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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS O IMPACTO DO AUMENTO DO DISCLOSURE NA REDUÇÃO DA ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, ABORDADA COMO COMPONENTE DO CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO TRANSPARÊNCIA NO CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO DAS EMPRESAS NELSON BUENO DE OLIVEIRA São Paulo 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

O IMPACTO DO AUMENTO DO DISCLOSURE NA REDUÇÃO DA ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, ABORDADA COMO

COMPONENTE DO CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO TRANSPARÊNCIA NO CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO DAS

EMPRESAS

NELSON BUENO DE OLIVEIRA

São Paulo

2016

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NELSON BUENO DE OLIVEIRA

O IMPACTO DO AUMENTO DO DISCLOSURE NA REDUÇÃO DA ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, ABORDADA COMO

COMPONENTE DO CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO

O CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO DAS EMPRESAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientadora: Profa. Dra. Michele Nascimento Jucá

São Paulo 2016

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O48i Oliveira, Nelson Bueno de

O impacto do aumento do disclosure na redução da

assimetria de informação, abordada como componente do custo

de capital próprio / Nelson Bueno de Oliveira - 2016.

86 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.

Orientação: Profª. Dra. Michele Nascimento Jucá

Bibliografia: f. 63 - 73

1. Disclosure. 2. Custo de capital próprio. 3. Assimetria de

informação. 4. IFRS. I. Título.

CDD 657.42

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FOLHA DE APROVAÇÃO

NELSON BUENO DE OLIVEIRA

O IMPACTO DO AUMENTO DO DISCLOSURE NA REDUÇÃO DA ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, ABORDADA COMO COMPONENTE

DO CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO

O CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO DAS EMPRESAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profa. Dra. Michele Nascimento Jucá

Aprovado em 18 de fevereiro de 2016

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof. Dra. Michele Nascimento Jucá

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Wilson Toshiro Nakamura

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Anderson Luis Saber Campos

Universidade Metodista de São Paulo

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REITOR DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Prof. Dr. Ing. Benedito Guimarães Aguiar Neto

DECANO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Profa. Dra. Helena Bonito Couto Pereira

DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

Prof. Dr. Adilson Aderito da Silva

COORDENADORA GERAL DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

Profa. Dra. Angélica Tanus Benatti Alvim

COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

DE EMPRESAS

Prof. Dr. Walter Bataglia

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela luz, vida e saúde.

À minha esposa, Elisabete; meu filho, Pedro, e sua esposa, Natália; minha filha,

Daniela, e seu esposo, André, pela compreensão e apoio.

Ao Pr. Jorge Navac, presidente emérito da Igreja Batista Casa de Deus, de

Jundiaí, e Igreja Batista Amoreiras, de Campinas, pela cobertura espiritual.

Aos reverendos pastores da Igreja Presbiteriana, que, com suas orações

constantes, trazem bênçãos para tudo o que se faz na Universidade Mackenzie.

À Profa. Dra. Michele Nascimento Jucá, minha orientadora, porque não mede

esforços para contribuir com o aprimoramento intelectual de seus alunos. Além de

orientadora, fui seu aluno nas disciplinas de Finanças Corporativas e Teoria de

Finanças. Fiz também estágio na graduação, assistindo às suas aulas de Gestão

Financeira. Muito aprendi e cresci com seu exemplo, inteligência e dedicação à

educação dos alunos.

Ao Prof. Dr. Wilson Toshiro Nakamura, profundo conhecedor de finanças, que,

com inteligência e perspicácia, estimulou discussões relevantes e fez sugestões que

ajudaram a direcionar esta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Eduardo Alexandre Mendes, que forneceu valiosa contribuição nos

assuntos de microestrutura de mercado, em particular, à obtenção do bid-ask spread,

segundo a metodologia de Roll (1984).

Ao Prof. Dr. Anderson Luis Saber Campos, que trouxe sugestões proveitosas

na etapa de qualificação.

Ao Prof. Dr. Emerson Fernandes Marçal, amigo e profundo conhecedor de

econometria e seus pressupostos matemáticos e estatísticos. Fornece sólida

fundamentação aos alunos para que as pesquisas tenham métodos reconhecidos e

válidos.

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Ao Prof. Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso, que sempre busca ajudar os

alunos a encontrarem respostas às questões que pesquisam: sabe unir com

discernimento a visão financeira e a visão estratégica das corporações.

Ao Prof. Dr. Dênis Forte, de espírito empreendedor, capaz de discutir bem

sobre todos os assuntos, e objetiva descobrir caminhos e áreas de pesquisa de caráter

inovador.

Ao Prof. Dr. Diógenes de Souza Bido, que consegue ensinar métodos de

pesquisa quantitativos de uma forma divertida, atraente e prática. Também aborda,

de maneira eficaz, temas relacionados à ética do pesquisador.

Ao Prof. Dr. Walter Bataglia, que, com sobriedade e equilíbrio, coordena os

programas de pós-graduação.

Ao Prof. Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes, por sua visão abrangente e

ampla sobre estratégia empresarial e acerca da docência no ensino superior.

Ao Prof. Dr. Roberto Giro Moori, que trouxe muita reflexão sobre o

conhecimento, sobre o que sabemos e o que não sabemos, desafiando os alunos para

a maturidade acadêmica.

À Profa. Dra. Arilda Schmidt Godoy, hoje aposentada, que trouxe uma visão

pura e singela sobre a pesquisa acadêmica. Possui uma visão profunda a respeito

dos métodos qualitativos, gestão de pessoas e aprendizagem organizacional.

Ao Prof. Dr. Eli Hadad Júnior, pela visão prática com que ajuda aos alunos e

pelo apoio com os softwares estatísticos e utilização das bases de dados secundários.

À Profa. Dra. Yêda Camargo, pela revisão final textual, gramatical e

metodológica.

Ao Prof. Dr. Adilson Aderito da Silva, que, antes ainda de ser nosso diretor,

trouxe, em uma das aulas da Profa. Arilda, relato apaixonado de sua tese de

doutorado, o que entusiasmou a todos os alunos.

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Ao nosso reitor, Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto, que, em todas as

palavras que dirige aos educandos, em suas preleções, demonstra sua dedicação a

tudo de bom que ocorre no Mackenzie.

Às secretárias, Tatiane Gonçalez, Anelise Martins e Andréia Regina Arantes,

pela paciência e presteza no apoio aos alunos.

À bibliotecária, Maria Gabriela Brandi Teixeira, que sempre nos recebeu com

atenção e carinho.

Ao Fernando Reque e Marina Camargo de Luca, da Bloomberg, que fizeram

importante contribuição para a base de dados que viabilizou o cálculo do spread de

Roll (1984).

Ao Jaime Henriques, da S&P Capital IQ, pela orientação e captura de dados

econômicos e financeiros utilizados na pesquisa.

E, a todos os colegas de turma, com quem compartilhamos horas de estudo,

muitos trabalhos e momentos felizes.

E, a todos os demais servidores da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que

fazem essa grande estrutura funcionar bem, com foco no aluno e no aprendizado,

dentro de um ambiente familiar, saudável, bom e seguro.

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RESUMO

O objetivo deste estudo é analisar os benefícios econômicos da transparência

ou disclosure empresarial. Avalia-se a redução da assimetria de informação, que é um

componente do custo de capital próprio, em função da adoção obrigatória das IFRS

no Brasil, do nível de compromisso com governança corporativa e da emissão de ADR

junto à Bolsa de Nova Iorque. Utiliza-se a proxy bid-ask spread para estimar a

assimetria de informação, como variável dependente. A amostra é composta pelas

empresas não financeiras do índice Ibovespa. Além das variáveis de disclosure,

analisa-se as variáveis de controle tamanho, free float, risco e rentabilidade. A

conclusão da dissertação é aderente à expectativa inicial, no sentido de que um maior

nível de disclosure empresarial implica em uma redução da assimetria de informação.

A variável governança corporativa, apesar de significativa, possui relação positiva com

a assimetria de informação. Esse resultado é o oposto do esperado pela teoria e pode

ser objeto de estudos futuros. Encontra-se também significância estatística na relação

positiva esperada entre assimetria de informação e a variável de controle beta.

Palavras-chave: Disclosure; assimetria de informação; bid-ask spread; IFRS, dados

em painel.

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ABSTRACT

The aim of this study is to analyze the economic benefits of transparency or

corporate disclosure. It is estimated the reduction of information asymmetry, which is

a component of the cost of equity, due to the mandatory adoption of IFRS in Brazil, the

level of commitment to corporate governance and the ADR issuance at the New York

Stock Exchange. It uses the proxy bid-ask spread to estimate the asymmetry of

information, as the dependent variable. The sample consists of non-financial

companies of the Ibovespa index. In addition to disclosure variables, this study also

analyzes the control variables like size, free float, risk and profitability. The conclusion

of this dissertation confirms the initial expectations, in the sense that a higher corporate

level of disclosure implies in a reduction of the asymmetry of information. Corporate

governance variable, although significant, has a positive relationship with asymmetric

information. This result is the opposite of what is expected by theory and can be subject

of further studies. It is also statistically significant the expected positive relation

between information asymmetry and the beta control variable.

Keywords: Disclosure; information asymmetry; bid-ask spread; IFRS, panel data.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Segmentos de listagem BM&FBovespa ............................................................ 34 Quadro 2 – Resultado de estudos empíricos ....................................................................... 44 Quadro 3 – Descrição das variáveis .................................................................................... 54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplo de cálculo do spread de Roll ................................................................ 41 Tabela 2 - Composição da amostra final .............................................................................. 52 Tabela 3 – Estatística descritiva .......................................................................................... 55 Tabela 4 – Análise e significância de correlação .................................................................. 57 Tabela 5 - Análise da regressão com dados em painel ....................................................... 60

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Spread de Roll ..................................................................................................... 39 Figura 2 - Regressão linear .................................................................................................. 48

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1 1.1. Contextualização e justificativa ................................................................................... 1 1.2. Problema de pesquisa ................................................................................................. 5 1.3. Objetivos e hipóteses .................................................................................................. 6 1.4. Metodologia ................................................................................................................ 6 1.5. Estrutura do trabalho ................................................................................................... 7 2. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 8 2.1 Estrutura de capital ..................................................................................................... 8 2.2 Premissas e proposições de Modigliani e Miller .......................................................... 9 2.3 Custo de capital ........................................................................................................ 13 2.4 Teoria de pecking order ............................................................................................ 17 2.5 Teoria de trade-off ..................................................................................................... 19 2.6 Teoria de agência e do free cash flow ....................................................................... 20 2.7 Assimetria de informação .......................................................................................... 22 2.8 Disclosure ................................................................................................................. 24 2.9 IFRS .......................................................................................................................... 26 2.10 Governança corporativa e segmentos de listagem da BM&FBovespa ...................... 29 2.11 Relação entre assimetria de informação, disclosure e custo de capital ..................... 35 2.12 Variáveis de controle: tamanho, free float, beta e rentabilidade ................................ 42 3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 45 3.1 Tipo e método de pesquisa ....................................................................................... 45 3.2 Estatística descritiva ................................................................................................. 45 3.3 Correlação ................................................................................................................ 46 3.4 Regressão com dados em painel .............................................................................. 48 3.5 População e amostra ................................................................................................ 52 3.6 Problema de pesquisa e hipóteses ............................................................................ 52 3.7 Modelo econométrico e operacionalização das variáveis .......................................... 53 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................ 55 4.1 Estatística descritiva.................................................................................................. 55 4.2 Correlação ................................................................................................................ 57 4.3 Regressão com dados em painel .............................................................................. 60 5. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 63

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização e justificativa

A teoria econômica e de finanças prevê que o aumento do nível de

transparência ou disclosure reduz o nível de assimetria informacional, que é um

componente do custo de capital próprio das empresas, conforme Verrecchia (2001),

Easley e O’hara (2004) e Armstrong et al. (2011). Mais especificamente, estudos

demonstram que a adoção de padrões internacionais de contabilidade produz

benefício econômico, com a redução do custo de capital das empresas, como propõe

o estudo de Leuz e Verrecchia (2000).

As demonstrações financeiras, em particular, balanço patrimonial,

demonstração do resultado do exercício, demonstração de fluxo de caixa e notas

explicativas são um instrumento fundamental para a tomada de decisões financeiras

em um sentido amplo. Por intermédio do estudo dessas demonstrações financeiras e

correspondentes análises, pode-se chegar a conclusões que embasam decisões de

investimento de agentes econômicos, os quais compram ações de empresas para

compor suas carteiras, desde que vislumbrem potencial de valorização para tais

organizações, bem como de recebimento, em paralelo, dos dividendos, conforme

Copeland, Weston e Shastri (2005) e Brealey, Myers e Allen (2013).

Uma maior disponibilidade de informações tende a diminuir o risco dos

investidores a respeito da taxa de desconto a ser utilizada para obter o valor presente

dos fluxos de caixa estimados futuros de uma empresa, da qual pretendam adquirir

ações. Registra-se que bancos, entre outros credores, também se utilizam das

demonstrações financeiras citadas para tomar decisões de crédito para as empresas.

A captação pela empresa de recursos dos acionistas, para financiamento dos

investimentos empresariais, denomina-se capital próprio (Ke). O custo do capital

próprio é um dos componentes do custo médio ponderado de capital ou Weighted

Average Cost of Capital (WACC), que é resultante do custo médio ponderado das

duas fontes de recursos, capital de terceiros líquido de imposto de renda (Ki) e capital

próprio. O WACC é uma taxa relevante, por ser utilizada pelas corporações como taxa

de desconto dos fluxos de caixa, para cálculos de valor presente líquido (VPL), nas

decisões de investimento de longo prazo. Na análise fundamentalista de ações e no

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processo de avaliação de empresas, os agentes de mercado e os investidores

também utilizam o WACC em seus cálculos, estimativas e projeções.

No Brasil, o início do processo de harmonização das políticas contábeis

brasileiras se deu por meio da adoção das International Financial Reporting Standards

(IFRS), a partir das leis 11.638/07 e 11.941/09. Entre outros benefícios, espera-se que

a adoção das IFRS proporcione um aumento na transparência ou disclosure e

comparabilidade internacional das demonstrações financeiras. Ressalta-se, porém,

que a obrigação para convergência se deu a partir de 2010. Segundo o

Pronunciamento Técnico no. 37 (2010) do Comitê de Pronunciamento Contábeis

(CPC) e Fernandes (2010), a adoção integral das IFRS no Brasil é obrigatória a partir

do ano calendário de 2010, cujas demonstrações contábeis são publicadas no

primeiro quadrimestre de 2011, conforme artigo 132 da Lei n° 6.404 de 1976.

Segundo Fernandes (2010) e CPC 37 (2010), considerando que muitas

empresas não anteciparam a adoção completa das normas internacionais de

contabilidade, as demonstrações contábeis relativas ao exercício de 2010 são as

primeiras elaboradas integralmente com base nas diretrizes do CPC. Prevendo a

preocupação concernente a essa alteração de critérios contábeis, bem como aos

impactos das mudanças na análise dos usuários, o International Accounting

Standards Board (IASB) editou as IFRS, vide Banco Central do Brasil (2015), que, no

Brasil, foi incorporado pelo Pronunciamento Técnico CPC 37 (2010) – Adoção Inicial

das Normas Internacionais de Contabilidade.

Ao adotar um padrão internacional de contabilidade, como as IFRS, as

empresas tendem a reduzir a assimetria de informação existente entre os insiders ou

gestores das corporações - e - outsiders ou acionistas atuais e potenciais. Daske et

al. (2008) afirmam que a adoção das IFRS no mundo é uma das mudanças

regulatórias mais relevantes da história da contabilidade. Bushman e Smith (2001), de

outro modo, introduzem que a contabilidade pode ser entendida como um dos

mecanismos relevantes de governança corporativa e que a disponibilização externa

da informação contábil é responsável por promover um ambiente de maior segurança

e representar efetiva prática de governança pelas empresas.

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Ahmed, Chalmers e Khlif (2013) afirmam que há três grandes argumentos que

apontam para um efeito positivo da adoção das IFRS na qualidade da informação

contábil: (a) as IFRS contribuem para limitar o poder discricionário do gestor, com a

eliminação de múltiplas alternativas, reduzindo a extensão do gerenciamento

oportunista de resultados; (b) as IFRS são tidas como mais difíceis de contornar,

sendo normas baseadas em princípios, limitando o poder discricionário do gestor; e

(c) as IFRS exigem mensurações, que refletem de forma mais adequada a realidade

econômica subjacente da empresa, do que as normas nacionais. Leuz e Verrecchia

(2000), por sua vez, mencionam que a mudança para o padrão contábil internacional

conduz a um menor bid-ask spread (BAS) e a um maior volume de transações das

ações das empresas. Tal fato decorre de um maior nível de disclosure e, por

conseguinte, redução da assimetria de informação, que é um dos componentes do

custo de capital.

Outrossim, a criação dos níveis diferenciados de governança corporativa da

BM&FBovespa se deu a partir de 2000, entre estes, o Novo Mercado, o Nível 2 e o

Nível 1. As empresas, que fazem adesão a esses segmentos de listagem, buscam

valorizar suas ações, já que o investidor, ao reconhecer o compromisso empresarial

com a governança corporativa e com a qualidade das informações divulgadas, possui

maior propensão a ter esses papéis em suas carteiras de investimento. Estudos

avaliam esse fenômeno ou mecanismo, entre os quais, Shleifer e Vishny (1997),

Silveira, Barros e Famá (2003) e Bebchuk e Weisbach (2010).

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em sua quinta edição

do Código das Melhores Práticas, de 2015, expõe que governança corporativa é o

sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e

incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de

administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes

interessadas. Busca, então, o alinhamento de interesses com a finalidade de

preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu

acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua

longevidade e o bem comum. Assim, se as boas práticas de governança corporativa

forem efetivamente adotadas pelas empresas, com alinhamento de interesses, isso

conduzirá à preservação e à otimização do valor da organização, facilitando seu

acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade. A transparência da empresa,

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ainda segundo o IBGC (2015), é um dos quatro princípios básicos de governança

corporativa. Sabe-se que quanto mais transparente for uma corporação, mais

reduzidos são os problemas com assimetria de informação.

O IBGC (2015) indica que a transparência resulta em um clima de confiança,

tanto internamente, quanto nas relações da empresa com terceiros ou stakeholders,

o que abrange, entre outros, credores e acionistas. A governança corporativa -

refletida pelos segmentos de listagem a que pertençam as empresas - é incluída no

presente estudo como um indicador de transparência que possa ser apresentado pela

empresa. Se governança corporativa efetiva implica em maior transparência, tal fato

reduz os problemas com assimetria de informação. No presente estudo, também

como proxy para disclosure, utiliza-se o fato de uma empresa possuir ou não American

Depositary Receipt (ADR).

Ademais, a assimetria de informação ocorre, segundo Copeland, Weston e

Shastri (2005) e Brealey, Myers e Allen (2013), quando os investidores e outros

agentes de mercado, externos à corporação, possuem menos informações do que as

que os administradores detêm, considerados estes, os que atuam internamente na

empresa. Esta assimetria envolve o conceito de seleção adversa que considera

raciocínio e comportamento de um comprador ou investidor racional, quando ele

interpreta informação não divulgada como sendo uma informação não favorável sobre

o valor ou qualidade de um ativo. Em consequência, a avaliação do valor do ativo e,

por conseguinte, sua seleção para compor determinada carteira de investimentos

passa a ser adversa. Na falta de informação, os investidores depreciam o valor de um

ativo até o momento em que se torna mais compensador para a empresa divulgar as

informações, mesmo que estas sejam negativas (AKERLOF, 1970).

Assim, a assimetria de informação cria custos pela introdução da seleção

adversa nas transações entre compradores e vendedores das ações de uma empresa.

Para superar a relutância dos investidores potenciais em adquirir ações de sua

emissão, as empresas emitem papéis com desconto. O desconto resulta em menor

rentabilidade para a empresa e, portanto, custos mais elevados de capital. Logo,

quanto maior a assimetria de informação, ou seja, menor o nível de transparência, ou

seja, maior o custo de capital próprio das empresas. Tal associação é abordada por

autores, entre os quais, destacam-se: Copeland e Galai (1983); Glosten e Milgrom

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(1985); Admati e Pfleiderer (1988); Leuz e Verrecchia (2000); Nakamura et al. (2006);

Lopes e Alencar (2010); e Lambert, Leuz e Verrecchia (2012).

Diante do exposto, o presente estudo objetiva verificar a associação entre

transparência e assimetria de informação, que é um dos componentes do custo do

capital próprio das empresas. Sua principal contribuição é constatar, na realidade

brasileira, que a adoção mandatória das IFRS em 2010 é benéfica, uma vez que um

maior disclosure implica numa redução da assimetria de informação, objeto da

hipótese (H1) deste estudo. Esse resultado é aderente, entre outros, aos trabalhos de

Leuz e Verrecchia (2000), Easley e O’hara (2004), Armstrong et al. (2011) e Pires e

Macagnan (2013).

Outrossim, todas as variáveis explicativas possuem sinal de acordo com as

teorias e hipóteses apresentadas, com exceção do nível de governança corporativa.

Verifica-se que o pertencimento aos segmentos de listagem de níveis robustos de

governança corporativa da BM&FBovespa não se reflete, contrário à expectativa

inicial, na redução da assimetria de informação, objeto da hipótese (H2). Entre as

variáveis de controle, destaca-se a significância e relação positiva entre o beta e o

BAS.

Por fim, ainda como contribuição desta dissertação, entende-se que ao obter

um benefício econômico, com a redução do custo de capital, uma empresa pode

otimizar o seu plano de investimentos. Um WACC mais baixo, ao ser empregado no

cálculo de viabilidade econômica e financeira de investimentos de longo prazo, conduz

a um maior Valor Presente Líquido (VPL) dos fluxos de caixa incrementais dos

projetos sob análise.

1.2. Problema de pesquisa

Diante do exposto, este estudo possui o seguinte problema de pesquisa: O

aumento do nível de transparência reduz a assimetria de informação, que é um dos

componentes do custo de capital próprio das empresas?

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1.3. Objetivos e hipóteses

O objetivo do presente estudo é verificar se o aumento do nível de

transparência reduz o custo de capital próprio das empresas, pelo fato de o seu

componente – assimetria de informação – ser diminuído. Além disso, busca-se

verificar, como objetivo específico, a relação existente entre a assimetria de

informação e variáveis de controle das empresas, conforme hipóteses a seguir:

H1 – A adesão ao padrão internacional de contabilidade IFRS reduz a

assimetria de informação.

H2 – A adesão aos segmentos de listagem, da BM&FBovespa, de níveis de

governança corporativa mais robustos (NM, N1 e N2) reduz a assimetria de

informação.

H3 – A emissão de ADR junto à Bolsa de Nova Iorque reduz a assimetria de

informação.

H4 – Quanto maior o tamanho da empresa, menor o grau de assimetria de

informação.

H5 – Quanto maior o free float, menor o grau de assimetria de informação.

H6 – Quanto maior o beta, maior o grau de assimetria de informação.

H7 – Quanto maior o ROA, menor o grau de assimetria de informação.

1.4. Metodologia

A população de interesse são as empresas não financeiras de capital aberto no

Brasil. Assim, a amostra é constituída pelas empresas não financeiras que compõem

o Índice Ibovespa (set-dez/15). O período de análise é de 10 anos, sendo de 2005 a

2014. As fontes dos dados são Bloomberg, para a proxy de assimetria de informação

– BAS e Capital IQ para os demais dados. O software utilizado é o Stata, versão 12.

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O objetivo e hipóteses apresentados são analisados por meio de testes de

estatística descritiva, correlação e modelo de regressão multivariado com dados em

painel. Realizam-se testes dos pressupostos, destacando-se a correção para os

problemas de heterocedasticidade dos resíduos, além da identificação de efeitos fixos

ou aleatórios.

1.5. Estrutura do trabalho

Este trabalho está dividido em cinco capítulos.

No primeiro, são apresentados a introdução, a questão de pesquisa, os

objetivos, as justificativas, contribuições e visão preliminar da metodologia.

O segundo capítulo é destinado à fundamentação teórica.

No capítulo três, há o detalhamento da metodologia da pesquisa, suas

hipóteses, população, amostra, bem como a operacionalização e tratamento das

variáveis relacionadas aos testes realizados.

O capítulo quatro apresenta os resultados da pesquisa e sua análise,

envolvendo todos os testes estatísticos considerados.

No capítulo cinco, são desenvolvidas as conclusões, as considerações finais e

as recomendações para futuros trabalhos.

Em seguida, são elencadas as referências bibliográficas.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Esta dissertação objetiva estudar a associação entre a transparência de uma

empresa e o reflexo no custo de capital próprio. Inicialmente, são abordadas as teorias

sobre estrutura e custo de capital. Na sequência, faz-se conexão do assunto com a

assimetria da informação, disclosure (transparência), adoção das IFRS no Brasil,

governança corporativa e a relação entre esses conceitos e o uso da proxy bid-ask

spread para a assimetria de informação.

2.1 Estrutura de capital

A estrutura de capital é um tema relevante e bastante abordado pela

comunidade acadêmica, correspondendo à combinação entre passivo não circulante,

composto por dívidas de longo prazo, e patrimônio líquido, constituído por ações

preferenciais e ordinárias, bem como reservas de capital e de lucros, conforme

Grinblatt e Titman (2005) e Ross et al. (2015).

No meio empresarial, há interesse nesse tema, tendo em vista que o valor de

uma empresa é decorrente das decisões estratégicas, econômicas, financeiras e

operacionais adotadas. O produto dessas decisões implica em investimentos em

ativos e esses investimentos demandam financiamentos, que se materializam na

estrutura de capital resultante. Assim, a estrutura de capital é uma decisão de

fundamental importância para as empresas. Ela participa do cálculo do custo de

capital de uma empresa, medido pelo WACC. Este, segundo Damodaran (2007) e

Ross et al. (2015), é uma taxa relevante por ser utilizada pelas corporações como taxa

de desconto, para cálculos de VPL, nas decisões de investimento de longo prazo.

A questão principal, que envolve os estudos sobre estrutura de capital, é se a

forma como a empresa se financia determina ou não o seu valor. Duas correntes de

pensamento principais se apresentam: (1) a posição tradicionalista ou teoria

convencional, representada por Durand (1952) e (2) a posição de um mercado

perfeito, sugerida por Modigliani e Miller (1958).

A teoria tradicionalista ou convencional propõe que a estrutura de capital

influencia o valor da empresa. O pensamento é que o custo do capital de terceiros

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mantém-se estável até um determinado nível de endividamento, a partir do qual se

eleva devido ao aumento do risco de falência. Como o custo de capital de terceiros é

inferior ao custo do capital próprio, a empresa deveria endividar-se até o ponto em

que o seu custo de capital ou WACC atingisse um patamar mínimo. Esse nível de

endividamento representaria a estrutura de capital ótima, que levaria à maximização

do valor da empresa (DURAND, 1952).

Em contraposição à teoria convencional e baseados em pressupostos

restritivos, de um mercado perfeito, Modigliani e Miller (1958) propõem que a forma

com que a empresa se financia é irrelevante para o seu valor. Para estes autores, o

WACC da empresa é o mesmo para qualquer nível de endividamento e, portanto, não

haveria uma estrutura de capital ótima.

2.2 Premissas e proposições de Modigliani e Miller

Nos estudos de Modigliani e Miller (1958), há premissas que são

estabelecidas, entre as quais: (a) não há custos de transação ou corretagem; (b) não

há impostos; (c) não há custos de falência; (d) os investidores podem tomar

empréstimos às mesmas taxas das empresas; (e) não há assimetria de informação,

ou seja, os investidores possuem as mesmas informações que os administradores das

empresas quanto às futuras oportunidade de investimento e; (f) a estimativa de

geração de caixa ou Earning Before Interest and Taxes (EBIT) não se altera pelo uso

de dívidas.

Modigliani e Miller (1958), em sua primeira proposição, abordam duas carteiras

hipotéticas. A primeira contém todo o capital próprio de uma empresa não alavancada

e a segunda carteira possui as ações de uma empresa idêntica, exceto por ser

parcialmente financiada com dívidas. Por um lado, na primeira carteira, a empresa

sem dívidas distribui todo o EBIT na forma de dividendos; por outro lado, na segunda

carteira, a empresa com dívidas distribui os dividendos no volume equivalente ao

EBIT, menos os juros da dívida. Modigliani e Miller (1958) mostram que se um

investidor hipotético tivesse as ações e as dívidas totais da segunda carteira, seu fluxo

de caixa seria idêntico, caso possuísse as ações totais da primeira carteira. Assim, os

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autores concluem que se duas carteiras produzem o mesmo fluxo de caixa, estas

devem ter o mesmo valor.

Desta maneira, a proposição I de Modigliani e Miller (1958) considera que em

mercados perfeitos as alterações na estrutura de capital da empresa não afetam o

seu valor. Isso porque os fluxos de caixa gerados pelos ativos da corporação não são

impactados pela configuração da estrutura de capital. Para tanto, as decisões

financeiras sobre estrutura de capital somente dividem os fluxos de caixa entre

credores e proprietários. Contudo, segundo Brealey, Myers e Allen (2013), admite-se

que empresas, bem como investidores ou acionistas, possam contrair ou conceder

empréstimos à mesma taxa de juro sem risco. Nesta condição, os indivíduos podem

neutralizar ou desfazer o efeito de quaisquer alterações na estrutura de capital das

organizações sobre o valor de suas ações.

Nesse sentido, tem-se que o princípio da aditividade de valor está observado,

em que se verifica que o valor presente de dois ativos combinados é igual à soma dos

seus valores presentes individuais. A aditividade de valor permanece válida para a

divisão de fluxos de caixa provenientes de ativos combinados. A soma dos valores

das partes continua igual ao fluxo original consolidado. Portanto, o valor de um ativo

é preservado, independentemente dos direitos que incidem sobre o mesmo. Assim, a

proposição I de Modigliani e Miller (1958) prescreve que o valor da empresa é função

dos ativos reais, não importando a origem do financiamento que viabiliza tais

investimentos, quer seja capital de terceiros ou capital próprio.

Na proposição II, Modigliani e Miller (1958) colocam que o retorno esperado de

uma ação está positivamente relacionado com o grau de endividamento, pois o risco

para os acionistas cresce com o endividamento. Dessa forma, o custo do capital

próprio na proposição II é uma função linear do quociente entre capital de terceiros e

capital próprio da empresa. Por conseguinte, à medida que a empresa aumenta seu

nível de alavancagem, isso se traduz em um aumento no risco das ações e, assim, do

retorno exigido pelos acionistas.

Em consequência, o WACC não pode ser reduzido com a substituição de

capital próprio por capital de terceiros, muito embora o capital de terceiros seja mais

barato do que o capital próprio. Como justificativa, tem-se que à medida que a

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proporção de capital de terceiros aumenta, o capital próprio remanescente torna-se

mais arriscado e seu custo aumenta. Essa elevação no custo do capital próprio

contrabalança o efeito do crescimento da proporção do financiamento com capital de

terceiros mais barato. Modigliani e Miller explanam que o aumento da proporção de

capital de terceiros, confrontado com a elevação do custo do capital próprio

remanescente compensam-se perfeitamente um ao outro, de forma que o WACC e o

valor da empresa permanecem constantes. Portanto, não haveria uma estrutura de

capital ótima.

Posteriormente, em 1963, os mesmos autores reconhecem o benefício fiscal

gerado pelo endividamento da empresa no cálculo do seu custo de capital, o que torna

a questão da estrutura de capital algo relevante na definição do valor da empresa.

Eles reconhecem que a dedutibilidade dos juros na apuração do imposto de renda da

empresa favorece a dívida em relação ao capital próprio. Conforme a legislação, com

a existência dos impostos da pessoa jurídica e estes sendo dedutíveis da base de

cálculo do imposto de renda, a maximização do valor da empresa ocorreria mediante

uma estrutura de capital composta por uma maior participação das dívidas na

estrutura de capital.

Entretanto, em 1977, Miller destaca que, ao considerar a tributação dos

rendimentos obtidos pela pessoa física dos sócios, ocorre compensação entre os

ganhos obtidos pelo endividamento da empresa. Miller (1977) analisa os efeitos dos

impostos sobre a pessoa física. O endividamento agregado ótimo é aquele que iguala

a alíquota marginal do imposto sobre o rendimento dos títulos do credor com o imposto

sobre o retorno dos acionistas, mas sem ganho de valor da firma pela sua decisão de

financiamento. Segundo o autor, sempre que a alíquota do imposto de renda da

pessoa física - tributada sobre o recebimento de dividendos e conjugada com a

incidente sobre os ativos financeiros - for igual ou superior à da pessoa jurídica, não

haverá ganho ou perda pelo uso de capital de terceiros pela empresa. A dedutibilidade

dos juros favorece o uso de dívidas pela empresa, no entanto, o tratamento tributário

mais favorável ao ganho de capital proveniente de ações, pela pessoa física dos

acionistas, diminui a taxa de retorno exigida sobre as ações, favorecendo, assim, o

uso do financiamento de capital próprio. Com esta afirmação, Miller (1977) torna a

trazer à pauta a irrelevância das decisões de estrutura de capital na determinação do

valor da empresa.

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A partir dessa discussão seminal, estudos são realizados com o objetivo de

identificar os fatores que explicam a forma com que as empresas se financiam, dando

origem às teorias modernas de estrutura de capital. Trabalhos posteriores, de outros

autores, avaliam a questão, considerando as imperfeições existentes no mercado,

como impostos, custos de dificuldades financeiras e custos de falência, custos de

agência e assimetria de informação, ou seja, certos pressupostos restritivos, de um

mercado perfeito, utilizados por Modigliani e Miller (1958). Nesse sentido, destacam-

se as teorias de pecking order, de Myers e Majluf (1984) e Myers (1984); trade-off, de

Kraus e Litzenberger (1973); e free cash flow, de Jensen e Meckling (1976) e custos

de agência de Jensen (1986).

Nas premissas de Modigliani e Miller (1958) há a suposição de que todos os

participantes do mercado têm informação completa e igual sobre os retornos gerados

pelos ativos das empresas. No entanto, na realidade, a existência de assimetria de

informação dá origem a ilações, pontos de vista diferentes e questionamentos pelos

participantes do mercado. Por exemplo, como o fato de os atuais proprietários

quererem convencer, pelas informações divulgadas, os potenciais acionistas de que

a empresa vale mais. Além disso, os gestores emitem sinais e divulgam informações

que indicam a qualidade e os bons critérios de suas decisões, uma vez que há reflexos

dos resultados dessas decisões para o retorno financeiro dos investimentos dos

acionistas. Em paralelo, tem-se a visão dos credores das dívidas da empresa, que

objetivam, acima de tudo, receber pontualmente os valores emprestados para a

corporação, independentemente da magnitude dos resultados gerados pela empresa.

Nota-se que, nos estudos seminais citados, não se faz alusão a uma estrutura

de capital ótima. No entanto, há abordagens posteriores que avaliam quais são os

determinantes da estrutura de capital, muito embora não se chegue a uma

composição ótima, adequada e abrangente, que seja válida para todas as empresas.

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2.3 Custo de capital

A estrutura de capital participa do cálculo do WACC, que é resultante do custo

médio ponderado das duas fontes de recursos, capital de terceiros líquido de imposto

de renda (Ki) e capital próprio (Ke). O WACC, segundo Damodaran (2007) e

Copeland, Koller e Murrin (2013), é uma taxa relevante, por ser utilizada pelas

corporações como taxa de desconto dos fluxos de caixa, para cálculos de VPL nas

decisões de investimento de longo prazo. Com esse entendimento, investidores

também utilizam o WACC, em suas estimativas, no processo de avaliação de

empresas.

O custo de capital de terceiros é determinado com maior grau de objetividade,

uma vez que provém dos encargos financeiros pagos aos credores. Damodaran

(2007) e Ross et al. (2015) explicam que os encargos financeiros pagos aos credores

não se relacionam diretamente com o fluxo de caixa futuro da empresa, muito embora

não invalide o fato de que a solvência ou liquidez empresarial tem que existir para

criar capacidade de pagamento e permitir à empresa honrar pontualmente suas

dívidas junto aos credores. Em outras palavras, os credores, independentemente dos

resultados bons ou ruins de uma corporação, aguardam que a mesma efetue o pontual

pagamento de seus empréstimos.

No caso do capital próprio (dos acionistas), a sua remuneração é residual, ou

seja, provém da geração de caixa das atividades e projetos da empresa já abatido o

pagamento dos empréstimos. Assim, pode-se afirmar que o custo do capital próprio é

o que melhor contém o prêmio de risco exigido da empresa pelos fornecedores de

capital, segundo Copeland, Weston e Shastri (2005), Damodaran (2011) e Brealey,

Myers e Allen (2013). Com essa visão, esta dissertação concentra a análise sobre o

custo do capital próprio.

Copeland, Weston e Shastri (2005), Damodaran (2011) e Brealey, Myers e

Allen (2013) mencionam ainda que o risco de um ativo pode ser subdividido em risco

de mercado e risco específico. Para melhor entendimento, o risco de mercado é

referente ao que envolve o mercado como um todo, de natureza econômica, política

e social; o risco específico é proveniente do risco existente na empresa em si, em

particular. Portanto, a diversificação de um investidor racional está associada ao risco

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total de sua carteira de investimentos. Nesse sentido, o risco de mercado é o que

remanesce, mesmo após a diversificação da carteira do investidor racional.

Uma das alternativas para cálculo do custo de capital próprio é feita com uso

do Capital Asset Pricing Model (CAPM) de Sharpe (1964), Lintner (1965) e Mossin

(1966). Envolve a expectativa de remuneração que o investidor possui pela alocação

de recursos em ações de determinada empresa, representado por uma taxa de

remuneração necessariamente superior a um investimento considerado livre de risco

(Rf), ajustado ao risco da empresa. O coeficiente beta (ß) é a estimativa do risco de

mercado, sistemático ou não diversificável. Tem-se, então, que no CAPM:

Rf)(RmβRfKe (1)

Em que: Ke: custo do capital próprio da empresa ou retorno do acionista; Rf: taxa livre de risco; β: medida da porção de risco sistemático assumido pela ação da empresa, sendo obtida pela covariância entre o retorno da ação e o da média do mercado dividido pela variância do retorno médio do mercado; Rm – Rf = prêmio de risco do mercado.

Grinblatt e Titman (2005) e Brealey, Myers e Allen (2013) argumentam que,

com o CAPM, o investidor exige a remuneração somente pelo risco de mercado,

sendo que o risco específico é mitigado pela diversificação de ativos em sua carteira

de investimentos. No pressuposto de que os investidores diversificam com eficiência

suas carteiras, o único componente do risco total a ser considerado é o

correspondente ao não diversificável, que é objeto de estimativa pelo beta. Para a

operacionalização do CAPM, é necessária a definição do ativo livre de risco (Rf), em

que se utilizam títulos soberanos. Além disso, há de se avaliar conveniências em se

utilizar parâmetros de mercados centrais como o norte-americano, com adaptações e

cuidados, para efeito do uso do CAPM, em outros mercados, como o brasileiro.

Assaf Neto, Lima e Araújo (2008) entendem que não seja apropriado fazer a

estimativa do custo do capital próprio diretamente dos fundamentos do mercado

financeiro brasileiro, porque há algumas imperfeições, ou seja, o tamanho pequeno,

reduzida participação de ações ordinárias nas negociações do mercado, concentração

de controle de capital, fragilidade no disclosure das empresas e volatilidade excessiva.

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Registram que a aplicação do CAPM em mercados emergentes não costuma produzir

resultados confiáveis, exigindo diversos ajustes de maneira a adequá-lo às

características dessas economias. Assim, recomendam o uso de um modelo a partir

de benchmarking de uma economia mais estável, oferecendo indicadores de

referência mais consistentes e representativos de um comportamento esperado

futuro. Para tanto, é geralmente utilizado o mercado dos Estados Unidos.

No entanto, como contraponto, há autores que aceitam como válido o uso de

dados de economias emergentes, como a brasileira, ao se fazer estimativas do custo

de capital próprio com o CAPM. Sanvicente (2012) afirma que, como o mercado

brasileiro já é bastante desenvolvido, as cotações correntes que ele oferece contêm

informações suficientes para que se infiram as estimativas necessárias, no uso do

CAPM, e que a prática de usar dados do mercado norte-americano já não conduz

sempre aos melhores resultados.

Ainda sobre o tema – custo de capital próprio (Ke) – o modelo de Gordon

(1962), também conhecido como a abordagem dos descontos dos fluxos de

dividendos, propõe que o retorno esperado de uma ação é dado pela taxa de desconto

que iguala o preço corrente da ação com o fluxo futuro de dividendos esperados, de

acordo com as equações (2) e (3):

gr

dP 1

o

(2)

g) (1dd 01 (3)

Em que: P0: preço ou cotação da ação na data atual; d0: dividendo por ação na data atual; d1: dividendo por ação esperado na data 1; r: custo de capital próprio; g: taxa de crescimento constante esperada dos dividendos.

Damodaran (2007) expõe que o modelo de Gordon de crescimento é mais

apropriado para empresas que apresentem taxa de crescimento (g) estável e que

possuam política de distribuição de dividendos bem estabelecida. O autor ainda

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registra existir o modelo em dois estágios, que utiliza dois patamares de taxa de

crescimento, e o modelo em três estágios, que conjuga três patamares distintos de

taxa de crescimento (g). Das equações (2) e (3), são derivadas as seguintes equações

(4), (5) e (6) para estimativa de custo de capital próprio. Adota-se que r seja igual a

Ke. Tem-se, então:

gP

dKe

0

1 (4)

Ke = dividend yield + g

(5)

g = (1 - payout) x ROE

(6)

Em que: Ke: custo do capital próprio da empresa ou retorno do acionista; d1: dividendo por ação esperado na data 1; P0: preço ou cotação da ação na data atual; g: taxa de crescimento constante esperada dos dividendos; dividend yield: dividendos pagos por ação dividido pela cotação atual da ação; payout: relação percentual entre o dividendo pago e o lucro líquido; ROE ou retorno sobre o patrimônio líquido = lucro líquido / patrimônio líquido.

O custo de capital próprio não pode ser medido de forma direta, sendo,

portanto, necessário proceder-se à sua estimação. Damodaran (2011) declara que

existem três métodos prevalecentes para a estimativa do prêmio de risco para o capital

próprio: o primeiro método é observado mediante pesquisa junto aos investidores para

se aferir suas expectativas sobre o retorno esperado das ações; o segundo método é

notado por intermédio do retorno obtido com o desempenho histórico das ações em

relação aos ativos livres de risco e pela utilização desse prêmio como estimativa do

comportamento futuro; o terceiro método é analisado com base nos preços de

mercado praticados no momento atual e, com fundamento nesses, fazer-se a

inferência para o futuro, chamando-se essa terceira abordagem de prêmio implícito.

Esta dissertação não realiza o cálculo da estimativa do custo de capital próprio.

Utiliza, outrossim, a linha de pensamento e metodologia, com adaptações, de Leuz e

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Verrecchia (2000), que, em seu artigo, adotam uma proxy, como variável dependente,

o BAS, para a assimetria de informação, que é componente do custo de capital

próprio, pelo fenômeno da seleção adversa tratada no item 2.7 - assimetria de

informação. Reforça-se que, conforme Leuz e Verrecchia (2000), em estudo realizado

no mercado alemão, a mudança pelas empresas para um padrão internacional de

relatórios contábeis, como International Accounting Standards (IAS) ou United States

Generally Accepted Accounting Principles (US GAAP) representou um incremento no

compromisso e prática de um maior disclosure e que tal quadro resultou em um

benefício econômico, na forma de redução do custo de capital das empresas, devido

a uma redução do componente – assimetria de informação.

A teoria de pecking order, abordada a seguir, é importante contribuição para os

estudos de estrutura de capital, uma vez que aborda o tema assimetria de informação.

2.4 Teoria de pecking order

A teoria de pecking order trata da estrutura de capital, focando no aspecto

assimetria de informação. Segundo Copeland, Weston e Shastri (2005) e Ross et al.

(2015), os administradores ou gestores, pelo fato de trabalharem internamente na

empresa, detêm informações sobre as oportunidades de investimento e possuem

melhor condição para projetar o fluxo de caixa livre do que os investidores, os quais

estão externos à corporação. Desse fenômeno provém a assimetria de informação

entre os administradores ou gestores e os investidores externos.

Assim, a estrutura de capital pode ser usada como sinalizador aos investidores

externos das informações internas da corporação. Uma empresa pode financiar suas

novas oportunidades de investimento por intermédio de capital próprio ou capital de

terceiros. A opção por financiar o investimento com a contratação de novas dívidas

sinaliza ao mercado que os gestores da empresa acreditam que as ações da empresa

estão subavaliadas. Esta decisão representa um sinal positivo ao mercado, pois a

riqueza ou valor produzido pelo novo investimento será usufruído somente pelos

atuais acionistas (COPELAND, WESTON e SHASTRI, 2005; ROSS et al., 2015).

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Quando investidores possuem menos informação sobre o valor da empresa

que insiders, os preços das ações podem ser subavaliados pelo mercado, conforme

Myers (1984). Dessa forma, a assimetria de informação influencia a política de

financiamento das empresas, abrangendo a estrutura de capital, ou seja, capital de

terceiros e capital próprio. A ordem de preferência entre formas de obtenção de

recursos está fundamentada no fato de que os recursos gerados internamente não

possuem custos de transação e não são sensíveis à assimetria de informação, por

isso representam a primeira opção para o financiamento de novos investimentos.

Quando os recursos gerados internamente não são suficientes para suprir a

realização dos projetos de investimento, a teoria de pecking order prevê que grande

parte do financiamento externo é proveniente da contratação de dívidas e que

empresas mais lucrativas são menos endividadas. (MYERS e MAJLUF, 1984;

MYERS, 1984).

Também nessa linha de pensamento, sabe-se que empresas mais lucrativas

têm mais recursos internos disponíveis para financiar suas atividades e empresas

menos lucrativas necessitam recorrer mais a financiamento externo, seja com dívidas,

seja com lançamento de novas ações. Em suma, a teoria de pecking order prediz que

as empresas seguem uma ordem hierárquica de preferências por tipos de

financiamento, utilizando, primeiramente, recursos internos, em segundo lugar,

recursos captados por meio de dívida e, em último lugar, recursos captados por meio

da emissão de ações (MYERS e MAJLUF, 1984; MYERS, 1984).

Na teoria de pecking order, de Myers e Majluf (1984) e Myers (1984), não há

menção a um endividamento ótimo, mas discorre a respeito de que o endividamento

é resultante das condições de assimetria de informação com o mercado e do

surgimento de projetos empresariais de investimento. Nesse contexto, os gestores

devem ficar atentos aos custos das fontes de financiamento sem se preocuparem em

atingir uma determinada estrutura de capital-alvo.

Myers (2001) desenvolve estudo, avaliando de forma conjunta as teorias de

trade-off, pecking order e free cash flow, produzidas originalmente a partir de 1970, e

afirma que estas permanecem válidas. Expõe, ainda, que os aspectos econômicos

que direcionam tais teorias são respectivamente impostos, assimetria de informação

e custos de agência.

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A teoria de pecking order foi testada por outros autores, entre os quais Frank e

Goyal (2003), que não ratificaram todos os resultados encontrados por Myers e Majluf

(1984) e Myers (1984). Por sua vez, Fama e French (2002) estudam as teorias de

pecking order e de trade-off, agregando outras variáveis, como o pagamento de

dividendos e expectativa de investimentos por parte da empresa, e basicamente

ratificam a teoria de pecking order e fazem algumas ressalvas à teoria de trade-off.

Posteriormente, Leary e Roberts (2010) conduzem estudo que confirma a

acurácia do poder preditivo da teoria de pecking order e acrescentam que, acoplando

os pressupostos de pecking order com, por exemplo, entre outras, a questão fiscal,

que é substância da teoria de trade-off, o poder preditivo de um modelo, nesses

moldes, é potencializado. Para tanto, a teoria de pecking order foca a assimetria de

informação, ao passo que a teoria de trade-off estuda o reflexo do pagamento de

impostos sobre a estrutura de capital.

2.5 Teoria de trade-off

Um ponto ótimo para a estrutura de capital é abordado pela teoria de trade-off,

de Kraus e Litzenberg (1973). O valor de uma empresa é igual ao valor da mesma

sem dívidas, ou desalavancada, mais o valor dos efeitos paralelos, que são os

benefícios fiscais e os custos estimados provenientes de dificuldades financeiras,

caso a empresa passe a elevar seu endividamento. Assim, a teoria de trade-off diz

que as empresas devem buscar uma estrutura de capital ótima que maximize os

benefícios fiscais e minimize os custos de endividamento. O principal benefício do uso

de capital de terceiros em relação ao capital próprio é tributário, pelo fato de despesas

com juros serem dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda pessoa jurídica.

Tal benefício é reconhecido por Modigliani e Miller (1963) que demonstram que quanto

maior for a alavancagem da empresa, menor será o montante de imposto de renda

pessoa jurídica pago.

Ross et al. (2015) e Brealey, Myers e Allen (2013) afirmam que as questões

que geram custos de falência surgem quando uma empresa adota endividamento

excessivo em sua estrutura de capital. Os custos de falência possuem dois

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componentes: (a) probabilidade de dificuldades financeiras e; (b) custos que existem

na hipótese de ocorrer efetiva insolvência da empresa.

A seguir, destaca-se a contribuição da teoria de agência e teoria do free cash

flow e desdobramentos que influenciam a estrutura de capital.

2.6 Teoria de agência e do free cash flow

A teoria de agência, de Jensen e Meckling (1976), diz que as decisões de

financiamento são afetadas pelo fato de os principais ou proprietários (acionistas) da

empresa delegarem a administração ou gestão da corporação aos administradores ou

gestores ou agentes. Os agentes são denominados insiders, enquanto os acionistas

ou investidores externos, que não participem da gestão da empresa, são outsiders.

Os custos de agência surgem dessa separação entre a propriedade da empresa

(principais ou proprietários) e os administradores ou gestores (agentes).

Ross et al. (2015) afirmam que os administradores devem buscar a

maximização da riqueza da empresa e, por conseguinte, de seus acionistas, com

visão ampliada para demais stakeholders. No entanto, a teoria de agência afirma que

não é possível assegurar que o agente tome sempre a decisão financeira ótima sob a

ótica do principal ou proprietário. Para buscar conciliar essas duas óticas, as

empresas instituem mecanismos de remuneração dos administradores atrelados ao

desempenho corporativo, bem como instituem sistemas de controle e monitoramento

das diversas áreas da empresa.

Esses mecanismos são exemplos de custos de agência. Registra-se também

que Jensen e Meckling (1976) indicam que proprietários e agentes decidem e atuam

no sentido de maximizar ou otimizar a sua própria função utilidade. Define-se utilidade

como o benefício ou a satisfação que uma pessoa consegue ter, resultante do

consumo de uma ou mais unidades de um produto ou serviço. Também se aplica a

suas decisões de investimento.

Os custos de agência do capital próprio guardam relação com o fluxo de caixa

livre. Segundo Damodaran (2007), o fluxo de caixa livre para a empresa são os fluxos

de caixa antes do pagamento das dívidas e dos dividendos preferenciais, subtraindo-

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se do lucro operacional após os impostos as necessidades de investimento para

sustentar o crescimento. Ocorre que, segundo Jensen (1986), quanto maior o fluxo de

caixa livre da empresa, mais discricionário pode ser o comportamento do

administrador ou gestor. Assim, se a corporação recorrer a dívidas, isso reduz as

alternativas de destinação do fluxo de caixa livre para a empresa, fazendo, em

consequência, que os gestores ou administradores tomem decisões de investimento

mais eficazes em função de que as dívidas significam uma ameaça de insolvência

empresarial e, assim, eles têm a tendência de tomarem decisões mais prudentes para

evitar esse quadro.

Outra forma de custo de agência é a adoção de mecanismos de governança

corporativa. Silveira, Perobelli e Barros (2008) estudam a relação entre estrutura de

capital e governança corporativa na realidade brasileira, afirmando que o grau de

alavancagem financeira das empresas é significativamente influenciado por suas

práticas de governança. Assim, um maior compromisso com governança corporativa

– adoção do índice de governança corporativa (IGOV) - associa-se a um maior

endividamento relativo, oferecendo suporte empírico ao fato de a governança

corporativa ser um fator determinante da estrutura de capital.

Segundo os autores, o IGOV é construído com base em perguntas binárias e

objetivas, cujas respostas foram obtidas exclusivamente a partir de dados

secundários. O IGOV é feito de forma a levar em conta quatro dimensões

consideradas importantes pela literatura para a avaliação das práticas de governança

corporativa: acesso às informações, conteúdo das informações, estrutura do conselho

de administração, e estrutura de propriedade e controle.

Dessa forma, a escolha da estrutura de capital pode funcionar como

mecanismo de governança relevante. Empresas mais endividadas, por um lado,

poderiam adotar melhores práticas de governança corporativa por imposição dos

credores ou com o intuito de aumentar sua capacidade de captação de recursos

externos. Por outro lado, para essas empresas, a disciplina da dívida reduz a

necessidade de implementação de mecanismos adicionais e potencialmente custosos

de governança corporativa (SILVEIRA, PEROBELLI e BARROS, 2008).

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Enfim, a teoria de agência propõe que a redução da assimetria de informação

entre gestores e provedores de capitais diminui os custos de monitoramento. O

objetivo de reduzir o custo de agência fornece um incentivo para adoção do padrão

internacional de contabilidade IFRS, pois significa maior transparência do que o

padrão de contabilidade local, conforme Barth, Landsman e Lang (2008) e Leuz e

Verrecchia (2000). Assim, com melhor informação veiculada pelos instrumentos de

disclosure, o que inclui a adoção de um padrão internacional de contabilidade, a

corporação pode reduzir os problemas com assimetria de informação.

2.7 Assimetria de informação

Segundo Grinblatt e Titman (2005) e Brealey, Myers e Allen (2013), a assimetria

de informação existe quando os investidores e outros agentes de mercado, externos

à corporação, possuem menos informações que seus administradores. Há também

assimetria de informação entre os investidores profissionais - fundos de previdência,

de investimento e seguradoras - e os investidores individuais, que são menos

informados.

Akerlof (1970) analisou os reflexos da assimetria de informação, utilizando,

como exemplo, o mercado norte-americano de carros usados, denominado market for

lemons, onde os carros usados antigos de má qualidade são chamados de limões.

Nesse ambiente negocial, no qual o vendedor tem maior conhecimento sobre o real

estado do carro usado, objeto de uma negociação, o comprador se propõe a pagar

um preço abaixo daquele que efetivamente o carro valeria se todas as informações

estivessem disponíveis. Por outro lado, quem tiver um carro de boa qualidade tende

a não o vender pelo preço corrente do mercado, pois entende que receberá um valor

inferior ao que seria justo.

Assim, a assimetria de informação reduz o desempenho dos mercados. Isso

conduz ao conceito de seleção adversa, que é reconhecida quando um comprador

racional interpreta informação não divulgada como uma informação não favorável

sobre o valor ou qualidade de um ativo. Em consequência, a avaliação do valor do

ativo e, por conseguinte, sua seleção para compor determinada carteira de

investimentos passa a ser adversa. Na falta de informação, os investidores depreciam

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o valor de um ativo até o momento em que se torna mais compensador para a

empresa divulgar as informações, mesmo que sejam negativas.

O impacto da assimetria de informação sobre o valor da empresa e sobre o

preço das ações tem sido objeto de estudos na literatura de finanças, sendo relevantes

os trabalhos de Brealey, Leland e Pyle (1977), que avaliam a relação entre

investimentos empresariais, estrutura de capital e intermediários financeiros; de

Grossman e Hart (1981), que estudam efeitos da assimetria de informação em ofertas

públicas de aquisição e de Myers e Majluf (1984), com a teoria de pecking order.

Milgrom e Roberts (1992) mencionam que a informação tem a tendência de ser

distribuída de forma imperfeita entre os agentes, fato que impossibilita o equilíbrio de

mercado. Nesse sentido, Stiglitz (1985) considera que o surgimento da assimetria de

informação entre duas partes se dá quando uma parte possui mais informação que

outra, seja ex ante, em relação às questões inseridas em um contrato, ou ex post,

relacionado ao comportamento dos indivíduos após o fechamento do contrato.

Em situações em que ocorre assimetria de informação ex post, surge a

possibilidade de que esse agente mais bem informado não se comporte de forma

eficiente como previsto, por um lado. Essa situação é chamada de risco moral. Por

outro lado, em situações pré-contratuais, ex ante, surge o problema da seleção

adversa, o que possibilita que a parte mais bem informada insira no contrato questões

em seu benefício. Estas duas situações são consideradas como oportunismo,

problema decorrente da assimetria de informação (WILLIAMSON, 1985).

Conforme Lang e Lundholm (1996), em seu estudo, após se estabelecer

variáveis de controle para tamanho, as empresas, com maior tempestividade em sua

divulgação de informações, possuem maior cobertura de analistas, maior consenso

entre as previsões destes e menor revisões de previsões desses profissionais.

Por sua vez, Leuz e Verrecchia (2000) desenvolvem estudo no mercado

alemão, ao avaliar a situação de empresas que aderiram às normas de contabilidade

internacionais, IAS/IFRS ou US GAAP, e, assim, elevaram nível de disclosure. Os

autores concluem que o experimento de seu estudo valida a relação entre um maior

nível de disclosure com a obtenção de benefícios econômicos. As proxies utilizadas

para assimetria de informação são BAS e volume de negociação das ações da

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empresa. Há uso de variáveis de controle, como o tamanho da empresa. Os benefícios

econômicos são provenientes do fato de um maior disclosure diminuir a seleção

adversa e assim conduzir a empresa a um menor custo de capital. Em outras palavras,

os autores mencionam que a adesão ao padrão internacional de contabilidade IFRS

reduz a assimetria de informação (H1).

2.8 Disclosure

O disclosure pode diminuir o problema da seleção adversa pertencente à

assimetria de informação, conforme discorre Verrecchia (2001). Esse efeito possui

duas vertentes, sendo a primeira destas o fato de um maior volume de informações

em domínio público tender a que os negociadores tenham menor possibilidade de

terem informações privadas. Assim, reduz-se a possibilidade de negociação com a

contraparte mais bem informada. Como segunda vertente, maior disclosure

empresarial tende a reduzir a incerteza sobre o valor da corporação, reduzindo a

vantagem informacional que um investidor bem informado possa ter. Essas duas

vertentes reduzem a dimensão em que os investidores menos informados apresentem

necessidade de se proteger dos investidores mais informados, reduzindo o fenômeno

da seleção adversa. Nessa linha de pensamento, verifica-se que a divulgação

corporativa eficaz está associada à redução do custo de capital.

Verrecchia (2001) ainda aborda uma taxonomia da literatura contábil a respeito

de disclosure. A primeira classificação – disclosure baseado em associação – estuda

o efeito exógeno do disclosure sobre a empresa, ou seja, busca examinar os efeitos

que a divulgação de informações relevantes ao mercado provoca nos preços e nos

volumes de transação com as ações da empresa, no momento ou logo após a

divulgação. A segunda classificação – disclosure baseado na discricionariedade –

examina como os gestores exercem discricionariedade quanto às informações que

divulgam ou não. A terceira classificação – disclosure baseado na eficiência – discute

quais são as modalidades de divulgação de informações mais eficientes para a prática

empresarial e que divulgar é preferível a não divulgar.

O artigo de Verrecchia (2001) propõe que seja executada uma eficiente política

de disclosure, a qual reduz a assimetria de informação. Depois dessa taxonomia, o

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artigo refere-se ao benefício da redução da assimetria de informação. Um processo

de disclosure praticado com eficiência, como fruto do entendimento de que há

incentivos para a divulgação das informações corporativas, refletirá no mercado de

capitais, onde investidores individuais (menos sofisticados) e diversificados (mais

sofisticados) captam as informações e tomam decisões de investimento a partir delas.

Paralelamente, é necessário controlar a interdependência entre um tipo de

divulgação e as outras formas de disclosure. Os resultados do artigo de Verrecchia

(2001) indicam que as empresas que trabalham um maior disclosure por intermédio

de seus relatórios anuais são as que mais se beneficiam de uma redução no custo do

capital próprio. No entanto, outras formas de disclosure, como as publicações

trimestrais (que são mais tempestivas por sua natureza), estão associadas a um maior

custo de capital próprio. Por fim, o artigo não encontra associação entre o nível de

atividades de relações com investidores e o custo de capital próprio. Gestores das

empresas alegam que esse aumento no custo do capital próprio, com as informações

trimestrais, ou não associação, no caso das informações provenientes das atividades

de relações com investidores, podem ser decorrentes de um aumento na volatilidade

do preço das ações, provocada pela divulgação dos fatos.

Outra possibilidade de se verificar a existência do efeito positivo de disclosure

dá-se por meio da emissão de ADR, face às exigências, com grau de enforcement

rigoroso, de informações regulatórias demandadas pela Bolsa de Nova Iorque, o que

contribui para a redução da assimetria de informação. ADRs são certificados de

ações, emitidos por bancos estadunidenses, com lastro em títulos de valores

mobiliários de empresas estrangeiras, negociados em dólares americanos nas bolsas

de valores dos Estados Unidos. Assim, tem-se a assunção de que a emissão de ADR

reduz a assimetria de informação (H3).

Citam-se também os estudos de Dhaliwal et al. (2011), Fishman e Hagerty

(2003), e Francis e Nanda (2008), os quais abordam os efeitos do disclosure nas

modalidades voluntário, ou por iniciativa da empresa, e o disclosure obrigatório, feito

por força de obrigações governamentais ou regulatórias (enforcement). Reforça-se

que, com melhor informação veiculada pelos instrumentos de disclosure, voluntário e

ou obrigatório, o que inclui a adoção de um padrão internacional de contabilidade, a

corporação pode reduzir os problemas com assimetria de informação.

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2.9 IFRS

Fernandes (2010) afirma que no processo de convergência das normas

contábeis, em 2005, foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC

(Resolução CFC n° 1.055/05), que é o órgão responsável pelo estudo do processo de

convergência às normas internacionais de contabilidade. Em continuidade a esse

processo, e com a finalidade de preparar o marco regulatório para a adoção das IFRS

pelas empresas brasileiras, o capítulo sobre demonstrações contábeis da Lei n° 6.404,

de 1976 (Lei das Sociedades por Ações) foi alterado pela Lei n° 11.638, de 2007, e

pela Lei n° 11.941, de 2009. Conforme CPC (2010), de acordo com o cronograma

brasileiro para essa convergência contábil, 2010 é o ano da aplicação do

Pronunciamento Técnico CPC 37 – Adoção Inicial das Normas Internacionais de

Contabilidade.

Há um momento inicial para a adoção do padrão internacional de contabilidade

na sua versão integral no Brasil e este momento é o balanço patrimonial de 31 de

dezembro de 2010. Com isso, pode-se concluir que a comparabilidade, para fins de

compreensão das IFRS, somente é garantida se a empresa apresentar, no termo

inicial de adoção, o balanço patrimonial referente aos exercícios de 2008, 2009 e

2010, de acordo com a versão completa das normas internacionais de contabilidade,

conforme item 21 do CPC 37, consoante CPC (2010), Fernandes (2010) e Lourenço

e Branco (2015).

O CPC 37 (2010) prevê que, para estarem de acordo com o Pronunciamento

Técnico CPC 26 (2011) – Apresentação das Demonstrações Contábeis, as primeiras

demonstrações contábeis da empresa em IFRS (obrigatória em 2010, publicada em

2011) devem incluir ao menos três balanços patrimoniais, duas demonstrações do

resultado, duas demonstrações dos fluxos de caixa, duas demonstrações das

mutações do patrimônio líquido, duas demonstrações do resultado abrangente, duas

demonstrações do valor adicionado e as respectivas notas explicativas, que

contenham os efeitos da adoção das IFRS. Assim, nota-se que houve um período

entre 2008 e 2009 em que empresas adotaram ou não as IFRS, pelo caráter

facultativo. Porém, em 2010 (publicação em 2011), houve a adoção mandatória e junto

a esta está a obrigação de publicar as demonstrações de 2008 e 2009, para viabilizar

a comparação entre as informações.

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Assim, para as empresas brasileiras, a adoção integral das IFRS é obrigatória

a partir do ano calendário de 2010, cujas demonstrações contábeis são, na sua grande

maioria, publicadas no primeiro quadrimestre de 2011 (artigo 132 da Lei n° 6.404, de

1976). Considerando que muitas empresas não anteciparam essa adoção integral das

normas internacionais de contabilidade, as demonstrações contábeis relativas ao

exercício de 2010 são as primeiras elaboradas integralmente com base nas diretrizes

do CPC. Antecipando a preocupação concernente a essa alteração de critérios

contábeis, bem como aos impactos das mudanças na análise dos usuários, o

International Accounting Standards Board (IASB) editou a IFRS 1 que, no Brasil, foi

incorporado pelo Pronunciamento Técnico CPC 37 – Adoção Inicial das Normas

Internacionais de Contabilidade. Lima et al. (2010), Lima (2011), Jucá et al. (2013),

Oliveira e Lemes (2011) e Lourenço e Branco (2015) estudam esse fenômeno, da

adoção das IFRS no Brasil, com diferentes nuanças, porém convergem para o caráter

benéfico da adoção das IFRS.

Salienta-se que Daske et al. (2008) analisam as consequências econômicas da

adoção obrigatória das IFRS. Estudam-se os efeitos sobre a liquidez do mercado,

custo de capital, e Q de Tobin. Encontra-se aumento de liquidez do mercado em torno

da época da introdução das IFRS e documenta-se uma diminuição do custo de capital

e valorização das ações. Os benefícios do mercado de capitais ocorrem apenas nos

países em que as empresas têm incentivos para serem transparentes e onde o

enforcement é forte. Comparando empresas que fizeram adoção obrigatória com

empresas que fizeram adoção voluntária, descobre-se que os efeitos do mercado de

capitais são os mais pronunciados para as empresas que mudam voluntariamente

para IFRS, tanto no ano em que elas trocam o padrão como novamente mais tarde,

quando as IFRS se tornam obrigatórias. Muitos países adotam esforços simultâneos

para melhorar a aplicação dos princípios de governança corporativa, o que concorre

também para o mesmo resultado encontrado com a adoção das IFRS. Afirmam

também que o mercado antecipa as consequências econômicas da adoção

mandatória das IFRS.

Holthausen (2009) e Li (2010) avaliam as adoções das IFRS em diferentes

mercados internacionais. No que tange ao contexto brasileiro, Lourenço e Branco

(2015) declaram que normas contábeis de elevada qualidade melhoram a qualidade

da informação contábil em contextos de enforcement apropriado e bons mecanismos

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de governança corporativa. Os resultados obtidos apresentam evidência de que a

adoção das IFRS no Brasil teve um efeito positivo no valor relevante de resultados

líquidos, isso no grupo de empresas que sinalizam melhores práticas de governança

corporativa por pertencerem aos segmentos de listagem Novo Mercado e Nível 2 da

BM&FBovespa. O estudo indica que a adoção das IFRS está associada a benefícios

econômicos e, além da adoção em si, o grau de cumprimento das IFRS e da eficiência

da comunicação da informação ao mercado sobre a adoção.

Entretanto, Calixto (2010) analisa o trabalho de diversos autores que comparam

os resultados contábeis das companhias, por meio de estudos empíricos, em função

da adoção das IFRS. Parte das investigações sobre custo de capital identificou sua

redução após a adoção das IFRS. O autor relata ainda o parecer de contadores,

auditores e executivos quanto à adoção das IFRS. Há ênfase nos seus aspectos

positivos. Entretanto, também há registro de críticas em relação às dificuldades de

adaptação, falta de conhecimento dos normativos e ocorrência de custos expressivos

com a mudança.

Por sua vez, Santos et al. (2011) estudam se a adoção das IFRS no Brasil

impacta o princípio do conservadorismo dos resultados contábeis divulgados. Entre

as características que atribuem utilidade à informação contábil divulgada, a

confiabilidade é relevante. É a partir desse atributo que os agentes econômicos

avaliam e formam seu parecer sobre a realidade econômica, financeira e patrimonial

da empresa, que está sendo reportada. Entende-se o princípio contábil do

conservadorismo como a escolha válida e legal de se registrar os eventos

econômicos, de forma a gerar um valor conservador, não sobrestimado, para o

patrimônio líquido de uma corporação. As práticas contábeis, portanto, devem exprimir

menores valores para receitas e ativos – e – maiores valores para despesas e

passivos, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a

quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. O estudo

de Santos et al. (2011) não identifica influência significativa da adoção das IFRS sobre

o conservadorismo dos resultados contábeis das empresas.

No que tange à qualidade da informação contábil, Ahmed, Chalmers e Khlif

(2013) afirmam que há três grandes argumentos que apontam para um efeito positivo

da adoção das IFRS:

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I. as IFRS contribuem para limitar o poder discricionário do gestor com a

eliminação de múltiplas alternativas, assim, reduzindo a extensão do

gerenciamento oportunista de resultados;

II. as IFRS são tidas como mais difíceis de contornar, com normas baseadas em

princípios, limitam o poder discricionário do gestor;

III. as IFRS exigem mensurações, as quais refletem, de forma mais adequada, a

realidade econômica subjacente da empresa, do que as normas nacionais.

A transparência é um dos princípios da governança corporativa, conforme IBGC

(2015). Há iniciativas nesse sentido no âmbito da BM&FBovespa que se aborda a

seguir.

2.10 Governança corporativa e segmentos de listagem da BM&FBovespa

Conforme os estudos de Jensen e Meckling (1976), tem-se a teoria de Agência.

Segundo esses acadêmicos, o problema de agência surgia quando o sócio (principal)

contrata outra pessoa (agente) para que administre a empresa em seu lugar. Para

mitigar os problemas de agência, os autores propõem que as empresas e seus

acionistas devem adotar uma série de medidas para alinhar interesses dos envolvidos,

objetivando, acima de tudo, o sucesso da empresa. Para tanto, foram propostas

medidas que incluíam práticas de monitoramento, controle e ampla divulgação de

informações. Anos depois, convencionou-se chamar esse conjunto de práticas de

governança corporativa, conforme Hoskisson et al. (2002).

Sobre o tema governança corporativa, por sua vez, Shleifer e Vishny (1997),

afirmam que os principais pontos que identificam a empresa com boas práticas de

governança corporativa são a boa qualidade e quantidade das informações

apresentadas ao mercado, bem como a segurança institucional. Além disso, avaliam

os mecanismos de governança corporativa e afirmam haver variedade de

entendimento entre os países. As empresas nos Estados Unidos e no Reino Unido

focam a governança corporativa eminentemente sob o aspecto legal e de proteção

aos investidores e ao mercado. A característica do mercado nesses países é a de

haver dispersão no capital, exceto que a propriedade fica momentaneamente

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concentrada no período de tempo que sucede a um processo de aquisição de

empresas. Na Europa e no Japão, a governança corporativa já possui um ajuste mais

direcionado à proteção de grandes investidores (concentração de capital) e bancos.

E, nos demais países, nota-se um misto no entendimento sobre governança

corporativa, sendo a propriedade mais concentrada em famílias. Assim, os autores

afirmam que a diversidade de sistemas de governança corporativa impacta com

relevância a forma como os recursos externos, do ponto de vista de acionistas e

credores, são alocados para as empresas.

Por outro lado, Bebchuk e Weisbach (2010) conduzem um estudo sobre o

estado da arte sobre as pesquisas em governança corporativa em âmbito mundial e

atestam a relevância do tema sobre as decisões corporativas, em particular, a atração

de capital próprio, dos acionistas. Por sua vez, conforme Dalmácio et al. (2013), há

evidências de que a governança corporativa influencia positivamente a acurácia das

previsões dos analistas de investimento. Desse modo, pode-se considerar que a

adoção de práticas diferenciadas de governança corporativa, por parte das empresas,

representa um fator positivo. Significa que, pelo fato de a empresa, entre outras

características de boa governança corporativa, possuir transparência e qualidade nas

informações que produz, isso permite aos analistas de investimento no mercado de

capitais nacional produzirem melhores previsões, com maior acerto e acurácia.

Para tanto, Cicogna, Toneto Júnior e Valle (2007) relacionam a adesão aos

segmentos de listagem de níveis de governança corporativa da BM&FBovespa ao

padrão de endividamento das empresas. Estes autores afirmam que o nível de

governança corporativa, representado pela adesão aos segmentos de listagem mais

rigorosos da BM&FBovespa, está negativamente correlacionado com endividamento

de curto prazo e positivamente correlacionado com o endividamento de longo prazo.

Assim, eles propõem que as empresas que adotaram as melhores práticas de

governança corporativa aumentaram sua captação de recursos em instituições

financeiras e aumentaram o alongamento das dívidas. Concluem que a adoção de

melhores práticas de governança diminui a restrição ao crédito das empresas, ou seja,

a redução do grau de assimetria de informação fortalece a possibilidade de as

empresas obterem financiamentos de longo prazo.

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Pires e Macagnan (2013), em seu estudo, investigam a relação entre

governança corporativa e assimetria de informação, com abrangência internacional, e

quais as proxies mais utilizadas para a assimetria de informação. Os resultados

mostram que há uma preferência acadêmica pelo uso do bid-ask spread. Além disso,

usa-se também o erro e a dispersão da previsão dos analistas de mercado em relação

aos efetivos resultados empresariais observados, refletidos nos preços das ações.

Entre as conclusões, destaca-se o fato de que o compromisso e prática da governança

corporativa, em particular, transparência e independência do conselho de

administração, são fatores importantes na redução da assimetria de informação. Em

outras palavras, os autores mencionam que a adesão aos segmentos de listagem, da

BM&FBovespa, de níveis de governança corporativa mais robustos (NM, N1 e N2)

reduz a assimetria de informação (H2).

O IBGC (2015) afirma que governança corporativa é o sistema pelo qual as

organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os

relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de

controle. Assim, se as boas práticas de governança corporativa forem efetivamente

adotadas pelas empresas, com alinhamento de interesses, isso conduzirá à

preservação e à otimização do valor da organização, facilitando seu acesso a recursos

e contribuindo para sua longevidade. Capital Aberto (2015), como registro, contém um

anuário pormenorizado sobre procedimentos empresariais que caracterizem a

qualidade da governança corporativa adotada pelas corporações.

Em complemento, IBGC (2015) introduz que governança corporativa é o

sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e oferecem

remuneração aos administradores e funcionários. Engloba os relacionamentos entre

proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. As boas

práticas de governança corporativa visam a alinhar os interesses entre esses grupos,

com a finalidade de criar valor para a organização e otimizar o acesso a

financiamentos, quer sejam capitais de terceiros ou capital dos acionistas. Os

princípios básicos de governança corporativa são:

a) transparência: representada pela ação da empresa em disponibilizar para as

partes interessadas (stakeholders) as informações que sejam de seu interesse

e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não

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deve somente abordar o desempenho econômico-financeiro, mas sim os

demais fatores, inclusive intangíveis, que são empregados na ação gerencial

corporativa e que conduzem à preservação e à otimização do valor da

organização;

b) equidade: caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios

e demais partes interessadas, levando em consideração seus direitos, deveres,

necessidades, interesses e expectativas;

c) prestação de contas (accountability): os agentes da governança corporativa, ou

seja, sócios, administradores, esses nos conselhos de administração e em

funções de executivos, conselheiros fiscais e auditores devem prestar contas

de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo,

assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando

com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis.

d) responsabilidade corporativa: os agentes de governança devem zelar pela

viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades

negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando

em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais, que são o

financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental e reputacional,

para o curto, médio e longo prazos.

Outrossim, Silveira, Barros e Famá (2003) fazem estudo sobre a governança

corporativa e a probabilidade de os fornecedores de recursos garantirem para si o

retorno sobre seu investimento, por meio de um conjunto de mecanismos no qual se

inclui o conselho de administração. Investigam se a estrutura de governança foi

relevante para o valor das companhias abertas no Brasil entre 1998 e 2000. Estudam

três variáveis: (a) separação dos cargos de diretor executivo e presidente do conselho

de administração; (b) tamanho do conselho de administração e (c) grau de

independência do conselho de administração. Concluem que as empresas que têm

pessoas distintas, ocupando os cargos de diretor executivo e presidente do conselho

de administração, são mais valorizadas pelo mercado, uma vez que tal situação induz

a uma melhor eficácia no processo de tomada de decisão estratégica nas

corporações.

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O alinhamento e a adesão das companhias brasileiras aos princípios e boas

práticas da governança corporativa conduziu a BM&FBovespa a desenvolver

segmentos de listagem destinados à negociação de ações de empresas que se

comprometessem, voluntariamente, a adotar as boas práticas de governança

corporativa em nível adicional em relação ao exigido pela legislação brasileira.

O quadro 1 a seguir ilustra os segmentos de listagem com suas principais

características:

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Quadro 1 – Segmentos de listagem BM&FBovespa

Descrição Novo Mercado Nível 2 Nível 1 Tradicional

Características das ações emitidas

Permite a existência

somente de ações ON

Permite a existência de ações ON e

PN (com direitos

adicionais)

Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação)

Percentual mínimo de ações em circulação (free float)

No mínimo, 25% de free float Não há regra

Distribuições públicas de ações

Esforços de dispersão acionária Não há regra

Vedação a disposições estatutárias

Limitação de voto inferior a 5% do capital, quórum qualificado e

"cláusulas pétreas” Não há regra

Composição do conselho de administração

Mínimo de 5 membros, dos quais pelo menos 20% devem

ser independentes com mandato unificado de até 2 anos

Mínimo de 3 membros (conforme

legislação), com mandato unificado de até 2 anos

Mínimo de 3 membros (conforme

legislação)

Vedação à acumulação de cargos

Presidente do conselho e diretor presidente ou principal executivo pela mesma pessoa (carência

de 3 anos a partir da adesão) Não há regra

Obrigação do conselho de administração

Manifestação sobre qualquer oferta pública de aquisição de

ações da companhia Não há regra

Demonstrações financeiras

Traduzidas para o inglês Conforme legislação

Reunião pública anual

Obrigatória Facultativa

Calendário de eventos corporativos

Obrigatório Facultativo

Divulgação adicional de informações

Política de negociação de valores mobiliários e código de conduta

Não há regra

Concessão de tag along

100% para ações ON

100% para ações ON e

PN

80% para ações ON (conforme legislação)

Oferta pública de aquisição de ações no mínimo pelo valor econômico

Obrigatoriedade em caso de cancelamento de registro ou

saída do segmento Conforme legislação

Adesão à câmara de arbitragem do mercado

Obrigatória Facultativa

FONTE: BM&FBovespa (2015a) e CVM (2014)

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2.11 Relação entre assimetria de informação, disclosure e custo de capital

A relação entre assimetria de informação e custo de capital tem sido objeto de

estudos há tempos. Reforça-se que a inexistência de assimetria de informação foi uma

das premissas utilizadas no trabalho seminal sobre estrutura de capital de Modigliani

e Miller (1958).

Na realidade, em termos práticos, existe a assimetria de informação, que cria

custos pela introdução da seleção adversa nas transações entre compradores e

vendedores das ações de uma empresa. Para superar a relutância dos investidores

potenciais em adquirir ações de sua emissão, as empresas emitem papéis com

desconto. O desconto resulta em menor rentabilidade para a empresa e, portanto,

custos mais elevados de capital. A relação entre assimetria de informação e o

benefício econômico de redução de capital é abordado por Admati e Pfleiderer (1988);

Copeland e Galai (1983); Glosten e Milgrom (1985); e Stoll (1978). Trabalhos mais

recentes são os de Healy e Palepu (2001); Lambert, Leuz e Verrecchia (2012); Lopes

e Alencar (2010); Nakamura et al. (2006).

Pires e Macagnan (2013) abordam, em seu estudo, 36 pesquisas que

utilizaram proxies para assimetria de informação. As principais proxies utilizadas são:

(a) bid-ask spread; (b) erro e a dispersão da previsão dos analistas de mercado em

relação aos efetivos resultados empresariais observados; (c) volatilidade do preço das

ações; (d) Q de Tobin; (e) risco sistemático (beta); (f) número de analistas que

acompanham a empresa; (g) free float; (h) investimentos em pesquisa e

desenvolvimento; (i) tamanho da empresa; (j) probabilidade de negociação com

informação privilegiada (PIN); e (k) volume de ativos intangíveis, além de outros mais

específicos. Pires e Macagnan (2013) observam que não há um método consolidado,

para a mensuração da assimetria de informação nas diversas pesquisas ao redor do

mundo, porém há uma utilização majoritária do bid-ask spread e do erro e/ou da

dispersão da previsão dos analistas em relação aos efetivos resultados empresariais,

que se refletem nos preços das ações.

Salienta-se que Easley e O’hara (2004) investigam o papel da informação em

afetar o custo de capital de uma empresa. Tendo em vista a assimetria de informação,

em particular, entre informação pública e privada, investidores exigem um retorno

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maior para manter ações com maior grau de informação privada. Este retorno mais

elevado surge por que os investidores mais informados são capazes de mudar o seu

portfólio para incorporar novas informações, enquanto que os investidores menos

informados ficam em desvantagem. Assim, a quantidade e qualidade das informações

afetam os preços das ações. E empresas podem influenciar o seu custo de capital,

escolhendo ou optando por características adequadas como qualidade das

informações contábeis, cobertura de analistas, e atributos da microestrutura de

mercado. A pesquisa conclui que as empresas podem influenciar o seu custo de

capital, trabalhando para a precisão e a quantidade de informação disponível para os

investidores. Isso pode ser obtido com a opção por práticas contábeis de qualidade e

por boa política de divulgação corporativa ou disclosure.

Outrossim, ainda segundo Easley e O’hara (2004), atrair analistas de mercado

para seguir a empresa também pode reduzir o custo de capital da empresa, à medida

em que os analistas fornecem informações com credibilidade sobre a companhia.

Ainda outra maneira de influenciar o custo de capital é escolher onde a empresa lista

seus valores mobiliários para negociação. Isso porque os estudos sobre

microestrutura de mercado conseguem reconhecer quão rapidamente os preços

refletem a atuação dos investidores, em função do acesso à informação. Assim, pode-

se afirmar que o custo de capital de uma empresa é determinado em parte pela política

de disclosure que a organização adota.

Destaca-se também que Armstrong et al. (2011) examinam como a assimetria

de informações entre os investidores afeta o custo de capital. Quando os mercados

são caracterizados por uma concorrência perfeita, a assimetria de informação não

exerce efeito específico sobre o custo de capital, contudo, na prática, como os

mercados são imperfeitos, a assimetria de informação tem um efeito relevante e

adicional sobre custo de capital das empresas. Afirma-se, portanto, que a assimetria

de informação tem uma relação positiva com o custo de capital das empresas

adicionalmente aos fatores de risco padrão. Testam-se essas afirmações e

encontram-se evidências de um efeito incremental de assimetria de informação, além

do risco de mercado, sobre o custo de capital quando o grau de concorrência no

mercado é baixo (concorrência imperfeita) e baixo efeito da assimetria de informação

sobre o custo do capital quando o grau de concorrência no mercado é alto

(concorrência próxima à perfeita).

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Clarke e Shastri (2000) consideram que os trabalhos empíricos em finanças

utilizam diversas modalidades de proxy para medir o grau de assimetria de informação

entre os insiders ou gestores – e – os outsiders ou investidores que estão externos às

corporações. O estudo busca avaliar a adequação das métricas utilizadas. O artigo

aborda, em primeiro lugar, métricas com base em características das corporações,

como vendas, oportunidades de crescimento e acuidade da previsão de analistas de

investimentos em relação ao lucro por ação (Earnings per Share - EPS); em segundo

lugar, ele se detém nas medidas baseadas nos estudos de microestrutura de

mercado, que buscam estimar o componente de seleção adversa nas negociações,

como o BAS e a PIN.

Registra-se ainda que o artigo busca avaliar as correlações entre as medidas

de microestrutura de mercado e as características empresariais, como oportunidades

de crescimento, tamanho de empresa, alavancagem, lucratividade, volume de ativos

imobilizados. Também, aborda a correlação entre as medidas de microestrutura de

mercado com a acuidade das previsões do lucro por ação dos analistas financeiros.

Adicionalmente, estuda a associação com o índice de cobertura dos analistas de

mercado, que acompanham sistematicamente os números das empresas. A

frequência dos dados que são coletados, nas amostras de estudo, mensais ou anuais,

revelam diferenças na detecção do grau de assimetria de informação. (CLARKE E

SHASTRI, 2000).

Por sua vez, Healy, Hutton e Palepu (1999) investigam os benefícios

econômicos para as empresas quando expandem o disclosure voluntário. Para tanto,

criam um índice ou rating de classificação de disclosure para as empresas de sua

amostra. Os aumentos verificados no rating de disclosure das empresas refletem

positivamente na rentabilidade (aumento) e liquidez (aumento) das ações, na estrutura

de propriedade (pulverização) e na atração de maior cobertura de analistas. Essas

conclusões permanecem consistentes ao se usar variáveis de controle como risco,

crescimento e tamanho da empresa. Os autores registram alguma limitação do estudo

em identificar com clareza as relações causais. Os autores encontram evidência tênue

de um declínio no bid-ask spread, das ações da empresa, em associação com o

incremento no rating de disclosure.

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Outrossim, Bharath, Pasquariello e Wu (2009) usam um índice de assimetria

de informação baseada em medidas de seleção adversa, desenvolvidos pela literatura

de microestrutura de mercado e testam se a assimetria de informação é um importante

determinante das decisões de estrutura de capital, como sugere a teoria de pecking

order. O índice baseia-se exclusivamente nas medidas de avaliação do risco de

seleção adversa do mercado e não nas características ex ante das empresas. O índice

construído ASY pelos autores segue metodologia com sete medidas que são

conceitualmente positivamente relacionadas com a extensão da seleção adversa

sobre a empresa em determinado ano fiscal: AD (bid-ask spread observado); RAD

(bid-ask spread como a inclinação da reta de regressão entre o spread calculado pelo

método de Roll (1984) e o bid-ask spread observado); C (intensidade de volume de

negociação), PIN (probabilidade de negociação com informação privilegiada); ILL

(razão de iliquidez – relacionamento entre o retorno absoluto diário da ação e o volume

de dólares diário total de negociações; LR (razão de liquidez – relacionamento entre

o volume diário em dólares transacionado da ação e o retorno absoluto diário da ação,

durante todo o ano), e GAM (relação entre retorno e fluxo de ordens ou pedidos de

compra e venda).

A assimetria de informação é importante - embora não o único - determinante

da estrutura de capital das empresas dos EUA durante as três décadas objeto do

estudo. Estes resultados validam a construção do índice de medida de seleção

adversa. Utilizam-se variáveis de controle para os seguintes determinantes de

estrutura de capital: tamanho; tangibilidade; razão Q; rentabilidade e atributos das

ações, como volatilidade dos retornos, volume de negócios, e a intensidade de insider

trading (BHARATH, PASQUARIELLO E WU, 2009).

Os estudos de Bharath, Pasquariello e Wu (2009) e Mendes (2014) utilizam um

método de, a partir da rentabilidade diária das ações de uma empresa, fazer-se um

cálculo estatístico que indique uma boa aproximação do bid-ask spread. Ao bid-ask

spread calculado pelo método de Roll (1984), para efeito desta dissertação, dá-se o

nome de spread de Roll ou variável dependente BAS.

Dessa forma, Roll (1984) desenvolve esse método objetivo de se estimar o bid-

ask spread ao se calcular a covariância entre dois vetores, sendo um destes as

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rentabilidades diárias dos dias pares e o outro, a rentabilidade diária dos dias ímpares

(todos dias úteis).

)fatores dois dos acovariânci - x (2Spread (7)

O ask price é o preço mínimo pelo qual um vendedor aceitaria vender um

determinado ativo. O bid price é o preço máximo que um comprador aceitaria pagar

na compra desse mesmo ativo. Caso o ask e o bid não sejam o mesmo – o ask mais

alto que o bid – qualquer transação somente seria realizada a um preço que se

encontre dentro desse intervalo. Quanto maior for essa diferença, menor a

possibilidade de que se encontre um preço comum que satisfaça as duas partes e a

transação seja realizada (ROLL, 1984).

Segundo Roll (1984), existem três possibilidades caso a transação seja

concretizada: (a) a transação é fechada em bid; (b) a transação é fechada em ask; e

(c) a transação é fechada em um patamar de preço intermediário entre esses

extremos. Considerando essas possibilidades, Roll (1984) afirma que, em um

mercado eficiente, em que não há assimetria informacional, as transações seriam

aleatoriamente fechadas entre esses dois extremos.

Figura 1 - Spread de Roll

FONTE: Roll (1984) e Mendes (2014)

Conforme figura 1, duas quedas sucessivas ou duas altas sucessivas, nos

preços das ações, não seriam possíveis, a menos que houvesse alguma nova

informação divulgada que influenciasse a formação de um novo patamar de preços.

Atribuindo probabilidades iguais a cada uma das situações descritas na figura 1, Roll

(1984) afirma que o bid-ask spread é calculado pela covariância defasada em um

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período dos retornos observados. Em suma, com base nesses pressupostos, Roll

(1984) desenvolveu um método objetivo de se estimar o bid-ask spread por meio de

retornos observados de mercado. Segundo esse autor, na ausência de assimetria

informacional o bid-ask spread efetivo deveria coincidir com o seu bid-ask spread

estimado.

Na operacionalização do cálculo do spread de Roll, com uso da equação (7), é

necessário proceder-se conforme um algoritmo proveniente do trabalho de George,

Kaul e Nimalendran (1991) e de Bharath, Pasquariello e Wu (2009), uma vez que não

haveria sentido matemático para se extrair a raiz quadrada de um número negativo,

caso a covariância entre os dois vetores fosse um valor positivo. O algoritmo é o

seguinte:

)]vetores dois dos acovariânci x dummy) - 1 ( x (2

)vetores dois dos acovariânci - dummy x x 2 ( [ Spread (8)

Essa variável dummy é 1 se a covariância dos dois vetores for negativa; e zero,

se for positiva. Nota-se, portanto, que se a covariância for negativa, usa-se o lado

esquerdo do algoritmo; se a covariância for positiva, usa-se o lado direito do algoritmo.

Este algoritmo foi também utilizado por Mendes (2014), em sua pesquisa acadêmica.

A tabela 1 apresenta um exemplo hipotético do cálculo do spread de Roll

(1984):

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Tabela 1 - Exemplo de cálculo do spread de Roll

Dia Rj Vetor A (Ímpar) B (Par) A-Média B-Média COV

1 1,0% A 1,00% 2,00% 0,60% -0,60% -0,0036%

2 2,0% B 1,00% 5,00% 0,60% 2,40% 0,0144%

3 1,0% A -2,00% 3,00% -2,40% 0,40% -0,0096%

4 5,0% B -2,00% 2,00% -2,40% -0,60% 0,0144%

5 -2,0% A 4,00% 1,00% 3,60% -1,60% -0,0576%

6 3,0% B

7 -2,0% A

8 2,0% B

9 4,0% A

10 1,0% B

Média 0,40% 2,60%

COV 4 / 0,0420%- 1)-(n/ )B(B x )A(ACOV -0,0105%

Spread ) 0,0105% (- - x (2 )fatores dois dos acovariânci - x (2Spread 2,0494%

Observação: Para os casos em que a covariância entre os dois vetores for positiva, em algum ano, para alguma empresa, utiliza-se o algoritmo relatado na equação (8).

Botosan (1997), em estudo sobre disclosure e custo de capital próprio, analisa

o efeito do nível de disclosure sobre o custo de capital próprio. Ela considera, ainda,

que o debate entre defensores e opositores de maior disclosure tem sido controverso

porque os benefícios do maior disclosure não estão bem estabelecidos e são difíceis

de quantificar. O estudo fornece evidência de uma associação entre o nível de

disclosure e o custo do capital próprio, além de uma indicação sobre a intensidade do

efeito. Para uma amostra de empresas, com relativamente baixo índice de analistas,

fazendo a cobertura dos números da empresa, tem-se a evidência forte de que o maior

disclosure está relacionado a um menor custo de capital próprio, tendo-se como

variáveis de controle o beta (risco) e o tamanho da empresa.

Para as empresas com alto índice de cobertura de analistas, não se consegue

estabelecer esta relação. Tais empresas talvez apresentem este fato devido a já

possuírem bom nível de disclosure com a alta cobertura dos analistas de investimento.

O estudo também fornece algumas evidências sobre os tipos de divulgação que

parecem desempenhar um papel importante na redução do custo de capital próprio.

Ademais, o estudo cria um índice de nível de disclosure empresarial, produzido com

base nos relatórios anuais das empresas. Especificamente, para as corporações com

baixa cobertura de analistas de investimento, a divulgação, em seus relatórios, de

previsões financeiras, bem como das estatísticas-chave não financeiras, é mais

importante. Por conseguinte, para as corporações com alto índice de cobertura de

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analistas, a divulgação dos números históricos (e não as previsões ou informações

não financeiras) traz mais benefício. (BOTOSAN, 1997).

Posteriormente, Botosan e Plumlee (2002) reestudam o efeito do nível de

disclosure sobre o custo de capital próprio. Avalia-se o efeito do tipo de disclosure

(relatório anual, informações trimestrais, e informações provenientes da atividade de

relações com investidores) e o custo do capital próprio, este estimado pelo modelo de

dividendos descontados. Quando se examina o disclosure total (abrange todas as

formas de comunicação empresarial) não se encontra associação com um menor

custo de capital próprio. No entanto, entende-se mais apropriado estudar o efeito dos

tipos diferentes de disclosure e a relação com o custo de capital. A relação entre

disclosure e custo de capital próprio é diferente, dependendo do tipo de divulgação.

2.12 Variáveis de controle: tamanho, free float, beta e rentabilidade

Em trabalhos realizados por Leuz e Verrecchia (2000), Botosan e Plumlee

(2002) e Bharath, Pasquariello e Wu (2009), verifica-se que quanto maior o porte de

uma empresa, maior visibilidade a organização possui em função de obrigações

regulatórias, cobertura de analistas e, de caráter voluntário, as ações de sua área de

relações com investidores. Disso depreende-se que quanto maior o tamanho da

empresa, menor o grau de assimetria de informação (H4).

Por sua vez, no estudo de Leuz e Verrecchia (2000), considera-se o free float

como uma variável de controle em seu estudo, das características empresariais, ao

lado de tamanho, alavancagem, intensidade de capital, ROA (retorno sobre os ativos),

listagem em bolsas internacionais, cobertura de analistas e autorização recebida para

emissão de novas ações. Os autores verificam que quanto maior o percentual de

ações pulverizado entre os acionistas, maior o conhecimento das informações a

respeito de uma empresa. A pulverização de capital induz e estimula a companhia a

desenvolver ações de relações com investidores, uma vez que os acionistas

minoritários almejam estar a par a respeito das decisões empresariais e seus

resultados.

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Outrossim, como citado no item 2.11 - relação entre assimetria de informação,

disclosure e custo de capital - Healy, Hutton e Palepu (1999) investigam os benefícios

econômicos para as empresas quando expandem o disclosure voluntário. Os

aumentos verificados no rating de disclosure das empresas refletem positivamente na

rentabilidade (aumento) e liquidez (aumento) das ações, na estrutura de propriedade

(pulverização) e na atração de maior cobertura de analistas. Logo, tem-se que quanto

maior o free float, menor o grau de assimetria de informação (H5).

Quanto ao beta, ou componente do risco sistêmico, considera-se que o mesmo

é um componente do modelo CAPM – vide item 2.3 (custo de capital) – equação (1).

De sua formulação, infere-se que quanto maior o beta, maior será o retorno exigido

pelos detentores de capital para adquirir um ativo ou uma ação para os manter em

suas carteiras de investimento. Disso, infere-se que o aumento do retorno exigido pelo

investidor contém, entre outros componentes, o da assimetria de informação. Os

investidores, nessa linha de pensamento, por possuírem maior percepção de risco em

relação a um ativo ou a uma empresa, demonstram que possuem informações não

em quantidade ou qualidade suficiente em relação ao desempenho futuro de uma

organização e aos fluxos de caixa a serem gerados. Assim, quanto maior o beta, maior

o custo do capital próprio Ke, maior o grau de assimetria de informação. Botosan

(1997) e Botosan e Plumlee (2002) usam o beta como variáveis em seus trabalhos,

estudando sua associação com disclosure e assimetria de informação. Logo, tem-se

que quanto maior o beta, maior o grau de assimetria de informação (H6).

Por fim, tem-se que a rentabilidade empresarial é um quesito fundamental e,

dependendo de sua magnitude, atrai a atenção do mercado, em que investidores e

analistas de mercado procuram boas alternativas de investimento. Essa atenção dos

investidores e analistas de mercado apresenta a tendência de reduzir a assimetria de

informação. Estudos de Leuz e Verrecchia (2000) e Bharath, Pasquariello e Wu (2009)

contêm essa abordagem. Disso, depreende-se que quanto maior o ROA, menor o

grau de assimetria de informação (H7).

O quadro 2 apresenta o resultado de testes empíricos das variáveis

independentes e de controle abordadas nesta dissertação. A variável dependente dos

trabalhos apresentados é bid-ask spread.

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Quadro 2 – Resultado de estudos empíricos

Variáveis independentes e de controle

Ryan (1996) Leuz e

Verrecchia (2000)

Gassen e Sellhorn (2006)

Drake, Myers e Yao (2010)

Muller III, Riedl e Sellhorn

(2011)

Fu, Kraft e Zhang (2012)

Sigla Nome

Sinal esperado

Sinal Nível significância

Sinal Nível significância

Sinal Nível significância

Sinal Nível significância

Sinal Nível significância

Sinal Nível significância

IFRS Adoção obrigatória das IFRS

- n.a. n.a. - 5% - 1% + 1% n.a. n.a. n.a. n.a.

TAM Tamanho da empresa - n.a. n.a. - 1% - 5% n.a. n.a. n.a. n.a. - 1%

FFLOAT Free float - n.a. n.a. - 5% n.a. n.a. n.a. n.a. - sem

significância n.a. n.a.

BETA

Componente do risco sistemático do CAPM

+ + 10% n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a.

ROA Retorno sobre ativos - n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. + 1% n.a. n.a. n.a. n.a.

n.a. = não aplicável.

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3. METODOLOGIA

3.1 Tipo e método de pesquisa

Segundo Marconi e Lakatos (2010), toda pesquisa deve basear-se em uma

teoria que serve como ponto de partida para a investigação de um problema. A teoria,

portanto, é utilizada para conceituar os dados a serem analisados. Assim sendo, com

base no referencial teórico apresentado, as técnicas estatísticas, descritas a seguir,

viabilizam a comprovação, ou não, das hipóteses alternativas constantes deste

trabalho.

A pesquisa deste trabalho possui as seguintes classificações, com relação aos

critérios abaixo apresentados:

a) objetivo ou nível de interpretação: descritiva, uma vez que desta tem como

objetivo verificar e descrever a relação entre variáveis;

b) procedimentos de coleta: documental, porque os dados quantitativos

secundários levantados são organizados e sofrem tratamento analítico e

publicação;

c) fonte ou natureza dos dados: bibliográfica, considerando que esta faz uso de

material publicado em livros, periódicos, sites, legislações e bases de dados

eletrônicas públicas e privadas, gerando raciocínios e conclusões a respeito

dos fatos analisados.

Os objetivos e as hipóteses apresentadas são analisados por meio de testes de

estatística descritiva, correlação e modelo de regressão multivariado com dados em

painel.

3.2 Estatística descritiva

As principais medidas de tendência central são a média, a mediana e a moda.

Uma medida de tendência central é um valor que representa uma entrada típica ou

central de um conjunto de dados. A média de um conjunto de dados é a soma das

entradas de dados dividida pelo número de entradas.

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Uma distribuição de frequência é simétrica quando a linha vertical pode ser

desenhada no meio do gráfico da distribuição de frequência e as metades resultantes

são imagens espelhadas. Uma distribuição de frequência é assimétrica se a cauda do

gráfico se alonga mais em um dos lados.

O desvio-padrão populacional, segundo Hair et al. (2005 b) e Larson e Farber

(2010) e de um conjunto de dados populacional de N entradas, é a raiz quadrada da

variância populacional. A variância populacional é a média dos quadrados dos desvios

entre a entrada de um dado e a média do conjunto dos dados. Há alguma adaptação

da variância e desvio-padrão quando se trata de uma amostra de dados e não dados

populacionais. A distribuição normal é uma distribuição contínua. É formada por dois

parâmetros: pela média e pelo desvio-padrão.

Nesta dissertação, analisa-se a quantidade de observações, a média, o desvio-

padrão, os valores mínimos e máximos, para as variáveis objeto de estudo.

3.3 Correlação

Hair et al. (2005 a,b) declaram que quando há uma ligação coerente e

sistemática entre variáveis, pode-se identificar uma relação entre elas. A estatística,

neste caso, é válida para verificar se há uma ligação estatística entre estas, porém

não significa que haja relação de causa e efeito sempre.

A correlação e a regressão são técnicas estatísticas que permitem identificar a

natureza da associação entre essas variáveis. Há quatro pontos ou conceitos básicos

que precisam ser conhecidos para se estudar essa relação entre variáveis, ou seja,

presença, natureza, direção e força da associação. A presença da relação existe

quando há significância estatística na associação entre as variáveis. Assim, o

conhecimento de uma variável permite estimar, projetar ou predizer sobre o

comportamento de outras variáveis.

A natureza da associação entre variáveis é atinente ao modo como essas se

relacionam. Pode-se identificar uma relação linear, quando uma função matemática

dessa natureza permite explicar o comportamento das variáveis. Quando não for uma

função linear, diz-se que há um relacionamento não-linear ou curvilíneo, ou seja, uma

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função matemática diferente da linear é que vai explicar o comportamento das

variáveis sob estudo. A direção da associação entre variáveis pode ser positiva ou

negativa: positiva, quando um comportamento ascendente ou descendente de uma é

acompanhado por um movimento também ascendente ou descendente,

respectivamente, das outras variáveis em estudo. Nesse caso de direção positiva, as

variáveis comportam-se ou se movimentam na mesma direção, ascendente ou

descendente. A direção é negativa, quando há um movimento ascendente ou

descendente de uma variável e, como resultado, ocorre um comportamento em

sentido oposto das outras em observação.

A força da associação é aferida estatisticamente e, quanto maior essa força,

maior a probabilidade de haver a relação entre as variáveis. Pode-se afirmar que há

associação entre duas variáveis, quando de forma coerente e sistemática há oscilação

conjunta no comportamento de variáveis. O coeficiente de correlação afere a

intensidade da covariância. Se o coeficiente de correlação for elevado (próximo a 1

ou -1), há indicativo de forte associação entre as variáveis.

Segundo Larson e Farber (2010), o coeficiente de correlação de Pearson (r) é

uma medida de associação linear entre variáveis. Sejam xi e yi os valores das

variáveis X e Y; e x e y as médias dos valores de xi e yi, a fórmula do coeficiente de

correlação de Pearson é:

2

i

2

i

ii

)y(y)x(x

)y(y )x(xr (9)

A multicolinearidade significa a existência de uma relação linear, alta ou baixa,

entre algumas das variáveis explicativas de um modelo de regressão. Tal fato ocorre

quando duas ou mais variáveis independentes possuem fundamentos semelhantes e

são provenientes de uma mesma origem ou construto. Neste caso, apenas uma delas

seria necessária para a validade do modelo em estudo. Assim, a multicolinearidade

tende a distorcer os coeficientes angulares estimados para as variáveis que a

apresentam, prejudicando o poder preditivo do modelo e a compreensão do real efeito

da variável independente sobre o comportamento da variável dependente.

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3.4 Regressão com dados em painel

Para tratamento das variáveis analisadas nesta pesquisa, utiliza-se o modelo

econométrico de dados em painel ou panel data que faz combinações de dados em

corte transversal com dados em séries temporais. Larson e Farber (2010) afirmam

que, após verificar se a correlação linear entre duas variáveis é significante, o próximo

passo é determinar a equação da linha que melhor modela os dados. Essa linha é

chamada de linha de regressão e sua equação pode ser usada para prever os valores

de y para um dado valor de x. Várias linhas poderiam ser estabelecidas, porém há

critérios para se fazer isso. Para cada ponto de um dado, há uma diferença (d) entre

o valor observado y e o valor previsto para y, respectivamente em relação a um valor

x. Essas diferenças são chamadas resíduos e podem ser positivos, negativos ou zero.

O Método dos Mínimos Quadrados prevê que - de todas as linhas que podem ser

desenhadas por meio de um conjunto de dados - a regressão (FRA = função de

regressão amostral) é a linha para a qual a soma de todos os resíduos é mínima. A

equação de uma reta de regressão permite usar a variável X independente

(explanatória) para fazer previsões da variável Y dependente – vide figura 2.

Figura 2 - Regressão linear

FONTE: Gujarati e Porter (2011, p. 96)

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Segundo Gujarati e Porter (2011) e Wooldridge (2013), a análise de dados em

painel é apropriada para o tratamento de problemas econômicos em que variações

em corte transversal e efeitos dinâmicos são relevantes. Nas séries temporais,

observam-se os valores das variáveis em um período de tempo. Nos dados de corte

transversal, os dados referentes às variáveis são relativos a várias unidades ou

entidades amostrais no mesmo período de tempo. Nos dados em painel, a mesma

unidade de corte transversal, por exemplo os dados das empresas, é monitorada ao

longo do tempo.

Gujarati e Porter (2011) e Wooldridge (2013) expõem que há vantagens no uso

dos dados em painel. Os dados em painel são referentes, por exemplo, às empresas

e, com o tempo, tende a haver heterogeneidade nessas entidades. Os dados em

painel permitem levar em consideração esse fato. Além disso, a combinação de séries

temporais e observações de corte transversal permite alcançar dados mais

informativos, maior variabilidade, menos colinearidade entre variáveis, mais graus de

liberdade e eficiência do modelo. Os dados em painel também permitem melhor

exame da dinâmica de um processo de mudança, permitindo detectar e medir melhor

os seus efeitos. Os dados em painel são chamados de balanceados se cada unidade

de corte transversal, por exemplo as empresas, possui o mesmo número de

observações. Se cada unidade tiver número diferente de observações, denomina-se

painel desbalanceado.

A equação econométrica formulada neste estudo é:

BASit = a + b1IFRSit + b2NGOVit + b3ADRit + b4lnTAMit +

b5FFLOATit + b6BETAit + b7ROAit + uit (10)

A viabilização do uso de dados em painel é verificada pela natureza da

organização destes e sua adequação é feita por meio de testes dos seus

pressupostos, destacando-se normalidade e homocedasticidade dos resíduos,

linearidade dos coeficientes, ausência de multicolinearidade entre as variáveis

independentes, ausência de autocorrelação serial nos resíduos e identificação da

melhor adequação do modelo com efeitos fixos ou aleatórios.

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Faz-se as seguintes explicações quanto ao modelo clássico de regressão

linear, método de mínimos quadrados, conforme Gujarati e Porter (2011) e Wooldridge

(2013):

a) aplica-se o teste de Hausman, para comparar os estimadores de efeito fixo e

aleatório. A hipótese nula do teste de Hausman (H0) contempla que há ausência

de correlação entre as variáveis independentes e o termo de erro e, nessa

situação, há dois estimadores consistentes para a matriz de parâmetros: o

estimador de mínimos quadrados ordinários e o estimador de variáveis

instrumentais. Se H0 for rejeitada, somente o estimador de variáveis

instrumentais é consistente; H0: estimativas de efeitos aleatórios são os

mesmos que de efeitos fixos; HA: estimativas de efeitos aleatórios são

diferentes de efeitos fixos.

b) estabelece-se que o modelo de regressão é linear nos parâmetros, com testes

F e teste de Wald, embora possa ser não linear nas variáveis. Para efetuar o

teste do pressuposto de linearidade, sua hipótese nula (H0) é que o coeficiente

(β) é igual a zero. Como resultado, deseja-se rejeitar H0;

c) parte-se de Hair et al. (2005 b), os quais afirmam que a suposição mais

fundamental em análise multivariada é a normalidade dos resíduos. Sua

rejeição torna os testes de regressão inválidos, uma vez que a normalidade é

exigida no emprego das estatísticas F e t;

d) considera-se que o termo de erro, no pressuposto, segue distribuição normal.

O valor médio esperado do termo de erro é zero. Nesta hipótese, não existe

viés de especificação no modelo usado na análise empírica, ou seja, o modelo

está especificado corretamente. Um erro de especificação ocorre quando não

são consideradas variáveis independentes ou explanatórias relevantes,

quando se inclui no modelo variáveis desnecessárias ou quando se escolhe

uma relação incorreta funcional entre as variáveis dependente e

independentes. O teste de Jarque-Bera é um teste assintótico, ou seja, para

grandes amostras, e que se baseia nos resíduos do método de Mínimos

Quadrados Ordinários (MQO). A estatística do teste de Jarque-Bera segue a

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distribuição Qui-Quadrado com dois graus de liberdade. Sua hipótese nula (H0)

é de que os resíduos se distribuem normalmente;

e) apresenta-se outro pressuposto, no uso da regressão múltipla linear, como a

existência de homocedasticidade dos termos de erro. O conjunto de resíduos

referentes a cada observação de X deve ter variância constante ou homogênea

em toda a extensão das variáveis independentes, ou seja, a dispersão da

variável dependente (Y) em relação às observações das variáveis

independentes (Xi) deve manter consistência ou ser constante em todas as

dimensões dessa variável. O teste geral de heterocedasticidade de White não

depende da hipótese de normalidade. A hipótese nula (H0) do teste é que a

variância dos resíduos é constante ou homoscedástica;

f) propõe-se que dados quaisquer valores de variáveis independentes, não há

autocorrelação serial entre os termos de erro. (Teste de Breusch-Godfrey).

Para Gujarati e Porter (2011) e Wooldridge (2013), o modelo de efeitos fixos

permite usar todas as informações disponíveis, uma vez que o intercepto pode variar

livremente entre empresas e/ou tempo. Dessa forma, o efeito de variáveis omitidas

pode ser capturado pelo modelo. No entanto, o modelo de efeitos fixos possui

limitação quanto aos graus de liberdade. Já o modelo de efeitos aleatórios assume a

independência entre o termo de erro e as variáveis independentes, considerando a

heterogeneidade como uma variável, que impacta os resíduos da regressão. O

modelo estático pode apresentar problemas de heteroscedasticidade ou dispersão ou

variância desigual do termo de erro.

A presente dissertação utiliza o painel de efeitos aleatórios.

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3.5 População e amostra

A população de interesse é composta por empresas não financeiras de capital

aberto no Brasil. A amostra é constituída pelas empresas que compõem o Índice

Ibovespa de set-dez/15, cuja evolução está apresentada na tabela 2. O período de

análise é de 10 anos, sendo de 2005 a 2014. As fontes dos dados são Bloomberg,

para a proxy de assimetria de informação – BAS e Capital IQ para os demais dados.

O software utilizado é o Stata, versão 12.

Tabela 2 - Composição da amostra final

Amostra Quantidade de empresas

Inicial 61

(-) Empresas financeiras 11

(-) Empresas com dados incompletos/indisponíveis 2

(=) Final 48 FONTE: BM&FBovespa (2015b) e elaborado pelo autor

3.6 Problema de pesquisa e hipóteses

O problema de pesquisa desse estudo é verificar se o aumento do nível de

transparência reduz o custo de capital próprio das empresas, pelo fato de o seu

componente – assimetria de informação – ser diminuído.

As hipóteses testadas, conforme fundamentação constante da revisão de

literatura desta dissertação, são:

H1 – a adesão ao padrão internacional de contabilidade IFRS reduz a

assimetria de informação;

H2 – a adesão aos segmentos de listagem, da BM&FBovespa, de níveis de

governança corporativa mais robustos (NM, N1 e N2) reduz a assimetria de

informação;

H3 – a emissão de ADR junto à Bolsa de Nova Iorque reduz a assimetria de

informação;

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H4 – quanto maior o tamanho da empresa, menor o grau de assimetria de

informação;

H5 – quanto maior o free float, menor o grau de assimetria de informação;

H6 – quanto maior o beta, maior o grau de assimetria de informação;

H7 – quanto maior o ROA, menor o grau de assimetria de informação.

3.7 Modelo econométrico e operacionalização das variáveis

A equação econométrica desta dissertação, conforme item 3.4 - regressão com

dados em painel - é a apontada na equação (10). A descrição das variáveis encontra-

se no quadro 3:

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Quadro 3 – Descrição das variáveis

Variável dependente

Sigla Sinal esperado

Nome Fórmula

BAS N.A. Bid-ask spread

cov xD)(1 x 2cov x D x 2BAS

D (dummy) = 1 se a covariância dos dois vetores for negativa; e zero, se for positiva. COV = covariância dos 2 vetores, sendo um deles a rentabilidade diária dos dias pares e o outro, a rentabilidade diária dos dias ímpares dos dias úteis de cada ano. Vide equação (8).

Variáveis independentes e de controle

Sigla Sinal esperado

Nome Fórmula

IFRS - Dummy de adoção obrigatória das IFRS

Não adoção (2005 a 2009) = 0 Adoção (2010 a 2014) = 1

NGOV - Dummy de nível diferenciado de governança corporativa

Nível tradicional = 0 Novo Mercado ou Nível 1 ou Nível 2 = 1 Considera-se o ano inicial da adesão

ADR - Dummy de emissão de ADR

Não possui ADR = 0 Possui ADR = 1 American Depositary Receipt (ADR) junto à New York Stock Exchange (NYSE) Considera-se o ano inicial da emissão

LNTAM - Logaritmo neperiano do tamanho da empresa

Ln (ativo total)

FFLOAT - Free float % de ações disponíveis para negociação = quantidade de ações não detidas pelos controladores da empresa / Quantidade de ações total

BETA + Beta Beta = COVRj,Rm / VARRm

COVRj,Rm = Covariância entre o retorno da ação e o retorno do mercado (Ibovespa) dos últimos 60 meses para cada ano VARRm = Variância do retorno do mercado dos últimos 60 meses para cada ano

ROA - Return on assets ou retorno sobre os ativos

ROA = Ebit / Ativo total Ebit = Earnings before interest and taxes ou lucro operacional antes dos juros e impostos.

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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados apresentados a seguir são obtidos a partir da análise da amostra

final, conforme apresentado na tabela 2.

O objetivo dos testes refere-se à verificação ou não das hipóteses alternativas

mencionadas no item 1.3 - objetivos e hipóteses - e 3.6 - problema de pesquisa e

hipóteses - deste trabalho. Relata-se, a seguir, a análise dos resultados, com base no

software Stata, versão 12.

4.1 Estatística descritiva

A tabela 3 descreve as principais características das variáveis. Para a variável

dependente BAS, identifica-se um conjunto de 434 observações, de um total de 480

possíveis, considerado 48 empresas e 10 anos de análise. As observações ausentes

dessa variável devem-se a uma situação pré-operacional da empresa ou a não

negociação de suas ações nos pregões da BM&FBovespa. A média encontrada foi

1,412% e desvio-padrão de 0,919%.

Em outras palavras, a diferença entre o preço de oferta para venda do papel

(bid) e o preço requerido pelo investidor para a compra (ask) situa-se em 1,412%. O

valor mínimo é 0,086%, enquanto o máximo é 7,58%.

Tabela 3 – Estatística descritiva

Variable | Obs Mean Std. Dev. Min Max

-------------+--------------------------------------------------------

bas | 434 .0141204 .0091947 .00086 .07579

lntam | 465 16.23364 1.505343 11.7619 20.4918

ffloat | 397 53.29106 23.05186 .42 99.96

beta | 392 .8535714 .4037934 .08 1.97

roa | 462 .0969416 .0732694 -.079 .403

-------------+--------------------------------------------------------

tam | 465 33030.81 80488.33 128.27 793375

Quanto à variável "tamanho", trabalha-se com o logaritmo neperiano do total

de ativos. A média do tamanho corporativo situa-se em um patamar de R$ 33 bilhões,

com desvio-padrão de 80 bilhões, o que indica que as empresas objeto da amostra

deste estudo são de grande porte – vide BNDES (2015).

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Para a variável FFLOAT, free float das ações da empresa, encontra-se uma

quantidade de observações menor, de 397. Tal fato deve-se sobretudo à

indisponibilidade de dados nas bases consultadas, Capital IQ e Economática.

Encontra-se a média de 53,29%, o que indica o grau de pulverização dessas ações

no mercado de capitais brasileiro.

O beta médio (indicativo do risco sistemático) das empresas avaliadas está em

0,85, com desvio-padrão de 0,4, relativamente alto, tendo um valor mínimo de 0,08 e

valor máximo de 1,97. Observa-se a existência de dispersão do seu valor, havendo

ações conservadoras (<1) e agressivas (>1), em relação à média de mercado (ações

do Ibovespa = 1). A quantidade de observações é de 392. As empresas que não

dispõem do seu retorno nos últimos 60 meses, não tiveram seu Beta calculado, devido

ao mesmo motivo mencionado no cálculo do BAS.

Em relação ao ROA, identificam-se 462 observações. Os dados ausentes

decorrem de situação pré-operacional das empresas. O ROA médio situa-se em

9,69% a.a., desvio-padrão de 7,32% a.a., valor mínimo de rentabilidade negativa de

7,9% a.a. e valor máximo em rentabilidade positiva de 40,3% a.a. As empresas da

amostra, portanto, são lucrativas e rentáveis em sua maioria.

Quanto às demais variáveis independentes (IFRS, NG, ADR), por se tratarem

de variáveis dummies (0 ou 1), não é aplicável o cálculo de sua estatística descritiva.

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4.2 Correlação

Para a análise de correlação, a quantidade de observações é 373. A razão

para os dados não localizados é a mesma relatada para a variável BAS no item 4.1 -

estatística descritiva. A tabela 4 apresenta o valor (primeira linha) e o nível de

significância da correlação (segunda linha), considerando um intervalo de confiança

de 95%.

Tabela 4 – Análise e significância de correlação

| bas ifrs ngov adr lntam ffloat beta roa

-------------+----------------------------------------------------------------------

bas | 1.0000

|

|

ifrs | -0.3629* 1.0000

| 0.0000

|

ngov | 0.0430 0.1394* 1.0000

| 0.4080 0.0070

|

adr | -0.0419 0.0093 -0.1647* 1.0000

| 0.4195 0.8586 0.0014

|

lntam | -0.0860 0.1485* -0.1538* 0.5515* 1.0000

| 0.0972 0.0040 0.0029 0.0000

|

ffloat | -0.0243 0.0907 0.1042* -0.0154 -0.1364* 1.0000

| 0.6405 0.0801 0.0443 0.7664 0.0083

|

beta | 0.2621* -0.1447* -0.0818 0.0723 0.0368 0.0012 1.0000

| 0.0000 0.0051 0.1148 0.1635 0.4780 0.9823

|

roa | -0.0739 -0.0988 -0.1186* -0.2119* -0.1937* 0.0039 -0.1692* 1.0000

| 0.1542 0.0566 0.0220 0.0000 0.0002 0.9405 0.0010

|

As hipóteses do teste de significância da correlação são: H0: A correlação é igual a zero HA: A correlação é diferente de zero

Considerando as hipóteses mencionadas no item 3.7 - modelo econométrico e

operacionalização das variáveis, espera-se uma relação negativa entre BAS e IFRS,

NGOV, ADR, LNTAM, FFLOAT e ROA, bem como uma relação positiva entre BAS e

BETA.

Com relação ao sinal esperado, todas as variáveis se comportam conforme

hipóteses do trabalho, com exceção da NGOV. Entretanto, entre elas, apenas as

variáveis IFRS e BETA possuem correlação significativa com BAS, ao nível de 5%,

confirmando as hipóteses H1 e H6, respectivamente.

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As empresas brasileiras, ao adotarem compulsoriamente o padrão

internacional de contabilidade IFRS, em 2010, usufruem o benefício econômico de ter

reduzido a assimetria de informação, que é componente do custo de capital próprio.

Uma melhor e mais relevante informação contábil contribui para a qualidade da

transparência empresarial.

No caso da H2, com coeficiente r de Pearson de + 0,0430 (força de associação

baixa), quanto à não aderência do relacionamento de BAS, na análise da correlação,

com os níveis de governança corporativa da BM&FBovespa, pode-se pensar que a

governança corporativa abrange uma série de medidas para alinhar interesses dos

gestores da empresa com os interesses dos proprietários ou acionistas. Envolve

práticas de organização da empresa, monitoramento e controle de resultados e

processos, e ampla divulgação de informações aos investidores, acionistas e ao

mercado como um todo. Assim, com princípios de ética e transparência, a governança

corporativa, se efetivamente praticada por uma empresa, pretende gerar benefícios

para todas as partes interessadas na empresa. Pode-se inferir que o mercado e os

investidores não percebem ou não reconhecem tais benefícios no escopo do presente

estudo. Verifica-se, contra a expectativa inicial, que a adesão aos níveis diferenciados

não se reflete na diminuição do bid-ask spread, sendo a relação ligeiramente positiva.

Na H3, que envolve ADR, há também baixa correlação negativa, sendo r = –

0,0419. O sentido da associação é o da expectativa inicial deste estudo, porém a força

dessa relação está em patamar baixo.

Por sua vez, nas hipóteses, que abrangem tamanho, free float e ROA, salienta-

se a correlação negativa de BAS em níveis mais baixos: – 0,0860; – 0,0243; e –

0,0739, respectivamente. O sentido da associação é aderente à expectativa inicial,

uma vez que as empresas maiores, que possuam maior pulverização de seu capital e

as mais rentáveis devem apresentar menor grau de assimetria de informação, pelo

fato de serem mais conhecidas, ocuparem mais os veículos de comunicação e terem

seu desempenho acompanhado por analistas de mercado.

Além disso, na H6, identifica-se, entre BAS e BETA, uma razão direta positiva

de + 0,2621. Tal fato está em conformidade com a expectativa inicial. O beta é uma

medida do risco sistemático de uma empresa. Os investidores, nessa linha de

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pensamento, por possuírem maior percepção de risco em relação a um ativo ou a uma

empresa, demonstram que possuem informações não em quantidade ou qualidade

suficiente em relação ao desempenho futuro de uma organização, aos fluxos de caixa

a serem gerados, mas como consequência das decisões tomadas pelos gestores das

empresas. E tal fato se traduz em um maior bid-ask spread, que reflete o grau de

assimetria de informação de uma ação negociada.

Outrossim, destaca-se a existência de correlação positiva e significativa entre

as variáveis independentes e de controle IFRS e NGOV, FFLOAT e NGOV, TAM e

IFRS, bem como entre TAM e ADR, o que pode indicar uma eventual existência de

colinearidade entre ambas. Por fim, destaca-se que a correlação negativa e

significativa entre BETA e IFRS denota que a adoção do IFRS reduz o componente

de risco sistemático do custo de capital.

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4.3 Regressão com dados em painel

O teste de Hausman aponta para a existência de um modelo com efeitos

aleatórios. Quantos aos demais testes de pressupostos, o teste de Jarque Bera de

normalidade dos resíduos rejeita a hipótese nula. Por sua vez, o teste de

autocorrelação também rejeita a hipótese nula de não existência de autocorrelação

de 1ª ordem.

A tabela 5 aponta os resultados da regressão com dados em painel com

problemas de heterocedasticidade corrigidos por meio da matriz de White.

Tabela 5 - Análise da regressão com dados em painel

Random-effects GLS regression Number of obs = 373

Group variable: id Number of groups = 46

R-sq: within = 0.1545 Obs per group: min = 1

between = 0.5142 avg = 8.1

overall = 0.1947 max = 10

Wald chi2(7) = 52.68

corr(u_i, X) = 0 (assumed) Prob > chi2 = 0.0000

(Std. Err. adjusted for 46 clusters in id)

------------------------------------------------------------------------------

| Robust

bas | Coef. Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]

-------------+----------------------------------------------------------------

ifrs | -.0064924 .0010172 -6.38 0.000 -.0084861 -.0044986

ngov | .0022384 .0009415 2.38 0.017 .0003931 .0040838

adr | -.0009922 .0011373 -0.87 0.383 -.0032214 .0012369

lntam | -.0001348 .0003348 -0.40 0.687 -.000791 .0005214

ffloat | -2.15e-06 .0000153 -0.14 0.888 -.0000321 .0000278

beta | .0047435 .0010621 4.47 0.000 .0026618 .0068253

roa | -.0101005 .0068908 -1.47 0.143 -.0236061 .0034051

_cons | .0160691 .0056893 2.82 0.005 .0049182 .02722

-------------+----------------------------------------------------------------

sigma_u | 0

sigma_e | .00840333

rho | 0 (fraction of variance due to u_i)

------------------------------------------------------------------------------

O teste F e teste de Wald aplicados permitem afirmar que o modelo é

estatisticamente significativo e indica a adequação da especificação da linearidade

dos parâmetros. Sobre as variáveis independentes, tem-se que a variável "IFRS",

além de apresentar relação negativa com BAS, possui significância estatística,

confirmando a H1.

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A variável de controle BETA também possui significância estatística e relação

positiva com o BAS, ratificando a H6. Entretanto, a variável NGOV, apesar de

apresentar significância estatística, possui sinal contrário à teoria, o que impossibilita

a confirmação da H2. Isso pode indicar que o mercado e os investidores não

reconhecem ou não percebem um benefício econômico, pelo fato de uma empresa

pertencer aos segmentos de listagem – N1, N2 e Novo Mercado.

Quanto às demais variáveis independentes - ADR, LNTAM, FFLOAT e ROA,

todas elas possuem sinal de acordo com a relação esperada pela teoria de finanças.

Todavia, seus coeficientes são estatisticamente iguais a zero, o que impossibilita a

confirmação das H3, H4, H5 e H7, respectivamente.

5. CONCLUSÃO

O trabalho estuda os benefícios econômicos da transparência ou disclosure

empresarial. Avalia-se a redução do componente, assimetria de informação, do custo

de capital próprio, em função da adoção das IFRS obrigatoriamente no Brasil, do nível

de compromisso com governança corporativa e da emissão de ADR junto à Bolsa de

Nova Iorque. Utiliza-se a proxy bid-ask spread, segundo o método de Roll (1984), para

estimar a assimetria de informação, como variável dependente. Há também quatro

variáveis de controle que são tamanho, rentabilidade, risco e free float.

O resultado obtido é aderente à expectativa inicial e consonante com os

estudos de Armstrong et al. (2011), Botosan (1997), Botosan e Plumlee (2002), Easley

e O’hara (2004) e Leuz e Verrecchia (2000), no sentido de que um maior disclosure

empresarial implica em benefício econômico na forma de redução da assimetria de

informação que é um componente do custo de capital próprio. Tal fato é verificado por

meio da confirmação da H1 - A adesão ao padrão internacional de contabilidade IFRS

reduz a assimetria de informação.

Observa-se nessa constatação que o ganho em disclosure obtido pelas

empresas, objeto da amostra, deve-se a uma medida governamental e dos órgãos

reguladores, caracterizando-se, portanto, como uma providência adotada pelas

corporações para atender a um dispositivo de caráter obrigatório. O presente estudo

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indica que as corporações devem valorizar todas as prerrogativas que possam

fortalecer a política e as efetivas ações de disclosure, o que inclui as providências de

caráter voluntário.

Na análise da regressão, verifica-se, contra a expectativa inicial, que a adesão

aos níveis diferenciados não se reflete na diminuição do bid-ask spread, sendo a

relação positiva. A expectativa inicial do estudo é a de que houvesse associação

negativa, uma vez que a transparência é um dos princípios da governança corporativa.

Outrossim, como já relatado no item 4 - análise dos resultados, quanto à não

aderência do relacionamento de BAS, na análise da correlação, com os níveis de

governança corporativa da BM&FBovespa, pode-se deduzir que a governança

corporativa contemple medidas para alinhar interesses da corporação, seus

acionistas, dirigentes (agentes) e demais stakeholders. Assim, com princípios de ética

e transparência, a governança corporativa, se efetivamente praticada por uma

empresa, deveria gerar benefícios para todas as partes interessadas na empresa.

Quanto às demais variáveis independentes - ADR, LNTAM, FFLOAT e ROA -

estas possuem sinal de acordo com a teoria de finanças, apesar de sua insignificância

estatística. Exceção feita à variável de controle BETA, que possui sinal e significância

estatística, confirmando a H6 - quanto maior o beta, maior o grau de assimetria de

informação. Ratificam-se, portanto, as análises exaradas no item 4 - análise dos

resultados.

Como sugestões para estudos futuros e aprimoramento desta dissertação,

recomenda-se: a) o uso de outras proxies de assimetria de informação como, por

exemplo, a PIN; b) considerar outras variáveis de disclosure, tais como o grau de

detalhamento e exposição de informações nos relatórios periódicos e existência de

American Depositary Receipts (ADRs); c) incluir índice de nível de enforcement

praticado por órgãos governamentais e reguladores, considerando uma amostra que

inclua outros países e d) obter uma amostra mais ampla, envolvendo a população de

empresas não financeiras listadas no Brasil.

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