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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA NORMA IEC 61850 – ESTUDO DE CASO DE SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO E PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA Área de Engenharia Elétrica por Marcelo Costa de Moraes Débora Meyhofer Ferreira, MsC. Orientadora Campinas (SP), dezembro de 2.008

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

NORMA IEC 61850 – ESTUDO DE CASO DE SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO E PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA

Área de Engenharia Elétrica

por

Marcelo Costa de Moraes

Débora Meyhofer Ferreira, MsC. Orientadora

Campinas (SP), dezembro de 2.008

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

NORMA IEC 61850 – ESTUDO DE CASO DE SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO E PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA

Área de Engenharia Elétrica

por

Marcelo Costa de Moraes Relatório apresentado à Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Elétrica para análise e aprovação. Orientador: Débora Meyhofer Ferreira, Msc.

Campinas (SP), dezembro de 2.008

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, por me dar forças e refúgio nos momentos de

turbulência e desânimo. Por operar muitos milagres em toda minha vida.

Aos principais incentivadores deste projeto: Raquel, Matheus e Bruno, esposa e filhos, por

estarem sempre ao meu lado alegrando minha vida e dando sentido ao meu viver.

Aos meus pais, que investiram tudo em minha educação, apesar de todas as dificuldades que

passaram e oportunidades que não tiveram.

Agradeço à Professora Débora Meyhoffer Ferreira, que foi muito mais que uma orientadora,

foi também muito amiga e incentivadora, demonstrando sempre de forma clara e paciente os

caminhos a serem seguidos.

Agradeço ao Professor Luiz Carlos de Freitas Júnior, por ter me ajudado em inúmeras

ocasiões e pelos exemplos de postura, conduta e companheirismo.

Agradeço a Universidade São Francisco, por ter disponibilizado profissionais com notáveis

talentos, conhecimentos e ainda por cima, paciência em me auxiliar em diversas fases de meus

estudos.

Agradeço aos colegas de empresa de meu setor e de outros setores que ajudaram com

informações para refletir sobre o trabalho.

Agradeço a todos aqueles que colaboraram direta ou indiretamente com opiniões e com

incentivos para que este Trabalho de Conclusão de Curso chegasse ao seu final.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à memória de Amadeu Pereira de Moraes, saudoso e amado pai, que

sonhara um dia seu filho tornar-se-ia engenheiro.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................. ii DEDICATÓRIA ....................................................................................... ii LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................ iv

LISTA DE FIGURAS ............................................................................. vi LISTA DE TABELAS ............................................................................ vii RESUMO ............................................................................................... viii ABSTRACT ............................................................................................. ix

1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 1 1.1. OBJETIVOS ..................................................................................................... 2 1.1.1. Objetivo Geral ................................................................................................ 2 1.1.2. Objetivos Específicos...................................................................................... 2 1.2. METODOLOGIA ............................................................................................. 2 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................... 3

2. SUBESTAÇÕES DE ENERGIA......................................................... 4 2.1. EQUIPAMENTOS DE UMA SUBESTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA . 4 2.2. SISTEMAS DE PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES ....................................... 5 2.3. SISTEMAS DE SUTOMAÇÃO DE SUBESTAÇÕES ................................... 8

3. PROTOCOLOS DE COMUNICAÇÃO PARA SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO DE SUBESTAÇÕES ................................................... 12 3.1. PROTOCOLO DNP 3.0 ................................................................................. 13 3.2. PROTOCOLO IEC 61850 ............................................................................. 16 3.3. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PROTOCOLOS DNP 3.0 E IEC 61850 ....................................................................................................................... 21

4. ESTUDO DE CASO: DIGITALIZAÇÃO DE UMA SUBESTAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ... 24 4.1. SUBESTAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA TRADICIONAL ..................................................................................................... 24 4.2. SUBESTAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DIGITALIZADA ................................................................................................... 26 4.3. COMPARATIVO DE TEMPO DE ATUAÇÃO DO RELÉ DE PROTEÇÃO ........................................................................................................... 28 4.4. FUNÇÕES DE PROTEÇÃO, AUTOMAÇÃO E INTERTRAVAMENTO 29

5. CONCLUSÃO .................................................................................... 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 33

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANSI American National Standard Institute CLP Controlador Lógico Programável CID Configurated IED Description COD Centro de Operação da Distribuição CO-R Centro de Operação Regional COS Centro de Operação de Sistemas COM Comunicação CRC Cicle Redundancy Code CSMA/CD Carrier Sense Multiple Access/Collision Detection CTR Concentrador de Dados DEC Duração Equivalente de interrupção por Consumidor DNP Distributed Network Protocol EA Entrada Analógica ED Entrada Digital EPA Enhanced Performance Architecture EPRI Electric Power Research Institute GOOSE Generic Object Oriented System Events FEC Freqüência Equivalente de interrupção por Consumidor ICD IED Capability Description IEC International Electrotechnical Commission IED Dispositivo Eletrônico Programável IHM Interface Homem Máquina ISO International Standardization Organization LAN Rede Local LD Logical Device LN Logical Node MEMO Memória OSI Open System Interconnection PC Personal Computer SA Saída Analógica SAS Substation Automation System SCADA Supervisão, Controle e Aquisição de Dados SCL Substation Configuration Language SD Saída Digital SE Subestação SEP Sistema Elétrico de Potência SMAL Subsistema de Monitoramento e Análise Local SMAR Subsistema de Monitoramento e Análise Remoto SOL Subsistema de Operação Local SCD Substation Configuration Description SSD System Specification Description TC Transformador de Corrente TCP/IP Transmission Control Protocol/Internet Protocol TP Transformador de Potencial UAC Unidade de Aquisição e Controle UCA Utility Communications Architecture

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UCP Unidade Central de Processamento UDP User Datagram Protocol UTR Unidade Terminal Remota XML Extender Mark up Language

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Sistema de automação de subestação ................................................................................ 8 Figura 2. Diagrama de Blocos Funcionais da UTR......................................................................... 10 Figura 3. Protocolos utilizados em sistemas de automação de SE’s ................................................ 13 Figura 4. Modelo OSI e DNP......................................................................................................... 14 Figura 5. Frame da Camada de Enlace ........................................................................................... 15 Figura 6. Arquitetura da norma IEC 61850 .................................................................................... 17 Figura 7. Modelo de dados inseridos no dispositivo físico ............................................................. 17 Figura 8. Arquitetura de um sistema de configuração que utiliza a linguagem SCL ........................ 19 Figura 9. Representação da pilha de protocolos IEC 61850 ............................................................ 20 Figura 10. Subestação de distribuição de energia elétrica tradicional.............................................. 24 Figura 11. Diagrama Unifilar da Subestação .................................................................................. 25 Figura 12. Rede de comunicação da rede digital ............................................................................ 26 Figura 13. Comparativo de tempo para descarte de cargas ............................................................. 28 Figura 14. Esquema de proteção de falha de disjuntor usando mensagens GOOSE ........................ 29

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Grupo de Nós Lógicos .................................................................................................... 18 Tabela 2. Classe de dados do IEC 61850 ....................................................................................... 18 Tabela 3. Lista de Tipos de Mensagens e Classes de Desempenho ................................................. 20 Tabela 4. Quadro comparativo entre os Protocolos DNP 3.0 e IEC 61850 ...................................... 21

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RESUMO

MORAES, M.C. Integração de Sistemas de Automação e Proteção de Subestações de energia Elétrica. Campinas, 2008. nº.f.49 Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade São Francisco, Campinas, 2008.

Atualmente têm surgido novas técnicas de comunicação, utilizadas no controle e supervisão

de subestações, para poder garantir cada vez mais confiabilidade e qualidade no fornecimento de

energia elétrica ao consumidor. Nessa abordagem, este trabalho é um estudo de caso de integração

dos sistemas de automação e proteção de uma subestação de distribuição de energia elétrica

localizada na região metropolitana de Campinas. Essa integração foi feita adotando-se as

especificações recomendadas pela norma IEC 61850, que tem por objetivo se tornar um padrão

único no desenvolvimento de aplicações baseadas em comunicação ponto a ponto de alta

velocidade. Além de facilitar a integração de sistemas de automação de subestações (SAS), reduz

custos totais de sistemas e garante a interoperabilidade entre IED’s de diferentes fabricantes.

Inicialmente foi feito um estudo teórico no intuito de apresentar as principais características

das subestações, seus equipamentos de alta tensão, os sistemas de proteção, automação e controle,

assim como uma análise e comparação dos protocolos de comunicação utilizados no sistema

elétrico (DNP 3.0 e IEC 61850). Na seqüência são mostrados detalhes do estudo de caso assim

como vantagens e desvantagens do IEC 61850.

Palavras-chave: Sistemas de Automação de Subestação. IEC 61850. Protocolos de comunicação. Dispositivos Eletrônicos Inteligentes. Unidades Terminais Remotas.

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ABSTRACT

New communication techniques have arisen, for the control and supervision of substations

to ensure more reliability and quality in the supply of electric energy to consumers. This work is a

case study of integrated systems automation and protection of a substation for electric energy

distribution located in the metropolitan region of Campinas. This integration results from adopting

the specifications recommended by IEC 61850, which aims to become a single standard in the

development of applications for peer-to-peer high speed communication. In addition to facilitating

the integration of automation systems for substations (SAS), this proposal reduces the total cost of

systems and ensures interoperability among IED’s from different manufacturers.

Initially, a theoretical study was carried out in order to present the key features of the

substation, its high-voltage equipment, as well as its the protection, automation and control systems;

then an analysis and comparison of communication protocols used in the electrical systems (DNP

3.0 and IEC 61850) is introduced. Finally details of the case study are given along with IEC 61850

advantages and disadvantages.

Keywords: Substation Automation System. IEC 61850. Communications Protocols. Intelligent Eletronic Device. Remote Terminal Unit.

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1. INTRODUÇÃO

Os sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica são reconhecidos

como fator de grande relevância no desenvolvimento e crescimento do país. Um fornecimento de

energia elétrica de qualidade consiste de vários aspectos como número de interrupções, tempo de

duração de cada interrupção, harmônicos na rede, distorções na forma da senóide entre outros.

Inicialmente, as subestações de energia elétrica eram totalmente assistidas localmente, ou

seja, contavam com operadores, engenheiros, técnicos e eletricistas que faziam todas as manobras

de restabelecimento de energia, transferência de cargas e inspeções em equipamentos como

transformadores de potência, disjuntores, pára-raios, seccionadores, etc.

Em uma segunda fase, a introdução de Centros de Operação do Sistema Elétrico (COS),

Centros de Operação Regionais (CO-R), Centros de Operação da Distribuição (CO-D) e Unidades

de Aquisição de Dados e Controle (UAC’s) ou também chamadas Unidades Terminais Remotas

(UTR’s), possibilitou o controle à distância de usinas, subestações de transmissão e distribuição de

energia elétrica [1]. Dessa forma, existiam processos que verificavam medições de tensão e

correntes elétricas em disjuntores, temperaturas e níveis de óleo de transformadores, “status” de

seccionadores e disjuntores, além de alarmes de atuação de proteções que automaticamente eram

transmitidas para os centros de operação responsáveis, todos esses elementos formando um sistema

de automação. Por outro lado, a utilização de relés de proteção que visavam como o próprio nome

diz proteger os equipamentos dentro das subestações de descargas atmosféricas, sobrecargas,

curtos-circuitos, fugas para terra, etc, formando assim o sistema de proteção.

Entretanto, estes sistemas operavam de forma independente. Não havia uma interação entre

eles e, dessa forma, os centros de operação precisavam que, em determinados casos de emergência,

fossem acionadas equipes especializadas aos locais das ocorrências para identificarem as falhas ou

defeitos para tomarem as decisões mais acertadas. Os avanços tecnológicos nos sistemas de

automação e proteção vêm promovendo um aumento da confiabilidade e garantindo a qualidade do

fornecimento de energia, justamente por integrar estes sistemas que até então trabalhavam isolados.

A evolução dos relés de proteção microprocessados para os chamados Dispositivos Inteligentes

Eletrônicos (IED – Intelligent Eletronic Devices) que, comparados aos antigos equipamentos de

proteção eletromecânicos e estáticos, além de possuírem as funções de proteção, também

adquiriram as capacidades de comunicação e integração das funções de controle [2].

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Os sistemas atuais de automação de subestações de energia elétrica normalmente consistem

de equipamentos de diferentes fabricantes e de diferentes gerações. A comunicação entre eles é

difícil e a maioria usa protocolos específicos, ou adaptadores para a conversão destes protocolos.

Surge então a necessidade de tornar possível a maior interoperabilidade entre eles, modernizar as

subestações e tornar disponíveis para os centros de operações, todas as informações presentes

dentro do ambiente das subestações [3].

A IEC 61850 é uma norma internacional destinada a redes de comunicação e sistemas em

subestações de energia elétrica que viabiliza o desenvolvimento de aplicações baseadas em

comunicação ponto a ponto de alta velocidade, com medidas distribuídas, controle, proteção e

soluções baseadas em amostras de valores analógicos. Tem como objetivo, facilitar a integração dos

Sistemas de Automação de Subestações (SAS) e melhorar as funcionalidades existentes, além de

reduzir o custo total do sistema e garantir a interoperabilidade dos IED’s.

1.1. OBJETIVOS

1.1.1. Objetivo Geral

O objetivo principal deste trabalho é descrever o cenário de uma subestação de energia

elétrica, seus equipamentos, funções e importância. Como estão inseridos os sistemas de

automação, proteção e controle, e demonstrar a grande evolução tecnológica pela qual passam tais

sistemas.

1.1.2. Objetivos Específicos

Demonstrar através de estudo de caso, como a aplicação da norma IEC 61850 em uma

subestação de energia elétrica situada na região de Campinas – SP, trouxe vantagens operacionais

ao Centro de Operação do Sistema (COS) e como as informações agora disponíveis podem ser

utilizadas por todas as áreas de interesse, tudo isso possível através da troca de informações entre

IEDs.

1.2. METODOLOGIA

Este trabalho se baseará na pesquisa científica da norma IEC 61850. Inicialmente foi feito

um levantamento bibliográfico de toda a norma além de aplicações que utilizam esse protocolo no

mesmo cenário ou em cenários similares.

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Sequencialmente foi feito um estudo de caso de uma subestação de distribuição de energia

elétrica na região de Campinas, que foi totalmente digitalizada adotando-se a norma IEC 61850,

onde foram substituídos todos os relés eletromecânicos por IED’s de proteção e também foi trocada

a UTR por um concentrador de dados.

O desempenho do sistema de automação e proteção foi comparado, antes e depois da

digitalização, considerando-se: velocidade da transferência de dados entre os dispositivos, redução

dos custos de ampliação da subestação e novos recursos oferecidos para o sistema de controle e

supervisão e na realização de testes de transferências de informações entre relés digitais de proteção

e concentradores de dados, adotando-se o novo protocolo.

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO

No primeiro capítulo é feita introdução do trabalho, o objetivo geral e especifico e a

metodologia utilizada para conclusão.

Já no Capítulo 2 é feita uma descrição geral de uma subestação de energia elétrica, sua

função, as características dos equipamentos de alta tensão e suas funções. Também são

apresentados os sistemas de proteção com descrição de relés e funções. Finalizando esta parte do

trabalho é feita a apresentação de sistemas de automação.

A apresentação e estudos dos protocolos de comunicação utilizados em subestações, DNP

3.0 e IEC 61850 são feitos no capítulo seguinte. Uma análise comparativa entre ambos é realizada

com o objetivo de demonstrar suas principais características, vantagens e desvantagens.

O Capítulo 4 trata-se do estudo de caso de uma subestação digitalizada em uma cidade da

região metropolitana de Campinas, estado de São Paulo, adotando-se as recomendações

especificadas pela norma IEC 61850. São informados os benefícios atingidos com a integração de

IED’s de proteção e automação, além da melhora na operação de subestações do sistema elétrico.

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2. SUBESTAÇÕES DE ENERGIA

As subestações de energia elétrica (SE’s) representam um importante componente no

Sistema Elétrico de Potência (SEP): neste local a energia é transformada, controlada e distribuída.

Sua função é efetuar pontos de ligação entre a geração e os centros de consumo ou de distribuição

de energia elétrica.

Como são pontos de operação do SEP, devem possuir ações e comandos coordenados a

partir de programas e filosofias de operação, de conformidade com informações coletadas a partir

dos sistemas de medição e proteção. Além destes, existem equipamentos de manobra, transmissão

de dados e controle [4].

2.1. EQUIPAMENTOS DE UMA SUBESTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Dentro das subestações de energia elétrica (SE’s) são instalados vários equipamentos que

são utilizados com finalidades específicas, a seguir descreveremos resumidamente alguns

dispositivos e suas funções:

• Transformadores de Força. Como o nível de tensão gerado nas usinas não pode atingir

todos os níveis elétricos para alimentar as cargas em um sistema interligado, às vezes é

necessário utilizar um transformador de força para fazer uma elevação da tensão para fins de

transmissão e sub-transmissão e também é necessário utilizá-lo para reduzir o nível de

tensão para efeito de distribuição e conseguir atingir as cargas menores. Além de exercer

este papel, o transformador de força também pode isolar eletricamente um determinado

circuito, elevar ou reduzir tensões. Nestes casos, o transformador adota vários nomes de

acordo com a função exercida: Transformador Elevador, Transformador Abaixador,

Transformador de Distribuição, etc.

• Seccionadoras. São chaves que seccionam determinados trechos do circuito elétrico,

fazendo com que sejam mantidas as distâncias de isolamento para o qual foram projetados.

Estes dispositivos podem possuir acionamentos mecânicos motorizados ou manuais através

de válvulas solenóides. Sem mencionar que, a maioria destes equipamentos é projetada para

acionamentos sem carga, função definida para os disjuntores.

• Disjuntores. Estes são dispositivos de manobra e proteção dentro dos sistemas elétricos,

pois são os elementos que podem abrir ou fechar circuitos sob carga, diferentemente dos

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seccionadores, que isolam um circuito sem carga, exceto as seccionadores específicas para

aberturas sob carga que são mais robustas e consequentemente mais onerosas.

• Transformadores de Medição e Proteção. As medições de várias grandezas elétricas e

as proteções são imprescindíveis em um sistema elétrico, mas como este envolve tensões,

correntes e potências relativamente altas, torna-se necessária a redução destas grandezas a

fim de medir e observar as medidas para fins de faturamento e proteção quando do

comportamento anormal perante contingências. Neste aspecto, os TC’s (Transformadores de

Corrente) e os TP’s (Transformadores de Potencial) cumprem satisfatoriamente estes

objetivos permitindo que estas funções sejam atingidas.

• Pára-raios. Estes equipamentos são dedicados para proteção contra descargas

atmosféricas. Os pára-raios são montados nos pórticos de entrada e saída de uma subestação

de energia elétrica. São eficientes para evitar que estas descargas sejam transferidas para

outros pontos do SEP, além de proteger pessoas e instalações.

2.2. SISTEMAS DE PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES

No sistema elétrico a ocorrência de sobretensões e sobrecorrentes por um longo período de

tempo, pode danificar vários equipamentos. Dessa forma, o sistema de potência deve ser provido de

dispositivos de proteção, de forma a eliminar anormalidades o mais rápido possível. Contudo, estas

proteções não podem atuar quando estas anormalidades são pequenas ou inexistentes (seletividade),

evitando assim o corte indevido do fornecimento de energia aos consumidores [1].

Os sistemas de proteção devem considerar alguns aspectos:

1. Operação Normal:

• Ausência de falhas em equipamentos;

• Ausência de erros de pessoal de operação;

• Ausência de incidentes (tempestades, raios, furacões, terremotos, etc);

2. Proteção Contra Falhas Elétricas:

• Isolamento adequado;

• Coordenação do isolamento;

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• Uso de cabos pára-raios;

• Instruções de manutenção e operação;

3. Limitação dos Defeitos Devidos às Falhas:

• Limitação da corrente de curto-circuito;

• Projeto capaz de suportar efeitos mecânicos e térmicos da corrente de defeito;

• Existência de circuitos múltiplos e geradores de emergência;

• Existência de releamento e disjuntores;

• Mudança na operação [5].

Com o auxílio dos dispositivos de proteção, os custos de manutenção decorrentes de

estragos são minimizados, além da redução das chances de propagação do defeito, do tempo de

ociosidade dos equipamentos e de interrupção do fornecimento de energia elétrica.

As proteções dos sistemas elétricos são realizadas por equipamentos chamados relés, estes

operam com base em certos princípios da Física. No passado estes relés eram compostos por partes

fixas e móveis, funcionando com base em princípio de conversão de energia elétrica em mecânica

(motor, solenóide) [1]. Os relés eletromecânicos eram capazes de executar uma única função em

uma única fase, o que exigia então a utilização de vários relés em uma mesma subestação.

A ANSI (American National Standard Institute) definiu uma nomenclatura que representa

através de números, todas as funções de proteção realizadas pelos relés conforme tabela apresentada

no anexo 1.

Os relés mais utilizados nas SE’s são:

• Sobrecorrente Instantâneo e Temporizado (50/51) – opera (em poucos ciclos) quando

a corrente atinge valores muito altos, bem acima dos pré-ajustados. E o elemento

temporizado atua quando a corrente alcança valores elevados por um longo período

de tempo;

• Sub-tensão (27) – atua quando a tensão cai para níveis abaixo do determinado;

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• Sobre-tensão (59) – opera quando a tensão excede os limites estipulados;

• Diferencial de transformador, barra e gerador (87) – opera por comparação de

corrente;

• Direcional (67) – atua quando os valores de tensões e correntes se alteram

drasticamente, um em relação ao outro;

• Relé de religamento (79) – é responsável por comandar o religamento de um

disjuntor;

• Relé de sub-freqüência (81) – atua quando a freqüência da rede cai abaixo do valor

ajustado no relé;

• Relé de distância (21) – opera para defeitos/faltas em linhas de transmissão de alta

tensão;

• Relé de pressão de gás (Bucholz) (63) – atua quando da presença de defeitos internos

no transformador e para baixos níveis de pressão de gás em equipamentos

encapsulados, exemplo disjuntores à SF6;

• Relé de sincronismo (25) – permite o fechamento do disjuntor caso as tensões em

seus pólos tenham o mesmo módulo, fase e freqüência.

A segunda geração de relés de proteção foi caracterizada pela utilização de relés construídos

com componentes eletrônicos (relés estáticos). Além de exercerem as mesmas funções, o uso da

eletrônica permitiu o aperfeiçoamento de certas aplicações. Entretanto, estes relés demonstraram-se

sensíveis a ruídos de alta freqüência induzidos nos cabos de controle durante manobras de operação

de seccionadoras de linhas de alta tensão, o que causava a queima dos mesmos ou disparos

indesejados.

Os atuais relés de proteção experimentaram extraordinária evolução desde que a tecnologia

digital foi adotada em sua fabricação, tendo-se transformado em dispositivos inteligentes, chamados

de IED’s de proteção. Além de agregarem maiores recursos às tarefas de proteção de equipamentos,

barras e linhas de transmissão, estes também são capazes de participar das diversas funções de

supervisão, controle e automação normalmente utilizadas em uma subestação [6].

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2.3. SISTEMAS DE SUTOMAÇÃO DE SUBESTAÇÕES

Os sistemas de automação de subestação têm como objetivo oferecer meios para operação e

manutenção destas. Tal sistema caracteriza-se por dois níveis hierárquicos: o nível interface com o

processo e aquisição de dados; e o nível de comando e supervisão também denominado Sistema

Central.

No nível de interface com o processo encontram-se as Unidades de Aquisição de Dados e

Controle (UAC) que podem ser: Unidades Terminais Remotas (UTR), Controladores Lógicos

Programáveis (CLP), PC industriais (Personal Computer) ou outros equipamentos dedicados como

os relés de proteção, os equipamentos de oscilografia, as unidades de inter-travamento, medidores

digitais e os controladores de equipamentos.

O Sistema Central é comumente formado por várias estações de trabalho (Workstation), que

são computadores utilizando sistemas operacionais como o Unix, Linux, OS-2, Windows NT, entre

outros e estão ligados em rede de área local (LAN: Local Area Network). O mesmo sistema

interliga-se aos equipamentos digitais do nível de interface com o processo através de processadores

de comunicação ou diretamente na rede local.

Figura 1 – Sistema de Automação de Subestação

A interação do operador com o sistema, se faz através de servidores de IHM (interface

homem-máquina). Estes servidores são máquinas equipadas com monitores de vídeo, impressoras,

teclado e mouse, atuando como consoles de operação. O console de operação é desenvolvido para

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que o operador do sistema elétrico detenha todas as ferramentas necessárias à supervisão e controle

da subestação, permitindo desta forma, a execução de várias tarefas como:

• Supervisão do sistema elétrico da SE;

• Executar comandos remotos em disjuntores e relés de bloqueio;

• Supervisão do estado de equipamentos (ex: disjuntor aberto, chave de aterramento

fechada, etc);

• Executar comandos em tapes de transformadores equipados com reguladores;

• Regular os níveis de reativos e tensão em barramentos da SE;

• Supervisão da atuação dos relés de proteção;

• Acessar telas de diagramas unifilares, tabulares e de tendência;

• Reconhecer, silenciar e inibir mensagens de alarmes;

• Etc.

As UAC’s podem ser vários dispositivos como já foi dito anteriormente, um dos mais

utilizados pelas empresas de energia são as UTR’s. Estas normalmente interligam-se com o sistema

de supervisão por meio de interfaces de comunicação como, modens, saídas seriais, saídas RS 485

ou redes Ethernet. Tal vantagem possibilita que trabalhem em rede proprietária ou mesmo através

de gateways para protocolos abertos [7].

Estes equipamentos são utilizados para coletarem dados como:

• Tensões e correntes (e grandezas derivadas como potência ativa, reativa, energias);

• Estado (status) de equipamentos (disjuntores, seccionadoras, atuação de relés, etc).

Além de coletar os dados acima citados, também são responsáveis por executar ações de

comando (abrir ou fechar equipamentos, comandar tap´s de comutadores, etc).

Basicamente, as UTR’s podem ser representadas conforme o diagrama de blocos abaixo:

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10

Figura 2 – Diagrama de Blocos Funcionais da UTR

A UTR ainda dispõe de fontes de alimentação, borneiras e acondicionamento de sinais. Os

blocos funcionais serão descritos a seguir:

• UCP – Unidade Central de Processamento – normalmente é uma placa ou cartão

onde se localiza o microprocessador responsável pelo controle e processo das

informações, e o relógio (clock) que define o ciclo de processamento;

• MEMO – Nesta placa ficam instaladas as memórias com os dados e programas das

UTR’s;

• COM – É o modulo incumbido de efetuar a comunicação de dados em UTR e o

sistema central;

• ED – As entradas digitais são cartões com a finalidade de interligarem contatos

externos provenientes de equipamentos ou dispositivos de proteção e sinalizar

através da UTR se estes equipamentos estão abertos, fechados ou se determinadas

proteções estão atuadas;

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11

• SD – Este módulo é responsável pela operação dos equipamentos de campo

remotamente;

• EA – Esta placa ou cartão fica com a função de coletar as grandezas elétricas e

convertê-las de analógico para digital de tal forma que a UCP possa processar estes

dados;

• SA – Neste cartão encontram-se as saídas analógicas, que fornecem sinais analógicos

de tensão CC na faixa entre +/- 10V ou de corrente CC na faixa de 4 a 20mA.

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12

3. PROTOCOLOS DE COMUNICAÇÃO PARA SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO DE SUBESTAÇÕES

As empresas de energia elétrica vêm investindo a alguns anos em sistemas de automação de

subestações (SAS), com o objetivo de melhorar a operação do sistema e maximizar sua utilização

do ponto de vista econômico, além de garantir a qualidade no fornecimento de energia aos

consumidores e o aumento da rentabilidade de seus ativos [8].

Entretanto, os antigos sistemas de automação consistiam de vários equipamentos de diversos

fabricantes, de diferentes gerações e que utilizavam protocolos específicos, o que dificultava a troca

de dados entre estes dispositivos [3].

A interoperabilidade surge diante deste cenário como fator importante que possibilita que

dois ou mais sistemas troquem informações, tornando de certa forma, as concessionárias de energia

independentes de um determinado fabricante [8].

Os protocolos são conjuntos de regras que definem o tipo de mensagem e a ordem que elas

devem ser trocadas a fim de realizar a comunicação entre dois sistemas ou mais. Quando a

comunicação exige um grande número de protocolos esses são agrupados em funcionalidades

formando uma camada e o conjunto de camadas forma uma pilha de protocolos. Seu objetivo

central é fazer com que sistemas (dispositivos) que tenham estruturas internas próprias falem a

mesma linguagem e possam trocar informações com sucesso [3].

Existem muitos protocolos para comunicação utilizados em subestações, sendo que alguns

são desenvolvidos para aplicações específicas ou para configurações de instalações únicas. Outros,

porém, são estruturados baseados em normas ou padrões internacionais, mas sofrem ajustes para

atender as necessidades de determinado projeto [2].

Na figura abaixo, são apresentados alguns protocolos de comunicação utilizados atualmente.

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13

Figura 3 - Protocolos utilizados em sistemas de automação de SE’s

Para uma melhor compreensão deste trabalho, faremos uma abordagem descritiva dos

protocolos DNP 3.0 e IEC 61850, onde posteriormente será realizada uma análise comparativa entre

ambos, visando demonstrar os pontos fortes e fracos de cada padrão e os ganhos decorrentes da

implantação da nova norma em SE’s com sistemas tradicionais de automação, proteção e controle.

Estes protocolos foram escolhidos em função do estudo de caso que será discutido neste TCC.

3.1. PROTOCOLO DNP 3.0

O DNP 3.0 (Distributed Network Protocol) inicialmente foi desenvolvido pela Harris

Control Division Distributed Automation Products, dos EUA, em novembro de 1993, sua

especificação foi transferida para um grupo de usuários que, a partir de então, passaram a ser

proprietários e responsáveis pelas suas atualizações e revisões, tornando-o assim um protocolo

aberto. É estruturado conforme as especificações da norma IEC 870-5 para a transmissão de dados

entre estações mestres e UTR’s (Unidades Terminais Remotas) ou IED’s (Dispositivos Eletrônicos

Inteligentes), com exceção para comunicação entre estações mestres. É um protocolo que possui

três camadas: Aplicação, Enlace de Dados e Física; sua arquitetura simplificada é denominada EPA

(Enhanced Performance Architecture, vide Figura 5) e está de acordo com o modelo OSI (Open

System Interconnection) da ISO (International Standardization Organization), onde a pseudo-

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14

camada de transporte juntamente com a camada de aplicação, faz a separação de mensagens

superiores a 249 octetos [7] [8].

Figura 4 – Modelo OSI e DNP

Este protocolo possui uma série de características aplicáveis a arquiteturas abertas de

sistemas distribuídos destinados à área de energia elétrica, como por exemplo:

• Transferência de blocos de dados – Possui camada de transporte com capacidade

para transferir blocos de dados com até 2 kbytes, permitindo assim a transferência de

tabelas de configuração, informação de prioridades e algoritmos de controle entre

mestre e escravos, ela também segmenta mensagens da camada de aplicação em

múltiplos pacotes da camada de enlace. Para cada pacote, insere um único byte

Function Code que indica se o pacote da camada de enlace é o primeiro da

mensagem, o último, ou ambos (no caso em que não há fragmentação da mensagem);

• Tipos de Mensagens – Utiliza dois tipos de mensagens: Com ou Sem Confirmação.

Com confirmação, quando a prioridade é a confiabilidade. E mensagens sem

confirmação, quando a prioridade é o desempenho;

• Arquitetura mestre-escravo – Oferta relacionamento síncrono através de operação

por varredura e relacionamento assíncrono através de respostas não solicitadas, por

iniciativa das estações escravas;

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• Modos de endereçamento – Permitem três modos de endereçamento, sendo:

1. independentes para mestre–escravos, permitindo a operação seletiva de vários

mestres e escravos;

2. de grupo, permitindo a seleção de lista de pontos;

3. broadcasting, permitindo a difusão dos dados.

• Protocolo CSMA - Utiliza o protocolo CSMA (Carrier Sense Multiple Access) para

controlar o acesso ao meio físico, possibilitando desta forma seu compartilhamento;

• Tempo de propagação das mensagens – Estabelece um método para o cálculo do

tempo de propagação das mensagens, com o objetivo de sincronizar os relógios dos

vários equipamentos do sistema [7] [8].

O protocolo DNP 3.0 especifica todos os procedimentos para transmissão e recepção no

meio físico, como utilizar modens, rádios-modens, fibras ópticas, etc. Sua camada de enlace (Data

Link Layer) tem dois propósitos: 1) prover a transferência de informação (quadro de dados) através

da conexão física, isto é, os quadros de dados do usuário são transformados em quadros de enlace

acrescidos de um cabeçalho e de CRC (Cicle Redundancy Code); 2) fornecer indicação de outros

eventos, como o estado de enlace.

Figura 5 – Frame da Camada de Enlace

A camada de aplicação do protocolo possui vários objetos de dados que podem ser

mapeados nos pontos de leitura (entrada) e comando (saída) de uma UTR típica de automação do

sistema elétrico.

Estes objetos podem representar entradas digitais, entradas analógicas, contadores, eventos

com estampa de tempo (time-stamped), saídas digitais e analógicas, seqüência de octetos (string),

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dentre outros. Existem objetos estáticos, exemplo objeto 01 (Binary Input), que representam os

dados no instante da varredura. Já os objetos de eventos representam apenas os pontos que

mudaram de valor até a ultima varredura do mestre, exemplo objeto 02 (Binary Input Change) [8].

O DNP 3.0 é implementado em 3 níveis nos equipamentos e cada nível possui diferentes

quantidades de objetos de dados disponibilizados. Tal característica deve ser observada durante o

processo de aquisição de dispositivos que utilizam o protocolo DNP 3.0. Os equipamentos que

utilizam o protocolo DNP 3.0 possuem um documento de perfil do dispositivo, chamado Device

Profile, este contém informações que permitem a integração entre diferentes dispositivos mestres e

escravos.

3.2. PROTOCOLO IEC 61850

IEC 61850 é a norma internacional para sistemas de automação subestação (SAS). Ele

define a comunicação entre dispositivos da subestação e os respectivos requisitos de sistema.

Suporta todas as funções de automação de subestações e de engenharia. Diferente dos padrões

anteriores, a abordagem técnica IEC 61850 torná-a flexível e “à prova de futuro” [10]. Todos os

maiores fabricantes de equipamentos de controle e proteção de subestações têm produtos que

implementam as comunicações via IEC 61850, para simplificar a integração dos sistemas,

melhorarem as funcionalidades e ao mesmo tempo, reduzir os custos das instalações.

No início dos anos 90 o projeto Utility Communications Architecture (UCA) começou a ser

desenvolvido no Instituto de Pesquisas de Energia Elétrica (EPRI) nos Estados Unidos, com o

objetivo de desenvolver uma estrutura de comunicação em tempo real comum a todas as empresas

de energia elétrica. A International Electrotechnical Commission (IEC) formou três grupos de

trabalho para preparar um padrão de comunicações em subestações, a parte americana do trabalho

recebeu o nome de UCA 2.0. Então através da união de esforços da EPRI e UCA, que buscavam um

padrão de comunicação único aceito internacionalmente [3], surgi a norma IEC 61850 “Redes de

Comunicação e Sistemas em Subestações” (do inglês, IEC 61850 Communications Networks and

Systems in Substation) [10].

A norma foi dividida em dez (10) partes, conforme representado na figura 6.

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Figura 6 – Arquitetura da norma IEC 61850[3]

A norma define e padroniza o modelo de dados que representam todos os atributos e funções

dos equipamentos e dispositivos físicos de uma subestação ou usina do sistema elétrico. O modelo

de dados é orientado a objetos e o conjunto de dados que são trocados entre funções e sub-funções

que estão nos IED’s, formam um LN (Logical Node) e o conjunto de LN formam um LD (Logical

Device). O Logical Device está residente no dispositivo físico (IED). Na figura 8, é demonstrada a

estrutura hierárquica do modelo de dados interno ao dispositivo físico [3].

Figura 7 – Modelo de dados inseridos no dispositivo físico [3]

Os LN’s (Logical Node) possuem uma lista de dados baseada em sua funcionalidade e com

os respectivos atributos. Os dados contêm um detalhamento bem definido dentro do contexto de

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sistema de automação de subestação [11]. O XCBR é um Logical Node que foi determinado para

representar as funções de um disjuntor, nele estão os dados associados e vários atributos, como por

exemplo, POS (posição) que é um dado do LN e Controle que pode ser um atributo de estado,

medida ou configuração. Esta norma padronizou um conjunto de 13 grupos de nós lógicos (Logical

Node) com o objetivo de reunir funções semelhantes do tipo proteção, controle, automação, dentre

outros.

Tabela 1 – Grupo de Nós Lógicos

Além de grupos de Nós Lógicos, existem também classes de Nós Lógicos conforme é

mostrado na tabela 3.

Tabela 2 – Classe de dados do IEC 61850[3]

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Na IEC 61850-6, está definida a linguagem de configuração para sistemas de automação de

subestações (SAS). Esta linguagem recebeu o nome de SCL (Substation Configuration Language) e

é baseado em XML (Extender Mark up Language), seu objetivo é padronizar os atributos de

configuração de IED’s de forma segura e confiável.

A linguagem SCL é composta por arquivos que contêm os dados da subestação, das relações

dos equipamentos de manobras, das funções dos IED’s e de todos os serviços de comunicação. São

vários os arquivos utilizados para a descrição formal dos modelos, entre eles estão:

• SSD – System Specification Description (Descrição dos Dados do Sistema);

• SCD – Substation Configuration Description (Descrição dos Dados da Subestação);

• ICD – IED Capability Description (Descrição dos itens aplicados em um IED);

• CID – Configurated IED Description (Configuração de um IED específico).

Figura 8 – Arquitetura de um sistema de configuração que utiliza a linguagem SCL [3].

A norma prevê ainda uma pilha de protocolos composta por camadas de transporte, rede,

enlace e um serviço de mensagens. A camada de enlace é comum à todos os serviços de mensagens

e utiliza o protocolo Ethernet como prioridade. As mensagens denominadas cliente-servidor são

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aquelas que não apresentam restrição de tempo e por isso apresentam um atraso devido ao

processamento em cada camada.

Figura 9 – Representação da pilha de protocolos IEC 61850 [3]

Tabela 3 – Lista de Tipos de Mensagens e Classes de Desempenho [3]

As mensagens que contenham restrições críticas a atraso, como bloqueios, são chamadas de

transferência de objetos genéricos de eventos do sistema (GOOSE, do inglês generic object oriented

system events) (tipos 1 e 1A) e transferência de valores amostrados – SV (sampled (analog) values)

(tipo 4). Essas mensagens além de não utilizam todas as camadas da pilha de protocolos têm

prioridade mais alta.

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3.3. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PROTOCOLOS DNP 3.0 E IEC 61850

Após as descrições dos protocolos realizadas nos capítulos anteriores, podemos verificar

algumas relações, descritas nas tabelas 5 a 10, conforme [8] de tal forma que, seja possível

estabelecer uma comparação que indique as vantagens e peculiaridades de cada um de acordo com

as muitas características já apresentadas.

Tabela 4 – Quadro comparativo entre os Protocolos DNP 3.0 e IEC 61850

Características DNP IEC

Ca

racte

rística

s G

era

is

Domínio de Aplicação

Telecontrole (SCADA) – Dentro da Subestação e do Centro de Operação

para a Subestação

Subestação e alimentadores (aberto para outros domínios)

Principal Cobertura

Camada de aplicação, protocolo e serviços.

Semântica de aplicação (modelos de dispositivos e aplicações), linguagem de configuração de

subestações e camada de aplicação, serviços e protocolos.

Modelos de informação específicos da aplicação

Permite ao fabricante criar extensões de aplicações

específicas

Permite ao fabricante criar extensões de aplicações

específicas; possui mais de 100 classes lógicas com mais de 200

classes de dados.

Serv

iço

s O

pera

cio

nais

Transmissão Cíclica

Sim

Sim

Transmissão espontânea

Sim

Flexível

Substituição remota

Não

Sim

Controle de Parâmetros

Alguns

Flexível, define, muda e edita

Descriçã

o d

os P

rocesso

s Tipos de dados suportados

Flexível Flexível e facilmente estendido

Semântica dos dados Não Mais de 2000 classes

Aberta para novos modelos adicionais

Não

Flexível – qualquer novo tipo de

dado ou classe podem ser definidos

Qualidade/Estampa de tempo/Causa de

transmissão

Sim

Sim

Serv

iço

s d

e

Auto

de

scri

çã

o

Obter diretório de todos os objetos (nomes e

tipos de dados de nós lógicos).

Não

Sim, com completa informação

hierárquica.

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Obter definições de objetos operacionais

(nome, tipo, faixa, unidade, banda morta

para envio, escala, descrição de processos

de dados).

Somente banda morta – mais opções em desenvolvimento

Muitas informações disponíveis. A

rquite

tura

Camadas

4 camadas (serial) e 7 camadas (TCP/IP ou

UDP/IP)

7 camadas (TCP/IP e OSI)

Modo de transmissão

Balanceado

Full Duplex

Protocolo de transporte

Pseudo camada de

transporte serial; TCP ou UDP sobre IP

TCP, OSI TP

Co

nfig

ura

ção

onlin

e o

fflin

e

Definir grupos de dados

Sim

Sim

Selecionar dados para o

envio

Alguns

Muitos

Localização das configurações

UTR’s e IED´s, nos bancos de dados e

aplicativos

A configuração completa do modelo pode ser lida e

automaticamente comparada com o arquivo de configuração XML

Com todas as informações obtidas nas tabelas 5 a 10, mostradas no capítulo 4, é importante

destacarmos os seguintes pontos nas análises comparativas:

• Ambos os protocolos dispõem de serviços para trocas de informações básicas de

tempo real para os requisitos relacionados ao sistema SCADA, como por exemplo,

controle e estados de pontos simples, envio de informação cíclica e espontânea,

sincronização de relógio;

• O DNP 3.0 possui muitas funcionalidades fixas, enquanto que o IEC 61850

apresenta uma extensa gama de aplicações, como modelagem de dados, serviços de

configuração, dentre outros;

• O DNP 3.0 cumpre os requisitos de tempo com baixas velocidades de comunicação,

enquanto que o IEC 61850 necessita de uma banda de comunicação maior (rede),

pois suas mensagens são maiores quando comparadas ao DNP 3.0.

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4. ESTUDO DE CASO: DIGITALIZAÇÃO DE UMA SUBESTAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Na busca constante da manutenção de índices de qualidade no fornecimento de energia

elétrica aos seus consumidores, e sempre visando formas eficientes de controlar e operar o sistema

elétrico, as empresas de distribuição de energia investem freqüentemente na renovação tecnológica

de suas instalações. Com a evolução dos dispositivos eletrônicos inteligentes (IED) utilizados para

integração dos sistemas de automação de subestações, houve um avanço considerável nas formas de

transferência de dados entre SE’s e os departamentos interessados nestas informações, como por

exemplo, Centros de Operação, departamentos de manutenção, engenharia, departamentos de

estudos e análises de falhas, dentre outros.

Como dito anteriormente, as concessionárias de energia elétrica têm realizado investimentos

com o objetivo de migrar sua base instalada de equipamentos analógicos para a tecnologia digital de

processamento distribuído, visando a redução de custos de manutenção de equipamentos,

diminuição de indicadores como DEC (Duração Equivalente de interrupção por Consumidor) e FEC

(Freqüência Equivalente de interrupção por Consumidor), otimização de recursos na construção de

novas instalações e nas ampliações de antigas SE´s.

Neste estudo de caso apresenta-se uma nova subestação de distribuição de energia elétrica

inaugurada em março de 2.008 na cidade de Cosmópolis/SP e que adotou os padrões de

digitalização expressos pela nova norma IEC 61850.

4.1. SUBESTAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA TRADICIONAL

As subestações que compõem os sistemas de distribuição de energia elétrica inicialmente

foram projetadas, sob aspecto construtivo, com dois setores principais: pátio de manobras, onde se

localizam os equipamentos de alta tensão, e sala de controle, onde se encontram os Sistemas de

Supervisão, Proteção e Controle da subestação. Através da sala de controle faz-se o monitoramento

local dos estados dos disjuntores e das chaves seccionadoras, e de equipamentos relevantes, como

por exemplo, os transformadores de potência e os bancos de capacitores.

Com a utilização dos avanços tecnológicos alcançados pela eletrônica digital e das

telecomunicações, foi possível iniciar o processo de aquisição de dados da subestação e envio

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remoto aos Centros de Operação. De tal forma, a permitir o estabelecimento do controle de um

conjunto de subestações de uma determinada região, facilitando a operação de unidades distantes

através de um mesmo computador central.

Entretanto, as subestações tradicionais permitiam apenas manobras e re-estabelecimentos

sem muitos detalhes das reais causas de bloqueios ou faltas do sistema elétrico, ou seja, necessitava

que as informações dos sistemas de proteção ainda fossem acessadas localmente, o que acarretava

em custos de deslocamento, mão-de-obra técnica na análise da falha e aumento do tempo de

normalização do sistema.

Portanto, dentro do universo das subestações havia dois mundos distintos: o dos sistemas de

automação e controle, e os sistemas de proteção. Cada um responsável por determinada função,

com pouquíssimas trocas de informações entre eles, o que acarretava limitações na operação e

controle das SE’s.

Figura 10 – Subestação de distribuição de energia elétrica tradicional

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4.2. SUBESTAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DIGITALIZADA

O projeto desenvolvido para ser implementado na SE tinha como foco integrar a proteção,

supervisão e controle da subestação. O diagrama unifilar geral da subestação pode ser observado na

figura 12. Ele é composto por duas entradas de linha que alimentam uma barra de 138 kV. Nesta

barra encontra-se uma saída que alimenta um transformador regulador, ou seja, este possui uma

regulação de tensão conforme a demanda solicitada. O comutador de tap´s, interno ao

transformador, pode ser acionado manualmente pelo operador (local ou remoto) ou

automaticamente através de um regulador de tensão.

Figura 11 – Diagrama Unifilar da Subestação [13]

Na subestação estudada, foi instalado um sistema digital constituído de uma rede de

supervisão e controle, uma rede de comunicação para proteção entre os relés e uma rede de ajustes.

As funcionalidades destas redes utilizam o mesmo meio físico: rede ethernet. A topologia do

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sistema segue as recomendações da norma IEC 61850. Podemos observar na figura 13 o diagrama

esquemático da rede do sistema digital.

Figura 12 – Rede de comunicação da rede digital [13]

As principais características do sistema digtal são:

• IED´s de proteção estão interligados em uma topologia de anel, isto garante que o

tráfego de dados entre os dipositivos permaneça contínuo, mesmo nos casos onde um

swicth ou um enlace de fibra óptica se rompa. A topologia em anel alcança este

objetivo com grande economia em portas de um swicth necessárias;

• Os relógios internos de todos os dispositivos são sincronizados através da

distribuição de rede ethernet , oriundas do Centro de Operação através do canal

serial;

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• O hardware SICAM PAS age como concentrador de dados (CTR) provenientes dos

relés de proteção. A estação de supervisão PASC (SOL/SMAL) coleta os dados da

unidade concentradora.

A comunicação entre os relés e entre os mesmos e as unidades concentradoras de dados

utiliza protocolo IEC-61850, o que garante uma comunicação extremamente veloz e coerente entre

os equipamentos. Para a transferência de dados para o COS é utilizado um modem de forma serial,

e o protocolo utilizado é o DNP3.0. Para aquisição dos pontos refentes ao trafo e comutador,

também de forma serial, porém através de fibra óptica, é usado o protocolo MODBUS.

Há uma integridade da aquisição de pontos digitais e analógicos. Os eventos são

espontâneos e a resolução da estampa de tempo é de 1ms, já para os pontos analógicos, a banda

morta é de 1% e a precisão Full Range é de 0.1%.

4.3. COMPARATIVO DE TEMPO DE ATUAÇÃO DO RELÉ DE PROTEÇÃO

Na figura 14, é demonstrada uma simulação do tempo de atuação do relé de proteção ou

dispositivo eletrônico inteligente (IED) comparado com outro sistema convencional, uma Unidade

Terminal Remota (UTR) qualquer, contra um surto transitório na rede elétrica.

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Figura 13 - Comparativo de tempo para descarte de cargas [14]

4.4. FUNÇÕES DE PROTEÇÃO, AUTOMAÇÃO E INTERTRAVAMENTO

Uma das grandes vantagens na implementação da norma IEC 61850 neste projeto foi o uso

do protocolo IEC 61850 GOOSE via sistema de comunicação peer-to-peer para troca de mensagens

entre diferentes IEDs, aplicando os dados dessas mensagens nos esquemas lógicos de automação e

intertravamento. No sistema tradicional de automação e proteção era necessária a utilização de

muitos relés auxiliares de estados, entradas e saídas digitais adicionais nas UTR´s e enorme

quantidade de cabos de controle, o que encareciam as obras e dificultava realização dos

automatismos e intertravamentos necessários.

A filosofia pregada pela nova norma , permitiu o desenvolvimento e implementação de

todas as funções de automação e lógicas utilizando as entradas e saídas disponíveis em cada IED.

Houve melhoria das condições de operação da subestação com o uso de automatismos para

manobras de equipamentos, que em outras SE´s sem telecontrole eram executadas por operadores, e

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em relação às subestações telecontroladas de forma convencional, resultou em uma maior qualidade

das informações disponíveis para o Centro de Operação e conseqüentemente reduzindo

significativamente os tempos de interrupção a que os consumidores eram submetidos.

Na figura 15 é demosntrado um esquema de proteção contra falha de disjuntor utilizando as

mensagens GOOSE.

Figura 14 – Esquema de proteção de falha de disjuntor usando mensagens GOOSE [15]

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5. CONCLUSÃO

O Setor Elétrico Brasileiro possui um histórico de busca permanente pelo aperfeiçoamento

tecnológico, alcançado em função dos esforços contínuos nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e

inovação. O processo evolutivo dos sistemas digitais propiciou uma revolução dos sistemas de

automação de subestações (SAS) produzindo melhorias visíveis nas construções e ampliações das

instalações e conseqüentemente na qualidade do fornecimento de energia elétrica.

O DNP 3.0 é um dos protocolos de comunicação utilizado no setor elétrico que apresenta

resultados positivos quando é usado na interface entre UTR’s e relés de proteção de um mesmo

fabricante. Contudo não atende aos requisitos de tempo de resposta, que é uma característica muito

importante em sistemas de proteção. Além disso, sua performance é insatisfatória quando usado

para integrar dispositivos de diferentes fornecedores.

Já a norma IEC 61850 traz uma série de especificações que padronizam as comunicações

dos sistemas de automação, visando garantir uma interoperabilidade entre IED’s de fabricantes

diferentes. Nesse caso, interoperabilidade se torna a palavra chave desse protocolo, uma vez que ela

evita que as concessionárias de energia sejam dependentes de um único fabricante.

Conseqüentemente, os custos dos sistemas expandidos são reduzidos drasticamente.

De acordo com o estudo de caso descrito, algumas vantagens foram encontradas ao se

digitalizar as subestações, tais como:

• O controle das subestações, por meio do processamento distribuído instalado nos

IED’s de controle e proteção não permite que ocorram desligamentos indesejáveis ou

mesmo a não atuação das proteções, mesmo com a possível perda de comunicação;

• A topologia de comunicação foi simplificada através da redução da quantidade de

fios e cabos na subestação para o envio de dados. Foi utilizada rede de fibra óptica e

adotado o protocolo IEC 61850, que aumentou a velocidade de 39,4 kbps para 100

Mbps, sem mencionar que as fibras são imunes as interferências eletromagnéticas tão

presentes no ambiente das SE’s;

• Redução de custos tanto do ponto de vista de instalação como de manutenção,

devido entre outros fatores, à redução do número de relés, à simplificação do projeto,

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e como conseqüência, o aumento da confiabilidade do sistema de distribuição de

energia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Jardini, J.A. Sistemas digitais para automação da geração, transmissão e distribuição de

energia elétrica. São Paulo, s.ed., 1996. 320 p.

[2] Paulino, M.E. de C. Testes de IED’s Baseados na IEC 61850. Disponível em:

<http://www.ceb5.cepel.br/arquivos/grupos_trabalho/WgB5.11/ReferêncasSobre61850/103_SBSE_

2006.pdf> Acessado em 06 mai. 2008.

[3] Gurjão, E.C. Aspectos de Comunicação da Norma IEC 61850. Disponível em:

<http://www.ceb5.cepel.br/arquivos/grupo_trabalho/WgB5.11/ReferênciasSobre61850/145_SBSE_

2006.pdf> Acessado em 06 mai. 2008

[4] Paredes, A.E.R.O. Integração de Sistemas de Supervisão, Proteção e Automação de

Subestações de Energia Elétrica. Disponível em: < http://200.131.186.194/phl/pdf/0031132.pdf>

Acessado em 02 out. 2008.

[5] Souza, F. Estudo e Projeto Elétrico Básico de uma Subestação. 2007. 134p. Monografia

(Graduação em Engenharia Elétrica) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES.

[6] Pereira, A.C. Automação de subestações e usinas – Estado da arte e tendências utilizando a

norma IEC 61850. VII Simpase Simpósio de Automação de Sistemas Elétricos – Salvador – BA,

Brasil, 2007.

[7] Sistema de Automação de Subestações de Energia Elétrica. Disponível em:

<http://www.eps.ufsc.br/disserta98/maia/cap2.htm> Acessado em 12 nov. 2008

[8] Siqueira, R.P. Protocolos abertos em sistemas de automação de energia: uma análise

comparativa entre o DNP 3.0, o IEC 60870-5-101 e o novo protocolo IEC 61850. VII Simpase

Simpósio de Automação de Sistemas Elétricos – Salvador – BA, Brasil, 2007.

[9] A DNP Protocol Primer - DNP3 Documentation Library, First Edition 2002-03

[10] IEC, part 1: Introduction and overview, First Edition 2004-03

[11] IEC, part 7-1: Basic communication structure for substation and feed equipments and

models, First Edition 2003-07

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[12] IEC, part 6: Configuration description language for communication in electrical

substations related for IEDs, First Edition 2004-03

[13] Siemens PTD EA Brasil – Manual de Manutenção do Sistema V.01 – Cosmópolis -

Documentação do fabricante.

[14] Siemens. Proteção - Energy Automation – Documentação do fabricante. Disponível em:

<http://www.sel.eesc.usp.br/coloquio/material/Siemens_02.pdf> Acessado em 23 nov. 2008

[15] Kimura, S. Aplicação do IEC 61850 no mundo real – Projeto de modernização de 30

subestações elétricas. Disponível em: <http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/IEC

61850_6308.pdf> Acessado em 23 nov. 2008

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ANEXO 1 – TABELA ANSI

Nr Denominação

1 Elemento Principal

2 Função de partida/ fechamento temporizado

3 Função de verificação ou inter-bloqueio

4 Contator principal

5 Dispositivo de interrupção

6 Disjuntor de partida

7 Disjuntor de anodo

8 Dispositivo de desconexão da energia de controle

9 Dispositivo de reversão

10 Chave de seqüência das unidades

11 Reservada para futura aplicação

12 Dispositivo de sobrevelocidade

13 Dispositivo de rotação síncrona

14 Dispositivo de subvelocidade

15 Dispositivo de ajuste ou comparação de velocidade ou freqüência

16 Reservado para futura aplicação

17 Chave de derivação ou descarga

18 Dispositivo de aceleração ou desaceleração

19 Contator de transição partida-marcha

20 Válvula operada eletricamente

21 Relé de distância

22 Disjuntor equalizador

23 Dispositivo de controle de temperatura

24 Relé de sobre-excitação ou Volts por Hertz

25 Relé de verificação de Sincronismo ou Sincronização

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26 Dispositivo térmico do equipamento

27 Relé de sub-tensão

28 Reservado para futura aplicação

29 Contator de isolamento

30 Relé anunciador

31 Dispositivo de excitação

32 Relé direcional de potência

33 Chave de posicionamento

34 Chave de seqüência operada por motor

35 Dispositivo para operação das escovas ou curto-circuitar anéis coletores

36 Dispositivo de polaridade

37 Relé de subcorrente ou sub-potência

38 Dispositivo de proteção de mancal

39 Reservado para futura aplicação

40 Relé de perda de excitação

41 Disjuntor ou chave de campo

42 Disjuntor/ chave de operação normal

43 Dispositivo de transferência manual

44 Relé de seqüência de partida

45 Reservado para futura aplicação

46 Relé de desbalanceamento de corrente de fase

47 Relé de seqüência de fase de tensão

48 Relé de seqüência incompleta/ partida longa

49 Relé térmico

50 Relé de sobrecorrente instantâneo

51 Relé de sobrecorrente temporizado

52 Disjuntor de corrente alternada

53 Relé para excitatriz ou gerador CC

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54 Disjuntor para corrente contínua, alta velocidade.

55 Relé de fator de potência

56 Relé de aplicação de campo

57 Dispositivo de aterramento ou curto-circuito

58 Relé de falha de retificação

59 Relé de sobretensão

60 Relé de balanço de tensão/ queima de fusíveis

61 Relé de balanço de corrente

62 Relé temporizador

63 Relé de pressão de gás (Buchholz)

64 Relé de proteção de terra

65 Regulador

66 Relé de supervisão do número de partidas

67 Relé direcional de sobrecorrente

68 Relé de bloqueio por oscilação de potência

69 Dispositivo de controle permissivo

70 Reostato eletricamente operado

71 Dispositivo de detecção de nível

72 Disjuntor de corrente contínua

73 Contator de resistência de carga

74 Função de alarme

75 Mecanismo de mudança de posição

76 Relé de sobrecorrente CC

77 Transmissor de impulsos

78 Relé de medição de ângulo de fase/ proteção contra falta de sincronismo

79 Relé de religamento

80 Reservado para futura aplicação

81 Relé de sub/ sobrefrequência

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82 Relé de religamento CC

83 Relé de seleção/ transferência automática

84 Mecanismo de operação

85 Relé receptor de sinal de telecomunicação

86 Relé auxiliar de bloqueio

87 Relé de proteção diferencial

88 Motor auxiliar ou motor gerador

89 Chave seccionadora

90 Dispositivo de regulação

91 Relé direcional de tensão

92 Relé direcional de tensão e potência

93 Contator de variação de campo

94 Relé de desligamento

95 a 99 Usado para aplicações específicas