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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
APARECIDO ANTONIO DOS SANTOS COELHO
HIPERLOCAL, DADOS E APLICATIVOS: inovações no fazer jornalismo e comunicação
São Bernardo do Campo, 2016
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
APARECIDO ANTONIO DOS SANTOS COELHO
HIPERLOCAL, DADOS E APLICATIVOS: inovações no fazer jornalismo e comunicação
Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Professor Doutor Walter Teixeira Lima Junior.
São Bernardo do Campo, 2016
C65h Coelho, Aparecido Antonio dos Santos
Hiperlocal, dados e aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação / Aparecido Antonio dos Santos Coelho. 2016.
197 p.
Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) -- Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2016.
Orientação: Walter Teixeira Lima Junior.
1. Jornalismo 2. Comunicação - Tecnologia 3. Big data 4. Hiperlocal I. Título.
CDD 302.2
FOLHA DE APROVAÇÃO
A dissertação/tese de mestrado “Hiperlocal, Dados e Aplicativos: inovações no fazer
jornalismo e comunicação”, elaborada por Aparecido Antonio dos Santos Coelho, foi
defendida no dia..........de....................... de............, tendo sido:
( ) Reprovada
( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa.
( ) Aprovada
( ) Aprovada com louvor
Banca examinadora:
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Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de pesquisa: Inovações Tecnológicas na Comunicação Contemporânea Projeto temático: Hiperlocal, Dados e Aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação
FOLHA DE APROVAÇÃO
A dissertação de mestrado/tese de doutorado sob o título “Hiperlocal, Dados e
Aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação”, elaborada por Aparecido
Antonio dos Santos Coelho foi defendida e aprovada em 13 de junho de 2016, perante
a banca examinadora composta por Professora Dra. Marli dos Santos, Professor Dr.
Walter Teixeira Lima Júnior e Professor Dr. Renato Cruz.
Declaro que o autor incorporou as modificações sugeridas pela banca examinadora,
sob a minha anuência enquanto orientador, nos termos do Art. 34 do Regulamento
dos Cursos de Pós-Graduação.
Assinatura do orientador: ___________________________________________
Nome do orientador: _______________________________________________
Data: São Bernardo do Campo, __________de________________de________
Visto do Coordenador do Programa de Pós-Graduação: __________________
Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de pesquisa: Inovações Tecnológicas na Comunicação Contemporânea Projeto temático: Hiperlocal, Dados e Aplicativos: inovações no fazer jornalismo e comunicação
DEDICATÓRIA
Dói muito. Chorei muito. Pensei muito sobre que escrever neste espaço. Nunca foi tão difícil pensar e escrever após tudo que aconteceu. Por um instante, questionei se
tudo valia a pena e pensei em desistir de tudo.
Mas, eu sei que você não ficaria satisfeita com isso. Pois, você me deu a vida, a base, a formação e o caráter. Você acompanhou todos meus avanços e retrocessos.
Vitórias e derrotas, quedas e subidas.... Me apoiou e sempre acreditou em mim, me deu força para seguir em frente. Olhava para mim com esperança e nesse olhar
dava para sentir que tudo daria certo. Você mais uma vez me acompanhou nessa jornada e por um golpe ou ironia do destino, não pode acompanhar esse desfecho.
Eu sei que agora você reencontrou o seu Antonio e estão tranquilos, me observando com a certeza de que conseguiram criar alguém com dignidade, caráter, que sabe
batalhar e que quer vencer na vida.
Aqui na Terra, agora vou sozinho nessa jornada, mas ao mesmo tempo, eu sei que vocês estão comigo.
Com certeza, sempre em algum momento, o mundo vai saber quem são vocês: Antonio Ferreira Coelho e Maria Francisca do Livramento Santos.
Espero não decepcioná-los nessa nova caminhada que sigo.
Talvez, um dia, nos reencontremos novamente.
Gratidão e respeito por tudo.
Panta Rhei (Tudo Flui).
AGRADECIMENTOS
À Universidade Metodista de São Paulo, pela nova oportunidade acadêmica que obtive, ao retornar nesta honrosa instituição a qual tanto respeito.
Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, o PósCom, que sempre se esforça para trazer o potencial do conhecimento, contribuindo assim para o meu desenvolvimento acadêmico, pessoal e profissional.
À equipe de colaboradores e a coordenação do PósCom que sempre me tratou bem e com respeito. Grato a professora Dra. Marli dos Santos, que novamente tive a oportunidade de ter aulas após passar pela graduação em Comunicação Social entre 2004 e 2007 nesta mesma universidade. Obrigado pela atenção e pela paciência.
Ao meu parceiro e orientador, professor Dr. Walter Teixeira Lima Junior, que abriu os meus olhos e a minha mente para novas descobertas e perspectivas no mundo da comunicação e tecnologia. Me fez sair e romper o comportamento behavorista para compreender e enxergar os novos horizontes no universo da tecnologia e da comunicação. Sou grato ao incentivo acadêmico e intelectual durante a orientação e força pessoal que me foi prestada nos momentos mais difíceis da minha vida.
Ao honrado professor Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra, que me fez perceber novos prismas no ambiente da tecnologia digital e comunicação, com perspectivas futuristas e ao incentivo acadêmico para novas possibilidades neste universo que está cada vez mais volátil e promissor para a humanidade.
À Capes, que me proporcionou apoio financeiro para seguir com a pesquisa acadêmica que impulsionou o meu crescimento intelectual. Espero que esse recurso investido em mim possa ser revertido para a melhoria dos saberes a qual me especializo e que eu possa compartilhar essa sabedoria com todos que possam se interessar.
A todos, agradeço que de alguma forma me deram apoio direto e indireto para seguir no que eu acredito e espero. Como diz o filósofo Platão: “Uma vida sem pesquisa não é digna de ser vivida pelo homem”.
EPÍGRAFE
Ele fechou os olhos. Encontrou a face em relevo do botão de Power.
E, na escuridão iluminada de sangue atrás de seus olhos, fosfenos prateados queimando na borda do espaço, imagens hipnagógicas se alternando rapidamente
como filmes compilados a partir de frames aleatórios. Símbolos, figuras, rostos, uma mandala fragmentada de informação visual.
— William Gibson, em Neuromancer
RESUMO
A evolução tecnológica na comunicação contemporânea estrutura sistemas digitais via redes de computadores conectados e exploração maciça de dispositivos tecnológicos. Os dados digitais captados e distribuídos via aplicativos instalados em smartphones criam ambiente dinâmico comunicacional. O Jornalismo e a Comunicação tentam se adaptar ao novo ecossistema informacional impetrado pelas constantes inovações tecnológicas que possibilitam a criação de novos ambientes e sistemas para acesso à informação de relevância social. Surgem novas ferramentas para produção e distribuição de conteúdos jornalísticos, produtos baseados em dados e interações inteligentes, algoritmos usados em diversos processos, plataformas hiperlocais e sistemas de narrativas e produção digitais. Nesse contexto, o objetivo da pesquisa foi elaborar uma análise e comparação entre produtos de mídia e tecnologia específicos. Se as novas tecnologias acrescentam atributos às produções e narrativas jornalísticas, seus impactos na prática da atividade e também se há modificação nos processos de produção de informação de relevância social em relação aos processos jornalísticos tradicionais e consolidados. Investiga se o uso de informações insertadas pelos usuários, em tempo real, melhora a qualidade das narrativas emergentes através de dispositivos móveis e se a gamificação ou ludificação altera a percepção de credibilidade do jornalismo. Para que assim seja repensado a forma de se produzir e gerar informação e conhecimento para os públicos que demandam conteúdo. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo; tecnologia; comunicação; big data; hiperlocal; aplicativos
ABSTRACT
Technological developments in contemporary communication structure digital systems through networks of connected computers and exploitation of technological devices. The digital data captured and distributed through applications installed on smartphones create dynamic communications environment. Journalism and communication are trying to adapt to the new information ecosystem entreated by constant technological innovations that allow the creation of new environments and systems access to information of social relevance. New tools for the production and distribution of content, based on data and intelligent interactions products, the algorithms used in the different processes, hyperlocals platforms and narrative and digital production systems. In this context, the objective of this study was to develop an overview with analysis and comparison between the products of the media and technology are the new technologies add attributes to the narrative and journalistic productions and its impact on the practice of activity. It also examines whether there are changes in the production processes of social interest information regarding processes and consolidated traditional journalism. Investigates the use of information inserted by users, in real time, it improves the quality of the narratives derived from mobile devices and if the gamification alters the perception of the credibility of journalism. For so be rethought the way to produce and generate information and knowledge for the public demanding content.
KEYWORDS: journalism; technology; communication; big data; hyperlocal; applications
RESUMEN
Los desarrollos tecnológicos en la comunicación contemporánea estructura sistemas digitales a través de redes de computadoras conectadas y explotación de dispositivos tecnológicos. Los datos digitales capturados y distribuidos a través de las aplicaciones instaladas en los smartphones crear entorno dinámico de comunicación. El periodismo y la comunicación están intentando adaptarse al nuevo ecosistema informativo impetrado por las constantes innovaciones tecnológicas que permiten la creación de nuevos entornos y sistemas de acceso a la información de relevancia social. Existen nuevas herramientas para la producción y distribución de contenidos, productos basados en datos e interacciones inteligentes, los algoritmos utilizados en los diferentes procesos, plataformas y sistemas hiperlocais de narrativa y la producción digital. En este contexto, el objetivo de este estudio fue elaborar un panorama general, con análisis y comparación entre los productos de los medios de comunicación y la tecnología son las nuevas tecnologías agregar atributos a las producciones narrativas y periodísticas y sus impactos sobre la práctica de la actividad. También examina si hay cambios en los procesos de producción de información de interés social en relación con los procesos de periodístico tradicional y consolidado. Investiga el uso de información insertadas por los usuarios, en tiempo real, mejora la calidad de las narrativas derivadas a través de dispositivos móviles y si el gamificação o ludificação altera la percepción de la credibilidad del periodismo. Por lo que replantearse la forma de producir y generar información y conocimiento para el público exigente. PALABRAS CLAVE: periodismo; tecnologia; comunicación; big data; hiperlocal; aplicaciones
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Mapa lógico da Arpanet em 1977. A rede em gestação ........................... 17
Figura 2 – Panorama do digital no Brasil ................................................................. 33
Figura 3 – Indicadores de crescimento de consumo digital no Brasil ....................... 33
Figura 4 – Demissões de jornalistas profissionais 2012-2015................................... 36
Figura 5 – Demissões de jornalistas por veículo de imprensa ................................. 37
Figura 6 – Página no portal Estadão.com.br do serviço FotoRepórter ..................... 46
Figura 7 – Home do canal ‘Vc Repórter’ no Portal Terra, em 2012 ........................... 48
Figura 8 – Interface do TweetDeck versão Desktop ................................................. 63
Figura 9 – Interface do Hootsuite, na versão browser .............................................. 65
Figura 10 – Motor de funcionamento do aplicativo Dataminr ................................... 66
Figura 11 – Interface da ferramenta Dataminr .......................................................... 67
Figura 12 – Funcionamento do Dataminr .................................................................. 68
Figura 13 – Interface do Waze para navegador ....................................................... 69
Figura 14 – Tutorial em inglês sobre como usar o aplicativo Moovit ........................ 70
Figura 15 - Diagrama de Paul Baran: centralizado, descentralizado e distribuído .... 96
Figura 16 – Interface da ABC News no videogame Xbox One .................................. 97
Figura 17 - Diagrama que mostra o sistema geral de comunicações ........................ 98
Figura 18 – Pirâmide do Conhecimento – DIKW ..................................................... 100
Figura 19 – Fluxo do conhecimento DIKW .............................................................. 101
Figura 20 – BBC The New Broadcasting House .................................................... 105
Figura 21 – Estrutura da newsroom da BBC .......................................................... 106
Figura 22 – Fachada do #guardiancoffee ................................................................ 107
Figura 23 – Painel de informações do #guardiancoffee .......................................... 108
Figura 24 – Origem das tecnologias LCD, LED, Plasma, OLED e CRT .................. 112
Figura 25 – Diagrama das Causas de Morte no Exército no Leste (1858) .............. 126
Figura 26 – Diagrama que representa a mortalidade de feridos e mortos por doenças
nos hospitais do Exército Britânico no período de abril de 1854 a março de 1856 . 127
Figura 27 – Mapa completo de John Snow: por meio do mapa ele descobriu a
origem do vetor da cólera. O mapa serviu também como registro das mortes ...... 132
Figura 28 – Mapa de Snow aponta a bomba de água (Pump) problemática. O poço
foi contaminado por uma fossa com excrementos de infectados por cólera .......... 131
Figura 29 – Réplica da bomba problemática, próximo ao local da antiga bomba ... 132
Figura 30 – Globo Amazônia levou o mapeamento de dados e a interatividade para
as redes sociais, como o Orkut, da Google ............................................................ 134
Figura 31 – Capa do projeto Globo Amazônia. Mapeamento da floresta ............... 135
Figura 32 – ‘Buracômetro’ da BandNews FM ......................................................... 136
Figura 33 – Capa do site Bournville News, que informa 25 mil moradores de
Bournville Village (Inglaterra) .................................................................................. 139
Figura 34 – Página de notícia hiperlocal do site Berkeleyside, de Berkeley/CA .... 140
Figura 35 – Online News Startups – Mapa de startup de jornalismo hiperlocal ...... 141
Figura 36 – Capa do jornal brasileiro de bairro Jabaquara News ........................... 143
Figura 37 – Capa do site Ipiranga News, da empresa Grupo Bairros Unidos......... 144
Figura 38 – Capa do HoyExtremadura – Red de Hiperlocales ............................... 145
Figura 39 – Contatos da Red de Hiperlocales - Responsável pela edição local ..... 146
Figura 40 – Capa “Nacional/Extremadura” do periódico Espanhol ‘Hoy” ................ 147
Figura 41 – Capa digital “Hiperlocal” do periódico Espanhol ‘Hoy”, em Talayuela . 148
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Exemplo de uso de monitoramento na rede social Twitter ...................... 64
Tabela 2 – Esquema do citzen setting .................................................................... 110
Tabela 3 – Comparação: Do gatekeeping ao citzen setting .................................... 111
Tabela 4 – Tabela de análise de comparação dos estudos de caso ....................... 176
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Base editorial das redações de impresso, web, rádio e televisão ......... 118
Gráfico 2 – Área de cobertura jornalística e percepção de sua audiência, de acordo
com o tema abordado pela produção jornalística .................................................... 120
Gráfico 3 – Relacionamento das instituições locais e seus papeis no ambiente
informacional. A conversa da comunidade com os pontos focais ........................... 123
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17 CAPÍTULO I – MUTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO EM TRANSFORMAÇÃO ................................................................................................. 30
1. O processo jornalístico ................................................................................... 30 1.1. Mudanças no fazer jornalismo ................................................................. 30 1.2. Tecnologia a serviço do jornalismo .......................................................... 38 1.3. Colaboração: o leitor mais participativo ................................................... 43 1.4. Da agenda do dia para a curadoria: uma transição? ............................... 48
2. Uso das novas ferramentas no jornalismo ...................................................... 54 2.1. É uma conversa: O jornalismo tornou-se mais social .............................. 54
2.2. Como captar informações? ...................................................................... 56 2.3. Estratégias editoriais para as redes sociais ............................................. 57
2.4. Ferramentas para seguir rastros de informação ...................................... 61 2.4.1 TweetDeck .......................................................................................... 62 2.4.2 Hootsuite ............................................................................................. 64 2.4.3 Dataminr ............................................................................................. 65 2.4.4 Waze ................................................................................................... 68 2.4.5 Moovit ................................................................................................ 69
CAPÍTULO II – TECNOLOGIA: PLATAFORMAS, APLICATIVOS E NOVOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO ................................................................................ 71
1. O avanço da tecnologia na comunicação ....................................................... 71 1.1. Novas plataformas de comunicação ........................................................ 71 1.2. Interface, mobile e desktop ...................................................................... 78 1.3. Aplicativos que atendem (ou substituem) o jornalismo ............................ 79
2. Inteligência Social: Open data, sistemas inteligentes e algoritmos ................. 83 3. Narrativas digitais: Fragmentação, distribuição, engajamento e retorno ........ 86
CAPÍTULO III – CAMINHOS DO CONTEÚDO E INFORMAÇÃO ............................ 91 1. Fazer jornalismo no século XXI ..................................................................... 91 2. Novos fluxos e caminhos da notícia................................................................ 94 3. Novas dinâmicas para estratégias editoriais ................................................. 102 4. Citzen Setting ocupa seu espaço ................................................................. 109 5. O que fazer com tanta informação? .............................................................. 112
CAPÍTULO IV – HIPERLOCAL E BIG DATA ......................................................... 115
1. Compreendendo o Hiperlocal ....................................................................... 115 1.1. Soluções por meio da proximidade ........................................................ 121
1.2. Mapear e interpretar informações ......................................................... 124 1.3. Diagrama que salva vidas ..................................................................... 125 1.4. Mapa vence o cólera em Londres ......................................................... 127 1.5. Hiperlocal encontra a web e TV ............................................................ 133 1.6. A rádio que mapeia buracos.................................................................. 136 1.7. A comunidade diante do seu ambiente ................................................. 138 1.8. Hiperlocal profissional no Brasil e Espanha .......................................... 142
2. Big Data está entre nós ................................................................................ 149 2.1. Uso de Big Data na comunicação ......................................................... 149 2.2. Data mining para extrair dados e atender demandas ............................ 155
CAPÍTULO V – ESTUDOS DE CASO.................................................................... 158 1. Objetos de estudo e aplicação da metodologia ............................................ 158 2. Mídias emergentes ....................................................................................... 160
2.1. Redes sociais: Facebook e Twitter ........................................................ 160 2.2. Aplicativos de mensagens: WhatsApp e Snapchat ............................... 161 2.3. Localização (hiperlocal e mapas) .......................................................... 162
2.4. Gameficação ......................................................................................... 163 2.5. Big Data (dados) .................................................................................. 163
3. Estratégias dos veículos de comunicação e produtos .................................. 165
3.1. O Estado de S. Paulo: mídias que conversam com o público; reportagem com dados ....................................................................................................... 165
3.2. TV Globo/G1: WhatsApp que recebe vídeo e pautas ............................ 166 3.3. Bournville News: modelo de jornalismo hiperlocal ................................ 168 3.4. Hoy: grande mídia fazendo hiperlocal; rede de hiperlocais .................. 169 3.5. BBC: multimídia fluída; Snapchat para narrativas digitais ..................... 170 3.6. BandNews FM: redes sociais para prestação de serviço ...................... 171 3.7. Bairros Unidos: Ipiranga News e Jabaquara News: jornais distantes do
bairro ................................................................................................................ 172 3.8. SeeClickFix: aplicativo emula jornalismo de serviço ............................. 173 3.9. Waze: serviço de alertas de trânsito gamificado ................................... 174
4. Método de análise – Comparativo: Uso de tabela ........................................ 175 5. Resultados ................................................................................................... 177
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 181 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 191
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INTRODUÇÃO
A sociedade moderna, baseada em captação, compartilhamento e distribuição
de informação, rapidamente passa por grandes e profundas transformações. O mundo
da comunicação atual já não é mais o mesmo dos anos 80 do século XX, quando as
mídias predominantes eram estruturadas apenas em broadcast media, ou seja, mídia
de difusão, como rádio e televisão, e na mídia impressa, como revistas e jornais.
Agora, usa-se sistemas de comunicação estabelecidos ou baseados em
computadores, que por sua vez transmitem grande volume de dados em um tempo
muito enxuto. Os computadores tornaram-se uma forma eficiente de se propagar e
distribuir comunicação. O cientista estadunidense, considerado um dos mais
importantes nomes da história das ciências da computação, o psicólogo J. C. R.
Licklider, escreveu um artigo em abril de 1968 para a publicação Science and
Technology, sob o título “The Computer as a Communication Device”1, onde ele
explica ou ‘prevê’ que o computador conectado por meio da rede telemática mudaria
sua própria função principal, tornando-o uma eficiente e poderosa máquina
comunicacional.
Muitos engenheiros de comunicação, também, estão excitados sobre a aplicação de computadores digitais para comunicação. Entretanto, a função que eles querem que os computadores implementem está mudando de função. Os computadores vão alterar os destinos da comunicação, conectando linhas, através de configurações requeridas ou trocando (o termo técnico é “armazenar e enviar”) mensagens (LICKLIDER, 1990, p.28)2.
As distâncias foram reduzidas, a propagação de conteúdo é praticamente
instantânea. E isso se acelerou com a ascendência da internet, que começou a se
desenvolver como uma rede estruturada de informação. A partir desse sistema de
rede de informação, que surgiu em plena Guerra Fria, com a Arpanet3, em 1969, o
mundo começou a ficar mais conectado, integrado, mapeado, comunicativo e com
1 IN MEMORIAN: J.C.R. Licklider (1915 – 1990). Disponível em: <http://sloan.stanford.edu/mousesite/ Secondary/Licklider.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015. 2 Many communications engineers, too, are presently excited about the application of digital computers to communication. However, the function they want computers to implement is the switching function. Computers will either switch the communication lines, connecting them together in required configurations, or switch (the technical term is “store and forward”) messages. 3 Acrônimo de Advanced Research and Projects Agency ou, em português, Agência de Pesquisas em Projetos Avançados, que foi a primeira rede operacional de computadores à base de comutação de pacotes. Foi criada apenas para os militares e é também o precursor da internet.
18
muitas informações. A rede tornou-se essencial para o desenvolvimento da
sociedade. Comparável com a chegada da eletricidade, a internet modificou o
comportamento, cadeia de produção e a interação entre seus iguais na sociedade.
A Internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da Informação: a rede (CASTELLS, 2001, p. 7).
Este processo aprimorou a captação de informação de maneira veloz. Isso
proporcionado com o avanço tecnológico dos computadores, que gradualmente passa
a ter uma imensa capacidade de processamento de dados.
Figura 1 – Mapa lógico da Arpanet em 1977. A rede em gestação
Fonte: Arpanet
Com isso, uma nova independência eletrônica recria o mundo à uma imagem
de uma aldeia global (MCLUHAN, 1977, p. 58).
19
O estudo científico visa analisar como que pela adoção de sistemas de
comunicação baseados em volume de dados (big data), inovações tecnológicas
(aplicativos), que permitem visualizações de informações locais (hiperlocal), em
tempo real, e dispositivos móveis, onde novas possibilidades e plataformas de
narrativas digitais no campo do jornalismo e da comunicação estão surgindo e
ampliando, bem como, de forma lúdica, como a gamificação, a transmissão e
consumo de informações de relevância social. Estas informações nestes três recortes
são compartilhadas e propagadas a todo instante, contribuindo nas inovações de
produção e narrativa jornalística.
Por isso, também são apontadas as mídias e aplicativos que mudam a forma
de fazer jornalismo e comunicação, que pulsam dados e informações a todo tempo
para atender as necessidades informacionais que os usuários demandam para a
tomada de decisão, independentemente da plataforma de distribuição de conteúdo.
Assim, novas histórias possam ser contadas conforme o tempo, espaço, ritmo,
qualidade e quantidade de informações distribuídas por estes meios e que atendam
as demandas do jornalismo, da comunicação e de seus profissionais.
Os objetivos gerais deste trabalho foi como que dados extraídos por novas
fontes de informação como os dispositivos e computadores contribuem para a geração
das novas narrativas podem impactar no processo de produção do jornalismo. Além
disso, foi observado nos objetivos específicos se uso de novas mídias modifica o
processo de produção de conteúdo.
Para identificar as contribuições dessas tecnologias para o aprimoramento da
produção e a construção de novas narrativas jornalísticas, demostrando as diferenças
entre o que é realizado no jornalismo e as tecnologias emergentes estruturadas em
base de dados foram avaliados sete produtos de mídia e dois aplicativos. São
produtos comunicacionais emergentes e ferramentas que pulsa dados em tempo real.
Os produtos avaliados foram selecionados e estudados a partir do nível de relevância
em audiência, alcance do público, em maior e menor relevância, tipo de mídia, como
impresso, digital, televisão, rádio, mídia estabelecida no Brasil, com conteúdo feito no
País e mídias que atuam fora do País, ou seja, as empresas de mídia multinacionais
que tem grande alcance global. As mídias selecionadas foram duas mídias com matriz
impressa, porém com uma base multimídia estabelecida, no caso do jornal brasileiro,
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lotado em São Paulo, O Estado de S. Paulo4 e o Hoy – Diário de Extremadura5,
com a redação localizada na Espanha; a TV Globo, o maior canal de televisão em
faturamento e audiência do Brasil, com sedes no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília,
Belo Horizonte e Recife vinculados a 28 grupos de mídia afiliados6 que mantém o
portal de notícias na web G17; o site de jornalismo comunitário hiperlocal, Bournville News8, do condado de Bournville, na Inglaterra; a rede de televisão e multimídia
pública britânica BBC9; a rede de rádio de notícias brasileira BandNews FM, sediada
em São Paulo; e os jornais de bairro Jabaquara News10, que é distribuído no distrito
do Jabaquara, zona sul da cidade paulistana e Ipiranga News11, que é distribuído em
bairros do distrito do Ipiranga, também na zona sul de São Paulo, ambos da Empresa
Jornalística Bairros Unidos, que também está lotado em São Paulo.
Além disso, foram adicionados um aplicativo cidadão para celulares e
smartphones chamado SeeClickFix12, que estimula a comunidade de apontar os
problemas para melhorar o local em que se vive, como por exemplo, informações
sobre buracos ou equipamentos públicos quebrados. O outro objeto analisado foi o
aplicativo de geolocalização Waze13, da Google, que é focado em mapas, muito usado
nas grandes cidades, que ajuda o usuário com rotas e alternativas para fazer o seu
melhor trajeto, evitando tráfego intenso provocado por acidentes ou por excesso de
veículos, fazendo assim com que o usuário faça o melhor caminho. O aplicativo
também faz a troca de informações entre os usuários que o utilizam para que qualquer
um que siga fazendo o mesmo trajeto tenha a informação mais recente disponível em
seu sistema, no caso os smartphones.
Foi pesquisado e analisado a ascendência de novas tecnologias que propagam
informação; o uso de novos aplicativos para captação de dados; a prática de
jornalismo hiperlocal e seus impactos; a ascendência de novos sistemas de
informação; e como o Open Data impacta na produção de conteúdo. Além disso,
4 Disponível em <http://www.estadao.com.br>. Acesso em: 15 jul. 2016. 5 Disponível em <http://www.hoy.es>. Acesso em: 15 jul. 2016. 6 Disponível em <http://redeglobo.globo.com/Portal/institucional/foldereletronico/g_globo_brasil.html>. Acesso em: 15 jul. 2016. 7 Disponível em <http://g1.globo.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 8 Disponível em <http://www.bournvillevillage.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 9 Disponível em <http://www.bbc.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 10 Disponível em < http://www.ipiranganews.inf.br/_JabaquaraNews/>. Acesso em: 15 jul. 2016. 11 Disponível em < http://www.ipiranganews.inf.br/>. Acesso em: 15 jul. 2016. 12 Disponível em <http://www.seeclickfix.com>. Acesso em: 15 jul. 2016. 13 Disponível em < http://www.waze.com/>. Acesso em: 15 jul. 2016.
21
ferramentas de comunidades sociais de jogos de videogame – game apps, as
principais, como PlayStation Network14 e Xbox Live15 também foram analisados
para entender como estes aplicativos voltados para games impactam na distribuição
de conteúdo e na prática de gamificação.
Com auxílio de pesquisas de LIMA JUNIOR, MCLUHAN, WIENER, PRIMO,
SHANNON, WEAVER, CASTELLS, JOHNSON, SQUIRRA, GLEICK, KELLY,
RECUERO, JENKINS, TOFFLER e entre outros autores na bibliografia proposta,
serão avaliados e descritos a percepção dos usos dos aplicativos e dados no
jornalismo e entre outras ferramentas digitais.
É um conteúdo que informa o leitor? São tecnologias que modificam processo
de consumo de informação porque não têm há o gatekeeper, ou seja, o porteiro que
abre ou fecha o portão para as informações. Neste caso, especialista da informação
geralmente torna-se mais ativo no o papel de curador. Com a curadoria, mantém-se
ou até mesmo aprimora a qualidade o conteúdo que chega de fora à disposição dos
anseios do seu público-alvo. Quando necessário, o jornalismo pode evidenciar o
citizen setting, em que as pessoas comuns determinam qual conteúdo se torna
relevante para elas mesmas. O próprio cidadão pauta a redação via redes sociais, no
sentimento social, os assuntos do dia, aquilo que vai atender as suas próprias
necessidades e mesmo de forma mais distante da redação pode determinar de forma
objetiva dos assuntos do dia para o jornalista via tendências discutidas nas redes
sociais, com vários retornos ou feedbacks para atualização do conteúdo ao público
demandante de informação.
O Jornalismo Cívico ou Público é considerado uma solução para inserir os leitores/ouvintes/telespectadores na cadeia de decisão dos processos de produção de conteúdo jornalismo praticado nas últimas décadas. Contudo, o Jornalismo Cidadão possui uma diferença fundamental, em relação ao Jornalismo Cívico ou Público, pois é elaborado, essencialmente, por não-jornalistas formados, ou seja, por pessoas sem treinamento específico em Jornalismo, mas que possuem outra formação profissional ou educacional. Ele é realizado de maneira não-remunerada, de forma ‘amadorística’ (LIMA JR., 2012, p.123).
Ou seja, os assuntos mais importantes e relevantes para a audiência têm mais
peso do que os temas propostos pelos jornalistas na tradicional agenda setting ou
14 Disponível em: <http://br.playstation.com/psn/>. Acesso em: 19 jul. 2016. 15 Disponível em: <http://www.xbox.com/pt-BR/live>. Acesso em: 19 jul. 2016.
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espiral do silêncio, onde a mídia determina a pauta, os assuntos do dia, os fatos para
a opinião pública sem contrapartida desta, ignorando algumas informações e
levantando outras em um suposto interesse e benefício da sociedade, chegando
assim ao priming1617.
No entanto, ainda cabe ao jornalista balizar a relevância destas informações e
qual é o impacto delas no seu cotidiano. Com isso, o leitor entra na cadeia da produção
de informação e assim torna-se elemento importante na propagação de conteúdo
relevante para a sociedade.
Mesmo num ambiente em que a imprensa deixou de ser a guardiã (gatekeeper) como vimos antes, e o seu conceito se polarize para uma entidade cada vez menos homogênea e escrutinada, estes princípios garantem-lhe, teoricamente, maior solidez de legitimação pública. Esta dimensão interpretativa tem que, obrigatoriamente, ser confrontada coma realidade. Com as realidades distintas quer de país para país, de continente para continente, quer de cidade para cidade, onde os jornalistas se debatem hoje com inúmeros desafios. Sobretudo dois: i) manter intacto o papel insubstituível da profissão e ii) não perder o “comboio” da mundividência comunicativa da era hipermoderna, de que fala Lipovetsky (2010) (AMARAL, p. 14, 2011).
A dissertação evidencia como que a comunicação pode ser mais eficiente ao
mapear as informações em um determinado contexto. Como uma notícia mapeada
por meio de dados abertos torna-se relevantemente importante para se contar uma
boa história, com o mínimo de erros, boa assertividade e o máximo de eficiência na
transmissão e distribuição da informação.
"[...] a sociedade só pode ser compreendida através do estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que disponha: e de que no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre os homens e as máquinas, entre as máquinas e o homem, e entre a máquina e a máquina, estão destinadas a desempenhar o papel cada vez mais importante" (WIENER, 1954, p. 16).
Experiências de redações de jornalismo pelo Brasil e ao redor do mundo que
se dedicam ao jornalismo de dados e ao hiperlocal também serão evidenciados nesta
16 O priming é um efeito experimental que se refere à influência que um evento antecedente (prime) tem sobre o desempenho de um evento posterior (alvo). Em outras palavras, pode-se dizer que, nesse método, supõe-se que uma palavra possa ser acessada mais rapidamente se precedida por outra palavra com a qual ela partilhe características semânticas (médico/hospital), fonológicas (hora/oca), ou morfológicas (dança/dançarino). 17 Psicolinguística Wiki - UFMG. Disponível em: <http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/index.php/ Priming>. Acesso em: 18 set. 2015.
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dissertação, mostrando como pode uma história pode ser construída por meio de
levantamento de informações de um usuário por meio do lúdico, da gamificação ou
por um recurso de mapeamento. Assim, consolidando uma base de dados e a relação
com as redes sociais para se publicar um conteúdo confiável.
"Do lado positivo, a automação cria papéis que as pessoas devem desempenhar, em seu trabalho ou em suas relações com os outros, com aquele profundo sentido de participação que a tecnologia mecânica que a precedeu havia destruído. Muita gente estaria inclinada a dizer que não era a máquina, mas o que se fez com ela, que constitui de fato o seu significado ou mensagem. Em termos da mudança que a máquina introduziu em nossas relações com outros e conosco mesmos, pouco importava que ela produzisse flocos de milho ou Cadillacs. A reestruturação da associação e do trabalho humanos foi moldada pela técnica de fragmentação, que constitui a essência da tecnologia da máquina. O oposto é que constitui a essência da tecnologia da automação. Ela é integral e descentralizadora, em profundidade, assim como a máquina era fragmentária, centralizadora e superficial na estruturação das relações humanas (MCLUHAN, 1964, p.21).
Por isso, para definir esse universo, foram determinadas as seguintes
hipóteses que regem este trabalho acadêmico. São elas:
1 – As narrativas emergentes acrescentam novos atributos às narrativas jornalísticas tradicionais e consolidadas.
2 – Há modificação nos processos de produção de informação de relevância social em relação aos processos jornalísticos tradicionais e consolidados.
3 – O uso de informações insertadas pelos usuários, em tempo real, melhora a qualidade das narrativas emergentes através de dispositivos móveis.
4 – A gamificação ou ludificação do jornalismo altera a percepção de credibilidade do mesmo.
O conceito de propagação de conteúdo e curadoria da informação num ciclo
usado em novas mídias de interpretação com a mídia tradicional, gera uma cultura de
convergência e coexistência entre as mídias que vão interagir de forma cada vez mais
complexas (JENKINS, 2006).
Nos cinco capítulos desta dissertação são abordados temas como hiperlocal,
big data, informação, conteúdo, comunicação, tecnologia, algoritmos, aplicativos,
novas narrativas e gamificação. Os capítulos estão intitulados e organizados como:
24
Mutação da Comunicação: Jornalismo em Transformação, os desafios do
jornalismo diante novos cenários no setor, como que a crise está obrigando a área a
se atualizar e fazer mudanças bruscas para manter o ofício; Tecnologia: Plataformas, Aplicativos e Novos Sistemas de Informação, como que a tecnologia
pode apoiar de forma adequada o jornalismo e a comunicação por meio de novas
tecnologias, bem como o uso de novos dispositivos, aplicativos e outros para
aprimoramento da comunicação; Caminhos do Conteúdo e Informação, que
contextualiza os novos fluxos e caminhos da notícia, novas dinâmicas para pensar em
novas estratégias editoriais, o papel maior do cidadão na produção de conteúdo e o
papel do jornalista como curador e validador da informação; Hiperlocal e Big Data, a
cobertura jornalística na menor área territorial, se o jornalismo faz cobertura adequada
em uma determinada região, por isso o termo hiperlocal, e se o ofício faz o uso
adequado do grande volume de dados para produzir notícia e conteúdo relevante para
as pessoas; Estudos de Caso, com a visão geral dos objetos estudados – que
desenrolam o cenário da comunicação, da tecnologia, do jornalismo, novas mídias,
dados, aplicativos, informação, estudos de caso e por fim, com os resultados em
mãos, foi realizada uma análise final, uma fotografia de como está a mídia neste
momento, com as novas práticas e tecnologias que estão sendo insertadas nas rotinas
dos profissionais da comunicação diante de procedimentos já consolidados, com uma
cultura estabelecida por muitos anos, diante de resistências e mudanças bruscas no
setor, como demissões e novos insights tecnológicos para atender uma demanda
maior de consumidores de conteúdos em suas diversas plataformas e novas formas
de consumo de informação.
Com essa divisão, foi viabilizada a possibilidade de angariar novos elementos
para aprimorar a captação dos dados para pesquisa, análise, apuração e propagação
de informações para o cliente que consome conteúdo. Por meio da avaliação de
produtos, análise com o conteúdo dos autores, documental, critérios e categorias, será
constituído uma tabela comparativa de dados para levantar entre as novas mídias qual
é sua relevância para a construção de novas narrativas, a qualidade da aplicação do
volume de dados captados e o seu alcance para atender a demanda hiperlocal, para
assim, identificar as inovações aplicadas no modo de fazer jornalismo e comunicação.
A pesquisa avaliou e traçou um cenário sobre como o jornalismo e a
comunicação estão sendo impactados nos processos de produção. Como que o leitor
está percebendo essas mudanças e como que as empresas de comunicação estão
25
se adaptando aos novos tempos. Foi revisitado o conceito do gatekeeper, ou o
‘porteiro’ termo usado no jornalismo para aquele jornalista profissional, geralmente um
editor ou um chefe de reportagem, que define o que é notícia, conforme o valor-notícia
e o gatewatching onde a audiência pode complementar a informação para o jornalista
gatekeeper, contribuindo para uma história mais precisa, assertiva e fatos mais
objetivos que foram propagados pelas redações jornalísticas. Com o uso de novas
ferramentas, tecnologias, a maior participação da audiência na produção jornalística
e novos players, como que a informação se organiza nestes tempos modernos de
novos fluxos informacionais e quais são as alternativas. Além disso, foi abordado
novas estratégias que foram implantadas com o avanço de novas tecnologias e com
o desenvolvimento de novas ferramentas que rastreiam informações. Nunca antes a
informação circulou de forma tão livre quanto estes tempos atuais. Houve uma quebra
de paradigma neste sentido de manuseio, construção e distribuição da notícia.
Os primeiros dez anos deste milênio situaram mudanças fortes no jornalismo tal como existe desde seu início, há cerca de dois séculos. A abertura de códigos comportamentais liberou o código-fonte do software e da notícia, que passou a ser contada pelo cidadão-repórter – um sujeito leigo em assuntos de imprensa, detentor da maior propriedade para falar daquilo que viu, sob a curadoria de um editor profissional (BRAMBILLA, 2011, p.97).
Que o jornalismo inove e se aposse das novas mídias, técnicas e ferramentas
para que continue a contar boas histórias, com uma narrativa que prenda a atenção
da audiência, com informações pontuais, certeiras e que engajem o público, que seja
engajador e influenciador não apenas nas redes sociais, mas nas mídias que o público
está presente. Isso é tão importante quanto o alimento que dá a energia necessária
para que as pessoas sigam em frente com suas rotinas cotidianas. Para uma boa
pesquisa, é necessário compreender e conhecer as novas midas, ferramentas digitais,
big data, onde o grande volume de informações avança em várias áreas; aplicativos
e redes sociais, em que é cada vez mais constante o uso de aplicativos móveis em
smartphones, e de aplicativos que ajudam o usuário na interação e imersão na
informação.
Estas práticas potenciais andam paralelamente com a prática do jornalismo
hiperlocal, que tem o papel de criar uma aproximação com a sua audiência, para
compreender seus novos códigos e deliberações. Ao mesmo tempo, o jornalismo – e
os jornalistas –, devem se aproximar dos seus clientes diretos, ou seja, a audiência, o
público que assiste, lê, ouve ou interage com o conteúdo que saem das redações.
26
Assim, acontece o estreitamento de laços, formando alianças e parcerias em buscas
de informações e soluções, como por exemplo, para problemas cotidianos,
compartilhando suas histórias e anseios que são determinados pelas pessoas. O
estudo pode ter uma aplicação objetiva no jornalismo, para aprimorar o processo
jornalístico e de comunicação do cotidiano e trazendo um novo prisma para o futuro.
O estudo também analisou a tecnologia e novos sistemas de produção de conteúdo. Como que as novas técnicas de extração de dados, por meio de redes
sociais, uso de novas plataformas, devices, como smartphones, dados abertos e
sistemas inteligentes impactam a forma de se fazer o jornalismo? Uso de novas
interfaces para propagação de conteúdo, interatividade, novos sistemas inteligentes,
uso de algoritmos, produção e narrativas digitais? Como que estas tecnologias
proporcionam profundas transformações no jornalismo? Como isso acarreta na forma
de se captar, empacotar e distribuir o conteúdo para uma audiência cada vez mais
fragmentada e exigente com a qualidade e a credibilidade das informações
propagadas por veículos de informação grandes, médios ou menores pelo Brasil e
mundo afora?
Com o surgimento da web, criada por Tim Berners-Lee, a internet tornou-se um
gigante banco de dados. Trinta anos depois desta criação já é possível perceber que
os esforços realizados foram bem-sucedidos, inclusive com esforço interdisciplinar
que envolveu inúmeras instâncias e instituições, voltado para criação de novas
ferramentas para o melhor desenvolvimento da web, chegando até a criação da
Ciência da Web ou Web Science.
"Os pesquisadores foram tentando mapear os limites da Web Science, que abrange uma gama estonteante de disciplinas, incluindo ciências da computação, economia, o governo, a lei, e psicologia. Para complicar ainda mais tem sido a evolução paralela de um marcadamente campo de som semelhante: rede de ciência, cujos devotos exploram características de todos os tipos de redes, a partir de redes neurais para redes sociais para, sim, o Web" (WRIGHT, 2011).
Por isso, esta parte volta-se para a abordagem da tecnologia, os novos
sistemas de produção de conteúdo e as narrativas digitais. Também foi discutido o
que fazer com tanta demanda de informação e conteúdo. Questões atuais e o futuro
do jornalismo com as novas mídias. Estratégias editoriais que são adotadas após a
chegada de novas ferramentas e tecnologias. Quais são os impactos e como que as
27
novas práticas e o comportamento da sociedade no uso de novas tecnologias e
dispositivos mudam radicalmente a forma de se fazer jornalismo no Brasil e no mundo.
Os conceitos hiperlocal e big data também foram analisados, bem como os
projetos digitais que foram aplicados pelo mundo. Suas características e finalidades
para a comunicação e o jornalismo. Como que colaboram e potencializam a
propagação de informações e dados. Como que as redações fazem as divisões
editoriais, incluindo o hiperlocal. São funcionais? Estes dados podem ser usados para
várias finalidades e demandas públicas ou privadas. É uma técnica utilizada para
captar as informações em uma área delimitada, que muito vagarosamente vem sendo
desenvolvida e construída por alguns veículos de mídia brasileiros, mas já caminha a
passos mais largos mundo afora.
O jornalismo é serviço público e deve noticiar o que é relevante para a vida das pessoas. Tem um papel vital na mediação entre os diferentes interesses da sociedade. Mas, hoje em nome das audiências, e das preferências destas, aposta-se no que é “giro” e vende. Embora o paternalismo possa ser uma atitude censurável, estamos com o mesmo dilema que se coloca em relação aos hábitos alimentares (BRINCA, 2011, p. 31).
Também é mostrado como que um projeto de jornalismo hiperlocal pode ter
impacto em uma determinada área, seus reflexos, bem como, buscando soluções
para as demandas locais e como que esta comunicação pode ser voltada para o
benefício da comunidade e de todos os circulantes da região estudada.
Com a mudança cada vez mais constante no uso de novas mídias e
tecnologias, o jornalismo foi uma das áreas que mais sofreram transformações. Por
isso, sobre a metodologia, foi explanado as teorias, as novas formas de produção de
conteúdo, estratégias editoriais aplicadas, interatividade e as novas mídias digitais.
Qual é o papel de cada produto de mídia, tecnologia, aplicativo ou sistema e como
eles impactam na forma de se fazer um conteúdo mais preciso e dinâmico. Quais são
as possibilidades de se melhorar as práticas jornalísticas no cotidiano.
Nos estudos de caso foi apresentado uma visão geral dos produtos avaliados,
que foram classificados, categorizados e comparados por meio de uma tabela com a
análise dos produtos, onde é apontada a característica mais avançada no uso de
novas ferramentas e uma avaliação é destacada sobre o que é melhor aplicado ao
cruzar os produtos com os objetos de estudo levantados nesta pesquisa acadêmica.
Primeiramente, foi definido se os produtos atendem as hipóteses da dissertação. Após
28
a análise das hipóteses, os produtos foram classificados em três níveis: aplica (1), se
corresponde as demandas oriundas da hipótese; não aplica (2), não está compatível
com as demandas oriundas da hipótese; e em parte (3), que atende parcialmente as
demandas oriundas da hipótese. Lembrando que o objetivo não é apontar se há uma
melhor ou pior mídia ou aplicativo atende melhor que práticas já consolidadas. Pois a
entrega do conteúdo varia bastante da preferência do usuário final. Mas, sim o
propósito é entender como que está sendo feito o consumo de determinado conteúdo,
bem como a sua elaboração e captura de informações para posterior distribuição. Os
produtos foram comparados com as práticas jornalísticas que foram levantadas
durante a pesquisa como uso de redes sociais (aplicativo), mensagens (aplicativo),
localização (aplicativo), gamificação, big data (dados) e seus impactos na produção e
propagação de conteúdo e informação. A partir disso, pode-se constatar quais
produtos que se aproximam com a inovação e contribuem para a o aprimoramento e
a construção do jornalismo e da comunicação. Com a captação de dados e o
aprofundamento da análise de uma área específica é possível conseguir uma
‘fotografia’ do momento, um recorte ideal do cenário e o que está acontecendo no
momento que foi feito o desenho da situação factual. Além disso, o estudo evidencia
os resultados, bem como que os processos de produção jornalística foram afetados,
como que os leitores buscam ou se apropriam de novas alternativas de conteúdo e
fontes informativas como a mídia alternativa, tradicional, mídias nativas na internet.
A origem do estudo vem de encontro da pesquisa da agência de comunicação
integrada Edelman Significa, que publicou a Edelman Trust Barometer 201518, que é
uma pesquisa de confiança em instituições. A 14ª edição foi elaborada em 27 nações,
por meio de 33 mil entrevistas, sendo que, 27 mil faz parte do público em geral e 6 mil
tem a educação superior com hábito de consumo de notícias e informações várias
vezes por semana. O levantamento mostra que há uma queda de confiança na mídia
tradicional tanto no Brasil como no mundo. A proporção média é de que a cada 10
pessoas no mundo, 6 confiam na mídia tradicional. De 53% em 2014, a confiança caiu
para 51%. Porém, as ferramentas de busca online foram citadas como a fonte mais
confiável de informações e notícias no mundo. Ou seja, 64% dos entrevistados
confiam nas ferramentas de buscas online como fonte de informação e notícia, contra
18 Edelman Trust Barometer 2015. Disponível em <http://www.edelman.com.br/propriedades/trust-barometer>. Acesso em: 18 set. 2015.
29
62% de confiança na mídia tradicional. No Brasil, este número é mais acentuado, 79%
e 66%, respectivamente. Sendo assim, esta e mais outras evidências apresentadas
nesta pesquisa acadêmica esclarecem como que pode-se melhorar ou aprimorar os
processos de produção jornalística e como fazer um conteúdo mais fiel e confiável
para sua audiência buscando experimentar novas mídias, muita informação agregada
e conteúdo relacionado. Além de aprimorar o conteúdo, destaca-se que a informação
coletiva, aquela que é distribuída entre as pessoas que não fazem o jornalismo
profissional, porém, por meio delas, torna-se a porta de entrada da construção da
informação que o jornalista ou especialista de comunicação pode trabalhar,
acrescentar mais dados e transformar em um conteúdo que seja útil e benéfico para
todos que precisam da informação.
Com a informação, a história pode ser melhor contada, aprimorada e assim
mais rapidamente a sua audiência será atendida. Dependendo do tipo de informação
a ser trabalhada e da ferramenta em uso, é muito importante e relevante que seja um
diferencial para as pessoas que vivem em comunidade e que precisam de
determinado conteúdo para continuar os seus processos de tomada de decisão em
suas vidas. É esperado que com o resultado destes elementos, reflexões e pilares que
sustentam a pesquisa, traga novo conhecimento e outras formas para aprimorar a
Comunicação e o Jornalismo que passa por profundas transformações buscando
soluções estratégicas, objetivas e práticas para continuar atendendo as demandas da
sociedade, que se autogoverna por meio das informações do jornalismo, trazendo
conteúdo e dados assertivos para que as pessoas continuem usando as informações
para autogovernarem suas vidas em qualquer lugar do mundo.
30
CAPITULO I - MUTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO EM TRANSFORMAÇÃO
1. O processo jornalístico
1.1. Mudanças no fazer jornalismo
A principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar (KOVACH & ROSENSTIEL, 2003, p. 31).
O ofício mudou. Com um artigo indefinido e duas palavras é possível descrever
que apesar da premissa permanecer a mesma, o modo de fazer jornalismo, o
processo de apuração, reportagem, produção, edição e distribuição foi alterado.
Desde que o gráfico e inventor Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg
desenvolveu a máquina de imprensa no Ocidente, passaram-se mais de 560 anos. E
há pelo menos 300 anos, o conceito de imprensa no jornalismo contou e registrou
muitas histórias em diversos formatos, publicados em vários materiais e foi se
adaptando as novidades tecnológicas e as transformações da sociedade. Das
conversas nos bares, à máquina de imprensa, o impresso, a máquina de escrever, o
telex, o teletipo, a fotografia, o rádio, a televisão e a internet. A forma de se contar
uma história mudou muito pouco, porém, a forma de levar a história mudou bastante,
como da impressão em papel, passando a transmissão via satélite e agora pela
transmissão digital o jornalismo se vê em um novo momento de transformação de
alcance, aumento de agilidade e processo sem alterar os pilares do que já foi
consolidado.
O jornalismo está passando por transformações profundas e se encontra em franco processo de renovação de muitas de suas práticas. O mundo ‘online’ está permitindo que repórteres e pesquisadores usando computadores conectados às redes de comunicação tenham acessos eletrônicos instantâneos a importantes documentos, dados governamentais e, sobretudo, a informações até então mantidas em poder privado. Permite ainda adentrar virtualmente as mais importantes bibliotecas, fontes especializadas de toda ordem e representantes do governo sem, entretanto, se afastar de suas mesas ou escritórios de trabalho. A prática do jornalismo está mudando tanto que repórteres procurando em primeira mão por fontes que tenham informações confiáveis - e de qualidade - conseguem localizar inúmeros especialistas em um par de horas (SQUIRRA, 1998, p. 95).
31
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República Federativa
do Brasil (Secom) realizou em conjunto com o Ibope a Pesquisa Brasileira de Mídia
2015: Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira (PBM)19 e mostrou um
cenário interessante e intrigante sobre o consumo de mídia no Brasil: 95% dos
entrevistados afirmaram ver televisão, sendo que destes 73% tem o hábito de assistir
diariamente, com uma média de 4h31 (era 3h29, em 2014) por dia durante a semana
e 4h14 (3h32, em 2014) nos finais de semana; o rádio ainda é o segundo veículo de
comunicação mais utilizado por 55% dos brasileiros, uma leve queda em comparação
a 2014, que tinha mais ouvintes 61%, no entanto, no ano passado os entrevistados
passaram a ouvir mais rádio todos os dias em relação a 2014, subindo de 21% para
30% em 2015.
A PBM 2015 mostra que a internet ampliou seu campo, alcançando quase a
metade dos entrevistados, ou seja, 48% dos pesquisados usam a internet, sendo que
destes, 37% passaram a usar a internet diariamente, contra os 26% de 2014. Já tempo
de conexão na web na semana e finais de semana também cresceram: passando de
3h39 de segunda a sexta em 2014, para 4h59 em 2015; e de 3h43 nos finais de
semana em 2014, para 4h24 em 2015. E claro, com o aumento de uso da internet,
emergem novos dispositivos no cenário de mídia, os computadores pessoais (PC),
tablets e smartphones. A PBM de 2015 ainda destaca que os celulares competem
com os computadores ou notebooks como o grande figurante de acesso à rede. Ou
seja, 66% e 71% respectivamente. Esse salto dos celulares se dá por conta do grande
consumo de redes sociais: os entrevistados dizem que usam Facebook (83%),
WhatsApp (58%) e o YouTube (17%). Temos uma rede social plena, um aplicativo de
mensagens instantâneas e um aplicativo para consumo de vídeos, ou seja, grandes
algozes da grande mídia tradicional. Na lanterna do consumo de mídia no Brasil estão
os jornais, onde 21% dos brasileiros leem jornais pelo menos uma vez por semana.
Destes, 7% leem diariamente, sendo a edição de segunda-feira a edição mais
mencionada pelos entrevistados (48% dessa fatia) e o sábado menos mencionado
(35%). Já em relação às revistas, 13% leem durante a semana e dentro deste cenário,
70% dos pesquisados leem mais as versões impressas do que as digitais (12%).
19 A Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 foi realizada de 5 a 22 de novembro de 2014, com 18.312 pessoas maiores de 16 anos, em 848 cidades (o País tem 5.545 municípios) nos 26 Estados e o Distrito Federal.
32
Mesmo com a baixa frequência de leitura, os jornais e revistas ainda são as
mídias que conseguem prender e dedicar atenção exclusiva aos leitores. 50%
disseram não fazer nada enquanto lê o jornal, para os leitores de revista esse dado
vai para 46%. Por ironia, a pesquisa de 2015 aponta que mesmo com a quase
‘onipresença’ da internet, ainda existe uma grande taxa de confiança nos jornais –
58% confiam muito ou sempre, contra 40% que confiam pouco ou nunca; para a TV e
o rádio, também a taxa de confiança permanece positiva, chegando a 54% confiam
muito ou sempre, contra 45% que confiam pouco ou nunca; o rádio tem 52% confiam
muito ou sempre, contra 46% que confiam pouco ou nunca.
No entanto, com a revista, os números se invertem para a perspectiva negativa,
52% confiam pouco ou nunca, contra 44% que confiam muito ou sempre. Nas novas
mídias a desconfiança nas notícias veiculadas nestes meios predomina, chegando a
71% (redes sociais), 69% (blogs) e 67% (sites).
Existe um outro levantamento, um relatório de tendências, que foi realizada
pela agência internacional de social media WeAreSocial, publicada em janeiro de
2015, que mostra que o consumo de digital aumenta de forma exponencial no País,
mesmo com a predominância das mídias tradicionais. Dos 204 milhões de habitantes
no Brasil, destes, 110 milhões são usuários ativos de internet (54% da população), 96
milhões são usuários ativos de redes sociais (47% dos usuários de internet), com 276
milhões de linhas de celulares ativas (78% pré-pago e 22% pós-pago. Destes, 56%
tem acesso à internet móvel 3G e 4G), sendo que 78 milhões são usuários móveis
ativos em redes sociais (do total de 79 milhões de linhas de internet móvel ativas).
Pelo menos 39% da população brasileira já tem acesso a internet móvel. A
tendência também aponta para o crescimento de 10% no número de usuários ativos
desde janeiro de 2014, crescimento de 12% de ativações de contas de redes sociais,
3% de assinantes de linhas celulares e 15% de ativações de contas redes sociais pelo
mobile. O tempo de uso de plataforma mostra um salto entre os usuários tablets e
PCs mais assíduos da internet em que passam 5 horas e 26 minutos diários. Os
usuários passam 2h49 assistindo TV; 3h47 usando redes sociais em qualquer
dispositivo; e 3h47 em dispositivos mobile. Os aplicativos de chat ou mensagens e
plataformas de redes sociais mais ativas no Brasil são Facebook (25%), WhatsApp
(24%), Facebook Messenger (22%), Skype (14%), Google+ (13%), Twitter (11%),
Instagram (10%), LinkedIn (9%), Pinterest (6%) e Badoo (6%).
33
Figura 2 – Panorama do digital no Brasil
Fonte: WeAreSocial – Janeiro/2015
Mesmo com a manutenção das mídias tradicionais em um mercado em crise e
com chegada e a ascendência das novas tecnologias, o jornalismo é determinado e
direcionado pelo o que acontece na vida das pessoas, como que o caminho do fato
torna-se informação e influência na vida das pessoas.
Figura 3 – Indicadores de crescimento de consumo digital no Brasil
Fonte: WeAreSocial – Janeiro/2015
34
Uma informação pode criar líderes, destruir personalidades e ascender vilões.
Pode transformar a paz em guerra e o rico pode ficar mais pobre, dependendo de
como chega essa informação o estrago pode ser imenso, e irreparável, na vida de
uma pessoa, na imagem de uma empresa, na comunidade ou num país. O jornalista
vai continuar contando histórias, vai conversar com muitas pessoas para ouvir os
lados de um fato, bem como fará o registro da história, a reportagem, porém, essa
história que foi registrada ganha novos tipos de transporte, novas formas de se
transformar essa coleta de dados em informações mais precisas para as pessoas que
querem saber ou precisam tomar decisões para seguirem suas vidas.
(...) a finalidade do jornalismo não é definida pela tecnologia, pelos jornalistas ou pelas técnicas utilizadas no dia a dia. (...) os princípios e a finalidade do jornalismo são definidos por alguma coisa mais elementar – a função exercida pelas notícias na vida das pessoas (KOVACH & ROSENSTIEL, 2003, p. 30).
O Brasil, que possui jornais desde o final do século XIX, como a publicação da
primeira versão do Correio Braziliense, editado pelo jornalista Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, na Inglaterra, que circulou de 1808 a 1822, o ofício do
jornalismo por aqui continua experimentando vários tipos de mídia.
Vários grandes grupos de mídia se formaram e tornaram-se influentes,
poderosos economicamente e politicamente como Grupo Globo (RJ), Grupo Abril
(SP), Grupo Folha (SP), Grupo Estado (SP), Grupo Silvio Santos (SP) e Grupo
Bandeirantes (SP). Bem como, outros conglomerados se dissiparam ou encolheram
com o passar das décadas, como o Diários Associados (DF), Organizações Victor
Costa (SP), Empresas Bloch (RJ), Sistema Jornal do Brasil (RJ). Além de outros
grupos midiáticos que com força regional marcam seus espaços de influência em seus
territórios, como Grupo RBS (RS), Sistema Verdes Mares (CE), Rede Amazônica
(AM), Sistema Opinião de Comunicação (CE), Grupo Jaime Câmara (GO) e Sistema
Jornal do Commercio de Comunicação (PE). Neste contexto, esta parte do estudo
explana sobre a evolução das redações e sua transformação na forma de trabalhar e
propagar conteúdo. Muitos grupos de mídia dominaram por muitos anos o poder de
fazer a informação para atender os cidadãos, tudo sob vigilância distante do governo
federal que dá a concessão de rádio e TV e observa a atuação das empresas de
jornais e editoras de revistas. No entanto, como disse o jornalista Otávio Frias Filho,
um dos principais acionistas do Grupo Folha e diretor de Redação do jornal Folha de
35
S. Paulo, durante o Encontro Folha de Jornalismo, em 17 de fevereiro de 2016, que
celebrou os 95 anos do jornal impresso: “o jornalismo vive hoje um profundo paradoxo:
nunca se divulgou nem se leu tanta notícia”, mas “os pilares de sustentação do
jornalismo foram abalados pela transformação tecnológica”20.
Esta frase do executivo do jornal paulista é assustadora e intrigante ao mesmo
tempo e expõe as entranhas das estruturas do jornalismo brasileiro sobre como o
setor de mídia sofre uma forte e irreversível transformação. Primeiro pela tecnologia;
com a tecnologia, acontece a queda de receita publicitária; com a queda, as
demissões em massa, ou no jargão dos jornalistas, o temido ‘passaralho’ acontece,
ceifando a vaga (ou até mesmo vidas) de profissionais experientes, que dedicaram
dezenas de anos, vários feriados e finais de semana longe da família para levar a
informação ao seu público leitor ou espectador. É o que aponta o artigo do autor, que
explica que com a chegada da tecnologia, os canais de comunicação foram ampliados
e obrigados a compreender a nova forma de contato com o público para responder
mais rapidamente a demanda dos veículos jornalísticos. A web mudou a forma de
produzir conteúdo e a audiência mudou sua atenção para esta nova mídia (COELHO,
2015).
Com o foco para a tecnologia, as receitas publicitárias, a circulação dos
grandes jornais impressos e a audiência das grandes emissoras de televisão abertas
sofreram quedas de público e leitores. Sendo assim, a fragilidade na qualidade do
jornalismo acarreta em uma seguida de uma crise de confiança, provocando uma fuga
de público para outros canais que são engajadores ou influencias sociais digitais.
Lembrando que muitos destes engajadores ou influenciadores nem são jornalistas e
conseguem atrair um público maior que os tradicionais programas do telejornalismo
ou portais de notícias. E essa situação impactou bruscamente a atividade. Houve uma
pulverização e ao mesmo tempo, os canais informativos se globalizaram, mesmo sem
o devido preparo de alguns meios de comunicação, eles ‘sem querer’ se tornaram
uma mídia global, que pode ser acessada por qualquer pessoa que possui um ponto
de acesso à internet pelo mundo. O reflexo sensível no jornalismo, que acarretou
também na queda de qualidade na atividade foram as eventuais demissões em massa
20 JORNALISMO vive ‘profundo paradoxo’, diz diretor de Redação da Folha. Folha de S. Paulo. São Paulo, 18 fev. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1740674-jornalismo -vive-profundo-paradoxo-diz-diretor-de-redacao-da-folha.shtml>. Acesso em: 20 fev. 2016.
36
de jornalistas e profissionais relacionados a comunicação e ao jornalismo. Estes
profissionais acabam mudando de área devido as condições precárias de trabalho,
como as rotinas extensas de trabalho sem a adequada remuneração, assédios morais
pouca perspectiva de crescimento na carreira e salários baixos. As demissões em
massa cresceram de forma vertiginosa na comunicação brasileira. Segundo a agência
de jornalismo de dados Volt Data Lab, por meio da pesquisa ‘A Conta dos
Passaralhos’, o setor de mídia perdeu desde 2012 mais de 5 mil trabalhadores
(COELHO, 2015), destes cerca de 1.500 são jornalistas profissionais. Separados os
dados de demissões por mídia, segundo o Volt, 665 são jornalistas de jornal impresso,
355 de rádio e TV, 250 de revista, 152 de online e 11 de agência de notícias. Este
número pode ser muito maior, pois, nem todos que foram demitidos das empresas
jornalísticas informaram a agência de jornalismo de dados sobre sua saída da
redação, provocando uma deformidade nos reais números do setor. É o que mostram
os gráficos elaborados pela Volt Data Lab, a seguir.
Figura 4 – Demissões de jornalistas profissionais 2012-2015
Fonte: Volt Data Lab
É claro, como a citação de Kovach e Rosenstiel, o outro sintoma dessa
mudança drástica é a queda de faturamento das empresas de comunicação, que
provoca a demissão dos profissionais de jornalismo das redações e por consequência
37
o enxugamento das grandes redações. Além disso, com a ascendência e o
estabelecimento da web para um grande número de usuários, as empresas de
tecnologia também ganharam espaço no cenário de mídia e tornaram-se grandes
distribuidores de propagadores de conteúdo sem criar uma informação nova. Players
como Facebook, que tem a maior rede social do planeta, com mais de 1 bilhão e 500
milhões de usuários conectados21 e Google, que tem o buscador de informações mais
popular e acessado da internet conseguem organizar a informação para transforma-
lá em lucro para seus acionistas criando publicidade personalizada e direcionada para
a característica de cada público.
Figura 5 – Demissões de jornalistas por veículo de imprensa
Fonte: Volt Data Lab
21 Facebook anuncia crescimento dos lucros e do número de usuários. G1. São Paulo, 28 jan. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/01/facebook-anuncia-crescimento-dos-lucros-e-do-numero-de-usuarios-20160127211006500148.html>. Acesso em: 20 jul. 2016.
38
Acarretando na fuga de verba publicitaria das mídias tradicionais para as
empresas de tecnologia que prometem capilaridade e maior exposição de marcas com
o custo inferior das empresas de mídia. Dos grandes especialistas, a pensadores,
ninguém escapa dos passaralhos, por causa da grande concorrência com os ‘veículos
caseiros’ ou independentes onde em alguns momentos conseguem fisgar a atenção
do público da mídia tradicional ou da ‘velha mídia’ para si.
Infelizmente, numa época e que o público dispõe de alternativas mais excitantes e interessantes que as notícias e se mostra mais e mais cético em relação ao jornalismo, o corte de pessoal nas redações reduz ainda mais as equipes, resultando em mais quantidade do que qualidade de matérias. (2003, p. 227).
1.2. Tecnologia a serviço do jornalismo
A tecnologia quer o mesmo que nós, a mesma longa lista de méritos que desejamos. Depois que uma tecnologia encontra sua função ideal no mundo, ela se torna um agente ativo no processo de aumentar as opções escolhas e possibilidades alheias (KELLY, 2012, p. 257).
A tecnologia tornou-se um fator muito importante e nuclear para esta
transformação sistemática que passa o jornalismo. Segundo o autor Walter Teixeira
Lima Júnior, no final da década de 60, a agência de notícias inglesa Reuters e a
publicação norte-americana The New York Times já pensavam em estruturar,
organizar informações e implantar computadores para informatizar o ambiente de
trabalho e aumentar a agilidade do gerenciamento do fluxo informacional.
A informatização das redações brasileiras foi um trabalho lento e vagaroso que
começou com a Folha de S. Paulo, no início dos anos 1980, que segundo o próprio
jornal relata a otimização do trabalho da redação poupando 40 minutos no processo
de edição e fechamento da publicação diária e assim, tornou-se a primeira redação
informatizada do Brasil. O processo total de informatização completa durou em média
25 anos.
Entretanto, demoramos cerca de duas décadas para inserir tais equipamentos no cotidiano profissional do jornalista brasileiro. No final dos anos 60 e início dos 70 do século passado, o The New York Times estruturou o primeiro banco de dados, que foi inserido nas etapas de produção da notícia. A agência de notícias Reuters, em 1968, foi pioneira a utilizar máquinas computacionais nas conexões da sua rede interna para gerenciar a demanda de notícias recebidas (LIMA JR, 2012).
39
Com a chegada da internet no meio acadêmico, no final dos anos 1980,
proporcionou ao jornal paulista O Estado de S. Paulo, por meio da Agência Estado a
realizar o primeiro teste de cobertura jornalística com o uso da internet tempo real. E
esse trabalho aconteceu no ano de 1992, na conferência mundial do meio ambiente,
na Eco 92, no Rio de Janeiro, Brasil. Este foi o primeiro grande evento mundial
conectado à internet. Em 1995, o Jornal do Brasil e, por alguns meses de diferença, a
Agência Estado, publicaram na web as primeiras versões de sites noticiosos.
No meio de tanta discussão sobre o que é fazer jornalismo, os jornalistas e os
profissionais diretamente envolvidos com o ciclo informativo e de trabalho passam por
fortes mudanças que afetam toda a cadeia produtiva na elaboração, produção,
distribuição e transmissão de informação para o seu público, que se tornaram
públicos. Pois, eles não estão apenas nos tradicionais impresso, rádio e televisão
aberta ou fechada.
O cientista social norte-americano Ithiel de Sola Pool, constata que a
comunicação digital se constitui em uma revolução na tecnologia, tornando-se o
período mais profundo na história das comunicações desde a invenção da imprensa
e dos meios massivos de difusão. Pois, as comunicações se tornando eletrônicas,
provocam efeitos profundos na civilização atual permitindo conservar uma herança
intelectual ao longo do tempo difundido por meio do espaço (1993, p. 19-20). Além
disso, o especialista argumenta que a inovação na comunicação provoca a
popularização, que por sua vez, chega a profundos efeitos na civilização. No século
XX, essas inovações na comunicação acabaram-se por configurar em cinco aspectos
comportamentais na dinâmica da sociedade. São elas: 1. A distância está deixando
de ser uma barreira na comunicação. Como resultado, a organização espacial da
atividade humana mudará profundamente; 2. A fala, o texto e as imagens estão
representando e enviado por meio de uma mesma classe de impulsos elétricos, uma
corrente digital comum. Está reduzindo a separação destes modos; 3. Nesta
“sociedade da informação”, se emprega na comunicação uma parte cada vez maior
do tempo de trabalho, assim como o ócio. O manejo da informação é uma proporção
crescente de toda a atividade humana; 4. A computação e a comunicação estão
convergindo em uma só atividade, equivalente a decidir que estão se reunindo a
comunicação e raciocínio. Convertidos em bits eletrônicos, as mensagens não só
40
podem transmitir eletronicamente mas podem também manipular e transformar
mediante dispositivos lógicos; 5. Está se invertendo a revolução dos meios de difusão:
no lugar de difundir mensagens idênticas a milhões de pessoas, a tecnologia
eletrônica permite a adaptação das mensagens eletrônicas as necessidades
especializadas ou singulares dos indivíduos (1993, p. 20).
Agora o público está presente em vários lugares e com muitos dispositivos
como videogames, aplicativos web ou para mobile. A internet virou uma grande
personagem nesta era informacional, que antes foi tratado como vilão pelos grupos
de comunicação, por ameaçar a destruir os já ameaçados negócios tradicionais,
tornou-se uma espécie de coringa. É uma nova mídia, imediatista, que tem pouco ou
praticamente nenhum custo de distribuição e sem limites espaciais ou intermediários.
Todavia, as empresas têm historicamente adotado a prática da aquisição de novas tecnologias somente quando estas demonstram irrecusáveis reduções nos custos de produção, aumentando a lucratividade do negócio. Neste sentido, a adoção de novas políticas produtivas passou a representar para as empresas principalmente economia de caixa, vindo em seguida a conquista de melhores condições para vencer a acirrada concorrência existente no mercado editorial. Neste contexto, sobressaem-se algumas vantagens: Aumento na produtividade dos repórteres; Diminuição do custo de obtenção de informações em todos os níveis e em todos os assuntos; Aumento na qualidade da reportagem local; Ampliação de qualidade na análise das informações e menor dependência das fontes para interpretação daquelas informações; Emparelhamento com a concorrência; Aumento do acesso à informação; Incremento da confiança técnica e maior exatidão nas informações; Melhores formas de arquivo e busca das informações (SQUIRRA,1998, p.111).
Por isso, o jornalismo tem de sair da zona de conforto e que perceber onde está
o seu público ir atrás dele com novas estratégias editoriais e jornalísticas. Não basta
mais esperar a audiência ir até o seu conteúdo, é necessário o engajamento e o
relacionamento, pois a publicação da notícia hoje vai muito além de publicar o jornal
na gráfica ou colocar o telejornal no ar. Isso deixou o mundo mais ‘próximo’, e as
barreiras de regionalização foram rompidas. Ou seja, daqui do Brasil, o interagente
pode acessar o portal de conteúdo de notícias da BBC, que é um canal público de
informação mantido pelo governo britânico, onde está a notícia original ao invés de
acessar um site aqui no Brasil como a Folha de S. Paulo ou O Estado de S. Paulo,
que compraram o conteúdo e fizeram o trabalho de localização, isto é, tradução de
conteúdo do conteúdo vindo da própria BBC.
41
“Sejamos claros. O mundo da mídia está no meio de uma transformação extraordinária, tornando-se global (globalizando-se e individualizando-se ao mesmo tempo), e encontrando economias de escala e sinergia entre diferentes modos de expressão (CASTELLS, 2003, p. 157)”.
Outro fator está na no barateamento do fazer jornalismo. Hoje uma pessoa,
que está em qualquer ponto do mundo, não precisa pagar por um sinal de satélite para
transmitir a informação, as câmeras fotográficas ou de vídeo tornaram-se menores,
mais poderosas, mais acessíveis ou está embutida em celulares com alta tecnologia.
A rede banda larga está mais acessível nos grandes centros urbanos e nas principais
metrópoles globais. Os smartphones, presentes em praticamente todo o País, são
dispositivos tão potentes quanto os computadores de mesa ou notebooks,
praticamente uma central de produção de mídia integrada, que cabe na palma da mão,
onde é possível gravar áudio, vídeo, tirar fotos, editar e publicar o conteúdo do fato
praticamente em tempo real e em qualquer lugar que tenha sinal de internet
disponível. O sinal de internet está mais acessível, potente, rápido e barato. As
empresas de telecomunicações vêm investindo valores significativos para garantir que
um País com cobertura territorial tenha um sinal razoável de internet, principalmente
nas áreas urbanas, onde há maior concentração de populacional. Jenkins diz (2009,
p.10) que Sola Pool foi o primeiro a determinar o termo convergência de modos e por
meio dela acontece a dinâmica entre os veículos e barreiras que vão impedindo ou
contornando demandas informacionais vão caindo uma a uma e as mídias vão se
complementando, ficando assim, cada vez mais uniforme.
Um processo chamado “convergência de modos” está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo em ter as comunicações ponto a ponto, tais como o correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. Um único meio físico – sejam fios, cabos ou ondas – pode transportar serviços que no passado eram oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio – seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia – agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está se corroendo (SOLA POOL, 1983, p. 23).
Com a popularização em massa da internet, mais pessoas puderam fazer
comunicação e jornalismo e outras maneiras de se pensar e fazer o conteúdo foram
expostas ao público. Aos poucos, os usuários de tecnologia podem também modificar
a sua estrutura e isso tem profundo impacto no cotidiano das pessoas.
42
Em entrevista ao site de cultura digital NoReset, em 2010, na sede do CGI.br22,
Demi Getscko23, contou que os usuários de tecnologia agora têm recursos para fazer
alterações estruturais, da mesma maneira que os criadores da rede mundial de
computadores e essa aplicação pode beneficiar todos, como por exemplo, no
desenvolvimento de aplicativos, sistemas complexos e até mesmo novas mídias que
ajudem a otimizar a vida em sociedade. Tudo isso acontece ao escrever em códigos
e programar sinais que são trocados para alcançar a meta proposta pelos próprios
usuários. Até mesmo, como exemplo mais recente na economia, com o uso do
financiamento coletivo para desenvolver programas, jogos e novos canais de
comunicação na web.
“Na verdade, os usuários se misturam com os criadores. Se você pensar direito, qualquer pessoa com habilidade consegue gerar novas coisas na rede. Antigamente, computação era uma coisa de marfim, onde só grandes especialistas davam palpite. Com a história da troca de informações, você pode ter programadores que nem falam a mesma língua, e nem se entenderiam no mundo real, mas se entendem no mundo virtual, trocando palavras em linguagem computacional. Eles podem gerar linguagem computacional, sem entender o que falam no dia-a-dia. Porque eles vão trocar pedaços de código. Outra coisa interessante é isso, não é que Internet seja grátis ou que tudo na Internet é grátis, mas sim que a ela inventou uma cultura de código aberto, que certamente não tinha antes. Mesmo os sistemas operacionais abertos que existem de monte, hoje, de certa forma, a Internet ajudou os sistemas abertos e os sistemas abertos ajudaram a Internet. É um caminho de duas mãos porque a própria Internet foi escrita de forma aberta. Umas criações sobrevivem, outras morrem. Mas isso é uma condição Darwiniana. Nem todo mundo sobrevive. A evolução vai escolher os melhores, mas você pode criar de monte” (NORESET, 2010)24.
No artigo publicado pelo autor no II Encontro Internacional Tecnologia,
Comunicação e Ciência Cognitiva (2ºEITCCC), com o título ‘Como a tecnologia
influencia a comunicação na sociedade contemporânea’, conta que com a internet, o
consumidor torna-se produtor e com isso, que compartilha com outros consumidores,
e então, estes consumidores tornam-se produtores/usuários e consumidores/usuários
22 Sigla para Comitê Gestor da Internet no Brasil, órgão que faz a gestão da internet brasileira. A sede fica em São Paulo/SP. 23 Demi Getscko é um engenheiro elétrico nascido na cidade de Trieste, na Itália. Ele é considerado um dos pioneiros da internet no Brasil. Atualmente é conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e desde 1995 é diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) desde 2006. Em abril de 2014, foi homenageado com a indicação ao prêmio Internet Hall of Fame, na categoria “Global Connectors”, da instituição Internet Society. É o primeiro brasileiro no hall da fama da internet, que é o panteão das personalidades cruciais para o desenvolvimento da rede. 24 COELHO, Cido. Dia da Internet: entrevista Demi Getscko. NoReset. São Paulo, 17 mai. 2010 Disponível em <http://www.nic.br/imprensa/clipping/2010/midia490.htm> e <http://www.noreset.net/ blog/2010/05/17/dia-da-internet-entrevista-com-demi-getschko/>. Acesso em: 23 dez. 2015.
43
que construíram um conjunto de valores e crenças que formou o comportamento, que
criou hábitos repetidos por instituições e organizações sociais informais (COELHO,
2015). No entanto, a cultura é diferente de ideologia, psicologia ou representações
individuais. Embora explicita, a cultura é uma construção coletiva que transcende
preferências individuais, ao mesmo tempo em que influencia as práticas das pessoas
no seu âmbito, neste caso os produtores/usuários da internet (CASTELLS, 2001,
p.34). Essa transformação tornou-se essencial para a prática do jornalismo, tornando-
se mais eficaz na prática de comunicação (COELHO, 2015).
Olhando a evolução deste setor, é seguramente sustentável colocar que, atualmente, as múltiplas formas das convergências tecnológicas digitais configuram-se como elementos estruturantes para todas as ações dos jornalistas. Isto porque o comportamento do mercado vem demarcando que, para competir eficazmente na vida profissional (na academia ou fora dela), o conhecimento e o pleno domínio das tecnologias digitais são antecedentes conceituais imprescindíveis que diferenciam positiva ou negativamente um especialista do outro (SQUIRRA, 2012, p.10).
O público, ou melhor, o cidadão pode também dar suas opiniões, engajar e
influenciar pessoas, criando sites, blogs de opinião, canais de vídeo no YouTube, até
mesmo canais de conteúdo de foto e imagem como Flickr, Snapchat e Instagram.
Trocar informações em aplicativos como WhatsApp e Facebook Messenger. Claro,
sem esquecer das redes sociais, como Facebook e Twitter que são algumas das mais
utilizadas para contato.
1.3. Colaboração: o leitor mais participativo
A circulação de conteúdos – por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores (JENKINS, 2009, p. 29).
A internet foi massificada, liberada para o uso comercial no Brasil pela Embratel
em 1995, os celulares ficaram mais inteligentes, tornaram-se verdadeiros
supercomputadores de bolso. A mídia ficou mais alternativa, mais diversificada e os
meios de comunicações corporativos foram pegos desprevenidos contra essa
‘avalanche criativa’. Afinal, a informação não tem mais ‘dono’, se é que pode ser dito
ou escrito. O meio informacional deixa de ser unidirecional e passa a ser
multidirecional, com retorno e resposta. Isso quer dizer que a audiência não apenas
recebe a informação que é transmitida pela mídia corporativa tradicional, como pode
44
também dar seu feedback quase que de forma instantânea. O público pode responder
a sua audiência se gostou do que foi transmitido e também pode colaborar agregando
informações que não foram conseguidas por meio dos esforços da estrutura da mídia
tradicional. O público passou a ter voz ativa na produção de conteúdo. Como
contextualiza o autor Henry Jenkins, isso provocou uma mudança no habito de
consumo dos consumidores. Antes, eles eram mais passivos, previsíveis, isolados e
silenciosos, agora, os novos consumidores são ativos, migratórios, conectados e
barulhentos. Eles podem opinar, sugerir alterações no produto, melhorias,
continuação na história (2009). No jornalismo, a audiência pode corrigir a rota os
jornalistas profissionais e auxiliar o trabalho da redação com busca por novos fatos,
detalhes, e incrementos que podem ditar os rumos da história.
Ou seja, se antes o leitor, ouvinte ou telespectador que assistia, lia ou ouvia
nos respectivos canais midiáticos a informação, tinha apenas como canais diretos o
telefone, orelhão, carta, SMS (mensagem por celular), serviço de atendimento ao
cliente (que era por telefone ou carta) balcão de classificados ou se dirigindo
pessoalmente a empresa jornalística, emissora de rádio ou TV para dirigir suas
reclamações, elogios ou sugestões, para que depois, uma equipe, geralmente a
expedição e depois produção fizesse o levantamento de cartas direcionadas para o
jornalismo, para fazer a leitura das cartas e depois responder ou não a devida
demanda para o público. Era um processo muito moroso e custoso para a própria
empresa jornalística ou para o setor de jornalismo de rádio ou televisão sentirem as
demandas da sociedade, audiência ou público.
O serviço de correio era o maior aliado das redações, em parceria com os
entregadores privados e os motoboys que pegavam as encomendas mais urgentes.
Claro, mais recentemente, entre 10 e 15 anos, o telex, que foi o sucessor do telégrafo,
e o telegrama também faziam parte da agilidade do ‘fazer jornalismo’. O fax ainda
sobrevive em poucas redações. Mas, claro que aos poucos, a internet foi se
acomodando como um dos canais de comunicação entre público e as redações.
Com a autorização de uso da internet comercial no Brasil, meados dos anos
1990, houve maior investimento na melhoria dos serviços de banda larga pelo País, e
principalmente, nos centros urbanos, o e-mail começou a ocupar seu espaço. A partir
disso, a porta escancarou: E-mails, SMS, MMS (mensagens multimídia por celular).
Com a ascendência da aceitação de informações vindas por redes sociais, como
45
Orkut, e atualmente Facebook e também micro blogs, como o Twitter, tornaram-se
canais eficientes de comunicação com a redação, novos aplicativos e com a aplicação
de estratégias de convergência de conteúdo, o público pode se tornar um repórter.
Neste momento, as empresas de mídia profissionais perderam o monopólio de
controle da informação e neste instante qualquer pessoa detinha uma pequena central
de mídia e propagadora de conteúdo. A partir disso, as empresas de comunicação
começaram aos poucos a contar com o público, para ajudar a fazer a cobertura
jornalística. Começa a se estabelecer uma nova relação entre mídia e público.
Agora com a web, o profissional de jornalismo viu-se ameaçado pelos produtores de conteúdo “amadores”, como os blogueiros, que têm páginas pessoais acessíveis, simples, que disputam ou dão mais audiência que as grandes empresas jornalísticas, com seus portais informativos densos, e até mesmo, em alguns casos, confusos para o público. (COELHO, 2013).
Além disso, as empresas de comunicação passaram a investir na combinação
das mídias tradicionais com as novas mídias, como a internet, o streaming,
transmissão via aplicativos, como o Periscope, ao mesmo tempo, as atribuições
jornalísticas foram transformadas com o tempo. Como nos Estados Unidos e
Inglaterra, nos jornais The New York Times e The Guardian que criaram do cargo do
editor de Mídias Sociais no começo de 2009; e no Brasil, no mesmo ano, o jornal O
Estado de S. Paulo, também criou o cargo de editor de Mídias Sociais que ajuda no
engajamento do público com o jornal por meio das redes sociais Twitter e Facebook
e entre outras mídias25. Praticamente todas as redações possuem um editor ou um
departamento voltado para mídias sociais. Em julho de 2015, o impresso paulistano
Folha de S. Paulo criou a editoria de Audiência e Dados, que agrega o núcleo de
Mídias Sociais, fomenta a audiência, centraliza as métricas, faz a interlocução com os
leitores e auxilia a redação nos trabalhos com os dados e engaja a redação no uso de
redes sociais26. Essas práticas são uma construção de uma ponte entre veículo de
comunicação e público, criando uma via rápida para troca de informações. Além disso,
o uso de aplicativos estimula a audiência a mandar suas ‘reportagens’, vídeos, fotos
sobre os fatos que estão ocorrendo e onde os jornalistas ainda não conseguiram
25 DORIA, Tiago. Estadão cria cargo de “editor de mídias sociais” e lista no Twitter. Blog do Tiago Dória. Disponível em: <http://www.tiagodoria.com.br/coluna/2009/11/08/estadao-cria-cargo-de-editor-de-midias-sociais-e-lista-no-twitter/>. Acesso em: 22 mar. 2016. 26 FOLHA cria editoria de Audiência e Dados. Portal dos Jornalistas. Disponível em: <http://portaldos jornalistas.com.br/noticia/folha-cria-editoria-audiencia-dados-br>. Acesso em: 22 mar. 2016.
46
alcançar. Como a especialista em mídias sociais, pesquisadora e jornalista Ana
Brambilla explica que a mídia estimula a audiência para que colabore com conteúdo,
que ajude a contribuir com a história sendo um repórter colaborador.
Tem como exemplo o incêndio da Boate Kiss, que matou 242 pessoas e feriu
680, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013. No
momento do fato, várias pessoas que estavam na casa de espetáculos começaram a
narrar o terror no local e os jornalistas usaram estas informações para atualizar o
público sobre a situação em tempo real e para contar o perfil das vítimas fatais. As
informações publicadas em redes sociais como Facebook e Twitter foram utilizadas
por empresas de mídia no Brasil e pelo mundo. O incêndio foi a segunda maior
tragédia brasileira e o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo27.
Figura 6 – Página no portal Estadão.com.br do serviço FotoRepórter
Fonte: estadão.com.br
27 UCHOA, Pablo. Tragédia em boate de Santa Maria é ‘terceira mais fatal da história’. BBC Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130127_tragedia_boate_historia_ pu.shtml>. Acesso em: 22 mar. 2016.
47
Em 2005, a publicação paulista O Estado de S. Paulo criou para a sua audiência
o serviço colaborativo FotoRepórter28. A empresa jornalística justificou que a iniciativa
foi estimulada pelos atentados terroristas que aconteceram em Londres, no dia 7 de
julho de 2005, quando vários populares enviaram fotos ou vídeos para sites e revistas
da Europa complementando a cobertura feita pelos jornalistas profissionais.
O site tentava engajar os leitores com a frase “se você tem um celular com
máquina fotográfica embutida, ou vive com uma câmera digital a tiracolo, abra os olhos
e fique esperto. A partir de agora suas fotos podem ser publicadas no Estadão, no
Jornal da Tarde, no portal www.estadao.com.br ou vendidas pela Agência Estado para
jornais e revistas de todo o planeta. E você pode até ganhar por isso, como se fosse
um repórter fotográfico profissional” (O ESTADO DE S. PAULO, 2005).
Além disso, no portal do Estadão tinha instruções sobre como escolher uma
boa câmera digital e a melhor forma para se tirar uma foto. Se as fotos fossem
publicadas no jornal impresso O Estado de S. Paulo ou Jornal da Tarde, o fotógrafo
amador recebia uma remuneração igual ao dos fotógrafos profissionais. Já o portal
Terra foi criou um espaço para que o leitor internauta pudesse escrever, fotografar e
gravar sua própria reportagem, o ‘Vc Repórter’29, que foi criado em fevereiro de 2006.
Neste espaço há dicas sobre como enviar o conteúdo, dicas básicas de jornalismo,
enquadramento de foto, vídeo, qualidade do texto e credibilidade. No entanto, o
serviço foi encerrado em 2015, quando o Grupo Telefónica decidiu fechar a redação
e fazer apenas serviço de curadoria de notícias com parceiros e agências
informativas30.
É uma forma de reduzir as distâncias com o público e ao mesmo tempo
consegue reduzir custos para conseguir algumas informações e ao mesmo tempo dá-
se o início para começo de apuração de factual.
A ideia de fazer cada cidadão um repórter foi adotado em inúmeras partes do mundo, despertando no público um olhar seletivo diante da realidade. Essa consciência de registrar fatos e de submeter esse material aos canais de conteúdo colaborativo de sites jornalísticos foi amadurecida com a popularização das
28 FOTOREPÓRTER. Estadão.com.br. Disponível em: <http://sites.estadao.com.br/ext/fotoreporter/ index.htm>. Acesso em: 22 mar. 2016. 29 Vc Repórter. Terra. Disponível em: <http://vcreporter.terra.com.br/>. Acesso em: 22 mar. 2016. 30 GONÇALVES V., OLIVEIRA, J e FERIGATO, G. Terra reestrutura negócio com corte de 80% da redação e fechamento de sucursais. Portal Imprensa. São Paulo, 06 ago.2015. Disponível em:<http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/73667/terra+reestrutura+negocio+com+corte+de+80+da+redacao+e+fechamento+de+sucursais>. Acesso em: 22 abr. 2016.
48
iniciativas dos veículos em tornarem-se abertos às contribuições do público. (BRAMBILLA, 2011, p. 98).
Figura 7 – Home do canal ‘Vc Repórter’ no Portal Terra, em 2012
Fonte: Terra
Com o aumento do uso das redes sociais, todos têm o fácil acesso a
informação. O cidadão detém a informação e cabe a ele a decisão de transformar isso
em conteúdo relevante ou jornalístico. É uma porta que não se fecha mais. As
informações são acessíveis e compartilhadas por todos e as empresas de
comunicação têm de aceitar este novo universo no mundo da mídia. Cabe a audiência
dizer se a informação que a mídia dá é importante, se o público pode complementar
ou se pode negar ou ignorar a informação.
1.4. Da agenda do dia para a curadoria: uma transição?
O jornalismo sempre trabalhou por conta própria em toda a sua cadeia de
produção. É a informação que chega para a Apuração, que formada por jornalistas
que passam o dia fazendo contatos com órgãos públicos, recebem denúncias e
atendem demandas informacionais da redação. É departamento que, principalmente,
49
checa a informação com fontes oficiais ou testemunhas que estão no local do fato.
Após a fase de checagem e apuração, essa informação vai posteriormente para a
Chefia de Reportagem, que é o outro departamento responsável por coordenar as
equipes de reportagem, definindo qual equipe que vai ao local fazer a matéria, ou qual
equipe está mais próxima do factual para fazer a estratégia de manobra de equipe,
para chegar mais rápido até o local do fato que está em andamento e ajuda a levar
aos editores qual é a melhor notícia para determinado tipo de demanda ou
necessidade editorial.
Durante essa manobra da Apuração e da Chefia de Reportagem, outros
jornalistas na redação, como editor-chefe, editores, editores-assistentes, editores-
executivos, outros chefes de reportagem e produtores estão nas salas de reuniões
para definirem qual serão os assuntos do dia. Cada jornalista vem com ideias e
propostas na cabeça, leem jornais, sites, ouvem rádios e de vez em quando no trajeto
de casa para as redações conseguem achar alguma notícia pelo caminho. Por meio
dessas impressões iniciais, os jornalistas definem o que pode ser assunto para os
jornais, rádios jornais, telejornais ou para o portal de conteúdo. Além disso, a
produção, no caso de rádio e televisão, e as editorias especializadas no caso de
internet e jornal impresso, já vem com suas sugestões de pautas ou reportagens
prontas para serem usadas conforme as necessidades dos editores ou da demanda
dos jornais, tempo, espaço e entre outros critérios.
Enquanto a reunião acontece, a equipe de reportagem em movimento recebe
as orientações da Chefia de Reportagem, que já tem em mãos primeiras informações
checadas e confirmadas pela equipe de Apuração. No caso de determinadas mídias
(TV, rádio, impresso, web), a equipe de reportagem tem distintas configurações. No
impresso ou internet, o repórter vai até o local com seu caderno de anotações e um
smartphone com várias funções para tirar fotos ou gravar a entrevista e dependendo
da gravidade da informação ou de sua relevância um fotógrafo acompanha o repórter;
no rádio vai um repórter de rádio munido de um smartphone que já tem múltiplas
funções, além de gravar e fazer ligações telefônicas; na televisão geralmente vai uma
equipe de reportagem formada pelo técnico, repórter cinematográfico e o repórter, no
entanto, quando o fato é de muita relevância, uma equipe técnica também acaba
acompanhando a reportagem para eventuais entradas ao vivo durante o telejornal da
emissora ou na programação.
50
Com o mínimo ou rastro de informação estas equipes de reportagem são
deslocadas para o local do fato para dar andamento na história. A história é
destrinchada pela equipe de reportagem que volta para a redação com o material
gravado em áudio, vídeo, foto ou manuscrito e começa a construir a reportagem ou
entrega ao editor que faz a verificação do conteúdo, ou seja, a edição faz os ajustes
do conteúdo jornalístico de acordo com política editorial da empresa, ajusta aos
padrões e estilo e, após todas as dúvidas esclarecidas com o repórter e o material faz
a sua publicação na televisão, rádio ou internet.
Essas práticas de gatekeeping podem ser distinguidas em três etapas distintas do processo jornalístico: a entrada, a produção e a resposta (BRUNS, 2005, 2011).
Antes do rápido desenvolvimento da internet e das redes sociais, o jornalismo
já trabalhava desta maneira e contava com uma equipe de jornalistas muito maior para
dar conta da demanda. A mídia já colhia as informações do fato, trabalhava o material
jornalístico e publicava para o seu público no papel ou irradiava pelas ondas
eletromagnéticas. O público tinha o acesso ao material, mas não podia dar o feedback
na mesma velocidade. Como citado no começo deste capítulo, o público teria que ir
até a empresa de comunicação ou enviar uma carta para, quem sabe, ter uma reposta
no minúsculo espaço dedicado ao leitor de jornal, uma rápida ‘lembrança’, como uma
citação durante a transmissão de um programa de rádio, em que o âncora avisa que
recebeu o feedback do público ou na televisão, a produção entra em contato com a
audiência e explica o que houve. Então, editor faz os ajustes do conteúdo, define o
que é relevante ou não para a população. Assim, existe a comparação do porteiro, o
gatekeeper, os jornalistas têm de ter os textos aprovados por estes profissionais, que
geralmente são da equipe de edição, são eles que vão definir o que é fato ou não.
Mas, com o maior acesso à internet e as ferramentas digitais como blogs, que
por sua vez, aperfeiçoaram suas ferramentas de Content Management System ou
Plataforma de Gerenciamento de Conteúdo (CMS), como por exemplo, as CMS do
WordPress e Blogger, da Google ou ferramentas de vídeo e foto como YouTube,
Vimeo, Flickr e Instagram dão ao leitor a oportunidade de mostrar um outro lado que
a mídia profissional não mostrou e as vezes mostra o que foi publicado ou irradiado
não é uma verdade completa ou é uma mentira.
51
A informação social passa a ganhar contorno, torna-se coletiva e começa a ter
peso relevante na propagação de informação. Mas, nem sempre a mídia tradicional
vai trazer a totalidade da informação do fato ou factual, por questões literais de tempo
(quando é rádio e TV) e espaço (nas páginas dos jornais). Por isso, agora passa a
contar com o cidadão que rotineiramente faz suas publicações nas redes sociais.
Para, desta forma, contribuir com o trabalho da mídia tradicional ou até mesmo vários
cidadãos que tenham contas de redes sociais possam complementar e contar
totalmente a história. Pois, é possível que alguém que vá procurar ou garimpar uma
história via redes sociais, usa de recursos que agregam publicações por temas, como
as hashtags, que são palavras ou termos associados a uma informação, discussão ou
tópico que é discutido, que rastreia a conversa daquele momento e consiga levantar
novas informações.
Depois, esse conteúdo extra pode ser transmitido nos canais de conteúdo
tradicionais ou profissionais como rádio, televisão, impresso e na web. A mídia popular
pode conseguir ou ampliar o espectro de informações que foram levantadas ou
trabalhadas inicialmente pela grande mídia, a partir daí temos o trabalho do
gatewatching, que aponta o dedo e analisa as ações do gatekeeping, aquilo que pode
ser relevante para o editor não é relevante para a audiência ou público.
O jornalismo profissional também pode, e deve contar, com a ajuda do público.
Ainda mais em um momento em que a informação é compartilhada entre o gatekeeper
e o prosumer. O gatekeeper – que é a pessoa que define o que pode ou não ser
noticiado, conforme o valor-notícia, linha editorial e outros fatores. O termo também é
uma metáfora para o porteiro, que libera o acesso de quem quiser. Neste caso,
‘porteiro da redação’, aquele que filtra a informação, se determinados conteúdos
podem ser noticiados. Já o prosumer – termo cunhado pelo escritor e futurista
estadunidense Alvin Toffler, em sua obra A Terceira Onda, cujo sua definição vem da
fusão das palavras producer (produtor) + consumer (consumidor) ou professional
(profissional) + consumer (consumidor). O consumidor pode também produzir, com o
livro 'A Cauda Longa', de Chris Anderson, destaca esse novo comportamento da
sociedade contemporânea em uma só frase. "Nunca subestime o poder de um milhão
de amadores com as chaves da fábrica" (ANDERSON, 2006, p. 56). Ou seja, o
jornalista que está na redação recebe do seu leitor a notícia. Cabe ao jornalista dar
valor ao que chega na redação. O consumidor de conteúdo pode rechaçar a
52
informação produzida pelas redações e pode alterar o curso da informação
apresentando um dado que não foi informado ou um personagem que não teve sua
história revelada pela imprensa por falta de apuração da reportagem ou do repórter
no local do fato.
Como explica o pesquisador Axel Bruns em seu artigo Gatekeeping,
Gatewatching, Realimentação em tempo real: novos desafios para o Jornalismo. Ele
explica que em 2009, a publicação The Guardian, da Inglaterra, convidou o seu público
a ajudar a investigar, explorar e interpretar os quatro anos de despesas de 646
membros do parlamento britânico (equivalente ao Congresso Nacional do Brasil), nos
700 mil documentos, em 5,5 mil arquivos no formato pdf31. A audiência retornou e
colaborou com os jornalistas da redação a fazer uma leitura minuciosa dos
documentos e em menos de 80 horas, um terço de toda a documentação foi verificada.
Com isso, o público pode em trabalho compartilhado com os jornalistas verificar
de forma minuciosa a história dos custos da instituição política daquele País, o que
rendeu várias pautas e impactou a opinião pública nacional. Foram encontrados nos
custos execução de hipotecas, compras de casas de pato, serviços de decoração de
residências, despesas falsas e outros custos considerados incompatíveis com o cargo
público. Agora o jornal inglês mantém uma página dedicada (MPs´expenses) que
acompanha os custos dos políticos e lá a população pode saber dos desdobramentos
do escândalo e as últimas notícias32.
Uma iniciativa importante de uma destacada organização noticiosa internacional, a plataforma das Despesas dos Membros do Parlamento e outros projetos semelhantes marcam uma nova fase no relacionamento em evolução entre os jornalistas e as suas audiências [...] (BRUNS, 2011, p. 120).
Um exemplo mais recente foi o que aconteceu na TV Globo de São Paulo, na
madrugada do dia 12 de junho de 2015. Um incêndio atingiu a fábrica da Bridgestone-
Firestone, em Santo André, cidade da região industrial conhecida por ABC paulista,
no Estado de São Paulo33. O incêndio aconteceu em uma subestação de energia da
31 MPS´EXPENSES: The Guardian launches major crouwsourcing experiment. The Guardian. Disponível em: <http://www.theguardian.com/gnm-press-office/crowdsourcing-mps-expenses>. Acesso em: 27 mar. 2016. 32 MPS´EXPENSES. The Guardian. Disponível em: <http://www.theguardian.com/politics/mps-expenses>. Acesso em: 27 mar. 2016. 33 INCÊNDIO em fábrica de pneus no ABC provoca correria entre funcionários. G1 São Paulo. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/06/incendio-em-fabrica-de-pneus-no-abc-provoca-correria-entre-funcionarios.html>. Acesso em: 27 mar. 2016.
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empresa, que era responsável por 90% do fornecimento do insumo elétrico para a
indústria de pneus japonesa.
A informação inicial era muito rarefeita, não haviam informações suficientes
para confirmar o incêndio. Nenhuma fonte oficial ou estatal, como Corpo de
Bombeiros, Polícia Militar ou Defesa Civil, confirmavam o incêndio. A solução inicial
do autor foi um trabalho de campo, ou seja, o envio de uma equipe de reportagem
para verificar o fato in loco, ou em campo. Nesta mesma época a emissora
desenvolveu e implantou uma ferramenta que centraliza e recebe as informações dos
usuários do aplicativo WhatsApp. No mesmo momento em que a equipe de
reportagem confirmou a informação do incêndio no local, a redação conseguiu
resgatar as informações, imagens que foram enviadas por vários usuários do
aplicativo, que estavam nas redondezas da fábrica de pneus. Eles enviaram vários
vídeos e relatos do ocorrido.
Então, foi tomada a decisão editorial de abrir, jargão usado para começar o
jornal destacando o fato urgente como a primeira notícia, o telejornal local Bom Dia
São Paulo com essa informação para a audiência. Uma equipe de reportagem e uma
equipe técnica de jornalismo foram deslocadas para fazer a entrada ao vivo na cidade
de Santo André. E de lá, a equipe de reportagem foi atualizando os fatos em tempo
real, conforme o desenvolvimento do factual. Tudo isso aconteceu a partir de uma
informação que veio do próprio público, que contribuiu com a informação e ajudou a
fazer o telejornal feito por jornalistas profissionais. A partir daí, evidencia perceber que
a ajuda das pessoas que passaram ou estavam naquele lugar no momento do fato e
que enviaram as imagens pelo aplicativo foi fundamental para o desenvolvimento da
história. O público trouxe a história e os jornalistas profissionais desenvolveram,
ampliaram e contaram o fato para o público. É uma via de mão dupla. A informação
deles complementou o trabalho da mídia profissional. O gatewatching entrou em ação.
[...] Anunciam a morte lenta dos modelos de cima para baixo da cobertura jornalística das notícias e da divulgação de informações, e até do próprio modelo de gatekeeping, e em vez disso destacam a mudança para um relacionamento colaborativo mais igual, embora às vezes cauteloso, entre os profissionais do jornalismo e os usuários das notícias (BRUNS, 2011, p. 120).
Neste caso, coube ao time de jornalistas que estava na redação avaliar a
veracidade e a importância do material, checar com fontes e levantar mais detalhes
54
para que o material fosse publicado no telejornal local da emissora de São Paulo, que
é o Bom Dia São Paulo. Isso mostra que o jornalista é mais um curador de conteúdo,
ele tem o seu poder de influência reduzido e agora tem que receber as informações
vindas direto do público, para aprimorar o trabalho que segue sendo feito pelos
profissionais. E cada vez mais isso torna-se uma rotina comum nas redações, é claro,
se as redações querem a confiança e o respeito de seu público, terão de ouvir e deixar
que eles também ajudem a fazer o jornal.
A notícia ainda passa pelas mãos dos editores, mas com mais critérios, com
mais cautela, confirmando se há relevância ou não, com o público aprovando a
estratégia do jornalística e contribuindo na produção de conteúdo. O gatekeeper vai
ser mais dosado, perde um pouco do seu poder em benefício de uma produção de
conteúdo mais compartilhada e confiável a sua audiência que está ajudando o
jornalismo com informações via redes sociais.
As características da mediação do computador e a emergência de ferramentas que publicizaram as redes sociais deram um novo impulso para os processos conversacionais. Os sites de redes sociais permitiram às pessoas publicar e ampliar suas redes, criando novas conexões e novas formas de circulação de informação (RECUERO E ZAGO, 2009), além de novos modos de interação (PRIMO, 2006). Mais do que isso, essas ferramentas também propiciaram o advento de novas formas de conversação: conversações coletivas, assíncronas ou síncronas, públicas e capazes de envolver uma grande quantidade de atores, que chamamos aqui conversação em rede (RECUERO, 2012, p.123).
2. Uso das novas ferramentas no jornalismo
2.1. É uma conversa: O jornalismo tornou-se mais social
A cada dia, pessoas de todo o mundo conectam-se à internet e engajam-se em interações com outras pessoas. Através dessas interações, cada uma dessas pessoas é exposta a novas ideias, diferentes pontos de vista e novas informações. Com o advento dos sites de rede social, essas conversações online passaram a criar novos impactos, espalhando-se pelas conexões estabelecidas nessas ferramentas e, através delas, sendo amplificadas para outros grupos. São centenas, milhares de novas formas de trocas sociais que constroem conversações públicas, coletivas, síncronas e assíncronas, que permeiam grupos e sistemas diferentes, migram, espalham-se e semeiam novos comportamentos. São conversações em rede (RECUERO, 2012, p.121).
O jornalismo está mais social, tornou-se mais social. Além de entrar em contato
com as fontes oficiais ou fontes cultivadas pelos profissionais da área. O jornalista tem
55
de ficar de olho nas redes sociais, pois, os assuntos passam por lá. A repercussão
segue pelo virtual. É lá que as pessoas estão comentando os principais assuntos do
dia. O profissional de comunicação tem que ficar atento, o ambiente virtual é um
elemento vivo que pode fornecer próxima informação importante para o público-alvo.
Uma rede social, mesmo na Internet, modifica-se em relação ao tempo. Não é estática, não está parada no tempo. [...] Essas dinâmicas são dependentes das interações que abarcam uma rede e podem influenciar diretamente sua estrutura. Este elemento é levantado principalmente pelos teóricos da chamada “ciência das redes”. [...] Para estes autores, a grande falha da abordagem de redes sociais é não observar a rede como um elemento em constante mutação no tempo. Como Watts (2003) afirmou, não há redes “paradas” no tempo e no espaço. Redes são dinâmicas e estão sempre em transformação (RECUERO, 2009, p. 79).
Muitas informações e histórias pelas quais vão passar pelas mãos e olhos dos
profissionais da comunicação, atualmente, devem passar pelas redes sociais. As
redes sociais tornam-se elemento de pesquisa importante para captar informações
para produção de informações e pautas para reportagens para qualquer tipo de mídia.
Sendo assim, isso mostra que os usuários, principalmente no Brasil, têm mais acesso
à internet. Tem mais familiaridade com o manuseio e os usuários têm mais intimidade
com a interface computacional. Eles entendem o computador e assim, eles podem
transmitir dados e informações para o computador. Este computador pode guardar as
informações, caso fique em bancos de dados públicos eles podem ser usados por
qualquer pessoa que acessa a internet. Estes dados podem ser utilizados pelos
próprios computadores para recuperar informações e alimentar outros bancos de
dados, como por exemplo, informações sobre mapas de trânsito, sobre temperatura,
fotos e com isso, há uma troca entre os usuários da própria rede que fica se
alimentando e trocando informações sem que elas se conheçam pessoalmente.
O computador apenas mastiga os milhões de classificações que estão no seu banco de dados e procura padrões que se repitam. Esses padrões se tornam a base para diferentes congregações de gosto, em vez das categorias fixas, preordenadas, de gênero ou período. O segundo ingrediente é o circuito de feedback da classificação das recomendações do agente. O input do usuário permite ao sistema se refinar, se adaptar a novas informações à medida que elas chegam. Quanto mais informação houver no banco de dados, quanto maior for o feedback dado pelos usuários, mais inteligente fica o agente. A organização de baixo para cima permite ao computador perceber relações que de outro modo poderiam escapar ao radar da percepção humana. O circuito de feedback o deixa aprender (JOHNSON, 2001, p. 180).
56
O jornalista tem uma mina valiosa que jorra informação a todo instante e ele
terá que minerar todo este ‘ouro informacional’ para poder dar um novo valor-notícia
e até mesmo melhorar e aprofundar uma história, narrativa ou reportagem em
quaisquer mídias em que o profissional trabalha. Ele sairá menos da redação ou
apenas quando for muito necessário, para pautas específicas ou factuais que
necessitam de cobertura em campo. O jornalista usará as ferramentas que capturam
dados na internet, levando em conta que estas informações se tornam complementos
do que já foi apurado via telefone e fontes ocultas ou oficiais.
2.2. Como captar informações? Cabe ressaltar como que é possível trabalhar de forma jornalística as
ferramentas de social media no jornalismo. Seus usos e como ele pode ser aplicado.
Para este estudo, foram pesquisados os papeis dos aplicativos e sistemas
TweetDeck, Dataminr, Hootsuite, WhatsApp, Moovit e Waze. Pois, como é possível
perceber, a cada dia que passa as ferramentas digitais, principalmente as de social
media estão sendo utilizadas pelas pessoas e elas conseguem ter a informação sem
o auxílio de um jornalista.
Com o avanço tecnológico, as pessoas conseguem trocar informações entre
elas e isso cria-se uma nova mudança de padrão no consumo de informação. Como
explica Marshal McLuhan, em ‘A Galáxia de Gutemberg’, onde antes havia-se uma
forma de se fazer e consumir essa informação. No entanto, com as transformações
que os processos vêm passando, uma nova mentalidade, um novo processo se forma,
criando-se uma distância para quem consome informação da forma tradicional e por
meio das novas tecnologias. Ajudam a transformar as relações entre os padrões
habituais da experiência de visão, criando um novo processo mental entre o leitor
medieval e o leitor moderno. (MCLUHAN, 1962, p. 131).
Ressaltando ainda o McLuhan, essas ferramentas tornam-se uma nova
extensão dos seres humanos. E por este prisma, essa extensão pode ser útil tanto
para quem consome informação, bem como para quem cria e produz conteúdo, ou
seja, os jornalistas especializados, que pelas suas técnicas conseguem aprofundar a
informação e assim, aprimorar e ampliar a informação que é transmitida, levando ao
seu público alvo a situação mais fidedigna naquele instante. O jornalista, sendo mais
57
curador e os aplicativos sendo mais extensão, podem ser complementares para a
propagação de informação.
Contemplar, utilizar ou perceber uma extensão de nós mesmos sob forma tecnológica implica necessariamente em adotá-la. Ouvir rádio ou ler uma página impressa é aceitar essas extensões de nós mesmos e sofrer o “fechamento” ou o deslocamento da percepção, que automaticamente se segue. É a contínua adoção de nossa própria tecnologia no uso diário que nos coloca no papel de Narciso da consciência e do adormecimento subliminar em relação as imagens de nós mesmos. Incorporando continuamente tecnologias, relacionamo-nos a elas como servomecanismos. Eis por que, para utilizar esses objetos-extensões-de-nós-mesmos. Devemos servi-los, como a ídolos ou religiões menores. Um índio é um servo mecanismo de sua canoa, como o vaqueiro de seu cavalo e um executivo de seu relógio. (MCLUHAN, 1964).
Para conseguir informações de qualidade, o jornalista terá que ser mais
estrategista, terá de seguir rastros de informação no ambiente digital para conseguir
construir determinados fatos ou histórias.
2.3. Estratégias editoriais para as redes sociais
Mas, para isso, o jornalista terá que ser mais íntimo com as redes sociais, agora
ele terá mais fontes públicas para ouvir, conversar e receber denúncias ou propostas
de pautas. O jornalista terá que entender de forma criteriosa as finalidades, pensar e
usar objetivamente o Facebook, o Twitter, o Periscope, o LinkedIn, o Instagram, Flickr,
YouTube, Vimeo, WhatsApp e até mesmo o novato Snapchat. Estas ferramentas, a
princípio, são ambientes propícios para começar a buscar determinadas informações
e com elas é possível determinar um tipo de estratégia editorial diferente.
Como por exemplo, no Facebook, é possível pesquisar perfis de pessoas,
personagens para pautas de comportamento, perfis de empresas públicas privadas,
políticos e até mesmo empresas jornalísticas concorrentes, que estão presentes e
ativos nesta rede social. Além de garimpar informações, é possível compartilhar o
material jornalístico publicado, receber feedback do público no mesmo instante e
pode-se conseguir fontes para uma determinada pauta ou produção.
No Twitter, é possível levantar de forma mais rápida as informações factuais,
aquelas informações urgentes, onde acontece um fato e tem alguém que tem uma
conta nesta rede social, pode compartilhar em sua rede, ou enviar uma mensagem
para a conta de rede social da redação que acontece um fato importante naquele local.
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As informações rolam por uma lista única e são publicadas de forma sequencial e
cronológica, tornando assim as informações publicadas mais confiáveis, pois ainda
não há interferência de algoritmos ou alguma programação que atrapalhe essa
cascata de publicação.
O Periscope, é uma empresa que começou como uma startup que desenvolveu
um aplicativo de transmissões ao vivo num ambiente de rede social. A empresa-
embrião foi comprada em março de 2015 pelo Twitter e foi incorporada ao serviço de
rede social de microblog, preservando apenas o seu nome original. Pode ser usado
para transmissões públicas ou particulares ao vivo na rede social, vinculado ao serviço
Twitter, ele é como uma televisão ao vivo e pode transmitir qualquer imagem em
tempo real. Basta ter um sinal de internet que aguente a transmissão de dados. Sendo
assim, é possível fazer transmissão da redação, mostrando os bastidores para a
audiência, apresentando o funcionamento de uma redação e destacando algum fato
relevante que chegou no momento. O Periscope pode até mesmo ser utilizado para
transmissões factuais na rua, como mais uma alternativa de recurso tecnológico para
levar as informações ao público e para a audiência em tempo real. No LinkedIn, pode
ser usado como uma rede social mais voltado para o mundo corporativo, cobertura de
negócios, carreiras, empregos, inovação e empreendedorismo.
No Instagram e Flickr é possível verificar fotos de locais ou vídeos curtos,
ambos geolocalizados, ou seja, é útil para checar incialmente a procedência da
informação. Já no YouTube ou Vimeo, muitos usuários costumam postar vídeos de
eventos que acontecem no dia-a-dia, são vídeos de eventos factuais que estão
acontecendo e o usuário pode jogar a imagem lá e comunicar a redação sobre a
existência da imagem para complementar a cobertura jornalística de determinado
assunto. Como por exemplo, enchentes, chuva, acidentes de trânsito, denúncias de
serviço público, como buracos abertos na via, praças malcuidadas, pontos de ônibus
com falta de manutenção. E por fim, uma ferramenta fundamental para as redações,
o WhatsApp, Viber e tantos outros similares que são aplicativos multiplataforma de
mensagens instantâneas e de chamadas de voz, que permite troca de mensagens,
texto, vídeos e áudios e tudo isso apoiado no próprio terminal do celular, ou seja, no
mesmo número da linha telefônica, o aplicativo se apoia com as funções de troca de
informações e ao mesmo tempo, o usuário pode usar rede wi-fi local ou público para
poupar dados e custos da operadora.
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Praticamente todas as empresas jornalísticas usam o aplicativo como mais um
canal direto do público com a redação e tem funcionado bem. É raro encontrar um site
jornalístico sem um canal de contato via WhatsApp.
No entanto, começou a ascender uma nova estratégia de aproximação com o
público: envio de informações por aplicativos de mensagens, por meio de algoritmos
programados chamados de newsbots ou por pessoas que trabalham nas redações ao
redor do globo. O portal de notícias norte-americano Quartz34, criou um aplicativo
newsbot, que transforma o consumo de notícias em uma conversa. O leitor baixa o
aplicativo do portal de notícias e ele tem a interface de um aplicativo de mensagens.
No entanto, a notícia que a redação publica torna-se um diálogo ao consumidor de
conteúdo, não tem texto grande ou áudio, é como se fosse uma conversa sobre
notícias. É uma entrega mais leve e informal de conteúdo.
Já a publicação de economia Forbes35, o site especializado de tecnologia
TechCrunch36 e a agencia de notícias BBC Brasil37 estão experimentando o newsbot,
com estratégias semelhantes de publicação de conteúdo por meio do aplicativo russo
Telegram – que é como o WhatsApp, mas tem segurança criptografada, ou seja, é
protegido contra invasões ou ataques de crackers e a usabilidade dele é mais
amigável. No caso do Telegram, o aplicativo pode ser programável, o newsbot pode
fazer o trabalho do jornalista e fazer a publicação do conteúdo e a distribuição para o
leitor oferecendo opções de notícias, conteúdo ou de leitura.
No Brasil, o jornal paulista O Estado de S. Paulo implantou a mesma estratégia.
Desde o dia 28 de março, a redação envia pelo aplicativo WhatsApp as principais
notícias do dia para os leitores que solicitarem a inclusão no grupo do jornal do
WhatsApp, pelo número de telefone disponível pela redação. Segundo a matéria do
Estadão, o Brasil tem mais de 100 milhões de usuários do aplicativo e é este público
que a publicação quer focar. Os leitores serão notificados pelos jornalistas do Estadão
34 SEWARD, Zachary M. It´s here: Quartz´s first news app for iPhone. Quartz. Nova Iorque, 11 fev. 2016. Disponível em: <http://qz.com/613700/its-here-quartzs-first-news-app-for-iphone/>. Acesso em: 10 abr. 2016. 35 UPBIN, Bruce. Introducing The Forbes Newsbot on Telegram. Forbes. 23 fev. 2016. Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/bruceupbin/2016/02/23/introducing-the-forbes-newsbot-on-telegram/#1b5558c93117>. Acesso em: 10 abr. 2016. 36 BERNARD, Travis. Check out the new Al-powered TechCrunch news bot on Telegram Messenger. TechCrunch. 15 mar. 2016. Disponível em: <http://techcrunch.com/2016/03/15/check-out-the-new-ai-powered-techcrunch-news-bot-on-telegram-messenger/>. Acesso em: 10 abr. 2016. 37 BBC Brasil lança canal no Telegram. BBC Brasil. 17 dez. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/ portuguese/noticias/2015/12/151217_bbcbrasil_telegram_ss>. Acesso em: 10 abr. 2016.
60
três vezes por dia, inicialmente nos horários das 8h, 12h e 18h. No entanto, o jornal
vai enviar notificações em casos de notícias de última hora ou urgentes. Claro, a
equipe de jornalistas também espera receber mais pautas do seu público38. Os
aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram tornaram-se portas de entrada
de informações relevantes para as operações editoriais e estratégias jornalísticas para
levar o conteúdo ao seu público.
Ascende também a ferramenta Snapchat, que apesar de existir desde de 2011,
apenas nestes últimos anos que o aplicativo começou a ganhar uma boa atenção da
indústria da mídia. Ele é um aplicativo de mensagens com base de imagens, onde os
usuários podem tirar fotos, gravar vídeos, colocar textos, desenhos sobre a imagem,
filtros animados e artes sobre os vídeos curtos. As imagens permanecem nos
servidores da empresa por 24 horas e depois desaparecem, garantindo mais
privacidade e confiança aos usuários. O usuário pode definir por quanto tempo a
imagem pode ficar no ar, quantas camadas de imagens serão usadas, o tempo da
publicação, que é chamada de snap pode ser de 1 a 15 segundos e depois do tempo
determinado para a assistir a imagem, o conteúdo é deletado do celular de todos os
usuários que criaram e receberam o conteúdo e também é deletado dos servidores
da empresa do aplicativo. É como criar o instante que não vai mais se repetir, para
assim atrair os usuários que não querem perder aquele momento que, em tese, é
único. O aplicativo pode ser utilizado no apoio para desenvolvimento de novas
narrativas, instigar a audiência para informações importantes, produção de conteúdo
especial transmídia e principalmente atrair o público jovem para o jornalismo levando
uma outra linguagem, desde que sejam desenvolvidas estratégias especiais de social
media, transmídia e multimídia. Como foi o caso do jornalista da BBC John Sweeney,
do programa BBC Panorama39, que fez uma reportagem especial para o canal de
conteúdo BBC One e canal de notícias BBC News sobre a crise na fronteira da União
Europeia e os refugiados de países em guerra, que estão fugindo para a Europa,
tentando atravessar o forte esquema de segurança nas fronteiras para tentar chegar
no continente para reconstruir suas vidas.
38 ‘ESTADO’ agora envia manchetes via WhatsApp. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 24 mar. 2016. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,estado-agora-envia-manchetes-via-whatsapp,10000023025>. Acesso em: 27 mar. 2016. 39 BBC Panorama. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/programmes/b006t14n>. Acesso em 30 jul. 2016.
61
A equipe de reportagem do canal de televisão e de notícias britânico usou o
Snapchat mostrando os bastidores da viagem, entrevistas curtas, depoimentos do
repórter, quase como pequenos relatórios narrando como foi o trabalho da reportagem
aquele dia40. O material criado pelo Snapchat tornou-se a primeira experiência de um
curto documentário dedicado para o mobile. Todas as imagens e vídeos foram
recuperadas pela redação da BBC, compilado e está disponível na página da BBC
News, na rede social Facebook41.
2.4. Ferramentas para seguir rastros de informação
Devido ao rápido desenvolvimento tecnológico, que abarcou e aprimorou
ferramentas de produção de conteúdo e mapeamento de informação, muitas práticas
jornalísticas tornaram-se ineficazes ou pouco eficientes para captação de dados e de
conteúdo para produção de notícia. O processo de produção jornalística foi
dramaticamente alterado e as empresas sofrem grandes mudanças em suas
estruturas. Os profissionais de mídia terão que perceber e compreender a nova
realidade sobre como chega a informação, permitindo que cada vez mais o público
participe da produção do conteúdo. Por isso, cabe apresentar algumas as ferramentas
que podem ser utilizadas para atualizar uma redação e como que estas ferramentas
podem colaborar para uma construção de conteúdo eficiente, pontual e assertiva.
Com o avanço da tecnologia permitiu o rompimento do código-fonte da
informação, dando a possibilidade de qualquer pessoa que domina um dispositivo,
como um smartphone ou um computador possa transmitir ou distribuir informação. O
jornalista viu-se diante de um novo cenário, em que era o baluarte da opinião pública,
agora tem que compartilhar com os ‘amadores’ a posição de formação de opinião e
conteúdo. Agora, qualquer um em qualquer lugar pode se tornar um repórter e
transmitir a informação por vários meios informacionais que temos na tecnologia. Os
jornalistas que já têm o papel de gatekeeper, terá cada vez mais o papel de curador.
Além disso, há novos players no mercado que conseguem entender a dinâmica das
redes sociais e como que a comunicação acontece de forma rápida e como as
40 BERTHOUD, Cris. When journalism meets Snapchat. BBC Academy. Londres, 29 set. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/blogs/collegeofjournalism/entries/50e4717b-aa5a-4db7-9e2a-d56b7c8aee0c>. Acesso em: 27 mar. 2016. 41 BBC News. John Seweeney captures refugee crises on Snapchat. Facebook. Londres, 29 set.2015. Disponível em <https://www.facebook.com/bbcnews/videos/vb.228735667216/10153126586842217/ ?type=2&theater>. Acesso em: 27 mar. 2016.
62
empresas tradicionais não conseguem acompanhar essa dinâmica. Além disso, será
possível perceber como que é o comportamento do público-alvo está interagindo com
os novos produtos que auxiliam o jornalismo a produzir conteúdo.
Aplicando uma metáfora do nosso cotidiano: um cozinheiro que prepara bem a comida, pode ser uma dona de casa ou chefe de cozinha. O cidadão e o jornalista estão nestes parâmetros ao produzir um conteúdo. A comida pode ficar boa, como o conteúdo pode ficar ruim. Não importa quem o faz (COELHO, 2015).
Os jornalistas agora têm que contar cada vez mais com o conteúdo
colaborativo, com o que vem de fora e que não pego diretamente por integrantes da
redação ou jornalistas profissionais. O que de todo mal não é ruim. Como por exemplo
o prosumer, em que o consumidor é também o produtor e nesta sociedade ele está
cada vez mais ativo. Ele quer e pode colaborar com a produção do produto, para que
possa consumir de forma satisfatória. Com a informação produzida pelo jornalismo
não é diferente. O prosumer acessa mais a internet e os meios de informação, podem
policiar mais o jornalista que produz e assim direciona ele se está no caminho certo
ou errado. Se ele pode modificar a elaboração do material jornalístico a ser
produzindo. O prosumer da informação acaba entregando muito material duro para
que depois, o jornalista possa lapidar e entregar essa informação mais agradável e
fácil para o consumo. Ele tem tanta informação, mas não sabe por onde consumir,
mas sendo assim, o jornalista por meio de sua técnica pode colaborar e construir a
história que está na mão dessa pessoa.
A maior parte dos surfistas da Web se vê às voltas com esses refinamentos várias vezes por semana, se não mais. Eles sabem exatamente o que estão procurando — só não sabem que combinações de palavras-chave representam melhor a informação que buscam, razão por que a maioria dos pedidos de busca envolve várias iterações de tentativa e erro (JOHNSON, 2001, p. 151).
2.4.1 TweetDeck A ferramenta TwitterDeck, foi desenvolvida em 2008, por uma startup e
posteriormente foi comprada pelo Twitter, no ano de 2011. É um aplicativo de
monitoramento de social media que integra mensagens das redes sociais Twitter e do
Facebook, sincroniza dados do aplicativo de localização ou geolocalização (GPS)
Foursquare e por meio do browser (navegador), programa que pode ser instalado no
desktop do computador ou por aplicativo no celular e que permite o gerenciamento de
63
múltiplas contas. Nele, os usuários podem fazer o monitoramento da rede social por
meio de colunas, que apresentam tweets de seus seguidores e outros usuários de
Twitter, hashtags (sinal # ou cerquilha, que marcam os termos relevantes ou
discutidos nas redes sociais) e por meio deste sinal os assuntos ficam concentrados
em uma só coluna para facilitar a busca ou leitura de postagens ou da conversa sobre
determinado tema e assuntos mais comentados (trending topic).
No TweetDeck, é possível selecionar várias colunas para mapear alguma
informação-tendência, outras contas e acompanhar temas relevantes para apuração
jornalística em tempo real, como por exemplo, ‘#incêndio’, ‘#acidente’, ‘#zonasul’. A
interface é formada por cinco colunas.
A primeira coluna é o painel de controle, com os botões New Tweet, Search,
Home, Favorites, Mentions, espaço para busca localizada, os botões User,
Scheduled, Add column, Collapse, Lists, Custom timelines; Settings – Home, que é a
linha do tempo da conta do usuário, Favorites, que é as contas preferidas que o
usuário segue; Mentions, para monitorar quantas vezes e quem citou sua conta na
rede social. Figura 8 – Interface do TweetDeck versão Desktop
Fonte: TweetDeck
A conta geralmente identificada pelo nickname ou apelido da pessoa precedido
pelo sinal arroba, identificado pelo simbolo ‘@’, como por exemplo, ‘@coelho’, que
pertence a Cido Coelho; Search, para localizar tópicos específicos, hashtags ou outros
usuários específicos.
64
Tabela 1 – Exemplo de uso de monitoramento na rede social Twitter
O usuário pode localizar a hashtag #acidente na coluna #acidente, quando um usuário publica em sua
conta.
@fulanodetal “Um acidente grave aconteceu na avenida Jabaquara” ou @ciclano “Que porrada
feia na avenida Jabaquara, perto do cartório! Até agora não chegou uma ambulância!” #acidente.
Fonte: o autor
O usuário pode personalizar a posição das colunas, invertendo sua a ordem,
para deixar visível para o monitoramento, bem como criar colunas para monitorar
outros assuntos mais comentados naquele momento, em tempo real.
Então, o jornalista percebe que acontece um acidente na avenida Interlagos e
aprofunda a apuração via canais oficiais como Bombeiros, Polícia Militar, Prefeitura-
CCOI e entre outros e assim comunicar a chefia de reportagem, que envia uma equipe
de reportagem para o local, para cobrir o factual.
2.4.2 Hootsuite Chamado anteriormente de BrightKit, a ferramenta Hootsuite, que também foi
desenvolvido em 2008 no Canadá, pelo desenvolvedor Ryan Holmes, é um sistema
integrado e focado para monitoramento de informações, engajamento, colaboração,
aplicativos e de gestão de marcas para mídias sociais. A ferramenta é usada por
grandes empresas, pequenas e médias empresas e agências para acompanhar
resultados de campanhas e na grande mídia para o monitoramento de informações e
engajamento com a audiência no compartilhamento de informações e notícias.
Semelhante ao sistema TweetDeck, o aplicativo que tem em versão browser e
para mobile, possui uma interface, semelhante a um painel de controle com várias
colunas e suporta mais de 35 redes sociais como Facebook, Twitter, Linkedin, Google
Plus, Foursquare, Mixi, MySpace, Ping.fm e Wordpress.
O aplicativo também possui compatibilidade com Tumblr, Trendspottr, Constant
Contact, Digg, Fickr, Get Satisfaction, InboxQ e YouTube. É utilizado por mais de 3
milhões de usuários.
65
Figura 9 – Interface do Hootsuite, na versão browser
Fonte: Reprodução Assim como o TweetDeck, o Hootsuite é uma ferramenta que propõe agilidade
para o monitoramento de assuntos que são tendência que mais se destacam na social
media, porém com a possiblidade de monitorar mais canais e redes de social media,
pelo menos, os principais que estão disponíveis na web.
2.4.3 Dataminr Fundada em 2009 por ex-alunos da Universidade de Yale, o Dataminr é uma
ferramenta que mapeia e coleta dados da ferramenta Twitter em tempo real. Estas
informações podem ser feeds de web, dados geográficos, banco de dados
relacionados, tópicos de notícias em destaque, banco de dados locais e outras
informações são captadas da rede social Twitter e com isso, o algoritmo da ferramenta
identifica, classifica e determina sua relevância com sinais e contexto analítico
determinante para tomada de decisões no setor público, financeiro e de notícias.
Para o uso em uma redação jornalística, o Dataminr pode alertar o jornalista
com informações urgentes, fonte da informação, quantos veículos de comunicação
estão transmitindo a informação, ou se tem pessoas comuns publicando informações
relevantes, a hora da informação e qual é a origem dos dados, ou seja, o ‘calor do
momento’. Ele pode ser utilizado para verificação informações pontuais, como o uso
na cobertura política, mercado financeiro e noticiário internacional, bem como, na
cobertura local, mapeando situação do transporte público, ocorrências de serviços
públicos, policiais, acidentes, incêndios e se existe alguns usuários do Twitter
66
reclamando ou informando algum problema na rede social que possa ser captado pelo
sistema.
Figura 10 – Motor de informações do aplicativo Dataminr
Fonte: Dataminr
Quando a conversa na rede social torna-se muito intensa, o sistema começa a
levantar as publicações mais relevantes e envia alertas por email, notificações no
computador, smartphones, redes sociais e SMS para os jornalistas que estão usando
a ferramenta, desde uma informação em texto, uma foto que foi publicada no
Instagram, um vídeo e até mesmo uma transmissão ao vivo via Periscope. A interface
possui um painel de controle que tem uma barra de busca para buscar palavras-chave
e as categorias separadas por colunas como Related Terms (Termos Relacionados),
Trending Messages (Mensagens Tendência), Alerts (Alertas), Images (Imagens),
Graph (Gráfico para mensurar o volume de mensagens em tempo real) e um mapa
para mostrar a origem da mensagem, caso o usuário seja rastreado por
geolocalização (GPS). A ferramenta monitora mais de 500 milhões de publicações por
dia que saem da rede social Twitter. Depois dessa captura, a ferramenta classifica
sua relevância, destaca, para depois reúne estes dados em categorias, o que é
chamado de clusrerização (clustering). As informações são categorizadas como Local
News (LN), Major News (MN), Urgente Update, Flash, Urgent, e entre outras etiquetas.
Figura 11 – Interface da ferramenta Dataminr
67
Fonte: Dataminr
Por meio destas colunas é possível perceber a localização da informação e
como ela se comporta, se está sendo muito ou pouco comentado na timeline das redes
sociais. Assim, o jornalista poderá interpretar as informações para fazer uma apuração
jornalística eficiente. A ferramenta capta dados e o jornalista continua o trabalho da
verificação da informação, no entanto, terá mais recursos informacionais para saber o
que está acontecendo em determinada região no tempo preciso. Após este
procedimento, a ferramenta avalia e detecta o que tempo real ou o que é história em
desenvolvimento, para depois determinar o que é alerta, como Breaking News,
Tendência Emergente, Informação do Movimento de Mercado, e registro de outros
grandes eventos. Depois, o Dataminr determina o nível de urgência da informação é
alto ou baixo, rápido ou apenas um aviso. Enfim, a ferramenta determina o idioma, o
nível de urgência, tipo de alerta, palavra-chave, tópico, região e setores para entregar
o alerta para computadores com o programa, e-mail, mensagem instantânea, mobile
e outros sistemas clientes. A ferramenta possui integração com celular, e-mail e a
ferramenta de monitoramento social TweetDeck e isso é processado em fração de
68
segundos pelo programa. Depois disso, cabe ao elemento humano avaliar qual é a
informação mais importante para fazer a tomada de decisão.
Figura 12 – Funcionamento do Dataminr
Fonte: Dataminr
2.4.4 Waze Anteriormente conhecida por LinQmap, e adquirido pela Google em 2013, o
Waze foi fundado em 2008, em Israel por Uri Levine, pelo engenheiro de software
Ehud Shabtai e por Amir Shinar. No final de 2011, a empresa israelense ofereceu uma
aplicação para smartphones ou dispositivos móveis similares baseados na navegação
por satélite, como por exemplo o GPS, e que fornece informações em tempo real e
informações de usuários e detalhes sobre rotas, dependendo da localização do
dispositivo portátil na rede. O Waze ganhou o prêmio de melhor aplicativo portátil de
2013, no Congresso Mundial de Portáteis e em meados do mesmo ano, a empresa
de serviços na internet Google adquiriu a empresa por 1,3 bilhão de dólares para
expandir sua base de usuários. A informação mais recente disponível sobre a base
de usuários que baixaram o aplicativo é que há mais de 50 milhões de usuários no
mundo transmitindo dados para formar novos mapas e rotas entre seus integrantes
da rede social de serviços de trânsito. Está disponível para os sistemas Android, iOS,
Windows Phone, Blackberry OS, Symbian, Wndows Mobile e nos computadores, pelo
site disponível na web. Muitas empresas jornalísticas incorporam os mapas de trânsito
do Waze para entregar ao público as informações de trânsito em tempo real. A
empresa mantém parceria exclusiva em televisão com a TV Globo, no Brasil e outras
empresas de comunicação para mostrar dados de trânsito ao público.
69
Figura 13 – Interface do Waze para navegador
Fonte: Waze
2.4.5 Moovit Desenvolvido em Israel como TranzMate, a companhia começou suas
operações em 2012 por Nir Erez, Roy Bick e Yarion Evron, contando também com o
fundador do Waze, Uri Levine, o Moovit combina dados dos operadores do sistema
de transporte e de autoridades às informações em tempo real ao público, em
comunidade, com navegação GPS em todos os modos de transporte, incluindo
ônibus, trólebus, bondes, trens, metrô, balsas e barcas. Os usuários acessam o mapa
ao vivo com informações dos horários, as paradas de ônibus e estações próximas
com base em sua localização GPS atual, bem como planejar viagens em todos os
modos de transporte, com base em dados, em tempo real.
O aplicativo tem informações dos serviços de transporte local, chamados por
‘Alertas de serviço’ retirando as informações dos sites dos respectivos sistemas que
informam mudanças no trajeto ou linhas extras para eventos específicos na cidade e
ainda é possível baixar o mapa da rede de transporte, aqui em São Paulo é possível
baixar o mapa da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô e do ônibus
circular de turismo da cidade paulistana, Circular Turismo Sighseeing SP, da
companhia municipal São Paulo Turismo – SPTuris. Os usuários do Moovit também
podem informar se o ônibus atrasou ou chegou antes do previsto, se está parado, com
superlotação, a satisfação com o motorista do ônibus, limpeza e a disponibilidade do
serviço wi-fi. É possível apurar informações e verificar o serviço de transporte público
70
por meio de novas narrativas voltadas para prestação de serviço. O aplicativo também
atende ciclistas e fornece serviços de informação sobre a localização de estação de
empréstimo de bicicletas próximas a estação de trens e metrô, número de bicicletas e
vagas disponíveis para guardar a bicicleta.
É possível pedir taxi sem sair do aplicativo, por meio de uma parceria com a
empresa brasileira Easy, podendo mesclar trajetos de transporte público com o
serviço de táxi.
Figura 14 – Tutorial em inglês sobre como usar o aplicativo Moovit
Fonte: Moovit
O Moovit está disponível em mais de 600 cidades de 55 países ao redor do
mundo, em 36 idiomas, 20 milhões de usuários transmitem e compartilham informação
em tempo real sobre transporte público, gera diariamente mais de 10 milhões de
relatórios de usuários.
Está em 30 cidades brasileiras e mais de 4 milhões de pessoas nas cidades de
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba que representam 90%
dos usuários do aplicativo no País42.
42 A Moovit. Moovit. Disponível em: <http://moovitapp.com/pt-br/wp-content/uploads/sites/9/2014/07/ Sobre-a-Moovit-Brasil-4-14.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2016.
71
CAPITULO II – TECNOLOGIA E NOVOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
1. O avanço da tecnologia na comunicação
1.1 Novas plataformas de comunicação
A tecnologia avança de forma galopante no desenvolvimento da humanidade.
Bem como a comunicação, que acompanha o fluxo da tecnologia. Temos a tecnologia
e a comunicação dando as cartas nesta geração. O autor Val Dusek explica que a
filosofia da tecnologia ainda não está completa e envolve o conhecimento de vários
saberes, como ciência, sociedade, política, história e antropologia. Ao mesmo tempo
essa multiplicidade de saberes torna-se um problema para pensar a tecnologia e seus
objetivos, em relação a filosofia tradicional, a filosofia da tecnologia ainda é um campo
novo no universo da filosofia (p. 10, 2006). Ao pesquisar mais sobre tecnologia e
comunicação, foi levantada uma das inúmeras definições compreensíveis sobre
pensar a tecnologia por meios dos fundamentos filosóficos com o autor Milton Vargas.
É frequente se ouvir dizer que homem e técnica são conceitos tão próximos que não se pode pensar num deles sem invocar o outro. Homem sem técnica seria abstração tão grande como técnica sem homem. São entidades polares, pois, eliminando-se uma, desaparece a outra. Por outro lado, a Antropologia vem mostrando que não há homem sem linguagem que não seja humana. Donde se poderia concluir que a trilogia homem-linguagem-técnica é essência do fenômeno humano. Isto é, só é humano aquele que possui a capacidade de se comunicar pela linguagem e a habilidade de fabricar utensílios pela técnica (p. 171, 1994).
Ou seja, por meio dos inventos e criações, o homem pode se aprimorar,
transformou algo que não era humano tornou-se homem (p. 171, 1994).
Já para a comunicação, será conceituado uma das bases iniciais, que é Teoria
Matemática da Comunicação para definir a essência da comunicação. Segundo a
autora Marlene Oliveira Teixeira de Melo, a teoria surgiu após a Segunda Guerra
Mundial e a descoberta foi fundamental para o desenvolvimento científico e
tecnológico dos Estados Unidos e de outras nações que faziam parte do mesmo
contexto histórico e econômico (p. 467, 2014). Sua teoria vem de Claude Elwood
Shannon, que publicou em 1948 o artigo que aborda a Teoria Matemática da
Informação no Bell System Technical Journal, que buscava o problema de encontrar
a melhor forma de codificar a informação. Para isso, Shannon usou ferramentas da
72
Teoria da Probabilidade, elaboradas por Warren Weaver, sendo assim os dois
pesquisadores formalizaram a Teoria Matemática da Comunicação (p. 468, 2014).
Para essa teoria o problema fundamental da comunicação é o de reproduzir em um ponto, de forma exata ou aproximada, uma mensagem selecionada em outro ponto. Com frequência, as mensagens têm um significado, isto é, referem-se ou estão correlacionadas a algum sistema com determinadas entidades físicas ou conceituais. Esses aspectos semânticos são irrelevantes para o problema de engenharia. O significativo é que a mensagem real é selecionada a partir de um conjunto de mensagens possíveis. O sistema deve ser projetado para operar em cada possível seleção, e não apenas naquela que vai realmente ser escolhida, uma vez que esta é desconhecida no momento do design. Se o número de mensagens no conjunto é finito, então este número ou qualquer função monótona deste pode ser considerado como uma medida da informação produzida quando uma mensagem é escolhida no conjunto; todas as escolhas são igualmente prováveis (MELO, p. 468, 2014).
Temos nos dias atuais uma forte combinação de tecnologia e comunicação,
que está presente desde a rotativa da gráfica, que imprime o jornal, passando pelos
componentes eletrônicos de um rádio, televisão, smartphone e computadores para
serem protagonistas de fortes modificações no universo da comunicação e também
no jornalismo, mudando comportamentos, rotinas e o ato de fazer o oficio.
Há um novo ecossistema midiático em formação, contendo os meios de comunicação analógicos, surgidos a partir das concepções econômicas da evolução Industrial, e as redes digitais conectadas, que possuem conexões topológicas descentralizadas e de baixa hierarquia, fornecendo novas possibilidades de consumo de conteúdo e alterando a relação estabelecida, pelo modelo broadcasting, entre a audiência e as suas preferências informacionais. Nessa estrutura informacional emergem possibilidades de estabelecer diferentes tipos de relação entre emissor de conteúdo informativo de relevância social e a audiência (LIMA JR., 2009, p. 24).
No âmbito do desenvolvimento do jornalismo, que também sofre profundas
mudanças devido aos impactos tecnológicos e comportamentais da sociedade em sua
estrutura, modelo e funcionamento, é necessário entender como que o uso e a
aplicação das novas plataformas podem ajudar na transformação e evolução do oficio.
Antes da forte presença da tecnologia, as mídias tradicionais adotavam estratégias
distintas para ‘vender’ o seu conteúdo e muito se centralizava em torno dos jornais e
revistas impressas com feedback nas emissoras de rádios, televisão e revistas.
Anúncios elaborados pelas grandes agências de publicidade, gráficas dos jornais
impressos ou departamentos de comunicação das emissoras de rádio e televisão são
publicados para mostrar os destaques ou os produtos telejornais, radio jornais e
73
anúncios do próprios jornais e revistas eram publicados no impresso, e por ele, era
diluído para as bancas de jornais e revistas para chegar no leitor, que tomava a sua
decisão de consumir o conteúdo na TV, rádio ou impressos e comentar com seus
amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.
A comunicação começou a partir da fala, depois prosseguiu para escrita, avançamos para os pulsos elétricos para transmitir mensagens, sem falar do desenvolvimento do correio, que resiste bravamente até os dias atuais, avançamos com o invento do telefone, que nos deu um salto gigantesco no parâmetro, âmbito e espectro de comunicar. Rompemos horizontes com a transmissão de mensagens por meio do telégrafo, para chegar ao desenvolvimento de novas tecnologias como as redes telemáticas, protocolo TCP/IP, BBS, e então, a World Wide Web (www) (COELHO, 2015).
Atualmente, com uma infinidade de recursos e plataformas, como media digital
out of home (DOOH), consoles e claro os smartphones, a estratégia tem que ser mais
pensada no portátil como complemento das mídias consolidadas, como é o caso do
mobile e das redes sociais. As mídias consolidadas que ainda recebem boa parte do
dinheiro vindo do bolo publicitário brasileiro são radio, impresso e televisão, isso não
se discute, ainda tem público para consumir estes conteúdos por muito tempo. Mas,
cabe ressaltar que existe uma nova realidade, um novo comportamento, em uma
sociedade com ambiente voltado para computação, em que a computação é
determinante para tomada de decisões e facilitador na demanda de trabalho. Por lá
também eclode um grande tomador de publicidade que torna-se algoz do suado
dinheiro da mídia tradicional. Observando este cenário, faz pensar além dos limites
da plataforma convencional. Se antes o consumo de jornalismo estava apenas na
leitura de jornais, na conversa em bares, jograis e músicas que mitificavam heróis,
hoje, a audiência que está na tríade da plataforma ‘rádio-tv-impresso’, nos dias atuais
está apenas na porta de entrada, pisando no tapete, pronto para acessar a maçaneta
da grande conversa que o jornalismo e a comunicação podem proporcionar para ela.
Como o Bill Kovach e o Tom Rosentiel pontuaram, o jornalismo é apenas o começo
da conversa e é uma conversa que vai ajudar nas tomadas de decisões das próprias
vidas e que se auto governem (2003, p.31).
Com o fim da Idade Média, as notícias surgiram na forma de música e relatos, nas baladas contadas pelos jograis ambulantes. Isso que podemos considerar como o moderno jornalismo começou a emergir nos começos do século 17, literalmente na base de conversas, sobretudo em lugares públicos como os cafés de Londres e depois nos pubs ou “casas públicas”, como eram chamados nos Estados Unidos. Ali os donos de bares,
74
chamados publicans, estimulavam os papos animados de viajantes que chegava, para que contassem o que tinham visto e ouvido no caminho, material informativo registrado e depois em livros especiais que ficavam sobre o bar (KOVACH e ROSENSTIEL, 2003, p. 24).
A pessoa que busca informação vai para onde é mais fácil, onde é rápido
chegar. As mídias consolidadas estão lá, no entanto, cabe aos executivos dessas
empresas repensem sua estratégia de distribuição, isto é, parar com o comodismo e
começar a se envolver e chegar até as pessoas com apoio de recursos tecnológicos
e ao mesmo tempo, mostrar-se que estão presentes no dia a dia das pessoas levando
informações, servindo as com dados importantes e facilitando a tomada de decisão
das pessoas. Hoje em dia não é mais aceitável só esperar a pessoa acessar o
conteúdo e buscar o que ela precisa. Para isso, é necessário avançar para conquistar
essa pessoa que quer a informação.
O relatório anual State of The News Media, publicado pelo instituto Pew
Research Center, que avalia o cenário da indústria de mídia nos Estados Unidos,
mostra que em 2015, 39 dos 50 sites de notícias digitais mais acessados por lá tem
mais visitantes nas versões mobile que no desktop. Na ponta dessa audiência estão
sites mais ‘novos’ no universo do jornalismo como Huffington Post, BuzzFeed, Vox,
Mashable e Vice. As pessoas acessam mais os sites de notícias pelo celular do que
pelos computadores de mesa (desktop).
No Brasil esse cenário também é perceptível em duas grandes empresas de
mídia. O Grupo Abril afirmou que no ano passado, 65% da audiência digital de toda a
companhia e produtos vem do mobile e o Infoglobo, divisão de produtos de mídia
impressa do Grupo Globo, crava que 39,95% acessaram os produtos da empresa
detentora dos jornais O Globo e Extra via mobile. Então, dos 136,7 milhões de páginas
visitas (PV ou pageviews), 54,6 acessam os conteúdos do Infoglobo via smartphone
ou tablet43
Como muitos veículos noticiosos fazem no Brasil por exemplo começam a
investir mais na plataforma mobile. O portal G1, da TV Globo, mudou toda a sua
interface no final de 2015 para facilitar a entrada do público pelo mobile e isso puxou
43 MAGALHÃES, Lizandra. Mobile é principal audiência dos sites de notícias. IAB Brasil. São Paulo, 30 jun. 2015. Disponível em: <http://iabbrasil.net/artigo/mobile-e-principal-audiencia-dos-sites-de-noticias>. Acesso em: 28 mar. 2016
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o resultado da audiência, ou seja, 61% dos usuários mobile passaram a acessar o
canal de notícias na internet44.
Existe uma forte e crescente demanda de consumo, mas cabe ressaltar que é
necessário adaptar-se de acordo com as necessidades e o comportamento do seu
público, entendendo o que ele precisa e quais meios ele utiliza para acessar a notícia.
As equipes de jornalistas e programadores do jornal O Estado de S. Paulo perceberam
essa grande movimentação e acesso de conteúdos via smartphones e tablets e
investiram num portal mobile, uma porta de entrada mobile diferente do padrão de
outros sites mobile. O Estadão Mobile45 está focado em curadoria de conteúdo, os
editores selecionam durante todo o dia as 10 notícias mais importantes do momento
e o leitor consegue ter o acesso de forma simples e objetiva, devido a uma interface
com fácil usabilidade, que também permite o rápido compartilhamento de informações
via redes sociais. Nesse caso foi pensada a usabilidade do aplicativo para que o leitor
se sinta confortável ao acessar e consumir o conteúdo.
O outro exemplo a plataforma Globo Play46, do Grupo Globo, que é dono da
maior emissora de televisão do País, a TV Globo, foi desenvolvido pelo departamento
de Mídias Digitais da TV Globo com a equipe de desenvolvimento da globo.com.
Globo Play, é uma plataforma que transmite o conteúdo da emissora para
smartphones, tablets e desktop. A aposta principal da empresa foi em mobilidade, a
pessoa pode assistir o conteúdo de entretenimento, esportes e jornalístico em
qualquer lugar, bastando ter um local com acesso wi-fi ou um bom plano com pacote
de dados para que consiga assistir o conteúdo, pois vídeo consome muitos dados. O
aplicativo da Globo está disponível para tablets e smartphones com sistemas Android
e iOS, navegadores PC com Windows e Mac e smart TVs de marcas como Samsung,
Sony e entre outras. Futuramente estará disponível também para o Chromecast, da
Google, e aos consoles de videogames47. A TV Bandeirantes, do Grupo Bandeirantes
44 MEDEIROS, Henrique. G1 muda formato do portal e alcança 61% dos leitores no mobile. Mobile Time. http://www.mobiletime.com.br/18/01/2016/g1-muda-formato-do-portal-e-alcanca-61-dos-leitores-no-mobile/425802/news.aspx>. Acesso em: 28 mar. 2016. 45 ‘ESTADO’ estreia novo site para dispositivos móveis. O Estado de S. Paulo. Disponível em: http://econo mia.estadao.com.br/noticias/geral,estado-estreia-novo-site-para-dispositivos-moveis ,1684238>. Acesso em: 28 mar. 2016. 46 Globo Play. Disponível em: <www.globoplay.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2016. 47 SOUZA, Elson de. Globo Play e Globosat Play: apps permitem assistir TV online. TechTudo. Rio de Janeiro, 20 dez. 2015. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2015/12/ globo-play-globosat-tv-online.html>. Acesso em: 28 mar. 2016.
76
de Comunicação também tem um aplicativo mobile de transmissão semelhante ao da
Globo, que é o Aplicativo da Band48. Tanto no aplicativo da Band quanto o da Globo,
as empresas de mídia alegam que pelo menos 4 milhões de pessoas já fizeram o
download dos aplicativos nos sistemas Android, Windows Phone e iOS.
É claro, também outra plataforma que já tem seu espaço consolidado no
jornalismo, mas também precisa ser pensada em sua estratégia editorial é a das redes
sociais que se tornaram uma das principais portas de conteúdo noticioso para o
público. As redações precisam saber por qual via se distribui o melhor conteúdo, pois
dependendo da estratégia que foi trabalhada o conteúdo elaborado pode ser uma
perda de tempo e dinheiro, provocando a frustração do público, quando a ideia era
apenas dar a fundo mais informações de uma história relevante para a sociedade sem
fazer ‘pirotecnia’. A partir de uma informação, como uma publicação do microblog
Twitter, pode se voltar para criar uma grande cadeia de informação que ajuda a dar
conhecimento a maior parte das pessoas.
É assim que acontece o turning point do jornalismo colaborativo ao jornalismo nas mídias sociais: se até então o usuário batia na porta de um veículo oferecendo o seu conteúdo para publicação, agora é o veículo que deve correr atrás do usuário em busca de um conteúdo diferenciado e com alto teor de noticiabilidade. Foi o que vimos nos episódios de tremores de terra em São Paulo (2008) e em Brasília (2010), relatados no Twitter antes que qualquer veículo noticiasse (BRAMBILLA, 2011, p. 98-99).
O que antes era motivo de desconfiança das empresas, hoje a internet e claro,
as redes sociais, são partes fundamentais de todo o ecossistema do caminho da
notícia, ou melhor o novo caminho da notícia. Como por exemplo a mudança de
comportamento de algumas empresas de mídia dos Estados Unidos, como o jornal
Chicago Tribune que ousou e publicou um blog em 2004. Uma postura dessa era
impensável no começo da internet, por então ser considerada uma plataforma sem
credibilidade. Em 2006, a publicação The New York Times começou a fazer a
publicação de links externos do YouTube para relacionar os assuntos do momento e
estas práticas mostram que conversa pode começar nas redações, mas ainda
continua acontecendo fora das redações. Um choque de novo tempo e um fragmento
de realidade que estava por vir no mundo da indústria da mídia.
A criação de um blog no Chicago Tribune e a adoção de vídeos do YouTube por parte do New York Times já apontavam não só uma busca dos veículos
48 Disponível em: <http://www.band.uol.com.br/segundatela/>. Acesso em: 28 mar. 2016.
77
tradicionais por um engajamento maior com o público, como também uma percepção de um novo tempo, uma percepção de que a grande conversação não se dava dentro de um veículo, e não se dava unicamente entre um veículo e seus leitores. A grande conversação estava acontecendo fora dos veículos, de forma coletiva entre os usuários, entre cada nó da Grande Rede, em ambientes sociais e livres de barreiras, onde você não estava preso à produção de um único veículo, e onde podia, sempre que quisesse, compartilhar, comparar e debater informações de múltiplas fontes (CAVALCANTI, 2011, P. 49).
É preciso entender o novo caminho da notícia, para onde ela vai passar, como
vai ser passada, até alcançar o seu objetivo final, que levar a pessoa uma informação
que faça a diferença na vida dela. Agora, as redações têm que se adaptar aos novos
hábitos comportamento tecnológico da sociedade. Para isso, as redações devem abrir
várias frentes estratégicas, fazer novas formas de contar a história, deixar o conteúdo
atrativo, com novas plataformas, inclusive experimentando novas plataformas para
dar um novo patamar ao ofício do jornalismo. A audiência está pulverizada, mais
distribuída por várias plataformas e os pontos de audiência ou relatório de vendas de
jornais e revistas não apresentam bons números e tendem a ser bem desagradáveis
com o avanço do tempo. O público deseja experimentar outras plataformas de
conteúdo e novas tecnologias e o jornalismo precisa estar antenado a estas
tendências sem perder a essência. Mas, mesmo assim, não é o caso de que tudo está
perto do fim, o mundo não vai acabar. Pelo contrário, acontece uma transformação
que vai ajudar a dar uma balançada no sistema e nas instituições jornalísticas. É a
formação de uma nova cultura, novos hábitos de consumo da notícias e novas rotinas
de trabalho serão implantados. O uso da tecnologia sempre esteve presente no
desenvolvimento do jornalismo com o passar da história.
Desde a máquina de imprensa de Gutemberg, com seus moldes, tipos, tintas,
prelo e as atuais e modernas técnicas de impressão industrial que estão presentes.
Independente da transformação, o foco é o ser humano e para isso, a tecnologia é um
grande aliado e não um vilão. Pois, quem faz o conteúdo ainda é o jornalista e a
sociedade e eles são as principais matérias-primas da história da humanidade. O que
a sociedade fizer com o jornalismo, torna-se o espelho da sociedade.
Os meios de comunicação, em si mesmos, não são nem bons nem maus. São uteis, do mesmo modo que o são a roda, o avião ou a energia nuclear. Mas a roda faz andar a ambulância e o canhão, o avião serve para avizinhar cidades e para atirar bombas sobre elas, a energia nuclear contém o poder quase mágico de alavancar a humanidade e ao mesmo tempo, o de destruí-la. Os meios de comunicação serão aquilo que o ser humano fizer deles.
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Essa é a grande, a imensa, a grave responsabilidade: saber utilizar as potencialidades dos novos engenhos para o bem (COSTELLA, 2003, p. 239).
1.2 Interface, mobile e desktop
Outros fatores importantes para captar as informações estão nas interfaces.
Temos os canais de televisão abertas, que transmite regularmente informações do
seu departamento de jornalismo ou os canais abertos que transmitem conteúdo
noticioso 24 horas. Os portais de internet estão disponíveis ao acessar o computador
e os celulares. Ao mesmo tempo agora podemos acessar a internet assistir o conteúdo
do canal aberto e do canal fechado no celular e no computador.
Se tem alguém que tem um dispositivo móvel em mãos ele terá facilidade em
acessar o conteúdo. O conteúdo, como foi dito anteriormente, pode ser acessado por
diversas formas, por mensagens SMS, e-mail, MMS e redes sociais. Henry Jenkins
disse em Cultura da Convergência que nem todo conteúdo vai fluir por uma caixa
preta, mas vai fluir por várias caixas pretas (2009, p.42). Isto é, quando for determinar
para onde vai o conteúdo, o caminho que ele vai, o local que vai chegar vai ser decisivo
para a atenção da audiência. Cabe ressaltar que é importante a interface que o usuário
terá com o conteúdo, para que ele possa ter uma perfeita interação com a informação.
Quando alguém observa um vídeo impactante, ele para e ouve a narração do
jornalista sobre o fato que está acontecendo naquele instante, caso ele esteja com
alguém do lado ou outras pessoas, ele pode começar a comentar e começar uma
nova conversa sobre aquilo que a televisão está mostrando. Bem como, se tem
alguém acessando uma notícia ou um vídeo no smartphone, ou um áudio de um
aplicativo de emissora de rádio ou um podcast de um programa de tecnologia. Cada
tipo de mídia transmite um determinado tipo de informação. No entanto, isso não nos
impede de receber elas de forma simultânea ou de forma partida ouvindo várias
informações de acordo com cada plataforma. É possível ler uma notícia por meio dos
dados, texto, áudio, vídeo, newsgames e reportagem interativa multimídia porque a
nossa vida é multissensorial.
Efetivamente, não nos limitamos a receber a informação de forma multissensorial; também nos comunicamos desse modo. Segundo investigaram os paleoantropólogos, desde a origem da nossa espécie os seres humanos têm combinado diversas formas de se expressar: primeiro,
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mediante gestos e grunhidos; posteriormente, através da fala. Com o passar do tempo, os humanos do Neolítico passaram a registrar mensagens visuais em forma de pinturas rupestres e petróglifos. Apesar de hoje em dia apenas podemos especular sobre o significado ou simbolismo daquelas figuras, não existem dúvidas de que naquela época serviam para transmitir uma determinada mensagem. O homem que há 30 000 anos habitava nas cavernas de Altamira e Lascaux já era, definitivamente, um comunicador multimídia (SALAVERRIA, 2014, p. 25).
1.3. Aplicativos que atendem (ou substituem) o jornalismo
A convergência tecnológica digital também provocou fortes impactos nas estruturas que envolvem a área da Comunicação Social. Ela pavimentou tecnologicamente a convergência de mídias, abrindo campo para o arquivamento, o compartilhamento e a distribuição de ativos digitais utilizados no relacionamento humano, por intermédio das máquinas computacionais e das redes telemáticas. Formou-se, então, um ambiente enredado que emula algumas das necessidades humanas, entre elas, o convívio por meio de comunidades. O jornalismo tenta encontrar maneiras e formatos para sobreviver dentro desse ambiente digital conectado, mas, para que se estabeleça com vigor, é necessário que os seus profissionais entendam os atributos e o modo como se sustentam as relações nas redes sociais (LIMA JR., 2009, p. 97).
Com o avanço tecnológico dos celulares, que ficaram mais inteligentes, por isso
o nome smartphones, que vem permitindo mobilidade e agilidade na transmissão de
dados com um poder de um supercomputador no bolso. É possível refletir que
atualmente o smartphone poderia tomar lugar do jornalismo, sendo, substituído
integralmente e também o smartphone pode ser uma poderosa ferramenta que
complementa o trabalho do jornalismo. Pode soar provocação, mas cabe discutir até
onde vai a relevância do jornalista profissional nos dias atuais. Pois, se antes
contávamos com as agências de notícias, jornais, revistas, rádio e televisão, hoje com
a internet é possível se informar com mínimo de interferência do jornalista e com apoio
forte de tecnologia da informação.
Essa provocação segue com uma cena: então em um suposto cenário onde
não existe jornalistas, eu vou me informar usando aplicativos. O que posso colocar
nos meus dispositivos Android e iOS? Eu vou sair de casa e olho para o céu. Será
que vai chover? Levo o guarda-chuva? Então, acesso o meu smartphone e baixo os
aplicativos do The Weather Channel e Climatempo para verificar se vai chover ou vai
fazer sol. O The Weather Company, que todos pensam que é apenas um serviço de
mídia combinado com serviço de meteorologia que recentemente foi comprado pela
poderosa empresa de tecnologia norte-americana IBM. Segundo informações do
80
mercado, a empresa fechou a compra da empresa em janeiro de 2016 pelo valor
próximo de 2 bilhões de dólares4950. A The Weather Company tem ativos muito
importantes, e não cabe dizer sobre equipamentos, mobiliário, imóveis ou recursos
humanos. Os ativos que devem ser destacados são os dados que esta empresa tem
em poder: as pessoas fazem 26 bilhões de requisições por dia, a empresa tem 2.2
bilhões de informações de localidades, 40 milhões de usuários por mobile,
informações de 50 mil voos por dia e o volume de busca 7 vezes maior que o motor
da Google. Tudo isso mobilizado para saber se vai chover, se faz sol, frio ou calor, se
posso voar sem problemas ou se é o tempo certo para fazer a plantação de
determinada cultura.
Agora o usuário está na rua, vai pega o carro, mas antes quer saber se o
trânsito está bom na rota que deseja seguir. Então, acessa o aplicativo Waze, para
saber a melhor forma de escapar do trânsito. Mas, se está sem carro, utiliza o
transporte público e acessa o aplicativo Moovit, que oferece informações de transporte
público em tempo real, em comunidade, com navegação GPS em todos os modos de
transporte, incluindo ônibus, trólebus, bondes, trens, metrô, balsas e barcas. Verifica
a hora que o transporte público chega no ponto de ônibus e checa com quantas
conduções serão necessárias para voltar para casa ou para o outro compromisso,
caso esteja com pressa, pode pedir um táxi. Mas, se o dinheiro é pouco para pagar
uma corrida de taxi, ele utiliza o aplicativo de transporte pessoal Uber, que tem tarifas
mais baratas e faz o trajeto que é preciso seguir na vida cotidiana.
Para acessar as informações financeiras, é necessário utilizar um aplicativo
bancário, como Itaú ou Bradesco para acessar as informações da Bolsa de Valores
de São Paulo, o valor do dólar e se foi realizado um bom investimento nas ações da
Petrobras no dia de hoje ou se talvez seja um dia bom para vender algumas ações
para ganhar dinheiro. Mas, o usuário quer saber o que acontece na cidade, na rua, no
quarteirão, ele pode acessar o microblog Twitter e saber o que os amigos dele estão
comentando, o site dos serviços públicos que impactam a minha vida como Prefeitura
de São Paulo, SPTrans, CET, até mesmo perfil no Twitter do Corpo de Bombeiros e
Polícias Militar e Civil. No âmbito nacional posso acessar o Twitter do Senado Federal,
49 IBM Analytics. The Weather Company. An IBM Business. Disponível em: <http://www.ibm.com/ analytics/us/en/business/weather-insight.html>. Acesso em: 23 mar. 2016. 50 Valor Econômico. IBM conclui compra de divisões da The Weather Company e prevê expansão. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/4416676/ibm-conclui-compra-de-divisoes-da-weather-company-e-preve-expansao>. Acesso em: 23 mar. 2016.
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Câmara Federal, STF, Palácio do Planalto para saber o que o poder público está
resolvendo na minha vida cotidiana de cidadão brasileiro.
Pode ser que funcione, mas a pessoa que utiliza os aplicativos talvez não
entenda ou não possa compreender algumas informações, bem como o seu volume
de informações, como o relatório do dia da Bolsa de Valores de São Paulo e o porquê
do dólar subiu ou caiu e o que a política afeta os mercados.
Logo, os jornalistas têm a responsabilidade de ser o facilitador de informações
para as pessoas devido ao grande volume de dados, que devem ser verificados,
pesquisados e traduzidos para a compreensão de quem consome a informação. São
humanos e ainda humanos se entendem. E com eles, temos as ferramentas para
ajudar a filtrar o que é relevante na vida das pessoas. Com isso, as grandes empresas
de mídia sempre buscaram alternativas para reduzir seus custos de produção e
distribuição, para sempre maximizar os lucros e expandindo a sua influência e o seu
alcance para o maior número de pessoas possível. O investimento em tecnologia é
uma das principais estratégias empresariais para otimizar o negócio da comunicação.
Ao mesmo tempo, o profissional de comunicação tem encontrado dificuldades
de conseguir informações por meios oficiais. Em muitos casos, aqui no Brasil, que tem
a sua lei de transparência da informação ainda não é respeitada pelos órgãos
públicos, que postergam, se recusam ou pedem para acionar a justiça para tentar
conseguir a informação, provocando morosidade e até mesmo a perda do momento
em que o assunto foi posto à luz da sociedade. Por isso, tem que engolir a seco as
informações produzidas pelos seus departamentos de assessoria de imprensa e
relações públicas de órgãos governamentais, que na maioria dos casos consegue
ocultar e desviar o foco de algumas reportagens que poderiam ter o cunho de serviço
público para a audiência. Enquanto isso, as redações cortam gastos e limitam o
trabalho dos profissionais do jornalismo. No entanto, a tecnologia está aí para que
seja utilizada e potencialize o trabalho do jornalista para as demandas da sociedade
e que continue registrando os fatos que impactam as pessoas.
Chegamos a um momento em que novas ferramentas precisam ser
manuseadas e aplicadas para conseguir melhores informações, para multiplicar o
rendimento dos profissionais de mídia, que precisam atender com maior agilidade e
assertividade a demanda de informações em uma sociedade que precisa de consumir
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informações e dados para tomada de decisões no âmbito empresarial, financeiro,
cotidiano, esportivo, enfim, na vida das pessoas.
Para isso, os profissionais de comunicação, que ainda são humanos, precisam
de ajuda de instrumentos tecnológicos de maquinas que trabalhem processando todo
o volume de dados e os ajude a interpretar os signos para que os jornalistas e
profissionais de comunicação possam entregar um conteúdo de qualidade para o seu
público, seu cliente direto. E um dos caminhos é aprender, entender e dominar os
sistemas que trabalham com grande volume de informação.
Ainda no Brasil não existe grandes redações que trabalham com ferramentas
nativas de dados. Existem núcleos de dados como, por exemplo, o Estadão Dados,
de O Estado de S. Paulo e a editoria de Dados e Audiência da Folha de S. Paulo.
Estas equipes, que geralmente são enxutas, compram licenças ou encontram elas em
sistemas de código aberto, ferramentas que são usados por estatísticos que extraem
ou calculam informações a partir de planilhas como Excel ou de leitura de arquivos
PDF, como é o caso da ferramenta de OCR. Mesmo assim, estão aprendendo a usar
ferramentas já existentes para garimpar informações que atenda às demandas das
redações, bem como do seu público.
Os jornalistas estão sendo estimulados de alguma forma pela lei da
sobrevivência ou do mais forte a utilizar as ferramentas para se manter no emprego.
Estamos em um outro patamar: a conversa. O jornalismo sempre funcionou na base
da conversa, pois, a partir dela que possível conseguir histórias e fatos relevantes
para a sociedade. As ferramentas podem ajudar a aprimorar a conversa e o seu
retorno. Agora os jornalistas que já fazem boa parte do trabalho dentro das redações,
podem permanecer mais tempo nas redações, porém ganham mais agilidade no
trabalho. As grandes redações brasileiras como Estadão, Folha, UOL, IG, O Globo,
TV Globo, G1, SBT, Record, R7, Bandeirantes, RBS, Zero Hora, Correio Braziliense,
Verdes Mares, Diário do Nordeste, Rede Amazônica, Rede Mato-Grossense de
Televisão os canais públicos como a TV Brasil e educativos de conteúdo e informação,
como a TV Cultura, até mesmo as empresas privadas e órgãos de governo, possuem
jornalistas ou especialistas em redes sociais, que tem que conversar mais com seu
público, como Facebook, Twitter, Google Plus, Instagram, LinkedIn e WhatsApp.
No entanto há novos elementos em evidência: jornalistas independentes,
influenciadores sociais, como os apresentadores de vídeos, cunhados pelo termo
youtubers, engajadores de redes sociais, também podem compartilhar conteúdo,
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informar e dar suas opiniões para outros públicos. É um novo nicho que se forma e
aumenta a gama de opções para a sociedade se informar, por meio do jornalismo
tradicional, jornalismo cívico, independente e amador.
2. Inteligência Social: Open data, sistemas inteligentes e algoritmos
A atual geração de jornalistas e especialistas de comunicação têm mais acesso
à tecnologia e com isso, o conteúdo ficou mais dinâmico, objetivo, social. Porém, este
conteúdo ficou mais profundo e completo. Por isso, as então Tecnologia da
Informação e Comunicação (TICs) trouxeram uma nova lógica de produção de
conteúdo, formando novas redes e caminhos informativos, com novas estratégias
para propagar e compartilhar estes dados com o maior número de gente e que estes
dados tragam clareza para quem precisa. O custo da tecnologia diminuiu muito, mas,
o seu poder de processamento evoluiu de forma exponencial. Boa parte devido a Lei
de Moore, onde o número de transistores dos chips dobraria sua capacidade a cada
18 meses ao mesmo tempo que o preço da tecnologia ficasse mais barata. E claro,
isso também possibilitou que as pessoas pudessem ter acessos a devices mais
modernos, como smartphones, tablets, smart TVs, PCs e notebooks para acessar o
conteúdo de forma mais rápida e barata.
A proliferação de smartphones, tablets e outros dispositivos móveis tornou possível para os cidadãos a se tornarem parceiros com o governo local na identificação de problemas e oportunidades dentro da jurisdição. As aplicações móveis permitem que os cidadãos para tirar uma foto, captadas por coordenadas GPS e apresentar um pedido de serviço em questão de minutos. Durante a limpeza do derramamento de óleo do Golfo, em 2010, os grupos ambientalistas usam aplicações móveis extensivamente para rastrear onde as correntes de vento e água estavam transportando resíduos de óleo ao longo da costa e identificar onde os esforços de limpeza necessários para ser organizado. Conhecido como crowdsourcing, este tipo de grande grupo de esforço de coleta de dados pode desempenhar um papel vital na identificação de onde os recursos devem ser alocados. (FLEMING, 2014, pág. 57, tradução nossa).
Isso abre novas frentes para criação e desenvolvimento de conteúdo, como a
formação de novos bancos de dados e ferramentas para captação, desenvolvimentos
de algoritmos e investigação de dados. Então, com o desenvolvimento da tecnologia,
houve esforços coletivos globais para a elaboração de ferramentas e sistemas
operacionais de código aberto, como é o caso do Linux, uma das plataformas de OS
(sistemas operacionais) mais utilizadas e aprimoradas no mundo.
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Para o jornalismo, a tecnologia também se tornou mais amigável, podemos
contar com open sources, ou seja, fontes abertas. Em um mundo que temos cada vez
mais fontes oficiais e assessorais de imprensas ou comunicações corporativas
bloqueando o trabalho jornalístico ou de jornalismo de investigação, é importante que
sejam desenvolvidas ferramentas voltadas para minerar dados espalhados em toda a
rede, com o auxílio de reportagem por computador. O jornalismo deve desenvolver
um pensamento computacional para construir uma base, consolidar sua evolução e
para aprimorar suas técnicas.
Na atual configuração tecnológica proporcionada pela Internet, estruturada pelo intermédio do aumento de velocidade de transmissão, pela evolução das máquinas computacionais com grande capacidade de processamento e armazenamento de dados, com o desenvolvimento de linguagens de programação cada vez mais amplas e que negociam de várias formas com robustos bancos de dados, a atuação profissional do Jornalismo também deve possuir outras configurações (LIMA JR., 2010, p.210).
Por meio das novas tecnologias temos um novo entendimento sobre si e sobre
os processos de produção jornalística, podendo aprimorar o processo intelectual e
criativo para construção e o desenvolvimento de histórias. O processo industrial de
produção jornalística também é afetado, porém, para melhor. A redação que tenha
aprimoramento tecnológico pode também apoiar o desenvolvimento da história que
está sendo contada pelas equipes que estão nas ruas. Muitas vezes, por conexões
feitas na internet é possível perceber novos desdobramentos que podem contribuir
para a reportagem, edição e distribuição do fato ao público interessado.
As redações poderiam reestruturar o fluxo de trabalho, repensar o caminho da
notícia, bem como, no meio deste processo, podem ter uma espécie de um
minilaboratório para desenvolver aplicativos digitais para o público e ferramentas para
os jornalistas que trabalham na redação. Com um banco de dados consolidado, fontes
confiáveis, fluxo de trabalho determinado, é possível também disponibilizar APIs para
o público trabalhar o conteúdo, ajudando a complementar os sistemas de banco de
dados ou espalhar o que está em desenvolvimento de redação, para ser aprimorado
e depois a redação devolve ao público do jeito que eles querem usar.
As API são as Apllication Programming Interfaces ou Interface de Programação
de Aplicativos, que que é um conjunto de rotinas e funções estabelecidos por um
software para expandir as funcionalidades do programa, no caso do jornalismo ele
pode ser um mapa em que as pessoas possam atualizar sobre locais perigosos para
85
andar a noite, pontos de descarte de lixo irregular e basta um contato humano com a
ferramenta, para que todos os dados sejam unificados pelo computador para que
possa se desenvolver um relatório sobre quais são as demandas da sociedade, assim
como, o desenvolvimento de aplicativos específicos para atender as necessidade de
cada localidade.
As APIs do Twitter, por exemplo, que é uma rede social que tem muito uso para
conteúdo noticioso, pode ser usada para transmitir ou compartilhar notícias ou
conteúdo relevante para a rede de contatos e esse ramo faz o papel de espalhar e
compartilhar o acontecimento para o conhecimento de todos. O desenvolvimento de
um aplicativo mobile ou via navegador para quem acessa a internet já uma ferramenta
de grande importância e se desenvolve um canal entre o jornalismo e a sociedade.
Uma mão de duas vias que podem ajudar a captar dados para resolver problemas e
cobrar o poder público sobre determinadas demandas.
Focando nos dispositivos web e mobile, é possível criar aplicativos para
dispositivos móveis ou por meio de navegadores web, onde os moradores possam ter
participação ativa na captação e coleta de dados. Com o projeto de desenvolvimento
de aplicativo e browser em andamento, já pode-se planejar um ambiente amigável
para a navegação. Digamos que em termos mais fáceis, temos uma porta sem
fechadura, que é o aplicativo, o canal de acesso ao jornalismo e para concluir o
desenvolvimento do acesso do aplicativo, temos que criar uma fechadura simples para
que as pessoas possam virar ou empurrar a porta para acessar o jornalismo.
E para isso, existe a arquitetura da informação, que ajuda na melhor
experiência de uso para que consigam rapidamente transmitir os dados para um novo
dataset formado pela redação. O aplicativo deve ser de fácil uso, com poucos botões,
projeto simples, para não ter confusão. Por isso, que o desenvolvimento do aplicativo
é importante para que qualquer usuário possa inserir dados, detalhes, fotos, vídeos,
informações sobre o ambiente que vive para que esses dados sejam enviados em
tempo real para os datasets que são alimentados para dar robustez ao sistema que
poderá fazer análise mais precisa.
Um desafio central para os governos locais no uso de big data decorre da necessidade de pessoal que entende como fazer o melhor uso dos dados. Nas suas previsões para a área de tecnologia da informação para 2012 e além, Gartner (2011) sugere que os departamentos de tecnologia da informação devem evoluir de fornecimento de suporte técnico para
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coordenação das atividades de tecnologia da informação. Este movimento significa que os usuários de tecnologia terão uma mão no desenvolvimento de soluções para os desafios que enfrentam no trabalho em vez de aceitar soluções fornecidas pelo departamento de tecnologia da informação. Referido como cientistas de dados, esta nova raça de trabalhadores do governo local precisa entender tanto as questões de negócios que precisam ser abordadas a partir dos dados e da tecnologia utilizada na análise dos dados. Essas habilidades podem residir em um indivíduo ou, talvez mais importante, estar presente em uma equipe reuniu para tratar de um desafio particular (FLEMING, 2014, pág. 52, tradução nossa).
Se temos os dados disponíveis, podemos investigar a origem e veracidade de
cada informação, aplicando taxonomia de cada dado para enfileirar e priorizar as
demandas que a população requisita. Assim, sendo possível esmiuçar cada detalhe,
sobre a origem do morador, o que ele precisa e os seus motivos ou qual história que
ele quer contar, comportamentos dos moradores em cada quarteirão, características
específicas em cada rua, como que cada pessoa vive, perfil de família, moradia e
como elas tem a percepção de vivência na região em que vive e perante aos vizinhos
e comunidade.
Além disso, é possível traçar uma efeméride sobre como a região se organizou,
foi povoada, como ela se transformou de área residencial para industrial e de industrial
para comercial ou qualquer outro tipo de formação populacional. A partir disso, pode-
se apontar indicadores de temas como educação, saúde, segurança, trabalho, tráfego
e outras necessidades que são intrínsecas aos moradores de um determinado
quarteirão ou de uma rua, avenida, travessa ou viela, por exemplo.
3. Narrativas digitais: Fragmentação, distribuição, engajamento e retorno
Nesta parte será detalhado como que por meio de outras práticas e meios
tecnológicos é possível também fazer comunicação. Pois, como as pessoas estão
cada vez mais conectadas, é possível perceber padrões, como o caminho da
informação, que chega de forma fragmentada, depois ela é assimilada, para ser
distribuída para quem se interessa e quem se interessou vai se engajar para
compartilhar o conteúdo, vai fomentar a conversa e a partir dessa conversa fomentada
temos um retorno, um feedback para o produtor inicial de conteúdo.
Temos a ascendência e explosão das redes sociais que mostram que o
conteúdo e a informação estão cada vez mais presentes nas vidas das pessoas. E a
primeira percepção sobre a rede em sociedade foi 1954, quando o antropólogo John
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Arundel Barnes acompanhou o cotidiano do vilarejo de Bremnes (Bømlo), na Noruega
e escreveu o artigo Reuniões e comitês na paróquia da ilha norueguesa. Barnes, que
foi o primeiro cientista a cunhar o termo ‘redes sociais’ no mundo acadêmico, foi
percebendo os laços de relação entre parentes, amizades e como girava esse nível
de amizades, onde sempre alguém estava falando com outro e a partir disso
formavam-se tipos distintos de redes.
Atualmente, por meio das redes sociais, que se formaram em vários ambientes
virtuais, seja por acesso via PC, smartphones, tablets, agora temos redes sociais em
videogames também, que ajudam a imputar informações para a teia de interessados.
O que antes era feito ou conversado no ambiente offline em uma sala, escritório ou
praça, agora é feito para várias pessoas em várias salas virtuais e lá os usuários
conversam e compartilham de tudo, acontece a interação social online, porém esse
ambiente online várias vezes pode ser transportado para o ambiente offline.
Eles representam aquilo que está mudando profundamente as formas de organização, identidade, conversação e mobilização social: o advento da Comunicação Mediada pelo Computador. Essa comunicação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-se, amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e expressas nesses espaços: as redes sociais mediadas pelo computador. Essas redes foram, assim, as protagonistas de fenômenos como a difusão das informações na campanha de Barack Obama e as mobilizadoras no caso de Santa Catarina. Elas conectam não apenas computadores, mas pessoas (RECUERO, 2014, p. 16).
Outrora as pessoas começavam a entender esse negócio de internet, agora
elas estão praticamente conectadas a todo o tempo, estão num ambiente de interação
constante para trocar ideias, sentimentos, palavras, imagens e vídeos. E a partir disso,
começaram também a trocar interesses em comum, novas crenças e valores foram
criadas e padrões foram estabelecidos. Uma nova cultura foi estabelecida por quem
criava e usava a internet. As comunidades virtuais tomavam forma e foram criando
culturas independentes às que foram estabelecidas no ambiente offline e isso foi
atraindo seguidores e o grupo virtual foi tomando mais corpo. É como um clube com
endereço, estrutura em um bairro determinado da cidade fosse todo para o ambiente
virtual, mas os sócios deste clube têm a chave da porta num só clique.
Apesar de tudo, à medida que as comunidades virtuais se expandirem em tamanho e alcance, suas conexões originais com a contracultura enfraqueceram. Empiricamente falando, não existe algo como uma cultura comunitária unificada da Internet. A maioria dos observadores, de Howard Rheingold a Steve Jones, enfatiza a extrema diversidade das comunidades
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virtuais. Além disso, suas características sociais tendem a especificar sua cultura virtual (CASTELLS, 2001, p. 48).
As pessoas estavam conectadas a um ambiente virtual, em um local
desterritorializado, mesmo assim, havia a sensação de que pertencimento ao lugar
virtual, um sentimento de presença a um lugar que só existe na tela do computador
sem estar face a face nas relações cotidianas. Em alguns casos a relação virtual é
mais importante que a do mundo terreno.
Mesmo a distância, as relações de afeto são mantidas e controladas. São organizadas a partir da internet e a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa (COELHO, 2015).
Com o computador cada vez mais presente e necessário, algumas atividades
foram transformadas e com as redes sociais, esse relacionamento mudou de forma
brutal desde o início do desenvolvimento humano. Qualquer tipo de encontro pode
acontecer mesmo sem ter conhecido a pessoa no mundo real. As fronteiras são
rompidas e os eventos acontecem em um não-lugar, onde não há identificação de
nacionalidade ou Estado (COELHO, 2015). A identificação ocorre por meio fotos,
avatares, pequenos personagens, figuras e isso dá uma nova forma de sociabilidade.
Pela da rede social, se estabeleceu novos graus de conectividade. Raquel Recuero
diz que as redes têm propriedades específicas, onde há um determinado grau de
conexões em um nó, ou seja, uma rede de computadores e pessoas ligadas a um
tema específico, a rede pode ser densa e central devido a quantidade de pessoas que
acessam esse fluxo (2014, p.71-72).
Por meio destas redes é onde acontece o assunto, a notícia corre e por meio
dessa rede noticiosa os fatos se desenrolam. As informações podem ser trocadas e
compartilhadas de um ponto a outro por várias formas de distribuição. Agora temos o
Facebook, Twitter, Instagram, ferramentas digitais de monitoramento, a profissão de
analista ou editor de social media. Pois é perceptível que essa rede se dá em um
âmbito de conversa digital, uma ampla conversa. No caso do jornalismo, as redes
sociais estão aí para agregar a profissão, para aprimorar a conversa com a sociedade.
É um caminho onde a informação começa nas redes sociais, é discutido na redação,
é desenvolvido nas ruas para pauta, embalado e adequado de volta na redação,
distribuição para a publicação e as redes sociais com o retorno via redes sociais. São
pontos que se interligam e com todos os pontos ligados, forma-se uma rede
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informacional, como um ciclo de produção ‘fordista’, onde a peça bruta começa a ser
montada em esteiras e no final dela sai um carro novo construído pronto para a venda
na concessionária.
Por coincidência, essa conversa acontece da mesma forma que vem a
informação, de forma fragmentada, de onde é possível organizar esses pontos e
transformar em uma conversa e dessa conversa faz se a distribuição, onde a conversa
é compartilhada para todos que se interessam, depois, segue para o engajamento,
onde as pessoas interessadas em torno da conversa podem agregar informações e
participar com mais intensidade do assunto em discussão.
Com as mídias tradicionais, já aconteciam a fragmentação, distribuição,
engajamento e feedback de forma mais mecânica e eletrônica. Na atualidade, com a
internet podemos fazer a distribuição com mais tecnologia, de forma mais digital e
para muitas pessoas, quantas quiser. De um lado os jornalistas que estão usando
mais recursos para fazer e trazer a informação para a sociedade, que está do outro
lado também com os mesmos recursos para receber e distribuir a informação, porém,
a sociedade pode também fazer o conteúdo para os jornalistas e assim criar uma nova
cultura de fazer jornalismo de forma colaborativa para que todos os lados possam
construir um conteúdo e uma narrativa que seja coerente com a qualidade.
Agora a narrativa é desenvolvida de forma conjunta, onde cada lado tem a sua
posição para determinar o começo, meio e fim da história, é uma nova cultura de
produção de conteúdo que foi trazida pela tecnologia. Ou como o autor Val Dusek
explica, há um determinismo tecnológico, ou seja, cada vez mais o jornalismo e o
habito de consumo de tecnologia das pessoas foi alterado e por meio disso foi criando
um próprio ecossistema, que ganha força com sua lógica.
Segundo o determinismo tecnológico, à medida que a tecnologia se desenvolve e muda, as instituições no resto da sociedade mudam, como fazem a arte e a religião da sociedade. Por exemplo, o computador mudou a natureza dos empregos e do trabalho. O telefone levou ao declínio da escrita de cartas, mas a Internet mudou a natureza da comunicação interpessoal novamente, deixando registros escritos, ao contrário do telefone (DUSEK, 2009, p. 117-118).
É claro que também essa conversa se determina apenas por redes sociais onde
estão os jornalistas, estes jornalistas podem atrair um determinado público que deseja
viver uma construção narrativa de outras formas, como entrando na porta de
90
microblog, chegando a um site, com infográficos, artes, textos, áudios e vídeos
levando o seu público a se aprofundar também pela via lúdica.
As pessoas podem se informar por meio de gamificação, uma equipe de
especial formada por jornalistas, programadores podem desenvolver conteúdos
lúdicos para que o leitor entre em um novo ambiente, conferindo sentido a várias
ações, criando um novo significado, um novo aprendizado e por meio do jornalismo
estamos produzindo notícias para que as pessoas possam entender para depois
conversar. A gamificação pode ser uma ferramenta que prepara a pessoa para outros
desafios e uma nova visão do mundo, preparando personalidades e formando caráter.
“Segundo uma teoria, o jogo constitui uma preparação do jovem para as tarefas sérias que mais tarde a vida dele exigirá, segundo outra, trata-se de um exercício de autocontrole indispensável ao indivíduo. Outras veem o princípio do jogo como um impulso inato para exercer uma certa faculdade, ou como desejo de dominar ou competir”. (HUIZINGA, 1971, p.4).
Na gamificação o contato acontece com muitas pessoas ao redor do globo,
como se várias pessoas se reunissem em um coreto virtual (como nas redes sociais)
para disputar várias partidas em comum, neste caso podemos reunir as pessoas a
participar de um jogo sobre a Segunda Guerra Mundial, mas que conte os fatos que
ocorreram naquela guerra violenta que matou milhões. O usuário-jogador avança de
acordo com suas conquistas e entendendo como foi este fenômeno e no final ele teve
uma experiência interativa por meio dos caminhos de leitura de informação, acesso
aos gráficos e informações para chegar ao jogo para que ele tenha uma sensação de
como foi aquele evento. Essas informações e vivências ficam marcadas na sua
memória e acontece o aprendizado.
Cabe agora ao profissional que trabalha com conteúdo e conta histórias
perceber também que ele terá que compreender todo o ecossistema de ferramentas
e novas tecnologias para envolver o seu leitor na história que está construindo. Pois,
além das redes sociais, gamificação, mídias tradicionais, digitais pode se pensar em
estratégias sobre como levar isso da maneira mais informativa e agradável possível.
Sendo assim, levando uma experiência, com apoio de força intelectual e tecnológica
para que histórias tenham início, desenvolvimento e encerramento marcantes. Com
as novas tecnologias sempre que possível terá que pensar como desenvolver uma
história ou uma narrativa com uso da tecnologia e que este uso seja de forma sábia
para levar ao consumidor de conteúdo uma boa história.
91
CAPITULO III – CAMINHOS DO CONTEÚDO E INFORMAÇÃO
1. Fazer jornalismo no século XXI
Jornalismo é contar uma história com uma finalidade. A finalidade é fornecer às pessoas informação que precisam para entender o mundo. O primeiro desafio é encontrar a informação que as pessoas precisam para tocar suas vidas. O segundo desafio é tornar essa informação significativa, relevante e envolvente (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003 p. 226).
O jornalismo passa por uma transformação sem volta. Agora cabe refletir como
que o jornalismo caminha rumo ao dia seguinte e o seu futuro. O jornalismo passa a
ser mais colaborativo, o caminho será cada vez mais de duas vias, uma conversa.
Agora com o apoio da tecnologia essa conversa foi aprimorada.
[...] os meios de comunicação analógicos, surgidos a partir das concepções econômicas da Revolução Industrial, cujo mercado estruturado teve como base os modos de produção baseados na escassez da informação, enfrentam a concorrência de múltiplas plataformas digitais” (LIMA JUNIOR, 2010, p. 2).
O profissional do jornalismo não detém mais o monopólio da verdade. Ele terá
que realmente ouvir muitos lados de uma história para construir a narrativa e concluir
o fato cotidiano, para se tornar o então 'historiador do presente'. O profissional deve
manter suas fontes consideradas importantes e cruciais, para entender os bastidores
da informação e poder levar o melhor fato para a sociedade.
Porém, cabe ao jornalista também entender que ele faz parte de uma rede de
informação mais dinâmica, em que se ele não se envolve, ou melhor, engaja essa
rede, ele ficará isolado. Pois, terão outros jornalistas que farão esse engajamento para
receber as informações das fontes, da audiência. O público quer dar feedback, para
dizer se está certo, errado, quer ajudar, contribuir e se há algum erro de informação
no trabalho feito pela equipe de jornalistas profissionais. Se for traçar rapidamente
uma efeméride temos a seguinte linha do tempo para o jornalismo: um jornalista de
impresso andava com gravador com fitas cassete, pilhas, bloco de notas, caneta,
pager, fichas de telefone, telefone celular, palm top, notebook e rádio, acompanhando
do seu fiel parceiro, o fotojornalista com sua câmera fotográfica, lentes específicas,
como grande angular para tirar foto de longe, bloco de nota, cartões de memória e
notebook com algum sinal de internet; Um rádio jornalista andava com seu bloco de
anotações, caneta, celular, caneta, gravador com fita cassete, cartão de memória e
92
pilhas; e um jornalista de TV tinha bloco de notas, caneta e contava com a parceria
do repórter cinematográfico ou cinegrafista, com a sua câmera, tripé, fitas ou discos,
além do apoio técnico, um profissional técnico de rádio e televisão que ajudava a
instalar a câmera do repórter cinematográfico ou equipamento para entradas ao vivo.
Então, tínhamos os jornalistas que carregavam, gravador, fitas cassete, bloco
de notas, fichas de telefone, telefone celular, notebook, rádio, máquina fotográfica,
cartões de memória, notebook, pilhas, câmera de vídeo, tripé, fitas, discos para apurar
história, registrar imagens, fazer entrevistas, digitar textos e fazer comunicação com
a redação. Hoje, o mesmo jornalista pode andar apenas com um smartphone que tem
aplicativo de foto, gravador, editor de texto, editor de imagem, gravador de vídeo, faz
ligações, manda mensagens e com a aplicativo de mensagens você ainda pode
conversar com o contato enviando áudios, vídeos e fotos. É claro, que alguns
jornalistas podem preferir um tablet, que é um pouco maior, lembra um pequeno
caderno, mas é um caderno com as mesmas funções de um smartphone. E por
precaução se a bateria acabar, leva uma bateria reserva, carregador, tomada e para
os mais saudosistas um bloco de notas com uma caneta continua seguindo como
instrumento infalível.
A quantidade de objetos que o jornalista deixou de levar é absurda. Apenas
com um objeto, um dispositivo, ele pode fazer a sua reportagem, com exceção da
produção de telejornalismo, que ainda precisa de recursos cinematográficos e de
câmeras de alta qualidade, o jornalista está mais autossuficiente com a tecnologia. As
redações, que hoje em dia estão mais silenciosas que as do século passado, ainda
são a grande ágora dos jornalistas para decidir o que é ou não é notícia para a
sociedade e também é o grande pátio industrial do jornalismo, que tem de mudar a
forma de fazer conteúdo. Não que seja descartável o modus operandi da produção
jornalística. Ainda assim, o news gathering é muito importante, pois é o processo da
criação da história, para encontrar fontes e fatos que vem determinar o ângulo da
história. Isso acontece por tipos de histórias diferentes que faz um processo de
reportagem ser diferente. Como por exemplo, o repórter na rua vai usar pelo menos
três ferramentas ou técnicas para conseguir trabalhar a informação e desenvolver a
história: entrevistar, conversar com pessoas chave que estavam no local para
entender a história; fazer parte da comunidade, se caso conhece alguém da
comunidade, essa pessoa será importante para o andamento do trabalho jornalístico,
93
pois ele pode conhecer os personagens daquela história; pesquisa para dar mais
corpo as informações; e mídias sociais; para manter o contato com pessoas que ainda
pode ajudar a desenvolver a história e os suas consequências ou desdobramentos51.
O jornalismo precisa de uma atualização, uma revisão dos processos de trabalho
diante de algumas barreiras que o jornalismo e os jornalistas enfrentam.
São novos desafios que podem ser superados, como revisão do caminho da
notícia, mudança dos procedimentos de apuração da informação, implantação de
núcleos de jornalismo de dados para aprimorar o levantamento de informações contra
as respostas padronizadas de órgãos públicos ou assessorias de imprensa bem
preparadas e muito bem pagas pelos seus clientes que não querem ver o nome de
suas companhias envolvidas em escândalos, tragédias ou irresponsabilidades
perante a sociedade. Uma outra angústia é o espaço cada vez menor e uma maior
interferência entre o departamento comercial e a redação. Apesar da proximidade,
ambos setores, Comercial e o Editorial devem ter as suas posições estabelecidas. Em
algum momento elas podem andar juntas, lado a lado, desde que isso fique bem claro
ao público, da mesma forma que essa transparência esteja exposta na marcação de
posição entre os dois departamentos. Ou seja, o Comercial vai vender publicidade
com os produtos elaborados e encomendados do Editorial. Como sempre, o Editorial
é importante não só como uma forma de entrada de recursos e por sua vez o ganha
pão dos jornalistas, gráficos, técnicos, motoristas, administrativo, comercial, mas tem
uma função pública e de interesse para a sociedade. Que os jornalistas tragam a
verdade e informações que sejam relevantes para a tomada de decisão delas.
[...] a relação de negócios do jornalismo é diferente do marketing e do consumo tradicional, e em certos aspectos mais complexa. É um triângulo, e em certos aspectos mais complexa. É um triângulo. A audiência não é o consumidor que compra mercadorias e serviços. O anunciante é. Mesmo assim, o cliente-anunciante deve estar subordinado neste triângulo, a uma terceira figura, o cidadão (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003 p. 98).
Então, o fazer jornalismo está em observar quais são os anseios do público e,
se necessário, que a redação aprimore o trabalho editorial ou modifique o canal de
distribuição. Além de claro, ser mais participativo, ou como diz no jargão popular, o
jornalista tem de 'descer do pedestal' e mostrar-se que é tão humano quanto a fonte
inquieta e insegura que, em alguns casos, se arrisca para oferecer uma notícia que
51 NEWS Gathering & Reporting. SchoolJournalism.org. Disponível em: <http://schooljournalism.org/ news-gathering-tips/>. Acesso em: 4 abr. 2016.
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pode ser relevante para a local, área, região, nação e mundo. Dependendo do âmbito
da notícia, a fonte deve ser respeitada e sempre ouvida. A partir disso, que todas as
informações sejam trabalhadas com todo o recurso intelectual, técnicas e tecnologia
disponíveis para que se possa fazer um jornalismo mais assertivo, confiável e de
qualidade para o público que acompanha a história do cotidiano. Para isso, o jornalista
também tem que ser um especialista em informação, ele não pode brigar com dado,
afinal ele lida com informações todos os dias, como um bancário que manuseia o
dinheiro cotidianamente. Todos os jornalistas -- da redação à sala da diretoria -- devem ter um sentido pessoal de ética e responsabilidade -- uma bússola moral. Mais ainda, eles têm uma responsabilidade de dar voz, bem alta, a sua consciência e permitir que outros ao seu redor façam a mesma coisa (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003 p. 274).
2. Novos fluxos e caminhos da notícia
No entanto, a palavra de ordem do jornalismo para este século é inovação, o
jornalismo tem que se desenvolver para continuar contando história. Atualmente a
produção de conteúdos digitais estão se tornando parte espinhal para se desenvolver
e entregar o produto jornalístico para os públicos interessados. O jornalismo pode
chegar de forma fragmentada. Como já foi explicado anteriormente, o rádio, televisão,
impressos e revistas pouco a pouco vão dividindo suas forças com os novos players.
No caso a internet, que vem ganhando força e conquistando o público aqui no Brasil
há um pouco mais de 10 anos, levando em conta que a internet está presente no País
desde o fim dos anos 1980 e começou a ser explorada comercialmente de forma
vagarosa a partir dos anos 1995, vide o exemplo dos portais de conteúdo UOL, o
principal portal de conteúdo de língua portuguesa no mundo, lotado em São Paulo;
portal A Tribuna.com.br, da Baixada Santista, litoral de São Paulo, ambos estão no ar
há 20 anos, redescobrindo seus papeis, formas de se atualizar, mas sempre tentando
levar jornalismo para os públicos, tanto no âmbito regional, quanto no âmbito nacional.
Agora também temos os smartphones, aplicativos, videogames, televisores
digitais, smart TV, tablets, tocadores de mp3, streaming de áudio e vídeo. E para isso,
o jornalista deste século terá que pensar para estes públicos, que tão pouco ou cada
vez menos passam a usar as mídias tradicionais. Pois, por que vai assistir televisão,
se pode descarregar um vídeo no YouTube, se pode ouvir um áudio no SoundCloud,
95
ou se posso ler a minha revista ou jornal ‘passando o dedo' no tablet. Mesmo assim,
posso deixar o jornal de lado, o jornal não é o site? Ele não vai passar a madrugada
esperando um rádio jornal começar, se depois, a emissora de rádio vai deixar
disponível no podcast. Aliás, porque ouvir no podcast, se já vai ter outros jornais mais
atualizados e ainda pode ouvir um podcast de um grupo de professores e especialistas
que comentam as notícias que foram veiculadas em todas as rádios de notícias. Eles
falam do assunto do momento. Então, ele baixa o podcast para ouvir os comentários
e analises no iPod.
Temos também as redes sociais. Não precisa acessar site, as informações
estão lá e podem ser compartilhadas com quem quiser. Qualquer assunto pode ser
compartilhado com um clique, pode comentar e chamar os amigos para mostrar o que
estão falando sobre determinado assunto. Aliás, pode buscar uma discussão usando
apenas uma palavra chave em uma publicação de microblog. Mas, ao invés de
escrever, é possível publicar uma foto no aplicativo de fotos ou gravar um vídeo de 30
segundos. É o suficiente para dizer o que pensa ou que quer. Pode também tirar fotos
e deixar como uma galeria virtual em outra rede social voltada para fotografia. Talvez,
ali, tenha fotos mais relevantes que as publicadas por jornais, portais, revistas ou
agências de notícias. Porém, se deseja fazer um vídeo longo, mostrar, relatar e
detalhar tudo que foi visto e depois compartilha com todos os amigos e conhecidos.
Então, vai usar uma rede social. Mas, é possível enviar essa informação para uma
redação de jornalistas para que eles possam avaliar o que é ou não é notícia e há
alguma relevância jornalística. É necessário entender o que acontece quando a
informação é publicada nos formatos jornalísticos, que é produzida com muito suor na
rua, ou com muito esforço cerebral na redação, após milhares de ligações, contatos,
edições, correções, retrabalhos para empacotar o conteúdo. Para onde essa
informação se direciona e qual é o seu impacto direto ou indireto. Será que o produto
saiu de forma adequada para o meu leitor ou para o usuário de redes sociais? São
questionamentos e avaliações que devem ser feitos a todo instante por todos os
jornalistas das redações. Podemos fazer um paralelo com o diagrama desenvolvido
em 1964 por Paul Baran52, pesquisador da Rand Corporation, que foi usado para o
desenvolvimento da rede de comunicações usando redundância e tecnologia, rede
52 PAUL Baran and the origins of internet. Rand Corporation. Disponível em: <http://www.rand.org/ about/history/baran.html>. Acesso em: 4 abr. 2016.
96
essa que contribuiu com a construção da internet. Essa comparação, que pode ser
alinhada ao jornalismo, está mais conectado e precisa ampliar suas conexões e
relações, para poder construir o fato de acordo com a realidade. Antes, a produção de
informação ficava mais centralizada e depois era distribuída, como no caso do
gatekeeper, porém, hoje a distribuição e produção de conteúdo está mais
descentralizada devido ao uso de novos dispositivos e um novo ecossistema de
cultura de consumo de informação, impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico.
Figura 15 - Diagrama de Paul Baran: centralizado, descentralizado e distribuído
Fonte: BARAN, Paul, 1964, p. 2
Podemos imaginar o jornalismo no diagrama que Paul Baran fez em 1964, onde
cada ponto corresponde a um contato. Na primeira figura (A) centralized, é a figura de
uma redação que centraliza todas as informações que são recebidas de várias formas,
como ligações, reportagem, conversas de redação, reuniões de pauta, produções,
enfim, a partir disso, acontece o caminho da redistribuição que vai do centro para fora.
Na outra figura (B) decentralized, existem pontos focais que recebem as informações,
editores mais focados com determinadas demandas, essas informações mais
específicas chegam a alguns grupos de editores, e assim, eles redistribuem essas
informações com cada rede de interesse. E, por fim, temos o terceiro grupo (C)
distributed, é um grupo mais interligado, ou seja, é a informação que é trocada a todo
instante com todos os tipos de fontes e nessa rede são definidos os assuntos mais
importantes do dia e daí são compartilhados de volta na mesma rede de forma mais
espalhada e distribuída. O jornalismo precisa estruturar um novo diagrama para poder
97
distribuir os conteúdos de forma coerente e sem perder a relevância, público ou
qualidade. Ou seja, a distribuição e troca tem que ser mais equilibrada, como acontece
nas redes sociais, o jornalista e o público que acessa o conteúdo estão no mesmo
nível e as trocas, ou melhor, a conversa pode acontecer.
Quando é dissertado sobre distribuição, a pesquisa expõe é que os jornalistas
que estão na redação devem ser mais estrategistas na hora de disparar ou publicar o
conteúdo. Hoje, eu posso ler conteúdo jornalístico e informativo nos consoles de
videogame e isso era impensável por muitos há algum tempo, salvo exceções muito
pontuais, pois a tecnologia para a época era caríssima e só videogames japoneses
que tinham conexão a internet tinham essa função. Atualmente, com a tecnologia mais
barata, é possível assistir a um telejornal no aplicativo instalado no console, chegar
até a sala, onde ficam os consoles de videogame, aciona o controle, liga o console e
o videogame mostra uma interface amigável com vários quadrados e imagens
destacando o que é cada tipo de conteúdo. Neste exemplo, o aplicativo da ABC News
disponível para o console de videogame Xbox One, da Microsoft.
Figura 16 – Interface da ABC News no videogame Xbox One
Fonte: Microsoft
Nele a tela fica com várias imagens e cada imagem corresponde a um vídeo e
lá por exemplo é possível assistir um dos principais jornalísticos matutinos da
emissora norte-americana, o Good Morning America, ou o jornal noturno ABC World
News Tonight. Na televisão por assinatura, caso não possua ABC News e não pagou
98
taxa a parte no console para acessar o aplicativo. Ele está disponível num mercado
virtual, de graça. O que pode gastar no máximo é o tempo de pesquisa e alguns bytes
de informação para baixar o conteúdo para o meu console. Liga-se a TV para acessar
o videogame e por ele pode-se assistir um programa jornalístico. No entanto, este
mesmo conteúdo pode ser assistido em um smartphone, tablets e até mesmo, a
televisão. É um microcosmo entre vários exemplos de como diluir a informação e de
como se aproximar do indivíduo que quer informação. Fazendo uma metáfora, ele não
quer comer o macarrão lámen de copo, ele quer comer macarrão italiano, bem
apresentado, com um bom molho de tomate, em um prato bonito. Ou seja, as
redações podem estar servindo macarrão de copo, sendo que as pessoas querem
uma massa servida num prato específico de macarrão. Além disso, cabe sempre
reforçar que o jornalismo também é comunicação e a comunicação tem um caminho.
Basta observar o diagrama de A Mathematical Theory of Communication, elaborado
por C. E. Shannon, em 1948, que mostra o caminho de toda a informação para se
fazer sabiamente a comunicação. Como mostra o gráfico a seguir.
A fonte de informação é transmitida por um transmissor, daí ele reenvia o sinal
por um canal, que atravessa uma fonte de ruído, e então, por sua vez, chega ao
receptor, transmitindo a mensagem necessária ao destinatário.
Figura 17 - Diagrama que mostra o sistema geral de comunicações
Fonte: SHANNON, 1948
Por meio da internet e de outras mídias, que estão conectadas em redes digitais
estruturadas de telecomunicações, estas teias são comunidades virtuais que
conseguem transmitem dados, informações e mensagens a todo o tempo, formando
99
assim a rede. A rede é um conjunto de objetos e pessoas interligados uns aos outros.
Nesse tipo de rede, pode ser conectada com o uso de infraestrutura, telefonia,
neurônios e a informática. Pode ser um conjunto conexões, como os humanos fazem
em sua rede de relacionamentos reais em toda a sua vida, da infância, vizinhança,
vida adulta e estas conexões ganharam nova roupagem com internet. A internet é
uma essencial ferramenta social e de comunicação. Laços e interesses em comum
podem ser estreitados e isso acontece pelos elos, pelos hubs, que se conectam.
Assim explica o pesquisador Manuel Castells, que a rede “é um conjunto de
nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta” e “Redes são
estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós
desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem
os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de
desempenho)” (2001, p. 566). O jornalista que entender cada demanda, pode criar
estes novos nós, ou pequenas redes, conectando o público de acordo com cada
dispositivo e cada necessidade. Vide o exemplo dos núcleos especiais que produzem
pautas de acordo com determinado evento, como Olimpíadas, Eleições, Crise da
Água, Dengue e entre outros. Eles têm uma equipe dedicada a levantar todas as
informações sobre determinado tema, dados, contatos, mapas e pessoas são
dedicadas para fazer esse conteúdo, que depois é distribuído para os editores dos
jornais que usarão esta informação para distribuir a sua audiência.
O público acessa o conteúdo jornalístico por várias maneiras, como por
exemplo, um aplicativo. Ele pode receber a informação e de acordo com essa
informação, ele pode tomar uma decisão. Ele se autogoverna, conforme a premissa
básica do jornalismo de Kovach e Rosenstiel. Dependendo do nível da informação, o
consumidor de conteúdo vai se aprofundar, buscar mais detalhes, faz uma pesquisa
até se dar por satisfeito com o que conseguiu. O usuário do aplicativo pode fazer um
feedback para a redação enviando crítica, sugestões, como uma nova pauta ou
oferecendo mais dados para a redação aprofundar o conteúdo. Fazendo assim, um
caminho de duas vias. Existe a comunicação entre a redação e o indivíduo,
consolidando uma rede provisória. No entanto, esta rede pode tornar-se sólida e
confiável para determinadas demandas de informação. Fazendo disso, a criação de
um novo fluxo informacional.
100
"O espaço de fluxos resultante de uma nova forma de espaço, característico da Era da Informação, mas não desprovida de lugar: conecta lugares por redes de computadores telecomuinicadas e sistemas de transporte computadorizados. Redefine distâncias, mas não cancela a geografia. Novas configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação global”. (CASTELLS, 2001, p. 170).
Um estudo de Russel Ackoff, chamado From Data to Wisdom, aborda a gestão
do conhecimento. Como que o cérebro faz a gestão da informação, que consiste em
administrar e propagar o máximo de dados para o maior número de interessados que
querem informações para tomar decisões, se autogovernar.
Na Gestão da Informação, é necessário que o dado seja distribuído da melhor
forma possível, para que seja um elemento fundamental para os processos de tomada
de decisão. O jornalismo tem que se conhecer para definir melhor cada tipo de
estratégia conforme a notícia. Então, é fundamental que toda a redação saiba do seu
papel na estratégia elaborada para a construção de conteúdo coerente com a linha
editorial e os anseios da opinião pública.
A informação pode ser diluída para todos que fazem parte do mesmo meio, para que seja claro os objetivos e metas definidos para o futuro. Além disso, é uma poderosa ferramenta para tomada de decisões (COELHO, 2013).
A informação é um recurso importante para a vida das pessoas, neste caso,
para o ambiente de negócio que é o Jornalismo.
Figura 18 – Pirâmide do Conhecimento - DIKW
Fonte: “From Data to Wisdom”, in Journal of Applies Systems Analysis, in 1989
101
O estudo de Ackoff, mostra a Gestão da Informação em um signo, a Pirâmide
do Conhecimento, a Data Information Knowledge Wisdom Hierarchy – DIKW ou
Hierarquia de Dados, Informação, Conhecimento e Sabedoria, que aponta o caminho
da compreensão da informação. Esse caminho é necessário para se ter consciência
do conteúdo, que mais bem elaborado, para as redações de jornalismo, que terão
certeza que a publicação é verossímil e com qualidade.
Figura 19 – Fluxo do conhecimento DIKW
Fonte: “From Data to Wisdom”, in Journal of Applies Systems Analysis, in 1989
A estrutura é formada por Dados (Data), o que converte em um todo
significativo (símbolos); Informação (Information), dados que são processados para
serem úteis ajudando na tomada de decisão; Conhecimento (Knowledge), aplicação
de dados e informações, ajudando nas escolhas certas, lidando com valores;
Entendimento ou inteligência para lidar com valores e entender o porquê, para no fim
chegarmos a Sabedoria (Wisdom), onde a compreensão é avaliada, rumo a
aprendizagem (BELLINGER; CASTRO MILLS apud ACKOFF, 1989).
Essa estrutura faz sentido para o jornalismo, para um caminho informacional.
Pois, os jornalistas lidam com dados, significados, informações e a partir destes
dados, uma decisão é tomada, o valor-notícia é adicionado e assim, o conteúdo é
produzido pelas redações, distribuido ao público fazendo a transmissão da sabedoria,
onde os valores e os significados são compreendidos e uma nova aprendizagem
acontece entre jornalismo e o público.
102
3. Novas dinâmicas para estratégias editoriais
Com o volume de informação, tipos de dispositivos e formas de publicação,
ressalto pensar o que pode ser feito no meio do corre-corre da redação para atender
uma demanda gigante por conteúdo. Como se a redação fosse uma mamãe-pássaro,
com várias minhocas na boca, para transferir essas minhocas para os filhotes, os
vários bicos dos filhotinhos pinçando o ar desesperadamente querendo a minhoca,
digo a informação. Com essa metáfora, cabe repensar como que a redação deve
funcionar. É necessário manter o bom funcionamento das redações durante a
cobertura factual, mas ao mesmo tempo é importante lembrar que nesta correria que
beira a insanidade é possível ter gente também para conversar e receber o retorno do
que a redação faz no ritmo industrial.
Com a demanda informacional crescente, é necessário ter dentro da dinâmica
e do fluxo de trabalho da redação, um núcleo que ajude a entender das demandas
informações de cada público, bem como a sua distribuição, estando prontos para fazer
mudanças no curso a cada vez que se percebe um obstáculo na formatação do
conteúdo. Com a ascendência das mídias sociais, já temos pequenos núcleos ou
editores, principalmente na web e no impresso, que conversam com o público e os
atende. Já temos uma via aberta, porém, a partir dessa via aberta, cabe pensar com
quais outras maneiras podemos atender e melhorar os processos de produção
jornalística. Bem como, essa informação que chega na redação, o que acontece
enquanto se desenrola a construção da notícia até a sua publicação. Além dos
caminhos convencionais seguidos por: apuração, chefia de reportagem, reportagem,
edição e publicação; ou apuração, chefia de reportagem, produção, reportagem,
edição e publicação; produção, chefia de reportagem, reportagem, edição e
publicação; produção, edição e publicação – será que podemos construir o conteúdo
de outra maneira. Como, por exemplo, redes sociais, produção, núcleo especial,
edição, publicação, feedback, nova produção, evento externo? Talvez seria
interessante a criação de um núcleo mais estratégico. Um núcleo que fica mais
presente na redação e não um escritório com alguém formado em jornalismo que
parece mais um burocrata do que um jornalista. Que tenha uma equipe formada, que
seja uma linha auxiliar da redação para atender demandas específicas, que tenha um
núcleo de jornalismo de dados, construção de aplicativos, convergência de conteúdo,
eventos externos e claro pesquisa e desenvolvimento em jornalismo (P&D).
103
O P&D é comum em grandes indústrias como o automobilístico, químico,
farmacêutico, petroquímico. A mídia não é uma grande indústria que precisa sempre
reavaliar seus procedimentos e passos? Bem como, o seu público que sustenta essa
indústria, os players envolvidos como anunciantes, o cidadão, o poder público, os
próprios jornalistas que trabalham na redação. Pode até existir um núcleo de pesquisa
e desenvolvimento, mas geralmente, em emissora de televisão para desenvolvimento
de programas de entretenimento, séries, novelas, ou então nas empresas jornalísticas
que possuem um P&D voltado para questões administrativas ou negócios
relacionados, como por exemplo os impressos, que além de imprimir o próprio jornal,
a empresa terceiriza sua gráfica para tentar aumentar o faturamento imprimindo
jornais comerciais, publicidade externa e entre outras demandas.
Há redações pelo mundo que trabalham no constante desenvolvimento da
construção da notícia e na melhoria de processos, como por exemplo a rede de
comunicação britânica British Broadcasting Corporation, a BBC, com a BBC Academy,
que é o braço educacional e acadêmico dentro da empresa que treina seus
funcionários e desenvolver habilidades na indústria de broadcasting, capacitando seus
funcionários. Neste núcleo se desenvolve a formação em Jornalismo, Produção,
Gestão, Liderança e Tecnologia. Deste departamento nasceu um filhote, que é a BBC
College of Journalism. Criado em 2005, esta faculdade corporativa treina seus
funcionários e também permite aos moradores da Inglaterra, -- que pagam imposto de
televisão para manter a BBC no ar --, a ter aulas a distância e cursos online de
jornalismo. Pode ser que através desse processo de olhar para si a empresa sempre
se atualize.
Além disso, a empresa repensou o modo de fazer conteúdo com o projeto BBC
The New Broadcasting House53. Um antigo prédio da BBC começou a ser reformado
em 2003, foi reequipado e reinaugurada em 2013, centralizando todos os canais de
mídia da empresa de comunicação pública britânica. Todas as operações de
televisão, internet, rádio e agências de notícias foram centralizadas nesta estrutura.
Ao mesmo tempo, foi uma estratégia para aprimorar e aproximar as distintas
53 THE NEW Broadcasting House. BBC. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/broadcastinghouse>. Acesso em: 04 abr. 2016.
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operações jornalísticas, bem como, ajudou na redução de custos da operação da
empresa.
Figura 20 – BBC The New Broadcasting House
Fonte: BBC
É considerado o maior centro criativo da cidade de Londres e ao mesmo tempo
e é uma redação que foi pensada milimetricamente em cada fluxo de trabalho e por
onde a notícia vai caminhar para chegar ao destinatário final, bem como essa notícia
vai ser trabalhada pela equipe de jornalistas dos segmentos de rádio, TV e internet.
Figura 21 – Estrutura da newsroom da BBC
Fonte: BBC
105
Mas é claro que nem todas as estratégias funcionam como o previsto, há
estratégias erradas, como toda companhia ou indústria e empresas de mídia também
erram muito. Em 2013, o autor escreveu o estudo Dados Convergentes: Uma nova
forma de interpretação e propagação de conteúdo jornalístico, que é sobre um
levantamento de como as empresas de mídias estão trabalhando com mídias
convergentes, ou seja, se estão usando novas mídias com mídias tradicionais e quais
eram seus impactos. Neste estudo, é citado o Guardian Coffee, uma iniciativa do
Guardian News & Media, que opera o jornal The Guardian na Inglaterra. O release do
The Guardian começava com este parágrafo:
The Guardian abriu as portas do #guardiancoffee, um destino de pop-up com infusão de cafeína no coração da comunidade de tecnologia criativa do East London, na Tech City UK. #guardiancoffee, parte de Boxpark, pretende trazer a inovadora abordagem do jornalismo aberto do Guardian para a vida através de envolvimento direto em tempo real, com as pessoas que estão moldando o futuro da tecnologia em Londres (THE GUARDIAN, 2013).
Ou seja, uma empresa de mídia tentou se aproximar dos seus leitores
estabelecendo uma cafeteria, que foi inaugurada em junho de 2013, no centro
tecnológico de Londres. O jornal esperava que os leitores da publicação pudessem
conversar com os jornalistas do The Guardian e participar de eventos organizados
naquele local.
Figura 22 – Fachada do #guardiancoffee
Fonte: The Guardian/Divulgação
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A ideia era criar uma comunidade com ambiente offline, plataforma online, onde
todas as pessoas e jornalistas pudessem falar e conversar sobre notícias. Sendo
assim, uma das apostas iniciais era aproximar leitores de tecnologia e personalidades,
como donos de startups e inovadores, que estão trabalhando neste meio. A empresa
realizou uma série de entrevistas com 22 vídeos chamados ‘Tech Sessions at
#guardiancoffee’54. Os idealizadores do projeto esperavam que esse projeto
atraíssem as pessoas e instigava elas para que visitassem o local. Lá também o leitor-
apreciador de café poderia comentar na rede social Twitter que estava lá no espaço
por meio da hashtag #guardiancoffee ou pela conta do jornal @Guardian_Coffee. O
local era decorado com estilo inglês e muita tecnologia embutida, com tablets
instalados nas mesas, parede com várias telas informativas sobre a origem do café e
dados diários de consumo de café naquele lugar. A iniciativa não empolgou os
londrinos e o #guardiancoffee não durou 18 meses.
Figura 23 – Painel de informações do #guardiancoffee
Fonte: Jack Barry/Vice UK
A iniciativa foi observada com ceticismo e intriga por boa parte da mídia. Nos
corredores do The Guardian, os jornalistas não pareciam empolgados com o projeto,
há relatos de algum constrangimento por parte dos funcionários pelo projeto e o local
54 Disponível em: <http://www.theguardian.com/technology/series/tech-sessions>. Acesso em: 04 abr. 2016.
107
recebeu duras críticas, por ser um espaço com tecnologia que não tinha conexão wi-
fi e os jornalistas do periódico não iam até o local como era esperado. O pior veio da
parte financeira: não conseguiu reverter o prejuízo semanal de 1 milhão de libras por
semana, que era a meta inicial do projeto. Um blogueiro da região chamado Amar
Dalston percebeu que o Guardian Coffee tinha fechado as portas de forma
sorrateira55, sem avisos, com a conta da rede social Twitter ativa, sem anúncios,
diferente da pompa de antes. Ele questionou a empresa Guardian News & Media que
informou que o espaço onde estavam era temporário e experimental, que estavam
satisfeitos com os resultados do projeto. Porém, o The Guardian procuraria novas
oportunidades para trazer os leitores mais perto do jornalismo. O local que seria uma
comunidade de mídia e leitores, com café virou uma pizzaria Voodoo Ray.
4. Citizen Setting ocupa seu espaço
Como contextualizado nos outros capítulos deste estudo, o público não tinha
tanto acesso ou comunicação com as redações pela falta de recursos para isso. O
feedback ou a resposta do público eram precários e retorno dos jornalistas seguiam
pífios, quase inexistente. Nas redações, todos os jornalistas realizam rotineiramente
uma reunião de início dos trabalhos que definem o que é relevante para o dia em sua
agenda setting, teoria de comunicação definida por Maxwell McCombs e Donald Shaw
na década de 1970. Essa agenda do dia que é definida pelo jornalista, e escolhe a
sua relevância para a sociedade. O agendamento acontece em três níveis: Media
Agenda ou Agenda Midiática, que levava questões discutidas na mídia; Public Agenda
ou Agenda Pública ou da Sociedade Civil, com questões que seriam realmente
relevantes para o público; e Politicy Agenda ou Agenda de Políticas Públicas, que são
temas importantes considerados pelos gestores públicos. Assim como, os editores
que usavam o gatekeeping, que foi explicado no capítulo 1.4, para controlar a
informação, onde o processo se define por entrada, produção e resposta (BRUNS,
2005, 2011, p.121). Contextualizando da melhor maneira, o gatekeeping torna-se um
limitador de conversas para a sociedade. Com o citzen setting, o público define o que
é importante para si, e o jornalista reverte o seu papel de gatekeeper para curadoria
55 DALSTON, Amar. Guardian´s Shoreditch embassy brews last coffee. Loving Dalston. Blog. Disponível em: <http://lovingdalston.co.uk/2015/04/guardians-shoreditch-embassy-brews-last-coffee/>. Acesso em: 04 abr. 2016.
108
de conteúdo, mas não como o gatewatching, que se volta aos trabalhos de
republicação, divulgação e contextualização do conteúdo enviados pelo público.
Neste caso, o cidadão se nivela ao patamar do jornalista profissional para
passar a informação e torna-se ao mesmo tempo, o seu chefe. Pois, o jornalista torna-
se mais curador, tem que se desdobrar com os fatos, acrescentando e aprofundando
novos dados, a partir das informações recebidas pela audiência.
A propagação de conteúdo é mais compartilhada e ajuda na produção linear do
jornalismo. De acordo com pesquisador português Pedro Jerónimo (2015, p.69), o
especialista brasileiro em jornalismo Rosential Calmon Alves, em entrevista ao jornal
espanhol El País (2010), disse que passamos de um sistema mídia-centrada para
autocentrada, onde o indivíduo se transforma em um micro-organismo ao ter o poder
de comunicar, de trocar informação e redistribuir. Boa parte disso acontece por causa
da força e capilaridade das redes sociais das redes sociais. Jerónimo ainda comenta
sobre uma pesquisa norte-americana do pesquisador Dan Blasingame (2011) que traz
para o campo do jornalismo um conceito abordado por Chris Brogan e Julien Smith,
em 2010, chamado por gatejumping.
Tabela 2 – Esquema do citzen setting
Fonte: o autor
109
Foi percebido que durante o uso da rede social Twitter no compartilhamento de
notícia de última hora, Blasingame evidenciou que os utilizadores poderiam saltar por
cima dos portões informativos, que outrora era à guarda dos jornalistas. Ou seja, as
pessoas poderiam passar por cima do gatekeeper e fazer a cobertura noticiosa ou
acompanhar o fato diretamente por uma plataforma de microblog (2015, p. 71-72). Isto
é, quando uma informação está sendo discutida num ambiente de compartilhamento
de informação, é conversada nas redes sociais e a partir do número de pessoas
comentar determinado assunto e então o tema vira uma tendência.
Então, a partir dessa discussão, o jornalista vai avaliar as conversas daquele
momento nas redes sociais como Twitter, YouTube, Instagram, Google Plus e
Facebook, com o uso de ferramentas de social media como o Dataminr, Scup,
TweetDeck ou Hootsuite. A partir dessa avaliação dos jornalistas profissionais fazem
uma reunião com os assuntos pré-determinados pelo público. O que a sociedade está
discutindo ou conversando e a partir dessa discussão o jornalista já começa a
consolidar os temas pré-definidos para fazer a rotina jornalística durante o seu dia de
trabalho. No caminho inverso, antes do jornalista definir o assunto do dia, prospectava
algum tema para levar a discussão até a opinião pública e tudo que a mídia publicava,
a sociedade discutia. Desta vez, a sociedade leva as pautas para o jornalismo dando
mais força por meio do jornalismo local, jornalismo cívico, jornalismo comunitário ou
jornalismo público.
[...] é importante ressaltar que o jornalismo cívico (ou público) fez com que os profissionais de imprensa se tornassem mais comprometidos com seu público-alvo ou público-leitor. Pois, aos leitores interessa como que as questões que estão no seu entorno podem impactar e como isso afeta sua vida no dia a dia. O jornalismo tem que romper a barreira e a zona do conforto. Tem que ir mais além para se tornar sempre atraente e fundamental para a sociedade como um alimento. O leitor busca “alimento” para continuar vivendo, o jornalismo precisa ser como um elemento essencial na vida dele (COELHO, 2015, p. 7-8).
O cidadão também se sente mais envolvido nos assuntos que o impactam. O
jornalista reforça o seu papel de levar informações ao público. O citzen setting é mais
uma perspectiva no jornalismo para que profissionais e amadores possam fazer uma
produção linear de conteúdo e informação com troca de habilidades de ambos os
lados.
110
Tabela 3 – Comparação: Do gatekeeping ao citzen setting
Fonte: o autor
Porém, este processo começa por meio da discussão via redes sociais que
traduzem parte dos anseios reais da sociedade, passando pelo processo de
agendamento do jornalista e a produção de informação. Ou seja, a cadeia de
informação vem de baixo, sobe para as redações e volta com mais informações de
acordo com o demandante da informação, no caso a sociedade.
5. O que fazer com tanta informação?
Ouço novas notícias todos os dias, bem como os rumores habituais de guerras, pestes, incêndios, inundações, roubos, assassinatos, massacres, meteoros, cometas, espectros, prodígios, aparições, de vilarejos tomados, cidades sitiadas na França, Alemanha, Turquia, Pérsia, Polônia &c. os preparativos e deliberações diários, e coisas do tipo, que são característicos desta época tempestuosa, batalhas travadas, tantos homens mortos, conflitos, naufrágios, atos de pirataria e combates marítimos, paz, alianças, estratagemas e novos alarmes. Uma vasta confusão de votos, desejos, ações, editos, petições, processos judiciais, apelações, leis, proclamações, queixas, querelas é trazida diariamente a nossos ouvidos. Novos livros todos os dias, panfletos, gazetas, histórias, catálogos inteiros de volumes de todo tipo, novos paradoxos, opiniões, cismas, heresias, controvérsias em
111
questões de filosofia, religião &c [sic]. Agora chegam informações de casamentos, encenações, interpretações, entretenimentos, celebrações, embaixadas, justas e torneios, troféus, triunfos, festividades, esportes, peças: e novamente, como se numa cena recém-alterada, traições, truques baixos, roubos, imensas vilanias de todo tipo, funerais, enterros, mortes de príncipes, novas descobertas, expedições; primeiro, assuntos cômicos e, logo a seguir, assuntos trágicos. Hoje ficamos sabendo da nomeação de novos lordes e oficiais, amanhã ouvimos da deposição de grandes homens, e outra vez da concessão de novas honrarias; uns são libertados, outros aprisionados; uns compram, outros quebram: ele prospera, seu vizinho vai à falência; primeiro a fartura e, logo a seguir, escassez e fome; uns correm, outros cavalgam, querelam, gargalham, choram &c. É o que ouço todos os dias, e coisas do gênero (GLEICK, 2001, p. 289).
James Gleick citou um estudioso de Oxford, chamado Robert Burton, que cita
a sensação de se ter informação demais ou em excesso. Esse estudioso fala em
excesso de informação no ano de 1621. Burton e historiadores falavam que o excesso
da informação poderia acarretar no esquecimento do passado. Então, quase 500 anos
depois, questiona-se: quantas informações o mundo tem hoje, se lá atrás já tinha
excesso de informação? Talvez seja risível. Atualmente temos muitas liberdades e
coisas impensáveis se comparado com o século XVII. Depois de surgir a ‘teoria da
informação’, ascendeu a ‘sobrecarga da informação’, seguido por ‘saturação da
informação’, ‘ansiedade da informação’ e ‘fadiga de informação’. Este último termo foi
classificado como uma doença pelo estresse pelo contato em excesso com a
informação (2011, p.290).
Talvez na atualidade contemporânea e moderna, diga-se de passagem,
estejamos enfrentando um novo Bellum omnia omnes ou ‘Todos contra todos’
(HOBBES, 1671) da era da informação. Claude E. Shannon na época lembrou aos
cientistas que a teoria da informação é uma teoria matemática que não seria
totalmente fácil a sua adoção. Ele ressaltou que “a definição de tais aplicações não é
uma questão trivial de traduzir palavras para um novo domínio. E sim, o lento e tedioso
processo do estabelecimento de hipóteses e sua verificação experimental (GLEICK,
2011, p.190). Em um discurso nos 75 anos da Faculdade de Pós-Graduação em Artes
e Ciências da Universidade da Pensilvânia, Shannon disse que acredita que o século
atual seria testemunha de um grande aumento e desenvolvimento do ramo da
informação (idem, 2011, p. 190). E realmente aconteceu. Gleick também cita que a
partir do desenvolvimento da ciência cognitiva, alguns filósofos apontaram que houve
uma virada informacional. “Aqueles que experimentam a virada informacional passam
112
a enxergar a informação como o ingrediente básico da construção de uma mente”
(apud ADAMS, 2001, p. 190).
Figura 24 – Origem das tecnologias LCD, LED, Plasma, OLED e CRT
Fonte: COELHO, 2015
Nunca se falou tão abertamente de vários assuntos, temas e nunca se contou
tantas histórias e foram levantadas tantas informações em um pouco mais de um
século. É claro que a tecnologia ajudou. O desenvolvimento tecnológico foi muito
rápido e ao mesmo tempo avançamos de forma significativa em criação intelectual.
Começamos com as telas, botões, monitores de fósforo, monitores de tubo, as finas
telas de LED, LCD, OLED e mais recentemente a tela transparente IGZO56,
desenvolvida pela empresa japonesa Sharp. Temos computadores tudo em um,
notebooks finos, smartphones poderosos e tablets do tamanho de cadernos, que de
alguma forma já os substituem em vários ambientes de trabalho.
As empresas de mídia distribuíam seu conteúdo nos veículos tradicionais até a
internet balançar o negócio e o fluxo informacional. O conteúdo ficou mais
compartilhável as ideias criativas passaram a ser mais universais. Um estudante russo
pode se unir a um estudante norte-americano e criar a maior empresa de busca na
internet no mundo ou um americano e um brasileiro podem criar a maior empresa de
rede social do planeta. As redes sociais chegaram de forma quieta e agora estão
rotineiramente no nosso cotidiano, são inúmeras redes sociais e em vários formatos,
56 Disponível em: <http://www.sharpusa.com/ForHome/HomeEntertainment/LCDTV/igzo.aspx>. Acesso em: 30 jul. 2016.
113
como redes sociais de fotos, vídeos, textos, livros, filmes e piadas. Há uma
pulverização de público, muitos assuntos foram segmentados e ganharam categorias,
que ganharam subcategorias, criando pluralidades de opiniões.
Podemos agora ver que a informação é aquilo que alimenta o funcionamento do nosso mundo: o sangue e o combustível, o princípio vital. Ela permeia a ciência de cima a baixo, transformando todos os ramos do conhecimento [...] (GLEICK, 2011, p. 11).
Então, com todo esse desenvolvimento, cabe ao jornalista entender que ele é
o guardião e o vendedor do conteúdo, o papel dele não está obsoleto, vide o caso da
revelação de documentos do Panamá Papers, que num esforço de jornalismo
transnacional acarretou na verificação de 11 milhões de documentos que falam sobre
a corrupção global de ricos e poderosos. Agora, imagina a demanda de informação
que vários jornalistas administram no dia a dia, para fazer prestação de serviço e levar
a população o que acontece no cotidiano das cidades e pensa agora em um mundo
que estas informações não são separadas. Estão brutas e para entender ou traduzir
será necessário entender do que está fazendo, ler e compreender para depois contar
o que está acontecendo e se isso vai impactar a sua vida. O jornalista faz isso todos
os dias, destrincha conteúdos duros para o consumo e traduzem para o público o que
acontece no seu entorno, País e mundo.
O jornalista, além de ser intitulado com o famoso chavão ‘o historiador do
presente’ ele terá que ser também o ‘guardião da informação e curador de conteúdo’
para que ele possa trabalhar todo tipo de informação que faça a diferença das
pessoas. Bem como, o uso de Big Data, Jornalismo de Dados, Jornalismo
Investigativo e de outras técnicas para fazer com que as informações apareçam sob
a luz da verdade e o profissional de jornalismo. Claro, contando sempre com apoios,
parcerias, comunidade, fontes e entre outros pode ajudar a administrar esse volume
de dados para que as pessoas tenham clareza e que possam se autogovernar.
Um exemplo é o do jornal inglês The Times57, que publicou aos leitores no dia
30 de março de 2016 uma carta informando que deixará de publicar notícias em tempo
real em seu site e aplicativos58. Uma das principais justificativas é que as pessoas
57 Disponível em: <http://www.thetimes.co.uk/>. Acesso em: 05 abr. 2016. 58 DAVIES, Jessica. The Times of London is swearing off breaking news. Digiday. March 30, 2016. Disponível em: <http://digiday.com/publishers/breaking-news-commodity-times-adjusts-digital-news-metabolism/>. Acesso em: 05 abr. 2016.
114
pesquisadas, os leitores, tinham a sensação de não conseguir acompanhar o volume
de informações e ao mesmo tempo, busca-se retardar a publicação de conteúdo para
elaborar conteúdo com mais qualidade. Agora a estratégia da publicação será publicar
três vezes durante o dia e duas vezes aos finais de semana. No primeiro momento
pensa-se que seria por corte de gastos ou mais uma crise na publicação, mas de
forma surpreendente o diretor do jornal The Times, John Witherow e o responsável
pelo dominical Sunday Times, Martin Ivens, deixam claro que o objetivo é oferecer
artigos mais “confiáveis e em profundidade, análise atualizada e opiniões
estimulantes”.
A equipe de jornalistas do The Times fará publicações na edição digital durante
a semana às 9h, 12h e 17h e aos finais de semana, no The Sunday Times, as
publicações vão ocorrer às 12h e às 18h. É uma estratégia de administração de
conteúdo, para levar o essencial para o seu público. Ao mesmo tempo, cabe observar
o consumo de informação as novas mídias, seus hábitos e qual é a recorrência de
consumo de conteúdo, para assim, preparar informações mais personalizadas de
acordo com perfil de leitor, ou seja, se ele usa um aparelho mobile, que as informações
cheguem para ele de forma mais objetiva possível e que a experiência de consumo
da informação seja agradável. Ou então, que seja observado o uso de redes sociais
para publicação de determinadas demandas como faz a publicação digital The
Huffington Post, dos Estados Unidos, que faz transmissões ao vivo pelo aplicativo
Periscope, do Twitter, ou no aplicativo de transmissão ao vivo do Facebook Live,
tentando levar ao leitor a experiência da primária das eleições norte-americanas.
O jornalista tem que ser estrategista, criativo, obcecado por conseguir a melhor
informação, observar e entender as necessidades. Ele tem os meios para fazer isso,
e tem muita informação, com isso, ele pode levar a informação certa no momento
certo para atender os anseios da sociedade.
A informação está presente em todos os lugares e é essencial para o
desenvolvimento humano. Como Gleick também diz sobre Werner Loewenstein, que
estudou por trinta anos a comunicação intercelular. A informação hoje significa algo
mais profundo: “O termo traz a conotação de um princípio cósmico de organização e
ordem, e nos proporciona uma medida exata disso” (2011, p. 11).
115
CAPÍTULO IV – HIPERLOCAL E BIG DATA
1. Compreendendo o Hiperlocal
Ao detalhar o termo, é necessário conceituar o que é Hiperlocal, sua definição
e finalidade. Quando uma pessoa, um cidadão, vive em uma área que tem pouco mais
de 1000 habitantes, consome conteúdo das grandes redes emissoras de televisão,
que irradia seu conteúdo nas principais capitais, com grandes jornais nacionais e
portais de conteúdo que propagam informações 24 horas diárias sobre o Brasil e os
cinco continentes mundo afora, mas não há uma mídia dedicada ao que acontece a
sua vizinhança. Esta colocação não é uma descrição sobre os fofoqueiros de plantão,
mas sim, de um veículo especializado que possa ajudar no seu cotidiano com
informações que façam diferença na sua vida local, como a prestação de serviço,
eventos locais, trânsito ou previsão do tempo. Assim, é o que acontece com a pratica
do Hiperlocal, onde a informação relevante da sua comunidade é compartilhada e
distribuída para todos os interessados para que assim cada um utilize o que é de sua
importância, siga tomando suas decisões e autogovernando suas vidas.
Uma das respostas possíveis e plausíveis foi a descrita pelo jornalista e
pesquisador Damian Radcliffe na obra Here and Now: UK hyperlocal media today, ele
explica que hiperlocal são notícias online ou serviços de conteúdo pertinentes a uma
cidade, vila, simples código postal ou outra pequena, comunidade geograficamente
definida (2012, p. 06). Ou seja, uma área pequena pode receber conteúdo
personalizado, os moradores ou transeuntes daquela região ou área podem receber
informações sobre o que acontece em seu entorno, de forma mais rápida e objetiva,
de tal forma que os grandes veículos da mídia não consigam fazer com tanta eficiência
por questões de estratégia, e geralmente, de gente dedicada para essa função e de
custos na operação jornalística.
Mídia hiperlocal normalmente fornece notícias e conteúdo em um nível mais prático do que a maioria dos meios de comunicação tradicionais podem alcançar. Ele pode ajudar a definir a identidade local, preencher as lacunas na provisão de conteúdo existente, mantenha autoridade para dar conta e ampliar o leque de meios de comunicação disponíveis para o público. Não há realmente nenhuma coisa como um serviço hiperlocal típico. Então, muitas vezes é definido pela voz, audiência e do propósito da comunidade a ser servido, com toda a variedade que implica (RADCLIFFE, 2012, p. 6).
116
O termo hiperlocal foi criado nos anos 1980, a partir das operadoras de TV a
cabo dos Estados Unidos, com “hyperlocal”, para classificar o conteúdo televisivo local
e esse termo também foi transferido e associado para o conteúdo produzido pela web
(LIMA JR.; COELHO, 2015).
Operações de mídia Hiperlocal são geograficamente baseadas, voltadas para a comunidade, organizações nativas e originais em reportar notícias para a web e pretendem preencher as lacunas percebidas na cobertura de uma questão ou região e promovem o engajamento cívico (LIMA JR.; COELHO, 2015 apud METZGAR et al, 2010, p. 7).
O Hiperlocal ainda está em plena construção. A sua concepção se dá por meio
tecnologias conectadas que formam conteúdos informativos de relevância social em
uma área geográfica delimitada. Há uma estreita relação entre quem mora e frequenta
a área. Sendo assim, o cidadão torna-se mais participativo, amplia o seu papel
fiscalizador, pois, com as informações em mãos, é possível escancarar os problemas
da sua comunidade para assim pressionar o poder público a ter mais agilidade para
solucionar as questões mais relevantes para as pessoas deixando vida cada vez
melhor e menos desigual.
No entanto, o conteúdo pode ser produzido ou curado por um especialista da
informação, que no caso é o jornalista, social media, especialista de comunicação ou
até mesmo profissionais que trabalham com informações muito detalhadas como
estatísticos, cientistas de dados (data scientist), business inteligence e profissionais
de tecnologia da informação (TI). Por meio dessa curadoria e da proximidade entre o
profissional de comunicação e os moradores de uma determinada área, pode-se ter a
maneira de construir um conteúdo que contribua para prospectar demandas, soluções
e questões na esfera pública. Mesmo com escassez de informações, a tecnologia
tornou-se grande aliado na busca de conteúdo em seu entorno, para efetivar a busca
por informação hiperlocal, na sua proximidade, estreitando laços, levando aos
moradores uma espécie de autoconhecimento da região que se vive, buscando
enxergar o local com outras perspectivas, prismas e dimensões.
Talvez, a metáfora mais comparável para destacar a importância de hiperlocal,
ou proximidade, é a da famosa pirâmide invertida adotada pelo jornalismo tradicional.
A pirâmide invertida é uma técnica de redação que existe no jornalismo há mais de
100 anos, que tem a função de hierarquizar as informações, os acontecimentos, por
ordem de importância - do mais para o menos importante. Essas informações ficam
117
concentradas no topo do texto, a cabeça da informação, ou lead, onde começa a parte
principal da informação no primeiro parágrafo, com as tradicionais perguntas – Quem?
Que? Quando? Como? Onde? Por que? Assim estruturado, o restante é deixado para
os próximos parágrafos, como outras informações complementares até acabar de
formatar o conteúdo. Essa prática, segundo a autora espanhola Maria Del Mar de
Fontcuberta escreveu em sua obra A Notícia – Pistas para compreender o mundo
(1996), que o nascimento dessa prática aconteceu durante a Guerra de Secessão dos
Estados Unidos da América, quando os correspondentes dos jornais impressos
corriam para os telégrafos para tentar relatar os acontecimentos em primeira mão para
suas redações.
“Perante esta situação, os operadores de telégrafo criaram um método para dar
prioridade em simultâneo a todos os correspondentes. O método consistiu em fazer
uma fila de informadores em que cada um podia ditar um parágrafo – o mais
importante – da sua informação. Ao acabar o turno iniciava-se o ditado do segundo
parágrafo, e assim até final. Nascera a pirâmide invertida da notícia, método ainda
hoje em vigor” (FONTCUBERTA apud ZAMITH, 2005, p. 1-2). Então, os jornalistas
que cobriam a guerra tinham que ser objetivos e contar apenas o fato, "não davam a
sua opinião nem entravam em excessivos pormenores; procuravam informar sobre os
acontecimentos mais importantes” (FONTCUBERTA apud ZAMITH, 2005, p. 1-2).
O Hiperlocal pode ser comparado e observado de acordo com a perspectiva de
cobertura que é realizada no dia a dia das redações jornalísticas. Forma-se uma
hierarquia geográfica, ou seja, as redações verificam e checam as notícias por áreas,
priorizam a cobertura internacional, verificando e apurando o que acontece de
importante ao redor do planeta; nacional, as informações referentes ao país e aos
seus cidadãos, com mais cautela na apuração jornalística em assuntos que impactam
aquele país; e depois, informação local em um Estado ou cidade. É claro, que ainda
não há uma clareza por definir uma cobertura hiperlocal. Nas estruturas das grandes
redações é perceptível que há separações editoriais por temas como Cidades, Mundo,
Política, Esportes, Ciência e Tecnologia no caso do impresso e web e nas emissoras
de rádio e TV a redação é separada por duas grandes editorias que separam os seus
produtos por editoria Local (Estado da emissora e cidade) e editoria Rede (país e
mundo).
118
Gráfico 1 – Base editorial das redações de impresso, web, rádio e televisão
Fonte: o autor
Ainda não existe uma consciência coletiva que acontece uma cobertura
hiperlocal, ela existe como um microcosmo dentro da editoria de Cidades, sendo
otimista um terço inferior de uma página standard, berliner, um quadrado numa revista
ou meia página, metade disso ou um espaço para uma nota na internet com área de
250 x 160mm com algumas linhas ‘dedicadas’ a cobertura. É um trabalho inconsciente
em desenvolvimento.
O conceito de Hiperlocal está sendo construído através de websites jornalísticos que focalizam a sua cobertura noticiosa numa área geográfica bem definida, tratando de temas de relevância social que possuem estreita relação com os moradores e os frequentadores daquela área. O conteúdo é produzido por jornalista e também pelos moradores e frequentadores, com o apoio de agregadores de conteúdo e de sistemas de recomendação (LIMA JR, 2011, p. 139).
Quando há alguma consciência, é de que o trabalho neste âmbito pode ser
custoso para o orçamento de uma redação, devido ao maior número de profissionais
que devem se dedicar a esse tipo de cobertura. Isso levando em conta aplicação de
tecnologia que já derruba e segue derrubando muito os custos na produção
jornalística. No cenário em que empresas jornalísticas mundo afora estão em crise,
com queda no faturamento, devido as empresas de internet como Google e Facebook
serem os grandes algozes da publicidade, acarreta no enxugamento das redações,
com corte da folha de pagamento, começando pelos possíveis jornalistas
profissionais, com larga experiência (e largos salários) que poderiam ser preparados
para este tipo de demanda.
Talvez, os gestores do jornalismo prefiram fazer de conta que o trabalho só
tenha relevância em casos realmente extremos, como por exemplo, a queda de um
119
avião ou incêndio em área residencial valorizada num bairro que tenha muitas mortes
e feridos. Ao mesmo tempo, realizar a cobertura de jornalismo hiperlocal faz parte da
prática do Jornalismo Cívico ou Público, pois essa prática torna os moradores e o
produtor de conteúdo mais próximo, assim, juntos ganham forças para a tomada de
decisão para solucionar problemas cotidianos da cidade, bairro, condado ou vila. Os
próprios moradores, mesmo sem ter a formação de jornalista podem colaborar na
produção de conteúdo relevante para a população da área em que se vive.
O Jornalismo Cívico ou Público é considerado uma solução para inserir os leitores/ouvintes/telespectadores na cadeia de decisão dos processos de produção de conteúdo jornalístico praticado nas últimas décadas. Contudo, o Jornalismo Cidadão possui uma diferença fundamental, em relação ao Jornalismo Cívico ou Público, pois é elaborado, essencialmente, por não-jornalistas formados, ou seja, por pessoas sem treinamento específico em Jornalismo, mas que possuem outra formação profissional ou educacional. Ele é realizado de maneira não-remunerada de forma ‘amadorística’. (LIMA JR, 2012, p.123).
Sendo assim, é possível fazer outro recorte: o hiperlocal entra em uma camada
abaixo da cobertura local. Com o hiperlocal, é possível fazer um recorte da área, dos
quarteirões, dos bairros, vilarejos e condados e a partir disso, é possível rastrear todas
as informações que são relevantes para os moradores daquela região.
É possível apresentar, por exemplo, a hierarquização da cobertura jornalística
da seguinte forma: os jornais de bairro, que agem no nível hiperlocal, que focam em
informações da sua região, com alguma informação de nível nacional e internacional
que talvez atraia o interesse dos leitores daquele local; os jornais tradicionais, com
distribuição nacional, que buscam focar a cobertura do país, com o que foi relevante
mundo afora, tentando dedicar algum equilíbrio na cobertura local e hiperlocal em
cadernos específicos de acordo com a localização da sede do veículo de comunicação
como o Metrópole/Cidades, de O Estado de S. Paulo, Cotidiano, da Folha de S. Paulo,
ambos em São Paulo ou Rio, de O Globo, no Rio de Janeiro e Gerais, do diário mineiro
Estado de Minas.
No entanto, existe também o mesmo recorte com as emissoras de televisão e
rádio. Temos as emissoras principais, como no caso das consideradas grandes redes
de televisão brasileiras, que têm audiência no PNT (Painel Nacional de Televisão),
como Globo, SBT, Band, Record e RedeTV!, que fazem a transmissão e produzem
conteúdo para o País e fora dele por meio de suas emissoras internacionais e temos
120
as emissoras locais ou regionais como por exemplo RBS59 (Globo, no Rio Grande do
Sul), TV Jornal60 (SBT, em Pernambuco), TV Goiania61 (Band, em Goiás) e TV
Brasília62 (RedeTV!, no Distrito Federal). Ou como explica os autores Emily Metzgar,
David Kurpius e Karen Rowley no artigo Defining Hyperlocal Media: Proposing a
Framework for Discussion.
Operações de mídia Hiperlocal são geograficamente baseadas, voltadas para a comunidade, organizações nativas e originais em reportar notícias para a web e pretendem preencher as lacunas percebidas na cobertura de uma questão ou região e promovem o engajamento cívico (METZGAR et al, 2010, p. 7).
Então, se for percebido o nível de informação de baixo para cima – do hiperlocal
ao internacional – ou pelo contrário, podemos comparar que a pirâmide do nível de
cobertura jornalística também é semelhante a pirâmide invertida para a construção
dos textos.
No entanto, essa formação tem um outro viés de importância. Uma notícia,
informação que vem do nível hiperlocal também pode se elevar ao nível de informação
estruturada de interesse internacional e isso acontecerá de acordo com os
antecedentes e o desenrolar da história e do fato.
Gráfico 2 – Área de cobertura jornalística e percepção de sua audiência, de acordo com o tema abordado pela produção jornalística
Fonte: o autor
59 Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/>. Acesso em: 20 jul. 2016. 60 Disponível em: <http://tvjornal.ne10.uol.com.br/home>. Acesso em: 20 jul. 2016. 61 Disponível em: <http://www.tvgoiania.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2016. 62 Disponível em: <http://www.correioweb.com.br/page/tvbrasilia/>. Acesso em: 20 jul. 2016.
121
Como a queda do avião da TAM nos anos de 199663 e nos anos 200764, em
São Paulo, ambos no bairro do Jabaquara e do Campo Belo. Na primeira queda,
morreram 99 pessoas, quando um jato Fokker 100, voo TAM 402 começou a decolar
rumo ao Rio de Janeiro, não conseguiu arremeter e caiu sobre algumas casas na
região. Na segunda queda, o avião da TAM, Airbus A320, voo JJ3054, vindo de Porto
Alegre, não conseguiu frear na pista do Aeroporto de Congonhas e colidiu em um
prédio da própria companhia aérea, matando 199 pessoas.
É uma notícia que impacta a região e todo o País, por exemplo, no nível local,
a polêmica da existência de um aeroporto com grande circulação em uma região
densamente povoada, problemas com barulho e o trânsito ruim em seu entorno
atrapalhando os moradores; no nível nacional com a história das vítimas e a relevância
do aeroporto para todo o País como uma conexão importante, que recebe passageiros
de várias partes do Brasil; e no nível internacional, como que pode se evitar tragédias
deste tipo, até mesmo a consulta sobre a fabricante da aeronave sobre alguma
suposta falha técnica, já que a fabricante do avião, a Airbus é francesa.
1.1 Soluções por meio da proximidade
O uso de novas tecnologias possibilitou com que as pessoas pudessem ter um
senso de proximidade, de querer saber o que acontece no seu entorno, por meio de
uma publicação em uma rede social podemos ter conhecimento do que acontece por
perto. Este entorno tem potencial para ter um volume relevante de informação que
queremos saber no nosso perímetro, enquanto a mídia tradicional mantém suas
grandes cadeias de rádio, televisão, jornais, revistas e outros sistemas nacionais, até
mesmo estruturados na internet. Vide como exemplo o portal de notícias G1, mantido
pelo Grupo Globo65, que tem sites de nível nacional (G1) ao local (G1 Rio, G1 São
Paulo, G1 Rio Branco), mantido pelas emissoras de televisão locais que retransmitem
o sinal nacional da Rede Globo de Televisão, podemos ter nessa cadeia os sites
locais, estaduais, bem como as publicações locais, que podem mirar um novo nicho
63 O Estado de S. Paulo. São Paulo, 1 nov. 1996. Tragédia do voo 402 abala São Paulo. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19961101-37634-spo-0001-pri-a1-not>. Acesso em: 20 jul. 2016. 64 O Estado de S. Paulo. São Paulo, 18 jul. 2007. Avião explode e mata 176 em Congonhas. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20070718-41546-nac-1-pri-a1-not>. Acesso em: 20 jul. 2016. 65 Disponível em: <http://grupoglobo.globo.com>. Acesso em: 25 jul. 2016.
122
de pessoas que se interessam por conteúdo voltado apenas para a sua localidade.
Ou seja, para se fazer o levantamento hiperlocal são necessários alguns critérios
sobre o caminho da informação e o seu comportamento de consumo e dos
consumidores, como escreve Damian Radcliffe, em sua obra “Here and Now: UK
hyperlocal media today”.
1. A Internet criou muitas novas rotas para se conectar com as comunidades geográficas. 2. O papel histórico que a mídia tradicional tem desempenhado no apoio às comunidades locais é crescente sob ameaça da redução de serviços, funcionários e receitas. 3. Lacunas na cobertura geográfica e de conteúdo, particular-mente reportagens locais, criou um vácuo para os novos operadores e cidadãos preocupados, que agora estão respondendo a esse desafio. 4. Novos serviços online como o Wordpress, AudioBoo e YouTube têm permitido a qualquer pessoa criar e distribuir conteúdo local. 5. Houve uma explosão em dispositivos digitais capazes de aceder a este local, conteúdo, especialmente telefones celulares e tablets. 6. A mídia social está mudando comportamentos das audiências e as expectativas em termos de informação que consumimos, e como nós definimos o mundo que nos rodeia. 7. Oportunidades para o público a compartilhar e distribuir conteúdo relevante para sua própria rede e comunidades, fazendo também a distribuição local com mais facilidade. 8. A web é a criação de novos modelos de financiamento e novos fluxos de receita para nicho, empresas especializadas, incluindo serviços hiperlocal. 9. O grande negócio reconhece o valor do conteúdo local e está se movendo para o hiperlocal espaço par de esforços liderados pelos cidadãos menores. 10. Questões locais e conteúdo localmente relevante, continuar a importar para o público, talvez mais do que nunca nestes tempos turbulentos. (RADCLIFFE, 2012, p. 09).
Com as informações captadas na área, podemos revelar o verdadeiro
panorama geral da região, como por exemplo, onde acontece o maior e o menor
equilíbrio de renda, onde há demanda por moradia, o hospital atende de forma regular
os pacientes do bairro e atende as outras necessidades que a região precisa. Para
isso, é necessário a formação de uma equipe para captação, apuração e análise das
informações, para depois reunir este material e poder contar a história de forma
precisa e objetiva. Como está a situação econômica da região, o bem-estar dos
moradores, assim levantando questões cruciais para entender a área.
Estas e outras perguntas podem ser respondidas e aprofundadas por meio do
levantamento e mineração de dados (data mining).
Essa técnica já é realizada fora do Brasil, como nos Estados Unidos, e lá foi
percebido que com o acúmulo, captação e armazenamento de dados, é possível
123
reduzir custos e expandir o montante de informação relevante para que seja usada
em benefício da própria comunidade pesquisada. Como é citado no livro
Strenghtening Communities with Neghboirhood Data, elaborado e organizado pelos
pesquisadores G. Thomas Kingsley, Claudia J. Coulton e Kathryn L. S. Pettit, com
apoio da MacArthur Foundation, a importância se destaca nas seguintes questões:
Avanço tecnológico tem rendido sem redução de precedentes nos custos na montagem de dados, armazenamento, manipulação e apresentação; O montante de dados relevantes avaliados ao público está vastamente expandido. Estas fontes incluem novo arquivo de dados nacional em uma pequena área com dados no nível de endereços (do governo federal e de fontes comerciais), e quando está publicamente disponível em arquivos administrativos do governo e dados disponíveis de fontes comerciais; A plataforma de visualização de dados e ferramentas online podem ser desenvolvidos com facilidade por usuários que trabalham com os dados no nível dos bairros; Vários governos locais podem marcar e improvisar aquela capacidade do dado interno (como conhecimento pessoal, coleção de dados, programa e política de aplicação); Mais consultores externos podem estar disponíveis para ajudar as organizações locais a ter vantagem com estas novas capacidades (KINGSLEY, COULTON, PETTIT, 2014, p. 12, tradução nossa).
Com estas preciosas informações estruturadas, podemos saber como está a
relação dos habitantes com o meio em que vivem, trazendo com o dado o melhor
cenário do local.
Gráfico 3 – Relacionamento das instituições locais e seus papeis no ambiente informacional. A conversa da comunidade com os pontos focais
Fonte: tradução do autor
124
Uma fotografia do momento para buscar melhorias aos moradores e
transeuntes daquele local. Como é apresentado na figura retirada do livro
Strenghtening Communities with Neighborhood Data, que aponta qual é o papel de
cada um no ambiente da informação da comunidade diante de cada instituição local.
Mas, para isso, também é necessária uma articulação entre os jornalistas,
moradores, comunidades, organizações privadas e associações de bairro para que
com a colaboração de todos os dados tornem-se mais criveis ao levantamento
desejável e atendendo os pontos focais que precisam da demanda de informação.
1.2 Mapear e interpretar informações
Ao começar a conhecer a área que se precisa tirar as informações, precisamos
fazer o mapeamento da área, para fazer os recortes necessários para extrair o
conteúdo, o dado necessário e então contar um fato ou narrar um evento naquele
setor. Desde o tempo das grandes navegações, até o auge da internet, temos mapas.
Das pequenas áreas até as mais extensas, são eles que literalmente apontam o que
tem no mundo e o que este mundo pode nos oferecer. Por meio da comunicação por
imagem permite ao ser humano imaginar, para fazer várias interpretações de um
mundo exposto a ele e ao seu redor. Reforçando o pensamento do autor Vilém
Flusser, da obra O universo das imagens técnicas, as imagens dão uma nova
dimensão informacional e de conhecimento.
Em todas as imagens técnicas observamos que são pontos computados. A fim de vermos isto, é preciso observar tais imagens. Sob olhar superficial, as imagens técnicas parecem planos, mas se dissolvem, deixam de ser imagens quando observadas (FLUSSER, 2008, p. 51).
O mapa é uma imagem que pode ser interpretada e fornece com detalhes e
aprofundamento uma informação específica para que seja aproveitada, esmiuçada e
articulada assim atendendo demandas específicas. É questão de captar a fotografia
ou o cenário do momento.
A definição visa captar a situação na qual estamos; captar o clima espectral do nosso mundo; mostrar como tendemos atualmente a desprezar toda ‘explicação profunda’ e a preferir ‘superficialidade empolgante’; mostrar o quanto critérios históricos do tipo ‘verdadeiro e falso’, ‘dado e feito’, ‘autêntico e artificial’, ‘real e aparente’, não se aplicam mais ao nosso mundo. Em suma: a definição de imaginar foi formulada para articular a renovação epistemológica, ético-política e estética pela qual estamos passando. Para articular a nova sensação vital emergente (FLUSSER, 2008, p. 51).
125
O mapeamento de regiões e informações traz ao consumidor de conteúdo e
informações novos detalhes e conhecimento sobre determinado assunto ou interesse.
O leitor ou espectador pode se tornar parte ativa da atualização de dados. Os dados
do mapeamento podem ser usados para denúncias e para apontar problemas de
políticas públicas. Torna-se um facilitador entre o poder público e a população. A
população aponta os problemas para os políticos fazerem a correção. E claro, também
o mapa é um fator determinante para a tomada de decisão e estruturação de
estratégias. Como foi o caso do surto de cólera que atingiu a cidade de Londres, na
Inglaterra, durante o século XIX ou o caso do aumento de mortes provocado por
doenças e não pela própria guerra da Criméia.
1.3 Diagrama que salva vidas
O mapeamento de informações tem registros centenários, como por exemplo,
a enfermeira britânica, Florence Nightingale, que usou a estratégia de visualização de
informações desenhando um diagrama de causas de mortalidade conhecido por
Diagram of the Causes of Mortality para apontar que a doença era uma ameaça maior
que a guerra da Crimeia, que aconteceu na península da Crimeia, no Mar Negro, sul
da Rússia e região dos Balcãs entre outubro de 1853 e fevereiro de 1856.
Essa guerra deixou ao menos 700 mil mortos, feridos e presos entre as duas
forças de batalha. Florence Nightingale chegou na Turquia em outubro de 1854 com
um grupo de mulheres dispostas a trabalhar como enfermeiras voluntárias nos
hospitais.
Quando estava trabalho no auxílio dos soldados no hospital, foi percebendo
que os soldados estavam morrendo por desnutrição e péssimas condições sanitárias
do ambiente hospitalar. A enfermeira trabalhou para melhorar as condições de saúde
dos feridos e dos sobreviventes de guerra, como melhorar a limpeza do hospital e
começou a desenhar gráficos estatísticos e fazer registros do número de mortos nos
hospitais.
Após a guerra, Florence Nightingale voltou à Grã-Bretanha para fazer
campanha para melhoria das condições dos hospitais. Ela elaborou diagramas em
formatos de coxcombs ou rosas para mostrar que houve mais mortes por causa de
doenças do que morte por feridos na Guerra da Criméia.
126
Após ela apresentar os dados para os membros do Parlamento e funcionários
públicos, ela foi eleita a primeira mulher da Royal Statistic Society (Real Sociedade de
Estatísticas) e posteriormente tornou-se membro honoraria da American Statistical
Association (Associação Americana de Estatísticas).
Após este diagrama, Nightingale fez um estudo sobre as condições de saúde
do contingente do real exército britânico que estava ocupando a Índia, que foi uma
colônia inglesa. As péssimas condições de saneamento básico da população, bem
como dos soldados britânicos fazia a taxa de mortalidade ser muito elevada.
Figura 25 – ‘Diagrama das Causas de Morte no Exército no Leste’ (1858)66
FONTE: Wikipedia from Notes on Matters Affecting the Health, Efficiency and Hospital
Administration of British Army.
Ela conseguiu implantar uma importante reforma sanitária no país indiano que
demorou 10 anos. Após esse período, um novo levantamento foi realizado e chegou-
se ao esperado, que é queda da mortalidade dos soldados de 69 para 18 por 1000
habitantes.
66 UNIVERSIDADE DE PRINCETON. Medicine. Disponível em: <http://libweb5.princeton.edu/visual_ materials/maps/websites/thematic-maps/quantitative/medicine/medicine.html>. Acesso em: 3 abr. 2016.
127
Figura 26 – Diagrama que representa a mortalidade de feridos e mortos por doenças nos hospitais do Exército Britânico no período de abril de 1854 a março de 1856
FONTE: Universidade de Princeton.
1.4 Mapa vence o cólera em Londres
À época, um verão no final da década do ano de 1840, a cidade de Londres
era a capital da monarquia vitoriana, na Inglaterra, com um pouco mais de 2,5 milhões
de habitantes, que por causa de maus hábitos e falta de saneamento básico sofreu
um surto de cólera. Para se ter uma ideia, mais de 500 pessoas morreram em apenas
dez dias. Estima-se que 62 mil vidas foram perdidas, entre 1848 e 1849, no primeiro
surto e, no segundo surto, entre 1853 e 1854, mais de 31 mil vidas foram ceifadas. A
falta de estrutura adequada e de cultura para o saneamento básico foi a grande vilã
dessas mortes. A falta de infraestrutura muito crítica, bem como por exemplo, dezenas
128
de pessoas amontoadas em uma casa pequena ou centenas em um quilômetro
quadrado. A sujeira reinou no ambiente interno e externo, pois, os detritos humanos,
como fezes e urina eram despejados nas ruas ou em fossas tranquilamente.
Foi então que, após inúmeros anos de luta pela sobrevivência através das poucas rotas de transmissão a sua disposição, o Víbrio cholerae tirou a sorte grande. Os seres humanos começaram a se reunir em áreas urbanas com densidades populacionais que excediam tudo o que jamais se registrara na história: cinquenta pessoas amontoadas em uma casa de quatro andares, cem em um único quilômetro quadrado. As cidades ficaram esmagadas pela imundice do homem (JOHNSON, 2006, p.47).
E na malcheirosa Londres, existiam trabalhadores que faziam o serviço sujo,
dedicados a fazer essa tarefa insalubre de recolher as fezes, ossos e detritos nas
sarjetas e nas ruas da cidade vitoriana. Principalmente na região do Soho. Lá era uma
ilha de pobreza proletária e de indústrias fétidas, encravada no próspero West End,
rodeada pelas formosas casas de Mayfair e Kensington, na área da Berwick St. e
Broad St. (após 1936, foi denominada por Broadwick Street).
Esta é uma história com quatro protagonistas: uma bactéria letal, uma grande cidade e dois homens igualmente talentosos, mas muito diferentes. Em uma semana sombria, há mais de cento e cinquenta anos, suas vidas se defrontaram em meio ao imenso horror e sofrimento humano na Broad Street, extremo oeste do bairro do Soho (JOHNSON, 2006, p.11).
Esse é o cenário narrado na obra “O mapa fantasma: como a luta de dois
homens contra a cólera mudou o destino de nossas metrópoles", do pesquisador
Steven Johnson, que levantou vários relatos de sobreviventes, registros históricos e
informações das investigações conseguidas pelas autoridades meses subsequentes
do surto de cólera na Londres do século XIX.
A metrópole inglesa viveu um conflito de ideias e de teorias para tentar
descobrir as causas da cólera e o que seria necessário para fazer o combate dessa
moléstia. Edwin Chadwick, do Comitê Geral de Saúde Pública, defendia a teoria
miasmática. Ele afirmava e acreditava com convicção de que ao respirar o ar mau
cheiroso poderia ocorrer a transmissão da doença. O cheiro ruim poderia contaminar
qualquer um, isto é, a contaminação passaria entre os humanos que respirassem o
mesmo ar de um vetor. A indústria de medicamentos da época não perdeu tempo e
tentou embarcar na história para prover a cura. Um classificado do Times londrino
tinha a seguinte descrição para a cura da cólera.
129
FEBRE E CÓLERA – O ar de cada cômodo em que apareceu a doença deve ser purificado com o uso do Fluido Purificador de Ar Saunder. Esse poderoso desinfetante destrói os odores nocivos em instantes e impregna o ar com uma refrescante fragrância. – J. T. Saunder, perfumista, 316B, Oxford-street, Regent-circus; e todos os boticários e perfumistas. Preço: 1 xelim (JOHNSON, 2006, p.52).
Do lado oposto, a teoria da transmissão da cólera pela água foi defendida pelo
médico anestesiologista John Snow, estabelecido no Soho e que posteriormente
tornou-se cirurgião da rainha Vitória. O especialista Snow tinha suspeitas de que a
água era o principal vetor de transmissão. Para isso, ele começou um intenso trabalho
de investigação. Levantou o histórico de comportamento dos moradores que
consumiam água em todas as bombas da cidade, hábitos, rotinas, número e perfil de
moradores na residência, características da residência, histórico de contaminação e
concebeu os dados em um mapa para levantar onde havia o maior número de mortos.
Quando acontecia uma morte a morte de um morador devido a doença, era
feita uma marcação no mapa para apontar a casa da vítima, com um traço e de depois
fazia uma nova uma investigação sobre os hábitos dos moradores.
Cada marca correspondia a uma morte registrada. O pastor da comunidade,
Henry Whitehead, com seus pouco mais de 28 anos, foi um parceiro do acaso que foi
fundamental para o Snow. Whitehead ajudava o médico a fazer o monitoramento do
mapa, visitando os moradores, levantando cada história de vida, o comportamento,
analisando o perfil das condições de moradia e comportamento cotidiano naquela
região. Ele sempre buscava os seguintes dados: nome; idade; posição dos quartos
ocupados; instalações sanitárias; água consumida em relação à bomba de Broad
Street; e a hora do começo do ataque fatal.
A partir deste mapa e das entrevistas e informações colhidas dos moradores
da região e de transeuntes levantadas por Whitehead, Snow percebeu a concentração
de casos em determinados locais até chegar ao problema que era a bomba de água
instalada na Broad Street, esquina com a Cambridge Street. Doentes vindos da região
do Soho sobrecarregavam os hospitais de Middlesex, Guy, St. Thomas, São
Bartolomeu, Charling Cross, Universitário de Londres e de Westminister. John Snow
conversou com centenas de pessoas que citavam sempre a bomba de água. Os
frequentadores que consumiam a água daquela bomba consideravam o líquido com
bom paladar e limpa. Era considerada uma fonte de água confiável e límpida. Com
130
um agradável toque de gás carbônico, era mais fresca que a água encontrada nas
bombas com que rivalizava (JOHNSON, 2008, p, 37).
A bomba suspeita instalada tinha oito metros, estendia-se por baixo da camada
de três metros de lixo e entulho, chegava até o Hyde Park. O equipamento foi lacrado
em meio aos protestos. Quando foram feitas escavações, foi constatado que o poço
foi de fato contaminado por uma fossa onde era lançado os excrementos das pessoas
com cólera.
Figura 27 – Mapa completo de John Snow: por meio do mapa ele descobriu a origem do vetor da cólera. O mapa serviu também como registro das mortes
Fonte: JOHNSON, 2006, p. 175
Com o mapa de mortos, Snow levantou um novo mapa com a circulação dos
vivos no entorno da bomba da Broad Street e de outras três bombas que atendiam a
131
região. Foi a partir deste mapa estruturado, aconteceu um controle epidemiológico e
os casos da doença começaram a ser registrados e documentados.
“O mapa de Snow – animado pelo conhecimento direto da realidade do bairro – era algo completamente distinto: era uma autorrepresentação do bairro, que, ao delinear seus próprios padrões em um mapa, transformava-os em uma verdade mais profunda. O mapa era, sem dúvida, um brilhante trabalho de informação e de epidemiologia. E também a representação de certo tipo de comunidade, representando as vidas densamente interligadas de um bairro metropolitano [...]” (JOHNSON, 2006, p. 181).
Após o fim desta epidemia, em 1865 o governo vitoriano construiu um sistema
de esgoto e elevatórias para o rio Tâmisa.
Figura 28 – Mapa de Snow aponta a bomba de água (Pump) problemática. O poço foi contaminado por uma fossa com excrementos de infectados por cólera
Fonte: JOHNSON, 2006, p. 175
Novamente, outro surto de cólera foi registrado e mais mortes foram
registradas. Então, depois deste novo episódio, a teoria de John Snow foi considerada
relevante e importante pelos especialistas médicos londrinos. Este trabalho árduo
levou John Snow ao patamar de inovador e apontado como um dos pais da
epidemiologia moderna. Desde 1992, no local próximo a antiga bomba, existe uma
réplica da bomba de água problemática e um memorial dedicado ao médico inglês.
Esta técnica pode ser usada nos dias atuais e é considerada uma forma de
informação profunda de uma área geograficamente pequena. Snow aplicou de forma
‘inconsciente’ técnicas de hiperlocal para conseguir contornar o surto de cólera na
cidade de Londres.
132
Figura 29 – Réplica da bomba problemática, próximo ao local da antiga bomba.
Fonte: Wikimedia Commons
Por isso, é necessário refletir: se naquela época, um trabalho investigativo feito
por duas pessoas – um médico e um pastor –, a quatro braços, batendo perna, de
porta em porta, corpo-a-corpo, com muita conversa, entrevistas, raciocínios e trabalho
investigativo, foi possível salvar milhares de vidas. Assim foi possível modificar
radicalmente a rotina e a cultura sanitária de uma metrópole global e de aprimorar as
práticas de saúde usadas até os dias atuais.
Imagina o que pode ser feito nos dias atuais com outras ferramentas digitais de
web e de redes sociais, usando apenas um computador, um notebook, um
smartphone e algumas outras tecnologias que estão ao nosso alcance? As
ferramentas citadas são apenas uma pequena fração de alguns meios que de maneira
geral afetam a relação entre jornalismo e leitor.
Sendo assim, o jornalismo tem que seguir fora da tangente e também começou
a se aprimorar, para buscar novas formas de transmitir a informação, fugindo do
tradicional artigo, áudio e imagem, que com a chegada da web, se tornaram um
complemento informacional (SQUIRRA, 2012, p. 107). Com este complemento
informacional é possível dar novas perspectivas e prismas a uma informação
jornalística ao público e a sociedade.
133
1.5 Hiperlocal encontra a web e TV
Um projeto que começou com uma pauta de televisão e depois evoluiu para
um projeto multimídia bem-sucedido e reconhecido internacionalmente. O projeto em
questão é o Globo Amazônia, que foi desenvolvido em 2007 pelo jornalista Eduardo
Acquarone, da TV Globo, durante a produção de uma reportagem para o programa
jornalístico semanal Fantástico (TV Globo). O portal do programa apresentava um
mapa customizado pelos jornalistas da redação, que foi desenvolvido sobre a então
recente plataforma de mapas da Google, o Google Maps, com os dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e lá o usuário de internet podia acessar
o conteúdo, ler as notícias, visualizar informações e apontar onde ocorrem as
queimadas e até mesmo fazer protestos virtuais contra a destruição da Floresta
Amazônica.
O protesto virtual estava disponível no aplicativo ‘Amazônia.vc’, disponível no
site hospedado na globo.com, pertencente ao Grupo Globo, ou por meio da rede
social que tinha mais audiência e usuários no Brasil à época, o Orkut, também da
Google. Assim, os usuários também passaram a monitorar o desmatamento e as
queimadas da Amazônia em tempo real dentro do site do programa jornalístico
Fantástico, nas redes sociais, e posteriormente em um canal de informações sobre
meio ambiente. O resultado foi positivo. Até 2012, mais de 600 mil pessoas
participaram do projeto, com o registro de 55 milhões de protestos. A produção
elaborou 1.700 reportagens nos formatos web e TV via núcleo informativo. O projeto
e a pauta conseguiram repercussão nacional e internacional. Em 2009, a Comissão
Europeia convidou por duas vezes a equipe desenvolvedora a participar do Simpósio
Internacional sobre o mapeamento digital da Terra, na Itália e da 15ª Conferência
Mundial do Clima, na Dinamarca. O projeto foi finalista na categoria narrativas digitais,
não-ficção do Digital Emmy67 em 2011.
O trabalho foi reconhecido por várias autoridades nacionais e internacionais
que destacaram a funcionalidade do projeto. Isso mostra como que o jornalista se
torna um bom contador de histórias, apontou um fato de cunho relevante para a
67 International Emmy Award ou Prêmio Emmy Internacional é concedido pela Academia Internacional das Artes & Ciências Televisivas (IATAS em inglês). A academia também indica e premia iniciativas multimídias na categoria “Programa Digital: Não-Ficção ou Digital Program: Non- Fiction” como foi o caso da indicação do Globo Amazônia.
134
sociedade, fez um bom trabalho de curadoria de conteúdo e atuando também como
hábil estrategista em mídias digitais. O profissional de comunicação que acompanha
a dinâmica da tecnologia e trabalha com conteúdo diferenciado, passa se deparar
com novos desafios, como por exemplo, experimentar e aplicar novas tecnologias
para poder elucidar com mais clareza e objetividade os fatos para a sociedade. As
tecnologias e os novos dispositivos mudaram os hábitos de uso das pessoas, que
agora são voltados para o consumo da informação.
Figura 30 -- Globo Amazônia levou o mapeamento de dados e a interatividade para as redes sociais, como o Orkut, do Google
Fonte: Reprodução do Globo Amazônia, na rede social Orkut.
135
O modelo clássico de produção de conteúdo não consegue atende a demanda
como antes. Sendo assim, este profissional deve ser mais consciente de que ampliou
seu papel central de emissor e gestor da informação diante de uma nova cultura e um
mundo de dispositivos e novos hábitos de consumo de conteúdo e conhecimento
(SQUIRRA, 2012, p. 108). O trabalho jornalístico, curadoria e de social media trouxe
o envolvimento e engajamento da audiência. Então, foi possível que todos fizessem
parte de alguma forma daquela vigilância, que monitorassem e ficassem atentos
sobre a situação da floresta amazônica brasileira. O projeto de jornalismo
proporcionou grande conscientização nacional e reconhecimento internacional com o
tema meio ambiente. Assim, mostrando que o cidadão pode participar de temas
importantes por meio das ferramentas virtuais, enviando informações, para que
posteriormente, junto ao trabalho profissional do jornalista, trabalhe este conteúdo
para prospectar e propagar o senso de realidade.
Figura 31 -- Capa do projeto Globo Amazônia. Mapeamento da floresta
Fonte: Reprodução
O leitor torna-se um dos vetores na propagação do conteúdo, tornando-se linha
auxiliar na produção de informação e prestação de serviço, onde a sua contribuição
traz novos benefícios se voltam para a própria sociedade.
Aquilo que jaz no coração de cada ser vivo não é uma chama, nem um hálito quente nem uma “faísca de vida”. É a informação, palavras, instruções. Se quiser uma metáfora, não pense em fogos, faíscas ou hálitos. Pense em vez disso num bilhão de caracteres distintos gravados em tabuletas de cristal (GLEICK apud DAWKINS, 2011, p.209).
136
1.6 A rádio que mapeia buracos
Uma outra forma de se promover sinergia entre a comunidade, jornalismo e o
poder público abarcando o uso de mapas e redes sociais é o “Buracômetro”, da rádio
BandNews FM, do Grupo Bandeirantes, de São Paulo. O projeto nasceu da
reclamação de muitos ouvintes sobre a péssima qualidade e da falta de manutenção
do asfalto do município de São Paulo. Muitos ouvintes entravam ao vivo na
programação da rádio para falar sobre das condições de tráfego e durante a interação
com o ancora da rádio, os ouvintes comentavam sobre os problemas dos buracos na
cidade. Então, pensando na possibilidade de descobrir ou levantar o índice de
problemas, a equipe de jornalismo da rádio criou um serviço: o levantamento do
número de buracos na cidade. Um mapa de São Paulo na plataforma Google Maps
fica disponível no site da emissora com as informações marcadas com um alfinete
virtual mostrando os locais dos buracos na cidade e o nome do ouvinte que fez a
reclamação. O ouvinte envia uma mensagem por e-mail, Twitter ou SMS para a
redação paulistana da BandNews e a própria equipe de jornalistas faz as atualizações
no mapa, com ‘alfinetes virtuais’, para apontar o local dos buracos da cidade e dos
buracos consertados.
Figura 32 – ‘Buracômetro’ da BandNews FM
Fonte: Rádio BandNews FM
137
No entanto, o serviço de mapeamento está disponível apenas na capital
paulista. Até abril de 2016, mais de 1.300 buracos foram apontados pela audiência da
rádio do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Em entrevista realizada na redação
da rádio BandNews FM, em São Paulo, o prefeito do município paulistano, Fernando
Haddad, que recebeu as informações, disse que utilizaria o mapa criado pela equipe
de jornalistas para apurar, localizar e consertar os buracos68.
Á época ele disse que “a participação do cidadão é bem-vinda, porque
corrigimos distorções da máquina pública” (BANDNEWS FM, 2013). No entanto,
consideramos que com os dados abertos no âmbito hiperlocal é necessário levantar
informações sobre a região demandada, cruzando os dados com séries históricas, ou
dados mais específicos, para chegar a real necessidade, avaliando a qualidade de
vida na região, como é a influência política e suas demandas de políticas públicas.
As plataformas públicas e de Open Data podem e devem ser aproveitadas por especialistas em programação e jornalismo, com a tarefa de utilizar as informações obtidas de forma profissional e relevante socialmente. A transparência proporcionada por uma política de acesso livre possibilita ao profissional de jornalismo multidisciplinar obter importantes informações escondidas nas bases de dados públicas ou abertas (LIMA JR, 2011, p.63).
Outra consequência positiva do projeto da BandNews foi que o cidadão tem
mais consciência da cidade em que vive. É o exemplo do motorista de ônibus
Edmilson Ferraz se inspirou no projeto da rádio e começou a registrar as reclamações
e cobrar a Prefeitura de São Paulo diretamente. Ele anda com um caderno na mão e
anota o nome da rua e o número da localização do buraco. Edmilson envia as
informações dos buracos na Prefeitura e espera que façam o reparo. Após o prazo ele
vai até o local para verificar se o buraco realmente foi tapado. Se não foi tapado ele
reclama novamente. Essa insistência rendeu a ele o apelido de ‘Super Cratera’. Esse
trabalho individual de fiscalização rendeu a denúncia de 600 buracos para o governo
municipal69.
Assim, amarrando e determinando estas bases da pesquisa e engajando o
público é possível desenvolver novas narrativas, mais objetivas e atraentes ao público
68 BandNews FM. Ouça a sonora do prefeito na rádio BandNews FM. São Paulo, 19 abr. 2013. Disponível em: <http://mais.uol. com.br/view/s70pk4i6az2h/ouca-a-sonora-do-prefeito-na-bandnews-fm-0402CD9A3666C4A14326?types=A&>. Acesso em: 20 set. 2015. 69 BASTIANELLO, Maiara. Ouvinte denuncia mais de 600 buracos em SP. Band.com.br. São Paulo, 9 out. 2013. Disponível em: <http://noticias.band.uol.com.br/transito-sp/noticia/100000636760/inspirado-em-buracometro-ouvinte-denuncia-mais-de-600-buracos-em-sp.html>. Acesso em: 03 abr. 2016.
138
e ao mesmo tempo resolver demandas. Com isso, para comparar, entender,
aprofundar e contar melhor a história que está em desenvolvimento ou que já
aconteceu. Tudo isso por meio do compartilhamento público das informações e por
meio destes rastros soluções podem ser definidas e o problema contornado.
1.7 A comunidade diante do seu ambiente
Para que o compartilhamento de dados e análise destes sigam bem-sucedidos
para o fluxo informacional é importante conscientizar os moradores e o morador sobre
o papel que ele, como indivíduo, tem sobre as informações, que no primeiro momento,
podem ser triviais ou de pouca relevância, mas por meio destes dados ganha
importância para o desenvolvimento da região. Sendo assim, importa ressaltar que o
local estabeleça pontos focais – como educadores, pais, parceiros da comunidade,
membros de associações de bairro, formuladores de políticas, líderes de associações
de bairro, integrantes de movimentos populares, membros da sociedade civil, ONGs
(Organizações Não-Governamentais) e Oscips (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público), membros da segurança pública como policiais, bombeiros e
guardas civis metropolitanos – para que sejam os catalizadores de informações e de
demandas da região. Os pontos focais são referências locais que possuem a
capacidade de transitar e conhecer a região que vive.
Os atores locais avaliação das unidades de bairro resultantes e forneceram algumas evidências de validade de face com base na sua compreensão do contexto local. Os bairros definidos residentes foram então usados na especificação das unidades para a agregação dos dados da pesquisa e do censo. Este processo permitiu o cálculo de indicadores de bairro para as unidades de área que os moradores definidos coletivamente como consistente com o seu sentido de identidade bairro (KINGSLEY, COULTON, PETTIT, 2014, p. 246, tradução nossa).
Eles são uma peça fundamental para que possa catalisar e transmitir dados
para alimentar os datasets de um centro de informações hiperlocal. Estes pontos
focais podem analisar e avaliar como que determinadas ações de políticas públicas
afetam o cotidiano do morador antes e após o seu impacto.
Como um aliado que auxilia na prática de política pública, ele saberá os
detalhes do local, porque convive rotineiramente com os moradores, os conhece, está
no cotidiano da região, e tornando-se também pilares de confiança. Pois, os
139
moradores sabem para quem pode dirigir suas demandas e que possa perceber os
reflexos destas mudanças que acontecem de acordo com a dinâmica da área.
Figura 33 – Capa do site Bournville News, que informa 25 mil moradores de Bournville Village (Inglaterra)
Fonte: Reprodução
Para isso, tem que ocorrer a proximidade dos pontos focais com os moradores,
o comerciante, o servidor público, o taxista e mais pessoas que sempre circulam na
região para que possam dar sua contribuição sobre como melhorar o local em que
vive. Assim, se tem mais informações que possam ser analisadas e estruturadas para
atender as demandas da comunidade.
Também é possível entrar em contato e estreitar relações com outras
instituições que possam atender a demanda existente, oferecendo know-how sobre
como interagir com a comunidade e ajuda-la. A área deve possuír núcleos
informativos locais, integrando e informando a população sobre os acontecimentos
nas proximidades e como ela pode colaborar para fazer um lugar melhor.
140
Figura 34 – Página de notícia hiperlocal do site Berkeleyside, de Berkeley/CA
Fonte: Reprodução
Nos Estados Unidos e Reino Unido, comunidades mantém informativos locais,
como jornais, revistas, sites, redes sociais e blogs, que produzem conteúdo local para
os interesses da região. A organização de jornalismo norte-americana Columbia
Journalism Review organizou em seu site um guia digital de startups de jornalismo
hiperlocal70 e também fez um mapa71 que apresenta onde estão instaladas as
‘redações hiperlocais’ e projetos de jornalismo pelo território dos Estados Unidos. Um
exemplo que é citado no artigo Captação de Dados pela Comunidade para a
Formação de Inteligência Social Hiperlocal, dos autores Walter Teixeira Lima Júnior e
Aparecido Antonio dos Santos Coelho é a cidade de Bournville Village, localizado na
70 CJR´s Guide to Online News Startups. Columbia Journalism Review. Disponível em: <http://www.cjr .org/news_startups_guide/online-news-websites/coverage/hyperlocal-news.php>. Acesso em: 03 abr. 2016. 71 ONLINE News Startups. Columbia Journalism Review. Disponível em: <https://www.google.com/ maps/d/viewer?hl=en&oe=UTF8&vps=4&msa=0&ie=UTF8&mid=znNQcpaqiK3Q.kvSjU3YesNuw>. Acesso em: 03 abr. 2016.
141
região metropolitana de Birminghan, na Inglaterra, uma comunidade com cerca de 25
mil habitantes (segundo o censo de 2001)72.
Figura 35 – Online News Startups – Mapa de startups de jornalismo hiperlocal
Fonte: Columbia Journalism Review website
A pequena comunidade inglesa mantém o Bournville News73, que se apresenta
aos seus leitores como um ‘site independente da comunidade que provem notícias,
eventos e destaques que acontecem na área’. O periódico digital foi criado pelo
jornalista Hannah Waldram, em conjunto com o morador local, e corredor, Dave
Hartem. O site permanece no ar por ajuda de doações de voluntários da comunidade.
A página tem cinco categorias de informação – Notícias, Vida na Comunidade,
Cultura, Educação, Esporte e História, além das subcategorias, Sobre, Contato e
Descrição. Possui as redes sociais Facebook74 e Twitter75 e o portal mostra o
conteúdo, com destaque para fotos, notícias principais e secundárias. Como ressalta
a própria apresentação do site.
Nós reconhecemos que fazemos uma pequena cobertura de mídia em Bournville, este site é o local para 25 mil moradores que amam este
72 Office for National Statistics. 2010 Ward Population Density. Disponível em: <http://www.ons.gov.uk /ons/about-ons/business-transparency/freedom-of-information/what-can-i-request/published-ad-hoc-data/pop/april-2013/mid-2009-population-density-for-2010-wards-in-england-and-wales.xls>. Acesso em: 14 fev. 2015. 73 Bournville News. Disponível em: <http://www.bournvillevillage.com>. Acesso em: 16 fev. 2015. 74 Bournville na rede social Facebook. Disponível em: <http://www.facebook.com/bournvillenews>. Acesso em: 16 fev. 2015. 75 Bournville na rede social Twitter. Disponível em: <http://www.twitter.com/bournvillenews>. Acesso em: 16 fev. 2015.
142
lugar para compartilhar informações, fotos e criar conversas sobre a nossa comunidade. (BOURNVILLE NEWS, tradução nossa).
O morador desta cidade inglesa tem as informações sobre a sua região e o que
acontece no cotidiano do seu entorno, informações sobre seu desenvolvimento
econômico e cultural da área, o site promove a aproximação os moradores com o
lugar, com senso de identidade, trabalhando junto para fazer uma região melhor.
1.8 Hiperlocal profissional no Brasil e na Espanha
No Brasil também não é diferente. Porém, há poucas iniciativas de jornalismo
hiperlocal no País, o recorte mais próximo que podemos fazer é com existência e
sobrevivência dos jornais de bairro que estão nos níveis de publicação hiperlocal, pois
são veículos informativos restritos a uma só comunidade ou comunidades vizinhas.
São poucos, mas ainda existem. Por exemplo, o caso da companhia paulistana
Empresa Jornalística Grupo Bairros Unidos, que faz há quase 20 anos publicações
para os distritos do Jabaquara e Ipiranga. O Jabaquara é um dos maiores distritos em
tamanho de área na cidade e segundo os dados da Prefeitura de São Paulo, a região
tem 14,1 km quadrados e tem 212.504 mil habitantes (2010), localizado na região
Centro-Sul de São Paulo, possui o Índice de Desenvolvimento Humano Elevado,
chegando aos 0,858 pontos. Já o Ipiranga, que também é um distrito tradicional da
região Central de São Paulo, tem 10,5 km quadrados de área, com 94.787 habitantes
(2010), com um IDH de 0,883, elevado, que é considerado bom para os padrões de
desenvolvimento da cidade. Nestes dois bairros de São Paulo, a empresa tem as
publicações Jabaquara News76, que foi fundado em 2000 e Ipiranga News, que foi
fundado em 1997 nas versões web e impresso. O jornal Ipiranga News77 é distribuído
nos bairros do Ipiranga, Alto do Ipiranga, Jardim da Saúde, parte da Vila das Mercês,
Bosque da Saúde, Chácara Klabin, parte de São João Clímaco, parte da avenida do
Cursino, Jardim da Glória, parte do Jardim Santa Cruz, parte da Vila Livieiro, Moinho
Velho, Sacomã, Vila Carioca, Vila Gumercindo, Vila Monumento, Vila Nair, Vila Vera
e parte do Cambuci.
76 Site do jornal Jabaquara News. Disponível em <http://www.ipiranganews.inf.br/_Jabaquara News/index.asp>. Acesso em 22 set. 2015. 77 Site do jornal Ipiranga News. Disponível em <http://www.ipiranganews.inf.br/>. Acesso em 22 set. 2015.
143
Figura 36 – Capa do jornal brasileiro de bairro Jabaquara News
Fonte: Jabaquara News, edição de 7 abr. 2016 a 13 abr. 2016
144
Já o Jabaquara News é distribuído nos bairros Jabaquara, Mirandópolis,
Planalto Paulista, Chácara Inglesa, Bosque da Saúde, São Judas, Conceição, Vila
Guarani, Parque Jabaquara, Cidade Vargas, Vila Mascote e Vila Mariana.
De acordo com o expediente publicado nos sites dos jornais, o grupo distribui
semanalmente mais de 55 mil edições para os moradores destas regiões. Em ambas
as publicações, tenta-se trazer notícias que são próximas ou relacionadas à
comunidade, o cotidiano e as ações do poder público naquelas regiões.
Apesar das publicações não atingirem por completo as áreas dos bairros e do
distrito, estes jornais têm algumas características muito peculiares em relação aos
veículos hiperlocais, como a proximidade com a comunidade e uma ferramenta na
prestação de serviço para auxiliar aqueles moradores.
Figura 37 - Capa do site Ipiranga News, da empresa Grupo Bairros Unidos
Fonte: Ipiranga News
Um outro caso bem resolvido de hiperlocal é o do periódico espanhol, Hoy. Este
jornal está localizado na região autônoma de Extremadura, uma área de 41.634 km
145
quadrados, com população de 1.105.481 habitantes, segundo o censo local. Este local
é dividido em duas províncias: Cáceres e Badajoz. A publicação tem uma edição
nacional, publicada diariamente no impresso e conta com atualizações diárias na
internet. Apesar do periódico ter uma edição geral para toda a província, a empresa
jornalística mantém uma rede de hiperlocais, ou em espanhol, a “Red de
Hiperlocales”, e nela, a Hoy mantém jornalistas espalhados em 30 cidades das duas
províncias de Extremadura onde eles são responsáveis por atualizar o conteúdo
daquela região com o apoio dos moradores locais.
Figura 38 - Capa do HoyExtremadura – Red de Hiperlocales
Fonte: HoyExtremadura
Nos sites locais, o morador conta na própria capa da edição hiperlocal os
botões “Crear notícia” (Criar notícia), “Subir fotos” (Subir imagens) e “Crear evento”
(Criar evento). O morador da cidade que tem a cobertura hiperlocal do Hoy pode
acrescentar informações que jugue relevante dividir com a sua comunidade e ele faz
o contato com o jornalista da região para que providencie a publicação do conteúdo.
146
A informação é publicada tanto na edição digital, como na edição impressa do
periódico hiperlocal. Para o leitor, a página hiperlocal contém informações distribuídas
nas categorias de Atualidade, Gente próxima, Serviços, Guia Útil, Fotos e Vídeos.
Para sites hiperlocal de maior sucesso, não basta apenas transmitir informações, eles se envolvem em um caminho de duas vias com os seus leitores. Isso significa uma boa gestão da comunidade é fundamental para a construção de um serviço hiperlocal que está prosperando (RADCLIFFE, 2012, pág. 20).
Figura 39 – Contatos da Red de Hiperlocales - Responsável pela edição local
Fonte: HoyExtremadura
As cidades que o Hoy alcança são: Badajoz: Calamonte, Campanario, Castuera,
Fregnal de la Sierra, Fonte de Cantos, Guareña, Herrera del Duque, Jerez,
Monesterio, Olivenza, Puebla, Quintana, La Zarza, Lierena, Los Santos, Talarrubias,
Valverde, Villafranca, Villanueva del Fresno e Zalamea. Província de Cáceres: Arroyo,
Casar, Coria, Jaraiz, Logrosán, Malpartida, Miajadas, Navalmoral, Talayuela,
Trujillo.
147
Figura 40 - Capa “Nacional/Extremadura” do periódico Espanhol ‘Hoy”
Fonte: Hoy, Diário de Extremadura, 27 set. 2015.
Este conteúdo é vendido no site, em bancas de jornais e por meio de aplicativo
para iOS e Android. Além disso, os mesmos aplicativos também possibilitam que os
moradores enviem conteúdo referente a sua cidade para o editor-responsável por
determinada edição hiperlocal.
148
Figura 41 – Capa digital “Hiperlocal” do periódico Espanhol ‘Hoy”, em Talayuela
Fonte: Hoy Talauela
O especialista Richard Millington, identificou quatro pontos fundamentais para
que a comunidade possa ter um envolvimento sustentado onde possam aprender
engajar por meio da comunicação, criando um senso de oportunidade e realização
entre seus pares.
São eles: Poder para fazer a mudança, ter a oportunidade de juntar forças para
resolver os problemas locais; Reconhecer e valorizar, conhecer melhor o meio em que
se vive; Afiliação com seus amigos, parcerias com os moradores são importantes para
engajamento na solução dos problemas na comunidade; e Senso de realização, onde
todos possam ter orgulho do local em que vivem pois todos contribuem com o possível
para fazer a comunidade um lugar melhor (RADCLIFFE, 2012, p. 20).
149
2. Big Data está entre nós
2.1 Uso de Big Data na comunicação
Com a expansão da web, muitas informações foram jogadas na rede e com
isso, temos também o aumento de grande volume de compartilhamento de dados.
Assim, o número de bases de dados tem crescido de forma rápida e acelerada. Na
internet, muitos dados estão indexados e são fáceis de serem encontrados via
mecanismos de busca, como Google, Yahoo!, DuckDuckGo e entre outros
buscadores. Outra parte, que é bem maior, está desestruturada e espalhada ou
espelhada na rede que chamamos de Deep Web, que é a rede ainda não explorada,
ou melhor, indexada pelos mecanismos de busca padrão. E lá é um caminho para se
conseguir bastante informação para se construir um conteúdo com qualidade e útil
para a sociedade da informação em que vivemos, a era do Big Data. Esse termo é
nada mais que um grande conjunto de dados armazenados, são grandes dados
complexos, muito grandes em que poucos aplicativos, softwares, dispositivos de
dados conseguem fazer a exploração destas informações, pela densidade e pelo
tempo que o próprio computador demora para fazer o levantamento. Como o
pesquisador Walter Teixeira Lima Júnior encontrou em seu artigo “Big Data,
Jornalismo Computacional e Data Jornalismo”.
"Big data" refere-se ao conjunto de dados (dataset) cujo tamanho está além da habilidade de ferramentas típicas de banco de dados em capturar, gerenciar e analisar. A definição é intencionalmente subjetiva e incorpora uma definição que se move de como um grande conjunto de dados necessita ser para ser considerado um big data (LIMA JR apud CHUI et al, 2006, p.211).
Estas informações podem ser retiradas dos computadores, smartphones,
relógios inteligentes, câmeras digitais, softwares, RFID, sensores de terra, sensores
aéreos e claro, além da própria web que nós manuseamos normalmente no dia a dia,
conhecida por Surface Web e da Deep Web.
Mike Bergman, dono da empresa Bright Planet78, foi o primeiro a cunhar o termo
Deep Web. Ele acrescenta que a busca por informação neste ambiente pode ser
comparada a derramar líquido em um oceano. Pois, se atualmente na "Era da
Informação" os dados são mais importantes e podem mudar cenários, fatos, histórias
78 BrightPlanet: deep web inteligente. Disponível em: <http://www.brightplanet.com/>. Acesso em: 1 abr. 2016.
150
e rumos, a deep web é apenas mais um dos caminhos ou alternativas que podem
trazer informações necessárias para se construir conteúdo, fato ou história.
Na atual configuração tecnológica proporcionada pela Internet, estruturada pelo intermédio do aumento de velocidade de transmissão, pela evolução das máquinas computacionais com grande capacidade de processamento e armazenamento de dados, com o desenvolvimento de linguagens de programação cada vez mais amplas e que negociam de várias formas com robustos bancos de dados, a atuação profissional do Jornalismo também deve possuir outras configurações (LIMA JR., 2012, p. 210).
No whitepaper escrito por Bergman, com o título The Deep Web: Surfacing
Hidden Value, informa que foi realizado um estudo quantitativo do volume e quantas
informações existem na camada menos explorada e mais volumosa de dados na web.
O levantamento chegou nos seguintes números: a informação pública na rede
profunda é de atualmente 400 a 550 vezes maior que o volume de dados na World
Wide Web79; lá também tem pelo menos 7.5TB (terabytes) de informação comparados
aos 19 terabytes de informações na surface web ou web superficial; na deep web tem
550 bilhões de documentos individuais se comparado com um bilhão na surface web;
há pelo menos 200 mil sites nas profundezas da web; 70 dos maiores sites da deep
web contém coletivamente cerca de 750TB de informação, ou seja, 40 vezes o
tamanho da web convencional; os sites profundos recebem 50% mais tráfego mensal
que os sites indexados na web superficial e os sites na deep web são mais ativos que
os sites na superfície; a qualidade da deep web é de 1 mil a 2 mil vezes superior que
a da web na superfície; o conteúdo na web profunda é relevante para as necessidades
de informação, mercado e de domínio; mais da metade do conteúdo da deep web está
classificado em bancos de dados específicos; e 95% das informações vindas da web
profunda é acessível e gratuita ao público, sem cobrança de taxas ou assinaturas
(BERGMAN, 2001).
A deep web deve ser citada para se pensar como mais uma alternativa na
reconstrução ou reconfiguração do jornalismo e quando se não é possível conseguir
informações por meios oficiais, é necessário fazer uma investigação digital com meios
79 A World Wide Web, conhecida como Web ou WWW, é um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na Internet. Os documentos podem estar na forma de vídeos, sons, hipertextos e figuras. Para consultar a informação, pode-se usar um programa de computador chamado navegador (browser) para descarregar informações chamadas "documentos" ou "páginas" de servidores web e são mostrá-los na tela do usuário. O usuário pode então seguir as hiperligações na página para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta para o servidor para interagir com ele. O ato de seguir as hiperligações é chamado de 'navegar na web'.
151
tecnológicos apropriados para se chegar a verdade, a transparência, que tudo fique
as claras, que é uma das premissas do jornalismo.
Com o grande aumento de banco de dados, a informação pode ser colhida e
direcionada para várias finalidades, e claro, até mesmo para a prática do bom
jornalismo numa sociedade complexa bombardeada com muita informação vinda de
todas as camadas da web. Mesmo com a surface web ou web superficial, é possível
conseguir algumas informações importantes para construir informações que possam
ser propagadas pela mídia e que possam ajudar na tomada de decisão das pessoas.
A mídia tradicional já trabalha para conseguir dados por meio de hacking journalism,
para explorar novas habilidades para encontrar novas oportunidades de
desenvolvimento de mídia e conteúdo que tenham relevância e valor social. Este
trabalho acontece por meio de estratégia com apoio das máquinas.
A “Era do Big Data” fortalece o conceito de hacking journalist. Tal configuração profissional tem se consolidado devido à compreensão sobre as novas habilidades funcionais que o produtor de conteúdo informativo de relevância social deve ter para atuar em um novo ecossistema midiático, suportado por máquinas computacionais conectadas em redes telemáticas (LIMA JR., 2011, p. 51).
Além disso, já é possível conseguir informações antes restritas só aos governos
por meio Lei de Acesso à Informação – LAI (Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011)80,
como é o caso do Brasil e por aí é a porta de entrada da exploração da surface web,
onde é possível entrar nas redes dos governos, para agilizar o acesso ao grande
volume de dados públicos para que possam ser mensurados para determinada
finalidade jornalística, como por exemplo, investigar os gastos públicos de políticos,
como aconteceu no The Guardian, ou para rastrear o envio de verbas públicas
federais aos municípios e se eles estão gastando o dinheiro conforme as diretrizes
das leis federais, por exemplo.
E é claro, como contextualizado anteriormente, a deep web é uma grande
protagonista, vide o caso da organização sueca Wikileaks, originada e consciente da
cultura da web profunda, recebeu vários documentos secretos vazados de governos
e empresas sobre assuntos delicados, como espionagem, telegramas secretos de
governos, manual de instruções para tratamento dos presos na prisão norte-
80 Lei de Acesso à Informação – LAI. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 1 abr. 2016.
152
americana de Guantánamo, em Cuba, que continham orientações sobre como torturar
os prisioneiros e humilhá-los para extrair informações deles, arquivos ocultos do
governo dos Estados Unidos sobre a guerra no Afeganistão, que reportou a morte de
vários civis e a morte dois jornalistas da agência de notícias Reuters durante a
ocupação do exército norte-americano no Iraque.
Essas informações que foram vazadas pelo site Wikileaks contou com o apoio
de vários jornais de grande circulação na Europa e Américas como The Guardian, The
New York Times, Le Monde, El Pais, Der Spiegel, Folha de S. Paulo81 e O Globo para
divulgar os telegramas confidenciais e secretos do Departamento de Estado dos
Estados Unidos. Os documentos foram localizados e separados de acordo com cada
nacionalidade da publicação jornalística. No caso do Brasil, a Wikileaks conseguiu
mais de 2000 telegramas e documentos em que os Estados Unidos citavam o País82.
Ainda em 2011, o site saiu do ar devido a brigas internas na organização,
pressões políticas e a falta de financiamento para manter a página funcionado. Para
complicar mais a situação da Wikileaks, que recebia doações por meio de sistemas
de cartão de crédito ou de pagamento digital, foram pressionadas a bloquear o envio
de dinheiro doado a organização. Instituições financeiras norte-americanas como
PayPal, Mastercard e Visa sofreram fortes pressões políticas, principalmente dos
Estados Unidos para que fosse realizado o bloqueio83.
Em 2012, o criador Julian Assange, que recorria na justiça inglesa da decisão
de extradição à Suécia devido a acusação de crimes sexuais, teve de ir para um asilo
político na embaixada do Equador, em Londres, na Inglaterra. Assange alega que
essa extradição seria uma consequência pela publicação dos documentos vazados
dos governos e empresas que foram publicados pelo WikiLeaks, com apoio de parte
da mídia mundial. Este caso foi uma estratégia editorial global que funcionou, pois foi
possível a partir de uma boa articulação, habilidade de estruturação de informação
81 WIKILEAKS: Segredos da Diplomacia. Folha de S. Paulo. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/ especial/2010/wikileaks/>. Acesso em: 31 mar. 2016. 82 RODRIGUES, Fernando. Folha e WikiLeaks: como se estabeleceu o contato. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 fev. 2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il06022011 07.htm>. Acesso em: 31 mar. 2016. 83 SILVA, Rafael. WikiLeaks suspende publicação de documentos por falta de dinheiro. Tecnoblog. Disponível em: <https://tecnoblog.net/80556/wikileaks-suspende-publicacao-documentos/>. Acesso em: 1 abr. 2016.
153
para que o conteúdo pudesse ter relevância social e assim criando valor para dar
transparência as evidencias84.
Em maio de 2015, o Wikileaks voltou a aceitar documentos secretos de forma
anônima85. A organização lançou uma versão de submissão de vazamentos que é
executada no navegador seguro The Onion Router ou Tor Project86, que é um
navegador criptografado, seguro contra interferências ou invasores, apropriado para
navegação no ambiente da deep web. O próprio Julian Assange alega que essa nova
versão da página está mais segura e sofrerá menos ataques pelo ambiente que está
instalado, a web profunda. O site ainda vai divulgar mais documentos que estão
guardados e promete divulgar os novos que entrarem pelo sistema mais seguro. Um
outro exemplo mais recente é o caso do The Panama Papers8788. Esta investigação
jornalística começou em 2015, com um contato de uma fonte anônima ao jornal
Süddeutsche Zeitung (SZ), da Alemanha. Esse contato conseguiu documentos da
empresa de advocacia panamenha Mossack Fonseca que cria empresas de fachada
anônimas (offshore) em qualquer lugar do mundo. Estas empresas ajudam seus
proprietários a esconder negócios e fortunas não declaradas aos governos. A redação
da SZ passou a receber um volume de dados enorme, na ordem de 2,6 terabytes de
dados. O caso Cablegate, recebido pela Wikileaks foi de 1,7 GB.
Nunca jornalistas no mundo receberam uma denúncia com tamanho volume de
informação. Estes dados são 11,5 milhões de documentos com informações da
Mossack Fonseca. Neles tem informações secretas de políticos influentes,
presidentes de países, reis, ditadores, empresários, funcionários da FIFA, traficantes,
atletas e celebridades.
Os dados fornecem insights raros em um mundo que só pode existir nas sombras. Isso prova como uma indústria global liderado por grandes bancos, escritórios de advocacia e empresas de gestão de ativos secretamente
84 WHITTAKER, Zack. ‘WikiLeaks’ Julian Assange granted asylum in Ecuador. CNET, San Francisco, August 16, 2012. Disponível em: <http://www.cnet.com/news/wikileaks-julian-assange-granted-asylum-in-ecuador/>. Acesso em: 1 abr. 2016. 85 GREENBERG, Andy. Wikileaks finally brings back its submission system for your secrets. Wired, San Francisco, January 05, 2015. Disponível em: <http://www.wired.com/2015/05/wikileaks-finally-brings-back-submission-system-secrets/>. Acesso em: 1 abr. 2016. 86 The Onion Router Project. Disponível em: < https://www.torproject.org/>. Acesso em: 1 abr. 2016. 87 OBERMAIR, F; OBERMAYER, B; WORMER, V; JASCHENSKY, W. Panama Papers: The secrets of dirty money. Süddeutsche Zeitung. Munich, April 3, 2016. Disponível em: <http://panamapapers. sueddeutsche.de/articles/56febff0a1bb8d3c3495adf4/>. Acesso em: 3 abr. 2016. 88 THE PANAMA Papers. The International Consortium of Investigative Journalists. Disponível em: <https://panamapapers.icij.org/>. Acesso em: 03 abr. 2016.
154
administra as propriedades do mundo rico e famoso: de políticos, funcionários da FIFA, fraudadores e contrabandistas de drogas, de celebridades e atletas profissionais (OBERMAIER et al, 2016).
Por causa do imenso volume de dados, o jornal alemão fez uma parceria com
o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e parcerias com 376
jornalistas de 109 veículos de comunicação de 76 países. Os parceiros brasileiros
foram o portal UOL, o jornal O Estado de S. Paulo, que já tem um núcleo de dados, e
a emissora de televisão RedeTV!. Os documentos analisados são do período de 1977
a 2015, envolvendo 14 mil clientes e 214.488 empresas. Além disso, entre os
envolvidos estão 140 políticos de mais de 50 países. Dos 11,5 milhões de
documentos, 4,8 milhões são e-mails, 3 milhões banco de dados, 2,1 milhões de
documentos pdf, 1,1 milhão de imagens, 320 mil documentos de texto e outros 2,2 mil
formatos de arquivos.
Entretanto, a quantidade espantosa de dados disponíveis não quer dizer muito se não puder ser relacionada, transformada em informação estruturada e, no caso do jornalismo, utilizada para construir conteúdo de relevância social, aproveitando a “Era do Big Data” para criar valor em diversos caminhos: criando transparência (órgãos públicos); habilitando descobertas experimentais, criando segmentações (exemplo: dados personalizados); substituindo/auxiliando processos de decisão (algoritmos) e inovando nos modelos de negócio (LIMA JR., 2011, p. 50).
Ou seja, de acordo com o estudo de conclusão de mestrado, Clash of The
Titans: Impact of Convergence and Divergence on Digital Media, de William Chee-
Leong Lee, do Massachusetts Institue of Tecnology (MIT), a tecnologia torna-se um
dos motores da mudança nas sociedades, sendo protagonista do mecanismo de
transferência de informação entre as pessoas, que não derivam apenas as
capacidades de produzir e transmitir a informação, mas bem como montar,
armazenar, gerenciar e recuperar informações. Se a tecnologia avança, a capacidade
de produzir e divulgar informações melhora ao mesmo tempo (2003, p. 11).
Cabe ressaltar que explorar o uso de grandes volumes de informação tornam-
se importantes para esclarecer informações ocultas e traz para o jornalismo um novo
patamar na qualidade da cobertura jornalística. Também é perceptível que o
jornalismo terá cada vez mais que contar com ajuda de tecnologia e outros
especialistas, principalmente os de tecnologia da informação para vasculhar as
profundezas dos bancos de dados para levantar a história que traz luz e lucidez para
a sociedade. Se olhar no prisma do pesquisador Walter Lima (2011, p.48), tem que
155
ser considerado que isso acontece devido ao pensamento computacional, que se
torna uma habilidade e pensar computacionalmente envolve resolver problemas que
podem ser executados por sistemas computacionais e emular certos modelos de
comportamento humanos, de forma reduzida, nas máquinas digitais. Com isso, o
trabalho é otimizado e feito com maior assertividade e se chega nas respostas
necessárias.
2.2 Data mining para extrair dados e atender demandas
As empresas de mídia devem focar em novas estratégias de levantamento de
histórias com o uso de Big Data, criando e desenvolvendo núcleos de conteúdo,
núcleos de jornalismo de dados, composto por jornalistas, programadores, cientistas
de dados e especialistas em Big Data para conseguir com precisão levantar histórias
factuais que realmente façam a diferença para o público. Pois, ao mesmo tempo que
as empresas de mídia se mexem para adaptar a essa nova estratégia, as companhias,
os governos, poder público em si também começa a se mexer para tentar blindar ou
filtrar informações que possam ser comprometedoras a um governo, instituição e ao
funcionamento do Estado.
Por isso, os meios de comunicação devem também ser desenvolvedores,
devem buscar ser hubs de informação confiáveis para o seu público, como por
exemplo, partir para o desenvolvimento de aplicativos específicos e principalmente
seguros, que protejam o anonimato das pessoas que queiram fazer denúncias sem
ser rastreadas, ao mesmo tempo, deve buscar histórias e fatos para construir
informações, as redações com profissionais mais bem preparados, devem entender
como funciona as então TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação), não é para
ser um especialista em computação e programação, mas é necessário compreender
o básico, ou até mesmo trabalhar em parceria com especialistas de dados para
vasculhar informações na rede, buscar grandes repositórios de dados, para estrutura-
los, bem como em bancos de dados abertos ao público, ou bancos de dados dos
governos e instituições. Isso é o Open Data.
A partir destes dados abertos, inúmeras possibilidades podem ser exploradas,
pois se há grandes bancos de dados fechados, que poderiam ajudar a entender a
dinâmica de sua sociedade e os custos como um todo, já possível entrar pela parte
livre dos hubs de bancos de dados livres para compreender se a população precisa
156
de mais saúde, segurança, se hospital consegue atender as demandas do bairro, ou
se o terminal de ônibus da região comporta o aumento da demanda em um
determinado período do ano. Todas essas informações são inseridas nestes bancos
de dados, praticamente a cada piscada de olho e em uma destas piscadas de olho
pode está uma nova história que pode fazer mudar para melhor o cotidiano de uma
sociedade. A informação ganha valor e importância singular para todo o processo,
ajudando na tomada de decisão das políticas públicas, e faz a diferença para as
pessoas que precisam resolver seus problemas.
Pode-se considerar um Big Data a Receita Federal, o Hospital das Clínicas de São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), o Controle de Tráfego Aéreo, o New York Times entre outros. No caso da Receita Federal, por exemplo, é um Big Data não disponível, ou seja, com acesso livre ao público. Mas existem repositórios abertos de dados, denominados de Open Data, que possuem dados públicos e podem ser manuseados por quem se interessar. É importante ressaltar que o Big Data, na sua grande maioria, é um conjunto de dados que a cada milésimo de segundo são inseridos novos (LIMA JR., 2012, p. 211).
Ferramentas estão disponíveis, basta um pouco de treinamento para depois de
sua compreensão para fazer o mapeamento, separação, análise e por fim filtrar o
conteúdo que é relevante para um trabalho jornalístico e até mesmo para um trabalho
que contribua para o público como um todo.
Para isso, é necessário observar além dos limites, recrutando pessoas e
profissionais capacitados que possa ajudar a colher dados com as instituições
governamentais, públicas e privadas para que seja possível a obtenção do maior
volume de dados possível para que as informações e análises utilizadas por meio do
Big Data sejam precisas e atendam às necessidades da área levantada. Outra forma
de raspar estes dados é por meio de desenvolvimento de APIs.
O API significa Interface de Programação de Aplicativos e tem o papel de ter
um conjunto de rotinas e funções estabelecidos por um software, geralmente voltado
para serviços, com a finalidade de estender as funcionalidades do programa. Com os
dados disponíveis, de uma determinada região, por meio aplicativo desenvolvido,
estes dados podem ser disponibilizados por meio de API criado com código aberto,
para que todos tenham acesso a informação de forma dinâmica e transparente. Com
estas informações disponíveis, estes dados podem ser transformados em novos
aprimoramentos e ampliando as funções e dando melhorias ao aplicativo ou até
157
mesmo transformando em um programa mais amplo que possa avaliar diversas
possiblidades do local pesquisado.
Enfim, com o uso destes dados minerados, podemos fazer um jornalismo com
mais qualidade e precisão com a ajuda dos computadores. A taxa de erro
provavelmente será baixa ou praticamente os erros não vão existir, pois todas as
informações serão apuradas por meio do sistema de análise de dados, por meio de
captação de informações via aplicativo e pesquisa de campo na região recortada para
o trabalho de pesquisa.
158
CAPITULO V – ESTUDOS DE CASO
1. Objetos de estudo e aplicação da metodologia
Para a escolha dos estudos de caso, foram necessários alguns critérios para
que fossem determinantes e primordiais na definição sobre o que é inovador no âmbito
do jornalismo, informação e da comunicação. São classificados os formatos de mídias,
como web, TV, rádio, impresso, meio de comunicação que faz a prática e como é feita
a estratégia de determinada mídia para cobertura jornalística.
A pesquisa avaliou 9 produtos: 4 empresas de mídia, 1 iniciativa hiperlocal, 2 jornais de bairro e 2 aplicativos informativos. Os produtos escolhidos foram os
citados nesta dissertação. São eles: O Estado de S. Paulo (impresso, web), TV Globo/G1 (TV, web), Jabaquara News e Ipiranga News (impresso e web), da
Empresa Jornalística Bairros Unidos e BandNews FM (rádio), do Brasil; Hoy
(impresso e web), da Espanha; BBC (TV, web, multimídia) e Bournville News (web),
do Reino Unido.
Cada veículo foi classificado de acordo com o tipo de mídia principal em que
atua, impresso, televisão, jornal de bairro, rádio e jornais hiperlocais. Também foram
acrescentadas quatro ferramentas com funções informativas, mas que não foram
desenvolvidas apenas para funções jornalísticas: o Waze (Israel) e o SeeClickFix
(EUA). Em cada objeto, foi analisado as seguintes características: uso de redes
sociais, o uso de aplicativo de mensagens, uso de aplicativos de localização, uso de
aplicativo de geolocalização, uso de gamificação, uso de big data (dados) e open
data e como que cada característica afeta o processo de produção de conteúdo ou a
produção jornalística.
Foi analisado como que novas mídias digitais ascendentes e aplicativos de
mensagens como WhatsApp, Telegram e Snapchat impactam na cobertura
jornalística. Uma tabela foi desenvolvida para cruzar as informações de uso dos
produtos com as categorias e essas amostras estão centradas principalmente nas
quatro questões da hipótese. Sobre como que as narrativas emergentes acrescentam
novos atributos às narrativas jornalísticas tradicionais e consolidadas, ou seja, como
que as novas formas de contar histórias podem ajudar a aprimorar o que já está
consolidado no jornalismo. Seria possível buscar novos formatos e olhares para contar
história com auxílio de novas tecnologias? Além disso, será verificado se há
159
modificação nos processos de produção de informação de relevância social em
relação aos processos jornalísticos tradicionais e consolidados: mudou a forma de
conseguir informação que seja realmente importante para as pessoas? Como que isso
é feito em relação ao que já é praticado nas redações de jornalismo? Será verificado
se o uso de informações insertadas pelos usuários, em tempo real, melhora a
qualidade das narrativas emergentes através de dispositivos móveis. Isto é, se as
narrativas são melhoradas quando os usuários inserem as informações em tempo real
por meio de aplicativos. E, se a gamificação ou ludificação do jornalismo altera a
percepção de credibilidade do mesmo, ou seja, a pesquisa busca avaliar se por meio
do universo lúdico, como narrativas e ambientes lúdicos podem alterar ou não a
credibilidade do produto jornalístico.
Após cruzar os produtos com cada tipo de ferramenta e hipótese levantada, foi
constituída uma tabela com os resultados de cada análise em que é apontada a
característica mais avançada. Cada produto recebeu uma determinada classificação
para cada pergunta da hipótese dentro dos três níveis colocados: 1, para aplica –
produto atende as hipóteses; 2, para não se aplica – produto não atende as
hipóteses, 3, aplica-se em parte – aplicação parcial das hipóteses. Para mensurar
qual mídia que aplica mais o uso de novas narrativas e como que cada nova mídia
utilizada impacta no processo de produção jornalística. Não será definida uma nota
para escolher o melhor produto, não é a função desta pesquisa acadêmica.
Todos os produtos foram avaliados conforme os objetivos gerais: se as novas
narrativas e dados agregam qualidade no trabalho jornalístico; se as novas mídias
alteram o processo de produção de conteúdo; e nos objetivos específicos, serão
analisados como que as novas mídias que captam dados, jornalismo hiperlocal e
dados abertos impactam na produção de conteúdo. Foi contextualizado o uso e a
função de cada mídia emergente, depois como que cada veículo faz a sua estratégia
de uso das midas emergentes e de dados e logo em seguida será apresentada a
tabela com a análise, para depois levantar as respostas. Entre as mídias e ferramentas
estudadas foram verificadas qual mídia, técnica ou tecnologia é a mais inovadora e
vanguardista em jornalismo, comunicação e informação, qual que atende melhor o
seu público, qual mídia faz a melhor distribuição e interação com sua audiência e qual
delas é a mais ágil e eficiente na entrega do conteúdo e informação e claro, como que
cada redação lida com as atualizações.
160
2. Mídias emergentes
2.1 Redes sociais: Facebook e Twitter
As ferramentas tecnológicas mais utilizadas nos veículos de comunicação são
o microblog Twitter e a rede social Facebook. Após o Orkut89, foram estas duas redes
que abriram as portas das redações para o público e aos poucos os jornalistas foram
perdendo o preconceito e enxergando possiblidades de novos usos para as
ferramentas. O Twitter é considerado uma eficiente fonte de notícias em tempo real,
onde todos os usuários usam esta rede social como um listão que publica todas as
notícias de todos os veículos de comunicação que estejam conectados a esta rede
social. Como já explicado anteriormente, as empresas de comunicação praticamente
são obrigadas a utilizar uma ferramenta de mídia social e o Twitter é uma das
primeiras redes instaladas para chamar ou se aproximar do seu público. Hoje em dia,
é primordial que uma empresa jornalística, e até as que não são de comunicação,
queriam se consolidar nesta mídia, é relevante e importante pensar que é necessário
ter uma conta de rede social no aplicativo Twitter. No entanto, não basta apenas só
ter uma conta aberta. É necessário ter uma estratégia de publicação, como
providenciar o engajamento com o público, manter um diálogo e mostrar-se sempre
presente, à disposição, informando a audiência e mantendo uma conversa. É um
relacionamento que pode ser proveitoso para ambos os lados. Primeiro do lado da
redação, é que o jornalista que está manuseando a rede social tem mais um canal de
monitoramento de informações.
A próxima notícia ou furo de reportagem pode vir de uma publicação por Twitter.
Cabe então a redação ficar atenta ao que acontece neste ambiente virtual. Bem como
manter contatos ao conversar com leitores que enviam mensagens ou solicitações de
ajuda. O leitor ou audiência pode ser um canal importante para sugestões de pautas
e demandas factuais. É mais um novo contato, uma fonte que o jornalista pode cultivar
para angariar informações no seu trabalho cotidiano. Além disso, é uma ferramenta
importante para o monitoramento da concorrência. Pois, como foi descrito antes, é
89 Orkut foi uma rede social estabelecida em 2004 por um funcionário da Google chamado Orkut Büyükkökten. A rede social com o domínio ‘http://www.orkut.com’ foi muito popular no Brasil com suas comunidades e a possibilidade da realização de networking e contatos abrindo as portas para a popularização de outras redes sociais semelhantes como MySpace e Facebook. O Orkut foi desativado em 2014 para dar espaço a sua plataforma Google Plus.
161
necessário marcar posição no Twitter e há vários sites, portais de conteúdo que
querem marcar presença chegando primeiro ao leitor, para assim, fidelizar o leitor ao
produto. É uma ferramenta estratégica para publicação de conteúdo, monitoramento
de informações e de contatos diretos com a fonte ou leitor.
No Facebook, assim como o Twitter, também é possível monitorar a lista de
informações, como o feed de notícias (News Feed), que o Facebook copiou do Twitter
para não perder usuários para o micro blog. É uma ferramenta de rede social para
monitorar personalidades públicas, instituições, concorrentes e claro, é possível entrar
em contato com fontes, que podem conversar com mais facilidade e descrição por
meio do aplicativo Facebook Messenger. O público pode enviar uma mensagem direto
para o Facebook da redação para solicitar demandas, fazer denúncias e sugerir
pautas relevantes para ele.
2.2 Aplicativos de mensagens: WhatsApp e Snapchat
O WhatsApp foi desenvolvido em 2009 por veteranos do Yahoo!, e hoje
pertencente ao Facebook, o WhatsApp Messenger, é um aplicativo multiplataforma
de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones. Além de
mensagens de texto, os usuários podem enviar imagens, vídeos, mensagens de áudio
de mídia e podem ligar para qualquer contato de sua agenda que possua WhatsApp.
O aplicativo pode ajudar na construção de histórias, via colaboração da
audiência e captação de informações para apuração dos fatos. Quando o WhatsApp
chegou ao universo da internet, jamais foi pensado que ele teria tantas funções do
que apenas um aplicativo de mensagens. Por meio do uso do número de um celular,
que todo mundo já possui, o aplicativo capilarizou entre as pessoas e tornou-se uma
das principais ferramentas de comunicação usadas no Brasil e no mundo. Além do
WhatsApp, surgiram vários genéricos, como por exemplo o russo Telegram e o chinês
WeChat.
O foco neste estudo será voltado para o WhatsApp e Telegram devido a suas
semelhanças. O WhatsApp tornou-se uma eficiente ferramenta de acesso às
redações. O público estando ‘próximo a notícia’, pode gravar um vídeo, áudio, tirar
uma foto para depois enviar a notícia inicial ao jornalista. A notícia chega de forma
mais rápida, a produção jornalística e até mesmo a reportagem tornam-se mais
162
eficientes. Pois, na produção jornalística é possível levantar direto com a pessoa que
enviou o fato as primeiras informações e na reportagem porque o repórter pode enviar
textos, áudios e informações extras para a redação.
Com isso, vários veículos de comunicação utilizam de WhatsApp para receber
as informações de forma mais rápida do público.
O Snapchat vem ganhando espaço com o público, principalmente o público
jovem. Com este aplicativo é possível fazer vídeos curtos com animações, artes para
contar novidades. Como foi dissertado nesta pesquisa, a BBC, do Reino Unido, fez
uma experiência bem-sucedida, no programa BBC Panorama, que mostrou a situação
dos refugiados do Oriente Médio, África, Síria e outros países pobres da região que
tentavam atravessar as fronteiras da Europa para escapar dos reflexos da guerra,
fome e miséria.
O repórter fez do aplicativo Snapchat um diário de bordo em formato de vídeo
que pudesse ser acessado pelo público. Lá ele contextualiza e conta cada situação
que encontrava pelo seu trajeto. O aplicativo pode ser útil no jornalismo para atrair o
público mais jovem. Pode-se produzir vídeos curtos para chamar um determinado
conteúdo, narrar uma rápida história, dar os destaques, como a CNN faz também. O
aplicativo tem uma interface que lembra uma revista virtual ou uma vitrine interativa
que tenta a todo instante atrair a atenção do seu público com novidades que são
apresentadas por parceiros do aplicativo como a publicação de videogames IGN, a
revista Cosmopolitan, o canal televisivo de comédia Comedy Central, MTV e entre
outros canais de conteúdo.
2.3 Localização (hiperlocal e mapas)
Nesta parte, cabe destacar que será considerado o uso de jornalismo
hiperlocal, ou seja se as empresas de mídia fazem coberturas jornalísticas em
pequenas áreas, bairros e cidades. Se há algum tipo de cobertura factual ou não-
factual. Além disso, foi verificado como que as empresas de mídia e de tecnologia
usam os mapas interativos se existe para projetos específicos, se usam de localização
para publicar notícias, se há conteúdo colaborativo por parte do público e dos
jornalistas e como que as empresas acenam para um projeto deste tipo. Quais são as
163
propostas editoriais que as redações fazem para produzir conteúdo para pequenas
localidades.
2.4 Gamificação
Como explica o autor Johan Huizinga, em Homo Ludens o jogo pode conferir
um sentido à ação e significa alguma coisa e tem função por ser significante, para
encerrar um determinado sentido. O simples fato de encerrar o jogo encerrar um
sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essencia
(1964, p.3-4). Com o jornalismo é necessário que as coisas tenham sentido para
construir um argumento e com isso não é diferente com o jogo. Porém, no jogo a
pessoa terá que enfrentar um desafio virtual, jogo de tabuleiro, quebra cabeça, para
que faça um sentido para ele.
Quando faz sentido ler um texto ou jogar um jogo, porque não elaborar um
desafio com informações jornalísticas para assim, o público construir a narrativa e
compreender cada elemento de um fato fazendo assim a imersão do usuário em um
universo lúdico com informações que possam fazer a diferença na vida dele. Essa
alternativa de consumo é possível com os newsgames.
Será avalido se os veículos de mídia e os produtos permitem essa gamificação,
se conseguem trazer o público ao conteúdo lúdico para o consumo da informação. Se
produzem newsgames, jogos eletrônicos baseados em acontecimentos reais com
elementos do jornalismo. Além disso, será analisado se as empresas de mídia já tem
aplicativos de informação nos atuais consoles de videogames e como que essas
informações são apresentadas para o público.
2.5 Big Data (dados)
Hoje, o jornalismo tem que pensar em explorar sistemas computacionais e
banco de dados extensos, elaborar reportagens com auxílio do computador (RAC)
para conseguir extrair informações relevantes para a sociedade. A web é um grande
repositório de dados e lá também existe uma grande rede de bancos de dados que
contém informações que podem ser exploradas para a melhor tomada de decisão
editorial e, por sua vez, jornalística.
164
Na atual configuração tecnológica proporcionada pela Internet, estruturada pelo
intermédio do aumento de velocidade de transmissão, pela evolução das máquinas
computacionais com grande capacidade de processamento e armazenamento de
dados, com o desenvolvimento de linguagens de programação cada vez mais amplas
e que negociam de várias formas com robustos bancos de dados, a atuação
profissional do Jornalismo também deve possuir outras configurações (LIMA JR., p.
210, 2012)
O jornalismo de dados passa pelo Big Data, que representa uma nova
oportunidade para os profissionais da informação e de relevância social e para
empresas de mídia. A partir disso, novos modelos de negócios podem ser criados,
novos desdobramentos editoriais e jornalísticos abrindo novas oportunidades para
jornalistas e trazendo um novo hub e perspectivas para a profissão, que busca novas
saídas para se manter atuante e confiável perante a sociedade.
O Big Data pode ajudar a criar valor, dando transparência, gerando
descobertas, classificando dados e destacando o nível de entendimento para ajudar
nos processos de decisão editorial dando mais precisão na propagação de informação
jornalística. Elucidando eventos e fatos complexos para o público.
No jornalismo de dados, se faz análise de redes sociais e visualização de dados
e isso acontece por meio da retirada das informações destes computadores em
grandes bancos de dados públicos ou fechados, onde são detectados padrões em
que possam trazer novas informações e valores relevantes para se contar um fato ou
evidenciar uma história. Para isso, técnicas como Data Mining são aplicadas para o
levantamento de dados e informações com acesso mais difícil. A partir dessa
extração, pode se ter um valor-notícia para se esclarecer o fato.
Sendo assim, com o grande volume de dados disponível na web, como que as
redações usam grande quantidade de dados? Como as redações atuam com o Open
Data e Data Mining? As redações já têm um núcleo estruturado de dados e utilizam
estas informações para fazer Reportagem com Auxílio de Computador (RAC)? Como
que utilizam esse grande volume de informações? Usam os dados apenas para
projetos específicos? Mantém um banco de dados abertos para a audiência? Tem
conteúdo colaborativo?
165
3. Estratégias dos veículos de comunicação e produtos
3.1 O Estado de S. Paulo: mídias que conversam com o público; reportagem com dados
A empresa brasileira O Estado de S. Paulo foi a primeira no País a ter um
jornalista dedicado a redes sociais e foi criado um cargo de editor de redes sociais.
Com issso, o jornal aplica várias iniciativas. Por meio das redes sociais, o jornal
paulista mantém um time dedicado às redes sociais e por elas que distribui o conteúdo
jornalístico via Twitter, Instagram, Facebook e Google Plus. E nestas redes, os
jornalistas estabelecem uma conversa com o público. No âmbito das mensagens, a
publicação recebe informações do público via WhatsApp e há pouco tempo, começou
a enviar informações pelo aplicativo.
A redação do jornal também experimenta mídias sociais de vídeo, mantendo
um canal no YouTube, com minidocumentários, reportagens em vídeos e vídeos para
smartphones ou tablets. Além disso, o jornal utiliza o Facebook Live para fazer
transmissões de conteúdo ao vivo com jornalistas da publicação comentando fatos do
dia, como por exemplo, a cobertura de política nacional ou alguma outra notícia
urgente do cotidiano. No quesito da localização, ou seja, mais focado em uso de
mapas para informações ou uso de jornalismo hiperlocal é mínimo. A cobertura se
limita em a notas pequenas na publicação impressa no caderno de Metropole/Cidades
e o uso de mapas segue em projetos mais específicos e claro na prestação de serviço,
onde o leitor do jornal tem ao seu dispor o acesso ao serviço de trânsito do Waze.
Sobre gamificação, o jornal fez a publicação de newsgame uma única vez no ano de
2014, pela equipe de jornalistas recém-formados que participam de um programa de
treinamento realizado pela empresa que é a principal acionista do jornal, o Grupo
Estado. A empresa não libera aplicativos informativos em consoles de videogames,
mas apenas em smartTVs, aplicativos semelhantes aos dos celulares. Finalizando a
análise na categoria big data ou dados, a empresa mantém um núcleo de dados ativo,
chamado por Estadão Dados e esse pequeno grupo de jornalistas produzem
reportagens com auxílio de computador, utiliza dados para fazer reportagens em
conjunto com a equipe de jornalistas da internet e do impresso.
166
Para finalizar a avaliação, cabe avaliar que a empresa tenta distribuir o
conteúdo jornalístico de forma capilar, experimentando novas mídias e
compartilhando os resultados de experiência com a redação. Os canais digitais são
integrados com o impresso, portal e rádio. Além disso, O Estado de S. Paulo possui
um canal de feedback, a redação usa o WhatsApp torna se um canal de comunicação,
uma via de conversa entre público e redação.
A equipe do 25º Curso Estado de Jornalismo criou dois newsgames em 2014,
com a temática dos Jogos Olímpicos Rio 201690: um jogo de perguntas e respostas91
sobre as Olimpíadas (quiz) e um jogo chamado Desafio Aquático92, que simula um
atleta de natação que tem que passar por vários desafios – passando por torneios
amadores até chegar a categoria profissional –, até disputar a Olimpíada do Rio de
Janeiro e não distribui o conteúdo para os consoles. Mantém um núcleo ativo de
dados, Estadão Dados93, e por meio deste que são publicadas reportagens com
auxílio do computador (RAC). Utiliza aplicativos nativos em redes sociais de
transmissão ao vivo, como o Facebook Live para comentar notícias. A redação tenta
modificar o caminho da notícia e tenta se aproximar do público com várias frentes
digitais. Ou seja, no caso do Estadão, as narrativas emergentes imputam novas
atribuições as narrativas jornalísticas consolidadas e tradicionais, modifica o processo
de produção jornalística e as informações do usuário enviadas em tempo real ajuda
melhora na qualidade da cobertura do jornalismo.
3.2 TV Globo/G1: WhatsApp que recebe vídeos e pautas
A TV Globo é a maior emissora de TV do País e a segunda maior rede de
televisão privada em faturamento no mundo. O G1 é o portal de notícias da TV Globo.
A empresa tenta espelhar a filosofia da emissora de televisão no ambiente e roupagem
web. Integra seus veículos compartilhando os conteúdos nos dois canais. Ou seja, o
que é publicado na web é destacado na televisão, em uma pílula de notícias chamado
90 MIRANDA, Carla. Como foi fazer nosso 1º newsgame. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 12 dez. 2014. Disponível em: <http://brasil.estadao.com.br/blogs/em-foca/jogoestadao/>. Acesso em: 12 abr. 2016. 91 QUE Olimpíada você é? O Estado de S. Paulo. Newsgame. Disponível em: <http://infograficos.estadao.com.br/public/e/focasrio2016/quiz.html>. Acesso em: 12 abr. 2016. 92 DESAFIO Aquático. O Estado de S. Paulo. Newsgame. Disponível em <http://infograficos.estadao.com.br/public/e/focasrio2016/jogo.html>. Acesso em: 12 abr. 2016. 93 Disponível em: <http://blog.estadaodados.com/>. Acesso em: 14 abr. 2016.
167
“G1 em um minuto” e notícias da redação da televisão também são publicadas no
portal de notícias.
A Globo usa redes sociais para capilarizar o seu conteúdo, como Twitter e
Facebook. A empresa é espartana para o uso de outras redes sociais, porém, usa o
WhatsApp e Viber como um canal de feedback do público há quase um ano para
receber vídeos, informações, sugestões de pautas e denúncias. Cada emissora local
tem um número de celular voltado para os aplicativos de mensagens citados para que
a audiência utilize e envie notícia para as emissoras locais da Rede Globo. Os próprios
telejornais estimulam o público a enviar conteúdo, preferencialmente em vídeo, desde
conteúdo factual, fatos em tempo real, como por exemplo, para a prestação de serviço,
como a pane no serviço de Metrô até mesmo imagens mais descontraídas para
estreitar laços com a audiência com conteúdo mais leve.
A Globo não possui projetos hiperlocais, na televisão, foca-se nas duas grandes
editorias principais de Local e Nacional e nas editorias temáticas na web, como
qualquer publicação impressa ou na web.
A empresa utiliza mapas e dados para pautas e projetos específicos. Não há
um núcleo de dados estabelecido e permanente para atender a redação. O único
newsgame que o jornalismo da Globo publicou foi o Missão Bioma, no projeto Globo
Amazônia, em 201194. Não tem aplicativos nativos de distribuição de conteúdo voltado
aos consoles de videogames.
Mesmo com o uso mais espartano das redes sociais, o pouco uso que se faz
dos aplicativos, ainda há uma integração entre as mídias televisão e web. Com isso,
existe alteração nas narrativas jornalísticas, onde o público participa mais do processo
de produção.
Quando o público envia informação durante a cobertura em tempo real, a
informação ganha mais qualidade, com apoio de ferramentas da redação as
informações vindas do público são verificadas e publicadas com mais eficiência
permitindo uma cobertura em tempo real na televisão e publicação posterior na web.
94 REDE Globo lança game que desafia jogador a proteger o meio ambiente. G1 Natureza. São Paulo, 15 ago. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/08/rede-globo-lanca-game-que-desafia-jogador-proteger-o-meio-ambiente.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.
168
3.3 Bournville News: modelo de jornalismo hiperlocal
O Bournville News95 é um bom exemplo de jornal com aplicação de estratégia
hiperlocal. O jornalismo é limitado em Bournville Village, um pequeno condado com
25 mil moradores, localizado na região metropolitana de Birmingham, na Inglaterra. O
site jornalístico mantém redes sociais que distribuem o conteúdo via Facebook, com
1.594 seguidores e o Twitter, com 3.029 seguidores. Ambas as redes estão ativas.
O site não tem interação via aplicativo, não utiliza aplicativo de mensagens e
para entrar em contato com os jornalistas do site é preciso entrar em contato via redes
sociais, na lista de comentários que fica abaixo das matérias publicadas ou por um
formulário de contato. Não utiliza gamificação e não faz uso de big data na cobertura
jornalística. O Bournville News segue a prática hiperlocal, com as poucas redes
sociais, o site consegue manter um contato com os moradores e consegue atualizar
as notícias da região para o seu público.
O processo de produção de conteúdo hiperlocal tende ser um pouco diferente
da prática do jornalismo local ou nacional devido a proximidade que os jornalistas ou
mantenedores do site devem ter com os moradores. Como o pesquisador britânico
Damian Radcliffe (2012, p. 20) ressalta, para fazer uma publicação hiperlocal é
necessário poder para fazer a mudança, reconhecer e valorizar, afiliação com seus
amigos e senso de realização para que a publicação se mantenha no alcance do
público que se destina. Neste caso, não é perceptível alteração das narrativas
jornalísticas tradicionais.
Há uma pequena modificação dos processos, porém, o jornalismo hiperlocal é
feito como o jornalismo convencional. A grande diferença está no tamanho da área e
a proximidade com as pessoas que é maior. No caso da publicação hiperlocal, com
certeza as informações insertadas pelos usuários melhora a qualidade da publicação
jornalística, por meio do uso de redes sociais, pois, ambas as redes sociais têm
versões de aplicativo mobile, possibilitando assim, que o leitor do site hiperlocal possa
acessar a rede social e realizar o contato informando sobre algum factual que impacta
aquela área. E por fim, esta publicação não utiliza newsgames, nem gamificação e
não disponibiliza aplicativos para consoles de videogames e nem para smartphones.
95 BOURNVILLE News. Disponível em: <http://bournvillevillage.com/>. Acesso em: 14 abr. 2016.
169
3.4 Hoy: grande mídia fazendo hiperlocal; rede de hiperlocais
O Hoy é um caso de grande mídia que faz a prática de hiperlocal. A Hoy
mantém um jornal que é distribuido para toda a comunidade de Extremadura e várias
publicações hiperlocais. A publicação mantém uma rede de jornalistas, chamados por
correspondentes, que mantém a Rede de Hiperlocais, chamado de Hoy Extremadura:
Red de Hiperlocales e essa rede é mantida na comunidade autônoma de
Extremadura, que tem duas das 50 províncias espanholas, Cáceres e Badajoz, em 35
cidades.
Cada cidade tem uma publicação impressa mensalmente e um site, em que o
público pode entrar em contato via redes sociais e o jornalista da publicação hiperlocal
também distribui o conteúdo por Twitter e Facebook. A publicação não utiliza
aplicativos de mensagens como WhatsApp para canal de feedback ou de envio de
mensagens noticiosas.
A Hoy mantem um aplicativo próprio que é disponibilizado para quem tem
smartphones Android e iOS. O periódico não tem newsgames e nem aplicativos
voltados para consoles de videogames e não tem um núcleo de dados dedicado ao
jornalismo.
Cabe destacar que o Hoy tenta manter uma cobertura forte nas duas provincias
onde está presente e com a rede de hiperlocais, a públicação tenta dar um novo
patamar na cobertura, tenta-se criar uma empatia, trazendo mais proximidade entre
publicação e leitor e isso sé dá nas publicações impressas e nos correspondentes, em
que a publicação tenta se personalizar na representação do jornalista que cobre
apenas a cidade e se os moradores tem a confiança de alguém próximo é possível
que esse fator humano facilite o compartilhamento de informação e por sua vez
construindo uma publicação hiperlocal cada vez mais sólida que atendam as
demandas da comunidade.
As informações usadas na publicação hiperlocal também são destacadas na
publicação principal, no Hoy Diário de Extremadura, a principal publicação da rede de
hiperlocais, que alcança as cidades das duas províncias espanholas.
170
3.5 BBC: multimídia fluída; Snapchat para narrativas digitais
A BBC como veículo multimídia tenta alcançar vários públicos de multiplas
nacionalidades no mundo todo e para isso, eles tentam aplicar estratégias editoriais
inovadoras para aprimorar o próprio jornalismo e prender o seu público. O grupo de
comunicação público britânico mantém equipes de redes sociais para distribuir o
conteúdo seu jornalismo por Facebook e Twitter, recebe conteúdo colaborativo via
WhatsApp e recentemente passou a enviar informações noticiosas via Telegram. Em
2015, a BBC abriu o seu site para receber opiniões de donos de sites de notícias e
blogueiros hiperlocais. A empresa planeja formalizar um compromisso para que
blogueiros hiperlocais e fornecedores de notícias para a comunidade online sejam
parceiras do canal de conteúdo inglês para apoiar a iniciativa do jornalismo hiperlocal.
A BBC planeja criar um sistema para ligar todos os sites locais da BBC, para
permitir transmissões ao vivo e vai abrir este sistema para os donos de sites e
blogueiros, garantindo sempre a propriedade intelectual; treinamento para quem faz
jornalismo hiperlocal; criação de paines para discutir o jornalismo e temas relevantes
ao hiperlocal; um banco de informações com o registro de todos os sites hiperlocais
do país; e estreitar parcerias com a comunidade hiperlocal para estabelecer um fórum
que seria organizado duas vezes por ano96. Já na gamificação, a BBC não tem
newsgames publicados nos últimos meses e nem aplicativos dedicados aos consoles
de videogames. No âmbito do big data, a BBC utiliza dados para realizar projetos
editoriais específicos. Cabe também destacar que a BBC conseguiu fazer uma boa
experiência com o aplicativo Snapchat na cobertura do drama dos refugiados nas
fronteiras dos países europeus. O programa de TV que está no ar há 62 anos, o BBC
Panorama, contou com o repórter John Sweeney e a equipe de produção para usar o
novato aplicativo e assim contextualizar as informações durante a sua jornada. O
repórter fez mini-relatórios, entrevistas com os migrantes e refugiados que tinham
acabado de atravessar o mar para chegar na Europa, fotos do drama humano e o
material foi feito praticamente sem edição. Foi uma forma de atrair o público para
assistir o programa jornalístico, além de fazer jornalismo em tempo real, informando o
que ocorria durante a trajetória que a equipe de reportagem fazia, expondo ao público
96 BBC seeks views of community news websites and bloggers. BBC Media Centre. London, July 07, 2015. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/mediacentre/latestnews/2015/hyperlocal>. Acesso em: 14 abr. 2016.
171
a forma que a reportagem foi realizada, bem como acompanhando todos os bastidores
da construção da reportagem.
A BBC busca acrescentar narrativas emergentes com as tradicionais narrativas
jornalísticas, a associação de uso do aplicativo Snapchat, que existe a cerca de 5
anos, com o programa televisivo BBC Panorama, que existe há 62 anos, mostra que
as duas formas de contar uma história foi bem sucedida e complementar para atender
a demanda do público ao narrar um fato, aprofundar e contextualizar até publicar no
ar a reportagem completa. Até aí, o público pode acompanhar com todos os detalhes
o processo de um trabalho de campo da reportagem.
A empresa também é considerada uma das mídias pioneiras a publicar
informações a canais mais emergentes de informação como o WhatsApp, que é um
aplicativo de mensagens, já usado para feedback da audiência, bem como agora, a
equipe de jornalistas da BBC percebeu que o Telegram pode ser uma outra via
noticiosa para o seu público. Com isso, o envio de dados pelos usuário, combinado
com uso de aplicativos modificam o processo do fazer jornalismo e aprimora trazendo
novas táticas para distribuir conteúdo e receber conteúdo da audiência.
3.6 BandNews FM: redes sociais para prestação de serviço
A BandNews FM usa redes sociais para publicar o conteúdo que é irradiado
pela emissora, os áudios com os boletins ou reportagens são compartilhados nas
redes Facebook e Twitter. Recebe conteúdo via WhatsApp dos ouvintes que informam
a redação sobre a situação nas avenidas, ruas e estradas. Esse canal de feedback já
ajudou a redação a desenvolver um mapa de buracos, chamado de Buracômetro,
devido a várias reclamações de ouvintes sobre péssimas condições do asfalto da
cidade de São Paulo.
O Buracômetro foi o único mapa desenvolvido pela redação. A BandNews FM
é uma rede nacional de noticias, por isso, não há cobertura hiperlocal, pois neste caso
a cobertura hiperlocal estaria focada nas emissoras de rádio comunitárias e este
objeto de estudo específico faz cobertura local e nacional voltado para boletins de
notícias e prestação de serviço. É uma emissora de rádio focada em sua expertise,
como qualquer redação, recebe informações via email, telefone e SMS. A rádio tem
pouca intimidade com novas mídias, com o aprimoramento do uso do WhatsApp,
172
porque o aplicativo permite mandar áudios curtos que podem ser usados pelos
jornalistas da rádio. Produz-se o básico com redes sociais e foca o uso das inovações
em prestação de serviço.
3.7 Bairros Unidos: Ipiranga News e Jabaquara News; jornais distantes do bairro
O que poderia ser um exemplo de jornal hiperlocal, como é o caso dos jornais
de bairro, cabe a avaliar que ainda há muito para evoluir a uma publicação hiperlocal.
O caso estudado é um jornais mais ativos da região. No entanto, é uma publicação
que parou no tempo, tem redes sociais que fazem a publicação de conteúdo via
Facebook e Twitter e para por aí. Não utiliza aplicativos emergentes que poderiam
ajudar na comunicação e na elaboração de pautas para os jornais e as publicações,
apesar de ter os nomes de tradicionais bairros de São Paulo, são publicações
distantes do público.
O conteúdo voltado para o bairro se limita a 2 até 3 páginas das publicações.
A primeira página tem o mesmo editorial para os dois jornais, onde poderia se discutir
problemas distintos em cada bairro, com as mesmas notas nos dois jornais e restante
é voltado para algumas notinhas de variedades, notícias que são destacadas em um
bairro e no jornal daquele bairro, viram notinha no outro jornal e vice-versa. Um artigo
que foi publicado na internet em um jornal de grande circulação, o que pode ser um
texto comprado ou com uso autorizado pela publicação e classificados do bairro.
Como a publicação é de uma só editora, pode ser que essa estratégia seja
usada para conter gastos, já que para fazer uma cobertura hiperlocal demanda gente
específica e custo para aprimorar essa prática jornalística. Um jornal de bairro que
não tem proximidade com o público perde a oportunidade de conhecer melhor a região
que vive, como é o caso destes jornais do Bairros Unidos.
Seria uma oportunidade para que os jornais tornassem além de publicações de
bairro, mas poderiam ser publicações hiperlocais bem sucedidas, explorando a região
com novas informações e estimulando os negócios locais, que poderiam fazer
publicade em forma de anúncios para sustentar a estrutura da empresa. Neste caso,
a publicação não se encaixa em nenhuma hipótese levantada nesta pesquisa.
173
3.8 SeeClickFix: aplicativo emula jornalismo de serviço
O SeeClickFix não é um aplicativo de jornalismo, porém, tem as funções que
são feitas pelo jornalismo de serviço, ele ajuda a engajar as pessoas a resolver
problemas da sua região. A pessoa pode acessar o aplicativo pelo smartphone nas
versões iOS e Android e por ele é possível o morador é levantar uma demanda não-
urgente que possa ser resolvida em conjunto, não apenas pelo poder público, mas,
por toda a comunidade envolvida na região para melhorar o bairro em que vive,
trazendo melhorias e soluções. Ou seja, problemas não-emergenciais como buracos,
praça malcuidada, problemas na calçada podem ser denunciados pelo aplicativo. Ao
mesmo tempo, o governo recebe as informações e pode entender as demandas das
pessoas no momento. No caso norte-americano, a empresa SeeClickFix percebeu
que poderia amarrar uma troca de informações entre poder público e associações de
bairro por meio da tecnologia. A ferramenta já está disponível em várias cidades dos
Estados Unidos como Denver, Albuquerque, Washington D. C., Minneapolis, Houston,
Harsville e pelo menos 25 mil cidades e 8 mil bairros norte-americanos97. O uso de
novas tecnologias como o sistema 311 desenvolvido para várias cidades norte-
americanas mostram como é possível trazer engajamento e agilidade na solicitação
de serviços e informações sobre a cidade em que se vive.
O aplicativo usa elementos de hiperlocal, com informação geolocalizada e
mantém um banco de dados compartilhado, em que outros usuários podem
compartilhar as informações ou complementar demandas já feitas. Este aplicativo usa
a premissa do jornalismo de serviço, onde o jornalista vai até o local, entrevista os
moradores, depois faz uma matéria sobre o problema e ouve o outro lado, isto é, cobra
a prefeitura.
O aplicativo anula estas funções. Mas, mesmo assim, alguém que usa o
aplicativo acaba reportando uma situação, e isso não acaba com o jornalismo, apenas
uma parte do processo foi automatizado e centralizado direto com a responsável do
problema e também estimula a prática de cidadania.
Os sistemas 311 e os CRMs ajudam os governos locais a tentar atender os cidadãos de uma forma rápida, pois no sistema é possível encontrar determinadas
97 SIFRY. Micah L. SeeClickFix now covering 25.000 Towns, 8.000 Neighborhoods. TechPresident. 14 out. 2009. Disponível em <http://techpresident.com/blog-entry/seeclickfix-now-covering-25000-towns-8000-neighborhoods>. Acesso em: 14 abr. 2016.
174
informações, como número e tipo de pedidos de informação e requisição de serviços; tempo gasto para atender a demanda, porcentagem de serviços solicitados que foram completados dentro da margem de tempo esperada; localização geográfica do pedido do serviço e quais são as maiores demandas do cidadão naquele momento (FLEMING, 2014, p. 48, tradução nossa).
O serviço acaba criando uma narrativa, uma efeméride, onde o problema tem
uma história, onde cada pessoa que faz o comentário sobre o problema compartilha
suas impressões até que a prefeitura ou órgão responsável resolva o problema. Por
isso, essa ferramenta cidadã foi colocada como objeto de estudo nesta pesquisa.
3.9 Waze: serviço de alertas de trânsito gamificado
O aplicativo Waze é o outro produto que também foi avaliado para mostrar
como que ele pode substituir ou agregar parte do jornaismo de serviço que é feito por
jornalistas. O aplicativo é voltado para navegação, com elementos de jogos para
diversão e de rede social integrada, que informa o usuário sobre as condições de
trânsito, auxilia nas rotas, como o aplicativo de mapas, Google Maps.
Porém, o Waze usa gamificação, colocando o usuário num ambiente lúdico,
mesmo imerso em funções como GPS e rede social onde os outros usuários podem
informar sobre trânsito e acidentes, o sistema engaja o usuário a usar o aplicativo em
troca de pontos e desbloqueio de conquistas, como se fosse um jogo. Por exemplo,
uma pessoa tem que dirigir dois quilômetros usando o Waze pela primeira vez para
ganhar pontos.
E a ferramenta tem um sistema de ranqueamento global que mostra quem é
mais usa o aplicativo. Ele é uma bussola no trânsito das grandes cidades, com toque
de elementos de jogo, num ambiente gamificado. Informa alertas de trânsito,
estimuma a conversação entre as pessoas, para formar uma rede social e ao mesmo
tempo estimula a atualização dos mapas e avisos de situações de risco no caminho
para evitar que os outros passem pelo mesmo problema, acontece uma ajuda
simultânea, provocando um companheirismo virtual, por meio da troca de
informações.
Neste universo lúdico, o Waze tenta levar ao usuário uma experiência mais leve
e menos burocrática com o uso de mapas. Para que ele possa ficar mais tempo
usando o aplicativo e que possa usufruir dos serviços de alertas de transito
colaborativo e para seguir sua navegação de forma satisfatória.
175
4. Método de análise – Comparativo: Uso de tabela
A planilha foi estabelecida da seguinte forma: o nome dos nove produtos que
foram analisados na primeira coluna, a sua classificação, ou seja, qual é o tipo de
produto, se é web, multimídia, impresso, rádio, televisão ou aplicativo; depois foram
sequenciados as colunas redes sociais, para ideintificar quais mídias sociais estão
sendo utilizadas pelos produtos de mídia ou aplicativo; mensagens, é a coluna que
avalia o uso de aplicativos de mensagens para fazer comunicação, como por exemplo,
o uso de WhatsApp e Telegram para o uso de distribuição de informações ou troca de
informações entre fonte e jornalista; gamificação, se as redações fazem uso de
alguma ferramenta de gamificação para distribuir conteúdo; e big data, que é a coluna
em que são verificados se o veículo de mídia faz a análise de dados ou utiliza dados
para produzir reportagem, como são os casos de reportagem com auxílio do
computador (RAC).
Logo na sequência, foram colocadas quatro colunas com os nomes A, B, C e
D para estabelecer se os objetos de estudos atendem as demandas das hipóteses.
Dentro de cada produto avaliado, será recebida uma classificação de (1) para aplica,
(2) não aplica e (3) em parte. A partir dessa avaliação sobre qual produto tem melhor
aplicação, não tem ou tem em parte, foi feita uma breve avaliação sobre cada objeto
analisado neste estudo acadêmico sobre quem faz o melhor uso de novas mídas ou
quem mais inova no uso de novas tecnologias e mídias para o jornalismo.
Em cada produto avaliado, será destacado a sua melhor caracteristica, será
apontado qual boa pratica comunicacional ou qual melhor tecnologia foi bem aplicada.
Quais produtos atendem melhor as questões levantadas pelas hipóteses. Esta
característica será destacada na planilha para apresentar em que o produto conseguiu
se sobresair na experiência em suas inovações. Cabe reforçar que o objetivo não é
partir para julgamentos sobre qual é o pior ou melhor produto, mas sim, a análise cabe
apenas para apontar quais são as inovações que estão sendo realizadas nas
redações e até mesmo nas empresas de tecnologia, visto que há dois produtos nativos
de empresas de tecnologia. A proposta é entender e comparar como que está sendo
realizada a comunicação e como as empresas estão alcançando as pessoas e quais
plataformas que as empresas estão conseguindo realizar boas estratégias para
entregar o conteúdo informativo para o seu público ou audiência.
176
Tabela 4 – Tabela de análise comparativa dos estudos de caso
Fonte: o autor
177
5. Resultados
Nesta dissertação acadêmica, o que foi avaliado entre todos os produtos
jornalísticos e tecnológicos é que há uma busca para uma conversa e aproximação
com o leitor. Com o avanço da internet, os veículos de comunicação tradicionais não
acompanharam a velocidade do avanço da tecnologia e quando entraram,
tardiamente, se depararam com uma crise, por causa da perda de publicidade, erro
de estratégia comercial-editorial e falta de percepção da mudança de comportamento
da sociedade. Por outro lado, a falta de identificação editorial entre público e veículo
de comunicação provocou o agravamento financeiro destas empresas de mídia.
Assim, estas questões acarretaram no distanciamento das pessoas com as mídias
tradicionais e, por isso, as empresas jornalisticas mudaram a estratégia de publicação
de conteúdo – desde o formato dos jornais, a maneira como é apresentado das
notícias na internet, bem como a modernização e mudança de formato dos produtos
de audiovisual. Muitos objetos de estudo desta pesquisa também focaram em
propagar o conteúdo ao seu público via redes sociais, querem estar mais presentes,
se mostram a disposição do público a qualquer momento e sempre buscando levar a
última informação mais atualizada para quem os acompanha em suas plataformas nas
redes sociais já estabelecidas.
Com o invento e ascendência do aplicativo de mensagens WhatsApp, as
empresas enxergaram uma conexão direta entre redação e público para envio de
conteúdo colaborativo. Tem funcionado de forma eficaz na maioria dos veículos de
comunicação que possui canais e equipes dedicadas para o recebimento destas
informações, checagem, produção, edição e publicação deste conteúdo para um
alcance maior de público. Além disso, com o uso constante da ferramenta, foi
percebido que ela é muito mais do que um canal de feedback, um canal de retorno,
ou em outros termos, torna-se mais um canal de mídia. Alguns veículos mundo afora
estão usando os aplicativos de mensagens como WhatsApp, ou similares como o
Telegram e Viber para estabelecer uma conversa com a pessoa que está do outro
lado da tela do smartphone mandando destaques e tentando engajar a audiência a
entrar nos canais de conteúdo das empresas de comunicação para consumir o
conteúdo. Como o Jornalismo da TV Globo, que faz do WhatsApp um canal de
relacionamento com o seu público. Lá, o público oferece aos jornalistas da emissora
pautas e denúncias que podem acarretar em reportagens de serviço.
178
A BBC tenta estabelecer a conversa com o público em várias frentes,
combinando o uso dos canais tradicionais e as novas mídias, visando principalmente
a experimentação de novas plataformas, como o uso do aplicativo Snapchat para
antecipar informações e a distribuição de notícias pelo aplicativo de mensagens
Telegram, por meio de newsbot.
As palavras conversa e aproximação são sempre citadas neste estudo, pois
são as ações mais evidenciadas por estes objetos de estudo pesquisados. As
redações estão tentando estabelecer uma conversa e aproximação, tentando levar as
notícias da melhor forma e nos melhores formatos possíveis.
Sobre a categoria de localização, poucos veículos usam georreferenciamento
ou projetos jornalísticos integrados com mapas. No entanto, os veículos que se
dedicam a cobertura hiperlocal, tanto os pequenos donos de sites, que conseguem
focar a cobertura em sua localidade e mostram que conseguem uma boa aproximação
com a comunidade; quanto as grandes empresas de mídia, que conseguem
estabelecer um padrão de alcance com a comunidade que atende as demandas
informativas de cada localidade. A experiência de uma grande empresa de mídia, que
tem jornalistas experientes para serem correspondentes da cidade e dos bairros é o
que faz da cobertura hiperlocal. Torna-se do profissional da comunicação um
representante da grande mídia que por sua vez se transforma num amplificador da
voz da população local, que está preocupado em cobrir as demandas e contar as
histórias da comunidade. No entanto, como o caso do periodico da Espanha Hoy, que
estabeleceu uma rede de jornais e profissionais hiperlocais, em que todas as notícias
são republicadas na edição principal, sem interferir nas edições hiperlocais. E isso
acarreta mais proximidade e empatia do público ao jornalismo, para que seja possível
levantar novas demandas e que o jornalismo cumpra o papel social de ajudar as
pessoas se autogovernarem, por meio das informações trabalhadas pelos
profissionais da redação e da reportagem.
Sobre gamificação, ainda há muito que se explorar. Pode ser que por questões
de tempo e de custo, principalmente com as redações em crise, seja complicado e
caro desenvolver conteúdo noticioso lúdico. Mas, com esta pesquisa inicial, dá para
perceber como que este é um campo criativo que pode ser explorado pelos canais de
jornalismo. Pode ser um caminho para o desenvolvimento de projetos especiais, como
179
o Estadão fez com os jornalistas do seu curso intensivo, que prepararam dois jogos
temáticos sobre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.
Ou como a TV Globo, que desenvolveu o jogo temático sobre a defesa da
Amazonia, o ‘Missão Bioma’, que foi desenvolvido em conjunto com a empresa
desenvolvedora de jogos brasileira Aquiris Game Studio. Porém, os newsgames
publicados pela TV Globo e pelo Estadão foram publicados nos anos de 2011 e 2014
respectivamente. Em média, se passaram dois anos e novas publicações de
newsgames não foram realizadas. Então, cabe avaliar que o desenvolvimento de
newsgames também depende da cultura da redação, onde todos possam tentar
entender que é possivel se criar uma narrativa por meio de formatos não
convencionais e, claro, quando se desenvolver um projeto desse âmbito, cabe alinhar
com o departamento comercial a negociação de uma publicidade dedicada a ele para
ajudar a cobrir os custos do projeto.
Em big data, as redações começam a observar com atenção o uso de grandes
quantidades de dados para fazer reportagens e contar histórias. Lembrando que nesta
pesquisa, o termo big data é relacionado ao uso de grande quantidade de dados para
a construção de uma reportagem. Vide os casos Wikileaks e The Panamá Papers,
que por meio da prática de jornalismo de dados, aliado ao uso de técnicas do
jornalismo investigativo, várias histórias foram evidenciadas ao público sobre
inúmeros casos de corrupção e desvios de conduta, cujo os documentos que
comprovam as denúncias estão ocultos nas profundezas dos servidores da web. O
jornalismo de dados tornou-se um caminho importante para revisitar a forma de se
fazer jornalismo e estabelecer novos processos de trabalho, até mesmo a
readequação das redações para poder se adequar as novas técnicas, como a
especialização de jornalistas e a instalação de programas de computador que são
geralmente utilizados por profissionais da Tecnologia da Informação (TI).
A equipe de dados do jornal O Estado de S. Paulo desenvolveu uma pequena
equipe de jornalismo de dados, chamada por Estadão Dados, e da redação, por meio
de técnicas de investigação de dados na web e por acessos a outras fontes públicas
ou abertas de informação é possivel produzir reportagens, como por exemplo,
comparar custos de instituições públicas, comparação de dados oficiais com dados
jornalísticos e até mesmo desmentir autoridades que ocultam informações da
180
sociedade, diante de uma situação de crise. É um núcleo informacional que gera
novas pautas e reportagens a partir da exploração de dados complexos ou de
documentos extraídos por meio de técnicas utilizadas por profissionais de TI. Nesta
parte, cabe destacar que as informações também chegam de forma colaborativa, tanto
por meio jornalístico, como por meio dos sistemas tecnológicos e informativos. A
publicação foi a primeira no Brasil a criar um cargo de editor de Mídias Sociais e a
partir dele, as informações que chegam por aquele caminho é compartilhada para o
restante da redação, que recebe de forma mais rápida o feedback do público.
Já no recorte dos aplicativos que foram elaborados sem a expertise de
jornalistas, como o Waze e SeeClickFix, é possível perceber e destacar que o
conteúdo é colaborativo e para que os aplicativos funcionem de forma correta, as
pessoas devem manusear e abastecer estes sistemas com seus dados, para que
aconteça uma troca de informações entre as pessoas, promovendo o estímulo de
compartilhamento de conhecimento e de alertas, sobre perigos que possam aparecer
no caminho. O SeeClickFix se compara ao que é realizado no jornalismo de serviço.
Qualquer pessoa pode apontar um problema em sua cidade, ou localidade que usa o
serviço do aplicativo, pode tirar uma foto, gravar um vídeo e enviar a demanda
diretamente para o responsável ou prefeitura que tem parceria com o serviço, via o
serviço 311, muito comum em localidades dos Estados Unidos, que tem esse código
de telefone de atendimento aos munícipes. Existe a fiscalização cidadã. Já para o
Waze também tem funções que são feitas normalmente no jornalismo de serviço,
afinal o aplicativo é um serviço de informações de trânsit. Qualquer pessoa pode
compartilhar informações do trânsito e o serviço usa a interface voltada para a
gamificação, com sistema de pontuação e ranqueamento, cujo o motorista que usar
mais o aplicativo ganha mais pontos; e por rede social, onde os motoristas podem
trocar mensagens entre si para passar informações, caso eles estejam na mesma
área. O aplicativo brinca com o lúdico para prender o usuário.
O jornalismo, que quer se atualizar e se modernizar, deve entrar por um
caminho sem volta, que é o compartilhmento de dados por todos os lados, o público
e o especialista de comunicação e com certeza este será um dos pilares que vão
estabelecer a existência do ofício, que comportam a análise, curadoria, investigação
e interpretação de dados para se contar e explorar histórias que devem ser levadas
para os públicos.
181
CONCLUSÃO
Este estudo, que pode ser aprofundado conforme os rumos do jornalismo e da
tecnologia, que mudam ao sabor do vento, visou definir, ou pelo menos chegar
próximo de um modelo que é chamado nesta dissertação de inovação na produção e
nas narrativas do jornalismo e da comunicação, ou seja, como que por meio das novas
mídias, que pulsam dados em tempo real, modificam o fluxo de trabalho jornalístico,
apontando seu impacto e os rumos que estão sendo tomados devido a modificação
da forma do fazer jornalismo. Como que se conectam as novas mídias, o que as novas
narrativas e dados acrescentam durante atividade jornalística; como que as novas
mídias alteram o processo de produção de conteúdo. Também foi pesquisado como
que as novas tecnologias que propagam informação, aplicativos que captam dados, a
prática de jornalismo hiperlocal e o uso de dados abertos (Open Data) impactam a
produção de conteúdo.
Após minuciosa análise de veículos de comunicação e informação e das
ferramentas citadas na pesquisa, foi levantado de que forma as novas narrativas e
dados na atividade jornalística acrescentam e dão corpo para um jornalismo mais
forte, ágil, aguerrido e assertivo. A profissão entrou na onda da transformação
tecnológica e foi impactada nos processos de criação, produção e distribuição. O
ofício entra na fase de repensar sua atividade. Mas, no entanto, estas questões
jogaram o ofício em um universo de incertezas. A cada dia que passa, a função entra
em xeque sobre seus propósitos perante as demandas da sociedade e a comunidade.
Como o autor James Gleick contextualiza com o termo 'informação' que entrou
em um processo de resistência acadêmica, dá mesma forma que outros propósitos
das ciências, que ganharam atribuições especiais como "força", "massa",
"movimento", "tempo", a informação passou pelo processo de purificação e tornou-se
uma ciência. Gleick cita Shannon que usou a teoria matemática para criar uma ligação
entre informação, a incerteza, entropia e o caos. Por isso, inventos tecnológicos, que
mudaram o comportamento da sociedade como os CDs, fax, computadores,
empresas pontocom, o ciberespaço, à lei de Moore foram levadas ao processamento,
armazenamento e o acesso à informação (2011, p. 11).
Novos aplicativos de comunicação foram desenvolvidos por grandes empresas
de tecnologia não foram inventadas por jornalistas ou foram desenvolvidas dentro das
redações, foram criadas por engenheiros e especialistas em tecnologia da informação.
182
No entanto, estes aplicativos foram redescobertos pelos jornalistas e as ferramentas
foram adaptadas para cada necessidade fazendo com que o jornalismo passe por um
processo de profunda evolução.
Num cenário em que as redações estão cada vez mais enxutas, – devido ao
próprio impacto da tecnologia, que derrubou a publicidade, o faturamento, e o
investimento das empresas de mídia –, a aplicação de novas tecnologias vem
aprimorando o oficio e tenta mitigar o acúmulo de demandas, o que outrora provocaria
a queda de qualidade na produção de conteúdo jornalístico, provocando em
consequência erros de informação. No jornalismo, um erro pode afetar a reputação e
a confiança de uma empresa jornalística e de seus profissionais diante de suas fontes
e perante a sociedade. Sendo assim, o uso de novas mídias vem alterando todo o
fluxo de trabalho jornalístico no Brasil e mundo afora. Várias grandes empresas,
corporações ou grupos de mídia buscam nestas plataformas a melhor maneira de
entregar o conteúdo e também buscam formas de captar esse conteúdo direto das
redações por meio da aplicação de tecnologia.
As novas mídias sociais e digitais modificaram a forma de se trazer conteúdo
até às redações, transformaram a forma de se construir a informação, alteraram o
processo de distribuição da notícia e trouxe mais aproximação entre o leitor e o
jornalista. É como se a fábrica de uma grande montadora de carros fosse aberta e o
seu processo industrial fosse alterado, com o acréscimo de robôs, porém, com
metalúrgicos, mecânicos, engenheiros e técnicos trabalhando ao lado de uma pessoa
comum ou leiga, que dá palpites eficientes e trazem novos conhecimentos no modo
de fazer o carro.
Pode ser que autor Chris Anderson tenha razão em sua obra 'A Cauda Longa',
ao citar Karl Marx em 'A ideologia alemã' (1845-1847) que chegaria um tempo em que
a "produção material criará condições para que todas as pessoas disponham de
tempo ociosos para o exercício de outras atividades" (2006, p.60). Muitas pessoas,
em algum tempo ocioso do seu dia possa ter presenciado um fato que pode ser
compartilhado com várias pessoas e o jornalismo pode ser essa porta de entrada de
compartilhamento, com uma adição: os jornalistas trabalhariam para levantar mais
informações sobre o fato que ocorreu naquele momento e seus desdobramentos.
É cada vez mais perceptível que o jornalismo tem de ser feito de forma mais
colaborativa e menos corporativa, ou seja, com a menor interferência possível da
empresa, que se limite apenas ao trabalho editorial e que seja mais próximo aos
183
interesses de quem precisa da informação. Pois, a informação e a comunicação por
si mesmos são colaborativas, tem que ter mais que um indivíduo para ter a
comunicação e a partir disso, vem a troca e geração de informação. O crescimento
da internet no País, a capilarização do uso dos aparelhos móveis, como smartphones
e tablets, o aumento de uso de computadores modificou bruscamente o hábito das
pessoas no consumo de conteúdo. Nas grandes regiões urbanas, quem é que não
tem um telefone celular, smartphone, tablet com acesso à internet? O Brasil é uma
nação que tem mais telefones móveis do que pessoas. Com este dispositivo já
possível construir uma reportagem sem ser jornalista, podendo assim tirar fotos,
gravar vídeos, áudios, escrever um texto e enviar o material multimídia (texto, foto,
áudio e vídeo) para publicação em aplicativos de gestão de conteúdo. As pessoas
podem fazer o registro de uma demanda, de um fato e enviar para a redação para que
os jornalistas trabalhem para aprofundar o conteúdo, consultando fontes e
especialistas que podem abrir um leque de conhecimento sobre determinados temas
ou assuntos que impactam na vida das pessoas.
Por sua vez, feito o trabalho de apuração, checagem, reportagem, pesquisa e
construção do conteúdo, o jornalista devolve este material para a sociedade expandir
seus horizontes reflexivos, acrescentando conhecimento extra e levando debates para
a sociedade. Como já foi explicado nessa dissertação, o jornalismo é uma conversa,
uma história que é trocada e contextualizada para expandir experiências de vida para
que as informações absorvidas façam a diferença na vida das pessoas.
Com as novas tecnologias, temos um oceano de informações para serem
exploradas. Para explorar esse oceano é necessário a capacidade de nadadores
profissionais com arpões para buscar o que é realmente relevante e importante para
as pessoas. Ou seja, estes nadadores profissionais que estão imersos na informação,
são os jornalistas, que diariamente vasculham universos de boatos, fotos, imagens
em vídeos, textos, telefonemas, planilhas, dados e informações secretas para levar a
público o que importa na vida dele e também para alertá-lo o que pode ser prejudicial
a sua vida em todos os sentidos. Sem alarmismo ou sensacionalismo, o jornalista
apenas informa ao público o que precisa ser dito, o fato.
Além de propagar informação, estas ferramentas captam informações, dados
que possam ser relevantes para o desenvolvimento jornalístico de uma história
factual. Elas estão disponíveis a todo instante, o elemento humano ajuda a sustentar
a base tecnológica com as próprias informações, transmitem sentimentos, impressões
184
e expressões sobre qualquer assunto e por meio desta tecnologia é possível captar o
que é importante. Há também o trabalho de investigação, onde alguém se torna uma
fonte importante para distribuição de conteúdos que possam derrubar governos,
alterar cenários e até mesmo quebrar empresas. Tudo isso, com a força dos dados.
O jornalismo de dados é uma boa alternativa para dar uma renovada no jornalismo.
Os tradicionais processos de apuração, reportagem, edição e publicação ainda vão
permanecer na área por muito tempo, são essenciais para a execução do ofício. No
entanto, por meio dos dados é possível rastrear e lapidar um conteúdo que seja
significante como informação para o cotidiano.
Em poder destas informações preciosas e raras, é necessário destacar a
origem de cada dado e analisar o volume de informações, aplicando taxonomia de
cada dado para organizar os fluxos e chegar as demandas que a população requisita.
Com esta organização, é possível esmiuçar cada detalhe, sobre a origem do morador,
seus anseios, o que ele precisa e os seus motivos. Além disso, dá para resgatar um
levantamento histórico sobre como a região se organizou, foi povoada, como ela se
transformou de área residencial para industrial e de industrial para comercial, por
exemplo. No entanto, dá para definir indicadores de educação, saúde, segurança,
emprego e outras necessidades que são intrínsecas aos moradores de um
determinado quarteirão ou de uma rua, avenida, travessa ou viela. É possível resgatar
fatos para reconstruir fatores passados, fazer história, resgatar histórias. É necessário
treinar mais jornalistas para que seja possível um aumento de profissionais que
tenham interesse pelo ofício de se fazer jornalismo de dados. Bem como a prática de
jornalismo hiperlocal. Os bairros e pequenas cidades também podem ser foco de
importância jornalística para as redações. A partir de um rastro de informação, aquele
dado, sem ligações ou compromisso pode se tornar uma história que impacta outras
cidades, Estados e até mesmo países, como por exemplo, a queda de um avião em
uma cidade grande. O avião cai em um bairro, no bairro moram pessoas, pessoas tem
histórias e se tem histórias o lugar tem informações para o jornalista construir um fato
jornalístico e relevante para a sociedade.
O jornalismo hiperlocal pode ser um caminho para dar um fôlego novo aos
jornais de bairro, que hoje em dia são semelhantes ou cada vez mais próximos a
catálogos comerciais e publicitários, onde a publicidade tem mais espaço de destaque
que a própria notícia ou o trabalho do jornalismo em si. Como o jornalista, pesquisador
e professor de jornalismo Rodolfo Carlos Martino, que trabalhou em jornal de bairro
185
por 25 anos, na publicação paulistana Gazeta do Ipiranga, conta em seu site98 sobre
um painel que participou em 1999, com representantes de 70 jornais de bairro da
cidade de São Paulo, sobre a importância da publicação para a cidade. Ele explica
que o jornal de bairro foi descaracterizado pela publicidade. Ele diz que à época,
quando a publicação tinha a tiragem de 60 mil exemplares por semana, mas o jornal
passava por profundas transformações. Ou seja, os jornais de bairro foram
descaracterizados editorialmente, antes porta-vozes das reinvindicações populares
agora tornaram-se vitrines publicitárias. Os jornais de bairro levavam ao poder público
as demandas dos moradores, e trabalhava pelo interesse da comunidade, pois os
grandes jornais não davam a devida atenção ou espaço para notícias como problemas
de luz, calçamento, asfalto, esgoto, água e outras demandas do serviço público local
em plena ditadura. Para o professor de jornalismo, os jornais de bairro perderam a
força e como são empresas familiares, optaram por trocar os valores editoriais do
jornalismo e tornaram-se vendedores de anúncios99.
O hiperlocal não é uma revitalização do jornal de bairro, talvez seja uma nova
forma de se fazer jornalismo de bairro, uma forma de se aproximar mais da
comunidade e conseguir informações e histórias que possam ser importantes na vida
daquelas pessoas. Como explica Damian Radicliffe, o hiperlocal é um serviço onde a
cobertura jornalística é feita em pequenas áreas por jornais ou emissoras de rádio e
televisão estabelecidos naquele lugar (2012, p.9). Por isso, o jornalismo profissional e
até mesmo o industrial têm um caminho para poder trilhar. O hiperlocal é uma forma
de se aproximar das pessoas e com isso conseguindo confiança da pequena
comunidade, com certeza é possível constatar que ganhou uma grande fonte de
informações que possam ser importantes para o jornalista. Pode ser que os grandes
grupos de mídia possam entrar neste espaço, porém, muito terá que se investir, talvez
como o periódico espanhol, Hoy, que criou uma redação hiperlocal com cada
correspondente instalado em uma cidade, tendo a responsabilidade de distribuir o
conteúdo para a comunidade e ao mesmo tempo ter proximidade para conquistar os
moradores para assim conseguir fazer uma informação de qualidade. Mas, claro,
98 MARTINO, Rodolfo. Jornal de Bairro. Um sonho que ainda não acabou. Rodolfo Martino.com.br. São Paulo, 01 dez. 2003. Disponível em: <http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo= 344>. Acesso em: 23 abr. 2016. 99 MARTINO, Rodolfo. Sobre jornais de bairro 2. Rodolfo Martino.com.br. São Paulo, 12 set. 2013. Disponível em: <http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo=2596>. Acesso em: 23 abr. 2016.
186
assim como, o jornalista pode se aliar a um morador, ou aos moradores de
determinada comunidade. Vale lembrar que não basta apenas fazer jornais e matéria,
no caso do hiperlocal aquela pessoa vai ter que manter um contato mais próximo da
comunidade, engajar moradores para estimular a conversa. Estimulando a conversa,
faz com que as pessoas possam enxergar o que pode se fazer para manter melhor a
comunidade, como o local pode funcionar melhor e ao mesmo tempo mantendo uma
cadeia de contatos pode se manter uma rede de informação relevante para todos que
precisam compartilhar dados ou fatos relevantes a comunidade e seus moradores.
Sendo assim, é necessário observar que as redações ainda têm um longo
caminho para modificar ou aprimorar os processos de trabalho, capacitar melhor o
jornalista, o profissional precisa ser mais preparado. Isso também tem que ser
considerado que o fluxo de trabalho das redações precisa ser melhorado e o apoio de
tecnologia ajuda a acelerar o trabalho da redação durante o fechamento das
publicações, telejornais, rádio jornais e o insistente fechamento a minuto-a-minuto dos
portais de conteúdo. O público está mais pulverizado e além das mídias tradicionais,
novas estratégias editoriais para as novas mídias tanto no âmbito de distribuir e
produzir conteúdo. Para cada tipo de demanda, se aplica uma estratégia.
As empresas de comunicação buscaram se adaptar com a chegada da internet,
que torna-se cada vez mais uma base plana e larga da indústria do jornalismo, a
chegada das redes sociais, em que hoje em dia é praticamente obrigação ter um canal
de rede social ou micro blogs para poder enviar o conteúdo para a audiência e sentir
o feedback de forma praticamente instantânea para assim melhorar a estratégia de
trabalho e a qualidade do material jornalístico que é publicado. Além disso, as
informações estão por todos os lugares e por isso, o jornalista deve se preparar para
entrar nesse oceano informacional e separar o que mais importante é crucial para o
público. O open data impactou de forma positiva para a melhoria do trabalho do
jornalista. As informações têm um caminho mais definitivo que é a grande nuvem da
computação, cloud computing, e isso ajuda o jornalista a buscar rastros no meio do
labirinto informacional. Vide os casos de Wikileaks e The Panamá Papers que foram
citados nesse trabalho acadêmico.
O uso do aplicativo de mensagens WhatsApp ganhou espaço nas redações. É
quase que obrigação que todo jornal, redação de rádio e TV, jornalista tenha um
smartphone com o aplicativo. Pois, o aplicativo figura como um coringa que auxilia na
captação de dados, conversação com fontes e distribuição de mídias ou conteúdos.
187
Algumas redações buscaram ampliar a proximidade conversando com as pessoas por
meio destes aplicativos como WhatsApp e similares como Viber e Telegram, que se
mostraram ferramentas muito eficientes para o trabalho do jornalismo.
Cabe ressaltar que objetos de estudo apresentados e analisados, não tem um
veículo que aplica plenamente inovações com Dados, Hiperlocal e Aplicativos. As
aplicações são parciais ou graduais. Mas, como explica Marshall McLuhan, "o meio é
a mensagem" na era da eletrônica existe um ambiente novo e o é o velho ambiente
mecanizado da era industrial. O novo reprocessa o velho tão radicalmente quanto a
TV está reprocessando o cinema, ou para termos atuais, a internet está
reprocessando a TV, o impresso e o rádio (1964, p. 11-12). Com certeza nos dias
atuais temos vários meios sendo mensagem nas suas diferentes formas e
características como texto, áudio, vídeo, fotos e novas mídias que ascendem a cada
instante para aprimorar a comunicação e, é claro, o jornalismo.
Os veículos estão tentando se adaptar. A quebra de resistência com os
parâmetros editoriais estabelecidos é gradual. Isso não significa que os jornalistas
mais experientes devem ser demitidos para contratar uma geração de jornalistas hi-
tech. No jornalismo, conta-se com fatores editoriais, criativos, narrativos, técnicos e
tecnológicos para se criar uma boa equipe e com isso conta também profissionais
experientes que passaram por várias coberturas de eventos históricos, mudanças e
mudanças de processos de trabalho jornalísticos. Junte-se isso a equipe de jovens
jornalistas que trazem novas perspectivas e ideias que foram testadas na faculdade.
Combinando o fator experiência com novo conhecimento, fortificam a indústria
jornalística e do conhecimento.
Sendo assim, é importante perceber que apesar de alguma resistência, ou
dificuldades, mudança de cultura, fatores financeiros e de falta de mão-de-obra
apropriada é possível compreender que as redações devem passar por um processo
de atualização profissional e tecnológica, estreitando os canais de contato com os
clientes que consomem seu conteúdo, estando sempre disposto a receber contado de
audiência nova que pode ser fidelizada.
A tabela mostra a síntese ou um mapeamento sobre como as empresas de
mídias e até as de tecnologia estão sendo estratégicas no momento de transmitir
conteúdo e informação. A fotografia atual desta pesquisa apresenta que as redações
e empresas do jornalismo ainda não buscaram um padrão para se fazer jornalismo
como fora feito antes quando as mídias tradicionais reinavam de forma absoluta.
188
Agora, as mídias tradicionais convivem com novas tecnologias que são inseridas
gradualmente em processos de trabalho para tentar trazer algo novo ao público não
apenas no sentido cosmético, para dar uma jovialidade ao velho, mas para mostrar
ao público que ele é importante e relevante. Vários tubos de ensaios estão sendo
testados, tanto para a feitura de coberturas especiais, assim como para captar
informações para reforçar o fluxo de trabalho e garantir que o produto saia de forma
adequada para quem interessa. Mas, pelo cenário atual, dá para perceber que ainda
há espaço para se aprofundar nas narrativas emergentes, usando novas tecnologias
e casando com o que já é bem estabelecido, com a receita consolidada editorialmente.
Para as empresas mais vanguardistas, que buscam se renovar de forma constante,
atualizando seus ‘pátios informativos’, ou melhor, as redações devem considerar que
os gestões estão percebendo de forma gradual que os processos de produção de
informação de relevância social estão emparelhados com a produção de jornalismo
consolidada e a combinação destes elementos ou práticas de se fazer o jornalismo
são saudáveis em nome da busca da verdade e das informações factíveis que
abastecem as plataformas jornalísticas e de distribuição.
Sendo assim, esta pesquisa ainda precisa ser aprimorada, novas ferramentas
vão aparecer e neste momento será interessante estudar como que a informação, vira
dado, que vira notícia, que ganha o seu valor perante a sociedade, a comunidade, ao
indivíduo. É um caminho duro para se trilhar, no entanto pode ser uma forma de
recuperação no setor, mais uma alternativa que possa pelo menos contribuir com
alguma melhoria.
Pode ser que em algum tempo os players mudam de novo ou pode ser possível
que jornalismo como conhecemos venha a desaparecer, porém, isso é o que no
jornalismo chama-se de factoide, não é uma informação confiável, notícia falsa, bem
como pode ser um dado verdadeiro. O jornalismo e os jornalistas, que já observam e
sente o máximo da realidade para captar cada sentimento humano que é transmitido
a todo o instante, o jornalista tem que sair do arauto do pedestal, do palco. O jornalista
tem que batalhar na rua, nas redações, com novos pensamentos e ideais para
conseguir galgar o seu espaço. Chega um momento da vida em que novos
aprimoramentos saem da margem e ganham luz própria, engolindo até mesmo quem
não teve visão sobre determinado ideal que pode agregar no fazer jornalismo e
comunicação.
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Os profissionais do jornalismo precisam fazer autorreflexão sobre o que é fazer
e ser jornalista. Questionar seus papeis, descer do pedestal, buscar ideias de outras
áreas, até mesmo se arriscar em outras ciências, trazendo delas novas habilidades,
algo que possa agregar à atividade, melhorando o ofício e deixando essa melhoria
evidente para o público. Como aprimorar os processos, consultar as chefias diretas,
sem medo, com ideias abertas, porém com formalidade, no tom necessário. O
jornalismo entra nesse cenário de fazer muito mais com poucos e modernos recursos.
Não basta apenas tecnologia, pois o elemento humano será fundamental para
elaborar o material, que o público possa perceber que a melhoria o fez ser melhor
atendido. Os profissionais do jornalismo, em paralelo, precisam ter mais intimidade
com a tecnologia, para poder aprimorar e melhorar o ambiente e fluxo de trabalho dos
veículos de comunicação. Pois a principal mudança é fazer as transformações de
dentro para fora, confiando em um produto de qualidade e vendendo ele como se
fosse um bem raro. Os jornalistas precisam descer do pedestal, ou seja, precisa se
aproximar, para ficar em pé de igualdade com seu público, que em muitas vezes pode
ajudar o jornalista a dar um furo de reportagem. O jornalismo precisa romper com a
cultura estabelecida e precisa revisitar todo o procedimento, a forma de se trabalhar,
da direção até o ‘chão de fábrica’. É preciso entender o papel de cada ator no fazer
jornalismo nos tempos modernos.
O jornalismo vive uma experiência fluida, com animações, vídeos e imagens,
onde a todo instante e pode entrar pela porta da redação mais uma solução infalível
e confiável. Por isso, cabe fazer uma avaliação minuciosa e mais profunda as
ferramentas pesquisadas para buscar alternativas para se fazer um bom jornalismo e
ao mesmo tempo buscando o comportamento que possa render uma história que seja
compatível com o jornalismo do local, respeitando os princípios da profissão,
depositando a energia de se fazer reportagem para construir um conteúdo que possa
ser acessado por milhares. Esse momento de mudanças na redação é apenas o
começo do que pode acontecer em relação a melhorias e estrutura. Afinal, o
jornalismo é uma conversa, e esta conversa não vai terminar como muitos já previram
outras vezes. A tecnologia apenas vai fazer ressoar a conversa, dando alcance e força
para chegar a quem precisa.
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