universidade metodista de piracicaba unimepnov 05, 2005 · cerest –piracicaba fapesp –programa...
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CEREST – PIRACICABA
FAPESP – PROGRAMA DE PESQUISAS
EM POLÍTICAS PÚBLICASUNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA – UNIMEP
APOIO:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
GERÊNCIA REGIONAL DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO DE PIRACICABA
AÇÕES INTERINSTITUCIONAIS PARA O DIAGNÓSTICO
E PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO:
APRIMORAMENTO DE UMA PROPOSTA PARA A REGIÃO
DE PIRACICABA
SIVAT
De acordo com o SIVAT- Sistema
de Vigilância em Acidentes do
Trabalho, no período de
dezembro/2007 até maio/2008
foram computados 56 acidentes
perfazendo uma incidência de
23,62% em um frigorífico
Demanda Inicial
A empresa demandou estudo
focalizado no setor de
matança devido ao alto índice
de acidentes de trabalho, bem
como de absenteísmo
Estudo da Demanda
Setor Número de ATs Número de
funcionários
Incidência de
Ats
Matança 13 53 24,5 %
Transporte 11 40 27,5 %
Desossa 08 40 20 %
Câmara fria 05 Indefinido Indefinido
Tendal 05 39 12,8 %
Caldeira 04 04 100 %
Bucharia 03 16 18,75 %
Curral 02 Indefinido Indefinido
Sala de mocotó 01 02 50%
Sala de miúdo 01 Indefinido Indefinido
Carreg. Couro 01 02 50%
Vestiário 01 Indefinido Indefinido
Total 56 237 23,62%
Fonte: Setor de saúde e segurança da empresa
Estudo da Demanda
Número de ATs segundo o diagnóstico no período de
20/03/2007 a 20/03/2008
Porcentagem de Acidentes do Trabalho por
diagnóstico no período de 20/03/2007 a
20/03/2008
36%
23%
18%
13%
6%
2%
1%
1%
FCC
CONTUSÃO
OUTROS
ENTORSE
QUEIMADURA
PERFURAÇÃO
FRATURA
LER/DORT
Fonte: SIVAT – CEREST-Piracicaba
Estudo da Demanda
Número de ATs segundo parte do corpo atingida no
período de 20/03/2007 a 20/03/2008
Porcentagem de Acidentes do Trabalho
segundo parte do corpo atingida em
no período de 20/03/2007 a 20/03/2008
35%
16%10%
9%
6%
6%
5%
4%
3%
3%
1%
1%
1%
MÃO
MEMBRO SUPERIOR
MEMBRO INFERIOR
CABEÇA
OUTRA
PÉ
COLUNA
COSTAS
OLHO
PESCOÇO
TÓRAX
ABDÔMEM
CORPO TODO
Estudo da Demanda
A demanda apontava também para o alto índice
de absenteísmo dos trabalhadores desse setor e
em entrevistas com esses trabalhadores várias
verbalizações justificavam as faltas por
problemas de saúde e cansaço. A partir dessas
informações considerou-se importante
compreender o absenteísmo
- “A gente falta por causa de dor, dói as costas,
braço, ombro, cabeça”
Estudo da Demanda
Mês Não
tem
CID
CID do grupo M
(doenças osteo-
musculares )
Doação de
sangue
Outros Total por
mês
Porcentage
m por mês
Fev 07 04 - 01 12 11,3%
Mar 03 - - - 03 2,8 %
Abr 04 - - 03 07 6,7 %
Mai 02 - - 01 03 2,8 %
Jun 05 01 - - 06 5,7%
Jul 04 04 - - 08 7,5%
Ago 04 01 01 05 11 10,3 %
Set 04 01 - 01 06 5,7 %
Out 05 - 03 - 08 7,5 %
Nov 05 05 - 01 11 10,3 %
Dez 01 - - 01 02 1,9 %
Jan 02 03 - 01 06 5,7 %
Fev 10 10 - 03 23 21,8 %
Total 56 29 04 17 106
Porcen
tagem
52,8% 27,2% 3,7% 16,3%
Estudo da Demanda
• Fevereiro é o mais em que ocorrem mais faltas em 2007
foram 11,3% do total e em 2008, 21,8% do total.
• Porque entre os meses de setembro a janeiro acontece o
pico de produção quando a meta diária sobe de 300 a
400 bois e 200 a 300 porcos para 500 a 600 bois e 380 a
500 porcos.
É sabido que as doenças do sistema músculo-esquelético
são de caráter insidioso e se manifestam após longo
período de exposição aos fatores de risco, o que explica
o grande número de afastamentos no mês de fevereiro.
Estudo da Demanda
Essas faltas e afastamentos geram o rodízio de tarefas,
porém não há planejamento para esse rodízio e,
freqüentemente alguns trabalhadores são colocados em
postos para os quais eles não possuem as habilidades
necessárias.
“O lugar menos ruim é aonde nós estamos acostumados
a trabalhar”;
” Muita gente não gosta de substituir o colega, o serviço
fica mais difícil não tendo prática”.
Estudo da Demanda
A falta de treinamento pode ser motivo de agravamento
dos sintomas de dores no corpo, que acarreta no
aumento do absenteísmo. Nas entrevistas, os
trabalhadores disseram que quando realizam o serviço
pela primeira vez, em geral porque estão substituindo o
colega que faltou, ficam mais cansados.
“Quando faz pela primeira vez é ruim, cansa mais”.
Análise do setor de matança
Meta de Produção
A meta de produção varia conforme
época do ano.
De fevereiro a Agosto abate-se 300 a
400 bois das 6h00 às 10h30 e 300 a
350 porcos das 11h30 às 14h00.
Mas nos meses de setembro a janeiro
a produção aumenta e podem chegar
a abater até 600 bois e 500 porcos.
Análise do setor de matança
Meta de Produção
O ritmo da produção é planejado para
abater 80 bois por hora e 180 porcos por
hora.
A velocidade é imposta pela nória – talha
elétrica – numa constante de 10 m/min.
Durante o período de aumento da meta
não há aumento da velocidade, portanto
faz-se necessário a realização de muitas
horas extras.
Análise do setor de matança
Divisão das tarefas
A divisão das tarefas se dá de acordo com
competências práticas dos operadores
Para a função de magarefe há exigência de
experiência e destreza para cortes precisos. Para
todas as outras funções dentro do setor de
matança não é exigida experiência e não é feito
treinamento.
É feito rodízio de tarefas conforme necessidade
de cobrir um trabalhador que esteja afastado ou
tenha faltado no dia.
Análise do setor de matança
Gestão de Pessoal
Há uma regra de “dar gancho” para o trabalhador que:
• se ausentar;
• chegar atrasado;
• material de trabalho quebra ou se desgasta antes do
tempo estipulado por outros;
-“Se a faca quebrar, ou desgastar antes dos três meses,
a gente tem que pagar do bolso da gente (...) eles dão
outra e descontam do salário”.
Análise do setor de matança
Gestão de Segurança
• Fornecimento de EPI
Se a luva rasgar, ou for danificada de alguma forma
antes do tempo estimado ou até mesmo se for roubada,
a empresa fornece outra, porém desconta do salário.
-“Roubaram a minha luva de aço e eu estou
pagando até hoje”
-“Quando a luva fica velha ela cria umas farpas que
grudam na mão da gente e fica espetando o dia intero...
daí não dá pra usar”.
Análise do setor de matança
Gestão de Segurança
• Fornecimento de EPI
Essa rigidez no controle e no fornecimento dos
E.P.Is desestimula o trabalhador a usá-los.
“A gente vai pegar outra, eles falam que está boa,
mas não está boa está espetando, mas eles falam que
não, que não deu o tempo de trocar ainda (...) e se
insistir pra tocar eles dão, mas desconta do salário,
aí...”
Análise do setor de matança
Gestão de Segurança
• Fornecimento de EPI
Além disso, o local de estoque dos E.P.Is
fica distante da produção, cerca de 200 metros. Se uma
luva se danifica, por exemplo, não há outra para ser
substituída imediatamente e por ser linha de produção,
o trabalhador não pode sair de seu posto para buscar
outra.
Análise do setor de matança
Condições de Trabalho
Alguns postos de trabalho são percebidos pelos próprios
operadores como mais difíceis, por serem mais cansativos.
Essa representação dos piores locais para trabalhar está
permeada pela sensação de cansaço que o trabalho
naquele posto traz.
“Depende do setor, o rolete é ruim”;
“Sangrar o boi”;
“Tirar a casquinha do porco”;
“Amarrar o porco é o pior lugar que tem para se trabalhar”;
“No tacho é muito calorento (...) não tem ventilador, sua
muito”
DIAGNÓSTICO
A partir deste estudo do setor de matança do frigorífico, foi
possível constatar que os acidentes do trabalho são
decorrentes de uma rede de vários fatores causais em
interligação e não de atos inseguros ou condições
inseguras como o serviço de segurança da empresa tem
pregado.
• círculo vicioso: trabalho intenso – fadiga – acidentes/
doenças – afastamento/absenteísmo – deslocamento –
trabalho intenso...
•distribuição de E.P.I: local de distribuição distante da
produção
RECOMENDAÇÕES
• Para melhorar o absenteísmo, faz-se necessário aumentar
o número de funcionários durante período de pico de
produção, ou seja, de setembro a janeiro a fim de diminuir o
risco de aparecimento de lesões músculo-esqueléticas.
• O número de funcionários nos setores: câmara fria, sala
de desossa, sala de mocotó, e sala de miúdo deve ser mais
bem estudado e planejado para que os trabalhadores da
matança não sejam mais deslocados no final da jornada,
quando já estão exaustos, para auxiliar nestes setores.
RECOMENDAÇÕES
• Para estimular o uso dos EPIs deve-se manter um
almoxarifado destes equipamentos em cada setor onde são
usados.
•Quando o EPI se desgastar ou houver perda do
equipamento por qualquer motivo, este não deve ser
cobrado e nem o trabalhador deve ser punido. A empresa
precisa banir este tipo de gestão
DIAGNÓSTICO
• Inadequação de alguns equipamentos
-pistola pneumática
“Às vezes o boi ainda está vivo, e quando isso
acontece às vezes temos que parar para matar”
- carretilha
“Se o boi estiver muito vivo pode escapar, é
difícil (...) se amarrar errado também pode escapar”
- sistema de matança de suínos
Amarrar o animal ainda vivo em correntes atadas à
nória e matá-lo com punhal na garganta, também favorece
tanto o desenvolvimento de patologias do sistema músculo-
esquelético, quanto os acidentes de trabalho.
RECOMENDAÇÕES
Instalar sistema de abate de suíno a choque elétrico
eliminando os postos: 01 (içar o porco pelas patas); 02 (matar
o porco com punhal) e 03 (puxar o porco com gancho), que
são postos que exigem grande força muscular e podem
causar lesões.
Adquirir pistola pneumática que penetra o crânio do boi
injetando ar comprimido para promover a morte imediata do
animal.
DIAGNÓSTICO
• Falta de treinamentos
-Por serem atividades que exigem certas habilidades
que se desenvolvem com experiência, tais como:
precisão para cortar, movimentos rápidos com mãos,
braços e dedos, é necessário que o trabalhador tenha
um acompanhamento e adequação da tarefa enquanto
ele desenvolve a competência tácita para o trabalho
“Não tem treinamento (...) dois dias e a gente já está com a
faca na mão (...) eles dão a faca e manda se virar”. “O
acidente acontece mais com quem não tem prática”.
RECOMENDAÇÕES
• A empresa deve realizar treinamento para aquisição das
habilidades práticas exigidas pelas tarefas, conforme setor,
função e posto de trabalho. Este treinamento deve ser
acompanhado por trabalhador que tenha prática na função
e durante este, deve-se manter a velocidade da nória
reduzida.
DIAGNÓSTICO
• Gestão de pessoal autoritária – gancho
- Ao aplicar o gancho o trabalhador fica impedido de
voltar ao trabalho, muitas vezes, por mais de um dia.
Assim, os outros que foram deslocados de seu posto de
origem para cobrir o que está de gancho ficam sujeitos
a riscos de acidentes que eles têm pouca experiência
para lidar e prevenir. Além de gerar desmotivação nos
trabalhadores que recebem o gancho, pois eles perdem
no salário o equivalente aos dias perdidos e também
perdem a cesta básica.
RECOMENDAÇÕES
• Prática de gestão de pessoas que deve ser banida é o
“gancho”. O trabalhador deve ser estimulado a vir trabalhar
e não o contrário. A empresa deve promover um plano de
cargos e salários para que o trabalhador possa desenvolver
suas habilidades e ser reconhecido por isto. Funções que
exigem maior habilidade devem ser mais bem remuneradas
e os trabalhadores devem ser estimulados para adquirir tais
habilidades.