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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA CURSO DE TURISMO MARIANA ALMEIDA GOMES EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS NITERÓI 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

CURSO DE TURISMO

MARIANA ALMEIDA GOMES

EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM

ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

NITERÓI

2014

MARIANA ALMEIDA GOMES

EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM

ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Prof. Dr. Saulo Barroso Rocha - Orientador

NITERÓI

2014

EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO: UM

ESTUDO COM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

Por

MARIANA ALMEIDA GOMES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

____________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Saulo Rocha, Orientador, UFF

_____________________________________________________ Convidado: Prof. Dr. Marcello de Barros Thomé Machado, UFF

_____________________________________________________ Convidada: Prof. Dra. Joysinett Moraes da Silva, UFF

Niterói, dezembro de 2014

“O que desejo é pouco

Pois não duro eternamente

Nada poderá me afastar de quem

eu sou

Amor é o meu ambiente”

Dona Ivone Lara

AGRADECIMENTOS

Aos vários amigos, especialmente àqueles que estiveram ao meu lado ao longo da

faculdade, porque meu coração sorri quando penso em vocês.

Ao movimento CHOICE, que atenciosamente se mostraram acessíveis e buscavam

atender às minhas dúvidas.

Ao meu orientador Saulo Rocha, que me acolheu com muita confiança e que, para

além do TCC, me proporcionou momentos de troca muito valiosos.

À minha professora e amiga de trabalho, Verônica, pela inspiração de alcançar

felicidade na minha vida.

Ao meu professor e amigo de trabalho, Osiris, que foi essencial para o meu

amadurecimento ao longo dos anos da faculdade, além de me presentear a cada

sorriso com seu axé.

Ao meu fiel amigo Rômulo, que me engrandece como pessoa a cada conversa,

transbordando toda sua evolução espiritual e carinho com todos que o cercam.

Ao meu irmão e amigo, Eduardo, por conseguir saber de alguma forma exatamente

o que eu sinto e ser meu porto seguro.

À minha cunhada, irmã e amiga, Aline, que me mostrou que determinação é amor.

Àqueles que o olhar basta para me completar...meus sobrinhos, meus tesouros.

Ao meu amor, por me preencher com a sua calma de viver, me mostrando o melhor

de mim.

À minha mãe, razão de eu estar onde estou, de chegar onde cheguei e para onde eu

vou...minha parceria.

À minha vó Julia por não me fazer sentir sozinha nunca.

À todos vocês pela força, por reafirmarem meus valores, confortando minha alma

com tanta gratidão.

Ao tempo, pois não há nada melhor que ele, que me deu paciência para esperar o

momento certo e me entregar um tema que tanto me fascina e instiga.

RESUMO

A temática do empreendedorismo social abrange iniciativas com diferentes formatos,

sendo os chamados negócios sociais uma delas. Negócios sociais são novos

arranjos e modelos para dar conta dos desafios de uma população crescente que

está ultrapassada, por não oferecer oportunidades iguais a todos. Dessa forma, esse

tipo de organização pretende ter lucro, mas também gerar valor social. O

empreendedorismo exerce importante papel sobre a sociedade com a geração de

emprego e possibilidade de ascensão social dos indivíduos. Práticas e segmentos

turísticos, como o turismo sustentável ou turismo de base comunitária, se alinham a

possibilidade de uma atividade turística consciente com geração de impactos sociais

positivos. Este trabalho tem o objetivo de analisar a relação entre negócios sociais e

turismo. Para isso, no primeiro capítulo foi feito uma revisão da literatura a respeito

de três conceitos: empreendedorismo social; negócios sociais; e turismo. Nesse

levantamento bibliográfico foram consultados muitos artigos científicos,

especialmente internacionais, além de fontes clássicas. E no segundo capítulo foi

realizado uma pesquisa de campo com entrevista semiestrutura aplicada a duas

organizações brasileiras que atuam no turismo. Essa pesquisa tem caráter descritivo

e exploratório. Como principal resultado dessa pesquisa, destacamos a afirmação de

que há relação entre as temáticas, negócios sociais e turismo, bem como algumas

particularidades pertinentes a essas organizações que atuam no turismo.

Palavras-chave: Empreendedorismo social. Negócios sociais. Turismo.

ABSTRACT

Social entrepreneurship encompasses initiatives with different formats and the social

business is one of those. Social businesses are new arrangements and models help

the challenges of a growing population that is outdated, for not to offer equal

opportunities to all. Thus, this type of organization intends to make a profit, but also

generate social value. Entrepreneurship plays an important role on society with the

creation of jobs and the possibility of social position. Practices and tourism segments,

such as sustainable tourism or community-based tourism, line up the possibility of a

conscious tourism generating positive social impacts. This work aims to analyze the

relationship between social business and tourism. For this, the first chapter is a

literature review about three concepts: social entrepreneurship; social business; and

tourism. In this literature review were consulted many scientific articles, especially

international, and classical sources. And in the second chapter was conducted with

field research applied for a two Brazilian organizations working in tourism by an

interview. This study is descriptive and exploratory. As the main result of this

research, we highlight the statement that there is a relationship between the thematic

of social business and tourism, as well as some relevant characteristics to those

organizations that work in tourism.

Keywords: Social Entrepreneurship. Social Business. Tourism.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Empreendedorismo empresarial X empreendedorismo social..................18

Figura 2 – “Empoderamento” X capacidades.............................................................19

Figura 3 – Tipos de organizações que compõem o empreendedorismo Social........22

Figura 4 – Hibridismo nas organizações....................................................................23

Figura 5 – Tipos de organizações híbridas................................................................23

Figura 6 – Valor social X lucro em organizações híbridas.........................................25

Figura 7 – Setores da economia X iniciativa dos agentes.........................................26

Figura 8 – Conceito sobre empreendedor social (visão internacional)......................31

Figura 9 – Conceito sobre empreendedor social (visão nacional).............................32

Figura 10 – Negócios sociais: o dinamismo do business tradicional com a

consciência da filantropia...........................................................................................33

Figura 11 – Diferentes modelos de negócios com viés social....................................34

Figura 12 – Negócio social X Organização de maximização do lucro e organizações

sem fins lucrativos......................................................................................................35

Figura 13 – Principais elementos dos negócios sociais para cada abordagem.........41

Figura 14 – Diferentes nomenclaturas e conceitos sobre negócios sociais...............42

Figura 15 – Definição de empreendedores sociais brasileiros sobre seus

empreendimentos.......................................................................................................44

Figura 16 – Quadro analítico para análise dos negócios sociais...............................46

Figura 17 – Orientação de empresas sociais pela missão.........................................50

Figura 18 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais

incorporadas...............................................................................................................51

Figura 19 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais

integradas...................................................................................................................52

Figura 20 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais

externas......................................................................................................................53

Figura 21 – Possibilidade de estrutura financeira de uma empresa social................54

Figura 22 – Métodos de geração de renda de uma empresa social..........................56

Figura 23 – Tipos de consumidores de empresas sociais.........................................57

Figura 24 – Modelo de Suporte ao Empresário.........................................................59

Figura 25 – Modelo intermediário de mercado...........................................................59

Figura 26 – Modelo de emprego................................................................................60

Figura 27 – Modelo de taxa de serviço......................................................................61

Figura 28 – Modelo Cooperativo................................................................................61

Figura 29 – Modelo de ligação de mercado...............................................................62

Figura 30 – Modelo de Subsidiação...........................................................................63

Figura 31 – Modelo de suporte organizacional..........................................................63

Figura 32 – Autores e conceitos do empreendedorismo social.................................82

Figura 33 – Autores e conceitos dos negócios sociais (características)....................84

Figura 34 – Autores e conceitos dos negócios sociais (publico/ mercado)................85

Figura 35 – Autores e conceitos dos negócios sociais (estrutura financeira)............86

Figura 36 – Autores e conceitos dos negócios sociais (modelos de atuação)...........87

Figura 37 – Autores e conceitos do turismo X empreendedorismo social ................88

Figura 38 – Logo Aoka...............................................................................................90

Figura 39 – Logo AIESEC..........................................................................................91

Figura 40 – Modelo intermediário de mercado da Aoka Tours..................................98

Figura 41 – Modelo de ligação de mercado da AIESEC..........................................113

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................11

1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO................13

1.1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL.......................................................................13

1.2 O EMPREENDEDOR SOCIAL.............................................................................27

1.3 NEGÓCIOS SOCIAIS..........................................................................................33

1.4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL: DISTINTAS FORMAS DE ATUAÇÃO NAS

ORGANIZAÇÕES................................................................................................49

1.5 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E TURISMO: UTOPIA OU REALIDADE?.....64

1.6 CONCLUSÃO.......................................................................................................81

2 TURISMO E NEGÓCIOS SOCIAIS........................................................................89

2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................89

2.2 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................92

2.2.1 Aoka Tours.......................................................................................................92

2.2.2 AIESEC Brasil..................................................................................................99

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................114

REFERÊNCIAS........................................................................................................117

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA.........................................................126

11

INTRODUÇÃO

A temática do empreendedorismo social pode parecer nova, devido a recente

produção acadêmica sobre o assunto, mas observamos que algumas práticas

inerentes à sociedade, que antes recebiam outras denominações, podem se

caracterizar no que hoje os estudiosos compreendem como este tipo de

empreendedorismo. Nesse trabalho entendemos o termo pela definição de Oliveira

(2004, p.15) como “uma ação inovadora voltada para o campo social cujo processo

se inicia com a observação de determinada situação-problema local, para a qual se

procura, em seguida, elaborar uma alternativa de enfrentamento”. Iniciativas com

diferentes formatos podem ser consideradas empreendedorismo social, sendo os

chamados negócios sociais uma delas.

Negócios sociais são novos arranjos e modelos para dar conta dos desafios

de uma população crescente que está ultrapassada, por não oferecer oportunidades

iguais a todos. Dessa forma, esse tipo de organização pretende ter lucro, mas

também gerar valor social. Empreendimentos como esse passam por uma

infinidade de discussões teóricas, pulverizadas por diferentes áreas. Desde já

gostaríamos de apresentar as diferentes nomenclaturas para esse tipo de

organização, que será tema central desse estudo. Apesar de considerarmos nesse

trabalho o termo negócios sociais, alguns autores e instituições podem utilizar

conceitos como: negócios de impacto social, negócios inclusivos, empresas sociais,

empresas 2.5, empresas BoP, dentre outras nomenclaturas.

O empreendedorismo exerce importante papel sobre a sociedade com a

geração de emprego e possibilidade de ascensão social dos indivíduos. Práticas e

segmentos turísticos, como o turismo sustentável ou turismo de base comunitária, se

alinham a possibilidade de uma atividade turística consciente com geração de

impactos sociais positivos. Nesse sentido, o objetivo geral desse trabalho é analisar

a relação entre negócios sociais e turismo. Ao passo que os objetivos específicos

são conceituar e caracterizar empreendedorismo social, negócios sociais e turismo;

e também discutir a interação entre práticas e segmentos turísticos e os negócios

sociais.

12

Esta é uma pesquisa exploratória descritiva. A escassez de referencial teórico

sobre negócios sociais e turismo classifica a pesquisa como exploratória, pois visa

familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão dele (DENCKER,

1998). Por observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos sem

manipular variáveis (DENCKER, 1998), a pesquisa é também classificada como

descritiva.

No primeiro capítulo foi realizado uma pesquisa bibliográfica que poderá, com

base em materiais publicados em livros, periódicos, acessível ao publico em geral,

com fontes primárias e secundárias, trazer a compreensão acerca do pensamento

teórico que será, no capítulo seguinte, confrontado com a prática das organizações

(VERGARA, 1998). Ada Dencker (1998) afirma que toda a pesquisa requer uma fase

preliminar de levantamento e revisão da literatura existente para elaboração

conceitual e definição dos marcos teóricos. No segundo capítulo, portanto, foi

realizado uma pesquisa de campo por meio de entrevistas semiestruturadas com

duas organizações.

Esse estudo está, então, estruturado em dois capítulos. No primeiro capítulo

foi feito uma abordagem teórica dos conceitos de empreendedorismo social,

negócios sociais e turismo. E no segundo capítulo foi feito a análise de duas

organizações brasileiras que atuam no turismo, dialogando com os conceitos

apresentados no capítulo anterior.

Diferentes áreas estudam a temática que será tratada nesse trabalho, mas

optamos por enxergar pela ótica do empreendedorismo social.

13

1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL, NEGÓCIOS SOCIAIS E TURISMO

O empreendedorismo social é um termo abrangente que engloba diferentes

iniciativas voltadas para o campo social. Este capítulo irá abordar as definições que

permeiam esse amplo assunto à luz de diferentes autores. Adicionalmente,

trataremos dos diferentes conceitos de negócios sociais e respectivos modelos de

análise desse tipo de negócio. Dessa forma, este capítulo oferece subsídios para a

compreensão do contexto em que estão inseridas as duas organizações objeto de

estudo desse trabalho de conclusão de curso.

1.1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Termos, definições e publicações que buscam atender as demandas desta

primeira década do século XXI acerca do empreendedorismo social podem ser

recentes, porém o fenômeno é bastante antigo, possuindo apenas nomenclaturas ou

termos diferentes dos dias atuais, como observa Dees (1998), um dos autores

pioneiros na área (COMINI; TEODÓSIO, 2012). O empreendedorismo social, para

Agostini (2001) surgiu quase simultaneamente com o empreendedorismo mercantil.

As primeiras cooperativas modernas, por exemplo, datam do final do século XIX

(COMINI; TEODÓSIO, 2012) e alguns especialistas, inclusive, apontam Luther King,

Gandhi, entre outros, como empreendedores sociais, decorrente da capacidade de

liderança e inovação quanto às mudanças em larga escala na área social que esses

possuíam (OLIVEIRA, 2004).

Anteriormente à formalização do termo e avanço das pesquisas acadêmicas,

Tan et al (2005) garantem que a prática recebia outras denominações, como

“desenvolvimento comunitário” ou “organizações de finalidade social”. Dessa forma,

o empreendedorismo social surge como um novo rótulo para descrever o trabalho de

comunidades, organizações voluntárias e públicas, bem como empresas privadas

que priorizam objetivos sociais em detrimento dos fins lucrativos (SHAW; CARTER,

2007).

14

O empreendedorismo social surge devido à dificuldade do Estado em

satisfazer as demandas sociais, se estabelecendo em meio à falha das instituições

governamentais e aos desafios sociais, econômicos e ambientais que as sociedades

contemporâneas enfrentam (PARENTE et al, 2011 apud MOTTA; SHIMADA, 2014).

Na América do Norte, o conceito de empreendedorismo social foi introduzido

por duas pessoas nos anos de 1980, um deles foi Bill Drayton com a constituição da

Ashoka (DEES, 2007), instituição de fomento a este tipo de empreendedorismo, que

fornece financiamento para organizações iniciantes (start-ups), serviços de suporte

profissional, conecta os negócios e o setor social e promove uma plataforma para

pessoas dedicadas em mudar o mundo (ASHOKA, 2014). E o outro foi Edward

Skloot, com a criação de uma consultoria para ajudar organizações sem fins

lucrativos a explorar novas fontes de renda (DEES, 2007).

Alguns fatores foram determinantes para o crescimento da discussão desse

tipo de empreendimento. Um deles está relacionado com a minimização da atuação

do Estado no campo social, como supramencionado, e o impacto das estratégias

neoliberais sobre a comunidade que se tornou mais ativa como ponte estratégica

para as mudanças sociais (NICHOLLS, 2006; MARTIN, 2002). Seguindo essa

tendência, de acordo com o The New Nonprofit Almanac and Desk Reference (2002)

apud Austin et al (2006), as organizações sem fins lucrativos ganharam espaço,

aumentando 31% entre os anos de 1987 e 1997, excedendo os 26% da abertura de

novos negócios.

Outro fator motivador foi o surgimento das instituições de fomento, como a

Ashoka, já mencionada, mas também redes de pesquisa internacionais, como a

European Reseach Network (EMES) e a Social Enterprise Knowlegde Network

(SEKN), que foram fundamentais no incentivo a essas organizações (DEFOURNEY;

NYSSENS, 2009).

Comini et al (2012) destacam o conceito da Base da Pirâmide (BoP)1, tratado

como relevante pelos autores Prahalad e Hart (2002), sendo iniciado um debate a

partir do potencial desse mercado e da criação de modelos de negócios para as

1 Base da Pirâmide ”consiste em mais de quatro bilhões de pessoas que vivem com menos de quatro

dólares/ dia” (PRAHALAD, 2012, p. 6)

15

organizações que oferecessem produtos e serviços para o BoP e em paralelo

pudessem colaborar para a diminuição do déficit social do mundo.

Alguns autores, como Hudon (2009), possuem um posicionamento mais

crítico com relação à visão consumista de mercado trazido pelo BoP, acreditando

que na realidade esse movimento não colabora para a diminuição da pobreza

extrema, mas estimula cada vez mais o consumo exacerbado. Alter (2007), no seu

trabalho sobre empresas sociais, que veremos mais detalhadamente ao longo deste

capítulo, destaca que a estratégia da base da pirâmide não é empresa social, no

entanto empresas sociais podem usar algumas técnicas da BoP para atender aos

clientes de baixa renda.

Além dessa discussão, a aproximação entre o mundo dos negócios e a

sociedade civil, que desde a década de 70 era muito distante e com alto nível de

resistência para um trabalho colaborativo, nos anos recentes passaram a dialogar

em prol de uma relação de benefício para ambos (BRUGMANN; PRAHALAD, 2007).

Para Sassmannshausen e Volkmann (2013) apud Mota e Shimada (2014),

antes de 1985, durante quase três décadas, nada foi publicado sobre o tema

empreendedorismo social, apenas nesse ano que duas publicações foram feitas,

uma nos EUA e a outra na Holanda. Nos anos seguintes permaneceu com taxas

baixas, tendo duplicado o número de publicações nos anos de 1999 e 2000,

caracterizando-se como os autores chamam de uma “megatendência”.

No Brasil, o estudo referente ao empreendedorismo social vem sendo objeto

de pesquisa, segundo Melo (2012) apud Souza e Paiva Junior (2014), há menos de

três décadas e faz parte da agenda do Estado desde 2004 apenas, com o

surgimento da economia solidária2. Portanto, como o campo de estudo e atuação do

poder publico é muito recente no Brasil, pode acarretar algumas dificuldades na

organização desses tipos de empreendimentos. E não existem ações concretas por

parte do Estado, e as discussões sobre a inclusão deste tópico na agenda estatal

2 Empreendedorismo social e economia social são conceitos tratados como diferentes pelos autores, porém as discussões demonstram que as fronteiras são muito frágeis entre os termos. Para Noya (2014), “o termo economia social surgiu pela primeira vez no início do século XIX na França e refere-se às associações, cooperativas, organizações mútuas e fundações. As organizações da economia social são reguladas pelo princípio de terem partes interessadas e não acionistas e, em geral, pelas regras da gestão democrática e participativa.” (p. 177)

16

como prioridade não está efetivamente concluída para o fortalecimento de políticas

públicas (SOUZA; PAIVA JUNIOR, 2014).

Ainda com relação ao panorama brasileiro, em 2010 havia 556,8 mil

entidades sem fins lucrativos cadastradas no CEMPRE3 (IBGE, 2010), tendo grande

representatividade sobre as 5,6 milhões de entidades públicas e privadas, lucrativas

e não lucrativas, cadastradas no CEMPRE. Por esse motivo, a ação do

empreendedor social recebe grande destaque nos últimos anos, devido ao

crescimento das organizações do terceiro setor, dentre elas as ONG‟s (ZEN;

FRACASSO, 2008).

Essa popularização do termo, associada à pulverização da discussão por

diferentes campos de análise que agrega e combina ideias diversificadas, a fim de

definir e descrever o empreendedorismo social, trouxe falta de clareza no conteúdo

(NICHOLLS, 2006). Martin e Osberg (2007) também chamam atenção para o

problema da abrangência conceitual, tendo se tornado o termo vinculado à qualquer

tipo de atividade considerada socialmente benéfica.

Ainda há falta de entendimento com relação à diferença do termo

empreendedorismo social para às organizações do terceiro setor, devido a uma

variedade de atividades e iniciativas, que culmina na dificuldade em delimitar o

conceito (TRIVEDI; STOKOLS, 2011).

Penido (2014), Diretora do Instituto Inspirare, aponta que o

empreendedorismo social não possui legitimidade no Brasil por não ser reconhecido

pela própria sociedade brasileira. Podemos observar ao longo da discussão acima

que ainda há uma falta de articulação dos setores da economia, especialmente do

poder público, no que diz respeito ao incentivo e formalização dos

empreendimentos. E no aspecto da teoria, podemos perceber que a prática

antecedeu a discussão acadêmica e formulação de conceitos, e por esse motivo

também, há uma confusão com relação à construção e padronização do

pensamento, considerando ainda os diferentes olhares sobre o assunto e a

diferença para cada realidade geográfica.

Dees (1998) relata que muitas pessoas associam o termo empreendedorismo

social exclusivamente às organizações sem fins lucrativos. Outros o usam para

3 Cadastro Central de Empresas

17

descrever qualquer pessoa que inicia uma organização sem fins lucrativos. E outros

ainda o usam para se referir a negócios que incorporam a responsabilidade social

em suas atividades. Então o autor questiona o que de fato significa

empreendedorismo social?

Primeiramente, é necessário estar atento às diferenças conceituais que se

estabelecem entre as definições, que segundo Mair e Marti (2006) se concentram

em três direções: a do empreendedorismo social, do empreendedor social e das

empresas sociais. A primeira delas possui definições voltadas para o processo e o

comportamento; a segunda foca na atuação do líder ou do fundador; e a terceira

exprime o resultado mais tangível do empreendedorismo social.

Será possível perceber que as abordagens se complementam e irão traduzir

de uma forma mais holística o fenômeno, tomando por base que o caráter diferencial

deste movimento é a criação de valor social (MAIR E MARTI, 2006).

Para tratar melhor o tema, apresentamos, dentre outros conceitos que

veremos neste capítulo, o de empreendedorismo social pode ser tido como “uma

ação inovadora voltada para o campo social cujo processo se inicia com a

observação de determinada situação-problema local, para a qual se procura, em

seguida, elaborar uma alternativa de enfrentamento” (OLIVEIRA, 2004, p.15). O

autor complementa, ainda, dizendo que a ideia deve ser inovadora, realizável,

autossustentável e envolver várias pessoas e segmentos, provocando impacto social

que permita meios para ser avaliado.

Esse campo social é o lugar onde se manifestam as relações das

comunidades e a partir do inter-relacionamento dos agentes, entidades sociais ou

privadas e o Estado, emerge as estratégias de desenvolvimento do território. Os

atores estabelecem o território como espaço de relações, entretanto enfrentam

problemas com as políticas setoriais e territoriais (FLORES, 2006). Dessa forma, o

território, como um espaço de articulação, vem sendo foco de ações e iniciativas

sociais (SOUSA; PAIVA JUNIOR, 2014). Para Zen e Fracasso (2008), as iniciativas

sociais estão baseadas na associação de pessoas ou na ação de um indivíduo com

capacidade de mobilizar recursos em prol do social.

Ao falarmos de inovação, remetemos o termo, em geral, ao universo

econômico e ligado à função de produção, porém, as inovações sociais também

18

existem e estão relacionadas ao bem-estar dos indivíduos ou das comunidades,

viabilizando emprego, possibilidade de consumo e de participação (ALMEIDA,

2006). “A inovação social é considerada um tipo de inovação não orientada ao

mercado” (FERREIRA et al, 2014, p. 4).

A Shwab Foundation (2014) caracteriza o empreendedorismo social: pela

geração de benefícios para a sociedade em geral, com ênfase nos grupos

marginalizados e pobres, por meio de abordagens práticas, inovadoras e

sustentáveis; e uma abordagem que aglutina o bem estar social e econômico,

passando por diferentes setores da economia. Além disso, a organização menciona

que essa abordagem define o empreendedor social para além da sociedade e

organizações com boas intenções, que dedicam suas atividades ao benefício social.

Antes de discorrermos mais acerca das definições sobre o

empreendedorismo social, é necessário entender as diferenças básicas para o

empreendedorismo empresarial, como pode ser observado na figura 1 de Melo Neto

e Froes (2002):

EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL

1. É individual 1. É coletivo

2. Produz bens e serviços 2. Produz bens e serviços à comunidade

3. Tem foco no mercado 3. Tem foco na busca de soluções para os problemas sociais

4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o impacto social

5. Visa satisfazer necessidades dos clientes e a ampliar as potencialidades do negócio

5. Visa a respeitar pessoas da situação de risco social e a promovê-las

Figura 1 – Empreendedorismo empresarial X empreendedorismo social Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)

Austin et al (2006) desenvolveram proposições teóricas, baseadas em quatro

variáveis, que poderão diferenciar o empreendedorismo social:

- Falha de mercado: diferentemente do empreendedorismo tradicional, uma

falha de mercado pode ser vista como uma oportunidade de negócio. Um problema

para um empreendedor tradicional é uma oportunidade de negócio para o

empreendedor social;

19

- Missão: o empreendedorismo tradicional objetiva a geração de lucro, em

contrapartida o empreendedorismo social pretende criar valor social. Essa diferença

será fundamental como forma de distinguir ambas as formas de empreendedorismo

e irá afetar as múltiplas áreas do gerenciamento da empresa e da motivação

pessoal;

- Mobilização de recursos: a não distribuição do lucro e o objetivo social são

fatores que podem limitar a articulação financeira da empresa, bem como dificulta a

compensação dos seus colaboradores. Dessa forma, a mobilização de recurso

financeiro e humano é diferenciada;

- Avaliação de desempenho: o empreendedorismo pode lidar com aspectos

mais tangíveis, enquanto o empreendedorismo social precisa de uma análise muitas

vezes mais qualitativa, para medir as mudanças sociais. Por esse motivo, a

avaliação de desempenho do impacto social será um fator diferenciador.

Outro aspecto diferenciador para o empreendedorismo social trazido por Melo

e Froes (2002), se refere ao empoderamento, em diferentes níveis, econômico,

social, mental, psíquico, espiritual e/ ou político, como forma de tornar os cidadãos

mais ativos e atuantes. Essa é uma abordagem que mostra uma das diferenças

entre o empreendedorismo social e um projeto social, pois “seu foco é levantar as

demandas, e, sobretudo, os potenciais individuais e coletivos” (MELO; FROES,

2002). Empoderamento é uma palavra que resume muitas das propostas contidas

em diversas definições e caracterizações. A figura 2 sintetiza exemplos de

empoderamento nos diferentes níveis.

TIPOS DE “EMPODERAMENTO” CAPACIDADES CENTRAIS

ECONÔMICO

Criar e operar empreendimentos

Desenvolver potenciais

Ter acesso ao crédito

SOCIAL

Criar organizações sociais

Otimizar recursos

Obter sinergias

MENTAL

Mudar atitudes e comportamentos

Buscar autossuficiência

Melhorar a qualidade de vida

PSÍQUICO Aumentar a autoestima

Sentir orgulho de sua cultura

20

ESPIRITUAL Desenvolver respeito à vida e à natureza

Buscar o autoconhecimento

POLÍTICO

Conseguir acesso à propriedade

Exercer pressão

Mobilizar-se em defesa dos recursos naturais existentes

Figura 2 – “Empoderamento” X capacidades Fonte: Melo e Froes (2002)

Quanto às definições, existem variações entre os autores para delimitar o que

de fato é empreendedorismo social. Austin et al (2006) explicam que as definições

variam entre as mais restritivas e mais abrangentes. Nas abordagens mais

restritivas, o empreendedorismo social se refere ao fenômeno de adotar

conhecimento de negócio e habilidades baseadas no mercado no setor sem fins

lucrativos, como quando organizações sem fins lucrativos desenvolvem estratégias

inovadoras para gerar renda que possam cobrir os custos da empresa (REIS, 1999;

THOMPSON, 2002 apud AUSTIN et al).

Ainda de acordo com Austin et al (2006), as abordagens mais abrangentes se

referem a uma atividade inovadora com objetivo social, seja no setor com fins

lucrativos, como nos empreendimentos comerciais de finalidade social ou no

empreendedorismo social corporativo; ou no setor sem fins lucrativos; ou mesmo

entre os setores, como as formas híbridas, que misturam abordagens do setor sem

fins lucrativos com abordagens do setor com fins lucrativos (DEES, 1998).

O aspecto comum entre todas as definições é a criação de valor social, em

detrimento de ganhos pessoais e dos acionistas, e que a atividade é caracterizada

pela inovação ou criação de algo novo, que não se apoie apenas na replicação de

empresas e práticas que já existem. É importante também articular os recursos

disponíveis em prol do problema social trabalhado pela empresa (AUSTIN et al,

2006).

Austin et al (2006) concluem expondo que, na verdade, uma empresa social

não pode ser caracterizada pelo seu formato legal, uma vez que pode ser

materializada de várias maneiras, pois ora se comportam como organizações com

fins lucrativos, as empresas privadas ou os setores governamentais ou abrangendo

diversos setores. Ferreira et al (2014) esclarecem que esse tipo de

empreendedorismo se torna, sobretudo, um amplo “guarda chuva” que engloba

21

iniciativas empresarias e outras organizações voltadas para a assistência e cuidados

sociais, as quais não focam na geração de renda própria. É um campo

multidisciplinar, contemplado por múltiplos setores (OLIVEIRA, 2004).

Eugenio Scannavino, empreendedor social do Saúde e Alegria, uma ONG

que atua fornecendo serviços de saúde em áreas de difícil acesso na Amazônia, no

documentário Quem se Importa (2011), ilustra essa relação intersetorial, expondo

que o terceiro setor possui soluções de baixo custo e alto impacto, o setor privado

pode patrocinar e fortalecer e, juntos, devem estrategicamente incentivar o governo

a adotar políticas publicas que beneficiem o movimento.

O GEM (2009), Global Entrepreneurship Monitor, possui uma visão mais

abrangente a respeito do empreendedorismo social e considera, especialmente,

alguns aspectos como: a combinação de recursos (humano e financeiro); a criação

de valor social; e a oferta de produtos ou serviços ou criação de novas

organizações. GEM (2011) determina tipologias divididas em quatro grupos, em

duas categorias. Na primeira categoria estão os grupos 1 e 2, caracterizados pelos

objetivos sociais e ambientais representarem mais que 50%, e na segunda categoria

estão os grupos 3 e 4, caracterizados pelos objetivos econômicos representarem

menos que 50%, como mostra na figura 3.

O primeiro grupo se refere às organizações que a geração de receita

proveniente da comercialização de produtos e serviços é menor ou igual a 5%. Esse

grupo é dividido em dois subgrupos, o primeiro deles são as ONGs tradicionais que

não adotam práticas inovadoras para a resolução do problema social, e o segundo

são as chamadas empresas sociais sem fins lucrativos, que adotam mecanismos

mais inovadores, que rompem com as formas tradicionais de se sustentar

financeiramente a organização.

O segundo grupo compreende as organizações em que a geração de renda

proveniente da comercialização de produtos e serviços é superior a 5%. Esse é o

grupo das chamadas organizações híbridas, variando entre empresas sociais

híbridas, quando os objetivos sociais e ambientais são mais importantes que os

econômicos, e as empresas sociais econômicas híbridas, nas quais ocorre o

inverso, valorizando, sobretudo, os objetivos econômicos.

22

O terceiro grupo engloba as empresas em que os objetivos sociais e

ambientais são duas vezes maiores que os objetivos econômicos, denominadas

empresas sociais com fins lucrativos. Por fim, o quarto grupo também se refere às

empresas com fins lucrativos, porém quando os objetivos sociais e ambientais são

menores que os econômicos, elas são chamadas de empresas regulares com fins

lucrativos com compromisso social.

Figura 3 – Tipos de organizações que compõem o empreendedorismo Social Fonte: Global Entrepreneurship Monitor (2011) (tradução livre do autor)

Outros autores, como Oliveira (2004), são mais rigorosos, deixando claro que

não seria qualquer comprometimento social da empresa que poderia classificá-la

como um empreendimento social, a exemplo da responsabilidade social empresarial,

visto especialmente em grandes corporações. A Shwab Foundation (2014), por

exemplo, determina apenas três grupos: empreendimentos sem fins lucrativos

alavancados; empreendimentos sem fins lucrativos híbridos; e os negócios sociais.

Para a organização, o primeiro grupo se caracteriza como empreendimento

social pela adoção de práticas de inovação para solucionar uma falha de mercado

ou do governo, perpassando por diferentes setores da economia, porém

23

dependendo de financiamento filantrópico. Diferentemente do segundo grupo que

possui um modelo para recuperar os custos da organização pela venda de bens e

serviços, podendo também mobilizar outras fontes de financiamento, como

empréstimos e subsídios. E o terceiro grupo, dos negócios sociais, se caracteriza

por entidades ou negócios com fins lucrativos, apesar do retorno financeiro não ser o

principal objetivo e sim a maximização da abrangência do benefício social.

Outro aspecto importante seria com relação à inovação para a solução do

problema social, pressuposto para a grande maioria dos autores (AUSTIN et al,

2006; OLIVEIRA, 2004; DEES, 1998), quando se fala em empreendedorismo social,

sendo questionável a atuação das ONGs tradicionais no primeiro grupo apresentado

pelo GEM (2009), por não apresentarem a adoção de práticas diferenciadas.

Já Alter (2007) trata todas essas iniciativas como organizações híbridas,

também variando entre os polos da filantropia e da ênfase no comercial, propondo,

então, quatro tipos de organizações, como pode ser visto nas figuras 4 e 5:

Puramente filantrópico

Hibridismo Puramente comercial

Motivos Por boa vontade Ambos os motivos Por interesse próprio

Métodos Impulsionado pela

missão social Equilíbrio entre missão social e

mercado Impulsionado pelo

mercado

Objetivos Criação de valor

social Criação de valor social e

econômico Criação de valor

econômico

Lucro

Direcionado para as atividades

sociais da organização

Reinvestido nas atividades sociais ou custos operacionais

e/ ou retido para o crescimento e desenvolvimento do negócio (empresas com fins lucrativos

podem distribuir parte do lucro)

Distribuído entre os acionistas e proprietários

Figura 4 – Hibridismo nas organizações Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Figura 5 – Tipos de organizações híbridas Fonte: Adaptado de Alter (2007) (tradução livre do autor)

24

Para Alter (2007), os extremos, organizações tradicionais sem fins lucrativos,

com foco apenas no social, e as organizações tradicionais com fins lucrativos, com

foco apenas no econômico, estão desconsiderados desse quadro, que pressupõe a

necessidade de se misturar valores e práticas de ambos os extremos.

As organizações sem fins lucrativos com atividades de geração de renda

podem equivaler às empresas sociais sem fins lucrativos, proposta pelo GEM

(2009). Alter (2007) não delimita percentual da receita que deve estar vinculado às

atividades com geração de renda, apenas expõe duas formas de geração de renda,

por recuperação de custos, que seria algo mais descontínuo, feito para cobrir um

custo específico, e por earned-income, de caráter mais contínuo, gerada por

atividades relacionadas ou não com a missão. Alter (2007) explica também que este

tipo de organização pode evoluir para uma empresa social, a partir do momento que

as atividades de geração de renda são operadas como um negócio. Portanto, este já

seria um diferencial das empresas sociais.

As empresas sociais no entender de Alter (2007) poderiam ser comparadas

às empresas sociais híbridas e às empresas sociais econômicas híbridas do GEM

(2009), apesar de não serem categorizadas com essa separação que considera a

relação dos objetivos sociais e ambientais com os econômicos. Para Alter (2007) as

empresas sociais usam abordagens do empreendedorismo, inovação e de mercado

para criar valor social e promover mudança.

Dessa forma, o objetivo principal da organização, o sucesso do negócio e o

impacto social são variáveis interdependentes para a empresa (ALTER, 2007). A

autora propõe apenas uma classificação baseada na orientação da missão das

empresas e uma baseada no nível de integração entre os programas sociais e as

atividades de negócio, como veremos nas próximas seções.

Os negócios de responsabilidade social, para Alter (2007), são empresas com

fins lucrativos que possuem dois objetivos, maximizar o lucro e contribuir para o bem

estar social de forma mais ampla. São empresas dispostas a abandonar lucro ou

fazer contribuições financeiras substanciais, em vez de distribuir o lucro de forma

particular, e também podem colocar metas sociais em sua missão corporativa.

Esse tipo de empresa poderia ser equivalente às empresas sociais com fins

lucrativos (GEM, 2009), que destinam maior peso aos objetivos sociais e ambientais,

25

em detrimento do econômico. Os negócios de responsabilidade social podem ser

considerados uma empresa social quando são registrados como uma empresa com

fins lucrativos, porém de propriedade de uma organização sem fins lucrativos

(organização-mãe) e têm a finalidade de obter renda para a organização-mãe, bem

como apoiar uma causa social (ALTER, 2007).

O quarto tipo são as corporações que praticam responsabilidade social, ou

seja, são empresas com fins lucrativos que possuem grande ênfase nos interesses

econômicos, porém se engajam na filantropia, que pode ajudá-la a maximizar o lucro

e alcançar mercado, enquanto contribui para o bem público. Responsabilidade social

não pode ser considerada uma empresa social, mas as atividades filantrópicas da

corporação podem estar direcionadas para uma empresa social (ALTER, 2007).

A figura 6 ilustra a relação de cada tipo de organização com as dimensões

social e do lucro. Nesta figura podemos observar a categorização feita nas

empresas sociais pela missão, que será detalhado nas seções seguintes.

Figura 6 – Valor social X lucro em organizações híbridas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

26

É oportuno, ainda, um esclarecimento sobre os setores da economia que

tradicionalmente se dividem em três. O primeiro setor são instituições públicas,

mantidas pelo poder público e regidas pelo direito público; o segundo setor são

instituições privadas, mantidas pela iniciativa privada com interesse mercantil,

regidas pelo direito privado; e o terceiro setor são instituições de interesse público,

mantidas pela iniciativa privada sem interesse mercantil, regidas pelo direito privado

(OLIVEIRA; VASCONCELLOS, 2011). A figura 7 sintetiza essas relações:

AGENTES FINS SETOR

Públicos Públicos Estado (Primeiro setor)

Privados Privados Mercado (Segundo Setor)

Privados Públicos Sociedade civil (Terceiro setor) Figura 7 – Setores da economia X iniciativa dos agentes Fonte: Adaptado de Rufino (1994)

O que devemos depreender de todo esse processo é que existe uma

tendência ao hibridismo nas organizações, principalmente no que diz respeito à

missão social e à necessidade da sustentabilidade financeira, que está demandando

novos estudos, modelos e um maior diálogo entre os setores.

Essas organizações ditas híbridas fizeram surgir entre os teóricos a

possibilidade de dois outros novos setores da economia que pudessem melhor se

adequar a essa prática, que seriam o setor 2,5 e o quarto setor. O setor 2,5 é

caracterizado por empresas que mesclam mecanismos típicos do segundo e terceiro

setor (OLIVEIRA; VASCONCELLOS, 2011), e o quarto setor se caracteriza por uma

convergência de características peculiares a cada um dos três setores (FOURTH

SECTOR, 2014).

Ambas as denominações criadas são muito semelhantes no sentido de dar

conta desse hibridismo. Porém o termo “quarto setor” parece ser mais abrangente,

ou seja, entende-se que as organizações 2,5 poderiam estar no que se chama de

quarto setor, porém o inverso não deve ocorrer.

As iniciativas que se alinham a esse hibridismo serão normalmente

reconhecidas e estudadas pelo viés do empreendedorismo social, o que irá

27

diferenciar é a abrangência que cada autor confere ao termo, como já foi debatido

acima.

Além disso, o próprio GEM (2009) ressalta que as variações do

empreendedorismo social devem ser relativizadas, levando em consideração a

enorme diversidade a respeito de cada conceito envolvido, de acordo com a

realidade geográfica de cada local. Mas no geral, a depender se tratamos de uma

abordagem mais restritiva ou uma mais abrangente, os empreendimentos sociais

variam entre esses extremos, do filantrópico àqueles com base no lucro/ mercado,

tendo em vista características mais determinantes já apresentadas que podem ser

mais úteis nessa diferenciação, em comparação ao fato de nos limitarmos ao tipo de

empresa.

1.2 O EMPREENDEDOR SOCIAL

E toda essa engrenagem é movimentada pela ação do empreendedor social,

que para a Ashoka (2014) são pessoas com capacidade de promover

transformações com amplo impacto social por meio de ideias criativas e inovadoras.

Mair e Marti (2006) enfatizam que a ação social do empreendedor está, então,

direcionada para a utilização de forma criativa dos recursos a favor da

transformação social e modificação das estruturas sociais existentes. Trivedi e

Stokols (2011) falam sobre reverter um desequilíbrio existente na sociedade,

implementando uma mudança social positiva e sustentável.

Para Emerson e Twersky (1996) apud Certo e Miller (2008) os

empreendedores tradicionais podem produzir valor social por meio de um processo

de criação de ganhos particulares ou mesmo os empreendedores sociais podem

produzir ganhos particulares no processo de criação de valor social, porém é

possível perceber que ambos possuem missões e intencionalidade bem distintas.

Afinal, é sempre importante frisar que a primazia do valor social é o que distingue o

empreendedorismo social (MARTIN; OSBERG, 2007), fato este que não exclui a

presença de motivos menos altruístas, como a realização pessoal (MAIR; MARTI,

2006).

28

Vivianne Naigeborin (2013), durante uma palestra no Global Entrepreneurship

Congress, enfatiza que a intencionalidade faz muita diferença, especialmente no

momento da tomada de decisão, quando o empreendedor se depara entre seguir

garantindo impacto social ou atender a necessidade financeira. A Conselheira

Estratégica da Potencia Ventures ainda complementa dizendo que a solução está na

inovação.

Quanto à escala, que é um aspecto mais polêmico, para Vera Cordeiro no

documentário Quem se importa (2011), tanto faz se um empreendimento social

ajuda 4 ou 1000, já para Martin e Osberg (2007), o empreendedor social tem o

objetivo de criar valor em larga escala.

O empreendedor atende aos mercados que possuem poder de compra e

estão dispostos a consumir determinado produto ou serviço, sendo idealizado para

gerar lucro financeiro. Dessa forma, desde o começo o objetivo do empreendedor e

investidores é a obtenção de lucro pessoal (MARTIN; OSBERG, 2007).

Diferentemente do empreendedor social, que possui comprometimento gerado pela

motivação social, independente de interesses financeiros (ROPER; CHENEY, 2005).

Vivianne Naigeborin (2013) explica que é importante entender o que é esse

impacto social, que deve ser gerado por meio do desenvolvimento de produtos e

serviços baseados em uma necessidade real, que não necessariamente é o que o

empreendedor pensar ser. Viviannne explica que existem alguns caminhos para

esse sucesso, seja se aproximando da comunidade e dos empreendedores que já

estão lá, criando junto a eles o conceito do negócio, ou ainda, realizando pesquisas

de oportunidade de negócio, o que é raro. Conclui dizendo que dessa forma é

possível cruzar políticas públicas que estão sendo fomentadas a favor do

desenvolvimento de serviços. Como expressa o empreendedor social Isaac

Durojaiye absorvido pelo ponto de vista da comunidade no documentário Quem se

importa (2011): “Não pode me ajudar se não conhecer meus problemas”.

O documentário Quem se importa (2011), dentre outros objetivos, procura

esclarecer, contextualizar e sensibilizar sobre a atuação do empreendedor social.

Nesse material podemos observar, como já foi debatido acima, acerca da

problemática que permeia o empreendedorismo social referente às confusões e

reconhecimento do movimento, que o empreendedor social sofre do mesmo mal.

29

De acordo com Bill Drayton, durante uma de suas falas no documentário, a

respeito do surgimento e crescimento da atuação do empreendedor social, explica

que os americanos pensavam porque as pessoas do mundo dos negócios se

tornaram sem fins lucrativos, enquanto os europeus pensavam porque não seria

uma atividade exercida pelo Estado. Ou seja, ambas são destrutivas, pois associam

o empreendedor social a um “não alguma coisa” (“não setor privado” e “não estatal”)

e complementa dizendo que são apenas cidadãos capazes de mudar.

Esses indivíduos são identificados como agentes de mudança e “suas ações

são direcionadas à construção de espaços sociais dialógicos” (SOUZA; PAIVA

JUNIOR, 2014, p.13). São empreendedores que almejam sucesso financeiro como

consequência de um processo de trabalho árduo, que permite reconhecer a

instituição como agente eficaz de minimização de problemas sociais. Dessa forma,

segundo os autores Souza e Paiva Junior (2014) o empreendedor social é um

profissional agente-transformacional, que se questiona sobre como está contribuindo

para o desenvolvimento da comunidade, baseado em duas esferas, a econômica e a

sociocultural.

De acordo com o documentário Quem se Importa (2011), esse empreendedor

possui um olhar fresco, sem dogmas, por isso consegue inovar, partindo do princípio

que todos têm capacidade, explorando o potencial humano dos indivíduos tidos

como incapazes ou irrecuperáveis. Al Etmanski durante o documentário aponta que

se desejar fazer mudanças pesadas, é necessário abrir mão de qualquer direito

autoral sobre a ideia porque o objetivo de fazer mudança é emitir ideias. “O

importante é descontaminar o mundo desse processo de privatização das ideias”,

como clonclui Oscar Rivas, empreendedor social, em uma de suas falas no

documentário.

Em contrapartida, Miller et al (2012) alertam que as emoções podem se

sobreporem à racionalidade no momento de avaliação das informações e das

oportunidades, afinal o forte engajamento no compromisso de gerar impacto social

pode contribuir para riscos potenciais na abertura de um novo negócio, pois o

empreendedor pode ficar menos sensível às informações de riscos e viabilidade.

Oliveira (2004) destaca, por outro lado, o sentido prático desses indivíduos,

adaptados a solucionar problemas concretos, afinal muitos desses empreendedores

30

utilizam suas experiências organizacionais e empresariais com foco no objetivo

social. Para Oliveira Neto (2014) da ANVINA durante o Congresso GIFE4, esses

empreendedores apostam até mesmo na “desinvenção”, utilizando simplicidade e

criatividade, adaptando produtos e serviços para que sejam acessíveis e

sustentáveis. Além disso, os empreendedores sociais são abertos à multiplicidade

de formatos operacionais e de negócios (DEES, 2007).

Vivianne Naigeborin (2013) esclarece que os empreendedores sociais

precisam também driblar determinadas armadilhas: uma delas se refere ao

reconhecimento precoce da mídia, pois pode atrapalhar o processo de

amadurecimento e estabilização da empresa, visto que o empreendedor se vê

obrigado a cumprir uma agenda social extensa, processo esse que seria posterior,

Vivianne diz que esse tipo de negócio gera muito apelo na mídia; e a outra está

relacionada à abundante oferta de investidor e aos poucos negócios realmente

consistentes em longo prazo, portanto é necessário cuidado para não desenhar o

negócio de acordo com o investidor, no sentido de garantir impacto social.

Isaac Durojaive (2013), no documentário Quem se Importa (2011), utiliza uma

metáfora para explicar o empreendedor social, dizendo que seria uma espécie de

Madre Teresa, que se preocupa em fazer o bem, misturado com o Richard Branson,

empreendedor motivado pelo retorno financeiro. Ferreira et al (2014), no que se

refere a atuação mista desse empreendedor, apontam que:

Ao focar no setor social, o empreendedor social irá atuar em diversas áreas de variadas formas. Nesse sentido, estabelece relações, tanto conceitual, operacional e ideológico com o terceiro setor. Da mesma forma, ao adotar mecanismos de mercado, aproxima-se de organizações privadas e mimetiza seus comportamentos (p.11).

Na tentativa de definir o empreendedorismo social, Oliveira (2004) produziu

dois quadros, um com definições internacionais (figura 8) e outro com definições

nacionais (figura 9), a respeito do empreendedor social, sendo possível avaliar as

grandes semelhanças e pequenas nuances que podem diferenciá-las. Sendo

algumas definições mais restritivas, outras mais abrangentes. Vale destacar também

4O GIFE é uma organização sem fins lucrativos que reúne associados de origem empresarial, familiar, independente ou comunitária, que investem em projetos de finalidade pública.

31

o caráter de complementariedade entre elas, explicando aspectos iguais de forma

diferente e trazendo pontos distintos, muitos simultaneamente pertinentes às

discussões acadêmicas e à atuação prática dos empreendedores. É importante

lembrar que as definições estarão também vinculadas a cada realidade geográfica.

ORGANIZAÇÃO ENTENDIMENTO

School Social Entrepreneurship – SSE, Uk – Reino Unido

“É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas para um publico ou um benefício social, em lugar de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais, públicos, voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais nunca dizem „não pode ser feito‟.”

Canadian Center Social Entrepreneurship – CCSE, Canadá

“Um empreendedor social vem de qualquer setor, com características de empresários tradicionais de visão, criatividade e determinação, e empregam e focalizam na inovação social [...] indivíduos que [...] combinam seu pragmatismo com habilidades profissionais, perspicácias.”

Foud Schwab, Suíça “São agentes de intercambiação da sociedade por meio de: proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços: criação de parcerias e formas/ meios de auto-sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar missão social [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias inovadoras e veem oportunidades onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social.”

The Institute Social Entrepreneurs – ISE, EUA

“Empreendedores sociais são executivos do setor sem fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado sem perder de vista sua missão (social) e são orientados por um duplo propósito: empreender programas que funcionem e estejam disponíveis às pessoas (o empreendedorismo social é base nas competências de uma organização), tornando-as menos dependentes do governo e da caridade.”

Ashoka, Estados Unidos “Os empreendedores sociais são indivíduos visionários que possuem capacidade empreendedora e criatividade para promover mudanças sociais de longo alcance em seus campos de atividade. São inovadores sociais que deixarão sua marca na história.”

Figura 8 – Conceito sobre empreendedor social (visão internacional) Fonte: Adaptado de Oliveira (2004)

32

ORGANIZAÇÃO ENTENDIMENTO

Leite (2002) “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explícita.”

Ashoka Empreendedores Sociais e Mackisey e Cia. INC (2001)

“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais pela inovação, pela força de recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo social estão diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa vontade de planejamento, capacidade de sonhar e uma habilidade para o improviso.”

Rao (2002) “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para ganhar dinheiro.”

Rouere e Pádua “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores cujo protagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de paradigma de atuação em benefício de comunidades menos privilegiadas.”

Figura 9 – Conceito sobre empreendedor social (visão nacional) Fonte: Adaptado de Oliveira (2004)

As definições para o empreendedor social em geral são menos restritivas,

podem ser apenas mais detalhadas ou mais enxutas. Porém, ainda assim, existem

algumas ressalvas importantes como na definição da SSE do Reino unido, ao

abordar sobre o aspecto do interesse financeiro. Vale esclarecer que empreendedor

social pode também ter remuneração financeira pelo seu trabalho

Em geral as definições têm um diálogo alinhado com as caracterizações

propostas sobre o empreendedorismo social, frisando sempre o caráter diferencial

que é a criação de valor social, além de outros aspectos recorrentes, como a

inovação.

E apesar da gama de iniciativas que podem se caracterizar como

empreendedorismo social, neste trabalho vamos nos focar nos chamados negócios

sociais. É importante lembrar, então, que o conceito de empreendedorismo social

engloba também os negócios sociais e, portanto, os fundadores e líderes de

negócios sociais são considerados empreendedores sociais, mas nem todos os

empreendedores sociais estão vinculados a um negócio social (OLIVEIRA;

VASCONCELLOS, 2011).

33

1.3 NEGÓCIOS SOCIAIS

Negócios sociais são modelos híbridos de negócios, nos quais gerar lucro e o

comprometimento com a minimização dos problemas sociais são objetivos que, se

nas empresas tradicionais são dicotômicos, nos negócios sociais caminham lado a

lado, fazendo parte de um mesmo plano de negócio (SEBRAE, 2013).

Para Yunus (2014), a lógica básica dos negócios sociais, que mantem um

diálogo com o primeiro e segundo setor, está ilustrada na figura 10, a seguir:

Figura 10 – Negócios sociais: o dinamismo do business tradicional com a consciência da filantropia Fonte: Yunus (2014)

É importante também esclarecer sobre as diferentes terminologias que estão

sendo utilizadas neste trabalho para se referir a este tipo de empreendimento. Para

o SEBRAE (2013) se trata de um campo novo que se encontra em constante

evolução e considerando as diferentes influências conceituais, entendimentos e

nomenclaturas, os negócios sociais também são chamados também de empresas

sociais; empresas BoP; negócios inclusivos; ou empresas 2.5.

Além dessas, Yunus (2014) menciona também outras terminologias para

empresas com foco no impacto social e com geração de renda, como negócios de

34

impacto social; negócios de valor compartilhado; negócios inclusivos, já

mencionado; negócios responsáveis; ou organização sem fins lucrativos híbridas.

Essas terminologias podem ser tratadas entre os autores como sinônimos ou

como termos distintos entre si. Na figura 11, Yunus faz um mapeamento dos

modelos de negócios que possuem algum vínculo com a criação de valor social e

que se posicionam entre os negócios para maximização de lucros e as organizações

sem fins lucrativos, levando em consideração duas variáveis de análise: a missão

(variando entre a primazia do valor econômico e a primazia do valor social) e a

sustentabilidade financeira da empresa (variando entre totalmente autossustentável

ou pela dependência de doações):

Figura 11 – Diferentes modelos de negócios com viés social Fonte: Yunus (2014)

Para Yunus (2014), a empresa deve estar calcada apenas no impacto social,

sendo renegado a distribuição do lucro gerado, se fazendo necessário reinvesti-lo

por completo na própria empresa para a maximização do impacto social. E o que

35

diferencia, para Yunus, um negócio social de uma organização sem fins lucrativos, é

o fato do dinheiro investido no negócio social retornar, podendo ser novamente

investido em outro negócio, gerando um ciclo de investimentos que se recicla (figura

12).

Figura 12 – Negócio social X Organização de maximização do lucro e organizações sem fins lucrativos Fonte: Yunus et al (2010) (tradução livre do autor)

Quanto à distribuição ou não de lucros, esse é, de acordo com Comini e

Teodósio (2012), um ponto divergente entre os autores. De acordo com Comini e

Teodósio (2012), existem duas correntes: uma corrente é a do Yunus, que já foi

apresentada; e a segunda é do Michael Chu, que defende a distribuição de lucro

como lógica de mercado que possibilita, inclusive, a ampliação de investimento

externo. Artemisia (2014), Alter (2007) e Sebrae (2013) entendem também que o

lucro pode ser distribuído ou não.

Yunus (2007) aponta que existem dois tipos de negócios sociais: os primeiros

são empresas que priorizam o impacto social em detrimento da maximização do

lucro para os proprietários e que são de propriedade de investidores que também

buscam benefícios sociais, como a redução da pobreza, justiça social; e a segunda

é estruturada de forma diferenciada, pois busca maximizar o lucro, mas são

empresas de propriedade dos pobres ou desfavorecidos, produzindo impacto social

36

a partir dos dividendos e capital de crescimento gerado pela empresa e

consequentemente altera de maneira positiva a realidade social da comunidade

envolvida.

As nomenclaturas também estão associadas as três abordagens da temática

dos negócios sociais, a norte-americana, a europeia e a dos países em

desenvolvimento, que influenciaram o posicionamento dos autores e trazem a

importância de se levar em consideração a realidade local que determinará a

formação dos profissionais envolvidos.

Comini e Teodósio (2012) apontam que se na Europa esse tipo de

empreendimento nasce da tradição da economia social, a concepção norte-

americana assimila essas organizações basicamente como empresas privadas com

lógica de mercado dedicadas a soluções de problemas sociais. Em contraponto, nos

países em desenvolvimento o entendimento parte de iniciativas de mercado que

visam à redução da pobreza e à transformação das condições sociais dos indivíduos

marginalizados e excluídos (COMINI, 2011).

Ferreira et al (2014) explicam que o conceito de empresa social na Europa

está vinculado ao terceiro setor e formas coletivas de empreendedorismo, já nos

Estados Unidos esses negócios se baseiam em iniciativas empresariais e lógica de

mercado, enquanto nos países em desenvolvimento são iniciativas de mercado com

foco na redução da pobreza.

No caso Europeu, devemos considerar o diferencial do enfoque particular de

cada país, que por sua vez depende do conceito de bem-estar social e da evolução

dos papéis do estado e da sociedade civil (DEFOURNY; NYSSENS, 2009 apud

FERREIRA et al 2014). Outra particularidade da Europa, de acordo com Reficco et

al (2006), é que terceiro setor, o conjunto de organizações sem fins lucrativos, é

conhecido como economia social, o que implica em limitações para o

desenvolvimento dos termos empreendedorismo social e empresa social.

Para Comini et al (2012), o termo utilizado e muito difundido nesse continente

é empresa social, sendo legalmente reconhecido na maioria dos países. A

motivação inicial estava em suprir o gargalo deixado pelo poder público, oferecendo

serviços a preços mais baixos com o intuito de gerar emprego para os

37

desempregados ou para a população marginalizada de uma forma geral (COMINI et

al, 2012).

Nessa vertente há também preocupação nos trabalhos acadêmicos com

relação à tensão entre obter retorno financeiro e impacto social, por esse motivo,

enfatizam a importância da participação dos beneficiários no processo de tomada de

decisão e da necessidade do reinvestimento do lucro dentro da organização para

garantir o crescimento e o impacto social (COMINI et al, 2012) .

Quanto à esse modelo de governança, é um dos mais relevantes fatores nas

definições europeias de empresas sociais, pela tradição no associativismo, tendo

uma lógica da tomada de decisão transparente e participativa (COMINI et al, 2012).

Dessa forma, essa dimensão coletiva, reduz o comportamento oportunista gerado

por uma falta de estrutura de governança (GALERA; BORGAZA, 2009).

De acordo com essas caracterizações propostas pelos autores, utilizamos a

definição de uma instituição inglesa de fomento aos empreendimentos sociais, a

Social Enterprise UK (2014), propondo que uma empresa social deve: ter uma

missão social/ ambiental clara estabelecida nos seus documentos oficiais; gerar a

maior parte da sua renda pelo comércio (e não apenas doações, mas este tipo de

mecanismo financeiro também é considerado); reinvestir a maior parte do seu lucro;

ser autônoma; ser conduzida pelo interesse da missão social; e ser responsável e

transparente.

Existem três categorias dessas empresas na Europa: empresas que

promovem a inclusão social e o emprego, chamadas de WISE (Work Integrantion

social Enterprise); empresas cujo objetivo principal é produzir produtos e serviços

com utilidade social ou direcionados para um interesse coletivo; e empresas que

promovem a economia local e o desenvolvimento social incentivando a participação

dos cidadãos e do governo local no gerenciamento de suas atividades

(TRAVAGLINI; BANDINI; MANCINONE, 2009). Mediante essa categorização dos

autores, deve-se notar que as formas coletivas, com dinâmicas participativas são

centrais na Europa, enquanto nos EUA predominam os perfis individuais

(FERREIRA et al, 2014), como veremos a seguir.

Na concepção norte-americana é predominante o termo negócio social

(COMINI et al, 2012), podendo abranger empresas com objetivo social, como na

38

Europa, mas também uma empresa tradicional que incorpora uma unidade de

negócio com objetivos sociais. Também é atribuído às organizações sem fins

lucrativos, que começaram a utilizar mecanismos de mercado com a

comercialização de produtos e serviços.

Essa divergência está associada às duas escolas de pensamento dessa

abordagem, uma originária do mundo corporativo e a outra do contexto dos

empreendimentos sociais (COMINI et al, 2012). Portanto, de acordo com Kerlin

(2006), na perspectiva americana, o conceito engloba qualquer ação

empreendedora de mercado que possua objetivos sociais, incluindo as corporações,

as sociedades limitadas e as organizações sem fins lucrativos.

Para Ferreira et al (2014), nos EUA o contexto é baseado nas fundações que

fornecem suporte financeiro e visibilidade aos empreendimentos sociais, bem como

fomentam uma indústria baseada nos métodos de negócios, que ganham

estratégias adaptadas pelas organizações sem fins lucrativos buscando alternativas

ou formas mais estáveis de recursos para o financiamento de suas atividades.

Dessa forma, Reficco et al (2006), argumentam que no cenário norte-

americano as empresas sociais não são vistas como um fenômeno organizacional

diferenciado dos negócios tradicionais, enfatizando que as empresas sociais nos

EUA emergem do encontro do terceiro setor e do setor privado, enquanto na Europa

surge do encontro das Organizações Não Governamentais (ONGs) e da economia

social. Esse contexto é complementado por Defourny e Nyssens (2009) apud

Ferreira et al (2014) ao mencionarem que a primeira escola dos EUA começa com a

busca de rendas, com vendas de bens e serviços, e na Europa as iniciativas

empresariais são uma combinação de mecanismos de mercado e não mercado.

Por fim, na ultima abordagem, a dos países em desenvolvimento, o termo

utilizado é negócios inclusivos, com exceção do caso brasileiro que adota o termo

negócios sociais, como a terminologia mais comum na literatura (COMINI et al,

2012). Os autores Comini e Teodósio (2012) explicam que negócios inclusivos no

Brasil é uma subcategoria dos negócios sociais porque esta seria uma expressão

usual que faz parte da realidade das empresas e ONGs no país para designar a

inclusão de grupos marginalizados no mercado de trabalho, gerando possibilidade

de renda a essas pessoas. Esses grupos podem ser: homens e mulheres maiores

39

de 40 anos que são pobres e desprovidos de educação formal, pessoas jovens sem

experiência de trabalho que moram em áreas vulneráveis, ou seja, em suma se

refere a maioria da população pobre que vive em situação de risco (COMINI;

TEODÓSIO, 2012).

As visões da América latina e asiática apresentam muitos aspectos em

comum, ambos associam fortemente aos negócios inclusivos ou sociais as

iniciativas que promovem a redução da pobreza com impactos positivos, eficazes e

de longo prazo (COMINI et al, 2012). Corroborando com o aspecto fundamental da

redução da pobreza, Márques, Reficco e Berger (2010) apud Comini et al (2012)

argumentam que para se caracterizar como negócios inclusivos não basta ser

autossuficiente, é necessário ser lucrativo e deve ser baseado na premissa da

transformação dos padrões de vida da população de baixa renda.

Considerando esses aspectos, pesquisadores da Social Enterprise

Knowledge Network (SEKN), uma instituição latino-americana, define os negócios

sociais como organizações ou empresas que por meio de iniciativas de mercado

geram valor social, incluindo, portanto, ONGs e organizações com fins lucrativos ou

organizações do setor privado engajadas em atividades típicas do setor público

(COMINI et al, 2012).

Nesse aspecto da população ser incluída diretamente no processo de

produção e não apenas de consumo podemos citar uma pesquisa realizada pela

rede SEKN entre 2006 e 2009 com 33 iniciativas na América Latina, mostrando que

pequenas e médias empresas (PME), bem como organizações da sociedade civil

são mais ágeis e dispostas à internalização de inovações necessárias para conduzir

um negócio inclusivo. Nesse sentido, o grupo de pesquisadores da instituição

reforça o papel das PME e das organizações da sociedade civil como fomento aos

negócios inclusivos, enfatizando que a população de baixa renda pode se mover da

condição de consumidores para fornecedores das grandes corporações, se unindo a

cadeia de valor. Esta seria uma alternativa para gerar um maior impacto social,

enxergando a população não apenas como consumidores, como propõe a visão

tradicional da base da pirâmide (COMINI et al, 2012), sendo esta uma das críticas a

este movimento.

40

Posteriormente à breve exposição das três abordagens, podemos depreender

que a abordagem norte-americana possui uma perspectiva baseada em mercado,

enquanto na Europa há mais ênfase no social. Já a abordagem dos países em

desenvolvimento se encontra entre as duas primeiras, em alguns momentos se

aproxima da Europa, quando, por exemplo, enfatiza que o direcionamento principal

do negócio é o impacto social e, por vezes, se aproxima da norte-americana, como

pelo modelo de governança, especialmente na América Latina (COMINI et al, 2012).

Porém existem dois fatores que podem explicar a falta de homogeneidade

das perspectivas apresentadas. Um deles se refere à forma diferente de se definir o

valor social das empresas e o segundo está relacionado com a diferença nas formas

de avaliar o impacto social e a inovação produzida por este tipo de organização

(COMINI et al, 2012). Apesar dessas diferenças na origem, visões e nomenclaturas,

as três abordagens apontam para um mesmo objetivo (FERREIRA et al, 2014),

aspecto que será reforçado ao longo de todo o trabalho, que é a atuação para

solucionar problemas sociais, divergindo na forma de constituição dessas

organizações, gestão e participação dos setores da economia, o Estado, ONGs e

empresas privadas.

Podemos dizer que o aspecto fim, referente a existir organizações que

solucionam problemas sociais, é o comum, o que se diferencia são os meios para

atingir esses objetivos sociais (COMINI et al, 2012). No caso Brasileiro,

considerando a forte influência exercida, tanto da Europa, quanto norte-americana

(FREYRE, 2006 apud COMINI et al, 2012), sobre a sociedade e cultura brasileira,

não é surpresa que o país apresente características que permeiam todas as

abordagens (COMINI et al, 2012). Para um melhor entendimento dos aspectos

principais de cada abordagem e para facilitar a análise comparativa entre elas,

segue abaixo a figura 13.

Perspectiva europeia Perspectiva americana

Perspectiva dos países em

desenvolvimento

Denominação predominante

Empresa social Negócio social Negócio social e Negocio inclusivo

Definição Organizações nas

quais os negócios são Qualquer atividade de mercado empresarial

Organizações ou empresas que geram

41

conduzidos por objetivos sociais

que possua impacto social inserido nas

atividades de negócio

mudança social por atividade de mercado

Peculiaridades

Nasce da tradição da economia social e

prega o associativismo e o cooperativismo

Entendem negócios sociais como

organizações privadas com lógica de

mercado dedicadas a soluções de

problemas sociais

Enfatiza iniciativas de mercado que visam à redução da pobreza

e à ampliação de ações de inclusão

social

Formato Jurídico

Reconhece-se a formalização jurídica

na maioria dos países

Há múltiplas formas organizacionais e

jurídicas

Não existe formato jurídico específico

para negócios sociais. Essas iniciativas são

estruturadas sobre modelos jurídicos já

existentes.

Proposta principal

Oferecer serviços, originalmente da esfera do setor

público, a preços baixos e gerando oportunidade de emprego para

desempregados e para população

marginalizada

Dar acesso a bens e serviços antes apenas

disponíveis para o segmento da

população mais rico

Iniciativas de redução da pobreza que

devem ter impacto social positivo,

efetivo e, especialmente, de

longo prazo

Quem promove o processo

Empresas com direcionamento social

Grandes corporações/ Multinacionais

PMEs e ONGs, mas com crescente interesse das multinacionais

Formato do negócio

Empresas sociais são diferenciadas porque sua proposta social/

ambiental é absolutamente central

no que fazem

Buscam valor compartilhado:

resultados financeiros + impacto social

Impacto social é o principal foco

Escala Não é relevante Muito relevante Desejável

Lucro

Reinvestimento dos lucros dentro da organização para contribuir com o

crescimento e impacto social

Distribuição dos dividendos faz parte

da lógica do mercado

Visão da Ásia: lucro apenas deve ser

reinvestido na empresa

Visão da América Latina: aceitável a distribuição dos

dividendos

Modelo de governança

Participação dos beneficiários no

processo de decisão

Decisão corporativa e centralizada, mas com

parcerias e uma crescente ideia de co-

criação

Visão da Ásia: mais colaborativo e com participação dos

beneficiários Visão da América

42

Latina: aceitável ambos os modelos (participatório ou

centralizado)

Medição de impacto

Principalmente impacto social

Impacto social e financeiro

Principalmente impacto social

Figura 13 – Principais elementos dos negócios sociais para cada abordagem Fonte: Adaptado de Comini et al (2012) (tradução livre do autor)

Posteriormente a contextualização das três abordagens, a proposta agora é

compilar algumas definições desenvolvidas por instituições relevantes no fomento

aos negócios sociais, bem como destacar a terminologia utilizada por cada um para

se referir a este tipo de empreendimento (figura 14), possibilitando uma análise

comparativa.

YUNUS NEGÓCIOS SOCIAIS

Nomenclatura utilizada

Negócios sociais

Conceito “(...) são empresas que têm a única missão de solucionar um problema social, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos.”

PANO CDE

Nomenclatura utilizada

Negócios Sociais

Conceito “(...) são negócios economicamente rentáveis que utilizam soluções de mercado para melhorar a qualidade de vida e gerar impacto social positivo como parte do seu core business. Facilitam o acesso a serviços de melhor qualidade ou incluem a participação das classes CDE na sua cadeia de valor.”

SEBRAE

Nomenclatura utilizada

Negócios Sociais

Conceito “(...) iniciativas financeiramente sustentáveis, geridas por pequenos negócios, com viés econômico e caráter social e/ou ambiental, que contribuam para transformar a realidade de populações menos favorecidas e fomentem o desenvolvimento da economia nacional.”

ARTEMÍSIA

Nomenclatura utilizada

Negócios de Impacto Social

Conceito “São empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda.”

FUNDAÇÃO AVINA

Nomenclatura utilizada

Negócios Inclusivos

Conceito “(...) são iniciativas economicamente rentáveis e ambiental e/ou socialmente responsáveis que utilizam os mecanismos do mercado para melhorar a qualidade de vida das pessoas de baixa renda,

43

estimulando sua participação em todas as fases da cadeia de valor.”

SOCIAL ENTERPRISE UK

Nomenclatura utilizada

Empresa Social

Conceito “(...) é um negócio que comercializa para enfrentar os problemas sociais, melhorar as comunidades, as chances de vida das pessoas ou o ambiente.”

VIRTUE VENTURES

Nomenclatura utilizada

Empresa Social

Conceito “(...) é qualquer empreendimento criada para servir a um propósito social – mitigar ou reduzir um problema social ou uma falha de mercado – e para gerar valor social operando com a disciplina financeira, inovação e determinação, típicas do setor privado.”

Figura 14 – Diferentes nomenclaturas e conceitos sobre negócios sociais Fonte: Elaboração própria, baseado em Assad et al (2010)

Mediante o quadro apresentado, podemos perceber a falta de

homogeneidade nas abordagens conceituais, inclusive no que diz respeito à

nomenclatura utilizada. É importante estar atento à algumas particularidades das

instituições levantadas, por exemplo, a AVINA atua na América Latina,

possivelmente por esse motivo, como apresentado por Comini et al (2012), se

apropriam do termo negócios inclusivos, típico na região.

Além da AVINA, outros exemplos podem ser observados. A Social Enterprise

UK, como uma instituição que atua na Europa, pode ser correlacionado também a

utilização do termo empresas sociais a realidade geográfica da mesma. O SEBRAE,

na sua definição, ressalta sobre a participação dos pequenos negócios,

possivelmente porque a sua atuação é nas chamadas PMEs (pequenas e médias

empresas). E o Plano CDE, como instituição que atua frente às classes C, D e E,

traz no seu conceito este termo, fazendo alusão ao foco da sua prática profissional.

Podemos dizer que muitas definições estão vinculadas aos interesses e

formas de atuação das instituições de fomento, consequentemente, as organizações

se moldam ou procuram instituições que estão mais de acordo com a sua atuação e

esse processo permite uma falta de padronização muito grande para que se possa

de fato ter uma definição mais homogênea.

Outro aspecto importante é que muitas vezes essas definições são melhores

desmembradas em caracterizações, pré-requisitos ou princípios propostos por essas

instituições para os negócios sociais. Dessa forma, faz-se necessário uma constante

44

atualização sobre o recorte conceitual utilizado por essas instituições. Há também os

aspectos que são incisivos para algumas instituições, como a escalabilidade e a

distribuição de lucros, enquanto para outras esses aspectos não promove qualquer

alteração no conceito.

Algumas instituições, inclusive, esclarecem que existem várias formatações

diferenciadas para este tipo de negócio e apenas determinam um direcionamento

capaz de possibilitar um recorte, mas todas elas de alguma forma ressaltam em

suas definições os dois pilares mais importantes, que são: a tentativa de resolução

de um problema social ou geração de impacto social positivo na sociedade; e o uso

de iniciativas/ mecanismos de mercado que pudessem trazer aos negócios

sustentabilidade financeira, o que confere um caráter híbrido a essas organizações.

No que diz respeito à realidade brasileira, Assad et al (2010) realizaram uma

pesquisa que levantou algumas organizações vinculadas a três instituições de

fomento no Brasil, a Ashoka, a Artemisia e a Avina. Os autores utilizaram

organizações que cumprissem dois critérios: foco na atuação em áreas como

Desenvolvimento Econômico, Meio Ambiente e Tecnologia Alternativa (1), conceitos

relacionados com o impacto positivo na sociedade; e que tivessem um “braço”

empresarial ou comercial, ou seja, alguma iniciativa de renda própria (2). As

entrevistas realizadas pretendiam, sobretudo, identificar como os empreendedores

definiam seus próprios empreendimentos (figura 15).

Nome do Empreendimento

Organização Apoiadora

Como você define o seu empreendimento?

Sementes da Paz Artemisia “Um empreendimento que pratica o comércio justo de alimentos e produtos ecológicos e solidários”.

Tekoha Artemisia

“A Tekoha é um negócio social que comercializa produtos desenvolvidos por comunidades de baixa renda, que expressam sua cultura e criam um negócio sustentável para a população local. Comercializamos os produtos principalmente no mercado de brindes corporativos sustentáveis e também atuamos no varejo e com exportações”.

Feira Preta Artemisia

“Uma plataforma de desenvolvimento da comunidade negra. No Feira Preta nós trabalhamos em duas frentes: Cultura e Comércio. Na parte de cultura procuramos valorizar a cultura negra, com ações de inclusão. Já no comércio trabalhamos no fomento desse mercado”.

45

Aoka Artemisia “Um Negócio Social. A AOKA é uma operadora de turismo sustentável”.

Museus Acessíveis

Artemisia “O Museus Acessíveis é um negócio social voltado para a inclusão cultural dos deficientes físicos”.

Solidarium Artemisia

“A Solidarium é uma empresa social que atua com criação, produção e distribuição de produtos alinhados aos princípios do Fair Trade (Comercio Justo)”.

A Banca Artemisia “Uma produtora cultural e social que promove inclusão de jovens das comunidades periféricas”.

Mundaréu1 Avina “Somos uma OSCIP que promove inclusão e desenvolvimento para produtores artesanais através dos princípios do comercio justo”.

Copa-Roca Avina “Uma cooperativa de mulheres que trabalham com o setor da moda”.

Aliança Empreendedora

Avina

“A Aliança Empreendedora é uma organização social que, através de serviços, negócios sociais e projetos em parceria com organizações públicas e privadas, viabiliza e amplia “Acessos” para que empreendedores de baixa renda possam desenvolver seu negócio”.

IDEAAS Ashoka e

Avina

“O IDEAAS é uma organização sem fins lucrativos. Os projetos que desenvolvemos em parceria com empresas e organizações são modelos de negócios sociais”.

CDI Ashoka e

Avina

“CDI é uma ONG e possui duas iniciativas de negócio social. (i) a CDI Consultoria, que oferece consultoria a empresas que queiram atuar nos mercados de baixa renda, (ii) o CDI Lan, que tem como objetivo transformar lan houses em espaços de educação, cultura, entretenimento e informação através de capacitação, formalização e geração de renda para esse canal”.

Figura 15 – Definição de empreendedores sociais brasileiros sobre seus empreendimentos Fonte: Assad et al (2012)

Os autores Assad et al (2012), fazem algumas considerações a respeito da

pesquisa desenvolvida, que pode ilustrar a realidade desse tipo de negócio no Brasil

e mostrar algumas dificuldades em delimitar conceitos:

Fica claro na análise deste quadro que a diversidade de definições que envolvem os Negócios Sociais no Brasil é muito grande. Nesta pequena amostra, já nos deparamos com termos como, ONGs, cooperativa, plataforma, empresa e negócio social, dentre outros, para exemplificar a estrutura institucional adotada. Os focos também são distintos, envolvendo produção, comércio justo, consultoria, turismo, etc. Esses dados de multiplicidade de arranjos institucionais e de focos de atuação fazem os negócios sociais brasileiros

46

estudados se aproximarem mais da abordagem norte americana do que europeia de Empresas Sociais. Assim como ocorre nos Estados Unidos, a falta de uma legislação específica não promove uma institucionalização mais profunda do movimento (s/p).

Portanto, a depender principalmente da abordagem que se utilize, norte-

americana, europeia ou dos países em desenvolvimento, e da instituição de

fomento, podemos considerar que existem negócios sociais que atuam variando

entre dois extremos, do mercado aos aspectos sociais (figura 16).

Maior ênfase no mercado Maior ênfase nos aspectos

sociais

Objetivo principal Acesso a um mercado amplo

(BoP) Redução da pobreza

Oferta Qualquer serviço ou produto

para o BoP

Produtos e serviços relativos às necessidades básicas

(educação, saúde, habitação, alimentação e financeira)

Intencionalidade Geração de valor social é importante, porém não é

central

Geração de valor social é central no negócio

Impacto Contribuição indireta para

diminuição da pobreza Contribuição direta para diminuição da pobreza

Clientes BoP não é o único alvo Principalmente BoP

Base da pirâmide Principalmente como

consumidores

Principalmente como produtores, fornecedores e

beneficiários

Escalabilidade Muito relevante Não muito relevante

Trabalhadores Sem prioridade Marginalizados ou

economicamente excluídos

Formato legal Empresa do setor privado Organizações da sociedade civil

Envolvimento da comunidade na

tomada de decisão Sem participação

Existem mecanismos institucionais para participação

coletiva

Responsabilidade Não é uma prioridade Prioridade total

Distribuição do lucro Distribuição dos dividendos Lucro todo reinvestido na

empresa

Valor econômico Lucro baseado nas vendas

menos as despesas

Lucro não exclui cruzar subsídios, doações e benefícios

fiscais

Valor Social Indicadores tangíveis (dar

acesso a produtos e venda)

Indicadores intangíveis (cidadania, autoestima, capital

social) Figura 16 – Quadro analítico para análise dos negócios sociais Fonte: Comini et al (2012) (tradução livre do autor)

47

Finalmente, é necessário se aprofundar nas discussões teóricas, mas sempre

levando em consideração a região e experiências locais que promovem o negócio

social, especialmente no Brasil, pois o contexto socioeconômico do país vem

sofrendo significantes mudanças nas condições de vida da população de baixa

renda (COMINI et al, 2012).

Segundo o Brasil27 (2014), que realiza no momento estudos de caso com

negócios sociais em todos os estados do Brasil, é necessário saber os conceitos

utilizados, porém consideram que não é estritamente necessário estabelecer uma

definição exata e propõem que uma forma mais eficaz seja estabelecer critérios

mínimos que sirvam de filtro inicial.

A partir da contextualização das três perspectivas e das discussões propostas

acima, podemos discorrer agora sobre algumas caracterizações e observações

desenvolvidas pelos autores e instituições de fomento que podem incrementar na

formulação dos conceitos para a realização deste trabalho.

Um aspecto importante é sobre a iniciativa fazer parte ou não do core

business, ou seja, o impacto social estar diretamente relacionado com a atividade

principal da organização. Alguns autores defendem que necessariamente deve estar

(ARTESMISIA; SEBRAE, 2013), mas Comini e Teodósio (2012) e Comini et al

(2012), por exemplo, consideram que atividades secundárias e periféricas também

possam ser caracterizadas como um negócio social.

Exemplos desse ultimo posicionamento são as organizações da sociedade

civil que desenvolvem atividades de geração de renda indiretamente relacionadas

com a sua atividade principal para obter recursos; ou uma unidade de negócio

voltada para o setor de baixa renda de uma grande multinacional (COMINI;

TEODÓSIO, 2012). Essas variações implicarão numa diferenciação sobre a

abrangência do conceito negócio social, podendo ser eliminadas muitas iniciativas.

Para o SEBRAE (2013, p.6), “a análise da realidade social e seu contexto são

fundamentais para determinar o negócio social”, o que significa que um mesmo

modelo de negócio pode ser considerado um tipo de negócio social em uma

localidade e em outra pode não ser aplicável, pois os problemas sociais e o contexto

local são distintos.

48

Somado a isso, a intencionalidade é outro fator muito importante (SEBRAE,

2013; ARTEMISIA, 2014). Dessa forma, podemos exemplificar com a realidade do

Rio de Janeiro, um negócio instalado em uma favela, por exemplo, não

necessariamente é um negócio social, pois irá depender da intencionalidade com

que se conduz o negócio e também do diálogo da organização com as necessidades

reais daquele grupo que está diretamente impactado pela atividade.

Outro aspecto é a natureza jurídica dessas organizações, “na prática essas

organizações se configuram por várias naturezas jurídicas que operam como

negócio” (SEBRAE, 2013, p. 6), não deixando claramente delimitado qual natureza

jurídica esse tipo de organização deveria ter, como também a Artemisia (2014) e a

Avina (2014). Porém, a Yunus Negócios Sociais é mais enfática ao dizer que essas

organizações devem estar legalmente estruturadas como empresa

(Microempreeendedor Individual, ltda, S.A. etc).

No que diz respeito ao publico beneficiado, muitas instituições frisam sobre

atingir positivamente a população de baixa renda ou as classes CDE (PLANO CDE;

ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; AVINA, 2014), porém outras mencionam apenas

sobre o foco em um problema social e melhora da qualidade de vida da população

de uma forma mais geral (YUNUS; SOCIAL ENTERPRISE UK; VIRTUE VENTURE).

Nesse aspecto também devemos levar em consideração outra informação

trazida por Weppen e Cochrane (2012), que por meio de uma pesquisa realizada

com empresas sociais na área de turismo, foi percebido que haveria uma

particularidade dessas organizações, que conseguem diferenciar beneficiários

(publico alvo) dos clientes (mercado alvo), portanto, os consumidores não são, na

maioria dos casos, os impactados no aspecto socioeconômico e sim os chamados

beneficiários desse processo, que é a população envolvida na atividade.

Quanto às áreas de atuação que os negócios sociais podem vir a se

estabelecer, existe maior tendência a se pensar e investir em negócios sociais

diretamente vinculados as necessidades básicas, como saúde, habitação, serviços

financeiros e educação, como destaca a Artemisia (2014). Porém, existem também

outras frentes de negócio, o SEBRAE (2013), por exemplo, cita 13 campos de

atuação: Água e Saneamento básico; Agricultura; Artesanato; Canais de

49

distribuição; Cultura; Educação; Energia; Habitação; Meio ambiente; Tecnologia de

Informação e Comunicação; Turismo; Saúde; e Serviços financeiros/ microfinanças.

Este trabalho estará concentrado em detalhar mais sobre os conceitos

pertinentes a área de turismo que vão de encontro à atuação dos negócios sociais e

trazer exemplos desse tipo de organização que atue no turismo. Apesar de não ser

considerado uma necessidade básica, veremos de que forma se dá o impacto social

de uma organização deste tipo e quais serão as suas especificidades.

Comini e Teodósio (2012) contextualizam melhor sobre a necessidade de

amadurecimento dos agentes envolvidos com relação à temática:

Apesar da ambiguidade e diversidade dos termos, pode-se afirmar que este tipo de empreendimento social exige um novo formato. Novas também são as exigências feitas aos gestores deste tipo empreendimentos que desde a sua criação devem gerenciar eventuais conflitos e tensões que ocorrem na medida que é necessário maximizar retorno social com rentabilidade financeira. Para isso, é necessário quebrar paradigmas presentes na forma tradicional de fazer negócios e de atuar no social. Desde o momento zero do empreendimento, é fundamental inovar e viabilizar novos arranjos institucionais. Não é possível reproduzir o modelo tradicional de business, inserindo apenas a dimensão social. É necessário pensar e agir diferente. É necessário que organizações da sociedade civil dêem as mãos para organizações empresariais e ambos pensem de que forma podem atuar juntos, sob a lei de mercado, com o objetivo comum de contribuir para reverter a situação de exclusão. Nesse ambiente, independentemente do nomeou da classificação que for dada ao projeto/iniciativa, co-criação passa ser a palavra de ordem. (COMINI; TEODÓSIO, 2012, s/p)

Para possibilitar uma melhor análise no segundo capítulo desse trabalho das

organizações escolhidas, veremos ainda, na próxima seção, as formas de atuação

dessas organizações, no que diz respeito à estrutura financeira, aos consumidores e

beneficiários, às atividades de negócios, dentre outros aspectos.

1.4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL: DISTINTAS FORMAS DE ATUAÇÃO NAS

ORGANIZAÇÕES

Nesta seção iremos entender mais sobre as diferentes maneiras de se

estruturar uma organização com as características debatidas acima, especialmente

sobre a dualidade do valor social e valor econômico. É importante salientar sobre a

50

dificuldade de se usar os modelos prontos, pois muitas vezes são baseados em

definições e caracterizações de um determinado autor, porém, como vimos, existe

uma divergência muito grande entre as definições. Portanto, ao adotar um modelo,

podemos correr o risco de deturpar algum conceito. Porém agora pretendemos

apresentar o que a literatura nos coloca seja por empresa social, negócio social ou

negócio inclusivo ou quaisquer outras terminologias similares e, posteriormente,

debatermos sobre o que é proposto.

Kim Alter, diretora da Virtue Venture, apropriada pelo posicionamento da

instituição, já antes apresentado, será uma das autoras mais utilizadas nesta parte

do trabalho, pois desenvolveu um completo material sobre tipologias de empresas

sociais (nomenclatura utilizada pela autora), que possibilita melhor categorizá-las

sobre vários aspectos, como pela estratégia financeira ou publico alvo. Quando

houver, serão apresentados também outros autores.

A primeira classificação proposta por Alter (2007) se refere à orientação da

missão da empresa e a segunda é sobre o nível de integração dos programas

sociais com a atividade de negócio da organização, ambas as abordagens dialogam

entre si. Essas proposições podem ser cruzadas com a discussão divergente entre

alguns autores sobre a iniciativa fazer parte do core business ou não, vejamos o que

é proposto.

A orientação da empresa pela missão pode variar em dois extremos,

motivação pela missão (com ênfase no social) e a motivação pelo lucro (ALTER,

2007), como pode ser observado na figura 17:

Figura 17 – Orientação de empresas sociais pela missão Fonte: Adaptado de Alter (2007) (tradução livre do autor)

51

Uma empresa social de missão central significa que a missão social da

organização é central para a empresa, que foi criada para avançar nessa missão por

meio de um modelo de autosustentabilidade financeira. Nesses casos, em geral, se

trata de uma empresa social incorporada no que diz respeito aos programas sociais

e as atividades de negócio, ou seja, esses dois mecanismos são um só, são a

mesma coisa (ALTER, 2007).

Empresas sociais incorporadas são evidentes em modelos onde: atividades

comerciais e sociais são unificadas; a missão social é a proposta central do negócio;

e o publico alvo (clientes) é parte integrante do modelo como receptores diretos dos

serviços sociais (beneficiários) e também do mercado (consumidores) (ALTER,

2007). A figura 18 ilustra essa integração:

Figura 18 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais incorporadas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

A segunda orientação pela missão da empresa é chamada de empresa social

de missão relacionada a partir da criação de valor social para programas sociais e

gerando valor econômico para subsidiar programas sociais e os custos operacionais

da organização. Esse tipo de orientação normalmente se caracteriza por empresas

sociais integradas, no que tange as atividades de negócios e os programas sociais.

Porém, uma empresa social integrada pode ser também uma empresa de missão

central (ALTER, 2007).

Nas empresas sociais integradas, suas atividades de negócio são conectadas

com a missão da organização, mas não se configura como algo único com relação

aos programas sociais, que, na verdade, faz uma sobreposição com as atividades

52

de negócio da empresa. Essas empresas podem estar estruturadas como um centro

de lucro ou um departamento dentro de uma organização sem fins lucrativos ou,

ainda, como uma entidade separada.

Empresas sociais integradas são evidentes em modelos onde: atividades

sociais e econômicas se sobrepõem; há uma sinergia entre as atividades sociais e

econômicas, como a divisão de custos, alavancagem de ativos, aprimoramento de

sistemas e a expansão e fortalecimento da missão; e o publico alvo (clientes) é

diretamente beneficiado pela renda proveniente do empreendimento social que

proporciona financiamento aos programas sociais e os clientes podem ou não estar

envolvidos em operações da empresa como funcionários ou consumidores (figura

19).

Figura 19 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais integradas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Por fim, aproximado da lógica do lucro, temos as empresas sociais de missão

não relacionada, que normalmente tomam forma de empresas sociais externas. As

atividades da empresa podem ter uma tendência social, mas a motivação para a

criação da empresa social é o potencial de lucro. Nesse caso, normalmente são

caracterizadas como empresas sociais externas , quando os programas sociais são

diferentes das atividades de negócio, sem sobreposição inclusive. Mas uma

empresa de missão não relacionada também pode ser considerada empresa social

integrada, a depender do trabalho desenvolvido (ALTER, 2007).

Segundo Alter (2007), empresas sociais externas são criadas a partir de

organizações sem fins lucrativos para financiar seus serviços sociais e custos

operacionais. Essas empresas, em geral, não trazem benefícios por alavancagem,

53

divisão de custos e programas mais sinérgicos, ao contrário, se preocupam em

servir ao propósito do lucro. Podem ser estruturadas dentro de uma organização

mãe como um centro de lucro ou separadamente, como subsidiária de uma

organização sem fins lucrativos ou com fins lucrativos, gerando valor econômico

para dar suporte à criação de valor social.

Empresas sociais externas são evidentes em modelos onde: atividades

sociais e econômicas são conectadas pela organização sem fins lucrativos e a

relação de financiamento que é estabelecida entre elas; a motivação para atividades

econômicas é um mecanismo de financiamento para atividades sociais; e o publico

alvo (clientes) é diretamente beneficiado pela geração de renda proveniente da

empresa social que financia a organização mãe, que raramente é envolvida nas

operações da empresa (figura 20).

Figura 20 – Programas sociais e atividades de negócio - empresas sociais externas Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Quanto às estratégias financeiras, Alter (2007) explica que o nível de

autossustentabilidade da empresa social depende dos objetivos financeiros, do tipo

de empresa e da maturidade. A seguir, na figura 21, detalharemos sobre essa

estrutura organizacional. Essa estrutura não representa estágios das empresas, mas

caracteriza de acordo com a forma de trabalho de cada tipo de empresa social. O

fato de uma empresa expressar objetivos de se movimentar entre os tipos a serem

apresentados é uma questão de maturidade. Está apresentado de forma gradual,

variando do modelo mais dependente ao mais autossustentável financeiramente.

(ALTER, 2007).

54

Estrutura organizacional

Organização sem fins

lucrativos tradicionais/

Empresa social

Empresa Social

Empresa Social

Empresa Social

Quadro financeiro

Parcialmente autossustentável

Autossuficiência do fluxo de caixa

Autossuficiência operacional

Autossuficiência financeira

Nível da renda

Renda gerada cobre parte das despesas operacionais ou recupera custos do programa

Renda gerada cobre custos operacionais mais baixo que as taxas de mercado

Renda gerada cobre todos os custos operacionais , sem custos totais de mercado (capital e investimentos)

Renda gerada cobre todos os custos operacionais e custos de investimento com taxa de mercado

Subsidio

Empresa ou organização mãe majoritariamente subsidiado

Déficit entre a renda gerada e os custos, capital de investimento e subsidio crescente

Custo de capital, parcialmente subsidiado por empréstimos, e despesas de capital

Sem subsídios

Viabiliadade por earned income

Sem viabilidade. Organização é dependente de subsídios e doações para sobreviver; pode ter fundos próprios de serviços ou atividades isolados

Aproximando-se da viabilidade. Cobre os custos diretos; estrutura de custos e crescimento subsidiado; receita abrange operações diárias até o breakeven

Viabilidade esperada. Breakeven operacional; nenhuma receita excedente, subsídios diminuem; receitas cobrem todos os custos operacionais

Entre viável e lucrativo. Receitas cobrem todos os custos financeiros e operacionais; Lucros acumulados para crescimento financeiro. Organização sem fins lucrativos pode mudar seu status legal para uma organização com fins lucrativos

Tipo de subsidio

Subsídios Subsídios para financiar déficit

Taxas vantajosas permitidas por lei se a organização

Doações filantrópicas

Descontos e taxas vantajosas

Descontos ou taxas vantajosas

55

Trabalho voluntário

Trabalho voluntário ou com mão de obra mais barata (estagiários)

permanecer como uma organização sem fins lucrativos

Apoio em espécie

Taxas de juros abaixo do mercado

Taxas de juros abaixo do mercado

Apoio da organização mãe

Apoio da organização mãe

Apoio da organização mãe

Contratos preferenciais

Contratos preferenciais

Contratos preferenciais

Figura 21 – Possibilidades de estrutura financeira de uma empresa social Fonte: Adaptado de Alter (2007) (tradução livre do autor)

No que diz respeito às fontes de recursos para projetos e negócios sociais e

negócios inclusivos, Walmart e a Ashoka (2011) apontam 8 tipos. A primeira é o

capital de risco que geralmente é investido em empresas já existente, de 3 a 5 anos,

de pequeno e médio portes com potencial de crescimento e retorno (financeiro,

social e/ou ambiental) ao investidor, que também pode adquirir parte das ações da

empresa. Esse recurso serve para dar as primeiras expansões, elevando, em geral,

a escala de impacto social e financeiro.

Há também o microcrédito, que se trata de um empréstimo sem garantias

formais e a juros inferiores, adequado para a população de baixa renda. Esse tipo de

recurso disponibiliza capital para o início ou fomento de microempreendimentos. Em

terceiro temos o capital semente, investimento feito na fase inicial, que visa altos

retornos com disponibilidade para correr riscos mais altos, ajudando o

empreendedor a dar os primeiros passos (WALMART; ASHOKA, 2011)

O quarto tipo de recurso são as doações que é um recurso doado por

pessoas físicas ou jurídicas para determinada causa social. O principal foco são as

organizações sem fins lucrativos, e não os negócios sociais, com a possibilidade ou

não de desconto no Imposto de Renda. As doações financiam em geral projetos

sociais (WALMART; ASHOKA, 2011).

Temos também o crowdfunding, é uma modalidade de doações via internet

por ação de cooperativa coletiva realizada por indivíduos que contribuem

financeiramente para apoiar uma iniciativa de pessoas ou organizações. Esse

56

recurso visa financiar ações sociais, culturais e outras iniciativas individuais e

coletivas (WALMART; ASHOKA, 2011).

O sexto exemplo de fonte de recurso são os empréstimos, no qual o

empreendedor recebe um montante, a ser pago parcelado e com juros, normalmente

abaixo dos praticados no mercado, podendo financiar tanto iniciativas de

empreendedorismo social, quanto econômico. Há também o Fundo não restituível,

que é disponibilizado por um investidor sem contrapartida de reembolso financeiro

(WALMART; ASHOKA, 2011).

Por fim, temos o modelo híbrido, que normalmente combina capital de risco,

empréstimos e/ ou aportes a fundo não restituível, de acordo com a análise do

negócio social e sua perspectiva de expansão. Esse modelo híbrido serve, portanto,

para financiar projetos de empreendedorismo social com retorno econômico em

negócios de alto potencial de crescimento baseado em resultados financeiros e

sociais (WALMART; ASHOKA, 2011).

A seguir, na figura 22, Alter (2007) também apresenta métodos que

possibilitam a geração de renda em empresas sociais:

Metódo Descrição

Cobrança de taxa para o serviço

Cobrar do cliente pelo serviço social para cobrir os custos da prestação do serviço

Produtos Renda gerada pela produção e venda de produtos ou markup ou revenda do mesmo

Serviços Comercialização de uma habilidade ou conhecimento para um mercado disposto a pagar

Pagamento de anuidade Taxas coletadas dos membros do grupo, associação ou organização em troca de serviços como descontos, conferencias, seguros...

Ativos tangíveis Geração de renda por aluguel de um ativo tangível, como espaço de escritório, equipamentos...

Ativos intangíveis Geração de renda pela alavancagem de um ativo intangível, como metodologia, marca, reputação...

Dividendos por investimento

Geração de renda passiva de investimentos

Atividade de negócio não relacionada

Receita de negócios não relacionados com a missão da organização e criada com o objetivo de financiar uma atividade social específica ou a organização como um todo

Figura 22 – Métodos de geração de renda de uma empresa social Fonte: Adaptado Alter (2007) (tradução livre do autor)

57

As empresas sociais, da mesma maneira que as empresas tradicionais,

podem comercializar em vários tipos de mercados. Em muitos desses modelos

econômicos de geração de renda, o consumidor é também o cliente. Esse cliente é,

portanto, pessoas pobres, que pode comprometer o potencial financeiro das

empresas (ALTER 2007).

Em muitos programas da sociedade civil, os clientes não são definidos pelo

seu poder aquisitivo e podem ter poder de compra, nesses casos os clientes não

limitam o potencial de receita. A empresa social pode então atender qualquer tipo de

consumidor, a depender dos seus objetivos financeiros desenvolvidos no modelo de

negócio (ALTER, 2007).

Essa proposição dialoga também com a diferença entre publico alvo

(beneficiários) e mercado alvo (clientes), já exposto anteriormente, como uma

particularidade de algumas organizações que atuam com o foco no impacto social

atrelado a geração de renda própria. Portanto, o mercado alvo de um negócio social

não é necessariamente pessoas de baixa renda.

É importante também discutirmos sobre a possibilidade de comprometer a

receita da empresa caso o publico e mercado alvo sejam o mesmo, a população de

baixa renda. Podemos também pensar em outras diferentes estratégias adotadas

por essas organizações, sendo uma delas a comercialização em grande volume, o

que pode equilibrar a receita. O fato de ser a população de baixa renda o

consumidor, podemos considerar outros aspectos a serem pensados, como a forma

de pagamento, mas não necessariamente vender para um publico mais pobre

compromete o resultado financeiro da empresa, apenas pode trazer alguns desafios.

Na figura 23, a seguir, Alter (2007) apresenta uma categorização de possíveis

consumidores de empresas sociais:

Mercado Descrição

Publico alvo O cliente e consumidor são o mesmo

Contribuintes terceiros Quem paga pelo produto ou serviço não é o usuário, que é o cliente. Contribuintes terceiros das empresas sociais são doadores, seguradoras ou o governo

Publico geral Consumidores em geral que compram produtos e serviços na empresa social, que em alguns casos pode ter motivação social

Negócios e organizações Organizações que compram produtos e serviços de

58

sem fins lucrativos empresas sociais

Contratos governamentais Governo compra produtos e serviços de empresas sociais

Figura 23 – Tipos de consumidores de empresas sociais Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Para finalizar os diferentes aspectos que possibilitam um melhor

entendimento dessas organizações, Alter (2007) propõe alguns modelos

operacionais que ilustram de que forma essas organizações criam valor econômico

e valor social, podendo ser aplicado a instituições, programas ou prestação de

serviço.

Segundo Alter (2007), esses modelos são desenhados de acordo com os

objetivos sociais e financeiros da organização, missão, dinâmica de mercado,

necessidade dos clientes e os aspectos legais de cada local. Esses modelos podem

ser também combinados e melhorados para atingir máxima eficiência na criação de

valor. Vejamos agora um pouco sobre cada modelo.

O primeiro deles é o Modelo de Suporte ao Empresário, que consiste na

venda de suporte à negócios e serviços financeiros para o publico alvo, que são

indivíduos ou empresas que atuam por conta própria. Com esse serviço, esse

publico alvo, que pelos exemplos trazidos pela a autora se trata de grupos

marginalizados da sociedade, como fazendeiros rurais de baixa renda e mulheres de

baixa renda, consegue vender seus produtos e serviços no mercado (ALTER, 2007).

Nesse caso, normalmente, o programa social é o negócio, tendo como missão

central facilitar a segurança financeira do seu publico alvo fornecendo suporte às

atividades empresariais. Uma organização que adota esse modelo consegue

sustentabilidade financeira pela venda de serviços e utilizam essa renda para cobrir

custos associados com a prestação do serviço oferecido, bem como as despesas

operacionais do negócio (ALTER, 2007). A figura 24 ilustra o modelo descrito.

59

Figura 24 – Modelo de Suporte ao Empresário Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Outro modelo é o Modelo Intermediário de Mercado (figura 25), que fornece

serviços para seu publico alvo, pequenos produtores (indivíduos, empresas ou

cooperativas), para ajuda-los a acessar o mercado. Os serviços oferecidos

adicionam valor aos produtos feitos pelo cliente, por exemplo: desenvolvimento de

produto; produção e comercialização; e crédito. Essas empresas também compram

produtos feitos pelo publico alvo diretamente ou em consignação e depois vendem

os produtos em mercados de altas margens (ALTER, 2007).

As empresas que trabalham com esse modelo, normalmente o programa

social é o negócio, tendo a missão centrada no fortalecimento do mercado e

facilitando a segurança financeira do seu publico alvo, ajudando a desenvolver e

vender seus produtos. Essas empresas atingem sustentabilidade financeira pela

venda dos produtos feitos por seus clientes, usando a renda para os custos

operacionais e para cobrir custos de programas de desenvolvimento de produto,

divulgação e serviços de crédito aos clientes (ALTER, 2007). Pelos exemplos dados

pela a autora, o publico alvo também é um publico marginalizado.

Figura 25 – Modelo intermediário de mercado Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

60

Temos também o Modelo de Emprego (figura 26), que, como sugere o nome,

fornece oportunidade de emprego e formação profissional para seu publico alvo,

pessoas com grandes barreiras de se inserirem no mercado de trabalho. A empresa

emprega seu publico alvo, considerando as habilidades e limitações dessas

pessoas, bem como a viabilidade comercial, vendendo seus produtos no mercado

(ALTER, 2007).

Nessas empresas, normalmente o programa social é o negócio, sua missão é

central na criação de oportunidades de negócio para seu publico alvo. Oferecem

também serviços de suporte social, como coaches profissionais, treinamentos,

fisioterapia, cuidados com a saúde mental, para permitir um ambiente de trabalho

favorável ao seu publico alvo. Uma empresa que adota esse modelo adquiri

sustentabilidade financeira vendendo seus produtos e serviços, revertendo a receita

para cobrir os custos operacionais associados ao negócio e aos custos adicionais

com seu publico alvo (ALTER, 2007).

Figura 26 – Modelo de emprego Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

O próximo é o Modelo de Taxa de Serviço que comercializa serviços sociais

pela cobrança de uma taxa fixa diretamente para o publico alvo (indivíduos,

empresas ou comunidades) ou para contribuintes terceiros. Nessas empresas o

programa social é normalmente o negócio, que possui a missão central de prestar

serviços sociais no setor que atua. A renda gerada vem das taxas cobradas e é

utilizada como mecanismo para recuperar custos com as despesas de distribuição

do serviço e as despesas do negócio, como marketing (ALTER, 2007).

Uma variação do Modelo de Taxa de Serviço é o chamado Modelo de Cliente

de Baixa Renda como Mercado, com ênfase em fazer com que pessoas de baixa

61

renda tenham acesso a produtos e serviços. Esse publico alvo também pode ser

denominado como base da pirâmide, conceito já antes discutido neste trabalho. A

ressalva é que como o poder aquisitivo desse publico é inferior, atingir viabilidade

financeira pode ser um desafio maior (ALTER, 2007). A figura 27 ilustra ambos os

modelos:

Figura 27 – Modelo de taxa de serviço Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

O modelo seguinte é o Modelo Cooperativo (figura 28), que fornece benefícios

diretamente ao seu público alvo (cooperados), por serviços como: informação de

mercado; assistência técnica; acesso a produtos e serviços; dentre outros. Membros

da cooperativa geralmente são pequenos produtores de um mesmo grupo de

interesses ou uma comunidade com necessidades em comum. Normalmente o

programa social é o negócio, fornecendo serviços aos membros. A sustentabilidade

financeira é alcançada pela venda de produtos e serviços para os cooperados ou no

mercado, usando a renda para cobrir custos associados com a prestação de

serviços aos membros (ALTER, 2007).

Figura 28 – Modelo Cooperativo Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

62

Temos agora o Modelo de Ligação de Mercado (figura 29) que procura

facilitar as relações comerciais entre o público alvo (pequenos produtores,

cooperativas e empresas locais) e o mercado externo, ajustando a conexão entre

compradores e produtores, cobrando uma taxa para esse serviço. Diferentemente do

Modelo Intermediário de Mercado, este modelo não vende, só promove a conexão

entre publico alvo e o mercado (ALTER, 2007)

Nesse caso, o programa social é o próprio negócio quando a empresa social

tem a missão de resolver questões relativas à ligação entre o mercado e o público

alvo e os programas sociais são baseados nesse objetivo, usando a renda para

financiar esses programas sociais. Caso a empresa seja criada para comercializar

serviços sociais de uma organização ou alavancar seus ativos intangíveis, como a

relação comercial, e a renda ser usada para subsidiar outros serviços ao cliente,

temos uma sobreposição dos programas sociais e das atividades de negócio

(ALTER, 2007).

Figura 29 – Modelo de ligação de mercado Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Temos, ainda, o Modelo de Subsidiação (figura 30) de Serviço que vende

produtos e serviços para o mercado externo, usando a renda para gerar fundos para

os programas sociais. Nesse caso, as atividades de negócio se sobrepõem aos

programas sociais. Apesar da missão ser separada das atividades comerciais e esse

modelo ser adotado basicamente com o intuito de financiamento, essas atividades

comerciais podem ampliar ou melhorar a missão da organização.

63

Figura 30 – Modelo de Subsidiação Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

Por fim, o ultimo modelo proposto é o Modelo de Suporte Organizacional

(figura 31), que vende produtos e serviços no mercado externo, para negócios ou

para o publico em geral. Em alguns casos o publico alvo é também o consumidor.

Geralmente as atividades de negócio são separadas dos programas sociais (ALTER,

2007).

Este modelo é criado com a função de financiar uma organização e

geralmente é estruturado como um negócio subsidiário (como uma organização sem

fins lucrativos ou com fins lucrativos) de propriedade de uma organização sem fins

lucrativos mãe. A receita líquida é usada para cobrir programas sociais e despesas

operacionais dessa organização mãe. Atuam como empresas externas que não

trazem benefícios como divisão de custos com programas sinérgicos, precisam ser

lucrativos para atingir seu propósito (ALTER, 2007).

Figura 31 – Modelo de suporte organizacional Fonte: Alter (2007) (tradução livre do autor)

64

Tendo em vista toda a literatura apresentada, devemos entender a relação

dos conceitos apresentados com os conceitos pertinentes ao turismo, promovendo a

reflexão e compreendendo sobre a dinâmica das empresas que atuam na área.

Veremos agora se correlacionar as temáticas é algo utópico ou real e se já faz parte

do cotidiano de muitas práticas turísticas.

1.5 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E TURISMO: UTOPIA OU REALIDADE?

O turismo se configura como uma alternativa econômica, mas, sobretudo, se

apresenta com uma dinâmica própria, podendo atuar como um agente de

transformação social (DREHER; OLIVEIRA, 2004). Para Cruz (2001), o turismo

provoca o deslocamento de pessoas pelo território tornando esse espaço geográfico

seu principal objeto de consumo.

Como já vimos, o empreendedorismo dialoga com a sociedade, pois não são

dissociados, apenas podem variar na aplicabilidade dos interesses, sendo os

empreendedores sociais os agentes de transformação social. No turismo essas

transformações precisam articular os envolvidos na atividade com a formatação e

aplicação dos produtos, na postura dos próprios turistas e no consenso da

comunidade sobre as ações a serem desenvolvidas. Além disso, a ação

empreendedora está muito vinculada, dentre outros conceitos, a dimensão cultural e

aos impactos negativos que a atividade provoca (DREHER; OLIVEIRA, 2004).

De acordo com Ramos (2004), o turismo é uma das atividades que mais

crescem no mundo. Em muitos países, inclusive, não é apenas uma atividade

periférica, mas a principal forma de geração de renda e empregos. Ramos (2004)

explica que, no Brasil, o turismo é o setor da economia que mais cresce em

produção e geração de empregos. Porém, um dos aspectos importantes é a maneira

como se trabalha a atividade, considerada muitas vezes apenas como uma forma de

se ganhar dinheiro, sendo deixado de lado seu caráter exploratório, pois realizado

de forma inconsciente e irresponsável, o turismo se torna causador da extinção da

própria atividade.

65

Pinto e Campos (2004) esclarecem que o desenvolvimento focado no viés

econômico provocou um processo de massificação no turismo, conhecido como

turismo de massa. Essa prática turística transforma as regiões, descaracterizando as

culturas, se desenvolvendo sem qualquer compromisso com o local, causando muito

mais impactos negativos do que positivos para o meio ambiente e para os

residentes.

É importante o entendimento do que vem a ser o turismo, apontado pela

OMT, Organização Mundial do Turismo, (2001), principal órgão regulador da

atividade, como “as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e

estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo

inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros” (p.38). Alguns aspectos valem ser

destacados nessa definição. O primeiro deles são as atividades realizadas que

compreendem desde a compra de passagem à fruição da viagem em si. O segundo

aspecto é o processo que vai desde o momento que se decide viajar ao retorno para

o local de residência. E em terceiro destacamos o tempo de estada, previsto pela

OMT (2001) que deve ser um período superior a 24 horas e inferior a 365 dias.

Goeld, Richie e McIntosh (2002) complementam a definição pelo olhar do

fenômeno da interação entre os turistas e os prestadores de serviços, as empresas,

governos locais e os próprios residentes. Essa é uma característica intrínseca da

atividade e importante para correlacionar com a temática dos negócios socais,

aspecto que será abordado por outras perspectivas nesse trabalho.

Ao falar de interação, pensamos na necessidade de entender melhor por uma

categorização quem são os atores envolvidos na atividade turística, chamados de

agentes sociais produtores do turismo, São eles: o turista; o poder público; os

agentes de mercado, que são grandes empresas/ cadeias internacionais,

empresários locais, fornecedores de serviços e matérias primas; os trabalhadores

diretos e indiretos, que se dividem em formais e informais; e a população residente,

envolvida diretamente ou não, podendo ver o turismo como possibilidade de

desenvolvimento local ou com olhar mais negativo, evitando contato e se afastando

de áreas com concentração de turistas (FRATUCCI, 2009).

Vamos expor alguns princípios fundamentais e princípios desejáveis que

permeiam a atividade turística, propostos por Panosso Netto (2010). Começando

66

pelos princípios fundamentais, o primeiro é o sujeito, pois é imprescindível a

presença do turista, que também não se desloca sem manter interação com o

anfitrião, que se caracteriza por aquele que recebe ou por aquele que presta

serviços. Nesse aspecto, podemos depreender a presença de indivíduos e suas

relações sociais.

O segundo princípio fundamental é o deslocamento, podendo ser interno

(dentro do país) ou externo (fora do país de origem) (PANOSSO NETTO, 2010).

Para Dreher e Oliveira (2004), o turismo não se limita a origem e ao destino, possui

um perímetro de impacto mais amplo, se levarmos em consideração os fluxos,

criando e se apropriando desses espaços de deslocamento.

Em seguida, consideramos o princípio retorno, pois a viagem é um ciclo,

pressupondo a volta. O quarto princípio é a motivação, pois sempre haverá um

motivo que impulsione a viagem, seja oculto ou manifestado, pois mesmo quando

não há intenção de viajar, há alguma motivação, ainda que forçada (PANOSSO

NETTO, 2010).

O quinto princípio é a hospitalidade, que segundo Panosso Netto (2010) é

caracterizada por um fenômeno sociocultural que engloba o alimento, a bebida e a

hospedagem oferecidos ao turista. O anfitrião pode ter ou não atenção aos anseios

e necessidades do hóspede e essa percepção fará diferença para conquistar o

turista.

Porém precisamos considerar que para o receptor e/ ou prestadores de

serviços lidarem com essa dimensão, é necessário que ele se sinta parte da

atividade. Litwinski e Carneiro (2004) enfatizam que a imposição de regras cria

constrangimentos. As autoras não criticam as regras em si, mas a maneira como

elas são colocadas, sem a participação da comunidade envolvida para que fosse

possível o debate e a criação de alternativas sustentáveis.

Há também outra percepção de hospitalidade, proposta por Grinover (2007),

pelo viés da hospitalidade nas cidades que sugere três dimensões de análise: a

acessibilidade, a legibilidade e a identidade, para então definir se determinado lugar

é hospitaleiro, levando em consideração dois agentes principais, o morador e o

turista. Se a cidade não for hospitaleira para o morador, também não será para o

67

turista, o que faz refletir ainda mais que uma atividade turística envolve uma

dimensão social ampla e delicada.

E para um lugar ser hospitaleiro, deve apresentar a interação e o equilíbrio

entre essas três dimensões. Muitas vezes a hospitalidade é associada à

receptividade das pessoas, restringindo-a a ação humana, mas a hospitalidade nas

cidades extrapola essa delimitação e avalia, inclusive, a qualidade do espaço físico

para os agentes em questão (GRINOVER, 2007).

A acessibilidade diz respeito à disponibilidade de instalações ou meios físicos,

ou ainda à acessibilidade socioeconômica (distribuição de renda), partindo do

princípio que a cidade deve ser de acesso a todos. A dimensão é dividida em

acessibilidade tangível e intangível, sendo a primeira referente à questões mais

palpáveis, como a infraestrutura de transporte viário e a segunda relacionada à

questões como acesso a cultura, informação (GRINOVER, 2007).

A dimensão seguinte, a legibilidade, pode ser entendida como a importância

de uma qualidade visual da cidade a partir de uma imagem mental, sobretudo

formada pelos próprios habitantes, funcionando como uma referencia e de fácil

reconhecimento como parte de uma cidade (GRINOVER, 2007).

Por fim, a identidade é a terceira dimensão, relacionada tanto com as

arraigadas manifestações culturais, as tradições de uma comunidade, quanto às

constantes transformações socioculturais inerentes a pós-modernidade

(GRINOVER, 2007). Dessa forma, como propõe Hall (2003), admite-se que a

identidade seja móvel e se adapte as novas dinâmicas sociais, mas é importante que

não se distancie do reconhecimento e valores de sua comunidade local. Portanto,

para um lugar ser hospitaleiro, deverá apresentar essa dimensão de forma bem

coesa:

Contra a tendência da uniformização das paisagens, dos lugares urbanizados, dos modos de vida, dos modos de ver e de fazer, o apelo à identidade é um resgate da coletividade ameaçada de se dissolver numa subcultura de massa, não a fim de refutar a mundialização, mas dela participar, esforçando-se para salvaguardar sua integridade e ordenar seu destino. Isso se refere a criar um senso comum do grupo, uma força de coesão, um conjunto de referencias para orientar a ação e desenvolver processos de adaptação à mudança. Esse processo tem sentido e ligação para os habitantes, e o torna excepcional e interessante ser descoberto pelo estranho, pelo turista, pelo hóspede, em particular. A identidade de uma

68

região, de uma cidade, é, ao mesmo tempo, o passado vivido por seus atores e um futuro desejado por eles (GRINOVER, 2007, p.152).

Retomando os princípios fundamentais do turismo, para Panosso Netto

(2010), o sexto princípio é a experiência, caracterizada pelos serviços imateriais e

intangíveis e, independente se boa ou ruim, será o principal resquício da viagem.

Esse é um tema bastante falado atualmente, o turismo de experiência. Trigo (2010)

indica que não se trata de um novo segmento, mas de uma tendência que define um

perfil de turismo que preza por vivenciar experiências ímpares, que promove a

interação com a comunidade local, bem como suas mais diversas manifestações.

Emergem, então, práticas turísticas ditas alternativas, que exaltam a

autenticidade e a interação, dimensões ausentes no turismo de massa (CARNEIRO;

FREIRE-MEDEIROS, 2004 apud FREIRE-MEDEIROS, 2007). Organizações como a

Global Exchange e a The Center Global Education, procuram transformar o turismo

em uma atividade mais justa, cedendo espaço para valores da individualidade, da

flexibilização e da auto-realização, em detrimento da previsibilidade, do conforto, do

controle e da eficiência que norteiam o turismo convencional (FREIRE-MEDEIROS,

2007)

O sétimo princípio fundamental é a comunicação, inerente a qualquer viagem,

permitindo se relacionar com outros povos e culturas (PANOSSO NETTO, 2010).

Nesse sentido, é muito relevante o intercambio entre as culturas, para respeitar o

“outro” e entender que não existe “supercultura” ou “subcultura”, existem apenas

culturas diferentes entre si (PINTO; CAMPOS, 2004).

Por fim, o último princípio fundamental do turismo é a tecnologia, mesmo as

atividades desenvolvidas no meio rural ou em áreas inabitadas. Com destaque para

as tecnologias de comunicação e transporte (PANOSSO NETTO, 2010). Esse é um

aspecto também bastante comentado no empreendedorismo, sendo utilizado a favor

do desenvolvimento social. As redes sociais e outras formas de e-commerce no

turismo, por exemplo, é uma maneira de se apropriar da tecnologia, mesmo em

áreas mais isoladas, para divulgar e distribuir produtos e serviços.

Panosso Netto (2010) traz também sete princípios desejáveis, são eles: a

igualdade; a supremacia do interesse publico; a alteridade; a ética; a satisfação

pessoal; a livre vontade; e a sustentabilidade. Será possível observar, considerando

69

tantos argumentos já colocados neste trabalho com relação às mudanças que vem

ocorrendo no mundo, que, cada vez mais, grande parte desses princípios deixam de

ser apenas desejáveis, tendendo a obrigação, por uma exigência do consumidor e

também das comunidades envolvidas.

Além disso, no que tange o empreendedor social que atue no turismo, o

próprio verá necessidade de implementar esses princípios, que juntamente com os

fundamentais e outros conceitos que caracterizam uma prática responsável da

atividade turística, poderão representar o que se prevê também no modo de trabalho

do empreendedor social e, sobretudo, no impacto social que se deseja produzir.

Quanto à igualdade, pretende-se enfatizar que, independente do nível social,

renda, aparência e religião, todos são iguais perante a lei e ao turismo, que deve

valorizar o anfitrião tanto quanto o turista. Portanto, a supremacia do interesse

publico é importante para se fazer prevalecer frente aos interesses individuais, então

se o desejo do turista fere a ordem e a vontade do grupo social, não pode ser

atendido. “Isso não significa a negação de direitos particulares, mas a garantia do

interesse coletivo” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 75). A valorização do coletivo é

outro ponto bastante marcante no empreendedorismo social.

A alteridade é o respeito pelo diferente, que deve se manifestar na relação

entre os sujeitos do turismo, complementando os princípios da hospitalidade

(PANOSSO NETTO, 2010) e da comunicação. “A Ética deve ser entendida como

ciência moral dos costumes” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 75), fazendo alusão a

uma prática correta e lícita. Esse princípio se refere ao profissional do turismo, ao

turista, à comunidade receptora e às autoridades públicas que estão ligadas ao tema

(PANOSSO NETTO, 2010).

A satisfação pessoal já foi mencionada também pela autora Freire-Medeiros

(2007), como uma tendência do turismo, e Panosso Netto (2010) explica que

qualquer atividade humana é natural que se busque o prazer, afirmando que ocorre

o mesmo no turismo. E o princípio da livre vontade refere-se ao que o autor prevê

em qualquer viagem, a liberdade e espontaneidade da escolha, dizendo que não é

comum encontrar alguém viajando por obrigação. Esse é um aspecto que poderia

ser debatido, mas não interfere no direcionamento deste trabalho, afinal, a depender

70

de cada autor, consideram-se pessoas que viajam a trabalho como turismo e,

nesses casos, pode não haver escolha.

Por fim, e intencionalmente deixado para concluir os princípios propostos por

Panosso Netto (2010), está a sustentabilidade. Acreditamos que na verdade esse é

um princípio que pode englobar um pouco de vários outros já mencionados,

especialmente considerando as dimensões abordadas, social, cultural, econômica e

ambiental. Panosso Netto (2010, p. 74) aponta que a “sustentabilidade turística é a

utilização dos recursos turísticos de forma que a continuidade de seu uso seja

assegurada”.

A sustentabilidade social pretende que, apesar de inevitáveis interferências

pelo contato estabelecido entre os sujeitos, as bases originais dos costumes e

modos de fazer, de viver e de ser do grupo sejam preservadas e não se alterem a

ponto de se descaracterizarem e impossibilitarem a continuidade desse contato

(PANOSSO NETTO, 2010).

A sustentabilidade cultural prevê que durante a atividade turística, a cultura,

tanto do visitante, como do visitado, sejam reproduzidas da forma mais original

possível, evitando perda de memória coletiva e história cultural do grupo, bem como

as descaracterizações (PANOSSO NETTO, 2010). O autor separa as dimensões

cultural e social, mas é possível perceber que há uma linha muito tênue que as

separam.

A sustentabilidade econômica se refere à capacidade dos empreendimentos e

trabalhadores prestadores de serviços vinculados ao turismo se manterem em

funcionamento pelo lucro obtido. E a sustentabilidade ambiental ou ecológica está

focada na preservação e conservação do meio ambiente (PANOSSO NETTO,

2010).

A sustentabilidade está ancorada em três fatores importantes: qualidade,

continuidade e equilíbrio (OMT, 2001), ou seja, esses três elementos devem estar

presentes no desenvolvimento do turismo sustentável. A OMT (2005) definiu turismo

sustentável como: “turismo que leva em conta os impactos econômicos, sociais e

ambientais atuais e futuros, considerando as necessidades dos visitantes, da

indústria, do ambiente e das comunidades receptoras”.

71

Para Litwinskt e Carneiro (2004), o turismo sustentável é uma mudança de

comportamento dos turistas e da comunidade envolvida, a médio e longo prazo, que

no Brasil já vem ocorrendo por meio da descentralização, como a municipalização

do turismo, das parceiras publico-privada e da sensibilização sobre a participação do

papel das comunidades na atividade turística.

Panosso Netto (2010) também apresenta os impactos do turismo, positivos e

negativos, nas mesmas dimensões já antes abordadas, econômica, social, cultural e

ambiental, com a finalidade de promover a reflexão acerca da maximização dos

impactos positivos e o conhecimento dos impactos negativos para serem

minimizados.

Quanto ao impacto econômico, o turismo gera renda e emprego para os

envolvidos diretos e indiretamente, exercendo importante papel na diminuição da

desigualdade social pela redistribuição de riquezas. Além disso, os investimentos em

infraestrutura motivados pelo turismo, também são de utilidade dos próprios

residentes e o turismo pode diversificar a economia local, complementando

atividades econômicas já existentes (PANOSSO NETTO, 2010).

Um dos motivos que incentivam os investimentos públicos no turismo é o

caminho percorrido pelo dinheiro dos turistas, que possuem o potencial de efeito

multiplicador, distribuindo o dinheiro pela cadeia e multiplicando seus benefícios.

Quando nos referimos a esses impactos positivos no âmbito econômico, não quer

dizer que a comunidade envolvida se torna milionária, mas pode ter acesso a uma

renda mínima que antes não tinham perspectiva (PANOSSO NETTO, 2010).

Porém, no que diz respeitos aos impactos negativos, podemos citar: a

desvalorização dos trabalhadores locais com pagamento de baixos salários; o

aumento dos preços dos produtos básicos, inflacionados pela demanda turística; a

especulação imobiliária; e a supervalorização do turismo levando ao

desenvolvimento de uma monocultura, ou seja, baseando a economia de uma

localidade apenas no turismo, que é sensível a questões conjunturais (PANOSSO

NETTO, 2010).

O impacto social positivo ocorre a partir do encontro com o outro “estranho”,

das relações estabelecidas com os agentes sociais envolvidos. A alteridade que

explicamos antes é praticada no momento que aceitamos as diferenças culturais,

72

portanto, o turismo permite vínculos sociais que fazem parte também da formação

da personalidade humana, nos ajudando na “construção de nosso ser que se

diferencia do outro” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 86).

O turista pode também contribuir para a autoestima e fortalecimento da união

social do grupo que o recebe a partir da valorização do destino. O respeito se dá

entre os turistas e os anfitriões, mas também entre os próprios turistas. Além disso,

também existem impactos negativos, por exemplo: crescimento populacional na

região acima da média pelo aumento da migração em busca de oportunidades

geradas pelo turismo; crescimento urbano desordenado; xenofobia; aumento do

índice de violência de uma forma geral, como exploração sexual e roubos; entre

outros (PANOSSO NETTO, 2010).

A relação do turista com a comunidade local pode acabar sendo muito

superficial, o que não promove aproximação verdadeira. E a busca excessiva pelo

luxo por parte dos turistas realça ainda mais as diferenças socioeconômicas. Além

disso, os valores tradicionais ficam ameaçados, com a possibilidade de alteração da

estrutura social tradicional pelas possíveis migrações. E esse contato com novos

valores pode despertar na comunidade um desejo de ser igual aos turistas,

provocando um processo de homogeneização cultural moldada por valores

exógenos, deixando de lado os valores tradicionais (PANOSSO NETTO, 2010).

“O enriquecimento cultural é um dos pontos fortes propiciados pelo turismo”

(PANOSSO NETTO, 2010, p.90). O turista se beneficia por expandir o seu

conhecimento acerca de outras culturas diretamente relacionadas com a história do

homem e, em contrapartida, a comunidade local se beneficia mostrando sua cultura,

reconhecendo as particularidades e importância de seus modos de vida,

valorizando-os e urgindo a vontade de preservação. A partir disso, programas de

preservação podem ser estimulados e eleva-se a autoestima daquela comunidade

(PANOSSO NETTO, 2010).

Se o contato turista/ comunidade local for harmonioso, as trocas culturais são

intensas levando a um melhor entendimento da realidade vivida por cada um desses

agentes. Porém, se os impactos negativos não forem levados em consideração no

planejamento, podem se sobressair e se tornar um vilão para que a atividade

73

turística seja desenvolvida de forma aceita pelos agentes sociais produtores do

turismo, especialmente a comunidade local (PANOSSO NETTO, 2010).

Existe aquele turista que se desloca sem um objetivo claro, apenas pelo

interesse de sair do seu entorno habitual, muitas vezes essa alienação se reflete em

uma prática turística superficial, que não há preocupação em conhecer os costumes,

e história nem o povo local. É importante também relativizar o impacto e entender o

ponto de vista dos agentes sociais envolvidos, especialmente a comunidade local

(PANOSSO NETTO, 2010).

O Turismo vive uma constante dicotomia entre a manutenção das identidades

locais versus o desenvolvimento econômico. Segundo Panosso Netto (2010), um

impacto pode ser negativo do ponto de vista cultural, pela perda das tradições, e

positivo pela geração de renda. Daí pode se iniciar um ciclo vicioso de

mercantilização da cultura local, surgindo um “pseudoevento” pela perda da

autenticidade. “Ou seja, o residente finge uma cultura e o turista finge que acredita

que o residente não está fingindo” (PANOSSO NETTO, 2010, p. 94).

Nesse sentido é necessário encontrar um equilíbrio por meio de um

planejamento participativo, dialogando com os interesses de todos os agentes

sociais produtores do turismo e se evite processos como a perda das tradições e a

comercialização de produtos teatralizados, que não retratam e não preserva a

cultural local.

Por fim, podemos citar os impactos sobre o ambiente, afinal, como metade da

população vive em áreas urbanas com alto nível de estresse e poluição, um dos

segmentos que mais se destaca é o ecoturismo, aquele desenvolvido em áreas

naturais com consciência da importância da preservação ambiental. Existem

exemplos de ecoturismo ao redor do mundo que combinam preservação e estudos

científicos com o turismo. Muitas vezes parte do valor pago pelo produto turístico é

investido a favor desses incentivos, como cursos e infraestrutura direcionada às

práticas conscientes de ecoturismo (PANOSSO NETTO, 2010).

Alguns impactos negativos são: a produção de lixo deixado nos locais; a

erosão nas trilhas; a escassez e poluição da água; a descaracterização e

desqualificação do habitat natural da região com construções modernas e

empreendimentos turísticos mal geridos; a privatização de áreas naturais, antes

74

públicas; entre outros. Essa situação é tão prejudicial para a comunidade local, que

tem sua qualidade de vida reduzida, quanto para a atividade turística, que pode

entrar em colapso pela deterioração do recurso turístico que compõe o produto

(PANOSSO NETTO, 2010).

Muitas vezes o turista inconsciente pensa que não precisa se preocupar com

nenhuma economia, já que está pagando pelo produto, um pensamento destrutivo e

explorador, que afeta na realidade de todo o planeta. Dessa forma, o turismo, que

tem potencial de difusão de ideias e deveria ser o principal agente na preservação

ambiental (PANOSSO NETTO, 2010), é alinhado com a lógica do capital e

empobrece uma experiência turística autêntica.

De acordo com Panosso Netto (2010), o turismo responsável é uma

possibilidade, tendo como principais características: a minimização dos impactos

negativos econômicos, ambientais e sociais; geração de mais benefícios

econômicos para a comunidade local, aumento do seu bem-estar, condições de

trabalho e acesso ao setor; envolver a população local nas decisões; criar

contribuições para a conservação da herança ambiental e cultural; promover

experiências memoráveis, baseadas no contato e na valorização da compreensão

das questões culturais, sociais e ambientais; promover acesso a pessoas com

dificuldade física; e gerar uma relação de confiança e respeito entre turistas e

anfitriões.

Para o autor, a temática do turismo responsável pressupõe o envolvimento de

todos os agentes sociais produtores do turismo, especialmente na inclusão da

comunidade local no processo decisório (aspecto que vai muito de encontro com o

empreendedorismo social). Essa é uma prática típica dos países em

desenvolvimento, visando a preservação dos destinos e a autonomia das

comunidades receptoras (outro aspecto alinhado com o empreendedorismo social,

quando falamos nos vários tipos de empoderamento).

Entre os princípios de responsabilidade econômica, social, ambiental e

cultural no turismo, podemos destacar: não exploração da mão de obra local;

equilíbrio na relação empregado-empregador; desenvolvimento de produtos de

qualidade; preservação dos destinos; capacidade da comunidade local de planejar o

turismo; aumento indefinido do tempo do ciclo de vida do destino turístico; combate

75

a exploração sexual (tema forte no Brasil); promoção da educação ambiental e da

educação do turismo; gerenciamento dos recursos naturais; e desenvolvimento de

boas práticas, entre outros (PANOSSO NETTO, 2010).

Panosso Netto (2010) fala um pouco sobre o que compreende dessa postura

responsável e de iniciativas que podem se desdobrar nesse processo:

Essa postura responsável passa por uma questão de ética, de costumes, de educação, de conscientização, de valorização do outro e de si mesmo, valorização das gerações futuras, respeito com a fauna e flora e cultura do bom relacionamento. [...] Com essa perspectiva de responsabilidade, já existem vários programas e ações ao redor do mundo. Entre eles estão iniciativas de inclusão de pessoas mais pobres no turismo, que procuram reduzir a pobreza e, efetivamente, capacitá-los para que também tenham condições de decidir sobre o turismo em sua localidade. Essas ações dependerão, substancialmente, do envolvimento dos governos nacionais e de líderes locais que acreditam no desenvolvimento mais justo da atividade (p.103).

Tendo o entendimento dos princípios fundamentais e desejáveis para que a

atividade turística ocorra e seja desenvolvida de maneira responsável, veremos

conceitos sobre segmentação turística. Serão destacados neste trabalho alguns

segmentos que apresentam convergência de interesses com a teorização do

empreendedorismo social e que possivelmente sejam mais típicos nos negócios

sociais.

É importante lembrar que não se deseja debater sobre segmentação turística,

apenas mostrar segmentos e práticas a luz de fontes consagradas, caracterizando-

os e traçando um diálogo com os conceitos já apresentados. Os segmentos

turísticos que serão apresentados estão relacionados com a motivação do turista

para viajar e com o desenvolvimento do produto, influenciando na escolha dos

destinos e direcionando a forma de atuação de uma empresa, o que pode configurá-

la como um negócio social. Os diferentes segmentos poderão se sobrepor, visto a

dinamicidade da motivação do turista e a sutil interseção que se apresenta entre os

mesmos.

Vamos iniciar pelo percussor do turismo, o turismo cultural (BRASIL, 2010),

que revela uma série de cuidados relacionados à valorização do patrimônio cultural,

material ou imaterial:

76

Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura (BRASIL, 2010, p. 15).

Por esse motivo, o turista com esta motivação não deseja apenas lazer e

repouso, deseja conhecer a história de um povo, suas tradições culturais, históricas

e religiosas. Essa experiência estará pautada no próprio turista, pois cada momento

que se compartilha vivências com a população local já é um atrativo para os que

desejam apreciar a cultura e que possuem compromisso em valorizar os aspectos

sociais também (LITWINSKI; CARNEIRO, 2004).

Toda viagem é uma experiência cultural, mas o que irá se configurar como

elemento diferencial do turismo cultural é a motivação da viagem estar centrada em

temas da cultura. Existem, então, quatro aspectos que caracterizam esse tipo de

turismo (BRASIL, 2010).

O primeiro deles é as atividades turísticas, entendidas como: transporte;

agenciamento turístico; hospedagem; alimentação; recepção; eventos; recreação e

entretenimento; e outras atividades complementares. Esses equipamentos e

serviços irão assimilar elementos característicos da identidade e traduzir o

envolvimento da empresa com o lugar e com o turista (BRASIL, 2010).

O segundo aspecto é a vivência relacionado com as experiências positivas

que serão mediadas entre o patrimônio histórico e cultural e eventos culturais com o

visitante. “Vivenciar significa sentir, captar a essência (...)” (BRASIL, 2010, p.16),

viabilizando formas de interação com o patrimônio de modo a propiciar a

compreensão e valorização do objeto de visita; e atividades com experiências

participativas, contemplativas e de entretenimento (BRASIL, 2010).

O patrimônio histórico cultural e eventos culturais é outro aspecto, pois

revelam a memória e identidade de um povo. Bens culturais compreende espaços

destinados a contemplação de bens materiais e imateriais. E os eventos culturais

são as manifestações entendidas ou não como patrimônio cultural, de caráter

temporário (BRASIL, 2010).

77

Por fim, o ultimo aspecto é a valorização e promoção dos bens materiais e

imateriais da cultura que significa um processo de incentivo a permanência desses

elementos representantes da memória e identidade de um povo, por meio da

promoção, manutenção desses espaços e difusão do conhecimento, reconhecendo

sua importância na relação turista e comunidade local e promovendo benefícios para

ambos (BRASIL, 2010).

Outro segmento que pode ter grande destaque entre os negócios sociais é o

turismo de base comunitária, também chamado pelos autores como turismo situado

ou turismo comunitário, “modelo de turismo onde as populações tradicionais, os

trabalhadores rurais, os pescadores, os representantes das culturas indígenas são

os principais protagonistas” (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009, p.15),

revelando um comprometimento ativo dos atores locais (BARTHOLO, 2009). É um

segmento centrado no local e nas relações que se estabelecem nele, com o intuito

de atender aos questionamentos do mundo contemporâneo no que se refere à

mercantilização e espetacularização da natureza e da cultura, o interesse não está

mais na padronização cultural (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009).

O turismo de base comunitária é considerado, portanto, um contraponto ao

turismo de massa, se caracterizando como uma atividade geradora de benefícios

diretos a comunidade local envolvida, exigindo um trabalho conjunto entre setor

publico e privado, sociedade civil organizada e instituições de ensino. A riqueza não

está baseada na comercialização de produtos, mas na possibilidade de relação

direta entre os agentes envolvidos, sendo contrário a qualquer prática que afete

negativamente os povos, sua cultura e meio ambiente (BARTHOLO; SANSOLO;

BURSZTYN, 2009). Podemos definir o segmento como:

“(...) toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. A característica distinta do turismo comunitário é a dimensão humana e cultural, vale dizer antropológica, com o objetivo de incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de qualidade com nossos visitantes na perspectiva de conhecer e aprender com seus respectivos modos de vida.” (MALDONADO, 2006 apud MALDONADO, 2009, p.31)

78

Corroborando Maldonado (2009), Bartholo (2009) aponta que as relações

interpessoais são preponderantes nos serviços turísticos implementados na

comunidade. Maldonado (2009) cita seis formas de participação da comunidade, são

elas: a autogestão do negócio turístico, quando a comunidade é gestora de um

negócio por iniciativa própria mobilizando seus recursos patrimoniais naturais,

culturais e humanos; a parceria de negócios com uma empresa privada, cada sócio

com a sua contribuição, a comunidade tem direito ao lucro e pode progressivamente

alcançar cargos administrativos e se tornar proprietária; a parceira comercial com

operadoras de turismo, que comercializa o produto e controla o fluxo de turistas e,

por sua vez, a comunidade é responsável por recebê-los, prestar serviços, obtendo

lucro com a atividade turística; a concessão de recursos comunitários em usufruto,

quando uma operadora privada utiliza temporariamente recursos naturais e serviços

culturais da comunidade e, em contrapartida cede benefícios socioeconômicos à

comunidade, como investimentos em infraestrutura; o trabalho assalariado para

operários, quando a comunidade é aproveitada como mão de obra para as

operações turísticas; e as formas híbridas, que podem fazer um arranjo entre as

formas de participação já antes apresentadas.

O autor conclui destacando que o importante de cada modalidade é o grau de

controle exercido pela comunidade sobre a empresa, seja gerindo ou possuindo

poder de negociação frente aos agentes econômicos e institucionais. O autor cita um

dos aspectos importantes abordados no empreendedorismo social, o

empoderamento, apontando como elemento essencial para que se alcance os

objetivos de bem estar da comunidade envolvida, com equidade social e alívio da

pobreza.

O turismo voluntário é outro importante segmento dentro dos conceitos

abordados neste trabalho, pois pode promover benefícios sociais por meio da sua

atividade de negócio. Para Wearing (2001) são turistas que comprometem seu

tempo de férias de forma organizada com atividades voluntárias, por diferentes

razões, aliviando a pobreza de grupos sociais, restaurando o meio ambiente ou

desenvolvendo pesquisas com a sociedade ou o meio ambiente.

Podemos dizer que esse tipo de turismo é bilateral no sentido de gerar

benefícios para comunidade local, pela ação do voluntário, e para o próprio turista,

79

por meio de um processo altruísta capaz de promover a transformação e o

autodesenvolvimento. É conhecido como uma prática alternativa de turismo, pois

normalmente um turista busca escapar da sua realidade e relaxar, ao contrário do

turista voluntário que se engaja em algum trabalho social árduo (WEARING, 2001).

Coren e Gray (2012) apontam que depois do sucesso desse segmento,

surgiram muitas organizações comerciais dominando o mercado, o que impulsionou

a transição das organizações sem fins lucrativos para comerciais, instaurando um

processo de mercantilização. Por isso, para Wearing e McGehee (2013), o cenário

do turismo voluntário foi modificado. As autoras apostam que essas organizações

dirigidas pelo lucro geram um impacto na comunidade diferenciado, se compararmos

com empresas que emergiram de ONGs, pois o direcionamento pelo lucro traz

consumidor, o voluntário, para o foco da empresa, em detrimento da comunidade

local. As autoras ainda ressaltam que não há pesquisas que comprovem essa

tendência até o momento.

Existem muitos projetos de turismo voluntário geridos por organizações que

não são orientadas para o turismo, como o World Bank, que apresenta uma

defasagem de conhecimento no que se refere à indústria do turismo, além disso, há

muito trabalho voluntário em comunidades pequenas, áreas ambientais afastadas e

projetos científicos, que normalmente já estão deslocados da cadeia do turismo

(DEVEREUX, 2008 apud WEARING; MCGEHEE, 2013). Dessa forma, algumas

organizações não se reconhecem como parte da cadeia produtiva do turismo e,

inclusive, resistem a essa categorização por entenderem a atividade turística pelo

viés apenas do lazer, conferindo caráter pouco sério (MCGEHEE, 2002). Essa

problemática pode implicar em dificuldades no planejamento e profissionalização da

atividade turística, inclusive no que se refere ao reconhecimento de empreendimento

sociais que atuem no setor.

Outro segmento que promove de maneira sustentável o turismo,

estabelecendo uma relação saudável entre a natureza, a comunidade local e o

visitante é o Ecoturismo, definido como “(...) um segmento da atividade turística que

utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a conservação

e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do

ambiente, promovendo o bem-estar das populações” (BRASIL, 1994, p. 19).

80

“O Ecoturismo assenta-se no tripé: interpretação; conservação; e

sustentabilidade” (BRASIL, 2010, p. 19), caracterizado por produtos que permitem o

contato com o meio ambiente, proporcionando ao turista a vivência, mas também o

conhecimento e consciência ambiental das áreas onde ocorre. O conceito de

ecoturismo está diretamente relacionado com turismo sustentável, prática que

engloba as necessidade dos turistas e da comunidade local, assegurando a

manutenção do destino turístico para uso futuro (BRASIL, 2010).

Agora, não menos importante, porém mais polêmico na perspectiva dos

negócios sociais, podemos destacar o segmento turismo social, que preza por um

turismo justo que beneficie todos os agentes envolvidos, mas se caracteriza,

sobretudo, por ter como consumidor pessoas de classes “(...) com renda insuficiente

para usufruir de uma experiência turística de qualidade, ou a grupos em situação de

exclusão que, por motivos diversos, têm suas possibilidades de lazer limitadas (...),

segmentos populares ou em situação de vulnerabilidade” (BRASIL, 2010, p. 5).

O lazer é um direito social, garantido legalmente para qualquer cidadão,

portanto, não deveria ser considerado um privilégio. No entanto, infelizmente é

desfavorecido, sobretudo se pensarmos nas ações do poder publico no Brasil,

ineficientes do ponto de vista social. A fim de tornar a atividade com acesso mais

igualitário, iniciativas que tentam garantir esse direito estão gradualmente ganhando

força, na medida em que o turismo no Brasil e no mundo assume um processo de

expansão (CHEIBUB, 2013).

Cheibub (2013) explica que as iniciativas podem variar em dois polos: dar

oportunidade de experiências turísticas àqueles que não teriam condições; e ser

utilizado como instrumento de controle e alcance da paz social. Esse fato torna

relevante uma pesquisa mais aprofundada acerca do contexto da instituição,

levando em consideração a real intencionalidade de quem promove a atividade.

Esse controle está muito associado a uma questão histórica, popularizada no século

XX, em que o Estado tentava controlar o tempo de não trabalho, que era cada vez

maior (CHEIBUB, 2013).

O turismo social pode se traduzir em dois tipos de experiências, recuperativa

e funcional. A primeira tem um caráter mais de descanso, sem programação pré-

definida, o que confere mais liberdade ao usuário. E a segunda possui atividades

81

com mais conteúdo, estando mais enrijecida à ideologia da instituição, que do seu

ponto de vista, está oferecendo atividades que podem ser culturalmente

enriquecedoras para o usuário.

Por que dizer que o turismo social seria mais polêmico na perspectiva dos

negócios sociais? Muitas vezes, como vimos nos conceitos debatidos na seção

anterior, os autores vinculam a atuação dos negócios sociais ao fornecimento de

serviços vinculados às necessidades conhecidas como básicas, por exemplo, saúde,

educação, habitação e finanças.

No entanto, é necessário vermos o acesso ao lazer como um direito social

legalmente garantido, que deveria ser dever do Estado viabilizar esses serviços para

toda a população. Serviços que podem dar acesso à cultura de uma forma geral,

promovendo uma série de benefícios ao indivíduo que consome no que tange, por

exemplo, à educação e à autoestima. Como muitas vezes o poder público não

consegue suprir essa demanda, existem empresas que atuam nessa perspectiva.

Vale ressaltar que não estamos afirmando neste trabalho que todas as

empresas desses segmentos apresentados podem ser reconhecidas como negócios

sociais. Foram apresentadas práticas turísticas que converge interesses com o

empreendedorismo social e possivelmente aparecerão na forma de trabalho das

organizações turísticas que atuam como negócios sociais. Veremos na próxima

seção o recorte teórico que utilizaremos nesse trabalho, especialmente com relação

aos negócios sociais, para que seja possível na análise sobre as organizações

brasileiras cruzar os conceitos sobre os segmentos e sobre negócios sociais.

1.6 CONCLUSÃO

Como vimos ao longo da discussão que se propôs colocar neste trabalho, os

negócios sociais são uma parte do que se entende como empreendedorismo social.

Dessa maneira, existem alguns conceitos presentes neste macro tema que deverão

atravessar pela temática específica dos negócios sociais. Neste trabalho, iremos

adotar a definição de Oliveira (figura 32).

82

Consideramos também as quatro variáveis propostas por Austin et al (2007),

que apontam especificidades da forma de atuação deste tipo de empreendimento. E

o empoderamento promovido pelas iniciativas de empreendedorismo social, nos

mais diferentes aspectos, trazida por Melo Neto e Froes (2002) (figura 32).

Para estabelecer as categorias de empresas que se caracterizam como

empreendedorismo social, vamos utilizar neste trabalho a proposta de Alter (2007)

sobre o que a autora chama de quadro híbrido (figura 32). No entanto, o foco deste

trabalho será no que a autora chama de empresas sociais, porém, algumas

proposições trazidas por Alter (2007) para definir este tipo de organização serão

adaptadas e dialogadas com as ideias de outros autores, a fim de melhor conceituar

o que se quer entender sobre negócios sociais neste trabalho.

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Definição (OLIVEIRA, 2004, p.15)

“uma ação inovadora voltada para o campo social cujo processo se inicia com a observação de determinada situação-problema local, para a qual se procura, em seguida, elaborar uma alternativa de enfrentamento.”

Quatro variáveis de análise diferenciam o empreendedorismo social (AUSTIN et al, 2006)

Falha de mercado Uma oportunidade de negócio

Missão Criar valor social e gerar lucro

Mobilização de recursos Fatores que influenciam a articulação de recurso humano e financeiro

Avaliação de desempenho Aspectos mais intangíveis, qualitativos

Empoderamento (MELO NETO e FROES, 2002)

Econômico

Social

Mental

Psíquico

Espiritual

Político

Hibridismo nas organizações (ALTER, 2007)

Motivos Mistura motivos do bem estar social e interesses próprios

Métodos Direcionado pela missão (social) e pelo mercado

Objetivos Criação de valor econômico e social

Lucro Reinvestir, reter ou redistribuir

Tipos de organizações (ALTER, 2007)

Organizações sem fins lucrativos com atividades de geração de renda

Empresas Sociais

Negócio de responsabilidade social

Corporações que praticam responsabilidade socal Figura 32 – Autores e conceitos do empreendedorismo social Fonte: Elaboração própria

83

A nomenclatura a ser utilizada neste trabalho será negócios sociais (figura

33), proposto por Comini et al (2012) como a mais comum no Brasil, nesse caso, os

negócios sociais equivalem ao que Alter (2007) chama de empresas sociais. E a

definição a ser adotada é da instituição Virtue Venture (2014) (figura 33), pois

acreditamos que pode dar conta das confusões conceituais que ainda se desdobram

nas teorias e pode melhor se ajustar às diferentes realidades locais. Essa definição

também não limita o público alvo a população de baixa renda, pois neste trabalho

desejamos ter um entendimento mais amplo sobre problema social, podendo se

referir à qualquer tipo de impacto social, independente do público e do serviço/

produto que é oferecido.

Além da definição a ser utilizada, algumas características são fundamentais

para que seja possível fazer um melhor recorte dos negócios sociais dentro das

inciativas que compreendem o empreendedorismo social. Uma delas, como já

propõe a definição, corroborada por Alter (2007), SEBRAE (2013) e Artemisia

(2014), é a coexistência do valor social e econômico (figura 33). O SEBRAE (2013)

enfatiza, inclusive, que são valores que devem fazer parte de um mesmo plano de

negócios.

Yunus (2014) destaca a herança trazida do terceiro setor, a maximização do

impacto social, e a herança trazida do segundo setor, a autossustentabilidade

financeira (figura 33). No presente trabalho será admitido a primazia dos objetivos

sociais, sem que haja perda da autossustentabilidade financeira (YUNUS, 2014), ou

que ambos os objetivos estejam em total equilíbrio. Nunca os objetivos econômicos

devem ser superiores aos objetivos sociais, mas a autossutentabilidade financeira

não poderá ser esquecida nos negócios sociais.

Vale destacar uma observação de Alter (2007) a respeito de organizações

híbridas que têm geração de renda própria. A autora explica que uma organização

como essa pode ser caracterizada como um negócio social, a partir do momento que

opera como negócio (figura 33), que significa ter visão de longo prazo e ser gerido

de forma mais consciente das suas responsabilidades, estabelecendo metas para o

crescimento da empresa por um plano de negócios e utilizando recurso humano

qualificado.

84

No que se refere ao recurso humano qualificado, essa parece ser uma

perspectiva subjetiva, pois ao que parece muitos empreendimentos sociais que se

tornam ou iniciam suas atividades como negócio social, podem ter como gestores/

líderes, pessoas da comunidade local que identificam uma situação-problema em

seu entorno e utilizam mecanismos de mercado como forma de enfrentamento,

porém, baseado em experiências de vida, sendo as qualificações algo posterior.

Fato esse, portanto, que não altera a categoria da organização para este trabalho.

Quanto à distribuição de lucro, consideramos que é possível distribuir os

dividendos ou não, sendo nesse ultimo caso reinvestido na própria empresa

(ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; ALTER, 2007) (figura 33). A necessidade de se

obter impacto social em escala é outra dimensão desconsiderada, como vimos no

Quem se Importa (2011), quando se fala em empreendedorismo social, tanto faz se

ajudamos 4 ou 1000 (Figura 33).

Algumas dimensões propostas por Comini et al (2012) também serão

aproveitadas para a análise a ser realizada nesse trabalho, levando em

consideração que devem estar mais próximas da lógica social, como mostra a figura

16, são elas: a intencionalidade, também apontado pelo SEBRAE (2013) e

ARTEMISIA (2014); o envolvimento da comunidade na tomada de decisão; e a

responsabilidade (figura 33).

NEGÓCIOS SOCIAIS – CARACTERÍSTICAS

Definição (VIRTUE VENTURE)

“(...) é qualquer empreendimento criada para servir a um propósito social – mitigar ou reduzir um problema social ou uma falha de mercado – e para gerar valor social operando com a disciplina financeira, inovação e determinação, típicas do setor privado.”

Características fundamentais

Coexistência do valor social e valor econômico (ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; ALTER, 2007)

Maximização do impacto social e autossustentabilidade financeira (YUNUS, 2014)

Operar como um negócio (ALTER, 2007)

Ter um plano de negócio com visão estratégica de longo prazo

Lucro (ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013; ALTER, 2007)

Distribuição ou reinvestimento na própria organização

Escalabilidade (QUEM SE IMPORTA, 2011;

Não é relevante

85

COMINI et al, 2012)

Intencionalidade (COMINI et al, 2012)

Geração de valor social é central

Envolvimento da comunidade na tomada de decisão (COMINI et al, 2012)

Uso de mecanismos para participação coletiva

Responsabilidade (COMINI et al, 2012)

Prioridade total

Figura 33 – Autores e conceitos dos negócios sociais (características) Fonte: Elaboração própria

No que diz respeito ao público alvo, levaremos em conta a proposta de

Weppen e Cochrane (2012) que consideram a possibilidade de diferenciação entre o

publico alvo (beneficiários pela atividade de negócio) e mercado alvo (consumidores

que pagam pelo serviço/ produto). Além disso, tomaremos por base as tipologias de

mercado propostas por Alter (2007) que define mais detalhadamente quem é o

consumidor/ financiador da atividade de negócio da organização (figura 34).

NEGÓCIOS SOCIAIS – PUBLICO/ MERCADO

Publico Alvo (WEPPEN; COCHRANE, 2012)

Beneficiários pela atividade de negócio Publico alvo

(ALTER, 2007)

Cliente e consumidor são iguais

Mercado Alvo (WEPPEN; COCHRANE, 2012)

Consumidores/ clientes

Publico geral (ALTER, 2007)

Consumidores em geral que pagam

Contribuintes terceiros (ALTER, 2007)

Doadores, seguradoras ou governo

Negócios e organizações sem fins lucrativos (ALTER, 2007)

Quem compra são organizações

Contratos Governamentais (ALTER, 2007)

Quem compra é o governo

Figura 34 – Autores e conceitos dos negócios sociais (publico/ mercado) Fonte: Elaboração própria

Quanto à parte financeira, aplicaremos os métodos de geração de renda

propostos por Alter (2007), aceitando a possibilidade combinação de métodos,

desde que a fonte principal seja pela atividade de negócio da organização. E as

86

fontes de recursos serão analisadas a luz da Ashoka e Walmart (2011),

considerando que um negócio social é autossustentável, mas não o impede de

também utilizar recursos filantrópicos que contribuam para o seu funcionamento e

crescimento socioeconômico (figura 35).

NEGÓCIOS SOCIAIS – ESTRUTURA FINANCEIRA

Métodos (ALTER, 2007)

Cobrança de taxa de serviço

Cobrar taxa para cobrir custos da prestação dos serviços

Produtos Renda gerada pela produção e venda de produtos

Serviços Comercialização de serviços

Pagamento de anuidade

Taxas coletadas para um grupo em troca de algum serviço/ benefício

Ativos tangíveis Aluguel de ativo tangível

Ativos intangíveis Aluguel de ativo intangível

Dividendos por investimento

Geração de renda passiva

Atividade de negócio não relacionada

Renda não relacionada com a missão para financiar uma atividade pontual

Fontes de recursos (ASHOKA; WALMART, [s.d.])

Capital de risco Para as primeiras expansões com potencial de retorno ao investidor

Microcrédito Empréstimos sem garantias formais e juros inferiores

Capital Semente Para fase inicial, visando alto retorno (riscos mais altos)

Doações Recurso dado para pessoa física ou jurídica

Crowdfunding Doação via internet por ação coletiva

Empréstimos Montante a ser pago parcelado com juros

Fundo não restituível Sem contrapartida de reembolso

Modelo híbrido Combina diferentes fontes Figura 35 – Autores e conceitos dos negócios sociais (estrutura financeira) Fonte: Elaboração própria

No que diz respeito à missão dos negócios sociais, iremos considerar apenas

as empresas de missão central (ALTER, 2007). E partindo do princípio que o

impacto social deve fazer parte do core business da organização, estando associado

à atividade principal (ARTEMISIA, 2014; SEBRAE, 2013), apenas serão

considerados os modelos de empresas sociais incorporadas (ALTER, 2007), no que

se refere às atividades de negócio e aos programas sociais (figura 36).

É relevante, então, esclarecer que não consideraremos neste trabalho

organizações que são criadas para financiar programas sociais oriundos de uma

organização mãe, mas que não há relação direta com a missão, nem alinhamento

87

entre as atividades de negócios e os programas sociais dessa organização mãe. Por

esse motivo, também não consideramos os modelos de negócio de subsidiação e de

suporte organizacional. Serão apropriados nesse trabalho os modelos: de suporte ao

empresário; intermediário de mercado; de emprego; de taxa de serviço; cooperativo;

e de ligação de mercado (figura 36).

NEGÓCIOS SOCIAIS – MODELOS DE ATUAÇÃO

Missão (ALTER, 2007)

Missão central

A missão social é central para a empresa, que foi criada para avançar nessa missão por meio de um modelo de autossustentabilidade financeira

Impacto social e atividade de negócio (ALTER, 2007)

Empresa social incorporada

Atividades de negócio e programas sociais são unificados

Modelos operacionais (ALTER, 2007)

Modelo de suporte aos empresários

Venda de suporte à negócios e serviços financeiros para o publico alvo para que consigam vender no mercado

Modelo Intermediário de Mercado

Fornece serviços para o publico alvo para ajuda-los a acessar o mercado

Modelo de emprego Fornece emprego e formação profissional para seu publico alvo

Modelo de taxa de serviço

Cobrança de taxa fixa para utilização do serviço

Modelos Cooperativo Fornece benefícios à um grupo com interesses em comum

Modelo de ligação de mercado

Facilita relações comerciais entre publico alvo e mercado externo, cobrando uma taxa por esse serviço

Figura 36 – Autores e conceitos dos negócios sociais (modelos de atuação) Fonte: Elaboração própria

Sobre o turismo, foram elegidos alguns princípios fundamentais e desejáveis

propostos por Panosso Netto (2010) por apresentarem uma relação mais intrínseca

com as práticas do empreendedorismo social e afetarem mais diretamente as

relações sociais no turismo. Além disso, também trazido por Panosso Netto (2010),

serão abordados os impactos positivos e negativos em todas as dimensões. E,

ainda, práticas e segmentos turísticos que revelam princípios e dinâmicas em

convergência de interesses com o empreendedorismo social. Dessa forma,

tentaremos nesse trabalho correlacionar os conceitos de ambos os temas frente à

forma de trabalho das organizações que serão analisadas (figura 37).

88

TURISMO

Princípios (PANOSSO NETTO, 2010)

Fundamentais

Hospitalidade

Experiência

Comunicação

Desejáveis

Sustentabilidade social, cultural, econômica e ambiental

Igualdade

Alteridade

Ética

Impactos Positivos e Negativos (PANOSSO NETTO, 2010;

Social

Cultural

Econômica

Ambiental

Práticas turísticas/ Tendências

Turismo de experiência (TRIGO, 2010)

Perfil de turista que preza por experiências ímpares, interação com a comunidade local

Turismo sustentável (OMT, 2005; LITWINSKT; CARNEIRO, 2004)

Turismo que leva em conta os impactos atuais e futuros em todas as dimensões, considerando todos os agentes sociais envolvidos e promovendo mudança de comportamento, a médio e longo prazo

Turismo responsável (PANOSSO NETTO, 2010)

Valores: minimização dos impactos negativos econômicos, ambientais e sociais; geração de mais benefícios econômicos para a comunidade local, aumento do seu bem-estar; envolvimento da população local nas decisões; conservação da herança ambiental e cultural; promover experiências memoráveis, baseadas no contato e na valorização da compreensão das questões culturais, sociais e ambientais; promover acesso a pessoas com dificuldade física; e gerar uma relação de confiança e respeito entre turistas e anfitriões.

Segmentos

Turismo Cultural (BRASIL, 2010; LITWINSKI; CARNEIRO, 2004)

Turismo de base comunitária (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009; MALDONADO, 2009)

Turismo voluntário (WEARING, 2001; COREN; GRAY, 2012; WEARING; MCGEHEE, 2013; DEVEREUX, 2008; MCGEHEE, 2002)

Ecoturismo (BRASIL, 2010; BRASIL, 1994)

Turismo Social (CHEIBUB, 2013)

Figura 37 – Autores e conceitos do turismo X empreendedorismo social Fonte: Elaboração própria

89

No próximo capítulo conheceremos mais sobre as organizações escolhidas,

os procedimentos metodológicos da pesquisa e os resultados obtidos, cruzando o

referencial teórico proposto no levantamento feito nesse capítulo com a prática de

mercado das organizações.

2 TURISMO E NEGÓCIOS SOCIAIS

Posteriormente o entendimento de toda a construção do pensamento teórico

acerca do empreendedorismo social, pretendemos expor um pouco sobre a forma

de atuação de organizações brasileiras que atuam no turismo em alguns dos

segmentos e práticas turísticas abordados e, em primeira instancia, demonstram

diálogo com os princípios dos negócios sociais, a luz dos autores elencados na

última seção do capítulo anterior. Podemos perceber que algumas práticas e

segmentos turísticos apresentam total coerência com o fazer do empreendedor

social, porém é necessário compreender de forma mais profunda sobre essas

organizações propondo uma discussão sobre o que poderia caracterizá-las ou não

como negócios sociais e como o turismo pode, então, dialogar com esse movimento

que emerge em uma sociedade que clama por melhores condições de vida. A

proposta deste capítulo é, portanto, analisar duas empresas escolhidas a luz do

referencial teórico definido para este trabalho.

2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foram escolhidas duas organizações, autointitulada um negócio social e outra

organização que não usaria esse rótulo, mas apresentava convergências na sua

forma de trabalho com o empreendedorismo social, por uma análise prévia em seu

site. Ambas as organizações oferecem produtos turísticos e se correlacionam com

alguns dos segmentos e práticas propostos no capítulo anterior na seção referente

ao turismo.

Ao eleger essas duas organizações, sem o compromisso de garantir se já

possuem a denominação de negócios sociais, propusemos confrontar o referencial

90

teórico e problematizá-lo, buscando entender quais as características poderiam

conferir ou não à essas organizações o rótulo de negócios sociais, despertando

interesse pelo diálogo da temática com o turismo, pouco visto na literatura. As

organizações que compreendem a amostra foram selecionadas por acessibilidade,

sem qualquer procedimento estatístico, mas pela facilidade de acesso a elas

(VERGARA, 1998). A amostragem estatística de casos do universo planejado é

pouco usual quando se busca contribuir a partir de estudos dessa natureza. Os

casos de organizações devem ser escolhidos para replicar casos anteriores ou

ampliar a teoria, ou eles devem ser escolhidos para preencher categorias teóricas

(EISENHARDT, 1989). Esta seleção está alinhada com a contextualização do

problema apresentado neste TCC e é suportada pelo referencial teórico, o qual se

refere às empresas, processos ou sujeitos estudados na literatura sobre

empreendedorismo social, negócios sociais e turismo.

A Aoka Tours (figura 38) é uma das organizações escolhidas e, do seu site,

podemos destacar o seguinte trecho: “(...) o modelo de negócio social da Aoka Tours

contribui com (...)” (AOKA TOURS, 2014), indicando que a própria organização se

reconhece como um negócio social, além de ter sido citada no anexo VI (exemplos

de negócios sociais no Brasil) do SEBRAE (2013). Além disso, foi possível identificar

previamente em seu site termos apresentados na seção sobre turismo do capítulo

anterior. A Aoka Tours é uma operadora de turismo sustentável, que oferece roteiros

de ecoturismo em destinos nacionais e internacionais (AOKA, 2014).

Figura 38 – Logo Aoka Fonte: AOKA Tours Facebook (2014)

A outra organização elegida foi a AIESEC (figura 39), que não se reconhece

como um negócio social, mas destaca em seu site valores relativos a um impacto

91

social positivo na sociedade e a oferta de um serviço que poderia ser caracterizado

como um dos segmentos turísticos apresentados no capítulo anterior. São

comercializados intercâmbios com organizações, instituições e negócios ao redor do

mundo para o desenvolvimento de lideranças responsáveis e empreendedoras

(AIESEC, 2014).

Figura 39 – Logo AIESEC Fonte: AIESEC (2014)

Para extrair as informações desejadas que seriam confrontadas com o

referencial teórico proposto nesse trabalho, foi elaborado um roteiro

semiestruturado, com aproximadamente 33 questões, para a realização da

entrevista com ambas as organizações. A responsável pela a entrevista da Aoka foi

a funcionária Gabrielle Monteiro e na AIESEC foi Carolina Barge, presidente da

AIESEC Rio de Janeiro. Como a AIESEC é uma organização global, a entrevistada

se ateve à atuação da empresa no estado. Desta forma, os sujeitos da pesquisa

foram os funcionários envolvidos no desenvolvimento de novos produtos, processos

e serviços das organizações selecionadas para este trabalho.

Para a elaboração do texto final, a estratégia utilizada foi a “Explanation-

building” (PARÉ, 2004). Esta estratégia desenvolve uma descrição da organização

como um quadro geral que estrutura o estudo, estabelecendo uma cadeia lógica de

evidências. Normalmente, esta cadeia de evidências é estabelecida por ter

suficientes citações no relatório final (YIN, 2003).

Certamente, todo método contempla algum tipo de limitação. Entretanto, todo

método de pesquisa pode ser utilizado para três propósitos: exploratório, descritivo e

explanatório. O objetivo é evitar erros de abordagem, ou seja, quando você planeja

utilizar um método, mas outro é realmente mais vantajoso (YIN, 2009).

92

2.2 ANÁLISE DOS DADOS

2.2.1 Aoka Tours

De acordo com a entrevistada, a Aoka surgiu a partir da identificação da

oportunidade de se criar um negócio social no turismo, que fosse focado nas

comunidades. A idéia partiu de um dos sócios, o Daniel Contrucci, que havia

trabalhado no Projeto Bagagem, que é outra organização, sem fins lucrativos, que

pretende empoderar e desenvolver comunidades pelo turismo sustentável

(PROJETO BAGAGEM, 2014).

A Aoka promove viagens nacionais e internacionais que prezam pelo contato

com exuberantes naturezas e a vivência com comunidades locais, que dificilmente

se teria acesso. Todo o produto é calcado nos princípios da sustentabilidade,

gerando impactos positivos (AOKA, 2014). Segundo Gabrielle (Aoka), para a

formatação e comercialização de um produto, a organização realiza contato com

todos os agentes envolvidos na atividade; adapta o produto aos critérios Aoka;

divulga; e vende. Gabrielle (Aoka) explica que sempre trabalham com guias locais,

dão preferência aos hotéis ou pousadas com iniciativas sustentáveis e aos passeios

com contato cultural (visita à comunidades e projetos locais).

Ao questionarmos sobre o objetivo principal da organização, prontamente a

entrevistada foca na geração de impacto social positivo. Gabrielle (Aoka) citou

exemplos como a geração de renda, inclusão social, incentivo ao

empreendedorismo e valorização da cultura, no que tange a comunidade local. E

cita também o impacto social no turista, que seria o que a organização chama de

transformação social. Gabrielle (Aoka) resume que o principal objetivo da

experiência turística promovida pela organização é transformar as pessoas e

aproximar as culturas.

Esse é um aspecto relevante, sobre a relativização do impacto social, que não

se restringe, como se propôs no referencial teórico, à grupos marginalizados e à

população de baixa renda, e sim um impacto social promovido de diferentes

maneiras e abrangências, nesse caso, em ambas as partes, em quem consome e

93

em quem ajuda a promover a atividade, demonstrando que o beneficiário pode não

ser apenas um único agente, mas os dois, o visitante e o visitado. Os dois são

intrinsicamente envolvidos na atividade.

De acordo com uma entrevista cedida para o Capital Natural (2014) sobre

turismo de experiência, Ricardo Gravina, co-fundador e diretor comercial de novos

negócios da Aoka, fala sobre essa experiência transformadora para o turista

explicando que, muitas vezes, o turista se questiona sobre a sua própria realidade,

seus hábitos e forma de viver, pois o contato cultural promovido pela organização

faz esse visitante se sensibilizar com um novo modo de vida que lhe é apresentado,

mais simples e feliz.

Gabrielle (Aoka) posiciona a organização como uma operadora de turismo

sustentável e de experiência. A organização promove mudança no comportamento

do turista e da comunidade envolvida, a médio e longo prazo, como propõe Litwinskt

e Carneiro (2004), e, além disso, compensa o CO² emitido por meio de plantações

de árvores, demonstrando preocupação com os impactos econômicos, sociais e

também ambientais atuais e futuros (OMT, 2005). Gabrielle (Aoka) aponta que os

roteiros formatados pela organização prezam por experiências únicas e elaboradas

especialmente para o cliente Aoka, incluindo sempre experiências regionais, indo de

encontro à teoria de Trigo (2010).

Além dessas práticas, podemos situar a organização nos segmentos de

turismo cultural e ecoturismo, como é citado, inclusive, por Gabrielle (Aoka). A

entrevistada diz que o principal consumidor dos produtos Aoka são “mulheres de

classes A/B, acima de 30 anos, que querem viver uma experiência cultural e

transformadora, que se preocupam com a sustentabilidade. Em sua maioria, do Sul

e Sudeste do Brasil”.

A organização valoriza elementos materiais e, sobretudo, imateriais da

cultura, como sugere Brasil (2010). A motivação do turista não é apenas o lazer,

mas buscar experiências culturais, atribuindo grande reconhecimento a cada

momento de contato com a comunidade local (LITWINSKI; CARNEIRO, 2004). Além

disso, a prática turística da organização se alinha a definição de Ecoturismo

(BRASIL, 1994; BRASIL, 2010), pautada na sustentabilidade e uso consciente dos

recursos, alcançando bem estar da comunidade local.

94

E todo esse discurso pode ser articulado com o que Panosso Netto (2010)

chama de turismo responsável, gerando benefícios, bem-estar e experiências

memoráveis, de uma forma geral. Os princípios fundamentais e desejáveis

escolhidos (PANOSSO NETTO, 2010) para a análise são contemplados na prática

turística da organização.

Gabrielle (Aoka) destaca que a comunidade recebe palestras e auxílio por

parte da organização para uma melhor compreensão da sua participação na

atividade, além disso, o turista que visa este tipo de viagem é engajado e ajuda no

processo. Esse é um aspecto que facilita muito o princípio da hospitalidade, da

experiência e da comunicação. Além disso, é perceptível que a Aoka leva em

consideração o principio da igualdade ao colocar ambos os agentes sociais, a

comunidade local e o turista, igualmente importantes para efetivação de uma prática

turística positiva. A alteridade e a ética são princípios visivelmente inerentes à

atividade da Aoka, bem como a busca pela sustentabilidade em todos os seus

pilares.

No que se refere aos impactos, os positivos vários já foram colocados acima e

os negativos são acertadamente reconhecidos pela organização, Gabrielle explica

que “é impossível ser totalmente sustentável em todos os pilares (...). Sempre

dependeremos de parceiros locais que tenham o mesmo propósito”, porém tentam

trabalhar da forma mais responsável para que esses impactos sejam compensados

por estratégias mais conscientes.

Depois da compreensão da forma de trabalho da organização, queremos

entender como uma organização que atua no turismo dialoga com as

caracterizações propostas pela teoria do empreendedorismo social, especialmente

dos negócios sociais.

Muitas organizações no turismo consideram a população local despreparada

para receber seu turista e promovem para o visitante uma experiência inautêntica e

superficial, por julgar que o contato mais efetivo com a comunidade local pode

causar desconforto pelo choque cultural e também porque muitas vezes o turista

vem impregnado de estereótipos, imagens formadas, que são vendidos mundo afora

e que, no momento do encontro, essas expectativas podem não ser correspondidas,

visto que nem sempre as tradições são verdadeiramente reproduzidas da forma

95

como são comercializadas. A Aoka enxerga esse “problema” como uma

oportunidade de negócio, preparando a comunidade para essa atividade e se

moldando aos seus verdadeiros valores.

Gabrielle (Aoka) enfatiza que a missão da organização está baseada na

geração de impacto social e no lucro, tendo ambas as dimensões o mesmo peso

para a organização. Apesar dessa informação, vale destacar que a entrevistada

enfatiza a primazia da maximização dos impactos sociais como principal objetivo,

pois não querem apenas vender turismo, mas transformar pessoas. A partir disso

podemos depreender que os objetivos sociais e econômicos possuem o mesmo

peso para a organização, desde que esse ultimo esteja baseado numa atividade

com geração de impacto social positivo. A Aoka (2014) descreve seu trabalho da

seguinte forma:

A Aoka Tours existe para transformar a vida das pessoas através de viagens experienciais. Buscamos conectar diferentes culturas, promovendo a transformação social. (...) Junto com todos os envolvidos nas experiências que promovemos, seremos protagonistas de um movimento de unificação para um mundo melhor, transpondo fronteiras entre nações, culturas e classes sociais, restabelecendo a harmonia nas relações do homem com o meio ambiente.

A mobilização de recurso humano para Gabrielle (Aoka) não apresenta

qualquer problema para a organização, visto que todos os funcionários são

engajados com o tema e demonstram prazer em trabalhar numa empresa

socialmente responsável. Esse processo pode ser facilitado porque todos os

funcionários são devidamente remunerados, diferentemente de organizações que

trabalham com voluntariado, como enfatiza Austin et al (2006), podendo enfrentar

maiores desafios.

E quanto à mobilização do recurso financeiro, a organização não citou

nenhum problema para sua continuidade, apenas o desafio de fazer com que seus

produtos sejam financeiramente mais acessíveis, pois é diferenciado, feito nos

moldes da Aoka e, por esse motivo, nem sempre o fornecedor já possui um produto

pronto, demandando mais tempo e dinheiro para desenvolvê-lo. Além disso, a

96

organização dá preferencia por iniciativas sustentáveis, muitas delas com valor

superior se comparado com as tradicionais.

O lucro vem da comercialização desses roteiros, ficando praticamente 30% do

valor total do pacote para a comunidade local e o restante, no momento, é

reinvestido na organização. A Aoka é uma organização recente, que necessita

desse reinvestimento para a sua expansão, porém em nenhum momento a Gabrielle

(Aoka) disse que a organização não concorda com a distribuição do lucro. A

empresa não possui outros métodos de geração de renda, apenas a

comercialização de serviços, um dos métodos trazidos por Alter (2007), e não utiliza

nenhuma fonte de recurso proposta pela Ashoka e Walmart (2011).

Ao ser questionada sobre a avaliação de desempenho da empresa, Gabrielle

(Aoka) destaca os prêmios e o reconhecimento da marca no mercado como forma

de medir a performance da organização. A entrevistada não cita variáveis

relacionadas às mudanças sociais promovidas pela organização. Porém, vale

ressaltar que foi comentado que sempre procuram ter um feedback da comunidade

envolvida, com a finalidade de aprimorar os serviços e possíveis falhas. Mas não

expuseram variáveis que pudessem medir o impacto social promovido, senão pelo

reconhecimento.

Podemos perceber que as proposições de Austin et al (2006) se encaixam à

realidade da organização, com exceção da avaliação de desempenho e com

algumas ressalvas para a mobilização de recursos. A avaliação de desempenho é

realmente delicada, pois há uma maior dificuldade de se mensurar a performance de

uma organização focada no impacto social, como Austin et al (2006) posicionam. De

certa maneira, os prêmios são estabelecidos mediante critérios que podem traduzir o

desempenho positivo da organização no âmbito social, mas não têm um caráter

contínuo e não utilizam parâmetros estabelecidos pela própria organização.

A favor da organização, podemos citar a certificação do Sistema B, que é

concedido a organizações com sério compromisso ambiental e social. E, para se

conseguir esse título, é necessário cumprir anualmente com vários critérios

estabelecidos pelo sistema (SISTEMA B, 2014). A Aoka faz parte do grupo de

empresas que compõe o sistema, representando o Brasil e, sobretudo, o turismo.

97

Quanto à mobilização de recurso humano e financeiro, pela organização

apresentar bastante foco na geração de lucro, essas variáveis não sofrem tantas

dificuldades como em outros empreendimentos sociais. Além disso, podemos

destacar o ponto positivo do recurso humano ser engajado com a forma de atuação

da organização e facilitar o trabalho.

A Aoka pode, então, se caracterizar como uma organização híbrida (ALTER,

2007), que está entre os interesses filantrópicos e o lucro, mesclando impacto social

com iniciativas de mercado pela oferta de produtos com grande ênfase no bem estar

social, mas pensando na autossustentabilidade financeira da organização. A Aoka

consegue, por meio da sua atividade, tanto com relação à comunidade local, quanto

para o turista, promover empoderamento econômico, social, mental, psíquico e

espiritual. A organização impacta de maneira muito efetiva ambos os agentes

envolvidos.

Quanto à definição de empreendedorismo social de Oliveira (2004), no caso

da Aoka não se observa exatamente na prática o que propõe a teoria, que seria,

inicialmente, a identificação de um problema local. A organização identifica uma

oportunidade de desenvolver a atividade turística de forma que também fosse

possível gerar impacto social positivo. Então na realidade ocorre o processo inverso

ou quase simultâneo, desejando desenvolver determinada atividade e questionando

de que forma ela pode colaborar para solucionar problemas sociais, tendo se

tornado esse ultimo o pilar principal da organização.

Dessa maneira, a Aoka se alinha à definição da Virtue Venture, servindo à

redução de um problema social e à falta de um produto como esse oferecido pela a

organização no mercado, mas com as características do segundo setor,

especialmente no que diz respeito à autossustentabilidade financeira. Por esse

motivo, a organização opera com um plano de negócio que estabelece visão

estratégica de longo prazo (ALTER, 2007). Além disso, outras dimensões como a

responsabilidade, a intencionalidade e o envolvimento da comunidade na tomada de

decisão (COMINI et al, 2012) são adequadamente observados nas atividades

desenvolvidas pela a empresa, demonstrando coerência com a teoria. Nesse

trabalho, posteriormente a análise, concluímos que a Aoka é um negócio social.

98

Sobre o seu publico alvo/ beneficiário (comunidade local) e mercado alvo/

consumidor (turistas), ocorre uma distinção entre os mesmos, como proposto por

Weppen e Cochrane (2012). Porém, o que não se prevê na literatura é que amos

sejam beneficiários. Dessa forma, temos uma configuração diferenciada da teoria. O

consumidor, de acordo com Alter (2007), estaria na categoria de publico geral,

porém esse consumidor/ mercado alvo, na visão da Aoka, é tão beneficiário, quanto

o publico alvo. É importante lembrar que o que caracteriza um grupo como

beneficiário nesse trabalho é o alcance do impacto social, pois benefício todo o

consumidor em geral obtém ao adquirir determinado produto ou serviço, porém não

necessariamente está vinculado à um impacto social positivo.

A Aoka se caracteriza por uma empresa social incorporada de missão central,

como propõe Alter (2007), pautada nos objetivos sociais que são alcançados

juntamente com as suas atividades de negócio, os roteiros realizados pela

organização. Dentre os modelos operacionais propostos por Alter (2007), podemos

adequar a organização no modelo intermediário de mercado (figura 40)

Figura 40 – Modelo intermediário de mercado da Aoka Tours Fonte: Elaboração própria

Os destinos nacionais são, por exemplo: o Amazonas, na Mamirauá, primeira

reserva de desenvolvimento sustentável, e no Cristalino Jungle Lodge, que tem o

compromisso de proporcionar experiências únicas ao visitante associado à

99

aprendizagem sobre o meio ambiente e sua importância para as nossas vidas;

Minas Gerais, no Vilarejo Capivari, com imersão no modo de vida da comunidade

local e passeios que exploram a riqueza natural, e no Vale do Jequiticonha, em duas

propostas, uma de imersão na arte e cultura popular com acompanhamento de uma

curadora de arte e a outra num projeto de voluntariado onde os visitantes ajudarão a

levar tecnologia de aquecedor solar de baixo custo para famílias locais; Santa

Catarina, em Urubici, considerado um dos mais promissores destinos de natureza do

Brasil, além do visitante ficar hospedado em propriedades de agricultura orgânica do

projeto Acolhida na Colônia; dentre outros destinos, como Piauí e Roraima (AOKA,

2014). No site não há especificações sobre os roteiros nos destinos internacionais,

mas enfatizam a interação com a comunidade local e o meio ambiente, associado à

experiências únicas.

A organização formata seu produto junto com os agentes sociais locais,

conectando-os com o turista, que pode consumir serviços e produtos da comunidade

local, interagir com um novo modo de vida e vivenciar experiências autênticas junto

à comunidade local envolvida na atividade, sendo ela e também os próprios turistas

impactados por esse contato promovido pela Aoka. A organização consegue agregar

valor ao modo de vida, fazeres e costumes, e ao meio ambiente, ajudando a

comunidade a desenvolver um produto e a comercializá-lo, como prevê o

funcionamento do modelo por Alter (2007).

Por fim, ao questionarmos se a organização se reconhece como um negócio

social, como era previsto, obtivemos uma resposta afirmativa, legalmente

estruturada como uma LTDA. Porém a nomenclatura utilizada pela organização, de

acordo com a entrevistada, é negócio de impacto social. Provavelmente isso se dá

pelo fato da instituição de fomento vinculada à organização ser a Artemisia que se

apropria desse termo.

2.2.2 AIESEC Brasil

AIESEC é uma sigla em francês que, em português, significa Associação

Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Contábeis, uma organização

100

global, reconhecida no Brasil como uma organização sem fins lucrativos. Hoje o

nome por extenso não é mais utilizado, apenas a sigla. A organização surgiu em

1948, numa realidade de pós-guerra com sete estudantes de sete países europeus,

portanto, a organização já começou internacional e esse, segunda a Carolina

(AIESEC) é o cerne dela.

A entrevistada conta que, nesse momento histórico trágico, muitas

organizações estudantis emergiam e esses sete jovens, que não estavam satisfeitos

com as lideranças e a perspectiva de futuro que se apresentava para eles,

enxergaram uma causa para tudo que havia ocorrido, a intolerância cultural, uma

cultura se sobrepondo a outra. Essa leitura fez com que surgisse uma organização

que buscava realizar intercâmbios com a proposta que pessoas de diferentes

culturas entrassem em contato e fossem amigas.

Carolina (AIESEC) considera essa proposta inicial da organização mais

inocente e explica que com o passar do tempo, com a globalização e tantos outros

fatores, a organização foi agregando novos valores e se adequando a

contemporaneidade. Por esse motivo, a entrevistada explica que, a partir da década

de 90, ficou bastante presente o tema da gestão, enfatizando que as pessoas da

organização têm interesse por temas globais e pela gestão. Para a organização,

essas duas temáticas podem desenvolver lideranças, o que torna a AIESEC uma

organização reconhecida como uma plataforma de desenvolvimento de liderança

jovem, possibilitando a compreensão de si próprio, do mundo e como o indivíduo se

encaixa nesse contexto.

Os produtos oferecidos pela organização são chamados de cidadão global e

talentos globais. O primeiro consiste na realização de trabalho voluntário em

organizações do terceiro setor, que possui uma duração menor, de 6 a 12 semanas.

E no segundo produto, o jovem realiza atividades remuneradas em empresas do

segundo setor, possuindo um caráter mais profissional, com duração de 3 a 12

meses. Ambos possuem o viés do desenvolvimento pessoal pelo contato com uma

nova cultura e a inserção em um ambiente global, visto que todas as experiências

são necessariamente internacionais (AIESEC, 2014). A organização sempre tenta

unir o conhecimento acadêmico com a atividade que será desenvolvida com a

organização parceira, mesmo no Cidadão Global.

101

Carolina (AIESEC) enfatiza que o intercâmbio não é a finalidade da empresa

e sim um meio para que se alcance o desenvolvimento de lideranças associadas à

tolerância cultural. Por esse motivo, na AIESEC podemos observar que a

identificação do problema local foi anterior à elaboração de uma medida de

enfrentamento, como sugere a teoria (OLIVEIRA, 2004). O intercâmbio foi a maneira

que a organização encontrou para solucionar a problemática da intolerância cultural.

Carolina (AIESEC) detalha sobre os públicos que a organização atua, na

esfera intercâmbio existem dois grandes clientes, um deles são os estudantes

universitários de 18 a 30 anos com inglês e/ ou espanhol básicos. A entrevistada diz

que apesar de parecer elitista, a AIESEC acredita que as grandes organizações

serão lideradas pelos universitários e que dessa forma a AIESEC tem a

possibilidade de gerar um impacto de longo prazo. E o outro cliente são as

empresas do segundo setor e as organizações do terceiro setor, porque se entrega

uma proposta de valor e assina contrato.

De acordo com Carolina (AIESEC), um desafio no intercambio da AIESEC é

que por ser um produto muito mais barato que as demais empresas do mercado, o

que pode ser inicialmente positivo por ser mais acessível ao consumidor, pode atrair

também um publico que a empresa não deseja, que não tem um real compromisso

com o desenvolvimento de lideranças e com a geração de um impacto social

positivo futuro na sociedade, e sim um publico que visa basicamente atividades de

lazer.

Além dos intercâmbios, da relação com as organizações e com os

estudantes, a organização também possui o programa Jovens Talentos e o Jovens

Líderes, que são também um produto do ponto de vista da AIESEC, pois apesar de

não ser vendível, é feito marketing, processo seletivo e outros investimentos para

formação do quadro de membros da organização. O Jovens Talentos consiste no

recrutamento de estudantes para trabalhar na organização, com a possibilidade de

desenvolvimento por ganhar responsabilidades reais muito rápido, afinal, como a

Carolina (AIESEC) cita, a organização “não vende canetas, vende experiências” e

está lidando com pessoas. O outro programa é o Jovens Líderes que busca pessoas

que estão no Jovens Talentos com o perfil de liderança para gerir times, sendo a

proposta de valor o aprendizado mais relacionado com a gestão. Os membros, de

102

acordo com Carolina (AIESEC), são atraídos pela organização, sobretudo, com o

argumento de desenvolvimento, destacando esse como um aspecto muito mais

apelativo entre os jovens, e depois da imersão na cultura organizacional, a

organização faz um trabalho focado no impacto social, mostrando para esse jovem

que ele é um agente de mudança.

Nos intercâmbios a cobrança é feita por uma taxa única que inclui entrada na

plataforma, suporte da AIESEC (antes, durante e depois do intercambio) e aplicação

de todas as etapas de desenvolvimento de liderança, uma metodologia interna da

organização. O cidadão global é mais barato que o Talentos Globais, até pela

duração do suporte da AIESEC. A taxa é dividida em três, custos operacionais

locais, nacionais e internacionais, então o lucro não fica todo para o comitê local.

Como o comitê nacional e internacional não realiza os intercâmbios propriamente

ditos, estão focados mais no suporte aos comitês locais e compromisso com o

desenvolvimento da organização como um todo, isso inclui viagens e outros gastos

que precisam ser subsidiados pelo lucro da organização, que vem dos comitês

locais por meio dos intercâmbios realizados. Além disso, a taxa também é usada

para reinvestir em outros custos, compensando operações. Um exemplo é o caso

das organizações do terceiro setor, que não pagam taxa alguma, por isso, muitas

vezes o lucro de um intercambista que fica para o comitê local é direcionado para

cobrir alguma outra operação.

Incluído na taxa também podem ter benefícios como alimentação,

hospedagem e transporte, a depender da organização que se fará o intercambio e

da acomodação negociada, sendo mais comum os benefícios no programa cidadão

global, pois no caso dos talentos globais, os estudantes são assalariados,

garantindo que receberão de acordo com os custos locais. O tipo de acomodação

pode variar entre casa de família; uma trainee house (casa alugada com vários

intercambistas); ou uma casa de um membro da AIESEC local. A organização não

interfere nessa escolha porque o perfil desses jovens é bastante heterogêneo, com

os mais diferentes gostos.

O método de geração de receita são as taxas pagas pelos intercambistas e

pelas empresas, ou seja, uma cobrança de taxa de serviço, um dos tipos proposto

por Alter (2007), com exceção das organizações do terceiro setor que não pagam

103

nada. A organização usa patrocínio apenas para algo específico, eventos, material

de papelaria ou coffee break, por exemplo. Como a Aoka, a AIESEC é totalmente

autossustentável e não utiliza nenhuma outra fonte de recurso, como as

mencionadas por Ashoka e Walmart (2011), senão a renda proveniente do seu

produto.

Carolina (AIESEC) explica que os escritórios só podem receber uma

quantidade de intercambistas vindos de outros países, caso haja dinheiro suficiente

em caixa, pois há custos nessa operação e, para isso, é necessário ter lucro com os

intercambistas que são enviados pelo escritório para outros países. A AIESEC Rio

não tem preocupações financeiras a ponto de ter que equilibrar o quanto recebe e o

quanto envia, pois hoje possui bastante dinheiro em caixa pela grande procura por

intercâmbios dos estudantes de universidades cariocas.

A Carolina (AIESEC) informa que o estudante paga a taxa e o suporte da

AIESEC inicia, consistindo na ajuda com a busca pelas vagas, mediando a relação

do intercambista com a organização; na preparação logística, parte burocrática,

documentos e outros itens necessários para a viagem; e na preparação cultural,

quando a organização promove um evento que fala sobre a cultura do local a ser

visitado, sobre o que é liderança e o que a experiência do intercambio pode

proporcionar, pontos positivos e negativos, incluindo a parte de reflexão sobre o que

se quer realizar no intercambio, qual pessoa o jovem deseja ser quando retornar.

Durante a viagem, o suporte online da AIESEC Rio se mantém e uma AIESEC local

irá receber o estudante, dando continuidade ao suporte físico. E no retorno, existe o

ultimo suporte quando se reencontra as pessoas, reflete sobre a experiência e o

jovem é convidado a participar da organização.

A organização acredita que o desenvolvimento é muito influenciado pelo

ambiente, mas ele só acontece com a reflexão, por isso esse aspecto é sempre

estimulado na preparação do estudante, que é um suporte emocional e psicológico,

mas, sobretudo, de desenvolvimento. Caso contrário, o jovem sabe que a

experiência foi intensa, importante e transformadora, mas sem saber em que

aspecto foi tão relevante e o que foi agregado, como explica Carolina (AIESEC).

Essa é uma característica que diferencia o trabalho da AIESEC, se comparado com

104

outras instituições/ agencias de viagem que também oferece produtos de turismo

voluntário e de estudos e intercambio.

A entrevistada fala sobre o desenvolvimento que se estabelece em cada

experiência para o estudante, para a sociedade e para a organização que agrega

esse intercambista às suas atividades. No caso do cidadão global seria uma

experiência mais rápida, intensa, mergulhando em uma realidade socialmente mais

apelativa, o jovem fica muito exposto ao problema. Isso faz com que o

desenvolvimento seja mais extremo, rápido e muito voltado para os problemas

sociais. E qualquer universitário dentro dos padrões estabelecidos pela organização

pode consumir esse produto.

Nesse programa, a sociedade e a organização, que nesse caso são

complementares, ganham com um estudante que funciona como uma mão de obra

paliativa, traz uma perspectiva de mundo completamente diferente para àquelas

pessoas e pode fornecer conhecimentos mais técnicos para aquela organização.

Seria possível conseguir uma mão de obra local que o substituísse, mas Carolina

(AIESEC) acredita que esse estudante vindo de outro país pode agregar valores

interessantes à essa experiência.

Já o desenvolvimento para o estudante no programa talentos globais está

muito mais pautado na experiência profissional e, se comparado com o cidadão

global, é menos intenso pela duração, que apesar de ser no mínimo três meses, na

maioria dos casos é um ano. Esse período prolongado faz com que o

desenvolvimento seja gradativo e mais real em termos de intercambio cultural, pois o

estudante pode viver com mais veracidade o dia-a-dia de um cidadão local. Além

disso, é um ambiente muito mais corporativo e estruturado. Nesse produto há

maiores exigências, pré-requisitos e preparação prévia por parte do estudante. O

ambiente fará que o desenvolvimento seja completamente diferente, bem como a

proposta de valor que se traz para a vida de cada estudante.

Nesse programa, as empresas possuem diferentes objetivos, pode ser com o

objetivo de se internacionalizar ou com o intuito de suprir alguma necessidade da

empresa, como barateando uma mão de obra que teria alto custo para a

organização. É importante ressaltar que a AIESEC não se configura como um

fornecedor de mão de obra barata, mas na qualidade de estudantes ou recém-

105

formados, esses jovens acreditam que a experiência vale a pena, agregando

também a troca cultural e a aprendizagem de uma forma geral. Para a sociedade,

nesse caso, é a colaboração com o aquecimento da economia e desenvolvimento de

empresas nacionais, por exemplo.

Podemos destacar, sobretudo, os empoderamentos mental, psíquico e

espiritual promovido pela atividade turística da AIESEC, especialmente sobre o

intercambista, mas também na comunidade local e nas organizações, ainda que de

forma indireta. O trabalho de reflexão anteriormente à experiência do intercambio

pode contribuir muito para que efetivamente esse emporamento ocorra.

Apesar de ser totalmente autossustentável, a AIESEC não foca no lucro,

sendo todo ele reinvestido na organização. Nenhum membro é remunerado, salvo

membros com atividade integral, que cumprem 40 horas por semana, recebendo

uma bolsa auxílio. Carolina (AIESEC) explica que os objetivos sociais representam

100% para a organização, frente os objetivos econômicos.

Quanto ao impacto social promovido pela organização, Carolina (AIESEC)

esclarece que o foco não está nas organizações e na sociedade, esses seriam um

impacto secundário. O principal foco da AIESEC é formar agentes de mudança que

venham, em longo prazo, impactar a sociedade. Portanto, o desenvolvimento da

organização e da sociedade se caracteriza como um impacto indireto, pois a

comunidade nunca é o foco, mas os jovens que se engajam na organização.

Mediante o que foi dito, podemos perceber que o publico alvo (beneficiário)

para a AIESEC são os estudantes, como intercambistas ou membros,

caracterizando as organizações, que também é um mercado alvo (cliente), e a

comunidade como beneficiários indiretos. Nesse caso, não há separação entre o

publico alvo e mercado alvo, eles são o mesmo, o jovem estudante, estando na

categoria de publico alvo (ALTER, 2007). Novamente devemos ressaltar a

relativização do impacto social, que não se restringe a pessoas de baixa renda ou

grupo marginalizados de uma forma geral.

De acordo com a entrevistada, a missão da organização está pautada em

dois pilares. Prezando pelo ponto de partida em 1948, um deles é a paz mundial,

traduzida hoje como cooperação internacional e tolerância cultural. E o segundo pilar

é o desenvolvimento das potencialidades humanas, tudo aquilo que os indivíduos

106

são capazes de ser e podem, por meio da experiência promovida pela AIESEC,

explorar.

Podemos observar que a organização é de missão central e, no que tange as

atividades de negócio e os programas sociais, é incoporada (ALTER, 2007), pois a

missão social é central para a AIESEC, com o desenvolvimento de lideranças que

em logo prazo impactem positivamente o mundo, tendo o intercambio como sua

atividade de negócio que diretamente é o programa social da organização. A

organização pode ser caracterizada como híbrida na medida em que mistura

características da filantropia e do segundo setor, visando o bem estar social, mas

com sustentabilidade financeira (ALTER, 2007).

A oportunidade de negócio que a AIESEC encontra hoje é o crescimento e

valorização da experiência de intercambio, associada ao gap do sistema

educacional do jovem estudante, viabilizando: suporte prático; experiência de

mundo; desenvolvimento de softwares; e de competências, como inteligência

emocional, comunicação efetiva, planejamento e organização; entre outros, pois as

organizações hoje no mercado de trabalho estão preocupadas com o currículo, mas,

sobretudo, com a capacidade dos indivíduos de se relacionar e de pensar na

empresa, habilidades que o aluno recém-formado vem bastante cru.

Quanto à mobilização do recurso humano, a Carolina (AIESEC) enfatiza que

é um desafio lidar com voluntários, pois muitas vezes é necessário contar com a

responsabilidade deles, apesar de não ser um trabalho opcional. Especialmente com

os escritórios ao redor do mundo que recebem os intercambistas enviados pela

AIESEC Rio, como são CNPJs diferentes, a forma de trabalho também é distinta,

portanto, falhas podem ocorrer. Outro desafio é a alta rotatividade dos membros

que, consequentemente, traz a necessidade de constante capacitação das pessoas.

Já a facilidade apontada pela AIESEC Rio se refere à estarmos numa cidade com

muitas universidades, então o recrutamento é um processo tranquilo. Quanto à

mobilização de recurso financeiro, a AIESEC Rio não passa por nenhuma

dificuldade financeira, pelo grande numero de operações que se realizam.

As duas esferas da avaliação de desempenho, para Carolina (AIESEC), são o

numero de intercâmbios e a qualidade deles. Todo ano a empresa recebe metas e

desenvolve um planejamento local para atingir o numero de intercâmbios realizados

107

em ambos os programas. É importante ressaltar que esse número de intercâmbios a

serem realizados por ano é aparentemente um dado apenas quantitativo, mas

também representa a escala de impacto social que a organização quer assumir,

desenvolvendo positivamente cada vez mais jovens. Por outro lado, tem a qualidade

desses processos, então a organização utiliza um sistema onde os líderes, membros

e intercambistas, que estão envolvidos num projeto, preenchem um formulário

avaliando todos os processos dessa experiência, com parâmetros.

Apesar do relacionamento com as organizações do terceiro e segundo setor e

da auditoria de documentos que eles precisam assinar, como reuniões de

fechamento, avaliações da experiência, essa parte não participa da qualificação do

produto, porque a organização entende que elas não fazem parte do produto final,

que o que interessa são os estudantes, se ele gostou da experiência e se

desenvolveu, pois essa é a promessa de produto da organização que precisa ser

cumprida. Essa participação das organizações podem até qualificar os processos,

mas não os produtos. Se a organização não gostou, os processos precisam

melhorar, mas não o produto.

Carolina (AIESEC) fala sobre a dificuldade de avaliar o desenvolvimento de

liderança, pois é um dado muito qualitativo que muitas vezes é um processo de

longo prazo e que varia muito de pessoa para pessoa, é subjetivo. O que se pode

mensurar é se a pessoa recomenda ou não a experiência, tendo em vista que essa

experiência estava pautada no desenvolvimento de liderança, podendo esse jovem

consumidor ser caracterizado de três formas: como uma pessoa que não indicaria a

experiência, não foi positivo para ele; como um pessoa passiva, que não fez

diferença e provavelmente não é um bom divulgador do trabalho na AIESEC; e

aquela pessoa que a experiência foi muito positiva e fará um bom marketing boca-a-

boca.

A AIESEC se alinha às quatro proposições de Austin et al (2006). No que diz

respeito à oportunidade de negócio, a organização encontra uma falha na educação

do jovem, que sai da universidade sem determinadas habilidades necessárias para

ser uma liderança que impacte positivamente o mundo e que saiba explorar

adequadamente seus potenciais. A partir disso, a AIESEC atua para suprir essa

falha e dar a chance desses estudantes se desenvolverem de uma forma mais

108

completa. A missão da organização é sempre focada pela entrevistada na geração

de impacto social, o que irá influenciar suas decisões e forma de atuação. A

mobilização de recurso humano apresenta uma séria de dificuldades prevista por

Austin et al (2006) em função do trabalho voluntário, incluindo alta rotatividade e

comprometimento dos membros. Já na mobilização do recurso financeiro, a

organização não apresenta desafios, pois passa por uma situação confortável, mas

por ter que repassar verba para o comitê nacional e internacional e pelas

organizações do terceiro setor serem isentas de taxas, a organização adota um

comportamento diferenciado, equilibrando as despesas e receitas. Por fim, quanto a

avaliação de desempenho, assim como a Aoka, a organização não apresenta

variáveis que possam medir o impacto social promovido, destacando argumentos

que dificulta (ou até impossibilite, na visão da entrevistada) essa avaliação.

Ao ser questionada pela forma como é planejado a atividade turística e todos

os princípios e valores que permeiam essa atividade, a entrevistada

automaticamente vinculou o turismo com a visita a atrativos turísticos do Rio de

Janeiro, não demonstrando entendimento que a própria atividade de mercado da

organização é turismo, junto a isso não soube falar muito sobre os impactos

positivos e negativos da atividade, nem uma prática ou segmento que a organização

estivesse inserida.

Carolina (AIESEC) reconhece que a dimensão turismo não parece ser muito

bem compreendida pela organização, depois de algumas explicações que foram

expostas para ela, pois a própria organização vende o produto dizendo que não é

um intercambio para se fazer turismo, restringindo o termo a atividades de lazer que

são realizadas pelo turista no período de estada no local visitado. Quando, na

realidade, como pode ser observado pelo referencial teórico desse trabalho, o

produto oferecido pela AIESEC é turismo, carregado de muitos conceitos que podem

caracterizar essa atividade turística.

Inicialmente Carolina (AIESEC) não enxerga impactos negativos e positivos

em nenhum dos pilares no que diz respeito à atividade turística que é desenvolvida

pela organização. Mas a entrevistada cita que pelos dois programas de intercambio,

os estudantes conseguem ver o lado mais real do Rio de Janeiro. Essa observação

se refere a todos os aspectos culturais seja na gastronomia, nos costumes, na

109

musica, entre outros, e também em situações conjunturais, como foram os protestos

que recentemente houve na cidade do Rio de Janeiro. E comenta sobre os possíveis

resultados negativos da intervenção numa organização do terceiro setor, que muitas

vezes são inseridas em meio à comunidade de baixa renda marginalizada. Cita que

pode haver uma falta de preparo por parte do intercambista que não sabe lidar com

os anseios da comunidade, dele não entender a melhor abordagem. Algumas

comunidades se mostram mais resistentes por ainda não estarem adaptadas com a

presença dos turistas, enquanto outras são até acomodadas demais, acostumadas

com o assistencialismo. Essas intervenções inadequadas geram resultados

negativos de saturação numa comunidade, que traduz o estudante como uma figura

estranha e autoritária, que veio para impor regras, pois a comunidade não entende

que esse turista pode fazer parte daquele cotidiano.

Carolina (AIESEC) ressalta que a AIESEC não trabalha com comunidades

abertas, apenas com organizações. E os intercambistas têm bastante liberdade para

criar. São as próprias organizações que funcionam como um termômetro sobre a

eficácia e coerência do trabalho daquele intercambista junto a proposta deles, são

eles que podem passar algum feedback para a AIESEC. No caso do Cidadão

Global, os membros AIESEC não conhecem necessariamente a comunidade que os

intercambistas estão inseridos, mas no momento de fechar a parceira, a AIESEC vai

até o local para conhecer e garantir que é propício para o intercambista trabalhar.

Caroline (AIESEC) explica que as estratégias para evitar esses impactos

negativos estão mais ligadas com o contato constante que se estabelece entre as

organizações e os membros AIESEC, conforme as situações vão acontecendo, até

porque as realidades são muito diferentes, tanto pela realidade local da comunidade

que os intercambistas estão inseridos, quanto à própria nacionalidade do turista que

pode indicar um maior ou menor choque cultural. Uma ajuda é a semana de

preparação, antes do inicio do trabalho, com aula de português pela parceria com o

projeto Fala Brasil e dicas culturais. O gestor das organizações do terceiro setor é a

voz da comunidade, pois geralmente a resposta do gestor é a resposta do publico.

No aspecto da atividade turística, apesar do não reconhecimento da

organização, podemos dizer que a mesma atua no segmento de turismo voluntário,

já previsto no referencial teórico desse trabalho (WEARING, 2001; DEVEREUX,

110

2008; WEARING; MCGEHEE, 2013; MCGEHEE, 2002), no caso do programa do

cidadão global, e, em ambos os programas, é possível situar no segmento de

estudos e intercambio. Esse último segmento não teria sido destacado nesse

trabalho e aparece como uma outra possibilidade de geração de impacto social

positivo.

No turismo voluntário, a luz dos autores, podemos caracterizar a AIESEC

como aquelas organização citadas por Coren e Gray (2012) e Wearing e McGehee

(2013) que entraram no processo de mercantilização da prática do voluntariado em

viagens, numa tendência de estar atento apenas ao consumidor/ voluntário, em

detrimento de levar em consideração os anseios da comunidade local envolvida.

Esse seria um aspecto negativo. Sabe-se que existe uma constante comunicação

junto às organizações, mas se entende nesse trabalho que nem sempre a

organização pode ser porta voz da comunidade local e que a AIESEC deveria

dialogar mais com essa comunidade, apresentando seu trabalho e o motivo por

estar atuando nela, para que essa relação seja mais proveitosa e que gere mais

impactos positivos do que negativos.

As práticas turísticas adotadas nesse trabalho não são diretamente

abordadas pela a entrevistada, mas mediante algumas falas, destacamos o turismo

de experiência, pois é dito que muitos estudantes querem viver experiências

diferenciadas/ alternativas, especialmente no cidadão global, um exemplo é a

atuação com organizações do terceiro setor que atuam em países de extrema

pobreza, como a África, ou em campos de concentração. No geral, o Cidadão Global

permite uma interação muito intensa com a comunidade local em condições bem

adversas. O turismo sustentável e responsável não parecem ser práticas pensadas

pela organização, que não tem o domínio exato dos impactos positivos e negativos

gerados pela sua atividade turística. Foi citado um impacto positivo, relacionado com

a dimensão cultural, e um impacto negativo, relacionado com as dimensões cultural

e social.

A hospitalidade é um principio trabalhado apenas entre os membros da

AIESEC que receberão um intercambista vindo de outra AIESEC, e também do

intercambista para com a organização que irá trabalhar, por meio da preparação

cultural, mas não havendo o cuidado de se preparar a comunidade para receber o

111

turista também. A comunicação e a experiência parecem ser princípios trabalhados

junto ao intercambista, até mesmo como forma de atingir o objetivo do

desenvolvimento de lideranças positivas, a preparação cultural é essencial nesse

sentido, quando se faz o intercambista refletir, se trabalha com as expectativas

desse jovem e entende que a interação com outra cultura é um aspecto bastante

relevante.

O mesmo ocorre com a alteridade, que parece ser um princípio trabalhado

junto ao intercambista também, que se prevê o respeito pelo diferente, alinhando a

questão da tolerância cultural. A igualdade da atividade turística é algo não

praticado, pois a comunidade local é posta em segundo plano, levando em

consideração apenas os anseios do intercambista. Como uma prática baseada em

valores corretos e lícitos, a ética se faz presente na atividade turística da AIESEC. O

princípio da sustentabilidade não é algo aparentemente pensado pela organização,

podemos citar apenas a preparação cultural e o contato do membro AIESEC local

como fatores que influenciam de forma positiva a sustentabilide cultural e social da

atividade turística. A sustentabilidade econômica e ambiental não são contempladas

em nenhuma das falas.

A AIESEC possui instituições parceiras para capacitações, mas não para

ajuda financeira, e todas essas instituições dão suporte direcionado à gestão,

nenhuma organização que trabalhe com foco no impacto social da AIESEC. No que

diz respeito a instituições de fomento aos negócios socais, Carolina (AIESEC)

mostrou maior aproximação com a CHOICE da Artemisia, pois possuem membros

AIESEC vinculados a essas iniciativas também, mas diz não ter relação direta. E

complementa dizendo que não seriam um negócio social, pois não visam o lucro e o

impacto social é muito subjetivo.

Para Carolina (AIESEC), a Associação funciona como uma ONG, ela diz: “nós

somos voltados para a sociedade civil, não governamental, sem interesses

lucrativos”, porém existe um senso comum de mercado que ONG não é profissional

e é assistencialista. Tendo em vista que a AIESEC é gerida por jovens estudantes,

poderiam ter dificuldades de penetração. Legalmente, de acordo com Carolina

(AIESEC), a AIESEC é uma Associação.

112

Caroline (AIESEC) esclarece que a organização é muito plural e pode ser lida

de várias formas, variando o papel da AIESEC em cada cidade. Um exemplo é o

papel da AIESEC India, que possui um programa muito forte, chamado Discovey

India, que consiste em mudar os estereótipos negativos do país, pois na verdade é

um dos países que mais formam mão de obra de tecnologia do mundo, então eles

vendem e melhoram a imagem do país Índia, com um grande papel social em escala

global. Cada AIESEC tem o foco naquilo que a cidade/ país precisa.

A AIESEC pode ser definida como um negócio social, a luz dos autores

escolhidos nesse trabalho, afinal ela supri uma falha do sistema educacional e uma

necessidade local, alinhando a proposta da organização com as demandas do local

que está inserida (como o caso da Índia) e procura causar impacto social de longo

prazo na sociedade (ALTER, 2007), ainda que a organização julgue que esse

impacto seja subjetivo e difícil de medir. Segundo Austin et al (2006), esse desafio

não seria exclusividade da AIESEC, pois medir impacto social envolve mexer com

informações intangíveis e bem qualitativas. E ainda que não vise o lucro, possui

autossutentabilidade financeira (YUNUS, 2014) e, sobretudo, com disciplina

financeira típica do setor privado (ALTER, 2007), operando como um negócio

(SEBRAE, 2013). Apresenta também intencionalidade em gerar impacto social.

Deixando a desejar apenas no que tange a dimensão da responsabilidade e da

participação da comunidade local na tomada de decisão da organização, apesar de

enfatizar que a comunicação é constante com as organizações (COMINI et al, 2012).

O modelo de atuação da AIESEC, baseado em Alter (2007), seria o de

ligação de mercado, bastante parecido com o da Aoka, porém por se colocar mais

como uma mediadora, facilitando a relação entre as partes, tem um papel mais

distante, cobrando uma taxa por esse serviço, como pode ser visto na figura 41.

113

Figura 41 – Modelo de ligação de mercado da AIESEC Fonte: Elaboração própria

A AIESEC pôde nos monstrar mais uma vez a ideia de se relativizar o impacto

social, e pensar também sobre essa dimensão frente a realidade de cada local, pois

um impacto positivo para a Índia não é o mesmo para o Rio de Janeiro. A

organização AIESEC como um todo consegue ser versátil e se alinhar ao momento

e demandas locais.

114

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do referencial teórico encontrado nas áreas do empreendedorismo

social, negócios sociais e turismo, foi possível demonstrar o que todos esses temas

poderiam apresentar em comum e de que forma seria possível analisar a atuação de

organizações que atuam no turismo à luz da perspectiva dos negócios sociais. Após

a discussão com a teoria proposto no primeiro capítulo, no segundo capítulo

iniciamos a análise de duas organizações.

Por meio desse trabalho, foi possível observar que há relação entre a

temática dos negócios sociais e o turismo, sendo evidenciado que o turismo é uma

alternativa bastante eficaz para impactar socialmente as pessoas de forma positiva.

Como foi exposto na análise desse trabalho, existem organizações ativas e

consolidadas no mercado que se alinham a forma de atuação dos negócios sociais

proposto nesse trabalho, sendo ela reconhecida como tal ou não.

Foi relatado também algumas especificidades pertinentes às organizações

turísticas. Uma delas se refere à possibilidade do mercado alvo e o publico alvo

serem dois grupos diferentes, porém simultaneamente caracterizados como

beneficiários da atividade, como o caso da Aoka. Além disso, entendemos que o

impacto social não se restringe apenas à população pobre e marginalizada, fruto das

discussões sobre base da pirâmide, porém, é possível gerar diferentes impactos

sociais, contemplados por diferentes tipos de emporaderamento ao(s) indivíduo(s).

A lógica da definição de empreendedorismo social varia de uma organização

para a outra. Na AIESEC veio primeiro o problema social, depois a alternativa; e na

Aoka foi o inverso, mas esse processo não tira a legitimidade do empreendimento,

que tem seu trabalho baseado nos moldes e princípios do empreendedorismo social.

Dessa forma, podemos perceber que alguns negócios identificam o problema e

criam uma alternativa de negócio para enfrentá-lo, enquanto outros não

necessariamente identificam um problema social, mas uma oportunidade de

mercado, buscando resolver problemas sociais a partir da atividade de negócio

criada pela organização.

A avaliação de desempenho, uma variável proposta por Austin et al (2006)

que pode diferenciar o empreendedorismo social, foi apresentada pelas

115

organizações analisadas como uma dimensão mais difícil de ser trabalhada,

tornando a compreensão dessa variável mais confusa na práticas de negócios

sociais que atuam no turismo.

No caso da Aoka, podemos observar, em seu site e no facebook, o uso da

nomenclatura negócios sociais, mas na entrevista a organização se identificou como

um negócio de impacto social, muito provavelmente porque é vinculada à Artemisia,

instituição que utiliza esse termo. Percebemos, portanto, que o uso da nomenclatura

é muito influenciado pelas instituições que atuam no fomento dessas organizações.

Seria interessante padronizar para se ter uma melhor abrangência, prezando mais

pelo uso de características essenciais à essas organizações, do que por definições

restritivas, a fim de se ter um melhor entendimento sobre o termo e diluir as

confusões teóricas.

Com a análise do caso da AIESEC, constatamos que outros segmentos

turísticos podem aparecer nas práticas de negócios sociais turísticos, como é o caso

do segmento de estudos e intercambio. Sobre a atividade turística da AIESEC,

podemos dizer que a organização quer se firmar tanto como uma plataforma de

desenvolvimento de lideranças, posicionando o intercambio apenas como um meio

para que esse bjetivo seja alcançado que não enxerga a dimensão turismo que está

intrinsicamente arraigada no serviço oferecido pela organização e esquece de

trabalhar/ aplicar os princípios de um impacto social positivo da sua própria

atividade, não se aproximando de forma mais efetiva dos agentes sociais

envolvidos, sem ter o entendimento dos impactos negativos da sua atividade e o que

fazer para minimizá-los. Se a AIESEC assimilasse determinados conceitos poderia

agregar valor ao seu produto, bem como trabalha-lo de forma mais consciente dos

seus impactos positivos e negativos, sabendo de que segmento faz parte, quais

práticas adotam ou poderiam ser adotadas e quais as implicações de tudo isso.

O que se pode depreender é que a AIESEC surgiu com um conceito mais

social, sobre intolerância cultural, mas hoje tem um caráter um pouco mais

mercadológico, ainda que prevaleça os princípios e valores ligados ao impacto social

positivo no mundo, mas seguem a lógica de empresas derivadas do crescimento do

turismo voluntário, no caso do Cidadão Global, que não se preocupa com o outro

lado, a comunidade local, apenas com o intercambista. Por mais que a organização

116

esteja focada no jovem estudante, a comunidade local está intrinsicamente

envolvida na atividade e mereceria alguns cuidados, até para potencializar o

aproveitamento da experiência do estudante, ponto essencial para a AIESEC.

Consideramos nesse trabalho houve um nível maior de dificuldade em análise

a AIESEC, pois se trata de uma organização muito antiga, que já passou por várias

fases e focos gerenciais, dessa forma, ainda que a organização tenha começado

com um determinado propósito, procuramos levar em consideração a situação atual

exposta pela entrevistada. Além disso, a AIESEC não possui entendimento sobre

sua atuação no turismo e apresenta uma dinâmica muito mais complexa,

diversificando produtos (possuem vários programas) e clientes (organizações,

jovens estudantes e membros).

Não ter feito uma pesquisa in locu, de caráter participativo, para que se

pudesse confirmar na prática o que a organização apresenta na entrevista,

especialmente no caso da AIESEC que não tem uma compreensão da sua prática

turística, limitou a problematização da teoria com a prática.

Visto a enorme abrangência de conceitos que permeiam a temática do

empreendedorismo social, o presente trabalho não pôde dar conta de tudo.

Destacamos aqui o conceito de inovação e impacto social, que não foi

problematizado devidamente no referencial teórico, por entendermos que exigiria

uma discussão mais prolongada, que poderia estender e desvirtuar o foco do

trabalho. Além disso, apesar de ter sido falado no referencial sobre a atuação do

empreendedor social, optou-se por não utilizar essa dimensão para a análise das

organizações escolhidas.

Nesse trabalho não foi possível observar organizações alinhadas com o

turismo social que pudesse demonstrar a possível relação desse segmento com a

temática do empreendedorismo social. Futuras abordagens ao tema dos negócios

sociais com o turismo podem melhor explorar esse e outros segmento e práticas que

possam estar contempladas nos negócios sociais. Além disso, uma análise mais em

profundidade, que explore outras fontes de informação, como funcionários das

empresas e os beneficiários da atividade, e vivencie uma experiência proposta por

essas organizações, é o ideal para se ter um resultado mais completo.

117

REFERÊNCIAS

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<http://www.virtueventures.com/resources/setypology> Acesso em: 01 set. 2014

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Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação

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APENDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

1 Fale sobre a ideia inicial no momento de criação da empresa. Como e por que surgiu a ideia do negócio? Foi idetificado alguma situação específica que motivasse a criação da organização?

2 Como você descreveria o objetivo principal da sua empresa?

3 Esse OBJETIVO PRINCIPAL está baseado na....

Maximização dos lucros

Maximização do impacto social

Outro Qual?

4 No que diz respeito aos OBJETIVOS SOCIAIS E AMBIENTAIS X OBJETIVOS ECONÔMICOS, podemos dizer que:

Os objetivos sociais e ambientais representam mais que 50%

Os objetivos sociais e ambientais representam menos que 50%

Os objetivos sociais e ambientais estão em total equilíbrio com os objetivos econômicos

Outro Qual?

5 A MISSÃO da empresa está baseada...

Predominantemente no impacto social

No impacto social e na geração de dividendos como um mesmo peso

Predominantemente na geração de dividendos

Outro Qual?

6 Qual foi a oportunidade de negócio encontrada pela a empresa para se estabelecer no mercado?

127

7 Quanto ao IMPACTO SOCIAL que a sua empresa promove:

7.1 O que você poderia destacar?

7.2 Quem é diretamente beneficiado por esse impacto?

7.3 Como você poderia descrever os benefícios que essas pessoas ganham com a atividade da empresa?

8 Que tipos de produtos/ serviços sua empresa oferece/ comercializa?

9 Quem é o cliente/ consumidor dos produtos e serviços oferecidos pela a empresa?

10 Como a empresa mede seu desempenho? Quais seriam as variáveis que a empresa poderia dizer que leva em consideração para estabelecer informações de desempenho?

11 Como sua empresa é legalmente estruturada? (ONG, Direito Privado, LTDA...)

12 Financeiramente....

Sua empresa é autossustentável

Sua empresa utiliza recursos híbridos, renda própria e doações

A empresa utiliza apenas doações

Outro Qual?

13 Quanto à distribuição de lucros:

A empresa permite a distribuição entre os acionistas

A empresa reinveste todo o lucro nela própria

Outro Qual?

14 Quais as fontes de recurso financeiro são utilizadas pela sua empresa?

15 A organização possui um plano de negócios (metas e estratégias de médio e longo prazo)?

Sim

128

Não

16 Além da comercialização de serviços/ roteiros, existem outras formas de geração de renda?

Sim

Não

Se sim, Qual?

17 Como funciona, de forma resumida, o processo de montagem do pacote, comercialização, entrega e execução do serviço? (levando em consideração a comunidade local e o turista)

18 De que forma a empresa gera renda própria?

19 A organização usa alguma das fontes de recurso abaixo?

Capital de risco

Microcrédito

Capital semente

Doações

Crowdfunding

Empréstimo

Fundo não restituível

Outro Qual?

Se não, já usaram alguma vez? Qual?

20 Com relação às atividades de negócio da empresa (produtos e serviços comercializados) e os programas sociais desenvolvidos (impacto social gerado pela a empresa), podemos dizer que:

As atividades de negócio produzem diretamente impacto social, dessa forma, podemos afirmar que as atividades de negócio e os programas socais são a mesma coisa

As atividades de negócios são conectadas com os programas sociais, mas não é a mesma coisa

129

As atividades de negócios financiam os programas sociais, sendo duas coisas separadas

Outro Qual?

21 Quanto à mobilização de recurso HUMANO...

21.1 Quais os desafios enfrentados pela empresa?

21.2 E quais as facilidades?

22 Quanto à mobilização do recurso FINANCEIRO...

22.1 Quais os desafios enfrentados pela empresa?

22.2 E quais as facilidades?

23 No que diz respeito à atividade turística, quais os princípios e valores você poderia destacar como relevantes para a empresa?

24 A empresa enxerga algum impacto negativo provocado pelo produto/ serviço oferecido pela a empresa?

Sim

Não

Se SIM, Qual?

24.1 A empresa possui alguma iniciativa para minimizar esse impacto?

Sim

Não

Se SIM, Qual?

25 Que tipo de experiência turística a empresa objetiva promover para o turista e para a comunidade local? (leve em consideração aspectos culturais, sociais, ambientais e econômicos)

26 A empresa se vê atuando em algum segmento turístico específico?

130

Sim

Não

Se SIM, Qual?

27 A empresa identifica que a comunidade local envolvida está satisfeita? De que forma se dá o relacionamento com as comunidades envolvidas? Fale um pouco sobre essa relação.

28 Quanto aos processos de tomada de decisão (desenvolvimento de algum produto turístico, por exemplo), podemos dizer que:

É decidido apenas entre a diretoria executiva da empresa

É decidido entre a diretoria executiva da empresa e a comunidade diretamente envolvida na atividade

É decidido entre a diretoria executiva e os demais membros da empresa

É decidido entre todos os agentes envolvidos (a diretoria executiva, demais membros da empresa e a comunidade local)

Outro Qual?

29 Quais tipos de benefícios a empresa poderia destacar que são trazidos para a comunidade local em diferentes dimensões?

29.1 E para os turistas?

30 A empresa atualmente possui vínculo com alguma instituição de fomento/ financiadora? (SEBRAE, ARTEMISIA, ASHOKA, VIRUE VENTURE...)

Sim

Não

Se SIM, Qual?

31 Você já ouviu falar no termo “negócios sociais” (ou termos correlatos, como negócios de impacto social, negócios inclusivos, empresas social....)?

Sim

Não

Se SIM, o que é um negócio social para você?

131

32 Você considera sua empresa um negócio desse tipo?

Sim

Não

Outro Qual?

32.1 Se NÃO, Por que?

32.1 Se SIM, Qual nomenclatura a empresa utiliza para se autodenominar?

Negócio social

Negócio de impacto social

Negócio Inclusivo

Empresa social

Outro Qual?

33 O que você gostaria de dizer que não foi perguntado? O que você gostaria de acrescentar? Há ações que você gostaria de ressaltar?