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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO Samanta Siqueira de Campos 00140083 Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves RS Porto Alegre, março de 2011.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Samanta Siqueira de Campos

00140083

Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves – RS

Porto Alegre, março de 2011.

II

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Samanta Siqueira de Campos

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

SUPERVISIONADO

Orientador do Estágio: Eng. Agrônomo Dr. Paulo Ricardo Dias de Oliveira

Tutor do Estágio: Prof. Eng. Agrônomo Dr. Paulo Vitor Dutra

COMISSÃO DE ESTÁGIOS:

Prof. Elemar Antonino Cassol – Depto. de Solos - Coordenador

Prof. Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico

Prof. José Fernandes Barbosa Neto – Depto. Plantas de Lavoura

Prof. Josué Sant’Ana – Depto. de Fitossanidade

Prof. Lair Ângelo Baum Ferreira – Depto. de Horticultura e Silvicultura

Profa. Mari Lourdes Bernardi – Depto. de Zootecnia

Prof. Renato Borges de Medeiros – Depto. de Plantas Forrageiras e

Agrometeorologia

Porto Alegre, março de 2011.

III

APRESENTAÇÃO

Este relatório apresenta as atividades desenvolvidas durante o estágio

curricular obrigatório para conclusão final de curso pela estagiária Samanta

Siqueira de Campos, acadêmica do curso de Agronomia da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, nas dependências da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Uva e Vinho, localizada no

município de Bento Gonçalves, RS. Sob a orientação do pesquisador Dr. Paulo

Ricardo Dias de Oliveira (EMBRAPA) e como tutor de estágio o professor

Paulo Vitor Dutra (UFRGS). Durante o período de estágio foram

acompanhadas diversas atividades totalizando 300 horas de estágio, nos

meses de janeiro e fevereiro de 2011.

IV

Sumário 1. Introdução…………………………………………………….......................... 1

2. Descrição do meio físico e socioeconômico da região……………………. 2

2.1. Caracterização do clima……………………………………………….…… 3

2.2. Caracterização dos principais Solos da região………………………….. 3

2.3. Características e importância do agronegócio regional………………… 3

3. Descrição da instituição de realização do estágio…………………………. 4

4. Estado da arte do assunto principal trabalhado no estágio………………. 5

4.1. Família Vitaceae…………………………………………………………….. 5

4.2. Eurhizococcus brasiliensis – pérola-da-terra…………………………….. 7

5. Atividades realizados no estágio…………………………………………….. 8

5.1. Uva..…………………………………………………………………………... 9

5.2. Maçã..………………………………………………………………………… 11

5.3. Pera...…………………………………………………………………………. 12

5.4. Outra atividades importantes………………………………………………. 13

5.4.1. Banco Ativo de Germoplasma – BAG…………………………………... 13

5.4.2. Herbário…………………………………………………………………….. 14

5.4.3. Campos Experimental de Híbridos……………………………………… 14

6. Conclusões..…………………………………………………………………… 15

7. Análise crítica em relação ao estágio……………………………………….. 15

8. Referências..…………………………………………………………………… 16

V

LISTA DAS TABELAS 1. Médias adaptadas dos resultados dos testes de produção e qualidade..............10

LISTA DE FIGURAS

1. Localização da região de Bento Gonçalves....................................................2

2. Cachos da cultivar 'BRS Violeta'.....................................................................6

3. Pérola-da-terra em raízes de videira...............................................................8

4. Pomar experimental com as populações de híbridos de maçã.....................11

5. Pomar experimental com as populações de híbridos de pera......................12

1

1. Introdução

O interesse pela área de melhoramento e a área de fruticultura com

ênfase na cultura de uva, foi a motivação para a realização deste estágio. A

região escolhida foi a região da Serra Gaúcha, que se destaca na produção de

uva para mesa e uva para vinho. Pesquisas nessas áreas se mostram de

grande importância para os produtores que necessitam de novas cultivares

resistentes a doenças e pragas e com características que atendam a exigência

do mercado consumidor, no que diz respeito ao consumo de uva, tanto in

natura como uva para vinho e suco. Estes aspectos e outros irão proporcionar

grande aprendizado a estagiária e um melhor conhecimento sobre o setor

vitivinícola.

O estágio curricular obrigatório foi realizado na EMBRAPA Uva e Vinho,

no município de Bento Gonçalves, no Estado do Rio Grande do Sul, durante os

meses de janeiro e fevereiro de 2011 totalizando 300 horas. Também realizou-

se visitas a Estação Experimental de Fruticultura Temperada em Vacaria,

Fepagro em Veranópolis, propriedades e vinícolas locais.

Com o objetivo de acompanhar o programa de melhoramento genético

de uva conduzido pela EMBRAPA, dentre as atividades realizadas estão as

análises físicas, químicas e fenológicas das plantas e frutos da videira, com

ênfase no ensaio de porta-enxertos resistentes a pérola-da-terra. E somando-

se a cultura da uva, também foram acompanhados os programas de

melhoramento de maçã e pera com as mesmas análises, porém ambos

experimentos estão instalados nos campos experimentais na Estação

Experimental de Fruticultura de Vacaria.

2

2. Descrição do meio físico e socioeconômico da

região

A cidade de Bento Gonçalves está situada na região da Encosta

Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, a 124 quilômetros da capital Porto

Alegre. Possui uma área de 382,5 Km² e uma altitude de 618 metros. Sua

população é de 107.341, sendo 92,3% urbano e 7,7% rural (IBGE).

Figura 1. Localização da região de Bento Gonçalves.

Bento Gonçalves é conhecida como uma região turística, devido à

atividade vinícola. Possui 5900 ha de área plantada com videiras, que geraram

um rendimento médio de 17.000 kg/ha e um valor de produção de 46.138 mil

reais (IBGE). Além do setor víticola, conta também com moveleiro, alimentício

e metalúrgico, o que faz com que Bento Gonçalves se encontre entre as dez

maiores economias do Rio Grande do Sul. Está em primeiro lugar no Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) no Estado do Rio Grande do Sul e em sexto

lugar no Brasil, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

2.1. Caracterização do Clima

O clima de Bento Gonçalves é classificado como subtropical de altitude.

A temperatura média anual da região fica em torno de 17°C. A temperatura

3

máxima absoluta varia de 32 a 37°C, ocorrendo nos meses de dezembro,

janeiro e fevereiro. A temperatura mínima absoluta alcança -7°C, e ocorre nos

meses de junho a agosto. A precipitação pluviométrica média anual é de

1.500mm, com frequência média de 120 dias por ano. A umidade relativa do ar

é, em média, de 77% e a insolação média anual de 2.200 horas. A direção

predominante dos ventos é de norte a leste, com velocidade média de 2,1 m/s

(EMBRAPA).

2.2. Caracterização dos principais Solos da região

Os solos predominantes na região vitícola pertencem às Associações

das Unidades de Mapeamento ciríaco-charrua (Neossolos, Cambissolos e

Luvissolos) e caxias-farroupilha-carlos Barbosa (Neossolos, Cambissolos e

Argissolos). Apresenta relevo bastante acidentado, caracterizado por escarpas

e vales profundos (Vale do Rio das Antas). A altitude média do município é em

torno de 640 m, e seu ponto mais alto está a 720 m acima do nível do mar

(STRECK, 2008).

2.3. Características e importância do agronegócio regional

Conhecida como "capital brasileira do vinho", Bento Gonçalves se

configura como a maior produtora de uva do Rio Grande do Sul, e o maior

produtor de vinhos e derivados de uva do Brasil. O plantio da videira no

município remete à chegada dos imigrantes italianos na região, o que mostra

que a atividade não tem apenas caráter econômico, mas também cultural.

Várias das empresas de destaque no cenário nacional têm sua sede dentro da

cidade ou no interior, como Vinícola Aurora, Vinhos Salton, Miolo Wine Group e

Casa Valduga. Além de grandes empresas, também há diversidade de

pequenas vinícolas familiares, que contribuem para a diversidade e qualidade

dos produtos elaborados. Atualmente, os produtos ganham prêmios de

reconhecimento internacional, que evidenciam a qualidade oferecida pelas

empresas (Wikipédia).

4

3. Descrição da instituição de realização do estágio

A sede da EMBRAPA Uva e Vinho está localizada no município de

Bento Gonçalves, na principal região produtora de vinhos do Brasil, a uma

altitude em torno de 640m. Ocupa uma área de 100 ha, dos quais 42 ha se

prestam para o uso agrícola e o restante ocupado por edificações, bosques,

estradas e por terrenos com topografia acidentada. Fica à 125 km de Porto

Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, com acesso pela rodovia BR-

116. A EMBRAPA Uva e Vinho conta também com a Estação Experimental de

Fruticultura Temperada (EEFV), em Vacaria e a Estação Experimental de

Viticultura Tropical (EEVT) em Jales, SP (EMBRAPA).

O Campo Experimental de Vacaria foi criado em 1981 e estava ligado a

EMBRAPA UEPAE CASCATA, de Pelotas que na época era responsável pela

pesquisa e desenvolvimento em fruteiras de clima temperado. Já em 1994 foi

incorporado ao Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho, EMBRAPA Uva e

Vinho, com sede no município de Bento Gonçalves, passando a denominação

de Estação Experimental de Vacaria (EMBRAPA).

A Estação Experimental de Viticultura Tropical da EMBRAPA Uva e

Vinho foi criada em 1993, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, localizada em Jales, São Paulo. A EEVT, anteriormente

denominada de Estação Experimental de Jales, iniciou a partir da demanda do

setor produtivo vitícola da região e da assinatura de convênio entre a Prefeitura

Municipal de Jales, o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento/EMBRAPA, a Secretaria da Agricultura de Jales e a Associação

dos Viticultores da Região de Jales. A EEVT conta com 16 ha, dos quais oito

são ocupados com parreirais (EMBRAPA).

A EMBRAPA Uva e Vinho possui uma estrutura de laboratórios que

atende áreas desde fisiologia vegetal, biologia molecular, até virologia

passando pela entomologia, solos, entre outros, que compõem a organização

física da instituição. Conta também com laboratórios de microvinificação,

enologia, meteorologia e sensoriamento remoto (EMBRAPA).

5

4. Estado da arte do assunto principal trabalhado no

Estágio

4.1 Família Vitaceae

A família Vitacea é composta por lianas, arbustos e ervas

ocasionalmente e contém 15 gêneros e aproximadamente 700 espécies, que

são amplamente distribuídas nos trópicos, mas com os representantes se

estendendo até o norte e sul. As espécies silvestres de videira têm origem em

três centros de dispersão: Americano, Euroasiático e Asiático. A maioria tem o

hábito trepador com gavinhas opostas às folhas. As flores são pequenas,

esverdeadas, perfeito ou imperfeito, com perianto caliptrado, e o fruto é uma

baga. As plantas são monóicas ou dióicas. O gênero Vitis contém a única

espécie comestível e dentro do gênero podemos destacar algumas espécies

cultivadas como a Vitis vinifera, Vitis labrusca, e Vitis rotundifolia. O grupo Vitis

é dividido em dois subgêneros o Euvitis e o Muscadinia (DENNIS et al. 2005).

Entre as variedades brasileiras de uvas finas para processamento

podemos encontrar aproximadamente 70 cultivares. As principais cultivares

tintas, pelo volume processado, são Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet

Franc, Tannat, Ancellota e Pinot Noir, mais expressivas no sul do país. No caso

de uvas finas brancas para processamento, mais de 50 cultivares estão

difundidas nos vinhedos do Brasil, destacando-se, no Sul, as cultivares

Moscato Branco, Riesling Itálico, Chardonnay, Prosecco, Trebbiano, e Moscato

Giallo.

As uvas comuns representam mais de 80% da produção brasileira de

uvas para processamento e têm significativa importância também como uvas

de mesa. Cerca de 40 cultivares entre V. labrusca, V. bourquina e híbridas

interespecíficas compõe o elenco varietal brasileiro. As principais cultivares

tintas são Isabel, Bordô, Concord, pertencentes à espécie V. labrusca, com

grande aptidão para a elaboração de suco, mas também utilizadas para

produzir vinhos; as cultivares Jacquez, Herbemont e Cynthiana, de V.

bourquina, usadas para vinho e suco; e, Couderc Tinto e Seyve Villard Tinto,

híbridas interespecíficas, também usadas para a produção de vinhos e suco.

Dentre as principais cultivares comuns brancas destacam-se as cultivares

6

Niágara Branca e Niágara Rosada, ambos V. labrusca, Couderc 13, Moscato

EMBRAPA, BRS Lorena e Seyval, do grupo das híbridas interespecíficas. As

cultivares de V. labrusca, além de utilizadas pela indústria vitivinícola, também

têm importância relevante como uvas de mesa, especialmente a Niágara

Rosada e a Isabel.

No século XX, as uvas finas ganharam expressão para a produção de

vinhos e para consumo “in natura”. Iniciativas de produção em escala comercial

de uvas finas de mesa no Semiárido nordestino marcaram o início da viticultura

tropical no Brasil. Surgiram novos pólos de produção de uvas finas de mesa em

condições tropicais, nas regiões do Norte do Paraná, Noroeste de São Paulo e

Norte de Minas Gerais.

Atualmente, observa-se o surgimento de novas áreas de plantio,

indicando uma tendência de expansão da cultura no país (PROTAS et al.,

2006). Esta evolução vem dando suporte ao desenvolvimento e à adoção de

novas tecnologias que contribuem para o estabelecimento da vitivinicultura

como uma atividade economicamente rentável no país.

A cultivar 'BRS Violeta' é uma uva hibrida resultado do cruzamento entre

'BRS Rúbea' e 'IAC 1398-21', realizado em 1999, na EMBRAPA Uva e Vinho. A

primeira produção foi obtida em 2002, na EEVT, em Jales-SP. A planta foi

selecionada pela produtividade, sabor, coloração e teor de açúcar (CAMARGO

et al., 2006).

Figura 2. Cachos da cultivar 'BRS Violeta'.

Fo

to:

Mic

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ou

za

Oliv

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7

Foi propagada para avaliação em escala semicomercial, na EEVT,

confirmando as primeiras observações e seguindo para campo de validação

em Nova Mutum-MT e avaliação na região em clima temperado.

É um hibrido com alta fertilidade, o que resulta em elevada capacidade

produtiva, atingindo 25 a 30 t/ha. Pode ser cultivada sobre os porta-enxertos

'IAC572' (condições tropicais) ou '1103 Paulsen' (condições temperadas).

Recomendam-se os espaçamentos nas faixas que vão de 2,5 m a 3,0 m entre

linhas e 1,5 m a 2,0 m entre plantas. O sabor é aframboezado, com o teor de

açúcar chegando a 19 a 21 °Brix. A acidez do mosto é relativamente baixa, 60

mEql, e o pH situa-se entre 3,70 e 3,80.

4.2 Eurhizococcus brasiliensis – pérola-da-terra

Para o manejo realizado tanto na cultura da videira, como as demais

culturas, um dos aspectos importantes a destacar é com relação à incidência

de pragas e doenças, sendo este um fator limitante à produção e que deve ser

levado na decisão do manejo adotado. Dentre as pragas de importância para a

cultura está a "pérola-da-terra" (Eurhizococcus brasiliensis), cochonilha que

vem trazendo prejuízos em diversas regiões vitícolas do Brasil.

A pérola-da-terra, HEMPEL Apud BOTTON (2008) (Hemiptera:

Margarodidae), é uma cochonilha subterrânea que ataca as raízes de plantas

cultivadas e silvestres. Várias espécies de plantas entre anuais e perenes são

hospedeiras do inseto, destacando-se a videira e fruteiras de clima temperado.

O inseto, encontrado pela primeira vez em 1922 por Celeste Gobatto, no

município de Silveira Martins, RS, WILLE Apud BOTTON (2008), foi um dos

principais responsáveis pelo abandono da cultura da videira em diversas

regiões. Exemplos neste sentido são abundantes na região norte do Rio

Grande do Sul, Vale do Rio do Peixe em Santa Catarina e norte do Paraná

(BOTTON, 2008).

8

Figura 3. Pérola-da-terra em raízes de videira.

A praga ocorre principalmente na região Sul do Brasil, onde se acredita

que a mesma seja nativa e, também, em São Paulo. Recentemente, a pérola

da terra foi constatada atacando a cultura da videira no Vale do São Francisco,

em Petrolina-PE.

A cochonilha permanece na região das raízes e somente é prejudicial no

primeiro e segundo ínstares, visto que os adultos são desprovidos de aparelho

bucal. Assim sendo responsável pelo declínio da cultura em várias regiões

devido às dificuldades de controle. Algumas das medidas de controle utilizadas

pelos produtores são: controle biológico (fungos e nematóides), controle

cultural (revolvimento do solo e eliminação de plantas invasoras), resistência de

plantas. Atualmente este último é o mais promissor no controle da praga e

possui muitos estudos e trabalhos em andamento com relação à resistência de

plantas a pérola-da-terra. Muitas das recomendações mencionam o uso de

porta-enxertos resistentes e plantas da espécie V. rotundifolia não só para

controle de pérola-da-terra como também para outras pragas da cultura como

5. Atividades Realizadas no Estágio

Durante o estágio foram realizadas avaliações e análises dentro dos

programas de melhoramento de uva, maçã e pera.

Fo

to:

G.

Kuh

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9

5.1. Uva

Dentre os objetivos do programa de melhoramento genético de uva na

unidade da EMBRAPA Uva e Vinho, em conjunto com Jales, está o de

desenvolver porta-enxertos tolerantes a pérola-da-terra, cujo assunto foi o

enfoque principal do estágio obrigatório realizado.

O ensaio de avaliação do comportamento de porta-enxertos de videira

resistentes à pérola-da-terra está no seu segundo ano de avaliação.

A área do ensaio possui um histórico de ocorrência de pérola-da-terra

dentro da EMBRAPA Uva e Vinho, desde outubro de 2006. Os porta-enxertos

usados no experimento foram obtidos através da multiplicação in vitro,

utilizando 43 seleções obtidas de cruzamentos. Para o controle resistente

foram usados „Magnólia‟ (V. rotundifolia) e „043-43‟ (V. vinífera x V.

rotundifolia), e como controle suscetível o „Paulsen 1103‟ (Vitis berlandieri x

Vitis rupestris). Totalizando 46 tratamentos adotaram-se blocos completos

casualizados para o desenho experimental, com cinco repetições e quatro

plantas por parcela. O espaçamento entre plantas é de 2,5 m x 1,5 m,

conduzidas em espaldeira simples, no sistema de poda guyot duplo, com varas

horizontais de 0,5 m de comprimento. A enxertia foi realizada, em verde, com a

„BRS Violeta‟, em dezembro de 2007. Nas linhas de bordadura foi utilizada a

seleção 548-15.

Foram seguidas as recomendações para manejo do solo e controle

fitossanitário durante o andamento do trabalho. Na mesma foram feitas duas

infestações artificiais de pérola-da-terra em dezembro de 2008 e abril de 2009.

Foram realizadas avaliações de fenologia (data de início da brotação, floração

e maturação) e da produção neste primeiro ano.

Durante os meses de janeiro e fevereiro de 2011, período do estágio, foi

acompanhada a colheita da variedade „BRS Violeta‟ na área do experimento e

realizada coleta de amostras de cachos (um cacho por planta totalizando 4

cachos por parcela) para posterior análise em laboratório. Durante a colheita,

além da amostragem também é feita a contagem de cachos por planta e

pesados todos os cachos da parcela (quatro plantas) para dados de produção.

As análises feitas em laboratório correspondem à acidez total, °Brix e pH,

10

também usadas como dados de produção. A avaliação fenológica não foi

acompanhada porque foi realizada num período anterior ao inicio do estágio.

A avaliação em laboratório era realizada sempre após cada colheita.

Assim, as amostras colhidas pela manhã eram analisadas no período da tarde

no laboratório. A preparação das amostras era feita com o esmagamento de

cada uma obtendo um mosto de cada amostragem. Esse mosto foi

centrifugado a 3000 rpm por 5 minutos. O centrifugado era então utilizado para

análise de acidez total, sendo 5 ml de amostra mais 45 ml de água destilada

com 3 gotas de fenolftaleína para a titulação. O °Brix foi medido em

espectrômetro e o pH em um peagâmetro.

Os dados obtidos foram tabelados e analisados através do programa

estatístico SAS (Tabela 1).

Tabela 1. Médias adaptadas dos resultados dos testes de produção e qualidade.

Porta-enxertos 043-43 P1103 1110 1111 583 BRS Violeta

Nº de cachos/planta 38,20 23,42 26,43 30,77 31,62 *ND

Peso/planta (kg) 28,86 5,53 9,98 13,22 16,65 *ND

°Brix 16,73 21,01 20,36 18,89 18,84 20

Acidez total (meq/L) 88,20 52,80 66,00 63,43 66,16 60

pH 3,29 3,54 3,48 3,45 3,46 3,75 *ND – Não Disponível.

Com base na média dos dados de produção e qualidade (número de

cachos por planta, peso, acidez total, °Brix e pH) pode-se inferir que os porta-

enxertos 043-43 usado como resistente apresentou bons resultados e o porta-

enxerto sensível Paulsen 1103 se manteve abaixo dos demais porta-enxertos.

Pode-se destacar o porta-enxerto 1111 e 583 por apresentarem um número de

cachos por planta e peso por planta representativos em relação ao 1110

sempre em comparação aos dados de produção da BRS Violeta.

Apesar de ser muito cedo para afirmar, estes dados e os dados da safra

passada já podem ser usados como referência para um possível uso desses

porta-enxertos como alternativa para os problemas causados por pérola-da-

terra na vitivinicultura brasileira.

11

5.2. Maçã

No programa de melhoramento de maçã foram acompanhadas algumas

atividades como visitas a pomares experimentais. Durante as visitas técnicas

foram feitas observações fenológicas, identificação de pragas e doenças. Em

novas áreas experimentais para condução de populações com o objetivo de

avaliar diferença fenotípica entre plantas-irmãs, e caso ocorresse seria feita

uma avaliação genotípica das plantas. Essas populações se encontravam em

uma área conduzida dentro da EMBRAPA Uva e Vinho e uma mesma área na

Estação Experimental em Vacaria ambas com aproximadamente 400 plantas.

Figura 4. Pomar experimental com as populações de híbridos de maçã.

Na EMBRAPA as atividades desenvolvidas foram a avaliação fenológica

e tutoramento das macieiras, identificação de pragas e doenças. Na EEFV

foram realizadas algumas visitas e foi possível ver a realização de enxertia em

alguns pés de maçã.

12

5.3. Pera

No programa de melhoramento de pera pode-se destacar alguns dos

seus objetivos: ampliação do germoplasma disponível para o programa de

melhoramento genético; formação e avaliação da copa e porta-enxertos de

populações segregantes; instalação de rede de ensaios para avaliar

agronomicamente cultivares comerciais e seleções avançadas do programa; e

estudos sobre indução de mutação e da engenharia genética para aumentar a

variação genética e para fornecer tecnologias de suporte ao programa de

melhoramento (OLIVEIRA et al. 2010).

Figura 5. Pomar experimental com as populações de híbridos de pera.

As atividades realizadas dentro do programa de melhoramento de pera

foram visitas técnicas a área experimental que se encontra em Vacaria. Em

estufas na EMBRAPA Uva e Vinho foram vistas as variedades copas

enxertadas em Pyrus caleriana estes enxertos são levados aos estufins e por

fim plantados em Vacaria. Também foi acompanhada a colheita de pera dentro

de uma área comercial em Vacaria para obtenção de sementes e formação das

populações segregantes.

13

5.4. Outras atividades importantes

Além do ensaio com pérola-da-terra foram realizadas as seguintes

atividades relacionadas à cultura da uva:

5.4.1 Banco Ativo de Germoplasma – BAG

A EMBRAPA Uva e Vinho possui 1.249 acessos em sua coleção de

videiras (germoplasma), introduzidos de diferentes partes do mundo e

avaliados. A coleção é composta por mais de 40 espécies de Vitis, com grande

número de variedades das espécies cultivadas (V. vinifera, V. labrusca, V.

bourquina, V. rotundifolia), variedades híbridas interespecíficas e espécies

silvestres dos três centros de dispersão da videira: Americano, Euroasiático e

Asiático.

O Banco Ativo de Germoplasma recebe plantas de produtores locais e

de outras instituições de pesquisa, além de coletas de materiais para compor

ou repor, quando necessário, no seu BAG.

A coleção de videiras teve seu início em 1982. A coleção foi avaliada

sob condições de campo, em vinhedos implantados na EMBRAPA Uva e

Vinho. Sendo todo o germoplasma caracterizado e avaliado nas condições de

Bento Gonçalves, obtendo-se informações importantes para o adequado uso

de cada acesso (espécie, variedade, clone) pelas diferentes linhas de pesquisa

e pelos diferentes elos da cadeia vitivinícola (viticultores, técnicos, empresários

e outros).

A metodologia de avaliação foi definida de acordo com os conceitos do

Instituto Internacional para os Recursos Genéticos de Plantas (IPGRI), da

Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV) e da União para a Proteção

de Obtenções Vegetais (UPOV).

Foi montado um banco de dados com informações de caracterização do

germoplasma, como tipo de flor e características do cacho e da baga, e de

avaliação, incluindo fenologia, produção, composição química do mosto e

incidência de doenças. Os acessos são avaliados por no mínimo seis e no

máximo dez anos. Depois dessa avaliação a campo as plantas são

catalogadas no sistema e mantidas in vitro. A EMBRAPA possui o maior Banco

de Germoplasma Ativo da América Latina.

14

No período do estágio foi possível acompanhar a avaliação fenológica

das espécies da coleção a campo. A avaliação fenológica consiste em

classificar a planta quanto ao início e término de brotação, floração, maturação

da uva, queda de folhas e início da maturação dos sarmentos, incidência de

doenças, forma do cacho e baga, sabor da baga. Para fazer essas avaliações

são seguidas planilhas com classificações já estabelecidas que deverão ser

aplicadas pelo avaliador a essas plantas. As passadas são realizadas a cada 3-

4 dias, caso ocorra algum comportamento diferenciado o mesmo deve ser

registrado. Assim como foram feitas análise de acidez total, pH e °Brix.

5.4.2 Herbário

Foram acompanhadas algumas atividades ligadas ao herbário como

coleta de folhas, secagem e indexação. O herbário tem como finalidade de

armazenar folhas secas prensadas com as informações e dados da espécie

vegetal tais como ecologia, fisiologia, farmacologia e agronomia. Com o

objetivo de ter informações guardadas sobre a espécie e pode ser usada em

identificações de plantas desconhecidas ou que se tenha dúvida em relação a

espécie. As folhas são escolhidas dentro da coleção e são secas

cuidadosamente pressionadas em jornal e colocadas em estufa. Após são

armazenadas em pastas de papel individual em armários com naftalina.

5.4.3 Campo Experimental de Híbridos

No campo de híbridos se encontram plantas que estão em fase de

avaliação, de produção e qualidade, para serem lançadas futuramente no

mercado. Foi acompanhada a avaliação fenológica, colheita e coleta de

amostras para a análise de qualidade (acidez total, °Brix e pH) desses híbridos.

Depois de selecionados os híbridos serão plantados em áreas comerciais para

mais algumas avaliações e só depois podem ser lançados no mercado. Esses

híbridos são oriundos de cruzamentos feitos entre plantas da coleção que

possuem alguma característica agronômica interessante para a produção e o

mercado. Por exemplo, a resistência a antracnose, está sendo avaliada em

alguns desses híbridos.

15

6. Conclusões

O estágio é uma etapa fundamental para consolidar os conhecimentos

teórico-práticos desenvolvidos ao longo do curso de graduação. Além disso,

possibilita uma reflexão sobre o futuro mercado de trabalho. Assim, foi possível

conhecer a realidade de uma instituição de pesquisa, que trabalha

fundamentalmente para a melhoria das atividades agropecuárias, através dos

conhecimentos gerados pelos vários departamentos que a compõe,

possibilitando o conhecimento em relação as atividades de pesquisa e as

parcerias realizadas entre a EMBRAPA e diversas outras instituições em

conjunto.

Houve a oportunidade de aprofundar os conhecimentos referentes ao

melhoramento genético vegetal e sua relação com a vitivinicultura da região e

em relação à área agronômica, mais especificamente através das visitas

técnicas a propriedades parceiras, campos experimentais em outras unidades

da EMBRAPA e vinícolas, além das análises de qualidade e produção na

cultura da videira. E também pela oportunidade de conhecer e participar de

análises e experimentos em outras áreas (fisiologia vegetal, entomologia, pós-

colheita) e outras atividades ligadas à produção de vinhos, sucos e

espumantes.

7. Análise crítica em relação ao estágio

O estágio foi uma experiência muito produtiva e enriquecedora no que

diz respeito aos aspectos técnicos, humanos, como os sociais, o que

proporcionou à estagiária um período de aprendizado, além da possibilidade de

convívio com profissionais experientes na área agronômica, entre outras áreas,

que souberam transmitir seus conhecimentos. Como aspecto positivo pode-se

citar a ampla liberdade de diálogo com o orientador e demais pesquisadores,

gerando, assim, uma troca de informações que possibilitou agregar e relacionar

as demais áreas com a área de atuação da estagiária. A instituição de

realização do estágio possibilitou à estagiária boas condições de trabalho,

infraestrutura, transporte, instalações, equipamentos e materiais.

16

8. Referências Bibliográficas

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Resumo 11.

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