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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MÁRCIO BARROS SOUZA O USO DA TEORIA DE OPÇÕES REAIS NA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ERP São Paulo 2014

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MÁRCIO BARROS SOUZA

O USO DA TEORIA DE OPÇÕES REAIS NA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE

INVESTIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ERP

São Paulo 2014

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MÁRCIO BARROS SOUZA

O USO DA TEORIA DE OPÇÕES REAIS NA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE

INVESTIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ERP

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso

COORIENTADOR: Prof. Dr. Herbert Kimura

São Paulo 2014

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S729u Souza, Márcio Barros O uso da teoria de opções reais na avaliação de projetos de

investimentos para implementação de sistemas ERP / Márcio Barros Souza - 2014.

101f.: il., 30 cm

Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Orientação: Prof. Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso Bibliografia: f. 97-101

1. Teoria de opções reais. 2. ERP. 3. Programação

estocástica. 4. Otimização. I. Título. CDD 658.5

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MÁRCIO BARROS SOUZA

O USO DA TEORIA DE OPÇÕES REAIS NA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE

INVESTIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ERP

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Aprovada em 07 de maio de 2014.

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Prof. Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso - Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________

Prof. Dr. Herbert Kimura – Coorientador Universidade de Brasília

_____________________________________________________

Prof. Dr. Ivam Ricardo Peleias Centro Universitário Álvares Penteado

_____________________________________________________

Prof. Dr. Denis Forte Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________

Prof. Dr. Wilson Toshiro Nakamura Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Dedico este trabalho à minha amada esposa,

Claudia, e aos meus filhos, Willyam e Felipe,

pelo inestimável apoio durante esta jornada

acadêmica.

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RESUMO

Neste trabalho, objetivou-se a desenvolver um modelo analítico de programação estocástica

inteira, fundamentada pela Teoria de Opções Reais (TOR), para a análise do valor da

oportunidade de investimento em projeto para implementação de sistema ERP - Enterprise

Resource Planning. O modelo proposto é uma extensão modificada de Wu et. al. (2008), com

a incorporação da possibilidade de ocorrência de um evento catastrófico (ou contingente),

como em Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003). Enquanto modelo de programação estocástica

e de otimização, está inserido no contexto de Pesquisa Operacional, cuja natureza, como o

próprio nome indica, é o uso do método científico analítico para tratar dos problemas

operacionais nas organizações. A flexibilidade gerencial do projeto é tratada como uma opção

real, na qual há um direito, mas não uma obrigação, para realizar uma ação (por exemplo,

adiar, expandir, contrair ou abandonar). A decisão estratégica relacionou-se com a

possibilidade de comprar e implementar o sistema pelo pacote completo, ou então por

módulos. As estimativas de receitas do projeto foram modeladas como um processo

estocástico do tipo Movimento Browniano Geométrico, enquanto os custos foram modelados

em função da particularidade de cada tipo de saída de caixa, resultando na escolha de uma

distribuição de probabilidades. O modelo utiliza simulação por hipercubos latinos para

obtenção dos valores esperados dos parâmetros, os quais alimentam uma árvore de decisão

que baliza o processo de otimização. Dados os parâmetros e as restrições do modelo, a

otimização busca a decisão ótima de investimento. Os resultados obtidos, considerando a

configuração do modelo e os parâmetros adotados, apontam que a compra e implementação

por módulos resulta em uma decisão ótima para o valor da oportunidade de investimento.

Ademais, a análise de sensibilidade dos parâmetros possibilitou a identificação dos

parâmetros mais sensíveis no modelo e que precisam ser analisados com atenção, para evitar

distorções nas projeções.

Palavras-chave: Teoria de Opções Reais. ERP. Programação Estocástica. Otimização.

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ABSTRACT

The aim of this study was to develop an analytical model of full stochastic programming,

grounded on the Real Options Theory (ROT) for the analysis of the value of the investment

opportunity in project to implement Enterprise Resource Planning (ERP) system. The

proposed model is a modified extension of Wu et al. (2008), incorporating the possibility of a

catastrophic event (or contingent event), as discussed in Schwartz and Zozaya-Gorostiza

(2003). While a programming and stochastic optimization model, it is inserted in the context

of Operational Research, whose nature, as the name implies, is the use of analytical scientific

method to address operational problems in organizations. The managerial flexibility of the

model was treated as a real option, in which there is the right, but not the obligation, to

perform an action (for instance, postpone, expand, contract or abandon. The strategic decision

concerned the possibility of purchasing and implementing the system as a whole package or

through modules. Revenue estimates for the project were modeled as a stochastic process of

the Geometric Brownian Motion type, while costs were modeled as a function of the

characteristics of each cash outflow type, resulting in the choice of a probability distribution.

The model uses Latin hypercube simulation to obtain the expected values of the parameters

for generating a decision tree that guides the optimization process. Given the parameters and

constraints of the model, the optimization searches for the optimal investment decision.

Considering the model configuration and parameters adopted, the figures indicate that the

process of purchasing and implementing the modules result in an optimal decision for the

value of the investment opportunity. Furthermore, the sensitivity analysis of the parameters

allowed the identification of the most sensitive parameters in the model that need careful

analysis, to avoid distortions in the projections.

Keywords: Real Options Theory. ERP. Stochastic Programming. Optimization.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Dimensão temporal do projeto............................................................... 31

Quadro 1 Matriz de módulos e fases do projeto.................................................... 52

Figura 2 Versão reduzida da árvore de decisões................................................... 77

Figura 3 Ilustração das estratégias de implementação.......................................... 78

Gráfico 1 Perfil resumido da série temporal de demanda...................................... 80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Parâmetros de receita............................................................................ 79

Tabela 2 Parâmetros de custos............................................................................. 81

Tabela 3 Estimativa de horas para implementação............................................ 81

Tabela 4 Estimativa de horas para implementação............................................ 83

Tabela 5 Consolidação do valor da opção......................................................... 83

Tabela 6 Resumo da variável VPL...................................................................... 84

Tabela 7 Resumo da variável horas de implementação...................................... 85

Tabela 8 Resumo da variável demanda............................................................... 86

Tabela 9 Sensibilidade do parâmetro desconto na aquisição do ERP.............. 87

Tabela 10 Sensibilidade do parâmetro taxa livre de risco................................... 88

Tabela 11- Sensibilidade do parâetro crescimento da demanda.......................... 89

Tabela 12 Análise de sensibilidade do parâmetro evento contingente................ 90

Tabela 13 Sensibilidade do parâmetro evento contingente (+ de 1%)................ 91

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................ 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 16

2.1 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS .......................................................................... 16

2.2 A ABORDAGEM CONCEITUAL DA TEORIA DAS OPÇÕES REAIS .............. 19

2.3 PESQUISAS ABORDANDO A TEORIA DAS OPÇÕES REAIS ......................... 24

2.4 PROJETOS DE INVESTIMENTO EM SISTEMAS ERP ...................................... 29

2.5 PESQUISAS SOBRE APLICAÇÃO DA TOR EM PROJETOS DE ERP .............. 31

2.6 MODELO DE SCHWARTZ E ZOZAYA-GOROSTIZA (2003) ........................... 35

2.7 MODELO DE WU ET. AL. (2008) ......................................................................... 41

3 METODOLOGIA E MODELAGEM ............................................................................. 48

3.1 METODOLOGIA ..................................................................................................... 48

3.2 MODELO PROPOSTO ............................................................................................ 48

3.2.1 DEFINIÇÃO DO MODELO ............................................................................................. 48

3.2.2 A FLEXIBILIDADE GERENCIAL DO PROJETO ................................................................ 50

3.3 DEFINIÇÃO MACRO DO MODELO .................................................................... 53

3.3.1 ESTIMATIVA DAS ENTRADAS DE CAIXA GERADAS PELOS BENEFÍCIOS DO PROJETO ..... 54

3.3.1.1 Entradas de caixa em função dos benefícios tangíveis ............................................. 56

3.3.1.2 Entradas de caixa em função dos benefícios intangíveis ......................................... 58

3.3.2 MENSURAÇÃO DAS SAÍDAS DE CAIXA PELOS VALORES INVESTIDOS NO PROJETO ....... 59

3.3.2.1 Saídas de caixa em função dos custos com aquisição de hardware ......................... 60

3.3.2.2 Saídas de caixa em função dos custos com obtenção de conhecimento ................... 61

3.3.2.3 Saídas de caixa em função dos custos com aquisição do software (ERP) ............... 61

3.3.2.4 Saídas de caixa em função dos custos com consultoria para implementação ......... 63

3.3.2.5 Saídas de caixa em função de evento catastrófico ou contingentE .......................... 65

3.3.2.6 Saídas de caixa em função dos custos com taxa mensal de manutenção do ERP .... 69

3.3.3 A PROGRAMAÇÃO ESTOCÁSTICA INTEIRA .................................................................. 70

3.3.3.1 Variáveis e parâmetros do modelo ........................................................................... 72

3.3.3.2 Estruturação do modelo ........................................................................................... 74

3.3.3.3 Solução computacional ............................................................................................. 76

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4 APLICAÇÃO PRÁTICA DO MODELO ....................................................................... 78

4.1 DESCRIÇÃO GERAL DA APLICAÇÃO ............................................................... 78

4.2 VALOR DA OPORTUNIDADE DE INVESTIMENTO ........................................ 79

4.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS NUMÉRICOS ..................................................... 84

4.4 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ............................................................................ 87

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................ 92

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 95

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 97

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Neste estudo, objetivou-se a desenvolver um modelo analítico de programação

estocástica inteira, fundamentado pela Teoria de Opções Reais (TOR), para a análise do valor

da oportunidade de investimento em projetos para a implementação de sistemas ERP -

Enterprise Resource Planning.

A TOR é um novo paradigma para a análise econômica de investimentos.

Amplamente discutida em finanças corporativas, constitui uma ferramenta atual e moderna de

avaliação de projetos e de gestão de negócios. Ademais, aborda a extensão dos modelos de

precificação de opções financeiras para a avaliação de ativos reais, não negociados no

mercado financeiro. Segundo Ross, Westerfield e Jaffe (2010), trata-se de uma maneira de

pensar que auxilia o gestor a formular suas estratégicas em um ambiente dinâmico,

considerando as oportunidades futuras criadas pelas opções que surgem nos projetos.

Sua origem fundamenta-se na crítica aos modelos ortodoxos de avaliação econômica

de projetos, em que, basicamente, estimam-se receitas e despesas futuras, de modo a projetar

os fluxos de caixa das empresas, sem levar em conta fatores fundamentais, como as

flexibilidades embutidas nos projetos. Portanto, sustenta-se na premissa de que seu emprego

na avaliação de um projeto conduz a valores superiores àqueles obtidos pelas técnicas

tradicionais, uma vez que a flexibilidade geral contribui para a redução de perdas e otimização

dos ganhos.

Nesta pesquisa, o objeto de estudo foi a avaliação de investimentos em projetos de

implementação de sistemas ERP, considerando-se que a maximização do valor do projeto

depende tanto dos dispêndios de capital (preço de exercício) quanto dos benefícios que serão

gerados pela tecnologia (valor do ativo subjacente). Dadas as incertezas do projeto durante

sua implementação, a existência de flexibilidade gerencial associada às estratégias de

aquisição e implementação do sistema pode agregar valor, sendo mais bem avaliada pela

TOR.

A principal motivação para o estudo foi o crescimento acentuado dos investimentos

em projetos de tecnologias da informação (TI). Por isso, esta pesquisa vai ao encontro da

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necessidade de ampliar as metodologias que potencializem o resultado das decisões e

garantam uma maior desenvoltura na análise de viabilidade econômica dos referidos projetos.

Esse crescimento decorre do dinamismo da evolução da TI, o qual tem impulsionado

a sociedade e impactado significativamente no cotidiano das pessoas e das organizações. Cada

vez mais, surgem demandas pela utilização de novas plataformas tecnológicas no mundo dos

negócios, tais como a disponibilização de computadores (tablets, desktops, etc.) com acesso à

internet, aplicativos de e-business, aplicativos administrativos e de gestão (ERP, BI, SCM,

HRM, etc.), aplicativos de relacionamento com clientes, dentre outros.

Uma evidência dessa proliferação tecnológica é a elevação do fluxo de investimentos

das empresas para implementação em TI. Em recente matéria do Jornal Valor Econômico, foi

apresentada uma pesquisa realizada pelo Instituto Sem Fronteiras, indicando que as empresas

brasileiras estruturaram um orçamento de R$ 64,6 bilhões para investimentos em TI no ano de

2012, estabelecendo um novo patamar histórico. Isso representa aproximadamente 1,5% do

PIB, mesmo considerando que os investimentos em 2011 já haviam somado R$ 59,3 bilhões

(DRSKA et. al., 2012).

Dentre os investimentos elencados, estão projetos de mobilidade, automação de

serviços, computação em nuvem, sistemas de gestão empresarial (ERP), análise de negócios

(BI), gestão de relacionamento com o cliente (CRM), integração de plataformas tecnológicas,

entre outros (DRSKA et al., 2012).

No caso específico das empresas brasileiras, o Estado tem sido um grande propulsor

do uso da TI, na medida em que tem obrigado as empresas a utilizar plataformas digitais para

o atendimento das obrigações acessórias tributárias, como, por exemplo, a emissão de notas

fiscais eletrônicas (NF-e) e a realização de escriturações fiscais digitais para entrega ao fisco

(SPED, MANAD, etc.).

Dessa forma, mesmo que algumas empresas não considerem que a implantação de TI

seja uma forma de gerar valor e vantagem competitiva, acabam sendo obrigadas a investir

nessa tecnologia, ao menos para cumprir as exigências legais e tributárias.

O reflexo direto disso é o exponencial crescimento das vendas dos sistemas

integrados de gestão empresarial, conhecidos como sistemas ERP, os quais, até a década de

2000 (2001-2010), eram um privilégio das grandes empresas; porém, atualmente, têm

chegado com força total às pequenas e médias empresas.

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Uma característica especial desses sistemas é a capacidade de agregação escalonada

de módulos que vão sendo integrados sistemicamente, podendo gerar uma plataforma mais

robusta e sofisticada, promovendo uma propensa inteligência nos negócios (Business

Intelligence). Com isso, o investimento pode ser gradual, pela divisão do projeto em fases,

permitindo que a empresa gerencie sua exposição ao risco de desembolsos cada vez maiores,

porém, dependentes do sucesso do investimento na fase anterior (TITMAN; MARTIN, 2010).

Na prática, essa modularização com possibilidade de implementação escalonada em

fases gera uma flexibilidade estratégica para o projeto, na medida em que possibilita a

implantação inicial com apenas alguns módulos fundamentais (contábil, financeiro e de

produção, por exemplo). Em seguida, gera uma expansão gradual da tecnologia, com a

implantação de módulos mais sofisticados, como o sistema de orçamento, de painéis de

indicadores de desempenho (dashboards e BSC), dentre outros.

Por sua vez, a flexibilidade gerencial é um fator relevante para esse tipo de

investimento, pois tais projetos carregam uma carga elevada de riscos e incertezas, resultando,

por vezes, em fracassos e prejuízos econômicos, ou por exceder aos custos orçados ou por não

gerar os benefícios esperados.

Desse modo, a modelagem dos seus fatores de incerteza torna-se um trabalho crucial,

normalmente negligenciado, devido à sua complexidade. Por essa razão, frequentemente, os

gestores acabam por optar pela mera estimação dos fluxos de caixa pelos métodos

convencionais, estáticos (GRABSKI; LEECH; SCHMIDT, 2011).

Nesse sentido, uma das contribuições normalmente exaltadas nas pesquisas

concernentes à TOR é que, nas análises de projetos com opções reais, as incertezas

relacionadas aos fluxos de caixa esperados são modeladas como processos estocásticos, o que

permite estimar a volatilidade e outros parâmetros nas diversas fases de implementação dos

projetos. Isso possibilita uma maior acurácia no cálculo do valor presente líquido (VPL)

estimado do projeto, a ser tratado como o ativo subjacente e, consequentemente, da decisão

ótima a ser tomada pelo gestor (BENAROCH; KAUFFMAN, 1999; SENGUPTA; KREIER,

2011; WANG; LEE, 2010; YAO; JAAFARI, 2003).

A grande questão que subjaz na aplicação da TOR para a avaliação de projetos é a

escolha de quais técnicas e parâmetros devem ser acoplados à modelagem matemática para

atribuir maior acurácia e confiabilidade aos seus resultados, considerando o equilíbrio entre

aplicabilidade prática, complexidade da modelagem e amplitude dos parâmetros.

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Neste trabalho, foi desenvolvido um modelo analítico de programação estocástica

inteira, fundamentado pela TOR, para análise do valor da oportunidade de investimento em

projeto para implementação de sistema ERP. Por meio desse modelo, foi analisado o valor da

oportunidade de investimento de um projeto com a opção de expandir, implementando o

módulo, ou de abandonar as próximas fases, cancelando novos investimentos.

A decisão estratégica relacionou-se com a possibilidade de comprar e implementar o

sistema pelo pacote completo, ou então por módulos. As estimativas de receitas do projeto

foram modeladas como um processo estocástico do tipo MBG, enquanto os custos foram

modelados em função da particularidade de cada tipo de saída de caixa, resultando na escolha

de uma distribuição de probabilidades.

Os resultados obtidos, considerando a configuração do modelo e os parâmetros

adotados, apontaram que a compra e a implementação por módulos resulta em uma decisão

ótima para o valor da oportunidade de investimento. Ademais, a análise de sensibilidade

possibilitou a identificação dos parâmetros mais sensíveis no modelo, os quais precisam ser

analisados com atenção, para evitar distorções nas projeções.

A relevância deste estudo se dá pela necessidade de estruturação de modelos

analíticos para a avaliação de projetos em TI, os quais têm se multiplicado exponencialmente

nas empresas.

Este trabalho foi estruturado como se segue:

a) Introdução: apresentação do contexto do trabalho, objetivos, justificativa e estrutura

do trabalho

b) Referencial teórico: apresentação de todo o referencial que norteou esta pesquisa;

c) Metodologia: apresentação da natureza da pesquisa, da abordagem dos dados e da

modelagem matematica;

d) Aplicação prática do modelo: apresentação de um exemplo de projeto de

implementação de um sistema ERP, da análise dos resultados e de sensibilidade de

alguns parâmetros e das contribuições do modelo ao processo de tomada de decisão;

e) Discussão dos resultados;

f) E, por fim, considerações finais e referências.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

A análise de investimentos é o processo pelo qual os tomadores de decisões se

utilizam de métodos e técnicas para selecionar direções estratégicas, visando a alocar

eficientemente os recursos da organização em prol dos objetivos da firma, ou seja, a

maximização da riqueza dos proprietários.

Para isso, os investidores utilizam e buscam cada vez mais técnicas e métodos

sofisticados, no intuito de calibrar sua capacidade analítica e preditiva, a ponto de lhe indicar

a tomada de decisão mais valorosa. Tais métodos e técnicas podem ser tanto qualitativos

quanto quantitativos, muito embora haja uma forte tendência para o uso de modelos

quantitativos (econometria, estatística, matemática), muitas vezes suportados por aplicativos

informatizados, que aumentam a capacidade de processamento e resolução de equações

complexas.

Tradicionalmente, essas decisões tendem a ser balizadas pelos métodos

convencionais de payback, taxa interna de retorno (TIR), índice de lucratividade (IL), fluxo

de caixa descontado (FCD) e valor presente líquido (VPL). Com isso, considera-se que o

valor de um ativo é determinado pelos futuros fluxos de caixa trazidos a valor presente, por

uma taxa de desconto que equaliza a questão do valor do dinheiro no tempo.

O VPL considera todos os fluxos de caixa do projeto ao longo do tempo, ou seja, ao

longo do ciclo de vida do projeto. No entanto, supõe a homogeneidade nos riscos, tanto para

as estimativas de receitas quanto para os dispêndios, ao estimar uma única taxa de desconto,

pela qual, implicitamente, determina que o valor temporal do dinheiro e o prêmio de risco do

investimento serão lineares e constantes.

Percebe-se que os métodos convencionais, quando projetam valores estáticos no

fluxo de caixa, apenas descontando-os às taxas ajustadas ao risco, desconsideram as

possibilidades de ajuste de percurso e as flexibilidades inerentes ao projeto. São, portanto,

determinísticos, pois negligenciam o comportamento estocástico de determinadas variáveis

dos fluxos de caixa do investimento, incorporando a premissa de que não haverá possíveis

desvios sobre os valores estimados. É de senso comum que, em um mercado dinâmico e

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volátil, caracterizado por mudança constante, evolução tecnológica e interações competitivas,

a consecução dos fluxos de caixa previstos, inicialmente, assuma um grau de incerteza ainda

maior.

Na medida em que os futuros fluxos de caixa são incertos, aplica-se uma penalidade,

adicionando um prêmio de risco na taxa de desconto. Assim, utiliza-se uma taxa de desconto

ajustada ao risco, contemplando a premissa da aversão ao risco. Essa tarefa torna-se mais

complexa quando os fluxos de caixa são uma função não linear de uma variável de estado

arriscada, pois a derivada do prêmio de risco fica muito mais complexa (CORTAZAR, 2004).

Outra complexidade normalmente negligenciada na análise tradicional é a questão das

alternativas estratégicas futuras nela embutidas, as quais poderiam ser exploradas pelo gestor

ao longo do ciclo de vida do investimento.

Conforme Trigeorgis (1993a), em um mercado caracterizado pela mudança, incerteza

e interações competitivas, a realização dos fluxos de caixa inicialmente previstos tende a

divergir das expectativas gerenciais iniciais. Entretanto, os gestores têm a possibilidade de

assimilar as novas informações sobre as condições do mercado e as incertezas sobre os fluxos

de caixa futuros, usufruindo da valiosa flexibilidade de alteração de sua estratégia

operacional, visando a capitalizar as oportunidades favoráveis do futuro ou, então, mitigar

suas perdas. Ou seja, o gestor pode ser capaz de adiar, expandir, restringir, abandonar ou até

mesmo alterar o projeto nos diferentes estágios de seu ciclo de vida.

Assim, constata-se que o mundo real no qual as decisões de negócios devem ser

tomadas é, inevitavelmente, caracterizado por risco e incerteza (YAO; JAAFARI, 2003). Do

ponto de vista dos métodos quantitativos para análise de investimentos, as incertezas

mensuradas como risco tendem a carregar um padrão de volatilidade que precisa ser

considerado. Isso porque, em condições de incerteza, uma variável atrelada a uma situação

futura é caracterizada não por um valor único, mas por uma distribuição de probabilidades dos

seus possíveis resultados. A quantidade da dispersão da variabilidade de possíveis resultados é

uma medida de quão arriscada é uma variável incerta.

A flexibilidade gerencial se torna mais evidente e latente em muitos projetos de

investimento de longo prazo, em que as opções neles contidas são, por natureza, assimétricas

e podem agregar valor, na medida em que um gerenciamento eficaz evita ou reduz possíveis

perdas e maximiza ganhos, ao intervir no momento correto. Dessa forma, as chances de se

obter resultados positivos tornam-se maiores do que resultados negativos.

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Nesse sentido, ressaltaram Yao e Jaafari (2003) que mesmo o método convencional

do VPL será incapaz de capturar adequadamente o valor da flexibilidade gerencial, devido à

natureza discricionária assimétrica das opções operacionais futuras e à sua dependência de

eventos futuros, que são incertos no momento da decisão inicial.

Segundo Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003), os métodos tradicionais de análise de

investimentos, mesmo que fundamentados em medidas físicas e financeiras, não captam

totalmente os retornos esperados dos investimentos em TI, nem os fatores de risco inerentes a

eles. Para os autores, em contraste com o método tradicional do VPL e da TIR, a abordagem

das opções reais legitima a habilidade de os gestores tomarem decisões de postergar,

suspender ou abandonar um projeto, mesmo que já iniciado (COPELAND; ANTIKAROV,

2001; TRIGEORGIS, 1993b).

O assunto já era tratado em âmbito das opções financeiras desde a década de 1970,

quando emergiram os trabalhos de Black e Scholes (1973) e Merton (1973), com modelos

econométricos que suportavam a tomada de decisão nos investimentos em opções financeiras

e agregavam uma abordagem mais científica à teoria de finanças. Como relembraram Ross,

Westerfield e Jaffe (2010), nas primeiras tentativas de avaliação dos instrumentos financeiros

denominados “opções”, o método do VPL foi largamente utilizado.

Na época, a forte demanda do mercado de opções por métodos de precificação das

opções de compra e opções de venda, frente às incertezas que afetariam os prêmios e preços

de exercício dos ativos subjacentes, impulsionou o uso massivo do VPL, até então o principal

instrumento de análise de viabilidade.

Contudo, isso não foi bem sucedido, justamente pela dificuldade de se conseguir

determinar a taxa de desconto apropriada que considerasse os riscos inerentes à ação-objeto.

Embora houvesse o senso comum de que as opções incorriam em riscos distintos, esbarrava-

se na dificuldade de estabelecer quão mais arriscada aquela opção era. Essa inquietação foi

um dos propulsores de modelos mais robustos, com o uso de árvores de decisões, de

simulação de Monte Carlo e da TOR.

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2.2 A ABORDAGEM CONCEITUAL DA TEORIA DAS OPÇÕES REAIS

Em finanças, o termo “opções” advém de um instrumento financeiro negociável, em

forma de contrato, que dá a seu titular o direito, mas não a obrigação, de comprar um ativo

subjacente por um preço previamente fixado, em certa data ou antes disso. O comprador usa a

opção somente se lhe for conveniente, caso contrário, descarta (ROSS; WESTERFIELD;

JAFFE, 2010). As opções financeiras têm sido amplamente discutidas e estudadas ao longo da

história, que remonta aos primórdios do século XX.

Nesse cenário, destaca-se a fórmula de precificação de opções de Black e Scholes

(1973), no trabalho seminal intitulado “The Pricing of Options and Corporate Liabilities", em

que desenvolveram um modelo para determinar os fundamentos para precificação de opções e

derivativos, expandindo o escopo das opções, ao considerarem o impacto da escolha das

fontes de financiamento. Ou seja, abordaram o problema quando evidenciaram que uma

estratégia para financiar a compra de ações reproduz o risco de uma opção de compra.

Segundo os autores, com essa combinação (ação e empréstimo) sendo reproduzida momento a

momento, elimina-se o risco.

Na sequência, Merton (1973) apresentou o trabalho intitulado “Theory of Rational

Option Pricing", oferecendo uma contribuição para o aperfeiçoamento do modelo de Black e

Scholes, abordando algumas restrições sobre as fórmulas de precificação de opções,

assumindo a hipótese básica de que os investidores preferem mais a menos. O autor

desenvolveu diversas extensões ao modelo, inclusive para a questão do impacto dos

pagamentos de dividendos pela ação subjacente.

Em seu trabalho, Merton relembrou que a longa história da teoria da precificação de

opções começou em 1900, quando o matemático francês Louis Bachelier deduziu uma

fórmula de precificação de opções baseada na hipótese de que os preços da ação seguem um

movimento Browniano com tendência zero, ou seja, com valor esperado, em qualquer período

de tempo futuro, igual ao valor corrente.

O termo "opções reais" foi inicialmente proposto por Myers (1977), que apontou as

semelhanças entre as opções financeiras e os ativos reais do mundo corporativo. Ou seja, são

análogas às opções de compra sobre esses ativos reais. O termo foi então inserido para

destacar a flexibilidade gerencial presente nas decisões de investimento nos ativos reais de

uma empresa e seu impacto no seu próprio valor.

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Segundo o autor, a maioria das empresas é valorada em função de sua continuidade,

e esse valor reflete uma expectativa de que os investimentos futuros continuarão sendo feitos

pela empresa. Materializou-se conceitualmente que a opção real é um direito, mas não uma

obrigação, para realizar uma ação (por exemplo, adiar, expandir, contrair ou abandonar) em

um custo predeterminado, chamado preço de exercício, por um período predeterminado de

tempo - a vida da opção (COPELAND; ANTIKAROV, 2001).

Contudo, esses investimentos são discricionários, ou seja, não são condicionais.

Dessa forma, o exercício em relação ao montante a ser investido depende do VPL das

oportunidades que surgirem no futuro. Se houver um estado da natureza desfavorável, nada

será investido pela empresa. Assim, uma parte do valor de uma empresa é calculada em

função do valor presente das opções de se fazer investimentos adicionais sobre condições

favoráveis.

Como o trabalho de Myers focou particularmente as oportunidades de crescimento de

uma empresa e não a avaliação peculiar de um investimento corporativo, acabou ficando

relegado nas pesquisas sobre a teoria das opões reais que o sucederam. Entretanto, trata-se de

um estudo seminal sobre o tema.

A flexibilidade gerencial preconizada na TOR representa o dinamismo natural de um

projeto, no qual se sua execução estiver fluindo e as condições forem favoráveis, ele poderá

ser expandido (a um custo) ou estendido (a um custo diferente). Se estiver indo mal ou as

condições não forem favoráveis, ele poderá ser reescalonado ou até mesmo vendido por um

preço mínimo, equivalente ao valor residual. Ademais, em vez de executá-lo naquele

momento, poderia ser adiado, até que condições mais favoráveis surgissem. Isso representa

alguns dos tipos de flexibilidade gerencial para responder às incertezas do cotidiano

empresarial.

Na abordagem de Brealey, Myers e Allen (2008), a TOR representa o valor atribuído

ao quesito de flexibilidade em um projeto, ou seja, à possibilidade de se modificar um projeto

frente às incertezas futuras. Essa assunção parte do princípio de que as decisões são dinâmicas

e, na maioria dos casos, os gestores têm poder de tomar decisões subsequentes proativas,

visando a realinhar o projeto.

Assim, não o manterá de forma passiva, afinal, esses gestores são responsáveis pelo

acompanhamento dos projetos durante seu ciclo de vida e, sobretudo, pelas decisões que

levarão a uma maior geração de valor para a organização como um todo. Em outras palavras,

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os gestores podem tomar decisões no sentido de aproveitar sua boa sorte ou mitigar suas

perdas. Por isso, uma oportunidade de tomar decisões flexíveis gera valor, na medida em que

os resultados são incertos, os seja, quanto maior a incerteza, mais valiosa se torna a

flexibilidade.

Como apontaram Micalizzi e Trigeorgis (1999), um projeto de investimento pode

envolver diferentes tipos de opções reais corporativas, tais como:

a) a opção de postergar: refere-se à decisão de quando começar o projeto ou uma fase

desse. Em algumas situações, principalmente em condições de incerteza, pode ser

melhor “esperar e ver”, pois a evolução do tempo pode revelar informações valiosas.

Pode, então, ser considerada uma opção temporal. Copeland e Antikarov (2001) a

denominaram “opção de diferimento”. É considerada uma opção de compra

americana;

b) a opção de expandir: refere-se à possibilidade de aumentar a escala e/ou o escopo de

um projeto, por meio de um investimento incremental de capital, para aproveitar uma

oportunidade não prevista inicialmente. Isso pode ocorrer nas situações em que, no

decurso do projeto, observam-se condições endógenas ou exógenas mais favoráveis do

que as previstas inicialmente, nas quais a expansão pode gerar ao projeto um valor

maior do que previsto inicialmente. Costuma ter uma relação mais próxima com a

escala de produção da empresa. É considerada uma opção de compra americana;

c) a opção de contrair: em condições opostas à de expansão, determinadas situações

inesperadas e desfavoráveis em relação ao desenvolvimento do mercado podem levar

à decisão de reduzir o tamanho de um recurso de produção, como forma de reduzir as

perdas. É considerada uma opção de venda americana;

d) a opção de alterar: está relacionada à viabilidade de escolher entre modos

alternativos de operação ou uso do recurso. Muitas vezes, a adoção de certas

tecnologias mais flexíveis pode agregar valor ao projeto. Em certos casos, pode estar

relacionada à possibilidade de uso de uma fonte de energia alternativa, ou até mesmo

dos insumos de um projeto. Copeland e Antikarov (2001) a denominaram “opção de

conversão”. É considerada um portfólio de opções de compra e venda americana;

e) a opção de suspender temporariamente: esta alternativa fica entre a opção de

abandonar e a de postergar o projeto ou operação, e existe quando é tecnicamente

factível e economicamente desejável parar temporariamente a produção de certo

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produto ou processo, para aguardar um desenvolvimento positivo do mercado. É

considerada uma opção de compra americana;

f) a opção de abandonar: em algumas situações, embora possa parecer um

contrassenso, é melhor desistir do projeto do que incorrer em maiores perdas. Durante

a fase preliminar de avaliação, é necessário reconhecer e avaliar o valor representado

pela oportunidade de recuperar parte do investimento, abandonando-o pelo seu valor

residual de descarte. É considerada uma opção de venda americana.

Copeland e Antikarov (2001) acrescentaram três outros tipos de opções reais:

a) a opção de aprendizado: é definida como a opção de investir em aquisição de

informação, como forma de reduzir a incerteza técnica do projeto. Isso reduz o risco

financeiro de um projeto exploratório, fazendo com que a tomada de decisão em um

investimento irreversível seja feita de maneira adequada. Isso pode se dar, por

exemplo, pela contratação de uma pesquisa de mercado ou em treinamento. É o caso

dos projetos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. É considerada um

portfólio de opções de compra e venda americana;

b) as opções compostas: são opções sobre opções, normalmente existentes em

investimentos planejados em fases ou fases (fase de planejamento, fase de engenharia,

fase de construção, etc.). Ao final de cada fase, tem-se a opção de parar ou adiar o

projeto. Assim, cada fase é uma opção contingente do exercício anterior de outras

opções. É considerada um portfólio de opções de compra e venda americana;

c) as opções arco-íris: são opções compostas com múltiplas fontes explícitas de

incerteza, tais como incerteza relativa ao preço de uma unidade de produto, da

quantidade que pode ser vendida, das taxas de juros, entre outras. É considerada um

portfólio de opções de compra e venda americana.

A constante avaliação dos cenários pelo gestor do projeto, para adoção de alguma

dessas opções no momento certo (timing), realça a importância de desenvolver uma atitude

dinâmica de gestão. Ao considerar as incertezas e o dinamismo com que os fatores externos e

internos afetam o projeto, exercer certas opções (flexibilidade gerencial) é uma fonte de

criação de valor para a empresa.

Quando se compara as opções reais com as opções financeiras, conforme Copeland e

Antikarov (2001), o valor das opções depende de cinco variáveis básicas que representam a

essência da flexibilidade gerencial. São elas:

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a) o valor do ativo subjacente em condições de risco: no caso das opções reais, é o

projeto, o investimento ou a aquisição. Uma importante diferença em relação às

opções financeiras (derivativos) é que o detentor da opção não pode influenciar no

valor do ativo subjacente, ou seja, não pode influenciar diretamente no valor da ação,

de forma a alterar o preço de exercício. Ao contrário, o gestor que operacionaliza um

ativo real pode tomar decisões que elevem o seu valor e, dessa forma, aumentar o

valor de todas as opções reais que dependem das decisões tomadas. O aumento no

VPL de um projeto fará com que o retorno do investimento nos ativos da empresa

também se eleve;

b) o preço de exercício: é o montante que precisa ser investido para exercer a opção (de

compra ou de venda). Em razão das condições de livre mercado, quando o preço de

exercício de uma opção aumenta, o valor da opção de compra cai e o da opção de

venda aumenta. Em um ativo real, um maior custo de investimento (sem exercer a

flexibilidade gerencial) reduz o VPL e, consequentemente, o retorno do investimento

nos ativos da empresa;

c) o tempo para expiração da opção (vencimento): quando o tempo para expiração da

opção aumenta, o mesmo ocorre com o valor da opção. Isso porque, com um tempo

maior, é possível aprender mais sobre as incertezas e melhor gerenciá-las. Isso faz

com que o retorno do investimento nos ativos da empresa se eleve;

d) o desvio padrão do valor do ativo subjacente em condições de risco: o valor de

uma opção aumenta em virtude do grau de risco do ativo subjacente, porque os

resultados de uma opção dependem de o valor do ativo subjacente exceder o seu preço

de exercício, e a probabilidade desse aumento está relacionada à volatilidade do ativo

subjacente;

e) a taxa livre de risco dos juros sobre o ciclo de vida da opção: o valor de uma opção

aumenta na medida em que a taxa livre de risco sobe. Isso porque o aumento na taxa

também eleva o valor do dinheiro no tempo, como vantagem ao adiar os custos do

investimento.

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2.3 PESQUISAS ABORDANDO A TEORIA DAS OPÇÕES REAIS

Neste tópico, foram cumpridos vários propósitos, dentre os quais compartilhar os

resultados de outros estudos intimamente ligados a este trabalho, estabelecer um diálogo

contínuo e maior na literatura e um padrão de referência para o projeto (CRESWELL, 2010).

Espera-se, portanto, que os relatos abordados a seguir possam agregar valor à interpretação do

estado da arte sobre o tema.

Na época do surgimento da TOR, muitos trabalhos foram publicados, tomando como

base os modelos matemáticos desenvolvidos para opções financeiras, tais como equações

diferenciais de Black e Scholes (1973), árvore binomial de Cox, Ross e Rubinstein (1979) e

simulação de Monte de Carlo de Boyle (1977). O brasileiro Tourinho (1979) foi o primeiro a

aplicar as ideias da teoria das opções para valorar reservas de recursos naturais, considerando

a incerteza em relação ao preço futuro do recurso.

Nesse sentido, Trigeorgis (1993b) esclareceu que as abordagens numéricas para a

avaliação de opções reais se dividem em duas categorias:

a) as que buscam aproximar o processo estocástico diretamente, utilizando-se, por

exemplo, de simulação de Monte Carlo ou do modelo binomial de árvore de decisão;

b) as que buscam aproximar as equações diferenciais parciais resultantes, utilizando-se

de esquemas de diferenças finitas implícitas e explícitas ou de aproximações

analíticas, valendo-se de programação dinâmica ou programação linear.

Nos modelos em geral, as incertezas inerentes aos projetos são modeladas como um

Movimento Browniano Geométrico (MBG), que pressupõe uma taxa de crescimento (drift)

constante e uma variância linearmente crescente no tempo.

Por exemplo, no caso do valor esperado do projeto (S), assume-se, então, a seguinte

equação diferencial: dS = µSdt + σSdz, em que µ é o drift do processo, σ seu parâmetro de

volatilidade e dz é o incremento de um processo Wiener, isto é, . Isso

implica que o valor corrente do projeto é conhecido, mas os valores futuros são

lognormalmente distribuídos com uma variância que cresce linearmente com o horizonte de

tempo.

Contudo, há situações em que as incertezas do projeto seguem um Movimento de

Reversão à Média (MRM), como é o caso de commodities não financeiras, cuja incerteza

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depende de um nível de equilíbrio (BRENNAN; SCHWARTZ, 1985). Isso ocorre

principalmente em projetos de longo prazo. Nesse caso, diferentemente do MGB, o valor

esperado do processo deve reverter para um nível de equilíbrio no longo prazo, tendo a

variância restrita a um limite. Assume-se, então, a equação diferencial:

, em que η é a velocidade de reversão do processo, σ o parâmetro de

volatilidade e o nível de equilíbrio de longo prazo.

O modelo de Black e Scholes (1973) foi desenvolvido para avaliação de opções

financeiras de compra e venda do tipo europeias, em que o ativo objeto não paga dividendos.

Os autores partiram da premissa de que o preço de uma ação segue um processo estocástico

do tipo MBG, com média e desvio padrão constantes, em uma distribuição log normal.

Da suposição sobre o comportamento do preço da ação, o processo que o título

derivativo segue pode ser deduzido pela formação de uma carteira dinâmica livre de risco,

resultando em uma equação diferencial parcial. Merton (1973) derivou a equação, adaptando-

a para situações em que a empresa paga dividendos.

Uma adequação ao modelo de Black e Scholes foi proposta por Brennan e Schwartz

(1985). Eles estruturaram um modelo para avaliar uma mina de cobre, determinando o valor

da jazida e os momentos ótimos para investir, parar a produção e abandonar a jazida.

Para aplicar o conceito de arbitragem, utilizaram duas carteiras de ativos: uma

posição comprada composta por investimentos na mina e outra com uma posição vendida em

contratos futuros da commodity cobre. Com vistas a estabelecer uma correlação entre a taxa

de produção e o valor da commodity, derivaram uma equação diferencial, sujeitando-a a

condições de contorno, em que o valor da mina é a solução ótima. Como o modelo leva a

taxas nulas na medida em que o tempo tende a infinito, eles introduziram um MRM para

eliminar esse inconveniente.

Boyle (1977) propôs um modelo baseado no método padrão de Monte Carlo

considerando opções europeias, o qual consiste em sumular uma grande quantidade de

trajetórias possíveis para aproximar a distribuição de probabilidades dos ativos subjacentes.

Após a computação de todas as rodadas de simulação e as iterações entre as variáveis, o valor

médio do fluxo de caixa descontado por uma taxa livre de riscos representa o valor da opção

na maturidade.

O problema no modelo padrão proposto por Boyle é que não se adequa bem às

situações de opções americanas e, por consequência, a boa parte dos projetos de ativos reais,

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em que o ativo subjacente precisa ser calculado em todos os pontos do domínio, não em um

único ponto.

De qualquer forma, alguns ajustes podem ser feitos ao modelo para resolver o

problema, conforme alguns dos artigos pesquisados. Por exemplo, Copeland e Antikarov

(2001) recorreram ao método de Monte Carlo para combinar diversas incertezas em uma

única, a volatilidade da taxa de retorno. Adicionalmente, utilizaram árvore binomial para a

compilação e combinação dos possíveis resultados futuros do projeto.

O modelo de Schwartz (1977) aplicou o método de diferenças finitas ao cálculo do

valor das opções. Trata-se de um método clássico para resolução de equações diferenciais, por

meio de técnica de aproximação das suas derivadas. Ao discretear o domínio e estabelecer as

condições adequadas de fronteira, é possível determinar todos os pontos que o compõem,

aproximando assim a solução.

Cox, Ross e Rubinstein (1979) desenvolveram uma modelagem discreta por árvore

binomial recombinante, com a finalidade de tornar mais didático e acessível o estudo de

opções, já que isso não requer conhecimentos demasiadamente aprofundados de matemática.

A ideia básica é que se possa montar uma carteira hedge com uma posição apropriadamente

alavancada, que tenha exatamente o comportamento de uma posição comprada de opção de

compra, sendo essa carteira e a posição perfeitamente correlacionadas durante um intervalo de

tempo. Trata-se, portanto, da aproximação discreta de um evento em tempo contínuo.

Os modelos citados constituíram o estudo seminal da TOR e serviram de base para o

desenvolvimento das modelagens específicas de opções reais. Quanto à TOR, Dixit e Pindyck

(1993) propuseram um modelo utilizando programação dinâmica, em que o comportamento

do preço do ativo objeto é modelado por MBG, MRM e processos de Poisson (jump process).

Sua proposta vai ao encontro da necessidade de atribuir mais cientificidade e robustez aos

modelos, na medida em que incorpora conceitos de otimização comuns em Pesquisa

Operacional, a conhecida abordagem quantitativa para tomada de decisão (Management

Science).

Schwartz e Moon (2000) realizaram uma pesquisa visando a avaliar o preço de

exercício das ações de empresas de internet, por meio da conjunção da teoria das opções reais

e das técnicas de orçamento de capital. Para isso, formularam um modelo com base em tempo

contínuo, com aproximação por tempo discreto, com vistas a estimar os parâmetros do

modelo e, por fim, realizaram uma análise de sensibilidade. Os autores concluíram que,

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dependendo dos parâmetros escolhidos e considerando as elevadas taxas de crescimento das

receitas, o valor intrínseco da ação de uma empresa de internet pode ser racional, mesmo

quando há possibilidade real de falência.

Barton e Lawryshyn (2011), em uma pesquisa, integraram a abordagem de opções

reais com uma análise de sensibilidade, gerando as estimativas (otimista, realista e pessimista)

do fluxo de caixa gerencial em projetos de investimento. Na modelagem proposta, os autores

trataram os fluxos de caixa projetados para os múltiplos períodos como um processo

estocástico contínuo, por meio da abordagem do MBG, em que são alterados os parâmetros de

crescimento e volatilidade. De forma complementar, para neutralizar o risco do projeto,

abordaram a adoção de uma estratégia de hedge com derivativos. A modelagem estabelece

uma correlação entre o projeto e o ativo subjacente do hedge.

Ademais apresentaram um exemplo numérico para avaliação de um projeto de

investimento em um veículo aéreo não tripulado. Por fim, compararam as projeções de fluxos

de caixa feitas inicialmente por Datar, Mathews e Johnson (2007) com seu modelo proposto

(BARTON; LAWRYSHYN, 2011), tendo como parâmetro de correlação de volatilidade a

estratégia de delta hedge, com o índice S&P 500 e o índice de um fundo de ações, que investe

em aeronaves e mecanismos de defesa estadunidenses. Nos vários estágios do ciclo de vida do

projeto, a efetividade da estratégia de hedge é validada, agregando valor ao projeto.

Carmichael, Hersh e Parasu (2011) abordaram o uso de uma análise probabilística do

valor presente para estimar o valor de uma opção real. Compararam, em termos estruturais, o

modelo apresentado com o método de Black e Scholes. Segundo os autores, o modelo é

apresentado como uma alternativa aos gestores que hesitam em utilizar os métodos de análise

por opções reais, devido à complexidade dos inputs requeridos nos modelos de Black e

Scholes, modelo binomial de árvores de decisão ou de simulação de Monte Carlo. Portanto,

buscaram ajustar o método do VPL com os conceitos de opções reais, considerando uma

suposta preferência das pessoas por esse método.

Na modelagem proposta pelos autores, os valores esperados do fluxo de caixa são

obtidos pela influência da análise de sensibilidade nas variáveis que afetam as estimativas,

gerando os cenários: pessimista, mais provável e otimista. Para demonstrar as vantagens do

modelo, apresentaram três exercícios práticos (não um estudo de caso): análise de uma opção

financeira, de uma opção real e o uso do modelo de Black e Scholes. Por fim, avaliaram as

vantagens do modelo proposto em relação ao de Black e Scholes, concluindo, e sugerindo,

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que o modelo de análise probabilística do VPL pode ser um substituto à altura do modelo de

Black e Scholes, para uso pelos investidores.

Olagbemiro, Mun e Shing (2011) discorreram sobre a aplicação da teoria de opções

reais para análise de investimentos em projetos de aquisição de software, para o

Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Os autores destacaram a imensa presença dos

softwares no sistema de armamento e defesa e o crescimento exponencial dos orçamentos de

capital a eles destinados, como propulsores da necessidade de adoção de metodologias

sofisticadas, para subsidiar o processo decisório de seleção de investimentos.

Ao considerar as consequências cruciais de possíveis erros dessa categoria de

software, abordaram um método de gestão de risco durante os diversos estágios do ciclo de

vida do projeto. A teoria de opções reais ainda é utilizada como pano de funo para a aplicação

conjunta de vários métodos, tais como: VPL convencional, dados históricos para estimação,

método Delphi, modelo estocástico para tratamento da volatilidade e a teoria de Dempster–

Shafer. Essa última é um uma teoria matemática da evidência, que permite combinar as

evidências probabilísticas de diferentes fontes, a fim de se chegar a um grau de credibilidade

(representado por uma função de credibilidade) que considera todas as evidências disponíveis.

Ademais, os autores configuraram o modelo para as categorias de opções reais:

expandir/crescer, aguardar/adiar, reduzir/abandonar, apresentaram a árvore de decisão e

calcularam o valor da opção, por meio do software Real Options Super Lattice Solver (SLS)

3.0. Concluíram que o modelo proposto é capaz de otimizar o valor de suas decisões

estratégicas de investimento, ao avaliar os diversos caminhos sob condições de certeza (tendo

os riscos mitigados) para conduzir às estratégias ótimas de investimento.

Embora tenha sido possível observar o crescimento das pesquisas acadêmicas

voltadas à TOR, percebe-se que há ainda um longo caminho a ser percorrido a fim de

potencializar o seu uso nas empresas. Em uma pesquisa realizada por Block (2007) com

empresas listadas pela revista Fortune 1000, para verificar informações acerca do uso da TOR

nos processos de orçamento de capital, dentre os 279 respondentes, apenas 14,3% afirmaram

utilizar o método. Os principais motivos citados para o não uso da TOR foram:

a) falta de adesão da alta gerência, por receio de usar uma metodologia a qual não

conseguem acompanhar passo a passo;

b) confiança nos métodos tradicionais, com uso já comprovado;

c) elevado grau de sofisticação exigido pela TOR;

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d) excessivo encorajamento ao risco gerado pelo método.

Este pesquisador concorda com a asserção de que a grande contribuição científica da

TOR deve-se ao fato de que, com a introdução de seus métodos de avaliação, muitas decisões

de investimentos passaram a ser tratadas com abordagens quantitativas mais coerentes,

robustas e extensivas. É certo que as opções reais existem e tendem a ser exploradas na vida

real. Contudo, decidir se serão mensuradas e tratadas nos modelos de análise de viabilidade é

uma opção, uma real opção dos gestores e tomadores de decisão. Espera-se que essa opção

seja devidamente exercida.

2.4 PROJETOS DE INVESTIMENTO EM SISTEMAS ERP

Na medida em que a informação assume um papel de extrema importância como

insumo para estabelecimento de vantagem competitiva aos negócios das empresas,

desencadeia-se uma crescente e exponencial alocação de recursos para investimentos em

projetos de TI. Do ponto de vista das atividades de suporte organizacional, observa-se uma

crescente busca por sistemas que integrem os dados disponíveis nas diversas áreas da

empresa, possibilitando uma visão integral do empreendimento. Nessa categoria de recursos

tecnológicos, encontram-se os sistemas ERP.

Segundo Bradford (2010), o termo Enterprise Resource Planning (ERP) é utilizado

para representar o amplo conjunto de atividades que os gestores usam para operacionalizar

importantes partes de uma organização, como compras, recursos humanos, contabilidade,

produção e vendas. Outras denominações têm sido empregadas na tentativa de traduzir o

termo para o português, tais como: Sistemas de Informações Gerenciais, Sistemas

Empresariais Integrados, Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, Sistemas Integrados de

Gestão, dentre outros. Contudo, a popularidade da abreviatura ERP tem garantido sua

manutenção no linguajar empresarial.

Do ponto de vista tecnológico, os programas ERP buscam integrar todos os

departamentos e funções que traspassam a empresa em um único sistema, visando a atender a

todas as necessidades particulares de todos esses departamentos. Por isso, a definição

“sistema ERP”. Nesse sentido, Grabski, Leech e Schmidt (2011) destacaram que os sistemas

ERP são sistemas transfuncionais integrados, que contêm módulos de aplicativos

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selecionáveis que desempenham uma ampla gama de atividades operacionais em uma

empresa, nos seus mais diversos departamentos.

Os sistemas ERP objetivam a suportar todas as necessidades de processamento e

integração de informações transacionais da empresa. Desse modo, além de sua natureza

transfuncional, também são considerados centrados em processos, por serem softwares

aplicativos construídos em torno dos processos de negócios.

Conforme Bradford (2010), os ERP´s são normalmente vendidos em módulos ou

pacotes de programas associados, que executam a maioria das funções dentro de um sistema.

Dessa maneira, as empresas não precisam comprar e implantar todos os módulos de uma

única vez, reduzindo a necessidade de um projeto de grande magnitude em uma única fase.

Portanto, ao optar pela implementação por módulos, é gerada a flexibilidade para o

escalonamento do investimento em fases.

A implementação de um sistema ERP é um projeto complexo, que demanda

investimentos elevados e deve ser cautelosamente gerenciada, desde a fase inicial de seleção e

análise (LIEN; CHAN, 2007; GRABSKI, LEECH; SCHMIDT, 2011; ONUT; EFENDIGIL,

2010). Nesse sentido, Bradford (2010) ressaltou que um sistema ERP é um dos investimentos

mais custosos que uma empresa pode fazer. Não é incomum uma empresa investir milhões de

dólares nessa implementação. Sobretudo, há um significante risco de falha, caso uma empresa

aborde uma implementação de ERP sem prioridade, comprometimento e atenção aos detalhes

requeridos.

Ao contrário da aquisição de um mero aplicativo do tipo plug-and-play, é um projeto

de grande magnitude, envolvendo adequações de equipamentos, mudanças organizacionais,

culturais e de processos, dentre outras. Lien e Chan (2007) reforçaram essa característica,

destacando que o processo de seleção de um ERP é uma tarefa que demanda tempo, tanto pela

complexidade quanto pela diversidade de alternativas. Por isso, deve ser tratado com um

projeto de larga escala, que carece de estratégias sofisticadas na análise de viabilidade e

seleção e implantação.

O ciclo de vida de um projeto de implementação de sistemas ERP é representado

pelos diversos estágios e fases pelos quais passam ao serem inseridos em uma empresa.

Segundo Bradford (2010), os estágios que uma organização atravessa com respeito ao ERP

podem ser pensados como um ciclo de vida, começando pelos estágios iniciais de

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planejamento e indo até os estágios mais distantes de manutenção e eventual consideração de

futuras atualizações ou substituição.

O autor classificou esses estágios em quatro: planejamento, seleção do pacote,

implementação e manutenção. Embora alguns autores abordem a fase final do ciclo de vida,

normalmente intitulada de desativação, este trabalho de pesquisa fica restrito às quatro fases

propostas por Bradford. Segue na Figura 1 o transcorrer dos estágios ao longo do tempo:

Figura 1: Dimensão temporal do projeto

Fonte: elaborada pelo autor

Com relação à duração total do ciclo de vida de um ERP, Grabski, Leech e Schmidt.

(2011) destacaram que sua amplitude perpassa anos e até mesmo décadas, desde a seleção do

pacote (no estágio inicial) à reengenharia ou reestruturação dos processos de negócios,

adaptação, aceite, rotina de uso (no estágio de implementação) até o estágio posterior de

manutenção, em que os gestores deverão avaliar se irão otimizar ou atualizar o sistema.

2.5 PESQUISAS SOBRE APLICAÇÃO DA TOR EM PROJETOS DE ERP

Vários artigos abordando o uso da teoria de opções reais nas análises de

investimentos em projetos de sistemas ERP foram pesquisados para subsidiar esta pesquisa.

Com isso, foi possível observar diferentes alternativas de abordagem e modelagem para as

incertezas e os riscos contidos nessa modalidade de investimento, utilizados em conjunto com

a teoria de opções reais.

No elenco de variedades metodológicas, consta o uso de programação dinâmica

(WU; LIOU, 2011), lógica difusa e conjuntos difusos (YOU et. al., 2012), programação

estocástica inteira de multiestágio (WU et. al., 2008) e modelo binomial de árvore de decisão

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(OZOGUL; KARSAK; TOLGA, 2009). Para elucidar melhor as abordagens dadas pelos

autores, apresenta-se a seguir um compêndio dos trabalhos selecionados.

You et. al. (2012) adotaram um modelo de avaliação para projetos de investimentos

em sistemas ERP baseados na TOR e na lógica difusa (Fuzzy Logic), por meio de um método

denominado Avaliação por Resultados Difusos (Fuzzy Payoff Valuation). No tocante às

características do projeto ERP, foram apresentadas três opções reais a serem exploradas no

ciclo de vida do proejto: opção de expandir, opção de retrair e opção de abandonar.

Como justificativa para uso do modelo, os autores destacaram que, apesar de a TOR

oferecer interessantes critérios para gerenciamento de projetos e investimentos sob incerteza,

sua avaliação muitas vezes acaba sendo considerada impraticável, devido às complexidades

matemáticas envolvidas. Para tentar amenizar o problema, utilizaram o conceito de avaliação

por resultados difusos, segundo o qual a distribuição de resultados é uma distribuição de

possibilidades (e não probabilidades) dos fluxos de caixa futuros estimados do projeto,

obtidas ou por meio de estimativas fornecidas pelo gerente ou responsável pelo projeto, ou

então por especilistas.

De forma similar à análise de sensibilidade, tais estimativas foram classificadas e

eleitas em três categorias: pior caso, caso base, melhor caso. Ao aplicar o conceito de lógica

difusa, números difusos e conjuntos difusos, os autores derivaram um conjunto difuso

triangular que representa o fluxo de caixa no final do período do projeto. Para apurar o valor

da opção real, calcularam a média difusa.

Aparentemente, a facilidade proposta pelo modelo não elimina o problema das

estimativas de fluxos de caixa futuros, considerando que a análise de sensibilidade para o pior

e o melhor cenário depende da apuração e apresentação de um cenário base, cuja elaboração

pode conter inúmeras imperfeições que serão replicadas aos demais cenários.

Com vistas a validar o modelo, You et. al. (2012) realizaram um estudo de caso em

uma média empresa do segmento de importação e exportação com um projeto de ERP, em

que, na primeira fase, seriam implementados os módulos básicos (processamento de pedidos e

armazenagem). A depender do sucesso dessa primeira fase, três opções poderiam ser

exercícidas na segunda fase: expandir, com a implantação de outros módulos, mediante

investimento adicional; manter os módulos atuais ou abandonar o projeto.

O custo total de implantação do projeto, considerando cada fase e cada opção, foi

estimado e validado por um grupo de especialistas, internos e externos. Os benefícios

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previstos pelo projeto foram estruturados em três conjuntos quantificáveis de indicadores de

performance (30% de redução de perdas por erros de pagamento em duplicidade, 15% de

redução em gastos com salários, 5% de crescimento na margem bruta), que tinham relação

direta com os módulos implementados. Os três possíveis resultados (pior cenário, cenário

base e melhor cenário) foram então gerados.

A modelagem foi aplicada para gerar o conjunto triangular difuso dos benefícios

previstos do projeto para os três cenários, inicialmente em valores futuros. Em seguida, os

montantes foram trazidos a valor presente, confluindo com os dispêndios do projeto, para

resultar no valor da opção real. Com o objetivo de avaliar as três opções (expandir, retrair,

abandonar), os autores utilizaram a árvore de decisão, com a fórmula da média difusa para

atribuir o valor da opção real em cada cenário. Ao extrair os resultados mais elevados para

cada cenário, obteve-se, enfim, o efetivo valor da opção real.

Por fim, para realizar uma avaliação ex-post, com vistas a verificar se os benefícios

obtidos pelo projeto foram condizentes com as estimativas iniciais, os autores analisaram os

demonstrativos de resultado e de fluxo de caixa da empresa, comparando a evolução dos

gastos nos cinco anos de ciclo de vida do projeto.

Ozogul, Karsak e Tolga (2009) apresentaram um estudo introduzindo uma

metodologia baseada em opções reais, confluindo com o modelo binomial de árvore de

decisões, para modelar a oportunidade de investimento com opções compostas em um projeto

de sistema ERP para um hospital. Os autores abordaram as particularidades e as opções

compostas nessa implementação, destacando os benefícios que poderiam ser gerados pelo

sistema, como justificativa do investimento. Com o objetivo de validar o modelo proposto,

realizaram um estudo de caso em uma organização hospitalar na Turquia.

Para a modelagem, consideraram as opções de postegar, expandir ou abandonar o

projeto, tendo como base as estimativas de custos, as possibilidades de crescimento das

receitas por meio do aumento no volume de procedimentos médicos e do número de

pacientes. Ademais, consideraram a inter-relação com o impacto das decisões do hospital

concorrente, que poderia decidir também por um projeto similar, elevando sua vantagem

competitiva e, por consequência, corroendo a participação de mercado do hospital objeto do

estudo.

Os valores utilizados para alimentar os parâmetros da modelagem foram coletados

por meio de entrevistas com a equipe de gestores do hospital e especialistas em TI. Entre os

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parâmetros, constou a correlação entre o lucro médio por paciente e a volatilidade do preço

das ações do hospital, assumindo que a variância no volume de atendimentos impacta

diretamente o preço das ações e que uma das causas dessa variância é a decisão relacionada

ao projeto ERP.

Após desenvolver a árvore de decisão das opções, discutiram os resultados

alcançados e compararam com as projeções oriundas da estimativa feita pelo método

convencional do VPL. Como ponto de atenção, demonstraram que algumas fases de

implantação seriam rejeitadas pela análise do VPL convencional, por apresentarem VPL

negativo, sem, contudo, considerar a interação da opção (de expandir, por exemplo) com a

decisão do concorrente.

Concluíram que o modelo apresentado pode ser valioso para as empresas e seus

acionistas, na medida em que considera o impacto da flexibilidade gerencial embutida na

implantação faseada e modularizada do ERP, levando em conta as interações com o mercado

e o reflexo em sua lucratividade. Para descrever a arquiterura utilizada no trabalho, Ozogul et.

al. (2009) apresentaram um roteiro, ilustrando cada fase a ser percorrida.

Wu e Liou (2011) avaliaram um projeto de investimento em sistema ERP sob

condições de incertezas, usando um modelo baseado na teoria das opções reais e programação

dinâmica, considerando as incertezas de receita e custo derivadas do projeto. Na verdade,

esses autores ampliaram o modelo outrora utilizado por Dixit e Pindyck (1993), que considera

uma única fonte de incerteza. Essencialmente, compararam o modelo proposto com o cálculo

convencional do VPL normalmente utilizado para formulações de orçamento de capital.

Os autores relataram as particularidades dos projetos de sistemas ERP, considerando

sua complexidade, os elevados valores investidos, os riscos e as incertezas, em especial

aquelas relacionadas às receitas (estimativas de retorno do investimento) e aos custos (tanto os

do projeto quanto os da empresa). Destacaram que a adoção do ERP é custosa, envolvendo

um contexto complexo e dinâmico, potencializado pelo seu horizonte de longo prazo para

implementação.

Na modelagem proposta, inicialmente, aplicou-se a programação dinâmica para obter

a equação diferencial parcial, envolvendo várias funções incógnitas de muitas variáveis

independentes e dependentes de suas derivadas. Por meio da aplicação das condições de

contorno para o investimento em ERP, obteve-se a otimização para o limiar de investimento

ideal do projeto.

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Dentre os parâmetros utilizados para a modelagem, destacam-se: a taxa de

alavancagem das receitas; a volatividade da receita; a taxa de alavancagem dos custos; a

volatilidade dos custos; o rendimento de conveniência relativo aos custos, indicada em custo

por unidade vendida; o rendimento de conveniência relativo as receitas, indicada em receita

por unidade vendida; por fim, o coeficiente de correlação entre custos e receitas.

Resumidamente, a modelagem estabelece uma correlação entre as incertezas de custos e

receitas inerentes ao projeto, e a aplicação de suas equações resulta no limiar ótimo de

investimento no ERP.

Na análise desse resultado, Wu e Liou (2011) evidenciaram que, ao contrário da

convenção tradicional para aprovação de projetos apenas quando a mínima relação entre

receitas e custos for de 1 para 1 (receita = custos), uma relação inferiror a 1 pode ser

considerada ótima, contanto que a incerteza seja suficientemente elevada, para suportar o

valor das oportunidades futuras do projeto, ou seja, o valor da flexibilidade do projeto.

Por fim, concluíram que o modelo é adequado à análise de investimentos em ERP,

em que as condições de incertezas são relacionadas a custos e despesas, por considerar o valor

da volatividade nas taxas de receitas e custos esperados, agregando maior valor ao projeto

quando há um aumento na volatidade de tais parâmetros.

Com relação ao modelo utilizado, cabe destacar que a programação dinâmica é uma

abordagem para a resolução de problemas, que permite decompor um amplo problema,

normalmente difícil de resolver, em um número de problemas menores e inter-relacionados,

geralmente mais fáceis de resolver. Tal abordagem pode ser de grande valia quando o

pesquisador se depara com necessidades de otimização recursiva, que envolvem um finito

número de alternativas de decisão e de estágios (ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS,

2003).

2.6 MODELO DE SCHWARTZ E ZOZAYA-GOROSTIZA (2003)

Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003) apresentaram uma visão expandida da avaliação

de investimentos em TI por meio da TOR, modelando as incertezas nos custos do projeto e

seus respectivos fluxos de caixa e as mudanças nos custos de um ativo de TI ao longo do

tempo. Trouxeram como exemplo um projeto para aquisição de um ativo de TI, cujo preço

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decai rapidamente ao longo do tempo, e um projeto para desenvolvimento de TI, cuja

demanda por certa competência técnica dos desenvolvedores pode elevar o preço pela hora

técnica e, consequentemente, os custos de desenvolvimento do projeto.

A descrição de sua abordagem é baseada no pressuposto de que as incertezas de um

projeto de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia são sumariadas em três processos

estocásticos relacionados ao custo do investimento, aos resultados futuros e à possibilidade de

surgir um evento catastrófico antes de se completar o projeto. No caso das duas abordagens

propostas no artigo (projeto de aquisição e projeto de desenvolvimento), os resultados futuros

dependem do tempo que o projeto leva para gerar benefícios, uma vez que o investimento

tenha sido aceito.

Conforme os autores, no projeto de aquisição de TI, a organização tem a opção de

gastar uma quantia de dinheiro para adquirir um ativo. Essa quantia é tida como certa em um

ponto qualquer no tempo, durante certo intervalo de tempo. Contudo, as possíveis mudanças

na estimativa de gastos são incertas. Após a aquisição do ativo, a organização começa a

receber um conjunto de fluxos de caixa que representam os benefícios diferenciais derivados

do projeto.

Ao considerar que tanto os custos quanto os benefícios são incertos, poderia ser

melhor aguardar antes de fazer o investimento. Ademais, se o custo do ativo decair ao longo

do tempo, há um incentivo adicional para aguardar. Entretanto, os benefícios também decaem

com o tempo, pois a postergação reduz a duração do período de recebimento dos fluxos de

caixa de benefícios inerentes ao projeto. Consequentemente, ambos devem ser considerados

para tomar uma decisão ótima.

No caso do projeto de desenvolvimento de uma TI, o ativo não é adquirido

imediatamente. De fato, há uma duração incerta, na qual a organização mantém o

investimento, caso a taxa seja menor ou igual à taxa máxima de investimento. Somente

quando o projeto for completado e o custo remanescente for zero a firma receberá o ativo

subjacente.

Nesta análise, focou-se apenas a parte do artigo referente ao projeto de

desenvolvimento de TI, pois é o que se assemelha ao modelo deste trabalho. No modelo dos

autores, para projetos de desenvolvimento de TI, os custos estimados para o projetos (K)

foram tratados de forma macro, sem detalhamento ou tratamento analítico.

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Na abordagem dos autores, considerou-se que o investimento leva tempo para ser

concluído e que cada unidade investida no projeto resultará em uma opção de continuidade,

podendo ser exercida ou não pela empresa. Por ser um investimento sequencial, a decisão a

cada momento é refletida por uma taxa de investimento I (t), cujo valor está limitado entre

zero e um valor máximo Im. Ou seja:

(1)

O restante a ser investido para o conclusão do projeto é incerto e será representado

pela variável aleatória . Assim, supõe-se que o custo esperado para o final do investimento

seja conhecido e dado por A evolução de K no tempo baseia-se no modelo de

Pindych (1993), com duas incertezas. Os autores agregaram a esse modelo um terceiro termo,

representando a mudança nos custos de ativos de TI ao longo do tempo. Com isso, assume-se

que o custo esperado para o término do investimento segue um MBG de difusão controlada,

dado pela seguinte equação:

� (2)

Em que:

a) = sendo I o valor do investimento, dt é o controle do processo de difusão;

conforme o tempo avança, o custo estimado remanescente diminui;

b) = representa a mudança do custo ao longo do tempo; tanto pode ser positiva

quanto negativa; no caso, como se trata de uma nova tecnologia, seu valor tende a

decair ao longo do tempo, sendo, portanto, negativa;

c) = representa a incerteza técnica referente às dificuldades para completar o

projeto, mesmo se todos os inputs de custos forem deterministicamente conhecidos;

é o parâmetro dessa incerteza técnica;

d) = representa a incerteza em relação aos inputs de custo, como, por exemplo, o

preço da mão de obra ou dos materiais; é o parâmetro dessa incerteza;

e) dz e dw = são incrementos do processo de Gauss-Wiener.

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O valor estimado do ativo corresponde aos beneficios que serão obtidos ao término

do projeto. Assim, uma vez finalizado o investimento, a empresa desfrutará dos benefícios do

projeto de uma só vez, recebendo um ativo de TI, cujo valor será dado por V.

O comportamento do valor desse ativo também é regido por um MBG, dado pela

seguinte equação:

(3)

Em que:

a) = é o parâmetro de tendência que representa a mudança do valor ao longo do

tempo; pode ser tanto positiva quanto negativa;

b) = sendo V o valor do ativo, dt é o controle do processo de difusão; conforme o

tempo avança, o custo estimado remanescente diminui;

c) = é o desvio padrão instantâneo da mudança percentual em V;

d) dy = é o incremento para o processo de Gauss-Wiener sem correlação, com a incerteza

técnica do custo esperado, mas, possivelmente, correlacionado com o mercado.

Com esse último parâmetro (dy), o modelo permite que haja uma correlação entre as

mudanças estocásticas do valor do ativo e as mudanças estocásticas dos inputs de custos do

investimento. Essa correlação é expressa por:

(4)

Em que representa a correlação entre V e K, ou, mais especificamente, entre dw

e dy ( ). Assim, por exemplo, uma correlação negativa poderia representar que a

inabilidade para controlar os custos de desenvolvimento do projeto será associada a uma

redução dos benefícios (receitas) após o término do projeto.

Para calcular o valor da oportunidade de investimento (F) , o qual depende tanto de V

quanto de K (e esses representam valores esperados de variáveis aleatórias), foram

introduzidos prêmios de risco aos processos regidos pelas variáveis de estado. O ajuste ao

risco para ambos os processos é dado por .

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O valor da oportunidade de investimento F (V, K) é otimizado por meio da

programação dinâmica, utilizando a seguinte equação de Bellman de otimalidade em tempo

contínuo:

(5)

Em que λ representa a taxa de ocorrência de um evento catastrófico. Esse ponto será

mais bem explorado adiante. Para a otimização, faz-se necessário estabelecer as condições de

contorno:

(6)

A primeira condição representa o término do investimento, em que se obtém o valor

do ativo. Em seguida, tem-se a condição de barreira absorvente do processo estocástico de V.

Como o valor do ativo V segue um MBG, uma vez que se atinge zero, as mudanças futuras

em V serão nulas e, portanto, V permanecerá em zero. A última condição mostra que se o

investimento for muito alto, a probabilidade de que venha a cair, atingindo um valor em que o

investimento seja ótimo, é muito pequena. Assim, a oportunidade de investimento não teria

valor.

Quanto à taxa de um evento catastrófico (λ), representa a probabilidade de ocorrência

de um evento que cause a morte do projeto, ou seja, seu encerramento definitivo e

irremediável. Para exemplificar, Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003) citaram as seguintes

situações: a morte ou saída de um funcionário chave do projeto, uma decisão superior para

abortá-lo ou uma falha tecnologia que torne impossível sua continuidade.

Segundo os autores, como a incidência desse evento catastrófico pode causar a

interrupção permanente do projeto, ela pode ser interpretada como uma “taxa de imposto”

(tax rate) incidente sobre o valor do projeto. Dessa forma, precisa ser adicionada à taxa livre

de risco e aos prêmios de risco do projeto (ηv). Com isso, a taxa de desconto ajustada ao risco

passa a ser rf + λ + ηv.

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Embora os autores não tenham fornecido detalhes em seu trabalho, observa-se que,

dada a probabilidade de ocorrência de um λ qualquer, em função de um período específico de

tempo, a taxa de ocorrência pode ser obtida pela equação de Schwartz (2004):

(7)

Em que é o tempo total do projeto e a probabilidade de ocorrência do evento.

Para ilustrar o cálculo, pode-se utilizar o exemplo apresentado pelo autor naquele artigo. Ao

assumir que 50% dos projetos falham devido a eventos catastróficos e que o tempo médio de

duração dos projetos é de 10 anos, a probabilidade Poisson de falha pode ser computada

como:

(8)

Assim, 7% devem ser incorporados à taxa de desconto, como uma “taxa de imposto”,

para compensar o risco do evento.

A inclusão dessa “taxa de imposto” para representar a probabilidade de ocorrência de

um evento “catastrófico” é simples, pois resulta na sua mera agregação à taxa de desconto.

Contudo, aplica-se apenas aos casos em que represente a morte irremediável do projeto. De

qualquer forma, não parece condizente a utilização do termo “evento catastrófico” para algo

cuja probabilidade de ocorrência é tão elevada, ou seja, 50% no exemplo utilizado. Imagina-

se que um evento catastrófico tenha probabilidade baixa de ocorrência, porém, com

severidade e impacto relevante.

Não obstante, no modelo proposto neste trabalho, tal probabilidade ( ) se ajusta a

situações em que a ocorrência do evento não resulte no fim do projeto, mas sim em um grande

acréscimo na quantidade de horas necessárias para conclusão. Percebe-se que essa condição

alinha-se mais com a realidade dos projetos. Esse assunto será explorado mais profundamente

no tópico relacionado aos parâmetros de custo do modelo.

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2.7 MODELO DE WU ET. AL. (2008)

Wu et. al. (2008) apresentaram uma modelagem analítica com programação

estocástica inteira mista para a avaliação de um projeto de investimento em sistema ERP. Ao

partirem dos fundamentos da TOR, construíram um modelo que busca a decisão ótima para a

definição da melhor alternativa de investimento no projeto.

Exploraram as opções de diferimento, a expansão e o abandono, ao avaliar a decisão

sobre a melhor forma de implementação do sistema em uma empresa. A flexibilidade

gerencial do projeto relacionou-se à possibilidade de implementação faseada, em que havia a

possibilidade de desmembrar o projeto em duas decisões macro: S-1 compra e implementação

do pacote completo de software; S–2 compra e implementação de módulos do software.

Na estratégia S–2, tem-se a flexibilidade gerencial de, inicialmente, comprar e

implementar apenas o módulo básico do sistema, e conforme as incertezas forem diminuindo,

expandir o projeto, por meio da compra e implementação dos demais módulos. Dessa forma, a

estratégia S-2 se desdobra em S-2a e S-2b, agregando valor por conter as opções de

diferimento, expansão e abandono.

As entradas do fluxo de caixa foram representadas por um conjunto de benefícios

tangíveis e intangíveis, gerados a partir do término da implementação ( τ ) e que se estenderão

até o fim do ciclo de vida útil do sistema ( T* ). São representadas por:

a) = benefícios tangíveis, decorrentes, por exemplo, da redução de custos da

empresa pela utilização do software;

b) = benefícios intangíveis, decorrentes, por exemplo, da redução de custos da

empresa pela utilização do software.

Em ambos os casos, os autores modelaram a receita em função da demanda pelos

produtos da empresa. Dessa forma, correlacionaram as receitas do projeto com as condições

econômicas do mercado. Situações econômicas favoráveis levam a um aumento nos

benefícios, assim como as desfavoráveis os reduzem. Em sendo Gᵗ a demanda total no ano t,

os autores aplicaram o MBG para o cálculo das receitas. Assim, o coeficiente diferencial de Gᵗ

é dado como:

(9)

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Em que α é a taxa de crescimento estimada para a demanda durante o ciclo de vida

do ERP, e o desvio padrão estimado. No caso, dt é o controle do processo de difusão, e dW

o incremento do processo de Gauss-Wiener. Embora os autores não tenham sido tão claros

nas transições e transcrições de fórmulas, para se chegar ao valor das receitas pelos benefícios

tangíveis, passa-se a utilizar a notação , que representa a demanda total multiplicada pelo

ganho unitário trazido pelo uso do sistema .

Presume-se que a intenção dos autores foi estabelecer uma correlação direta entre a

produtividade da empresa e os benefícios do ERP. Quanto melhor a produtividade e as

vendas, mais benefícios são gerados. A fórmula apresentada no trabalho de Wu et. al. (2008)

erroneamente grafa p em vez de b . Todavia, no desdobramento dos cálculos, o erro

fica evidente, uma vez que p representa o lucro unitário dos produtos vendidos pela empresa,

necessário para calcular os benefícios intangíveis. Com a premissa de neutralidade ao risco, as

variações das entradas de caixa podem ser descritas como:

(10)

O desvio padrão das receitas é representado por σCdW. Ao considerar o prêmio de

risco pela incerteza das entradas de caixa e o incremento do processo de Gauss-Wiener,

com assunção de neutralidade ao risco, o valor dos benefícios tangíveis do projeto no ponto t,

com incerteza, pode ser deduzido pela seguinte equação:

∗ ∗ ∗ (11)

No caso dos benefícios intangíveis, parte-se do pressuposto de que a implementação

carrega consigo um conjunto de expectativas relacionadas aos ganhos de competitividade, à

elevação na qualidade dos produtos e processos, à elevação na capacidade gerencial, à

melhora na habilidade de inovação corporativa, dentre outros. Wu et. al. (2008) utilizaram um

modelo de Índice de Criação de Valor (ICV), desenvolvido por Kalafut e Low (2001), para

obter uma medida de performance relacionada à geração de valor para a empresa, por meio do

ERP.

Em suma, o modelo é aplicado em conjunto com um método de avaliação difusa para

se obter a variação no ICV da empresa, com a implementação do ERP. Ou seja, considera a

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possível melhora no índice por meio do ERP. Essa variação ( δ ) é então aplicada sobre o

lucro líquido total da empresa, previsto durante o ciclo de vida do ERP.

Presume-se então que uma variação positiva no índice representa um aumento

generalizado no lucro líquido e, consequentemente, no valor da empresa, pois a valoração está

atrelada aos lucros futuros. O modelo proposto considera essa variação nos lucros totais da

empresa. Portanto, o fluxo de caixa dos benefícios intangíveis é representado pela equação

em que = . Em sendo p o lucro unitário dos produtos vendidos pela

empresa, sua multiplicação pela demanda total gera o lucro total da empresa. Portanto,

representa a variação gerada nos lucros totais da empresa e, presumidamente, em seu valor de

mercado.

De forma similar ao benefícios tangíveis, aplica-se a fórmula do MBG com assunção

de neutralidade ao risco:

∗ ∗ ∗ (12)

Em seguida, os autores focaram os custos do projeto. Durante o período de

implementação ( t ), as saídas de caixa do projeto são:

a) I = custos de desenvolvimento e implementação do sistema, incluindo salários da

equipe, compra de equipamentos, suporte, etc. Conforme a estratégia escolhida, tem-se

I1 para a estratégia S-1, I2a para a S-2a e I2b para S-2b;

b) K = custos com consultoria e treinamento necessários ao projeto;

c) P = custo com aquisição do software;

d) E = despesas operacionais pelo uso do software.

Para estimar os custos de aquisição dos pacotes de software ( P ), os autores

estabeleceram que o preço é função da reputação do fornecedor no mercado. Assim, quanto

maior a reputação do fornecedor, maior o seu preço e, por consequência, melhor deve ser a

qualidade do produto. Consideraram X como uma variável contínua de 0 a 5, em que 5

representa a maior reputação e utilidade do sotware no mercado e 0 a menor ( 0 ≤ X ≤ 5 ).

No modelo adotado, X é uma variável aleatória de 0-5. Quando se assume que P (X)

é a função preço do software, cujo coeficiente de nível de utilizade é X em uma função linear,

e que θ e η são os parâmetros de preço, utiliza-se a seguinte equação:

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(13)

Ocorre que Wu et. al. (2008) não forneceram qualquer detalhe do desdobramento da

equação, imbutindo-a no algorítmo, tornando sua replicação inviável em outro modelo.

Aparentemente, buscou-se modelar a incerteza em relação à escolha do fornecedor, que

transcorre nas fases seguintes do projeto, após as análise de aderência e cotação de preços.

Como há certas categorias de software e fornecedores, a adoção de uma escala, com escolha

aleatória, poderia representar bem a função no modelo.

Por exemplo, supondo que o preço do software comercializado no mercado seja de

R$ 1 milhão a R$ 6 milhões, em uma escala de utilidade de 0-5, poderia se atribuir o valor

constante de R$ 1 milhão para θ e η. Assim, ao escolher o sistema com maior utilidade e

reputação no mercado, seria obtido: P (X) = (R$ 1.000.000 x 5) + R$ 1.000.000 = R$

6.000.000. Para o sistema de menor utilidade e reputação, seria obtido: P (X) = (R$ 1.000.000

x 0) + R$ 1.000.000 = R$ 1.000.000.

Tais custos são modelados por meio de programação estocástica, cuja função

objetivo é maximizar o VPL do projeto de investimento em um sistema ERP, com opções

reais compostas. Isso se dá pela seguinte equação:

(14)

Em que:

a) = é a variável de estado que representa o fluxo de caixa no período t. No caso, F

conflui todo o fluxo de saídas e entradas de caixa;

b) = é a função de preço do software, variando se a compra for por módulos ou o

pacote completo;

c) = é a taxa de desconto livre de risco.

Para cálculo do a equação se desdobra, conforme fórmula a seguir:

(15)

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As variáveis de decisão para são:

a) : variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação S–1 (pacote completo

do software) for escolhida no período t, então = 1. Caso contrário, = 0;

b) : variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação S–2a (modulo 1) for

escolhida no período t, então = 1. Caso contrário, = 0;

c) : variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação S–2b (modulo 2) for

escolhida no período t, então = 1. Caso contrário, = 0.

Os autores apresentaram mais três variáveis de decisão ( ) que,

aparentemente, representam uma função de preço para o software escolhido (completo ou

modular). Contudo, não há qualquer aplicabilidade nas fórmulas apresentadas.

Adicionalmente, foram inseridas inúmeras condições e restrições que balizam o

processo de otimização, tais como: limite orçamentário de gastos, restrições de escolhas

mutuamente excludentes ( e , escolhas sequenciais (1º , para depois

), dentre outras.

Por fim, apresentaram um estudo de caso aplicando o modelo. Trata-se de um projeto

para implementação de ERP na Datang Telecom (CDMA), ocorrido de 1999 a 2002. Há

várias inconsistências nos resultados apresentados, possivelmente decorrentes de problemas

na transcrição dos dados. Isso dificulta a análise dos resultados e a comparabilidade.

Ao aplicar o modelo, dados os parâmetros e as informações do caso, a otimização

resulta na decisão ótima de implementação por módulos (S-2), porém não investindo no

primeiro ano, devido às incertezas sobre receitas e custos de consultoria, deixando para

investir no segundo ano, na estratégia S-2a. No terceiro ano, investe-se na estratégia

sequencial S-2b, completando a implementação por módulos. Assim, o VPL máximo do

projeto com as opções reais embutidas será de 2.425,6 K (Yuan).

Dentre as inconsistências encontradas em Wu et.al. (2008), destaca-se o fato de a

inclusão do parâmetro “opção de aprendizado”, denotado por L, ter gerado uma tendência

favorável à implementação da estratégia S-2a, uma vez que só ocorre com a adoção da

variável decisória V. Isso fica evidente na fórmula de otimização, que, em seu início, consta:

.

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Embora faça sentido que a opção de aprendizado está implícita na condição de

“esperar para ver”, não investindo no momento inicial, para adquirir informações e

conhecimentos que levem a uma redução das incertezas (COPELAND; ANTIKAROV, 2001),

isso demanda um cálculo, omitido no trabalho de Wu et. al. (2008). Portanto, ao incluir como

parâmetro L = 902 K (Yuan), uma vantagem potencial foi atribuida à estratégia S-2a em

detrimento da S-1.

Outro ponto foi a inclusão dos “coeficientes de recompensa”, denotados por e

utilizados para representar um bônus na receita do projeto, conforme o software selecionado.

Segundo os autores, se, por exemplo, o ERP for adquirido de um fornecedor com maior

reputação, o será maior, agregando valor aos benefícios esperados do projeto. Apesar da

complexidade dessa lógica, sem uma explicação mais detalhada dos autores, há de se inferir

que a reputação do fornecedor do software tem relação direta com os benefícios esperados do

projeto. Todavia, trata-se de um medida subjetiva, que precisaria ser melhor explorada.

De qualquer forma, o problema maior está na maneira com que o parâmetro foi

incluído no modelo. Pela fórmula de otimização, no ponto transcrito a seguir, há de se inferir

que os autores consideraram fornecedores diferentes para a compra do pacote completo ( )

e do modular ( ), o que não parece fazer sentido do ponto de vista empírico:

... (16)

Assim, ao considerar nos parâmetros que = 1,2 e = 1,6, uma altíssima

vantagem é atribuida à decisão de implementação modular ( ). Quando se soma esse ponto

com o da opção de aprendizado, potencialmente a decisão penderá sempre para a estratégia de

implementação modular. Sem as devidas justificativas dos autores para a inclusão e escolha

dos parâmetros, a complexidade dos números apresentados no estudo de caso e de seus

respectivos resultados dificulta a compreensão.

Na análise e discussão dos resultados, os autores compararam o valor da

oportunidade de investimento obtido pela otimização com o resultado projetado com base no

VPL estático convencional. Utilizaram o pressuposto básico de que a análise de um projeto

com opções reais leva a valores superiores ao obtido pelo método convencional

(COPELAND; ANTIKAROV, 2001; TRIGEORGIS, 1993b).

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Nesse sentido, o VPL é remodelado para incorporar o valor gerado pela flexibilidade

gerencial, obtendo-se o que Trigeorgis (1993b) chamou de “VPL expandido”, representado

por:

(17)

Segundo essa perspectiva, para que um projeto seja aceito, é preciso que seu VPL

expandido seja positivo. Esse considera ambos os componentes: o VPL tradicional (estático

ou passivo) dos fluxos de caixas diretos do projeto e o VPL das opções geradas pela gestão

ativa (adaptabilidade operacional e gerencial). De forma análoga, o valor da opção real é dado

por:

(18)

Ao considerar que o VPL estático do projeto foi estimado em 307 K (Yuan) e que o

VPL expandido foi de 2.425,6 K (Yuan), obtido pelo modelo, respeitando os parâmetros

apresentados, conclui-se que o valor da opção real no projeto é de 2.118,6 K (Yuan).

Observou-se também que Wu et. al. (2008) calcularam o VPL estático com base em uma taxa

livre de risco, sem a inclusão de qualquer prêmio ou taxa ajustada ao risco. Isso compromete a

consistência da aferição do valor da opção, pois, no VPL expandido, os fluxos de caixa

incorporam os riscos em seus caminhos alternativos de forma diferente do VPL estático.

Neste momento, cabe uma consideração sobre a abordagem comparativa do VPL

expandido e VPL estático. Tal procedimento só faz sentido se a taxa de desconto aplicada

estiver coerentemente ajustada ao risco do projeto. Caso contrário, comparam-se coisas

distintas. Por isso, para calcular o valor da opção, é necessário calcular o VPL estático com

uma taxa de desconto coerentemente ajustada ao risco. Dentre as possibilidades indicadas por

Copeland e Antikarov (2001), está a identificação de uma proxy, por meio de simulação de

Monte de Carlo e da árvore de decisão. Trata-se de um procedimento complexo, que só faz

sentido quando for necessário justificar o valor da opção, em comparação ao VPL estático.

Corrigidas as questões levantadas, é possível a adequação e reaplicação do modelo,

visto que possui uma lógica funcional e analítica consistente e prática. Por isso, optou-se por

adotá-lo como referencial de base, promovendo os devidos ajustes para torná-lo plausível.

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3 METODOLOGIA E MODELAGEM

3.1 METODOLOGIA

Com relação à sua natureza, esta pesquisa é classificada como pesquisa aplicada,

com vistas a gerar conhecimentos dirigidos à solução de problemas específicos (COOPER;

SCHINDLER, 2003).

Pela condução do levantamento e da abordagem dos dados, a pesquisa é delineada

por uma estratégia quantitativa de pesquisa experimental, pois o objetivo é determinar se um

tratamento específico dos dados influencía o resultado (CRESWELL, 2010).

Para a consecução dos objetivos propostos, vale-se da técnica de modelagem

matemática, a qual inclui a representação de um problema por um sistema de símbolos,

expressões e relações matemáticas. O propósito, ou valor da modelagem matemática, é

permitir que sejam feitas inferências sobre a situação real ao estudar e analisar o modelo

(ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS, 2003).

3.2 MODELO PROPOSTO

3.2.1 DEFINIÇÃO DO MODELO

O modelo proposto nesta pesquisa é uma extensão modificada de Wu et. al. (2008),

com a incorporação da possibilidade de ocorrência de um evento catastrófico (ou

contingente), como em Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003). Trata-se de uma modelagem

matemática de programação estocástica inteira, voltada para a avaliação de viabilidade

econômica de um projeto para implementação de sistema ERP.

Enquanto modelo de programação estocástica e de otimização, está inserido no

contexto de Pesquisa Operacional, cuja natureza, como o próprio nome indica, é o uso do

método científico analítico para tratar dos problemas operacionais nas organizações.

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Por se tratar de um modelo para otimização (maximização ou minimização), é

representado por um função objetivo de “maximização do VPL do projeto”. Neste caso, o

projeto é considerado como uma opção americana, podendo ser exercida em qualquer data

entre a aquisição da opção e o prazo final para exercício. Ao exercer a opção de compra, o

valor da oportunidade de investimento é definido pela seguinte função:

(19)

Em que S é o valor do ativo subjacente e X o preço de exercício. Dessa representação

derivam as variáveis de decisão, que serão os nós de decisão em uma árvore de eventos.

Dentre os parâmetros estão os valores já fixados, assumidos como constantes

(determinísticos) e que alimentarão o modelo (taxa de juros, valor da remuneração por hora,

preço do software, etc.). As restrições representam as limitações da situação real, como, por

exemplo, as restrições orçamentárias do projeto, ou o limite máximo de horas no mês em que

os recursos humanos podem operar em prol do projeto.

As flexibilidades estratégicas do projeto são classificadas como “opções compostas”,

em que, a cada fase de implementação, há a opção de expandir, implementando o módulo, ou

de abandonar as próximas fases, cancelando novos investimentos. Dessa forma, a cada fase,

há uma opção contingente.

Diferentemente dos modelos encontrados nas referências bibliográficas deste

trabalho, utiliza-se um modelo mais detalhado e análitico, visando a uma abrangência maior e

mais realística do gerenciamento de projeto. Nesse sentido, a abordagem confluirá os

conhecimentos em gerenciamento de projetos, em especial o Guia do Conhecimento em

Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK) do Project Management Institute (PMI, 2013),

por ser o padrão mais adotado no Brasil.

Assim, conforme o PMI (2013), pode-se dizer que os modelos macro geralmente

encontrados nos artigos foram baseados em “estimativas análogas”, também conhecidas como

“estimativas top-down” ou “estimativas por ordem de grandeza”, as quais estimam o valor

bruto e sintético do projeto atual, tendo como base os valores de parâmetros de projeto

anterior semelhante; ou seja, as informações históricas disponíveis. Geralmente, essas

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estimativas são menos trabalhosas e dispendiosas, pois consomem menos tempo e

sofisticação; porém, são menos precisas.

Por outro lado, o modelo proposto baseia-se em “estimativas bottom-up”, em que o

custo de pacotes de trabalho individuais ou atividades é estimado com um maior nível de

detalhamento. Como o próprio termo já diz, as estimativas são feitas de baixo para cima, na

medida em que é requerido o levantamento de custos dos componentes mais baixos das

atividades e pacotes de trabalho, até chegar ao custo dos níveis mais altos (fases do projeto e o

projeto total).

Na decomposição dos custos em componentes menores, aumenta-se a precisão das

estimativas, contudo, eleva-se o custo de planejamento. É, portanto, um trade-off básico da

relação custo benefício. Neste trabalho, partiu-se da premissa de que os benefícios superam

tais custos.

3.2.2 A FLEXIBILIDADE GERENCIAL DO PROJETO

A definição das estratégias de compra e implementação é um fator crítico de sucesso

para o projeto e representa um forte propulsor de valor para a empresa, pois pode atribuir

maior flexibilidade gerencial para tratar das incertezas ao longo do ciclo de vida do projeto.

Embora o conjunto de estratégias de implementação seja mais amplo e complexo, nesta

pesquisa, tratou-se a estratégia de definição dos tipos de módulos do sistema que serão

comprados e implementados.

Os módulos são representados por pacotes de aplicativos. A empresa pode optar por

adquirir o pacote completo logo no início do projeto, ou, então, por uma aquisição escalonada

por módulos, em que compra inicialmente o módulo básico (Módulo 1) e, posteriormente, vai

expandindo o sistema, adquirindo os módulos complementares (Módulo 2 e Módulo 3).

Independentemente da estratégia de aquisição, a implementação será feita de forma

escalonada, pois essa tende a ser a prática nesse tipo de projeto. Assim, o esforço e a

complexidade de implementação são iguais em ambas.

Para elucidar, o modelo trata as duas estratégias (E-1 e E-2); a segunda estratégia, na

verdade, desdobra-se em três (E-2a, E-2b, E-2c). A estratégia E-1 consiste em adquirir um

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pacote completo de sistema ERP, selecionado de um dos fornecedores líderes de mercado em

soluções de ERP. Nesse caso, o conjunto pleno de aplicativos e programas estará disponível

para dar suporte às funções corporativas de finanças, contabilidade, produção, operações,

recursos humanos, compras, marketing, vendas, orçamento, gestão de resultados, entre outros.

A estratégia sintética E-2 consiste na compra do ERP por módulos, de forma

escalonada. Como essa estratégia gera um desdobramento, tem-se E-2a, em que, inicialmente,

a empresa adquire o módulo básico (M-1) do sistema ERP, contendo os aplicativos apenas

para funções corporativas primordiais, tais como compras, vendas, faturamento, estoques,

contas a receber, contas a pagar e tesouraria.

Em seguida, na estratégia E-2b, poderá adquirir o módulo contábil, tributário e de

recursos humanos (M-2), que agrega outros componentes e funcionalidades para uso dos

departamentos de contabilidade, tributos e recursos humanos. Por fim, na estratégia E-2c, a

empresa adquire os módulos mais avançados de controladoria (inteligência de negócios,

planejamento estratégico, orçamento, etc.).

No geral, o objetivo final das duas estratégias é a implementação total do sistema

ERP. Contudo, a aquisição escalonada pode mitigar os riscos de perda dos custos afundados,

caso ocorram problemas durante a implementação nos módulos iniciais. Ou seja, conforme se

dá a evolução pelas fases dos módulos iniciais, eventuais problemas na implementação

revelarão perspectivas de insucesso em relação aos módulos seguintes. Tem-se então que o

ciclo de vida do projeto (do início ao encerramento) e seu escopo é a implementação total do

sistema ERP.

Conforme o PMI (2013), o ciclo de vida do projeto é dividido em fases, geralmente

sequenciadas, em que o controle adicional é necessário para gerenciar de forma efetiva o

término de uma entrega importante. O final de cada fase representa um ponto natural de

reavaliação dos esforços em andamento e de modificações, caso necessário. É, portanto, o

momento de reavaliação das condições de sucesso para a fase seguinte.

Nesse modelo, o ciclo de vida do projeto será denotado por T. Ressalta-se que o

tempo necessário para a implementação do projeto está condicionado a fatores que serão

abordados a seguir. O projeto percorre quatro fases típicas: Fase 1 (F1) início / planejamento;

Fase 2 (F2) seleção do pacote; Fase 3 (F3) implementação e Fase 4 (F4) manutenção /

operação. A duração de cada fase é representada por .

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Independentemente da opção estratégica de aquisição do sistema, para a

implementação, essas fases precisam ser percorridas, alterando-se somente a complexidade, a

extensão de tempo, os dispêndios de capital e os riscos.

Seguem no Quadro 1 as 12 fases do projeto:

Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4

Módulo 1 M1 – F1 M1 – F2 M1 – F3 M1 – F4

Módulo 2 M2 – F1 M2 – F2 M2 – F3 M2 – F4

Módulo 3 M3 – F1 M3 – F2 M3 – F3 M3 – F4

Quadro 1: Matriz de módulos e fases do projeto

Fonte: o autor

Dessa forma, a árvore de decisão será constituída por 24 nós de decisão,

representando cada uma das fases citadas para cada estratégia de implementação (E-1 e E-2).

Assim, simplifica-se o modelo, uma vez que ele transforma o problema de tempo contínuo

das opções americanas, utilizando uma aproximação na qual o tempo para o exercício é

discretizado em períodos finitos de tempos, assemelhando-se a uma opção bermuda. Isso

simplifica a modelagem computacional.

Outro ponto relevante é a necessidade de distinguir e segregar o ciclo de vida do

projeto e o ciclo de vida do produto gerado pelo projeto, pois ambos têm amplitudes distintas.

O ciclo de vida do produto, no caso, é o ciclo de vida do sistema ERP, que compreende não

somente o ciclo de vida do projeto (implementação), mas também o tempo em que o sistema

será utilizado pela empresa, até a sua obsolecência. Afinal, será nessa segunda parte do ciclo

de vida do produto que as receitas serão geradas. O ciclo de vida do ERP é representado por

T*, e os períodos de tempo em que as receitas serão geradas, por .

Conforme mencionado anteriormente, as opções estratégicas do projeto estão

relacionadas à opção de expandir ou cancelar novos investimentos. A cada fase do projeto, o

gestor terá a possibilidade de decidir pela opção que gere maior valor para empresa. Isso será

representado pelas variáveis de decisão binária: 0 se a decisão for “não implementar”, e 1 se a

decisão for “implementar”.

Do ponto de vista das entradas de caixa que serão geradas pelos benefícios futuros do

projeto, por exemplo, se o mercado aparenta estar favorável, no sentido de realização das

estimativas sobre o valor do ativo subjacente, pode-se decidir por expandir o projeto, dando

sequência à implementação de novos módulos do sistema. Caso contrário, as adversidades

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podem levar a uma decisão de contrair a escala do projeto, abortando a implementação dos

módulos seguintes.

Com relação às saídas de caixa relacionadas aos gastos para implementação, as

mesmas opções estão disponíveis ao gestor, caso o projeto passe a consumir muito mais

recursos do que estimado inicialmente, devido a problemas, por exemplo, de falta de

aderência de alguma funcionalidade do sistema ao modelo de negócios da empresa, ou mesmo

a ocorrência de um evento inesperado (catastrófico ou contingente), que consuma valores

superiores à reserva de contingência inicialmente proposta.

Cabe destacar que, no momento de seleção da tecnologia e do fornecedor do pacote

de sistema ERP, ao fazer a análise comparativa dos participantes, o grau de flexibilidade

inerente ao sistema deverá ser devidamente ponderado, pois gerará maior valor ao projeto

frente às incertezas futuras. Na prática, observa-se que tal requisito é considerado na análise

técnica, porém, não é devidamente carregado para as estimativas de fluxo de caixa do projeto,

principalmente porque os métodos convencionais de VPL não são capazes de tratá-lo

adequadamente.

Considera-se então que as decisões de investimento para o projeto de ERP serão

feitas durante um horizonte de tempo de múltiplos períodos de 1 a T, durante o qual o

tomador de decisão possuirá as opções e flexibilidades gerenciais relacionadas ao timing e à

escala do investimento em cada fase. Assim, as análises de investimento e respectivas

decisões ocorrerão nessas múltiplas fases até o final do ciclo de vida, representadas como fase

t ϵ [1,..., T].

3.3 DEFINIÇÃO MACRO DO MODELO

Com base nas estratégias definidas no tópico anterior (E-1, E-2a, E-2b, E-2c), o

gestor pode optar por realizar um determinado dispêndio de capital (X) durante as diversas

fases do ciclo de vida do projeto. Em analogia às opções financeiras, esse dispêndio de capital

representa o “preço de exercício”.

Entretanto, como uma das particularidades dos projetos de sistemas ERP é o fato de

que os aportes são feitos escalonadamente ao longo do ciclo de vida do projeto, que tende a

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ser longo, como já mencionado, os maiores aportes acabam acontecendo no transcorrer do

projeto e dependem de inúmeras variáveis. Por exemplo, a quantidade de horas de consultoria

para configuração dos módulos e customizações, a quantidade de horas necessárias dos

usuários chaves, as necessidades de atualizações de hardware e redes de comunicação, dentre

outros.

Tudo isso “temperado apimentadamente pelos dissabores” das incertezas do futuro.

Assim, no momento do planejamento, a estimativa de investimento (X) será devidamente

orçada e estabelecida para cada fase do ciclo de vida do projeto; porém, a duração das fases

futuras é incerta em cada ponto do tempo t ϵ [1,..., T]. Os benefícios, convertidos em receitas,

representam o valor do projeto, e são denotados por S (τ), dado o tempo τ. Novamente, em

analogia às opções financeiras, tais benefícios evidenciam o “valor do ativo subjacente”.

Considera-se que os dispêndios de capital para investimento no projeto ERP são

representados por X (t), dado o tempo t. Devido aos eventos imprevisíveis que podem

acarretar mudanças nos requisitos iniciais do projeto, X (t) será incerto para t > 1. Espera-se

assim que, após o investimento inicial e a implementação do ERP, a empresa comece a

receber os benefícios S de diversas formas, que transcorrerão até o fim do ciclo de vida do

sistema T*. Dessa forma, quanto mais rápido ocorrer a implementação, maior será o valor do

projeto (S).

Contudo, as opções que podem ser exercídas pelo gestor (expandir ou cancelar novos

investimentos) impactam diretamente no cronograma (timing) do projeto, alterando tanto os

investimentos (X) quanto o recebimento das receitas (S). Ao considerar ainda que uma

dilatação no cronograma impacta na volatilidade dos fluxos, pois tanto podem elevar quanto

amenizar as incertezas, as projeções de investimentos e receitas serão impactadas. Assim,

esses dois fatores devem ser analisados de forma associada, para que seja possível tomar a

decisão ótima.

3.3.1 ESTIMATIVA DAS ENTRADAS DE CAIXA GERADAS PELOS BENEFÍCIOS DO PROJETO

O valor do projeto (S) retrata o ativo subjacente da operação, devendo ser medido em

função das entradas de caixa geradas pelos benefícios tangíveis e intangíveis do ERP. Esses

somente fluirão ao término de sua implementação, quando a empresa passar a usufrir das

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potencialidades e dos ganhos de competitividade pelo uso do ERP durante o ciclo de vida da

tecnologia. Portanto, são representados pela equação ∗

∗ ∗ em que ∗

corresponde aos benefícios tangíveis e ∗ aos benefícios intangíveis.

Conforme Wu et. al. (2008), os benefícios oriundos do projeto ERP podem ser

categorizados como tangíveis ou intangíveis. Os benefícios tangíveis normalmente denotam

aspectos relacionados à redução de custos de produção, estoque e de ganhos de produtividade,

seja nos aspectos produtivos ou em vendas. São, em si, um lucro incremental para a empresa.

Por sua característica, há meios que possibilitam uma quantificação e aferição.

Por outro lado, devido aos seus aspectos subjetivos, os benefícios intangíveis

dificilmente são mensuráveis de forma confiável, restando aos gestores buscar justificativas

qualitativas. Essas normalmente consistem em comprovar uma elevação na qualidade do

produto, a redução do tempo destinada a várias atividades operacionais, o aumento da

flexibilidade operacional nas empresas, a promoção da imagem corporativa como uma

empresa moderna, entre outros.

Em razão das dificuldades para aferição dos chamados benefícios intangíveis, esses

acabam ficando de fora da maioria das abordagens de avaliação, resultando em uma

subvalorização do valor do projeto. Não obstante as dificuldades encontradas nas tentativas de

quantificação e estimação dos benefícios gerados pela implementação do ERP, sejam eles

tangíveis ou intangíveis, é certo que ambos possuem incertezas significantes, devido ao

ambiente altamente competitivo em que as empresas atuam.

Neste trabalho, assumiu-se que o lucro incremental gerado pelos benefícios tangíveis

e intangíveis do projeto oscila em função da demanda, com tendência crescente, dada certa

taxa de crescimento ( ), como em Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003) e em Wu et. al.

(2008). Assim, para ambos os benefícios, o valor do projeto dependerá da demanda futura do

mercado pelos produtos da empresa.

Essa avaliação deve ser feita em cada fase do projeto, como forma de realinhar as

opções estratégicas (expandir ou abandonar). Desse modo, caso ocorra uma elevação na

expectativa de demanda, os benefícios aumentam, tornando mais valorosa a opção de

implementação de todos os módulos do ERP. Se houver queda da demanda, os benefícios

diminuem, fazendo com que a opção de abandono do projeto seja mais valorosa.

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3.3.1.1 Entradas de caixa em função dos benefícios tangíveis

As entradas de fluxo de caixa geradas pelos benefícios tangíveis (BT) decorrem do

incremento no lucro unitário médio dos produtos vendidos pela empresa, devido a uma

redução de custos ( b ). Essas são multiplicadas pela demanda total dos produtos da empresa,

projetada ao longo do ciclo de vida útil do ERP. Ou seja, durante o período em que o ERP

será utilizado na empresa.

Cabe recordar que a geração de benefícios se dá a partir do ano seguinte à conclusão

do projeto ( ) e segue até o fim do ciclo de vida do sistema ( ). Por isso, os benefícios serão

zero antes do ano . Assim, quanto mais rápido ele for implementado, maior será o seu valor,

uma vez que cada ano dispendido para implementação resulta em perda de receita.

Dado que denota a demanda total dos produtos da empresa no mercado no ano τ,

o valor presente do BT no tempo total do ciclo de vida, considerada a taxa de desconto, é

representado por:

�∗

∗ (20)

Essa demanda total é comumente observada como um processo de difusão

(SCHWARTZ; ZOZAYA-GOROSTIZA, 2003; WU et. al., 2008). O método para modelagem

do processo estocástico das entradas de caixa que valoram o ativo subjacente depende de suas

características (COPELAND; ANTIKAROV, 2001). Normalmente, o valor segue uma série

multiplicativa ou aditiva ao longo do tempo.

Em um processo multiplicativo (ou geométrico), a série se inicia com um valor (Vo),

que se move para baixo ou para cima em uma grade temporal, multiplicando-se o valor (Vo)

por um fator de movimento ascendente (u > 1) ou descendente (d < 1). Tem-se então um

MBG, em geral representado por uma distribuição logarítmica normal de probabilidades.

Contudo, se há motivos para crer que o valor possa se tornar negativo, isso pode ser

um indicativo de que ele é melhor modelado por um processo aditivo (ou aritmético). Dessa

forma, os movimentos ascendentes e descendentes ao longo da grade temporal são

considerados aditivos, em vez de multiplicativos. Os valores serão alterados pela soma, no

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período anterior, dos movimentos ascendentes, ou pela subtração dos movimentos

descendentes do período atual. Tem-se então um Movimento Browniano Aritmético (MBA),

em geral representado por uma distribuição normal de probabilidades. Segundo Copeland e

Antikarov (2001), na maior parte do tempo, os processos estocásticos são trabalhados pelos de

tipo multiplicativo (MBG).

Ao considerar a demanda total no ano τ, observa-se que, normalmente, ela é

melhor representada por um processo de difusão por MBG, uma vez que possui a propriedade

de Markov (o preço atual comporta toda a sua informação), ou seja, permite um crescimento

exponencial e não admite valores negativos (DIXIT; PINDYCK, 1993). Desse modo, o

coeficiente diferencial de é dado como:

(21)

Em que:

a) = processo estocástico relacionado à demanda dos produtos da empresa;

b) = parâmetro relacionado à tendência instantânea do processo;

c) = intervalo de tempo infinitesimal;

d) = parâmetro relacionado à volatilidade instantânea do processo;

e) = incremento do processo de Gauss-Wiener.

Conforme Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003), com a premissa de neutralidade ao

risco, é necessário subtrair da tendência o prêmio de risco ( ). Assim, as variações da

demanda podem ser descritas como:

(22)

O cálculo da demanda futura por meio do @Risk pode ser aproximado pela fórmula

a seguir:

(23)

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Em que é uma amostra de uma distribuição normal de média zero e desvio padrão

1. O processo se repete para cada um dos anos que se deseja estimar a demanda. Para o

cálculo do utiliza-se como o último valor do histórico da demanda. Como ressalva,

a fórmula anterior é uma aproximação, pois, na realidade, o @Risk faz o cálculo por meio de

integração numérica.

Para efeito do cálculo de valor presente ∗

o tempo transcorrido do momento

atual até o momento no tempo é representado por . Dessa forma, caso o projeto seja

concluído no ano 3, o benefício começará a ser gerado no ano 4. Portanto, nesse ano, a taxa de

desconto será elevada à potência 4 ( = 4).

3.3.1.2 Entradas de caixa em função dos benefícios intangíveis

A implementação de um projeto de sistema ERP carrega consigo um conjunto de

expectativas relacionadas a possíveis benefícios de difícil mensuração. Em geral, estão

relacionados a ganhos de competitividade, elevação na qualidade dos produtos e processos,

elevação na capacidade gerencial, melhora na habilidade de inovação corporativa, dentre

outros. Wu et. al. (2008) propuseram a utilização de um modelo de Índice de Criação de Valor

(ICV), desenvolvido por Kalafut e Low (2001), para obter uma medida de performance

relacionada à geração de valor para a empresa, por meio do ERP.

Em suma, o modelo é aplicado em conjunto com um método de avaliação difusa

(fuzzy logic), para se obter a variação no ICV da empresa, com a implementação do ERP. Ou

seja, considera a possível melhora no índice por meio do ERP. Essa variação ( δ ) é então

aplicada sobre o lucro líquido total da empresa estimado durante o ciclo de vida do ERP.

Presume-se que uma variação positiva no índice represente um aumento generalizado

no lucro líquido da empresa e, consequentemente, no seu valor, visto que a valoração está

atrelada aos lucros futuros. Neste trabalho, não se abordou a forma de apuração do índice,

mas, no modelo proposto, essa variação nos lucros totais da empresa é considerada.

No caso, o lucro líquido total da empresa está relacionado à demanda de seus

produtos no mercado (G no momento τ), ao lucro unitário médio de seus produtos vendidos

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(p) e ao incremento de lucro unitário médio gerado pelo projeto (b). Ao considerar que o total

de benefícios intangíveis trazidos pelo projeto é a variação nos lucros totais da empresa, é

necessário multiplicar o resultado pelo δ estimado para o ICV da empresa. Assim, o valor

presente estimado dos benefícios intangíveis é:

�∗

∗ (24)

A exemplo dos benefícios tangíveis, a somatória inclui o fluxo de todos os anos de τ

a

3.3.2 MENSURAÇÃO DAS SAÍDAS DE CAIXA PELOS VALORES INVESTIDOS NO PROJETO

O dispêndio de capital para investimento no projeto (X), que representa o preço de

exercício, engloba todos os gastos necessários para a realização do projeto ERP, os quais

tendem a variar exponencialmente, dependendo do tamanho da empresa, do pacote de

aplicativos selecionado, do número de usuários e acessos, da não aderência de processos de

negócios, dentre outros fatores.

Os gastos transcorrem nas diversas fases do projeto e, normalmente, estão

relacionados principalmente à aquisição do software e hardware, às taxas de manutenção do

software, às horas técnicas para implementação (consultores externos ou internos), à

adequação de bases de dados, à integração de sistemas legados e a treinamento.

No caso específico dos projetos de implementação de sistemas ERP, a quantidade de

horas necessárias para as diversas atividades que demandam consultores especializados

(internos e/ou externos) tende a ser a grande incógnita e principal vertente de riscos. O’Keeffe

e Oliveira (2012) realizaram um estudo no qual foi constatado que a incerteza do projeto está

diretamente associada ao erro de estimativa de duração. Ressaltaram que a redução de erros

de estimativas em projetos de software representa um desafio que vem sendo enfrentando por

profissionais.

Durante o desenvolvimento do plano de gerenciamento do projeto, são feitas as

estimativas de duração das atividades, que são os números de períodos de trabalho necessários

para executar atividades específicas com os recursos alocados (PMI, 2013). Em projetos de

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60

implementações de softwares, a duração é geralmente expressa em meses, dias ou horas, e

obtida pela multiplicação do número de profissionais alocados pelo tempo de alocação no

projeto. O custo total, por sua vez, é a multiplicação da quantidade de tempo pelo custo

unitário.

Em linhas gerais, pode ser expresso pela notação X=CS+CH+CC+CM+CCI, em

que CS é o custo para aquisição do software, CH é o custo para aquisição de hardware, CC é o

custo para aquisição de conhecimento (treinamento e pesquisa), CM é o custo com taxa

mensal de manutenção da licença de software e CCI é o custo com consultoria para

implementação do sistema.

3.3.2.1 Saídas de caixa em função dos custos com aquisição de hardware

Os custos com aquisição de hardwares correspondem aos equipamentos necessários

para a utilização do ERP, incluindo servidores, redes de acesso, estações de trabalho,

impressoras etc. Normalmente, ocorrem no início do projeto e tendem a ser os mesmos em

ambas alternativas (completa ou modular). Por isso, a variação no preço tende a ser mínima,

pois acontece logo nos primeiros meses do projeto. Isso considerando que houve uma

adequada avaliação técnica para determinação da infraestrutura necessária aos aplicativos,

inclusive com escalabilidade. Neste trabalho, adotou-se como premissa de que se trata de um

valor determinístico (CH).

Ao considerar que o momento em que ocorre o custo é o período de tempo

acumulado desde o início do projeto ( ), então . Assim, o valor presente em

função do tempo transcorrido até aquele momento é dado por:

��∗ (25)

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3.3.2.2 Saídas de caixa em função dos custos com obtenção de conhecimento

Os custos com obtenção de conhecimento (CC) representam os investimentos em

treinamento da equipe e as possíveis consultorias de mapeamento de processos e análise de

aderência. Investimentos nesse ítem normalmente ocorrem no início do projeto e agregam

valor na medida em que potencializam seus fatores críticos de sucesso, contribuindo para a

consecução dos objetivos traçados e do escopo definido.

O valor a ser investido nesse item apresenta certo grau de volatilidade, pelo fato de

ainda não ser possível estimar com exatidão qual será a quantidade e intensidade ideal de

aquisição de pacotes de treinamento e serviços de consultoria. Isso se revela no início das

primeiras fases, em que as análises de aderência e de necessidades do projeto serão

executadas. Por isso, para a estimativa de seu valor médio, é atribuida uma distribuição

normal de probabilidades, com a seguinte fórmula:

(26)

Em que:

a) é o valor médio estimado de CC;

b) é o desvio padrão de CC.

O valor presente em função do tempo transcorrido até aquele momento é dado

por:

��∗ (27)

3.3.2.3 Saídas de caixa em função dos custos com aquisição do software (ERP)

O custo para aquisição de licença de uso permanente do software é o valor a ser pago

pelo pacote de aplicativos do ERP. Relaciona-se ao tipo de escolha feito pela empresa, sendo

definido na segunda fase do projeto (F2). Caso a empresa opte pela aquisição do ERP

completo, com todos os grupos de módulos de aplicativos, obterá um desconto. Estima-se

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algo em torno de 10% a 20%, dependendo do fornecedor. Contudo, precisará desembolsar o

valor no início do projeto, passando a pagar as taxas de manutenção do software (mensal ou

anual) e assumindo o risco de não ter sucesso na implementação de todos os pacotes.

Caso opte pela aquisição desmembrada dos módulos de aplicativos, perderá o

benefício do desconto, porém, será benefíciada quando escolher entre a opção de expandir e

de cancelar novos investimentos. Nesse caso, em cada módulo, tem-se a fase de aquisição

(fase 2), confluindo, assim, em três momentos distintos: M1-F2, M2-F2, M3-F2. Como

vantagem, terá uma flexibilidade maior durante o projeto, podendo evitar os custos afundados

(sunk costs) incorridos na aquisição completa dos módulos no início do projeto.

Caso o projeto tenha um grau elevado de incertezas, esse pode ser um grande

direcionador de valor para o gestor. Por exemplo, caso ocorra algum evento castrófico (ou

contingente), ou, então, uma queda na demanda pelos produtos da empresa, fazendo com que

o valor dos benefícios do projeto dinimuam. De qualquer forma, neste trabalho, partiu-se da

premissa de que a compra do sistema ERP (CS) é uma variável determinística, tanto no pacote

completo ( quanto nos módulos de aplicativos (

Como na estratégia de implementação E–2 os módutos do ERP são adquiridos ao

longo do projeto, para o valor presente, tem-se a seguinte equação:

��

��∗

��∗

��∗ (28)

Se a estratégia de implementação E-1 é escolhida, então, o preço da licença do

pacote completo do software apresenta um desconto ( d ) em relação à soma dos três módulos.

Nesse caso, o custo é dado por = x ( 1 – d ). O valor presente

em função do tempo transcorrido até aquele momento é dado por:

��

��

��∗ (29)

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3.3.2.4 Saídas de caixa em função dos custos com consultoria para implementação

Os custos com consultoria para implementação do sistema estão relacionados à

alocação de funcionários ou à contratação de consultores externos para as diversas atividades

e tarefas do projeto. Tais valores incorrem durante todo o ciclo de vida do projeto, de acordo

com os pacotes de trabalhos e a complexidade das tarefas.

Em geral, as empresas utilizam consultores externos, que possuam um conhecimento

aprofundado do ERP escolhido e já tenham experiências anteriores de implementação. O

custo total nessa modalidade tem sua variação em função da quantidade de horas técnicas

necessárias para as atividades do projeto e o valor unitário das horas de consultoria .

Portanto:

(30)

A quantidade total de horas técnicas tende a ser o grande fator de incerteza e está

diretamente ligada à duração do projeto. Por exemplo, se a empresa contratar cinco

consultores com dedicação exclusiva ao projeto e eles trabalharem 200 horas por mês, isso

resulta em um total de 1.000 horas técnicas mensais disponíveis (a serem pagas). Se o projeto

demandar 20.000 horas, a duração do projeto será de 20 meses.

A empresa tem a opção de contratar mais consultores para encurtar a duração;

contudo, isso normalmente esbarra na escassez de profissionais no mercado ou em situações

em que as atividades não podem ser desenvolvidas simultaneamente. Portanto, o limite de

horas mensais disponíveis deve ser inserido com uma restrição .

Como normalmente as empresas não têm base de dados históricos para utilizar como

referência na apuração estatística de valores médios e variância, faz-se necessário o uso de

técnicas e ferramentas de estimativas para os parâmetros de entrada do modelo, os quais

alimentarão a simulação e a otimização.

Dentre as ferramentas e técnicas sugeridas pelo PMI (2013) para a estimativa de

custos em projetos, constam as estimativas de três pontos, em que são atribuidas três faixas

aproximadas para o custo da atividade: otimista, pessimista e mais provável. O custo estimado

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da atividade é obtido por uma distribuição beta ou uma distribuição triangular, com uma das

seguintes fórmulas:

Distribuição triangular (31)

Distribuição beta (32)

Neste trabalho, optou-se pela opinião especializada (consultores externos e internos)

em confluência com a estimativa de três pontos com distribuição beta (PERT – Técnica de

Revisão e Avaliação de Programa), com vistas a coletar a quantidade estimada de horas

técnicas para cada atividade dentro da Estrutura Analítica do Projeto (EAP). Assim, na

ausência de bases históricas, o conhecimento e a experiência dos especialistas agregarão

maior confiabilidade às estimativas.

Os pacotes de trabalho são agregados nas 12 etapas do projeto (M1 – F1 ... M3 – F3),

representadas no modelo como (Módulo i de 1 a 3) e (Fase j de 1 a 4 ). Assim, os

especialistas fornecem suas estimativas sobre: a quantidade mínima de horas , a

quantidade mais provável de horas e a quantidade máxima de horas .

Para o cálculo da quantidade média de horas necessárias ( �

), tem-se a seguinte equação:

(33)

A essa quantidade estimada de horas, será acrescida a possibilidade de ocorrência de

um evento (catastrófico ou contingente), que pode resultar na demanda por mais horas de

implementação. Isso será abordado no próximo tópico.

Para o cálculo do valor futuro do CCI, multiplica-se a quantidade de horas pelo custo

unitário da consultoria:

(34)

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O valor presente em função do tempo transcorrido até aquele momento é dado

por:

��

� �∗ (35)

Estimada a quantidade média de horas, é preciso convertê-las ao equivalente em

anos, respeitando o limite máximo de horas mensais disponíveis . Esse padrão temporal

é necessário para a aplicação das taxas de desconto e para o cálculo do custo da taxa de

manutenção, abordada anteriormente. O valor total de horas expresso em anos ( �

é dado

por:

�� (36)

Esse equivalente em anos denota a duração de cada uma das 12 fases do projeto.

Portanto, por convenção, �

3.3.2.5 Saídas de caixa em função de evento catastrófico ou contingente

Conforme mencionado no tópico anterior, outro fator a ser considerado é a

possibilidade de ocorrer algum acontecimento inesperado, com baixa probabilidade de

ocorrência, mas com elevado impacto, a ponto de causar problemas significativos para o

andamento do projeto e, como consequência, acarretar mais horas técnicas de consultoria. Por

exemplo, o caso de um erro técnico na migração dos dados que resulte em inconsistências

drásticas nas informações e na credibilidade do aplicativo, gerando retrabalhos e esforços

elevados para saneamento do problema.

Diferentemente de Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003), faz-se referência a essa

possibilidade como um “evento contingente”, considerando que, com a ocorrência de tal

evento, o projeto não acabará, mas terá um impacto significativo no número de horas,

atrasando o projeto, demandando um aumento na estimativa de horas e, consequentemente,

elevando os custos.

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Considera-se que o termo “contingente” é mais adequado, por significar algo que

pode ou não acontecer, mas que não ocorrerá necessariamente, podendo, portanto, ser

previnido de alguma forma. A palavra se opõe, em todos os sentidos, a “necessidade”. Um

terremoto é um evento “necessário”, conforme as leis da natureza, porém, a queda de um

prédio, em função do terremoto, é um evento contingente, pois poderia ter sido construído de

modo a absorver o impacto. Desse modo, em sentido geral, “é contingente tudo aquilo que é

concebido como podendo ser ou não, sob qualquer aspecto e sob qualquer reserva que seja”

(LALANDE et. al., 1993, p.203).

Ademais, o termo vai ao encontro da acepção adotada nas práticas de gerenciamento

de riscos em projetos do PMI (2013), em que são incluídas, nas estimativas de custos,

“reservas para contingências” para fazer frente aos riscos quantificáveis do projeto. Conflui-se

também com os fundamentos de contabilidade, em que são constituídas “reservas para

contingências” para preservar o patrimônio em relação a fatos ainda incertos, porém,

previsíveis e possíveis de serem mensurados de forma razoável.

Conforme já mencionado, no modelo estruturado neste trabalho, visando a uma

abordagem mais pragmática, considerou-se que a ocorrência do evento não resulta em

“morte” do projeto, mas sim na adoção de medidas corretivas para sanar o problema. A

questão é que o evento causará atrasos no cronograma e, consequentemente, maiores custos.

Assim, uma abordagem mais adequada é a inclusão desse risco no fluxo de caixa (numerador)

em vez de na taxa de desconto (denominador).

Nesse sentido, como recomenda o PMI (2013), baseado na "Matriz de Probabilidade

e Impacto", à probabilidade de o risco ocorrer, atribui-se um percentual entre 0% a 100% (λ),

e ao impacto do risco, uma quantidade de horas adicionais ao projeto para correção do

problema. Caso o evento ocorra, serão então adicionadas tais horas ao cronograma do projeto,

com seu respectivo custo. Para adequação do termo, utiliza-se a expressão “frequência e

severidade” em vez de “probabilidade e impacto”.

Esse conceito vai ao encontro da abordagem de distribuição de perdas (LDA – Loss

Distribution Approach), comumente utilizada na mensuração de risco operacional e nos

cálculos atuariais de seguros. Nessa abordagem, é construída a distribuição de perdas

agregadas pelo processo de convolução (distribuição de probabilidade da função soma de

duas variáveis aleatórias), entre a distribuição de severidade do evento e a de frequência das

ocorrências do evento.

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Nesse contexto, conforme Panjer (2006), a função de probabilidade para a

distribuição agregada de perdas pode ser expressa da seguinte forma:

(37)

Em que:

a) é a probabilidade de ocorrência do evento n ;

b) é a função densidade de probabilidade dos valores de perdas “x”.

No modelo, o evento contingente (EC) é tratado na simulação como uma convolução

entre a distribuição de Poisson para a frequência do evento ( λ ), e a distribuição logarítmica

normal para a severidade (SVM) ocasionada, caso ocorra. O evento pode ocorrer

aleatoriamente em qualquer uma das 12 fases do projeto (M1-F1... M3-F3). Os parâmetros de

estimativa de frequência e severidade do evento contingente serão fornecidos pelos

especialistas do projeto.

Para a composição do risco, a distribuição de probabilidade de Poisson representa a

frequência de ocorrência do evento em determinado espaço de tempo, sendo expressa pela

seguinte equação:

� ��

(38)

Em que:

a) λ* é a probabilidade de ocorrência do evento durante o projeto;

b) x pertence ao conjunto dos números naturais e faz variar os resultados da distribuição.

x! = x . (x-1) . (x-2)....2.1 sendo, por exemplo: 3! = 3 x 2 x 1 = 6 e 2! = 2 x 1 = 2. Foi

estabelecido que 1! = 1 e 0! = 1. Essa é a base dos logaritmos naturais, por isso, vale

2,718281828.

Para a distribuição de probabilidade logarítmica normal, que representa a severidade

do evento, caso ocorra, a equação é assim calculada:

� (39)

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Em que:

a) SVM é a quantidade média de horas que serão acrescidas ao projeto, caso ocorra o

evento;

b) exp é a função exponencial de base;

c) ln é o logaritmo natural, na base;

d) x pertence ao conjunto dos números reais maiores do que zero e faz variar os

resultados da distribuição;

e) φ' é o valor ajustado de φ (desvio padrão) de SVM φ'. O ajuste é dado pela fórmula:

(40)

f) SVM’ é o valor ajustado de SVM. O ajuste é dado pela fórmula:

� � (41)

Pela convolução, obtém-se uma distribuição Poisson-logarítmica composta pelos

resultados das distribuições de Poisson e logarítmica normal, gerando um valor médio bem

próximo do produto dos resultados. Assim, por exemplo, um evento com frequência ( λ* )

estimada em 10% ao longo das 12 etapas de duração do projeto, com severidade estimada de

10.000 horas e desvio padrão (φ ) de 1.000 horas, resulta em SVM de 997,9 horas.

Cabe destacar que, embora o resultado seja expresso em quantidade média de horas

(SVM), durante todo o processo iterativo da simulação, o evento acontecerá (ou não)

conforme os parâmetros incluidos. Desse modo, se o simulador for ajustado para realizar

5.000 iterações, o evento acontecerá em 500 das iterações (10%), gerando, naquele momento,

algo em torno de 10.000 horas (com desvio padrão de 1.000 horas). Trata-se da média

aritmética das 5.000 iterações, comumente utilizada para expressar o valor médio do processo

iterativo de simulação.

Outra questão para fluência do modelo é que, caso esse ocorra, será “sorteado” entre

os 12 estágios do projeto. Dessa forma, ajusta-se o cronograma do projeto e sua duração.

Desse modo, se o evento ocorrer nos estágios iniciais, resultará em maiores custos de taxa de

manutenção do software (CM), penalizando duplamente o projeto.

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Por exemplo, se ocorrer no estágio M1 – F3, na estratégia de implementação E-1

(pacote completo), as 10.000 horas (aproximadamente, em função do desvio padrão)

acarretarão um atraso de 15 meses no projeto, gerando um aumento no custo de consultoria

para implementação (CCI) e no custo de manutenção do software (CM) pago durante esses 15

meses. Como consequência, isso afetará diretamente o VPL do projeto naquela rodada de

iteração.

O estágio “Módulo – Fase” , em que poderá incidir ou não o evento, será

escolhido por sorteio simples, dado por:

(42)

Por fim, o acréscimento de horas do evento será incorporado ao custo de consultoria

para implementação (CCI), pois a severidade é representada por horas a mais ao projeto e seu

respectivo custo.

3.3.2.6 Saídas de caixa em função dos custos com taxa mensal de manutenção do ERP

O custo com taxa de manutenção do software (CM) é cobrado pelo fornecedor para

garantir o suporte técnico durante o período de uso, além de toda a necessidade de atualização

para suprir novas demandas legais e funcionalidades. Em geral a taxa começa a ser paga a

partir da aquisição do ERP completo ou de cada pacote de módulos. Essa modalidade de

cobrança pode variar de fornecedor para fornecedor.

Como benefício pela escolha da aquisição por módulos, caso a implementação do

módulo 1 (M1) demande mais tempo, economiza-se com as taxas de manutenção do M2 e M3.

Se a empresa optar pelo cancelamento de investimentos, economizará com custos afundados

(sunk costs) que incorreria na opção pelo ERP completo.

Os custos de manutenção e suporte começam a ocorrer a partir do momento de

aquisição de cada um dos três módulos do software ou do pacote completo. Os valores

precisam ser calculados em cada uma das 12 fases do projeto de implementação,

considerando o período de duração da fase (t) e multiplicando pela taxa anual de manutenção.

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Caso a estratégia de implementação escolhida seja E–1 (pacote completo), incorrerá

em custos de até . Cada valor é calculado pela multiplicação do custo anual de

manutenção do pacote completo (CMPC) pelo valor de cada , resultando em CMPC x . O

valor presente em função do tempo transcorrido até aquele momento é dado por:

� (43)

Caso a estratégia de implementação adotada seja E–2 (modular), incorrerá em custos

de até conforme o cronograma de aquisição de cada módulo ao longo do projeto. O

valor presente será:

� (44)

Em que * = M1, M2, M3.

3.3.3 A PROGRAMAÇÃO ESTOCÁSTICA INTEIRA

Com base em Wu et. al. (2008), neste trabalho, adotou-se um modelo de

programação estocástica inteira para resolver o problema de otimização, ou seja, a

identificação da decisão que maximiza o resultado. Conforme Evans e Olson (2002), um

modelo de otimização busca escolher os melhores valores para um conjunto de variáveis de

decisão, para maximizar ou minimizar uma função objetivo (por exemplo, maximizar o VPL

ou minimizar custos). Em geral, os problemas de otimização têm restrições (limitações ou

requisitos) que as variáveis de decisão devem satisfazer, como as restrições orçamentárias de

um projeto.

Os tipos mais comuns de problemas de otimização são: linear, não linear e inteira.

O modelo adotado é um problema de otimização (ou programação) inteira porque contém

variáveis binárias restritas a números inteiros: 0 ou 1. Como em cada uma das 12 fases do

projeto há a opção de implementá-lo ou de abandoná-lo, essas serão modeladas como

variáveis de decisão 1 (implementa) e 0 (não implementa).

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A programação estocástica é assim classificada por utilizar variáveis aleatórias, em

que suas características operacionais estocásticas são definidas por meio de funções de

probabilidade. Assim, mais de de uma solução será gerada, com vistas a analisar os diferentes

cenários, não tendo garantia da solução ótima (HILLER; LIEBERMAN, 2005). Portanto,

mais importante do que a solução ótima identificada é a análise dos diferentes cenários

gerados pela combinação das variáveis aleatórias.

Ao considerar que a decisão principal do modelo é dividida em decisões

intermediárias ao longo das fases do projeto, o primeiro passo é transformar o problema

principal em subproblemas. Desse modo, um conjunto de cenários é obtido, representando as

variáveis decisórias. Esses cenários são demonstrados em uma árvore decisória, cujos nós de

decisão representam a variável binária 1 (implementa) e 0 (não implementa).

Para possibilitar o fluxo decisório nos ramos da árvore, as variáveis estocásticas são

transformadas em determinísticas, por meio de simulação. Como discorrido anteriormente, da

mesma maneira que em Wu et. al. (2008), em vez de simulação de Monte Carlo, utiliza-se a

simulação por Hipercubo Latino (TAEHL).

A simulação tem sido amplamente utilizada para a análise e avaliação de riscos e

problemas de decisão. Envolve a construção de um modelo aproximado da realidade, o qual,

por meio de repetições e iterações de determinadas variáveis, possibilita uma análise e

manipulação dos resultados prováveis (EVANS; OLSON, 2002). Em um modelo matemático

e sistêmico, insere-se um conjunto de parâmetros e variáveis (determinísticas e

probabilísticas) que é submetido a um longo processo de simulação, segundo uma

determinada distribuição de probabilidades (HILLER; LIEBERMAN, 2005).

Uma das abordagens mais conhecidas é o método de Monte Carlo. Porém, outra

técnica relevante de simulação com amostragem estratificada é a Técnica de Amostragem

Estratificada por Hipercubo Latino (TAEHL). Nessa técnica, a seleção dos valores da amostra

é controlada, gerando uma necessidade menor de amostras para se obter uma distribuição

mais representativa (SALIBY, 1997), proporcionando redução de variância. Como o número

de sorteios é diretamente proporcional à probabilidade de cada faixa, o número de amostras

representa de forma adequada a distribuição de probabilidades, ou seja, a distribuição dos

sorteios ocorre de forma uniforme dentro de cada faixa, conforme sua probabilidade.

Segundo Evans e Olson (2002), a TAEHL é mais precisa do que o método de Monte

Carlo, porque apresenta amostras de dentro da faixa estratificada de distribuição de maneira

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72

mais consistente, atingindo a mesma acurácia com um número menor de rodadas de

simulações. O Hipercubo Latino foi desenvolvido para estudar a segurança de reatores do

Grupo de Hidrodinâmica do Laboratório Científico de Los Alamos, em situações em que as

janelas de tempo dos experimentos eram muito pequenas, e as variáveis de entrada

precisavam ser uniformemente distribuídas em seus respectivos intervalos e escolhidas com

bastante cuidado.

Para os valores determinísticos, atribui-se a média aritmética obtida na simulação. Os

subproblemas que compõem a árvore decisória são resolvidos iterativamente durante as

simulações. As restrições são aplicadas no modelo, para estabelecer a lógica do processo

decisório e filtrar a combinação de variáveis decisórias. O processo iterativo é contínuo até

que a solução ótima seja encontrada.

Como em qualquer processo em que há o uso de simulação, vale mais a análise dos

caminhos percorridos no processo do que os valores médios obtidos. Isso porque, como na

simulação se busca reproduzir possíveis cenários aleatórios, a análise das possíveis decisões e

dos riscos reportados no experimento acaba sendo o princípal benefício. Bem estruturada,

fornece informações importantes sobre os resultados extremos que podem ocorrer e extrai

relevantes conclusões estatísticas (EVANS; OLSON, 2002).

3.3.3.1 Variáveis e parâmetros do modelo

As variáveis de decisão e os demais parâmetros usados no modelo proposto são

listados a seguir.

Variáveis de decisão para :

a) �

: variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação E–1 (pacote

completo do software) for escolhida no período t, então �

= 1. Caso contrário,

�= 0. Como as decisões serão tomadas em cada fase do projeto, no caso das 12

fases, isso corresponde ao módulo i (1 a 3) e fase j (1 a 4);

b) �

: variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação E–2a (módulo 1)

for escolhida no período t, então �

= 1. Caso contrário, �

= 0;

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c) �

: variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação E–2b (módulo 2)

for escolhida no período t, então �

= 1. Caso contrário, �

= 0;

d) �

: variável binária (0 ou 1). Se a estratégia de implementação E–2c (módulo 3)

for escolhida no período t, então �

= 1. Caso contrário, �

= 0;

As variáveis U e ( V, W, Z ) são excludentes, pois a decisão base é a escolha entre a

implementação do pacote completo (V) ou modular (V, W, Z).

Variável de estado:

a) : fluxo de caixa no período t, dada a confluência dos custos e receitas.

Parâmetros de custo do projeto:

a) : investimento estrutural do projeto comum às

duas estratégias de implementação, em que é o custo com aquisição de

hardware, é o custo com aquisição de conhecimento e é o custo com

consultoria para implementação do software;

b) : gastos específicos do software em função da estratégia de

implementação escolhida, em que é o custo com aquisição do software (ERP) e

é o custo taxa de manutenção do software.

Parâmetros de receita do projeto:

a) ∗

∗ ∗: entradas de caixa em função dos benefícios trazidos pelo projeto,

em que ∗ corresponde aos benefícios tangíveis e ∗ aos benefícios intangíveis.

Os benefícios começam a ser gerados após a implementação plena do ERP. Portanto, a

receita só ocorrerá se o último módulo ( ) e a última fase ( forem atingidos.

Dessa maneira, como reflexo de se exercer a opção de abondono, não completando a

implementação, a empresa deixa de receber as receitas.

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3.3.3.2 Estruturação do modelo

A função objetivo deste modelo de programação estocástica inteira é a maximização

do VPL do projeto de implementação do sistema ERP, considerando as opções reais

compostas. Assim, o modelo é utilizado para obter o VPL máximo, sujeito a um conjunto de

restrições, gerado por uma das estratégias de implementação do sistema (pacote completo ou

modular). O VPL está no fluxo de caixa do projeto ( ) nos diversos períodos em que esse

transcorrer. Dessa forma, a solução factível que apresenta o melhor valor da função objetivo

decorre da seguinte equação:

Sendo que

∗ ∗ (45)

Sujeito às seguintes restrições e condições:

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a) As quatro decisões podem ser selecionadas ao longo do tempo, apenas uma vez:

(46)

b) Uma vez que a estratégia de implementação pelo pacote completo (E-1) é escolhida, a

implementação modular não pode ser escolhida:

(47)

c) Se a estratégia de implementação escolhida for do pacote completo (E–1), a

implementação modular (E-2) não pode ser selecionada, ou ambas não são

selecionadas:

(48)

d) O primeiro módulo ( ) tem que ser implementado antes do segundo ):

(49)

e) Como os módulos iniciais são pré-requisitos para os demais, as duas estratégias não

podem ser selecionadas ao mesmo tempo:

(50)

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f) Como restrição orçamentária, a soma dos custos de implementação não pode exceder a

das receitas, garantindo assim a geração de VPL positivo. Desse modo, a cada ponto

de decisão, avalia-se o VPL projetado, assumindo o pressuposto de que se naquele

dado momento os custos excederem os benefícios, o investimento deixa de ser ótimo,

então, a opção de abandono deve ser exercida:

(51)

3.3.3.3 Solução computacional

O modelo foi implementado no software The Decision Tools Suite, da Palisade, o

qual é um conjunto integrado de programas para análise de risco e tomada de decisão em

situações de incertezas. O programa é executado no Microsoft Excel.

As simulações foram geradas no módulo @RISK, que executa análise de risco para

mostrar vários resultados possíveis, dados os parâmetros do modelo e as distribuições de

probabilidade das variáveis. O gerador de números aleatórios para as variáveis estocásticas

abastece as células para a realização dos cálculos que vão compor os cenários possíveis,

gerando uma base comparativa fictícia para se avaliar os riscos que se deseja tomar ou evitar.

Como o modelo requer um conjunto de decisões sequenciais complexas, utilizou-se o

módulo PrecisionTree para delinear, organizar e analisar as decisões usando árvores de

decisão. Assim, as variáveis binárias (0 ou 1) são representadas nos nós de decisão da árvore,

os quais percorrem as 12 fases do projeto, seguindo a opção de implementá-lo ou abandoná-lo

(1 = implementa e 0 = não implementa). No modelo, a árvore não gera decisões

probabilísticas, mas organiza o fluxo decisório, respeitando as condições e restrições do

modelo.

Para a otimização, utilizou-se a integração com o módulo Evolver, o qual gera uma

série de soluções experimentais e emprega algoritmos genéticos, o OptQuest ou a

programação linear, visando a melhorar continuamente os resultados obtidos em cada

tentativa. A ferramenta busca encontrar a melhor solução "global" para um problema,

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indicando a solução ótima. Uma versão reduzida da árvore de decisão é apresentada na Figura

2, a seguir:

Figura 2: Versão reduzida da árvore de decisões

Fonte: elaborada pelo autor

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4 APLICAÇÃO PRÁTICA DO MODELO

4.1 DESCRIÇÃO GERAL DA APLICAÇÃO

Neste capítulo, elucida-se melhor e com mais detalhes o modelo proposto. Para isso,

apresenta-se um exemplo de projeto de implementação de um sistema ERP em uma empresa

de grande porte. Embora não se formalize como um estudo de caso, uma vez que a forma de

coleta de dados e os procedimentos operacionais não seguiu os processos formais inerentes a

tal método, as informações básicas foram colhidas de um projeto real.

Além dos detalhes da aplicação do modelo, apresenta-se a análise dos resultados e de

sensibilidade de alguns parâmetros. Por fim, discute-se as contribuições do modelo ao

processo de tomada de decisão sobre as estratégias de implementação, frente às flexibilidades

gerenciais incutidas no projeto.

Em linhas gerais, conforme descrito no tópico da modelagem, foram tratadas as

estratégias de implementação E-1 (compra do pacote completo) e E-2 (compra por módulos),

considerando as flexibilidades estratégicas, classificadas como “opções compostas”, em que, a

cada fase de implementação, tem-se a opção de expandir, implementando o módulo, ou a

opção de abandonar as próximas fases, cancelando novos investimentos. As estratégias estão

representadas na figura a seguir:

Figura 3: Ilustração das estratégias de implementação

Fonte: elaborada pelo autor

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Para simplificar o modelo e a abordagem computacional, estrutura-se a árvore de

decisão contendo os 24 nós de decisão das fases e da estratégia macro (E-1 e E-2),

representando cada uma das fases anteriormente expostas.

Como já informado, as opções embutidas no projeto permitem que, a cada fase de

implementação, seja analisada a opção de expandir, implementando o módulo, ou de

abandonar as próximas fases, cancelando novos investimentos. Em ambos os casos, o objetivo

final é a implementação total do sistema ERP. No entanto, presume-se que a aquisição

escalonada pode mitigar os riscos de perda dos custos afundados, caso ocorram problemas

durante a implementação nos módulos iniciais, ou até mesmo quando a expectativa de receitas

que serão geradas pelo projeto baixe a níveis que comprometam a atratividade do projeto.

4.2 VALOR DA OPORTUNIDADE DE INVESTIMENTO

O valor da oportunidade de investimento em uma opção real é o VPL dos fluxos de

caixa do projeto, acrescido da flexibilidade gerencial nele contida. Ou seja, suas opções reais.

Desse modo, o fluxo de entradas de caixa oriundo dos benefícios tangíveis e intangíveis que

serão gerados pelo projeto, após sua conclusão, é calculado com base nos seguintes

parâmetros:

Tabela 1 - Parâmetros de receita

Parâmetro Notação Valor Período de início da geração de benefícios τ 4 Período do ciclo de vida do ERP T* 10 Taxa livre de risco r 5,0% Estimativa de taxa de crescimento da demanda α 6,0% Prêmio de risco pela incerteza do fluxo de caixa η 5,5% Demanda histórica Gτ-₁ 1.363.100 Volatilidade da demanda σ 0,18 Redução de custo por unidade do produto b R$ 1,00 Lucro líquido unitário p R$ 13,00 Variação dos benefícios intangíveis δ 0,10

Conforme descrito anteriormente, as entradas de caixa são modeladas por MBG em

função do crescimento da demanda pelos produtos da empresa. Como a implementação do

sistema demanda aproximadamente três anos e meio e o ciclo de vida do ERP é de 10 anos, a

empresa usufruirá dos benefícios por seis anos (T* - τ ), uma vez que esses são obtidos a partir

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do 4º ano. A seguir, um gráfico de perfil resumido da série temporal, em que é possível

observar o movimento e a tendência da demanda ao longo dos anos:

Gráfico 1: Perfil resumido da série temporal de demanda

Fonte: elaborado pelo autor

Pelas características do MBG, embora disperso, o maior fluxo se concentra nos

pontos médios, na faixa entre 25% e 75% da amostra. Dessa forma, mesmo ocorrendo a

possibilidade de variações extremas em dado período, o movimento concentra-se nos pontos

médios e preserva a tendência de aumento, em razão do drift inserido. A análise dos valores

médios obtidos ao longo da série temporal ajuda a compreender o movimento.

A demanda média no 4º ano é de 1.397.607, enquanto no 10º e último ano, de

1.440.771, seguindo a curva de tendência neutra ao risco, inserida nos parâmetros. A partir

das projeções de demanda, calcula-se o valor presente dos benefícios, considerando a

estimativa de término das fases do projeto.

O fluxo de saídas do caixa necessário para cobrir os custos do projeto engloba todos

os gastos, incluido a compra de equipamentos de hardware, as licenças de uso permanente do

software e os custos de consultoria para implementação (X =CS+CH+CC+CM+CCI). Os

parâmetros necessários são apresentados na Tabela 2, a seguir:

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Tabela 2 - Parâmetros de custos

Parâmetro Símbolo Valor Prêmio de risco pela incerteza do fluxo de caixa η 5,50% Taxa livre de risco r 5,00% Taxa de Desconto γ 10,50% Preço do hardware CH R$ 350.000,00 Preço para aquisição de conhecimento CC R$ 600.000,00 Preço da taxa de manutenção do software (PC) CM R$ 486.000,00 Preço do software Módulo 1 CS M1 R$ 1.100.000,00 Preço do software Módulo 2 CS M2 R$ 800.000,00 Preço do software Módulo 3 CS M3 R$ 800.000,00 Desconto para compra do pacote completo do ERP d 10% Valor hora de consultoria para implementação ϴ HE R$ 200,00 Limite de horas mensais de consultoria LHE 640 Probabilidade de um Evento Contingente λ* 1% Severidade do evento contingente (+ horas no projeto) SVM 40.000 Desvio padrão da severidade ( φ ) φ 4.000

Observa-se que caso a escolha seja para implementação e compra do pacote

completo, a empresa obterá um desconto de 10% sobre o preço dos módulos. Em uma análise

da relação custo x benefício, o comprador precisa mensurar se o desconto proposto é

suficiente para cobrir o risco gerado pela inflexibilidade. Isso porque, como as taxas de

manutenção e suporte do software incidem logo após a compra e sobre todos os módulos do

sistema, o fato de não estar utilizando o sistema gera um custo adicional.

Para estimar a quantidade de horas necessárias à implementação do projeto, utilizou-

se uma estimativa de três pontos, inserida no modelo como uma distribuição PERT de

probabilidades. Os parâmetros estimados devem ser fornecidos pelos especialistas do projeto.

As estimativas são reportadas na Tabela 3, a seguir:

Tabela 3 - Estimativa de horas para implementação

Módulo - Fase Mínimo + Provável Máximo Desvio Padrão

Coefic. Var.

M1 - F1 1000 1200 2000 529,15 0,38 M1 - F2 600 730 1000 204,04 0,26 M1 - F3 4000 7100 12000 4033,61 0,52 M1 - F4 800 1300 2500 873,69 0,57

Horas implem. Mod. 1 6400,0 10330,0 17500,0 5628,3 0,49 M2 - F1 800 1050 1500 354,73 0,32 M2 - F2 400 500 700 152,75 0,29 M2 - F3 3000 5000 9000 3055,05 0,54 M2 - F4 800 1420 2000 600,11 0,43

Horas implem. Mod. 2 5000,0 7970,0 13200,0 4151,6 0,48 M3 - F1 600 720 1100 261,02 0,32 M3 - F2 400 520 600 100,66 0,20 M3 - F3 3000 5100 8000 2510,64 0,47 M3 - F4 800 1410 2000 600,03 0,43

Horas implem. Mod. 3 4800,0 7750,0 11700,0 3462,1 0,43 TOTAL EM HORAS 16200,0 26050,0 42400,0 13233,7 0,47

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Pelas estimativas levantadas e considerando a distribuição PERT, na qual o valor

mais provável tem peso 4, a duração esperada do projeto é de 27.133 horas. Essas

informações já são relevantes para análise do risco do projeto, considerando a opinião dos

especialistas. Observa-se que há uma amplitude que vai de 16.200 horas, no mínimo, a 42.400

horas, no máximo. Isso resulta em um desvio padrão expressivo, especialmente nas fases M1–

F3, M1–F4 e M2–F3. Uma análise detalhada e mais aprofundada pode revelar alguns

direcionadores de risco.

Vale lembrar que a duração de cada fase do projeto depende da quantidade

necessária de horas para completá-la, fazendo com que os custos de manutenção e o suporte

do software oscilem em função dela.

A ocorrência de um evento contingente, de acordo com os parâmetros de severidade

e frequência, acarreta um aumento expressivo na duração do projeto, fazendo com que seja

necessário um esforço adicional em consultoria, para sanar suas severas consequências.

Contudo, como a probabilidade estimada é baixa (1%), na apuração dos valores médios da

simulação, o impacto será irrelevante. Esse impacto será explanado no tópico de análise de

sensibilidade, caso a probabilidade aumente.

Para cálculo do custo de consultoria para implementação do software (CCI) em valor

futuro, basta multiplicar a quantidade de horas esperadas para aquela fase do projeto pelo

preço da hora de consultoria. Todavia, para o cálculo do valor presente, é necessário encontrar

o tempo anual equivalente das fases, respeitando o limite máximo de horas mensais

disponíveis . Esse padrão temporal é relevante para a aplicação das taxas de desconto e

o cálculo do custo da taxa de manutenção, abordada anteriormente. O valor total de horas

expresso em anos ( �

é dado por:

(52)

Esse equivalente em anos denota a duração de cada uma das 12 fases do projeto.

Portanto, por convenção, �

Na Tabela 4, a seguir, apresentam-se os equivalentes em

cada fase. No total, o projeto tem duração estimada de três anos e meio:

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Tabela 4 - Estimativa de horas para implementação

Módulo – Fase Duração

( t ) Acumulado

∗ M1 - F1 0,1693 0,1693 M1 - F2 0,0981 0,2674 M1 - F3 0,9635 1,2309 M1 - F4 0,1845 1,4154 M2 - F1 0,1411 1,5564 M2 - F2 0,0673 1,6237 M2 - F3 0,6944 2,3181 M2 - F4 0,1840 2,5022 M3 - F1 0,0994 2,6016 M3 - F2 0,0668 2,6684 M3 - F3 0,6814 3,3498 M3 - F4 0,1832 3,5330 SOMA 3,5330 3,5330

Com base nos parâmetros e nas distribuições de probabilidade para as variáveis

aleatórias, faz-se a simulação com 10.000 iterações para apuração dos valores médios de cada

item, transformando-os em valores determinísticos. Feito isso, a árvore de decisão é

percorrida na busca da solução ótima para o problema. No caso, o modelo identificou como

solução ótima a estratégia E-2 (compra por módulos), com a implementação de todos os

módulos (sem exercer a opção de abandono).

Assim, o valor da oportunidade de investimento com as opções será de R$

7.614.771,49, em que o preço de exercício é de R$ 8.680.610,23, e o valor do ativo subjacente

de R$ 16.295.381,72. Na Tabela 5, a seguir, apresentam-se os valores de custos e receitas

resultantes:

Tabela 5 – Consolidação do valor da opção

Descrição VP

Custo de aquisição de consultoria p/ implementação (CCI) R$ 4.440.200,26 Custo de aquisição de hardware (CH) R$ 340.780,44 Custo de aquisição de conhecimento (CC) R$ 589.944,67 Custo de aquisição de software (CS) R$ 2.364.185,67 Custo de manutenção do software (CM) R$ 945.499,19 Custo total do projeto ( X ) R$ 8.680.610,23 Fluxo de caixa dos benefícios tangíveis R$ 7.084.948,57 Fluxo de caixa dos benefícios intangíveis R$ 9.210.433,15 Receita total do projeto ( S ) R$ 16.295.381,72 Valor da oportunidade de investimento no projeto R$ 7.614.771,49

Em suma, ao realizar a otimização, o modelo percorreu os 24 nós de decisão em

busca da solução que satisfizesse as condições e restrições impostas, identificando então a

solução ótima. Como os valores apurados representam a média de cada variável aleatória,

muito provavelmente tal valor não se repetirá fora do experimento (na vida real do projeto),

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assim como acontece com as estimativas convencionais de fluxo de caixa. Contudo,

assumindo-se a média como um resultado esperado, pode-se utilizar a base dados criada nas

10.000 iterações para uma análise estatística dos resultados.

4.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS NUMÉRICOS

A análise dos dados estatísticos da simulação possibilitou uma análise dos riscos do

projeto. Na Tabela 6, a seguir, apresentam-se os principais resultados:

Tabela 6 - Resumo da variável VPL

Resumo Valores % de abandono do projeto 13,81% % de escolha "completo" (E-1) 16,67% % de escolha "modular" (E-2) 83,33% Média R$ 6.987.567,00 Desvio padrão R$ 9.061.863,80 Mediana R$ 5.810.656,65 Mínimo -R$ 8.664.697,03 Máximo R$ 98.037.866,89 VaR 99,00% -R$ 7.806.205,24 VaR 9 5,00% -R$ 7.064.505,94 Ganho potencial 99,00% R$ 35.833.937,69 Ganho potencial 95,00% R$ 23.086.553,82

É possível verificar que a média e a mediana não coincidem e que o desvio padrão é

maior do que a média, indicando que se trata de dados assimétricos e de elevada variância,

tanto que os valores extremos (mínimos e máximos) correspondem a um VPL negativo de

(R$ 8.664.697,03) e a um VPL positivo de R$ 98.037.866,89. Há, portanto, uma possibilidade

de perda, mas, também, um ganho potencial, caso o crescimento da demanda atinja valores

elevados.

Nesse sentido, analisando o valor em risco (VaR) do projeto e o ganho potencial,

embora a perda máxima esperada do projeto, com 99% de intervalo de confiança, seja de R$

7.806.205,24, o potencial de ganho é mais elevado ainda, de R$ 35.833.937,69. Mesmo sendo

um pouco mais conservador, com 95% de confiança, o potencial de ganho é de R$

23.086.553,82, contra uma perda máxima de R$ 7.064.505,94. Ou seja, se o gestor se valer da

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premissa básica de que fluxos com elevada incerteza têm a chance de gerar ganhos muito

elevados, atribuirá valor para as opções reais do projeto.

De qualquer forma, a alta volatilidade do projeto deve servir para o gestor avaliar seu

apetite ao risco. Além disso, denota a necessidade de análise da variância dos dois principais

vetores de incertezas do projeto: as estimativas de demanda e as estimativas de horas para

implementação do projeto. Na Tabela 7, a seguir, apresentam-se as estatísticas em relação à

quantidade de horas necessárias para implementação do projeto:

Tabela 7 - Resumo da variável horas de implementação

Horas Média 27.535 Desvio padrão 4.567 Mediana 27.111 Mínimo 20.478 Máximo 98.776 1,00% 22.550 5,00% 23.684 99,00% 35.156 95,00% 31.033 99,90% 72.629 99,99% 84.468

Verifica-se que a variância é menos expressiva do que no VPL. Embora contenha um

valor extremo de 98.776 horas, referente à probabilidade de ocorrência do evento contingente,

com 99,90% de intervalo de confiança, não excederá 72.629 horas. Ainda com 99,00% de

confiança, não excederá 35.156 horas. Cabe lembrar que a quantidade média de horas de

implementação (27.535 horas) apresentada na Tabela 7 difere da quantidade reportada na

Tabela 3 (27.133 horas), devido ao evento contingente.

Dessa forma, ocorrendo o evento, cuja severidade estimada resulte em um acréscimo

expressivo de horas ao projeto, nessa condição, o gestor exercerá a opção de abandono,

cancelando as etapas seguintes do projeto, assumindo os custos afundados até então, mas

preservando a empresa das perdas futuras.

Nessa situação, a opção de abandono com a estratégia E-1 representará alto valor

para a empresa pela contenção dos prejuízos. Na análise de sensibilidade apresentada no

tópico seguinte, será analisado o impacto pela variação no parâmetro. Assim, será possível

avaliar a relevância ou não do evento.

Ainda com relação aos dados estatísticos apresentados na Tabela 6, cabe destacar que

a opção de abandono do projeto foi exercida em 13,81% das iterações, reduzindo as perdas

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potenciais. Além disso, em 83,33% das vezes, trilhou-se o caminho da estratégia de

implementação por módulos (E-2), o que serve de base para análise do gestor sobre a melhor

alternativa, dadas as condições do projeto. Na análise de sensibilidade, será analisado o

impacto pela variação no parâmetro “desconto concedido pela compra do pacote completo”.

Assim, será possível avaliar até que ponto o benefício do desconto obtido compensa os riscos

de abandono do projeto.

Outra variável que pode gerar um aumento na variância do VPL é a demanda pelos

produtos da empresa, que segue um MBG. Na Tabela 8, a seguir, apresenta-se um resumo da

estimativa de demanda acumulada para os seis anos em que o ERP gerará receita para a

empresa:

Tabela 8 - Resumo da variável demanda

Demanda Média 1.415.804 Desvio padrão 771.294 Mediana 1.250.141 Mínimo 153.498 Máximo 11.590.627 1,00% 366.927 5,00% 545.377 99,00% 4.112.420 95,00% 2.844.947 99,90% 6.298.048 99,99% 9.714.916

Embora contenha um valor extremo de 11.590.627 unidades do produto ao longo dos

seis anos (média anual de 1.931.771), o ganho potencial, com 99,99% de intervalo de

confiança, não excederá 9.714.916 unidades (média anual de 1.619.152). Tais valores ficam

bem próximos da média amostral, como era de se esperar. Contudo, com 95% de confiança,

não excederá 2.844.947 unidades, o que representa uma média anual de 474.157 unidades.

Isso denota um risco elevado de que as vendas da empresa caiam a um patamar

extremamente baixo, compromentendo a lucratividade e os benefícios incrementais do

projeto. Dada essa possibilidade, novamente, a opção de abandono na implementação

modular pode ser valiosa, caso esse cenário ocorra ou se vislumbre na fase de implementação

do projeto ( a .

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4.4 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

O procedimento de análise de sensibilidade é importante para a investigação dos

efeitos que determinadas variações nos parâmetros do modelo causariam na solução ótima.

Para isso, ao avaliar como um determinado parâmetro influencia o resultado final, é

necessário fixar os demais, inclusive os números aleatórios (Ceteris Paribus).

Apresenta-se a seguir a análise para os principais parâmetros incrementando quatro

variações no cenário base. Tais valores foram simulados em 10.000 iterações, exceto na

variável evento contingente, submetida a 200.000 iterações, em razão de suas necessidades

específicas. A informação será reportada em formato de tabelas para possibilitar a

visualização dos números.

Na Tabela 9, a seguir, verifica-se o impacto no aumento do desconto concedido pelo

fornecedor do software, como incentivo à aquisição do pacote completo. Na verdade, o

interesse do fornecedor é que seus clientes adquiram o pacote completo, não somente pelo

ganho na venda, mas também pela taxa de manutenção do software que correrá logo após a

compra, mesmo que algum módulo não esteja sendo utilizado:

Tabela 9 - Sensibilidade do parâmetro desconto na aquisição do ERP

Desconto p/ aquisição ERP ( d ) 10,0% 12,5% 15,0% 17,5% 20,0% % de abandono 15,0% 15,0% 15,0% 15,0% 14,8% % de escolha "completo" (E - 1) 17,6% 17,6% 17,6% 29,4% 74,7% % de escolha "modular" (E - 2) 82,4% 82,4% 82,4% 70,6% 25,4% Valor da oportunidade de investimento $7.615 $7.614 $7.614 $7.614 $7.644 Tempo de duração do projeto 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 Média R$ 6.831 R$ 6.830 R$ 6.825 R$ 6.824 R$ 6.870 Desvio padrão R$ 9.051 R$ 9.052 R$ 9.060 R$ 9.068 R$ 9.065 Mediana R$ 5.764 R$ 5.764 R$ 5.764 R$ 5.766 R$ 5.804 Mínimo -R$ 8.650 -R$ 8.551 -R$ 8.950 -R$ 9.173 -R$ 9.173 Máximo R$ 71.660 R$ 71.660 R$ 71.660 R$ 71.660 R$ 71.690 VaR 99,00% -R$ 7.884 -R$ 7.875 -R$ 7.923 -R$ 8.096 -R$ 8.186 VaR 95,00% -R$ 7.220 -R$ 7.230 -R$ 7.248 -R$ 7.259 -R$ 7.223 Ganho potencial 99,00% R$ 35.519 R$ 35.519 R$ 35.519 R$ 35.519 R$ 35.519 Ganho potencial 95,00% R$ 23.214 R$ 23.214 R$ 23.214 R$ 23.214 R$ 23.252

Nota-se que a oferta de desconto em proporções diminutas (12,5%) em pouco afeta

os resultados, pois, em 82,4% das vezes, optou-se pela estratégia E-2 de implementação

modular. Apenas a partir da proposta de 17,5% de desconto a atratividade pela compra do

pacote completo aumenta. Com isso, eleva-se a proporção de escolha do pacote completo, ou

seja, um aumento de 17,6% para 29,4%.

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Por fim, a proposta de 20% aumenta expressivamente a atratividade, elevando para

74,7% a proporção de escolha pelo pacote completo; praticamente o inverso do que ocorria

até a proposta de 17,5%. De qualquer forma, exceto com o desconto de 20%, nas demais

proporções, a otimização levou à escolha da estratégia E-2 (modular) com o mesmo valor de

oportunidade de investimento de $7.614. Isso se justifica porque, quando se tem um desconto

sem atratividade, em nada muda a decisão ótima do modelo.

Na Tabela 10, a seguir, percebe-se o quanto a elevação na taxa livre de risco

deteriora o valor da oportunidade de investimento, pois as receitas ocorrem em anos futuros,

após a implementação total, e são impactadas pela taxa de desconto maior. Isso leva a uma

proporção maior de opções de abandono, porque a redução do valor do ativo subjacente tende

a ser maior do que a do preço de exercício, tanto porque essa é propocionalmente maior,

quanto pelo fato de serem geradas apenas a partir do quarto ano. De qualquer forma, como a

taxa livre de risco está fora do controle direto do gestor, seu impacto nessas escolhas é menos

relevante do que o de outros fatores:

Tabela 10 – Sensibilidade do parâmetro taxa livre de risco

Taxa livre de risco ( r ) 5,0% 6,0% 7,0% 8,0% 9,0% % de abandono 15,0% 16,9% 19,4% 22,0% 25,2% % de escolha "completo" (E - 1) 17,6% 19,9% 23,3% 25,9% 29,3% % de escolha "modular" (E - 2) 82,4% 80,1% 76,7% 74,1% 70,7% Valor da oportunidade de investimento R$ 7.615 R$ 6.723 R$ 5.905 R$ 5.153 R$ 4.463 Tempo de duração do projeto 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 Média R$ 6.831 R$ 5.911 R$ 5.029 R$ 4.220 R$ 3.450 Desvio padrão R$ 9.051 R$ 8.495 R$ 8.068 R$ 7.664 R$ 7.311 Mediana R$ 5.764 R$ 5.043 R$ 4.342 R$ 3.696 R$ 3.092 Mínimo -R$ 8.650 -R$ 8.641 -R$ 8.450 -R$ 8.481 -R$ 8.280 Máximo R$ 71.660 R$ 73.581 R$ 68.488 R$ 63.794 R$ 59.465 VaR 99,00% -R$ 7.884 -R$ 7.757 -R$ 7.728 -R$ 7.629 -R$ 7.607 VaR 95,00% -R$ 7.220 -R$ 7.139 -R$ 7.104 -R$ 7.069 -R$ 7.078 Ganho potencial 99,00% R$ 35.519 R$ 31.518 R$ 29.240 R$ 27.058 R$ 25.044 Ganho potencial 95,00% R$ 23.214 R$ 20.852 R$ 19.118 R$ 17.578 R$ 16.134

Na tabela 11, a seguir, apresenta-se a sensibilidade em relação ao crescimento da

demanda pelos produtos da empresa:

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Tabela 11 - Sensibilidade do parâmetro crescimento da demanda

Crescimento da demanda ( α ) 4,0% 5,0% 6,0% 7,0% 8,0% % de abandono 22,5% 18,1% 14,3% 11,0% 8,5% % de escolha "completo" (E - 1) 25,2% 20,9% 17,0% 13,6% 11,1% % de escolha "modular" (E - 2) 74,8% 79,1% 83,0% 86,4% 88,9% Valor da oportunidade de investimento R$ 5.265 R$ 6.391 R$ 7.614 R$ 8.944 R$ 10.390 Tempo de duração do projeto 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 Média R$ 4.276 R$ 5.532 R$ 6.887 R$ 8.337 R$ 9.858 Desvio padrão R$ 7.990 R$ 8.460 R$ 8.956 R$ 9.504 R$ 10.159 Mediana R$ 3.668 R$ 4.650 R$ 5.718 R$ 6.885 R$ 8.145 Mínimo -R$ 8.753 -R$ 8.601 -R$ 8.985 -R$ 8.762 -R$ 8.687 Máximo R$ 68.926 R$ 75.680 R$ 83.054 R$ 91.110 R$ 99.913 VaR 99,00% -R$ 7.896 -R$ 7.910 -R$ 7.847 -R$ 7.790 -R$ 7.813 VaR 95,00% -R$ 7.395 -R$ 7.325 -R$ 7.116 -R$ 6.759 -R$ 6.162 Ganho potencial 99,00% R$ 29.579 R$ 32.823 R$ 36.357 R$ 40.186 R$ 44.401 Ganho potencial 95,00% R$ 18.184 R$ 20.392 R$ 22.741 R$ 25.320 R$ 28.209

Como era de se esperar, as condições favoráreis geradas pelo aumento das vendas

reduzem sensivelmente a taxa % de abandono do projeto (de 22,5% para 8,5%) e aumentam o

valor da oportunidade de investimento (de R$ 5.265 para R$ 10.390). A explicação é que

como os benefícios do projeto estão atrelados ao desempenho da empresa, medido pelas

vendas, essa oscilação naturalmente já acarreta sobrevalorização do ativo subjacente.

Visto que a premissa tradicional de aprovação é VPL > 0, mesmo com um aumento

nos custos de implementação, as condições continuam a ser favoráveis ao projeto. Uma

alternativa para estabelecer uma âncora de compensação é atribuir um retorno percentual

mínimo do investimento. Assim, haveria sempre a preocupação de não deixar o custo

deteriorar os ganhos extras do projeto, pelas condições favoráveis do mercado.

A análise de sensibilidade do parâmetro evento contingente sugere uma reflexão

particular em relação ao modelo de Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003), no qual acrescenta-

se uma “taxa de imposto” à taxa de desconto do fluxo de caixa, em compensação ao risco de

ocorrência de um evento de grandes proporções – catastrófico – que resulte na interrupção

permanente do projeto. Por isso, utilizou-se neste trabalho o termo “evento catastrófico”.

Aparentemente, o termo “evento catastrófico” não está muito adequado ao contexto.

Imagina-se que um evento de magnitude “catastrófica”, embora resulte em perda máxima

potencial de alta severidade, tende a ser de baixa frequência, ou seja, baixa probabilidade de

ocorrência. Contudo, os autores adotaram em seu trabalho taxas de probabilidade pouco

condizentes com a lógica do termo. Por exemplo, utilizaram uma taxa de 10% em um caso de

projeto para desenvovimento de TI.

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Schwartz (2004), em um caso sobre patentes e P&D, utilizou uma probabilidade de

50% para o risco de os projetos farmacêuticos não serem aprovados pela agência reguladora

(FDA). Como os projetos têm duração média de 10 anos, resulta em uma taxa de 7% a ser

adicionada à taxa de desconto do projeto.

No modelo deste trabalho, diferentemente de Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003), a

probabilidade de evento catastrófico é tratada em uma magnitude condizente com o termo:

baixa probabilidade com alto impacto, ou baixa frequência e alta severidade. Por isso, tem sua

denominação alterada para “evento contingente”.

Na Tabela 12, a seguir, apresenta-se a variação no parâmetro, partindo de

probabilidades ínfimas até a probabilidade classificada como adequada neste trabalho, entre

1% e 2%. Diferentemente das simulações feitas para os demais parâmetros, nesta simulação,

foram utilizadas 200.000 iterações, para tornar possível a ocorrência do evento mesmo em

baixas probabilidades. Assim, com 0,001% de probabilidade, o evento acontecerá duas vezes,

e com 0,010%, 20 vezes:

Tabela 12 - Análise de sensibilidade do parâmetro evento contingente

Evento Contingente ( λ ) 0,001% 0,010% 0,100% 1,000% 2,000% % de abandono 13,6% 13,6% 13,6% 14,3% 15,1% % de escolha "completo" (E - 1) 16,2% 16,2% 16,2% 17,0% 17,7% % de escolha "modular" (E - 2) 83,8% 83,8% 83,8% 83,0% 82,3% Valor da oportunidade de investimento $7.615 $7.615 $7.615 $7.615 $7.615 Tempo de duração do projeto 3,5 3,5 3,5 3,6 3,6 Média R$ 6.928 R$ 6.927 R$ 6.919 R$ 6.840 R$ 6.756 Desvio padrão R$ 8.864 R$ 8.865 R$ 8.865 R$ 8.869 R$ 8.866 Mediana R$ 5.876 R$ 5.876 R$ 5.868 R$ 5.794 R$ 5.708 Mínimo -R$ 8.925 -R$ 8.925 -R$ 8.925 -R$ 11.144 -R$ 11.224 Máximo R$ 109.300 R$ 109.300 R$ 109.300 R$ 109.300 R$ 109.300 VaR 99,00% -R$ 7.858 -R$ 7.858 -R$ 7.859 -R$ 7.859 -R$ 7.857 VaR 95,00% -R$ 7.161 -R$ 7.161 -R$ 7.160 -R$ 7.156 -R$ 7.151 Ganho potencial 99,00% R$ 34.686 R$ 34.686 R$ 34.684 R$ 34.636 R$ 34.566 Ganho potencial 95,00% R$ 22.783 R$ 22.783 R$ 22.779 R$ 22.715 R$ 22.616

Nota-se que apenas a partir de 1% há algum impacto na amostra, mesmo assim,

pequena. Com uma probabilidade / frequência de 1% e severidade de 40.000 horas de atraso

no projeto, em algum momento durante os quatro anos da implementação, há um risco muito

baixo (1%) de que ocorra um evento que resulte em aproximadamente R$8.000.000 de custo

adicional (R$200 x 40.000 horas). A duração média do projeto, sem o evento, é de 27.133

horas. No caso, percebe-se que a taxa de abandono eleva-se de 13,6% para 15,1%. O valor da

oportunidade de investimento não se altera.

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Na Tabela 13, a seguir, apresenta-se o resultado da simulação com 10.000 iterações,

testando o comportamento da variável em patamares mais elevados, acima de 1%:

Tabela 13 - Sensibilidade do parâmetro evento contingente (+ de 1%)

Evento Contingente ( λ ) 1,0% 3,0% 5,0% 7,0% 9,0% % de abandono 15,0% 15,8% 17,4% 19,0% 20,5% % de escolha "completo" (E - 1) 17,6% 18,3% 19,9% 21,4% 22,9% % de escolha "modular" (E - 2) 82,4% 81,7% 80,1% 78,6% 77,1% Valor da oportunidade de investimento R$ 7.614 R$ 7.454 R$ 7.294 R$ 7.112 R$ 4.365 Tempo de duração do projeto 3,5 3,69 3,79 3,90 4,00 Média R$ 6.831 R$ 6.697 R$ 6.542 R$ 6.412 R$ 6.262 Desvio padrão R$ 9.051 R$ 8.901 R$ 8.883 R$ 8.884 R$ 8.882 Mediana R$ 5.764 R$ 5.504 R$ 5.344 R$ 5.197 R$ 5.044 Mínimo -R$ 8.650 -R$ 8.685 -R$ 9.944 -R$ 8.685 -R$ 11.328 Máximo R$ 83.393 R$ 83.393 R$ 83.393 R$ 83.393 R$ 83.393 VaR 99,00% -R$ 7.884 -R$ 7.887 -R$ 7.885 -R$ 7.874 -R$ 7.879 VaR 95,00% -R$ 7.220 -R$ 7.145 -R$ 7.119 -R$ 7.099 -R$ 7.059 Ganho potencial 99,00% R$ 35.519 R$ 33.723 R$ 33.522 R$ 33.464 R$ 33.464 Ganho potencial 95,00% R$ 23.214 R$ 22.800 R$ 22.625 R$ 22.521 R$ 22.320

Percebe-se que, a partir de 5% de probabilidade, há impacto principalmente no

percentual de abandono do projeto (de 15,0% para 17,4%). Todavia, o grande impacto se dá

em 9% de probabilidade, situação em que o valor da oportunidade de investimento cai

consideravelmente (de R$ 7.624 para R$ 4.365). Isso porque, devido à severidade e

frequência do evento, se ocorrer, há um aumento na duração do projeto, fazendo com que a

implementação avance no tempo e reduza um ano de benefícios do projeto. Ademais, a taxa

de abandono aumenta de 15,0% para 20,5%.

Para comparar o modelo com a proposta de Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003),

simulou-se um cenário com λ de 15%. Após 10.000 iterações, a simulação resultou em um

valor de oportunidade de investimento de R$ 3.971, pelo fato de a duração da implementação

avançar até meados do quarto ano, resultando em perda de receita e maiores custos.

Em seguida, descartou-se do modelo a probabilidade de ocorrência do evento (λ = 0),

e em vez disso, incluiu-se na taxa de desconto a chamada “taxa de tributo”, de 4,39%. Dessa

forma, o valor da oportunidade de investimento passou a ser de R$ 4.209.

Embora os valores fiquem próximos, percebe-se que o modelo proposto pelos

autores pode acarretar uma sobrecarga na taxa de desconto, principalmente considerando que

a receita já foi modelada com MBG, para acarretar uma condição neutra ao risco. Assim, ao

empregar a “taxa de tributo” a uma taxa de desconto ajustada ao risco, isso resulta na sua

dupla incidência nos cálculos. Esse é um ponto que pode ser melhor aprofundado em futuros

estudos sobre o tema.

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O modelo de programação estocástica mista empregado no exemplo apresentado

possibilitou uma análise quantitativa das oportunidades de investimento no projeto. Ao

considerar que a maioria das empresas e organizações que compram sistemas ERP´s não

possui uma base de dados histórica com seus business case de projetos de implementações

similares, mesmo porque isso é algo relativamente novo, sem grandes repetições de

implementação, a geração de um experimento como esse pode contribuir para uma melhor

compreensão dos possíveis cenários do projeto.

A agregação do modelo à TOR complementa a análise tradicional, permitindo aos

tomadores de decisão avaliar, com base em informações mais completas, e considerando a

presença de incertezas e flexibilidades gerenciais, a viabilidade de implantação do projeto.

Com isso, além de contribuir para as análises numéricas, a TOR estimula os gestores a buscar

e explorar as opções estratégicas que cerceiam os projetos dessa magnitude.

No exemplo apresentado, observou-se que o valor da oportunidade de investimento

está condicionado aos possíves cenários e aos resultados da confluência entre os valores

investidos (custos) e os benefícios tangíveis e intangíveis esperados ao término do projeto

(receitas). Ao gerar a simulação, constituiu-se uma base histórica de 10.000 iterações, que

representam os possíveis caminhos do projeto. Com a inclusão da flexibilidade gerencial

decorrente da estratégia de compra e implementação modular, pode-se analisar como a

decisão do gestor agrega valor ao projeto, em condições de incertezas sobre o futuro.

Por demandar a estruturação detalhada de todas as vertentes de custos e receitas do

projeto e suas distribuições de probabilidade, o modelo leva os gestores a uma reflexão sobre

os riscos inerentes. Ao utilizar as estimativas de duração das atividades fornecidas pelos

gestores do projeto, busca-se um comprometimento maior das partes envolvidas e a geração

de uma informação mais adequada sobre a duração do projeto. Assim, caminha-se para a

adoção de estimativas bottow-up de custos, em vez das estimativas top-down, normalmente

com baixa precisão preditiva.

No resultado obtido pelo modelo, a estratégia E-2 de compra por módulos é indicada

como solução ótima. Ou seja, a implementação sequencial de E-2a, E-2b e E-2c. Desse modo,

o valor da oportunidade de investimento com as opções será de R$ 7.614.771,49, em que o

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preço de exercício é de R$ 8.680.610,23 e o valor do ativo subjacente de R$ 16.295.381,72,

conforme evidenciado na Tabela 5.

Observou-se ainda que a estratégia de implementação e compra do pacote completo

(E-1) pode resultar em perdas, considerando os riscos de redução dos benefícios esperados

pelo projeto e a elevação dos custos de implementação, caso ocorram situações inesperadas (o

evento contingente, por exemplo), conforme a Tabela 12.

Como mencionado, no cenário base, em 15,0% das vezes, houve o exercício da

opção de abandono do projeto. Por isso, com a sistematização da decisão, as simulações

indicaram a escolha pela compra e implementação "modular" (E - 2) em 82,4% dos caminhos

percorridos.

Isso não representa uma tendência aos projetos, uma vez que é fruto dos parâmetros

adotados e da forma com que as opções foram incluídas no modelo. Assim, cenários

diferentes podem ser gerados no experimento, com a alteração das premissas do modelo. Por

exemplo, outras opções reais poderiam ser incluídas, como as opções de diferimento e

aprendizado.

Ao ser analisada a sensibilidade do valor da oportunidade de investimento em

relação aos seus parâmetros, chama a atenção o impacto do parâmetro “crescimento da

demanda”, demonstrado na Tabela 11, cuja variação no valor da oportunidade de

investimento no projeto e no percentual de exercício da opção de abandono é expressiva.

O valor da oportunidade de investimento cresce de R$ 4.228 para R$ 10.390 nas

condições em que a estimativa de demanda aumentar de 4% para 8%. O inverso ocorre com o

exercício da opção de abandono, que diminui de 22,5% para 9%. Isso mostra que as

estimativas desse parâmetro precisam ser rigorosamente analizadas, dado o grande impacto no

modelo. Estimativas muito otimistas podem levar a um resultado estimado que não se

converta em realidade após a conclusão do projeto.

A variação no parâmetro “desconto para aquisição do pacote completo”, apresentada

na Tabela 9, pode ser utilizada como subsídio durante a negociação com o fornecedor.

Observou-se que a possibilidade de um desconto de 20% eleva expressivamente a atratividade

do pacote completo, aumentando para 74,7% a proporção de escolha pela estratégia E-1.

Presume-se que o aumento no desconto signifique um compartilhamento dos riscos entre o

fornecedor do software e o comprador.

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Com relação ao parâmetro “evento contingente”, apresentado na Tabela 13, a

sensibilidade apresentada indica que só há variações expressivas a partir de 9% de

probabilidade. Isso porque, devido à severidade e frequência do evento, caso ocorra, gerará

um aumento expressivo na duração do projeto, fazendo com que a implementação avance no

tempo e reduza um ano de benefícios do projeto. Dessa forma, poderia ser um caminho para

estimar a chamada “reserva de contingência” do projeto e servir de subsídio para o

gerenciamento dos riscos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As decisões de investimento em projetos para implementação de sistemas ERP são

tomadas em um ambiente de incertezas, em que as estimativas dos custos do projeto e dos

benefícios prometidos são grandes incógnitas na fase inicial. Embora em boa parte das

situações as empresas sejam impelidas a implementar o sistema, com decisões do tipo “tem

que ser”, a correta análise das estratégias de implementação pode gerar valor para a empresa,

na medida em que agrega flexibilidade gerencial e minimiza possíveis perdas.

Nesse sentido, a TOR exerce uma função educadora para os gestores, ao estimular a

análise dos possíveis cenários do projeto e as estratégias que propiciem maior flexibilidade

gerencial durante sua execução. Por isso, ela complementa o modelo convencional de análise

de viabilidade econômica de projetos, incorporando o valor da flexibilidade gerencial ao

cálculo do fluxo de caixa descontado. Contudo, para que essa incorporação ocorra, faz-se

necessária a estruturação de modelos matemáticos que facilitem as simulações de cenários e a

geração de possíveis caminhos, que servirão de base de dados para análises quantitativas.

Neste trabalho, objetivou-se a desenvolver um modelo analítico de programação

estocástica inteira, fundamentado pela TOR, para a análise do valor da oportunidade de

investimento em projeto para implementação de sistema ERP. Por meio desse modelo, foi

analisado o valor da oportunidade de investimento de um projeto com a opção de expandir,

implementando o módulo, ou a opção de abandonar as próximas fases, cancelando novos

investimentos.

O modelo proposto é uma extensão modificada de Wu et. al. (2008), com a

incorporação da possibilidade de ocorrência de um evento contingente, similar ao evento

catastrófico utilizado por Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003). Assim, difere de Wu et. al.

(2008), por contemplar um detalhamento maior das estimativas de custos, com diferentes

distribuições de probabilidades, e por apresentar maior acurácia nos dados e análises

numéricas. No decorrer da pesquisa, várias inconsistências do modelo de Wu et. al. (2008)

foram discutidas e ajustadas no modelo.

Ademais, modela, por meio de uma distribuição Poisson-logarítmica, a possibilidade

de ocorrência de um evento inesperado, com baixa probabilidade de ocorrência, mas com

elevado impacto, que pode causar problemas significativos para o andamento do projeto e, em

razão disso, a necessidade de mais horas técnicas de consultoria.

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Diferentemente de Schwartz e Zozaya-Gorostiza (2003), em que um evento

catastrófico resulte na “morte” do projeto, trata-se essa possibilidade como um evento

contingente, considerando que, na ocorrência de tal evento, o projeto não acabará, mas sim

terá um impacto significativo no número de horas, o que pode atrasá-lo, demandando um

aumento na estimativa de horas e, consequentemente, elevando os custos. Assim, assume-se

abordagem mais adequada, em que a inclusão desse risco se dá no fluxo de caixa (numerador)

em vez de na taxa de desconto (denominador).

Na aplicação prática do modelo, a decisão estratégica relacionou-se com a

possibilidade de comprar e implementar o sistema pelo pacote completo, ou então por

módulos. As estimativas de receitas do projeto foram modeladas como um processo

estocástico do tipo MBG, enquanto os custos foram modelados em função da particularidade

de cada tipo de saída de caixa, resultando na escolha de uma distribuição de probabilidades.

Os resultados obtidos, considerando a configuração do modelo e os parâmetros

adotados, apontaram que a compra e implementação por módulos resulta em uma decisão

ótima para o valor da oportunidade de investimento. Ademais, a análise de sensibilidade dos

parâmetros possibilitou a identificação dos parâmetros mais sensíveis no modelo e que

precisam ser analisados com atenção, para evitar distorções nas projeções.

Ao incorporar os efeitos das incertezas técnicas para implementação do projeto,

especialmente aquelas relacionadas ao tempo requerido em suas diversas fases, o modelo

subsidia tanto as atividades de gerenciamento das etapas do projeto quanto o processo de

tomada de decisão sobre a melhor estratégia de compra e implementação do ERP. Além disso,

o tratamento dado à probabilidade de ocorrência de um evento contingente agrega maior

consistência à análise quantitativa dos riscos e à estimação das reservas de contingência.

Como sugestão para estudos complementares, recomenda-se a realização de estudos

de caso com a adoção do modelo e o aprofundamento da questão da possibilidade de

ocorrência de eventos contingentes ou catastróficos, com base na fundamentação teórica de

gerenciamento de risco, por exemplo, na abordagem de distribuição de perdas (LDA).

Ademais, sugere-se uma adequação do modelo para uso, pelas consultorias que

implementam os sistemas ERP, em seu processo de precificação dos serviços. Ao considerar

que possuem bases de dados históricos de implementações similares, as distribuições de

probabilidades poderiam ser mais bem calibradas, resultando em estimativas mais acuradas.

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