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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ ICM DEPARTAMENTO DE DIREITO MDI ANNA CLARA RODRIGUES CARREIRA UMA ANÁLISE JURÍDICA DO PROCEDIMENTO DE COBERTURA PREVIDENCIÁRIA ESTIMADA (COPES) MACAÉ 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ – ICM

DEPARTAMENTO DE DIREITO – MDI

ANNA CLARA RODRIGUES CARREIRA

UMA ANÁLISE JURÍDICA DO PROCEDIMENTO DE COBERTURA

PREVIDENCIÁRIA ESTIMADA (COPES)

MACAÉ

2018

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ANNA CLARA RODRIGUES CARREIRA

UMA ANÁLISE JURÍDICA DO PROCEDIMENTO DE COBERTURA

PREVIDENCIÁRIA ESTIMADA (COPES)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Direito da

Universidade Federal Fluminense como

requisito para obtenção de grau de bacharel em

Direito.

Orientador:

Prof. Me. Eduardo Castelo Branco e Silva

MACAÉ

2018

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ANNA CLARA RODRIGUES CARREIRA

UMA ANÁLISE JURÍDICA DO PROCEDIMENTO DE COBERTURA

PREVIDENCIÁRIA ESTIMADA (COPES)

Trabalho de conclusão de curso realizado sob a

orientação do Prof. Me. Eduardo Castelo Branco

e Silva, apresentado como requisito para

obtenção de grau de bacharel em Direito no

Curso de Graduação em Direito da Universidade

Federal Fluminense.

Aprovado em _______________________________

BANCA EXAMINADORA

PROF. Me. EDUARDO CASTELO BRANCO E SILVA - UFF

Orientador

Profa. Dra. FERNANDA ANDRADE ALMEIDA

Profa. Dra. ANDREZA APARECIDA FRANCO CÂMARA

MACAE

2018

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Toda honra e glória sejam dadas a Deus,

pois sem Ele еu nãо seria capaz de

completar essa longa jornada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por todo amor incondicional do qual

muitas vezes não tenho condições de retribuir, por toda bondade em prover todas as

minhas necessidades e nada deixar faltar, por toda sua graça e misericórdia quando tive

dificuldades de enxergar os seus propósitos, e por todo cuidado nos momentos difíceis.

Agradeço a minha família, meus pais e minhas irmãs, e a toda minha família

por todo suporte e incentivo emocional e financeiro. Agradeço especialmente a minha

prima Mariana Rodrigues, pois desde sempre foi inspiração e exemplo de dedicação

para mim.

Agradeço as minhas amigas que me acompanham desde o primeiro período,

pela amizade sincera, conselhos e companheirismo nos momentos bons e ruins.

Agradeço ao meu namorado, que foi amigo, psicólogo, incentivador, paciente e

compreensivo.

Agradeço também aos Servidores e Estagiários da Vara Federal de Macaé, pois

em muito contribuíram para a produção deste trabalho, sendo o estágio nesta Vara o

primeiro contato que tive com a matéria de direito previdenciário, me ensinando e

sanando todas as minhas dúvidas. Ensinaram-me muito mais do que Direito, e para isso

não existem palavras suficientes para agradecer.

E por fim, agradeço especialmente, ao meu orientador, Prof. Eduardo Castelo

Branco e Silva, por toda orientação, incentivo, compreensão e, principalmente, por

acreditar no tema desde o início.

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A quem tenho nos céus senão a ti?

E, na terra, nada mais desejo

além de estar junto a ti.

O meu corpo e o meu coração

poderão fraquejar,

mas Deus é a força do meu coração

e a minha herança para sempre.

(Salmos 73.25-26)

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RESUMO

O benefício por incapacidade temporária, o auxílio-doença ordinário, é devido aos

segurados incapacitados para o trabalho por doença congênita, adquirida no decorrer da

vida ou acidente que não se enquadre como acidente de trabalho e será concedido

mediante perícia medica. Nos últimos anos, a Cobertura Previdenciária Estimada,

também conhecido como alta programada, passou a ser adotada como prática padrão e

consiste em procedimento que impõe termo final para percepção do benefício com base

em prognostico de recuperação e tratamento da enfermidade incapacitante que lhe dá

direito a prestação. Este termo será definido com base na perícia médica de concessão

ou prorrogação do benefício, sem possibilidade de defesa do segurado. A hipótese

inicial trabalhada é de que tal conduta da autarquia é arbitrária e, portanto, ilegal e

inconstitucional. Os objetivos gerais foram de análise constitucional e

infraconstitucional em que se fundamenta este benefício, e entre os objetivos específicos

estão o de revelar os pontos confrontantes entre a previsão constitucional e a realização

do procedimento na prática, bem como averiguar as consequências a uma prática

diversa da prevista legal e constitucionalmente. Para averiguar tal conduta, adotou-se

como método de pesquisa a descrição dos conceitos e previsões dispostas no

ordenamento jurídico, e depois, por via dialética os parâmetros foram confrontados,

dessa forma, o resultado síntese indica os pontos de maior conflito entre a prática de

concessão desses benefícios e os direitos e garantias previstos constitucionalmente.

Palavras-chave: Auxílio-doença. Cobertura Previdência Estimada. Cessação do

benefício. Perícia médica.

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ABSTRACT

The benefit for temporary incapacity, sickness benefit, is due to insured persons

incapacitated worker to work for congenital illness, acquired during life or accident that

does not fit as an accident resulting from work and will be granted by medical expertise.

In recent years, the social security Coverage Estimated, also known as programmed

discharge, came to be adopted as standard practice and consists of procedure imposing

final term for perception of benefit based on prognosis and recovery and treatment of

disabling diseases that entitle the beneficiary. This term will be defined based on

medical expertise of granting or extension of the benefit, without the possibility of

defence of the insured. The initial hypothesis out is that this conduct of the entity is

arbitrary and therefore illegal and unconstitutional. The general objectives were the

constitutional and infraconstitutional analysis on which this benefit is based, and among

the specific objectives are to reveal the confronting points between the forecast and the

actual procedure, as well as to discover the consequences of a practical diversity that

foreseen legally and constitutionally. In order to investigate such conduct, it was

adopted as a research method to describe the concepts and estimates elaborated in the

legal order, and then through the dialectic the parameters were confronted, in this way,

the synthesis result indicates the points of greatest conflict between the concession

practice benefits and the constitutionally provided rights and guarantees.

Keywords: benefit of the disease. Estimated social security coverage. cessation of

benefit. Medical expertise.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC Apelação Cível

BPC Benefício de Prestação Continuada

CAT Comunicado de Acidente de Trabalho

CF Constituição Federal

COPES Cobertura Previdenciária Estimada

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

DCB Data de Cessação do Benefício

DII Data do Início da Incapacidade

DID Data do Início da Doença

ed. edição

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FNAS Fundo Nacional de Assistência Social

FONAJEF Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais

IN Instrução Normativa

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

JEF Juizado Especial Federal

JRPS Junta de Recursos da Previdência Social

LBPS Lei de Benefícios da Previdência Social

LC Lei Complementar

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MS Ministério da Saúde

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NPS Núcleo de Previdência Social

OI Orientação Normativa

PCSS Plano de Custeio da Seguridade Social

PP Pedido de Prorrogação

PR Pedido de Reconsideração

RE Recurso Extraordinário

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REsp Recurso Especial

RGPS Regime Geral da Previdência Social

RP Reabilitação Profissional

RPPS Regime Próprio da Previdência Social

RPS Regulamento da Previdência Social

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

SUS Sistema Único de Saúde

SUAS Sistema Único da Assistência Social

TFR Tribunal Federal de Recursos

TNU Turma Nacional de Uniformização

TRF Tribunal Regional Federal

NB Número do Beneficio

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13

CAPÍTULO I - A SEGURIDADE SOCIAL E A PREVIDÊNCIA SOCIAL ......... 16

1.1 A Seguridade Social e seus princípios orientadores ................................................. 16

1.2 Saúde ........................................................................................................................ 21

1.3 Assistência Social ..................................................................................................... 24

1.4 Previdência Social .................................................................................................... 26

1.4.1 Dos benefícios por incapacidade ........................................................................... 29

CAPÍTULO II - REGIME LEGAL DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE

AUXÍLIO-DOENÇA .................................................................................................... 33

2.1 Os requisitos para concessão do benefício de auxílio-doença .................................. 33

2.1.1 Qualidade de segurado........................................................................................... 33

2.1.2 Período de carência ................................................................................................ 35

2.1.3 Incapacidade laborativa ......................................................................................... 37

2.2 Concessão do benefício de auxílio-doença ............................................................... 37

2.3 Cessação do benefício .............................................................................................. 43

2.4 Restabelecimento do benefício ................................................................................. 45

CAPÍTULO III - A PRÁTICA E AS CONSEQUÊNCIAS DA COPES NO

BENEFÍCIO DE AUXÍLIO-DOENÇA PELA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA

........................................................................................................................................ 48

3.1 Conceito .................................................................................................................... 48

3.2. Contextualização do procedimento ......................................................................... 51

3.3 Consequências .......................................................................................................... 52

3.3.1 Violação ao princípio da legalidade ...................................................................... 52

3.3.2 Violação dos princípios constitucionais da Seguridade Social e da Previdência

Social .............................................................................................................................. 57

3.3.3 Violação do princípio da dignidade da pessoa humana ......................................... 58

3.3.4 Dificuldade de recuperação laborativa total .......................................................... 59

3.3.5 Impedimento da conversão do auxílio-doença previdenciário em auxílio-acidente

........................................................................................................................................ 60

3.3.6 Procedimento mais custoso e moroso para as partes ............................................. 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ....................................................................... 65

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto de estudo a análise jurídica do instituto

denominado Cobertura Previdenciária Estimada (COPES), também conhecido como

“alta programada”, característico do benefício por incapacidade temporária de auxílio-

doença. Tal instituto consiste na cessação do benefício recebido com base na perícia

médica inicial feita à época em que fora concedido.

O interesse pelo tema surgiu da vivência prática adquirida ao longo de um ano

de estágio no Setor do Primeiro Atendimento da Vara Federal de Macaé, setor este que

exerce função parcial da Defensoria Pública da União, uma vez que ausente este órgão

nesta Subseção Judiciária. O Primeiro Atendimento é responsável pelo atendimento ao

público com o objetivo de dar orientação jurídica e ajuizar ações de concessão,

restabelecimento e manutenção de benefícios previdenciários, que tenham como valor

de causa até 60 salários mínimos, em que o INSS atua como polo passivo. É importante

mencionar que este setor não acompanha os processos judiciais, somente

disponibilizando atendimento para dar entrada na demanda judicialmente, as demais

manifestações ficam sob responsabilidade do próprio demandante. A grande maioria das

ações são ações de concessão ou restabelecimento do benefício de auxilio doença, no

caso deste último os motivos mais comuns de cessação do benefício são a alta

programada ou o indeferimento de prorrogação do benefício por não constatar

incapacidade laborativa do segurado.

A Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição cidadã,

garante o assistencialismo social, ampliação dos direitos dos trabalhadores e cidadãos, a

previsão de princípios basilares como o princípio da igualdade e da dignidade da pessoa

humana, as garantias sociais, culturais, individuais e coletivas e consequentemente, à

ordem social do que se adotou como Estado democrático de Direito no país. Essa ordem

social prevista na atual Constituição entre os art. 193 e 232 estende-se a seguridade

social, educação, cultura, desporto, ciência, tecnologia e inovação, comunicação social,

proteção ao meio ambiente, bem como proteção à criança, adolescente, jovem, idoso e

índios, corroborando a previsão do art. 6° da Constituição.

O seu objetivo é analisar em primeiro plano o sistema da seguridade social que

funda a Previdência Social, a sua funcionalidade e princípios de cunho social e

assistencialista. Neste segundo plano será analisado o procedimento de alta programada

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a partir das orientações internas, resoluções internas da autarquia federal ao conceder ou

negar os benefícios de forma comparativa ao previsto na legislação. Nesse momento,

será observada a disparidade entre a legislação como um todo e o procedimento adotado

pela autarquia, e dessa forma, o resultado síntese deverá indicar os pontos de maior

conflito entre a prática de concessão desses benefícios e os direitos e garantias previstos

constitucionalmente, bem como averiguar as consequências de tal procedimento quando

em dissonância ao estabelecido à nível constitucional e infraconstitucional. Busca-se

também encontrar soluções passíveis de aplicação prática para que, dessa forma, atinja

os objetivos legais, qual seja, uma melhor prestação de serviço ao trabalhador, segurado,

jurisdicionado e cidadão, a solução para aplicação dos dispositivos legais é a utilização

dos parâmetros utilizados pela alta programada como critério para marcação de nova

perícia sem a cessação do pagamento, em que se constate a condição laborativa do

periciado.

Quanto à metodologia empregada, serão analisadas a Constituição Federal

vigente, a legislação infraconstitucional específica, revisão doutrinária e jurisprudencial

sobre o modelo procedimental para a concessão do benefício, bem como orientações e

instruções normativas que regulamentam a conduta em questão.

Importante ressaltar que, tem-se como foco o procedimento de concessão,

prorrogação, cessação e restabelecimento o benefício de auxílio-doença, isto é, as

demandas em que uma vez concedido o benefício, sofreram cessação abrupta do

pagamento feito pelo INSS.

Para tanto, o Capítulo I discorrerá acerca da seguridade social prevista na

Constituição, bem como sua função, seus princípios norteadores e seus pilares, quais

sejam, Saúde, Assistência Social e Previdência Social, e a discriminação das espécies de

benefício por incapacidade existentes, sendo elas: benefício de auxílio-doença

previdenciário, auxílio-doença acidentário, auxílio-acidente, aposentadoria por

invalidez, aposentadoria por idade da pessoa com deficiência e Benefício de Prestação

Continuada.

No Capítulo II, tem-se como objetivo dissertar acerca do regime legal de

concessão dos benefícios previsto nas Leis n° 8.212/91 e 8.213/91, isto é, os requisitos

para a concessão do benefício por incapacidade temporária, sendo eles: qualidade de

segurado, período de carência e incapacidade laborativa, bem como o procedimento de

cessação do benefício, a prorrogação do benefício e o restabelecimento do mesmo.

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No Capítulo III, o objetivo é conceituar o procedimento COPES, contextualiza-

lo à época em que foi implantado e analisar as consequências do modelo adotado pela

autarquia em seus inúmeros aspectos, e de forma comparativa identificar os pontos

discrepantes entre a legislação prevista e método de concessão adotado.

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo geral a análise social e

constitucional em que se fundamenta os benefícios por incapacidade previstos pelo

legislador, em especial, o benefício de auxílio-doença, bem como pontuar

recomendações passíveis de aplicação prática que busquem uma melhor prestação do

serviço assistencial ao segurado e jurisdicionado, para que dessa forma, a legislação

atinja sua finalidade, qual seja, dar o devido suporte ao incapacitado na medida de sua

incapacidade.

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CAPÍTULO I

A SEGURIDADE SOCIAL E A PREVIDÊNCIA SOCIAL

1.1 A Seguridade Social e seus princípios orientadores

A Constituição Federal garante os direitos sociais coletivos no art. 6° e a partir

do art. 193 (Título VIII), denominado “Ordem Social”, composto pelos setores de

seguridade social, educação, cultura, desporto, ciência, tecnologia e inovação,

comunicação social, meio ambiente, bem como a instituição da família e seus

componentes (criança, adolescente, jovem e idoso) e também reconhece direitos

indígenas, assim como reconhece como fundamento da República o princípio da

dignidade da pessoa humana no art. 1°, III e os valores sociais do trabalho no caput

inciso IV, sendo este primado da ordem social constitucional. Também consiste em

fundamento da ordem econômica e financeira, disposta no art. 170 CF, devendo ser

observado, entre muitos princípios, a busca pelo pleno emprego (inciso VIII). Sendo,

pois, o benefício de auxílio doença de responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro

Social (INSS), o qual, através da Previdência Social, compõe a Seguridade Social.

Portanto, faz-se necessário discriminar a funcionalidade da mesma, bem como

diferenciar o tripé que a compõe, sendo este: a Previdência Social, a Assistência Social

e a Saúde.

Como dispõe o art. 193, o que se busca com a seguridade social é o bem-estar e

a justiça sociais, isto é, financiado pelo Estado, pela sociedade civil e empresários, o

Poder Público tem a obrigação de prover sistema protetivo garantindo a devida

assistência aos riscos sociais a que o indivíduo se encontrar exposto. Entende-se por

bem-estar social o conjunto de fatores que proporcionem condições dignas de vida e

necessidades básicas, erradicação da pobreza e desigualdades sociais. Já a justiça social,

segundo Silva, seria “a equânime distribuição de benefícios sociais, baseada no

princípio da seletividade e distributividade” 1. Inclusive, para este autor, “tanto a justiça

social como o bem-estar social são legitimadores das políticas públicas, sendo também

diretriz axiológica para interpretação e aplicação da normatização protetiva”2. Estes

valores constitucionais são de tão grande importância que estão previstos nos artigos 22,

1 SILVA, Ubiratan Rodrigues da. Direito previdenciário – Conteúdo Programático. 2016, p.01. 2 SILVA, op. cit., 2016, p.02.

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23 (item 1 e 3), 25, 28 e 29 (item 2), assim como no preâmbulo da Declaração Universal

de Direitos Humanos:

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé

nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa

humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram

promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade

mais ampla3.

Em se tratando dos mencionados riscos sociais assegurados, Santos4 entende que

a seguridade social está vinculada a necessidade social, uma vez que os benefícios

“destinam-se a prover os mínimos vitais” 5 e que não possuem caráter indenizatório,

sendo este o objetivo e natureza jurídica dos contratos securitários de modo geral. Ou

seja, a relação jurídica estatal com o indivíduo se inicia a partir do momento do evento e

suas consequências sofridas pelo cidadão, que o levam a um estado de necessidade (lato

sensu).

Para Santoro, a Seguridade Social se sustenta pelo “respeito aos direitos

humanos, a organização democrática do Estado, a economia de mercado e o bem-estar

social” 6, ou seja, quatro fundamentos tem o sistema protetivo discutido, sendo eles:

fundamento econômico, social, jurídico e político.

A primeira motivação, econômica, tem como objetivo evitar o que o jurista

Santoro7 chama de “efeitos materiais negativos”, ou seja, diminuição dos proventos da

população como consequência dos riscos sociais, como incapacidade laborativa por

doença ou decorrente de acidente de trabalho, desemprego, velhice ou morte. A

preocupação com a perda de rendimentos deve ser vista sob dois aspectos, sendo o

primeiro de garantir assistência social e médica, e em segundo lugar o de equilíbrio

econômico da sociedade e de distribuição de renda, atingindo também o objetivo de

bem-estar e justiça social.

A segunda motivação, social, intrinsecamente ligada ao fundamento

econômico, traz ao Estado a competência de “avaliar e dimensionar os modos e formas

de cobertura adequados a cada situação de risco”8, uma vez que responsável pela

economia do país e levando em consideração que a grande maioria da população não

3 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Declaração Universal de Direitos Humanos. 1948. 4 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 2016. 5 SANTOS, op. cit., 2016, p.42. 6 SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de direito previdenciário. 2001, p.16. 7 SANTORO, op. cit., 2001, p.16. 8 SANTORO, op. cit., 2001, p.17.

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tem a capacidade de se resguardar financeiramente para possíveis imprevistos pelos

motivos a seguir:

a) existem pessoas que se recusam a pensar na ocorrência dos danos oriundos

dos riscos de existência, ou, se cogitam isso, sempre “deixam para depois”,

acreditando que “ainda é muito cedo” para adotarem qualquer atitude a

respeito; b) existem outras pessoas, ainda, que só se dispõem a tomar

qualquer atitude diante do risco ou na iminência da ocorrência do dano, já

quando sentem a chegada dos seus efeitos; c) especialmente no caso

brasileiro, a grande maioria da população não dispõe de recursos econômicos

para, sozinha, arcar com a responsabilidade de autoproteção. 9

Já o fundamento jurídico baseia-se nos direcionamentos internacionais de

proteção à sociedade pelos diversos riscos sociais, e também tutelada como norma

constitucional federal em nosso ordenamento jurídico.

Por último, o fundamento político se justifica, segundo o autor que a defende,

pelo fato de:

que, nas sociedades modernas, não mais se admite o exercício do poder sem

legitimidade, sem compromisso com a garantia dos direitos sociais. A

importância desse vínculo político é cláusula do contrato social estabelecido

entre o cidadão-eleitor e o Estado (este representado pelas forças políticas e

pelos dirigentes políticos), onde se pretende garantir um acordo entre

gerações, de tal modo que não só os excluídos da força de trabalho, por força

de eventos econômicos ou de existência, tenham a tranqüilidade e a certeza

de que estarão amparados pela repartição financeira advinda dos tributos ou

das contribuições da população economicamente ativa. 10

Em suma, todos os quatro fundamentos se baseiam em prover todos os meios

necessários para manutenção da vida em sociedade de forma justa e digna, bem como

equânime, a fim de garantir as mesmas condições de sobrevivência, ou no mínimo,

torna-las possíveis. Dessa forma, zelando pelo tratamento isonômico na medida das

desigualdades.

Assim, a Seguridade Social está disposta entre os art. 194 e 204 da

Constituição, e tem como objetivo os princípios constitucionais explícitos previstos no

parágrafo único do art. 194, como segue:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de

iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a

seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais;

9 SANTORO, op. cit., 2001, p.17. 10 SANTORO, op. cit., 2001, p.18.

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III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante

gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores,

dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.11

De todos os princípios elencados, os princípios importantes para discussão do

tema serão da universalidade da cobertura e do atendimento, da uniformidade e

equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, da seletividade e

distributividade na prestação dos benefícios e serviços e da irredutibilidade do valor dos

benefícios.

O princípio da universalidade da cobertura e do atendimento consiste em

princípio que se desdobra em dois: universalidade da cobertura e universalidade do

atendimento. Como bem ensina Castro e Lazzari:

I – Universalidade da cobertura e do atendimento – Por universalidade da

cobertura inciso entende-se que a proteção social deve alcançar todos os

eventos cuja reparação seja premente, a fim de manter a subsistência de

quem dela necessite. A universalidade do atendimento significa, por seu

turno, a entrega das ações, prestações e serviços de seguridade social a

todos os que necessitem, tanto em termos de previdência social – obedecido

o princípio contributivo – como no caso da saúde e da assistência social.

(grifo nosso) 12

Isto é, um dos objetivos da seguridade social é perseguir caminhos que levem a

todo e qualquer indivíduo que residir, permanente ou temporariamente, em território

brasileiro a proteção social do Estado, bem como condições de sobrevivência e vida

digna.

O segundo princípio, qual seja, da uniformidade e equivalência dos benefícios

e serviços às populações urbanas e rurais. Este princípio também se subdivide entre a

uniformidade dos benefícios e serviços e a equivalência destes. Em primeiro lugar, a

uniformidade tem como finalidade dar igualdade de tratamento aos trabalhadores rurais

e urbanos, ou seja, a estes devem ser garantidos os mesmos benefícios e serviços sem

distinção. A este princípio, também se correlaciona os art. 5° (princípio da igualdade).

Lazzari e Castro ainda associam o princípio ao art. 7° (direitos trabalhistas) da Carta

Magna:

11 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 12 LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito previdenciário.

2017, p.86-87.

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II – Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais – O mesmo princípio já contemplado no art. 7º da Carta trata

de conferir tratamento uniforme a trabalhadores urbanos e rurais, havendo

assim idênticos benefícios e serviços (uniformidade), para os mesmos

eventos cobertos pelo sistema (equivalência). 13

Em segundo lugar, o subprincípio da equivalência dos benefícios e serviços às

populações urbanas e rurais consiste em garantir a proporcionalidade do pagamento dos

benefícios, o que não significa necessariamente valor idêntico, mas proporcional a

forma de contribuição exigida legalmente, uma vez que a forma de contribuição dos

trabalhadores urbanos e rurais são diferentes. Conclui-se, dessa forma, que este

caracteriza-se como aplicabilidade do primeiro (uniformidade dos benefícios).

Já o princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e

serviços consiste na subdivisão seletividade na prestação dos benefícios e

distributividade destes. O primeiro compreende a concessão e manutenção do benefício

aos indivíduos que realmente necessitam, para tanto, fica a critério do legislador

selecionar quais circunstâncias deverão ter a proteção social, como leciona Marisa

Ferreira dos Santos:

O sistema de proteção social tem por objetivo a justiça social, a redução

das desigualdades sociais (e não a sua eliminação). É necessário garantir

os mínimos vitais à sobrevivência com dignidade. Para tanto, o legislador

deve buscar na realidade social e selecionar as contingências geradoras

das necessidades que a seguridade deve cobrir. Nesse proceder, deve

considerar a prestação que garanta maior proteção social, maior bem-estar.

Entretanto, a escolha deve recair sobre as prestações que, por sua

natureza, tenham maior potencial para reduzir a desigualdade,

concretizando a justiça social. A distributividade propicia que se escolha o

universo dos que mais necessitam de proteção. (grifo nosso) 14

O segundo subprincípio, distributividade na prestação dos benefícios e

serviços, consiste na distribuição equânime dos benefícios e serviços prestados de forma

a atender aqueles que mais necessitam, como citado acima.

Dessa forma, fazendo cumprir a justiça social e redução de desigualdades

sociais previstas no art. 3° CF como objetivos precípuos:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais

e regionais;

13 LAZZARI; CASTRO., op. cit., 2017, p.87. 14 SANTOS, op. cit., 2016, p.48.

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21

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras formas de discriminação.15

Por último, o princípio constitucional da irredutibilidade do valor dos

benefícios fundamenta-se na atualização do valor do benefício, a fim de não dar

prejuízos decorrentes da inflação ao beneficiário, isto é, não podem os valores recebidos

inicialmente serem reduzidos em seu valor real, salvo disposição legal ou ordem

judicial. Este princípio também está previsto no §4° do art. 201 CF. Além disso, pode-se

interpretar este princípio em consonância ao §2° do art. 201, o qual dispõe que nenhum

benefício pago pela Previdência Social poderá ser inferior a um salário mínimo.

Outra interpretação a ser feita é em relação ao art. 3°, I CF, que prevê como

objetivo fundamental da república construir uma sociedade livre, justa e solidária, isto é,

há aqui uma característica intrínseca a todos os setores da Seguridade Social, qual seja

da solidariedade, uma vez que todos devem contribuir de forma compulsória para a

manutenção de todos os benefícios e serviços prestados em prol da sociedade, ainda que

não se utilize quaisquer dos recursos previdenciários. Esse é o princípio que justifica a

filiação e contribuição compulsória. Ressalte-se que, embora não seja princípio explícito

entre àqueles gerais que dão suporte à seguridade social, não se trata de princípio menos

importante, uma vez que previsto constitucionalmente, sendo este inclusive que a

fundamenta.

Dessa forma, o Estado através da seguridade social tem o dever de prestar os

serviços, e por outro lado é direito do cidadão exigir, a plena funcionalidade e

efetividade destas normas. Além disso, como se pode ver em todos os princípios e

legislação constitucional e infraconstitucional, o objetivo da Seguridade Social é dar

amplo acesso a todos que dela necessitem, a fim de prover sociedade mais justa e

igualitária.

1.2 Saúde

A saúde está garantida nos art. 196 a 200 CF e consiste em setor de assistência

médica que goza de autonomia administrativa dentro da Seguridade Social, sendo de

responsabilidade do Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e

regulamentado pelo art. 200 CF, pelas leis n°8.212/1991 e 8.080/1990, e Portaria/MS nº

1.559/2008.

15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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22

Trata-se de direito de todos e dever do Estado, sendo seu objetivo a adoção de

“políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação”16, devendo ser fornecido a todo e qualquer cidadão,

independente de filiação ou contribuição ao sistema.

O sistema de saúde público deve respeitar os princípios dispostos no art. 7°,

incisos I, II, IV, da Lei n°8.080/90, quais sejam:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados

contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS),

são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da

Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de

assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e

contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,

exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de

qualquer espécie; 17

Em atenção ao primeiro e ao quarto incisos, princípio da universalidade de

acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência e da igualdade da

assistência à saúde, isto é, não se pode negar atendimento baseando-se no patrimônio e

rendimentos pessoais do indivíduo, no preconceito ou concedendo privilégios.

Já o inciso segundo, integralidade de assistência, também garantido no art. 2°,

parágrafo único da Lei n°8.212/1991, alínea a e d, compreendem a realização de “ações

e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”, estas se apresentam:

Na etapa da promoção do direito à saúde, estão as ações de prevenção do

risco doença e outros agravos, de que são exemplos as campanhas para

prevenção da contaminação pelo vírus HIV, de prevenção de doenças

endêmicas, de vacinação etc. Na etapa da proteção, propriamente dita, estão o

atendimento e o tratamento necessários. E na etapa da recuperação deve ser

facilitado o acesso a próteses, órteses e demais equipamentos necessários ao

retorno para a vida em comunidade. 18

Isto é, em todas as etapas da cobertura médica deve o Estado se fazer presente

através da execução de tais ações e serviços em todo território nacional. A legislação

ainda prevê em seu art. 3° da Lei n° 8.080/90, que a proteção à saúde não limita à

assistência médica, mas também se justifica através de fatores externos, como segue:

16 Art. 2°, §1° da Lei n° 8.080/90. 17 Art. 7° da Lei n°8.080/90. 18 SANTOS, op. cit., 2016, p.117.

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23

Art. 3° Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do

País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a

alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a

renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens

e serviços essenciais.

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do

disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade

condições de bem-estar físico, mental e social.19

Portanto, o artigo acima vem corroborando a ideia de bem-estar social como

meio para desenvolvimento social juntamente com a saúde e condições de

sobrevivência com dignidade. Observe-se ainda que o parágrafo único deste artigo

considera condições de bem-estar os aspectos físico, mental e social, trazendo amplitude

ao conceito saúde principalmente, mas também de dignidade social, uma vez que na

ausência de um destes fatores externos não há saúde em sua totalidade.

Sendo dever do Estado e direito do cidadão, o constituinte enseja que na má

prestação do serviço ou na falta dela, onde se configure dano ao usuário do serviço, há a

possibilidade de indenização decorrente de responsabilidade objetiva do prestador do

serviço, nesse caso, o próprio poder estatal.

Outro artigo que vem ao encontro do art. 3° acima é o art. 13 da referida lei.

Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões

intersetoriais, abrangerá, em especial, as seguintes atividades:

I - alimentação e nutrição;

II - saneamento e meio ambiente;

III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;

IV - recursos humanos;

V - ciência e tecnologia; e

VI - saúde do trabalhador.20

Frise-se que o inciso VI prevê especialmente a saúde do trabalhador, sendo

este o primado da ordem social, como se observa o art. 193 CF, já mencionado. Não se

deve, porém, ignorar todos os incisos anteriores, pelo contrário, tal artigo traz a

aplicação prática de políticas e campanhas que tomam por base os temas dispostos.

Outros temas também são de responsabilidade da saúde pública, como

atendimento e internação domiciliar, assistência terapêutica e da incorporação de

tecnologia em saúde, atendimento público específico e especializado para mulheres e

vítimas de violência doméstica em geral, bem como atendimento e “acompanhamento

psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei nº 12.845, de

1º de agosto de 2013”21.

19 Art. 3° da Lei n° 8.080/90. 20 art. 13° da Lei n° 8.080/90. 21 Art. 7°, inciso XIV da Lei n° 8.080/90.

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Vê-se por todo o exposto, que o direito à saúde, com seu caráter universal,

busca o atendimento da forma mais ampla em comparação aos demais setores da

Seguridade Social, pois se aplica a todos sem exceção, não é o caso da assistência social

nem da previdência social, como se verá nos tópicos seguintes.

1.3 Assistência Social

A política de assistência social está prevista nos art. 203 e 204 CF e será

prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição, sendo

regulamentada pela Lei n° 8.742/1993, também conhecida como Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS) e a Lei n° 12.435/2011, que institui o Sistema Único da

Assistência Social (SUAS). O art. 1° da LOAS traz o conceito de assistência social,

como segue:

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política

de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,

realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da

sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.22

Em que pese o caput do artigo mencionado trazer a política assistencial como

direito do cidadão, esta política tem caráter seletivo aos que não possuem condições de

manutenção própria, não sendo permitido o fornecimento de alguns benefícios

assistenciais àqueles que tiverem recursos ou meios de obtê-los, como o BPC23, pois se

trata de requisito intrínseco a natureza do benefício a condição de necessidade limitada

à renda de ¼ do salário mínimo para a percepção. No entanto, em não se tratando deste

benefício em específico, os demais incisos das alíneas a à d não impõe limite legal

pecuniário.

O art. 2° da referida lei, bem como previsão do art. 203 CF, trazem os objetivos

específicos da assistência social, sendo eles:

Art. 2° A assistência social tem por objetivos:

I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à

prevenção da incidência de riscos, especialmente:

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;

c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;

d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de

sua integração à vida comunitária; e

22 Art. 1° da LOAS 23 Art. 2°, I, alínea e da LOAS.

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e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com

deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família;

II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a

capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de

ameaças, de vitimizações e danos;

III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no

conjunto das provisões socioassistenciais.

Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social

realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos

sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e

promovendo a universalização dos direitos sociais.24 Os objetivos dos incisos I, II e III, resumem-se respectivamente em garantir um

mínimo existencial para uma vida digna, redução, reparação e prevenção de riscos aos

grupos ali classificados, no desenvolvimento de projetos sociais dentro das

comunidades mais carentes, e no conhecimento, conscientização e defesa dos direitos

sociais assistenciais. Para Santos25, a CF tutela a assistência social como instrumento de

transformação social, uma vez que no art. 1° e parágrafo único do art. 2° LOAS prevê

que este setor deverá garantir os “mínimos sociais”, promover “a universalização dos

direitos sociais” e “garantir o atendimento às necessidades básicas” para que assim seja

possível a distribuição de renda, o combate à fome e à pobreza, e consequentemente a

redução das desigualdades sociais.

Já Santoro afirma que:

(...), a Assistência Social pode apresentar-se sob duas formas: ou como apoio

social individualizado, onde a pessoa é atendida por equipamentos e

serviços que visam a substituir ou completar o apoio familiar, inexistente ou

insuficiente; ou como intervenção na comunidade, feita mediante a

assistência sociofamiliar e sociocomunitária, numa linha preventiva de

atuação. (grifo nosso) 26

Isto é, ambos os autores entendem a necessidade de auxílio assistencial e apoio

estatal à comunidade e aos necessitados para que seja possível o desenvolvimento da

sociedade, bem como efetivação de princípios constitucionais garantidores, como o

princípio de dignidade da pessoa humana, que se traduz em condições básicas de

sobrevivência e dignidade.

O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome é responsável

pelas políticas nacionais de desenvolvimento social e assistência social, sendo também

responsável pelo SUAS, regulamentado pela Lei n°12.435/2011, que promove as ações

de “operacionalização, prestação, aprimoramento e viabilização dos serviços,

24 Art. 2°, I, alínea e LOAS 25 SANTOS, op. cit., 2016, p.137. 26 SANTORO, , op. cit., 2001, p. 24.

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programas, projetos e benefícios do sistema”27 financiados pela União, Estados e

municípios e, posteriormente, direcionados e geridos pelo FNAS28.

Os princípios aplicados a esse subsistema assistencial são os mesmos aplicados

ao sistema da seguridade, já expostos no tópico 1.1.

Por fim, entre os benefícios assistenciais previstos na LOAS, tem-se o

benefício assistencial para os trabalhadores portuários avulsos, o auxílio-inclusão aos

portadores de deficiência, os benefícios eventuais decorrentes de situações temporárias

e emergenciais como nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de

calamidade pública29 e, o benefício mais conhecido e de maior demanda, o Benefício de

Prestação Continuada, também conhecido por seu acrônimo BPC. Além dos benefícios

de natureza pecuniária, os serviços socioassistenciais definidos no art. 23, terão como

destinatários as crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social (inciso I) e

as pessoas que vivem em situação de rua (inciso II), bem como projetos de enfretamento

da pobreza (Seção V LOAS).

1.4 Previdência Social

O sistema previdenciário encontra-se disposto a partir do art. 201, que prevê o

Regime Geral da Previdência Social (RGPS), regime este de caráter contributivo

obrigatório a todos aqueles que exercem atividade lícita remunerada. A autarquia

federal responsável pela concessão, fiscalização e manutenção dos benefícios é o

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), vinculado ao Ministério da Previdência

Social. Enquanto o art. 202 prevê o regime de previdência privada, que possui como

característica a complementariedade àquela disposta no art. 201, porém de forma

autônoma e voluntária.

A previdência brasileira é composta de quatro regimes, o RGPS, o Regime

Próprio da Previdência Social (RPPS), o regime complementar privado e o público. Os

dois primeiros consistem em regimes básicos de previdência e possuem como

características a filiação e contribuição compulsória, coletividade e organização estatal,

todavia, o que os diferencia é a natureza da relação jurídica de seus beneficiários, pois o

RGPS abrange todos os empregados de empresas privadas, bem como àqueles que se

27 SANTOS, op. cit., 2016, 2016, p.140. 28 Art. 27 e 28 LOAS. 29 Art. 22 LOAS.

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voluntariam a contribuir ao INSS, enquanto que o RPPS contempla apenas os servidores

públicos que exercem cargos decorrentes de concurso público e aos militares. Já os

regimes complementares público e privado possuem caráter de voluntariedade, pois

sendo complementares não há qualquer obrigação de filiação ou contribuição.

O RGPS se encontra regulamentado pela Lei n° 8.212/1991, que dispõe sobre a

organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências,

também conhecida como Plano de Custeio da Seguridade Social (PCSS), Lei n°

8.213/1991, que regula sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras

providências, também conhecida como Plano de Benefícios da Previdência Social

(PBPS) ou, também Lei de Benefícios da Previdência Social (LBPS) e Decreto n°

3.048/1999, que aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências,

também conhecido como Regulamento da Previdência Social (RPS).

Para Silva, “os riscos sociais cobertos pelos regimes protetivos são as

adversidades da vida a que qualquer pessoa está submetida” 30, como as previstas no art.

201 CF, assim como o art. 1° da LBPS, quais sejam cobertura dos eventos de doença,

invalidez, morte e idade avançada, proteção à maternidade, proteção ao trabalhador em

situação de desemprego involuntário, salário-família e auxílio-reclusão para os

dependentes dos segurados de baixa renda, pensão por morte de segurado, ao cônjuge

ou companheiro e dependentes. Não obstante, para este autor, o conceito de risco social

não conceitua bem todas as coberturas previstas, uma vez que a expressão remete a uma

ideia de infortúnio ou sofrimento, não é este o caso da maternidade, por exemplo,

sugerindo adotar-se o conceito de necessidade social. Dessa forma, os eventos que

resultam em necessidade social descritos são aqueles que garantirão o direito em

perceber benefício pecuniário substituidor à renda anterior recebida até a ocorrência do

evento, essas rendas, também chamadas pela legislação de prestação, estão dispostas no

art. 18 LBPS.

Em que pese a previsão do desemprego involuntário no rol do art. 1° LBPS

como benefício previdenciário, uma vez que visa dar guarida ao sustento do segurado e

de sua família, este não se comunica aos benefícios previdenciários de responsabilidade

do órgão securitário INSS, sendo regulado por lei específica, a Lei n° 7.998/1990. Fica,

30 SILVA, op. cit., 2016, p.06.

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no entanto, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, com recursos provenientes

do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Dentre algumas responsabilidades do INSS, encontra-se a administração dos

benefícios assistenciais como, por exemplo, o BPC, que embora estejam vinculados às

políticas e Ministério da Assistência Social, ficam a encargo do INSS sua concessão,

manutenção e fiscalização pelo princípio da eficiência da Administração Pública.31

Os princípios gerais da seguridade social também se aplicam ao direito

previdenciário, uma vez que compõe o tripé que sustenta o sistema protetivo securitário

social. Ademais, é importante que se observe os princípios específicos desta matéria,

para entender de forma sistemática e principiológica as previsões legais, bem como as

práticas administrativas da autarquia previdenciária e as demandas judiciais. Entre os

princípios específicos importantes para o tema discutido está o princípio da

solidariedade, da vedação do retrocesso social, da proteção ao hipossuficiente, da

filiação obrigatória e da indisponibilidade dos direitos dos beneficiários.

O princípio da solidariedade pode ser resumido na “ideia de que, além de

direitos e liberdades, os indivíduos também têm deveres para com a comunidade na qual

estão inseridos”32, isto é, cabe a toda a sociedade o financiamento deste sistema para

que se garanta a proteção aos necessitados. Aqui entra o princípio da filiação

obrigatória, uma vez que se trata do dever de todos em contribuir ao RGPS, como

dispõe o art. 201 CF.

O segundo princípio, da vedação do retrocesso social, consiste na

impossibilidade de regulamentar norma ou aplica-la de forma que venha reduzir os

direitos sociais já positivados, preservando-se dessa forma o mínimo existencial à vida

humana e em sociedade. Observe-se que este princípio está intrinsecamente relacionado

ao princípio da proteção ao hipossuficiente, que se fundamenta na aplicação da norma

de forma a atender a função social do benefício, seja pelo administrador ou pelo Estado

juiz, ou seja, deve-se buscar a melhor interpretação ao analisar o pedido de concessão

dos benefícios ou serviços previdenciários requeridos. O princípio da proteção ao

hipossuficiente está diretamente ligado ao princípio de in dubio pro misero, conceituado

por Rubin como:

31 INSS. Benefício assistencial ao idoso e à pessoa com deficiência (BPC). 2017. 32 ROCHA apud LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.85.

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a possibilidade de utilização pelo julgador, como regra de julgamento, do

brocardo in dubio pro misero. Ocorre que muitas vezes o julgador se depara

com situação fática de difícil resolução, diante da complexidade do quadro

clínico articulado com a imprecisão das informações da perícia oficial

chamada para elucidar a questão. Se a parte autora e mesmo o INSS fizeram

todos os esforços para esclarecer a questão e mesmo assim o magistrado

possui dúvidas, especialmente no que concerne ao nexo causal, crível que se

valha do brocardo in dubio pro misero e julgue a contenda a favor do

hipossuficiente33.

Assim como o princípio in dubio pro misero, cabe também associa-lo ao

princípio in dubio pro operario e in dubio pro segurado, em se tratando de direito do

trabalhador incapacitado e segurado da Previdência Social, devendo então ser dada a

mesma interpretação daquele princípio.

O princípio que garante a impenhorabilidade ou arresto do benefício, bem

como a manutenção do direito adquirido, é o da indisponibilidade dos direitos dos

beneficiários, ou seja, não toca o legislador, ao mudar a norma previdenciária, em

direitos os quais o destinatário atenda a todos os requisitos normativos para concessão,

ainda que não venha requerer formalmente.

Vê-se, portanto, uma proteção legislativa muito grande ao destinatário da

norma, buscando pela efetividade dos direitos sociais positivados, bem como a busca do

conhecimento do destinatário da norma, para que assim possa usufrui-la, e pleno

atendimento da população a estes direitos.

1.4.1 Dos benefícios por incapacidade

A legislação previdenciária, qual seja LBPS e RPS, definem os benefícios

concedidos por motivo de doença incapacitante para o trabalho como benefícios por

incapacidade, sendo estes o auxílio doença, de natureza temporária, em que se busca a

recuperação total do indivíduo para retornar ao mercado de trabalho, e a aposentadoria

por invalidez, de natureza permanente, pois constatada a permanência e totalidade da

incapacidade, bem como a insuscetibilidade de recuperação do indivíduo segurado. O

objeto de discussão do presente trabalho é apenas o benefício por incapacidade

temporária, qual seja auxílio-doença.

Não obstante, há alguns benefícios provenientes de doença que devem ser

considerados para que não haja confusão de conceitos ou requisitos para o

reconhecimento de determinado benefício. Entre eles estão os benefícios de

33 RUBIN, Fernando. Procedimentos Judiciais em Direito Social in Jusbrasil. 2013.

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aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, auxílio-acidente, auxílio-doença por

acidente de trabalho e o BPC.

A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência é regulada pela LBPS e

pela específica Lei Complementar n° 142/2013, que reconhece esta aposentadoria

àquela pessoa, como reza o art. 2°:

que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual

ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir

sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com

as demais pessoas34.

A diferença desta para a aposentadoria por invalidez são as condições, para ter

direito a aposentadoria por idade da pessoa com deficiência analisar-se-á em conjunto a

doença reconhecida pelo médico perito do INSS, o período de carência e a idade

mínima exigida dependendo do grau de deficiência do requerente de acordo com o art.

3° da LC n° 142/2013. Enquanto na aposentadoria por invalidez não há idade mínima,

assim como a carência exigida é o mínimo de 12 (doze) contribuições mensais,

sobrando em comum a realização de perícia feita pelo médico da instituição autárquica.

Outro aspecto a ser considerado é que, concedido o benefício regulamentado pela LC n°

142/13 há o direito adquirido sem possibilidade de revisão do benefício, salvo nas

disposições legais. Não é o caso da aposentadoria por invalidez, em que até 15 (quinze)

anos após a concessão deste benefício35, há discricionariedade da autarquia em revisar o

benefício quando entender necessário, e somente passados 15 (quinze) anos da perícia

que concede o benefício torna-se direito adquirido de forma permanente. Ressalte-se

que embora a expressão ‘direito adquirido permanente’ seja estranha ao mundo jurídico,

a intenção é de frisar que mesmo havendo a concessão do benefício de aposentadoria

por invalidez, o beneficiário fica à disposição da entidade autárquica para fazer quantas

revisões periciais forem necessárias, sendo inclusive possível a cessação do benefício,

mesmo após o reconhecimento de doença incapacitante não suscetível de recuperação e

concessão do benefício.

A título de esclarecimento, a aposentadoria por idade da pessoa com

deficiência também não se confunde a aposentadoria por idade, uma vez que aquela

conceder-se-á o benefício de acordo com a gravidade da deficiência, com carência e

idade reduzidas, e a última, somente será concedida quando atingidas as 180 (cento e

34 BRASIL. Lei complementar nº 142, de 8 de maio de 2013. 35 Art. 101, §1°, I LBPS

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oitenta) contribuições mensais, salvo as exceções legais, e com idade mínima de 60

(sessenta) anos para mulher e 65 (sessenta e cinco) anos para homens36.

A respeito do benefício de auxílio-doença, existem três subespécies deste. Os

dois primeiros possuem como característica precípua a substituição da renda do

trabalhador para sustento próprio, sendo um proveniente de acidente de trabalho,

denominado auxílio-doença por acidente de trabalho, são características deste benefício:

a dispensa de carência e exigibilidade da Comunicação de Acidente de Trabalho

(CAT)37. Enquanto o benefício em foco neste trabalho é o decorrente de doença ou

lesão não ocupacional, denominado auxílio-doença previdenciário ou ordinário, nesse

caso inexiste a figura da CAT, uma vez que a origem da incapacidade é outra, exigindo

somente a carência de 12 (doze) meses de contribuição em regra. Outra característica

que diferencia estes benefícios é a competência de julgamento no que tange as

demandas judiciais, sendo a ação de auxílio-doença por acidente de trabalho

competência da Justiça Comum Estadual, conforme Súmula 235 do STF, enquanto o

auxílio-doença ordinário é de competência da Justiça Federal seguindo disposição do

art. 109, I CF, pois INSS enquanto entidade autárquica.

Já o auxílio-acidente é aquele benefício que decorre da conversão do benefício

de auxílio-doença, seja por acidente de trabalho ou não, a diferença é que na concessão

deste benefício o que se considera é a incapacidade definitiva parcial, ou seja, o

segurado não poderá exercer sua função anterior em sua plenitude, mas permanece com

capacidade laborativa fracionada. A natureza deste benefício é indenizatória e não

possui como característica a substituição da remuneração do segurado, mas a

complementariedade deste baseado na porcentagem de incapacidade laborativa

adquirida, para este benefício também não há carência38.

Outro benefício que não se deve confundir é o Benefício de Prestação

Continuada ao de auxílio-doença ordinário. É importante destacar a diferença entre duas

expressões comumente mencionadas quando se trata de assistência e incapacidade

laborativa, bem como condições de subsistência. O benefício de auxílio-doença também

é por vezes chamado de benefício de prestação continuada, isto porque, o pagamento se

dá mês a mês enquanto houver inaptidão para o trabalho habitualmente exercido até o

acometimento da lesão ou doença, de forma contínua. Porém, esse termo em nada se

36 Art. 25, II e art. 48 LBPS 37 OLIVEIRA, Lilian Gomes De. Auxílios Doença/Acidentário: Benefícios Previstos na Lei 8.213/91. 38 Art. 86 LBPS.

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confunde com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), também conhecido pelo

acrônimo da lei que regulamenta o benefício, qual seja a Lei Orgânica da Assistência

Social (LOAS) n° 8.742/1993. Trata-se de benefício assistencial custeado com recursos

da União Federal, mas pago e fiscalizado pelo INSS. Para a concessão desse benefício

não é necessária a qualidade de segurado nem período de carência, ou seja, não precisa

recolher contribuições para ter direito ao benefício, pois o objetivo dela é garantir meios

de subsistência àqueles que não possuem condições de busca-las por meio de atividade

laborativa remunerada. O benefício será devido a portadores de deficiência física,

psíquica ou mental ou a idosos acima de 65 (sessenta e cinco) anos que comprovem

renda inferior à ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente por pessoa do grupo familiar.

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CAPÍTULO II

REGIME LEGAL DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE AUXÍLIO-DOENÇA

2.1 Os requisitos para concessão do benefício de auxílio-doença

O auxílio-doença como benefício por incapacidade possui três requisitos para

concessão, sendo eles: a qualidade de segurado, o período de carência e a incapacidade

laborativa temporária e parcial ou total. Trata-se de prestação de natureza alimentar e

substitutiva à renda do segurado temporariamente incapacitado para o trabalho, e por

esse motivo exposto a condições de desamparo social e econômica.

O benefício somente é concedido quando o indivíduo cumpre os três requisitos

cumulativamente, isto é, não havendo o cumprimento de um dos critérios, o benefício

não será deferido. Faz-se necessária então a análise dos requisitos elencados de forma

individual.

2.1.1 Qualidade de segurado

Segundo bem ensina Lazzari e Castro39, o segurado se qualifica mediante

contribuição ao RGPS, podendo classificar-se como obrigatório ou facultativo. Os

segurados obrigatórios são aqueles em que sua filiação ao RGPS é obrigatória, não é,

portanto, ato volitivo e dispensável ao trabalhador, a contribuição ocorre de forma

compulsória e automática ao vínculo trabalhista e independente de inscrição ao RGPS.

São classificados como obrigatórios àqueles elencados na Lei n° 8.213/91 em seu artigo

11, dividindo-se entre empregados, empregados domésticos, contribuinte individual,

trabalhador avulso e segurado especial.

Já o segurado facultativo é aquele que não possui obrigação de contribuição,

pois não se enquadra na lei como segurado obrigatório, como regra não exercem

atividade remunerada. Sendo facultativa a contribuição, ele opta por filiar-se ao RGPS a

fim de obter a cobertura previdenciária quando aplicável, contanto que possua mais de

16 anos e não esteja vinculado a nenhum regime previdenciário próprio, é o caso, por

exemplo, de estudantes, estagiários, bolsistas, donas de casa, entre outras ocupações não

remuneradas. A relação jurídica entre a Previdência Social e o segurado facultativo se

inicia a partir da primeira contribuição, tornando-se filiado.

39LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.114-115.

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Há ainda a possibilidade de filiação aos 14 anos quando na condição de menor

aprendiz, prevista no art. 13 da mesma lei, como reza “É segurado facultativo o maior

de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante

contribuição, desde que não incluído nas disposições do art. 11”. 40

É necessário diferenciar os conceitos de inscrição e filiação, pois ocorrem em

momentos distintos para segurado obrigatório e facultativo. A inscrição é o ato formal

de vontade do indivíduo que não tem sua atividade inclusa entre aquelas que impõem ao

segurado a qualidade de obrigatório para ingressar ao RGPS, e realiza-se através de

mero cadastro41, enquanto o segurado obrigatório filia-se ao regime previdenciário

social independente de inscrição. Já a filiação é o vínculo jurídico, ou seja, o contrato de

obrigações e direitos entre segurado e órgão segurador42, e se inicia para o segurado

obrigatório, como dito, a partir do momento que o empregador registra o vínculo

empregatício na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), isto é, com o

exercício da atividade remunerada lícita, diferentemente do segurado facultativo, que se

filia a partir do recolhimento da primeira contribuição.

Frise-se que o recolhimento não poderá retroagir a período anterior a sua

inscrição, ao passo que o segurado obrigatório pode ter suas contribuições recolhidas de

forma retroativa desde que se comprove o vínculo trabalhista referente à data

contribuída43. Além disso, para o cômputo do recolhimento das contribuições para o

segurado facultativo, este deve ser realizado até o 15° dia do mês subsequente. Caso

contrário o recolhimento será computado como competência do mês em que houver a

contribuição.

A legislação previdenciária prevê situações em que a qualidade de segurado,

mesmo não havendo contribuição, se mantém, possibilitando ao indivíduo o resguardo

pela Previdência Social e fazendo jus à maioria dos benefícios previdenciários. Tais

hipóteses estão previstas no art. 15 e denomina-se ‘período de graça’:

Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de

contribuições:

I - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;

40 Art. 13 LBPS. 41 LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.120. 42 Art. 20 do Decreto n° 3.048/99. 43 LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.87-89.

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II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que

deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou

estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;

III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de

doença de segregação compulsória;

VI - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado

facultativo.

§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses

se o segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais

sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.

§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses

para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo

registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus

direitos perante a Previdência Social.

§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término

do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento

da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos

prazos fixados neste artigo e seus parágrafos.44

Conclui-se então que, pela previsão dos §§1° e 2° do art. 15, o período de graça

pode ser de até 6 meses após a cessação das contribuições como segurado facultativo,

até 12 meses após a cessação das contribuições como segurado obrigatório ou por

recuperação laboral, e poderá chegar até 36 (trinta e seis) meses se atendidos os

requisitos dos §§1° e 2°, quais sejam, havendo mais de 120 (cento e vinte) contribuições

mensais sem a perda da qualidade de segurado prorrogar-se-á o período de graça para

até 24 (vinte e quatro) meses e, o acréscimo de mais 12 (doze) meses no caso de

comprovação de desemprego do segurado pelo Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE) e Previdência Social.

2.1.2 Período de carência

O período de carência é o número mínimo de contribuições necessárias para

concessão do benefício que se requer. Cada espécie de benefício possui um período de

carência diverso de acordo com os art. 24 e 25 da Lei de Benefícios da Previdência

Social (LBPS). No caso dos benefícios por incapacidade, tanto o auxílio-doença quanto

a aposentadoria por invalidez, o mínimo indispensável é 12 contribuições mensais, sem

as quais não é possível a concessão do benefício em questão.

No entanto, o art. 26 da Lei de Benefícios ainda garante isenção de carência às

doenças incapacitantes dispostas no art. 151 da referida lei, sendo elas:

Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II

do art. 26, independe de carência a concessão de auxílio-doença e de

44 Art. 15 LBPS.

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aposentadoria por invalidez ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, for

acometido das seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação

mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna, cegueira,

paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,

espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença

de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida

(aids) ou contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina

especializada.45

A mesma previsão também vem disposta na Instrução Normativa INSS/PRES

n°77-2015, anexo XLV46.

Há ainda um agravante, nos casos em que se perde a qualidade de segurado,

havendo nova filiação e requerimento para concessão de benefício, o trabalhador

deveria contribuir com, no mínimo, mais um terço da carência exigida, somando-se

então as contribuições anteriores à perda da qualidade de segurado. Com o advento da

Lei n°13.457/17, o art. 27-A foi alterado, passando a exigir do beneficiário a metade da

carência prevista no art. 25, I da LBPS, isto é, impondo mais uma dificuldade àquele

que pleiteia o benefício.

No caso de perda da qualidade de segurado em que há nova filiação ao RGPS,

o mesmo não terá direito ao benefício quando a doença for pré-existente à filiação

secundária, salvo nos casos em que houver progressão ou agravamento da incapacidade,

como prevê o §2° do art. 42 e parágrafo único do art. 59:

Art. 42. § 2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se

ao Regime Geral de Previdência Social não lhe conferirá direito à

aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade sobrevier por

motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.47

Art. 59. Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se

filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da

lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade

sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.48

45 Art. 151 LBPS 46 ANEXO XLV INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 77 /PRES/INSS, DE 21 DE JANEIRO DE 2015

RELAÇÃO DE DOENÇAS QUE INDEPENDEM DE CARÊNCIA PARA CONCESSÃO DE AUXÍLIO

DOENÇA E APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. Independe de carência a concessão de auxílio-

doença e aposentadoria por invalidez nos casos em que o segurado, após filiar-se ao RGPS, for acometido

de alguma das doenças ou afecções relacionadas abaixo: a) Tuberculose ativa; b) Hanseníase; c)

Alienação mental; d) Neoplasia maligna; e) Cegueira; f) Paralisia irreversível e incapacitante; g)

Cardiopatia grave; h) Doença de Parkinson; i) Espondiloartrose anquilosante; j) Nefropatia grave; k)

Estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante); l) Síndrome da Imunodeficiência Adquirida –

AIDS; m) Contaminação por radiação com base em conclusão da medicina especializada; e n)

Hepatopatia grave. 47 Art. 42, §2° LBPS. 48 Art. 59, Paragrafo Único LBPS.

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A respeito desse tema, a Turma Nacional de Uniformização (TNU) editou a

Súmula n°53 no mesmo sentido, qual seja, de não haver direito a percepção do

benefício quando a doença for preexistente a filiação secundária49.

2.1.3 Incapacidade laborativa

A incapacidade laborativa se dá mediante acometimento de lesão, acidente,

doença ou agravamento de doença já existente que impede o trabalhador de exercer suas

atividades diárias, incluindo a atividade remunerada exercida até o evento que o

incapacita.

Para a percepção do benefício de auxílio-doença, a incapacidade deve ser

temporária, isto porque o objetivo de tal benefício é assegurar o trabalhador no

momento de sua incapacidade até que possa retornar com regularidade sem prejuízo de

sua saúde, ou seja, deve estar totalmente apto para o trabalho. Ressalte-se que a

incapacidade pode ser total ou parcial, sendo direito do beneficiário receber o benefício

até que esteja integrado às suas atividades para qual é qualificado.

Importante frisar que a concessão do benefício não se dá tão somente pela

presença de enfermidade, mas pela incapacidade laborativa que decorre dela. Dessa

forma, será devido àquele que for portador de patologia que o incapacite para as

atividades funcionais.

Tal incapacidade laborativa pode ter ou não nexo causal com o trabalho exercido

pelo trabalhador, em havendo relação com a atividade exercida o segurado terá direito

ao benefício de auxílio-doença por acidente de trabalho. Caso contrário, o segurado

receberá o benefício de auxílio-doença previdenciário, do qual será o enfoque deste

trabalho.

2.2 Concessão do benefício de auxílio-doença

A concessão do benefício por incapacidade depende em primeiro lugar da

classificação do segurado, isto é, sendo segurado obrigatório, na qualidade de

empregado, o empregador deverá afastar o trabalhador por até 15 (quinze) dias. Nesse

caso, a empresa será responsável pelo pagamento do período em que estiver afastado50.

49 Súmula n° 53, TNU. Não há direito a auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez quando a

incapacidade para o trabalho é preexistente ao reingresso do segurado no Regime Geral de Previdência

Social. 50 Art. 60, §3° LBPS.

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O beneficiário que se mantiver incapacitado para retornar as atividades laborativas por

período superior a 15 dias, será custeado pela Previdência Social51. Os demais

segurados que não se encaixam na classificação de empregado também possuirão direito

a este benefício, devendo requerê-lo a partir do momento em que a incapacidade é

diagnosticada52 e enquanto permanecer nesta condição.

Necessário dizer que para a concessão de qualquer benefício, deve haver prévio

requerimento administrativo, sem o qual não há resistência do órgão previdenciário, e,

portanto, não há interesse de agir para eventual propositura de ação judicial, como prevê

o enunciado n° 77 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais – FONAJEF:

O ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social

reclama prévio requerimento administrativo.

Todavia, há exceções em que a jurisprudência entende pela inexigibilidade desse

prévio requerimento, onde notoriamente o benefício será indeferido pelo INSS, como é

o caso do RE 631.240-RG, em que o Ministro Relator Luís Roberto Barroso julgou:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PRÉVIO

REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO E INTERESSE EM AGIR. (...) 3.

A exigência de prévio requerimento administrativo não deve prevalecer

quando o entendimento da Administração for notória e reiteradamente

contrário à postulação do segurado. 4. Na hipótese de pretensão de

revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente

concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a

prestação mais vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado

diretamente em juízo — salvo se depender da análise de matéria de fato

ainda não levada ao conhecimento da Administração —, uma vez que,

nesses casos, a conduta do INSS já configura o não acolhimento ao

menos tácito da pretensão. (...) 6. Quanto às ações ajuizadas até a conclusão

do presente julgamento (03.09.2014), sem que tenha havido prévio

requerimento administrativo nas hipóteses em que exigível, será observado o

seguinte: (i) caso a ação tenha sido ajuizada no âmbito de Juizado Itinerante,

a ausência de anterior pedido administrativo não deverá implicar a extinção

do feito; (ii) caso o INSS já tenha apresentado contestação de mérito, está

caracterizado o interesse em agir pela resistência à pretensão; (iii) as demais

ações que não se enquadrem nos itens (i) e (ii) ficarão sobrestadas,

observando-se a sistemática a seguir. (...) 9. Recurso extraordinário a que se

dá parcial provimento, reformando-se o acórdão recorrido para determinar a

baixa dos autos ao juiz de primeiro grau, o qual deverá intimar a autora —

que alega ser trabalhadora rural informal — a dar entrada no pedido

administrativo em 30 dias, sob pena de extinção. (...) O resultado será

comunicado ao juiz, que apreciará a subsistência ou não do interesse em agir.

(Tribunal Pleno, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 10.11.2014). (grifo nosso)

51 Art. 60, §4° LBPS. 52 Art. 60 LBPS.

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39

Há ainda uma situação rara disposta no art. 76 do Decreto n°3.048/1999, que

aprova o Regime da Previdência Social (RPS), esta dispõe que a Previdência deverá

“processar de ofício o benefício, quando tiver ciência da incapacidade do segurado sem

que este tenha requerido auxílio-doença”.53

Isto é, tomando ciência a autarquia previdenciária a respeito de segurado que se

encontra incapacitado para o trabalho, dever-se-á conceder o benefício de ofício. Na

prática diária, dificilmente observaremos a concessão de um benefício previdenciário

sem que o mesmo tenha sido requerido pelo segurado. As razões para tal superam os

objetivos e capacidades do presente estudo. Note-se ainda que para deferimento do

benefício por incapacidade, há necessidade da realização de um exame pericial onde

deverá ser constatada a incapacidade laboral, dificultando a aplicação do referido texto

legal.

Ressalte-se que a demanda de realização de perícia é, normalmente, maior do

que aquilo que a autarquia previdenciária pode processar. Muitas vezes o beneficiário

leva meses, e até anos, esperando pela referida perícia para concessão do benefício

pleiteado, como se vê no julgado AC 0012303-15.2009.4.03.6110 SP pela 3° Turma do

TRF da 3° Região:

DIREITO ADMINISTRATIVO. CIVIL. PREVIDENCIÁRIO E

PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL INDENIZÁVEL. INSS. DEMORA

EXCESSIVA NA ANÁLISE DO PEDIDO DE APOSENTADORIA

ESPECIAL. EVIDENCIADA A ANGÚSTIA E AFLIÇÃO

EXPERIMENTADAS. VALOR DA INDENIZAÇÃO CONDIZENTE.

DANO MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO. 1. Trata-se de pedido de indenização por danos materiais e

morais, apontando que o dano moral corresponde ao sofrimento (estresse,

angústia e depressão), devido à demora na conclusão do processo

administrativo em que buscou a concessão da aposentadoria em

condições especiais e que ocasionou agravamento na perda auditiva. (...)

2. A Constituição Federal, em seu primeiro artigo, no inciso III,

consagrou a dignidade humana como um dos fundamentos do Estado

Democrático de Direito. Assim, de acordo com o próprio texto

constitucional, o dano moral passou a ter uma nova feição. Reputa-se como

dano moral a dor, o vexame, o sofrimento ou mesmo a humilhação que,

fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico

do indivíduo, causando-lhe desequilíbrio em seu bem estar. (...) 4. Também

admitido pela Corte Maior a indenização por dano moral decorrente de

ato das pessoas jurídicas de direito público e de direito privado

prestadoras de serviço público, em face do acolhimento da teoria da

responsabilidade objetiva destes entes com base no risco administrativo,

o que permite certo abrandamento se houver prova de que a vítima

concorreu para o evento danoso. Veja-se RE 179.147/SP, Min. Rel.

Carlos Velloso, DJ de 27.02.98, pg. 18. 5. No caso dos autos a prova

53 Art. 76 RPS.

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coligida evidenciou a existência do abuso cometido pelo INSS, tendo em

vista que, em 20.11.1998, o autor requereu a aposentadoria especial, ao

completar vinte e cinco anos de serviço, tendo em vista que exposto a

ruídos de 93 decibéis, indeferida em 24.11.1998. (...) 8. É dever da

administração pública pautar seus atos dentro dos princípios constitucionais,

no caso em comento, pelo princípio da eficiência (dever administrativo de

razoável atuação, aí incluído o tempo de atuação dos agentes), se

concretizando pelo cumprimento dos prazos legalmente determinados,

sendo que a dilação dos prazos só pode ocorrer se houver motivo

suficientemente capaz de justificar a demora na decisão, o que, no caso

dos autos, não ocorreu. É incontroverso, portanto, que o tempo de espera

para que o apelante soubesse se fora concedida a aposentadoria especial

foi de, no mínimo, de cinco anos. Tudo indica que o processo ficou

"parado" na agência do INSS - por extravio ou desídia. (...) 10. É de se

entender a angústia, aflição e insegurança do autor a respeito do

resultado do pedido formulado perante a autarquia, uma vez que, desde

o requerimento administrativo, no ano de 1998, possuía, em tese, direito

adquirido da aposentadoria especial. Prescinde, inclusive, da prova do

abalo psíquico, para fins de indenização por danos morais, haja vista que

as circunstâncias do caso concreto permitem delimitar o abalamento

psicológico. (REsp 1109978/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe

de 13/09/2011) 11. Evidente que cabe à Administração a organização dos

seus trabalhos, sendo certo que o atraso foi causado pela tramitação

morosa e desídia na condução das atividades administrativas, razão pela

qual o apelante faz jus à indenização pelo dano moral sofrido. (...) 15.

Recurso a que dá parcial provimento. (TRF-3 – AC: 12303 SP 0012303-

15.2009.4.03.6110, Relator: JUIZ CONVOCADO ROBERTO JEUKEN,

Data de Julgamento: 18/04/2013, TERCEIRA TURMA) (grifo nosso)

Percebe-se, portanto, a demora no processamento de concessão do benefício,

incorrendo em responsabilidade civil da autarquia, e consequentemente indenização

pelo dano moral sofrido. Outro julgado em situação semelhante expõe que a demora

indevida, seja na concessão do benefício seja na espera pela realização de perícia

médica, é pratica comum dos NPS. Assim como a AC 200651170026073 julgada pela

1° Turma Especializada do TRF da 2° Região:

CONCESSÃO DE BENEFÍCIO AO PORTADOR DA SÍNDROME DA

TALIDOMIDA. PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO.

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. CONCESSÃO APÓS

CERCA DE DOIS ANOS DO REQUERIMENTO. DEMORA INDEVIDA

NA REALIZAÇÃO DA PERÍCIA MÉDICA. I - Caso no qual pretende o

autor indenização por dano moral, decorrente do transcurso de quase

dois anos entre o requerimento e a concessão da aposentadoria pelo

INSS. II- (...) A situação de constrangimento e sofrimento do autor se

vislumbra pela exigência desnecessária de apresentação de documentos da

época próxima ao nascimento, com prescrição da medicação a sua mãe, além

de ter tido de retornar ao Posto com mais de um adiamento de perícia

marcada, obstando o INSS o exame do pedido de concessão do benefício

por não ter o requerente encontrado os referidos documentos, ao invés

de realizar logo a perícia médica. III - No caso em questão, não se pode

considerar regular a conduta do INSS, pois conforme bem apontado na

sentença, (...) o autor apresentou requerimento administrativo em

20/01/2006, sendo que até a data da propositura desta ação, 19/07/2006,

não havia sido submetido à perícia médica, tendo sido esta realizada por

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ordem do Juízo apenas em 13/02/2007 (laudo de fls. 53/55). O pedido do

autor foi deferido em sede administrativa somente em 17/04/2008, ou

seja, passados mais de dois anos da apresentação do requerimento, sendo

certo que não foi apresentada pela autarquia qualquer justificativa para

o retardo na análise do pedido do autor.–IV - Em tal contexto, afigura-se

correta a condenação do INSS ao pagamento de danos morais no valor de

R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a fim de compensar o dano sofrido pelo

autor e evidenciar o caráter educativo da medida, como forma de

prevenir situações dessa natureza. V - Apelação e remessa considerada

como feita não providas. (TRF-2 - AC: 200651170026073, Relator:

Desembargador Federal ABEL GOMES, Data de Julgamento: 31/08/2012,

PRIMEIRA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: 14/09/2012)

(grifo nosso)

Em ambos os julgados, o dano moral ficou configurado em vista da demora da

autarquia em conceder o benefício que direito adquirido do postulante. Essa demora foi

considerada como conduta abusiva e morosa da autarquia, ferindo princípios como

dignidade da pessoa humana e eficiência da Administração.

Com o fulcro de sanar o problema, a Lei n°13.135/2015 alterou o §5° do art. 60

permitindo a realização de perícia médica pelos órgãos e entidades públicas que

integrem o Sistema Único de Saúde (SUS), desde que mediante delegação ou simples

cooperação técnica, sob a supervisão e coordenação da autarquia e sem custos aos

segurados. Ainda assim, segundo os autores Lazzari e Castro54, diante de longa espera

do segurado por resposta do órgão segurador, o requerente pode ainda ingressar em

juízo pleiteando a imediata concessão do benefício requerido administrativamente,

inclusive sem a realização de perícia judicial, quando através de conteúdo probatório de

laudos médicos e exames conclua-se sua condição de incapacitado. A decisão de

concessão do benefício anterior à sentença se dará em caráter de tutela antecipada de

urgência, uma vez que se tem como objetivo a manutenção e subsistência e dignidade

do segurado. Isto porque, o INSS deve implantar e realizar o primeiro pagamento do

benefício requerido em até 45 (quarenta e cinco) dias da apresentação de documentos

necessários à sua concessão55.

Além disso, o §5° do art. 101 LBPS também prevê o atendimento domiciliar e

hospitalar para realização de perícia médica e social aos segurados impossibilitados de

deslocamento e locomoção em razão da doença que lhe incapacita.

O segurado também possui prazo para recorrer da decisão administrativa da

perícia médica que indeferiu ou cessou o benefício, sendo este de 30 (trinta) dias, como

prevê o §11° do art. 60 LBPS. Quando o segurado interpuser recurso de tal decisão, a

54 LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.502. 55 Art. 41-A, §5° LBPS.

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análise e perícia médica serão realizadas “por assistente técnico médico da junta de

recursos do seguro social diverso do que indeferiu o benefício”56. Não obstante, para

ingressar com ação judicial em face da autarquia não é necessário o esgotamento de

todas as vias administrativas, sendo fundamental apenas o primeiro indeferimento.

Em vista da demora que, não raras vezes, o segurado fica submetido para

realização de perícia, bem como objetivando a manutenção de sua subsistência, o

mesmo volta à atividade laborativa mesmo com todas as dificuldades que encontra em

razão da doença. O art. 60, §6° prevê a possibilidade de cancelamento do benefício em

sendo verificado a permanência do exercício da atividade remunerada. Contudo, a TNU

consolidou o entendimento através da Súmula n°7257, de que o recebimento do

benefício será devido ao segurado em período concomitante ao exercício da atividade

quando comprovado que o indivíduo se encontrava incapaz para o labor.

Diferencia-se, no entanto, do art. 60, §7°, pois nesse caso trabalhador exerce

mais de uma atividade remunerada ficando incapacitado para uma delas, havendo a

possibilidade de cumulação ao recebimento do benefício por incapacidade na

condicionante de que a atividade a que o mesmo continua vinculado deverá ser diversa

daquela que gerou o benefício.

Havendo a concessão do benefício, seja pela via administrativa ou judicial a

partir do trânsito em julgado da ação, a autarquia tem a discricionariedade de revisão do

benefício a qualquer momento, submetendo o segurado a nova perícia médica ou

processo de reabilitação profissional como disposto no art. 101 LBPS58.

Entre os eventos cobertos pelo INSS também existe a possibilidade de

Reabilitação Profissional (RP) nos casos em que o segurado se encontrar

impossibilitado total ou parcialmente para exercer atividade laborativa anterior à lesão e

está prevista no art. 136 do RPS59. Além disso, o art. 89 e seu parágrafo único da LBPS

também garante o atendimento de RP:

56 Art. 60, §11° LBPS. 57 Súmula n°72, TNU. É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período em que

houve exercício de atividade remunerada quando comprovado que o segurado estava incapaz para as

atividades habituais na época em que trabalhou. 58 Art. 101. O segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e o pensionista inválido

estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da

Previdência Social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado, e tratamento

dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos. 59 Decreto n° 3.048/1999 Art. 136. A assistência (re)educativa e de (re)adaptação profissional, instituída

sob a denominação genérica de habilitação e reabilitação profissional, visa proporcionar aos beneficiários,

incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho, em caráter obrigatório, independentemente de

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Lei n° 8.213/1991

Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão

proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o

trabalho, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação

e de (re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado

de trabalho e do contexto em que vive.

Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:

a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio

para locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder

ser atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação e

reabilitação social e profissional;

b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso

anterior, desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade

do beneficiário;

c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.

Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional,

auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário,

conforme dispuser o Regulamento.

Art. 92. Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e

profissional, a Previdência Social emitirá certificado individual, indicando as

atividades que poderão ser exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que

este exerça outra atividade para a qual se capacitar.

Também chamada de assistência educativa, a medida, de caráter obrigatório60,

consiste em proporcionar meios de reingresso ao mercado de trabalho para qualificação

do beneficiário em atividade diversa da habitual. Nesse período de reabilitação

profissional, o segurado contará com o percebimento do benefício de auxílio-doença até

que esteja apto para tal atividade.

A impossibilidade de exercer atividade desempenhada anteriormente é avaliada

por médico perito do INSS, e sendo verificada incapacidade laborativa irrecuperável, o

médico ainda poderá conceder aposentadoria por invalidez.

2.3 Cessação do benefício

A cessação do benefício pode ocorrer pelos motivos elencados no art. 78 do

Decreto n°3.048/1999, sendo eles:

carência, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios indicados para proporcionar o reingresso no

mercado de trabalho e no contexto em que vivem. § 1º Cabe ao Instituto Nacional do Seguro Social

promover a prestação de que trata este artigo aos segurados, inclusive aposentados, e, de acordo com as

possibilidades administrativas, técnicas, financeiras e as condições locais do órgão, aos seus dependentes,

preferencialmente mediante a contratação de serviços especializados. § 2º As pessoas portadoras de

deficiência serão atendidas mediante celebração de convênio de cooperação técnico-financeira.

Art. 137. O processo de habilitação e de reabilitação profissional do beneficiário será desenvolvido por

meio das funções básicas de: I - avaliação do potencial laborativo; II - orientação e acompanhamento da

programação profissional; III - articulação com a comunidade, inclusive mediante a celebração de

convênio para reabilitação física restrita a segurados que cumpriram os pressupostos de elegibilidade ao

programa de reabilitação profissional, com vistas ao reingresso no mercado de trabalho; e IV -

acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado de trabalho. 60 Art. 90 LBPS.

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Art. 78. O auxílio-doença cessa pela recuperação da capacidade para o

trabalho, pela transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio-

acidente de qualquer natureza, neste caso se resultar sequela que implique

redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.61 (grifo

nosso)

A primeira hipótese é aquela em que o benefício por incapacidade é cessado em

razão da recuperação total da capacidade laborativa do indivíduo mediante

comprovação de perícia médica do INSS. Enquanto a segunda hipótese consiste na

conversão do benefício de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez ou auxílio-

acidente, isto é, constata-se então a não suscetibilidade de retorno ao mercado de

trabalho ou permanência reduzida da capacidade laborativa, respectivamente.

Há ainda uma hipótese de suspensão temporária do benefício, quando o

beneficiário não comparece à perícia médica ou reabilitação profissional fornecida pela

autarquia. Ressalte-se que a suspensão difere do cancelamento do benefício, pois uma

vez constatada a permanência da incapacidade laborativa, o segurado tem direito à

manutenção do benefício, bem como dos valores retroativos referentes ao tempo em que

o pagamento ficou suspenso. O art. 101 da LBPS, assim como o art. 286 da Instrução

Normativa n°45/2010 prevê a hipótese de suspensão.

Art. 286. O benefício de auxílio-doença será suspenso quando o segurado

deixar de submeter-se a exames médico-periciais, a tratamentos e a processo

de reabilitação profissional proporcionados pela Previdência Social, exceto a

tratamento cirúrgico e a transfusão de sangue, devendo ser restabelecido a

partir do momento em que deixar de existir o motivo que ocasionou a

suspensão, desde que persista a incapacidade.62

Além das hipóteses previstas, a Orientação Interna n° 130/2005 instituiu o

procedimento da Cobertura Previdenciária Estimada, que consiste na realização da

perícia médica que reconhece a incapacidade laborativa, concedendo o benefício por

prazo determinado de acordo com as características clínicas de cada doença. Isso

significa que após este prazo, o benefício cessará automaticamente sem perícia médica

que constate a capacidade laborativa do segurado, salvo Pedido de Prorrogação (PP) do

segurado até 15 dias antes da DCB. Ressalte-se que o tempo de cobertura do benefício

não é informado ao segurado, isto é, sem comunicação prévia pela autarquia. Sendo este

o foco deste trabalho, será melhor abordado no capítulo seguinte.

61 Art. 78 RPS. 62 Art. 286 da Instrução Normativa n°45/2010.

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2.4 Restabelecimento do benefício

O restabelecimento do benefício sucede à cessação do mesmo, isto é, o

indivíduo recebia o benefício de prestação continuada e considera não estar apto para

voltar ao exercício de sua atividade habitual. Como observado nos tópicos anteriores, o

benefício pode cessar por falta de pedido de prorrogação, mas os motivos mais comuns

são a interrupção da prestação pela avaliação médica do perito do INSS que considerar

inexistente a condição de incapacidade laborativa ou a cessação do benefício pelo

procedimento da alta programada.

Nesse caso, é dispensado o indeferimento mediante nova perícia, trata-se de

questão uniformizada pela TNU:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. UNIFORMIZAÇÃO DE

JURISPRUDÊNCIA. RESTABELECIMENTO DE AUXÍLIODOENÇA.

ALTA PROGRAMADA. NEGATIVA ADMINISTRATIVA

CONFIGURADA. DESNECESSIDADE DE PRÉVIO PEDIDO DE

PRORROGAÇÃO. INCIDENTE PROVIDO. 1. Em se tratando de pedido

de restabelecimento de auxílio-doença, suspenso pelo regime de alta

programada, dispensável se faz o prévio pedido de prorrogação, por

configurar o ato de cancelamento manifesta negativa da Administração

quanto ao direito postulado. Precedente desta Turma Nacional (PEDILEF

200972640023779). 2. Pedido de Uniformização de Jurisprudência provido,

com determinação de devolução dos recursos com mesmo objeto às Turmas

de origem a fim de que, nos termos do art. 15, §§ 1º e 3º, do RI/ TNU,

mantenham ou promovam a adequação da decisão recorrida. (TNU,

PEDILEF n. 200770500165515, Rel. Juíza Federal Simone dos Santos

Lemos Fernandes, DOU de 4.10.2011)

Para os autores Lazzari e Castro63, na hipótese de cancelamento do benefício por

irregularidade da autarquia, o benefício também poderá ser restabelecido, isto porque o

ônus da prova é do órgão segurador, uma vez que a ele cabe a função de fiscalização,

concessão, manutenção e cancelamento do benefício. Enquanto o administrado é parte

hipossuficiente nessa relação jurídica. Além disso, os atos administrativos da

Administração pública, seja direta ou indireta, possuem presunção de validade, dessa

forma, quando concedido o benefício entende-se que o beneficiário recebeu de boa-fé.

Ademais, para a cessação do benefício, seja por meio de perícia médica ou

irregularidade constatada pela autarquia, deve haver processo administrativo que

garanta ao segurado ampla defesa e contraditório, como predispõe a Súmula n° 160 do

extinto TFR:

63 LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.341.

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Seguridade social. Benefício. Suspeita. Anulação de plano.

Inadmissibilidade. A suspeita de fraude na concessão de benefício

previdenciário não enseja, de plano, a sua suspensão ou cancelamento, mas

dependerá de apuração em procedimento administrativo.

Bem como o art. 11 da Lei n° 10.666/2003, e seus parágrafos garantem:

Art. 11. O Ministério da Previdência Social e o INSS manterão programa

permanente de revisão da concessão e da manutenção dos benefícios da

Previdência Social, a fim de apurar irregularidades e falhas existentes.

§ 1o Havendo indício de irregularidade na concessão ou na manutenção de

benefício, a Previdência Social notificará o beneficiário para apresentar

defesa, provas ou documentos de que dispuser, no prazo de dez dias.

§ 2o A notificação a que se refere o § 1o far-se-á por via postal com aviso de

recebimento e, não comparecendo o beneficiário nem apresentando defesa,

será suspenso o benefício, com notificação ao beneficiário.

§ 3o Decorrido o prazo concedido pela notificação postal, sem que tenha

havido resposta, ou caso seja considerada pela Previdência Social como

insuficiente ou improcedente a defesa apresentada, o benefício será

cancelado, dando-se conhecimento da decisão ao beneficiário.64

Observa-se, portanto que, mesmo nos casos em que há indícios de

irregularidade e fraude previdenciária, o procedimento que deve ser adotado pela

autarquia é dar ao beneficiário a possibilidade de defesa, e consequentemente respeito

ao devido processo administrativo, princípio constitucional previsto no art. 5°, LV.

Mesmo tratando-se de diferença óbvia, é necessário ressaltar que o

restabelecimento do benefício se dá como consequência da cessação da prestação

continuada ao beneficiário que se considera incapaz, mesmo o médico perito tendo

atestado sua capacidade laborativa, ou quando a cessação se dá mediante COPES. Esta

reativação do benefício não se confunde com a prorrogação, quando ainda não houve o

corte do pagamento. Esta prorrogação se dará sempre, como exposto acima, nos 15 dias

antecedentes a DCB.

Quando o segurado ainda se considera inapto para retornar ao mercado de

trabalho, ajuizará ação de restabelecimento do benefício na Justiça Federal, seja na Vara

Federal pelo procedimento ordinário ou no Juizado Especial Federal pelo rito sumário.

Nesta ação os pedidos serão a reativação do benefício com mesmo Número de

Benefício (NB) recebido anteriormente e o pagamento retroativo dos valores que não

foram pagos desde a DCB, uma vez que permanecendo incapacitado fará jus a estes

valores. Esclarece-se ainda que o NB deverá ser o mesmo do benefício cessado, para

que assim seja possível o pagamento dos valores retroativos.

64 Art. 11 da Lei n° 10.666/2003.

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Importante ainda mencionar, que em âmbito judicial, seja na concessão ou no

restabelecimento do benefício, o juiz deverá verificar as condições pessoais, sociais,

econômicas e culturais, seguindo dessa forma o entendimento da TNU prescrito na

Súmula 78:

Comprovado que o requerente de benefício é portador do vírus HIV, cabe ao

julgador verificar as condições pessoais, sociais, econômicas e culturais, de

forma a analisar a incapacidade em sentido amplo, em face da elevada

estigmatização social da doença.

A súmula em questão fala especificamente de portadores de HIV, ainda assim,

por analogia, a aplicação deve se dar a todas as doenças que limitem física, econômica e

socialmente o segurado. Entre as circunstancias a serem analisadas, deve-se entender

por condições pessoais os sintomas e histórico da doença e familiar, a idade, entre

outras implicações individuais. Já em âmbito social e cultural, a observação deve ser

sob o aspecto do estigma social da doença, já que certas enfermidades infelizmente

provocam segregação e preconceito, é o caso da doença objeto da súmula,

esquizofrenia, hanseníase, HPV e obesidade, entre outras. E por último, o contexto

econômico deve ser o de dar a possibilidade de subsistência do segurado, uma vez que

incapacitado para o trabalho, o benefício irá substituir a renda proveniente da atividade

até então exercida.

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CAPÍTULO III

A PRÁTICA E AS CONSEQUÊNCIAS DA COPES NO BENEFÍCIO DE

AUXÍLIO-DOENÇA PELA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA

3.1 Conceito

A Cobertura Previdenciária Estimada (COPES) foi incluída como hipótese de

cessação do benefício a partir de 13 de outubro de 2005 dada à redação da Orientação

Interna INSS/DIRBEN n°130. Também conhecida como ‘alta médica programada’ ou

‘data certa’, a hipótese consiste em procedimento adotado pela autarquia do INSS que

tem como objetivo estabelecer termo final previsto pelo médico perito para recuperação

e tratamento da doença sem que haja nova perícia para cessação do benefício, isto é,

cessando automaticamente sem comprovação de capacidade laborativa. Comprovação

essa de responsabilidade da autarquia mediante avaliação médica do perito do INSS,

sendo concedido o benefício pelo tempo previsto pelo médico perito. Os motivos para

instituir a alta programada e para a alteração da legislação são explicados no tópico

seguinte.

A OI n°130 foi revogada pela OI INSS/DIRBEN n°138/2006, permanecendo,

porém, a previsão de cessação do benefício com dispensa de avaliação pericial médica.

A diferença consiste no tempo máximo de 180 (cento e oitenta) dias de concessão do

benefício, como art. 2°, §2°, II da OI n°130/05 dispõe:

Art. 2º Os tipos de Conclusões Médico-periciais, nos casos de benefícios por

incapacidade, resultarão das respostas aos quesitos existentes no Laudo

Médico-Pericial, nas seguintes formas:

Tipo 1 – Contrária;

Tipo 2 – Data da Cessação do Benefício (DCB);

Tipo 4 – Data da Comprovação da Incapacidade (DCI).

§ 1º A conclusão será contrária nos casos de exames iniciais (Ax-1), Pedido

de Reconsideração (PR) ou Recurso em que for verificada a inexistência de

incapacidade para o trabalho (Tipo 1).

§ 2º A conclusão será do Tipo 2 (DCB) em Ax-1 nos casos de:

II - Existência de incapacidade laborativa atual, com fixação de prazo

máximo de 180 (cento e oitenta) dias, dependendo das características

clínicas de cada patologia. (grifo nosso) 65

Enquanto a OI n°138/06, no art. 1°, §2°, II66, a dispõe somente que o médico

perto deverá fixar prazo para a cessação do benefício. Tanto a OI n° 130/05 quanto a OI

65 Art. 2°, §2°, II da OI n°130/05. 66 Art. 1º Os tipos de Conclusões Médico-periciais, nos casos de benefícios por incapacidade, resultarão

das respostas aos quesitos existentes no Laudo Médico-Pericial, nas seguintes formas: I - Tipo 1 –

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n° 138/06 foram revogadas pela Resolução INSS/PRES n° 271/2013, que revoga

também a Resolução n°161/INSS/DC de 2004. Entretanto, a prática permanece prevista

no art. 304 da Instrução Normativa INSS/PRES n° 77/2015:

Instrução Normativa INSS/PRES n° 77/2015

Art. 304. O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação médico-pericial, o

prazo suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do

segurado.

§ 1º Na análise médico-pericial deverá ser fixada a data do início da doença -

DID e a data do início da incapacidade - DII, devendo a decisão ser

fundamentada a partir de dados clínicos objetivos, exames complementares,

comprovante de internação hospitalar, atestados de tratamento ambulatorial,

entre outros elementos, conforme o caso, sendo que os critérios utilizados

para fixação dessas datas deverão ficar consignados no relatório de conclusão

do exame.

§ 2º Caso o prazo fixado para a recuperação da capacidade para o seu

trabalho ou para a sua atividade habitual se revele insuficiente, o segurado

poderá:

I - nos quinze dias que antecederem a DCB, solicitar a realização de nova

perícia médica por meio de pedido de prorrogação - PP;

II - após a DCB, solicitar pedido de reconsideração - PR, observado o

disposto no § 3º do art. 303, até trinta dias depois do prazo fixado, cuja

perícia poderá ser realizada pelo mesmo profissional responsável pela

avaliação anterior; ou

III - no prazo de trinta dias da ciência da decisão, interpor recurso à JRPS.67

A mesma redação também se encontra no art. art. 60, §§8° e 9° e 78 RPS68.

Contrária. II - Tipo 2 – Data da Cessação do Benefício-DCB. III - Tipo 4 – Data da Comprovação da

Incapacidade-DCI. § 1º A conclusão será do Tipo 1 (contrária), nos casos de exame inicial-Ax-1, Pedido

de Prorrogação-PP e Pedido de Reconsideração-PR, em que for verificada a inexistência de incapacidade

para o trabalho.

§ 2º A conclusão será do Tipo 2 (DCB) nos casos de: II - EXISTÊNCIA DE INCAPACIDADE

LABORATIVA a) observadas as características clínicas de cada patologia, o Perito Médico fixará o

prazo para a manutenção do benefício, justificando-o tecnicamente; b) a sugestão de limite superior a

um ano está sujeita a homologação pelo Serviço/Seção de Gerenciamento de Benefícios por

Incapacidade-GBENIN; c) será garantida a avaliação pericial ao segurado que, no limite fixado pelo

Perito Médico, considerar-se ainda incapacitado para o trabalho, bastando para tal a sua manifestação por

meio do Pedido de Prorrogação-PP; (grifo nosso) 67 Art. 304, Instrução Normativa INSS/PRES n° 77/2015. 68 68 Decreto n°3048/1999 Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do

décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início

da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. § 8° Sempre que possível, o ato de concessão ou de

reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do

benefício. § 9° Na ausência de fixação do prazo de que trata o § 8o deste artigo, o benefício cessará após

o prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio-doença, exceto se

o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma do regulamento, observado o disposto no

art. 62 desta Lei. Art. 78. O auxílio-doença cessa pela recuperação da capacidade para o trabalho, pela

transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente de qualquer natureza, neste caso se

resultar sequela que implique redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. § 1º O

INSS poderá estabelecer, mediante avaliação pericial ou com base na documentação médica do segurado,

nos termos do art. 75-A, o prazo que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho

do segurado. § 2º Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado poderá

solicitar a sua prorrogação, na forma estabelecida pelo INSS.

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Em suma, segundo os artigos acima, o INSS possui discricionariedade através de

seus médicos peritos em conceder o benefício decorrente de incapacidade pelo tempo

que este entender necessário para a recuperação total do segurado. Com a estima de

recuperação da doença incapacitante, o indivíduo terá o benefício cessado de forma

automática, sem nenhuma comunicação prévia da autarquia ou nova perícia médica,

salvo nos casos em que o beneficiário agenda por conta própria perícia para que o

benefício seja prorrogado.

Chegado o momento de cessação do benefício e, se o indivíduo entender que

ainda se encontra incapaz para o trabalho deverá requerer a prorrogação do benefício

através de Pedido de Prorrogação (PP) até 15 (quinze) dias anteriores a Data de

Cessação do Benefício (DCB) na Agência da Previdência Social (APS), na Central de

Atendimento 135 ou pela ‘internet’, sendo o beneficiário submetido à nova perícia

médica. Nessa hipótese não há de se considerar que DCB se deu por alta programada,

pois foi dada ao indivíduo a possibilidade de prorrogação do benefício através de nova

perícia médica, essa possibilidade se dará mediante marcação de perícia por iniciativa

do segurado ou convocação do órgão segurador para comparecimento a agência do

Núcleo de Previdência Social (NPS). Ressalte-se que, a perícia sendo marcada nos 15

(quinze) dias antecedentes, a autarquia deve manter o benefício até a data de realização

da perícia, pois não pode o beneficiário ser prejudicado por demora da Administração

Pública.

Contudo, se o benefício for cessado, poderá o segurado recorrer da decisão

denegatória por meio do Pedido de Reconsideração (PR) em até 30 (trinta) dias após a

DCB. Nesse caso, poderá o incapacitado ser avaliado pelo médico responsável pela

decisão que deu ‘alta’ do benefício. Tomando conhecimento da decisão e discordando,

pode ainda recorrer à Junta de Recursos da Previdência Social (JRPS), no prazo de 30

(trinta) dias. Havendo indeferimento do recurso à JRPS, o novo pedido de concessão do

benefício por incapacidade somente poderá ser requerido 30 (trinta) dias após a última

decisão denegatória.

Outra observação a ser feita é sobre o estabelecido no art. 60, §§8° e 9° do

Decreto n° 3.048/99 onde se determina que qualquer concessão ou reativação do

benefício deverá contar com prazo estimado para a duração do benefício. E não havendo

previsão de cessação, a concessão se dará por 120 (cento e vinte) dias, cessando a partir

de então. Salvo quando houver PP do segurado para manutenção do benefício.

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3.2. Contextualização do procedimento

Segundo a OI n° 130/2005 a justificativa para a implantação do programa seria a

“necessidade de uniformizar as atividades da área de Perícia Médica, no que se refere às

conclusões médico-periciais”, modernização de procedimentos operacionais da área de

Benefícios por Incapacidade (perícia médica, reabilitação profissional e administração

de credenciados)69, bem como reduzir o número de fraudes previdenciárias, e

diminuição do número de perícias e consequentemente, reduzindo a quantidade de

peritos e o tempo de espera para a realização da perícia70. Necessidade essa atrelada ao

objetivo de restringir o número de benefícios pagos, como Kunzler afirma:

Como se percebe, a COPES foi a solução encontrada pela Previdência Social

para tentar resolver o problema de gestão que vinha enfrentando. Em uma

primeira análise, o programa obteve êxito, em especial, para o INSS, pois

agilizou e reduziu o número de perícias, diminuindo, assim, os gastos com o

benefício de auxílio-doença. 71

A respeito da uniformização das conclusões médico-periciais, o médico perito

atestará a incapacidade pelo tempo determinado de acordo com tabela, cujo nome

‘tempo estimado para recuperação da capacidade funcional baseado em evidências’,

produzida pelo INSS que padroniza o tempo de repouso para recuperação funcional para

cada patologia baseado na codificação da 10ª Edição da Classificação Estatística

Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID 10.

Além disso, o Relatório de Auditoria Operacional do Tribunal de contas da

União (TCU) relata que antes da implementação da COPES “o atraso para a realização

das perícias acabava contribuindo para a elevação dos gastos com o benefício”72. O

Relatório também concluiu que entre 1998 e 2006 o “número de concessões de auxílio-

doença, por sua vez, passou de 780 mil para 2,3 milhões no período, o que representa

um crescimento de 198%”73. Dessa forma, o Relatório aponta que a DCB automática

trouxe muitas consequências positivas, como a diminuição de perícias chamadas

intermediárias, o tempo de espera para realização da perícia e o número de filas nas

APS, entre outras que excedem o tema discutido.

69 Resolução INSS/DC Nº 161, de 22 de junho de 2004. 70 KUNZLER, Michelle Cristina. Cobertura Previdenciária Estimada (COPES): Gestão Pública

versus Legalidade. 2016, p. 263. 71 KUNZLER, op. cit., 2016, p. 264. 72 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Relatório de Auditoria Operacional - Concessão e

manutenção dos benefícios do Auxílio-doença. 2010, p. 47. 73 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, op. cit., 2010, p. 35.

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As perícias intermediárias seriam aquelas necessárias para a comprovação da

capacidade laborativa, isto é, através do resultado delas o perito decidiria pela

prorrogação do benefício ou cessação do mesmo. Antes da Cobertura Estimada estas

perícias eram marcadas necessariamente a cada 60 dias, independente da patologia.

Enquanto que depois do procedimento, o tempo médio de espera para atendimento nas

agências “em março de 2006, era de 92 minutos e foi reduzido para 43 minutos em

dezembro de 2007 e para 36 minutos em dezembro de 2008”74, e que entre a Data de

Entrada do Requerimento (DER) e a Data de Realização do Exame (DRE) “atingiu 21

dias em outubro de 2006, chegou a 13 dias em maio de 2007, voltou a atingir 22 dias

em janeiro de 2008 e passou a decair, chegando a 9 dias em dezembro de 2008”75.

Dessa forma, do ponto de vista da administração pública do INSS, a adoção

deste sistema pode ter sido “de fundamental importância para a gestão pública,

permitindo um ajuste nas suas contas”76. No entanto, o procedimento desconsidera

qualquer complicação a que o indivíduo fica submetido, como por exemplo,

complicações cirúrgicas, agravamento da enfermidade, bem como violação de direitos

constitucionais processuais e materiais. Além disso, trata-se de conduta completamente

dissonante da previsão legal e da função do sistema protetivo da seguridade social como

um todo, como se verá neste capítulo.

3.3 Consequências

3.3.1 Violação ao princípio da legalidade

O princípio da legalidade é o principal fundamento do Estado democrático de

Direito, segundo o qual, todos estão sujeitos a aplicação da lei, conforme disposição do

art. 5° caput e inciso II CF77. Este princípio também vale para a Administração Pública,

seja ela direta ou indireta, que só poderá atuar de acordo e em virtude das disposições

legais, isto significa que quando imposta ao Estado uma atuação positiva não poderá

agir de outra forma, sob pena de prejudicar o administrado e responsabilização objetiva

74 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, op. cit., 2010, p.50. 75 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, op. cit., 2010, p.50. 76 KUNZLER, op. cit., 2016, p. 274. 77 Art. 5°- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

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de tal atuação arbitrária78. Considerando que a Previdência Social se funda em direito do

trabalhador e segurado, bem como o benefício previdenciário de auxilio doença, no

momento em que se nega a prorrogação do benefício, está agindo ilegalmente, uma vez

que este consiste em direito social do cidadão e, portanto, dever estatal. Além disso, por

tratar-se de direito social já explicitado, isto é, de interesse de toda a coletividade, a

conduta de COPES também viola o princípio da supremacia do interesse público79.

Ainda, a projeção de cessação do benefício de forma automática também viola

diretamente a disposição do art. 60 e 62 LBPS, bem como §§2° e 3° do art. 75 e §2°, II

do art. 75-A, pois em todos estes a legislação condiciona a comprovação de capacidade

laborativa à realização de perícia médica pelo INSS, não podendo cessar o benefício

antes desta80. O STJ possui firme entendimento a respeito da ilegalidade desta conduta,

como julga o AgInt no REsp nº 1.368.692 - SC:

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NO

RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.

APLICABILIDADE. AUXÍLIO-DOENÇA. ALTA PROGRAMADA.

IMPOSSIBILIDADE. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA

DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. NECESSIDADE DE PERÍCIA. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO

ATACADA. HONORÁRIOS RECURSAIS. NÃO CABIMENTO.

APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL DE 2015. CABIMENTO (...) II – Esta Corte firmou

entendimento no sentido da impossibilidade da alta médica programada

para cancelamento automático do benefício previdenciário de auxílio-

doença, sem que haja prévia perícia médica que ateste a capacidade do

segurado para o desempenho de atividade laborativa que lhe garanta a

subsistência, sob pena de ofensa aos princípios da ampla defesa e do

contraditório. III – O Agravante não apresenta, no agravo, argumentos

suficientes para desconstituir a decisão recorrida. (...) VII – Agravo Interno

improvido, com aplicação de multa de 1% (um por cento) sobre o valor

atualizado da causa. (STJ – AgInt no REsp: 1368692 SC 2013/0042455-1,

Relator: Ministra REGINA HELENA COSTA, Data do Julgamento:

24/10/2017, T1 – PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe

10/11/2017) (grifo nosso)

Como se vê, a Egrégia Corte entende que a aplicação desta programação de

cessação ofende princípios constitucionais processuais de ampla defesa e contraditório,

previstos no art. 5°, LV CF, e consequentemente ofende ao princípio do devido

78 Art. 37, §6° CF. 79 Carvalho Filho (2017, p.34) conceitua “As atividades administrativas são desenvolvidas pelo Estado

para benefício da coletividade. Mesmo quando age em vista de algum interesse estatal imediato, o fim

último de sua atuação deve ser voltado para o interesse público. E se, como visto, não estiver presente

esse objetivo, a atuação estará inquinada de desvio de finalidade. Desse modo, não é o indivíduo em si o

destinatário da atividade administrativa, mas sim o grupo social num todo. (...) Logicamente, as relações

sociais vão ensejar, em determinados momentos, um conflito entre o interesse público e o interesse

privado, mas, ocorrendo esse conflito, há de prevalecer o interesse público.”. 80 Resolução INSS/PRES n°97/2010.

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processo administrativo, uma vez que agindo de forma unilateral sem possibilidade de

defesa do beneficiado. Reafirmando, estes princípios têm como objetivo a garantia de

acesso a direitos ao administrado e impedir a violação destes por meio de julgamento

arbitrário, bem como cumprimento do ordenamento jurídico pátrio. Não obstante, não é

a conduta que prevalece quando se aplica a COPES, pois somente garante a restrição do

pagamento do benefício de caráter alimentar ao trabalhador.

Ademais, o Ministro Relator Napoleão Nunes Maia Filho, em seu voto,

classifica a ‘alta programada’ como prognóstico profético no Agravo Interno no REsp

1.601.741 MT:

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.

RACIONALIDADE DE TRATAMENTO MÉDICO. RECURSO

ESPECIAL. AUXÍLIO-DOENÇA. FIXAÇÃO PRÉVIA DE TERMO

FINAL PARA CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO. ALTA MÉDICA

PROGRAMADA ANTERIOR A MP 736⁄2016. INCOMPATIBILIDADE

COM A LEI 8.213⁄91, ART. 62. A SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO DEVE

SER PRECEDIDA DE PERÍCIA MÉDICA. PARECER MINISTERIAL

PELO DESPROVIMENTO DO FEITO. AGRAVO INTERNO A QUE SE

NEGA PROVIMENTO. 1.O art. 62 da Lei 8.213⁄91 é taxativo em afirmar

que o benefício de auxílio-doença só cessará quando o Segurado seja dado

como habilitado para o desempenho de nova atividade que lhe garanta a

subsistência, pelo que não se há de presumir esse estado de higidez e, menos

ainda, que ele possa se instalar por simples determinação ou deliberação do

Esculápio. 2. Não há que se falar, portanto, em fixação de termo final

para a cessação do pagamento do benefício previdenciário de auxílio-

doença através de uma perícia prévia inicial, que ganharia um caráter de

prova insofismável, atribuindo à perícia características típicas do

positivismo filosófico (exatidão, certeza, generalidade e previsibilidade),

insusceptível de erro ou inadequação à verdade. 3.Mostra-se inadmissível

a prevalência da celeridade e da redução de gastos públicos em detrimento da

Justiça e dos direitos fundamentais do Trabalhador, na condução das

demandas previdenciárias em que se busca um benefício por incapacidade.

4.Logo, não há que se falar em alta presumida para a cessação do pagamento

do benefício previdenciário de auxílio-doença, uma vez que a perícia médica

é condição indispensável à cessação do benefício, nos termos do art. 62 da

Lei 8.213⁄91, pois somente ela poderá atestar se o Segurado possui condição

de retornar às suas atividades ou não; além dessa previsão legal, há, ainda, a

lógica linear comum e o bom sendo que orientam a realidade das relações da

vida humana e social. (...) 7.De início, não é demais recordar que as

demandas previdenciárias se referem a um bem da vida

presumivelmente indispensável para a subsistência e dignidade do

indivíduo. 8.A proteção social possui imprescindível interesse social, pois

visa garantir à sociedade amparo estatal em face das contingências sociais

que refletem na perda ou diminuição dos recursos financeiros necessários à

subsistência própria e familiar do Segurado da Previdência Social, a exemplo

da doença, acidente e invalidez. 9.Nesse cenário, é imperioso que o

Segurado não se depare com inúmeras barreiras que dificultem o acesso

à esta assistência e que lhe seja garantida a realização de perícia médica,

sem maiores transtornos, em atenção ao delicado momento da vida em

que se encontra um trabalhador incapaz para o exercício de suas

atividades laborais. 10.Deve-se ter em mente que a concessão do benefício

de auxílio-doença visa concretizar a efetiva proteção dos direitos

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fundamentais do Segurado, que é o de ser amparado em caso de doença ou

invalidez, mediante concessão de benefício que substitua sua renda enquanto

permaneça a incapacidade. (...) 15.Seria ideal que a literatura médica pudesse

prever todas as vicissitudes da vida, presumisse o efeito da medicação e a

recuperação de cada organismo com exatidão; que pudesse individualizar e

analisar as características pessoais de cada cidadão, idade, grau de instrução e

desenvolvimento intelectual e função exercida, pudesse até mesmo prever as

vontades do Altíssimo, garantindo precisão absoluta acerca da recuperação

do indivíduo. 16. Mas essa não é a realidade. O que verifica-se, de fato, é

que a Alta Programada, não é efetivada em sintonia com a evolução do

quadro clínico do Trabalhador; dá-se, única e exclusivamente, em razão

do transcurso do prazo que o médico perito entendeu suficiente para a

recuperação da capacidade de trabalho do beneficiário, ou seja, por

mero rigor burocrático, que se eleva a prognóstico profético. 17.Não se

mostra admissível a prevalência da celeridade e da redução de gastos

públicos em detrimento da Justiça e dos direitos fundamentais do

trabalhador, na condução das demandas previdenciárias em que se

busca um benefício por incapacidade. (...) 23.Ante o exposto, nega-se

provimento ao Agravo Interno do INSS. 24.É como voto. (STJ – AgInt no

REsp: 1601741 MT 2016/0122173-0, Relator: Ministro NAPOLEÃO

NUNES MAIA FILHO, Data de Publicação: DJe 26/10/2017) (grifo nosso)

Nota-se através deste julgado, que a conduta aqui reprovada é ilegal também

sob a luz do art. 62 LBPS, afrontando diretamente a legislação vigente, pois a cessação

do benefício pressupõe a realização de perícia que ateste capacidade laborativa do

segurado e que, este esteja completamente apto e reabilitado as atividades funcionais,

isto é, como mencionado trata-se de conduta indispensável.

O julgado mencionado ainda sinaliza através da doutrina previdenciária:

A leitura do sistema de Seguridade Social deve ser feita a partir da

Constituição e não a partir dos atos normativos infraconstitucionais ou

mesmo dos atos administrativo, que aparentemente, possuem efeito

normativo. Em especial em matéria previdenciária, não é possível ceder à

primeira tentação de dizer o direito apenas a partir daquilo que dizem as

instruções normativas, as portarias e os demais atos administrativos.

(grifo nosso) 81

Ou seja, o procedimento é eivado de vício e ilegalidade, pois qualquer

alteração em matéria previdenciária por meio de atos administrativos, como portarias,

resoluções e orientações internas e instruções normativas, possuem apenas efeitos

administrativos. Isto porque, o art. 78 RPS que regulamenta a alta foi introduzido pelo

Decreto n° 5.844/2006. Ocorre que analisando o art. 84, IV CF, o Presidente ao editar

tais decretos não pode inovar no ordenamento jurídico82 criando mais uma hipótese de

cessação do benefício, muito menos de cessação automática, pois este caracteriza

função típica legislativa, e, portanto, ofende o poder regulamentar, bem como

competência do Poder Legislativo. A despeito desse tema, Bonadiman pontua:

81 CORREIA apud AgInt no REsp 1601741 MT 2016/0122173-0. 82 PIETRO apud KUNZLER, op. cit., 2016.

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O cancelamento do benefício sem o devido processo administrativo, sem ao

menos realização de nova perícia, não tem validade jurídica, pois revestir-

se de vicio, tendo em vista seu caráter arbitrário e abusivo, além de

afrontar princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito. (grifo

nosso) 83

Ainda, segundo Carvalho Filho:

A conduta abusiva dos administradores pode decorrer de duas causas: o

agente atua fora dos limites de sua competência; e o agente, embora dentro

de sua competência, afasta-se do interesse público que deve nortear todo

o desempenho administrativo. No primeiro caso, diz-se que o agente atuou

com “excesso de poder” e no segundo, com “desvio de poder”. (...) Já o

desvio de poder é a modalidade de abuso em que o agente busca alcançar

fim diverso daquele que a lei lhe permitiu, como bem assinala

LAUBADÈRE. A finalidade da lei está sempre voltada para o interesse

público. Se o agente atua em descompasso com esse fim, desvia-se de seu

poder e pratica, assim, conduta ilegítima. Por isso é que tal vício é também

denominado de desvio de finalidade, denominação, aliás, adotada na lei que

disciplina a ação popular (Lei no 4.717, de 29.6.1965, art. 2o, parágrafo

único, “e”). O desvio de poder é conduta mais visível nos atos

discricionários. Decorre desse fato a dificuldade na obtenção da prova

efetiva do desvio, sobretudo porque a ilegitimidade vem dissimulada sob

a aparência da perfeita legalidade. (grifo nosso) 84

Constata-se, dessa forma, por todo o exposto, que a autarquia também atua

com desvio de poder ou finalidade, uma vez que sob a aparência de legalidade, atua em

desconformidade ao interesse público.

Deve-se sobrepesar ainda que essa avaliação de incapacidade, como já dito,

consiste em encargo do INSS através de seus médicos peritos, dessa forma, cabe ao

INSS o ônus da prova, ou seja, de comprovar a capacidade laborativa do segurado.

No entanto, o procedimento em questão, transfere essa incumbência ao

beneficiário, que é hipossuficiente nesta relação. Frise-se que segundo Lopes e Santos,

no artigo A (in)elegibilidade de trabalhadores encaminhados ao Programa de

Reabilitação Profissional do INSS, afirmam que:

Dados do estudo demonstraram que cerca de 42% dos trabalhadores

encaminhados à reabilitação não concluíram o Ensino Fundamental, ou

seja, suas chances de ser readaptado na empresa de vínculo ou ser

qualificado são pequenas. Cada vez mais os postos de trabalho exigem um

maior nível de escolaridade, sendo o Ensino Fundamental completo o

mínimo para ingresso em cursos de qualificação, que são oferecidos pelo

Programa por meio de uma rede de escolas conveniadas. O nível de

escolaridade dos usuários do Programa é muito baixo; para o exercício

de algumas profissões, há alguns anos, não era exigida uma boa

escolaridade, sendo contratadas pessoas na condição de analfabetas

funcionais, características presentes nos usuários do Programa

83 BONADIMAN apud KUNZLER, op. cit., 2016, p. 267. 84 FILHO, Jose dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 2017, p.50.

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(VACARO; PEDROSO, 2011). Em estudo da década de 1980, que toma

como referência a Alemanha, Offe (1984) discute que a relação

escolaridade/postos de trabalho vem sendo ampliada, independentemente do

que a tarefa efetivamente exija.85

Portanto, fica configurada condição de hipossuficiente dos indivíduos que

buscam a autarquia para a concessão deste benefício, e que em razão da baixa

escolaridade muitas vezes desconhecem seus direitos.

Trata-se de relação securitária entre o órgão e o administrado, que tem por

objetivo maior proteger os indivíduos dos riscos sociais a que estes ficam sujeitos

provenientes de doença, especificamente no caso deste benefício, por isso, não pode o

INSS dificultar a prorrogação deste benefício quando o segurado faz jus a este recurso.

3.3.2 Violação dos princípios constitucionais da Seguridade Social e da Previdência

Social

O sistema da Seguridade Social tem como objetivo evitar os riscos sociais que

o segurado está exposto, visando também o bem-estar e justiça social como já pontuado

no capítulo I. Dentre os princípios constitucionais que sustentam a seguridade social,

estão o princípio da valorização social do trabalho, a universalidade da cobertura e

atendimento, a vedação ao retrocesso social e in dubio pro segurado, todos eles

constituem princípios inerentes a Previdência Social também, uma vez que tripé deste

sistema.

A finalidade do princípio da universalidade da cobertura e atendimento é de

oferecer assistência ao trabalhador enquanto acometido pela doença que o incapacita

através do benefício por incapacidade, entretanto não há execução plena deste princípio

quando o benefício concedido cessa, inclusive, sem ciência do dependente.

Por fim, o princípio da vedação ao retrocesso social e do in dubio pro segurado

estão intimamente ligados, e ambos são, também, descumpridos quando aplicado o

procedimento aqui examinado, pois em oposição a este último, compreendem a ideia de

executar a regra normativa para melhor beneficiar e garantir direitos, e não retira-los ou

mesmo suprimi-los.

85 SANTOS, Geovana de Souza Henrique dos; LOPES, Roseli Esquerdo. A (in)elegibilidade de

trabalhadores encaminhados ao Programa de Reabilitação Profissional do INSS. 2015, p.157.

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3.3.3 Violação do princípio da dignidade da pessoa humana

O princípio da dignidade da pessoa humana como valor supremo consagrado

pela Carta Magna, bem como fundamento da República, como já exposto encontra-se

previsto no inciso III do art. 1° CF, e consiste na promoção de condições mínimas de

sobrevivência e preservação da pessoa humana, Sarlet bem conceitua:

complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto

contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a

lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além

de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos

da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres

humanos.86

Para a efetivação destes direitos, a Constituição garantiu através do Capítulo da

Seguridade Social alguns dos direitos sociais que materializam a garantia constitucional

da dignidade da pessoa humana, dentre eles a cobertura dos eventos de doença que

garante a substituição de renda por incapacidade laboral até que o mesmo esteja apto

para o retorno à atividade remunerada anterior.

Essa substituição de renda é o chamado benefício de auxílio doença, que com a

alta programada cessa o benefício, deixando o indivíduo sem qualquer meio de

subsistência e de sua família, e dessa forma, violando o princípio de maior valor

constitucional, o de dignidade da pessoa humana. No REsp 1.601.741 MT, a Corte

Superior ainda firma entendimento de que “as demandas previdenciárias se referem a

um bem da vida presumivelmente indispensável para a subsistência e dignidade do

indivíduo”.

Batista também defende que a cobertura programada caracteriza violação

destes princípios, pois consiste em “ato que causa prejuízos patrimoniais de grande

monta ao segurado é praticado sem que lhe seja dada oportunidade de participar do ato

em questão”87.

Assim, mesmo que o indivíduo venha requerer o restabelecimento do

benefício, o Estado através da entidade autárquica já violou este princípio, pois até que

seja reativado e receba o pagamento, o trabalhador já se encontra inadimplente com suas

obrigações familiares e com terceiros, além da falta de recursos para obtenção dos

medicamentos para o tratamento da doença.

86 COSTA, Wellington Soares da. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição

Federal de 1988. 2005, p. 274. 87 KUNZLER, op. cit., 2016, p. 267.

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3.3.4 Dificuldade de recuperação laborativa total

O tempo de recuperação do indivíduo deve associar-se sempre à idade,

histórico da doença e familiar, complicações cirúrgicas e outras patologias que o mesmo

possa adquirir. Além disso, sabe-se que qualquer enfermidade e cada organismo possui

um tempo de recuperação diferente. Portanto, “embora, em algumas hipóteses, possa o

médico estimar a duração provável da enfermidade, não é razoável afirmar que a

incapacidade cessará em data prefixada pelo perito, com a consequente cessação do

pagamento do benefício”88.

Uma vez que o objetivo do benefício de auxílio-doença é de dar cobertura

pecuniária ao segurado na medida de sua incapacidade, isto é, o tempo necessário para

sua recuperação total do segurado e reabilitação ao mercado de trabalho, quando se

cessa o benefício por incapacidade sem realização de perícia médica a conduta da

autarquia através da COPES torna-se arbitrária, ainda que a justificativa seja de melhor

gerir a entidade.

O procedimento desconsidera quaisquer das condições anteriores, e também

desconsidera que o beneficiário depende da prestação continuada para seu sustento, e

inclusive para seu tratamento médico, pois com esse recurso o segurado vai adquirir os

medicamentos que não são disponibilizados pela rede pública de saúde, assim como

consultas e exames de urgência não realizados pelo SUS, pela falta de recursos

materiais ou de profissionais. Dessa forma, a ausência da assistência do benefício ainda

pode agravar a doença do incapacitado, pois enquanto pleiteia pelo restabelecimento do

benefício, seja administrativa ou judicialmente, o tratamento fica comprometido. Dessa

forma, o órgão segurador ainda nega o direito a saúde, já conceituado, ao segurado, pois

não há possibilidade de recuperação da saúde, se não há tratamento.

Some-se a isso as dificuldades ainda maiores enfrentadas por aqueles que com

idade avançada, baixo grau de escolaridade e experiência profissional apenas em

trabalho essencialmente braçal. Estes trabalhadores já encontram resistência do mercado

de trabalho, porém com doença que o incapacita torna-se quase impossível o retorno às

atividades funcionais.

Além disso, com a progressão da patologia pode o beneficiário ficar

incapacitado por período superior ao previsto pelos médicos que acompanham o

88 SANTOS, op. cit., 2016, p.333.

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segurado ou pelos médicos peritos do INSS, assim necessitar da assistência da

Previdência Social por igual período. Isto quando não impede a recuperação do

indivíduo, colaborando para sua incapacidade total e definitiva, e por esse motivo, fazer

jus ao benefício por incapacidade permanente, qual seja, a aposentadoria por invalidez,

ou auxílio-acidente, ou ainda, quando há requisitos para tal, a aposentadoria por idade

da pessoa com deficiência, em suma, acarretando gastos maiores para a entidade.

Por todo o exposto, a partir do momento que a conduta dificulta a recuperação

total do trabalhador, com possibilidade de agravamento da doença, também atenta

contra dignidade da pessoa humana.

3.3.5 Impedimento da conversão do auxílio-doença previdenciário em auxílio-

acidente

A cobertura estimada também impede a conversão do benefício em questão

para o de auxílio-acidente, como já dito, benefício este de caráter definitivo uma vez

que consolidada a incapacidade do segurado. Este benefício está regulamentado no art.

86 LBPS, bem como art. 104 RPS, e será devido, como indenização, ao segurado

empregado, quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer

natureza, resultar sequela parcial, conforme as situações discriminadas no anexo III da

RPS. Isto é, a capacidade deste trabalhador também será parcial, permitindo o

desempenho de outra atividade ou da mesma com mais esforço, conforme prevê os

incisos do art. 104:

Art. 104. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado

empregado, exceto o doméstico, ao trabalhador avulso e ao segurado especial

quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer

natureza, resultar sequela definitiva, conforme as situações discriminadas no

anexo III, que implique:

I - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam e se

enquadre nas situações discriminadas no Anexo III;

I - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam;

(Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003)

II - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam e

exija maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exerciam à

época do acidente; ou

III - impossibilidade de desempenho da atividade que exerciam à época do

acidente, porém permita o desempenho de outra, após processo de

reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia médica do Instituto

Nacional do Seguro Social.

Para a percepção desta prestação é necessário que o médico confirme a redução

da capacidade laborativa através de perícia médica do INSS, bem como realização de

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processo de RP. É aqui que o procedimento de cessação automática do benefício

dificulta a conversão do auxílio-doença em auxílio-acidente, pois como leciona Lazzari

e Castro:

(...), o sistema causou sérios problemas aos segurados vítimas de acidentes do

trabalho ou de outra natureza ou causa e que, após o tratamento, venham a

ficar com sequelas redutoras da capacidade laborativa: é que, no modelo

“antigo”, tal situação era constatada na perícia “final” – que concedia a

“alta médica” – identificando o problema e, a partir daí, concedendo-se

ex officio o benefício de auxílio-acidente (art. 86 da LBPS). Com o sistema

atual, o segurado não tem meios de postular o auxílio-acidente, nem pelo

agendamento feito por telefone, nem pelos formulários disponíveis na

página da internet, nem diretamente nas agências do INSS. E mais, sem o

devido conhecimento de seus direitos (já que tal informação não é prestada

adequadamente), o segurado muitas vezes até deixa de obter o benefício em

questão, pois sequer sabe que tem direito a ele e com isso não o postula na

via judicial. (grifo nosso) 89

Por fim, sem a perícia intermediária que concede o benefício de ofício, a

autarquia impede o acesso do segurado ao benefício, seja pela DCB de forma

automática, que não permite conhecer o histórico da lesão que incapacita o trabalhador,

ou pelo desconhecimento deste direito.

3.3.6 Procedimento mais custoso e moroso para as partes

A pratica da Cobertura Estimada surgiu como saída para redução de benefícios,

perícias e tempo de espera nas APS, e consequentemente redução de gastos, assim como

a necessidade de uniformizar as perícias medicas. No que tange a redução de gastos, o

único órgão que se beneficiou da conduta foi o próprio INSS em tese, dado que

reduzido o número de benefícios administrativamente, os beneficiários passaram a

recorrer ao Poder Judiciário como meio de assegurar seu direito, e, por conseguinte,

sobrecarregando o poder jurisdicional.

Diz-se em tese, pois em virtude da DCB, o segurado que entrar com a ação de

reativação do benefício, em havendo a procedência do pedido, a autarquia será

condenada a pagar os valores retroativos com juros e correção monetária, e

eventualmente a reimplantar o benefício postulado. Enquanto que se houvesse a

prorrogação do benefício devido, pressupõe-se que não haveria de se falar em reparação

de juros e correção monetária, posto que pago até que apto o autor daquela demanda.

89 LAZZARI; CASTRO, op. cit., 2017, p.507.

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Este argumento, no entanto, transcende a possibilidade de comprovação através de

números a título de pagamentos em que a autarquia foi condenada.

O relatório produzido pelo CNJ sobre os cem maiores litigantes do país

evidencia o assoberbamento deste poder, pois a autarquia previdenciária lidera o

ranking com 22, 33%90 de todo acervo processual nacional, e também está em primeiro

lugar no âmbito da Justiça Federal, com total de 43,12%91. O relatório ainda conclui que

“o Instituto Nacional do Seguro Social responde por mais de um quinto dos processos

dos 100 maiores litigantes nacionais”92.

Na tabela 593, que lista os maiores litigantes da Justiça Federal pertencentes ao

Setor Público Federal e Bancário, se verifica que 81% dos processos no polo passivo

correspondem ao INSS. Já na tabela 994, listagem que relaciona os cinco maiores

litigantes do Setor Público Federal na Justiça Estadual, o órgão também está em 1°

lugar, com 6% dos processos.

Ademais, a conduta arbitrária discutida, desencarrega o INSS do pagamento do

benefício, todavia com a progressão da doença a sobrecarga será aos demais setores da

seguridade social, como a rede pública de saúde, pois a maioria daqueles trabalhadores

incapacitados também não possuem assistência médica particular. Obviamente que estes

podem ter se utilizado do serviço público de saúde, porém quando há o devido controle

da enfermidade não há a necessidade de frequência hospitalar, como já dito com

medicamentos que muitas vezes não são adquiridos gratuitamente da mesma maneira

que respeitado o tempo de recuperação indicado pelo médico que acompanha o

indivíduo, o que lamentavelmente muitas vezes não é possível com a DCB.

Isto posto, ainda que o beneficiário ajuíze ação de restabelecimento, para

reaver o direito denegado, a arbitrariedade do órgão gestor da Previdência tem como

produto uma debilidade ainda maior do requerente em todos os aspectos já

mencionados.

90 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. 100 maiores litigantes. 2011, p. 05. 91 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, op. cit., 2011, p. 05. 92 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, op. cit., 2011, p. 06. 93 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, op. cit., 2011, p. 19. 94 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, op. cit., 2011, p. 24.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como eixo central a análise doutrinária,

jurisprudencial, legislativa e constitucional em contraponto a realidade previdenciária

nos benefícios de auxílio-doença cessados de forma automática pelo procedimento de

COPES instituído através de norma meramente administrativa, e também diagnosticar

consequências ao beneficiário.

A partir das exposições feitas, conclui-se que, sendo o Regime Geral da

Previdência Social responsável pelo amparo ao trabalhador para conceder prestação

pecuniária a fim de substituir sua renda decorrente de atividade laborativa remunerada,

evitar a exposição do beneficiado aos eventos dispostos no art. 1° LBPS, bem como

promover a justiça e o bem-estar social e erradicar a desigualdade social, a Cobertura

Previdenciária Estimada demonstra-se flagrantemente ilegal e inconstitucional pelas

consequências e violações que ela provoca, entre elas, a afronta aos princípios

constitucionais e infraconstitucionais que cercam o ordenamento jurídico pátrio, sendo

estes o de princípio da legalidade e princípios que compõe a base funcional do sistema

de Seguridade Social e a Previdência Social, o princípio de dignidade da pessoa

humana, além da violação ao direito a saúde devido as dificuldades impostas ao

trabalhador quando na condição de limitação ou incapacidade para as atividades

funcionais.

Sendo, portanto, norma que restringe e viola direitos garantidos a nível

constitucional e infraconstitucional, deve-se revogar as normas que a regulamentam e

sustar os efeitos que prejudicam tanto o trabalhador segurado. O objetivo, apesar, não

consiste em tão somente fazer críticas a conduta aplicada pela autarquia, mas de buscar

melhor prestação de serviço assistencial adequado ao segurado e jurisdicionado,

cumprimento do texto legal desenhado pelo constituinte originário, a nível

constitucional, e pelo legislador, a nível da legislação especifica de direito

previdenciário.

A fim de dar ao órgão segurador a possibilidade de uniformizar as conclusões

médico-periciais quanto aos critérios temporais, de abreviar o tempo de espera nas filas

das Agências da Previdência e realização dos procedimentos periciais, propõe-se que as

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tabelas que padronizam o tempo estimado de recuperação laboral sejam usadas como

critério para marcação de nova perícia sem a cessação do pagamento, isto é, o perito

permanecerá usando as tabelas produzidas pelo INSS, porém com o objetivo de dar

possibilidade de defesa do segurado mediante execução de nova perícia agendada que

ateste ou não incapacidade laboral, e a partir desta optar pela prorrogação ou cessação

do benefício. Ressalte-se que dentre as análises a serem feitas pelo médico do INSS,

deve-se valer de todas as condições em que o trabalhador se encontra, tratamentos por

medicamentos ou por intermédio de intervenção cirúrgica, fisioterápica, psiquiátrica, a

idade e atividade exercida pelo segurado ou outra a ser considerada no caso concreto. E

à vista disso, a finalidade do INSS será desempenhada respeitando a legislação em

vigor, garantindo a efetividade das normas dispostas e permitindo a aplicabilidade e

eficácia dos direitos sociais de saúde, assistência social, seguro social e trabalho.

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de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, e 11.907, de 2

de fevereiro de 2009, que dispõe sobre a reestruturação da composição remuneratória da

Carreira de Perito Médico Previdenciário e da Carreira de Supervisor Médico-Pericial; e

institui o Bônus Especial de Desempenho Institucional por Perícia Médica em

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72. É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período em que

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______. Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. Súmula n°

78. Comprovado que o requerente de benefício é portador do vírus HIV, cabe ao

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julgador verificar as condições pessoais, sociais, econômicas e culturais, de forma a

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