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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN
Unidade Acadêmica Especializada
Escola de Música
Licenciatura em Música
METODOLOGIA DE ENSINO APRENDIZAGEM NA
FILARMÔNICA SÃO TOMÉ: UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA NA
REGIÃO DO POTENGI
LUIZA MARIA DE OLIVEIRA
Natal
Maio 2019
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LUIZA MARIA DE OLIVEIRA
Metodologia de ensino aprendizagem na Filarmônica São Tomé:
uma experiência positiva na Região do Potengi
Monografia apresentada ao curso de graduação em Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito
parcial para obtenção do título de Licenciada em Música.
Orientador: Prof. Dr. Ranilson Bezerra de Farias
Co-orientadora: Profª. Drª. Germanna França da Cunha
Natal
Maio 2019
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LUIZA MARIA DE OLIVEIRA
Metodologia de ensino aprendizagem na Filarmônica São Tomé:
uma de experiência positiva da Região do Potengi
Monografia apresentada ao curso de graduação em Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito
parcial para obtenção do título de Licenciada em Música.
Aprovado em ___/___/___ pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
__________________________________________
Profº. Dr. Ranilson Bezerra de Farias
__________________________________________
Profª. Dra Germanna França da Cunha
__________________________________________
Profº. Ms Gilvando Pereira da Silva
Natal
Maio 2019
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A Deus, porque sem ele eu não seria
nada. Aos meus saudosos pais, Zé
gamela (In memorian) e Zefinha, pois
com eles eu aprendi a superar os
obstáculos da vida, e ao meu noivo
Josias Morais pelo apoio, paciência e
motivação. Com o estimulo de vocês eu
aprendi a ver a vida com mais amor e
perseverança para realizar os meus
objetivos.
5
Agradecimentos
A Deus que me deu sabedoria e paciência para realizar meu sonho e fazer dele o
melhor de mim, não só como profissional, mas também como ser humano, fazendo o
bem sem olhar a quem.
Agradeço com muito amor àqueles que lutaram por mim: o meu pai Zé Gamela
(In memorian) e a minha mãe dona Zefinha. Essa vitória é nossa!
Ao meu noivo Josias Morais, que pôde suportar tantos momentos de ausência
para que esse trabalho fosse realizado. Agradeço por toda paciência, compreensão,
carinho e amor. Essa conquista também é sua, meu amor!
Aos meus orientadores Ranilson Bezerra de Farias e Germanna França Cunha,
palavras são poucas para expressar toda admiração e respeito, obrigada por tudo.
A minha madrinha e primeira professora de música Paula Francinete por todos
os ensinamentos.
Obrigada aos professores do curso de Licenciatura em Música. Cada um deixou
sua marca na minha vida acadêmica e seus ensinamentos foram fundamentais para
compreender o verdadeiro sentido de ser professor tanto em sala de aula como na vida.
A todos da Associação de Jovens Ação e cidadania - AJAC e aos componentes
da Filarmônica São Tomé, vocês sempre estarão em meu coração em especial Matheus
Lima por me ajudar em todos os momentos.
Agradeço aos amigos e colegas com quem convivi durante o curso, obrigada
pelo apoio em todos os momentos de aperreio e aprendizados que tivemos, pelos
sentimentos e amizade que construímos.
Aos meus amigos fora da Universidade, que sempre estiveram comigo nos
momentos bons e ruins, e que são parte da minha família que eu escolhi e quero para a
vida.
Agradeço a esta Universidade em especial à EMUFRN, seu corpo docente e toda
a Direção pela oportunidade de dar esse grande passo rumo ao meu crescimento
profissional.
E enfim, a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, seja de forma
direta ou indireta, fica registrado aqui a minha eterna gratidão.
Obrigada a todos!
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“Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção”.
(Paulo Freire)
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RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo investigar o trabalho desenvolvido na Filarmônica São
Tomé, buscando evidenciar a metodologia de ensino aprendizagem utilizada na
preparação dos alunos e músicos da banda além de investigar se a metodologia em uso
contribuiu para o desenvolvimento dos seus integrantes. A escolha do objeto desse
estudo deu-se pela proximidade da pesquisadora com o grupo em questão, uma vez que
participa do mesmo desde o início de seus estudos musicais até os dias atuais quando
exerce a função de maestrina. Os procedimentos metodológicos empregados,
correspondem à abordagem qualitativa e ao estudo de caso, e como ferramentas para
realizar a coleta de dados foram utilizados entrevistas semiestruturadas, questionários,
observação participante, além de pesquisa bibliográfica, registros em fotos, gravações
de áudio e postagens em redes sociais. Os resultados obtidos revelaram que as
interações construídas nas atividades desenvolvidas pelo grupo possibilitaram o
desenvolvimento tanto musical quanto interpessoal entre todos os envolvidos.
Palavras-chave: Aprendizagem Musical, Banda de Música, Filarmônica São Tomé
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ABSTRACT
This research aimed to investigate the work developed in the São Tomé Philharmonic,
seeking to highlight the teaching methodology used in the preparation of students and
musicians of the band, besides investigating whether the methodology in use
contributed to the development of its members. The choice of the object of this study
was due to the proximity of the researcher to the group in question, since she
participates in it from the beginning of her musical studies to the present day when she
performs the function of conductor. The methodological procedures used, correspond to
the qualitative approach and to the case study, and as tools to perform data collection
were used semi-structured interviews, questionnaires, participant observation, in
addition to research records in photos, audio recordings and social media posts. The
results obtained revealed that the interactions constructed in the activities developed by
the group enabled the development both musical and interpersonal among all involved.
Keywords: Musical learning, music band, São Tomé Philharmonic
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 – Banda de Música Municipal de São Tomé em 07 de dezembro de 1957.
Fotografia 2 – Primeira apresentação da banda de flauta doce Recordari. Maio de 2006.
Fotografia 3 – Estreia da Filarmônica São Tomé em 07/12/2006.
Fotografia 4 – Apresentação da Filarmônica com a regência da maestrina Raquel
Gonçalo em 2016.
Fotografia 5 – Apresentação da Filarmônica São Tomé no VII São Tomé In Concert.
Maio de 2017.
Fotografia 6 – Apresentação no Festival Maestro Felinto Lúcio Dantas em Santa Cruz
02 de julho de 2017.
Fotografia 7– Concerto Som da Mata 17 de setembro de 2017.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................12
2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO..............................................................14
2.1 Pesquisa qualitativa e estudo de caso.......................................................................14
2.2 Escolha do campo.....................................................................................................15
2.3 Procedimentos da coleta de dados............................................................................15
2.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental .....................................................................15
2.3.2 Observação participante.........................................................................................16
2.3.3 Entrevistas semiestruturadas..................................................................................17
2.4 Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE...............................................18
2.5 Registros fotográficos e em áudio............................................................................19
2.6 Organização e analise dos dados..............................................................................19
3 UMA BREVE HISTÓRIA DA BANDA.................................................................20
3.1 As bandas de música no Brasil.................................................................................21
3.2 O surgimento das bandas civis no Brasil .................................................................22
3.3 O Rio Grande do Norte e suas bandas .....................................................................23
3.3.1 As bandas militares do Rio Grande do Norte ...........................................23
3.3.2 As bandas civis no interior do RN.............................................................25
3.4 As bandas de música e suas funções sociais.............................................................27
4 SÃO TOMÉ E A SUA BANDA ...............................................................................29
4.1 A cidade de São Tomé .............................................................................................29
4.2 A chegada da banda de música na cidade de São Tomé nos anos 50.......................30
4.3 A reativação da banda de São Tomé.........................................................................31
4.4 A maestrina Paula Francinete de Araujo Vicente ....................................................32
4.5 Trabalho inicial de musicalização e formação da filarmônica .................................33
4.6 Práticas de ensino da Filarmônica São Tomé ..........................................................35
5 DESAFIOS: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A FILARMÔNICA SÃO
TOMÉ............................................................................................................................39
5.1 Luiza Maria de Oliveira: de aluna à maestrina.........................................................39
5.2 Assumindo a Filarmônica São Tomé........................................................................40
5.3 Metodologia de ensino: identificando problemas e propondo soluções ..................41
5.4 Experiências e desafios ............................................................................................49
6 RESULTADO DOS DADOS....................................................................................51
11
6.1 A motivação..............................................................................................................51
6.2 Atividades do grupo e as estratégias de aprendizagem.............................................51
6.3 Importância das atividades para a formação musical e humana...............................52
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................53
REFERÊNCIAS...........................................................................................................55
APÊNDICES ................................................................................................................58
APÊNDICE A: Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e
Cidadania – AJAC para a realização da pesquisa...........................................................59
APÊNDICE B: Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e
Cidadania – AJAC para a utilização do seu nome real...................................................60
APÊNDICE C: TCLE referente à entrevista do presidente da Associação de Jovens
Ação e Cidadania – AJAC..............................................................................................61
APÊNDICE D: TCLE referente à entrevista do tesoureiro da Associação de Jovens
Ação e Cidadania – AJAC..............................................................................................62
APÊNDICE E: TCLE referente à entrevista dos músicos integrantes da Filarmônica São
Tomé...............................................................................................................................63
APÊNDICE F: TCLE referente à entrevista das maestrinas ex-integrantes da
Filarmônica São Tomé...................................................................................................64
APÊNDICE G: TCLE referente à entrevista dos integrantes de bandas militares e civis
do Rio Grande do Norte.................................................................................................65
APÊNDICE H: Entrevista semiestruturada para coleta de dados aplicada aos membros
da Diretoria da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC................................66
APÊNDICE I: Questionário para coleta de dados aplicado aos músicos integrantes da
Filarmônica São Tomé...................................................................................................67
ANEXOS.......................................................................................................................69
Filarmônica São Tomé (fotos).......................................................................................70
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1 INTRODUÇÃO
No Brasil observamos um aumento significativo de pesquisas voltadas para o
universo das bandas de música sobretudo a partir dos anos 2000. Esteja ela inserida no
campo militar ou civil, segundo o pesquisador Antonio Arley Leitão França (2017),
estudos relatando aspectos históricos e socioculturais começaram a ser desenvolvidos
no Brasil por volta de 1960. Pesquisas mais recentes também abordam tópicos como:
Aspectos de gestão; influência das bandas na formação profissional dos
integrantes; políticas culturais destinadas às bandas; influência das bandas
militares na consolidação de bandas civis brasileiras; influência do mestre na
formação do músico (...). (FRANÇA, 2017, p. 17)
Paralelamente a esses temas, outro aspecto bastante interessante é o aumento dos
estudos relacionados à área da educação musical que tratam do aspecto pedagógico da
banda de música, sobretudo os processos de ensino-aprendizagem.
Tendo se estabelecido como uma instituição tradicional da cultura brasileira, a
banda representa bem mais que um espaço de aprendizado musical. Em seu trabalho
“Bandas de Música, escolas de vida”, o pesquisador Ronaldo Ferreira de Lima afirma:
A banda de música é para a minha vida, um grupo de referência; uma
experiência da qual até hoje retiro ensinamentos e lições de vida. Nela
convive boa parte da minha adolescência e juventude. Passava,
constantemente, mais tempo na sede da banda do que no convívio de minha
casa. A banda era a outra família, uma segunda família. Ali aprendi a
respeitar regras; a compartilhar problemas e soluções; a construir novas
aspirações, opiniões, atitudes, ou seja, adquiri outra visão de mundo. (LIMA,
2005, p. 12)
De acordo com a pesquisadora Nilcéia Protásio Campos (2008), as experiências
propiciadas por uma banda de música podem influenciar a vida de seus componentes, e
sobre isso ela afirma:
O aprendizado musical torna-se apenas um dos aprendizados possíveis.
Vínculos são formados a partir da relação que os participantes estabelecem
uns com os outros e com a música – vínculos baseados na amizade, no
reconhecimento, na disciplina e no prazer proporcionado pela prática
musical. (CAMPOS, 2008, p. 107)
Compreendendo o fazer musical de uma banda como um espaço de produção
coletiva, concordo com as teorias dos pesquisadores Rose Hikiji (2006) e Juarez
13
Dayrrell (2005) ao defenderem que “ao participar de um grupo musical, cada
participante se compromete com o outro e com o resultado final” (HIKIJI, 2006, apud
CUNHA, 2013, p.359); e que “o espaço da produção musical coletiva torna-se um locus
de socialização, e uma alternativa de afirmação, de reinventar formas de viver”
(DAYRRELL, 2005, apud CUNHA, 2013, p. 360).
O inegável fomento à temática “bandas de música” no atual cenário do debate
científico e a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre as práticas de ensino
aprendizagem utilizadas nessas instituições, me incentivou a escolher como universo de
pesquisa a Filarmônica São Tomé, instituição com a qual tenho bastante proximidade
por tratar-se da banda que participo desde o início dos meus estudos musicais e onde
atualmente ocupo o cargo de maestrina.
Na presente pesquisa relato o trabalho desenvolvido na Filarmônica São Tomé,
buscando evidenciar a metodologia de ensino aprendizagem utilizada na preparação dos
alunos e músicos da banda além de investigar se a metodologia em uso contribuiu para
o desenvolvimento dos seus integrantes.
O trabalho está dividido em sete capítulos. No Capítulo 1, consta a presente
introdução. O Capítulo 2 apresenta a metodologia da investigação, explicitando a
abordagem metodológica utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, o procedimento
da coleta de dados e os critérios de escolha do objeto de estudo. No Capítulo 3
apresento uma contextualização histórica em forma de breve relato sobre as bandas de
música militares e civis no Brasil e no Rio Grande do Norte. O Capitulo 4 descreve a
cidade de São Tomé, trazendo também a história da banda da cidade. Nesse capítulo
inicio o relato de práticas de ensino utilizadas na Filarmônica em período anterior à
minha atuação como regente. O Capítulo 5 refere-se a minha própria história e atuação
como professora e maestria à frente da Filarmônica, bem como as estratégias e práticas
de ensino que utilizo nas aulas e ensaios. No Capítulo 6 são explicitados os resultados
dos dados analisados e no Capítulo 7 apresento as considerações finais.
14
2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
2.1 Pesquisa qualitativa e estudo de caso
Para a realização da presente pesquisa, optou-se pela utilização da abordagem
qualitativa. De acordo com a pesquisadora Linda G. Reis (2015), “essa abordagem tem
como objetivo interpretar e dar significados aos fenômenos analisados sem empregar os
métodos e as técnicas estatísticas como base do processo de análise de um problema”.
Ainda de acordo com Reis (2015) essa abordagem tem como objetivos:
...interpretar e dar significado aos fenômenos analisados;
descrever a complexidade de um específico problema;
analisar a interação de certas variáveis;
compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais;
possibilitar o entendimento das possibilidades do comportamento dos
indivíduos;
atribuir significados básicos aos conceitos no processo de pesquisa
qualitativa. (REIS, 2015, p.61)
O pesquisador Antonio Arley Leitão França (2017) afirma que “na pesquisa
qualitativa, o ambiente natural onde ocorre o fenômeno investigado é a fonte direta de
dados, sendo o investigador o principal instrumento”. O autor também relata que a
pesquisa qualitativa é descritiva, uma vez que “os dados resultantes da pesquisa
qualitativa são apresentados de forma descritiva pelo pesquisador”. Baseando-se em
autores como Bodgan e Biken (1994), Martins (2008), Lüdke e André (1986), e Stake
(2009), afirma que “a pesquisa caracterizada pela abordagem qualitativa busca
compreender os fenômenos humanos, relacionados aos indivíduos ou grupos, à luz das
perspectivas atribuídas pelos investigados, sob o olhar interpretativo do pesquisador”
(FRANÇA, 2017).
Tendo como objetivo relatar a metodologia de ensino aprendizagem utilizada na
Filarmônica de São Tome, utilizei a técnica de pesquisa conhecida como estudo de caso
já que, de acordo com REIS (2015), “é uma técnica de pesquisa com base empírica que
consiste em selecionar um objeto de pesquisa, que pode ser um fato ou um fenômeno,
um determinado caso estudado nos seus vários aspectos” (Reis, 2015, p. 57).
O pesquisador João José Saraiva da Fonseca (2002) complementa sobre o estudo
de caso:
15
... pode ser caracterizado de acordo com um estudo de uma entidade bem
definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma
pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o seu “como”
e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade e identidade próprias. É uma
investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça
deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única em
muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e
característico. (FONSECA, 2002, p. 33)
2.2 Escolha do campo
Como universo dessa pesquisa, escolhi a Filarmônica São Tomé. Um dos fatores
fundamentais para essa escolha foi a minha proximidade com o grupo em questão, uma
vez que iniciei meus estudos musicais na banda de flauta doce mantida pela Associação
de Jovens Ação e Cidadania – AJAC, posteriormente ingressando como instrumentista
na própria Filarmônica, onde atualmente assumo o cargo de maestrina.
Na pesquisa, além apresentar um histórico da Filarmônica, busco relatar a minha
experiência e evidenciar a metodologia de ensino aprendizagem que utilizo na
preparação dos alunos e músicos da banda. Compreendendo a Filarmônica como um
espaço que contribui para a formação musical e humana dos indivíduos envolvidos,
procurei investigar também se a metodologia em uso propiciou mudança nas relações
interpessoais e nas relações entre os instrumentistas e a Filarmônica.
2.3 Procedimentos da coleta de dados
Para a presente investigação utilizei as ferramentas de coleta de dados descritas
abaixo.
2.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental
Para o desenvolvimento da pesquisa realizei um levantamento bibliográfico,
buscando autores na área de música e educação musical, aprendizagem e ensino
coletivo relacionados ao contexto de grupos musicais e bandas de música que pudessem
contribuir para a fundamentação da pesquisa.
Para os dados sobre a Filarmônica São Tomé e o contexto no qual ela se
desenvolveu, realizei uma pesquisa buscando informações sobre a cidade e sua história
juntamente com um levantamento de dados do acervo pertencente à Associação de
16
Jovens Ação e Cidadania – AJAC e integrantes e ex-integrantes da Filarmônica,
buscando dados históricos e documentos sobre o grupo. O processamento desses dados
possibilitou a ampliação do conhecimento e a segurança das informações sobre o objeto
de estudo da pesquisa.
2.3.2 Observação participante
Atualmente “a observação é considerada uma das principais técnicas da coleta
de dados na pesquisa qualitativa, principalmente nas investigações que ocorrem em
contextos onde o ensino e aprendizagem são o foco” (FRANÇA, 2017). Esse contato
mais aproximado, segundo o autor, permite ao investigador uma melhor compreensão
do objeto de estudo. Isso se dá, de acordo com LÜDKE e ANDRÉ (1986), devido ao
fato que:
...na medida em que o pesquisador acompanha in loco as experiências diárias
dos sujeitos, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o
significado, o sentido e a importância que eles atribuem à realidade que os
cerca e às suas próprias ações. (LÜDKE E ANDRÉ, apud FRANÇA, 2017,
p.31)
Com o consentimento e autorização dos integrantes do grupo para aprofundar no
campo da pesquisa, estabeleci o período formal das observações entre fevereiro e maio
de 2019, acompanhando e observando todas as atividades inerentes ao grupo, tais como:
aulas, ensaios, concertos e momentos de descontração entre os intervalos dos ensaios.
Sendo integrante do grupo observado notei que não houve qualquer desconforto dos
participantes para a realização da pesquisa.
A observação realizada, pode ser classificada como sendo do tipo participante,
uma vez que além de observar, ocupo ativamente um posto dentro da Filarmônica São
Tomé. De acordo com Marconi e Lakatos (2010) esse tipo de observação “consiste na
participação real do pesquisador na comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo,
confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando
e participa das atividades normais deste” (MARCONI e LAKATOS, 2010, p.177).
17
2.3.3 Entrevistas semiestruturadas e questionário
Outra técnica de coleta de dados que utilizei durante essa pesquisa foi a
entrevista. Os dados coletados serviram para subsidiar o trabalho, mostrando ao
investigador a representação que os entrevistados tinham acerca do objeto pesquisado.
De acordo com Bodgan e Biklen (2010), “a entrevista é utilizada para recolher dados
descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver
intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do
mundo” (BODGAN e BIKLEN, apud FRANÇA, 2017, p. 32). Gerhardt e Silveira
(2009), afirmam que esta é “uma técnica de interação social, uma fórmula de diálogo
assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra se apresenta como fonte
de informação” (GERHARDT e SILVEIRA, apud SILVA, 2018, p. 16). A modalidade
de entrevista que utilizei foi a entrevista semiestruturada, que é aquela segundo Lüdke e
André (1986) que “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado
rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (LÜDKE E
ANDRÉ, apud FRANÇA, 2017, p.33).
Tendo escolhido a entrevista semiestruturada e questionário, elaborei roteiros
diferenciados. As perguntas elaboradas para as entrevistas contemplavam aspectos
relacionados à Filarmônica, à aprendizagem e às diversas interações que acontecem
entre os participantes e foram realizadas com as duas maestrinas que atuaram na
Filarmônica São Tomé. Os questionários foram de dois tipos: o primeiro, com oito
questões, voltado para o presidente e para o tesoureiro da Associação de Jovens Ação e
Cidadania – AJAC, o segundo, com vinte e duas questões destinava-se aos
instrumentistas atuantes na banda (APENDICES G e I).
Os questionários foram construídos com o objetivo de compreender aspectos
relacionados à AJAC e à Filarmônica São Tomé, bem como coletar dados socioculturais
e sobre as atividades desenvolvidas no grupo.
As entrevistas e questionários foram realizadas nos meses de abril e maio de
2019, e inicialmente foram elaborados os termos de Consentimento Livre e Esclarecido.
Após a elaboração dos TCLE, foram realizadas as entrevistas visando a coleta de dados
para análise. No corpo do texto, optei por não citar nominalmente os alunos
entrevistados e utilizei os termos “aluno 01”, “aluno 02”, “aluno 03”, e assim por
diante.
18
2.4 Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE
Sabendo que o desenvolvimento de uma pesquisa na área de música implica
muitas vezes na criação de materiais que de alguma forma possam favorecer a
exposição de pessoas envolvidas no processo, a exemplo de fotografias e registros em
áudio e/ou vídeo, compreendo a necessidade de um termo de consentimento que
autorize a sua utilização. Dessa forma, concordo com o pesquisador Luís Ricardo Silva
Queirós (2013), quando em seu artigo “Ética na pesquisa em música: definições e
implicações na contemporaneidade”, discorre e esclarece sobre esse tópico:
Fontes dessa natureza retratam situações, instrumentos, performances
e outros elementos da música e de pessoas fazendo música, e,
portanto, para serem produzidos, utilizados e/ou divulgados também
necessitam de autorização. É recomendável que todo pesquisador
tenha o respeito e o cuidado devido, solicitando autorização tanto para
realizar os registros, durante a coleta, quanto para utilizá-los em
publicações resultantes do processo investigativo. (QUEIROZ 2013,
p. 13)
Para a realização das entrevistas e em conformidade com as afirmações do
pesquisador, elaborei para essa pesquisa termos de autorização e consentimento que
foram direcionados aos membros da Diretoria (presidente e tesoureiro) da Associação
de Jovens Ação e Cidadania – AJAC, aos músicos da Filarmônica São Tomé, às
maestrinas ex-integrantes da Filarmônica e a integrantes de bandas militares e civis
buscando autorização para fazer uso do material coletado na investigação, bem como
utilizar as imagens em fotografias e gravações somente para fins de natureza
acadêmico-científica. Os textos foram redigidos tendo como modelo outros trabalhos
produzidos em programas de pós-graduação disponíveis em repositórios online.
Foram elaborados sete termos sendo eles:
Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania
– AJAC para a realização da pesquisa (APÊNDICE A).
Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania
– AJAC para a utilização do seu nome real (APÊNDICE B).
Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista do Presidente
da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC (APÊNDICE C).
19
Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista do Tesoureiro
da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC (APÊNDICE D).
Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista dos músicos
integrantes da Filarmônica São Tomé (APÊNDICE E).
Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista das maestrinas
ex-integrantes da Filarmônica São Tomé (APÊNDICE F).
Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista com
integrantes de bandas militares e civis do Rio Grande do Norte (APÊNDICE G).
2.5 Registros fotográficos e em áudio
Segundo Robert Yin, “provas observacionais são, em geral, úteis para fornecer
informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado” (YIN 2001, p 115).
Os registros fotográficos utilizados nessa investigação foram obtidos dos acervos
mantidos pela Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC e do meu próprio
acervo particular, e foram realizados em grande parte durante as apresentações da
Filarmônica. As entrevistas foram documentadas em áudio sendo algumas delas
realizadas via aplicativo WhatsApp.
2.6 Organização e análise dos dados
Para Antonio Carlos Gil (2010), “a análise e interpretação é um processo que
nos estudos de caso se dá simultaneamente à sua coleta”. Bodgan e Biklen (1994),
afirmam que essa fase corresponde ao “processo de busca e de organização sistemática
de transcrição de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo
acumulados” (BODGAN e BIKLEN, apud FRANÇA 2017, p. 41).
Após a realização das entrevistas, iniciei o processo da organização das
informações passando posteriormente para a fase de aprofundamento do estudo do tema
e interpretação dos dados.
Para melhor compreensão dos dados obtidos com a investigação, durante o
processo de análise fiz uma subdivisão nos seguintes tópicos: a motivação; as atividades
do grupo e as estratégias de aprendizagem; a importância das atividades para a
formação musical e humana.
20
3 UMA BREVE HISTÓRIA DA BANDA
No Dicionário Grove de Música a definição para o termo “banda” diz respeito
a conjunto instrumental, e em sua forma mais livre “é usada para qualquer conjunto
maior do que grupo de câmara1”. Assim, “essa origem parece se refletir em seu uso
para um grupo de músicos militares tocando metais, madeiras e percussão”.
O pesquisador Fernando Pereira Binder cita em sua dissertação uma transição
que ocorreu entre 1743 e 1762 da antiga banda de oboés para o conjunto conhecido
como harmoniemusik, ou banda de harmonia.2 Ele relata o emprego de clarinetas e
flautas substituindo os oboés. De acordo com Polk (2001) “a partir do final do século
XVII as bandas de oboés frequentemente tinham jornada dupla, tocando música militar
e em celebrações ao ar livre, conforme o exigido”. Durante o século XVIII, as bandas de
harmonia se espalharam pela Europa, agregando instrumentos de percussão aos sopros,
provocando dessa forma, nova mudança em sua formação instrumental. Binder (2006)
menciona que:
Para equilibrar a sonoridade do conjunto, afetada pela introdução da
percussão, o número de clarinetes foi aumentado, flautins, requintas e
trombones também foram adicionados. Esta formação foi denominada como
banda mista ou militar; mista em referência aos diferentes tipos de
instrumentos, madeiras, metais e percussão; militar devido à importância das
bandas militares para sua padronização, (...). (Binder 2006, p. 20)
Binder ressalta que esse tipo de formação foi adotado em vários lugares até o
século XIX, antes mesmo da revolução provocada pelos os instrumentos de válvulas e
pistões nas bandas. Por volta de 1810, a maioria das bandas militares europeias já tinha
ganhando tamanho e aumentado à quantidade de instrumentos.
Em Portugal, os conjuntos mencionados naquela época eram a banda marcial e a
banda de música. De acordo com Fernando Binder (2006), Raimundo José da Cunha
Mattos, militar português autor do “Repertório da Legislação Militar” e fundador do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, foi um dos primeiros a fazer uma distinção
entre os dois tipos de conjunto. A banda marcial, composta por trombetas, cornetas e
1 Entende-se por grupo de câmara, um pequeno conjunto musical composto por um número de dois a
nove instrumentistas. No prefácio de seu livro Twentieth-Century Chamber Music o pesquisador e
pianista James McCalla apresenta sua definição do que seja música de câmara e no texto define
claramente o que sejam grupos de câmara: “(Música de câmara) é a música tocada por um pequeno grupo de
músicos, normalmente entre dois e nove, sendo um músico por parte, usualmente sem um maestro (para encorajar a
individualidade como uma parte essencial de sua coletividade) enfatizando sutileza e intimidade em relação a
grandiosidade de salas sinfônicas ou teatros de ópera”. (McCALLA, 2003, preface, p. VII apud FARIAS, 2013) 2 Segundo Fernando Binder, conjunto instrumental composto por: uma flauta, dois oboés ou clarinetes,
um clarim, duas trompas, um fagote, um bumbo e uma caixa surda. (Binder 2006, pg. 24).
21
tambores, era chamada por ele de “instrumentos bélicos” e o grupo tinha a
responsabilidade de tocar sinais e comandos para as tropas militares. Binder (2006)
menciona também, que foi por volta do século XVIII que as bandas com o modelo
harmoniemusik ingressaram no exército português.
3.1 As bandas de música no Brasil
No ano de 1808, a corte portuguesa mudou-se para o Rio de Janeiro suscitando
várias transformações no cotidiano daquela localidade. Conforme Binder (2006) muitos
autores acreditam que, antes de 1808, não existia bandas de música, nos modelos mais
modernos das bandas de harmonia. Com a chegada da Banda da Brigada Real ao Brasil,
a formação instrumental utilizada nesse conjunto passaria a ser adotada na então colônia
e, embora representasse um padrão que logo seria considerado totalmente defasado
considerando-se as novas formações que começariam a surgir em Portugal por volta de
1814, em relação às bandas brasileiras, esse modelo já apresentava algum avanço.
Vicente Salles, musicólogo brasileiro oferece uma visão da formação estrutural das
nossas bandas, considerando-as ultrapassadas: ‘primitivas, deficientes e imperfeitas
bandas de pífanos, charamelas, trombetas, cornetas e tambores’ (SALLES apud
BINDER p.9).
Com o passar do tempo, inúmeros regimentos militares foram constituídos,
favorecendo o aparecimento de novas bandas estruturadas de modo semelhante ao
daquela corporação militar, e que passaram a substituir a antiga formação dos tocadores
de charamelas. De acordo com Binder (2006), além das atividades militares que
desempenhavam, esses grupos musicais eram frequentemente solicitados para as festas
da família Real:
Após a chegada da corte, as bandas de música dos regimentos de linha
passaram a ser frequentemente solicitadas a comparecer às festas da família
real, como consta do Livro de Ordens da Guarda Real da Polícia da Corte.
(Binder 2006 p. 47)
O fazer musical oficial, entretanto, permaneceu sob sua responsabilidade até a
criação da Guarda Nacional, corporação que viria a substituir os antigos corpos de
milícias e ordenanças. Conforme Binder (2006), “a lei de criação da Guarda Nacional,
de agosto de 1831, não fez qualquer menção à música, quer autorizando quer
proibindo”. Entretanto, em 19 de setembro de 1850 acontece uma reforma da Guarda
22
Nacional pela lei 602, que passa a permitir “a criação de bandas de música em suas
unidades, cujo tamanho e fardamento deveriam ser aprovados pelos presidentes, nas
províncias, ou pelo governo, na corte” (Binder, 2006 p.75).
Com o surgimento dessas bandas intensificaram-se as apresentações em público,
os músicos passaram a incluir em seu repertório hinos, trechos da música popular e
erudita, assim também como maxixes, valsas, polcas, schottisches e quadrilhas. Essas
ações contribuíram demais para a evolução das bandas.
3.2 O surgimento das bandas civis no Brasil
De acordo com Marcos dos Santos Moreira (2007), a criação das bandas de
música da Guarda Nacional, favoreceu o desenvolvimento de bandas militares e civis
nos grandes centros urbanos. Segundo o pesquisador André Diniz (2001), “as
apresentações nos coretos e nas festas cívicas faziam das bandas militares uma
referência obrigatória de diversão na cidade. Logo surgiram bandas civis imitando sua
formação, tocando música para bailes e apresentando-se nos coretos das praças” (Diniz
apud Moreira, 2007, p. 31).
O surgimento dessas bandas civis estabeleceu um novo contexto cultural, pois,
livres de obrigações militares, tais instituições assumiram o papel de levar a música a
toda comunidade. Esses grupos civis surgiram através de organizações privadas, com o
intuito de não serem remuneradas, e seus componentes eram escravos, operários,
barbeiros, funcionários aposentados, entre outros. A diretoria, geralmente era composta
por uma comissão formada por pessoas ilustres da comunidade, entre elas os políticos.
Essas associações musicais passaram a ganhar nomes como Liras, Euterpes, Clubes
Musicais e Sociedades Musicais. O termo filarmônica usado atualmente no cenário
musical, provavelmente está ligado a esse contexto. Manuela Areias Costa (2011)
esclarece:
Quando legalmente registradas, atuavam como associações filantrópicas por
não estabelecerem vínculo empregatício com os músicos, nem gerarem ou
receberem renda, seja das prefeituras ou do Estado. E, muitas vezes, por
serem filantrópicas, recebiam a denominação de ‘bandas filarmônicas’.
(Costa, 2011, p.05)
23
Outro marco importantíssimo para as bandas foi a Guerra do Paraguai, conflito
militar que ocorreu entre os anos de 1864 a 1870 envolvendo o Paraguai e a Tríplice
Aliança, formada por Brasil, Uruguai e Argentina. Nesse período foram criados corpos
de voluntários para auxiliar as tropas do exército brasileiro. Essas unidades, que foram
chamadas Voluntários da Pátria, eram compostas por civis, policiais, índios e escravos
e, de acordo com o pesquisador Vinícius Mariano de Carvalho (2008), “repetiam a
estrutura organizacional dos Batalhões de Linha”. A banda de música, dessa forma
estava presente nessas corporações. Seus integrantes, muitos sem formação militar
alguma, haviam adquirido formação musical em igrejas, associações musicais ou bandas
pequenas. Ainda segundo Carvalho (2008), esses músicos civis que participaram da
guerra do Paraguai ao mesmo tempo em que levaram para a guerra e para a banda
militar o seu repertório popular, adquiriram desses conjuntos o Ethos3 Militar. Dessa
forma, os músicos civis quando retornaram, trouxeram consigo hábitos militares como,
por exemplo, o ato de tocar e marchar ao mesmo tempo. Além de uniformes e da
utilização de quepes, as bandas civis passam então a não ter mais diferença das bandas
militares, e ganham um apelido carinhoso de tropa. Conforme Carvalho:
O repertório destas bandas civis não se diferencia mais das militares. Do
mesmo modo que seguem tocando suas músicas populares, incorporam o
dobrado e a marcha militar a seu repertório sem estranhamento.
(CARVALHO, 2008, p. 12)
3.3 O Rio Grande do Norte e suas bandas
3.3.1 As bandas militares do Rio Grande do Norte
Conforme citado anteriormente, a transferência da família real para o Brasil
ocasionou a vinda da Banda da Brigada Real Portuguesa acompanhando a corte. De
acordo com Carvalho (2007) posteriormente essa banda vai dar origem à Banda dos
Fuzileiros Navais. No Rio Grande do Norte, a Banda do Grupamento de Fuzileiros
Navais de Natal - GptFNNa foi criada em 1976. Era composta por vinte e três militares,
sendo um Suboficial Mestre e vinte e dois Suboficiais/Sargentos Fuzileiros Navais
executantes. Atualmente a Banda do GptFNNa é subordinada ao Comando do 3º
Distrito Naval e mantém a formação de vinte três integrantes tendo como maestro, o
3 Ethos é “costume, uso, maneira (exterior) de proceder”. (CABRAL, 1991 apud CUNHA, 2013).
24
Suboficial Paulo Henrique Duheme e com maestro substituto o Suboficial Elenierveson
Cavalcanti da Rocha.
Além do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal – GptFNNa, o estado do
Rio Grande do Norte possui ainda outras corporações militares que tem a presença de
bandas de música, a exemplo da Força Aérea Brasileira (ALA 10) e 7ª Brigada do
Exército Brasileiro. De acordo com o “Histórico da Banda de Música da Base Aérea de
Natal” fornecido pelo Cap QOEA MUS Manoel Jerônimo da Silva , em 19 de outubro
de 1943, o antigo jornal "A República" publicou edital informando que estava aberta a
incorporação de músicos para a formação da Banda de Música da Base Aérea de Natal.
Meses se passaram e em 17 de março de 1944 a banda é fundada com oito primeiros
músicos. De acordo com o Histórico, nos dias atuais:
Com a nova reestruturação da Força Aérea Brasileira (Força Aérea 100) em
que foi extinta a Base Aérea de Natal e criada uma nova unidade denominada
ALA 10 e de acordo com a ICA 906-1/2018 “Instrução para organização e
funcionamento da Atividade de Música no Comando da Aeronáutica”, a
Banda de Música passou a ser subordinada administrativa e
operacionalmente a ALA 10, sendo assim chamada “Banda de Música da
ALA 10”. (Histórico da Banda de Música da Base Aérea de Natal)4
Atualmente a banda possui 54 músicos e tem como maestro o Cap QOEA MUS
Manoel Jerônimo da Silva.
A Banda de Música da 7ª Brigada do Exército Brasileiro cuja origem remonta a
década de 1930 está atualmente sediada no 16º Regimento de Infantaria Motorizado.
Inicialmente a banda era composta por dezesseis músicos, e teve como seu primeiro
maestro o 1º Sargento Jacinto Carlos Carvalho. De acordo com o 2° Sgt. Cosme Damião
da Silva, atualmente a banda é classificada como uma banda de categoria D possuindo
39 componentes e é regida pelo capitão Joaz Silva de Souza.
Outra corporação militar que possui banda de música é a Polícia Militar do Rio
Grande do Norte. A Banda da PMRN foi fundada em 16 de junho 1886, sob a lei Nº 982
e era composta por apenas 10 músicos. Seu repertório inicialmente era voltado para as
atividades realizadas dentro da corporação a exemplo de dobrados e hinos. Marcos
Aragão Fontoura cita em sua pesquisa, que no ano de 1891, um edital publicado no
extinto jornal “A República” trazia uma convocação para músicos e, já no ano seguinte,
4 Histórico da Banda de Música da Base Aérea de Natal fornecido pelo Cap QOEA MUS Manoel
Jerônimo da Silva, atual maestro da banda. (maio, 2019).
25
a banda aumentou o seu contingente para 20 componentes, permanecendo assim até o
ano de 1898. Fontoura (2011) relata:
Em 1898, o efetivo do batalhão de segurança era de 394 e a banda de música
era composta por 10 soldados de primeira classe e 10 de segunda classe, além
de um mestre e um contramestre. (FONTOURA 2011, p.47)
Vários maestros assumiram a regência da referida banda contribuindo assim,
para o seu desenvolvimento. Entre vários nomes podemos destacar Juvenal Lira 5,
Antônio Pedro Dantas ‘Tonheca Dantas’, José Cesone, e Djalma Ribeiro da Silva.
Popularmente conhecido como Tonheca Dantas, Antônio Pedro Dantas foi
contratado em 30 de maio de 1898, com a função de mestre de banda, por um período
de três anos, o que ocasionou a sua dispensa do curso de formação de soldado. O
historiador potiguar Cláudio Galvão (1998) cita o quão versátil Tonheca se mostrou no
período de sua contratação:
Em seguida foi a vez de Tonheca Dantas. O comandante lhe entregou uma
partitura diferente da primeira e perguntou ao candidato qual o instrumento
que iria escolher. “qualquer um...” respondeu. “O senhor diga qual o que
quer”. Os membros da comissão se entreolharam, surpresos pela a audácia
daquele sertanejo moreno e franzino e resolveram pôr a prova seus
conhecimentos mandando que fosse tocando a peça nos diversos
instrumentos da banda. (GALVÃO, 1998 p.44)
A música de Tonheca Dantas se destaca dentro do universo musical das bandas
de música no Brasil, pois suas composições são um marco histórico. De sua obra
podemos destacar as seguintes peças: Royal Cinema, A Desfolhar Saudades, Delírio e
Melodia do Bosque. Sua composição “Pai Nosso”, ainda é ouvida com frequência na
capital e demais cidades do RN mas, sem dúvida, a valsa Royal Cinema foi o ápice das
suas composições chegando a ser, de acordo com o professor e pesquisador Paulo
Marcelo Marcelino Cardoso, “irradiada ao vivo pela BBC (British Broadcasting
Corporation) de Londres e pela rádio Berlim em programas dirigidos ao Brasil, na
época em que se desenrolava a 2° Guerra Mundial” (CARDOSO, 2002).
3.3.2 As bandas civis no interior do RN
5 Juvenal Lira, primeiro maestro da banda de música municipal de São Tomé – RN no ano de 1950.
26
As bandas de música civis multiplicaram-se por várias cidades brasileiras, e no
estado do Rio Grande do Norte não foi diferente. Na região do Seridó, pesquisadores
citam a existência de bandas civis muito antigas. No livro “A desfolhar Saudades. Uma
biografia de Tonheca Dantas”, escrito por Cláudio Galvão (1998), encontramos uma
menção feita a uma banda da cidade de Acari que existia por volta de 1880.
A mais antiga referência que se tem da atividade musical da região está
ligada ao nome de Manuel Bezerra de Araújo Galvão, do Ingá, que por volta
de 1880, mantinha, na cidade do Acari, uma banda com cerca de dez a vinte
componentes. (GALVÃO, 1998, p. 26)
O escritor cita esta banda como sendo a referência musical mais antiga da
região, entretanto, encontramos um registro anterior descoberto pelo pesquisador
Cardoso (2002) em uma pesquisa histórica realizada pelo maestro Jaime Brito. O estudo
relata a existência de uma banda no município de Jardim do Seridó no ano de 1859,
possuindo nove componentes e tendo sido fundada pelo coronel da guarda nacional
Ildefonso de Oliveira Azevedo. Dessa forma, encontrou-se um registro que aponta a
existência de uma formação musical muito antiga nessa região, que mostra uma grande
tradição de bandas civis que perdura até os dias atuais. Entretanto, não é objetivo desse
trabalho dar foco a essa discussão, apenas trouxemos dados que podem ser trabalhados
em outras pesquisas.
Entre outros conjuntos musicais dessa mesma região temos a Banda 11 de
Fevereiro, da cidade de Parelhas (1907); a Banda de Música Recreio Caicoense (1909),
de Caicó; e a Filarmônica Onze de Dezembro (1910), de Carnaúba dos Dantas.
A região do Seridó com toda sua tradição musical revelou importantes
compositores, destacando aqui a figura importantíssima do maestro e compositor
Felinto Lúcio Dantas (1898-1986). O compositor e professor Danilo Guanais escreveu
em 2001 “O Plantador de Sons vida e obra de Felinto Lucio Dantas”, e menciona como
o compositor de grandes dobrados e valsas e obras sacras aprendeu a ler:
A aprendizagem das letras se deu de uma forma inusitada, revelando os
primeiros sinais de determinação e humildade, traços característicos da
personalidade de Felinto. Nas areias próximas ao rio, ele aprendeu, com um
primo seu, o “ABC seguido”, pagando, por cada letra ensinada, três pás de
terra. (GUANAIS, 2001, p.11)
27
O grande estímulo para a carreira musical de Felinto se deu em 1915, ao assistir
o ensaio da banda de Acari regida pelo seu primo Tonheca Dantas. Ele se sentiu muito
impressionado e foi a partir daí que decidiu se tornar músico. Em 1917 escreveu seu
primeiro dobrado chamado “Estréia”, após dois anos, compôs a valsa “Culpa e Perdão”.
Anos se passaram Felinto se casou duas vezes e gerou 30 filhos, dos quais apenas 14
sobreviveram. Ao se aposentar, assume a postura de agricultor e compositor até o fim da
sua vida. Guanais (2001) cita: ‘‘Às vezes, Felinto retornava mais cedo do seu roçado
para compor. O período da tarde era quase reservado à produção musical’’. Apesar de
sua carreira musical ele administrava muito bem os serviços de casa, afinal o bem estar
da sua família vinha em primeiro lugar. Guanais (2001) reforça:
Certa vez, enquanto trabalhava nos reparos de um muro em seu quintal,
soube que o aguardavam algumas pessoas importantes, que ansiavam por
ouvi-lo falar sobre a música. Felinto respondeu: “Quem tiver vexado que se
sente e espere, que eu vou primeiro terminar meu serviço”. (GUANAIS,
2001, p.33)
As obras de Felinto Lúcio Dantas são o destaque do compositor, conforme
Guanais (2001), o número de dobrados foi setenta e sete, ou seja, assim sabemos que
existe ou existiu essa quantidade de dobrados mesmo não tendo todos esses registros em
partitura. Um fato interessante são os dobrados em homenagem aos seus filhos e as
valsas em homenagem às filhas e esposa. Obras sacras e profanas foram também um
ponto alto nas suas composições, ele tendo compôs aproximadamente 185 obras
completas. O que restou de suas obras encontra-se sob os cuidados de sua família.
Algumas peças estão incompletas e outras se perderam também.
A relevância do compositor Felinto Lúcio Dantas para a música norte rio-
grandense pode ser constatada por meio das inúmeras homenagens a ele dedicadas.
Atualmente a cidade de Santa Cruz – RN sedia um encontro de bandas intitulado
“Festival Felinto Lucio Dantas”, que conta com a participação de bandas e filarmônicas
atuais do estado do RN, que buscam promover assim a celebração de suas obras e
reforçar junto às novas gerações a importância desse repertório tão rico e respeitado no
cenário musical de bandas de música.
3.4 As bandas de música e suas funções sociais
28
No Brasil, as bandas de música são um marco histórico e tradicional, e se
caracterizam como importantes centros de ensino musical. Encontramos esse tipo de
conjunto na maioria de nossas cidades, e no Rio Grande do Norte, esse fato não é
diferente. Diretamente ligadas ao cotidiano das cidades, são elas as escolas da vida,
proporcionando não só ensinamentos musicais, mas disciplina, respeito ao próximo e
compromisso. A junção desses quesitos contribui de forma bastante positiva para um
ambiente interdisciplinar saudável onde os jovens além de receberem uma educação
musical satisfatória têm a possibilidade de compartilhar seu aprendizado junto às
comunidades mais carentes, nesse sentido João Batista de Almeida (2011) evidencia em
sua pesquisa:
Além de seu papel de levar a cultura musical às camadas mais populares, as
bandas assumiram a função e a responsabilidade educativo-musical junto a
uma grande parte dos jovens que dificilmente teriam acesso a escolas formais
de música (ALMEIDA, 2011 p.13).
Sobre as atividades desenvolvidas pelas as bandas de música, observa-se que
elas são bastante participativas nas cerimônias religiosas sendo elas novenas, missas,
festas de padroeiras e procissões, contudo marcam presença não só nesses eventos, mas,
também nos desfiles cívicos, além de comemorações de outras naturezas, sempre em
sintonia com o cotidiano da coletividade, desse modo comenta José Washington da
Silva (2018):
As Bandas de Música têm essa representatividade por ser um conjunto
musical que busca estar próximo à população, executando dobrados e
marchas ao desfilar entre as ruas, assim como também executam músicas
populares em praças públicas e em outros ambientes de fácil acesso à
comunidade (SILVA, J., 2018 p.14).
29
4 SÃO TOMÉ E A SUA BANDA
4.1 A cidade de São Tomé
Possuindo uma área territorial de 863km², a cidade de São Tomé fica localizada
na Região do Potengi, a 118 quilômetros de distância da capital. De acordo com dados
do IBGE, o último censo contabilizou 10.827 habitantes. São Tomé faz divisa com as
cidades de Lajes, Caiçara do Rio dos Ventos, Ruy Barbosa, Barcelona, Sitio novo,
Santa Cruz, Lajes Pintadas, Campo Redondo, Currais Novos, Cerro corá.
O território ocupado pela cidade era, em princípio, dividido em sesmarias. O
pesquisador Marcus César Cavalcanti de Morais relata em seu livro Terras Potiguares -
(2007) como se originou a cidade de São Tomé:
...em meados do século XVIII, a Data do Picapau, mais antiga doação de
terras da região, foi concedida a Francisco Diniz da Penha no dia 10 de
janeiro 1736 e permaneceu em atividade ao logo da história, mesmo tendo
sua área reduzida. (MORAIS, 2007 p.209)
Inicialmente várias propriedades daquela localidade foram instaladas com o
intuito de desenvolver a plantação de lavouras e criações de gado. Entretanto, o
povoado veio surgir a partir da Fazenda Barra. Paula Francinete de Araújo Vicente
(2015) cita em sua pesquisa como se deu origem a esse povoamento:
(...) o povoamento propriamente dito só aconteceu a partir da Fazenda Barra,
que mesmo ficando dividida, no ano de 1870, com suas terras dispersas entre
muitos donos, deu origem ao povoado de São Tomé, com a instalação de uma
casa de comércio por iniciativa de Tomás de Moura Barbosa, no ano de 1890.
A construção de várias moradias em torno da casa comercial de Seu Tomás
foi dando forma ao povoamento iniciado por famílias interessadas, tanto no
trabalho agrícola, como na mobilização em torno do algodão e, também nas
boas condições que o lugar oferecia para a criação de gado (FONTE apud
VICENTE, 2015, p.11).
O historiador e professor Lenilson Dantas6 em entrevista concedida à TV Vitrine
RN e publicada em 17 de setembro de 2011, relata que a cidade de São Tomé foi
fundada no ano de 1890 com a construção de uma bodega que pertencia ao comerciante
e fundador da cidade Tomaz de Moura Barbosa. Ele conta que o nome da cidade não faz
6 Entrevista concedida pelo professor Lenilson Dantas dentro da reportagem intitulada Viagem a São
Tomé – RN, realizada pela TV Vitrine RN. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wzbqUrMYjDc Acesso em: 28 de abril de 2019.
30
referência ao apóstolo Tomé, mas, a outro fator: em 1877 acontecia uma grande seca no
nordeste, o que levou muitas pessoas a morrerem de fome. Certo dia chegou ao povoado
uma família viajante que se direcionou à casa da família Andrade, pedindo o que comer,
pois viajam há dias e estavam com fome. Devido à hora, a família Andrade só pode
disponibilizar mel, e os viajantes sem hesitar se alimentaram e depois tomaram água.
Logo em seguida, levantaram as mãos para o céu e agradeceram a Deus pelo o “Santo
Mé”, dando origem assim ao nome da cidade de São Tomé.
4.2 A chegada da banda de música na cidade de São Tomé RN nos anos 50
No ano de 1955 surge a primeira banda de música de São Tomé. A pesquisadora
Paula Francinete de Araújo Vicente (2015) relata:
No ano de 1955, foi criada a primeira banda de música de São Tomé por
intermédio do prefeito da época o Sr. Rainel Pereira de Araújo, que por ter
muito prestígio junto ao governador, o senhor Dinarte Mariz, conseguiu que
o Comando da polícia militar cedesse um músico que era 1º tenente da
reserva daquela corporação, o Sr. Juvenal Ferreira de Lira para que se
tornasse maestro da banda de música (VICENTE, 2015, p. 12).
Juvenal Lira inicia suas aulas de teoria musical trazendo as lições da carreira
militar: introduziu a lição de pulso forte características de marchar e tocar ao mesmo
tempo. Cerca de 30 alunos participaram inicialmente, abrangendo uma faixa etária de 7
a 15 anos. Em 1956, os instrumentos que foram cedidos pela prefeitura municipal
chegam à cidade e Juvenal Lira inicia as aulas práticas adotando critérios para a
distribuição dos mesmos, pois, existiam mais alunos que instrumentos. Para ser
selecionado, o aluno precisaria atingir a meta de 60 das 120 lições de um livro que
continha tanto exercícios de solfejos quanto leituras rítmicas. O maestro fazia a escolha
também pelo o porte físico, afinal, se tratavam de crianças.
A banda era totalmente mantida pela Prefeitura Municipal, desde o fardamento
aos instrumentos e local de ensaio. No ano seguinte, 1957 a Banda de Música Municipal
de São Tomé (fotografia 1, p. 31) fazia sua estreia executando um repertório de
dobrados e valsas. A primeira apresentação da banda aconteceu em um evento para
comemorar a chegada de um amigo do prefeito que trazia seu filho recentemente
aprovado no vestibular de medicina. A partir de então a banda passou a se apresentar em
cidades circunvizinhas e suas principais atuações eram em festas religiosas, alvoradas e
31
eventos sociais. Na tarde do último domingo do mês, se apresentavam na praça pública
de São Tomé, e essa apresentação era carinhosamente chamada de retreta. A banda,
entretanto, permaneceu em atividade por apenas oito anos, encerrando suas atividades
em 1965.
Fotografia 1 - Banda de Música Municipal de São Tomé em 07 de dezembro de 1957.
Fonte: Autora.
4. 3 A Reativação da banda de São Tomé
A Filarmônica São Tomé adotou esse nome em substituição ao antigo “Banda de
Música Municipal de São Tomé”. A responsável pela reativação da banda foi a
Associação de Jovens, Ação e Cidadania - AJAC, que teve como principal motivador o
Sr. José Alcivan da Silva, presidente da Associação e ainda à frente do projeto. O
mesmo menciona que a proposta de reativar uma banda de música dentro da cidade de
são Tomé era para exatamente promover a música podendo assim resgatar a cultura que
já tinha sido implantada na década de 50. Em entrevista com o Sr. José Alcivan, Vicente
(2015) tem acesso ao discurso proferido pelo mesmo, por ocasião da reativação da
Filarmônica São Tomé em sete de dezembro de 2006 e desse pronunciamento ela
destaca:
A Associação AJAC foi fundada em dezembro de 2004 com a designação de
associação civil sem fins econômicos, de caráter beneficente e de assistência social.
Constituída a associação, surge à vontade vinda da sociedade civil na perspectiva de
32
se criar um espaço para o desenvolvimento dos jovens, a nível cultural, social e
político, reconhecendo suas capacidades, valores e direitos, com vistas a estimular a
vocação musical, sendo esta um meio eficaz para o desenvolvimento de talentos, o
gosto pela arte e ocupação prazerosa, bem como o cultivo de valores que humanizam
as relações. (SILVA, apud Vicente 2015, p.15)
Formada a diretoria da AJAC em parceria com a Prefeitura Municipal de São
Tomé, a Associação se candidata para participar do projeto Bandas Filarmônicas da
Juventude mantido pelo Programa Desenvolvimento Solidário- PDS que tinha como
financiador o Banco Mundial. O maestro Humberto Carlos Dantas (2019) relata sobre o
projeto:
O projeto bandas filarmônicas da juventude era um dos programas do
desenvolvimento solidário PDS, ele foi estabelecido na gestão da ex-
governadora Wilma de Farias e tinha como secretário Gersino Saraiva. Na
época cerca de 30 cidades foram contempladas com bandas filarmônicas
dividas em primeira e segunda fase. Para participar do projeto as bandas
precisaram ter a parceria das prefeituras. Atualmente o programa se chama
RN cidadão e contemplou 39 cidades na sua terceira fase. (DANTAS, 2019.
Em entrevista a autora)
São Tomé, então, passa a ser contemplada com uma banda. Da Região Potengi
duas cidades foram contempladas, São Pedro e São Tomé.
4.4 A maestrina Paula Francinete de Araujo Vicente
A responsável pelo trabalho da Filarmônica São Tomé foi Paula Francinete de
Araujo Vicente. Natural da cidade de João câmara, iniciou seus estudos musicais em
1996 na cidade de Cruzeta. Seu primeiro professor foi o maestro Humberto Carlos
Dantas (Bembem). No mesmo período, aos 12 anos de idade, entrou para a Filarmônica
24 de Outubro tocando clarineta. É bacharel em clarineta (2006) pela Escola de Música
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, possui especialização em Educação
Musical (2011) e Licenciatura em Música (2016) também pela mesma instituição. Paula
Francinete trabalhou na Filarmônica São Tomé entre os anos de 2006 a 2014,
contabilizando assim oito anos de trabalho na cidade. Tornou-se a primeira mulher
regente de banda de música no estado. Vicente (2015) comenta sobre sua passagem pela
Filarmônica:
A Filarmônica São Tomé foi um projeto que abracei com grande entusiasmo
e expectativas, pois vislumbrei ali uma oportunidade de colocar em prática,
na minha maneira de compreender, os fundamentos próprios à estruturação
de uma banda de música, que tivesse como pressuposto básico a formação do
33
educando de maneira a realçar os valores humanísticos mais fundamentais,
ou seja, preparando jovens não só para o mundo das técnicas e das profissões
como também para o exercício da vida voltada para a convivência fraterna.
(VICENTE, 2015, p.18)
Em São Tomé, Paula trabalhou como regente e professora de instrumentos de
sopro, percussão, flauta doce e teoria musical. Produziu o primeiro CD da Filarmônica
São Tomé no ano de 2011. No presente é funcionária do município de São Gonçalo do
Amarante atuando como professora de clarineta desde 2014, e professora de clarineta,
teoria musical e flauta doce da Filarmônica de Mãe Luiza - Natal RN desde 2016. Além
dessas atividades, na época atual também é membro da Orquestra Potiguar de Clarinetas
- OPC.
Em 2006, então recentemente formada, Paula recebeu o convite do maestro
Humberto Carlos Dantas para junto com outros colegas também recém-formados,
fazerem trabalhos nas cidades que tinham sido contempladas no projeto Bandas
Filarmônicas da Juventude.
4.5 Trabalho inicial de musicalização e formação da filarmônica
Com cerca de cem jovens, iniciaram-se em fevereiro de 2006 as aulas de teoria
musical. A faixa etária mínima para participar era nove anos. Foram estabelecidos
alguns critérios para os interessados em participar dessas aulas de música. As crianças e
os jovens precisariam estar regularmente matriculados na escola, e com um bom
aproveitamento nas áreas de leitura e escrita. O conteúdo ministrado inicialmente foi
teoria básica e após essa introdução iniciou - se o processo de musicalização com a
utilização da flauta doce. Ao mesmo tempo, foi intensificada a prática do solfejo e da
leitura rítmica.
Durante as aulas, além de tocar as primeiras partituras com a utilização da flauta
doce, os alunos eram incentivados a copiar a partitura em seu próprio caderno como
uma forma de adquirir familiaridade com os símbolos e a escrita musical.
Com um grupo mais avançado foram utilizadas músicas folclóricas e músicas da
MPB, formando assim o repertório do grupo de flauta doce ‘Recordari’. A primeira
apresentação desse grupo foi em maio de 2006 com apenas 03 meses de aulas
(Fotografia 2, p. 34). O grupo de flautas tinha cerca de 85 jovens e crianças. Essa
apresentação aconteceu em uma solenidade organizada para realizar a entrega de
34
instrumentos que haviam acabado de chegar para a Filarmônica São Tomé. Nesse dia, a
comunidade pode ver com os próprios olhos que o sonho iria se tornar realidade.
Vicente (2015) menciona em sua monografia os instrumentos recebidos:
No mês maio de 2006, chegam os instrumentos de sopro e percussão para a
formação da Filarmônica, contendo: três flautas transversais, dez clarinetes,
cinco saxofones altos, dois saxofones tenores, quatro trombones, quatro
trompas, quatro trompetes, dois bombardinos, duas tubas, uma caixa, um
bombo, um surdo, um par de pratos e uma bateria. (Vicente 2015, p.16)
Era chegado o momento de realizar a escolha dos alunos para a distribuição dos
instrumentos. Além de provas para testar os conhecimentos musicais, os alunos
poderiam escolher três instrumentos para fazer o teste de aptidão. Essa seleção foi
necessária tendo em vista a pouca quantidade de instrumentos em relação ao número de
alunos que estavam desde o início participando das aulas de flauta doce.
Embora todos os interessados estivessem cientes de que a banda não teria como
incorporar os alunos em sua totalidade, o dia dos testes foi o mais esperando por todos.
Após longas horas e fazendo testes até a noite, Paula Francinete e outros alunos da
Escola de Música da UFRN, realizaram e divulgaram o resultado dos testes. A partir de
então, estavam definidos os primeiros componentes da Filarmônica São Tomé.
Fotografia 2 - Primeira apresentação da banda de flauta doce Recordari. Maio de 2006
Fonte: Associação de Jovens Ação e Cidadania - AJAC.
4.6 Práticas de ensino da Filarmônica São Tomé
35
A realidade para esse universo de bandas é clara, o mestre, maestro, professor de
música precisa ser polivalente e ministrar várias aulas, aulas essas coletivas, o que
proporciona ao aluno de banda uma descoberta múltipla. O pesquisador Marco Antonio
Toledo Nascimento (2006) enaltece:
A metodologia do ensino coletivo de instrumentos musicais consiste em
ministrar aulas ao mesmo tempo para vários alunos. Essas aulas podem ser de
forma homogênea ou heterogênea e é efetuada de maneira multidisciplinar,
ou seja, além da prática instrumental, podem ser ministrados outros saberes
musicais intitulados academicamente como: teoria musical, percepção
musical, história da música, improvisação e composição. (NASCIMENTO,
2006, p.96)
A maestrina Paula Francinete conta que o motivo de trabalhar com aulas
coletivas surgiu no momento em que ela se encontrou como única professora de todos
os instrumentos. Para desenvolver esse trabalho, bem diferente daquele realizado nos
conservatórios com suas aulas individuais e professores específicos, foi necessário uma
adaptação e inclusão de um ensino multidisciplinar.
As aulas se davam de acordo com a disponibilidade do aluno, já que uma
grande maioria estudava no ensino regular. Os alunos já estavam musicalizados com a
teoria musical básica e a flauta doce, então Paula buscou junto a instrumentistas
experientes, uma orientação sobre a forma de execução dos vários instrumentos,
aprendendo assim como segurar, soprar e tocar. Paula menciona: “esse é o trabalho que
o maestro faz quando ele não é habilitado em todos os instrumentos, ele passa uma base
para a formação daquele grupo”. Além disso, foi preciso a ajuda de amigos que
pertenciam à Banda de Cruzeta para auxiliar na transmissão dos conhecimentos básicos
para determinando instrumentos. As capacitações proporcionavam aos alunos ter
contato com instrumentistas mais experiente para assim, conseguir vencer suas
limitações. Nessas aulas, os músicos falavam de sua rotina de estudo, da importância de
tocar todos os dias e do passo a passo dos estudos dessa rotina.
Tempos depois, à maestrina começa a distribuir as músicas que comporiam o
primeiro repertório da Filarmônica São Tomé. Entre as primeiras músicas desse
repertório estavam o dobrado “Capitão Caçula”. Sabemos que esse tipo de música é
característica forte no cenário das bandas desde a Guerra do Paraguai, o toque do
bombo no tempo forte incentivando a marcação do pé para começar a marcha. Foi
partindo do dobrado que a banda entendeu que existia uma métrica a ser seguida. Esse
36
ritmo ajudava a tocar, pois mentalmente pensávamos no “um, dois”, mesmo tocando
lentamente essa pulsação ficava cravada na mente. É importante frisar que embora os
alunos agora fizessem parte da banda, eles não deixaram de frequentar a aula de flauta
doce e nesse contato direto com a “flautinha” proporcionava ainda mais segurança na
leitura mesmo para aqueles alunos que tinham como clave atual a clave de Fá. Meses se
passaram e os ensaios foram se intensificando.
Com o repertório pronto, a Filarmônica São Tomé estreia em sete de dezembro de 2006
(Fotografia 3, p. 36), em uma solenidade da Câmara Municipal de São Tomé, com
quarenta e quatro componentes. No momento, o seu repertório estava composto por um
dobrado e música popular brasileira.
Fotografia 3 – Estreia da Filarmônica São Tomé em 07/12/2006.
Fonte: Associação de Jovens Ação e Cidadania - AJAC.
Após a primeira apresentação a Filarmônica ganha visibilidade e passa a se
apresentar em várias cidades do RN, além de participar de cerimônias do governo e
conferências internacionais. O trabalho ganha destaque entre outras bandas e passa a ser
referência para os demais municípios.
Entre os anos 2006 e 2014 a Filarmônica São Tomé foi contemplada com outros
projetos que possibilitaram a aquisição de novos instrumentos, além da conquista de
uma sede própria. O imóvel dispõe de salão de ensaio, banheiros feminino e masculino,
37
sala de aula, arquivo, cozinha, uma sala de cinema com todo o equipamento de mídia, e
uma biblioteca.
Nesse período, os alunos tinham contato com professores e monitores que
participavam de festivais e ministrava máster classes em São Tomé e outras cidades do
RN. Essas atividades estimularam os componentes da Filarmônica a buscarem uma
melhor formação acadêmica. Alguns integrantes ingressaram nos cursos Técnico,
Bacharelado e Licenciatura em Música oferecidos pela Escola de Música da UFRN.
Alunos de flauta transversal, clarineta, trombone, trompete e percussão entraram nos
cursos, embora poucos tenham concluído os estudos. Alguns indivíduos foram
aprovados em concurso, a exemplo de um integrante que ingressou na Banda da Polícia
Militar do Estado de Minas Gerais – MG e outro que segue carreira na Banda do
Exército em Natal – RN. Da mesma forma, uma aluna da Filarmônica atuou como
professora de musicalização em uma escola particular também na cidade de Natal- RN.
Esses alunos mais experientes passaram a atuar como monitores, transmitindo
conhecimento específicos para os demais componentes da Filarmônica.
Analisando o projeto, percebe-se que ele trouxe muitas oportunidades para os
santomeenses e principalmente para os componentes da Filarmônica. Além de
conhecimento, surgiu a proposta de trabalho permitindo que eles passassem a ganhar
seu dinheiro com o que mais gostavam de fazer. No ano de 2014, após oito anos de um
belíssimo trabalho árduo, a maestrina Paula Francinete anuncia sua saída da banda. Esse
fato afetou os componentes e principalmente o grupo. Vários integrantes também
saíram. Nesse período Paula delegou à sua aluna Raquel Gonçalo da Silva (Fotografia 4,
p. 38) a incumbência de, como tecnóloga em clarineta, assumir o seu trabalho à frente
da banda. A mesma já atuava na banda de flauta doce desde quando Paula assumiu
apena as atividades da Filarmônica. Em entrevista a autora, Raquel relata sua
experiência à frente do projeto:
Estive a frente da Banda Filarmônica São Tomé por um período de um ano,
um dos primeiros desafios era assumir um trabalho no qual antes era apenas
uma aluna. Inverter os papéis foi um dos primeiros obstáculos, exercer o
papel de maestrina, desenvolver autonomia frente aos componentes e mostrar
que seria necessário separar a relação de colega de banda e me enxergar
como “a maestrina” aquela que precisava cobrar, exigir disciplina e
dedicação dos alunos. (SILVA, R., 2019. Em entrevista a autora)
.
38
Em conversa, Raquel Gonçalo relata as dificuldades durante o período que
passou a frente da Filarmônica:
Foi ficando mais difícil dar continuidade diante da falta de recursos
financeiros, e mais uma vez o trabalho necessitou ser pausado, na esperança
de que logo, logo alguém sentisse saudades do soar da melodia se
sensibilizasse e enxergasse que um trabalho com a música não depende
apenas do sopro dos componentes, da dedicação nos estudos para montar
repertório, necessita também de alguém que assuma o compromisso de apoiar
financeiramente e com responsabilidade este projeto. (SILVA, R., 2019. Em
entrevista a autora)
E evidência a importância da experiência em sua vida:
Mesmo diante das dificuldades encontradas durante esta caminhada a
experiência foi bastante significativa para minha vida, um período de grande
aprendizado profissional e também pessoal, algo que carrego comigo até hoje
é que “todo esforço com a música sempre pode valer a pena”, basta encontrar
interiormente a intenção correta de se fazer música. (SILVA, R., 2019. Em
entrevista a autora)
Fotografia 4 – Apresentação da Filarmônica São Tomé com a regência da maestrina Raquel Gonçalo em
2016.
Fonte: Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC.
39
5 DESAFIOS: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A FILARMÔNICA
SÃO TOMÉ
5.1 Luiza Maria de Oliveira: de aluna à maestrina
No ano de 2017, Raquel Gonçalo da Silva deixa a regência da Filarmônica
abrindo uma oportunidade para que eu, Luiza Maria de Oliveira, pudesse assumir essa
função. Natural de Itaboraí-RJ e filha dos santomeenses José Luiz de oliveira (Zé
gamela) e Josefa Maria de Oliveira (Zefinha), iniciei meus estudos na Escola Municipal
Prefeito Milton Rodrigues Rocha, na mesma localidade. Após um breve período
residindo em Tanguá- RJ, em 2002, por motivos de saúde de meu pai, cheguei à cidade
de São Tomé, prosseguindo os meus estudos na Escola Estadual Amaro Cavalcanti onde
conclui o ensino fundamental e médio (2009).
Durante a minha infância o meu pai, Zé gamela, sempre fazia questão de contar
sobre a sua experiência com música, já que o mesmo tocara trombone na banda de
música do maestro Juvenal Lira quando era jovem na cidade de São Tomé. O meu
interesse pela música despertou logo quando cheguei a São Tomé e meu pai me colocou
na Banda Marcial Dr. Fernandes Barros, administrada na época por Domingos Júnior
(tio Patinhas). Esse foi o ponta pé inicial para a carreira musical.
Em 2006 comecei a frequentar as aulas de teoria musical promovidas pela
Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC, com a professora Paula Francinete. A
chegada de uma filarmônica na cidade atraiu o meu interesse. Nesse período, além de
participar das aulas de teoria e ser integrante da banda de flauta doce “Recordari”,
resolvi me candidatar a uma vaga para a Filarmônica. Devido a minha experiência na
banda marcial, optei pela ida para o naipe de percussão, onde me sentia com mais
desenvoltura. No dia sete de dezembro de 2006, estreei na Filarmônica São Tomé, numa
solenidade da Câmara Municipal no largo da igreja matriz. Esse dia foi um marco na
minha vida. Essa apresentação teve uma grande repercussão na região, e depois disso, a
Filarmônica começou a ser convidada para tocar em várias cidades do Rio Grande do
Norte.
Nessa época, a percussão já não despertava tanto o meu interesse e, encantada
pela sonoridade do trompete, pedi a Paula uma oportunidade para tocar aquele
instrumento. Sem demora, após três meses de muita dedicação já fazia parte do naipe de
40
trompetes da Filarmônica São Tomé. Buscando aprimorar os meus conhecimentos, em
2012, ingressei no Curso Técnico oferecido pela Escola de Música da UFRN, na
habilitação trompete. Durante o curso participei das classes dos professores Ranilson
Bezerra de Farias, João Maria Simplício Ferreira e Márcio Borges Barboza, concluído
meus estudos no ano de 2015. No ano seguinte ingressei no curso de Licenciatura em
Música na mesma instituição.
Antes mesmo de iniciar o curso de Licenciatura passei a dar aulas de música no
Projeto Mais Educação, nas escolas de ensino fundamental Monsenhor Manoel Pereira
da Costa e José Aribaldo de Carvalho no município de São Tomé. Atuei também como
professora de teoria musical na AJAC, e como professora de musicalização infantil na
Creche Escola Criativa, em Natal – RN. Como instrumentista, além da minha atuação
na Filarmônica São Tomé, participei de grupos como o Coral AJAC, a Gamela Frevo
Orquestra, a Orquestra AJAC, a Big Band Som Brasil e atualmente a Big Band Jovem
da EMUFRN.
Junto a alguns grupos de extensão da mesma instituição, desenvolvi também
funções administrativas, assumindo a função de secretária administrativa da Big Band
Jerimum Jazz e Big Band Jovem da EMUFRN. Nessa mesma linha de atuação assumi o
cargo de secretária da Associação de Trompetistas Potiguares – ATP no ano de 2014 e
trabalhei na produção dos encontros da Associação Brasileira de Trompetistas
realizados em Natal e João Pessoa nos anos de 2017 e 2018 respectivamente.
Ainda na UFRN, tive a oportunidade de conhecer e participar de master classes
com renomados trompetistas a exemplo de Ayrton Benck (UFPB), Paulo Ronqui
(UNICAMP), Charles Schlueter (EUA), Flavio Gabriel (UFRN).
No ano de 2014, assumi direção da “Recordari”, a banda de flauta doce mantida
pela AJAC em São Tomé. Atuando nessa banda, tive a oportunidade de desenvolver
habilidades na área da regência, sempre buscando o aperfeiçoamento por meio de
orientações e master classes com regentes renomados a exemplo de Anor Luciano
(UFMG), Maestro Chiquito (PB) e Ranilson Farias (UFRN).
Esses esforços foram recompensados quando, em 2017, recebi o convite do
presidente da associação para tornar-me maestrina da Filarmônica São Tomé.
5.2 Assumindo a Filarmônica São Tomé
41
Assumir o trabalho da Filarmônica não foi simples como imaginei. Embora já
tivesse alguma experiência com a regência, a minha formação principal estava baseada
na prática instrumental, no tocar o instrumento. Deixar a regência da banda de flautas
para assumir a regência de uma banda filarmônica, mesmo com toda a ajuda e
orientação de regentes e professores, não foi uma tarefa fácil.
Nesse período, como mencionado anteriormente, estava cursando a Licenciatura
em Música e já havia concluído o Curso Técnico. Dentro da grade curricular cursada no
Técnico e Graduação, pude me familiarizar com disciplinas que proporcionavam uma
visão dentro de um grupo musical. Essas disciplinas me permitiram compreender como
a harmonia funciona, além das práticas de conjunto que me ajudaram a desenvolver um
repertório diferenciado. Tive uma relevante orientação do professor Ranilson Farias,
que havia sido um dos meus professores de trompete e que era também o maestro das
big bands da Escola de Música. Suas práticas de ensino nos ensaios foram para mim um
grande referencial. Com essa pequena bagagem e muita determinação iniciei meu
trabalho à frente da Filarmônica São Tomé.
5.3 Metodologias de ensino: identificando problemas e propondo soluções
Minha primeira grande preocupação ao assumir a Filarmônica foi à falta de
estímulo dos componentes e a falta de compromisso com a banda. Os alunos não
estudavam, só pegavam no instrumento no dia do ensaio. Além disso, muitos faltavam e
não justificavam a falta. Minha primeira ação para resolver o problema foi convocar
uma reunião onde estabeleci algumas regras que precisariam ser seguidas. Foram
estipulados novos dias e horários de ensaios, e foi acertado que qualquer falta precisaria
ser justificada e que as faltas por motivos fúteis não deveriam ocorrer. Embora já
houvesse tecnologias que facilitavam a comunicação, a exemplo de aplicativos como o
whatsApp, ainda levou algum tempo até que essa situação fosse resolvida. Muitas vezes
precisei conversar com os integrantes para compreender o motivo das ausências.
Uma segunda preocupação era o desfalque dos naipes. Com aproximadamente
quinze integrantes, a Filarmônica não conseguiria desenvolver uma boa programação.
Pensei imediatamente em fazer testes com os instrumentos vagos. Para isso eu busquei
orientação com professores da Escola de Música da UFRN, além de realizar uma
pesquisa sobre a execução nesses instrumentos que me desse subsídios para essa parte
42
inicial. Depois dessas orientações, iniciei os testes com os alunos da banda de flauta
doce.
A escolha dos alunos se dava de forma semelhante ao que acontecia em outras
bandas, um dos principais fatores era o porte físico, já que a bandinha de flautas tinha
muitas crianças. Outro requisito era a desenvoltura na leitura musical. Alguns alunos
que estavam aptos, mas utilizavam aparelho ortodôntico, foram encaminhados por mim
para os instrumentos de palheta, uma vez que o aparelho dificultava a execução nos
instrumentos de bocal.
Organizei os testes da seguinte maneira: estipulei horários específicos de
atendimento para cada instrumento em que haviam vagas. Nesses horários, os
candidatos assistiam uma pequena explanação sobre as características do instrumento,
qual a função desse instrumento na banda e em solo, como era a forma correta de
montar, segurar, a postura adequada, a embocadura, posições, clave e principalmente a
forma como respirar, pois diferente da flauta doce, eles estavam com um instrumento de
sopro que necessitava de uma maior proporção de ar. Após essa explicação, muitas
vezes contando com a colaboração de alunos da banda com mais experiência para
demonstrar ao candidatos como tocar as notas da escala de dó maior, iniciei a audição
individual. Na maioria dos testes realizados os alunos compreenderam rapidamente a
explanação e conseguiram executar a escala de Dó Maior que estava sendo exigida,
sobretudo os candidatos aos instrumentos de palheta devido a existir uma posição para
cada chave. Quanto aos instrumentos da família dos metais, trompete, trompa,
trombone, houve certa dificuldade porque os alunos associavam o soprar com a força
física e tiravam notas mais agudas do que as esperadas. Os alunos que conseguiram
tocar e tinham uma boa leitura na flauta, além de conhecimentos teóricos básicos
ficaram com os instrumentos. Esses alunos passaram a ter aulas semanalmente, de
acordo com sua disponibilidade.
Em minhas aulas, sempre busquei me colocar no lugar do aluno afinal, tendo
percorrido os mesmos passos, compreendia todas as dificuldades enfrentadas. Sendo
assim, busquei uma linguagem simples para que o aluno pudesse entender como ele iria
tocar. Não bastava apenas ter o instrumento, era necessário um cronograma, uma rotina
de estudos que iria facilitar o desenvolvimento no instrumento.
Tendo essas considerações em mente, elaborei um programa de aulas onde
estavam incluídos exercícios de respiração, métodos como o “Guia Teórico-Prático Para
o Ensino do Ditado Musical” do pianista e compositor italiano Ettori Pozolli, para
43
desenvolver a leitura rítmica, além de exercícios de solfejo, incluindo também escalas
maiores e menores e a utilização de metrônomo e afinador. Em cada aula era
apresentada uma escala com bemol ou sustenido, lembrando que o aluno só avançava
quando tinha o domínio das escalas que já haviam sido estudadas. Concomitantemente
ao estudo das escalas, eu passei a trabalhar noções de stacatto, ligaduras, intervalos,
arpejos, tercinas e reconhecimento de tonalidades, entre outros aspectos da linguagem
musical.
Ao mesmo tempo em que me empenhava em formar os novos instrumentistas,
um outro aspecto ainda me despertava bastante preocupação: como mencionado
anteriormente, os veteranos da banda estavam desestimulados e sem motivação para
tocar e manter os estudos. Identificando que parte desse desanimo se devia à falta de
uma programação de apresentações, e que a Filarmônica não tinha lugar nenhum para
tocar, sendo cansativo para os integrantes ir para a sede apenas para ensaiar, procurei
imediatamente trocar o repertório e propor uma apresentação.
Durante o período em que a maestrina Paula Francinete permaneceu à frente da
Filarmônica, a AJAC começou a promover o São Tomé In Concert, um festival voltado
para bandas de música que promovia apresentações musicais tanto com a Filarmônica
quanto com bandas das cidades circunvizinhas. Com a saída da maestrina, o festival
deixou de ser realizado deixando um grande vácuo na programação cultural de São
Tomé. Tendo vivido esse momento de grande efervescência cultural na cidade, imaginei
que a retomada do São Tomé In Concert seria exatamente o estímulo que eu necessitava
para entusiasmar a Filarmônica. A notícia da reativação do evento já animou a banda, e
juntamente com a renovação do repertório, eu pude começar a moldar a banda à minha
maneira.
Conforme o pesquisador Celso José Rodrigues Benedito (2011) cita em seu
trabalho, “a boa performance é a principal meta de um professor”. Tendo isso em
mente, observei que eu tinha que traçar estratégias para que a banda pudesse novamente
ter motivação. Cabia a mim como professora tomar as decisões. Então optei por
escolher um repertório simples, porém, mais atualizado. Se tratavam de músicas da
MPB e músicas nordestinas, contudo, sem abrir mão do tradicional dobrado. Com o
avanço dos ensaios comecei a notar que os alunos estavam começando a se sentir
motivados pela a apresentação que eu havia proposto.
Em decorrência desses novos acontecimentos pude observar outro fator
importante, que foi o retorno de vários ex-integrantes da banda. Sendo procurada por
44
vários instrumentistas que tinham o desejo de retornar à Filarmônica para participar
dessa nova fase do grupo, eu aceitei os interessados com a condição de que eles
procurassem suprir as limitações e deficiências decorrentes do tempo em que estavam
inativos, sobretudo em relação à falta de resistência da embocadura. Outra preocupação
era a falta de diálogo entre os próprios componentes da banda, novatos, ex-componentes
e atuais. Para incentivar a aproximação entre os integrantes do grupo, sugeri aos alunos
um lanche partilhado nos dias dos ensaios mais prolongados. Durante um pequeno
intervalo todos compartilhávamos o lanche trazido de casa. Essa estratégia aconteceu
algumas vezes e sem muita demora, logo comecei a observar os alunos conversando,
descontraídos e gostando de estar no ambiente da sede.
Embora alguns problemas fossem aos poucos se resolvendo, outros ainda
permaneciam. Com uma banda totalmente desnivelada, passei a intensificar mais ainda
as aulas individuais e ensaios da banda. Essa era a única forma de fazer com que eles
tivessem mais compromisso com o próprio instrumento, pois quanto menos ensaios
menos eles pegavam no instrumento para tocar.
Outra estratégia adotada para melhorar o desempenho dos instrumentistas foi a
adoção de ensaios de naipe. Ciente de que ensaios de naipe proporcionam uma ótima
oportunidade para trabalhar aspectos tanto interpretativos como técnicos, organizei a
agenda dos alunos de forma a incluir essa modalidade de ensaio. No trabalho que
realizei com os instrumentistas dividi a banda em três grupos: palhetas, metais e
percussão. Nos naipes de palhetas e metais trabalhei escalas em grupos, leitura e
reconhecimento das notas e posições, articulação, dinâmica, afinação e exercícios de
respiração. Os ensaios de naipe aconteciam uma vez por semana, porém as palhetas em
um dia da semana, e metais em outro. Com o naipe de percussão o trabalho estava
voltado para a execução de ritmos e divisões, e incentivei todos a estudar bateria. Com o
decorrer das semanas pude constatar que os naipes foram se desenvolvendo.
Acreditando que isso foi um ponto importante para juntar as peças e montar o quebra-
cabeça. Paralelamente à programação de ensaios, promovi também algumas master
classes onde pude trazer professores para auxiliar os alunos a superar suas dificuldades.
Foram apenas três meses até a apresentação e depois de inúmeros ensaios e aulas
individuais conseguimos aprontar o repertório dentro das minhas expectativas.
Após a apresentação no VII São Tomé In Concert (Fotografia 5, p. 45), outras
apresentações apareceram, e a Filarmônica começou a ganhar visibilidade novamente.
45
Esse fato ajudou a trazer confiança para os alunos e contribuiu para que novos jovens se
interessassem em participar da banda.
Fotografia 5 – Apresentação da Filarmônica São Tomé no VII São Tomé In Concert. Maio de 2017.
Fonte: Autora.
Logo as apresentações se intensificaram, e a cidade passou a enxergar que o
trabalho estava ganhando visibilidade novamente. Novas apresentações foram surgindo,
a exemplo do convite para realizar um concerto em Santa Cruz – RN, dentro da
programação do Festival Maestro Felinto Lúcio Dantas em julho de 2017 (Fotografia 6,
p. 46) e do concerto que aconteceu no Anfiteatro Pau-Brasil, Parque das Dunas, Natal –
RN, dentro do projeto Som da Mata, realizado no mês de setembro de 2017 (Fotografia
7, p. 46). Tantas apresentações geraram a necessidade de renovar e ampliar o repertório
da Filarmônica.
46
Fotografia 6 – Apresentação no Festival Maestro Felinto Lúcio Dantas em Santa Cruz 02 de julho de
2017.
Fonte: Autora
Fotografia 7– Concerto Som da Mata 17 de setembro de 2017.
Fonte: Autora
47
Atualmente a banda se encontra com cerca de trinta componentes e os ensaios
são realizados duas vezes por semana, nas quartas e sextas das 18:30 às 21:00. Quando
entrego uma nova partitura, fazemos em princípio uma leitura visual. Sem a utilização
dos instrumentos olhamos os detalhes com mais precisão e, dessa forma, os alunos
observam as notas mais agudas, as mudanças de tom e de compasso, e também os
trechos “solo”. Após esse primeiro contato com a peça, procuro sempre trabalhar a
leitura da partitura. Dessa forma, busco incentivar que eles consigam tocar o que sabem
de imediato. Eu costumo dizer que a banda é um quebra cabeça e que cada naipe é uma
peça importante. Explico a importância da concentração e de perceber o que a música
está propondo.
Ao ensaiar uma nova peça, procuro também determinar um andamento lento e
que seja confortável para eles iniciarem a leitura. Dependendo do naipe eu busco
trabalhar as respostas primeiramente e depois trabalho os solos. É importante frisar que
havendo leitura de uma partitura nova, eu sempre passo a música do início ao fim, pois
isso permite que os instrumentistas entendam o formato da música. A leitura de divisões
é feita constantemente, pois alguns alunos ainda sentem dificuldade.
Com os naipes encaixados, é hora de “dar cor” ao arranjo. A fim de colocar cada
naipe em seu lugar, passo a trabalhar as dinâmicas, organizo a linguagem dos naipes, as
articulações e respirações. Observo também se alguém está fazendo trechos ligados
onde deveria fazer staccato, corrijo afinação, e dou orientações aos solistas. Em algumas
ocasiões também tomamos decisões em conjunto, como por exemplo, em determinados
arranjos em que introduzimos alguma ideia ou sugestão buscando facilitar o trecho para
que todos consigam executar.
O motivo de ter escolhido aplicar os ensaios dessa maneira se deu em
decorrência das experiências que tive com grupos musicais dentro e fora da EMUFRN
durante toda minha vivência com música. Sabe-se que os alunos precisam se
comprometer a estudar o instrumento e superar suas limitações, mas cabe ao professor
buscar ferramentas que propiciem ao aluno entender os caminhos de tocar com
qualidade mesmo não estando dentro de uma academia ou com um professor específico
do seu instrumento.
Atualmente a banda se encontra com poucos alunos inseridos na Academia.
Tanto os participantes atuais quanto os veteranos permanecem na banda por gostarem
de tocar, e não sentem interesse de estudar ou seguir a carreira musical. Na época da
maestrina Paula Francinete vários instrumentistas frequentavam os cursos de música da
48
UFRN, e em decorrência disso, esses alunos passaram a contribuir como
multiplicadores desse conhecimento, atuando como monitores da banda.
Especificidades dos instrumentos podiam então ser trabalhadas como maior
desenvoltura. Os monitores eram responsáveis por trabalhar o naipe com exercícios e
estudos e por formar grupos de câmara, práticas essa que ajudaram a desenvolver
repertório também para esses grupos de formações menores.
Nos dias atuais, conto com o apoio de um aluno que está responsável por aplicar
as aulas de teoria musical e atuar como regente da banda de flauta Recordari.Esse aluno
não possui formação acadêmica na área musical. Ele adquiriu o seu conhecimento
teórico e instrumental na AJAC, e complementou seus estudos de modo não formal por
meio de orientações e informações com pessoas da área.
Em conversa com os alunos eles mencionam que gostam de tocar, mas devido às
condições de trabalho com música na cidade e até no Estado, decidem não seguir com a
carreira. Sobre isso relatam:
É uma profissão linda, e admiro muito o trabalho da ex-maestrina Paula e da
atual maestrina Luiza. Mas a incerteza é o mercado de trabalho. O exemplo
disso: o carnaval! Cobramos o cachê, mas as pessoas não querem pagar o que
merecemos, e se pagam o que merecemos demoramos a receber, é
lamentável. (Aluno 01)
Como todas as outras, é uma profissão que exige bastante. Gosto de tocar,
mas não me vejo sendo professora de música. Estou no IFRN e ainda não me
decidi que carreira seguir, talvez educação física, ou fisioterapia. Enfim,
desejo boa sorte para meus colegas que pretende seguir com a música.
(Aluno 02)
Em se tratando de um ambiente de participação voluntária, a Filarmônica não
busca se inserir na comunidade com o propósito de formar músicos profissionais, mas a
banda e o professor a frente do trabalho mostram claramente os caminhos para aqueles
que tenham o interesse de entrar na Academia. O resultado disso se aplica a mim
mesma, uma vez que no passado fui incentivada pela maestrina Paula Francinete e hoje
atuo o trabalho à frente da banda como regente e professora.
O artigo 1° da LDB (Leis das Diretrizes e Bases de 20/12/1996) cita que: “a
educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social” (Benedito
(2011, p.148). A banda de música mantém essas vertentes, na medida em que insere
seus alunos no contexto social e oferece oportunidades para seguir a carreira
profissional. Benedito (2011) cita também:
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O primeiro enunciado dos objetivos gerais dos PCNs do ensino fundamental,
com relação à música, tem por finalidade: “alcançar progressivo
desenvolvimento musical, rítmico, melódico, harmônico, tímbrico, nos
processos de improvisar, compor, interpretar e apreciar”. Nas bandas de
música, podemos observar como principais propostas, presentes em seus
estatutos, a preservação, difusão, execução e ensino de música em geral, além
da participação em festividades, eventos civis e religiosos, principalmente os
de sua cidade. Também nas bandas de música se desenvolve a percepção
auditiva e a memória musical, a criação, interpretação e apreciação de
músicas modal, tonal e outras. Pesquisar, explorar, improvisar, compor e
interpretar sons de diversas naturezas, desenvolvendo autoconfiança, senso
estético crítico, concentração, trabalho em equipe com diálogo, respeito e
cooperação, fazem parte do cotidiano prático destas corporações de tradição
mais que centenária. (BENEDITO, 2011 p. 148 e 149)
É importante ressaltar que as bandas não têm objetivos específicos tão profundos
quanto os dos PCNs. O autor continua a mencionar que se tratando da improvisação
essa prática se ocorre com “espontaneidade”, e que isso pode acontecer com o interesse
do aluno, ou da música ou do repertório. Na filarmônica São Tomé essa prática de
improvisação não acontece com frequência: nas partituras surgem mais solos escritos.
Alguns alunos incrementam esses solos, adicionando apojaturas (notas de enfeite),
assim também como aumento ou diminuição nas células rítmicas.
5.4 Experiências e desafios
Em sua pesquisa “O ato de educar em Paulo Freire”, Flávia Assis de Carvalho
(2007) menciona o conceito do pedagogo e filosofo brasileiro Paulo Freire sobre o
significado de educar:
Para Paulo Freire educar é construir, é criar no sujeito a consciência da
liberdade e da possibilidade de romper com o determinismo, assim, trazendo
na educação o reconhecimento do individuo que arquiteta e interfere na
história e na realidade de hoje e do futuro. Entende-se assim, que neste
contexto, é necessário propor práticas pedagógicas que permeiam o ato de
educar, a valorização e a vivência da identidade cultural. É a partir das
experiências vividas pelos educandos, sua identidade, sua história que é
possível inserir o indivíduo no processo educacional. (CARVALHO, F., 2007
p. 14)
Assim, em consonância com esse conceito, compreendemos que as bandas além
de serem escolas de música são ambientes formadores de cidadãos, permitindo a seus
integrantes ampliar sua visão sobre o mundo, incentivando o respeito ao próximo, além
de estimular um comportamento norteado pela ética e outras regras do convívio social.
50
Dentre as tantas experiências vividas, citarei os desafios que enfrentei à frente do
trabalho da Filarmônica São Tomé.
A falta de interesse dos alunos dessa nova geração foi um dos grandes
problemas, seguido por um pouco de falta de respeito. Hoje em dia não vemos com
tanta frequência os alunos respeitarem o maestro como um mentor importante.
Antigamente o maestro era uma figura de total respeito à frente da banda e na cidade.
Era um segundo pai que orientava não apenas sobre assuntos musicais, mas sobre a
própria vida. Os veteranos que estavam comigo desde muito tempo, e até mesmo os que
entraram depois de mim, não souberam respeitar a troca de papeis, a ex-aluna que se
tornou professora. Diante das diferentes situações, me posicionei e coloquei em prática
as minhas propostas com determinação. Foi uma questão de tempo para que esses
alunos começassem a compreender que eu estava à frente do projeto e realizando o meu
trabalho.
Também considero importante citar as condições de trabalho a que são
submetidas as bandas. Em boa parte das cidades, os grupos são mantidos por uma ajuda
de custo da prefeitura e sempre que a mesma passa por dificuldades financeiras os
primeiros cortes são para as bandas e outros grupos culturais. A falta de organização
política infelizmente nos prejudica, e nos faz caminhar a passos lentos. A falta de
conhecimento sobre as necessidades de uma banda, sobre o que é preciso para que a
mesma se mantenha ativa é um grande entrave. São instrumentos que precisam de
manutenção, palhetas, óleo para os instrumentos, folhas para impressão de partituras,
materiais de limpeza e pagamento para manter água e luz, assim como bolsas para
monitores, auxiliar de serviços gerais, além do salário do maestro.
Trago esse discurso também para dentro da Academia. Possuímos uma escola de
música na capital, que oferta cursos técnicos e de graduação, e cujos alunos em uma
grande porcentagem são oriundos de bandas de música. Considero que a Academia
como principal formadora de profissionais no Rio Grande do Norte, poderia abraçar
mais essas bandas promovendo eventos regulares para que os instrumentistas das
cidades do interior pudessem ter mais acesso ao conhecimento, e levando professores
especialistas para capacitar esses alunos.
51
6. RESULTADO DOS DADOS OBTIDOS
Para a realização dessa pesquisa, formulei 22 (vinte e duas) questões que foram
submetidas aos integrantes da Filarmônica São Tomé no intuito de obter dados para
subsidiar esse trabalho. De um universo de trinta integrantes, tive o retorno de dezoito
questionários. Durante o processo de análise, resolvi classificar as questões em três
tópicos para uma melhor compreensão dos dados coletados na investigação. Excluindo
as perguntas relacionadas aos dados pessoais, as demais questões foram classificadas
dentro da seguinte subdivisão de tópicos: a motivação; as atividades do grupo e as
estratégias de aprendizagem; a importância das atividades para a formação musical e
humana.
6.1 A motivação
De modo geral, embora parte dos entrevistados não tivesse a intenção de seguir
carreira como músico profissional, pode-se afirmar que em sua totalidade se sentiam
motivado para tocar na banda. A Filarmônica foi retratada como um espaço de
aprendizado e que propiciava a troca de conhecimento e também a criação de laços
afetivos.
“Acredito por mais que seja uma profissão, e o mercado não seja tão amplo,
se faz por amor à musica visando sempre em primeiro lugar levar as pessoas
uma visão mais profunda da música (...)Não ficamos sempre na mesmíssima,
é bastante variado (o repertório) e isso auxilia muito nossa prática de leitura,
além de agradar a todos os gostos. (...) Todas as apresentações me marcam
muito, pois a gente ver e viver o trabalho é muito gratificante”. (Aluna 03)
“...cada música é um desafio a ser vencido, e quando a gente consegue
montar fica tudo muito lindo e prazeroso de se ouvir.” (Aluno 04)
“Éramos 40 integrantes no início, foi tudo muito difícil, mas éramos unidos e
conseguimos superar os obstáculos junto. Éramos uma família” (Aluna 05).
6.2 Atividades do grupo e as estratégias de aprendizagem
Os entrevistados possuem uma visão positiva em relação às atividades da
Filarmônica São Tomé, considerando-as como uma boa oportunidade de aprendizado.
As práticas utilizadas pela maestrina também são consideradas como boas estratégias
para o desenvolvimento do trabalho.
52
“Nos ensaios a maestrina nos orienta, nos ajuda a tirar nossas dúvidas,
colocando cada parte da música no devido lugar. (...) Ela desenvolve um bom
trabalho tentando sempre nos ensinar o máximo possível para melhorarmos
mais e mais nossas habilidades, traz sempre aquilo que aprende com seus
professores de curso para contribuir no nosso aprendizado”. (Aluno 06)
“O processo de ingresso era gradativo, a partir do desenvolvimento na flauta
doce os discentes eram selecionados para os testes, sendo aprovados tinham
seu ingresso garantido na banda. (...) Com um número entre 40 a 55
componentes o ensaio era ponto crucial da prática instrumental e era o palco
do aprendizado e disciplina”. (Aluno 07)
“Os ensaios são sempre voltados à forma de como vamos nos apresentar e a
visão que daremos àqueles que irão nos prestigiar. Lemos primeiro as
músicas, vamos passando das mais simples frases às mais complexas e
montando essa música como se fosse um quebra cabeça a cada dia, além da
maestra (sic) nos dar dicas de estudo e como interpretar as frases e tirarmos
dúvidas. (...) Um trabalho rígido, que busca ensinar e estimular cada
integrante nas pequenas coisas que fazem bastante diferença”. (Aluna 08)
6.3 Importância das atividades para a formação musical e humana
Para os entrevistados, as atividades desenvolvidas na Filarmônica viabilizam a
troca de conhecimentos bem como uma maior interação entre os integrantes. A
aprendizagem se dá tanto no âmbito musical quanto na parte do desenvolvimento
interpessoal e muitos afirmaram ter sido na banda que aprenderam o verdadeiro
significado de ética, respeito e responsabilidade.
“Na minha vida a banda foi o ponto de partida para o meu crescimento, tanto
musical como de ser humano, sua importância vai além das notas musicais,
foi o início de todo o amor pela música e sua construção em minha vida”.
(Aluno 07)
“Não aprendi só música, mais responsabilidade e compromisso”. (Aluna 08)
“Tenho (a banda) como uma segunda casa, onde aprendi a abraçar minhas
responsabilidades, a me dedicar mais, amadurecer e realizar com amor as
obrigações, tanto dentro da banda como fora”. (Aluna 03)
“... ter mais ética, trabalhar mais em conjunto e me deu entendimento sobre a
música”. (Aluna 06)
“... consegui desenvolver aprendizado em relação a diversas coisas, a própria
música que gosto muito além de novas amizades e responsabilidades em
relação a horário, compromissos....” (Aluno 09)
53
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Filarmônica São Tomé me proporcionou muitas oportunidades, e uma delas é
estar hoje aqui apresentando esse trabalho. Trabalho árduo que necessita de empenho e
muita dedicação. Quando a maestrina Paula Francinete mencionava na frente da banda
que só saberíamos o que é estar à frente de um trabalho como esse, quando
assumíssemos tal posto, eu jamais imaginaria me tornar professora e dar continuidade a
esse legado.
A participação voluntária desses alunos é a peça fundamental para a realização
do nosso ensino. Em se tratando de um grupo que está em aprendizado constante o
aluno vai adquirindo gradativamente a capacidade de socializar, dialogar e construir sua
própria identidade. O trabalho da filarmônica na cidade mudou a vida de muita gente e
os alunos mencionam o que a banda proporciona na vida deles:
A banda me ensinou e me apresentou diversas coisas, se você quer alcançar
algo basta apenas força de vontade e fé em você mesmo. E que apesar de
diversas coisas tenhamos forças. (Aluno 08)
Quando eu entrei na banda eu era muito calada, tinha vergonha e não sabia
me expressar, além de poucas amigas. Depois de várias apresentações eu
melhorei minha timidez, a música quebrou essas barreiras. Gosto muito da
banda e dos amigos que fiz lá. (Aluno 04)
Quanto ao meu trabalho desenvolvido na Filarmônica, considero ter agregado
pontos positivos. Consegui reestruturar novamente a banda quando ela passava por um
estado critico e devo todo esse trabalho às minhas experiências acadêmicas, afinal se
não tivesse todas essas ferramentas não saberia planejar e direcionar as ações e resolver
os problemas enfrentados. Sobre o trabalho desenvolvido outros alunos relatam:
O trabalho desenvolvido pela atual maestrina é algo muito surpreendente. Ela
tem uma determinação incrível. Sempre dando o seu melhor para que tudo se
realize da melhor forma. Sempre mostrando que quando se quer tudo da
certo. A maestrina Luiza Oliveira é sem dúvida fonte de inspiração e de
aprendizado não só para mim, mas também para todos os componentes de
Filarmônica São Tomé. (Aluno 10)
Ela desenvolve um bom trabalho tentando sempre nos ensinar o máximo
possível para melhorarmos e mais nossas habilidades, trás sempre aquilo que
aprende com seus professores de curso para contribuir no nosso aprendizado.
(Aluno 06)
A Maestrina desenvolveu seu trabalho de forma gradativa respeitando o
tempo e o desenvolvimento de cada aluno. O compromisso e a
54
responsabilidade sem duvida foi à chave de sucesso para o seu trabalho.
(Aluno 07)
Apesar da carreira difícil, esse reconhecimento profissional se torna combustível
para seguir em frente e enfrentar as novas etapas. Meu papel como educadora musical
na cidade de São Tomé me concedeu a honra de receber da Câmara Municipal de São
Tomé o titulo de Cidadã Emérita, na área de música. A titulação ocorreu no dia 22 de
dezembro de 2018, tendo sido motivada pelos serviços prestados ao município de São
Tomé. A minha atuação como maestrina a Filarmônica São Tomé com certeza foi e
sempre será um dos trabalhos que ficará marcado em minha memória. A minha vivência
como professora, entretanto, foi verdadeira existência de realização e aprendizado.
Considero que o curso e a academia me proporcionaram oportunidades e
experiências para a realização desse trabalho, bem como os direcionamentos e as formas
de como resolver os problemas e encontrar as soluções. Assim como em qualquer outra
carreira, sentimos o dever cumprido quando os resultados são positivos e os objetivos
alcançados, dessa forma, concordo com Moacir Gadotti (2007) quando diz:
Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e
sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem
educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a
informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam
pessoas (GADOTTI, 2007, p.64).
55
REFERÊNCIAS
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de uma banda civil para a comunidade de Parnamirim/RN. Natal, 2011. 49f.: il.
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Trad. Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. 1048 p. ISBN 85-
7110-301-1.
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musical. 2011. 162 f.: il. Tese (Doutorado) Universidade Federal da Bahia - UFBA,
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi – 2.
Ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
58
APENDICES
59
APÊNDICE A
Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania -
AJAC para a realização da pesquisa
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, José Alcivan da Silva, presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania
- AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de
Oliveira matrícula 20160105009, a realizar sua pesquisa coletando dados necessários
por meio de observações, imagens e gravações de áudios, assim como explicitar e
utilizar os nomes reais da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC e
Filarmônica São Tomé em todo e qualquer material de natureza acadêmico-científica
(monografia, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre
outros).
Abdico, dessa forma, dos nossos direitos, sobre o uso desses nomes, como
também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer.
Assim subscrevo este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
José Alcivan da Silva
60
APÊNDICE B
Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania -
AJAC, para a utilização de seu nome real
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, José Alcivan da Silva, presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania
- AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de
Oliveira matrícula 20160105009, a utilizar meu nome real, assim como dados
necessários por meio de observações, imagens e gravações de áudio em todo e qualquer
material de natureza acadêmico-científica (monografia, publicações, apresentações em
eventos, congressos, aulas e palestras entre outros).
Abdico, dessa forma, do direito sobre o uso de meu nome, como também, salvo
resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer. Assim subscrevo
este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
José Alcivan da Silva
61
APÊNDICE C
TCLE referente à entrevista do presidente da Associação de Jovens Ação e
Cidadania - AJAC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, José Alcivan da Silva, presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania
- AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de
Oliveira matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado nessa
entrevista/questionário, assim como minha imagem através de fotografias e gravações
de áudio coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,
publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),
desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa
de monografia.
Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas
imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura
venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
José Alcivan da Silva
62
APÊNDICE D
TCLE referente à entrevista do tesoureiro da Associação de Jovens Ação e
Cidadania - AJAC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, Luiz Erivan Dantas, tesoureiro da Associação de Jovens Ação e Cidadania -
AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de
Oliveira matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado nessa
entrevista/questionário, assim como minha imagem através de fotografias e gravações
de áudio coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,
publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),
desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa
de monografia.
Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas
imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura
venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
Luiz Erivan Dantas
63
APÊNDICE E
TCLE referente à entrevista dos músicos integrantes da Filarmônica São Tomé.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, _____________________________________________________, portador
(a) do CPF: ___________________, através do presente termo, autorizo a graduanda
do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN, Luíza Maria de Oliveira, matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado
nessa entrevista/questionário, assim como minha imagem através de fotografias e
gravações de áudio coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa
(monografia, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre
outros), desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua
pesquisa de monografia.
Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas
imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura
venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
Músico integrante da Filarmônica São Tomé
64
APÊNDICE F
TCLE referente à entrevista das maestrinas ex – integrantes da Filarmônica São
Tomé.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, _____________________________________________________, portador
(a) do CPF: ___________________, através do presente termo, autorizo a graduanda
do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN, Luíza Maria de Oliveira, matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado
nessa entrevista, assim como minha imagem através de fotografias e gravações de áudio
coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,
publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),
desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa
de monografia.
Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas
imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura
venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
Maestrina ex - integrante da Filarmônica São Tomé
65
APÊNDICE G
TCLE referente à entrevista dos integrantes de bandas militares e civis do Rio
Grande do Norte.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, _____________________________________________________, portador
(a) do CPF: ___________________, através do presente termo, autorizo a graduanda
do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN, Luíza Maria de Oliveira, matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado
nessa entrevista, assim como minha imagem através de fotografias e gravações de áudio
coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,
publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),
desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa
de monografia.
Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas
imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura
venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.
Natal, _____ de ________________ de 2019.
______________________________________________
Banda:
66
APÊNDICE H
Entrevista semiestruturada para coleta de dados aplicada aos membros da
Diretoria da Associação de Jovens Ação e Cidadania - AJAC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
Entrevista Semiestruturada
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM MEMBROS DA DIRETORIA DA
ASSOCIAÇÃO DE JOVENS AÇÃO E CIDADANIA - AJAC
Nome:________________________________________________
Idade: ________________________________________________
Cargo na diretoria: ______________________________________
Profissão: _____________________________________________
1. A ideia de criar a Associação AJAC surgiu de quem?
2. A escolha da diretoria foi sua?
3. Como você descobriu a existência do Programa Desenvolvimento Solidário? A
Associação veio antes ou depois disso? A criação da AJAC foi pensando nesse
propósito?
4. Existiram dificuldades iniciais que impedisse a criação da Associação? Quem foram
seus parceiros?
5. Como os santomenses responderam com a criação da AJAC?
6. Na sua visão, qual a importância da Filarmônica para a cidade? E quais suas maiores
conquistas à frente desse projeto?
7. Quais as perspectivas para o futuro da Filarmônica São Tomé?
8. Quais os problemas atuais? Diante de anos a frente da Associação o que seria
possível para reverter a situação?
67
APÊNDICE I
Questionário para coleta de dados aplicado aos músicos integrantes da
Filarmônica São Tomé
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA
Questionário
ENTREVISTA COM OS MÚSICOS INTEGRANTES DA FILARMÔNICA SÃO
TOMÉ
Nome:________________________________________________
Idade: ________________________________________________
Instrumento: ___________________________________________
Profissão: _____________________________________________
1. Como foi o seu primeiro contato com a Banda?
2. Por que escolheu entrar para a banda?
3. A decisão de participar da banda foi sua ou dos seus pais?
4. Como você aprendeu música? Na sua escola tem aulas de música?
5. Como foi o seu ingresso na Banda? Em qual ano?
6. Descreva os ensaios e as aulas de música. Quais os dias, horários, etc.
7. Qual seu instrumento? Você gosta dele, ou gostaria de tocar outro?
8. Quanto tempo você demorou a entrar na banda?
9. Quais eram as suas maiores dificuldades? O processo de entrar na banda é
difícil?
10. Você já tocou ou toca em algum outro grupo musical? Se sim, conte a
experiência.
68
11. Como você avalia o ensino na banda de música?
12. Como era a Banda quando você começou a tocar? Quantos músicos? Como era a
disciplina (comportamento nos ensaios e apresentações; quem era a maestrina)?
Qual fardamento? Instrumentos?
13. Qual a importância da Banda para sua vida?
14. O que você pensa sobre a música como profissão?
15. Quais lições de vida a Banda/Música proporcionou a você?
16. Quanto ao repertório, você gosta ou acha ultrapassado? Tem sugestões?
17. Cite locais e eventos que a Banda toca com mais frequência. E lugares que
ficaram marcados em sua trajetória com a Banda.
18. Como as autoridades (representantes de instituições públicas e privadas,
prefeitura, vereadores, etc...). Relacionam-se com a Banda?
19. Em sua opinião, qual a importância da Banda para a cidade de São Tomé RN?
20. E qual a importância da cidade para a Banda? Os Santomeense respondem a
altura?
21. Como é a relação Professora-Aluno (a)?
22. Comente o trabalho desenvolvido pela maestrina.
69
ANEXOS
70
ANEXO I
Filarmônica São Tomé (fotos)
Filarmônica São Tomé: Desfile na cidade.
Fonte: Autora.
71
Filarmônica São Tomé: Concerto Junino (24 de junho de 2018).
Fonte: Autora
Filarmônica São Tomé: apresentação no VIII São Tomé in Concert (27 de outubro de 2018).
Fonte: Autora.