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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA O PARADOXO DA OBESIDADE NO PROGNÓSTICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA LÍVIA SAUTTER DOS SANTOS SALIM Orientadora: Prof.ª Maria Luiza Garcia Rosa Niterói, RJ 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

O PARADOXO DA OBESIDADE NO PROGNÓSTICO DA INSUFICIÊNCIA

CARDÍACA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

LÍVIA SAUTTER DOS SANTOS SALIM

Orientadora: Prof.ª Maria Luiza Garcia Rosa

Niterói, RJ

2018

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LÍVIA SAUTTER DOS SANTOS SALIM

O PARADOXO DA OBEISDADE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: UMA

REVISÃO SISTEMÁTICA

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial para obtenção do Grau de mestre

em Saúde Coletiva.

Linha de pesquisa: Determinantes do Processo

Saúde/Doença no Ciclo da Vida

Orientadora:

Prof.ª Maria Luiza Garcia Rosa

Niterói, RJ

2018

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LÍVIA SAUTTER DOS SANTOS SALIM

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu noivo, melhor amigo, companheiro e futuro marido, Daniel Flores,

por me apoiar, incentivar e ser a minha maior inspiração.

Agradeço à toda minha família, em especial à minha mãe, Márcia, por sempre

acreditar em mim, por todo o amor, carinho e dedicação durante toda a minha vida, à minha

tia, Sandra, aos meus avós, Moacyr e Giesela e ao meu pai por todo o investimento em minha

formação pessoal e profissional. Obrigada Cris Flores, por me “hospedar” e me tratar de

forma tão amorosa, sendo mais que uma sogra, uma amiga.

Agradeço à minha orientadora, Professora Maria Luiza, pela orientação, paciência,

apoio, incentivo e amizade, ao longo de todos estes anos, por abrir a sua casa para mim e por

dedicar horas e horas neste trabalho. Seus ensinamentos vão muito além deste mestrado.

Agradeço ao Augusto, que abdicou de horas de estudo e de tempo livre para me ajudar

no desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço à Vânia Carlotto, meu anjo da guarda, minha amiga e grande incentivadora.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

por fornecer recursos financeiros para a elaboração desta dissertação.

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RESUMO

Apesar da obesidade ser um importante fator de risco para o desenvolvimento da insuficiência

cardíaca (IC), estudos vêm demonstrando que o prognóstico desta síndrome é mais favorável

nos indivíduos classificados como obesos. A relação entre a obesidade e um melhor

prognóstico na IC é descrita como paradoxo da obesidade. O objetivo deste trabalho é rever,

de forma sistemática, os artigos sobre paradoxo da obesidade na IC, buscando identificar

elementos que permitam o avanço na discussão deste tema. A estratégia de busca foi realizada

na base de dados Medline considerando publicações disponíveis até janeiro de 2018, sendo

incluídos estudos primários observacionais de coorte que contivessem como desfecho

primário e/ou secundário: sobrevida, internação, morte por todas as causas ou morte por

doenças cardiovasculares com pacientes de ambos os sexos, adultos, com diagnóstico prévio

de IC. Para tanto, foram considerados estudos com participantes obesos, definidos através do

índice de massa corporal. Ademais, como forma de avaliação da qualidade metodológica dos

estudos elegíveis para esta revisão, foi utilizada a ferramenta NewCastle-Ottawa Quality

Assessment Scale Cohort Studies. Foram retidos trinta e um estudos para leitura na íntegra e

posterior avaliação da qualidade metodológica e extração de dados. Como resultado, muitos

estudos justificam o paradoxo da obesidade como reflexo de possíveis vantagens clínicas

encontradas em pacientes obesos com IC, dentre elas, a menor idade, melhor função renal,

maior fração de ejeção e melhor classe funcional. Os estudos também parecem confirmar a

vantagem clínica dos obesos, mesmo nos estudos que incluíram somente pacientes mais

graves ou terminais, porém, outros determinantes podem estar por trás de tais achados, como

o viés de sobrevivência, viés de tempo de diagnóstico, a variável colisora e a epidemiologia

reversa. Desta forma, propõe-se a realização de estudos epidemiológicos com maior rigor

metodológico que possibilitem minimizar o efeito de tais vieses, além do melhor controle das

variáveis de confundimento possibilitando assim, um melhor julgamento sobre a existência do

paradoxo da obesidade na insuficiência cardíaca.

Palavras-chave: Insuficiência cardíaca; paradoxo da obesidade; viés de sobrevivência; viés

de antecipação diagnóstica; epidemiologia reversa; variável colisora; fator de risco.

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ABSTRACT

Despite obesity being an important risk factor for heart failure (HF) development, studies

have been showing that the prognosis of this syndrome reveals to be more favorable in

individuals classified as obese. The relation between obesity and a better prognosis on HF is

known as obesity paradox. Therefore, this work’s objective is to review, systematically,

articles about obesity paradox on HF, looking to identify elements that allow the discussion

promotion of this topic. The search strategy was performed at Medline database considering

publications available until January 2018, being included observational cohort primary studies

that contained as primary and/or secondary outcome: survival, hospitalization, death by all

causes or death by cardiovascular diseases with patients of both sex, adults, with previous HF

diagnosis. Therefore, studies with obese participants were considered, defined by body mass

index. Furthermore, the NewCastle-Ottawa Quality Assessment Scale Cohort Studies tool was

used as a way of evaluating the methodology quality. Thirty-one studies were retained for

reading in full and further quality evaluation and data extraction. As a result, many studies

justify the obesity paradox as a reflection of possible clinical advantages found in obese

patients with HF, such as younger age, better renal function, greater ejection fraction and

better functional class. Studies also seem to confirm obese patients’ clinical advantages, even

in studies that included only terminal or grave patients, however, other elements may be

behind such findings, such as survival bias, lead bias, collider stratification bias, reverse

epidemiology. Thus, it is proposed to carry out epidemiological studies with greater

methodological rigor that make it possible to minimize the effect of such biases, as well as

better control of the confounding variables, allowing a better judgment over the existence of

the obesity paradox on heart failure.

Keywords: Heart failure; obesity paradox; survival bias; lead bias; reverse epidemiology;

collider stratification bias; risk factor.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características principais dos estudos selecionados para a revisão sistemática ...... 23

Tabela 2 - Pontuação dos estudos na avaliação da qualidade metodológica ............................ 25

Tabela 3 - Vantagens clínicas dos pacientes obesos versus não-obesos .................................. 31

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Estadiamento da insuficiência cardíaca segundo a classificação funcional e a

classificação em estágios. ........................................................................................................... 5

Quadro 2 – Principais características da insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal e

com fração de ejeção reduzida.................................................................................................... 6

Quadro 3 – Classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) proposta pela Organização

Mundial da Saúde. ...................................................................................................................... 7

Quadro 4 – Características gerais dos artigos de revisão sobre o paradoxo da obesidade. ........ 9

Quadro 5 - Equações de busca por artigos na base de dados PubMed. .................................... 19

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gráfico acíclico direto dos supostos efeitos da obesidade sobre a mortalidade entre

indivíduos com insuficiência cardíaca (IC). ............................................................................. 13

Figura 2 - Diagrama de fluxo do processo de seleção dos artigos em cada etapa da revisão

sistemática. ............................................................................................................................... 22

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

ARIC Atherosclerosis Risk in Communities

ARM Circunferência muscular do braço

BNP Peptídeo natriurético cerebral

BRA Receptores da angiotensina

DCT Dobra cutânea tricipital

DCV Doenças cardiovasculares

DEXA Absorciometria com Raios-X de Dupla Energia

DM2 Diabetes mellitus tipo 2

FEVE Fração de ejeção do ventrículo esquerdo

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

HR Hazard Ratio

IC Insuficiência cardíaca

IC95% Intervalo de confiança de 95%

ICFER Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida

ICFEN Insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal

IECA Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina

IMC Índice de Massa Corporal

LDL Lipoproteína de baixa densidade

LPS Lipopolissacarídeo

MAMC Circunferência muscular do meio do braço

MUAC Circunferência do meio do braço

NE Norepinefrina

NHANES National Health and Nutrition Examination Survey

NOS NewCastle-Ottawa Quality Assessment Scale Cohort Studies

NT-proBNP N-terminal do peptídeo natriurético tipo B

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NYHA New York Heart Association

OMS Organização Mundial da Saúde

PA Pressão arterial

PAS Pressão arterial sistólica

PC Perímetro da cintura

PMB Perímetro muscular do braço

PO Paradoxo da Obesidade

PRISMA Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyse

SM Síndrome metabólica

SNS Sistema Nervoso Simpático

S-RAA Sistema renina-angiotensina-aldosterona

SUS Sistema Único de Saúde

TNF- Fator de necrose tumoral-alfa

VIGITEL Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por

Inquérito Telefônico

VO2 Volume de oxigênio

vs. Versus

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 3

2.1 A Insuficiência Cardíaca .............................................................................................. 3

2.2 A Obesidade ................................................................................................................. 6

2.3 O Paradoxo da Obesidade: revisões sobre o tema ....................................................... 8

2.3.1 Condições aparentemente vantajosas ao prognóstico dos obesos .............................. 9

2.3.2 As limitações metodológicas dos estudos sobre o paradoxo da obesidade .............. 11

2.3.3 A variável colisora como explicação para o Paradoxo da Obesidade ...................... 13

2.3.4 Estudos que não confirmam a existência do Paradoxo da Obesidade ...................... 13

2.3.4.1 Estudos que utilizaram o pareamento ........................................................... 14

2.3.4.2 Estudos que utilizaram o pareamento na comparação de diabéticos e não

diabéticos ........................................................................................................................... 14

2.3.4.3 Estudo que incluiu a categoria “sempre se mantiveram na faixa normal de

peso” .................................................................................................................................. 15

2.4 Questões de pesquisa para orientar a extração dos resultados e a discussão da revisão

sistemática ............................................................................................................................. 15

3. OBJETIVO ...................................................................................................................... 16

4. MÉTODOS ....................................................................................................................... 17

4.1 Elaboração da questão clínica .................................................................................... 17

4.2 Elegibilidade .............................................................................................................. 17

4.3 Identificação dos estudos ........................................................................................... 18

4.4 Seleção e análise de dados ......................................................................................... 19

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 21

5.1 Busca e seleção inicial dos artigos ............................................................................. 21

5.2 Principais características dos estudo selecionados .................................................... 23

5.3 Análise da qualidade metodológica ........................................................................... 25

5.4 Questões de pesquisa oriundas da revisão da literatura ............................................. 27

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 37

ANEXO A NEWCASTLE - OTTAWA QUALITY ASSESSMENT SCALE COHORT

STUDIES ................................................................................................................................. 50

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1. INTRODUÇÃO

Apesar da obesidade ser um importante fator de risco para o desenvolvimento da

insuficiência cardíaca (IC) (1), estudos vêm demonstrando que, após o surgimento desta

síndrome clínica, o prognóstico é mais favorável nos indivíduos classificados como obesos

(2–5). A relação entre a obesidade e melhor prognóstico na IC tem sido chamada de paradoxo

da obesidade e foi descrita pela primeira vez, em um artigo publicado em 2001, por Horwich

et al. (6).

Considerada uma doença multifatorial, a obesidade é resultado da interação de genes,

ambiente, estilos de vida e fatores emocionais (1,7). Sendo um fator de risco para múltiplas

doenças, um obeso tem maior propensão para o desenvolvimento de hipertensão arterial

(HAS), diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e doenças cardiovasculares (DCV), entre elas, a

insuficiência cardíaca (1,7,8). Segundos dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção

para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) no ano de 2016, no Brasil, 57,7%

da população com 65 anos ou mais encontrava-se com excesso de peso/obesidade (9). A

Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta para 2025, que 2,3 bilhões de adultos estejam

com excesso de peso e mais de 700 milhões sejam obesos (10).

A insuficiência cardíaca é uma síndrome complexa, que promove alterações

estruturais e funcionais no coração, resultando em uma redução do débito cardíaco e/ou

pressões intracardíacas elevadas (11). Considerada um problema de saúde pública, devido as

altas taxas de mortalidade e morbidade, a IC representa a principal causa de internação no

Sistema Único de Saúde (SUS), a partir dos 65 anos de idade, segundo dados do Minestério

da saúde, no período de 2008 a 2017. (11,12).

Muitos estudos procuram entender como os obesos podem apresentar melhor

prognóstico na IC, uma vez que a obesidade gera alterações hemodinâmicas, hormonais e

funcionais no coração. (13) Os possíveis mecanismos que justificam tal fenômeno ainda não

são totalmente conhecidos, porém, algumas explicações são bastante difundidas no meio

científico.

Desde Horwich (6), o interesse acerca da temática vem ganhando cada vez mais

espaço. A busca pelos termos "obesity paradox" e "heart failure" em títulos de artigos

indexados no PubMed, demonstrou que o primeiro artigo que abrangeu este tema foi

publicado em 2001, chegando a 31 artigos publicados em 2016 e 29 artigos publicados em

2017, o que indica que o interesse pelo assunto continua elevado.

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Os artigos de revisão sobre o paradoxo da obesidade na IC abordam três grandes

grupos de argumentos: 1) as alterações fisiopatológicas da obesidade e seu reflexo no

funcionamento cardíaco; 2) as supostas vantagens que os obesos com IC teriam e que

poderiam explicar a maior sobrevida; e 3) os problemas metodológicos que poderiam causar

uma associação inversa, não existente na população, entre obesidade e mortalidade. O debate

continua, não havendo um consenso na literatura se realmente há um paradoxo da obesidade,

ou se ele é simplesmente fruto de falhas metodológicas (4,14–25).

Colaborar na compreensão da relação entre obesidade e melhor prognóstico na IC é de

extrema importância para o manejo do paciente dentro dos serviços de saúde, visando

melhorar a qualidade de vida dos doentes e minimizar os custos com a IC.

Para o presente trabalho optou-se pela revisão sistemática por ser um tipo de estudo

secundário que utiliza um processo abrangente de revisão de literatura, de forma imparcial e

reprodutível, para localizar, avaliar criticamente e sintetizar o conjunto de evidências

disponíveis na literatura científica, focando em bibliografia mais recente, buscando abordar

questões ainda sem reposta, levantadas pela revisão sobre o tema.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, serão desenvolvidos os princípios básicos da insuficiência cardíaca,

bem como suas classificações. Além disso, também serão apresentados os conceitos básicos e

epidemiológicos da obesidade que levam à insuficiência cardíaca. Em seguida, serão

retratados os fundamentos do paradoxo da obesidade, detalhados da seguinte forma:

• Condições aparentemente vantajosas ao prognóstico dos obesos;

• As limitações metodológicas dos estudos sobre o paradoxo da obesidade;

• A variável colisora como explicação para o paradoxo da obesidade;

• Estudos que não confirmam a existência do paradoxo da obesidade.

2.1 A Insuficiência Cardíaca

A IC é a via final de diversas enfermidades cardiovasculares (26), sendo definida pela

Sociedade Brasileira de Cardiologia, como uma “disfunção cardíaca que ocasiona inadequado

suprimento sanguíneo para atender necessidades metabólicas tissulares, na presença de

retorno venoso normal, ou fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento” (12). Isto

é, uma doença que compromete a musculatura do coração, resultando em um déficit no

bombeamento do sangue, causando sintomas como dispneia e fadiga aos pequenos esforços, o

que leva à uma piora na qualidade de vida dos portadores desta síndrome (26,27).

Com o avanço no tratamento das doenças de base e com o envelhecimento da

população, a incidência e a prevalência da IC vêm aumentando. A IC apresenta uma fase

crônica, na qual o paciente se mantém estável, e uma fase de descompensação aguda, marcada

por reinternação hospitalar frequente (26,28,29). Segundo dados publicados pela Sociedade

Portuguesa de Cardiologia em um documento consenso publicado em 2016,

aproximadamente 26 milhões de adultos em todo o mundo sofrem de IC, e projeções feitas

em 2016 indicam que a prevalência de IC aumentará em 25% até 2030 (30).

Segundo dados Ministério da Saúde, de janeiro a novembro de 2017, 190.144 pessoas

foram internadas no Brasil tendo como causa principal a IC, totalizando mais de R$ 200

milhões de reais gastos apenas com esta doença (11).

As principais causas de IC no Brasil são a isquemia do miocárdio, hipertensão arterial

sistêmica, cardiomiopatia dilatada, doença de Chagas e a doença valvular (31). O

comprometimento causado por esta doença, leva à um remodelamento cardíaco, que por sua

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vez, promove uma ativação inflamatória e neuro-hormonal, afetando o indivíduo como um

todo (31).

O New York Heart Association (NYHA) categoriza a insuficiência cardíaca crônica em

quatro classes, baseada na intensidade dos sintomas, estratificando o grau de limitação

causado pela síndrome, em atividades cotidianas (1).

O American Heart Association e o American College of Cardiology considerando a

importância clínica e epidemiológica desse conceito, propuseram no ano de 2001, um novo

modelo de classificação da IC, através de estágios, possibilitando uma visão evolutiva da

doença, a partir de sinais e sintomas. Esta classificação possibilita que o profissional de saúde

avalie o momento evolutivo da doença em que o paciente se encontra, fornecendo assim um

prognóstico (1). O Quadro 1 descreve a classificação funcional da IC segundo o NYHA e a

classificação em estágios conforme sugestão do American Heart Association e o American

College of Cardiology.

Podemos classificar a insuficiência cardíaca também baseada na progressão da doença,

analisando dados da história clínica. Isto permite avaliar, além do momento evolutivo da

doença em que o paciente se encontra, a qualidade de vida e o prognóstico, estabelecendo

prioridades e linhas terapêuticas (1). Entender a progressão da doença permite identificar

pacientes com indicação de intervenções predominantemente preventivas (estágios A e B),

terapêuticas (estágio C) ou seleção de pacientes para procedimentos especializados e cuidados

paliativos (estágio D).

O prognóstico a longo prazo é ruim, e metade dos pacientes diagnosticados com IC

morrem em até 5 anos após a primeira internação (32). Tal cenário poderia ser explicado,

principalmente pela distribuição etária da doença, já que mais de 50% dos casos acometem a

população com 70 anos ou mais (28,29,32,33), adicionalmente, a baixa adesão ao tratamento,

a terapia inadequada e o isolamento social, contribuem para a descompensação clínica da

doença e para a piora da função cardíaca (34).

Uma condição fortemente associada à piora do prognóstico nessa população é a

caquexia cardíaca. Ao contrário da anorexia e da desnutrição, esta condição não pode ser

revertida facilmente com uma nutrição adequada. A caquexia cardíaca pode ser definida pela

perda de peso ≥ 5% (livre de edema), nos último 12 meses ou um IMC ≤ 20kg/m2 em

pacientes com doenças crônicas acrescido de, pelo menos, três critérios clínicos e

laboratoriais: diminuição da força muscular, fadiga, anorexia, baixo índice de massa livre de

gordura e bioquímica anormal, caracterizada por aumento dos marcadores inflamatórios (31).

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Quadro 1 – Estadiamento da insuficiência cardíaca segundo a classificação funcional e a

classificação em estágios.

Classificação Funcional Classificação em estágios

(New York Heart Association) (American Heart Association e o American

College of Cardiology)

Classe I: ausência de sintomas (dispneia)

durante atividades cotidianas. A limitação

para esforços é semelhante à esperada em

indivíduos normais;

Estágio A: Inclui pacientes sob risco de

desenvolver insuficiência cardíaca, mas ainda

sem doença estrutural perceptível e sem

sintomas atribuíveis à insuficiência cardíaca;

Classe II: sintomas desencadeados por

atividades cotidianas;

Estágio B: Pacientes que adquiriram lesão

estrutural cardíaca, mas ainda sem sintomas

atribuíveis à insuficiência cardíaca;

Classe III: sintomas desencadeados em

atividades menos intensas que as cotidianas

ou pequenos esforços;

Estágio C: Pacientes com lesão estrutural

cardíaca e sintomas atuais ou pregressos de

insuficiência cardíaca;

Classe IV: sintomas em repouso.

Estágio D: Pacientes com sintomas refratários

ao tratamento convencional, que requerem

intervenções especializadas ou cuidados

paliativos.

Fonte: Adaptado de Bocchi et al., 2012. (12)

O aporte nutricional adequado e exercícios físicos são considerados os pilares para o

tratamento não farmacológico e a prevenção da caquexia (31).

A IC apresenta dois fenótipos, insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal

(ICFEN) e insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER), sendo a

diferenciação entre ambas descritas no Quadro 2. É descrito que, na ICFEN, o quadro de

dispneia se instala mais agudamente e a resposta às intervenções também é mais rápida. (34)

Muitos estudos parecem demonstrar que, ao contrário do que se pensava, o excesso de

tecido adiposo exerceria um importante papel no prognóstico de indivíduos portares de IC

(5,15,35). Compreender esta relação é uma questão clinicamente relevante, porque a

identificação de um fator de risco potencialmente modificável pode levar à redução da

morbidade e mortalidade o que representaria uma redução do impacto com esta síndrome que

apresenta altos custos para o SUS (34).

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Quadro 2 – Principais características da insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal

e com fração de ejeção reduzida.

Características Fração de

ejeção normal

Fração de

ejeção reduzida

Epidemiologia

Sexo feminino

Idade > 65 anos

Sintomas

Dispneia

Angina

Edema pulmonar agudo

Peptídeo natriurético B (BNP)

> 1.000 pg/ml

400 a 1.000 pg/ml

Ecocardiografia

Fração de ejeção < 45%

+++

+++

+++

+++

+++

+

+++

-

+

+

+++

+

+

+++

+

+++

Adaptado de Roscani et al., 2009. (34)

2.2 A Obesidade

A prevalência do sobrepeso e da obesidade vem aumentando em diversas populações

mundiais, incluindo o Brasil. Este aumento pode ser associado à diminuição dos níveis de

atividade física e ao aumento da ingestão calórica, relacionados principalmente ao aumento do

consumo de alimentos altamente palatáveis, de baixo custo e de alta densidade energética,

como o açúcar e as gorduras (33). Estima-se que na população brasileira, a frequência de

adultos obesos em 2016 foi em torno de 19%, no conjunto das 27 cidades avaliadas pelo

VIGITEL (9).

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal associado a

problemas de saúde. Este excesso de gordura pode ser mensurado por diferentes métodos ou

técnicas, dentre as quais, pode-se citar as pregas cutâneas, ultrassom, ressonância magnética,

composição corporal por absorciometria com raios-x de dupla energia (DEXA),

bioimpedância elétrica e pelo índice de massa corporal (36).

A classificação segundo o IMC proposta pela OMS em 2001, encontra-se descrita no

Quadro 3. O IMC é obtido a partir da divisão do peso, em quilogramas, pelo quadrado da

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altura, em metros quadrados (37) e devido à sua simplicidade de obtenção e baixo custo, tem

sido bastante utilizado e aceito para estudos epidemiológicos.

Quadro 3 – Classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) proposta pela Organização

Mundial da Saúde.

Classificação Faixa de IMC (kg/m2)

Baixo peso ou magro < 18,5

Peso normal ou eutrófico 18,5 a 24,9

Sobrepeso ou pré-obeso 25 a 29,9

Obesidade 30 a 39,9

Obesidade grave ≥ 40

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2011. (37)

O IMC não reflete a distribuição de gordura corporal, uma vez que este método não

consegue distinguir massa gordurosa de massa magra (7). Desta forma, pessoas idosas que

tendem a ter redução de tecido muscular e aumento no acúmulo de gordura (38) podem ser

classificados como obesos, quando na verdade, encontram-se sarcopênicos, isto é, com

diminuição de massa, força e desempenho muscular e incapacidade física.

A fim de minimizar problemas na classificação dos idosos, o Ministério da Saúde

aceita que no idoso, o IMC considerado como normal varie de 22 a 27kg/m2 (37). O ideal é

que o IMC não seja utilizado de forma isolada. A combinação de seu uso com medidas do

perímetro do abdômen e da cintura, possibilitam um melhor panorama da distribuição da

gordura visceral (intra-abdominal), gordura esta considerada um importante marcador de risco

potencial para doenças cardiometabólicas (7).

O perímetro da cintura (PC), medido no ponto médio entre ao osso do quadril (crista-

ilíaca) e a última costela (37), é uma medida simples que apresenta correlação com a

acumulação de tecido adiposo abdominal (39). Através dela, pode-se estabelecer o risco de

desenvolvimento de complicações metabólicas, dentre elas DM2, doença coronariana, e HAS

(33).

A obesidade está associada a um risco aumentado de morbidade e mortalidade, assim

como a redução da expectativa de vida (40). Em uma análise do estudo de Framingham, com

cerca de 6.000 pacientes sem IC, demonstrou que após acompanhamento por 14 anos, 8% da

amostra desenvolveu insuficiência cardíaca, tendo os participantes obesos, um risco duas

vezes maior (41).

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8

O tecido adiposo, considerado um órgão endócrino, possui importantes funções

metabólicas. A adiponectina, secretada pelo adipócito, quando reduzida, se associa ao

acúmulo de gordura visceral, ao aumento da glicemia, hiperlipidemia, HAS, aterosclerose,

além de aumentar o risco de doenças coronarianas e alterações no miocárdio (42). A leptina,

um hormônio secretado pelas células adiposas, atua promovendo o aumento do metabolismo

energético, com diminuição do apetite e a ingestão de alimentos (42,43). O aumento da

leptina na corrente sanguínea está associado com ativação do sistema nervoso simpático

(SNS), disfunção endotelial, remodelamento cardíaco, IC, HAS entre outras complicações.

(42)

Somado a esses efeitos, a leptina ainda aumenta a produção de citocinas pró-

inflamatórias e o estresse oxidativo, promovendo ainda hipertrofia dos cardiomiócitos e

efeitos catabólicos no músculo esquelético. (44)

Pacientes com IC apresentam níveis elevados de leptina, podendo esta estar

relacionada com o aumento do gasto energético basal, contribuindo para a perda de peso e

para a redução de massa gorda. (45)

2.3 O Paradoxo da Obesidade: revisões sobre o tema

Em 2001, Horwich et al. (6), relatou em uma coorte com 1.203 pacientes com

diagnóstico avançado de IC de múltiplas etiologias, que a obesidade não estava associada à

um aumento da mortalidade nesta população, expondo na verdade, que a população obesa

havia apresentado prognóstico mais favorável em relação aos indivíduos com IMC ≤ 30

kg/m2. Este estudou mostrou também que os pacientes obesos eram cerca de 5 anos mais

jovem do que os doentes não-obesos e também apresentaram menor prevalência de doença da

artéria coronária, uma maior prevalência de diabetes e hipertensão arterial.

Desde então, o interesse acerca da temática vem ganhando cada vez mais espaço.

Colocando os termos "obesity paradox" e "heart failure" no PubMed, o primeiro artigo que

aparece é de 2003, chegando a 31 artigos em 2016 e 29 artigos em 2017, o que indica que o

interesse pelo assunto continua alto.

Como forma de introduzir o tema do paradoxo da obesidade na insuficiência cardíaca

foi realizada uma busca sobre o tema na base de dados PubMed. Foram encontrados 64

artigos de revisão através da busca pelos termos "obesity paradox" e "heart failure” e 13

artigos (Quadro 4) foram lidos na íntegra. A última revisão foi publicada em janeiro de 2017.

Foram retidos nove artigos de revisão narrativa (14–21,25), uma revisão sistemática

(22), e três revisões narrativas de cunho crítico (4,23,24).

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9

Quadro 4 – Características gerais dos artigos de revisão sobre o paradoxo da obesidade.

Autor(res), ano (ref.) País da

publicação

Tipo de

revisão

Artigos

analisados/discutidos

Artham et al., 2008 (17) EUA Narrativa 68

Sagar et al., 2008 (20) EUA Narrativa 35

Freeman, 2009 (18) EUA Narrativa 102

Guglin et al., 2013 (24) EUA Crítica 21

Lavie et al., 2016 (25) EUA Narrativa 49

Carbone et al., 2017 (4) EUA Crítica 139

Sawicka et al., 2016 (14) Polônia Narrativa 153

Alpert et al., 2016 (16) EUA Narrativa 99

Mandviwala et al., 2016 (19) EUA Narrativa 102

Nagarajan et al., 2016 (21) EUA Narrativa 10

Alagiakrishnan et al., 2016 (22) EUA Sistemática 10

Charnigo e Guglin, 2017 (23) EUA Crítica 46

Hamzeh et al., 2017 (15) Irã Narrativa 58

A seguir serão apresentados os tópicos abordados por essas revisões, agrupados em

quatro blocos: vantagens da obesidade; limitações metodológicas; variável colisora e estudos

que não confirmam o paradoxo.

2.3.1 Condições aparentemente vantajosas ao prognóstico dos obesos

A obesidade causa uma série de alterações hemodinâmicas, metabólicas, hormonais e

estruturais em diferentes órgãos, entre eles o coração, o que explica, com facilidade, a maior

incidência e prevalência de IC entre os obesos (24). No entanto, na presença da IC, algumas

dessas alterações podem, ao menos, à primeira vista, serem consideradas como vantajosas

para o prognóstico da IC, como vistos a seguir.

Os obesos ou aqueles com sobrepeso apresentam maiores valores de pressão arterial e

maior prevalência de hipertensão, mesmo em pacientes com insuficiência cardíaca

(15,19,20,23,24,46). Pelos menos uma revisão (15) aponta que a resposta ao sistema renina-

angiotensina-aldosterona (S-RAA), um conjunto de peptídeos, enzimas e receptores

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10

envolvidos em especial no controle do volume de líquido extracelular e na pressão

arterial, pode estar atenuado. Em conjunto, essas duas condições permitem que o tratamento

nos obesos possa ser otimizado, pois esses indivíduos possuem maior tolerância a doses mais

altas de betabloqueadores, dos Receptores da Angiotensina (BRA) e Inibidores da Enzima

Conversora da Angiotensina (IECA), o que favorece seu prognóstico (15).

Pacientes obesos com IC crônica apresentam menor ativação do SNS e níveis mais

baixos de Norepinefrina em comparação com os indivíduos sem obesidade, outra vantagem

dos obesos, uma vez que o aumento da atividade simpática é um marcador de mau

prognóstico na IC (21,24).

Algumas alterações inflamatórias poderiam beneficiar os obesos (17,25). O tecido

adiposo produz receptores solúveis de fator de necrose tumoral-alfa (TNF-) (47). Como

TNF- está elevado na IC a presença de um maior número de receptores implicaria na menor

circulação do marcador, podendo representar uma vantagem potencial (48).

Em indivíduos saudáveis a adiponectina, uma adipocina com propriedades anti-

inflamatórias e antiaterogênicas, tem uma correlação inversa com o IMC (21). Um estudo

citado por Mandviwala et al. (19) e Nagarajan et al. (21), com 195 pacientes com IC crônica,

demonstrou que, embora a relação inversa entre IMC e adiponectina tenha sido observada,

pacientes não-obesos com níveis mais altos desta proteína apresentaram pior prognóstico que

os obesos (49), aparentando ser outro fator que favoreceria o prognóstico em obesos com IC.

No entanto, os autores atribuem o achado a uma possível consequência da perda muscular

cardíaca na IC avançada, uma vez que a adiponectina induz a perda de peso e o gasto

energético (50,51). No estudo de Kistorp et al. (49) a adiponectina correlacionou-se com o

fragmento N-terminal do peptídeo natriurético tipo B (NT-proBNP), apresentando menores

valores nos obesos, que por sua vez, foi um marcador de pior prognóstico (49). Indivíduos

obesos com IC apresentam menores valores médio de peptídeo natriurético cerebral (BNP)

(15,17,18,21). O mecanismo exato não é conhecido, porém, a literatura sugere que isso possa

acontecer através do aumento da depuração do BNP e do NT-proBNP via receptores

localizados no tecido adiposo e pelo aumento da secreção de endopeptidases neutras (52).

Outra possível vantagem dos obesos na IC é a hipótese lipídeo/endotoxina

(15,20,22,25). Níveis mais elevados de lipoproteínas (LDL, colesterol total, triglicerídeos) são

benéficos na IC uma vez que estas modulam a função imune inflamatória ao se ligarem aos

lipopolissacarídeos bacterianos (LPS, endotoxinas) (53). Horwich et al. (6) citado por Sagar et

al. (20) encontrou uma associação positiva estatisticamente significativa entre a melhor

sobrevida e os níveis de colesterol (6).

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2.3.2 As limitações metodológicas dos estudos sobre o paradoxo da obesidade

Alguns autores levantam a questão se essas vantagens são as responsáveis pela

ocorrência do paradoxo da obesidade, ou se ele resulta de vieses ou de um artefato estatístico

(15,16,19,24).

A maioria das revisões ressalta que os indivíduos obesos, ou com sobrepeso eram mais

jovens que os demais (15,16,19,24). Tal observação, além de indicar a presença de

epidemiologia reversa, também evidencia um possível viés de tempo de diagnóstico (lead

bias) (19).

O viés de sobrevivência apresentado como uma das possibilidades de explicação do

aparente paradoxo da obesidade surgiria a partir da alta prevalência de condições

cardiovasculares negativas entre os obesos. Tal ocorrência levaria à maior sobrevida dos

obesos mais saudáveis, sendo assim, esses estariam sobre-representados em cada momento no

tempo (24), não correspondendo a coorte de obesos, mas sim, a uma parcela deles.

Outras características clínicas mais favoráveis e mais frequentes nos obesos seriam a

melhor função renal, maior fração de ejeção e melhor classe funcional NYHA (23,24). Se os

obesos têm melhor perfil clínico, obviamente terão maior sobrevida. Dada a natureza da

maioria dos estudos em que a massa corporal é medida no momento do diagnóstico da IC, ou

da descompensação, pode tratar-se da ocorrência de epidemiologia reversa. Ou seja, os

indivíduos sem obesidade estão em estágios mais avançados do que os com obesidade ou

sobrepeso e provavelmente, os obesos evoluirão com perda de peso.

O argumento acima é fortalecido na medida em que a IC provoca um estado catabólico

em que há perda de gordura e, em menor grau, de massa muscular e osso. Em estados

avançados de caquexia, o esgotamento de todos os tecidos é aparente (18). O complexo

desnutrição-inflamação na IC também é lembrado como possível explicação para a

desvantagem dos não obesos (20,24). Os indivíduos com baixo IMC apresentam também

baixos níveis de albumina sérica, colesterol, alto fator de TNF-α, menor contagem de

linfócitos, hemoglobina e pré-albumina, gerando comprometimento da sobrevivência dos

subconjuntos menores de IMC (54–56).

Para evitar a possibilidade de atribuir a diferença observada à presença de caquexia,

inúmeros estudos limitaram as categorias de IMC, excluindo a possibilidade de presença

dessa condição (15,18,21,23). No entanto, há sempre a possibilidade de epidemiologia reversa

quando a exposição (massa corporal) é mensurada no momento do diagnóstico.

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A perda de peso intencional, devido a dieta balanceada e prática de exercícios físicos

parece beneficiar o prognóstico na IC (4). No entanto, como comentado acima, o agravamento

da IC é acompanhado de perda de peso. Essa variável foi raramente mensurada em estudos

sobre o paradoxo da obesidade na IC, podendo ser uma explicação alternativa ao paradoxo da

obesidade (4,15). Essa seria então uma variável de confusão não mensurada.

Mais um fator que fala a favor de que o paradoxo da obesidade é reflexo de falhas

metodológicas nos estudos é a observação de que pacientes com bom condicionamento físico

e com baixo IMC têm maior sobrevida do que os indivíduos obesos e com sobrepeso com pior

condicionamento (4,16,22,25). O condicionamento cardiorrespiratório, denominado em inglês

como fitness, é um estabelecido preditor de mortalidade e morbidade por DCV (35,57).

A presença de inúmeros fatores favoráveis à sobrevida dos obesos/sobrepeso na IC

levou Charningo e Guglin (23) a considerarem que tais fatores poderiam atuar em sinergismo,

constituindo-se em uma variável dificilmente mensurável. Nesta mesma revisão, os autores se

propuseram a explicar o paradoxo da obesidade através da existência de uma variável

colisora.

Outro aspecto presente nas revisões é o controle insuficiente de confundimento. A

utilização de métodos que possibilitem ajustar os efeitos/associações provenientes das

diferenças entre os grupos permite avaliar a associação independente entre o desfecho e os

fatores de risco. As técnicas utilizadas incluem a estratificação, o pareamento, o ajuste

multivariável e os escores de propensão (58).

Existem diversos modelos para estimar os escores de propensão, porém o mais

utilizado é o modelo de regressão logística. O escore de propensão pode ser definido como a

propensão de um indivíduo da amostra ser alocado em um determinado grupo, condicional

aos valores dos preditores (59).

Variáveis que poderiam interferir na associação entre obesidade e mortalidade na IC

são lembradas: fitness (pico de VO2), massa muscular, perda de peso, DM2 e tabagismo.

O condicionamento cardiorrespiratório (fitness) é influenciado diretamente pela

composição corporal. Maiores percentuais de massa magra (músculo) sugerem melhores

resultados na avaliação do consumo de oxigênio, denominado pico de VO2. Melhores

resultados na avaliação de consumo de VO2, resultaria em um melhor prognóstico na IC,

independente da classificação de IMC do indivíduo (4).

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13

2.3.3 A variável colisora como explicação para o Paradoxo da Obesidade

Apenas Charnigo e Guglin (23) citaram a hipótese de que, um viés de seleção pela

estratificação por uma variável colisora pudesse explicar totalmente o paradoxo da obesidade.

O colisor ou variável colisora seria um efeito comum da exposição e do desfecho e a

análise condicionada (por seleção, estratificação ou ajuste) por essa variável, geralmente

resultará em uma associação entre a exposição e o desfecho, mesmo se na população ela não

existir. Nessas condições, a associação é considerada como fruto de um viés por conta do

condicionamento por um colisor (collider stratification bias) (60).

Charnigo e Guglin (23), citando Banack et al. (61) argumentam que a obesidade e a

vitalidade (tal como comentado acima) colidiriam na IC, conforme ilustrado na Figura 1 -

Gráfico acíclico direto dos supostos efeitos da obesidade sobre a mortalidade entre

indivíduos com insuficiência cardíaca (IC).

A vitalidade poderia corresponder ao efeito sinérgico de variáveis de risco ou

proteção, conforme sugerido por Charnigo e Guglin (23). A linha pontilhada refere-se à

associação espúria entre obesidade e mortalidade, criada a partir do condicionamento pela IC.

Figura 1 - Gráfico acíclico direto dos supostos efeitos da obesidade sobre a mortalidade

entre indivíduos com insuficiência cardíaca (IC).

Fonte: Figura adaptada de Charnigo e Guglin, 2017 (23).

Ao se analisar somente os pacientes com IC se criaria uma associação entre obesidade

e mortalidade, não existente na população. O que os autores buscam mostrar com o exemplo

é que, quando se estratifica a análise por insuficiência cardíaca, seleciona-se obesos com

muita “vitalidade”, o que não acontece com os não obesos. Como há uma associação direta

entre IC e mortalidade, cria-se a associação protetora espúria entre obesidade e mortalidade.

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2.3.4 Estudos que não confirmam a existência do Paradoxo da Obesidade

A existência do paradoxo da obesidade, apesar de confirmada por estudos do tipo

coorte, demonstrou desaparecer em quatro situações específicas (16,23–25). A primeira delas

foi quando ocorreu o pareamento, por escore de propensão, ou não, entre o grupo de obesos e

de não obesos por variáveis relacionadas ao prognóstico da IC. A segunda situação foi a

observação que o paradoxo da obesidade não se confirmou em portadores de DM2 na amostra

estudada. A terceira foi a comparação do prognóstico em obesos em relação àqueles que

sempre se mantiveram dentro do peso normal, quando o paradoxo da obesidade desapareceu.

E a quarta se refere ao controle por tabagismo. Em conjunto, as quatro situações específicas

resumem-se a um controle mais adequado do confundimento.

Os estudos que não confirmam a existência do paradoxo da obesidade são divididos e

discutidos da seguinte forma:

• Estudos que utilizaram o pareamento;

• Estudos que utilizaram o pareamento na comparação de diabéticos e não

diabéticos;

• Estudo que incluiu a categoria “sempre se mantiveram na faixa normal de peso”;

• Estudo que estratificou pelo tabagismo.

2.3.4.1 Estudos que utilizaram o pareamento

Frankenstein et al. (62), realizaram um pareamento em uma coorte com 1.790

participantes, formando 230 trios entre pacientes com obesidade vs. sobrepeso vs. peso

normal, de acordo com os níveis de NT-proBNP, idade, sexo e classe funcional da IC segundo

a classificação do NYHA. Os autores relataram que, em pacientes com IC estável, após

pareamento, aparentemente o paradoxo da obesidade despareceu. Os resultados da análise

múltipla dos pares não foram apresentados em tabela.

Schwartzenberg et al. (63) em uma coorte com 2.288 participantes hospitalizados por

descompensação da IC, após ajuste por potenciais variáveis de confundimento (idade, sexo,

FEVE, NYHA, doença cardíaca isquêmica, DM2, HAS, dislipidemia, função renal e

medicamentos), observaram que a diferença encontrada no prognóstico dos obesos vs. não

obesos perdeu a significância estatística, mas o HR foi 0,79 (IC95% 0,59-1,05), sugerindo ser

um resultado inconclusivo, mas na direção protetora.

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2.3.4.2 Estudos que utilizaram o pareamento na comparação de diabéticos e não diabéticos

Schwartzenberg et al., (63), na mesma coorte citada acima, realizaram o pareamento

de 264 pares de obesos e não obesos com DM2 e 208 pares de obesos e não obesos sem DM2.

Os HR para os dois grupos aproximaram-se da unidade.

Adamopoulos et al. em 2011 (64), usando o escore de propensão, parearam 636 pares

de obesos e não-obesos com DM2 e 770 pares de obesos e não-obesos sem DM2. Entre os

diabéticos, nenhum dos resultados (mortalidade por todas as causas, mortalidade

cardiovascular e progressão da IC) foi conclusivo, com os HR muito próximos à unidade,

como observado no estudo de Schwartzenberg et al. (63). Para os não diabéticos, os HR

variaram de 0,77 a 0,87, porém, somente para a mortalidade por todas as causas, o resultado

foi estatisticamente significativo.

2.3.4.3 Estudo que incluiu a categoria “sempre se mantiveram na faixa normal de peso”

Stokes et al. (65), utilizando os dados do National Health and Nutrition Examination

Survey (NHANES), criaram a categoria “sempre se mantiveram na faixa normal de peso”. Ao

compararem o prognóstico dos obesos em relação à nova categoria o paradoxo da obesidade

desapareceu: HR = 1,16 (IC95% 0,95-1,41).

2.3.4.4 Estudo com restrição pelo tabagismo

Stokes et al. (65) ao limitarem a análise aos participantes que nunca haviam fumado,

observaram que o risco de mortalidade foi significativamente maior no grupo de

obesos/sobrepeso: HR = 1,51 (IC95% 1,07-2,15).

2.4 Questões de pesquisa para orientar a extração dos resultados e a discussão da

revisão sistemática

A partir da revisão apresentada no item 2.3, algumas questões que orientam a

apresentação dos resultados e da discussão são enumeradas a seguir:

1) Os estudos confirmam as aparentes vantagens dos grupos de obesos?

2) Há algum aspecto metodológico que permita afastar a ocorrência da epidemiologia

reversa?

3) Há algum aspecto metodológico que permita afastar a ocorrência do viés de

sobrevivência?

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4) Há algum aspecto metodológico que permita afastar a ocorrência do viés de tempo

de diagnóstico?

5) Houve controle de confundimento mais adequado que permita comparar os

achados ou responder aos questionamentos anteriores: fitness (pico de VO2), massa

muscular, perda de peso, DM2 e tabagismo.

6) O que foi escrito sobre a variável colisora?

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17

3. OBJETIVO

O presente trabalho visa rever, de forma sistemática, os artigos sobre paradoxo da

obesidade na insuficiência cardíaca presentes no banco de dados PubMed via Medline,

buscando identificar pontos que permitam o avanço na discussão do paradoxo da obesidade na

insuficiência cardíaca.

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18

4. MÉTODOS

A presente revisão sistemática foi conduzida em 6 etapas, seguindo as orientações da

Cochrane Collaboration: Etapa 1) elaboração da questão clínica; Etapa 2) localização e

seleção dos estudos; Etapa 3) avaliação crítica dos estudos; Etapa 4) coleta de dados; Etapa 5)

análise e apresentação dos dados; Etapa 6) interpretação dos dados.

Os artigos incluídos nesta revisão sistemática, abrangeram a literatura científica

disponível até o mês de janeiro de 2018.

4.1 Elaboração da questão clínica

A questão clínica é o primeiro passo no desenvolvimento de uma revisão sistemática.

Ela deve ser específica, de relevância científica e formulada de modo sistemático. Para a

elaboração da questão clínica (objetivos), foi utilizado o acrônimo PICO, aonde as

representações são:

P (Population – população) – Pacientes com insuficiência cardíaca;

I (Intervention – intervenção/exposição) – Obesidade;

C (Comparison – comparação) – Pacientes com peso/IMC normal (eutróficos);

O (Outcome – desfecho) – Mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença

cardiovascular e internação hospitalar por descompensação da insufciência cardíaca.

Assim, no presente estudo, estabeleceu-se como pergunta de pesquisa: “Indivíduos

obesos portadores de insuficiência cardíaca apresentam um prognóstico mais favorável em

comparação a indivíduos não-obesos, em estudos observacionais, cujo desfecho avaliado é

mortalidade por todas as causas, mortalidade por doenças cardiovasculares e internação por

descompensação da insuficiência cardíaca?”

4.2 Elegibilidade

4.2.1 Critérios de inclusão

Os critérios de inclusão adotados nesta revisão sistemática são:

População de interesse: Pacientes de ambos os sexos, adultos (≥19 anos), com diagnóstico

prévio de insuficiência cardíaca (IC), realizado segundo as diretrizes vigentes à época,

americana, europeia ou do país da publicação, tanto com IC com fração de ejeção reduzida,

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19

quanto com IC com fração de ejeção preservada, aguda ou crônica, compensada ou

descompensada.

Exposição/grupo de comparação: Foram considerados estudos com participantes obesos,

definidos através do índice de massa corporal. A obrigatoriedade do emprego do IMC foi para

garantir a comparação dos resultados, uma vez que este índice era o parâmetro antropométrico

mais utilizado nos estudos.

Desfechos de interesse: Foram incluídos artigos que contivessem como desfecho primário

e/ou secundário: sobrevida, internação, morte por todas as causas ou morte por doenças

cardiovasculares ou piora da IC (hospitalização).

Desenhos metodológicos: Esta revisão utilizou em seu critério de elegibilidade para a seleção

dos estudos clínicos originais a estrutura denominada pelo acrônimo PICO (item 4.1), cujo

parâmetro selecionado compreendeu estudos observacionais de coorte concorrente, ou não

concorrente e ensaios clínicos randomizados, desde que respeitando aos demais critérios,

publicados e não publicados, sem data limite para sua realização.

Outros tipos de artigos obtidos pelos métodos de identificação de estudos, como

revisões da literatura, revisões sistemáticas e meta-análises não foram incluídas nesta revisão,

porém, foram consultadas e utilizadas no desenvolvimento deste trabalho.

4.2.2 Critérios de exclusão

Foram excluídos estudos de revisão de qualquer tipo, com ou sem meta-análises e

estudos em populações específicas, com outra doença que não a insuficiência cardíaca e

estudos com um período de seguimento inferior a 12 meses.

4.3 Identificação dos estudos

A realização da busca da literatura objetivou identificar o maior número possível de

estudos relacionados à temática para melhor compreensão da abordagem descrita na literatura

científica.

A busca incluiu a base de dados PubMed, que contempla o Medline e foi conduzida no

período de março de 2017 a janeiro de 2018, sendo realizada em duas etapas demoninadas de

Busca A e Busca B. Esta divisão, objetivou minimizar o risco de viés de publicação, buscando

encontrar o maior número possível de artigos sobre o tema do paradoxo da obesidade na IC.

A estratégia de busca (Busca A) foi conduzida sem restrição ou limite de data de publicação

ou de idioma do artigo. Para a seleção de artigos originais foram utilizadas os seguintes descritores

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20

e palavras-chave: Obesity Paradox, Reverse Epidemiology, Cardiovascular Disease, Heart

Failure e Risk Factor. Através delas, foram empregados três blocos de palavras-chave

combinados com “or” e “and”, ilustrado no Quadro 5.

Quadro 5 - Equações de busca por artigos na base de dados PubMed.

Busca

Equação 1

("Obesity Paradox"[All Fields] Or "Reverse Epidemiology" [All Fields])

And ("Cardiovascular Disease"[All Fields] Or "Heart Failure"[All

Fields])

Equação 2 ("Risk Factor"[All Fields] And "Obesity Paradox"[All Fields])

Equação 3 ("Risk Factor"[All Fields] And "Reverse Epidemiology"[All Fields])

Todos os títulos encontrados foram organizados em uma planilha no Excel para a

retirada das duplicatas, estudos de revisão e meta-análises.

Fez-se ainda, consulta por meio das referências dos artigos selecionados, a fim de

identificar publicações não localizadas anteriormente e que fossem pertinentes ao tema desta

revisão. O processo de seleção dos artigos foi feito em quatro etapas, segundo o modelo

recomendado pela Cochrane Collaboration (66):

1) Identificação: identificação dos artigos obtidos por meio da busca à base de dados e

dos artigos recuperados por meio das referências dos artigos selecionados;

2) Seleção: nessa fase, excluíram-se os arquivos duplicados e na triagem pelos títulos e

resumos dos artigos restantes foram excluídos aqueles que não apresentavam relação

com as palavras-chave definidas para a busca;

3) Elegibilidade: avaliada pela leitura dos arquivos na íntegra (excluindo-se os que não

atenderam aos critérios de elegibilidade pré-estabelecidos) e;

4) Inclusão: inclusão dos artigos elegíveis na revisão sistemática.

4.4 Seleção e análise de dados

4.4.1 Seleção dos estudos

Após a conclusão da busca inicial dos estudos, foi realizada a leitura dos resumos e

analisados de modo independente por dois avaliadores e selecionados segundo critérios de

elegibilidade (seção 4.2). Os artigos nos quais os avaliadores apresentaram opiniões

divergentes foram discutidos e a decisão final se deu por consenso.

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21

Os critérios utilizados para a seleção dos títulos para posterior análise estão descritos

no capítulo 5.

4.4.2 Análise de Qualidade Metodológica

Após a conclusão da etapa de leitura dos resumos, iniciou-se a leitura na íntegra dos

artigos selecionados e, aqueles considerados elegíveis, foram incluídos na etapa de avaliação

metodológica.

A avaliação da qualidade dos estudos permite a detecção do risco de vieses e a

comparabilidade dos grupos do estudo, uma vez que os aspectos analisados envolvem o

método, os participantes, a intervenção e os desfechos dos estudos.

Para a análise da qualidade foi utilizada a ferramenta NewCastle-Ottawa Quality

Assessment Scale Cohort Studies (NOS) (0), cujo instrumento permite a análise de estudos do

tipo coorte e caso-controle.

O NOS é um questionário que contém questões separadas para estudos de coorte e

caso-controle, sendo utilizado em revisões sistemáticas, visando a avaliação do risco de viés

dos estudos, julgando oito itens divididos em três domínios: 1) Seleção dos participantes, 2)

Comparabilidade dos grupos no estudo e, 3) Resultados (avaliação do desfecho). Dentro de

cada domínio, a avaliação é feita através do emprego de uma estrela “★”, desenvolvida para

proporcionar uma avaliação visual rápida. Desta forma, quanto maior o número de estrelas,

mais bem avaliado é o artigo. (67)

Os domínios “seleção” e “resultados” possibilitam o emprego de apenas uma estrela

em cada subcategoria, enquanto o domígio “comparabilidade” permite a utilização de até duas

estrelas na avaliação. Desta forma, um artigo pode obter como avaliação máxima, 9 estrelas.

4.4.3 Extração dos dados dos artigos incluídos

A extração dos dados foi conduzida por um avaliador e conferida posteriormente por

um segundo avaliador. Foram extraídas informações relativas às características dos trabalhos

no que se refere à população estudada, ao tamanho da amostra, idade, follow-up, identificação

do primeiro autor, ano de publicação, desfecho, parâmetros clínicos avaliados e fenótipo da

IC.

Todas estas características dos estudos incluídos foram apresentadas de maneira

narrativa e por meio de tabelas. A apresentação dos resultados e discussão deste estudo foi

baseada nas diretrizes do PRISMA (68).

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22

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Busca e seleção inicial dos artigos

A busca por artigos para integrar esta revisão foi conduzida a partir da seguinte

pergunta: “Indivíduos obesos portadores de insuciência cardíaca apresentam um prognóstico

mais favorável em comparação aos indivíduos não-obesos, em estudos observacionais, tendo

como desfecho avaliado mortalidade por todas as causas, mortalidade por doenças

cardiovasculares e/ou internação por descompensação da insuficiência cardíaca?”.

Entre março de 2017 e janeiro de 2018, na base de dados Medline (via PubMed), foram

identificadas 923 referências. Após a remoção de duplicatas, permaneceram 362 referências.

Destas, inicialmente, pelos títulos, foram excluídos 144 estudos por se tratarem de estudos de

revisão/meta-análise, restando 218 títulos. No total, 44 títulos foram excluídos, três por serem

estudos utilizando modelos animais e 41 por não abordarem a IC e o paradoxo da obesidade.

Dos 174 artigos retidos para leitura dos resumos, 118 foram excluídos: 27 não discutiram o

paradoxo da obesidade, 15 estudos não utilizaram dados primários e 76 resumos não

analisaram o paradoxo da obesidade na IC.

Foram retiros 56 resumos para a leitura do artigo na íntegra. Dois estudos foram

conduzidos em uma mesma população, desta forma, através de consenso, foi escolhida a

versão considerada mais completa e que melhor contemplava os critérios de elegibilidade

estabelecidos, sendo o outro, descartado. Um estudo foi excluído por ser um estudo piloto e

13 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão previamente

estabelecidos (capítulo 4.2).

Finalizada a etapa de avaliação da elegibilidade foram retidos quarenta e um estudos

para leitura na íntegra, avaliação da qualidade metodológica e extração de dados. Os

resultados da identificação, seleção, elegibilidade e inclusão dos estudos desta revisão

sistemática encontram-se esquematicamente apresentados na Figura 2.

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23

Figura 2 - Diagrama de fluxo do processo de seleção dos artigos em cada etapa da revisão

sistemática.

Iden

tifi

caçã

o

Sel

eçã

o

Ele

gib

ilid

ad

e In

clu

são

917 títulos identificados na

base de dados PubMed

144 artigos excluídos:

estudos de revisão/metanálise

561 títulos excluídos: duplicatas

44 títulos excluídos:

modelos animais (n = 3); não

abordam a insuficiência

cardíaca e o paradoxo da

obesidade (n = 41)

118 resumos excluídos: não

discutiram o paradoxo da

obesidade (n = 27); não são

dados primários (n = 15); não

analisaram o paradoxo da

obesidade na insuficiência

cardíaca (n = 76)

6 referências identificadas

por busca manual em outras

fontes

923 títulos

identificados

362 referências

selecionadas

56 estudos retidos para

leitura na íntegra

218 títulos retidos

41 estudos retidos

para análise

15 artigos lidos na íntegra e

excluídos: dois estudos com a

mesma população (n = 1);

estudo piloto (n = 1); não

respeitou os critérios de

inclusão previamente

estabelecidos (n = 13)

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24

5.2 Principais características dos estudo selecionados

Dezesseis (39,0%) artigos estudaram pacientes ambulatoriais/mistos, 24 (58,54%)

pacientes hospitalizados e apenas um (2,4%) estudo utilizou inquérito populacional. O tempo

médio de follow up foi de 42,9 meses (mínimo: 12; máximo: 192 meses) e a média de

participantes incluídos nos estudos foi de 2.659 indivíduos (mínimo: 128; máximo: 108.927

participantes), com idade média de 68,8 anos (± 7,8; mínimo: 49,6; máximo: 86,9 anos) para

o grupo de participantes obesos e 67,3 anos (± 7,4; mínimo: 53,4; máximo: 80 anos) para os

participantes não obesos (IMC >18,5 e < 25 kg/m2). Apenas 2 estudos (69,70) se limitaram a

analisar exclusivamente o sexo masculino (4,9%). Apenas quatro estudos apresentavam

pacientes com IC grave ou terminal (70–73).

As características dos quarenta e um estudos retidos para a leitura na íntegra

encontram-se resumidas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características principais dos estudos selecionados para a revisão sistemática

Autor(es) e ano (ref.) N

Idade

obesos

(anos)

Idade

eutróficos

(anos)

Follow

up

(meses)

Fenótipo

da IC Desfecho

Abi Khalil et al. 2017 (74) 2.492 63,7 63,5 15 Ambos ◊

Adamopoulos et al. 2011 (64) 7,788 62 65 38 Ambos ◊

Casas-Vara et al. 2012 (75) 244 86,9 80 36 Ambos ◊

Clark et al. 2011 (2) 344 52 55,9 24 Ambos ◊

Clark et al. 2012 (76) 613 - - 24 ICFER ◊

Clark et al. 2015 (3) 1.675 49,6 53,4 24 ICFER ◊

Curtis et al. 2005 (77) 7.767 60,5 65,9 37 Ambos ◊

Farré et al. 2015 (78) 742 70 73 12 Ambos

Fonarow et al. 2007 (54) 108.927 71,6 74,9 36 Ambos

Frankenstein et al. 2009 (62) 690 63 65 36 Ambos ◊

Gámez-López et al. 2016 (79) 234 - - 21 Ambos

Gastelurrutia et al. 2011 (55) 979 64 64 44 Ambos ◊

Güder et al. 2015 (80) 3.315 - - 62 ICFER ◊

Hall et al. 2005 (81) 2.707 - - 36 ICFER

Continua

N, número total de participantes no estudo; ICFER, insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida; IC,

insuficiência cardíaca; , morte; ◊, piora da insuficiência cardíaca.

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25

Tabela 1 - Características principais dos estudos selecionados para a revisão sistemática

(continuação)

Autor(es) e ano (ref.) N

Idade

obesos

(anos)

Idade

eutróficos

(anos)

Follow

up

(meses)

Fenótipo

da IC Desfecho

Kamiya et al. 2014 (82) 570 63,8 70,3 18 Ambos

Kapoor et al. 2010 (83) 1.236 71,11 76,11 12 ICFEN

Khalid et al. 2014 (84) 1.487 66 67 120 Ambos ◊

Komukai et al. 2012 (85) 219 61,8 75,5 15 Ambos ◊

Lavie et al. 2013 (46) 2.066 54,8 60,4 150 ICFER

Lee et al. 2017 (86) 560 - - 24 Ambos ◊

Loprinzi et al. 2016 (87) 573 - - 75 Ambos

Matsushita et al. 2016 (71) 808 65 76 30 Ambos ◊

Melenovsky et al. 2013 (88) 408 - - 18 ICFER ◊

Nagarajan et al. 2013 (72) 501 55 57 36 Ambos ◊

Narumi et al. 2014 (89) 374 - - 24 Ambos ◊

Piepoli et al. 2016 (90) 4.623 59,7 62 36,6 Ambos ◊

Pinho et al. 2015 (91) 503 - - 60 ICFER

Pokharel et al. 2017 (92) 1.279 - - 60 Ambos

Pozzo et al. 2015 (93) 222 54,5 55,6 48 Ambos ◊

Puig et al. 2014 (94) 2.254 65,6 66,4 48 Ambos

Schwartzenberg et al. 2012 (63) 2.288 68,4 73,8 15,5 Ambos

Shah et al. 2014 (70) 6.142 69,1 76,3 12 Ambos

Takiguchi et al. 2014 (73) 648 58,2 66,1 24,2 Ambos ◊

Vest et al. 2015 (95) 3.811 51,5 55,4 18 ICFER

Wang et al. 2014 (96) 806 70,1 68 12 Ambos

Wannamethee et al. 2014 7.735 69,5 71,9 132 Ambos

Wojciechowska et al. 2017 (97) 128 - - 36 Ambos ◊

Zamora et al. 2013 (98) 504 - - 192 Ambos

Zamora et al. 2016 (99) 1.000 - - 12 ICFER

Zamora et al. 2016 (100) 2.527 - - 51,6 Ambos

Zuchinali et al. 2013 (101) 344 - - 30 ICFER

N, número total de participantes no estudo; ICFER, insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida; IC,

insuficiência cardíaca; , morte; ◊, piora da insuficiência cardíaca.

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26

5.3 Análise da qualidade metodológica

Após análise da qualidade dos 41 estudos, observou-se que cinco (12,2%) estudos

(88,97,101) apresentaram pontuação igual a 7 estrelas, quatro (9,8%) estudos (72,87)

obtiveram 8 estrelas e 36 (87,8%) estudos (3,46,69–71,73,74,78–82,84–86,89–96,98–100)

obtiveram obtiveram pontuação máxima (9 estrelas).

Apesar dos artigos avaliados apresentarem boa qualidade metodológica, foram

constatadas divergências entre os resultados apresentados em tabelas e as conclusões descritas

em dois estudos. (70,86) Uma vez não observada significância em seus achados, os autores

referiram não existir relações entre o IMC e a IC, quando na verdade observou-se uma

associação na direção da confirmação do paradoxo embora sem significância estatística. O

poder estatístico do estudo não foi sequer mencionado. Tais estudos não foram incluídos

dentre os que não confirmaram a existência do paradoxo.

Esses estudos não tinham poder de amostra para gerar tais análises. As ferramentas

disponíveis para auxiliar na análise dos estudos incluídos em uma revisão sistemática não

permitem a avaliação dos vieses de sobrevivência, de tempo de diagnóstico e epidemiologia

reversa. Esses não resultam de uma seleção incorreta dos grupos expostos e não expostos, ou

de um viés de classificação tanto da exposição, quanto do desfecho. Assim, todos os estudos

com boa qualidade metodológica segundo a ferramenta NOS, mesmo sem a avaliação dos

vieses mencionados, foram selecionados.

Tabela 2 - Pontuação dos estudos na avaliação da qualidade metodológica

Autor(es) e ano (ref.) Domínios Pontuação

final 1 2 3

Abi Khalil et al. 2017 (74) 4★ 2★ 3★ 9★

Adamopoulos et al. 2011 (64) 4★ 2★ 3★ 9★

Casas-Vara et al. 2012 (75) 4★ 2★ 3★ 9★

Clark et al. 2011 (2) 4★ 2★ 3★ 9★

Clark et al. 2012 (76) 4★ 2★ 3★ 9★

Clark et al. 2015 (3) 4★ 2★ 3★ 9★

Curtis et al. 2005 (77) 4★ 2★ 3★ 9★

Farré et al. 2015 (78) 4★ 2★ 3★ 9★

Fonarow et al. 2007 (54) 4★ 2★ 3★ 9★

Continua

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27

Tabela 2 - Pontuação dos estudos na avaliação da qualidade metodológica (continuação)

Autor(es) e ano (ref.) Domínios Pontuação

final 1 2 3

Frankenstein et al. 2009 (62) 4★ 2★ 3★ 9★

Gámez-López et al. 2016 (79) 4★ 2★ 3★ 9★

Gastelurrutia et al. 2011 (55) 4★ 2★ 3★ 9★

Güder et al. 2015 (80) 4★ 2★ 3★ 9★

Hall et al. 2005 (81) 4★ 2★ 3★ 9★

Kamiya et al. 2014 (82) 4★ 2★ 3★ 9★

Kapoor et al. 2010 (83) 4★ 2★ 3★ 9★

Khalid et al. 2014 (84) 4★ 2★ 3★ 9★

Komukai et al. 2012 (85) 4★ 2★ 3★ 9★

Lavie et al. 2013 (46) 4★ 2★ 3★ 9★

Lee et al. 2017 (86) 4★ 2★ 3★ 9★

Loprinzi et al. 2016 (87) 4★ 1★ 3★ 8★

Matsushita et al. 2016 (71) 4★ 2★ 3★ 9★

Melenovsky et al. 2013 (88) 4★ 0★ 3★ 7★

Nagarajan et al. 2013 (72) 4★ 1★ 3★ 8★

Narumi et al. 2014 (89) 4★ 2★ 3★ 9★

Piepoli et al. 2016 (90) 4★ 2★ 3★ 9★

Pinho et al. 2015 (91) 4★ 2★ 3★ 9★

Pokharel et al. 2017 (92) 4★ 2★ 3★ 9★

Pozzo et al. 2015 (93) 4★ 2★ 3★ 9★

Puig et al. 2014 (94) 4★ 2★ 3★ 9★

Schwartzenberg et al. 2012 (63) 4★ 2★ 3★ 9★

Shah et al. 2014 (70) 4★ 2★ 3★ 9★

Takiguchi et al. 2014 (73) 4★ 2★ 3★ 9★

Vest et al. 2015 (95) 4★ 2★ 3★ 9★

Wang et al. 2014 (96) 4★ 2★ 3★ 9★

Wannamethee et al. 2014 4★ 2★ 3★ 9★

Wojciechowska et al. 2017 (97) 4★ 0★ 3★ 7★

Zamora et al. 2013 (98) 4★ 2★ 3★ 9★

Zamora et al. 2016 (99) 4★ 2★ 3★ 9★

Zamora et al. 2016 (100) 4★ 2★ 3★ 9★

Zuchinali et al. 2013 (101) 4★ 0★ 3★ 7★

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5.4 Questões de pesquisa oriundas da revisão da literatura

5.4.1 As aparentes vantagens do grupo de obesos são confirmadas?

Para esse tópico, a definição de indivíduo obeso adotada, correspondeu àqueles com

maior IMC e não obesos àqueles com a categoria de IMC mais próximo do considerado

“normal” pela OMS. Nessa análise não serão discutidos os resultados para indivíduos com

IMC muito baixo, classificados com desnutridos, ou aqueles classificados como obesos

mórbidos. A ideia é saber se a desvantagem daqueles indivíduos com IMC “normal” se

confirmou.

Do total de 41 artigos revistos, 28 (68,3%) compararam as características entre obesos

e não obesos possibilitando a avaliação entre os grupos obesos versus não obesos através das

seguintes variáveis: idade; hipertensão; dislipidemia; inflamação; classe funcional (NYHA);

prescrição de medicamentos (Bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) e

Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) e betabloqueadores) e BNP. Dentre

os artigos que compararam características de obesos e não obesos, quatro analisaram

pacientes graves ou com IC terminal e 24 estudaram pacientes ambulatoriais ou mistos. Treze

estudos confirmaram todas as vantagens no grupo dos obesos, um em pacientes graves e doze

em pacientes ambulatoriais/mistos. Os resultados das análises das comparações entre os

grupos obesos vs. não obesos encontram-se descritos na Tabela 3.

5.4.1.1 Estudos que não confirmaram as vantagens clínicas em pacientes graves/terminais

Dentre os 28 artigos que compararam características de obesos e não obesos, quatro

analisaram pacientes graves ou com IC terminal.

Matsushita et al. (71) estudaram 808 pacientes com IC aguda, internados em uma

unidade de terapia intensiva em um hospital universitário japonês. Os níveis de creatinina,

assim como no estudo de Nagarajan et al. (72), foram semelhantes em obesos e não obesos.

O resultado mais intrigante neste estudo foi que a mortalidade intra-hospitalar foi maior no

grupo de obesos, revelando não importar a severidade da condição da IC. Na análise

univariada, o HR dos obesos foi igual a 1,42 (a curto e a longo prazo), não confirmando o

paradoxo da obesidade nos obesos. Os autores não pesquisaram fumo e fibrilação atrial.

Nagarajan et al. (72) estudaram 501 pacientes com IC avançada ou terminal,

candidatos a transplante, em um hospital de referência de nível terciário dos Estados Unidos.

O IMC foi medido no momento da admissão. Os obesos eram mais novos que os não obesos,

tinham mais comorbidades, usavam mais IECA e betabloqueadores, apresentaram níveis mais

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baixos de BNP, como encontrado pela maioria dos estudos (Tabela 3). Em contrapartida, os

níveis de creatinina eram muito semelhantes nos dois grupos e os obesos apresentaram menor

prevalência de fibrilação atrial e maior percentual de fumantes. A média de idade foi de 55 e

57 anos para obesos e não obesos respectivamente. Os autores ressaltam que, como eram

candidatos a transplante, houve acesso a resultados de vários exames não realizados

rotineiramente.

Shah et al. (70) analisaram os dados de 12 coortes em 4 continentes de pacientes

admitidos em hospitais por IC aguda descompensada, totalizando 6.142 pessoas. O estudo

confirmou todas as vantagens no grupo de obesos, incluindo melhor filtração glomerular, mas

não analisou o tabagismo. A fibrilação atrial também foi menor em obesos. Foi realizada uma

análise com a interação entre IMC e diferentes condições clínicas e o resultado expresso em

tabela demonstrou uma menor mortalidade intra-hopsitalar no grupo de obesos, embora

tenham afirmado na descrição dos resultados uma relação inversa, pelo fato do resultado não

ter sido significativo.

Takiguchi et al. (73) analisaram 648 internações por IC descompensada em um

hospital universitário japonês. A única variável que não confirmou a vantagem entre os

obesos foi o BNP, que foi ligeiramente maior entre os obesos. Os autores não pesquisaram

fumo e fibrilação atrial.

É interessante notar que as idades médias dos quatro estudos variaram (Tabela 1) mas

os obesos foram sempre mais novos.

5.4.1.2 Estudos que não confirmaram as vantagens clínicas em pacientes ambulatoriais/mistos

Dentre os 28 estudos que compararam obesos e não obesos, 24 estudaram pacientes

ambulatoriais ou mistos. Dentre eles, doze (Tabela 3) confirmaram todas as vantagens no

grupo de obesos, embora nem todos eles tenham analisado todos os benefícios.

Os resultados das análises das comparações entre os grupos obesos vs. não obesos

encontram-se descritos nas Tabela 3. Nenhum estudo encontrou desvantagens relativas a

inflamação e dislipidemia.

Abi Kalil et al. (74) em uma coorte com 5.005 pacientes hospitalizados com IC aguda

e DM2, não confirmaram as vantagens dos indivíduos obesos para a média de idade (obesos

63,7 ± 11,2 anos vs. não obesos 63,1 ± 11,1 anos) e classe funcional NYHA (Classe III: obesos

45,3% vs. não obesos 40,9%; Classe IV: obesos 32,2% vs. não obesos 29,5%).

Farré et al. (78) em uma coorte com 742 indivíduos, encontraram pior classe funcional

na população obesa estudada (Classes III e IV: obesos 44,5% vs. não obesos 44%) e menor

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uso de medicamentos cardioprotetores (betabloqueadores: obesos 85% vs. não obesos 90%).

Neste estudo foi avaliada a ativação do SNS, medindo os níveis basais de Norepinefrina (NE),

concluindo que, os obesos têm menores níveis basais de NE e quando ajustado por esta

variável, o efeito protetor da obesidade é atenuado.

Kamiya et al. (82) em uma coorte contendo 570 pacientes admitidos em um hospital

universitário japonês, avaliaram o papel complementar do MUAC. A função renal referente

ao grupo dos obesos não foi superior aos não obesos (49,4 ml/min./1,73 m² vs. 47,6

ml/min./1,73 m²). Tanto o IMC, quando o PC e a MUAC demonstraram ser protetores na IC.

Khalid et al. (84) em uma coorte com 1.487 pacientes ambulatoriais demonstraram

que a população obesa não apresentava melhor função renal, contrariando os achados de

Piepoli et al. (90), Pozzo et al. (93), Puig et al. (94) e Wannamethee et al. (69). Segundo

Khalid et al. os obesos apresentaram menor taxa de filtração glomerular (83 ml/min/1,73 m2

vs. 85 ml/min/1,73 m2 nos não obesos. p = 0,14). O diferencial deste estudo foi o tempo no

qual o IMC foi medido, sendo este, determinado anteriormente ao diagnóstico de IC.

Komukai et al. (85) em uma coorte contendo 219 pacientes hospitalizados

acompanhados por 452 dias os pacientes obesos apresentaram pior função renal (obesos 50

ml/min/1,73 m2 vs. 53,2 ml/min/1,73 m2) e faziam menos uso de medicamentos

cardioprotetores (IECA/BRA: obesos 92,7% vs. 96,3%).

Pozzo et al. (93) em uma coorte que incluiu 222 pacientes hospitalizados,

confirmaram parcialmente o maior uso de medicamentos cardioprotetores. Nesta população,

os obesos utilizavam mais betabloqueadores (68% vs. 65%), mais BRA (13% vs. 5%) e

menos IECA (79% vs. 89%). O paradoxo da obesidade foi confirmado em ambos os fenótipos

da IC.

Piepoli et al. (90) em uma coorte que incluiu 4.623 pacientes hospitalizados

comprovaram que a confirmação das vantagens também foi parcial para o uso de

medicamentos cardioprotetores, corroborando os achados de Pozzo et al. (93). A

superioridade no uso foi observada apenas para o BRA (18,2% vs. 15,7%) e betabloqueadores

(87% vs. 82,6%). Em relação ao uso de IECA, os não obesos apresentaram superioridade

(obesos 76,9% vs. 77%). O mesmo foi observado na fibrilação atrial (obesos 16,7% vs. não

obesos 15,3%). Este estudo confirmou o paradoxo da obesidade na ICFER mesmo após o

pareamento para idade, sexo, FEVE e pico de VO2, no qual se observou que, após o

pareamento, a relação entre o condicionamento cardiorrespiratório e melhor sobrevida se

manteve, porém, perdendo muito a significância estatística.

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Vest et al. (95), assim como Farré et al. (78) não observaram vantagem relativa à

classe funcional NYHA. Em uma coorte contendo 3.811 indivíduos, os obesos apresentaram

maior incidência de classe 2 (32 vs. 29) e classe 3 (60 vs. 59). No modelo ajustado, o

paradoxo da obesidade não foi confirmado nos indivíduos obesos em ambos os sexos, porém

foi confirmado no sexo feminino apenas no grupo sobrepeso.

Wang et al. (96) avaliou fibrilação atrial, obesidade e IC. O paradoxo da obesidade foi

confirmado nestas três condições, porém foi descrita uma média de idade superior no grupo

de obesos em relação ao grupo dos não obesos. Este estudo do tipo coorte envolvendo 806

pacientes encontrou no grupo de obesos uma idade média de 70,1 anos, enquanto que no

grupo dos não obesos a média de idade foi de 68 anos. Tais achados foram semelhantes,

embora em menor proporção, na coorte de Abi Khalil et al. (74).

Apenas Wannamethee et al. (69), dentre os estudos com populações não-graves, não

confirmou a superioridade no número de pacientes hipertensos no grupo dos obesos. Em uma

coorte com 7.735 pacientes ambulatoriais do sexo masculino, o grupo dos obesos apresentou

média de PAS igual a 136,8 mmHg enquanto os não obesos apresentaram uma média de

138,3 mmHg (p = 0,002), no entanto, todas as demais variáveis avaliadas confirmaram as

vantagens no grupo dos indivíduos obesos. Este estudo avaliou a perda de peso não

intencional e constatou que a perda de peso foi menor nos indivíduos considerados obesos.

Nesta coorte a única variável a ser adicionada no modelo ajustado foi a idade, demonstrando

após o ajuste que o IMC expressou ser um fator de proteção para o prognóstico da IC, assim

como o PC e a leptina, enquanto a adiponectina e o NT-proBNP foram considerados fatores

de risco para IC.

Os estudos parecem confirmar a vantagem clínica dos obesos, mesmo nos quatro que

incluíram somente pacientes mais graves ou terminais. Os 28 estudos que compararam as

características entre obesos e não obesos confirmaram pelo menos uma vantagem do grupo de

obesos.

A partir da análise dos 41 estudos, duas perguntas se colocam: 1) Essa vantagem pode

resultar de um viés de sobrevivência, mesmo considerando os pacientes terminais estudados

por Nagarajan et al. (72)? 2) A maior mortalidade intra-hospitalar entre os obesos encontrada

nos estudos de Matsushita et al. (71) e Shah et al. (70) parece indicar que as vantagens

clínicas não se expressam a curto prazo. Isso seria então um novo fator?

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32

Tabela 3 - Vantagens clínicas dos pacientes obesos versus não-obesos

Autor(es) (ref.)

Vantagens clínicas dos

pacientes obesos versus não-

obesos Confirmação do

paradoxo da

obesidade

Idad

e

HA

S

Dis

lip

idem

ia

Infl

am

açã

o

Cla

sse

NY

HA

Pre

scri

ção

BN

P

Estudos com pacientes com IC grave ou terminal

Matsushita et al. (71) S S S - N N - Não

Nagarajan et al. (72) S S - - - N S Sim

Shah et al. (70) S S - - - S S Sim

Takiguchi et al. (73) S S - - S S N Sim

Estudos com pacientes com IC não-grave

Abi Khalil et al. (74) N S S - N S - Sim

Adamopoulos et al. (64) S S - - S - - Não

Casas-Vara et al. (75) S - S S S - - Sim

Clark et al. (76) S S S - S S - Sim

Clark et al. (3) S S - - S S - Sim

Clark et al. (2) S S S - S S S Sim

Curtis et al. (77) S S - - N S - Sim

Farré et al. (78) S S - - N N S Sim

Fonarow et al. (54) S S S - - S S Sim

Frankenstein et al. (62) S S S - - S S Não

Gastelurrutia et al. (55) N S S - - N S Sim

Kamiya et al. (82) S - S - - N S Sim

Kapoor et al. (83) S S - - - S - Sim

Khalid et al. (84) S S S - - - - Sim

Komukai et al. (85) S - - - - N S Sim

Lavie et al. (46) S - - - - - - Sim

Piepoli et al. (90) S - - - - N - Sim

Pozzo et al. (93) S S S - - N S Sim

Puig et al. (94) S S - - S S - Sim

Schwartzenberg et al. (63) S S S - S S - Sim

Vest et al.(95) S S S - N S - Não

Wang et al. (96) N S - - - S - Sim

Wannamethee et al.(69) S N - S - - S Sim

Zuchinali et al. (101) S S - - - - - Sim

HAS, Hipertensão arterial sistêmica; classe NYHA, classe funcional American Heart Association; BNP, peptídio

natriurético cerebral

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33

5.4.2 Aspecto metodológico: epidemiologia reversa

Foi identificado somente um estudo que adotou um procedimento que pôde afastar a

ocorrência de epidemiologia reversa. Khalid et al. (84), com os dados do ARIC Study, uma

coorte americana, cuja coleta de base ocorreu entre 1987 e 1989, considerou o IMC

mensurado pelo menos 6 meses antes (média de 4,3 3.1 anos) do diagnóstico de IC (IC

incidente). Foram incluídos 1.487 pacientes neste estudo. Em média, o tempo até diagnóstico

da IC no grupo dos obesos foi um ano menor que a dos não obesos e no primeiro grupo houve

maior tempo do diagnóstico até a primeira hospitalização por IC. Os obesos apresentaram

maior percentual de comorbidades, menor percentual de fumantes, melhor função renal,

similar aos achados da maioria dos estudos. Os resultados mostraram que tanto, pacientes

com sobrepeso, quanto os com obesidade tiveram menor mortalidade por todas as causas,

confirmando o paradoxo da obesidade na IC.

O fato de a classificação da exposição ter sido feita com base em informações

anteriores ao diagnóstico de IC, afasta completamente o argumento da epidemiologia reversa.

Ou seja, não é possível dizer que os obesos são obesos por ainda não estarem tão graves

quanto os não obesos.

5.4.3 Aspecto metodológico: viés de sobrevivência e viés de tempo de diagnóstico

Tanto o viés de tempo de diagnóstico, quanto o viés de sobrevivência, não puderam

ser afastados no estudo de Khalid et al. (84).

Observou-se que os obesos foram diagnosticados em média um ano antes dos não

obesos e o tempo do diagnóstico até a 1a internação também foi maior, o que implicaria em

uma sobrevivência maior simplesmente porque o diagnóstico foi mais precoce.

Como os dados do estudo de Khalid et al. (84) mostraram que, os obesos tinham maior

prevalência de comorbidades que os não obesos, a pressão exercida por estas é maior no

grupo de obesos, o que leva a uma sobrevivência diferente nos dois grupos. Há,

provavelmente, uma maior seleção de indivíduos com características “especiais” entre os

obesos. Ou seja, os obesos que sobreviveram até chegar a uma internação por IC

representaram menos a coorte de obesos do início do estudo que os não obesos.

Não foi identificado nenhum outro artigo que tenha algum aspecto metodológico que

permitisse questionar a existência do viés de tempo de diagnóstico ou do viés de

sobrevivência.

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34

5.4.4 Controle de confundimento

A partir da leitura integral das revisões sobre o paradoxo da obesidade, foram identificadas

quatro possíveis variáveis de confundimento, descritas a seguir.

5.4.4.1 Fitness

Três estudos analisados nesta revisão sistemática avaliaram o condicionamento

cardiorrespiratório (fitness) comparando o prognóstico da IC em obesos e não obesos

(3,46,90).

Clark et al. (3), em uma coorte com 1.979 pacientes em um centro médico

universitário para transplante cardíaco, avaliaram as características da amostra segundo os

níveis de condicionamento cardiorrespiratório. Os participantes foram divididos em 2 grupos:

pico de VO2 ≤ 14 ml/kg/min (“baixo condicionamento”) e > 14 ml/kg/min (“alto

condicionamento”). Após análise múltipla, no grupo com “baixo condicionamento”, os

obesos apresentaram menores HR que os não obesos (p < 0,001). No grupo com “alto

condicionamento” o HR dos obesos também foi inferior (p = 0,70).

Lavie et al. (46) avaliaram o impacto do condicionamento cardiorrespiratório no

paradoxo da obesidade em uma coorte com 2.066 pacientes portadores de IC, acompanhados

por 5 anos. Suas análises foram dividias em “baixo fitness” (n = 801) e “alto fitness” (n =

1.265), no entanto os autores não avaliaram o prognóstico dos obesos e não obesos

estratificando ou controlando pelo fitness.

Piepoli et al. (90) ao analisarem a tolerância ao exercício em uma coorte com 4.623

pacientes com IC sistólica, observaram que o condicionamento cardiorrespiratório contribuía

para um melhor prognóstico na IC. Na análise univariada por morte cardíaca, tanto o IMC

como o pico de VO2 foram associados a melhor prognóstico na IC. O IMC ajustado somente

pelo VO2% (classe) apresentou efeito protetor (HR = 0,947 (IC95% 0,853–1,052; p =

0,3119)). Após ajustes pelo VO2% (classe), idade, sexo e FEVE a obesidade perdeu sua

capacidade prognóstica (HR = 1,067 (IC95% 0,967–1,177; p = 0,1983)). Na análise

univariada por mortalidade geral, tanto o IMC como o pico de VO2 foram associados a

melhor prognóstico na IC. O IMC ajustado pelo VO2% (classe) apresentou efeito protetor

(HR = 0,973 p = 0,5701) e após ajustes por pico de VO2, idade, sexo e FEVE perdeu sua

capacidade prognóstica (HR = 1,067 p = 0,1983), tal como observado na morte cardíaca.

O condicionamento cardiorrespiratório mostrou ser um importante fator prognóstico

na IC, e apontou certa evidência de ser variável modificadora do efeito da obesidade na

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sobrevivência (3), ou ao menos uma variável confundidora da associação

obesidade/sobrevivência. Os estudos aqui revistos indicam a importância de se ajustar ou

testar a interação pelo condicionamento cardiorrespiratório, o que deve ser levado em

consideração em futuros estudos sobre o paradoxo da obesidade na IC.

5.4.4.2 Massa muscular

Quatro estudos (69,79,82,101) avaliaram a massa muscular do braço (MUAC ou

ARM ou MAMC ou PMB) como medida antropométrica complementar ao uso do IMC.

Gámez-López et al. (79) avaliaram 234 pacientes ambulatoriais com IC com uma

média de seguimento de 21 meses. O perímetro muscular do braço demonstrou ser um fator

prognóstico mais influente que o IMC, mesmo após ajustes por idade, FEVE, creatinina,

hemoglobina, NT-proBNB, albumina e avalição nutricional. Entretanto, na análise múltipla,

cada parâmetro de composição corporal foi inserido em um modelo diferente,

impossibilitando a apreciação da influência da massa muscular na associação entre obesidade

e sobrevivência.

Kamiya et al. (82) em uma coorte japonesa avaliaram 570 pacientes com IC, e foi

demonstrada uma média de idade de 67,4 anos. Os pacientes obesos, apresentaram maiores

médias de MUAC em relação aos indivíduos sem obesidade (28,8 vs. 24 p = 0,001). O

MUAC apresentou maior influência no prognóstico que o IMC. Na análise múltipla, assim

como Gámez-López et al. (79), foi testado um modelo ajustado para cada parâmetro de

composição corporal, no entanto, os autores apresentam curvas ROC do IMC (a), IMC + PC

(b) e IMC + MUAC (c). A área sob a curva aumentou a cada passo. Tal achado indica que

MUAC modifica a associação entre IMC e mortalidade por todas as causas.

Wannamethee et al. (69) em uma coorte prospectiva com 4.046 homens com idade

entre 60-79 anos, portadores de IC, observaram que os obesos tinham maior MAMC (medida

que reflete massa magra) que os não obesos: 26,6 cm vs. 24,3 cm (p < 0,0001)

respectivamente. Os autores argumentam que os obesos, apresentaram maior concentração de

gordura corporal e também maior massa muscular. Na análise ajustada, inclusive por MAMC,

em homens com IC, o IMC retratou ser protetor, apresentando um gradiente (HR = 0,66

IC95% 0,29-1,52 para sobrepeso e HR = 0,47 IC95% 0,17-1,35), embora sem significância

estatística, provavelmente por falta de poder (n = 86). É interessante notar que entre homens

sem doença cardiovascular o IMC não mostrou ser fator de proteção, falando a favor da

existência do viés de estratificação pela variável colisora.

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36

Zuchinali et al. (101) acompanharam por 30 meses 344 pacientes com ICFER. Foram

mensurados peso, altura, área da superfície corporal, IMC, PC, ARM e DCT. Dentre as quatro

medidas, somente a DCT foi negativamente associada à mortalidade. Os resultados do estudo

divergem dos resultados de quase totalidade dos artigos revistos em relação ao IMC e também

do papel da massa muscular.

Dos quatro estudos que avaliaram o papel da massa muscular no paradoxo da

obesidade na IC, dois apontam para a importância da inclusão do indicador, o que deveria ser

lembrado em futuros estudos sobre o tema.

5.4.4.3 Diabetes Mellitus

A seguir, são apresentados os três estudos que estratificaram a amostra analisada por

DM2.

Lee et al. (86) exploraram a relação entre IMC e sobrevivência em 560 pacientes

ambulatoriais com IC com e sem DM2. Nos modelos múltiplos, quando o IMC foi analisado

por categorias, o paradoxo da obesidade só foi observado entre os não diabéticos, porém,

quando o IMC foi analisado como contínuo, o paradoxo da obesidade foi observado nos dois

grupos, embora entre os diabéticos o IC95% inclua a unidade. Os autores interpretam a falta

de significância estatística como ausência de proteção e não discutem a divergência dos

achados segundo a medida do IMC.

Abi Kalil et al. (74) em uma coorte com 5.005 pacientes hospitalizados com IC aguda

e DM2, demonstraram que o IMC foi inversamente correlacionado ao risco de mortalidade,

havendo um gradiente com menor HR para o IMC ≥ 35 kg/m2.

Zamora et al. (100) avaliaram o paradoxo da obesidade em 2.527 pacientes

ambulatoriais com e sem DM2. O paradoxo da obesidade foi observado apenas nos pacientes

com IC sem DM2, enquanto que para pacientes diabéticos com insuficiência cardíaca, o IMC

não foi associado de forma independente à sobrevida. A associação foi negativa entre os não

diabéticos (HR = 0,96 IC95% 0,93-0,99), mas não entre os diabéticos (HR = 1,00 IC95%

0,97-1,03).

Os resultados foram conflitantes e não foram identificadas características nos estudos

que pudessem justificar tal divergência. Dois estudos (74,86) apontam para a existência do

paradoxo entre os diabéticos e um deles (100), contendo 2.527 pacientes ambulatórias, contra.

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37

5.4.4.4 Tabagismo

Somente o estudo de Wannamethee et al. (78) incluiu o percentual de fumantes na

análise múltipla. O estudo não apresenta as associações brutas de IMC por categoria e

mortalidade, mas, nos modelos ajustados, o HR para homens com IC foi sempre inferior a 1,

indicando que o fumo não mudou a tendência de proteção do IMC.

5.4.5 Variável colisora

Nenhum dos artigos desta revisão sistemática se detiveram em simular ou testar a

possibilidade de um colisor ser responsável pelo paradoxo da obesidade.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A obesidade demonstrou ser um importante fator no prognóstico de pacientes

com IC. Dos 41 estudos analisados, 36 confirmaram o paradoxo da obesidade na IC.

No entanto, os resultados dessa revisão são inconclusivos, não permitindo embasar

orientações quanto ao controle de peso do paciente com IC, uma vez que não foi

avaliado o papel da perda de peso, intencional ou não, no paradoxo da obesidade na IC.

Após revisão da literatura, foram identificadas possíveis explicações para o

fenômeno do paradoxo da obesidade e, apesar da ferramenta NOS indicar que os artigos

revisados apresentam boa qualidade metodológica, os resultados apresentados em

tabelas algumas vezes divergem das conclusões descritas por alguns autores, uma vez

que não foi observada significância estatística em seus achados. Neste sentido, dois

estudos (89,95) referiram não existir relações entre o IMC e prognóstico na

insuficiência cardíaca, enquanto outros dois estudos (70,86) apresentaram em suas

tabelas resultados favoráveis quanto a relação entre o IMC e a IC ao passo que seus

resultados não confirmaram tais achados. O restante dos artigos confirmou uma ou mais

relações entre o IMC e a IC.

Foram levantados alguns questionamentos sobre o paradoxo da obesidade

durante a revisão bibliográfica. A primeira questão abordou a possibilidade de a

população de obesos dos estudos apresentarem vantagens clínicas que contribuíssem

para a superioridade prognóstica nesta população. Os estudos parecem confirmar tais

vantagens, inclusive em pacientes em estágios mais graves da IC.

A segunda questão levantada referiu-se à ocorrência da epidemiologia reversa,

porém, na coorte de Khalid et al. (84) esta possibilidade foi afastada devido ao fato do

diagnóstico de obesidade ter ocorrido com bases em informações prévias ao diagnóstico

de IC. Ainda neste mesmo estudo não foi possível afastar o questionamento sobre o

risco de viés de antecipação de diagnóstico e viés de sobrevivência. Não foi identificado

nenhum outro artigo que tenha algum aspecto metodológico que permitisse questionar a

existência desses vieses.

Em relação ao controle de confundimento, foi questionada a possibilidade de

haver um melhor controle desses fatores, permitindo a comparabilidade dos resultados

obtidos nos estudos. Neste cenário foi observada a importância de se ajustar ou testar a

interação pelo condicionamento cardiorrespiratório e o papel da massa muscular no

paradoxo da obesidade na IC. De forma geral, os estudos analisados que incluíram

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pacientes com DM2 foram inconclusivos quanto à existência do paradoxo da obesidade

neste grupo. Em associação ao controle de confundimento, se encontra o ajuste pelo

tabaco que indicou que o fumo não mudou a tendência de proteção entre a obesidade e a

IC.

A última questão levantada durante a revisão é sobre a possibilidade de um

colisora ser responsável pelo paradoxo da obesidade, uma vez que nenhum dos artigos

propôs simular ou testar essa possibilidade, demonstrando impasse com este tema.

É verdadeira a afirmação de que os obesos com IC apresentam vantagens

clínicas que beneficiam o prognóstico da doença nesta população, porém, foram

encontradas evidências que levam a crer que a existência de confundimento e de vieses

de sobrevivência, de tempo de diagnóstico, de epidemiologia reversa e variável colisora

também contribuem para os achados prognósticos. Desta forma, propõe-se a realização

de estudos epidemiológicos que visem maior exploração de tais vieses, e que consigam

controlar melhor as variáveis de confundimento, possibilitando desta maneira a

minimização dos efeitos de tais artefatos estatísticos permitindo assim, um melhor

julgamento sobre a existência do paradoxo da obesidade na insuficiência cardíaca.

A presente revisão sistemática apresenta algumas limitações. Tanto os resultados

quanto a discussão foram baseadas na comparação de um grupo denominado de

“obesos” e outro grupo designado de “não obesos”, isso se deve à falta de padronização

entre os estudos, adotando classificações não muito usuais. Somado a este fato, não foi

realizada a avaliação da perda de peso na IC. Tal avaliação traria informações

importantes para a discussão se a obesidade apresenta uma vantagem clínica ou, se na

realidade, os não obesos é que estão em desvantagem devido ao processo catabólico da

IC.

Apesar das limitações observadas, a obesidade demonstrou apresentar um

importante fator no prognóstico de pacientes com IC.

A IC é uma síndrome de elevada prevalência e alta morbidade sendo por isso

importante o esforço para se esclarecer se o paradoxo da obesidade é um simples

resultado de falhas metodológicas. Assim, coloca-se a importância da realização de

estudos epidemiológicos com maior rigor metodológico.

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40

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ANEXO A NEWCASTLE - OTTAWA QUALITY ASSESSMENT

SCALE COHORT STUDIES

Note: A study can be awarded a maximum of one star for each numbered item within the Selection and

Outcome categories. A maximum of two stars can be given for Comparability

1 Selection

1.1.A) Representativeness of the exposed cohort

a) truly representative of the average _______________ (describe) in the community ★

b) somewhat representative of the average ______________ in the community ★

c) selected group of users eg nurses, volunteers

d) no description of the derivation of the cohort

1.1.B) Selection of the non exposed cohort

a) drawn from the same community as the exposed cohort ★

b) drawn from a different source

c) no description of the derivation of the non exposed cohort

1.1.C) Ascertainment of exposure

a) secure record (eg surgical records) ★

b) structured interview ★

c) written self report

d) no description

1.1.D) Demonstration that outcome of interest was not present at start of study

a) yes ★

b) no

2 Comparability

2.1.A) Comparability of cohorts on the basis of the design or analysis

a) study controls for _____________ (select the most important factor) ★

b) study controls for any additional factor ★ (This criteria could be modified to indicate specific

control for a second important factor.)

Outcome

1) Assessment of outcome

a) independent blind assessment ★

b) record linkage ★

c) self report

d) no description

2) Was follow-up long enough for outcomes to occur

a) yes (select an adequate follow up period for outcome of interest) ★

b) no

3) Adequacy of follow up of cohorts

a) complete follow up - all subjects accounted for ★

b) subjects lost to follow up unlikely to introduce bias - small number lost - > ____ % (select an

adequate %) follow up, or description provided of those lost) ★

c) follow up rate < ____% (select an adequate %) and no description of those lost