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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN Unidade Acadêmica Especializada Escola de Música Licenciatura em Música METODOLOGIA DE ENSINO APRENDIZAGEM NA FILARMÔNICA SÃO TOMÉ: UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA NA REGIÃO DO POTENGI LUIZA MARIA DE OLIVEIRA Natal Maio 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

Unidade Acadêmica Especializada

Escola de Música

Licenciatura em Música

METODOLOGIA DE ENSINO APRENDIZAGEM NA

FILARMÔNICA SÃO TOMÉ: UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA NA

REGIÃO DO POTENGI

LUIZA MARIA DE OLIVEIRA

Natal

Maio 2019

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LUIZA MARIA DE OLIVEIRA

Metodologia de ensino aprendizagem na Filarmônica São Tomé:

uma experiência positiva na Região do Potengi

Monografia apresentada ao curso de graduação em Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito

parcial para obtenção do título de Licenciada em Música.

Orientador: Prof. Dr. Ranilson Bezerra de Farias

Co-orientadora: Profª. Drª. Germanna França da Cunha

Natal

Maio 2019

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LUIZA MARIA DE OLIVEIRA

Metodologia de ensino aprendizagem na Filarmônica São Tomé:

uma de experiência positiva da Região do Potengi

Monografia apresentada ao curso de graduação em Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito

parcial para obtenção do título de Licenciada em Música.

Aprovado em ___/___/___ pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

__________________________________________

Profº. Dr. Ranilson Bezerra de Farias

__________________________________________

Profª. Dra Germanna França da Cunha

__________________________________________

Profº. Ms Gilvando Pereira da Silva

Natal

Maio 2019

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A Deus, porque sem ele eu não seria

nada. Aos meus saudosos pais, Zé

gamela (In memorian) e Zefinha, pois

com eles eu aprendi a superar os

obstáculos da vida, e ao meu noivo

Josias Morais pelo apoio, paciência e

motivação. Com o estimulo de vocês eu

aprendi a ver a vida com mais amor e

perseverança para realizar os meus

objetivos.

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Agradecimentos

A Deus que me deu sabedoria e paciência para realizar meu sonho e fazer dele o

melhor de mim, não só como profissional, mas também como ser humano, fazendo o

bem sem olhar a quem.

Agradeço com muito amor àqueles que lutaram por mim: o meu pai Zé Gamela

(In memorian) e a minha mãe dona Zefinha. Essa vitória é nossa!

Ao meu noivo Josias Morais, que pôde suportar tantos momentos de ausência

para que esse trabalho fosse realizado. Agradeço por toda paciência, compreensão,

carinho e amor. Essa conquista também é sua, meu amor!

Aos meus orientadores Ranilson Bezerra de Farias e Germanna França Cunha,

palavras são poucas para expressar toda admiração e respeito, obrigada por tudo.

A minha madrinha e primeira professora de música Paula Francinete por todos

os ensinamentos.

Obrigada aos professores do curso de Licenciatura em Música. Cada um deixou

sua marca na minha vida acadêmica e seus ensinamentos foram fundamentais para

compreender o verdadeiro sentido de ser professor tanto em sala de aula como na vida.

A todos da Associação de Jovens Ação e cidadania - AJAC e aos componentes

da Filarmônica São Tomé, vocês sempre estarão em meu coração em especial Matheus

Lima por me ajudar em todos os momentos.

Agradeço aos amigos e colegas com quem convivi durante o curso, obrigada

pelo apoio em todos os momentos de aperreio e aprendizados que tivemos, pelos

sentimentos e amizade que construímos.

Aos meus amigos fora da Universidade, que sempre estiveram comigo nos

momentos bons e ruins, e que são parte da minha família que eu escolhi e quero para a

vida.

Agradeço a esta Universidade em especial à EMUFRN, seu corpo docente e toda

a Direção pela oportunidade de dar esse grande passo rumo ao meu crescimento

profissional.

E enfim, a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, seja de forma

direta ou indireta, fica registrado aqui a minha eterna gratidão.

Obrigada a todos!

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“Ensinar não é transferir conhecimento,

mas criar as possibilidades para a sua

própria produção ou a sua construção”.

(Paulo Freire)

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo investigar o trabalho desenvolvido na Filarmônica São

Tomé, buscando evidenciar a metodologia de ensino aprendizagem utilizada na

preparação dos alunos e músicos da banda além de investigar se a metodologia em uso

contribuiu para o desenvolvimento dos seus integrantes. A escolha do objeto desse

estudo deu-se pela proximidade da pesquisadora com o grupo em questão, uma vez que

participa do mesmo desde o início de seus estudos musicais até os dias atuais quando

exerce a função de maestrina. Os procedimentos metodológicos empregados,

correspondem à abordagem qualitativa e ao estudo de caso, e como ferramentas para

realizar a coleta de dados foram utilizados entrevistas semiestruturadas, questionários,

observação participante, além de pesquisa bibliográfica, registros em fotos, gravações

de áudio e postagens em redes sociais. Os resultados obtidos revelaram que as

interações construídas nas atividades desenvolvidas pelo grupo possibilitaram o

desenvolvimento tanto musical quanto interpessoal entre todos os envolvidos.

Palavras-chave: Aprendizagem Musical, Banda de Música, Filarmônica São Tomé

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ABSTRACT

This research aimed to investigate the work developed in the São Tomé Philharmonic,

seeking to highlight the teaching methodology used in the preparation of students and

musicians of the band, besides investigating whether the methodology in use

contributed to the development of its members. The choice of the object of this study

was due to the proximity of the researcher to the group in question, since she

participates in it from the beginning of her musical studies to the present day when she

performs the function of conductor. The methodological procedures used, correspond to

the qualitative approach and to the case study, and as tools to perform data collection

were used semi-structured interviews, questionnaires, participant observation, in

addition to research records in photos, audio recordings and social media posts. The

results obtained revealed that the interactions constructed in the activities developed by

the group enabled the development both musical and interpersonal among all involved.

Keywords: Musical learning, music band, São Tomé Philharmonic

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Banda de Música Municipal de São Tomé em 07 de dezembro de 1957.

Fotografia 2 – Primeira apresentação da banda de flauta doce Recordari. Maio de 2006.

Fotografia 3 – Estreia da Filarmônica São Tomé em 07/12/2006.

Fotografia 4 – Apresentação da Filarmônica com a regência da maestrina Raquel

Gonçalo em 2016.

Fotografia 5 – Apresentação da Filarmônica São Tomé no VII São Tomé In Concert.

Maio de 2017.

Fotografia 6 – Apresentação no Festival Maestro Felinto Lúcio Dantas em Santa Cruz

02 de julho de 2017.

Fotografia 7– Concerto Som da Mata 17 de setembro de 2017.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................12

2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO..............................................................14

2.1 Pesquisa qualitativa e estudo de caso.......................................................................14

2.2 Escolha do campo.....................................................................................................15

2.3 Procedimentos da coleta de dados............................................................................15

2.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental .....................................................................15

2.3.2 Observação participante.........................................................................................16

2.3.3 Entrevistas semiestruturadas..................................................................................17

2.4 Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE...............................................18

2.5 Registros fotográficos e em áudio............................................................................19

2.6 Organização e analise dos dados..............................................................................19

3 UMA BREVE HISTÓRIA DA BANDA.................................................................20

3.1 As bandas de música no Brasil.................................................................................21

3.2 O surgimento das bandas civis no Brasil .................................................................22

3.3 O Rio Grande do Norte e suas bandas .....................................................................23

3.3.1 As bandas militares do Rio Grande do Norte ...........................................23

3.3.2 As bandas civis no interior do RN.............................................................25

3.4 As bandas de música e suas funções sociais.............................................................27

4 SÃO TOMÉ E A SUA BANDA ...............................................................................29

4.1 A cidade de São Tomé .............................................................................................29

4.2 A chegada da banda de música na cidade de São Tomé nos anos 50.......................30

4.3 A reativação da banda de São Tomé.........................................................................31

4.4 A maestrina Paula Francinete de Araujo Vicente ....................................................32

4.5 Trabalho inicial de musicalização e formação da filarmônica .................................33

4.6 Práticas de ensino da Filarmônica São Tomé ..........................................................35

5 DESAFIOS: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A FILARMÔNICA SÃO

TOMÉ............................................................................................................................39

5.1 Luiza Maria de Oliveira: de aluna à maestrina.........................................................39

5.2 Assumindo a Filarmônica São Tomé........................................................................40

5.3 Metodologia de ensino: identificando problemas e propondo soluções ..................41

5.4 Experiências e desafios ............................................................................................49

6 RESULTADO DOS DADOS....................................................................................51

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6.1 A motivação..............................................................................................................51

6.2 Atividades do grupo e as estratégias de aprendizagem.............................................51

6.3 Importância das atividades para a formação musical e humana...............................52

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................53

REFERÊNCIAS...........................................................................................................55

APÊNDICES ................................................................................................................58

APÊNDICE A: Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e

Cidadania – AJAC para a realização da pesquisa...........................................................59

APÊNDICE B: Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e

Cidadania – AJAC para a utilização do seu nome real...................................................60

APÊNDICE C: TCLE referente à entrevista do presidente da Associação de Jovens

Ação e Cidadania – AJAC..............................................................................................61

APÊNDICE D: TCLE referente à entrevista do tesoureiro da Associação de Jovens

Ação e Cidadania – AJAC..............................................................................................62

APÊNDICE E: TCLE referente à entrevista dos músicos integrantes da Filarmônica São

Tomé...............................................................................................................................63

APÊNDICE F: TCLE referente à entrevista das maestrinas ex-integrantes da

Filarmônica São Tomé...................................................................................................64

APÊNDICE G: TCLE referente à entrevista dos integrantes de bandas militares e civis

do Rio Grande do Norte.................................................................................................65

APÊNDICE H: Entrevista semiestruturada para coleta de dados aplicada aos membros

da Diretoria da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC................................66

APÊNDICE I: Questionário para coleta de dados aplicado aos músicos integrantes da

Filarmônica São Tomé...................................................................................................67

ANEXOS.......................................................................................................................69

Filarmônica São Tomé (fotos).......................................................................................70

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil observamos um aumento significativo de pesquisas voltadas para o

universo das bandas de música sobretudo a partir dos anos 2000. Esteja ela inserida no

campo militar ou civil, segundo o pesquisador Antonio Arley Leitão França (2017),

estudos relatando aspectos históricos e socioculturais começaram a ser desenvolvidos

no Brasil por volta de 1960. Pesquisas mais recentes também abordam tópicos como:

Aspectos de gestão; influência das bandas na formação profissional dos

integrantes; políticas culturais destinadas às bandas; influência das bandas

militares na consolidação de bandas civis brasileiras; influência do mestre na

formação do músico (...). (FRANÇA, 2017, p. 17)

Paralelamente a esses temas, outro aspecto bastante interessante é o aumento dos

estudos relacionados à área da educação musical que tratam do aspecto pedagógico da

banda de música, sobretudo os processos de ensino-aprendizagem.

Tendo se estabelecido como uma instituição tradicional da cultura brasileira, a

banda representa bem mais que um espaço de aprendizado musical. Em seu trabalho

“Bandas de Música, escolas de vida”, o pesquisador Ronaldo Ferreira de Lima afirma:

A banda de música é para a minha vida, um grupo de referência; uma

experiência da qual até hoje retiro ensinamentos e lições de vida. Nela

convive boa parte da minha adolescência e juventude. Passava,

constantemente, mais tempo na sede da banda do que no convívio de minha

casa. A banda era a outra família, uma segunda família. Ali aprendi a

respeitar regras; a compartilhar problemas e soluções; a construir novas

aspirações, opiniões, atitudes, ou seja, adquiri outra visão de mundo. (LIMA,

2005, p. 12)

De acordo com a pesquisadora Nilcéia Protásio Campos (2008), as experiências

propiciadas por uma banda de música podem influenciar a vida de seus componentes, e

sobre isso ela afirma:

O aprendizado musical torna-se apenas um dos aprendizados possíveis.

Vínculos são formados a partir da relação que os participantes estabelecem

uns com os outros e com a música – vínculos baseados na amizade, no

reconhecimento, na disciplina e no prazer proporcionado pela prática

musical. (CAMPOS, 2008, p. 107)

Compreendendo o fazer musical de uma banda como um espaço de produção

coletiva, concordo com as teorias dos pesquisadores Rose Hikiji (2006) e Juarez

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Dayrrell (2005) ao defenderem que “ao participar de um grupo musical, cada

participante se compromete com o outro e com o resultado final” (HIKIJI, 2006, apud

CUNHA, 2013, p.359); e que “o espaço da produção musical coletiva torna-se um locus

de socialização, e uma alternativa de afirmação, de reinventar formas de viver”

(DAYRRELL, 2005, apud CUNHA, 2013, p. 360).

O inegável fomento à temática “bandas de música” no atual cenário do debate

científico e a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre as práticas de ensino

aprendizagem utilizadas nessas instituições, me incentivou a escolher como universo de

pesquisa a Filarmônica São Tomé, instituição com a qual tenho bastante proximidade

por tratar-se da banda que participo desde o início dos meus estudos musicais e onde

atualmente ocupo o cargo de maestrina.

Na presente pesquisa relato o trabalho desenvolvido na Filarmônica São Tomé,

buscando evidenciar a metodologia de ensino aprendizagem utilizada na preparação dos

alunos e músicos da banda além de investigar se a metodologia em uso contribuiu para

o desenvolvimento dos seus integrantes.

O trabalho está dividido em sete capítulos. No Capítulo 1, consta a presente

introdução. O Capítulo 2 apresenta a metodologia da investigação, explicitando a

abordagem metodológica utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, o procedimento

da coleta de dados e os critérios de escolha do objeto de estudo. No Capítulo 3

apresento uma contextualização histórica em forma de breve relato sobre as bandas de

música militares e civis no Brasil e no Rio Grande do Norte. O Capitulo 4 descreve a

cidade de São Tomé, trazendo também a história da banda da cidade. Nesse capítulo

inicio o relato de práticas de ensino utilizadas na Filarmônica em período anterior à

minha atuação como regente. O Capítulo 5 refere-se a minha própria história e atuação

como professora e maestria à frente da Filarmônica, bem como as estratégias e práticas

de ensino que utilizo nas aulas e ensaios. No Capítulo 6 são explicitados os resultados

dos dados analisados e no Capítulo 7 apresento as considerações finais.

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2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

2.1 Pesquisa qualitativa e estudo de caso

Para a realização da presente pesquisa, optou-se pela utilização da abordagem

qualitativa. De acordo com a pesquisadora Linda G. Reis (2015), “essa abordagem tem

como objetivo interpretar e dar significados aos fenômenos analisados sem empregar os

métodos e as técnicas estatísticas como base do processo de análise de um problema”.

Ainda de acordo com Reis (2015) essa abordagem tem como objetivos:

...interpretar e dar significado aos fenômenos analisados;

descrever a complexidade de um específico problema;

analisar a interação de certas variáveis;

compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais;

possibilitar o entendimento das possibilidades do comportamento dos

indivíduos;

atribuir significados básicos aos conceitos no processo de pesquisa

qualitativa. (REIS, 2015, p.61)

O pesquisador Antonio Arley Leitão França (2017) afirma que “na pesquisa

qualitativa, o ambiente natural onde ocorre o fenômeno investigado é a fonte direta de

dados, sendo o investigador o principal instrumento”. O autor também relata que a

pesquisa qualitativa é descritiva, uma vez que “os dados resultantes da pesquisa

qualitativa são apresentados de forma descritiva pelo pesquisador”. Baseando-se em

autores como Bodgan e Biken (1994), Martins (2008), Lüdke e André (1986), e Stake

(2009), afirma que “a pesquisa caracterizada pela abordagem qualitativa busca

compreender os fenômenos humanos, relacionados aos indivíduos ou grupos, à luz das

perspectivas atribuídas pelos investigados, sob o olhar interpretativo do pesquisador”

(FRANÇA, 2017).

Tendo como objetivo relatar a metodologia de ensino aprendizagem utilizada na

Filarmônica de São Tome, utilizei a técnica de pesquisa conhecida como estudo de caso

já que, de acordo com REIS (2015), “é uma técnica de pesquisa com base empírica que

consiste em selecionar um objeto de pesquisa, que pode ser um fato ou um fenômeno,

um determinado caso estudado nos seus vários aspectos” (Reis, 2015, p. 57).

O pesquisador João José Saraiva da Fonseca (2002) complementa sobre o estudo

de caso:

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... pode ser caracterizado de acordo com um estudo de uma entidade bem

definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma

pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o seu “como”

e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade e identidade próprias. É uma

investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça

deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única em

muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e

característico. (FONSECA, 2002, p. 33)

2.2 Escolha do campo

Como universo dessa pesquisa, escolhi a Filarmônica São Tomé. Um dos fatores

fundamentais para essa escolha foi a minha proximidade com o grupo em questão, uma

vez que iniciei meus estudos musicais na banda de flauta doce mantida pela Associação

de Jovens Ação e Cidadania – AJAC, posteriormente ingressando como instrumentista

na própria Filarmônica, onde atualmente assumo o cargo de maestrina.

Na pesquisa, além apresentar um histórico da Filarmônica, busco relatar a minha

experiência e evidenciar a metodologia de ensino aprendizagem que utilizo na

preparação dos alunos e músicos da banda. Compreendendo a Filarmônica como um

espaço que contribui para a formação musical e humana dos indivíduos envolvidos,

procurei investigar também se a metodologia em uso propiciou mudança nas relações

interpessoais e nas relações entre os instrumentistas e a Filarmônica.

2.3 Procedimentos da coleta de dados

Para a presente investigação utilizei as ferramentas de coleta de dados descritas

abaixo.

2.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental

Para o desenvolvimento da pesquisa realizei um levantamento bibliográfico,

buscando autores na área de música e educação musical, aprendizagem e ensino

coletivo relacionados ao contexto de grupos musicais e bandas de música que pudessem

contribuir para a fundamentação da pesquisa.

Para os dados sobre a Filarmônica São Tomé e o contexto no qual ela se

desenvolveu, realizei uma pesquisa buscando informações sobre a cidade e sua história

juntamente com um levantamento de dados do acervo pertencente à Associação de

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Jovens Ação e Cidadania – AJAC e integrantes e ex-integrantes da Filarmônica,

buscando dados históricos e documentos sobre o grupo. O processamento desses dados

possibilitou a ampliação do conhecimento e a segurança das informações sobre o objeto

de estudo da pesquisa.

2.3.2 Observação participante

Atualmente “a observação é considerada uma das principais técnicas da coleta

de dados na pesquisa qualitativa, principalmente nas investigações que ocorrem em

contextos onde o ensino e aprendizagem são o foco” (FRANÇA, 2017). Esse contato

mais aproximado, segundo o autor, permite ao investigador uma melhor compreensão

do objeto de estudo. Isso se dá, de acordo com LÜDKE e ANDRÉ (1986), devido ao

fato que:

...na medida em que o pesquisador acompanha in loco as experiências diárias

dos sujeitos, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o

significado, o sentido e a importância que eles atribuem à realidade que os

cerca e às suas próprias ações. (LÜDKE E ANDRÉ, apud FRANÇA, 2017,

p.31)

Com o consentimento e autorização dos integrantes do grupo para aprofundar no

campo da pesquisa, estabeleci o período formal das observações entre fevereiro e maio

de 2019, acompanhando e observando todas as atividades inerentes ao grupo, tais como:

aulas, ensaios, concertos e momentos de descontração entre os intervalos dos ensaios.

Sendo integrante do grupo observado notei que não houve qualquer desconforto dos

participantes para a realização da pesquisa.

A observação realizada, pode ser classificada como sendo do tipo participante,

uma vez que além de observar, ocupo ativamente um posto dentro da Filarmônica São

Tomé. De acordo com Marconi e Lakatos (2010) esse tipo de observação “consiste na

participação real do pesquisador na comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo,

confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando

e participa das atividades normais deste” (MARCONI e LAKATOS, 2010, p.177).

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2.3.3 Entrevistas semiestruturadas e questionário

Outra técnica de coleta de dados que utilizei durante essa pesquisa foi a

entrevista. Os dados coletados serviram para subsidiar o trabalho, mostrando ao

investigador a representação que os entrevistados tinham acerca do objeto pesquisado.

De acordo com Bodgan e Biklen (2010), “a entrevista é utilizada para recolher dados

descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver

intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do

mundo” (BODGAN e BIKLEN, apud FRANÇA, 2017, p. 32). Gerhardt e Silveira

(2009), afirmam que esta é “uma técnica de interação social, uma fórmula de diálogo

assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra se apresenta como fonte

de informação” (GERHARDT e SILVEIRA, apud SILVA, 2018, p. 16). A modalidade

de entrevista que utilizei foi a entrevista semiestruturada, que é aquela segundo Lüdke e

André (1986) que “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado

rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (LÜDKE E

ANDRÉ, apud FRANÇA, 2017, p.33).

Tendo escolhido a entrevista semiestruturada e questionário, elaborei roteiros

diferenciados. As perguntas elaboradas para as entrevistas contemplavam aspectos

relacionados à Filarmônica, à aprendizagem e às diversas interações que acontecem

entre os participantes e foram realizadas com as duas maestrinas que atuaram na

Filarmônica São Tomé. Os questionários foram de dois tipos: o primeiro, com oito

questões, voltado para o presidente e para o tesoureiro da Associação de Jovens Ação e

Cidadania – AJAC, o segundo, com vinte e duas questões destinava-se aos

instrumentistas atuantes na banda (APENDICES G e I).

Os questionários foram construídos com o objetivo de compreender aspectos

relacionados à AJAC e à Filarmônica São Tomé, bem como coletar dados socioculturais

e sobre as atividades desenvolvidas no grupo.

As entrevistas e questionários foram realizadas nos meses de abril e maio de

2019, e inicialmente foram elaborados os termos de Consentimento Livre e Esclarecido.

Após a elaboração dos TCLE, foram realizadas as entrevistas visando a coleta de dados

para análise. No corpo do texto, optei por não citar nominalmente os alunos

entrevistados e utilizei os termos “aluno 01”, “aluno 02”, “aluno 03”, e assim por

diante.

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2.4 Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE

Sabendo que o desenvolvimento de uma pesquisa na área de música implica

muitas vezes na criação de materiais que de alguma forma possam favorecer a

exposição de pessoas envolvidas no processo, a exemplo de fotografias e registros em

áudio e/ou vídeo, compreendo a necessidade de um termo de consentimento que

autorize a sua utilização. Dessa forma, concordo com o pesquisador Luís Ricardo Silva

Queirós (2013), quando em seu artigo “Ética na pesquisa em música: definições e

implicações na contemporaneidade”, discorre e esclarece sobre esse tópico:

Fontes dessa natureza retratam situações, instrumentos, performances

e outros elementos da música e de pessoas fazendo música, e,

portanto, para serem produzidos, utilizados e/ou divulgados também

necessitam de autorização. É recomendável que todo pesquisador

tenha o respeito e o cuidado devido, solicitando autorização tanto para

realizar os registros, durante a coleta, quanto para utilizá-los em

publicações resultantes do processo investigativo. (QUEIROZ 2013,

p. 13)

Para a realização das entrevistas e em conformidade com as afirmações do

pesquisador, elaborei para essa pesquisa termos de autorização e consentimento que

foram direcionados aos membros da Diretoria (presidente e tesoureiro) da Associação

de Jovens Ação e Cidadania – AJAC, aos músicos da Filarmônica São Tomé, às

maestrinas ex-integrantes da Filarmônica e a integrantes de bandas militares e civis

buscando autorização para fazer uso do material coletado na investigação, bem como

utilizar as imagens em fotografias e gravações somente para fins de natureza

acadêmico-científica. Os textos foram redigidos tendo como modelo outros trabalhos

produzidos em programas de pós-graduação disponíveis em repositórios online.

Foram elaborados sete termos sendo eles:

Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania

– AJAC para a realização da pesquisa (APÊNDICE A).

Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania

– AJAC para a utilização do seu nome real (APÊNDICE B).

Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista do Presidente

da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC (APÊNDICE C).

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Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista do Tesoureiro

da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC (APÊNDICE D).

Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista dos músicos

integrantes da Filarmônica São Tomé (APÊNDICE E).

Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista das maestrinas

ex-integrantes da Filarmônica São Tomé (APÊNDICE F).

Termo de consentimento livre e esclarecido referente à entrevista com

integrantes de bandas militares e civis do Rio Grande do Norte (APÊNDICE G).

2.5 Registros fotográficos e em áudio

Segundo Robert Yin, “provas observacionais são, em geral, úteis para fornecer

informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado” (YIN 2001, p 115).

Os registros fotográficos utilizados nessa investigação foram obtidos dos acervos

mantidos pela Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC e do meu próprio

acervo particular, e foram realizados em grande parte durante as apresentações da

Filarmônica. As entrevistas foram documentadas em áudio sendo algumas delas

realizadas via aplicativo WhatsApp.

2.6 Organização e análise dos dados

Para Antonio Carlos Gil (2010), “a análise e interpretação é um processo que

nos estudos de caso se dá simultaneamente à sua coleta”. Bodgan e Biklen (1994),

afirmam que essa fase corresponde ao “processo de busca e de organização sistemática

de transcrição de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo

acumulados” (BODGAN e BIKLEN, apud FRANÇA 2017, p. 41).

Após a realização das entrevistas, iniciei o processo da organização das

informações passando posteriormente para a fase de aprofundamento do estudo do tema

e interpretação dos dados.

Para melhor compreensão dos dados obtidos com a investigação, durante o

processo de análise fiz uma subdivisão nos seguintes tópicos: a motivação; as atividades

do grupo e as estratégias de aprendizagem; a importância das atividades para a

formação musical e humana.

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3 UMA BREVE HISTÓRIA DA BANDA

No Dicionário Grove de Música a definição para o termo “banda” diz respeito

a conjunto instrumental, e em sua forma mais livre “é usada para qualquer conjunto

maior do que grupo de câmara1”. Assim, “essa origem parece se refletir em seu uso

para um grupo de músicos militares tocando metais, madeiras e percussão”.

O pesquisador Fernando Pereira Binder cita em sua dissertação uma transição

que ocorreu entre 1743 e 1762 da antiga banda de oboés para o conjunto conhecido

como harmoniemusik, ou banda de harmonia.2 Ele relata o emprego de clarinetas e

flautas substituindo os oboés. De acordo com Polk (2001) “a partir do final do século

XVII as bandas de oboés frequentemente tinham jornada dupla, tocando música militar

e em celebrações ao ar livre, conforme o exigido”. Durante o século XVIII, as bandas de

harmonia se espalharam pela Europa, agregando instrumentos de percussão aos sopros,

provocando dessa forma, nova mudança em sua formação instrumental. Binder (2006)

menciona que:

Para equilibrar a sonoridade do conjunto, afetada pela introdução da

percussão, o número de clarinetes foi aumentado, flautins, requintas e

trombones também foram adicionados. Esta formação foi denominada como

banda mista ou militar; mista em referência aos diferentes tipos de

instrumentos, madeiras, metais e percussão; militar devido à importância das

bandas militares para sua padronização, (...). (Binder 2006, p. 20)

Binder ressalta que esse tipo de formação foi adotado em vários lugares até o

século XIX, antes mesmo da revolução provocada pelos os instrumentos de válvulas e

pistões nas bandas. Por volta de 1810, a maioria das bandas militares europeias já tinha

ganhando tamanho e aumentado à quantidade de instrumentos.

Em Portugal, os conjuntos mencionados naquela época eram a banda marcial e a

banda de música. De acordo com Fernando Binder (2006), Raimundo José da Cunha

Mattos, militar português autor do “Repertório da Legislação Militar” e fundador do

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, foi um dos primeiros a fazer uma distinção

entre os dois tipos de conjunto. A banda marcial, composta por trombetas, cornetas e

1 Entende-se por grupo de câmara, um pequeno conjunto musical composto por um número de dois a

nove instrumentistas. No prefácio de seu livro Twentieth-Century Chamber Music o pesquisador e

pianista James McCalla apresenta sua definição do que seja música de câmara e no texto define

claramente o que sejam grupos de câmara: “(Música de câmara) é a música tocada por um pequeno grupo de

músicos, normalmente entre dois e nove, sendo um músico por parte, usualmente sem um maestro (para encorajar a

individualidade como uma parte essencial de sua coletividade) enfatizando sutileza e intimidade em relação a

grandiosidade de salas sinfônicas ou teatros de ópera”. (McCALLA, 2003, preface, p. VII apud FARIAS, 2013) 2 Segundo Fernando Binder, conjunto instrumental composto por: uma flauta, dois oboés ou clarinetes,

um clarim, duas trompas, um fagote, um bumbo e uma caixa surda. (Binder 2006, pg. 24).

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tambores, era chamada por ele de “instrumentos bélicos” e o grupo tinha a

responsabilidade de tocar sinais e comandos para as tropas militares. Binder (2006)

menciona também, que foi por volta do século XVIII que as bandas com o modelo

harmoniemusik ingressaram no exército português.

3.1 As bandas de música no Brasil

No ano de 1808, a corte portuguesa mudou-se para o Rio de Janeiro suscitando

várias transformações no cotidiano daquela localidade. Conforme Binder (2006) muitos

autores acreditam que, antes de 1808, não existia bandas de música, nos modelos mais

modernos das bandas de harmonia. Com a chegada da Banda da Brigada Real ao Brasil,

a formação instrumental utilizada nesse conjunto passaria a ser adotada na então colônia

e, embora representasse um padrão que logo seria considerado totalmente defasado

considerando-se as novas formações que começariam a surgir em Portugal por volta de

1814, em relação às bandas brasileiras, esse modelo já apresentava algum avanço.

Vicente Salles, musicólogo brasileiro oferece uma visão da formação estrutural das

nossas bandas, considerando-as ultrapassadas: ‘primitivas, deficientes e imperfeitas

bandas de pífanos, charamelas, trombetas, cornetas e tambores’ (SALLES apud

BINDER p.9).

Com o passar do tempo, inúmeros regimentos militares foram constituídos,

favorecendo o aparecimento de novas bandas estruturadas de modo semelhante ao

daquela corporação militar, e que passaram a substituir a antiga formação dos tocadores

de charamelas. De acordo com Binder (2006), além das atividades militares que

desempenhavam, esses grupos musicais eram frequentemente solicitados para as festas

da família Real:

Após a chegada da corte, as bandas de música dos regimentos de linha

passaram a ser frequentemente solicitadas a comparecer às festas da família

real, como consta do Livro de Ordens da Guarda Real da Polícia da Corte.

(Binder 2006 p. 47)

O fazer musical oficial, entretanto, permaneceu sob sua responsabilidade até a

criação da Guarda Nacional, corporação que viria a substituir os antigos corpos de

milícias e ordenanças. Conforme Binder (2006), “a lei de criação da Guarda Nacional,

de agosto de 1831, não fez qualquer menção à música, quer autorizando quer

proibindo”. Entretanto, em 19 de setembro de 1850 acontece uma reforma da Guarda

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Nacional pela lei 602, que passa a permitir “a criação de bandas de música em suas

unidades, cujo tamanho e fardamento deveriam ser aprovados pelos presidentes, nas

províncias, ou pelo governo, na corte” (Binder, 2006 p.75).

Com o surgimento dessas bandas intensificaram-se as apresentações em público,

os músicos passaram a incluir em seu repertório hinos, trechos da música popular e

erudita, assim também como maxixes, valsas, polcas, schottisches e quadrilhas. Essas

ações contribuíram demais para a evolução das bandas.

3.2 O surgimento das bandas civis no Brasil

De acordo com Marcos dos Santos Moreira (2007), a criação das bandas de

música da Guarda Nacional, favoreceu o desenvolvimento de bandas militares e civis

nos grandes centros urbanos. Segundo o pesquisador André Diniz (2001), “as

apresentações nos coretos e nas festas cívicas faziam das bandas militares uma

referência obrigatória de diversão na cidade. Logo surgiram bandas civis imitando sua

formação, tocando música para bailes e apresentando-se nos coretos das praças” (Diniz

apud Moreira, 2007, p. 31).

O surgimento dessas bandas civis estabeleceu um novo contexto cultural, pois,

livres de obrigações militares, tais instituições assumiram o papel de levar a música a

toda comunidade. Esses grupos civis surgiram através de organizações privadas, com o

intuito de não serem remuneradas, e seus componentes eram escravos, operários,

barbeiros, funcionários aposentados, entre outros. A diretoria, geralmente era composta

por uma comissão formada por pessoas ilustres da comunidade, entre elas os políticos.

Essas associações musicais passaram a ganhar nomes como Liras, Euterpes, Clubes

Musicais e Sociedades Musicais. O termo filarmônica usado atualmente no cenário

musical, provavelmente está ligado a esse contexto. Manuela Areias Costa (2011)

esclarece:

Quando legalmente registradas, atuavam como associações filantrópicas por

não estabelecerem vínculo empregatício com os músicos, nem gerarem ou

receberem renda, seja das prefeituras ou do Estado. E, muitas vezes, por

serem filantrópicas, recebiam a denominação de ‘bandas filarmônicas’.

(Costa, 2011, p.05)

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Outro marco importantíssimo para as bandas foi a Guerra do Paraguai, conflito

militar que ocorreu entre os anos de 1864 a 1870 envolvendo o Paraguai e a Tríplice

Aliança, formada por Brasil, Uruguai e Argentina. Nesse período foram criados corpos

de voluntários para auxiliar as tropas do exército brasileiro. Essas unidades, que foram

chamadas Voluntários da Pátria, eram compostas por civis, policiais, índios e escravos

e, de acordo com o pesquisador Vinícius Mariano de Carvalho (2008), “repetiam a

estrutura organizacional dos Batalhões de Linha”. A banda de música, dessa forma

estava presente nessas corporações. Seus integrantes, muitos sem formação militar

alguma, haviam adquirido formação musical em igrejas, associações musicais ou bandas

pequenas. Ainda segundo Carvalho (2008), esses músicos civis que participaram da

guerra do Paraguai ao mesmo tempo em que levaram para a guerra e para a banda

militar o seu repertório popular, adquiriram desses conjuntos o Ethos3 Militar. Dessa

forma, os músicos civis quando retornaram, trouxeram consigo hábitos militares como,

por exemplo, o ato de tocar e marchar ao mesmo tempo. Além de uniformes e da

utilização de quepes, as bandas civis passam então a não ter mais diferença das bandas

militares, e ganham um apelido carinhoso de tropa. Conforme Carvalho:

O repertório destas bandas civis não se diferencia mais das militares. Do

mesmo modo que seguem tocando suas músicas populares, incorporam o

dobrado e a marcha militar a seu repertório sem estranhamento.

(CARVALHO, 2008, p. 12)

3.3 O Rio Grande do Norte e suas bandas

3.3.1 As bandas militares do Rio Grande do Norte

Conforme citado anteriormente, a transferência da família real para o Brasil

ocasionou a vinda da Banda da Brigada Real Portuguesa acompanhando a corte. De

acordo com Carvalho (2007) posteriormente essa banda vai dar origem à Banda dos

Fuzileiros Navais. No Rio Grande do Norte, a Banda do Grupamento de Fuzileiros

Navais de Natal - GptFNNa foi criada em 1976. Era composta por vinte e três militares,

sendo um Suboficial Mestre e vinte e dois Suboficiais/Sargentos Fuzileiros Navais

executantes. Atualmente a Banda do GptFNNa é subordinada ao Comando do 3º

Distrito Naval e mantém a formação de vinte três integrantes tendo como maestro, o

3 Ethos é “costume, uso, maneira (exterior) de proceder”. (CABRAL, 1991 apud CUNHA, 2013).

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Suboficial Paulo Henrique Duheme e com maestro substituto o Suboficial Elenierveson

Cavalcanti da Rocha.

Além do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal – GptFNNa, o estado do

Rio Grande do Norte possui ainda outras corporações militares que tem a presença de

bandas de música, a exemplo da Força Aérea Brasileira (ALA 10) e 7ª Brigada do

Exército Brasileiro. De acordo com o “Histórico da Banda de Música da Base Aérea de

Natal” fornecido pelo Cap QOEA MUS Manoel Jerônimo da Silva , em 19 de outubro

de 1943, o antigo jornal "A República" publicou edital informando que estava aberta a

incorporação de músicos para a formação da Banda de Música da Base Aérea de Natal.

Meses se passaram e em 17 de março de 1944 a banda é fundada com oito primeiros

músicos. De acordo com o Histórico, nos dias atuais:

Com a nova reestruturação da Força Aérea Brasileira (Força Aérea 100) em

que foi extinta a Base Aérea de Natal e criada uma nova unidade denominada

ALA 10 e de acordo com a ICA 906-1/2018 “Instrução para organização e

funcionamento da Atividade de Música no Comando da Aeronáutica”, a

Banda de Música passou a ser subordinada administrativa e

operacionalmente a ALA 10, sendo assim chamada “Banda de Música da

ALA 10”. (Histórico da Banda de Música da Base Aérea de Natal)4

Atualmente a banda possui 54 músicos e tem como maestro o Cap QOEA MUS

Manoel Jerônimo da Silva.

A Banda de Música da 7ª Brigada do Exército Brasileiro cuja origem remonta a

década de 1930 está atualmente sediada no 16º Regimento de Infantaria Motorizado.

Inicialmente a banda era composta por dezesseis músicos, e teve como seu primeiro

maestro o 1º Sargento Jacinto Carlos Carvalho. De acordo com o 2° Sgt. Cosme Damião

da Silva, atualmente a banda é classificada como uma banda de categoria D possuindo

39 componentes e é regida pelo capitão Joaz Silva de Souza.

Outra corporação militar que possui banda de música é a Polícia Militar do Rio

Grande do Norte. A Banda da PMRN foi fundada em 16 de junho 1886, sob a lei Nº 982

e era composta por apenas 10 músicos. Seu repertório inicialmente era voltado para as

atividades realizadas dentro da corporação a exemplo de dobrados e hinos. Marcos

Aragão Fontoura cita em sua pesquisa, que no ano de 1891, um edital publicado no

extinto jornal “A República” trazia uma convocação para músicos e, já no ano seguinte,

4 Histórico da Banda de Música da Base Aérea de Natal fornecido pelo Cap QOEA MUS Manoel

Jerônimo da Silva, atual maestro da banda. (maio, 2019).

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a banda aumentou o seu contingente para 20 componentes, permanecendo assim até o

ano de 1898. Fontoura (2011) relata:

Em 1898, o efetivo do batalhão de segurança era de 394 e a banda de música

era composta por 10 soldados de primeira classe e 10 de segunda classe, além

de um mestre e um contramestre. (FONTOURA 2011, p.47)

Vários maestros assumiram a regência da referida banda contribuindo assim,

para o seu desenvolvimento. Entre vários nomes podemos destacar Juvenal Lira 5,

Antônio Pedro Dantas ‘Tonheca Dantas’, José Cesone, e Djalma Ribeiro da Silva.

Popularmente conhecido como Tonheca Dantas, Antônio Pedro Dantas foi

contratado em 30 de maio de 1898, com a função de mestre de banda, por um período

de três anos, o que ocasionou a sua dispensa do curso de formação de soldado. O

historiador potiguar Cláudio Galvão (1998) cita o quão versátil Tonheca se mostrou no

período de sua contratação:

Em seguida foi a vez de Tonheca Dantas. O comandante lhe entregou uma

partitura diferente da primeira e perguntou ao candidato qual o instrumento

que iria escolher. “qualquer um...” respondeu. “O senhor diga qual o que

quer”. Os membros da comissão se entreolharam, surpresos pela a audácia

daquele sertanejo moreno e franzino e resolveram pôr a prova seus

conhecimentos mandando que fosse tocando a peça nos diversos

instrumentos da banda. (GALVÃO, 1998 p.44)

A música de Tonheca Dantas se destaca dentro do universo musical das bandas

de música no Brasil, pois suas composições são um marco histórico. De sua obra

podemos destacar as seguintes peças: Royal Cinema, A Desfolhar Saudades, Delírio e

Melodia do Bosque. Sua composição “Pai Nosso”, ainda é ouvida com frequência na

capital e demais cidades do RN mas, sem dúvida, a valsa Royal Cinema foi o ápice das

suas composições chegando a ser, de acordo com o professor e pesquisador Paulo

Marcelo Marcelino Cardoso, “irradiada ao vivo pela BBC (British Broadcasting

Corporation) de Londres e pela rádio Berlim em programas dirigidos ao Brasil, na

época em que se desenrolava a 2° Guerra Mundial” (CARDOSO, 2002).

3.3.2 As bandas civis no interior do RN

5 Juvenal Lira, primeiro maestro da banda de música municipal de São Tomé – RN no ano de 1950.

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As bandas de música civis multiplicaram-se por várias cidades brasileiras, e no

estado do Rio Grande do Norte não foi diferente. Na região do Seridó, pesquisadores

citam a existência de bandas civis muito antigas. No livro “A desfolhar Saudades. Uma

biografia de Tonheca Dantas”, escrito por Cláudio Galvão (1998), encontramos uma

menção feita a uma banda da cidade de Acari que existia por volta de 1880.

A mais antiga referência que se tem da atividade musical da região está

ligada ao nome de Manuel Bezerra de Araújo Galvão, do Ingá, que por volta

de 1880, mantinha, na cidade do Acari, uma banda com cerca de dez a vinte

componentes. (GALVÃO, 1998, p. 26)

O escritor cita esta banda como sendo a referência musical mais antiga da

região, entretanto, encontramos um registro anterior descoberto pelo pesquisador

Cardoso (2002) em uma pesquisa histórica realizada pelo maestro Jaime Brito. O estudo

relata a existência de uma banda no município de Jardim do Seridó no ano de 1859,

possuindo nove componentes e tendo sido fundada pelo coronel da guarda nacional

Ildefonso de Oliveira Azevedo. Dessa forma, encontrou-se um registro que aponta a

existência de uma formação musical muito antiga nessa região, que mostra uma grande

tradição de bandas civis que perdura até os dias atuais. Entretanto, não é objetivo desse

trabalho dar foco a essa discussão, apenas trouxemos dados que podem ser trabalhados

em outras pesquisas.

Entre outros conjuntos musicais dessa mesma região temos a Banda 11 de

Fevereiro, da cidade de Parelhas (1907); a Banda de Música Recreio Caicoense (1909),

de Caicó; e a Filarmônica Onze de Dezembro (1910), de Carnaúba dos Dantas.

A região do Seridó com toda sua tradição musical revelou importantes

compositores, destacando aqui a figura importantíssima do maestro e compositor

Felinto Lúcio Dantas (1898-1986). O compositor e professor Danilo Guanais escreveu

em 2001 “O Plantador de Sons vida e obra de Felinto Lucio Dantas”, e menciona como

o compositor de grandes dobrados e valsas e obras sacras aprendeu a ler:

A aprendizagem das letras se deu de uma forma inusitada, revelando os

primeiros sinais de determinação e humildade, traços característicos da

personalidade de Felinto. Nas areias próximas ao rio, ele aprendeu, com um

primo seu, o “ABC seguido”, pagando, por cada letra ensinada, três pás de

terra. (GUANAIS, 2001, p.11)

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O grande estímulo para a carreira musical de Felinto se deu em 1915, ao assistir

o ensaio da banda de Acari regida pelo seu primo Tonheca Dantas. Ele se sentiu muito

impressionado e foi a partir daí que decidiu se tornar músico. Em 1917 escreveu seu

primeiro dobrado chamado “Estréia”, após dois anos, compôs a valsa “Culpa e Perdão”.

Anos se passaram Felinto se casou duas vezes e gerou 30 filhos, dos quais apenas 14

sobreviveram. Ao se aposentar, assume a postura de agricultor e compositor até o fim da

sua vida. Guanais (2001) cita: ‘‘Às vezes, Felinto retornava mais cedo do seu roçado

para compor. O período da tarde era quase reservado à produção musical’’. Apesar de

sua carreira musical ele administrava muito bem os serviços de casa, afinal o bem estar

da sua família vinha em primeiro lugar. Guanais (2001) reforça:

Certa vez, enquanto trabalhava nos reparos de um muro em seu quintal,

soube que o aguardavam algumas pessoas importantes, que ansiavam por

ouvi-lo falar sobre a música. Felinto respondeu: “Quem tiver vexado que se

sente e espere, que eu vou primeiro terminar meu serviço”. (GUANAIS,

2001, p.33)

As obras de Felinto Lúcio Dantas são o destaque do compositor, conforme

Guanais (2001), o número de dobrados foi setenta e sete, ou seja, assim sabemos que

existe ou existiu essa quantidade de dobrados mesmo não tendo todos esses registros em

partitura. Um fato interessante são os dobrados em homenagem aos seus filhos e as

valsas em homenagem às filhas e esposa. Obras sacras e profanas foram também um

ponto alto nas suas composições, ele tendo compôs aproximadamente 185 obras

completas. O que restou de suas obras encontra-se sob os cuidados de sua família.

Algumas peças estão incompletas e outras se perderam também.

A relevância do compositor Felinto Lúcio Dantas para a música norte rio-

grandense pode ser constatada por meio das inúmeras homenagens a ele dedicadas.

Atualmente a cidade de Santa Cruz – RN sedia um encontro de bandas intitulado

“Festival Felinto Lucio Dantas”, que conta com a participação de bandas e filarmônicas

atuais do estado do RN, que buscam promover assim a celebração de suas obras e

reforçar junto às novas gerações a importância desse repertório tão rico e respeitado no

cenário musical de bandas de música.

3.4 As bandas de música e suas funções sociais

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No Brasil, as bandas de música são um marco histórico e tradicional, e se

caracterizam como importantes centros de ensino musical. Encontramos esse tipo de

conjunto na maioria de nossas cidades, e no Rio Grande do Norte, esse fato não é

diferente. Diretamente ligadas ao cotidiano das cidades, são elas as escolas da vida,

proporcionando não só ensinamentos musicais, mas disciplina, respeito ao próximo e

compromisso. A junção desses quesitos contribui de forma bastante positiva para um

ambiente interdisciplinar saudável onde os jovens além de receberem uma educação

musical satisfatória têm a possibilidade de compartilhar seu aprendizado junto às

comunidades mais carentes, nesse sentido João Batista de Almeida (2011) evidencia em

sua pesquisa:

Além de seu papel de levar a cultura musical às camadas mais populares, as

bandas assumiram a função e a responsabilidade educativo-musical junto a

uma grande parte dos jovens que dificilmente teriam acesso a escolas formais

de música (ALMEIDA, 2011 p.13).

Sobre as atividades desenvolvidas pelas as bandas de música, observa-se que

elas são bastante participativas nas cerimônias religiosas sendo elas novenas, missas,

festas de padroeiras e procissões, contudo marcam presença não só nesses eventos, mas,

também nos desfiles cívicos, além de comemorações de outras naturezas, sempre em

sintonia com o cotidiano da coletividade, desse modo comenta José Washington da

Silva (2018):

As Bandas de Música têm essa representatividade por ser um conjunto

musical que busca estar próximo à população, executando dobrados e

marchas ao desfilar entre as ruas, assim como também executam músicas

populares em praças públicas e em outros ambientes de fácil acesso à

comunidade (SILVA, J., 2018 p.14).

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4 SÃO TOMÉ E A SUA BANDA

4.1 A cidade de São Tomé

Possuindo uma área territorial de 863km², a cidade de São Tomé fica localizada

na Região do Potengi, a 118 quilômetros de distância da capital. De acordo com dados

do IBGE, o último censo contabilizou 10.827 habitantes. São Tomé faz divisa com as

cidades de Lajes, Caiçara do Rio dos Ventos, Ruy Barbosa, Barcelona, Sitio novo,

Santa Cruz, Lajes Pintadas, Campo Redondo, Currais Novos, Cerro corá.

O território ocupado pela cidade era, em princípio, dividido em sesmarias. O

pesquisador Marcus César Cavalcanti de Morais relata em seu livro Terras Potiguares -

(2007) como se originou a cidade de São Tomé:

...em meados do século XVIII, a Data do Picapau, mais antiga doação de

terras da região, foi concedida a Francisco Diniz da Penha no dia 10 de

janeiro 1736 e permaneceu em atividade ao logo da história, mesmo tendo

sua área reduzida. (MORAIS, 2007 p.209)

Inicialmente várias propriedades daquela localidade foram instaladas com o

intuito de desenvolver a plantação de lavouras e criações de gado. Entretanto, o

povoado veio surgir a partir da Fazenda Barra. Paula Francinete de Araújo Vicente

(2015) cita em sua pesquisa como se deu origem a esse povoamento:

(...) o povoamento propriamente dito só aconteceu a partir da Fazenda Barra,

que mesmo ficando dividida, no ano de 1870, com suas terras dispersas entre

muitos donos, deu origem ao povoado de São Tomé, com a instalação de uma

casa de comércio por iniciativa de Tomás de Moura Barbosa, no ano de 1890.

A construção de várias moradias em torno da casa comercial de Seu Tomás

foi dando forma ao povoamento iniciado por famílias interessadas, tanto no

trabalho agrícola, como na mobilização em torno do algodão e, também nas

boas condições que o lugar oferecia para a criação de gado (FONTE apud

VICENTE, 2015, p.11).

O historiador e professor Lenilson Dantas6 em entrevista concedida à TV Vitrine

RN e publicada em 17 de setembro de 2011, relata que a cidade de São Tomé foi

fundada no ano de 1890 com a construção de uma bodega que pertencia ao comerciante

e fundador da cidade Tomaz de Moura Barbosa. Ele conta que o nome da cidade não faz

6 Entrevista concedida pelo professor Lenilson Dantas dentro da reportagem intitulada Viagem a São

Tomé – RN, realizada pela TV Vitrine RN. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=wzbqUrMYjDc Acesso em: 28 de abril de 2019.

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referência ao apóstolo Tomé, mas, a outro fator: em 1877 acontecia uma grande seca no

nordeste, o que levou muitas pessoas a morrerem de fome. Certo dia chegou ao povoado

uma família viajante que se direcionou à casa da família Andrade, pedindo o que comer,

pois viajam há dias e estavam com fome. Devido à hora, a família Andrade só pode

disponibilizar mel, e os viajantes sem hesitar se alimentaram e depois tomaram água.

Logo em seguida, levantaram as mãos para o céu e agradeceram a Deus pelo o “Santo

Mé”, dando origem assim ao nome da cidade de São Tomé.

4.2 A chegada da banda de música na cidade de São Tomé RN nos anos 50

No ano de 1955 surge a primeira banda de música de São Tomé. A pesquisadora

Paula Francinete de Araújo Vicente (2015) relata:

No ano de 1955, foi criada a primeira banda de música de São Tomé por

intermédio do prefeito da época o Sr. Rainel Pereira de Araújo, que por ter

muito prestígio junto ao governador, o senhor Dinarte Mariz, conseguiu que

o Comando da polícia militar cedesse um músico que era 1º tenente da

reserva daquela corporação, o Sr. Juvenal Ferreira de Lira para que se

tornasse maestro da banda de música (VICENTE, 2015, p. 12).

Juvenal Lira inicia suas aulas de teoria musical trazendo as lições da carreira

militar: introduziu a lição de pulso forte características de marchar e tocar ao mesmo

tempo. Cerca de 30 alunos participaram inicialmente, abrangendo uma faixa etária de 7

a 15 anos. Em 1956, os instrumentos que foram cedidos pela prefeitura municipal

chegam à cidade e Juvenal Lira inicia as aulas práticas adotando critérios para a

distribuição dos mesmos, pois, existiam mais alunos que instrumentos. Para ser

selecionado, o aluno precisaria atingir a meta de 60 das 120 lições de um livro que

continha tanto exercícios de solfejos quanto leituras rítmicas. O maestro fazia a escolha

também pelo o porte físico, afinal, se tratavam de crianças.

A banda era totalmente mantida pela Prefeitura Municipal, desde o fardamento

aos instrumentos e local de ensaio. No ano seguinte, 1957 a Banda de Música Municipal

de São Tomé (fotografia 1, p. 31) fazia sua estreia executando um repertório de

dobrados e valsas. A primeira apresentação da banda aconteceu em um evento para

comemorar a chegada de um amigo do prefeito que trazia seu filho recentemente

aprovado no vestibular de medicina. A partir de então a banda passou a se apresentar em

cidades circunvizinhas e suas principais atuações eram em festas religiosas, alvoradas e

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eventos sociais. Na tarde do último domingo do mês, se apresentavam na praça pública

de São Tomé, e essa apresentação era carinhosamente chamada de retreta. A banda,

entretanto, permaneceu em atividade por apenas oito anos, encerrando suas atividades

em 1965.

Fotografia 1 - Banda de Música Municipal de São Tomé em 07 de dezembro de 1957.

Fonte: Autora.

4. 3 A Reativação da banda de São Tomé

A Filarmônica São Tomé adotou esse nome em substituição ao antigo “Banda de

Música Municipal de São Tomé”. A responsável pela reativação da banda foi a

Associação de Jovens, Ação e Cidadania - AJAC, que teve como principal motivador o

Sr. José Alcivan da Silva, presidente da Associação e ainda à frente do projeto. O

mesmo menciona que a proposta de reativar uma banda de música dentro da cidade de

são Tomé era para exatamente promover a música podendo assim resgatar a cultura que

já tinha sido implantada na década de 50. Em entrevista com o Sr. José Alcivan, Vicente

(2015) tem acesso ao discurso proferido pelo mesmo, por ocasião da reativação da

Filarmônica São Tomé em sete de dezembro de 2006 e desse pronunciamento ela

destaca:

A Associação AJAC foi fundada em dezembro de 2004 com a designação de

associação civil sem fins econômicos, de caráter beneficente e de assistência social.

Constituída a associação, surge à vontade vinda da sociedade civil na perspectiva de

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se criar um espaço para o desenvolvimento dos jovens, a nível cultural, social e

político, reconhecendo suas capacidades, valores e direitos, com vistas a estimular a

vocação musical, sendo esta um meio eficaz para o desenvolvimento de talentos, o

gosto pela arte e ocupação prazerosa, bem como o cultivo de valores que humanizam

as relações. (SILVA, apud Vicente 2015, p.15)

Formada a diretoria da AJAC em parceria com a Prefeitura Municipal de São

Tomé, a Associação se candidata para participar do projeto Bandas Filarmônicas da

Juventude mantido pelo Programa Desenvolvimento Solidário- PDS que tinha como

financiador o Banco Mundial. O maestro Humberto Carlos Dantas (2019) relata sobre o

projeto:

O projeto bandas filarmônicas da juventude era um dos programas do

desenvolvimento solidário PDS, ele foi estabelecido na gestão da ex-

governadora Wilma de Farias e tinha como secretário Gersino Saraiva. Na

época cerca de 30 cidades foram contempladas com bandas filarmônicas

dividas em primeira e segunda fase. Para participar do projeto as bandas

precisaram ter a parceria das prefeituras. Atualmente o programa se chama

RN cidadão e contemplou 39 cidades na sua terceira fase. (DANTAS, 2019.

Em entrevista a autora)

São Tomé, então, passa a ser contemplada com uma banda. Da Região Potengi

duas cidades foram contempladas, São Pedro e São Tomé.

4.4 A maestrina Paula Francinete de Araujo Vicente

A responsável pelo trabalho da Filarmônica São Tomé foi Paula Francinete de

Araujo Vicente. Natural da cidade de João câmara, iniciou seus estudos musicais em

1996 na cidade de Cruzeta. Seu primeiro professor foi o maestro Humberto Carlos

Dantas (Bembem). No mesmo período, aos 12 anos de idade, entrou para a Filarmônica

24 de Outubro tocando clarineta. É bacharel em clarineta (2006) pela Escola de Música

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, possui especialização em Educação

Musical (2011) e Licenciatura em Música (2016) também pela mesma instituição. Paula

Francinete trabalhou na Filarmônica São Tomé entre os anos de 2006 a 2014,

contabilizando assim oito anos de trabalho na cidade. Tornou-se a primeira mulher

regente de banda de música no estado. Vicente (2015) comenta sobre sua passagem pela

Filarmônica:

A Filarmônica São Tomé foi um projeto que abracei com grande entusiasmo

e expectativas, pois vislumbrei ali uma oportunidade de colocar em prática,

na minha maneira de compreender, os fundamentos próprios à estruturação

de uma banda de música, que tivesse como pressuposto básico a formação do

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educando de maneira a realçar os valores humanísticos mais fundamentais,

ou seja, preparando jovens não só para o mundo das técnicas e das profissões

como também para o exercício da vida voltada para a convivência fraterna.

(VICENTE, 2015, p.18)

Em São Tomé, Paula trabalhou como regente e professora de instrumentos de

sopro, percussão, flauta doce e teoria musical. Produziu o primeiro CD da Filarmônica

São Tomé no ano de 2011. No presente é funcionária do município de São Gonçalo do

Amarante atuando como professora de clarineta desde 2014, e professora de clarineta,

teoria musical e flauta doce da Filarmônica de Mãe Luiza - Natal RN desde 2016. Além

dessas atividades, na época atual também é membro da Orquestra Potiguar de Clarinetas

- OPC.

Em 2006, então recentemente formada, Paula recebeu o convite do maestro

Humberto Carlos Dantas para junto com outros colegas também recém-formados,

fazerem trabalhos nas cidades que tinham sido contempladas no projeto Bandas

Filarmônicas da Juventude.

4.5 Trabalho inicial de musicalização e formação da filarmônica

Com cerca de cem jovens, iniciaram-se em fevereiro de 2006 as aulas de teoria

musical. A faixa etária mínima para participar era nove anos. Foram estabelecidos

alguns critérios para os interessados em participar dessas aulas de música. As crianças e

os jovens precisariam estar regularmente matriculados na escola, e com um bom

aproveitamento nas áreas de leitura e escrita. O conteúdo ministrado inicialmente foi

teoria básica e após essa introdução iniciou - se o processo de musicalização com a

utilização da flauta doce. Ao mesmo tempo, foi intensificada a prática do solfejo e da

leitura rítmica.

Durante as aulas, além de tocar as primeiras partituras com a utilização da flauta

doce, os alunos eram incentivados a copiar a partitura em seu próprio caderno como

uma forma de adquirir familiaridade com os símbolos e a escrita musical.

Com um grupo mais avançado foram utilizadas músicas folclóricas e músicas da

MPB, formando assim o repertório do grupo de flauta doce ‘Recordari’. A primeira

apresentação desse grupo foi em maio de 2006 com apenas 03 meses de aulas

(Fotografia 2, p. 34). O grupo de flautas tinha cerca de 85 jovens e crianças. Essa

apresentação aconteceu em uma solenidade organizada para realizar a entrega de

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instrumentos que haviam acabado de chegar para a Filarmônica São Tomé. Nesse dia, a

comunidade pode ver com os próprios olhos que o sonho iria se tornar realidade.

Vicente (2015) menciona em sua monografia os instrumentos recebidos:

No mês maio de 2006, chegam os instrumentos de sopro e percussão para a

formação da Filarmônica, contendo: três flautas transversais, dez clarinetes,

cinco saxofones altos, dois saxofones tenores, quatro trombones, quatro

trompas, quatro trompetes, dois bombardinos, duas tubas, uma caixa, um

bombo, um surdo, um par de pratos e uma bateria. (Vicente 2015, p.16)

Era chegado o momento de realizar a escolha dos alunos para a distribuição dos

instrumentos. Além de provas para testar os conhecimentos musicais, os alunos

poderiam escolher três instrumentos para fazer o teste de aptidão. Essa seleção foi

necessária tendo em vista a pouca quantidade de instrumentos em relação ao número de

alunos que estavam desde o início participando das aulas de flauta doce.

Embora todos os interessados estivessem cientes de que a banda não teria como

incorporar os alunos em sua totalidade, o dia dos testes foi o mais esperando por todos.

Após longas horas e fazendo testes até a noite, Paula Francinete e outros alunos da

Escola de Música da UFRN, realizaram e divulgaram o resultado dos testes. A partir de

então, estavam definidos os primeiros componentes da Filarmônica São Tomé.

Fotografia 2 - Primeira apresentação da banda de flauta doce Recordari. Maio de 2006

Fonte: Associação de Jovens Ação e Cidadania - AJAC.

4.6 Práticas de ensino da Filarmônica São Tomé

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A realidade para esse universo de bandas é clara, o mestre, maestro, professor de

música precisa ser polivalente e ministrar várias aulas, aulas essas coletivas, o que

proporciona ao aluno de banda uma descoberta múltipla. O pesquisador Marco Antonio

Toledo Nascimento (2006) enaltece:

A metodologia do ensino coletivo de instrumentos musicais consiste em

ministrar aulas ao mesmo tempo para vários alunos. Essas aulas podem ser de

forma homogênea ou heterogênea e é efetuada de maneira multidisciplinar,

ou seja, além da prática instrumental, podem ser ministrados outros saberes

musicais intitulados academicamente como: teoria musical, percepção

musical, história da música, improvisação e composição. (NASCIMENTO,

2006, p.96)

A maestrina Paula Francinete conta que o motivo de trabalhar com aulas

coletivas surgiu no momento em que ela se encontrou como única professora de todos

os instrumentos. Para desenvolver esse trabalho, bem diferente daquele realizado nos

conservatórios com suas aulas individuais e professores específicos, foi necessário uma

adaptação e inclusão de um ensino multidisciplinar.

As aulas se davam de acordo com a disponibilidade do aluno, já que uma

grande maioria estudava no ensino regular. Os alunos já estavam musicalizados com a

teoria musical básica e a flauta doce, então Paula buscou junto a instrumentistas

experientes, uma orientação sobre a forma de execução dos vários instrumentos,

aprendendo assim como segurar, soprar e tocar. Paula menciona: “esse é o trabalho que

o maestro faz quando ele não é habilitado em todos os instrumentos, ele passa uma base

para a formação daquele grupo”. Além disso, foi preciso a ajuda de amigos que

pertenciam à Banda de Cruzeta para auxiliar na transmissão dos conhecimentos básicos

para determinando instrumentos. As capacitações proporcionavam aos alunos ter

contato com instrumentistas mais experiente para assim, conseguir vencer suas

limitações. Nessas aulas, os músicos falavam de sua rotina de estudo, da importância de

tocar todos os dias e do passo a passo dos estudos dessa rotina.

Tempos depois, à maestrina começa a distribuir as músicas que comporiam o

primeiro repertório da Filarmônica São Tomé. Entre as primeiras músicas desse

repertório estavam o dobrado “Capitão Caçula”. Sabemos que esse tipo de música é

característica forte no cenário das bandas desde a Guerra do Paraguai, o toque do

bombo no tempo forte incentivando a marcação do pé para começar a marcha. Foi

partindo do dobrado que a banda entendeu que existia uma métrica a ser seguida. Esse

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ritmo ajudava a tocar, pois mentalmente pensávamos no “um, dois”, mesmo tocando

lentamente essa pulsação ficava cravada na mente. É importante frisar que embora os

alunos agora fizessem parte da banda, eles não deixaram de frequentar a aula de flauta

doce e nesse contato direto com a “flautinha” proporcionava ainda mais segurança na

leitura mesmo para aqueles alunos que tinham como clave atual a clave de Fá. Meses se

passaram e os ensaios foram se intensificando.

Com o repertório pronto, a Filarmônica São Tomé estreia em sete de dezembro de 2006

(Fotografia 3, p. 36), em uma solenidade da Câmara Municipal de São Tomé, com

quarenta e quatro componentes. No momento, o seu repertório estava composto por um

dobrado e música popular brasileira.

Fotografia 3 – Estreia da Filarmônica São Tomé em 07/12/2006.

Fonte: Associação de Jovens Ação e Cidadania - AJAC.

Após a primeira apresentação a Filarmônica ganha visibilidade e passa a se

apresentar em várias cidades do RN, além de participar de cerimônias do governo e

conferências internacionais. O trabalho ganha destaque entre outras bandas e passa a ser

referência para os demais municípios.

Entre os anos 2006 e 2014 a Filarmônica São Tomé foi contemplada com outros

projetos que possibilitaram a aquisição de novos instrumentos, além da conquista de

uma sede própria. O imóvel dispõe de salão de ensaio, banheiros feminino e masculino,

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sala de aula, arquivo, cozinha, uma sala de cinema com todo o equipamento de mídia, e

uma biblioteca.

Nesse período, os alunos tinham contato com professores e monitores que

participavam de festivais e ministrava máster classes em São Tomé e outras cidades do

RN. Essas atividades estimularam os componentes da Filarmônica a buscarem uma

melhor formação acadêmica. Alguns integrantes ingressaram nos cursos Técnico,

Bacharelado e Licenciatura em Música oferecidos pela Escola de Música da UFRN.

Alunos de flauta transversal, clarineta, trombone, trompete e percussão entraram nos

cursos, embora poucos tenham concluído os estudos. Alguns indivíduos foram

aprovados em concurso, a exemplo de um integrante que ingressou na Banda da Polícia

Militar do Estado de Minas Gerais – MG e outro que segue carreira na Banda do

Exército em Natal – RN. Da mesma forma, uma aluna da Filarmônica atuou como

professora de musicalização em uma escola particular também na cidade de Natal- RN.

Esses alunos mais experientes passaram a atuar como monitores, transmitindo

conhecimento específicos para os demais componentes da Filarmônica.

Analisando o projeto, percebe-se que ele trouxe muitas oportunidades para os

santomeenses e principalmente para os componentes da Filarmônica. Além de

conhecimento, surgiu a proposta de trabalho permitindo que eles passassem a ganhar

seu dinheiro com o que mais gostavam de fazer. No ano de 2014, após oito anos de um

belíssimo trabalho árduo, a maestrina Paula Francinete anuncia sua saída da banda. Esse

fato afetou os componentes e principalmente o grupo. Vários integrantes também

saíram. Nesse período Paula delegou à sua aluna Raquel Gonçalo da Silva (Fotografia 4,

p. 38) a incumbência de, como tecnóloga em clarineta, assumir o seu trabalho à frente

da banda. A mesma já atuava na banda de flauta doce desde quando Paula assumiu

apena as atividades da Filarmônica. Em entrevista a autora, Raquel relata sua

experiência à frente do projeto:

Estive a frente da Banda Filarmônica São Tomé por um período de um ano,

um dos primeiros desafios era assumir um trabalho no qual antes era apenas

uma aluna. Inverter os papéis foi um dos primeiros obstáculos, exercer o

papel de maestrina, desenvolver autonomia frente aos componentes e mostrar

que seria necessário separar a relação de colega de banda e me enxergar

como “a maestrina” aquela que precisava cobrar, exigir disciplina e

dedicação dos alunos. (SILVA, R., 2019. Em entrevista a autora)

.

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Em conversa, Raquel Gonçalo relata as dificuldades durante o período que

passou a frente da Filarmônica:

Foi ficando mais difícil dar continuidade diante da falta de recursos

financeiros, e mais uma vez o trabalho necessitou ser pausado, na esperança

de que logo, logo alguém sentisse saudades do soar da melodia se

sensibilizasse e enxergasse que um trabalho com a música não depende

apenas do sopro dos componentes, da dedicação nos estudos para montar

repertório, necessita também de alguém que assuma o compromisso de apoiar

financeiramente e com responsabilidade este projeto. (SILVA, R., 2019. Em

entrevista a autora)

E evidência a importância da experiência em sua vida:

Mesmo diante das dificuldades encontradas durante esta caminhada a

experiência foi bastante significativa para minha vida, um período de grande

aprendizado profissional e também pessoal, algo que carrego comigo até hoje

é que “todo esforço com a música sempre pode valer a pena”, basta encontrar

interiormente a intenção correta de se fazer música. (SILVA, R., 2019. Em

entrevista a autora)

Fotografia 4 – Apresentação da Filarmônica São Tomé com a regência da maestrina Raquel Gonçalo em

2016.

Fonte: Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC.

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5 DESAFIOS: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A FILARMÔNICA

SÃO TOMÉ

5.1 Luiza Maria de Oliveira: de aluna à maestrina

No ano de 2017, Raquel Gonçalo da Silva deixa a regência da Filarmônica

abrindo uma oportunidade para que eu, Luiza Maria de Oliveira, pudesse assumir essa

função. Natural de Itaboraí-RJ e filha dos santomeenses José Luiz de oliveira (Zé

gamela) e Josefa Maria de Oliveira (Zefinha), iniciei meus estudos na Escola Municipal

Prefeito Milton Rodrigues Rocha, na mesma localidade. Após um breve período

residindo em Tanguá- RJ, em 2002, por motivos de saúde de meu pai, cheguei à cidade

de São Tomé, prosseguindo os meus estudos na Escola Estadual Amaro Cavalcanti onde

conclui o ensino fundamental e médio (2009).

Durante a minha infância o meu pai, Zé gamela, sempre fazia questão de contar

sobre a sua experiência com música, já que o mesmo tocara trombone na banda de

música do maestro Juvenal Lira quando era jovem na cidade de São Tomé. O meu

interesse pela música despertou logo quando cheguei a São Tomé e meu pai me colocou

na Banda Marcial Dr. Fernandes Barros, administrada na época por Domingos Júnior

(tio Patinhas). Esse foi o ponta pé inicial para a carreira musical.

Em 2006 comecei a frequentar as aulas de teoria musical promovidas pela

Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC, com a professora Paula Francinete. A

chegada de uma filarmônica na cidade atraiu o meu interesse. Nesse período, além de

participar das aulas de teoria e ser integrante da banda de flauta doce “Recordari”,

resolvi me candidatar a uma vaga para a Filarmônica. Devido a minha experiência na

banda marcial, optei pela ida para o naipe de percussão, onde me sentia com mais

desenvoltura. No dia sete de dezembro de 2006, estreei na Filarmônica São Tomé, numa

solenidade da Câmara Municipal no largo da igreja matriz. Esse dia foi um marco na

minha vida. Essa apresentação teve uma grande repercussão na região, e depois disso, a

Filarmônica começou a ser convidada para tocar em várias cidades do Rio Grande do

Norte.

Nessa época, a percussão já não despertava tanto o meu interesse e, encantada

pela sonoridade do trompete, pedi a Paula uma oportunidade para tocar aquele

instrumento. Sem demora, após três meses de muita dedicação já fazia parte do naipe de

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trompetes da Filarmônica São Tomé. Buscando aprimorar os meus conhecimentos, em

2012, ingressei no Curso Técnico oferecido pela Escola de Música da UFRN, na

habilitação trompete. Durante o curso participei das classes dos professores Ranilson

Bezerra de Farias, João Maria Simplício Ferreira e Márcio Borges Barboza, concluído

meus estudos no ano de 2015. No ano seguinte ingressei no curso de Licenciatura em

Música na mesma instituição.

Antes mesmo de iniciar o curso de Licenciatura passei a dar aulas de música no

Projeto Mais Educação, nas escolas de ensino fundamental Monsenhor Manoel Pereira

da Costa e José Aribaldo de Carvalho no município de São Tomé. Atuei também como

professora de teoria musical na AJAC, e como professora de musicalização infantil na

Creche Escola Criativa, em Natal – RN. Como instrumentista, além da minha atuação

na Filarmônica São Tomé, participei de grupos como o Coral AJAC, a Gamela Frevo

Orquestra, a Orquestra AJAC, a Big Band Som Brasil e atualmente a Big Band Jovem

da EMUFRN.

Junto a alguns grupos de extensão da mesma instituição, desenvolvi também

funções administrativas, assumindo a função de secretária administrativa da Big Band

Jerimum Jazz e Big Band Jovem da EMUFRN. Nessa mesma linha de atuação assumi o

cargo de secretária da Associação de Trompetistas Potiguares – ATP no ano de 2014 e

trabalhei na produção dos encontros da Associação Brasileira de Trompetistas

realizados em Natal e João Pessoa nos anos de 2017 e 2018 respectivamente.

Ainda na UFRN, tive a oportunidade de conhecer e participar de master classes

com renomados trompetistas a exemplo de Ayrton Benck (UFPB), Paulo Ronqui

(UNICAMP), Charles Schlueter (EUA), Flavio Gabriel (UFRN).

No ano de 2014, assumi direção da “Recordari”, a banda de flauta doce mantida

pela AJAC em São Tomé. Atuando nessa banda, tive a oportunidade de desenvolver

habilidades na área da regência, sempre buscando o aperfeiçoamento por meio de

orientações e master classes com regentes renomados a exemplo de Anor Luciano

(UFMG), Maestro Chiquito (PB) e Ranilson Farias (UFRN).

Esses esforços foram recompensados quando, em 2017, recebi o convite do

presidente da associação para tornar-me maestrina da Filarmônica São Tomé.

5.2 Assumindo a Filarmônica São Tomé

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Assumir o trabalho da Filarmônica não foi simples como imaginei. Embora já

tivesse alguma experiência com a regência, a minha formação principal estava baseada

na prática instrumental, no tocar o instrumento. Deixar a regência da banda de flautas

para assumir a regência de uma banda filarmônica, mesmo com toda a ajuda e

orientação de regentes e professores, não foi uma tarefa fácil.

Nesse período, como mencionado anteriormente, estava cursando a Licenciatura

em Música e já havia concluído o Curso Técnico. Dentro da grade curricular cursada no

Técnico e Graduação, pude me familiarizar com disciplinas que proporcionavam uma

visão dentro de um grupo musical. Essas disciplinas me permitiram compreender como

a harmonia funciona, além das práticas de conjunto que me ajudaram a desenvolver um

repertório diferenciado. Tive uma relevante orientação do professor Ranilson Farias,

que havia sido um dos meus professores de trompete e que era também o maestro das

big bands da Escola de Música. Suas práticas de ensino nos ensaios foram para mim um

grande referencial. Com essa pequena bagagem e muita determinação iniciei meu

trabalho à frente da Filarmônica São Tomé.

5.3 Metodologias de ensino: identificando problemas e propondo soluções

Minha primeira grande preocupação ao assumir a Filarmônica foi à falta de

estímulo dos componentes e a falta de compromisso com a banda. Os alunos não

estudavam, só pegavam no instrumento no dia do ensaio. Além disso, muitos faltavam e

não justificavam a falta. Minha primeira ação para resolver o problema foi convocar

uma reunião onde estabeleci algumas regras que precisariam ser seguidas. Foram

estipulados novos dias e horários de ensaios, e foi acertado que qualquer falta precisaria

ser justificada e que as faltas por motivos fúteis não deveriam ocorrer. Embora já

houvesse tecnologias que facilitavam a comunicação, a exemplo de aplicativos como o

whatsApp, ainda levou algum tempo até que essa situação fosse resolvida. Muitas vezes

precisei conversar com os integrantes para compreender o motivo das ausências.

Uma segunda preocupação era o desfalque dos naipes. Com aproximadamente

quinze integrantes, a Filarmônica não conseguiria desenvolver uma boa programação.

Pensei imediatamente em fazer testes com os instrumentos vagos. Para isso eu busquei

orientação com professores da Escola de Música da UFRN, além de realizar uma

pesquisa sobre a execução nesses instrumentos que me desse subsídios para essa parte

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inicial. Depois dessas orientações, iniciei os testes com os alunos da banda de flauta

doce.

A escolha dos alunos se dava de forma semelhante ao que acontecia em outras

bandas, um dos principais fatores era o porte físico, já que a bandinha de flautas tinha

muitas crianças. Outro requisito era a desenvoltura na leitura musical. Alguns alunos

que estavam aptos, mas utilizavam aparelho ortodôntico, foram encaminhados por mim

para os instrumentos de palheta, uma vez que o aparelho dificultava a execução nos

instrumentos de bocal.

Organizei os testes da seguinte maneira: estipulei horários específicos de

atendimento para cada instrumento em que haviam vagas. Nesses horários, os

candidatos assistiam uma pequena explanação sobre as características do instrumento,

qual a função desse instrumento na banda e em solo, como era a forma correta de

montar, segurar, a postura adequada, a embocadura, posições, clave e principalmente a

forma como respirar, pois diferente da flauta doce, eles estavam com um instrumento de

sopro que necessitava de uma maior proporção de ar. Após essa explicação, muitas

vezes contando com a colaboração de alunos da banda com mais experiência para

demonstrar ao candidatos como tocar as notas da escala de dó maior, iniciei a audição

individual. Na maioria dos testes realizados os alunos compreenderam rapidamente a

explanação e conseguiram executar a escala de Dó Maior que estava sendo exigida,

sobretudo os candidatos aos instrumentos de palheta devido a existir uma posição para

cada chave. Quanto aos instrumentos da família dos metais, trompete, trompa,

trombone, houve certa dificuldade porque os alunos associavam o soprar com a força

física e tiravam notas mais agudas do que as esperadas. Os alunos que conseguiram

tocar e tinham uma boa leitura na flauta, além de conhecimentos teóricos básicos

ficaram com os instrumentos. Esses alunos passaram a ter aulas semanalmente, de

acordo com sua disponibilidade.

Em minhas aulas, sempre busquei me colocar no lugar do aluno afinal, tendo

percorrido os mesmos passos, compreendia todas as dificuldades enfrentadas. Sendo

assim, busquei uma linguagem simples para que o aluno pudesse entender como ele iria

tocar. Não bastava apenas ter o instrumento, era necessário um cronograma, uma rotina

de estudos que iria facilitar o desenvolvimento no instrumento.

Tendo essas considerações em mente, elaborei um programa de aulas onde

estavam incluídos exercícios de respiração, métodos como o “Guia Teórico-Prático Para

o Ensino do Ditado Musical” do pianista e compositor italiano Ettori Pozolli, para

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desenvolver a leitura rítmica, além de exercícios de solfejo, incluindo também escalas

maiores e menores e a utilização de metrônomo e afinador. Em cada aula era

apresentada uma escala com bemol ou sustenido, lembrando que o aluno só avançava

quando tinha o domínio das escalas que já haviam sido estudadas. Concomitantemente

ao estudo das escalas, eu passei a trabalhar noções de stacatto, ligaduras, intervalos,

arpejos, tercinas e reconhecimento de tonalidades, entre outros aspectos da linguagem

musical.

Ao mesmo tempo em que me empenhava em formar os novos instrumentistas,

um outro aspecto ainda me despertava bastante preocupação: como mencionado

anteriormente, os veteranos da banda estavam desestimulados e sem motivação para

tocar e manter os estudos. Identificando que parte desse desanimo se devia à falta de

uma programação de apresentações, e que a Filarmônica não tinha lugar nenhum para

tocar, sendo cansativo para os integrantes ir para a sede apenas para ensaiar, procurei

imediatamente trocar o repertório e propor uma apresentação.

Durante o período em que a maestrina Paula Francinete permaneceu à frente da

Filarmônica, a AJAC começou a promover o São Tomé In Concert, um festival voltado

para bandas de música que promovia apresentações musicais tanto com a Filarmônica

quanto com bandas das cidades circunvizinhas. Com a saída da maestrina, o festival

deixou de ser realizado deixando um grande vácuo na programação cultural de São

Tomé. Tendo vivido esse momento de grande efervescência cultural na cidade, imaginei

que a retomada do São Tomé In Concert seria exatamente o estímulo que eu necessitava

para entusiasmar a Filarmônica. A notícia da reativação do evento já animou a banda, e

juntamente com a renovação do repertório, eu pude começar a moldar a banda à minha

maneira.

Conforme o pesquisador Celso José Rodrigues Benedito (2011) cita em seu

trabalho, “a boa performance é a principal meta de um professor”. Tendo isso em

mente, observei que eu tinha que traçar estratégias para que a banda pudesse novamente

ter motivação. Cabia a mim como professora tomar as decisões. Então optei por

escolher um repertório simples, porém, mais atualizado. Se tratavam de músicas da

MPB e músicas nordestinas, contudo, sem abrir mão do tradicional dobrado. Com o

avanço dos ensaios comecei a notar que os alunos estavam começando a se sentir

motivados pela a apresentação que eu havia proposto.

Em decorrência desses novos acontecimentos pude observar outro fator

importante, que foi o retorno de vários ex-integrantes da banda. Sendo procurada por

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vários instrumentistas que tinham o desejo de retornar à Filarmônica para participar

dessa nova fase do grupo, eu aceitei os interessados com a condição de que eles

procurassem suprir as limitações e deficiências decorrentes do tempo em que estavam

inativos, sobretudo em relação à falta de resistência da embocadura. Outra preocupação

era a falta de diálogo entre os próprios componentes da banda, novatos, ex-componentes

e atuais. Para incentivar a aproximação entre os integrantes do grupo, sugeri aos alunos

um lanche partilhado nos dias dos ensaios mais prolongados. Durante um pequeno

intervalo todos compartilhávamos o lanche trazido de casa. Essa estratégia aconteceu

algumas vezes e sem muita demora, logo comecei a observar os alunos conversando,

descontraídos e gostando de estar no ambiente da sede.

Embora alguns problemas fossem aos poucos se resolvendo, outros ainda

permaneciam. Com uma banda totalmente desnivelada, passei a intensificar mais ainda

as aulas individuais e ensaios da banda. Essa era a única forma de fazer com que eles

tivessem mais compromisso com o próprio instrumento, pois quanto menos ensaios

menos eles pegavam no instrumento para tocar.

Outra estratégia adotada para melhorar o desempenho dos instrumentistas foi a

adoção de ensaios de naipe. Ciente de que ensaios de naipe proporcionam uma ótima

oportunidade para trabalhar aspectos tanto interpretativos como técnicos, organizei a

agenda dos alunos de forma a incluir essa modalidade de ensaio. No trabalho que

realizei com os instrumentistas dividi a banda em três grupos: palhetas, metais e

percussão. Nos naipes de palhetas e metais trabalhei escalas em grupos, leitura e

reconhecimento das notas e posições, articulação, dinâmica, afinação e exercícios de

respiração. Os ensaios de naipe aconteciam uma vez por semana, porém as palhetas em

um dia da semana, e metais em outro. Com o naipe de percussão o trabalho estava

voltado para a execução de ritmos e divisões, e incentivei todos a estudar bateria. Com o

decorrer das semanas pude constatar que os naipes foram se desenvolvendo.

Acreditando que isso foi um ponto importante para juntar as peças e montar o quebra-

cabeça. Paralelamente à programação de ensaios, promovi também algumas master

classes onde pude trazer professores para auxiliar os alunos a superar suas dificuldades.

Foram apenas três meses até a apresentação e depois de inúmeros ensaios e aulas

individuais conseguimos aprontar o repertório dentro das minhas expectativas.

Após a apresentação no VII São Tomé In Concert (Fotografia 5, p. 45), outras

apresentações apareceram, e a Filarmônica começou a ganhar visibilidade novamente.

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Esse fato ajudou a trazer confiança para os alunos e contribuiu para que novos jovens se

interessassem em participar da banda.

Fotografia 5 – Apresentação da Filarmônica São Tomé no VII São Tomé In Concert. Maio de 2017.

Fonte: Autora.

Logo as apresentações se intensificaram, e a cidade passou a enxergar que o

trabalho estava ganhando visibilidade novamente. Novas apresentações foram surgindo,

a exemplo do convite para realizar um concerto em Santa Cruz – RN, dentro da

programação do Festival Maestro Felinto Lúcio Dantas em julho de 2017 (Fotografia 6,

p. 46) e do concerto que aconteceu no Anfiteatro Pau-Brasil, Parque das Dunas, Natal –

RN, dentro do projeto Som da Mata, realizado no mês de setembro de 2017 (Fotografia

7, p. 46). Tantas apresentações geraram a necessidade de renovar e ampliar o repertório

da Filarmônica.

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Fotografia 6 – Apresentação no Festival Maestro Felinto Lúcio Dantas em Santa Cruz 02 de julho de

2017.

Fonte: Autora

Fotografia 7– Concerto Som da Mata 17 de setembro de 2017.

Fonte: Autora

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Atualmente a banda se encontra com cerca de trinta componentes e os ensaios

são realizados duas vezes por semana, nas quartas e sextas das 18:30 às 21:00. Quando

entrego uma nova partitura, fazemos em princípio uma leitura visual. Sem a utilização

dos instrumentos olhamos os detalhes com mais precisão e, dessa forma, os alunos

observam as notas mais agudas, as mudanças de tom e de compasso, e também os

trechos “solo”. Após esse primeiro contato com a peça, procuro sempre trabalhar a

leitura da partitura. Dessa forma, busco incentivar que eles consigam tocar o que sabem

de imediato. Eu costumo dizer que a banda é um quebra cabeça e que cada naipe é uma

peça importante. Explico a importância da concentração e de perceber o que a música

está propondo.

Ao ensaiar uma nova peça, procuro também determinar um andamento lento e

que seja confortável para eles iniciarem a leitura. Dependendo do naipe eu busco

trabalhar as respostas primeiramente e depois trabalho os solos. É importante frisar que

havendo leitura de uma partitura nova, eu sempre passo a música do início ao fim, pois

isso permite que os instrumentistas entendam o formato da música. A leitura de divisões

é feita constantemente, pois alguns alunos ainda sentem dificuldade.

Com os naipes encaixados, é hora de “dar cor” ao arranjo. A fim de colocar cada

naipe em seu lugar, passo a trabalhar as dinâmicas, organizo a linguagem dos naipes, as

articulações e respirações. Observo também se alguém está fazendo trechos ligados

onde deveria fazer staccato, corrijo afinação, e dou orientações aos solistas. Em algumas

ocasiões também tomamos decisões em conjunto, como por exemplo, em determinados

arranjos em que introduzimos alguma ideia ou sugestão buscando facilitar o trecho para

que todos consigam executar.

O motivo de ter escolhido aplicar os ensaios dessa maneira se deu em

decorrência das experiências que tive com grupos musicais dentro e fora da EMUFRN

durante toda minha vivência com música. Sabe-se que os alunos precisam se

comprometer a estudar o instrumento e superar suas limitações, mas cabe ao professor

buscar ferramentas que propiciem ao aluno entender os caminhos de tocar com

qualidade mesmo não estando dentro de uma academia ou com um professor específico

do seu instrumento.

Atualmente a banda se encontra com poucos alunos inseridos na Academia.

Tanto os participantes atuais quanto os veteranos permanecem na banda por gostarem

de tocar, e não sentem interesse de estudar ou seguir a carreira musical. Na época da

maestrina Paula Francinete vários instrumentistas frequentavam os cursos de música da

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UFRN, e em decorrência disso, esses alunos passaram a contribuir como

multiplicadores desse conhecimento, atuando como monitores da banda.

Especificidades dos instrumentos podiam então ser trabalhadas como maior

desenvoltura. Os monitores eram responsáveis por trabalhar o naipe com exercícios e

estudos e por formar grupos de câmara, práticas essa que ajudaram a desenvolver

repertório também para esses grupos de formações menores.

Nos dias atuais, conto com o apoio de um aluno que está responsável por aplicar

as aulas de teoria musical e atuar como regente da banda de flauta Recordari.Esse aluno

não possui formação acadêmica na área musical. Ele adquiriu o seu conhecimento

teórico e instrumental na AJAC, e complementou seus estudos de modo não formal por

meio de orientações e informações com pessoas da área.

Em conversa com os alunos eles mencionam que gostam de tocar, mas devido às

condições de trabalho com música na cidade e até no Estado, decidem não seguir com a

carreira. Sobre isso relatam:

É uma profissão linda, e admiro muito o trabalho da ex-maestrina Paula e da

atual maestrina Luiza. Mas a incerteza é o mercado de trabalho. O exemplo

disso: o carnaval! Cobramos o cachê, mas as pessoas não querem pagar o que

merecemos, e se pagam o que merecemos demoramos a receber, é

lamentável. (Aluno 01)

Como todas as outras, é uma profissão que exige bastante. Gosto de tocar,

mas não me vejo sendo professora de música. Estou no IFRN e ainda não me

decidi que carreira seguir, talvez educação física, ou fisioterapia. Enfim,

desejo boa sorte para meus colegas que pretende seguir com a música.

(Aluno 02)

Em se tratando de um ambiente de participação voluntária, a Filarmônica não

busca se inserir na comunidade com o propósito de formar músicos profissionais, mas a

banda e o professor a frente do trabalho mostram claramente os caminhos para aqueles

que tenham o interesse de entrar na Academia. O resultado disso se aplica a mim

mesma, uma vez que no passado fui incentivada pela maestrina Paula Francinete e hoje

atuo o trabalho à frente da banda como regente e professora.

O artigo 1° da LDB (Leis das Diretrizes e Bases de 20/12/1996) cita que: “a

educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social” (Benedito

(2011, p.148). A banda de música mantém essas vertentes, na medida em que insere

seus alunos no contexto social e oferece oportunidades para seguir a carreira

profissional. Benedito (2011) cita também:

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O primeiro enunciado dos objetivos gerais dos PCNs do ensino fundamental,

com relação à música, tem por finalidade: “alcançar progressivo

desenvolvimento musical, rítmico, melódico, harmônico, tímbrico, nos

processos de improvisar, compor, interpretar e apreciar”. Nas bandas de

música, podemos observar como principais propostas, presentes em seus

estatutos, a preservação, difusão, execução e ensino de música em geral, além

da participação em festividades, eventos civis e religiosos, principalmente os

de sua cidade. Também nas bandas de música se desenvolve a percepção

auditiva e a memória musical, a criação, interpretação e apreciação de

músicas modal, tonal e outras. Pesquisar, explorar, improvisar, compor e

interpretar sons de diversas naturezas, desenvolvendo autoconfiança, senso

estético crítico, concentração, trabalho em equipe com diálogo, respeito e

cooperação, fazem parte do cotidiano prático destas corporações de tradição

mais que centenária. (BENEDITO, 2011 p. 148 e 149)

É importante ressaltar que as bandas não têm objetivos específicos tão profundos

quanto os dos PCNs. O autor continua a mencionar que se tratando da improvisação

essa prática se ocorre com “espontaneidade”, e que isso pode acontecer com o interesse

do aluno, ou da música ou do repertório. Na filarmônica São Tomé essa prática de

improvisação não acontece com frequência: nas partituras surgem mais solos escritos.

Alguns alunos incrementam esses solos, adicionando apojaturas (notas de enfeite),

assim também como aumento ou diminuição nas células rítmicas.

5.4 Experiências e desafios

Em sua pesquisa “O ato de educar em Paulo Freire”, Flávia Assis de Carvalho

(2007) menciona o conceito do pedagogo e filosofo brasileiro Paulo Freire sobre o

significado de educar:

Para Paulo Freire educar é construir, é criar no sujeito a consciência da

liberdade e da possibilidade de romper com o determinismo, assim, trazendo

na educação o reconhecimento do individuo que arquiteta e interfere na

história e na realidade de hoje e do futuro. Entende-se assim, que neste

contexto, é necessário propor práticas pedagógicas que permeiam o ato de

educar, a valorização e a vivência da identidade cultural. É a partir das

experiências vividas pelos educandos, sua identidade, sua história que é

possível inserir o indivíduo no processo educacional. (CARVALHO, F., 2007

p. 14)

Assim, em consonância com esse conceito, compreendemos que as bandas além

de serem escolas de música são ambientes formadores de cidadãos, permitindo a seus

integrantes ampliar sua visão sobre o mundo, incentivando o respeito ao próximo, além

de estimular um comportamento norteado pela ética e outras regras do convívio social.

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Dentre as tantas experiências vividas, citarei os desafios que enfrentei à frente do

trabalho da Filarmônica São Tomé.

A falta de interesse dos alunos dessa nova geração foi um dos grandes

problemas, seguido por um pouco de falta de respeito. Hoje em dia não vemos com

tanta frequência os alunos respeitarem o maestro como um mentor importante.

Antigamente o maestro era uma figura de total respeito à frente da banda e na cidade.

Era um segundo pai que orientava não apenas sobre assuntos musicais, mas sobre a

própria vida. Os veteranos que estavam comigo desde muito tempo, e até mesmo os que

entraram depois de mim, não souberam respeitar a troca de papeis, a ex-aluna que se

tornou professora. Diante das diferentes situações, me posicionei e coloquei em prática

as minhas propostas com determinação. Foi uma questão de tempo para que esses

alunos começassem a compreender que eu estava à frente do projeto e realizando o meu

trabalho.

Também considero importante citar as condições de trabalho a que são

submetidas as bandas. Em boa parte das cidades, os grupos são mantidos por uma ajuda

de custo da prefeitura e sempre que a mesma passa por dificuldades financeiras os

primeiros cortes são para as bandas e outros grupos culturais. A falta de organização

política infelizmente nos prejudica, e nos faz caminhar a passos lentos. A falta de

conhecimento sobre as necessidades de uma banda, sobre o que é preciso para que a

mesma se mantenha ativa é um grande entrave. São instrumentos que precisam de

manutenção, palhetas, óleo para os instrumentos, folhas para impressão de partituras,

materiais de limpeza e pagamento para manter água e luz, assim como bolsas para

monitores, auxiliar de serviços gerais, além do salário do maestro.

Trago esse discurso também para dentro da Academia. Possuímos uma escola de

música na capital, que oferta cursos técnicos e de graduação, e cujos alunos em uma

grande porcentagem são oriundos de bandas de música. Considero que a Academia

como principal formadora de profissionais no Rio Grande do Norte, poderia abraçar

mais essas bandas promovendo eventos regulares para que os instrumentistas das

cidades do interior pudessem ter mais acesso ao conhecimento, e levando professores

especialistas para capacitar esses alunos.

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6. RESULTADO DOS DADOS OBTIDOS

Para a realização dessa pesquisa, formulei 22 (vinte e duas) questões que foram

submetidas aos integrantes da Filarmônica São Tomé no intuito de obter dados para

subsidiar esse trabalho. De um universo de trinta integrantes, tive o retorno de dezoito

questionários. Durante o processo de análise, resolvi classificar as questões em três

tópicos para uma melhor compreensão dos dados coletados na investigação. Excluindo

as perguntas relacionadas aos dados pessoais, as demais questões foram classificadas

dentro da seguinte subdivisão de tópicos: a motivação; as atividades do grupo e as

estratégias de aprendizagem; a importância das atividades para a formação musical e

humana.

6.1 A motivação

De modo geral, embora parte dos entrevistados não tivesse a intenção de seguir

carreira como músico profissional, pode-se afirmar que em sua totalidade se sentiam

motivado para tocar na banda. A Filarmônica foi retratada como um espaço de

aprendizado e que propiciava a troca de conhecimento e também a criação de laços

afetivos.

“Acredito por mais que seja uma profissão, e o mercado não seja tão amplo,

se faz por amor à musica visando sempre em primeiro lugar levar as pessoas

uma visão mais profunda da música (...)Não ficamos sempre na mesmíssima,

é bastante variado (o repertório) e isso auxilia muito nossa prática de leitura,

além de agradar a todos os gostos. (...) Todas as apresentações me marcam

muito, pois a gente ver e viver o trabalho é muito gratificante”. (Aluna 03)

“...cada música é um desafio a ser vencido, e quando a gente consegue

montar fica tudo muito lindo e prazeroso de se ouvir.” (Aluno 04)

“Éramos 40 integrantes no início, foi tudo muito difícil, mas éramos unidos e

conseguimos superar os obstáculos junto. Éramos uma família” (Aluna 05).

6.2 Atividades do grupo e as estratégias de aprendizagem

Os entrevistados possuem uma visão positiva em relação às atividades da

Filarmônica São Tomé, considerando-as como uma boa oportunidade de aprendizado.

As práticas utilizadas pela maestrina também são consideradas como boas estratégias

para o desenvolvimento do trabalho.

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“Nos ensaios a maestrina nos orienta, nos ajuda a tirar nossas dúvidas,

colocando cada parte da música no devido lugar. (...) Ela desenvolve um bom

trabalho tentando sempre nos ensinar o máximo possível para melhorarmos

mais e mais nossas habilidades, traz sempre aquilo que aprende com seus

professores de curso para contribuir no nosso aprendizado”. (Aluno 06)

“O processo de ingresso era gradativo, a partir do desenvolvimento na flauta

doce os discentes eram selecionados para os testes, sendo aprovados tinham

seu ingresso garantido na banda. (...) Com um número entre 40 a 55

componentes o ensaio era ponto crucial da prática instrumental e era o palco

do aprendizado e disciplina”. (Aluno 07)

“Os ensaios são sempre voltados à forma de como vamos nos apresentar e a

visão que daremos àqueles que irão nos prestigiar. Lemos primeiro as

músicas, vamos passando das mais simples frases às mais complexas e

montando essa música como se fosse um quebra cabeça a cada dia, além da

maestra (sic) nos dar dicas de estudo e como interpretar as frases e tirarmos

dúvidas. (...) Um trabalho rígido, que busca ensinar e estimular cada

integrante nas pequenas coisas que fazem bastante diferença”. (Aluna 08)

6.3 Importância das atividades para a formação musical e humana

Para os entrevistados, as atividades desenvolvidas na Filarmônica viabilizam a

troca de conhecimentos bem como uma maior interação entre os integrantes. A

aprendizagem se dá tanto no âmbito musical quanto na parte do desenvolvimento

interpessoal e muitos afirmaram ter sido na banda que aprenderam o verdadeiro

significado de ética, respeito e responsabilidade.

“Na minha vida a banda foi o ponto de partida para o meu crescimento, tanto

musical como de ser humano, sua importância vai além das notas musicais,

foi o início de todo o amor pela música e sua construção em minha vida”.

(Aluno 07)

“Não aprendi só música, mais responsabilidade e compromisso”. (Aluna 08)

“Tenho (a banda) como uma segunda casa, onde aprendi a abraçar minhas

responsabilidades, a me dedicar mais, amadurecer e realizar com amor as

obrigações, tanto dentro da banda como fora”. (Aluna 03)

“... ter mais ética, trabalhar mais em conjunto e me deu entendimento sobre a

música”. (Aluna 06)

“... consegui desenvolver aprendizado em relação a diversas coisas, a própria

música que gosto muito além de novas amizades e responsabilidades em

relação a horário, compromissos....” (Aluno 09)

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Filarmônica São Tomé me proporcionou muitas oportunidades, e uma delas é

estar hoje aqui apresentando esse trabalho. Trabalho árduo que necessita de empenho e

muita dedicação. Quando a maestrina Paula Francinete mencionava na frente da banda

que só saberíamos o que é estar à frente de um trabalho como esse, quando

assumíssemos tal posto, eu jamais imaginaria me tornar professora e dar continuidade a

esse legado.

A participação voluntária desses alunos é a peça fundamental para a realização

do nosso ensino. Em se tratando de um grupo que está em aprendizado constante o

aluno vai adquirindo gradativamente a capacidade de socializar, dialogar e construir sua

própria identidade. O trabalho da filarmônica na cidade mudou a vida de muita gente e

os alunos mencionam o que a banda proporciona na vida deles:

A banda me ensinou e me apresentou diversas coisas, se você quer alcançar

algo basta apenas força de vontade e fé em você mesmo. E que apesar de

diversas coisas tenhamos forças. (Aluno 08)

Quando eu entrei na banda eu era muito calada, tinha vergonha e não sabia

me expressar, além de poucas amigas. Depois de várias apresentações eu

melhorei minha timidez, a música quebrou essas barreiras. Gosto muito da

banda e dos amigos que fiz lá. (Aluno 04)

Quanto ao meu trabalho desenvolvido na Filarmônica, considero ter agregado

pontos positivos. Consegui reestruturar novamente a banda quando ela passava por um

estado critico e devo todo esse trabalho às minhas experiências acadêmicas, afinal se

não tivesse todas essas ferramentas não saberia planejar e direcionar as ações e resolver

os problemas enfrentados. Sobre o trabalho desenvolvido outros alunos relatam:

O trabalho desenvolvido pela atual maestrina é algo muito surpreendente. Ela

tem uma determinação incrível. Sempre dando o seu melhor para que tudo se

realize da melhor forma. Sempre mostrando que quando se quer tudo da

certo. A maestrina Luiza Oliveira é sem dúvida fonte de inspiração e de

aprendizado não só para mim, mas também para todos os componentes de

Filarmônica São Tomé. (Aluno 10)

Ela desenvolve um bom trabalho tentando sempre nos ensinar o máximo

possível para melhorarmos e mais nossas habilidades, trás sempre aquilo que

aprende com seus professores de curso para contribuir no nosso aprendizado.

(Aluno 06)

A Maestrina desenvolveu seu trabalho de forma gradativa respeitando o

tempo e o desenvolvimento de cada aluno. O compromisso e a

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responsabilidade sem duvida foi à chave de sucesso para o seu trabalho.

(Aluno 07)

Apesar da carreira difícil, esse reconhecimento profissional se torna combustível

para seguir em frente e enfrentar as novas etapas. Meu papel como educadora musical

na cidade de São Tomé me concedeu a honra de receber da Câmara Municipal de São

Tomé o titulo de Cidadã Emérita, na área de música. A titulação ocorreu no dia 22 de

dezembro de 2018, tendo sido motivada pelos serviços prestados ao município de São

Tomé. A minha atuação como maestrina a Filarmônica São Tomé com certeza foi e

sempre será um dos trabalhos que ficará marcado em minha memória. A minha vivência

como professora, entretanto, foi verdadeira existência de realização e aprendizado.

Considero que o curso e a academia me proporcionaram oportunidades e

experiências para a realização desse trabalho, bem como os direcionamentos e as formas

de como resolver os problemas e encontrar as soluções. Assim como em qualquer outra

carreira, sentimos o dever cumprido quando os resultados são positivos e os objetivos

alcançados, dessa forma, concordo com Moacir Gadotti (2007) quando diz:

Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e

sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem

educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a

informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam

pessoas (GADOTTI, 2007, p.64).

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QUEIROZ, Luís Ricardo Silva. Ética na pesquisa em música: definições e implicações

na contemporaneidade. Per Musi, Belo Horizonte, n. 27, 2013, p. 7-18.

REIS, Linda G. Produção de monografia da teoria À prática: o método educar pela

pesquisa (MEP) / Linda G. Reis. – 5.ed. – Brasília: Senac-DF, 2015.

SILVA, Cosme Damião. Entrevista concedida à autora. Natal, maio de 2019.

SILVA, José Alcivan. Entrevista concedida à autora. Natal, maio de 2019.

SILVA, José Washington da. BANDA DE MÚSICA MESTRE JOÃO ROBERTO PAZ

E UNIÃO DE SANTA CRUZ/RN: um estudo sobre educação musical e o papel da

banda na sociedade. Natal, 2018. 69 f.: il. Monografia (graduação) – Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Escola de Música, 2018.

SILVA, Márcio Mizael da. O Quinteto Kimporó: uma experiência positiva no

desenvolvimento musical dos seus integrantes. 2018. 56f.: il. Monografia

(Graduação) – Escola de Música, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2018.

SILVA, Raquel Gonçalo da. Entrevista concedida à autora. Natal, maio de 2019.

VICENTE, Paula Francinete de Araújo. O Impacto Socioeducativo na Reativação da

Filarmônica São Tomé: um relato de experiência. Natal, 2015. Monografia (graduação)

– Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Escola de Música, 2015.

_________. Entrevista concedida à autora. Natal, abril de 2019.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi – 2.

Ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

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APENDICES

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APÊNDICE A

Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania -

AJAC para a realização da pesquisa

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, José Alcivan da Silva, presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania

- AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de

Oliveira matrícula 20160105009, a realizar sua pesquisa coletando dados necessários

por meio de observações, imagens e gravações de áudios, assim como explicitar e

utilizar os nomes reais da Associação de Jovens Ação e Cidadania – AJAC e

Filarmônica São Tomé em todo e qualquer material de natureza acadêmico-científica

(monografia, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre

outros).

Abdico, dessa forma, dos nossos direitos, sobre o uso desses nomes, como

também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer.

Assim subscrevo este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

José Alcivan da Silva

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APÊNDICE B

Termo de autorização do presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania -

AJAC, para a utilização de seu nome real

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, José Alcivan da Silva, presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania

- AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de

Oliveira matrícula 20160105009, a utilizar meu nome real, assim como dados

necessários por meio de observações, imagens e gravações de áudio em todo e qualquer

material de natureza acadêmico-científica (monografia, publicações, apresentações em

eventos, congressos, aulas e palestras entre outros).

Abdico, dessa forma, do direito sobre o uso de meu nome, como também, salvo

resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer. Assim subscrevo

este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

José Alcivan da Silva

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APÊNDICE C

TCLE referente à entrevista do presidente da Associação de Jovens Ação e

Cidadania - AJAC

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, José Alcivan da Silva, presidente da Associação de Jovens Ação e Cidadania

- AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de

Oliveira matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado nessa

entrevista/questionário, assim como minha imagem através de fotografias e gravações

de áudio coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,

publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),

desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa

de monografia.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas

imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura

venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

José Alcivan da Silva

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APÊNDICE D

TCLE referente à entrevista do tesoureiro da Associação de Jovens Ação e

Cidadania - AJAC

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, Luiz Erivan Dantas, tesoureiro da Associação de Jovens Ação e Cidadania -

AJAC, através do presente termo, autorizo a graduanda do curso de Licenciatura em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Luíza Maria de

Oliveira matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado nessa

entrevista/questionário, assim como minha imagem através de fotografias e gravações

de áudio coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,

publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),

desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa

de monografia.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas

imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura

venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

Luiz Erivan Dantas

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APÊNDICE E

TCLE referente à entrevista dos músicos integrantes da Filarmônica São Tomé.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, _____________________________________________________, portador

(a) do CPF: ___________________, através do presente termo, autorizo a graduanda

do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -

UFRN, Luíza Maria de Oliveira, matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado

nessa entrevista/questionário, assim como minha imagem através de fotografias e

gravações de áudio coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa

(monografia, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre

outros), desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua

pesquisa de monografia.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas

imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura

venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

Músico integrante da Filarmônica São Tomé

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APÊNDICE F

TCLE referente à entrevista das maestrinas ex – integrantes da Filarmônica São

Tomé.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, _____________________________________________________, portador

(a) do CPF: ___________________, através do presente termo, autorizo a graduanda

do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -

UFRN, Luíza Maria de Oliveira, matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado

nessa entrevista, assim como minha imagem através de fotografias e gravações de áudio

coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,

publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),

desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa

de monografia.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas

imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura

venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

Maestrina ex - integrante da Filarmônica São Tomé

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APÊNDICE G

TCLE referente à entrevista dos integrantes de bandas militares e civis do Rio

Grande do Norte.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, _____________________________________________________, portador

(a) do CPF: ___________________, através do presente termo, autorizo a graduanda

do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -

UFRN, Luíza Maria de Oliveira, matrícula 20160105009, a utilizar o material coletado

nessa entrevista, assim como minha imagem através de fotografias e gravações de áudio

coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (monografia,

publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras entre outros),

desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa

de monografia.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas

imagens, como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura

venha ocorrer. Assim subscrevo este documento.

Natal, _____ de ________________ de 2019.

______________________________________________

Banda:

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APÊNDICE H

Entrevista semiestruturada para coleta de dados aplicada aos membros da

Diretoria da Associação de Jovens Ação e Cidadania - AJAC

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

Entrevista Semiestruturada

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM MEMBROS DA DIRETORIA DA

ASSOCIAÇÃO DE JOVENS AÇÃO E CIDADANIA - AJAC

Nome:________________________________________________

Idade: ________________________________________________

Cargo na diretoria: ______________________________________

Profissão: _____________________________________________

1. A ideia de criar a Associação AJAC surgiu de quem?

2. A escolha da diretoria foi sua?

3. Como você descobriu a existência do Programa Desenvolvimento Solidário? A

Associação veio antes ou depois disso? A criação da AJAC foi pensando nesse

propósito?

4. Existiram dificuldades iniciais que impedisse a criação da Associação? Quem foram

seus parceiros?

5. Como os santomenses responderam com a criação da AJAC?

6. Na sua visão, qual a importância da Filarmônica para a cidade? E quais suas maiores

conquistas à frente desse projeto?

7. Quais as perspectivas para o futuro da Filarmônica São Tomé?

8. Quais os problemas atuais? Diante de anos a frente da Associação o que seria

possível para reverter a situação?

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APÊNDICE I

Questionário para coleta de dados aplicado aos músicos integrantes da

Filarmônica São Tomé

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRADUAÇÃO EM MÚSICA – LICENCIATURA

Questionário

ENTREVISTA COM OS MÚSICOS INTEGRANTES DA FILARMÔNICA SÃO

TOMÉ

Nome:________________________________________________

Idade: ________________________________________________

Instrumento: ___________________________________________

Profissão: _____________________________________________

1. Como foi o seu primeiro contato com a Banda?

2. Por que escolheu entrar para a banda?

3. A decisão de participar da banda foi sua ou dos seus pais?

4. Como você aprendeu música? Na sua escola tem aulas de música?

5. Como foi o seu ingresso na Banda? Em qual ano?

6. Descreva os ensaios e as aulas de música. Quais os dias, horários, etc.

7. Qual seu instrumento? Você gosta dele, ou gostaria de tocar outro?

8. Quanto tempo você demorou a entrar na banda?

9. Quais eram as suas maiores dificuldades? O processo de entrar na banda é

difícil?

10. Você já tocou ou toca em algum outro grupo musical? Se sim, conte a

experiência.

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11. Como você avalia o ensino na banda de música?

12. Como era a Banda quando você começou a tocar? Quantos músicos? Como era a

disciplina (comportamento nos ensaios e apresentações; quem era a maestrina)?

Qual fardamento? Instrumentos?

13. Qual a importância da Banda para sua vida?

14. O que você pensa sobre a música como profissão?

15. Quais lições de vida a Banda/Música proporcionou a você?

16. Quanto ao repertório, você gosta ou acha ultrapassado? Tem sugestões?

17. Cite locais e eventos que a Banda toca com mais frequência. E lugares que

ficaram marcados em sua trajetória com a Banda.

18. Como as autoridades (representantes de instituições públicas e privadas,

prefeitura, vereadores, etc...). Relacionam-se com a Banda?

19. Em sua opinião, qual a importância da Banda para a cidade de São Tomé RN?

20. E qual a importância da cidade para a Banda? Os Santomeense respondem a

altura?

21. Como é a relação Professora-Aluno (a)?

22. Comente o trabalho desenvolvido pela maestrina.

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69

ANEXOS

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ANEXO I

Filarmônica São Tomé (fotos)

Filarmônica São Tomé: Desfile na cidade.

Fonte: Autora.

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71

Filarmônica São Tomé: Concerto Junino (24 de junho de 2018).

Fonte: Autora

Filarmônica São Tomé: apresentação no VIII São Tomé in Concert (27 de outubro de 2018).

Fonte: Autora.