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UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA FCS/ESS LICENCIATURA EM FISIOTERAPIA Ano letivo 2017/2018 4º Ano PROJECTO E ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE II Eficácia da hidroterapia no tratamento de crianças com paralisia cerebral Revisão de Bibliografia Cláudia Daniela Soares Teixeira Estudante de Fisioterapia Escola Superior de Saúde - UFP [email protected] Andrea Ribeiro Doutorada em Ciências da Motricidade- Fisioterapia Docente da Escola Superior de Saúde UFP [email protected]

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Page 1: UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA FCS/ESS LICENCIATURA EM ... · A paralisia cerebral é a incapacidade motora mais comum na reabilitação pediátrica. A incidência de casos de paralisia

UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA

FCS/ESS

LICENCIATURA EM FISIOTERAPIA

Ano letivo 2017/2018

4º Ano

PROJECTO E ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE II

Eficácia da hidroterapia no tratamento de crianças

com paralisia cerebral – Revisão de Bibliografia

Cláudia Daniela Soares Teixeira

Estudante de Fisioterapia

Escola Superior de Saúde - UFP

[email protected]

Andrea Ribeiro

Doutorada em Ciências da Motricidade- Fisioterapia

Docente da Escola Superior de Saúde – UFP

[email protected]

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Resumo

Objetivo: esta revisão da literatura teve como foco analisar a eficácia da abordagem

hidroterapêutica em crianças com paralisia cerebral, sobretudo da sua influência na força, na

flexibilidade, na espasticidade, na capacidade respiratória, na amplitude de movimento, no

equilíbrio e nas capacidades motoras básicas para a mobilidade funcional. Metodologia: foi

realizada uma pesquisa computorizada nas bases de dados Pubmed/Medline, EBSCO,

ScienceDirect e PEDro e B-on. A seleção dos estudos foi efetuada segundo os critérios de inclusão

e exclusão. Resultados: foram incluídos 9 estudos experimentais. Dos artigos analisados, 7

avaliaram as capacidades motoras básicas, 3 avaliaram a capacidade respiratória, 3 avaliaram a

espasticidade, 1 avaliou a flexibilidade, 1 avaliou a força, 1 avaliou a amplitude de movimento e

1 avaliou o equilíbrio. Conclusão: Pela análise dos estudos encontrados podemos concluir que a

hidroterapia parece mostrar-se eficaz no tratamento de crianças com paralisia cerebral,

principalmente nas componentes da espasticidade, na capacidade respiratória e nas capacidades

motoras básicas. No entanto, apesar de parecer ser igualmemte eficaz no aumento da força, do

equilíbrio, na amplitude de movimento e na flexibilidade, os dados por nós recolhidos não nos

permitem uma conclusão clara sobre os efeitos da hidroterapia nas crianças com paralisia cerebral.

Palavras-Chave: fisioterapia, terapia aquática, hidroterapia, paralisia cerebral, crianças

Abstract

Objective: this review of the literature has focused on the efficacy of the hydrotherapeutic

approach in children with cerebral palsy, especially its influence on strength, flexibility,

spasticity, respiratory capacity, range of motion, balance and basic motor skills for functional

mobility. Methodology: a computerized search was conducted in Pubmed / Medline, EBSCO,

ScienceDirect and PEDro and B-on databases. The selection of the studies was carried out

according to the inclusion and exclusion criteria. Results: 9 experimental studies were included.

From the analyzed articles, 7 evaluated the basic motor skills, 3 assessed the respiratory capacity,

3 assessed spasticity, 1 assessed flexibility, 1 assessed strength, 1 assessed range of motion and 1

assessed balance. Conclusion: By analyzing the studies found, we can conclude that

hydrotherapy seems to be effective in the treatment of children with cerebral palsy, especially in

the components of spasticity, respiratory capacity and basic motor skills. However, although it

seems to be equally effective in increasing strength, balance, range of motion and flexibility, the

data collected by us does not allow us to reach a clear conclusion about the effects of hydrotherapy

in children with cerebral palsy.

Keywords: physiotherapy, aquatic therapy, hydrotherapy, cerebral palsy, children.

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1. Introdução

A definição mais adotada pelos especialistas caracteriza a paralisia cerebral como “um

distúrbio permanente, embora não invariável, do movimento e da postura, devido a

defeito ou lesão não progressiva do cérebro no começo da vida.” Sendo assim, a paralisia

cerebral, designa um grupo de afeções do SNC que não têm caráter progressivo e que

apresentam clinicamente distúrbios da motricidade como, alterações do movimento, da

postura, do equilíbrio e da coordenação com presença variável de movimentos

involuntários (Lundy-Ekman L., 2000).

A paralisia cerebral é a incapacidade motora mais comum na reabilitação pediátrica. A

incidência de casos de paralisia cerebral na população é de dois em cada mil nados vivos,

sendo que em países em desenvolvimento chega a sete por mil nados vivos (Mancini et

al., 2002 e Calcagno et al., 2006).

Esta condição acomete o portador de diferentes formas, dependendo da área do sistema

nervoso afetada. O quadro clínico característico inclui alterações neuromusculares, como

variações de tónus muscular, persistência de reflexos primitivos, rigidez, espasticidade,

entre outros. Tais alterações geralmente manifestam-se com padrões específicos de

postura e de movimentos que podem comprometer o desempenho funcional dessas

crianças (Pakula A. et al., 2009).

Segundo Petersen (1998), o comprometimento neuromotor desta patologia pode envolver

partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas

(tetraplegia, hemiplegia e diplegia). Outro tipo de classificação é a baseada nas alterações

clínicas do tónus muscular e no tipo de desordem do movimento (espástico, atetóide,

atáxico e misto), sendo a forma espástica a mais encontrada em crianças com paralisia

cerebral.

A Fisioterapia tem como objetivo a inibição da atividade reflexa anormal para normalizar

o tónus muscular e facilitar o movimento normal, com isso haverá uma melhora da força,

da flexibilidade, da amplitude de movimento, dos padrões de movimento e das

capacidades motoras básicas para a mobilidade funcional (Rotta N. T., 2002).

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Atualmente há diversas técnicas fisioterapêuticas para reabilitação de indivíduos com

paralisia cerebral, entretanto, nenhuma técnica se destaca na literatura como a mais eficaz.

Desta forma, vários estudos têm sido feitos com o propósito de verificar o tratamento

convencional e algumas técnicas específicas. Diante desse contexto, a utilização de um

recurso diferenciado como a água, ou seja, a abordagem hidroterapêutica torna-se viável

em vários aspetos estruturais, funcionais e sociais no processo de reabilitação de crianças

com paralisia cerebral (Bax M. et al., 2015). As técnicas deste modelo de tratamento

baseiam-se em conceitos de fisiologia e biomecânica e são utilizadas as propriedades

físicas da água como a pressão hidrostática, a turbulência e a densidade (Ruoti R. et al.,

2000).

A abordagem hidroterapêutica oferece propriedades fisiológicas, psicológicas e

funcionais para o processo de reabilitação, propriedades descritas na literatura como

eficazes em várias outras patologias. Entretanto, ainda são insuficientes os estudos sobre

a real atuação da abordagem hidroterapêutica em indivíduos com paralisia cerebral

(Mellandra A. e Queiroz S., 2005). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi analisar a

eficácia da abordagem hidroterapêutica em crianças com paralisia cerebral, sobretudo da

sua influência na força, na flexibilidade, na espasticidade, na capacidade respiratória, na

amplitude de movimento, no equilíbrio e nas capacidades motoras básicas para a

mobilidade funcional.

2. Metodologia

Foi efectuada uma pesquisa computorizada nas bases de dados/motores de busca:

Pubmed/Medline, EBSCO, ScienceDirect e PEDro e B-on para identificar estudos

experimentais que descrevessem os benefícios da hidroterapia em crianças com paralisia

cerebral, publicados até o corrente ano. A pesquisa foi efectuada tendo como referência

artigos em português e inglês, utilizando as palavras-chave: “physical therapy”,

“hydrotherapy”, “cerebral palsy”, “children” e “aquatic therapy” e, operadores de lógica

(AND e OR). Para esta revisão foi recolhida, dos estudos selecionados, informação

relativa à população (número de crianças, tipo de paralisia cerebral), intervenção (tipo,

duração e objetivo da intervenção e forma de aplicação) e resultados obtidos com a

intervenção aquática.

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Figura 1 – Fluxograma de informação, com a sucessão de fases da pesquisa para a revisão.

Como critérios de inclusão definidos: estudos experimentais em humanos, estudos que

indiquem o tipo e a duração do protocolo de intervenção e estudos que usem a hidroterapia

como uma forma de tratamento na paralisia cerebral em crianças. Por outro lado, como

critérios de exclusão definidos: estudos em que o texto integral não esteja disponível,

estudos em animais e estudos em que o protocolo não seja aplicado por fisioterapeutas.

3. Resultados

Nesta revisão bibliográfica foram encontrados 183 artigos, dos quais apenas 9 estudos

experimentais foram incluídos pois respeitavam os critérios de inclusão e exclusão. As

amostras variam entre 1 e 32 crianças com idades compreendidas entre 3 e 17 anos. No

total de todos os estudos foram incluídos 82 crianças do sexo masculino e 55 crianças do

sexo feminino. Em relação ao tipo de paralisia, foram incluídos 123 crianças com paralisia

cerebral espástica (47 diplégia, 33 tetraplégia, 42 hemiplégia, 1 triplégia), 4 crianças com

paralisia cerebral disquinética, 1 criança com paralisia cerebral atáxica, 4 crianças com

paralisia cerebral hemiparética e 3 crianças com paralisia cerebral diparética. Os artigos

foram publicados entre 2009 e 2017.

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Tabela 1 - Descrição dos artigos selecionados;

Autor/Data

Amostra

Objetivo de

estudo Protocolo / Duração

Instrumentos de

avaliação Resultados/ Conclusão

Retarekar et

al. (2009)

N= 1

Sexo feminino

Idade: 5 anos;

Tipo de Paralisia:

Diplégia espástica

Avaliar os efeitos

de um programa

aquático de

exercícios

aeróbios numa

criança com

paralisia cerebral;

Duração: 12 semanas, 3 vezes por

semana;

Protocolo:

- 5 min. Aquecimento a 50%-60% de

intensidade (caminhar, exercícios de

membros inferiores e step);

- 30/40 min. Intervenção aeróbia a

70%-80% de intensidade (caminhar na

passadeira aquática, exercícios de

transferência de objetos, corrida,

saltos, correr com ombros submersos

enquanto fisioterapeuta auxilia no

suporte da posição vertical, rastejar na

água, sentar num step e “chutar” a

água e nadar);

5 min. relaxamento a 50%-60% de

intensidade (caminhada lenta,

exercícios de membros inferiores e

alongamentos);

Avaliações: Foram

realizadas 3 avaliações (A1-

antes da intervenção, B- após

o término da intervenção

A2- acompanhamento após 3

meses do término da

intervenção);

-Canadian Occupational

Performance Measure

(COPM);

- Gross Motor Function

Measure- 66 (GMFM-66);

- 6-Minute Walk Test

(6MWT);

- Modified Energy

Expenditure Index (MEEI);

- Physical Activity

Questionnaire (PAQ);

Resultados:

- COPM e GMFM-66: melhorias

significativas na performance e

satisfação entre as avaliações A1 e B.

Melhorias mantiveram-se na avaliação

A2;

- 6MWT: melhorias significativas na

resistência durante a marcha entre as

avaliações A1 e B. Contudo na

avaliação A2, os valores de velocidade e

distância diminuíram e regressaram aos

valores da avaliação inicial;

- MEEI: diminuição entre as avaliações

A1 e B, que sugere uma melhoria na

eficiência da marcha. Contudo na

avaliação A2, houve aumento do gasto

energético durante a marcha,

aproximando-se dos valores da

avaliação inicial;

- PAQ: a tolerância ao exercicio

melhorou significativamente na

avaliação B em comparação com as

avaliações A1 e A2.

Espindula et

al. (2010)

N= 3

Sexo masculino: 2

Sexo feminino: 1

Idades Compreendidas:

entre 7 e 10 anos;

Tipo de Paralisia:

Diparética

Avaliar a

flexibilidade da

cadeia muscular

posterior,

utilizando o

método proposto

por Wells e

Dillon, antes e

após cada sessão

de hidroterapia;

Duração: 5 sessões de 30 minutos, 1

vez por semana;

Protocolo: Consistiu em: técnicas de

alongamento, em ambos os membros,

para os músculos tríceps sural,

ísquiotibiais, quadríceps; mobilização

do tornozelo; exercícios de

alongamento dos músculos flexores

dos membros superiores;

Séries de 4 repetições, mantendo o

alongamento por 30 segundos;

Avaliações: Foram

realizadas avaliações no

início e no final de cada

sessão de tratamento;

-Banco de Wells:

Resultados:

- Houve aumento estatísticamente

significativo da flexibilidade da cadeia

muscular posterior dos pacientes após

cada sessão de tratamento, assim como

na última sessão quando comparada

com a primeira. A média geral de ganho

entre indivíduos foi de ± 5.13 cm;

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Dimitrijević et

al. (2012)

N= 27

Grupo de Controlo (GC):

N= 13

Média de idades: 9.92 ±

2.32 anos;

Sexo:

Masculino: 7

Feminino: 6

Tipo de Paralisia:

Hemiplegia: 2 /Diplégia: 3/

Tetraplégia: 7 /

Hemiparésia: 1

Grupo de Intervenção

(GI):

N= 14

Média de idades: 9.21 ±

2.45 anos;

Sexo:

Masculino: 10

Feminino: 4

Tipo de Paralisia:

-Hemiplegia: 2 / Diplégia:

3/ Tetraplégia: 6 /

Hemiparésia: 3

Investigar o

efeito de uma

intervenção

aquática na

função motora

grossa e

capacidades

aquáticas em

crianças com

paralisia cerebral;

Duração: 6 semanas, sessões de 55

minutos, duas vezes por semana;

Protocolo: O principal objetivo deste

protocolo foi melhorar a segurança e a

independência funcional na água.

- 10 min. aquecimento (andar para a

frente, para trás, saltar e outros

exercícios similares);

- 40 min. de técnicas de natação (nadar

para a frente e para trás, flutuar, soprar

bolhas, mergulhar);

- 5 min. de jogo (jogos com bola, jogos

de “apanhada” );

Avaliações: Foram

realizadas 3 avaliações (A1-

antes da intervenção, B- após

o término da intervenção

A2- acompanhamento após 3

semanas do término da

intervenção);

-Gross Motor Function

Measure- 88 (GMFM-88)

- Water Orientation Test

Alyn 2 (WOTA 2

Resultados:

- Relativamente ao GI, na avaliação da

GMFM-88 e da WOTA 2 foram

detetadas melhorias significativas entre

as avaliações A1 e B;

- Relativamente ao GI, na avaliação A2,

não foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas na

GMFM-88 e na WOTA 2;

- Relativamente ao GC, não foram

encontradas diferenças estatisticamente

significativas na GMFM-88 nas

avaliações B e A2 quando comparadas

com a avaliação A1 (o GC não foi

incluído no programa de exercícios

aquáticos);

Arellano-

Martínez et al.

(2013)

N= 14

Grupo 1 (grupo de

tratamento com ortótese

Lokomat):

N= 8

Idades compreendidas: 6

e 12 anos;

Sexo:

Masculino: 2

Feminino: 6

Tipo de Paralisia:

-Hemiplegia espástica

Avaliar 2

modalidades de

tratamento

(ortótese

Lokomat vs

treino de ciclos

de marcha no

tanque

terapêutico) em

crianças com

paralisia cerebral

do tipo

hemiplegia

espástica;

Duração:

-G1- sessão de consciencialização

para o uso da ortótese + 10 sessões de

tratamento;

-G2- 10 sessões de 30 minutos;

Protocolo:

- G1- Pacientes submetidos a

tratamento robótico com ortótese

Lokomat que foi previamente ajustada

às medidas antropométricas dos

pacientes (peso, altura, comprimento

dos segmentos femoral e tibial). As

sessões consistiam em treino de

marcha usando configurações padrão

do equipamento. A velocidade

Avaliações: Foram

realizadas 3 avaliações (A1-

antes da intervenção, B- após

o término da intervenção

A2- acompanhamento após 1

ano do início da

intervenção);

-Modified Ashworth Scale

(MAS)

-Gross Motor Function

Classification System

(GMFCS)

Resultados:

-GMFCS: foram detetadas melhorias

significativas entre as avaliações A1 e

B. No G1, 3 pacientes passaram do nível

II para o nível I e no G2, 1 paciente

passou do níevl II para o nível I.

-MAS: foram detetadas melhorias

significativas entre as avaliações A1 e

B. Em ambos os grupos 5 pacientes (em

cada) diminuíram pelo menos um grau

da tonicidade muscular do membro

inferior afetado.

- Avaliação da marcha espaço-temporal

com o sistema GaitRITE: entre as

avaliações A1 e B, foram observadas

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Grupo 2 (grupo de

tratamento no tanque

terapêutico):

N= 6

Idades compreendidas: 6

e 9 anos;

Sexo:

Masculino: 5

Feminino: 1

Tipo de Paralisia:

-Hemiplegia espástica;

constante foi ajustada com variações

na resistência proporcionada pelo

controlo voluntário do paciente;

- G2- As sessões consistiram no treino

dos ciclos da marcha num tanque

terapêutico sob direção de um

fisioterapeuta e com o auxílio do

cuidador do paciente;

-Avaliação da marcha

espaço-temporal com o

sistema GaitRITE

melhorias estatisticamente

significativas em todas as varáveis

estudadas no G1, enquanto que no G2 só

houve melhoria estatisticamente

significativa na variável do perfil

funcional da passada.

- Na avaliação A2, as avaliações da

MAS, GMFCS e da marcha espaço-

temporal com o sistema GaitRITE não

revelaram diferenças estatísticamente

significativas quando comparadas com a

avaliação inicial.

Maniu et al.

(2013)

N= 24

Sexo masculino: 18

Sexo feminino: 6

Média de idades: 12.5 ±

2.7 anos;

Tipo de Paralisia:

-Diplégia espástica: 5

-Tetraplégia espástica:10

-Hemiplégia espástica: 4

-Disquinética: 4

-Atáxica: 1

Avaliar os efeitos

de um programa

de 6 meses de

terapia aquática

adaptado e

integrado no

tratamento de

reeducação

neuromotora de

crianças com

paralisia cerebral

na capacidade

vital qualidade de

vida e índice de

atividade física;

Duração: 6 meses, 2 vezes por

semana, sessões de 45 minutos;

Protocolo: O programa usa os

princípios da mecânica de fluídos de

modo a permitir que os sujeitos

alcancem a estabilidade e controlo de

movimento na água. O programa

deseja alcancar a independência

aquática em crianças com paralisia

cerebral.

Avaliações: Foram

realizadas 2 avaliações: uma

antes do início da

intervenção e outra no fim da

intervenção;

-Gross Motor Function

Classification System

(GMFCS)

-Physical Activity Index

(PAI)

- Questionário KINDLR

-Espirómetro

Resultados:

-PAI: foi observado um aumento

estatisticamente significativo de 51%

em comparação com a avaliação inicial;

- Relativamente à avaliação da GMFCS

inicial e final:

progresso de 52.4% para nível II;

progresso de 54% para nível III;

progresso de 45.1% para os níveis IV e

V.

-KINDLR houve um aumento

significativo de 23.7% em relação à

avaliação inicial;

- Relativamente à avaliação da

espirómetria, houve um aumento

significativo de 56.7% nos valores da

capacidade vital quando comparados

com os valores iniciais.

Fragala-

Pinkham et al.

( 2014)

N= 8

Sexo masculino: 4

Sexo feminino: 4

Média de idades: 10.6 ±

3.5 anos;

Tipo de Paralisia:

-Diplégia espástica: 4

-Hemiplégia espástica:3

-Triplégia espástica: 1

O objetivo

principal deste

estudo foi avaliar

a eficácia de um

programa de

exercícios

aquáticos de 14

semanas sobre a

função motora

grossa e a

resistência na

Duração: 14 semanas, 2 vezes por

semana, sessões de 1 hora;

Protocolo:

-2 a 5 min. de aquecimento (atividades

de marcha lenta de modo a progredir

para atividades de marcha com maior

intensidade);

-40 a 45 min. de exercício aeróbio (

caminhar na água, passadeira

aquática, subir e descer step, correr,

saltar, exercícios de basquetebol

Avaliações: Foram

realizadas 3 avaliações (A1-

antes da intervenção, B- após

o término da intervenção

A2- acompanhamento após 1

mês do fim da intervenção);

Instrumentos do 1º

objetivo:

-GMFM (dimensões D e E)

Resultados:

- Relativamente à GMFM e ao 6MWT,

houve melhorias estatisticamente

significativas entre as avaliações A1 e B

que se traduziu numa melhoria na

função motora grossa e resistência na

marcha. Contudo, não houve melhorias

significativas entre as avaliações B e

A2, sugerindo que as melhorias foram

mantidas mas não aumentadas;

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marcha em

crianças com

paralisia cerebral.

O objetivo

secundário foi

avaliar mudanças

na força

funcional, na

capacidade

aeróbia e

equilíbrio;

(corrida à retaguarda, corrida lateral),

nadar, “chutar” a água e outros

exercícios de movimento)

-5 a 10 min. de treino de força

muscular (exercícios de tronco e

membros inferiores usando

“esparguetes”, pesos nas pernas,

barbatanas e resistência da água)

realizando 2 a 3 séries de 10

repetições;

-5 a 10 min. de relaxamento e

alongamentos;

-6-Minute Walk Test

(6MWT)

Instrumentos do 2º

objetivo:

-Brockport modified curl-up

e isometric push-up

- Brockport modified lateral

step-ups

-Shuttle run test I e II

-Pedriatric Berg Balance

Scale

- Todos os instrumentos do 2º objetivo

demonstraram tendência para melhorias

entre as avaliações A1 e B, contudo

estabilizaram ou diminuíram

ligeiramente entre as avaliações B e A2.

Lai et al.

(2015)

N= 24

Grupo de Controlo (GC):

N= 13

Média de idades: 87.6 ±

34.0 meses;

Sexo:

Masculino: 9

Feminino: 4

Tipo de Paralisia:

Hemiplegia: 3 / Diplégia:

6/ Tetraplégia: 4

Grupo de Intervenção

(GI):

N= 11

Média de idades: 85.0 ±

33.1 meses;

Sexo:

Masculino: 4

Feminino: 7

Tipo de Paralisia:

Hemiplegia: 3 /Diplégia: 3

/ Tetraplégia: 5

Investigar os

efeitos da terapia

aquática

pediátrica na

função motora,

na satisfação,

mas atividades

diárias e na

qualidade de vida

relacionada com

a saúde em

crianças com

paralisia cerebral

espástica com

várias

severidades

motoras.

Duração: 12 semanas, 2 vezes por

semana, sessões de 1 hora;

Protocolo:

- GC- grupo sem intervenção, apenas

continuam com as terapias

convencionais que já frequentavam;

-GI- Programa de terapia aquática em

adição à terapia convencional que já

frequentavam. Programa baseado no

conceito de Halliwick que se foca na

melhoria da força muscular, do

controlo motor do tronco e dos

membros, na circulação, na

componente respiratória, no equilíbrio

estático e dinâmico e no tónus

postural.

-5 a 10 min. aquecimento;

-40 min. de exercício;

-5 a 10 min. de exercícios de

relaxamento;

Avaliações: Foram

realizadas 2 avaliações: uma

antes do início da

intervenção e outra no fim da

intervenção;

-Modified Ashworth Scale

(MAS)

-Gross Motor Function

Measure- 66 (GMFM-66)

-Physical Activity Enjoyment

Scale (PAES)

-Vineland Adaptive

Behavior Scale (VABS)

-Cerebral Palsy Quality-of-

Life-parent proxy scale

(CPQL)

Resultados:

- GMFM-66: a análise dos resultados de

covariância demonstrou que a terapia

aquática pediátrica teve um efeito

estatisticamente positivo no GI em

relação ao GC. Melhorou a pontuação

média em 4.7 pontos;

-MAS: não houve diferenças

estatisticamente significativas entre os

dois grupos na avaliação pós-

tratamento;

-Relativamente à PAES, o GI,

apresentou pontuações médias

significativamente mais altas que o GC;

-VABS e CPQL: não houve diferenças

estatísticamente significativas entre os

dois grupos na avaliação pós-

tratamento;

Silva et al.

(2017)

N= 4

Sexo masculino: 4

Analisar os

efeitos da

Duração: 10 sessões, 2 vezes por

semana, sessões de 1h;

Avaliações: Foram

realizadas 2 avaliações: uma Resultados:

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Idades compreendidas: 3

e 9 anos;

Tipo de Paralisia:

-Diplégia espástica: 1

-Tetraplégia espástica:1

-Tetraplégia atetóica: 2

fisioterapia

aquática sobre o

alinhamento

postural e

extensibilidade

muscular em

crianças com o

diagnóstico de

paralisia cerebral;

Protocolo: Baseado num estudo

realizado por Brancher et al. (2014),

com ênfase em relaxamento,

alongamento e fortalecimento do

tronco e membros inferiores e

atividades que incentivam o caminhar,

sentar e levantar.

-10 min. de avaliação pré-intervenção;

-40 min. de intervenção dos quais 5

min. iniciais e 5 min. finais eram para

adaptação e relaxamento;

- 10 min. de avaliação pós-

intervenção;

antes do início da

intervenção e outra no fim da

intervenção;

-Spinal Alignment and

Range of Motion Measure

(SAROMM)

-Todas as crianças apresentaram

melhoria com o tratamento proposto,

particularmente nas articulações da

anca, do joelho e do tornozelo;

- Contudo não foi possível identificar

alterações no tronco após a intervenção

em nenhuma das crianças avaliadas.

Adar et al.

(2017)

N= 32

Grupo de Intervenção em

Solo (GIS):

N= 15

Média de idades: 9.3± 1.9

anos;

Sexo:

Masculino: 9

Feminino: 6

Tipo de Paralisia:

-Hemiplegia: 5

-Diplégia: 10

Grupo de Intervenção

Aquática (GIA):

N= 17

Média de idades: 10.1 ±

2.4 anos;

Sexo:

Masculino: 8

Feminino: 9

Tipo de Paralisia:

-Hemiplegia: 6

-Diplégia: 11

O primeiro

objetivo deste

estudo é

comparar os

efeitos de um

programa de

exercícíos em

solo e um

programa de

exercícios

aquáticos na

espasticidade,

qualidade de

vida, e função

motora em

crianças com

paralisia cerebral.

O segundo

objetivo é ter

acesso à

morfologia do

músculo

gastrocnémio

espástico usando

ultrassonografia;

Duração: 30 sessões durante 6

semanas (5 vezes por semana), sessões

de 1h;

Protocolo:

-GLS

-10 min. movimentos ativos e

alongamentos;

-30 min. exercício aeróbio e exercícios

de alongamento (extensores dos

joelhos, flexores da anca e

dorsiflexores do tornozelo);

- 20 min. de sentar-levantar e treino de

marcha;

-GIA

- 10 min. de exercícios de

aquecimento, movimentos ativos e

alongamentos (fora da piscina);

- 25 min. de exercício aeróbio;

- 20 min. de exercícios ativos para

ganho de amplitude de movimento e

alongamento (extensores dos joelhos,

flexores da anca e dorsiflexores do

tornozelo);

- 5 min. de relaxamento (caminhar e

nadar de forma calma);

Avaliações: Foram

realizadas 2 avaliações: uma

antes do início da

intervenção e outra no fim da

intervenção;

-Ecografia usando MyLab 70

Xvision Gold;

-Modified Ashworth Scale

(MAS);

-Timed Up and Go Test

(TUG;

-Gross Motor Function

Measure- 88 (GMFM-88);

-WeeFIM (Wee Functional

Independence Measure);

-PedsQL-CP (Pediatric

Quality of Life Inventory);

Resultados:

-GIA: observaram melhoras

estatisticamente significativas no pós-

tratamento em relação à avaliação de

MAS, TUG, GMFM-88, WeeFIM,

avaliação da ultrassonografia da

espasticidade do músculo gastrocnémio,

Peds-QL realizado pelos indivíduos

(subpartes das atividades diárias e

escolares, movimento, equilíbrio, dor e

atividades alimentares), Peds-QL

realizado pelos pais (subpartes das

atividades diárias e escolares,

movimento e equilíbrio, dor e fadiga);

-GIS: observaram melhoras

estatisticamente significativas nas

avaliações pós-tratamento da MAS

(exceto adutores da coxa), TUG,

GMFM-88 e WeeFIM, Peds-QL

realizado pelos participantes (subpartes

de movimento e equilíbrio). Peds-QL

realizado pelos pais (subpartes de

movimento, equilíbrio e dor);

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4. Discussão

O objetivo desta revisão foi perceber a eficácia da abordagem hidroterapêutica em

crianças com paralisia cerebral. Assim quando comparados os estudos constatámos que

o número de elementos da amostra é bastante diferente, sendo que a amostra mais pequena

incluiu apenas 1 participante (Retarekar et al., 2009) e a amostra maior incluiu 32

participantes (Adar et al., 2017). Os elementos da amostra apresentaram também uma

grande heterogeneidade no tipo de paralisia cerebral, pois foram incluídos indivíduos com

paralisia cerebral espástica (diplégia, tetraplégia, hemiplégia, triplégia), indivíduos com

paralisia cerebral disquinética, um indivíduo com paralisia cerebral atáxica, indivíduos

com paralisia cerebral hemiparética e indivíduos com paralisia cerebral diparética.

Devido à heterogeneidade dos sujeitos em estudo a sua comparação tornou-se difícil.

Em todos os artigos foi realizado um protocolo de terapia aquática, contudo e apesar das

semelhanças, os protocolos foram todos diferentes devido a cada um ser ajustado de

acordo com os seus objetivos. Como por exemplo, os estudos de Adar et al., (2017),

Fragala-Pinkham et al., (2014) e Retarekar et al., (2009) que usaram treino aeróbio no seu

protocolo, ou os estudos de Fragala-Pinkham et al., (2014) e Arellano- Martínez et al.,

(2013) que usaram ambos treino de marcha no seu protocolo de intervenção. Contudo é

de referir, que os estudos conduzidos por Silva et al., (2017), Lai et al., (2015) e Maniu

et al., (2013), apesar de apontarem qual o objetivo do protocolo ou em qual este foi

baseado, não descrevem o tipo de exercícios que utilizaram.

Relativamente aos instrumentos de avaliação, foram usados diversos conforme o objetivo

de avaliação. Apenas um dos artigos analisados (Fragala-Pinkham et al., 2014) avaliou

a força através testes como: Brockport modified curl-up, isometric push-up e Brockport

modified lateral step-ups. Após a aplicação do protocolo de intervenção, os resultados

obtidos através da avaliação usando estes testes demonstraram uma tendência da melhoria

da resistência muscular do tronco e das extremidades superior e inferior do tronco.

Apenas um dos artigos analisados (Espindula et al., 2010) avaliou a flexibilidade através

do uso do Banco de Wells. O protocolo baseado em técnicas de alongamento, traduziu-

se num aumento estatísticamente significativo da flexibilidade da cadeia muscular

posterior dos pacientes após cada sessão de tratamento, assim como antes da primeira

sessão quando comparada com a última. A média geral de ganho entre indivíduos foi de

± 5.13 cm. Analisando estes resultados, concluímos que este protocolo de intervenção

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hidroterapêutica parece ter influência no aumento da flexibilidade da cadeia muscular

posterior de crianças com paralisia cerebral.

Os estudos conduzidos por Arellano- Martínez et al., (2013), Lai et al., (2015) e Adar et

al., (2017) avaliaram a espasticidade através da Modified Ashworth Scale. Contudo

enquanto que os estudos realizados por Arellano- Martínez et al., (2013) e Adar et al.,

(2017) obtiveram melhorias estatísticamente significativas na espasticidade, Lai et al.,

(2015) não observaram diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de

controlo e o grupo de intervenção. Este último resultado pode estar relacionado com o

tipo de patologia, pois enquanto que Arellano- Martínez et al., (2013) e Adar et al., (2017)

apenas incluíram hemiplégia e diplégia, o estudo de Lai et al., (2015) inclui também

tetraplégia. Adar et al., (2014) avaliaram ainda a espasticidade através da Ecografia

usando MyLab 70 Xvision Gold com o objetivo de observar a morfologia espástica do

músculo gastrocnémio e após a aplicação do protocolo de intervenção, foram observados

resultados estatísticamente positivos no grupo de exercío aquático quando comparado

com o grupo de exercicio em solo, provando assim que este protocolo terá sido eficaz na

redução da espasticidade.

Quanto à avaliação da capacidade respiratória o estudo de Retarekar et al., (2009) usou o

6-Minute Walk Test (6MWT) com o objetivo de avaliar a capacidade de exercício

submaximal funcional e o Modified Energy Expenditure Index (MEEI) de modo a avaliar

o gasto energético durante a marcha, enquanto que Maniu et al., (2013) recorreu à

espirómetria e Fragala-Pinkham et al., (2014) usou o Shuttle run test I e II para avaliar a

capacidade aeróbia. Retarekar et al., (2009) observaram melhorias estatísticamente

significativas na avaliação pós-tratamento na capacidade de exercício submaximal

através do 6MWT e na diminuição no gasto energético durante a marcha através do

MEEI, contudo na avaliação de acompanhamento após 3 meses o término na intervenção,

esses valores regrediram e regressaram aos valores da avaliação inicial. Maniu et al.,

(2013) registaram um aumento significativo de 56.7% através da espirómetria nos valores

da capacidade vital quando comparados com os valores iniciais. Fragala-Pinkham et al.,

(2014) observaram tendência para melhoria na capacidade aeróbia através do Shuttle run

test I e II na avaliação pós-tratamento, contudo essas melhorias estabilizaram ou

diminuíram na avaliação de acompanhamento após 1 mês do fim da intervenção.

Analisando estes resultados, concluímos que a hidroterapia parece ter influência no

aumento da capacidade respiratória de crianças com paralisia cerebral.

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Apenas o estudo elaborado por Silva et al., (2017) avaliou a amplitude de movimento

através do Spinal Alignment and Range of Motion Measure. O protocolo baseou-se em

exercícios de relaxamento, alongamento, fortalecimento do tronco e membros inferiores

e atividades que incentivam o caminhar, sentar e levantar. A avaliação pós intervenção

revelou que todas as crianças apresentaram melhoria estatisticamente significativa

particularmente nas articulações da anca, do joelho e do tornozelo, contudo não foi

possível identificar alterações no tronco após a intervenção em nenhuma das crianças

avaliadas.

Relativamente à avaliação do equilíbrio, apenas o estudo descrito por Fragala-Pinkham

et al., (2014) avaliou essa componente através da Pedriatric Berg Balance Scale. Na

avaliação pós-intervenção, observaram tendência para melhoria no equilíbrio, contudo

essas melhoria estabilizou ou diminuíu ligeiramente na avaliação de acompanhamento

após um mês do fim da intervenção.

A avaliação das capacidades motoras básicas foi assegurada por muitos instrumentos de

avaliação, tais como: Gross Motor Function Classification System (GMFCS) (Arellano-

Martínez et al., 2013), (Maniu et al., 2013); Gross Motor Function Measure-88

(Dimitrijević et al., 2012), (Adar et al., 2017); Gross Motor Function Measure-66

(Retarekar et al., 2009), (Lai et al., 2015); Fragala-Pinkham et al., (2014) usou também

as dimensões D e E da Gross Motor Function Measure; Timed Up and Go Test e Wee

Functional Independence Measure foram usados no estudo de Adar et al., (2017); 6-

Minute Walk Test com objetivo de avaliar a resistência na marcha (Fragala-Pinkham et

al., 2014); Avaliação da marcha espaço-temporal com o sistema GaitRITE (Arellano-

Martínez et al., 2013). Relativamente à GMFCS o estudo de Maniu et al., (2013),

observou: progresso de 52.4% para nível II, progresso de 54% para nível III e progresso

de 45.1% para os níveis IV e V e o estudo de (Arellano- Martínez et al., 2013) detetou

melhorias significativas entre as inicial e final, sendo que um paciente passou do nível II

para o nível I.

Em relação à Gross Motor Function Measure-88, Dimitrijević et al., (2012) e Adar et al.,

(2017) registaram melhorias estatísticamente significativas entre as avaliações inicial e

final.

Relativamente à Gross Motor Function Measure-66, Retarekar et al., (2009) e Lai et al.,

(2015) registaram melhoria estatísticamente significativa entre as avaliações inicial e

final. Lai et al., (2015) revelou que a terapia aquática pediátrica teve um efeito

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estatisticamente positivo no GI em relação ao GC, melhorando a pontuação média em

4.7 pontos.

As dimensões D e E da Gross Motor Function Measure avaliadas no estudo de Fragala-

Pinkham et al., (2014), bem como o 6MWT revelaram um aumento estatísticamente

significativo entre as avaliações inicial e final, contudo não houve melhorias

significativas na avaliação de acompanhamento após 1 mês do fim da intervenção,

sugerindo que as melhorias foram mantidas mas não aumentadas.

O Timed Up and Go Test e a Wee Functional Independence Measure usados no estudo

de Adar et al., (2017) revelaram uma melhoria estatísticamente significativa na

mobilidade funcional na avaliação pós-intervenção, quando comparada com a avaliação

inicial, evidenciando mais uma vez a possível eficácia da hidroterapia.

A avaliação da marcha espaço-temporal com o sistema GaitRITE (Arellano- Martínez et

al., (2013) apenas revelou aumento estatísticamente significativo na variável perfil

funcional da marcha no grupo de intervenção aquática com intervenção focada no treino

dos ciclos de marcha enquanto que no grupo que utilizou a ortótese Lokomat foram

observadas melhorias estatísticamente significativas em todas as variáveis estudadas.

Analisando estes resultados, concluímos que a hidroterapia parece ter influência no

aumento das capacidades motoras básicas de crianças com paralisia cerebral.

Depois se analisar todos os protocolos, bem como os seus resultados conseguímos

perceber que não existe nenhum protocolo modelo pois não têm todos o mesmo objetivo.

Dito isto, podemos considerar o protocolo de (Espindula et al., 2010) para o aumento da

flexibilidade da cadeia muscular posterior, pois este mostrou-se eficaz. Sugerimos ainda

a utilização do protocolo de Arellano- Martínez et al. (2013) para tentar observar uma

diminuição da espasticidade e tornar a marcha de crianças com paralisia cerebral mais

eficiente. Em contra partida, caso o objetivo fosse melhorar a capacidade aeróbia uma

proposta possível seria utilizar o programa de exercícios aquáticos descrito por Retarekar

et al., (2009). Numa abordagem mais ampla, sugerimos a título de exemplo o programa

de exercícios aquáticos descrito por Adar et al., (2017) que revelou ter bastante eficácia

na espasticidade, qualidade de vida e função motora de crianças com paralisia cerebral.

Podemos considerar como limitações do estudo a dificuldade em encontrar estudos

randomizados controlados e a heterogeneidade da amostra.

Posto isto, no futuro, seria interessante investigar os efeitos da hidroterapia em

componentes como a força, o equilíbrio, a amplitude de movimento e a flexibilidade de

modo a obter mais resultados comparáveis e em amostras mais homogéneas.

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5. Conclusão

Pela análise dos estudos encontrados podemos concluir que a hidroterapia parece mostrar-

se eficaz no tratamento de crianças com paralisia cerebral, principalmente nas

componentes da espasticidade, na capacidade respiratória e nas capacidades motoras

básicas. No entanto, apesar de parecer ser igualmemte eficaz no aumento da força, do

equilíbrio, na amplitude de movimento e na flexibilidade, os dados por nós recolhidos

não nos permitem uma conclusão clara sobre os efeitos da hidroterapia nas crianças com

paralisia cerebral.

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