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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE DIREITO CURSO DE DIREITO FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA O Trabalho do Oficial de Justiça e sua importância na prestação jurisdicional dos Juizados Especiais Cíveis CAICÓ/RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA

O Trabalho do Oficial de Justiça e sua importância na prestação jurisdicional dos

Juizados Especiais Cíveis

CAICÓ/RN

2015

FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA

O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Artigo apresentado ao curso de graduação em

Direito da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Esp. Winston de Araújo

Teixeira.

CAICÓ/RN

2015

Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Lucena, Francineide Alves de. O Trabalho do Oficial de Justiça e sua importância na

prestação jurisdicional dos Juizados Especiais Cíveis /

Francineide Alves de Lucena. - Caicó: UFRN, 2015. 30f.

Orientador: Esp. Winston de Araújo Teixeira. Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Direito - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

1. Juizados Especiais. 2. Oficial de Justiça. 3. Processo. I.

Teixeira, Winston de Araújo. II. Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 342.56

2.

FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA

Artigo apresentado ao curso de graduação em

Direito da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Aprovada em: _____/_____/_____.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Esp. Winston de Araújo Teixeira - Orientador

________________________________________

Prof. – Examinador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

________________________________________

Prof. – Examinador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS1

Francineide Alves de Lucena2

O trabalho em foco tem como tema o trabalho do oficial de justiça e sua importância na prestação jurisdicional dos Juizados Especiais Cíveis, destacando como objeto de estudo os empecilhos, as dificuldades, a relevância e dedicação destes profissionais com a função que exercem. Através da pesquisa, foi possível destacar que o labor diário dos oficiais de justiça que não está apenas relacionado às condições estruturais do sistema judiciário, mas também pela qualidade emocional dos contatos interpessoais. Verificou-se que, o oficial de justiça atualmente possui um dever além daquela de mera intimação, deve ter conhecimento jurídico do ato, para exercer seu mister com excelência. O presente trabalho tem por recorte temporal o presente, cujas atividades estão sendo desenvolvidas na atualidade e o recorte espacial considera-se o local de trabalho da problematização apontada. A pesquisa tem como objetivo específico o estudo do trabalho do oficial de justiça nos juizados especiais, em relação ao princípio de informalidade, pois como a maioria das partes não

possuem advogado incumbe ao oficial de justiça a citação e intimação pessoal do jurisdicionado, além

da efetivação da penhora de bens, em caso de execução. A metodologia de pesquisa utilizada no trabalho apresentado foi a bibliográfica, com doutrina e jurisprudência. PALAVRAS-CHAVE: Oficial de Justiça – Processo – Juizados Especiais.

ABSTRACT

The work in focus has theme is the work of the bailiff and their importance in the judgment of the Small Claims Courts, highlighting how subject matter the obstacles, dificulties, relevance and dedication of these professionals with the function they perform. Through the study, it was possible to note that the daily work of bailiffs is not only related to the structural conditions of the judiciary, but also the emotional quality of interpersonal contacts. Also found that the bailiff currently has an obligation beyond that of mere subpoena, should have legal knowledge of the act, to exercise his office with excellence. This work time frame the present, whose activities are being developed nowadays and the spatial area is considered the workplace of the pointed questioning. The research specifically aims to study the bailiff's work in special courts in relation to the principle of informality , because like most parties do not have a lawyer, it is for the bailiff citation and personal notification of the claimants , as well as execution of the attachment of assets in the event of execution. The research methodology used in the work presented was the literature , with doctrine and jurisprudence . KEYWORDS: Official Justice - Procedure - Special Courts.

1 Artigo apresentado como conclusão do Curso de Graduação de Bacharel em Direito.

2 Bacharelanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 06

2 O OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO 07

2.1 ATRIBUIÇÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA 08

2.1.1 Responsabilidades do oficial de justiça e os atos processuais 10

2.1.2 As dificuldades enfrentadas no desempenho da função de oficial de

Justiça 14

3 OS JUIZADOS ESPECIAIS E A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL DO OFICIAL DE

JUSTIÇA 16

3.1 A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E SUA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA

DAS NORMAS PROCESSUAIS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 17

3.1.1 Princípios processuais dos Juizados Especiais 19

3.1.2 Citações e intimações por oficial de justiça 22

3.1.3 O trabalho do oficial de justiça no cumprimento do mandado

de penhora 25

3.1.4 O arresto de bens do devedor não localizado por oficial de justiça 26

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 28

REFERÊNCIAS 29

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1.INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo relatar o trabalho enfrentado pelo

oficial de justiça para o cumprimento de sua função, nos juizados especiais.

O oficial de justiça exerce função de incontestável relevância no universo

judiciário. É através dele, que se concretiza grande parte dos comandos judiciais.

Em razão de constituir um auxiliar de justiça, seu trabalho tem importância

no processo, pois faz cumprir os despachos, decisões e sentenças do juiz,

aproximando-se das partes e tendo a obrigação de explicar as mesmas a atual

situação da ação.

Uma sentença só se torna efetiva, saindo do mundo abstrato de um

despacho judicial para a realidade da vida das partes processuais, ou seja, para os

fatos concretos, quando é cumprida.

Um dos principais profissionais encarregados de dar andamento às

decisões judiciais é o oficial de justiça, responsável pelo início do processo, por meio

dos atos de comunicação, e pelo final deste, por meio dos atos executórios.

Por isso que foi essencial antes de tratar do trabalho do oficial de justiça

de forma concreta nos juizados especiais, ver a subjetividade dos meirinhos e o

modo de agir com as partes.

Isto porque o exercício profissional envolve lidar com reações imprevistas

dos jurisdicionados que tentam subterfúgios para dificultar o cumprimento das

diligências. É neste universo, que os oficiais de justiça utilizam a penhora e o arresto

para satisfazer os pleitos dos autores.

Destarte, com a eclosão dos juizados especiais no direito pátrio, diante

dos princípios de informalidade, oralidade e celeridade, a função do oficial de justiça

tornou-se ainda mais relevante, uma vez que sua aproximação das partes foi mais

intensa. Indubitavelmente, há uma necessidade evidente no trabalho do oficial de

justiça, principalmente diante dos jurisdicionados hipossuficientes, litigantes dos

juizados especiais, onde, a maioria, não tem condições de constituir um advogado.

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2. O OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO

Desde os tempos mais remotos, a figura do oficial de justiça tem ilustrado

diversos capítulos da história. Uma de suas aparições mais antigas, nas lições de

Maria Cristina de Andrade (2012, p. 01), é retratada na Bíblia, no Livro de São

Mateus, Capítulo 05, Versículo 25, onde pode ser encontradas as seguintes palavras

proferidas por Jesus Cristo: "Entra em acordo sem demora com teu adversário,

enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao Juiz, o

Juiz ao Oficial de Justiça, e seja recolhido a prisão”.

Sobre a origem da carreira do oficial de justiça, Pires (1994, p. 19), em

sua obra, aduz que segundo alguns historiadores, a carreira do oficial de justiça tem

sua origem, no Direito Hebraico, quando os Juízes de Paz tinham alguns oficiais

encarregados de executar as ordens que lhes eram confiadas; embora as suas

funções não estivessem claramente especificadas no processo civil, sabe-se que

eles eram os executores da sentença proferida no processo penal. Munidos de um

longo bastão, competia-lhes prender o acusado, tão logo era prolatada a sentença

condenatória.

No direito Justinianeu, segundo Nary (1974, p. 22), foram atribuídas

sucessivamente aos Apparitores e executores as funções que atualmente

desempenham os oficiais de justiça. O legislador romano criou órgãos para ajudá-los

no cumprimento das sentenças.

O Código Filipino, ainda no dizer de Nary (1974, p. 22) adota várias

espécies de “meirinhos”, terminologia ainda hoje empregada em nosso Direito

provindo do direito luso-brasileiro. Entre eles o “meirinho-mor”, o “meirinho da corte”,

o “meirinho das cadeias”, e o “meirinho”, propriamente dito, com a função típica do

oficial de justiça de hoje.

O nosso direito, desde o tempo do Império veio consolidando a instituição

com adoção de princípios fundamentais oriundos de Portugal. Pode-se conceituar o

oficial de justiça, como sendo aquele que tem por encargo, executar as ordens e os

mandados dos juízes, ou delegados. É um mensageiro, um executor de ordens.

Nos ensinamentos de Humberto Teodoro Júnior (2002, p. 87), o Oficial de

Justiça é o antigo meirinho, o funcionário do juízo que se encarrega de cumprir as

diligências fora do cartório como citações, intimações, dentre outras.

Antonio Carlos de Araújo Cintra (2001, p. 313) e outros autores, afirmam

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que o oficial de justiça deve cumprir estritamente as ordens da juiz, não lhe cabendo

entender-se diretamente com a parte interessada no desempenho de suas funções;

percebe vencimentos fixos e mais os emolumentos correspondentes aos atos

funcionais praticados.

Assim, a função do oficial de justiça é a de ser o executor judicial,

cabendo-lhe notificar, intimar, citar, realizar diligências e vários atos processuais ao

seu encargo, tendo como funções principais as práticas de atos de intercâmbio

processual e as práticas de atos de execução.

Por não ser o objetivo do presente trabalho tratar com profundidade a

evolução histórica do oficial de justiça, mas sim demonstrar que em qualquer

sociedade, por mais rudimentar que fosse o aparelho judicial, havia alguém

incumbido de fazer cumprir a decisão emanada pelo órgão competente, vamos nos

ater à inserção do servidor em questão na organização da sociedade brasileira.

2.1 ATRIBUIÇÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA

Com relação às atribuições do oficial de justiça, o artigo 143 do Código de

Processo Civil relata, in verbis, a função do mesmo:

I - Fazer pessoalmente as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias de seu ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia e hora. A diligência, sempre que possível, realizar-se-á na presença de duas testemunhas; II - Executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III - entregar em cartório o mandado, logo depois de cumprido; IV – Estar presente às audiências e coadjuvar o juiz na manutenção da ordem; V- Efetuar avaliações. (Incluído pela Leo nº 11.383, de 2006).

Além das atribuições especificadas na lei processual, cada Estado

disciplina as atribuições do oficial de justiça em seu Código de Organização

Judiciária. Sendo assim, o oficial de justiça é a mola propulsora da justiça, sem a

qual esta quedaria inerte. São verdadeiros baluartes da Justiça.

Na visão de Pires (1994, p. 15), o oficial de Justiça é o responsável por

uma pequena engrenagem, mas que faz todo o sistema funcionar. A grande maioria

dos atos processuais necessita da participação de oficial de justiça para seu

cumprimento. Um dos requisitos importantes para que o Oficial de Justiça cumpra

seu trabalho e efetivamente sirva ao Judiciário de forma serena e correta, é a

realização do ato com bom senso e dedicação e com fiel observância da lei.

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Absolutamente imprescindível para o regular andamento dos processos

judiciais é, pois, a figura do oficial de justiça, na medida em que o exercício de seu

mister corresponde à própria figura do juiz fora dos limites físicos do fórum, o que lhe

exige conhecimentos das regras processuais que dizem respeito ao cumprimento

das diligências.

Desta forma, é de extrema importância o papel do oficial de justiça na

aplicação da lei e da justiça, bem como na realização dos atos processuais. No

entanto, os oficiais de justiça, a despeito da importância de suas atribuições para o

pleno funcionamento da justiça e portanto, do Estado de Direito sofrem de sérias

limitações em suas atividades e, principalmente, nas suas funções de executores de

ordens judiciais onde esses servidores muitas vezes correm perigo de vida. Nesse

sentido, os oficiais de justiça prescindem de aparatos jurídicos para melhor efetivar

seu trabalho, pelo fim de auxiliar na aplicação da justiça e das determinações do

poder judiciário.

No Código de Processo Civil Brasileiro, os oficiais de justiça foram

contemplados com um capítulo atinente aos auxiliares da justiça. As funções

contidas no art. 143, anteriormente vistas, revestem-se de nítido viés executório dos

atos jurisdicionais, não sendo raro na doutrina atribuir aos oficiais de justiça a pecha

de longa manus do magistrado.

O cumprimento dos atos jurisdicionais (mandados) tem a característica

peculiar de chegar ao leigo e explicar o teor do mandamento judicial, seja um

despacho, sentença ou decisão, razão pela qual não se poderia deixar de considerar

que, para que haja celeridade, eficiência, efetividade de decisão, torna-se primordial

a participação do oficial de justiça.

Nestes termos, enquanto o Juiz ordena e o diretor de secretaria formaliza

os instrumentos processuais adequados à satisfação da ordem judicial, cabe ao

oficial de justiça executar a ordem respectiva, tornando efetivo o ato processual.

Os oficiais de justiça, antes nomeados livremente, hoje devem atender a

alguns requisitos legais para assumir tal cargo, dentre outros, aprovação em

concurso público, com atribuições precípuas de cumprir mandados de notificação,

intimação, citação, prisão civil, prisão criminal (em alguns casos), alvarás de

solturas, busca e apreensão, imissão na posse, despejo, demolição, embargo de

obra nova, arresto, sequestro, leilão, praça, avaliação compor as sessões do júri e

realizar diversas outras diligências.

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Na visão de Nary (1974, p. 34), o oficial de justiça possui nove

predicados:

Dedicação – Deve o Oficial de Justiça ser dedicado ao serviço, procurando sempre melhorar o nível de trabalho; discrição – deve guardar sigilo em assuntos relacionados ao serviços; energia – deve ter firmeza e energia no cumprimento das atribuições que lhe forem confiadas; espírito de cooperação – deve ter boa vontade e presteza, quando convocado a servir como companheiro em diligências, procurando sempre auxiliar os colegas, colaborando para o bom andamento do serviço; estabilidade emotiva- deve agir com calma e presença de espírito, quando em diligências, situações desagradáveis ou perigosas; pontualidade – deve sempre chegar com pontualidade às horas marcadas, bem como agir com exatidão no cumprimento dos deveres; prudência – deve ter capacidade de agir com cautela nas diligências, evitando possíveis acidentes ou deserções; senso de responsabilidade – deve executar os trabalhos ou ordens com zelo, solicitude, precisão e presteza; honestidade – ser absolutamente honesto, onde estiver, virtude obrigatória do Oficial de Justiça; sigilo profissional – o servidor deve guardar segredo absoluto em assuntos relacionados ao serviço.

Vale ressaltar ainda que, o oficial de justiça não pode praticar atos fora de

sua competência, devendo manter-se totalmente vinculado ao que dispõe o

mandado.

2.1.1 RESPONSABILIDADES DO OFICIAL DE JUSTIÇA E OS ATOS

PROCESSUAIS

Ao contrário de todos os demais servidores públicos federais ou distritais,

os oficiais de justiça colocam seus próprios veículos particulares em prol do Estado.

Em qualquer outra atividade estatal, o servidor público possui à sua disposição um

veículo institucional para trabalhar, em muitos casos têm inclusive um motorista que

o acompanha.

Com os oficiais de justiça não é assim, fazem uso de seus próprios

automóveis, empregando-os no cumprimento dos mandados. Em muitos casos, são

obrigados a conduzir testemunhas faltosas, em algumas situações, pessoas com

histórico de violência e crimes, em seus próprios veículos, com isso se sujeitam a

serem agredidos e terem seus automóveis furtados ou danificados.

Não raro, recebem ordens judiciais para fazer o transporte de bens

apreendidos em seus próprios veículos, em geral quando a parte não possui

condições de fornecer os meios, quando a solicitação vem por carta precatória ou

quando o solicitante é o próprio Estado, como nas hipóteses de requerimento do

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Ministério Público.

É fato que em diversos âmbitos dos Tribunais de Justiça do país, os

oficiais recebem uma indenização de transporte. Todavia, tal indenização de

transporte tem como único objetivo o pagamento do combustível gasto, ou seja, não

levam em consideração os diversos gastos que o oficial tem quando faz uma

utilização profissional de um veiculo.

Como utilizam constantemente seu veículo particular, os oficiais estão

muito mais sujeitos a se envolverem em alguns tipos de sinistro, têm um custo muito

maior com manutenção, se sujeitam a serem constantemente multados e, mesmo

estando em trabalho, não têm nenhum apoio das autoridades de trânsito; sequer

possuem direito a estacionar em vagas destinadas a carros oficiais, com isso têm

ainda um gasto com estacionamentos particulares quando vão cumprir.

Como também, são os profissionais do serviço público jurídico que mais

recebem as emoções das partes, pois entram em contato direto com elas,

procedendo ao cumprimento dos mandados.

Especificamente no que pertine à responsabilidade civil do oficial de

justiça, a matéria se acha regulamentada pelo art. 144 do Código de Processo Civil:

“O escrivão e o oficial de justiça são civilmente responsáveis: I – quando, sem justo

motivo, se recusam a cumprir, dentro do prazo, os atos que lhes impõe a lei, ou os

que o juiz, a que estão subordinados, lhes comete; II – quando praticarem ato nulo

com dolo ou culpa”.

Ao comentar sobre prejuízo causado às partes em decorrência de recusa,

do oficial de justiça e do escrivão, de cumprir, no devido prazo, os atos que devam

ser por eles realizados por força de lei ou por ordem do juiz, ensinam Luiz Guilherme

Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2007, p. 197), que: “deve ser por eles indenizado,

desde, porém, que não tenha havido um motivo justo para a recusa. Se a recusa se

deu por motivo justificado, ainda que tenha causado prejuízo, não haverá

responsabilidade pelo ressarcimento”.

Ainda, segundo o mesmo doutrinador, o oficial de justiça, por exemplo,

que se recuse de cumprir um mandado de intimação de testemunhas, porque estas

residem em lugar interditado pela Saúde Pública, por estar ali se alastrando uma

doença contagiosa, essa recusa – desde que comprovada à causa – não acarretará

qualquer responsabilidade ao oficial, por possíveis prejuízos que as partes vierem a

sofrer.

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Quanto ao inciso II do art. 144 do Código de Processo Civil, o doutrinador

em epígrafe ainda ressalta que se o ato praticado for nulo e o presidiu o dolo ou a

culpa, mas se não causou qualquer prejuízo, o serventuário estará isento de

responsabilidade civil quanto a ressarcimento, porém poderá sofrer sanções

administrativas, como, da mesma forma, o Código lhe impõe as mesmas sanções,

no caso de exceder prazos sem motivo legítimo, nos termos dos artigos 193 e 194

do Código. O respectivo processo administrativo e as sanções aplicáveis são objeto

das leis de Organização Judiciária.

Ademais, na prática de atos processuais, os auxiliares da justiça, e neste

âmbito o oficial de justiça, deverá ter responsabilidade para não incorrer nas

sanções civis, penais e administrativas.

Destarte, em se tratando de atos processuais, melhor se conhecerá de

seu processo e o seu desenvolvimento, conhecendo a atuação das partes e do Juiz

na relação jurídica processual.

No processo há uma série de movimentos concatenados, os chamados

atos, praticados pelas partes, uns gerando outros, e todos tendendo a uma

finalidade única. O oficial de justiça, no desempenho de seu trabalho há de conhecer

como se processa, como se desenvolve a relação processual, para poder

desempenhar sua função com segurança, e com conhecimento de causa,

entendendo o que está fazendo, compreendendo os termos técnicos para distinguir

os vários movimentos de um processo.

É necessário que o ato processual esteja previsto na lei ou, pelo menos,

que não a contrarie, realizado de sorte que preencha o fim pretendido. Deve haver

um nexo necessário entre a realização do ato e sua finalidade.

No que se refere ao juizado especial cível, a Lei n. 9.099/95, que

introduziu os Juizados Especiais no ordenamento jurídico, tem, como princípios,

dentre outros, a celeridade, simplicidade, informalidade e economia processual. Não

há maiores contratempo na atuação do oficial de justiça. Há, todavia, que se ter

maior atenção na fase executória dos julgados, onde o procedimento sofre um

pouco de alteração.

O oficial de justiça também movimenta e dá vida à ação ao realizar os

atos de citação, intimação, notificação, penhora e arresto, sequestro, avaliação,

busca e apreensão, desocupação, imissão e manutenção de posse, ratificando seu

dever em trazer ao processo a efetiva realidade dos fatos, que muitas vezes é

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omitida ou destorcida pelas partes. Sob esse prisma, é o oficial de justiça quem tem

o contato direto com o mundo exterior do processo trazendo aos autos o

sustentáculo das decisões dos Juízes.

É algo comum no cotidiano forense depararmo-nos com atos processuais,

tais como citações e penhoras, realizados em dias não úteis e também fora do

horário legalmente estabelecido, sem qualquer autorização judicial. Esse quadro,

usual em algumas comarcas, não se compatibiliza com o texto legal que impõe a

observância a limites de ordem cronológica e temporal para a prática de atos

processuais.

Os seus atos são caracterizados por determinação legal da Constituição

Federal, leis infraconstitucionais e administrativas, para que sejam realizados em

determinado lugar, em determinado período (ou horário) e seguindo determinadas

formalidades, como é o exemplo da citação por hora certa (arts. 227 e 228 do

Código de Processo Civil) e da inviolabilidade do domicílio.

O artigo 247 do Código de Processo Civil prescreve que “as citações e

intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais”. É

uma demonstração clara do legislador em propiciar às partes a efetividade dos

princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla

defesa (Constituição Federal, art. 5º, incisos LIV e LV), bem como a sustentação de

aplicabilidade do princípio ainda maior, o da igualdade (Constituição Federal, art. 5º,

caput) entre os litigantes, no sentido de que todos devem participar e tomar

conhecimento de forma igualitária da movimentação processual.

Conclui-se, deste modo, que a citação, assim como os demais atos

processuais, deve ser cumprida, como regra, em dias úteis e no horário estatuído no

caput do art. 172, ou seja, das 06 (seis) às 20 (vinte) horas.

Entretanto, a citação poderá ser realizada fora do horário regular e em

dias não úteis, desde que seja aludida conduta autorizada de forma fundamentada

pelo juiz, mediante solicitação da parte ou do oficial de justiça, e cumprida com

observância ao princípio da inviolabilidade domiciliar. A inobservância de qualquer

destes requisitos acarreta a nulidade da citação e consuma evidente violação aos

princípios constitucionais da legalidade e do devido processo legal.

O reconhecimento da nulidade, em razão de ser de ordem pública, pode e

deve ser promovido pelo magistrado que preside o feito, seja ou não acionado pelas

partes.

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No que diz respeito aos feriados e pontos facultativos, enquanto que

naqueles não se podem realizar atos processuais, sob pena de nulidade, nestes,

porém, não serão nulos nem anuláveis os atos praticados, porque ficam a critério do

funcionário executá-lo ou não, que são considerados como tais os domingos, as

férias e os dias que, por ato governamental, forem declarados feriados.

Há, ainda, os chamados “pontos facultativos”. Nos dias assim declarados,

os atos neles realizados não serão nulos nem anuláveis, pois sendo “facultativo” o

trabalho, ficará a critério de quem os vá praticar, executá-los ou não. No caso de

uma penhora, por exemplo, se o oficial de justiça entender de realizá-la mesmo num

dia declarado “ponto facultativo”, poderá legalmente realizá-la, independente de

autorização do juiz, o que não seria permitido na hipótese de tratar-se de feriados (§

2º do artigo em estudo). O § 2º do artigo em epígrafe faz uma ressalva de relevante

importância, permitindo que se façam penhoras e citações mesmo em domingo e

feriado, mas isso somente em casos excepcionais e mediante ordem expressa do

juiz.

2.1.2 AS DIFICULDADES ENFRENTADAS NO DESEMPENHO DA FUNÇÃO DE

OFICIAL DE JUSTIÇA

Conforme foi estabelecido em linhas anteriores, a função de Oficial de

Justiça é muito relevante para o ordenamento jurídico, posto que realiza atos

materiais necessários para regular a tramitação dos processos, dando a ele

efetividade, possibilitando seu bom andamento e garantindo a resolução dos

conflitos da população.

Poucas pessoas reconhecem os atos de energia, de positividade, de

cumprimento correto das ordens Judiciais. Da perfeita satisfação de um título

executivo levado a bom termo pelos oficiais. Parece-nos que, às vezes, os oficiais

de justiça, só são lembrados nas horas que não localizam um imóvel numa

determinada rua de numeração irregular. Não são lembrados quando localizam

pessoas em endereços que já eram considerados como incertos e não sabidos; não

são lembrados quando em suas certidões detectam fraudes, conluios, indícios para

desconsideração de personalidade jurídica. Não são lembrados pelas horas que tem

que adentrar em presídios com intimações enfrentando situação de perigo.

Em razão da especificidade do serviço público que prestam, os oficiais de

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justiça possuem algumas particularidades no seu fazer que carecem de atenção sui

generis.

Conforme discorre Maria Cristina de Andrade (2012, p. 07), que realizou

entrevistas com vinte Oficiais de Justiça da Comarca de João Pessoa, os mesmos

explanaram suas principais dificuldades e aspirações para o cumprimento de suas

atribuições, as quais arrolamos:

Segurança - Na realização de suas atividades específicas, os mesmos estão expostos a inúmeros riscos, trabalhando num ambiente diferenciado com pressões de toda ordem. Uma vez que levam muitas vezes notícias desagradáveis, têm que lidar com a imprevisibilidade de comportamento da parte destinatária da ordem judicial. O fato de Oficial de Justiça trabalhar em seu próprio veículo e em áreas onde há altos índices de violência fica exposto aos riscos daí decorrentes, sejam eles causados pelo trânsito caótico das grandes cidades ou pela violência urbana e rural aos quais estamos expostos. Uma vez que não gozam da estrutura administrativa e protetiva do Estado, tornaram-se comuns nos dias atuais acidentes, assaltos e até assassinatos de Oficiais de Justiça no cumprimento de suas funções. O risco da atividade laboral a que faz jus o Oficial de Justiça está muito aquém dos danos a que estão submetidos. - Exposição ao sol – Devido a crescente demanda dos processos judiciais, o Tribunal de Justiça da Paraíba com o intuito de dar celeridade aos mesmos, tornou-se crescente o número de mandados recebidos pelos Oficiais. Para cumpri-los e atingir sua meta, eles ficam expostos várias horas aos males nocivos do sol, arriscando, assim, sua saúde. - Rejeição da classe média alta – Reclamação constante é em relação ao cumprimento de suas funções nos bairros mais nobres. Frequentemente, o Oficial de Justiça em face do conteúdo da ordem judicial que porta não ser amistosa ao receptor, é submetido a repulsa. Além de ser mal recebido, o mesmo manda dizer que está ausente e o Oficial vê-se obrigado a voltar inúmeras vezes ao mesmo local para realizar sua diligência. - Falta de incentivo do Tribunal na ajuda de custo para o efetivo cumprimento dos mandados – Não há por parte do Tribunal interesse em munir os Oficiais de Justiça com ferramentas tecnológicas modernas, que iria contribuir para uma celeridade efetiva quando do cumprimento de suas diligências. Os mesmos sentem falta do reconhecimento de seu trabalho, pois não há motivações administrativas de modo que o mesmo sinta sua importância dentro do processo e na Instituição. - Não saberem até quando suportarão o aumento constante de mandados em suas pastas. - Um mesmo mandado ser distribuído a oficiais diferentes. - Mandados de intimações para pessoas que já foram intimadas em cartório. - Sobrecarga de mandados no plantão, muitas vezes, por desatenção de servidores dos cartórios que não os expediram com a devida antecedência. - Sensação de que seu tempo é desperdiçado, e seus conhecimentos subaproveitados na execução de ordens como entrega de ofícios. - Como o Judiciário não possui veículos suficientes, os Oficiais de Justiça são obrigados a utilizar os próprios carros para cumprir mandados, como entregar citações ou promover penhoras e diligências. As verbas pagas pela Justiça a título de ressarcimento de despesas não cobrem os gastos dos Oficiais no trabalho. - mandados que devem ser enviados pelo correio, mas são distribuídos aos oficiais por comodidade dos serventuários dos cartórios; - juizados especiais que não intimam por telefone, apesar da previsão legal; - intimações de vítimas para comparecerem em cartório com vistas à manifestação sobre o interesse no prosseguimento dos feitos nas ações

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penais, mesmo depois de dizerem na delegacia sobre o desinteresse na ação; - intimação do advogado da parte autora para dar andamento aos processos, quando a lei determina a publicação no órgão de imprensa oficial.

Assim, com tais arguições da autora supra, pode-se concluir que o oficial

de justiça tem uma missão muito árdua na seara jurídica e em alguns momentos

pouco reconhecida, pois ele é o responsável por diretamente cumprir os mandados e

as atribuições do juízo a que esteja vinculado, devendo adequar sua carga horária

para dar cumprimento às ordens judiciais. Isso quase sempre importa em entrar por

madrugadas, feriados e finais de semana. O tempo dedicado à família, ao lazer e

aos cuidados pessoais é sacrificado. O medo de não conseguir executar sua tarefa

aumenta, fazendo com que muitos Oficiais de Justiça entrem em depressão ou

tenham problemas com relacionamento pessoal.

De acordo com Leonel Baldasso Pires (1994, p. 34), as patologias sociais

da sobrecarga, violência e servidão voluntária no mundo do trabalho, resultam do

contínuo embate das pessoas com seus ambientes de trabalho. A impossibilidade de

lidar com as adversidades e o sofrimento – decorrentes da organização do trabalho,

o que pode levar à anestesia e à insensibilidade ao próprio sofrimento e ao dos

outros, processo que pode se intensificar a ponto de ser compartilhado pelo grupo.

Sendo assim, identificam-se as imposições contra as pessoas originadas

na organização do trabalho como violência estrutural, que causam desconforto,

sofrimento, desgaste, fadiga, adoecimento e até mesmo a morte.

Este contato direto com o jurisdionado, é ainda mais acentuado nas ações

relativas ao juizado especial cível, onde o oficial de justiça está presente com mais

frequência, pelo fato de na maioria das vezes, as partes não possuem condições

financeiras de constituir um advogado e/ou pela informalidade que reina como

princípio norteador.

3. OS JUIZADOS ESPECIAIS E A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL DO OFICIAL DE

JUSTIÇA

A partir deste capítulo, iniciaremos o estudo acerca da atuação do oficial

de justiça no âmbito dos juizados especiais, com ênfase no juizado cível.

O oficial de justiça no desempenho de seu trabalho deve conhecer como

18

se processa, como se desenvolve a relação processual, para poder desempenhar

sua função com segurança e com conhecimento de causa, entendendo o que está

fazendo, compreendendo os termos técnicos, para distinguir os vários movimentos

de um processo.

É necessário que o ato processual esteja previsto em lei, ou pelo menos,

que não a contrarie, realizado de sorte que preencha o fim pretendido. Deve haver

um nexo necessário entre a realização do ato e sua finalidade.

No que se refere ao juizado especial cível, a Lei nº 9.099/95, que

introduziu os Juizados Especiais no ordenamento jurídico, tem em seu escopo,

princípios norteadores de sua base fundamental.

Exatamente por ter esta característica específica, é que deve o oficial de

justiça está atento a tais pressupostos.

3.1 A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E SUA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA

DAS NORMAS PROCESSUAIS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Desde a vigência da Constituição Federal de 1988, verificou-se na prática,

que a maioria dos Estados não criou seus juizados especiais no contorno do art. 24,

XI.

Ademais, talvez pelo fato que a implantação dos juizados especiais não

constituiu tarefa fácil, tais institutos vieram apenas a se organizarem com a edição

da lei nº 9.099/95.

Após a eclosão da respectiva lei, houve um aumento significativo de

demandas, possibilitando o acesso à justiça das pessoas mais carentes, as quais

obtinham a oportunidade de reclamar seus direitos. Neste prisma, Fernando da

Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior, (2005, p. 64) destacam

Em contrapartida, não obstante o trabalho estafante da implementação desses juizados, nos quais tivemos oportunidade de atuar intensamente, inclusive em comarcas diversas, podemos testemunhar, com satisfação, que os resultados colhidos são deveras compensadores e gratificantes, à medida que constata, no semblante de cada um dos litigantes, a tranquilidade da obtenção de uma solução rápida e justa aos seus conflitos, a qual, não raras vezes, é encontrada por intermédio da conciliação.

A Lei em exame, em seu contexto, é satisfatória, nada obstante algumas

imperfeições que estão a exigir as devidas correções. Trata-se de um novo sistema

que necessita, sem dúvida, ser aprimorado pela prática forense, pelas orientações

19

doutrinárias e jurisprudenciais, tarefa que só no decorrer do tempo, poderá realizar-

se, sem contar com o próprio aprimoramento legislativo.

A realidade é que o legislador não ofereceu uma norma que traz em seu

bojo novidades, muito mais positivas que negativas. Os operadores do direito

sempre exigiram um novo sistema que fosse pautado pelo princípio da oralidade em

grau máximo, donde surgem os outros princípios, como o da informalidade,

simplicidade, celeridade, dentre outros. Então, com todas estas arguições, pode-se

denotar que os juizados especiais configuraram através do anseio popular, tornando

mais próxima a justiça de seus jurisdicionados.

Vislumbrando o universo das causas mais simples, é possível destacar

que não ficou consignado na Lei nº 9.099/95 a respeito da aplicação subsidiária das

normas do Código de Processo Civil. Todavia, essa constatação preliminar não

serve para excluir de início a aplicação subsidiária da lei adjetiva, por fixar as linhas

mestras do processo de conhecimento, como se fosse a espinha dorsal

sustentadora dos demais.

Desta feita, não se pode rechaçar a aplicabilidade das normas gerais de

processo insculpidas na referida codificação; há que se observar, isto sim, que elas

só terão incidência na hipótese de omissão legislativa do microssistema e desde que

se encontrem em perfeita consonância com os princípios orientadores dos juizados

especiais.

Tal assertiva não é de difícil verificação, posto que a lei nº 9.099/95

aborda direta ou indiretamente inúmeros institutos de natureza processual e

procedimental, tornando-se, em regra, quase desnecessária a regulamentação ou

incidência de institutos ou dispositivos contidos no Código de processo Civil.

Aduzem Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2003, p. 963)

Somente quando for verificada a lacuna ou obscuridade na Lei dos Juizados Especiais, haverá, em caráter excepcional, buscar-se primeiramente no processo tradicional (CPC) a solução ao problema por aplicação subsidiária da norma. Eventualmente, persistindo o vazio, aí então partirá para a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Contudo, não se pode perder de vista o disposto no art. 6º da Lei nº 9.099/95, que permite ao Juiz adotar, em cada caso concreto, a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo sempre aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.

A regra da aplicação subsidiária das normas processuais são aplicadas

não somente na prolação da sentença de mérito, mas em todas as fases do

processo, inclusive para resolver questões procedimentais ou processuais não

20

devidamente explicadas na norma, tudo de acordo com os princípios da

simplicidade, celeridade, economia processual e informalidade (art. 2º), desde a

propositura da demanda até a satisfação definitiva da pretensão resistida ou

insatisfeita do vencedor da lide.

Deste modo, é juridicamente possível nos juizados especiais, a aplicação

subsidiária do Código de Processo Civil para fins de obtenção de tutelas

acautelatórias ou antecipadas.

Destarte, a Lei nº 9.099/95 não apresenta em seu bojo nenhum

mecanismo de antecipação da pretensão articulada pelo autor, nada obstante ter

sido norteada, entre outros princípios, pelo da celeridade. Por seu turno, o instituto

da antecipação da prestação da tutela jurisdicional do Estado foi inserido no contexto

do processo cognitivo justamente para evitar prejuízos com o retardamento da

consecução material da sentença de mérito favorável ao autor. Por isso, não

vislumbramos óbice algum em sua aplicação nas ações processadas pelo rito

especialíssimo previsto nessa lei; pelo contrário, é medida salutar e absolutamente

compatível com o microssistema.

Com relação à competência, a Lei nº 9.099/95, em seu art. 3º, preconiza

nas principais atividades e providências judiciais a serem exercidas pelo Estado-

Juiz.

Através disto, os Juizados foram criados não só para a tentativa de

composição amigável (conciliação ou transação), mas também para o

desenvolvimento do processo, em todos os termos e na forma procedimental

instruída pela própria lei, o que representa viabilidade jurídica de obtenção da

prestação da tutela jurisdicional por intermédio da prolação uma sentença de mérito

para a resolução da lide e satisfação do vencedor, como também a efetivação

forçada da pretensão acolhida pelo julgado, por meio da execução específica, ou a

atuação autoritária da lei em favor do autor.

3.1.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Em que se pese ao legislador ter-se utilizado da expressão “critérios”

orientadores do processo nos juizados especiais, o que na verdade se observa são

verdadeiros princípios gerais.

Nas lições de Luiz Rodrigues Wambier (2015, p. 52), princípios

21

processuais são um complexo de todos os preceitos que originam , fundamentam e

orientam o processo. Esses princípios podem ser doutrinariamente divididos em

duas espécies: informativos e gerais.

Os informativos representam o caráter ideológico do processo, como

objetivo principal da pacificação social, influenciando jurídica, econômica e

socialmente e transcendem a norma propriamente dita, à medida que procuram

nortear o processo pelo seu fim maior e ideal precípuo.

Por sua vez, os princípios gerais do processo, também conhecidos por

fundamentais são aqueles previstos de maneira explícita ou implícita na Constituição

e/ou na legislação infraconstitucional, como fontes norteadoras da atividade das

partes, do Juiz, do Ministério Público, dos auxiliares de justiça, da ação, do processo

e do procedimento.

No dizer de Elpídio Donizetti (2007, p. 79,),

São princípios fundamentais porque respeitam à orientação particular de dado ordenamento jurídico, emergem necessariamente de um ordenamento jurídico positivo. Com isso, é evidente que entre os diversos ordenamentos jurídicos, pode existir e, efetivamente existe, um denominador comum, que o inspira, mercê do qual há grande uniformidade entre os princípios fundamentais.

Assim, é patente que os princípios fundamentais estão vinculados á

orientação do universo processual civil e em sintonia com os princípios dos juizados

especiais como o contraditório, a ampla defesa, igualdade entre as partes,

segurança jurídica, relação entre pedido e o pronunciado etc.

A seguir, veremos os principais princípios responsáveis pela estruturação

dos juizados especiais.

O princípio da oralidade constitui a exigência da forma oral no tratamento

da causa, sem que com isso se exclua por completo a utilização da escrita, o que,

aliás, é praticamente impossível, tendo em vista a imprescindibilidade na

documentação de todo processo e conversão em termos, no mínimo, de suas fases

a atos principais, sempre ao estritamente indispensável. Ademais, processo oral não

é sinônimo de processo verbal.

Nestes termos, ensina Araken de Assis, (2007, p. 85),

Na realidade, os procedimentos oral e escrito completam-se. Quando o legislador alude ao procedimento oral, ou ao procedimento escrito, isto significa não a contraposição ou exclusão, mas a superioridade de um, ou de outro modo, de agir em juízo. Ambos os tipos de procedimentos dizem

22

respeito ao modo de comunicação entre as partes e o juiz. O procedimento oral fundamenta-se não apenas em fatos e atos que o juiz conhece, de viva voz, como também em provas produzidas.

De acordo com as explanações do autor em epígrafe, este ainda

complementa seu pensamento acerca do princípio da oralidade, mostrando outros

norteamentos oriundos deste fundamento institucional, quais sejam, princípio do

imediatismo, princípio da concentração, princípio da imutabilidade do juiz e da

irrecorribilidade das decisões.

Nos juizados especiais, o princípio da oralidade está concentrado na

possiblidade de se tomar por termo o requerimento das partes dito oralmente por

estas em secretaria. Há também a oralidade nas audiências do Juizado Especial, em

que as partes podem verbalmente contestar, replicar, recorrer etc.

Ainda sobre o princípio da oralidade, para concluir, pode-se dizer que sua

acentuada adoção, nos moldes da lei, apresenta uma vantagem a respeito da ordem

psicológica, onde as partes tem a impressão de exercer elas mesmas, a influência

decisiva no deslinde da demanda, resultando em contrapartida, no melhoramento da

imagem do judiciário perante os jurisdicionados.

Os princípios da simplicidade, informalidade, economia processual e

celeridade foram decorrentes da oralidade.

Note-se que o rito empregado nos juizados especiais é o sumaríssimo,

em que suas características são a rapidez, a simplicidade, a informalidade, a

concentração dos atos e a economia processual.

Por outro lado, em que pese ao rito previamente estabelecido para os

juizados especiais em face da incidência do princípio da informalidade, nada obsta

que o juiz busque soluções alternativas de ordem procedimental para obter uma

tutela jurisdicional mais rápida e hábil a adequar a ação de direito material àquela de

direito processual.

Joel Dias Figueira Júnior e Tourinho Neto (2005, p. 85,), comentam que

O que estamos a dizer é que o procedimento civil tradicional, justamente porque seus contornos estão definidos originariamente na Constituição Federal, que, por sua vez, determina expressamente a observância ao princípio da oralidade, do qual decorrem todos os subprincípios, inclusive os da informalidade e simplicidade.

A Lei 9.099/95 não está preocupada em preconizar a forma em si; sua

atenção fundamental dirige-se para a matéria de fundo, ou seja, a concretização, a

23

efetivação do direito do jurisdicionado que acorreu ao Judiciário para fazer valer sua

pretensão, com maior simplicidade e rapidez possível.

Passemos agora a observar o princípio da autocomposição.

Porém, antes, deve-se fazer uma rápida distinção entre transação e

conciliação. Nos ensinamentos de Misael Montenegro Filho (2006, p. 238), a

transação é o negócio bilateral pelo qual as partes interessadas, fazendo-se

concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas,

enquanto a conciliação significa a composição amigável sem que se verifique

alguma concessão por quaisquer das partes a respeito do pretenso direito alegado

ou extinção de obrigação civil ou comercial (renúncia ao direito, reconhecimento do

pedido, desistência da ação).

Assim, quem transaciona ou concilia realiza, necessariamente,

autocomposição, de forma diversa, as partes que apenas conciliam não estão

transacionando. Portanto, são atos unilaterais ou bilaterais que podem levar à

extinção do processo, em regra com julgamento do mérito, ou, ainda, reduzir

parcialmente as lides instauradas por meio de acordos parciais, nada obstante o

prosseguimento da demanda no que concerne à parcela remanescente do conflito.

Destarte, antes de se chegar à prolação de uma sentença de mérito à

solução da lide, acolhendo ou rejeitando o pedido das partes, no microssistema dos

juizados especiais, o juiz tem perante os litigantes outro não menos importante

compromisso: tentar a conciliação ou a transação.

3.1.2 CITAÇÕES E INTIMAÇÕES POR OFICIAL DE JUSTIÇA

O conceito de citação encontra-se no art. 213 do Código de processo

Civil.

Destaca Humberto Theodoro Júnior (2002, p. 212) que “a citação é

indispensável como meio de abertura do contraditório, da instauração da relação

processual”.

Em regra, a citação é feita por via postal. No entanto, será feita por oficial

de justiça, se assim o autor requerer ou não for possível, ou não tiver êxito, a citação

por correios e ainda nas execuções, nas ações de estado ou quando o réu for

incapaz ou pessoa jurídica de direito público.

No que tange os juizados especiais, o mais comum são as citações

24

pessoais por oficial de justiça.

Isto porque, em razão da dificuldade dos correios em encontrar os

endereços das partes e pelo fato de muitas vezes o endereço fornecido pelo autor

não condiz com a realidade, é que a figura do oficial de justiça se faz presente para

conseguir encontrar a parte.

Diante disto, por ser detentor do poder de diligência, o oficial de justiça

consegue procurar o endereço, até quando este foi fornecido erroneamente. Em

razão desta flexibilidade, é que o Oficial de Justiça tem um trabalho relevante dos

juizados especiais.

Ademais, as citações nos processos de execução, devem ser feitas por

oficial de justiça, principalmente na execução por título extrajudicial, porque no

mesmo mandado, deverá ser acompanhada a penhora de bens, esta somente

realizada por oficial de justiça.

A citação por hora certa, da mesma forma, somente será processada por

oficial de justiça.

Isto porque, é o oficial de justiça quem delibera proceder a essa

modalidade de citação, por entender de não mais tentar a citação, na pessoa do

citando. O oficial de justiça declara, então, ter procurado o citando, que se ocultou,

para evitar a sua citação, ou em que cientifica qualquer pessoa da família, qualquer

vizinho, de que vai voltar, à hora certa, no dia seguinte. Voltando no próximo dia à

hora marcada, não encontrando o citando, o oficial de justiça deverá procurar

informações das razões da ausência do réu e dará por feita a citação, deixando a

contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, anotando-lhe o nome.

Com relação à possibilidade da aplicação da citação por hora certa nos

juizados especiais, há divergência a esse respeito.

Existe corrente jurisprudencial que não admite a citação por hora certa

nos juizados especiais, com fulcro nos princípios da informalidade e celeridade.

Vejamos:

Ementa: Juizados Especiais. Citação por hora certa. Incompatibilidade com o rito. 1. Inadmissível nos Juizados Especiais a citação por hora certa. 2. Recurso conhecido mas improvido. 3. Recorrente sucumbente arcará com custas, sem honorários eis que ausentes contrarrazões. Encontrado em: Conhecido. Recurso Improvido. Unânime 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Curador especial, incompatibilidade, princípio, Procedimento, Juizados Especias. Apelacão Cível do Juizado Especial. ACJ 20120710089436 DF 0008943-

25

96.2012.8.07.0007 (TJ-DF), Relator Flávio Augusto Martins Leite. Ementa: Processual Civil. Citação por hora certa e nomeação de curador especial. Institutos incompatíveis com os Juizados Especiais. Princípios celeridade e economia processual. Nulidade de todos os atos a partir da citação. 1. A citação por hora certa e a nomeação de um Curador Especial não tem lugar nos Juizados Especiais. Estes institutos são incompatíveis com celeridade e a economia processual, princípios que norteiam a Lei 9.099/95. 2. A nulidade da citação leva à nulidade dos atos subsequentes e impõe o retorno dos autos para a origem, evitando-se, assim, cerceamento de defesa da parte. Sentença desconstituída, de ofício. Recursos prejudicados. (Recurso Cível nº 71005072483, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relatora: Vivian Cristina Angonese Spengler, Julgado em 05/11/2014).

Ademais, de outra parte, Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 787),

ensina que a citação por hora certa é possível no juizado especial, tendo em vista

que a Lei nº 9.099/95 não mencionou expressamente a sua vedação.

Nada diz a lei a respeito da citação com hora certa, mas também não a exclui e, além disso, ela não tem qualquer incompatibilidade com o sistema processual dos juizados especiais cíveis. Se ocorrer necessidade de marcas hora certa, o meirinho o fará e procederá pela forma determinada no Código de Processo Civil (arts. 227 e 228) ficando revel o réu citado por essa forma de citação ficta, ele terá curador especial (CPC art. 9º, inciso II), que o juiz lhe dará obrigatoriamente, sob pena de nulidade total do processo.

Sendo assim, conclui-se que em razão do cabimento da citação por hora

certa nos Juizados Especiais, não há unanimidade acerca do entendimento da

possibilidade da aplicação do instituto.

Acerca da intimação, este ato constitui na necessidade de avisar alguém

sobre determinados pontos do processo.

No dizer de Elpídio Donizzeti (2007, p. 234), a intimação tem por objetivo

dar ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer

alguma coisa ou simplesmente para se inteirar desses atos e termos.

Assim como as citações, as intimações serão feitas pelo correio e quando

a lei determinar, a citação poderá ser feita por oficial de justiça.

A intimação está sujeita à observância de determinados requisitos para

sua validade dentro do art. 239 do Código de processo Civil.

Fredie Didier Júnior (2010, p. 359) e outros autores, destacam que a

certidão de intimação que é exigida ad substantiam, não apenas ad probationem.

Quer isso dizer que ela não se destina somente a provar a intimação, ela a completa

26

e perfaz, de modo que a certificação por isso é requisito essencial e,

consequentemente, existencial da intimação. Enquanto o oficial ou o escrivão, que a

houver feito, não a porta por fé, ela não estará consumada, e, portanto, inexistirá.

Nos juizados especiais cíveis, o oficial de justiça diligenciará no endereço

das partes e após a intimação pessoal, certificará o ocorrido. Do mesmo modo das

citações, as intimações pessoais no rito sumaríssimo constituem a melhor forma de

dar ciência do ato às partes.

3.1.3 O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA NO CUMPRIMENTO DO MANDADO

DE PENHORA

Já na fase de execução do processo, que trata sobre o ressarcimento dos

créditos inadimplidos, a atenção do oficial de justiça deve ser redobrada, em função

dos atos constritivos, como por exemplo, a penhora, que irá retirar do devedor um

determinado bem de sua propriedade. Todavia, deve evitar excessos, para não

incorrer em abuso de autoridade.

Vale destacar que, para não ultrapassar os limites de sua função no

cumprimento do mandado de penhora, o oficial de justiça poderá utilizar o reforço

policial quando necessitar arrombar casas para entrar e/ou objetos com o fim de

executar o ato judicial. Inclusive, nos próprios mandados de penhora confeccionados

pela Secretaria Judiciária existe esta menção acerca do reforço policial.

O devedor responderá com todos os seus bens presentes e futuros, para

o cumprimento de suas obrigações, ressalvadas as restrições previstas em lei.

A expropriação consiste na alienação de bens do devedor, ou seja, na

transferência do domínio de determinado bem, a título oneroso ou gratuito, em favor

do titular do crédito líquido, certo e exigível.

Nos juizados especiais, as penhoras realizadas por oficial de justiça são

muito frequentes, tendo em vista o acesso fácil e rápido à justiça e com isso, permitir

que muitos jurisdionados possam entrar em Juízo para reclamar seus anseios.

Neste ato, o oficial justiça, munido do mandado de penhora, adentrará no

domicílio do devedor e expropriará bens de sua propriedade até que atinjam o valor

da dívida. O contato direto com a parte é o que mais releva a função do oficial de

justiça, que representando o Estado, procura satisfazer as obrigações não realizadas

bilateralmente.

27

Realizada a constrição do bem, o oficial de justiça lavrará o auto de

penhora, que nos moldes do art. 665 do Código de Processo Civil deverá conter: I –

Indicação de dia, mês, ano e lugar em que foi feita; II – Os nomes do credor e do

devedor; III – A descrição dos bens penhorados com seus característicos; IV – A

nomeação do depositário dos bens”.

Deverá ser preenchida por Oficial de Justiça no verso do mandado ou

folha separada, certidão de intimação da penhora com o nome do executado, seu

cônjuge se casado for (bens imóveis) e a data da intimação.

O auto deve ser circunstanciado para poder transmitir ao julgador a ideia

verdadeira do estado dos bens constritos.

Da mesma forma, a circunstância de inexistirem bens que possam ser

objeto dessa constrição deve ser claramente especificada na certidão quando o

oficial de justiça não localiza bens de propriedade do devedor.

Após a penhora, caso a parte deseje adjudicar o bem penhorado, irá o

oficial de justiça proceder à remoção do respectivo bem e com a carta de

adjudicação em mãos, passará o bem para a propriedade do seu novo dono, o

credor.

3.1.4 O ARRESTO DE BENS DO DEVEDOR NÃO LOCALIZADO POR OFICIAL DE

JUSTIÇA

O arresto de bens do devedor é realizado por oficial de justiça quando o

réu não é localizado ou se oculta para evitar a citação. É uma apreensão de bens do

devedor, como garantia do crédito do exequente, tal qual a penhora. A diferença está

no fato de que na penhora existe a citação do devedor, enquanto que no arresto, ela

não existe.

Cabe ao Oficial de Justiça arrestar os bens que estão situados nos

endereços descritos no mandado, nada impedindo que o servidor arreste bens

localizados em qualquer outro lugar, desde que na Comarca.

Na certidão circunstanciada, deverá mencionar todas as diligências

efetuadas com as buscas e investigações que houver empreendido para encontrar o

devedor.

Caso o devedor esteja em lugar incerto ou esteja viajando sem previsão

de volta, poderão oficial de justiça arrestar-lhe bens de cuja existência tenha

28

conhecimento.

Quando o oficial de justiça não localiza bens e não tem conhecimento de

que o devedor os possua, devolve o mandado com a certidão, descrevendo as

diligências em que não encontrou o devedor e que não localizou bens de

propriedade do executado para recair a constrição.

Com relação ao procedimento dos juizados especiais, conforme ensinam

Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior (2005, p. 328), não se

coaduna com o instituto de arresto de bens, face à inexistência de citação editalícia,

expressamente vedada pela Lei nº 9.099/95, diante da incompatibilidade com o

princípio da oralidade e seus subprincípios e a comunicação presumida ou fictícia,

que atenta contra a simplicidade, celeridade, concentração de informalidade.

No entanto, nos casos em que o autor carente que não tem condições de

arcar com as despesas processuais no procedimento comum, nem tampouco pode

constituir um advogado, ficaria impedido de pleitear em juízo, se o devedor não

fosse encontrado.

Este fato esbarra no princípio de fácil acesso à justiça, tão consagrado

nos juizados especiais.

Desta forma, em casos excepcionais, como o exemplo citado acima, tem-

se admitido a figura do arresto nas causas do juizado especiais, com o fim de

ampliar o acesso à justiça a todos.

Em síntese, pode-se perceber que em todos os atos processuais a

presença do oficial de justiça tem sido muito relevante, pois este profissional detém

a interação direta com o jurisdicionado, determinando o alcance da justiça através do

cumprimento dos mandados. Seja de forma ativa, como diligenciando o endereço da

parte, fazendo penhoras, ou muitas vezes de forma passiva, esperando a reação da

parte diante do cumprimento do ato.

O público com o qual o oficial de justiça interage, apresenta uma

diversidade de características pessoais, culturais, profissionais, sociais, e essa

multiplicidade exige do profissional habilidades não apenas de adaptação de

linguagem a ser utilizada, mas também da postura diante do jurisdicionado.

Conforme relata Patrícia Valéria Alkimin Pereira (2005, p. 58), no

cumprimento dos mandados os oficiais de justiça também fazem um trabalho

emocional, gerenciando as emoções emergentes (próprias e do outro), diante das

situações conflituosas.

29

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando ao final desta pesquisa, foi possível observar que o artigo sob

análise pretendeu fomentar o debate acerca do trabalho do oficial de justiça e sua

participação nos juizados especiais.

Deste modo, esta onda de reformas na seara jurídica, também

impulsionou as correntes processualistas na área cível, removendo métodos

ultrapassados, atualizando outros e implantando instrumentos processuais mais

adequados às necessidades do tempo.

O Código de Processo Civil tece uma situação de equilíbrio, trazendo

requisitos que devem ser estritamente observados, sob pena de desvirtuar a

proporcionalidade que existe entre os benefícios propostos e as restrições sofridas

por ambas as partes.

Assim, com o estudo realizado neste trabalho, foi possível constatar que

apesar dos desafios atuais postos com relação à modernização dos processos, o

oficial de justiça permanece indispensável na seara jurídica.

Portanto, faz-se mister que todos as dificuldades pelas quais passam os

oficiais de justiça nos exercícios de sua atividades sejam sanadas de modo que os

mesmos possam cumprir as ordens judiciais com mais segurança e celeridade,

buscando uma prestação jurisdicional mais eficaz.

Durante o cumprimento dos mandados, a interação do oficial de justiça

com as partes envolvidas na lide configura o locus afetivo da tarefa, principalmente

nos juizados especiais, em que esta interação é mais delineada.

Justamente por este motivo, é que a pesquisa desenvolvida mostrou que

a função do oficial de justiça é de suma relevância, em razão de sua aproximação

com as partes, principalmente as menos favorecidas financeiramente, que

constituem a clientela dos juizados especiais.

Por fim, os oficiais de justiça em seu trabalho são responsáveis pelo

cumprimento das diligências que o Juiz lhe mandar executar, como as citações,

intimações, mandado de penhora. Com isso, buscando a efetividade e

satisfatividade dos atos processuais.

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REFERÊNCIAS

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