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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

O assédio moral e suas relações no

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Cássia Naldi do Espirito Santo

O assédio moral e suas relações no contexto de uma instituição de ensino público superior

no interior do estado do rio de janeiro

Volta Redonda/RJ

2016

1

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

contexto de uma instituição de ensino público superior

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ASSÉDIO MORAL E SUAS RELAÇÕES NO CONTEXTO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PÚBLICO SUPERIOR NO INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Administração do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Msc. Luiz Carlos Rodrigues

Volta Redonda/RJ

2016

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ASSÉDIO MORAL E SUAS RELAÇÕES NO CONTEXTO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PÚBLICO SUPERIOR NO INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

SANTO, Cássia Naldi do Espírito1

RODRIGUES, Luiz Carlos2

RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade apresentar uma análise sobre o assédio

moral e suas consequências num ambiente educacional. Para o desenvolvimento do

estudo, foi utilizado um plano de pesquisa com o objetivo de avaliar as

peculiaridades do assédio moral no ambiente de uma instituição de ensino superior.

O método de pesquisa utilizado foi o de levantamento de dados (Survey), ainda

como o tipo de pesquisa feito foram as pesquisas qualitativas e quantitativas. Como

instrumento de pesquisa, foi utilizado um questionário que foi entregue aos alunos

da Instituição de Ensino Superior. Como resultado observa-se que o assédio moral

não está restrito somente aos ambientes de trabalho onde as relações de poder são

mais explicitas, mas também no ambiente educacional, entre professor e aluno e

vice-versa.

Palavras-chaves: Assédio moral. Ambiente educacional. Leis sobre assédio moral.

1 Introdução

O tema assédio moral já foi abordado por diversos teóricos, por ser um assunto

de interesse social, político e econômico, uma vez que ele atinge milhares de

pessoas, acomete ambos os sexos, e está presente em empresas, famílias, grupos

dos mais variados, causando impactos e discussões. Pelo fato de estar muito ligado ao

ambiente de trabalho, e as formas que se dão a estrutura do mesmo, facilitam a

1 Graduanda do curso de Administração do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal

Fluminense – Volta Redonda/RJ – 2016. 2 Mestre em Gestão e Estratégia em Negócios e orientador do presente trabalho.

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criação de posições hierárquicas favoráveis ao abuso de poder em longo prazo para

que se obtenham benefícios unilaterais em detrimento de uma situação especifica.

Porém nota-se que o assédio moral escapa para outros locais, devido ao fato das

relações de poder estarem presentes no nosso dia a dia em quase todos os

ambientes sociais, acaba-se por sempre expor-se a possibilidade da ocorrência de

situações assediadoras.

O mínimo necessário para ser assegurado a um individuo em relação aos

fatores psicossociais no trabalho que se referem a interações sociais segundo

Stellman (1998) são: sentir-se realizado no emprego, capacidade organizacional,

necessidades, cultura, considerações que podem, por meio das percepções e

experiências, influenciar a saúde, o trabalho e a satisfação no emprego.

Nunes e Tolfo (2012) caracterizam o assédio moral, no âmbito do trabalho,

como ações humilhantes e abusivas que podem se intensificar por uma cultura

organizacional tolerante ou que incentiva ações hostis entre os trabalhadores na

intenção de alcançar metas ou objetivos da organização. Evidencia-se que o assédio

pode ocorrer facilmente quando há uma situação de maior influência de uma pessoa

ou grupo de pessoas em relação a outro, sendo assim, pode-se fazer a alusão com o

ambiente universitário, atingindo alunos ou funcionários da instituição de ensino.

O abuso, aqui discutido, é presente em qualquer área ou setor, porém

algumas áreas têm maior incidência que de acordo com Hirigoyen (2006) são as

áreas da saúde e da educação.

Busca-se no presente artigo, no primeiro momento mostrar elementos que

ajudam a compreender que o assédio moral nasce e vincula-se de acordo com

organização da sociedade capitalista, passando para as formas que se dão a

estruturação do poder dentro das instituições e núcleos sociais, as hierarquias

empregadas e suas influencias no conjunto das relações humanas. Posteriormente,

destaca-se o que caracteriza o assédio moral, as formas que ele acontece, para que se

possa ter uma imagem geral do quadro que será apresentado no próximo passo

juntamente com a pesquisa. O método e diagnóstico levantado de acordo com os

gráficos formulados direcionam para poder-se indicar e esclarecer pontos importantes

em relação aos indivíduos mais atingidos, os tipos de assédios mais recorrentes e as

atitudes tomadas em relação a tal pratica. Finaliza-se o presente estudo com as

considerações finais e adendos que a pesquisa trouxe para a formação do

diagnóstico do que encontra-se no ambiente educacional, onde parte-se do ponto que

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por ser uma organização pública que faz parte integrante da formação de profissionais

das mais variadas gamas do conhecimento tem a necessidade de consolidar seus

centros universitários para que todos os agentes se comprometam com o respeito as

culturas diferentes e a ética.

2 Fundamentação Teórica

2.1 O Assédio Moral

O tema assédio moral pode ser considerado parte integrante da saúde e da

segurança no ambiente de trabalho, o mesmo pode ser alocado em uma área

multidisciplinar das profissões. Esse tema coloca varias profissões para melhorar e

aprimorar o ambiente no qual o trabalhador está inserido, como por exemplo: O

medico, o advogado, o psicólogo etc. Além dessa multidisciplinaridade existe

também a cultura em que cada profissional está inserido e sua visão de mundo. Nos

tempos modernos, os indivíduos se deparam com o fenômeno da degradação dos

valores éticos e morais e com isto passam a existir diversas formas de violência,

tanto nas ruas, nas famílias, no ambiente de trabalho ou até mesmo na escola, local

onde deveria ser usado para educar sobre as variadas faces que a violência assume

atualmente, onde não compete a exclusividade a violência física.

Para Dejours (1992) o assédio moral assume forma quando refletimos sobre

um mecanismo de defesa individual contra uma organização opressora, ou, que não

provém o básico para o individuo fazendo-o somatizar problemas psicológicos ou até

mesmo físicos de cunho psicológicos, como, por exemplo, o alcoolismo.

A Organização Mundial da Saúde – OMS (2004) considera que o assédio

moral tem como consequência danos psicológicos ou perturbações, podendo, ou

não, converter-se em graves danos a saúde dos que passam por um uso resoluto de

poder e força de forma repetitiva e prolongada.

Segundo Barreto (2006) o assédio moral pode ser identificado pela exposição

do trabalhador, de forma repetitiva, a situações constrangedoras e humilhantes

durante o cumprimento de suas obrigações, caracterizado por uma ação,

comportamento e atitude violenta, desumana e antiética nas relações de trabalho.

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O ser humano necessita de referências para construção de sua identidade e o

meio social é percebido como uma das mais importantes em sua vida sentir-se útil,

que pertence a algo maior que ele pode gerar uma satisfação ao ideal de ego. É

possível notar que a questão hierárquica favorece o assédio, provocando com maior

facilidade a desestabilização da vitima com o ambiente escolar ou de trabalho, no

entanto, o assedio moral só se caracteriza como tal, não só pela recorrente

humilhação a qual a vitima é exposta em um longo período de tempo, mas também,

pelo entendimento de quem é o alvo do assédio que está sofrendo um assédio. Se

não fosse assim não existiria o sentimento de perda moral.

Ainda conceituando, Kempinski; Cunha e Anselmo (2010) dizem que assédio

moral qualquer comportamento que seja frequente, abusivos e propositais por meio

de atitudes ou escritos que venham a causar danos a integridade física ou mental de

alguém, assim, degradando seu ambiente de trabalho.

As relações de poder estão inteiramente ligadas a hierarquia, que implica nas

relações de abuso de outro individuo, tal fato se torna possível quando o mais forte

consegue o domínio do mais fraco ou a “fabricação da obediência” como se refere

Faleiros (1995).

Verifica-se então o assédio moral como uma violência existente entre

variadas relações interpessoal e meios sociais, não se restringindo apenas ao

trabalho. Esse tipo de comportamento abusivo está presente também no ambiente

universitário, já que nesse ambiente existem relações interpessoais, relações

hierárquicas, alguém com mais força de ação do que outro, algumas vezes não

fornecendo o básico para um aproveitamento do profissional ali inserido ou do aluno.

Apesar de, existir familiaridade em reconhecer e entender a existência do mesmo

dentro do ambiente de trabalho.

2.2 Perspectiva histórica do assédio moral

No final do século 19 e começo do século 20 debates sociais começaram a

aderir em sua pauta o tema aqui abordado, discussões acerca desse tema surgiram

devido a mudanças ocorridas no âmbito do trabalho surgidas pós-segunda guerra

mundial, apesar de tal violência moral existir desde que existem as relações

humanas.

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Em seu trabalho Paroski (2006) relembra que o trabalho teve uma época de

igualdade entres os que o praticavam, e assim, fazia a manutenção da vida. Essa

declaração só pode ser entendida e tratada como real, se também nos lembrarmos

de que nessa época referida, não se sabia concretamente sobre os vícios

hierárquicos criados com base na economia, não se sabia concretamente sobre as

varias facetas das relações de poder e não se sabia concretamente também sobre o

papel da propriedade privada nessas questões, que no final se complementam e

sustentam umas as outras. Com a estruturação que as sociedades formaram frente

ao trabalho, que consistia em uma pessoa deter o que era produzido pro outras

pessoas, concedeu poder a minoria. Poder fundado em bases econômicas, minoria

que tinha o dinheiro para pagar pelo trabalho de quem não tinha nenhum poder

econômico.

A palavra trabalho tem origem no latim: Tripalium, que significa torturar, logo,

atribui-se o sentimento de vergonha e negatividade em exercer o trabalho. E para

elucidar bem esse contexto pode-se observar o caso dos escravos antigamente.

Eles faziam o trabalho sujo dos que tinham mais poder e eram considerados como

qualquer outra ferramenta de trabalho, destituídos de qualquer direito. (Bueno, 2016)

Analisando a Europa os primeiros estados a regulamentar leis que tangiam o

assédio moral no ambiente de trabalho foram, Suécia, França, Finlândia e a

Holanda. O termo Mobbing foi definido em 1984 pelo psicólogo alemão Heinz

leymann (Leymann; Zaff, 1996) que vem do inglês to mob, cuja tradução é maltratar,

perseguir etc. Esse termo é comum de ser empregado na Itália, Alemanha,

Dinamarca, entre outros. Na Inglaterra o termo empregado para definir o assédio

moral é o Bullying, que tem origem na palavra bully, que significa alguém que seja o

valentão ou que oprime o mais fraco.

No Brasil o trabalho e o trabalhador tiveram as seguintes etapas. Desde seu

descobrimento até 1888 a mão de obra era escrava, apenas em 1934 obteve-se

uma Constituição que assegurava direitos aos trabalhadores. Em 1937, com o Golpe

de Estado, surgiu a Carta de 1937, que conferia ao trabalho caráter de dever social,

e em 1988 é que as questões sociais do trabalho foram fundamentadas,

fortalecendo a cidadania do trabalhador.

De acordo com Barreto (2003) no Brasil o tema ganhou ampla visualização no

começo deste século, começou a ser debatido por organizações de trabalhadores e

sindicatos e ganhou jurisprudência e reconhecimento legal nas diversas instâncias

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judiciais e legislativas. Projetos de leis de combate ao assédio moral são aprovados

e cumpridos em vários estados brasileiros.

Com isso vê-se que com a mudança das relações sociais o assédio se fez

mais perceptível e com o advento de novas praticas trabalhistas teve suas questões

definidas, o que permitiu o questionamento das injustiças e atitudes antiéticas

praticas contra pessoas de uma hierarquia menos favorecida. O assédio tem raiz

nas desigualdades de poder e essa raiz só pode ser descoberta pelas recentes

discussões e pesquisas sobre o tema.

2.3 Tipos de assédio moral

No contexto que envolve o assédio moral pode ser identificada a influência da

questão hierárquica dentro do assédio onde a relação de poder é presente, nota-se

um tipo de comportamento vertical, onde o mais forte usa sua posição favorável em

relação ao “objeto de desejo” e faz disso ferramenta para causar dependência do mais

fraco. Dessa forma Marie France Hirigoyen (2008) conceitua três tipos de assédio:

1 - Assédio Descendente: O mais comum entre os assédios, esse tipo

se dá de forma vertical (de cima para baixo), ou seja, de posições

hierárquicas superiores para as inferiores. A principal causa é

desestabilizar o indivíduo através das relações de poder incutidas no

sistema em que se encontram de forma que se obtenham mais

benefícios sem que haja uma troca horizontal.

2 - Assédio Ascendente: O tipo mais raro acontece da forma vertical,

mas de baixo para cima. Normalmente é praticado por um grupo em

relação ao indivíduo de posição superior.

3 - Assédio paritário: Se dá de forma horizontal, quando um grupo

isola um membro do mesmo grupo.

Essas definições ajudam a perceber que está lidando-se com um tema que

abrange mais áreas do que costuma-se perceber, toda e qualquer conduta que

esteja ligado a posição detentora de uma vontade de uma pessoa ou grupo e se usa

dela para obter vantagens, tem características assediadoras. A famosa frase de que

o fim justifica os meios é uma das ideias que atropelam a ética para a promoção da

competitividade, algo evidenciado também no ambiente escolar. Os tipos de assédio

moral evidenciados acima se fazem presentes em muitos lugares onde um individuo

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detém mais poder que outro, sendo o ambiente acadêmico um dos maiores detentores

da incidência do assédio.

Roberto Heloani (2014) afirma que em seus estudos o numero de reclamações

de assédio moral crescem dentro das universidades publicas, semipúblicas e privadas

no Brasil. A causa desse crescimento é a gestão da organização e como se faz o modelo

de avaliação profissional, crescimento relacionado ao plano de metas, a organização do

trabalho e os conceitos disseminado nas universidades, e não com o fato do individuo

nascer mau, como a teoria do filosofo Hobbes que diz: “O homem é o lobo do homem,

o homem é mau por natureza.”

Atualmente é empregado nas universidades o modelo de gestão em que o

importante é o produto final do trabalho, tirando o foco da questão humana do

processo, criando assim, um erro de julgamento da capacidade de produção, deixa-

se de avaliar um trabalho pelo conteúdo e passa-se a avalia-lo pelo cumprimento das

regras ao qual ele será publicado. Pensando na questão do aluno e do professor,

quando assumem que o colega é um rival, cria-se um meio fácil para a proliferação

do assédio.

Com essas ideias sustentadas por Hirigoyen e Heloani é perceptível que o

assédio se faz presente devido ao modelo estrutural ao qual a universidade está

inserida, focada no poder e em posições privilegiadas em detrimento das relações

pessoais sem ultrapassar limites alheios para conseguir mais poder ou uma melhor

posição social.

2.4 Relações de poder e o assédio

O assédio não é somente a prática de violência psicológica, é preciso analisar

também, todo o contexto onde ela está inserida e os motivos pelos quais ela

acontece. Desde que o mundo é mundo, vive-se em grupos, onde existe posições a

serem ocupadas, com o passar do tempo tais posições ganharam força e as

necessidades foram ficando concorridas. Dessa forma começa-se a corrida para se

obter o que quer, que está nas mãos de alguns indivíduos, tal cenário caracteriza o

início das relações de poder baseados na estrutura hierárquica econômica, social e

política em que se vive.

Para Bowditch e Buono (1977) seria possível dividir o poder em dois tipos

devido sua ocorrência no dia a dia. Um deles é o poder Aberto, esse utiliza o conflito

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como ferramenta para atingir resultados, controlando conhecimentos específicos e

informações distribuídas, por exemplo. O outro é o poder Reservado, esse garante a

falta do conflito, já imposto antes de qualquer confronto direto.

“O poder é uma via para o poder” (Morgan, 1996). Isso quer dizer que o poder

é uma ferramenta para adquirir mais poder. Pode também servir de varias formas,

como: Moeda de troca de benefícios, seguro para alguma eventual dificuldade,

atrativo de pessoas etc.

Tais estudos em relação à escolarização no inicio tinham o foco em prover

apresentações das estruturas escolares como um espelho da sociocultural por meio

da mesma ideia de geradores de grupos sociais.

Bourdieu (2001) sempre acreditou em um lado diferente ao que a escola se

propõe a ser, ele não a via como facilitadora das relações sociais sadias e

empáticas, mas sim, como facilitadora da mobilidade social. Mobilidade social essa

no sentido movimentação na pirâmide de estratificação social, classificação das

pessoas em um grupo de acordo com sua condição econômica, política, social e/ou

ideológicas. As estruturas físicas e pedagógicas implantadas na escola reforçam a

diferença entre as pessoas, estratificando ainda mais as classes sociais. Essas

ideias levantadas por Boudieu (2001) levaram posteriormente ao desenvolvimento

de noções sobre legitimidade das desigualdades sociais e meritocracia.

Sobre as relações de poder Bourdieu (2001) dizia que tem-se mais facilidade

para identificar o assédio no ambiente de trabalho do que no ambiente educacional

pelo fato do segundo o assédio se esconder atrás de vínculos tradicionais, o

tornando natural, parte integrante e sem a possibilidade de questionamento devido

aos atores sociais envolvidos nesse meio. Ele dizia sobre o poder simbólico que

envolve o reitor, que pode ser evidenciado no exemplo a seguir: Quando os

indivíduos agem de acordo com o comando do reitor, que é um comando

proveniente de um direcionamento do colegiado. Poder simbólico acontecendo em

relação ao reitor, reconhecido por todos e vivenciado sem grandes questionamentos.

Para Eagleton (1997) para legitimar o poder de alguém não é preciso

naturalizá-lo, torná-lo espontâneo e inevitável a quem o obedece. O poder pode ser

percebido por um grupo pela existência de outras formas de dominação além

daquelas de seus senhores e mesmo assim dar forças para esse domínio. Percebe-

se a legitimidade da dominação quando os que se submetem a ela passam a julgar

seu comportamento pelos critérios de quem detém o poder ou o domínio.

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A percepção do mundo social, como Bourdieu (1989) já havia publicado, é

produto de dois lados de uma estruturação social. O primeiro é o objetivo, é quando

as autoridades associadas às instituições fornecem a estrutura social de uma forma

com probabilidades desiguais. O segundo é o subjetivo, que significa a estrutura

social sendo um produto de lutas simbólicas anteriores, presentes no discurso da

autoridade.

Na cadeia educacional o poder é exercido de modo impessoal, tendo o apoio

de leis, normas, ordens e regimentos de órgãos que administram o sistema Bourdieu

(1989) explicita que o poder é um campo de forças entre poder ou espécie de capital

onde o estado as preestabelecem. Isso quer dizer que agentes ou instituições que

possuem uma superioridade cultural ou econômica, em posições que dominam

outras, acabam por afrontar as forças que tentem a transformar essas relações já

evidencias de força.

Bourdieu (1989) diz ainda que o poder existente no ambiente de ensino é o

simbólico, ou seja, um poder invisível que só é possível porque as pessoas que o

exercem ou se submetem a ele não querem saber que o fazem. Poder capaz de

transformar a visão de mundo; mundo classificado como poder mágico; essa

capacidade só é possível quando o poder deixa de ser arbitrário.

Percebe-se então que no cenário educacional de uma forma geral, os atores

fazem parte ativa de um processo de aprendizagem, onde ocorre uma mobilização

dos mesmos, em detrimento de um poder simbólico, reconhecido por eles como

legitimo e assim exercido com a aprovação de todos.

2.5 Assédio moral e seus efeitos

Os efeitos do assédio moral variam entre extremos, pode ir de um incomodo

até levar a um suicídio, dependendo de milhares de fatores em que o individuo que

sofre o assédio se encontra. Hirigoyen (2008) usa o termo “ato predatório” para

definir o que o assedio causa no outro. O assediador se mune de sua posição

hierárquica normalmente superior, direta ou indireta, para ter o domino da vitima e

assim ridicularizar, humilhar e provocar constrangimentos no assediado. O ato

isolado desse tipo de atitude pode não ter tanta gravidade na vida do assediado,

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mas o ato repetido desse tipo de ação pode causar danos severos ao assediado,

justamente pela frequência das ações.

Com os estudos sobre o tema fica evidente os sintomas mais comuns entre

as vitimas de assédio, são eles: Os sintomas emocionais, cansaço, ansiedade,

insônia, depressão e insegurança. Os sintomas psicossomáticos, asma, taquicardia,

hipertensão arterial e enxaqueca (GUEDES, 2008).

As associações de problemas com a bebida a drogas e até mesmo com

remédio podem vir surgir desse assédio por serem maneiras de alteração do estado

mental para um melhor ou dormente, que não sinta os malefícios dos problemas

enfrentados no dia a dia. Vemos que os efeitos podem ser diversos, isolados ou em

cadeia, em que um vai desencadeando outro.

2.6 Caracterização do assédio na área de ensino

Antigamente via-se, na área da educação, certos abusos, como o das orelhas

de burro até mesmo a palmatória, com a finalidade de educar os alunos e esses

abusos eram tidos como normais e completamente aceitáveis para a disciplina que é

algo exigido, até nos dias de hoje, pela escola. A escola como se conhece impõe

milhares de regras e maneiras de se comportar dentro desse ambiente, é preciso se

sentar na sua própria carteira, ser obediente, estudar pros dias de prova pré-

estabelecidos pelo professor que detém o poder dentro da sala de aula entre outras.

Atualmente a educação se baseia no direito de liberdade do pensamento,

porém, a estrutura escolar que se conhece aprisiona essa liberdade e inibi o

desenvolvimento natural das habilidades que os alunos deveriam ter, justamente,

por ser pautada em tanta regra e didática pré-estabelecida que não abre espaço

para acompanhar a inteligência natural que cada aluno possui e focar nas

dificuldades apresentadas por cada um (Neto, 2002) fornece uma contribuição

importante para caracterizar o assédio moral no ambiente escolar por meio de 12

categorias, que puderam especificar os tipos de assédio. São eles: 1- agressão

física; 2- agressão verbal aos alunos; 3- ameaças aos alunos; 4- acusação agressiva

e sem provas; 5- assédio sexual; 6- comentários depreciativos, 7- preconceituosos

ou indecorosos; 8- tratamento discriminatório e excludente; 9- rebaixamento da

capacidade cognitiva dos alunos; 10- desinteresse e omissão; 11- uso inadequado

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de instrumentos pedagógicos, prejudicando os alunos; 12- recusa em realizar seu

trabalho e abandono do trabalho em sala de aula.

2.7 Legislação

Na área jurídica essa temática do assedio moral vem ganhando mais

destaque com o passar do tempo e processos jurídicos sobre esse assunto são cada

vez mais recorrentes na justiça do trabalho, evidenciando assim que as pessoas já

têm certa consciência do que as atinge e que existem leis para assegurar que o

abuso seja punido. O quadro abaixo apresenta leis que abrangem a Constituição

Federal, o Código Civil, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei Contra o

Assédio Moral - Lei 12250/06.

A Constituição Federal de 1988 – Titulo I, dos princípios fundamentais

assegura a dignidade da pessoa humana, uma sociedade justa e que todos são

iguais perante a lei e que a educação é um direito de todos e deve do Estado.

O Código Civil – Lei 10406/02 / Lei nº 10.406, de janeiro de 2002 diz que é um

ato ilícito violar o direito e causar dano a outra pessoa mesmo que só moralmente,

seja por ação ou omissão voluntária, negligencia ou imprudência.

Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto de Lei nº 5.452, de 01 de maio

de 1943 faz referencia aos empregadores e sobre a rescisão por justa causa e

também da rescisão por parte dos trabalhadores.

Lei contra o Assédio Moral - Lei 12250/06 | Lei nº 12.250, de 9 de fevereiro de 2006

art 1.

Fica vedado o assédio moral no âmbito da administração pública estadual direta, indireta e fundações públicas, submetendo o servidor a procedimentos repetitivos que impliquem em violação de sua dignidade ou, por qualquer forma, que o sujeitem a condições de trabalho humilhantes ou degradantes.

art 2. Considera-se assédio moral para os fins da presente lei, toda ação, gesto ou palavra, praticada de forma repetitiva

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por agente, servidor, empregado, ou qualquer pessoa que, abusando da autoridade que lhe confere suas funções, tenha por objetivo ou efeito atingir a auto-estima e a autodeterminação do servidor, com danos ao ambiente de trabalho, ao serviço prestado ao público e ao próprio usuário, bem como à evolução, à carreira e à estabilidade funcionais do servidor, especialmente:

I - Determinando o cumprimento de atribuições estranhas ou de atividades incompatíveis com o cargo que ocupa, ou em condições e prazos inexequíveis; ver tópico II - Designando para o exercício de funções triviais o exercente de funções técnicas, especializadas, ou aquelas para as quais, de qualquer forma, exijam treinamento e conhecimento específicos; ver tópico III - Apropriando-se do crédito de ideias, propostas, projetos ou de qualquer trabalho de outrem.

Parágrafo único

Considera-se também assédio moral as ações, gestos e palavras que impliquem: 1 - Em desprezo, ignorância ou humilhação ao servidor, que o isolem de contatos com seus superiores hierárquicos e com outros servidores, sujeitando-o a receber informações, atribuições, tarefas e outras atividades somente através de terceiros; 2 - Na sonegação de informações que sejam necessárias ao desempenho de suas funções ou úteis a sua vida funcional; 3 - Na divulgação de rumores e comentários maliciosos, bem como na prática de críticas reiteradas ou na de subestimação de esforços, que atinjam a dignidade do servidor; 4 - Na exposição do servidor a efeitos físicos ou mentais adversos, em prejuízo de seu desenvolvimento pessoal e profissional.

art 3. Todo ato resultante de assédio moral é nulo de pleno direito.

art 4.

O assédio moral praticado pelo agente, servidor, empregado ou qualquer pessoa que exerça função de autoridade nos termos desta lei, é infração grave e sujeitará o infrator às seguintes penalidades: I - Advertência; II - Suspensão; III - Demissão.

art 5. Por provocação da parte ofendida, ou de ofício pela

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autoridade que tiver conhecimento da prática de assédio moral, será promovida sua imediata apuração, mediante sindicância ou processo administrativo.

Parágrafo Único

Nenhum servidor poderá sofrer qualquer espécie de constrangimento ou ser sancionado por ter testemunhado atitudes definidas neste artigo ou por tê-las relatado.

art 6.

Fica assegurado ao servidor acusado da prática de assédio moral o direito de ampla defesa das acusações que lhe forem imputadas, nos termos das normas específicas de cada órgão da administração ou fundação, sob pena de nulidade.

art. 7.

Os órgãos da administração pública estadual direta, indireta e fundações públicas, na pessoa de seus representantes legais, ficam obrigados a tomar as medidas necessárias para prevenir o assédio moral, conforme definido na presente lei.

Parágrafo único

Para os fins deste artigo serão adotadas, dentre outras, as seguintes medidas: 1 - o planejamento E a organização do trabalho: a) levará em consideração a autodeterminação de cada servidor e possibilitará o exercício de sua responsabilidade funcional e profissional; b) dará a ele possibilidade de variação de atribuições, atividades ou tarefas funcionais; c) assegurará ao servidor oportunidade de contatos com os superiores hierárquicos e outros servidores, ligando tarefas individuais de trabalho e oferecendo a ele informações sobre exigências do serviço e resultados; d) garantirá a dignidade do servidor. 2 - O trabalho pouco diversificado e repetitivo será evitado, protegendo o servidor no caso de variação de ritmo de trabalho; 3 - As condições de trabalho garantirão ao servidor oportunidades de desenvolvimento funcional e profissional no serviço.

Fonte: Elaborado pela autora com base na lei contra o Assédio Moral - Lei 12250/06.

A subjetividade dessa questão é algo que atrapalha e complica a formulação

das leis e a penalização da mesma, não só pela subjetividade em si, mas também

pela dificuldade que a subjetividade imprime em definir se o assédio é mesmo a

causa da doença (se o assédio é um do tipo psicossomático). Na justiça, o assédio é

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tido como real não somente pelo relato do assediado mas contando também com

evidencias materiais e testemunhas. E nem sempre as medidas legislativas

existentes para o problema realmente são capazes de aniquilá-lo por ser um

problema de ordem psicológica.

3 METODOLOGIA

Para o estudo foi utilizada a pesquisa bibliográfica que para Gil, (2007) é o

levantamento de dados teóricos já publicados, é também a leitura e interpretação de

referencias teóricas analisadas previamente em livros, artigos científicos, sites na

internet etc. Todo trabalho cientifico começa com a pesquisa bibliográfica seja para

ter alguma base e conhecimento sobre o assunto já difundido ou para reunir varias

informações sobre algum assunto que ainda não se tem uma resposta amplamente

analisada e certificada. E a pesquisa de campo caracterizada por Fonseca, (2002)

como uma coleta de dados com o grupo que se deseja estudar tendo como recurso

diferentes tipos de pesquisa. Nesse trabalho foi utilizado um levantamento de dados

(Survey) em que a pesquisa é planejada pelo pesquisador e a aplicação ligada aos

objetos de pesquisa.

A pesquisa foi realizada numa instituição de ensino superior no interior do

estado do Rio de Janeiro, no mês de julho de 2016. Foi distribuída uma amostra

representativa de 100 questionários para os alunos de diversos cursos e obteve-se

100% de retorno dos mesmos. Pesquisa aplicada pela autora, porém, sem qualquer

interferência da mesma.

A estatística descritiva e a análise dos dados foram feitas através do

desenvolvimento de gráficos, como forma de visualizar e compreender melhor os

resultados.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Dos cem alunos que participaram da pesquisa, 66% são do sexo feminino e

34% do sexo masculino, com média de idade de 23 anos. Em sua maioria o grupo é

de etnia branca, com estado civil solteiro e cursando a primeira graduação.

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Segue os gráficos levantados:

Gráfico 1 – Conhecimento sobre o que é assédio moral

Fonte: Pesquisa

No gráfico estão indicados os percentuais dos pesquisados que caracterizam

o assédio moral como situações humilhantes e constrangedoras em algumas

ocasiões, no caso, 71%, os outros 29% caracterizam o assédio moral como

situações humilhantes e constrangedoras por um longo período de tempo e nenhum

dos entrevistados disseram que assédio moral é situações onde se usa da força

física.

A maioria dos entrevistados não estão familiarizados com a definição de

assédio fornecida pela Organização mundial da saúde - OMS (2004) que é sofrer a

violência repetidas vezes e por um longo período de tempo. O que leva ao

questionamento de que seria realmente necessário a repetição da situação

desconfortável?

Uma humilhação que ocorra uma única vez já é suficiente para que a pessoa

sofra, desacredite em seu potencial e crie uma antipatia em relação a pessoa

causadora. Isso na questão psicológica deste assunto porque na jurídica vê-se a

dificuldade implícita em definir o assédio. Então levando em consideração a

subjetividade do assunto, pode-se então assumir que situações humilhantes e

29%

71%

0%

Como você caracterizaria o assédio moral

Situações humilhantes e constrangedoras por um longo periodo de tempo

Situações humilhantes e constrangedoras em algumas ocasiões

Situações onde se usa da força física

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constrangedoras, apesar de isoladas, também têm sua contribuição negativa na vida

do assediado mesmo que em menor grau.

Gráfico 2 – Conhecimento sobre o que leva ao assédio moral

Fonte: Pesquisa

No gráfico 2, percebe-se que os alunos responderam à questão em relação

ao que, para eles, influenciava o acontecimento do assédio moral dentro da

universidade e 84% disseram que era pela estrutura cultural, 12% afirmou que a

influência vem das estruturas hierárquicas e 4% afirmaram que o que influenciava

era o sistema educacional aplicado pela universidade. O carro chefe de uma

instituição de ensino seria o sistema educacional aplicado por ela e dentro disso

estaria a questão que abrange a estrutura cultural e hierárquica, pois uma boa

estrutura educacional iria coibir o assédio em qualquer circunstancia, assim como

vimos a questão do poder com Bourdieu (1989), como sendo um poder simbólico

dentro do ambiente de ensino.

84%

4%12%

Para você o que mais influnência para o

acontecimento do assédio moral dentro da

universidade?

Estrutura cultural

Sistema educacional aplicado pela universidade

Estruturas hierárquicas

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Gráfico 3 – Conhecimento sobre as relações de poder e suas consequências

Fonte: Pesquisa

No gráfico 3, verifica-se que os alunos acreditam que o abuso moral está

ligado ao abuso de poder, 88% afirmou que está ligado ao abuso de poder e 12%

que não está ligado. Como se viu com Morgan (1996) sobre o poder ser uma via

para o poder, a pesquisa mostra que é visível que os detentores do poder acabam

por usar dessa "força" para adquirir ainda mais poder.

Gráfico 4 – Número de ocorrências entre os alunos

Fonte: Pesquisa

88%

12%

Você acredita que o abuso moral está

ligado ao abuso de poder?

Sim Não

30%

70%

Você já sofreu algum tipo de assédio

moral dentro da universidade?

Sim Não

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No gráfico 4 esta evidenciado o número de alunos que já sofreram assédio

moral dentro da universidade e 70% disseram que não e os outros 30% disseram

que não.

Gráfico 5 – Tipos de assédios morais ocorrentes

Fonte: Pesquisa

No gráfico 5 evidenciava qual o tipo assédio sofrido dentro dos 30% que

responderam já ter sofrido assédio moral dentro da universidade, respondido no

gráfico 4, 47% disse que tinha sofrido assédio descendente, 40% foi paritário e 13%

foi ascendente. Confirma-se o que Hirigoyen (2008) afirma sobre o assédio

descendente ser mais comum, em segundo, o paritário, e o mais raro o ascendente.

13%

47%

40%

Em relação ao grafico anterior

Ascendente Descendente Paritário

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Gráfico 6 – Reação ao assedio sofrido

Fonte: Pesquisa

O gráfico 6 mostra se o aluno tomou alguma atitude ao assédio sofrido e 70%

disseram “não” no gráfico 4, 24% disseram que não e 6% disseram que sim. Vê-se

que as pessoas não tomam a iniciativa de reportar a situação ocorrida seja por medo

ou porque acham que os órgãos responsáveis não tomam atitude para ajudar como

mostra o gráfico 7.

Gráfico 7 – Atitude da universidade em relação as ocorrências hostis

Fonte: Pesquisa

6%

24%

70%

Você tomou alguma atitude em relação

ao assédio sofrido?

Sim Não Disseram "não" no grafico 4

0%

16%

84%

A universidade tomou alguma atiude em

relação ao assédio moral se o mesmo foi

reportado?

Sim Não Disseram "não" no grafico 4 e 6

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No gráfico 7 mostra se os alunos perceberam se alguma atitude foi tomada

em relação ao assédio e 84% não responderam, 16% disseram não e ninguém disse

que sim. Esse gráfico comprova que dos poucos que reportaram sobre o ocorrido

nada foi feito, fato que inibi qualquer luta contra o assédio de modo individual.

5 CONCLUSÃO

A lógica da sociedade que vive-se hoje é baseada inteiramente do modelo

capitalista, que busca lucros, cobra-se resultados precarizando as relações humanas

e enaltecendo os valores materiais. A compreensão da organização da sociedade,

suas fases, necessidades, nos dá uma perspectiva clara de como acontece o

assédio moral e os motivos pelos quais tal cenário é pouco, ou, nunca alterado. O

assunto é pouco abordado nas questões legais, e quando se fala sobre e algo

superficialmente e cria-se lacunas de interpretação sobre o assunto e causa

confusão sobre o mesmo. Da mesma forma que o tema é pouco abordado nos

ambientes de educação impossibilitando o indivíduo de saber identificar quando

alguma situação assediadora está acontecendo com ele, da mesma forma, que

muitas vezes o assédio é praticado e o agente assediador também não tem

conhecimento do que está fazendo, devido a ignorância dos fatos.

Pode-se apontar com clareza que a estruturação do poder hierárquico causa

tais processos dentro dos meios, e que a forma como divide-se a sociedade também

nos leva a tal resultado. Quando o assédio é percebido pela vítima, quase nenhuma,

ou, nenhuma atitude é tomada, exatamente pela estrutura que inserem-se desde

que nascem, onde se sabe que pouca coisa pode ser feita, e que muito

provavelmente isso ocorrerá de novo em alguma outra situação, criando assim uma

naturalização do assédio, banalizando o ato.

Conclui-se que para conseguir obter resultados positivos no que tange as

ocorrências do assédio moral dentro da universidade, não basta apenas criar

mecanismos de punição para os assediadores, mas a reformulação da raiz do

problema, onde a estrutura social na qual inserem-se não sejam fatores mais

importantes que os valores morais e éticos bem como as posições hierárquicas, o

respeito pelo individuo deve prevalecer, a educação deve ir além de questões

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técnicas, deve ensinar sobre relações humanas que são a base para a formulação

de qualquer grupo saudável.

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