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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU – USJT
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
EDEYN MICHELE TENEDINI
PLATAFORMA BIM E A PERSPECTIVA DE UMA ARQUITETURA
SUSTENTÁVEL: O CASO DO EDIFÍCIO DO BANCO
INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) EM MANAUS
SÃO PAULO - SP
2019
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EDEYN MICHELE TENEDINI
PLATAFORMA BIM E A PERSPECTIVA DE UMA ARQUITETURA
SUSTENTÁVEL:O CASO DO EDIFÍCIO DO BANCO
INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) EM MANAUS
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade São Judas Tadeu, para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: Arquitetura e Cidade.
Linha de Pesquisa: Projeto, produção e representação.
Grupo de pesquisa CNPQ: Arquitetura: abordagens alternativas e transdisciplinares.
Orientador: Prof. Dr. Luís Octavio de Faria e Silva.
SÃO PAULO - SP
2019
http://lattes.cnpq.br/1819856357349357
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Agradecimentos
Agradeço ao Grupo Alexander Justi por ceder um projeto para servir de exemplo em estudo de caso, pela atenção e todos os materiais disponibilizados; a Quali-a por enviar vídeos e imagens do processo sustentável; a Profª Dra. Regina Ruschel pelas valiosas dicas; a todos os pesquisadores que contribuíram com minha dissertação; e a você, Rê, que me ajudou a tornar mais uma vez um sonho possível.
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RESUMO
Nas últimas décadas a sociedade, o governo e o mercado vêm se
preocupando com o desenvolvimento sustentável do planeta. Nesse contexto, a
construção civil se destaca como um setor de grande importância nos aspectos que
envolvem esse desenvolvimento sustentável, principalmente, por gerar grandes
impactos ambientais negativos. Dessa forma, o projeto de edificações sustentáveis
se tornou relevante para os empreendedores desse setor, sendo um fator
determinante para o mercado. O presente trabalho expõe a importância e a
necessidade de se definir indicadores, padrões e normas como uma forma de
mensurar o desempenho das ações sustentáveis implementadas em um
empreendimento. O instrumento que está sendo utilizado é a Certificação Ambiental
das edificações, que através da definição de critérios, seguindo estratégias e
regulamentos, identificam e apontam objetivamente os resultados obtidos a partir
das ações implantadas, quantificando a eficiência da edificação. Com base nessas
diretrizes definidas pelas certificações e através de simulações com softwares BIM
será demonstrado como é possível auferir o nível de sustentabilidade de uma
edificação. O BIM será apresentado como uma solução capaz de realizar a
avaliação e o monitoramento do desempenho das edificações, sendo uma
importante ferramenta para o gerenciamento das informações no desenvolvimento
de projetos sustentáveis. O estudo será realizado através da análise do projeto do
Edifício do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, desenvolvido pelo
Grupo Justi, que utilizou a plataforma BIM em seu projeto e, seguindo os requisitos,
parâmetros e critérios definidos, alcançou a Etiqueta PBE Edifica de eficiência
energética nível A e a Certificação AQUA. Através desse estudo verificou-se que a
utilização do BIM pode auxiliar significativamente na obtenção de certificações,
otimizando tempo e recursos, apesar de terem sido identificadas dificuldades sobre
a implantação e utilização do BIM pelos escritórios de arquitetura.
Palavras-Chaves: BIM, Sustentabilidade, Simulação Computadores, Etiqueta.
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ABSTRACT
In the last decades the society, government and the market has been worrying
about the sustainable development of the planet. In this context, construction stands
out as a sector of great importance in the aspects that involve this sustainable
development, mainly for generating large negative environmental impacts. In this
way, the project of sustainable buildings became relevant for the entrepreneurs of
this sector, being a determining factor for the market. The present work exposes the
importance and necessity of defining indicators, standards and norms as a way of
measuring the performance of the sustainable actions implemented in an enterprise.
The instrument that is being used is the Environmental Certification of buildings,
which through the definition of criteria, following strategies and regulations, identify
and objectively identify the results obtained from the implemented actions,
quantifying the efficiency of the building. Based on these guidelines defined by the
certifications and through simulations with BIM software will be demonstrated how it
is possible to obtain the level of sustainability of a building. BIM will be presented as
a solution capable of performing the evaluation and monitoring of the performance of
the buildings, being an important tool for information management in the
development of sustainable projects. The study will be carried out by analyzing the
project of the Inter-American Development Bank (BID) Building, developed by the
Justi Group, which used the BIM platform in its project and, following the
requirements, parameters and criteria defined, level A and AQUA Certification.
Through this study it was verified that the use of BIM can significantly help in
obtaining certifications, optimizing time and resources, although difficulties have been
identified regarding the deployment and use of BIM by architecture offices.
KeyWords: BIM, Sustainability, Computer Simulation, Label.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ciclo de Processo de projeto na plataforma BIM...................................... 45
Figura 2 - Carta bioclimática apresentando ..........................................................
Erro! Indicador não definido.8
Figura3 - Zona bioclimática 8....................................................................................58
Figura 4 - Carta solar de Manaus Fonte - relatório BID............................................
622
Figura 5 – O Retangulo, área destinada a sede do BID, com as cartas solares sem
considerar elemento de sombreamento. Fonte - Relatório BID.................................
633
Figura 6 - Estudo do ângulo de sombreamento solar por meio de cartas solares. O
Retangulo a indicação da área do terreno. Fonte – Relatório BID........................... 633
Figura 7 - Estudo de proteção de fachadas. Fonte - Relatório BID..........................
644
Figura 8 – brises. Fonte - Relatório BID....................................................................
655
Figura 9 - Perspectiva modelo 3D Rhino - DIVA. Fonte - Relatório BID...................
688
Figura 10 - Modelo tridimensional, DesignBuilder. Fonte - Relatório BID.................
699
Figura 11 - Simbologia etiqueta PBE Edifica. Fonte - Relatório BID........................ 71
Figura 12 - Webprescritivo - Labeee UFSC.............................................................. 72
Figura 13 - Estruturas Revit.......................................................................................
Erro! Indicador não definido.
Figura 14 – Modelo Federado ..................................................................................
Erro! Indicador não definido.4
file:///C:/Users/Michele/Documents/Trabalhos%20Mi/BIM%20mestrado/ALTERAÇÕES%2024_10/30.10.18_quase.docx%23_Toc528701806file:///C:/Users/Michele/Documents/Trabalhos%20Mi/BIM%20mestrado/ALTERAÇÕES%2024_10/30.10.18_quase.docx%23_Toc528701806
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Figura 15 - Resultado final BID................................................................................114
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
2D - Duas dimensões - bidimensional
3D - Três dimensões – tridimensional
4D – Quatro dimensões
5D – Cinco Dimensões
6D – Seis Dimensões
7D – Sete Dimensões
ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção Civil
ASBEA – Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIM - Building Information Modeling
BN BIM – Biblioteca Nacional - BIM
BPA - Building Performance Analysis
CAD - Computer Aided Design ou Projeto Auxiliado por Computador
CAU/BR – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil
CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção
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CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
COTE - Comitê do Meio Ambiente
DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
ENCE - Etiqueta Nacional de Conservação de Energia
ENIC – Encontro Nacional da Industria da Construção
HQE - Haute Qualité Environnmentale ou Alta Qualidade Ambiental
HVAC - Heating, ventilation, and air conditioning
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IE – TRIPLE - Institute of Electrical and Electronics Engineers
IFC - Industry Foundation Classes.
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
ISO – Organização Nacional de Normatização
LABEEE - Laboratório de Eficiência Energética em Edificações
LaBIM – PR – Laboratório BIM do Paraná
LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
LEED-CS - Projetos da envoltória e parte central do edifício;
LEED-NC - Novas construções novas e grandes projetos de renovação;
LEED-CI – Edifícios comerciais e projetos de interiores;
LEED-Schools – Projetos de Escolas
LEED Healthcare – Unidades de Saúde;
LEED EB_OM – Operação e Manutenção de Edifícios Existentes;
LEED for Homes – para Residências;
LEED-Retail NC e CI – para Lojas de Varejo;
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LEED-NB – Para Desenvolvimento de Bairros.
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exteriror
MOU – Memorandum of Undertanding
NZEB - Nearly Zero Energy Buildings ou Energia Zero Fonte Líquida
OIA - Organismo de Inspeção Acreditado
PBE Edifica – Programa Brasileiro de Etiquetagem nas Edificações
PIB – Produto Interno Bruto
POC – Percentual de Horas em Conforto
PROCEL EDIFICA - Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações
RAC-C – Regulamento de Avaliação da Conformidade do Nível de Eficiência
Energética de Edifícios Comerciais
RAC–R - Regulamento de Avaliação da Conformidade do Nível de Eficiência
Energética de Edificações Residenciais.
RTQ-C – Regulamento Técnico de Qualidade para o Nível de Eficiência Energética
de Edifícios Comerciais de Serviços e Públicos
RTQ-R - Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética
de Edificações Residenciais.
SEIL – Secretária de Estado de Infraestrutura e Logística
USGBC - United States Green Building Council
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9
2. SUSTENTABILIDADE ................................................................................... 12
2.1. HISTÓRICO E CONCEITOS .................................................................. 12
2.2. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL ........................................................... 16
2.3. PROJETO DE EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS .......................................... 19
2.4. ETIQUETAGEM E CERTIFICAÇÃO ...................................................... 22
2.4.1. Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – ENCE ................ 23
2.4.2. AQUA – Alta Qualidade Ambiental ................................................ 24
2.4.3. LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) – E.U.A 25
2.5. O USO DO BIM EM PROJETOS SUSTENTÁVEIS ............................... 27
3. A PLATAFORMA BIM - “BUILDING INFORMATION MODELING” ............. 30
3.1 HISTÓRICO E CONCEITOS SOBRE BIM .......................................................... 30
3.2 MODELAGEM PARAMÉTRICA ........................................................... 33
3.3. O PROCESSO COLABORATIVO E A INTEROPERABILIDADE .......... 34
3.4. A COMPATIBILIZAÇÃO E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO................... 38
3.5. EVOLUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA PLATAFORMA BIM ................. 40
3.6. COMO O BIM É CONSTITUÍDO – AS DIMENSÕES DO MODELO ...... 41
3.7. O BIM E O CICLO DE VIDA DAS EDIFICAÇÕES ................................. 43
3.8. EXEMPLOS DE SOFTWARES ............................................................. 45
3.9 OS PROBLEMAS DA IMPLEMENTAÇÃO DO BIM ............................................. 49
3.10 - O CENÁRIO DO BIM NO BRASIL ...................................................... 51
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4. ESTUDO DE CASO - BID .............................................................................. 55
4.1. ESTUDO DE SUSTENTABILIDADE... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
4.1.1. Caracterização climática de Manaus ............................................ 57
4.1.2. Diretrizes de sustentabilidade ....................................................... 59
4.1.3. – Avaliação bioclimática urbana ................................................... 60
4.1.4. – Estudo para proteções solares .................................................. 61
4.1.5. Avaliação de iluminação natural ................................................... 66
4.1.6. – Avaliação de conforto térmico. ................................................... 68
4.1.7. – Avaliação preliminar em relação ao método. ............................. 69
4.2 INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES ENTRE AS DISCIPLINAS .............................. 72
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………74
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………... 77
ANEXOS Pranchas BID………………..…….……………………………………84
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1. INTRODUÇÃO
O cenário atual da Arquitetura no Brasil demonstra um grande crescimento
desta área e uma valorização enorme no desenvolvimento de projetos para a
construção civil. De acordo com o Anuário de Arquitetura e Urbanismo 2018,
elaborado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil CAU/BR, no último
ano, foi constatado que a Arquitetura conseguiu retomar o seu crescimento. Foram
realizadas 1,4 milhão de atividades, entre elas, a atividade de Execução de Obras foi
uma das que mais cresceu, sendo registradas 6% mais atividades que o que foi
realizado em 2016.
Outrossim, segundo os dados do IBGE, a construção civil é um dos setores
econômicos mais relevantes do país, contribuindo com até 6,5% de participação no
PIB (IBGE) e 8,5% dos empregos (IBGE). Segundo o mesmo instituto, é responsável
também por grandes impactos ambientais, como a geração de resíduos sólidos,
consumo de recursos naturais e emissão de gases do efeito estufa. Ainda é comum
a adoção de técnicas e processos manuais que geram grande quantidade de
resíduos (160 kg/m², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
intenso retrabalho, queda na produtividade e consequente perda de competitividade.
Dessa forma, além de ter que atender a grande demanda gerada pelo
crescimento do setor, a arquitetura e construção civil enfrentam o desafio da busca
de novas práticas visando o desenvolvimento sustentável. Conforme publicado por
Gerson Castanho, em seu artigo Inovação e sustentabilidade na construção civil!
(AECWEB, 2018), o segmento da construção civil é um dos que mais geram impacto
ambiental, com isso a ideia da inovação aliada à sustentabilidade é um processo
urgente e irreversível. Conclui-se que, com a aplicação de práticas inovadoras, a
melhoria do produto, a qualificação profissional, a redução de custos, o aumento de
resultados e a maior satisfação dos clientes são significativos.
Apesar dessa inovação, a adoção de novas práticas e processos
modernos traz uma certa complexidade aos projetos e exige novos procedimentos
que viabilizem uma gestão integrada e um trabalho compartilhado entre os
profissionais envolvidos nestes projetos. Para que se consiga uma diminuição
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desses problemas é necessário melhorar a comunicação entre especialistas, assim
como o compartilhamento de informação (SANTOS; FERREIRA, 2008).
Diante da dessa situação atual, surgem, como possíveis soluções, novas
tecnologias capazes de trazer ganhos em todas as etapas do ciclo de vida de um
empreendimento. O presente trabalho tem como hipótese que a utilização da
Plataforma BIM é uma solução que, por meio de inovações, traz vários benefícios
para a coordenação dos processos e para o gerenciamento das informações no
desenvolvimento de projetos sustentáveis.
Nesse sentido, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica
pesquisando-se sobre o histórico e os conceitos de sustentabilidade e suas
aplicações no desenvolvimento de projetos sustentáveis; assim como temas
relativos aos conceitos, características e funcionalidades da Plataforma BIM e sua
utilização no mercado nacional e internacional. Posteriormente foi realizada uma
pesquisa junto aos profissionais de arquitetura no Brasil com a finalidade de se
identificar um Empreendimento defendido como energeticamente eficiente que
tivesse sido projetado, desenvolvido e executado utilizando-se das propriedades,
princípios e funcionalidades da Plataforma BIM e os conceitos de projetos
sustentáveis. A partir daí, foi selecionado o Edifício do Banco Internacional de
Desenvolvimento – BID, localizado na cidade de Manaus-AM, que atendeu os
requisitos desejados para a realização da pesquisa em tela. Por fim, para se cumprir
o que foi proposto no presente trabalho, será demonstrado que o uso da Plataforma
BIM auxilia os profissionais envolvidos, clientes e investidores na tomada de
decisões desde a criação do projeto até a execução e gestão do edifício com o
cunho da sustentabilidade.
Esta dissertação contém a introdução, que descreve os problemas e questões
a serem tratados no cenário atual da arquitetura - da aplicação de uma tecnologia
como hipótese de solução para esses problemas; os objetivos e a metodologia
empregada na realização dessa pesquisa, e possui mais três capítulos.
O Capítulo 1 apresenta os históricos e conceitos da sustentabilidade, discorre
sobre a Arquitetura Sustentável e seus projetos, a utilização da Plataforma BIM no
desenvolvimento sustentáveis e descreve o sistema de certificação ambiental para
edificações.
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O Capítulo 2 trata da pesquisa bibliográfica sobre histórico, conceitos,
fundamentos, constituição e exemplos da Plataforma BIM, enquanto o Capítulo 3
apresenta o estudo de projeto energeticamente eficiente desenvolvido com a
utilização da Plataforma BIM, o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, que
seguiu as diretrizes da Etiqueta PBE Edifica e o selo AQUA.
Por fim são apresentadas as considerações finais sobre a pesquisa realizada,
assim como as principais conclusões alcançadas.
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12
2. SUSTENTABILIDADE
2.1 HISTÓRICO E CONCEITOS
Em sua longa peregrinação pelo planeta, o homem, que apenas compunha o
equilíbrio ecológico e os elementos da natureza, com o seu modo de vida focado
apenas em sua subsistência, não representava perigo algum para o ambiente que
vivia, e a natureza facilmente recompunha as áreas por ele utilizadas. Com o passar
do tempo, porém, ele tornou-se mais organizado, adquirindo uma maior capacidade
de pensar, e alterar o meio no qual vivia. Passou a construir agrupamentos cujas
necessidades deviam ser supridas, e então, surgiram aldeias, vilas, cidades e com
elas a necessidade crescente de consumir e alterar o meio ao seu redor. E assim,
pouco a pouco, o equilíbrio ambiental cedeu seu lugar ao quadro de desarmonia que
encontramos hoje.
Até o início dos anos 1960, a sociedade em geral ainda não se preocupava
diretamente com a sustentabilidade, surgindo apenas ações isoladas que não se
convertiam em respostas efetivas. A partir daquela década começam a surgir, por
parte da população, ações envolvendo questões de sustentabilidade levando a
algumas mudanças favoráveis. Simultaneamente a comunidade internacional
começou a se movimentar e discutir sobre essa realidade de desequilíbrio,
intensificando as discussões sobre a sustentabilidade até a década seguinte,
culminando com a conferência sobre o meio ambiente em Estocolmo no ano de
1972, que tratou do direito das gerações futuras e atual em usufruir criteriosamente
os recursos naturais visando evitar sua extinção, e onde foram discutidas as ações
dos países ricos com relação ao consumo desregulado e dos países pobres com
relação ao seu crescimento populacional, dentro da realidade ambiental.
Sachs (1986) publica, na década de 1980, uma importante obra sobre o tema
considerando a sustentabilidade um conceito dinâmico que apresenta cinco
dimensões:
- Sustentabilidade social — maior equidade na distribuição de renda e bens;
- Sustentabilidade econômica — redução dos abismos norte/sul, por meio de um
fluxo permanente de investimentos públicos e privados;
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- Sustentabilidade ecológica — qualidade do meio ambiente e preservação das
fontes de recursos energéticos e naturais;
-Sustentabilidade espacial — melhor distribuição territorial dos assentamentos
humanos;
- Sustentabilidade cultural — evitar conflitos culturais.
Naquele momento, falava-se muito em sustentabilidade, mas as pessoas
relacionavam esta palavra apenas à emissão de gases nocivos à atmosfera,
acreditando que este fosse o único problema para a qualidade de vida da população.
Ocorre que esta percepção é equivocada, apesar de este ser um dos principais
problemas. Na realidade existe uma questão mais abrangente que é o
desenvolvimento sem nenhuma consciência por parte do homem, que não respeita
os limites e está apenas preocupado com suas necessidades, ambições e metas,
criando impactos negativos para o meio ambiente.
Promover o desenvolvimento sustentável passou a ser uma grande
preocupação e importante fonte de discussões em todo o mundo. É importante
destacar que desenvolvimento sustentável não se restringe apenas a uma ação,
como reduzir as emissões de gases. O termo desenvolvimento sustentável abrange
um conceito mais amplo, determinando requisitos de utilização dos recursos
existentes visando atender as necessidades das pessoas. Segundo Brundtland
(1987) este termo surgiu no relatório da Organização das Nações Unidas que definiu
o desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que "satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades".
O Relatório de Brundtland1, enumera uma série de medidas que devem ser
adotadas pelos países visando promover o desenvolvimento sustentável, entre elas
pode-se citar o estabelecimento de limites para o crescimento populacional; a
garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; a
preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; a redução do consumo de
energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas
renováveis; o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com
1 Também conhecida como World Commission on Environment Development (WCED) em menção à
Gro Harlen Brundtland, coordenadora dos trabalhos e então primeira ministra da Noruega. Esta comissão elaborou o documento denominado “Our Common Future”, o qual tem servido de guia para a teoria e prática do desenvolvimento sustentável).
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base em tecnologias ecologicamente adaptadas; o controle da urbanização
desordenada e integração entre campo e cidades menores; o atendimento das
necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
No início dos anos 1990, em 1994, John Elkington criou o termo “triple botton
line”, que seria a definição da sustentabilidade em três esferas, a sustentabilidade
ambiental, econômica e social (LIBRELOTTO, 2005), ou seja, o desenvolvimento
sustentável deve considerar a sustentabilidade ambiental, econômica e sociopolítica.
Ressaltando que a questão ambiental engloba tudo que nos cerca (água, ar, solo,
florestas e oceanos). Portanto, as sustentabilidades econômica e sociopolítica só
fazem sentido se a sustentabilidade ambiental for alcançada.
Nessa mesma década aconteceu a Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada de Rio-92 ou
Eco-92. Considerada uma das principais e maiores conferências sobre questões
ambientais, pretendia promover o conceito do desenvolvimento sustentável. A Rio
92 contou com a presença maciça de Chefes de Estado, fator que atribuiu muita
importância a essa reunião.
Como resultado da Rio-92, tem-se o documento da Agenda 21, com 2500
recomendações de estratégias de conservação do ambiente e metas de exploração
sustentável dos recursos naturais que não impeçam o desenvolvimento de nenhum
país. Esse documento tem como vertente principal a viabilização da formação de um
plano de ação e um planejamento participativo global, nacional e local, que
possibilite o início de um ciclo de desenvolvimento satisfatório e equilibrado.
Em 1997, na Conferência de Kyoto, foi assinado o Protocolo de Kyoto, um
tratado internacional que tinha como objetivo fazer como que os países
industrializados se comprometessem a reduzir a emissão de gás carbônico em 5%
até 2012. Este protocolo também pretendia reformar os setores de energia e
transportes, promover o uso de fontes energéticas renováveis, entre outras metas.
Apesar dos diversos conceitos, a busca por uma concretização prática do
desenvolvimento tem sido demonstrada por vários documentos, propostas,
declarações e metas elaborados por diferentes países.
Diante desse cenário, em 2005, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Social definiu três principais áreas que influenciam diretamente o desenvolvimento
sustentável. Ficou estabelecido que são sobre essas áreas que se deve pautar as
soluções para os principais desafios que vem surgindo atualmente.
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15
O Desenvolvimento Econômico, pode ser considerado a área com maior
número de desafios, uma vez que se refere a incentivar as organizações a se
envolver com as questões sustentáveis, se enquadrar em suas exigências legais e
ainda fazer com que a sociedade em geral faça a sua parte, reduzindo o consumo
desordenado de recursos. O desenvolvimento econômico será plenamente
alcançado quando se puder satisfazer as necessidades e desejos da população sem
reduzir a qualidade de vida ou aumentar os custos.
Outra área considerada como um dos pilares da sustentabilidade é o
Desenvolvimento Social, a qual possui inúmeras questões. É imprescindível que
aconteça a conscientização das pessoas com relação à legislação contra atividades
negativas para o meio ambiente por parte das organizações, com intuito de garantir
a saúde e bem-estar das pessoas. Além disso é importante oferecer acesso a
recursos básicos sem comprometer a qualidade de vida, focando na construção de
casas mais sustentáveis com a utilização de materiais menos nocivos. Outra
questão seria a educação, incentivando as pessoas a se envolverem com a
sustentabilidade ambiental, e orientando sobre os perigos de não agir de forma
sustentável.
A terceira área pilar é a ambiental, e pode ser considerada a principal
preocupação para se alcançar os objetivos de um desenvolvimento sustentável. A
Proteção ambiental deve definir como proteger os ecossistemas e os recursos
disponíveis, assim como estudar os fatores que prejudicam o meio ambiente.
É muito importante reconhecer também que a tecnologia é a responsável
para promover avanços para o futuro e o desenvolvimento dessa tecnologia é
imprescindível para a sustentabilidade. Aliado a isso deve haver uma mudança de
paradigma, tanto social quanto econômico, no sentido de preservar o meio ambiente
contra potenciais danos que poderão ocorrer.
A conservação do meio ambiente deve fazer parte da política de
desenvolvimento do país, mas é importante destacar que ela não pode ser
responsabilidade de apenas um grupo, ou segmento da sociedade. O meio ambiente
deve ser uma preocupação de todos. Toda a sociedade deve estar constantemente
preocupada com os perigos das atitudes mais corriqueiras que são tomadas junto ao
meio ambiente. A implementação de uma mentalidade sustentável consiste em atos
e ações simples, como quando se vai a um supermercado, no uso racional de água
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nas residências, a manipulação adequada do lixo e projetos arquitetônicos
eficientes.
Ao se aplicar o conceito de desenvolvimento sustentável à construção,
constata-se que é necessário se utilizar de sistemas ou ferramentas que possibilitam
analisar e avaliar a alteração, aproveitamento e consumo de recursos naturais de
todos os processos de construção que intervêm no ciclo de vida de uma
determinada construção (obras de edificação, obras civis e infraestruturas, …).
Observa-se que, no caso de construção de edifícios, existe uma capacidade
significativa de se alterar o ambiente natural, sendo extremamente importante
realizar o controle de todos os processos de desenvolvimento para que eles causem
o menor impacto ao meio ambiente, buscando uma maior conscientização por parte
da sociedade com relação a utilização dos recursos disponíveis (ZIGURAT, 2015).
Diante do acima exposto, constata-se que o desenvolvimento sustentável
passa por várias questões, sendo que sempre se deve alinhar para a preservação
do meio ambiente. Ocorre que, mesmo com as diversas advertências de grupos
ambientalistas, a população mundial só começou a tomar consciência do real
problema com as graves alterações climáticas que vem ocorrendo no mundo.
Dentro deste contexto, a implantação da sustentabilidade na construção civil
está se tornando uma necessidade imediata e é um passo importante. Na maioria
dos casos, esta implantação é iniciada pelo arquiteto responsável pela criação do
projeto. Em razão da sua formação acadêmica, o arquiteto tem como premissa um
olhar global sobre as diversas atividades que envolvem a construção de uma
edificação (ASBEA, 2012).
2.2 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
É de conhecimento geral que a Construção Civil é uma área de grande
importância na economia brasileira, sendo responsável pela geração de inúmeros
empregos. Em contrapartida, ela é também responsável pelo elevado consumo de
recursos naturais, enorme geração de resíduos e desperdícios diversos, causando
um imensurável impacto ambiental negativo.
Segundo Lamchipadi et al. (2012) a construção civil utiliza até 60% dos
materiais brutos extraídos da terra. Ressaltando ainda que grande parte das
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atividades realizadas na construção geram resíduos, em decorrência do seu
tamanho e da ineficiência de alguns de seus processos, sendo que, estes resíduos
equivalem a 40% de todo o resíduo sólido gerado no mundo, de acordo com Wong e
Zhou (2015). Além disso, segundo Graf et al. (2012), os edifícios gastam mais de
50% da energia consumida em países mais desenvolvidos.
Dessa forma, constata-se a necessidade prática de construções mais
preocupadas com o meio ambiente, levando os profissionais da área de Arquitetura,
Engenharia e Construção a considerarem o impacto ambiental das edificações
projetadas.
Por este motivo, a Construção Civil está sempre envolvida nas discussões
sobre desenvolvimento sustentável, principalmente, no que diz respeito a diminuição
desses impactos negativos gerados por esta atividade.
Dentro da indústria da Construção Civil, a Arquitetura é uma disciplina que
está sempre interessada em trazer soluções inteligentes e práticas visando atender
as necessidades dos clientes, investidores, usuários e da sociedade em geral. No
âmbito da engenharia, Arquitetura e Construção a definição de “sustentabilidade”
nem sempre foi prioridade na elaboração dos projetos e construções, porém, devido
a essas questões ambientais, sociais e econômicas, nos dias atuais, este conceito
vem sendo utilizado com grande destaque como referencial de projetos.
O trabalho do arquiteto é fundamental para um projeto sustentável, é baseado
nele que as premissas da sustentabilidade são implementadas. É evidente que a
complexidade das soluções adotadas para os projetos sustentáveis aumentou nos
últimos anos, mas, esses projetos ainda devem seguir as premissas do tripé da
sustentabilidade ambiental, social e econômica (ASBEA, 2012).
A arquitetura que desenvolve empreendimentos dentro do conceito de
sustentabilidade está comprometida, inicialmente, em projetar espaços saudáveis,
confortáveis, economicamente viáveis e sensíveis às necessidades sociais. Ao
aplicar as premissas da sustentabilidade no ato de projetar é necessário que se
extrapole o edifício a ser construído. Neste conceito deve-se realizar estudos sobre
o entorno, o bairro e a cidade.
Segundo o Guia de Sustentabilidade na Arquitetura (ASBEA, 2012) o
desenvolvimento de um projeto dentro do conceito de arquitetura sustentável deve
seguir diretrizes de projeto que englobam aspectos urbanos, paisagem e mobilidade;
acessibilidade e desenho universal; segurança; uso de materiais renováveis; destino
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correto dos resíduos; águas e efluentes; energia (eficiência energética); conforto
térmico, visual, acústico e olfativo; salubridade; operação e manutenção e o ciclo de
vida do edifício.
Resta claro que, para se desenvolver projetos inteiramente sustentáveis, que
atendam a todos os requisitos e diretrizes necessários, são exigidas análises e
processos. O Desenho Bidimensional Assistido por Computador (CAD – 2D),
ferramenta tradicional e amplamente utilizada pelos profissionais da área,
geralmente não é capaz de executar nas etapas iniciais do projetos estas análises,
pois demandam uma grande quantidade de informação que não estão disponíveis
nesta tecnologia.
Segundo Azhar et al. (2011, p. 217-224):
“isto traz ineficiência ao processo, pois leva a utilização de métodos de tentativa e erro na projeção do desempenho ambiental e causam retrabalho devido a necessidade de alterações posteriores para se alcançar os requisitos de eficiência.”
A construção de edificações sustentáveis exige a implementação de novas
técnicas e ferramentas para a análise dos edifícios, avaliando a edificação como um
todo e buscando uma visão melhor sobre o seu desempenho geral; a utilização de
novos materiais e soluções técnicas modernas; a integração de novos agentes e de
incorporadores, projetistas e construtoras; o desenvolvimento de competências e
disseminação do conhecimento sobre construção sustentável por profissionais
envolvidos; determinação de novos processos, tais como certificação ambiental e
controle da qualidade (PAULA; UECHI; MELHADO, 2013).
Os agentes envolvidos devem ter competência para tomar decisões corretas
em seus projetos, com a colaboração de todos os interessados. E é dentro deste
cenário que a Modelagem da Informação da Construção (BIM) entra como opção,
uma vez que, segundo Azhar et al. (2011), proporciona que informações de diversas
disciplinas sejam compartilhadas num modelo único, promovendo a incorporação de
ações sustentáveis durante todo o processo de realização do projeto.
-
19
2.3. PROJETO DE EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS
Como já foi descrito no presente documento, a Sustentabilidade tem um
conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos,
sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.
O diálogo e a preocupação sobre sustentabilidade e construções verdes
ganharam força no início da década de 90 com a criação do Comitê do Meio
Ambiente (COTE) e a Formação do Conselho de Construção Verde dos EUA
(USGBC), uma organização sem fins lucrativos, formada em 1993, que surgiu com a
intenção de definir e promover práticas de construção sustentável. Surge assim uma
grande melhoria da forma como as construções são pensadas, ao invés de se falar
apenas em verde e utilizar materiais recicláveis, fala-se na sustentabilidade que
abrange todo o ciclo de vida do produto. Considera-se a extração de matéria-prima,
localização, clima, processo de fabricação, durabilidade, reaproveitamento, levando-
se em conta uma maior variedade de impactos do que apenas aqueles que
sobrecarregam o ambiente natural. A melhor definição sobre Designer Sustentável
seria a da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também
conhecida como a Comissão Brundtland em 1987.
Na prática atual, muitos modelos digitais de construção não contêm
informações suficientes para a construção de análise e avaliação de desempenho.
Como acontece com os modelos e desenhos físicos tradicionais, avaliando o
desempenho do edifício com base na representação gráfica das soluções
convencionais, o qual requer uma grande intervenção humana e interpretação, o que
torna as análises muito dispendiosas e demorada. Por outro lado, o modelo digital
de construção paramétrico Revit representa um edifício como um banco de dados
integrado de informação coordenada. Este modelo também representa graficamente
o design e um protótipo virtual. Assim grande parte dos dados necessários para
apoiar o design sustentável é capturado naturalmente à medida que o projeto se
desenvolve.
É possível utilizar-se diversos termos ou definições para identificar um edifício
sustentável entre os diferentes critérios existentes para essa definição, destaca-se
os
-
20
seguintes: edifícios eficientes, eco construções, edifícios verdes, edifícios low
carbon, edifícios ecológicos e edifícios bioclimáticos. O cumprimento dos critérios
que definem cada tipo de edifício não implica que se trata de um edifício sustentável,
mas pode ser interpretado, em maior ou menor grau, como edifícios que contribuem
para o desenvolvimento sustentável (ZIGURAT, 2015).
No processo de desenvolvimento é de fundamental importância que se
consiga minimizar o consumo de recursos, maximizar a reutilização dos recursos,
proteger o ambiente natural, criar um ambiente saudável e não tóxico, utilizar
recursos renováveis e recicláveis, fomentar a qualidade ao criar o ambiente
construído; e para que possamos usufruir de tais benefícios é preciso que a
sociedade no geral se adéque a esse novo cenário, com a utilização da tecnologia
BIM, desde o cliente ao empreiteiro. Cada um deve perceber todos os benefícios
advindo desse processo, e que além de um avanço na sustentabilidade, o BIM traz
consigo benefícios em várias outras áreas. É sabido, contudo, que um dos desafios
que será apresentado durante esse processo será conseguir com que os
profissionais envolvidos tenham facilidade no acesso à tecnologia a ser utilizada,
assim como o devido conhecimento das ferramentas necessárias.
Tendo em vista que os edifícios são projetados para pessoas, e essas
pessoas estão tentando realizar uma tarefa - seja criando uma família, trabalhando
em um escritório ou produzindo um produto, o prédio precisa manter as pessoas
confortáveis, eficientes, saudáveis e seguras à medida que definem suas tarefas.
O design sustentável busca criar edifícios que mantenham as pessoas
confortáveis, minimizando os impactos ambientais negativos. A título de exemplo
cita-se o conforto térmico de um edifício. Manter o conforto térmico de uma pessoa
significa garantir que eles não sintam muito calor ou muito frio. Isso significa manter
a temperatura, umidade, fluxo de ar e fontes radiantes dentro de um alcance
aceitável.
Criar condições confortáveis é um dos maiores usos da energia em edifícios,
e também é crítico para a felicidade e a produtividade de seus usuários. Muitas
vezes, fatores como fluxo de ar e temperatura radiante são ignorados em um
projeto, levando a um maior consumo de energia e a insatisfação de ocupação. Para
manter as pessoas à vontade, termicamente é necessário fornecer um equilíbrio de
temperatura, umidade, temperatura radiante e velocidade do ar.
-
21
Algumas maneiras de manter as pessoas confortáveis são usar o calor do sol
para aquecê-los, usar ventiladores de vento ou de teto para mover o ar quando está
muito quente e manter as superfícies envolventes a temperatura correta com um
bom isolamento. Os equipamentos HVAC, como caldeiras, ventiladores e trocadores
de calor podem temperar a temperatura e a umidade do ar, mas as temperaturas da
superfície e o ar em movimento devem ser considerados também. Os edifícios usam
energia, materiais, água e terra para criar o ambiente certo para seus ocupantes.
Todos esses recursos custam dinheiro - e todos têm um impacto ambiental. O uso
de materiais mais sustentáveis, o uso de menos material e o uso de materiais nas
construções corretas podem melhorar os impactos ambientais da construção de
edifícios, vida e fim de vida.
A análise de energia de construção leva em consideração as
interdependências do edifício como um sistema inteiro, por isso é uma maneira
particularmente útil se "manter a pontuação" à medida que se trabalha para reduzir o
uso de energia no edifício. Outros estudos de desempenho, como iluminação natural
e radiação solar, podem ajudar a melhorar os aspectos do projeto. Estes estudos
são mais eficazes quando realizados em conjunto com a análise de energética.
Um objetivo cada vez mais popular para a construção ecológica é alcançar o
fator Nearly Zero Energy Buildings - NZEB 2(Energia Zero Fonte Líquida) – quando o
prédio é eficiente em energia e gera energia suficiente no local para igualar suas
necessidades energéticas. Os edifícios de energia zero são altamente eficientes em
termos de energia que usarão, ao longo de um ano, tecnologias renováveis para
produzir a energia que consomem da rede.
A chave para a concepção de edifícios de energia líquida zero é, em primeiro
lugar, reduzir a demanda de energia tanto quanto possível e depois escolher boas
fontes de energia. Um exemplo seria: Reduzir as cargas de energia, otimizar o
design para estratégias passivas, otimizar o design de sistemas ativos, recuperar
energia, gerar energia no local, comprar compensações de energia.
O processo de construção foi refinado ao longo de milhares de anos. Embora
o processo de cada projeto seja ligeiramente diferente, os projetos geralmente
2 Prédios quase sem energia (NZEBs) têm desempenho energético muito alto. A baixa quantidade de
energia que esses edifícios exigem vem principalmente de fontes renováveis. < https://ec.europa.eu/energy/en/topics/energy-efficiency/buildings/nearly-zero-energy-buildings>
-
22
progridem ao longo de fases estabelecidas. É importante conhecer o tipo certo e o
nível de informação necessário em cada fase para adicionar o maior valor. No setor
de construção, o processo de design é descrito pelas fases de pré-design, design
conceitual, desenvolvimento de design e design final. O processo do ciclo de vida do
edifício é descrito pelas fases de projeto, construção e operação de construção. É
importante que se realize uma análise do local que inclua minimamente a
investigação de radiação solar, padrões de vento, presença e condição das
estruturas existentes, inventando a vegetação existente e documentando quaisquer
desafios acústicos que existam.
Ações importantes que devem ser analisadas nestes estudos são: Investigar
quais estratégias de design sustentável seriam aplicáveis tanto à localização
geográfica como à zona climática do projeto. Fazer uso da ferramenta de clima e a
paleta 20303. Estabelecer tabelas de medição que devem ser utilizadas ao longo da
duração do projeto para confirmar que os objetivos de projeto sustentável estão
sendo contabilizados.
As ferramentas de modelação paramétrica tridimensional passaram a
incorporar motores de cálculo que permitem executar simulações energéticas
preliminares, assim a equipe de arquitetura, tem uma intervenção direta e de forma
integrada no workflows das análises energéticas, enquanto o método CAD
geralmente impossibilita análises energéticas nas fases iniciais do projeto, estas,
tipicamente são realizadas depois dos projetos de arquitetura estarem prontos o que
resulta numa ineficácia no processo de alteração com consequências econômicas.
2.4 ETIQUETAGEM E CERTIFICAÇÃO
Os sistemas de certificação ambiental para edificações, utilizados por muitos
países ao redor do mundo com o intuito de simplificar o processo de avaliação de
impactos, avaliam o consumo energético, eficiência hídrica, uso de materiais, entre
outros, “além disso, o uso de ferramentas de simulação computacional de
desempenho ambiental, nas várias fases do projeto, tem tido um papel crucial de
3 A paleta 2030 é uma plataforma on-line gratuita que coloca os princípios e as ações por trás de
ambientes construídos com carbono neutro e resiliente ao alcance de projetistas, planejadores, construtores e formuladores de políticas em todo o mundo. < http://2030palette.org/>
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23
acentuar as vantagens de soluções verdadeiramente integradas entre arquitetura e
engenharia” (GONÇALVES; BODE, 2015, p. 237)
Esses sistemas de certificação têm como finalidade promover as práticas de
construções sustentáveis; estabelecer padrões e criar estratégias para mensurar a
eficiência de uma edificação; atestar a responsabilidade dos empreendedores com
relação à sustentabilidade através de critérios objetivos pré-determinados e
evidenciar o atendimento a requisitos de desempenho estabelecidos em normas e
regulamentos técnicos.
Atualmente o Brasil se destaca na utilização de certificações verdes sendo
que as principais são: Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), Alta
Qualidade Ambiental (AQUA) e Leadership in Energy and Environmental Design
(LEED)
2.4.1. Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – ENCE
No Brasil, a Eletrobras desenvolveu um selo energético para edificações
dentro do programa Procel Edifica – Eficiência Energética em Edificações (PROCEL,
2011). Esse programa é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, em parceria
com o LABEEE (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações).
A Instrução Normativa nº 02 de 04 de junho de 2014, publicada no Diário
Oficial da União, torna obrigatória a Etiquetagem para todos os prédios construídos
ou adaptados com recursos públicos federais, com área construída maior que
500m².
Para se obter esse selo, as edificações que pretendem ser enquadradas
como energeticamente eficientes devem atender os requisitos descritos nos
seguintes documentos:
- RTQ-C: Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de eficiência
energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos;
- RTQ-R: Regulamento Técnico da Qualidade para o nível de eficiência
energética em edificações residenciais;
- RAC-C: Regulamento de Avaliação da Conformidade do nível de eficiência
energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos;
- RAC-R: Regulamento de Avaliação da Conformidade do nível de eficiência
energética de edificações residenciais.
-
24
Os tópicos abaixo relacionados também são abordados em Guias Procel
Edifica, fornecidos pela Eletrobrás. Estes guias em conjunto com os regulamentos
supracitados, orientam o desenvolvimento de projetos de edificações de alto
desempenho com enfoque em acústica arquitetônica; clima urbano; desempenho
térmico; equipamentos; ventilação natural; sustentabilidade.
Gonçalves e Bode (2015) afirmam que essas referências servem de base na
utilização das ferramentas de simulação que auxiliam na tomada de decisões
durante a fase de projeto de edificações mais sustentáveis.
Os regulamentos acima relacionados determinam que a classificação de
edifícios se dá através da análise da eficiência de três sistemas: envoltória,
iluminação e condicionamento de ar. As exigências são avaliadas por um laboratório
de inspeção designado ou pelo Inmetro. A Certificação das edificações acontece
tanto na fase de projeto, quanto após a construção do edifício – avaliação in loco.
Para se obter a certificação é necessário contratar um Organismo de Inspeção
Acreditado pelo Inmetro (OIA). O valor cobrado por esses organismos para realizar
esse trabalho varia de acordo com a área construída.
O PBE Edifica pretende informar o nível de eficiência energética das
edificações; reduzir o consumo de energia; aprimorar o conforto térmico; incentivar
inovações tecnológicas eficientes; garantir edificação energeticamente mais
eficiente.
2.4.2. AQUA – Alta Qualidade Ambiental
O processo AQUA, criado em abril de 2008, é uma certificação internacional
da construção sustentável desenvolvida a partir da certificação francesa Démarche
HQE (Haute Qualité Environnmentale ou Alta Qualidade Ambiental) e aplicada no
Brasil exclusivamente pela Fundação Vanzolini.
Para obtenção do certificado é necessário o controle total do projeto,
atendendo 14 critérios para edifícios. São eles:
Eco construção:
- Relação com o entorno;
- Escolha integrada de produtos, processos e sistemas construtivos;
- Canteiro de obras com baixo impacto ambiental
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Eco gestão:
- Da energia;
- Da água;
- De resíduos de uso e de operação;
- Manutenção com permanência do desempenho ambiental
Conforto:
- Térmico;
- Acústico;
- Visual;
- Olfativo
Saúde:
- Qualidade sanitária dos ambientes;
- Qualidade sanitária do ar;
- Qualidade sanitária da água
2.4.3. LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) – E.U.A
O United States Green Building Council (USGBC) foi criado com o intuito de
promover e fomentar práticas de construção sustentável. Uma vez que era preciso
viabilizar a ideia para a indústria, de maneira que tais práticas se tornassem
palpáveis e, acima de tudo mensuráveis, foi necessária a criação de um sistema.
Assim foi introduzida a classificação LEED (Leadership in Energy and Environmental
Design ou Liderança em Energia e Design Ambiental), como forma de estabelecer
estratégias e padrões para criar edifícios sustentáveis. Busca-se definir “edifícios
verdes” através do estabelecimento de um padrão comum, promover práticas de
projeto e de construção integrativas, estimular a concorrência verde, sensibilizar
consumidores para os benefícios de uma construção sustentável, reconhecer a
liderança ambiental na indústria da construção, propagar a visão sobre o
desempenho de um edifício ao longo do ciclo de vida, transformar o mercado da
construção.
O LEED foi desenvolvido nos Estados Unidos pela USGBC em 1993. É uma
organização não governamental com reconhecimento internacional com foco na
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26
sustentabilidade de edifícios, empreendimentos imobiliários e planejamento urbano.
Sua primeira versão é de janeiro de 1999, desde então o LEED, vem atualizando-se,
sendo que a última versão foi implantada em junho de 2013 (GBCBRASIL, 2010).
O LEED orienta e testa o comprometimento de uma edificação com os
princípios da sustentabilidade para construção civil antes, durante e depois de suas
obras.
No Brasil, a organização que coordena e valida o LEED, é o GBC Brasil,
criada em 2007, com sede na cidade de São Paulo. Para certificar o selo LEED a
documentação é encaminhada ao GBC Brasil, na plataforma LEED Online, referente
ao seu tipo de empreendimento, de acordo com as categorias:
LEED-CS - Projetos da envoltória e parte central do edifício;
LEED-NC - Novas construções, novos e grandes projetos de
renovação;
LEED-CI – Edifícios comerciais e projetos de interiores;
LEED-Schools – projetos de escolas;
LEED Healthcare – unidades de saúde;
LEED EB_OM – operação e manutenção de edifícios existentes;
LEED for Homes – para residências;
LEED-Retail NC e CI – para lojas de varejo;
LEED-NB – Para desenvolvimento de bairros.
A edificação encaminhada para certificação passa pelo processo de
avaliação. O método de avaliação se dá pela somatória de pontos atribuídos em
atendimentos dos requisitos. Os requisitos, num total de sete são os seguintes:
Espaço Sustentável;
Uso Racional da Água;
Energia e Atmosfera;
Materiais e Recursos;
Qualidade Ambiental Interna;
Inovação e Processo do Projeto;
Crédito Regionais.
O empreendimento para ser avaliado tem que atender a pré-requisitos
obrigatórios. Sem a obtenção de oito pré-requisitos os empreendimentos não podem
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27
dar prosseguimento na certificação. Os pontos são distribuídos de forma desigual
entre as categorias.
A pontuação máxima é de 110 pontos, sendo que, para receber a certificação
LEED, além dos pré-requisitos obrigatórios, é necessário obter pontuação superior a
40 pontos. A pontuação é que define os quatro tipos de níveis de selo a ser
conquistado:
Selo LEED – superior a 40 pontos
Selo LEED Silver – superior a 50 pontos
Selo LEED Gold – superior a 60 pontos
Selo LEED Platinum – superior a 80 pontos.
2.5 O USO DO BIM EM PROJETOS SUSTENTÁVEIS
A otimização do tempo nos trabalhos coorporativos executados por pessoas
de múltiplas disciplinas, de vários lugares do mundo, utilizando tecnologias
avançadas, visando a plena satisfação e conforto dos usuários, com custos baixos e
sem impactos ambientais, tem sido a grande busca do mercado mundial e todo meio
científico. Dentro deste contexto mundial é de grande relevância a realização de
estudos elaborados com a utilização de uma tecnologia moderna, no presente caso
a plataforma BIM, para se alcançar a interoperabilidade na realização de um projeto
inteiramente sustentável e eficiente, de forma ágil.
Desenvolver projetos sustentáveis exige a integração entre os profissionais
envolvidos. A tecnologia BIM permite que todos os agentes possam trabalhar em um
único modelo virtual. A implantação desta tecnologia promove a gestão integrada, o
controle e verificação das diretrizes e dos requisitos de sustentabilidade.
Utilizar a tecnologia BIM como facilitador no processo de produção de
edificações mais sustentáveis, principalmente nas etapas iniciais de projeto, traz
como uma das principais vantagens a obtenção de análises precisas em
conformidade com as características de cada objeto, o que auxilia na tomada
decisões complexas em qualquer das disciplinas envolvidas.
No núcleo do BIM a informação é armazenada no modelo. Todos esses
dados são armazenados e referenciados em um banco de dados que é parte
-
28
integrante do modelo. O BIM usa um modelo central que pode ser estendido para
múltiplos propósitos, incluindo análise de desempenho. As informações neste
modelo podem ser: a geometria do projeto (formas, layout), as propriedades físicas
dos materiais (construções de paredes, propriedades térmicas, propriedades
visuais), o tipo de espaços no prédio. Outras entradas que podem ser parte do
modelo incluem a localização dos arquivos de construção e clima, que contêm
informações detalhadas sobre características ambientais como a temperatura, o
caminho do sol e padrões de vento. Usando essa informação, os mecanismos de
análise podem executar simulações em coisas como dimensionamento de HVAC,
uso de energia, uso de água, sombreamento e níveis de iluminação. Pode-se então
tomar melhores decisões, analisando e documentando o desempenho esperado do
projeto em elaboração.
A utilização de modelos matemáticos de fenômenos do mundo real, como o
BPA (Building Performance Analysis) e o BIM podem auxiliar na previsão do
desempenho e do custo de um projeto de construção durante o processo de design.
Uma das promessas emocionantes do BIM é que ele fornece aos usuários a
capacidade de analisar o desempenho do edifício no início do projeto, quando as
mudanças no design podem ser mais fáceis, menos dispendiosas e mais
impactantes. Com o BIM, é possível construir um modelo e visualizar esse modelo
de várias maneiras diferentes (planos de piso, elevações, horários), porque as
partes do modelo sabem onde estão localizadas em relação uma à outra e como
elas se parecem na seção. Uma mudança na definição de um objeto irá propagar
essa alteração em todas as visualizações desse objeto no modelo.
O uso de BIM no desenvolvimento de projetos sustentáveis promove a
otimização do uso de energia, água, solo e materiais; e o monitoramento,
acompanhamento e melhoramento do desempenho através de modelos inteligentes
tridimensionais. Outra vantagem é a antecipação de problemas, ineficiências e erros
muitas vezes percebidos apenas no canteiro de obras, que pode gerar a redução
nos custos da construção e no gasto de materiais, havendo ganho na qualidade das
obras e economia de recursos, favorecendo a sustentabilidade das edificações
(CARVALHO; SCHEER, 2015; LIU; MENG; TAM, 2015).
Justi (2008) também destaca como vantagens a maior rapidez na entrega do
projeto, custos menores, aumento na produtividade por causa da utilização de um
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29
único modelo, maior qualidade e, por tudo isso, mais oportunidades de negócios,
assim como menor retrabalho.
Segundo Dowsett e Harty (2013), Azhar, Farooqui e Brown (2009) e Marinho
(2014), a tecnologia BIM oferece as informações necessárias ao projeto sustentável
disponíveis de forma rotineira, como um subproduto do processo existente.
Todos os modelos gerados no BIM são aproximações da realidade.
Compreender como fazer o modelo de construção e aproximar este modelo da
realidade física pode contribuir para a criação de uma edificação com maior
desempenho.
A utilização da Tecnologia BIM no desenvolvimento de projetos sustentáveis
deve ser encarada como uma possibilidade de integrar os diversos profissionais da
AEC, com o intuito de facilitar o compartilhamento de informações entre eles através
de técnicas e ferramentas específicas para este fim, promovendo, desta forma, uma
descentralização na tomada de decisões, uma vez que cada um dos agentes
envolvidos pode atuar na sua área.
As ferramentas de análise e simulações de desempenho, presentes nos
softwares que trabalham com a tecnologia BIM podem trazer uma melhora
significativa na concepção da instalação e no consumo de energia durante o ciclo de
vida da edificação.
O importante é que essa tecnologia se torne uma ferramenta de utilização
rotineira dos profissionais da AEC visando disseminar, entre todos os envolvidos,
inclusive para o pequeno construtor, seus conceitos e funcionalidades, tornando-a
mais democrática. O BIM poderá ser aplicado a todo tipo de edificação, mesmo que
algumas delas não sejam avaliadas e certificadas, a facilitação da realização de
projetos e obras mais sustentáveis já contribuirá com a diminuição dos impactos
ambientais gerados pela construção dos empreendimentos.
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3. A PLATAFORMA BIM - “BUILDING INFORMATION MODELING”
3.1 HISTÓRICO E CONCEITOS SOBRE BIM
Há alguns anos os projetos, mesmo os mais complexos, eram executados
baseando-se em técnicas que proporcionavam a correta realização dos trabalhos,
porém eram pouco aprimoradas. Projetava-se sem um planejamento específico,
utilizando-se do conhecimento prático dos agentes da construção civil. Os desenhos,
feitos nas pranchetas, em escalas reduzidas, demandavam muito tempo, exigiam
dos profissionais grande habilidade e experiência, e eram os instrumentos utilizados
como representação do conceito que deveria ser executado, o que gerava maiores
dificuldades para a comunicação entre os envolvidos e menor agilidade na detecção
de problemas na execução.
Com o passar do tempo, começou-se a utilizar computadores para este
processo e então as pranchetas foram trocadas pelos softwares CAD (desenho
assistido por computador) que ofereceram avanços e vantagens para os projetos
das edificações, porém ainda havia grande probabilidade de se incorrer em erros na
execução dos projetos, causados principalmente, pela dificuldade na troca de
informações entre os entes envolvidos no desenvolvimento do empreendimento.
Os conceitos da plataforma BIM - “Building Information Modeling”, assim
como suas funcionalidades e significados são vistos atualmente, principalmente no
Brasil, como uma novidade para a área de Arquitetura, Engenharia e
Construção Civil (AEC), porém sua origem foi detectada no começo da década
de 1970 (EASTMAN et al., 2008) .
O primeiro registro dos conceitos utilizados na tecnologia conhecida
atualmente como BIM foi o modelo “Building Description System”, publicado nos
anos de 1970 por Charles Eastman, e que já apresentava a possibilidade
de atualização dos desenhos após alterações no objeto modelado, a criação
de vistas com definições variadas e o acesso a quantitativos precisos de um
modelo tridimensional único com base em informações constantes em um banco de
dados.
Nessa mesma década, em países tecnologicamente mais desenvolvidos no
setor da construção civil, surge a necessidade de se melhorar a tomada de
-
31
decisões, na medida em que aumenta o volume das informações disponíveis e a
exigência do mercado com relação a novas disciplinas como, por
exemplo, segurança e sustentabilidade, entre outros (CAMPESTRINI, 2015).
Em meados dos anos 1980 esses conceitos passam a ser empregados em
conformidade com o que é utilizado atualmente e eram conhecidos, nos Estados
Unidos, como “Building Products Models”.
Ao se iniciar a década de 1990, passou-se a utilizar softwares que
disponibilizavam a elaboração de projetos em três dimensões, mas somente com o
emprego de objetos vetoriais, sem a utilização de informações relacionadas ao
projeto. Nessa época, os softwares de modelagem passaram a oferecer novas
funcionalidades, tais como, a possibilidade de se ter uma maior quantidade de
informações geradas no processo da modelagem. O desenvolvimento
de tecnologias que oferecem a integração de todas essas informações passou a
ser indispensável ao se projetar uma edificação única, para que todos
os setores envolvidos possam trabalhar de forma articulada durante o processo
(EASTMAN; TEICHOLZ; SACKS, 2011) .
Segundo Eastman (2011) o BIM seria “um modelo digital que representa um
produto, que, por sua vez, seria o resultado do fluxo de informações do
desenvolvimento do seu projeto”, ou seja, as informações ou parâmetros criados no
desenvolvimento do projeto deveriam representar o produto e como ele seria
executado na realidade (CBIC, 2017).
Com a chegada dos anos 2000, essas características, abordagens e
conceitos de modelagem passaram a ser conhecidas como BIM, e a terminologia
“Building Information Modeling”, passou a ser adotada entre os profissionais da já
mencionada área AEC.
Jernigan (2008) afirma que a sigla BIM foi popularizada a partir de 2002, e
envolve os conceitos de planejamento, projeto, construção, e gestão do mundo
construído, utilizando software em sistemas de hardware compatíveis.
Essa terminologia conhecida nos dias atuais deriva das características e dos
próprios conceitos que englobam todo o processo de desenvolvimento utilizado
nessa plataforma. Ao retirar o termo Models e utilizar o termo Modeling pretendeu-se
demonstrar a integração dinâmica entre todas as fases do desenvolvimento
do projeto, a ação de projetar, construir e gerenciar todo o processo, englobando as
etapas do ciclo das edificações (EASTMAN; TEICHOLZ; SACKS, 2011).
-
32
Esta metodologia fomenta uma interoperabilidade entre as variadas
disciplinas participantes no processo e suas diferentes ferramentas, alcançando-se,
com ela, uma integração de todos os produtos gerados no projeto, nas várias etapas
do seu desenvolvimento, e promovendo a qualidade do produto final.
O termo Information, por sua vez, demonstra a característica mais expressiva
da tecnologia em estudo, que é a ligação existente entre o modelo e as informações,
que mostram efetivamente as várias propriedades dimensionais e materiais que
compõem o objeto modelado. Utilizando-se da parametrização dos objetos, atualiza-
se automaticamente os modelos e o banco de dados do projeto através da variação
dos parâmetros e regras definidas e alteradas pelo usuário. “Esta característica pode
ser considerada o divisor de águas entre os softwares de desenvolvimento
de projetos CAD e os da plataforma BIM”. (EASTMAN; TEICHOLZ; SACKS, 2011).
Com base nos fundamentos acima descritos, é possível definir o BIM como
uma metodologia que gerencia todo o ciclo de vida de um empreendimento a partir
da combinação de um conjunto de políticas, processos e tecnologias, utilizando-se
de plataformas digitais. O BIM possibilita a modelagem, o armazenamento e o
compartilhamento de informações a respeito de uma edificação, através da
utilização de novos softwares ou ferramentas dotadas de funcionalidades
específicas que oferecem maior eficácia e eficiência do desenvolvimento do projeto.
Resta claro que o BIM é uma tecnologia que vai além de simples modelagem,
representando um novo paradigma para o enriquecimento do desenvolvimento de
um projeto, agregando novas funcionalidades que auxiliam a completa integração de
todas as etapas do processo, promovendo o sincronismo entre os agentes e
disciplinas envolvidos, gerando um produto final com maior eficiência e qualidade.
Esta plataforma não é um produto, ela pode ser definida como um processo de
desenvolvimento de projetos que prevê a elaboração de um modelo virtual, fiel à
edificação, ou seja, um protótipo virtual, que contenha a totalidade das
informações sobre esse produto, desde características dos materiais empregados,
técnicas construtivas, características termoacústicas, manutenção, entre outras
informações relevantes. Enfim, é uma tecnologia baseada em softwares de banco de
dados que permitem processar uma grande quantidade e variedade de informações
para auxiliar na comunicação e na tomada de decisões dos especialistas que
trabalham no projeto, além de permitir uma apresentação de resultados mais
eficiente através de uma visualização amigável, em 3D.
-
33
A partir das definições e características elencadas nos parágrafos acima
pode-se ressaltar a existência de três pilares na conceituação da Plataforma BIM:
Modelagem paramétrica, Interoperabilidade e Gestão da Informação.
3.2. MODELAGEM ORIENTADA A OBJETOS
A modelagem orientada a objetos utiliza o desenvolvimento de um modelo
onde cada objeto é definido individualmente pelos seus detalhes e, esses objetos
são organizados e classificados de acordo com a similaridade ao comportamento e
característica sendo definidos atributos fixos e variáveis aos objetos. Os atributos
são informações relativas às diversas características destes objetos. Os atributos
fixos são definidos a partir de propriedades como forma, custo, utilidade, entre
outras; os atributos variáveis são estabelecidos a partir de parâmetros e regras de
forma que os objetos possam ser automaticamente ajustados de acordo coma as
alterações do projeto efetuadas pelo usuário (EASTMAN et al., 2011). O grau de
precisão da modelagem paramétrica será determinado pela variedade e a
qualidade das regras e parâmetros estabelecidos (RUSCHEL et al., 2010).
“Em um desenho 3D de CAD tradicional cada aspecto do elemento deve ser editado manualmente e, no projeto criado num modelador paramétrico, a geometria se ajusta automaticamente dependendo do contexto e com alto grau de controle do usuário”. (EASTMAN; SACKS, 2011).
A diminuição dos erros de desenho e a facilidade nas modificações de projeto
são apontadas como maiores benefícios da utilização do BIM. A título de exemplo, é
possível citar os desenhos gerados instantaneamente a partir da geometria
modelada, tais como as plantas, cortes e elevações, e que podem ser modificados a
partir da alteração das regras paramétricas.
Ocorre que, Jernigan (2008) afirma que o BIM não é perfeito, uma vez que
essa inserção de informações pelo usuário pode acarretar a ocorrência de erros, e
quanto maior a necessidade dessa interferência humana, maior a possibilidade de
inconsistências. O mesmo autor relata a importância de minimizar a entrada dos
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dados para que se consiga capturar o conhecimento com rapidez e reduzir os erros
na inserção das informações.
A modelagem orientada a objetos permite também que cada objeto, insumo e
material sejam dimensionados e quantificados de forma automática pelo próprio
software. Essa característica, além de tornar o trabalho dos orçamentistas mais ágil,
possibilitará a obtenção de estimativas de custo mais próximas à realidade e com
menor margem de erros, reduzindo prejuízos e aumentando o lucro do projeto.
Ruschel et al. (2010) afirma que, na modelagem orientada a objetos, os
profissionais envolvidos inserem suas informações através de objetos além de
inserir regras para a ordenação das informações. As regras definem o
comportamento dos objetos, possibilitando que, ao se modificar alguma informação,
o usuário, tenha consciência do problema e que, a partir disso, conjuntos lógicos
sejam gerados. Estes conjuntos lógicos representam as prováveis soluções dos
problemas do projeto.
Segundo Eastman et al. (2011) para um objeto ser paramétrico ele deve
satisfazer algumas condições tais como ser constituído por dados e regras
associados; não deve possuir inconsistências; seus parâmetros e seus componentes
devem ser definidos em diferentes níveis; não pode ser definido ou alterado fora das
especificações e requisitos de tamanho, fabricação ou qualquer outra regra proposta
e deve ter a capacidade de conectar, receber e exportar um conjunto de atributos,
tais como componentes estruturais, dados sobre acústica e energia, para outras
aplicações e modelos.
3.3 O PROCESSO COLABORATIVO E A INTEROPERABILIDADE
O desenvolvimento do projeto de um empreendimento é uma atividade
extremamente complexa não só pelas suas peculiaridades e dimensão, mas
também pela diversidade de disciplinas e áreas direta e indiretamente envolvidas na
execução do projeto. Este processo refere-se a um único modelo, que é o produto a
ser desenvolvido, sendo trabalhado por vários profissionais ao mesmo tempo,
executando atividade complementares, gerando partes que comporão o
empreendimento. Diante dessa realidade constata-se a necessidade
de integração entre esses profissionais participantes do processo.
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A comunicação e a colaboração entre as diversas áreas envolvidas no
planejamento, projeto e execução do empreendimento devem ser valorizadas e
incentivadas para que o produto final apresente os resultados esperados, dentro dos
prazos definidos e com custos baixos.
A Plataforma BIM possibilita o desenvolvimento de um processo colaborativo,
integrado e com compartilhamento do conhecimento. É muito importante analisar e
definir a participação de cada profissional no processo de desenvolvimento, uma vez
que o empreendimento deve ser executado com uma atuação multidisciplinar, onde
os envolvidos tenham uma visão geral do modelo.
De acordo com Andrade & Ruschel (2009), a plataforma BIM, enquanto
processo de trabalho, envolve, sobretudo, a comunicação e a colaboração entre
diferentes profissionais e empresas ligadas à área de Arquitetura, Engenharia e
Construção (AEC); e um dos desafios mais relevantes no desenvolvimento de
sistemas que utilizam a plataforma BIM é o pouco entendimento destes profissionais
da AEC dessa tecnologia.
A partir do momento em que os participantes conseguem compartilhar
informações de forma eficaz, é possível desenvolver o projeto em uma única
plataforma, o que acarretará a diminuição das omissões e de erros decorrentes da
interpretação incorreta da informação, otimizando a construção do modelo à medida
que se alimenta o banco de dados.
“As ferramentas da plataforma BIM possibilitam a utilização de toda a informação em um modelo único e, atualmente, já surgem funcionalidades que promovem a unificação de vários projetos, e a verificação da compatibilidade de modelos, apontando inconsistências no projeto global”. (RUSCHEL et al., 2009)
Várias atividades são trabalhadas simultaneamente no planejamento e
diversas tarefes são executadas paralelamente na elaboração do projeto. Em
decorrência desse volume de trabalho é gerada uma enorme quantidade de
informações, sendo de extrema importância que estas informações sejam
acessíveis e de fácil compreensão para toda a equipe participante do
desenvolvimento, para isto é necessária uma tecnologia que ofereça a confiabilidade
e rapidez requerida, trabalhando estas informações com segurança.
Uma demanda muito relevante para o gerenciamento de projeto colaborativo
é a melhoria nessa comunicação entre as áreas envolvidas no processo, o que
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permite o compartilhamento da informação de forma organizada. A plataforma BIM
oferece soluções que possibilitam a disponibilização dessas informações aos
profissionais do projeto do empreendimento de forma adequada e confiável. Para
Wong & Fan (2013), é importante destacar o que se entende por uma forma
adequada de compartilhar as informações do projeto, cada equipe ou área terá
acesso às informações necessárias ao desenvolvimento do seu trabalho,
diminuindo a perda de dados e impossibilitando acessos a elementos não relevantes
àquela área e tornando todo esse conjunto de informações altamente confiáveis.
Por tudo o que foi exposto, constata-se que o processo colaborativo,
característica que pode facilmente ser implementada em uma ferramenta que utiliza
a plataforma BIM, se mostra essencial nos projetos desenvolvidos atualmente, ainda
mais porque algumas equipes que participam das atividades da construção de
um empreendimento nem sempre estão próximas umas das outras.
Para que a plataforma BIM atenda esta demanda descrita no presente item e
promova o trabalho em colaboração com a perfeição desejada é necessário que
haja a Interoperabilidade.
Segundo o Institute of Electrical and Electronics Engineers (I-E triplo)
interoperabilidade é definida como "a capacidade de dois ou mais sistemas ou
componentes trocarem informações e usarem as informações que foram trocadas.”,
ou seja, para que a informação seja compartilhada corretamente entre os
participantes é imprescindível a atuação da interoperabilidade dos sistemas
utilizados. De acordo com Eastman et al. (2011), a interoperabilidade pode ser
entendida como uma funcionalidade de identificar os dados necessários para serem
passados entre os aplicativos.
Andrade e Ruschel (2009) afirmam que é com a interoperabilidade que os
profissionais de todas as disciplinas envolvidas no processo conseguem acessar e
atualizar os dados do modelo único conforme o seu projeto específico, contribuindo
para o empreendimento global, de forma ágil e colaborativa. Sabe-se que cada
profissional em sua área trabalha com diferentes tipos de ferramentas, e os dados
gerados devem ser compartilhados, ou seja, é necessário que as ferramentas
identifiquem o tipo de arquivo gerado por outros programas, isto é alcançado com a
interoperabilidade que elimina o retrabalho de replicar dados de projeto que já
tenham sido gerados e facilita, de forma automatizada e sem obstáculos, o fluxo de
trabalho entre diferentes aplicativos, durante o processo de projeto.
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O que ocorre é que a troca de dados, ou de modelos, entre os
diferentes softwares utilizados atualmente, continua sendo um dos maiores desafios
da área de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) para alcançar a colaboração
totalmente integrada entre equipes de projetos. Existem inúmeros esforços para o
estabelecimento de padrões, protocolos e boas práticas em toda a área de AEC.
“A maioria das tarefas executadas pelos profissionais da AEC nos aplicativos
BIM se limita àquelas disponibilizadas internamente nos softwares utilizados, sendo
pouco comum o uso de arquivo visando à interoperabilidade.” (KIVINIEMI et al.,
2008).
Uma das soluções criadas para a identificação e a troca dos dados e
informações gerados pelos especialistas do projeto foi a utilização de um padrão
neutro, com formato aberto e comum a todos os softwares, o IFC4. Ele é
um protocolo de padrão internacional, certificado pela ISO (16739:2013), criado
especificamente para esta troca de arquivos entre ferramentas que utilizam a
plataforma BIM, evitando a perda de inúmeras informações, assim como facilitando
a incorporação dos dados dos especialistas ao modelo principal para viabilizar a
interoperabilidade e o trabalho colaborativo.
As especificações IFC foram desenvolvidas e estão em contínua evolução e
manutenção. De acordo com Khemlani (2004), o IFC foi criado utilizando uma
linguagem de modelagem de dados que é legível por máquinas e possui múltiplas
implementações, é um formato de arquivo orientado a objetos 3D, aberto, público e
padronizado, que pretende abranger cada aspecto do projeto dentro da área de
AEC.
“O IFC permite o compartilhamento de geometria, topologia, elementos estruturais, espaços, terreno, estrutura, sistemas, móveis, tempo, restrições, análise, pessoas, planos de trabalho, custos, dados externos, relacionamentos entre essas coisas e mais” (JERNINGAN, 2008).
A utilização do formato IFC promove uma melhora na comunicação,
incrementa a produtividade, diminui o prazo de entrega do projeto e agrega
4 O Industry Foudation Classes (IFC) é um padrão de protocolo internacional de trocas de dados. Um modelo de dados baseado em objetos, não proprietário. (ANDRADE; RUSCHEL, 2009).
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qualidade a todas as etapas do desenvolvimento do projeto de uma edificação;
além de preservar as informações trocadas entre os participantes do processo. O
modelo IFC representa não apenas elementos de construção, tais como paredes,
janelas, portas, e outros, mas também elementos mais conceituais, tais como
organização, horários, custos da obra, entre outros. É essa grande variedade de
representações que possibilita a integração de diversas disciplinas da construção.
Ocorre que, segundo Kiviniemi et al.(2008), apenas um terço dos arquitetos
que usam o BIM empregam arquivos no formato IFC. Para Jerningan (2017) o IFC é
atualmente um ambiente de desenvolvimento complicado e muitos especialistas
acham que as dificuldades superam os benefícios.
A partir dos estudos da bibliografia selecionada a autora considera que o
desafio para a aplicação do modelo IFC, além de intensificar sua utilização entre os
profissionais da AEC, tem sido conseguir aliar a dinâmica do trabalho por
módulos com a estrutura rígida do modelo para assegurar a consistência dos dados
após a integração dos diversos módulos.
3.4 A COMPATIBILIZAÇÃO E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO
Os projetos de Arquitetura, Engenharia e Construção Civil (AEC) que utilizam
a tecnologia tradicional, bidimensional, são desenvolvidos, nos dias atuais, de forma
fragmentada e segregada, apresentando diversos projetos complementares
realizados individualmente pelos vários especialistas que, geralmente, não se
comunicam entre si na elaboração do seu trabalho específico.
As atividades ligadas à área AEC envolvem uma variedade de profissionais,
trabalhando com um enorme volume de dados e informações; e contribuindo com
opiniões, produtos, conhecimentos e habilidades específicos. No decorrer
do processo, essas informações devem ser compartilhadas, interpretadas,
transformadas, corretamente utilizadas e bem preservadas, para que ocorra a
completa integração e correta definição de cada etapa do projeto e desenvolvimento
da edificação.
Diante de toda essa complexidade de atividades e diversidade de agentes é
necessário padronizar todos os tipos de dados, o que significa convertê-los para a
linguagem que pode ser devidamente compreendida na tarefa que está sendo
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executada. Entretanto, essa conversão pode gerar erros ou até
mesmo perdas, pois o processo de compatibilização da diversidade de dados não é
simples. Uma dificuldade é apresentada quando diferentes ações realizadas em um
mesmo modelo utilizam informações inconsistentes ou até mesmo dicotômicas,
gerando atrasos e custos maiores da obra. Por tudo o que foi exposto,
é imprescindível possuir um instrumento eficiente e correto de troca de informações
entre os agentes participantes do processo de construção da edificação, ou seja, um
banco de dados que gerencie com menor possibilidade de erros todas as
informações do modelo.
O modelo BIM pode ser considerado com