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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE P ´ OS-GRADUAC ¸ ˜ AO EM ENGENHARIA EL ´ ETRICA E COMPUTAC ¸ ˜ AO Jefferson Jesus Hengles Almeida TRANSMISS ˜ AO DE SINAIS DO ISDB-T B EM MODULAC ¸ ˜ AO AVANC ¸ ADA: UM ESTUDO DE CASO EM FBMC ao Paulo 2016

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  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIEPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

    ENGENHARIA ELÉTRICA E COMPUTAÇÃO

    Jefferson Jesus Hengles Almeida

    TRANSMISSÃO DE SINAIS DO ISDB-TB EM MODULAÇÃO

    AVANÇADA: UM ESTUDO DE CASO EM FBMC

    São Paulo2016

  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIEPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

    ENGENHARIA ELÉTRICA E COMPUTAÇÃO

    Jefferson Jesus Hengles Almeida

    TRANSMISSÃO DE SINAIS DO ISDB-TB EM MODULAÇÃO

    AVANÇADA: UM ESTUDO DE CASO EM FBMC

    Dissertação de Mestrado apresentadaao Programa de Pós-Graduação em EngenhariaElétrica e Computação da UniversidadePresbiteriana Mackenzie como requisito parcialpara a qualificação no curso de Mestradoem Engenharia Elétrica.

    Orientadores: Professor Doutor Cristiano AkamineProfessor Doutor Paulo Batista Lopes

    São Paulo2016

  • Dedico este trabalho às pessoas quesão meu apoio e minha base. Meus paise meu irmão. Aos quais eu agradeçode todo coração por sonharem a cada passo co-migo.

  • RESUMO

    O presente trabalho aborda a utilização do FBMC como método de modulação para acamada f́ısica do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), como alternativa parao OFDM. Isto é feito, visando aumentar a eficiência espectral do sistema, bem como suarobustez e taxa de dados. Para verificação das hipóteses, são utilizadas implementaçõescomputacionais por meio do GNU Radio e Matlab. As devidas comparações entre asmodulações são apresentadas, utilizando as curvas de erro e representações no espectrode frequências.

    Palavras-chave: FBMC, OFDM, TV digital, Camada f́ısica, modulação.

    i

  • ABSTRACT

    The present work discuss the using of FBMC as modulation method for the physical layerof the Brazilian digital TV system as an alternative for OFDM. This is done in order toincrease the spectral efficiency of the system, in addition to robustness and data rate. Toverify hypotheses, computational implementations are used through the GNU Radio andMatlab respectively. The proper comparison between the modulations has been shown,it uses the error curves and representations in the frequency spectrum.

    Key-words: FBMC, OFDM, digital TV, physical layer, modulation.

    ii

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Espectro do Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) . 5

    Figura 2 Esquema completo do sistema OFDM . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

    Figura 3 Esquema completo do OFDM com implementação da Fast FourierTransform (FFT) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Figura 4 Interferência intersimbólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    Figura 5 Prefixo Ćıclico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    Figura 6 Decomposição de H(Z) em M filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    Figura 7 Banco de Filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    Figura 8 Bancos de Filtros em termos de suas componentes polifásicas . . . . 11

    Figura 9 Bancos de Filtros em termos de suas componentes polifásicas apósaplicação das identidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

    Figura 10 Composição do Śımbolo Filter Bank Multicarrier (FBMC) . . . . . 13

    Figura 11 Composição do Śımbolo FBMC utilizando a Inverse Fast FourierTransform (IFFT) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    Figura 12 Resposta em frequência da IFFT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    Figura 13 Segmentação do canal do sistema Integrated Services Digital Bro-adcasting Terrestrial B (ISDB-TB) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    Figura 14 Posicionamento pilotos no śımbolo OFDM . . . . . . . . . . . . . . 17

    Figura 15 Estágio de Codificação de Canal do ISDB-TB . . . . . . . . . . . . 18

    Figura 16 Entrelaçador de bytes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    Figura 17 Codificador Convolucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    Figura 18 Interpolação no tempo e na frequência . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    Figura 19 Flow graph . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

    Figura 20 Interface SWIG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

    Figura 21 Resposta em frequência do filtro protótipo . . . . . . . . . . . . . . 25

    Figura 22 Resposta em frequência do banco de filtros protótipo . . . . . . . . 25

    Figura 23 Resposta em frequência dos sistemas FBMC (a) e OFDM (b) . . . 26

    Figura 24 Preprocessamento Offset Quadrature Amplitude Modulation (OQAM) 27

    Figura 25 Posprocessamento OQAM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    Figura 26 Sistema FBMC com IFFT com taxa duplicada . . . . . . . . . . . . 30

    Figura 27 Sistema FBMC com IFFT com OQAM impĺıcito . . . . . . . . . . 31

    iii

  • Figura 28 Modelo de transmissão FBMC v1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    Figura 29 Modelo de recepção FBMC v1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

    Figura 30 Modelo de transmissão FBMC v2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    Figura 31 Modelo de recepção FBMC v2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

    Figura 32 Método de inserção de zeros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    Figura 33 Agrupamento na transmissão com IFFT dupla . . . . . . . . . . . . 45

    Figura 34 Agrupamento na recepção com IFFT dupla . . . . . . . . . . . . . . 46

    Figura 35 Bloco hierárquico M QAM SOURCE . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    Figura 36 Bloco hierárquico ISDB-TB frame v1 . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    Figura 37 Bloco hierárquico FBMC MODULATOR v1 . . . . . . . . . . . . . 48

    Figura 38 Bloco hierárquico CHANNEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    Figura 39 Bloco hierárquico FBMC DEMODULATOR v1 . . . . . . . . . . . 49

    Figura 40 Bloco hierárquico ISDB-TB deframe v1 . . . . . . . . . . . . . . . . 50

    Figura 41 Agrupamento na transmissão com única IFFT . . . . . . . . . . . . 50

    Figura 42 Agrupamento na recepção com única IFFT . . . . . . . . . . . . . . 51

    Figura 43 Bloco hierárquico ISDB-TB frame v2 . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    Figura 44 Bloco hierárquico FBMC MODULATOR v2 . . . . . . . . . . . . . 52

    Figura 45 Bloco hierárquico FBMC DEMODULATOR v2 . . . . . . . . . . . 53

    Figura 46 Bloco hierárquico ISDB-TB deframe v2 . . . . . . . . . . . . . . . . 53

    Figura 47 Flow Graph do Sistema FBMC com dupla IFFT (FBMCv1) . . . . 54

    Figura 48 Constelação 64-QAM na sáıda do modulador . . . . . . . . . . . . . 55

    Figura 49 Constelação 64-QAM na sáıda do demodulador . . . . . . . . . . . 55

    Figura 50 Constelação 64-QAM com pilotos do ISDB-TB . . . . . . . . . . . . 56

    Figura 51 Constelação OQAM na sáıda do preprocessamento . . . . . . . . . 56

    Figura 52 Sinal FBMC no domı́nio do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

    Figura 53 Espectro FBMCv1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

    Figura 54 Script do sistema FBMC no Matlab . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    Figura 55 Flow Graph do estágio de Codificação de canal . . . . . . . . . . . . 60

    Figura 56 Flow Graph do estágio de Decodificação de canal . . . . . . . . . . 61

    Figura 57 Flow Graph do Sistema FBMC com única IFFT (FBMCv2) . . . . 62

    Figura 58 Flow Graph do Sistema OFDM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    Figura 59 Espectro do FBMCv1, FBMCv2 e OFDM . . . . . . . . . . . . . . 63

  • Figura 60 Curvas de BER para FBMCv1, FBMCv2 e OFDM sem codificaçãode canal e sem multipercurso para o efeito do rúıdo gaussiano . . . . . . . 64

    Figura 61 Curvas de BER para Canal Brasil A com estimador linear na frequênciasem Codificação de Canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

    Figura 62 Curvas de BER para Canal Brasil A com estimador cúbico nafrequência sem Codificação de Canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

    Figura 63 Curvas de BER para Canal Brasil A com diversos estimadores semCodificação de Canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    Figura 64 Comparação entre Curvas de BER para Canal Brasil A sem Codi-ficação de canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

    Figura 65 Curvas de BER para Canal Brasil A com estimador cúbico nafrequência com Codificação de Canal após o Reed Solomon . . . . . . . . . 68

    Figura 66 Curvas de BER para Canal Brasil A com estimador cúbico nafrequência com Codificação de Canal após o Reed Solomon com apro-ximação no limiar 10−6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

    Figura 67 Curvas de BER para Canal Brasil A com estimador cúbico nafrequência e no tempo com Codificação de Canal após o Reed Solomon . . 69

    Figura 68 Comparação entre Curvas de BER para Canal Brasil A com Codi-ficação de canal após o Reed Solomon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

    Figura 69 Terminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

    Figura 70 Criação de novo módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

    Figura 71 Criação de novo bloco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

    v

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    1SEG one-segment

    ATSC Advanced Television System Committee

    BER Bit Error Rate

    BTS Brodcasting Transport Stream

    DFT Discrete Fourier Transform

    DQPSK Differential Quadrature Phase-Shift Keying

    DVB-T Digital Video Broadcasting Terrestrial

    FBMC Filter Bank Multicarrier

    FBMCv1 Sistema FBMC com dupla IFFT

    FBMCv2 Sistema FBMC com única IFFT

    FEC Forward Error Corrector

    FFT Fast Fourier Transform

    FHD Full High Definition

    GUI Graphical User Interface

    HDTV High Definition Television

    IDFT Inverse Discrete Fourier Transform

    IFFT Inverse Fast Fourier Transform

    ISDB-TB Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial B

    ITU International Telecommunication Union

    M-QAM M-ary - Quadrature Amplitude Modulation

    OFDM Orthogonal Frequency Division Multiplexing

    OGGP Optimized Generalized Gaussian Pulse

    OQAM Offset Quadrature Amplitude Modulation

    PAM Pulse Amplitude Modulation

    PAPR Peak-to-average power ratio

    PLC Power Line Comunications

    QAM Quadrature Amplitude Modulation

    QPSK Quadrature Phase-Shift Keying

    vi

  • SBTVD Sistema Brasileiro de Televisão Digital

    SDTV Standard Definition Television

    SIMD Single instruction, multiple data

    SWIG Simplified Wrapper and Interface Generator

    TS Transport Stream

    TV digital Televisão digital

    UHD Ultra High Definition

    VOLK Vector-Optimized Library of Kernels

    WiMAX Worldwide Interoperability for Microwave Access

    vii

  • LISTA DE SÍMBOLOS

    C(t) Sinal total que chega ao receptor no tempo

    ak Ganho da k - ésima componente que chega ao receptor

    τk Atraso da k - ésima componente que chega ao receptor

    L Número de multipercursos

    fk Frequência da k - ésima portadora

    Tśimbolo e Ts Peŕıodo de Śımbolo

    N Número de Amostras

    Xt[ k] Śımbolo complexo enviado

    Yt[ k] Śımbolo complexo recebido

    X(2πkN

    ) Transformada Discreta de Fourier no sinal x(n) para o caso geral

    X(k) Transformada Discreta de Fourier no sinal x(n) para amostras igualmente espaçadas

    X(n) e x(n) Sinal discreto enviado

    Y (n) Sinal discreto recebido

    Hj(z) Resposta do j - ésimo filtro de análise

    Gj(z) Resposta do j - ésimo filtro de śıntese

    DM{ } Processo de decimação por M

    IM{ } Processo de interpolação por M

    Ekj(z) Componente polifásica do j - ésimo filtro de análise

    Rjk(z) Componente polifásica do j - ésimo filtro de śıntese

    X(k) Sinal complexo enviado

    Y (k) Sinal complexo recebido

    W (k) Parcela de rúıdo adicionada ao śımbolo pelo canal

    ( )e Valor estimado

    Hp(k) Resposta da k - ésima piloto espalhada

    H(k) Resposta da k - ésima portadora

    llp Distância entre a portadora analisada e a portadora piloto seguinte

    Lpp Distância entre pilotos

    Eq(k) Resposta inversa da k - ésima portadora

    viii

  • P1eP2 Pontos intermediários da resposta do canal

    q0k, q1k e q2k Coeficientes do Filtro FIR para equalização 3-tap da k - ésima portadora

    h Coeficientes da resposta em frequência do filtro

    F{ } Transformada de Fourier

    K Número de coeficientes do filtro de conformação de pulsos

    Cm m - ésimo śımbolo M-QAM

    d∗m,0 e d∗m,1 m - ésimo śımbolos OQAM

    βmd∗m,0 e βmd

    ∗m,1 m - ésimo śımbolos OQAM multiplicados pelo Multiplicador Beta

    ( )∗ Complexo Conjugado

    fm,0 e fm,1 m - ésimo śımbolos modulados pela IFFT

    Sm,0, ..., SM−1,1 Sequência de Śımbolos enviados pelo canal

    ( )′

    Indica que foi recebido

    Lp Comprimento do filtro

    Rb Taxa de bits por segundo

    Ncs Número total de portadoras por segmento

    Nb Número de bits por śımbolo

    Rcc Taxa do codificador convolucional

    Rrs Taxa do codificador Reed Solomon

    Ns Número de segmentos

    Tu Tempo útil de śımbolo

    g Razão do intervalo de guarda

    Dcs Número de portadoras de dados para cada modo

    Bw Largura de Banda

    ix

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO 1

    2 REFERENCIAL TEÓRICO 4

    2.1 OFDM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

    2.2 Técnica de Transmissão Baseada em Bancos de Filtros . . . . . . . . . . . 9

    2.3 SBTVD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    2.4 Estimadores de Canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    2.5 GNU Radio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    3 FBMC 24

    3.1 Filtro protótipo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    3.2 Modulação Offset Quadrature Amplitude Modulation (QAM) . . . . . . . . 26

    3.3 Multiplicador Beta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    3.4 Métodos de implementação do sistema FBMC . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    3.4.1 Modelo FBMC com IFFT de comprimento M executando cálculosno dobro da taxa de śımbolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    3.4.2 Modelo FBMC com IFFT de comprimento M e processamentoOQAM impĺıcito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    3.5 Estudos Relacionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    4 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO 35

    4.1 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    4.2 Blocos para a implementação com IFFT dupla . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    4.3 Blocos para a implementação com única IFFT e OQAM impĺıcito . . . . . 40

    4.4 Blocos composição do Frame ISDB-TB, codificação de canal e entrelaçadores 42

    4.5 Blocos de Estimação de Canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    4.6 Blocos Hierárquicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    4.7 Simulações e testes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    4.8 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    5 Conclusão 71

    6 Artigos Publicados 73

    x

  • 7 ANEXOS 82

    7.1 I - Procedimento para criação de Blocos no GNU Radio . . . . . . . . . . 82

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90

    xi

  • 1 INTRODUÇÃO

    O futuro dos sistemas de comunicação digital sem fio dependerá da capacidade de

    aproveitamento da banda dispońıvel, robustez a interferências e taxa de dados que cada um

    apresenta (BELLANGER; MATTERA; TANDA, 2015). Isto porque o espectro está cada

    vez mais requisitado pelos serviços de telecomunicações e, ao mesmo tempo, os usuários

    exigem maior qualidade do conteúdo oferecido, simultaneamente com uma rapidez mais

    alta ao acessá-lo. No caso espećıfico da TV digital, a necessidade de transmissão de v́ıdeo

    com maior definição, além da disponibilidade de interatividade, impactará diretamente no

    emprego de sistemas mais eficientes nestes aspectos (EL-HAJJAR; HANZO, 2013). Assim,

    uma alternativa será a utilização do FBMC no lugar do OFDM (ARNDT; ROCHA, 2011).

    Estudos apresentados na literatura mostram que FBMC pode ter entre 6 e 25% maior

    eficiência espectral em relação ao OFDM em termos de bits por Hertz, visto que não uti-

    liza o prefixo ćıclico (SCHAICH, 2010) (ARNDT; ROCHA, 2011) (BELLANGER et al.,

    2010). Ao mesmo tempo, apresenta menor sensibilidade a desvios de frequência e de fase

    no sinal, reduzindo as interferências intersimbólicas e entre subportadoras (FARHANG-

    BOROUJENY, 2011). Analisando estes fatores, pode-se observar os avanços que a uti-

    lização do FBMC pode trazer para o SBTVD, assim como observado em outras tecnolo-

    gias.

    Estudos de diversos autores provaram ser posśıvel a aplicação do FBMC nos sistemas

    Power Line Comunications (PLC) (BELLANGER et al., 2010), Worldwide Interoperabi-

    lity for Microwave Access (WiMAX) (SCHAICH, 2010), Rádios Cognitivos (ZHANG et

    al., 2010) e quinta geração de comunicação móvel (WUNDER et al., 2014). Em todos

    eles o desempenho foi superior ao observado com o OFDM, levando em consideração a

    largura de banda e a taxa de dados, principalmente nas aplicações asśıncronas, visto que

    a ortogonalidade não acontece entre subportadoras, mas entre os śımbolos (BELLAN-

    GER, 2010). Estudos iniciais com o sistema europeu de TV, também revelaram que a

    substituição do OFDM pelo FBMC permite maior taxa de dados e significativa redução

    de interferências podendo chegar a 20% com o uso de codificadores de canal, mesmo com

    um incremento de complexidade computacional (ARNDT; ROCHA, 2011) e algumas di-

    ficuldades na redução dos efeitos de Peak-to-average power ratio (PAPR), visto que é

    preciso projetar os amplificadores de forma a suportar o ganho devido ao processo de

    1

  • modulação por meio do banco de filtros (NEUT et al., 2014). Outro ponto importante

    a se destacar são os efeitos não lineares dos filtros polifásicos que geram problemas de

    intermodulação, porém a partir de técnicas de projeto de filtros digitais, este efeito pode

    ser evitado (BELLANGER, 2010). Assim, essas aplicações poderão ser essenciais para o

    futuro da Televisão digital (TV digital) no Brasil.

    O SBTVD opera com qualidade máxima Full High Definition (FHD) (ABNT, 2008).

    Porém, pesquisadores japoneses tem desenvolvido estudos para transmissões em Ultra

    High Definition (UHD). No caso do UHD a taxa necessária seria de 72Gbps, ou seja,

    mesmo com utilização de alta tecnologia de compressão como o H.265, ainda seria ne-

    cessário taxa de dados na faixa de 96Mbps (KAJIYAMA et al., 2012). Assim, seguindo

    o desenvolvimento tecnológico, será necessário aprimorar o sistema utilizado no Brasil

    para suportar as taxas de dados que serão demandadas pelos novos padrões de qualidade.

    Além disso, outro fator importante será a utilização da interatividade.

    A interatividade na TV digital é uma forma de imergir o telespectador em uma ex-

    periência direta com os programas. Porém, ela pode ser utilizada como um canal de

    inclusão digital, desenvolvendo aplicações que permitam dar instruções sobre o uso da

    TV digital e informações sobre a programação (SANTOS et al., 2012). Da mesma forma,

    pode também ser um meio de fornecer serviços de Healthcare para os cidadãos, onde é

    posśıvel oferecer conteúdo relacionado a saúde e bem estar, por meio da integração de sen-

    sores, por exemplo, com o canal de interatividade (SILVA; FERREIRA; VIANA, 2015).

    Porém, para todas estas aplicações, há um incremento na largura de banda necessária e

    consequentemente na taxa de dados.

    Analisando os fatores apresentados, verifica-se que a utilização do FBMC poderá

    trazer diversos benef́ıcios ao Sistema Brasileiro de TV digital. Entre eles destaca-se a

    possibilidade de melhorar a disponibilidade e a qualidade de conteúdo, visto que poderá

    ser utilizada maior taxa de dados podendo chegar a 25% maior no caso em que o prefixo

    ćıclico seja de1

    4, sem, entretanto, utilizar uma banda maior, além de permitir introduzir

    um canal mais eficiente de interatividade que resultará em ganhos sociais e até mesmo na

    área da saúde.

    Para alcançar os objetivos propostos, pesquisas teóricas, implementações computaci-

    onais e análises de resultados foram realizadas. Inicialmente, a teoria matemática envol-

    2

  • vendo comunicação digital e os métodos de modulação OFDM e FBMC foi demonstrada.

    As diversas partes que compõem os sistemas foram estudadas. Para o OFDM há detalha-

    mento dos blocos que realizam o cálculo da IFFT/FTT e do bloco que realiza a inserção

    do prefixo ćıclico. No caso do FBMC foram detalhados os bancos de filtros e as redes

    polifásicas que permitem a modulação e a demodulação. Visando cumprir estes proce-

    dimentos, foram levantadas as literaturas dispońıveis, bem como os artigos da base do

    Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) pertinentes ao assunto. Após,

    foram analisadas as normas utilizadas para a camada f́ısica do sistema de televisão di-

    gital brasileiro. Os efeitos de PAPR não foram analisados, visto que há algoritmos que

    podem reduzi-lo de forma eficiente no caso de uma transmissão real (NEUT et al., 2014)

    (KOLLÁR; HORVÁTH, 2012). A partir dos modelos de simulação computacional de-

    senvolvidos, diversos aspectos de desempenho foram avaliados, tais como taxa de erro,

    influência da propagação multipercursos e degradação devido a rúıdo gaussiano.

    O projeto está estruturado em diversas seções. A primeira apresenta as bases teóricas

    para a pesquisa. Na seção 2 é detalhado o sistema FBMC, seus componentes e métodos

    de implementação, bem como os estudos mais recentes e relevantes que tratam do assunto

    discutido. A terceira seção apresenta os procedimentos utilizados para o desenvolvimento

    do projeto, de forma a permitir a reprodutibilidade do modelo desenvolvido, bem como os

    testes, simulações e resultados obtidos. Por fim, são apresentadas as conclusões, trabalhos

    publicados e anexos, bem como as referências que serviram de embasamento para o estudo

    desenvolvido.

    3

  • 2 REFERENCIAL TEÓRICO

    Os sistemas de comunicação digital possuem uma camada f́ısica onde as informações

    são mapeadas em sinais para serem transmitidas pelo canal (BAHAI; SALTZBERG; ER-

    GEN, 2004). Porém, até chegar ao receptor, estes sinais podem sofrer distorções, prin-

    cipalmente devido a propagação por multipercurso, quando o canal de comunicação é o

    espaço livre (ANDREAS, 2011). Isso ocorre quando os sinais sofrem reflexões que geram

    alterações de amplitude e fase. Deste modo, pode ocorrer o efeito indesejado de desvane-

    cimento, onde várias versões do sinal transmitido chegam à antena de recepção ao mesmo

    tempo, porém de forma que o somatório dos sinais resulta em uma versão bastante ate-

    nuada ou modificada da originalmente transmitida. (RAPPAPORT, 2002). A Equação 1

    exemplifica matematicamente este fenômeno.

    C(t) =L∑k=1

    akx(t− τk) (1)

    onde C(t) é o sinal total, ak e τk são, respectivamente, o ganho e o atraso da k − ésima

    componente x que chega ao receptor e L o número de caminhos.

    Os sistemas de modulação baseados em uma única portadora são mais senśıveis ao

    desvanecimento (PROAKIS, 1995). Devido a isso, atualmente utiliza-se a transmissão

    e recepção por multiportadoras que possui alta robustez contra este tipo de problema

    (FAZEL; KAISER, 2008), além de possibilitar taxas mais elevadas de dados e menor

    complexidade na equalização de canal (CHO et al., 2010). Neste contexto, a técnica mais

    utilizada é a multiplexação por divisão de frequência OFDM que consiste em segmentar

    os śımbolos em bits que serão transmitidos por subportadoras ortogonais entre si.

    2.1 OFDM

    O OFDM foi patenteado em 1970 por Robert W. Chang, mas teve sua ideia estabe-

    lecida em 1966 quando ele propôs um novo método de sintetização de sinais ortogonais

    limitados em banda para transmissão em multicanais. Sua intenção era alcançar a máxima

    taxa de dados posśıvel, sem interferências intersimbólicas e entre subportadoras (CHANG,

    1966). Para tanto, as subportadoras eram espaçadas igualmente entre si, de forma que o

    máximo de cada uma coincidisse com o nulo das outras no domı́nio das frequências(CHO

    4

  • et al., 2010) (Figura 1).

    Figura 1: Espectro do OFDM

    Fonte: Adaptado de Cho et al. (2010, p.118).

    Assim, os sinais obedeciam à seguinte condição vista na Equação 2.

    1

    Tśimbolo

    ∫ Tsímbolo0

    ej2πfkte−j2πfitdt =1

    Tśimbolo

    ∫ Tsímbolo0

    ej2π

    (k−i)Tsímbolo

    tdt =

    1, ∀ inteiro k = i0, caso contrário(2)

    onde {ej2πfkt}N−1k=0 representa cada subportadora em fk =k

    Tsímbolo, Tśimbolo é o peŕıodo

    de śımbolo e 0 ≤ t ≤ Tśimbolo (CHO et al., 2010, p. 121).

    Retirando amostras igualmente espaçadas de Tśimbolo em múltiplos do peŕıodo de cada

    śımbolo t = nTśimbolo =nTsímbolo

    N, com n = 0, 1, 2, · · · , N − 1, pode-se obter o caso discreto

    como observado na Equação 3(CHO et al., 2010, p. 121).

    1

    N

    N−1∑n=0

    ej2π k

    Tsímbolo

    nTsímboloe−j2π i

    Tsímbolo

    nTsímbolo =1

    N

    N−1∑n=0

    ej2π(k−i)N

    n =

    1, ∀ inteiro k = i0, caso contrário(3)

    Deste modo foi estabelecido prinćıpio básico do OFDM: a ortogonalidade entre sub-

    portadoras. Porém, apesar dos grandes avanços apresentados por Chang, a complexidade

    de construção do sistema completo (Figura 2) ainda era grande devido à necessidade de

    filtros e osciladores analógicos. Esta dificuldade pôde ser superada mais tarde com a

    5

  • utilização da Transformada Discreta de Fourier (Discrete Fourier Transform (DFT)) em

    uma implementação digital.

    Figura 2: Esquema completo do sistema OFDM

    Fonte: Adaptado de Cho et al. (2010, p.118).

    No ano de 1971, Weinstein e Ebert publicaram um artigo sugerindo o uso da DFT

    para modulação e demodulação dos sinais multiplexados em frequência, substituindo os

    componentes analógicos por blocos inteiramente digitais (WEINSTEIN; EBERT, 1971).

    A DFT é utilizada para representar os sinais discretos no domı́nio das frequências (PRO-

    AKIS, 1995). Para calculá-la é necessário aplicar a Equação 4 no sinal x(n) desejado para

    encontrar suas componentes X(2πkN

    ), que o representam na frequência.

    X(2πk

    N) =

    N−1∑n=0

    x(n)e−j2πkn

    N k = 0, 1, · · · , N − 1 (4)

    onde N é o número de amostras no intervalo de 0 a 2π.

    De forma análoga a Transformada Discreta Inversa de Fourier (Inverse Discrete Fou-

    rier Transform (IDFT)) pode ser calculada pela Equação 5.

    x(n) =1

    N

    N−1∑k=0

    X(2πk

    N)e

    +j2πknN n = 0, 1, · · · , N − 1 (5)

    No caso em que X(2πkN

    ) é amostrado entre frequências igualmente espaçadas, então

    as Equações 4 e 5 podem ser reescritas como visto nas Equações 6 e 7.

    X(k) = X(2πk

    N) =

    N−1∑n=0

    x(n)e−j2πkn

    N k = 0, 1, · · · , N − 1 (6)

    x(n) =1

    N

    N−1∑k=0

    X(k)e+j2πknN n = 0, 1, · · · , N − 1 (7)

    6

  • Assim, ao aplicar a IDFT nos śımbolos a serem transmitidos, a multiplicação pela

    exponencial complexa possibilitou a multiplexação em frequência, enquanto na recepção

    podia ser utilizada a DFT para recuperar o sinal original. Apesar da utilização da IDFT

    e DFT na modulação e demodulação dos sinais, respectivamente, a complexidade com-

    putacional ainda era alta, pois era necessário um hardware dedicado para as operações

    matemáticas. Devido a isso, para diminuir o problema de processamento, foi introduzida

    a utilização do algoritmo de Colley e Tukey para cálculo da DFT.

    Em 1965, Cooley e Tukey haviam apresentado um novo algoritmo para implementação

    da DFT. Para tanto eles utilizaram o prinćıpio da simetria da transformada de um quarto

    de onda, de forma que o número de multiplicações complexas foi reduzido eficientemente,

    passando de N2 para N log2N (COOLEY; TUKEY, 1965). Assim, utilizando este algo-

    ritmo os sistemas do OFDM passaram a ser implementados com a chamada Transformada

    Rápida de Fourier (FFT) e a Transformada Inversa Rápida de Fourier (IFFT) (Figura 3).

    Porém este método de transmissão só viria a se tornar uma tecnologia difundida a partir

    de 1980 com os estudos de Peled e Ruiz.

    Figura 3: Esquema completo do OFDM com implementação da FFT

    Fonte: Adaptado de Cho et al. (2010, p.118).

    A ideia sugerida por Peled e Ruiz é a da utilização do conceito do Prefixo Ćıclico

    (PC) como forma de preencher o intervalo de guarda entre as subportadoras. Isso era

    feito para manter a sincronização dos sinais e aumentar a robustez contra a interferência

    intersimbólica (PELED; RUIZ, 1980) (Figura 4). Assim, a parte final do śımbolo é copiada

    no ińıcio conforme a Figura 5 . Deste modo, mesmo que o sinal chegue sobreposto devido

    ao efeito do multipercurso, poderá ser demodulado corretamente, desde que o ponto de

    ińıcio da IFFT seja sempre após o intervalo de guarda (CHO et al., 2010), ou seja,

    a duração do prefixo ćıclico precisa ser maior que o atraso máximo τk apresentado na

    7

  • Equação 1 . Por fim é necessário formatar os pulsos OFDM.

    Figura 4: Interferência intersimbólica

    Fonte: Adaptado de Smaini (2012, p.21).

    Figura 5: Prefixo Ćıclico

    Fonte: (AKAMINE, 2011, p.15).

    Para evitar as interferências entre subportadoras, é aplicado o filtro de cosseno levan-

    tado (Equação 8) para reduzir os lóbulos secundários que podem gerar este efeito. Esses

    lóbulos são decorrentes da geração do śımbolo OFDM que é feita a partir de subportadoras

    QAM sem filtro (AKAMINE, 2011).

    w(t) =

    0.5 + 0.5cos(π + tπ/(βTs)) 0 ≤ t ≤ βTs

    1 βTs ≤ t ≤ Ts0.5 + 0.5cos(π + tπ/(βTs)) Ts ≤ t ≤ (1 + β)Ts

    (8)

    Apesar do OFDM ser a tecnologia mais utilizada atualmente nos sistemas de comu-

    nicação, para muitas aplicações a modulação por bancos de filtros, em especial o FBMC

    tem se apresentado como uma alternativa eficiente, visto seu melhor aproveitamento da

    banda dispońıvel, maior taxa de bits e menor sensibilidade a desvios de fase e frequência

    devido a utilização de bancos de filtros polifásicos no processo de modulação (FARHANG-

    BOROUJENY, 2011).

    8

  • 2.2 Técnica de Transmissão Baseada em Bancos de Filtros

    Os estudos base para o desenvolvimento da técnica de modulação por bancos de filtros

    começaram a ser realizados na década de 1970, a partir das ideias propostas por Chang

    (CHANG, 1966) e depois por Saltzberg (SALTZBERG, 1967). Assim como no OFDM, o

    artigo de 1966 de Chang definiu os métodos para a śıntese de sinais ortogonais limitados

    em banda. Porém, sua implementação utilizava sequências de śımbolos Pulse Amplitude

    Modulation (PAM), que consiste em modular o sinal por meio de pulsos discretos retangu-

    lares (HAYKIN, 2001). Então, em 1967, Saltzberg, observando os critérios estabelecidos

    por Chang, provou ser posśıvel a aplicação para sequências de śımbolos QAM (SALTZ-

    BERG, 1967). Apesar disso, a implementação do sistema ainda não era viável devido aos

    componentes analógicos utilizados (FARHANG-BOROUJENY, 2011).

    No ano de 1971, como já citado na subseção 2.1, Weinstein e Ebert introduziram

    o uso da DFT para substituir os filtros analógicos e gerar as subportadoras ortogonais

    (WEINSTEIN; EBERT, 1971). Porém, Bellanger e Daguet em 1974 discutiram o uso de

    filtros polifásicos combinados com a DFT para o modelo de Saltzberg. O mesmo foi feito

    em 1981 por Hirosaki e ambos os autores conclúıram que foi posśıvel reduzir significativa-

    mente a complexidade computacional, além de facilitar a definição das caracteŕısticas dos

    filtros e a sincronização dos sinais (BELLANGER; DAGUET, 1974)(HIROSAKI, 1981).

    A partir de então, as pesquisas passaram a ser voltadas para a utilização dos bancos de

    filtros.

    Um sinal x(n) pode ser decomposto em M faixas de frequências ao passar pela es-

    trutura de filtros mostrada na Figura 6, onde cada um dos filtros possui resposta Hj(z),

    para j = 0, 1, · · · ,M − 1.

    Nas aplicações em sistemas de comunicação, o sinal precisa ser recuperado perfeita-

    mente no receptor. Para tanto, pode ser utilizado o sistema mostrado na Figura 7, que

    é comumente aplicado, onde H(z) e G(z) são os filtros de análise e de śıntese respectiva-

    mente. Porém, o processo de recuperação do sinal não é simples, visto que demandaria

    filtros ideais que não são realizáveis na prática (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004). Então, é

    necessário utilizar os conceitos das identidades nobres para se aproximar da reconstrução

    perfeita.

    9

  • Figura 6: Decomposição de H(Z) em M filtros

    Fonte: (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004, p.370).

    Figura 7: Banco de Filtros

    Fonte: (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004, p.372).

    A primeira identidade utilizada é a apresentada na Equação 9. Ela demonstra que

    decimar um sinal por M e filtrá-lo depois com H(z) é o mesmo que passá-lo por H(zM)

    e decimá-lo (DM) depois.

    DM{X(z)}H(z) = DM{X(z)H(zM)} (9)

    O filtro H(zM) tem a mesma resposta ao impulso de H(z), porém com (M − 1) zeros

    entre amostras (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004). De forma análoga, a segunda identidade

    (Equação 10) demonstra que filtrar um sinal com H(z) e após interpolá-lo (IM) por M , é

    o mesmo que interpolá-lo primeiro e depois passá-lo por H(zM). Assim, partindo destas

    identidades pode-se utilizar a decomposição polifásica para permitir a reconstrução do

    sinal.

    IM{X(z)H(z)} = IM{X(z)}H(zM) (10)

    10

  • A decomposição polifásica consiste na divisão dos filtros H(z) e G(z) em M filtros

    espalhados com número de amostras múltiplos de M (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004),

    conforme visto nas Equações 11 e 12. Pode-se verificar que Ekj(z) é a j − ésima compo-

    nente polifásica de Hk(z) e Rjk(z) é a j− ésima componente polifásica de Gk(z), conforme

    as Equações 13 e 14.

    Hk(k) =M−1∑j=0

    z−jEkj(zM) (11)

    Gk(k) =M−1∑j=0

    z−(M−1−j)Rjk(zM) (12)

    Ekj(z) =+∞∑l=−∞

    h(Ml + j)z−l (13)

    Rjk(z) =+∞∑l=−∞

    h(Ml +M − 1− j)z−l (14)

    Asssim, o sistema apresentado anteriormente na Figura 7, pode ser reformulado como

    visto na Figura 8.

    Figura 8: Bancos de Filtros em termos de suas componentes polifásicas

    Fonte: (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004, p.378).

    Utilizando as identidades das Equações 9 e 10, pode-se verificar o sistema final como

    na Figura 9, onde E(z) e R(z) são as matrizes que contêm os valores de Ekj(z) e Rjk(z)

    respectivamente.

    Finalmente é posśıvel calcular os coeficientes dos filtros. Para tanto é preciso reescre-

    11

  • Figura 9: Bancos de Filtros em termos de suas componentes polifásicas após aplicação das

    identidades

    Fonte: (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004, p.378).

    ver Hk(z) e Gk(z) matricialmente conforme as Equações 15 e 16.H0(z)

    H1(z)

    ...

    HM−1(z)

    = E(zM)

    1

    z−1

    ...

    z−(M−1)

    (15)

    G0(z)

    G1(z)

    ...

    GM−1(z)

    = RT (zM)

    z−(M−1)

    z−(M−2)

    ...

    1

    (16)

    Nota-se que para que o sinal seja perfeitamente reconstrúıdo, é necessário respeitar a

    Equação 17, mesmo que a operação resulte em um atraso (∆) (DINIZ; SILVA; NETTO,

    2004).

    R(z)E(z) = z−∆I (17)

    A técnica de transmissão FBMC consiste em dividir o espectro dispońıvel em sub-

    canais com largura de banda iguais (CHERUBINI et al., 2000). Assim é aplicada uma

    estrutura de Bancos de Filtros, mostrada na Figura 10, onde cada śımbolo di passa por

    um filtro deslocado em frequência.

    A equação de cada filtro pode ser escrita como visto na Equação 18, onde hi é o

    coeficiente da resposta em frequência calculado para o filtro.

    Bk(f) = H(f −k

    M) =

    L−1∑i=0

    hie−j2πi(f− k

    M) (18)

    12

  • Figura 10: Composição do Śımbolo FBMC

    Fonte: Autoria Própria.

    Utilizando a transformada Z, obtem-se a Equação 19.

    Bk(z) =L−1∑i=0

    hiej2πi k

    M z−i (19)

    Aplicando a decomposição polifásica em Bk(z), encontra-se a Equação 20.

    Bk(z) =M−1∑p=0

    ej2πkMpz−pHp(z

    M) (20)

    Sendo Hp(zM) =

    ∑k−1i=0 hiM+pz

    −iM e fazendo WM = e−j2 π

    M , chega-se à Equação 21.

    Bk(z) =M−1∑p=0

    W−kpM z−pHp(z

    M) (21)

    Considerando todos os filtros na forma matricial, obtém-se a Equação matricial 22.B0(z)

    B1(z)

    ...

    BM−1(z)

    =

    1 1 ... 1

    1 W−1M ... W−(M−1)M

    ...

    ...

    ...

    ...

    1 W−(M−1)M ... W

    −(M+1)2M

    H0(Z

    M)

    z−1H1(ZM)

    ...

    z−(M−1)HM−1(ZM)

    (22)

    Assim, na prática o sistema é implementado utilizando a IFFT seguida de filtros

    polifásicos para cada subcanal, conforme a Figura 11. Isto é posśıvel devido ao processo

    de cálculo da IFFT, visto na Equação 23 (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004), que gera um

    deslocamento em frequência da resposta em frequência de k/M , ou seja gera a matriz

    13

  • Figura 11: Composição do Śımbolo FBMC utilizando a IFFT

    Fonte: Autoria Própria.

    W−kpM . Assim, ao analisar a IFFT completa, observa-se a resposta do banco de M filtros

    conforme a Figura 12.

    yk(n) =1

    M

    M∑i=1

    x(n− i)ej2kiπM (23)

    Figura 12: Resposta em frequência da IFFT

    Fonte: (BELLANGER, 2010, p. 6).

    2.3 SBTVD

    O padrão de TV digital brasileiro foi desenvolvido a partir do sistema japonês: o

    ISDB-TB. Este possúıa vantagens sobre os sistemas Advanced Television System Com-

    mittee (ATSC) e Digital Video Broadcasting Terrestrial (DVB-T), visto que o primeiro

    apresentava problemas devido ao efeito do multipercurso e o segundo não apresentava ro-

    bustez contra o rúıdo impulsivo (AKAMINE, 2011). Assim, após alguns anos de pesquisa

    e desenvolvimento, em 2006 era apresentado o ISDB-TB.

    14

  • O ISDB-TB trabalha com canais de 6 MHz contendo 14 segmentos, onde cada um

    ocupa 1/14 avos da largura de banda do canal (ABNT, 2008) (Figura 13). Desses, 13 são

    blocos OFDM e o décimo quarto segmento é dividido em dois, de forma que metade do

    segmento seja utilizado como banda de guarda inferior e a outra metade como banda de

    guarda superior.

    Figura 13: Segmentação do canal do sistema ISDB-TB

    Fonte: (BEDICKS JUNIOR, 2008, p.66).

    Cada quadro OFDM é formado por 204 śımbolos OFDM e pode ser constitúıdo de

    um número diferente de subportadoras, dependendo do modo adotado. Cada modo define

    a distância entre as portadoras OFDM, que pode ser de aproximadamente 4kHz para o

    modo 1, de 2kHz para o modo 2 e de 1kHz para o modo 3 (ABNT, 2008).

    Cada śımbolo OFDM pode conter um número diferente de portadoras úteis, pilotos

    cont́ınuas e espalhadas, comprimentos distintos de intervalo de guarda e diferentes modos

    para o codificador interno de acordo com a Tabela 1.

    As pilotos espalhadas são moduladas em BPSK relacionada à uma sequência PRBS

    de polinômio 1+X9 +X11, que terá valor inicial espećıfico para cada seguimento (ABNT,

    2008), de forma que a piloto poderá ter amplitude +4

    3ou −4

    3. A posição das pilotos

    espelhadas poderá assumir diferentes valores no śımbolo OFDM, conforme a Equação 24

    (YAMADA et al., 2004).

    k = Kmin + 3mod(L, 4) + 12p (24)

    onde L é o número do śımbolo OFDM, p o número de pilotos e k deve estar entre Kmin

    e Kmax. As pilotos cont́ınuas também possuem posição espećıfica conforme a Norma da

    ABNT 15601 (ABNT, 2008), mas que não serão detalhadas neste trabalho. Graficamente

    as posições das pilotos podem ser observadas na Figura 14.

    15

  • Tabela 1: Parâmetros do segmento OFDM

    Fonte: (ABNT, 2008, p.8)

    O sistema opera com combinações de segmentos, formando camadas (layers) que

    podem ser modulados de forma individual e transmitir diferentes conteúdos, tais como

    one-segment (1SEG), Standard Definition Television (SDTV) e High Definition Televi-

    sion (HDTV). Segundo a norma da ABNT NBR 15601, as modulações que podem ser

    utilizadas são Differential Quadrature Phase-Shift Keying (DQPSK), Quadrature Phase-

    Shift Keying (QPSK), 16QAM e 64QAM, que possuem 4, 16 e 64 bits por śımbolo da

    constelação respectivamente (ABNT, 2008). Analisando a camada f́ısica deste sistema é

    posśıvel detalhar outros aspectos fundamentais.

    16

  • Figura 14: Posicionamento pilotos no śımbolo OFDM

    Fonte: (ABNT, 2008, p.39).

    O pacote de dados utilizado no ISDB-TB é chamado de Brodcasting Transport Stream

    (BTS) que é composto por 204 bytes, sendo que 188 bytes são compostos por pacotes

    de Transport Stream (TS) que contêm as informações comprimidas de áudio e v́ıdeo e os

    outros 16 bytes contém parâmetros de camadas e de modulação. Para recepção fixa o áudio

    é codificado com MPEG-4 HE-AAC@L4 e o v́ıdeo com H264/[email protected], enquanto para

    recepção móvel é utilizado o MPEG-4 HE-AAC@L3 e [email protected], respectivamente

    (BEDICKS JUNIOR, 2008). A partir desses pacotes inicia-se a codificação de canal.

    O sistema de codificação do ISDB-TB, observado na Figura 15, é composto primeira-

    mente pelo separador de camadas que tem por função separar cada pacote e destiná-los

    à sua camada espećıfica (AKAMINE, 2011). Assim, o bloco analisa o byte 190 do BTS

    e o encaminha para uma das camadas. Após, é utilizado um código Reed Solomon, que

    realiza uma codificação não binária, com parâmetros n = 255, k = 239 e t = 8, sendo n

    o número de bytes de sáıda, k o número de entrada e t o número de bytes que podem ser

    corrigidos pelo código. Porém, devido ao fato da utilização do MPEG-2 TS, utiliza-se um

    modo encurtado com n = 204, k = 188 e t = 8 (AKAMINE, 2011).

    Em seguida o Dispersor de energia realiza serialização dos dados e soma-os a uma

    sequência pseudo-aleatória que utiliza o polinômio gerador visto na Equação 25 (YA-

    MADA et al., 2004).

    p(x) = 1 + x14 + x15 (25)

    17

  • Figura 15: Estágio de Codificação de Canal do ISDB-TB

    Fonte: (AKAMINE, 2011, p.32).

    Para aumentar a robustez contra erros de blocos é utilizado um entrelaçador de bytes

    que é composto por 12 caminhos e registradores de deslocamento de 17 bytes (YAMADA

    et al., 2004), conforme a Figura 16.

    Figura 16: Entrelaçador de bytes

    Fonte: (YAMADA et al., 2004, p.73).

    Após, utiliza-se o codificador convolucional da Figura 17 com puncionamento visando

    aumentar a robustez do sistema. Verifica-se que o código para as sáıdas pode ser analisado

    como na Equação 26 (AKAMINE, 2011).

    X ⇒ G1 = 1 +D +D2 +D3 +D6

    Y ⇒ G1 = 1 +D2 +D3 +D5 +D6(26)

    Por fim os dados são modulados de acordo com o ı́ndice de modulação escolhido

    e os quadros OFDM são montados. Entrelaçadores de tempo, de frequência e entre

    segmentos também são aplicados ao sistema (YAMADA et al., 2004), visando aumentar

    a confiabilidade do sistema contra diversos tipos de interferência. Tendo por base os

    conceitos e estudos apresentados, é posśıvel detalhar os aspectos envolvendo a técnica de

    transmissão FBMC.

    18

  • Figura 17: Codificador Convolucional

    Fonte: (YAMADA et al., 2004, p.74).

    2.4 Estimadores de Canal

    Os sinais de comunicação ao serem transmitidos pelo ar sofrem degradações devido

    ao efeito do multipercurso (RAPPAPORT, 2002). Assim, para minimizar este efeito é

    necessário estimar a resposta em frequência do canal (H(k)) a partir das portadoras

    pilotos que são inseridas de forma espaçada entre as portadoras de dados, possibilitando

    a estimação da resposta em frequência do canal (AKAMINE, 2011). Assim, analisando

    um sistema de comunicação pode-se observar que o sinal recebido Y (k) é igual ao sinal

    enviado X(k) multiplicado pela resposta H(k) do canal mais uma parcela de rúıdo W (k),

    conforme a Equação 27.

    Y (k) = X(k)H(k) +W (k) (27)

    Assim, utilizando a informação da piloto conhecida, é posśıvel estimar a resposta do

    canal na posição da piloto Hep(k) conforme a Equação 28.

    Hep(k) =Xp(k)

    Yp(k)(28)

    onde o ı́ndice e significa que o valor é estimado.

    Partindo desta informação é posśıvel interpolar as respostas de cada piloto no tempo

    e/ou na frequência conforme a Figura 18, de forma a encontrar a resposta completa do

    19

  • canal. Entre elas a mais simples é a interpolação linear. Para este procedimento utiliza-se

    a Equação 29.

    He(k) = (1− a)Hep(k) + aHep(k + 1) (29)

    onde a é uma constante calculada pela relação entre a distância da portadora k analisada

    para a piloto (lpl) e a distância entre pilotos (Lpp), conforme a Equação 30.

    a =lplLpp

    (30)

    Figura 18: Interpolação no tempo e na frequência

    Fonte: Autoria Própria.

    Outro método utilizado é a interpolação cúbica. Neste caso é necessário calcular a

    resposta do canal para cada portadora utilizando a Equação 31.

    He(k) = A(a)Hep(m) +B(m)Hep(m+ 1) + C(a)z(m) +D(a)z(m+ 1) (31)

    onde A(a), B(a), C(a) e D(a) são constantes determinadas por a e z(m) é a derivada

    de segunda ordem obtida a partir das informações da piloto (KANG; HA; JOO, 2003).

    Após encontrar a resposta de todo o canal, basta dividir o sinal recebido pela resposta

    encontrada conforme a Equação 32, à qual se dá o nome de equalização 1-tap.

    Xe(k) =Y (k)

    He(k)(32)

    No caso espećıfico do FBMC, como há interferência apenas entre canais adjacentes,

    torna-se necessário utilizar uma equalização de canal que utilize a equalização em três

    etapas (3-tap) ou mais (ROCHA; BELLANGER, 2011). Para tanto, primeiramente é

    necessário calcular a resposta inversa do canal, conforme a Equação 33.

    Eq(k) = 1/He(k) (33)

    20

  • Depois, necessita-se encontrar pontos intermediários da resposta inversa do canal

    denominados P1 e P2 no caso 3-tap, utilizando as Equações 34 e 35 respectivamente.

    P1 = Eq(k − 1)(Eq(k)

    Eq(k − 1))

    1

    2 (34)

    P2 = Eq(k)(Eq(k + 1)

    Eq(k))

    1

    2 (35)

    Por fim, é preciso encontrar os três coeficientes do filtro FIR que realiza a equalização

    do canal. Para tanto utilizando as propriedades periódicas da IFFT (IHALAINEN et al.,

    2006), os mesmos podem ser calculados utilizando as Equações 36, 37 e 38.

    q0k =1

    2(P1k + P2k) (36)

    q1k = ±1

    4(P1k − 2Eq(k) + P2k)− j(P2k − P1k) (37)

    q2k = ±1

    4(P1k − 2Eq(k) + P2k) + j(P2k − P1k) (38)

    onde o sinal positivo ou negativo do termo1

    4para q0 e q1 depende se o śımbolo analisado

    é par ou ı́mpar.

    2.5 GNU Radio

    O software aberto GNU Radio é uma ferramenta computacional que permite a criação

    de blocos de processamento para simulação de sistemas de comunicação (MAHESHWA-

    RAPPA; BRIDGES, 2014). Além disso, ele pode ser utilizado para possibilitar a interface

    com front-ends de rádio frequência (STOICA; SEVERI; ABREU, 2016). Sua operação

    é realizada através de uma Graphical User Interface (GUI) (interface homem-máquina),

    onde o usuário interage com o software através de blocos gráficos (LARROCA et al., 2015)

    que facilitam a conexão dos mesmos para formar os chamados Flow graphs (MÜLLER,

    2008), como na Figura 19.

    As funções operadas por cada bloco podem ser descritas utilizando linguagem C++

    ou Phyton, enquanto as conexões, controle e organização são obrigatoriamente realizadas

    21

  • Figura 19: Flow graph

    Fonte: Fonte: Autoria própria.

    em Phyton (MÜLLER, 2008). Para realizar a interface entre C++ e Phyton o programa

    utiliza uma interface chamada Simplified Wrapper and Interface Generator (SWIG). As-

    sim quando um Flow graph é executado uma função Phyton opera a função descrita em

    C++ através de uma ferramenta do SWIG (VACHHANI; MALLARI, 2015), conforme

    exemplificado na Figura 20.

    Figura 20: Interface SWIG

    Fonte: Fonte: Adaptado de Vachhani e Mallari (2015, p.1812).

    As fontes de dados processadas no GNU Radio podem ser do tipo complex (8 by-

    tes), float (4 bytes), int (2 bytes) ou byte (1 byte), dependendo da aplicação desejada

    (MÜLLER, 2008). Para realizar as simulações em tempo real, é utilizada uma bibli-

    oteca chamada de Vector-Optimized Library of Kernels (VOLK) que realiza operações

    de alta velocidade a partir da tecnologia Single instruction, multiple data (SIMD) que

    está dispońıvel nos processadores atuais e utiliza o processamento paralelo para agilizar

    a multiplicação de vetores, por exemplo (LARROCA et al., 2016).

    A ferramenta possui uma linguagem de terminologia própria, como visto na Tabela 2

    (GNURADIO, 2016).

    22

  • Tabela 2: Terminologia do GNU Radio

    Nome Definição

    Block Unidade de processamento com entradas e sáıdas

    Port Entrada ou sáıda de um bloco

    Source Gerador de dados

    Sink Consumidor de dados

    Connection Fluxo de dados de uma sáıda para uma entrada

    Flow graph Conjunto de blocos e conexões

    Item Unidade de dados

    Stream Fluxo cont́ınuo de Items consecutivos

    IO signature Descrição das entradas e sáıdas dos blocos

    Fonte: (GNURADIO, 2016)

    Para criar os Flow graphs que simulam sistemas de telecomunicação podem ser uti-

    lizados cinco diferentes tipos de blocos: Syncronous que é utilizado quando se deseja ter

    na entrada e na sáıda o mesmo números de items por port ; Decimation quando o número

    de dados da entrada é um múltiplo fixo da sáıda; Interpolation onde o número de dados

    da sáıda é um múltiplo fixo da entrada; General é o mais utilizado onde não é necessário

    uma relação entre o número de dados nas entradas e sáıdas do mesmo; e, por fim, os Hie-

    rarchical que permite a criação de um bloco que inclua em sua descrição blocos menores,

    visando facilitar o entendimento dos Flow graphs (GNURADIO, 2016).

    23

  • 3 FBMC

    Para que o sistema FBMC funcione corretamente, além da estrutura de banco de filtros

    são necessários outros componentes que serão apresentados a seguir. Primeiramente, para

    realizar a filtragem pós IFFT é utilizado um filtro previamente definido segundo os critérios

    de Nyquist.

    3.1 Filtro protótipo

    Filtro protótipo é o nome dado para o filtro projetado para a conformação dos pulsos

    após a IFFT. Ele é projetado de forma a controlar as distorções de fase e amplitude, além

    da interferência entre subcanais (BELLANGER, 2001). Para um banco de filtros com

    n/4 canais, onde n é a ordem da IFFT, cada coeficiente hk do filtro, sendo k = {0, 1, 2, 3},

    deve obedecer a Equação 39 e a Equação 40 (MARTIN, 1998).

    h3 + h2 + h1 + h0 + h1 + h2 + h3 = 0 (39)

    h0 = 1

    h21 + h23 = 1

    2h22 = 1

    (40)

    Assim os coeficientes dos filtros podem ser calculados e os valores encontram-se na

    Equação 41.

    h0 = 1

    h1 = −0.9719598

    h2 = 0.7071068

    h3 = −0.2351470

    (41)

    A resposta em frequência do filtro pode ser escrita como na Equação 42, onde M é o

    número de subportadoras, e vista na Figura 21.

    H(f) =K−1∑

    k=−(K−1)

    hksen(π(f − k

    MK)MK)

    MKsen(π(f − kMK

    ))(42)

    24

  • Figura 21: Resposta em frequência do filtro protótipo

    Fonte: (BELLANGER, 2010, p. 8).

    A resposta ao impulso do filtro pode ser calculada pela transformada inversa de Fourier

    da resposta em frequência, conforme na Equação 43

    h(t) = 1 + 2k=3∑k=1

    hkcos(2πkt

    KT) (43)

    A união entre a IFFT e o filtro protótipo resulta na resposta do banco de filtros visto

    na Figura 22.

    Figura 22: Resposta em frequência do banco de filtros protótipo

    Fonte: (VIHOLAINEN; BELLANGER; HUCHARD, 2009, p. 8).

    Para efeito de comparações, a Figura 23 apresenta lado a lado a resposta em frequência

    do sistema FBCM e OFDM para o eixo de frequências normalizado. Verifica-se a grande

    redução da amplitude fora do ponto central da subportadora, o que reduz as interferências

    quando se utiliza várias subportadoras para a transmissão de sinais.

    25

  • Figura 23: Resposta em frequência dos sistemas FBMC (a) e OFDM (b)

    Fonte: Autoria própria.

    Visando aumentar a robustez contra desvios de frequência utiliza-se a modulação

    OQAM, pois permite uma conformação de pulsos mais eficiente, reduzindo a ocorrência

    de interferências (SIOHAN; SICLET; LACAILLE, 2002).

    3.2 Modulação Offset QAM

    O prinćıpio da ortogonalidade é sempre necessário na transmissão por multiporta-

    doras, devido ao efeito destrutivo da sobreposição de subcanais adjacentes. Isto pode

    ser obtido usando alternadamente a parte real e imaginária das entradas da IFFT, para

    śımbolos pares e ı́mpares (BELLANGER, 2010), porém há uma redução da capacidade

    de transmissão por um fator de duas vezes. Como alternativa, com a utilização da mo-

    dulação OQAM, observa-se que é posśıvel se manter a ortogonalidade, sem no entanto

    comprometer esta capacidade. Isto ocorre devido ao fato de que a parte real e imaginária

    do śımbolo são transmitidas de forma separada e defasada entre si, duplicando a taxa

    por subcanal e alternando entre a parte real e imaginária dos śımbolos pares e ı́mpares.

    Assim na transmissão, o sinal QAM passa por um preprocessamento OQAM.

    A funcionalidade básica do preprocessamento OQAM é a conversão de um śımbolo

    complexo para dois śımbolos reais defasados entre si. Assim um śımbolo complexo ck,l

    torna-se dois śımbolos dk,2l e dk,2l+1 (VIHOLAINEN; BELLANGER; HUCHARD, 2009).

    26

  • Isso, faz com que o sistema opere com o dobro da taxa inicial, necessitando assim um

    incremento de 2 na taxa de amostragem. Ao mesmo tempo, para que haja ortogonalidade

    entre os śımbolos pares e ı́mpares, eles são tratados separadamente, conforme observado

    na Figura 24.

    Figura 24: Preprocessamento OQAM

    Fonte: (VIHOLAINEN; BELLANGER; HUCHARD, 2009, p. 12).

    Na conversão dos śımbolos pares a parte real do śımbolo é a primeira a ser enviada,

    enquanto para os śımbolos ı́mpares a parte imaginária é a primeira a ser enviada. Na sáıda

    do processo de conversão, o śımbolo é multiplicado por uma sequência θk,n que entre as

    opções pode ser definida como na Equação 44 para que a sáıda do bloco seja puramente

    real ou imaginária.

    θk,n =

    1, j, 1, j, ... para k parj, 1, j, 1, ... para k impar (44)Na recepção é realizado o processo inverso, ou seja, a conversão das componentes

    separadas para um único śımbolo complexo. No ińıcio o sinal é multiplicado pela sequência

    θ∗k,n e as partes reais e imaginárias de cada śımbolo são reagregadas, de forma que a taxa

    de dados retorne a ser a original. O sistema para os śımbolos pares e ı́mpares pode ser

    analisado na Figura 25. Assim, por este método mantém-se a ortogonalidade, protegendo

    o sistema contra as interferências entre canais adjacentes. Porém, para que o sistema

    seja causal é necessária a introdução de um fator chamado Multiplicador Beta (SIOHAN;

    SICLET; LACAILLE, 2002).

    27

  • Figura 25: Posprocessamento OQAM

    Fonte: (VIHOLAINEN; BELLANGER; HUCHARD, 2009, p. 13).

    3.3 Multiplicador Beta

    Para que os filtros polifásicos sejam causais é necessário introduzir um atraso propor-

    cional ao comprimento Lp do filtro. Assim o fator Beta pode ser calculado conforme a

    Equação 45.

    βk = e−j 2kπ

    M

    (Lp−1)2 (45)

    onde k é o ı́ndice de cada subportadora e M é o número total de subportadoras.

    No caso particular em que o comprimento do filtro é igual à KM − 1, obtêm-se a

    Equação 46.

    βk = e−j 2πk

    M(KM−2)

    2 (46)

    Então realizando a separação dos termos encontra-se a Equação 47.

    βk = e−jπkKej

    2kπM (47)

    Fazendo K = 4, conforme selecionado para o filtro de formatação de pulsos, pode-se

    observar a Equação 48.

    βk = e−j4πkej

    2kπM (48)

    Analisando o termo à direita e−j4πk, verifica-se que o mesmo será sempre igual à 1

    restando apenas ej2kπM . Por fim, para que haja inversão de fase a cada βk calculado um

    28

  • fator (−1)kn é introduzido, resultando na Equação 49 (VIHOLAINEN; BELLANGER;

    HUCHARD, 2009).

    βk = (−1)knej2kπM (49)

    onde n indica se o śımbolo é par ou ı́mpar.

    A partir das definições das partes que compõem o sistema FBMC, há diversas formas

    de implementá-lo.

    3.4 Métodos de implementação do sistema FBMC

    Para possibilitar o funcionamento do sistema FBMC há três maneiras diferentes de

    implementá-lo: ou com um bloco que realiza uma IFFT de M pontos funcionando numa

    taxa duas vezes maior que o sistema, realizando os cálculos em metade do peŕıodo de

    śımbolo (BELLANGER, 2010) ou utilizando um único bloco que realiza a IFFT, utili-

    zando as propriedades da mesma para realizar o processamento OQAM de forma impĺıcita

    (VARGA; KóLLAR, 2013) ou utilizando um bloco que realiza a IFFT de tamanho KM

    na mesma taxa de śımbolos do restante do sistema (BELLANGER, 2010). Este último

    não será citado neste trabalho devido à alta complexidade computacional necessária para

    executá-lo (BELLANGER, 2010).

    3.4.1 Modelo FBMC com IFFT de comprimento M executando cálculos no

    dobro da taxa de śımbolos

    Para esta implementação o diagrama do sistema FBMC (FBMCv1) completo pode

    ser observado na Figura 26.

    Assim, ao passar pelo bloco de pré processamento OQAM a taxa do sistema é dupli-

    cada de forma que a IFFT realize os cálculos em metade do peŕıodo de śımbolo (T

    2).

    3.4.2 Modelo FBMC com IFFT de comprimento M e processamento OQAM

    impĺıcito

    Para este segundo modelo (FBMCv2), primeiramente é necessário compreender al-

    gumas propriedades da DFT (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004). Primeiramente, pode-se

    29

  • Figura 26: Sistema FBMC com IFFT com taxa duplicada

    Fonte: Adaptado de Schaich (2010, p.1052).

    observar que para um sinal y(n) = x1(n) + jx2(n), onde x1 e x2(n) são sequências reais, a

    DFT de y(n) pode ser calculada como na Equação 50 e reescrita como 51 (DINIZ; SILVA;

    NETTO, 2004).

    F{y(n)} = F{x1(n)}+ jF{x2(n)} (50)

    Y (k) = X1(k) + jX2(k) (51)

    Partindo da informação acima, pode-se encontrar a Equação 52 (DINIZ; SILVA;

    NETTO, 2004). Re{Y (k)} = Re{X1(k)} − Im{X2(k)}Im{Y (k)} = Re{X2(k)}+ Im{X1(k)} (52)Aplicando as mesmas propriedades observa-se a Equação 53 (DINIZ; SILVA; NETTO,

    2004). Re{Y (−k)} = Re{X1(k)}+ Im{X2(k)}Im{Y (−k)} = Re{X2(k)} − Im{X1(k)} (53)Utilizando as duas últimas equações apresentadas, pode ser calculada a Equação 54

    (DINIZ; SILVA; NETTO, 2004).

    Re{X1(k)} =1

    2(Re{Y (k)}+Re{Y (−k)})

    Im{X1(k)} =1

    2(Im{Y (k)} − Im{Y (−k)})

    Re{X2(k)} =1

    2(Im{Y (k)}+ Im{Y (−k)})

    Im{X1(k)} =1

    2(Re{Y (−k)} −Re{Y (−k)})

    (54)

    30

  • Assim, pode-se observar que é posśıvel separar a parte real e imaginária do śımbolo

    após o cálculo da FFT ou IFFT (VARGA; KóLLAR, 2013). O diagrama do sistema pode

    ser observado na Figura 27.

    Figura 27: Sistema FBMC com IFFT com OQAM impĺıcito

    Fonte: Adaptado de Schaich (2010, p.1052).

    Pode-se concluir que os blocos Separador e Junção realizam de forma impĺıcita o pré

    e o pós processamento OQAM, visto que separam as sequências reais e imaginárias que

    compõem os śımbolos M-ary - Quadrature Amplitude Modulation (M-QAM) após a IFFT.

    3.5 Estudos Relacionados

    Em 2006, Youjun et al. apresentaram um estudo sobre o desenvolvimento de filtros

    polifásicos por meio da técnica de projeto de menor erro quadrático sem especificação

    de bandas de transição para o sistema FBMC. Chegou-se a conclusão que com o uso

    desta técnica de projeto o sistema tem um ganho significativo devido ao cancelamento da

    interferência entre bandas, evitando a distorção dos sinais (YOUJUN et al., 2006).

    No ano de 2008, Martin, Bregovic e Saramaki utilizaram outra técnica de projeto

    para os filtros: o janelamento de cosseno. Suas conclusões provaram que o uso deste

    modelo de desenvolvimento diminuiu a interferência intersimbólica, devido ao corte das

    bandas adjacentes que são a causa da interferência (MARTIN; BREGOVIC; SARAMAKI,

    2008). No mesmo ano, Fusco, Petrella e Tanda estudaram a sensibilidade dos sistemas

    FBMC e OFDM aos erros de sincronização, realizando essa comparação para uplink e

    downlink. Segundo eles o sistema FBMC em geral possui maior sensibilidade aos erros de

    sincronização, porém para as aplicações asśıncronas de uplink ele possui maior robustez

    que o OFDM (FUSCO; PETRELLA; TANDA, 2008).

    31

  • Em 2010, Bellanger et al. apresentaram uma comparação entre a taxa de dados dos

    sistemas FBMC e OFDM para aplicações em Power Line Comunications (PLC).Suas

    conclusões mostraram que o FBMC apresenta maior robustez, maior taxa de dados e

    utilização completa da largura de banda dispońıvel (BELLANGER et al., 2010). Apesar

    disso, verifica-se que houve um aumento na complexidade computacional em relação ao

    OFDM no sistema de recepção, devido aos filtros de equalização.

    No mesmo ano Schaich apresentou a comparação de desempenho entre os sistemas

    no contexto do WiMAX.Verificou-se que o FBMC teve um incremento de complexidade

    conforme já havia sido apresentado em outros estudos, porém com baixa sensibilidade

    a desvios de frequência e com aproveitamento de 20% a mais de eficiência espectral em

    relação ao OFDM (SCHAICH, 2010).

    Ainda em 2010, Zhang et al. realizaram a comparação para a aplicação em rádios

    cognitivos. Os resultados encontrados por eles mostraram que o FBMC obteve melhores

    resultados em todos os aspectos estudados em relação ao OFDM quando se analisa a

    capacidade de transmissão de dados por unidade de frequência em relação a potência

    média de transmissão e em relação ao ńıvel de interferência (ZHANG et al., 2010).

    No ano de 2011, Medjahdi et al. apresentaram estudos relacionados a aplicações do

    FBMC em tecnologia de comunicação móvel. Para tanto eles analisaram o desempenho

    dos sistemas de downlink asśıncronos de ambos os sistemas. A partir da análise dos

    resultados, concluiu-se que a modulação por meio de bancos de filtros obteve menor erro

    de sincronização que o OFDM (MEDJAHDI et al., 2011) conforme já havia sido observado

    por Fusco anteriormente.

    Em 2012 Kollar e Horvath estudaram métodos para reduzir a degradação do sinal

    causada pelo Peak-to-average power ratio (PAPR) em sistemas FBMC. Este efeito ocorre

    devido ao envelope não constante das transmissões com múltiplas portadoras e causa

    degradação do sinal transmitido. Eles utilizaram a técnica de clipping e de compensação

    iterativa. Os resultados mostraram eficiência, sem um grande aumento de complexidade

    computacional (KOLLÁR; HORVÁTH, 2012).

    A quinta geração da comunicação móvel também tem propiciado pesquisas com o

    FBMC. Em 2014, Wunder et al. descreveram a utilização de um sistema asśıncrono para

    esta aplicação. Eles conclúıram que o FBMC será uma alternativa relevante diante dos

    32

  • desafios apresentados, devido às suas caracteŕısticas de aproveitamento do espectro sem

    a necessidade de sincronização (WUNDER et al., 2014).

    No mesmo ano, Prakash e Reddy estudaram um novo modelo de desenvolvimento

    de filtros para o FBMC, chamado Optimized Generalized Gaussian Pulse (OGGP). Por

    meio desta implementação eles verificaram uma diminuição dos lóbulos secundários vistos

    nos sistemas tradicionais, permitindo uma maior concentração de energia na banda de

    interesse (PRAKASH; REDDY, 2014).

    Ainda em 2014 N. Van et al discutiram outra forma de reduzir o efeito do PAPR

    em sistemas FBMC. Para tanto, utilizaram-se de diferentes algoritmos que permitiram

    desempenho similar ao OFDM com prefixo ćıclico (NEUT et al., 2014).

    Em 2016, visando as futuras aplicações do sistema FBMC na tenologia 5G, Gotthans

    et al estudaram o uso das próprias caracteŕısticas dos filtros polifásicos, ajustando os coe-

    ficientes dos mesmos, para resolver problemas de enlaces com amplificadores não lineares

    (GOTTHANS; GOTTHANS; MARSáLEK, 2016).

    Uma das aplicações mais atuais na área de telecomunicações é o uso de rádios definidos

    por software. Neste contexto, Dziri et al. apresentaram uma aplicação para o FBMC,

    comparando-o ao OFDM. Eles conclúıram que o FBMC apresenta uma concentração de

    energia maior na banda de interesse e assim maior aproveitamento do espectro (DZIRI et

    al., 2014).

    Na área de TV digital, Arndt e Rocha realizaram um estudo a respeito da substituição

    do OFDM pelo FBMC no padrão Digital Video Broadcasting - Terrestrial (DVB-T).

    Para tanto, foram realizadas simulações no programa Matlab e geradas as curvas de

    comparação, após o demodulador. Em suas conclusões, os autores verificaram que a

    utilização do FBMC tem desempenho superior ao OFDM quando são utilizados, no final

    do estágio de demodulação, equalizadores fracionalmente espaçados. Esses têm a função

    de reduzir os efeitos destrutivos que o sinal sofre no caminho entre o transmissor e o

    receptor de acordo com as condições do canal (TREICHLER; FIJALKOW; JOHNSON,

    1996). Apesar de um pequeno aumento na complexidade computacional do sistema, os

    benef́ıcios de aproveitamento da banda dispońıvel e a diminuição da taxa de erros de bit

    são de grande relevância (ARNDT; ROCHA, 2011).

    33

  • Em 2015, Bellanger, Mattera e Tanda estudaram aplicações do FBMC para diversas

    taxas de dados. Eles verificaram que o FBMC poderá ser o futuro da camada f́ısica dos

    sistemas de telecomunicações, visto não ser necessário a utilização do prefixo ćıclico e

    a possibilidade de aplicações asśıncronas (BELLANGER; MATTERA; TANDA, 2015).

    Nesse contexto, pesquisas relacionadas ao padrão de TV digital brasileiro também podem

    trazer grandes avanços.

    34

  • 4 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

    Nesta seção são apresentados os aspectos pertinentes ao desenvolvimento do projeto.

    Assim, a metodologia está detalhada, bem como sua utilização para a construção dos

    modelos. Os devidos testes são realizados e os resultados parciais são expostos.

    4.1 Metodologia

    O padrão brasileiro de TV digital é regulamentado pela Associação Brasileira de Nor-

    mas Técnicas (ABNT). Portanto, para compreender o funcionamento da camada f́ısica

    utilizada, é estudada a NBR15601 que trata da estrutura de canais, largura de banda,

    métodos de modulação, tamanho do prefixo ćıclico, entre outros parâmetros que permi-

    tem o funcionamento do sistema (ABNT, 2008). Depois deste passo, são realizadas as

    simulações computacionais.

    Para desenvolver os modelos de testes são utilizados os softwares GNU Radio e Ma-

    tlab. Inicialmente é constrúıdo um modelo de transmissão do FBMC de acordo com os

    parâmetros estabelecidos para o ISDB-TB. Então avalia-se a taxa de erro de bits, de-

    gradação devido a propagação multipercurso e largura de banda. Esses são os parâmetros

    que servem de base para a comparação com o sistema OFDM, conforme observados para

    outros sistemas tais como WiMAX (SCHAICH, 2010) e quinta geração de telefonia móvel

    (WUNDER et al., 2014).

    A partir dos dados coletados, é avaliado se há realmente um ganho significativo na

    utilização do espectro por meio da análise da largura de banda utilizada. Partindo deste

    ponto, são destacadas as vantagens e as desvantagens pertinentes a utilização do sistema

    FBMC na TV digital, levando em consideração principalmente as curvas de erro encon-

    tradas. A partir da metodologia descrita nesta seção, foi iniciado o desenvolvimento do

    projeto.

    A primeira parte do projeto consiste em desenvolvê-lo mediante a uma ferramenta

    computacional que permita as análises necessárias. Porém, observando os softwares dis-

    pońıveis, foi escolhido o GNU Radio que é uma ferramenta de código aberto que possibilita

    as devidas simulações computacionais em tempo real, bem como aplicações com SDRs co-

    35

  • merciais (VILCHES; DUJOVNE, 2014).

    4.2 Blocos para a implementação com IFFT dupla

    Para possibilitar a implementação do FBMC que opera a IFFT em metade do tempo

    de śımbolo, foi proposto o modelo de transmissão e recepção mostrados nas Figuras 28 e

    29 sem apresentar os blocos que formam o Frame ISDB-TB e o estimador de canal.

    onde m é o ı́ndice do dado gerado e vai até M − 1 que é o tamanho da IFFT e os demais

    śımbolos apresentados estão exemplificados ao decorrer da explicação sobre a criação dos

    blocos no GNU Radio.

    Assim, o primeiro bloco desenvolvido foi o “Preproqam”. Sua função é executar o

    preprocessamento OQAM e a aplicar o multiplicador Beta. Primeiramente ele realiza a

    conversão complexa para real dos śımbolos Cm, separando-os em duas componentes dm,0

    e dm,1. Caso o śımbolo seja par, dm,0 será a parte real do śımbolo e se for ı́mpar será a

    parte imaginária. Já dm,1 será a parte imaginária quando o śımbolo é par e parte real

    se o śımbolo for ı́mpar. Após, os śımbolos puramente reais são multiplicados pelo fator

    j(m+l), onde j =√−1 e l pode ser 0 ou 1, para possibilitar que todos os śımbolos sejam

    ortogonais entre si (BELLANGER et al., 2010). A implementação do bloco pode ser

    analisada pela Equação 55, onde m = 0, ...,M − 1.

    se m é par = {Cm = α + jβ ⇒ d∗m,0 = αj(m+0), d∗m,1 = βj(m+1)

    se m é ímpar = {Cm = α + jβ ⇒ d∗m,0 = βj(m+0), d∗m,1 = αj(m+1)(55)

    Para facilitar o trabalho com os śımbolos gerados, são utilizadas dois vetores: um

    para as componentes dm,0 e outro para as componentes dm,1. Assim, para uma simulação

    com M = 4 e os śımbolos sendo: C0 = a + jb, C1 = c + jd, C2 = e + jf e C3 = g + jh,

    verifica-se os valores nos vetores, conforme a Tabela 3.

    Após este procedimento os vetores são multiplicados pelo coeficiente β, visto ante-

    riormente na Equação 45, e são enviados para as sáıdas. Porém, visando aplicá-la em

    linguagem C, utilizou-se a fórmula de Euler (Equação 56), de forma que cada um dos

    śımbolos de entrada fossem tratados conforme a Equação 57.

    ejΘ = cosΘ + jsenΘ (56)

    36

  • Figura 28: Modelo de transmissão FBMC v1

    Fonte: Autoria Própria.

    [βmd

    ∗m,0, βmd

    ∗m,1

    ]= (−1)m(cos(mπ(Lp− 1)

    2M)− jsen(mπ(Lp− 1)

    2M))[d∗m,1, d

    ∗m,2

    ](57)

    Assim, observa-se na sáıda os valores complexos conforme a Equação 58, possibilitando

    37

  • Figura 29: Modelo de recepção FBMC v1

    Fonte: Autoria Própria.

    que os vetores com śımbolos ortogonais passassem pela IFFT.

    sáida 1 = {β0d∗0,0, ..., βM−1d∗M−1,0}

    sáida 2 = {β0d∗0,1, ..., βM−1d∗M−1,1}(58)

    38

  • Tabela 3: Simulação bloco Preproqam

    Vetor 0 Vetor 1

    d∗0,0 = a+ j0 d∗0,1 = 0 + jb

    d∗1,0 = 0 + jd d∗1,1 = −c+ j0

    d∗2,0 = −e+ j0 d∗2,1 = 0− jf

    d∗3,0 = 0− jh d∗3,1 = g + j0

    O próximo passo foi a criação do bloco “FiltrosdeSintese”que foi colocado após as

    IFFTs que trataram os vetores que vieram do bloco anterior para realizar a conformação

    dos pulsos de acordo com o filtro protótipo detalhado na Equação 18. Para esta imple-

    mentação, primeiramente há o cálculo da resposta ao impulso do filtro protótipo, chamada

    de hf e com valores apresentados anteriormente na Equação 41, com tamanho KM − 2,

    onde K = 4 e M é o número de subportadoras utilizado, geralmente um valor da potência

    de 2 (BELLANGER, 2010). O tamanho original é KM − 1, porém um delay extra é adi-

    cionado devido as caracteŕısticas apresentadas pelos filtros de śıntese e análise, por isso

    torna-se KM − 2 (BELLANGER, 2010). Depois, utilizou-se a convolução definida pela

    Equação 59.

    x1 [n] ∗circular(N) x2 [n] =N−1∑m=0

    x1 [m]x2 [((n−m))N ] (59)

    A intenção dessa implementação foi a redução da complexidade computacional, rea-

    lizando uma amostragem da convolução completa. Assim, a cada valor que passa pela

    convolução com a resposta ao impulso do filtro, apenas um valor é gerado como sáıda, ao

    invés do tamanho da convolução linear que pode ser observado na Equação 60. Porém,

    para obedecer os critérios estabelecidos pela teoria de bancos de filtros, primeiramente a

    resposta ao impulso do filtro foi amostrada de K amostras, deslocadas para cada śımbolo

    m, gerando a resposta filtrom, conforme a Equação 61, onde K = 4 que é o especificado

    para o filtro protótipo.

    Tamanhosáidaconv = Tamanhoentrada + Tamanhofiltro − 1 (60)

    filtrom = [h(m), h(m+M), h(m+ 2M), h(m+ 3M)] (61)

    39

  • A equação final implementada no bloco pode ser analisada na Equação 62.

    Sm,0 = ifm,0 ∗circular(1) filtromSm,1 = ifm,1 ∗circular(1) filtrom

    (62)

    onde if é o śımbolo após passar pela IFFT. Para a transmissão os dados são colocados

    em série e enviados pelo canal. Após esse procedimento, foi criado o bloco “FiltrosdeAna-

    lise”que realiza o mesmo processo do anterior, porém com os valores complementares da

    resposta ao impulso gerando valores para filtro2m conforme a Equação 63, para recuperar

    os valores que serão inseridos na FFT.

    filtro2m = [h(4M −m), h(3M −m), h(2M −m), h(M −m)] (63)

    Desta forma a nova equação para este bloco pode ser vista na Equação 64.

    if′m,0 = S

    ′m,0 ∗circular(1) filtro2m

    if′m,1 = S

    ′m,1 ∗circular(1) filtro2m

    (64)

    Para realizar o procedimento inverso da transmissão foi necessária a criação do bloco

    “BetaConj”que realiza a multiplicação do complexo conjugado do multiplicador beta,

    conforme a Equação 65[d′∗m,0, d

    ′∗m,1

    ]= (−1)m(cos(mπ(Lp− 1)

    2M) + jsen(

    mπ(Lp− 1)2M

    ))[βmd

    ′∗m,1, βmd

    ′∗m,2

    ](65)

    Visando reconstruir os śımbolos originais, o bloco “Posroqam”, foi implementado de

    forma a realizar a junção novamente das componentes d′m,1 e d

    ′m,2, para formar C

    ′m. Assim,

    as componentes são multiplicadas por (−j)m, visando anular a componente jm utilizada

    no preprocessamento, por fim são transformadas em valores reais e reagrupadas de acordo

    com a Equação 66.

    se m é par = {C ′m = Re{d′m,0(−j)(m+0)}+ jRe{d

    ′m,1(−j)(m+1)}

    se m é ímpar = {C ′m = Re{d′m,1(−j)(m+0)}+ jRe{d

    ′m,0(−j)(m+1)}

    (66)

    4.3 Blocos para a implementação com única IFFT e OQAM

    impĺıcito

    Para esta implementação foi proposto o modelo de transmissão e recepção apresenta-

    dos nas Figuras 30 e 31.

    40

  • Figura 30: Modelo de transmissão FBMC v2

    Fonte: Autoria Própria.

    Assim, foi necessário a criação de dois blocos adicionais que realizam de forma impĺıcita

    o pré e o pós processamento OQAM. O primeiro deles é o bloco “Separate”(Separador)

    que aplica a Equação 54 apresentada na seção 3.42. Assim o dado modulado pela IFFT e

    multiplicado pelo Beta βmfm é separado de forma que a primeira sáıda represente o pro-

    cesso apenas para a parte real do śımbolo Cm e a segunda sáıda para a parte imaginária

    do mesmo. Já no bloco “Junction”(combinador) é aplicada a Equação 51 anteriormente

    41

  • Figura 31: Modelo de recepção FBMC v2

    Fonte: Autoria Própria.

    citada, de forma que o śımbolo complexo seja reagrupado para passar pela FFT.

    4.4 Blocos composição do Frame ISDB-TB, codificação de canal

    e entrelaçadores

    Finalizados os blocos que compõem o sistema FBMC puro, iniciou-se o processo de

    criação dos blocos para manipulação do Frame ISDB-TB e os blocos de estimação de

    42

  • canal. A norma do ISDB-TB exige que o quadro OFDM seja completado com zeros para

    que fique compat́ıvel com o tamanho da N da IFFT ((AKAMINE, 2011). Assim, foi

    necessária a criação dos blocos “InsersordeZeros”conforme estabelecido na Figura 32.

    Figura 32: Método de inserção de zeros

    Fonte: (AKAMINE, 2011, p.54).

    Assim, usando as funções memorymove e memorycopy em linguagem C, o bloco foi

    criado e em seguida o seu oposto: “RetiraZeros”. Para simular a introdução e remoção das

    pilotos da norma do ISDB-TB, bem como toda a estrutura de codificação e decodificação

    de canal citadas na subseção 2.3 e os entrelaçadores temporal e de frequência, foram

    utilizados os blocos utilizados no artigo ISDB-Tb transmission in software-defined radio

    (MACIEL et al., 2015) e A proposal to use cloud transmission technique into the ISDB-T

    system (SILVA et al., 2015) respectivamente, cedido pelos autores.

    4.5 Blocos de Estimação de Canal

    Para realizar a estimação de canal foram desenvolvidos 4 blocos com diferentes métodos

    de interpolação. O primeiro deles foi o “Estimador Linear”apenas na frequência. Assim,

    a partir das pilotos espalhadas as respostas do canal para suas posições são estimadas e

    após, as mesmas são interpoladas de 12 em 12 linearmente, visto que 12 é o espaçamento

    determinado na norma para o ISDB-TB entre as pilotos. O segundo bloco “Estimador

    2D”realiza a interpolação cúbica na frequência e a técnica neareast no tempo. Nela a

    cada 4 śımbolos as respostas das pilotos são copiadas, permitindo que a interpolação seja

    realizada de 3 em 3 em vez de 12 em 12 como anteriormente. O terceiro bloco é o “Chan-

    nel Estimation”que realiza a interpolação cúbica tanto no tempo, quanto na frequência.

    Por fim foi criado o Estimador FBMC que realiza a interpolação cúbica na frequência e

    a neareast no tempo, porém realizando a equalização para o caso espećıfico de 3-tap, já

    citado anteriormente.

    43

  • 4.6 Blocos Hierárquicos

    Após a criação dos blocos citados anteriormente e a utilização daqueles dispońıveis

    nas bibliotecas do GNU Radio, foram criados blocos hierárquicos. Esses, nada mais são do

    que pequenos Flow graphs que realizam parte do processamento, permitindo que o Flow

    graphs principal fique menos congestionado, ou seja, com um número menor de blocos

    para ser analisado, facilitando a compreensão do mesmo. Assim para o modelo com dupla

    IFFT o agrupamento pode ser observado nas Figuras 33 e 34, onde os retângulos azuis

    representam blocos cedidos de outros trabalhos, os pretos aqueles nativos do GNU Radio e

    os vermelhos os desenvolvidos neste projeto, enquanto os retângulos amarelos representam

    os agrupamentos em blocos hierárquicos que são apresentados nas Figuras 35, 36, 37, 38,

    39 e 40.

    Os blocos de estimação de canal mostrados são aqueles exclusivos para este modelo

    com IFFT dupla, porém é posśıvel utilizar aqueles que são comuns ao OFDM, basta

    colocá-los após o bloco que retira zeros. Para o modelo com única IFFT e OQAM impĺıcito

    podem ser analisadas as Figuras 41 e 42 para compreender os agrupamentos mostrados

    nas Figuras 43, 44, 45 e 46.

    4.7 Simulações e testes

    A partir dos blocos hierárquicos citados, foram realizados testes para os dois modelos

    de transmissão do FBMC, que foram detalhados separadamente a seguir. Primeiramente

    foi criado o Flow Graph do FBMCv1 visto na Figura 47.

    Conforme observado na Figura 48, foi utilizada a modulação 64-QAM. O número de

    subportadoras úteis, bem como o tamanho da IFFT escolhidos equivalem ao estabelecido

    na norma para o ISDB-TB que são de M = 5617 e TamanhoIFFT = 8192, respectiva-

    mente para o modo 3 (ABNT, 2008). Além disso, a taxa de amostragem do sistema foi

    configurada em512 ∗ 106

    63de forma a restringir a largura de banda ao padrão de 6MHz

    utilizado (YAMADA et al., 2004). Desta forma, puderam ser analisadas a constelação

    64-QAM recebida, vista na Figura 49, a constelação com a inserção das pilotos e na sáıda

    do preprocessamento OQAM, conforme as Figuras 50 e 51, o sinal nos domı́nios do tempo

    e da frequência, observado nas Figuras 52 e 53, e por fim, a Taxa de Erro de Bits.

    44

  • Figura 33: Agrupamento na transmissão com IFFT dupla

    Fonte: Autoria Própria.

    45

  • Figura 34: Agrupamento na recepção com IFFT dupla

    Fonte: Autoria Própria.

    46

  • Figura 35: Bloco hierárquico M QAM SOURCE

    Fonte: Autoria Própria.

    Figura 36: Bloco hierárquico ISDB-TB frame v1

    Fonte: Autoria Própria.

    47

  • Figura 37: Bloco hierárquico FBMC MODULATOR v1

    Fonte: Autoria Própria.

    Figura 38: Bloco hierárquico CHANNEL

    Fonte: Autoria Própria.

    48

  • Figura 39: Bloco hierárquico FBMC DEMODULATOR v1

    Fonte: Autoria Própria.

    49

  • Figura 40: Bloco hierárquico ISDB-TB deframe v1

    Fonte: Autoria Própria.

    Figura 41: Agrupamento na transmissão com única IFFT

    Fonte: Autoria Própria.

    50

  • Figura 42: Agrupamento na recepção com única IFFT

    Fonte: Autoria Própria.

    51

  • Figura 43: Bloco hierárquico ISDB-TB frame v2

    Fonte: Autoria Própria.

    Figura 44: Bloco hierárquico FBMC MODULATOR v2

    Fonte: Autoria Própria.

    52

  • Figura 45: Bloco hierárquico FBMC DEMODULATOR v2

    Fonte: Autoria Própria.

    Figura 46: Bloco hierárquico ISDB-TB deframe v2

    Fonte: Autoria Própria.

    53

  • Figura 47: Flow Graph do FBMCv1

    Fonte: Autoria Própria.

    54

  • Figura 48: Constelação 64-QAM na sáıda do modulador

    Fonte: Autori