universidade federal rural do rio de janeiro … · cbo- classificação brasileira de ocupações...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE – DCMA
A COLETA SELETIVA E O PERFIL SOCIAL DOS CATADORES DE RESÍDUOS
SÓLIDOS RECICLÁVEIS NO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA (RJ).
Fernanda C. Ramos Ragazzi
ORIENTADOR: Prof. Dr. Fábio Cardoso de Freitas
TRÊS RIOS - RJ
DEZEMBRO – 2017
2
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA
A COLETA SELETIVA E O PERFIL SOCIAL DOS CATADORES DE
RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS NO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA (RJ).
Fernanda C. Ramos Ragazzi
Monografia apresentada ao curso de Gestão Ambiental, como
requisito parcial para obtenção do título de bacharel em
Gestão Ambiental da UFRRJ, Instituto Três Rios da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
TRÊS RIOS - RJ
DEZEMBRO-2017
3
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA
A COLETA SELETIVA E O PERFIL SOCIAL DOS CATADORES DE
RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS NO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA (RJ).
Fernanda C. Ramos Ragazzi
Monografia apresentada ao Curso de Gestão Ambiental como
pré-requisito parcial para obtenção do título de bacharel em
Gestão Ambiental da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Instituto Três Rios da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro.
Aprovada em //
Banca examinadora:
_________________________________________
Prof. Orientador Dr.Fábio Cardoso de Freitas
__________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Ferreira Lopes
_____________________________________________
Secretária de Meio Ambiente e Mestre Alice Silva Pereira Hagge
TRÊS RIOS – RJ
DEZEMBRO-2017
4
Dedicatória
Sou grata primeiramente a Deus por Seu incomparável amor e pelo
presente de ter completado esta etapa tão importante na minha vida.
5
RESUMO
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei Federal 12.305/2010,
possui instrumentos para efetividade de suas diretrizes propostas, dentre eles, destaca-se a
prática da Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos. A coleta seletiva de materiais recicláveis
tornou-se uma possibilidade de sobrevivência para algumas pessoas além de contribuir
positivamente com o meio ambiente. Através do Decreto Federal nº. 5.940, de 25 de
outubro de 2006, que instituiu a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos
órgãos e entidades da administração pública federal e a sua destinação às associações e
cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, a Prefeitura Municipal de Sapucaia por
meio da Lei nº 2.376 de 29 de setembro criou o Programa de Reciclagem Ambiental
Municipal, com a finalidade de minimizar o despejo de lixo reciclável no meio ambiente e
firmou convênio com a COOPER, (Cooperativa de Reciclagem Elizabeth) em prol de uma
melhoria ambiental e na vida dos catadores que antes obtinham sua fonte de renda através
do lixão. Com o objetivo de observar e descrever o processo da coleta seletiva, a
organização dos catadores, bem como analisar seus lucros e a condição de trabalho antes e
depois da existência da cooperativa, a perspectiva socioeconômica dos cooperativados, a
metodologia utilizada pelos catadores em seu processo de trabalho, o fluxo de resíduos que
chegam ao galpão e sua comercialização, o local de trabalho e materiais utilizados pelos
catadores também foram analisados. Portanto, a pesquisa tornou-se relevante uma vez que
foi perceptível o quanto a sociedade pode contribuir com o meio ambiente e
consequentemente, à medida que o volume de resíduo sólido reciclável aumenta, aumenta a
fonte de renda dos catadores, que desempenham fundamental papel no elo do sistema de
reciclagem, porém carecem de maior atenção por parte do Poder Público e principalmente,
da sociedade civil ao passo que são submetidos, em muitos casos, a condições de
marginalidade social e econômica. Dessa maneira, essa conscientização, atrelada ao
gerenciamento dos resíduos sólidos deverá gerar uma educação ambiental amparada por
políticas públicas de redução e destinação de lixo.
Palavras-chave: PNRS, cooperativados, reciclagem.
6
ABSTRACT
The National Solid Waste Policy (PNRS), instituted by Federal Law 12,305 / 2010, has
instruments for the effectiveness of its proposed guidelines, among them, the practice of
Selective Collection of Solid Waste stands out. The selective collection of recyclable
materials has become a possibility of survival for some people besides contributing positively
with the environment. Through Federal Decree no. 5,940, dated October 25, 2006, which
instituted the separation of recyclable waste discarded by the organs and entities of the federal
public administration and its destination to associations and cooperatives of collectors of
recyclable materials, the Municipality of Sapucaia through Law No. 2,376 of September 29,
created the Municipal Environmental Recycling Program, with the purpose of minimizing the
dumping of recyclable waste in the environment and signed an agreement with COOPER
(Elizabeth Recycling Cooperative) in favor of an environmental improvement and in the life
of the collectors who before they got their source of income through the dump. In order to
observe and describe the process of selective collection, the organization of the collectors, as
well as to analyze their profits and the working condition before and after the existence of the
cooperative, the socioeconomic perspective of the cooperatives, the methodology used by the
collectors in their process workflow, the flow of waste arriving at the shed and its
commercialization, the workplace and materials used by the scavengers were also analyzed.
Therefore, research has become relevant since it was perceptible how much society can
contribute to the environment and consequently, as the volume of recyclable solid waste
increases, it increases the source of income of the collectors, who play a fundamental role in
the However, they lack greater attention on the part of the Public Authorities and especially of
civil society, while in many cases they are subject to social and economic marginalization.
Thus, this awareness, linked to the management of solid waste should generate an
environmental education supported by public policies of waste reduction and disposal.
Keywords: PNRS, cooperative, recycling
7
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS
CBO- Classificação Brasileira de Ocupações
COOPER - Cooperativa de Reciclagem Elizabeth
CFRB/88- Constituição Federal do Brasil
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ONU- Organização das Nações Unidas
PNMA- Política Nacional do Meio Ambiente
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
RSU- Resíduos Sólidos Urbanos
RPA- Recibo de Pagamento Autônomo
INEA-Instituto Estadual do Ambiente
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Localização de Sapucaia, RJ, (página 13).
Figura 2 – Localização dos cinco distritos de Sapucaia, RJ, (página 15).
Figura 3 – Aspectos geográficos do município de Sapucaia. População, (página 15).
Figura 4 – Percentual de domicílios com esgotamento sanitário adequado, (página 16).
Figura 6- Carrinho manual, (página 21).
Figura 5: Padrão de cores instituído pela Resolução CONAMA nº 275, de 25 de abril de 2001,
(página 23).
Figura 7 – Caminhão utilizado para coleta, (página 22).
Figura 8 – Caixa para coleta de lixo seco, (página 23).
Figura 9 – Ecoponto, (página 23).
Figura 10 – Momento de compactação do material reciclado, (página 24).
Figura 11: Grau de escolaridade (página 24).
Figura 12: Anos de trabalho na reciclagem (página 29).
Figura 13- Maior problema enfrentado na coleta de acordo com os cooperativados (página
31).
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 11
1.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................................ 13
1.1.1. Objetivos Específicos ........................................................................................... 13
1.2. A COOPERATIVA DE RECICLAGEM COOPER ELIZABETH ..................................................... 13
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................... 15
2.1. A Política Nacional de Resíduos Sólidos ............................................................................. 15
2.1.1. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e as Cooperativas/Cooperados .............. 16
2.1.2. O Código das cores na coleta seletiva ................................................................................ 18
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................................ 19
3.1. ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................... 20
3.1.1. Caracterização e localização do Município de Sapucaia ...................................... 20
3.1.2. Resumo Histórico ................................................................................................. 20
3.1.3. Divisão do Município em Distritos ....................................................................... 21
3.1.4. População ............................................................................................................ 21
3.1.5. Território e Ambiente .......................................................................................... 22
4. RESULTADO E DISCUSSÃO ......................................................................................................... 23
4.1.1. Análise do Processo de Trabalho ....................................................................................... 23
4.1.2. Análise do perfil socioeconômico dos cooperados ............................................................ 26
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 30
6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 32
7. ANEXOS ..................................................................................................................................... 35
ANEXO I ................................................................................................................................................. 35
ANEXO II ................................................................................................................................................ 37
ANEXO III ............................................................................................................................................... 38
11
1. INTRODUÇÃO
O aumento significativo da população nas cidades brasileiras gera vários problemas
ambientais, sendo um deles, o lixo urbano, que possui diversas origens, tais como domiciliar,
(sobra de alimentos, papéis, plásticos, vidros, papelão), ou de origem industrial, que
apresentam uma composição de origem gasosa, líquida ou sólida. Vale ressaltar também o
lixo de origem hospitalar, como ataduras, seringas, agulhas, e o lixo de origem eletrônica, tais
como aparelhos eletrônicos em geral, pilhas e entre outros.
Um dos maiores problemas urbanos no mundo moderno é o lixo sólido, devido ao excesso
de consumo pela sociedade. A acumulação de dejetos nesses centros urbanos, não possuem
um lugar específico e um tratamento adequado, o que tende a aumentar quando a população
cresce e acaba elevando o consumo desses itens. O consumo nos dias atuais significa
produção de lixo, em média, cada pessoa produz entre 800g a 1kg de lixo diariamente
(BRASIL, 2014).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2017), a quantidade de lixo gerada era
inferior a atual. Hoje com a globalização e as inovações tecnológicas facilitaram a dispersão
dos mercados em nível mundial, e o modelo de desenvolvimento das cidades está vinculado
ao incentivo do consumo. Antes da Primeira Revolução Industrial, o lixo que era gerado nas
residências era basicamente orgânico, facilitando a eliminação e deterioração no meio
ambiente. Além disso, a quantidade populacional era bem menor, com o aumento da
população na metade do século XX, os centros urbanos desencadearam um aumento na
quantidade de lixo e o processo de industrialização fez com que esses dejetos possuíssem
variedades em sua composição.
O processo da urbanização brasileira aconteceu de forma rápida e intensa, ao longo do
século XX, desta forma caracteriza-se como um dos movimentos socioterritoriais mais
relevantes da história do país. Resultado da transição de uma economia de base agrária para
uma economia industrial, o súbito desenvolvimento das cidades brasileiras faz sua população
urbana quase dobrar em 40 anos. Passa de 44,7% do total dos brasileiros em 1960 para 81,2%
no ano 2000 (BRASIL, 2005). Junto ao quadro de expectativa pelo desenvolvimento e
progresso, nota-se, como uma sobra da vertiginosa urbanização, o agravamento da
problemática ambiental voltada para a geração de resíduos sólidos, uma vez que é
proporcional ao consumo. Quanto mais habitantes uma cidade possui, maior será a quantidade
(volume) de resíduo descartado. Quanto mais se consome e quanto mais recursos são
12
utilizados, mais resíduos são produzidos. Segundo publicação na revista Em Discussão do
Senado Federal:
Sete bilhões de seres humanos produzem anualmente 1,4 bilhão de toneladas de
resíduos sólidos urbanos (RSU) — uma média de 1,2 kg por dia per capita. Quase a
metade desse total é gerada por menos de 30 países, os mais desenvolvidos do
mundo. Se o número parece assustador, cenário ainda mais sombrio é traçado por
estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial: daqui a dez
anos, serão 2,2 bilhões de toneladas anuais. Na metade deste século, se o ritmo atual
for mantido, teremos 9 bilhões de habitantes e 4 bilhões de toneladas de lixo urbano
por ano. (BRASIL,2014)
.
Os RSU (resíduos sólidos urbanos) gerados pela sociedade em suas diversas atividades
resultam em riscos à saúde pública, provocam degradação ambiental, além dos aspectos
sociais, econômicos e administrativos envolvidos na questão. A maior parte dos RSU no
mundo é descartada em aterros, os quais recebem diariamente um enorme volume de lixo.
Segundo Sisinno (2002), os resíduos sólidos urbanos devem ser compreendidos como um
problema de saúde pública e que as consequências de seu manejo e disposição final
inadequado acabam se refletindo direta e indiretamente na saúde da população, sendo assim
há por parte do poder público municipal e em cumprimento ao PNRS, o interesse do
gerenciamento de modo mais adequado e profissional da grande quantidade e diversidade de
resíduos que são produzidos no município de Sapucaia diariamente pelas empresas e pelas
residências. Todavia, conforme assevera Siqueira (2009), pensar a educação ambiental requer
uma reflexão sobre os pressupostos dos processos produtivos, das mudanças nos hábitos de
consumo, na urbanização sem causar impacto, gerando formas alternativas de produção
energética e distribuição de renda.
Atualmente, o produto que compramos no mercado não gera apenas lixo do produto, pois,
durante sua produção existem várias etapas como o cultivo, a extração, o transporte e a
energia que é utilizada para que ele possa ser gerado.
As cidades contam com serviço de coleta de lixo, sendo os mais comuns, os lixões e os
aterros sanitários, estes, geralmente são localizados em áreas afastadas do centro da cidade, ou
até mesmo em locais que são inapropriados como nas encostas de rios e córregos.
No ano de 2010 entrou em vigor a Lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, onde retrata a necessidade de cada um ser responsável pelo resíduo gerado, bem
como a minimização da geração dos resíduos sólidos, diminuindo os danos à saúde e ao meio
ambiente, e o estímulo ao reaproveitamento do material descartado. A lei também aborda que
quem produz mais resíduo, deve pagar mais por ele e por sua vez, quem economiza deve
receber algum benefício. Além disso, estabelece que a participação da comunidade na coleta
13
seletiva é de suma importância, uma vez que agrega valor aqueles que trabalham nesse ciclo,
tendo responsabilidade com a sociedade e com o meio ambiente.
A Lei de resíduos sólidos aponta duas ideias importantes: a primeira é a de que todos nós
somos geradores de resíduos sólidos, sejam as pessoas, as empresas ou governos. A segunda é
que as ações para solucionarem os problemas dos resíduos sólidos são chamadas de gestão
integrada de resíduos sólidos, incluindo os planos nacional, estaduais, microrregionais,
intermunicipais, municipais e os de gerenciamento.
A presente pesquisa vislumbrou a análise e avaliação dos processos de trabalho e
elaboração do perfil socioeconômico dos catadores de material reciclável na Cooperativa
Elizabeth, localizada no Município de Sapucaia no interior do estado do Rio de Janeiro.
1.1.OBJETIVO GERAL
Analisar o processo da coleta seletiva no município de Sapucaia, com foco na perspectiva
socioeconômica, observando o trabalho realizado pelos catadores cadastrados na cooperativa.
1.1.1. Objetivos Específicos
• Identificar a metodologia utilizada pelos catadores da Cooperativa Elizabeth durante o
processo da coleta de resíduos recicláveis.
• Analisar a comercialização dos resíduos coletados.
• Elaborar um perfil socioeconômico dos catadores da cooperativa Elizabeth.
• Avaliar se a cooperativa trouxe benefícios sociais e econômicos aos catadores no que
se refere à qualidade de vida e fonte de renda.
• Analisar externalidades positivas e negativas relacionadas à coleta seletiva.
1.2. A COOPERATIVA DE RECICLAGEM COOPER ELIZABETH
Entendidas como importantes fatores para geração de empregos, as cooperativas geram
encadeamento da economia local. Nesta perspectiva, o desenvolvimento de atividades
conjuntas e cooperadas, geridas por uma boa governança, torna-se um fator importante para o
fortalecimento da economia local, ao passo que sua realização de forma endógena e
14
sustentável, permite a melhoria na distribuição de renda, gera desenvolvimento econômico e
melhoria na qualidade de vida da população.
Neste ponto, tem-se a busca por uma estratégia eficaz que dirija as ações ao
desenvolvimento local, de maneira sustentável e competitiva, impulsionando a geração de
emprego.
Iniciando suas atividades em 2010, a Cooperativa de Reciclagem COOPER Elizabeth,
localizada no município de Sapucaia, Estado do Rio de Janeiro, atua no ramo de Coleta
Seletiva de Lixo, oficializando sua atividade a partir do ano de 2016, conforme consulta ao
comprovante de inscrição e situação cadastral no CNPJ (anexo IV) na base de dados da
Receita Federal.
Segundo informações do primeiro catador de material reciclável, no ano de 2010, o
mesmo contava com uma carroça para o recolhimento do material reciclável. Nesse mesmo
ano, o secretário de meio ambiente na época, chamou o cooperado, (atual presidente da
cooperativa) para trabalhar para a prefeitura onde receberia o salário mínimo através de RPA
(recibo de pagamento autônomo). Foi nesse período que o trabalho teve início e mais
cooperados foram surgindo. Vale ressaltar que muitos dos cooperados que estavam na época,
hoje não estão mais na cooperativa Elizabeth.
Passados um ano e meio, a cooperativa ganhou uma prensa e um elevador da empresa
TETRA PAK (que atua no ramo de processamento e envase de alimentos), logo fizeram a
inauguração dos equipamentos doados.
Em uma visita do INEA, (Instituto Estadual do Ambiente) a Cooperativa em prol de
realizar uma reunião com os cooperados para avaliar o funcionamento da cooperativa, foi
doado um caminhão baú para melhor auxiliar na coleta do material reciclável. Hoje a
Cooperativa Elizabeth conta com o caminhão doado pelo INEA, contando como parte de seu
processo de trabalho.
Atualmente, a cooperativa é composta por um diretor Presidente e 7 (sete) cooperados,
todos devidamente registrados e cadastrados, e realizam suas atividades em galpão anexo a
Secretaria do Meio Ambiente do Município. A cooperativa dispõe de prensa para
compactação do material coletado, balança, bem como um caminhão, modelo “baú” e
carrinho manual para transporte dos materiais. Conforme averiguado, a utilização do
caminhão respeita um rodízio, realizado entre os cooperados, onde parte realiza a coleta no
caminhão e parte realiza a coleta “porta a porta”.
15
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.A Política Nacional de Resíduos Sólidos
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/10, dá
uma nova diretriz para os resíduos sólidos. Previu o fim de espaços inadequados para a
disposição dos resíduos tais como os lixões e os aterros controlados até agosto de 2014. É
válido lembrar que de acordo com o estabelecido no corpo da legislação vigente, os
municípios poderão contribuir de forma expressiva para a eficiência e gestão ambiental no
Brasil, quer através de consórcios públicos, quer através de convênios tendo em vista que
apresentam-se como os entes mais próximos do objeto de proteção (meio ambiente). Os
municípios, através da instituição de consórcios públicos poderão além de aumentar sua
capacidade técnica para atendimento de demanda de sua competência originária, via
delegação dos Estados, obterão a possibilidade de facilidades para a realização do
licenciamento ambiental e construção de aterros sanitários. Entretanto, alerta-se para o
problema de como garantir aos municípios, entes sem poder fiscalizador e, com baixo poder
de arrecadação nos moldes das legislações tributárias nacionais, uma estrutura administrativa
na área ambiental. A maioria gasta todos os seus recursos nas áreas que consideram básicas:
saúde, educação e transporte, deixando assim, relegada a área ambiental.
Infelizmente hoje ainda existem lixões como é o caso do lixão localizado em Brasília no
Distrito Federal, que possui o maior lixão a céu aberto da América Latina, sendo o quinto
maior do mundo, é válido lembrar que os lixões nunca foram permitidos, desde a PNMA1
(1981), e a Lei de Crimes Ambientais (1998). A Constituição Federal do Brasil de 1988
(CRFB/88) que aproximou o Estado do modelo neoliberal repassou atribuições de
competência exclusiva às esferas subnacionais do governo. Desta forma o município foi eleito
como terceiro nível federativo o que favoreceu a descentralização político-administrativa.
Associado a essa descentralização, o Estado para gestão, acompanhamento e fiscalização das
atividades administrativas condicionou o acesso às políticas públicas e a liberação de recursos
às participações organizadas da sociedade (OLIVEIRA, 2002).
1Lei nº 6938 de 1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), estabelecem que o dever do
Estado é preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida de modo a assegurar, no país,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana. Tais normas tem como principio norteador a promoção da educação ambiental a todos os níveis
de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente (LEI nº 6938/81).
16
Com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o resíduo, material resultante de
atividades humanas, que ainda tem proveito e pode ser reutilizado, reciclado, tratado e
recuperado, só vai para o aterro sanitário depois que passar por todas essas formas de
reutilização, de reciclagem. Depois de esgotada todas as possibilidades de reaproveitamento
do resíduo, esse será destinado ao aterro sanitário em forma de rejeito.
Essa forma de disposição final dos resíduos faz com que o tempo de vida útil dos aterros
sanitários seja maior, sobretudo por conta da separação do resíduo antes que ele seja levado
ao aterro, fazendo com que somente seja disposto no aterro o rejeito, aquilo que não se pode
mais ser reaproveitado.
Porém, construir aterro sanitário de acordo com todas as normas técnicas não é o
suficiente para acabar com os lixões. Os municípios são elementos centrais no processo de
formulação e implementação de políticas públicas ambientais, mas não é o único. Torna-se
fundamental pensar a relação entre município e sociedade neste processo buscando vislumbrar
de que maneira a participação desse último ator pode ser ampliada. A mudança deve vir
acompanhada de alternativas para quem vive da coleta de resíduos. As pessoas que trabalham
nos lixões precisam continuar exercendo suas atividades. A sociedade depende dos catadores
para colocarem em prática a reciclagem e minimizar o impacto do homem no meio ambiente.
Na Política Nacional de Resíduos Sólidos, a implantação da coleta seletiva é obrigação
dos municípios e metas referentes à coleta seletiva fazem parte do conteúdo mínimo que deve
constar nos planos de gestão integrada de resíduos sólidos dos municípios.
2.1.1. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e as Cooperativas/Cooperados
A Lei nº 12.305/102 proíbe de ser aterrado em aterro sanitário, resíduos conforme são
coletados nas residências, dessa forma, só é permitido depositar no aterro sanitário os rejeitos.
Um dos principais problemas do resíduo é que ele precisa ser segregado para que possa ter um
reaproveitamento na indústria. Uma vez que ele é encontrado misturado, obrigatoriamente ele
tem que ser destinado ao aterro e esse não é o melhor caminho, ainda que tenhamos aterros
sanitários produzindo um menor impacto ambiental, o aterro possui vida útil, ou seja, quanto
mais resíduo é depositado, menos tempo de vida útil ele tem. Com a PNRS, esse resíduo é
2LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Art. 8º: São instrumentos da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, entre outros: IV - o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
17
devolvido à indústria através da logística reversa. A logística reversa é um termo bastante
genérico e significa em seu sentido mais amplo, todas as operações relacionadas com a
reutilização de produtos e materiais, englobando todas as atividades logísticas de coletar,
desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma
recuperação sustentável (LEITE, 2003).
Em termos práticos a logística reversa tem como objetivo principal reduzir a poluição do
meio ambiente e os desperdícios de insumos, assim como a reutilização e reciclagem de
produtos. Por exemplo, organizações como supermercados, indústrias e lojas descartam
volumes consideráveis de material que podem ser reciclados como papel, papelão, pallets de
madeira, plástico, entre outros resíduos industriais com grande potencial de reutilização ou
reciclagem. O reaproveitamento de materiais e a economia com embalagens retornáveis têm
trazido ganhos que estimulam cada vez mais iniciativas e esforços para implantação da
logística reversa, visando à eficiente recuperação de produtos, segundo Rogers e
TibbenLembke (1998).
Quando se pensa nas operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais, é
aí que entram as cooperativas de catadores, é nesse sentido que os catadores de matérias
reutilizáveis e recicláveis desempenham papel fundamental na implementação da Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que por sua vez, tem como alguns de seus
princípios o “reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem
econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” e a
“responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos”. Os catadores de materiais
recicláveis (cooperados) desempenham a gestão integrada dos resíduos sólidos, atuando
coletivamente, por meio da organização produtiva em cooperativas e associações nas
atividades da coleta seletiva, triagem, classificação, processamento e comercialização dos
resíduos reutilizáveis e recicláveis, contribuindo de forma significativa para a cadeia
produtiva da reciclagem e consequentemente com o meio ambiente.
Vale ressaltar que a atuação dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, possui
atividade profissional reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego desde 2002,
segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), contribuindo para o aumento da vida
útil dos aterros sanitários.
Além disso, a PNRS art. 8º, inciso IV possui como instrumento o incentivo à criação e ao
desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais
18
reutilizáveis e recicláveis e define que sua participação nos sistemas de coleta seletiva e de
logística reversa deverá ser priorizada.
2.1.2. O Código das cores na coleta seletiva
A coleta seletiva possui como princípios a redução do volume do lixo gerado, a
diminuição da disposição inadequada do mesmo, assim como a proteção dos recursos
naturais. Para isso, foi instituída a Resolução do CONAMA nº 275, de 25 de abril de 2001,
que dispõe sobre o código das cores em prol de diferenciar os tipos de resíduos, utilizando a
identificação de coletores e transportadores, bem como campanhas informativas para a coleta
seletiva.
Segundo a Resolução, consideram-se os seguintes quesitos:
A reciclagem de resíduos deve ser incentivada, facilitada e expandida no país, para
reduzir o consumo de matérias-primas, recursos naturais não renováveis, energia e
água;
A necessidade de reduzir o crescente impacto ambiental associado à extração, geração,
beneficiamento, transporte, tratamento e destinação final de matérias-primas,
provocando o aumento de lixões e aterros sanitários;
As campanhas de educação ambiental, providas de um sistema de identificação de
fácil visualização, de validade nacional e inspirada em formas de codificação já
adotada internacionalmente, sejam essenciais para efetivarem a coleta seletiva de
resíduo, viabilizando a reciclagem de materiais.·.
Conforme figura 5 observam-se os padrões de cores de coletores que são utilizados
pelos órgãos públicos. Os mesmos padrões são seguidos por empresas e indústrias.
19
Figura 5: Padrão de cores instituído pela Resolução CONAMA nº 275, de 25 de abril de 2001.
Fonte: Recicla Ambiental, 2017.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia utilizada foi composta por revisão da bibliografia especializada e por
visitas orientadas à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Sapucaia,
localizada à Rua Raphael Langoni, nº 623, Centro, Sapucaia-RJ, visando a autorização para
entrada no galpão da Cooperativa de catadores de Sapucaia, localizado ao lado da Secretaria
de Meio Ambiente com o objetivo de observar e descrever o processo da coleta seletiva, a
organização dos catadores, bem como analisar seus lucros e a condição de trabalho antes e
depois da existência da cooperativa. Os dados foram coletados por meio de entrevistas
semiestruturadas com os cooperados e por meio de um questionário socioeconômico
(Anexo1), para a avaliação do perfil e qualidade de vida dos catadores.
As questões foram preparadas, preocupando-se com a fácil compreensão dos oito
entrevistados para que a aplicação do questionário fosse rápida e objetiva. Para isso, os
seguintes aspectos foram considerados: idade do cooperado, sexo, estado civil, número de
filhos, grau de escolaridade, porte de documentos de identificação, número de pessoas que
20
residem na casa do cooperado, a quanto tempo trabalha no setor de reciclagem, horas
trabalhadas por dia, local de trabalho, renda média mensal trabalhando como cooperado e se
já trabalhou antes de se tornar um cooperado, entre outros.
3.1.ÁREA DE ESTUDO
3.1.1. Caracterização e localização do Município de Sapucaia
Sapucaia é um município do Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Localiza-se na
Mesorregião Sul-Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Possui 221 metros de altitude e seu
clima é tropical de altitude (temperado úmido com inverno seco e verão quente).
Figura 1: Localização de Sapucaia, RJ.
Fonte: IBGE, 2017.
3.1.2. Resumo Histórico
Segundo a Prefeitura de Sapucaia, o decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas,
promulgado em 28 de janeiro de 1808 pelo Regente D. João no episódio da transferência da
corte para o Brasil, seis dias após o desembarque na Bahia da Família Real Portuguesa,
resultou no eventual incremento da colonização até então restrita aos súditos lusitanos.
Destacam-se nos desbravamentos do atual território do município de Sapucaia os cidadãos
suíços Antônio Inácio Lemgruber e Vicente Ubherlarto, os quais chegaram no dia 7 de março
de 1809 às terras que abrangem a atual Fazenda Santo Antônio, a 31 km da sede do
município.
Em continuidade ao afluxo de colonos, com o fim do ciclo do ouro em Minas Gerais e a
expansão da economia cafeeira no Vale do Paraíba, destaca-se o pioneirismo dos cidadãos
portugueses Joaquim de Souza Breves e Antônio de Souza Brandão (mais tarde Barão de
Aparecida), e de Francisco Diogo Perret, de origem francesa, no povoamento da região. Por
21
efeito da Lei 262, de 26 de abril de 1842, a capela de Nossa Senhora da Aparecida, edificada
por iniciativa de Antônio Inácio Lemgruber, foi elevada à freguesia, resultando na atual vila
de Nossa Senhora Aparecida, sede de um dos distritos de Sapucaia.
Em 1856, Augusto de Souza Furtado, Domingos Antônio Teixeira e José Joaquim
Marques Melgaço, donos de vastas porções de terra entre os rios Calçado e Paraíba do Sul, se
destacam na fundação do arraial de Santo Antônio de Sapucaia, assim nomeado em vista do
nome do padroeiro do povoado e da existência de grande quantidade de sapucaias
(Lecythispisonis). Sapucaia se originou do termo tupi ïasapuka’i (yaçapucaí), que significa
“fruto que faz saltar o olho”.
A implantação da Estrada de Ferro Dom Pedro II em 1871 impulsionou o
desenvolvimento do arraial, que foi reconhecido pelo Decreto 2.068 de 7 de dezembro de
1874 como Vila de Sapucaia, constituindo-se sede do novo município instalado em 28 de
fevereiro de 1875.
3.1.3. Divisão do Município em Distritos
No que se refere a distrito, o município está dividido em cinco. São eles respectivamente:
o primeiro Sapucaia, segundo Anta, terceiro Jamapará, quarto Nossa Senhora de Aparecida e
o quinto Vila do Pião.
Figura 2: Localização dos cinco distritos do município de Sapucaia, Rj.
Fonte: Prefeitura de Sapucaia, 2017.
3.1.4. População
O município de Sapucaia possui população estimada (IBGE,2017) de 17.765 pessoas, cuja
população no último censo (IBGE,2010) foi de 17.525 pessoas como mostra a figura 3. Sua
densidade demográfica (IBGE,2010) está compreendida em 32,35 hab/km².
22
Figura 3: Aspectos geográficos do município de Sapucaia. População.
Fonte: IBGE, 2017.
3.1.5. Território e Ambiente
O município possui área de unidade territorial de 540,829 km². Apresenta 67.1% de
domicílios com esgotamento sanitário adequado, 82.4% de domicílios urbanos em vias
públicas com arborização e 51.9% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização
adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Quando comparado com os
outros municípios do estado, fica na posição 62 de 92, 13 de 92 e 26 de 92, respectivamente.
Já quando comparado a outras cidades do Brasil, sua posição é 1504 de 5570, 2221 de 5570 e
383 de 5570, respectivamente. (IBGE, 2016).
Figura 4: Percentual de domicílios com esgotamento adequado.
Fonte: IBGE, 2017.
23
4. RESULTADO E DISCUSSÃO
4.1.1. Análise do Processo de Trabalho
O processo de trabalho realizado na cooperativa compreende as etapas de coleta seletiva,
triagem, classificação, processamento e comercialização dos resíduos reutilizáveis e
recicláveis.
No processo de coleta, como anteriormente explicitado, os cooperados utilizam-se de
caminhão, modelo “baú” e carrinho manual, conforme figura 6 e 7.
Figura 6: Carrinho manual
Fonte: Ragazzi Ramos. 2017
24
Figura 7: Caminhão utilizado para coleta
Fonte: Ragazzi Ramos
A condução do veículo é realizada por motorista devidamente habilitado, cedido pela
Prefeitura Municipal. É válido apontar que o caminhão atinge os cinco distritos do município
de Sapucaia e o centro da cidade, coletando de 10 a 15 toneladas de material por mês. Durante
o “porta a porta”, que ocorre diariamente e com a utilização do carrinho manual, os
cooperados entregam folhetos (anexo2) como forma de campanha para conscientização da
população, porém há pouca receptividade dos munícipes para o recebimento dos cooperados,
os quais também deixam nas residências caixas especificas para segregação do lixo, conforme
figura 7. Ademais, por toda a cidade, são espalhados Ecopontos, figura 8, em lugares
estratégicos visando ampliar a quantidade de material coletado e proporcionar a população
mais uma maneira de segregar seu lixo, atualmente o município dispõe de 38 Ecopontos
distribuídos entre o Centro, o Suburbio, o Metrama e São João.
25
Figura 8: Caixa para coleta de lixo seco Figura 9: Ecoponto
Fonte: Ramos Ragazzi.2017 Fonte :Ramos Ragazzi.2017
A caixa para coleta do lixo seco é esvaziada a cada visita dos cooperados e, além de
facilitar na coleta de material, atua positivamente na conscientização da população a respeito
da importância da segregação do resíduo na fonte.
No processo de triagem e classificação, o material é separado em tipos de materiais como:
papelão; filme branco, pet branco; pet verde; filme colorido; copinho PS; copinho PP; PEAD
branco; PEAD colorido; pet óleo; papel misto; tetra pak; ferro velho e pet azul, todavia a
pesar de todos os esforços da cooperativa para a conscientização da população, nem todo o
material coletado pela cooperativa enquadra-se nessa classificação, ou seja, torna-se de
fundamental importância a realização da correta segregação do material na fonte, tendo em
vista que o mesmo em sua maioria vem misturado a materiais não recicláveis como restos de
alimentos, absorventes e materiais eletroeletrônicos.
Na etapa de processamento ocorre a prensa do material coletado, conforme figura 9, que é
a compactação do material coletado, visando facilitar a alocação e transporte do mesmo.
Nessa fase, ocorre também a pesagem do material prensado, que servirá como base de cálculo
no momento da comercialização. Durante a pesquisa, foi constatado que materiais que não se
enquadram na classificação da cooperativa, são denominados de “tralha”, tais como carcaças
de televisão, cadeiras quebradas, teclados de microcomputadores, canos, controles remotos
entre outros, e que esses materiais também são prensados e comercializados.
26
Figura 10: Momento de compactação do material reciclado utilizando a prensa.
Fonte: Ramos Ragazzi. 2017
Na etapa de comercialização, os materiais já prensados e pesados são vendidos quase que
exclusivamente para um único comprador, que inclusive também efetua a compra das tralhas.
Essa comercialização é feita mensalmente. O material prensado possui maior valor de venda
do que material não prensado. Foi constatado que a empresa de laticínios Godam, instalada no
distrito de Jamapará, fornece 10% de caixas tetra pak para a cooperativa.
4.1.2. Análise do perfil socioeconômico dos cooperados
A análise do perfil socioeconômico dos cooperados se mostra de fundamental importância
para compreensão da realidade a qual estes profissionais estão inseridos, objetivando produzir
informações relevantes para o melhoramento da qualidade do trabalho e, consequente,
qualidade de vida. A produção de informações a respeito dessa temática apresenta-se como
valiosa à medida que também deve servir como insumo para implementação de políticas
públicas por parte do poder público municipal, tanto na esfera do trabalho como na esfera
ambiental.
A cooperativa COOPER Elizabeth é formada em sua totalidade por homens, com idade
entre 20 e 58 anos. Dos oito entrevistados, quatro são casados e quatro são solteiros. 50% dos
entrevistados possuem pelo menos um filho, sendo que 25% possuem 4 filhos.
27
Dos entrevistados, 25% se classificam como analfabetos, não possuindo nenhum ano de
estudo, ao passo 37,5% possui de 4 a 6 anos de estudo e o restante mais de 6 anos de estudo,
conforme gráfico 1.
Figura 11: Grau de escolaridade
Fonte: Ramos Ragazzi. 2017
A baixa qualificação profissional apresenta-se como um triste reflexo da sociedade
brasileira. Segundo o PNUD (2017), em seu indicador sobre a expectativa de anos de estudo,
que indica o número de anos de estudo que uma criança que inicia a vida escolar no ano de
referência deverá completar ao atingir a idade de 18 anos, entre 2000 e 2010, no município
em análise ela passou de 8,04 anos para 8,46 anos. Em 1991, a expectativa de anos de estudo
era de 6,8 anos.
Dos entrevistados, 75% dividem suas residências com até 4 pessoas, enquanto o
percentual restante 25%, dividem suas residências com 9 ou mais pessoas e, com relação a
estrutura das residências, todos os entrevistados afirmam possuir banheiro, luz e água
encanada em casa. Entretanto, é importante observar que 62,5% possuem casa própria ao
passo que 37,5% moram em residências alugadas.
Durante a pesquisa foi constatado, conforme Gráfico 2, que a atividade desempenhada
pelos cooperados é relativamente nova, revelando que apenas 12,5% dos entrevistados
trabalham na reciclagem de lixo a mais de 5 anos.
Analfabeto até 4 anos de 4 a 6 anos mais de 6 anos
2
0
3 3
Grau de escolaridade
28
Figura 12: Anos de trabalho na reciclagem
Fonte: Ramos Ragazzi. 2017
O que nos leva a indagação de qual atividade desempenhavam antes de ingressarem na
cooperativa. Neste ponto, foi revelado que apenas um cooperado não possuía trabalho antes
da cooperativa, todos os demais desempenhavam funções em ramos distintos tais como
auxiliar de produção, serralheria, zeladoria (caseiro de sítio), olaria, autônomo, manutenção
de torre e garçom, sendo que nenhum dos entrevistado revelou receber algum tipo de
beneficio social.
O trabalho na cooperativa gira em torno de 8 a 9 horas diárias, e varia entre atividades no
galpão e na rua.
A análise de renda merece especial destaque, tendo quem vista que atua como fator
importante para a perpetuação do trabalho dos cooperados. Segundo o PNUD (2017), a renda
per capita média de Sapucaia cresceu 90,79% nas últimas duas décadas, passando de
R$292,96, em 1991 para R$506,59, em 2000, e para R$ 558,94, em 2010. Isso equivale a uma
taxa média anual de crescimento nesse período de 3,46%. A evolução da desigualdade de
renda nesses dois períodos pode ser descrita através do Índice de Gini3, que passou de 0,54,
em 1991, para 0,55, em 2000, e para 0,50, em 2010. Entre os entrevistados, 100% recebem
renda média de 1 a 2 salários mínimos. Neste ponto, torna-se importante revelar que os
cooperados recebem mensalmente da Prefeitura Municipal a importância de um salário
3Segundo o PNUD (2017), o Índice de Gini é um instrumento usado para medir o grau de concentração de
renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos tem a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar.
Até 1 ano
1 a 3
3 a 5
mais de 5
3
3
1
1
Anos de trabalho na reciclagem
29
mínimo para o desempenho de suas funções, sendo o restante complementado pelos materiais
reciclados comercializados.
Durante o processo de entrevista e preenchimento dos questionários, foi revelado pelos
cooperados que todos recebem seus respectivos salários mensalmente e que, confrontados
com a renda que possuíam anteriormente, exceto o colaborador que não trabalhava, todos
relataram um melhora significativa em seus salários, o que pode ser constado conforme tabela
1.
Tabela 1: Renda média do trabalho anterior
Renda média do trabalho anterior
Entrevistado Valores em reais R$
1 900,00
2 0
3 937,00
4 1000,00
5 920,00
6 1100,00
7 1200,00
8 1300,00 Fonte: Ramos Ragazzi. 2017
No tocante a questão sobre qual é o maior problema enfrentado na coleta e na separação
do lixo, conforme Gráfico 4, 62% dos cooperados revelaram que a não separação do lixo
configura-se como o maior problema, tendo em vista que atrasa e dificulta o trabalho, ainda
neste quesito, 25% considera que a presença de materiais perigosos (contaminados, cortantes)
é o maior problema enquanto 13% consideração a dispersão do lixo fora do ponto de coleta o
maior entrave.
30
Figura 13: Maior problema enfrentado na coleta de acordo com os cooperativados
Fonte: Ramos Ragazzi. 2017
Atrelado às respostas anteriores, 75% dos cooperados afirmam utilizar todos os EPI’s
(Equipamentos de Proteção Individual) disponíveis durante a jornada de trabalho. Do total,
12,5% revelou não fazer a utilização de luvas e macacão durante o desempenho de sua
atividade.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou analisar o processo da coleta seletiva no município de
Sapucaia, analisando na perspectiva socioeconômica o trabalho realizado pelos catadores
cadastrados na cooperativa COOPER Elizabeth.
No Brasil, o processo de urbanização, salvo raras exceções, não é elaborado por uma
política governamental controlada e planejada, o que atrelado ao modelo de consumo adotado
pela sociedade gera o esgotamento dos recursos naturais, deseconomias urbanas e
agravamento da pobreza, tendo em vista que é pautado na acumulação e desperdício.
A análise do perfil dos colabores demonstrou uma significativa melhora nos padrões de
qualidade de vida dos entrevistados, revelando aumento de renda e regularização das
atividades de trabalho através da cooperativa. São necessários deste modo, mais investimentos
e atenção à temática, valorizando a figura do catador, principalmente atrelado a sua formação
e atuação. O presente trabalho também revelou a problemática de falta de conscientização da
população na segregação do lixo e correta destinação, faltando o entendimento de que é
62% 13%
25%
Maior problema enfrentado na coleta de acordo com os cooperativados
Não separação Fora do ponto de coleta Materiais perigosos
31
necessário reduzir o consumo supérfluo, evitar o desperdício e separar o material reciclável na
fonte.
Por fim, conclui-se que os catadores analisados desempenham fundamental papel no elo
do sistema de reciclagem, porém carecem de maior atenção por parte do Poder Público e
principalmente, da sociedade civil ao passo que são submetidos, em muitos casos, a condições
de marginalidade social e econômica. Dessa maneira, essa conscientização, atrelada ao
gerenciamento dos resíduos sólidos deverá gerar uma educação ambiental amparada por
políticas públicas de redução e destinação de lixo.
32
6. REFERÊNCIAS
CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES. Trabalhadores da coleta e seleção
de material reciclável. Acesso em 23 de outubro. 2017 Disponível em
<http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf>
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.@Cidades. Disponível
em:<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/sapucaia/panorama>. Acesso em 20 Outubro. 2017
LEITE, P. R. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice
Hall, 2003.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Catadores de materiais recicláveis. Disponível
em:<http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-
reciclaveis. Acesso em 23 de outubro. 2017
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Consumo x Lixo. Acesso em: 23 de setembro. 2017.
Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/secex_consumo/_arquivos/8%20-
%20mcs_lixo.pdf
OGERS, D. S.; TIBBEN-LEMBKE, R. Going Backwards: Reverse Logistics Trends and
Practices. Reno: Reverse Logistics Executive Council,
1998.http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-
reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento
OLIVEIRA, R. O. Desenvolvimento, Política Agrícola e Política Rural: do setorial ao
territorial. Informações Econômicas, São Paulo, v. 32, nº12, p. 7 -15, dez 2002.
PREFEITURA DE SAPUCAIA. Disponível em: <http://sapucaia.rj.gov.br/acidade/>. Acesso
em 20 de Outubro 2017.
PROGRAMA DAS NAÇÕES ÚNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil. Sapucaia. Disponível em:
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/sapucaia_rj. Acesso: 09 de novembro 2017.
SENADO FEDERAL. Revista em discussão. Rumo a 4 bilhões de toneladas por ano.
Disponível em: http://www.senado.gov.br/noticias/jornal/emdiscussao/residuos-
solidos/materia.html?materia=rumo-a-4-bilhoes-de-toneladas-por-ano.html. Acesso em 26 de
outubro 2017.
SIQUEIRA, Mônica Maria; MORAES, Maria Silvia de. Saúde coletiva, resíduos sólidos
urbanos e os catadores de lixo. Ciência & Saúde Coletiva, vol. 14, núm. 6,diciembre, 2009,
33
pp. 2115-2122. Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro,
Brasil.
SISINNO CLS, OLIVEIRA RM, organizadores. Resíduos sólidos, ambiente e saúde. Rio de
Janeiro: Fiocruz;2002.
Resolução CONAMA Nº 275, de 25 de abril de 2001- Estabelece código de cores para
diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva - Data da legislação: 25/04/2001 - Publicação
DOU nº 117, de 19/06/2001, pág. 080. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=273> Acesso em: 20 de
Novembro 2017.
BRASIL. Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 03 de Novembro 2017.
BRASIL. SAPUCAIA. Lei nº 262, de 26 de abril de 1842. Estabeleceu o título de freguesia
à localidade. Disponível em: < http://sapucaia.rj.gov.br/acidade/> Acesso em: 20 de
Novembro 2017.
BRASIL. SAPUCAIA. Decreto 2.068, de 7 de dezembro de 1874 .A implantação da estrada
de ferro impulsionou o desenvolvimento do arraial, que foi reconhecido como Vila de
Sapucaia, constituindo-se sede do novo município instalado em 28 de fevereiro de 1875.
Disponível em: < http://sapucaia.rj.gov.br/acidade/> Acesso em: 20 de Novembro 2017.
BRASIL. Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm> Acesso em: 20 de
Novembro 2017.
BRASIL. Lei nº 9605, de 12 de fevereiro de 1998. A Lei de Crimes Ambientais dispõe sobre
as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm> Acesso em: 20 de Novembro 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 20 de
Novembro 2017.
RECICLA AMBIENTAL. A Resolução CONAMA nº 275/01 estabelece padrões de cores
de coletores que são utilizados pelos órgãos públicos. Os mesmos padrões são seguidos
34
por empresas e indústrias. Disponível em: < http://www.reciclaambientalsc.com.br/a-
importancia-da-reciclagem/> Acesso em: 20 de Novembro 2017.
35
7. ANEXOS
ANEXO I
QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO
1) Sexo
( ) Masculino ( ) Feminino
2) Quantos anos você tem?
3) Estado Civil
( ) solteiro ( ) Casado
4) Quantos filhos você tem?
5) Quantos anos você tem de estudo?
( ) analfabeto ( ) até 4 anos ( ) de 4 a 6 anos ( ) mais de 6
6) Possuem todos os documentos de identificação?
( ) Sim ( ) Não
7) Quantas pessoas residem em sua casa?
( ) Até 4 ( ) De 4 a 6 pessoas ( ) De 6 a 8 pessoas ( ) 9 ou mais
8) Há quantos anos trabalha no setor de reciclagem de lixo?
9) Quantas horas você trabalha por dia?
( ) De 8 a 9 ( ) mais de 9
10) Qual é o seu local de trabalho?
( ) Rua ( ) Galpão
11) Quanto você ganha em média por mês (em salários mínimos vigentes no país – R$
937,00)?
( ) Até 1 salário mínimo ( ) De 1 a 2 salários mínimos ( ) Mais de 2 salários mínimos
12) Recebe algum benefício social?
( ) Sim ( ) Não
13) Qual é a forma de pagamento?
( ) Pgto semanal ( ) Pgto mensal ( ) Quilos selecionados ( ) Horas trabalhadas
14) No que trabalhava antes de se tornar cooperativado da COOPER ELIZABETH?
15) Qual era sua renda média por dia de trabalho em seu emprego anterior?
16) Qual é o maior problema enfrentado na coleta e separação do lixo?
36
17) Situação da moradia:
( ) Casa Própria ( ) Alugada ( ) Cedida ( ) Invasão
18) O terreno onde está localizado o domicílio é próprio?
( ) Sim ( ) Não
19) Possui luz e água encanada?
( ) Sim ( ) Não
20) A casa possui banheiro?
( ) Sim ( ) Não
21) Utilizam Equipamento de Proteção Individual (EPI´s)? Descrever quais:
( ) óculos ( ) botas ( ) avental ( ) macacão ( ) Luvas
22) Como coleta o material reciclável?
( ) Carrinho manual ( ) Carrinho de tração animal ( ) Veículo motorizado