Azevedo, 2001). Em alguns estudos

realizados, sintetizados na tabela 9, verificou-se que a energia libertada na combustão da

biomassa apresenta uma relação muito estreita com a análise elementar (carbono, hidrogénio,

azoto e enxofre), análise imediata (cinzas, voláteis e humidade) e com os constituintes

lenhosos (celulose, hemi-celulose e lenhina), permitindo realizar estimativas a partir da

composição química conhecida.

O processo de combustão da biomassa é um pouco mais complexo que outros combustíveis

(ex. metano, gasolina, etc.), uma vez que o combustível apresenta uma composição físico-

química complexa (Tabarés et al., 2000) e muito variável entre espécies diferentes.

1.5.2 – Ignição e propagação

A combustão da biomassa pode ser caracterizada de uma forma simplificada, considerando

que a partícula está a uma temperatura inicial Tinicial, com massa específica ρ0 e que a dado

instante é fornecido um fluxo de energia (q’’incidente) através do aparecimento de chama ou

através de uma fonte externa. Nesta situação, as primeiras etapas de aquecimento apenas irão

afectar as camadas adjacentes à superfície exposta e quando a superfície atinge uma

temperatura suficientemente elevada, a pirólise inicia-se a uma taxa significativa, com difusão

dos voláteis até à superfície, misturando-se com o ar. Assumindo que a ignição ocorre a uma

temperatura Tignição1, o cálculo do tempo necessário à ignição, tig, desde uma temperatura

inicial (Tinicial) pode ser estimado pela equação 1 (Kanury, 1994):

( ) 2

2

−=

''incidente

inicialignição

igq

TTkt

απ

(1)

Através da expressão, verifica-se que um maior fluxo de energia leva a que a ignição ocorra

num menor espaço de tempo, efeito semelhante ao de um maior valor da temperatura inicial

mas, por outro lado, é linearmente proporcional à capacidade térmica (mcp) e à condutividade

1 Cerca de 500-600ºC na biomassa (Werther et al., 2000)

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19

térmica (k) (Kanury, 1994). Após a ignição, o fluxo de energia da superfície resulta da soma

da energia externa incidente (q’’incidente) e da energia fornecida pela chama (convecção e

radiação) menos as perdas da superfície por radiação (Spearpoint and Quintiere, 2000), tal

como descrito pela equação 2:

)Tσ(Tqqq 40

4superfície

''chama

''incidente

'' −−+= &&& (2)

Na primeira fase a seguir à ignição, a superfície da partícula vai sofrer um aumento de

temperatura e à medida que a temperatura da câmara aumenta, a superfície externa da

partícula recebe energia, por convecção, devido à passagem do ar quente (Ouedraogo et al.,

1998). Seguidamente, no interior da partícula a temperatura aumenta devido à transmissão de

energia, por condução, a partir da superfície externa mais quente, verificando-se a migração

simultânea da humidade no sentido oposto. A secagem ocorre a temperaturas cerca de 50-

150ºC (Werther et al., 2000), no entanto, verifica-se na generalidade dos casos que esta é

superior à temperatura do início da pirólise, o que significa que pelo menos parcialmente as

duas etapas processam-se simultaneamente (figura 3) (Saastamoinen, 1996), especialmente

para o caso de partículas de grandes dimensões.

Figura 3: Evolução da massa duma partícula de biomassa durante a combustão

Secagem, pirólise e combustão com chama

m0 (ρ0)

mc (ρc)

mf (ρf)

tc tf tempo, t

massa, m

Cinzas

Ignição

Combustão do carvão

tig

Fonte: Kanury (1994)

Tem-se verificado que valores muito elevados de humidade podem levar a dificuldades na

ignição, à limitação da libertação de voláteis, ao aumento na formação de CO (Jenkins et al.,

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1996) e à redução da temperatura da combustão, afectando assim a qualidade da combustão

(Werther et al., 2000). O limite máximo de humidade para que a reacção de combustão se

processe autonomamente é cerca de 65%, uma vez que acima deste valor é libertada uma

quantidade insuficiente de energia para satisfazer as necessidades do aquecimento dos

reagentes e da evaporação da água. De um modo geral verifica-se que é necessária uma fonte

de combustível extra, como o gás natural, quando a humidade da biomassa é superior a 50-

55% (base húmida), verificando-se uma emissão muito maior de CO e outros produtos de

combustão incompleta (Jenkins et al., 1996).

Quando a temperatura da biomassa é suficientemente elevada, cerca de 190-300ºC (Werther

et al., 2000), inicia-se o processo de pirólise, originando a libertação dos voláteis em direcção

ao exterior da partícula através da camada do resíduo carbonoso. A combustão dos voláteis no

exterior da partícula com formação de chama irá fornecer a energia suficiente para que o

processo de pirólise continue (Kanury, 1994), não sendo necessário o contributo do elemento

ignitor.

1.5.3 - Pirólise

Este processo inicia-se com a quebra de ligações químicas dos principais componentes da

matéria seca da biomassa (celulose, hemi-celulose e lenhina), formando pontes intermediárias

activas (biomassa activa). Em estudos realizados sobre o processo de pirólise da madeira

verificou-se que a hemi-celulose é o primeiro componente a ser alterado (a 200-260ºC),

seguido da celulose (a 240-350ºC) e, finalmente, a lenhina (a 280-500ºC) (Roberts, 1970). A

taxa a que ocorre o processo é dependente da massa específica da biomassa original (ρw) e da

constante da reacção (k1), segundo uma evolução semelhante à da equação 3.

ww kt

ρρ1−=

∂∂

(3)

A figura 4 representa um dos modelos existentes do processo de pirólise. Tal como referido, o

processo inicia-se com a conversão da biomassa original em biomassa activa, através da

formação de pontes reactivas as quais irão consequentemente reagir, levando à libertação de

asfaltos condensáveis, gases e energia, permanecendo uma fracção rica em minerais e

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carbono, designado resíduo carbonoso. A figura 4 representa um dos modelos existentes para

o processo em causa.

Figura 4: Processo de pirólise da biomassa

Fonte: Biasi (1997)

A figura 5 apresenta a secção de uma partícula durante o processo de pirólise, sendo neste

caso representado por um núcleo de biomassa não activado e uma camada de resíduo

carbonoso.

Figura 5: Secção de uma partícula em combustão

Fonte: Ouedraogo et al. (1998), adaptado

À superfície das partículas de biomassa, o vapor de água e os voláteis, incluindo os asfaltos,

misturam-se com ar ambiente e a matéria combustível irá reagir com o oxigénio (figura 5),

formando a chama (Werther et al., 2000). Verifica-se que nesta fase o sentido da difusão dos

produtos é em direcção ao exterior da partícula, pelo que a quantidade de oxigénio que atinge

a superfície é desprezável e, consequentemente, as reacções de oxidação da fracção residual

de carbono são praticamente inexistentes (Kanury, 1994). A conversão da biomassa activa

(∂ρA/∂ t) em produtos secundários está dependente da taxa de formação de biomassa activa

(k1), da massa específica da biomassa original (ρw) e das taxas de transformação da biomassa

Biomassa original Biomassa activa

Asfaltos condensáveis Gases

Resíduo carbonoso + Gases

k1

k3

k2

k4

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activa em resíduo carbonoso e gases (k2) e em asfaltos condensáveis (k3), tal como expresso

pela equação 4.

AwA kkkt

ρρρ)( 321 +−=

∂∂

(4)

Esta fase é crucial para a combustão da biomassa, uma vez que, ao contrário do carvão

mineral, a principal fonte de energia provém da queima dos voláteis, tendo sido observado

que no caso da madeira e da palha, corresponde a cerca de 67% da energia total libertada na

combustão (Werther et al., 2000). De facto, uma das vantagens da biomassa relativamente ao

carvão é o elevado teor em matéria volátil, o que facilita a sua combustão, no entanto, esta

diferença faz com que os sistemas desenhados para a combustão do carvão não sejam

inteiramente aplicáveis à combustão da biomassa (Werther et al., 2000).

Os principais gases formados durante esta fase, a partir da biomassa, consistem em CO, H2,

CO2 e CH4 (Kanury, 1994). Juntamente, existe também a libertação de vapores com peso

molecular mais elevado, os quais se diferenciam dos gases referidos antes pelo facto de

condensarem à temperatura ambiente. Estes compostos podem ser designados por asfaltos,

sendo a sua taxa de vaporização dependente do seu peso molecular, pressão e temperatura

(Sheng and Azevedo, 2001).

Num modelo desenvolvido para a combustão de uma partícula esférica de biomassa, com

reacções no seu interior, verificou-se que o tempo do final da combustão com chama

(combustão dos voláteis), tc, está dependente da massa específica inicial da partícula (ρ0), da

massa específica do resíduo carbonoso (ρc), da energia necessária à libertação dos voláteis

(normalmente considerado nulo) e do vapor de água (Lp), da energia incidente sobre a

partícula (q’’incidente) e do diâmetro inicial da partícula (d0) (Kanury, 1994), tal como expresso

pela equação 5:

( )''incidente

pcc q

dLt

600 ρρ −

= (5)

1.5.4 – Combustão do resíduo carbonoso

Durante o processo da pirólise forma-se o resíduo carbonoso com uma taxa (k2) de acordo

com o esquema da figura 4. A combustão heterogénea deste resíduo inicia-se quando a taxa

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de produção de voláteis se torna muito baixa, ou seja, quando se deixa de observar a presença

de chama na superfície da partícula (Kanury, 1994). Nessas condições o oxigénio pode agora

atingir a superfície do resíduo carbonoso, levando à combustão heterogénea, produzindo

temperaturas cerca de 700-900ºC (Werther et al., 2000) e formando material incandescente

(Kanury, 1994).

A estrutura porosa do resíduo carbonoso depende do tipo de madeira, assim como das

condições durante o processo de pirólise. Dada a complexidade do fenómeno em causa

(cinética de reacções heterogéneas e transporte de massa) é usual caracterizar a taxa de

consumo do resíduo carbonoso por uma taxa de reacção aparente referida à área externa da

partícula. Esta taxa de reacção é expressa na forma de Arrhenius sendo usual assumir como de

primeira ordem em relação ao oxigénio junto à superfície da partícula. Como esta

concentração não é conhecida, a taxa de reacção aparente cinética é combinada com uma taxa

de difusão dos produtos de combustão da partícula para o exterior permitindo definir uma taxa

global de combustão da partícula em função da concentração de oxigénio longe da partícula

(Azevedo, 1994).

1.5.5 - Poluentes

As emissões poluentes resultantes da combustão da biomassa podem ser classificadas em dois

grupos principais: o primeiro grupo inclui as emissões de poluentes inqueimados, que são em

grande medida influenciadas pelo equipamento e pelo processo, enquanto que o segundo

grupo inclui as emissões inerentes a cada tipo de combustível (Werther et al., 2000), de

acordo com a origem da biomassa (tabela 10).

Dentro do primeiro grupo, ou seja, os poluentes inqueimados, incluem-se o CO,

hidrocarbonetos, voláteis condensados, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, etc. Estes

poluentes formam-se devido à baixa temperatura de combustão, à insuficiente mistura

combustível - ar e, ainda, ao curto tempo de residência na câmara de combustão. Na

combustão da biomassa em sistemas menos eficientes de grelha podem observar-se valores

até 1000-5000 mg/Nm3 de CO, 100-500mg/Nm3 de HCl, 0.1-1mg/Nm3 de hidrocarbonetos

policíclicos aromáticos e 150-500mg/Nm3 de hidrocarbonetos (Werther et al., 2000). De um

modo geral, estas emissões podem ser minimizadas, conduzindo a combustão de forma a

atingir-se um grau de queima mais eficiente, ou um menor teor de carbono nas cinzas, através

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de uma mistura adequada combustível-comburente, elevadas temperaturas de combustão e

tempo de residência adequado na região de altas temperaturas (Werther et al., 2000).

Tabela 10: Principais fontes de emissões poluentes da combustão da biomassa

Combustível Emissões

Todas as biomassas CO, HC, condensados, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, partículas

Todas as biomassas NOX, N2O

Madeiras urbanas, palha, ervas, culturas energéticas

HCl, SO2, KCl, K2SO4, NH4Cl

Todas as biomassas Cinzas

Biomassas com metais pesados

Pb, Zn, Cd, Cu, Cr, Hg, etc.

Fonte: Werther et al. (2000)

Dentro do segundo grupo, a emissão de poluentes está dependente da composição da

biomassa utilizada. Algumas das principais emissões são os compostos de azoto (NOX e

N2O), óxidos de enxofre (especialmente SO2), gases ácidos (ex. HCl) e metais pesados (ex.

Pb, Zn, Cd) (Werther et al., 2000). Relativamente ao NOX, a sua formação é devida à

combustão dos elementos presentes nos voláteis, na sua maioria NH3 e HCN, e à oxidação do

azoto presente no resíduo carbonoso resultante da pirólise. Geralmente o NH3 decompõe-se

em radicais NH2 e NH que podem ser oxidados para formar NO, ou em alternativa, poderão

reagir com os radicais NO e OH para formar N2. Por outro lado, o HCN pode decompor-se

em NCO, reagindo com o NO para formar N2O. O azoto presente no resíduo carbonoso irá

reagir, formando NO, N2 e N2O, no entanto este último é extremamente sensível à

temperatura, formando N2 a temperaturas superiores a 900ºC (Werther et al., 2000). Para o

caso do enxofre e dos metais pesados, devido ao seu baixo teor na biomassa, em muitos casos

estas emissões são desprezadas, no entanto poderão representar uma fracção importante caso

se utilize biomassa resultante de madeiras tratadas ou pintadas (Jenkins et al., 1996).

1.5.6 - Depósitos

O consumo continuado do resíduo carbonoso leva à redução da sua massa até apenas uma

porção de cinza residual (Kanury, 1994), constituindo a fracção inorgânica da biomassa, a

qual varia de composição de acordo com o tipo de biomassa. A bibliografia disponível refere

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que, por exemplo, o teor em cinzas da madeira é 0.5% (base húmida) enquanto que o da casca

de arroz é 18-25% (base húmida). Na biomassa densificada, o teor em cinzas é normalmente

inferior a 0.5% (base seca) no caso de ser preparada a partir de madeira, verificando-se no

entanto que, devido à mistura com impurezas por vezes atinge valores cerca de 10%, em base

seca (Ohman et al., 2002). Tal como nos combustíveis fósseis sólidos, muitos dos efeitos

destes constituintes inorgânicos são considerados negativos, acarretando problemas

ambientais e técnicos, como é o caso dos metais alcalinos, sulfatos ou cloretos. Mas, por outro

lado, esta fracção inorgânica vai actuar como catalisador da pirólise e das reacções de

gaseificação, influenciando o rendimento do processo (Suárez-García et al., 2002). Alguns

dos principais componentes encontrados na fracção inorgânica da biomassa são K2O, CaO,

P2O5, SiO2, Al2O3, Fe2O3 e MgO (Jenkins et al., 1996; Suárez-García et al., 2002), por ordem

decrescente de concentração no combustível.

A libertação do material inorgânico do combustível é influenciada tanto pela volatilidade

inerente a cada componente, como pelas reacções da fracção orgânica do combustível. O

material que é inerentemente volátil à temperatura de combustão inclui os derivados de alguns

metais alcalinos e alcalino terrosos, geralmente o potássio e o sódio. Por outro lado, o material

não-volátil pode ser arrastado durante o transporte convectivo da pirólise (Jenkins et al.,

1996).

Tal como foi referido, as cinzas provenientes da combustão da biomassa possuem um elevado

teor em compostos alcalinos, os quais poderão formar compostos com baixo ponto de fusão

durante a combustão ou gaseificação, cerca de 1200-1450ºC (Heinzel et al., 1998). Estes

compostos poderão formar aglomerados constituídos por cinza e areia ligados após a fusão,

apresentando algum material vítreo, o que pode levar à problemas no funcionamento da

instalação (Lin and Dam-Johansen, 1998).

Por outro lado, os combustíveis herbáceos (ex. palha) contém grandes teores de silício e

potássio, assim como de cloro, relativamente a outras biomassas. Estas propriedades têm

como resultado um aumento na deposição de cinzas a altas ou moderadas temperaturas,

resultando daí alguns problemas, por exemplo:

1) a reacção dos alcalinos com a sílica forma compostos que fundem a baixas

temperaturas (em certos casos, inferiores a 700ºC);

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2) a reacção dos alcalinos com o enxofre forma sulfatos que se depositam nas superfícies

de transferência de calor da fornalha (Jenkins et al., 1996);

3) a formação de HCl a altas temperaturas é extremamente corrosivo para o equipamento.

1.6 - Estrutura da tese

Após este capítulo de introdução, onde se apresentaram revisões bibliográficas dos tópicos

desenvolvidos na tese, apresentam-se nos capítulos 2 a 4 os resultados obtidos, sendo feito um

resumo das conclusões e sugestões de trabalho futuro nos capítulos 5 e 6.

No capítulo 2 serão apresentados os resultados de um estudo realizado sobre a disponibilidade

dos resíduos de biomassa em Portugal. A secção 2.1 incide sobre a metodologia seguida e os

resultados obtidos na estimativa dos resíduos produzidos na floresta. A secção 2.2 incide

sobre a estimativa dos resíduos produzidos na indústria da madeira e da cortiça a partir dos

dados estatísticos existentes sobre o consumo de matérias primas nestas indústrias. A secção

2.3 inclui a estimativa dos resíduos produzidos na agricultura, nomeadamente nas culturas

temporárias e culturas permanentes, a partir dos dados disponíveis das estatísticas agrícolas. A

secção 2.4 incide sobre a estimativa dos resíduos na agro-indústria, nomeadamente nas

indústrias do ramo vegetal, a partir de dados provenientes de diferentes fontes. Finalmente, a

secção 2.5 inclui a avaliação da disponibilidade dos resíduos estimados nos pontos anteriores

para a sua utilização em combustão.

No capítulo 3 será descrita a metodologia usada para a avaliação do comportamento térmico e

ambiental duma caldeira doméstica alimentada a pellets de biomassa. A secção 3.1 inclui a

descrição da caldeira e da instalação montada. A secção 3.2 inclui a descrição da

instrumentação utilizada. A secção 3.3 inclui a descrição da metodologia dos ensaios. A

secção 3.4 inclui a descrição das pellets utilizadas e respectiva caracterização química.

Finalmente, a secção 3.5 inclui uma estimativa baseada em modelos simples de transferência

de energia para previsão da transferência de energia por convecção e por radiação em

condições normais e na carga máxima da caldeira.

No capítulo 4 será feita a apresentação e discussão dos resultados obtidos na avaliação do

comportamento da caldeira. A secção 4.1 inclui os resultados dos ensaios em regime

estacionário, incluindo o rendimento, perdas energéticas e emissões. Nesta secção inclui-se

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ainda uma análise das parcelas do calor transferido por convecção e por radiação com base

nos resultados obtidos. A secção 4.2 inclui os resultados relativos ao comportamento da

caldeira durante a fase de arranque, em termos de evolução da temperatura e de emissões

gasosas.

No capítulo 5 será realizada uma recapitulação dos principais resultados e conclusões obtidas.

Finalmente, no capítulo 6 serão feitas sugestões para dar continuidade ao trabalho que

constitui a presente tese, com base nas limitações verificadas ao longo do tempo.

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2 – Avaliação dos resíduos de biomassa em Portugal continental

Neste capítulo será apresentada a metodologia seguida e os resultados obtidos na avaliação

dos resíduos lenhosos de biomassa em Portugal nos principais sectores, nomeadamente na

floresta, indústria transformadora da madeira e da cortiça, agricultura e agro-indústria.

Adicionalmente, os resultados obtidos serão comparados com outros estudos similares já

realizados.

2.1 - Avaliação dos resíduos florestais

A utilização de uma parte da biomassa florestal como combustível é compatível com o uso

múltiplo dos recursos florestais, o qual constitui um conceito central na organização e gestão

das áreas florestais (Santos, 1986). Apesar da produção de madeira para a indústria ser o

principal objectivo da exploração florestal, o aproveitamento dos resíduos não implica

alterações no seu modelo de gestão, apenas algumas alterações logísticas necessárias à recolha

dos resíduos produzidos.

Neste trabalho foram considerados como resíduos florestais os topos e ramos dos pinheiros e

eucaliptos resultantes do processamento dos toros, a casca do eucalipto que em alguns casos é

retirada ainda no eucaliptal, embora comece a ser mais frequente a sua remoção na indústria e,

por fim, os ramos obtidos após a poda dos sobreiros e das azinheiras. Os pequenos ramos e

folhas acumulados na floresta, embora sem utilidade em termos energéticos, são importantes

por contribuírem para a nutrição do solo mas em termos ambientais podem apresentar

inconvenientes, uma vez que os ramos com diâmetro superior a 3 cm podem levar até 7 anos

para a sua decomposição completa e durante este processo podem gerar até 12% do carbono

inicial em CH4 e 57% em CO2 (Mann and Spath, 2000), com consequências sobre o efeito de

estufa mais graves do que a sua combustão.

Exploração do pinheiro

O principal objectivo é a produção de madeira para a indústria, sendo recomendado o seguinte

modelo de silvicultura (Oliveira et al., 2000):

� Ano 0: plantação do pinhal, com uma densidade de 1250 a 1670 N/ha

� 15 a 20 anos de idade: 1º desbaste, retirar 20-40% das árvores em pé

� 25 a 30 anos de idade: 2º desbaste, retirar 20 a 30% das árvores em pé

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� 35 a 40 anos de idade: 3º desbaste, retirar 20 a 30% das árvores em pé

� 40 a 45 anos de idade: corte raso da população final, ou seja, 492 a 658 N/ha

No entanto, este modelo não é aplicável em algumas regiões com estatuto especial, como é o

caso do pinhal de Leiria, onde não é possível o abate de árvores com menos de 60 anos de

idade.

As árvores resultantes do corte final serão processadas pela indústria da madeira, ficando

geralmente os resíduos na floresta. A massa de ramos e topos, MBT (kg verdes/árvore) com

57.6% de humidade (Fernandes, 1998), está correlacionada com o DAP, medido em cm (Silva

et al., 1991), de acordo com a equação 6:

60414630 .BT DAP*.M = (6)

O DAP é estimado em função da idade da árvore, T (em anos), através da equação 7:

DAP = 20.320 + 0.290T – 3.911SI (7)

onde SI é o índice do local (SI = 3, para solos de baixa qualidade).

Com base nestas expressões e na quantidade de resíduos produzidos pelas árvores de acordo

com o modelo de exploração apresentado, estimou-se o valor médio de resíduos em 1.63 ton.

verdes/ha/ano, assumindo uma população inicial de 1460 N/ha e uma densidade no corte raso

de 575 N/ha. Neste caso, a quantidade média de resíduos produzidos por árvore é 1.5 kg

verdes/ano, ou seja, 0.69 kg secos/ano. Comparativamente, para o caso de não serem

realizados cortes intermédios durante o tempo de vida do povoamento, mas apenas um corte

raso final aos 43 anos, a estimativa dos resíduos produzidos é ligeiramente inferior, cerca de

1.4kg verdes/árvore/ano.

Exploração do eucalipto

O eucalipto é essencialmente utilizado pela indústria da pasta de papel, onde cerca de metade

dos toros dão entrada sem casca, sendo esta previamente retirada na floresta (Associação

Nacional da Indústria Papeleira, 2002). Foi considerado um tempo de rotação médio de 10

anos, ao fim do qual as árvores atingem um DAP de 12.5cm (Fernandes, 1998). A correlação

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entre a massa de ramos e topos, MBT (kg verdes/árvore), é dada pela equação 8, sendo a

humidade destes resíduos de 52.6% (Fernandes, 1998):

756117850 .BT DAP.M = (8)

e a massa da casca, MB (kg verdes/árvore), é dada através da equação 9, sendo a humidade

destes resíduos de 59.5% (Fernandes, 1998):

7982014320 .B DAP..M = (9)

Em resultado, a quantidade total de resíduos são os resultantes dos ramos e topo (cerca de 15

kg/árvore) e metade da massa da casca (16.8 kg/árvore), o que resulta num valor médio de

23.4 kg verdes/árvore em 10 anos. Ou seja, a produção média anual de resíduos de eucalipto é

de 2.34 kg verdes/árvore, ou 1.05 kg secos/árvore.

Exploração da azinheira e do sobreiro

Os resíduos da exploração da azinheira e do sobreiro constituem a lenha, a qual, ao contrário

do que sucede com os resíduos florestais, é extremamente valorizada pela sua utilização em

lareiras domésticas e também pelas pequenas indústrias de fabrico de produtos tradicionais,

como é o caso dos enchidos fumados. Segundo a bibliografia disponível, a quantidade média

de madeira podada é 30kg/árvore e a sua periodicidade é de 9 anos (Gil, 1998), no entanto, a

produção de lenha por unidade de área de azinhal ou sobreiral está dependente do seu regime

de exploração, com implicações na densidade dos povoamentos. A questão da densidade dos

sobreirais e azinhais constitui problema delicado e, infelizmente, na prática verifica-se ser

difícil aplicar as conclusões a que se possa conduzir qualquer estudo que se apoie num critério

estritamente matemático (Natividade, 1950). De facto, além dos critérios edafo-climáticos que

influenciam o desenvolvimento de qualquer espécie vegetal, em muitas situações a exploração

suberícola está associada à exploração agrícola, pelo que a sua densidade está subordinada às

exigências desta última (Natividade, 1950).

Estimativa dos resíduos

A densidade média para as diferentes espécies foi calculada através de uma média ponderada

dos povoamentos puros e mistos dominantes presentes na 3ª revisão do Inventário Florestal

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Nacional (DGF, 2001). Adicionalmente, é apresentada uma estimativa do valor médio da

densidade dos povoamentos florestais de acordo com modelos de gestão florestal propostos

para o pinheiro bravo (Oliveira et al., 2000), eucalipto (Fernandes, 1998; Fortuna, 1986),

sobreiro e azinheira (Natividade, 1950). Estes valores são apresentados na tabela 11,

juntamente com a estimativa anual dos resíduos por hectare.

Tabela 11: Densidade e estimativa de resíduos por área e ano

Densidade média (N/ha) Resíduos (ton./ha/ano)1

Espécies IFN (2001) Modelos florestais

Base húmida Base seca

Pinheiro 424 1057 0.6 0.3

Eucalipto 520 1587 1.2 0.5

Azinheira 42 93 0.1 0.1

Sobreiro 81 159 0.3 0.1 1 com base nas densidades florestais da 3ª revisão do IFN (DGF, 2001)

O valor da densidade dos povoamentos obtido a partir dos dados do Inventário Florestal são

significativamente inferiores aos valores apresentados pelos modelos de exploração das várias

espécies. Com efeito, de acordo com a exploração recomendada do pinheiro, a densidade

média ao longo do período de exploração é de 1057 N/ha. Para o eucalipto, tendo em conta,

os valores optimizados de densidade de 1800 N/ha (Fernandes, 1998) para a zona acima do

Tejo e 900 N/ha (Fortuna, 1986) para a zona abaixo do rio Tejo, obtém-se a média ponderada

de 1587 N/ha para o País. Para o sobreiro e azinheira, o cálculo da densidade óptima teórica

foi realizado com base na expressão 10 (Natividade, 1950), onde CAP é a circunferência à

altura do peito (em m):

6342597

7392

.CAP.N

−= [em árvores/ha] (10)

obtendo-se uma densidade óptima de 159 N/ha para o sobreiro e 93 N/ha para a azinheira.

Estas diferenças levam a crer que grande parte das áreas contabilizadas no Inventário Florestal

Nacional apresentam uma densidade muito menor que a ideal, conduzindo a valores médios

inferiores.

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Os valores das densidades florestais para os diferentes povoamentos, calculados a partir dos

dados do IFN, foram extrapolados para todo o País, uma vez que o documento é omisso nos

valores das densidades para as diferentes regiões. A estimativa dos resíduos florestais anuais é

apresentada na tabela 12, tendo sido calculada através dos valores estimados das densidades a

partir dos dados do Inventário Florestal (tabela 11) e das áreas dos diferentes povoamentos

(tabela 1).

Tabela 12: Resíduos anuais estimados, por espécie (mil ton./ano)

Norte Centro Lisboa e V. do Tejo

Alentejo Algarve TOTAL

h 156 363 70 71 10 670 Pinheiro

s 67 155 30 30 4 286

h 175 277 175 159 35 821 Eucalipto

s 78 124 78 71 16 367

h 3 4 ~0 56 1 65 Azinheira

s 1 2 ~0 28 1 32

h 6 8 38 130 11 193 Sobreiro

s 3 4 19 65 5 96

h 340 652 284 416 57 1749 TOTAL

s 149 285 127 194 26 781

Nota: h - base húmida, s – base seca

De acordo com as estimativas realizadas (tabela 12), a produção anual de resíduos em

Portugal é 1749 mil toneladas verdes, ou seja, 781 mil toneladas secas/ano. A distribuição dos

resíduos indica que estes se encontram na sua maior parte na região Centro (652 mil toneladas

verdes/ano), uma vez que é aí onde se encontra a maior mancha florestal do País. Os

resultados obtidos mostram que a produção de resíduos deve-se essencialmente à exploração

do pinheiro e do eucalipto, as quais são responsáveis por cerca de 85% dos resíduos florestais.

Por outro lado, os resíduos obtidos através da poda das azinheiras e dos sobreiros representam

uma pequena fracção, cerca de 128 mil toneladas secas, correspondendo apenas a cerca de 7%

da biomassa produzida. No entanto apresentam um grande valor comercial devido à sua

procura, o que constitui uma importante fonte de receitas para os agricultores, além do

rendimento obtido pela venda da cortiça.

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Os valores obtidos pela Arthur D. Little (1985) apontam para uma produção anual de 1800

mil toneladas secas de resíduos florestais, ou seja, um valor muito superior ao estimado na

presente tese, o qual poderá ser devido ao facto de naquele trabalho terem considerado uma

maior densidade dos povoamentos. Outro motivo que contribui para a diferença de valores,

está relacionado com o facto de neste trabalho apenas se ter considerado a massa de lenha

podada no sobreiro e na azinheira, enquanto que no trabalho de Arthur D. Little (1985) foi

ainda contabilizada a biomassa resultante do arranque de árvores mortas e doentes.

No ponto 2.2.1, estes resultados serão comparados com os de outras metodologias empregues

na avaliação dos resíduos florestais, nomeadamente com base no volume de madeira

consumido pela indústria, e em outro caso, com base nos modelos recomendados da

exploração florestal, com o objectivo de verificar a consistência dos valores obtidos.

2.2 – Avaliação dos resíduos da indústria de transformação da madeira e cortiça

Os resíduos produzidos pelas indústrias da madeira, cortiça e pasta de papel têm grande

interesse em termos de produção de biomassa, no entanto a sua quantificação é difícil, uma

vez que grande parte dos resíduos produzidos são vendidos ou cedidos a outras indústrias que

os irão utilizar como matéria-prima, deixando de estar disponível como fonte de energia.

Serrações

No caso das serrações, a percentagem de madeira serrada corresponde a 47.5% da matéria-

prima, enquanto que a produção de resíduos apresenta a seguinte distribuição: casca (20%),

serrim (12.5%) e costaneiras (20%) (Carvalho et al., 1981). Tendo em consideração que a

matéria-prima principal da serração é o pinheiro bravo, calculou-se a massa volúmica a partir

da equação 11 (Sardinha, 1988 - adaptado):

)1).(1(

)1).(15.01.( %15%15

VH

VH H ε

ερρ+−

+−= (11)

onde ρ15% = 600kg/m3 para o pinheiro bravo (a 15% de humidade) e εV representa o

coeficiente de retractibilidade da madeira, expresso em percentagem. De acordo com as fontes

consultadas, os valores tipo para o pinheiro bravo são εV15% = 7% e εVH>30% = 12.4%

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(Matweb, 2002). Considerando uma humidade média (H) de 30% para a madeira, obteve-se o

valor ρ30% = 694kg/m3.

Tabela 13: Consumo de matéria-prima na indústria transformadora da madeira (em mil m3)

1997 1998 1999 Média

Toros de pinheiro bravo, nacional 3302 3393 3116 3271

Toros de madeira tropical 204 276 284 255

TOTAL 3506 3669 3400 3525

Fonte: INE (1998 a 2001b)

Tendo em conta a média do consumo de madeira patente na tabela 13 e as propriedades

referidas anteriormente, conclui-se que o valor estimado para os resíduos produzidos pela

indústria transformadora da madeira é 899 mil toneladas secas/ano, onde uma grande parte é

utilizada na produção de contraplacados e outros produtos.

Indústria da pasta do papel

A indústria da pasta de papel representa o principal utilizador da madeira em Portugal,

gerando uma grande quantidade de resíduos. De facto, verifica-se que quase todas as unidades

fabris dispõem de caldeiras de queima de resíduos de biomassa que consomem

maioritariamente casca, no entanto, a única fábrica em Portugal equipada com um leito

fluidizado consome ainda outros resíduos.

Assumiu-se que os principais resíduos produzidos na indústria da pasta do papel são a casca e

a serradura. Para estimar estes resíduos assumiu-se que durante a produção de uma tonelada

de pasta de papel são produzidas 0.75 toneladas de casca e 0.1 toneladas de serradura

(Antunes, 1998). E foi igualmente assumido que para a produção de uma tonelada de pasta de

papel são necessárias duas toneladas de madeira (Barreto, 1980).

Através das estatísticas da Associação da Indústria Papeleira (2002), foram obtidos os valores

da madeira consumida pela indústria da pasta de papel, para o período 1997 a 1999 (tabela

14):

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Tabela 14: Consumo de matéria-prima na indústria da pasta do papel (em mil m3)

Espécies Tipo de rolaria 1997 1998 1999 Média

Com casca 2282 2640 2691 2538 Eucalipto

Sem casca 2142 2141 1893 2059

Com casca 317 394 378 363

Sem casca 178 111 102 130 Pinho

Aparas 620 601 578 600

TOTAL 5539 5887 5642 5690

Fonte: Associação Nacional da Indústria Papeleira (2002)

De acordo com os dados disponibilizados pela Associação Nacional da Indústria Papeleira

(2002), a matéria-prima transformada pelos seus associados provém na sua grande maioria do

mercado doméstico, cerca de 90%, tal como se pode observar pela tabela 15.

Tabela 15: Origem da matéria-prima adquirida pela indústria da pasta do papel (em mil m3)

Espécies Origem 1999 2000 Média

Eucalipto Nacional 3 988 4 264 4 126

Importada 596 406 501

Pinheiro Nacional 887 681 784

Importada 171 160 165

Fonte: Associação Nacional da Indústria Papeleira (2002)

Para a estimativa realizada, foi assumida uma massa específica de 800kg/m3 para o eucalipto

verde e 809kg/m3 para o pinheiro, considerando uma humidade de 40% (equação 11).

Estimou-se que a quantidade de resíduos produzidos na indústria da pasta do papel é 645 mil

toneladas secas/ano.

Transformação da cortiça

Outra fonte de biomassa é o pó de cortiça, formado a partir da transformação deste importante

recurso da floresta portuguesa. De acordo com a bibliografia disponível, a quantidade de pó

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de cortiça produzida durante a sua transformação é cerca de 26% da matéria-prima, com um

teor de humidade de 12% (Gil, 1998). De acordo com os dados referentes ao período 1997 –

1999, o consumo de cortiça apresentou a seguinte evolução (tabela 16):

Tabela 16: Consumo de cortiça pela indústria transformadora (em ton.)

1997 1998 1999 MÉDIA

159974 210430 156675 175693

Fonte: INE (1998 a 2001b)

Para o valor médio dos três anos contemplados (cerca de 176 mil toneladas), a quantidade de

pó de cortiça estimada foi 40 mil toneladas secas/ano. No entanto, verifica-se que a maior

parte destes resíduos são utilizados dentro da própria fábrica como fonte de energia (70%),

sendo a restante oferecida a indústrias locais, nas quais é também utilizada como fonte de

energia (Fonte: Grupo Amorim, comunicação pessoal).

Tabela 17: Resíduos da indústria de transformação da madeira e cortiça

Resíduos (mil ton. secas/ano) Indústria

Produzidos Disponíveis

Mercado alternativo

Observações

Serração 899 ~15% Produção de aglomerados

Usado em combustão

Pasta do papel 645 0 - Usado em combustão

Transformação da cortiça

40 30% - Usado em combustão

TOTAL 1584 147

A tabela 17 apresenta um resumo das indústrias de transformação da madeira e cortiça, onde

se verifica que a quantidade total estimada de resíduos foi cerca de 1584 mil toneladas

secas/ano. No entanto, é necessário ter em conta o seu destino actual e preço de mercado

(caso exista) para ser possível tirar conclusões acerca da sua disponibilidade para produção de

energia economicamente viável.

Os valores obtidos relativamente à produção de resíduos são próximos dos obtidos pela

Arthur D. Little (1985).

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2.2.1 - Estimativa dos resíduos florestais a partir do consumo de madeira

Pretendeu-se neste ponto realizar um estudo comparativo de avaliação dos resíduos florestais,

tal como realizado no ponto 2.1, mas neste caso a partir do volume de madeira transformado.

O método seguido neste ponto baseou-se no consumo anual de madeira nacional pelas

indústrias transformadoras, ou seja, a partir do volume de madeira de pinheiro nacional

utilizado pela indústria de transformação da madeira (tabela 13) e do volume de madeira de

pinheiro e eucalipto nacional utilizado pela indústria da pasta do papel (tabela 15).

Com base nos resultados obtidos por Fernandes (1998) para a produção de resíduos de

pinheiro em diferentes classes de solo, verificou-se que para um solo classe III, uma árvore

com 40-45 anos apresenta um DAP de 20.91 cm e altura dominante (Hd) de cerca 11.3 m, o

que corresponde a um volume de 0.191 m3/árvore, de acordo com a equação 12, retirada do

Inventário Florestal (DGF, 2001):

1000

028677011529306898403 22 HdDAP.DAP..VTOTAL

++= [m3/árvore] (12)

Tendo em conta os dados dos consumos de madeira de pinheiro nacional na indústria

transformadora da madeira (tabela 13), da pasta do papel (tabela 15) e o volume obtido a

partir da expressão 12, obteve-se um número estimado de cerca de 21 milhões de pinheiros

nacionais consumidos. Tendo em conta a quantidade de resíduos obtidos numa população

com as características referidas (25.77 kg secos/árvore, a partir da equação 6), estimou-se que

a quantidade total de resíduos deixados na floresta é cerca de 547 mil toneladas secas/ano.

Para o eucalipto, foi assumido um DAP de 12.5 cm e altura dominante (Hd) de 17.5m,

representativo de povoamentos com mais de 1000 N/ha (CBE, 1993). De acordo com a

equação 13, semelhante à analisada por Paulo et al. (2002), corresponde a 0.102 m3/árvore:

0702881819071100004840 .. HdDAP.V = [m3/árvore] (13)

Verificou-se, no entanto, que os valores observados para o DAP e altura dominante tendem a

diminuir com a densidade do povoamento, para todas as classes de qualidade (CBE, 1993).

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Tendo em conta que parte da casca é removida na floresta, a utilização directa do volume não

é viável, pelo que o cálculo dos resíduos produzidos na floresta devido ao abate do eucalipto

foi calculado tendo em conta a morfologia da árvore.

Tendo em conta a quantidade de resíduos obtidos por árvore calculada anteriormente (23.4 kg

verdes/árvore/rotação) e considerando que metade da casca é retirada na floresta, estimaram-

se os resíduos de acordo com a seguinte expressão:

%8.31100.

2

8.1682

4.23 =

−=adeiraResíduos/m

que se encontra de acordo com o observado por Pereira and Pereira (1988). Tendo em conta

os dados do consumo presentes na tabela 15, a massa consumida foi de 3301 mil

toneladas/ano, o que significa que a quantidade de resíduos produzidos foi de 1050 mil

toneladas verdes/ano. Considerando uma humidade média de 52.6%, estimou-se a quantidade

de resíduos secos produzidos em 498 mil toneladas secas/ano.

Verificou-se que a produção de resíduos durante o abate de pinheiro foi cerca de 547 mil

toneladas secas/ano, valor superior ao do eucalipto, onde se estimaram valores cerca de 498

mil toneladas secas/ano, o que totaliza cerca de 1045 mil toneladas secas/ano para os resíduos

provenientes destas duas espécies.

Comparação dos resultados

A tabela 18 sintetiza as diferenças observadas através da aplicação dos seguintes métodos

para o cálculo dos resíduos de biomassa deixados na floresta:

� método 1a: com base nas densidades dos povoamentos presentes no Inventário

Florestal de 2001, tal como descrito no ponto 2.1

� método 1b: com base no valor médio das densidades dos povoamentos geridos de

acordo com os modelos de exploração propostos para cada espécie

� método 2: com base no consumo de madeira na indústria da pasta do papel e na

indústria transformadora da madeira

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Tabela 18: Estimativa dos resíduos florestais segundo diferentes métodos (mil ton. secas/ano)

Espécies Método 1a Método 1b Método 2

Pinheiro 286 675 547

Eucalipto 367 760 498

Sobreiro 96 227 961

Azinheira 32 86 321

TOTAL 781 1748 1173 1 calculado através de forma semelhante à do método 1a

Os resultados obtidos através da aplicação dos diferentes métodos (tabela 18) apresentaram

uma grande diferença de valores. O método 1a apresentou valores que, possivelmente estão

subdimensionados face ao potencial da floresta, consequência do baixo valor da densidade

florestal utilizado. O método 1b apresentou valores que, apesar de semelhantes a outros

estudos realizados (Arthur D. Little, 1985; CBE, 1993), poderão estar sobredimensionados,

uma vez que foi assumido que toda a área florestal é gerida segundo os modelos de

exploração propostos para cada espécie. Finalmente, os dados obtidos de acordo com o

método 2, eliminam o erro devido ao valor da densidade florestal, uma vez que se baseou na

madeira realmente retirada da floresta, no entanto é necessário ter um conhecimento bastante

aproximado da idade das árvores abatidas e da relação resíduos/árvore. Os valores obtidos

neste último método foram os utilizados para o cálculo da biomassa produzida em Portugal,

realizado posteriormente.

Comparando os resultados obtidos no método 1a e método 2, verificou-se que as diferenças

são mais significativas nas estimativas para o pinheiro do que para o eucalipto. Uma das

causas para esta diferença poderá ser a entrada de madeira proveniente de áreas ardidas, não

contabilizadas como áreas florestais, mas onde a madeira é contabilizada como matéria-prima

consumida pela indústria. Outro factor que influencia as diferenças entre as duas espécies

poderá ser a redução da área de pinheiro a favor da área de eucalipto, verificada nos últimos

anos. De facto, com base nos valores presentes no Inventário Florestal de 1993 e no de 2001,

verificou-se que a área de eucalipto aumentou 286 mil ha, ou seja, cerca de 1%/ano,

essencialmente à custa da diminuição da área do pinheiro bravo. Tendo em conta que o último

Inventário Florestal foi realizado com base em fotografias aéreas de 1995 será previsível que,

a manter-se essa tendência, a área do eucalipto nos anos considerados no consumo de madeira

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(1997 a 1999) seja superior ao referido no Inventário de 2001, logo, os valores presentes no

consumo de madeira de eucalipto destes últimos anos não poderão ser correlacionados com os

valores do IFN de 2001, uma vez que se referem a realidades distintas.

Relativamente às diferenças observadas para o caso do pinheiro, tendo em conta os dados

presentes no mais recente Inventário Florestal (DGF, 2001), verificou-se que os povoamentos

de pinheiro bravo com mais de 40 anos correspondem a cerca de 46% da área total, o que

poderá indiciar que o ciclo de vida geralmente utilizado seja superior ao recomendado pelo

modelo de gestão, por exemplo 60 anos. Considerando este tempo de vida, as metodologias

anteriormente expostas conduzem a uma redução da estimativa dos resíduos florestais de 5%

no método 1a e 30% no método 2, levando a uma aproximação dos valores. Este facto poderá

indiciar que o ciclo de vida mais comum na gestão da floresta inclui tempos de vida

superiores ao proposto pelo modelo de gestão.

2.3 – Avaliação dos resíduos da agricultura

Apesar da agricultura portuguesa estar a atravessar momentos mais difíceis, esta actividade

continua a ser ainda uma referência na nossa economia, onde a superfície agrícola utilizada

(SAU) representa cerca de 42% da superfície total de Portugal (INE, 2001a) e a população

trabalhadora no sector primário representa cerca de 11% da população activa (INE, 2001a). A

agricultura que se pratica actualmente continua a ser uma agricultura sustentada no cultivo

dos cereais, responsável pela maior parte da área ocupada pelas culturas temporárias (43%), e

na exploração do olival e da vinha, responsáveis por 77% da área ocupada pelas culturas

permanentes (INE, 2001b).

Entendeu-se como resíduos da agricultura toda a biomassa aérea obtida durante o processo de

produção das culturas temporárias, excepto o produto principal, e os resíduos provenientes

das podas das culturas permanentes, assumindo que não existem diferenças técnicas entre as

diferentes regiões do País. Assim, foram incluídas nesta definição as palhas dos cereais, os

caules do girassol e do milho, as partes aéreas das principais plantas herbáceas e os ramos das

podas das árvores. A estimativa destes resíduos foi realizada com base nas estatísticas

agrícolas de 1997 a 1999, em informações fornecidas pelas Direcções Agrárias

(comunicações pessoais) e na literatura disponível. Para os cereais e outras culturas, a

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estimativa dos resíduos deixados após a colheita foi realizado tendo por base as relações

resíduo/grão presentes na tabela 19:

Tabela 19: Características dos principais resíduos agrícolas herbáceos

Espécie Relação resíduo/grão

Humidade (%)

Fonte

Trigo 1.0 14 Adbeels (1987)

Cevada 1.0 14 Adbeels (1987)

Aveia 1.0 14 Adbeels (1987)

Centeio 1.0 14 Adbeels (1987)

Arroz 1.0 30 FAO (1989), Kocsis (1987)

Milho 1.2 40 Adbeels (1987), Kocsis (1987)

Girassol 2.0 30 Cresta and Giolitti (1987), Kocsis (1987)

Beterraba 28.2% da planta 83.5 Amaral (1978)

Tomate 1.69 ton./ha 71.1 Alves (1995)

A tabela 20 resume a informação relativa aos resíduos produzidos após a colheita das

principais culturas temporárias em Portugal, os quais foram calculados com base na relação

resíduo/grão e na média dos valores das produções obtidas nos anos 1997 a 1999 (INE, 1998

a 2001a). É possível concluir que a produção anual de resíduos é cerca de 1324 mil toneladas

secas/ano, das quais uma importante parcela provém do trigo, arroz e milho.

De facto, a palha resultante da debulha apresenta uma produção de resíduos cerca de 455 mil

toneladas secas/ano, com um valor de humidade muito baixo (~14%). A sua principal

aplicação é a alimentação animal e o fabrico de camas para o gado, pelo que atinge um grande

valor comercial (cerca de 35.2€/tonelada), o que torna menos competitiva qualquer aplicação

deste resíduo para combustão em Portugal. Em países nórdicos, como a Dinamarca, a palha é

utilizada em grande escala para queima. A parte aérea das plantas herbáceas constitui

igualmente um resíduo de biomassa, no entanto, é geralmente deixado no terreno para

alimentação do gado ou em alternativa, é utilizado como fertilizante, incorporando este

material no solo. Relativamente ao cultivo do girassol e milho, os caules remanescentes no

terreno após a debulha são queimados mais tarde, de modo a utilizar as cinzas como

fertilizante para a cultura seguinte. Os resíduos do girassol e milho são assim os únicos

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resíduos que podem ser utilizados para combustão apesar de numa situação de procura, possa

ver o mercado alternativo de alimentação do gado a competir. O resíduo do tomateiro devido

ao alto teor de humidade não pode ser utilizado para combustão.

Tabela 20: Resíduos das culturas temporárias

Resíduos Resíduos secos (mil ton. /ano)

Período Preço (€/ton.)

Observações

Palha de trigo duro 46 Junho - Agosto

35.21 Preço elevado Alimentação de animais

Palha de trigo mole 189 Junho - Agosto

35.21 Preço elevado Alimentação de animais

Palha de cevada 24 Junho - Agosto

35.21 Preço elevado Alimentação de animais

Palha de aveia 47 Junho - Agosto

35.21 Preço elevado Alimentação de animais

Palha de centeio 37 Junho - Agosto

35.21 Preço elevado Alimentação de animais

Palha de arroz 112 Outubro - Novembro

0 Elevada humidade

Caules de milho 791 Setembro - Outubro

0 Oferecido a criadores de gado

Caule de girassol 38 Agosto 0 Oferecido a criadores de gado

Coroa da beterraba 12 Julho - Outubro

0 Elevada humidade

Tomateiro 28 Junho - Setembro

0 Oferecido a criadores de gado

TOTAL 1324

Relativamente às culturas permanentes, as podas resultantes do maneio das árvores

apresentam-se como um resíduo com enorme potencial, uma vez que contrariamente à palha,

não apresenta mercado alternativo, o que significa que não tem valor comercial. A sua

estimativa foi realizada tendo em conta a periodicidade com que são realizadas em cada

espécie, a densidade dos povoamentos, a humidade dos ramos e as quantidades médias de

ramos podados por árvore. Os dados necessários foram obtidos através da consulta da

bibliografia disponível e de informações cedidas pelas Direcções Agrárias (tabela 21).

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43

Tabela 21: Características das podas das culturas permanentes

Espécies Densidade (N/ha)1

Resíduos (kg/árvore)

Período entre podas (anos)

Humidade (%)

Macieira Norte = 918 Centro = 1068

LVT = 974

Alentejo = 1446

Algarve = 606

4.82 1 40

Damasqueiro LVT = 471

Algarve = 586 13.32 1 40

Cerejeira Norte = 436 Centro = 379 LVT = 353 Alentejo = 664 Algarve=710

4 1 40

Pessegueiro Norte = 554 Centro = 705 LVT = 743 Alentejo = 709 Algarve = 660

7.92 1 40

Ameixeira 500 4 1 40 Kiwi 500 4 1 40 Figueira 400 4 1 40 Pereira Norte = 752

Centro = 980 LVT = 901 Alentejo = 941 Algarve = 744

4.62 1 40

Aveleira 333 11.13 4 40 Amendoeira 400 14.42 3 40 Laranjeira Norte = 385

Centro = 433 LVT = 471 Alentejo = 407 Algarve = 451

12 1 40

Tangerineira Norte = 409 Centro = 408 LVT = 576 Alentejo = 408 Algarve =466

12 1 40

Limoeiro LVT = 403

Algarve = 48 12 1 40

Vinha 1.4 ton/ha4 1 154 Oliveira 1003 22.82 53 40

1 INE (1998a); 2 Dados obtidos em ensaios de campo; 3 Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes (comunicação pessoal); 4 Peça (1993)

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44

Em certos casos, procedeu-se à realização de trabalhos de campo na Escola Superior Agrária

de Beja e no Monte da Malagueta (Pias, concelho de Serpa), para a determinação de

parâmetros em falta, nomeadamente a determinação da massa dos ramos podados em

diferentes árvores de fruto.

Tabela 22: Resíduos das culturas permanentes

Resíduos das podas

Quantidade (mil ton. secas/ano)

Período Preço (€/ton.)

Observações

Macieiras 66 Dezembro - Janeiro

0 Pode ser usado para combustão

Damasqueiros 3 Idem Idem Idem

Cerejeiras 4 Idem Idem Idem

Pessegueiros 32 Idem Idem Idem

Ameixeiras 3 Idem Idem Idem

Kiwi 1 Idem Idem Idem

Figueiras 8 Idem Idem Idem

Pereiras 31 Idem Idem Idem

Aveleiras ~1 Idem Idem Idem

Amendoeiras 46 Idem Idem Idem

Laranjeiras 32 Idem Idem Idem

Tangerineiras 7 Idem Idem Idem

Limoeiros 2 Idem Idem Idem

Vinhas 294 Idem Idem Idem

Oliveiras 147 Idem 501 Idem

TOTAL 677 1 apenas para os ramos de maiores dimensões

Relativamente às culturas permanentes, verificou-se que a produção de resíduos de biomassa

é de 677 mil toneladas secas/ano, incluindo as podas das árvores de fruto, mas onde o grande

contributo provém das culturas tradicionais, como é o caso do olival e da vinha (tabela 22).

Tendo em conta os resultados apresentados nas tabelas 20 e 22, concluiu-se que a produção

anual média de resíduos de biomassa na agricultura é cerca de 2001 mil toneladas secas/ano.

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45

2.4 – Avaliação dos resíduos da agro-indústria

Relativamente à produção de resíduos de biomassa na agro-indústria, apenas foi tida em

consideração as indústrias produtoras de resíduos de natureza lenhosa, ficando portanto

excluídas todas as indústrias do ramo animal.

A estimativa apresentada teve por base a consulta de bibliografia relativa ao processo de

produção das diversas indústrias, a consulta de dados estatísticos referentes ao consumo de

matérias-primas e, em alguns casos, foram contactadas directamente algumas empresas.

Relativamente aos processos de fabrico incluídos neste estudo, a bibliografia disponível

permite avançar os seguintes rendimentos:

� Sumo de laranja: a quantidade de resíduos é 56% da matéria-prima (Amaral, 1994), com

80% de humidade;

� Sumo de pêssego: a quantidade de resíduos é 5% da matéria-prima (Ferreira, 1983);

� Transformação de tomate: os resíduos dentro da fábrica incluem o esmagamento de

tomate (2,5%), caules e folhas (2%) e polpas (2,5%), com 80% de humidade (Grupo de

Trabalho Sobre os Resíduos, 1981);

� Beterraba: em Portugal apenas existem duas fábricas de fabrico de açúcar de beterraba, a

DAI em Coruche e a SINAGA em Ponta Delgada. A quantidade de resíduos produzidos é

cerca de 4% da matéria-prima, com 10% de humidade (Fontes: DAI e SINAGA,

comunicação pessoal);

� Farinha de trigo: a quantidade de farelo é 18.5% da massa do grão (Beirão da Costa,

1980) com 13.2% de humidade;

� Farinha de centeio: a produção de resíduos é cerca de 30% da massa do grão (Beirão da

Costa, 1980) com 12.5% de humidade;

� Secagem do arroz: os resíduos relacionados com a secagem do arroz é a casca do arroz

(20% do grão) e o farelo (4.8% do grão) (Beirão da Costa, 1980), com 8% de humidade

(Magasiner and Kock, 1987);

� Farinha de milho: a quantidade de farelo é 20% do grão, com 11.8% de humidade (Beirão

da Costa, 1980);

� Azeite: no presente relatório são apresentados valores declarados ao INGA referentes aos

anos 1997 e 1998. Devido à falta de informação disponível para o ano 1999, a quantidade

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de resíduos teve de ser estimada (cerca de 40% da matéria-prima). O conteúdo de

humidade é 52% (Fonte: União das Agrícolas Cooperativas do Sul, comunicação

pessoal);

� Óleo de soja: os valores referentes a 1997 e 1998 foram retirados das Estatísticas da

Produção Agro-Industrial 1996-1998 (INE, 1998b). Devido à falta de dados disponíveis,

os resíduos relativos a 1999 tiveram de ser estimados. A literatura disponível refere que a

quantidade de resíduos produzidos é 82% da matéria-prima (Grupo de Trabalho Sobre os

Resíduos, 1981), com 13% de humidade (Fonte: TAGOL, comunicação pessoal);

� Óleo de girassol: devido à falta de dados disponíveis, os resíduos relativos a 1999 tiveram

de ser estimados. A literatura disponível refere que a quantidade de resíduos produzidos é

60% da matéria-prima (Grupo de Trabalho Sobre os Resíduos, 1981), com 10% de

humidade (McDonald et al., 1981);

� Casca de amêndoa: os resíduos foram estimados com base num balanço de massa

realizado para o sector a partir dos valores presentes nas Estatísticas da Produção Agro-

Industrial 1996-1998 (INE, 1998b). O teor de humidade é 7.8% (ECN, 2002);

� Casca de pinhão: os resíduos de casca de pinhão foram estimados com base na diferença

de massa a partir dos valores presentes nas Estatísticas da Produção Agro-Industrial

1996-1998 (INE, 1998b). Adicionalmente houve que contabilizar as brácteas da pinha, as

quais representam a maior parcela da pinha (83%). A literatura refere que a relação

pinha/pinhão é 5.88 (Maia, 1973) e o teor de humidade é 13% (Sanz and Lorenzo, 2000);

� Amendoim: os resíduos foram calculados a partir de balanço de massa a partir dos dados

presentes nas Estatísticas da Produção Agro-Industrial 1996-1998 (INE, 1998b);

� Marmelada: a quantidade de resíduos produzidos representa 5% da massa de matéria-

prima (Ferreira, 1983), com 80% de humidade (Fonte: Confeitaria Mirene, comunicação

pessoal);

� Caroços de azeitonas: este resíduos dizem respeito aos caroços de azeitona retirados

durante o processo de fabrico de azeitonas em conserva e foi calculado a partir de um

balanço de massa, usando os valores presentes nas Estatísticas da Produção Agro-

Industrial 1996-1998 (INE, 1998b). A humidade é cerca de 60% (Fonte: Maçarico S.A.,

comunicação pessoal);

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� Cerveja: os resíduos sólidos da indústria da cerveja são constituídos por malte, gritz de

milho e lúpulo, constituindo cerca de 57% da matéria-prima utilizada, com 82% de

humidade (Fonte: Group ECM – Madeira, comunicação pessoal);

� Engaços de uva: os engaços são obtidos durante o processo de fabrico de vinho e

constituem a fracção herbácea não aproveitável, obtida após o esmagamento das uvas. Os

engaços constituem cerca de 19% da massa da matéria-prima (Grupo de Trabalho Sobre

os Resíduos, 1981), com 80% de humidade (Pato, 1988).

O sector agro-industrial também se apresenta como um sector onde a produção de resíduos de

biomassa atinge valores consideráveis, no entanto, a grande maioria apresenta elevados teores

de humidade (50 a 80%), como é caso do ramo das bebidas ou do concentrado de tomate. Por

outro lado, os resíduos resultantes de algumas indústrias, como as do fabrico de óleo de soja,

de girassol e do fabrico de açúcar de beterraba apresentam baixos valores de humidade (10 a

13%), no entanto, devido ao seu elevado valor proteico têm uma grande procura pelas

indústrias de rações para animais, o que eleva bastante o seu valor de mercado (133 a

215€/ton), tornando-os economicamente inviáveis para utilização como fonte de energia

renovável.

Relativamente a outras indústrias, durante o processo de fabrico de farinhas a maioria dos

resíduos consiste na casca dos grãos, com um reduzido teor em humidade (8 a 14%), ou seja,

viável para utilização como fonte de energia. Mas, tal como no caso dos resíduos das

oleaginosas, são igualmente utilizados no fabrico de rações animais, atingindo um preço de

mercado cerca de 114 €/tonelada. A excepção surge da casca de arroz, uma vez que não é

permitida a sua incorporação no fabrico de rações, devido ao elevado teor em sílica. Este

factor torna também difícil a sua utilização para combustão devido às cinzas.

Foi realizada uma estimativa dos resíduos produzidos, tendo por base a média do consumo de

matérias primas no sector agro-industrial entre 1997 e 1999, a qual é apresentada na tabela 23.

Através dos resultados obtidos, concluiu-se que a produção de resíduos lenhosos na agro-

indústria é cerca de 872 mil toneladas secas/ano. Como se pode observar da tabela 23 grande

parte dos resíduos apresentam um preço elevado ou humidade elevada.

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Tabela 23: Resíduos da agro-indústria

Actividade Resíduos (mil ton. secas/ano)

Período Preço (€/ton.)

Observações

Resíduos de laranja 2 Novembro – Abril

109.74 Humidade elevada (~80%)

Resíduos de pêssego

< 0.5 Abril – Outubro

Tomate para a indústria

13 Junho – Setembro

Humidade elevada (~80%)

Polpa de beterraba 19 Junho – Outubro

154.50 Usado no fabrico de rações

Farinha de trigo 209 Todo o ano 114.72 Usado no fabrico de rações

Farinha de centeio 7 Todo o ano Usado no fabrico de rações

Secagem de arroz 45 Todo o ano Elevado teor em sílica Usado como abrasivo

Farinha de milho 14 Todo o ano Usado no fabrico de rações

Bagaço de azeitona 61 Novembro – Fevereiro

Pode ser usado em combustão

Bagaço de soja 308 Todo o ano 214.48 Usado no fabrico de rações

Bagaço de girassol 138 Todo o ano 139.66 Usado no fabrico de rações

Casca de amêndoa 1 Todo o ano Usado como combustível

Casca de pinhão 12 Maio – Dezembro

19.95 Usado como combustível

Casca de amendoim < 0.5 Todo o ano Usado como combustível

Caroço de marmelo < 0.5 Outubro – Novembro

Humidade elevada (~80%)

Caroço de azeitona 1 Outubro – Novembro

Usado como combustível

Resíduos da cerveja 15 Todo o ano Humidade elevada (~80%)

Engaços do vinho 27 Setembro Usado como combustível

TOTAL 872

Os resíduos que têm aplicação para combustão são actualmente utilizados quase

integralmente e correspondem a 41 mil toneladas secas/ano, representando uma contribuição

muito menor que as identificadas nas secções anteriores.

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2.5 – Avaliação dos resíduos com possibilidade de queima

Tendo em conta os sectores contemplados no presente estudo, concluiu-se que a

disponibilidade de resíduos de biomassa em Portugal não se restringe apenas à floresta. De

facto, verifica-se que outros sectores apresentam grandes produções de resíduos que, por um

lado constituem um problema para o empresário, uma vez que é necessário dar um fim

conveniente, mas por outro representam uma fonte de energia de baixo custo, caso seja

utilizada. A estimativa realizada na presente tese indica que a produção nacional de resíduos

lenhosos de biomassa é cerca de 5630 mil toneladas secas/ano, no entanto, verificou-se que

em certos casos, estes resíduos apresentam diferentes formas de aproveitamento.

Na indústria de transformação da madeira, a maior parte dos resíduos produzidos são

utilizados para o fabrico de contraplacados e MDF, enquanto que noutros sectores a grande

parte dos resíduos são reutilizados dentro da própria fábrica como fonte de energia, como é o

caso da indústria transformadora da cortiça.

Na agro-indústria, verifica-se que o destino final a dar aos resíduos depende essencialmente

da sua humidade e valor nutritivo, tendo-se verificado que em certos casos são vendidos como

matéria-prima para as fábricas de rações, enquanto que noutros são utilizados como fonte de

energia pelas indústrias locais, como é o caso da casca dos frutos secos. A grande maioria das

agro-indústrias, devido ao facto de transformarem produtos vegetais com elevado teor de

humidade, apresenta resíduos de biomassa igualmente com elevado valor. Este facto, se por

um lado condiciona seriamente a sua utilização em combustão, por outro oferece boas

condições para a produção de energia através de outros sistemas, como é o caso da produção

de bioetanol ou biogás.

Ao longo do trabalho verificou-se que muitos dos resíduos produzidos actualmente

apresentam diferentes tipos de aproveitamento, mas existe ainda uma importante parcela que

apresenta condições técnicas e, possivelmente, económicas para utilização como fonte de

energia, através da sua combustão directa ou através da sua densificação para combustão

posterior.

A tabela 24 apresenta um quadro-resumo com os valores estimados para a quantidade de

resíduos disponíveis para utilização em combustão, com base nos resíduos totais produzidos

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nos diferentes sectores, exceptuando os resíduos com valor comercial, com humidade elevada

e os que possuem actualmente utilidade dentro ou fora da própria indústria. É apresentada,

conjuntamente, uma previsão acerca da época do ano em que esses resíduos poderão estar

disponíveis, por forma a retirar conclusões acerca da sua periodicidade.

Tabela 24: Disponibilidade de resíduos de biomassa para combustão

Resíduos Quantidade disponível (mil ton. secas/ano)

Período

Resíduos florestais1 988 Todo o ano

Caules de milho e girassol 829 Agosto - Outubro

Podas de árvores de fruto, olival2 e vinha

603 Dezembro – Janeiro

Bagaço de azeitona 61 Novembro - Fevereiro

Transformação da madeira e cortiça

147 Todo o ano

TOTAL 2628 1 corresponde à produção anual de resíduos, seguindo o método 2, excepto os resíduos com valor

comercial e os resíduos consumidos pela Central Termoeléctrica de Mortágua 2 no caso do olival considerou-se apenas a fracção dos ramos sem valor comercial, ou seja, cerca de

metade do total obtido

Verificou-se que existe uma grande produção de resíduos com possibilidade de utilização em

sistemas simples de produção de energia, como é a combustão, com disponibilidades anuais

de cerca de 2628 mil toneladas secas/ano.

Tal como se pode observar pela figura 6, verificou-se que a disponibilidade anual dos

resíduos de biomassa apresenta grandes variações ao longo do ano, devido essencialmente ao

carácter sazonal de certos ramos de actividade. Durante os meses de Abril a Junho a

disponibilidade de resíduos é cerca de 284 mil toneladas secas, provenientes essencialmente

das operações florestais e das indústrias da madeira e cortiça, desenvolvidas equitativamente

ao longo do ano. Durante os meses de Julho a Setembro, a disponibilidade é cerca de 1112

mil toneladas secas, provenientes das indústrias florestais e colheita das culturas temporárias,

nomeadamente girassol e milho. Durante os meses Outubro a Dezembro a disponibilidade é

cerca de 918 mil toneladas, provenientes das indústrias florestais e das podas das culturas

permanentes, nomeadamente da vinha, árvores de fruto e do olival. No caso do olival, devido

à grande procura dos ramos de maior diâmetro para utilização em lareiras domésticas, apenas

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foi contabilizada a biomassa correspondente aos ramos de menor dimensão e sem valor

comercial, ou seja, cerca de metade da massa total obtida após a poda. Finalmente, durante os

meses Janeiro a Março a disponibilidade é cerca de 314 mil toneladas, provenientes das

indústrias florestais, podas e do bagaço de azeitona.

Figura 6: Disponibilidade dos resíduos de biomassa ao longo do ano

0

200

400

600

800

1000

1200

Janeiro -Março

Abril -Junho

Julho -Setembro

Outubro -Dezembro

Período

mil

ton.

sec

as

Face aos valores obtidos na avaliação da disponibilidade dos resíduos (tabela 24) e a sua

distribuição ao longo do tempo (figura 6), verificou-se que esta apresenta algumas oscilações

ao longo do ano, relacionadas essencialmente com o ciclo das operações agrícolas. É, no

entanto, possível concluir que apesar destas variações, a oferta é extremamente abundante,

existindo condições técnicas suficientes para a instalação de indústrias capazes de aproveitar

estes resíduos de forma útil. Obviamente, para tirar conclusões mais alargadas será necessária

a realização de estudos de viabilidade económica, os quais não foram contemplados na

presente tese.

Tendo em conta as diferenças na composição dos resíduos obtidos nos diferentes sectores e a

irregularidade na oferta ao longo do ano, a densificação do material poderá ser um importante

meio de homogeneização do combustível para subsequente utilização. Esta homogeneização é

indispensável quando se fala do aproveitamento destes resíduos para combustão, uma vez que

estão em causa combustíveis de natureza diferentes e com composições químicas diferentes

(ex. teor em cinzas), que poderá levar ao funcionamento irregular da instalação térmica.

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De facto, actualmente estão a ser desenvolvidos grandes esforços no Alentejo para a

implementação de uma unidade de produção de briquetes/pellets a partir do bagaço de

azeitona, podas de oliveira e sarmentos de vinha, com uma capacidade inicial de 9000

toneladas/ano de briquetes/pellets (Sobral, 2000). A concretização deste projecto, iria

contribuir para a criação de postos de trabalho numa região altamente deficitária de

oportunidades de emprego e, por outro lado, seria um importante contributo para o

aproveitamento energético eficaz de resíduos com valor comercial praticamente inexistente,

que todos os anos são queimados no terreno, como é o caso dos ramos das podas. A

possibilidade da instalação de uma linha de produção de pellets foi uma das motivações para a

realização de ensaios numa caldeira doméstica, apresentados nos próximos dois capítulos.

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3 – Metodologia dos ensaios na caldeira

Tal como referido no capítulo anterior, a utilização da biomassa densificada apresenta-se

como um combustível de grande interesse, com algumas melhorias relativamente à madeira.

As pellets de biomassa são utilizadas desde os anos 1970 nos Estados Unidos, tendo-se

tornado mais importantes na Europa a partir dos anos 90, devido à introdução do imposto

sobre as emissões de dióxido de carbono. Verificou-se que existe pouca informação

disponível na literatura aberta, podendo ser devido ao facto da biomassa apresentar um lugar

secundário relativamente a outras fontes de energia e ao facto de ser um tema novo, pelo qual

a sua investigação ainda não se encontra muito divulgada.

Neste capítulo será realizada uma pequena descrição da caldeira doméstica utilizada na

presente tese, assim como a metodologia adoptada e a instrumentação utilizada na avaliação

do seu desempenho energético e ambiental, utilizando diferentes tipos de pellets como

combustível.

3.1 - Descrição da caldeira utilizada

A caldeira utilizada, da marca ECOFOREST modelo ECOAGUA, foi gentilmente cedida pela

empresa TEPAL e apresenta as seguintes características: 895mm de altura, 660mm de largura,

630mm de comprimento, 160kg de peso e capacidade para 60kg de pellets (figura 7).

Figura 7: Caldeira ECOAGUA

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O abastecimento de pellets (figura 8) é feito manualmente através da colocação do

combustível no tegão de abastecimento, localizado na parte superior da caldeira (figura 9).

Figura 8: Pellets utilizadas Figura 9: Tegão de abastecimento

Fonte: ECOFOREST (2001)

Por sua vez, o transporte de pellets para a câmara de combustão é feito através de um parafuso

sem-fim accionado por impulsos, com velocidade regulada através dum pequeno comando

colocado na face direita na caldeira e de acordo com 9 posições pré-definidas, nomeadamente

de 1 a 9 (HI) (ECOFOREST, 2001).

A figura 10 apresenta um esquema da caldeira, identificando a localização do cesto, porta-

cesto, gaveta de remoção de cinzas, ignitor, entrada de ar e painel de comandos.

Figura 10: Esquema da caldeira ECOAGUA

Fonte: ECOFOREST (2001)

As pellets transportadas, ao entrar na câmara de combustão caem por gravidade, através duma

pequena abertura, num pequeno cesto colocado centralmente na parte inferior da câmara de

combustão (figura 10).

Cesto

Porta-cesto

Gaveta de remoção de cinzas

Painel de comandos

Entrada de ar

Ignitor

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55

A ignição das pellets é realizada através de uma resistência eléctrica colocada no lado direito

do cesto referido anteriormente, a qual aumenta a sua temperatura até ficar incandescente. Por

sua vez o aquecimento das pellets dá-se por radiação e convecção de ar, originando a ignição

e a consequente propagação da chama à totalidade das pellets presentes no cesto.

As cinzas produzidas durante a combustão caem por gravidade numa pequena gaveta

colocada na parte inferior da caldeira, tendo estas sido retiradas no final de cada dia de

ensaios (figura 10). A extracção dos gases de dentro da caldeira é realizada através de um

extractor centrífugo colocado junto da entrada da tubagem de exaustão, o qual pode ser

controlado pelo comando referido anteriormente. A velocidade do extractor pode variar de

acordo com 19 posições pré-definidas, numa escala de -9 a 9 (ECOFOREST, 2001). Para

além da regulação referida, a velocidade do extractor é controlada automaticamente, como é o

caso do arranque da combustão e o ajuste automático de acordo com a carga da caldeira

(ECOFOREST, 2001).

3.2 – Descrição da instrumentação utilizada

A caldeira foi colocada num ambiente com temperatura constante (aproximadamente 23-

25ºC), com a parte posterior a cerca de 50 cm da parede e a face direita a cerca de 1m da

parede, de modo a permitir os ajustes necessários à realização dos ensaios. Para o transporte

dos gases de exaustão, foi colocada uma tubagem em alumínio com 10cm de diâmetro na

saída dos gases da caldeira e com ligação ao sistema de exaustão do Laboratório de Análise

de Sistemas Industriais de Queima (LASIQ), no Instituto Superior Técnico.

A instalação de teste da caldeira é apresentada na figura 11, onde se identifica a caldeira assim

como o permutador de calor utilizado para dissipar o calor produzido e para a realização do

balanço térmico. Este permutador recebia a água quente produzida no interior da caldeira,

arrefecendo-a através da utilização da água da rede (aproximadamente a 21-23ºC). Após

arrefecimento, a água era reenviada para a caldeira.

Para a avaliação de comportamento da caldeira foram realizadas medições de temperatura,

composição dos gases de exaustão e de consumo de combustível, pelo que foi necessário

proceder a algumas alterações para a colocação dos respectivos sensores. A caldeira foi

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56

instalada sobre uma pequena báscula com uma resolução de 0.02kg, com o objectivo de

avaliar a taxa de consumo de pellets (WI1 na figura 11).

Figura 11: Representação esquemática da instalação

A válvula V1 da figura 11 representa uma válvula manual de globo, utilizada para o ajuste da

pressão da água no interior da caldeira no início do seu funcionamento, permanecendo

fechada durante os testes. As válvulas V2 e V3 representam válvulas manuais de globo,

utilizadas para regulação do caudal da água da caldeira e do circuito da água de refrigeração,

respectivamente. Os caudais de ambos os circuitos foram medidos através de dois rotâmetros,

tendo sido registados os valores de 1112 litros/h e 874 litros/h para o circuito da água da

caldeira e para o circuito da água de refrigeração, respectivamente (FI1 e FI2 na figura 11).

No circuito da caldeira, a temperatura de entrada e a de saída do permutador de placas foram

registadas através de dois termopares do tipo K com 2mm de diâmetro, designados por TI3 e

TI4 na figura 11. A medição da temperatura do circuito de água externa, foi realizada através

de dois termopares do tipo K com 2 mm de diâmetro, designados na figura 11 por TI1,

colocado na entrada de água, e TI2, colocado na saída da água.

Em determinados testes, estas temperaturas foram igualmente medidas com termopares do

tipo E com 0.5mm de diâmetro, com o objectivo de avaliar o rigor das leituras obtidas. Com

estes termopares confirmaram-se os valores médios obtidos, verificando-se como esperado

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que os termopares de maior diâmetro produziam valores com menor variação, tendo estes sido

escolhidos. Um termopar do tipo E (TI5 na figura 11), com 1.5mm de diâmetro foi

permanentemente instalado na tubagem de exaustão dos gases de combustão. Os valores

analógicos obtidos foram transmitidos através de um conversor A/D para um computador, em

cada 10 segundos, tendo sido registados valores médios em cada 5 minutos, durante a

realização dos ensaios. A tabela 25 apresenta um resumo das características dos termopares

utilizados na instalação.

Tabela 25: Identificação dos termopares

Código Tipo Diâmetro Localização

TI1 K 2mm Entrada de água de arrefecimento no permutador

TI2 K 2mm Saída de água de arrefecimento do permutador

TI3 K 2mm Entrada de água da caldeira no permutador

TI4 K 2mm Saída de água da caldeira do permutador

TI5 E 1.5mm Temperatura dos gases de exaustão

TI6 E 0.5mm Temperatura dos gases de exaustão da zona esquerda da câmara de combustão

TI7 E 0.5mm Temperatura dos gases de exaustão da zona centro da câmara de combustão

TI8 E 0.5mm Temperatura dos gases de exaustão da zona direita da câmara de combustão

TI9 E 0.5mm Temperatura da zona esquerda do leito de combustão

TI10 E 0.5mm Temperatura da zona direita do leito de combustão

Para a medição da temperatura dos gases de exaustão dentro da caldeira, foram colocados

termopares no lado esquerdo, centro e no lado direito da câmara de combustão a uma altura

aproximada de 30 cm acima do leito de combustão (TI6, TI7 e TI8 da tabela 25,

respectivamente). Para medição da temperatura do leito de combustão, foram ainda colocados

dois termopares, um no lado esquerdo e outro no lado direito junto ao fundo do cesto das

pellets (TI9 e TI10 da tabela 25, respectivamente). Nos termopares utilizados nos ensaios não

foi feita a compensação das perdas por energia radiante, pelo que se prevê que as

temperaturas reais sejam ligeiramente superiores.

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58

A composição dos gases de exaustão foi continuamente avaliada durante os ensaios através da

colocação de uma sonda na conduta para a recolha dos gases de exaustão. A amostra de gás

era retirada utilizando o sistema de amostragem do analisador, o qual analisa a composição

dos gases após condensação do vapor de água. A instrumentação analítica incluí um

analisador magnético de pressão para as medições de O2, analisadores infravermelhos não

dispersivos de gás para as medições de CO2 e CO e um analisador de quimioluminiscência

para as medidas de NOX (figura 12). Foram realizadas calibrações do zero e da escala, com

misturas standard antes e após cada sessão de medidas. O valor máximo dos desvios durante

a calibração encontrou-se dentro do intervalo ± 2% da escala máxima.

Figura 12: Analisador dos gases de exaustão Figura 13: Computador e data logger

Tal como na recolha de valores da temperatura, a saída analógica dos analisadores foi

transmitida, através de conversores A/D, para um computador onde os sinais foram

processados e realizadas médias em cada 30 segundos de amostragem (figura 13).

Foram desenvolvidos esforços no sentido de eliminar pontos de fuga de gases enquanto a

caldeira estivesse em funcionamento, através da selagem de todas as juntas e da janela de

visita.

No início dos testes, foram realizadas algumas tentativas para a instalação de uma placa de

orifício calibrado na conduta de admissão de ar. No entanto, a perda de carga induzida foi

significativa, pelo que o caudal de admissão de ar foi influenciado, conforme foi possível

observar pelos valores da concentração de oxigénio nos gases. Por este motivo, a taxa de

consumo de ar teve de ser estimada, com base na taxa de consumo de pellets, na sua

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composição e na composição dos gases de exaustão. Consequentemente, o caudal de gases de

exaustão é daqui em diante calculado, através da equação 14:

1

2

2

.).(

+=+

=F

A

M

X

M

X

M

X

m

m

CO

CO

CO

CO

C

raC

Pellets

Gas

&

& (14)

desprezando a perda de carbono através dos inqueimados. Nesta expressão XCO e XCO2 são as

fracções mássicas nos produtos de combustão em base húmida. A fracção volumétrica de

água foi estimada com base nas fracções volumétricas medidas (YCO, YCO2)db e na relação

molar entre o carbono e o hidrogénio (C/H2) nas pellets (húmidas) através da equação 15:

( )

1

2 12

2

++

=dbCOCO

OH YY

H

C

Y (15)

assumindo a conversão completa do hidrogénio da biomassa e desprezando a humidade do ar.

3.3 – Metodologia dos ensaios

Os ensaios realizados com a caldeira tiveram por objectivo, não só avaliar o seu desempenho

em condições estacionárias de funcionamento, mas também durante a fase de arranque da

combustão, utilizando os diferentes tipos de pellets disponíveis em ambas as situações.

Nos ensaios em condições estacionárias foi avaliado o desempenho da caldeira mantendo

constante a temperatura do circuito de água, abaixo de 40ºC. Em condições reais a capacidade

de dissipação do sistema de aquecimento alimentado pela caldeira pode ser menor que a

capacidade da caldeira, funcionando então esta em períodos interrompidos, regulados através

de um termostato presente no circuito de água da caldeira. Em condições reais, a temperatura

da água na saída da caldeira é, em sistemas de aquecimento central, cerca de 75ºC, sendo um

resultado do sistema de dissipação de calor. Num estudo similar, Granada et al. (2002)

concluíram que a temperatura da água na caldeira tinha uma influência pequena na eficiência,

apesar de esta ser observável.

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Os caudais seleccionados conduziram a uma temperatura baixa da água no circuito de água da

caldeira, com o efeito de maximizar a eficiência da caldeira e de possivelmente aumentar as

emissões de CO. Outra motivação para utilizar a temperatura seleccionada foi a

uniformização de valores, de uma forma simples, independentemente da carga. Desta forma

foram realizados ensaios alterando os seguintes parâmetros: i) variação do caudal de

abastecimento de pellets, ii) variação do ventilador da câmara de combustão e iii) variação

do ventilador com o abastecimento de pellets em regime máximo. Nos ensaios em regime

estacionário foram tomadas providências para que os resultados obtidos não sofressem

influência das variações de condições, pelo que foi atribuída uma margem de tempo nunca

inferior a 30 minutos para que a caldeira apresentasse oscilações mínimas. Em cada regime de

funcionamento foram registados valores em cada 5 minutos e, no mínimo, foram realizados

cinco registos para cada condição de funcionamento. Na análise dos resultados apresentam-se

estimativas dos erros máximos que podem surgir devido à instrumentação, sendo estes valores

comparados com as variações observadas durante os ensaios.

Os ensaios referentes à fase de arranque, tal como os ensaios realizados em regime

estacionário, foram realizados para cada um dos lotes de pellets disponíveis, com o objectivo

de avaliar a evolução da combustão numa fase extremamente crítica como é a do arranque.

Nos ensaios de arranque, procedeu-se à ignição através do isqueiro eléctrico da caldeira e

foram registados valores até apresentar variações desprezáveis ao longo do tempo. Durante

este intervalo de tempo foram realizadas medições, com intervalos de 30 segundos, das

temperaturas de gases em diferentes pontos, temperatura no leito da combustão e

concentrações gasosas nos gases de exaustão.

Para além da aquisição dos dados das espécies e temperaturas, foram ainda determinados

valores médios em sequências de ensaios com o mesmo tipo de pellets para a quantidade de

finos que permaneciam no tegão de abastecimento de pellets e a quantidade de inqueimados

acumulados no cinzeiro da caldeira. Estas últimas amostras, recolhidas no final de uma

sequência de ensaios, foram posteriormente analisadas para determinar a fracção de

inqueimados. Deve ser referido que não foram realizadas medições relativas à quantidade de

partículas presentes nos gases de exaustão. Foi avaliada regularmente a repetibilidade dos

parâmetros da caldeira para todas as condições de funcionamento. Para os ensaios em regime

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estacionário efectuou-se pelo menos uma repetição das mesmas condições de operação em

dias diferentes e para os ensaios de arranque efectuaram-se três ensaios, excepto para uma das

pellets. Para todos os valores medidos, apresenta-se na tabela 26 a incerteza dos resultados

associada à resolução da escala, enquanto no caso dos termopares optou-se por indicar o valor

do desvio padrão médio, conduzindo a uma incerteza de 0.13-0.65ºC para as temperaturas da

água e cerca de 9ºC para a temperatura do gás.

Tabela 26: Análise numérica das grandezas medidas

Grandeza Estimativa de erro

TI1 0.13 ºC1

TI2 0.51 ºC1

TI3 0.40 ºC1

TI4 0.65 ºC1

Termopares

TI5 8.66 ºC1

PCI (base húmida) 566 kJ/kg1

Consumo de pellets 0.02 kg2

Rotâmetro do circuito da água da caldeira

12.5 kg/h3

Rotâmetro do circuito da água de refrigeração

4.37 kg/h3

Tempo 0.01 minutos

1 corresponde ao desvio padrão das observações realizadas 2 segundo dados do fabricante 3 corresponde a 0.5% da escala máxima do rotâmetro, segundo dados do fabricante

Para todas as grandezas calculadas a partir dos valores medidos, estimou-se a sua incerteza

através de análise numérica, utilizando os valores obtidos experimentalmente que maximizam

o erro e os valores da tabela 26 como valores de erro máximo para cada variável.

O caudal de pellets foi calculado com base na variação de massa dividida pelo intervalo de

tempo entre as medições (equação 16):

t

mm pellets

pellets ∆∆

=& [em kg/h] (16)

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onde pelletsm∆ é a variação da massa de pellets (em kg) e t∆ é a variação do tempo (em h). A

incerteza associada ao caudal foi estimada pela equação 17:

2t

m*tE

t

mEmE pelletspellets

pellets ∆∆

∆+∆

∆=& [em kg/h] (17)

tal como todas as outras grandezas, apresenta-se na tabela 27 um valor típico das incertezas

estimadas.

O cálculo da potência fornecida à caldeira foi realizado de acordo com a equação 18:

3600basehúmida pellets,pellets

input

xPCImQ

&

= [em kW] (18)

onde pelletsm& é o caudal de consumo de pellets (em kg/h), humida base pellets,CIP representa o poder

calorífico inferior das pellets, na base húmida (em kJ/kg). O cálculo da incerteza da potência

fornecida (EQinput) foi realizado através da equação 19:

36003600basehumida,pelletspelletsbasehumida,pelletspellets

input

PCI.mEEPCI.mEQ

&&

+= [em kW] (19)

onde basehumida,pelletsEPCI representa o desvio padrão médio do poder calorífico inferior das

pellets na base húmida (kJ/kg), pelletsmE & representa o desvio padrão do caudal mássico das

pellets (em kg/h) e basehumida,pelletsPCI representa o valor do poder calorífico inferior, na base

húmida (em kJ/kg).

O cálculo da potência térmica foi realizado de acordo com a equação 20:

3600

)TT.(c.mQ entradasaídaágua pcaldeira da água

output

−=

& [em kW] (20)

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63

onde cp água é o calor específico da água (em kJ/kg.K), caldeira da águam& é o caudal do circuito da

água da caldeira (em kg/h), saídaT representa a temperatura de saída do circuito da água da

caldeira (correspondente ao TI4 da tabela 25), entradaT representa a temperatura de entrada do

circuito da água da caldeira (correspondente ao TI3 da tabela 25). O cálculo da incerteza da

potência da caldeira foi calculado de acordo com a equação 21 (em kW):

3600

34

3600

34 )ETIETI.(c.m)TITI.(c.mEEQ água pcaldeira da águaágua pcaldeira da água

output

++

−=

&& (21)

onde caldeira da águamE & é o erro do caudal de água da caldeira (em kg/h), ETI3 é o desvio padrão

das leituras observadas da temperatura TI3 (em ºC) e ETI4 é o desvio padrão das leituras

observadas da temperatura TI4 (em ºC).

A perda de energia pelos gases de exaustão foi calculada com base no valor estimado do

caudal, na medida das espécies químicas e na medida da temperatura dos gases, de acordo

com a equação 22:

i

i,298KTI5i,ipelletsGas M

)h(hX Σ x

m

F

AQ

+=3600

1&

, [kW] onde ∫ ==

T

KT pi dTch2980

(22)

onde Xi representa as fracções mássicas dos produtos de combustão em base húmida, Mi

representa as massas moleculares dos produtos de combustão (em kmol/kg), hi representa a

entalpia específica média do gás (em kJ/kmol). O cálculo da incerteza da potência cedida

pelos gases de exaustão foi realizado através da equação 23:

∆+∆

+=36003600

1 pelletsGas

pelletsGásGás

mEh

mhE

F

AEQ

&& (23)

onde E∆hGás representa o desvio padrão da variação da entalpia dos gases de exaustão (em

kJ/kg), considerando apenas a influência da incerteza na temperatura dos gases. Não se

efectuou nenhuma estimativa da influência das variações da composição que também

influenciariam o caudal de gases Gásm& . A segunda parcela considera Gash∆ , a variação média

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da entalpia dos gases de exaustão (em kJ/kg) e pelletsmE & , o desvio padrão do caudal mássico

das pellets (em kg/h).

O cálculo de perdas devido à formação de CO foi realizado de acordo com a expressão 24:

28

))T(h)T(h()T(h)T(h

)T(h)T(h PC

.X . m

Perdas

COCOOO

COCOCO

COgas

CO

2

−−

−−−+

=0

00 2

3600

22

2&

(24)

onde XCO representa a fracção mássica de CO em base húmida, hCO2, hO2 e hCO representam as

entalpias molares do CO2, O2 e CO (em kJ/kmol), respectivamente. A parcela PCCO

representa a entalpia de formação do monóxido de carbono, com o valor 282990 kJ/kmol.

Tabela 27: Valores médios e incertezas das potências calculadas

Fonte de incertezas Valor médio

Incertezas

Caudal de pellets (kg/h) ∆mpellets, ∆tempo 2.6 0.3

Potência fornecida à caldeira (kW) ∆mpellets, ∆tempo, PCIpellets

11.8 1.9

Potência da caldeira (kW) FI2, TI3, TI4 8.8 3.3

Potência perdida pelos gases (kW) ∆mpellets, ∆tempo, TI5 2.6 0.6

A partir da tabela anterior pode-se observar que se espera uma incerteza de 16% para a

potência fornecida à caldeira, consequência directa da incerteza no caudal de pellets. A

incerteza para a potência perdida nos produtos de combustão é cerca de 23%, devido à

influência da temperatura de saída. A potência transferida para o circuito de água da caldeira

tem uma incerteza de 38%, devido à pequena diferença de temperatura no circuito da água.

3.4 – Pellets utilizadas

Os combustíveis utilizados consistiram em três lotes distintos de pellets comercializados em

Portugal, com a designação de A (proveniente de Espanha), B (proveniente do Canadá) e C

(proveniente de Espanha). Na parte final do estudo foi testado um lote de pellets proveniente

da Suécia, designado por pellets D.

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De informações fornecidas oralmente, as pellets do tipo A são fabricadas a partir dos resíduos

produzidos na indústria do mobiliário (essencialmente madeiras exóticas), as pellets do tipo B

são fabricadas a partir de resíduos florestais (nomeadamente pinheiro), as pellets do tipo C

são fabricadas a partir de casca de pinheiro e, por fim, as pellets D são fabricadas a partir de

resíduos de serrações (essencialmente, serradura). Estas últimas são produzidas por um

método diferente, apresentando um diâmetro superior às restantes e ao recomendado pelo

fabricante para a caldeira testada, o que esteve na base do seu abastecimento irregular durante

os testes. Durante a realização dos ensaios foi realizada uma amostragem de cada um dos

lotes de pellets, sendo realizadas análises em laboratório com o fim de determinar alguns

parâmetros físicos e químicos, cujos resultados se encontram na tabela 28, nomeadamente:

� Análise elementar: carbono, hidrogénio, enxofre e azoto;

� Análise imediata: voláteis, humidade e cinza;

� Composição química: celulose, hemi-celulose e lenhina;

� Poder calorífico;

� Ponto de fractura.

A determinação da análise elementar dos diferentes lotes e do poder calorífico inferior das

pellets D foi realizada no Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico. As

determinações da humidade, assim como do teor de cinza nos inqueimados e nas pellets,

foram realizadas no Laboratório de Caracterização de Combustíveis (LCC) do Instituto

Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial e na Área Departamental de Ciência e

Tecnologia dos Alimentos da Escola Superior Agrária de Beja. A determinação da matéria

volátil e do poder calorífico superior das pellets A, B e C foi realizada no LCC. Por último, na

Área Departamental de Ciência e Tecnologia dos Alimentos da Escola Superior Agrária de

Beja foram ainda realizadas as determinações do ponto de fractura e do teor em celulose,

hemi-celulose e lenhina das pellets.

Os resultados obtidos são semelhantes a outros obtidos em madeira (Demirbas, 1997; Yatim

and Hoi, 1987) e em materiais densificados, como é o caso das briquetes (Tabarés et al.,

2000) e pellets (Eskilsson et al., 2002; Granada et al., 2002; Obernberger and Thek, 2002;

Palchonok et al., 2002).

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66

Tabela 28: Características das pellets

A B C D

Norma

Análise elementar (%, daf)

Carbono 46.6 47.2 47.3 46.4

Hidrogénio

ASTM E777-87

6.4 6.3 6.2 6.6

Azoto ASTM E778-87 1.6 <0.3 <0.3 0.3

Enxofre ASTM E775-87 < 0.3 < 0.3 < 0.3 < 0.3

Análise imediata (%, ar)

Humidade TAPPI T264 om-88 6.8 7.1 9.3 8.3

Voláteis ASTM E897-88 74.80 78.10 73.70 n.r.2

Cinzas ASTM D1102-84 0.68 0.28 0.38 0.49

Composição química (%, daf)

Celulose 45.74 51.10 47.88 44.21

Hemi-celulose 22.57 16.79 18.17 19.85

Lenhina

método Van Soest

22.90 27.40 23.71 21.94

PCI (kJ/kg, base húmida)

ASTM D2015-77 16857 16364 16360 16340

Dimensões médias (mm)

Diâmetro 6 6 6 8

Comprimento 13 19 16 17

Ponto de fractura1 (em Newton)

Dias et al., 2002 206.09 241.67 118.97 68.31

1 obtido pelo método da sonda cilíndrica de 2 mm Ø 2 análise não realizada

Verificou-se que todas as pellets apresentam uma composição muito semelhante e com teores

de enxofre muito baixos. A principal diferença na sua composição química reside no teor em

azoto, o qual é mais elevado para as pellets A, uma vez que incluem resíduos de madeira da

indústria do mobiliário. As pellets D apresentaram uma maior facilidade para a fractura,

conforme se pode verificar pelo valor do ponto de fractura (tabela 28). Deve ser referido que

os sacos de transporte das pellets D apresentaram um teor de finos muito superior quando

comparado com as restantes pellets.

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67

3.5 – Transferência de energia na caldeira

Nesta secção apresentam-se elementos básicos de transferência de calor por convecção e por

radiação de modo a poder realizar-se uma estimativa da importância relativa destes

mecanismos.

Figura 14: Esquema simplificado da caldeira (unidades em cm)

34

5 24 5

20

13 24

18

33

6 7 5

16

20

Vista frontal Vista lateral

No cálculo da transferência de energia por radiação considerou-se um modelo muito

simplificado da caldeira, tendo em conta apenas as superfícies mais relevantes para a

transferência de energia radiante, nomeadamente tecto da câmara de combustão, leito da

câmara de combustão e superfícies adiabáticas. As dimensões aproximadas da região da

caldeira envolvida na transferência de energia radiante encontram-se na figura 14 .

Nesta abordagem considerou-se como tecto da câmara de combustão, a zona de entrada do

escoamento nos tubos de passagem de água da caldeira. O leito da câmara de combustão é a

região onde se processa a combustão das pellets, com a consequente emissão de energia

radiante, que se considerou ser totalmente transferida para os tubos da caldeira. Na realidade

existem algumas perdas de calor pelas superfícies laterais e principalmente pela janela que

foram desprezadas. Deste modo a radiação é transferida entre o leito e os tubos de uma forma

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68

directa e através das restantes superfícies que se consideraram adiabáticas ou re-radiantes,

permitindo definir o análogo eléctrico apresentado na figura 15. O gás na câmara de

combustão absorve parte da radiação transferida e emite também radiação. O valor da

emissividade para a composição e temperaturas medidas foi da ordem de 0.1 pelo que o seu

efeito na absorção da radiação transferida é pequena. Por outro lado como o gás poderá atingir

temperaturas superiores às do leito, pode aumentar a radiação fornecida aos tubos em relação

a esta estimativa.

Figura 15: Representação das trocas radiativas entre as superfícies da caldeira

Leito de combustão Tubos

Superfícies adiabáticas

Com esta estimativa pretendeu-se acima de tudo obter um valor para a energia radiante

máxima possível, tendo em conta as condições de funcionamento da caldeira e a sua

geometria. Para realizar um cálculo mais real, seria necessário realizar medições de

temperatura mais rigorosas com outro tipo de instrumentação que não se encontrava

disponível durante o período de realização dos ensaios. Na presente estimativa foram

consideradas as dimensões da caldeira apresentadas no esquema da figura 14, assumindo

valores máximos para a emissividade das superfícies consideradas (tabela 29):

Tabela 29: Propriedades das diferentes superfícies da caldeira

Superfícies Área (m2) εεεε

Tecto da câmara de combustão 0.0612 1.0

Leito da câmara de combustão 0.0144 1.0

Superfícies adiabáticas 0.3900 -

A tabela 30 apresenta os factores de forma Fij para a caldeira, calculados a partir das

dimensões apresentadas na figura 14 e a partir das expressões para cálculo de factores de

forma entre superfícies paralelas e superfícies perpendiculares (Azevedo, 2000).

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69

Tabela 30: Factores de forma

j Tecto

Leito combustão

Superfícies reflectoras

Soma

Tecto - 0.043 0.957 1.000

Leito combustão 0.178 - 0.822 1.000

Superfícies adiabáticas 0.150 0.030 0.820 1.000

Com base no análogo eléctrico apresentado, a troca de calor entre o leito e o tecto pode ser

calculado a partir da expressão 25 (Incropera and DeWitt, 1990):

( ) ( )[ ]( )44

1

1

11

111

TL

TT

T

TRTLRLLTLLL

L

TT..

AFA/FA/FAA

Q −

−+

+++

−=

σ

εε

εε [em W] (25)

onde Q é a energia recebida pelo tecto (em W), εL é a emissividade do leito, εT é a

emissividade do tecto, AL é a área do leito de combustão da caldeira (em m2), FLT é o factor de

forma do leito para o tecto, AT é a área do tecto (em m2), FLR é o factor de forma do leito para

as superfícies adiabáticas, FTR é o factor de forma do tecto para as superfícies adiabáticas, σ é

a constante de Stefan-Boltzmann (5.670x10-8 W/m2.K4), TL é a temperatura do leito de

combustão (em K) e TT é a temperatura do tecto (em K).

Tendo em conta as constantes εL = εT = 1 (tabela 29), a expressão anterior pode escrever-se da

seguinte forma (equação 26):

).(.11

1 44TL

TRTLRL

LTL TT

FAFA

FAQ −

++= σ [em W] (26)

O cálculo da transferência de calor por convecção dos produtos de combustão para a

superfície dos tubos foi calculado a partir da equação 27, desprezando a resistência térmica

por condução na parede do tubo:

i

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70

LN

intint

ext

ext

T.F.A.

hD

D

h

Q ∆

+=

11

[em W] (27)

onde hext é o coeficiente de convecção de ar no exterior dos tubos (em W/m2K), hint é o

coeficiente de convecção da água dentro dos tubos (em W/m2.K), A é a área da superfície

externa dos tubos (em m2), ∆TLN é a diferença de temperatura média logarítmica e F é o factor

de correcção para a diferença média de temperatura efectiva. Considerando que a temperatura

da água tem uma variação muito pequena, pode-se aproximar este factor por 1. A área de

transferência para a convecção foi calculada com base nos tubos que se conseguiram observar

pela parte interior da caldeira, no entanto não foi possível a confirmação do seu número

exacto junto do fabricante.

O cálculo do coeficiente de convecção de ar no exterior dos tubos (hext) foi realizado a partir

da expressão 28:

D

kNuh

k

DhNu Dext

extD .

.=⇔= [em W/m2K] (28)

onde k é a condutividade térmica do ar (W/m.K), D é o diâmetro exterior dos tubos (em m) e

DNu é a correlação do número de Nusselt, calculado segundo a expressão 29:

NT.m

DD CPrReCNu 360= (29)

onde C e m são parâmetros em função do arranjo dos tubos e do número de Reynolds, ReD,

que é calculado com a velocidade máxima no feixe dos tubos. Para o arranjo de tubos

considerados os valores são C = 0.683 e m = 0.466, para 102 < Re < 103, e C = 0.27 e m = 0.63

para 103< Re <2*105. CNT é um factor correctivo utilizado para ter em conta o efeito de um

número pequeno de tubos na direcção do escoamento que neste trabalho foi considerado

como CNT = 0.92. O cálculo do coeficiente de convecção da água no interior dos tubos (hint)

foi realizado a partir da equação 30:

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71

intDint

intintD D

k.Nuh

k

D.hNu =⇔= [em W/m2.K] (30)

onde k é a condutividade térmica da água (W/m.K), Dint representa o diâmetro interior do tubo

(em m) e NuD é o número de Nusselt calculado com base na correlação de Dittus-Boelter

(equação 31):

n/DD PrRe.Nu 540230= (31)

onde n = 0.4 no aquecimento (Incropera and DeWitt, 1990).

Para além da análise da transferência de calor pelos modelos simples expostos, pode-se

avaliar o calor transferido por convecção, efectuando um balanço de energia ao caudal de

gases que atravessa os tubos da caldeira, através da equação 32:

)TT.(c.m

Q saídaGásentrada Gásgases pgas −=

3600

& [em W] (32)

onde Q é a energia cedida pelos gases (em W), TGás entrada é a temperatura dos gases no topo da

câmara de combustão, antes da passagem pelos tubos (em ºC) e TGás saída é a temperatura dos

gases à saída da caldeira, depois da passagem pelos tubos (em ºC).

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72

4 – Resultados obtidos na caldeira

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos na avaliação do comportamento

energético e ambiental da caldeira utilizada na presente tese, operando em condições

estacionárias e durante a fase de arranque. Esta avaliação irá incidir na interpretação dos

resultados obtidos no balanço de energia e na monitorização da evolução das diferentes

espécies gasosas dos gases de exaustão.

4.1 – Ensaios em regime estacionário

4.1.1 – Rendimento térmico da caldeira

Nesta secção apresenta-se a estimativa do rendimento térmico da caldeira, utilizando o

método directo, isto é, estimam-se a potência fornecida e a potência térmica útil. Este

rendimento foi calculado com base nos balanços de energia realizados para os dois circuitos

do permutador de calor – água da caldeira e água de refrigeração - onde se verificou uma boa

correlação conforme ilustrado na figura 16 e por este motivo o cálculo do rendimento térmico

da caldeira foi realizado em função do balanço de energia da água da caldeira.

Figura 16: Correlação entre o circuito da caldeira e o da água de refrigeração

2

4

6

8

10

12

14

2 4 6 8 10 12 14

Circuito da caldeira (kW)

Circ

uito

de

refri

gera

ção

(kW

)

Como se tinha observado no ponto 3.3, a potência térmica apresentou uma grande incerteza

(38%) mas constatou-se que nas medições efectuadas o desvio padrão médio foi 5%, o que se

pode atribuir à grande inércia térmica. Para o caso da potência fornecida e das perdas de

energia pelos gases de exaustão, observaram-se valores superiores para o desvio padrão (cerca

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73

de 15-17%), mais próximos dos valores estimados de incerteza (21-23%).

Tabela 31: Desvio padrão e estimativa da incerteza

Parâmetros Potência fornecida

Potência térmica

Perdas nos gases de exaustão

Gama de valores medidos (kW) 5.1 - 12.2 3.0 - 13.2 1.4 - 3.7

Desvio padrão (kW) 1.5 0.4 0.4

Incerteza (kW) 1.9 3.3 0.6

A figura 17 apresenta a potência térmica da caldeira em função da potência fornecida, de

acordo com as expressões 18 e 20. Neste gráfico foram tidas em conta a média e o desvio

padrão de todos os ensaios realizados nas diferentes condições de funcionamento da caldeira,

incluindo variações na regulação do caudal do ventilador para cargas iguais, tendo-se

verificado uma correlação quase linear. Com base nestes resultados, pode concluir-se que o

rendimento da caldeira, baseado no poder calorífico inferior do combustível, é cerca de 65 a

77%, relativamente a uma potência térmica de 3 a 13kW. Estes valores são superiores aos

observados por Granada et al. (2002) que obtiveram um valor máximo de 60% para uma

caldeira do mesmo tipo da usada neste estudo, mas operando com uma temperatura da água

de 75ºC. Mais comparações com os valores obtidos por aqueles autores serão incluídas na

secção seguinte.

Figura 17: Potência térmica da caldeira

y = 0.821x - 0.838

0

2

4

6

8

10

12

14

16

4 6 8 10 12 14 16 18

Potência fornecida (kW)

Po

tênc

ia té

rmic

a (k

W) Média

Desvio padrão

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74

4.1.2 – Perdas na caldeira

Para caracterizar as perdas de energia na caldeira, são apresentados valores para perdas de

energia devido ao calor sensível dos gases de exaustão, perdas de energia devido à formação

de monóxido de carbono e perdas de energia no carbono inqueimado recolhido no colector de

cinzas por baixo do cesto das pellets.

As perdas de calor nos gases dependem da sua temperatura que é apresentada em função da

potência fornecida, na figura 18. Os resultados obtidos permitiram concluir que existe uma

correlação linear entre estes valores, verificando-se que existem poucos ensaios que

apresentam um desvio superior à incerteza estimada. O aumento da temperatura de saída dos

gases com a potência resulta de se atingirem maiores temperaturas devido à menor

estequiometria (analisada na secção 4.1.3) e ao menor tempo de residência dos gases na

caldeira permitindo trocar menos calor.

Figura 18: Temperatura dos gases em função da potência fornecida

0

100

200

300

400

4 6 8 10 12 14 16 18

Potência fornecida (kW)

Gas

es d

e ex

aust

ão (

ºC)

TIPO A

TIPO B

TIPO C

TIPO D

A figura 19 apresenta as perdas por calor sensível em função da potência fornecida. Os

valores observados apresentaram uma maior dispersão do que na figura 17, mas pode

igualmente ser ajustada a uma equação linear. A dispersão de pontos pode ser atribuída à

inclusão neste gráfico de vários valores registados em diferentes condições de velocidade do

ventilador, sob dois diferentes regimes de carga da caldeira e, portanto, o excesso de ar é

diferente para cargas semelhantes. A partir da correlação obtida podem estimar-se as perdas

de calor sensível nos gases entre 32% e 20% da potência fornecida, quando a potência útil da

caldeira varia entre 3 e 13kW.

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75

Figura 19: Perda de energia nos gases de exaustão

y = 0.162x + 0.7358

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

4 6 8 10 12 14 16 18

Potência fornecida (kW)

Per

das

nos

gas

es (

kW) Média

Desvio padrão

A tabela 32 apresenta alguns dados medidos relativos à combustão incompleta das pellets

colocadas no tegão de abastecimento, em função da potência fornecida. Tal como pode ser

observado, a quantidade de finos no tegão foi muito inferior nas pellets B, o que se pode

correlacionar com os maiores valores registados para o ponto de fractura (tabela 28).

Observou-se que as pellets D apresentam maior quantidade de finos no tegão e abaixo do

cesto do que as restantes, possivelmente devido ao facto do seu diâmetro ser superior ao

recomendado para a presente caldeira, o que poderá estar igualmente na base, em alguns

casos, da fraca eficiência do sistema de transporte, acumulando maior quantidade de finos.

Tabela 32: Dados referentes à combustão incompleta

Pellets A B C D

Finos presentes no tegão de abastecimento (% mássica)

1.8 0.26 2.0 2.8

Partículas recolhidas na gaveta de cinzas (% mássica)

0.39 0.37 0.38 0.55

Carbono inqueimado nas partículas recolhidas na gaveta de cinzas (% mássica)

16.6 15.6 32.5 41.5

Perda de energia nos finos (% potência fornecida)

0.13 0.12 0.25 0.46

Perda de energia devido à formação de CO nos gases de exaustão (% potência fornecida)

0.92 0.92 0.92 1.94

A quantidade de finos recolhidos na gaveta de cinzas foi semelhante para as pellets A, B e C,

mas foi superior no caso das D. Este facto pode ser resultado de uma combinação de

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76

diferentes efeitos, como é o caso da maior quantidade de finos no tegão e dos valores de

excesso de ar verificados. A fracção de carbono inqueimado nas cinzas de fundo foi superior

nas pellets C e D, levando a maiores perdas na combustão devido a inqueimados, tal como se

pode observar na tabela 32. A massa de cinzas recolhidas abaixo do leito das pellets foi

calculada com base na tabela 28 e observou-se que representam cerca de 0.3% da massa das

pellets consumidas para as pellets A, B e D e cerca de 0.25% para as pellets C. No caso das

pellets B este valor corresponde à quantidade total de cinzas nas pellets e, portanto, prevê-se

que a quantidade de cinzas volantes apresentem neste caso o valor mais baixo. Prevê-se para

as pellets A a maior quantidade de cinzas volantes.

Tal como mencionado anteriormente, não foram medidas as partículas nos gases e,

consequentemente, as perdas energéticas associadas não foram quantificadas. De facto, este

deverá ser um aspecto a ter em conta em trabalhos futuros, uma vez que as partículas

emitidas, para além de constituírem uma perda de energia, têm grande importância em termos

de emissões. No entanto, deve ser referido que foi observada uma grande quantidade de finos

na saída da conduta de exaustão, assim como um grande depósito de partículas nos tubos da

caldeira, o qual era removido diariamente.

As perdas de energia associadas com a formação de CO foram calculadas a partir dos valores

medidos e os resultados são igualmente apresentados na tabela 32. Esta perda de energia

representa cerca de 1% para as pellets A, B e C, enquanto que para as D representa cerca do

dobro. Esta diferença deve-se, em parte, ao facto dos ensaios para as pellets D

corresponderem a potências menores e maiores valores de excesso de ar. A concentração de

CO nos gases de exaustão será discutida mais adiante.

A diferença entre a potência fornecida e a soma de todas as perdas de energia estimadas foi de

120 a 220 W. Estes valores são inferiores à exactidão do método do seu cálculo, pelo que

apenas têm significado qualitativo. Não foram realizadas estimativas para as perdas de calor

para o ambiente no âmbito deste trabalho, mas este valor deve ser superior ao valor referido

anteriormente, especialmente através da janela de visita da caldeira. No trabalho de Granada

et al. (2002) a diferença entre a potência fornecida e a soma da potência útil com o calor

sensível nos gases correspondeu a cerca de 20% da potência fornecida, enquanto nesta tese a

diferença foi inferior a 3%. As perdas para o ambiente devem representar um valor intermédio

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77

aos dois valores referidos.

4.1.3 – Emissões da caldeira

A figura 20 mostra a variação do oxigénio medido nos gases de exaustão em função da

potência fornecida à caldeira, para a velocidade normal de funcionamento do ventilador.

Figura 20: Concentração de O2 nos gases de exaustão

8

10

12

14

16

18

20

4 6 8 10 12 14 16 18

Potência fornecida (kW)

O2

med

ido

(bas

e se

ca %

)

TIPO A

TIPO B

TIPO C

TIPO D

A regulação automática da caldeira ajusta o excesso de ar em função da sua carga. Para as

pellets D, os valores mais elevados da regulação da carga corresponderam a uma potência

fornecida de 10kW, enquanto que para as restantes pellets correspondeu a 17kW. O excesso

de ar, no entanto, é regulado de acordo com a potência útil e não directamente pela regulação

da carga. Este facto é uma consequência da taxa de abastecimento mais baixa observada para

as pellets D quando comparada com as outras pellets, para ajustes idênticos da caldeira. Tal

como é possível observar pela figura 20, a relação entre a potência fornecida e a concentração

de O2 nos gases de exaustão é linear, por este motivo as emissões de poluentes analisados em

seguida serão expressas em função da concentração do oxigénio.

A figura 21 mostra a emissão de CO da caldeira em função da concentração de oxigénio nos

gases de exaustão. Esta figura mostra que as emissões de CO atingiram um valor mínimo de

500 mg/Nm3 @ 13% O2 quando a concentração de O2 é próxima do valor de referência na

normalização. Este valor é idêntico ao verificado para caldeiras de aquecimento central,

alimentada a estilhas de madeira (Strehler, 1998). Para valores mais baixos de O2, verificou-se

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a formação de maiores teores de CO, o que poderá ser devido ao reduzido tempo de residência

ou a uma mistura insuficiente com o oxidante. Os valores mais elevados de O2

corresponderam a valores mais baixos da potência fornecida à caldeira, reduzindo a

temperatura dos gases e, consequentemente, levando à formação de maiores teores de CO.

Figura 21: Emissões normalizadas de CO em função do oxigénio

200

700

1200

1700

2200

8 10 12 14 16 18

O2 (%)

CO

(m

g/N

m3 @

13%

O2 )

TIPO A

TIPO B

TIPO C

TIPO D

A figura 22 mostra as emissões de NOX, evidenciando comportamentos distintos para as

diferentes pellets.

Figura 22: Emissões normalizadas de NOX em função do oxigénio

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

8 10 12 14 16 18

O2 (%)

NO

x (m

g/N

m3 @ 1

3% O

2 ) TIPO A

TIPO B

TIPO C

TIPO D

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79

Para as pellets A, com teores significativos de azoto na sua composição (1.6%), verificou-se

que as emissões de NOX aumentam com o excesso de ar. Para as restantes pellets, as emissões

de NOX não variaram com o excesso de ar, com valores constantes para cada tipo de pellets,

podendo este facto estar relacionado com os seus baixos teores de azoto, ou seja, cerca de

0.3% para as pellets D e teores inferiores ao limite de detecção do analisador para as pellets B

e C. No caso das pellets D foi realizado um número muito limitado de testes pelo que a

influência do excesso de ar deve ser interpretada com reservas.

As variações observadas do teor em NOX em função do O2 (figura 22) confirmam as

observações realizadas por Eskilsson et al. (2002) na combustão de diferentes tipos de pellets.

Na tabela 33 é possível observar alguns resultados relativos à conversão de NOX em dois dos

quatro tipos de pellets utilizados na presente tese, verificando-se o aumento da formação de

NOX com o teor de azoto na matéria-prima (menos que proporcional), mas por outro lado, a

sua taxa de conversão em NOX diminui. Os resultados observados por Eskilsson et al. (2002)

apresentaram resultados e evoluções semelhantes.

Tabela 33: Conversão do azoto em NOX

Este trabalho Eskilsson et al. (2002)

Azoto no combustível (%, daf) 1.6 0.3 0.2 0.05

NOX nos gases de exaustão (mgNOX/Nm3 @ 13% O2)

600 355 292 100

Conversão do azoto do combustível em NOX 0.2 0.5 0.5 0.8

A taxa de conversão foi calculada pela equação 33:

pelletsN

PTNgases

gasesX

Xpellets mX

mNO

/NON Conversão&

&

.

).46/14.(

,ρ= (33)

onde NOX representa a concentração destes compostos nos gases de exaustão (em mg/Nm3,

em db), gasesm& representa o caudal dos gases de exaustão (em kg/s), ρgases,PTN representa a

massa específica dos gases de exaustão em condições PTN, XN representa a fracção mássica

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de azoto no combustível (mg/kg pellets, em daf) e pelletsm& representa o caudal de pellets (em

kg/s).

4.1.4 – Análise da transferência de calor na caldeira

A medição da temperatura dos gases no interior da câmara de combustão da caldeira, durante

os ensaios em condições estacionárias, apresentou valores desde 315ºC a 614ºC (tabela 34).

Os valores mais elevados verificaram-se nos ensaios realizados na carga máxima (carga 9),

com valores cerca de 500 a 615ºC, por outro lado, nos ensaios realizados na carga normal de

funcionamento (carga 5) a temperatura dos gases apresentou valores cerca de 315 a 480ºC.

Tabela 34: Temperatura dos produtos de combustão no interior da caldeira

Temperaturas (ºC) Carga Ventilador

Esquerda Centro Direita

5 9 421.4 341.3 451.1

5 5 442.8 341.6 448.5

5 0 441.0 326.6 416.2

5 -5 454.4 358.1 460.2

5 -9 429.2 315.1 481.8

9 9 580.2 501.9 550.0

9 5 574.9 495.0 541.7

9 0 595.7 539.5 533.5

9 -5 614.2 561.5 525.7

9 -9 605.4 580.8 541.3

É possível verificar que para a potência intermédia (carga 5), observaram-se valores mais

baixos de temperatura na região central da câmara de combustão, possivelmente devido à

formação de um leito mais alto no centro para esta carga, promovendo maior circulação de ar

e combustão nas zonas laterais. Para a carga mais elevada, as temperaturas do lado esquerdo

foram mais elevadas, onde se situa a admissão e posteriormente a exaustão do sistema de

ventilação. Verificou-se que a velocidade do ventilador não apresenta grande influência na

variação da temperatura dos gases.

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Tendo em conta a metodologia descrita no ponto 3.5, foram estimados valores para a

contribuição da transferência de calor por radiação e por convecção no balanço de energia da

caldeira. Para a radiação, como referido, não foram efectuadas medições da temperatura dos

gases na zona principal de combustão, pelo que se limitou a análise à troca de calor entre o

leito e os tubos. Efectuaram-se medições da temperatura na base do leito durante a fase de

arranque da caldeira permitindo observar valores até 1000ºC, valor limite dos termopares

utilizados. Durante a combustão heterogénea das pellets observam-se valores de temperatura

desta ordem, enquanto que durante a fase de combustão dos voláteis observam-se valores na

superfície das partículas da ordem dos 1400ºC (Palchonok et al., 2002). Ao aumentar a carga

da caldeira, a mistura das pellets é maior pelo que estas se espalham em todo o leito quando

caem, enquanto no caso da carga intermédia as pellets podem formar uma pirâmide e nesse

caso a zona de libertação de voláteis não se estende a todo o leito. Deste modo para a

estimativa realizada considerou-se a temperatura do leito de 1200ºC para a carga 5 e de

1400ºC para a carga 9.

A tabela 35 resume os resultados obtidos nos ensaios práticos realizados e os obtidos através

das estimativas do balanço de energia aos gases e as potências transferidas por convecção e

radiação.

Tabela 35: Transferência de energia na caldeira

Cargas Potências, em kW

Média Máxima Valores medidos

1 - Potência térmica da caldeira 6.5 13

2 - Balanço de energia ao gás no permutador 2.8 5.4

Valores estimados

3 - Transferência de energia por convecção 2.8 6.0

4 - Transferência de energia por radiação 3.3 5.4

SOMA 3 + 4 6.1 11.4

De acordo com a tabela 35 é possível observar que todas as parcelas aumentaram com a

potência. No caso da radiação, este resultado é uma consequência directa das hipóteses

assumidas, pois não se efectuaram medições da temperatura dos gases na fornalha. A potência

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82

transferida do gás aumentou devido ao aumento da temperatura na combustão e do caudal, o

que também contribuiu para o aumento do coeficiente de convecção. A partir dos valores

obtidos é possível observar uma boa concordância entre os valores estimados a partir do

balanço de energia e o calculado para o calor transferido por convecção, apesar de algumas

dúvidas sobre a configuração exacta do permutador e a possível não uniformidade do

escoamento. A diferença entre a potência transferida para a água e a que é transferida por

convecção deve ser transferida para os tubos por radiação. Este valor aparentemente é

subestimado no método simplificado apresentado. Apesar de existirem perdas e do gás

absorver parte da radiação transmitida, o facto de existir combustão sobre o leito promove o

aumento da temperatura dos gases que pode transferir calor por radiação para os tubos. Uma

análise mais detalhada destas trocas de calor só se torna possível com um conhecimento mais

detalhado da distribuição de temperatura que não foi caracterizada. Os resultados obtidos

nesta análise revelam que, no caso considerado, a transferência de calor por convecção e por

radiação são igualmente importantes e sugerem que a parcela de radiação aumenta de

importância com a carga.

4.2 – Ensaios de arranque da caldeira

4.2.1 - Propagação da combustão no leito

O arranque da caldeira foi realizado, em todos os ensaios, a partir do isqueiro eléctrico da

própria caldeira, localizado na região direita do leito de pellets, procedendo-se ao início da

contagem do tempo quando se verifica que a concentração de oxigénio começa a descer e

quando se observa a presença de chama visível. Verificaram-se, contudo, diferentes valores

para o início da contagem do tempo nos diferentes tipos de pellets, possivelmente devido à

maior ou menor presença de finos. Em seguida, a frente de combustão avança em direcção ao

lado esquerdo, observando-se que todo o leito entra em combustão ao fim de 8-12 minutos. A

maior ou menor velocidade da frente de combustão depende das características das pellets,

como é o caso do seu teor em voláteis.

Verificou-se que após o estabelecimento da combustão em todo o leito, o valor da

temperatura apresenta oscilações, de maior ou menor amplitude dependendo do tipo de

pellets. Assim, com excepção das pellets C, verificou-se que a temperatura do lado esquerdo

do leito de combustão é superior à do lado direito, apresentando em média valores cerca de

600 a 800ºC. De facto, os valores são semelhantes a outros observados na combustão de palha

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83

e madeira (Werther et al., 2000), mas inferiores aos observados por Palchonok et al. (2002)

na superfície das pellets, no entanto os valores foram medidos na base do leito e o termopar

não se encontrava fixo a nenhuma pellet em particular. Adicionalmente, deve referir-se que se

utilizaram termopares do tipo E que estão limitados a temperaturas inferiores a 1000ºC.

Figura 23: Temperatura da extremidade direita do leito de combustão, durante o arranque

0

200

400

600

800

1000

1200

0:00 0:04 0:08 0:12 0:17 0:21 0:25 0:30Tempo (h:mm)

Tem

pera

tura

(ºC

)

TIPO A TIPO BTIPO C TIPO D

Figura 24: Temperatura da extremidade esquerda do leito de combustão, durante o arranque

0

200

400

600

800

1000

1200

0:00 0:04 0:08 0:12 0:17 0:21 0:25 0:30Tempo (h:mm)

Tem

pera

tura

(ºC

)

TIPO A

TIPO B

TIPO C

TIPO D

Para as pellets D, como a combustão diminuiu de intensidade após os 12 minutos (figura 23)

torna-se mais difícil a sua caracterização. Os valores máximos de temperatura atingidos em

ambos os lados são comparáveis aos obtidos para outros testes realizados em pellets

(Palchonok et al., 2002), durante a combustão heterogénea. A evolução verificada para a

Eliminado: ¶¶Para as pellets D, como a combustão diminuiu de intensidade após os 12 minutos (figura 23) torna-se mais difícil a sua caracterização. Os valores máximos de temperatura atingidos em ambos os lados são comparáveis aos obtidos para outros testes realizados em pellets (Palchonok et al., 2002), durante a combustão heterogénea.

Eliminado: ¶

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extremidade esquerda do leito das pellets encontra-se representada na figura 24, verificando-

se um atraso de cerca de 4 minutos relativamente ao lado direito (figura 23).

O cálculo da velocidade de propagação da combustão foi realizado com base na distância

entre os dois sensores de temperatura colocados nas extremidades do leito (240mm) e no

tempo mediante entre o aparecimento do pico de temperatura no lado direito e no lado

esquerdo (tabela 36). Assim, verificou-se que as pellets C apresentaram o valor mais elevado

da velocidade de propagação da frente de combustão (0.080cm/s), seguido das pellets D e B

(com cerca de 0.065cm/s). As pellets A apresentaram a velocidade de propagação de

combustão mais baixa, com uma velocidade de 0.034cm/s (tabela 36).

Tabela 36: Temperatura no leito de combustão, durante o arranque

Pellets A B C D

Lado direito do leito de combustão

Temperatura máxima (ºC) 968.4 944.3 928.5 873.9

Taxa de aquecimento até 600ºC (ºC/s) 1.61 1.44 2.13 2.46

Tempo para atingir 600ºC (mm:ss) 06:53 07:26 04:50 04:06

Lado esquerdo do leito de combustão

Temperatura máxima (ºC) 999.5 994.4 709.6 940.9

Taxa de aquecimento até 600ºC (ºC/s) 0.71 0.90 0.96 0.87

Tempo para atingir 600ºC (mm:ss) 15:25 12:16 10:47 10:13

Velocidade de propagação da chama (cm/s) 0.034 0.065 0.080 0.065

Relativamente às taxas de aquecimento no lado direito do leito, as pellets D apresentaram o

maior valor (2.46ºC/s), seguido das pellets C (2.13ºC/s), das pellets A (1.61ºC/s) e das pellets

B (1.44ºC/s). No que diz respeito à taxa de aquecimento no lado esquerdo as taxas de

aquecimento não apresentaram diferenças tão evidentes, com valores entre 0.71ºC/s e

0.96ºC/s. Devido ao facto da colocação dos termopares no cesto das pellets ter sido realizada

num local abaixo do ponto de combustão, os valores reais da temperatura na zona principal de

combustão poderão ser superiores aos observados.

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85

4.2.2 – Evolução da temperatura dos gases de exaustão

As figuras 25 a 27 mostram a evolução da temperatura dos gases em três regiões distintas da

câmara de combustão da caldeira, na parte superior da câmara, próximo dos tubos e cerca de

30 cm acima do leito de combustão, nomeadamente: a região central, a região direita e a

região esquerda da câmara. Os resultados referentes às pellets A a C correspondem à média de

três ensaios de arranque, mas no caso das pellets D, devido à limitada quantidade disponível,

apenas foi possível realizar um ensaio de arranque.

Verificou-se, para todas as pellets e para as diferentes regiões da câmara, que a temperatura

atingiu um pico máximo aos 10-12 minutos, estabilizando em seguida até cerca dos 30

minutos, tempo ao fim do qual se considerou que a caldeira entrou em regime estacionário de

funcionamento, sendo interrompida a recolha de dados e considerada a fase de arranque

concluída. Os perfis de temperatura durante o arranque mostram que para todas as posições

existe um pico de temperatura seguido de uma pequena redução, sendo este efeito mais

pronunciado no centro. Este comportamento é atribuído à maior intensidade de combustão

logo após a ignição, quando a quantidade de pellets no leito é superior à do regime

estacionário.

Os valores mais elevados de temperatura ocorreram na região central de câmara, com valores

médios cerca de 300-400ºC utilizando as pellets A, B e C, mas apenas 174ºC utilizando as

pellets D (tabela 37). A taxa de aquecimento dos gases nesta região variou entre 0.67ºC/s

(pellets A) e 1.22ºC/s (pellets B). A diferença verificada entre as pellets B e as restantes,

poderá estar relacionada com o facto destas apresentarem um teor de voláteis superior (cerca

de 78.1% da massa, base ar), o que leva a que inicialmente haja uma maior disponibilidade de

voláteis para combustão (tabela 28). É visível que as pellets D apresentaram uma temperatura

média menor que as restantes, apesar de na fase de ignição e propagação da combustão no

leito ter um comportamento semelhante. Tal como referido anteriormente, apenas se efectuou

um ensaio de arranque para estas pellets e verificaram-se instabilidades na alimentação

associado ao facto de apresentar um diâmetro superior, o que provocou um transporte não-

uniforme desde o tegão até ao leito de combustão, originando o arrefecimento dos gases.

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86

Figura 25: Temperatura dos gases no lado esquerdo da câmara, durante o arranque

0

100

200

300

400

0:00 0:05 0:10 0:15 0:20 0:25 0:30

Tempo (h:mm)

Tem

pera

tura

(ºC

)

TIPO A

TIPO B

TIPO C

Figura 26: Temperatura dos gases no centro da câmara, durante o arranque

0

100

200

300

400

500

600

0:00 0:05 0:10 0:15 0:20 0:25 0:30

Tempo (h:mm)

Tem

pera

tura

(ºC

)

TIPO A TIPO BTIPO C TIPO D

Figura 27: Temperatura dos gases no lado direito da câmara, durante o arranque

0

100

200

300

400

500

0:00 0:05 0:10 0:15 0:20 0:25 0:30

Tempo (h:mm)

Tem

pera

tura

(ºC

)

TIPO A

TIPO B

TIPO C

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87

Os valores médios observados no lado direito da caldeira foram ligeiramente inferiores aos

observados da região central, cerca de 230 e 370ºC, com um comportamento semelhante entre

pellets. A taxa de aquecimento foi inferior ao verificado na região central, com valores entre

0.46ºC/s (pellets C) e 0.58ºC/s (pellets B). Finalmente, no lado esquerdo, as temperaturas

médias foram ligeiramente inferiores, próximos de 250-290ºC, com uma taxa de aquecimento

não superior a 0.44ºC/s (pellets B).

Tabela 37: Temperatura no interior da câmara de combustão, durante o arranque

Pellets A B C D

Lado esquerdo da caldeira

Temperatura máxima (ºC) 307 344 277 -

Tempo do pico de temperatura (mm:ss) 15:14 13:00 12:16 -

Taxa de aquecimento (ºC/s) 0.34 0.44 0.38 -

Temperatura média (ºC) 288 267 242 -

Parte central da caldeira

Temperatura máxima (ºC) 509 559 488 372

Tempo do pico de temperatura (mm:ss) 12:38 07:37 10:24 08:22

Taxa de aquecimento (ºC/s) 0.67 1.22 0.78 0.74

Temperatura média (ºC) 361 388 306 174

Lado direito da caldeira

Temperatura máxima (ºC) 380 438 293 -

Tempo do pico de temperatura (mm:ss) 13:12 12:38 10:36 -

Taxa de aquecimento (ºC/s) 0.48 0.58 0.46 -

Temperatura média (ºC) 299 370 225 -

Os resultados obtidos para as temperaturas da câmara de combustão são inferiores a

resultados obtidos na combustão de pellets de turfa, utilizada como combustível no norte da

Europa, para ensaios realizados nas mesmas condições. Uma das causas para esta diferença

poderá residir no maior poder calorífico da turfa, cerca de 30% superior ao das pellets

(Heiskanen et al., 1985).

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4.2.3 – Evolução das espécies químicas

Relativamente à composição dos produtos de combustão, verificou-se em todos os lotes de

pellets uma grande concentração de CO, com valores a exceder os 1.5% (base seca) no caso

das pellets A e B, estabilizando posteriormente em valores mais baixos e inferiores a 0.13%

(base seca), tal como se pode observar na figura 28.

Figura 28: Concentração de CO, durante o arranque

0

0.5

1

1.5

2

0:00 0:04 0:08 0:12 0:17 0:21 0:25 0:30

Tempo (h:mm)

CO

med

ido

(%

base

sec

a) TIPO A TIPO B

TIPO C TIPO D

Resultados comparáveis foram observados no arranque da combustão de pequenos

fragmentos de madeira completamente seca, tendo-se verificado valores entre 1.30% e 1.85%

de CO cerca de 4 minutos após o arranque da combustão (Oren et al., 1987). O facto de neste

trabalho se registar este pico alguns minutos mais tarde poderá estar relacionado com o tempo

necessário à perda da humidade presente nas pellets utilizadas e a diferenças entre as duas

instalações.

A figura 29 mostra a variação do oxigénio medido durante a fase de arranque, onde se

verificou que durante os primeiros minutos a concentração de O2 diminui rapidamente até

atingir o valor mínimo, regressando depois a um valor normal. A diminuição do O2 está

relacionada com o facto de haver, na altura da ignição, uma grande quantidade de pellets no

leito de combustão consequência do seu abastecimento quase em contínuo, levando à sua

acumulação enquanto não é iniciada a combustão. Esta diminuição foi menor para o caso das

pellets D, devido ao facto da sua ignição ser mais rápida, levando a que não houvesse uma

acumulação muito elevada de pellets antes da ignição. Para as pellets C observou-se também

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um valor mínimo menos acentuado que as restantes, dando origem a um pico menor na

emissão de CO (figura 28).

Figura 29: Concentração de O2, durante o arranque

11

13

15

17

19

21

0:00 0:04 0:08 0:12 0:17 0:21 0:25 0:30

Tempo (h:mm)

O2

med

ido(

% b

ase

seca

)

TIPO A TIPO B

TIPO C TIPO D

Num ensaio realizado em fragmentos de madeira completamente seca registaram-se valores

na concentração de O2 ligeiramente inferiores, aproximadamente 8-9%, cerca de 4-5 minutos

após o arranque (Oren et al., 1987), verificando que após a estabilização o seu valor foi cerca

de 18%. Esta diferença poderá ser devida aos diferentes caudais utilizados e no tipo de

instalação testada.

Figura 30: Concentração de NOX, durante o arranque

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0:00 0:04 0:08 0:12 0:17 0:21 0:25 0:30

Tempo (h:mm)

NO

x m

edid

o (m

g/N

m3 @

13%

O2 ) TIPO A TIPO B

TIPO C TIPO D

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90

Relativamente à emissão de NOX, destacam-se desde logo os elevados valores apresentados

pelas pellets A, onde se verificou uma emissão crescente desta espécie ao longo de todo o

arranque, ao contrário do comportamento dos restantes lotes, onde a concentração de NOX

estabilizou abaixo dos 500mg/Nm3. Para o único arranque com as pellets D, verificou-se uma

diminuição da taxa de combustão cerca de 11 minutos após a ignição, devido a

irregularidades no abastecimento de combustível, quando seria de esperar uma estabilização

perto de 1000mg/Nm3 (figura 30). Este fenómeno é justificado pela concentração de azoto

presente no combustível que constitui este lote de pellets e que já havia sido verificado nos

resultados da sua análise elementar, superior à das pellets B e C (tabela 28).

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5 – Conclusões

Os objectivos do presente trabalho consistiam no estudo de avaliação da produção de

biomassa lenhosa em Portugal e no estudo do desempenho de uma caldeira comercial

utilizando diferentes tipos de pellets como combustível, operando em diferentes regimes.

Estes objectivos foram cumpridos através dos seguintes resultados:

� Foi realizado em estudo de avaliação dos resíduos de biomassa lenhosa a partir dos

dados presentes na estatística e da bibliografia disponível, completado em alguns

casos com trabalhos de campo

� Foram realizados diferentes ensaios numa caldeira alimentada a pellets, através da

variação do caudal de combustível e da variação da velocidade do ventilador, tendo

sido realizadas diversas medições para a avaliação do seu desempenho energético e

ambiental

Na avaliação da biomassa lenhosa em Portugal, foram realizadas estimativas para a produção

de resíduos na floresta, agricultura, agro-indústria e indústrias transformadoras da madeira e

da cortiça, a partir de diversos dados disponíveis. Relativamente à floresta, verificou-se que

em Portugal as principais espécies são o eucalipto e o pinheiro, seguidos da azinheira e do

sobreiro, embora em número muito mais reduzido. Concluiu-se que a produção de resíduos

através das operações florestais é de 1173 mil toneladas secas/ano, das quais apenas os

resíduos de azinheira e sobreiro têm aproveitamento energético significativo.

Relativamente à agricultura, foram tidas em conta tanto os resíduos produzidos na culturas

temporárias como nas permanentes. Nas culturas temporárias, os resíduos produzidos foram

estimados em 1324 mil toneladas secas/ano, onde praticamente apenas os resíduos produzidos

na cultura dos cereais têm aplicação, sendo o restante queimado no local sem qualquer

aproveitamento energético. Para as culturas permanentes, foram avaliados os resíduos

produzidos nas operações de poda das principais culturas, nomeadamente o olival, vinha e

principais árvores de fruto, tendo-se estimado a sua produção anual em 677 mil toneladas

secas/ano. Os resíduos resultantes das podas actualmente têm um aproveitamento muito

reduzido, de facto apenas os ramos de olival de maiores dimensões têm aplicação, sendo o

restante queimado no local. Verificou-se, portanto que a produção de resíduos na agricultura é

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muito significativa, cerca de 2001 mil toneladas secas/ano, das quais apenas uma pequena

parcela tem aplicação.

Na avaliação dos resíduos produzidos na agro-indústria foram tidas em conta apenas as

indústrias do ramo vegetal, ou seja, as produtoras de material lenhoso, tendo-se verificado que

na maioria dos casos o teor em humidade e de proteína são muito elevados, o que deixa

antever alguma dificuldade na sua combustão directa. Os resultados obtidos permitem

concluir que a produção de resíduos nesta indústria é 872 mil toneladas secas/ano, no entanto,

em muitos casos os resíduos têm um mercado, como é o caso do fabrico de rações para

animais, o que significa que têm um preço elevado.

Finalmente, no caso das indústrias transformadora da madeira, foram avaliados os resíduos

produzidos nas serrações, na indústria da pasta do papel, assim como na indústria

transformadora da cortiça. Os resultados obtidos permitem concluir que a produção de

resíduos neste sector é 1584 mil toneladas secas/ano, no entanto, uma grande parte já é

utilizada como combustível, ao contrário dos restantes sectores.

Tendo em conta os resíduos produzidos nestes sectores, estimou-se que a quantidade total de

resíduos de biomassa produzidos em Portugal ascendem a 5630 mil toneladas secas/ano, das

quais 2628 mil toneladas secas/ano estão disponíveis para produção de energia térmica

através da combustão.

Na segunda parte do presente trabalho, foi avaliado o desempenho de uma caldeira comercial,

sob diferentes regimes de funcionamento e utilizando diferentes tipos de pellets. A análise

realizada aos quatro tipos de pellets utilizados permitiu concluir que são muito semelhantes.

De facto, na análise elementar, todos os lotes de pellets apresentaram valores idênticos de

carbono, hidrogénio e enxofre, tendo-se verificado diferenças apenas no teor de azoto, com

uma concentração muito mais elevada nas pellets A. Estas diferenças traduziram-se na

emissão de concentrações de NOX muito superiores às dos restantes lotes em todos os ensaios

realizados. Relativamente ao poder calorífico, os diferentes lotes também não apresentaram

diferenças significativas, com valores do poder calorífico inferior cerca de 16 MJ/kg, em base

húmida.

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Nos ensaios em regime estacionário, a caldeira apresentou uma potência térmica entre 7 e

17kWth com as pellets A a C, enquanto que com as pellets D (com maior diâmetro) atingiu

apenas uma potência média de 5kWth. Verificou-se que o rendimento médio da caldeira na

carga máxima é cerca de 77%, com perdas de calor sensível nos gases de exaustão cerca de

16% e perdas praticamente insignificantes nos finos e nos inqueimados (cerca de 0.5%).

Verificou-se que as emissões gasosas de CO encontram-se geralmente abaixo dos

1500mg/Nm3 @ 13% O2, apresentando os valores mais baixos quando a concentração de O2

nos gases de exaustão é 13%. As emissões de NOX estão correlacionadas com o excesso de ar

e com a fracção de azoto na composição das pellets, sendo apenas significativas num tipo de

pellets.

Foram igualmente realizados ensaios ao arranque da caldeira, tendo sido analisado o seu

comportamento em termos de emissões e de temperaturas em diferentes pontos da câmara de

combustão e do leito. Verificou-se que, durante esta fase, é atingido um pico na concentração

de CO da ordem de 1.5%, devido à maior quantidade de biomassa presente no leito de

combustão. A análise de temperaturas ao longo do arranque permitiu concluir que a

temperatura dos gases na câmara atinge valores cerca de 300 a 560ºC, dependendo da região

considerada, e que a temperatura do leito de combustão é cerca de 600-800ºC, atingida 10

minutos após o arranque, com picos de temperatura de 900-1000ºC.

O cálculo da estimativa da transferência de energia por radiação e por convecção apresentou

resultados com alguma aproximação relativamente aos resultados dos ensaios experimentais,

tendo-se observado que a estimativa da transferência de energia por convecção é semelhante

ao balanço de energia dos gases de exaustão na passagem pelos tubos. No entanto, a soma dos

valores estimados para a energia transferida por convecção e por radiação é inferior ao valor

experimental obtido no balanço térmico da caldeira. Esta diferença de valores poderá ser

devida às simplificações realizadas na modelação da transferência de energia dentro da

caldeira.

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94

6 – Trabalhos futuros

Com esta tese foram realizados alguns avanços, no entanto, tal como a maioria da

investigação, representa um trabalho em curso e não uma meta alcançada. Durante a sua

realização houve alguns aspectos que não ficaram totalmente esclarecidos, pelo que deverão

ser objecto de estudo mais aprofundado.

No cálculo da disponibilidade de biomassa em Portugal apenas foi possível contactar um

número muito reduzido de empresas intervenientes nas fileiras de produção de resíduos, pelo

que se recomenda uma investigação mais exaustiva, tentando contactar um número

estatisticamente significativo de empresas dentro de cada sector. A análise da floresta poderá

ser mais aprofundada, utilizando mais dados do inventário florestal nacional e estabelecendo

comparações com edições anteriores.

Concluiu-se que grande parte dos resíduos não tem aplicação prática, apesar de apresentar

boas propriedades para a combustão. A preparação de pellets com os resíduos identificados,

seguido de testes em laboratório constitui um estudo importante a ser realizado antes da sua

produção.

Para a caracterização química dos resíduos lenhosos foi necessário recorrer, em certos casos, à

bibliografia disponível. Seria interessante realizar um estudo mais completo e detalhado sobre

os resíduos produzidos nos diversos sectores de actividade, nomeadamente através da

determinação do poder calorífico, matéria volátil, humidade, teor de cinzas e sua composição

química, etc. Este trabalho, no entanto, é muito extenso e encontrava-se fora do âmbito desta

tese de mestrado.

Na presente tese não foram contemplados certos parâmetros que irão influenciar o cálculo do

rendimento da caldeira, como é o caso das perdas de calor através das paredes da caldeira e

perda de energia radiante através da janela. Para avaliar mais correctamente o rendimento real

da caldeira, estas perdas deverão ser incluídas, uma vez que poderão representar uma parcela

energética significativa no desempenho da caldeira. Os ensaios realizados não consideraram

como parâmetro independente a temperatura da água no circuito que requer uma instalação

para poder controlar o valor de modo a ser mais representativo de uma instalação de

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aquecimento central. Outra parcela importante e que deverá ser incluída em trabalhos futuros

é a emissão de partículas, a qual resulta numa importante fonte de poluição.

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