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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social APARECIDO ANTONIO DOS SANTOS COELHO HIPERLOCAL, DADOS E APLICATIVOS: inovações no fazer jornalismo e comunicação São Bernardo do Campo, 2016

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

APARECIDO ANTONIO DOS SANTOS COELHO

HIPERLOCAL, DADOS E APLICATIVOS: inovações no fazer jornalismo e comunicação

São Bernardo do Campo, 2016

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

APARECIDO ANTONIO DOS SANTOS COELHO

HIPERLOCAL, DADOS E APLICATIVOS: inovações no fazer jornalismo e comunicação

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Professor Doutor Walter Teixeira Lima Junior.

São Bernardo do Campo, 2016

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C65h Coelho, Aparecido Antonio dos Santos

Hiperlocal, dados e aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação / Aparecido Antonio dos Santos Coelho. 2016.

197 p.

Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) -- Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2016.

Orientação: Walter Teixeira Lima Junior.

1. Jornalismo 2. Comunicação - Tecnologia 3. Big data 4. Hiperlocal I. Título.

CDD 302.2

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação/tese de mestrado “Hiperlocal, Dados e Aplicativos: inovações no fazer

jornalismo e comunicação”, elaborada por Aparecido Antonio dos Santos Coelho, foi

defendida no dia..........de....................... de............, tendo sido:

( ) Reprovada

( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa.

( ) Aprovada

( ) Aprovada com louvor

Banca examinadora:

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de pesquisa: Inovações Tecnológicas na Comunicação Contemporânea Projeto temático: Hiperlocal, Dados e Aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação de mestrado/tese de doutorado sob o título “Hiperlocal, Dados e

Aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação”, elaborada por Aparecido

Antonio dos Santos Coelho foi defendida e aprovada em 13 de junho de 2016, perante

a banca examinadora composta por Professora Dra. Marli dos Santos, Professor Dr.

Walter Teixeira Lima Júnior e Professor Dr. Renato Cruz.

Declaro que o autor incorporou as modificações sugeridas pela banca examinadora,

sob a minha anuência enquanto orientador, nos termos do Art. 34 do Regulamento

dos Cursos de Pós-Graduação.

Assinatura do orientador: ___________________________________________

Nome do orientador: _______________________________________________

Data: São Bernardo do Campo, __________de________________de________

Visto do Coordenador do Programa de Pós-Graduação: __________________

Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de pesquisa: Inovações Tecnológicas na Comunicação Contemporânea Projeto temático: Hiperlocal, Dados e Aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação

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DEDICATÓRIA

Dói muito. Chorei muito. Pensei muito sobre que escrever neste espaço. Nunca foi tão difícil pensar e escrever após tudo que aconteceu. Por um instante, questionei se

tudo valia a pena e pensei em desistir de tudo.

Mas, eu sei que você não ficaria satisfeita com isso. Pois, você me deu a vida, a base, a formação e o caráter. Você acompanhou todos meus avanços e retrocessos.

Vitórias e derrotas, quedas e subidas.... Me apoiou e sempre acreditou em mim, me deu força para seguir em frente. Olhava para mim com esperança e nesse olhar

dava para sentir que tudo daria certo. Você mais uma vez me acompanhou nessa jornada e por um golpe ou ironia do destino, não pode acompanhar esse desfecho.

Eu sei que agora você reencontrou o seu Antonio e estão tranquilos, me observando com a certeza de que conseguiram criar alguém com dignidade, caráter, que sabe

batalhar e que quer vencer na vida.

Aqui na Terra, agora vou sozinho nessa jornada, mas ao mesmo tempo, eu sei que vocês estão comigo.

Com certeza, sempre em algum momento, o mundo vai saber quem são vocês: Antonio Ferreira Coelho e Maria Francisca do Livramento Santos.

Espero não decepcioná-los nessa nova caminhada que sigo.

Talvez, um dia, nos reencontremos novamente.

Gratidão e respeito por tudo.

Panta Rhei (Tudo Flui).

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Metodista de São Paulo, pela nova oportunidade acadêmica que obtive, ao retornar nesta honrosa instituição a qual tanto respeito.

Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, o PósCom, que sempre se esforça para trazer o potencial do conhecimento, contribuindo assim para o meu desenvolvimento acadêmico, pessoal e profissional.

À equipe de colaboradores e a coordenação do PósCom que sempre me tratou bem e com respeito. Grato a professora Dra. Marli dos Santos, que novamente tive a oportunidade de ter aulas após passar pela graduação em Comunicação Social entre 2004 e 2007 nesta mesma universidade. Obrigado pela atenção e pela paciência.

Ao meu parceiro e orientador, professor Dr. Walter Teixeira Lima Junior, que abriu os meus olhos e a minha mente para novas descobertas e perspectivas no mundo da comunicação e tecnologia. Me fez sair e romper o comportamento behavorista para compreender e enxergar os novos horizontes no universo da tecnologia e da comunicação. Sou grato ao incentivo acadêmico e intelectual durante a orientação e força pessoal que me foi prestada nos momentos mais difíceis da minha vida.

Ao honrado professor Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra, que me fez perceber novos prismas no ambiente da tecnologia digital e comunicação, com perspectivas futuristas e ao incentivo acadêmico para novas possibilidades neste universo que está cada vez mais volátil e promissor para a humanidade.

À Capes, que me proporcionou apoio financeiro para seguir com a pesquisa acadêmica que impulsionou o meu crescimento intelectual. Espero que esse recurso investido em mim possa ser revertido para a melhoria dos saberes a qual me especializo e que eu possa compartilhar essa sabedoria com todos que possam se interessar.

A todos, agradeço que de alguma forma me deram apoio direto e indireto para seguir no que eu acredito e espero. Como diz o filósofo Platão: “Uma vida sem pesquisa não é digna de ser vivida pelo homem”.

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EPÍGRAFE

Ele fechou os olhos. Encontrou a face em relevo do botão de Power.

E, na escuridão iluminada de sangue atrás de seus olhos, fosfenos prateados queimando na borda do espaço, imagens hipnagógicas se alternando rapidamente

como filmes compilados a partir de frames aleatórios. Símbolos, figuras, rostos, uma mandala fragmentada de informação visual.

— William Gibson, em Neuromancer

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RESUMO

A evolução tecnológica na comunicação contemporânea estrutura sistemas digitais via redes de computadores conectados e exploração maciça de dispositivos tecnológicos. Os dados digitais captados e distribuídos via aplicativos instalados em smartphones criam ambiente dinâmico comunicacional. O Jornalismo e a Comunicação tentam se adaptar ao novo ecossistema informacional impetrado pelas constantes inovações tecnológicas que possibilitam a criação de novos ambientes e sistemas para acesso à informação de relevância social. Surgem novas ferramentas para produção e distribuição de conteúdos jornalísticos, produtos baseados em dados e interações inteligentes, algoritmos usados em diversos processos, plataformas hiperlocais e sistemas de narrativas e produção digitais. Nesse contexto, o objetivo da pesquisa foi elaborar uma análise e comparação entre produtos de mídia e tecnologia específicos. Se as novas tecnologias acrescentam atributos às produções e narrativas jornalísticas, seus impactos na prática da atividade e também se há modificação nos processos de produção de informação de relevância social em relação aos processos jornalísticos tradicionais e consolidados. Investiga se o uso de informações insertadas pelos usuários, em tempo real, melhora a qualidade das narrativas emergentes através de dispositivos móveis e se a gamificação ou ludificação altera a percepção de credibilidade do jornalismo. Para que assim seja repensado a forma de se produzir e gerar informação e conhecimento para os públicos que demandam conteúdo. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo; tecnologia; comunicação; big data; hiperlocal; aplicativos

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ABSTRACT

Technological developments in contemporary communication structure digital systems through networks of connected computers and exploitation of technological devices. The digital data captured and distributed through applications installed on smartphones create dynamic communications environment. Journalism and communication are trying to adapt to the new information ecosystem entreated by constant technological innovations that allow the creation of new environments and systems access to information of social relevance. New tools for the production and distribution of content, based on data and intelligent interactions products, the algorithms used in the different processes, hyperlocals platforms and narrative and digital production systems. In this context, the objective of this study was to develop an overview with analysis and comparison between the products of the media and technology are the new technologies add attributes to the narrative and journalistic productions and its impact on the practice of activity. It also examines whether there are changes in the production processes of social interest information regarding processes and consolidated traditional journalism. Investigates the use of information inserted by users, in real time, it improves the quality of the narratives derived from mobile devices and if the gamification alters the perception of the credibility of journalism. For so be rethought the way to produce and generate information and knowledge for the public demanding content.

KEYWORDS: journalism; technology; communication; big data; hyperlocal; applications

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RESUMEN

Los desarrollos tecnológicos en la comunicación contemporánea estructura sistemas digitales a través de redes de computadoras conectadas y explotación de dispositivos tecnológicos. Los datos digitales capturados y distribuidos a través de las aplicaciones instaladas en los smartphones crear entorno dinámico de comunicación. El periodismo y la comunicación están intentando adaptarse al nuevo ecosistema informativo impetrado por las constantes innovaciones tecnológicas que permiten la creación de nuevos entornos y sistemas de acceso a la información de relevancia social. Existen nuevas herramientas para la producción y distribución de contenidos, productos basados en datos e interacciones inteligentes, los algoritmos utilizados en los diferentes procesos, plataformas y sistemas hiperlocais de narrativa y la producción digital. En este contexto, el objetivo de este estudio fue elaborar un panorama general, con análisis y comparación entre los productos de los medios de comunicación y la tecnología son las nuevas tecnologías agregar atributos a las producciones narrativas y periodísticas y sus impactos sobre la práctica de la actividad. También examina si hay cambios en los procesos de producción de información de interés social en relación con los procesos de periodístico tradicional y consolidado. Investiga el uso de información insertadas por los usuarios, en tiempo real, mejora la calidad de las narrativas derivadas a través de dispositivos móviles y si el gamificação o ludificação altera la percepción de la credibilidad del periodismo. Por lo que replantearse la forma de producir y generar información y conocimiento para el público exigente. PALABRAS CLAVE: periodismo; tecnologia; comunicación; big data; hiperlocal; aplicaciones

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa lógico da Arpanet em 1977. A rede em gestação ........................... 17

Figura 2 – Panorama do digital no Brasil ................................................................. 33

Figura 3 – Indicadores de crescimento de consumo digital no Brasil ....................... 33

Figura 4 – Demissões de jornalistas profissionais 2012-2015................................... 36

Figura 5 – Demissões de jornalistas por veículo de imprensa ................................. 37

Figura 6 – Página no portal Estadão.com.br do serviço FotoRepórter ..................... 46

Figura 7 – Home do canal ‘Vc Repórter’ no Portal Terra, em 2012 ........................... 48

Figura 8 – Interface do TweetDeck versão Desktop ................................................. 63

Figura 9 – Interface do Hootsuite, na versão browser .............................................. 65

Figura 10 – Motor de funcionamento do aplicativo Dataminr ................................... 66

Figura 11 – Interface da ferramenta Dataminr .......................................................... 67

Figura 12 – Funcionamento do Dataminr .................................................................. 68

Figura 13 – Interface do Waze para navegador ....................................................... 69

Figura 14 – Tutorial em inglês sobre como usar o aplicativo Moovit ........................ 70

Figura 15 - Diagrama de Paul Baran: centralizado, descentralizado e distribuído .... 96

Figura 16 – Interface da ABC News no videogame Xbox One .................................. 97

Figura 17 - Diagrama que mostra o sistema geral de comunicações ........................ 98

Figura 18 – Pirâmide do Conhecimento – DIKW ..................................................... 100

Figura 19 – Fluxo do conhecimento DIKW .............................................................. 101

Figura 20 – BBC The New Broadcasting House .................................................... 105

Figura 21 – Estrutura da newsroom da BBC .......................................................... 106

Figura 22 – Fachada do #guardiancoffee ................................................................ 107

Figura 23 – Painel de informações do #guardiancoffee .......................................... 108

Figura 24 – Origem das tecnologias LCD, LED, Plasma, OLED e CRT .................. 112

Figura 25 – Diagrama das Causas de Morte no Exército no Leste (1858) .............. 126

Figura 26 – Diagrama que representa a mortalidade de feridos e mortos por doenças

nos hospitais do Exército Britânico no período de abril de 1854 a março de 1856 . 127

Figura 27 – Mapa completo de John Snow: por meio do mapa ele descobriu a

origem do vetor da cólera. O mapa serviu também como registro das mortes ...... 132

Figura 28 – Mapa de Snow aponta a bomba de água (Pump) problemática. O poço

foi contaminado por uma fossa com excrementos de infectados por cólera .......... 131

Figura 29 – Réplica da bomba problemática, próximo ao local da antiga bomba ... 132

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Figura 30 – Globo Amazônia levou o mapeamento de dados e a interatividade para

as redes sociais, como o Orkut, da Google ............................................................ 134

Figura 31 – Capa do projeto Globo Amazônia. Mapeamento da floresta ............... 135

Figura 32 – ‘Buracômetro’ da BandNews FM ......................................................... 136

Figura 33 – Capa do site Bournville News, que informa 25 mil moradores de

Bournville Village (Inglaterra) .................................................................................. 139

Figura 34 – Página de notícia hiperlocal do site Berkeleyside, de Berkeley/CA .... 140

Figura 35 – Online News Startups – Mapa de startup de jornalismo hiperlocal ...... 141

Figura 36 – Capa do jornal brasileiro de bairro Jabaquara News ........................... 143

Figura 37 – Capa do site Ipiranga News, da empresa Grupo Bairros Unidos......... 144

Figura 38 – Capa do HoyExtremadura – Red de Hiperlocales ............................... 145

Figura 39 – Contatos da Red de Hiperlocales - Responsável pela edição local ..... 146

Figura 40 – Capa “Nacional/Extremadura” do periódico Espanhol ‘Hoy” ................ 147

Figura 41 – Capa digital “Hiperlocal” do periódico Espanhol ‘Hoy”, em Talayuela . 148

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplo de uso de monitoramento na rede social Twitter ...................... 64

Tabela 2 – Esquema do citzen setting .................................................................... 110

Tabela 3 – Comparação: Do gatekeeping ao citzen setting .................................... 111

Tabela 4 – Tabela de análise de comparação dos estudos de caso ....................... 176

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Base editorial das redações de impresso, web, rádio e televisão ......... 118

Gráfico 2 – Área de cobertura jornalística e percepção de sua audiência, de acordo

com o tema abordado pela produção jornalística .................................................... 120

Gráfico 3 – Relacionamento das instituições locais e seus papeis no ambiente

informacional. A conversa da comunidade com os pontos focais ........................... 123

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Sumário

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17 CAPÍTULO I – MUTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO EM TRANSFORMAÇÃO ................................................................................................. 30

1. O processo jornalístico ................................................................................... 30 1.1. Mudanças no fazer jornalismo ................................................................. 30 1.2. Tecnologia a serviço do jornalismo .......................................................... 38 1.3. Colaboração: o leitor mais participativo ................................................... 43 1.4. Da agenda do dia para a curadoria: uma transição? ............................... 48

2. Uso das novas ferramentas no jornalismo ...................................................... 54 2.1. É uma conversa: O jornalismo tornou-se mais social .............................. 54

2.2. Como captar informações? ...................................................................... 56 2.3. Estratégias editoriais para as redes sociais ............................................. 57

2.4. Ferramentas para seguir rastros de informação ...................................... 61 2.4.1 TweetDeck .......................................................................................... 62 2.4.2 Hootsuite ............................................................................................. 64 2.4.3 Dataminr ............................................................................................. 65 2.4.4 Waze ................................................................................................... 68 2.4.5 Moovit ................................................................................................ 69

CAPÍTULO II – TECNOLOGIA: PLATAFORMAS, APLICATIVOS E NOVOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO ................................................................................ 71

1. O avanço da tecnologia na comunicação ....................................................... 71 1.1. Novas plataformas de comunicação ........................................................ 71 1.2. Interface, mobile e desktop ...................................................................... 78 1.3. Aplicativos que atendem (ou substituem) o jornalismo ............................ 79

2. Inteligência Social: Open data, sistemas inteligentes e algoritmos ................. 83 3. Narrativas digitais: Fragmentação, distribuição, engajamento e retorno ........ 86

CAPÍTULO III – CAMINHOS DO CONTEÚDO E INFORMAÇÃO ............................ 91 1. Fazer jornalismo no século XXI ..................................................................... 91 2. Novos fluxos e caminhos da notícia................................................................ 94 3. Novas dinâmicas para estratégias editoriais ................................................. 102 4. Citzen Setting ocupa seu espaço ................................................................. 109 5. O que fazer com tanta informação? .............................................................. 112

CAPÍTULO IV – HIPERLOCAL E BIG DATA ......................................................... 115

1. Compreendendo o Hiperlocal ....................................................................... 115 1.1. Soluções por meio da proximidade ........................................................ 121

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1.2. Mapear e interpretar informações ......................................................... 124 1.3. Diagrama que salva vidas ..................................................................... 125 1.4. Mapa vence o cólera em Londres ......................................................... 127 1.5. Hiperlocal encontra a web e TV ............................................................ 133 1.6. A rádio que mapeia buracos.................................................................. 136 1.7. A comunidade diante do seu ambiente ................................................. 138 1.8. Hiperlocal profissional no Brasil e Espanha .......................................... 142

2. Big Data está entre nós ................................................................................ 149 2.1. Uso de Big Data na comunicação ......................................................... 149 2.2. Data mining para extrair dados e atender demandas ............................ 155

CAPÍTULO V – ESTUDOS DE CASO.................................................................... 158 1. Objetos de estudo e aplicação da metodologia ............................................ 158 2. Mídias emergentes ....................................................................................... 160

2.1. Redes sociais: Facebook e Twitter ........................................................ 160 2.2. Aplicativos de mensagens: WhatsApp e Snapchat ............................... 161 2.3. Localização (hiperlocal e mapas) .......................................................... 162

2.4. Gameficação ......................................................................................... 163 2.5. Big Data (dados) .................................................................................. 163

3. Estratégias dos veículos de comunicação e produtos .................................. 165

3.1. O Estado de S. Paulo: mídias que conversam com o público; reportagem com dados ....................................................................................................... 165

3.2. TV Globo/G1: WhatsApp que recebe vídeo e pautas ............................ 166 3.3. Bournville News: modelo de jornalismo hiperlocal ................................ 168 3.4. Hoy: grande mídia fazendo hiperlocal; rede de hiperlocais .................. 169 3.5. BBC: multimídia fluída; Snapchat para narrativas digitais ..................... 170 3.6. BandNews FM: redes sociais para prestação de serviço ...................... 171 3.7. Bairros Unidos: Ipiranga News e Jabaquara News: jornais distantes do

bairro ................................................................................................................ 172 3.8. SeeClickFix: aplicativo emula jornalismo de serviço ............................. 173 3.9. Waze: serviço de alertas de trânsito gamificado ................................... 174

4. Método de análise – Comparativo: Uso de tabela ........................................ 175 5. Resultados ................................................................................................... 177

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 181 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 191

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17

INTRODUÇÃO

A sociedade moderna, baseada em captação, compartilhamento e distribuição

de informação, rapidamente passa por grandes e profundas transformações. O mundo

da comunicação atual já não é mais o mesmo dos anos 80 do século XX, quando as

mídias predominantes eram estruturadas apenas em broadcast media, ou seja, mídia

de difusão, como rádio e televisão, e na mídia impressa, como revistas e jornais.

Agora, usa-se sistemas de comunicação estabelecidos ou baseados em

computadores, que por sua vez transmitem grande volume de dados em um tempo

muito enxuto. Os computadores tornaram-se uma forma eficiente de se propagar e

distribuir comunicação. O cientista estadunidense, considerado um dos mais

importantes nomes da história das ciências da computação, o psicólogo J. C. R.

Licklider, escreveu um artigo em abril de 1968 para a publicação Science and

Technology, sob o título “The Computer as a Communication Device”1, onde ele

explica ou ‘prevê’ que o computador conectado por meio da rede telemática mudaria

sua própria função principal, tornando-o uma eficiente e poderosa máquina

comunicacional.

Muitos engenheiros de comunicação, também, estão excitados sobre a aplicação de computadores digitais para comunicação. Entretanto, a função que eles querem que os computadores implementem está mudando de função. Os computadores vão alterar os destinos da comunicação, conectando linhas, através de configurações requeridas ou trocando (o termo técnico é “armazenar e enviar”) mensagens (LICKLIDER, 1990, p.28)2.

As distâncias foram reduzidas, a propagação de conteúdo é praticamente

instantânea. E isso se acelerou com a ascendência da internet, que começou a se

desenvolver como uma rede estruturada de informação. A partir desse sistema de

rede de informação, que surgiu em plena Guerra Fria, com a Arpanet3, em 1969, o

mundo começou a ficar mais conectado, integrado, mapeado, comunicativo e com

1 IN MEMORIAN: J.C.R. Licklider (1915 – 1990). Disponível em: <http://sloan.stanford.edu/mousesite/ Secondary/Licklider.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015. 2 Many communications engineers, too, are presently excited about the application of digital computers to communication. However, the function they want computers to implement is the switching function. Computers will either switch the communication lines, connecting them together in required configurations, or switch (the technical term is “store and forward”) messages. 3 Acrônimo de Advanced Research and Projects Agency ou, em português, Agência de Pesquisas em Projetos Avançados, que foi a primeira rede operacional de computadores à base de comutação de pacotes. Foi criada apenas para os militares e é também o precursor da internet.

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muitas informações. A rede tornou-se essencial para o desenvolvimento da

sociedade. Comparável com a chegada da eletricidade, a internet modificou o

comportamento, cadeia de produção e a interação entre seus iguais na sociedade.

A Internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da Informação: a rede (CASTELLS, 2001, p. 7).

Este processo aprimorou a captação de informação de maneira veloz. Isso

proporcionado com o avanço tecnológico dos computadores, que gradualmente passa

a ter uma imensa capacidade de processamento de dados.

Figura 1 – Mapa lógico da Arpanet em 1977. A rede em gestação

Fonte: Arpanet

Com isso, uma nova independência eletrônica recria o mundo à uma imagem

de uma aldeia global (MCLUHAN, 1977, p. 58).

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O estudo científico visa analisar como que pela adoção de sistemas de

comunicação baseados em volume de dados (big data), inovações tecnológicas

(aplicativos), que permitem visualizações de informações locais (hiperlocal), em

tempo real, e dispositivos móveis, onde novas possibilidades e plataformas de

narrativas digitais no campo do jornalismo e da comunicação estão surgindo e

ampliando, bem como, de forma lúdica, como a gamificação, a transmissão e

consumo de informações de relevância social. Estas informações nestes três recortes

são compartilhadas e propagadas a todo instante, contribuindo nas inovações de

produção e narrativa jornalística.

Por isso, também são apontadas as mídias e aplicativos que mudam a forma

de fazer jornalismo e comunicação, que pulsam dados e informações a todo tempo

para atender as necessidades informacionais que os usuários demandam para a

tomada de decisão, independentemente da plataforma de distribuição de conteúdo.

Assim, novas histórias possam ser contadas conforme o tempo, espaço, ritmo,

qualidade e quantidade de informações distribuídas por estes meios e que atendam

as demandas do jornalismo, da comunicação e de seus profissionais.

Os objetivos gerais deste trabalho foi como que dados extraídos por novas

fontes de informação como os dispositivos e computadores contribuem para a geração

das novas narrativas podem impactar no processo de produção do jornalismo. Além

disso, foi observado nos objetivos específicos se uso de novas mídias modifica o

processo de produção de conteúdo.

Para identificar as contribuições dessas tecnologias para o aprimoramento da

produção e a construção de novas narrativas jornalísticas, demostrando as diferenças

entre o que é realizado no jornalismo e as tecnologias emergentes estruturadas em

base de dados foram avaliados sete produtos de mídia e dois aplicativos. São

produtos comunicacionais emergentes e ferramentas que pulsa dados em tempo real.

Os produtos avaliados foram selecionados e estudados a partir do nível de relevância

em audiência, alcance do público, em maior e menor relevância, tipo de mídia, como

impresso, digital, televisão, rádio, mídia estabelecida no Brasil, com conteúdo feito no

País e mídias que atuam fora do País, ou seja, as empresas de mídia multinacionais

que tem grande alcance global. As mídias selecionadas foram duas mídias com matriz

impressa, porém com uma base multimídia estabelecida, no caso do jornal brasileiro,

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lotado em São Paulo, O Estado de S. Paulo4 e o Hoy – Diário de Extremadura5,

com a redação localizada na Espanha; a TV Globo, o maior canal de televisão em

faturamento e audiência do Brasil, com sedes no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília,

Belo Horizonte e Recife vinculados a 28 grupos de mídia afiliados6 que mantém o

portal de notícias na web G17; o site de jornalismo comunitário hiperlocal, Bournville News8, do condado de Bournville, na Inglaterra; a rede de televisão e multimídia

pública britânica BBC9; a rede de rádio de notícias brasileira BandNews FM, sediada

em São Paulo; e os jornais de bairro Jabaquara News10, que é distribuído no distrito

do Jabaquara, zona sul da cidade paulistana e Ipiranga News11, que é distribuído em

bairros do distrito do Ipiranga, também na zona sul de São Paulo, ambos da Empresa

Jornalística Bairros Unidos, que também está lotado em São Paulo.

Além disso, foram adicionados um aplicativo cidadão para celulares e

smartphones chamado SeeClickFix12, que estimula a comunidade de apontar os

problemas para melhorar o local em que se vive, como por exemplo, informações

sobre buracos ou equipamentos públicos quebrados. O outro objeto analisado foi o

aplicativo de geolocalização Waze13, da Google, que é focado em mapas, muito usado

nas grandes cidades, que ajuda o usuário com rotas e alternativas para fazer o seu

melhor trajeto, evitando tráfego intenso provocado por acidentes ou por excesso de

veículos, fazendo assim com que o usuário faça o melhor caminho. O aplicativo

também faz a troca de informações entre os usuários que o utilizam para que qualquer

um que siga fazendo o mesmo trajeto tenha a informação mais recente disponível em

seu sistema, no caso os smartphones.

Foi pesquisado e analisado a ascendência de novas tecnologias que propagam

informação; o uso de novos aplicativos para captação de dados; a prática de

jornalismo hiperlocal e seus impactos; a ascendência de novos sistemas de

informação; e como o Open Data impacta na produção de conteúdo. Além disso,

4 Disponível em <http://www.estadao.com.br>. Acesso em: 15 jul. 2016. 5 Disponível em <http://www.hoy.es>. Acesso em: 15 jul. 2016. 6 Disponível em <http://redeglobo.globo.com/Portal/institucional/foldereletronico/g_globo_brasil.html>. Acesso em: 15 jul. 2016. 7 Disponível em <http://g1.globo.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 8 Disponível em <http://www.bournvillevillage.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 9 Disponível em <http://www.bbc.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 10 Disponível em < http://www.ipiranganews.inf.br/_JabaquaraNews/>. Acesso em: 15 jul. 2016. 11 Disponível em < http://www.ipiranganews.inf.br/>. Acesso em: 15 jul. 2016. 12 Disponível em <http://www.seeclickfix.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 13 Disponível em < http://www.waze.com/>. Acesso em: 15 jul. 2016.

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ferramentas de comunidades sociais de jogos de videogame – game apps, as

principais, como PlayStation Network14 e Xbox Live15 também foram analisados

para entender como estes aplicativos voltados para games impactam na distribuição

de conteúdo e na prática de gamificação.

Com auxílio de pesquisas de LIMA JUNIOR, MCLUHAN, WIENER, PRIMO,

SHANNON, WEAVER, CASTELLS, JOHNSON, SQUIRRA, GLEICK, KELLY,

RECUERO, JENKINS, TOFFLER e entre outros autores na bibliografia proposta,

serão avaliados e descritos a percepção dos usos dos aplicativos e dados no

jornalismo e entre outras ferramentas digitais.

É um conteúdo que informa o leitor? São tecnologias que modificam processo

de consumo de informação porque não têm há o gatekeeper, ou seja, o porteiro que

abre ou fecha o portão para as informações. Neste caso, especialista da informação

geralmente torna-se mais ativo no o papel de curador. Com a curadoria, mantém-se

ou até mesmo aprimora a qualidade o conteúdo que chega de fora à disposição dos

anseios do seu público-alvo. Quando necessário, o jornalismo pode evidenciar o

citizen setting, em que as pessoas comuns determinam qual conteúdo se torna

relevante para elas mesmas. O próprio cidadão pauta a redação via redes sociais, no

sentimento social, os assuntos do dia, aquilo que vai atender as suas próprias

necessidades e mesmo de forma mais distante da redação pode determinar de forma

objetiva dos assuntos do dia para o jornalista via tendências discutidas nas redes

sociais, com vários retornos ou feedbacks para atualização do conteúdo ao público

demandante de informação.

O Jornalismo Cívico ou Público é considerado uma solução para inserir os leitores/ouvintes/telespectadores na cadeia de decisão dos processos de produção de conteúdo jornalismo praticado nas últimas décadas. Contudo, o Jornalismo Cidadão possui uma diferença fundamental, em relação ao Jornalismo Cívico ou Público, pois é elaborado, essencialmente, por não-jornalistas formados, ou seja, por pessoas sem treinamento específico em Jornalismo, mas que possuem outra formação profissional ou educacional. Ele é realizado de maneira não-remunerada, de forma ‘amadorística’ (LIMA JR., 2012, p.123).

Ou seja, os assuntos mais importantes e relevantes para a audiência têm mais

peso do que os temas propostos pelos jornalistas na tradicional agenda setting ou

14 Disponível em: <http://br.playstation.com/psn/>. Acesso em: 19 jul. 2016. 15 Disponível em: <http://www.xbox.com/pt-BR/live>. Acesso em: 19 jul. 2016.

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espiral do silêncio, onde a mídia determina a pauta, os assuntos do dia, os fatos para

a opinião pública sem contrapartida desta, ignorando algumas informações e

levantando outras em um suposto interesse e benefício da sociedade, chegando

assim ao priming1617.

No entanto, ainda cabe ao jornalista balizar a relevância destas informações e

qual é o impacto delas no seu cotidiano. Com isso, o leitor entra na cadeia da produção

de informação e assim torna-se elemento importante na propagação de conteúdo

relevante para a sociedade.

Mesmo num ambiente em que a imprensa deixou de ser a guardiã (gatekeeper) como vimos antes, e o seu conceito se polarize para uma entidade cada vez menos homogênea e escrutinada, estes princípios garantem-lhe, teoricamente, maior solidez de legitimação pública. Esta dimensão interpretativa tem que, obrigatoriamente, ser confrontada coma realidade. Com as realidades distintas quer de país para país, de continente para continente, quer de cidade para cidade, onde os jornalistas se debatem hoje com inúmeros desafios. Sobretudo dois: i) manter intacto o papel insubstituível da profissão e ii) não perder o “comboio” da mundividência comunicativa da era hipermoderna, de que fala Lipovetsky (2010) (AMARAL, p. 14, 2011).

A dissertação evidencia como que a comunicação pode ser mais eficiente ao

mapear as informações em um determinado contexto. Como uma notícia mapeada

por meio de dados abertos torna-se relevantemente importante para se contar uma

boa história, com o mínimo de erros, boa assertividade e o máximo de eficiência na

transmissão e distribuição da informação.

"[...] a sociedade só pode ser compreendida através do estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que disponha: e de que no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre os homens e as máquinas, entre as máquinas e o homem, e entre a máquina e a máquina, estão destinadas a desempenhar o papel cada vez mais importante" (WIENER, 1954, p. 16).

Experiências de redações de jornalismo pelo Brasil e ao redor do mundo que

se dedicam ao jornalismo de dados e ao hiperlocal também serão evidenciados nesta

16 O priming é um efeito experimental que se refere à influência que um evento antecedente (prime) tem sobre o desempenho de um evento posterior (alvo). Em outras palavras, pode-se dizer que, nesse método, supõe-se que uma palavra possa ser acessada mais rapidamente se precedida por outra palavra com a qual ela partilhe características semânticas (médico/hospital), fonológicas (hora/oca), ou morfológicas (dança/dançarino). 17 Psicolinguística Wiki - UFMG. Disponível em: <http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/index.php/ Priming>. Acesso em: 18 set. 2015.

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dissertação, mostrando como pode uma história pode ser construída por meio de

levantamento de informações de um usuário por meio do lúdico, da gamificação ou

por um recurso de mapeamento. Assim, consolidando uma base de dados e a relação

com as redes sociais para se publicar um conteúdo confiável.

"Do lado positivo, a automação cria papéis que as pessoas devem desempenhar, em seu trabalho ou em suas relações com os outros, com aquele profundo sentido de participação que a tecnologia mecânica que a precedeu havia destruído. Muita gente estaria inclinada a dizer que não era a máquina, mas o que se fez com ela, que constitui de fato o seu significado ou mensagem. Em termos da mudança que a máquina introduziu em nossas relações com outros e conosco mesmos, pouco importava que ela produzisse flocos de milho ou Cadillacs. A reestruturação da associação e do trabalho humanos foi moldada pela técnica de fragmentação, que constitui a essência da tecnologia da máquina. O oposto é que constitui a essência da tecnologia da automação. Ela é integral e descentralizadora, em profundidade, assim como a máquina era fragmentária, centralizadora e superficial na estruturação das relações humanas (MCLUHAN, 1964, p.21).

Por isso, para definir esse universo, foram determinadas as seguintes

hipóteses que regem este trabalho acadêmico. São elas:

1 – As narrativas emergentes acrescentam novos atributos às narrativas jornalísticas tradicionais e consolidadas.

2 – Há modificação nos processos de produção de informação de relevância social em relação aos processos jornalísticos tradicionais e consolidados.

3 – O uso de informações insertadas pelos usuários, em tempo real, melhora a qualidade das narrativas emergentes através de dispositivos móveis.

4 – A gamificação ou ludificação do jornalismo altera a percepção de credibilidade do mesmo.

O conceito de propagação de conteúdo e curadoria da informação num ciclo

usado em novas mídias de interpretação com a mídia tradicional, gera uma cultura de

convergência e coexistência entre as mídias que vão interagir de forma cada vez mais

complexas (JENKINS, 2006).

Nos cinco capítulos desta dissertação são abordados temas como hiperlocal,

big data, informação, conteúdo, comunicação, tecnologia, algoritmos, aplicativos,

novas narrativas e gamificação. Os capítulos estão intitulados e organizados como:

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Mutação da Comunicação: Jornalismo em Transformação, os desafios do

jornalismo diante novos cenários no setor, como que a crise está obrigando a área a

se atualizar e fazer mudanças bruscas para manter o ofício; Tecnologia: Plataformas, Aplicativos e Novos Sistemas de Informação, como que a tecnologia

pode apoiar de forma adequada o jornalismo e a comunicação por meio de novas

tecnologias, bem como o uso de novos dispositivos, aplicativos e outros para

aprimoramento da comunicação; Caminhos do Conteúdo e Informação, que

contextualiza os novos fluxos e caminhos da notícia, novas dinâmicas para pensar em

novas estratégias editoriais, o papel maior do cidadão na produção de conteúdo e o

papel do jornalista como curador e validador da informação; Hiperlocal e Big Data, a

cobertura jornalística na menor área territorial, se o jornalismo faz cobertura adequada

em uma determinada região, por isso o termo hiperlocal, e se o ofício faz o uso

adequado do grande volume de dados para produzir notícia e conteúdo relevante para

as pessoas; Estudos de Caso, com a visão geral dos objetos estudados – que

desenrolam o cenário da comunicação, da tecnologia, do jornalismo, novas mídias,

dados, aplicativos, informação, estudos de caso e por fim, com os resultados em

mãos, foi realizada uma análise final, uma fotografia de como está a mídia neste

momento, com as novas práticas e tecnologias que estão sendo insertadas nas rotinas

dos profissionais da comunicação diante de procedimentos já consolidados, com uma

cultura estabelecida por muitos anos, diante de resistências e mudanças bruscas no

setor, como demissões e novos insights tecnológicos para atender uma demanda

maior de consumidores de conteúdos em suas diversas plataformas e novas formas

de consumo de informação.

Com essa divisão, foi viabilizada a possibilidade de angariar novos elementos

para aprimorar a captação dos dados para pesquisa, análise, apuração e propagação

de informações para o cliente que consome conteúdo. Por meio da avaliação de

produtos, análise com o conteúdo dos autores, documental, critérios e categorias, será

constituído uma tabela comparativa de dados para levantar entre as novas mídias qual

é sua relevância para a construção de novas narrativas, a qualidade da aplicação do

volume de dados captados e o seu alcance para atender a demanda hiperlocal, para

assim, identificar as inovações aplicadas no modo de fazer jornalismo e comunicação.

A pesquisa avaliou e traçou um cenário sobre como o jornalismo e a

comunicação estão sendo impactados nos processos de produção. Como que o leitor

está percebendo essas mudanças e como que as empresas de comunicação estão

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se adaptando aos novos tempos. Foi revisitado o conceito do gatekeeper, ou o

‘porteiro’ termo usado no jornalismo para aquele jornalista profissional, geralmente um

editor ou um chefe de reportagem, que define o que é notícia, conforme o valor-notícia

e o gatewatching onde a audiência pode complementar a informação para o jornalista

gatekeeper, contribuindo para uma história mais precisa, assertiva e fatos mais

objetivos que foram propagados pelas redações jornalísticas. Com o uso de novas

ferramentas, tecnologias, a maior participação da audiência na produção jornalística

e novos players, como que a informação se organiza nestes tempos modernos de

novos fluxos informacionais e quais são as alternativas. Além disso, foi abordado

novas estratégias que foram implantadas com o avanço de novas tecnologias e com

o desenvolvimento de novas ferramentas que rastreiam informações. Nunca antes a

informação circulou de forma tão livre quanto estes tempos atuais. Houve uma quebra

de paradigma neste sentido de manuseio, construção e distribuição da notícia.

Os primeiros dez anos deste milênio situaram mudanças fortes no jornalismo tal como existe desde seu início, há cerca de dois séculos. A abertura de códigos comportamentais liberou o código-fonte do software e da notícia, que passou a ser contada pelo cidadão-repórter – um sujeito leigo em assuntos de imprensa, detentor da maior propriedade para falar daquilo que viu, sob a curadoria de um editor profissional (BRAMBILLA, 2011, p.97).

Que o jornalismo inove e se aposse das novas mídias, técnicas e ferramentas

para que continue a contar boas histórias, com uma narrativa que prenda a atenção

da audiência, com informações pontuais, certeiras e que engajem o público, que seja

engajador e influenciador não apenas nas redes sociais, mas nas mídias que o público

está presente. Isso é tão importante quanto o alimento que dá a energia necessária

para que as pessoas sigam em frente com suas rotinas cotidianas. Para uma boa

pesquisa, é necessário compreender e conhecer as novas midas, ferramentas digitais,

big data, onde o grande volume de informações avança em várias áreas; aplicativos

e redes sociais, em que é cada vez mais constante o uso de aplicativos móveis em

smartphones, e de aplicativos que ajudam o usuário na interação e imersão na

informação.

Estas práticas potenciais andam paralelamente com a prática do jornalismo

hiperlocal, que tem o papel de criar uma aproximação com a sua audiência, para

compreender seus novos códigos e deliberações. Ao mesmo tempo, o jornalismo – e

os jornalistas –, devem se aproximar dos seus clientes diretos, ou seja, a audiência, o

público que assiste, lê, ouve ou interage com o conteúdo que saem das redações.

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Assim, acontece o estreitamento de laços, formando alianças e parcerias em buscas

de informações e soluções, como por exemplo, para problemas cotidianos,

compartilhando suas histórias e anseios que são determinados pelas pessoas. O

estudo pode ter uma aplicação objetiva no jornalismo, para aprimorar o processo

jornalístico e de comunicação do cotidiano e trazendo um novo prisma para o futuro.

O estudo também analisou a tecnologia e novos sistemas de produção de conteúdo. Como que as novas técnicas de extração de dados, por meio de redes

sociais, uso de novas plataformas, devices, como smartphones, dados abertos e

sistemas inteligentes impactam a forma de se fazer o jornalismo? Uso de novas

interfaces para propagação de conteúdo, interatividade, novos sistemas inteligentes,

uso de algoritmos, produção e narrativas digitais? Como que estas tecnologias

proporcionam profundas transformações no jornalismo? Como isso acarreta na forma

de se captar, empacotar e distribuir o conteúdo para uma audiência cada vez mais

fragmentada e exigente com a qualidade e a credibilidade das informações

propagadas por veículos de informação grandes, médios ou menores pelo Brasil e

mundo afora?

Com o surgimento da web, criada por Tim Berners-Lee, a internet tornou-se um

gigante banco de dados. Trinta anos depois desta criação já é possível perceber que

os esforços realizados foram bem-sucedidos, inclusive com esforço interdisciplinar

que envolveu inúmeras instâncias e instituições, voltado para criação de novas

ferramentas para o melhor desenvolvimento da web, chegando até a criação da

Ciência da Web ou Web Science.

"Os pesquisadores foram tentando mapear os limites da Web Science, que abrange uma gama estonteante de disciplinas, incluindo ciências da computação, economia, o governo, a lei, e psicologia. Para complicar ainda mais tem sido a evolução paralela de um marcadamente campo de som semelhante: rede de ciência, cujos devotos exploram características de todos os tipos de redes, a partir de redes neurais para redes sociais para, sim, o Web" (WRIGHT, 2011).

Por isso, esta parte volta-se para a abordagem da tecnologia, os novos

sistemas de produção de conteúdo e as narrativas digitais. Também foi discutido o

que fazer com tanta demanda de informação e conteúdo. Questões atuais e o futuro

do jornalismo com as novas mídias. Estratégias editoriais que são adotadas após a

chegada de novas ferramentas e tecnologias. Quais são os impactos e como que as

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novas práticas e o comportamento da sociedade no uso de novas tecnologias e

dispositivos mudam radicalmente a forma de se fazer jornalismo no Brasil e no mundo.

Os conceitos hiperlocal e big data também foram analisados, bem como os

projetos digitais que foram aplicados pelo mundo. Suas características e finalidades

para a comunicação e o jornalismo. Como que colaboram e potencializam a

propagação de informações e dados. Como que as redações fazem as divisões

editoriais, incluindo o hiperlocal. São funcionais? Estes dados podem ser usados para

várias finalidades e demandas públicas ou privadas. É uma técnica utilizada para

captar as informações em uma área delimitada, que muito vagarosamente vem sendo

desenvolvida e construída por alguns veículos de mídia brasileiros, mas já caminha a

passos mais largos mundo afora.

O jornalismo é serviço público e deve noticiar o que é relevante para a vida das pessoas. Tem um papel vital na mediação entre os diferentes interesses da sociedade. Mas, hoje em nome das audiências, e das preferências destas, aposta-se no que é “giro” e vende. Embora o paternalismo possa ser uma atitude censurável, estamos com o mesmo dilema que se coloca em relação aos hábitos alimentares (BRINCA, 2011, p. 31).

Também é mostrado como que um projeto de jornalismo hiperlocal pode ter

impacto em uma determinada área, seus reflexos, bem como, buscando soluções

para as demandas locais e como que esta comunicação pode ser voltada para o

benefício da comunidade e de todos os circulantes da região estudada.

Com a mudança cada vez mais constante no uso de novas mídias e

tecnologias, o jornalismo foi uma das áreas que mais sofreram transformações. Por

isso, sobre a metodologia, foi explanado as teorias, as novas formas de produção de

conteúdo, estratégias editoriais aplicadas, interatividade e as novas mídias digitais.

Qual é o papel de cada produto de mídia, tecnologia, aplicativo ou sistema e como

eles impactam na forma de se fazer um conteúdo mais preciso e dinâmico. Quais são

as possibilidades de se melhorar as práticas jornalísticas no cotidiano.

Nos estudos de caso foi apresentado uma visão geral dos produtos avaliados,

que foram classificados, categorizados e comparados por meio de uma tabela com a

análise dos produtos, onde é apontada a característica mais avançada no uso de

novas ferramentas e uma avaliação é destacada sobre o que é melhor aplicado ao

cruzar os produtos com os objetos de estudo levantados nesta pesquisa acadêmica.

Primeiramente, foi definido se os produtos atendem as hipóteses da dissertação. Após

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a análise das hipóteses, os produtos foram classificados em três níveis: aplica (1), se

corresponde as demandas oriundas da hipótese; não aplica (2), não está compatível

com as demandas oriundas da hipótese; e em parte (3), que atende parcialmente as

demandas oriundas da hipótese. Lembrando que o objetivo não é apontar se há uma

melhor ou pior mídia ou aplicativo atende melhor que práticas já consolidadas. Pois a

entrega do conteúdo varia bastante da preferência do usuário final. Mas, sim o

propósito é entender como que está sendo feito o consumo de determinado conteúdo,

bem como a sua elaboração e captura de informações para posterior distribuição. Os

produtos foram comparados com as práticas jornalísticas que foram levantadas

durante a pesquisa como uso de redes sociais (aplicativo), mensagens (aplicativo),

localização (aplicativo), gamificação, big data (dados) e seus impactos na produção e

propagação de conteúdo e informação. A partir disso, pode-se constatar quais

produtos que se aproximam com a inovação e contribuem para a o aprimoramento e

a construção do jornalismo e da comunicação. Com a captação de dados e o

aprofundamento da análise de uma área específica é possível conseguir uma

‘fotografia’ do momento, um recorte ideal do cenário e o que está acontecendo no

momento que foi feito o desenho da situação factual. Além disso, o estudo evidencia

os resultados, bem como que os processos de produção jornalística foram afetados,

como que os leitores buscam ou se apropriam de novas alternativas de conteúdo e

fontes informativas como a mídia alternativa, tradicional, mídias nativas na internet.

A origem do estudo vem de encontro da pesquisa da agência de comunicação

integrada Edelman Significa, que publicou a Edelman Trust Barometer 201518, que é

uma pesquisa de confiança em instituições. A 14ª edição foi elaborada em 27 nações,

por meio de 33 mil entrevistas, sendo que, 27 mil faz parte do público em geral e 6 mil

tem a educação superior com hábito de consumo de notícias e informações várias

vezes por semana. O levantamento mostra que há uma queda de confiança na mídia

tradicional tanto no Brasil como no mundo. A proporção média é de que a cada 10

pessoas no mundo, 6 confiam na mídia tradicional. De 53% em 2014, a confiança caiu

para 51%. Porém, as ferramentas de busca online foram citadas como a fonte mais

confiável de informações e notícias no mundo. Ou seja, 64% dos entrevistados

confiam nas ferramentas de buscas online como fonte de informação e notícia, contra

18 Edelman Trust Barometer 2015. Disponível em <http://www.edelman.com.br/propriedades/trust-barometer>. Acesso em: 18 set. 2015.

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62% de confiança na mídia tradicional. No Brasil, este número é mais acentuado, 79%

e 66%, respectivamente. Sendo assim, esta e mais outras evidências apresentadas

nesta pesquisa acadêmica esclarecem como que pode-se melhorar ou aprimorar os

processos de produção jornalística e como fazer um conteúdo mais fiel e confiável

para sua audiência buscando experimentar novas mídias, muita informação agregada

e conteúdo relacionado. Além de aprimorar o conteúdo, destaca-se que a informação

coletiva, aquela que é distribuída entre as pessoas que não fazem o jornalismo

profissional, porém, por meio delas, torna-se a porta de entrada da construção da

informação que o jornalista ou especialista de comunicação pode trabalhar,

acrescentar mais dados e transformar em um conteúdo que seja útil e benéfico para

todos que precisam da informação.

Com a informação, a história pode ser melhor contada, aprimorada e assim

mais rapidamente a sua audiência será atendida. Dependendo do tipo de informação

a ser trabalhada e da ferramenta em uso, é muito importante e relevante que seja um

diferencial para as pessoas que vivem em comunidade e que precisam de

determinado conteúdo para continuar os seus processos de tomada de decisão em

suas vidas. É esperado que com o resultado destes elementos, reflexões e pilares que

sustentam a pesquisa, traga novo conhecimento e outras formas para aprimorar a

Comunicação e o Jornalismo que passa por profundas transformações buscando

soluções estratégicas, objetivas e práticas para continuar atendendo as demandas da

sociedade, que se autogoverna por meio das informações do jornalismo, trazendo

conteúdo e dados assertivos para que as pessoas continuem usando as informações

para autogovernarem suas vidas em qualquer lugar do mundo.

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CAPITULO I - MUTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO EM TRANSFORMAÇÃO

1. O processo jornalístico

1.1. Mudanças no fazer jornalismo

A principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar (KOVACH & ROSENSTIEL, 2003, p. 31).

O ofício mudou. Com um artigo indefinido e duas palavras é possível descrever

que apesar da premissa permanecer a mesma, o modo de fazer jornalismo, o

processo de apuração, reportagem, produção, edição e distribuição foi alterado.

Desde que o gráfico e inventor Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg

desenvolveu a máquina de imprensa no Ocidente, passaram-se mais de 560 anos. E

há pelo menos 300 anos, o conceito de imprensa no jornalismo contou e registrou

muitas histórias em diversos formatos, publicados em vários materiais e foi se

adaptando as novidades tecnológicas e as transformações da sociedade. Das

conversas nos bares, à máquina de imprensa, o impresso, a máquina de escrever, o

telex, o teletipo, a fotografia, o rádio, a televisão e a internet. A forma de se contar

uma história mudou muito pouco, porém, a forma de levar a história mudou bastante,

como da impressão em papel, passando a transmissão via satélite e agora pela

transmissão digital o jornalismo se vê em um novo momento de transformação de

alcance, aumento de agilidade e processo sem alterar os pilares do que já foi

consolidado.

O jornalismo está passando por transformações profundas e se encontra em franco processo de renovação de muitas de suas práticas. O mundo ‘online’ está permitindo que repórteres e pesquisadores usando computadores conectados às redes de comunicação tenham acessos eletrônicos instantâneos a importantes documentos, dados governamentais e, sobretudo, a informações até então mantidas em poder privado. Permite ainda adentrar virtualmente as mais importantes bibliotecas, fontes especializadas de toda ordem e representantes do governo sem, entretanto, se afastar de suas mesas ou escritórios de trabalho. A prática do jornalismo está mudando tanto que repórteres procurando em primeira mão por fontes que tenham informações confiáveis - e de qualidade - conseguem localizar inúmeros especialistas em um par de horas (SQUIRRA, 1998, p. 95).

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A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República Federativa

do Brasil (Secom) realizou em conjunto com o Ibope a Pesquisa Brasileira de Mídia

2015: Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira (PBM)19 e mostrou um

cenário interessante e intrigante sobre o consumo de mídia no Brasil: 95% dos

entrevistados afirmaram ver televisão, sendo que destes 73% tem o hábito de assistir

diariamente, com uma média de 4h31 (era 3h29, em 2014) por dia durante a semana

e 4h14 (3h32, em 2014) nos finais de semana; o rádio ainda é o segundo veículo de

comunicação mais utilizado por 55% dos brasileiros, uma leve queda em comparação

a 2014, que tinha mais ouvintes 61%, no entanto, no ano passado os entrevistados

passaram a ouvir mais rádio todos os dias em relação a 2014, subindo de 21% para

30% em 2015.

A PBM 2015 mostra que a internet ampliou seu campo, alcançando quase a

metade dos entrevistados, ou seja, 48% dos pesquisados usam a internet, sendo que

destes, 37% passaram a usar a internet diariamente, contra os 26% de 2014. Já tempo

de conexão na web na semana e finais de semana também cresceram: passando de

3h39 de segunda a sexta em 2014, para 4h59 em 2015; e de 3h43 nos finais de

semana em 2014, para 4h24 em 2015. E claro, com o aumento de uso da internet,

emergem novos dispositivos no cenário de mídia, os computadores pessoais (PC),

tablets e smartphones. A PBM de 2015 ainda destaca que os celulares competem

com os computadores ou notebooks como o grande figurante de acesso à rede. Ou

seja, 66% e 71% respectivamente. Esse salto dos celulares se dá por conta do grande

consumo de redes sociais: os entrevistados dizem que usam Facebook (83%),

WhatsApp (58%) e o YouTube (17%). Temos uma rede social plena, um aplicativo de

mensagens instantâneas e um aplicativo para consumo de vídeos, ou seja, grandes

algozes da grande mídia tradicional. Na lanterna do consumo de mídia no Brasil estão

os jornais, onde 21% dos brasileiros leem jornais pelo menos uma vez por semana.

Destes, 7% leem diariamente, sendo a edição de segunda-feira a edição mais

mencionada pelos entrevistados (48% dessa fatia) e o sábado menos mencionado

(35%). Já em relação às revistas, 13% leem durante a semana e dentro deste cenário,

70% dos pesquisados leem mais as versões impressas do que as digitais (12%).

19 A Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 foi realizada de 5 a 22 de novembro de 2014, com 18.312 pessoas maiores de 16 anos, em 848 cidades (o País tem 5.545 municípios) nos 26 Estados e o Distrito Federal.

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Mesmo com a baixa frequência de leitura, os jornais e revistas ainda são as

mídias que conseguem prender e dedicar atenção exclusiva aos leitores. 50%

disseram não fazer nada enquanto lê o jornal, para os leitores de revista esse dado

vai para 46%. Por ironia, a pesquisa de 2015 aponta que mesmo com a quase

‘onipresença’ da internet, ainda existe uma grande taxa de confiança nos jornais –

58% confiam muito ou sempre, contra 40% que confiam pouco ou nunca; para a TV e

o rádio, também a taxa de confiança permanece positiva, chegando a 54% confiam

muito ou sempre, contra 45% que confiam pouco ou nunca; o rádio tem 52% confiam

muito ou sempre, contra 46% que confiam pouco ou nunca.

No entanto, com a revista, os números se invertem para a perspectiva negativa,

52% confiam pouco ou nunca, contra 44% que confiam muito ou sempre. Nas novas

mídias a desconfiança nas notícias veiculadas nestes meios predomina, chegando a

71% (redes sociais), 69% (blogs) e 67% (sites).

Existe um outro levantamento, um relatório de tendências, que foi realizada

pela agência internacional de social media WeAreSocial, publicada em janeiro de

2015, que mostra que o consumo de digital aumenta de forma exponencial no País,

mesmo com a predominância das mídias tradicionais. Dos 204 milhões de habitantes

no Brasil, destes, 110 milhões são usuários ativos de internet (54% da população), 96

milhões são usuários ativos de redes sociais (47% dos usuários de internet), com 276

milhões de linhas de celulares ativas (78% pré-pago e 22% pós-pago. Destes, 56%

tem acesso à internet móvel 3G e 4G), sendo que 78 milhões são usuários móveis

ativos em redes sociais (do total de 79 milhões de linhas de internet móvel ativas).

Pelo menos 39% da população brasileira já tem acesso a internet móvel. A

tendência também aponta para o crescimento de 10% no número de usuários ativos

desde janeiro de 2014, crescimento de 12% de ativações de contas de redes sociais,

3% de assinantes de linhas celulares e 15% de ativações de contas redes sociais pelo

mobile. O tempo de uso de plataforma mostra um salto entre os usuários tablets e

PCs mais assíduos da internet em que passam 5 horas e 26 minutos diários. Os

usuários passam 2h49 assistindo TV; 3h47 usando redes sociais em qualquer

dispositivo; e 3h47 em dispositivos mobile. Os aplicativos de chat ou mensagens e

plataformas de redes sociais mais ativas no Brasil são Facebook (25%), WhatsApp

(24%), Facebook Messenger (22%), Skype (14%), Google+ (13%), Twitter (11%),

Instagram (10%), LinkedIn (9%), Pinterest (6%) e Badoo (6%).

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Figura 2 – Panorama do digital no Brasil

Fonte: WeAreSocial – Janeiro/2015

Mesmo com a manutenção das mídias tradicionais em um mercado em crise e

com chegada e a ascendência das novas tecnologias, o jornalismo é determinado e

direcionado pelo o que acontece na vida das pessoas, como que o caminho do fato

torna-se informação e influência na vida das pessoas.

Figura 3 – Indicadores de crescimento de consumo digital no Brasil

Fonte: WeAreSocial – Janeiro/2015

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Uma informação pode criar líderes, destruir personalidades e ascender vilões.

Pode transformar a paz em guerra e o rico pode ficar mais pobre, dependendo de

como chega essa informação o estrago pode ser imenso, e irreparável, na vida de

uma pessoa, na imagem de uma empresa, na comunidade ou num país. O jornalista

vai continuar contando histórias, vai conversar com muitas pessoas para ouvir os

lados de um fato, bem como fará o registro da história, a reportagem, porém, essa

história que foi registrada ganha novos tipos de transporte, novas formas de se

transformar essa coleta de dados em informações mais precisas para as pessoas que

querem saber ou precisam tomar decisões para seguirem suas vidas.

(...) a finalidade do jornalismo não é definida pela tecnologia, pelos jornalistas ou pelas técnicas utilizadas no dia a dia. (...) os princípios e a finalidade do jornalismo são definidos por alguma coisa mais elementar – a função exercida pelas notícias na vida das pessoas (KOVACH & ROSENSTIEL, 2003, p. 30).

O Brasil, que possui jornais desde o final do século XIX, como a publicação da

primeira versão do Correio Braziliense, editado pelo jornalista Hipólito José da Costa

Pereira Furtado de Mendonça, na Inglaterra, que circulou de 1808 a 1822, o ofício do

jornalismo por aqui continua experimentando vários tipos de mídia.

Vários grandes grupos de mídia se formaram e tornaram-se influentes,

poderosos economicamente e politicamente como Grupo Globo (RJ), Grupo Abril

(SP), Grupo Folha (SP), Grupo Estado (SP), Grupo Silvio Santos (SP) e Grupo

Bandeirantes (SP). Bem como, outros conglomerados se dissiparam ou encolheram

com o passar das décadas, como o Diários Associados (DF), Organizações Victor

Costa (SP), Empresas Bloch (RJ), Sistema Jornal do Brasil (RJ). Além de outros

grupos midiáticos que com força regional marcam seus espaços de influência em seus

territórios, como Grupo RBS (RS), Sistema Verdes Mares (CE), Rede Amazônica

(AM), Sistema Opinião de Comunicação (CE), Grupo Jaime Câmara (GO) e Sistema

Jornal do Commercio de Comunicação (PE). Neste contexto, esta parte do estudo

explana sobre a evolução das redações e sua transformação na forma de trabalhar e

propagar conteúdo. Muitos grupos de mídia dominaram por muitos anos o poder de

fazer a informação para atender os cidadãos, tudo sob vigilância distante do governo

federal que dá a concessão de rádio e TV e observa a atuação das empresas de

jornais e editoras de revistas. No entanto, como disse o jornalista Otávio Frias Filho,

um dos principais acionistas do Grupo Folha e diretor de Redação do jornal Folha de

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S. Paulo, durante o Encontro Folha de Jornalismo, em 17 de fevereiro de 2016, que

celebrou os 95 anos do jornal impresso: “o jornalismo vive hoje um profundo paradoxo:

nunca se divulgou nem se leu tanta notícia”, mas “os pilares de sustentação do

jornalismo foram abalados pela transformação tecnológica”20.

Esta frase do executivo do jornal paulista é assustadora e intrigante ao mesmo

tempo e expõe as entranhas das estruturas do jornalismo brasileiro sobre como o

setor de mídia sofre uma forte e irreversível transformação. Primeiro pela tecnologia;

com a tecnologia, acontece a queda de receita publicitária; com a queda, as

demissões em massa, ou no jargão dos jornalistas, o temido ‘passaralho’ acontece,

ceifando a vaga (ou até mesmo vidas) de profissionais experientes, que dedicaram

dezenas de anos, vários feriados e finais de semana longe da família para levar a

informação ao seu público leitor ou espectador. É o que aponta o artigo do autor, que

explica que com a chegada da tecnologia, os canais de comunicação foram ampliados

e obrigados a compreender a nova forma de contato com o público para responder

mais rapidamente a demanda dos veículos jornalísticos. A web mudou a forma de

produzir conteúdo e a audiência mudou sua atenção para esta nova mídia (COELHO,

2015).

Com o foco para a tecnologia, as receitas publicitárias, a circulação dos

grandes jornais impressos e a audiência das grandes emissoras de televisão abertas

sofreram quedas de público e leitores. Sendo assim, a fragilidade na qualidade do

jornalismo acarreta em uma seguida de uma crise de confiança, provocando uma fuga

de público para outros canais que são engajadores ou influencias sociais digitais.

Lembrando que muitos destes engajadores ou influenciadores nem são jornalistas e

conseguem atrair um público maior que os tradicionais programas do telejornalismo

ou portais de notícias. E essa situação impactou bruscamente a atividade. Houve uma

pulverização e ao mesmo tempo, os canais informativos se globalizaram, mesmo sem

o devido preparo de alguns meios de comunicação, eles ‘sem querer’ se tornaram

uma mídia global, que pode ser acessada por qualquer pessoa que possui um ponto

de acesso à internet pelo mundo. O reflexo sensível no jornalismo, que acarretou

também na queda de qualidade na atividade foram as eventuais demissões em massa

20 JORNALISMO vive ‘profundo paradoxo’, diz diretor de Redação da Folha. Folha de S. Paulo. São Paulo, 18 fev. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1740674-jornalismo -vive-profundo-paradoxo-diz-diretor-de-redacao-da-folha.shtml>. Acesso em: 20 fev. 2016.

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de jornalistas e profissionais relacionados a comunicação e ao jornalismo. Estes

profissionais acabam mudando de área devido as condições precárias de trabalho,

como as rotinas extensas de trabalho sem a adequada remuneração, assédios morais

pouca perspectiva de crescimento na carreira e salários baixos. As demissões em

massa cresceram de forma vertiginosa na comunicação brasileira. Segundo a agência

de jornalismo de dados Volt Data Lab, por meio da pesquisa ‘A Conta dos

Passaralhos’, o setor de mídia perdeu desde 2012 mais de 5 mil trabalhadores

(COELHO, 2015), destes cerca de 1.500 são jornalistas profissionais. Separados os

dados de demissões por mídia, segundo o Volt, 665 são jornalistas de jornal impresso,

355 de rádio e TV, 250 de revista, 152 de online e 11 de agência de notícias. Este

número pode ser muito maior, pois, nem todos que foram demitidos das empresas

jornalísticas informaram a agência de jornalismo de dados sobre sua saída da

redação, provocando uma deformidade nos reais números do setor. É o que mostram

os gráficos elaborados pela Volt Data Lab, a seguir.

Figura 4 – Demissões de jornalistas profissionais 2012-2015

Fonte: Volt Data Lab

É claro, como a citação de Kovach e Rosenstiel, o outro sintoma dessa

mudança drástica é a queda de faturamento das empresas de comunicação, que

provoca a demissão dos profissionais de jornalismo das redações e por consequência

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o enxugamento das grandes redações. Além disso, com a ascendência e o

estabelecimento da web para um grande número de usuários, as empresas de

tecnologia também ganharam espaço no cenário de mídia e tornaram-se grandes

distribuidores de propagadores de conteúdo sem criar uma informação nova. Players

como Facebook, que tem a maior rede social do planeta, com mais de 1 bilhão e 500

milhões de usuários conectados21 e Google, que tem o buscador de informações mais

popular e acessado da internet conseguem organizar a informação para transforma-

lá em lucro para seus acionistas criando publicidade personalizada e direcionada para

a característica de cada público.

Figura 5 – Demissões de jornalistas por veículo de imprensa

Fonte: Volt Data Lab

21 Facebook anuncia crescimento dos lucros e do número de usuários. G1. São Paulo, 28 jan. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/01/facebook-anuncia-crescimento-dos-lucros-e-do-numero-de-usuarios-20160127211006500148.html>. Acesso em: 20 jul. 2016.

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Acarretando na fuga de verba publicitaria das mídias tradicionais para as

empresas de tecnologia que prometem capilaridade e maior exposição de marcas com

o custo inferior das empresas de mídia. Dos grandes especialistas, a pensadores,

ninguém escapa dos passaralhos, por causa da grande concorrência com os ‘veículos

caseiros’ ou independentes onde em alguns momentos conseguem fisgar a atenção

do público da mídia tradicional ou da ‘velha mídia’ para si.

Infelizmente, numa época e que o público dispõe de alternativas mais excitantes e interessantes que as notícias e se mostra mais e mais cético em relação ao jornalismo, o corte de pessoal nas redações reduz ainda mais as equipes, resultando em mais quantidade do que qualidade de matérias. (2003, p. 227).

1.2. Tecnologia a serviço do jornalismo

A tecnologia quer o mesmo que nós, a mesma longa lista de méritos que desejamos. Depois que uma tecnologia encontra sua função ideal no mundo, ela se torna um agente ativo no processo de aumentar as opções escolhas e possibilidades alheias (KELLY, 2012, p. 257).

A tecnologia tornou-se um fator muito importante e nuclear para esta

transformação sistemática que passa o jornalismo. Segundo o autor Walter Teixeira

Lima Júnior, no final da década de 60, a agência de notícias inglesa Reuters e a

publicação norte-americana The New York Times já pensavam em estruturar,

organizar informações e implantar computadores para informatizar o ambiente de

trabalho e aumentar a agilidade do gerenciamento do fluxo informacional.

A informatização das redações brasileiras foi um trabalho lento e vagaroso que

começou com a Folha de S. Paulo, no início dos anos 1980, que segundo o próprio

jornal relata a otimização do trabalho da redação poupando 40 minutos no processo

de edição e fechamento da publicação diária e assim, tornou-se a primeira redação

informatizada do Brasil. O processo total de informatização completa durou em média

25 anos.

Entretanto, demoramos cerca de duas décadas para inserir tais equipamentos no cotidiano profissional do jornalista brasileiro. No final dos anos 60 e início dos 70 do século passado, o The New York Times estruturou o primeiro banco de dados, que foi inserido nas etapas de produção da notícia. A agência de notícias Reuters, em 1968, foi pioneira a utilizar máquinas computacionais nas conexões da sua rede interna para gerenciar a demanda de notícias recebidas (LIMA JR, 2012).

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Com a chegada da internet no meio acadêmico, no final dos anos 1980,

proporcionou ao jornal paulista O Estado de S. Paulo, por meio da Agência Estado a

realizar o primeiro teste de cobertura jornalística com o uso da internet tempo real. E

esse trabalho aconteceu no ano de 1992, na conferência mundial do meio ambiente,

na Eco 92, no Rio de Janeiro, Brasil. Este foi o primeiro grande evento mundial

conectado à internet. Em 1995, o Jornal do Brasil e, por alguns meses de diferença, a

Agência Estado, publicaram na web as primeiras versões de sites noticiosos.

No meio de tanta discussão sobre o que é fazer jornalismo, os jornalistas e os

profissionais diretamente envolvidos com o ciclo informativo e de trabalho passam por

fortes mudanças que afetam toda a cadeia produtiva na elaboração, produção,

distribuição e transmissão de informação para o seu público, que se tornaram

públicos. Pois, eles não estão apenas nos tradicionais impresso, rádio e televisão

aberta ou fechada.

O cientista social norte-americano Ithiel de Sola Pool, constata que a

comunicação digital se constitui em uma revolução na tecnologia, tornando-se o

período mais profundo na história das comunicações desde a invenção da imprensa

e dos meios massivos de difusão. Pois, as comunicações se tornando eletrônicas,

provocam efeitos profundos na civilização atual permitindo conservar uma herança

intelectual ao longo do tempo difundido por meio do espaço (1993, p. 19-20). Além

disso, o especialista argumenta que a inovação na comunicação provoca a

popularização, que por sua vez, chega a profundos efeitos na civilização. No século

XX, essas inovações na comunicação acabaram-se por configurar em cinco aspectos

comportamentais na dinâmica da sociedade. São elas: 1. A distância está deixando

de ser uma barreira na comunicação. Como resultado, a organização espacial da

atividade humana mudará profundamente; 2. A fala, o texto e as imagens estão

representando e enviado por meio de uma mesma classe de impulsos elétricos, uma

corrente digital comum. Está reduzindo a separação destes modos; 3. Nesta

“sociedade da informação”, se emprega na comunicação uma parte cada vez maior

do tempo de trabalho, assim como o ócio. O manejo da informação é uma proporção

crescente de toda a atividade humana; 4. A computação e a comunicação estão

convergindo em uma só atividade, equivalente a decidir que estão se reunindo a

comunicação e raciocínio. Convertidos em bits eletrônicos, as mensagens não só

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podem transmitir eletronicamente mas podem também manipular e transformar

mediante dispositivos lógicos; 5. Está se invertendo a revolução dos meios de difusão:

no lugar de difundir mensagens idênticas a milhões de pessoas, a tecnologia

eletrônica permite a adaptação das mensagens eletrônicas as necessidades

especializadas ou singulares dos indivíduos (1993, p. 20).

Agora o público está presente em vários lugares e com muitos dispositivos

como videogames, aplicativos web ou para mobile. A internet virou uma grande

personagem nesta era informacional, que antes foi tratado como vilão pelos grupos

de comunicação, por ameaçar a destruir os já ameaçados negócios tradicionais,

tornou-se uma espécie de coringa. É uma nova mídia, imediatista, que tem pouco ou

praticamente nenhum custo de distribuição e sem limites espaciais ou intermediários.

Todavia, as empresas têm historicamente adotado a prática da aquisição de novas tecnologias somente quando estas demonstram irrecusáveis reduções nos custos de produção, aumentando a lucratividade do negócio. Neste sentido, a adoção de novas políticas produtivas passou a representar para as empresas principalmente economia de caixa, vindo em seguida a conquista de melhores condições para vencer a acirrada concorrência existente no mercado editorial. Neste contexto, sobressaem-se algumas vantagens: Aumento na produtividade dos repórteres; Diminuição do custo de obtenção de informações em todos os níveis e em todos os assuntos; Aumento na qualidade da reportagem local; Ampliação de qualidade na análise das informações e menor dependência das fontes para interpretação daquelas informações; Emparelhamento com a concorrência; Aumento do acesso à informação; Incremento da confiança técnica e maior exatidão nas informações; Melhores formas de arquivo e busca das informações (SQUIRRA,1998, p.111).

Por isso, o jornalismo tem de sair da zona de conforto e que perceber onde está

o seu público ir atrás dele com novas estratégias editoriais e jornalísticas. Não basta

mais esperar a audiência ir até o seu conteúdo, é necessário o engajamento e o

relacionamento, pois a publicação da notícia hoje vai muito além de publicar o jornal

na gráfica ou colocar o telejornal no ar. Isso deixou o mundo mais ‘próximo’, e as

barreiras de regionalização foram rompidas. Ou seja, daqui do Brasil, o interagente

pode acessar o portal de conteúdo de notícias da BBC, que é um canal público de

informação mantido pelo governo britânico, onde está a notícia original ao invés de

acessar um site aqui no Brasil como a Folha de S. Paulo ou O Estado de S. Paulo,

que compraram o conteúdo e fizeram o trabalho de localização, isto é, tradução de

conteúdo do conteúdo vindo da própria BBC.

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“Sejamos claros. O mundo da mídia está no meio de uma transformação extraordinária, tornando-se global (globalizando-se e individualizando-se ao mesmo tempo), e encontrando economias de escala e sinergia entre diferentes modos de expressão (CASTELLS, 2003, p. 157)”.

Outro fator está na no barateamento do fazer jornalismo. Hoje uma pessoa,

que está em qualquer ponto do mundo, não precisa pagar por um sinal de satélite para

transmitir a informação, as câmeras fotográficas ou de vídeo tornaram-se menores,

mais poderosas, mais acessíveis ou está embutida em celulares com alta tecnologia.

A rede banda larga está mais acessível nos grandes centros urbanos e nas principais

metrópoles globais. Os smartphones, presentes em praticamente todo o País, são

dispositivos tão potentes quanto os computadores de mesa ou notebooks,

praticamente uma central de produção de mídia integrada, que cabe na palma da mão,

onde é possível gravar áudio, vídeo, tirar fotos, editar e publicar o conteúdo do fato

praticamente em tempo real e em qualquer lugar que tenha sinal de internet

disponível. O sinal de internet está mais acessível, potente, rápido e barato. As

empresas de telecomunicações vêm investindo valores significativos para garantir que

um País com cobertura territorial tenha um sinal razoável de internet, principalmente

nas áreas urbanas, onde há maior concentração de populacional. Jenkins diz (2009,

p.10) que Sola Pool foi o primeiro a determinar o termo convergência de modos e por

meio dela acontece a dinâmica entre os veículos e barreiras que vão impedindo ou

contornando demandas informacionais vão caindo uma a uma e as mídias vão se

complementando, ficando assim, cada vez mais uniforme.

Um processo chamado “convergência de modos” está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo em ter as comunicações ponto a ponto, tais como o correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. Um único meio físico – sejam fios, cabos ou ondas – pode transportar serviços que no passado eram oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio – seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia – agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está se corroendo (SOLA POOL, 1983, p. 23).

Com a popularização em massa da internet, mais pessoas puderam fazer

comunicação e jornalismo e outras maneiras de se pensar e fazer o conteúdo foram

expostas ao público. Aos poucos, os usuários de tecnologia podem também modificar

a sua estrutura e isso tem profundo impacto no cotidiano das pessoas.

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Em entrevista ao site de cultura digital NoReset, em 2010, na sede do CGI.br22,

Demi Getscko23, contou que os usuários de tecnologia agora têm recursos para fazer

alterações estruturais, da mesma maneira que os criadores da rede mundial de

computadores e essa aplicação pode beneficiar todos, como por exemplo, no

desenvolvimento de aplicativos, sistemas complexos e até mesmo novas mídias que

ajudem a otimizar a vida em sociedade. Tudo isso acontece ao escrever em códigos

e programar sinais que são trocados para alcançar a meta proposta pelos próprios

usuários. Até mesmo, como exemplo mais recente na economia, com o uso do

financiamento coletivo para desenvolver programas, jogos e novos canais de

comunicação na web.

“Na verdade, os usuários se misturam com os criadores. Se você pensar direito, qualquer pessoa com habilidade consegue gerar novas coisas na rede. Antigamente, computação era uma coisa de marfim, onde só grandes especialistas davam palpite. Com a história da troca de informações, você pode ter programadores que nem falam a mesma língua, e nem se entenderiam no mundo real, mas se entendem no mundo virtual, trocando palavras em linguagem computacional. Eles podem gerar linguagem computacional, sem entender o que falam no dia-a-dia. Porque eles vão trocar pedaços de código. Outra coisa interessante é isso, não é que Internet seja grátis ou que tudo na Internet é grátis, mas sim que a ela inventou uma cultura de código aberto, que certamente não tinha antes. Mesmo os sistemas operacionais abertos que existem de monte, hoje, de certa forma, a Internet ajudou os sistemas abertos e os sistemas abertos ajudaram a Internet. É um caminho de duas mãos porque a própria Internet foi escrita de forma aberta. Umas criações sobrevivem, outras morrem. Mas isso é uma condição Darwiniana. Nem todo mundo sobrevive. A evolução vai escolher os melhores, mas você pode criar de monte” (NORESET, 2010)24.

No artigo publicado pelo autor no II Encontro Internacional Tecnologia,

Comunicação e Ciência Cognitiva (2ºEITCCC), com o título ‘Como a tecnologia

influencia a comunicação na sociedade contemporânea’, conta que com a internet, o

consumidor torna-se produtor e com isso, que compartilha com outros consumidores,

e então, estes consumidores tornam-se produtores/usuários e consumidores/usuários

22 Sigla para Comitê Gestor da Internet no Brasil, órgão que faz a gestão da internet brasileira. A sede fica em São Paulo/SP. 23 Demi Getscko é um engenheiro elétrico nascido na cidade de Trieste, na Itália. Ele é considerado um dos pioneiros da internet no Brasil. Atualmente é conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e desde 1995 é diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) desde 2006. Em abril de 2014, foi homenageado com a indicação ao prêmio Internet Hall of Fame, na categoria “Global Connectors”, da instituição Internet Society. É o primeiro brasileiro no hall da fama da internet, que é o panteão das personalidades cruciais para o desenvolvimento da rede. 24 COELHO, Cido. Dia da Internet: entrevista Demi Getscko. NoReset. São Paulo, 17 mai. 2010 Disponível em <http://www.nic.br/imprensa/clipping/2010/midia490.htm> e <http://www.noreset.net/ blog/2010/05/17/dia-da-internet-entrevista-com-demi-getschko/>. Acesso em: 23 dez. 2015.

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que construíram um conjunto de valores e crenças que formou o comportamento, que

criou hábitos repetidos por instituições e organizações sociais informais (COELHO,

2015). No entanto, a cultura é diferente de ideologia, psicologia ou representações

individuais. Embora explicita, a cultura é uma construção coletiva que transcende

preferências individuais, ao mesmo tempo em que influencia as práticas das pessoas

no seu âmbito, neste caso os produtores/usuários da internet (CASTELLS, 2001,

p.34). Essa transformação tornou-se essencial para a prática do jornalismo, tornando-

se mais eficaz na prática de comunicação (COELHO, 2015).

Olhando a evolução deste setor, é seguramente sustentável colocar que, atualmente, as múltiplas formas das convergências tecnológicas digitais configuram-se como elementos estruturantes para todas as ações dos jornalistas. Isto porque o comportamento do mercado vem demarcando que, para competir eficazmente na vida profissional (na academia ou fora dela), o conhecimento e o pleno domínio das tecnologias digitais são antecedentes conceituais imprescindíveis que diferenciam positiva ou negativamente um especialista do outro (SQUIRRA, 2012, p.10).

O público, ou melhor, o cidadão pode também dar suas opiniões, engajar e

influenciar pessoas, criando sites, blogs de opinião, canais de vídeo no YouTube, até

mesmo canais de conteúdo de foto e imagem como Flickr, Snapchat e Instagram.

Trocar informações em aplicativos como WhatsApp e Facebook Messenger. Claro,

sem esquecer das redes sociais, como Facebook e Twitter que são algumas das mais

utilizadas para contato.

1.3. Colaboração: o leitor mais participativo

A circulação de conteúdos – por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores (JENKINS, 2009, p. 29).

A internet foi massificada, liberada para o uso comercial no Brasil pela Embratel

em 1995, os celulares ficaram mais inteligentes, tornaram-se verdadeiros

supercomputadores de bolso. A mídia ficou mais alternativa, mais diversificada e os

meios de comunicações corporativos foram pegos desprevenidos contra essa

‘avalanche criativa’. Afinal, a informação não tem mais ‘dono’, se é que pode ser dito

ou escrito. O meio informacional deixa de ser unidirecional e passa a ser

multidirecional, com retorno e resposta. Isso quer dizer que a audiência não apenas

recebe a informação que é transmitida pela mídia corporativa tradicional, como pode

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também dar seu feedback quase que de forma instantânea. O público pode responder

a sua audiência se gostou do que foi transmitido e também pode colaborar agregando

informações que não foram conseguidas por meio dos esforços da estrutura da mídia

tradicional. O público passou a ter voz ativa na produção de conteúdo. Como

contextualiza o autor Henry Jenkins, isso provocou uma mudança no habito de

consumo dos consumidores. Antes, eles eram mais passivos, previsíveis, isolados e

silenciosos, agora, os novos consumidores são ativos, migratórios, conectados e

barulhentos. Eles podem opinar, sugerir alterações no produto, melhorias,

continuação na história (2009). No jornalismo, a audiência pode corrigir a rota os

jornalistas profissionais e auxiliar o trabalho da redação com busca por novos fatos,

detalhes, e incrementos que podem ditar os rumos da história.

Ou seja, se antes o leitor, ouvinte ou telespectador que assistia, lia ou ouvia

nos respectivos canais midiáticos a informação, tinha apenas como canais diretos o

telefone, orelhão, carta, SMS (mensagem por celular), serviço de atendimento ao

cliente (que era por telefone ou carta) balcão de classificados ou se dirigindo

pessoalmente a empresa jornalística, emissora de rádio ou TV para dirigir suas

reclamações, elogios ou sugestões, para que depois, uma equipe, geralmente a

expedição e depois produção fizesse o levantamento de cartas direcionadas para o

jornalismo, para fazer a leitura das cartas e depois responder ou não a devida

demanda para o público. Era um processo muito moroso e custoso para a própria

empresa jornalística ou para o setor de jornalismo de rádio ou televisão sentirem as

demandas da sociedade, audiência ou público.

O serviço de correio era o maior aliado das redações, em parceria com os

entregadores privados e os motoboys que pegavam as encomendas mais urgentes.

Claro, mais recentemente, entre 10 e 15 anos, o telex, que foi o sucessor do telégrafo,

e o telegrama também faziam parte da agilidade do ‘fazer jornalismo’. O fax ainda

sobrevive em poucas redações. Mas, claro que aos poucos, a internet foi se

acomodando como um dos canais de comunicação entre público e as redações.

Com a autorização de uso da internet comercial no Brasil, meados dos anos

1990, houve maior investimento na melhoria dos serviços de banda larga pelo País, e

principalmente, nos centros urbanos, o e-mail começou a ocupar seu espaço. A partir

disso, a porta escancarou: E-mails, SMS, MMS (mensagens multimídia por celular).

Com a ascendência da aceitação de informações vindas por redes sociais, como

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Orkut, e atualmente Facebook e também micro blogs, como o Twitter, tornaram-se

canais eficientes de comunicação com a redação, novos aplicativos e com a aplicação

de estratégias de convergência de conteúdo, o público pode se tornar um repórter.

Neste momento, as empresas de mídia profissionais perderam o monopólio de

controle da informação e neste instante qualquer pessoa detinha uma pequena central

de mídia e propagadora de conteúdo. A partir disso, as empresas de comunicação

começaram aos poucos a contar com o público, para ajudar a fazer a cobertura

jornalística. Começa a se estabelecer uma nova relação entre mídia e público.

Agora com a web, o profissional de jornalismo viu-se ameaçado pelos produtores de conteúdo “amadores”, como os blogueiros, que têm páginas pessoais acessíveis, simples, que disputam ou dão mais audiência que as grandes empresas jornalísticas, com seus portais informativos densos, e até mesmo, em alguns casos, confusos para o público. (COELHO, 2013).

Além disso, as empresas de comunicação passaram a investir na combinação

das mídias tradicionais com as novas mídias, como a internet, o streaming,

transmissão via aplicativos, como o Periscope, ao mesmo tempo, as atribuições

jornalísticas foram transformadas com o tempo. Como nos Estados Unidos e

Inglaterra, nos jornais The New York Times e The Guardian que criaram do cargo do

editor de Mídias Sociais no começo de 2009; e no Brasil, no mesmo ano, o jornal O

Estado de S. Paulo, também criou o cargo de editor de Mídias Sociais que ajuda no

engajamento do público com o jornal por meio das redes sociais Twitter e Facebook

e entre outras mídias25. Praticamente todas as redações possuem um editor ou um

departamento voltado para mídias sociais. Em julho de 2015, o impresso paulistano

Folha de S. Paulo criou a editoria de Audiência e Dados, que agrega o núcleo de

Mídias Sociais, fomenta a audiência, centraliza as métricas, faz a interlocução com os

leitores e auxilia a redação nos trabalhos com os dados e engaja a redação no uso de

redes sociais26. Essas práticas são uma construção de uma ponte entre veículo de

comunicação e público, criando uma via rápida para troca de informações. Além disso,

o uso de aplicativos estimula a audiência a mandar suas ‘reportagens’, vídeos, fotos

sobre os fatos que estão ocorrendo e onde os jornalistas ainda não conseguiram

25 DORIA, Tiago. Estadão cria cargo de “editor de mídias sociais” e lista no Twitter. Blog do Tiago Dória. Disponível em: <http://www.tiagodoria.com.br/coluna/2009/11/08/estadao-cria-cargo-de-editor-de-midias-sociais-e-lista-no-twitter/>. Acesso em: 22 mar. 2016. 26 FOLHA cria editoria de Audiência e Dados. Portal dos Jornalistas. Disponível em: <http://portaldos jornalistas.com.br/noticia/folha-cria-editoria-audiencia-dados-br>. Acesso em: 22 mar. 2016.

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alcançar. Como a especialista em mídias sociais, pesquisadora e jornalista Ana

Brambilla explica que a mídia estimula a audiência para que colabore com conteúdo,

que ajude a contribuir com a história sendo um repórter colaborador.

Tem como exemplo o incêndio da Boate Kiss, que matou 242 pessoas e feriu

680, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013. No

momento do fato, várias pessoas que estavam na casa de espetáculos começaram a

narrar o terror no local e os jornalistas usaram estas informações para atualizar o

público sobre a situação em tempo real e para contar o perfil das vítimas fatais. As

informações publicadas em redes sociais como Facebook e Twitter foram utilizadas

por empresas de mídia no Brasil e pelo mundo. O incêndio foi a segunda maior

tragédia brasileira e o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo27.

Figura 6 – Página no portal Estadão.com.br do serviço FotoRepórter

Fonte: estadão.com.br

27 UCHOA, Pablo. Tragédia em boate de Santa Maria é ‘terceira mais fatal da história’. BBC Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130127_tragedia_boate_historia_ pu.shtml>. Acesso em: 22 mar. 2016.

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Em 2005, a publicação paulista O Estado de S. Paulo criou para a sua audiência

o serviço colaborativo FotoRepórter28. A empresa jornalística justificou que a iniciativa

foi estimulada pelos atentados terroristas que aconteceram em Londres, no dia 7 de

julho de 2005, quando vários populares enviaram fotos ou vídeos para sites e revistas

da Europa complementando a cobertura feita pelos jornalistas profissionais.

O site tentava engajar os leitores com a frase “se você tem um celular com

máquina fotográfica embutida, ou vive com uma câmera digital a tiracolo, abra os olhos

e fique esperto. A partir de agora suas fotos podem ser publicadas no Estadão, no

Jornal da Tarde, no portal www.estadao.com.br ou vendidas pela Agência Estado para

jornais e revistas de todo o planeta. E você pode até ganhar por isso, como se fosse

um repórter fotográfico profissional” (O ESTADO DE S. PAULO, 2005).

Além disso, no portal do Estadão tinha instruções sobre como escolher uma

boa câmera digital e a melhor forma para se tirar uma foto. Se as fotos fossem

publicadas no jornal impresso O Estado de S. Paulo ou Jornal da Tarde, o fotógrafo

amador recebia uma remuneração igual ao dos fotógrafos profissionais. Já o portal

Terra foi criou um espaço para que o leitor internauta pudesse escrever, fotografar e

gravar sua própria reportagem, o ‘Vc Repórter’29, que foi criado em fevereiro de 2006.

Neste espaço há dicas sobre como enviar o conteúdo, dicas básicas de jornalismo,

enquadramento de foto, vídeo, qualidade do texto e credibilidade. No entanto, o

serviço foi encerrado em 2015, quando o Grupo Telefónica decidiu fechar a redação

e fazer apenas serviço de curadoria de notícias com parceiros e agências

informativas30.

É uma forma de reduzir as distâncias com o público e ao mesmo tempo

consegue reduzir custos para conseguir algumas informações e ao mesmo tempo dá-

se o início para começo de apuração de factual.

A ideia de fazer cada cidadão um repórter foi adotado em inúmeras partes do mundo, despertando no público um olhar seletivo diante da realidade. Essa consciência de registrar fatos e de submeter esse material aos canais de conteúdo colaborativo de sites jornalísticos foi amadurecida com a popularização das

28 FOTOREPÓRTER. Estadão.com.br. Disponível em: <http://sites.estadao.com.br/ext/fotoreporter/ index.htm>. Acesso em: 22 mar. 2016. 29 Vc Repórter. Terra. Disponível em: <http://vcreporter.terra.com.br/>. Acesso em: 22 mar. 2016. 30 GONÇALVES V., OLIVEIRA, J e FERIGATO, G. Terra reestrutura negócio com corte de 80% da redação e fechamento de sucursais. Portal Imprensa. São Paulo, 06 ago.2015. Disponível em:<http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/73667/terra+reestrutura+negocio+com+corte+de+80+da+redacao+e+fechamento+de+sucursais>. Acesso em: 22 abr. 2016.

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iniciativas dos veículos em tornarem-se abertos às contribuições do público. (BRAMBILLA, 2011, p. 98).

Figura 7 – Home do canal ‘Vc Repórter’ no Portal Terra, em 2012

Fonte: Terra

Com o aumento do uso das redes sociais, todos têm o fácil acesso a

informação. O cidadão detém a informação e cabe a ele a decisão de transformar isso

em conteúdo relevante ou jornalístico. É uma porta que não se fecha mais. As

informações são acessíveis e compartilhadas por todos e as empresas de

comunicação têm de aceitar este novo universo no mundo da mídia. Cabe a audiência

dizer se a informação que a mídia dá é importante, se o público pode complementar

ou se pode negar ou ignorar a informação.

1.4. Da agenda do dia para a curadoria: uma transição?

O jornalismo sempre trabalhou por conta própria em toda a sua cadeia de

produção. É a informação que chega para a Apuração, que formada por jornalistas

que passam o dia fazendo contatos com órgãos públicos, recebem denúncias e

atendem demandas informacionais da redação. É departamento que, principalmente,

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checa a informação com fontes oficiais ou testemunhas que estão no local do fato.

Após a fase de checagem e apuração, essa informação vai posteriormente para a

Chefia de Reportagem, que é o outro departamento responsável por coordenar as

equipes de reportagem, definindo qual equipe que vai ao local fazer a matéria, ou qual

equipe está mais próxima do factual para fazer a estratégia de manobra de equipe,

para chegar mais rápido até o local do fato que está em andamento e ajuda a levar

aos editores qual é a melhor notícia para determinado tipo de demanda ou

necessidade editorial.

Durante essa manobra da Apuração e da Chefia de Reportagem, outros

jornalistas na redação, como editor-chefe, editores, editores-assistentes, editores-

executivos, outros chefes de reportagem e produtores estão nas salas de reuniões

para definirem qual serão os assuntos do dia. Cada jornalista vem com ideias e

propostas na cabeça, leem jornais, sites, ouvem rádios e de vez em quando no trajeto

de casa para as redações conseguem achar alguma notícia pelo caminho. Por meio

dessas impressões iniciais, os jornalistas definem o que pode ser assunto para os

jornais, rádios jornais, telejornais ou para o portal de conteúdo. Além disso, a

produção, no caso de rádio e televisão, e as editorias especializadas no caso de

internet e jornal impresso, já vem com suas sugestões de pautas ou reportagens

prontas para serem usadas conforme as necessidades dos editores ou da demanda

dos jornais, tempo, espaço e entre outros critérios.

Enquanto a reunião acontece, a equipe de reportagem em movimento recebe

as orientações da Chefia de Reportagem, que já tem em mãos primeiras informações

checadas e confirmadas pela equipe de Apuração. No caso de determinadas mídias

(TV, rádio, impresso, web), a equipe de reportagem tem distintas configurações. No

impresso ou internet, o repórter vai até o local com seu caderno de anotações e um

smartphone com várias funções para tirar fotos ou gravar a entrevista e dependendo

da gravidade da informação ou de sua relevância um fotógrafo acompanha o repórter;

no rádio vai um repórter de rádio munido de um smartphone que já tem múltiplas

funções, além de gravar e fazer ligações telefônicas; na televisão geralmente vai uma

equipe de reportagem formada pelo técnico, repórter cinematográfico e o repórter, no

entanto, quando o fato é de muita relevância, uma equipe técnica também acaba

acompanhando a reportagem para eventuais entradas ao vivo durante o telejornal da

emissora ou na programação.

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Com o mínimo ou rastro de informação estas equipes de reportagem são

deslocadas para o local do fato para dar andamento na história. A história é

destrinchada pela equipe de reportagem que volta para a redação com o material

gravado em áudio, vídeo, foto ou manuscrito e começa a construir a reportagem ou

entrega ao editor que faz a verificação do conteúdo, ou seja, a edição faz os ajustes

do conteúdo jornalístico de acordo com política editorial da empresa, ajusta aos

padrões e estilo e, após todas as dúvidas esclarecidas com o repórter e o material faz

a sua publicação na televisão, rádio ou internet.

Essas práticas de gatekeeping podem ser distinguidas em três etapas distintas do processo jornalístico: a entrada, a produção e a resposta (BRUNS, 2005, 2011).

Antes do rápido desenvolvimento da internet e das redes sociais, o jornalismo

já trabalhava desta maneira e contava com uma equipe de jornalistas muito maior para

dar conta da demanda. A mídia já colhia as informações do fato, trabalhava o material

jornalístico e publicava para o seu público no papel ou irradiava pelas ondas

eletromagnéticas. O público tinha o acesso ao material, mas não podia dar o feedback

na mesma velocidade. Como citado no começo deste capítulo, o público teria que ir

até a empresa de comunicação ou enviar uma carta para, quem sabe, ter uma reposta

no minúsculo espaço dedicado ao leitor de jornal, uma rápida ‘lembrança’, como uma

citação durante a transmissão de um programa de rádio, em que o âncora avisa que

recebeu o feedback do público ou na televisão, a produção entra em contato com a

audiência e explica o que houve. Então, editor faz os ajustes do conteúdo, define o

que é relevante ou não para a população. Assim, existe a comparação do porteiro, o

gatekeeper, os jornalistas têm de ter os textos aprovados por estes profissionais, que

geralmente são da equipe de edição, são eles que vão definir o que é fato ou não.

Mas, com o maior acesso à internet e as ferramentas digitais como blogs, que

por sua vez, aperfeiçoaram suas ferramentas de Content Management System ou

Plataforma de Gerenciamento de Conteúdo (CMS), como por exemplo, as CMS do

WordPress e Blogger, da Google ou ferramentas de vídeo e foto como YouTube,

Vimeo, Flickr e Instagram dão ao leitor a oportunidade de mostrar um outro lado que

a mídia profissional não mostrou e as vezes mostra o que foi publicado ou irradiado

não é uma verdade completa ou é uma mentira.

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A informação social passa a ganhar contorno, torna-se coletiva e começa a ter

peso relevante na propagação de informação. Mas, nem sempre a mídia tradicional

vai trazer a totalidade da informação do fato ou factual, por questões literais de tempo

(quando é rádio e TV) e espaço (nas páginas dos jornais). Por isso, agora passa a

contar com o cidadão que rotineiramente faz suas publicações nas redes sociais.

Para, desta forma, contribuir com o trabalho da mídia tradicional ou até mesmo vários

cidadãos que tenham contas de redes sociais possam complementar e contar

totalmente a história. Pois, é possível que alguém que vá procurar ou garimpar uma

história via redes sociais, usa de recursos que agregam publicações por temas, como

as hashtags, que são palavras ou termos associados a uma informação, discussão ou

tópico que é discutido, que rastreia a conversa daquele momento e consiga levantar

novas informações.

Depois, esse conteúdo extra pode ser transmitido nos canais de conteúdo

tradicionais ou profissionais como rádio, televisão, impresso e na web. A mídia popular

pode conseguir ou ampliar o espectro de informações que foram levantadas ou

trabalhadas inicialmente pela grande mídia, a partir daí temos o trabalho do

gatewatching, que aponta o dedo e analisa as ações do gatekeeping, aquilo que pode

ser relevante para o editor não é relevante para a audiência ou público.

O jornalismo profissional também pode, e deve contar, com a ajuda do público.

Ainda mais em um momento em que a informação é compartilhada entre o gatekeeper

e o prosumer. O gatekeeper – que é a pessoa que define o que pode ou não ser

noticiado, conforme o valor-notícia, linha editorial e outros fatores. O termo também é

uma metáfora para o porteiro, que libera o acesso de quem quiser. Neste caso,

‘porteiro da redação’, aquele que filtra a informação, se determinados conteúdos

podem ser noticiados. Já o prosumer – termo cunhado pelo escritor e futurista

estadunidense Alvin Toffler, em sua obra A Terceira Onda, cujo sua definição vem da

fusão das palavras producer (produtor) + consumer (consumidor) ou professional

(profissional) + consumer (consumidor). O consumidor pode também produzir, com o

livro 'A Cauda Longa', de Chris Anderson, destaca esse novo comportamento da

sociedade contemporânea em uma só frase. "Nunca subestime o poder de um milhão

de amadores com as chaves da fábrica" (ANDERSON, 2006, p. 56). Ou seja, o

jornalista que está na redação recebe do seu leitor a notícia. Cabe ao jornalista dar

valor ao que chega na redação. O consumidor de conteúdo pode rechaçar a

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informação produzida pelas redações e pode alterar o curso da informação

apresentando um dado que não foi informado ou um personagem que não teve sua

história revelada pela imprensa por falta de apuração da reportagem ou do repórter

no local do fato.

Como explica o pesquisador Axel Bruns em seu artigo Gatekeeping,

Gatewatching, Realimentação em tempo real: novos desafios para o Jornalismo. Ele

explica que em 2009, a publicação The Guardian, da Inglaterra, convidou o seu público

a ajudar a investigar, explorar e interpretar os quatro anos de despesas de 646

membros do parlamento britânico (equivalente ao Congresso Nacional do Brasil), nos

700 mil documentos, em 5,5 mil arquivos no formato pdf31. A audiência retornou e

colaborou com os jornalistas da redação a fazer uma leitura minuciosa dos

documentos e em menos de 80 horas, um terço de toda a documentação foi verificada.

Com isso, o público pode em trabalho compartilhado com os jornalistas verificar

de forma minuciosa a história dos custos da instituição política daquele País, o que

rendeu várias pautas e impactou a opinião pública nacional. Foram encontrados nos

custos execução de hipotecas, compras de casas de pato, serviços de decoração de

residências, despesas falsas e outros custos considerados incompatíveis com o cargo

público. Agora o jornal inglês mantém uma página dedicada (MPs´expenses) que

acompanha os custos dos políticos e lá a população pode saber dos desdobramentos

do escândalo e as últimas notícias32.

Uma iniciativa importante de uma destacada organização noticiosa internacional, a plataforma das Despesas dos Membros do Parlamento e outros projetos semelhantes marcam uma nova fase no relacionamento em evolução entre os jornalistas e as suas audiências [...] (BRUNS, 2011, p. 120).

Um exemplo mais recente foi o que aconteceu na TV Globo de São Paulo, na

madrugada do dia 12 de junho de 2015. Um incêndio atingiu a fábrica da Bridgestone-

Firestone, em Santo André, cidade da região industrial conhecida por ABC paulista,

no Estado de São Paulo33. O incêndio aconteceu em uma subestação de energia da

31 MPS´EXPENSES: The Guardian launches major crouwsourcing experiment. The Guardian. Disponível em: <http://www.theguardian.com/gnm-press-office/crowdsourcing-mps-expenses>. Acesso em: 27 mar. 2016. 32 MPS´EXPENSES. The Guardian. Disponível em: <http://www.theguardian.com/politics/mps-expenses>. Acesso em: 27 mar. 2016. 33 INCÊNDIO em fábrica de pneus no ABC provoca correria entre funcionários. G1 São Paulo. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/06/incendio-em-fabrica-de-pneus-no-abc-provoca-correria-entre-funcionarios.html>. Acesso em: 27 mar. 2016.

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empresa, que era responsável por 90% do fornecimento do insumo elétrico para a

indústria de pneus japonesa.

A informação inicial era muito rarefeita, não haviam informações suficientes

para confirmar o incêndio. Nenhuma fonte oficial ou estatal, como Corpo de

Bombeiros, Polícia Militar ou Defesa Civil, confirmavam o incêndio. A solução inicial

do autor foi um trabalho de campo, ou seja, o envio de uma equipe de reportagem

para verificar o fato in loco, ou em campo. Nesta mesma época a emissora

desenvolveu e implantou uma ferramenta que centraliza e recebe as informações dos

usuários do aplicativo WhatsApp. No mesmo momento em que a equipe de

reportagem confirmou a informação do incêndio no local, a redação conseguiu

resgatar as informações, imagens que foram enviadas por vários usuários do

aplicativo, que estavam nas redondezas da fábrica de pneus. Eles enviaram vários

vídeos e relatos do ocorrido.

Então, foi tomada a decisão editorial de abrir, jargão usado para começar o

jornal destacando o fato urgente como a primeira notícia, o telejornal local Bom Dia

São Paulo com essa informação para a audiência. Uma equipe de reportagem e uma

equipe técnica de jornalismo foram deslocadas para fazer a entrada ao vivo na cidade

de Santo André. E de lá, a equipe de reportagem foi atualizando os fatos em tempo

real, conforme o desenvolvimento do factual. Tudo isso aconteceu a partir de uma

informação que veio do próprio público, que contribuiu com a informação e ajudou a

fazer o telejornal feito por jornalistas profissionais. A partir daí, evidencia perceber que

a ajuda das pessoas que passaram ou estavam naquele lugar no momento do fato e

que enviaram as imagens pelo aplicativo foi fundamental para o desenvolvimento da

história. O público trouxe a história e os jornalistas profissionais desenvolveram,

ampliaram e contaram o fato para o público. É uma via de mão dupla. A informação

deles complementou o trabalho da mídia profissional. O gatewatching entrou em ação.

[...] Anunciam a morte lenta dos modelos de cima para baixo da cobertura jornalística das notícias e da divulgação de informações, e até do próprio modelo de gatekeeping, e em vez disso destacam a mudança para um relacionamento colaborativo mais igual, embora às vezes cauteloso, entre os profissionais do jornalismo e os usuários das notícias (BRUNS, 2011, p. 120).

Neste caso, coube ao time de jornalistas que estava na redação avaliar a

veracidade e a importância do material, checar com fontes e levantar mais detalhes

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para que o material fosse publicado no telejornal local da emissora de São Paulo, que

é o Bom Dia São Paulo. Isso mostra que o jornalista é mais um curador de conteúdo,

ele tem o seu poder de influência reduzido e agora tem que receber as informações

vindas direto do público, para aprimorar o trabalho que segue sendo feito pelos

profissionais. E cada vez mais isso torna-se uma rotina comum nas redações, é claro,

se as redações querem a confiança e o respeito de seu público, terão de ouvir e deixar

que eles também ajudem a fazer o jornal.

A notícia ainda passa pelas mãos dos editores, mas com mais critérios, com

mais cautela, confirmando se há relevância ou não, com o público aprovando a

estratégia do jornalística e contribuindo na produção de conteúdo. O gatekeeper vai

ser mais dosado, perde um pouco do seu poder em benefício de uma produção de

conteúdo mais compartilhada e confiável a sua audiência que está ajudando o

jornalismo com informações via redes sociais.

As características da mediação do computador e a emergência de ferramentas que publicizaram as redes sociais deram um novo impulso para os processos conversacionais. Os sites de redes sociais permitiram às pessoas publicar e ampliar suas redes, criando novas conexões e novas formas de circulação de informação (RECUERO E ZAGO, 2009), além de novos modos de interação (PRIMO, 2006). Mais do que isso, essas ferramentas também propiciaram o advento de novas formas de conversação: conversações coletivas, assíncronas ou síncronas, públicas e capazes de envolver uma grande quantidade de atores, que chamamos aqui conversação em rede (RECUERO, 2012, p.123).

2. Uso das novas ferramentas no jornalismo

2.1. É uma conversa: O jornalismo tornou-se mais social

A cada dia, pessoas de todo o mundo conectam-se à internet e engajam-se em interações com outras pessoas. Através dessas interações, cada uma dessas pessoas é exposta a novas ideias, diferentes pontos de vista e novas informações. Com o advento dos sites de rede social, essas conversações online passaram a criar novos impactos, espalhando-se pelas conexões estabelecidas nessas ferramentas e, através delas, sendo amplificadas para outros grupos. São centenas, milhares de novas formas de trocas sociais que constroem conversações públicas, coletivas, síncronas e assíncronas, que permeiam grupos e sistemas diferentes, migram, espalham-se e semeiam novos comportamentos. São conversações em rede (RECUERO, 2012, p.121).

O jornalismo está mais social, tornou-se mais social. Além de entrar em contato

com as fontes oficiais ou fontes cultivadas pelos profissionais da área. O jornalista tem

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de ficar de olho nas redes sociais, pois, os assuntos passam por lá. A repercussão

segue pelo virtual. É lá que as pessoas estão comentando os principais assuntos do

dia. O profissional de comunicação tem que ficar atento, o ambiente virtual é um

elemento vivo que pode fornecer próxima informação importante para o público-alvo.

Uma rede social, mesmo na Internet, modifica-se em relação ao tempo. Não é estática, não está parada no tempo. [...] Essas dinâmicas são dependentes das interações que abarcam uma rede e podem influenciar diretamente sua estrutura. Este elemento é levantado principalmente pelos teóricos da chamada “ciência das redes”. [...] Para estes autores, a grande falha da abordagem de redes sociais é não observar a rede como um elemento em constante mutação no tempo. Como Watts (2003) afirmou, não há redes “paradas” no tempo e no espaço. Redes são dinâmicas e estão sempre em transformação (RECUERO, 2009, p. 79).

Muitas informações e histórias pelas quais vão passar pelas mãos e olhos dos

profissionais da comunicação, atualmente, devem passar pelas redes sociais. As

redes sociais tornam-se elemento de pesquisa importante para captar informações

para produção de informações e pautas para reportagens para qualquer tipo de mídia.

Sendo assim, isso mostra que os usuários, principalmente no Brasil, têm mais acesso

à internet. Tem mais familiaridade com o manuseio e os usuários têm mais intimidade

com a interface computacional. Eles entendem o computador e assim, eles podem

transmitir dados e informações para o computador. Este computador pode guardar as

informações, caso fique em bancos de dados públicos eles podem ser usados por

qualquer pessoa que acessa a internet. Estes dados podem ser utilizados pelos

próprios computadores para recuperar informações e alimentar outros bancos de

dados, como por exemplo, informações sobre mapas de trânsito, sobre temperatura,

fotos e com isso, há uma troca entre os usuários da própria rede que fica se

alimentando e trocando informações sem que elas se conheçam pessoalmente.

O computador apenas mastiga os milhões de classificações que estão no seu banco de dados e procura padrões que se repitam. Esses padrões se tornam a base para diferentes congregações de gosto, em vez das categorias fixas, preordenadas, de gênero ou período. O segundo ingrediente é o circuito de feedback da classificação das recomendações do agente. O input do usuário permite ao sistema se refinar, se adaptar a novas informações à medida que elas chegam. Quanto mais informação houver no banco de dados, quanto maior for o feedback dado pelos usuários, mais inteligente fica o agente. A organização de baixo para cima permite ao computador perceber relações que de outro modo poderiam escapar ao radar da percepção humana. O circuito de feedback o deixa aprender (JOHNSON, 2001, p. 180).

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O jornalista tem uma mina valiosa que jorra informação a todo instante e ele

terá que minerar todo este ‘ouro informacional’ para poder dar um novo valor-notícia

e até mesmo melhorar e aprofundar uma história, narrativa ou reportagem em

quaisquer mídias em que o profissional trabalha. Ele sairá menos da redação ou

apenas quando for muito necessário, para pautas específicas ou factuais que

necessitam de cobertura em campo. O jornalista usará as ferramentas que capturam

dados na internet, levando em conta que estas informações se tornam complementos

do que já foi apurado via telefone e fontes ocultas ou oficiais.

2.2. Como captar informações? Cabe ressaltar como que é possível trabalhar de forma jornalística as

ferramentas de social media no jornalismo. Seus usos e como ele pode ser aplicado.

Para este estudo, foram pesquisados os papeis dos aplicativos e sistemas

TweetDeck, Dataminr, Hootsuite, WhatsApp, Moovit e Waze. Pois, como é possível

perceber, a cada dia que passa as ferramentas digitais, principalmente as de social

media estão sendo utilizadas pelas pessoas e elas conseguem ter a informação sem

o auxílio de um jornalista.

Com o avanço tecnológico, as pessoas conseguem trocar informações entre

elas e isso cria-se uma nova mudança de padrão no consumo de informação. Como

explica Marshal McLuhan, em ‘A Galáxia de Gutemberg’, onde antes havia-se uma

forma de se fazer e consumir essa informação. No entanto, com as transformações

que os processos vêm passando, uma nova mentalidade, um novo processo se forma,

criando-se uma distância para quem consome informação da forma tradicional e por

meio das novas tecnologias. Ajudam a transformar as relações entre os padrões

habituais da experiência de visão, criando um novo processo mental entre o leitor

medieval e o leitor moderno. (MCLUHAN, 1962, p. 131).

Ressaltando ainda o McLuhan, essas ferramentas tornam-se uma nova

extensão dos seres humanos. E por este prisma, essa extensão pode ser útil tanto

para quem consome informação, bem como para quem cria e produz conteúdo, ou

seja, os jornalistas especializados, que pelas suas técnicas conseguem aprofundar a

informação e assim, aprimorar e ampliar a informação que é transmitida, levando ao

seu público alvo a situação mais fidedigna naquele instante. O jornalista, sendo mais

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curador e os aplicativos sendo mais extensão, podem ser complementares para a

propagação de informação.

Contemplar, utilizar ou perceber uma extensão de nós mesmos sob forma tecnológica implica necessariamente em adotá-la. Ouvir rádio ou ler uma página impressa é aceitar essas extensões de nós mesmos e sofrer o “fechamento” ou o deslocamento da percepção, que automaticamente se segue. É a contínua adoção de nossa própria tecnologia no uso diário que nos coloca no papel de Narciso da consciência e do adormecimento subliminar em relação as imagens de nós mesmos. Incorporando continuamente tecnologias, relacionamo-nos a elas como servomecanismos. Eis por que, para utilizar esses objetos-extensões-de-nós-mesmos. Devemos servi-los, como a ídolos ou religiões menores. Um índio é um servo mecanismo de sua canoa, como o vaqueiro de seu cavalo e um executivo de seu relógio. (MCLUHAN, 1964).

Para conseguir informações de qualidade, o jornalista terá que ser mais

estrategista, terá de seguir rastros de informação no ambiente digital para conseguir

construir determinados fatos ou histórias.

2.3. Estratégias editoriais para as redes sociais

Mas, para isso, o jornalista terá que ser mais íntimo com as redes sociais, agora

ele terá mais fontes públicas para ouvir, conversar e receber denúncias ou propostas

de pautas. O jornalista terá que entender de forma criteriosa as finalidades, pensar e

usar objetivamente o Facebook, o Twitter, o Periscope, o LinkedIn, o Instagram, Flickr,

YouTube, Vimeo, WhatsApp e até mesmo o novato Snapchat. Estas ferramentas, a

princípio, são ambientes propícios para começar a buscar determinadas informações

e com elas é possível determinar um tipo de estratégia editorial diferente.

Como por exemplo, no Facebook, é possível pesquisar perfis de pessoas,

personagens para pautas de comportamento, perfis de empresas públicas privadas,

políticos e até mesmo empresas jornalísticas concorrentes, que estão presentes e

ativos nesta rede social. Além de garimpar informações, é possível compartilhar o

material jornalístico publicado, receber feedback do público no mesmo instante e

pode-se conseguir fontes para uma determinada pauta ou produção.

No Twitter, é possível levantar de forma mais rápida as informações factuais,

aquelas informações urgentes, onde acontece um fato e tem alguém que tem uma

conta nesta rede social, pode compartilhar em sua rede, ou enviar uma mensagem

para a conta de rede social da redação que acontece um fato importante naquele local.

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As informações rolam por uma lista única e são publicadas de forma sequencial e

cronológica, tornando assim as informações publicadas mais confiáveis, pois ainda

não há interferência de algoritmos ou alguma programação que atrapalhe essa

cascata de publicação.

O Periscope, é uma empresa que começou como uma startup que desenvolveu

um aplicativo de transmissões ao vivo num ambiente de rede social. A empresa-

embrião foi comprada em março de 2015 pelo Twitter e foi incorporada ao serviço de

rede social de microblog, preservando apenas o seu nome original. Pode ser usado

para transmissões públicas ou particulares ao vivo na rede social, vinculado ao serviço

Twitter, ele é como uma televisão ao vivo e pode transmitir qualquer imagem em

tempo real. Basta ter um sinal de internet que aguente a transmissão de dados. Sendo

assim, é possível fazer transmissão da redação, mostrando os bastidores para a

audiência, apresentando o funcionamento de uma redação e destacando algum fato

relevante que chegou no momento. O Periscope pode até mesmo ser utilizado para

transmissões factuais na rua, como mais uma alternativa de recurso tecnológico para

levar as informações ao público e para a audiência em tempo real. No LinkedIn, pode

ser usado como uma rede social mais voltado para o mundo corporativo, cobertura de

negócios, carreiras, empregos, inovação e empreendedorismo.

No Instagram e Flickr é possível verificar fotos de locais ou vídeos curtos,

ambos geolocalizados, ou seja, é útil para checar incialmente a procedência da

informação. Já no YouTube ou Vimeo, muitos usuários costumam postar vídeos de

eventos que acontecem no dia-a-dia, são vídeos de eventos factuais que estão

acontecendo e o usuário pode jogar a imagem lá e comunicar a redação sobre a

existência da imagem para complementar a cobertura jornalística de determinado

assunto. Como por exemplo, enchentes, chuva, acidentes de trânsito, denúncias de

serviço público, como buracos abertos na via, praças malcuidadas, pontos de ônibus

com falta de manutenção. E por fim, uma ferramenta fundamental para as redações,

o WhatsApp, Viber e tantos outros similares que são aplicativos multiplataforma de

mensagens instantâneas e de chamadas de voz, que permite troca de mensagens,

texto, vídeos e áudios e tudo isso apoiado no próprio terminal do celular, ou seja, no

mesmo número da linha telefônica, o aplicativo se apoia com as funções de troca de

informações e ao mesmo tempo, o usuário pode usar rede wi-fi local ou público para

poupar dados e custos da operadora.

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Praticamente todas as empresas jornalísticas usam o aplicativo como mais um

canal direto do público com a redação e tem funcionado bem. É raro encontrar um site

jornalístico sem um canal de contato via WhatsApp.

No entanto, começou a ascender uma nova estratégia de aproximação com o

público: envio de informações por aplicativos de mensagens, por meio de algoritmos

programados chamados de newsbots ou por pessoas que trabalham nas redações ao

redor do globo. O portal de notícias norte-americano Quartz34, criou um aplicativo

newsbot, que transforma o consumo de notícias em uma conversa. O leitor baixa o

aplicativo do portal de notícias e ele tem a interface de um aplicativo de mensagens.

No entanto, a notícia que a redação publica torna-se um diálogo ao consumidor de

conteúdo, não tem texto grande ou áudio, é como se fosse uma conversa sobre

notícias. É uma entrega mais leve e informal de conteúdo.

Já a publicação de economia Forbes35, o site especializado de tecnologia

TechCrunch36 e a agencia de notícias BBC Brasil37 estão experimentando o newsbot,

com estratégias semelhantes de publicação de conteúdo por meio do aplicativo russo

Telegram – que é como o WhatsApp, mas tem segurança criptografada, ou seja, é

protegido contra invasões ou ataques de crackers e a usabilidade dele é mais

amigável. No caso do Telegram, o aplicativo pode ser programável, o newsbot pode

fazer o trabalho do jornalista e fazer a publicação do conteúdo e a distribuição para o

leitor oferecendo opções de notícias, conteúdo ou de leitura.

No Brasil, o jornal paulista O Estado de S. Paulo implantou a mesma estratégia.

Desde o dia 28 de março, a redação envia pelo aplicativo WhatsApp as principais

notícias do dia para os leitores que solicitarem a inclusão no grupo do jornal do

WhatsApp, pelo número de telefone disponível pela redação. Segundo a matéria do

Estadão, o Brasil tem mais de 100 milhões de usuários do aplicativo e é este público

que a publicação quer focar. Os leitores serão notificados pelos jornalistas do Estadão

34 SEWARD, Zachary M. It´s here: Quartz´s first news app for iPhone. Quartz. Nova Iorque, 11 fev. 2016. Disponível em: <http://qz.com/613700/its-here-quartzs-first-news-app-for-iphone/>. Acesso em: 10 abr. 2016. 35 UPBIN, Bruce. Introducing The Forbes Newsbot on Telegram. Forbes. 23 fev. 2016. Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/bruceupbin/2016/02/23/introducing-the-forbes-newsbot-on-telegram/#1b5558c93117>. Acesso em: 10 abr. 2016. 36 BERNARD, Travis. Check out the new Al-powered TechCrunch news bot on Telegram Messenger. TechCrunch. 15 mar. 2016. Disponível em: <http://techcrunch.com/2016/03/15/check-out-the-new-ai-powered-techcrunch-news-bot-on-telegram-messenger/>. Acesso em: 10 abr. 2016. 37 BBC Brasil lança canal no Telegram. BBC Brasil. 17 dez. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/ portuguese/noticias/2015/12/151217_bbcbrasil_telegram_ss>. Acesso em: 10 abr. 2016.

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três vezes por dia, inicialmente nos horários das 8h, 12h e 18h. No entanto, o jornal

vai enviar notificações em casos de notícias de última hora ou urgentes. Claro, a

equipe de jornalistas também espera receber mais pautas do seu público38. Os

aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram tornaram-se portas de entrada

de informações relevantes para as operações editoriais e estratégias jornalísticas para

levar o conteúdo ao seu público.

Ascende também a ferramenta Snapchat, que apesar de existir desde de 2011,

apenas nestes últimos anos que o aplicativo começou a ganhar uma boa atenção da

indústria da mídia. Ele é um aplicativo de mensagens com base de imagens, onde os

usuários podem tirar fotos, gravar vídeos, colocar textos, desenhos sobre a imagem,

filtros animados e artes sobre os vídeos curtos. As imagens permanecem nos

servidores da empresa por 24 horas e depois desaparecem, garantindo mais

privacidade e confiança aos usuários. O usuário pode definir por quanto tempo a

imagem pode ficar no ar, quantas camadas de imagens serão usadas, o tempo da

publicação, que é chamada de snap pode ser de 1 a 15 segundos e depois do tempo

determinado para a assistir a imagem, o conteúdo é deletado do celular de todos os

usuários que criaram e receberam o conteúdo e também é deletado dos servidores

da empresa do aplicativo. É como criar o instante que não vai mais se repetir, para

assim atrair os usuários que não querem perder aquele momento que, em tese, é

único. O aplicativo pode ser utilizado no apoio para desenvolvimento de novas

narrativas, instigar a audiência para informações importantes, produção de conteúdo

especial transmídia e principalmente atrair o público jovem para o jornalismo levando

uma outra linguagem, desde que sejam desenvolvidas estratégias especiais de social

media, transmídia e multimídia. Como foi o caso do jornalista da BBC John Sweeney,

do programa BBC Panorama39, que fez uma reportagem especial para o canal de

conteúdo BBC One e canal de notícias BBC News sobre a crise na fronteira da União

Europeia e os refugiados de países em guerra, que estão fugindo para a Europa,

tentando atravessar o forte esquema de segurança nas fronteiras para tentar chegar

no continente para reconstruir suas vidas.

38 ‘ESTADO’ agora envia manchetes via WhatsApp. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 24 mar. 2016. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,estado-agora-envia-manchetes-via-whatsapp,10000023025>. Acesso em: 27 mar. 2016. 39 BBC Panorama. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/programmes/b006t14n>. Acesso em 30 jul. 2016.

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A equipe de reportagem do canal de televisão e de notícias britânico usou o

Snapchat mostrando os bastidores da viagem, entrevistas curtas, depoimentos do

repórter, quase como pequenos relatórios narrando como foi o trabalho da reportagem

aquele dia40. O material criado pelo Snapchat tornou-se a primeira experiência de um

curto documentário dedicado para o mobile. Todas as imagens e vídeos foram

recuperadas pela redação da BBC, compilado e está disponível na página da BBC

News, na rede social Facebook41.

2.4. Ferramentas para seguir rastros de informação

Devido ao rápido desenvolvimento tecnológico, que abarcou e aprimorou

ferramentas de produção de conteúdo e mapeamento de informação, muitas práticas

jornalísticas tornaram-se ineficazes ou pouco eficientes para captação de dados e de

conteúdo para produção de notícia. O processo de produção jornalística foi

dramaticamente alterado e as empresas sofrem grandes mudanças em suas

estruturas. Os profissionais de mídia terão que perceber e compreender a nova

realidade sobre como chega a informação, permitindo que cada vez mais o público

participe da produção do conteúdo. Por isso, cabe apresentar algumas as ferramentas

que podem ser utilizadas para atualizar uma redação e como que estas ferramentas

podem colaborar para uma construção de conteúdo eficiente, pontual e assertiva.

Com o avanço da tecnologia permitiu o rompimento do código-fonte da

informação, dando a possibilidade de qualquer pessoa que domina um dispositivo,

como um smartphone ou um computador possa transmitir ou distribuir informação. O

jornalista viu-se diante de um novo cenário, em que era o baluarte da opinião pública,

agora tem que compartilhar com os ‘amadores’ a posição de formação de opinião e

conteúdo. Agora, qualquer um em qualquer lugar pode se tornar um repórter e

transmitir a informação por vários meios informacionais que temos na tecnologia. Os

jornalistas que já têm o papel de gatekeeper, terá cada vez mais o papel de curador.

Além disso, há novos players no mercado que conseguem entender a dinâmica das

redes sociais e como que a comunicação acontece de forma rápida e como as

40 BERTHOUD, Cris. When journalism meets Snapchat. BBC Academy. Londres, 29 set. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/blogs/collegeofjournalism/entries/50e4717b-aa5a-4db7-9e2a-d56b7c8aee0c>. Acesso em: 27 mar. 2016. 41 BBC News. John Seweeney captures refugee crises on Snapchat. Facebook. Londres, 29 set.2015. Disponível em <https://www.facebook.com/bbcnews/videos/vb.228735667216/10153126586842217/ ?type=2&theater>. Acesso em: 27 mar. 2016.

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empresas tradicionais não conseguem acompanhar essa dinâmica. Além disso, será

possível perceber como que é o comportamento do público-alvo está interagindo com

os novos produtos que auxiliam o jornalismo a produzir conteúdo.

Aplicando uma metáfora do nosso cotidiano: um cozinheiro que prepara bem a comida, pode ser uma dona de casa ou chefe de cozinha. O cidadão e o jornalista estão nestes parâmetros ao produzir um conteúdo. A comida pode ficar boa, como o conteúdo pode ficar ruim. Não importa quem o faz (COELHO, 2015).

Os jornalistas agora têm que contar cada vez mais com o conteúdo

colaborativo, com o que vem de fora e que não pego diretamente por integrantes da

redação ou jornalistas profissionais. O que de todo mal não é ruim. Como por exemplo

o prosumer, em que o consumidor é também o produtor e nesta sociedade ele está

cada vez mais ativo. Ele quer e pode colaborar com a produção do produto, para que

possa consumir de forma satisfatória. Com a informação produzida pelo jornalismo

não é diferente. O prosumer acessa mais a internet e os meios de informação, podem

policiar mais o jornalista que produz e assim direciona ele se está no caminho certo

ou errado. Se ele pode modificar a elaboração do material jornalístico a ser

produzindo. O prosumer da informação acaba entregando muito material duro para

que depois, o jornalista possa lapidar e entregar essa informação mais agradável e

fácil para o consumo. Ele tem tanta informação, mas não sabe por onde consumir,

mas sendo assim, o jornalista por meio de sua técnica pode colaborar e construir a

história que está na mão dessa pessoa.

A maior parte dos surfistas da Web se vê às voltas com esses refinamentos várias vezes por semana, se não mais. Eles sabem exatamente o que estão procurando — só não sabem que combinações de palavras-chave representam melhor a informação que buscam, razão por que a maioria dos pedidos de busca envolve várias iterações de tentativa e erro (JOHNSON, 2001, p. 151).

2.4.1 TweetDeck A ferramenta TwitterDeck, foi desenvolvida em 2008, por uma startup e

posteriormente foi comprada pelo Twitter, no ano de 2011. É um aplicativo de

monitoramento de social media que integra mensagens das redes sociais Twitter e do

Facebook, sincroniza dados do aplicativo de localização ou geolocalização (GPS)

Foursquare e por meio do browser (navegador), programa que pode ser instalado no

desktop do computador ou por aplicativo no celular e que permite o gerenciamento de

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múltiplas contas. Nele, os usuários podem fazer o monitoramento da rede social por

meio de colunas, que apresentam tweets de seus seguidores e outros usuários de

Twitter, hashtags (sinal # ou cerquilha, que marcam os termos relevantes ou

discutidos nas redes sociais) e por meio deste sinal os assuntos ficam concentrados

em uma só coluna para facilitar a busca ou leitura de postagens ou da conversa sobre

determinado tema e assuntos mais comentados (trending topic).

No TweetDeck, é possível selecionar várias colunas para mapear alguma

informação-tendência, outras contas e acompanhar temas relevantes para apuração

jornalística em tempo real, como por exemplo, ‘#incêndio’, ‘#acidente’, ‘#zonasul’. A

interface é formada por cinco colunas.

A primeira coluna é o painel de controle, com os botões New Tweet, Search,

Home, Favorites, Mentions, espaço para busca localizada, os botões User,

Scheduled, Add column, Collapse, Lists, Custom timelines; Settings – Home, que é a

linha do tempo da conta do usuário, Favorites, que é as contas preferidas que o

usuário segue; Mentions, para monitorar quantas vezes e quem citou sua conta na

rede social. Figura 8 – Interface do TweetDeck versão Desktop

Fonte: TweetDeck

A conta geralmente identificada pelo nickname ou apelido da pessoa precedido

pelo sinal arroba, identificado pelo simbolo ‘@’, como por exemplo, ‘@coelho’, que

pertence a Cido Coelho; Search, para localizar tópicos específicos, hashtags ou outros

usuários específicos.

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Tabela 1 – Exemplo de uso de monitoramento na rede social Twitter

O usuário pode localizar a hashtag #acidente na coluna #acidente, quando um usuário publica em sua

conta.

@fulanodetal “Um acidente grave aconteceu na avenida Jabaquara” ou @ciclano “Que porrada

feia na avenida Jabaquara, perto do cartório! Até agora não chegou uma ambulância!” #acidente.

Fonte: o autor

O usuário pode personalizar a posição das colunas, invertendo sua a ordem,

para deixar visível para o monitoramento, bem como criar colunas para monitorar

outros assuntos mais comentados naquele momento, em tempo real.

Então, o jornalista percebe que acontece um acidente na avenida Interlagos e

aprofunda a apuração via canais oficiais como Bombeiros, Polícia Militar, Prefeitura-

CCOI e entre outros e assim comunicar a chefia de reportagem, que envia uma equipe

de reportagem para o local, para cobrir o factual.

2.4.2 Hootsuite Chamado anteriormente de BrightKit, a ferramenta Hootsuite, que também foi

desenvolvido em 2008 no Canadá, pelo desenvolvedor Ryan Holmes, é um sistema

integrado e focado para monitoramento de informações, engajamento, colaboração,

aplicativos e de gestão de marcas para mídias sociais. A ferramenta é usada por

grandes empresas, pequenas e médias empresas e agências para acompanhar

resultados de campanhas e na grande mídia para o monitoramento de informações e

engajamento com a audiência no compartilhamento de informações e notícias.

Semelhante ao sistema TweetDeck, o aplicativo que tem em versão browser e

para mobile, possui uma interface, semelhante a um painel de controle com várias

colunas e suporta mais de 35 redes sociais como Facebook, Twitter, Linkedin, Google

Plus, Foursquare, Mixi, MySpace, Ping.fm e Wordpress.

O aplicativo também possui compatibilidade com Tumblr, Trendspottr, Constant

Contact, Digg, Fickr, Get Satisfaction, InboxQ e YouTube. É utilizado por mais de 3

milhões de usuários.

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Figura 9 – Interface do Hootsuite, na versão browser

Fonte: Reprodução Assim como o TweetDeck, o Hootsuite é uma ferramenta que propõe agilidade

para o monitoramento de assuntos que são tendência que mais se destacam na social

media, porém com a possiblidade de monitorar mais canais e redes de social media,

pelo menos, os principais que estão disponíveis na web.

2.4.3 Dataminr Fundada em 2009 por ex-alunos da Universidade de Yale, o Dataminr é uma

ferramenta que mapeia e coleta dados da ferramenta Twitter em tempo real. Estas

informações podem ser feeds de web, dados geográficos, banco de dados

relacionados, tópicos de notícias em destaque, banco de dados locais e outras

informações são captadas da rede social Twitter e com isso, o algoritmo da ferramenta

identifica, classifica e determina sua relevância com sinais e contexto analítico

determinante para tomada de decisões no setor público, financeiro e de notícias.

Para o uso em uma redação jornalística, o Dataminr pode alertar o jornalista

com informações urgentes, fonte da informação, quantos veículos de comunicação

estão transmitindo a informação, ou se tem pessoas comuns publicando informações

relevantes, a hora da informação e qual é a origem dos dados, ou seja, o ‘calor do

momento’. Ele pode ser utilizado para verificação informações pontuais, como o uso

na cobertura política, mercado financeiro e noticiário internacional, bem como, na

cobertura local, mapeando situação do transporte público, ocorrências de serviços

públicos, policiais, acidentes, incêndios e se existe alguns usuários do Twitter

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reclamando ou informando algum problema na rede social que possa ser captado pelo

sistema.

Figura 10 – Motor de informações do aplicativo Dataminr

Fonte: Dataminr

Quando a conversa na rede social torna-se muito intensa, o sistema começa a

levantar as publicações mais relevantes e envia alertas por email, notificações no

computador, smartphones, redes sociais e SMS para os jornalistas que estão usando

a ferramenta, desde uma informação em texto, uma foto que foi publicada no

Instagram, um vídeo e até mesmo uma transmissão ao vivo via Periscope. A interface

possui um painel de controle que tem uma barra de busca para buscar palavras-chave

e as categorias separadas por colunas como Related Terms (Termos Relacionados),

Trending Messages (Mensagens Tendência), Alerts (Alertas), Images (Imagens),

Graph (Gráfico para mensurar o volume de mensagens em tempo real) e um mapa

para mostrar a origem da mensagem, caso o usuário seja rastreado por

geolocalização (GPS). A ferramenta monitora mais de 500 milhões de publicações por

dia que saem da rede social Twitter. Depois dessa captura, a ferramenta classifica

sua relevância, destaca, para depois reúne estes dados em categorias, o que é

chamado de clusrerização (clustering). As informações são categorizadas como Local

News (LN), Major News (MN), Urgente Update, Flash, Urgent, e entre outras etiquetas.

Figura 11 – Interface da ferramenta Dataminr

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Fonte: Dataminr

Por meio destas colunas é possível perceber a localização da informação e

como ela se comporta, se está sendo muito ou pouco comentado na timeline das redes

sociais. Assim, o jornalista poderá interpretar as informações para fazer uma apuração

jornalística eficiente. A ferramenta capta dados e o jornalista continua o trabalho da

verificação da informação, no entanto, terá mais recursos informacionais para saber o

que está acontecendo em determinada região no tempo preciso. Após este

procedimento, a ferramenta avalia e detecta o que tempo real ou o que é história em

desenvolvimento, para depois determinar o que é alerta, como Breaking News,

Tendência Emergente, Informação do Movimento de Mercado, e registro de outros

grandes eventos. Depois, o Dataminr determina o nível de urgência da informação é

alto ou baixo, rápido ou apenas um aviso. Enfim, a ferramenta determina o idioma, o

nível de urgência, tipo de alerta, palavra-chave, tópico, região e setores para entregar

o alerta para computadores com o programa, e-mail, mensagem instantânea, mobile

e outros sistemas clientes. A ferramenta possui integração com celular, e-mail e a

ferramenta de monitoramento social TweetDeck e isso é processado em fração de

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segundos pelo programa. Depois disso, cabe ao elemento humano avaliar qual é a

informação mais importante para fazer a tomada de decisão.

Figura 12 – Funcionamento do Dataminr

Fonte: Dataminr

2.4.4 Waze Anteriormente conhecida por LinQmap, e adquirido pela Google em 2013, o

Waze foi fundado em 2008, em Israel por Uri Levine, pelo engenheiro de software

Ehud Shabtai e por Amir Shinar. No final de 2011, a empresa israelense ofereceu uma

aplicação para smartphones ou dispositivos móveis similares baseados na navegação

por satélite, como por exemplo o GPS, e que fornece informações em tempo real e

informações de usuários e detalhes sobre rotas, dependendo da localização do

dispositivo portátil na rede. O Waze ganhou o prêmio de melhor aplicativo portátil de

2013, no Congresso Mundial de Portáteis e em meados do mesmo ano, a empresa

de serviços na internet Google adquiriu a empresa por 1,3 bilhão de dólares para

expandir sua base de usuários. A informação mais recente disponível sobre a base

de usuários que baixaram o aplicativo é que há mais de 50 milhões de usuários no

mundo transmitindo dados para formar novos mapas e rotas entre seus integrantes

da rede social de serviços de trânsito. Está disponível para os sistemas Android, iOS,

Windows Phone, Blackberry OS, Symbian, Wndows Mobile e nos computadores, pelo

site disponível na web. Muitas empresas jornalísticas incorporam os mapas de trânsito

do Waze para entregar ao público as informações de trânsito em tempo real. A

empresa mantém parceria exclusiva em televisão com a TV Globo, no Brasil e outras

empresas de comunicação para mostrar dados de trânsito ao público.

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Figura 13 – Interface do Waze para navegador

Fonte: Waze

2.4.5 Moovit Desenvolvido em Israel como TranzMate, a companhia começou suas

operações em 2012 por Nir Erez, Roy Bick e Yarion Evron, contando também com o

fundador do Waze, Uri Levine, o Moovit combina dados dos operadores do sistema

de transporte e de autoridades às informações em tempo real ao público, em

comunidade, com navegação GPS em todos os modos de transporte, incluindo

ônibus, trólebus, bondes, trens, metrô, balsas e barcas. Os usuários acessam o mapa

ao vivo com informações dos horários, as paradas de ônibus e estações próximas

com base em sua localização GPS atual, bem como planejar viagens em todos os

modos de transporte, com base em dados, em tempo real.

O aplicativo tem informações dos serviços de transporte local, chamados por

‘Alertas de serviço’ retirando as informações dos sites dos respectivos sistemas que

informam mudanças no trajeto ou linhas extras para eventos específicos na cidade e

ainda é possível baixar o mapa da rede de transporte, aqui em São Paulo é possível

baixar o mapa da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô e do ônibus

circular de turismo da cidade paulistana, Circular Turismo Sighseeing SP, da

companhia municipal São Paulo Turismo – SPTuris. Os usuários do Moovit também

podem informar se o ônibus atrasou ou chegou antes do previsto, se está parado, com

superlotação, a satisfação com o motorista do ônibus, limpeza e a disponibilidade do

serviço wi-fi. É possível apurar informações e verificar o serviço de transporte público

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por meio de novas narrativas voltadas para prestação de serviço. O aplicativo também

atende ciclistas e fornece serviços de informação sobre a localização de estação de

empréstimo de bicicletas próximas a estação de trens e metrô, número de bicicletas e

vagas disponíveis para guardar a bicicleta.

É possível pedir taxi sem sair do aplicativo, por meio de uma parceria com a

empresa brasileira Easy, podendo mesclar trajetos de transporte público com o

serviço de táxi.

Figura 14 – Tutorial em inglês sobre como usar o aplicativo Moovit

Fonte: Moovit

O Moovit está disponível em mais de 600 cidades de 55 países ao redor do

mundo, em 36 idiomas, 20 milhões de usuários transmitem e compartilham informação

em tempo real sobre transporte público, gera diariamente mais de 10 milhões de

relatórios de usuários.

Está em 30 cidades brasileiras e mais de 4 milhões de pessoas nas cidades de

São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba que representam 90%

dos usuários do aplicativo no País42.

42 A Moovit. Moovit. Disponível em: <http://moovitapp.com/pt-br/wp-content/uploads/sites/9/2014/07/ Sobre-a-Moovit-Brasil-4-14.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2016.

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CAPITULO II – TECNOLOGIA E NOVOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

1. O avanço da tecnologia na comunicação

1.1 Novas plataformas de comunicação

A tecnologia avança de forma galopante no desenvolvimento da humanidade.

Bem como a comunicação, que acompanha o fluxo da tecnologia. Temos a tecnologia

e a comunicação dando as cartas nesta geração. O autor Val Dusek explica que a

filosofia da tecnologia ainda não está completa e envolve o conhecimento de vários

saberes, como ciência, sociedade, política, história e antropologia. Ao mesmo tempo

essa multiplicidade de saberes torna-se um problema para pensar a tecnologia e seus

objetivos, em relação a filosofia tradicional, a filosofia da tecnologia ainda é um campo

novo no universo da filosofia (p. 10, 2006). Ao pesquisar mais sobre tecnologia e

comunicação, foi levantada uma das inúmeras definições compreensíveis sobre

pensar a tecnologia por meios dos fundamentos filosóficos com o autor Milton Vargas.

É frequente se ouvir dizer que homem e técnica são conceitos tão próximos que não se pode pensar num deles sem invocar o outro. Homem sem técnica seria abstração tão grande como técnica sem homem. São entidades polares, pois, eliminando-se uma, desaparece a outra. Por outro lado, a Antropologia vem mostrando que não há homem sem linguagem que não seja humana. Donde se poderia concluir que a trilogia homem-linguagem-técnica é essência do fenômeno humano. Isto é, só é humano aquele que possui a capacidade de se comunicar pela linguagem e a habilidade de fabricar utensílios pela técnica (p. 171, 1994).

Ou seja, por meio dos inventos e criações, o homem pode se aprimorar,

transformou algo que não era humano tornou-se homem (p. 171, 1994).

Já para a comunicação, será conceituado uma das bases iniciais, que é Teoria

Matemática da Comunicação para definir a essência da comunicação. Segundo a

autora Marlene Oliveira Teixeira de Melo, a teoria surgiu após a Segunda Guerra

Mundial e a descoberta foi fundamental para o desenvolvimento científico e

tecnológico dos Estados Unidos e de outras nações que faziam parte do mesmo

contexto histórico e econômico (p. 467, 2014). Sua teoria vem de Claude Elwood

Shannon, que publicou em 1948 o artigo que aborda a Teoria Matemática da

Informação no Bell System Technical Journal, que buscava o problema de encontrar

a melhor forma de codificar a informação. Para isso, Shannon usou ferramentas da

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Teoria da Probabilidade, elaboradas por Warren Weaver, sendo assim os dois

pesquisadores formalizaram a Teoria Matemática da Comunicação (p. 468, 2014).

Para essa teoria o problema fundamental da comunicação é o de reproduzir em um ponto, de forma exata ou aproximada, uma mensagem selecionada em outro ponto. Com frequência, as mensagens têm um significado, isto é, referem-se ou estão correlacionadas a algum sistema com determinadas entidades físicas ou conceituais. Esses aspectos semânticos são irrelevantes para o problema de engenharia. O significativo é que a mensagem real é selecionada a partir de um conjunto de mensagens possíveis. O sistema deve ser projetado para operar em cada possível seleção, e não apenas naquela que vai realmente ser escolhida, uma vez que esta é desconhecida no momento do design. Se o número de mensagens no conjunto é finito, então este número ou qualquer função monótona deste pode ser considerado como uma medida da informação produzida quando uma mensagem é escolhida no conjunto; todas as escolhas são igualmente prováveis (MELO, p. 468, 2014).

Temos nos dias atuais uma forte combinação de tecnologia e comunicação,

que está presente desde a rotativa da gráfica, que imprime o jornal, passando pelos

componentes eletrônicos de um rádio, televisão, smartphone e computadores para

serem protagonistas de fortes modificações no universo da comunicação e também

no jornalismo, mudando comportamentos, rotinas e o ato de fazer o oficio.

Há um novo ecossistema midiático em formação, contendo os meios de comunicação analógicos, surgidos a partir das concepções econômicas da evolução Industrial, e as redes digitais conectadas, que possuem conexões topológicas descentralizadas e de baixa hierarquia, fornecendo novas possibilidades de consumo de conteúdo e alterando a relação estabelecida, pelo modelo broadcasting, entre a audiência e as suas preferências informacionais. Nessa estrutura informacional emergem possibilidades de estabelecer diferentes tipos de relação entre emissor de conteúdo informativo de relevância social e a audiência (LIMA JR., 2009, p. 24).

No âmbito do desenvolvimento do jornalismo, que também sofre profundas

mudanças devido aos impactos tecnológicos e comportamentais da sociedade em sua

estrutura, modelo e funcionamento, é necessário entender como que o uso e a

aplicação das novas plataformas podem ajudar na transformação e evolução do oficio.

Antes da forte presença da tecnologia, as mídias tradicionais adotavam estratégias

distintas para ‘vender’ o seu conteúdo e muito se centralizava em torno dos jornais e

revistas impressas com feedback nas emissoras de rádios, televisão e revistas.

Anúncios elaborados pelas grandes agências de publicidade, gráficas dos jornais

impressos ou departamentos de comunicação das emissoras de rádio e televisão são

publicados para mostrar os destaques ou os produtos telejornais, radio jornais e

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anúncios do próprios jornais e revistas eram publicados no impresso, e por ele, era

diluído para as bancas de jornais e revistas para chegar no leitor, que tomava a sua

decisão de consumir o conteúdo na TV, rádio ou impressos e comentar com seus

amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.

A comunicação começou a partir da fala, depois prosseguiu para escrita, avançamos para os pulsos elétricos para transmitir mensagens, sem falar do desenvolvimento do correio, que resiste bravamente até os dias atuais, avançamos com o invento do telefone, que nos deu um salto gigantesco no parâmetro, âmbito e espectro de comunicar. Rompemos horizontes com a transmissão de mensagens por meio do telégrafo, para chegar ao desenvolvimento de novas tecnologias como as redes telemáticas, protocolo TCP/IP, BBS, e então, a World Wide Web (www) (COELHO, 2015).

Atualmente, com uma infinidade de recursos e plataformas, como media digital

out of home (DOOH), consoles e claro os smartphones, a estratégia tem que ser mais

pensada no portátil como complemento das mídias consolidadas, como é o caso do

mobile e das redes sociais. As mídias consolidadas que ainda recebem boa parte do

dinheiro vindo do bolo publicitário brasileiro são radio, impresso e televisão, isso não

se discute, ainda tem público para consumir estes conteúdos por muito tempo. Mas,

cabe ressaltar que existe uma nova realidade, um novo comportamento, em uma

sociedade com ambiente voltado para computação, em que a computação é

determinante para tomada de decisões e facilitador na demanda de trabalho. Por lá

também eclode um grande tomador de publicidade que torna-se algoz do suado

dinheiro da mídia tradicional. Observando este cenário, faz pensar além dos limites

da plataforma convencional. Se antes o consumo de jornalismo estava apenas na

leitura de jornais, na conversa em bares, jograis e músicas que mitificavam heróis,

hoje, a audiência que está na tríade da plataforma ‘rádio-tv-impresso’, nos dias atuais

está apenas na porta de entrada, pisando no tapete, pronto para acessar a maçaneta

da grande conversa que o jornalismo e a comunicação podem proporcionar para ela.

Como o Bill Kovach e o Tom Rosentiel pontuaram, o jornalismo é apenas o começo

da conversa e é uma conversa que vai ajudar nas tomadas de decisões das próprias

vidas e que se auto governem (2003, p.31).

Com o fim da Idade Média, as notícias surgiram na forma de música e relatos, nas baladas contadas pelos jograis ambulantes. Isso que podemos considerar como o moderno jornalismo começou a emergir nos começos do século 17, literalmente na base de conversas, sobretudo em lugares públicos como os cafés de Londres e depois nos pubs ou “casas públicas”, como eram chamados nos Estados Unidos. Ali os donos de bares,

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chamados publicans, estimulavam os papos animados de viajantes que chegava, para que contassem o que tinham visto e ouvido no caminho, material informativo registrado e depois em livros especiais que ficavam sobre o bar (KOVACH e ROSENSTIEL, 2003, p. 24).

A pessoa que busca informação vai para onde é mais fácil, onde é rápido

chegar. As mídias consolidadas estão lá, no entanto, cabe aos executivos dessas

empresas repensem sua estratégia de distribuição, isto é, parar com o comodismo e

começar a se envolver e chegar até as pessoas com apoio de recursos tecnológicos

e ao mesmo tempo, mostrar-se que estão presentes no dia a dia das pessoas levando

informações, servindo as com dados importantes e facilitando a tomada de decisão

das pessoas. Hoje em dia não é mais aceitável só esperar a pessoa acessar o

conteúdo e buscar o que ela precisa. Para isso, é necessário avançar para conquistar

essa pessoa que quer a informação.

O relatório anual State of The News Media, publicado pelo instituto Pew

Research Center, que avalia o cenário da indústria de mídia nos Estados Unidos,

mostra que em 2015, 39 dos 50 sites de notícias digitais mais acessados por lá tem

mais visitantes nas versões mobile que no desktop. Na ponta dessa audiência estão

sites mais ‘novos’ no universo do jornalismo como Huffington Post, BuzzFeed, Vox,

Mashable e Vice. As pessoas acessam mais os sites de notícias pelo celular do que

pelos computadores de mesa (desktop).

No Brasil esse cenário também é perceptível em duas grandes empresas de

mídia. O Grupo Abril afirmou que no ano passado, 65% da audiência digital de toda a

companhia e produtos vem do mobile e o Infoglobo, divisão de produtos de mídia

impressa do Grupo Globo, crava que 39,95% acessaram os produtos da empresa

detentora dos jornais O Globo e Extra via mobile. Então, dos 136,7 milhões de páginas

visitas (PV ou pageviews), 54,6 acessam os conteúdos do Infoglobo via smartphone

ou tablet43

Como muitos veículos noticiosos fazem no Brasil por exemplo começam a

investir mais na plataforma mobile. O portal G1, da TV Globo, mudou toda a sua

interface no final de 2015 para facilitar a entrada do público pelo mobile e isso puxou

43 MAGALHÃES, Lizandra. Mobile é principal audiência dos sites de notícias. IAB Brasil. São Paulo, 30 jun. 2015. Disponível em: <http://iabbrasil.net/artigo/mobile-e-principal-audiencia-dos-sites-de-noticias>. Acesso em: 28 mar. 2016

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o resultado da audiência, ou seja, 61% dos usuários mobile passaram a acessar o

canal de notícias na internet44.

Existe uma forte e crescente demanda de consumo, mas cabe ressaltar que é

necessário adaptar-se de acordo com as necessidades e o comportamento do seu

público, entendendo o que ele precisa e quais meios ele utiliza para acessar a notícia.

As equipes de jornalistas e programadores do jornal O Estado de S. Paulo perceberam

essa grande movimentação e acesso de conteúdos via smartphones e tablets e

investiram num portal mobile, uma porta de entrada mobile diferente do padrão de

outros sites mobile. O Estadão Mobile45 está focado em curadoria de conteúdo, os

editores selecionam durante todo o dia as 10 notícias mais importantes do momento

e o leitor consegue ter o acesso de forma simples e objetiva, devido a uma interface

com fácil usabilidade, que também permite o rápido compartilhamento de informações

via redes sociais. Nesse caso foi pensada a usabilidade do aplicativo para que o leitor

se sinta confortável ao acessar e consumir o conteúdo.

O outro exemplo a plataforma Globo Play46, do Grupo Globo, que é dono da

maior emissora de televisão do País, a TV Globo, foi desenvolvido pelo departamento

de Mídias Digitais da TV Globo com a equipe de desenvolvimento da globo.com.

Globo Play, é uma plataforma que transmite o conteúdo da emissora para

smartphones, tablets e desktop. A aposta principal da empresa foi em mobilidade, a

pessoa pode assistir o conteúdo de entretenimento, esportes e jornalístico em

qualquer lugar, bastando ter um local com acesso wi-fi ou um bom plano com pacote

de dados para que consiga assistir o conteúdo, pois vídeo consome muitos dados. O

aplicativo da Globo está disponível para tablets e smartphones com sistemas Android

e iOS, navegadores PC com Windows e Mac e smart TVs de marcas como Samsung,

Sony e entre outras. Futuramente estará disponível também para o Chromecast, da

Google, e aos consoles de videogames47. A TV Bandeirantes, do Grupo Bandeirantes

44 MEDEIROS, Henrique. G1 muda formato do portal e alcança 61% dos leitores no mobile. Mobile Time. http://www.mobiletime.com.br/18/01/2016/g1-muda-formato-do-portal-e-alcanca-61-dos-leitores-no-mobile/425802/news.aspx>. Acesso em: 28 mar. 2016. 45 ‘ESTADO’ estreia novo site para dispositivos móveis. O Estado de S. Paulo. Disponível em: http://econo mia.estadao.com.br/noticias/geral,estado-estreia-novo-site-para-dispositivos-moveis ,1684238>. Acesso em: 28 mar. 2016. 46 Globo Play. Disponível em: <www.globoplay.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2016. 47 SOUZA, Elson de. Globo Play e Globosat Play: apps permitem assistir TV online. TechTudo. Rio de Janeiro, 20 dez. 2015. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2015/12/ globo-play-globosat-tv-online.html>. Acesso em: 28 mar. 2016.

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de Comunicação também tem um aplicativo mobile de transmissão semelhante ao da

Globo, que é o Aplicativo da Band48. Tanto no aplicativo da Band quanto o da Globo,

as empresas de mídia alegam que pelo menos 4 milhões de pessoas já fizeram o

download dos aplicativos nos sistemas Android, Windows Phone e iOS.

É claro, também outra plataforma que já tem seu espaço consolidado no

jornalismo, mas também precisa ser pensada em sua estratégia editorial é a das redes

sociais que se tornaram uma das principais portas de conteúdo noticioso para o

público. As redações precisam saber por qual via se distribui o melhor conteúdo, pois

dependendo da estratégia que foi trabalhada o conteúdo elaborado pode ser uma

perda de tempo e dinheiro, provocando a frustração do público, quando a ideia era

apenas dar a fundo mais informações de uma história relevante para a sociedade sem

fazer ‘pirotecnia’. A partir de uma informação, como uma publicação do microblog

Twitter, pode se voltar para criar uma grande cadeia de informação que ajuda a dar

conhecimento a maior parte das pessoas.

É assim que acontece o turning point do jornalismo colaborativo ao jornalismo nas mídias sociais: se até então o usuário batia na porta de um veículo oferecendo o seu conteúdo para publicação, agora é o veículo que deve correr atrás do usuário em busca de um conteúdo diferenciado e com alto teor de noticiabilidade. Foi o que vimos nos episódios de tremores de terra em São Paulo (2008) e em Brasília (2010), relatados no Twitter antes que qualquer veículo noticiasse (BRAMBILLA, 2011, p. 98-99).

O que antes era motivo de desconfiança das empresas, hoje a internet e claro,

as redes sociais, são partes fundamentais de todo o ecossistema do caminho da

notícia, ou melhor o novo caminho da notícia. Como por exemplo a mudança de

comportamento de algumas empresas de mídia dos Estados Unidos, como o jornal

Chicago Tribune que ousou e publicou um blog em 2004. Uma postura dessa era

impensável no começo da internet, por então ser considerada uma plataforma sem

credibilidade. Em 2006, a publicação The New York Times começou a fazer a

publicação de links externos do YouTube para relacionar os assuntos do momento e

estas práticas mostram que conversa pode começar nas redações, mas ainda

continua acontecendo fora das redações. Um choque de novo tempo e um fragmento

de realidade que estava por vir no mundo da indústria da mídia.

A criação de um blog no Chicago Tribune e a adoção de vídeos do YouTube por parte do New York Times já apontavam não só uma busca dos veículos

48 Disponível em: <http://www.band.uol.com.br/segundatela/>. Acesso em: 28 mar. 2016.

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tradicionais por um engajamento maior com o público, como também uma percepção de um novo tempo, uma percepção de que a grande conversação não se dava dentro de um veículo, e não se dava unicamente entre um veículo e seus leitores. A grande conversação estava acontecendo fora dos veículos, de forma coletiva entre os usuários, entre cada nó da Grande Rede, em ambientes sociais e livres de barreiras, onde você não estava preso à produção de um único veículo, e onde podia, sempre que quisesse, compartilhar, comparar e debater informações de múltiplas fontes (CAVALCANTI, 2011, P. 49).

É preciso entender o novo caminho da notícia, para onde ela vai passar, como

vai ser passada, até alcançar o seu objetivo final, que levar a pessoa uma informação

que faça a diferença na vida dela. Agora, as redações têm que se adaptar aos novos

hábitos comportamento tecnológico da sociedade. Para isso, as redações devem abrir

várias frentes estratégicas, fazer novas formas de contar a história, deixar o conteúdo

atrativo, com novas plataformas, inclusive experimentando novas plataformas para

dar um novo patamar ao ofício do jornalismo. A audiência está pulverizada, mais

distribuída por várias plataformas e os pontos de audiência ou relatório de vendas de

jornais e revistas não apresentam bons números e tendem a ser bem desagradáveis

com o avanço do tempo. O público deseja experimentar outras plataformas de

conteúdo e novas tecnologias e o jornalismo precisa estar antenado a estas

tendências sem perder a essência. Mas, mesmo assim, não é o caso de que tudo está

perto do fim, o mundo não vai acabar. Pelo contrário, acontece uma transformação

que vai ajudar a dar uma balançada no sistema e nas instituições jornalísticas. É a

formação de uma nova cultura, novos hábitos de consumo da notícias e novas rotinas

de trabalho serão implantados. O uso da tecnologia sempre esteve presente no

desenvolvimento do jornalismo com o passar da história.

Desde a máquina de imprensa de Gutemberg, com seus moldes, tipos, tintas,

prelo e as atuais e modernas técnicas de impressão industrial que estão presentes.

Independente da transformação, o foco é o ser humano e para isso, a tecnologia é um

grande aliado e não um vilão. Pois, quem faz o conteúdo ainda é o jornalista e a

sociedade e eles são as principais matérias-primas da história da humanidade. O que

a sociedade fizer com o jornalismo, torna-se o espelho da sociedade.

Os meios de comunicação, em si mesmos, não são nem bons nem maus. São uteis, do mesmo modo que o são a roda, o avião ou a energia nuclear. Mas a roda faz andar a ambulância e o canhão, o avião serve para avizinhar cidades e para atirar bombas sobre elas, a energia nuclear contém o poder quase mágico de alavancar a humanidade e ao mesmo tempo, o de destruí-la. Os meios de comunicação serão aquilo que o ser humano fizer deles.

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Essa é a grande, a imensa, a grave responsabilidade: saber utilizar as potencialidades dos novos engenhos para o bem (COSTELLA, 2003, p. 239).

1.2 Interface, mobile e desktop

Outros fatores importantes para captar as informações estão nas interfaces.

Temos os canais de televisão abertas, que transmite regularmente informações do

seu departamento de jornalismo ou os canais abertos que transmitem conteúdo

noticioso 24 horas. Os portais de internet estão disponíveis ao acessar o computador

e os celulares. Ao mesmo tempo agora podemos acessar a internet assistir o conteúdo

do canal aberto e do canal fechado no celular e no computador.

Se tem alguém que tem um dispositivo móvel em mãos ele terá facilidade em

acessar o conteúdo. O conteúdo, como foi dito anteriormente, pode ser acessado por

diversas formas, por mensagens SMS, e-mail, MMS e redes sociais. Henry Jenkins

disse em Cultura da Convergência que nem todo conteúdo vai fluir por uma caixa

preta, mas vai fluir por várias caixas pretas (2009, p.42). Isto é, quando for determinar

para onde vai o conteúdo, o caminho que ele vai, o local que vai chegar vai ser decisivo

para a atenção da audiência. Cabe ressaltar que é importante a interface que o usuário

terá com o conteúdo, para que ele possa ter uma perfeita interação com a informação.

Quando alguém observa um vídeo impactante, ele para e ouve a narração do

jornalista sobre o fato que está acontecendo naquele instante, caso ele esteja com

alguém do lado ou outras pessoas, ele pode começar a comentar e começar uma

nova conversa sobre aquilo que a televisão está mostrando. Bem como, se tem

alguém acessando uma notícia ou um vídeo no smartphone, ou um áudio de um

aplicativo de emissora de rádio ou um podcast de um programa de tecnologia. Cada

tipo de mídia transmite um determinado tipo de informação. No entanto, isso não nos

impede de receber elas de forma simultânea ou de forma partida ouvindo várias

informações de acordo com cada plataforma. É possível ler uma notícia por meio dos

dados, texto, áudio, vídeo, newsgames e reportagem interativa multimídia porque a

nossa vida é multissensorial.

Efetivamente, não nos limitamos a receber a informação de forma multissensorial; também nos comunicamos desse modo. Segundo investigaram os paleoantropólogos, desde a origem da nossa espécie os seres humanos têm combinado diversas formas de se expressar: primeiro,

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mediante gestos e grunhidos; posteriormente, através da fala. Com o passar do tempo, os humanos do Neolítico passaram a registrar mensagens visuais em forma de pinturas rupestres e petróglifos. Apesar de hoje em dia apenas podemos especular sobre o significado ou simbolismo daquelas figuras, não existem dúvidas de que naquela época serviam para transmitir uma determinada mensagem. O homem que há 30 000 anos habitava nas cavernas de Altamira e Lascaux já era, definitivamente, um comunicador multimídia (SALAVERRIA, 2014, p. 25).

1.3. Aplicativos que atendem (ou substituem) o jornalismo

A convergência tecnológica digital também provocou fortes impactos nas estruturas que envolvem a área da Comunicação Social. Ela pavimentou tecnologicamente a convergência de mídias, abrindo campo para o arquivamento, o compartilhamento e a distribuição de ativos digitais utilizados no relacionamento humano, por intermédio das máquinas computacionais e das redes telemáticas. Formou-se, então, um ambiente enredado que emula algumas das necessidades humanas, entre elas, o convívio por meio de comunidades. O jornalismo tenta encontrar maneiras e formatos para sobreviver dentro desse ambiente digital conectado, mas, para que se estabeleça com vigor, é necessário que os seus profissionais entendam os atributos e o modo como se sustentam as relações nas redes sociais (LIMA JR., 2009, p. 97).

Com o avanço tecnológico dos celulares, que ficaram mais inteligentes, por isso

o nome smartphones, que vem permitindo mobilidade e agilidade na transmissão de

dados com um poder de um supercomputador no bolso. É possível refletir que

atualmente o smartphone poderia tomar lugar do jornalismo, sendo, substituído

integralmente e também o smartphone pode ser uma poderosa ferramenta que

complementa o trabalho do jornalismo. Pode soar provocação, mas cabe discutir até

onde vai a relevância do jornalista profissional nos dias atuais. Pois, se antes

contávamos com as agências de notícias, jornais, revistas, rádio e televisão, hoje com

a internet é possível se informar com mínimo de interferência do jornalista e com apoio

forte de tecnologia da informação.

Essa provocação segue com uma cena: então em um suposto cenário onde

não existe jornalistas, eu vou me informar usando aplicativos. O que posso colocar

nos meus dispositivos Android e iOS? Eu vou sair de casa e olho para o céu. Será

que vai chover? Levo o guarda-chuva? Então, acesso o meu smartphone e baixo os

aplicativos do The Weather Channel e Climatempo para verificar se vai chover ou vai

fazer sol. O The Weather Company, que todos pensam que é apenas um serviço de

mídia combinado com serviço de meteorologia que recentemente foi comprado pela

poderosa empresa de tecnologia norte-americana IBM. Segundo informações do

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mercado, a empresa fechou a compra da empresa em janeiro de 2016 pelo valor

próximo de 2 bilhões de dólares4950. A The Weather Company tem ativos muito

importantes, e não cabe dizer sobre equipamentos, mobiliário, imóveis ou recursos

humanos. Os ativos que devem ser destacados são os dados que esta empresa tem

em poder: as pessoas fazem 26 bilhões de requisições por dia, a empresa tem 2.2

bilhões de informações de localidades, 40 milhões de usuários por mobile,

informações de 50 mil voos por dia e o volume de busca 7 vezes maior que o motor

da Google. Tudo isso mobilizado para saber se vai chover, se faz sol, frio ou calor, se

posso voar sem problemas ou se é o tempo certo para fazer a plantação de

determinada cultura.

Agora o usuário está na rua, vai pega o carro, mas antes quer saber se o

trânsito está bom na rota que deseja seguir. Então, acessa o aplicativo Waze, para

saber a melhor forma de escapar do trânsito. Mas, se está sem carro, utiliza o

transporte público e acessa o aplicativo Moovit, que oferece informações de transporte

público em tempo real, em comunidade, com navegação GPS em todos os modos de

transporte, incluindo ônibus, trólebus, bondes, trens, metrô, balsas e barcas. Verifica

a hora que o transporte público chega no ponto de ônibus e checa com quantas

conduções serão necessárias para voltar para casa ou para o outro compromisso,

caso esteja com pressa, pode pedir um táxi. Mas, se o dinheiro é pouco para pagar

uma corrida de taxi, ele utiliza o aplicativo de transporte pessoal Uber, que tem tarifas

mais baratas e faz o trajeto que é preciso seguir na vida cotidiana.

Para acessar as informações financeiras, é necessário utilizar um aplicativo

bancário, como Itaú ou Bradesco para acessar as informações da Bolsa de Valores

de São Paulo, o valor do dólar e se foi realizado um bom investimento nas ações da

Petrobras no dia de hoje ou se talvez seja um dia bom para vender algumas ações

para ganhar dinheiro. Mas, o usuário quer saber o que acontece na cidade, na rua, no

quarteirão, ele pode acessar o microblog Twitter e saber o que os amigos dele estão

comentando, o site dos serviços públicos que impactam a minha vida como Prefeitura

de São Paulo, SPTrans, CET, até mesmo perfil no Twitter do Corpo de Bombeiros e

Polícias Militar e Civil. No âmbito nacional posso acessar o Twitter do Senado Federal,

49 IBM Analytics. The Weather Company. An IBM Business. Disponível em: <http://www.ibm.com/ analytics/us/en/business/weather-insight.html>. Acesso em: 23 mar. 2016. 50 Valor Econômico. IBM conclui compra de divisões da The Weather Company e prevê expansão. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/4416676/ibm-conclui-compra-de-divisoes-da-weather-company-e-preve-expansao>. Acesso em: 23 mar. 2016.

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Câmara Federal, STF, Palácio do Planalto para saber o que o poder público está

resolvendo na minha vida cotidiana de cidadão brasileiro.

Pode ser que funcione, mas a pessoa que utiliza os aplicativos talvez não

entenda ou não possa compreender algumas informações, bem como o seu volume

de informações, como o relatório do dia da Bolsa de Valores de São Paulo e o porquê

do dólar subiu ou caiu e o que a política afeta os mercados.

Logo, os jornalistas têm a responsabilidade de ser o facilitador de informações

para as pessoas devido ao grande volume de dados, que devem ser verificados,

pesquisados e traduzidos para a compreensão de quem consome a informação. São

humanos e ainda humanos se entendem. E com eles, temos as ferramentas para

ajudar a filtrar o que é relevante na vida das pessoas. Com isso, as grandes empresas

de mídia sempre buscaram alternativas para reduzir seus custos de produção e

distribuição, para sempre maximizar os lucros e expandindo a sua influência e o seu

alcance para o maior número de pessoas possível. O investimento em tecnologia é

uma das principais estratégias empresariais para otimizar o negócio da comunicação.

Ao mesmo tempo, o profissional de comunicação tem encontrado dificuldades

de conseguir informações por meios oficiais. Em muitos casos, aqui no Brasil, que tem

a sua lei de transparência da informação ainda não é respeitada pelos órgãos

públicos, que postergam, se recusam ou pedem para acionar a justiça para tentar

conseguir a informação, provocando morosidade e até mesmo a perda do momento

em que o assunto foi posto à luz da sociedade. Por isso, tem que engolir a seco as

informações produzidas pelos seus departamentos de assessoria de imprensa e

relações públicas de órgãos governamentais, que na maioria dos casos consegue

ocultar e desviar o foco de algumas reportagens que poderiam ter o cunho de serviço

público para a audiência. Enquanto isso, as redações cortam gastos e limitam o

trabalho dos profissionais do jornalismo. No entanto, a tecnologia está aí para que

seja utilizada e potencialize o trabalho do jornalista para as demandas da sociedade

e que continue registrando os fatos que impactam as pessoas.

Chegamos a um momento em que novas ferramentas precisam ser

manuseadas e aplicadas para conseguir melhores informações, para multiplicar o

rendimento dos profissionais de mídia, que precisam atender com maior agilidade e

assertividade a demanda de informações em uma sociedade que precisa de consumir

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informações e dados para tomada de decisões no âmbito empresarial, financeiro,

cotidiano, esportivo, enfim, na vida das pessoas.

Para isso, os profissionais de comunicação, que ainda são humanos, precisam

de ajuda de instrumentos tecnológicos de maquinas que trabalhem processando todo

o volume de dados e os ajude a interpretar os signos para que os jornalistas e

profissionais de comunicação possam entregar um conteúdo de qualidade para o seu

público, seu cliente direto. E um dos caminhos é aprender, entender e dominar os

sistemas que trabalham com grande volume de informação.

Ainda no Brasil não existe grandes redações que trabalham com ferramentas

nativas de dados. Existem núcleos de dados como, por exemplo, o Estadão Dados,

de O Estado de S. Paulo e a editoria de Dados e Audiência da Folha de S. Paulo.

Estas equipes, que geralmente são enxutas, compram licenças ou encontram elas em

sistemas de código aberto, ferramentas que são usados por estatísticos que extraem

ou calculam informações a partir de planilhas como Excel ou de leitura de arquivos

PDF, como é o caso da ferramenta de OCR. Mesmo assim, estão aprendendo a usar

ferramentas já existentes para garimpar informações que atenda às demandas das

redações, bem como do seu público.

Os jornalistas estão sendo estimulados de alguma forma pela lei da

sobrevivência ou do mais forte a utilizar as ferramentas para se manter no emprego.

Estamos em um outro patamar: a conversa. O jornalismo sempre funcionou na base

da conversa, pois, a partir dela que possível conseguir histórias e fatos relevantes

para a sociedade. As ferramentas podem ajudar a aprimorar a conversa e o seu

retorno. Agora os jornalistas que já fazem boa parte do trabalho dentro das redações,

podem permanecer mais tempo nas redações, porém ganham mais agilidade no

trabalho. As grandes redações brasileiras como Estadão, Folha, UOL, IG, O Globo,

TV Globo, G1, SBT, Record, R7, Bandeirantes, RBS, Zero Hora, Correio Braziliense,

Verdes Mares, Diário do Nordeste, Rede Amazônica, Rede Mato-Grossense de

Televisão os canais públicos como a TV Brasil e educativos de conteúdo e informação,

como a TV Cultura, até mesmo as empresas privadas e órgãos de governo, possuem

jornalistas ou especialistas em redes sociais, que tem que conversar mais com seu

público, como Facebook, Twitter, Google Plus, Instagram, LinkedIn e WhatsApp.

No entanto há novos elementos em evidência: jornalistas independentes,

influenciadores sociais, como os apresentadores de vídeos, cunhados pelo termo

youtubers, engajadores de redes sociais, também podem compartilhar conteúdo,

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informar e dar suas opiniões para outros públicos. É um novo nicho que se forma e

aumenta a gama de opções para a sociedade se informar, por meio do jornalismo

tradicional, jornalismo cívico, independente e amador.

2. Inteligência Social: Open data, sistemas inteligentes e algoritmos

A atual geração de jornalistas e especialistas de comunicação têm mais acesso

à tecnologia e com isso, o conteúdo ficou mais dinâmico, objetivo, social. Porém, este

conteúdo ficou mais profundo e completo. Por isso, as então Tecnologia da

Informação e Comunicação (TICs) trouxeram uma nova lógica de produção de

conteúdo, formando novas redes e caminhos informativos, com novas estratégias

para propagar e compartilhar estes dados com o maior número de gente e que estes

dados tragam clareza para quem precisa. O custo da tecnologia diminuiu muito, mas,

o seu poder de processamento evoluiu de forma exponencial. Boa parte devido a Lei

de Moore, onde o número de transistores dos chips dobraria sua capacidade a cada

18 meses ao mesmo tempo que o preço da tecnologia ficasse mais barata. E claro,

isso também possibilitou que as pessoas pudessem ter acessos a devices mais

modernos, como smartphones, tablets, smart TVs, PCs e notebooks para acessar o

conteúdo de forma mais rápida e barata.

A proliferação de smartphones, tablets e outros dispositivos móveis tornou possível para os cidadãos a se tornarem parceiros com o governo local na identificação de problemas e oportunidades dentro da jurisdição. As aplicações móveis permitem que os cidadãos para tirar uma foto, captadas por coordenadas GPS e apresentar um pedido de serviço em questão de minutos. Durante a limpeza do derramamento de óleo do Golfo, em 2010, os grupos ambientalistas usam aplicações móveis extensivamente para rastrear onde as correntes de vento e água estavam transportando resíduos de óleo ao longo da costa e identificar onde os esforços de limpeza necessários para ser organizado. Conhecido como crowdsourcing, este tipo de grande grupo de esforço de coleta de dados pode desempenhar um papel vital na identificação de onde os recursos devem ser alocados. (FLEMING, 2014, pág. 57, tradução nossa).

Isso abre novas frentes para criação e desenvolvimento de conteúdo, como a

formação de novos bancos de dados e ferramentas para captação, desenvolvimentos

de algoritmos e investigação de dados. Então, com o desenvolvimento da tecnologia,

houve esforços coletivos globais para a elaboração de ferramentas e sistemas

operacionais de código aberto, como é o caso do Linux, uma das plataformas de OS

(sistemas operacionais) mais utilizadas e aprimoradas no mundo.

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Para o jornalismo, a tecnologia também se tornou mais amigável, podemos

contar com open sources, ou seja, fontes abertas. Em um mundo que temos cada vez

mais fontes oficiais e assessorais de imprensas ou comunicações corporativas

bloqueando o trabalho jornalístico ou de jornalismo de investigação, é importante que

sejam desenvolvidas ferramentas voltadas para minerar dados espalhados em toda a

rede, com o auxílio de reportagem por computador. O jornalismo deve desenvolver

um pensamento computacional para construir uma base, consolidar sua evolução e

para aprimorar suas técnicas.

Na atual configuração tecnológica proporcionada pela Internet, estruturada pelo intermédio do aumento de velocidade de transmissão, pela evolução das máquinas computacionais com grande capacidade de processamento e armazenamento de dados, com o desenvolvimento de linguagens de programação cada vez mais amplas e que negociam de várias formas com robustos bancos de dados, a atuação profissional do Jornalismo também deve possuir outras configurações (LIMA JR., 2010, p.210).

Por meio das novas tecnologias temos um novo entendimento sobre si e sobre

os processos de produção jornalística, podendo aprimorar o processo intelectual e

criativo para construção e o desenvolvimento de histórias. O processo industrial de

produção jornalística também é afetado, porém, para melhor. A redação que tenha

aprimoramento tecnológico pode também apoiar o desenvolvimento da história que

está sendo contada pelas equipes que estão nas ruas. Muitas vezes, por conexões

feitas na internet é possível perceber novos desdobramentos que podem contribuir

para a reportagem, edição e distribuição do fato ao público interessado.

As redações poderiam reestruturar o fluxo de trabalho, repensar o caminho da

notícia, bem como, no meio deste processo, podem ter uma espécie de um

minilaboratório para desenvolver aplicativos digitais para o público e ferramentas para

os jornalistas que trabalham na redação. Com um banco de dados consolidado, fontes

confiáveis, fluxo de trabalho determinado, é possível também disponibilizar APIs para

o público trabalhar o conteúdo, ajudando a complementar os sistemas de banco de

dados ou espalhar o que está em desenvolvimento de redação, para ser aprimorado

e depois a redação devolve ao público do jeito que eles querem usar.

As API são as Apllication Programming Interfaces ou Interface de Programação

de Aplicativos, que que é um conjunto de rotinas e funções estabelecidos por um

software para expandir as funcionalidades do programa, no caso do jornalismo ele

pode ser um mapa em que as pessoas possam atualizar sobre locais perigosos para

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andar a noite, pontos de descarte de lixo irregular e basta um contato humano com a

ferramenta, para que todos os dados sejam unificados pelo computador para que

possa se desenvolver um relatório sobre quais são as demandas da sociedade, assim

como, o desenvolvimento de aplicativos específicos para atender as necessidade de

cada localidade.

As APIs do Twitter, por exemplo, que é uma rede social que tem muito uso para

conteúdo noticioso, pode ser usada para transmitir ou compartilhar notícias ou

conteúdo relevante para a rede de contatos e esse ramo faz o papel de espalhar e

compartilhar o acontecimento para o conhecimento de todos. O desenvolvimento de

um aplicativo mobile ou via navegador para quem acessa a internet já uma ferramenta

de grande importância e se desenvolve um canal entre o jornalismo e a sociedade.

Uma mão de duas vias que podem ajudar a captar dados para resolver problemas e

cobrar o poder público sobre determinadas demandas.

Focando nos dispositivos web e mobile, é possível criar aplicativos para

dispositivos móveis ou por meio de navegadores web, onde os moradores possam ter

participação ativa na captação e coleta de dados. Com o projeto de desenvolvimento

de aplicativo e browser em andamento, já pode-se planejar um ambiente amigável

para a navegação. Digamos que em termos mais fáceis, temos uma porta sem

fechadura, que é o aplicativo, o canal de acesso ao jornalismo e para concluir o

desenvolvimento do acesso do aplicativo, temos que criar uma fechadura simples para

que as pessoas possam virar ou empurrar a porta para acessar o jornalismo.

E para isso, existe a arquitetura da informação, que ajuda na melhor

experiência de uso para que consigam rapidamente transmitir os dados para um novo

dataset formado pela redação. O aplicativo deve ser de fácil uso, com poucos botões,

projeto simples, para não ter confusão. Por isso, que o desenvolvimento do aplicativo

é importante para que qualquer usuário possa inserir dados, detalhes, fotos, vídeos,

informações sobre o ambiente que vive para que esses dados sejam enviados em

tempo real para os datasets que são alimentados para dar robustez ao sistema que

poderá fazer análise mais precisa.

Um desafio central para os governos locais no uso de big data decorre da necessidade de pessoal que entende como fazer o melhor uso dos dados. Nas suas previsões para a área de tecnologia da informação para 2012 e além, Gartner (2011) sugere que os departamentos de tecnologia da informação devem evoluir de fornecimento de suporte técnico para

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coordenação das atividades de tecnologia da informação. Este movimento significa que os usuários de tecnologia terão uma mão no desenvolvimento de soluções para os desafios que enfrentam no trabalho em vez de aceitar soluções fornecidas pelo departamento de tecnologia da informação. Referido como cientistas de dados, esta nova raça de trabalhadores do governo local precisa entender tanto as questões de negócios que precisam ser abordadas a partir dos dados e da tecnologia utilizada na análise dos dados. Essas habilidades podem residir em um indivíduo ou, talvez mais importante, estar presente em uma equipe reuniu para tratar de um desafio particular (FLEMING, 2014, pág. 52, tradução nossa).

Se temos os dados disponíveis, podemos investigar a origem e veracidade de

cada informação, aplicando taxonomia de cada dado para enfileirar e priorizar as

demandas que a população requisita. Assim, sendo possível esmiuçar cada detalhe,

sobre a origem do morador, o que ele precisa e os seus motivos ou qual história que

ele quer contar, comportamentos dos moradores em cada quarteirão, características

específicas em cada rua, como que cada pessoa vive, perfil de família, moradia e

como elas tem a percepção de vivência na região em que vive e perante aos vizinhos

e comunidade.

Além disso, é possível traçar uma efeméride sobre como a região se organizou,

foi povoada, como ela se transformou de área residencial para industrial e de industrial

para comercial ou qualquer outro tipo de formação populacional. A partir disso, pode-

se apontar indicadores de temas como educação, saúde, segurança, trabalho, tráfego

e outras necessidades que são intrínsecas aos moradores de um determinado

quarteirão ou de uma rua, avenida, travessa ou viela, por exemplo.

3. Narrativas digitais: Fragmentação, distribuição, engajamento e retorno

Nesta parte será detalhado como que por meio de outras práticas e meios

tecnológicos é possível também fazer comunicação. Pois, como as pessoas estão

cada vez mais conectadas, é possível perceber padrões, como o caminho da

informação, que chega de forma fragmentada, depois ela é assimilada, para ser

distribuída para quem se interessa e quem se interessou vai se engajar para

compartilhar o conteúdo, vai fomentar a conversa e a partir dessa conversa fomentada

temos um retorno, um feedback para o produtor inicial de conteúdo.

Temos a ascendência e explosão das redes sociais que mostram que o

conteúdo e a informação estão cada vez mais presentes nas vidas das pessoas. E a

primeira percepção sobre a rede em sociedade foi 1954, quando o antropólogo John

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Arundel Barnes acompanhou o cotidiano do vilarejo de Bremnes (Bømlo), na Noruega

e escreveu o artigo Reuniões e comitês na paróquia da ilha norueguesa. Barnes, que

foi o primeiro cientista a cunhar o termo ‘redes sociais’ no mundo acadêmico, foi

percebendo os laços de relação entre parentes, amizades e como girava esse nível

de amizades, onde sempre alguém estava falando com outro e a partir disso

formavam-se tipos distintos de redes.

Atualmente, por meio das redes sociais, que se formaram em vários ambientes

virtuais, seja por acesso via PC, smartphones, tablets, agora temos redes sociais em

videogames também, que ajudam a imputar informações para a teia de interessados.

O que antes era feito ou conversado no ambiente offline em uma sala, escritório ou

praça, agora é feito para várias pessoas em várias salas virtuais e lá os usuários

conversam e compartilham de tudo, acontece a interação social online, porém esse

ambiente online várias vezes pode ser transportado para o ambiente offline.

Eles representam aquilo que está mudando profundamente as formas de organização, identidade, conversação e mobilização social: o advento da Comunicação Mediada pelo Computador. Essa comunicação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-se, amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e expressas nesses espaços: as redes sociais mediadas pelo computador. Essas redes foram, assim, as protagonistas de fenômenos como a difusão das informações na campanha de Barack Obama e as mobilizadoras no caso de Santa Catarina. Elas conectam não apenas computadores, mas pessoas (RECUERO, 2014, p. 16).

Outrora as pessoas começavam a entender esse negócio de internet, agora

elas estão praticamente conectadas a todo o tempo, estão num ambiente de interação

constante para trocar ideias, sentimentos, palavras, imagens e vídeos. E a partir disso,

começaram também a trocar interesses em comum, novas crenças e valores foram

criadas e padrões foram estabelecidos. Uma nova cultura foi estabelecida por quem

criava e usava a internet. As comunidades virtuais tomavam forma e foram criando

culturas independentes às que foram estabelecidas no ambiente offline e isso foi

atraindo seguidores e o grupo virtual foi tomando mais corpo. É como um clube com

endereço, estrutura em um bairro determinado da cidade fosse todo para o ambiente

virtual, mas os sócios deste clube têm a chave da porta num só clique.

Apesar de tudo, à medida que as comunidades virtuais se expandirem em tamanho e alcance, suas conexões originais com a contracultura enfraqueceram. Empiricamente falando, não existe algo como uma cultura comunitária unificada da Internet. A maioria dos observadores, de Howard Rheingold a Steve Jones, enfatiza a extrema diversidade das comunidades

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virtuais. Além disso, suas características sociais tendem a especificar sua cultura virtual (CASTELLS, 2001, p. 48).

As pessoas estavam conectadas a um ambiente virtual, em um local

desterritorializado, mesmo assim, havia a sensação de que pertencimento ao lugar

virtual, um sentimento de presença a um lugar que só existe na tela do computador

sem estar face a face nas relações cotidianas. Em alguns casos a relação virtual é

mais importante que a do mundo terreno.

Mesmo a distância, as relações de afeto são mantidas e controladas. São organizadas a partir da internet e a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa (COELHO, 2015).

Com o computador cada vez mais presente e necessário, algumas atividades

foram transformadas e com as redes sociais, esse relacionamento mudou de forma

brutal desde o início do desenvolvimento humano. Qualquer tipo de encontro pode

acontecer mesmo sem ter conhecido a pessoa no mundo real. As fronteiras são

rompidas e os eventos acontecem em um não-lugar, onde não há identificação de

nacionalidade ou Estado (COELHO, 2015). A identificação ocorre por meio fotos,

avatares, pequenos personagens, figuras e isso dá uma nova forma de sociabilidade.

Pela da rede social, se estabeleceu novos graus de conectividade. Raquel Recuero

diz que as redes têm propriedades específicas, onde há um determinado grau de

conexões em um nó, ou seja, uma rede de computadores e pessoas ligadas a um

tema específico, a rede pode ser densa e central devido a quantidade de pessoas que

acessam esse fluxo (2014, p.71-72).

Por meio destas redes é onde acontece o assunto, a notícia corre e por meio

dessa rede noticiosa os fatos se desenrolam. As informações podem ser trocadas e

compartilhadas de um ponto a outro por várias formas de distribuição. Agora temos o

Facebook, Twitter, Instagram, ferramentas digitais de monitoramento, a profissão de

analista ou editor de social media. Pois é perceptível que essa rede se dá em um

âmbito de conversa digital, uma ampla conversa. No caso do jornalismo, as redes

sociais estão aí para agregar a profissão, para aprimorar a conversa com a sociedade.

É um caminho onde a informação começa nas redes sociais, é discutido na redação,

é desenvolvido nas ruas para pauta, embalado e adequado de volta na redação,

distribuição para a publicação e as redes sociais com o retorno via redes sociais. São

pontos que se interligam e com todos os pontos ligados, forma-se uma rede

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informacional, como um ciclo de produção ‘fordista’, onde a peça bruta começa a ser

montada em esteiras e no final dela sai um carro novo construído pronto para a venda

na concessionária.

Por coincidência, essa conversa acontece da mesma forma que vem a

informação, de forma fragmentada, de onde é possível organizar esses pontos e

transformar em uma conversa e dessa conversa faz se a distribuição, onde a conversa

é compartilhada para todos que se interessam, depois, segue para o engajamento,

onde as pessoas interessadas em torno da conversa podem agregar informações e

participar com mais intensidade do assunto em discussão.

Com as mídias tradicionais, já aconteciam a fragmentação, distribuição,

engajamento e feedback de forma mais mecânica e eletrônica. Na atualidade, com a

internet podemos fazer a distribuição com mais tecnologia, de forma mais digital e

para muitas pessoas, quantas quiser. De um lado os jornalistas que estão usando

mais recursos para fazer e trazer a informação para a sociedade, que está do outro

lado também com os mesmos recursos para receber e distribuir a informação, porém,

a sociedade pode também fazer o conteúdo para os jornalistas e assim criar uma nova

cultura de fazer jornalismo de forma colaborativa para que todos os lados possam

construir um conteúdo e uma narrativa que seja coerente com a qualidade.

Agora a narrativa é desenvolvida de forma conjunta, onde cada lado tem a sua

posição para determinar o começo, meio e fim da história, é uma nova cultura de

produção de conteúdo que foi trazida pela tecnologia. Ou como o autor Val Dusek

explica, há um determinismo tecnológico, ou seja, cada vez mais o jornalismo e o

habito de consumo de tecnologia das pessoas foi alterado e por meio disso foi criando

um próprio ecossistema, que ganha força com sua lógica.

Segundo o determinismo tecnológico, à medida que a tecnologia se desenvolve e muda, as instituições no resto da sociedade mudam, como fazem a arte e a religião da sociedade. Por exemplo, o computador mudou a natureza dos empregos e do trabalho. O telefone levou ao declínio da escrita de cartas, mas a Internet mudou a natureza da comunicação interpessoal novamente, deixando registros escritos, ao contrário do telefone (DUSEK, 2009, p. 117-118).

É claro que também essa conversa se determina apenas por redes sociais onde

estão os jornalistas, estes jornalistas podem atrair um determinado público que deseja

viver uma construção narrativa de outras formas, como entrando na porta de

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microblog, chegando a um site, com infográficos, artes, textos, áudios e vídeos

levando o seu público a se aprofundar também pela via lúdica.

As pessoas podem se informar por meio de gamificação, uma equipe de

especial formada por jornalistas, programadores podem desenvolver conteúdos

lúdicos para que o leitor entre em um novo ambiente, conferindo sentido a várias

ações, criando um novo significado, um novo aprendizado e por meio do jornalismo

estamos produzindo notícias para que as pessoas possam entender para depois

conversar. A gamificação pode ser uma ferramenta que prepara a pessoa para outros

desafios e uma nova visão do mundo, preparando personalidades e formando caráter.

“Segundo uma teoria, o jogo constitui uma preparação do jovem para as tarefas sérias que mais tarde a vida dele exigirá, segundo outra, trata-se de um exercício de autocontrole indispensável ao indivíduo. Outras veem o princípio do jogo como um impulso inato para exercer uma certa faculdade, ou como desejo de dominar ou competir”. (HUIZINGA, 1971, p.4).

Na gamificação o contato acontece com muitas pessoas ao redor do globo,

como se várias pessoas se reunissem em um coreto virtual (como nas redes sociais)

para disputar várias partidas em comum, neste caso podemos reunir as pessoas a

participar de um jogo sobre a Segunda Guerra Mundial, mas que conte os fatos que

ocorreram naquela guerra violenta que matou milhões. O usuário-jogador avança de

acordo com suas conquistas e entendendo como foi este fenômeno e no final ele teve

uma experiência interativa por meio dos caminhos de leitura de informação, acesso

aos gráficos e informações para chegar ao jogo para que ele tenha uma sensação de

como foi aquele evento. Essas informações e vivências ficam marcadas na sua

memória e acontece o aprendizado.

Cabe agora ao profissional que trabalha com conteúdo e conta histórias

perceber também que ele terá que compreender todo o ecossistema de ferramentas

e novas tecnologias para envolver o seu leitor na história que está construindo. Pois,

além das redes sociais, gamificação, mídias tradicionais, digitais pode se pensar em

estratégias sobre como levar isso da maneira mais informativa e agradável possível.

Sendo assim, levando uma experiência, com apoio de força intelectual e tecnológica

para que histórias tenham início, desenvolvimento e encerramento marcantes. Com

as novas tecnologias sempre que possível terá que pensar como desenvolver uma

história ou uma narrativa com uso da tecnologia e que este uso seja de forma sábia

para levar ao consumidor de conteúdo uma boa história.

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CAPITULO III – CAMINHOS DO CONTEÚDO E INFORMAÇÃO

1. Fazer jornalismo no século XXI

Jornalismo é contar uma história com uma finalidade. A finalidade é fornecer às pessoas informação que precisam para entender o mundo. O primeiro desafio é encontrar a informação que as pessoas precisam para tocar suas vidas. O segundo desafio é tornar essa informação significativa, relevante e envolvente (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003 p. 226).

O jornalismo passa por uma transformação sem volta. Agora cabe refletir como

que o jornalismo caminha rumo ao dia seguinte e o seu futuro. O jornalismo passa a

ser mais colaborativo, o caminho será cada vez mais de duas vias, uma conversa.

Agora com o apoio da tecnologia essa conversa foi aprimorada.

[...] os meios de comunicação analógicos, surgidos a partir das concepções econômicas da Revolução Industrial, cujo mercado estruturado teve como base os modos de produção baseados na escassez da informação, enfrentam a concorrência de múltiplas plataformas digitais” (LIMA JUNIOR, 2010, p. 2).

O profissional do jornalismo não detém mais o monopólio da verdade. Ele terá

que realmente ouvir muitos lados de uma história para construir a narrativa e concluir

o fato cotidiano, para se tornar o então 'historiador do presente'. O profissional deve

manter suas fontes consideradas importantes e cruciais, para entender os bastidores

da informação e poder levar o melhor fato para a sociedade.

Porém, cabe ao jornalista também entender que ele faz parte de uma rede de

informação mais dinâmica, em que se ele não se envolve, ou melhor, engaja essa

rede, ele ficará isolado. Pois, terão outros jornalistas que farão esse engajamento para

receber as informações das fontes, da audiência. O público quer dar feedback, para

dizer se está certo, errado, quer ajudar, contribuir e se há algum erro de informação

no trabalho feito pela equipe de jornalistas profissionais. Se for traçar rapidamente

uma efeméride temos a seguinte linha do tempo para o jornalismo: um jornalista de

impresso andava com gravador com fitas cassete, pilhas, bloco de notas, caneta,

pager, fichas de telefone, telefone celular, palm top, notebook e rádio, acompanhando

do seu fiel parceiro, o fotojornalista com sua câmera fotográfica, lentes específicas,

como grande angular para tirar foto de longe, bloco de nota, cartões de memória e

notebook com algum sinal de internet; Um rádio jornalista andava com seu bloco de

anotações, caneta, celular, caneta, gravador com fita cassete, cartão de memória e

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pilhas; e um jornalista de TV tinha bloco de notas, caneta e contava com a parceria

do repórter cinematográfico ou cinegrafista, com a sua câmera, tripé, fitas ou discos,

além do apoio técnico, um profissional técnico de rádio e televisão que ajudava a

instalar a câmera do repórter cinematográfico ou equipamento para entradas ao vivo.

Então, tínhamos os jornalistas que carregavam, gravador, fitas cassete, bloco

de notas, fichas de telefone, telefone celular, notebook, rádio, máquina fotográfica,

cartões de memória, notebook, pilhas, câmera de vídeo, tripé, fitas, discos para apurar

história, registrar imagens, fazer entrevistas, digitar textos e fazer comunicação com

a redação. Hoje, o mesmo jornalista pode andar apenas com um smartphone que tem

aplicativo de foto, gravador, editor de texto, editor de imagem, gravador de vídeo, faz

ligações, manda mensagens e com a aplicativo de mensagens você ainda pode

conversar com o contato enviando áudios, vídeos e fotos. É claro, que alguns

jornalistas podem preferir um tablet, que é um pouco maior, lembra um pequeno

caderno, mas é um caderno com as mesmas funções de um smartphone. E por

precaução se a bateria acabar, leva uma bateria reserva, carregador, tomada e para

os mais saudosistas um bloco de notas com uma caneta continua seguindo como

instrumento infalível.

A quantidade de objetos que o jornalista deixou de levar é absurda. Apenas

com um objeto, um dispositivo, ele pode fazer a sua reportagem, com exceção da

produção de telejornalismo, que ainda precisa de recursos cinematográficos e de

câmeras de alta qualidade, o jornalista está mais autossuficiente com a tecnologia. As

redações, que hoje em dia estão mais silenciosas que as do século passado, ainda

são a grande ágora dos jornalistas para decidir o que é ou não é notícia para a

sociedade e também é o grande pátio industrial do jornalismo, que tem de mudar a

forma de fazer conteúdo. Não que seja descartável o modus operandi da produção

jornalística. Ainda assim, o news gathering é muito importante, pois é o processo da

criação da história, para encontrar fontes e fatos que vem determinar o ângulo da

história. Isso acontece por tipos de histórias diferentes que faz um processo de

reportagem ser diferente. Como por exemplo, o repórter na rua vai usar pelo menos

três ferramentas ou técnicas para conseguir trabalhar a informação e desenvolver a

história: entrevistar, conversar com pessoas chave que estavam no local para

entender a história; fazer parte da comunidade, se caso conhece alguém da

comunidade, essa pessoa será importante para o andamento do trabalho jornalístico,

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pois ele pode conhecer os personagens daquela história; pesquisa para dar mais

corpo as informações; e mídias sociais; para manter o contato com pessoas que ainda

pode ajudar a desenvolver a história e os suas consequências ou desdobramentos51.

O jornalismo precisa de uma atualização, uma revisão dos processos de trabalho

diante de algumas barreiras que o jornalismo e os jornalistas enfrentam.

São novos desafios que podem ser superados, como revisão do caminho da

notícia, mudança dos procedimentos de apuração da informação, implantação de

núcleos de jornalismo de dados para aprimorar o levantamento de informações contra

as respostas padronizadas de órgãos públicos ou assessorias de imprensa bem

preparadas e muito bem pagas pelos seus clientes que não querem ver o nome de

suas companhias envolvidas em escândalos, tragédias ou irresponsabilidades

perante a sociedade. Uma outra angústia é o espaço cada vez menor e uma maior

interferência entre o departamento comercial e a redação. Apesar da proximidade,

ambos setores, Comercial e o Editorial devem ter as suas posições estabelecidas. Em

algum momento elas podem andar juntas, lado a lado, desde que isso fique bem claro

ao público, da mesma forma que essa transparência esteja exposta na marcação de

posição entre os dois departamentos. Ou seja, o Comercial vai vender publicidade

com os produtos elaborados e encomendados do Editorial. Como sempre, o Editorial

é importante não só como uma forma de entrada de recursos e por sua vez o ganha

pão dos jornalistas, gráficos, técnicos, motoristas, administrativo, comercial, mas tem

uma função pública e de interesse para a sociedade. Que os jornalistas tragam a

verdade e informações que sejam relevantes para a tomada de decisão delas.

[...] a relação de negócios do jornalismo é diferente do marketing e do consumo tradicional, e em certos aspectos mais complexa. É um triângulo, e em certos aspectos mais complexa. É um triângulo. A audiência não é o consumidor que compra mercadorias e serviços. O anunciante é. Mesmo assim, o cliente-anunciante deve estar subordinado neste triângulo, a uma terceira figura, o cidadão (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003 p. 98).

Então, o fazer jornalismo está em observar quais são os anseios do público e,

se necessário, que a redação aprimore o trabalho editorial ou modifique o canal de

distribuição. Além de claro, ser mais participativo, ou como diz no jargão popular, o

jornalista tem de 'descer do pedestal' e mostrar-se que é tão humano quanto a fonte

inquieta e insegura que, em alguns casos, se arrisca para oferecer uma notícia que

51 NEWS Gathering & Reporting. SchoolJournalism.org. Disponível em: <http://schooljournalism.org/ news-gathering-tips/>. Acesso em: 4 abr. 2016.

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pode ser relevante para a local, área, região, nação e mundo. Dependendo do âmbito

da notícia, a fonte deve ser respeitada e sempre ouvida. A partir disso, que todas as

informações sejam trabalhadas com todo o recurso intelectual, técnicas e tecnologia

disponíveis para que se possa fazer um jornalismo mais assertivo, confiável e de

qualidade para o público que acompanha a história do cotidiano. Para isso, o jornalista

também tem que ser um especialista em informação, ele não pode brigar com dado,

afinal ele lida com informações todos os dias, como um bancário que manuseia o

dinheiro cotidianamente. Todos os jornalistas -- da redação à sala da diretoria -- devem ter um sentido pessoal de ética e responsabilidade -- uma bússola moral. Mais ainda, eles têm uma responsabilidade de dar voz, bem alta, a sua consciência e permitir que outros ao seu redor façam a mesma coisa (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003 p. 274).

2. Novos fluxos e caminhos da notícia

No entanto, a palavra de ordem do jornalismo para este século é inovação, o

jornalismo tem que se desenvolver para continuar contando história. Atualmente a

produção de conteúdos digitais estão se tornando parte espinhal para se desenvolver

e entregar o produto jornalístico para os públicos interessados. O jornalismo pode

chegar de forma fragmentada. Como já foi explicado anteriormente, o rádio, televisão,

impressos e revistas pouco a pouco vão dividindo suas forças com os novos players.

No caso a internet, que vem ganhando força e conquistando o público aqui no Brasil

há um pouco mais de 10 anos, levando em conta que a internet está presente no País

desde o fim dos anos 1980 e começou a ser explorada comercialmente de forma

vagarosa a partir dos anos 1995, vide o exemplo dos portais de conteúdo UOL, o

principal portal de conteúdo de língua portuguesa no mundo, lotado em São Paulo;

portal A Tribuna.com.br, da Baixada Santista, litoral de São Paulo, ambos estão no ar

há 20 anos, redescobrindo seus papeis, formas de se atualizar, mas sempre tentando

levar jornalismo para os públicos, tanto no âmbito regional, quanto no âmbito nacional.

Agora também temos os smartphones, aplicativos, videogames, televisores

digitais, smart TV, tablets, tocadores de mp3, streaming de áudio e vídeo. E para isso,

o jornalista deste século terá que pensar para estes públicos, que tão pouco ou cada

vez menos passam a usar as mídias tradicionais. Pois, por que vai assistir televisão,

se pode descarregar um vídeo no YouTube, se pode ouvir um áudio no SoundCloud,

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ou se posso ler a minha revista ou jornal ‘passando o dedo' no tablet. Mesmo assim,

posso deixar o jornal de lado, o jornal não é o site? Ele não vai passar a madrugada

esperando um rádio jornal começar, se depois, a emissora de rádio vai deixar

disponível no podcast. Aliás, porque ouvir no podcast, se já vai ter outros jornais mais

atualizados e ainda pode ouvir um podcast de um grupo de professores e especialistas

que comentam as notícias que foram veiculadas em todas as rádios de notícias. Eles

falam do assunto do momento. Então, ele baixa o podcast para ouvir os comentários

e analises no iPod.

Temos também as redes sociais. Não precisa acessar site, as informações

estão lá e podem ser compartilhadas com quem quiser. Qualquer assunto pode ser

compartilhado com um clique, pode comentar e chamar os amigos para mostrar o que

estão falando sobre determinado assunto. Aliás, pode buscar uma discussão usando

apenas uma palavra chave em uma publicação de microblog. Mas, ao invés de

escrever, é possível publicar uma foto no aplicativo de fotos ou gravar um vídeo de 30

segundos. É o suficiente para dizer o que pensa ou que quer. Pode também tirar fotos

e deixar como uma galeria virtual em outra rede social voltada para fotografia. Talvez,

ali, tenha fotos mais relevantes que as publicadas por jornais, portais, revistas ou

agências de notícias. Porém, se deseja fazer um vídeo longo, mostrar, relatar e

detalhar tudo que foi visto e depois compartilha com todos os amigos e conhecidos.

Então, vai usar uma rede social. Mas, é possível enviar essa informação para uma

redação de jornalistas para que eles possam avaliar o que é ou não é notícia e há

alguma relevância jornalística. É necessário entender o que acontece quando a

informação é publicada nos formatos jornalísticos, que é produzida com muito suor na

rua, ou com muito esforço cerebral na redação, após milhares de ligações, contatos,

edições, correções, retrabalhos para empacotar o conteúdo. Para onde essa

informação se direciona e qual é o seu impacto direto ou indireto. Será que o produto

saiu de forma adequada para o meu leitor ou para o usuário de redes sociais? São

questionamentos e avaliações que devem ser feitos a todo instante por todos os

jornalistas das redações. Podemos fazer um paralelo com o diagrama desenvolvido

em 1964 por Paul Baran52, pesquisador da Rand Corporation, que foi usado para o

desenvolvimento da rede de comunicações usando redundância e tecnologia, rede

52 PAUL Baran and the origins of internet. Rand Corporation. Disponível em: <http://www.rand.org/ about/history/baran.html>. Acesso em: 4 abr. 2016.

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essa que contribuiu com a construção da internet. Essa comparação, que pode ser

alinhada ao jornalismo, está mais conectado e precisa ampliar suas conexões e

relações, para poder construir o fato de acordo com a realidade. Antes, a produção de

informação ficava mais centralizada e depois era distribuída, como no caso do

gatekeeper, porém, hoje a distribuição e produção de conteúdo está mais

descentralizada devido ao uso de novos dispositivos e um novo ecossistema de

cultura de consumo de informação, impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico.

Figura 15 - Diagrama de Paul Baran: centralizado, descentralizado e distribuído

Fonte: BARAN, Paul, 1964, p. 2

Podemos imaginar o jornalismo no diagrama que Paul Baran fez em 1964, onde

cada ponto corresponde a um contato. Na primeira figura (A) centralized, é a figura de

uma redação que centraliza todas as informações que são recebidas de várias formas,

como ligações, reportagem, conversas de redação, reuniões de pauta, produções,

enfim, a partir disso, acontece o caminho da redistribuição que vai do centro para fora.

Na outra figura (B) decentralized, existem pontos focais que recebem as informações,

editores mais focados com determinadas demandas, essas informações mais

específicas chegam a alguns grupos de editores, e assim, eles redistribuem essas

informações com cada rede de interesse. E, por fim, temos o terceiro grupo (C)

distributed, é um grupo mais interligado, ou seja, é a informação que é trocada a todo

instante com todos os tipos de fontes e nessa rede são definidos os assuntos mais

importantes do dia e daí são compartilhados de volta na mesma rede de forma mais

espalhada e distribuída. O jornalismo precisa estruturar um novo diagrama para poder

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distribuir os conteúdos de forma coerente e sem perder a relevância, público ou

qualidade. Ou seja, a distribuição e troca tem que ser mais equilibrada, como acontece

nas redes sociais, o jornalista e o público que acessa o conteúdo estão no mesmo

nível e as trocas, ou melhor, a conversa pode acontecer.

Quando é dissertado sobre distribuição, a pesquisa expõe é que os jornalistas

que estão na redação devem ser mais estrategistas na hora de disparar ou publicar o

conteúdo. Hoje, eu posso ler conteúdo jornalístico e informativo nos consoles de

videogame e isso era impensável por muitos há algum tempo, salvo exceções muito

pontuais, pois a tecnologia para a época era caríssima e só videogames japoneses

que tinham conexão a internet tinham essa função. Atualmente, com a tecnologia mais

barata, é possível assistir a um telejornal no aplicativo instalado no console, chegar

até a sala, onde ficam os consoles de videogame, aciona o controle, liga o console e

o videogame mostra uma interface amigável com vários quadrados e imagens

destacando o que é cada tipo de conteúdo. Neste exemplo, o aplicativo da ABC News

disponível para o console de videogame Xbox One, da Microsoft.

Figura 16 – Interface da ABC News no videogame Xbox One

Fonte: Microsoft

Nele a tela fica com várias imagens e cada imagem corresponde a um vídeo e

lá por exemplo é possível assistir um dos principais jornalísticos matutinos da

emissora norte-americana, o Good Morning America, ou o jornal noturno ABC World

News Tonight. Na televisão por assinatura, caso não possua ABC News e não pagou

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taxa a parte no console para acessar o aplicativo. Ele está disponível num mercado

virtual, de graça. O que pode gastar no máximo é o tempo de pesquisa e alguns bytes

de informação para baixar o conteúdo para o meu console. Liga-se a TV para acessar

o videogame e por ele pode-se assistir um programa jornalístico. No entanto, este

mesmo conteúdo pode ser assistido em um smartphone, tablets e até mesmo, a

televisão. É um microcosmo entre vários exemplos de como diluir a informação e de

como se aproximar do indivíduo que quer informação. Fazendo uma metáfora, ele não

quer comer o macarrão lámen de copo, ele quer comer macarrão italiano, bem

apresentado, com um bom molho de tomate, em um prato bonito. Ou seja, as

redações podem estar servindo macarrão de copo, sendo que as pessoas querem

uma massa servida num prato específico de macarrão. Além disso, cabe sempre

reforçar que o jornalismo também é comunicação e a comunicação tem um caminho.

Basta observar o diagrama de A Mathematical Theory of Communication, elaborado

por C. E. Shannon, em 1948, que mostra o caminho de toda a informação para se

fazer sabiamente a comunicação. Como mostra o gráfico a seguir.

A fonte de informação é transmitida por um transmissor, daí ele reenvia o sinal

por um canal, que atravessa uma fonte de ruído, e então, por sua vez, chega ao

receptor, transmitindo a mensagem necessária ao destinatário.

Figura 17 - Diagrama que mostra o sistema geral de comunicações

Fonte: SHANNON, 1948

Por meio da internet e de outras mídias, que estão conectadas em redes digitais

estruturadas de telecomunicações, estas teias são comunidades virtuais que

conseguem transmitem dados, informações e mensagens a todo o tempo, formando

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assim a rede. A rede é um conjunto de objetos e pessoas interligados uns aos outros.

Nesse tipo de rede, pode ser conectada com o uso de infraestrutura, telefonia,

neurônios e a informática. Pode ser um conjunto conexões, como os humanos fazem

em sua rede de relacionamentos reais em toda a sua vida, da infância, vizinhança,

vida adulta e estas conexões ganharam nova roupagem com internet. A internet é

uma essencial ferramenta social e de comunicação. Laços e interesses em comum

podem ser estreitados e isso acontece pelos elos, pelos hubs, que se conectam.

Assim explica o pesquisador Manuel Castells, que a rede “é um conjunto de

nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta” e “Redes são

estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós

desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem

os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de

desempenho)” (2001, p. 566). O jornalista que entender cada demanda, pode criar

estes novos nós, ou pequenas redes, conectando o público de acordo com cada

dispositivo e cada necessidade. Vide o exemplo dos núcleos especiais que produzem

pautas de acordo com determinado evento, como Olimpíadas, Eleições, Crise da

Água, Dengue e entre outros. Eles têm uma equipe dedicada a levantar todas as

informações sobre determinado tema, dados, contatos, mapas e pessoas são

dedicadas para fazer esse conteúdo, que depois é distribuído para os editores dos

jornais que usarão esta informação para distribuir a sua audiência.

O público acessa o conteúdo jornalístico por várias maneiras, como por

exemplo, um aplicativo. Ele pode receber a informação e de acordo com essa

informação, ele pode tomar uma decisão. Ele se autogoverna, conforme a premissa

básica do jornalismo de Kovach e Rosenstiel. Dependendo do nível da informação, o

consumidor de conteúdo vai se aprofundar, buscar mais detalhes, faz uma pesquisa

até se dar por satisfeito com o que conseguiu. O usuário do aplicativo pode fazer um

feedback para a redação enviando crítica, sugestões, como uma nova pauta ou

oferecendo mais dados para a redação aprofundar o conteúdo. Fazendo assim, um

caminho de duas vias. Existe a comunicação entre a redação e o indivíduo,

consolidando uma rede provisória. No entanto, esta rede pode tornar-se sólida e

confiável para determinadas demandas de informação. Fazendo disso, a criação de

um novo fluxo informacional.

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"O espaço de fluxos resultante de uma nova forma de espaço, característico da Era da Informação, mas não desprovida de lugar: conecta lugares por redes de computadores telecomuinicadas e sistemas de transporte computadorizados. Redefine distâncias, mas não cancela a geografia. Novas configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação global”. (CASTELLS, 2001, p. 170).

Um estudo de Russel Ackoff, chamado From Data to Wisdom, aborda a gestão

do conhecimento. Como que o cérebro faz a gestão da informação, que consiste em

administrar e propagar o máximo de dados para o maior número de interessados que

querem informações para tomar decisões, se autogovernar.

Na Gestão da Informação, é necessário que o dado seja distribuído da melhor

forma possível, para que seja um elemento fundamental para os processos de tomada

de decisão. O jornalismo tem que se conhecer para definir melhor cada tipo de

estratégia conforme a notícia. Então, é fundamental que toda a redação saiba do seu

papel na estratégia elaborada para a construção de conteúdo coerente com a linha

editorial e os anseios da opinião pública.

A informação pode ser diluída para todos que fazem parte do mesmo meio, para que seja claro os objetivos e metas definidos para o futuro. Além disso, é uma poderosa ferramenta para tomada de decisões (COELHO, 2013).

A informação é um recurso importante para a vida das pessoas, neste caso,

para o ambiente de negócio que é o Jornalismo.

Figura 18 – Pirâmide do Conhecimento - DIKW

Fonte: “From Data to Wisdom”, in Journal of Applies Systems Analysis, in 1989

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O estudo de Ackoff, mostra a Gestão da Informação em um signo, a Pirâmide

do Conhecimento, a Data Information Knowledge Wisdom Hierarchy – DIKW ou

Hierarquia de Dados, Informação, Conhecimento e Sabedoria, que aponta o caminho

da compreensão da informação. Esse caminho é necessário para se ter consciência

do conteúdo, que mais bem elaborado, para as redações de jornalismo, que terão

certeza que a publicação é verossímil e com qualidade.

Figura 19 – Fluxo do conhecimento DIKW

Fonte: “From Data to Wisdom”, in Journal of Applies Systems Analysis, in 1989

A estrutura é formada por Dados (Data), o que converte em um todo

significativo (símbolos); Informação (Information), dados que são processados para

serem úteis ajudando na tomada de decisão; Conhecimento (Knowledge), aplicação

de dados e informações, ajudando nas escolhas certas, lidando com valores;

Entendimento ou inteligência para lidar com valores e entender o porquê, para no fim

chegarmos a Sabedoria (Wisdom), onde a compreensão é avaliada, rumo a

aprendizagem (BELLINGER; CASTRO MILLS apud ACKOFF, 1989).

Essa estrutura faz sentido para o jornalismo, para um caminho informacional.

Pois, os jornalistas lidam com dados, significados, informações e a partir destes

dados, uma decisão é tomada, o valor-notícia é adicionado e assim, o conteúdo é

produzido pelas redações, distribuido ao público fazendo a transmissão da sabedoria,

onde os valores e os significados são compreendidos e uma nova aprendizagem

acontece entre jornalismo e o público.

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3. Novas dinâmicas para estratégias editoriais

Com o volume de informação, tipos de dispositivos e formas de publicação,

ressalto pensar o que pode ser feito no meio do corre-corre da redação para atender

uma demanda gigante por conteúdo. Como se a redação fosse uma mamãe-pássaro,

com várias minhocas na boca, para transferir essas minhocas para os filhotes, os

vários bicos dos filhotinhos pinçando o ar desesperadamente querendo a minhoca,

digo a informação. Com essa metáfora, cabe repensar como que a redação deve

funcionar. É necessário manter o bom funcionamento das redações durante a

cobertura factual, mas ao mesmo tempo é importante lembrar que nesta correria que

beira a insanidade é possível ter gente também para conversar e receber o retorno do

que a redação faz no ritmo industrial.

Com a demanda informacional crescente, é necessário ter dentro da dinâmica

e do fluxo de trabalho da redação, um núcleo que ajude a entender das demandas

informações de cada público, bem como a sua distribuição, estando prontos para fazer

mudanças no curso a cada vez que se percebe um obstáculo na formatação do

conteúdo. Com a ascendência das mídias sociais, já temos pequenos núcleos ou

editores, principalmente na web e no impresso, que conversam com o público e os

atende. Já temos uma via aberta, porém, a partir dessa via aberta, cabe pensar com

quais outras maneiras podemos atender e melhorar os processos de produção

jornalística. Bem como, essa informação que chega na redação, o que acontece

enquanto se desenrola a construção da notícia até a sua publicação. Além dos

caminhos convencionais seguidos por: apuração, chefia de reportagem, reportagem,

edição e publicação; ou apuração, chefia de reportagem, produção, reportagem,

edição e publicação; produção, chefia de reportagem, reportagem, edição e

publicação; produção, edição e publicação – será que podemos construir o conteúdo

de outra maneira. Como, por exemplo, redes sociais, produção, núcleo especial,

edição, publicação, feedback, nova produção, evento externo? Talvez seria

interessante a criação de um núcleo mais estratégico. Um núcleo que fica mais

presente na redação e não um escritório com alguém formado em jornalismo que

parece mais um burocrata do que um jornalista. Que tenha uma equipe formada, que

seja uma linha auxiliar da redação para atender demandas específicas, que tenha um

núcleo de jornalismo de dados, construção de aplicativos, convergência de conteúdo,

eventos externos e claro pesquisa e desenvolvimento em jornalismo (P&D).

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O P&D é comum em grandes indústrias como o automobilístico, químico,

farmacêutico, petroquímico. A mídia não é uma grande indústria que precisa sempre

reavaliar seus procedimentos e passos? Bem como, o seu público que sustenta essa

indústria, os players envolvidos como anunciantes, o cidadão, o poder público, os

próprios jornalistas que trabalham na redação. Pode até existir um núcleo de pesquisa

e desenvolvimento, mas geralmente, em emissora de televisão para desenvolvimento

de programas de entretenimento, séries, novelas, ou então nas empresas jornalísticas

que possuem um P&D voltado para questões administrativas ou negócios

relacionados, como por exemplo os impressos, que além de imprimir o próprio jornal,

a empresa terceiriza sua gráfica para tentar aumentar o faturamento imprimindo

jornais comerciais, publicidade externa e entre outras demandas.

Há redações pelo mundo que trabalham no constante desenvolvimento da

construção da notícia e na melhoria de processos, como por exemplo a rede de

comunicação britânica British Broadcasting Corporation, a BBC, com a BBC Academy,

que é o braço educacional e acadêmico dentro da empresa que treina seus

funcionários e desenvolver habilidades na indústria de broadcasting, capacitando seus

funcionários. Neste núcleo se desenvolve a formação em Jornalismo, Produção,

Gestão, Liderança e Tecnologia. Deste departamento nasceu um filhote, que é a BBC

College of Journalism. Criado em 2005, esta faculdade corporativa treina seus

funcionários e também permite aos moradores da Inglaterra, -- que pagam imposto de

televisão para manter a BBC no ar --, a ter aulas a distância e cursos online de

jornalismo. Pode ser que através desse processo de olhar para si a empresa sempre

se atualize.

Além disso, a empresa repensou o modo de fazer conteúdo com o projeto BBC

The New Broadcasting House53. Um antigo prédio da BBC começou a ser reformado

em 2003, foi reequipado e reinaugurada em 2013, centralizando todos os canais de

mídia da empresa de comunicação pública britânica. Todas as operações de

televisão, internet, rádio e agências de notícias foram centralizadas nesta estrutura.

Ao mesmo tempo, foi uma estratégia para aprimorar e aproximar as distintas

53 THE NEW Broadcasting House. BBC. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/broadcastinghouse>. Acesso em: 04 abr. 2016.

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operações jornalísticas, bem como, ajudou na redução de custos da operação da

empresa.

Figura 20 – BBC The New Broadcasting House

Fonte: BBC

É considerado o maior centro criativo da cidade de Londres e ao mesmo tempo

e é uma redação que foi pensada milimetricamente em cada fluxo de trabalho e por

onde a notícia vai caminhar para chegar ao destinatário final, bem como essa notícia

vai ser trabalhada pela equipe de jornalistas dos segmentos de rádio, TV e internet.

Figura 21 – Estrutura da newsroom da BBC

Fonte: BBC

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Mas é claro que nem todas as estratégias funcionam como o previsto, há

estratégias erradas, como toda companhia ou indústria e empresas de mídia também

erram muito. Em 2013, o autor escreveu o estudo Dados Convergentes: Uma nova

forma de interpretação e propagação de conteúdo jornalístico, que é sobre um

levantamento de como as empresas de mídias estão trabalhando com mídias

convergentes, ou seja, se estão usando novas mídias com mídias tradicionais e quais

eram seus impactos. Neste estudo, é citado o Guardian Coffee, uma iniciativa do

Guardian News & Media, que opera o jornal The Guardian na Inglaterra. O release do

The Guardian começava com este parágrafo:

The Guardian abriu as portas do #guardiancoffee, um destino de pop-up com infusão de cafeína no coração da comunidade de tecnologia criativa do East London, na Tech City UK. #guardiancoffee, parte de Boxpark, pretende trazer a inovadora abordagem do jornalismo aberto do Guardian para a vida através de envolvimento direto em tempo real, com as pessoas que estão moldando o futuro da tecnologia em Londres (THE GUARDIAN, 2013).

Ou seja, uma empresa de mídia tentou se aproximar dos seus leitores

estabelecendo uma cafeteria, que foi inaugurada em junho de 2013, no centro

tecnológico de Londres. O jornal esperava que os leitores da publicação pudessem

conversar com os jornalistas do The Guardian e participar de eventos organizados

naquele local.

Figura 22 – Fachada do #guardiancoffee

Fonte: The Guardian/Divulgação

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A ideia era criar uma comunidade com ambiente offline, plataforma online, onde

todas as pessoas e jornalistas pudessem falar e conversar sobre notícias. Sendo

assim, uma das apostas iniciais era aproximar leitores de tecnologia e personalidades,

como donos de startups e inovadores, que estão trabalhando neste meio. A empresa

realizou uma série de entrevistas com 22 vídeos chamados ‘Tech Sessions at

#guardiancoffee’54. Os idealizadores do projeto esperavam que esse projeto

atraíssem as pessoas e instigava elas para que visitassem o local. Lá também o leitor-

apreciador de café poderia comentar na rede social Twitter que estava lá no espaço

por meio da hashtag #guardiancoffee ou pela conta do jornal @Guardian_Coffee. O

local era decorado com estilo inglês e muita tecnologia embutida, com tablets

instalados nas mesas, parede com várias telas informativas sobre a origem do café e

dados diários de consumo de café naquele lugar. A iniciativa não empolgou os

londrinos e o #guardiancoffee não durou 18 meses.

Figura 23 – Painel de informações do #guardiancoffee

Fonte: Jack Barry/Vice UK

A iniciativa foi observada com ceticismo e intriga por boa parte da mídia. Nos

corredores do The Guardian, os jornalistas não pareciam empolgados com o projeto,

há relatos de algum constrangimento por parte dos funcionários pelo projeto e o local

54 Disponível em: <http://www.theguardian.com/technology/series/tech-sessions>. Acesso em: 04 abr. 2016.

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recebeu duras críticas, por ser um espaço com tecnologia que não tinha conexão wi-

fi e os jornalistas do periódico não iam até o local como era esperado. O pior veio da

parte financeira: não conseguiu reverter o prejuízo semanal de 1 milhão de libras por

semana, que era a meta inicial do projeto. Um blogueiro da região chamado Amar

Dalston percebeu que o Guardian Coffee tinha fechado as portas de forma

sorrateira55, sem avisos, com a conta da rede social Twitter ativa, sem anúncios,

diferente da pompa de antes. Ele questionou a empresa Guardian News & Media que

informou que o espaço onde estavam era temporário e experimental, que estavam

satisfeitos com os resultados do projeto. Porém, o The Guardian procuraria novas

oportunidades para trazer os leitores mais perto do jornalismo. O local que seria uma

comunidade de mídia e leitores, com café virou uma pizzaria Voodoo Ray.

4. Citizen Setting ocupa seu espaço

Como contextualizado nos outros capítulos deste estudo, o público não tinha

tanto acesso ou comunicação com as redações pela falta de recursos para isso. O

feedback ou a resposta do público eram precários e retorno dos jornalistas seguiam

pífios, quase inexistente. Nas redações, todos os jornalistas realizam rotineiramente

uma reunião de início dos trabalhos que definem o que é relevante para o dia em sua

agenda setting, teoria de comunicação definida por Maxwell McCombs e Donald Shaw

na década de 1970. Essa agenda do dia que é definida pelo jornalista, e escolhe a

sua relevância para a sociedade. O agendamento acontece em três níveis: Media

Agenda ou Agenda Midiática, que levava questões discutidas na mídia; Public Agenda

ou Agenda Pública ou da Sociedade Civil, com questões que seriam realmente

relevantes para o público; e Politicy Agenda ou Agenda de Políticas Públicas, que são

temas importantes considerados pelos gestores públicos. Assim como, os editores

que usavam o gatekeeping, que foi explicado no capítulo 1.4, para controlar a

informação, onde o processo se define por entrada, produção e resposta (BRUNS,

2005, 2011, p.121). Contextualizando da melhor maneira, o gatekeeping torna-se um

limitador de conversas para a sociedade. Com o citzen setting, o público define o que

é importante para si, e o jornalista reverte o seu papel de gatekeeper para curadoria

55 DALSTON, Amar. Guardian´s Shoreditch embassy brews last coffee. Loving Dalston. Blog. Disponível em: <http://lovingdalston.co.uk/2015/04/guardians-shoreditch-embassy-brews-last-coffee/>. Acesso em: 04 abr. 2016.

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de conteúdo, mas não como o gatewatching, que se volta aos trabalhos de

republicação, divulgação e contextualização do conteúdo enviados pelo público.

Neste caso, o cidadão se nivela ao patamar do jornalista profissional para

passar a informação e torna-se ao mesmo tempo, o seu chefe. Pois, o jornalista torna-

se mais curador, tem que se desdobrar com os fatos, acrescentando e aprofundando

novos dados, a partir das informações recebidas pela audiência.

A propagação de conteúdo é mais compartilhada e ajuda na produção linear do

jornalismo. De acordo com pesquisador português Pedro Jerónimo (2015, p.69), o

especialista brasileiro em jornalismo Rosential Calmon Alves, em entrevista ao jornal

espanhol El País (2010), disse que passamos de um sistema mídia-centrada para

autocentrada, onde o indivíduo se transforma em um micro-organismo ao ter o poder

de comunicar, de trocar informação e redistribuir. Boa parte disso acontece por causa

da força e capilaridade das redes sociais das redes sociais. Jerónimo ainda comenta

sobre uma pesquisa norte-americana do pesquisador Dan Blasingame (2011) que traz

para o campo do jornalismo um conceito abordado por Chris Brogan e Julien Smith,

em 2010, chamado por gatejumping.

Tabela 2 – Esquema do citzen setting

Fonte: o autor

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Foi percebido que durante o uso da rede social Twitter no compartilhamento de

notícia de última hora, Blasingame evidenciou que os utilizadores poderiam saltar por

cima dos portões informativos, que outrora era à guarda dos jornalistas. Ou seja, as

pessoas poderiam passar por cima do gatekeeper e fazer a cobertura noticiosa ou

acompanhar o fato diretamente por uma plataforma de microblog (2015, p. 71-72). Isto

é, quando uma informação está sendo discutida num ambiente de compartilhamento

de informação, é conversada nas redes sociais e a partir do número de pessoas

comentar determinado assunto e então o tema vira uma tendência.

Então, a partir dessa discussão, o jornalista vai avaliar as conversas daquele

momento nas redes sociais como Twitter, YouTube, Instagram, Google Plus e

Facebook, com o uso de ferramentas de social media como o Dataminr, Scup,

TweetDeck ou Hootsuite. A partir dessa avaliação dos jornalistas profissionais fazem

uma reunião com os assuntos pré-determinados pelo público. O que a sociedade está

discutindo ou conversando e a partir dessa discussão o jornalista já começa a

consolidar os temas pré-definidos para fazer a rotina jornalística durante o seu dia de

trabalho. No caminho inverso, antes do jornalista definir o assunto do dia, prospectava

algum tema para levar a discussão até a opinião pública e tudo que a mídia publicava,

a sociedade discutia. Desta vez, a sociedade leva as pautas para o jornalismo dando

mais força por meio do jornalismo local, jornalismo cívico, jornalismo comunitário ou

jornalismo público.

[...] é importante ressaltar que o jornalismo cívico (ou público) fez com que os profissionais de imprensa se tornassem mais comprometidos com seu público-alvo ou público-leitor. Pois, aos leitores interessa como que as questões que estão no seu entorno podem impactar e como isso afeta sua vida no dia a dia. O jornalismo tem que romper a barreira e a zona do conforto. Tem que ir mais além para se tornar sempre atraente e fundamental para a sociedade como um alimento. O leitor busca “alimento” para continuar vivendo, o jornalismo precisa ser como um elemento essencial na vida dele (COELHO, 2015, p. 7-8).

O cidadão também se sente mais envolvido nos assuntos que o impactam. O

jornalista reforça o seu papel de levar informações ao público. O citzen setting é mais

uma perspectiva no jornalismo para que profissionais e amadores possam fazer uma

produção linear de conteúdo e informação com troca de habilidades de ambos os

lados.

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Tabela 3 – Comparação: Do gatekeeping ao citzen setting

Fonte: o autor

Porém, este processo começa por meio da discussão via redes sociais que

traduzem parte dos anseios reais da sociedade, passando pelo processo de

agendamento do jornalista e a produção de informação. Ou seja, a cadeia de

informação vem de baixo, sobe para as redações e volta com mais informações de

acordo com o demandante da informação, no caso a sociedade.

5. O que fazer com tanta informação?

Ouço novas notícias todos os dias, bem como os rumores habituais de guerras, pestes, incêndios, inundações, roubos, assassinatos, massacres, meteoros, cometas, espectros, prodígios, aparições, de vilarejos tomados, cidades sitiadas na França, Alemanha, Turquia, Pérsia, Polônia &c. os preparativos e deliberações diários, e coisas do tipo, que são característicos desta época tempestuosa, batalhas travadas, tantos homens mortos, conflitos, naufrágios, atos de pirataria e combates marítimos, paz, alianças, estratagemas e novos alarmes. Uma vasta confusão de votos, desejos, ações, editos, petições, processos judiciais, apelações, leis, proclamações, queixas, querelas é trazida diariamente a nossos ouvidos. Novos livros todos os dias, panfletos, gazetas, histórias, catálogos inteiros de volumes de todo tipo, novos paradoxos, opiniões, cismas, heresias, controvérsias em

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questões de filosofia, religião &c [sic]. Agora chegam informações de casamentos, encenações, interpretações, entretenimentos, celebrações, embaixadas, justas e torneios, troféus, triunfos, festividades, esportes, peças: e novamente, como se numa cena recém-alterada, traições, truques baixos, roubos, imensas vilanias de todo tipo, funerais, enterros, mortes de príncipes, novas descobertas, expedições; primeiro, assuntos cômicos e, logo a seguir, assuntos trágicos. Hoje ficamos sabendo da nomeação de novos lordes e oficiais, amanhã ouvimos da deposição de grandes homens, e outra vez da concessão de novas honrarias; uns são libertados, outros aprisionados; uns compram, outros quebram: ele prospera, seu vizinho vai à falência; primeiro a fartura e, logo a seguir, escassez e fome; uns correm, outros cavalgam, querelam, gargalham, choram &c. É o que ouço todos os dias, e coisas do gênero (GLEICK, 2001, p. 289).

James Gleick citou um estudioso de Oxford, chamado Robert Burton, que cita

a sensação de se ter informação demais ou em excesso. Esse estudioso fala em

excesso de informação no ano de 1621. Burton e historiadores falavam que o excesso

da informação poderia acarretar no esquecimento do passado. Então, quase 500 anos

depois, questiona-se: quantas informações o mundo tem hoje, se lá atrás já tinha

excesso de informação? Talvez seja risível. Atualmente temos muitas liberdades e

coisas impensáveis se comparado com o século XVII. Depois de surgir a ‘teoria da

informação’, ascendeu a ‘sobrecarga da informação’, seguido por ‘saturação da

informação’, ‘ansiedade da informação’ e ‘fadiga de informação’. Este último termo foi

classificado como uma doença pelo estresse pelo contato em excesso com a

informação (2011, p.290).

Talvez na atualidade contemporânea e moderna, diga-se de passagem,

estejamos enfrentando um novo Bellum omnia omnes ou ‘Todos contra todos’

(HOBBES, 1671) da era da informação. Claude E. Shannon na época lembrou aos

cientistas que a teoria da informação é uma teoria matemática que não seria

totalmente fácil a sua adoção. Ele ressaltou que “a definição de tais aplicações não é

uma questão trivial de traduzir palavras para um novo domínio. E sim, o lento e tedioso

processo do estabelecimento de hipóteses e sua verificação experimental (GLEICK,

2011, p.190). Em um discurso nos 75 anos da Faculdade de Pós-Graduação em Artes

e Ciências da Universidade da Pensilvânia, Shannon disse que acredita que o século

atual seria testemunha de um grande aumento e desenvolvimento do ramo da

informação (idem, 2011, p. 190). E realmente aconteceu. Gleick também cita que a

partir do desenvolvimento da ciência cognitiva, alguns filósofos apontaram que houve

uma virada informacional. “Aqueles que experimentam a virada informacional passam

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a enxergar a informação como o ingrediente básico da construção de uma mente”

(apud ADAMS, 2001, p. 190).

Figura 24 – Origem das tecnologias LCD, LED, Plasma, OLED e CRT

Fonte: COELHO, 2015

Nunca se falou tão abertamente de vários assuntos, temas e nunca se contou

tantas histórias e foram levantadas tantas informações em um pouco mais de um

século. É claro que a tecnologia ajudou. O desenvolvimento tecnológico foi muito

rápido e ao mesmo tempo avançamos de forma significativa em criação intelectual.

Começamos com as telas, botões, monitores de fósforo, monitores de tubo, as finas

telas de LED, LCD, OLED e mais recentemente a tela transparente IGZO56,

desenvolvida pela empresa japonesa Sharp. Temos computadores tudo em um,

notebooks finos, smartphones poderosos e tablets do tamanho de cadernos, que de

alguma forma já os substituem em vários ambientes de trabalho.

As empresas de mídia distribuíam seu conteúdo nos veículos tradicionais até a

internet balançar o negócio e o fluxo informacional. O conteúdo ficou mais

compartilhável as ideias criativas passaram a ser mais universais. Um estudante russo

pode se unir a um estudante norte-americano e criar a maior empresa de busca na

internet no mundo ou um americano e um brasileiro podem criar a maior empresa de

rede social do planeta. As redes sociais chegaram de forma quieta e agora estão

rotineiramente no nosso cotidiano, são inúmeras redes sociais e em vários formatos,

56 Disponível em: <http://www.sharpusa.com/ForHome/HomeEntertainment/LCDTV/igzo.aspx>. Acesso em: 30 jul. 2016.

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como redes sociais de fotos, vídeos, textos, livros, filmes e piadas. Há uma

pulverização de público, muitos assuntos foram segmentados e ganharam categorias,

que ganharam subcategorias, criando pluralidades de opiniões.

Podemos agora ver que a informação é aquilo que alimenta o funcionamento do nosso mundo: o sangue e o combustível, o princípio vital. Ela permeia a ciência de cima a baixo, transformando todos os ramos do conhecimento [...] (GLEICK, 2011, p. 11).

Então, com todo esse desenvolvimento, cabe ao jornalista entender que ele é

o guardião e o vendedor do conteúdo, o papel dele não está obsoleto, vide o caso da

revelação de documentos do Panamá Papers, que num esforço de jornalismo

transnacional acarretou na verificação de 11 milhões de documentos que falam sobre

a corrupção global de ricos e poderosos. Agora, imagina a demanda de informação

que vários jornalistas administram no dia a dia, para fazer prestação de serviço e levar

a população o que acontece no cotidiano das cidades e pensa agora em um mundo

que estas informações não são separadas. Estão brutas e para entender ou traduzir

será necessário entender do que está fazendo, ler e compreender para depois contar

o que está acontecendo e se isso vai impactar a sua vida. O jornalista faz isso todos

os dias, destrincha conteúdos duros para o consumo e traduzem para o público o que

acontece no seu entorno, País e mundo.

O jornalista, além de ser intitulado com o famoso chavão ‘o historiador do

presente’ ele terá que ser também o ‘guardião da informação e curador de conteúdo’

para que ele possa trabalhar todo tipo de informação que faça a diferença das

pessoas. Bem como, o uso de Big Data, Jornalismo de Dados, Jornalismo

Investigativo e de outras técnicas para fazer com que as informações apareçam sob

a luz da verdade e o profissional de jornalismo. Claro, contando sempre com apoios,

parcerias, comunidade, fontes e entre outros pode ajudar a administrar esse volume

de dados para que as pessoas tenham clareza e que possam se autogovernar.

Um exemplo é o do jornal inglês The Times57, que publicou aos leitores no dia

30 de março de 2016 uma carta informando que deixará de publicar notícias em tempo

real em seu site e aplicativos58. Uma das principais justificativas é que as pessoas

57 Disponível em: <http://www.thetimes.co.uk/>. Acesso em: 05 abr. 2016. 58 DAVIES, Jessica. The Times of London is swearing off breaking news. Digiday. March 30, 2016. Disponível em: <http://digiday.com/publishers/breaking-news-commodity-times-adjusts-digital-news-metabolism/>. Acesso em: 05 abr. 2016.

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pesquisadas, os leitores, tinham a sensação de não conseguir acompanhar o volume

de informações e ao mesmo tempo, busca-se retardar a publicação de conteúdo para

elaborar conteúdo com mais qualidade. Agora a estratégia da publicação será publicar

três vezes durante o dia e duas vezes aos finais de semana. No primeiro momento

pensa-se que seria por corte de gastos ou mais uma crise na publicação, mas de

forma surpreendente o diretor do jornal The Times, John Witherow e o responsável

pelo dominical Sunday Times, Martin Ivens, deixam claro que o objetivo é oferecer

artigos mais “confiáveis e em profundidade, análise atualizada e opiniões

estimulantes”.

A equipe de jornalistas do The Times fará publicações na edição digital durante

a semana às 9h, 12h e 17h e aos finais de semana, no The Sunday Times, as

publicações vão ocorrer às 12h e às 18h. É uma estratégia de administração de

conteúdo, para levar o essencial para o seu público. Ao mesmo tempo, cabe observar

o consumo de informação as novas mídias, seus hábitos e qual é a recorrência de

consumo de conteúdo, para assim, preparar informações mais personalizadas de

acordo com perfil de leitor, ou seja, se ele usa um aparelho mobile, que as informações

cheguem para ele de forma mais objetiva possível e que a experiência de consumo

da informação seja agradável. Ou então, que seja observado o uso de redes sociais

para publicação de determinadas demandas como faz a publicação digital The

Huffington Post, dos Estados Unidos, que faz transmissões ao vivo pelo aplicativo

Periscope, do Twitter, ou no aplicativo de transmissão ao vivo do Facebook Live,

tentando levar ao leitor a experiência da primária das eleições norte-americanas.

O jornalista tem que ser estrategista, criativo, obcecado por conseguir a melhor

informação, observar e entender as necessidades. Ele tem os meios para fazer isso,

e tem muita informação, com isso, ele pode levar a informação certa no momento

certo para atender os anseios da sociedade.

A informação está presente em todos os lugares e é essencial para o

desenvolvimento humano. Como Gleick também diz sobre Werner Loewenstein, que

estudou por trinta anos a comunicação intercelular. A informação hoje significa algo

mais profundo: “O termo traz a conotação de um princípio cósmico de organização e

ordem, e nos proporciona uma medida exata disso” (2011, p. 11).

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CAPÍTULO IV – HIPERLOCAL E BIG DATA

1. Compreendendo o Hiperlocal

Ao detalhar o termo, é necessário conceituar o que é Hiperlocal, sua definição

e finalidade. Quando uma pessoa, um cidadão, vive em uma área que tem pouco mais

de 1000 habitantes, consome conteúdo das grandes redes emissoras de televisão,

que irradia seu conteúdo nas principais capitais, com grandes jornais nacionais e

portais de conteúdo que propagam informações 24 horas diárias sobre o Brasil e os

cinco continentes mundo afora, mas não há uma mídia dedicada ao que acontece a

sua vizinhança. Esta colocação não é uma descrição sobre os fofoqueiros de plantão,

mas sim, de um veículo especializado que possa ajudar no seu cotidiano com

informações que façam diferença na sua vida local, como a prestação de serviço,

eventos locais, trânsito ou previsão do tempo. Assim, é o que acontece com a pratica

do Hiperlocal, onde a informação relevante da sua comunidade é compartilhada e

distribuída para todos os interessados para que assim cada um utilize o que é de sua

importância, siga tomando suas decisões e autogovernando suas vidas.

Uma das respostas possíveis e plausíveis foi a descrita pelo jornalista e

pesquisador Damian Radcliffe na obra Here and Now: UK hyperlocal media today, ele

explica que hiperlocal são notícias online ou serviços de conteúdo pertinentes a uma

cidade, vila, simples código postal ou outra pequena, comunidade geograficamente

definida (2012, p. 06). Ou seja, uma área pequena pode receber conteúdo

personalizado, os moradores ou transeuntes daquela região ou área podem receber

informações sobre o que acontece em seu entorno, de forma mais rápida e objetiva,

de tal forma que os grandes veículos da mídia não consigam fazer com tanta eficiência

por questões de estratégia, e geralmente, de gente dedicada para essa função e de

custos na operação jornalística.

Mídia hiperlocal normalmente fornece notícias e conteúdo em um nível mais prático do que a maioria dos meios de comunicação tradicionais podem alcançar. Ele pode ajudar a definir a identidade local, preencher as lacunas na provisão de conteúdo existente, mantenha autoridade para dar conta e ampliar o leque de meios de comunicação disponíveis para o público. Não há realmente nenhuma coisa como um serviço hiperlocal típico. Então, muitas vezes é definido pela voz, audiência e do propósito da comunidade a ser servido, com toda a variedade que implica (RADCLIFFE, 2012, p. 6).

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O termo hiperlocal foi criado nos anos 1980, a partir das operadoras de TV a

cabo dos Estados Unidos, com “hyperlocal”, para classificar o conteúdo televisivo local

e esse termo também foi transferido e associado para o conteúdo produzido pela web

(LIMA JR.; COELHO, 2015).

Operações de mídia Hiperlocal são geograficamente baseadas, voltadas para a comunidade, organizações nativas e originais em reportar notícias para a web e pretendem preencher as lacunas percebidas na cobertura de uma questão ou região e promovem o engajamento cívico (LIMA JR.; COELHO, 2015 apud METZGAR et al, 2010, p. 7).

O Hiperlocal ainda está em plena construção. A sua concepção se dá por meio

tecnologias conectadas que formam conteúdos informativos de relevância social em

uma área geográfica delimitada. Há uma estreita relação entre quem mora e frequenta

a área. Sendo assim, o cidadão torna-se mais participativo, amplia o seu papel

fiscalizador, pois, com as informações em mãos, é possível escancarar os problemas

da sua comunidade para assim pressionar o poder público a ter mais agilidade para

solucionar as questões mais relevantes para as pessoas deixando vida cada vez

melhor e menos desigual.

No entanto, o conteúdo pode ser produzido ou curado por um especialista da

informação, que no caso é o jornalista, social media, especialista de comunicação ou

até mesmo profissionais que trabalham com informações muito detalhadas como

estatísticos, cientistas de dados (data scientist), business inteligence e profissionais

de tecnologia da informação (TI). Por meio dessa curadoria e da proximidade entre o

profissional de comunicação e os moradores de uma determinada área, pode-se ter a

maneira de construir um conteúdo que contribua para prospectar demandas, soluções

e questões na esfera pública. Mesmo com escassez de informações, a tecnologia

tornou-se grande aliado na busca de conteúdo em seu entorno, para efetivar a busca

por informação hiperlocal, na sua proximidade, estreitando laços, levando aos

moradores uma espécie de autoconhecimento da região que se vive, buscando

enxergar o local com outras perspectivas, prismas e dimensões.

Talvez, a metáfora mais comparável para destacar a importância de hiperlocal,

ou proximidade, é a da famosa pirâmide invertida adotada pelo jornalismo tradicional.

A pirâmide invertida é uma técnica de redação que existe no jornalismo há mais de

100 anos, que tem a função de hierarquizar as informações, os acontecimentos, por

ordem de importância - do mais para o menos importante. Essas informações ficam

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concentradas no topo do texto, a cabeça da informação, ou lead, onde começa a parte

principal da informação no primeiro parágrafo, com as tradicionais perguntas – Quem?

Que? Quando? Como? Onde? Por que? Assim estruturado, o restante é deixado para

os próximos parágrafos, como outras informações complementares até acabar de

formatar o conteúdo. Essa prática, segundo a autora espanhola Maria Del Mar de

Fontcuberta escreveu em sua obra A Notícia – Pistas para compreender o mundo

(1996), que o nascimento dessa prática aconteceu durante a Guerra de Secessão dos

Estados Unidos da América, quando os correspondentes dos jornais impressos

corriam para os telégrafos para tentar relatar os acontecimentos em primeira mão para

suas redações.

“Perante esta situação, os operadores de telégrafo criaram um método para dar

prioridade em simultâneo a todos os correspondentes. O método consistiu em fazer

uma fila de informadores em que cada um podia ditar um parágrafo – o mais

importante – da sua informação. Ao acabar o turno iniciava-se o ditado do segundo

parágrafo, e assim até final. Nascera a pirâmide invertida da notícia, método ainda

hoje em vigor” (FONTCUBERTA apud ZAMITH, 2005, p. 1-2). Então, os jornalistas

que cobriam a guerra tinham que ser objetivos e contar apenas o fato, "não davam a

sua opinião nem entravam em excessivos pormenores; procuravam informar sobre os

acontecimentos mais importantes” (FONTCUBERTA apud ZAMITH, 2005, p. 1-2).

O Hiperlocal pode ser comparado e observado de acordo com a perspectiva de

cobertura que é realizada no dia a dia das redações jornalísticas. Forma-se uma

hierarquia geográfica, ou seja, as redações verificam e checam as notícias por áreas,

priorizam a cobertura internacional, verificando e apurando o que acontece de

importante ao redor do planeta; nacional, as informações referentes ao país e aos

seus cidadãos, com mais cautela na apuração jornalística em assuntos que impactam

aquele país; e depois, informação local em um Estado ou cidade. É claro, que ainda

não há uma clareza por definir uma cobertura hiperlocal. Nas estruturas das grandes

redações é perceptível que há separações editoriais por temas como Cidades, Mundo,

Política, Esportes, Ciência e Tecnologia no caso do impresso e web e nas emissoras

de rádio e TV a redação é separada por duas grandes editorias que separam os seus

produtos por editoria Local (Estado da emissora e cidade) e editoria Rede (país e

mundo).

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Gráfico 1 – Base editorial das redações de impresso, web, rádio e televisão

Fonte: o autor

Ainda não existe uma consciência coletiva que acontece uma cobertura

hiperlocal, ela existe como um microcosmo dentro da editoria de Cidades, sendo

otimista um terço inferior de uma página standard, berliner, um quadrado numa revista

ou meia página, metade disso ou um espaço para uma nota na internet com área de

250 x 160mm com algumas linhas ‘dedicadas’ a cobertura. É um trabalho inconsciente

em desenvolvimento.

O conceito de Hiperlocal está sendo construído através de websites jornalísticos que focalizam a sua cobertura noticiosa numa área geográfica bem definida, tratando de temas de relevância social que possuem estreita relação com os moradores e os frequentadores daquela área. O conteúdo é produzido por jornalista e também pelos moradores e frequentadores, com o apoio de agregadores de conteúdo e de sistemas de recomendação (LIMA JR, 2011, p. 139).

Quando há alguma consciência, é de que o trabalho neste âmbito pode ser

custoso para o orçamento de uma redação, devido ao maior número de profissionais

que devem se dedicar a esse tipo de cobertura. Isso levando em conta aplicação de

tecnologia que já derruba e segue derrubando muito os custos na produção

jornalística. No cenário em que empresas jornalísticas mundo afora estão em crise,

com queda no faturamento, devido as empresas de internet como Google e Facebook

serem os grandes algozes da publicidade, acarreta no enxugamento das redações,

com corte da folha de pagamento, começando pelos possíveis jornalistas

profissionais, com larga experiência (e largos salários) que poderiam ser preparados

para este tipo de demanda.

Talvez, os gestores do jornalismo prefiram fazer de conta que o trabalho só

tenha relevância em casos realmente extremos, como por exemplo, a queda de um

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avião ou incêndio em área residencial valorizada num bairro que tenha muitas mortes

e feridos. Ao mesmo tempo, realizar a cobertura de jornalismo hiperlocal faz parte da

prática do Jornalismo Cívico ou Público, pois essa prática torna os moradores e o

produtor de conteúdo mais próximo, assim, juntos ganham forças para a tomada de

decisão para solucionar problemas cotidianos da cidade, bairro, condado ou vila. Os

próprios moradores, mesmo sem ter a formação de jornalista podem colaborar na

produção de conteúdo relevante para a população da área em que se vive.

O Jornalismo Cívico ou Público é considerado uma solução para inserir os leitores/ouvintes/telespectadores na cadeia de decisão dos processos de produção de conteúdo jornalístico praticado nas últimas décadas. Contudo, o Jornalismo Cidadão possui uma diferença fundamental, em relação ao Jornalismo Cívico ou Público, pois é elaborado, essencialmente, por não-jornalistas formados, ou seja, por pessoas sem treinamento específico em Jornalismo, mas que possuem outra formação profissional ou educacional. Ele é realizado de maneira não-remunerada de forma ‘amadorística’. (LIMA JR, 2012, p.123).

Sendo assim, é possível fazer outro recorte: o hiperlocal entra em uma camada

abaixo da cobertura local. Com o hiperlocal, é possível fazer um recorte da área, dos

quarteirões, dos bairros, vilarejos e condados e a partir disso, é possível rastrear todas

as informações que são relevantes para os moradores daquela região.

É possível apresentar, por exemplo, a hierarquização da cobertura jornalística

da seguinte forma: os jornais de bairro, que agem no nível hiperlocal, que focam em

informações da sua região, com alguma informação de nível nacional e internacional

que talvez atraia o interesse dos leitores daquele local; os jornais tradicionais, com

distribuição nacional, que buscam focar a cobertura do país, com o que foi relevante

mundo afora, tentando dedicar algum equilíbrio na cobertura local e hiperlocal em

cadernos específicos de acordo com a localização da sede do veículo de comunicação

como o Metrópole/Cidades, de O Estado de S. Paulo, Cotidiano, da Folha de S. Paulo,

ambos em São Paulo ou Rio, de O Globo, no Rio de Janeiro e Gerais, do diário mineiro

Estado de Minas.

No entanto, existe também o mesmo recorte com as emissoras de televisão e

rádio. Temos as emissoras principais, como no caso das consideradas grandes redes

de televisão brasileiras, que têm audiência no PNT (Painel Nacional de Televisão),

como Globo, SBT, Band, Record e RedeTV!, que fazem a transmissão e produzem

conteúdo para o País e fora dele por meio de suas emissoras internacionais e temos

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as emissoras locais ou regionais como por exemplo RBS59 (Globo, no Rio Grande do

Sul), TV Jornal60 (SBT, em Pernambuco), TV Goiania61 (Band, em Goiás) e TV

Brasília62 (RedeTV!, no Distrito Federal). Ou como explica os autores Emily Metzgar,

David Kurpius e Karen Rowley no artigo Defining Hyperlocal Media: Proposing a

Framework for Discussion.

Operações de mídia Hiperlocal são geograficamente baseadas, voltadas para a comunidade, organizações nativas e originais em reportar notícias para a web e pretendem preencher as lacunas percebidas na cobertura de uma questão ou região e promovem o engajamento cívico (METZGAR et al, 2010, p. 7).

Então, se for percebido o nível de informação de baixo para cima – do hiperlocal

ao internacional – ou pelo contrário, podemos comparar que a pirâmide do nível de

cobertura jornalística também é semelhante a pirâmide invertida para a construção

dos textos.

No entanto, essa formação tem um outro viés de importância. Uma notícia,

informação que vem do nível hiperlocal também pode se elevar ao nível de informação

estruturada de interesse internacional e isso acontecerá de acordo com os

antecedentes e o desenrolar da história e do fato.

Gráfico 2 – Área de cobertura jornalística e percepção de sua audiência, de acordo com o tema abordado pela produção jornalística

Fonte: o autor

59 Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/>. Acesso em: 20 jul. 2016. 60 Disponível em: <http://tvjornal.ne10.uol.com.br/home>. Acesso em: 20 jul. 2016. 61 Disponível em: <http://www.tvgoiania.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2016. 62 Disponível em: <http://www.correioweb.com.br/page/tvbrasilia/>. Acesso em: 20 jul. 2016.

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Como a queda do avião da TAM nos anos de 199663 e nos anos 200764, em

São Paulo, ambos no bairro do Jabaquara e do Campo Belo. Na primeira queda,

morreram 99 pessoas, quando um jato Fokker 100, voo TAM 402 começou a decolar

rumo ao Rio de Janeiro, não conseguiu arremeter e caiu sobre algumas casas na

região. Na segunda queda, o avião da TAM, Airbus A320, voo JJ3054, vindo de Porto

Alegre, não conseguiu frear na pista do Aeroporto de Congonhas e colidiu em um

prédio da própria companhia aérea, matando 199 pessoas.

É uma notícia que impacta a região e todo o País, por exemplo, no nível local,

a polêmica da existência de um aeroporto com grande circulação em uma região

densamente povoada, problemas com barulho e o trânsito ruim em seu entorno

atrapalhando os moradores; no nível nacional com a história das vítimas e a relevância

do aeroporto para todo o País como uma conexão importante, que recebe passageiros

de várias partes do Brasil; e no nível internacional, como que pode se evitar tragédias

deste tipo, até mesmo a consulta sobre a fabricante da aeronave sobre alguma

suposta falha técnica, já que a fabricante do avião, a Airbus é francesa.

1.1 Soluções por meio da proximidade

O uso de novas tecnologias possibilitou com que as pessoas pudessem ter um

senso de proximidade, de querer saber o que acontece no seu entorno, por meio de

uma publicação em uma rede social podemos ter conhecimento do que acontece por

perto. Este entorno tem potencial para ter um volume relevante de informação que

queremos saber no nosso perímetro, enquanto a mídia tradicional mantém suas

grandes cadeias de rádio, televisão, jornais, revistas e outros sistemas nacionais, até

mesmo estruturados na internet. Vide como exemplo o portal de notícias G1, mantido

pelo Grupo Globo65, que tem sites de nível nacional (G1) ao local (G1 Rio, G1 São

Paulo, G1 Rio Branco), mantido pelas emissoras de televisão locais que retransmitem

o sinal nacional da Rede Globo de Televisão, podemos ter nessa cadeia os sites

locais, estaduais, bem como as publicações locais, que podem mirar um novo nicho

63 O Estado de S. Paulo. São Paulo, 1 nov. 1996. Tragédia do voo 402 abala São Paulo. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19961101-37634-spo-0001-pri-a1-not>. Acesso em: 20 jul. 2016. 64 O Estado de S. Paulo. São Paulo, 18 jul. 2007. Avião explode e mata 176 em Congonhas. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20070718-41546-nac-1-pri-a1-not>. Acesso em: 20 jul. 2016. 65 Disponível em: <http://grupoglobo.globo.com>. Acesso em: 25 jul. 2016.

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de pessoas que se interessam por conteúdo voltado apenas para a sua localidade.

Ou seja, para se fazer o levantamento hiperlocal são necessários alguns critérios

sobre o caminho da informação e o seu comportamento de consumo e dos

consumidores, como escreve Damian Radcliffe, em sua obra “Here and Now: UK

hyperlocal media today”.

1. A Internet criou muitas novas rotas para se conectar com as comunidades geográficas. 2. O papel histórico que a mídia tradicional tem desempenhado no apoio às comunidades locais é crescente sob ameaça da redução de serviços, funcionários e receitas. 3. Lacunas na cobertura geográfica e de conteúdo, particular-mente reportagens locais, criou um vácuo para os novos operadores e cidadãos preocupados, que agora estão respondendo a esse desafio. 4. Novos serviços online como o Wordpress, AudioBoo e YouTube têm permitido a qualquer pessoa criar e distribuir conteúdo local. 5. Houve uma explosão em dispositivos digitais capazes de aceder a este local, conteúdo, especialmente telefones celulares e tablets. 6. A mídia social está mudando comportamentos das audiências e as expectativas em termos de informação que consumimos, e como nós definimos o mundo que nos rodeia. 7. Oportunidades para o público a compartilhar e distribuir conteúdo relevante para sua própria rede e comunidades, fazendo também a distribuição local com mais facilidade. 8. A web é a criação de novos modelos de financiamento e novos fluxos de receita para nicho, empresas especializadas, incluindo serviços hiperlocal. 9. O grande negócio reconhece o valor do conteúdo local e está se movendo para o hiperlocal espaço par de esforços liderados pelos cidadãos menores. 10. Questões locais e conteúdo localmente relevante, continuar a importar para o público, talvez mais do que nunca nestes tempos turbulentos. (RADCLIFFE, 2012, p. 09).

Com as informações captadas na área, podemos revelar o verdadeiro

panorama geral da região, como por exemplo, onde acontece o maior e o menor

equilíbrio de renda, onde há demanda por moradia, o hospital atende de forma regular

os pacientes do bairro e atende as outras necessidades que a região precisa. Para

isso, é necessário a formação de uma equipe para captação, apuração e análise das

informações, para depois reunir este material e poder contar a história de forma

precisa e objetiva. Como está a situação econômica da região, o bem-estar dos

moradores, assim levantando questões cruciais para entender a área.

Estas e outras perguntas podem ser respondidas e aprofundadas por meio do

levantamento e mineração de dados (data mining).

Essa técnica já é realizada fora do Brasil, como nos Estados Unidos, e lá foi

percebido que com o acúmulo, captação e armazenamento de dados, é possível

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reduzir custos e expandir o montante de informação relevante para que seja usada

em benefício da própria comunidade pesquisada. Como é citado no livro

Strenghtening Communities with Neghboirhood Data, elaborado e organizado pelos

pesquisadores G. Thomas Kingsley, Claudia J. Coulton e Kathryn L. S. Pettit, com

apoio da MacArthur Foundation, a importância se destaca nas seguintes questões:

Avanço tecnológico tem rendido sem redução de precedentes nos custos na montagem de dados, armazenamento, manipulação e apresentação; O montante de dados relevantes avaliados ao público está vastamente expandido. Estas fontes incluem novo arquivo de dados nacional em uma pequena área com dados no nível de endereços (do governo federal e de fontes comerciais), e quando está publicamente disponível em arquivos administrativos do governo e dados disponíveis de fontes comerciais; A plataforma de visualização de dados e ferramentas online podem ser desenvolvidos com facilidade por usuários que trabalham com os dados no nível dos bairros; Vários governos locais podem marcar e improvisar aquela capacidade do dado interno (como conhecimento pessoal, coleção de dados, programa e política de aplicação); Mais consultores externos podem estar disponíveis para ajudar as organizações locais a ter vantagem com estas novas capacidades (KINGSLEY, COULTON, PETTIT, 2014, p. 12, tradução nossa).

Com estas preciosas informações estruturadas, podemos saber como está a

relação dos habitantes com o meio em que vivem, trazendo com o dado o melhor

cenário do local.

Gráfico 3 – Relacionamento das instituições locais e seus papeis no ambiente informacional. A conversa da comunidade com os pontos focais

Fonte: tradução do autor

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Uma fotografia do momento para buscar melhorias aos moradores e

transeuntes daquele local. Como é apresentado na figura retirada do livro

Strenghtening Communities with Neighborhood Data, que aponta qual é o papel de

cada um no ambiente da informação da comunidade diante de cada instituição local.

Mas, para isso, também é necessária uma articulação entre os jornalistas,

moradores, comunidades, organizações privadas e associações de bairro para que

com a colaboração de todos os dados tornem-se mais criveis ao levantamento

desejável e atendendo os pontos focais que precisam da demanda de informação.

1.2 Mapear e interpretar informações

Ao começar a conhecer a área que se precisa tirar as informações, precisamos

fazer o mapeamento da área, para fazer os recortes necessários para extrair o

conteúdo, o dado necessário e então contar um fato ou narrar um evento naquele

setor. Desde o tempo das grandes navegações, até o auge da internet, temos mapas.

Das pequenas áreas até as mais extensas, são eles que literalmente apontam o que

tem no mundo e o que este mundo pode nos oferecer. Por meio da comunicação por

imagem permite ao ser humano imaginar, para fazer várias interpretações de um

mundo exposto a ele e ao seu redor. Reforçando o pensamento do autor Vilém

Flusser, da obra O universo das imagens técnicas, as imagens dão uma nova

dimensão informacional e de conhecimento.

Em todas as imagens técnicas observamos que são pontos computados. A fim de vermos isto, é preciso observar tais imagens. Sob olhar superficial, as imagens técnicas parecem planos, mas se dissolvem, deixam de ser imagens quando observadas (FLUSSER, 2008, p. 51).

O mapa é uma imagem que pode ser interpretada e fornece com detalhes e

aprofundamento uma informação específica para que seja aproveitada, esmiuçada e

articulada assim atendendo demandas específicas. É questão de captar a fotografia

ou o cenário do momento.

A definição visa captar a situação na qual estamos; captar o clima espectral do nosso mundo; mostrar como tendemos atualmente a desprezar toda ‘explicação profunda’ e a preferir ‘superficialidade empolgante’; mostrar o quanto critérios históricos do tipo ‘verdadeiro e falso’, ‘dado e feito’, ‘autêntico e artificial’, ‘real e aparente’, não se aplicam mais ao nosso mundo. Em suma: a definição de imaginar foi formulada para articular a renovação epistemológica, ético-política e estética pela qual estamos passando. Para articular a nova sensação vital emergente (FLUSSER, 2008, p. 51).

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O mapeamento de regiões e informações traz ao consumidor de conteúdo e

informações novos detalhes e conhecimento sobre determinado assunto ou interesse.

O leitor ou espectador pode se tornar parte ativa da atualização de dados. Os dados

do mapeamento podem ser usados para denúncias e para apontar problemas de

políticas públicas. Torna-se um facilitador entre o poder público e a população. A

população aponta os problemas para os políticos fazerem a correção. E claro, também

o mapa é um fator determinante para a tomada de decisão e estruturação de

estratégias. Como foi o caso do surto de cólera que atingiu a cidade de Londres, na

Inglaterra, durante o século XIX ou o caso do aumento de mortes provocado por

doenças e não pela própria guerra da Criméia.

1.3 Diagrama que salva vidas

O mapeamento de informações tem registros centenários, como por exemplo,

a enfermeira britânica, Florence Nightingale, que usou a estratégia de visualização de

informações desenhando um diagrama de causas de mortalidade conhecido por

Diagram of the Causes of Mortality para apontar que a doença era uma ameaça maior

que a guerra da Crimeia, que aconteceu na península da Crimeia, no Mar Negro, sul

da Rússia e região dos Balcãs entre outubro de 1853 e fevereiro de 1856.

Essa guerra deixou ao menos 700 mil mortos, feridos e presos entre as duas

forças de batalha. Florence Nightingale chegou na Turquia em outubro de 1854 com

um grupo de mulheres dispostas a trabalhar como enfermeiras voluntárias nos

hospitais.

Quando estava trabalho no auxílio dos soldados no hospital, foi percebendo

que os soldados estavam morrendo por desnutrição e péssimas condições sanitárias

do ambiente hospitalar. A enfermeira trabalhou para melhorar as condições de saúde

dos feridos e dos sobreviventes de guerra, como melhorar a limpeza do hospital e

começou a desenhar gráficos estatísticos e fazer registros do número de mortos nos

hospitais.

Após a guerra, Florence Nightingale voltou à Grã-Bretanha para fazer

campanha para melhoria das condições dos hospitais. Ela elaborou diagramas em

formatos de coxcombs ou rosas para mostrar que houve mais mortes por causa de

doenças do que morte por feridos na Guerra da Criméia.

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Após ela apresentar os dados para os membros do Parlamento e funcionários

públicos, ela foi eleita a primeira mulher da Royal Statistic Society (Real Sociedade de

Estatísticas) e posteriormente tornou-se membro honoraria da American Statistical

Association (Associação Americana de Estatísticas).

Após este diagrama, Nightingale fez um estudo sobre as condições de saúde

do contingente do real exército britânico que estava ocupando a Índia, que foi uma

colônia inglesa. As péssimas condições de saneamento básico da população, bem

como dos soldados britânicos fazia a taxa de mortalidade ser muito elevada.

Figura 25 – ‘Diagrama das Causas de Morte no Exército no Leste’ (1858)66

FONTE: Wikipedia from Notes on Matters Affecting the Health, Efficiency and Hospital

Administration of British Army.

Ela conseguiu implantar uma importante reforma sanitária no país indiano que

demorou 10 anos. Após esse período, um novo levantamento foi realizado e chegou-

se ao esperado, que é queda da mortalidade dos soldados de 69 para 18 por 1000

habitantes.

66 UNIVERSIDADE DE PRINCETON. Medicine. Disponível em: <http://libweb5.princeton.edu/visual_ materials/maps/websites/thematic-maps/quantitative/medicine/medicine.html>. Acesso em: 3 abr. 2016.

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Figura 26 – Diagrama que representa a mortalidade de feridos e mortos por doenças nos hospitais do Exército Britânico no período de abril de 1854 a março de 1856

FONTE: Universidade de Princeton.

1.4 Mapa vence o cólera em Londres

À época, um verão no final da década do ano de 1840, a cidade de Londres

era a capital da monarquia vitoriana, na Inglaterra, com um pouco mais de 2,5 milhões

de habitantes, que por causa de maus hábitos e falta de saneamento básico sofreu

um surto de cólera. Para se ter uma ideia, mais de 500 pessoas morreram em apenas

dez dias. Estima-se que 62 mil vidas foram perdidas, entre 1848 e 1849, no primeiro

surto e, no segundo surto, entre 1853 e 1854, mais de 31 mil vidas foram ceifadas. A

falta de estrutura adequada e de cultura para o saneamento básico foi a grande vilã

dessas mortes. A falta de infraestrutura muito crítica, bem como por exemplo, dezenas

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de pessoas amontoadas em uma casa pequena ou centenas em um quilômetro

quadrado. A sujeira reinou no ambiente interno e externo, pois, os detritos humanos,

como fezes e urina eram despejados nas ruas ou em fossas tranquilamente.

Foi então que, após inúmeros anos de luta pela sobrevivência através das poucas rotas de transmissão a sua disposição, o Víbrio cholerae tirou a sorte grande. Os seres humanos começaram a se reunir em áreas urbanas com densidades populacionais que excediam tudo o que jamais se registrara na história: cinquenta pessoas amontoadas em uma casa de quatro andares, cem em um único quilômetro quadrado. As cidades ficaram esmagadas pela imundice do homem (JOHNSON, 2006, p.47).

E na malcheirosa Londres, existiam trabalhadores que faziam o serviço sujo,

dedicados a fazer essa tarefa insalubre de recolher as fezes, ossos e detritos nas

sarjetas e nas ruas da cidade vitoriana. Principalmente na região do Soho. Lá era uma

ilha de pobreza proletária e de indústrias fétidas, encravada no próspero West End,

rodeada pelas formosas casas de Mayfair e Kensington, na área da Berwick St. e

Broad St. (após 1936, foi denominada por Broadwick Street).

Esta é uma história com quatro protagonistas: uma bactéria letal, uma grande cidade e dois homens igualmente talentosos, mas muito diferentes. Em uma semana sombria, há mais de cento e cinquenta anos, suas vidas se defrontaram em meio ao imenso horror e sofrimento humano na Broad Street, extremo oeste do bairro do Soho (JOHNSON, 2006, p.11).

Esse é o cenário narrado na obra “O mapa fantasma: como a luta de dois

homens contra a cólera mudou o destino de nossas metrópoles", do pesquisador

Steven Johnson, que levantou vários relatos de sobreviventes, registros históricos e

informações das investigações conseguidas pelas autoridades meses subsequentes

do surto de cólera na Londres do século XIX.

A metrópole inglesa viveu um conflito de ideias e de teorias para tentar

descobrir as causas da cólera e o que seria necessário para fazer o combate dessa

moléstia. Edwin Chadwick, do Comitê Geral de Saúde Pública, defendia a teoria

miasmática. Ele afirmava e acreditava com convicção de que ao respirar o ar mau

cheiroso poderia ocorrer a transmissão da doença. O cheiro ruim poderia contaminar

qualquer um, isto é, a contaminação passaria entre os humanos que respirassem o

mesmo ar de um vetor. A indústria de medicamentos da época não perdeu tempo e

tentou embarcar na história para prover a cura. Um classificado do Times londrino

tinha a seguinte descrição para a cura da cólera.

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FEBRE E CÓLERA – O ar de cada cômodo em que apareceu a doença deve ser purificado com o uso do Fluido Purificador de Ar Saunder. Esse poderoso desinfetante destrói os odores nocivos em instantes e impregna o ar com uma refrescante fragrância. – J. T. Saunder, perfumista, 316B, Oxford-street, Regent-circus; e todos os boticários e perfumistas. Preço: 1 xelim (JOHNSON, 2006, p.52).

Do lado oposto, a teoria da transmissão da cólera pela água foi defendida pelo

médico anestesiologista John Snow, estabelecido no Soho e que posteriormente

tornou-se cirurgião da rainha Vitória. O especialista Snow tinha suspeitas de que a

água era o principal vetor de transmissão. Para isso, ele começou um intenso trabalho

de investigação. Levantou o histórico de comportamento dos moradores que

consumiam água em todas as bombas da cidade, hábitos, rotinas, número e perfil de

moradores na residência, características da residência, histórico de contaminação e

concebeu os dados em um mapa para levantar onde havia o maior número de mortos.

Quando acontecia uma morte a morte de um morador devido a doença, era

feita uma marcação no mapa para apontar a casa da vítima, com um traço e de depois

fazia uma nova uma investigação sobre os hábitos dos moradores.

Cada marca correspondia a uma morte registrada. O pastor da comunidade,

Henry Whitehead, com seus pouco mais de 28 anos, foi um parceiro do acaso que foi

fundamental para o Snow. Whitehead ajudava o médico a fazer o monitoramento do

mapa, visitando os moradores, levantando cada história de vida, o comportamento,

analisando o perfil das condições de moradia e comportamento cotidiano naquela

região. Ele sempre buscava os seguintes dados: nome; idade; posição dos quartos

ocupados; instalações sanitárias; água consumida em relação à bomba de Broad

Street; e a hora do começo do ataque fatal.

A partir deste mapa e das entrevistas e informações colhidas dos moradores

da região e de transeuntes levantadas por Whitehead, Snow percebeu a concentração

de casos em determinados locais até chegar ao problema que era a bomba de água

instalada na Broad Street, esquina com a Cambridge Street. Doentes vindos da região

do Soho sobrecarregavam os hospitais de Middlesex, Guy, St. Thomas, São

Bartolomeu, Charling Cross, Universitário de Londres e de Westminister. John Snow

conversou com centenas de pessoas que citavam sempre a bomba de água. Os

frequentadores que consumiam a água daquela bomba consideravam o líquido com

bom paladar e limpa. Era considerada uma fonte de água confiável e límpida. Com

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um agradável toque de gás carbônico, era mais fresca que a água encontrada nas

bombas com que rivalizava (JOHNSON, 2008, p, 37).

A bomba suspeita instalada tinha oito metros, estendia-se por baixo da camada

de três metros de lixo e entulho, chegava até o Hyde Park. O equipamento foi lacrado

em meio aos protestos. Quando foram feitas escavações, foi constatado que o poço

foi de fato contaminado por uma fossa onde era lançado os excrementos das pessoas

com cólera.

Figura 27 – Mapa completo de John Snow: por meio do mapa ele descobriu a origem do vetor da cólera. O mapa serviu também como registro das mortes

Fonte: JOHNSON, 2006, p. 175

Com o mapa de mortos, Snow levantou um novo mapa com a circulação dos

vivos no entorno da bomba da Broad Street e de outras três bombas que atendiam a

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região. Foi a partir deste mapa estruturado, aconteceu um controle epidemiológico e

os casos da doença começaram a ser registrados e documentados.

“O mapa de Snow – animado pelo conhecimento direto da realidade do bairro – era algo completamente distinto: era uma autorrepresentação do bairro, que, ao delinear seus próprios padrões em um mapa, transformava-os em uma verdade mais profunda. O mapa era, sem dúvida, um brilhante trabalho de informação e de epidemiologia. E também a representação de certo tipo de comunidade, representando as vidas densamente interligadas de um bairro metropolitano [...]” (JOHNSON, 2006, p. 181).

Após o fim desta epidemia, em 1865 o governo vitoriano construiu um sistema

de esgoto e elevatórias para o rio Tâmisa.

Figura 28 – Mapa de Snow aponta a bomba de água (Pump) problemática. O poço foi contaminado por uma fossa com excrementos de infectados por cólera

Fonte: JOHNSON, 2006, p. 175

Novamente, outro surto de cólera foi registrado e mais mortes foram

registradas. Então, depois deste novo episódio, a teoria de John Snow foi considerada

relevante e importante pelos especialistas médicos londrinos. Este trabalho árduo

levou John Snow ao patamar de inovador e apontado como um dos pais da

epidemiologia moderna. Desde 1992, no local próximo a antiga bomba, existe uma

réplica da bomba de água problemática e um memorial dedicado ao médico inglês.

Esta técnica pode ser usada nos dias atuais e é considerada uma forma de

informação profunda de uma área geograficamente pequena. Snow aplicou de forma

‘inconsciente’ técnicas de hiperlocal para conseguir contornar o surto de cólera na

cidade de Londres.

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Figura 29 – Réplica da bomba problemática, próximo ao local da antiga bomba.

Fonte: Wikimedia Commons

Por isso, é necessário refletir: se naquela época, um trabalho investigativo feito

por duas pessoas – um médico e um pastor –, a quatro braços, batendo perna, de

porta em porta, corpo-a-corpo, com muita conversa, entrevistas, raciocínios e trabalho

investigativo, foi possível salvar milhares de vidas. Assim foi possível modificar

radicalmente a rotina e a cultura sanitária de uma metrópole global e de aprimorar as

práticas de saúde usadas até os dias atuais.

Imagina o que pode ser feito nos dias atuais com outras ferramentas digitais de

web e de redes sociais, usando apenas um computador, um notebook, um

smartphone e algumas outras tecnologias que estão ao nosso alcance? As

ferramentas citadas são apenas uma pequena fração de alguns meios que de maneira

geral afetam a relação entre jornalismo e leitor.

Sendo assim, o jornalismo tem que seguir fora da tangente e também começou

a se aprimorar, para buscar novas formas de transmitir a informação, fugindo do

tradicional artigo, áudio e imagem, que com a chegada da web, se tornaram um

complemento informacional (SQUIRRA, 2012, p. 107). Com este complemento

informacional é possível dar novas perspectivas e prismas a uma informação

jornalística ao público e a sociedade.

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1.5 Hiperlocal encontra a web e TV

Um projeto que começou com uma pauta de televisão e depois evoluiu para

um projeto multimídia bem-sucedido e reconhecido internacionalmente. O projeto em

questão é o Globo Amazônia, que foi desenvolvido em 2007 pelo jornalista Eduardo

Acquarone, da TV Globo, durante a produção de uma reportagem para o programa

jornalístico semanal Fantástico (TV Globo). O portal do programa apresentava um

mapa customizado pelos jornalistas da redação, que foi desenvolvido sobre a então

recente plataforma de mapas da Google, o Google Maps, com os dados do Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e lá o usuário de internet podia acessar

o conteúdo, ler as notícias, visualizar informações e apontar onde ocorrem as

queimadas e até mesmo fazer protestos virtuais contra a destruição da Floresta

Amazônica.

O protesto virtual estava disponível no aplicativo ‘Amazônia.vc’, disponível no

site hospedado na globo.com, pertencente ao Grupo Globo, ou por meio da rede

social que tinha mais audiência e usuários no Brasil à época, o Orkut, também da

Google. Assim, os usuários também passaram a monitorar o desmatamento e as

queimadas da Amazônia em tempo real dentro do site do programa jornalístico

Fantástico, nas redes sociais, e posteriormente em um canal de informações sobre

meio ambiente. O resultado foi positivo. Até 2012, mais de 600 mil pessoas

participaram do projeto, com o registro de 55 milhões de protestos. A produção

elaborou 1.700 reportagens nos formatos web e TV via núcleo informativo. O projeto

e a pauta conseguiram repercussão nacional e internacional. Em 2009, a Comissão

Europeia convidou por duas vezes a equipe desenvolvedora a participar do Simpósio

Internacional sobre o mapeamento digital da Terra, na Itália e da 15ª Conferência

Mundial do Clima, na Dinamarca. O projeto foi finalista na categoria narrativas digitais,

não-ficção do Digital Emmy67 em 2011.

O trabalho foi reconhecido por várias autoridades nacionais e internacionais

que destacaram a funcionalidade do projeto. Isso mostra como que o jornalista se

torna um bom contador de histórias, apontou um fato de cunho relevante para a

67 International Emmy Award ou Prêmio Emmy Internacional é concedido pela Academia Internacional das Artes & Ciências Televisivas (IATAS em inglês). A academia também indica e premia iniciativas multimídias na categoria “Programa Digital: Não-Ficção ou Digital Program: Non- Fiction” como foi o caso da indicação do Globo Amazônia.

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sociedade, fez um bom trabalho de curadoria de conteúdo e atuando também como

hábil estrategista em mídias digitais. O profissional de comunicação que acompanha

a dinâmica da tecnologia e trabalha com conteúdo diferenciado, passa se deparar

com novos desafios, como por exemplo, experimentar e aplicar novas tecnologias

para poder elucidar com mais clareza e objetividade os fatos para a sociedade. As

tecnologias e os novos dispositivos mudaram os hábitos de uso das pessoas, que

agora são voltados para o consumo da informação.

Figura 30 -- Globo Amazônia levou o mapeamento de dados e a interatividade para as redes sociais, como o Orkut, do Google

Fonte: Reprodução do Globo Amazônia, na rede social Orkut.

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O modelo clássico de produção de conteúdo não consegue atende a demanda

como antes. Sendo assim, este profissional deve ser mais consciente de que ampliou

seu papel central de emissor e gestor da informação diante de uma nova cultura e um

mundo de dispositivos e novos hábitos de consumo de conteúdo e conhecimento

(SQUIRRA, 2012, p. 108). O trabalho jornalístico, curadoria e de social media trouxe

o envolvimento e engajamento da audiência. Então, foi possível que todos fizessem

parte de alguma forma daquela vigilância, que monitorassem e ficassem atentos

sobre a situação da floresta amazônica brasileira. O projeto de jornalismo

proporcionou grande conscientização nacional e reconhecimento internacional com o

tema meio ambiente. Assim, mostrando que o cidadão pode participar de temas

importantes por meio das ferramentas virtuais, enviando informações, para que

posteriormente, junto ao trabalho profissional do jornalista, trabalhe este conteúdo

para prospectar e propagar o senso de realidade.

Figura 31 -- Capa do projeto Globo Amazônia. Mapeamento da floresta

Fonte: Reprodução

O leitor torna-se um dos vetores na propagação do conteúdo, tornando-se linha

auxiliar na produção de informação e prestação de serviço, onde a sua contribuição

traz novos benefícios se voltam para a própria sociedade.

Aquilo que jaz no coração de cada ser vivo não é uma chama, nem um hálito quente nem uma “faísca de vida”. É a informação, palavras, instruções. Se quiser uma metáfora, não pense em fogos, faíscas ou hálitos. Pense em vez disso num bilhão de caracteres distintos gravados em tabuletas de cristal (GLEICK apud DAWKINS, 2011, p.209).

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1.6 A rádio que mapeia buracos

Uma outra forma de se promover sinergia entre a comunidade, jornalismo e o

poder público abarcando o uso de mapas e redes sociais é o “Buracômetro”, da rádio

BandNews FM, do Grupo Bandeirantes, de São Paulo. O projeto nasceu da

reclamação de muitos ouvintes sobre a péssima qualidade e da falta de manutenção

do asfalto do município de São Paulo. Muitos ouvintes entravam ao vivo na

programação da rádio para falar sobre das condições de tráfego e durante a interação

com o ancora da rádio, os ouvintes comentavam sobre os problemas dos buracos na

cidade. Então, pensando na possibilidade de descobrir ou levantar o índice de

problemas, a equipe de jornalismo da rádio criou um serviço: o levantamento do

número de buracos na cidade. Um mapa de São Paulo na plataforma Google Maps

fica disponível no site da emissora com as informações marcadas com um alfinete

virtual mostrando os locais dos buracos na cidade e o nome do ouvinte que fez a

reclamação. O ouvinte envia uma mensagem por e-mail, Twitter ou SMS para a

redação paulistana da BandNews e a própria equipe de jornalistas faz as atualizações

no mapa, com ‘alfinetes virtuais’, para apontar o local dos buracos da cidade e dos

buracos consertados.

Figura 32 – ‘Buracômetro’ da BandNews FM

Fonte: Rádio BandNews FM

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No entanto, o serviço de mapeamento está disponível apenas na capital

paulista. Até abril de 2016, mais de 1.300 buracos foram apontados pela audiência da

rádio do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Em entrevista realizada na redação

da rádio BandNews FM, em São Paulo, o prefeito do município paulistano, Fernando

Haddad, que recebeu as informações, disse que utilizaria o mapa criado pela equipe

de jornalistas para apurar, localizar e consertar os buracos68.

Á época ele disse que “a participação do cidadão é bem-vinda, porque

corrigimos distorções da máquina pública” (BANDNEWS FM, 2013). No entanto,

consideramos que com os dados abertos no âmbito hiperlocal é necessário levantar

informações sobre a região demandada, cruzando os dados com séries históricas, ou

dados mais específicos, para chegar a real necessidade, avaliando a qualidade de

vida na região, como é a influência política e suas demandas de políticas públicas.

As plataformas públicas e de Open Data podem e devem ser aproveitadas por especialistas em programação e jornalismo, com a tarefa de utilizar as informações obtidas de forma profissional e relevante socialmente. A transparência proporcionada por uma política de acesso livre possibilita ao profissional de jornalismo multidisciplinar obter importantes informações escondidas nas bases de dados públicas ou abertas (LIMA JR, 2011, p.63).

Outra consequência positiva do projeto da BandNews foi que o cidadão tem

mais consciência da cidade em que vive. É o exemplo do motorista de ônibus

Edmilson Ferraz se inspirou no projeto da rádio e começou a registrar as reclamações

e cobrar a Prefeitura de São Paulo diretamente. Ele anda com um caderno na mão e

anota o nome da rua e o número da localização do buraco. Edmilson envia as

informações dos buracos na Prefeitura e espera que façam o reparo. Após o prazo ele

vai até o local para verificar se o buraco realmente foi tapado. Se não foi tapado ele

reclama novamente. Essa insistência rendeu a ele o apelido de ‘Super Cratera’. Esse

trabalho individual de fiscalização rendeu a denúncia de 600 buracos para o governo

municipal69.

Assim, amarrando e determinando estas bases da pesquisa e engajando o

público é possível desenvolver novas narrativas, mais objetivas e atraentes ao público

68 BandNews FM. Ouça a sonora do prefeito na rádio BandNews FM. São Paulo, 19 abr. 2013. Disponível em: <http://mais.uol. com.br/view/s70pk4i6az2h/ouca-a-sonora-do-prefeito-na-bandnews-fm-0402CD9A3666C4A14326?types=A&>. Acesso em: 20 set. 2015. 69 BASTIANELLO, Maiara. Ouvinte denuncia mais de 600 buracos em SP. Band.com.br. São Paulo, 9 out. 2013. Disponível em: <http://noticias.band.uol.com.br/transito-sp/noticia/100000636760/inspirado-em-buracometro-ouvinte-denuncia-mais-de-600-buracos-em-sp.html>. Acesso em: 03 abr. 2016.

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e ao mesmo tempo resolver demandas. Com isso, para comparar, entender,

aprofundar e contar melhor a história que está em desenvolvimento ou que já

aconteceu. Tudo isso por meio do compartilhamento público das informações e por

meio destes rastros soluções podem ser definidas e o problema contornado.

1.7 A comunidade diante do seu ambiente

Para que o compartilhamento de dados e análise destes sigam bem-sucedidos

para o fluxo informacional é importante conscientizar os moradores e o morador sobre

o papel que ele, como indivíduo, tem sobre as informações, que no primeiro momento,

podem ser triviais ou de pouca relevância, mas por meio destes dados ganha

importância para o desenvolvimento da região. Sendo assim, importa ressaltar que o

local estabeleça pontos focais – como educadores, pais, parceiros da comunidade,

membros de associações de bairro, formuladores de políticas, líderes de associações

de bairro, integrantes de movimentos populares, membros da sociedade civil, ONGs

(Organizações Não-Governamentais) e Oscips (Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público), membros da segurança pública como policiais, bombeiros e

guardas civis metropolitanos – para que sejam os catalizadores de informações e de

demandas da região. Os pontos focais são referências locais que possuem a

capacidade de transitar e conhecer a região que vive.

Os atores locais avaliação das unidades de bairro resultantes e forneceram algumas evidências de validade de face com base na sua compreensão do contexto local. Os bairros definidos residentes foram então usados na especificação das unidades para a agregação dos dados da pesquisa e do censo. Este processo permitiu o cálculo de indicadores de bairro para as unidades de área que os moradores definidos coletivamente como consistente com o seu sentido de identidade bairro (KINGSLEY, COULTON, PETTIT, 2014, p. 246, tradução nossa).

Eles são uma peça fundamental para que possa catalisar e transmitir dados

para alimentar os datasets de um centro de informações hiperlocal. Estes pontos

focais podem analisar e avaliar como que determinadas ações de políticas públicas

afetam o cotidiano do morador antes e após o seu impacto.

Como um aliado que auxilia na prática de política pública, ele saberá os

detalhes do local, porque convive rotineiramente com os moradores, os conhece, está

no cotidiano da região, e tornando-se também pilares de confiança. Pois, os

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moradores sabem para quem pode dirigir suas demandas e que possa perceber os

reflexos destas mudanças que acontecem de acordo com a dinâmica da área.

Figura 33 – Capa do site Bournville News, que informa 25 mil moradores de Bournville Village (Inglaterra)

Fonte: Reprodução

Para isso, tem que ocorrer a proximidade dos pontos focais com os moradores,

o comerciante, o servidor público, o taxista e mais pessoas que sempre circulam na

região para que possam dar sua contribuição sobre como melhorar o local em que

vive. Assim, se tem mais informações que possam ser analisadas e estruturadas para

atender as demandas da comunidade.

Também é possível entrar em contato e estreitar relações com outras

instituições que possam atender a demanda existente, oferecendo know-how sobre

como interagir com a comunidade e ajuda-la. A área deve possuír núcleos

informativos locais, integrando e informando a população sobre os acontecimentos

nas proximidades e como ela pode colaborar para fazer um lugar melhor.

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Figura 34 – Página de notícia hiperlocal do site Berkeleyside, de Berkeley/CA

Fonte: Reprodução

Nos Estados Unidos e Reino Unido, comunidades mantém informativos locais,

como jornais, revistas, sites, redes sociais e blogs, que produzem conteúdo local para

os interesses da região. A organização de jornalismo norte-americana Columbia

Journalism Review organizou em seu site um guia digital de startups de jornalismo

hiperlocal70 e também fez um mapa71 que apresenta onde estão instaladas as

‘redações hiperlocais’ e projetos de jornalismo pelo território dos Estados Unidos. Um

exemplo que é citado no artigo Captação de Dados pela Comunidade para a

Formação de Inteligência Social Hiperlocal, dos autores Walter Teixeira Lima Júnior e

Aparecido Antonio dos Santos Coelho é a cidade de Bournville Village, localizado na

70 CJR´s Guide to Online News Startups. Columbia Journalism Review. Disponível em: <http://www.cjr .org/news_startups_guide/online-news-websites/coverage/hyperlocal-news.php>. Acesso em: 03 abr. 2016. 71 ONLINE News Startups. Columbia Journalism Review. Disponível em: <https://www.google.com/ maps/d/viewer?hl=en&oe=UTF8&vps=4&msa=0&ie=UTF8&mid=znNQcpaqiK3Q.kvSjU3YesNuw>. Acesso em: 03 abr. 2016.

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região metropolitana de Birminghan, na Inglaterra, uma comunidade com cerca de 25

mil habitantes (segundo o censo de 2001)72.

Figura 35 – Online News Startups – Mapa de startups de jornalismo hiperlocal

Fonte: Columbia Journalism Review website

A pequena comunidade inglesa mantém o Bournville News73, que se apresenta

aos seus leitores como um ‘site independente da comunidade que provem notícias,

eventos e destaques que acontecem na área’. O periódico digital foi criado pelo

jornalista Hannah Waldram, em conjunto com o morador local, e corredor, Dave

Hartem. O site permanece no ar por ajuda de doações de voluntários da comunidade.

A página tem cinco categorias de informação – Notícias, Vida na Comunidade,

Cultura, Educação, Esporte e História, além das subcategorias, Sobre, Contato e

Descrição. Possui as redes sociais Facebook74 e Twitter75 e o portal mostra o

conteúdo, com destaque para fotos, notícias principais e secundárias. Como ressalta

a própria apresentação do site.

Nós reconhecemos que fazemos uma pequena cobertura de mídia em Bournville, este site é o local para 25 mil moradores que amam este

72 Office for National Statistics. 2010 Ward Population Density. Disponível em: <http://www.ons.gov.uk /ons/about-ons/business-transparency/freedom-of-information/what-can-i-request/published-ad-hoc-data/pop/april-2013/mid-2009-population-density-for-2010-wards-in-england-and-wales.xls>. Acesso em: 14 fev. 2015. 73 Bournville News. Disponível em: <http://www.bournvillevillage.com>. Acesso em: 16 fev. 2015. 74 Bournville na rede social Facebook. Disponível em: <http://www.facebook.com/bournvillenews>. Acesso em: 16 fev. 2015. 75 Bournville na rede social Twitter. Disponível em: <http://www.twitter.com/bournvillenews>. Acesso em: 16 fev. 2015.

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lugar para compartilhar informações, fotos e criar conversas sobre a nossa comunidade. (BOURNVILLE NEWS, tradução nossa).

O morador desta cidade inglesa tem as informações sobre a sua região e o que

acontece no cotidiano do seu entorno, informações sobre seu desenvolvimento

econômico e cultural da área, o site promove a aproximação os moradores com o

lugar, com senso de identidade, trabalhando junto para fazer uma região melhor.

1.8 Hiperlocal profissional no Brasil e na Espanha

No Brasil também não é diferente. Porém, há poucas iniciativas de jornalismo

hiperlocal no País, o recorte mais próximo que podemos fazer é com existência e

sobrevivência dos jornais de bairro que estão nos níveis de publicação hiperlocal, pois

são veículos informativos restritos a uma só comunidade ou comunidades vizinhas.

São poucos, mas ainda existem. Por exemplo, o caso da companhia paulistana

Empresa Jornalística Grupo Bairros Unidos, que faz há quase 20 anos publicações

para os distritos do Jabaquara e Ipiranga. O Jabaquara é um dos maiores distritos em

tamanho de área na cidade e segundo os dados da Prefeitura de São Paulo, a região

tem 14,1 km quadrados e tem 212.504 mil habitantes (2010), localizado na região

Centro-Sul de São Paulo, possui o Índice de Desenvolvimento Humano Elevado,

chegando aos 0,858 pontos. Já o Ipiranga, que também é um distrito tradicional da

região Central de São Paulo, tem 10,5 km quadrados de área, com 94.787 habitantes

(2010), com um IDH de 0,883, elevado, que é considerado bom para os padrões de

desenvolvimento da cidade. Nestes dois bairros de São Paulo, a empresa tem as

publicações Jabaquara News76, que foi fundado em 2000 e Ipiranga News, que foi

fundado em 1997 nas versões web e impresso. O jornal Ipiranga News77 é distribuído

nos bairros do Ipiranga, Alto do Ipiranga, Jardim da Saúde, parte da Vila das Mercês,

Bosque da Saúde, Chácara Klabin, parte de São João Clímaco, parte da avenida do

Cursino, Jardim da Glória, parte do Jardim Santa Cruz, parte da Vila Livieiro, Moinho

Velho, Sacomã, Vila Carioca, Vila Gumercindo, Vila Monumento, Vila Nair, Vila Vera

e parte do Cambuci.

76 Site do jornal Jabaquara News. Disponível em <http://www.ipiranganews.inf.br/_Jabaquara News/index.asp>. Acesso em 22 set. 2015. 77 Site do jornal Ipiranga News. Disponível em <http://www.ipiranganews.inf.br/>. Acesso em 22 set. 2015.

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Figura 36 – Capa do jornal brasileiro de bairro Jabaquara News

Fonte: Jabaquara News, edição de 7 abr. 2016 a 13 abr. 2016

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Já o Jabaquara News é distribuído nos bairros Jabaquara, Mirandópolis,

Planalto Paulista, Chácara Inglesa, Bosque da Saúde, São Judas, Conceição, Vila

Guarani, Parque Jabaquara, Cidade Vargas, Vila Mascote e Vila Mariana.

De acordo com o expediente publicado nos sites dos jornais, o grupo distribui

semanalmente mais de 55 mil edições para os moradores destas regiões. Em ambas

as publicações, tenta-se trazer notícias que são próximas ou relacionadas à

comunidade, o cotidiano e as ações do poder público naquelas regiões.

Apesar das publicações não atingirem por completo as áreas dos bairros e do

distrito, estes jornais têm algumas características muito peculiares em relação aos

veículos hiperlocais, como a proximidade com a comunidade e uma ferramenta na

prestação de serviço para auxiliar aqueles moradores.

Figura 37 - Capa do site Ipiranga News, da empresa Grupo Bairros Unidos

Fonte: Ipiranga News

Um outro caso bem resolvido de hiperlocal é o do periódico espanhol, Hoy. Este

jornal está localizado na região autônoma de Extremadura, uma área de 41.634 km

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quadrados, com população de 1.105.481 habitantes, segundo o censo local. Este local

é dividido em duas províncias: Cáceres e Badajoz. A publicação tem uma edição

nacional, publicada diariamente no impresso e conta com atualizações diárias na

internet. Apesar do periódico ter uma edição geral para toda a província, a empresa

jornalística mantém uma rede de hiperlocais, ou em espanhol, a “Red de

Hiperlocales”, e nela, a Hoy mantém jornalistas espalhados em 30 cidades das duas

províncias de Extremadura onde eles são responsáveis por atualizar o conteúdo

daquela região com o apoio dos moradores locais.

Figura 38 - Capa do HoyExtremadura – Red de Hiperlocales

Fonte: HoyExtremadura

Nos sites locais, o morador conta na própria capa da edição hiperlocal os

botões “Crear notícia” (Criar notícia), “Subir fotos” (Subir imagens) e “Crear evento”

(Criar evento). O morador da cidade que tem a cobertura hiperlocal do Hoy pode

acrescentar informações que jugue relevante dividir com a sua comunidade e ele faz

o contato com o jornalista da região para que providencie a publicação do conteúdo.

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A informação é publicada tanto na edição digital, como na edição impressa do

periódico hiperlocal. Para o leitor, a página hiperlocal contém informações distribuídas

nas categorias de Atualidade, Gente próxima, Serviços, Guia Útil, Fotos e Vídeos.

Para sites hiperlocal de maior sucesso, não basta apenas transmitir informações, eles se envolvem em um caminho de duas vias com os seus leitores. Isso significa uma boa gestão da comunidade é fundamental para a construção de um serviço hiperlocal que está prosperando (RADCLIFFE, 2012, pág. 20).

Figura 39 – Contatos da Red de Hiperlocales - Responsável pela edição local

Fonte: HoyExtremadura

As cidades que o Hoy alcança são: Badajoz: Calamonte, Campanario, Castuera,

Fregnal de la Sierra, Fonte de Cantos, Guareña, Herrera del Duque, Jerez,

Monesterio, Olivenza, Puebla, Quintana, La Zarza, Lierena, Los Santos, Talarrubias,

Valverde, Villafranca, Villanueva del Fresno e Zalamea. Província de Cáceres: Arroyo,

Casar, Coria, Jaraiz, Logrosán, Malpartida, Miajadas, Navalmoral, Talayuela,

Trujillo.

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Figura 40 - Capa “Nacional/Extremadura” do periódico Espanhol ‘Hoy”

Fonte: Hoy, Diário de Extremadura, 27 set. 2015.

Este conteúdo é vendido no site, em bancas de jornais e por meio de aplicativo

para iOS e Android. Além disso, os mesmos aplicativos também possibilitam que os

moradores enviem conteúdo referente a sua cidade para o editor-responsável por

determinada edição hiperlocal.

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Figura 41 – Capa digital “Hiperlocal” do periódico Espanhol ‘Hoy”, em Talayuela

Fonte: Hoy Talauela

O especialista Richard Millington, identificou quatro pontos fundamentais para

que a comunidade possa ter um envolvimento sustentado onde possam aprender

engajar por meio da comunicação, criando um senso de oportunidade e realização

entre seus pares.

São eles: Poder para fazer a mudança, ter a oportunidade de juntar forças para

resolver os problemas locais; Reconhecer e valorizar, conhecer melhor o meio em que

se vive; Afiliação com seus amigos, parcerias com os moradores são importantes para

engajamento na solução dos problemas na comunidade; e Senso de realização, onde

todos possam ter orgulho do local em que vivem pois todos contribuem com o possível

para fazer a comunidade um lugar melhor (RADCLIFFE, 2012, p. 20).

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2. Big Data está entre nós

2.1 Uso de Big Data na comunicação

Com a expansão da web, muitas informações foram jogadas na rede e com

isso, temos também o aumento de grande volume de compartilhamento de dados.

Assim, o número de bases de dados tem crescido de forma rápida e acelerada. Na

internet, muitos dados estão indexados e são fáceis de serem encontrados via

mecanismos de busca, como Google, Yahoo!, DuckDuckGo e entre outros

buscadores. Outra parte, que é bem maior, está desestruturada e espalhada ou

espelhada na rede que chamamos de Deep Web, que é a rede ainda não explorada,

ou melhor, indexada pelos mecanismos de busca padrão. E lá é um caminho para se

conseguir bastante informação para se construir um conteúdo com qualidade e útil

para a sociedade da informação em que vivemos, a era do Big Data. Esse termo é

nada mais que um grande conjunto de dados armazenados, são grandes dados

complexos, muito grandes em que poucos aplicativos, softwares, dispositivos de

dados conseguem fazer a exploração destas informações, pela densidade e pelo

tempo que o próprio computador demora para fazer o levantamento. Como o

pesquisador Walter Teixeira Lima Júnior encontrou em seu artigo “Big Data,

Jornalismo Computacional e Data Jornalismo”.

"Big data" refere-se ao conjunto de dados (dataset) cujo tamanho está além da habilidade de ferramentas típicas de banco de dados em capturar, gerenciar e analisar. A definição é intencionalmente subjetiva e incorpora uma definição que se move de como um grande conjunto de dados necessita ser para ser considerado um big data (LIMA JR apud CHUI et al, 2006, p.211).

Estas informações podem ser retiradas dos computadores, smartphones,

relógios inteligentes, câmeras digitais, softwares, RFID, sensores de terra, sensores

aéreos e claro, além da própria web que nós manuseamos normalmente no dia a dia,

conhecida por Surface Web e da Deep Web.

Mike Bergman, dono da empresa Bright Planet78, foi o primeiro a cunhar o termo

Deep Web. Ele acrescenta que a busca por informação neste ambiente pode ser

comparada a derramar líquido em um oceano. Pois, se atualmente na "Era da

Informação" os dados são mais importantes e podem mudar cenários, fatos, histórias

78 BrightPlanet: deep web inteligente. Disponível em: <http://www.brightplanet.com/>. Acesso em: 1 abr. 2016.

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e rumos, a deep web é apenas mais um dos caminhos ou alternativas que podem

trazer informações necessárias para se construir conteúdo, fato ou história.

Na atual configuração tecnológica proporcionada pela Internet, estruturada pelo intermédio do aumento de velocidade de transmissão, pela evolução das máquinas computacionais com grande capacidade de processamento e armazenamento de dados, com o desenvolvimento de linguagens de programação cada vez mais amplas e que negociam de várias formas com robustos bancos de dados, a atuação profissional do Jornalismo também deve possuir outras configurações (LIMA JR., 2012, p. 210).

No whitepaper escrito por Bergman, com o título The Deep Web: Surfacing

Hidden Value, informa que foi realizado um estudo quantitativo do volume e quantas

informações existem na camada menos explorada e mais volumosa de dados na web.

O levantamento chegou nos seguintes números: a informação pública na rede

profunda é de atualmente 400 a 550 vezes maior que o volume de dados na World

Wide Web79; lá também tem pelo menos 7.5TB (terabytes) de informação comparados

aos 19 terabytes de informações na surface web ou web superficial; na deep web tem

550 bilhões de documentos individuais se comparado com um bilhão na surface web;

há pelo menos 200 mil sites nas profundezas da web; 70 dos maiores sites da deep

web contém coletivamente cerca de 750TB de informação, ou seja, 40 vezes o

tamanho da web convencional; os sites profundos recebem 50% mais tráfego mensal

que os sites indexados na web superficial e os sites na deep web são mais ativos que

os sites na superfície; a qualidade da deep web é de 1 mil a 2 mil vezes superior que

a da web na superfície; o conteúdo na web profunda é relevante para as necessidades

de informação, mercado e de domínio; mais da metade do conteúdo da deep web está

classificado em bancos de dados específicos; e 95% das informações vindas da web

profunda é acessível e gratuita ao público, sem cobrança de taxas ou assinaturas

(BERGMAN, 2001).

A deep web deve ser citada para se pensar como mais uma alternativa na

reconstrução ou reconfiguração do jornalismo e quando se não é possível conseguir

informações por meios oficiais, é necessário fazer uma investigação digital com meios

79 A World Wide Web, conhecida como Web ou WWW, é um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na Internet. Os documentos podem estar na forma de vídeos, sons, hipertextos e figuras. Para consultar a informação, pode-se usar um programa de computador chamado navegador (browser) para descarregar informações chamadas "documentos" ou "páginas" de servidores web e são mostrá-los na tela do usuário. O usuário pode então seguir as hiperligações na página para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta para o servidor para interagir com ele. O ato de seguir as hiperligações é chamado de 'navegar na web'.

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tecnológicos apropriados para se chegar a verdade, a transparência, que tudo fique

as claras, que é uma das premissas do jornalismo.

Com o grande aumento de banco de dados, a informação pode ser colhida e

direcionada para várias finalidades, e claro, até mesmo para a prática do bom

jornalismo numa sociedade complexa bombardeada com muita informação vinda de

todas as camadas da web. Mesmo com a surface web ou web superficial, é possível

conseguir algumas informações importantes para construir informações que possam

ser propagadas pela mídia e que possam ajudar na tomada de decisão das pessoas.

A mídia tradicional já trabalha para conseguir dados por meio de hacking journalism,

para explorar novas habilidades para encontrar novas oportunidades de

desenvolvimento de mídia e conteúdo que tenham relevância e valor social. Este

trabalho acontece por meio de estratégia com apoio das máquinas.

A “Era do Big Data” fortalece o conceito de hacking journalist. Tal configuração profissional tem se consolidado devido à compreensão sobre as novas habilidades funcionais que o produtor de conteúdo informativo de relevância social deve ter para atuar em um novo ecossistema midiático, suportado por máquinas computacionais conectadas em redes telemáticas (LIMA JR., 2011, p. 51).

Além disso, já é possível conseguir informações antes restritas só aos governos

por meio Lei de Acesso à Informação – LAI (Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011)80,

como é o caso do Brasil e por aí é a porta de entrada da exploração da surface web,

onde é possível entrar nas redes dos governos, para agilizar o acesso ao grande

volume de dados públicos para que possam ser mensurados para determinada

finalidade jornalística, como por exemplo, investigar os gastos públicos de políticos,

como aconteceu no The Guardian, ou para rastrear o envio de verbas públicas

federais aos municípios e se eles estão gastando o dinheiro conforme as diretrizes

das leis federais, por exemplo.

E é claro, como contextualizado anteriormente, a deep web é uma grande

protagonista, vide o caso da organização sueca Wikileaks, originada e consciente da

cultura da web profunda, recebeu vários documentos secretos vazados de governos

e empresas sobre assuntos delicados, como espionagem, telegramas secretos de

governos, manual de instruções para tratamento dos presos na prisão norte-

80 Lei de Acesso à Informação – LAI. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 1 abr. 2016.

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americana de Guantánamo, em Cuba, que continham orientações sobre como torturar

os prisioneiros e humilhá-los para extrair informações deles, arquivos ocultos do

governo dos Estados Unidos sobre a guerra no Afeganistão, que reportou a morte de

vários civis e a morte dois jornalistas da agência de notícias Reuters durante a

ocupação do exército norte-americano no Iraque.

Essas informações que foram vazadas pelo site Wikileaks contou com o apoio

de vários jornais de grande circulação na Europa e Américas como The Guardian, The

New York Times, Le Monde, El Pais, Der Spiegel, Folha de S. Paulo81 e O Globo para

divulgar os telegramas confidenciais e secretos do Departamento de Estado dos

Estados Unidos. Os documentos foram localizados e separados de acordo com cada

nacionalidade da publicação jornalística. No caso do Brasil, a Wikileaks conseguiu

mais de 2000 telegramas e documentos em que os Estados Unidos citavam o País82.

Ainda em 2011, o site saiu do ar devido a brigas internas na organização,

pressões políticas e a falta de financiamento para manter a página funcionado. Para

complicar mais a situação da Wikileaks, que recebia doações por meio de sistemas

de cartão de crédito ou de pagamento digital, foram pressionadas a bloquear o envio

de dinheiro doado a organização. Instituições financeiras norte-americanas como

PayPal, Mastercard e Visa sofreram fortes pressões políticas, principalmente dos

Estados Unidos para que fosse realizado o bloqueio83.

Em 2012, o criador Julian Assange, que recorria na justiça inglesa da decisão

de extradição à Suécia devido a acusação de crimes sexuais, teve de ir para um asilo

político na embaixada do Equador, em Londres, na Inglaterra. Assange alega que

essa extradição seria uma consequência pela publicação dos documentos vazados

dos governos e empresas que foram publicados pelo WikiLeaks, com apoio de parte

da mídia mundial. Este caso foi uma estratégia editorial global que funcionou, pois foi

possível a partir de uma boa articulação, habilidade de estruturação de informação

81 WIKILEAKS: Segredos da Diplomacia. Folha de S. Paulo. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/ especial/2010/wikileaks/>. Acesso em: 31 mar. 2016. 82 RODRIGUES, Fernando. Folha e WikiLeaks: como se estabeleceu o contato. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 fev. 2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il06022011 07.htm>. Acesso em: 31 mar. 2016. 83 SILVA, Rafael. WikiLeaks suspende publicação de documentos por falta de dinheiro. Tecnoblog. Disponível em: <https://tecnoblog.net/80556/wikileaks-suspende-publicacao-documentos/>. Acesso em: 1 abr. 2016.

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para que o conteúdo pudesse ter relevância social e assim criando valor para dar

transparência as evidencias84.

Em maio de 2015, o Wikileaks voltou a aceitar documentos secretos de forma

anônima85. A organização lançou uma versão de submissão de vazamentos que é

executada no navegador seguro The Onion Router ou Tor Project86, que é um

navegador criptografado, seguro contra interferências ou invasores, apropriado para

navegação no ambiente da deep web. O próprio Julian Assange alega que essa nova

versão da página está mais segura e sofrerá menos ataques pelo ambiente que está

instalado, a web profunda. O site ainda vai divulgar mais documentos que estão

guardados e promete divulgar os novos que entrarem pelo sistema mais seguro. Um

outro exemplo mais recente é o caso do The Panama Papers8788. Esta investigação

jornalística começou em 2015, com um contato de uma fonte anônima ao jornal

Süddeutsche Zeitung (SZ), da Alemanha. Esse contato conseguiu documentos da

empresa de advocacia panamenha Mossack Fonseca que cria empresas de fachada

anônimas (offshore) em qualquer lugar do mundo. Estas empresas ajudam seus

proprietários a esconder negócios e fortunas não declaradas aos governos. A redação

da SZ passou a receber um volume de dados enorme, na ordem de 2,6 terabytes de

dados. O caso Cablegate, recebido pela Wikileaks foi de 1,7 GB.

Nunca jornalistas no mundo receberam uma denúncia com tamanho volume de

informação. Estes dados são 11,5 milhões de documentos com informações da

Mossack Fonseca. Neles tem informações secretas de políticos influentes,

presidentes de países, reis, ditadores, empresários, funcionários da FIFA, traficantes,

atletas e celebridades.

Os dados fornecem insights raros em um mundo que só pode existir nas sombras. Isso prova como uma indústria global liderado por grandes bancos, escritórios de advocacia e empresas de gestão de ativos secretamente

84 WHITTAKER, Zack. ‘WikiLeaks’ Julian Assange granted asylum in Ecuador. CNET, San Francisco, August 16, 2012. Disponível em: <http://www.cnet.com/news/wikileaks-julian-assange-granted-asylum-in-ecuador/>. Acesso em: 1 abr. 2016. 85 GREENBERG, Andy. Wikileaks finally brings back its submission system for your secrets. Wired, San Francisco, January 05, 2015. Disponível em: <http://www.wired.com/2015/05/wikileaks-finally-brings-back-submission-system-secrets/>. Acesso em: 1 abr. 2016. 86 The Onion Router Project. Disponível em: < https://www.torproject.org/>. Acesso em: 1 abr. 2016. 87 OBERMAIR, F; OBERMAYER, B; WORMER, V; JASCHENSKY, W. Panama Papers: The secrets of dirty money. Süddeutsche Zeitung. Munich, April 3, 2016. Disponível em: <http://panamapapers. sueddeutsche.de/articles/56febff0a1bb8d3c3495adf4/>. Acesso em: 3 abr. 2016. 88 THE PANAMA Papers. The International Consortium of Investigative Journalists. Disponível em: <https://panamapapers.icij.org/>. Acesso em: 03 abr. 2016.

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administra as propriedades do mundo rico e famoso: de políticos, funcionários da FIFA, fraudadores e contrabandistas de drogas, de celebridades e atletas profissionais (OBERMAIER et al, 2016).

Por causa do imenso volume de dados, o jornal alemão fez uma parceria com

o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e parcerias com 376

jornalistas de 109 veículos de comunicação de 76 países. Os parceiros brasileiros

foram o portal UOL, o jornal O Estado de S. Paulo, que já tem um núcleo de dados, e

a emissora de televisão RedeTV!. Os documentos analisados são do período de 1977

a 2015, envolvendo 14 mil clientes e 214.488 empresas. Além disso, entre os

envolvidos estão 140 políticos de mais de 50 países. Dos 11,5 milhões de

documentos, 4,8 milhões são e-mails, 3 milhões banco de dados, 2,1 milhões de

documentos pdf, 1,1 milhão de imagens, 320 mil documentos de texto e outros 2,2 mil

formatos de arquivos.

Entretanto, a quantidade espantosa de dados disponíveis não quer dizer muito se não puder ser relacionada, transformada em informação estruturada e, no caso do jornalismo, utilizada para construir conteúdo de relevância social, aproveitando a “Era do Big Data” para criar valor em diversos caminhos: criando transparência (órgãos públicos); habilitando descobertas experimentais, criando segmentações (exemplo: dados personalizados); substituindo/auxiliando processos de decisão (algoritmos) e inovando nos modelos de negócio (LIMA JR., 2011, p. 50).

Ou seja, de acordo com o estudo de conclusão de mestrado, Clash of The

Titans: Impact of Convergence and Divergence on Digital Media, de William Chee-

Leong Lee, do Massachusetts Institue of Tecnology (MIT), a tecnologia torna-se um

dos motores da mudança nas sociedades, sendo protagonista do mecanismo de

transferência de informação entre as pessoas, que não derivam apenas as

capacidades de produzir e transmitir a informação, mas bem como montar,

armazenar, gerenciar e recuperar informações. Se a tecnologia avança, a capacidade

de produzir e divulgar informações melhora ao mesmo tempo (2003, p. 11).

Cabe ressaltar que explorar o uso de grandes volumes de informação tornam-

se importantes para esclarecer informações ocultas e traz para o jornalismo um novo

patamar na qualidade da cobertura jornalística. Também é perceptível que o

jornalismo terá cada vez mais que contar com ajuda de tecnologia e outros

especialistas, principalmente os de tecnologia da informação para vasculhar as

profundezas dos bancos de dados para levantar a história que traz luz e lucidez para

a sociedade. Se olhar no prisma do pesquisador Walter Lima (2011, p.48), tem que

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ser considerado que isso acontece devido ao pensamento computacional, que se

torna uma habilidade e pensar computacionalmente envolve resolver problemas que

podem ser executados por sistemas computacionais e emular certos modelos de

comportamento humanos, de forma reduzida, nas máquinas digitais. Com isso, o

trabalho é otimizado e feito com maior assertividade e se chega nas respostas

necessárias.

2.2 Data mining para extrair dados e atender demandas

As empresas de mídia devem focar em novas estratégias de levantamento de

histórias com o uso de Big Data, criando e desenvolvendo núcleos de conteúdo,

núcleos de jornalismo de dados, composto por jornalistas, programadores, cientistas

de dados e especialistas em Big Data para conseguir com precisão levantar histórias

factuais que realmente façam a diferença para o público. Pois, ao mesmo tempo que

as empresas de mídia se mexem para adaptar a essa nova estratégia, as companhias,

os governos, poder público em si também começa a se mexer para tentar blindar ou

filtrar informações que possam ser comprometedoras a um governo, instituição e ao

funcionamento do Estado.

Por isso, os meios de comunicação devem também ser desenvolvedores,

devem buscar ser hubs de informação confiáveis para o seu público, como por

exemplo, partir para o desenvolvimento de aplicativos específicos e principalmente

seguros, que protejam o anonimato das pessoas que queiram fazer denúncias sem

ser rastreadas, ao mesmo tempo, deve buscar histórias e fatos para construir

informações, as redações com profissionais mais bem preparados, devem entender

como funciona as então TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação), não é para

ser um especialista em computação e programação, mas é necessário compreender

o básico, ou até mesmo trabalhar em parceria com especialistas de dados para

vasculhar informações na rede, buscar grandes repositórios de dados, para estrutura-

los, bem como em bancos de dados abertos ao público, ou bancos de dados dos

governos e instituições. Isso é o Open Data.

A partir destes dados abertos, inúmeras possibilidades podem ser exploradas,

pois se há grandes bancos de dados fechados, que poderiam ajudar a entender a

dinâmica de sua sociedade e os custos como um todo, já possível entrar pela parte

livre dos hubs de bancos de dados livres para compreender se a população precisa

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de mais saúde, segurança, se hospital consegue atender as demandas do bairro, ou

se o terminal de ônibus da região comporta o aumento da demanda em um

determinado período do ano. Todas essas informações são inseridas nestes bancos

de dados, praticamente a cada piscada de olho e em uma destas piscadas de olho

pode está uma nova história que pode fazer mudar para melhor o cotidiano de uma

sociedade. A informação ganha valor e importância singular para todo o processo,

ajudando na tomada de decisão das políticas públicas, e faz a diferença para as

pessoas que precisam resolver seus problemas.

Pode-se considerar um Big Data a Receita Federal, o Hospital das Clínicas de São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), o Controle de Tráfego Aéreo, o New York Times entre outros. No caso da Receita Federal, por exemplo, é um Big Data não disponível, ou seja, com acesso livre ao público. Mas existem repositórios abertos de dados, denominados de Open Data, que possuem dados públicos e podem ser manuseados por quem se interessar. É importante ressaltar que o Big Data, na sua grande maioria, é um conjunto de dados que a cada milésimo de segundo são inseridos novos (LIMA JR., 2012, p. 211).

Ferramentas estão disponíveis, basta um pouco de treinamento para depois de

sua compreensão para fazer o mapeamento, separação, análise e por fim filtrar o

conteúdo que é relevante para um trabalho jornalístico e até mesmo para um trabalho

que contribua para o público como um todo.

Para isso, é necessário observar além dos limites, recrutando pessoas e

profissionais capacitados que possa ajudar a colher dados com as instituições

governamentais, públicas e privadas para que seja possível a obtenção do maior

volume de dados possível para que as informações e análises utilizadas por meio do

Big Data sejam precisas e atendam às necessidades da área levantada. Outra forma

de raspar estes dados é por meio de desenvolvimento de APIs.

O API significa Interface de Programação de Aplicativos e tem o papel de ter

um conjunto de rotinas e funções estabelecidos por um software, geralmente voltado

para serviços, com a finalidade de estender as funcionalidades do programa. Com os

dados disponíveis, de uma determinada região, por meio aplicativo desenvolvido,

estes dados podem ser disponibilizados por meio de API criado com código aberto,

para que todos tenham acesso a informação de forma dinâmica e transparente. Com

estas informações disponíveis, estes dados podem ser transformados em novos

aprimoramentos e ampliando as funções e dando melhorias ao aplicativo ou até

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mesmo transformando em um programa mais amplo que possa avaliar diversas

possiblidades do local pesquisado.

Enfim, com o uso destes dados minerados, podemos fazer um jornalismo com

mais qualidade e precisão com a ajuda dos computadores. A taxa de erro

provavelmente será baixa ou praticamente os erros não vão existir, pois todas as

informações serão apuradas por meio do sistema de análise de dados, por meio de

captação de informações via aplicativo e pesquisa de campo na região recortada para

o trabalho de pesquisa.

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CAPITULO V – ESTUDOS DE CASO

1. Objetos de estudo e aplicação da metodologia

Para a escolha dos estudos de caso, foram necessários alguns critérios para

que fossem determinantes e primordiais na definição sobre o que é inovador no âmbito

do jornalismo, informação e da comunicação. São classificados os formatos de mídias,

como web, TV, rádio, impresso, meio de comunicação que faz a prática e como é feita

a estratégia de determinada mídia para cobertura jornalística.

A pesquisa avaliou 9 produtos: 4 empresas de mídia, 1 iniciativa hiperlocal, 2 jornais de bairro e 2 aplicativos informativos. Os produtos escolhidos foram os

citados nesta dissertação. São eles: O Estado de S. Paulo (impresso, web), TV Globo/G1 (TV, web), Jabaquara News e Ipiranga News (impresso e web), da

Empresa Jornalística Bairros Unidos e BandNews FM (rádio), do Brasil; Hoy

(impresso e web), da Espanha; BBC (TV, web, multimídia) e Bournville News (web),

do Reino Unido.

Cada veículo foi classificado de acordo com o tipo de mídia principal em que

atua, impresso, televisão, jornal de bairro, rádio e jornais hiperlocais. Também foram

acrescentadas quatro ferramentas com funções informativas, mas que não foram

desenvolvidas apenas para funções jornalísticas: o Waze (Israel) e o SeeClickFix

(EUA). Em cada objeto, foi analisado as seguintes características: uso de redes

sociais, o uso de aplicativo de mensagens, uso de aplicativos de localização, uso de

aplicativo de geolocalização, uso de gamificação, uso de big data (dados) e open

data e como que cada característica afeta o processo de produção de conteúdo ou a

produção jornalística.

Foi analisado como que novas mídias digitais ascendentes e aplicativos de

mensagens como WhatsApp, Telegram e Snapchat impactam na cobertura

jornalística. Uma tabela foi desenvolvida para cruzar as informações de uso dos

produtos com as categorias e essas amostras estão centradas principalmente nas

quatro questões da hipótese. Sobre como que as narrativas emergentes acrescentam

novos atributos às narrativas jornalísticas tradicionais e consolidadas, ou seja, como

que as novas formas de contar histórias podem ajudar a aprimorar o que já está

consolidado no jornalismo. Seria possível buscar novos formatos e olhares para contar

história com auxílio de novas tecnologias? Além disso, será verificado se há

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modificação nos processos de produção de informação de relevância social em

relação aos processos jornalísticos tradicionais e consolidados: mudou a forma de

conseguir informação que seja realmente importante para as pessoas? Como que isso

é feito em relação ao que já é praticado nas redações de jornalismo? Será verificado

se o uso de informações insertadas pelos usuários, em tempo real, melhora a

qualidade das narrativas emergentes através de dispositivos móveis. Isto é, se as

narrativas são melhoradas quando os usuários inserem as informações em tempo real

por meio de aplicativos. E, se a gamificação ou ludificação do jornalismo altera a

percepção de credibilidade do mesmo, ou seja, a pesquisa busca avaliar se por meio

do universo lúdico, como narrativas e ambientes lúdicos podem alterar ou não a

credibilidade do produto jornalístico.

Após cruzar os produtos com cada tipo de ferramenta e hipótese levantada, foi

constituída uma tabela com os resultados de cada análise em que é apontada a

característica mais avançada. Cada produto recebeu uma determinada classificação

para cada pergunta da hipótese dentro dos três níveis colocados: 1, para aplica –

produto atende as hipóteses; 2, para não se aplica – produto não atende as

hipóteses, 3, aplica-se em parte – aplicação parcial das hipóteses. Para mensurar

qual mídia que aplica mais o uso de novas narrativas e como que cada nova mídia

utilizada impacta no processo de produção jornalística. Não será definida uma nota

para escolher o melhor produto, não é a função desta pesquisa acadêmica.

Todos os produtos foram avaliados conforme os objetivos gerais: se as novas

narrativas e dados agregam qualidade no trabalho jornalístico; se as novas mídias

alteram o processo de produção de conteúdo; e nos objetivos específicos, serão

analisados como que as novas mídias que captam dados, jornalismo hiperlocal e

dados abertos impactam na produção de conteúdo. Foi contextualizado o uso e a

função de cada mídia emergente, depois como que cada veículo faz a sua estratégia

de uso das midas emergentes e de dados e logo em seguida será apresentada a

tabela com a análise, para depois levantar as respostas. Entre as mídias e ferramentas

estudadas foram verificadas qual mídia, técnica ou tecnologia é a mais inovadora e

vanguardista em jornalismo, comunicação e informação, qual que atende melhor o

seu público, qual mídia faz a melhor distribuição e interação com sua audiência e qual

delas é a mais ágil e eficiente na entrega do conteúdo e informação e claro, como que

cada redação lida com as atualizações.

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2. Mídias emergentes

2.1 Redes sociais: Facebook e Twitter

As ferramentas tecnológicas mais utilizadas nos veículos de comunicação são

o microblog Twitter e a rede social Facebook. Após o Orkut89, foram estas duas redes

que abriram as portas das redações para o público e aos poucos os jornalistas foram

perdendo o preconceito e enxergando possiblidades de novos usos para as

ferramentas. O Twitter é considerado uma eficiente fonte de notícias em tempo real,

onde todos os usuários usam esta rede social como um listão que publica todas as

notícias de todos os veículos de comunicação que estejam conectados a esta rede

social. Como já explicado anteriormente, as empresas de comunicação praticamente

são obrigadas a utilizar uma ferramenta de mídia social e o Twitter é uma das

primeiras redes instaladas para chamar ou se aproximar do seu público. Hoje em dia,

é primordial que uma empresa jornalística, e até as que não são de comunicação,

queriam se consolidar nesta mídia, é relevante e importante pensar que é necessário

ter uma conta de rede social no aplicativo Twitter. No entanto, não basta apenas só

ter uma conta aberta. É necessário ter uma estratégia de publicação, como

providenciar o engajamento com o público, manter um diálogo e mostrar-se sempre

presente, à disposição, informando a audiência e mantendo uma conversa. É um

relacionamento que pode ser proveitoso para ambos os lados. Primeiro do lado da

redação, é que o jornalista que está manuseando a rede social tem mais um canal de

monitoramento de informações.

A próxima notícia ou furo de reportagem pode vir de uma publicação por Twitter.

Cabe então a redação ficar atenta ao que acontece neste ambiente virtual. Bem como

manter contatos ao conversar com leitores que enviam mensagens ou solicitações de

ajuda. O leitor ou audiência pode ser um canal importante para sugestões de pautas

e demandas factuais. É mais um novo contato, uma fonte que o jornalista pode cultivar

para angariar informações no seu trabalho cotidiano. Além disso, é uma ferramenta

importante para o monitoramento da concorrência. Pois, como foi descrito antes, é

89 Orkut foi uma rede social estabelecida em 2004 por um funcionário da Google chamado Orkut Büyükkökten. A rede social com o domínio ‘http://www.orkut.com’ foi muito popular no Brasil com suas comunidades e a possibilidade da realização de networking e contatos abrindo as portas para a popularização de outras redes sociais semelhantes como MySpace e Facebook. O Orkut foi desativado em 2014 para dar espaço a sua plataforma Google Plus.

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necessário marcar posição no Twitter e há vários sites, portais de conteúdo que

querem marcar presença chegando primeiro ao leitor, para assim, fidelizar o leitor ao

produto. É uma ferramenta estratégica para publicação de conteúdo, monitoramento

de informações e de contatos diretos com a fonte ou leitor.

No Facebook, assim como o Twitter, também é possível monitorar a lista de

informações, como o feed de notícias (News Feed), que o Facebook copiou do Twitter

para não perder usuários para o micro blog. É uma ferramenta de rede social para

monitorar personalidades públicas, instituições, concorrentes e claro, é possível entrar

em contato com fontes, que podem conversar com mais facilidade e descrição por

meio do aplicativo Facebook Messenger. O público pode enviar uma mensagem direto

para o Facebook da redação para solicitar demandas, fazer denúncias e sugerir

pautas relevantes para ele.

2.2 Aplicativos de mensagens: WhatsApp e Snapchat

O WhatsApp foi desenvolvido em 2009 por veteranos do Yahoo!, e hoje

pertencente ao Facebook, o WhatsApp Messenger, é um aplicativo multiplataforma

de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones. Além de

mensagens de texto, os usuários podem enviar imagens, vídeos, mensagens de áudio

de mídia e podem ligar para qualquer contato de sua agenda que possua WhatsApp.

O aplicativo pode ajudar na construção de histórias, via colaboração da

audiência e captação de informações para apuração dos fatos. Quando o WhatsApp

chegou ao universo da internet, jamais foi pensado que ele teria tantas funções do

que apenas um aplicativo de mensagens. Por meio do uso do número de um celular,

que todo mundo já possui, o aplicativo capilarizou entre as pessoas e tornou-se uma

das principais ferramentas de comunicação usadas no Brasil e no mundo. Além do

WhatsApp, surgiram vários genéricos, como por exemplo o russo Telegram e o chinês

WeChat.

O foco neste estudo será voltado para o WhatsApp e Telegram devido a suas

semelhanças. O WhatsApp tornou-se uma eficiente ferramenta de acesso às

redações. O público estando ‘próximo a notícia’, pode gravar um vídeo, áudio, tirar

uma foto para depois enviar a notícia inicial ao jornalista. A notícia chega de forma

mais rápida, a produção jornalística e até mesmo a reportagem tornam-se mais

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eficientes. Pois, na produção jornalística é possível levantar direto com a pessoa que

enviou o fato as primeiras informações e na reportagem porque o repórter pode enviar

textos, áudios e informações extras para a redação.

Com isso, vários veículos de comunicação utilizam de WhatsApp para receber

as informações de forma mais rápida do público.

O Snapchat vem ganhando espaço com o público, principalmente o público

jovem. Com este aplicativo é possível fazer vídeos curtos com animações, artes para

contar novidades. Como foi dissertado nesta pesquisa, a BBC, do Reino Unido, fez

uma experiência bem-sucedida, no programa BBC Panorama, que mostrou a situação

dos refugiados do Oriente Médio, África, Síria e outros países pobres da região que

tentavam atravessar as fronteiras da Europa para escapar dos reflexos da guerra,

fome e miséria.

O repórter fez do aplicativo Snapchat um diário de bordo em formato de vídeo

que pudesse ser acessado pelo público. Lá ele contextualiza e conta cada situação

que encontrava pelo seu trajeto. O aplicativo pode ser útil no jornalismo para atrair o

público mais jovem. Pode-se produzir vídeos curtos para chamar um determinado

conteúdo, narrar uma rápida história, dar os destaques, como a CNN faz também. O

aplicativo tem uma interface que lembra uma revista virtual ou uma vitrine interativa

que tenta a todo instante atrair a atenção do seu público com novidades que são

apresentadas por parceiros do aplicativo como a publicação de videogames IGN, a

revista Cosmopolitan, o canal televisivo de comédia Comedy Central, MTV e entre

outros canais de conteúdo.

2.3 Localização (hiperlocal e mapas)

Nesta parte, cabe destacar que será considerado o uso de jornalismo

hiperlocal, ou seja se as empresas de mídia fazem coberturas jornalísticas em

pequenas áreas, bairros e cidades. Se há algum tipo de cobertura factual ou não-

factual. Além disso, foi verificado como que as empresas de mídia e de tecnologia

usam os mapas interativos se existe para projetos específicos, se usam de localização

para publicar notícias, se há conteúdo colaborativo por parte do público e dos

jornalistas e como que as empresas acenam para um projeto deste tipo. Quais são as

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propostas editoriais que as redações fazem para produzir conteúdo para pequenas

localidades.

2.4 Gamificação

Como explica o autor Johan Huizinga, em Homo Ludens o jogo pode conferir

um sentido à ação e significa alguma coisa e tem função por ser significante, para

encerrar um determinado sentido. O simples fato de encerrar o jogo encerrar um

sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essencia

(1964, p.3-4). Com o jornalismo é necessário que as coisas tenham sentido para

construir um argumento e com isso não é diferente com o jogo. Porém, no jogo a

pessoa terá que enfrentar um desafio virtual, jogo de tabuleiro, quebra cabeça, para

que faça um sentido para ele.

Quando faz sentido ler um texto ou jogar um jogo, porque não elaborar um

desafio com informações jornalísticas para assim, o público construir a narrativa e

compreender cada elemento de um fato fazendo assim a imersão do usuário em um

universo lúdico com informações que possam fazer a diferença na vida dele. Essa

alternativa de consumo é possível com os newsgames.

Será avalido se os veículos de mídia e os produtos permitem essa gamificação,

se conseguem trazer o público ao conteúdo lúdico para o consumo da informação. Se

produzem newsgames, jogos eletrônicos baseados em acontecimentos reais com

elementos do jornalismo. Além disso, será analisado se as empresas de mídia já tem

aplicativos de informação nos atuais consoles de videogames e como que essas

informações são apresentadas para o público.

2.5 Big Data (dados)

Hoje, o jornalismo tem que pensar em explorar sistemas computacionais e

banco de dados extensos, elaborar reportagens com auxílio do computador (RAC)

para conseguir extrair informações relevantes para a sociedade. A web é um grande

repositório de dados e lá também existe uma grande rede de bancos de dados que

contém informações que podem ser exploradas para a melhor tomada de decisão

editorial e, por sua vez, jornalística.

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Na atual configuração tecnológica proporcionada pela Internet, estruturada pelo

intermédio do aumento de velocidade de transmissão, pela evolução das máquinas

computacionais com grande capacidade de processamento e armazenamento de

dados, com o desenvolvimento de linguagens de programação cada vez mais amplas

e que negociam de várias formas com robustos bancos de dados, a atuação

profissional do Jornalismo também deve possuir outras configurações (LIMA JR., p.

210, 2012)

O jornalismo de dados passa pelo Big Data, que representa uma nova

oportunidade para os profissionais da informação e de relevância social e para

empresas de mídia. A partir disso, novos modelos de negócios podem ser criados,

novos desdobramentos editoriais e jornalísticos abrindo novas oportunidades para

jornalistas e trazendo um novo hub e perspectivas para a profissão, que busca novas

saídas para se manter atuante e confiável perante a sociedade.

O Big Data pode ajudar a criar valor, dando transparência, gerando

descobertas, classificando dados e destacando o nível de entendimento para ajudar

nos processos de decisão editorial dando mais precisão na propagação de informação

jornalística. Elucidando eventos e fatos complexos para o público.

No jornalismo de dados, se faz análise de redes sociais e visualização de dados

e isso acontece por meio da retirada das informações destes computadores em

grandes bancos de dados públicos ou fechados, onde são detectados padrões em

que possam trazer novas informações e valores relevantes para se contar um fato ou

evidenciar uma história. Para isso, técnicas como Data Mining são aplicadas para o

levantamento de dados e informações com acesso mais difícil. A partir dessa

extração, pode se ter um valor-notícia para se esclarecer o fato.

Sendo assim, com o grande volume de dados disponível na web, como que as

redações usam grande quantidade de dados? Como as redações atuam com o Open

Data e Data Mining? As redações já têm um núcleo estruturado de dados e utilizam

estas informações para fazer Reportagem com Auxílio de Computador (RAC)? Como

que utilizam esse grande volume de informações? Usam os dados apenas para

projetos específicos? Mantém um banco de dados abertos para a audiência? Tem

conteúdo colaborativo?

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3. Estratégias dos veículos de comunicação e produtos

3.1 O Estado de S. Paulo: mídias que conversam com o público; reportagem com dados

A empresa brasileira O Estado de S. Paulo foi a primeira no País a ter um

jornalista dedicado a redes sociais e foi criado um cargo de editor de redes sociais.

Com issso, o jornal aplica várias iniciativas. Por meio das redes sociais, o jornal

paulista mantém um time dedicado às redes sociais e por elas que distribui o conteúdo

jornalístico via Twitter, Instagram, Facebook e Google Plus. E nestas redes, os

jornalistas estabelecem uma conversa com o público. No âmbito das mensagens, a

publicação recebe informações do público via WhatsApp e há pouco tempo, começou

a enviar informações pelo aplicativo.

A redação do jornal também experimenta mídias sociais de vídeo, mantendo

um canal no YouTube, com minidocumentários, reportagens em vídeos e vídeos para

smartphones ou tablets. Além disso, o jornal utiliza o Facebook Live para fazer

transmissões de conteúdo ao vivo com jornalistas da publicação comentando fatos do

dia, como por exemplo, a cobertura de política nacional ou alguma outra notícia

urgente do cotidiano. No quesito da localização, ou seja, mais focado em uso de

mapas para informações ou uso de jornalismo hiperlocal é mínimo. A cobertura se

limita em a notas pequenas na publicação impressa no caderno de Metropole/Cidades

e o uso de mapas segue em projetos mais específicos e claro na prestação de serviço,

onde o leitor do jornal tem ao seu dispor o acesso ao serviço de trânsito do Waze.

Sobre gamificação, o jornal fez a publicação de newsgame uma única vez no ano de

2014, pela equipe de jornalistas recém-formados que participam de um programa de

treinamento realizado pela empresa que é a principal acionista do jornal, o Grupo

Estado. A empresa não libera aplicativos informativos em consoles de videogames,

mas apenas em smartTVs, aplicativos semelhantes aos dos celulares. Finalizando a

análise na categoria big data ou dados, a empresa mantém um núcleo de dados ativo,

chamado por Estadão Dados e esse pequeno grupo de jornalistas produzem

reportagens com auxílio de computador, utiliza dados para fazer reportagens em

conjunto com a equipe de jornalistas da internet e do impresso.

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Para finalizar a avaliação, cabe avaliar que a empresa tenta distribuir o

conteúdo jornalístico de forma capilar, experimentando novas mídias e

compartilhando os resultados de experiência com a redação. Os canais digitais são

integrados com o impresso, portal e rádio. Além disso, O Estado de S. Paulo possui

um canal de feedback, a redação usa o WhatsApp torna se um canal de comunicação,

uma via de conversa entre público e redação.

A equipe do 25º Curso Estado de Jornalismo criou dois newsgames em 2014,

com a temática dos Jogos Olímpicos Rio 201690: um jogo de perguntas e respostas91

sobre as Olimpíadas (quiz) e um jogo chamado Desafio Aquático92, que simula um

atleta de natação que tem que passar por vários desafios – passando por torneios

amadores até chegar a categoria profissional –, até disputar a Olimpíada do Rio de

Janeiro e não distribui o conteúdo para os consoles. Mantém um núcleo ativo de

dados, Estadão Dados93, e por meio deste que são publicadas reportagens com

auxílio do computador (RAC). Utiliza aplicativos nativos em redes sociais de

transmissão ao vivo, como o Facebook Live para comentar notícias. A redação tenta

modificar o caminho da notícia e tenta se aproximar do público com várias frentes

digitais. Ou seja, no caso do Estadão, as narrativas emergentes imputam novas

atribuições as narrativas jornalísticas consolidadas e tradicionais, modifica o processo

de produção jornalística e as informações do usuário enviadas em tempo real ajuda

melhora na qualidade da cobertura do jornalismo.

3.2 TV Globo/G1: WhatsApp que recebe vídeos e pautas

A TV Globo é a maior emissora de TV do País e a segunda maior rede de

televisão privada em faturamento no mundo. O G1 é o portal de notícias da TV Globo.

A empresa tenta espelhar a filosofia da emissora de televisão no ambiente e roupagem

web. Integra seus veículos compartilhando os conteúdos nos dois canais. Ou seja, o

que é publicado na web é destacado na televisão, em uma pílula de notícias chamado

90 MIRANDA, Carla. Como foi fazer nosso 1º newsgame. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 12 dez. 2014. Disponível em: <http://brasil.estadao.com.br/blogs/em-foca/jogoestadao/>. Acesso em: 12 abr. 2016. 91 QUE Olimpíada você é? O Estado de S. Paulo. Newsgame. Disponível em: <http://infograficos.estadao.com.br/public/e/focasrio2016/quiz.html>. Acesso em: 12 abr. 2016. 92 DESAFIO Aquático. O Estado de S. Paulo. Newsgame. Disponível em <http://infograficos.estadao.com.br/public/e/focasrio2016/jogo.html>. Acesso em: 12 abr. 2016. 93 Disponível em: <http://blog.estadaodados.com/>. Acesso em: 14 abr. 2016.

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“G1 em um minuto” e notícias da redação da televisão também são publicadas no

portal de notícias.

A Globo usa redes sociais para capilarizar o seu conteúdo, como Twitter e

Facebook. A empresa é espartana para o uso de outras redes sociais, porém, usa o

WhatsApp e Viber como um canal de feedback do público há quase um ano para

receber vídeos, informações, sugestões de pautas e denúncias. Cada emissora local

tem um número de celular voltado para os aplicativos de mensagens citados para que

a audiência utilize e envie notícia para as emissoras locais da Rede Globo. Os próprios

telejornais estimulam o público a enviar conteúdo, preferencialmente em vídeo, desde

conteúdo factual, fatos em tempo real, como por exemplo, para a prestação de serviço,

como a pane no serviço de Metrô até mesmo imagens mais descontraídas para

estreitar laços com a audiência com conteúdo mais leve.

A Globo não possui projetos hiperlocais, na televisão, foca-se nas duas grandes

editorias principais de Local e Nacional e nas editorias temáticas na web, como

qualquer publicação impressa ou na web.

A empresa utiliza mapas e dados para pautas e projetos específicos. Não há

um núcleo de dados estabelecido e permanente para atender a redação. O único

newsgame que o jornalismo da Globo publicou foi o Missão Bioma, no projeto Globo

Amazônia, em 201194. Não tem aplicativos nativos de distribuição de conteúdo voltado

aos consoles de videogames.

Mesmo com o uso mais espartano das redes sociais, o pouco uso que se faz

dos aplicativos, ainda há uma integração entre as mídias televisão e web. Com isso,

existe alteração nas narrativas jornalísticas, onde o público participa mais do processo

de produção.

Quando o público envia informação durante a cobertura em tempo real, a

informação ganha mais qualidade, com apoio de ferramentas da redação as

informações vindas do público são verificadas e publicadas com mais eficiência

permitindo uma cobertura em tempo real na televisão e publicação posterior na web.

94 REDE Globo lança game que desafia jogador a proteger o meio ambiente. G1 Natureza. São Paulo, 15 ago. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/08/rede-globo-lanca-game-que-desafia-jogador-proteger-o-meio-ambiente.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.

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3.3 Bournville News: modelo de jornalismo hiperlocal

O Bournville News95 é um bom exemplo de jornal com aplicação de estratégia

hiperlocal. O jornalismo é limitado em Bournville Village, um pequeno condado com

25 mil moradores, localizado na região metropolitana de Birmingham, na Inglaterra. O

site jornalístico mantém redes sociais que distribuem o conteúdo via Facebook, com

1.594 seguidores e o Twitter, com 3.029 seguidores. Ambas as redes estão ativas.

O site não tem interação via aplicativo, não utiliza aplicativo de mensagens e

para entrar em contato com os jornalistas do site é preciso entrar em contato via redes

sociais, na lista de comentários que fica abaixo das matérias publicadas ou por um

formulário de contato. Não utiliza gamificação e não faz uso de big data na cobertura

jornalística. O Bournville News segue a prática hiperlocal, com as poucas redes

sociais, o site consegue manter um contato com os moradores e consegue atualizar

as notícias da região para o seu público.

O processo de produção de conteúdo hiperlocal tende ser um pouco diferente

da prática do jornalismo local ou nacional devido a proximidade que os jornalistas ou

mantenedores do site devem ter com os moradores. Como o pesquisador britânico

Damian Radcliffe (2012, p. 20) ressalta, para fazer uma publicação hiperlocal é

necessário poder para fazer a mudança, reconhecer e valorizar, afiliação com seus

amigos e senso de realização para que a publicação se mantenha no alcance do

público que se destina. Neste caso, não é perceptível alteração das narrativas

jornalísticas tradicionais.

Há uma pequena modificação dos processos, porém, o jornalismo hiperlocal é

feito como o jornalismo convencional. A grande diferença está no tamanho da área e

a proximidade com as pessoas que é maior. No caso da publicação hiperlocal, com

certeza as informações insertadas pelos usuários melhora a qualidade da publicação

jornalística, por meio do uso de redes sociais, pois, ambas as redes sociais têm

versões de aplicativo mobile, possibilitando assim, que o leitor do site hiperlocal possa

acessar a rede social e realizar o contato informando sobre algum factual que impacta

aquela área. E por fim, esta publicação não utiliza newsgames, nem gamificação e

não disponibiliza aplicativos para consoles de videogames e nem para smartphones.

95 BOURNVILLE News. Disponível em: <http://bournvillevillage.com/>. Acesso em: 14 abr. 2016.

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3.4 Hoy: grande mídia fazendo hiperlocal; rede de hiperlocais

O Hoy é um caso de grande mídia que faz a prática de hiperlocal. A Hoy

mantém um jornal que é distribuido para toda a comunidade de Extremadura e várias

publicações hiperlocais. A publicação mantém uma rede de jornalistas, chamados por

correspondentes, que mantém a Rede de Hiperlocais, chamado de Hoy Extremadura:

Red de Hiperlocales e essa rede é mantida na comunidade autônoma de

Extremadura, que tem duas das 50 províncias espanholas, Cáceres e Badajoz, em 35

cidades.

Cada cidade tem uma publicação impressa mensalmente e um site, em que o

público pode entrar em contato via redes sociais e o jornalista da publicação hiperlocal

também distribui o conteúdo por Twitter e Facebook. A publicação não utiliza

aplicativos de mensagens como WhatsApp para canal de feedback ou de envio de

mensagens noticiosas.

A Hoy mantem um aplicativo próprio que é disponibilizado para quem tem

smartphones Android e iOS. O periódico não tem newsgames e nem aplicativos

voltados para consoles de videogames e não tem um núcleo de dados dedicado ao

jornalismo.

Cabe destacar que o Hoy tenta manter uma cobertura forte nas duas provincias

onde está presente e com a rede de hiperlocais, a públicação tenta dar um novo

patamar na cobertura, tenta-se criar uma empatia, trazendo mais proximidade entre

publicação e leitor e isso sé dá nas publicações impressas e nos correspondentes, em

que a publicação tenta se personalizar na representação do jornalista que cobre

apenas a cidade e se os moradores tem a confiança de alguém próximo é possível

que esse fator humano facilite o compartilhamento de informação e por sua vez

construindo uma publicação hiperlocal cada vez mais sólida que atendam as

demandas da comunidade.

As informações usadas na publicação hiperlocal também são destacadas na

publicação principal, no Hoy Diário de Extremadura, a principal publicação da rede de

hiperlocais, que alcança as cidades das duas províncias espanholas.

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3.5 BBC: multimídia fluída; Snapchat para narrativas digitais

A BBC como veículo multimídia tenta alcançar vários públicos de multiplas

nacionalidades no mundo todo e para isso, eles tentam aplicar estratégias editoriais

inovadoras para aprimorar o próprio jornalismo e prender o seu público. O grupo de

comunicação público britânico mantém equipes de redes sociais para distribuir o

conteúdo seu jornalismo por Facebook e Twitter, recebe conteúdo colaborativo via

WhatsApp e recentemente passou a enviar informações noticiosas via Telegram. Em

2015, a BBC abriu o seu site para receber opiniões de donos de sites de notícias e

blogueiros hiperlocais. A empresa planeja formalizar um compromisso para que

blogueiros hiperlocais e fornecedores de notícias para a comunidade online sejam

parceiras do canal de conteúdo inglês para apoiar a iniciativa do jornalismo hiperlocal.

A BBC planeja criar um sistema para ligar todos os sites locais da BBC, para

permitir transmissões ao vivo e vai abrir este sistema para os donos de sites e

blogueiros, garantindo sempre a propriedade intelectual; treinamento para quem faz

jornalismo hiperlocal; criação de paines para discutir o jornalismo e temas relevantes

ao hiperlocal; um banco de informações com o registro de todos os sites hiperlocais

do país; e estreitar parcerias com a comunidade hiperlocal para estabelecer um fórum

que seria organizado duas vezes por ano96. Já na gamificação, a BBC não tem

newsgames publicados nos últimos meses e nem aplicativos dedicados aos consoles

de videogames. No âmbito do big data, a BBC utiliza dados para realizar projetos

editoriais específicos. Cabe também destacar que a BBC conseguiu fazer uma boa

experiência com o aplicativo Snapchat na cobertura do drama dos refugiados nas

fronteiras dos países europeus. O programa de TV que está no ar há 62 anos, o BBC

Panorama, contou com o repórter John Sweeney e a equipe de produção para usar o

novato aplicativo e assim contextualizar as informações durante a sua jornada. O

repórter fez mini-relatórios, entrevistas com os migrantes e refugiados que tinham

acabado de atravessar o mar para chegar na Europa, fotos do drama humano e o

material foi feito praticamente sem edição. Foi uma forma de atrair o público para

assistir o programa jornalístico, além de fazer jornalismo em tempo real, informando o

que ocorria durante a trajetória que a equipe de reportagem fazia, expondo ao público

96 BBC seeks views of community news websites and bloggers. BBC Media Centre. London, July 07, 2015. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/mediacentre/latestnews/2015/hyperlocal>. Acesso em: 14 abr. 2016.

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a forma que a reportagem foi realizada, bem como acompanhando todos os bastidores

da construção da reportagem.

A BBC busca acrescentar narrativas emergentes com as tradicionais narrativas

jornalísticas, a associação de uso do aplicativo Snapchat, que existe a cerca de 5

anos, com o programa televisivo BBC Panorama, que existe há 62 anos, mostra que

as duas formas de contar uma história foi bem sucedida e complementar para atender

a demanda do público ao narrar um fato, aprofundar e contextualizar até publicar no

ar a reportagem completa. Até aí, o público pode acompanhar com todos os detalhes

o processo de um trabalho de campo da reportagem.

A empresa também é considerada uma das mídias pioneiras a publicar

informações a canais mais emergentes de informação como o WhatsApp, que é um

aplicativo de mensagens, já usado para feedback da audiência, bem como agora, a

equipe de jornalistas da BBC percebeu que o Telegram pode ser uma outra via

noticiosa para o seu público. Com isso, o envio de dados pelos usuário, combinado

com uso de aplicativos modificam o processo do fazer jornalismo e aprimora trazendo

novas táticas para distribuir conteúdo e receber conteúdo da audiência.

3.6 BandNews FM: redes sociais para prestação de serviço

A BandNews FM usa redes sociais para publicar o conteúdo que é irradiado

pela emissora, os áudios com os boletins ou reportagens são compartilhados nas

redes Facebook e Twitter. Recebe conteúdo via WhatsApp dos ouvintes que informam

a redação sobre a situação nas avenidas, ruas e estradas. Esse canal de feedback já

ajudou a redação a desenvolver um mapa de buracos, chamado de Buracômetro,

devido a várias reclamações de ouvintes sobre péssimas condições do asfalto da

cidade de São Paulo.

O Buracômetro foi o único mapa desenvolvido pela redação. A BandNews FM

é uma rede nacional de noticias, por isso, não há cobertura hiperlocal, pois neste caso

a cobertura hiperlocal estaria focada nas emissoras de rádio comunitárias e este

objeto de estudo específico faz cobertura local e nacional voltado para boletins de

notícias e prestação de serviço. É uma emissora de rádio focada em sua expertise,

como qualquer redação, recebe informações via email, telefone e SMS. A rádio tem

pouca intimidade com novas mídias, com o aprimoramento do uso do WhatsApp,

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porque o aplicativo permite mandar áudios curtos que podem ser usados pelos

jornalistas da rádio. Produz-se o básico com redes sociais e foca o uso das inovações

em prestação de serviço.

3.7 Bairros Unidos: Ipiranga News e Jabaquara News; jornais distantes do bairro

O que poderia ser um exemplo de jornal hiperlocal, como é o caso dos jornais

de bairro, cabe a avaliar que ainda há muito para evoluir a uma publicação hiperlocal.

O caso estudado é um jornais mais ativos da região. No entanto, é uma publicação

que parou no tempo, tem redes sociais que fazem a publicação de conteúdo via

Facebook e Twitter e para por aí. Não utiliza aplicativos emergentes que poderiam

ajudar na comunicação e na elaboração de pautas para os jornais e as publicações,

apesar de ter os nomes de tradicionais bairros de São Paulo, são publicações

distantes do público.

O conteúdo voltado para o bairro se limita a 2 até 3 páginas das publicações.

A primeira página tem o mesmo editorial para os dois jornais, onde poderia se discutir

problemas distintos em cada bairro, com as mesmas notas nos dois jornais e restante

é voltado para algumas notinhas de variedades, notícias que são destacadas em um

bairro e no jornal daquele bairro, viram notinha no outro jornal e vice-versa. Um artigo

que foi publicado na internet em um jornal de grande circulação, o que pode ser um

texto comprado ou com uso autorizado pela publicação e classificados do bairro.

Como a publicação é de uma só editora, pode ser que essa estratégia seja

usada para conter gastos, já que para fazer uma cobertura hiperlocal demanda gente

específica e custo para aprimorar essa prática jornalística. Um jornal de bairro que

não tem proximidade com o público perde a oportunidade de conhecer melhor a região

que vive, como é o caso destes jornais do Bairros Unidos.

Seria uma oportunidade para que os jornais tornassem além de publicações de

bairro, mas poderiam ser publicações hiperlocais bem sucedidas, explorando a região

com novas informações e estimulando os negócios locais, que poderiam fazer

publicade em forma de anúncios para sustentar a estrutura da empresa. Neste caso,

a publicação não se encaixa em nenhuma hipótese levantada nesta pesquisa.

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3.8 SeeClickFix: aplicativo emula jornalismo de serviço

O SeeClickFix não é um aplicativo de jornalismo, porém, tem as funções que

são feitas pelo jornalismo de serviço, ele ajuda a engajar as pessoas a resolver

problemas da sua região. A pessoa pode acessar o aplicativo pelo smartphone nas

versões iOS e Android e por ele é possível o morador é levantar uma demanda não-

urgente que possa ser resolvida em conjunto, não apenas pelo poder público, mas,

por toda a comunidade envolvida na região para melhorar o bairro em que vive,

trazendo melhorias e soluções. Ou seja, problemas não-emergenciais como buracos,

praça malcuidada, problemas na calçada podem ser denunciados pelo aplicativo. Ao

mesmo tempo, o governo recebe as informações e pode entender as demandas das

pessoas no momento. No caso norte-americano, a empresa SeeClickFix percebeu

que poderia amarrar uma troca de informações entre poder público e associações de

bairro por meio da tecnologia. A ferramenta já está disponível em várias cidades dos

Estados Unidos como Denver, Albuquerque, Washington D. C., Minneapolis, Houston,

Harsville e pelo menos 25 mil cidades e 8 mil bairros norte-americanos97. O uso de

novas tecnologias como o sistema 311 desenvolvido para várias cidades norte-

americanas mostram como é possível trazer engajamento e agilidade na solicitação

de serviços e informações sobre a cidade em que se vive.

O aplicativo usa elementos de hiperlocal, com informação geolocalizada e

mantém um banco de dados compartilhado, em que outros usuários podem

compartilhar as informações ou complementar demandas já feitas. Este aplicativo usa

a premissa do jornalismo de serviço, onde o jornalista vai até o local, entrevista os

moradores, depois faz uma matéria sobre o problema e ouve o outro lado, isto é, cobra

a prefeitura.

O aplicativo anula estas funções. Mas, mesmo assim, alguém que usa o

aplicativo acaba reportando uma situação, e isso não acaba com o jornalismo, apenas

uma parte do processo foi automatizado e centralizado direto com a responsável do

problema e também estimula a prática de cidadania.

Os sistemas 311 e os CRMs ajudam os governos locais a tentar atender os cidadãos de uma forma rápida, pois no sistema é possível encontrar determinadas

97 SIFRY. Micah L. SeeClickFix now covering 25.000 Towns, 8.000 Neighborhoods. TechPresident. 14 out. 2009. Disponível em <http://techpresident.com/blog-entry/seeclickfix-now-covering-25000-towns-8000-neighborhoods>. Acesso em: 14 abr. 2016.

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informações, como número e tipo de pedidos de informação e requisição de serviços; tempo gasto para atender a demanda, porcentagem de serviços solicitados que foram completados dentro da margem de tempo esperada; localização geográfica do pedido do serviço e quais são as maiores demandas do cidadão naquele momento (FLEMING, 2014, p. 48, tradução nossa).

O serviço acaba criando uma narrativa, uma efeméride, onde o problema tem

uma história, onde cada pessoa que faz o comentário sobre o problema compartilha

suas impressões até que a prefeitura ou órgão responsável resolva o problema. Por

isso, essa ferramenta cidadã foi colocada como objeto de estudo nesta pesquisa.

3.9 Waze: serviço de alertas de trânsito gamificado

O aplicativo Waze é o outro produto que também foi avaliado para mostrar

como que ele pode substituir ou agregar parte do jornaismo de serviço que é feito por

jornalistas. O aplicativo é voltado para navegação, com elementos de jogos para

diversão e de rede social integrada, que informa o usuário sobre as condições de

trânsito, auxilia nas rotas, como o aplicativo de mapas, Google Maps.

Porém, o Waze usa gamificação, colocando o usuário num ambiente lúdico,

mesmo imerso em funções como GPS e rede social onde os outros usuários podem

informar sobre trânsito e acidentes, o sistema engaja o usuário a usar o aplicativo em

troca de pontos e desbloqueio de conquistas, como se fosse um jogo. Por exemplo,

uma pessoa tem que dirigir dois quilômetros usando o Waze pela primeira vez para

ganhar pontos.

E a ferramenta tem um sistema de ranqueamento global que mostra quem é

mais usa o aplicativo. Ele é uma bussola no trânsito das grandes cidades, com toque

de elementos de jogo, num ambiente gamificado. Informa alertas de trânsito,

estimuma a conversação entre as pessoas, para formar uma rede social e ao mesmo

tempo estimula a atualização dos mapas e avisos de situações de risco no caminho

para evitar que os outros passem pelo mesmo problema, acontece uma ajuda

simultânea, provocando um companheirismo virtual, por meio da troca de

informações.

Neste universo lúdico, o Waze tenta levar ao usuário uma experiência mais leve

e menos burocrática com o uso de mapas. Para que ele possa ficar mais tempo

usando o aplicativo e que possa usufruir dos serviços de alertas de transito

colaborativo e para seguir sua navegação de forma satisfatória.

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4. Método de análise – Comparativo: Uso de tabela

A planilha foi estabelecida da seguinte forma: o nome dos nove produtos que

foram analisados na primeira coluna, a sua classificação, ou seja, qual é o tipo de

produto, se é web, multimídia, impresso, rádio, televisão ou aplicativo; depois foram

sequenciados as colunas redes sociais, para ideintificar quais mídias sociais estão

sendo utilizadas pelos produtos de mídia ou aplicativo; mensagens, é a coluna que

avalia o uso de aplicativos de mensagens para fazer comunicação, como por exemplo,

o uso de WhatsApp e Telegram para o uso de distribuição de informações ou troca de

informações entre fonte e jornalista; gamificação, se as redações fazem uso de

alguma ferramenta de gamificação para distribuir conteúdo; e big data, que é a coluna

em que são verificados se o veículo de mídia faz a análise de dados ou utiliza dados

para produzir reportagem, como são os casos de reportagem com auxílio do

computador (RAC).

Logo na sequência, foram colocadas quatro colunas com os nomes A, B, C e

D para estabelecer se os objetos de estudos atendem as demandas das hipóteses.

Dentro de cada produto avaliado, será recebida uma classificação de (1) para aplica,

(2) não aplica e (3) em parte. A partir dessa avaliação sobre qual produto tem melhor

aplicação, não tem ou tem em parte, foi feita uma breve avaliação sobre cada objeto

analisado neste estudo acadêmico sobre quem faz o melhor uso de novas mídas ou

quem mais inova no uso de novas tecnologias e mídias para o jornalismo.

Em cada produto avaliado, será destacado a sua melhor caracteristica, será

apontado qual boa pratica comunicacional ou qual melhor tecnologia foi bem aplicada.

Quais produtos atendem melhor as questões levantadas pelas hipóteses. Esta

característica será destacada na planilha para apresentar em que o produto conseguiu

se sobresair na experiência em suas inovações. Cabe reforçar que o objetivo não é

partir para julgamentos sobre qual é o pior ou melhor produto, mas sim, a análise cabe

apenas para apontar quais são as inovações que estão sendo realizadas nas

redações e até mesmo nas empresas de tecnologia, visto que há dois produtos nativos

de empresas de tecnologia. A proposta é entender e comparar como que está sendo

realizada a comunicação e como as empresas estão alcançando as pessoas e quais

plataformas que as empresas estão conseguindo realizar boas estratégias para

entregar o conteúdo informativo para o seu público ou audiência.

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Tabela 4 – Tabela de análise comparativa dos estudos de caso

Fonte: o autor

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5. Resultados

Nesta dissertação acadêmica, o que foi avaliado entre todos os produtos

jornalísticos e tecnológicos é que há uma busca para uma conversa e aproximação

com o leitor. Com o avanço da internet, os veículos de comunicação tradicionais não

acompanharam a velocidade do avanço da tecnologia e quando entraram,

tardiamente, se depararam com uma crise, por causa da perda de publicidade, erro

de estratégia comercial-editorial e falta de percepção da mudança de comportamento

da sociedade. Por outro lado, a falta de identificação editorial entre público e veículo

de comunicação provocou o agravamento financeiro destas empresas de mídia.

Assim, estas questões acarretaram no distanciamento das pessoas com as mídias

tradicionais e, por isso, as empresas jornalisticas mudaram a estratégia de publicação

de conteúdo – desde o formato dos jornais, a maneira como é apresentado das

notícias na internet, bem como a modernização e mudança de formato dos produtos

de audiovisual. Muitos objetos de estudo desta pesquisa também focaram em

propagar o conteúdo ao seu público via redes sociais, querem estar mais presentes,

se mostram a disposição do público a qualquer momento e sempre buscando levar a

última informação mais atualizada para quem os acompanha em suas plataformas nas

redes sociais já estabelecidas.

Com o invento e ascendência do aplicativo de mensagens WhatsApp, as

empresas enxergaram uma conexão direta entre redação e público para envio de

conteúdo colaborativo. Tem funcionado de forma eficaz na maioria dos veículos de

comunicação que possui canais e equipes dedicadas para o recebimento destas

informações, checagem, produção, edição e publicação deste conteúdo para um

alcance maior de público. Além disso, com o uso constante da ferramenta, foi

percebido que ela é muito mais do que um canal de feedback, um canal de retorno,

ou em outros termos, torna-se mais um canal de mídia. Alguns veículos mundo afora

estão usando os aplicativos de mensagens como WhatsApp, ou similares como o

Telegram e Viber para estabelecer uma conversa com a pessoa que está do outro

lado da tela do smartphone mandando destaques e tentando engajar a audiência a

entrar nos canais de conteúdo das empresas de comunicação para consumir o

conteúdo. Como o Jornalismo da TV Globo, que faz do WhatsApp um canal de

relacionamento com o seu público. Lá, o público oferece aos jornalistas da emissora

pautas e denúncias que podem acarretar em reportagens de serviço.

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A BBC tenta estabelecer a conversa com o público em várias frentes,

combinando o uso dos canais tradicionais e as novas mídias, visando principalmente

a experimentação de novas plataformas, como o uso do aplicativo Snapchat para

antecipar informações e a distribuição de notícias pelo aplicativo de mensagens

Telegram, por meio de newsbot.

As palavras conversa e aproximação são sempre citadas neste estudo, pois

são as ações mais evidenciadas por estes objetos de estudo pesquisados. As

redações estão tentando estabelecer uma conversa e aproximação, tentando levar as

notícias da melhor forma e nos melhores formatos possíveis.

Sobre a categoria de localização, poucos veículos usam georreferenciamento

ou projetos jornalísticos integrados com mapas. No entanto, os veículos que se

dedicam a cobertura hiperlocal, tanto os pequenos donos de sites, que conseguem

focar a cobertura em sua localidade e mostram que conseguem uma boa aproximação

com a comunidade; quanto as grandes empresas de mídia, que conseguem

estabelecer um padrão de alcance com a comunidade que atende as demandas

informativas de cada localidade. A experiência de uma grande empresa de mídia, que

tem jornalistas experientes para serem correspondentes da cidade e dos bairros é o

que faz da cobertura hiperlocal. Torna-se do profissional da comunicação um

representante da grande mídia que por sua vez se transforma num amplificador da

voz da população local, que está preocupado em cobrir as demandas e contar as

histórias da comunidade. No entanto, como o caso do periodico da Espanha Hoy, que

estabeleceu uma rede de jornais e profissionais hiperlocais, em que todas as notícias

são republicadas na edição principal, sem interferir nas edições hiperlocais. E isso

acarreta mais proximidade e empatia do público ao jornalismo, para que seja possível

levantar novas demandas e que o jornalismo cumpra o papel social de ajudar as

pessoas se autogovernarem, por meio das informações trabalhadas pelos

profissionais da redação e da reportagem.

Sobre gamificação, ainda há muito que se explorar. Pode ser que por questões

de tempo e de custo, principalmente com as redações em crise, seja complicado e

caro desenvolver conteúdo noticioso lúdico. Mas, com esta pesquisa inicial, dá para

perceber como que este é um campo criativo que pode ser explorado pelos canais de

jornalismo. Pode ser um caminho para o desenvolvimento de projetos especiais, como

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o Estadão fez com os jornalistas do seu curso intensivo, que prepararam dois jogos

temáticos sobre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.

Ou como a TV Globo, que desenvolveu o jogo temático sobre a defesa da

Amazonia, o ‘Missão Bioma’, que foi desenvolvido em conjunto com a empresa

desenvolvedora de jogos brasileira Aquiris Game Studio. Porém, os newsgames

publicados pela TV Globo e pelo Estadão foram publicados nos anos de 2011 e 2014

respectivamente. Em média, se passaram dois anos e novas publicações de

newsgames não foram realizadas. Então, cabe avaliar que o desenvolvimento de

newsgames também depende da cultura da redação, onde todos possam tentar

entender que é possivel se criar uma narrativa por meio de formatos não

convencionais e, claro, quando se desenvolver um projeto desse âmbito, cabe alinhar

com o departamento comercial a negociação de uma publicidade dedicada a ele para

ajudar a cobrir os custos do projeto.

Em big data, as redações começam a observar com atenção o uso de grandes

quantidades de dados para fazer reportagens e contar histórias. Lembrando que nesta

pesquisa, o termo big data é relacionado ao uso de grande quantidade de dados para

a construção de uma reportagem. Vide os casos Wikileaks e The Panamá Papers,

que por meio da prática de jornalismo de dados, aliado ao uso de técnicas do

jornalismo investigativo, várias histórias foram evidenciadas ao público sobre

inúmeros casos de corrupção e desvios de conduta, cujo os documentos que

comprovam as denúncias estão ocultos nas profundezas dos servidores da web. O

jornalismo de dados tornou-se um caminho importante para revisitar a forma de se

fazer jornalismo e estabelecer novos processos de trabalho, até mesmo a

readequação das redações para poder se adequar as novas técnicas, como a

especialização de jornalistas e a instalação de programas de computador que são

geralmente utilizados por profissionais da Tecnologia da Informação (TI).

A equipe de dados do jornal O Estado de S. Paulo desenvolveu uma pequena

equipe de jornalismo de dados, chamada por Estadão Dados, e da redação, por meio

de técnicas de investigação de dados na web e por acessos a outras fontes públicas

ou abertas de informação é possivel produzir reportagens, como por exemplo,

comparar custos de instituições públicas, comparação de dados oficiais com dados

jornalísticos e até mesmo desmentir autoridades que ocultam informações da

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sociedade, diante de uma situação de crise. É um núcleo informacional que gera

novas pautas e reportagens a partir da exploração de dados complexos ou de

documentos extraídos por meio de técnicas utilizadas por profissionais de TI. Nesta

parte, cabe destacar que as informações também chegam de forma colaborativa, tanto

por meio jornalístico, como por meio dos sistemas tecnológicos e informativos. A

publicação foi a primeira no Brasil a criar um cargo de editor de Mídias Sociais e a

partir dele, as informações que chegam por aquele caminho é compartilhada para o

restante da redação, que recebe de forma mais rápida o feedback do público.

Já no recorte dos aplicativos que foram elaborados sem a expertise de

jornalistas, como o Waze e SeeClickFix, é possível perceber e destacar que o

conteúdo é colaborativo e para que os aplicativos funcionem de forma correta, as

pessoas devem manusear e abastecer estes sistemas com seus dados, para que

aconteça uma troca de informações entre as pessoas, promovendo o estímulo de

compartilhamento de conhecimento e de alertas, sobre perigos que possam aparecer

no caminho. O SeeClickFix se compara ao que é realizado no jornalismo de serviço.

Qualquer pessoa pode apontar um problema em sua cidade, ou localidade que usa o

serviço do aplicativo, pode tirar uma foto, gravar um vídeo e enviar a demanda

diretamente para o responsável ou prefeitura que tem parceria com o serviço, via o

serviço 311, muito comum em localidades dos Estados Unidos, que tem esse código

de telefone de atendimento aos munícipes. Existe a fiscalização cidadã. Já para o

Waze também tem funções que são feitas normalmente no jornalismo de serviço,

afinal o aplicativo é um serviço de informações de trânsit. Qualquer pessoa pode

compartilhar informações do trânsito e o serviço usa a interface voltada para a

gamificação, com sistema de pontuação e ranqueamento, cujo o motorista que usar

mais o aplicativo ganha mais pontos; e por rede social, onde os motoristas podem

trocar mensagens entre si para passar informações, caso eles estejam na mesma

área. O aplicativo brinca com o lúdico para prender o usuário.

O jornalismo, que quer se atualizar e se modernizar, deve entrar por um

caminho sem volta, que é o compartilhmento de dados por todos os lados, o público

e o especialista de comunicação e com certeza este será um dos pilares que vão

estabelecer a existência do ofício, que comportam a análise, curadoria, investigação

e interpretação de dados para se contar e explorar histórias que devem ser levadas

para os públicos.

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CONCLUSÃO

Este estudo, que pode ser aprofundado conforme os rumos do jornalismo e da

tecnologia, que mudam ao sabor do vento, visou definir, ou pelo menos chegar

próximo de um modelo que é chamado nesta dissertação de inovação na produção e

nas narrativas do jornalismo e da comunicação, ou seja, como que por meio das novas

mídias, que pulsam dados em tempo real, modificam o fluxo de trabalho jornalístico,

apontando seu impacto e os rumos que estão sendo tomados devido a modificação

da forma do fazer jornalismo. Como que se conectam as novas mídias, o que as novas

narrativas e dados acrescentam durante atividade jornalística; como que as novas

mídias alteram o processo de produção de conteúdo. Também foi pesquisado como

que as novas tecnologias que propagam informação, aplicativos que captam dados, a

prática de jornalismo hiperlocal e o uso de dados abertos (Open Data) impactam a

produção de conteúdo.

Após minuciosa análise de veículos de comunicação e informação e das

ferramentas citadas na pesquisa, foi levantado de que forma as novas narrativas e

dados na atividade jornalística acrescentam e dão corpo para um jornalismo mais

forte, ágil, aguerrido e assertivo. A profissão entrou na onda da transformação

tecnológica e foi impactada nos processos de criação, produção e distribuição. O

ofício entra na fase de repensar sua atividade. Mas, no entanto, estas questões

jogaram o ofício em um universo de incertezas. A cada dia que passa, a função entra

em xeque sobre seus propósitos perante as demandas da sociedade e a comunidade.

Como o autor James Gleick contextualiza com o termo 'informação' que entrou

em um processo de resistência acadêmica, dá mesma forma que outros propósitos

das ciências, que ganharam atribuições especiais como "força", "massa",

"movimento", "tempo", a informação passou pelo processo de purificação e tornou-se

uma ciência. Gleick cita Shannon que usou a teoria matemática para criar uma ligação

entre informação, a incerteza, entropia e o caos. Por isso, inventos tecnológicos, que

mudaram o comportamento da sociedade como os CDs, fax, computadores,

empresas pontocom, o ciberespaço, à lei de Moore foram levadas ao processamento,

armazenamento e o acesso à informação (2011, p. 11).

Novos aplicativos de comunicação foram desenvolvidos por grandes empresas

de tecnologia não foram inventadas por jornalistas ou foram desenvolvidas dentro das

redações, foram criadas por engenheiros e especialistas em tecnologia da informação.

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No entanto, estes aplicativos foram redescobertos pelos jornalistas e as ferramentas

foram adaptadas para cada necessidade fazendo com que o jornalismo passe por um

processo de profunda evolução.

Num cenário em que as redações estão cada vez mais enxutas, – devido ao

próprio impacto da tecnologia, que derrubou a publicidade, o faturamento, e o

investimento das empresas de mídia –, a aplicação de novas tecnologias vem

aprimorando o oficio e tenta mitigar o acúmulo de demandas, o que outrora provocaria

a queda de qualidade na produção de conteúdo jornalístico, provocando em

consequência erros de informação. No jornalismo, um erro pode afetar a reputação e

a confiança de uma empresa jornalística e de seus profissionais diante de suas fontes

e perante a sociedade. Sendo assim, o uso de novas mídias vem alterando todo o

fluxo de trabalho jornalístico no Brasil e mundo afora. Várias grandes empresas,

corporações ou grupos de mídia buscam nestas plataformas a melhor maneira de

entregar o conteúdo e também buscam formas de captar esse conteúdo direto das

redações por meio da aplicação de tecnologia.

As novas mídias sociais e digitais modificaram a forma de se trazer conteúdo

até às redações, transformaram a forma de se construir a informação, alteraram o

processo de distribuição da notícia e trouxe mais aproximação entre o leitor e o

jornalista. É como se a fábrica de uma grande montadora de carros fosse aberta e o

seu processo industrial fosse alterado, com o acréscimo de robôs, porém, com

metalúrgicos, mecânicos, engenheiros e técnicos trabalhando ao lado de uma pessoa

comum ou leiga, que dá palpites eficientes e trazem novos conhecimentos no modo

de fazer o carro.

Pode ser que autor Chris Anderson tenha razão em sua obra 'A Cauda Longa',

ao citar Karl Marx em 'A ideologia alemã' (1845-1847) que chegaria um tempo em que

a "produção material criará condições para que todas as pessoas disponham de

tempo ociosos para o exercício de outras atividades" (2006, p.60). Muitas pessoas,

em algum tempo ocioso do seu dia possa ter presenciado um fato que pode ser

compartilhado com várias pessoas e o jornalismo pode ser essa porta de entrada de

compartilhamento, com uma adição: os jornalistas trabalhariam para levantar mais

informações sobre o fato que ocorreu naquele momento e seus desdobramentos.

É cada vez mais perceptível que o jornalismo tem de ser feito de forma mais

colaborativa e menos corporativa, ou seja, com a menor interferência possível da

empresa, que se limite apenas ao trabalho editorial e que seja mais próximo aos

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interesses de quem precisa da informação. Pois, a informação e a comunicação por

si mesmos são colaborativas, tem que ter mais que um indivíduo para ter a

comunicação e a partir disso, vem a troca e geração de informação. O crescimento

da internet no País, a capilarização do uso dos aparelhos móveis, como smartphones

e tablets, o aumento de uso de computadores modificou bruscamente o hábito das

pessoas no consumo de conteúdo. Nas grandes regiões urbanas, quem é que não

tem um telefone celular, smartphone, tablet com acesso à internet? O Brasil é uma

nação que tem mais telefones móveis do que pessoas. Com este dispositivo já

possível construir uma reportagem sem ser jornalista, podendo assim tirar fotos,

gravar vídeos, áudios, escrever um texto e enviar o material multimídia (texto, foto,

áudio e vídeo) para publicação em aplicativos de gestão de conteúdo. As pessoas

podem fazer o registro de uma demanda, de um fato e enviar para a redação para que

os jornalistas trabalhem para aprofundar o conteúdo, consultando fontes e

especialistas que podem abrir um leque de conhecimento sobre determinados temas

ou assuntos que impactam na vida das pessoas.

Por sua vez, feito o trabalho de apuração, checagem, reportagem, pesquisa e

construção do conteúdo, o jornalista devolve este material para a sociedade expandir

seus horizontes reflexivos, acrescentando conhecimento extra e levando debates para

a sociedade. Como já foi explicado nessa dissertação, o jornalismo é uma conversa,

uma história que é trocada e contextualizada para expandir experiências de vida para

que as informações absorvidas façam a diferença na vida das pessoas.

Com as novas tecnologias, temos um oceano de informações para serem

exploradas. Para explorar esse oceano é necessário a capacidade de nadadores

profissionais com arpões para buscar o que é realmente relevante e importante para

as pessoas. Ou seja, estes nadadores profissionais que estão imersos na informação,

são os jornalistas, que diariamente vasculham universos de boatos, fotos, imagens

em vídeos, textos, telefonemas, planilhas, dados e informações secretas para levar a

público o que importa na vida dele e também para alertá-lo o que pode ser prejudicial

a sua vida em todos os sentidos. Sem alarmismo ou sensacionalismo, o jornalista

apenas informa ao público o que precisa ser dito, o fato.

Além de propagar informação, estas ferramentas captam informações, dados

que possam ser relevantes para o desenvolvimento jornalístico de uma história

factual. Elas estão disponíveis a todo instante, o elemento humano ajuda a sustentar

a base tecnológica com as próprias informações, transmitem sentimentos, impressões

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e expressões sobre qualquer assunto e por meio desta tecnologia é possível captar o

que é importante. Há também o trabalho de investigação, onde alguém se torna uma

fonte importante para distribuição de conteúdos que possam derrubar governos,

alterar cenários e até mesmo quebrar empresas. Tudo isso, com a força dos dados.

O jornalismo de dados é uma boa alternativa para dar uma renovada no jornalismo.

Os tradicionais processos de apuração, reportagem, edição e publicação ainda vão

permanecer na área por muito tempo, são essenciais para a execução do ofício. No

entanto, por meio dos dados é possível rastrear e lapidar um conteúdo que seja

significante como informação para o cotidiano.

Em poder destas informações preciosas e raras, é necessário destacar a

origem de cada dado e analisar o volume de informações, aplicando taxonomia de

cada dado para organizar os fluxos e chegar as demandas que a população requisita.

Com esta organização, é possível esmiuçar cada detalhe, sobre a origem do morador,

seus anseios, o que ele precisa e os seus motivos. Além disso, dá para resgatar um

levantamento histórico sobre como a região se organizou, foi povoada, como ela se

transformou de área residencial para industrial e de industrial para comercial, por

exemplo. No entanto, dá para definir indicadores de educação, saúde, segurança,

emprego e outras necessidades que são intrínsecas aos moradores de um

determinado quarteirão ou de uma rua, avenida, travessa ou viela. É possível resgatar

fatos para reconstruir fatores passados, fazer história, resgatar histórias. É necessário

treinar mais jornalistas para que seja possível um aumento de profissionais que

tenham interesse pelo ofício de se fazer jornalismo de dados. Bem como a prática de

jornalismo hiperlocal. Os bairros e pequenas cidades também podem ser foco de

importância jornalística para as redações. A partir de um rastro de informação, aquele

dado, sem ligações ou compromisso pode se tornar uma história que impacta outras

cidades, Estados e até mesmo países, como por exemplo, a queda de um avião em

uma cidade grande. O avião cai em um bairro, no bairro moram pessoas, pessoas tem

histórias e se tem histórias o lugar tem informações para o jornalista construir um fato

jornalístico e relevante para a sociedade.

O jornalismo hiperlocal pode ser um caminho para dar um fôlego novo aos

jornais de bairro, que hoje em dia são semelhantes ou cada vez mais próximos a

catálogos comerciais e publicitários, onde a publicidade tem mais espaço de destaque

que a própria notícia ou o trabalho do jornalismo em si. Como o jornalista, pesquisador

e professor de jornalismo Rodolfo Carlos Martino, que trabalhou em jornal de bairro

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por 25 anos, na publicação paulistana Gazeta do Ipiranga, conta em seu site98 sobre

um painel que participou em 1999, com representantes de 70 jornais de bairro da

cidade de São Paulo, sobre a importância da publicação para a cidade. Ele explica

que o jornal de bairro foi descaracterizado pela publicidade. Ele diz que à época,

quando a publicação tinha a tiragem de 60 mil exemplares por semana, mas o jornal

passava por profundas transformações. Ou seja, os jornais de bairro foram

descaracterizados editorialmente, antes porta-vozes das reinvindicações populares

agora tornaram-se vitrines publicitárias. Os jornais de bairro levavam ao poder público

as demandas dos moradores, e trabalhava pelo interesse da comunidade, pois os

grandes jornais não davam a devida atenção ou espaço para notícias como problemas

de luz, calçamento, asfalto, esgoto, água e outras demandas do serviço público local

em plena ditadura. Para o professor de jornalismo, os jornais de bairro perderam a

força e como são empresas familiares, optaram por trocar os valores editoriais do

jornalismo e tornaram-se vendedores de anúncios99.

O hiperlocal não é uma revitalização do jornal de bairro, talvez seja uma nova

forma de se fazer jornalismo de bairro, uma forma de se aproximar mais da

comunidade e conseguir informações e histórias que possam ser importantes na vida

daquelas pessoas. Como explica Damian Radicliffe, o hiperlocal é um serviço onde a

cobertura jornalística é feita em pequenas áreas por jornais ou emissoras de rádio e

televisão estabelecidos naquele lugar (2012, p.9). Por isso, o jornalismo profissional e

até mesmo o industrial têm um caminho para poder trilhar. O hiperlocal é uma forma

de se aproximar das pessoas e com isso conseguindo confiança da pequena

comunidade, com certeza é possível constatar que ganhou uma grande fonte de

informações que possam ser importantes para o jornalista. Pode ser que os grandes

grupos de mídia possam entrar neste espaço, porém, muito terá que se investir, talvez

como o periódico espanhol, Hoy, que criou uma redação hiperlocal com cada

correspondente instalado em uma cidade, tendo a responsabilidade de distribuir o

conteúdo para a comunidade e ao mesmo tempo ter proximidade para conquistar os

moradores para assim conseguir fazer uma informação de qualidade. Mas, claro,

98 MARTINO, Rodolfo. Jornal de Bairro. Um sonho que ainda não acabou. Rodolfo Martino.com.br. São Paulo, 01 dez. 2003. Disponível em: <http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo= 344>. Acesso em: 23 abr. 2016. 99 MARTINO, Rodolfo. Sobre jornais de bairro 2. Rodolfo Martino.com.br. São Paulo, 12 set. 2013. Disponível em: <http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo=2596>. Acesso em: 23 abr. 2016.

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assim como, o jornalista pode se aliar a um morador, ou aos moradores de

determinada comunidade. Vale lembrar que não basta apenas fazer jornais e matéria,

no caso do hiperlocal aquela pessoa vai ter que manter um contato mais próximo da

comunidade, engajar moradores para estimular a conversa. Estimulando a conversa,

faz com que as pessoas possam enxergar o que pode se fazer para manter melhor a

comunidade, como o local pode funcionar melhor e ao mesmo tempo mantendo uma

cadeia de contatos pode se manter uma rede de informação relevante para todos que

precisam compartilhar dados ou fatos relevantes a comunidade e seus moradores.

Sendo assim, é necessário observar que as redações ainda têm um longo

caminho para modificar ou aprimorar os processos de trabalho, capacitar melhor o

jornalista, o profissional precisa ser mais preparado. Isso também tem que ser

considerado que o fluxo de trabalho das redações precisa ser melhorado e o apoio de

tecnologia ajuda a acelerar o trabalho da redação durante o fechamento das

publicações, telejornais, rádio jornais e o insistente fechamento a minuto-a-minuto dos

portais de conteúdo. O público está mais pulverizado e além das mídias tradicionais,

novas estratégias editoriais para as novas mídias tanto no âmbito de distribuir e

produzir conteúdo. Para cada tipo de demanda, se aplica uma estratégia.

As empresas de comunicação buscaram se adaptar com a chegada da internet,

que torna-se cada vez mais uma base plana e larga da indústria do jornalismo, a

chegada das redes sociais, em que hoje em dia é praticamente obrigação ter um canal

de rede social ou micro blogs para poder enviar o conteúdo para a audiência e sentir

o feedback de forma praticamente instantânea para assim melhorar a estratégia de

trabalho e a qualidade do material jornalístico que é publicado. Além disso, as

informações estão por todos os lugares e por isso, o jornalista deve se preparar para

entrar nesse oceano informacional e separar o que mais importante é crucial para o

público. O open data impactou de forma positiva para a melhoria do trabalho do

jornalista. As informações têm um caminho mais definitivo que é a grande nuvem da

computação, cloud computing, e isso ajuda o jornalista a buscar rastros no meio do

labirinto informacional. Vide os casos de Wikileaks e The Panamá Papers que foram

citados nesse trabalho acadêmico.

O uso do aplicativo de mensagens WhatsApp ganhou espaço nas redações. É

quase que obrigação que todo jornal, redação de rádio e TV, jornalista tenha um

smartphone com o aplicativo. Pois, o aplicativo figura como um coringa que auxilia na

captação de dados, conversação com fontes e distribuição de mídias ou conteúdos.

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Algumas redações buscaram ampliar a proximidade conversando com as pessoas por

meio destes aplicativos como WhatsApp e similares como Viber e Telegram, que se

mostraram ferramentas muito eficientes para o trabalho do jornalismo.

Cabe ressaltar que objetos de estudo apresentados e analisados, não tem um

veículo que aplica plenamente inovações com Dados, Hiperlocal e Aplicativos. As

aplicações são parciais ou graduais. Mas, como explica Marshall McLuhan, "o meio é

a mensagem" na era da eletrônica existe um ambiente novo e o é o velho ambiente

mecanizado da era industrial. O novo reprocessa o velho tão radicalmente quanto a

TV está reprocessando o cinema, ou para termos atuais, a internet está

reprocessando a TV, o impresso e o rádio (1964, p. 11-12). Com certeza nos dias

atuais temos vários meios sendo mensagem nas suas diferentes formas e

características como texto, áudio, vídeo, fotos e novas mídias que ascendem a cada

instante para aprimorar a comunicação e, é claro, o jornalismo.

Os veículos estão tentando se adaptar. A quebra de resistência com os

parâmetros editoriais estabelecidos é gradual. Isso não significa que os jornalistas

mais experientes devem ser demitidos para contratar uma geração de jornalistas hi-

tech. No jornalismo, conta-se com fatores editoriais, criativos, narrativos, técnicos e

tecnológicos para se criar uma boa equipe e com isso conta também profissionais

experientes que passaram por várias coberturas de eventos históricos, mudanças e

mudanças de processos de trabalho jornalísticos. Junte-se isso a equipe de jovens

jornalistas que trazem novas perspectivas e ideias que foram testadas na faculdade.

Combinando o fator experiência com novo conhecimento, fortificam a indústria

jornalística e do conhecimento.

Sendo assim, é importante perceber que apesar de alguma resistência, ou

dificuldades, mudança de cultura, fatores financeiros e de falta de mão-de-obra

apropriada é possível compreender que as redações devem passar por um processo

de atualização profissional e tecnológica, estreitando os canais de contato com os

clientes que consomem seu conteúdo, estando sempre disposto a receber contado de

audiência nova que pode ser fidelizada.

A tabela mostra a síntese ou um mapeamento sobre como as empresas de

mídias e até as de tecnologia estão sendo estratégicas no momento de transmitir

conteúdo e informação. A fotografia atual desta pesquisa apresenta que as redações

e empresas do jornalismo ainda não buscaram um padrão para se fazer jornalismo

como fora feito antes quando as mídias tradicionais reinavam de forma absoluta.

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Agora, as mídias tradicionais convivem com novas tecnologias que são inseridas

gradualmente em processos de trabalho para tentar trazer algo novo ao público não

apenas no sentido cosmético, para dar uma jovialidade ao velho, mas para mostrar

ao público que ele é importante e relevante. Vários tubos de ensaios estão sendo

testados, tanto para a feitura de coberturas especiais, assim como para captar

informações para reforçar o fluxo de trabalho e garantir que o produto saia de forma

adequada para quem interessa. Mas, pelo cenário atual, dá para perceber que ainda

há espaço para se aprofundar nas narrativas emergentes, usando novas tecnologias

e casando com o que já é bem estabelecido, com a receita consolidada editorialmente.

Para as empresas mais vanguardistas, que buscam se renovar de forma constante,

atualizando seus ‘pátios informativos’, ou melhor, as redações devem considerar que

os gestões estão percebendo de forma gradual que os processos de produção de

informação de relevância social estão emparelhados com a produção de jornalismo

consolidada e a combinação destes elementos ou práticas de se fazer o jornalismo

são saudáveis em nome da busca da verdade e das informações factíveis que

abastecem as plataformas jornalísticas e de distribuição.

Sendo assim, esta pesquisa ainda precisa ser aprimorada, novas ferramentas

vão aparecer e neste momento será interessante estudar como que a informação, vira

dado, que vira notícia, que ganha o seu valor perante a sociedade, a comunidade, ao

indivíduo. É um caminho duro para se trilhar, no entanto pode ser uma forma de

recuperação no setor, mais uma alternativa que possa pelo menos contribuir com

alguma melhoria.

Pode ser que em algum tempo os players mudam de novo ou pode ser possível

que jornalismo como conhecemos venha a desaparecer, porém, isso é o que no

jornalismo chama-se de factoide, não é uma informação confiável, notícia falsa, bem

como pode ser um dado verdadeiro. O jornalismo e os jornalistas, que já observam e

sente o máximo da realidade para captar cada sentimento humano que é transmitido

a todo o instante, o jornalista tem que sair do arauto do pedestal, do palco. O jornalista

tem que batalhar na rua, nas redações, com novos pensamentos e ideais para

conseguir galgar o seu espaço. Chega um momento da vida em que novos

aprimoramentos saem da margem e ganham luz própria, engolindo até mesmo quem

não teve visão sobre determinado ideal que pode agregar no fazer jornalismo e

comunicação.

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Os profissionais do jornalismo precisam fazer autorreflexão sobre o que é fazer

e ser jornalista. Questionar seus papeis, descer do pedestal, buscar ideias de outras

áreas, até mesmo se arriscar em outras ciências, trazendo delas novas habilidades,

algo que possa agregar à atividade, melhorando o ofício e deixando essa melhoria

evidente para o público. Como aprimorar os processos, consultar as chefias diretas,

sem medo, com ideias abertas, porém com formalidade, no tom necessário. O

jornalismo entra nesse cenário de fazer muito mais com poucos e modernos recursos.

Não basta apenas tecnologia, pois o elemento humano será fundamental para

elaborar o material, que o público possa perceber que a melhoria o fez ser melhor

atendido. Os profissionais do jornalismo, em paralelo, precisam ter mais intimidade

com a tecnologia, para poder aprimorar e melhorar o ambiente e fluxo de trabalho dos

veículos de comunicação. Pois a principal mudança é fazer as transformações de

dentro para fora, confiando em um produto de qualidade e vendendo ele como se

fosse um bem raro. Os jornalistas precisam descer do pedestal, ou seja, precisa se

aproximar, para ficar em pé de igualdade com seu público, que em muitas vezes pode

ajudar o jornalista a dar um furo de reportagem. O jornalismo precisa romper com a

cultura estabelecida e precisa revisitar todo o procedimento, a forma de se trabalhar,

da direção até o ‘chão de fábrica’. É preciso entender o papel de cada ator no fazer

jornalismo nos tempos modernos.

O jornalismo vive uma experiência fluida, com animações, vídeos e imagens,

onde a todo instante e pode entrar pela porta da redação mais uma solução infalível

e confiável. Por isso, cabe fazer uma avaliação minuciosa e mais profunda as

ferramentas pesquisadas para buscar alternativas para se fazer um bom jornalismo e

ao mesmo tempo buscando o comportamento que possa render uma história que seja

compatível com o jornalismo do local, respeitando os princípios da profissão,

depositando a energia de se fazer reportagem para construir um conteúdo que possa

ser acessado por milhares. Esse momento de mudanças na redação é apenas o

começo do que pode acontecer em relação a melhorias e estrutura. Afinal, o

jornalismo é uma conversa, e esta conversa não vai terminar como muitos já previram

outras vezes. A tecnologia apenas vai fazer ressoar a conversa, dando alcance e força

para chegar a quem precisa.

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