universidade federal do rio grande do sul - 8421

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ARTI GO L ETRÔN I CA v. 5, n. 2, p. 347 - 354, junho 2012 O imaginário português pelo olhar de Boaventura de Souza Santos e de Eduardo Lourenço Paul a Renata Lucas Collares 1 No primei ro moment o, a parti r títul o dest e arti go, parece-nos um pouco arri scado trazer as pal avras de dois est udi osos t ão diferent es para falar de Port ugal . Boaventura de Souza Santos, Professor Cat edti co na Faculdade de Economia na Universidade de Co imbra, t em publicado livros sobre a gl obalização, a soci ol ogi a do di reit o, a epi st emol ogi a, a democracia e os di reitos humanos. Especi alment e, o autor t em-se dedicado ao estudo do femeno da gl obalização e as relões ent re o l ocal e o gl obal . Já Eduardo Lourenço é f ormado em Ci ências Hist óri co-Fil osóficas, já leci onou em diversas universidade s, é admi rado pel a sua capacidade de analisar o destino port uguês e mostrar como esse desti no f oi miticament e const ruí do. Boaventura de Souza Santos, como ci enti sta soci al, utili za dados est asti cos para comprovar os processos i dentit ári os do povo port uguês “ no espaço-tempo da ngua portuguesa” (SANTOS, 2006:227), que compreende uma vasta zona multissecular de contato com outros povos da América, Ásia e África. Eduardo Lourenço analisa a i denti dade cult ural e naci onal através de uma reflexão mítica e exist enci al. Essas poucas linhas não el ucidam o grande presgi o acadêmico de ambos, ent ret anto el as nos ajudam a col ocar em diál ogo esses doi s intelect uai s cont emponeos que t ão bem ent endem a construção do imaginári o português e as questões concernent es a sua i denti dade naci onal. Santos, no ensaio intitulado “ Entre o Próspero e o Caliban: colonialismo, pós - col onialismo e int er-identidade” , retomando antigos pensamentos de outros teóricos, reafirma a condição de Portugal como um país, desde o sécul o XVII, s emi per i férico no sist ema 1 Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Letras - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Puc-RS). Bolsista parcial Capes. E-mail: paulacollares123@hotmail.com

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ARTIGO LETRÔNICA v. 5, n. 2, p. 347 - 354, junho 2012

O imaginário português pelo olhar de Boaventura de Souza Santos e de Eduardo Lourenço

Paula Renata Lucas Collares1

No primeiro momento, a partir título deste artigo, parece-nos um pouco arriscado trazer as

palavras de dois estudiosos tão diferentes para falar de Portugal. Boaventura de Souza Santos,

Professor Catedrático na Faculdade de Economia na Universidade de Coimbra, tem publicado

livros sobre a globalização, a sociologia do direito, a epistemologia, a democracia e os

direitos humanos. Especialmente, o autor tem-se dedicado ao estudo do fenômeno da

globalização e as relações entre o local e o global. Já Eduardo Lourenço é formado em

Ciências Histórico-Filosóficas, já lecionou em diversas universidades, é admirado pela sua

capacidade de analisar o destino português e mostrar como esse destino foi miticamente

construído.

Boaventura de Souza Santos, como cientista social, utiliza dados estatísticos para

comprovar os processos identitários do povo português “no espaço-tempo da língua

portuguesa” (SANTOS, 2006:227), que compreende uma vasta zona multissecular de contato

com outros povos da América, Ásia e África. Eduardo Lourenço analisa a identidade cultural

e nacional através de uma reflexão mítica e existencial. Essas poucas linhas não elucidam o

grande prestígio acadêmico de ambos, entretanto elas nos ajudam a colocar em diálogo esses

dois intelectuais contemporâneos que tão bem entendem a construção do imaginário

português e as questões concernentes a sua identidade nacional.

Santos, no ensaio intitulado “Entre o Próspero e o Caliban: colonialismo, pós-

colonialismo e inter-identidade”, retomando antigos pensamentos de outros teóricos, reafirma

a condição de Portugal como um país, desde o século XVII, semiperiférico no sistema

1 Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Letras - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Puc-RS). Bolsista parcial Capes. E-mail: [email protected]

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